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FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Esméria de Lourdes Saveli
Maria Odete Vieira Tenreiro
Maíza Taques Margraf Althaus
Nelba Maria Teixeira Pisacco
Esméria de Lourdes Saveli
Maria Odete Vieira Tenreiro
Maíza Taques Margraf Althaus
Nelba Maria Teixeira Pisacco
LICENCIATURA EM
UEPG
PONTA GROSSA / PARANÁ
2019
CRÉDITOS
Os materiais produzidos para os cursos ofertados pelo NUTEAD/UEPG para o Sistema
Universidade Aberta do Brasil - UAB são licenciados nos termos da Licença Creative
Commons - Atribuição - Não Comercial- Compartilhada, podendo a obra ser remixada,
adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja atribuído
crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.
CDD: 372.21
A Coordenação
SUMÁRIO
■■ PALAVRAS DAS PROFESSORAS7
■■ OBJETIVOS E EMENTA9
Prezado acadêmico,
Objetivos
Objetivos gerais:
Objetivos específicos:
Ementa
Aspectos históricos, políticos e legais. Concepções de infância. Educar e Cuidar.
Tendências pedagógicas da Educação Infantil. Concepções teóricas que
fundamentam a prática pedagógica na Educação Infantil. O papel do jogo e
do brinquedo, desenvolvimento do desenho infantil, aquisição da linguagem
escrita. Currículo na Educação Infantil. Temas específicos referentes ao trabalho
pedagógico na Educação Infantil.
UNIDADE I
Educação infantil: aspectos
históricos, políticos e legais
Profª. Dra. Esméria de Lourdes Saveli
Profª. Dra.. Maria Odete Vieira Tenreiro
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O acadêmico deverá ser capaz de:
ROTEIRO DE ESTUDOS
SEÇÃO 1 – A construção do conceito de infância
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UNIDADE I
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
SEÇÃO 1
A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE INFÂNCIA
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Você trabalha com esta faixa etária? Além das questões apontadas anteriormente,
cite, nas linhas abaixo, outras características que você já observou em crianças desta idade.
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UNIDADE I
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Segunda infância. A segunda infância encontra-se,
aproximadamente, entre os três e sete anos de idade da criança. A
principal característica dessa fase é a curiosidade e a fantasia. Os
jogos de faz-de-conta, chamados de jogos simbólicos, acompanham a
passagem da primeira para a segunda infância. A criança, nessa fase,
imita as pessoas, as situações que presencia, os animais que vê, dá vida
aos objetos, conversa com eles, inventa brincadeiras, cria regras para ela
mesma, enfrenta desafios, ignorando os perigos, por exemplo: descer
correndo uma escada, pular de alturas, como outras tantas ”artes” das
crianças. A brincadeira, nessa fase, assume uma importância que não
pode ser ignorada pelos profissionais que trabalham com crianças.
Kishimoto (2002) fala que “a brincadeira é a atividade espiritual mais
pura do homem neste estágio, e ao mesmo tempo típica da vida humana”.
(p.68). À medida que a criança cresce, a brincadeira vai se tornando uma
ferramenta com novos objetivos, novas características.
Outro aspecto muito presente nessa fase é conhecido pelos pais e
professores como a “idade dos porquês”. Em suas perguntas, as crianças
tentam pensar a respeito das razões e lógicas das coisas. A poetisa Cecília
Meireles escreveu o poema Na idade dos porquês que retrata bem essa
fase:
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UNIDADE I
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Com base nas experiências que você tem, cite, nas linhas abaixo, algumas brincadeiras
que são mais valorizadas pelas crianças nesta fase.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Para citar Prout e James (apud HEYWOOD), “a imaturidade das
crianças é um fato biológico, mas a forma como ela é compreendida e se
lhe atribuem significados é um fato da cultura”. (2004, p.12).
Uma criança que vive a sua infância em uma família de classe
média é diferente daquela que vive no seio de uma família de classe
trabalhadora. Além da diferenciação da classe social, existe outro fator
que precisa ser considerado - o gênero, pois os meninos não são criados
da mesma forma que as meninas.
Dessa forma, o conceito de criança e infância precisa estar vinculado
com o entendimento de que as crianças são sujeitos sociais e históricos,
marcados pelas contradições das sociedades em que estão inseridas, e a
infância, mais do que um estágio de desenvolvimento, é uma categoria
histórica e social.
Leia com atenção a citação a seguir e relacione-a com a ideia que
estamos defendendo.
O que você pensa dessa afirmação? Você acredita que as crianças são diferentes
conforme o contexto social em que estão inseridas? Comente nas linhas sua posição.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
A criança como sujeito singular:
A natureza infantil
Você já parou para pensar o quanto você é importante na formação de uma criança?
O quanto sua forma de ver e agir sobre ela são fundamentais na sua vida?
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
c) A criança subverte a ordem e estabelece uma relação crítica com
a tradição.
A criança tem uma lógica própria para olhar o mundo. Esse olhar
desvela as contradições da realidade. Desvelando o real, subvertendo
a aparente ordem natural das coisas, as crianças falam não só do seu
mundo e de sua ótica infantil, mas também do mundo adulto.
O olhar crítico das crianças mostra que ela tem uma lógica própria,
ela desmonta seus carrinhos para ver o que há dentro, monta e desmonta
construções, desmonta as nossas respostas certas quando nos fazem
perguntas ou quando nos contam as coisas. Conheça algumas falas das
crianças:
• “Minha mãe falou que não dá para tomar água muito gelada.
Será que é porque o xixi fica gelado?”
• “Quem me trouxe hoje “pra” escola não foi meu pai, foi meu tio.
Ele é muito bonzinho e quando eu desci do carro ele ‘sorrisou’ pra mim”.
Você já parou para refletir o que dizem as crianças nos mais diferentes momentos?
Relate algumas falas que você tenha ouvido e que tenham sido significativas para você.
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- Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos
descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para
eles...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais
como brincásseis!
-Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num
pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas
como espantalhos desamparados.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Os dois textos nos indicam que as famílias pobres e marginalizadas
tentam enfrentar as desigualdades sociais através do trabalho,
independentemente de quem esteja trabalhando, e qual seja a função a
ser ocupada.
Relate as conclusões que você e seu grupo chegaram sobre os informes lidos.
SEÇÃO 2
PRECURSORES DA INFÂNCIA
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palavras e letras do alfabeto, soletrar, aprender a pronúncia correta das
palavras, adquirir noções de moral e religião.
Robert Owen criou, em 1816, em New Lanark, na Escócia, uma
instituição escolar também pensada em uma perspectiva pedagógica.
Owen era sócio e gerente de uma fábrica de New Lanark. Ele demonstrava
preocupação com os trabalhadores e seus familiares, não permitia que
crianças menores de 10 anos de idade trabalhassem e diminuiu a jornada
de trabalho de 15, 16 horas (que era o comum nas fábricas) para 10 horas
e meia.
Essa instituição atendia a crianças a partir dos dezoitos meses de
idade. O material didático utilizado tinha um propósito educativo que
possibilitava o desenvolvimento do raciocínio.
Para Owen, as crianças aprenderiam com mais facilidade se, ao invés
de receberem uma descrição dos objetos e suas características, fossem
ensinadas a julgar e raciocinar corretamente, de modo a distinguir as
verdades gerais e as afirmações falsas. Na escola, as atividades tratavam
das características dos objetos, do estudo da natureza, de exercícios
físicos, de danças de grupo e de canto coral.
Em 1839, sobre a influência de Owen, na Espanha, Pablo Montesino
demonstrou grande interesse pela educação da primeira infância e
pela formação de professores para essa faixa etária. Fundou a primeira
Escola Normal. Um ano depois, escreveu sua obra Manual deI Maestro,
proporcionando, assim, aos responsáveis pela educação das crianças
pequenas, diretrizes mínimas para seu exercício profissional.
Este manual preconizava questões como a educação para as crianças
de famílias pobres, as quais considerava necessitavam, segundo ele, de
uma atenção maior. No entanto, o autor não desconsiderava a educação
de crianças de famílias abastadas. Ele entendia que estas famílias também
podiam ter deficiências na educação das crianças e caberia à escola suprir
estas necessidades. O manual elaborado por Montesino trazia parâmetros
que deveriam orientar o trabalho dos professores e a organização das
escolas. O autor se preocupou com questões sobre a estrutura física das
escolas, colocando que estas deveriam estar em lugares com bastante
espaço e área verde para atividades ao ar livre, como relata Iwaya,
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
A história da educação registra que o primeiro Jardim de Infância (Kindergarten) foi
criado em Blankenburgo, na Alemanha, em 1840 por Froebel.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
• As atividades espontâneas e lúdicas contribuem no
desenvolvimento infantil.
• A educação possibilita um futuro melhor.
• O futuro desenvolvimento da raça depende exclusivamente da
educação das mulheres.
• O saber não pode restringir-se em um fim em si mesmo, mas
deve estar relacionado com as atividades do organismo.
• O ser humano é essencialmente dinâmico e não meramente
receptivo.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Em Calais, no ano de 1921, Decroly apresentou pela primeira vez
algumas características do seu método. Entre elas destacam-se:
• A escola para a cultura geral até 15 anos deve encontrar-se
em um meio tal que a criança possa observar, diariamente,
os fenômenos da natureza, as manifestações da vida de todos
os seres em geral, e especialmente do homem, nos esforços
necessários para sua perfeita adaptação ao meio.
• As classes devem ser instaladas não sob o tipo de auditório,
mas com o aspecto de pequenas oficinas ou laboratórios (com
mesa, água encanada, gás ou eletricidade, fontes de calor e luz
artificiais, prateleiras para coleções).
• Para o ensino da linguagem oral e escrita, bem como para o de
cálculo, deve ser reservada a primeira hora da aula, pelo menos
3 ou 4 vezes por semana. Com esse fim, serão organizados
exercícios, sobretudo sob a forma de jogos, nos quais a emulação
e o êxito serão os principais estimulantes.
• Quando a primeira parte do dia não for destinada a tais exercícios,
será consagrada à prática de outros, visando à observação,
comparação e associação, desenho e trabalhos manuais, canto
e jogos ginásticos, etc. de acordo com um programa de ideias
associadas. O professor terá em vista o interesse da criança, os
recursos que o meio ambiente possa oferecer e a necessidade de
atribuir justo valor às principais atividades do trabalho mental.
• Os pais serão postos ao corrente do método empregado, de
modo que colaborem para o êxito do mesmo e tomem parte na
administração da escola, por meio de uma junta.
• A preocupação máxima será conduzir a criança a compreender
tudo quanto faça parte e a disciplinar-se por si mesma. O
número restrito de alunos em cada classe permitirá que eles se
levantem e troquem ideias entre si e com o professor, a propósito
dos exercícios em estudo.
• A fim de desenvolver a iniciativa, a confiança e a solidariedade, os
alunos farão conferências cujos temas escolherão e submeterão
à aprovação do professor, professora.
• O interesse pelo trabalho individual e coletivo é obtido com a
colaboração constante dos alunos em todos os trabalhos que
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UNIDADE I
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Celestin Freinet que inovou com métodos e ideias para a educação.
Ele tinha um ideal de educação popular em que o aluno sentisse prazer
em estudar. Para ele, a aprendizagem deveria extrapolar os limites da
sala de aula e favorecer ao máximo a autoexpressão da criança e sua
participação em atividades cooperativas, em tomada de decisões que
muito contribuiriam para seu desenvolvimento.
Freinet percebia que as crianças ao brincarem no recreio
demonstravam muita alegria e criatividade, enquanto em sala de aula
apenas realizavam atividades repetitivas, sem ânimo. Para modificar essa
situação, Freinet criou técnicas que deveriam fazer parte do trabalho
docente, o que tornaria as aulas mais lúdicas e prazerosas. Entre estas
técnicas, destacamos o livro da vida, o fichário de consulta, a aula
das descobertas, o texto livre, a imprensa escolar, a autoavaliação, a
correspondência interescolar, o plano de trabalho.
As técnicas Freinet têm como pano de fundo um novo tipo de escola, de
educação e de sociedade. Elas não devem ser utilizadas como instrumento
que só serve para prender, por alguns instantes, a atenção e o interesse
das crianças, mas como verdadeira aparelhagem de uma nova escola e de
uma nova cidadania. As chaves das técnicas Freinet são reveladas em sua
pedagogia: o método natural e o tateamento experimental, a educação
pelo e para o trabalho, a cooperação, a importância do ambiente escolar
e social e a necessidade de criar material para potencializar essas ideias
na prática educativa.
A introdução na educação das técnicas Freinet para o trabalho
docente promoveu inovações que estão presentes hoje em muitas
escolas que adotaram essa proposta pedagógica. A pedagogia Freinet
revolucionou a dinâmica da sala de aula onde a responsabilidade, a
afetividade, a livre expressão eram fatores fundamentais. Afirmava que
a escola deveria ser ativa, dinâmica, aberta para o encontro com a vida.
Esse contexto histórico possibilita compreender e contextualizar a
Educação Infantil no Brasil.
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SEÇÃO 3
TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL
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Uma das preocupações no final do século XIX no Brasil era
combater os altos índices de mortalidade infantil. Assim, foi aumentado
consideravelmente o número de creches no país, mantidas por entidades
filantrópicas que buscavam dar a assistência necessária à classe
trabalhadora.
Com a vinda dos europeus para o Brasil, houve um fortalecimento
dos movimentos operários. Os trabalhadores passaram a reivindicar mais
os seus direitos trabalhistas, como a educação e o cuidado aos seus filhos
durante a jornada de trabalho.
Para conter as forças operárias, alguns donos de fábricas cederam
benefícios aos trabalhadores, dentre eles a implantação de creches
e jardins de infância para os filhos dos empregados, com o intuito de
uma melhoria na produção. Essas instituições de ensino passaram a ser
reivindicadas também pelas mães que não trabalhavam nas fábricas,
mas que exigiam o direito de manter seus filhos em uma delas. Assim, o
número de instituições criadas pelo poder público brasileiro aumentou.
Em 1908, foi instituída no Brasil a primeira creche para atender
à população, a fim de receber os filhos dos operários que não tinham
condições de pagar por uma instituição privada. Poderiam frequentá-la
crianças com até oito anos de idade.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
o Brasil possuía aproximadamente 100.000 pré-escolas e 30.000 creches,
em 2004. No ano de 2009, o país teve um aumento para 41.506 creches e
104.224 pré- escolas, de acordo com a mesma fonte.
Ainda que a expansão das instituições de Educação Infantil
no Brasil, a partir da década de 1950, tenha sido muito significativa,
bem como o aumento do número de estudos e pesquisas nesta área, é
necessário prestar atenção no que se refere à qualidade da Educação
Infantil. Notamos que o quadro que tínhamos, anteriormente, de uma
educação assistencialista que visava ao cuidado da criança e deixava o
educar em segundo plano, vem se modificando lentamente.
Hoje a Educação Infantil é reconhecida legalmente como um direito
de todos. Para essa conquista, porém, houve uma grande trajetória de
mudanças na legislação brasileira, as quais continuarão acontecendo,
visto que as pesquisas e estudos neste campo têm aumentado, buscando
assim uma maior facilidade para o acesso e permanência da criança neste
segmento educacional.
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UNIDADE I
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
O Estatuto foi fundamental para firmar legalmente os direitos sociais
desses sujeitos singulares que precisam ser reconhecidos como atores do
próprio desenvolvimento. Isso significa dizer que as crianças pequenas
não podem ser encaradas como objetos de ação, mas como sujeitos de
direitos à participação. Outro marco legal que orienta a Educação Infantil
é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 20 de
dezembro de 1996. Com a aprovação dessa lei, a Educação Infantil foi
instituída como parte integrante da Educação Básica. Assim, ela deixou
de ser responsabilidade das secretarias de assistência social, e passou a
ser responsabilidade das secretarias de educação dos municípios. Estas
assumem as responsabilidades referentes aos cuidados e educação das
crianças matriculadas nas instituições de Educação Infantil e passam a
desenvolver projetos pedagógicos voltados para a formação integral da
criança, não dissociando de forma alguma o cuidar e o educar. Portanto,
a LDB 9394/96 é a grande responsável por muitas das mudanças que
ocorreram no campo educacional. Com a sua promulgação, a Educação
Infantil passou a ser considerada como um direito da criança.
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UNIDADE I
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
e para a formulação do Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil (RCNEI). Estes documentos apresentam princípios orientadores
para o trabalho em creches e pré-escolas, tendo por foco a criança e
seus direitos fundamentais. Longe de ser uma “proposta curricular”,
esse texto, de forma simples, direta e incisiva, indica critérios relativos à
organização e ao funcionamento interno das creches, que dizem respeito
principalmente às práticas concretas adotadas no trabalho direto com
as crianças, tendo seus direitos como eixo. Na apresentação do RCNEI,
consta uma definição e os objetivos do documento:
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Vale ressaltar que a Emenda Constitucional nº. 53 de 2006 dá nova forma para a
organização da Educação Infantil, colocando “Educação Infantil, em creche e pré-escola,
às crianças até 5 (cinco) anos de idade”. Pela Lei é direito dos pais ou responsáveis de
crianças de zero até cinco anos de idade contarem com uma instituição educacional, onde
haja vaga para deixar a criança se os pais assim optarem, e estas crianças devem receber
no espaço escolar não somente os cuidados necessários, mas também a aprendizagem
e o desenvolvimento de suas habilidades físicas, psicológicas, intelectuais e culturais. As
instituições devem proporcionar a educação a esta criança, não sendo apenas de caráter
assistencialista, como visto anteriormente.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Somente em 2006, com a criação da Lei Federal nº. 11.274, foi
estabelecido o ensino fundamental de nove anos, incluindo as crianças
de seis anos de idade.
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<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&i
d=12579:educacaoinfantil&catid=195:seb-educacao-basica>.
A Consulta sobre Qualidade da Educação Infantil: o que pensam
e querem os sujeitos deste direito pode ser localizada no site do MIEIB:
<http://www.mieib.org.br>, clicando em Biblioteca.
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Reflita sobre todas as questões apontadas nesta unidade e apresente nas linhas
abaixo as suas principais considerações sobre o estudo.
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• A criança é sujeito de direito e de singularidades, possui especificidades que
devem ser respeitadas e valorizadas.
• Os pais não tinham com quem deixar os filhos acarretando inúmeras dificuldades.
Neste contexto, surgiram pessoas sem nenhuma qualificação, que acolhiam
essas crianças enquanto seus pais trabalhavam nas fábricas.
• Uma das preocupações no final do século XIX no Brasil era combater os altos
índices de mortalidade infantil. Assim, foi aumentado consideravelmente o
número de creches no país.
• Em 1908, foi instituída no Brasil a primeira creche para atender à população, a fim
de receber os filhos dos operários que não tinham condições de pagar por uma
instituição privada.
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REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
KISHIMOTO, Tizuko Morchida e PINAZZA, Mônica Appezzato. Froebel:
uma pedagogia do brincar para a infância. In: FORMOSINHO, Júlia Oliveira.
KISHIMOTO, Tizuko
OLIVEIRA; Zilma Ramos de. Educação Infantil: muitos olhares. São Paulo:
Cortez, 2002.
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REFERÊNCIAS
UNIDADE II
Algumas considerações
conceituais para entender
o desenvolvimento e a
aprendizagem da criança de
0 a 5 anos
Profª Ms. Nelba Maria Teixeira Pisacco
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender e conceituar o desenvolvimento infantil a partir de uma
concepção ampla e ecológica.
Analisar os processos de aprendizagem e desenvolvimento da criança
pequena numa perspectiva multidisciplinar.
Estabelecer relações entre a contribuição da Psicologia e das
Neurociências para compreender o desenvolvimento e a
aprendizagem da criança pequena.
Refletir criticamente sobre temas ligados interação com a
criança pequena.
ROTEIRO DE ESTUDOS
SEÇÃO 1 – O desenvolvimento infantil numa perspectiva multidisciplinar
SEÇÃO 2 – Contribuição da psicologia e das neurociências para
compreender o desenvolvimento e a aprendizagem da criança pequena
SEÇÃO 3 – A interação com a criança pequena: temas em destaque
Universidade Aberta do Brasil
Podemos dizer que cada criança que nasce traz consigo a humanidade
e que diante de cada criança que nasce se (re)inventa a humanidade.
Fenômeno esse que ocorre desde que nos constituímos como espécie. Há
tanto tempo acontece, tantas descobertas foram feitas a respeito, porém
diversas indagações persistem.
O que realmente sabemos sobre o desenvolvimento das crianças?
Os achados de pesquisa têm contribuído para a formação de crianças
mais felizes? Face à dimensão interacionista, socioconstrutivista, o que
caracteriza os contextos favoráveis para o desenvolvimento infantil? A
educação das crianças no Brasil está organizada em consonância com
essas características? Como deveria ser a educação que vê nas suas
crianças a esperança de uma sociedade mais solidária, desenvolvida,
justa e igualitária?
As disciplinas de Psicologia da Educação I e II, ofertadas nos anos
anteriores do curso, abordaram o desenvolvimento e a aprendizagem,
apresentados segundo as matrizes teóricas subjetivistas, objetivistas e
interacionistas.
Nesta unidade, retomaremos alguns conceitos já estudados e
destacaremos pesquisas que transformaram o nosso conhecimento e
entendimento, nas últimas décadas, a respeito do desenvolvimento de
bebês e crianças pequenas. Além disso, abordaremos como o ambiente
inicial pode influenciar esse desenvolvimento. Achados dos campos
científicos da psicologia foram combinados aos da neurologia, da
sociologia e economia, atendimento de saúde e educação, para criar uma
visão multidisciplinar que promova a reflexão e organização de condições
mais favoráveis na Educação Infantil.
Dada à abrangência do tema, fez-se necessário selecionar alguns
aspectos que foram distribuídos em três seções. Na seção I, você encontrará
subsídios para analisar o desenvolvimento infantil numa perspectiva
multidisciplinar, a contextualização do tema nas áreas da saúde e
educação, bem como a discussão de conceitos e definições sobre o tema.
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UNIDADE II
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
A contribuição da Psicologia e das Neurociências para compreender o
desenvolvimento e a aprendizagem da criança pequena é o aspecto a
ser estudado na seção II, apresentando alguns aportes teóricos que dão
forma às concepções atuais e sobre o desenvolvimento do cérebro. Para
finalizar, na seção III você encontrará diversos temas ligados à interação
com a criança pequena: motivação, estímulo e mediação; emoções,
disposições e transições iniciais; comunicação inicial e letramento
(aspectos que vão além dos códigos); aprendizagem autorregulada,
autonomia e estimulação precoce.
SEÇÃO 1
O desenvolvimento infantil numa perspectiva
multidisciplinar
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UNIDADE II
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
• Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil (PQEI):
“[...] a criança é um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo,
em crescimento e em desenvolvimento. É um ser humano completo porque tem
características necessárias para ser considerado como tal: constituição física,
formas de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo está
continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em desenvolvimento
porque essas características estão em permanente transformação. As
mudanças que vão acontecendo são qualitativas e quantitativas - o recém-
nascido é diferente do bebê que engatinha, que é diferente daquele que já
anda, já fala, já tirou as fraldas. O crescimento e o desenvolvimento da criança
pequena ocorrem tanto no plano físico quanto no psicológico, pois um depende
do outro.” (BRASIL, 2006, p. 14).
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UNIDADE II
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Quando se aborda o processo de desenvolvimento, frequentemente alguns
termos são utilizados como sinônimos, embora tenham significados distintos,
portanto se faz necessário distingui-los:
• Crescimento significa aumento físico do corpo, como um todo ou em suas
partes, e pode ser medido em termos de centímetros ou de gramas. Traduz aumento
do tamanho das células –(hipertrofia) – ou de seu número –(hiperplasia).
• Maturação é a organização progressiva das estruturas morfológicas, já
que, como o crescimento, seu potencial está geneticamente determinado. Reflete o
desdobramento gradual do esquema genético de uma pessoa (WEINTEN, 2002). A
maturação neurológica engloba os processos de crescimento, diferenciação celular,
mielinização e o aperfeiçoamento dos sistemas que conduzem a coordenações
mais complexa.
• Desenvolvimento é um conceito amplo que se refere a uma transformação
complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui, além do crescimento, a
maturação, a aprendizagem e os aspectos psíquicos e sociais.
• Desenvolvimento psicossocial é o processo de humanização que inter-
relaciona aspectos biológicos, psíquicos, cognitivos, ambientais, socioeconômicos
e culturais, mediante o qual a criança vai adquirindo maior capacidade para mover-
se, coordenar, sentir, pensar e interagir com os outros e o meio que a rodeia; em
síntese, é o que lhe permitirá incorporar-se, de forma ativa e transformadora, à
sociedade em que vive. (BRASIL, 2002.p.76).
Nos estudos das primeiras décadas do século XX, Como princípios básicos para o desen-
volvimento, constam-se duas tendências:
a investigação em torno do desenvolvimento na infância cefalocaudal a direção do desenvolvim-
preocupava-se em descrever e explicar os processos ento motor da cabeça para os pés (ocorre
o controle primeiro das partes superiores);
de crescimento e de mudança. Embora reconhecendo próximo-distal tendência do desenvolvim-
as diferenças individuais, davam ênfase naquilo que ento motor orientada do centro para as ex-
tremidades (as crianças ganham controle
as crianças têm em comum, estabelecendo padrões sobre o torso antes das extremidades).
universais de normalidade e de desvios à norma, e
A normatização de desenvolvimento”
não considerava o que é único nos indivíduos ou em indica a idade média (mediana) na qual os
culturas específicas. indivíduos apresentam diversos comporta-
mentos e habilidades”. (WEINTEN, 2002).
Tais estudos, descritos em escalas, muitas vezes “As normas etárias não são estabelecidas
distribuídas em fases de desenvolvimento, oferecem como padrões absolutos. São meramente
de referência com os quais podemos
úteis sumários que propiciam conhecer e apontar comparar uma criança [.]. As normas são
sinais de alerta quanto ao que é esperado que a criança úteis se forem usadas com flexibilidade”.
(GESELL, 1992, p.25-26).
desenvolva. Assim, contribuem na organização do .
trabalho pedagógico, nas orientações à família e, em
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
o desenvolvimento da criança. (MUSSEN, 1995). Assim, temos a
possibilidade de analisar a evolução individual através da identificação
de fatores dominantes que fazem parte do processo unitário, dinâmico e
complexo ao mesmo tempo.
Um exemplo do emprego de padrões universais está presente nos
programas do Ministério da Saúde de atenção básica à criança, “com a
finalidade de contribuir para a melhoria da qualidade de suas práticas e,
por extensão, a qualidade de vida das crianças, mediante a monitoração
do seu crescimento e desenvolvimento”. As estratégias adotadas pelo
Ministério da Saúde, a partir de1984, priorizaram cinco ações básicas
de saúde que possuem comprovada eficácia (promoção do aleitamento
materno, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento,
imunizações, prevenção e controle das doenças diarreicas e das infecções
respiratórias agudas). (BRASIL, 2002, p. 3-12).
Na década de 90, os investimentos foram maiores em Programas
de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e de Saúde da Família (PSF),
como estratégias para resgatar o vínculo de co-responsabilidade entre
os serviços e a população, favorecendo não só a cura e a prevenção de
doenças, mas também a valorização do papel das pessoas, das famílias e
da comunidade na melhoria das condições de saúde e de vida.
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SEÇÃO 2
CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA E DAS NEUROCIÊNCIAS
PARA COMPREENDER O DESENVOLVIMENTO E A
APRENDIZAGEM DA CRIANÇA PEQUENA
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Alguns aportes teóricos que dão forma
às concepções atuais
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Teoria Desenvolvimentista – Arnold Gesell
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Teoria socioconstrutivista - Jerome Bruner
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Teoria da Etologia (estudo do comportamento animal)
Konrad Lorenz
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- Demonstrou que não existe uma única inteligência, mas constata-se a
existência de uma pluralidade de inteligências e uma multiplicidade de modos
nos quais cada uma delas se manifesta.
D. R. OLSON:
Zabalza (1996, p.106) destaca duas contribuições do autor:
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Em segundo lugar, houve o reconhecimento de processos
metacognitivos em crianças e jovens. Bronson demonstrou o papel
fundamental de processos metacognitivos e autorreguladores para o
crescimento psicológico total da criança pequena, bem como descreveu
seu desenvolvimento emocional, pró-social, cognitivo e motivacional.
(MOYLES, 2010, p.245).
Nossa intenção ao organizar e apresentar tantos dados de diferentes
fontes, não foi o de construir uma grande colcha de retalhos, mas
reunir ideias e conceitos que suscitem novas leituras, ao mesmo tempo,
que propiciem uma visão mais aberta e ecológica de aprendizagem e
desenvolvimento. Como são diversas, as abordagens são distintas, com
pontos até mesmo conflitantes. Integrá-las em busca de uma síntese é
uma atividade altamente complexa.
Nesse aspecto, as contribuições de Bronfenbrenner podem colaborar
para situar a diversidade de conhecimentos nos contextos, nos sistemas
e nas redes formando uma “teia de relações” que integra e auxilia a
compreender a complexidade de tornar-se humano.
Para integrar aos “fios” já expostos, não podemos deixar de
considerar os estudos sobre o cérebro humano, desenvolvidos nas últimas
décadas, que abordaremos a seguir.
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Outras investigações sobre o cérebro, descritas por Portugal (2008,
p. 15-16) demonstram que cuidados calorosos, responsáveis e adequada
estimulação não representam apenas conforto e prazer para a criança.
Uma vinculação forte e segura, e adequada estimulação, parecem ter
uma função biologicamente protetora, imunizando a criança, de certo
modo, contra os efeitos adversos de stress. (GUNNAR, 1996).
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SEÇÃO 3
A INTERAÇÃO COM A CRIANÇA PEQUENA:
TEMAS EM DESTAQUE
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Como vimos, no processo evolutivo, o desenvolvimento e o
crescimento de uma criança supõem uma complexidade de sistemas
inter-relacionados. A partir da interação, o bebê vai se desenvolvendo
e construindo seu universo. Também como se sabe, o movimento faz
parte do crescimento. Órgãos e funções vão sendo construídos a partir do
movimento. E para que isso ocorra, é necessária a motivação. A motivação
é uma matriz interna, individual e universal, símbolo de saúde. (MORA,
2008).
No início, até que o bebê possa
estruturar os seus processos motivacionais,
toda a motivação e o desejo vêm da mãe.
Os estudos das neurociências integrados
aos da Psicopedagogia – como da argentina
Estela Mora – e da Psicanálise – como de
Maud Mannoni – trazem informações muito
interessantes para entender os mecanismos,
a partir do desejo materno, do futuro
psíquico, cognitivo e emocional de uma
pessoa, ao longo do seu desenvolvimento.
Encontram-se na etapa intrauterina
os primeiros registros psíquicos que são
gerados a partir da matriz visceral materna.
Por sua vez, simultaneamente a região germinal (uma zona profunda
do cérebro) produzirá uma grande quantidade de células cerebrais: os
neurônios. Outras células – chamadas neuroglias – se encarregarão de
nutri-las, sustentá-las e ajudá-las em seu deslocamento. Nas semanas
seguintes, e até o momento do nascimento, os neurônios migrarão até a
superfície, formando o córtex cerebral. Essa zona do cérebro, em conexão
com o subcórtex, será a que, do ponto de vista biológico, oferecerá a base
para a aquisição de novos conhecimentos e para o controle das ações.
(MORA, 2008, p. 137).
Se tudo corre normalmente, as experiências oferecidas pelo
ambiente – em um primeiro momento a mãe será “o ambiente facilitador”
– estimularão as conexões encarregadas de organizar a linguagem,
coordenar os movimentos, definir a percepção do ambiente, reconhecer
o espaço e as distâncias e estabelecer contato com os outros, tendo como
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atitudes de adaptação ao meio, adquiridas através da hereditariedade.
Ao contrário, a criança, vivendo em sociedade, e, principalmente, sob
a mediação de pessoas, apreende comportamentos, atitudes, conceitos,
sentimentos dos homens de seu tempo. Tais aptidões constituem-se
no produto do desenvolvimento sociohistórico. Portanto, antes de se
constituírem como propriedades individuais, são sociais. (PISACCO,
2006, p. 29).
A modificabilidade
Para explicar como a interação humana impulsiona o
não se refere à
desenvolvimento da estrutura cognitiva e fomenta a capacidade humana mudança de um
comportamento
à modificabilidade, Feuerstein desenvolve o aporte conceitual central de
específico, mas
sua teoria: a Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM), ressaltando às mudanças de
natureza estrutural
que toda interação humana se viabiliza pela comunicação.
que alteram o curso
A concepção de Feuerstein, ao apresentar o sujeito cognoscente do desenvolvimento
cognitivo, a
como construtor de seu conhecimento, assemelha-se à abordagem de
forma em que
Piaget, e ao afirmar que a atividade cognitiva qualificada por intermédio o organismo
interage, atua ou
da intervenção do sujeito mediador, conforme abordagem de Vygotsky.
responde às fontes
Encontra consonância, também, com aspectos propostos por González de informação. O
que o indivíduo
Rey (2004, p. 7-9 apud PISACCO, 2006, p.39) ao propor que o outro não
experimenta é
existe como acidente comportamental. uma modificação
cognitiva estrutural,
O outro existe numa sequência histórica de que ocorre por meio
relação que vai se transformando em um sistema de um programa
de sentido, a partir do qual esse outro passa a de intervenção
ter significação no desenvolvimento psíquico da intencional e o
criança, tanto pela produção simbólica delimitada torna mais sensível
nesse espaço de relação, como pela produção às fontes internas
de sentido que a acompanha. Por sua vez, estes e externas de
complexos sistemas de relações entre pessoas estimulação.
sempre são parte dos espaços institucionais nos (FEUERSTEIN,
quais os relacionamentos têm lugar. São esses 1980, apud
espaços de sentido, que se tornam sensíveis VARELA E
para novas aquisições do desenvolvimento, BARBOSA, 2007).
que definimos como unidades subjetivas de
desenvolvimento.
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Emoções, disposições e transições iniciais
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Inteligências múltiplas
Área Se destaca em Gosta de Aprende
linguístico- melhor
verbal
Leitura, Ler, escrever, Lendo,
escrita, contar escutando
narração de histórias, falar, e vendo
histórias, memorizar, palavras,
memorização montar falando,
de datas , quebra- escrevendo,
pensar em cabeças discutindo e
palavras debatendo
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Músical Se destaca em Gosta de Aprende
melhor
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algum sofrimento; e a última razão tem por base o caráter evolutivo do
comportamento. (MUSSEN; CONGER; KAGAN, 1977, p. 26-27).
A criança se depara com limites desde os primeiros momentos de
vida. Ao dizer limites, falamos de aprendizado. O nascimento significa
um primeiro limite entre o mundo interno e externo: interior da barriga
da mãe e o mundo fora da barriga.
O processo de construção cognitiva e estruturação do psiquismo
acontece em diferentes etapas. Com elas, o bebê aprenderá que, em
alguns momentos, o “outro” (sua mãe) estará presente para satisfazer suas
necessidades, e que em outros momentos não será assim. Com base nas
experiências que o bebê vai vivenciando, constrói seu universo simbólico
e vai estruturando seu pensamento. O pensamento é uma maneira de
estabelecer relacionamentos entre o mundo dos objetos e o seu mundo
interno, entre a realidade e a realidade psíquica. Por meio dessas funções,
as regras vão ficando registradas, aquele limite entre o bebê (si mesmo)
e a sociedade, a cultura e o mundo “dos outros”. (MORA, 2008, p.134).
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Outra situação de medo vivenciada pelos bebês é a ansiedade dos
estranhos, que consiste na resposta de ansiedade a um rosto humano
desconhecido, é um claro exemplo de uma reação à discrepância. A
habilidade para reconhecer a qualidade discrepante de uma experiência
de separação requer certo nível de maturidade cognitiva; bebês muito
pequenos, geralmente, são incapazes de sentir medo de separação.
(MUSSEN; CONGER; KAGAN, 1977, p. 178-181).
Como já estudamos, os neurocientistas também consideram que
uma vinculação forte e segura com um cuidador psicologicamente
nutriente tem uma função biologicamente protetora, munindo a criança
de um equipamento que lhe permite lidar com as situações estressantes
da vida diária.
No ingresso à vida escolar anterior aos três anos de idade, a questão
crucial é se as separações diárias entre bebê e mãe podem romper o
processo de vínculo e desenvolver vínculos inseguros com suas mães.
(WEITEN, 2002, p. 317).
A preocupação do professor com o desenvolvimento socioafetivo
de seus alunos é de extrema importância, pois as diferenças culturais nas
atitudes e práticas de criação das crianças podem influenciar os padrões
de vínculos.
Tão importante quanto entender o desenvolvimento emocional, o
educador deve considerar as variações culturais. As crenças subsidiam o
comportamento do indivíduo, são mais implícitas que explícitas e estão
ligadas ao comportamento, mesmo sem mediação de se decidir fazê-lo
conscientemente.
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A formação dos sentimentos está ligada aos valores. Estes podem
ser atribuídos aos outros e a si próprios. Enquanto nos sentimentos
interindividuais os valores são construídos com a cooperação do outro (daí
o compromisso ou reciprocidade em relação aos outros), nos sentimentos
intraindividuais os valores são elaborados com a ajuda do outro, mas a
troca é intrapessoal. Por isso, o compromisso é relativo ao próprio sujeito.
(FARIA, 1995, p.71).
O estabelecimento de regras claras e justas fazendo parte do mundo
social da criança são elementos importantes, não só para a compreensão
social do mundo, mas também para o sentimento de controle, de se sentir
capaz de agir sobre o mundo, de o alterar e de fazer acontecer coisas.
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que habilidades e atributos adquiridos muito
precocemente, facilmente e por quase todo
mundo são menos importantes e menos valiosos
do que aqueles adquiridos posteriormente, com
maior esforço e apenas por algumas pessoas.
(PARKER-RESS, p.40).
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Semelhante ao que tratamos a respeito da comunicação inicial,
percebemos que, embora o bebê não utilize a linguagem simbólica,
muitas vezes seu comportamento em relação ao adulto cuidador é para
conseguir que ele o entretenha. Uma rica variedade de brincadeiras,
comunicações, movimentos, sons, sabores, texturas e envolvimentos com
pessoas ocorre no contexto de prazeres comuns, rotinas familiares e um
relacionamento seguro.
Não deve surpreender, portanto, segundo a autora, que se queira
afirmar que um letramento extremamente significativo começa a se
desenvolver muito antes dos primeiros anos de escolarização. Ele tem
suas raízes nas primeiras interações entre bebês e as pessoas que cuidam
deles, no brincar e nas investigações das crianças quando começam
a caminhar e a se mover com maior independência. Esses primeiros
estágios de comunicação e linguagem são compartilhados com adultos
importantes e, às vezes, com irmãos, e são coloridos por poderosos
sentimentos e emoções ligados a relacionamentos humanos, identidade,
apego, amor e perda. (p.295).
Whitehead (2010, p.295- 297) apresenta o trabalho de Trevarthen
que focalizou bebês “aprendendo em companhia” e identificou a
necessidade fundamental que eles têm de compreender o mundo
e lidar com ele, e de fazer isso compartilhando significados com uma
companhia mais velha e mais sábia. Essa abordagem se vale do trabalho
de Vygotsky (1986), que descreveu os níveis ótimos de aprendizagem e
entendimento atingidos pelas crianças quando fazem coisas em parceria
com um membro da cultura mais velho e mais experiente. Tal construção
social do pensamento salienta a importância das ricas e densas texturas
da vida, e das experiências cotidianas que permitem aos bebês entender
a comunicação, os relacionamentos, os objetos e a cultura. (GOPNIK,
MELZOFF e KUHL, 1999).
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decorre de uma obsessão preocupante com o que virá após os primeiros
anos e da incapacidade de focalizar a qualidade do aqui e agora da vida
da criança (PETRIE e APTER, 2004). Embora Whitehead (2010) discuta
a educação infantil europeia, encontramos semelhanças com a nossa
realidade, principalmente quando afirma: “O ensino da leitura a crianças
muito jovens geralmente é o principal vilão nesta história de oportunidades
perdidas, provisão educacional inadequada e educadores insensíveis”.
(p.298).
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Estimulação Precoce / Superestimulação
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- As habilidades motoras
básicas se desenvolvem melhor - Virar, sentar-se, engatinhar, caminhar,
durante os primeiros quatro correr, subir, desenhar, enfiar e recortar
anos. são treinamentos para o bom uso do
- A coordenação motora corpo.
O movimento
fina, que permite escrever, - Dar a s crianças a possibilidade
amarrar cadarços ou tocar um de explorar, investigar e mover-se
instrumento musical tem seu em espaço seguro, e com elementos
período sensível entre os 3 e os apropriados.
10 anos, aproximadamente.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Para entendermos melhor o que é estimulação precoce e como ela
pode ser orientada, tomaremos por referência Legarda e Miketta (2008).
A estimulação precoce é uma ciência baseada principalmente nas
neurociências, na pedagogia e nas psicologias cognitiva e evolutiva; é
implementada através de programas construídos com a finalidade de
favorecer o desenvolvimento integral da criança.
A estimulação precoce faz uso de experiências significativas
nas quais intervêm os sentidos, a percepção e o prazer da exploração,
o descobrimento, o autocontrole, o jogo e a expressão artística. Sua
finalidade é desenvolver a inteligência, porém sem deixar de reconhecer
a importância dos vínculos afetivos sólidos e uma personalidade segura.
Um aspecto a destacar é que, ao menos na maioria das propostas de
estimulação precoce, a criança é quem gera, modifica, demanda e constrói
suas experiências de acordo com sues interesses e necessidades.
Muitos poderão perguntar: para que executar um programa de
estimulação precoce? Podemos destacar algumas razões que a justificam:
- É um meio que favorece o contato físico e a
interação adulto/criança.
- Permite ao adulto e à criança descobrir as
capacidades e interesses desta última.
- Ajuda a construir a inteligência em uma etapa
neurobiológica chave, como são os primeiros
anos de vida.
- É um dinamizador da personalidade, onde a
criança sentirá satisfação e elevará sua autoestima
ao descobrir o alcance das suas potencialidades.
- É útil para a detecção, prevenção e tratamento
de atrasos no desenvolvimento intelectual.
(LEGARDA & MIKETTA, 2008, p. 5).
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Desejamos uma criança que seja formada a partir dos seus interesses e
potencialidades, segundo seu ritmo pessoal de aprendizagem, através do
jogo, da arte e da exploração do seu ambiente.
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Criação de um clima de afeto - durante a mediação nas ações de estimulação será
privilegiado o afeto, o bom relacionamento, a formação de vínculos afetivos, a segurança
pessoal e a paz interior para consigo mesmo e com os demais.
Ênfase no descobrimento, na exploração, no jogo e nas artes - atividades de
estimulação pretenderão desenvolver a exploração, o descobrimento e o domínio das
habilidades através do jogo e da expressão artística.
Utilização de experiências significativas - como complemento das atividades de
estimulação, trabalhar experiências significativas, cujas vivências de jogo e prazer permitirão
à criança empregar suas distintas áreas de desenvolvimento em torno de um propósito
determinado.
Trabalho nas áreas de desenvolvimento e campos de aprendizagem - trabalhar nos
quatro primeiros anos de vida, em áreas de desenvolvimento; a partir desta idade ampliar a
experiência para as inteligências múltiplas.
Ambientes variados - trabalharemos as experiências na intimidade da sala pré-
escolar ou no lar, porém também em espaços mais amplos como parques, museus, jardins e,
inclusive, laboratórios. (LEGARDA & MIKETTA, 2008, p. 7-13).
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Universidade Aberta do Brasil
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
REFERÊNCIAS
BRUER, J. T. The myth of the first three years-a new understanding of early
brain development and lifelong learning. New York: The Free Press, 1999.
GESELL, Arnold. A criança dos 0 aos 5 anos. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
1992.
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REFERÊNCIAS
Universidade Aberta do Brasil
SHORE, R. Rethinking the brain. New insights into early development. New
York: Families.
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REFERÊNCIAS
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
WEITEN, Mayne. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo:
Pioneira Thomson, 2002.
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REFERÊNCIAS
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
Organização dos tempos
e dos espaços na educaçâo
infantil
Profª. Dra. Esméria de Lourdes Saveli
Profª. Dra. Maria Odete Vieira Tenreiro
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
O acadêmico deverá ser capaz de:
ROTEIRO DE ESTUDOS
SEÇÃO 1 – Tempos e espaços na Educação Infantil
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UNIDADE III
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UNIDADE III
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SEÇÃO 1
TEMPOS E ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
1
RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
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Universidade Aberta do Brasil
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
integral, o profissional de Educação Infantil tem um importante papel
e uma grande responsabilidade. Cabe a ele a função de mediador,
proporcionando momentos de atividades livres e orientadas, e organizador
do ambiente, propiciando recursos pedagógicos de forma a transmitir à
criança segurança para o exercício da autonomia, não a impedindo de
expressar-se e realizar-se de forma completa.
Neste sentido, é necessário repensar a prática pedagógica
da Educação Infantil tendo como referencial básico, as principais
necessidades das crianças pequenas. A partir deste referencial é
possível conceber a criança como ser altamente competente para
construir conhecimentos sobre si mesmo e sobre o mundo. Basta dar-
lhe oportunidade de interagir com crianças de todas as idades, em um
ambiente estimulador, pois ela precisa de parcerias para desenvolver-se.
Para que isso se efetive, apontamos algumas das principais necessidades
das crianças que frequentam a Educação Infantil.
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
na Educação infantil, portanto, não deve se restringir em apenas fazer
um cardápio adequado às necessidades nutricionais, mas também em
acompanhar o desenvolvimento dos hábitos alimentares de cada criança.
No aspecto relacional, o horário das refeições é um momento de relações
e de aprendizagem entre as crianças, ocasião em que é fundamental a
presença do educador como orientador e referência, ajudando-as sempre
que se fizer necessário.
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UNIDADE III
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SEÇÃO 2
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO TRABALHO PEDAGÓGICO
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comuns as brincadeiras de corda, bola, bola de gude, pegador e outras,
nas ruas e quintais. Atualmente, essas brincadeiras já não têm lugar nos
condomínios e apartamentos ou não podem ser feitas por crianças que,
fora da escola, têm que trabalhar cada vez mais cedo ou realizar uma
enorme quantidade de atividades extracurriculares.
Coincidência ou não, tem sido mais frequente a reclamação por
parte dos professores sobre alunos que não conseguem se concentrar,
não param quietos, são desorganizados e desinteressados. Sem nenhuma
pretensão de fazer uma justificativa formal, pensamos que alguns desses
problemas podem diminuir se a escola entender que as brincadeiras
devem ser realizadas com mais frequência pelos alunos.
Talvez na escola ainda não tenhamos atentado para o fato de que
brincadeiras e jogos, exerceram ao longo da história, importante papel no
desenvolvimento das crianças e, por isso, ainda estejam tão distantes de
todas as aulas.
Quando brinca, a criança se defronta com desafios e problemas,
devendo constantemente buscar soluções para as situações a ela colocadas.
A brincadeira auxilia a criança a criar uma imagem de respeito a si mesma,
manifestar gostos, desejos, dúvidas, mal-estar, críticas, aborrecimentos,
dentre outros sentimentos. Se observarmos atentamente a criança
brincando, constataremos que neste brincar está presente a construção
de representações de si mesma, do outro e do mundo, ao mesmo tempo
em que comportamentos e hábitos são revelados e internalizados por
meio das brincadeiras. Através do brincar, a criança consegue expressar
sua necessidade de atividade, sua curiosidade, seu desejo de criar, de ser
aceita e protegida, de se unir e conviver com outros.
O brincar é mais que uma atividade lúdica, é um modo para obter
informações, respostas e contribui para que a criança adquira uma certa
flexibilidade, vontade de experimentar, buscar novos caminhos, conviver
com o diferente, ter confiança, raciocinar, descobrir, persistir e perseverar;
aprender a perder, percebendo que haverá novas oportunidades para
ganhar. Na brincadeira, adquire hábitos e atitudes importantes para
seu convívio social e para seu crescimento intelectual, aprende a ser
persistente, pois percebe que não precisa desanimar ou desistir diante da
primeira dificuldade.
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SEÇÃO 3
BRINQUEDO, JOGO E DESENHO: FORMAS PRIVILEGIADAS
PARA INICIAR A CRIANÇA NO PROCESSO DE LER E ESCREVER
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A brincadeira, o jogo simbólico, atividade conhecida comumente
como jogo de “faz de conta”, ao lado do desenho, formam o conjunto de
atividades que caracterizam as primeiras manifestações da linguagem
escrita da criança. Através da linguagem, a criança está se constituindo
como sujeito. Podemos dizer que o jogo, o brinquedo e o desenho são
excelentes oportunidades para iniciar a criança no processo de aprender
a ler e a escrever.
Quando desenha, a criança coloca no papel, nos muros, na areia ou
nas paredes, aquilo que sabe, sonha ou deseja. O desenho é uma forma
de ela escrever as suas ideias. No jogo e no brinquedo, ela imita, cria e
organiza seu pensamento. Brincando ela alimenta suas ideias para que
sejam escritas e lidas mais tarde.
• A brincadeira
Perguntar por que a criança brinca é perguntar o que é ser
criança. Não se pode imaginar a infância sem seus risos e brincadeiras.
A brincadeira é uma forma privilegiada de aprendizagem. À medida
que vão escrevendo, as crianças trazem para suas brincadeiras o que
veem, escutam, observam e experimentam. O brincar não é apenas uma
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Você lembra quais eram as brincadeiras de que você mais gostava quando era criança?
E as de seus alunos? Você, com certeza, ao observá-los, percebe o quanto são importantes
as relações que se estabelecem entre eles e quanto isso influi no seu desenvolvimento.
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assim, dá sentido às coisas de seu dia a dia. O ato de brincar possibilita à
criança uma melhora na socialização, na criatividade, na espontaneidade
e na coordenação motora.
Neste momento, é fundamental que o(a) professor(a) esteja atento(a)
às diferentes manifestações que a criança possa apresentar para, assim,
poder motivá-la, entendê-la, ajudá-la e interferir no processo de seu
desenvolvimento.
Bruno Bettelheim, no livro Uma vida para seu filho, explicita que:
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Vale lembrar que, na brincadeira, o que encanta e agrada as
crianças é a dificuldade e o desejo de superar as situações vividas. Seja
na escola ou em casa, as brincadeiras não podem apenas ser um simples
divertimento. Elas devem criar conflitos cognitivos que possibilitem às
crianças dar saltos qualitativos em seu desenvolvimento.
Sendo assim, é possível afirmar que o brinquedo é a atividade
principal da criança em idade pré-escolar. Leontiev (1988) explica
que a expressão atividade principal não designa apenas a atividade
frequentemente encontrada em dado nível de desenvolvimento de
uma criança. O brinquedo, por exemplo, não ocupa, de modo algum, a
maior parte do tempo da criança. A criança no período pré-escolar não
brinca mais do que três ou quatro horas por dia. Assim, a questão não
é quantidade de tempo que o processo ocupa e sim sua qualidade. É
denominada atividade principal porque propicia mudanças importantes
no desenvolvimento psíquico da criança, dentro da qual se desenvolvem
processos psíquicos que preparam o caminho da transição dela para um
novo e mais elevado nível de desenvolvimento.
Isso quer dizer que no brinquedo, ao agir, a criança modifica sua estrutura cognitiva,
ela passa a organizar seu pensamento. Estabelece-se uma relação entre pensamento e
situação real. A criança desenvolve seu pensamento para comunicar. Aí está a importância
da brincadeira - para ela poder aprender a ler e escrever.
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de palavras como adivinhas, trava-línguas, parlendas despertam tanto
interesse na criança.
ATIVIDADE
O JOGO
Brincar é uma atividade que convive com o cotidiano das rotinas
escolares, principalmente nas classes de educação infantil. As crianças
brincam com os jogos inventados, espontâneos e com os jogos propostos
por outras crianças mais velhas ou pelo adulto.
Um jogo infantil, ao contrário do que muitos pensam, não precisa
ser espontâneo, isto é, inventado ou escolhido pela criança para ser
do interesse dela e ir ao encontro de suas necessidades. O fato de ser
proposto pelo adulto não faz dele menos jogo, uma não brincadeira, algo
que seja alheio ao mundo infantil. O que faz do jogo um jogo é a liberdade
de ação física e mental da criança nessa atividade. O importante é que
seja proposto de forma que ela possa tomar decisões, agir de maneira
transformadora sobre conteúdos que lhe sejam acessíveis e significativos.
Assim, se os jogos ocupam um espaço privilegiado para a promoção
do desenvolvimento e da aprendizagem, os professores da Educação
Infantil que trabalharem com a proposta de jogos em seus planejamentos
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Gestos – manuseio de brinquedos e objetos. Exemplo: uma
peça de madeira pode representar um batom pela forma como
ela passa a peça em volta dos lábios.
Posturas – uso do próprio corpo para evocar personagens
não presentes. Ex.: pôr-se de quatro, movimentar a cabeça
lateralmente e ranger os dentes como um cachorro faz.
Som – vocalizações que remetem a animais ou coisas. Ex.: latir
imitando um cachorro, miar imitando um gato ou vocalizar o
barulho de um carro.
Palavras – algumas vezes uma palavra é capaz de evocar
situações e/ou coisas. Ex.: dizer “alô” ao pôr uma peça de
encaixe no ouvido explicita uma transformação do objeto,
assim, como uma proposta de conversar ao telefone.
Frases - que explicitam papéis, significados atribuídos a
objetos e a recantos do ambiente físico. Ex.: “não sai de casa,
ô filhinha”.
Relembre e relate abaixo, um episódio observado nos seus alunos que represente os
jogos espontâneos.
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Considerando que os jogos e brincadeiras são espaços privilegiados para a promoção
do desenvolvimento e aprendizagem da criança, organize com seus alunos, uma proposta de
trabalho que tenha como eixo as atividades lúdicas. Relate abaixo a sua proposta.
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Desenho
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Importância do desenho
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Fundamentos Teóricos da Educação Infantil
dialogar com o desenhista e observar, durante a realização do desenho,
quais os diálogos que a criança estabeleceu com os colegas ou com o
próprio desenho.
Observar o desenho pronto não oportuniza perceber a beleza do
diálogo, os gestos, os olhares entre as crianças. Quando observamos
suas produções, verificamos que os desenhos muitas vezes resultam da
discussão e das ideias que surgem à medida que as crianças desenham.
É fundamental que o professor esteja atento para esses momentos e assim
compreenda os desejos e interesses das crianças.
Quando tiver oportunidade, proponha uma atividade de desenho aos seus alunos
ou para um grupo de crianças. Verifique no momento em que estão desenhando quais os
diálogos que se estabelecem entre eles. Anote a seguir um episódio que lhe tenha chamado
a atenção.
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estar apta para desenhar. É na ação de desenhar figuras humanas que a
criança vai aos poucos estruturando sua ideia sobre tal figura. Assim, o
desenho da criança reflete a forma como ela vê o mundo em determinado
momento do seu desenvolvimento. Ao se observarem desenhos infantis
de diferentes lugares, qualquer que seja o país ou classe social, é possível
notar que crianças com idades correspondentes têm, em seus desenhos,
características semelhantes. Isso indica duas questões fundamentais:
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b)Fase pré-esquemática
Período em que
começa a surgir no de-
senho das crianças formas
fechadas, algo semelhante
a bolinhas, que se orga-
nizam de acordo com de-
terminados sinais topológi-
cos (dentro/fora; em cima/
embaixo). Essas formas são
conquistadas pelas crian-
ças a partir da progressiva
organização do traçado da
garatuja. Nesse momento
da sequência evolutiva,
Fonte: pesquisa das autoras observam-se nos desen-
hos infantis dois caminhos
muito interessantes. Algumas crianças articulam diversas formas entre si,
que configuram figuras geométricas. Esse gênero de desenho é denomi-
nado diagrama. O segundo caminho é percorrido por aquelas que vão
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colocando filamentos em suas formas fechadas, obtendo assim espécie
de sóis, de aranhas, que, por tentativas, transformam-se nos rudimentos
da figura humana.
Nesta fase aparece a forma primitiva de escrita (grafismo). Ainda que não haja uma
distinção entre os sinais, as crianças dão a cada um deles um significado. É a descoberta da
função simbólica da escrita.
c) Fase esquemática
A principal característica dos desenhos esquemáticos é que neles
as figuras encontram-se organizadas segundo temas e com uma ordem
espacial. As coisas da terra se localizam na borda inferior da folha, as
coisas do céu na parte superior. Há uma proporção entre as figuras e
uma integração dos temas. A intenção do que representar e de como
representar é manifestada.
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Podemos afirmar que o jogo, o brinquedo e o desenho são
fundamentais para a realização do trabalho pedagógico. São recursos que
contribuem para o desenvolvimento integral da criança. Tais propostas
devem ser constantes, principalmente na Educação Infantil, pois ampliam
o desenvolvimento linguístico e psicomotor, além de estabelecer relações
de afetividade. Nesses momentos, a criança não só aprende, como também
exterioriza, cria, relaciona-se, expressa, compreende, negocia, interage,
busca e encontra soluções para as situações detectadas.
Entendemos que quanto mais interessantes forem as propostas
oferecidas pelos professores, maiores serão as chances de os alunos
se desenvolverem. A imaginação e criatividade das crianças serão
incentivadas e alimentadas pelas propostas desafiadoras que o professor
proporcionar. Por sua vez, ele deve estar atento e receptivo às situações,
para que possa observar as interações, verificar dificuldades, analisar
comportamentos e, assim, propor novos encaminhamentos para a
melhoria de seu trabalho em sala de aula.
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SEÇÃO 4
AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEPÇÕES E
PRÁTICAS
Caro aluno!
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Os fundamentos legais para avaliar na Educação Infantil
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Já o artigo 11 das Diretrizes trata sobre a integração entre Educação
Infantil e Ensino Fundamental:
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Ao avaliar as crianças nesta etapa da escolarização, o professor
precisa conhecer as preferências delas, bem como a forma de participarem
nas atividades, percebendo, assim, os colegas prediletos para a realização
de diferentes tipos de tarefas. Deste modo, o professor reorganiza
as atividades de modo mais adequado ao alcance dos propósitos
infantis e das aprendizagens coletivamente trabalhadas. A partir deste
encaminhamento, o professor poderá fortalecer ou modificar a situação,
para que se efetive o projeto político pedagógico de cada instituição.
(OLIVEIRA, 2010, p. 14).
Assim entendida, a avaliação da aprendizagem na Educação Infantil
cumpre sua função processual e contínua, ou seja, de acompanhamento
da criança em seu desenvolvimento. É a partir da avaliação inicial
(diagnóstica), formativa e cumulativa (somativa) que as funções da
avaliação serão alcançadas.
Veja no quadro a seguir estes conceitos:
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desenvolvido por Fernandes (2006, p.40) questiona o emprego deste
termo:
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tendo em vista que neles também se revelam as ações didáticas, ou seja, as
mediações que os professores desenvolvem: a verdadeira relação entre o
planejamento e a avaliação concretiza-se através da prática da construção
e reflexão dos relatórios de cada criança. A autora também deixa clara a
sua opção pela expressão “relatório” ao invés de “pareceres descritivos”,
por considerar que este termo revela uma visão comportamentalista e
classificatória da avaliação tradicional, uma vez que
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REGISTRO DE CASO
Criança: Tatiana
Data: 16/08/06
Evento:
Pela primeira vez, expressa em seu desenho a presença da
mãe, em seguida a risca na cor preta.
Cenário:
Atividade de desenho livre após o recreio.
Partilha os materiais
NOME DO Compreende Organiza os
durante a OBSERVAÇÕES
ALUNO as regras do jogo brinquedos
brincadeira
Fonte: a autora
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[...] o trabalho pedagógico e a avaliação deixam
de ser responsabilidade exclusiva do professor.
A parceria passa a ser um princípio norteador
das atividades [...] A vivência desse processo
desenvolve a autonomia do aluno diante do
trabalho [...] A criança percebe que pode trabalhar
de forma independente e que não precisa ficar
sempre aguardando orientação do professor.
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estava acontecendo naquele momento». (SHORES; GRACE, 2001, p.55).
As formas de armazenamento de portfólios fica a critério da
decisão do professor em acordo com os alunos, mas as mais comumente
encontradas são em uma pasta com divisórias, tipo “gaita”, que pode ser
construída ou comprada; pasta com plásticos; envelopes; caixas; enfim, a
criatividade deve ser o foco principal.
Conforme você estudou ao longo desta seção, os autores aqui
referenciados compõem um universo de informações e conhecimentos
que são considerados imprescindíveis para a formação e atuação docente
com crianças na Educação Infantil.
Continue estudando, dedicando-se às leituras!
Registre nas linhas abaixo, algumas considerações que mostrem o que mudou no seu
modo de olhar e perceber a prática avaliativa na educação infantil.
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REFERÊNCIAS
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PALAVRAS FINAIS
Prezados alunos
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NOTAS SOBRE AS AUTORAS
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AUTORAS
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