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CRONOLOGIA DA BÍBLIA

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1ª Edição – Maio de 2018

Impresso por Ricopy Lda


Revisão gráfica: Hélio Machonhane
Avenida 24 de Julho,377
Maputo – Moçambique
Maio de 2018
ÍNDICE

Introdução ......................................................................................................................... 1

3899 AC – (A.B. 1) – Criação de Adão e Eva .................................................................. 6

3769 AC - (A.B. 130) – nascimento de Sete .................................................................... 7

3664 AC – (A.B. 235) – nascimento de Enos .................................................................. 8

3574 AC – (A.B. 325) - nascimento de Cainã .................................................................. 8

3504 AC – (A.B. 395) – nascimento de Maalaleel ........................................................... 8

3439 AC – (A.B. 460) – nascimento de Jerede ............................................................... 8

3277 AC – (A.B. 622) – nascimento de Enoque .............................................................. 8

3212 AC – (A.B. 687) – nascimento de Matusalém ......................................................... 8

3025 AC – (A.B. 874) – nascimento de Lameque, pai de Noé ........................................ 8

Comentário sobre o Livro de Jasher ................................................................................ 9

2969 AC – (A.B. 930) – morte de Adão ......................................................................... 11

2912 AC – (A.B. 987) – Arrebatamento de Enoque....................................................... 12

2857 AC – (A.B. 1042) – morte de Sete ........................................................................ 12

2843 AC - (A.B. 1056) – nascimento de Noé ................................................................. 12

2759 AC - (A.B. 1140) – morte de Enos ........................................................................ 12

2664 AC - (A.B. 1235) – morte de Cainã ....................................................................... 12

2609 AC - (A.B. 1290) – morte de Maalaleel ................................................................. 12


2477 AC - (A.B. 1422) – morte de Jerede...................................................................... 12

2363 AC - (A.B. 1536) – Deus limita o tempo dos homens ........................................... 13

2343 AC - (A.B. 1556) – nascimento de Jafé, filho de Noé ........................................... 13

2341 AC - (A.B. 1558) – nascimento de Sem ................................................................ 13

2248 AC - (A.B. 1651) – morte de Lameque, pai de Noé .............................................. 13

2243 AC - (A.B. 1656) – morte de Matusalém ............................................................... 13

2243 AC - (A.B. 1656) – o dilúvio ................................................................................... 14

2242 AC - (A.B. 1657) – secam-se as águas do dilúvio ................................................ 17

2241 AC - (A.B. 1658) – nascimento de Arfaxade ......................................................... 18

2206 AC - (A.B. 1693) – nascimento de Selá ................................................................ 18

2176 AC - (A.B. 1723) – nascimento de Eber ................................................................ 18

2142 AC - (A.B. 1757) – nascimento de Pelegue .......................................................... 18

2112 AC - (A.B. 1787) – nascimento de Reú ................................................................. 18

2080 AC - (A.B. 1819) – nascimento de Serugue.......................................................... 19

2050 AC - (A.B. 1849) – nascimento de Naor ............................................................... 19

2021 AC - (A.B. 1878) – nascimento de Tera ................................................................ 19

1983 AC - (A.B. 1916) – nascimento de Naor e Harã.................................................... 19

1952 AC - (A.B. 1947) – nascimento de Ló ................................................................... 20

1951 AC - (A.B. 1948) – nascimento de Abraão ............................................................ 20


1941 AC - (A.B. 1958) – nascimento de Sara ................................................................ 21

1901 AC - (A.B. 1998) – Tera parte para Harã .............................................................. 21

Comentário sobre a Seder Olam Rabbah ...................................................................... 22

1903 AC - (A.B. 1996) – morte de Pelegue e Babel ...................................................... 23

1902 AC - (A.B. 1997) – morte de Naor ......................................................................... 24

1901 AC - (A.B. 1998) – morte de Harã, irmão de Abraão ............................................ 24

1893 AC - (A.B. 2006) – morte de Noé .......................................................................... 24

1881 AC – (A.B. 2018) – promessa de Deus a Abraão ................................................. 25

Entre 2023 A.B. e 2034 A.B. .......................................................................................... 29

1862 AC - (A.B. 2034) – nascimento de Ismael ............................................................. 31

1849 AC - (A.B. 2047) – Deus muda o nome de Abraão .............................................. 31

1849 AC - (A.B. 2047) – circuncisão da casa de Abraão .............................................. 31

1848 AC - (A.B. 2048) – destruição de Sodoma e Gomorra ......................................... 31

1851 AC - (A.B. 2048) – nascimento de Isaque ............................................................ 33

1850 AC - (A.B. 2049) – morte de Serugue ................................................................... 33

1846 AC - (A.B. 2053) – expulsão de Agar e Ismael ..................................................... 33

1825 AC – (A.B. 2074) – nascimento de Rebeca .......................................................... 35

1816 AC - (A.B. 2083) – morte de Tera, pai de Abraão ................................................ 35

1812 AC - (A.B. 2087) – uma esposa para Isaque ....................................................... 36


1812 AC - (A.B. 2087) – morte de Ló ............................................................................. 37

1811 AC - (A.B. 2088) – morte de Naor ......................................................................... 37

1811 AC - (A.B. 2088) – casamento de Isaque e Rebeca ............................................. 38

1809 AC - (A.B. 2090) – Abraão casa com Quetura...................................................... 38

O Encurtamento da vida dos homens ............................................................................ 39

1803 AC - (A.B. 2096) – morte de Arfaxade .................................................................. 39

1791 AC - (A.B. 2018) – nascimento de Esáu e Jacó ................................................... 42

1776 AC - (A.B. 2123) – morte de Abraão ..................................................................... 42

1773 AC - (A.B. 2126) – morte de Selá ......................................................................... 42

1771 AC - (A.B. 2128) – Esaú vende sua primogenitura ............................................... 42

1771 AC a 1751 AC - (2128 A.B. a 2148 A.B.) .............................................................. 43

1751 AC - (A.B. 2148) – Esaú se casa .......................................................................... 43

1741 AC - (A.B. 2158) – morte de Sem ......................................................................... 43

1736 AC - (A.B. 2163) – nascimentos de Léia e Raquel ............................................... 43

1728 AC - (A.B. 2171) – morte de Ismael ...................................................................... 44

1728 AC - (A.B. 2171) – a benção de Jacó ................................................................... 44

1714 AC - (A.B. 2185) - a partida para Padã-Arã .......................................................... 44

1712 AC - (A.B. 2187) – morte de Eber ......................................................................... 46

1707 AC - (A.B. 2192) – os casamentos de Jacó .......................................................... 46


1707 AC a 1700 AC (2192 A.B. a 2199 A.B.) – os filhos de Jacó ................................. 48

1700 AC - (A.B. 2199) – Jacó cumpre 14 anos de trabalho .......................................... 49

De 1700 AC a 1694 AC - Jacó trabalha mais 6 anos para Labão ................................. 49

1694 AC - (A.B. 2205) – Jacó (97 anos) retorna a Canaã ............................................. 50

1694 AC - (A.B. 2205) – Deus muda o nome de Jacó................................................... 50

1689 AC - (A.B. 2207) – Diná é violada ......................................................................... 50

1692 AC - (A.B. 2207) – Vingança de Levi e Simeão .................................................... 51

1692 AC - (A.B. 2207) – Jacó muda para Betel ............................................................. 52

1692 AC – (A.B. 2207) – Mortes de Rebeca, Débora, e Labão .................................... 52

1691 AC - (A.B. 2208) – Nascimento de Benjamin e morte de Raquel ......................... 52

1690 AC - (A.B. 2209) – Jacó se estabelece nas cercanias de Belém ......................... 52

1690 AC - (A.B. 2209) - Ruben deita-se com Bila ......................................................... 53

1690 AC - (A.B. 2209) – Jacó vai ter com Isaque .......................................................... 54

1685 AC - (A.B. 2214) – morte de Léia .......................................................................... 54

1683 AC – (A.B. 2216) – José é vendido aos midianitas .............................................. 54

1683 AC – (A.B. 2216) – José é vendido a Potifar ........................................................ 54

1682 AC – (A.B. 2217) – José na prisão por 12 anos ................................................... 55

1672 AC - (A.B. 2227) – As prisões do copeiro e do padeiro do rei do Egito ............... 55

1671 AC - (A.B. 2228) – morte de Isaque ...................................................................... 56


1670 AC - (A.B. 2229) – José interpreta o sonho de Faraó .......................................... 56

1670 AC - (A.B. 2229) – José governa sobre o Egito .................................................... 57

1670 AC - (A.B. 2229) – início dos sete anos de fartura ............................................... 57

1666 AC - (A.B. 2233) – nascimento de Manassés e Efraim ........................................ 57

1663 AC - (A.B. 2236) – início dos sete anos de fome .................................................. 57

1663 AC – (A.B. 2236) - nascimento de Coate .............................................................. 58

1661 AC - (A.B. 2238) – ida de Israel para o Egito....................................................... 58

210 anos de permanência no Egito ............................................................................... 59

Por que a ida de Israel para o Egito?............................................................................. 62

1644 AC - (A.B. 2255) – morte de Jacó ......................................................................... 63

1633 AC - (A.B. 2266) – nascimento de Anrão .............................................................. 63

1629 AC - (A.B. 2270) - morte de Faraó, amigo de José .............................................. 63

1590 AC - (A.B. 2309) – morte de José ......................................................................... 64

Os antecedentes da escravidão ..................................................................................... 64

1568 AC - (A.B. 2331) – morte de Levi .......................................................................... 64

1537 AC - (A.B. 2362) – nascimento de Miriã ............................................................... 64

1535 AC - (A.B. 2364) – nascimento de Arão ................................................................ 65

1532 AC - (A.B. 2367) – nascimento de Moisés (7 de Adar)......................................... 65

1530 AC - (A.B. 2369) – morte de Coate ....................................................................... 66


1496 AC - (A.B. 2403) - morte de Anrão ........................................................................ 66

1493 AC - (A.B. 2406) - nascimento de Josué .............................................................. 66

1492 AC - (A.B. 2407) – Moisés mata um egípcio e foge ............................................. 66

1490 AC - (A.B. 2409) - nascimento de Calebe ............................................................. 66

O Livro de Jó .................................................................................................................. 67

Seria Jó o primeiro livro escrito da Bíblia? ..................................................................... 69

O calendário judaico ....................................................................................................... 71

1452 AC - (A.B. 2447) - Moisés se apresenta perante Faraó ....................................... 72

1452 AC - (A.B. 2447) – as dez pragas do Egito ........................................................... 74

1451 AC - (A.B. 2448) - a instituição da Páscoa ........................................................... 75

1451 AC - 15 de Nisan - (A.B. 2448) - o Êxodo de Israel .............................................. 77

1451 AC - (A.B. 2448) – travessia do mar vermelho ..................................................... 77

1451 AC -16 de Lyar - (A.B. 2448) - Deus envia o Maná .............................................. 78

1451 AC - (A.B. 2448) - os Dez Mandamentos ............................................................. 78

1450 AC - (A.B. 2449) – o Tabernáculo é levantado ..................................................... 79

1450 AC - (A.B. 2449) – a primeira Páscoa fora do Egito ............................................. 79

1450 AC - (A.B. 2449) – o recenseamento do povo ...................................................... 79

1450 AC – (A.B. 2449) - o povo se desloca para o deserto de Parã............................. 80

1450 AC - (A.B. 2449) - visita dos espias a Canaã ....................................................... 80


1450 AC - (A.B. 2449) - a rebelião de Coré ................................................................... 82

1450 AC a 1412 AC – (2449 A.M a 2487 A.B.) - 40 anos no deserto ........................... 82

1412 AC - (A.B. 2487) - 40º ano da peregrinação no deserto ....................................... 83

1412 AC - (A.B. 2487) - morte de Miriã no mês primeiro .............................................. 84

1412 AC - (A.B. 2487) - Moisés impedido de cruzar o Jordão ...................................... 84

1412 AC - (A.B. 2487) - morte de Arão no mês quinto .................................................. 84

1412 AC - (A.B. 2487) - Eleazar é o novo sumo sacerdote de Israel ............................ 84

1412 AC - (A.B. 2487) - Israel derrota Arade, rei dos cananeus ................................... 85

1412 AC - (A.B. 2487) - Deus envia serpentes contra o povo ....................................... 85

1412 AC - (A.B. 2487) - Israel conquista Hesbom ......................................................... 85

1412 AC - (A.B. 2487) - Moisés faz um novo censo ...................................................... 85

1412 AC - (A.B. 2487) - Josué substitui Moisés ............................................................ 86

1412 AC - (A.B. 2487) - Israel derrota os midianitas ..................................................... 86

1412 AC - (A.B. 2487) – herança de Gade, Ruben e Manassés................................... 86

1412 AC - (A.B. 2487) - Moisés delimita as terras ......................................................... 86

1412 AC - (A.B. 2487) - morte de Moisés aos 120 anos ............................................... 86

1412 AC / 1411 AC - (A.B. 2487 / 2488) – Lamento pela morte de Moisés .................. 87

1411 AC - (A.B. 2488) - Israel cruza o Jordão em 10 de Nisan .................................... 87

1411 AC - (A.B. 2488- 14 de Nisan) - primeira Páscoa fora do deserto ....................... 88


1411 AC - (A.B. 2488 – 15 de Nisan) – cessa o Maná .................................................. 88

1411 AC - (A.B. 2488) – Josué conquista Jericó e Ai .................................................... 88

1411 AC - (A.B. 2488) – o mais longo dos dias da Bíblia .............................................. 89

1411 AC - (A.B. 2488) - O Sol literalmente parou......................................................... 90

1405 AC - (A.B. 2494) - as tribos recebem sua herança ............................................... 95

1385 AC - (A.B. 2514) – os ossos de José e demais patriarcas são enterrados .......... 96

1383 AC - (A.B. 2516) - morte de Josué ........................................................................ 97

1383 AC a 1365 AC (2516 A.B. a 2534 A.B.) - Fim da geração de Josué .................... 98

O Período dos Juízes ..................................................................................................... 99

Os 349 anos do período dos Juízes ............................................................................ 103

1365 AC - (A.B. 2534) – fim da geração fiel a Deus .................................................... 107

1365 AC a 1357 AC – (A.B. 2534 até A.B. 2542) - opressão da Mesopotâmia .......... 107

1357 AC a 1317 AC - (A.B. 2542 até A.B. 2582 ) - Otoniel - 1º Juiz de Israel ............ 108

13147 AC a 1237 AC – (A.B. 2582 até A.B. 2662) - Eúde - 2º juiz ............................. 109

Sangar - 3º juiz ............................................................................................................. 110

1237 AC a 1197 AC – (A.B. 2662 até A.B. 2702) - Débora - 4ª juíza.......................... 110

1197 AC a 1157 AC – (A.B. 2702 até A.B. 2742) - Gideão - 5º juiz ............................ 111

A História de Rute ........................................................................................................ 111

1157 AC a 1153 AC – (A.B. 2742 até A.B. 2745) - Abimeleque domina Israel por 3
anos .............................................................................................................................. 113
1157 AC a 1134 AC – (A.B. 2742 até A.B. 2765) - Tola - 6º Juiz ................................ 113

1134 AC a 1112 AC - (A.B. 2765 até A.B. 2787) - Jair - 7º Juiz .................................. 113

1112 AC a 1106 AC – (A.B. 2787 até A.B. 2793 ) - Jefté - 8º Juiz .............................. 113

1106 a 1099 AC – (A.B. 2793 até A.B. 2800 ) - Ibizã - 9º Juiz .................................... 114

1099 AC a 1089 AC – (A.B. 2800 até A.B. 2810 ) - Elon - 10º Juiz ............................ 115

1089 AC a 1081 AC – (A.B. 2810 até A.B. 2818) - Abdom - 11º Juiz ......................... 115

1081 AC a 1061 AC – (A.B. 2818 até A.B. 2838) - Sansão - 12º Juiz ........................ 115

1061 AC a 1021 AC – (A.B. 2838 até A.B. 2878) - Eli - 13º Juiz ................................. 115

1044 AC - (A.B. 2855) - Nascimento de Davi .............................................................. 116

1021 AC a 1016 AC – (A.B. 2878 até A.B.2883) - Samuel - 14º e último Juiz sobre
Israel ............................................................................................................................. 116

Idade de Samuel .......................................................................................................... 118

1016 AC a 1014 AC – (A.B. 2883 até A.B. 2885) - Reinado de Saul .......................... 123

Saul consulta a feiticeira .............................................................................................. 128

Saul e o caso dos gibeonitas ....................................................................................... 129

O destino de Saul ......................................................................................................... 131

Reinado de Davi ........................................................................................................... 132

Davi, o homem segundo o coração de Deus ............................................................... 132

1014 AC a 974 AC – (A.B. 2885 até A.B. 2925) - reinado de Davi ............................. 133

1014 AC a 1013 AC – (A.B. 2885 até A.B. 2886) - reinado de Is-Bosete ................... 133
1014 AC / 1013 AC – (A.B. 2885 até A.B. 2886) - nascimento de Amnon, Absalão e
Adonias ......................................................................................................................... 134

1007 AC – (A.B. 2892) - Davi conquista Jerusalém .................................................... 135

1001 AC – (A.B. 2898) - a Arca é transferida para Jerusalém .................................... 136

1001 AC a 996 AC – (A.B. 2898 até A.B. 2903) - as guerras de Davi ........................ 136

996 AC - (A.B. 2903) - Davi engravida Bate-Seba ...................................................... 137

995 AC - (A.B. 2904) - nascimento de Salomão .......................................................... 137

984 AC - (A.B. 2915) - Absalão toma o poder ............................................................. 138

975 AC - (A.B. 2924) - Davi faz o censo de Israel ....................................................... 139

974 AC - (A.B. 2925) - Adonias se autoproclama rei e Davi constitui Salomão seu
sucessor ....................................................................................................................... 139

974 AC - A.B. 2925) - morte de Davi ........................................................................... 139

O legado de Davi para a construção do Templo ......................................................... 141

974 AC - (A.B. 2925) - início do reinado de Salomão .................................................. 143

971 AC a 964 AC – (A.B. 2928 até A.B. 2935) - construção do Templo ..................... 144

937 AC - (A.B. 2962) - escolha de Jeroboão ............................................................... 144

935 AC - (A.B. 2964) - morte de Salomão ................................................................... 145

Reino Dividido - Reis de Israel ..................................................................................... 147

Roboão - 1° rei de Judá – 17 anos - 935 AC a 919 AC ............................................... 154

Jeroboão - 1° rei de Israel – 22 anos - 937 AC a 916 AC ........................................... 157


Abias - 2° rei de Judá – 3 anos - 918 AC a 916 AC..................................................... 160

Asa - 3° rei de Judá – 41 anos - 916 AC a 876 AC ..................................................... 161

Nadabe – 2° rei de Israel – 2 anos - 915 AC a 914 AC ............................................... 162

Baasa - 3° rei de Israel - 24 anos - 914 AC a 891 AC ................................................. 163

Elá - 4° rei de Israel – 2 anos - 891 AC a 890 AC ....................................................... 163

Zinri - 5° rei de Israel – 1 semana - 890 AC ................................................................. 164

Onri - 6° rei de Israel – 12 anos - 890 AC a 879 AC .................................................... 164

Acabe - 7° rei de Israel – 22 anos - 878 AC a 857 AC ................................................ 167

Coregência Acabe / Onri – 881 AC a 879 AC .............................................................. 167

Jeosafá - 4° rei de Judá – 25 anos - 876 AC a 852 AC ............................................... 169

Acazias - 8° rei de Israel – 2 anos - 860 AC a 859 AC ................................................ 171

Jorão - 9° rei de Israel – 12 anos - 859 AC a 848 AC ................................................. 172

Jeorão - 5º rei de Judá – 13 anos - 860 AC a 848 AC ................................................. 174

Coregência Jeosafá / Jeorão – 860 AC a 852 AC ....................................................... 174

Acazias - 6° rei de Judá – 1 ano - 848 AC ................................................................... 176

Jeú - 10° rei de Israel – 28 anos - 848 AC a 821 AC ................................................... 177

Atalia – 6 anos - 847 AC a 842 AC .............................................................................. 178

Joás - 7° rei de Judá – 40 anos - 842 AC a 803 AC .................................................... 180

Jeoacáz - 11° rei de Israel – 17 anos - 820 AC a 804 AC ........................................... 181


Coregência Jeoacaz / Jeoás – 3 anos – 806 AC a 804 AC ......................................... 182

Jeoás - 12° rei de Israel – 16 anos - 806 AC até 791 AC ............................................ 182

Amazias - 8° rei de Judá – 29 anos - 805 AC a 777 AC .............................................. 183

Coregência Joás – Amazias – 3 anos - 805AC a 803 AC ........................................... 184

Coregência Amazias - Azarias – 24 anos - ( 800 AC a 777 AC .................................. 184

Jeroboão - 13° rei de Israel – 41 anos - 803 AC a 763 AC ......................................... 185

Co-reinado Jeoás – Jeroboão – 13 anos - 803 AC a 791 AC ..................................... 186

Uzias (Azarias) - 9° rei de Judá- 800 AC a 749 AC ................................................... 186

Coregência Amazias / Azarias – 24 anos - 800 AC a 778 AC..................................... 187

Coregência Azarias – Jotão – 1 ano - 749 AC ............................................................ 187

Fundação de Roma - 754 AC....................................................................................... 188

Zacarias - 14º rei de Israel – 6 meses - 763 AC .......................................................... 188

Salum - 15º rei de Israel – 1 mês - 762 AC .................................................................. 189

Menaém - 16º rei de Israel – 10 anos - 762 AC a 752 AC........................................... 189

Pecaías - 17º rei de Israel – 2 anos - 751 AC a 750 AC.............................................. 190

Peca - 18º rei de Israel – 20 anos - 749 AC a 730 AC ................................................ 190

Jotão - 10º rei de Judá – 16 / 20 anos - 748 AC a 733 AC .......................................... 190

Coregência Azarias – Jotão – 1 ano - 749 AC ............................................................. 191

Acaz - 11º rei de Judá – 16 anos - 741 AC a 726 AC .................................................. 191


Oseias - 19º rei de Israel – 9 anos - 730 AC a 722 AC ............................................... 192

Ezequias - 12º rei de Judá – 29 anos - 728 AC a 700 AC ........................................... 193

O Prisma de Taylor e o Prisma de Senaqueribe ......................................................... 196

A relação de datas de Oseias com Ezequias .............................................................. 197

A sobrevivência das 10 tribos de Israel ....................................................................... 199

Judá depois da queda de Israel ................................................................................... 201

Manassés - 13º rei de Judá – 55 anos - 700 AC a 646 AC ......................................... 201

Amon - 14º rei de Judá – 2 anos - 646 AC a 645 AC .................................................. 202

Josias - 15º rei de Judá – 31 anos - 645 AC a 615 AC ............................................... 202

Jeoacaz (Salum) - 16º rei de Judá – 3 meses - 615 AC .............................................. 205

Jeoiaquim - 17º rei de Judá – 11 anos - 614 AC a 604 AC ......................................... 206

614 AC - 1º ano de Jeoiaquim ..................................................................................... 206

612 AC – 3º ano de Jeoiaquim – Daniel no Exílio (1ª deportação) ............................. 207

611 AC - 4º ano de Jeoiaquim – início de Nabucodonosor ......................................... 208

610 AC - 5º ano de Jeoiaquim – Daniel governa na Babilônia .................................... 209

609 AC - 6º ano - Jeoiaquim cessa o pagamento de tributos...................................... 209

605 AC – 10º ano de Jeoiaquim – 2ª leva de deportados ........................................... 210

604 AC – 11º ano de Jeoiaquim - fim do reinado ........................................................ 211

Gráfico Histórico das deportações ............................................................................... 211


Crônica Babilônica ou Crônica de Nabucodonosor ..................................................... 212

A campanha de Nabucodonosor no ocidente .............................................................. 212

Joaquim (Jeconias) - 18° rei de Judá - 3 meses - 604 AC .......................................... 214

604 AC - 3ª leva de deportados ................................................................................... 214

Zedequias - 19º rei de Judá – 11 anos - 603 AC a 593 AC ......................................... 215

603 AC - 1º ano de Zedequias - 9º ano de Nabucodonosor ........................................ 215

600 AC - Deus rompe o pacto com o povo .................................................................. 216

595 AC - 9º de Zedequias – Jerusalém cercada ......................................................... 217

594 AC - 10º de Zedequias - 4ª leva de deportados ................................................... 218

593 AC - 11º de Zedequias – Jerusalém invadida ....................................................... 218

593 AC - 11º ano – Zedequias é preso ........................................................................ 218

593 AC - Jerusalém é destruída - deportação de Ezequiel ......................................... 219

O Profeta Ezequiel e o Egito ........................................................................................ 220

589 AC - 5ª deportação ................................................................................................ 222

569 AC– morte de Nabucodonosor - Início de Evil-Merodaque .................................. 222

As datas históricas do Império Neo-Babilônico ........................................................... 222

Senaqueribe tenta invadir Jerusalém – 701 AC ou 715 AC? ...................................... 224

Início de Nabucodonosor – 611 AC ou 605 AC? ......................................................... 225

Os reis babilônicos do tempo de Daniel....................................................................... 226


566 AC– início de Neriglissar ....................................................................................... 227

562 AC– Labashi-Marduke reina 1 mês....................................................................... 227

562 AC– Nabonido toma o poder ................................................................................. 228

Os documentos históricos sobre a queda da Babilônia ............................................... 228

A Crônica de Nabonido ................................................................................................ 230

557 AC - 6º de Nabonido – Ciro derrota Astíages ....................................................... 231

556 AC - 7º ano – coregência com Belsazar ............................................................... 231

554 AC - 9º ano – morre a mãe de Nabonido .............................................................. 233

546 AC - o 17º ano de Nabonido ................................................................................. 233

Ciro na Babilônia .......................................................................................................... 236

Início de Outubro de 546 AC – Ciro ataca Acádia ....................................................... 236

12 de Outubro de 546 AC - Ciro combate Nabonido em Sipar ................................... 237

13 de Outubro de 546 AC – Gobrias, e não Ciro, entra na Babilônia ......................... 237

De 13 a 28 de Outubro de 546 AC - o povo da Babilônia é desarmado ..................... 237

29 de Outubro de 546 AC - Ciro entra na Babilônia .................................................... 237

Mês de Novembro de 546 AC - Gobrias instala subgovernadores ............................. 238

Dezembro de 546 AC a Março de 545 AC - templos restaurados .............................. 238

6 de Novembro de 544 AC - morte de Gobrias ........................................................... 239

A queda da Babilônia pela palavra de Isaías capítulo 13 ............................................ 240


Dario ocupa a Babilônia ............................................................................................... 240

Dario constituiu 120 sátrapas sobre as províncias da Babilônia ................................. 240

Daniel gozou da confiança de Dario ............................................................................ 241

Daniel na cova dos leões ............................................................................................. 241

Daniel entende que o fim do exílio está próximo ......................................................... 241

Daniel recebe a revelação das 70 semanas ................................................................ 241

O Cilindro de Ciro ......................................................................................................... 242

543 AC - a libertação do cativeiro ................................................................................ 245

A contagem para os 70 anos de exílio ......................................................................... 245

O retorno do Exílio........................................................................................................ 249

543 AC - 1º retorno com Zorobabel ............................................................................. 249

542 AC - início da reconstrução do Templo ................................................................. 250

542 AC a 528 AC - reconstrução do Templo interrompida 14 anos ............................ 250

537 AC - morte de Ciro ................................................................................................ 250

537 AC a 529 AC início de governo e morte de Cambises (Artaxerxes I) .................. 251

Dario I, o Grande .......................................................................................................... 252

529 AC - Dario torna-se rei da Pérsia .......................................................................... 252

529 AC - as obras do Templo são retomadas ............................................................. 253

529 AC - Dario é questionado sobre as obras ............................................................. 253


528 AC - Dario autoriza a continuidade das obras ...................................................... 254

528 AC - Zorobabel governador da Judeia .................................................................. 254

524 AC - termina a reconstrução do Templo ............................................................... 254

493 AC - morte de Dario, o Grande ............................................................................. 254

Assuero (Xerxes I) - O Livro de Ester .......................................................................... 255

493 AC - Assuero (Xerxes I), Imperador da Pérsia ..................................................... 255

491 AC - início dos acontecimentos do livro de Ester ................................................. 255

488 AC– Assuero derrotado pelos gregos ................................................................... 256

487 AC– Ester levada à presença de Assuero ............................................................ 256

482 AC– Hamã pede o extermínio dos judeus ............................................................ 257

482 AC– Hamã e os inimigos dos judeus enforcados ................................................. 257

473 AC –– morte de Xerxes I ....................................................................................... 258

473 AC– Artaxerxes I rei da Pérsia .............................................................................. 258

467 AC - Esdras retorna a Jerusalém com 1754 pessoas, 76 anos depois de Zorobabel
...................................................................................................................................... 259

467 AC– os judeus despedem as mulheres estrangeiras ........................................... 259

454 AC - ordem para a reconstrução de Jerusalém no 20º ano de Artaxerxes .......... 259

A conexão do 20º ano de Artaxerxes com a crucificação de Jesus ............................ 261

441 AC - Neemias retorna à Babilônia por breve tempo ............................................. 263

434 AC– morte de Artaxerxes I .................................................................................... 264


Período Intertestamentário ........................................................................................... 264

Alexandre, o Grande .................................................................................................... 265

330 AC– Alexandre, o Grande, conquista a Pérsia ..................................................... 265

323 AC– morre Alexandre, o Grande ........................................................................... 267

312 AC - Seleuco I Nicator na Síria ............................................................................. 268

250 AC– a Septuaginta ................................................................................................ 268

A revolta dos Macabeus ............................................................................................... 269

169 AC– Antíoco (IV) Epifâneo invade o Egito ............................................................ 269

167 AC– Antíoco (IV) Epifânio invade novamente Israel - o templo é profanado ....... 270

167 AC– Matatias inicia a Revolta dos Macabeus....................................................... 272

165 AC a 164 AC - Matatias......................................................................................... 273

164-160 AC - Judas Macabeu (Yehudah Makkabi) ..................................................... 274

160 a 143 AC - Jônatas................................................................................................ 275

Os partidos religiosos ................................................................................................... 275

134 a 104 AC - João Hircano ....................................................................................... 277

104 até 103 AC - Aristóbulo I ....................................................................................... 279

103-76 AC - Alexandre Janeu I .................................................................................... 279

76-66 AC - Alexandra ................................................................................................... 280

66-63 AC - Aristóbulo II ................................................................................................ 280


59 AC– Júlio Cesar ...................................................................................................... 282

27 AC) - Augusto Cesar ............................................................................................... 282

Herodes, o Grande ....................................................................................................... 283

37 AC– Herodes governador da Judéia ....................................................................... 283

20 AC– Herodes constroi o “terceiro Templo” ............................................................. 288

A vida de Jesus ............................................................................................................ 293

A ligação de Daniel 9 com a crucificação de Jesus - 30 DC ...................................... 295

30 DC - Crucificação de Jesus ..................................................................................... 296

A hipótese do nascimento de Jesus em 6 AC ............................................................. 300

A questão da morte de Herodes .................................................................................. 302

A Estrela de Belém ....................................................................................................... 305

A teoria de Kepler quanto à Estrela de Belém ............................................................. 308

Outras teorias sobre a Estrela de Belém ..................................................................... 310

A visita dos magos a Jesus .......................................................................................... 314

3 AC– o nascimento de Jesus...................................................................................... 316

3 AC- a fuga para o Egito e a matança dos inocentes ................................................ 318

1 AC– o retorno a Nazaré ............................................................................................ 318

Ano 1– Ano Domini ...................................................................................................... 319

A adoção do calendário gregoriano ............................................................................. 319


O Ano Domini e Dionísio, o Exíguo .............................................................................. 321

Os anos faltantes do calendário judaico ...................................................................... 323

9 DC– Jesus celebra a Páscoa em Jerusalém ............................................................ 326

14 DC– morte de Augusto e ascensão de Tibério César ............................................ 326

O calendário da Páscoa judaica .................................................................................. 327

As Festas dos judeus ................................................................................................... 329

A definição de Sábado ................................................................................................. 330

O calendário judaico do ano 30 ................................................................................... 332

Calendário de Março / Abril do Ano 30 ........................................................................ 335

Os eventos de antes da crucificação ........................................................................... 335

Ano 30 DC - 9 de Nisan – Sexta-feira – Jesus visita Lázaro ...................................... 335

Ano 30 DC - 10 de Nisan – Sábado - entrada triunfal em Jerusalém ......................... 335

Ano 30 DC - 11 de Nisan – Domingo – os vendilhões do Templo .............................. 336

Ano 30 DC - 12 de Nisan - Segunda-feira - o Sermão Profético e os planos de prender


Jesus ............................................................................................................................ 337

Aspectos a serem considerados a respeito da Ceia e Crucificação do Senhor .......... 337

Ano 30 DC - 13 de Nisan – Terça-feira – a preparação da Ceia do Senhor ............... 339

Ano 30 DC - 14 de Nisan – quarta-feira - a crucificação ............................................. 342

Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira - 6 horas da manhã - início do julgamento de


Pilatos ........................................................................................................................... 345
Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira – 3 de Abril - 9 horas da manhã - a crucificação
...................................................................................................................................... 346

Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira - das 12 às 15 horas - trevas sobre a Terra . 346

Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira - 15 horas - morte de Jesus .......................... 346

15 a 17 de Nisan - quinta, sexta e Sábado no seio da Terra - o sinal do Profeta Jonas


...................................................................................................................................... 347

Ano 30 DC - 16 de Nisan - sexta-feira - a compra das especiarias............................. 349

Ano 30 DC - 18 de Nisan – Domingo – ressurreição de Jesus .................................. 350

Ano 30 DC – 27 de Lyar – 16 de Maio de 30 DC – Quinta-feira – Ascenção de Jesus


...................................................................................................................................... 350

Ano 30 DC – 6 de Sivan – 24 de Maio de 30 DC – Sexta-feira – Pentecostes .......... 350

Sobre Flávio Josefo (37 DC - 100 DC) ........................................................................ 352

Antecedentes da Guerra dos Judeus contra os Romanos .......................................... 355

62 DC - Morte de Tiago, irmão de Jesus ..................................................................... 357

A Guerra contra os romanos - o início das hostilidades .............................................. 357

66 DC - 12° ano de Nero .............................................................................................. 359

Pequena nota sobre Vespasiano, Tito e Domiciano .................................................... 362

A Guerra do Judeus Contra os Romanos .................................................................... 363

68 DC - 69 DC - Galba, Otom e Vitélio ........................................................................ 371

A Guerra Civil dentro de Jerusalém ............................................................................. 373

Os Muros de Jerusalém ............................................................................................... 374


Tito ataca os Muros de Jerusalém ............................................................................... 377

"O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" ................................................. 379

A Fome em Jerusalém ................................................................................................. 380

A conquista da Fortaleza Antônia ................................................................................ 381

"Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias" ......................................... 383

O Templo incendiado .................................................................................................... 385

Tito entra em Jerusalém ............................................................................................... 388

8 de Setembro de 70 DC - A destruição de Jerusalém ............................................... 390


1

Introdução

A Bíblia pode ser quase toda datada baseando-se nos eventos nela
registrados. O tempo bíblico é contado em anos. Diz, por exemplo,
Gn 5:3, que Sete, o terceiro filho de Adão, nasceu quando este tinha
130 anos de idade. Seria portanto o Ano Bíblico 130, ou seja, 130
anos transcorridos desde a criação do homem. Enos, filho de Sete,
conforme Gn 5:6, nasceu quando seu pai tinha 105 anos de idade;
Seria, portanto, o Ano Bíblico 235, resultado da soma de 130 + 105.
Cainã foi gerado quando Enos, seu pai, tinha 90 anos de idade, o
que determina o Ano Bíblico 325 como ano de seu nascimento.

Ano Ano Ref.


Gregoriano Evento Bíblico Bíblica
3899 AC Criação de Adão (Ruivo) e Eva 1 Gn 1:26
3769 AC Nascimento de Sete 130 Gn 5:3
3664 AC Nascimento de Enos 235 Gn 5:6
3574 AC Nascimento de Cainã 325 Gn 5:9

Alguns eruditos propõem que estes anos mencionados na Bíblia têm


uma contagem diferente da que temos hoje em dia. Seriam, segundo
eles, anos mais curtos, justificando que os judeus utilizavam o
calendário lunar, o que não é de todo correto, pois todos os
calendários lunares sincronizam-se com o ano tropical da Terra, ou
seja, com o tempo que leva o ciclo completo das estações, visando
principalmente que as atividades agrícolas ocorram na época
adequada. Como a duração do mês lunar não se encaixa em um
divisor exato dentro do ano tropical, um calendário lunar rapidamente
se perderia dentro das estações.

O calendário judaico, conforme trataremos adiante, acrescenta um


mês a cada ciclo de três anos, tendo, desta forma, anos com doze
meses, e anos com treze meses, os chamados anos embolísticos.
Curioso que na era do Templo, duas testemunhas oculares tidas
como acreditadas testificavam perante o Sinédrio que tinham visto a
lua nova, crescente e prateada, quando só então o sacerdote
declarava o início de um novo mês.

Mas próprio Livro de Gênesis nos esclarece sobre este assunto


quando trata dos eventos relativos ao dilúvio. Vejamos o que nos diz
o texto bíblico: " No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo,
aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas
as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram, e
houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.” (Gn
2

7:11-12)

Gn 7:24 nos revela que "prevaleceram as águas sobre a terra cento e


cinquenta dias.”

Gn 8:1-4 diz que "lembrou-se Deus de Noé, e de todos os seres


viventes, e de todo o gado que estavam com ele na arca; e Deus fez
passar um vento sobre a terra, e aquietaram-se as águas. Cerraram-
se também as fontes do abismo e as janelas dos céus, e a chuva dos
céus deteve-se. E as águas iam-se escoando continuamente de
sobre a terra, e ao fim de cento e cinquenta dias minguaram. E a
arca repousou no sétimo mês, no dia dezessete do mês, sobre os
montes de Ararate.”

Desta forma, entre o dia dezessete do segundo mês, e dezessete do


sétimo mês, transcorreram 150 dias em cinco meses, o que se refere
a meses de 30 dias. (Gn 7:24)

Seguindo, portanto, esta lógica, datamos os principais eventos


bíblicos, totalizando 3899 anos até o ano 1 de nossa era. Baseados
neste algoritmo (3899), apresentamos neste trabalho duas datas
para cada evento: o Ano Bíblico – anos desde a criação do homem, e
a consequente data gregoriana.

Feita a conversão de Ano Bíblico para o formato gregoriano, derivam


datas bastante “confortáveis”, e outras nem tanto, quando encaramos
os padrões historicamente aceitos.

Pelo algoritmo encontrado (3899), a queda de Israel, por exemplo, foi


datada, conforme a Bíblia, no Ano Bíblico 3177, correspondente ao
ano 722 AC (3899-3177=722), compatibilizando perfeitamente a data
bíblica com a data histórica aceita. O início do reinado de Davi no
Ano Bíblico 2885 converte-se pelo mesmo algoritmo em 1014 AC; o
Êxodo de Israel ocorrido conforme a Bíblia no Ano Bíblico 2448,
situa-se em 1451 AC, datas bastante próximas às aceitas pelos
padrões históricos. Datas deste tipo são as que chamamos
“confortáveis”, ou seja, datas próximas ou idênticas às historicamente
aceitas.

As desconfortáveis, no entanto, são as que se referem aos


primórdios da criação, pois, segundo a contagem bíblica, o homem
vive sobre a terra há menos de seis mil anos, ponto em que
discordam os fundamentalistas bíblicos dos liberais, uma vez que a
ciência define achados arqueológicos, por exemplo, em datas muito
3

anteriores a isto.

A Bíblia coloca o homem em cena há cerca de 6.000 anos atrás,


enquanto a Teoria da Evolução afirma que tanto os primeiros
homens como o restante dos seres vivos surgiram sobre a terra há
cerca de 65 milhões de anos. Para os que pensam assim, mesmo
cristãos, os primeiros onze capítulos de Gênesis são classificados,
por assim dizer, de “ficção científica.” É como se o redator de
Gênesis quisesse encurtar uma longa história em poucas páginas,
onde ao invés de contar como foi a “evolução” da espécie humana,
optasse por uma lenda onde conta a história de suas gerações
ancestrais, culminando no ato criativo de uma figura mítica conhecida
como Adão.

Este argumento acaba por rotular Gênesis como um livro semi-


inspirado, uma vez que não se aceita literalmente o que está ali
escrito até o surgimento de Abraão, o patriarca das fés judaica,
islâmica e cristã.

Num raciocínio radical, ao não aceitar integralmente Gênesis, por


qual razão não se poria da mesma forma em dúvida o Livro de
Efésios, se são ambos partes de uma mesma história? Não foram
ambos inspirados pelo Espírito Santo? Teria porventura faltado
argumentação a Deus para inspirar Moisés a contar a “verdadeira
história da evolução humana”, preferindo assim substituí-la por uma
versão simplificada que muitos reputam por ridícula?

O mau uso do criacionismo de Darwin cuidou de ridicularizar a


crença integral na criação do homem e fez surgir um sem número de
teorias que a contestam. Desta forma, para justificar a existência do
homem tal qual ele é hoje, a teoria da evolução forjou uma estória
que necessita de milhões de anos para se sustentar, e desta forma,
Gênesis é rotulado por muitos acadêmicos como folclore judaico.

Veja a complicação em que se mete quem nega a literalidade de


Gênesis: o Evangelho de Lucas, no seu capítulo três, por exemplo,
retrocede a genealogia de Jesus até os dias de Adão, citando um a
um seus ancestrais - um a um sem faltar qualquer que seja - todos
perfeitamente datados. O que fazer então, classificar também Lucas
como folclore bíblico?

Gênesis é de fato o ponto de partida da história humana, e como


veremos, seguindo seus padrões de datação, e prosseguindo pelos
demais livros da Bíblia, somaremos estes quase quatro mil anos e
4

chegaremos ao ano 1, que divide a história entre antes e depois de


Cristo.

A Bíblia nos revela que estamos no mundo há cerca de 6.000 anos e


o fundamentalismo bíblico demanda que assim entendamos, sendo
esta, portanto, não uma questão de opinião, nem de posição pessoal,
mas sim de fé na Palavra Escrita de Deus.

Por acaso uma pessoa que tem dificuldade de aceitar o relato da


criação aceita de bom grado o do dilúvio? Acredita que Moisés abriu
o Mar Vermelho? Acredita que o rei Josafá derrotou numa guerra
milhares de moabitas e amonitas sem ter sequer que colocar um só
homem no campo de batalha? Aceita que Jesus curou os cegos e
ressuscitou os mortos? Ou aceita que ele próprio ressuscitou depois
de passar três dias sepultado?

Ora, a Bíblia é um livro que relata muitas coisas extraordinárias,


muitos milagres, fatos que são inaceitáveis para pessoas
desprovidas de fé e conforme se lê em Hebreus 11:6 “sem fé é
impossível agradar a Deus.” Pior que isto, sem fé é impossível
entender Deus. A verdade é que há aqui uma tremenda inversão de
valores: não é Deus quem tem que correr atrás do homem para que
ele aceite a Escritura, mas sim o homem é quem tem um tempo
bastante limitado, a duração de sua vida, para ser justificado perante
o seu Criador. É esta a advertência do Evangelho: não é Deus quem
tem um problema para resolver, mas sim nós.

A descabida presunção do homem de se achar o centro do universo


está em total desacordo com a revelação bíblica: nós não somos
centro de coisa alguma.

A Bíblia, de capa a capa nos revela Deus, e compete a cada um de


nós tomar a sua decisão: aceitar ou rejeitar sua graça.
Homens sujeitos às mesmas dificuldades e fraquezas que marcam
as nossas vidas registraram sua presença na mais importante
história escrita da existência humana, a Bíblia, onde 3500 pessoas
diferentes são referenciadas em longos relatos ou simplesmente
mencionadas em um único versículo.

O que vamos demonstrar aqui é a perfeita harmonia cronológica


desta história.

Maputo, Moçambique, 26 de Março de 2018


5

De Adão a Matusalém
Ano Ref
Gregoriano Evento Bíblico .Bíblica
3899 AC Criação de Adão e Eva 1 Gn 1:26
3769 AC Nascimento de Sete 130 Gn 5:3
3664 AC Nascimento de Enos 235 Gn 5:6
3574 AC Nascimento de Cainã 325 Gn 5:9
3504 AC Nascimento de Maalaleel 395 Gn 5:12
3439 AC Nascimento de Jerede 460 Gn 5:15
3277 AC Nascimento de Enoque 622 Gn 5:18
3212 AC Nascimento de Matusalém 687 Gn 5:21
3025 AC Nascimento de Lameque 874 Gn 5:25
2969 AC Morte de Adão aos 930 anos 930 Gn 5:5
2912 AC Arrebatamento de Enoque aos 365 anos 987 Gn 5:23-24
2857 AC Morte de Sete aos 912 anos 1.042 Gn 5:8
2843 AC Nascimento de Noé 1.056 Gn 5:28-29
2759 AC Morte de Enos aos 905 anos 1.140 Gn 5:11
2664 AC Morte de Cainã aos 910 anos 1.235 Gn 5:14
2609 AC Morte de Maalaleel aos 895 anos 1.290 Gn 5:17
2477 AC Morte de Jerede aos 962 anos 1.422 Gn 5:20
2363 AC Deus limita a idade do homem a 120 anos 1.536 Gn 6:3
2343 AC Referência ao nascimento de Jafé 1.556 Gn 5:32
2341 AC Nascimento de Sem 1.558 Gn 11:10
2248 AC Morte de Lameque aos 777 anos 1.651 Gn 5:31
2243 AC Morte de Matusalém 1.656 Gn 5:27

O relato das datas que veremos a seguir, entre a criação do homem


e a morte de Matusalém, embora possa parecer uma coisa
secundária, pois descreve apenas nascimentos e mortes de pessoas,
é, na verdade, fundamental para o cálculo de todas as datas contidas
na Bíblia. Faltasse uma delas, não seria possível qualquer cálculo,
ainda mais que o referido trecho cronológico nos fala dos ancestrais
de Jesus reportados no Evangelho de Lucas. Enquanto Mateus nos
dá a genealogia de José, marido de Maria, pai de Jesus por adoção,
mostrando seu direito à sucessão ao trono de Davi pela linhagem do
rei Salomão, Lucas nos mostra que Maria era descendente de Davi
pela linhagem de Natã.

Mateus reporta a árvore genealógica de Abraão até Jesus (Mt 1:1-


17), e Lucas descende a linhagem de Maria até Adão (Lc 3:23-38),
criado por Deus, confirmando, e desta forma tornando literal, a
informação contida em Gênesis, que para muitos é apenas um relato
simbólico. Também citam pessoas deste período a Epístola aos
6

Hebreus, I e II Pedro, Judas, além de outros livros do Antigo


Testamento.

3899 AC – (A.B. 1) – Criação de Adão e Eva


Situamos o Ano Bíblico 1, ano da criação de Adão, em 3899 AC, uma
vez que somados, conforme veremos, todos os acontecimentos
registrados na Bíblia, 3899 anos se passaram entre a criação do
homem até o ano 1 de nosso calendário.

Comecemos pela criação de Adão e Eva, conforme Gênesis 1:26-27:


“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as
aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o
réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua
imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”

Há uma prática comum nos dias de hoje que tende a tratar algumas
narrativas de Gênesis como mito, ou seja, uma espécie de
argumento literário que visa conduzir a uma verdade teológica, sendo
a criação, a queda do homem no Jardim do Edem, o dilúvio, etc.,
bons exemplos disto.

Neste caso, o relato do Edem não seria algo para ser tomado como
história de fato, mas sim uma narrativa utilizada para ensinar
verdades básicas da teologia, coisa semelhante às parábolas tão
utilizadas por Jesus para transmitir seus ensinamentos. No entanto, o
uso de parábolas na Bíblia, bem como de qualquer outro argumento
literário, encontra-se bastante clarificado, de maneira que não é
possível entender a Parábola do Bom Samaritano, por exemplo,
como fato histórico, mas sim, como argumento literário.

Desta forma, só se pode entender o relato da criação e queda do


homem como história de fato, e não como mito, uma vez que o
Apóstolo Paulo e Judas trataram Adão como personagem histórico
(Rm 5:14, I Co 15:45, I Tm 2:13-14, Jd 1:14), além de Lc 3:38 que
menciona Adão como ancestral de Jesus. O próprio Senhor Jesus se
referiu ao primeiro casal em Mt 19:4, como também a outros eventos
tidos como míticos, como o dilúvio, por exemplo, o que desta forma
os caracteriza como históricos, a menos que se queira também
transformar Jesus em mentiroso.

Adão e Eva geraram Caim e Abel, sobre os quais não há relatos


cronológicos, não se sabendo, portanto, os anos de seus
7

nascimentos. Após a morte de Abel, morto por seu irmão, e o


banimento de Caim do convívio de sua família, o relato cronológico
menciona o nascimento de Sete, filho de Adão e Eva, quando Adão
tinha 130 anos de idade. Quanto a Caim, veio a criar sua própria
família, e Gênesis relata os nomes de seus descendentes, que aliás,
coincidem com alguns nomes dos descendentes de Sete, mas trata-
se de outras pessoas.

Uma pergunta frequente que se faz, é como Caim encontrou uma


mulher, se até aquele momento a Bíblia relata apenas os
nascimentos de Caim e Abel? Quem tem esta dúvida não leu Gn 5:4
que diz que Adão gerou filhos e filhas: "E foram os dias de Adão,
depois que gerou a Sete, oitocentos anos, e gerou filhos e filhas”. O
fato é que o redator de Gênesis, conforme veremos em toda a
sequência cronológica até o dilúvio, reporta apenas a gênese
patriarcal. Caim e sua descendência desaparecerão da história,
dando lugar aos filhos de Sete, ancestrais de Jesus. Tudo na Bíblia
aponta para Jesus.

Um relato sobre as filhas de Eva está presente no livro apócrifo de


Jasher, bem como também no Livro dos Jubileus, sobre os quais
falaremos mais adiante, mencionando que além de Caim e Abel,
Adão e Eva geraram antes do nascimento de Sete mais três filhas
mulheres, uma delas, a esposa de Caim. No Livro dos Jubileus estas
filhas são citadas nominalmente, onde o redator conta que Awan,
primeira filha de Eva, nascida um ano depois de Abel (Jubileus 4:9)
veio a ser a esposa de Caim.

Especificamente no que se refere ao período compreendido entre


Adão e o dilúvio, a Bíblia foca a cronologia das pessoas justas
daquele tempo. Notaremos que nenhum dos personagens em
questão, dos descendentes de Sete, veio a morrer por causa do
dilúvio. Matusalém, o homem que mais tempo viveu sobre a terra
vem a falecer de causas naturais justamente no ano do dilúvio.

3769 AC - (A.B. 130) – nascimento de Sete


Gn 5:3 registra que “Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho
à sua semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de
Sete.” Desta forma, o nascimento de Sete se deu no Ano Bíblico 130,
ou seja, 3769 AC. Como computamos 3899 anos de Adão até o ano
1 do calendário gregoriano, este é o nosso algoritmo de conversão
das datas Ano Bíblico. Desta forma, subtraindo-se 3899 de 130
8

temos o resultado negativo - 3769, o que significa 3769 AC (antes de


Cristo).

130
3899
-3769

3664 AC – (A.B. 235) – nascimento de Enos


Da mesma forma, Gn:5-6 registra que “viveu Sete cento e cinco
anos, e gerou a Enos”, portanto, Enos nasceu no Ano Bíblico 235,
correspondente ao ano do nascimento de Sete acrescido dos anos
de sua vida quando lhe nasceu o filho: 130+105. As datas de
nascimento dos demais personagens apontados seguem o mesmo
raciocínio.

3574 AC – (A.B. 325) - nascimento de Cainã


Em Gn 5:9 temos que “viveu Enos noventa anos, e gerou a Cainã”,
portanto Cainã nasceu no Ano Bíblico 325, correspondente à soma
do ano de nascimento e da idade de seu pai na ocasião: (235 +90).

3504 AC – (A.B. 395) – nascimento de Maalaleel


Em Gn 5:12 temos que “viveu Cainã setenta anos, e gerou a
Maalaleel”, nascido no Ano Bíblico 395, correspondente ao ano do
nascimento de Cainã acrescido de sua idade na ocasião: (325 + 70).

3439 AC – (A.B. 460) – nascimento de Jerede


Em Gn 5:15 temos que “viveu Maalaleel sessenta e cinco anos, e
gerou a Jerede”, que nasceu no Ano Bíblico 460 (395 + 65).

3277 AC – (A.B. 622) – nascimento de Enoque


Em Gn 5:18 temos que “viveu Jerede cento e sessenta e dois anos, e
gerou a Enoque”, nascido no Ano Bblico 622 (460+162).

3212 AC – (A.B. 687) – nascimento de Matusalém


Em Gn:5:21 temos que “viveu Enoque sessenta e cinco anos, e
gerou a Matusalém”, nascido no Ano Bíblico 687 (622 + 65).

3025 AC – (A.B. 874) – nascimento de Lameque, pai de Noé


Em Gn 5:25 temos que “viveu Matusalém cento e oitenta e sete
anos, e gerou a Lameque”, nascido no Ano Bíblico 874, (687 + 187).
9

Comentário sobre o Livro de Jasher


O Livro de Jasher é um documento que relata de forma paralela ao
Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia), os eventos ocorridos
entre a criação do homem até os dias de Josué. Pode ser facilmente
encontrado na Internet para download ou ser adquirido impresso na
língua inglesa no site Amazon.com.

Em termos cronológicos Jasher é um escrito posterior ao Êxodo,


conforme relata ele próprio em seu capítulo 73 (Jasher 73:28-29): “E
Balaão, o mágico, quando viu que a cidade fora tomada, abriu o
portão, e ele e seus dois filhos, e oito irmãos, fugiram e retornaram
ao Egito, a Faraó, rei do Egito. Estes são os feiticeiros e mágicos que
são mencionados no Livro da Lei, que ficaram contra Moisés quando
o Senhor trouxe as pragas ao Egito.” O Livro da Lei, neste caso, se
refere ao Êxodo, onde se reportam os dez mandamentos.

Jasher é mencionado diretamente duas vezes no Antigo Testamento,


e indiretamente por Paulo, a saber:

1 - Em Js 10:13: “E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se


vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O
sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se,
quase um dia inteiro”;

2 - Em 2 Sm 1:18: “Dizendo ele que ensinassem aos filhos de Judá o


uso do arco. Eis que está escrito no livro de Jasher”;

3 - Há também ao menos uma referência não direta ao mesmo livro


no Novo Testamento, em II Tm 3:8 que relata: “como Janes e
Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à
verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos
quanto à fé”. Estes personagens, Janes e Jambres, não são
mencionados em nenhuma outra passagem da Bíblia, o que pode
indicar que Paulo os conhecia pela leitura de Jasher onde o assunto
é detalhado no seu capítulo 79.

Há aspectos que valem ser considerados sobre Jasher:

1 - As datas registradas no livro são absolutamente síncronas com a


Bíblia;

2 – Embora citado pela Bíblia, possui inúmeros relatos heréticos. É


bom que se mencione que Jasher merece o título de apócrifo, pois
há nele textos que claramente indicam falta de inspiração, uma vez
10

que reportam usos e costumes contrários à Lei de Moisés, como


casos de necromancia, feitiçaria, lendas, controle sobre a mente de
demônios, entre outros;
3 – Jasher esclarece, ou ao menos lança luzes sobre certos fatos
pouco detalhados na Bíblia, que se por sua vez não forem o retrato
da verdade, são no mínimo uma boa sugestão sobre o que pode
realmente ter acontecido: Veja o exemplo de Sara, que depois do
nascimento de Isaque pede que Abraão se livre de Agar e Ismael, no
que Abraão lhe ouve, conforme relato de Gn 21. Em Gênesis, tal
relato nos dá a impressão de ser a atitude de uma mulher ciumenta,
mas Jasher esclarece que Ismael tencionava matar Isaque, fato que
foi presenciado por Sara, que não teve outra alternativa senão fazer
o que fez, conforme Jasher 21:14-15.

Outro exemplo trata de um acontecimento ocorrido quando Moisés


retornava ao Egito a fim de libertar o povo, conforme Ex 4:24-26: “E
aconteceu no caminho, numa estalagem, que o Senhor o encontrou,
e o quis matar. Então Zípora tomou uma pedra aguda, e circuncidou
o prepúcio de seu filho, e lançou-o a seus pés, e disse: Certamente
me és um esposo sanguinário. E desviou-se dele. Então ela disse:
Esposo sanguinário, por causa da circuncisão.”

Segundo Jasher, Moisés tomara Zípora, sua esposa, e seus dois


filhos, Gerson, o primogênito, e Eliezer, o mais novo, e no caminho
para o Egito encontra-se com um anjo do Senhor que tenta matá-lo.
Jasher explica que Moisés havia circuncidado Eliezer, o mais novo,
mas não circuncidara Gerson, seu primogênito, por conta de um
costume aprendido na casa de Faraó onde fora criado, rompendo
desta forma o pacto entre Deus e Abraão, razão pela qual o anjo
impede sua passagem. Zípora circuncida seu filho livrando Moisés
das mãos do anjo. Há muitos outros eventos em Jasher que têm este
mesmo valor.

É nesta ótica que pedimos ao leitor paciência e maturidade na


análise dos fatos bíblicos em que complementamos com fatos
extraídos do livro, principalmente os relacionados a Gênesis.
11

2969 AC – (A.B. 930) – morte de Adão


Gênesis 5:5 registra que “foram todos os dias que Adão viveu,
novecentos e trinta anos, e morreu”, sendo este, portanto, o Ano
Bíblico 930.

Há, a partir do capítulo 3 do Livro de Jasher, uma série de relatos


relacionados à morte de Adão, dizendo ter ocorrido no ano 56 da
vida de Lameque, o que é correto, uma vez que Lameque nasceu no
Ano Bíblico 874.

Adão, conforme este relato, faleceu e foi enterrado com grande


pompa por Enoque e Matusalém além de seus dois filhos Caim e
Sete, na caverna que Deus lhe dera por habitação. Conta Jasher que
todos os homens vieram prestar reverência ao primeiro homem
criado por Deus e que desde então aquela data seria lembrada por
gerações.

Conta ainda que desde aquele dia Enoque separou-se dos demais
homens a fim de servir a Deus. Enoque teria tomado para si a veste
de pele que Deus fizera para Adão e que esta veste passara depois
para Matusalém, e depois deste para Noé, que a levou consigo na
arca. A veste viria a ser roubada tempos depois por Cão, filho de
Noé, que a deu em herança para Cuxe e este para Ninrode, o
primeiro homem poderoso a surgir na história de Gênesis (Gn 10:8),
o que mostra, desta forma, o provável caráter folclórico de certas
passagens de Jasher, uma vez que tais relatos devem ser oriundos
da cultura popular, o que não significa que não sejam verdade.

Ainda no contexto dos apócrifos, uma interessante passagem no


Livro dos Jubileus nos relata o seguinte:”. e no final do décimo nono
jubileu, na sétima semana, no sexto ano (Ano Bíblico 930), morreu
Adão, e todos seus filhos o enterraram na terra de sua criação, de
maneira que foi o primeiro sepultado na terra. E faltavam 70 anos
para 1.000 anos; pois mil anos são um dia no testemunho dos céus e
assim foi escrito sobre a árvore do conhecimento: No dia em que
comeres morrerás. Por esta razão não se completaram os anos
daquele dia, pois morreu no seu decurso.”

Jubileu Semanas
49 anos 7*7
19 * 49 = 931
12

É uma interessante e sábia reflexão que não pode ser desprezada,


sobretudo nos contextos de duas passagens bíblicas, o Salmo 90:4 e
2 Pedro 3:8, onde esta última nos diz: “amados, não ignoreis uma
coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como
um dia.” É possível que Pedro tenha extraído de Jubileus a sua
analogia.

2912 AC – (A.B. 987) – Arrebatamento de Enoque


Gênesis 5:23-24 registra que “foram todos os dias de Enoque
trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e
não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.” Temos,
portanto, que Enoque não experimentou a morte, mas foi sim,
arrebatado por Deus no Ano Bíblico 987, correspondente ao ano de
seu nascimento acrescido dos anos de sua vida: (622+ 365).

2857 AC – (A.B. 1042) – morte de Sete


Gênesis 5:8 registra que “foram todos os dias de Sete novecentos e
doze anos, e morreu”, portanto, no Ano Bíblico 1042 (130 + 912).

2843 AC - (A.B. 1056) – nascimento de Noé


Em Gn 5:28-29 temos que “viveu Lameque cento e oitenta e dois
anos, e gerou um filho, a quem chamou Noé”, portanto, Noé nasceu
no Ano Bíblico 1056 (874 + 182).

2759 AC - (A.B. 1140) – morte de Enos


Gênesis 5:11 registra que “foram todos os dias de Enos novecentos
e cinco anos, e morreu”, portanto, no Ano Bíblico 1140 (235 + 905).

2664 AC - (A.B. 1235) – morte de Cainã


Gênesis 5:14 registra que “foram todos os dias de Cainã novecentos
e dez anos, e morreu”, portanto, no Ano Bíblico 1235 (325 + 910).

2609 AC - (A.B. 1290) – morte de Maalaleel


Gênesis 5:17 registra que “foram todos os dias de Maalaleel
oitocentos e noventa e cinco anos, e morreu”, portanto, no Ano
Bíblico 1290 (395 + 895).

2477 AC - (A.B. 1422) – morte de Jerede


Gênesis 5:20 registra que “foram todos os dias de Jerede novecentos
e sessenta e dois anos, e morreu”, portanto, no Ano Bíblico 1422
(460 + 962).
13

2363 AC - (A.B. 1536) – Deus limita o tempo dos homens


Gn 6:3 diz o seguinte: “Então disse o Senhor: Não contenderá o meu
Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne;
porém os seus dias serão cento e vinte anos.”

Há duas interpretações para esta passagem, sendo uma delas, a que


refere que entre o aviso de Deus e o dilúvio teriam transcorrido 120
anos, e que durante este tempo Noé teria chamado os homens ao
arrependimento. A outra interpretação é literal, onde Deus limitou de
fato a longevidade humana. Estenderemos este comentário quando
tratarmos da data do dilúvio.

2343 AC - (A.B. 1556) – nascimento de Jafé, filho de Noé


Gênesis 5:32 da conta do nascimento dos três filhos de Noé da
seguinte forma: “era Noé da idade de quinhentos anos, e gerou Noé
a Sem, Cão e Jafé”, portanto, registra-se este acontecimento no Ano
Bíblico 1556, somada sua idade ao ano de seu nascimento: (1056 +
500). Pode-se afirmar que se trata do nascimento de Jafé. Sem virá a
nascer dois anos depois de Jafé, conforme veremos adiante, e Cão
era o filho mais novo, conforme relatado em Gn 9:19-25. Sem é o pai
da raça semita, de quem descenderão os israelitas; Cão teve um
filho de nome Canaã, este a quem Noé amaldiçoa, de quem virão os
cananitas, habitantes de Canaã, onde Israel irá habitar no futuro.

2341 AC - (A.B. 1558) – nascimento de Sem


Sem nasceu no Ano Bíblico 1558, conforme se lê em Gn 11:10: “Sem
era da idade de cem anos e gerou a Arfaxade, dois anos depois do
dilúvio.” Dois anos depois do dilúvio, que ocorreu em 1656 A.B.,
portanto, em 1658 A.B., Sem tinha 100 anos de idade, de onde se
sabe corretamente seu ano de nascimento: (1658 – 100).

2248 AC - (A.B. 1651) – morte de Lameque, pai de Noé


Cinco anos antes do dilúvio morreu Lameque, pai de Noé, conforme
Gn 5:31: “E foram todos os dias de Lameque setecentos e setenta e
sete anos, e morreu”, portanto, no Ano Bíblico de 1651 (874 + 777).

2243 AC - (A.B. 1656) – morte de Matusalém


Em 1656 A.B., no mesmo ano em que aconteceu o dilúvio, faleceu
Matusalém, conforme Gn 5:27: “foram todos os dias de Matusalém
novecentos e sessenta e nove anos, e morreu.”
14

De acordo com a tradição judaica, descrita no Talmude, Matusalém


teria falecido uma semana antes da chegada das águas do dilúvio.
Gn 7:7-10 nos relata que somente sete dias depois de Noé entrar na
arca é que veio o dilúvio. O comentário do Talmude sobre o verso 10
conclui que os sete dias dentro da arca antes da chegada das águas
foram os dias de lamentação pela morte de Matusalém. Sabe-se, no
entanto, que é apenas um comentário, pois há na Toseftah Sotah
(compilação secundária das leis orais judaicas) outras versões para o
mesmo texto, sugerindo, desta forma, que o uso de várias
interpretações para o mesmo texto servia de inspiração para
sermões.

O Dilúvio
Ano Ref
Gregoriano Evento Bíblico .Bíblica
2243 AC Começam as chuvas 1.656 Gn 7:11
2243 AC O Dilúvio 1.656 Gn 9:28
2243 AC Chove 40 dias e 40 noites 1.656 Gn 7:12
2242 AC Secam-se as águas do dilúvio 1.657 Gn 8:13
2242 AC Noé sai da arca 1.657 Gn 8:14-18

2243 AC - (A.B. 1656) – o dilúvio


Deus decide mandar as águas do dilúvio sobre a terra e eliminar
tanto homens quanto animais. Mas Noé, considerado um homem
justo, foi escolhido para repovoar nosso planeta a partir de sua
família. Desta forma, Deus ordena a Noé que construa uma arca, e
que nela coloque além de sua família, um casal de cada espécie de
animal vivente, dando-lhe as medidas e as instruções necessárias
para sua construção.

A arca tinha, conforme o capítulo 6 de Gênesis, 300 côvados de


comprimento, 50 côvados de largura por 30 côvados de altura. Um
côvado, medida antiga fora de uso hoje em dia, teria cerca de 45,62
cm, e assim, as dimensões da arca seriam equivalentes a 137,16 mt
de comprimento, 22,86 mt de largura por 13,71 mt de altura,
equivalente a uma área de mais de 43.000 m3. Seria comparável, em
termos de capacidade, a um trem moderno de 1229 vagões de 35
m3 cada um, tamanho de um vagão de carga padrão.

Não se sabe ao certo quantos anos Noé demorou para construir a


arca. O livro apócrifo de Jasher, no capítulo 5, versículo 34 afirma
que Noé demorou cinco anos para construí-la. Parece um tempo
razoável, em que paralelamente se deveria organizar o plantio e
15

reserva de alimentos a serem consumidos durante um ano pela


família de Noé e pelos animais.

Gênesis 6:1-3 diz o seguinte: “E aconteceu que, como os homens


começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram
filhas, e viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram
formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.
Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre
com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias
serão cento e vinte anos.”

Algumas interpretações acerca desta passagem reputam que “filhos


de Deus” quer referir-se a anjos, que desobedecendo a ordem
natural das coisas, desceram à terra e possuiram as mulheres de
maneira a gerar uma raça híbrida de gigantes chamada Nephelins.
Trata-se, no entanto, de mera fantasia, possivelmente extraída do
Livro de Enoque, que reporta o caso em seu capítulo 7.

Conforme o ponto de vista do historiador bíblico John Fok, há que se


entender que o capítulo 6 de Gênesis está contextualizado com os
capítulos 4 e 5, de maneira que no capítulo 4 vemos o retrato da
descendência de Caim, enquanto no capítulo 5, a de Sete, terceiro
filho homem de Adão.

Enquanto Gênesis chama de “filhas dos homens” as mulheres


descendentes de Caim, a descendência de Sete representa uma
estirpe que permanece fiel ao Criador, desta forma, nomeada “filhos
de Deus”. Assim, o que retrata Gn 6:3 nada mais é que a conclusão
de que as duas estirpes, por iniciativa dos descendentes de Sete, se
juntaram, resultando numa raça impiedosa, o que não foi tolerado por
Deus. (John Fok, Old Tetstament Survey, Cap. 2, Pág 51)

A palavra traduzida como “gigantes”, no referido texto, seria,


conforme o Dicionário Strong, mais apropriadamente compreendida
como “decaídos” ou “tiranos.”

De qualquer maneira, partir da premissa de que os anjos seriam


capazes de se reproduzir contraria o princípio bíblico declarado pelo
Senhor Jesus conforme o Evangelho de Marcos, onde Ele próprio,
respondendo a uma pergunta dos saduceus sobre a questão da
ressureição dos mortos lhes disse: “Porquanto, quando
ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em
casamento, mas serão como os anjos que estão nos céus.” (Mc
12:25)
16

Decorrem de Gn 6:3 duas interpretações possíveis: a primeira, que


Noé demorou cento e vinte anos para construir a arca, tempo em que
os homens foram avisados de seu destino e não mudaram de
atitude; e a segunda, que Deus, além de decidir eliminar o homem da
face da terra, decidiu também encurtar o seu tempo de vida
limitando-o a cento e vinte anos.

É interessante notar que depois do dilúvio o tempo de vida dos


homens passa a ser muito menor que de seus ancestrais pré-
diluvianos, mas que esta transformação vai acontecendo
gradualmente, como se Deus houvesse de alguma forma forma
reprogramado o genoma humano, fazendo com que nosso
organismo se estinguisse cada vez mais cedo, a ponto de
estabelecer a idade de 120 anos como tempo limite.

Alguns sugerem que algum tipo de alteração climática posterior ao


dilúvio seria a causa do encurtamento da vida, mas o texto bíblico
sugere algo diferente, uma vez que a geração nascida antes do
dilúvio vai viver mais que a gereção seguinte, e esta, por sua vez,
viverá mais que a próxima, e assim sucessivamente.

O fato de os primeiros homens viverem tanto tempo, perto de mil


anos, conforme o relato bíblico, pode parecer uma coisa mitológica
ou mesmo simbólica aos olhos do homem moderno, mas não é.
Vários historiadores antigos o confirmam, não poucos, conforme
relata Flávio Josefo: “que muitos que escreveram a história da Grécia
como de outras nações, dão este testemunho. Maneton, que
escreveu a história dos egípcios, Berose, que nos deixou a dos
caldeus, Moco, Hestieu e Jerônimo, o egípcio, que escreveram a dos
fenícios dizem também a mesma coisa. Hesíodo, Hecateu, Ascaulila,
Helanico, Eforo e Nicolau, referem que estes primeiros homens
viviam até mil anos.” (Flávio Josefo, História dos Hebreus – Volume I
– Cap 15). Ainda neste contexto, Josefo nos diz que a longevidade
dos primeiros homens foi importante para que estes conhecessem as
ciências e a astronomia, o que não seria possível se a vida fosse
breve.

Sabe-se com precisão que o dilúvio ocorreu 1656 anos depois da


criação de Adão. Em Gn 9:28 lê-se que “viveu Noé, depois do dilúvio,
trezentos e cinquenta anos.” Sabe-se também com igual precisão
que a da morte de Noé ocorreu no Ano Bíblico 2006 aos 950 anos de
idade, conforme Gn 9:29 que diz que “foram todos os dias de Noé
novecentos e cinquenta anos, e morreu.”
17

Somando-se ao nascimento de Noé os 950 anos de sua vida e


subtraindo-se os 350 anos que Noé viveu depois do dilúvio temos o
Ano Bíblico de 1656.

Lemos em Gn 7:11-12 que “no ano seiscentos da vida de Noé, no


mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se
romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus
se abriram, e houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta
noites”, a ponto de cobrir toda a terra, pois a água chegou a estar
acima do nível das montanhas. Desta forma, todo ser vivente que
havia sobre a terra veio a perecer, tanto homens, quanto animais e
aves. “.
Tudo que havia em terra seca, morreu”, de maneira que as águas
custaram 150 dias para baixar seu nível e secar a terra. Só depois
disto saiu Noé da arca que atracara no topo do Monte Ararate que se
localiza na Turquia moderna.

Entre entrar e sair da arca depois do dilúvio passou-se um ano


completo e dez dias, entre dia 17 do segundo mês do ano 600 da
vida de Noé (Gn 7:11) e 27 do segundo mês do ano 601 de sua vida
(Gn 8:14-18)

2242 AC - (A.B. 1657) – secam-se as águas do dilúvio


Conforme Gn 8:13 “aconteceu que no ano seiscentos e um, no mês
primeiro, no primeiro dia do mês, as águas se secaram de sobre a
terra. Então Noé tirou a cobertura da arca, e olhou, e eis que a face
da terra estava enxuta”. Trata-se do ano 601 da vida de Noé, que
somado ao seu ano de nascimento nos situa no Ano Bíblico 1657.

Histórias de outras nações registram este acontecimento. Um destes


registros, a Epopéia de Gilgamesh, a mais antiga referência secular
conhecida sobre o assunto, conta desta forma sua versão sobre o
assunto: "Cheios de inveja do homem, os deuses resolveram destruir
completamente a raça dos mortais, afogando-os. Um deles, no
entanto, revelou o segredo a um habitante da terra, seu favorito,
ensinando-lhe a construir uma arca para a salvação da sua pessoa e
da sua espécie. A inundação imperou durante sete dias, até que toda
a terra ficou coberta pela água. Finalmente o turbilhão sossegou e as
águas baixaram. O homem favorito e seus irmãos saíram da arca e
ofereceram um sacrifício em ação de graças. Esfomeados, devido à
longa privação de alimentos, os deuses aspiraram o doce cheiro e
juntaram-se como moscas sobre o sacrifício, decidindo nunca mais
cometerem a loucura de tentar a destruição do homem.” (ORIGENS
18

SUMÉRIAS DA CIVILIZAÇÃO - Historia - Edward McNall Burns -


História da Civilização Ocidental Vol. 1)

O nascimento de Abraão
Ano Ref.
Gregoriano Evento Bíblico Bíblica
2241 AC Nascimento de Arfaxade 1.658 Gn 11:10
2206 AC Nascimento de Selá 1.693 Gn 11:12
2176 AC Nascimento de Eber 1.723 Gn 11:14
2142 AC Nascimento de Pelegue 1.757 Gn 11:16
2112 AC Nascimento de Reú 1.787 Gn 11:18
2080 AC Nascimento de Serugue 1.819 Gn 11:20
2050 AC Nascimento de Naor, avô de Abraão 1.849 Gn 11:22
2021 AC Nascimento de Tera, pai de Abraão 1.878 Gn 11:24
1983 AC Nascimento de Naor e Harã, gêmeos 1.916 Jasher 24:27
1952 AC Nascimento de Ló 1.947 Jasher 24:22
1951 AC Nascimento de Abraão 1.948 Gn 11:26
1941 AC Nascimento de Sara 1.958 Gn 17:17

2241 AC - (A.B. 1658) – nascimento de Arfaxade


Em Gn 11:10 lemos que “Sem era da idade de cem anos e gerou a
Arfaxade, dois anos depois do dilúvio”, portanto, nos situamos no
Ano Bíblico 1658 (1656 + 2). Arfaxade é o primeiro homem nascido
depois do dilúvio.

2206 AC - (A.B. 1693) – nascimento de Selá


Em Gn 11:12 temos que “viveu Arfaxade trinta e cinco anos, e gerou
a Selá”, portanto no Ano Bíblico 1693 (1658 + 35).

2176 AC - (A.B. 1723) – nascimento de Eber


“E viveu Selá trinta anos, e gerou a Éber”, conforme Gn 11:14, o que
nos situa o nascimento de Éber no Ano Bíblico 1723 (1693 + 30).

2142 AC - (A.B. 1757) – nascimento de Pelegue


“E viveu Éber trinta e quatro anos, e gerou a Pelegue”, conforme Gn
11:16, no Ano Bíblico 1757 (1723 + 34).

2112 AC - (A.B. 1787) – nascimento de Reú


“E viveu Pelegue trinta anos, e gerou a Reú.”, conforme Gn 11:18, no
Ano Bíblico 1787 (1757 + 30).
19

2080 AC - (A.B. 1819) – nascimento de Serugue


“E viveu Reú trinta e dois anos, e gerou a Serugue”, conforme Gn
11:20, no Ano Bíblico 1819 (1787 + 32).

2050 AC - (A.B. 1849) – nascimento de Naor


“E viveu Serugue trinta anos, e gerou a Naor”, avô de Abraão,
conforme Gn 11:22, no Ano Bíblico 1849 (1819 + 30).

2021 AC - (A.B. 1878) – nascimento de Tera


“E viveu Naor vinte e nove anos, e gerou a Tera”, pai de Abraão,
conforme Gn 11:24, no Ano Bíblico 1878 (1849 + 29).

1983 AC - (A.B. 1916) – nascimento de Naor e Harã


Nem Gênesis, nem qualquer outro livro da Bíblia fazem menção
cronológica aos irmãos de Abraão, mas o Livro de Jasher relata de
forma precisa não só as datas de nascimento, mas também as
mortes de ambos em duas passagens distintas.

Sobre Harã, Jasher 12:16 nos diz o seguinte: “E Tera ficou


grandemente aterrorizado na presença do rei e disse ao rei: foi Harã,
meu filho mais velho, que me aconselhou a isto; e Harã tinha, nos
dias do nascimento de Abraão, trinta e dois anos.” Abraão, conforme
veremos adiante, nasceu no Ano Bíblico 1948. Subtraindo-se 32
anos do nascimento de Abraão, temos o Ano Bíblico 1.916 como ano
de nascimento de Harã.

Vejamos agora Jasher 24:27 que se refere ao nascimento de Naor:


“E Naor, filho de Tera, irmão de Abraão, morreu naqueles dias, no
quadragésimo ano da vida de Isaque, e todos os dias de Naor foram
cento e setenta e dois anos, e morreu, e foi enterrado em Harã.”

Isaque, como veremos adiante, nasceu em 2.048 A.B. Teria 40 anos


em 2.088 A.B. (2048 + 40).

Subtraindo-se 172, idade de Naor quando faleceu, de 2.088, data em


que Isaque teria 40 anos, temos que Naor nasceu em 1.916 A.B.
Conclui-se, desta forma, que Harã e Naor eram gêmeos.
As datas de nascimento de Abraão e Isaque, nas quais se baseiam
os cálculos das datas de de nascimento de Harã e Naor, são
absolutamente precisas conforme o relato de Gênesis.
20

1952 AC - (A.B. 1947) – nascimento de Ló


Quanto a Ló, a Bíblia também não faz qualquer referência à sua data
de nascimento, mas Jasher 24:22 nos diz o seguinte: “E Ló, filho de
Harã, também morreu naqueles dias, no trigésimo nono ano da vida
de Isaque, e todos os dias que Ló viveu foram cento e quarenta anos
e morreu.”
Isaque, conforme veremos adiante, nasceu no Ano Bíblico 2048.
Temos, portanto, que Ló nasceu um ano antes de Abraão, no Ano
Bíblico 1.947, resultado de (2048 + 39) – 140.

Para fins ilustrativos, colocamos na cronologia as datas referentes a


Naor, Harã e Ló, deixando claro que as mesmas não impactam esta
cronologia, nem são fundamentais para a conclusão de nenhuma
data bíblica. No entanto, também não estão em desacordo com as
datas estabelecidas em Gênesis. Constam aqui apenas porque são
possíveis de ser calculadas pelas informações do Livro de Jasher, e
nos fornecem parâmetros interessantes sobre o contexto da vida de
Abraão, como por exemplo, o fato de que Ló seria um ano mais velho
que seu tio.

1951 AC - (A.B. 1948) – nascimento de Abraão


Conforme Gn 11:26: “E viveu Tera setenta anos, e gerou a Abraão, a
Naor, e a Harã.” Refere-se, portanto, ao Ano Bíblico 1948, somados
o ano de nascimento de Tera à sua idade na ocasião: (1878 + 70).

Embora Gênesis relate na mesma passagem o nascimento dos tres


irmãos, sabemos que o redator se refere a Abraão, não porque
tenhamos concluído pela informação de Jasher os nascimentos de
Harã e Naor em outra data, mas principalmente porque neste ponto
da narrativa Abraão é o ator principal de Gênesis. Aliás, todo o relato
das gerações posteriores ao dilúvio objetiva unicamente datar o
nascimento de Abraão.

Abraão é a 10ª geração depois de Noé, nascido 292 anos depois do


dilúvio e 48 anos antes dos acontecimentos da Torre de Babel.

Há uma curiosa coincidência que se refere ao nascimento de Abraão:


de Adão até seu nascimento, 1948 anos; e de Abraão até 3 AC, ano
do nascimento de Jesus, 1948 anos; do ano 1 de nossa era até o
restabelecimento do Estado de Israel moderno, outros 1948 anos.
21

1941 AC - (A.B. 1958) – nascimento de Sara


Sara era 10 anos mais jovem que Abraão, conforme lemos em Gn
17:17: “Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu
coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E dará à
luz Sara da idade de noventa anos?” Sara nasceu, portanto, dez
anos depois de Abraão, no Ano Bíblico 1958.

Babel
Ano Ref
Gregoriano Evento Bíblico .Bíblica
1903 AC Morte de Pelegue aos 239 anos 1.996 Gn 11:19
1903 AC Babel - a mistura das línguas 1.996 Gn 10:25-29
1902 AC Morte de Naor, avô de Abraão 1.997 Gn 11:25
1901 AC Morte de Harã, irmão de Abraão 1.998 Jasher 12:37
1901 AC Tera parte de Ur para Harã 1.998 Gn 11:31
1893 AC Morte de Noé aos 950 anos 2.006 Gn 9:29

1901 AC - (A.B. 1998) – Tera parte para Harã


Em Gn 11:31 lê-se: “E tomou Tera a Abraão seu filho, e a Ló, filho de
Harã, filho de seu filho, e a Sara sua nora, mulher de seu filho
Abraão, e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de Canaã;
e vieram até Harã, e habitaram ali.”

A data da ida da família de Tera para Harã é incerta. Pelas


informações de Gênesis não se pode concluí-la com precisão, pois
há um longo período de mais de vinte anos em que o fato poderia ter
acontecido.

No entanto, fixamos o Ano Bíblico 1998 (1.948 + 50) de acordo com


as informações contidas no capítulo 13 do Livro de Jasher, que
informa que Abraão teria 50 anos de idade quando a família deixou
Ur em direção a Canaã, vindo a se estabelecer no meio do caminho,
em Harã.
Um dos motivos que poderia justificar a parada da família em Harã
teria sido a necessidade de recompor o grande rebanho que a família
possuía, por se tratar de uma região muito fértil e com boas
pastagens.
22

Comentário sobre a Seder Olam Rabbah


É oportuno comentar algo sobre um livro dos judeus chamado Seder
Olam Rabbah, que se traduz geralmente por Ordem Geral do
Universo.

Trata-se de uma crônica escrita por volta do ano 160 D.C. em


hebraico majoritariamente, pelo rabino Yose ben Halafta e por
discípulos de sua escola, cujo propósito é datar os eventos bíblicos
de Adão até o período persa. O próprio Talmude recorre à Serder
Olam Rabbah para definir datas importantes da história do judaísmo.

Até um certo ponto da história dos hebreus é possível, a título de


conferência de datas apenas, recorrer à Seder Olam. Já dentro do
período persa ou na fase helênica (influência grega) da história de
Israel, ou mesmo antes, dá-se conta da impossibilidade de seu uso
pelo advento dos “anos faltantes” no calendário judaico moderno,
algo em torno de 140 anos a menos que a contagem da história
secular, dependendo da fonte histórica.

O calendário judaico registra 3760 anos entre Adão e o ano 1 de


nossa era. Para efeito comparativo, a Bíblia soma 3899 anos entre
os dois adventos, o que significa uma diferença de 139 anos.

Haverá, de certa maneira, várias citações deste livro no decorrer de


nosso trabalho, mas uma análise mais crítica sobre o impacto
negativo dos "anos faltantes" na vida da comunidade judaica será
feita já no contexto do Novo Testamento, quando tratarmos o ano da
crucificação do Senhor Jesus Cristo.

De qualquer maneira, alguns dos princípios ali utilizados são muito


úteis quando se referem a encontrar datas não muito claras na Bíblia.
O trabalho do Rabi Yose ben Halafta data os principais eventos do
Antigo Testamento, além de acontecimentos não claramente
indicados na Bíblia.

Um dos princípios que foram sabiamente adotados pelo Rabi Yose,


foi o de assumir que o autor bíblico teve, sempre que possível, a
intenção de datar os eventos com precisão. A máxima do Rabi Yose
é que "a Escritura veio para esclarecer, não para confundir.”

Vejamos, aproveitando o que a Seder Olam nos ensina de bom, um


exemplo de utilização da metodologia do Rabi Yose quando se trata
de datar os acontecimentos da Torre de Babel.
23

1903 AC - (A.B. 1996) – morte de Pelegue e Babel


Em Gn 11:19 lê-se que “viveu Pelegue, depois que gerou a Reú,
duzentos e nove anos, e gerou filhos e filhas”, o que coloca a morte
de Pelegue no Ano Bíblico 1996, somando-se seus anos de vida ao
seu ano de nascimento (1757 + 209).

Vejamos agora o que a narrativa complementar sobre o nascimento


de Pelegue nos tem a dizer, conforme Gn 10:25-29: “E a Éber
nasceram dois filhos: o nome de um foi Pelegue, porquanto em seus
dias se repartiu a terra, e o nome do seu irmão foi Joctã. E Joctã
gerou a Almodá, a Selefe, a Hazarmavé, a Jerá, a Hadorão, a Usal, a
Dicla, a Obal, a Abimael, a Sebá, a Ofir, a Havilá e a Jobabe; todos
estes foram filhos de Joctã.”

Diz a Bíblia que nos dias de Pelegue a terra foi repartida, o que veio
a acontecer por causa da confusão de línguas em Babel. Sabemos,
portanto, que Babel aconteceu nos dias de Pelegue.

No entanto, Pelegue viveu duzentos e nove anos e poder-se-ia dizer


que Babel teria acontecido em qualquer um deles, mas não se
levarmos em conta que o narrador bíblico nos apontou a data de
Babel com exatidão, sobrando, portanto, duas possibilidades, o ano
de nascimento de Pelegue ou o de sua morte.

De acordo com a Seder Olam Rabbah, o Rabi Yose datou Babel no


ano da morte de Pelegue pela razão de o redator estar fazendo um
sumário da vida de Pelegue, onde inclui o fato de seu irmão mais
novo, Joctã, conforme o relato bíblico, haver gerado treze filhos, o
que torna impossível estar se referindo ao nascimento de Pelegue,
mas sim à sua morte. Temos, portanto, que Babel aconteceu no Ano
Bíblico de 1996, ano da morte de Pelegue.

O Talmude atribui a Eber, a qualificação de grande profeta de Deus,


pois deu a seu filho mais velho o nome de Pelegue, que significa
"divisão", referindo-se ao fato de que nos dias de Pelegue a terra
seria dividida (Gn 10:25).

Faz sentido a referência, ainda mais se notarmos o significado do


nome do outro filho de Eber, Joctã, que significa “encurtar.”
Lembremos que em Gn 6:3, conforme o comentário que fazemos no
contexto da análise da data do dilúvio, que Deus decide diminuir o
tempo de vida dos homens, e este fato pôde ser percebido por Eber
24

nos dias em que gerou seus filhos, pois era evidente que os homens
já não viviam o mesmo tempo de seus ancestrais. Algo tinha de fato
acontecido. Arfaxade, o primeiro a nascer depois do dilúvio,
permanecerá vivo depois da morte das gerações posteriores a ele,
entre os quais, Pelegue e Joctã. Faremos outros comentários a
respeito da mudança dos padrões de idade dos homens após o
dilúvio mais adiante, quando tratarmos da morte de Arfaxade. Eber,
pai de Pelegue, sobreviveu ainda 191 anos à morte do filho.

1902 AC - (A.B. 1997) – morte de Naor


Conforme Gn 11:25, Naor, avô de Abrão, morreu aos 148 anos de
idade: “E viveu Naor, depois que gerou a Tera, cento e dezenove
anos, e gerou filhos e filhas” Faleceu, portanto, no Ano Bíblico 1997,
somados o ano de seu nascimento com sua idade (1878 + 119).

1901 AC - (A.B. 1998) – morte de Harã, irmão de Abraão


Este fato não é mencionado na Bíblia, mas concluímos a data
através da informação de Jasher 12:37: “E Harã era de oitenta e dois
anos de idade quando morreu no fogo de Casdim.” Somados o ano
de seu nascimento aos seus anos de vida resulta que faleceu no Ano
Bíblico 1998 (1916 + 82).

1893 AC - (A.B. 2006) – morte de Noé


Noé veio a falecer no Ano Bíblico 2006, aos 950 anos de idade,
conforme Gn 9:29 que nos diz que “foram todos os dias de Noé
novecentos e cinquenta anos, e morreu.” Noé nasceu no Ano Bíblico
1056.

Temos aqui uma constatação interessante: Abraão foi


contemporâneo de Noé por 58 anos, entre os anos 1948 A.B, ano de
seu nascimento, e 2006 A.B., ano da morte de Noé. De acordo com o
Livro de Jasher, Abraão conviveu com Noé por longo tempo, dos 10
aos 49 anos de idade, e foi dele que aprendeu sobre as coisas de
Deus. Noé viveu 300 anos além da data do dilúvio e 10 anos além da
confusão das línguas em Babel.
25

A promessa de Deus a Abraão


Ano Ref.
Gregoriano Evento Bíblico Bíblica
1881 AC Promessa de Deus a Abraão 2.018 Gn 11:31
1876 AC Abraão parte para Canaã aos 75 anos 2.023 Gn 12:4
1876 AC Abraão chega a Siquem 2.023 Gn 12:6
1876 AC Abraão muda para Betel e Neguebe 2.023 Gn 12:8
1876 AC Abraão vai ao Egito 2.023 Gn 12:10
1876 AC Sara é tomada pelo Faraó e devolvida 2.023 Gn 12:15
1876 AC Abraão retorna ao sul de Canaã 2.023 Gn 13:1
1876 AC Abraão e Ló se separam 2.023 Gn 13:7-8
1876 AC Abrão combate os 4 reis que levaram Ló 2.023 Gn 14:14
1876 AC Abrão encontra-se com Melquisedeque 2.023 Gn 14:18-20
1865 AC Nascimento de Ismael filho de Agar 2.034 Gn 16:16
1852 AC Deus muda os nomes de Abrão e de Sarai 2.047 Gn 17:1-5
1852 AC Circuncisão de Abraão, Ismael e servos 2.047 Gn 17:24
1851 AC Destruição de Sodoma e Gomorra 2.048 Nota
1851 AC Abraão vai para Gerar, terra dos filisteus 2.048 Gn 20:1

1881 AC – (A.B. 2018) – promessa de Deus a Abraão


Abraão nasceu na caldéia, provavelmente na cidade de Ur. Tinha,
conforme vimos, dois irmãos gêmeos, Harã e Naor. Harã veio a
falecer, e na sequência deste fato, Tera tomou sua família decidido a
mudar-se para Canaã, conforme Gn 11:31-32.

Naor, irmão de Abraão, permaneceu em seu país, onde


provavelmente nesta época já vivia em Padã-Arã, cidade onde no
futuro Jacó se casaria e viveria por vinte anos. Naor será avô de
Rebeca, que virá a ser esposa de Isaque, filho de Abraão. Foram na
viagem com Tera seu filho Abraão juntamente com sua esposa Sara,
e seu sobrinho, Ló, filho de Harã, o irmão falecido.

Conforme Gênesis (11:31-32) a decisão de ir para Canaã foi de Tera,


e não de Abraão, tendo a mudança sido decidida antes do contexto
da chamada de Abraão por parte de Deus. Mas por alguma razão
Tera não seguiu para Canaã, conforme planejado, vindo a se
estabelecer no meio do caminho, na cidade de Harã, onde
permaneceu sessenta anos até sua morte no Ano Bíblico 2083.

A leitura de Gn 12:1, logo a seguir o final do capítulo 11 (31-32) dá-


nos a impressão que Abraão deixou Harã em conseqüência da morte
de seu pai. Vejamos o texto: “E tomou Tera a Abrão seu filho, e a Ló,
filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai sua nora, mulher de seu
26

filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de


Canaã; e vieram até Harã, e habitaram ali. E foram os dias de Tera
duzentos e cinco anos, e morreu Tera em Harã. Ora, o Senhor disse
a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai,
para a terra que eu te mostrarei.”

Em At 7:2-4 lemos: “E ele disse: Homens, irmãos, e pais, ouvi. O


Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na
Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, E disse-lhe: Sai da tua terra
e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrar. Então
saiu da terra dos caldeus, e habitou em Harã. E dali, depois que seu
pai faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que habitais agora.”

Estevão, o primeiro mártir cristão, teve também este entendimento, o


que é bastante compreensível, uma vez que a leitura do final de
Gênesis 11 e o início co capítulo 12 nos dão esta compreensão. No
entanto, Tera viveu em Harã por mais 60 anos após a partida de
Abraão para Canaã, conforme confirmam suas datas de nascimento
e morte. Além disto, atentando-se bem a Gn 12:1, percebe-se
claramente que Tera estava vivo quando Deus chama por Abraão,
pois lhe ordena que saia da casa de seu pai, o que não faria sentido
se Tera houvesse falecido.

Gênesis 12:4 nos informa que Abraão tinha 75 anos de idade quando
deixou Harã e seguiu para Canaã. Tomando-se o nascimento de
Abraão somado à sua idade na ocasião, (1948 + 75), concluímos que
Abraão seguiu para Canaã no Ano Bíblico 2023. O Livro de Gênesis
nos dá esta data com absoluta precisão. Abraão deixou seu pai vivo
em Harã e seguiu para Canaã juntamente com seu sobrinho Ló e
respectivas famílias. Abraão teria, portanto, permanecido em Harã 28
anos, entre 1904 AC e 1876 AC.

Neste mesmo ano Abraão chega a Siquem, local onde no futuro será
construída uma cidade com este mesmo nome pelo rei Jeroboão,
primeiro rei de Israel no tempo do reino dividido.

Sabemos, portanto, que Abraão partiu para Canaã no Ano Bíblico


2023. No entanto, não podemos concluir que seja esta a data da
promessa de Deus a Abraão.

A data da promessa de Deus a Abraão é muito importante ser


determinada com acuidade, pois dela depende a data do Êxodo de
Israel, que veio a ocorrer depois de passados quatrocentos e trinta
anos. Desta forma, para definirmos com precisão a data da promessa
27

de Deus a Abraão, devemos analisar todo o contexto desde os


primórdios de Abraão até o Êxodo.

Atribui-se comumente quatrocentos anos como sendo o tempo da


escravidão dos hebreus no Egito, um erro comum, visto que os textos
bíblicos se referem a este tempo com certa insistência, associando
estes anos à escravidão e maltrato do povo de Israel, conforme
veremos a seguir. Diga-se de passagem, que ao ser questionado
sobre quanto tempo os hebreus foram escravos no Egito, a maioria
dos cristãos responde sem pestanejar que foram quatrocentos anos.

No entanto, os quatrocentos anos se referem ao tempo total


transcorrido entre o nascimento de Isaque e o Êxodo, assim como os
quatrocentos e trinta anos somam a este período os trinta anos entre
a chamada de Abraão e o nascimento de Isaque.

Também é este o entendimento do Apóstolo Paulo, conforme se lê


em Gálatas 3:17: "Mas digo isto: Que tendo sido a aliança
anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a lei, que veio
quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a
promessa.”

Desta forma, conforme veremos adiante, os quatrocentos e trinta


anos se dividem da seguinte forma: duzentos e vinte anos desde a
chamada de Abraão até a entrada de Jacó no Egito, mais, duzentos
e dez anos desde a entrada no Egito até o Êxodo. A escravidão
propriamente dita teria durado entre oitenta e seis e cento e dez
anos, conforme veremos ao tratarmos do Êxodo.

Vejamos alguns textos que se referem a este tempo: “Disse (Deus) a


Abraão: Sabes, decerto, que peregrina será a tua descendência em
terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por
quatrocentos anos.” (Gn 15:13)

“E falou Deus assim: Que a sua descendência seria peregrina em


terra alheia, e a sujeitariam à escravidão, e a maltratariam por
quatrocentos anos” (At 7:6)

Os dois textos são ambíguos quando lidos desatentamente,


possibilitando que o leitor conclua que Israel esteve escravizado no
Egito por quatrocentos anos, no entanto, nenhum deles afirma isto.
`Ao contrário, os textos dizem duas coisas distintas, tanto um como o
outro, que a descendência de Abraão seria peregrina em Canaã,
terra de outros povos, e que seria sujeita a maus tratos e a
28

escravidão por quatrocentos anos, entre o tempo de peregrinação


por Canaã e o fim da escravidão no Egito.
Já no contexto do Êxodo de Israel, Ex 12:40-41 nos diz o seguinte:
“O tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de
quatrocentos e trinta anos. E aconteceu que, passados os
quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exércitos do
Senhor saíram da terra do Egito.”

Temos, portanto, dois tempos distintos, quatrocentos, e quatrocentos


e trinta anos. De que trata esta diferença de trinta anos? Trata-se da
diferença do tempo compreendido entre a data da promessa de Deus
a Abraão e o nascimento de Isaque, herdeiro da promessa feita por
Deus a Abraão.

Gn 15:18 nos afirma que Isaque é herdeiro da promessa feita por


Deus a Abraão. Vejamos o texto: “Naquele mesmo dia fez o Senhor
uma aliança com Abraão, dizendo: À tua descendência tenho dado
esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates”.

Vejamos ainda Gn 17:19: “E disse Deus: Na verdade, Sara, tua


mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele
estabelecerei a minha aliança, por aliança perpétua para a sua
descendência depois dele”.

Vejamos ainda Gn 21:12: “Porém Deus disse a Abraão: Não te


pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em
tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será
chamada a tua descendência”.

Isaque é o descendente de Abraão, herdeiro da promessa de Deus.


É a descendência de Isaque que será primeiramente peregrina em
terra alheia, e depois, sujeita à escravidão no Egito. Desta forma,
entre o nascimento de Isaque até o Êxodo de Israel se contarão
quatrocentos anos, da mesma maneira que da promessa de Deus a
Abraão até o Êxodo, se contarão quatrocentos e trinta anos.

Como sabemos, Isaque nasceu quando Abraão tinha cem anos de


idade, conforme Gn 21:5: “E era Abraão da idade de cem anos,
quando lhe nasceu Isaque seu filho.”

Passaram-se, portanto, vinte e cinco anos entre o tempo que Abraão


chegou a Canaã, com 75 anos de idade, e o tempo do nascimento de
Isaque, quando Abraão tinha cem anos de idade.
29

Desta forma, concluímos que a promessa foi feita a Abraão no Ano


Bíblico 2018, cinco anos antes dele chegar a Canaã. Entre Ex 12:1-3,
que trata da promessa feita a Abraão, e o verso 4, que anuncia a
partida de Abraão para Canaã, passaram-se cinco anos.

Entre 2023 A.B. e 2034 A.B.


Os eventos ocorridos entre 2023 A.M e 2034 A.B. não podem ser
datados com precisão, pois não há relato de suas datas no Gênesis.
Faremos, portanto, apenas o registro dos acontecimentos deste
intervalo de tempo de 11 anos.

De Siquém Abraão segue para Betel onde edifica um altar ao Senhor


e depois disto vai para Neguebe. Havia escassez de comida na
região naquela época, o que obriga Abraão a se dirigir ao Egito em
busca de alimentos para sua família.

Sara era uma mulher extremamente bonita, e por esta razão, o rei do
Egito vem a desejá-la e de fato chega a tomá-la de Abraão pelo fato
deste haver mentido sobre a sua condição de sua esposa, dizendo
que se tratava de sua irmã.

No conceito de família praticado na época, seria de fato irmã de


Abraão, conforme ele mesmo explica em Gn 20:12: “E, na verdade, é
ela também minha irmã, filha de meu pai, mas não filha da minha
mãe; e veio a ser minha mulher.”

Sara era filha de Harã, o irmão falecido de Abraão. Era, portanto,


irmã de Ló, e assim, de fato, sobrinha de Abraão. Como era solteira
no tempo em que seu pai faleceu, Terá, pai de Abraão a tomou como
filha até que se casasse, sendo, por esta razão, considerada irmã de
Abraão. Na altura da morte de Harã, Sara teria 40 anos de idade e
Abraão 50.

Mas Deus não permitiu que o rei a tocasse e puniu-o severamente,


de maneira que Faraó a devolveu a Abraão, queixando-se a este que
por causa da mentira sobre Sara, fora causado este mal-entendido.

Faraó despede Abraão dando a ele e a Sara muitos presentes.


Segundo o relato livro de Jasher, entre os presentes recebidos
estava Agar, filha de Faraó com uma de suas concubinas, que foi
dada por serva a Sara. Como se sabe, Agar será mãe de Ismael,
primeiro filho de Abraão.
30

Abraão retorna ao sul de Canaã, a Neguebe, local situado entre


Gaza e o Mar Morto. Ali, por conta de uma contenda entre seus
pastores e os de Ló, ambos resolvem estabelecer-se em regiões
diferentes. Ló escolhe as campinas férteis do Rio Jordão, perto de
Sodoma, e Abraão segue para o local onde será um dia construída a
cidade de Hebrom.

A escolha de Ló não foi favorecida pelos acontecimentos, pois um


pacto entre quatro reis da caldéia, a saber, Anrafel, rei de Sinar,
Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de
Goim, colocam a região de Sodoma em perigo iminente, pois os
reinos ali estabelecidos foram por 12 anos tributários de
Quedorlaomer, rei de Elão, e nesta ocasião haviam se rebelado e
não pagavam mais os tributos devidos. Segundo a tradição judaica,
Quedorlaomer, rei de Elão, havia recentemente derrotado Ninrode,
personagem mencionado no Gênesis (Gn 10:8-9) como sendo um
homem poderoso na terra naqueles tempos.

Estes quatro reis fazem, portanto, guerra aos cinco reis da região de
Sodoma e os vencem, terminando por saquear suas cidades e levar
consigo muito reféns como escravos, entre os quais, Ló, sobrinho de
Abraão.
Abraão, quando informado que seu sobrinho havia sido levado, arma
seus homens e parte atrás dos invasores, vindo a libertar os cativos
e tomando de volta todos os bens pilhados.

No caminho de volta a Canaã, Abraão tem um encontro com


Melquisedeque, rei de Salém, que era sacerdote de Deus, a quem
Abraão pagou o dízimo de tudo que havia recuperado.

O Capítulo 7 do Livro de Hebreus (Hb 7:1) registra assim este


encontro: “Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém,
sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão
quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; A quem
também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por
interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei
de paz; Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de
dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus,
permanece sacerdote para sempre. Considerai, pois, quão grande
era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos
despojos”.
31

Tão grande era Melquisedeque, que no livro de Hebreus, Jesus é


chamado de sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e não
segundo a ordem do levita Arão.

1862 AC - (A.B. 2034) – nascimento de Ismael


Conforme Gn 16:16, Abraão tinha 86 anos de idade na época do
nascimento de Ismael, portanto, no Ano Bíblico de 2034 (1948 + 86).
Por Gn 21:21 sabemos que Ismael irá habitar a região do deserto de
Parã, e que tomará uma esposa do Egito.

1849 AC - (A.B. 2047) – Deus muda o nome de Abraão


Treze anos depois do nascimento de Ismael, conforme Gn 17:1 e Gn
17:5, quando Abraão tinha 99 anos de idade, Deus muda o nome de
Abrão para Abraão, cujo significado é “pai de muitas nações.”
Estamos no Ano Bíblico 2047, resultado de (1948 + 99). Muda
também o nome de Sarai para Sara, cujo significado é “mãe de
nações.”

1849 AC - (A.B. 2047) – circuncisão da casa de Abraão


No mesmo ano Abraão, Ismael e todos os homens de sua casa
tiveram a carne do prepúcio circuncidada, conforme Gn 17:24-27,
iniciando assim o costume da circuncisão.

1848 AC - (A.B. 2048) – destruição de Sodoma e Gomorra


Foi entre a circuncisão de Abraão e o nascimento de Isaque, que
Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra. Ló, sobrinho de
Abraão habitava em Sodoma e por concessão de Deus, ele e sua
família foram evacuados da cidade indo buscar refúgio em Zoar, isto
por volta do Ano Bíblico de 2048.

Sodoma foi destruída 25 anos depois de Abraão resgatar seus


despojos quando invadida por Quedorlaomer, rei de Elão.

Ló viveu por pouco tempo em Zoar, de onde saiu, talvez por medo da
vida pecaminosa da cidade, para morar nas partes montanhosas nos
arredores.

Suas filhas não possuiam até então descendentes. Gênesis 19:14


menciona os genros de Ló, mas certamente as filhas estavam
apenas comprometidas com estes pelos laços de noivado e seus
casamentos ainda não se haviam consumado (Gn 19:8).
32

Considerarado estas que em sua família não havia homens que


sucedessem a seu pai, resolvem embriaga-lo para gerarem elas
próprias filhos de Ló: “E a primogênita deu à luz um filho, e chamou-
lhe Moabe; este é o pai dos moabitas até ao dia de hoje. E a menor
também deu à luz um filho, e chamou-lhe Ben-Ami; este é o pai dos
filhos de Amom até o dia de hoje. (Gn 19:37-38)

De Ló, portanto, procederam estas duas nações, a saber, os


amonitas e os moabitas, cuja relação com Israel virá a ser bastante
tempestuosa a ponto de Moisés escrever uma lei no Deuteronômio
proibindo que amonitas e moabitas pudessem entrar na congregação
do Senhor (Dt 23:3) ao mesmo tempo em que sabemos que o grande
rei Davi é neto de Rute, uma moabita.

De acordo com a tradição judaica, Sodoma e Gomorra foram


destruídas ao amanhecer do dia, na hora em que tanto o Sol quanto
a Lua apareciam no céu, por serem estes os principais objetos de
adoração daquelas pessoas. Segundo este princípio, era pela manhã
que oravam agradecendo à Lua pela segurança da noite, e ao Sol
pela proteção do dia. (Journey Through the Old Testament Survey,
Elmer Towns, Pag 68)
33

De Isaque a Jacó
Ano Ref
Gregoriano Evento Bíblico .Bíblica
1851 AC Nasce Isaque, 14 anos depois de Ismael 2.048 Gn 21:5
1850 AC Morte de Serugue aos 230 anos 2.049 Gn 11:23
1846 AC Abraão expulsa Agar e Ismael 2.053 Gn 21:14
Abraão peregrina na terra dos filisteus Gn 21:34
Abraão vai habitar em Berseba Gn 22:19
1825 AC Nascimento de Rebeca 2.074 Jasher 36:3-6
1816 AC Morte de Tera aos 205 anos de idade 2.083 Gn 11:32
1814 AC Deus pede a Abraão a vida de Isaque 2.085 Gn 22:2
1814 AC Morte de Sara em Hebrom 2.085 Gn 23:1-2
1812 AC Eliezer busca esposa para Isaque 2.087 Gn 24:10
1812 AC Morte de Ló 2.087 Jasher 24:22
1811 AC Morte de Naor, irmão de Abraão 2.088 Jasher 24:27
1811 AC Casamento de Isaque com Rebeca 2.088 Gn 25:20
1809 AC Abraão casa-se com Quetura 2.090 Gn 25:1-2
1803 AC Morte de Arfaxade aos 438 anos 2.096 Gn 11:13
1791 AC Nascimento de Esaú e Jacó 2.108 Gn 25:26

1851 AC - (A.B. 2048) – nascimento de Isaque


Através de Gn 21:5 localizamos com absoluta certeza o nascimento
de Isaque no Ano Bíblico 2048, somados o ano de nascimento de
Abraão à sua idade (1948 + 100): “Era Abraão da idade de cem
anos, quando lhe nasceu Isaque seu filho.” Isaque veio a nascer 14
anos depois de Ismael, quando Abraão já habitava em Canaã há 25
anos.

1850 AC - (A.B. 2049) – morte de Serugue


Gênesis relata a morte de Serugue, bisavô de Abraão, no Ano Bíblico
2049, aos duzentos e trinta anos de idade, duzentos anos depois de
haver gerado Naor, pai de Tera e avô de Abraão (1849 + 200).

1846 AC - (A.B. 2053) – expulsão de Agar e Ismael


Conforme Gn 21:8, quando Isaque foi desmamado, cerca de cinco
anos depois de seu nascimento, Sara pede a Abraão que expulse
Agar e Ismael de seu convívio. Este pedido pareceu mal a Abraão,
mas Deus o orientou a fazer conforme Sara lhe pedira, pois a aliança
feita entre Deus e Abraão teria continuidade com Isaque, e não com
Ismael, de maneira que “se levantou Abraão pela manhã de
madrugada, e tomou pão e um odre de água e os deu a Agar, pondo-
os sobre o seu ombro; também lhe deu o menino e despediu-a; e ela
partiu, andando errante no deserto de Berseba.” (Gn 21:14).
34

Há, no capítulo 21 de Jasher, alguns relatos interessantes sobre


Ismael. Segundo Jasher, Ismael tornou-se arqueiro e habitou no
deserto, tendo sido abençoado por Deus com muito gado, por
consideração a Abraão, seu pai.

Jasher explica, por exemplo, que o pedido de Sara a Abraão para


que expulsasse Agar e seu filho deveu-se a ela ter presenciado uma
cena, quando Ismael teria dezenove anos e Isaque cinco, em que
Ismael chegou a entesar o arco e colocar nele uma fecha para atingir
Isaque. Desta forma Sara não teve alternativa senão a de fazer o que
fez.

Gênesis não tece maiores comentários sobre a relação de Abrão e


Ismael, mas Jasher relata alguns fatos interessantes, um deles, que
no tempo apropriado, Agar, mãe de Ismael, tomou-lhe uma esposa
egípcia que lhe deu quatro filhos e duas filhas.

Conforme Jasher, passado muito tempo, Abraão resolveu visitar


Ismael no deserto encontrando por fim sua tenda. Não estavam nem
Ismael nem Agar, mas somente a esposa egípcia de Ismael e seus
filhos.

Como Abraão houvesse prometido a Sara que não desceria de seu


camelo, pediu à nora, sem dizer quem era, um pouco de água, ao
que ela respondeu que não havia nem água nem pão para lhe
oferecer.

Abraão permaneceu por um pouco tempo à espera de seu filho, e


assim, pode perceber que a mulher, dentro da tenda, batia nos filhos
e amaldiçoava Ismael.

Abraão chamou então a mulher para fora e deu-lhe a seguinte


instrução: “quando chegar Ismael, diz-lhe que esteve aqui a sua
procura um homem muito velho, com tal aparência, que veio da terra
dos filisteus, mas não disse quem era. Diz também a ele que jogue
fora o prego que ele colocou dentro de sua tenda e arranje outro
melhor”.

Quando Ismael retornou, a mulher lhe disse tal e qual Abraão lhe
instruíra, de tal forma que Ismael entendeu que se tratava de seu pai,
e que sua esposa o tratara com desonra. Despediu então a mulher e
tempos depois se casou com outra.
35

Anos depois a história se repete, desta vez com a nova esposa. Esta,
porém, com um procedimento muito diferente da primeira, ofereceu a
Abraão, sem saber que se tratava de seu sogro, água e pão para que
este se reconfortasse da longa viagem, de maneira que na hora da
despedida, Abraão pede também a ela que transmita um recado a
Ismael: “Diz a Ismael que passou à sua procura um homem muito
velho, vindo da terra dos filisteus, que não disse quem era. Dei-lhe
pão e água para que se reconfortasse da viagem e ele lhe deixou um
recado: que o novo prego que puseste na tenda é muito bom e que
você nunca o jogue fora”.

Tempos depois, ainda conforme Jasher, Ismael visitou seu pai na


terra dos filisteus, trazendo a nova esposa e os filhos e permaneceu
com Abraão por muitos anos. Se este relato de Jasher é real ou
folclórico não se sabe, mas é absolutamente certo que pai e filho
tiveram uma relação próxima, porque Abraão amava Ismael.

1846 AC a 1825 AC - (2053 A.B. a 2074 A.B.)


Conforme Gn 11:23, Abraão peregrinou pela terra dos filisteus por
muitos anos, vindo depois disto a mudar-se para Berseba, no sul de
Israel, e depois para Hebrom.

1825 AC – (A.B. 2074) – nascimento de Rebeca


Gênesis omite as datas de nascimento e morte de Rebeca. De
acordo com Jasher 36:3-6, Rebeca teria nascido no Ano Bíblico 2074
e teria falecido quando Jacó tinha noventa e nove anos de idade,
portanto, no Ano Bíblico 2.207. Ainda de acordo com Jasher, Rebeca
teria cento e trinta e três anos quando faleceu. Desta forma,
subtraindo-se 133 de 2.207, temos o ano de seu nascimento em
2.074 A.B.

1816 AC - (A.B. 2083) – morte de Tera, pai de Abraão


No Ano Bíblico 2083, morreu na cidade de Harã, Tera, pai de
Abraão, aos 205 anos de idade. Abraão tinha então 135 anos,
havendo transcorridos, portanto, 60 anos desde haver Abraão
deixado Tera vivo em Harã para seguir viagem para Canaã,
conforme a ordem de Deus.

Sabemos que Tera morreu no Ano Bíblico 2083 (Gn 11:32) somando
sua idade ao ano de seu nascimento (1878 + 205), tendo vivido,
portanto, até que Isaque, seu neto, tivesse completado 35 anos de
idade.
36

1814 AC - (A.B. 2085) – sacrifício de Isaque


Não há, em Gênesis (Gn 22:2), nenhuma indicação sobre a data em
que Deus pede a Abraão a vida de Isaque em sacrifício, mas foi
próximo à morte de Sara. Jasher 22:53 indica que teria sido no ano
37 da vida de Isaque, poucos dias antes da morte de Sara.

1814 AC - (A.B. 2085) – morte de Sara


Depois de Berseba, sabemos que Abraão se deslocou para Hebrom,
pois foi ali que morreu Sara, aos 127 anos de idade, no Ano Bíblico
2085 (1958 + 127). “E foi a vida de Sara cento e vinte e sete anos;
estes foram os anos da vida de Sara. E morreu Sara em Quiriate-
Arba, que é Hebrom, na terra de Canaã; e veio Abraão lamentar Sara
e chorar por ela”. Gn 23:1-2

1812 AC - (A.B. 2087) – uma esposa para Isaque


Depois da morte de Sara, Abraão, preocupado com a possibilidade
de Isaque vir a se casar com uma mulher de Canaã, cujos costumes
eram diferentes dos seus, manda Eliézer, homem nascido em
Damasco, seu empregado de mais confiança, à terra de seus
familiares buscar uma mulher para seu filho.

Abraão já sabia que poderia buscar uma esposa para Isaque junto à
descendência de Naor, seu irmão. Vejamos Gn 22:20-24: “E sucedeu
depois destas coisas, que anunciaram a Abraão, dizendo: Eis que
também Milca deu filhos a Naor teu irmão. Uz o seu primogênito, e
Buz seu irmão, e Quemuel, pai de Arã, E Quésede, e Hazo, e Pildas,
e Jidlafe, e Betuel. E Betuel gerou Rebeca. Estes oito deu à luz Milca
a Naor, irmão de Abraão. E a sua concubina, cujo nome era Reumá,
ela lhe deu também a Tebá, Gaã, Taás e Maaca”.

Guiado pela mão de Deus, Eliezer vai ter justamente com Rebeca,
que era filha de Betuel, filho de Naor, o irmão de Abraão que não
acompanhara a família quando esta decidiu sair da caldéia. Rebeca
tinha um irmão de nome Labão, que no futuro será o sogro de Jacó.

É razoável datar por estimativa este evento como tendo acontecido


um ano antes do casamento de Isaque com Rebeca, no Ano Bíblico
2087.

Através de Jasher 36:1-6 podemos concluir com segurança a data de


nascimento de Rebeca. Sabendo-se que Isaque tinha 40 anos
quando se casou, conclui-se que Rebeca teria cerca de 15 anos na
ocasião. Jasher capítulo 24:40 afirma que Rebeca teria 10 anos
37

quando foi encontrada por Eliezer, não obrigatoriamente quando


casou.

Pode-se concluir duas coisas: se Isaque e Rebeca se casaram no


ano seguinte ao que foi encontrada por Elliezer, a informação de
Jasher de que Rebeca teria 10 anos estaria errada, pois teria 15
anos. A outra hipótese seria terem-se casado quatro anos depois,
embora o relato de Jasher e mesmo Gênesis deem a entender que
se casaram imediatamente. É provável que houve esta espera de
quatro anos, mesmo com os textos aparentando ter sido uma coisa
imediata.

Elmer Towns, em seu livro “A Journey Through the Old Testament”,


página 86, faz algumas interessantes anotações referente a Gn
24:21 dizendo que Rebeca se prontificou a dar de beber aos camelos
de Eliezer, mostrando que era uma mulher diligente, uma vez que um
camelo pode consumir uma grande quantidade de água, sobretudo
depois de uma longa viagem. Comenta também acerca do primeiro
presente dado a ela da parte de Isaque, um pingente e duas
pulseiras de ouro de dez siclos e meio de peso. O peso de um siclo
(um shekel) varia de região para região principalmente dependendo
da época histórica, mas seria naquele tempo equivalente a uma
onça, cerca de 28 gramas, totalizando 280 gramas, o que
representaria nos dias de hoje cerca de US$ 14.000,00 (catorze mil
dólares). Nada mal para um primeiro presente.

1812 AC - (A.B. 2087) – morte de Ló


Gênesis não faz menção a esta data, mas Jasher 24:22 menciona o
fato da seguinte maneira: “E Ló, filho de Harã, também morreu
naqueles dias, no trigésimo nono ano da vida de Isaque, e todos os
dias da vida de Ló foram 140 anos e morreu.” Desta forma, Ló teria
nascido em 1947 A.B., um ano antes que Abraão, e falecido em 2087
A.B.

1811 AC - (A.B. 2088) – morte de Naor


Gênesis igualmente não faz referência a este acontecimento, mas
Jasher 24:27 menciona o fato da seguinte maneira: “E Naor, filho de
Tera, irmão de Abraão, morreu naqueles dias, no quadragésimo ano
da vida de Isaque, e todos os dias de Naor foram cento e setenta e
dois anos, e morreu e foi sepultado em Harã.” Naor e seu irmão
gêmeo, Harã, pai de Ló, teriam nascido em 1916 A.B.
38

1811 AC - (A.B. 2088) – casamento de Isaque e Rebeca


Isaque casou-se com Rebeca quando tinha 40 anos de idade,
portanto, no Ano Bíblico 2088, somados seu nascimento à sua idade
na ocasião (2048 + 40): “E era Isaque da idade de quarenta anos,
quando tomou por mulher a Rebeca, filha de Betuel, arameu de
Padã-Arã, irmã de Labão, arameu.” Gn 25:20

A Bíblia não informa a idade de Rebeca quando se casou, mas


segundo o Talmude, teria cerca de dez anos. Elmer Towns (ibid) não
se refere à sua idade mas comenta que ela seria madura o suficiente
para se casar e ainda moralmente pura. Teria, segundo nossa
contagem, 14 anos de idade.

1809 AC - (A.B. 2090) – Abraão casa com Quetura


Cerca de cinco anos depois da morte de Sara, Abraão casa-se com
Quetura, que vem a ser mãe de seus outros seis filhos, a saber,
Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque e Suá.

Acerca destes filhos, a Bíblia nos dá notícia de Midiã, quando muito


no futuro, Moisés, fugindo do Egito, se refugia em terras com este
nome, conforme relatado em Ex 2:15: “Ouvindo, pois, Faraó este
caso, procurou matar a Moisés; mas Moisés fugiu de diante da face
de Faraó, e habitou na terra de Midiã, e assentou-se junto a um
poço”.

De resto, os midianitas se tornaram inimigos de Israel, a tal ponto,


que a última ordem dada por Deus a Moisés, antes de sua morte, foi
dar combate a este povo, conforme Nm 31:2: “Vinga os filhos de
Israel dos midianitas; depois recolhido serás ao teu povo”.
39

O Encurtamento da vida dos homens


Idade
Nascimento Morte Idade Geração 1a
Nome ao
Ano Bíblico A.B. média anterior geração
falecer
Adão 0 930 930
Sete 130 912 1042
Enos 235 905 1140
Cainã 325 910 1235
Maalaleel 395 895 1290 912
Jerede 460 962 1422
Matusalém 687 969 1656
Lameque 874 777 1651
Noé 1056 950 2006
Limite de 120 anos
Sem 1558 600 2158 600 66%
Dilúvio 1656
Arfaxade 1658 438 2096
Selá 1693 403 2096 424 71% 46%
Eber 1723 430 2153
Pelegue 1757 239 1996
Reú 1787 207 1994 225 53% 25%
Serugue 1819 230 2049
Naor 1849 148 1997
Abraão 1948 175 2123
Ismael 2034 137 2171
Isaque 2048 180 2228
Jacó 2108 147 2255
Levi 2194 137 2331 141 62% 15%
Jose 2199 110 2309
Coate 2231 133 2364
Anrão 2301 137 2438
Arão 2370 123 2493
Moisés 2373 120 2493
Atualmente 77 77 55% 8%

1803 AC - (A.B. 2096) – morte de Arfaxade


No Ano Bíblico de 2096 morre Arfaxade, filho de Sem, neto de Noé, o
primeiro homem nascido depois do dilúvio, com 438 anos de idade.
Arfaxade viveu praticamente a metade do tempo dos seus ancestrais
pré-diluvianos. Sem, nascido antes do dilúvio, porém, depois da
sentença de Deus, sobreviveu ainda 62 anos após a morte do filho.
40

Nota-se, neste período da história, um acentuado decréscimo na


expectativa de vida dos homens. Conforme vimos, ao passar pelas
datas referentes a Babel, o Talmude atribui a Eber a qualificação de
grande profeta de Deus, pois deu a seu filho mais velho o nome de
Pelegue, que significa "divisão", referindo-se ao fato de que nos dias
de Pelegue a terra foi dividida (Gn 10:25) e Joctã, ao filho mais novo,
que significa “encurtar”, tendo desta forma entendido, quer por
revelação divina, quer por observação dos fatos, que os homens já
não viviam tanto tempo.

Então disse o Senhor: Não contenderá o meu


Espírito para sempre com o homem; porque ele
também é carne; porém os seus dias serão cento
e vinte anos. (Gn 6:3)

Entendem alguns, que Gn 6:3 faz referência ao tempo de


antecedência em que Deus adverte Noé sobre o dilúvio. Faz sentido.
Seria então, o Ano Bíblico 1536, vinte anos antes do nascimento de
Jafé, filho de Noé, cento e vinte anos antes do dilúvio.

No entanto, não se pode ignorar o fato de que a longevidade dos


homens depois de Gn 6:3 (antes do dilúvio) sofreu um acentuado
decréscimo. Alguns sugerem que as condições atmosféricas foram
alteradas com o dilúvio, mas fosse assim, as consequências seriam
imediatas para todos, e não de maneira diferenciada a cada geração.
De fato, a forma como Deus implementou esta alteração vai além da
nossa compreensão, pois de alguma forma, a idade dos homens
nascidos depois disto foi declinando acentuadamente até o limite
estabelecido de cento e vinte anos, e continuou a declinar até os
tempos modernos, seguindo a mesma trajetória descendente.

Ao analisarmos a tabela acima notamos que a idade de Sem ao


morrer difere muito da de seus ancestrais, pois viveu 66% da média
de tempo de vida de seus antepassados, o que nos leva a aceitar
que a decisão de Deus de limitar a idade do homem ocorreu antes de
seu nascimento. A partir de Sem os homens viverão cada vez menos
tempo.

Arfaxade, o primeiro nascido depois do dilúvio, morreu aos 438 anos


de idade, 62 a menos que Sem, ou seja, viveu apenas 3/4 do tempo
da geração anterior, e menos da metade do tempo dos primeiros
homens.
41

A geração seguinte vive metade do tempo da anterior, e apenas 1/4


do tempo dos homens primitivos.

Interessante notar que é apenas no tempo de Moisés, nascido mais


de 700 anos após o dilúvio, que o decreto de Deus se cumpre
integralmente. Moisés, diga-se como curiosidade, morreu justamente
no dia em que completava 120 anos de idade.

Quanto ao homem de nossos dias, de acordo com a Organização


Mundial de Saúde (OMS), a maior expectativa de vida é a dos
japoneses, com 77 anos, o que representa menos de 10% da vida
dos homens anteriores à determinação de Deus. Em Moçambique a
expectativa de vida para homens é de 41 anos.

Nos dias de hoje, com todos os avanços da medicina, sabe-se que


se pode em tese viver até cerca de cento e vinte anos e com alguma
qualidade de vida. No entanto, o que se observa, segundo dados da
ONU citados em 17 de Junho de 2009 por ocasião do Dia Mundial de
Luta Contra a Desertificação e a Seca, é que há uma tendência de
diminuição da expectativa média de vida da humanidade, não só em
função dos graves transtornos causados em decorrência da
escassez de alimentos, mas também pela falta de água tratada para
consumo humano, guerras, desajustes climáticos, e um sem número
de outros fenômenos adversos, todos eles causados pelo homem.
Curiosamente a tendência é a continuidade do declínio em termos de
expectativa média de vida.

Distanciamento em anos com relação à determinação de Deus quanto à idade do homem

1200

1000

800

600 Idade

400

200

0
-2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000


42

A questão da primogenitura
Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1791 AC Nascimento de Esaú e Jacó 2.108 Gn 25:26
1776 AC Morte de Abraão aos 175 anos 2.123 Gn 25:7
1773 AC Morte de Selá aos 435 anos 2.126 Gn 11:15
1771 AC Esaú vende sua primogenitura 2.128 Gn 25:33-34
Isaque vai a Gerar fugindo da fome Gn 26:1
Isaque vai habitar em Berseba Gn 26:23
Abimeleque pactua com Isaque Gn 26:28
1751 AC Esau se casa aos 40 anos de idade 2.148 Gn 26:34
1741 AC Morte de Sem aos 600 anos 2.158 Gn 11:11
1736 AC Nascimento de Leia e Raquel 2.163 Jasher 36:1-11
1728 AC Morte de Ismael aos 137 anos 2.171 Gn 25:17

1791 AC - (A.B. 2018) – nascimento de Esáu e Jacó


No Ano Bíblico 2108, somados o nascimento de Isaque e sua idade
(2048 + 60), nasceram Esaú e Jacó. Isaque tinha na ocasião 60 anos
de idade e Abraão 160 anos. As três gerações de patriarcas, Abraão,
Isaque e Jacó conviverão ainda 15 anos, até a morte de Abraão.

Gn 25:24-26 - “E cumprindo-se os seus dias para dar à luz, eis


gêmeos no seu ventre. E saiu o primeiro ruivo e todo como um
vestido de pêlo; por isso chamaram o seu nome Esaú. E depois saiu
o seu irmão, agarrada sua mão ao calcanhar de Esaú; por isso se
chamou o seu nome Jacó. E era Isaque da idade de sessenta anos
quando os gerou.”

1776 AC - (A.B. 2123) – morte de Abraão


Quinze anos após o nascimento de Jacó faleceu Abraão, aos 175
anos de idade, no Ano Bíblico 2123, resultado da soma de seu
nascimento com seus anos de vida (1948 + 175).

1773 AC - (A.B. 2126) – morte de Selá


No Ano Bíblico 2126 morreu Selá, aos 435 anos de idade, 30 anos
depois da morte de seu pai, Arfaxade, o primeiro nascido depois do
dilúvio. Conforme Gn 11:15: “Viveu Selá, depois que gerou a Éber,
quatrocentos e três anos, e gerou filhos e filhas.” (1723 + 403)

1771 AC - (A.B. 2128) – Esaú vende sua primogenitura


Gênesis não relata a data em que Esaú vendeu sua primogenitura a
Jacó; no entanto, é possível supor que Jacó e Esaú estivessem com
cerca de 20 anos de idade (2128 A.B.), baseado em Gn 25:27 que
43

nos diz que “cresceram os meninos, e Esaú foi homem perito na


caça, homem do campo; mas Jacó era homem simples, habitando
em tendas.” Já não eram mais meninos e o conceito de adulto nos
obriga a pensar que teriam cerca de vinte anos ou pouco mais, a
idade em que segundo o costume dos Israelitas, um homem poderia
ir à guerra.

1771 AC a 1751 AC - (2128 A.B. a 2148 A.B.)


Este foi um tempo de peregrinações para Isaque, que andou por
Gerar, fugindo da escassez de alimentos naquela época, e depois
para Berseba. Foi neste tempo que o rei de Gerar procurou Isaque
para fazer com este um pacto de não-agressão.

1751 AC - (A.B. 2148) – Esaú se casa


Esaú casou-se aos 40 anos de idade, no Ano Bíblico 2148 (2108 +
40), conforme Gn 26:34, com duas mulheres hetéias: “Ora, sendo
Esaú da idade de quarenta anos, tomou por mulher a Judite, filha de
Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu.” Este fato trouxe
muitas preocupações para Isaque e Rebeca que não desejavam que
seus filhos convivessem com mulheres de religiões pagãs, pois
sabiam que fatalmente elas desviariam seus filhos do Deus de
Abraão.

1741 AC - (A.B. 2158) – morte de Sem


Sem, filho de Noé, nascido antes do dilúvio, faleceu no Ano Bíblico
de 2158, aos 600 anos de idade, 35 anos depois da morte de
Abraão, conforme Gn 11:11: “E viveu Sem, depois que gerou a
Arfaxade, quinhentos anos, e gerou filhos e filhas” (1658 + 500).

1736 AC - (A.B. 2163) – nascimentos de Léia e Raquel


Gênesis não registra as datas de nascimentos ou mortes de Léia e
Raquel. No entanto, Jasher 36:1-11 dá conta de que Raquel morreu
aos quarenta e cinco anos de idade, quando Jacó teria cem anos.
Teria morrido, portanto, no Ano Bíblico 2.208. Subtraindo-se seus
quarenta e cinco anos vividos, temos o Ano Bíblico 2163 como ano
de seu nascimento. Da mesma forma, Jasher (41:2) afirma que no
ano cento e seis da vida de Jacó, décimo ano desde sua saída de
Padã-Arã, Léia veio a falecer aos 51 anos de idade. Os dois cálculos
nos remetem ao Ano Bíblico 2163. Eram, portanto, gêmeas, sendo
Léia a mais velha.
44

1728 AC - (A.B. 2171) – morte de Ismael


Ismael faleceu com 137 anos de idade, 48 anos depois da morte de
seu pai Abraão. Conforme Gn 25:17: “E estes são os anos da vida de
Ismael, cento e trinta e sete anos, e ele expirou e, morrendo, foi
congregado ao seu povo”, no Ano Bíblico 2171, resultado de (2034 +
137).

A benção de Jacó
Ano Ref
Gregoriano Evento Biblico .Bíblica
Isaque (123) abençoa Jacó (63) por
1728 AC engano 2.171 Gn 27
14 anos de retiro de Jacó antes de ir a
1728 AC Labão 2.171 Jasher 29:20
Partida de Jacó para Padã-Arã aos 77
1714 AC anos 2.185 Gn 28:5
Jacó trabalha para Labão 7 anos por
1714 AC Raquel 2.185 Gn 29:20-28
1712 AC Morte de Eber aos 464 anos 2.187 Gn 11:17

1728 AC - (A.B. 2171) – a benção de Jacó


Provavelmente, motivado pela morte de seu irmão Ismael, Isaque
passou a imaginar que também a sua própria morte poderia estar
próxima, por isto decidiu que era a hora de dar a sua benção ao filho
que o sucederia na herança da promessa de Deus a Abraão. Não se
pode afirmar com certeza a data em que Isaque teria dado sua
benção a Jacó, pois Gênesis não é claro quanto a isto.

1714 AC - (A.B. 2185) - a partida para Padã-Arã


O livro de Jasher, em seu capítulo 29 afirma que após receber a
benção da primogenitura, Jacó, para fugir à ira de seu irmão buscou
refúgio na casa de Eber, pai de Pelegue, onde permaneceu por
catorze anos (Jasher 29:20).

Com isto estão de acordo o Talmude Babilônico e a Seder Olam


Rabbah. Neste caso, a benção teria sido dada no mesmo ano em
que faleceu Ismael, o que em termos cronológicos é bastante
possível.

Entre a morte de Ismael e a partida de Jacó para Padã-Arã


passaram-se catorze anos e é natural, pela leitura bíblica, que se
conclua que a benção de Jacó e sua partida para Padã-Arã sejam
eventos consecutivos, tendo, portanto, acontecido no mesmo ano.
Sabemos, no entanto, com precisão, a data em que Jacó seguiu para
45

Padã-Arã: Jacó nasceu no Ano Bíblico 2108 e faleceu no Ano Bíblico


2255 aos 147 anos de idade: (2108 + 147 = 2255).

De acordo com Gênesis, Jacó viveu seus 17 últimos anos de vida no


Egito: “Jacó viveu na terra do Egito dezessete anos, de sorte que os
dias de Jacó, os anos da sua vida, foram cento e quarenta e sete
anos” (Gn 47:28). Temos, portanto, que Jacó encontrou-se com José
seu filho, na ocasião, governador do Egito, no Ano Bíblico 2238
(2255-17).

Sabemos que Jacó e seus filhos se mudaram para o Egito no mesmo


ano em que José se revelou a seus irmãos e sabemos que quando
isto aconteceu, José mencionou que já havia passado dois anos de
fome e que mais cinco anos ainda restavam, aconselhando desta
forma que seus irmãos trouxessem Jacó e o restante da família para
estarem seguros no Egito, conforme o relato de Gn 45:6: “Porque já
houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco
anos em que não haverá lavoura nem sega.”

Temos, portanto, que o início do período de fome se deu no Ano


Bíblico 2236, e ainda que 7 anos antes disto, no Ano Bíblico 2229,
iniciou-se o período de 7 anos de fartura. José foi nomeado
governador do Egito nesta ocasião, portanto, em 2229 A.M;

De acordo com Gn 41:46, José teria na ocasião, 30 anos de idade.


“E José era da idade de trinta anos quando se apresentou a Faraó,
rei do Egito. E saiu José da presença de Faraó e passou por toda a
terra do Egito”, de onde se conclui que José nasceu no Ano Bíblico
2199 (2229 – 30).

Quando José nasceu, Jacó relembra seu sogro que já havia


trabalhado 14 anos para pagar pelo dote de suas duas esposas e
que desejava voltar para sua terra. Na verdade Jacó fica em Parã-
Arã mais 6 anos antes de voltar. Todavia, se subtrairmos do ano de
nascimento de José os 14 anos mencionados, teremos a data em
que Jacó chegou a Padã-Arã, 2185 A.B. (2199 – 14).

A data de partida de Jacó para Padã-Harã é, portanto, exata (2185


A.B.). Se julgarmos que foi neste tempo que Jacó foi abençoado por
Isaque, conforme induz a leitura de Gênesis 27 e 28, concluiremos
que tanto a benção quanto a partida de Jacó se deram no mesmo
ano.
46

Se entendermos, conforme a tradição judaica, que Isaque deu sua


benção a Jacó no ano em que Ismael faleceu (Ano Bíblico 2171 -
1725 AC), concluiremos que seguiu-se à benção um período de 14
anos de silêncio em que Jacó esteve submetido a uma espécie de
exilo, e só depois destes 14 anos anos se põe a caminho de Padã-
Harã, no Ano Bíblico 2185 (1711 AC).

Qualquer que seja o caso, Jacó teria na época de sua partida para
Harã 77 anos de idade, enquanto seu pai Isaque, 137 anos.
Normalmente pensamos que Jacó seria bem mais jovem na ocasião.

1712 AC - (A.B. 2187) – morte de Eber


Conforme Gn 11:17, Eber faleceu aos 464 anos de idade: “E viveu
Éber, depois que gerou a Pelegue, quatrocentos e trinta anos, e
gerou filhos e filhas”, (1757 + 430). Eber sobreviveu 191 anos à
morte de Pelegue.

O nascimento dos filhos de Jacó


Ano
Gregoriano Evento Biblico Ref.Bíblica
1707 AC Jacó casa-se com Lia e Raquel 2.192 Gn 29:20-28
1707 AC Nascimento de Ruben 2.192 Gn 29:32
1706 AC Nascimento de Simeão 2.193 Gn 29:33
1705 AC Nascimento de Levi 2.194 Gn 29:34
1704 AC Nascimento de Judá 2.195 Gn 29:35
1704 AC Raquel entrega Bila para Jacó 2.195 Gn 30:4-6
1704 AC Nasimento de Dã 2.195 Gn 30:4-6
1703 AC Nascimento de Naftali 2.196 Gn 30:6-8
1703 AC Lia entraga Zilpa para Jacó 2.196 Gn 30:9-10
1703 AC Nascimento de Gade 2.196 Gn 30:9-10
1702 AC Nascimento de Aser 2.197 Gn 30:12-13
1702 AC Nascimento de Issacar 2.197 Gn 30:17-18
1701 AC Nascimento de Zebulon 2.198 Gn 30:19-20
1700 AC Nascimento de Diná 2.199 Gn 30:21
1700 AC Nascimento de José 2.199 Gn 41:45

1707 AC - (A.B. 2192) – os casamentos de Jacó


Logo que chegou a Padâ-Harã Jacó conheceu Raquel, filha de seu
tio Labão, irmão de Rebeca, sua mãe, por quem se apaixonou de
imediato. Fez então um acordo com Labão de trabalhar sete anos
pela mão de Raquel
47

Passado este tempo, portanto, no Ano Bíblico 2192, foi feito o


casamento, mas apenas no dia seguinte Jacó veio a descobrir que
se casara com Léia (ou Lia). Quando questionou o sogro este lhe
respondeu: “Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê
antes da primogênita. Cumpre a semana desta; então te daremos
também a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos comigo
servires. E Jacó fez assim, e cumpriu a semana de Lia; então lhe deu
por mulher Raquel sua filha.” (Gn 29:26-28)

Jacó casou-se, portanto, com Lia e sete dias depois com Raquel,
vindo a trabalhar pelo seu dote mais sete anos. Jacó teria na ocasião
84 anos de idade enquanto Lia e Raquel teriam 29 anos, a mesma
idade, uma vez que eram gêmeas.

Labão deu de presente a cada filha uma serva: a Léia deu Zilpa e a
Raquel, Bila. Ambas serão dadas por suas esposas no futuro a Jacó
por concubinas e gerarão filhos.

Talvez inspirado por esta união tempestuosa, cheia de disputas entre


as esposas, Moisés editou uma Lei proibindo tal tipo de casamento:
“E não tomarás uma mulher juntamente com sua irmã, para fazê-la
sua rival, descobrindo a sua nudez diante dela em sua vida” (Lv
18:18).

Gênesis nos conta que Raquel era uma mulher bonita enquanto Léia
tinha olhos que chamavam atenção. De acordo com Gn 29:17: “Lia
tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa
à vista.”

Existem observações preciosas da parte da tradição judaica quanto à


natureza destas duas mulheres. O Talmude diz, por exemplo, que
Léia e Raquel eram gêmeas, com o que concorda Jasher, sendo esta
a razão pela qual Jacó foi enganado tão facilmente.

Diz também que Léia tinha olhos de uma mulher que chora
constantemente, e que isto se devia ao sofrimento causado pela
possibilidade, por ser a filha mais velha, de ter que vir a se casar com
seu primo Esaú, homem de má fama, o mais velho dos filhos de
Jacó, que por este motivo teria direitos sobre ela. A tradição diz que
Léia era uma mulher de oração, conforme demonstrava a expressão
de seus olhos, e desta maneira conseguiu suplantar o seu destino.

Quanto ao futuro destas mulheres, Leia, além de haver gerado ela


própria seis filhos e uma filha, entre eles estão Judá e Levi, de quem
48

descenderão os reis e os sacerdotes de Judá. De Raquel também


descenderão reis, mas enquanto os descendentes de Léia serão
perenes, os de Raquel serão passageiros.

1707 AC a 1700 AC (2192 A.B. a 2199 A.B.) – os filhos de Jacó


Conforme já conferimos a exatidão da data, José, primeiro filho de
Raquel, décimo primeiro filho homem de Jacó (91 anos de idade na
ocasião), nasceu no Ano Bíblico 2199.

Foi o último dos filhos de Jacó a nascer enquanto este vivia com seu
sogro Labão. Os outros dez filhos, além de Diná, vieram a nascer no
curto espaço de sete anos em que Jacó viveu com seu sogro, o que
é perfeitamente razoável, uma vez que estes filhos foram gerados
por quatro mulheres, duas esposas e duas concubinas.

Embora não se tenha a data exata de cada um deles, é


absolutamente correta a dedução de seus nascimentos, uma vez que
Gênesis é muito claro quanto à sua sequência. Foram estes os filhos
que nasceram a Jacó durante os 20 anos em que permaneceu em
Padã Harã. Tanto o Talmude quanto a Seder Olam Rabbah estão de
acordo com as mesmas datas.

1707 AC - (A.B. 2192) – nascimento de Rubem – primeiro filho de


Léia (Gn 29:32);

1706 AC - (A.B. 2193) – nascimento de Simeão – segundo filho de


Léia (Gn 29:33);

1705 AC - (A.B. 2194) – nascimento de Levi – terceiro filho de Léia


(Gn 29:34);

1704 AC - (A.B. 2195) – nascimento de Judá – quarto filho de Léia


(Gn 29:35);

1704 AC - (A.B. 2195) – nascimento de Dã – primeiro de Bila (Gn


30:4-6)

1703 AC - (A.B. 2196) – nascimento de Naftali – segundo de Bila (Gn


30:6-8);

1703 AC - (A.B. 2196) – nascimento de Gade – primeiro filho de Zilpa


(Gn 30:9-10);
49

1702 AC - (A.B. 2197) – nascimento de Aser – segundo filho de Zilpa


(Gn 30:12-13);

1702 AC - (A.B. 2197) – nascimento de Issacar – quinto filho de Léia


(Gn 30:17-18);

1701 AC - (A.B. 2198) – nascimento de Zebulom – sexto filho de Léia


(Gn 30:19-20);

1700 AC - (A.B. 2199) – nascimento de Diná – primeira filha de Léia


(Gn30:21);

1700 AC - (A.B. 2199) – nascimento de José – primeiro filho de


Raquel (Gn 41:46).

A volta de Jacó a Canaã


Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1700 AC Fim dos 14 Anos de trabalho de Jacó 2.199 Gn 29:30
1694 AC Jacó trabalha mais 6 anos 2.205 Gn 31:42
1694 AC Jacó deixa Padã Arã 2.205 Gn 31:38
1694 AC Labão persegue Jacó 2.205 Gn 33:23-23
1694 AC Jacó envia mensageiros a Esaú 2.205 Gn 32:3
1694 AC Deus muda o nome de Jacó 2.205 Gn 32:28
1694 AC Jacó encontra-se com Esaú 2.205 Gn 33:4
1692 AC Jacó vive em Salém cerca de 2 anos 2.207 Gn 33:18

1700 AC - (A.B. 2199) – Jacó cumpre 14 anos de trabalho


Após o nascimento de José, cumpridos os 14 anos em que
trabalhara para pagar o dote de suas duas esposas, Jacó comunicou
a seu sogro que pretendia voltar para a casa de seus pais (Gn
30:25). Labão o convence a ficar mais tempo, seis anos, onde
trabalharia agora em troca de um salário.

De 1700 AC a 1694 AC - Jacó trabalha mais 6 anos para Labão


E assim, Jacó fica por mais 6 anos, entre 2199 AM e 2205 AM, com a
vantagem de agora poder ficar com parte do rebanho que viesse a
nascer. Assim, Deus abençoou o trabalho de Jacó, de maneira que
nestes 6 anos veio a se tornar um homem muito próspero. Cumprido
este tempo, o Senhor disse a Jacó que retornasse a Canaã (Gn
31:3), e assim o fez.
50

1694 AC - (A.B. 2205) – Jacó (97 anos) retorna a Canaã


Pela prestação de contas de Jacó a Labão, temos o cálculo do tempo
que Jacó passara em Padã-Arã, conforme com Gn 31:41: “Tenho
estado agora vinte anos na tua casa; catorze anos te servi por tuas
duas filhas, e seis anos por teu rebanho.” Seria o Ano Bíblico 2205
(2185+ 20), quando Jacó teria 97 anos de idade.

Para efeito prático, registramos aqui a idade dos filhos de Jacó


quando sairam de Padâ-Harã: Ruben, o mais velho, 13, anos,
Simeão - 12 anos, Levi – 11 anos, Judá – 10 anos, Dã – 10 anos,
Naftali – 9 anos, Gade – 9 anos, Aser – 8 anos, Issacar – 8 anos,
Zebulon – 7 anos, Diná – 6 anos, e José – 6 anos.

1694 AC - (A.B. 2205) – Deus muda o nome de Jacó


A caminho de Canaã, nas cercanias de Peniel, depois de cruzar o
Rio Jaboque, Deus muda o nome de Jacó para Israel, conforme
escrito em Gn 32:28: “Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas
Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e
prevaleceste.”

Jacó permanecera por 20 anos sob o teto de seu sogro e ve-se


claramente que Deus usou Labão para moldar a personalidade de
Jacó. Labão era sem dúvida um homem em condição de lidar com a
esperteza de Jacó na mesma medida em que este trapaceou seu
irmão Esaú. Ao fim destes 20 anos passou de “suplantador”,
significado no nome Jacó, para “príncipe de Deus”, significado do
nome Israel.

A permanência de Jacó em Siló


Ano
Gregoriano Evento Biblico Ref.Bíblica
1692 AC Diná, filha de Lia, é violada por Siquém 2.207 Gn 34:2
1692 AC Levi e Simeão vingam a honra da irmã 2.207 Gn 34:25-31
1692 AC Deus ordena que Jacó vá para Betel 2.207 Gn 35:1

1689 AC - (A.B. 2207) – Diná é violada


Gênesis não informa com precisão o tempo de permanência de Jacó
em Siló, nem por qual razão Jacó teria acampado ali ao invés de
seguir para a casa de seu pai quando deixou Padã-Arã. Sabemos
corretamente que Jacó deixou Padã-Arã em 2.205 A.B., depois de
permanecer vinte anos com Labão.
51

De acordo com o Livro de Jasher, Jacó teria cem anos de idade no


Ano Bíblico 2.208, quando nasceu Benjamin, já próximo a Belém,
local onde Raquel veio a falecer. Conclui-se, desta forma, que Jacó
permaneceu em Siló por cerca de dois anos, entre 2.205 A.B. e
2.207 A.B.

Vejamos a idade dos filhos de Jacó ao fim destes dois anos de


permanência em Siló: Ruben, o mais velho, teria 15 anos, Simeão -
14 anos, Levi – 13 anos, Judá – 12 anos, Dã – 12 anos, Naftali – 11
anos, Gade – 11 anos, Aser – 10 anos, Issacar – 10 anos, Zebulon –
9 anos, Diná – 8 anos, e José – 8 anos.

Em Gn 33:18, lemos: “chegou Jacó salvo à cidade de Siquém, que


está na terra de Canaã, quando vinha de Padã-Arã; e armou a sua
tenda diante da cidade.”

Gênesis nos relata que Diná, filha de Lia, única filha de Jacó, foi
violentada por Siquém, conforme Gn 34:2: “ E Siquém, filho de
Hamor, heveu, príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se
com ela, e humilhou-a.”

Se inferirmos que Jacó demorou-se dois anos em Siquem, Diná teria


na ocasião, ao fim destes dois anos, cerca de oito anos de idade, e
Levi e Simeão, seus irmãos, filhos de Lia, protagonistas do epsódio
que se segue, teriam respectivamente catorze e treze anos de idade.

No entanto, a questão central não seria a idade de Diná, uma vez


que naquele tipo de sociedade as mulheres com esta idade eram
elegíveis ao casamento. O próprio Talmude afirma que Rebeca teria
cerca de dez anos de idade quando se casou com Isaque. A posse
de uma mulher, no entanto, era objeto de acordo entre as famílias, o
que não acontecendo, neste caso, fez com que a justiça que caiu
sobre Siquém e demais habitantes de Siló viesse a ser rigorosa ao
extremo.

1692 AC - (A.B. 2207) – Vingança de Levi e Simeão


Conforme Gn 34:25-31, depois de convencer Hamor e Siquém a
circuncidar todos os homens da cidade para justificar a entrega de
Diná a Siquém, Simeão e Levi entraram na cidade e mataram pela
espada todos os homens, e saquearam todo o despojo que puderam
encontrar.
52

1692 AC - (A.B. 2207) – Jacó muda para Betel


Conforme Gn 35:1, “Depois (dos acontecimentos descritos acima)
disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel, e habita ali; e faze ali
um altar ao Deus que te apareceu, quando fugiste da face de Esaú
teu irmão.”

O reencontro de Jacó e Isaque


Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1692 AC Morrem Débora, Rebeca e Labão 2.207 Gn 35:8
1691 AC Raquel dá à luz Benjamin e morre 2.208 Gn 35:16-19
1690 AC Jacó se estabelece perto de Belém 2.209 Gn 35:21
1690 AC Ruben deita-se com Bila 2.209 Gn 35:22
1690 AC Jacó vai ter com Isaque 2.209 Gn 35:27
1685 AC Morte de Léia 2.214 Gn 37:2

1692 AC – (A.B. 2207) – Mortes de Rebeca, Débora, e Labão


Gênesis omite as datas de nascimento e morte de Rebeca, Débora,
sua ama, e Labão, irmão de Rebeca. De acordo com Jasher (36:4-7),
os três teriam falecido no mesmo ano, em 2.207 A.B., quando Jacó
teria noventa e nove anos de idade (2.108 + 99).

1691 AC - (A.B. 2208) – Nascimento de Benjamin e morte de


Raquel
De Betel Jacó se pos a caminho de Hebrom para o reencontro com
seu pai, mas antes disto, nas proximidades de Efrata nasceu
Benjamin. Gênesis não nos informa a data do seu nascimento, no
entanto, há em Jasher 36:8-12 um relato que menciona que Jacó
teria cem anos de idade quando nasceu Benjamin, e
consequentemente morreu Raquel, que teria segundo Jasher,
quarenta e cinco anos ao falecer (Jasher 36:8-12).

Abraão é considerado o patriarca de Israel quando nos referimos a


este termo no singular. Quando nos referimos aos patriarcas, termo
no plural, falamos de Abraão, Isaque e Jacó. Mas, quando se trata da
matriarca, o termo é associado exclusivamente à pessoa de Raquel,
a mãe que morre após dar à luz um filho.

1690 AC - (A.B. 2209) – Jacó se estabelece nas cercanias de


Belém
Conforme Gn 35:21: “ Então partiu Israel (de Belém), e estendeu a
sua tenda além de Migdal Eder.” Mais uma vez Jacó interrompe sua
viagem de reencontro com seu pai, desta vez, para cumprir os dias
53

de luto por Raquel, sua esposa amada, vindo a permanecer por


meses em Migdal Eder.

1690 AC - (A.B. 2209) - Ruben deita-se com Bila


Gênesis 35:22 nos relata um acontecimento bastante inusitado e de
difícil compreenção; Ruben, pimogênito de Jacó, deita-se com Bila,
concubina de seu pai. O texto nos relata este acontecimento da
seguinte forma: “E aconteceu que, habitando Israel naquela terra
(Migdal Eder), foi Rúben e deitou-se com Bila, concubina de seu pai;
e Israel o soube.”

Não há nenhum comentário mais esclarecedor sobre este fato em


Gênesis, a não ser do próprio Jacó, quando na proximidade de sua
morte repreende Ruben, conforme veremos adiante. Jasher, no
entanto, comenta de forma esclarecedora o fato: Jacó, depois da
morte de Raquel, movido pela íntima ligação que tinha com sua
esposa amada, estendeu sua residência para junto da tenda em que
moravam Bila, serva de Raquel, e seus filhos. Seria, talvez, uma
forma de minimizar sua dor, ou mesmo mostrar seu amor por Raquel,
estando próximo àquela que suscitara filhos a Raquel.

No ponto de vista de Ruben, filho de Lia, primeira e legítima esposa


de Jacó, isto constituiu uma grande ofensa contra sua mãe. Desta
forma, movido por sentimento de vingança, maculou o leito de seu
pai tomando a força Bila, sabendo que por esta razão Jacó jamais
voltaria a tocá-la. Custou-lhe caro esta atitude. A promessa de Deus
feita a Abraão, passou por direito de sucessão a Isaque e
posteriormente a Jacó, e seria, por privilégio de nascimento,
transmitida a Ruben, primogênito de Jacó. Diante de sua traição,
perdeu seu direito à primogenitura, direito este que passaria a
Simeão, segundo filho de Jacó.

Simeão também perdeu este direito quando vingou a honra de Diná,


sua irmã, o mesmo acontecendo com Levi, o terceiro na linha de
sucessão de Jacó, pela mesma razão de Simeão: a mortandade
sobre a gente de Salém. Desta forma, Judá, o quarto filho de Jacó,
se tornou por direito o sucessor de seu pai à primogenitura.

Moisés, pouco antes de sua morte, dará sua benção às tribos de


Israel, conforme o capítulo 33 de Deuteronômio, onde dentre todas
as doze tribos, Simeão não é incluída na benção. Judá será a tribo
remanescente de Israel, de cuja raiz nascerá o rei Davi, seus
descentes, e por fim nosso Senhor Jesus Cristo.
54

1690 AC - (A.B. 2209) – Jacó vai ter com Isaque


Conforme Gn 35:27, “Jacó veio a seu pai Isaque, a Manre, a
Quiriate-Arba (que é Hebrom), onde peregrinaram Abraão e Isaque”,
quatro anos após ter saído de Padã-Arã.

1685 AC - (A.B. 2214) – morte de Léia


Conforme Gn 37:2: “Estas são as gerações de Jacó. Sendo José de
dezessete anos, apascentava as ovelhas com seus irmãos; sendo
ainda jovem, andava com os filhos de Bila, e com os filhos de Zilpa,
mulheres de seu pai; e José trazia más notícias deles a seu pai.”

O texto não nomeia Léia como esposa de Jacó, de onde se conclui


que já houvesse falecido. Jasher 41:2 revela que Léia faleceu aos 51
anos de idade, quando Jacó teria 106 anos, no décimo ano desde
sua saída de Padã-Arã.

José no Egito
Ano Ref.
Gregoriano Evento Bíblico Bíblica
1683 AC José é vendido pelos irmãos ao Egito 2.216 Gn 37:2 e 28
1683 AC José vendido a Potifar 2.216 Gn 39:1-4
1682 AC José é colocado na prião por 12 anos 2.217 Gn 39:20
1681 AC Nascimento de Selá 2.218 Gn 38:5

1683 AC – (A.B. 2216) – José é vendido aos midianitas


Conforme Gn 37:2-28, José foi vendido aos mercadores midianitas
que iam para o Egito quando tinha dezessete anos de idade, no Ano
Bíblico 2.216 - (2199 + 17).

1683 AC – (A.B. 2216) – José é vendido a Potifar


Conforme Gn 39:1-4, José foi levado ao Egito, e Potifar, oficial de
Faraó, capitão da guarda, homem egípcio, comprou-o da mão dos
ismaelitas: “E o Senhor estava com José, e foi homem próspero; e
estava na casa de seu Senhor egípcio. Vendo, pois, o seu Senhor
que o Senhor estava com ele, e tudo o que fazia o Senhor
prosperava em sua mão, José achou graça em seus olhos, e servia-
o; e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que
tinha.” Isto veio a acontecer no mesmo ano em que José foi vendido
pelos irmãos aos mercadores midianitas.
55

1682 AC – (A.B. 2217) – José na prisão por 12 anos


Conforme Gn 39:20, “o Senhor de José o tomou, e o entregou na
casa do cárcere, no lugar onde os presos do rei estavam
encarcerados; assim esteve ali na casa do cárcere.”

José foi vendido pelos irmãos quando tinha a idade de dezessete


anos e saiu da prisão aos trinta, quando se tornou governador do
Egito. Permaneceu, portanto, um ano em casa de Potifar e doze
anos na prisão.

Jasher faz um comentário interessante sobre o julgamento de José:


que pela forma como a roupa de José fora rasgada, mostrava
claramente que ele era inocente, pois era claro que a posição de
José era de defesa e não de ataque. Potifar ouviu o juiz proferir sua
análise e soube, desta forma, que sua esposa era culpada. Mesmo
assim, fez valer sua posição social atirando José ao cárcere.

A ida de Israel para o Egito


Ano Ref
Gregoriano Evento Bíblico .Bíblica
1672 AC A prisão do copeiro e do padeiro de Faraó 2.227 Gn 40:1-4
1671 AC Morte de Isaque aos 180 anos de idade 2.228 Gn 35:28-29
1670 AC José interpreta o sonho de Faraó 2.229 Gn 41:37-38
1670 AC José governa sobre o Egito 2.229 Gn 41:46
1670 AC Inicio dos sete anos de fartura no Egito 2.229 Gn 41:29
1666 AC Nascimento de Manassés e Efraim 2.233 Gn 41:29
1663 AC 7 anos de fome no Egito 2.236 Gn 45:5
1663 AC Nascimento de Coate 2.236 Ex 6:16
1663 AC Nascimento de Hezrom e Hamul 2.236 Gn 46:12
1662 AC Nascimento de Merari, terceiro filho de Levi 2.237 Ex 6:16
1662 AC Os filhos de Israel vão ao Egito 2.237 Gn 42:1-3
1661 AC José se revela a seus irmãos 2.238 Gn 45:4
1661 AC Ida de Israel e sua família para o Egito 2.238 Gn 47:28

1672 AC - (A.B. 2227) – As prisões do copeiro e do padeiro do rei


do Egito
Por alguma ofensa cometida contra o rei do Egito, foram colocados
na mesma prisão em que José estava, o padeiro e o copeiro do rei.
Ali eles têm sonhos que José interpreta corretamente: o copeiro será
liberdado e o padeiro enforcado. Este evento aconteceu dois antes
da libertação de José, ano que coincide com o sonho de Faraó,
conforme Gn 41:1: “ E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros,
Faraó sonhou.”
56

1671 AC - (A.B. 2228) – morte de Isaque


Conforme Gn 35:28-29 Isaque morreu aos 180 anos de idade,
portanto, no Ano Bíblico 2228, ano de seu nascimento somado à sua
idade (2048 + 180). Viveu, portanto, 57 anos além do tempo em que
achava que iria morrer quando deu sua bênção a Jacó.

Uma curiosidade retratada em Jasher: Jacó e Esaú sepultaram seu


pai na caverna de Macpela que Abraão havia comprado de Hete, em
Quiriate-Arba (Hebrom) para sepultar Sara.

Isaque havia deixado muitas riquezas como herança e Jacó,


intentando ser justo com seu irmão, propôs dividir os bens de seu pai
em duas metades: uma constituída pelas terras deixadas por Isaque,
ou seja, toda Canaã, dada por Deus em promessa a Abraão e
herdada por Isaque; e a outra metade constituída pelas riquezas
deixadas por Isaque, compreendidas pelo gado, ouro, prata,
escravos e demais bens materiais.

Diz Jasher que Esaú foi se aconselhar com seu filho Nebaiote, que
residia em Canaã, e este incentivou seu pai a tomar as riquezas de
Isaque, pois a terra não lhe pertencia, pois era de fato habitada por
muitos povos e suas cidades extremamente fortificadas, ou seja, não
passava de uma quimera. Desta forma Esaú tomou todas as
riquezas de seu pai.

Jacó, ainda segundo Jasher, escreveu este acordo num livro, que foi
assinado por quatro testemunhas. Eram estas as palavras do acordo:
“A Terra de Canaã e as cidades dos hititas, dos havitas, dos
jebuseus, dos amonitas, dos perazitas e dos gagarzitas, todas as
sete nações, desde o Rio do Egito até o Rio Eufrates, e a cidade de
Hebrom - Quiriate-Arba, e a caverna de Macpela, tudo isto comprou
Jacó de seu irmão Esaú por valor, para possessão e por herança de
sua semente para sempre.” Jacó colocou este acordo em vaso de
barro para que ficasse conservado por longo tempo.

1670 AC - (A.B. 2229) – José interpreta o sonho de Faraó


José interpretou o sonho de Faraó, e sua interpretação foi digna de
aceitação pelo rei, conforme Gn 41:37-38: “E esta palavra foi boa aos
olhos de Faraó, e aos olhos de todos os seus servos. E disse Faraó
a seus servos: Acharíamos um homem como este em quem haja o
espírito de Deus?”
57

1670 AC - (A.B. 2229) – José governa sobre o Egito


Conforme José interpretara, em decorrência do sonho de Faraó, o
Egito passaria por sete anos de prosperidade seguidos de sete anos
de sequidão. Pela confiança de que tal interpretação só poderia vir
de Deus, Faraó torna José o segundo homem mais poderoso do
Egito.

Conforme Gn 41:46, “E José era da idade de trinta anos quando se


apresentou a Faraó, rei do Egito. E saiu José da presença de Faraó
e passou por toda a terra do Egito.”

Somados estes trinta anos ao ano de seu nascimento, situamos no


Ano Bíblico 2229 o ano em que José se tornou governador do Egito.

1670 AC - (A.B. 2229) – início dos sete anos de fartura


O início do período de fartura no Egito se deu no Ano Bíblico 2229,
quando José começou a governar o Egito, aos trinta anos de idade,
conforme Gn 41:46.

1666 AC - (A.B. 2233) – nascimento de Manassés e Efraim


Conforme Gn 41:50-52, nasceram no mesmo ano, Manassés e
Efraim, filhos de José, gêmeos, portanto. O redator de Gênesis não
tem a preocupação de datar estes nascimentos, referindo apenas
que aconteceram antes do tempo da fome. Jasher data o evento no
ano trinta e quatro da vida de José.

1663 AC - (A.B. 2236) – início dos sete anos de fome


A fome veio sete anos depois da fartura. Sabemos também, por Gn
47:28, que Jacó viveu no Egito por dezessete anos, e que foi para o
lá no segundo ano do período de fome (Gn 45:6), quando ainda
restavam 5 anos para se finalizar aquele ciclo.

Sabemos que o período de escassez de comida se iniciou 19 anos


antes da morte de Jacó, que veio a falecer no Ano Bíblico 2255.
Temos, portanto, que o período de fome se iniciou em 2236 A.B.
(2255 – 19).
58

1663 AC – (A.B. 2236) - nascimento de Coate


A data de nascimento de Coate, filho de Levi, não se encontra
definida na Bíblia, mas, situamo-la em 2236 A.B., quando Levi teria
42 anos de idade.

Levi
Coate
Anrão
Moisés

Levi teve três filhos e Coate seria o segundo, conforme Ex 6:16: “E


estes são os nomes dos filhos de Levi, segundo as suas gerações:
Gérson, Coate e Merari; e os anos da vida de Levi foram cento e
trinta e sete anos.”

Conforme Ex 6:18, “os anos da vida de Coate foram cento e trinta e


três anos.” Coate nos é importante, pois foi avô de Moisés. Por se
tratar de uma data estimada, a intenção aqui é fixá-la num período
que se possa acomodar dentro do intervalo de tempo que se estende
desde antes da entrada da família de Jacó no Egito, até o
nascimento de Moisés, oitenta anos antes do Êxodo.

Jasher relata em seu capítulo 68 que Coate estaria vivo quando


Moisés nasceu, no Ano Bíblico 2367. Subtraindo-se, por estimativa,
131 anos desde o nascimento de Moisés (2367-131), chegamos a
2236 A.B., suposto ano de seu nascimento, que fica acomodado em
dois anos antes da entrada da família no Egito.

Da mesma forma, acomodamos o nascimento de Merari, o terceiro


filho de Levi, um ano depois, no Ano Bíblico 2.237, um ano antes de
a família adentrar no Egito.

1661 AC - (A.B. 2238) – ida de Israel para o Egito


Conforme já vimos ao constatar datas anteriores, Jacó e seus
familiares desceram ao Egito no Ano Bíblico 2238. A informação
chave para se determinar as datas referentes ao Egito é a morte de
Jacó.

Jacó nasceu no Ano Bíblico 2108 e faleceu no Ano Bíblico 2255 aos
147 anos de idade: (2108 + 147 = 2255). Jacó viveu seus 17 últimos
anos de vida no Egito, conforme Gn 47:28. Temos, portanto, que
Jacó encontrou-se com José seu filho, na ocasião, governador do
Egito, no Ano Bíblico 2238, resultado de (2255-17).
59

Jacó e seus filhos se mudaram para o Egito no mesmo ano em que


José se revelou a seus irmãos, e sabemos que quando isto
aconteceu José mencionou que já haviam passado dois anos e fome
e que mais cinco anos ainda restavam, aconselhando desta forma
que seus irmãos trouxessem Jacó e o restante da família para
estarem seguros no Egito, conforme o relato de Gn 45:6.

Passaram-se vinte e dois anos entre a venda de José e a ida de


Israel para o Egito. Conforme Gn 46:26, “todas as almas que vieram
com Jacó ao Egito, que saíram dos seus lombos, fora as mulheres
dos filhos de Jacó, todas foram sessenta e seis almas.” O capítulo 46
de Gênesis nos dá conta de nomear todas estas pessoas, setenta ao
todo.

210 anos de permanência no Egito


Conforme veremos no exame das datas seguintes, Israel virá a
permanecer no Egito por apenas 210 anos, entre o Ano Bíblico 2238
(1661 AC), data de entrada da família de Jacó, e 2448 AM (1451
AC), data do Êxodo.

Quando Abraão suplicou a Deus que lhe desse um filho, relato este
contido em todo o capítulo 15 de Gênesis, o Senhor lhe prometeu
que sua descendência seria tão numerosa como as estrelas do céu.
Na conclusão desta conversa, Deus diz a Abraão: “Sabes, decerto,
que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será
reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, Mas
também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá
com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice
serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a
medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia.”. (Gn 15:13-
16)

Como vimos, ao tratar das datas referentes a Abraão, os


quatrocentos anos referidos por Deus diziam respeito a aflição de
Isaque e seus descendentes, que mesmo possuindo a terra de
Canaã por promessa, viveriam nela sem a possuírem de fato, pois a
terra era habitada por inúmeros povos.

Desta forma, os quatrocentos anos abrangeriam a vida de Isaque, a


de Jacó, o ingresso da família no Egito, e algum tempo depois da
morte de Levi, o últimos dos filhos de Jacó a morrer, a escravidão no
Egito até os dias de Moisés.
60

Desta forma, os quatrocentos e trinta anos mencionados no Êxodo


se dividem da seguinte forma: duzentos e vinte anos desde a
chamada de Abraão até a entrada de Jacó no Egito, mais, duzentos
e dez anos desde a entrada no Egito até o Êxodo. A escravidão
propriamente dita teria durado entre oitenta e seis e cento e
dezessete anos.

Vejamos alguns textos que se referem a este tempo: “Disse (Deus) a


Abraão: Sabes, decerto, que peregrina será a tua descendência em
terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por
quatrocentos anos.” (Gn 15:13)

“E falou Deus assim: Que a sua descendência seria peregrina em


terra alheia, e a sujeitariam à escravidão, e a maltratariam por
quatrocentos anos” (At 7:6)

Os dois textos são ambíguos quando lidos desatentamente,


possibilitando que o leitor conclua que Israel esteve escravizado no
Egito por quatrocentos anos, no entanto, nenhum deles afirma isto.
`Ao contrário, os textos dizem duas coisas distintas, tanto um como o
outro, que a descendência de Abraão seria peregrina em Canaã,
terra de outros povos e que seria sujeita a maus tratos e a
escravidão por quatrocentos anos, entre o tempo de peregrinação
por Canaã e o fim da escravidão no Egito.

Já no contexto do Êxodo de Israel, Ex 12:40-41 nos diz o seguinte:


“O tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de
quatrocentos e trinta anos. E aconteceu que, passados os
quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exércitos do
Senhor saíram da terra do Egito.”

Temos, portanto, dois tempos distintos, quatrocentos, e quatrocentos


e trinta anos. De que trata esta diferença de trinta anos? Trata-se da
diferença do tempo compreendido entre a data da promessa de Deus
a Abraão e o nascimento de Isaque, herdeiro da promessa feita por
Deus a Abraão.

Gn 15:18 nos afirma que Isaque é herdeiro da promessa feita por


Deus a Abraão. Vejamos o texto: “Naquele mesmo dia fez o Senhor
uma aliança com Abraão, dizendo: À tua descendência tenho dado
esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates.”

Vejamos ainda Gn 17:19: “E disse Deus: Na verdade, Sara, tua


mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele
61

estabelecerei a minha aliança, por aliança perpétua para a sua


descendência depois dele.”

Vejamos ainda Gn 21:12: “Porém Deus disse a Abraão: Não te


pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em
tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será
chamada a tua descendência.”

Isaque é o descendente de Abraão, herdeiro da promessa de Deus.


É a descendência de Isaque que será primeiramente peregrina em
terra alheia, e depois, sujeita à escravidão no Egito. Desta forma,
entre o nascimento de Isaque até o Êxodo de Israel se contarão
quatrocentos anos, da mesma maneira que da promessa de Deus a
Abraão até o Êxodo, se contarão quatrocentos e trinta anos.

Deus afirma a Abraão, no entanto, que depois desta aflição e


redução à escravidão, a quarta geração retornaria a Canaã. A qual
geração se referiu o Senhor? A quarta geração contada depois de
Jacó: Levi (1) gerou Coate; Coate (2) gerou Anrão, e Anrão (3)
gerou Moisés (4) e seus irmãos Arão e Miriã. É à geração de Moisés
que o Senhor se referia.

Moisés era descendente de Levi. Levi possuia tres filhos quando


desceu com sua famíliia ao Egito, a saber, Gérson, Coate e Merari
(Ex 46:11), e veio a gerar uma filha de nome Joquebede já no tempo
em que habitava no Egito, conforme Nm 26:59. Coate gerou Anrão, e
Anrão gerou de Joquedebe (sua tia), Arão, Moisés e Miriã.

O redator de Gênesis nos mostra que nenhum dos doze filhos de


Israel faleceu antes de José, bem como nenhum faleceu depois de
Levi. Até a morte de Levi não há relato algum sobre qualquer tipo de
servidão no Egito, e entre a morte de Levi e o Êxodo, passaram-se
cento e dezessete anos.

Não é possível considerar que quatrocentos anos de servidão


tivessem acontecido depois da morte de Levi, pois Gênesis é claro
quanto às gerações que existiram desde Jacó até Moisés: Jacó
gerou Levi, que gerou Coate, que gerou Anrão, que gerou Moisés e
seus irmãos. Quando Levi faleceu, Coate, seu filho, teria então cerca
de noventa e cinco anos de idade, e viveria mais trinta e oito anos
após a morte de seu pai.

Se somássemos quatrocentos anos após a morte de Levi, implicaria


que este tempo teria que ser distribuído entre os trinta e oito anos
62

restantes da vida de Coate, os oitenta anos de vida de Moisés


quando se deu o Êxodo, e a vida de Anrão. Anrão teria que ter vivido
282 anos e viveu apenas 137, conforme Ex 6:20.

Veja também que Joquedebe, mãe de Moisés, era filha de Levi.


Moisés se apresentou ao Faraó quando tinha 80 anos de idade.
Fossem 400 anos de servidão, Joquedebe deveria ter quase 300
anos de idade quando gerou Moisés, o que descarta a possibilidade
de uma escravidão de quatro séculos.

Cabe, antes de prosseguirmos, uma reflexão: qual razão teria Deus


para permitir a ida de Israel para o Egito e sua consequente
permanência até o Êxodo?

Por que a ida de Israel para o Egito?


Houvesse Deus permitido a permanência de Israel em Canaã, o
destino deste povo teria sido certamente outro. Canaã era uma
região habitada por diversas etnias, cada qual com seus costumes e
deuses diferentes. Abraão, Isaque e Jacó habitaram nesta terra e
nunca tiveram qualquer envolvimento familiar com a gente do local.
Já os filhos de Jacó, a exemplo de seu tio Esaú, não procederam da
mesma maneira, tomando todos eles esposas cananitas. Houvessem
permanecido na terra, a partir destes casamentos certamente
acabariam por se envolver com suas famílias e desta forma
dificilmente conseguiriam manter uma unidade religiosa em torno do
Deus de Abraão.

Desta forma, Deus planejou muito antes a ida de Israel para o Egito,
onde o povo era também pagão, mas as condições eram totalmente
diferentes, uma vez que desde o princípio a família de Jacó foi
instalada numa região à parte, na terra de Gósen, onde viveram
isolados dos egípcios todos os dias enquanto habitaram naquela
terra.

Também do ponto de vista da cultura egípcia os hebreus eram


considerados um povo indigno do seu convívio, sobretudo porque
eram pastores de ovelhas, o que era uma abominação para os
egípcios.

Observe-se Gn 43:32 que relata um dos encontros do próprio José


com seus irmãos: “ E serviram-lhe (José) à parte, e a eles também à
parte, e aos egípcios, que comiam com ele, à parte; porque os
63

egípcios não podem comer pão com os hebreus, porquanto é


abominação para os egípcios.”

Veio, algum tempo depois da morte de Levi, o último dos filhos de


Jacó a falecer, a escravidão dos hebreus no Egito, solidificando,
desta forma uma união muito mais consistente, agora em torno da
sobrevivência daquilo que já não era simplesmente uma família, mas
uma nação de cerca de 1,5 milhões de pessoas.

O Israel deste tempo, embora sem consistência religiosa, se manterá


desta forma isolado e unido até os dias do Êxodo.

As mortes de Jacó e José


Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1644 AC Morte de Jacó aos 147 anos 2.255 Gn 47:28
1633 AC Nascimento de Anrão, pai de Moisés 2.266 Ex 6:18
1629 AC Morte de Faraó, amigo de José 2.270 Jasher
1590 AC Morte de José aos 110 anos 2.309 Gn 50:22

1644 AC - (A.B. 2255) – morte de Jacó


Jacó faleceu aos cento e quarenta e sete anos de idade, dezessete
anos após entrar no Egito, no Ano Bíblico 2255 (2108 + 147).

1633 AC - (A.B. 2266) – nascimento de Anrão


Conforme Ex 6:18 eram “os filhos de Coate: Anrão, Izar, Hebrom e
Uziel; e os anos da vida de Coate foram cento e trinta e três anos.”

Sabemos, portanto, apenas os anos da vida de Coate e que ele


gerou a Anrão, pai de Moisés entre outros filhos. A data do
nascimento de Anrão se baseia na hipótese de Coate tê-lo gerado
aos trinta anos de idade, portanto, no Ano Bíblico 2266.

1629 AC - (A.B. 2270) - morte de Faraó, amigo de José


Gênesis não nos fornece maiores detalhes sobre a vida deste Faraó
que teria confiado a José tão alto posto na administração do Egito.
Pouco se sabe sobre ele e até o presente não há referência
arqueológica sobre sua pessoa, apenas especulação. O livro de
Jasher relata que Faraó teria morrido no Ano Bíblico 2270, trinta e
nove anos antes da morte de José.
64

1590 AC - (A.B. 2309) – morte de José


Conforme Gn 50:22, José viveu 110 anos, que somados ao seu
nascimento nos levam ao Ano Bíblico 2309, ano de sua morte (2199
+ 110). José faleceu cinquenta e quatro anos depois de Jacó, seu
pai. Foi o primeiro, dos doze filhos de Israel a falecer.

Os antecedentes da escravidão
Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1568 AC Morte de Levi aos 137 anos 2.331 Ex 6:16
1537 AC Nascimernto de Miriã 2.362 Talmud
1535 AC Nascimento de Arão 2.364 Ex 7:7
1532 AC Nascimento de Moisés (7 de Adar) 2.367 Ex 7:7

1568 AC - (A.B. 2331) – morte de Levi


Embora as datas de nascimento e morte de Levi sejam estimadas,
pois não há um relato bíblico exato destes acontecimentos, são
absolutamente corretas pela análise do contexto de seu nascimento.

Também com isto concorda o Talmude. Temos, portanto, o Ano


Bíblico 2231 como ano de sua morte, somados os 137 anos de idade
ao ano de seu nascimento (2194 + 137).

Levi foi o último dos filhos de Israel a falecer, cento e dezessete anos
antes do Êxodo. Note-se que não há, até então, nenhum indício de
escravidão até o fim dos dias de Levi.

Levi faleceu 22 anos depois de José. Quanto às mortes dos demais


filhos de Jacó, nada é mencionado.

1537 AC - (A.B. 2362) – nascimento de Miriã


Nm 26:59 se refere da seguinte forma ao nascimento de Miriã: “E o
nome da mulher de Anrão era Joquedebe, filha de Levi, a qual
nasceu a Levi no Egito; e de Anrão ela teve Arão, e Moisés, e Miriã,
irmã deles.”

Sua idade não é mencionada, embora se saiba precisamente o ano


de sua morte, o mesmo ano em que faleceram Arão e Moisés, seus
irmãos, no Ano Bíblico 2487.

Embora Nm 26:59 a relate como terceira filha, o Talmude a classifica


como sendo a mais velha dos três irmãos, que teria na época do
65

Êxodo, oitenta e seis anos de idade, quando Arão e Moisés teriam


respectivamente oitenta e três e oitenta anos.

Em função do significado de seu nome, “amargura”, o Talmude


reputa que Miriã foi assim chamada porque nos dias de seu
nascimento os egípcios começaram a amargurar o povo de Israel.
Desta forma, o Talmude faz a seguinte afirmação: que a escravidão
no Egito não se deu antes da morte de Levi, nem tampouco depois
do nascimento de Miriã.

Elmer L. Towns cita que “no Israel antigo, o nome de uma pessoa era
suposto indicar alguma característica daquela pessoa, ou ligado a
circunstâncias, ainda que triviais ou monótonas.” (Elmer L. Towns,
How to Study and Teach the Bible, 1997 – disponível para download
em www.elmertowns.com – secção Books online)

Quando pensamos em um nome estrangeiro é difícil refletir sobre seu


significado. Poder-se-ia dar o nome Miriã a uma filha simplesmente
porque é um lindo nome sem nunca pensar em seu significado. Mas
imagine os pais chamarem sua filha “Amargura”, em português. Teria
realmente de haver uma razão muito forte para isto.

1535 AC - (A.B. 2364) – nascimento de Arão


Tendo-se em conta que no Ano Bíblico 2447 Moisés e Arão se
apresentaram perante Faraó, o que veremos mais adiante, temos, de
acordo com Ex 7:7, que a idade de Arão era de 83 anos. Subtraindo-
se 83 de 2447, temos que Arão nasceu no Ano Bíblico 2364.

1532 AC - (A.B. 2367) – nascimento de Moisés (7 de Adar)


Da mesma forma que calculamos o nascimento de Arão, temos que o
nascimento de Moisés deu-se no Ano Bíblico 2368, resultado de
(2487-80). A Bíblia nos fornece a data exata do nascimento de
Moisés, dia 7 do mês de Adar (décimo segundo), conforme veremos
por ocasião da análise da morte de Moisés no Ano Bíblico 2487.
66

Os Nascimentos de Josué e Calebe


Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1530 AC Morte de Coate, avo de Moises 2.369 Ex 6:18
1496 AC Morte de Anrão (pai de Moisés) 2.403 Ex 6:20
1493 AC Nascimento de Josué 2.406 Jasher 88:9
1492 AC Moisés mata um egípcio e foge 2.407 At 7:23-24
1490 AC Nascimento de Calebe 2.409 Js 14:10

1530 AC - (A.B. 2369) – morte de Coate


Coate nasceu hipoteticamente no Ano Bíblico 2236 e viveu 133 anos,
resultando sua morte no Ano Bíblico 2369.

1496 AC - (A.B. 2403) - morte de Anrão


Anrão, pai de Moisés, faleceu no Ano Bíblico 2403, aos cento e trinta
e sete anos de idade, resultado de (2266 + 137).

1493 AC - (A.B. 2406) - nascimento de Josué


Josué viveu cento e dez anos. Tomando-se como base o ano da
morte de Josué, 2516 A.B., chegamos ao Ano Bíblico 2406 como ano
de seu nascimento. Os detalhes referentes ao cálculo da morte de
Josué são tratados no período próximo aos Juízes.

1492 AC - (A.B. 2407) – Moisés mata um egípcio e foge


Conforme o discurso de Estevão perante seus acusadores (At 7:23-
24), Moisés aos 40 anos de idade matou um egípcio que maltratava
um dos hebreus, e por esta razão teve que fugir para Midiã (Ex 2:15).

1490 AC - (A.B. 2409) - nascimento de Calebe


Como veremos mais adiante, foi no Ano Bíblico 2449 que Moisés
enviou os espias a Canaã, e entre eles estavam Josué e Calebe.
Conforme Nm 13:2, os espias foram enviados a Canaã no ano
seguinte à saída do povo do Egito, e, de acordo com Js 14:10,
Calebe teria na ocasião 40 anos de idade: “E agora eis que o Senhor
me conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são
passados, desde que o Senhor falou esta palavra a Moisés, andando
Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já oitenta e cinco
anos.”

Disto se conclui o nascimento de Calebe no Ano Bíblico 2409,


subtraindo-se 40 de 2449, data da visita dos espias a Canaã.
67

O Livro de Jó
Jó foi uma pessoa real, e não um mito como querem alguns, uma vez
que é citado em Ezequiel 14:20 e Tiago 5:11. Viveu na terra de Uz,
que segundo a maioria dos comentaristas bíblicos, seria uma região
provavelmente localizada ao noroeste de Israel, entre a cidade de
Damasco e o Rio Eufrates. O Profeta Jeremias, situa a Terra de Uz
como sendo Edom, herança dos descendentes de Esaú: “Regozija-te
e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz” (Lm 4:21)

Jó faz parte dos chamados livros poéticos da Bíblia, e assim, como é


próprio da alegoria poética, a narrativa explora em mínimos detalhes
e à exaustão as convicções dos personagens neles retratados.

Quanto à cronologia de Jó, só podemos especular sobre o assunto,


uma vez que há poucos indícios que favoreçam o reconhecimento de
sua época. O livro menciona o Egito, o papiro, a quesita como
dinheiro, etc.

Jó 42:11 bem como Josué 24:32 fazem menção à quesita, um lingote


de prata utilizado como dinheiro, o que poderia vincular o tempo de
Jó a um período certamente anterior a Josué. A maioria das
traduções para “quesita” se referem genericamente a “dinheiro”, mas
estes elementos não são em si suficientes para identificar seu tempo.

Um dado que poderia nos orientar quanto à data de sua existência se


refere à duração de sua vida, supostamente 210 anos. Se de fato Jó
viveu 210 anos, poderíamos situá-lo próximo à geração de Tera, pai
de Abraão. Dados que podem nos sugerir esta hipótese podem ser
consultados no capítulo que trata sobre a duração das vidas dos
homens antes e depois do dilúvio. Conforme analisamos neste
capítulo, há, a partir do dilúvio, um decréscimo progressivo na
duração da vida, de maneira que se pode estimar que nos dias de
Tera, o tempo médio de vida seria de pouco mais que 200 anos.
Neste caso, Jó teria sido por bom tempo contemporâneo de Eber,
Pelegue, Reú, Serugue, Naor, Tera, e do próprio Noé. Mas esta tese
não é de todo sustentável, uma vez que se houvesse vivido neste
tempo, Deus não precisaria lhe acrescentar anos de vida.

Os livros apócrifos não mencionam Jó, embora citem homônimos.


Várias teorias dissertam sobre sua vida, e naturalmente todas têm
pontos fortes e fracos quanto sua validade, mas entre elas
destacamos uma, da tradição judaica, por entender que se não é a
expressão da verdade, tem seu valor como simbolismo didático.
68

A Seder Olam Rabbah, conforme vimos, interpreta as datas bíblicas


desde a criação do homem até o período persa. Relatamos abaixo,
seu capítulo de número 3 intitulado “Pacto e Escravidão” com o
intuito tanto de mostrar seu estilo literário, quanto mostrar uma
interessante analogia entre o tempo de Israel no Egito e a vida de Jó.

Diz o seguinte: “Foi dito ao nosso pai Abraão (Gn 15:13) no Pacto
entre as Partes: Deves certamente saber que tua semente será
estranha em terra estrangeira por quatrocentos anos. Quem é a
semente? É Isaque (Gn 21:12), de quem é dito: Porque Isaque será
chamado tua semente.

Sobre Isaque (Gn 25:26) é dito: Isaque tinha sessenta anos quando
eles nasceram (Jacó e Esaú). Nosso patriarca Jacó (Gn 47:9) disse a
Faraó: Os dias dos anos de minha caminhada são cento e trinta
anos. Fazem juntos 190 anos, e deixam 210 anos, um sinal do tempo
de duração da vida de Jó (Jó 42:16), que foi nascido naquele tempo,
conforme dito: Jó viveu depois disto 140 anos (Jó: 42:10) e é dito: O
Eterno deu a Jó o dobro de tudo que Jó possuía. Isto significa que Jó
nasceu quando Israel desceu ao Egito e morreu quando saíram.”

Quanto aos anos de vida de Jó, o cálculo seria este: se Deus dobrou
tudo quanto Jó tinha, dobrou também seu tempo de vida, e se Jó
viveu depois de seu sofrimento 140 anos, logo se conclui que teria 70
anos na ocasião, totalizando, desta forma, 210 anos a sua idade ao
falecer. Assim interpretam tanto a Seder Olam quanto o Talmude.

"E depois disto viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos,
e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração." (Jó 42:16)

Grande parte das datas aceitas pelo Talmude, tanto o babilônico,


quanto o de Jerusalém, são extraídas da Seder Olam, e tanto em
uma quanto outra fonte se encontram comentários de diversos rabis
sobre um ou outro ponto de discussão sobre Jó. Um rabi pode
contestar outro e dar um ponto de vista diferente sobre o assunto,
sem que isto invalide uma opinião divergente, devendo todas as
interpretações serem acatadas dentro de um espírito de liberdade de
expressão.

Um exemplo disto é uma afirmativa do Rabi Yose Bar Halaphta, que


interpreta que o sofrimento de Jó teria durado não mais que um ano,
e que este tempo seria como uma espécie de bode expiatório para
distrair Satanás do plano de Deus de tirar Israel do Egito. Tal
interpretação é contestada por vários rabinos, com o argumento de
69

que Satanás estaria de qualquer forma livre por 209 anos para se
dedicar ao assunto.

O Talmude, embora não mencione os 210 anos literalmente,


concorda com o cálculo. Há porém, que tanto o Talmude Babilônico,
quanto o de Jerusalém reputam Jó como ficção literária.

O profeta Ezequiel, ao contrário, entende Jó como personagem real,


de acordo com Ez 14:12-14: “Veio ainda a mim a palavra do Senhor,
dizendo: Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, se
rebelando gravemente, então estenderei a minha mão contra ela, e
lhe quebrarei o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e cortarei
dela homens e animais. Ainda que estivessem no meio dela estes
três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas
as suas almas, diz o Senhor DEUS.”

Jó é também citado por Tiago que o entende como personagem real


e não ficção literária: “Eis que temos por bem-aventurados os que
sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o
Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.”
(Tg 5:11)

Seria Jó o primeiro livro escrito da Bíblia?


É aceito, tanto pelo Talmude, como pela maioria dos rabinos, como
também pela maioria dos teólogos cristãos que Jó seja o primeiro
livro escrito da Bíblia.

Jó teria vivido num tempo que coincide com a era dos patriarcas,
possivelmente próximo à geração de Abraão. A suposta idade de Jó
ao falecer coincide com as idades médias da geração de Tera, pai de
Abraão.

Duas passagens de Jó, a saber, Jó 1:5 e Jó 42:8 mostram um


costume do tempo dos patriarcas, qual seja, oferecer sacrifícios a
Deus. Também naquele tempo os chefes de família recebiam
instruções de Deus, conforme ocorre em Jó 38:1 e capítulos
seguintes.

Um dos maiores indícios para se afirmar a primazia de Jó é o fato de


Jó ser anterior a Lei de Moisés, uma vez que todos os diálogos
protagonizados por seus amigos apontam para algum suposto
pecado cometido contra Deus, sem no entanto referir a qualquer lei
ou mandamento de Moisés.
70

Não há no livro nenhuma referência a Abraão, Israel, Moisés, juízes,


reis ou profetas de Israel, nem tampouco a Lei é mencionada.

Não há indícios de que a idolatria houvesse espalhado, o que se


verifica nas referências ao Deus da Criação. (Jó 27:3 e 33:4-6)

O livro mostra qual seria o panorama histórico de Jó, o conhecimento


de fatos de gerações passadas, atendo-se exclusivamente a
acontecimentos anteriores a Abraão, como por exemplo faz
referências a fatos próximos à criação em Jó 9:-8-9; Jó 12:7-10, Jó
26:13 e Jó 38:4. Refere-se ainda insistentemente à queda do homem
conforme: Jó 31:33; Jó 31:40; Jó 34:14-15. Refere-se ao dilúvio em
Jó 12: 14-15 e Jó 22:15-17. Refere-se ao pacto de Noé com Deus
em Jó 26:10 e Jó 38:8-11. São todas evidências de que Jó viveu
neste tempo, desconhecendo a história futura.

Quanto à geografia, Jó se refere às nações antigas tais como os


caldeus em Jó 1:17, Cush ou Etiópia, em Jó 28:19, Ofir em Jó 28:16,
Sabeus em Jó 1:15, Sabá em Jó 6:19 e Uz, em Jó 1:1. Não se refere
a povos que surgirão mais adiante na história, como filisteus,
cananeus, etc.

Pessoas mencionadas no livro possuem nomes contemporâneos a


Abraão, como por exemplo Tema, citado em Jó 6:19, que conforme
Gênesis 25:15, era filho de Ismael. Um dos amigos de Jó, Elifaz, era
temanita, descendente de Teman, filho de Esaú, conforme se lê em
Gênesis 36:15.

Bildade, o outro amigo, era suíta, descendente, portanto, de Abraão


e Quetura, conforme Gênesis 25:2.

Jó 32:2 menciona Baraquel, o buzita, que conforme Gênesis 22:21


seria sobrinho de Abraão.

Veja que para quem aceita que Gênesis tenha sido escrito
anteriormente a Jó, que Jó não faz nenhuma menção a Gênesis e
Gênesis faz várias a Jó.

Seria, desta forma, razoável datar Jó em cerca de 2.000 AC,


enquanto Moisés só nasceria cerca de 500 anos depois.
71

O calendário judaico
Equivalência de meses - Judaico e Gregoriano
Mês N° de dias Equivalente
Nisan 1 30 Março-Abril
Iyar 2 29 Abril-Maio
Sivan 3 30 Maio-Junho
Tammuz 4 29 Junho-Julho
Av 5 30 Julho-Agosto
Elul 6 29 Agosto-Setembro
Tishrei 7 30 Setembro-Outubro
Heshvan 8 29/30 Outubro-Novembro
Kislev 9 30/29 Novembro-Dezembro
Tevet 10 29 Dezembro-Janeiro
Shevat 11 30 Janeiro-Fevereiro
Adar 12 29/30 Fevereiro-Março
Adar II 13 29 Março-Abril
Adar II ocorre em anos embolísmicos

O primeiro mês do calendário judaico é o mês de Nisan (Nisan,


Nissan - Março / Abril), quando se celebra a Páscoa. O ano novo
judaico, no entanto, é celebrado no mês de Tishrei (Setembro /
Outubro).

Diferentemente do Gregoriano, o calendário judaico é baseado no


movimento lunar, onde a cada lua nova temos um novo mês. Cada
ciclo lunar dura aproximadamente 29 dias e 12 horas e os meses
judaicos variam entre 29 e 30 dias.

A duração do ano judaico varia entre 353 e 355 dias, ficando


geralmente com 354 dias, ou seja, cerca de onze dias a menos que o
nosso calendário. Para compensar esta diferença, de tempos em
tempos é acrescido um mês inteiro, representado pelo mês de Adar
II. O calendário judaico tem este mês a mais a cada três anos, que é
quando a diferença dos onze dias por ano formam cerca de um mês.

É preciso um período de 19 anos para "ajustar" o Ano Lunar e o Ano


Solar, para que ambos comecem exatamente ao mesmo tempo, sem
desfasagem. Desta forma, o calendário judaico está dividido em
ciclos de dezenove anos.

Em cada período, ou ciclo, há sete anos embolísmicos: o 3º, 6º, 8º,


11º, 14º, 17º e 19º.
72

É fácil descobrir se um ano judaico qualquer é embolísmico, ou seja,


se haverá 13 meses no ano. Divide-se o ano judaico por 19; se o
resto for 3, 6, 8, 11, 14, 17 ou zero, este será um Ano Embolísmico.

Tomemos o ano de 5768, equivalente ao Gregoriano 2008: dividindo-


se 5768 / 19, temos um resultado de 303, sobrando um resto de 11.
Significa que é o 11º ano do 304º ciclo desde a Criação do mundo,
tendo sido 5.768 (2008), portanto, um ano embolísmico, ano com 13
meses.

O Êxodo
Ano
Gregoriano Evento Biblico Ref.Bíblica
1452 AC Moisés se apresenta a Faraó 2.447 Ex 7:7
1452 AC As dez pragas do Egito 2.447 Ex 7 - Ex 12
1451 AC A instituição da Páscoa 2.448 Ex 12:3
1451 AC Êxodo de Israel 2.448 Gn 15:3-13

1452 AC - (A.B. 2447) - Moisés se apresenta perante Faraó


Conforme vimos no texto que se refere ao Ano Bíblico 2018 sobre a
promessa de Deus a Abraão, o Êxodo se deu quatrocentos anos
depois do nascimento de Isaque, quatrocentos e trinta anos depois
da promessa a Abraão, precisamente no Ano Bíblico 2448.

A Seder Olam Rabbah está de acordo com esta data, e reporta sua
conclusão de uma maneira diferente da nossa, mas bastante
simples: Isaque, a semente de Abraão (Gn 21:12), tinha 60 anos
quando gerou Jacó (Gn 25:26), e Jacó tinha 130 anos quando
desceu ao Egito (Gn 47:9) e se encontrou com Faraó. Isto totaliza
190 anos, restando 210 anos para o tempo de permanência no Egito,
incluído nele a escravidão.

Ainda quanto à questão de que os 400 anos são contados a partir do


nascimento de Isaque, temos que Coate estava entre os que
desceram ao Egito (Gn 46:11). Coate viveu 133 anos (Ex 6:20). Os
anos de vida de Anrão, seu filho foram 137 anos, que juntos com os
80 aos de Moisés quando se avistou com Faraó totalizam 350 anos.
Seria de qualquer forma impossível que Israel houvesse
permanecido no Egito por 400 anos.

Quanto ao tempo da escravidão, temos que Levi morreu no Ano


Bíblico 2331, 76 anos depois de Jacó, 117 anos antes do Êxodo, e,
desta forma, o tempo de escravidão não poderia ser maior que 117
73

anos, pois Levi foi o último dos filhos de Jacó a morrer e não há
notícia de escravidão enquanto estava vivo.

Segundo a Seder Olam, também não teria sido inferior a 86 anos,


idade de Miriã, irmã de Moisés por ocasião do Êxodo, conforme já
vimos anteriormente 2362 A.B..

Embora a Bíblia não mencione esta data, podemos concluir que o


tempo da escravidão foi de fato superior a 80 anos, pois no registro
do nascimento de Moisés (que tinha oitenta anos quando se avistou
com Faraó), vê-se claramente que a opressão dos egípcios sobre os
hebreus era tamanha, que se havia chegado ao ponto de mandar
matar todos os meninos nascidos, podendo-se concluir que a
referência sobre o tempo de Miriã é bastante razoável.

Sabemos com exatidão a data do Êxodo, o Ano Bíblico 2448.


Quando, então, teriam Moisés e Arão se encontrado com Faraó?
Conforme o Talmude, Ex 5:11-12 nos dá uma indicação que nos
permite concluir esta data.

No contexto, Moisés e Arão haviam encontrado com Faraó pedindo


para deixar o povo ir. Faraó não só não deixou o povo partir como
agravou sobremaneira o seu trabalho mandando cortar o
fornecimento de palha para a confecção dos tijolos, e desta forma, os
hebreus tinham que providenciar eles mesmos a palha sem deixar
cair a produtividade de seu trabalho. Vejamos o texto: “Ide vós
mesmos, e tomai vós palha onde a achardes; porque nada se
diminuirá de vosso serviço. Então o povo se espalhou por toda a
terra do Egito, a colher restolho em lugar de palha.”

O Restolho, mencionado no verso 12, ainda segundo o Talmude, é a


parte inferior da cana do trigo ou de outra gramínea que fica
enraizada depois da ceifa. Aparentemente não havia palha
disponível, restando apenas a possibilidade de ceifar o restolho para
usá-lo nos tijolos. Seria, portanto, ao fim da época da colheita do
trigo no Egito.

A tradição judaica aponta o mês de Lyar (Abril ou Maio) como mês da


colheita, mas não esclarece se no Egito. Se assim fosse, Moisés teria
se apresentado a Faraó 12 meses antes do Êxodo, pois Lyar é o mês
seguinte a Nisan.

Uma vez que a celebração da primeira Páscoa se deu com certeza


em 14 de Nisan do Ano Bíblico 2448, Moisés e Arão se
74

apresentaram a Faraó no ano anterior. Independente do mês em que


isto aconteceu, é certo que foi no Ano Bíblico 2447.

1452 AC - (A.B. 2447) – as dez pragas do Egito


Antes de entrarmos na temática das pragas do Egito propriamente
ditas, vamos explorar um pouco uma questão muito frequente dentro
deste tema: Quem seria o Faraó com quem se avistaram Arão e
Moisés?

Êxodo 5:1-2 nos descreve este encontro da seguinte forma: “E


depois foram Moisés e Arão e disseram a Faraó: Assim diz o Senhor
Deus de Israel: Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa
no deserto. Mas Faraó disse: Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei,
para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei
ir Israel.”

Gênesis se refere ao título Faraó 74 vezes, e conforme já


observamos, não se trata de apenas um Faraó, mas vários. Êxodo,
por sua vez, faz 107 referências a um mesmo Faraó, este que se
avistou com Moisés e Arão.

Outros livros da Bíblia fazem diversas referências a outros faraós de


outros tempos. No entanto, entre dezenas de citações de faraós, há,
em toda Bíblia, apenas três Faraós cujos nomes são citados. O
Profeta Jeremias se refere a dois: Faraó-Hofra, a quem Jeremias
também qualifica de rei do Egito (Jr 44:3) e Faraó-Neco, igualmente
chamado rei do Egito (Jr 46:2).

O redator, ou redatores, de I e II Reis se referem a Sisaque e Neco,


reis do Egito. Sisaque invadiu Jerusalém no quinto ano do rei
Roboão (1 Rs 14:25) e Neco veio a matar o rei Josias, quando
marchava contra a Assíria (2 Rs 23:29).

Havendo tão poucas referências ao praenomem (nome de assunção


ao trono) do Faraó, não deixa de ser interessante notar por que tanta
admiração por não se saber o nome deste Faraó especificamente,
uma vez que somente três são conhecidos num total de 240 citações
de Faraós em toda Bíblia, afora as que meramente se referem ao rei
do Egito, como Sisaque, por exemplo.

Neemias nos responde esta questão: “E mostraste sinais e prodígios


a Faraó, e a todos os seus servos, e a todo o povo da sua terra,
75

porque soubeste que soberbamente os trataram; e assim adquiriste


para ti nome, como hoje se vê.” (Ne 9:10)

A conclusão de Neemias é a preocupação do redator de Gênesis:


Não é mostrar quem é o Faraó do Êxodo, mas sim, quem é o Deus
do Êxodo. É mostrar aos israelitas que eles são possessão do Deus
verdadeiro, conforme lemos em Ex 6:7: “E eu vos tomarei por meu
povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor vosso
Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios.” É,
finalmente mostrar aos egípcios, não só a Faraó, mas ao povo, que
Ele é o único Deus, conforme lemos em Ex 7:5: “Então os egípcios
saberão que eu sou o Senhor, quando estender a minha mão sobre o
Egito, e tirar os filhos de Israel do meio deles.”

Sabemos que em consequência da decisão de Faraó em não permitir


a saída do povo de Israel, dez pragas foram enviadas sobre o Egito,
sendo a última delas a morte de todos os primogênitos daquela terra.

Não é possível estabelecer quanto tempo duraram as pragas, nem


datá-las com precisão dentro dos meses que antecederam o Êxodo,
à exceção da última, a morte dos primogênitos. Segundo a tradição
judaica, as pragas duraram doze meses. O que podemos afirmar
com segurança, é que nove delas ocorreram no Ano Bíblico 2047 e a
última em 2048 A.B.

1451 AC - (A.B. 2448) - a instituição da Páscoa


Cabe aqui uma melhor explicação sobre a décima praga, pois é
neste momento histórico que se dá a instituição da festa da Páscoa
entre os judeus. O significado da palavra Páscoa (PESSACH) pode
ser entendido simplesmente por “passagem”, pois representa a
passagem do anjo da morte sobre o Egito para tomar a vida de todo
primogênito, tanto de homens, como de animais.

Deus disse a Moisés que naquele mês o povo partiria do Egito para a
Terra Prometida e que este mês deveria ser contado no calendário
como o primeiro do ano, o qual os judeus chamam de Nisan e
também de Abibe, e desta forma, o ano judaico começa com os
preparativos para a celebração da Páscoa.

O mês judaico de Nisan equivale ao nosso mês de Abril ou, às


vezes, ao mês de Março. No judaísmo moderno, no entanto, os
judeus celebram seu ano novo no mês de Tishrei (Setembro), pois
segundo a tradição foi neste mês que Deus criou o homem.
76

Conforme o Capítulo 12 do Livro de Êxodo, a instrução de Deus para


o povo era que no décimo dia daquele mês cada família deveria
tomar para si um cordeiro macho de um ano, sem nenhum defeito,
para que na tarde do dia 14 este cordeiro fosse sacrificado para a
Páscoa. Se a família fosse pequena ela poderia dividir o cordeiro
com outra família, porque depois da celebração da Páscoa, nada do
cordeiro deveria ser guardado para o dia seguinte, e sim, queimado
aquilo que sobrasse.

O sangue do cordeiro deveria ser então pintado nas ombreiras e na


verga da porta da casa de cada um, de maneira que quando à meia-
noite daquele dia (Ex 12:29), passasse pelo Egito o anjo da morte,
vendo ele aquele sinal na porta não entraria naquela casa, e assim a
vida dos primogênitos seria poupada. Nas casas onde não houvesse
aquele sinal, o primogênito seria morto, tanto homem como animal
(Ex 13:15).

Depois de marcada com sangue a porta, a família deveria se recolher


à casa e de maneira nenhuma sair dela até o amanhecer. A carne do
cordeiro da Páscoa deveria ser assada no fogo e comida com ervas
amargas e pães ázimos, quer dizer, pães sem fermento. Nenhum
osso do cordeiro poderia ser quebrado. Aquilo que sobrasse do
cordeiro deveria ser queimado no fogo, não devendo ficar nada para
o dia seguinte.

As pessoas deveriam comer a Páscoa apressadamente, vestidas


para uma viagem, com os pés calçados, e os homens com seus
cajados à mão para simbolizar que estavam de partida. O pão sem
fermento simbolizava a pressa que tinham em sair daquele lugar e as
ervas amargas serviriam para lembrar os duros tempos de
escravidão no Egito.

A instrução de Deus foi que esta festa deveria ser celebrada não só
aquele dia, mas para sempre pelos judeus, todos os anos na mesma
época, e que quando os filhos perguntassem aos pais o significado
da Páscoa, deveriam ser ensinados que o Senhor passou pelo Egito
e livrou os filhos de Israel. A Páscoa dos judeus celebra a libertação
do povo da escravidão do Egito.

Mil quatrocentos e oitenta anos depois disto aconteceria de Nosso


Senhor Jesus Cristo ser crucificado durante a Páscoa, num dia 14 de
Nisan. Seu sangue foi derramado na cruz do Calvário para nos
libertar da escravidão do pecado. Seria isto uma coincidência? De
77

maneira nenhuma. A Páscoa e o sacrifício de Jesus estão


intimamente ligados.

A primeira Páscoa, ocorreu, portanto, no dia 15 de Nisan do Ano


Bíblico 2448, data do Êxodo de Israel.

1451 AC - 15 de Nisan - (A.B. 2448) - o Êxodo de Israel


“E aconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele
mesmo dia, todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito.”
Ex 12:41

Quando Moisés deu o primeiro passo saindo do Egito em direção à


terra prometida, naquele mesmo dia se completaram os quatrocentos
e trinta anos desde a promessa a Abraão. Assim funciona o relógio
de Deus.

Saíram com Moisés do Egito cerca de 600 mil homens aptos para a
guerra, o significa dizer, cerca de 1,5 milhão de pessoas no total.

O Êxodo se deu no dia 15 de Nisan (Março/Abril) do Ano Bíblico


2448. Com esta data concordam todos os documentos escritos dos
judeus sobre o assunto. Moisés conduziu o povo pelo caminho do
deserto do Mar Vermelho e levou consigo os ossos de José (Ex
13:19) que morrera no Egito 139 anos antes, e fizera seus irmãos
prometerem que assim o fariam quando deixassem aquela terra.

Conforme o Livro de Jasher, Moisés levou também os ossos de todos


os filhos de Jacó. Estenderemos este assunto no tópico que trata do
ano 1385 AC - Ano Bíblico 2514.

1451 AC - (A.B. 2448) – travessia do mar vermelho


Saindo do Egito, era necessário cruzar o Mar Vermelho para seguir
em direção a Canaã. Diz Gn 14:4 diz que Deus endureceu o coração
de Faraó para que perseguisse os israelitas. Moisés abriu o Mar
possibilitando que o povo passasse entre dois portões de água.

Os egípcios seguiram o mesmo caminho e foram mortos quando as


águas se voltaram contra eles. Lembremos da promessa de Deus
(Gn 12:3) a Abraão: “E abençoarei os que te abençoarem, e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem.”
78

Os primeiros anos no deserto


Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1451 AC Deus envia o Maná 2.448 Ex 16
1451 AC Os mandamentos entregues 2.448 Ex 19:1
1450 AC O Tabernáculo é levantado 2.449 Ex 40:17
1450 AC 1ª páscoa celebrada fora do Egito 2.449 Nm 9:1-3
1450 AC Recenseamento do povo 2.449 Nm1:1-3
1450 AC Visita dos espias a Canaã 2.449 Nm 13:2
1450 AC 40 anos no deserto 2.449 Nm 14:20-31
1450 AC A rebelião de Coré 2.449 Nm 16

1451 AC -16 de Lyar - (A.B. 2448) - Deus envia o Maná


Conforme todo o capítulo 16 de Êxodo, Israel acampou no Deserto
de Sim aos quinze dias do mês segundo, Lyar (Abril/Maio), um mês
depois de sua saída da terra do Egito.

Ali a congregação murmurou contra Moisés e Arão porque acabaram


os pães preparados por ocasião da saída do Egito (Ex 16:2-3). Isto
significa que as provisões de Israel duraram trinta dias.

Deus anuncia então a Moisés que enviaria o Maná para que o povo
se alimentasse (Ex 16:4) e na manhã seguinte, em 16 de Lyar, o
povo recebeu o Maná que os alimentou por toda a sua jornada pelo
deserto, pelos quarenta anos seguintes, cessando apenas quando
entraram na Terra Prometida com Josué. (Js 5:11-12)

1451 AC - (A.B. 2448) - os Dez Mandamentos


Os mandamentos foram entregues a Moisés no Sinai no terceiro mês
(Sivan – Maio) após a saída do povo do Egito, de acordo com Ex
19:1: “Ao terceiro mês da saída dos filhos de Israel da terra do Egito,
no mesmo dia chegaram ao deserto de Sinai”, portanto, no Ano
Bíblico 2448.

Os mandamentos regulamentam duas coisas básicas: os quatro


primeiros, a relação do homem com Deus e os seis seguintes a
relação com o seu próximo. No tempo da peregrinação de Israel no
deserto Deus dará muitos outros mandamentos e leis para governar
a conduta do povo, sendo estes, um total de seiscentos e treze.

Muitas das leis trazidas por Moisés já eram praticadas por outros
povos. O mais famoso código jurídico da antiguidade, o Código de
Hamurabi, é datado em cerca de 1700 AC, sendo, portanto, cerca de
79

250 anos mais antigo que a Lei de Moisés. Pode ser visto nos dias
de hoje exposto no Museu Britânico.

Há muita semelhança entre o Código de Hamurabi e a Lei de Moisés,


como por exemplo, a lei de Hamurabi que determinava que um
homem que agredisse seu pai tivesse as mãos cortadas; ou as que
estabeleciam a pena de morte em caso de sequestro de crianças,
violação de mulheres e roubo. O famoso olho por olho, dente por
dente de Moisés é escrito em Hamurabi na forma “osso quebrado por
osso quebrado.”

1450 AC - (A.B. 2449) – o Tabernáculo é levantado


Deus ordenou a Moisés que construísse um Tabernáculo, o santuário
onde habitaria no meio de seu povo (Ex 25:8). Ordenou que
construísse também uma arca: nela seriam depositadas as tábuas da
Lei dadas a Moisés (Dt 10:2) e a vara de Arão que florescera (Nm
17:10).

De acordo com Ex 40:16-17: “Moisés fez conforme a tudo o que o


Senhor lhe ordenou, assim o fez. Assim, no primeiro mês, no ano
segundo, ao primeiro dia do mês foi levantado o Tabernáculo.” O
Tabernáculo foi, portanto, levantado próximo de se completar um ano
desde o Êxodo, duas semanas antes da celebração da primeira
Páscoa fora do Egito, no Ano Bíblico 2449.

1450 AC - (A.B. 2449) – a primeira Páscoa fora do Egito


A primeira Páscoa fora do Egito foi celebrada um ano após o Êxodo,
no Ano Bíblico 2449, conforme Nm 9:1-4: “Falou o Senhor a Moisés
no deserto de Sinai, no ano segundo da sua saída da terra do Egito,
no primeiro mês, dizendo: Celebrem os filhos de Israel a Páscoa a
seu tempo determinado. No dia catorze deste mês, pela tarde, a seu
tempo determinado a celebrareis; segundo todos os seus estatutos, e
segundo todos os seus ritos, a celebrareis. Disse, pois, Moisés aos
filhos de Israel que celebrassem a Páscoa.”

1450 AC - (A.B. 2449) – o recenseamento do povo


De acordo com Nm 1:1-3, quinze dias após a celebração da Páscoa,
no Ano Bíblico 2449, Deus ordenou a Moisés e Arão que contassem
entre o povo o número de homens em condições de ir à guerra:
“Falou mais o Senhor a Moisés no deserto de Sinai, na tenda da
congregação, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da
sua saída da terra do Egito, dizendo: Tomai a soma de toda a
congregação dos filhos de Israel, segundo as suas famílias, segundo
80

a casa de seus pais, conforme o número dos nomes de todo o


homem, cabeça por cabeça; Da idade de vinte anos para cima, todos
os que em Israel podem sair à guerra, a estes contareis segundo os
seus exércitos, tu e Arão.”

Foram contados seiscentos e três mil, quinhentos e cinquenta


homens (Nm 1:46), o que sugere que somados às mulheres, aos
homens com menos de vinte anos, às crianças e aos idosos, fossem
cerca de 1,5 milhão de pessoas, todo o povo de Israel que saiu do
Egito.

1450 AC – (A.B. 2449) - o povo se desloca para o deserto de Parã


Conforme Nm 10:11-12: “aconteceu, no ano segundo, no segundo
mês, aos vinte do mês, que a nuvem se alçou de sobre o
Tabernáculo da congregação. E os filhos de Israel, segundo a ordem
de marcha, partiram do deserto de Sinai; e a nuvem parou no deserto
de Parã.”

Desta forma, o censo tomou cerca de 20 dias para ser realizado,


após o que o povo marchou até o deserto de Parã.

1450 AC - (A.B. 2449) - visita dos espias a Canaã


No deserto de Parã Deus ordenou a Moisés que escolhesse doze
homens, um de cada tribo de Israel, para que estes fossem espiar a
terra de Canaã. Foram os escolhidos: “da tribo de Ruben, Samua,
filho de Zacur; Da tribo de Simeão, Safate, filho de Hori; Da tribo de
Judá, Calebe, filho de Jefoné; Da tribo de Issacar, Jigeal, filho de
José; Da tribo de Efraim, Oséias, filho de Num (Josué); Da tribo de
Benjamim, Palti, filho de Rafu; Da tribo de Zebulom, Gadiel, filho de
Sodi; Da tribo de José, pela tribo de Manassés, Gadi filho de Susi;
Da tribo de Dã, Amiel, filho de Gemali; Da tribo de Aser, Setur, filho
de Micael; Da tribo de Naftali, Nabi, filho de Vofsi; Da tribo de Gade,
Geuel, filho de Maqui.” (Num 13:1-16)

Estes deveriam trazer notícias de como era a terra e o povo que nela
habitava, se muitos ou poucos, se fortes ou fracos, como eram as
cidades, se a terra era fértil ou não, e que trouxessem dos frutos da
época.

Os doze voltaram de espiar a terra ao fim de quarenta dias e se


apresentaram a Moisés e a Arão, e a toda a congregação e deram-
lhes notícias e mostraram o fruto da terra. Entre os doze espias,
apenas dois, Oseias, da Tribo de Efraim, a quem Moisés mudará o
81

nome para Josué (Nm 13:16) e Calebe, da Tribo de Judá, trouxeram


notícias otimistas: que a terra era mesmo fértil e que era possível
conquistá-la com ajuda de Deus. Os demais confirmaram que a terra
era muito boa, mas que o povo era poderoso, e as cidades muito
fortificadas, de maneira que jamais conseguiriam conquistá-las.

Diante desta posição negativa da maioria dos espias o coração do


povo esfriou e todos se revoltaram contra Moisés que os havia tirado
da segurança do Egito para enfrentar tais dificuldades. Diziam todos:
“Por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada, e
para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não
nos seria melhor voltarmos ao Egito?” (Nm 14:3)

Josué e Calebe insistiram com o povo que a terra pela qual


passaram a espiar era muito boa e que se Deus se agradasse de
Israel, nada teriam a temer. Tamanha era a fúria do povo que
quiseram apedrejá-los.

Diante da falta de fé dos Israelitas Deus condenou toda aquela


geração adulta a não entrar na Terra Prometida e para cada dia em
que os espias demoraram na terra, um ano passariam naquele
deserto, de maneira que Israel permaneceu no deserto por quarenta
anos até que toda aquela geração acabou: “Porém, quanto a vós, os
vossos cadáveres cairão neste deserto. E vossos filhos pastorearão
neste deserto quarenta anos, e levarão sobre si as vossas
infidelidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste
deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra,
quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as
vossas iniquidades quarenta anos, e conhecereis o meu
afastamento. Eu, o Senhor, falei; assim farei a toda esta má
congregação, que se levantou contra mim; neste deserto se
consumirão, e aí falecerão.” (Nm 14:32-35)

Aquilo que seria uma viagem curta, que se poderia fazer em menos
de trinta dias, tornou-se o destino de uma vida. Entre todos daquela
geração acima dos vinte anos na ocasião do censo, apenas Josué,
Calebe e uns poucos entrariam em Canaã.

O povo de Israel peregrinou pelo deserto quarenta anos, de lugar em


lugar e guerreou contra os povos vizinhos que eram hostis à sua
presença. Durante todo este tempo suas roupas e sapatos não
envelheceram e foram sustentados por Deus que lhes mandava
todas as manhãs o maná que caía do céu e os alimentava. Ao fim de
quarenta anos quase toda aquela geração que saíra adulta do Egito
82

havia falecido. O próprio Moisés faleceu sem entrar na terra


prometida.

1450 AC - (A.B. 2449) - a rebelião de Coré


Conforme todo capítulo 16 de Números, Coré, da tribo de Levi,
tentou levantar o povo de Israel contra Moisés: “E Coré, filho de
Gerar, filho de Coate, filho de Levi, tomou consigo a Datã e a Abirão,
filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben. E
levantaram-se perante Moisés com duzentos e cinquenta homens
dos filhos de Israel, príncipes da congregação, chamados à
assembleia, homens de posição, E se congregaram contra Moisés e
contra Arão, e lhes disseram: Basta-vos, pois que toda a
congregação é santa, todos são santos, e o Senhor está no meio
deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?”
(Nm 16:1-3)

Nm 16:31-35 nos diz como Deus respondeu à afronta: “a terra que


estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os
tragou com as suas casas, como também a todos os homens que
pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. E eles e tudo o que era
seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do
meio da congregação. E todo o Israel, que estava ao redor deles,
fugiu ao clamor deles; porque diziam: Para que não nos trague a
terra também a nós. Então saiu fogo do Senhor, e consumiu os
duzentos e cinquenta homens que ofereciam o incenso.”

1450 AC a 1412 AC – (2449 A.M a 2487 A.B.) - 40 anos no deserto


De toda a peregrinação no deserto, desde a saída do Egito até a
morte de Moisés no quadragésimo ano, há relatos cronológicos
precisos apenas dos dois primeiros e do último ano.

Nm 33 nos relata todos os deslocamentos do povo desde sua partida


do Egito, de Ramessés, no dia 15 de Nisan do Ano Bíblico 2448, dia
seguinte à Páscoa, até a morte de Moisés, sem mencionar, no
entanto, qualquer data após o segundo ano.

Foram 40 acampamentos desde o Egito até as Campinas de Moabe,


de frente a Jericó (Nm 33:48), de onde Josué cruzará o Jordão com
todo Israel. Dt 8:2-5 nos dá a síntese do que foram estes quarenta
anos: “te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus
te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te
provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os
seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te
83

sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o


conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de
pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.
Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé
nestes quarenta anos. Sabes, pois, no teu coração que, como um
homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus.”

Jesus fez esta citação quando foi tentado por Satanás. Os 40 anos
são a representação de toda uma vida. No seu decurso, Deus não
pune seu povo, ensina.

1412 AC - (A.B. 2487) - 40º ano da peregrinação no deserto


Os eventos que se seguem aconteceram no Ano Bíblico 2487, o
quadragésimo e último ano de peregrinação de Israel pelo deserto.

40º ano da peregrinação no deserto


Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1412 AC Morte de Miriã no mês primeiro 2.487 Nm 20:1
1412 AC Moisés é impedido de cruzar o Jordão 2.487 Nm 20:12
1412 AC Morte de Arão no mês quinto 2.487 Nm 33:38-39
1412 AC Eleazar, é o novo sumo sacerdote 2.487 Nm 20:28
1412 AC Mês 7 - Israel derrota Arade 2.487 Nm 21:3
1412 AC Deus envia serpentes contra o povo 2.487 Nm 21:9
1412 AC Israel conquista Hesbom 2.487 Nm 21:25-26
1412 AC Israel derrota Ogue, rei de Basã 2.487 Nm 21:33-35
1412 AC Balaão abençoa Israel 2.487 Nm 24:1
1412 AC A praga de Baal Peor 2.487 Nm 25:11
1412 AC Deus ordena um novo censo 2.487 Nm 26
1412 AC Josué substituto de Moisés 2.487 Nm 27:22
1412 AC Israel derrota os midianitas 2.487 Nm 31:7-8
1412 AC O profeta Balaão é morto 2.487 Nm 31:8
1412 AC Moisés delimita as terras 2.487 Nm 34:2
1412 AC Fim da peregrinação no deserto 2.487 Nm 32:13
1412 AC O último dia da vida de Moisés 2.487 Dt 31:2
1412 AC Morte de Moisés aos 120 anos 2.487 Dt 34:7
84

1412 AC - (A.B. 2487) - morte de Miriã no mês primeiro


Conforme Nm 20:1 “chegando os filhos de Israel, toda a
congregação, ao deserto de Zim, no mês primeiro, o povo ficou em
Cades; e Miriã morreu ali, e ali foi sepultada.”

O quadragésimo e último ano da peregrinação pelo deserto marca o


fim da vida dos últimos hebreus ainda vivos entre a geração que
deixara o Egito. Destes, somente Josué, Calebe e uns poucos que
permaneceram fiéis a Deus (Js 24:31) terão o privilégio de entrar na
Terra Prometida. Miriã morreu no primeiro mês do quadragésimo ano
desde o Êxodo, portanto em 2487 A.B. (2448 + 39).

1412 AC - (A.B. 2487) - Moisés impedido de cruzar o Jordão


Nm 20:7-12 nos relata que acampados no Deserto de Zim, depois da
morte de Miriã, como não houvesse água, nem para as pessoas nem
para os animais, o povo reclamou com Moisés, que por sua vez
pediu a Deus que lha providenciasse.

Deus diz então claramente a Moisés que “falasse” à rocha que lhe
desse água, ao que Moisés desobedeceu e bateu-lhe com seu
cajado duas vezes. O resultado foi o mesmo das outras vezes: a
água jorrou e todos puderam matar a sede. No entanto, Moisés,
provavelmente por conta de sua irritação para com o povo, deixou se
estar atento à ordem de Deus para que falasse à rocha, e não que
lhe batesse com o cajado.

Por conta deste ato, ambos, Moisés e Arão, foram impedidos de


cruzar o Jordão. O povo, mesmo depois de experimentar por
quarenta anos a providência de Deus, não deixou de externar sua
incredulidade.

1412 AC - (A.B. 2487) - morte de Arão no mês quinto


Quatro meses depois da morte de sua irmã Miriã, faleceu Arão, o
sumo-sacerdote, quando Israel acampou no Monte Hor, na fronteira
de Edom, no Ano Bíblico 2487, quadragésimo ano desde o Êxodo.
(Nm 20:28)

1412 AC - (A.B. 2487) - Eleazar é o novo sumo sacerdote de


Israel
Em lugar de Arão, foi ungido sumo-sacerdote Eleazar, seu terceiro
filho (Ex 6:23), conforme Nm 20:28: “E Moisés despiu a Arão de suas
vestes, e as vestiu em Eleazar, seu filho; e morreu Arão ali sobre o
cume do monte; e desceram Moisés e Eleazar do monte.”
85

1412 AC - (A.B. 2487) - Israel derrota Arade, rei dos cananeus


Enquanto acampava próximo ao Monte Hor, de acordo com Nm 21:3,
Israel derrotou os cananeus: “O Senhor, pois, ouviu a voz de Israel, e
lhe entregou os cananeus; e os israelitas destruíram totalmente, a
eles e às suas cidades; e o nome daquele lugar chamou Hormá.”

1412 AC - (A.B. 2487) - Deus envia serpentes contra o povo


De acordo com Nm 21:4, saindo do Monte Hor, pelo caminho do Mar
Vermelho a fim de rodear a terra de Edom, o povo blasfemou contra
Deus e contra Moisés, tendo sido punido por serpentes que mataram
muita gente. “E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma serpente
ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que,
tendo sido picado, olhar para ela.” (Nm 21:8)

1412 AC - (A.B. 2487) - Israel conquista Hesbom


Conforme o relato de Nm 21:25-26, Israel conquista Hesbom. Esta
conquista tem um valor cronológico muito significativo, pois sua data
(2487 A.B.) é o ponto de sincronismo a ser determinante para o
cálculo das datas referentes ao período dos Juízes.

Trezentos anos depois deste acontecimento, no tempo em que Jefté


seria o oitavo juiz sobre Israel, Hesbom será reclamada de volta
pelos amonitas, conforme Jz 11:26: “Enquanto Israel habitou
trezentos anos em Hesbom e nas suas vilas, e em Aroer e nas suas
vilas, em todas as cidades que estão ao longo de Arnom, por que o
não recuperastes naquele tempo?”

Não fosse o cruzamento destes dois eventos, seria impossível


sincronizar as datas de Juízes, conforme veremos adiante quando
tratarmos do assunto no ano 2787 A.B.

1412 AC - (A.B. 2487) - Moisés faz um novo censo


O capítulo 26 de Números relata a execução do segundo censo no
deserto. Foram contados seiscentos e um mil e setecentos e trinta
homens de guerra, de vinte anos para cima, entre os quais foi
repartida a herança na Terra Prometida. (Nm 26:51)

No primeiro censo foram contados seiscentos e três mil, quinhentos e


cinquenta homens de guerra, a quase totalidade da geração que
morreu no deserto, podendo-se constatar um crescimento
populacional negativo durante a peregrinação.
86

1412 AC - (A.B. 2487) - Josué substitui Moisés


De acordo com Nm 27:22-23 “fez Moisés como o Senhor lhe
ordenara; porque tomou a Josué, e apresentou-o perante Eleazar, o
sacerdote, e perante toda a congregação. E sobre ele impôs as suas
mãos, e lhe deu ordens, como o Senhor falara por intermédio de
Moisés.”

1412 AC - (A.B. 2487) - Israel derrota os midianitas


“E pelejaram contra os midianitas, como o Senhor ordenara a
Moisés; e mataram a todos os homens.” (Nm 31:7)

1412 AC - (A.B. 2487) – herança de Gade, Ruben e Manassés


“Assim deu-lhes Moisés, aos filhos de Gade, e aos filhos de Rúben, e
à meia tribo de Manassés, filho de José, o reino de Siom, rei dos
amorreus, e o reino de Ogue, rei de Basã; a terra com as suas
cidades nos seus termos, e as cidades ao seu redor.” (Nm 32:33)

1412 AC - (A.B. 2487) - Moisés delimita as terras


Os capítulos 34 a 36 de Números reportam os limites da Terra
Prometida, os chefes de cada tribo encarregados da sua distribuição,
além das regras sobre sua posse.

1412 AC - (A.B. 2487) - morte de Moisés aos 120 anos


Conforme Dt 31:1-2 Moisés faleceu exatamente no dia em que
completava 120 anos de idade. Vejamos o texto: “Depois foi Moisés,
e falou estas palavras a todo o Israel, E disse-lhes: Da idade de
cento e vinte anos sou eu hoje; já não poderei mais sair e entrar;
além disto, o Senhor me disse: Não passarás o Jordão.”

A expressão “sou eu hoje” não tem qualquer outro significado senão


o de afirmar que exatamente naquele dia Moisés completava 120
anos de idade. A data exata do falecimento de Moisés seria 7 de
Adar (décimo segundo mês – Fevereiro / Março) do Ano Bíblico
2487.

Chega-se a esta conclusão retroagindo 33 dias a partir da data em


que Josué cruzou o Jordão, em 10 de Nisan do Ano Bíblico 2488 (Js
4:19); trinta dias durante os quais o povo permaneceu em Moabe
lamentando a morte de Moisés, mais três dias concedidos por Josué
para que o povo se preparasse para cruzar o Jordão.

Vejamos Dt 34:8: “E os filhos de Israel prantearam a Moisés trinta


dias, nas campinas de Moabe; e os dias do pranto no luto de Moisés
87

se cumpriram.” Vejamos Js 1:11: “Passai pelo meio do arraial e


ordenai ao povo, dizendo: Provede-vos de comida, porque dentro de
três dias passareis este Jordão, para que entreis a possuir a terra
que vos dá o Senhor vosso Deus, para a possuirdes.” Js 4:19:
“Subiu, pois, o povo, do Jordão no dia dez do mês primeiro; e
alojaram-se em Gilgal, do lado oriental de Jericó.”

Judas, no Novo Testamento, fala de um acontecimento não citado no


Pentateuco, que diz respeito ao sepultamento de Moisés: “Mas o
arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a
respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição
contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda.” (Jd 1:9)

Segundo a tradição cristã, este texto se encontrava descrito em um


livro que não chegou aos nossos tempos intitulado “O Testamento de
Moisés”, sendo esta a provável fonte de informação de Judas a este
respeito.

Os israelitas entram na Terra Prometida


Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref.Bíblica
1412 AC O povo lamenta a morte de Moisés 2.487 Dt 34:8
1411 AC Deus ordena a Josué que cruze o Jordão 2.488 Js 1:2
1411 AC Israel cruza o Jordão em 10 de Nissan 2.488 Js 4:19
1411 AC Celebração da Páscoa em Gilgal 2.488 Js 5:10
1411 AC Deus cessa de enviar o Maná 2.488 Js 5:11-12
1411 AC Josué conquista Jericó 2.488 Js 6:24
1411 AC O mais longo dos dias registrado na Bíblia 2.488 Js 10:5
1405 AC As tribos recebem herança 2.494 Js 14:10
1385 AC Ossos de José são enterrados 2.514 Js 24:29-32
1383 AC Morte de Josué 29 anos após a de Moisés 2.516 Js 24:29
1365 AC Fim da geração de Josué 2.534 Jz 24:29

1412 AC / 1411 AC - (A.B. 2487 / 2488) – Lamento pela morte de


Moisés
Dt 34:8: “E os filhos de Israel prantearam a Moisés trinta dias, nas
campinas de Moabe; e os dias do pranto no luto de Moisés se
cumpriram.” Desta forma, entre 7 de Adar (décimo segundo mês) do
Ano Bíblico 2487 até 7 de Nisan (primeiro mês) do Ano Bíblico 2488.

1411 AC - (A.B. 2488) - Israel cruza o Jordão em 10 de Nisan


Js 4:19: “Subiu, pois, o povo, do Jordão no dia dez do mês primeiro;
e alojaram-se em Gilgal, do lado oriental de Jericó.”
88

Conforme Js 4:22-23, da mesma forma que Deus secara o Mar


Vermelho para que Moisés passasse com o povo no Êxodo do Egito,
também Josué cruzou o Jordão sobre o leito seco do rio: “Fareis
saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco este Jordão.
Porque o SENHOR vosso Deus fez secar as águas do Jordão diante
de vós, até que passásseis, como o SENHOR vosso Deus fez ao Mar
Vermelho que fez secar perante nós, até que passássemos.”

1411 AC - (A.B. 2488- 14 de Nisan) - primeira Páscoa fora do


deserto
Js 5:10: “Estando, pois, os filhos de Israel acampados em Gilgal,
celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas
de Jericó.”

1411 AC - (A.B. 2488 – 15 de Nisan) – cessa o Maná


“E, ao outro dia depois da Páscoa, nesse mesmo dia, comeram, do
fruto da terra, pães ázimos e espigas tostadas. E cessou o maná no
dia seguinte, depois que comeram do fruto da terra, e os filhos de
Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano comeram dos
frutos da terra de Canaã.” (Js 5: 11-12)

1411 AC - (A.B. 2488) – Josué conquista Jericó e Ai


Conforme relato dos capítulos 6 a 8 de Josué, Israel conquistou as
cidades de Jericó e Ai no primeiro ano em que cruzaram o Jordão (Js
6:24): “Porém a cidade e tudo quanto havia nela queimaram a fogo;
tão-somente a prata, e o ouro, e os vasos de metal e de ferro, deram
para o tesouro da casa do Senhor.”

Conforme Js 6:26: “naquele tempo Josué os esconjurou, dizendo:


Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar
esta cidade de Jericó; sobre seu primogênito a fundará, e sobre o
seu filho mais novo lhe porá as portas.”

1 Rs 16:34 nos dá o cumprimento desta maldição nos dias do rei


Acabe: “Em seus dias Hiel, o betelita, edificou a Jericó; quando lhe
lançou os fundamentos, morreu-lhe Abirão, seu primogênito; quando
lhe pos as portas morreu Segube, seu último, segundo a palavra do
Senhor, que falara por intermédio de Josué, filho de Num.”
89

1411 AC - (A.B. 2488) – o mais longo dos dias da Bíblia


Depois das conquistas de Jericó e Ai, os povos de Gibeom, Cefira,
Beerote, e Quiriate-Jearim enganaram Josué e fizeram com Israel um
pacto de não-agressão.

Por conta deste pacto, cinco reis dos amorreus que habitavam no
entorno, a saber, de Jerusalém, Hebrom, Jarmute, Laquis e Eglom
intentaram destruir Gibeon, que por sua vez pede ajuda a Israel.
Trata-se do primeiro embate entre Israel e os habitantes de
Jerusalém. Israel vai à guerra em auxílio a Gibeon contra estes cinco
reis naquele que é conhecido com o mais longo dos dias da Bíblia.

No auge da batalha Josué pede, diante de todo povo de Israel, que


Deus pare o tempo para que o inimigo possa ser vencido ainda
aquele dia. Vejamos como reporta este fato Js 10:12-14: “Então
Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu os amorreus nas
mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol,
detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom. E o sol se deteve,
e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não
está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do
céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve
dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o
Senhor assim a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por
Israel.”

Há na Bíblia, além de Josué, apenas uma outra referência a este


acontecimento, em Habacuque 3:11: “O sol e a lua pararam nas suas
moradas; andaram à luz das tuas flechas, ao resplendor do
relâmpago da tua lança.”

Afora a Bíblia, tal citação encontra-se também em Jasher 88:63-65:


“E quando eles (Israel) os feriam, o dia declinava para o entardecer,
e Josué disse à vista de todo povo: Sol, mantenha-te sobre Gibeão, e
tu, Lua, no Vale de Ajalom, até que a nação tenha se vingado de
seus inimigos. E o Senhor ouviu a voz de Josué, e o sol imobilizou-se
no meio dos céus, e permaneceu imóvel, e a lua também se manteve
imóvel e não se apressou a descer por todo dia. E não houve dia
como aquele, antes ou depois, em que o Senhor ouviu a voz de um
homem, pois o Senhor lutou por Israel.” (Jasher 88:63-65)

De acordo com a Seder Olam Rabbah, este evento ocorreu no dia 3


de Tammuz (Junho / Julho) do Ano Bíblico 2488. Num comentário
sobre assunto, o Rabi Yose Bar Halafta diz que este foi o dia do
90

solstício do verão, decorrendo disto que naquele ano, o equinócio da


primavera se deu no dia primeiro de Nisan. (Seder Olam, The
Rabbinic view of Biblical Chronology, commented by Heinrich
Guggenheimer, Cap 11, Joshua, página 112)

Seja como for, o pedido de Josué a Deus parou, para quem acredita
que a Terra gira em torno do Sol, a rotação de uma esfera de
aproximadamente (6E+24) quilos (seis sestrilhôes de toneladas).
Para quem lê atentamente a Palavra de Deus, parou o Sol.

1411 AC - (A.B. 2488) - O Sol literalmente parou


DANIEL 12:4 “E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro,
até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o
conhecimento se multiplicará”.

Uma pequena história da Astronomia: Aristóteles, que viveu em


Atenas entre os anos 384 a 322 a.C., foi discípulo de Platão e mestre
de Alexandre, o Grande.

Estudioso das ciências, elaborou a concepção do cosmos


geocêntrico, ou seja, com a Terra literalmente estacionária no centro
do universo. É a primeira teoria importante sobre o assunto.

Depois dele, foi Ptolomeu (90 – 168 dC) um outro grande nome a
apoiar a mesma teoria, mas, sendo cartógrafo, geógrafo, matemático
e astrônomo, foi além de Aristóteles e criou um dos primeiros
modelos matemáticos de descrição da órbita celeste, também com a
Terra no centro do universo.

A concepção de Ptolomeu sobreviveu até a idade média, quando


Nicolau Copérnico (1473 – 1543), católico, astrônomo e matemático
polonês, propôs uma nova teoria, o sistema heliocêntrico, onde a
Terra orbita em torno do Sol, e este, por sua vez, estaria próximo ao
centro do universo. A própria igreja católica não gostou da proposta,
rotulada a princípio de heresia.

Sua teoria não trouxe grandes melhorias com relação ao modelo


proposto por Ptolomeu, pelo menos até encantar a mente de um
gênio, Galileo, que viveu quase um século depois de sua morte.

É importante realçar que embora Copérnico não tenha conseguido


atrair com sua teoria a simpatia da igreja católica, atraiu sim, a
antipatia de Martinho Lutero (1483 - 1546), seu contemporâneo, líder
91

da reforma protestante na Alemanha. Lutero fez veementes críticas à


proposta de Copérnico, uma vez que esta contrariava a Bíblia.

Como diz acertadamente o ditado, que o inimigo de meu inimigo é


meu amigo, a igreja católica tolerou durante quase um século a
heresia útil de Copérnico, uma vez que Lutero e outros protestantes
se opunham a ela.

Entra em cena Tycho Brahe (1546 - 1601), astrônomo dinamarquês,


destacado representante da ciência renascentista, que baseado na
tradição bíblica veio a propor um modelo de universo que combinava
as visões de Ptolomeu e Copérnico, onde os planetas giram de fato
em torno do Sol e este, por sua vez, em torno da Terra, teoria que
embora pareça absurda, nunca foi refutada.

A Dinamarca de Brahe era na altura protestante. Dizia ele: “A Terra é


o centro do universo por duas razoes: a Bíblia afirma que sim, e
minhas observações confirmam isto”.

Um de seus pilares era o Salmo 93:1, que diz, conforme a versão


Almeida, que : “o mundo também está firmado, e não poderá vacilar”.
Da versão King James da Bíblia se traduz com mais propriedade que
“o mundo também está estabelecido e não pode ser movido”.

Brahe faleceu antes de publicar suas observações, mas confiou-as a


seu assistente, Johannes Kepler, que prometeu publicá-las, mas
preferindo o sistema de Copérnico, fez nele algumas alterações,
entre as quais a principal se refere às órbitas dos planetas, que
originariamente eram circulares e passaram a elípticas.

Surge então na história da ciência o gênio italiano Galileu Galilei


(1564 -1642 ), matemático, físico e astrônomo, que a partir das
conclusões de Kepler, aperfeiçoa o sistema heliocêntrico.

De fato Galileo destrói o sistema geocêntrico em sua obra “Diálogo sobre


os dois principais sistemas do mundo", impondo de maneira irrefutável
o que até hoje é o princípio básico da astronomia: Não só a Terra gira em
torno do sol, como está presente em todo universo a força da gravidade
que estabiliza a ordem de todos os corpos celestes.

Galileo foi quase queimado nas fogueiras da inquisição católica por afirmar
estas coisas. Giordano Bruno (1548-1600), que não teve a mesma
sorte, este sim foi queimado vivo por defender o mesmo ponto de
vista de Galileo.
92

Triunfou, desta forma, o sistema heliocêntrico de Copérnico, não por


seu próprio mérito, mas por causa de Galileo, e assim Copérnico se
tornou a figura central da cosmologia.

A influência desta migração de conceitos é tremenda, pois tanto em


termos filosóficos quanto espirituais, no sistema geocêntrico, colocar
a Terra no centro do universo, implica que somos importantes. Mas o
contrário também é verdadeiro: se a Terra não é o centro, não somos
importantes, e talvez sejamos mesmo frutos do acaso.

Aprendemos isto na escola: que um ano é o tempo em que a Terra


faz uma volta completa em torno do Sol, 2 que estamos num canto
da Via Láctea, que somos um planeta secundário perdido na
vastidão do cosmos. Este talvez seja um dos conceitos mais básicos
de ciência assimilado por qualquer pessoa minimamente educada.

Mas, e se lhe dissessem que é o contrário, que o Sol de fato gira em


torno da Terra, e que a Terra está no centro do universo? Daria
risada?

Pois não deve. Esta é a desconfortável conclusão a que chegaram


inúmeros astrônomos, sobretudo depois da divulgação de dados do
Projeto Planck da ESA - Agência Espacial Europeia: a Terra está fixa
num ponto do universo e o Sol gira em torno dela.

Em termos de ciência moderna, desde 1978 havia fortes


comprovações de que fosse verdade, desde a publicação do trabalho
de Arno Allan Penzias e Robert Wilson – que naquele ano receberam
o premio nobel de física por seu trabalho sobre a descoberta da
radiação cósmica presente em todo universo.

A existência desta radiação já fora prevista em 1948 por grandes


físicos como George Gamov, Ralph Alpher e Robert Herman, e ao
confirmá-la, Penzias e Wilson acabaram por descobrir aquilo que
pode chamar de “fóssil da criação”, ou seja, a Radiação Cósmica de
Fundo em Micro Ondas (CMB - Cosmic Microwave Background
Radiation), que vem a ser o mais antigo remanescente vestígio da
energia presente no instante da criação do universo, independente
da forma como ele tenha sido criado.

Quando observado por telescópios óticos, o espaço vazio entre as


estrelas e galáxias (background) é completamente negro. No
entanto, quando examinado por rádio telescópio mostra neste vazio
um brilho remanescente, idêntico em todas as direções observadas,
93

e não associado a nenhuma estrela ou galáxia específica. Estas


ondas seriam responsáveis por um calor de cerca 2 graus celsius
remanescentes do instante da criação. Em tese, o universo que tem
hoje uma temperatura hipotética de 272 °C negativos, 1 grau acima
do zero absoluto, tende a chegar ao zero absoluto, 2.7 Kelvin = -
270.45 celsius.

Penzias e Wilson se tornaram imediatamente estrelas da física,


sobretudo porque apareceram em cena 15 anos depois do físico
inglês Stephen Hawking teorizar o Big Bang.

Quando Hawking explicou o Big Bang, seus críticos questionavam


onde estariam os fósseis da grande explosão, o que veio a ser
explicado pelas observações de Penzias e Wilson. É briga de
cachorro grande, como diz o ditado, disputada por fórmulas
matemáticas incompreensíveis para a maioria de nós, simples
mortais.

Particularmente não acredito no Big Bang, mas entendo a opinião de


muitos cristãos que o aceitam como explicação do Fiat Lux – Faça-se
a Luz - de Gênesis 1. Mas veja que mesmo a teoria de Hawking
sobre o Big Bang arrasta consigo uma conclusão maravilhosa, pois,
se houve uma explosão inicial, presume-se que houvesse uma
quantidade brutal de matéria original para explodir, mas segundo as
fórmulas de Hawking, matematicamente comprovadas, não havia
nenhuma matéria no instante inicial.

Veja isto: matematicamente falando, Hawking, que era ateu,


demonstrou a possibilidade de o universo vir a existir a partir de
nada, nem um grão de poeira, de maneira que seria necessário, com
ou sem Big Bang, Deus como agente da criação, mesmo o autor da
prova não crendo que ele exista.

Voltando à questão da radiação do universo, quais conclusões se


pode tirar a partir dos dados coletados até 2005 pela sonda Planck
da Agência Espacial Europeia? Que toda radiação do universo
converge para a Terra. E não somente o Projeto Planck constatou
isto, como também seus antecessores, os projetos COBE e WMAP.

Tudo no universo converge para nós, quer seja pela análise da


radiação, quer sejam as emissões teorizadas dos quasares, buracos
negros, ou quer sejam tomados por referência os “Mega Muros”
(Megawalls), tudo no universo sincroniza com a nossa Terra.
94

A cosmologia mostra a existência de ao menos 13 enormes muros de


galáxias, 13 enormes ajuntamentos de milhões de galáxias, que
quando mapeadas parecem muros (Mega Walls) no universo
observável. Alinhados com quem? Com a Terra.

Tudo no universo é alinhado com a Terra. Foi assim que Deus a criou
e tudo o que faz a ciência é exaustivamente confirmar isto. Somos,
afinal, importantes.

O modelo mais apropriado de funcionamento do universo é o de


Tycho Brahe, para quem a Terra é o centro do universo, em torno do qual
circula o Sol. Em torno do Sol orbitam os demais planetas do sistema, bem
como o resto do universo, tudo arrastado pela Terra. E pouco importa o
que acha a maioria, pois foi assim que Deus fez as coisas
funcionarem. Salomão disse isto em Eclesiastes 1:5: “Nasce o sol, e
o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu”.

Para quem observa as constatações da ciência, todas estas


evidências não só tornam obsoletas nossas crenças científicas
atuais, como provam que nosso conhecimento prático da ciência é
medieval. Tudo terá que ser reescrito, e tomará muito tempo para
que isto aconteça, pois mesmo à luz de tantas evidências, a própria
ciência continuará negando o que já constatou. Esta é uma boa
razão para você não ensinar estas coisas para seus filhos, porque se
aprenderem certo, serão reprovados na escola.

E se tudo tem que ser reescrito na cosmologia, seria por acaso


diferente com relação às outras ciências?

Ciência, meus irmãos, poderia ser explicada como a matemática de


Deus. Deus é o autor da ciência, não a humana, mas a verdadeira, e
estes poucos de nós a quem é dada a compreensão de uma parte
insignificante destes segredos, apropriam-se deles como se fossem
seus criadores. Mas a ciência pertence a Deus.

Mas ao mesmo tempo que não se vê Deus, a ciência está presente


em nossas vidas de muitas formas tangíveis: O telefone celular é
ciência, assim como o computador, a TV, os meios de transportes,
medicamentos, tecidos, satélites de comunicação, tudo que nos
cerca, para além das promessas de viagens fora da órbita da Terra,
veículos movidos a energia solar, robôs que fazem qualquer tipo de
trabalho, navegação autônoma, casas inteligentes, vidas que podem
durar mais de 300 anos.
95

No campo espiritual, o efeito colateral de tantas maravilhas se


manifesta na descrença generalizada no Deus descrito na Bíblia,
uma vez que a Ele se opõem de muitas maneiras os homens da
ciência.

O Livro de Gênesis não é por acaso o primeiro livro da Bíblia. É


suposto que quem pega uma Bíblia para ler pela primeira vez abra
na primeira página. Ali está escrito que Deus criou antes de qualquer
coisa os céus e a Terra. Criou depois o Sol, a Lua, e as estrelas,
nesta ordem. Não cabe, portanto, nesta descrição o Big Bang.

Os atos seguintes à criação são igualmente desconfortáveis de


serem explicados à luz da ciência. O dilúvio, a travessia do Mar
Vermelho, a ordem de Josué para que o Sol parasse, Jesus andando
sobre as águas, sua ressurreição, a sombra de Pedro curando
doentes, tudo isto não se explica, se crê.

Mil vezes ter o apreço de Deus e ser motivo de riso, que se submeter
à ridícula pretensão dos homens.

Daniel bem podia ter evitado no texto citado acima mencionar a


multiplicação do conhecimento. Moisés também poderia ter evitado
falar da criação, como também poderia ter atravessado o Mar
Vermelho de canoa. Cada coisa complicada da Bíblia poderia ter sido
explicada de uma forma mais adequada a minimizar a descrença
humana. Mas não foi esta a decisão de Deus.

Pena que como Tomé também nós precisemos de provas para


aceitar o que está escrito.

1405 AC - (A.B. 2494) - as tribos recebem sua herança


Seis anos depois de cruzar o Jordão, após conquistar muita terra,
ainda que houvesse muito mais a conquistar, Josué distribui a
herança de Israel. Calebe, da Tribo de Judá, um dos doze espias de
Canaã, lembra então Josué da promessa feita por Moisés sobre a
posse de Hebrom, conforme Js 14:10: “E agora eis que o Senhor me
conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são
passados, desde que o Senhor falou esta palavra a Moisés, andando
Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já oitenta e cinco
anos;”

Quarenta e cinco anos depois de espiar a terra Calebe recebe


Hebrom em herança perpétua para si e seus descendentes. Foi,
portanto, no Ano Bíblico 2494 (2449 + 45).
96

1385 AC - (A.B. 2514) – os ossos de José e demais patriarcas


são enterrados
Conforme Js 23:1, sabemos que o período que antecede a morte de
Josué é caracterizado por uma paz relativa. A sequência do texto
encontrado em Js 24:29-32 dá a entender que os ossos de José, que
Moisés trouxera do Egito, foram enterrados depois do sepultamento
de Josué, ou seja, teria acontecido no Ano Bíblico 2516.

No entanto, o texto (Js 24:29-32) não está tratando especificamente


sobre este tema e é provável que, em havendo paz, seria razoável
que o próprio Josué cuidasse neste tempo de enterrar os restos
mortais de José, seu ancestral direto. José foi enterrado em Siquém,
no campo que Jacó comprara dos filhos de Hemor, pai de Siquém,
por cem peças de prata, e que se tornara herança dos filhos de José,
mais propriamente de Efraim, a tribo de Josué.

Jasher faz em seu capítulo 90 um interessante relato sobre este


acontecimento, dizendo que os filhos de Israel trouxeram não apenas
os ossos de José, como também de todos os outros patriarcas, ainda
referindo que Josué teria cento e oito anos de idade (dois anos antes
de sua morte) quando José foi sepultado em Siquém. (Jasher 90:32-
46)

Parece lógico que os filhos de Israel trouxessem os ossos de todos


os patriarcas e não apenas os de José.

A provável razão pela qual Ex 13:19 faz menção apenas a José, se


deve provavelmente ao fato do redator de Êxodo querer registrar o
cumprimento da promessa feita a José, quando próximo de sua
morte, “fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente vos visitará
Deus, e fareis transportar os meus ossos daqui.” (Gn 50:25)

Não seria natural que as tribos deixassem de honrar seus ancestrais,


uma vez que a promessa feita a José era conhecida de todos e
naturalmente os outras tribos desejassem fazer o mesmo.

Vejamos o relato deste fato, de acordo com Jasher 90:38-45: “E


naqueles dias, quando os filhos de Israel habitavam em segurança
em suas cidades, que enterraram os esquifes de seus ancestrais que
trouxeram do Egito, cada qual na herança de seus filhos, os doze
filhos de Jacó foram enterrados pelos filhos de Israel, cada qual na
possessão de seus filhos.
E estes são os nomes das cidades onde foram enterrados os doze
filhos de Jacó, os quais, os filhos de Israel trouxeram do Egito. E eles
97

enterraram Ruben e Gade deste lado do Jordão, em Romia, a qual


Moisés deu a seus filhos. E Simeão e Levi foram enterrados na
cidade de Mauda, que fora dada aos filhos de Simeão, e o subúrbio
da cidade foi para os filhos de Levi.
E a Judá enterraram na cidade de Benjamin, no lado oposto de
Belém. E os ossos de Issacar e Zebulom, enterraram em Zidon, na
porção que caiu para seus filhos. E Dã foi enterrado na cidade de
Estael, e Naftali e Aser, enterraram em Kadeshi-Naftali, cada homem
em seu lugar, conforme dado a seus filhos. E os ossos de José
enterraram em Siquém, na parte do campo comprada de Hemor, a
qual se tornou herança de José. E enterraram Benjamin em
Jerusalém, oposto aos Jebuseus, a qual foi dada aos filhos de
Benjamim; os filhos de Israel enterraram seus pais, cada qual na
cidade de seus filhos.” (Jasher 90:38-45)

Note que Jasher não faz no texto acima nenhuma menção a


Manassés ou Efraim, sendo José, seu pai, o patriarca honrado com
esta deferência.

1383 AC - (A.B. 2516) - morte de Josué


O Ano Bíblico 2516 marca a data provável da morte de Josué (Js
24:29), que faleceu aos 110 anos de idade, 29 anos depois de
Moisés. Também de acordo com o Livro de Jasher, 2516 A.B. seria
de fato a data de sua morte.

Vejamos o texto: “E aconteceu depois disto, que Josué se levantou


pela manhã e todo Israel com ele, e caminharam de Sitim, e Josué e
todo Israel com ele atravessaram o Jordão, e era Josué de oitenta e
dois anos quando cruzou o Jordão com Israel.” (Jasher 88:9)

Josué cruzou seguramente o Jordão em 10 de Nisan (Abril) do Ano


Bíblico 2.488 (Js 4:19). Se tivesse, então, segundo Jasher, oitenta e
dois anos de idade, seu nascimento teria ocorrido no Ano Bíblico
2406 (2488 – 82) e sua morte no Ano Bíblico 2516 (2406 + 110).
Josué seria três anos mais velho que Calebe e teria falecido 29 anos
depois de Moisés. Teria, portanto, liderado Israel por 28 anos.

A Seder Olam Rabbah estabelece a morte de Josué vinte e oito anos


após a de Moisés.
98

1383 AC a 1365 AC (2516 A.B. a 2534 A.B.) - Fim da geração de


Josué
Após a morte de Josué, Israel se manteve fiel a Deus pelo tempo em
que ainda viveu um remanescente da geração mais antiga. Vejamos
o texto bíblico que fala a este respeito: “E depois destas coisas
sucedeu que Josué, filho de Num, servo do Senhor, faleceu, com
idade de cento e dez anos. E sepultaram-no no termo da sua
herança, em Timnate-Sera, que está no monte de Efraim, para o
norte do monte de Gaás. Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias
de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram muito
tempo depois de Josué, e que sabiam todas as obras que o Senhor
tinha feito a Israel.” (Js 24:29-33)

Após a extinção desta geração, Israel se afastou de Deus, vindo a se


misturar com os povos que ainda habitavam aquela região, de
maneira que em pouco tempo já haviam-se adaptado a seus
costumes e adotado seus deuses (Js 3:6-7), sobretudo pela união
matrimonial. Como consequência disto, Deus puniu Israel,
levantando contra ele as nações que estavam ao seu redor,
começando pela Mesopotâmia.

O tempo entre a morte de Josué e o início do período dos Juízes, é


intercalado, portanto, pela existência desta geração a que se refere
Js 24:31, somado ao tempo da opressão perpetrada pelo rei da
Mesopotâmia, a quem Israel veio a servir por oito anos (Js 3:8),
opressão esta, que depois do clamor do povo, fez com que Deus
levantasse um juiz para libertar Israel.

A Bíblia não se refere à duração destes tempos - nem sobre quanto


durou a geração dos sobreviventes, nem quando começou o período
de opressão sobre Israel. No entanto, graças ao sincronismo
revelado por Js 11:26, temos com precisão a data de início do
juizado de Otoniel, o primeiro juiz de Israel, no Ano Bíblico 2542.

Js 11:26 relata a conversa entre Jefté, o oitavo juiz deste período, e o


rei dos amonitas, onde Jefté cita que 300 anos antes daquele dia,
Moisés conquistara a cidade de Hesbom, que no referido diálogo era
reclamada de volta pelos amonitas.

Hesbom foi conquistada e anexada a Israel por Moisés, no


quadragésimo ano da peregrinação pelo deserto, portanto, no Ano
Bíblico 2447. Desta forma, conforme demostraremos mais adiante,
99

Otoniel, o primeiro juiz de Israel, iniciou seu juizado no Ano Bíblico


2542.

Como Josué faleceu em 2516 A.B., 26 anos foram passados desde a


sua morte até o primeiro juiz de Israel. Estes 26 anos compreendem,
portanto, o período restante da vida dos anciãos e os 8 anos de
opressão da Mesopotâmia, de onde conclui-se que o período dos
anciãos durou 18 anos e foi seguido por oito anos de opressão, que
é o marco do início de Otoniel.

Flávio Josefo, o mais acreditado historiador da antiguidade dos


judeus, conforme sua obra, História dos Hebreus, Volume 2, Capítulo
225, conclui que a geração dos anciãos se extinguiu 18 anos após a
morte de Josué. Jasher 91:12 diz que “os anciãos julgaram Israel
depois da morte de Josué por dezessete anos.” A Seder Olam
Rabbah estabelece que “o tempo dos anciãos foram muitos dias mas
não anos.” Em outras palavras, diz que a geração fiel a Deus viveu
praticamente até o Otoniel e que este período é curto. A provável
razão para o comentarista da Seder Olam falar em dias é
provavelmente justificar a alocação dos oito anos de opressão da
Mesopotâmia dentro do período de Otoniel, pois, conforme iremos
constatar, há uma regra de contagem de tempo para o período dos
Juízes que estabelece que os tempos de opressão não devem ser
contados. Desta forma, tentando ser coerente com este princípio,
descarta a possibilidade deste tempo, a dominação mesopotâmica,
ser uma exceção.

Esta lógica funciona bastante bem dentro do período dos juízes, no


entanto, é mais provável que a opressão tenha ocorrido antes da
escolha de Otoniel, como fator que desencadeou uma onda de
punições e gerou a necessidade de um libertador. Depois disto,
como veremos, os tempos de opressão ocorrerão em simultâneo
com o dos juízes.

O Período dos Juízes


Em toda a Bíblia, há apenas um versículo que pretensamente se
refere à extensão do período dos Juízes. É o relato de Lucas no
capítulo 13 do Livro de Atos dos Apóstolos.

Pretensamente - porque a depender da tradução que foi feita do


original grego - pode se entender que Lucas, ou mesmo Paulo,
podem ter atribuído cerca de 450 anos de duração para o tempo dos
Juízes, o que não é correto. Lucas reporta neste capítulo (At 13) que
100

Paulo e Barnabé entraram numa sinagoga em Antioquia num dia de


Sábado, e ao final do serviço lhes foi oferecida a oportunidade de
falar. Paulo tomou a palavra e passou a descrever de maneira breve
a história de Israel até chegar a Jesus.

Vejamos o texto: “E, levantando-se Paulo, e pedindo silêncio com a


mão, disse: Homens israelitas, e os que temeis a Deus, ouvi: O Deus
deste povo de Israel escolheu a nossos pais, e exaltou o povo, sendo
eles estrangeiros na terra do Egito; e com braço poderoso os tirou
dela; E suportou os seus costumes no deserto por espaço de quase
quarenta anos. E, destruindo a sete nações na terra de Canaã, deu-
lhes por sorte a terra deles. E, depois disto, por quase quatrocentos e
cinquenta anos, lhes deu juízes, até ao profeta Samuel.” (At 13:16-
20)

O texto acima foi extraído da versão João Ferreira de Almeida –


Corrigida e Fiel ao Texto Original, que por sua vez, é idêntico à
versão inglesa King James: “And after that he gave unto them judges
about the space of four hundred and fifty years, until Samuel the
prophet.” (v 20)

Já a versão João Ferreira de Almeida - Edição Revista e Atualizada –


da Sociedade Bíblica do Brasil, traduz os versos 19 e 20 da seguinte
forma: “e, havendo destruído sete nações da Terra de Canaã, deu-
lhes essa terra por herança, vencidos cerca de quatrocentos e
cinquenta anos. Depois disto, lhes deu juízes, até o profeta Samuel.”

Vamos verificar as duas perspectivas, sabendo de antemão que a


primeira tradução está errada. Mesmo assim, nenhuma delas
alteraria a contagem cronológica, pois esta se baseia somente nos
deslocamentos de tempo a que se refere o próprio Livro de Juízes,
conforme veremos adiante.

Caso a versão Almeida – Corrigida e Fiel ao Texto Original, bem


como a versão King James estivessem corretas, Paulo, ou mesmo
Lucas, o autor do texto, teriam errado, pois o período de Juízes se
estende por somente 349 anos, do início da opressão da
Mesopotâmia até a ascensão de Saul como primeiro rei de Israel.

Não é este o caso, pois nem Paulo nem Lucas erraram, como
também não se referem ao tempo dos juízes. O erro foi sim cometido
pelo tradutor das referidas versões e é bastante compreensível:
Paulo relata basicamente dois períodos distintos, um que se refere
101

ao tempo decorrido entre a escolha do povo até a conquista de


Canaã por Josué e o outro que segue a este, o tempo dos Juízes.

Desta forma, o tradutor, possivelmente em dúvida quanto à


ambiguidade do texto grego, não tendo certeza a qual período o texto
se refere, teria supostamente consultado o Livro de Juízes e somado
todos os tempos ali mencionados, chegando ao resultado de 455
anos, e assim atribui nas referidas traduções os “quase 450 anos” ao
tempo dos Juízes.

Se somar todos os tempos contidos em Juízes, a conta está certa e o


raciocínio é coerente, mas o resultado incorreto. O tempo relatado no
Livro Juízes se estendeu por 349 anos, e assim, os 450 anos se
referem ao período anterior a Juízes.

Não estivessem erradas as traduções citadas, poder-se-ia dizer que


o cronista de Juízes aparentemente não se preocupa com a
possibilidade de alguém vir a cometer este erro, e desta forma não
deixa evidente que o tempo das opressões dos povos vizinhos sobre
Israel se sobrepõem ao tempo dos juízes, e por esta razão é errado
soma-los no total, ou ainda que na ótica do redator, bastante
sofisticada por sinal, alguém preocupado em marcar a cronologia
daquele tempo, deveria se preocupar também em sincronizar os
anos dos juízes com o evento já comentado de Jefté, o oitavo juiz de
Israel. Não sincronizando conclui que foram 455. Desta forma, traduz
como cerca de 450 anos.

O texto original grego, da atual Igreja Ortodoxa Grega, é o seguinte:


“20 καὶ μετὰ ταῦτα ὡς ἔτεσι τετρακοσίοις καὶ πεντήκοντα ἔδωκε κριτὰς
ἕως Σαμουὴλ τοῦ προφήτου.”

Solicitamos sua tradução a um grego nativo, missionário cristão, de


nacionalidade grega, que vive em Atenas atualmente, o qual nos
traduz com as seguintes palavras: “Passados quatrocentos e
cinquenta anos. (ponto final – acaba a frase aqui) Depois disto, lhes
deu juízes, até o profeta Samuel.”

É desta forma que também traduz a versão João Ferreira de Almeida


- Edição Revista e Atualizada – da Sociedade Bíblia do Brasil.

Primeiramente há de se notar que há um ponto final depois dos


quatrocentos e cinquenta anos, e também que neste caso, teria sido
mais adequado situar a segunda parte do texto no versículo 21 ou
ainda, a primeira metade no verso 19.
102

Nosso tradutor grego acrescenta ainda que os cristãos da Grécia


mantiveram desde os primórdios do cristianismo apenas uma versão
do Novo Testamento até 1904, quando uma versão atualizada foi
compilada, a qual está em uso até os dias de hoje. Ainda assim, o
Novo Testamento em uso pelos cristãos gregos traz este texto de
1904 à direita da página, e a reprodução do texto original do lado
oposto. Isto mantém a pureza da versão original, uma vez que a
Igreja Ortodoxa Grega proibiu desde há muito tempo que se fizessem
outras revisões no texto a fim de preservar sua autenticidade.

Nesta tradução, os 450 anos não se referem ao tempo de Juízes,


mas sim, aos eventos posteriores à escolha do povo, onde a
somatória dos 400 anos desde Isaque até o Êxodo, acrescidos dos
40 anos de peregrinação no deserto, mais algo como 10 anos
referentes ao tempo em que Josué toma para conquistar
parcialmente Canaã totalizam 450.

Está em acordo com esta tradução, Willian Robertson Nicoll (10 de


Outubro de 1851 – 4 de Maio de 1923), jornalista, escritor e ministro
da Igreja Livre Escocesa nos comentários tecidos em sua obra “The
Expositor's Greek Testament” - Vol 2 – pág. 292, uma das melhores
obras comentadas sobre a Bíblia.
103

Os 349 anos do período dos Juízes


Evento Juiz Opressão Soma
Mesopotâmia domina Israel por 8 anos 8 8 8
1º juiz - Otoniel por 40 anos 40 40
Israel serve aos Moabitas por 18 anos 18 18
2º juiz - Eude escolhido Juiz por 80 anos 80 80
3º juiz - Sangar julga Israel por breve tempo 0 0
Israel oprimido pelo rei de Canaã 20 20
4º juiz - Débora profetiza de Israel por 40 anos 40 40
Midianitas dominam Israel por 7 anos 7 7
5º juiz - 40 anos sob a liderança de Gideão 40 40
Abimeleque, domina sobre Israel por 3 anos 0 3
6º juiz - Tola domina sobre Israel por 23 anos 23 23
7º juiz - Jair é juiz sobre Israel por 22 anos 22 22
Filisteus oprimem Israel por 18 anos 18 18
Desde o início do período até início de Jefté 253 319
8º juiz - Jefté julga Israel por 6 anos 6 6
9º juiz - Ibzã é juiz sobre Israel por 7 anos 7 7
10º juiz - Elon é juiz sobre Israel por 10 anos 10 10
11º juiz - Abdom é juiz sobre Israel por 8 anos 8 8
Israel nas mãos dos Filisteus por 40 anos 40 40
12º juiz - Sansão julga Israel por 20 anos 20 20
13º juiz - Eli julga Israel por 40 anos 40 40
14º juiz- Samuel até a unção do rei Saul 5 5
Total de anos 349 111 455

Para se estabelecer a cronologia do tempo de Juízes é necessária a


observância de regras e exceções que se fazem valer neste período,
pois a leitura textual do livro nos conduz invariavelmente a erros. São
basicamente três regras:

1 – Os 8 anos de opressão da Mesopotâmia são contados


integralmente após o fim da geração de Josué e antes de Otoniel,
primeiro juiz de Israel;

2 – Os demais tempos de opressão dos inimigos não podem ser


computados, uma vez que coincidem com o tempo dos juízes;

3 – O tempo de Abimeleque, filho de Gideão, não é contado com os


demais juízes pois trata-se apenas de um usurpador.
104

Vejamos, primeiramente, por que os períodos de opressão dos


inimigos não podem ser somados ao tempo dos juízes: Observe a
tabela anterior; Ela contém todos os números citados no Livro dos
Juízes.

A coluna esquerda contém os anos de dominação de cada juiz, a do


meio os anos de opressão, e a da direita a somatória de ambos.

Se somarmos, conforme vemos na coluna à direita, todas as datas


mencionadas em Juízes, temos o resultado de 455 anos para todo o
período, que é o cômputo do tempo de todos os juízes, acrescido do
todos os tempos de opressão mencionados, incluindo-se os 3 anos
de Abimeleque.

Note que a somatória dos dois tempos, juizado e opressão, entre o


início do domínio da Mesopotâmia até o início de Jefté totaliza na
coluna à direita 319 anos, e conforme Jz 11:26 passaram-se 300
anos entre a conquista de Hesbom (no 40º ano da peregrinação no
deserto) e o primeiro ano de Jefté.

Somando-se os 47 anos decorridos entre a tomada de Hesbom e o


início da opressão da Mesopotâmia, mais estes 319 anos, resultam
366 anos, o que descarta a possibilidade de serem somadas as
opressões.

Quando tomamos em conta o sincronismo que ocorre no início de


Jefté, o oitavo juiz, somos levados a compreender que os anos de
juizado ocorrem em simultâneo com os tempos de opressão e desta
forma não podem ser somados.

Pela cronologia de Juízes não é possível concluir claramente quando


se inicia o tempo de um determinado juiz, visto que este tempo se
refere ao período que leva o nome do juiz e não propriamente à
extensão de seu domínio sobre o povo.

Para entender a cronologia de Juízes é preciso entender primeiro


sua dinâmica. Os versos seguintes são uma coletânea extraída de Jz
3:12-30 e mostram bem esta dinâmica. Vejamos o que dizem:

“Porém os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos
do Senhor; então o Senhor fortaleceu a Eglom, rei dos moabitas,
contra Israel; porquanto fizeram o que era mau aos olhos do Senhor.
E reuniu consigo os filhos de Amom e os amalequitas, e foi, e feriu a
Israel, e tomaram a cidade das palmeiras. E os filhos de Israel
105

serviram a Eglom, rei dos moabitas, dezoito anos. Então os filhos de


Israel clamaram ao Senhor, e o Senhor lhes levantou um libertador, a
Eúde, filho de Gera, filho de Jemim, homem canhoto. E os filhos de
Israel enviaram pela sua mão um presente a Eglom, rei dos
moabitas. (...) E Eúde entrou numa sala de verão, que o rei tinha só
para si, onde estava sentado, e disse: Tenho, para dizer-te, uma
palavra de Deus. E levantou-se da cadeira. Então Eúde estendeu a
sua mão esquerda, e tirou a espada de sobre sua coxa direita, e lha
cravou no ventre, (...) E naquele tempo feriram dos moabitas uns
dez mil homens, todos corpulentos, e todos os homens valorosos; e
não escapou nenhum. Assim foi subjugado Moabe naquele dia
debaixo da mão de Israel; e a terra sossegou oitenta anos.”

Estes versos são na essência a base daquilo que irá se repetir por
toda a história de Juízes. O povo peca; Deus levanta contra ele uma
nação para castigá-lo; o povo clama pelo perdão de Deus; Deus
levanta um libertador; a paz retorna. O povo peca e Deus levanta
Eglon contra Israel. O povo clama e Deus levanta Eúde que liberta o
povo e a terra sossega por 80 anos. O raciocínio natural decorrente
desta leitura nos levaria a montar a seguinte contagem de tempo:

Evento Tempo
O povo peca novamente
Israel serve aos Moabitas por 18 anos 18
Eude escolhido Juíz derrota Eglon
A terra sossega por 80 anos 80
Tempo total 98

No entanto, é esta a leitura que a lógica de Juízes nos obriga a fazer:

Evento Tempo
O povo peca novamente
Israel serve aos Moabitas por 18 anos 18
Eude escolhido Juíz derrota Eglon
A terra sossega por 80 anos 62

Tempo total 80

Os tempos declarados em Juízes referentes à extensão de um


juizado, significam, a princípio, que um Juiz segue ao outro,
ininterruptamente, e que o tempo de opressão está sempre contido
106

no tempo do juizado. Findo o tempo de um juiz inicia-se o tempo de


seu sucessor.

No entanto, não se deve ter como certo que o período declarado


para um determinado juiz seja de fato equivalente ao tempo durante
o qual ele dirigiu o povo. Significa, sim, que o tempo daquele juiz se
conta a partir da opressão sofrida por parte do inimigo até a morte do
juiz, ou até o fim daquele período, que não obrigatoriamente está
vinculado à sua morte e também não garante que ele era juiz quando
começou a opressão.

Os 40 anos de Otoniel são seguidos pelos 80 anos de Eúde, que por


sua vez são seguidos pelos 40 anos de Débora, que são seguidos
pelos 40 anos de Gideão, que são seguidos pelos 23 anos de Tola, e
assim por diante.

Eúde é um exemplo mais completo: ele não governou o povo por 80


anos, mas estes 80 anos são conhecidos na história de Israel como o
tempo de Eúde, que começou após a morte de Otoniel com a
opressão dos moabitas.

Esta opressão vai durar 18 anos, e ao fim deste tempo Deus o


levanta para libertar o povo, o que toma certo tempo, e depois de
libertado o povo, a paz se estende até o final dos referidos 80 anos.
Este é o período de Eúde. É assim que a história deve se referir
àqueles 80 anos, bem como ao tempo dos demais juízes.

Esta é a forma que o redator encontrou de marcar a história de Israel


no tempo dos Juízes. Vê-se isto claramente no texto que se refere a
Débora, conforme Jz 4:4: “E Débora, mulher profetisa, mulher de
Lapidote, julgava a Israel naquele tempo.”.

Débora não assume o papel de Juíza por conta de uma crise com
outros povos, mas já julgava Israel quando veio a acontecer a crise
com o rei de Canaã. Entretanto, aqueles 40 anos são conhecidos na
história de Israel como o tempo de Débora, entre Eúde e o início de
Gideão, embora em seu tempo, Sangar tenha libertado Israel das
mãos dos filisteus. Mesmo assim, não há o que se chamaria de
tempo de Sangar. Ele vem a ocorrer dentro do período de Débora.

Pode não parecer natural fazer a leitura de Juízes desta forma, mas
ela é um efeito colateral matemático e não há outra maneira de
raciocinar porque o período de Juízes está encarcerado entre duas
107

datas bastante concretas: a localização exata do início de Otoniel em


2542 A.B. e o início de Saul como primeiro rei de Israel em 2883 A.B.

Entre as duas datas há uma diferença de 341 anos, exatamente a


somatória dos anos de todos os juízes, o que nos leva ao fim das
funções de Samuel como Juiz e à unção de Saul como primeiro rei
de Israel. Estes 341 anos acrescidos dos 8 anos de opressão da
Mesopotâmia totalizam os 349 anos do período.

Período dos Juízes até Jefté


Gregoriano Evento Inicio Fim Ref.
1365 AC Mesopotâmia domina Israel por 8 anos 2.534 2.542 Jz 3:8
1357 AC 1º juiz - Otniel por 40 anos 2.542 2.582 Jz 3:9
Israel serve aos Moabitas 18 anos Jz 3:14
1317 AC 2º juiz - Eude por 80 anos 2.582 2.662 Jz 3:15
1237 AC 3º juiz - Sangar 2.662 2.662 Jz 3:31
Israel oprimido 20 anos por Canaã Jz 4:2-3
1237 AC 4º luiz - Débora por 40 anos 2.662 2.702 Jz 4:4
Midianitas dominam Israel por 7 anos Jz 6:1
1197 AC 5º juiz - Gideão por 40 anos 2.702 2.742 Jz 6:14
1157 AC Abimeleque, domina por 3 anos 2.742 2.745 Jz 9:3
1157 AC 6º juiz - Tola por 23 anos 2.742 2.765 Jz 10:1-2
1134 AC 7º juiz - Jair por 22 anos 2.765 Jz 10:3
1119 AC Nascimento de Eli - 13º Juiz 2.780 I Sm 4:15
1112 AC Morte de Jair 2.787 2.787 Jz 10:3
Filisteus oprimem Israel por 18 anos Jz 10:8
1112 AC 8º juiz - Jefté julga Israel por 6 anos 2.787 2.793 Jz 11:8-26

1365 AC - (A.B. 2534) – fim da geração fiel a Deus


Josué, conforme vimos, faleceu no Ano Bíblico 2516, vindo a
sobreviver a ele, por dezoito anos, o remanescente de sua geração,
que foi até o fim de seus dias fiel a Deus. (Jz 2:10) Com o fim desta
geração, o povo se voltou aos deuses das gentes vizinhas e por
consequência viu-se oprimido pelos povos ao derredor. (Jz 2:12-14)

1365 AC a 1357 AC – (A.B. 2534 até A.B. 2542) - opressão da


Mesopotâmia
Conforme Jz 3:8: “a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os
vendeu na mão de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia; e os filhos de
Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos.” Isto significa que depois
da extinção da geração fiel a Deus, os contemporâneos de Josué,
por oito anos consecutivos o povo foi oprimido, gerando desta forma
108

a necessidade de um líder que libertasse o povo. É a partir do início


da opressão que se inicia o tempo dos Juízes em Israel.

1357 AC a 1317 AC - (A.B. 2542 até A.B. 2582 ) - Otoniel - 1º Juiz


de Israel
Com o fim da geração de Josué, Inicia-se o período de opressão da
Mesopotâmia sobre Israel, área sob a influência da Síria, que
conforme Jz 3:8, durou 8 anos. Otoniel era sobrinho de Calebe, filho
de seu irmão mais novo, Quenaz, portanto, da Tribo de Judá (Jz 3:9).

Sobre seu juizado, Otoniel restaurou a paz a Israel após derrotar


seus contendores (Jz 3:10), o que durou até o fim de seus dias. O
período de Otoniel durou 40 anos.

Todas as datas referentes à cronologia dos Juízes se estabelecem a


partir de Jefté, o oitavo juiz. Conforme Jz 11:26, Jefté se reporta ao
rei dos amonitas fazendo menção da conquista de Hesbom ocorrida
300 anos antes daquele dia Hesbom foi conquistada por Moisés no
Ano Bíblico 2487 e, por decorrência, Jefté se instalou como Juiz no
Ano Bíblico 2787 (2487+300).

A data de início de Otoniel pode ser calculada subtraindo-se do início


de Jefté os anos de juizado de todos os seus antecessores, incluindo
Otoniel. Veja a tabela a seguir.

De Otoniel a Jair
1º Juiz - Otoniel escolhido juiz sobre Israel por 40 anos 40
2º Juiz - Eude escolhido Juiz por 80 anos 80
3º Juiz - Sangar julga Israel por breve tempo 0
4º Juiz - profetiza Débora por 40 anos 40
5º Juiz - 40 anos sob a liderança de Gideão 40
Abimeleque, domina sobre Israel por 3 anos 0
6º Juiz - Tola domina sobre Israel por 23 anos 23
7º Juiz - Jair é juiz sobre Israel por 22 anos 22
Somatória de juizados entre Otoniel e Jefté 245

São 245 anos entre o início de Otoniel e o fim de Jair. Explicaremos


adiante por que Abimeleque não entra na contagem. Temos,
portanto, que 245 anos antes do início de Jefté, Otoniel foi
consagrado Juiz sobre Israel (2787 – 245 = 2542). Desta forma,
Otoniel começou seu juizado no Ano Bíblico 2542.
109

A história deste período irá repetir inúmeras vezes a mesma


sequência de acontecimentos: o povo se afastará de seu Deus e
será punido. Deus levantará um Juiz para libertar o povo e durante o
tempo deste juiz haverá paz. O povo se afastará novamente de Deus
(Jz 2:11-23). Israel só será curado de sua idolatria depois do cativeiro
babilônico.

Os cálculos referentes às datas dos demais juízes seguirão este


padrão: terminado o período de um juiz, inicia o do próximo, pela
simples adição de datas.

Os acontecimentos relatados no final do Livro de Juízes, entre os


capítulos 20 a 21, que tratam do levita e sua concubina, aconteceram
quase que certamente no tempo de Otoniel, senão vejamos:

Jz 20:28 afirma que Finéias, filho de Eleazer, filho de Arão,


ministrava em Betel perante a Arca da Aliança nos tempos de tal
acontecimento. Eleazar foi consagrado Sumo-sacerdote por Moisés
no mesmo ano do falecimento de Arão, no Ano Bíblico 2487. Entre
sua consagração e o fim da geração fiel a Deus (2534 A.B.) que
viveu depois dos dias de Josué passaram-se 47 anos.

É razoável pensar que por volta deste tempo, ou mesmo antes,


Eleazar tenha falecido junto com esta geração e que Finéias
assumisse seu lugar por volta desta época, o que viria a acontecer
num tempo muito próximo à consagração de Otoniel como juiz, cerca
de 10 após o início de seu juizado.

O período de Otoniel durou 40 anos e dificilmente tal evento teria


acontecido nos dias de Eúde, primeiro porque demandaria uma
longevidade excessiva da parte de Finéias e também porque um ato
desta natureza é mais típico de uma época sem Lei.

13147 AC a 1237 AC – (A.B. 2582 até A.B. 2662) - Eúde - 2º juiz


Conforme vimos, o tempo de Eúde, da tribo de Benjamin, filho de
Gera (Gn 46:21), se estende por 80 anos a contar desde a morte de
Otoniel. O início deste período é marcado por 18 anos de opressão
de Eglon (Jz 3:12-14), rei dos moabitas, a quem Israel paga tributos.
Próximo ao final deste tempo Eúde foi chamado por Deus para
libertar o povo. A data de sua morte coincide com o fim dos 80 anos
deste período.
110

Sangar - 3º juiz
Não há nenhuma referência em Juízes acerca do tempo de Sangar.
Diz apenas que após Eúde, Sangar, filho de Anate, libertou Israel (Jz
3:31) da opressão dos filisteus. Aparte esta informação, Sangar é
mencionado no Cântico de Débora (Jz 5:6-7), que diz que “nos dias
de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael cessaram as caravanas;
e os que andavam por veredas iam por caminhos torcidos. Cessaram
as aldeias em Israel, cessaram; até que eu, Débora, me levantei, por
mãe em Israel me levantei.”

Eram tempos em que as estradas estavam impedidas pelos filisteus


e o povo era obrigado a circular por estradas secundárias.

Destes textos podemos concluir que o tempo de Sangar se situa


entre Eúde e Débora, e coincide com os 20 anos em que os filisteus
oprimiam Israel, dando a entender que embora Sangar tivesse obtido
certo êxito em sua missão libertadora, a opressão não cessou,
estendendo-se desta forma até o dia em que Débora é autorizada
por Deus a libertar o povo. Vejamos o texto:

“Depois dele (Eúde) foi Sangar, filho de Anate, que feriu a seiscentos
homens dos filisteus com uma aguilhada de bois; e também ele
libertou a Israel.” Jz 3:31

Não se sabe, portanto, quando ele teria morrido, nem se isto teria
acontecido por causa dos filisteus.

A tradição judaica coloca Sangar nos dias de Eglon, rei dos


moabitas, o que não é condizente com Jz 3:31.

1237 AC a 1197 AC – (A.B. 2662 até A.B. 2702) - Débora - 4ª juíza


A contagem dos 40 anos de Débora (Jz 5:31) como juíza se inicia
após o fim do período de Eúde (Ano Bíblico 2662), embora este
tenha sido seguido, conforme vimos, de Sangar, que por breve
espaço de tempo libertou Israel das mãos dos filisteus. Do ponto de
vista cronológico, temos, então, Sangar dentro do período de
Débora, sem uma contagem de tempo específica.

A tradição judaica outorga igualmente a Baraque o posto de


libertador de Israel no mesmo tempo de Débora, sendo ambos
relatados como juízes pela Seder Olam Rabbah.
111

No tempo de Débora, viveu em Canaã, Héber, descendente da


família do sogro de Moisés. Héber é marido de Jael, heroína de
quem fala o “Cântico de Débora” pelo fato de haver ela própria
matado Jabin, o rei de Canaã que oprimia naquele tempo a Israel. O
período de Débora encerra-se no Ano Bíblico 2702.

1197 AC a 1157 AC – (A.B. 2702 até A.B. 2742) - Gideão - 5º juiz


O período de Gideão se inicia marcado pela opressão dos midianitas,
o que acarreta em fome e grande pobreza em Israel durante sete
anos. (Jz 6:1) Com apenas trezentos homens, Gideão derrota um
exército de cento e trinta e cinco mil homens, um feito militar
incomparável, não fosse o caso de Deus haver lutado Ele próprio
pelos seus escolhidos.

Na dinâmica geral do Livro de Juízes, tem-se a impressão que o


povo foi fiel a Deus durante todo o tempo que segue à libertação do
opressor pelo juiz vigente, o que se estende até o dia da morte deste
juiz, quando o povo se volta novamente para os ídolos pagãos.

No caso do período de Gideão, fica claro o quanto a idolatria é


própria do ser humano e quanto estava enraizada na natureza
daquele povo. Mal consegue esta vitória assombrosa, é ele próprio
quem leva Israel à idolatria: Coletou ouro do povo e “fez Gideão dele
um éfode, e colocou-o na sua cidade, em Ofra; e todo o Israel
prostituiu-se ali após ele; e foi por tropeço a Gideão e à sua casa.”
(Jz 8:27)

Na sequência de causa e efeito, Abimeleque, seu filho com uma


concubina, domina sobre Israel por imposição própria por três anos,
após assassinar todos os demais filhos de Gideão. O período de
Gideão encerra-se em consequência de sua morte no Ano Bíblico
2742.

A História de Rute
Rute era moabita, descendente de Ló, sobrinho de Abraão. Sua
história ocorre no período dos Juízes (Rt1:1), mas não é possível
localizá-la cronologicamente com precisão, pois não há base bíblica
concreta para isto.
A tradição judaica aponta sua localização para duas alternativas:
uma situa Rute no período de Sansão, e outra no tempo de Eglom, o
rei moabita que oprimiu Israel por 18 anos.
112

Sansão é chamado de último dos juízes, uma vez que seus dois
sucessores, Eli e Samuel, são vistos como sumos-sacerdotes que
nesta qualidade julgam o povo.

A favor de Rute se situar no tempo de Eglon, onde Eúde era o Juiz,


está o Talmude de Jerusalém, também conhecido como Talmude
Palestino, que de acordo com as tradições atribui a Eglom a virtude
de ser pai de Rute. Apoia-se para tal no relato de Jz 3:20, onde
Eglon, em vias de ser assassinado por Eúde, se levanta de sua
cadeira para ouvir uma palavra da parte de Deus, o que mostraria
respeito por Jeová. Fosse assim, indiretamente Eglon estaria
presente na genealogia de Davi e consequentemente de Jesus.
Como já foi dito, não há base bíblica para tal afirmação.

Flávio Josefo aponta para os dias que seguem a morte de Sansão,


mas não nos fornece nenhum argumento pelo qual tenha concluído
que Rute tenha vivido neste tempo, apenas conta a sua história, tal
qual está na Bíblia, situando-a durante o juizado de Eli, a quem trata
por Grão sacrificador (Sumo Sacerdote). Hist. dos Hebreus, Vol2,
Cap. XI

Conta-se ainda com a possibilidade de que Rute tenha vivido nos


tempos de Gideão, pois havia fome na terra em consequência do
afastamento do povo de seu Deus. O capítulo 6 de Juízes nos relata
que Deus entregou Israel nas mãos dos midianitas e amalequitas, de
tal forma, que estes, como gafanhotos, roubavam o povo no tempo
da colheita, razão pela qual Israel “empobreceu muito” (Jz 6:6)

Antes que Deus chamasse Gideão para libertar o povo, envia um


profeta aos filhos de Israel (Jz 6:8), que lhes relembra todas as
maravilhas que haviam sido operadas em seu meio. É o único relato
em Juízes da ação de um profeta vindo a mando de Deus censurar o
povo. É de fato algo muito emblemático. Pela máxima da Seder Olam
Rabbah, de que a escritura não vem ocultar, mas esclarecer, seria
mais razoável supor que Rute tenha vivido neste tempo, pois foi em
função da fome que Elimeleque e sua família se refugiam entre os
moabitas, e como decorrência deste acontecimento, Rute, uma
moabita, veio a se incorporar, como esposa de Boaz, ao povo
escolhido, vindo a ser bisavó de Davi.

Alguém já fez uma interessante observação: há apenas dois livros na


Bíblia com nomes de mulheres, Rute e Ester. Rute é uma gentia que
se casa com um judeu e Ester é uma judia que se casa com um
gentio.
113

1157 AC a 1153 AC – (A.B. 2742 até A.B. 2745) - Abimeleque


domina Israel por 3 anos
De acordo com Jz 8:22, após derrotar os midianitas, o povo propõe a
Gideão e seus sucessores dominar sobre eles, ao que Gideão
enfaticamente nega.

Depois de sua morte, Abimeleque, seu filho com uma concubina,


aproveitou-se da inclinação do povo em querer um dominador dentre
os filhos de Gideão, e com a ajuda dos familiares de sua mãe e do
povo de Siquém, assassinou todos os filhos de Gideão, à exceção do
mais novo, vindo a ser proclamado rei entre eles.

Abimeleque não é considerado juiz, mas, meramente uma figura


ambiciosa que usurpa temporariamente o poder local, com aparente
plano de estender este poder às demais regiões do país. Por esta
razão, o tempo que dominou sobre Israel não entra no cômputo total
de Juízes. De acordo com isto está a tradição judaica. Morreu
tentando conquistar a cidade de Tebes no Ano Bíblico 2742.

1157 AC a 1134 AC – (A.B. 2742 até A.B. 2765) - Tola - 6º Juiz


A respeito de Tola sabe-se apenas que era da tribo de Issacar, e que
seu nome é uma homenagem ao mais velho dos filhos de Issacar, e
que julgou Israel por um período de 23 anos, portanto, até o Ano
Bíblico 2765.

1134 AC a 1112 AC - (A.B. 2765 até A.B. 2787) - Jair - 7º Juiz


Semelhantemente a Tola, sabe-se apenas que Jair julgou a Israel
vinte e dois anos, até o Ano Bíblico 2787.

1112 AC a 1106 AC – (A.B. 2787 até A.B. 2793 ) - Jefté - 8º Juiz


Do ponto de vista cronológico, Jefté é o mais importante dos juízes,
pois graças às informações de seu período é possível sincronizar as
datas de todos os juízes de Israel.

Além disto, uma vez estabelecida através de Jefté a data de início de


Otoniel, primeiro juiz de Israel, delimita-se, desta forma, o fim do
período em que viveu a geração de Josué além de determinar o
início do período de Samuel como juiz depois da morte de Eli.

Não obstante, Jefté tem seguramente o mais importante testemunho


de fé dado por qualquer outro juiz, além de uma história pessoal, que
embora curta em termos cronológicos, impressiona pela natureza dos
fatos que a envolvem.
114

Jefté, habitante de Gileade, era da tribo de Manassés e começou seu


juizado após 18 anos de opressão por parte dos filisteus e amonitas
(Jz 10:7-8), 245 anos após o início de Otoniel, o primeiro juiz de
Israel.

Filho de uma prostituta, Jefté foi expulso de casa por seus irmãos e
foi habitar em Tobe. Quando os amonitas se abateram sobre Israel,
as qualidades de Jefté foram levadas em conta e ele foi aclamado
como libertador de Israel em Mizpá.

Antes de combater os amonitas, fez um voto a Deus de que


sacrificaria aquilo que primeiro saísse de sua casa se voltasse
vitorioso da guerra (Jz 11:31). Desafortunadamente saiu-lhe a filha.

Antes da batalha Jefté relembra aos amonitas que Moisés havia


tomado Hesbom 300 anos antes daquela data por conta de uma
guerra de iniciativa do rei de Hesbom. Conforme já vimos, a partir
desta informação temos como situar cronologicamente o primeiro ano
de Jefté em 2787 A.B., uma vez que Hesbom foi conquistada por
Moisés no Ano Bíblico 2487, o quadragésimo ano de peregrinação
no deserto (Jz 11:26). Jefté julgou o povo por seis anos, até o Ano
Bíblico 2793 (Jz 12:7).

De Ibzã a Samuel
Gregoriano Evento Inicio Fim Ref.
1106 AC 9º juiz - Ibzã por 7 anos 2.793 2.800 Jz 12:8-9
1099 AC 10º juiz - Elon por 10 anos 2.800 2.810 Jz 12:11
1089 AC 11º juiz - Abdom por 8 anos 2.810 2.818 Jz 12:13-14
Filisteus dominam por 40 anos Jz 13:1
1081 AC 12º juiz - Sansão por 20 anos 2.818 2.838 Jz 15:20
1061 AC 13º juiz - Eli por 40 anos 2.838 2.878 I Sm 1:9
1054 AC Nascimento de Is-Bosete 2.845 II Sm 2:10
1044 AC Nascimento de Davi 2.855 II Sm 5:4-5
1021 AC A Arca é tomada pelos filisteus 2.878 2.898 I Sm 4:11
1021 AC 14º juiz- Samuel 2.878 2.883 I Sm 3:8

1106 a 1099 AC – (A.B. 2793 até A.B. 2800 ) - Ibizã - 9º Juiz


Pouco se sabe a respeito de Ibzã, homem de Belém, da tribo de
Judá, a não ser que julgou a Israel sete anos, entre 2793 A.B. até
2800 A.M, conforme Jz 12:8-10.
115

1099 AC a 1089 AC – (A.B. 2800 até A.B. 2810 ) - Elon - 10º Juiz
Elon, da tribo de Zebulom, julgou Israel por 10 anos (Jz 12:11-12),
portanto, até o Ano Bíblico 2810.

1089 AC a 1081 AC – (A.B. 2810 até A.B. 2818) - Abdom - 11º Juiz
Abdom julgou Israel por 8 anos, conforme Jz 12:13-15, portanto, até
o Ano Bíblico 2818.

1081 AC a 1061 AC – (A.B. 2818 até A.B. 2838) - Sansão - 12º Juiz
O período de Sansão como juiz é marcado pela opressão dos
filisteus sobre Israel, o que perdura por quarenta anos, ultrapassando
desta forma todo seu juizado de 20 anos e estendendo-se por 20
anos do período de Eli, seu sucessor.

A tradição judaica outorga a Sansão, da tribo de Dã, o título de


“último dos juízes”, uma vez que tanto Eli como Samuel exercem a
seguir seus juizados na qualidade de sacerdotes.

Foi um período de extremo conformismo com relação ao opressor, o


que se nota na convivência pacífica do próprio Sansão com o
inimigo, de quem tomou para si esposas. Veja as palavras dos
habitantes de Judá, conforme Jz 15:11: “Não sabias tu que os
filisteus dominam sobre nós?”

Embora tivesse voto de nazireu, sendo portanto uma pessoa


separada para Deus, Sansão não pode ser visto propriamente como
um libertador de Israel. Em termos práticos, Sansão foi o mais
capacitado entre todos os libertadores levantados por Deus, uma vez
que sua força poderia vir a ser convertida na maior das qualidades
que um chefe militar daqueles tempos deveria possuir.

Mas, ao invés de libertador, é mais um herói solitário, que através de


sua força física causou baixas consideráveis ao inimigo, ao mesmo
tempo em que suas histórias influenciaram, sem dúvida, o imaginário
dos povos ao redor de Israel, pois somente o Deus verdadeiro
poderia dar a um homem tais poderes. Tanto viveu alienado de sua
missão, que Deus retirou dele seus poderes, conforme Jz 16:20.
Sansão julgou Israel por 20 anos, até o Ano Bíblico 2838.

1061 AC a 1021 AC – (A.B. 2838 até A.B. 2878) - Eli - 13º Juiz
O período de Eli se estende por 40 anos até a sua morte, ocasião em
que a Arca do Concerto foi tomada pelos filisteus.
116

É, no entanto, Samuel o principal personagem deste período, o qual


entra na história de Eli desde sua infância, pelo fato de haver sido
consagrado nazireu em seu nascimento, tendo sido entregue por sua
mãe a Eli quando teria cerca de 5 anos de idade.

No mais, a vida de Eli foi marcada pela dualidade entre o serviço de


Deus e a tolerância excessiva para com os pecados do povo,
sobretudo com seus filhos. Há certos aspectos referentes à
cronologia de Eli que podem referir a fatos que teriam acontecido
ainda nos dias de Sansão, conforme veremos nos anos de Samuel.

1044 AC - (A.B. 2855) - Nascimento de Davi


De acordo com II Sm 5:4, Davi tinha 30 anos de idade ao iniciar seu
reinado, o que coloca seu nascimento em 2.885 A.B., no tempo em
que Eli julgava em Israel.

1021 AC a 1016 AC – (A.B. 2878 até A.B.2883) - Samuel - 14º e


último Juiz sobre Israel
Diferentemente de outros juízes, a Bíblia não estabelece por quanto
tempo Samuel julgou a Israel. Diz, no entanto, que Samuel julgou
Israel todos os dias de sua vida, e não meramente no tempo de seu
juizado (1 Sm 7:15).

A tradição judaica atribui a Samuel um juizado de 10 anos de


duração contados a partir da morte de Eli, e lhe outorga o título de
primeiro dos profetas maiores.

Do ponto de vista prático, Samuel julgou o povo entre o ano da morte


de Eli e a unção de Saul como primeiro rei de Israel, ou seja, por um
período de não mais que 5 anos. Seriam estes 5 anos, o que do
aspecto histórico, se pode chamar o tempo de Samuel.

Eli faleceu no Ano Bíblico 2878, quando recebeu a notícia de que a


Arca do Concerto havia sido tomada pelos filisteus, sendo este,
portanto, o início do período de Samuel. Quando seria então o final
de seu juizado?

De acordo com 1 Sm 7:2 “sucedeu que, desde aquele dia (depois


que a Arca foi devolvida pelos filisteus), a arca ficou em Quiriate-
Jearim (Js 18:15), na Tribo de Benjamim, e tantos dias se passaram
que até chegaram vinte anos, e lamentava toda a casa de Israel pelo
Senhor.”
117

A Arca, depois de devolvida pelos filisteus, depois da morte de Eli,


permaneceu vinte anos em Quiriate-Jearim. Foi somente no 13º ano
de governo de Davi, na segunda etapa de seu reinado, que o rei
manda trazer a Arca para Jerusalém: “foi pois Davi, e trouxe a arca
de Deus para cima, da casa de Obede-Edom, à cidade de Davi, com
alegria.” (2 Sm 6:12)

Note que vinte anos depois de ser retomada a Arca, no Ano Bíblico
2898, Davi já era rei em Jerusalém há seis anos, depois de haver
reinado sete anos e meio em Hebrom (2 Sm 2:11). Davi, conforme
veremos adiante, começou a reinar no Ano Bíblico 2885, sendo este,
portanto, o ano da morte de Saul.

Temos, desta forma, que entre a morte de Eli (que é o início do


período de Samuel), e o início de Davi, uma distância de apenas 7
anos, tempo este que totaliza o juizado de Samuel e o reinado de
Saul. Observe que não há como fugir do sincronismo de datas a que
nos obrigam os textos dos 20 anos (1 Sm 7:2 e 2 Sm 6:12), muito
embora a tradição diga que Saul reinou por 40 anos.

Entre a Arca (depois de ser recuperada dos filisteus) ser levada para
Quiriate-Jearim e seu traslado para Jerusalém há um tempo de 20
anos e desta forma, tanto o juizado de Samuel, quanto o reinado de
Saul e os 13 primeiros anos de governo de Davi devem caber nestes
20 anos.

Saul reinou apenas três anos, a partir do Ano Bíblico 2883, sendo
este, portanto, o fim do período de Samuel. O último ano de Samuel
como juiz coincide com o primeiro ano de Saul como rei.

Há pontos controversos referentes à duração do reino de Saul, uma


vez que o Livro de Atos dos Apóstolos declara que teriam sido 40
anos. Trataremos disto no tópico referente a Saul.

Quanto a vida de Samuel, é natural se supor que ele tenha nascido


já dentro do período do juizado de Eli. Segundo o Talmude de
Jerusalém, Ana foi abençoada e concebeu Samuel no primeiro ano
de Eli como juiz.

Sabemos que Samuel foi entregue por sua mãe a Eli muito criança
ainda, e desde então passou a viver na companhia do sacerdote no
templo em Siló. Ministrava perante o Senhor desde menino, e sua
vida foi um contraponto entre sua sinceridade perante Deus e a
pecaminosidade das vidas do povo e dos filhos de Eli.
118

Mesmo sendo um homem fiel a Deus, ao longo de seu juizado


Samuel constituiu seus dois filhos juízes sobre Berseba (1 Sm 8:1-2),
o que poderia a princípio soar como uma coisa natural, mas não é,
uma vez que todos os juízes foram chamados por Deus para dominar
sobre o povo durante certo período de tempo e nunca coube a
nenhum deles fazer seu sucessor.

O povo tentou fazer de Gideão seu rei ao que ele próprio respondeu:
“Sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós
dominará; o Senhor sobre vós dominará.” (Jz 8:23)

Samuel teria tentado criar uma sucessão hereditária, algo


nitidamente contrário à vontade de Deus, e o povo aproveitou isto
como desculpa para pedir um rei, pois já haviam suportado os filhos
de Eli e não gostariam de se comprometer com Samuel com a
obrigação de manter seus dois filhos corruptos num cargo de
tamanha importância.

Idade de Samuel
Algumas passagens sugerem uma grande diferença de idade entre
Eli (que morreu com 98 anos), e Samuel, tais como 1 Sm 2:22-26 e 1
Sm 3:1-4. Vejamos os textos:

1 Sm 2:22-26: “Era, porém, Eli já muito velho, e ouvia tudo quanto


seus filhos faziam a todo o Israel, e de como se deitavam com as
mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da
congregação. E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois ouço de
todo este povo os vossos malefícios. Não, filhos meus, porque não é
boa esta fama que ouço; fazeis transgredir o povo do Senhor.
Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando,
porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele? Mas não
ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria matar. E o
jovem Samuel ia crescendo, e fazia-se agradável, assim para com o
Senhor, como também para com os homens.” (Versão João Ferreira
– Corrigida e Fiel ao Texto Original)

1 Sm 3:1-4: “O jovem Samuel servia ao Senhor perante Eli; Naqueles


dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram
frequentes. Certo dia, estando deitado no lugar costumado o
sacerdote Eli, cujos olhos já começavam escurecer-se, a ponto de
não poder ver, e tendo se deitado também Samuel, no templo do
Senhor, em que estava a Arca, antes que a lâmpada de Deus se
119

apagasse, o Senhor chamou o menino Samuel, Samuel! Este


respondeu: Eis me aqui!” (Versão Almeida – Revista e Atualizada –
Sociedade Bíblica do Brasil)

No caso de Samuel haver nascido no primeiro ano de Eli como


sacerdote, conforme quer o Talmude, haveria uma diferença de 59
anos entre eles, uma vez que Eli viveu 98 anos e julgou Israel por 40.
Aparentemente os textos acima suportam esta ideia. Neste caso,
Samuel teria sido entregue aos 5 anos de idade a um Eli de 64 anos
(1 Sm 24:28); teria 12 anos quando já ministrava ao Senhor (1 Sm
2:18) quando Eli teria 70.

Teria então 39 anos de idade quando Eli faleceu, e


consequentemente 44 anos quando ungiu Saul rei, e 45 anos ao
morrer. Vejamos então o que nos dizem os textos que se referem aos
últimos anos de Samuel:

1 Sm 8:1-5: “E sucedeu que, tendo Samuel envelhecido, constituiu a


seus filhos por juízes sobre Israel. E o nome do seu filho primogênito
era Joel, e o nome do seu segundo, Abia; e foram juízes em
Berseba. Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele, antes
se inclinaram à avareza, e aceitaram suborno, e perverteram o
direito. Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a
Samuel, a Ramá, E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos
não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei
sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.”
(Versão João Ferreira – Corrigida e Fiel ao Texto Original)

1 Sm 12:2: “Agora, pois, eis que o rei vai adiante de vós. Eu já


envelheci e encaneci, e eis que meus filhos estão convosco, e tenho
andado diante de vós desde a minha mocidade até ao dia de hoje.”
(Versão João Ferreira – Corrigida e Fiel ao Texto Original)

Em conformidade com o Talmude, Samuel teria 44 anos de idade


quando ungiu Saul rei. Como seria possível que um homem de 44
anos fosse considerado velho?

1 Sm 12:2 diz que Samuel tinha os cabelos brancos. Isto não seria
problema, porque o embranquecimento precoce dos cabelos pode ter
várias causas, ou ser um fator de ordem genética, não sendo,
portanto, sinal de velhice, mas o fato é que os textos reforçam a idéia
de que ele seria de fato uma pessoa idosa na ocasião.
120

Fosse o próprio Samuel o autor do livro, poder-se-ia explicar o fato


como uma espécie de “licença poética”, o que é difícil aceitar porque
o próprio livro relata sua morte bem como a de Saul. Outro autor
poderia também querer passar esta ideia, caso desejasse mostrar
que teria chegado, de qualquer maneira, a hora de Samuel se retirar
de cena por conta da idade.

Para conformar Samuel numa situação de idoso nas referidas


situações, seria necessário imaginá-lo pelo menos 20 anos mais
velho. Desta forma, teria nascido não durante o durante o juizado de
Eli, mas sim no de Sansão, o que poderia ser dito de uma forma
melhor: Eli não era ainda juiz quando de seu encontro com Ana no
templo em Siló, era apenas sacerdote; veio a se tornar juiz somente
após a morte de Sansão. Por este ângulo, Eli teria 40 anos de idade
quando nasceu Samuel.

O Samuel “velho” teria algo como 60 anos na ocasião destes relatos,


o que ainda não o caracterizaria como uma pessoa idosa, mas,
talvez por força de fatores decorrentes de uma vida sem muito
conforto poderia ter um aspecto envelhecido.

Vejamos um caso similar que igualmente diz que o rei Salomão era
velho: “Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas
mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o
seu coração não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como o
coração de Davi, seu pai.” (1 Rs 11:4) Neste tempo da velhice a que
se refere o texto, Salomão não teria nesta ocasião mais que 55 anos
de idade, e diferentemente de Samuel, sua idade é bem conhecida, e
os marcadores cronológicos de sua vida bastante seguros. Devemos,
portanto, ter em mente que o conceito de velho é bastante relativo no
que se refere a estes períodos.

O texto de 1 Sm 2:22-26, se visto em harmonia, ou seja, se


entendermos que ele trata de um mesmo assunto, oferece
resistência a esta suposição. A maior parte das edições da Bíblia, no
intuito de facilitar o entendimento e mesmo a localização de um texto,
agrupa uma sequência de versos sobre um título, fazendo desta
forma com que a leitura possa ser induzida a um contexto que pode
não estar correto.

Na edição João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada, da


Sociedade Bíblica do Brasil, os versos de 22 a 26 aparecem
agrupados sob o título de “Eli repreende os filhos.”
121

Desta forma, o agrupamento de 22 a 26 sugere um mesmo assunto e


nos leva a comparar forçosamente as idades de um com o outro.

Depois disto, antes do verso 27 surge outro título: “Profecia contra a


casa de Eli.” Vejamos o texto dentro do contexto sugerido por 1 Sm
2:22-27:

“ Era, porém, Eli já muito velho, e ouvia tudo quanto seus filhos
faziam a todo o Israel, e de como se deitavam com as mulheres que
em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação. E disse-
lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois de todo este povo ouço
constantemente falar do vosso mau procedimento. Não, filhos meus,
porque não é boa fama esta que ouço; estais fazendo transgredir o
povo do Senhor. Pecando homem contra próximo, Deus lhe será o
árbitro; pecando, porém, contra o Senhor, quem intercederá por ele?
Entretanto não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria
matar. Mas o jovem Samuel crescia em estatura e no favor do
Senhor e dos homens.”

Profecia contra a casa de Eli


27 Veio um homem de Deus a Eli e lhe disse:....

Sugeriria uma leitura muito diferente se fosse agrupado de outra


forma:

“Era, porém, Eli já muito velho, e ouvia tudo quanto seus filhos
faziam a todo o Israel, e de como se deitavam com as mulheres que
em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação. E disse-
lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois de todo este povo ouço
constantemente falar do vosso mau procedimento. Não, filhos meus,
porque não é boa fama esta que ouço; estais fazendo transgredir o
povo do Senhor. Pecando homem contra próximo, Deus lhe será o
árbitro; pecando, porém, contra o Senhor, quem intercederá por ele?
Entretanto não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria
matar.

Profecia contra a casa de Eli


Mas o jovem Samuel crescia em estatura e no favor do Senhor e dos
homens. Veio um homem de Deus a Eli e lhe disse:...”

O verso 22 que diz que Eli era muito velho, poderia se referir a uma
idade de 80 anos, mas neste caso Samuel teria 42, e não poderia ser
tomado por jovem com esta idade, conforme diz o verso 26, a menos
que o autor tenha mudado de assunto e este verso deva ser visto
122

como uma coisa isolada ou começo de outro assunto. Se visto em


conjunto, fica assim implícito que um era velho e o outro jovem. Se
visto separado sugere que Eli repreendeu seus filhos.

Desta forma, se lermos 1 Sm considerando que o redator do livro não


estava preocupado com a sequência cronológica dos fatos que está
reportando, podemos ter um entendimento diferente.

É, portanto, mais coerente, assumir que Samuel teria nascido


durante o juizado de Sansão, quando Eli era apenas sacerdote e não
julgava ainda o povo. Teria assim, cerca de 60 anos de idade ao
falecer. De qualquer maneira, nada disto impacta ou tem qualquer
relevância com a cronologia do tempo dos Juízes, pois o período de
cada um deles está bem definido, e independe destas variantes.
123

Reino Unido
Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref. Bíblica
1016 AC Início da Monarquia em Israel - Saul 2.883 I Sm 9:17
1016 AC Samuel resigna o seu cargo 2.883 I Sm 12
1016 AC Saul rejeitado por Deus 2.883 I Sm 15:26-28
1016 AC Davi ungido por Samuel 2.883 I Sm 16:13
1016 AC Davi mata Golias 2.883 I Sm 17:51
1015 AC Morte de Samuel 2.884 I Sm 25:1
1015 AC Saul consulta a a feiticeira de En-Dor 2.884 I Sm 28:7
1015 AC Davi se refugia na terra dos filisteus 2.884 I Sm 27:7
1014 AC Morte de Saul 2.885 I Sm 31:6

1016 AC a 1014 AC – (A.B. 2883 até A.B. 2885) - Reinado de Saul


Conforme At 13:21 Saul reinou por 40 anos. A afirmação é atribuída
a Paulo, em seu discurso na sinagoga de Antioquia, em que faz um
sumário da história do povo de Israel até chegar a Jesus. Vejamos o
texto: “E depois pediram um rei, e Deus lhes deu por quarenta anos,
a Saul filho de Quis, homem da tribo de Benjamim.”

Willian Robertson Nicoll comenta esta passagem dizendo que é


provável que a tradição dos judeus atribuía 40 anos ao reinado de
Saul, pela analogia de duas citações do Antigo Testamento a este
respeito: 1 Sm 9:2 diz que Saul era moço quando foi escolhido rei, e I
Cr 8:33 / 2 Sm 2:10 que dizem que Is-Bosete, seu filho mais jovem,
tinha 40 anos quando começou a reinar. (Nicoll W R, The Expositor's
Greek Testament. Hardcover 1960; Vol 2:292)

Flávio Josefo diz que Saul reinou trinta e oito anos, sendo 18 anos
durante a vida de Samuel, e 20 anos depois de sua morte. (Josefo F.
História dos Hebreus. Ed das Américas; s.d.; Vol 2: 279)

No entanto, nenhuma das duas alternativas poderia estar correta,


pois, conforme vimos, a Arca do Concerto foi tomada e devolvida
pelos filisteus no mesmo ano em que Samuel passou a julgar Israel
depois da morte de Eli, no Ano Bíblico 2878.

De acordo com 1 Sm 7:2 “sucedeu que, desde aquele dia, a arca


ficou em Quiriate-Jearim, e tantos dias se passaram que até
chegaram vinte anos, e lamentava toda a casa de Israel pelo
Senhor.”

Vinte anos depois, Davi, na segunda etapa de seu reinado, já


havendo deixado Hebrom, manda trazer a Arca para Jerusalém: “foi
124

pois Davi, e trouxe a arca de Deus para cima, da casa de Obede-


Edom, à cidade de Davi, com alegria.” (2 Sm 6:12)

Conforme 2 Sm 6:2-7, Davi temeu levar diretamente a Arca para


Jerusalém por conta da morte de Uzá, que tocou a Arca
acidentalmente, fazendo com que ela fosse levada à casa de Obede-
Edom (2 Sm 6:11-12), onde permaneceu 3 meses até ser finalmente
transportada para Jerusalém.

Se, de acordo com a citação bíblica (1 Sm 7:2), vinte anos depois do


início de Samuel, Davi já reinava em Jerusalém, não é possível que
Saul tenha reinado 40 anos, pois estes 20 anos devem comportar o
juizado de Samuel depois da morte de Eli, todo o reinado de Saul, e
minimamente os 7 anos de reinado de Davi em Hebrom antes que se
estabelecesse em Jerusalém.

Outro argumento que se opõe a um longo reinado para Saul pode ser
aferido por 2 Sm 5:4: “Da idade de trinta anos era Davi quando
começou a reinar; quarenta anos reinou.”

Davi, ainda moço (1 Sm 17:33), matou Golias no início do reinado de


Saul. Imaginemos que fosse bastante jovem na ocasião, com cerca
de 15 anos de idade. Neste caso, depois de se passarem os 40 anos
de Saul, Davi assumiria o trono com 55 anos, e não com 30.
Ademais, mesmo pela simples observação do desenvolvimento da
história de Saul não se encontram eventos suficientes para cobrir 40
anos, não só pela ausência de fatos, mas, principalmente porque ela
é delimitada por dois personagens importantes, Samuel e Davi, que
interagem com a cronologia de Saul durante toda sua existência.

Um último argumento seria a simples constatação da somatória dos


eventos conhecidos desde o Êxodo até o quarto ano de Salomão,
que conforme 1 Rs 6:1 totalizam 480 anos: “E SUCEDEU que no ano
de quatrocentos e oitenta, depois de saírem os filhos de Israel do
Egito, no ano quarto do reinado de Salomão sobre Israel, no mês de
Zive (este é o mês segundo), começou a edificar a casa do
SENHOR.”
125

Exodo
Peregrinação no deserto 40 40
Do fim da perigrinação até Jefté 300 300
Todos os juizes depois de Jefté 93 93
Saul 40 3
Davi 40 40
Até 4º ano de Salomão 4 4
Total 517 480

Não há, portanto, maneira pela qual Saul pudesse ter reinado 40
anos, e desta forma, a conclusão de Willian Robertson Nicoll é
bastante apropriada, mostrando que as palavras de Paulo se
basearam muito mais no valor da tradição de que na história.

Corrobora com isto o relato da segunda viagem missionária de Paulo


contido em Atos 16:1-3, onde Paulo conhece em Listra um jovem de
nome Timóteo e decide levá-lo consigo e Silas na dita viagem.
Timóteo era filho de uma crente judia, mas de pai grego, e por isto,
Paulo achou apropriado circuncidá-lo, por causa dos judeus,
mostrando desta forma enorme respeito pela tradição. O próprio
Paulo diz em I Coríntios 9:20: "fiz-me como judeu para os judeus,
para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se
estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei."

Conforme o entendimento de Tarcila Elias, colhido no blog


cronologiadabiblia.wordpress.com, Atos 13:21 não afirma que Saul
reinou 40 anos. Veja o comentário: “Com relação ao reinado do Rei
Saul, estou convicta que Atos 13:21 não confirma que Saul reinou por
40 anos e sim que Deus o levantou para reinar por 40 anos. Todavia,
ele, Saul, não foi confirmado Rei sobre Israel (I Samuel 13:13) e seu
reinado foi rasgado (I Samuel 15:28) e foi passado para outro melhor
do que ele, ou seja, ele perdeu o reino (I Samuel 13:14) e Davi foi
ungido Rei em seu lugar. Veja que Deus se arrependeu de ter posto
Saul como Rei (I Samuel 15:11), e em seguida Saul foi rejeitado por
Deus (I Samuel 15:26).”

Saul é o único dos reis citados na Bíblia cuja duração de reinado é


desconhecida. As fontes que serviram para as traduções em línguas
francas do Antigo Testamento são basicamente duas: a Septuaginta
e os Textos Massoréticos e em ambas, 1 Sm 13:1, o verso que
reporta a duração de seu governo está danificado.
126

A Septuaginta foi traduzida para o idioma grego ao longo de mais de


um século, depois de concluída a tradução do Pentateuco por volta
de 285 AC a mando de Ptolomeu Filadelfo (309 AC - 279 AC), rei do
Egito. Constitui, desta forma, a Septuaginta, a mais antiga tradução
do Antigo Testamento para uma língua franca, no caso, o grego.

Os textos massoréticos, por sua vez, são um trabalho executado


entre os séculos VI e XI por um grupo de escribas judeus que teve
por missão reunir os textos utilizados pela comunidade hebraica, em
um único escrito, a partir dos manuscritos bíblicos conhecidos à
época. Dos textos massoréticos provém a maioria das traduções
protestantes do Antigo Testamento para as línguas francas.

Qualquer que seja a fonte, 1 Sm 13:1 tem sido traduzido de formas


dedutivas nas várias versões da Bíblia tentando dar-lhe sentido, e
algumas entendem que por haver omissão de palavras o deixam
incompleto. Vejamos alguns exemplos:

“Saul reinou um ano; e no segundo ano do seu reinado sobre Israel,´


- João Ferreira de Almeida – Corrigida e Fiel ao Texto Original

“Um ano reinara Saul em Israel. No segundo ano de seu reinado


sobre o povo,“ - João Ferreira de Almeida – Edição Revista e
Atualizada – Sociedade Bíblica do Brasil

“Saul tinha – anos quando começou a reinar, e reinou sobre Israel


dois anos.” - A Bíblia Judaica Completa, traduzida do hebraico para o
inglês pelo teólogo David H. Stern.

“Saul tinha [quarenta] anos quando começou a reinar, e quando


reinou dois anos sobre Israel,”- American Standard Version

“Saul era uma criança de um ano quando começou a reinar, e reinou


dois anos sobre Israel.”- Douay-Rheims

“Saul tinha - anos de idade quando começou a reinar, e reinou dois


anos sobre Israel.”- English Standard Version

“Saul reinou um ano, e quando havia reinado dois anos sobre Israel,”
- King James Version

“Saul tinha 30 anos quando se tornou rei, e reinou 42 anos sobre


Israel” - Holman Christian Standard
127

“Saul tinha 30 anos quando se tornou rei. Reinou sobre Israel 42


anos”- New International Reader's Version

Se, por um lado não temos a informação precisa sobre o início de


Saul, nem a extensão de seu reinado e nem mesmo do juizado de
Samuel antes de Saul, por outro lado, elas podem ser obtidas por
dedução. Podemos calcular com precisão absoluta o ano da morte
de Saul. Vejamos o que nos diz 1 Rs 6:1:

“E sucedeu que no ano de quatrocentos e oitenta, depois de saírem


os filhos de Israel do Egito, no ano quarto do reinado de Salomão
sobre Israel, no mês de Zive (este é o mês segundo), começou a
edificar a casa do Senhor.”

O Êxodo se deu no Ano Bíblico 2448 e 480 anos depois Salomão


inicia a construção do templo no quarto ano de seu governo, no Ano
Bíblico 2928.

Salomão começou a reinar, portanto, 3 anos antes, no Ano Bíblico


2925 (quarto ano, contado o ano de ascensão).

Davi morreu neste mesmo ano, e como governou Israel por 40 anos,
começou a reinar no Ano Bíblico 2885, ano da morte de Saul.

A Arca foi levada para Quiriate-Jearim no mesmo ano da morte de


Eli, no Ano Bíblico 2878 e permaneceu ali até o Ano Bíblico 2898.

Como Davi começou a reinar no Ano Bíblico 2885, temos, desta


forma, que a Arca foi transferida para Jerusalém no seu 13º ano de
reinado, seis anos depois de se haver instalado em Jerusalém,
restando, portanto, 7 anos entre a morte de Saul e o início de
Samuel.

Baseado no texto original, poder-se-ia deduzir que Saul teria reinado


2, 12, 22, 32 ou 42 anos, todos com final 2, ou ainda que o cronista
dividiu seu reinado em duas etapas, uma clara de um ano, conforme
a primeira parte do verso, e a segunda etapa com um número de
anos finalizados com 2, ou mesmo dois anos apenas.

Excluídas, conforme vimos pelos números, as possibilidades de doze


anos ou qualquer coisa acima disto, mesmo por exclusão, Saul teria,
conforme a segunda parte do verso, reinado 2 anos, num total de
três, entre 2883 A.B. e 2885 A.B.
128

Consequentemente, o juizado de Samuel durou 5 anos até a


ascensão de Saul e seu ministério mais dois anos até sua morte.
Conforme 1 Sm 12, todo o capítulo, Samuel resigna de seu cargo
quando Saul inicia seu reinado no Ano Bíblico 2883.

A tradição judaica “Yerushalmi” atribui dois anos ao reinado de Saul


e interpreta 1 Sm 13:1 da seguinte forma: “Um ano esteve Saul em
seu reino e dois anos reinou sobre Israel.”

O Talmude Babilônico e a Seder Olam Rabbah entendem que Saul


reinou 3 anos, onde no primeiro ano ele compartilhou o governo com
Samuel e dois anos mais reinou sozinho. (Guggeinheimer H W,
Seder Olam Rabbah, The Rabbinic View of Biblical Chronology.
A.Jason Aronson Book 2005, pag. 130)

1 Sm 27:7 menciona que “ Davi habitou na terra dos filisteus, um ano


e quatro meses” quando fugia de Saul, o que dá força à ideia de que
Saul teria reinado 3 anos, o que de fato incluiria seu ano de
ascensão.

No que mais se refere à vida de Saul, podemos dizer que no aspecto


militar foi um grande líder, o que pode ser constatado pelas guerras
que travou, mas, no aspecto espiritual, não foi capaz de se sujeitar à
vontade de Deus, e desta forma foi rejeitado, conforme 1 Sm 15:26-
28.

Davi é escolhido por Deus para liderar Israel e ungido por Samuel
ainda no primeiro ano de Saul, no Ano Bíblico 2883. Depois de matar
Golias (1 Sm 17:51) em combate, os destinos de Davi e Saul se
entrelaçam. De uma relação paternal, quando constata a admiração
do povo pelos feitos de Davi, Saul passa a persegui-lo para mata-lo,
uma constante que se estenderá até o dia de sua morte.

Saul consulta a feiticeira


Samuel faleceu meses antes de Saul, no mesmo ano, 2884 A.B. (1
Sm 25:1) Após a morte de Samuel, 1 Sm 28:7 registra a consulta de
Saul a uma feiticeira, a quem pede que invoque o profeta.

Conforme 1 Sm 28:9, a feiticeira temia atender o pedido, pois o


próprio Saul havia destruído os adivinhadores e encantadores que
havia no meio do povo. Embora nenhum outro texto de Samuel
mencione este fato, houvesse Saul agido dentro dos limites da Lei de
129

Moisés, o termo destruir significaria matar, de acordo com Ex 22:18:


“A feiticeira não deixarás viver.”
Os espíritas utilizam esta passagem sobre a consulta à feiticeira para
mostrar a possibilidade de contato de médiuns com pessoas mortas,
e por outro lado, os cristãos, no empenho de provar tal
impossibilidade, dizem que nada do que foi dito pelo suposto Samuel
aconteceu.

No entanto, o que se lê no texto (1 Sm 28:12) é que a feiticeira não


só não evoca Samuel ou qualquer outro espírito, como também se
surpreende e grita amedrontada quando o profeta aparece diante
dela para repreender Saul.

Os versos 15, 16 e 20 identificam a dita aparição como Samuel, e ao


contrário do que dizem, tudo o que Samuel disse veio a acontecer
com Saul e seus filhos.

Alguns argumentam que Saul não veio a morrer no dia seguinte,


conforme dito pelo profeta, mas sim muito tempo depois. Isto se deve
ao fato de a consulta estar registrada no capítulo 28 e o relato da
morte de Saul estar no capítulo 31. Querem, desta forma, fazer
entender que o relato subsequente ao encontro com a feiticeira
demanda tempo, o que é um argumento ingénuo, porque o relato é
paralelo, e não subsequente. O texto afirma que Samuel apareceu,
portanto, foi Samuel quem apareceu, e isto não se deveu à
mediunidade da feiticeira, mas sim à determinação de Deus, da
mesma forma que Elias e Moisés apareceram para Jesus.

Saul e o caso dos gibeonitas


O Livro de Samuel não registra igualmente outro evento importante
na vida de Saul, o qual conhecemos pelas consequências: 2 Sm 21:1
nos diz que houve três anos consecutivos de fome em Israel no
tempo em que Davi reinava, e que a causa seria o fato de Saul haver
matado alguns dos gibeonitas.

Os gibeonitas, que habitavam no meio da Tribo de Benjamin,


também chamados heveus (Ex 13:5), são dos povos que habitavam
Canaã antes da chegada de Josué, e que vendo a impossibilidade de
subsistir diante dele, o enganam obtendo a promessa de que não
serem atacados por Israel, conforme todo o capítulo 9 de Josué.
130

Por alguma razão foram atacados por Saul, que matou muitos deles,
quebrando desta forma a promessa que Josué fizera, acarretando
maldição sobre Israel.
Davi mostra seu desejo de retratar-se e dar aos gibeonitas uma
compensação, o que eles rejeitam que fosse algo material,
aparentemente evocando a Lei de Moisés, especificamente Nm
35:31: “E não recebereis resgate pela vida do homicida que é
culpado de morte; pois certamente morrerá.”

Pedem desta forma que lhes fossem entregues sete descendentes


de Saul para que fossem enforcados em Gibeá, no que Davi os
atende (2 Sm21:1-9).

Saul reinou entre 2883 A.B. a 2885 A.B., o que representam 3 anos,
contado seu ano de ascensão.

Paulo lhe atribuiu 40 anos numa clara demonstração de simpatia à


tradição judaica, pois não deseja em seu discurso causar qualquer
tipo de constrangimento ou polêmica corrigindo uma data
tradicionalmente conhecida e aceita, citando palavras que
chamariam sem dúvida a atenção de seus ouvintes a ponto de faze-
los desviar a atenção do foco de seu discurso, que é chegar a Jesus,
o Messias.

Finalmente, uma última constatação: Saul teria aproximadamente 60


anos quando começou a reinar. Não era moço, conforme pode dar a
entender 1 Sm 9:2: “Este (Quis) tinha um filho, cujo nome era Saul,
moço, e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem
mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo
o povo.”

O redator, dá, neste caso, uma descrição atemporal da pessoa de


Saul. Como escreve dezenas de anos depois de sua morte, reporta o
que era uma descrição corrente da figura imponente de Saul na
cultura popular, que certamente se referia a seus tempos de
juventude.

Podemos constatá-lo pelo fato de que Is-Bosete, filho de Saul, tinha


40 anos quando começou a reinar (2 Sm2:10). Is-Bosete era filho de
uma concubina de Saul, cujo nome é desconhecido. Saul teria tido
então pelo menos duas concubinas, sendo Rispa uma delas (2
Sm3:7), e a outra, a mãe de Is-Bosete.
131

Conforme 1 Sm 14:49, os filhos de Saul com sua esposa Ainoã, filha


de Aimaás, eram Jônatas, Isvi, e Malquisua, além de duas filhas
mulheres, Merabe, a mais velha e Mical, que veio a ser esposa de
Davi.
Is-Bosete teria nascido no Ano Bíblico 2845, durante o juizado de Eli.
Teria 40 anos quando começou a reinar sobre Israel, no mesmo ano
da morte de seu pai.

Se, minimamente aos 25 anos de idade Saul já houvesse gerado os


três filhos de Ainoã, e em seguida Is-Bosete, de uma concubina, e só
depois disto gerado suas filhas mulheres, teria ao menos 58 anos de
idade quando começou a reinar. Conforme 1 Sm 26:21 tratava Davi
por filho, o que mostra na prática que teria idade de ser seu pai. Saul
reinou de Gibeá, capital de Israel de seu tempo (1 Sm 10:26).

O destino de Saul
Muitos pregadores gostam de deixar claro que Saul perdeu sua alma,
o que serve apenas para expor o farisaísmo desta gente. Que
pessoas pobres; como são mesquinhos; como nos envergonham.

Não compete a nenhum de nós julgar quem quer que seja, muito
menos Saul, escolha pessoal de Deus.

Não foi o povo quem escolheu Saul, mas sim Deus. Falta a estas
pessoas a noção de que Saul cumpriu o papel para o qual foi
designado. A escolha de Deus materializou o rei desejado pelo povo:
Saul é um valente que não teme expor sua vida em favor do
interesse coletivo, apenas não é um homem espiritual.

É, afinal, um homem de seu tempo, ávido por fazer ele mesmo as


coisas que supostamente seriam justificáveis diante de Deus e
agradáveis diante do povo. O próprio Davi reconhecia a unção de
Deus sobre Saul e por isto jamais ousou tocar sua vida, mas estes
ousam tocar sua alma e atirá-la no inferno. Pobre gente. Saul estará
à mesa com os patriarcas no reino de Deus.
132

Reinado de Davi
Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref Bíblica
1014 AC Início do reinado de Davi 2.885 2 Sm5:4-5
1014 AC Is-Boset reina 2 anos sobre Israel 2.885 2 Sm2:10
Nascimento de Amon, Absalão e Adonias
1014 AC 2.885 2 Sm3:2-5
Abner faz aliança com Davi
1012 AC 2.887 2 Sm3:21
Morte de Abner
1012 AC 2.887 2 Sm3:30
Morte de Is-Bosete
1012 AC 2.887 2 Sm4:7

A Estrela de Davi

A estrela de Davi origina-se da profecia de Balaão que diz que de


Jacó procederia uma estrela que destruiria o remanescente dos
inimigos de Israel. É também um símbolo propício, pois é formada
por 12 lados iguais que simbolizam as doze tribos de Israel: “Fala
aquele que ouviu as palavras de Deus, e o que sabe a ciência do
Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, que cai, e se lhe
abrem os olhos. Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não
de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel,
que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de
Sete. E Edom será uma possessão, e Seir, seus inimigos, também
será uma possessão; pois Israel fará proezas. E dominará um de
Jacó, e matará os que restam das cidades.” (Nm 24: 16-18)

Em termos absolutos a profecia se refere a Jesus Cristo. Não é


interessante pensar que uma figura que representa Jesus esteja
estampada na bandeira de Israel?

Davi, o homem segundo o coração de Deus


“Porém agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o Senhor
para si um homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o
Senhor, que seja capitão sobre o seu povo, porquanto não guardaste
o que o Senhor te ordenou.” (1 Sm 14:14)
133

1014 AC a 974 AC – (A.B. 2885 até A.B. 2925) - reinado de Davi


Davi reinou por 40 anos e meio, de 2885 A.B. a 2925 A.B., sete anos
e meio em Hebrom e 33 anos em Jerusalém ( 1 Rs 2:11).

Hebrom, hoje debaixo da jurisdição da autoridade palestina, foi,


portanto, a primeira capital do Israel unido. Dois anos e meio Davi
governou a Tribo de Judá tendo Hebrom como capital, e cinco anos
reinou ali sobre todo país. Nos 33 anos restantes Jerusalém foi a
capital de Israel.

As datas referentes ao reino unido, conforme vimos em Saul, são


determinadas por 1 Rs 6:1: “E sucedeu que no ano de quatrocentos
e oitenta, depois de saírem os filhos de Israel do Egito, no ano quarto
do reinado de Salomão sobre Israel, no mês de Zive (este é o mês
segundo), começou a edificar a casa do Senhor.”

O Êxodo ocorreu no Ano Bíblico 2448 e 480 anos depois Salomão


inicia a construção do templo no quarto ano de seu governo, no Ano
Bíblico 2928. Salomão começou a reinar 3 anos antes, no Ano
Bíblico 2925 (quarto ano, contado o ano de ascensão), ano da morte
de Davi, que por sua vez reinou por 40 anos. O início de Davi, deu-
se, portanto, no Ano Bíblico 2885, ano da morte de Saul.

1014 AC a 1013 AC – (A.B. 2885 até A.B. 2886) - reinado de Is-


Bosete
Davi reinou inicialmente somente sobre a Tribo de Judá, uma vez
que Is-Bosete, filho mais novo de Saul, reinou sobre o restante das
tribos por dois anos consecutivos, entre 2885 A.B. e 2886 A.B. “Da
idade de quarenta anos era Is-Bosete, filho de Saul, quando
começou a reinar sobre Israel, e reinou dois anos; mas os da casa de
Judá seguiam a Davi.” (2 Sm 2:10)

A princípio, em termos práticos, a pretensão de Is-Bosete não era


descabida, uma vez que Saul era morto, como também seus irmãos
mais velhos, e ele, como filho, teria tal direito.

Abner, primo de Saul (1 Sm 14:51) e capitão de seu exército (1 Sm


14:50), foi o responsável pela ascensão de Is-Bosete (2 Sm2:8-9), o
que mostra que não havia naquele tempo consenso sobre o fato de
que Davi seria o substituto de Saul sobre todo Israel, uma vez que
não há manifestação contrária por parte do povo quanto à liderança
de Is-Bosete.
134

Obviamente a presença de Abner ao lado de Is-Bosete, uma vez que


fôra capitão do exército de Saul, pesava bastante quanto à
impressão geral sobre quem detinha o poder.

Is-Bosete reinou a partir de Maanaim (2 Sm 2:8), e pode-se dizer que


foi um rei sem expressão própria, e é provável que Abner tenha-se
apercebido de que seria difícil liderar Israel à sombra de Davi.

Desta forma, aproveitando-se de um desentendimento por causa de


Rispa (2 Sm 3:7), concubina de Saul, Abner procura Davi com a
proposta de lhe passar o controle de todo Israel. Davi acolheu bem a
proposta, mas Abner veio a ser morto por Joabe (2 Sm 3:27) antes
de fazer a transição do poder, e posteriormente Is-Bosete veio a ser
assassinado por dois de seus serviçais (2 Sm 4:1-6), após o que o
povo procurou por Davi para faze-lo reinar sobre todo Israel (2 Sm
2:1-5).

1014 AC / 1013 AC – (A.B. 2885 até A.B. 2886) - nascimento de


Amnon, Absalão e Adonias
De acordo com 2 Sm 3:2-5, Davi gerou durante os anos em que
viveu em Hebrom seis filhos: o primogênito Amnom, filho de Ainoã, a
jizreelita; o segundo, Quileabe, filho de Abigail, mulher de Nabal; o
terceiro Absalão, filho de Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur; o
quarto, Adonias, filho de Hagite; o quinto, Sefatias, filho de Abital, e o
sexto, Itreão, filho de Eglá. Destes todos, Amnon, Absalão e Adonias
serão protagonistas de eventos futuros, e desta forma, é interessante
determinar por aproximação, as datas de seus nascimentos.

Quando foi para Hebrom, Davi já era casado com Mical, filha de Saul,
de quem estava separado, e nesta altura Saul a havia dado por
esposa a outro homem: "Porque Saul tinha dado sua filha Mical,
mulher de Davi, a Palti, filho de Laís, o qual era de Galim. “ (I Samuel
25: 44)

Mical viria a ser devolvida a Davi tempos depois, por volta do Ano
Bíblico 2886, por Is-Bosete, mas ela não lhe deu filhos.

Ao entrar em Hebrom como rei de Judá apenas, Davi possuía na


ocasião duas outras esposas (1 Sm 27:3), além de Mical: Ainoã que
lhe deu Amnom, seu primeiro filho, e Abigail, que lhe deu o segundo,
Quileabe. Desta forma, é provável que tanto Amnon, seu
primogênito, quanto Quileabe lhe nasceram no primeiro ano em que
135

habitou em Hebrom e os demais filhos entre o segundo e sexto anos


em Hebrom.

As passagens correlatas a estes personagens mostram que Amnon e


Absalão teriam praticamente a mesma idade, um ano de diferença,
talvez. Desta forma, para efeitos práticos, podemos estimar que
Absalão, filho de Maaca, tenha nascido no segundo ano de Davi em
Hebrom. Maaca iria gerar ainda uma linda filha de nome Tamar (2
Sm 13:1), irmã de Absalão, por quem Amnon irá se apaixonar e
consequentemente será morto por Absalão. A sequência desta
história irá nos auxiliar a determinar a data em que Absalão tomou o
governo de Israel das mãos de Davi.

Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref Bíblica
1007 AC Davi conquista Jerusalém 2.892 II Sm 5:5-9
1006 AC Davi passa a reinar em Jerusalém 2.893 II Sm 5:5-9
1001 AC A Arca é transferida p Jerusalém 2.898 II Sm 6:2
1001 AC As guerras de Davi - cerca de 5 anos 2.898 II Sm 8
996 AC Davi engravida Bate-Seba e mata Urias 2.903 II Sm 11:15
995 AC Nascimento de Salomão 2.904 II Sm 12:24
984 AC Absalão toma o poder 2.915 II Sm 15:14
984 AC Joabe mata Absalão 2.915 II Sm 18:14
975 AC Davi faz o censo de Israel 2.924 II Sm 24:1
974 AC Adonias se auto-proclama rei 2.925 I Rs 1:5
974 AC Davi constitui Salomão rei em seu lugar 2.925 I Rs 1:32-40
974 AC Morte de Davi 2.925 I Cr 29:27-28

1007 AC – (A.B. 2892) - Davi conquista Jerusalém


Jerusalém coube como herança à Tribo de Benjamin (Js 18:28).
Conforme Js 10, Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém na época da
entrada de Israel em Canaã, arregimentou outros quatro reis da
região para atacar os gibeonitas, que por sua vez haviam feito paz
com Israel.

Josué foi ao combate destes reis e os derrotou naquele que


chamamos o mais longo dos dias. No entanto, a cidade de Jerusalém
permaneceu intocada, uma vez que a batalha se travou às portas de
Gibeon e “não puderam, porém, os filhos de Judá expulsar os
jebuseus que habitavam em Jerusalém.” (Js 15:63)
136

Conforme Jz 1:7-8, ainda nos tempos de Josué, as tribos de Judá e


Simeão atacaram a cidade e a incendiaram na guerra contra os
cananeus, mas a cidade continuou a ser habitada pelos jebuseus
uma vez que não cabia nem a Judá nem a Simeão ocupá-la.

Coube a Davi tomá-la, e o fez por volta de seu sexto ano de reinado,
conforme nos relata 2 Sm 5: 5-9: “Em Hebrom reinou sobre Judá sete
anos e seis meses, e em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre
todo o Israel e Judá. E partiu o rei com os seus homens a Jerusalém,
contra os jebuseus que habitavam naquela terra; e falaram a Davi,
dizendo: Não entrarás aqui, pois os cegos e os coxos te repelirão,
querendo dizer: Não entrará Davi aqui. Porém Davi tomou a fortaleza
de Sião; esta é a cidade de Davi. Porque Davi disse naquele dia:
Qualquer que ferir aos jebuseus, suba ao canal e fira aos coxos e
aos cegos, a quem a alma de Davi odeia. Por isso se diz: Nem cego
nem coxo entrará nesta casa. Assim habitou Davi na fortaleza, e a
chamou a cidade de Davi; e Davi foi edificando em redor, desde Milo
para dentro.”

Davi passou a reinar de Jerusalém a partir do Ano Bíblico 2893,


descontados 33 anos desde a data de sua morte.

1001 AC – (A.B. 2898) - a Arca é transferida para Jerusalém


Conforme vimos, a Arca foi tomada pelos filisteus no Ano Bíblico
2878 e veio a permanecer em Quiriate-Jearim por 20 anos até que
Davi a transportasse para Jerusalém, o que veio a acontecer no Ano
Bíblico 2898 (2878 + 20). Seria então, o 13º ano de reinado de Davi,
6º ano reinando em Jerusalém.

1001 AC a 996 AC – (A.B. 2898 até A.B. 2903) - as guerras de Davi


Davi empreendeu um longo período de guerras contra os filisteus,
moabitas, e os reis ao norte e sul de Israel, estendendo desta forma
as fronteiras de Israel até além do Rio Eufrates (2 Sm 8:1-3).

Tomou o que seria hoje a faixa de Gaza e sujeitou os filisteus.


Consolidou as fronteiras da Tribo de Rubem com o território de
Moabe, ficando tanto estes quanto os filisteus tributários de Israel.
Empreendeu uma campanha de sucesso em direção ao norte de
Israel, contra o reino de Zobá, estendendo as fronteiras até o Rio
Eufrates, dominando a Síria, quando esta saiu em defesa de
Hadadezer, rei de Zobá.
Também a Síria passou a pagar tributos a Israel (2 Sm 8:5-6). Davi
sujeitou também os amonitas e amalequitas (2 Sm 8:12)
137

consolidando as fronteiras da transjordânia e junto com os irmãos


Joabe e Absai conquistou os edomitas ao sul (1 Cr 18:12-13).

As fronteiras consolidadas por Davi eram as mesmas prometidas por


Deus a Abraão, conforme Gn 15:18: “fez o Senhor uma aliança com
Abraão, dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra, desde o
rio do Egito até ao grande rio Eufrates.”

Deus relembrou a Josué as mesmas fronteiras quando Israel entrou


em Canaã: “Para todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo
tenho dado, como eu disse a Moisés. Desde o deserto e do Líbano,
até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o
grande mar para o poente do sol, será o vosso termo. Ninguém te
poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés,
assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te,
e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei
a seus pais lhes daria” (Js 1:3-6). As fronteiras estabelecidas por
Davi subsistirão até o fim dos dias de Salomão.

996 AC - (A.B. 2903) - Davi engravida Bate-Seba


Ao fim da guerra contra os amonitas, Rabá, a capital de Amon ainda
estava em pé e cabia a Davi conquistá-la definitivamente. Rabá é a
cidade de Amã de nossos dias, capital da Jordânia.

Por uma razão desconhecida, Davi, ao invés dele próprio liderar sua
conquista, delega a tarefa a Joabe, comandante de seu exército e
permanece ele próprio em Jerusalém. É nesta circunstância que ele
toma Bate-Seba e a engravida.

É bastante conhecido o desenrolar da história que culmina com o


assassinato de Urias, o heteu, marido de Bate-Seba.

Tempos depois da morte de Urias Rabá veio a ser derrotada e Joabe


chama Davi para que ele mesmo entre na cidade como seu
conquistador.

995 AC - (A.B. 2904) - nascimento de Salomão


Conforme 2 Sm 11:27, Davi tomou depois da morte de Urias Bate-
Seba como esposa e ela lhe gerou Salomão. Podemos supor que
Salomão tenha nascido no ano seguinte à morte de Urias.
138

984 AC - (A.B. 2915) - Absalão toma o poder


De acordo com a Lei de Moisés escrita em Lv 20:10, deveriam ser
punidos com a morte tanto Davi quanto Bate-Seba, porém foram
ambos poupados.

No entanto, a pesada sentença pronunciada pelo profeta Natã


causou efeitos que vieram a durar por toda a vida de Davi: “Porque,
pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus
olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por
tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom.
Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto
me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua
mulher. Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o
mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as
darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante
este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio
perante todo o Israel e perante o sol. Então disse Davi a Natã:
Pequei contra o Senhor. E disse Natã a Davi: Também o Senhor
perdoou o teu pecado; não morrerás.” (2 Sm 12:9-13).

A sentença de Natã se concretizou dentro da própria casa de Davi,


começando com o assassinato de seu filho Amon por seu próprio
irmão Absalão, que posteriormente viria a tomar o reino de Davi e
possuir à luz do dia todas as concubinas de seu pai.

Amon seria no inconsciente popular o sucessor de Davi por ser o seu


primogênito. Podemos supor então, que a vingança de Absalão pela
violação de sua irmã não foi uma atitude meramente passional, mas
um ato possivelmente planejado de eliminação do mais provável
sucessor de direito ao trono de Israel, uma vez que Absalão, como
mostram os fatos subsequentes, tinha esta ambição.

Dois anos após a violação de sua irmã, Absalão matou Amon,


fugindo para Gesur, terra dos parentes de sua mãe. Lembremos que
Absalão, filho de Davi, era neto de Talmai, rei de Gesur (2 Sm 3:3).

Absalão viria a permanecer ali por 3 anos (2 Sm 13:38), após o que


Davi consentiu que Joabe, comandante do exército de Israel,
trouxesse o jovem de volta a Jerusalém.

Passaram-se dois anos até que Davi se avistasse com Absalão (2


Sm 14:33) e o perdoasse, e quatro anos mais, para que Absalão,
sobre o pretexto de fazer sacrifícios em Hebrom (2 Sm 15:7), saísse
139

de Jerusalém e fizesse um levante contra Davi, o que obrigou o rei a


fugir de Jerusalém com toda sua família.

2 Sm 15:7 estabelece que foram quatro anos o tempo passado entre


o perdão de Davi e a saída de Absalão para presumidamente ir
sacrificar em Hebrom. Algumas versões traduzem como 40 anos, o
que é bastante improvável.

Temos, desta forma, que o golpe de Absalão veio a acontecer cerca


de 11 anos após o nascimento de Salomão, no 30º ano de governo
de Davi, no Ano Bíblico 2915, mesmo ano em que Absalão veio a ser
morto por Joabe (2 Sm 18:14).

975 AC - (A.B. 2924) - Davi faz o censo de Israel


2 Sm 24:1 nos diz que Davi recenseou o povo e por esta causa Israel
foi severamente punido. Não há muitas explicações que nos
permitam entender por qual razão Deus estava contrariado com
Israel. Foi o último ato importante de governo de Davi, um ano antes
da sua morte.

974 AC - (A.B. 2925) - Adonias se autoproclama rei e Davi


constitui Salomão seu sucessor
Adonias, o quarto filho de Davi, nascido em Hebrom, vendo que seu
pai estava velho, e contando com o apoio de Joabe (1 Rs 1:7),
comandante dos exércitos de Israel, e do sacerdote Abiatar,
autoproclamou-se rei de Israel.

Davi tinha neste tempo 70 anos, idade que não justificaria seu estado
de prostração, não fosse o tipo de vida que levou, não somente por
causa das muitas privações que passou durante as guerras que
lutou, como também pelos muitos dissabores emocionais que
enfrentou em sua vida privada, tanto pelas decisões infelizes que
tomou, como pela turbulenta vida familiar.

I Rs 1:17 nos mostra que Davi já havia feito um juramento a Bate-


Seba de empossar Salomão como seu sucessor, o que ele cumpre,
estimulado pelo profeta Natã (1 Rs 1:22-40).

974 AC - A.B. 2925) - morte de Davi


Conforme 2 Sm 5:5, Davi reinou em Hebrom sete anos e seis meses,
e em Jerusalém reinou trinta e três anos, o que totaliza quarenta
anos e meio (entre 2885 A.B. e 2925 A.B.), sobre todo o Israel e
140

Judá, concluindo-se desta forma, que Davi reinou seis meses no seu
ano de ascensão.

Em 1 Rs 2:1-12 vemos as instruções que Davi deu a Salomão antes


de sua morte: que seguisse pelo caminho de Deus, e que fizesse
justiça a algumas pessoas que lhe haviam causado muitos males.

A vida de Davi para com Deus foi irrepreensível até os


acontecimentos que o levaram a matar Urias. Vê-se, de fato, um
profundo arrependimento por este ato publicado nas palavras do
Salmo 51, que tradicionalmente se credita terem sido escritas por
Davi depois e por causa da morte de Urias. Como sabemos, Deus o
perdoou, mas fez com que as consequências de seu ato
perdurassem por toda sua vida.

Davi, próximo de morrer, instruiu Salomão a matar Joabe,


comandante de seu exército, justificando que este, por sua vez, havia
matado dois homens melhores que ele, a saber, Abner e Amasa (1
Rs 2:32).

Recomendou também a Salomão que fizesse justiça a Simei que o


amaldiçoou quando fugia de Absalão. O próprio Davi, quando
aconteceu este fato, impediu Absai de matar Simei (2 Sm 19:21)
porque entendia que a maldição que este lançava contra ele vinha de
Deus, mas aparentemente mudou de ideia em seus últimos dias de
vida.

Joabe de fato matou Abner por vingança porque este havia matado
Asael, seu irmão, e matou Amasa porque este fora o chefe do
exército de Absalão em sua tentativa de tomar o trono de Davi, e
mesmo assim, depois disto, Davi fez dele chefe de seu exército em
lugar de Joabe (2 Sm 19:13).

Joabe não só matou o novo comandante do exército, como continuou


a liderar o exército de Israel, mesmo contra a vontade aparente de
Davi.

Há que se notar que Joabe prestou grandes serviços a Davi ao lado


de quem lutou todas as guerras e sempre lhe foi fiel.

Davi não se lembrou de mencionar uma coisa de fato concreta


quando instruiu o novo rei: que Joabe apoiara Adonias na sua
tentativa de reinar sobre Israel em lugar de Salomão, o que, de uma
certa forma, poderia ser pretexto para sua exclusão do círculo de sua
141

confiança, mas nunca de morte a um homem que lhe fora como que
o braço direito e de muitas maneiras, o instrumento usado por Deus
para garantir-lhe o trono.

Mas é Joabe a maior testemunha sobre a morte premeditada de


Urias; é a ele a quem Davi manda que o próprio Urias leve sua
sentença de morte quando lutava para conquistar a cidade de Rabá.
A atitude de Davi talvez fosse uma tentativa inútil de não deixar viva
a mais presente testemunha de seus erros. É uma lição para todos
nós.

Joabe não é nomeado entre os valentes de Davi no relato de 2 Sm


23:8-39, mas Urias, paradoxalmente lá está.

Davi foi o maior dos reis de Israel. O Novo Testamento, em muitas


passagens chama Jesus de Filho de Davi, de quem descende o
Senhor tanto pelo lado materno, na ascendência até Natã, como pelo
lado de José, seu pai por adoção, descendente de Salomão. Natã e
Salomão são ambos filhos de bate Seba. (I Cr 3:5)

A vida de Davi é um exemplo da graça divina: o homem segundo o


coração de Deus não é mais nem menos do que aquilo que podemos
ser todos nós: pecadores debaixo da graça de Deus.

O legado de Davi para a construção do Templo


O capítulo 22 de I Crônicas reporta as instruções de Davi a Salomão
quanto à construção do Templo em Jerusalém. O verso 14 expõe a
quantidade de ouro e prata deixadas por Davi para esta finalidade:
“Eis que na minha aflição preparei para a casa do SENHOR cem mil
talentos de ouro, e um milhão de talentos de prata, e de cobre e de
ferro que não se pesou, porque era em abundância; também madeira
e pedras preparei, e tu suprirás o que faltar.”

Peso de 1 Talento
Local Peso em quilos
Grécia 26,00
Romano 32,30
Egito 27,00
Babilônia 30,30
Israel NT 58,90
142

Por curiosidade, façamos os cálculos referentes apenas ao valor do


ouro e prata referidos no texto, deixando de fora os demais bens
elencados. Dependendo da localidade, o peso de referência de um
talento variava consideravelmente: O menor valor de referência seria
o talento grego, com 26 kilos, e o maior, o talento citado nos textos
do Novo Testamento, equivalente a 58,90 kilos. Seja como for,
mesmo usando o menor valor de referência, o grego, Davi teria sido
possivelmente o homem mais rico que já existiu sobre a Terra.

Talento Ouro
Peso em
Local Quilos Quilos Toneladas Valor US$
Grécia 26,00 2.600.000 2.6 107.860.262.008,73
Romano 32,30 3.230.000 3.23 133.995.633.187,77
Egito 27,00 2.700.000 2.7 112.008.733.624,45
Babilônia 30,30 3.030.000 3.03 125.698.689.956,33
Israel NT 58,90 5.890.000 5.89 244.344.978.165,94

Só em termos de ouro, usando o talento grego como referência, a


uma cotação de cerca de US$ 41 por grama, Davi teria uma fortuna
de cerca de 107 bilhões de dólares.

Prata
Quilos Toneladas Davi / US$
26.000.000,00 26.000 468.454.148,47
32.300.000,00 32.300 581.964.192,14
27.000.000,00 27.000 486.471.615,72
30.300.000,00 30.300 545.929.257,64
58.900.000,00 58.900 1.061.228.820,96

Considerando-se apenas a prata, na pior das avaliações, a uma


cotação de cerca de US$ 18 por grama, Davi teria mais 468 milhões
de dólares aos valores de hoje.

Somadas, as piores cotações de ouro e prata totalizariam em cerca


de 108 bilhões de dólares a fortuna de Davi.

Para se ter uma ideia do que isto significa, Bill Gates, eleito pela
Forbes em 2014 o homem mais rico do mundo, possui uma fortuna
avaliada em 76 bilhões de dólares. A fortuna de Gates, no entanto, é
totalizada maioritariamente por ações da Microsoft e outras
143

empresas, o que significa que seu valor real é imensamente menor.


Davi não usufruiu nada disto para seu benefício próprio, tendo
guardado tudo para custear a construção do templo.

Reinado de Salomão
Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref Bíblica
974 AC Início do reinado de Salomão 2.925 I Cr 29:23
971 AC Início da construção do Templo 2.928 I Rs 6:1
964 AC Término da construção do Templo 2.935 I Rs 6:38
939 AC Salomão se entrega à idolatria 2.960 I Rs 11:4-6
937 AC Escolha de Jeroboão 2.962 I Rs 11:31
935 AC Morte de Salomão 2.964 II Cr 9:30-31
935 AC Roboão assume o lugar de Salomão 2.964 II Cr 9:31

974 AC - (A.B. 2925) - início do reinado de Salomão


Salomão reinou depois da morte de Davi por 40 anos, conforme já
visto, entre os anos 2925 A.B. e 2964, contado seu ano de ascensão.

Conforme 1 Cr 29:1 Salomão era ainda “ainda moço e tenro” quando


começou a governar. Considerando que tenha nascido no Ano
Bíblico 2904, teria 21 anos na ocasião do início de seu reinado.

Três coisas chamam a atenção sobre sua figura: sua conhecida


sabedoria, o fato de haver construído o Templo, e sua infidelidade a
Deus, que terá como efeito a divisão do reino depois de sua morte.

Alguns princípios que deveriam nortear a monarquia em Israel já


haviam sido editados como Lei pelo próprio Moisés, conforme o
capítulo 17 de Deuteronômio. Foram, no entanto, sistematicamente
negados ou esquecidos por quase a totalidade dos reis, mas é na
verdade no reinado de Salomão que se constata de certa forma a
sua mais abusiva negação. O próprio texto nos explica: “Porém ele (o
rei) não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito
para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais
voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres,
para que o seu coração não se desvie; nem prata nem ouro
multiplicará muito para si.” (Dt 17:16-17)
144

971 AC a 964 AC – (A.B. 2928 até A.B. 2935) - construção do


Templo
Como Deus houvesse negado a Davi (por haver sido um homem de
guerras) que ele construísse o Templo, coube a Salomão faze-lo. (2
Sm 7:12-13)
De acordo com 1 Rs 6:38, Salomão demorou 7 anos para concluir a
obra, o que veio a ocorrer no Ano Bíblico 2935. O Templo esteve em
pé por 371 anos até que foi destruído por Nabucodonosor no Ano
Bíblico 3306 (2 Rs 25:8-9).

937 AC - (A.B. 2962) - escolha de Jeroboão


Salomão é um exemplo de que pouco vale a sabedoria sem
submissão espiritual. Governou Israel no auge de seu esplendor,
gozando dos benefícios das conquistas das fronteiras de Davi (2 Cr
9:26), que fez dos povos ao redor de Israel pagadores de impostos,
com os quais Salomão pode empreender grandes obras.

Construiu o Templo, o palácio real, murou Jerusalém, construiu


cidades armazéns, navios (1 Rs 9:10-28), e fez propagar sua fama
pelo mundo, vindo assim a exceder a todos os governantes de seu
tempo (1 Rs 10:23).

De acordo com 1 Rs 4:32-33: “disse três mil provérbios, e foram os


seus cânticos mil e cinco. Também falou das árvores, desde o cedro
que está no Líbano até ao hissopo que nasce na parede; também
falou dos animais e das aves, e dos répteis e dos peixes.” Desfrutou,
desta forma, da paz conquistada por seu pai e pode dedicar-se a
uma vida de cultura e prazeres.

Contrariando a Lei de Moisés (Dt 7:3-4) que proibia o casamento


com mulheres estrangeiras, casou-se com 700 mulheres e possuiu
300 concubinas (1 Rs 11:3) que lhe fizeram inclinar para a idolatria,
causa pela qual o reino de Israel veio a ser divido. Vejamos a
sentença de Deus contida em 1 Rs 11:11-13:

“Assim disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que
não guardaste a minha aliança e os meus estatutos que te mandei,
certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia
nos teus dias não o farei, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu
filho o rasgarei; Porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei a
teu filho, por amor de meu servo Davi, e por amor a Jerusalém, que
tenho escolhido.”
145

Conforme veremos quando for tratado o reino de Jeroboão, a


sentença acima veio a ser pronunciada dois anos antes da morte de
Salomão, no Ano Bíblico 2962, ano que assinala o início da
contagem do tempo de reinado de Jeroboão, sem que ainda ele
tivesse sido empossado como rei.
Algumas das esposas de Salomão eram provavelmente israelitas,
mas nenhuma delas é mencionada. Naamá, uma amonita (2 Cr
12:13), filha de um dos povos contra quem Davi combateu, veio a ser
mãe de Roboão, sucessor de Salomão e causador da divisão do
reino de Israel.

935 AC - (A.B. 2964) - morte de Salomão


Salomão morreu no Ano Bíblico 2964 com cerca de 61 anos de
idade, bastante jovem para os padrões de sua época. Foi sucedido
por seu filho Roboão.
146

Reino Dividido - Reis de Judá


Seq Rei Ref. Bíblica
1º Roboão - morte de Salomão - 17 anos 1 Rs 14:21
2º Abias - 18 Jeroboão - 3 anos 1 Rs 15:1-3
3º Asa - 20 de Jeroboão - 41 anos 1 Rs 15:9-10
4º Jeosafá - 4 de Acabe - 25 anos 1 Rs 22:41-42
5º Jeorão - 5 de Jorão 8 anos 2 Rs 8:16-17
6º Acazias - 12 de Jorão - 1 ano 2 Rs 8:25-26
** * Atalia - 6 anos 2 Rs 11:3
7º Joás - 7 de Jeú - 41 anos 2 Rs 12:1
8º Amazias - 2 Jeoás - 29 anos 2 Rs 14:1-2
9º Azarias - 27 de Jeroboão 52 anos 2 Rs 15:1-2
10º Jotão - 2 de Peca - 16 anos 2 Rs 15:32-33
11º Acaz - 17 de Peca - 16 anos 2 Rs 16:1-2
12º Ezequias - 3 de Oseias - 29 anos 2 Rs 18:1-2
13º Manassés - 55 anos 2 Rs 21:1-2
14º Amon - 2 anos 2 Rs 21:19
15º Josias - 31 anos 2 Rs 22:1
16º Jeoacaz - 3 meses 2 Rs 23:31
17º Jeoiaquim - 11 anos 2 Rs 23:36
18º Joaquim - 3 meses 2 Rs 24:8
19º Zedequias - 11 anos 2 Rs 24:17
Reino Dividido - Reis de Israel
Seq Rei Ref. Bíblica
1º Jeroboão - morte de Salomão - 22 anos 1 Rs 14:20
2º Nadabe - 2 de Asa - 2 anos 1 Rs 15:25
3º Baasa - 3 de Asa - 24 anos 1 Rs 15:33
4º Ela - 26 de Asa - 2 anos 1 Rs 16:8
5º Zinri - 27 de Asa - 7 dias 1 Rs 16:15
6º Onri -31 de Asa - 12 anos 1 Rs 16:22-23
7º Acabe - 38 de Asa - 22 anos 1 Rs 16:29
8º Acazias - 17 de Jeosafá - 2 anos 1 Rs 22:52
9º Jorão - 18 de Jeosafá 1 Rs 1:17
10º Jeú - morte de Jorão - 28 anos 2 Rs 10:36
11º Jeoacaz - 23 de Joás - 17 anos 2 Rs 13:1
12º Jeoás - 37 de Joás - 16 anos 2 Rs 13:10
13º Jeroboão - 15 de Amazias - 41 anos 2 Rs 14:23
14º Zacarias - 38 de Azarias - 6 meses 2 Rs 15:8
15º Salum - 39 de Uzias - 1 mes 2 Rs 15:13
16º Menaem - 39 de Uzias - 10 anos 2 Rs 15:17
17º Pecaías - 50 de Azarias - 2 anos 2 Rs 15:23
18º Peca - 52 de Azarias - 20 anos 2 Rs 15:27
19º Oseias - 20 de Jotão 9 anos 2 Rs 15:30
147

Reino Dividido - Reis de Israel


Os relatos que temos acerca da monarquia em Israel cobrem um
período de aproximadamente 423 anos de história entre a unção de
Saul e a destruição do Templo de Jerusalém por Nabucodonosor.
Estão contidos em 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, e 1 e 2 Crônicas e nos
escritos de vários profetas. São resumos das vidas dos reis que
reportam aquilo que o redator ou redatores acharam que valia a pena
ser mencionado.

O período do reino dividido é sem dúvida o mais desafiador e


complexo de ser datado em toda a Bíblia por conta da forma utilizada
para determinar o início de cada reinado através de referências
cruzadas. Neste sistema, o rei de Judá passa a governar em um
determinado ano de referência do rei de Israel e vice-versa, o que,
embora pareça confuso, nos obriga a sincronizar datas e desta forma
saber com precisão não só quando se deu o início de um reinado,
como também se houve ou não coregência naquele período, ou seja,
quando pai e filho reinaram simultaneamente.

Quando lemos Reis e Crônicas, em nosso subconsciente as datas


parecem estar naturalmente sequenciadas. No entanto, aqueles que
tentam definir tais datas verificam que elas apresentam aparentes
irredundâncias, o que motiva alguns a achar que a Bíblia está errada
e por vezes conduz o investigador a não desejar esclarecer tais
fatos, para justamente não expor, por questões de temor, algum
possível erro da Bíblia. Conforme veremos, todas as datas se
encaixam com perfeição.

Quando o reino de Israel deixa de existir em consequência do exílio


assírio, os reis de Judá se sucedem uns aos outros pela morte do
antecessor. Neste caso, em tese, não é possível determinar se
houve ou não coregência, e a linha do tempo transcorrido só pode se
basear na duração do governo declarada em favor daquele rei.

Conforme veremos, há eventos ocorridos no período pós-assírio que


nos obrigam a sincronizar as datas de tal maneira que se concluiu
que não houve coregências em Judá depois do desaparecimento de
Israel, o que nos faz pensar que a coregência era uma instituição
forçada em ambos os lados pela existência de uma ameaça de um
país ser assimilado pelo outro em caso de morte do rei, e neste caso,
a existência de um “vice-rei” dificultaria que tal acontecesse.

No encerramento da história da maioria dos reis de Israel e Judá, os


redatores de 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas fazem menção de que há,
148

além do seu próprio relato acerca daquele rei, um outro mais


completo de todos os seus atos de governo. Vejamos o exemplo
sobre Asa descrito em 1 Rs 15:23: “Quanto ao mais de todos os atos
de Asa, e a todo o seu poder, e a tudo quanto fez, e as cidades que
edificou, porventura não está escrito no livro das crônicas dos reis de
Judá?”

Estas crônicas dos reis de Judá, não se referem, evidentemente, aos


livros homônimos de nossa Bíblia, mas a uma verdadeira biblioteca
de relatos dos atos de governo destes reis. É lógico pensar que não
havia um único livro das crônicas dos reis de Judá ou um único livro
de crônicas dos reis de Israel. Cada rei mantinha seu cronista e
registrava seus atos de governo, que certamente eram datados,
tendo como objetivo principal escrever a história de seu tempo, e
registrar as resoluções de governo, como faz hoje o “Diário Oficial”
ou outros órgãos de imprensa do estado.

Quando um rei morria e assumia seu sucessor, um novo cronista


escrevia as crônicas do novo governo, e assim, sucessivamente
eram guardadas as crônicas de um por um, que em conjunto, eram
vistas como uma coisa só.

As crônicas dos reis de Judá eram, portanto, as crônicas de todos os


reis do sul, Roboão, Abias, Asa, etc., que a seu tempo foram escritas
individualmente relatando os acontecimentos de cada tempo. 2 Sm
8:16 registra que Jeosafá, filho de Ailude, era cronista do rei Davi;
Joá, filho de Asafe, era cronista do rei Ezequias (2 Rs 18:18); Joá,
filho de Joacaz, era cronista do rei Josias (2 Cr 34:8).

2 Cr 20:34 nos dá uma ideia ainda mais precisa de como foram


montadas as crônicas reais: “Ora, o restante dos atos de Jeosafá,
assim, desde os primeiros até os últimos, eis que está escrito nas
notas de Jeú, filho de Hanani, que as inseriu no livro dos reis de
Israel.” Vemos, desta forma, que o Profeta Jeú escreveu as crônicas
de Jeosafá e depois as incluiu nos livros dos reis de Israel. Jeú
profetizou em Israel desde os tempos de Baasa (1 Rs 16:7) bem
como em Judá, nos tempos de Jeosafá.

A vida de Salomão foi também relatada no Livro dos “Feitos de


Salomão”, nas “Crônicas de Natã”, na “Profecia de Aias, o silonita” e
nas “Visões de Ido.” Igualmente, a vida de Davi está relatada nas
“Crônicas de Samuel”, nas “Crônicas do Profeta Natã”, e nas
“Crônicas de Gade, o Vidente.” Nenhuma cópia da maioria destes
livros chegou até nós.
149

Temos que observar que não há, na prática, o relato de muitos atos
administrativos de governo em Reis e Crônicas, mas sim, uma maior
preocupação com os aspectos religiosos da vida em Israel e em
Judá, o que favorece a tese de que Reis e Crônicas sejam de autoria
de um dos profetas, e desta forma, Jeremias é tido tanto pela
cristandade quanto pela tradição judaica como o provável autor de 1
e 2 Reis, sendo 1 e 2 Crônicas creditado a Esdras.

Alguns historiadores defendem a existência de uma “escola de


profetas” que manteve entre suas responsabilidades a escrita e a
guarda da história de todos os reis de Judá e Israel, e mesmo sendo
independentes uma da outra, sempre mantiveram contato estreito
entre si.

Embora não haja em 1 e 2 Reis qualquer referência sobre o fato de


haverem sido consultados os escritos de qualquer dos profetas, há
em 1 e 2 Crônicas indicativos de que informações referentes a
Roboão, Abias, Jeosafá, Uzias e Ezequias, todos estes, reis de Judá,
foram consultadas em fontes proféticas.

Outra teoria, também bastante razoável, sugere que tais escritos são
resultado da pesquisa dos redatores, provavelmente sacerdotes, que
por sua vez se basearam em todas as fontes disponíveis para
escrever o que escreveram.

Do ponto de vista cronológico temos que pensar em que os cronistas


que registraram nos livros da Bíblia estas histórias resumidas dos
reis se basearam para sintetizar seus relatos. Obviamente a fama de
um rei pesou muito e desta forma Davi, por exemplo, mereceu um
espaço maior que os demais reis. Também Ezequias, que foi um
bom rei, teve um relato extenso. Gastou-se também muita tinta para
se falar de Acabe, o campeão dos piores.

Não se pode raciocinar pelo lado frio da história para deduzir as


motivações dos redatores para escrever o que escreveram, mas,
tendo-se em vista que a Bíblia é o livro que nos revela a Pessoa de
Deus, estão ali para serem encontradas nestas histórias as lições
que Deus pretende que aprendamos. São lições perenes que
valeram tanto para Israel quanto valem para nós. Há uma lição que
podemos aprender nas poucas linhas que relatam o reinado de
apenas 7 dias de Zinri sobre Israel e muitas lições a serem
aprendidas com os erros de Davi ou de Acabe.
150

No que se refere, por fim, ao aspecto prático de datar os reis de


Israel e Judá antes da invasão assíria, em que as referências de
datas são cruzadas, temos que tentar concluir de onde vieram tais
cruzamentos. Vejamos o relato de 1 Rs 15:9: “E no vigésimo ano de
Jeroboão, rei de Israel, começou Asa a reinar em Judá.”

No exemplo acima, o cronista vai começar a escrever a história de


Asa, terceiro rei de Judá. Ele nos informa que Asa começou a reinar
no vigésimo ano de Jeroboão. Onde é que ele, tendo em mãos todas
as crônicas de Israel e Judá e os escritos dos profetas foi buscar a
informação sobre o início de Asa? Seria nas crônicas de Asa, nas de
Abias, seu antecessor, ou nas de Jeroboão?

Se pensarmos em termos da atualidade, cada povo data a sua


própria história. Não se encontraria nos registros da história
americana que o presidente Barak Obama começou a governar no
segundo ano de Nicolas Sarkozy, presidente da França. É, portanto,
coerente imaginar que o cronista bíblico está fazendo um trabalho de
pesquisa histórica onde a informação existente está registrada na
íntegra das crônicas dos reis de ambos os lados. Interessa, desta
forma, registrar o cruzamento dos fatos destes “dois povos”, porque
afinal são e sempre serão uma única nação, Israel. Note-se que
ninguém está interessado em sincronizar datas com os reis bíblicos
com os da Síria, por exemplo, ou do Egito.

Para efeito prático um novo rei de Judá começa a reinar no mesmo


dia em que o antecessor morre, mas o cronista verifica na crônica do
rei vigente de Israel em que ano de seu governo é apontado que este
novo rei começou a governar em Judá. Quando ele encontra este
apontamento, vai se basear agora nas crônicas do próprio rei de
Judá para ver quantos anos ele reinou e desta forma sintetiza
normalmente as duas informações uma seguida à outra: “E no
vigésimo ano de Jeroboão, rei de Israel, começou Asa a reinar em
Judá. E quarenta e um anos reinou em Jerusalém; e era o nome de
sua mãe Maaca, filha de Absalão.” 1 Rs 15:9-10

Desta forma, conforme veremos no caso de Onri, 6º rei de Israel, a


crônica do rei de Judá o aponta começando a governar no 31º ano
de Asa, mas quando o cronista examina as crônicas de Onri, verifica
que ele foi aclamado rei pelo povo no 27º ano de Asa, quando ele
ainda disputava o governo com Tibni. Conclui então que a contagem
do tempo de governo de Onri deve começar a partir do 27º ano de
Asa, e se estendeu por 12 anos. Veremos isto mais adiante com
maiores detalhes.
151

As coregências quase nunca são explicitadas de modo claro, mas


acontecem dos dois lados e na contagem de tempo de um rei que
co-reinou com seu antecessor, este tempo será contado, via de
regra, para ambos, o que cria embaraços para quem faz os cálculos.

Onde os cronistas de 2 Reis e 2 Crônicas buscaram as informações


para relatar individualmente os fatos de cada um destes
governantes? Jeorão teve seus relatos registrados nas Crônicas de
Judá (“O mais dos atos de Jeorão, e tudo quanto fez, porventura não
está escrito no livro das crônicas de Judá?” – 2 Rs 8:23), enquanto
Jeosafá nas notas de Jeú (“Ora, o restante dos atos de Jeosafá,
assim, desde os primeiros até os últimos, eis que está escrito nas
notas de Jeú, filho de Hanani, que as inseriu no livro dos reis de
Israel.” – 2 Cr 20:34)

Alguns dos mais importantes historiadores bíblicos deste período,


Galil e Thiele, entre os mais destacados, defendem que os redatores
de Crônicas e Reis respeitaram em seus relatos o fato de que Israel
e Judá usavam diferentes sistemas de contagem de tempo para seus
regentes, bem como o ano civil de um começava com uma diferença
de seis meses do outro. No caso de Judá, o ano começava a ser
contado na entrada do outono (no hemisfério norte) no mês de
Tishrei (Setembro / Outubro) enquanto de Israel iniciava a contagem
do ano no mês de Nisan (Março / Abril). Quanto ao início da
contagem do tempo de um rei, no caso de Judá, se usava o método
ascensional, onde o ano de ascensão do regente não era contado
como seu primeiro ano de governo, sendo, portanto, apenas o ano
em que ascendeu ao poder. Israel, segundo ambos, utilizava a
contagem de tempo não ascensional, onde o primeiro ano, ano de
ascensão, era contado, independente do número de meses ou
mesmo dias reinados.

O caso de Galil não vale a pena comentar porque quem se der ao


trabalho de simular em um gráfico linear as suas conclusões, vai
observar que ele está mais preocupado em sincronizar os reis
bíblicos com fatos da história secular, o que redunda, a partir do
reinado de Joás, um total desajuste cronológico, ou melhor dizendo,
total desrespeito pelo relato bíblico, quando não só não são
observadas as sincronias entre os regentes, como também a
duração dos reinados estabelecidas pela Bíblia. É difícil entender por
que Galil é citado como referência no mundo cristão.

Observe que a história secular é imprecisa, enquanto a Bíblia é


precisa e minuciosa. A história secular se redescobre a cada dia, e o
152

que era verdade ontem, deixou de ser verdade hoje. Só o Museu


Britânico possui cerca de cem mil documentos catalogados a espera
de serem estudados, e é óbvio que o estudo destes documentos irá
sem dúvida alterar os registros históricos.

Thiele baseia-se na Bíblia e fatos históricos, mas é possível observar


que a questão da contagem não ascensional que emprega para os
reis de Judá como regra não é coerente, pois a emprega para alguns
reis e não emprega para outros, fazendo uso de sua própria regra
apenas quando uma conta não fecha. Ademais, ao não conseguir
sincronizar as datas de Oseias com Ezequias, preferiu concluir que a
Bíblia está errada, o que torna também difícil entender por que um
homem que diz que a Bíblia está errada é referência para os cristãos
quando se trata da história dos reis.

Ora, não há erros na Bíblia, e só um megalomaníaco, para dizer o


mínimo, poderia fazer tal afirmação.

Também não há coerência em achar que os redatores que tiveram


ao seu encargo relatar os Livros de Reis e Crônicas, onde eles
próprios agora fazem uma nova escrita da história destes povos,
usariam esta tal metodologia. Seria mais lógico que fizessem a
conversão das duas contagens diferentes, se elas de fato existissem,
para uma única contagem de tempo, porque a Escritura, como dizem
corretamente os eruditos judeus, veio para esclarecer e não
confundir.

Além disto, parece pouco lógico que após séculos de existência de


Israel como povo escolhido, contados desde Abraão até a divisão de
Israel, ou ainda, depois de 83 anos de reino unido com Saul, Davi e
Salomão contando os anos sempre da mesma forma, que Israel
passasse imediatamente a contar o tempo de forma diferente que
Judá depois da cisão.

Thiele, neste caso, não poderia ter escolhido um título mais infeliz
para seu livro a respeito deste assunto: “Os Misteriosos Números dos
Reis Hebreus.” Como se a Palavra de Deus contivesse artifícios
misteriosos para confundir o leitor. Fosse assim, seria impossível
para nós, pessoas comuns, entendermos a Bíblia, porque a sua
compreensão dependeria de profundos conhecimentos históricos e
arqueológicos, ficando sua interpretação restrita a pessoas geniais.
Só os superdotados poderiam entender o tempo dos reis de Israel e
Judá, e voltaríamos à idade das trevas, em que a interpretação das
escrituras era coisa dos “escolhidos.” Tenha paciência.
153

Desta forma, entendemos que a cronologia dos reis deve ser


baseada só na Bíblia, e deve ser desprezada qualquer sugestão de
qualquer metodologia que não seja apenas a capacidade de ler,
somar e subtrair.

Voltando aos redatores de Reis e Crônicas, outra coisa que devemos


observar é que um trabalho de pesquisa histórica deste vulto
dificilmente foi desenvolvido por uma pessoa apenas, mas por um
grupo reduzido de pessoas, e muito claramente o seu resultado foi
analisado e auditado na mesma época por outro grupo distinto ainda
mais reduzido de revisores. Buscavam, sem dúvida, mostrar que o
distanciamento de Deus causou a ruína tanto de Israel quanto de
Judá.
154

Reino Dividido
Roboão e Jeroboão
Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref Bíblica
935 AC Roboão reina somente sobre Judá 2.964 II Cr 10:16
935 AC Jeroboão lidera as 10 tribos de Israel 2.964 I Rs 12:20
935 AC Tempo do Profeta Semaías 2.964 II Cr 12:5
934 AC Jeroboão constroi templos em Betel e Dã 2.965 I Rs 12:28
934 AC Aías profetiza sobre Josias, 289 anos antes 2.965 I Rs 13:2
931 AC Sizaque saqueia o Templo e a casa do rei 2.968 I Rs 14:25
919 AC Morte de Roboão (1º rei de Judá) 2.980 II Cr 2:13
918 AC Abias (2º rei de Judá) 2.981 II Cr 13:1
918 AC Tempo do Profeta Ido 2.981 II Cr 13:22
917 AC Aías prevê o exílio de Israel 195 anos antes 2.982 I Rs 14:15
916 AC Morte de Abias (2º rei de Judá) 2.983 II Cr 12:2
916 AC Asa (3º rei de Judá) 2.983 I Rs 15:9
906 AC Paz sobre Judá por 10 anos seguidos 2.993 II Cr 14:1
906 AC Tempo do reinado de Bene-Hadade na Síria 2.993 I Rs 15:18
906 AC Tempo do Profeta Azarias 2.993 II Cr 15:1-2
916 AC Morte de Jeroboão (1º rei de Israel) 2.983 I Rs 14:20

Roboão - 1° rei de Judá – 17 anos - 935 AC a 919 AC


(A.B. 2964 até A.B. 2980)

“ E dormiu Salomão com seus pais, e o sepultaram na cidade de


Davi seu pai; e Roboão, seu filho, reinou em seu lugar.” (2 Cr 9:31)

“E Roboão, filho de Salomão, reinava em Judá; de quarenta e um


anos de idade era Roboão quando começou a reinar, e dezessete
anos reinou em Jerusalém, na cidade que o Senhor escolhera de
todas as tribos de Israel para pôr ali o seu nome; e era o nome de
sua mãe Naamá, amonita.” (1 Rs 14:21)

“Fortificou-se, pois, o rei Roboão em Jerusalém, e reinou; porque


Roboão era da idade de quarenta e um anos, quando começou a
reinar; e reinou dezessete anos em Jerusalém, a cidade que o
Senhor escolheu, dentre todas as tribos de Israel, para pôr ali o seu
nome; e era o nome de sua mãe Naamá, amonita.” (2 Cr 12:13)

Roboão governou por pouco tempo o Israel unido que herdara de


Salomão, e foi o 1° rei de Judá, depois da cisão que ele próprio
causou. Governou Judá enquanto Israel foi governado por Jeroboão.
155

Roboão sucedeu naturalmente Salomão, seu pai, no ano de sua


morte, portanto, no Ano Bíblico 2964. Conforme 2 Cr 12:13, sua mãe
era amonita, um dos mais destacados inimigos de Israel, tendo sido
este povo combatido por Eúde (Jz 3:13), por Jefté (Jz 10:7), por
Samuel (1 Sm 12:12), por Saul (1 Sm 11:11) e por Davi (2 Sm 10:6).

Pesa ainda sobre os amonitas o fato da própria Lei de Moisés proibir


de forma veemente a presença de amonitas na congregação de
Deus, conforme lemos em Dt 23: 3: “Nenhum amonita nem moabita
entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração
entrará na congregação do Senhor eternamente.”

Salomão, que havia há muito tempo deixado de ser fiel a Deus, no


tempo de sua morte era odiado pelo povo por conta da excessiva
carga de tributos que cobrava. Robão, por razões à parte, além de
causar a divisão do reino de Israel, permitiu a edificação de vários
lugares de culto pagão, além da presença de prostitutos-culturais no
meio do povo.

Roboão foi um péssimo rei, que além de idólatra, fraco, permissivo e


indeciso, morreu ainda taxado de covarde pelo julgamento da
história. Flávio Josefo comenta na História dos Hebreus, Volume 3,
Capítulo 348 que “como acontece ordinariamente, que a
prosperidade produz à corrupção dos costumes, o aumento de poder
de Roboão fê-lo esquecer-se de Deus e o povo o seguiu na sua
impiedade.” Diz ainda Josefo a respeito do povo de Judá que “como
o exemplo da virtude do rei os conserva (o povo) no cumprimento do
dever, também o exemplo de seus vícios os leva à desordem, porque
seria condenável não imitarem o rei.”

Muito sábio o comentário de Josefo que complementa ainda que


“assim como Roboão calcou aos pés todo respeito e temor a Deus,
seus súditos caíram no mesmo crime, como se tivessem medo de
ofender o rei, querendo ser mais justos que ele.”

No ano quinto de seu governo, Sisaque, rei do Egito tomou


Jerusalém de uma forma humilhante e saqueou o templo construído
por Salomão bem como os tesouros da casa do rei (2 Cr 12:2).
Sisaque deve ter sido estimulado a invadir Jerusalém por Jeroboão,
que vivera no Egito sob sua proteção quando Salomão tentara mata-
lo (1 Rs 11:40).

Faça-se uma ideia da fortuna incalculável que Sisaque levara então


para o Egito tendo em conta todos os tesouros depositados no
156

templo por Salomão, bem como os tesouros da casa do rei, pois


Salomão era muito rico e deixara uma imensa fortuna para seus
filhos.

O historiador Heródoto faz menção desta guerra, em que Sisaque, na


mesma campanha derrotara tanto a “Palestina” quanto a Síria,
poupando, desta forma, Israel que está situado entre as duas
nações. Comenta ainda que Sisaque mandara levantar colunas nos
lugares que haviam sido entregues a ele sem luta, e que nestas
colunas estavam gravados símbolos do sexo das mulheres,
referindo-se claramente à covardia de Roboão. Josefo, a respeito
deste acontecimento, comenta que Roboão foi o único rei da história
de Israel que entregou Jerusalém sem luta.

O Professor Antônio Neves de Mesquita, em sua obra intitulada


"Estudo nos Livros dos Reis" (Casa Publicadora Batista - JUERP -
1983), nos dá um interessante detalhe complementar a este tema,
quando informa que Roboão era adorador de Camos, deus dos
moabitas, cujo símbolo era uma escultura ereta que representava a
forma viril da divindade. Foi sem dúvida esta a inspiração de Sisaque
para humilhar Roboão, mostrando assim, a todos, a covardia do filho
de Salomão.

A triste história de Roboão tem muito a nos ensinar. Reinou 17 anos


e morreu no Ano Bíblico 2985, aos 57 anos de idade, sendo
substituído por seu filho Abias. Durante todo seu reinado, reinou
sobre Israel apenas Jeroboão, seu 1º rei.
157

Jeroboão - 1° rei de Israel – 22 anos - 937 AC a 916 AC


( A.B. 2962 até A.B. 2983)

“E disse a Jeroboão: Toma para ti os dez pedaços, porque assim diz


o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão de
Salomão, e a ti darei as dez tribos.” (1 Rs 11:3)

“E sucedeu que, ouvindo todo o Israel que Jeroboão tinha voltado,


enviaram, e o chamaram para a congregação, e o fizeram rei sobre
todo o Israel; e ninguém seguiu a casa de Davi senão somente a
tribo de Judá.” (1 Rs 12:20)

“E foram os dias que Jeroboão reinou vinte e dois anos; e dormiu


com seus pais; e Nadabe, seu filho, reinou em seu lugar.” (1Rs
14:20)

937 AC Salomão 1 Unção de Jeroboão


936 AC Salomão 2 Jeroboão
935 AC Morte de Salomão - Roboão 1 1 3 Morte de Salomão
934 AC Roboão 2 2 4 Jeroboão
933 AC Roboão 3 3 5 Jeroboão
932 AC Roboão 4 4 6 Jeroboão
931 AC Roboão 5 5 7 Jeroboão
930 AC Roboão 6 6 8 Jeroboão
929 AC Roboão 7 7 9 Jeroboão
928 AC Roboão 8 8 10 Jeroboão
927 AC Roboão 9 9 11 Jeroboão
926 AC Roboão 10 10 12 Jeroboão
925 AC Roboão 11 11 13 Jeroboão
924 AC Roboão 12 12 14 Jeroboão
923 AC Roboão 13 13 15 Jeroboão
922 AC Roboão 14 14 16 Jeroboão
921 AC Roboão 15 15 17 Jeroboão
920 AC Roboão 16 16 18 Jeroboão
919 AC Roboão 17 17 19 Jeroboão
918 AC Abias 18 20 Jeroboão
917 AC Abias 19 21 Jeroboão
916 AC Abias / Asa 1 20 22 Jeroboão
915 AC Asa 2 Nadabe

Ilustração linear para compreensão sobre o ano de ascenção de Jeroboão


158

Jeroboão foi o 1° rei de Israel depois da cisão. Do ponto de vista


prático, Jeroboão começou seu reinado no mesmo ano de Roboão,
depois da morte de Salomão e consequente divisão do reino.

O texto de 1 Rs 14:20 nos diz que Jeroboão reinou 22 anos. No


entanto, como iremos constatar, Jeroboão reinou de fato 20 anos e a
referência aos 22 anos se deve a forma como o redator nos mostra
que Jeroboão foi ungido rei pelo Profeta Aías dois anos antes da
morte de Salomão, o que, sob qualquer ponto de vista mostra a
decisão soberana de Deus em dividir Israel independentemente da
conduta de Roboão.

Observe estas duas contagens de tempo distintas na tabela anterior.

Datas
1 - Observe pela tabela que Abias, 2º rei de Judá, sucede Roboão no
18º ano de Jeroboão (1 Rs 15:1), e Asa, 3º rei de Judá sucede Abias
no 20º ano de Jeroboão (1 Rs 15:9), o que comporta perfeitamente a
contagem do tempo de Jeroboão iniciada no ano da morte de
Salomão.

2 - Conforme 1 Rs 15:25, “Nadabe, filho de Jeroboão, começou a


reinar sobre Israel no 2º ano de Asa, rei de Judá; e reinou sobre
Israel dois anos.”

3 - O 2º ano de Asa é 915 AC. Vemos, desta forma, que a morte de


Jeroboão veio a ocorrer no ano anterior, em seu 20º ano de governo,
uma vez que seu filho o sucedeu no ano seguinte, que em tese seria
o seu 21º ano de reinado

4 – Jeroboão não reinou, portanto, 22 anos e sim, 20 anos.

5 - A que se refere então 1 Rs 14:20 ao afirmar que reinou 22 anos?


Refere-se ao fato de que há duas contagens distintas para o seu
tempo de governo: uma que mostra que ele reinou 20 anos, na qual
se baseiam os inícios dos governos dos reis de Judá, e outra que
mostra que que a menção dos 22 anos serve para confirmar que pela
determinação de Deus Israel já era um reino dividido desde a unção
de Jeroboão pelo profeta Aías, dois anos antes da morte de
Salomão: “E disse a Jeroboão: Toma para ti os dez pedaços, porque
assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão
de Salomão, e a ti darei as dez tribos (1 Rs 11:31).
159

Foi esta, por sinal, a razão pela qual Salomão passou a perseguir
Jeroboão para matá-lo, o que o forçou a se refugiar no Egito até a
morte de Salomão. O relato se encontra em 1 Rs 11:20-40.

6 - Ainda sobre esta questão é oportuno lembrar 1 Rs 11:12-13 que


confirma que a decisão de dividir Israel já havia sido tomada por
Deus antes mesmo do encontro de Aías com Jeroboão: “Todavia nos
teus dias (Salomão) não o farei por amor de Davi, teu pai; da mão de
teu filho o rasgarei; Porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei
a teu filho, por amor de meu servo Davi, e por amor a Jerusalém, que
tenho escolhido.”

Diz Flávio Josefo, na História dos Hebreus, Volume 3, capítulo 343,


que antes de ser perseguido por Salomão, Jeroboão, gozando da
confiança do rei, havia sido por este nomeado governador da Tribo
de José (SIC) e que foi justamente a caminho desta tribo, Efraim,
com a finalidade de tomar posse do governo que ele se encontra
com o Profeta Aías. Diz Josefo que foi tal a impressão de Jeroboão
depois da conversa com o profeta, que não tardou em persuadir o
povo a se revoltar contra Salomão. Esta foi a razão pela qual o rei
desejou a sua morte.

Jeroboão governou Israel a partir de Tizra que durante muito tempo


foi a sede de governo de Israel. Depois disto passou a ser Samaria.

Apesar das promessas de Deus em seu favor, condicionadas à sua


fidelidade, Jeroboão preferiu o jogo político, optando por satisfazer a
vontade do povo. Por temer que o povo fosse adorar a Deus em
Jerusalém e isto viesse a lhe custar o governo, fez construir dois
bezerros de ouro para serem cultuados, colocando um em Betel e
outro em Dã.

O mau exemplo de Jeroboão é uma figura recorrente em nossas


vidas quando tentamos fazer um “gol de mão” para ajudar Deus a
nos ajudar. Quantas vezes apelamos para práticas contrárias ao
Evangelho com a finalidade de supostamente garantir uma vitória
pessoal, normalmente ligada a benefícios financeiros. Jesus ensinou
que o sustento decorre da busca do Reino e da Justiça de Deus.

No último ano de seu reinado, por conta da idolatria do povo e seu


consequente afastamento de Deus, o profeta Aías previu o cativeiro
de Israel quase dois séculos antes, o que viria a acontecer no final do
reinado de Oseias: “Também o Senhor ferirá a Israel como se agita a
cana nas águas; e arrancará a Israel desta boa terra que tinha dado
160

a seus pais, e o espalhará para além do rio; porquanto fizeram os


seus ídolos, provocando o Senhor à ira. E entregará a Israel por
causa dos pecados de Jeroboão, o qual pecou, e fez pecar a Israel.
(1 Rs 14:15-16)

Seria possível simular o reinado de Jeroboão como havendo iniciado


na morte de Salomão, seguido de 22 anos de governo. Isto
acarretaria a certa altura na impossibilidade do sincronismo de
Acazias com Jeosafá e o acúmulo de vários erros de um ou dois
anos em diversos reinados até a ascensão de Jeú, onde este mata
os reis de Israel e Judá no mesmo ano e a contagem do tempo se
reinicia de uma forma sincronizada, interrompendo, desta forma, o
acúmulo de mais erros.

Concluindo, não é possível contar os 22 anos de governo de


Jeroboão a partir da morte de Salomão, mas sim a partir de sua
unção pelo Profeta Aías.

Jeroboão reinou até o Ano Bíblico 2983. Durante seu reinado


Roboão - 1º rei de Judá - reinou por 17 anos; Abias - 2º rei de Judá -
reinou 3 anos (contado o ano de ascensão) e Asa - 3º rei de Judá, -
um ano até que Jeroboão veio a falecer. Foi um péssimo rei,
conforme 1 Rs 14:9.

Abias - 2° rei de Judá – 3 anos - 918 AC a 916 AC


( A.B. 2981 até A.B. 2983 )

“E no décimo oitavo ano do rei Jeroboão, filho de Nebate, Abias


começou a reinar sobre Judá. E reinou três anos em Jerusalém; e
era o nome de sua mãe Maaca, filha de Absalão.” (1 Rs 15:1-21)

Conforme 2 Cr 13:1 e 1 Rs 15:1, Abias, filho de Roboão, começou a


reinar no 18º ano de Jeroboão (2964 + 17 = 2981), portanto, no Ano
Bíblico 2981. Foi o 2° rei de Judá depois da cisão.

Pouco se sabe a respeito de Abias: Era filho de Micaía, filha de Uriel,


de Gibeá, e reinou por 3 anos, entre o 18º e 20º ano de Jeroboão
contra quem fez guerra durante todo seu reinado.

O Livro de 1 Crônicas, no seu capítulo 13, nos relata que houve uma
grande batalha entre Judá e Israel, onde Jeroboão foi derrotado,
embora tivesse um exército de 800 mil homens, o dobro do tamanho
do de Judá.
161

O versículo 16 do mesmo capítulo nos dá conta de que Deus


entregou a batalha a favor de Judá e houve grande mortandade no
exército de Israel, quando pereceram 500 mil dos homens de
Jeroboão. A este respeito, Flávio Josefo comenta na História dos
Hebreus, Volume 3, Capítulo 352, que nem mesmo na história dos
gregos ou bárbaros se soube de tamanha carnificina.

De acordo com 1 Rs 15:3, Abias “andou em todos os pecados que


seu pai tinha cometido antes dele; e seu coração não foi perfeito para
com o Senhor seu Deus como o coração de Davi, seu pai.”

Morreu no Ano Bíblico 2983, ano em que Asa, seu sucessor,


começou a reinar sobre Judá no 20° ano de Jeroboão. Durante seu
curto reinado, apenas Jeroboão reinou sobre Israel.

Asa - 3° rei de Judá – 41 anos - 916 AC a 876 AC


( A.B. 2983 até A.B. 3023)

“E no vigésimo ano de Jeroboão, rei de Israel, começou Asa a reinar


em Judá. 10 E quarenta e um anos reinou em Jerusalém; e era o
nome de sua mãe Maaca, filha de Absalão.” (1 Rs 15:9-10)

Asa foi o 3° rei de Judá, e de acordo com 1 Rs 15:9-11, começou a


reinar no 20° ano de Jeroboão (2964 + 19 = 2983), e reinou 41 anos.
O nome de sua mãe era Maaca, filha de Absalão, filho de Davi.

Segundo Flávio Josefo, Maaca seria a filha mais velha de Tamar,


esta sim, filha de Absalão. Trata-se de um equívoco de Josefo,
porque a mãe de Absalão também se chamava Maaca, conforme II
Samuel 3:3.

Foi um rei fiel a Deus, fez remover de Judá os altares de deuses


estranhos e fez o povo observar a Lei de Moisés.

Tinha a seu serviço um exército de 580 mil homens. No seu tempo


subiu contra Judá, por volta do ano 15 de Asa, o rei etíope de nome
Zerá, que embora tivesse um exército muito maior, de cerca de 1
milhão de homens, foi derrotado por Asa.

Depois da guerra contra os etíopes, Asa foi visitado pelo Profeta


Azarias (2 Cr 15:1-2), após o que, empreendeu profundas reformas
religiosas em Judá, o que incluiu destituir sua própria mãe da
162

dignidade de rainha-mãe, porque ela cultuava o deus Aserá, cuja


imagem Asa destruiu.

Teve paz até o 35° ano de seu reinado. No 36° ano de Asa, subiu
contra ele Baasa, rei de Israel, que veio a construir a fortaleza de
Ramá, um bloqueio entre Judá e Israel, cuja finalidade era impedir
tanto a entrada como a saída de Judá. Nesta altura de sua vida
parece que Asa se distanciara um pouco de Deus, e ao invés de a
Ele recorrer para buscar socorro contra Israel, preferiu se valer do
auxílio de Bene Hadade, rei da Síria, que a troco de ouro e prata
retirados por Asa do Templo, veio contra Israel e forçou Baasa a se
retirar da fronteira com Judá.

Há três reis sírios chamados Bene-Hadade mencionados na Bíblia. O


primeiro é este a quem Asa recorre; Um segundo é mencionado nas
Crônicas de Acabe, rei de Israel; e um terceiro, filho de Hazael (2 Rs
13:24), citado nos dias de Jeoás.

No 39° ano de seu reinado Asa adoeceu e mesmo assim não


recorreu a Deus, preferindo confiar nos médicos.

Conforme 1 Rs 15:11 “Asa fez o que era reto aos olhos do Senhor,
como Davi seu pai.” Morreu no Ano Bíblico 3023, deixando o reinado
para seu filho Jeosafá, no 4° ano de Acabe, rei de Israel.

Durante seu reinado, Jeroboão - 1º rei de Israel - reinou 1 ano;


Nadabe - 2º rei de Israel - reinou 2 anos; Baasa - 3º rei de Israel -
reinou 24 anos; Elá - 4º rei de Israel - reinou 2 anos; Zinri - 5º rei de
Israel - reinou 7 dias; Onri - 6º rei de Israel - reinou 12 anos e Acabe -
7º rei de Israel - reinou 4 anos até o ano em que Asa veio a falecer.

Nadabe – 2° rei de Israel – 2 anos - 915 AC a 914 AC


( A.B. 2984 até A.B. 2985 A.B.)

“E Nadabe, filho de Jeroboão, começou a reinar sobre Israel no ano


segundo de Asa, rei de Judá; e reinou sobre Israel dois anos.” (1 Rs
15:25)

Conforme 1 Rs 15:25, Nadabe, filho de Jeroboão, começou a reinar


no 2° ano de Asa, rei de Judá (2983 + 1), e reinou por dois anos,
2984 A.B. e 2985 A.B.
163

Foi um mau rei (1 Rs 15:26), que andou pelo mesmo caminho de


Jeroboão, seu pai. Nada de extraordinário foi registrado a seu
respeito. Foi assassinado por Baasa, da tribo de Issacar, seu
sucessor, no 3° ano de Asa. Durante seu governo somente Asa
reinou sobre Israel.

Baasa - 3° rei de Israel - 24 anos - 914 AC a 891 AC


( A.B. 2985 até A.B. 3008)

“No ano terceiro de Asa, rei de Judá, Baasa, filho de Aías, começou
a reinar sobre todo o Israel em Tirza, e reinou vinte e quatro anos.” (1
Rs 15:33)

Baasa assassinou seu antecessor Nadabe e passou a reinar sobre


Israel no 3° ano de Asa (2983 + 2), rei de Judá (1 Rs 15:33), a partir
do Ano Bíblico 2985.

Logo no início de seu governo matou toda a descendência de


Jeroboão, cumprindo assim a palavra do Profeta Aías registrada em
1 Rs 14:10: “Portanto, eis que trarei mal sobre a casa de Jeroboão;
destruirei de Jeroboão todo o homem até ao menino, tanto o escravo
como o livre em Israel; e lançarei fora os descendentes da casa de
Jeroboão, como se lança fora o esterco, até que de todo se acabe.”.

Morreu no Ano Bíblico 3008 no 26° ano de Asa, depois de ter reinado
por 24 anos (2985 + 23). Em seu lugar reinou seu filho Elá. Durante o
governo de Baasa apenas Asa reinou sobre Judá.

Elá - 4° rei de Israel – 2 anos - 891 AC a 890 AC


(A.B. 3008 até A.B. 3009 A.B.)

“ No ano vinte e seis de Asa, rei de Judá, Elá, filho de Baasa,


começou a reinar em Tirza sobre Israel; e reinou dois anos. E Zinri,
seu servo, capitão de metade dos carros, conspirou contra ele,
estando ele em Tirza, bebendo e embriagando-se em casa de Arsa,
mordomo em Tirza. Entrou, pois, Zinri, e o feriu, e o matou, no ano
vigésimo sétimo de Asa, rei de Judá; e reinou em seu lugar.” (1 Rs
16:8-10)

1 Rs 16:8 nos informa que Elá, 4° rei de Israel, filho de Baasa,


começou a reinar no 26° ano de Asa (2983 + 25), portanto, no Ano
Bíblico 3008.
164

Reinou por 2 anos a partir de Tizra e foi assassinado por Zinri,


comandante da metade dos carros de seu próprio exército, no ano 27
de Asa, portanto, no Ano Bíblico 3009. Foi um mau rei. Durante seu
reinado apenas Asa reinou sobre Judá.

Zinri - 5° rei de Israel – 1 semana - 890 AC


( A.B. 3013)

“No ano vigésimo sétimo de Asa, rei de Judá, reinou Zinri sete dias
em Tirza; e o povo estava acampado contra Gibetom, que era dos
filisteus. E o povo que estava acampado ouviu dizer: Zinri tem
conspirado, e até matou o rei. Todo o Israel pois, no mesmo dia, no
arraial, constituiu rei sobre Israel a Onri, capitão do exército. E subiu
Onri, e todo o Israel com ele, de Gibetom, e cercaram a Tirza. E
sucedeu que Zinri, vendo que a cidade era tomada, foi ao paço da
casa do rei e queimou-a sobre si; e morreu. “ (1 Rs 16:15-18)

Conforme 1 Rs 16:15, Zinri começou a reinar no ano 27 de Asa, rei


de Judá, e reinou apenas uma semana. Pouco tempo de fato, mas o
suficiente para eliminar todos os descendentes de sexo masculino de
Baasa, começando por Elá, seu filho, e não só os descendentes,
como também amigos e parentes, vindo assim a cumprir a profecia
de Jeú contra Baasa: “Eis que tirarei os descendentes de Baasa, e
os descendentes da sua casa, e farei a tua casa como a casa de
Jeroboão, filho de Nebate. Quem morrer dos de Baasa, na cidade, os
cães o comerão; e o que dele morrer no campo, as aves do céu o
comerão.” (1 Rs 16:3-4)

O povo, ouvindo que Zinri matara o rei e seus descendentes,


constituiu Onri, comandante do exército de Israel, seu rei. Onri subiu
então contra Tizra para buscar a vida do assassino do rei. Vendo-se
cercado pelo exército de Onri, Zinri suicidou-se, colocando fogo na
casa em que estava, vindo desta forma a morrer sete dias depois de
assumir o trono de Israel. Nos dias de Zinri, Asa reinava sobre Judá.

Onri - 6° rei de Israel – 12 anos - 890 AC a 879 AC


(A.B. 3009 até A.B. 3020)

“No ano vigésimo sétimo de Asa, rei de Judá, reinou Zinri sete dias
em Tirza; e o povo estava acampado contra Gibetom, que era dos
filisteus. E o povo que estava acampado ouviu dizer: Zinri tem
conspirado, e até matou o rei. Todo o Israel, pois, no mesmo dia, no
arraial, constituiu rei sobre Israel a Onri, capitão do exército. E subiu
165

Onri, e todo o Israel com ele, de Gibetom, e cercaram a Tirza. E


sucedeu que Zinri, vendo que a cidade era tomada, foi ao paço da
casa do rei e queimou-a sobre si; e morreu, Por causa dos pecados
que cometera, fazendo o que era mau aos olhos do Senhor, andando
no caminho de Jeroboão, e no pecado que ele cometera, fazendo
Israel pecar. Quanto ao mais dos atos de Zinri, e à conspiração que
fez, porventura não está escrito no livro das crônicas dos reis de
Israel? Então o povo de Israel se dividiu em dois partidos: metade do
povo seguia a Tibni, filho de Ginate, para o fazer rei, e a outra
metade seguia a Onri. Mas o povo que seguia a Onri foi mais forte do
que o povo que seguia a Tibni, filho de Ginate; e Tibni morreu, e Onri
reinou. No ano trinta e um de Asa, rei de Judá, Onri começou a reinar
sobre Israel, e reinou doze anos; e em Tirza reinou seis anos.” (1 Rs
16:15-23)

O Ano Bíblico 3009 foi bastante tumultuado para o reino de Israel:


Zinri, assassinou Elá e tomou o poder. Reinou uma semana e
suicidou-se. Onri, aclamado rei pelo povo assumiu o poder e teve
que iniciar uma luta contra a oposição ao seu governo liderada por
Tibni. Tudo isto aconteceu no ano 27 de Asa, rei de Judá, portanto,
no Ano Bíblico 3009 (2983 + 26).

Datas
891 AC 3008 Asa 26 Baasa / Ela
890 AC 3009 Asa 27 1 Elá / Zinri / Onri
889 AC 3010 Asa 28 2 Onri / Tibni
888 AC 3011 Asa 29 3 Onri / Tibni
887 AC 3012 Asa 30 4 Onri / Tibni
886 AC 3013 Asa 31 5 Morte de Tibni
885 AC 3014 Asa 32 6 Onri
884 AC 3015 Asa 33 7 Onri
883 AC 3016 Asa 34 8 Onri
882 AC 3017 Asa 35 9 Onri
881 AC 3018 Asa 36 10 Onri / Acabe
880 AC 3019 Asa 37 11 Onri / Acabe
879 AC 3020 Asa 38 12 Onri / Acabe

1 - Quando o povo soube que Zinri havia assassinado Elá, no ano


27º de Asa, conforme o versículo 16, “Todo o Israel, pois, no mesmo
dia, no arraial, constituiu rei sobre Israel a Onri.” Temos aqui,
portanto, a afirmação de que Onri se tornou rei de Israel no 27º ano
de Asa.
166

2 - Já o verso 23 nos dá outra data: “No ano trinta e um de Asa, rei


de Judá, Onri começou a reinar sobre Israel, e reinou doze anos.”

Esta informação aparentemente contradiz o verso 16, mas ao


contrário, é complementar. Explica uma história complicada,
conforme veremos, em que duas facções disputam o poder diante da
divisão de simpatia do povo por um ou outro líder.
3 - Onri começou a reinar no ano 27º de Asa e reinou por 12 anos,
sendo que no ano 31º de Asa morreu seu opositor, Tibni.

4 - O período que se observa na tabela anterior em que aparecem


Oni e Tibni não pode ser entendido como um governo paralelo de
Tibni, mas, um levante civil contra a autoridade de Onri.

5 - Suponhamos que Onri houvesse iniciado de fato seu reinado no


ano 31º de Asa: Teríamos então de concluir que entre os anos 27º e
31º de Asa não houve rei algum sobre Israel, ou seja, 5 anos sem rei
em Israel.

6 - Houvesse que se explorar a suposição de que Tibni reinasse


neste tempo e Onri viesse a seguir no 31º de Asa, teríamos sérias
dificuldades tanto para compor os sincronismos das datas que se
seguem, como também para lidar com o fato que em nenhum
momento Tibni é referido em qualquer lugar como rei.

7 - Onri não poderia ter iniciado um governo de 12 anos a partir de


31º de Asa porque seu filho Acabe irá sucede-lo 7 anos depois no
ano 38º de Asa (1 Rs 16:29).

Conclusão - Temos, portanto, que Onri começou a reinar no ano 27º


de Asa, rei de Judá, e reinou 12 anos, até o ano 38º de Asa, ano que
marca o início do reinado de Acabe, seu sucessor.

No ano 31º de Asa, morreu Tibni (verso 22) e Onri passou a reinar
sem oposição. Onri co-reinou com seu filho Acabe por 3 anos,
conforme veremos adiante. Foi um mal rei (1 Rs 16:25) e reinou até o
Ano Bíblico 3020. Durante seu reinado, somente Asa governou sobre
Judá.
167

Acabe - 7° rei de Israel – 22 anos - 878 AC a 857 AC


(A.B. 3018 até A.B. 3039)

“E Acabe, filho de Onri, começou a reinar sobre Israel no ano


trigésimo oitavo de Asa, rei de Judá; e reinou Acabe, filho de Onri,
sobre Israel, em Samaria, vinte e dois anos.” (1 Rs 16:29)

1 Rs 16:29 nos informa que Acabe, filho de Onri, começou a reinar


sobre Israel no 38º ano de Asa, rei de Judá, e que reinou por 22
anos.
Coregência Acabe / Onri – 881 AC a 879 AC
(A.B. 3018 até A.B. 3020)

1 - O longo reinado de 41 anos de Asa, rei de Judá, terminou no Ano


Bíblico 3023, quando foi sucedido por Jeosafá, no 4° ano de Acabe.

2 - O início de Acabe no 38º ano de Asa determina a morte de seu


pai Onri e inicia o seu período de governo, mas não prova se houve
ou não coregência com Onri.

3 - Para saber se houve coregência temos que determinar o ano de


sua morte: Acabe morreu no 17° ano de Jeosafá (1 Rs 22:52), ano
de início de Acazias, seu sucessor, no Ano Bíblico 3039. Logo,
subtraindo-se os 22 anos de reinado de Acabe do ano de sua morte
(3039 – 21 = 3018), temos que Acabe começou a reinar de fato no
Ano Bíblico 3018, equivalente ao 36° ano de Asa.

4 - Como 1 Rs 16:29 nos informa que Acabe começou a governar no


38° ano de Asa, logo concluímos que Acabe co-reinou com seu pai
Onri por 3 anos, ou seja, do 36° ao 38° ano de Asa.

5 - O ano de ascensão de Acabe, 38º ano de Asa, marca de fato a


morte de Onri.

6 - Subtraindo-se os 12 anos de reinado de Onri do 38º ano de Asa,


chegamos ao 27º de Asa, data de ascensão de Onri, de onde se
conclui de outra maneira que pai e filho co-reinaram por 3 anos.

7 - A coregência de Acabe com Onri, seu pai, se demonstra ainda


desta maneira: Acazias, sucessor de Acabe, começou a reinar no 17º
ano de Jeosafá.
168

8- Acabe reinou, portanto, estes 17 anos de Jeosafá e mais 5 anos


no período de Asa, antecessor de Jeosafá. Teria começado então
seu período de 22 anos no ano 36 de Asa.

9 - Como Acabe iniciou seu reinado em 38 de Asa, conclui-se que


co-reinou 3 anos com Onri (36, 37 e 38).

Conclusão: Acabe tem duas contagens distintas de seu tempo de


reinado: uma com 22 anos a partir do Ano Bíblico 3018 quando inicia
seu co-reinado com seu pai Onri, e outra de 20 anos que se inicia no
38º ano de Asa (1 Rs 16:29) que passa a contar seu tempo depois da
morte de Onri.
Durante a parte final do reinado de Onri não havia nenhum
impedimento de qualquer natureza que o forçasse a partilhar seu
governo com Acabe, a não ser o de fortalecer a posição do filho em
sua sucessão. A este favor, além das disputas naturais pela
sucessão, principalmente entre os comandantes do exército de
Israel, Onri tinha motivos de sobra para temer que também pessoas
ligadas a Tibni pudessem ter as mesmas pretensões, uma vez que a
guerra de 5 anos entre estas duas facções mostra claramente que o
grupo liderado por Tibni era forte o bastante para sustentar este
longo confronto e que após tanto tempo a ambição de muitos poderia
aflorar.

Conforme 1 Rs 16:34, durante o reinado de Acabe, Hiel, o betelita,


reconstruiu Jericó. Cumpriu-se então a maldição lançada por Josué
(Js 6:26) sobre quem reconstruisse a cidade, quando morreram
Abirão, primogênito de Hiel, quando a cidade foi fundada, e Segube,
seu filho mais jovem, quando concluiu sua construção.

Acabe era casado com Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, a
qual muito contribuiu para que Israel permanecesse na idolatria.
Entre outras más ações, ela mandou que fossem mortos todos os
profetas de Deus que se encontravam em Israel (1 Rs 18:4).

Durante todo seu reinado Acabe teve forte oposição do Profeta Elias,
empenhado em mostrar a diferença entre Baal, a quem Acabe
adorava (1 Rs 16:31) e Jeová, o Deus verdadeiro.

O Profeta Elias recebeu no tempo de Acabe a incumbência de ungir


três pessoas: Eliseu, como profeta que irá substituí-lo, Jeú, como rei
de Israel, e Hazael como rei da Síria. Elias unge a Eliseu como
profeta lançando sobre ele sua capa (1 Rs 19:19).
169

A Eliseu caberá a tarefa de ser a voz de Deus sobre Israel. Coube


também a Eliseu, depois do arrebatamento de Elias (2 Rs 2:11),
ungir os dois outros escolhidos: Hazael será o novo rei da Síria (2 Rs
8:13) a quem caberá punir a idolatria de Israel diminuindo suas as
fronteiras (2 Rs 10:32), e Jeú será ungido rei sobre Israel (2 Rs 9:3),
a quem caberá a missão de exterminar toda a descendência de
Acabe.

Mesmo sendo idólatra, Acabe obteve de Deus duas grandes vitórias


diante do muito mais bem aparelhado exército sírio comandado pelo
rei Bene-Hadade, a quem Acabe, depois de derrotar, poupa a vida.
Tempos depois paga seu erro sendo morto pelo seu exército.

Este Bene-Hadade vem a ser o segundo rei com este nome a ser
citado na Bíblia, sendo filho daquele que veio em auxílio de Asa,
quando Baasa, rei de Israel, bloqueou os acessos a Judá.

Acabe foi o pior dos reis de Israel (1 Rs 21:25), mas sua história nos
serve como figura da graça de Deus sempre presente mesmo nas
vidas daqueles que não o procuram, onde abundam oportunidades
de reconciliação com o Criador, sempre por Sua iniciativa.

Acabe recebeu gratuitamente muito de Deus, como muitos recebem


diariamente do Senhor os seus cuidados, mas que à semelhança de
Acabe preferem virar-lhe as costas.

Durante o reinado de Acabe sobre Israel, reinaram em Judá Asa por


5 anos, e Jeosafá por 17.

Jeosafá - 4° rei de Judá – 25 anos - 876 AC a 852 AC


( A.B. 3023 até A.B. 3047)

“E Jeosafá, filho de Asa, começou a reinar sobre Judá no quarto ano


de Acabe, rei de Israel. E era Jeosafá da idade de trinta e cinco anos
quando começou a reinar; e vinte e cinco anos reinou em Jerusalém;
e era o nome de sua mãe Azuba, filha de Sili.” (1 Rs 22:41-42)

Jeosafá, 4° rei de Judá, sucedeu naturalmente Asa, seu pai, no 4°


ano de Acabe (3020 + 3), com 35 anos de idade, e reinou 25 anos (1
Rs 22:41-42). A Bíblia menciona que Azuba, filha de Sili, era sua
mãe. Deveria ser, portanto, judia, uma vez que sua nacionalidade
não é mencionada.
170

Foi um rei fiel a Deus, seguindo os mesmos passos de seu pai.


Empenhou-se em disseminar a Lei de Moisés entre o povo e desta
forma Deus lhe confirmou o reinado e o fortaleceu sobremaneira, de
modo que pode fortificar várias cidades de Judá e prosperar, obtendo
desta forma grande respeito por parte dos povos vizinhos (2 Cr
17:10).

Embora fosse um rei que nunca se apartou do caminho de Deus,


nem por isto presumiu que sua proteção sobre Judá fosse
incondicional. Quando ameaçado por amonitas, moabitas e
edomitas, que vieram unidos fazer guerra contra Judá, Jeosafá (e
todo o povo) se humilhou e pediu graça a Deus contra seus inimigos.
Vejamos 2 Cr 20:12:

“Ah! nosso Deus, porventura não os julgarás? Porque em nós não há


força perante esta grande multidão que vem contra nós, e não
sabemos o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em ti.”

Lembremos que Moisés, a caminho da terra prometida, no 40° ano


da peregrinação pelo deserto, quis atravessar as fronteiras dos filhos
de Esaú (Dt 2:1-9), as montanhas de Seir, mas Deus ordenou que
Israel se desviasse deste povo. Agora, num senso de oportunismo do
mais forte contra o mais fraco, Edom se junta aos moabitas e
amonitas contra Judá (2 Cr 20:10).

Foram derrotados por Deus sem que Jeosafá necessitasse colocar


um homem sequer na batalha (2 Cr 20:17-24), e nem mesmo buscar
ajuda junto ao rei de Israel com quem havia colaborado em situação
semelhante.

Com certeza é esta a maior lição que se pode tirar da vida deste
grande rei: Muitas vezes nos sentimos garantidos pela proteção de
Deus e não nos damos conta de que o inimigo arregimenta forças
para nos destruir. Jeosafá não se sentiu seguro somente porque
andava com Deus, mas na hora da aflição, chamou todo o povo e
clamou pela proteção do Criador: Um grande ato de fé, tornar pública
uma petição a Deus.

Jeosafá co-reinou com seu filho Jeorão entre os anos 17º e 25º de
seu reinado, sobre o que trataremos adiante, no reinado de Jeorão.
Uma vez que não há qualquer indicação de problemas graves, a
principal motivação desta coregência foi a de assegurar que Jeorão,
o primogênito, reinaria após Jeosafá, sobretudo para consolidar a
171

aliança estabelecida entre Israel e Judá: Jeorão casou-se com Atalia,


filha de Acabe, rei de Israel (2 Cr 21:6).

Flávio Josefo trata Atalia pelo nome de Gotólia, e credita este


casamento a uma aliança que Jeosafá fez com Acabe para manter a
paz também com Israel, uma vez que ele conseguira ter paz com
todos os povos vizinhos (História dos Hebreus, Volume 3, Capítulo
367).

Anos depois de haver unido suas famílias, no mesmo ano em que


Acabe viria a morrer, Jeosafá fez com ele uma aliança para fazer
guerra contra o rei da Síria. Por conta disto, sofreu uma séria
reprimenda por parte do Profeta Jeú (2 Cr 19:2). Acabe veio a falecer
na batalha por causa de uma flecha atirada a esmo.

Jeorão se aliou ainda, depois disto, a seu cunhado , a seu cunhado,


Jorão, rei de Israel, filho de Acabe, para lutar contra os moabitas (2
Rs 3:7), ocasião em que também foram vitoriosos.

Durante o reinado de Jeosafá sobre Judá, reinaram em Israel,


Acabe, por 17 anos, Acazias por 1 ano, e Jorão por 7 anos,
descontados os anos de ascensão dos dois últimos. Jeosafá morreu
no Ano Bíblico 3047, (851 AC) quando foi sucedido por seu filho
Jeorão.

Acazias - 8° rei de Israel – 2 anos - 860 AC a 859 AC


(A.B. 3039 até 3040 A.B.)

“E Acazias, filho de Acabe, começou a reinar sobre Israel, em


Samaria, no ano dezessete de Jeosafá, rei de Judá; e reinou dois
anos sobre Israel.” (1Rs 22:52)

“E caiu Acazias pelas grades de um quarto alto, que tinha em


Samaria, e adoeceu. “ (2 Rs 1:2)

“Assim, pois, morreu, conforme a palavra do Senhor, que Elias falara;


e Jorão começou a reinar no seu lugar no ano segundo de Jeorão,
filho de Jeosafá, rei de Judá; porquanto não tinha filho.” (2 Rs 1:17)

Acazias, filho de Acabe e Jezabel, foi o 8° rei de Israel e começou a


reinar Ano Bíblico 3039, no 17° ano de Jeosafá, 4° rei de Judá (1 Rs
22:52). Reinou 2 anos e foi um mau rei, idólatra e prepotente,
conforme 1 Rs 22:53.
172

Durante seu reinado, os moabitas, que eram desde o tempo de seu


pai tributários de Israel, se revoltaram e cessaram os pagamentos de
tributos, fato que viria a se desenrolar no reinado de Jorão, seu irmão
e sucessor.

Em seu segundo ano de reinado Acazias sofreu um acidente: caiu


pelas grades de um quarto alto (2 Rs 1:2) e ficou muito doente.
Mandou então mensageiros consultar ao deus de Ecron para saber
se sararia de sua doença.

O Profeta Elias foi então enviado ao rei para questionar se não havia
Deus em Israel para que procurasse deuses estranhos. Elias adverte
o rei que ele não desceria da cama em que estava e morreria, como
de fato morreu.

Acazias reinou até o Ano Bíblico 3040 e foi sucedido por seu irmão
Jorão, pois não tinha filhos. Durante seu governo, Jeosafá e Jeorão
co-reinaram em Judá.

Jorão - 9° rei de Israel – 12 anos - 859 AC a 848 AC


(3040 até A.B. 3051 A.B.)

“Assim, pois, morreu (Acazias), conforme a palavra do Senhor, que


Elias falara; e Jorão começou a reinar no seu lugar no ano segundo
de Jeorão, filho de Jeosafá, rei de Judá; porquanto não tinha filho
(era irmão de Acazias).” (2 Rs 1:17)

“E Jorão, filho de Acabe, começou a reinar sobre Israel, em Samaria,


no décimo oitavo ano de Jeosafá, rei de Judá; e reinou doze anos.”
(2 Rs 3:1)

Acazias, 8° rei de Israel, morreu e não tinha filhos. Seu irmão,


também filho de Acabe e Jezabel, Jorão, começou a reinar em seu
lugar no 858 AC (Ano Bíblico 3040) e reinou por 12 anos.

Há duas diferentes datas para o início do reinado de Jorão, a saber,


18º de Jeosafá (2 Rs 3:1), e 2° de Jeorão (2 Rs 1:17), o que
estabelece um ponto de sincronismo entre os reinos de Judá e Israel
no ano 858 AC, mostrando que Acazias e Jorão co-reinaram desde o
início de Acazias.
173

A cronologia do reinado de Jorão será ainda sincronizada no seu


final em função da morte imposta por Jeú a Jorão, rei de Israel e a
Acazias, rei de Judá, em 3051 A.B.

Os moabitas pagavam anualmente a Israel tributos em gado, mas


sabendo que Acabe havia falecido pararam de pagar tributos ainda
no tempo de Acazias, e saíram à guerra contra Jorão. Este se aliou a
Jeosafá, rei de Judá, e por confirmação do profeta Eliseu, derrotou
de forma esplêndida e com muitos sinais da parte de Deus os
moabitas (2 Rs 3:21-27).

Bene-Hadade (o segundo) sitiou a Samaria nos dias de Jorão, de


modo que houve ali muita fome, chegando o povo a recorrer ao
canibalismo para sobreviver (2 Rs 6:29).

Houve ainda, conforme o aviso dado pelo Profeta Eliseu à Sulamita


(2 Rs 8:1-2), sete anos de fome sobre Israel, o que aparentemente
coincide com o período relatado em 2 Rs 4:3, quando os profetas são
servidos a comer uma planta envenenada. No entanto, não há como
localizar com precisão onde este acontecimento se encaixa em
termos cronológicos, mas, por se tratar de um período extenso, sete
anos, deve provavelmente ter ocorrido entre 855 AC e 849 AC.

No tempo de Jorão o Profeta Eliseu ungiu Hazael rei da Síria e


mandou ungir Jeú rei sobre Israel. Jeú viria a matar Jorão no seu 12º
e último ano de reinado (847 AC), como também Acazias, rei de
Judá, estabelecendo desta forma um ponto de sincronismo
cronológico no período.

O Profeta Eliseu é a figura marcante deste período, onde detalhes de


sua vida vida são relatados entre os capítulos 2 a 13 de 2 Rs. Os
relatos contidos nos capítulos 2 a 8 estão visivelmente fora de uma
ordem cronológica, o que mostra que na pesquisa que o relator de 2
Rs fez sobre as crônicas deste período, achou por bem inserir nos
dias de Jorão os feitos do profeta.

Observe, por exemplo, a história de Geazi, o moço de Eliseu,


comparando 2 Rs 5:27, quando Geazi é atacado pela lepra e 2 Rs
8:4-6, onde Geazi ainda está são. Não há nenhuma preocupação do
relator com a cronologia do período, mas somente relatar os feitos do
profeta.
174

Jorão governou até 847 AC. Durante seus 12 anos de reinado, em


Judá Jeosafá e Jeorão co-reinaram por 9 anos, Jeorão reinou
sozinho 3 anos, e Acazias 1 ano.

Jeorão - 5º rei de Judá – 13 anos - 860 AC a 848 AC


(A.B. 3039 até A.B. 3051)

“E no ano quinto de Jorão, filho de Acabe, rei de Israel, reinando


ainda Jeosafá em Judá, começou a reinar Jeorão, filho de Jeosafá,
rei de Judá. Era ele da idade de trinta e dois anos quando começou a
reinar, e oito anos reinou em Jerusalém.” (2 Rs 8:16-17)

Jeorão, rei de Judá, começou a reinar no 5° ano de Jorão, rei de


Israel, e reinou 8 anos até a sua morte no Ano Bíblico 3051 (2 Rs
8:16-17).

Coregência Jeosafá / Jeorão – 860 AC a 852 AC


(3039 AB até A.B. 3047)

1 – Conforme 2 Rs 8:16-17 Jeosafá ainda estava vivo quando Jeorão


começou a reinar;

2 – Jeorão foi durante todo seu reinado contemporâneo de Jorão, rei


de Israel. A semelhança entre os dois nomes tende a exigir maior
atenção quanto às referências que se seguem;

3 – Jorão, o rei de Israel contemporâneo de Jeorão, rei de Judá, tem


duas referências distintas sobre o início de seu reinado:

Referência 1 - conforme 2 Rs 1:17 “Assim, pois, morreu (Acazias),


conforme a palavra do Senhor, que Elias falara; e Jorão começou a
reinar no seu lugar no ano segundo de Jeorão, filho de Jeosafá, rei
de Judá; porquanto não tinha filho”;

Referência 2 - conforme 2 Rs 3:1: “E Jorão, filho de Acabe, começou


a reinar sobre Israel, em Samaria, no décimo oitavo ano de Jeosafá,
rei de Judá; e reinou doze anos.”

4 - Se o 18° ano de Jeosafá, corresponde ao 2° ano de Jeorão,


conforme os textos acima, logo, o 17° ano de Jeosafá corresponde
ao 1° de Jeorão;
175

860 AC Jeosafá / Jeorão 1 17 22 Acab /Acazias


859 AC Jeosafá / Jeorão 2 18 1 Acazias/Jorão 1 Rs 3:1
858 AC Jeosafá / Jeorão 3 19 2 Jorão
857 AC Jeosafá / Jeorão 4 20 3 Jorão
856 AC Jeosafá / Jeorão 5 21 4 Jorão
855 AC Jeosafá / Jeorão 6 22 1 5 Jorão 2 Rs 8:16-17
854 AC Jeosafá / Jeorão 7 23 2 6 Jorão
853 AC Jeosafá / Jeorão 8 24 3 7 Jorão
852 AC Jeosafá / Jeorão 9 25 4 8 Jorão
851 AC Jeorão 10 5 9 Jorão
850 AC Jeorão 11 6 10 Jorão
849 AC Jeorão 12 7 11 Jorão
848 AC Jeorão / Acazias 13 8 12 Jorão / Jeú

5 - Vejamos também o que nos diz 2 Rs 8:16-17: “E no ano quinto


de Jorão, filho de Acabe, rei de Israel, reinando ainda Jeosafá em
Judá, começou a reinar Jeorão, filho de Jeosafá, rei de Judá. Era ele
da idade de trinta e dois anos quando começou a reinar, e oito anos
reinou em Jerusalém.”

6 – Temos, desta forma, dois inícios distintos para Jeorão: o primeiro


no 17° ano de Jeosafá, seu pai, e o segundo, 5 anos mais tarde, no
5° ano de Jorão, consequentemente 22° de Jeosafá. O primeiro
registro indica que Jeorão já havia sido escolhido sucessor de
Jeosafá, e o segundo indica a data em que passou realmente a co-
reinar com seu pai.

7 – Jeorão co-reinou, portanto, com seu pai, desde seu 17° ano de
governo até o 25°, pois Jeosafá reinou 25 anos.

8 - Entre 3039 A.B. e 3047 A.B., ou seja, por 9 anos, Jeorão co-
reinou com seu pai Jeosafá, numa espécie de 1ª coregência, sem
que Jeosafá tivesse qualquer impedimento para reinar sozinho. Daí,
3040 A.M ser o 2° ano de Jeorão (2 Rs 1:17), ano este em que Jorão
assume o trono de Israel, sendo também o 18° ano de Jeosafá.

Seria por volta desta época que Jeosafá e Acabe teriam consolidado
sua aliança pelo casamento de seus filhos Jeorão e Atalia, o que
demonstra que a oficialização da escolha de Jeorão tranquilizaria
Acabe quanto a quem seria o sucessor em Judá.
176

Jeosafá já escolhera Jeorão para sucede-lo, evitando desta maneira


possíveis disputas entre os demais filhos, conforme 2 Cr 21:2-3: “E
(Jeorão), teve irmãos filhos de Jeosafá: Azarias, Jeiel, Zacarias,
Asarias, Micael e Sefatias; todos estes foram filhos de Jeosafá, rei de
Israel. E seu pai lhes deu muitos presentes de prata, de ouro e de
coisas preciosíssimas, juntamente com cidades fortificadas em Judá;
porém, o reino, deu a Jeorão, porquanto era o primogênito.”

9 - Entre 3044 A.B. e 3047 A.B. Jeosafá era ainda vivo, mas não
tomava decisões de governo, o que nos sugere que Jeosafá pudesse
ter adoecido gravemente (2 Rs 8:16). Durante este período Jeorão
era o rei de fato.

10 – Entre 3047 A.M, ano de falecimento de Jeosafá. e 3051 A.B.,


Jeorão reinou sozinho.

Durante seu governo Acazias reinou em Israel por 2 anos, e Jorão


por 12 anos.

Acazias - 6° rei de Judá – 1 ano - 848 AC


( A.B. 3051)

“No ano doze de Jorão, filho de Acabe, rei de Israel, começou a


reinar Acazias, filho de Jeorão, rei de Judá. Era Acazias de vinte e
dois anos de idade quando começou a reinar, e reinou um ano em
Jerusalém; e era o nome de sua mãe Atalia, filha de Onri, rei de
Israel.” (2 Rs 8:25-26)

Acazias, 6° rei de Judá, filho de Jeorão e Atalia, filha de Onri, rei de


Israel, passou a reinar no 12° ano de Jorão, rei de Israel (3040 + 11),
conforme 2 Rs 8:25. De acordo com 2 Rs 9:29, passou a reinar no
11º ano de Jorão, não contado seu ano de ascensão. Reinou apenas
um ano. No seu tempo o Profeta Eliseu mandou ungir Jeú rei de
Israel (2 Rs 9:1-2).

Acazias aliou-se com Jorão, rei de Israel, na guerra contra Hazael, rei
da Síria, ocasião em que Jorão foi ferido em batalha. Acazias morreu
no Ano Bíblico 3051, ano em que há um sincronismo entre os
governos de Israel e Judá, pelo fato de que com a unção de Jeú
como rei de Israel (2 Rs 9:1-2), este vem a matar tanto Acazias, rei
de Judá, quanto Jorão, rei de Israel.
177

Acazias é um dos três reis proscritos por Mateus em sua genealogia


de Jesus. Embora seja ancestral de Jesus, Mateus não o relaciona
como tal.

Em lugar de Acazias, Atalia, sua mãe, toma o governo de Judá por 6


anos. Durante seu reinado Jorão governou Israel.

Jeú - 10° rei de Israel – 28 anos - 848 AC a 821 AC


(A.B. 3051 até A.B. 3078)

“E os dias que Jeú reinou sobre Israel, em Samaria, foram vinte e


oito anos.” ( 2 Rs 10:36)

No último ano de reinado de Acazias de Judá e Jorão de Israel, o


Profeta Eliseu chamou um de seus discípulos e mandou que este
fosse ungir a Jeú rei de Israel (2 Rs 9:1), cumprindo assim a ordem
dada por Deus a Elias (1 Rs 19:16). Jeú era então um dos capitães
do exército de Israel. O nome de seu pai era Jeosafá, filho de Ninsi.

Fez o discípulo conforme o Profeta determinara e chamando-o à


parte o ungiu rei sobre Israel e deu-lhe instruções de Deus para
exterminar toda a descendência de sexo masculino de Acabe (2 Rs
9:7-8).

Embora não haja nenhuma referência sobre o seu início de reinado,


conforme usual, Jeú passou a reinar no último ano de Acazias e
Jorão, ano em que matou os dois.

Jorão se encontrava em Jezreel convalescendo dos ferimentos que


sofrera na batalha contra Hazael, rei da Síria, juntamente com
Acazias, rei de Judá, que fora visitá-lo por saber que estava ferido.

Jeú matou primeiramente Jorão e ordenou que seu corpo fosse


jogado no campo de Nabote. Cumpriu-se, assim, a profecia de Elias,
conforme 1 Rs 21:19-21.

Azarias, rei de Judá, foi morto posteriormente em Megido.

Na sequência dos fatos, em Jizreel, Jeú mandou que matassem a


Jezabel, esposa de Acabe. Jezabel foi atirada das alturas do palácio
pelos eunucos, obedecendo à ordem de Jeú. Cumpriu-se assim outra
profecia de Elias, conforme 2 Rs 9:36: “No pedaço do campo de
Jizreel os cães comerão a carne de Jezabel.”
178

Jeú mandou então cartas aos chefes de Samaria pedindo as


cabeças dos 70 descendentes de Acabe que lá se encontravam.
Estes os mataram e enviaram suas cabeças à Jezreel onde Jeú se
encontrava.

Jeú matou ainda todos os parentes de Acabe, além de seus amigos


e sacerdotes a ele ligados, bem como muitos dos parentes e
descendentes de Acazias, rei de Judá. Convocou ainda à Samaria
todos os profetas de Baal, aos quais matou numa pretensa cerimônia
de adoração a este deus (2 Rs 10).

Interessante notar, conforme 2 Rs 10:9-10, que Jeú tinha uma


profunda convicção que executava ele próprio a vontade de Deus,
conforme as profecias de Elias. Mesmo assim não foi fiel a Deus,
mas, pelo seu zelo em executar a Sua vontade no tangente à casa
de Acabe, Deus prometeu a Jeú que até a sua 4ª geração se
assentaria no trono de Israel, o que acontece até o reinado de
Zacarias, 14° rei de Israel (2 Rs 15:12).

O início de Jeú é marcado pelas mortes dos reis de Israel e Judá, o


que sincroniza a história dos dois reinados fazendo coincidir o seu
primeiro ano com o primeiro ano de Atalia.

Durante seu reinado Atalia governou Judá por 6 anos, seguida de


Joás, por 22 anos.

Atalia – 6 anos - 847 AC a 842 AC


(A.B. 3052 até A.B. 3057)

“Vendo, pois, Atalia, mãe de Acazias, que seu filho era morto,
levantou-se, e destruiu toda a descendência real. Mas Jeoseba, filha
do rei Jorão, irmã de Acazias, tomou a Joás, filho de Acazias,
furtando-o dentre os filhos do rei, aos quais matavam, e o pôs, a ele
e à sua ama na recâmara, e o escondeu de Atalia, e assim não o
mataram. E esteve com ela escondido na casa do Senhor seis anos;
e Atalia reinava sobre o país.” ( 2 Rs 11:1-3)

Atalia, mãe de Acazias, 6° rei de Judá, era filha de Jezabel e Acabe


(2 Cr 22:2) e esposa de Jeorão, 5° rei de Judá. Conforme 2 Rs 11:1,
quando soube que Jeú havia matado Acazias, seu filho, tomou o
governo de Judá vindo a controlar o país por 6 anos.
179

Vingando-se do extermínio levado a cabo por Jeú, que matou todos


os homens da casa de Acabe, seu pai, mandou matar todos os
possíveis herdeiros de Judá, incluindo seus netos. O único dos
descendentes de Davi que sobreviveu a esta chacina foi Joás, filho
de Acazias, neto, portanto, de Atalia, que foi escondido por uma das
irmãs de Acazias por nome Jeoseba, esposa do sacerdote Joiada.

Durante 6 anos Joás ficou escondido no templo e protegido pelo


sacerdote Joiada. No 6° ano depois da morte de Acazias, o
sacerdote Joiada, com o apoio dos capitães do exército de Judá,
coroou Joás como rei e mandou matar Atalia no Ano Bíblico 3057.

Houvesse Joás sido morto junto com seus irmãos, terminaria o ciclo
de sucessores de Davi ao trono de Judá. A promessa feita a Davi por
Deus (1 Rs 2:4) de que nunca lhe faltaria herdeiro ao trono de Israel
implicava por certo a contrapartida de fidelidade ao Altíssimo. Muitos
reis de Judá faltaram a este compromisso, mas Deus, por amor a
Davi, não permitiu que isto acontecesse. (2 Rs 8:19; 2 Rs 19:34; 2 Rs
20:6).

À luz de Ef 6:12 podemos afirmar que a ascensão de Atalia ao


controle de Judá não pode ser vista como fruto do acaso, mas sim
como produto do empenho do mundo das trevas para destruir os
planos de Deus, colocando nos dois reinos, Israel e Judá, reis
idólatras e além disto, exterminar a descendência de Davi.

Atalia não só tem um valor estratégico para o inimigo, como também


foi preparada para esta situação: sua mãe Jezabel, rainha de Israel,
mulher de Acabe, muito influenciou o curso da história que fez Israel
afundar ainda mais na idolatria.

Jezabel era filha de Etbaal, rei dos sidônios, povo idólatra que tinha
Baal como deus (1 Rs 16:31). Mandou matar todos os profetas de
Deus em Israel (1 Rs 18:4); perseguiu o profeta Elias para matá-lo (1
Rs 19:2); cultivou a ambição pelos bens pessoais (1 Rs 21:7) e
incentivou seu marido a fazer constantemente o mal (1 Rs 21:25).

A aliança entre Israel e Judá foi selada pelo casamento de Jeorão,


primogênito de Jeosafá, e Atalia, filha de Acabe e Jezabel. Desta
união nasceu Acazias, a quem coube suceder o pai.

Neste ponto da história temos Acazias como rei de Judá e Jorão


como rei de Israel, ambos descendentes de Acabe. Atalia é esposa
de um e irmã do outro.
180

Quando Jeú mata Acazias e Jorão (2 Cr 22:7), resta ainda Atalia para
atentar contra os planos de Deus.

Sob nenhum aspecto é vista como rainha de Judá. Joás, recém-


nascido, teve sua vida guardada para suceder seu pai na herança de
Davi. No seu tempo Jeú somente governou Israel.

Joás - 7° rei de Judá – 40 anos - 842 AC a 803 AC


(A.B. 3057 até A.B. 3096)

“Era Joás da idade de sete anos quando o fizeram rei.” (2 Rs 11:21)

“No ano sétimo de Jeú começou a reinar Joás, e quarenta anos


reinou em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Zíbia, de Berseba.”
(2 Rs 12:1)

Joás foi o mais jovem dos reis tanto de Judá como de Israel. Tornou-
se rei aos 7 anos de idade, no 7° ano de Jeú (2 Rs 12:1), portanto,
no Ano Bíblico 3057. Era filho de Acazias e Zíbia era o nome de sua
mãe. Reinou por 40 anos.

A vida de Joás foi poupada quando Atalia matou todos os


descendentes da casa de Davi. Foi tutelado pelo sacerdote Joiada,
que no ano de sua posse fez um pacto entre Deus, o rei, e o povo,
de maneira que profundas mudanças religiosas aconteceram
naquele tempo, a começar pela destruição do templo de Ball e a
morte de Matã, seu sacerdote.

No 23° ano de seu reinado reformou o templo, pois, conforme 2 Cr


24:7, Atalia e seus filhos dilapidaram a casa de Deus em favor do
culto dos baalins.

O sacerdote Joiada morreu pouco tempo depois da reforma do


templo estar concluída, aos 130 anos de idade (II Cr 24:15).

Joás foi um rei fiel a Deus durante todo o tempo que Joiada o dirigia.
No entanto, após a morte de Joiada, passou a ouvir os príncipes de
Judá e permitiu a volta do culto pagão.

Além de muitos profetas (2 Cr 24:17), Deus enviou para repreendê-lo


o sacerdote Zacarias, filho de Joiada, que foi apedrejado e morto por
mandado do rei, não se lembrando desta forma dos benefícios que
recebera de seu pai (2 Cr 24:22).
181

Assim, antes que se findasse o ano, Deus enviou para vingar a morte
de Zacarias a Hazael, rei da Síria, que matou todos os príncipes de
Judá, saqueando-lhes os bens.

Interessante notar que o exército sírio era então muito menor e mais
fraco que o de Judá. Joás, para ser deixado em paz, entregou a
Hazael todo o ouro que havia no templo.

Quando os sírios partiram, a saúde de Joás era precária e seus


próprios servos, para vingar a morte do sacerdote Zacarias o
mataram em sua própria cama.

Joás co-reinou com seu filho Amazias nos três últimos anos de seu
governo. É o 2° rei de Judá proscrito por Mateus na genealogia de
Jesus.

Durante seu governo, reinaram sobre Israel Jeú por 21 anos,


Jeoacaz por 17 anos, Jeoás por 4 anos e Jeroboão por 1 ano em que
co-reinou com Jeoacaz.

Jeoacáz - 11° rei de Israel – 17 anos - 820 AC a 804 AC


(A.B. 3079 até A.B. 3095)

“No ano vinte e três de Joás, filho de Acazias, rei de Judá, começou
a reinar Jeoacaz, filho de Jeú, sobre Israel, em Samaria, e reinou
dezessete anos.” (2 Rs 13:1)

Jeoacaz, filho de Jeú, começou a reinar sobre Israel no 23° ano de


Joás, rei de Judá, portanto, no Ano Bíblico 3079 e reinou por 17 anos
(2 Rs 13:1-2).

Por ser infiel a Deus, teve problemas com a Síria durante todos os
dias de seu reinado, tanto com Hazael, como com Bene-Hadade, seu
filho e sucessor. Este seria o terceiro Bene-Hadade citado pela
Bíblia. Foi tamanha a destruição que a Síria trouxe sobre Israel, que
conforme 2 Rs 13:7 restaram pouco mais de 10.000 homens em seu
exército.
182

Coregência Jeoacaz / Jeoás – 3 anos – 806 AC a 804 AC


(A.B. 3093 até A.B. 3095)

1 - Jeoacaz morreu no Ano Bíblico 3095, sendo substituído por seu


filho Jeoás, com quem já co-reinava.
2 - Como iniciou seu reinado no ano 23 de Joás (2 Rs 13:1) e reinou
por 17 anos, logo, reinou até o ano 39 de Joás.

3 - Jeoáz, seu filho, começou a reinar no ano 37 de Joás (2 Rs


13:10), havendo, portanto, 3 anos de co-reinado entre Jeoacaz e
Jeoás.

Jeoacaz é a primeira geração de Jeú a sucedê-lo no trono de Israel


conforme a promessa de Deus a seu pai, de acordo com 2 Rs 10:30:
“disse o Senhor a Jeú: Porquanto bem agiste em fazer o que é reto
aos meus olhos e, conforme tudo quanto eu tinha no meu coração,
fizeste à casa de Acabe, teus filhos, até à quarta geração, se
assentarão no trono de Israel.”

Durante seu governo reinaram sobre Judá Joás por 17 anos, e


Amazias co-reinando com Joás em seus dois últimos anos e
governo.

Jeoás - 12° rei de Israel – 16 anos - 806 AC até 791 AC


(A.B. 3093 até A.B. 3108)

“No ano trinta e sete de Joás, rei de Judá, começou a reinar Jeoás,
filho de Jeoacaz, sobre Israel, em Samaria, e reinou dezesseis anos.”
(2 Rs 13:10)

Jeoás, 12° rei de Israel, começou a reinar no 37° ano de Joás, rei de
Judá e reinou por 16 anos.

Como já vimos, Jeoacaz (11° rei de Israel), seu pai, que reinou 17
anos, faleceu apenas no ano 39 de Joás. Temos, portanto, um co-
reinado de 3 anos de Jeoacaz com Jeoás, nos anos 37, 38 e 39 de
Joás, rei de Judá.

Esteve em guerra contra Amazias, rei de Judá, sendo esta, talvez,


uma das razões pela qual compartilhou todo seu reinado com seu
filho Jeroboão II.
183

A referida guerra foi iniciada por Amazias e vencida por Jeoás.


Conforme 2 Rs 14:13-14: “Jeoás, rei de Israel, tomou a Amazias, rei
de Judá, filho de Joás, filho de Acazias, em Bete-Semes; e veio a
Jerusalém, e rompeu o muro de Jerusalém, desde a porta de Efraim
até a porta da esquina, quatrocentos côvados. E tomou todo o ouro e
a prata, e todos os vasos que se acharam na casa do Senhor e nos
tesouros da casa do rei, como também os reféns e voltou para
Samaria.”

Flávio Josefo comenta que isto veio a acontecer no 14° ano de


Amazias. Fossem quais fossem os motivos, em seus 16 anos de
governo Jeoás nunca reinou sozinho: os 3 primeiros anos co-reinou
com seu pai Jeoacaz e a partir de seu 4° ano de governo com seu
filho Jeroboão.

Conforme 2 Rs 13:22-25 Hazael, rei da Síria, oprimiu a Israel todos


os dias de Jeoacaz, pai de Jeoás, e tomou de Israel muitas cidades.

No tempo de Jeoás o Senhor teve misericórdia de Israel por amor da


sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó, e depois da morte de
Hazael, quando reinava Bene-Hadade, Jeoás tornou a tomar as
cidades de volta.

Jeoás representa a segunda geração de Jeú a substituí-lo no trono


de Israel à sombra da promessa de Deus feita a Jeú 2 Rs 10:30.

Durante seu governo reinaram em Judá Joás co-reinando com


Amazias por 4 anos, Amazias reinando sozinho por dois anos e
depois co-reinando com Azarias (Urias) por 10 anos.

Amazias - 8° rei de Judá – 29 anos - 805 AC a 777 AC


(A.B. 3094 até A.B. 3122)

“No segundo ano de Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, começou


a reinar Amazias, filho de Joás, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos
quando começou a reinar, e vinte e nove anos reinou em Jerusalém.
E era o nome de sua mãe Joadã, de Jerusalém.” (2 Rs 14:1)

“E viveu Amazias, filho de Joás, rei de Judá, depois da morte de


Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, quinze anos.” (2 Rs 14:17)

Conforme 2 Rs 14:1-2 Amazias reinou sobre Judá a partir do 2º ano


de Jeoás. O reinado de Amazias é marcado por duas coregências,
184

com Joás e com Azarias (Uzias), intercaladas por um breve período


de dois anos em que reinou sozinho.

Amazias foi o 8° rei de Judá, reinou por 29 anos e é o 3° rei excluído


por Mateus em seu evangelho da genealogia de Jesus.

Coregência Joás – Amazias – 3 anos - 805AC a 803 AC


(A.B. 3094 até A.B. 3096)

1 – Joás, pai de Amazias governou 40 anos (2 Rs 12:1);

2 - Jeoás, rei de Israel, começou a reinar no ano 37 de Joás,


portanto, no Ano Bíblico 3093;

3 - No ano seguinte, no segundo ano de Jeoás, rei de Israel, no Ano


Bíblico 3094, começou a reinar Amazias, filho de Joás (2 Rs 14:1-3).
Seria, portanto, o ano 38 de Joás;

4 - Desta forma vê-se claramente que Amazias co-reinou 3 anos com


seu pai entre os anos 38 e 40 de Joás.

Coregência Amazias - Azarias – 24 anos - ( 800 AC a 777 AC


(A.B. 3099 até A.B. 3122)

Quanto à extensão do co-reinado com seu filho Azarias (Uzias),


temos que atentar aos seguintes detalhes:

1 - Azarias começou a reinar no ano 27 de Jeroboão, no Ano Bíblico


3122, ano da morte de Amazias;

2 - Jeroboão, por sua vez, morreu no Ano Bíblico 3136 quando foi
substituído por Zacarias, 14º rei de Israel, no 38º ano de Azarias
(Uzias);

3 - Subtraindo-se 38 anos (de Uzias) de 3136 temos que o início de


de Azarias se deu no Ano Bíblico 3099;

4 - Como de acordo com 2 Rs 15:1 Azarias começou a reinar no 27º


ano de Jeroboão, Ano Bíblico 3122, subtraindo-se 3122 de 3099
temos que Azarias co-reinou com Amazias por 24 anos, contado seu
ano de ascensão;
185

5 - Pela análise sobre as duas coregências do período, conclui-se


que Amazias governou sozinho por apenas 2 anos de seu reinado.
Amazias teve, desde o princípio de seu governo, a preocupação de
assegurar que Uzias reinaria em seu lugar. Azarias (Uzias) reinou 52
anos conforme 2 Rs 15:2, a partir do ano 27 de Jeroboão, ano da
morte de Amazias;

6 - Refletindo ainda sobre esta coregência, se estes 52 anos de


reinado tivessem começado a partir do Ano Bíblico 3122, ano 27 de
Jeroboão, logo terminariam no Ano Bíblico 3173. Zacarias, o rei de
Israel substituto de Jeroboão assumiu seu reinado no ano 38 de
Uzias;

Se somarmos, portanto, (38 + 3127), ano de início de Uzias, no 27°


ano de Jeroboão, teríamos que Zacarias teria iniciado seu reinado
em 3159 A.B. Jeroboão morreu em 3136 A.B.. Ficaria, portanto, um
vácuo de governança de 24 anos, entre 3136 A.B. ano da morte de
Jeroboão e 3159 A.B., ano da ascensão de Zacarias;

7 - Conforme 2 Rs 14:17, a morte de Amazias veio a acontecer 15


anos após a morte de Jeoás, rei de Israel.

Durante o governo de Amazias sobre Judá reinaram em Israel


Jeoacaz co-reinando com Jeoás por 2 anos, 13 anos Jeoás co-
reinando com Jeroboão, e 14 anos Jeroboão reinando sozinho.

Jeroboão - 13° rei de Israel – 41 anos - 803 AC a 763 AC


(A.B. 3096 até A.B. 3136)

“No décimo quinto ano de Amazias, filho de Joás, rei de Judá,


começou a reinar em Samaria, Jeroboão, filho de Jeoás, rei de Israel,
e reinou quarenta e um anos.” (2 Rs 14:23)

Jeroboão começou a reinar no 15° ano de Amazias, no Ano Bíblico


3108, e reinou 41 anos (2 Rs 14:23-29). Destes 41 anos, co-reinou
com seu pai, Jeoás, por 13 anos.

Foi no seu tempo que o Profeta Jonas foi enviado por Deus a Nínive,
conforme o relato de 2 Rs 14:25.

Jonas foi também o portador da mensagem de Deus para Jeroboão


no tangente à sua campanha bem-sucedida para expandir as
186

fronteiras de Israel, na qual Jeroboão recuperou territórios perdidos


além das cidades de Damasco e Hamate.

Co-reinado Jeoás – Jeroboão – 13 anos - 803 AC a 791 AC


(A.B. 3096 até A.B. 3108)

1 - O início do reinado de Jeroboão no 15º ano de Amazias (2 Rs


14:23) marca o ano da morte de Jeoás, pai de Jeroboão, no Ano
Bíblico 3108;

2 - Amazias, rei de Judá, morreu no ano 27 de Jeroboão, o que


marca o início do reinado de Azarias no Ano Bíblico 3122;

3 - Se no Ano Bíblico 3122 estamos no 27º ano de Jeroboão, logo se


conclui que ele teria iniciado seu reinado 26 anos antes, no Ano
Bíblico 3096 (3122 – 26);

4 - Desta forma se conclui que entre 3096 A.B. e 3108 A.B. co-reinou
com seu pai pelo período de 13 anos.

Jeroboão é a terceira geração de Jeú a reinar sobre Israel à sombra


da promessa de Deus a Jeú (2 Rs 10:30).

Durante seu governo Joás co-reinou com Amazias um ano, Amazias


reinou sozinho dois anos, Amazias e Azarias co-reinaram por 24
anos, e Azarias reinou sozinho por 14 anos.

Uzias (Azarias) - 9° rei de Judá- 800 AC a 749 AC


(A.B. 3099 até A.B. 3150)

“No ano vinte e sete de Jeroboão, rei de Israel, começou a reinar


Azarias, filho de Amazias, rei de Judá. Tinha dezesseis anos quando
começou a reinar, e cinquenta e dois anos reinou em Jerusalém; e
era o nome de sua mãe Jecolias, de Jerusalém. (2 Rs 15:1-2)

“E o Senhor feriu o rei, e ficou leproso até ao dia da sua morte; e


habitou numa casa separada; porém Jotão, filho do rei, tinha o cargo
da casa, julgando o povo da terra.” (2 Rs 15:5)

Azarias, também chamado Uzias, começou a reinar no 27° ano de


Jeroboão, portanto, no Ano Bíblico 3122. Reinou por 52 anos sendo
que neste tempo co-reinou com seu pai Amazias e no fim de seus
dias com seu filho Jotão.
187

Conforme o Profeta Amós (Am 1:1) houve nos dias de Uzias,


enquanto Jeroboão reinava em Israel, um grande terremoto. Teria,
portanto, ocorrido entre os anos 3022 A.B. e 3036 A.B.

Coregência Amazias / Azarias – 24 anos - 800 AC a 778 AC


(A.B. 3099 até A.B. 3121)

1 - Se os 52 anos de reinado de Uzias tivessem começado a partir do


Ano Bíblico 3122, ano 27 de Jeroboão, logo terminariam no Ano
Bíblico 3173;

2 - Zacarias, o rei de Israel substituto de Jeroboão assumiu seu


reinado no ano 38 de Uzias;

3 - Se somarmos, portanto, (38 + 3127), ano de início de Uzias, no


27° ano de Jeroboão teríamos que Zacarias teria iniciado seu reinado
em 3159;

4 - Jeroboão morreu em 3136 A.B. Ficaria, portanto, um vácuo de


governança de 24 anos, entre 3136 A.B. ano da morte de Jeroboão e
3159 A.B., ano da ascensão de Zacarias;

5 - Temos, portanto, que Uzias co-reinou com Amazias a partir de


3099 A.B. sendo esta a data de partida para a contagem de seus 52
anos de reinado.

Coregência Azarias – Jotão – 1 ano - 749 AC


(A.B. 3150)

1 - Azarias co-reinou no último ano de seu governo com seu filho


Jotão, conforme 2 Rs 15:5: “E o Senhor feriu o rei (Uzias), e ficou
leproso até ao dia da sua morte; e habitou numa casa separada;
porém Jotão, filho do rei, tinha o cargo da casa, julgando o povo da
terra”;

2 - No ano 52 de Azarias, seu último ano de governo, Peca começou


a reinar em Israel no Ano Bíblico 3150, e reinou 20 anos;

3 - No 2º ano de Peca, rei de Israel, Jotão começou a reinar em


Judá, portanto, um ano depois do ano 52 de Azarias. Conforme 2 Rs
14:32-33, Jotão reinou 16 anos;
188

4 - De acordo com 2 Rs 15:30, Oseias matou Peca e começou a


reinar no 20º ano de Jotão;

5 - No entanto, 2 Rs 14:33 nos informa que Jotão reinou apenas 16


anos;
6 - Embora Jotão tenha reinado apenas 16 anos e não 20 anos,
conforme o 2 Reis 15:30, a referência a estes 20 anos é
absolutamente correta. Oseias começou a reinar 20 anos depois do
início de Jotão, e embora Jotão já estivesse morto há 4 anos, a
contagem está correta;

7 - Retroagindo, no entanto, deste suposto ano 20 de Jotão,


chegamos ao ano 52 de Azarias, ano de sua morte, de onde
concluímos que apenas neste ano Jotão co-reinou com seu pai.

Fundação de Roma - 754 AC


(Ano Bíblico 3145)

Gregoriano Ano Bíblico Evento Referência

47 º Ano de
8 º Ano de
Azarias
754 AC 3145 Fundação de Roma Manaem 16º
(Uzias) 9º rei
rei de Israel
de Judá

Roma foi fundada no ano 754 AC, portanto, no 47º de Azarias


(Uzias), rei de Judá, que corresponde ao 8º ano de Menaem, rei de
Israel.

Zacarias - 14º rei de Israel – 6 meses - 763 AC


(A.B. 3136)

“No ano trinta e oito de Azarias, rei de Judá, reinou Zacarias, filho de
Jeroboão, sobre Israel, em Samaria, seis meses.” (2 Rs 15:8)

“Esta foi a palavra do Senhor, que falou a Jeú: Teus filhos, até à
quarta geração, se assentarão sobre o trono de Israel. E assim foi.”
(2 Rs 15:12)

Conforme 2 Rs 15:8-12, Zacarias, filho de Jeroboão, começou seu


curto reinado de 6 meses no ano 38 de Azarias, portanto, no Ano
189

Bíblico 3136. Foi morto por Salum que o sucedeu no mesmo ano de
sua ascensão.

De acordo com 2 Rs 10:30: “disse o Senhor a Jeú: Porquanto bem


agiste em fazer o que é reto aos meus olhos e, conforme tudo quanto
eu tinha no meu coração, fizeste à casa de Acabe, teus filhos, até à
quarta geração, se assentarão no trono de Israel.”

Na sequência desta promessa, Jeoacaz foi a primeira geração de


Jeú a herdar o trono de Israel, Jeoás a segunda, Jeroboão a terceira,
e Zacarias a quarta (2 Rs 15:12).

Durante seu reinado apenas Azarias reinou sobre Judá.

Salum - 15º rei de Israel – 1 mês - 762 AC


(A.B. 3137)

“Salum, filho de Jabes, começou a reinar no ano trinta e nove de


Uzias, rei de Judá, e reinou um mês inteiro em Samaria. Porque
Menaém, filho de Gadi, subiu de Tirza, e veio a Samaria; e feriu a
Salum, filho de Jabes, em Samaria, e o matou, e reinou em seu
lugar.” (2 Rs 15:13)

Conforme 2 Rs 15:13-15 Salum começou a reinar no ano 39 de


Uzias, rei de Judá, e reinou um mês inteiro em Samaria, no Ano
Bíblico 3137. Da mesma forma que matou seu antecessor, foi morto
por Menaem que reinou em seu lugar.

Só Azarias reinou em Judá durante seu governo.

Menaém - 16º rei de Israel – 10 anos - 762 AC a 752 AC


(A.B. 3137 até A.B. 3147)
“Desde o ano trinta e nove de Azarias, rei de Judá, Menaém, filho de
Gadi, começou a reinar sobre Israel, e reinou dez anos em Samaria.”
(2 Rs 15:17)

Conforme 2 Rs 15:17 Menaém, começou a reinar sobre Israel no ano


39 de Azarias e reinou dez anos em Samaria.

Como Salum, seu antecessor, reinou e morreu no ano 38 de Azarias,


Menaem supostamente teria começado a governar a partir do 2º mês
do ano 39 de Azarias.
190

Na prática reinou quase 11 anos, uma vez que seu sucessor assume
no ano 50 de Azarias. A narrativa do texto difere dos demais reis.
Fosse usado o padrão, diria “no ano trinta e nove” e não “desde o
ano trinta e nove.”

Durante seu reinado Azarias e Jotão reinaram em Judá. Roma foi


fundada, portanto, no 47º de Azarias (Uzias), rei de Judá, que
corresponde ao 8º ano de Menaem, rei de Israel.

Pecaías - 17º rei de Israel – 2 anos - 751 AC a 750 AC


(A.B. 3148 até A.B. 3149)

“No ano cinquenta de Azarias, rei de Judá, começou a reinar


Pecaías, filho de Menaém, sobre Israel, em Samaria, e reinou dois
anos.” (2 Rs 15:23)

Conforme 2 Rs 15:23-25 Pecaías começou a reinar no ano 50 de


Azarias e reinou 2 anos, entre 3148 A.B. e 3149 A.B. Foi morto por
Peca, filho de Remalias, seu capitão.

Durante seu reinado Azarias e Jotão co-reinaram em Judá.

Peca - 18º rei de Israel – 20 anos - 749 AC a 730 AC


(A.B. 3150 até A.B. 3169)

“No ano cinquenta e dois de Azarias, rei de Judá, começou a reinar


Peca, filho de Remalias, sobre Israel, em Samaria, e reinou vinte
anos.” (2 Rs 15:27)

De acordo com 2 Rs 15:27-28, Peca começou seu reinado no ano 52


de Azarias (ano de sua morte), e reinou 20 anos, entre 3150 A.B. e
3169 A.B. Oseias matou Peca e reinou em seu lugar (2 Rs 15:30).
Durante seu governo reinaram em Judá Azarias, Jotão, e Acaz.

Jotão - 10º rei de Judá – 16 / 20 anos - 748 AC a 733 AC


(A.B. 3151 até A.B. 3166)

“E o Senhor feriu o rei (Azarias), e ficou leproso até ao dia da sua


morte; e habitou numa casa separada; porém Jotão, filho do rei, tinha
o cargo da casa, julgando o povo da terra.” (2 Rs 15:5)
191

“No ano segundo de Peca, filho de Remalias, rei de Israel, começou


a reinar Jotão, filho de Uzias, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos de
idade quando começou a reinar, e reinou dezesseis anos em
Jerusalém; e era o nome de sua mãe Jerusa, filha de Zadoque.” (2
Rs 15:32-33)

Coregência Azarias – Jotão – 1 ano - 749 AC


(A.B. 3150)

1 - Jotão começou a reinar no 2° ano de Peca, ou seja, no Ano


Bíblico 3151, conforme 2 Rs 15:32-33;

2 - Jotão reinou 16 anos, entre os anos 3151 A.B. e 3166 A.B;

3 - Conforme 2 Rs 15:30: “E Oseias, filho de Elá, conspirou contra


Peca, filho de Remalias, e o feriu, e o matou, e reinou em seu lugar,
no vigésimo ano de Jotão, filho de Uzias.”

Embora Jotão tenha reinado apenas 16 anos e não 20 anos,


conforme 2 Reis 15:30, a referência a estes 20 anos é absolutamente
correta. Oseias começou a reinar 20 anos depois do início de Jotão,
e embora Jotão já estivesse morto há 4 anos, a contagem está
correta. Teria o mesmo efeito de se dizer que Oseias começou a
reinar no ano 71 de Uzias, ou no ano 284 de Davi.

Durante o governo de Jotão, reinaram em Israel Menaem, Pecaias e


Peca.

Acaz - 11º rei de Judá – 16 anos - 741 AC a 726 AC


(A.B. 3158 até A.B. 3173)

“No ano dezessete de Peca, filho de Remalias, começou a reinar


Acaz, filho de Jotão, rei de Judá. Tinha Acaz vinte anos de idade
quando começou a reinar, e reinou dezesseis anos em Jerusalém, e
não fez o que era reto aos olhos do SENHOR seu Deus, como Davi,
seu pai.”(2 Rs 16:1-2)

De acordo com 2 Rs 16:1 Acaz começou a reinar no ano 17 de Peca,


rei de Israel, no Ano Bíblico 3166, mesmo ano da morte de seu pai
Jotão, rei de Judá. Acaz morreu no Ano Bíblico 3173, ano em
Ezequias começa a reinar sobre Judá. Seriam, de acordo com esta
informação, 8 anos de reinado, e não dezesseis, conforme o texto
bíblico.
192

Isto se explica pela coregência de nove anos de Acaz com seu pai
Jotão, desde o Ano Bíblico de 3158 (741 AC), ano do qual se serve o
redator para contabilizar seu tempo completo de governo. Vejamos
as seguintes datas:
1 - II Rs 17:1 nos informa que Oseias, rei de Israel, começou a reinar
no ano 12 de Acaz: "No ano duodécimo de Acaz, rei de Judá,
começou a reinar Oseias, filho de Elá, e reinou sobre Israel, em
Samaria, nove anos.”

2 - 2 Rs 18:1-2 diz que Ezequias, sucessor de Acaz, começou a


reinar no terceiro ano de Oseias: "E sucedeu que, no terceiro ano de
Oseias, filho de Elá, rei de Israel, começou a reinar Ezequias, filho de
Acaz, rei de Judá.”

3 - Como Ezequias começou seu reinado no terceiro ano de Oseias,


seria este, portanto, o 14° ano de Acaz.

4 - Como Acaz reinou 16 anos, temos, desta forma, que co-reinou


com Ezequias entre os anos 14 a 16 de seu reinado, sendo este o
ano de seu falecimento.

Acaz foi um mau rei, e conforme 2 Rs 16:3 “até a seu filho fez passar
pelo fogo, segundo as abominações dos gentios que o Senhor
lançara fora de diante dos filhos de Israel.”

Durante seu governo, reinaram sobre Israel Peca e Oseias.

Oseias - 19º rei de Israel – 9 anos - 730 AC a 722 AC


(A.B. 3169 até A.B. 3177)

“E Oseias, filho de Elá, conspirou contra Peca, filho de Remalias, e o


feriu, e o matou, e reinou em seu lugar, no vigésimo ano de Jotão,
filho de Uzias.” II Rs 15:30

“No ano duodécimo de Acaz, rei de Judá, começou a reinar Oseias,


filho de Elá, e reinou sobre Israel, em Samaria, nove anos.” (2 Rs
17:1)
Oseias foi o 19º e último rei de Israel. Em seu 7º ano de reinado,
Salmaneser, rei da Assíria, sitiou a Samaria e combateu contra ela
por três anos até que a tomou no 9º ano de Oseias e levou todo o
povo cativo para o exílio.
193

Trouxe para lá, em lugar dos que levara, de acordo com 2 Rs 17:24,
povos da Babilônia para habitar a Samaria.

Entre os povos relacionados no texto bíblico, gente de “Cuta, de Ava,


de Hamate e Sefarvaim”, dos quais convém destacar os de Cuta.
Deviam ser os mais proeminentes entre todos os que vieram, pois
Flávio Josefo os destaca como sendo os chutenses, povo de Chut,
uma província da Pérsia, que tem este nome por estar às margens
de um rio com o mesmo nome. Josefo sempre que se refere à gente
da Samaria os chama de chutenses. (História dos Hebreus, Vol. 3,
Pag. 217).

Datas
1 - Há duas referências distintas para o início de Oseias: 2 Rs 15:30
nos informa que foi no 20º ano de Jotão, e 2 Rs 17:1 que foi no 12º
de Acaz;

2 - Temos, portanto, que o 20º ano de Jotão e o 12º de Acaz são o


mesmo ano, referindo-se desta maneira ao Ano Bíblico 3169;

3 - Se 3169 equivale ao 1º ano de Oseias, sabemos desta forma que


ele veio a reinar até o Ano Bíblico 3177 (722 AC) quando ocorreu a
queda da Samaria;

4 – A referência ao 20º ano de Jotão está explícita no capítulo que


trata da coregência Azarias com Jotão.

Ezequias - 12º rei de Judá – 29 anos - 728 AC a 700 AC


(A.B. 3171 até A.B. 3199)

“E sucedeu que, no terceiro ano de Oseias, filho de Elá, rei de Israel,


começou a reinar Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá. Tinha vinte e
cinco anos de idade quando começou a reinar, e vinte e nove anos
reinou em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Abi, filha de
Zacarias.” (2 Rs 18:1-2)

Ezequias governou por 29 anos a partir do 3º ano de Oseias,


conforme 2 Rs 18:1-2, portanto, entre os anos 3171 A.B. a 3199 A.B.,
ano em que Manassés, seu filho, começou a reinar.

Ezequias foi um rei fiel a Deus e promoveu a partir de seu primeiro


ano de governo, no mesmo ano da morte de Acaz, seu pai,
194

profundas reformas religiosas, restaurando o templo, bem como a


ordem dos serviços da Casa de Deus.

Teve a sensibilidade de perceber que toda sorte de horrores que


caíram sobre Judá e Jerusalém não era outra coisa senão a
manifestação da ira de Deus, conforme se lê em 2 Cr 29:6-10:
“Porque nossos pais transgrediram, e fizeram o que era mau aos
olhos do Senhor nosso Deus, e o deixaram, e desviaram os seus
rostos do Tabernáculo do Senhor, e lhe deram as costas. Também
fecharam as portas do alpendre, e apagaram as lâmpadas, e não
queimaram incenso nem ofereceram holocaustos no santuário ao
Deus de Israel. Por isso veio grande ira do Senhor sobre Judá e
Jerusalém, e os entregou à perturbação, à assolação, e ao escárnio,
como vós o estais vendo com os vossos olhos. Porque eis que
nossos pais caíram à espada, e nossos filhos, e nossas filhas, e
nossas mulheres; por isso estiveram em cativeiro. Agora me tem
vindo ao coração, que façamos uma aliança com o Senhor Deus de
Israel, para que se desvie de nós o ardor da sua ira.”

Seus primeiros anos de reinado foram prioritariamente dedicados à


restauração dos princípios religiosos baseados na Lei de Moisés.

Israel deixou de existir como nação no 7º ano de Ezequias, sendo


oportuno lembrar que em seu 4º ano de governo o rei da Assíria já
havia sitiado a Samaria (2 Rs 18:9).

O auge do período de reformas de Ezequias foi marcado pela volta


da celebração da Páscoa, que não era festejada desde os dias de
Salomão (2 Cr 30:26). Por volta de seu 9º ano de reinado (2 Cr 30:1),
quando além de convocar o povo de Judá para as festividades,
mandou também convidar os de Israel que haviam sobrevivido ao
cativeiro assírio e permanecido na terra: “Foram, pois, os correios
com as cartas, do rei e dos seus príncipes, por todo o Israel e Judá,
segundo o mandado do rei, dizendo: Filhos de Israel, convertei-vos
ao Senhor Deus de Abraão, de Isaque e de Israel; para que ele se
volte para o restante de vós que escapou da mão dos reis da
Assíria.” (2 Cr 30:6)

Entre os de Israel que atenderam ao convite se destacam os de


Aser, Manassés, Zebulom (2 Cr 30:11), Efraim, e Issacar (2 Cr
30:18). Muitos, no entanto, rejeitaram o convite (2 Cr 30:10), mesmo
depois de haverem sido assolados pelo rei da Assíria.
195

No Ano Bíblico 3184 (715 AC), conforme 2 Rs 18:13, no 14º ano de


Ezequias, 8 anos depois de destruir Israel, Senaqueribe, rei da
Assíria, invadiu Judá e tomou suas cidades fortificadas. Entre outras
razões, invadiu Judá para prevenir uma possível aliança entre
Ezequias e o rei do Egito, conforme sugere 2 Rs 18:21: “Eis que
agora tu confias naquele bordão de cana quebrada, no Egito, no
qual, se alguém se encostar, entrar-lhe-á pela mão e a furará; assim
é Faraó, rei do Egito, para com todos os que nele confiam.”

Corrobora com isto o fato registrado em 2 Rs 18:14, onde Ezequias


por alguma razão reconhece que errou, o que pode ser entendido
como uma tentativa de se aliar de fato ao Egito: “Então Ezequias, rei
de Judá, enviou ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: Pequei; retira-te
de mim; tudo o que me impuseres suportarei. Então o rei da Assíria
impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata e trinta
talentos de ouro.”

Ezequias concordou por decorrência disto em pagar tributos a


Senaqueribe, retirando ouro e prata da Casa de Deus (2 Rs 18:14-
16), mas, mesmo assim Senaqueribe manteve seus planos de tomar
Jerusalém.

Ezequias orou a Deus a este respeito e foi atendido (2 Rs 19:19-20).


A ação direta de Deus fez destruir o exército assírio. Senaqueribe foi
obrigado a retornar a Níneve onde foi morto pelos próprios filhos (2
Rs 19:35-37). Depois disto Ezequias adoeceu de morte (2 Rs 20:1) e
Deus lhe acrescentou 15 anos de vida (2 Rs 20:6).

O epsódio referente à invasão de Senaqueribe se encontra


igualmente documentado no chamado Prisma de Senaqueribe, onde
este rei fez registrar o acontecimento segundo a sua ótica parcial,
conforme veremos a seguir.
196

O Prisma de Taylor e o Prisma de Senaqueribe

http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/me/
t/the_taylor_prism.aspx

O Prisma de Taylor e o Prisma de Senaqueribe são dois vasos de


barro distintos em formato de prisma inscritos ambos com o mesmo
texto em acadiano.

O Prisma de Senaqueribe se encontra no Instituto Oriental de


Chicago – EUA, e foi adquirido em 1919 por J. H. Breasted em nome
do Instituto. O de Taylor está no Museu Britânico, e foi descoberto
em Níneve e adquirido em 1830 pelo Coronel R. Taylor, Cônsul Geral
Britânico em Bagdá e vendido posteriormente por sua viúva ao
Museu Britânico em 1855. É daí que vem o seu nome. Ambos
registram os primeiros oito anos de campanha do rei assírio
Senaqueribe.
Têm para nós um especial interesse, pois reporta a guerra assíria
contra as cidades de Judá, e particularmente a tentativa fracassada
de se apossar de Jerusalém. Nesta campanha Senaqueribe destaca
a destruição de 46 cidades de Judá além da deportação de 200.150
pessoas para a Assíria.

Vejamos um pequeno trecho deste documento, cuja íntegra,


traduzida para o idioma inglês por Daniel LUCKENBILL, pode ser
encontrada no seguinte endereço eletrônico:

http://www.kchanson.com/ANCDOCS/meso/sennprism1.html

“Quanto a Ezequias, o judeu, que não se submeteu a meu jugo:


quarenta e seis cidades fortes, cidades muradas, bem como as
cidades pequenas naquela área, as quais eram sem número, com
aríetes e catapultas, e com ataques por minas, túneis e retaguarda
eu sitiei e lhes tomei duzentas mil e cento e cinquenta pessoas,
grandes e pequenos, homens e mulheres, mulas e jumentos,
197

camelos, gado e ovelhas sem número eu tomei e contei como


espólio.

O próprio Ezequias, como um pássaro numa gaiola, fechou-se em


Jerusalém, sua cidade real. Suas cidades, as quais eu espoliei, cortei
de sua terra e a Mitinti, rei de Ashdod, Padi, rei de Ekron, e Silli-bêl,
rei de Gaza, as dei. E assim diminuí sua terra. Aumentei o antigo
tributo.

Veio sobre Ezequias o terror de minha majestade e os árabes e suas


tropas mercenárias que ele trouxe para fortificar Jerusalém, sua
cidade real, desertaram. Além dos trinta talentos de ouro e oitocentos
talentos de prata, gemas antimônio, jóias, grandes cornélias, móveis
incrustados de marfim, peles e presas de elefante, ébano, caixas de
madeira, toda a espécie de tesouro, bem como suas filhas, seu
harém, seus músicos, os quais trouxe a mim em Nínive, minha
cidade real, para pagar tributos e aceitar a servidão.” (Prisma de
Senaqueribe)

Conforme se ve, Senaqueribe exagerou um pouco nas tintas, pois


além de não controlar Jerusalém, foi obrigado a retornar a Nínive
onde foi morto pelos próprios filhos (2 Rs 19:35-37).

A relação de datas de Oseias com Ezequias


1 - Conforme 2 Rs 18:9-10: “no quarto ano do rei Ezequias (que era
o sétimo ano de Oseias, filho de Elá, rei de Israel), Salmanasar, rei
da Assíria, subiu contra Samaria, e a cercou. E a tomaram ao fim de
três anos, no ano sexto de Ezequias, que era o ano nono de Oseias,
rei de Israel, quando tomaram Samaria”;

2 - De acordo com 2 Rs 18:1 foi no 3º ano de Oseias que Ezequias


começou a reinar sobre Judá. O 1º ano Ezequias, seria, portanto, o
Ano Bíblico 3174;

3 - Neste caso, o 4º ano de Ezequias seria o Ano Bíblico 3174, 6º


ano de Oseias e não o 4º, bem como, contrastando com o verso 10,
o 9º ano de Oseias seria o 7º de Ezequias e não o 6º;

4 - Este descompasso seria facilmente corrigido se simplesmente


houvesse uma maneira de deslocar o início de Ezequias para o ano
posterior, o que aparentemente não é possível, pois há um
sincronismo fechado entre estas datas, o que implica que em se
198

deslocando o início de Oseias um ano a frente, implicaria concluir


que Oseias reinou 8 anos e não 9;

5 - Veja em sua Bíblia que o verso 9, que relaciona o 4º ano de


Ezequias com o 7º de Oseias vem anotado entre parêntesis, o que
significa que não se encontra esta anotação nos textos mais antigos.
Este tipo de anotação sugere para alguns que se trata de uma
inserção incluída pelo copista, o que não é uma conclusão coerente,
uma vez que justamente este copista poderia ter em mãos o texto
correto e os outros que a omitem terem os incorretos;

6 - Mas para além do verso 9 existe o verso 10 que diz que o 6º ano
de Ezequias seria o ano 9º de Oseias, e neste verso não há
parêntesis;

7 - Não só no caso destas passagens, como também em quaisquer


outras semelhantes com a qual possamos nos defrontar na Bíblia,
nunca é o caso de perguntar qual versículo está errado, ou qual é o
certo. Todos estão absolutamente corretos;

8 - O que o caso em questão nos revela é que há duas contagens


distintas para os anos de Ezequias: uma que se inicia no ano de sua
ascensão e que valida a duração de seu reinado, e a segunda que
não conta o ano de ascensão de Ezequias;

9 - A Seder Olam Rabbah, que por várias vezes mencionamos neste


trabalho, é repleta de exemplos de que isto acontece
costumeiramente dentro do judaísmo. No caso da SOR, dois rabinos
podem opinar de maneira complementar sobre um mesmo texto
bíblico a fim de que ele se torne mais informativo;

10 – No caso em questão não se pode sequer cogitar a possibilidade


de erro, porque ele seria altamente improvável, uma vez que o verso
1 do capítulo 18 de 2 Rs diz que Ezequias começou a reinar no 3º
ano de Oseias, e poucas linhas adiante, nos versos 9 e 13 utiliza
outro tipo de contagem que faz desfasar o sincronismo de datas em
um ano. São tão notáveis que nos obrigam, sim, a entender que o
redator nos chama a atenção sobre o seu significado;

11 - Por que razão o redator teria colocado no mesmo contexto duas


formas diferentes de contar o tempo? As referências devem ser
observadas com atenção. No caso da contagem de tempo que faz a
simetria dos versos 4 com 7 e 6 com 9, o cronista mostra a contagem
dos anos de Ezequias a partir do ano seguinte à sua posse. Por qual
199

razão? É oportuno recordar que um fato semelhante aconteceu com


Jeroboão, que conforme visto, foi considerado pelo redator rei de
Israel dois anos antes da morte de Salomão, cuja conclusão nos é
induzida pela compreensão da simetria das datas do seu governo.

O culto fiel ao Deus de Israel havia sido esquecido há tempos, a


ponto de se constatar que desde os dias de Salomão a Páscoa não
era celebrada (2 Cr 30:26). Foi no primeiro ano de seu reinado que
Ezequias fez um pacto com Deus: “Agora me tem vindo ao coração,
que façamos uma aliança com o Senhor Deus de Israel, para que se
desvie de nós o ardor da sua ira. Agora, filhos meus, não sejais
negligentes; pois o Senhor vos tem escolhido para estardes diante
dele para o servirdes, e para serdes seus ministros e queimadores
de incenso.” (2 Cr 29:10-11)

A redação que lemos em Reis e Crônicas sobre o reinado de


Ezequias foi escrita mais de um século depois de sua morte. Desta
perspectiva, o cronista pode querer nos mostrar que a desobediência
a Deus levou Israel à ruína. Mostra também que simultaneamente à
queda de Israel Deus colocara em Judá um rei justo e fiel, que se
dedica maioritariamente em seu governo a restabelecer e fortalecer a
relação do povo com seu Deus.

Ezequias passou a reinar oficialmente no ano da morte de Acaz, seu


pai. Talvez um novo início de contagem do governo de Ezequias a
partir da restauração do culto fiel a Deus no ano seguinte seja a
justificativa para os dois registros.

A sobrevivência das 10 tribos de Israel


Costumeiramente somos levados a pensar que Israel deixou de
existir a partir da invasão assíria, mas a Bíblia se pronuncia contra
esta assertiva, já a partir do relato sobre o governo do próprio
Ezequias.

O capítulo 30 de 2 Crônicas nos descreve uma nova realidade na


vida de Israel. Ezequias, depois de implantar rigorosas reformas
religiosas, toma a iniciativa de celebrar a Páscoa. Manda cartas
convidando todo o povo a participar da celebração, não só os de
Judá, como também os de Israel, “o restante de vós que escapou da
mão dos reis da Assíria” (2 Cr 30:6)

Além de significar uma troca de governo na Assíria durante o


processo de invasão de Israel, dá a entender que boa parte do povo
200

já se encontrava no exílio, mas muitos israelitas permaneciam ainda


na terra.

A realidade da Samaria era agora diferente: não possuíam mais


autonomia política, uma vez que eram colônia assíria; Não havia rei e
habitava entre eles o povo de Chut, os chutenses, conforme os
qualifica Flávio Josefo.

Dentro desta nova realidade seria possível compreender que


desapareceram todas as dez tribos do norte? O próprio texto nos
responde: “todavia alguns de Aser, e de Manassés, e de Zebulom, se
humilharam, e vieram a Jerusalém.” (2 Cr 30:11)

Lemos ainda em 2 Cr 30:18-20: “Porque uma multidão do povo,


muitos de Efraim e Manassés, Issacar e Zebulom, não se tinham
purificado, e contudo comeram a Páscoa, não como está escrito;
porém Ezequias orou por eles, dizendo: O Senhor, que é bom,
perdoa todo aquele que tem preparado o seu coração para buscar ao
Senhor Deus, o Deus de seus pais, ainda que não esteja purificado
segundo a purificação do santuário. E ouviu o Senhor a Ezequias, e
sarou o povo.”

O Israel do norte não desapareceu por completo. Perdeu a sua


identidade nacional. Cento e vinte e oito anos depois da queda de
Israel, Deus, pela instrumentalidade do Profeta Jeremias condenará
o reino de Judá ao mesmo destino (Jr 20).

Outros cento e vinte e oito anos depois da queda de Jerusalém até o


retorno dos exilados liderados por Esdras (Ed 8:31), ele próprio nos
revela que depois do exílio babilônico, não há a Tribo de Judá, mas
sim, as doze tribos de Israel: “E os filhos de Israel, os sacerdotes, os
levitas, e o restante dos filhos do cativeiro, fizeram a dedicação desta
casa de Deus com alegria. E ofereceram para a dedicação desta
casa de Deus cem novilhos, duzentos carneiros, quatrocentos
cordeiros, e doze cabritos por expiação do pecado de todo o Israel;
segundo o número das tribos de Israel.” (Ed 6: 16-17)

Tiago em sua epístola se dirige à nação israelense: “Tiago, servo de


Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que andam
dispersas, saúde.” Tg 1:1

Jesus foi habitar nos confins de Zebulom e Naftali quando deixou


Nazaré (MT 4: 13); Quando José e Maria levam Jesus ao templo
encontram ali uma descendente de Aser: “E estava ali a profetisa
201

Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Esta era já avançada em


idade, e tinha vivido com o marido sete anos, desde a sua
virgindade” Lc 2:36

Definitivamente Israel sobreviveu ao cativeiro assírio e há nesta


altura apenas uma liderança política dentro das bordas do Israel
antigo: Ezequias, o descendente de Davi.

Ezequias reinou até o Ano Bíblico 3096, quando foi sucedido por
Manassés, seu filho. Durante seu governo, apenas Oseias reinou 7
anos sobre Israel.

Judá depois da queda de Israel

Manassés - 13º rei de Judá – 55 anos - 700 AC a 646 AC


(A.B. 3199 até A.B. 3253)

“Tinha Manassés doze anos de idade quando começou a reinar, e


cinquenta e cinco anos reinou em Jerusalém; e era o nome de sua
mãe Hefzibá.” (2 Rs 21:1)

Ezequias, pai de Manassés, tinha 54 anos de idade ao falecer.


Assumiu o trono de Judá aos 25 e reinou 29 anos (2 Rs 18-1-2).

Manassés, seu sucessor, conforme 2 Rs 21:1 tinha apenas 12 anos


de idade ao iniciar seu reinado. Não há referências a outros filhos de
Ezequias, mas provavelmente os tinha.

Tornou a implantar a idolatria que seu pai havia abolido, chegando a


queimar os filhos como oferta a seus deuses: “Edificou altares a todo
o exército dos céus, em ambos os átrios da casa do SENHOR. Fez
ele também passar seus filhos pelo fogo no vale do filho de Hinom, e
usou de adivinhações e de agouros, e de feitiçarias, e consultou
adivinhos e encantadores, e fez muitíssimo mal aos olhos do
SENHOR, para o provocar à ira. Também pôs uma imagem de
escultura do ídolo que tinha feito, na casa de Deus, da qual Deus
tinha falado a Davi e a Salomão seu filho: Nesta casa e em
Jerusalém, que escolhi de todas as tribos de Israel, porei o meu
nome para sempre.”
(2 Cr 32:5-7).

Foi castigado por Deus e levado prisioneiro à Babilônia pelo rei da


Assíria. Manassés se voltou a Deus em seu cativeiro. Conforme 2 Cr
202

33:13: “E fez-lhe oração, e Deus se aplacou para com ele, e ouviu a


sua súplica, e tornou a trazê-lo a Jerusalém, ao seu reino. Então
conheceu Manassés que o Senhor era Deus.”

Quer parecer que pela boa influência da educação recebida de seu


pai, Manassés conseguiu se arrepender dos males que havia
praticado. Depois de retornar a Jerusalém tirou do templo os ídolos
que lá havia posto e aparentemente viveu em paz com Deus até sua
morte. Faleceu aos 67 anos de idade e foi sucedido por seu filho
Amon no Ano Bíblico 3253.

Amon - 14º rei de Judá – 2 anos - 646 AC a 645 AC


(A.B. 3253 até A.B. 3254)

“Tinha Amom vinte e dois anos de idade quando começou a reinar, e


dois anos reinou em Jerusalém; e era o nome de sua mãe
Mesulemete, filha de Harus, de Jotbá.” (2 Rs 21:19)

Amon começou a reinar aos 22 anos de idade no Ano Bíblico 3250 e


reinou 2 anos (2 Rs 21:19). Foi um mau rei que perseverou em seguir
a idolatria, conforme fizera seu pai, com a diferença que não se
arrependeu de seus pecados. Foi assassinado pelos seus próprios
servos e foi sucedido por seu filho Josias (2 Cr 33:24-25).

Josias - 15º rei de Judá – 31 anos - 645 AC a 615 AC


(A.B. 3254 até A.B. 3284)

“Tinha Josias oito anos de idade quando começou a reinar, e reinou


trinta e um anos em Jerusalém; e era o nome de sua mãe, Jedida,
filha de Adaías, de Bozcate.” (2 Rs 22:1)
Josias começou a reinar aos 8 anos de idade, no Ano Bíblico 3254, e
reinou por 31 anos. Foi um rei justo que buscou andar na presença
de Senhor desde sua juventude.

Conforme 2 Cr 34:3, aos 16 anos de idade, por iniciativa própria,


Josias começou a purificar Judá da idolatria; Empenhou-se em
conduzir o restante das tribos a igualmente se voltarem a Deus,
derrubando em Simeão, Manassés, Efraim, Naftali e em toda terra de
Israel os templos e objetos de culto pagão (2 Cr 34:6-7).

Do ponto de vista prático, a exemplo de Ezequias, Josias era o rei de


todos os israelenses, a ponto de suas crônicas serem registradas no
Livro da História dos reis de Israel e Judá (2 Cr 35:27).
203

Derrubou os lugares altos de Jerusalém edificados por Salomão para


o culto a Astarote e outras divindades (2 Rs 23:13). Derrubou
também o altar construído em Betel por Jeroboão. Vale a pena ler a
passagem sobre este acontecimento, porque nela é mencionado
textualmente o nome de Josias 286 anos antes, de acordo com 1 Rs
13:1-6:

“E eis que, por ordem do Senhor, veio, de Judá a Betel, um homem


de Deus; e Jeroboão estava junto ao altar, para queimar incenso. E
ele clamou contra o altar por ordem do Senhor, e disse: Altar, altar!
Assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo
nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos
que sobre ti queimam incenso, e ossos de homens se queimarão
sobre ti. E deu, naquele mesmo dia, um sinal, dizendo: Este é o sinal
de que o Senhor falou: Eis que o altar se fenderá, e a cinza, que nele
está, se derramará. Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei a palavra do
homem de Deus, que clamara contra o altar de Betel, Jeroboão
estendeu a sua mão de sobre o altar, dizendo: Pegai-o! Mas a sua
mão, que estendera contra ele, se secou, e não podia tornar a trazê-
la a si. E o altar se fendeu, e a cinza se derramou do altar, segundo o
sinal que o homem de Deus apontara por ordem do Senhor. Então
respondeu o rei, e disse ao homem de Deus: Suplica ao Senhor teu
Deus, e roga por mim, para que se me restitua a minha mão. Então o
homem de Deus suplicou ao Senhor, e a mão do rei se lhe restituiu,
e ficou como dantes.”

Josias cumpriu integralmente as palavras do profeta, como se vê no


texto de 2 Rs 23:15:20, quando profanou as sepulturas dos
sacerdotes do tempo de Jeroboão, bem como matou os sacerdotes
que serviam em Betel queimando seus ossos sobre o altar.

Em seu 17º ano de governo (629 AC) empreendeu uma grande


reforma no Templo de Jerusalém. É interessante realçar que a
reforma foi feita com dinheiro não só das ofertas dos judeus, mas de
todas as tribos de Israel: “E foram a Hilquias, sumo-sacerdote, e
deram o dinheiro que se tinha trazido à casa de Deus, e que os
levitas, que guardavam a entrada tinham recebido da mão de
Manassés, e de Efraim, e de todo o restante de Israel, como também
de todo o Judá e Benjamim, e dos habitantes de Jerusalém.” (2 Cr
34:9).

O tempo de Josias é particularmente interessante pelas


considerações que faz o cronista no que tange às tribos do norte.
Ouve-se, comumente, no meio evangélico, o questionamento de “por
204

onde andarão as tribos dispersas do norte?” Por lugar nenhum; estão


onde sempre estiveram, em Israel, bem como pela diáspora.

Durante as reformas no Templo, o Livro da Lei da Casa de Deus


(Deuteronômio) foi encontrado e lido posteriormente perante o rei,
que entendeu desta forma que historicamente o povo andava
contrário à vontade do Senhor. Josias se humilhou, razão pela qual o
Senhor poupou toda a nação nos seus dias. (2 Rs 22:20)

O Profeta Ezequiel faz referência (Ez 1:1-2) a este acontecimento no


quinto ano do cativeiro de Jeoiaquim: "E aconteceu no trigésimo ano,
no quarto mês, no quinto dia do mês, que estando eu no meio dos
cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de
Deus. No quinto dia do mês, no quinto ano do cativeiro do rei
Jeoiaquim.” Este trigésimo ano se refere a 2 Rs 22:20.

Conclui-se assim que Jeremias pregou que Judá seria destruído por
23 anos seguidos. Vejamos o texto: “A palavra que veio a Jeremias
acerca de todo o povo de Judá no quarto ano de Jeoiaquim, filho de
Josias, rei de Judá (que é o primeiro ano de Nabucodonosor, rei de
Babilônia), A qual anunciou o profeta Jeremias a todo o povo de
Judá, e a todos os habitantes de Jerusalém, dizendo: Desde o ano
treze de Josias, filho de Amom, rei de Judá, até o dia de hoje,
período de vinte e três anos, tem vindo a mim a palavra do Senhor, e
vo-la tenho anunciado, madrugando e falando; mas vós não
escutastes.” (Jr 25:1-3).

Tal sincronismo serve para indicar que Jeoiaquim assumiu o trono no


ano seguinte à morte de Jeoacaz, filho de Josias, conforme veremos
a seu tempo.
Josias morreu no Ano Bíblico 3284 em batalha contra o rei do Egito,
que ia a guerra contra a Assíria e não tinha interesse em se bater
com Judá (2 Cr 35:20-27). A este respeito Flávio Josefo comenta que
a morte de Josias foi uma infelicidade, pois de fato Neco, rei do
Egito, “marchava em direção ao Eufrates a fim de se tornar senhor da
Ásia”, nada tendo contra Israel na ocasião. Comenta ainda que o
Profeta Jeremias compôs versos fúnebres por ocasião de sua morte,
dizendo ainda que este viveu em Jerusalém desde o terceiro ano de
Josias até a queda da cidade nos tempos de Matanias. História dos
Hebreus – Flávio Josefo, Cap. VI, § 417, Pág. 248.

De acordo com I Crônicas Josias teve quatro filhos: "E os filhos de


Josias foram: o primogênito - Joanã; o segundo - Jeoiaquim; o
terceiro - Zedequias; o quarto - Salum.” (I Crônicas 3 : 15)
205

Apenas dois deles vieram a reinar sobre Judá: Jeioaquim e Salum.


Note que estes são nomes babilônicos atribuídos a ambos por Neco,
Faraó do Egito.

Salum é Jeoacaz (2 Cr 36:1), 16º rei de Judá, o que se verifica em Jr


22:11-12: “Porque assim diz o Senhor acerca de Salum, filho de
Josias, rei de Judá, que reinou em lugar de Josias, seu pai, e que
saiu deste lugar: Nunca mais ali tornará. Mas no lugar para onde o
levaram cativo ali morrerá, e nunca mais verá esta terra.” De fato
Jeoacaz foi deposto e transportado para o Egito pelo Faraó Neco e lá
morreu. (2 Rs 23:34)

Eliaquim (2 Cr 36:4), 17º rei, que II Cr 36:4 esclarece ser Jeoiaquim:


“E o rei do Egito pôs a Eliaquim, irmão de Jeoacaz, rei sobre Judá e
Jerusalém, e mudou-lhe o nome em Jeoiaquim.”

O sucessor de Jeoaquim foi seu filho Joaquim (2 Rs 24:6), 18º rei de


Judá, também chamado Jeconias (Jr 24:1).

O sucessor de Joaquim foi seu tio Matanias (2 Rs 24:17), irmão de


Josias, pois Joaquim tinha 18 anos ao assumir o governo, e não
possuía filhos nesta altura.

A linhagem de Jesus virá de Joaquim (Jeconias) que foi transportado


para a Babilônia no Ano Bíblico 3295.

Jeoacaz (Salum) - 16º rei de Judá – 3 meses - 615 AC


(A.B. 3284)

“Tinha Joacaz vinte e três anos de idade quando começou a reinar, e


três meses reinou em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Hamutal,
filha de Jeremias, de Libna.” (2 Rs 23:31)

Joacaz tinha 23 anos de idade quando começou a reinar, e reinou


apenas 3 meses em Jerusalém. Seu nome, conforme já vimos, é
referido em Jr 22:11-12 como Salum, o 4º filho de Josias listado em 1
Cr 3:15. O rei do Egito, que na ida para a guerra contra os povos do
Eufrates matara Josias, na volta manda prender Jeoacaz e o depõe,
substituindo-o por seu irmão Eliaquim, a quem mudou o nome para
Jeoiaquim.
206

Flávio Josefo comenta que Jeoacaz foi chamado pelo rei do Egito à
Síria e ali o prendeu e levou ao Egito onde permaneceu até sua
morte.

Jeoiaquim - 17º rei de Judá – 11 anos - 614 AC a 604 AC


(A.B. 3285 até A.B. 3295)

“Tinha Jeoiaquim vinte e cinco anos de idade quando começou a


reinar, e reinou onze anos em Jerusalém; e era o nome de sua mãe
Zebida, filha de Pedaías, de Ruma.” (2 Rs 23:36)

“A palavra que veio a Jeremias acerca de todo o povo de Judá no


quarto ano de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá (que é o
primeiro ano de Nabucodonosor, rei de Babilônia), a qual anunciou o
profeta Jeremias a todo o povo de Judá, e a todos os habitantes de
Jerusalém, dizendo: Desde o ano treze de Josias, filho de Amom, rei
de Judá, até o dia de hoje, período de vinte e três anos, tem vindo a
mim a palavra do Senhor, e vo-la tenho anunciado, madrugando e
falando; mas vós não escutastes.” (Jr 25:1-3)

“A palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor, no ano décimo


de Zedequias, rei de Judá, o qual foi o décimo oitavo de
Nabucodonosor.” (Jr 32:10)

614 AC - 1º ano de Jeoiaquim


(A.B. 3285)

Jeoiaquim começou a governar no Ano Bíblico 3285, ano seguinte à


morte de seu pai Josias e da deposição de seu irmão Jeoacaz.

Jeoacaz reinou apenas 3 meses, e foi deposto pelo Faraó Neco, o


que poderia levar a supor que Jeoiaquim assumisse o trono no
mesmo ano de sua deposição, mas graças ao sincronismo de datas
estabelecido por Jr 21:1 e Jr 25:1-3 sabemos que foi no ano
seguinte, conforme se demonstra na confirmação do início de
Nabucodonosor que veremos à frente, que também sincroniza o
início de Jeoiaquim no Ano Bíblico 3285.

Eliaquim, a quem o Faraó mudou o nome para Jeoiaquim, foi


igualmente instalado no trono por Neco que lhe impôs uma pena
tributária de cem talentos de prata e um talento de ouro. (2 Rs
23:33). Passados dois anos deixaria de pagar tributo a Neco para
começar a pagar para Nabucodonosor.
207

Começou a governar aos 25 anos de idade e reinou por 11 anos (2


Rs 23:36).

612 AC – 3º ano de Jeoiaquim – Daniel no Exílio (1ª deportação)


(A.B. 3287)

De acordo com 2 Rs 24:1 “nos seus dias subiu Nabucodonosor, rei


de Babilônia, e Jeoiaquim ficou três anos seu servo; depois se virou,
e se rebelou contra ele.”

Nabucodonosor invadiu Jerusalém no ano 3º de Jeoiaquim. É o que


nos informa Dn 1:1-6: ”No ano terceiro do reinado de Jeoiaquim, rei
de Judá, veio Nabucodonosor, rei de Babilônia, a Jerusalém, e a
sitiou. E o Senhor entregou nas suas mãos a Jeoiaquim, rei de Judá,
e uma parte dos utensílios da casa de Deus, e ele os levou para a
terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os utensílios na casa
do tesouro do seu deus. E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus
eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem
real e dos príncipes, Jovens em quem não houvesse defeito algum,
de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em
ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade
para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a
língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a porção diária, das
iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem
mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar
diante do rei. E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel,
Hananias, Misael e Azarias.”

Temos, portanto, que Daniel foi levado para a Babilônia em 3287


A.B., terceiro ano de Jeoiaquim. É preciso notar que, embora
pequena, esta é a primeira leva de exilados que é levada para a
Babilônia.
Jeoiaquim pagou, portanto, tributos ao rei do Egito em seus três
primeiros anos de reinado e a seguir Nabucodonosor saqueou o
Templo (Dn 1:2) e tornou o reino de Judá tributário por três anos,
desde

3287 A.B. até 3289 A.B.

Embora tenha parado de pagar os tributos em seu 6º ano de reinado,


Nabucodonosor só viria contra Judá no 10º ano de Jeoiaquim (2 Rs
24:10). Ainda assim, isto não significa que Judá tenha tido um
intervalo de paz nestes anos, pois “o Senhor enviou contra ele as
208

tropas dos caldeus, as tropas dos sírios, as tropas dos moabitas e as


tropas dos filhos de Amom; e as enviou contra Judá, para o destruir,
conforme a palavra do Senhor, que falara pelo ministério de seus
servos, os profetas.” (2 Rs 24:2)

Como veremos a seguir, Nabucodonosor era ainda, no 3º ano de


Jeoiaquim, príncipe regente da Babilônia, pois Nabonido, seu pai,
ainda era vivo. A qualificação de rei da Babilônia, conforme o texto
acima, se refere a seu status quando a narrativa foi elaborada, da
mesma forma que se poderia dizer que “o presidente John Kennedy
participou da Segunda Guerra Mundial servindo no Pacífico até
1945”, quando ele, na verdade, ainda não era presidente dos EUA.
Trata-se de um expediente literário comum em todos os tempos,
incluindo os nossos dias.

611 AC - 4º ano de Jeoiaquim – início de Nabucodonosor


(A.B. 3288)

O ano 4º de Jeoiaquim é o primeiro ano de Nabucodonosor (Jr 25:1)


como rei da Babilônia após a morte de seu pai Nabopolasar
(Nabopolassar, Nabu-apla-utsur), que faleceu, segundo a história
secular, em 605 AC. Podemos certificar de outra maneira o
sincronismo da data:

1 - De acordo com Jr 25:1-3, contados 23 anos desde o ano 13 de


Josias chegamos ao ano 4 de Jeoiaquim;

2- O ano 13 de Josias é o Ano Bíblico 3266 (633 AC), que acrescido


de 23 resulta o Ano Bíblico 3288 (3266 + 22, contado o ano de
ascensão);

3 – Se 3288 é o quarto ano de Jeoiaquim, 3285 A.B. é o primeiro


(3288-3, contado o ano de ascensão);

4 – Josias reinou, conforme vimos, 31 anos, havendo morrido em


3284, mesmo ano da ascensão de Jeoacaz, um ano antes do início
de Jeoiaquim;

5 – De acordo com o texto, o quarto ano de Jeoiaquim é o primeiro


ano de Nabucodonosor;

6 – A mesma data de início de Nabucodonosor se sincroniza com o


10º ano de Matanias, último rei de Judá, pela referência de Jr 32:1,
209

sobre a qual falaremos adiante. As duas referências de Jeremias


certificam desta forma o início de Jeoiaquim, bem como sincronizam,
ambas, o início de Nabucodonosor no 4º ano de Jeoiaquim, no Ano
Bíblico 3288 (611 AC).

Como é sabido, a história secular fixa a data de ascensão de


Nabucodonosor no ano 605 AC. Mais adiante faremos uma
comparação entre a data histórica e a data bíblica a fim de
demonstrar a impossibilidade de ter ocorrido em 605 AC.

610 AC - 5º ano de Jeoiaquim – Daniel governa na Babilônia


(A.B. 3289)

Conforme relato do capítulo 2 de Daniel, foi no 2º ano de


Nabucodonosor que Daniel passou da qualidade de vassalo a seu
colaborador. Destacamos do referido capítulo os versos 1 e 48 que
tratam do assunto: “1 - E no segundo ano do reinado de
Nabucodonosor, Nabucodonosor teve sonhos; e o seu espírito se
perturbou, e passou-se-lhe o sono. (...) 48 - Então o rei engrandeceu
a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por governador
de toda a província de Babilônia, como também o fez chefe dos
governadores sobre todos os sábios de Babilônia.”

Note que será somente cinco anos à frente deste tempo que
acontecerá o exílio massivo de Judá em duas primeiras levas, entre
os anos 3294 A.B. e 3295 A.B. Quando estes exilados chegam à
Babilônia, um judeu, Daniel, que fez parte da primeira leva de
exilados, é o homem mais importante do reino depois de
Nabucodonosor.

609 AC - 6º ano - Jeoiaquim cessa o pagamento de tributos


(A.B. 3290)

Havendo Judá sido invadido a primeira vez por Nabucodonosor no 3º


ano de reinado de Jeoiaquim, ocasião em que Daniel é levado para o
cativeiro (Dn 1:1), sabemos que desde então passou a pagar tributos
para o rei da Babilônia, o que fez por três anos seguidos até que se
revoltou, em seu 6º ano de governo, conforme 2 Rs 24:1 : “nos seus
dias subiu Nabucodonosor, rei de Babilônia, e Jeoiaquim ficou três
anos seu servo; depois se virou, e se rebelou contra ele.”

Entendemos, portanto, que nos dois primeiros anos de governo,


Jeoiaquim pagou tributos a Neco, rei do Egito; Judá foi então
210

invadido por Nabucodonosor no seu 3º ano de governo, e a partir de


então, passou a pagar, conforme os textos acima, tributos à
Babilônia, o que fez por três anos, até o seu 6º ano de governo,
quando se revoltou. Desta forma, Nabucodonosor viria à forra
somente no 10º ano de Jeoiaquim, pois supostamente estaria
ocupado consolidando seu império, e não pôde se dedicar a Judá.

Flávio Josefo, na História dos Hebreus, Vol 3, Cap. VII, Pág. 251
afirma que Jeoiaquim teria pagado tributos até o seu 10º ano de
governo e cessado, o que fez com que Nabucodonosor viesse
imediatamente contra ele.

605 AC – 10º ano de Jeoiaquim – 2ª leva de deportados


(A.B. 3294)

O 7º ano de Nabucodonosor corresponde ao 10º e penúltimo ano de


Jeoiaquim. De acordo com o Profeta Jeremias, houve neste ano uma
segunda deportação, esta massiva, que veio a acontecer no 7º ano
de reinado de Nabucodonosor, enquanto Jeoiaquim ainda reinava:
“Este é o povo que Nabucodonosor levou cativo, no sétimo ano: três
mil e vinte e três judeus.” (Jr 52:28).

Normalmente se refere a esta deportação como sendo a primeira


delas, mas é de fato a segunda, uma vez que, conforme vimos,
Daniel, seus companheiros e outros foram levados anteriormente. É
importante salientar isto porque é a partir do exílio de Daniel que se
contam os 70 anos de exílio preditos por Jeremias. Os que tentam
computar os 70 anos a partir do 10° ano de Jeoiaquim, na chamada
primeira deportação, acham que o número 70 é uma referência
simbólica, uma vez que não conseguem fechar a partir daí os 70
anos.

Nem Reis nem Crônicas fazem registro desta deportação. Ao


chegarem a Babilônia, estes exilados deparariam com Daniel, um
judeu que já governava suas províncias há cinco anos.
211

604 AC – 11º ano de Jeoiaquim - fim do reinado


(A.B. 3295)

Conforme 2 Cr 36:5-8, Jeoiaquim tinha 25 anos de idade quando


começou a reinar e reinou 11 anos. Foi deposto por Nabucodonosor
aos 36 anos de idade. Nem Reis, Crônicas ou Jeremias fornecem
detalhes precisos sobre a morte de Jeoiaquim, mas sabemos que foi
preso por Nabucodonosor (2 Cr 36:5-6) vindo a falecer depois disto
(2 Rs 24:6)

Gráfico Histórico das deportações

Ano Greg Deportações Referência Deportados


612 AC 1ª - Cativeiro de Daniel Dn 1:1-6 *
605 AC 2a Deportação Jr 52:28 3.023
604 AC 3a Deportação 2 Rs 24:14-17 10.000
594 AC 4a Deportação Jr 52:29 832
593 AC 5a Deportação - Jr 52:30 745

Total de deportados – 14.600 pessoas


212

Crônica Babilônica ou Crônica de Nabucodonosor

Tablete Cuneiforme com parte da Crônica Babilônica (605-594 AC)


Fonte:
http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/me/
c/cuneiform_nebuchadnezzar_ii.aspx

É interessante neste ponto mencionar um importante documento


histórico que faz referências especificas a Jeoiaquim e Zedequias, os
dois últimos reis de Judá.

Trata-se da Crônica Babilônica ou Crônica de Nabucodonosor, uma


sequência de cuneiformes que retratam detalhes da história
babilônica entre 747 até 280 AC.

Segue abaixo a tradução do texto explicativo do Museu Britânico


dando conta do conteúdo específico do cuneiforme retratado acima,
que reporta acontecimentos entre os anos 605-594 AC, bem como a
tradução do texto que faz referência a estes reis extraída do
livius.org.

A campanha de Nabucodonosor no ocidente


O tablete acima é um de uma série que resume os principais eventos
de cada ano desde 747 AC até pelo menos 280 AC. Cada seção é
separada da outra por uma linha horizontal e inicia com a referência
do ano do rei em questão.
213

Seguindo a derrota dos assírios (conforme descrita no tablet que


contém a crônica de 616-609 AC), os egípcios se tornaram uma
grande ameaça aos babilônios.

Em 605 Nabucodonosor, o príncipe babilônico coroado, substituiu


seu pai Nabopolasar como comandante em chefe e liderou o exército
do Eufrates até a cidade de Cachemira. Alí ele derrotou os egípcios.

Mais tarde, no mesmo ano, Nabopolasar faleceu e Nabucodonosor


retornou à Babilônia para ser coroado. Nos anos seguintes ele
manteve o controle sobre a Síria e estendeu seu domínio sobre a
Palestina.

Em 601 AC marchou para o Egito, mas se retirou ao encontrar o


exército egípcio. Depois de reequipar seu exército, Nabucodonosor
marchou para a Síria em 599 AC. Direcionou-se, então, para o
ocidente, em dezembro de 598 AC, pois Jeoiaquim, rei de Judá,
havia cessado o pagamento de tributos.

O exército de Nabucodonosor sitiou Jerusalém e a capturou em


15/16 de março de 597 AC. O rei de Judá foi capturado e levado para
a Babilônia. A crônica termina com o relato de uma série de
expedições à Síria em 594 AC. (Traduzido do site do Museu Britânico
– referenciado no capítulo)

Texto da crônica que faz referência aos reis de Judá:

11. No sétimo ano (598/597), no mês de Kislomu, o rei de


Akkad (Babilônia) reuniu suas tropas, e marchou para a
terra de Hatti (Palestina),
12. E sitiou a cidade de Judá e no segundo dia do mês de
Adaru tomou a cidade e capturou o rei (Joaquim).
13. Ele apontou ali um rei de sua própria escolha
(Zedequias), recebendo seu pesado tributo que foi enviado
à Babilônia.

Traduzido a partir do site http://www.livius.org/cg-


cm/chronicles/abc5/jerusalem.html
214

Joaquim (Jeconias) - 18° rei de Judá - 3 meses - 604 AC


( A.B. 3295)

"Tinha Joaquim dezoito anos de idade quando começou a reinar, e


reinou três meses em Jerusalém; e era o nome de sua mãe, Neusta,
filha de Elnatã, de Jerusalém.” (2 Rs 24:8)

“Então saiu Joaquim, rei de Judá, ao rei de Babilônia, ele, sua mãe,
seus servos, seus príncipes e seus oficiais; e o rei de Babilônia o
tomou preso, no ano oitavo do seu reinado.” (2 Rs 24:12)

“Depois disto sucedeu que, no ano trinta e sete do cativeiro de


Joaquim, rei de Judá, Evil-Merodaque, rei de Babilônia, no ano em
que reinou, levantou a cabeça de Joaquim, rei de Judá, tirando-o da
casa da prisão.” (2 Rs 25:27)

Conforme 2 Rs 24:8 Joaquim reinou 3 meses após a deposição de


seu pai, logo após o que, Nabucodonosor mandou prende-lo e
transportá-lo para a Babilônia. De acordo com 2 Rs 24:12, isto
aconteceu no 8º ano de Nabucodonosor, na primavera do Ano
Bíblico 3295. Joaquim é também chamado Jeconias, e é o último dos
reis de Judá na linhagem genealógica de Jesus.

604 AC - 3ª leva de deportados


(A.B. 3295)

Naqueles dias Nabucodonosor saqueou o Templo bem como o


palácio do rei, transportando para a Babilônia o maior número de
exilados entre todas as deportações, cerca de 10 mil pessoas.
Vejamos o relato bíblico:

“(...) toda a Jerusalém como também a todos os príncipes, e a todos


os homens valorosos, dez mil presos, e a todos os artífices e
ferreiros; ninguém ficou senão o povo pobre da terra. Assim
transportou Joaquim à Babilônia; como também a mãe do rei, as
mulheres do rei, os seus oficiais e os poderosos da terra levou
presos de Jerusalém à Babilônia. E todos os homens valentes, até
sete mil, e artífices e ferreiros até mil, e todos os homens destros na
guerra, a estes o rei de Babilônia levou presos para Babilônia.” (2 Rs
24:14-16)

É importante a contagem dos anos que seguem à deportação de


Joaquim, pois o 37º ano de seu exílio marca a morte de
215

Nabucodonosor e a ascensão de Evil-Merodaque, seu filho e


sucessor. (2 Rs 25:27)

Zedequias - 19º rei de Judá – 11 anos - 603 AC a 593 AC


(A.B. 3296 até A.B. 3306)

“E o rei de Babilônia estabeleceu a Matanias, seu tio, rei em seu


lugar; e lhe mudou o nome para Zedequias. Tinha Zedequias vinte e
um anos de idade quando começou a reinar, e reinou onze anos em
Jerusalém; e era o nome de sua mãe Hamutal, filha de Jeremias, de
Libna.” (2 Rs 24:17)

“E lhe veio também nos dias de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de


Judá, até ao fim do ano undécimo de Zedequias, filho de Josias, rei
de Judá, até que Jerusalém foi levada em cativeiro no quinto mês.”
(Jr 1:3)

Matanias foi empossado rei de Judá por Nabucodonosor com


juramento de fidelidade (2 Cr 36:13) logo após a deposição de
Joaquim, no Ano Bíblico 3296. Foi o 19º e último rei de Judá.
Curiosamente se verifica que tanto Israel quanto Judá tiveram cada
qual 19 reis.

O Reino de Judá subsistiu a partir da cisão, depois da morte de


Salomão, por 339 anos, enquanto Israel por 210 anos.

603 AC - 1º ano de Zedequias - 9º ano de Nabucodonosor


(A.B. 3296)

Seria natural pensar que Zedequias tivesse assumido o trono no


mesmo ano em que Joaquim foi deposto, uma vez que este reinou
apenas 3 meses. No entanto, pelo sincronismo de Jr 32:1 sabemos
que foi no ano seguinte.

Vejamos o texto: “A palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor,


no ano décimo de Zedequias, rei de Judá, o qual foi o décimo oitavo
de Nabucodonosor.” (Jr 32:1)

O 18º ano de Nabucodonosor foi o Ano Bíblico 3305, que por sua vez
equivale ao 10º de Zedequias; logo, seu 1º ano foi o Ano Bíblico
3299 (3305 – 9) descontado o ano de ascensão.
216

600 AC - Deus rompe o pacto com o povo


(A.B. 3299)

No quarto ano de governo de Zedequias, quinto ano do cativeiro de


Joaquim, quatro anos antes do cerco de Jerusalém, Deus revela pelo
Profeta Ezequiel o terrível castigo que haveria de vir sobre Jerusalém
e seus habitantes. É o rompimento definitivo do pacto estabelecido
com Abraão e seus descendentes pela persistência do povo em
andar pelo caminho dos gentios. Vejamos o texto:
"E aconteceu no trigésimo ano, no quarto mês, no quinto dia do mês,
que estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram
os céus, e eu tive visões de Deus. No quinto dia do mês, no quinto
ano do cativeiro do rei Jeoiaquim, veio expressamente a palavra do
SENHOR a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus,
junto ao rio Quebar, e ali esteve sobre ele a mão do SENHOR.” (Ez
1:1-3)

Definida a data do acontecimento, o Profeta passa a revelar a


sucessão de infortúnios que viriam sobre Israel.

É interessante observar a correspondência entre o quinto ano do


cativeiro de Joaquim com o ano 30 mencionado em Ezequiel 1:1, que
alguns comentaristas sugerem que fosse esta a idade do profeta na
ocasião, mas trata-se do 30° ano desde que o rei Josias encontrara o
Livro de Deuteronômio.

Retrocedendo 30 anos desde o quinto ano do cativeiro do rei


Joaquim chegamos ao ano exato do governo do rei Josias (629 AC -
3270 AM) em que durante as reformas no Templo, o Livro da Lei da
Casa de Deus (Deuteronômio) foi encontrado e lido perante o rei,
que entendeu, desta forma, que historicamente o povo andava
contrário à vontade de Deus.

Josias se humilhou perante Deus, razão pela qual o Senhor poupou


toda a nação nos seus dias. Vejamos o texto de 2 Rs 22:16-20:
"Assim diz o SENHOR: Eis que trarei mal sobre este lugar, e sobre
os seus moradores, a saber: todas as palavras do livro que leu o rei
de Judá. Porquanto me deixaram, e queimaram incenso a outros
deuses, para me provocarem à ira por todas as obras das suas
mãos, o meu furor se acendeu contra este lugar, e não se apagará.
Porém ao rei de Judá, que vos enviou a consultar o SENHOR, assim
lhe direis: Assim diz o SENHOR Deus de Israel, acerca das palavras,
que ouviste: Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste
perante o SENHOR, quando ouviste o que falei contra este lugar, e
217

contra os seus moradores, que seria para assolação e para


maldição, e que rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim,
também eu te ouvi, diz o SENHOR. Por isso eis que eu te recolherei
a teus pais, e tu serás recolhido em paz à tua sepultura, e os teus
olhos não verão todo o mal que hei de trazer sobre este lugar.”

De fato, trinta anos depois disto, seriam estas as acusações que


Deus incumbiria o Profeta Ezequiel de dizer ao povo: “E disse-me:
Filho do homem, levanta agora os teus olhos para o caminho do
norte. E levantei os meus olhos para o caminho do norte, e eis que
ao norte da porta do altar, estava esta imagem de ciúmes na entrada.
E disse-me: Filho do homem, vês tu o que eles estão fazendo? As
grandes abominações que a casa de Israel faz aqui, para que me
afaste do meu santuário? Mas ainda tornarás a ver maiores
abominações. E levou-me à porta do átrio; então olhei, e eis que
havia um buraco na parede. E disse-me: Filho do homem, cava
agora naquela parede. E cavei na parede, e eis que havia uma porta.
Então me disse: Entra, e vê as malignas abominações que eles
fazem aqui. E entrei, e olhei, e eis que toda a forma de répteis, e
animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel,
estavam pintados na parede em todo o redor. E estavam em pé
diante deles setenta homens dos anciãos da casa de Israel, e
Jaazanias, filho de Safã, em pé, no meio deles, e cada um tinha na
mão o seu incensário; e subia uma espessa nuvem de incenso.
Então me disse: Viste, filho do homem, o que os anciãos da casa de
Israel fazem nas trevas, cada um nas suas câmaras pintadas de
imagens? Pois dizem: O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou a
terra.” (Ez 8:5-12)

Israel chegou ao cúmulo de colocar dentro do Templo imagens


pagãs as quais eram adoradas à luz do dia. O castigo era inevitável e
terrível. Os judeus voltarão do exílio babilônico definitivamente
curados da idolatria.

595 AC - 9º de Zedequias – Jerusalém cercada


(A.B. 3304)

Conforme 2 Rs 25:1-2: “E sucedeu que, no nono ano do seu reinado,


no mês décimo, aos dez do mês, Nabucodonosor, rei de Babilônia,
veio contra Jerusalém, ele e todo o seu exército, e se acampou
contra ela, e levantaram contra ela trincheiras em redor. E a cidade
foi sitiada até ao undécimo ano do rei Zedequias.”
218

594 AC - 10º de Zedequias - 4ª leva de deportados


(A.B. 3305)

Nabucodonosor conseguiria tomar Jerusalém apenas no 11º ano de


Zedequias, mas conforme Jr 52:29 levou em seu 18º ano de governo,
10º de Zedequias, 832 judeus para a Babilônia. Vejamos o texto: “No
ano décimo oitavo de Nabucodonosor, ele levou cativas de
Jerusalém oitocentas e trinta e duas pessoas.” (Jr 52:29)

Conforme 2 Rs 25:3, houve muita fome em Jerusalém nestes anos


em que a cidade esteve sitiada. Vejamos o texto: “Aos nove do mês
quarto, quando a cidade se via apertada pela fome, nem havia pão
para o povo da terra.”

Pelo baixo número de exilados que seguiram para a Babilônia, cerca


de 15 mil, calcula-se que foi imenso o número de pessoas que foram
mortas pela espada e pela fome em Jerusalém.

593 AC - 11º de Zedequias – Jerusalém invadida


(A.B. 3306)

Conforme Jr 52:7 “foi aberta uma brecha na cidade, e todos os


homens de guerra fugiram, e saíram da cidade de noite, pelo
caminho da porta entre os dois muros, a qual estava perto do jardim
do rei (porque os caldeus cercavam a cidade ao redor), e foram pelo
caminho da campina.”

593 AC - 11º ano – Zedequias é preso


(A.B. 3306)

Vendo que a cidade havia sido invadida Zedequias tenta fugir, mas
logo se vê cercado e abandonado por seu exército. Foi levado à
Babilônia, onde viu todos os seus filhos serem mortos, conforme
sentença de Nabucodonosor. Após a execução de seus filhos teve
seus olhos vazados e foi atirado ao cárcere onde permaneceu até o
dia de sua morte. (Jr 52: 8-11)

Cumpriu-se desta forma a profecia de Jeremias: “E Zedequias, rei de


Judá, não escapará das mãos dos caldeus; mas certamente será
entregue na mão do rei de Babilônia, e com ele falará boca a boca, e
os seus olhos verão os dele.” (Jr 32:4)
219

593 AC - Jerusalém é destruída - deportação de Ezequiel


(A.B. 3306)

Jerusalém foi totalmente saqueada e destruída, o que inclui o Templo


construído por Salomão, de onde foram retirados todos os objetos de
valor que ainda restavam (Jr 52), sendo sido depois disto queimado,
como também foram queimadas a casa do rei e todas as demais
casas da cidade e edifícios públicos.

Também seus muros foram derrubados e o povo levado cativo,


sendo deixados apenas os pobres e lavradores. A narrativa de 2 Cr
36:17-21 nos dá a correta dimensão deste acontecimento: “Porque
fez subir contra eles o rei dos caldeus, o qual matou os seus jovens à
espada, na casa do seu santuário, e não teve piedade nem dos
jovens, nem das donzelas, nem dos velhos, nem dos decrépitos; a
todos entregou na sua mão. E todos os vasos da casa de Deus,
grandes e pequenos, os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros
do rei e dos seus príncipes, tudo levou para Babilônia. E queimaram
a casa de Deus, e derrubaram os muros de Jerusalém, e todos os
seus palácios queimaram a fogo, destruindo também todos os seus
preciosos vasos. E os que escaparam da espada levou para
Babilônia; e fizeram-se servos dele e de seus filhos, até ao tempo do
reino da Pérsia. Para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela
boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus Sábados;
todos os dias da assolação repousou, até que os setenta anos se
cumpriram.”

De nada adiantou o Profeta Jeremias anunciar a destruição de Judá


por 23 anos seguidos contados a partir do 3º ano do rei Josias (Jr
25:1-3) tendo sido mesmo ameaçado de morte por causa da dureza
com que se dirigia ao rei e ao povo. Desta forma veio a destruição:
aqueles que não foram deportados foram mortos pela fome, ou pela
peste, ou pela espada, conforme a palavra de Jeremias.
Nabucodonosor não poupou sequer os animais. (Jr 21:8-14).

Este episódio da vida do povo escolhido é sem dúvida aquele que no


Antigo Testamento mais nos ensina sobre o senso de justiça de
Deus. Raramente o pecado do povo teve uma punição imediata, mas
sempre foi imediata a repreensão vinda da parte de Deus por meio
de seus profetas. O fim de Judá nos mostra o quão perigoso é que
nos sintamos seguros diante de tanta apatia face a palavra de
advertência de Deus.
220

De acordo com Ezequiel 40:1, podemos concluir que o Profeta foi


exilado no mesmo ano em que a cidade de Jerusalém caiu: "No ano
vinte e cinco do nosso cativeiro, no princípio do ano, no décimo dia
do mês, catorze anos depois que a cidade foi conquistada, naquele
mesmo dia veio sobre mim a mão do SENHOR, e me levou para lá.”

O Profeta Ezequiel e o Egito


Faça você mesmo uma pesquisa sobre quais monumentos do mundo
antigo seus amigos conhecem, e certamente estarão na lista as
pirâmides do Egito. As pirâmides, ou mais corretamente a Pirâmide
de Gizé, também chamada Pirâmide de Quéops, localizada na
cidade do Cairo, capital do Egito, figura como destaque entre "as
sete maravilhas do mundo antigo.”

A lista destas maravilhas é atribuída ao poeta grego Antípatro de


Sidon, e inclui os Jardins Suspensos da Babilónia, construídos pelo
rei Nabucodonosor; a Estátua de Zeus, em Olímpia, Grécia; oTemplo
de Ártemis, construído em Éfeso, atual Turquia; o Mausoléu de
Halicarnasso, também na Turquia; o Colosso de Rodes, construído
na ilha grega com o mesmo nome; o Farol de Alexandria, construído
no Egito; e a Pirâmide de Gizé, ou Quéops, também no Egito.

De todos estes monumentos, apenas a pirâmide sobrevive até os


dias de hoje. Diga-se ainda que com seus 147 metros de altura foi a
maior construção feita pelo homem durante mais de quatro mil anos,
tendo sido superada apenas em 1889 quando foi construída em Paris
a Torre Eiffel.

Quanto às demais construções, temos delas apenas relatos e


algumas ruínas, como o farol de Alexandria, cujos restos foram
encontrados em 1994 por mergulhadores, e podem ser vistos hoje
por imagens de satélite.

Dizem os historiadores que o Colosso de Rodes sobreviveu por


apenas 55 anos quando foi derrubado por um terremoto, e o cobre
de que era feito foi vendido como sucata muito tempo depois quando
os árabes tomaram conta daquela região. De fato, para além da
Pirâmide de Quéops só há lembranças e ruínas daquilo que foi o
orgulho de seus construtores.

Isto nos remete ao relato do Profeta Ezequiel conforme registra o


capítulo 29 de seu Livro. O texto foi escrito cerca de 594 AC, um ano
antes da destruição do Templo de Jerusalém construído por
221

Salomão. Vale a pena ler todo o capítulo, mas por ora vejamos
apenas uma síntese de seu conteúdo. Trata-se de uma profecia
contra o Egito:

"Filho do homem, dirige o teu rosto contra Faraó, rei do Egito, e


profetiza contra ele e contra todo o Egito... Porque tornarei a terra do
Egito em desolação no meio das terras desoladas; e as suas cidades
entre as cidades desertas se tornarão em desolação por quarenta
anos; e espalharei os egípcios entre as nações, e os dispersarei
pelas terras. Porém, assim diz o Senhor DEUS: Ao fim de quarenta
anos ajuntarei os egípcios dentre os povos entre os quais foram
espalhados. E removerei o cativeiro dos egípcios, e os farei voltar à
terra de Patros, à terra de sua origem; e serão ali um reino humilde;
Mais humilde se fará do que os outros reinos, e nunca mais se
exalçará sobre as nações; porque os diminuirei, para que não
dominem sobre as nações.”

Depois de destruir Jerusalém e levar os judeus para o cativeiro,


Nabucodonosor destruiu a poderosa cidade fenícia de Tiro
(localizada cerca de 50 Km de Beirute no Líbano de nossos dias),
marchando em seguida contra o Egito, que conforme a profecia de
Ezequiel, foi devastado, e nunca mais na história se posicionou no
cenário internacional como potência. Desde então o Egito tem sido
uma nação humilde, exatamente como descrito por Ezequiel.

Talvez pareça coisa insignificante, ou por demais sutil para notar o


real significado desta profecia, mas é de fato uma coisa tremenda: A
história desta civilização começa em 3500 AC e comprova um legado
de grandes realizações, sendo este povo um dos primeiros a dominar
a escrita e a estabelecer um sistema complexo de matemática,
técnicas de extração mineral, topografia, engenharia e arquitetura
que permitiram a construção de edificações complexas como
obeliscos e pirâmides; técnicas de produção agrícola que lhe
permitiram exportar excedentes de produção e estabelecer um
comércio vigoroso.

Entre as artes, o domínio sobre as técnicas de elaboração do vidro e


resinas coloridas legaram à posteridade tesouros de valor
inestimável. É tamanha a grandiosidade desta cultura que ainda hoje
somos assombrados pelas suas realizações. Veja-se, por exemplo,
como a indústria cinematográfica explora esta consciência coletiva
produzindo filmes de sucesso onde aventureiros de todos os tempos
buscavam e buscam os tesouros sepultados por esta civilização.
222

Por um desígnio de Deus, sobreviveu aos tempos, entre todas as


grandes obras da civilização antiga apenas a pirâmide. Conforme as
palavras de Ezequiel "serão ali um reino humilde; Mais humilde se
fará do que os outros reinos, e nunca mais se exalçará sobre as
nações; porque os diminuirei, para que não dominem sobre as
nações.”

Não é exatamente esta a realidade?

589 AC - 5ª deportação
(A.B. 3310)

No 23º ano de Nabucodonosor registra-se a quarta e última leva de


exilados: “No ano vinte e três de Nabucodonosor, Nebuzaradã,
capitão da guarda, levou cativas, dos judeus, setecentas e quarenta
e cinco pessoas.” (Jr 52:30)

569 AC– morte de Nabucodonosor - Início de Evil-Merodaque


(A.B. 3330)

Nabucodonosor reinou 43 anos, vindo a falecer no 37º ano do


cativeiro de Joaquim. Neste mesmo ano Evil-Merodaque, seu filho, o
sucede no governo da Babilônia. O primeiro ato do novo governante
foi libertar Joaquim de seu cativeiro. Vejamos o texto:

“Depois disto sucedeu que, no ano trinta e sete do cativeiro de


Joaquim, rei de Judá, no mês duodécimo, aos vinte e sete do mês,
Evil-Merodaque, rei de Babilônia, no ano em que reinou, levantou a
cabeça de Joaquim, rei de Judá, tirando-o da casa da prisão. E lhe
falou benignamente; e pôs o seu trono acima do trono dos reis que
estavam com ele em Babilônia. E lhe mudou as roupas de prisão, e
de contínuo comeu pão na sua presença todos os dias da sua vida.
E, quanto à sua subsistência, pelo rei lhe foi dada subsistência
contínua, a porção de cada dia no seu dia, todos os dias da sua
vida.” (2 Rs 25:27-30)

As datas históricas do Império Neo-Babilônico


Aquilo que se convenciona chamar de Império Neo-Babilônico refere-
se ao período histórico compreendido entre os governos de
Nabopolasar, pai de Nabucodonosor, e o fim do período determinado
pela ascensão medo-persa, apontada na Bíblia pela queda da
Babilônia pelas mãos de Dario, o medo, conforme diz a Bíblia, ou de
Ciro, o Grande, conforme preconiza a história secular.
223

Nabopolasar foi um líder caldeu que, segundo data do Museu


Britânico, subiu ao trono em 626 AC depois da morte de
Assurbanipal, rei da Assíria, vindo a conquistar cidades importantes
do Império Assírio, incluindo Nipur, Uruk e finalmente Nínive, em 612
AC.

Foi sucedido em 605 AC, por Nabucodonosor II, seu filho, o qual,
conforme vimos, viria a conquistar também a Judeia.

Nosso interesse neste ponto não é propriamente fazer uma


conciliação da cronologia bíblica com a história secular, mas sim, tirar
proveito da informação histórica e colocá-la no contexto de nosso
trabalho, uma vez que a Bíblia não menciona a extensão do governo
de Evil-Merodaque, sucessor de Nabucodonosor, nem cita os reis
posteriores, vindo a se manifestar apenas no caso de Belsazar,
derrubado por Dario, o medo, na queda da Babilônia.

A Bíblia, conforme visto, aponta que a morte de Nabucodonosor se


deu no 37º ano do cativeiro de Joaquim, o que em nossa cronologia
representa o Ano Bíblico 3331 correspondente a 568 AC. De acordo
com as fontes históricas em geral, e particularmente o Museu
Britânico, seria o ano 562 AC.
É preciso que se preste atenção às datas consagradas pela história
secular à luz da Bíblia, considerando as diferenças sobre alguns
eventos bastante conhecidos. Para verificar esta questão, vamos
abandonar momentaneamente a evolução do Império Babilônico e
focar na acuidade histórica do período precedente.

Na tabela que vem a seguir podemos comparar cinco eventos


importantes entre a queda da Samaria e a morte de Nabucodonosor,
datados pela história secular entre 722 AC e 562 AC

Tais datas se situam num período em que a história da Bíblia é


facilmente datável e não permite de forma alguma que o período seja
estendido. Poderia, sim, ser diminuído, se fosse o caso de propor
uma ou mais coregências, mas nunca ser expandindo. Nossa
intenção em examinar tais eventos objetiva demonstrar que de
acordo com a Bíblia, particularmente um texto do Profeta Isaías, as
datas aceitas historicamente como corretas contém erros, ficando,
desta forma, em desacordo coma Bíblia.
224

Conforme Conforme
Evento a Bíblia a História Diferença
Queda da Samaria 722 722 0
Sanaqueribe tenta invadir Jerusalém 715 701 14
Início de Nabucodonosor 611 605 6
Queda de Judá 593 586 7
Morte de Nabucodonosor 568 562 6
Queda da Samaria até início de Nabuco 111 117 6
Queda da Samaria até queda de Judá 129 136 7
Queda da Samaria até morte de Nabuco 154 160 6

Senaqueribe tenta invadir Jerusalém – 701 AC ou 715 AC?


Tanto a Bíblia quanto a história reconhecem a queda da Samaria em
722 AC, que de acordo com o redator de 2 Reis ocorreu no 6º ano do
rei Ezequias. (2 Rs 18:10)

A Bíblia diz que Senaqueribe tentou sem sucesso conquistar


Jerusalém no 14º ano de Ezequias (Is 36:1), ou seja, sete anos após
a queda de Israel.

Lembre-se que no 14º ano, Ezequias havia governado 13 anos, pois


na contabilidade dos reis, o seu ano de ascensão sempre é contado
como ano de governo, ainda que naquele ano ele tenha governado
apenas um dia. Veja também que a se basear na Bíblia trata-se de
uma data imutável.

2 Rs 18:10 Queda de Israel 6º ano de Ezequias


Is 36:1 Senaqueribe tenta invadir Jerusalém 14º ano de Ezequias

Do 6º ao 14º ano de Ezequias se passaram 7 anos, não 8; portanto,


a tentativa de invadir Jerusalém se deu no ano 715 AC. A conta é
simples:
722
-7
715

O Museu Britânico, como também várias outras fontes históricas,


situam o mesmo evento em 701 AC, ou seja, 14 anos antes da data
fixada pelo Profeta Isaías.

Neste caso não é uma questão de comparar nossa cronologia com a


data historicamente aceita, mas sim, comparar a data histórica com o
Profeta Isaías, uma vez que tanto a Bíblia quanto a história partem
225

do ano 722 AC, o que nos faz concluir que a história secular erra
neste ponto, e erra talvez, por caracterizar a Bíblia como um livro
meramente religioso.

Os historiadores deveriam ter a humildade de recorrer à Bíblia, pois,


independente de questões religiosas, é a principal fonte da história
de Israel.

O relato da tentativa de Senaqueribe invadir Jerusalém pode ser


verificado no site do Museu Britânico no seguinte endereço:

www.britishmuseum.org/explore/highlights/article_index/s/sennacheri
b,_king_of_assyria.aspx

Início de Nabucodonosor – 611 AC ou 605 AC?


No que se refere ao início de Nabucodonosor, dá-se uma situação
semelhante, com uma diferença menor, de 6 anos, mas que vai se
fazer refletir nas datas históricas subsequentes.

Desta forma, tentando encurtar uma longa estória, se consideramos


que a queda da Samaria se deu em 722 AC, o início de
Nabucodonosor não poderia se dar em 605 AC, 117 anos depois
como quer a história secular, pois, de acordo com a Bíblia, apenas
111 anos se passaram entre os dois eventos.

A cronologia dos reis de Judá neste período é extremamente rígida,


fácil de ser calculada, e não admite a extensão do período. Vale
lembrar que não é a Bíblia neste caso quem invade a história
secular, mas o contrário, a história secular invade a Bíblia ao querer
datar um evento bíblico, que diz respeito a Israel, desconsiderando o
registro histórico de datas dos judeus. Vejamos os números:

Gregoriano Ano Bíblico Evento Tempo


722 AC 3177 6º ano de Ezequias -
700 AC 3199 Ezequias - Manassés - 13º (55) 22
646 AC 3253 Manassés / Amon - 14º (2) 54
645 AC 3254 Amon / Josias - 15º (31) 1
615 AC 3284 Josias / Jeoacaz 16º (3 meses) 30
611 AC 3288 1º de Nabuco (4º de Jeoiaquim) 4
Total 111

Desde o 6º ano de Ezequias até o seu 29º e último ano governo, são
22 anos. Manassés assumiu no mesmo ano da morte de Ezequias e
226

reinou 55 anos, contado o ano de ascensão, o que significa que se


passaram mais 54 anos; Amon veio a seguir e reinou 2 anos, o que
significa que descontado o ano de ascensão, reinou apenas 1 ano;
Veio Josias e da mesma forma reinou 30 dos seus 31 quando se
inclui o ano de ascensão; Jeoacaz reinou apenas 3 meses no mesmo
ano que contamos como o final de Josias; e finalmente os 4 anos de
Jeoiaquim, pois foi no 4º ano de Jeoiaquim que Nabucodonosor
passou a reinar na Babilônia, conforme Jr 25:1.

A somatória destes anos resulta em 111 anos. Não só não podemos


encurtar este período propondo uma ou mais coregências, como
também não podemos aumentá-lo, pois, conforme vimos há vários
sincronismos bíblicos que travam qualquer possibilidade de mudança
na fixação destas datas.

De qualquer forma, se aceitamos que a queda de Israel se deu em


722 AC, não podemos aceitar 605 como ascensão de
Nabucodonosor.

Os reis babilônicos do tempo de Daniel


Retornemos então à questão da datação dos reis babilônicos para os
quais usaremos a extensão de governos historicamente aceitas,
mas, alocando-as a partir das datas propostas pela Bíblia.

A tabela seguinte relata as datas atribuídas pelo Museu Britânico e


respectivas durações dos governos desde Nabopolasar até
Nabonido, pai de Belsazar. O período compreendido entre a morte
de Nabucodonosor e a queda da Babilônia representa 23 anos.

Nabopolasar (Nabopolassar) 625 AC - 605 AC 21


Nabucodonosor II 604 AC - 562 AC 43
Evil-Merodaque (Amel-Marduk) 561 AC - 560 AC 2
Neriglissar 559 AC - 556 AC 4
Labashi-Marduk 556 AC 0
Nabonido / Belsazar 555 AC - 539 AC 17
Datas dos reis babilônicos de acordo com o Museu Britânico

É maravilhoso observar como a história deste período vem


complementar a informação bíblica. O sincronismo é perfeito. Os 23
anos históricos se referem a um tempo que não é mencionado em
nenhum ponto da Bíblia, onde, em termos cronológicos precisos, da
morte de Nabucodonosor, e consequentemente do 1º ano de seu
227

filho Evil-Merodaque, salta para a data que assinala o final do exílio


de Judá, precisamente 70 anos depois de seu início, com o evento
de Ciro libertando os judeus do cativeiro.

Evento Anos
Cativeiro de Daniel no último ano de Nabonido 1
Nabucodonosor II 43
Evil-Merodaque (Amel-Marduk) 2
Neriglissar 4
Labashi-Marduk 0
Nabonido / Belsazar 17
Dario - o Medo 2
Primeiro ano de Ciro 1
Total 70

A finalidade de colocá-los na cronologia é meramente ilustrativa e


consoante com a história, embora nossa data gregoriana discorde
das datas oficiais vistas na tabela acima. Conforme veremos, a
duração dos governos destes reis proposta pelo Museu Britânico
está absolutamente em acordo com a Bíblia.

566 AC– início de Neriglissar


(A.B. 3333)

De acordo com a informação do Museu Britânico Evil-Merodaque


reinou apenas dois anos, tendo sido assassinado por seu cunhado
Neriglissar, que veio a ocupar o trono por quatro anos.

562 AC– Labashi-Marduke reina 1 mês


(A.B. 3337)

Labashi-Marduke, filho de Neriglissar, reinou após a morte de seu pai


por apenas 1 mês, quando veio a ser substituído por Nabonido.
228

562 AC– Nabonido toma o poder


(A.B. 3337)

Nabonido, pai de Belsazar, reinou na Babilônia por 17 anos,


conforme a Crônica de Nabonido, documento este que
examinaremos em detalhe mais adiante.

Os documentos históricos sobre a queda da Babilônia


Há muita documentação histórica disponível sobre este período, e
entre elas destacam-se três de nosso particular interesse, pois tratam
da queda da Babilônia e consequente final do exílio de Judá: a
Crônica de Nabonido, o Cilindro de Nabonido, e o Cilindro de Ciro, os
três na posse do Museu Britânico.

Quanto ao Cilindro de Nabonido, existem duas versões, uma no


Museu Britânico e outra no Museu de Berlim. Trata-se de cilindros
diferentes, ambos originais, idênticos um ao outro, senão por apenas
uma diferença que se refere à reverência de divindades diferentes.
Conforme nota de Paul-Alain Beaulieu, tradutor do cilindro londrino
para o idioma inglês, enquanto o cilindro de Berlim aponta neste
contexto o deus Sin, o de Londres se refere a Bel, sendo ambos
nomes que se referem a Marduke, mostrando desta forma que
Nabonido tentou sincretizar ambas as divindades como uma só.

A Crônica de Nabonido e o Cilindro de Ciro são complementares,


uma vez que enquanto a primeira trata dos 17 últimos anos do
Império Babilônico, o segundo trata da ocupação medo-persa.

O Cilindro de Nabonido, por sua vez, nos conta muito sobre a


personalidade deste rei, mostrando uma sinceridade incomum
quanto às suas fraquezas e temores, bem como uma consciência
bastante clara sobre o curso da história.

Nabonido encontrou, durante seu governo, inscrições no nome dos


reis assírios Shagaraki-shuriash e de Niram-Sin, filho de Sargão, e
não só as manteve intactas, como demonstrou por elas um público e
reverente respeito, algo incomum à maioria dos governantes de seu
porte.

É importante ressaltar que todos estes documentos foram escritos


segundo a ótica pagã dos dois reis. Mesmo assim é inegável a
similaridade e coincidência com os eventos bíblicos.
229

Pesa, sobre a Crônica de Nabonido, a necessidade de se analisar a


natureza de sua objetividade, uma vez que no relato do último ano de
seu governo, ela reporta eventos posteriores a Nabonido, que em
última análise deveria ser seu maior beneficiário. Dá-se o contrário,
pois nela Ciro é o grande vencedor desta contenda. Vamos seguir
atentamente o que aqui é dito sobre Gobrias, o personagem histórico
que nos reporta à pessoa de Dario, o medo.

Infelizmente todos estes documentos foram danificados pelo efeito


do tempo e possuem falhas não sendo possível a sua leitura integral.
Onde ocorrem estas falhas, havemos de esclarecer com o título
[...lacuna...].

Na análise destes documentos, alocaremos, conforme feito em


relação aos reis babilônicos, as datas de acordo com a sugestão
cronológica da Bíblia, e não da história secular.
230

A Crônica de Nabonido

www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/me/c/cun
eiform_fall_of_a_dynasty.aspx

A Crônica de Nabonido é um tablete de argila que se encontra na


posse do Museu Britânico, e sumariza os principais eventos de cada
um dos 17 anos do governo de Nabonido, pai de Belsazar, desde
sua ascensão até a queda da Babilônia.

O texto original se encontra bastante danificado e contém várias


lacunas. A crônica ressalta que Nabonido estava fora da Babilônia
durante boa parte de seu reinado, a saber, desde seu 7º ano de
governo, e desta forma, ausente dos festivais religiosos durante os
quais a presença do rei era essencial.

Nabonido estabeleceu sua base no oásis de Teimã durante a maior


parte do tempo que esteve ausente. De acordo com as informações
do Museu Britânico contidas no endereço eletrônico acima, o rei
despendeu 10 anos na Arábia, sendo a Babilônia neste tempo
administrada por seu filho Belsazar, conforme os relatos registrados
no Livro de Daniel.

A tradução completa do texto para o idioma inglês foi feita por A. Leo
Oppenheim e copiada de James B. Pritchard's Ancient Near Eastern
texts relating to the Old Testament, 1950 Princeton.
231

A íntegra do texto em inglês bem como os comentários de vários


especialistas neste tema podem ser encontradas no seguinte
endereço eletrônico:
http://www.livius.org/ct-cz/cyrus_I/babylon02.html

Na sequência citamos entre aspas em itálico os principais


acontecimentos da Crônica de Nabonido relacionados com o texto
bíblico e nossos respectivos comentários. O ano de cada
acontecimento é identificado segundo nossa contagem cronológica e
não segundo a data atribuída pela história secular.

557 AC - 6º de Nabonido – Ciro derrota Astíages


(A.B. 3342)

“Sexto ano - O Rei Astíages chamou suas tropas e marchou contra


Ciro, Rei de Anshan, a fim de encontrá-lo na batalha. O exército de
Astíages se voltou contra ele e em grilhões o entregou a Ciro. Ciro
marchou contra o país de Agantanu; a residência real foi tomada;
prata, ouro, outros coisas valiosas do país de Agantanu ele tomou
como despojo e trouxe para Anshan. Os valorosos do exército de
....[...lacuna...]” (Crônica de Nabonido)

O fato de a Babilônia ter sido tomada sem qualquer resistência, à luz


das revelações históricas registradas na Crônica de Nabonido, pai de
Belsazar, nos faz entender que a chegada de Ciro não foi de maneira
alguma uma surpresa para os babilônicos.

Ciro surge na Crônica de Nabonido já em seu 6º ano de governo


quando derrota o rei medo Astíages. Sabemos desta forma que Ciro
estava buscando conquistar a Média desde o sexto ano de
Nabonido.

A cidade de Agantanu mencionada é Ecbátana, capital dos medos,


que corresponde hoje à cidade de Hamadã, situada a cerca de 400
Km de Teerã.

556 AC - 7º ano – coregência com Belsazar


(A.B. 3343)

“Sétimo ano - O Rei permaneceu em Teimã. O príncipe, seus oficiais


e seu exército estavam em Acádia. O Rei não foi a Babilônia para as
cerimônias do mês de Nisannu; a imagem do deus Nabú não foi à
232

Babilônia. A imagem do deus Bel não saiu de Eságlia em procissão;


o festival do Ano Novo foi omitido.” (Crônica de Nabonido)

A razão de Belsazar e não Nabonido se encontrar na Babilônia na


ocasião de sua queda é explicada pelo fato de que desde o sétimo
ano de seu governo Nabonido se encontrava fora, residindo a maior
parte deste tempo no oásis de Teimã. A crônica irá repetir o relato da
ausência de Nabonido nas festividades religiosas da Babilônia nos
anos 9º, 10º e 11º.

Os relatos referentes aos anos 8º, 12º, 13º, 14º, 15º e parte do 16º
ano estão danificados.

Segundo nota de Oppenheim, um dos tradutores do texto para o


idioma inglês, a citação de Acádia, em toda a crônica, significa
Babilônia, não a cidade, mas a região.

Em inglês as palavras são distinguidas como Babylon – para se


referir à cidade de Babilônia, e Babilonia – para se referir à região, o
estado babilônico, da qual a cidade de Babilônia era a capital.

Em português, para os dois casos se utiliza a mesma palavra. Desta


forma indica que quando o príncipe estava em Acádia, significa mais
propriamente que se encontrava na província, ou na cidade de
Babilônia, sua capital.

Acádia é citada no Gênesis nos primórdios da civilização


mesopotâmica (Gn 10:10).

A constatação de que Belsazar co-reinava com Nabonido já é


atualmente aceita pela história secular. Vejamos o que diz o Museu
Britânico a este respeito: “Nabonido estabeleceu sua base no oásis
de Teimã na rota das caravanas e empreendeu campanhas contra
outros ricos oásis ou negociou alianças com os árabes. O rei
despendeu dez anos na Arábia e deixou a Babilônia sendo
administrada por seu filho Bel-shar-usur (Belsazar do Antigo
Testamento).”

(http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/me
/c/cuneiform_fall_of_a_dynasty.aspx)
233

554 AC - 9º ano – morre a mãe de Nabonido


(A.B. 3345)

No 9º ano de Nabonido sua mãe faleceu, conforme vemos no texto:


.”.. no mês de Nisannu a mãe do Rei morreu em Walled, o qual está
nos bancos do Rio Eufrates sobre Sipar. O príncipe coroado e seu
exército lamentaram profundamente por três dias...” (Crônica de
Nabonido)

546 AC - o 17º ano de Nabonido


(A.B. 3353)

“Ano dezessete – Nabú veio de Borsippa para o cortejo de Bel


(senhor, Baal, nome supremo do deus Marduke que raramente era
escrito ou pronunciado)...[...lacuna...].

O rei adentrou no templo de Eturkalama; no templo fez libação de


vinho. Bel saiu em cortejo. Celebraram o festival do Ano Novo de
acordo com o ritual completo (seria o dia 4 de abril).

No mês de Âbu Lugal-Marada e outros deuses das cidades de


Marada, Zabada, e os outros deuses de Kish, a deusa Ninlil e outros
deuses de Hursagkalama visitaram Babilônia. Até o fim do mês de
Ululu todos os deuses de Acádia, aqueles do alto e os das
profundezas entraram na Babilônia. Os deuses de Borsipa, Cuta, e
Sipar não entraram.

No mês de Tasritu, quando Ciro atacou o exército de Acádia em


Opis, no Rio Tigre, os habitantes de Acádia se revoltaram, mas ele
(Ciro) massacrou a população.

O décimo quinto dia (seria 12 de outubro em nosso calendário) Sipar


foi tomada sem batalha. Nabonido fugiu.

No décimo sexto dia, Gobrias (literalmente Ugubaru), o governador


de Gutium, e o exército de Ciro entraram na Babilônia sem batalha.

Depois disto Nabonido foi preso na Babilônia quando para lá


retornou. Até o final do mês, os escudos que carregavam os gutianos
permaneceram em Eságlia, mas ninguém carregava armas em
Eságlia e seus edifícios.
234

O tempo correto para a cerimônia não foi esquecido. No mês de


Arashamna, no terceiro dia (29 de outubro), Ciro entrou na Babilônia,
[.. objetos não identificados no texto...] foram postos diante dele – o
estado de paz foi imposto sobre a cidade.

Ciro enviou saudações para toda a Babilônia. Gobrias, seu


governador, instalou subgovernadores na Babilônia.

Desde o mês de Kislimu até o mês de Addaru (3 meses), os deuses


de Acádia os quais Nabonido fez vir para a Babilônia foram
retornados para suas cidades sagradas.

No mês de Arahsamna, na noite do dia 11, Gobrias morreu


(equivalente a 6 de novembro).

No mês de Addaru, a [... lacuna...] dia, a esposa do rei faleceu.


Desde o dia 27 de Adarru até o terceiro dia de Nisannu (seria 20-26
de Março), um lamento oficial foi feito em Acádia. Todo povo veio
com seus cabelos desalinhados.

Quando no quarto dia Cambises, filho de Ciro, veio ao templo de


[...lacuna...], o sacerdote de Nabú a quem [...lacuna...] o touro [...
lacuna...] Eles vieram e fizeram acenos quando levou a imagem de
Nabú [... lacuna...] lanças e aljavas de couro, desde [... lacuna...]
Nabú retornou a Eságlia, ofertas de ovelhas perante Bel e o deus
Marbiti.” (Crônica de Nabonido)

Um primeiro comentário bastante relevante é que nitidamente a partir


do 17º ano a Crônica de Nabonido se transforma praticamente numa
espécie de “Crônica de Ciro”, quando reporta acontecimentos
nitidamente favoráveis a este. Não há, portanto, fantasias históricas
nos relatos de Nabonido, apenas a verdade.

Este fato poderia sugerir que a última parte da crônica possa ter sido
escrita a mando de Ciro, ou ainda toda ela, utilizando anotações
preservadas pelo próprio Nabonido para esta finalidade. Não é no
entanto, nossa intenção explorar aqui as razões à volta deste
documento, mas sim relatar o seu conteúdo.

O 17º ano de Nabonido é o ano da queda da Babilônia. É o ano mais


interessante do ponto de vista de complementação da informação
bíblica, pois explica, por exemplo, a ausência de Nabonido da cidade
e nos introduz a figura de Gobrias, o Dario, o medo, registrado em
Daniel.
235

Neste ano, de acordo com Dn 5, precisamente no dia em que se deu


a queda da Babilônia, o rei Belsazar deu um banquete para duas mil
pessoas e mandou utilizar para este evento as taças de ouro que
Nabucodonosor havia tirado do Templo em Jerusalém.

Esta passagem é sobejamente conhecida, mas vale a pena


mencionar três citações importantes, todas mencionando o fato de
que aquele que interpretasse a visão de Belsazar seria o “terceiro”
mais importante no reino, a saber, os versos 7, 16 e 29, das quais
citamos a primeira: “Qualquer que ler este escrito, e me declarar a
sua interpretação, será vestido de púrpura, e trará uma cadeia de
ouro ao pescoço e, no reino, será o terceiro governante.” (Dn 5:7)

Por outorgar o “terceiro” posto mais importante na Babilônia,


subentende-se que haveria ainda duas pessoas acima daquele que
interpretasse o texto, a saber, o próprio Belsazar, e seu pai,
Nabonido, este sim, rei da Babilônia. Dizem os versos finais deste
capítulo que Belsazar entendeu que a interpretação de Daniel era
correta e mandou que o proclamassem o “terceiro” na Babilônia.

Naquela mesma noite Belsazar foi morto e Dario, o medo, ocupou o


trono em seu lugar. (Dn 5:29-31)

Há dois Darios mencionados na Bíblia no contexto pós-babilônico:


este Dario que ocupa a Babilônia, conforme nos reporta o Profeta
Daniel (Dn 5:31), e o do tempo de Esdras, Dario, o Grande, conforme
veremos adiante.

Na sequência da queda da Babilônia, Daniel nos revela que Dario


tinha na ocasião 62 anos de idade e era filho de Assuero, da
linhagem dos medos (Dn 9:1), e desta forma se distinguia como “o
medo.”

Conforme o Livro de Daniel, logo que assumiu o poder na Babilônia,


Dario nomeou 120 “príncipes”, ou “sátrapas” para governarem sobre
as províncias da Babilônia, e sobre estes, destacou três que atuavam
como presidentes, sendo Daniel um deles. Como Daniel se
sobressaiu sobre todos, criou-se uma intriga que culminou no
conhecido episódio de Daniel na cova dos leões, tendo este evento
ocorrido, portanto, nos tempos de Dario.
236

A história secular nega a existência deste Dario, uma vez que,


segundo os mesmos, não há comprovação histórica de sua pessoa
nos dias da queda da Babilônia.
O relato de Daniel, conforme todo seu capítulo 5, mostra que foi
Dario quem tomou a cidade, e não Ciro, o que também comprova a
Crônica de Nabonido. Vejamos o texto de Dn 5:30-31: “Naquela noite
foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, ocupou o reino,
sendo da idade de sessenta e dois anos.”

Para efeito de comparação com os textos bíblicos, passamos na


sequência a examinar os principais fatos disponíveis sobre o assunto
na Crônica de Nabonido, pois, toda prova histórica exige uma
contraprova, ou seja, uma segunda experiência que se destina a
verificar a exatidão da primeira.

A primeira coisa, no entanto, que devemos notar, é que a providência


de Deus fez com que tais documentos estivessem depositados no
Museu Britânico, sob a guarda da Rainha da Inglaterra, e, neste
caso, não há no mundo um guardião mais crível para estas provas.

O fato de estarem disponíveis para visitação no Museu Britânico,


bem como poderem ser acessados na íntegra pela internet é deveras
valioso, pois quando se fala de história, ou ciência, ou do
conhecimento em geral, nestes dias em que contamos com o auxílio
insubstituível da internet, a coisa mais fácil do mundo é encontrar
uma informação, mas é sabido de quanta coisa sem valor circula
pela rede, o que possibilita, desta forma, a indução de vários erros,
desde citações atribuídas a quem nunca as citou até eventos que
nunca aconteceram, ou recomendações médicas produzidas por
irresponsáveis que as atribuem a esta ou aquela fonte, prejudicando
ou até matando pessoas crédulas que as utilizam.

Ciro na Babilônia

Início de Outubro de 546 AC – Ciro ataca Acádia


“No mês de Tasritu, quando Ciro atacou o exército de Acádia em
Opis, no Rio Tigre, os habitantes de Acádia se revoltaram, mas ele
(Ciro) massacrou a população.” (Crônica de Nabonido)

De acordo com a Crônica de Nabonido Ciro estava no início de


outubro de 546 AC ocupado em atacar as cidades de Opis e Sipar,
centros importantes da Babilônia Província, não a cidade, mas sim,
do estado babilônico como um todo.
237

12 de Outubro de 546 AC - Ciro combate Nabonido em Sipar


“O décimo quinto dia (mês de Tasritu no calendário babilônico
equivale a 12 de outubro em nosso calendário) Sipar foi tomada sem
batalha. Nabonido fugiu.” (Crônica de Nabonido)

Nabonido encontrava-se em Sipar e desta forma Ciro estava


ocupado em combatê-lo pessoalmente. Nabonido conseguiu fugir do
local.

13 de Outubro de 546 AC – Gobrias, e não Ciro, entra na


Babilônia
“No décimo sexto dia (13 de outubro em nosso calendário), Gobrias
(ou Ugubaru), o governador de Gutium, e o exército de Ciro entraram
na Babilônia sem batalha. Depois disto Nabonido foi preso na
Babilônia quando para lá retornou.” (Crônica de Nabonido)

No dia 13 de Outubro, enquanto Ciro se ocupava de combater


Nabonido em Sipar, Gobrias e o exército de Ciro entraram na cidade
de Babilônia sem batalha.

O texto é muito claro ao mostrar que entrou o exército de Ciro, não


Ciro pessoalmente, e quem comandava o exército era Gobrias. Só
depois da ocupação da Babilônia por Gobrias é que Nabonido seria
preso ao retornar à cidade.

O texto dá a entender que Nabonido foi preso antes da chegada de


Ciro. O texto da Crônica de Nabonido confere exatamente com o que
nos diz Daniel. Vejamos o texto:: “Naquela noite foi morto Belsazar,
rei dos caldeus. E Dario, o medo, ocupou o reino, sendo da idade de
sessenta e dois anos.” (Dn 5:30-31)

De 13 a 28 de Outubro de 546 AC - o povo da Babilônia é


desarmado
“Até o final do mês, os escudos que carregavam os gutianos
permaneceram em Eságlia, mas ninguém carregava armas em
Eságlia e seus edifícios. O tempo correto para a cerimônia não foi
esquecido.” (Crônica de Nabonido)

29 de Outubro de 546 AC - Ciro entra na Babilônia


“No mês de Arashamna, no terceiro dia (29 de outubro), Ciro entrou
na Babilônia, [.. objetos não identificados no texto...] foram postos
diante dele – o estado de paz foi imposto sobre a cidade. Ciro enviou
saudações para toda a Babilônia.” (Crônica de Nabonido)
238

O início dos meses do calendário babilônico não casam exatamente


com o início dos meses no calendário Gregoriano. Desta forma, o 3º
dia do mês de Arashamna equivale ao nosso dia 29 de Outubro.

Foi somente nesta data, 16 dias depois que Gobrias e o exército


ocuparam a cidade é que Ciro entrou na Babilônia. Segundo o texto
havia paz na cidade e Ciro a saudou na qualidade de novo rei.

Mês de Novembro de 546 AC - Gobrias instala subgovernadores


“Gobrias, seu governador, instalou subgovernadores na Babilônia.”
(Crônica de Nabonido)

Embora não seja possível precisar o dia, é possível concluir que a


nomeação dos subgovernadores se deu em Novembro de 546 AC,
uma vez que, na sequência do texto, outras medidas são relatadas
entre Dezembro de 546 AC e Março de 545 AC.

Daniel nos reporta a nomeação destes subgovernadores da seguinte


forma: “E pareceu bem a Dario constituir sobre o reino cento e vinte
príncipes, que estivessem sobre todo o reino;“ (Dn 6:1)

Dezembro de 546 AC a Março de 545 AC - templos restaurados


“Desde o mês de Kislimu até o mês de Addaru (3 meses), os deuses
de Acádia os quais Nabonido fez vir para a Babilônia foram
retornados para suas cidades sagradas.” (Crônica de Nabonido)

Durante estes 3 meses os pertences saqueados por Nabonido


retornaram a seus lugares de origem. Uma informação complementar
a este fato pode ser obtida no Cilindro de Ciro, outro documento
histórico que se coaduna perfeitamente com esta iniciativa. Vejamos
o que nos diz o Cilindro de Ciro a este respeito:

“32 - Eu juntei todo o seu povo e os retornei a seus lugares de


origem, 33 - e os deuses da terra da Suméria e Acádia, os quais
Nabonido – a fúria do Senhor dos deuses – havia trazido para
Shuanna, sobre o comando de Marduke, o grande senhor, 34 - eu os
retornei ilesos às suas células, aos santuários que os fazem felizes.
Possam todos os deuses que fiz retornar a seus santuários, 35 -
todos os dias perante Ball e Nabú, pedir longa vida para mim, e
mencionar minhas boas ações, e dizer a Marduke, meu senhor, isto:
Ciro, o rei que o teme, e Cambises, seu filho,...” (Cilindro de Ciro)
239

Estes textos não fazem qualquer referência aos pertences tomados


por Nabucodonosor do templo de Jerusalém, mas mostra que Ciro
tinha esta conduta já forjada em sua personalidade.

O Templo de Salomão será restaurado somente dois anos depois, no


cumprimento do final do exílio, conforme estabelecido pelo Profeta
Jeremias (Jr 29:10).

6 de Novembro de 544 AC - morte de Gobrias


“No mês de Arahsamna, na noite do dia 11, Gobrias morreu.”
(Crônica de Nabonido)

Temos, desta forma, que Gobrias governou a Babilônia por dois anos
seguidos, entre Novembro de 546 AC até sua morte em 6 de
Novembro de 544 AC.

Desta forma, do ponto de vista cronológico, a morte de Gobrias


acontece exatamente no mesmo ano em que se cumprem os 70
anos do exílio de Judá. Gobrias é sem dúvida Dario, o medo.

A Bíblia não nega que Ciro era de fato o rei do império medo-persa,
apenas afirma que quem comandou os destinos da Babilônia após
sua queda foi Dario. Veja o que diz o texto a que refere Dn 9:1: “No
ano primeiro de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, o
qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus.”

O texto explica que Dario foi constituído rei dos caldeus, e não que
era o rei do império medo-persa.

Conforme visto na Crônica de Nabonido, esta informação se coaduna


perfeitamente com a história secular, que mostra que 16 dias depois
da entrada de Gobrias na cidade de Babilônia, Ciro entra e saúda os
cidadãos residentes. Conforme a mesma Crônica de Nabonido é
Gobrias quem toma as decisões administrativas na Babilônia até a
data de sua morte. Desta forma, só podemos entender que o próprio
Ciro o “constituiu rei dos caldeus.”

A data de 13 de Outubro de 546 AC registra, conforme vimos, a


entrada de Gobrias na cidade da Babilônia, na qualidade de
governador de Gutium, ou Gutim, liderando os gutinianos.

Alguns historiadores sugerem que estes gutinianos seriam o


remanescente da tribo de Gade, filho de Israel, e desta forma Gutim
240

seria uma corruptela do nome Gade. A Tribo de Gade, bem como as


demais levadas pelo rei da Assíria para o exílio passaram a habitar
no meio dos medos, local de origem de Dario, o medo: “Porque o rei
da Assíria subiu por toda a terra, e veio até Samaria, e a cercou três
anos. No ano nono de Oseias, o rei da Assíria tomou a Samaria, e
levou Israel cativo para a Assíria; e fê-los habitar em Hala e em
Habor junto ao rio de Gozã, e nas cidades dos medos” (2 Rs 17:5-6)

Por esta suposição, que não é de maneira alguma absurda, Gobrias


(Dario, o medo), seria descendente de Abraão, algo realmente
fascinante, uma vez que os judeus teriam sido libertados por seus
próprios irmãos, e neste caso, ao invés de simplesmente comprovar
o que está escrito na Bíblia, a história secular viria a nos
surpreender, reiterando que Deus é o Senhor da História e tem um
grande senso de humor. Fica o registro do fato e a sugestão para
que faça você mesmo sua pesquisa sobre o assunto, caso seja de
seu interesse.

A queda da Babilônia pela palavra de Isaías capítulo 13


"Eis que eu despertarei contra eles os medos, que não farão caso da
prata, nem tampouco desejarão ouro. E os seus arcos despedaçarão
os jovens, e não se compadecerão do fruto do ventre; os seus olhos
não pouparão aos filhos. E Babilônia, o ornamento dos reinos, a
glória e a soberba dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra,
quando Deus as transtornou. Nunca mais será habitada, nem nela
morará alguém de geração em geração; nem o árabe armará ali a
sua tenda, nem tampouco os pastores ali farão deitar os seus
rebanhos. Mas as feras do deserto repousarão ali, e as suas casas
se encherão de horríveis animais; e ali habitarão os avestruzes, e os
sátiros pularão ali. E os animais selvagens das ilhas uivarão em suas
casas vazias, como também os chacais nos seus palácios de prazer;
pois bem perto já vem chegando o seu tempo, e os seus dias não se
prolongarão.” (Is 13:17-22)

Dario, o medo, fatos importantes

Dario ocupa a Babilônia


“E Dario, o medo, ocupou o reino, sendo da idade de sessenta e dois
anos.” (Dn 5:31)

Dario constituiu 120 sátrapas sobre as províncias da Babilônia


“E PARECEU bem a Dario constituir sobre o reino cento e vinte
príncipes, que estivessem sobre todo o reino.” (Dn 6:1)
241

Daniel gozou da confiança de Dario


“Este Daniel, pois, prosperou no reinado de Dario, e no reinado de
Ciro, o persa.” (Dn 6:28)

Daniel na cova dos leões


“Então o rei ordenou que trouxessem a Daniel, e lançaram-no na
cova dos leões. E, falando o rei, disse a Daniel: O teu Deus, a quem
tu continuamente serves, ele te livrará.” Dn 6:16)

Daniel entende que o fim do exílio está próximo


“No ano primeiro de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos,
o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus, No primeiro ano
do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número dos
anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de
cumprir-se as desolações de Jerusalém, era de setenta anos.” (Dn
9:1-2)

Daniel recebe a revelação das 70 semanas


“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a
tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos
pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar
a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo.” (Dn 9:24)

N° de dias Gregoriano Judaico Persa Babilônico


30 Março-Abril Nisan Adukanaiša Nisannu
29 Abril-Maio Iyar Thûravâhara Ajaru
30 Maio-Junho Sivan Thâigaciš Simanu
29 Junho-Julho Tammuz Garmapada Du'ûzu
30 Julho-Agosto Av Turnabaziš Âbu
29 Agosto-Setembro Elul Karbašiyaš Ulûlu
30 Setembro-Outubro Tishrei Bâgayâdiš Tašrîtu
29/30 Outubro-Novembro Heshvan Markâsanaš Arahsamna
30/29 Novembro-Dezembro Kislev Âçiyâdiya Kislîmu
29 Dezembro-Janeiro Tevet Anâmaka Tebêtu
30 Janeiro-Fevereiro Shevat Samiyamaš Šabatu
29/30 Fevereiro-Março Adar Viyaxana Addaru
29 Março-Abril Adar II

Mapa de equivalência de calendários Judaico, persa e babilônico


242

O Cilindro de Ciro

http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/me/
c/cyrus_cylinder.aspx

Conforme informações do Museu Britânico, “trata-se de um cilindro


de barro inscrito em cuneiforme babilônico por conta de Ciro, Rei da
Pérsia, que relata sua conquista da Babilônia e a captura de
Nabonido.

Ciro credita sua vitória a Marduke, deus da Babilônia, e descreve as


medidas de alívio que trouxe para os habitantes da cidade, e como
fez retornar as imagens de deuses que Nabonido havia coletado na
Babilônia para seus próprios templos espalhados pela Mesopotâmia
e Irã ocidental, ao mesmo tempo em que providenciou a restauração
destes templos, e o retorno para suas terras de inúmeras pessoas
presas pelos reis predecessores e mantidas em cativeiro na
Babilônia. Embora os judeus não sejam mencionados textualmente
neste documento, seu retorno à Palestina fez parte da mesma
política.

Este cilindro tem por vezes sido descrito como a “primeira carta de
direitos humanos”, mas de fato reflete uma longa tradição na
Mesopotâmia, onde desde os primórdios do terceiro milênio antes de
Cristo os reis começavam seus governos com declarações de
reforma.” (P. Michalowski, 'The Cyrus Cylinder' in Historical Sources
in Translat (Oxford, Blackwell Publishing, 2006), pp.426-30 ; T.C.
Mitchell, The Bible in the British Museum (London, The British
Museum Press, 1988); J.B. Pritchard, Ancient Near Eastern texts rel,
3rd ed. (Princeton University Press, 1969))

O cilindro de Ciro se encontra um tanto danificado, o que impede a


sua leitura completa. O texto cuneiforme foi literalmente traduzido
para o idioma persa por Shahrokh Razmjou, curador do
Departamento de Médio Oriente do Museu Britânico e pode ser
obtido no seguinte endereço eletrônico:
243

http://www.britishmuseum.org/pdf/Cyrus%20Cylinder-
Persian%20Translation-Main.PDF

A tradução de seu conteúdo constituído por 45 parágrafos para o


idioma inglês foi efetuada por Irving Finkel, assistente responsável
pelo Departamento de Médio Oriente do Museu Britânico e pode ser
obtida na íntegra no seguinte endereço eletrônico:

http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/article_index/c/cyrus
_cylinder_-_translation.aspx

Ciro segundo Ciro


De todo texto interessa destacar alguns parágrafos pois estes vão de
encontro às passagens bíblicas correlatas ao período que nos
interessa. Destacamos primeiramente os parágrafos 20 a 22 onde o
próprio Ciro se apresenta:

“20 - Eu sou Ciro, rei do universo, o grande rei, o poderoso rei, rei da
Babilônia, rei da Suméria e Acádia, rei dos quatro cantos do mundo,
21 – filho de Cambises, o grande rei, rei da cidade de Anshan, neto
de Ciro, o grande rei, rei da cidade de Anshan, descendente de
Teispes, o grande rei, rei da cidade de Anshan, 22 – perpétua
semente da realeza, cujo reino Baal (Marduke) e Nabú amam, e cujo
reinado, para sua alegria, lhes interessa.” (Cilindro de Ciro)

A ausência de modéstia de Ciro, conforme veremos, era um padrão


comum a todos os grandes governantes da época. A Crônica de
Nabonido abre seu relato nomeando-o da mesma forma, sem
qualquer economia de adjetivos pomposos.

Consciência da unção de Deus


O Profeta Isaías prenunciou a existência de Ciro pelo menos 200
anos antes de seu nascimento, conforme lemos em Is 45:1-6: “Assim
diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita,
para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos
reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão. Eu
irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as
portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro. Dar-te-ei os
tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que
eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome. Por
amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo
teu nome, pus o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses. Eu
sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te
cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o
244

nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu


sou o Senhor, e não há outro.”

No texto contido nos parágrafos 12 a 15 do Cilindro de Ciro nota-se


que ele tinha plena consciência desta profecia a seu respeito. No
entanto, à luz de sua própria cultura, interpretou a dádiva de Deus à
sua própria maneira, transmutando Javé em Marduke, deus de sua
adoração desde a infância.

Vejamos a semelhança dos dois textos, comparando Isaías com os


parágrafos 12 a 15 do Cilindro de Ciro:

“12 – Ele tomou a mão de Ciro, rei da cidade de Ansahan, e o


chamou pelo seu nome, proclamando-o alto para a realeza sobre
todas as coisas. 13 – Ele fez a terra de Guti e todas as tropas da
Média se prostrarem a seus pés, enquanto ele pastoreava em justiça
e retidão o povo de cabeças negras 14 – os quais colocou sobre
seus cuidados. Marduke, o grande senhor, que nutre seu povo, viu
com alegria suas boas ações e coração verdadeiro, 15 – e ordenou-
lhe ir à Babilônia. Fê-lo tomar o caminho para a Tintir (Babilônia), e
como um amigo e companheiro, caminhou a seu lado.” (Cilindro de
Ciro)

É inegável a influência da profecia de Isaías sobre a mente de Ciro.


Levando em conta sua formação pagã, sem qualquer contato que lhe
permitisse conhecer o Deus verdadeiro, foi desta forma que Ciro
assimilou o profeta Isaías, não no sentido de que Ciro houvesse lido
esta profecia, mas no sentido de que Deus trabalhou a vida e a
personalidade de Ciro para cumprir Sua vontade soberana.

Ano
Gregoriano Evento Ref Bíblica
543 AC Ano 1 de Ciro – Libertação do cativeiro Ed 1:1-3
543 AC 1º retorno com Zorobabel Ed 2:64-65
542 AC Início da reconstrução do Templo Ed 3:8
541 AC Reconstrução do Templo interrompida 13 anos Ed 4:24
537 AC Morte de Ciro Museu Brit.
245

543 AC - a libertação do cativeiro


(A.B. 3356)

Exatamente no primeiro ano de Ciro se cumpre a profecia de


Jeremias 29:10 referente ao final do exílio babilônico: “Porque assim
diz o Senhor: Certamente que passados setenta anos em Babilônia,
vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a
trazer-vos a este lugar.”

Conforme o Livro de Esdras, Ciro decretou em seu primeiro ano de


governo a libertação dos judeus (Ed 1:1-3), atendendo desta forma
seu desejo particular de ver o templo de Jerusalém reconstruído. Tal
fato encontra-se também descrito no Cilindro de Ciro, nos parágrafos
32 a 35. De acordo com esta crônica, não só os judeus foram
beneficiados por esta decisão, como também vários outros povos,
que tanto puderam retornar às suas terras de origem, como tiveram
seus santuários reconstruídos e seus deuses devolvidos aos seus
templos. Vejamos novamente o que nos diz o texto:

“32 - Eu juntei todo o seu povo e os retornei a seus lugares de


origem, 33 - e os deuses da terra da Suméria e Acádia, os quais
Nabonido – a fúria do Senhor dos deuses – havia trazido para
Shuanna, sobre o comando de Marduke, o grande senhor, 34 - eu os
retornei ilesos às suas células, aos santuários que os fazem felizes.
Possam todos os deuses que fiz retornar a seus santuários, 35 -
todos os dias perante Ball e Nabú, pedir longa vida para mim, e
mencionar minhas boas ações, e dizer a Marduke, meu senhor, isto:
Ciro, o rei que o teme, e Cambises, seu filho,...” (o texto se encontra
danificado neste ponto)
(Cilindro de Ciro)

A contagem para os 70 anos de exílio


A questão crucial aqui é, portanto, apontar a partir de que ano se
inicia a contagem dos 70 anos de exílio, e certos detalhes precisam
ser observados:

1 - A data da queda da Babilônia não coincide com a libertação do


cativeiro;

2 - Normalmente se diz que foram três levas distintas de exilados,


mas foram cinco, incluída a de Daniel;
246

3 - O exílio de Daniel aconteceu no terceiro ano de Jeoiaquim,


quando junto com seus companheiros passa a viver na corte de
Nabucodonosor, em 612 AC, Ano Bíblico 3284.

Porque assim diz o Senhor: Certamente que passados setenta


anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha
boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar. (Jr 29:10)

Muitos autores insistem que os 70 anos de exílio, conforme a


profecia de Jeremias (Jr 29:10), seja uma data simbólica, associando
este fato ao uso do número 70 como número absoluto, como no
exemplo do Evangelho de Mateus onde Jesus nos ensina que
devemos perdoar uma pessoa tantas vezes quanto se faça
necessário: “Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até
setenta vezes sete.” (MT 18:22)

Neste caso, os 70 anos de Jeremias significariam “certo tempo”, ou


“o tempo necessário para a correção do povo.” Pensando desta
forma e verificando que entre a chamada primeira deportação no Ano
Bíblico 3291 (605 AC) e o exílio se passaram apenas 62 anos, ou
ainda 51 anos contados a partir da deportação que precede a
destruição do templo em 594 AC, logo concluem ser os 70 anos
simbólicos.

Uma passagem bíblica que induz alguns a entender os 70 anos


como simbólicos se baseia no próprio relato de Daniel, quando no
primeiro ano de Dario medita a respeito de quando findaria o exílio.
Como na sequência deste fato Daniel é instruído por Gabriel acerca
das 70 semanas proféticas, logo concluem alguns que os 70 anos
são simbólicos, ou seja, que o número 70, nas duas referências,
apontam para uma coisa só. Verifique você mesmo que não são um
só assunto, como também se o fossem, uma coisa não agregaria
valor à outra. São coisas distintas.

Daniel conhecia as profecias de Jeremias a respeito do tempo do


exílio, e sabia, portanto, que o exílio findaria após o final do império
babilônico.

No primeiro ano de Dario, que seria o Ano Bíblico 3353, medita


Daniel que a Babilônia já é na altura colônia medo-persa, e desta
forma se põe a pensar por qual razão estavam ainda os judeus
debaixo do cativeiro. Vejamos o texto: “No ano primeiro de Dario,
filho de Assuero, da linhagem dos medos, o qual foi constituído rei
sobre o reino dos caldeus, No primeiro ano do seu reinado, eu,
247

Daniel, entendi pelos livros que o número dos anos, de que falara o
Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de cumprir-se as
desolações de Jerusalém, era de setenta anos.” (Dn 9:1-2)

Aparentemente não há muito que entender, uma vez que os textos


proféticos repetiam que o exílio duraria setenta anos, mas Daniel
tenta entender a partir de quando começariam a ser contados. E
Daniel entende que há duas situações distintas que devem ser
consideradas, duas referências de Jeremias a 70 anos: a primeira,
de Jeremias 25:12-14, que anunciava a punição da Babilônia depois
de um tempo de 70 anos, e outra sentença distinta, de Jeremias
29:10, esta sim uma referência direta ao exílio dos judeus, também
de 70 anos. Vejamos os dois textos:

1 - Jeremias 25:12-14: “Acontecerá, porém, que, quando se


cumprirem os setenta anos, visitarei o rei de Babilônia, e esta nação,
diz o Senhor, castigando a sua iniqüidade, e a da terra dos caldeus;
farei deles ruínas perpétuas. E trarei sobre aquela terra todas as
minhas palavras, que disse contra ela, a saber, tudo quanto está
escrito neste livro, que profetizou Jeremias contra todas estas
nações. Porque também deles se servirão muitas nações e grandes
reis; assim lhes retribuirei segundo os seus feitos, e segundo as
obras das suas mãos.”

De fato estes 70 anos já haviam sido cumpridos, e o grande império


babilônico havia caído nas mãos dos medo-persas. Este tempo se
conta a partir das primeiras incursões de Nabucodonosor sobre o
império Assírio, o que, no contexto da cronologia bíblica se alinha
com um ano antes de Jeoiaquim ser empossado pelo Faraó do Egito,
no Ano Bíblico 3294.

2- Jeremias 29:10: “Porque assim diz o SENHOR: Certamente que


passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre
vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.”

No primeiro ano de Dario, o Medo, 67 anos haviam passado desde


que ele, Daniel, e seus amigos haviam sido levados à Babilônia. A
data de libertação do povo estaria próxima, faltavam apenas três
anos se considerasse que seu próprio exílio marcasse o início da
contagem. Desta forma, os 70 anos para que viesse o castigo sobre
a Babilônia já haviam passado, e restavam apenas três mais para
que o povo fosse libertado. Foi esta a compreensão que Daniel teve
na ocasião.
248

Para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela boca de


Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus Sábados;
todos os dias da assolação repousou, até que os setenta anos
se cumpriram. (2 Cr 36:21)

Fala a todo o povo desta terra, e aos sacerdotes, dizendo:


Quando jejuastes, e pranteastes, no quinto e no sétimo mês,
durante estes setenta anos, porventura, foi mesmo para mim
que jejuastes? (Zc 7:12)

Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos,


visitarei o rei de Babilônia, e esta nação, diz o Senhor,
castigando a sua iniqüidade, e a da terra dos caldeus; farei
deles ruínas perpétuas. (Jr 25:12)

A palavra do Profeta Zacarias pronunciada no 4º ano de Dario I,o


Grande, não o medo, mas o filho de Cambises, neto de Ciro, quando
o exílio já é passado, também nos fala que os 70 anos foram literais:

“Fala a todo o povo desta terra, e aos sacerdotes, dizendo: Quando


jejuastes, e pranteastes, no quinto e no sétimo mês, durante estes
setenta anos, porventura, foi mesmo para mim que jejuastes?” (Zc
7:5) Neste texto o profeta critica o gesto automático de penitência do
povo durante os 70 anos de exílio.

Há no Antigo Testamento apenas quatro “pontes cronológicas”, ou


seja, grandes extensões de datas referidas por profecias: o Êxodo,
que se deu 400 anos depois do nascimento de Isaque (Gn 15:13); os
480 anos desde o Êxodo até o início da construção do Templo no
quarto ano de Salomão (1 Rs 6:1); os 70 anos do exílio babilônico (Jr
29:10); e a crucificação de Jesus 483 anos contados a partir do 20º
ano de Artaxerxes. Nada indica que nenhuma delas tenha sentido
simbólico, sendo todas literais.
249

O retorno do Exílio

543 AC - 1º retorno com Zorobabel


(A.B. 3356)

De acordo com o primeiro capítulo de Esdras, Ciro autorizou em seu


primeiro ano de governo o retorno dos judeus para Jerusalém com a
missão de reconstruir o Templo destruído por Nabucodonosor.
Mandou que fossem entregues a Sesbazar, príncipe de Judá, os
milhares de utensílios saqueados. De acordo com Ed 5:14 Sesbazar
foi nomeado por Ciro governador da Judéia.

Há uma certa dúvida sobre a possibilidade de Sesbazar e Zorobabel


serem pessoas diferentes ou a mesma pessoa. Mas o texto de
Esdras 5 sugere serem a mesma pessoa: "14 E até os utensílios de
ouro e prata, da casa de Deus, que Nabucodonosor tomou do templo
que estava em Jerusalém e os levou para o templo de Babilônia, o
rei Ciro os tirou do templo de Babilônia, e foram dados a um homem
cujo nome era Sesbazar, a quem nomeou governador. 15 E disse-
lhe: Toma estes utensílios, vai e leva-os ao templo que está em
Jerusalém, e faze reedificar a casa de Deus, no seu lugar. 16 Então
veio este Sesbazar, e pôs os fundamentos da casa de Deus, que
está em Jerusalém e desde então para cá se está reedificando, e
ainda não está acabada.”

A sugestão de serem a mesma pessoa encontra respaldo em Esdras


5 : 2, que aponta Zorobabel como um dos responsáveis pela
reedificação do Templo: "Então se levantaram Zorobabel, filho de
Sealtiel, e Jesuá, filho de Jozadaque, e começaram a edificar a casa
de Deus, que está em Jerusalém; e com eles os profetas de Deus,
que os ajudavam.”

Em Ed 5:16 diz-se que Sesbazar pôs os fundamentos do Templo, e


em Ed 5:2 que Zorobabel começou a edificar. Eram, provavelmente,
a mesma pessoa. Ademais, o nome de Sesbazar não se encontra na
lista dos exilados que retornaram a Israel no tempo de Ciro, conforme
Ed 2:2 até Ed 3. Desta forma, retornaram a Jerusalém com
Zorobabel 42.360 pessoas judeus, sem contar seus servos (Ed 2:64-
65).

No mês de Tishrei, Setembro/Outubro em nosso calendário, juntou-


se toda esta gente em Jerusalém para celebrar a Festa dos
Tabernáculos (Ed 3:1-4), que era originalmente uma celebração da
250

colheita, e que para além disto tinha o significado histórico de


lembrar a peregrinação pelo deserto no tempo em que Israel
habitava em tendas, quando Deus supriu todas as suas
necessidades.

542 AC - início da reconstrução do Templo


(A.B. 3357)

No segundo ano, contado a partir da saída da Babilônia, o povo, sob


a liderança de Zorobabel, neto do rei Joaquim (Jeconias), ancestral
de Jesus, iniciou a reconstrução do Templo. (Ed 3:8)

Conforme Esdras, a planta do Templo ordenada por Ciro era


diferente da planta passada por Deus a Salomão, cujas medidas
originais eram 60 côvados de comprimento, por 20 côvados de
largura, por 30 côvados de altura (1 Rs 6:2). O novo Templo, por sua
vez, teria a semelhança de um cubo de 60 côvados: “No primeiro ano
do rei Ciro, este baixou o seguinte decreto: A casa de Deus, em
Jerusalém, se reedificará para lugar em que se ofereçam sacrifícios,
e seus fundamentos serão firmes; a sua altura de sessenta côvados,
e a sua largura de sessenta côvados.” Ed 6:3

542 AC a 528 AC - reconstrução do Templo interrompida 14 anos


(A.B. 3357 até A.B. 3371)

Depois de iniciadas as obras, conforme Ed 4:1-5, os adversários de


Judá e Benjamim procuraram de muitas maneiras impedir que as
obras de reconstrução do Templo avançassem, as quais ficaram
estagnadas até o segundo ano de Dario (Ed 4:24), ou seja, por 14
anos. Esdras passa do lançamento das fundações do Templo,
capítulo 3, para a interrupção das obras no capítulo 4. Mas explica no
verso 4:5 que as obras não foram interrompidas durante o governo
de Ciro, mas sim, frustradas. Imagina-se que se tornaram mais
lentas, mas interrompidas só depois.

537 AC - morte de Ciro


(A.B. 3362)

Ciro destacou-se dos demais soberanos de seu tempo pela sua


piedade bem como pela tolerância religiosa.

Quanto à sua forma de administração, procurou sempre que possível


manter os povos conquistados sob a gestão de líderes locais. Reinou
251

20 anos sobre os persas, e os nove últimos anos de sua vida sobre o


mundo de então.

A data acima se refere ao dado histórico sincronizado de acordo com


o relato bíblico que coloca a queda da Babilônia em 546 AC – Ano
Bíblico 3353.

537 AC a 529 AC início de governo e morte de Cambises


(Artaxerxes I)
(A.B. 3362 até 3370)

Cambises, filho de Ciro, é mencionado na Bíblia em Esdras 4:7 como


Artaxerxes. Seria, portanto, o primeiro Artaxerxes bíblico, uma vez
que há outro no tempo de Neemias.

Seu reinado é ignorado, subentendendo-se que em seus oito anos


de governo as obras de reconstrução do templo ficaram paralisadas.
Foi a ele que os inimigos de Israel endereçam a carta referida em
Esdras 4:11-24 recomendando que fizesse parar as obras de
reconstrução do Templo de Jerusalém, conforme autorizada por Ciro.

Diferentemente de seu pai, a história o reconhece como uma pessoa


de má índole, que matou o irmão no início de seu governo e num
ataque de fúria matou noutra ocasião sua própria irmã grávida,
Roxana, com quem era casado.

Conquistou o Egito e empreendeu uma campanha fracassada na


conquista da África. Ao retornar desta campanha para a Babilônia
morreu em algum ponto provável da Síria. Foi acompanhado nesta
viagem por um de seus generais, Dario, que viria a ser seu substito.

Dario registrou a respeito da morte de Cambises uma frase deveras


interessante: “Ele morreu sua própria morte", o que para alguns pode
significar que houvesse se suicidado. Heródoto, no entanto, sugere
que Cambises feriu-se com sua própria espada ao montar seu
cavalo.
252

Dario I, o Grande
Ano
Gregoriano Evento Bíblico Ref Bíblica
529 AC Dario I, o Grande, torna-se rei da Pérsia 3.370
529 AC As obras do Templo são retomadas 3.370 Ed 5:1
529 AC Dario é questionado sobre as obras 3.370 Ed 5:6-17
528 AC Dario I autoriza a continuidade das obras 3.371 Ed 4:24
528 AC Zorobabel governador da Judéia 3.671 Ag 1:1
524 AC Termina reconstrução do Templo 3.375 Ed 6:15
493 AC Morte de Dario, o Grande 3.406

529 AC - Dario torna-se rei da Pérsia


(A.B. 3370)

Dario I foi um dos generais de Cambises e assumiu o poder depois


de sua morte, tendo governado a Pérsia por 36 anos. Ocupou-se de
ampliar as fronteiras persas e empreendeu uma grande reforma
administrativa por todo o império, que foi dividido em províncias,
cujos sátrapas tinham poder absoluto, prestando conta de seus atos
apenas ao rei.

Dario executou uma grande campanha na tentativa de anexar a


Grécia ao seu reino, conforme profetizado por Daniel 11:2. Preparou-
se para esta guerra por três anos, juntando um enorme exército,
sobre cujo tamanho não há consenso entre os historiadores: Justino
diz que eram 1 milhão de soldados; Diodorus Siculus diz que eram
menos, cerca de 300.000; Herodoto afirma que eram mais de dois
milhões de homens. Seja qual for o número exato, Dario foi derrotado
na famosa batalha de Maratona. Dois séculos depois Alexandre, o
Grande, vingou esta afronta aos gregos quando atacou e derrotou
Dario III, pondo assim fim ao império medo persa.

Durante seu tempo, Ageu e Zacarias foram os profetas que


incentivaram Israel a prosseguir na reconstrução do Templo de
Jerusalém. (Ed 5:1)

Flávio Josefo (História dos Hebreus, Vol. 3, Cap. IV, § 449, Pág. 313)
nos diz que desde antes de Dario se tornar rei da Pérsia já era amigo
de Zorobabel, e que havia feito um voto ao amigo de que se ele se
tornasse rei um dia retomaria as obras de reconstrução do Templo de
Jerusalém que estavam paradas há tempos.
253

Conforme Josefo, Dario se tornou rei e nomeou Zorobabel um dos


três gestores de sua casa. Lembremos que 14 anos antes de Dario
assumir o reino da Pérsia, Zorobabel havia ido com a primeira leva
daqueles libertados para Jerusalém no 1º ano de Ciro. A informação
de Josefo indicaria, portanto, que Zorobabel numa certa altura
haveria retornado à Pérsia.

Diz ainda Josefo que em seu primeiro ano de governo Dario deu um
grande banquete para seus convidados e neste dia propôs a seus
três administradores uma questão trivial, e entre todas as respostas
ouvidas, foi a de Zorobabel a que mais lhe agradou e fê-lo desta
forma merecedor de um presente do rei.

Zorobabel lhe teria pedido então que relembrasse da promessa de


reconstruir o Templo de Jerusalém. É uma ilustração interessante,
mas em desacordo com o relato bíblico, que nos informa que Dario
autorizou a continuação das obras depois de uma consulta do
governador das terras de além do Eufrates. Além disto Ed 5:2 nos dá
conta de Zorobabel já trabalhando na reconstrução do Templo junto
com os profetas Ageu e Zacarias antes da autorização oficial de
Dario.

Mesmo assim não deixa de ser um relato interessante, pois mostra


até que ponto a cultura popular tende a influenciar a história, pois
este conto muito se parece com as estórias que o povo conta para
valorizar um mito.

529 AC - as obras do Templo são retomadas


(A.B. 3370)

Incentivados pela morte de Cambises, os profetas Ageu e Zacarias,


no primeiro ano de Dario, exortaram o povo para que as obras de
reconstrução do Templo fossem continuadas, mesmo sem
autorização oficial para fazê-lo. (Ed 5:1-5)

529 AC - Dario é questionado sobre as obras


(A.B. 3370)

Conforme todo capítulo 5 de Esdras, ao ver as obras do Templo


serem retomadas, Tatenai, governador da província, enviou uma
carta a Dario questionando se os judeus estavam ou não autorizados
a continuar com seu trabalho, uma vez que estes argumentavam
haver uma ordem do rei Ciro a este respeito. Porém, enquanto houve
254

o trâmite deste documento, as obras continuaram mesmo sem


autorização oficial.

528 AC - Dario autoriza a continuidade das obras


(A.B. 3371)

Ao receber a carta do governador, Dario deu ordem para que se


verificasse nas crônicas reais se Ciro havia de fato autorizado a
reconstrução do Templo de Jerusalém (Ed 6:1). Uma vez constatada
a existência de tal ordem, Dario ordenou que as obras
prosseguissem de acordo com a vontade de Ciro (Ed 6:6-12). Os reis
sábios costumam respeitar as decisões de seus antecessores para
que suas próprias decisões sejam respeitadas pelos que virão depois
dele.

528 AC - Zorobabel governador da Judeia


(A.B. 3371)

De acordo com Ag 1:1, no segundo ano de Dario Zorobabel já era


governador da Judeia.

524 AC - termina a reconstrução do Templo


(A.B. 3375)

De acordo com Ed 6:15: “acabou-se esta casa no terceiro dia do mês


de Adar, no sexto ano do reinado do rei Dario.” A conclusão das
obras se deu 18 anos depois de iniciada no primeiro ano de Ciro, 437
anos depois de Salomão haver inaugurado o Templo em 961 AC

493 AC - morte de Dario, o Grande


(A.B. 3406)

De acordo com a história secular, Dario reinou 36 anos, de onde


concluímos, de acordo com as datas bíblicas, que sua morte se deu
em 493 AC.
255

Assuero (Xerxes I) - O Livro de Ester


Ano Ref
Gregoriano Evento Bíblico Bíblica
493 AC Assuero (Xerxes I), Imperador da Pérsia 3.403
Início dos acontecimentos do livro de
491 AC Ester 3.405 Et 1:3
Assuero é derrotado pelos gregos em
488 AC Salamina 3.408
Ester é levada à presença do Rei
487 AC Assuero 3.409 Et 2:16
Hamã pede o extermínio de todos os
482 AC judeus da Pérsia 3.414 Et 3:7-9
Assuero assina decreto para o extermínio
482 AC dos judeus 3.414 Et 3:13
482 AC Hamã é enforcado 3.414 Et 7:10
482 AC Os inimigos dos judeus são exterminados 3.414 Et 9:16
482 AC Instituição da celebração do Purim 3.414 Et 9:21-26
473 AC Morte de Xerxes I 3.423

493 AC - Assuero (Xerxes I), Imperador da Pérsia


(A.B. 3406)

O rei Assuero, do Livro de Ester, historicamente conhecido como


Xerxes I assumiu o império persa com a morte de seu pai, e tal como
ele, empenhou-se ao máximo em dar continuidade à conquista da
Grécia.

Tal obsessão terminou por fazê-lo perder grande parte de seu


exército em batalha no território grego na baía de Salamina, em seu
5º ano de governo, a partir do que, Xerxes ficou praticamente restrito
à região da Ásia Central. Construiu em Persépolis inúmeros palácios,
monumentos e complexas obras arquitetônicas de grande beleza.

491 AC - início dos acontecimentos do livro de Ester


(A.B. 3408)

A história de Ester começa no 3º ano de reinado de Assuero, quando


este oferece um banquete aos grandes e pequenos de todo seu reino
e ao fim da primeira semana a rainha Vasti se recusa comparecer
perante o rei. (Et 1)
256

488 AC– Assuero derrotado pelos gregos


(A.B. 3411)

De acordo com a história secular, Xerxes foi derrotado pelos gregos


em Salamina no seu 5º ano de governo, em 29 de Setembro de 480
AC. Como estamos seguindo o deslocamento de datas de acordo
com a Bíblia, e desde a ascensão de Nabucodonosor temos uma
desfasagem de cerca de 6 a 8 anos com relação às datas históricas,
situamos aqui este evento em 488 AC, não no sentido de desafiar a
história, mas sim, de seguir com fidelidade a contagem bíblica.

Daniel profetizou sobre este evento no primeiro ano de Dario, o medo


(Dn 11:1) descrevendo a investida de Assuero contra a Grécia da
seguinte maneira: “Eu (Gabriel), pois, no primeiro ano de Dario, o
medo, levantei-me para animá-lo e fortalecê-lo. E agora te declararei
a verdade: Eis que ainda três reis estarão na Pérsia, e o quarto
acumulará grandes riquezas, mais do que todos; e, tornando-se forte,
por suas riquezas, suscitará a todos contra o reino da Grécia.”

Este quarto rei se refere a Xerxes, “que confiante em sua riqueza


excessiva agitou-se até a Europa, tentando invadi-la, em sua ânsia
de derrotar a Grécia, não só para vingar seu antecessor Hispastes
(Dario, o Grande), mas sobretudo para reprimir as manifestações
iniciais do agigantamento grego. Suas operações bélicas, embora
calcadas em concentrada riqueza, redundaram em fracasso ao ser
derrotado pelos gregos nas Termópilas e em Salamina.” (Ex-padre,
Pastor Aníbal Pereira dos Reis, Edições Caminho de Damasco, 1981
- As Visões de Daniel – Pág. 68)

487 AC– Ester levada à presença de Assuero


(A.B. 3412)

De acordo com Et 2:16, apenas no sétimo ano de Assuero a rainha


Vasti veio a ser substituída. Como se sabe, promoveu-se no reino a
procura uma nova rainha que veio a ser Ester.

É bastante sugestiva a ordem destes acontecimentos. Note-se que


no 3º ano de Assuero ocorreu o incidente que culminou no
afastamento da rainha Vasti, mas apenas no 7º ano é que esta é
finalmente substituída por outra.

Entendendo que Assuero esteve entre o 4º e 5º anos de seu governo


envolvido com a conquista da Grécia, ocasião em que foi derrotado,
257

só no 7º ano o assunto da reposição de Vasti volta às preocupações


do rei, o que é bastante coerente.

482 AC– Hamã pede o extermínio dos judeus


(A.B. 3417)

De acordo com Et 3:7-9, no 12º ano de Assuero, Hamã pediu a morte


de todos os judeus da Pérsia. No mesmo ano Assuero emitiu o
decreto autorizando a petição: “E enviaram-se as cartas por
intermédio dos correios a todas as províncias do rei, para que
destruíssem, matassem, e fizessem perecer a todos os judeus,
desde o jovem até ao velho, crianças e mulheres, em um mesmo dia,
a treze do duodécimo mês (que é o mês de Adar), e que
saqueassem os seus bens.” (Et 3:13)

482 AC– Hamã e os inimigos dos judeus enforcados


(A.B. 3417)

Numa reviravolta dos acontecimentos, é sabido que Hamã acaba por


ser executado na própria forca que preparara para Mardoqueu (Et
7:10), provavelmente no mês de Sivan (Et 8:9), equivalente aos
meses de Maio ou Junho, e a sentença de morte que pairava sobre
todos os judeus da Pérsia tornou-se contra os seus inimigos.

Este é o motivo da festa judaica do Purim (sorte), que é festejado até


hoje no dia 14 de Adar (12º mês do calendário judaico) que equivale
aos meses de Fevereiro ou Março em nosso calendário. Afora o mês,
os dias também não coincidem. 14 de Adar de 2010, por exemplo,
equivaleu a 28 de Fevereiro de 2010.

No dia 13 de Adar (Fevereiro ou Março) foram executados os


inimigos dos judeus, incluindo os dez filhos de Hamã (Et 9:7-10) que
se encontravam na cidade de Susã, os quais tiveram no dia seguinte,
14 de Adar, mesmo já estando mortos, os corpos dependurados em
forca para a vista de toda a cidade (Et 9:14).

Os judeus fazem um paralelo interessante com relação aos nazistas


executados após o julgamento de Nuremberg: Dos vinte e quatro que
foram levados a julgamento, três foram absolvidos, um teve a
acusação cancelada, quatro tiveram penas de prisão de 10 a 20
anos, três foram condenados a prisão perpétua, e treze foram
condenados à morte por enforcamento.
258

Destes treze condenados à forca, Göring e Robert Levi suicidaram-se


na prisão. Martin Bormann conseguiu fugir da Alemanha tendo sido
julgado in absentia. Borman viria a morrer em Berlim em 1973, tendo
seu corpo sido reconhecido por peritos que atestaram ser ele próprio.
Restaram, portanto, dez, os chamados 10 filhos de Hitler, todos eles
enforcados: Hans Frank, Wilhelm Frick, Alfred Jodl, Ernst
Kaltenbrunner, Wilhelm Keitel, Joachim Ribbentrop, Alfred
Rosenberg, Fritz Sauckel, Arthur Seyss-Inquart, e Julius Streicher.

473 AC –– morte de Xerxes I


(A.B. 3.426)

Assuero (Xerxes I) reinou, conforme dados históricos, 20 anos, e


teria falecido em 465 AC. De acordo com a contagem bíblica,
respeitada a informação histórica de seu tempo de governo, teria
falecido em 473 AC.

Artaxerxes I
Ano Ref
Gregoriano Evento Bíblico Bíblica
473 AC Artaxerxes I, rei da Pérsia 3.426
2ª leva 1754 pessoas com Esdras 76
467 AC anos após a 1ª 3.432 Ed 8:31
Os judeus despedem suas mulheres
467 AC estrangeiras 3.432 Ed 10
Ordem para a reconstrução de
454 AC Jerusalém 3.445 Ne 2:1-6
Neemias chega a Jerusalém 13 anos
454 AC após Esdras 3.445 Ne 2:1-6
Neemias inicia reconstrução dos muros
453 AC de Jerusalém 3.445 Ne 2:18
Neemias termina a reconstrução dos
441 AC muros 3.445 Ne 5:14-6:15
434 AC Morte de Artaxerxes I 3.465

473 AC– Artaxerxes I rei da Pérsia


(A.B. 3.426)

Conforme dados históricos, Artaxerxes I reinou 39 anos. Plutarco,


morto em 339 AC, disse a seu respeito que foi “entre todos os reis da
Pérsia o mais notável pela gentileza e nobreza de espírito.”

Era cognominado “mão longa”, pois tinha a mão direita mais


comprida que a esquerda. Enfrentou duas grandes revoltas durante
seu reinado, a saber, no 4º e 16º anos de governo contra o Egito e
259

Síria respectivamente. No que se refere à sua relação com os


judeus, conforme veremos, foi bastante generoso.

467 AC - Esdras retorna a Jerusalém com 1754 pessoas, 76 anos


depois de Zorobabel
(A.B. 3432)

No 7º ano de Artaxerxes (Ed 7:8), Esdras retornou a Jerusalém com


um grupo de 1754 pessoas, somados todos os listados em Ed 8:1-
20. A viagem tomou 4 meses (Ed 7:9), contando os dias em que
esteve parado no rio Avava (Ed 8:31).

Veio a ocorrer, portanto, no Ano Bíblico 3432, 76 anos depois da


vinda da primeira leva de exilados com Zorobabel, no Ano Bíblico
3356.

467 AC– os judeus despedem as mulheres estrangeiras


(A.B. 3432)

Conforme os capítulos 9 e 10 de Esdras, os judeus que haviam


contraído na Pérsia matrimônio com mulheres daquela terra,
incluindo levitas, tiveram que abandoná-las.

454 AC - ordem para a reconstrução de Jerusalém no 20º ano de


Artaxerxes
(A.B. 3445)

Todas as datas estabelecidas na Bíblia são importantes. Como já


vimos, faltasse uma delas e não nos seria possível calcular as
demais. Mas especificamente esta data, o 20º ano de Artaxerxes,
ano em que este rei deu a Neemias a ordem para reconstruir
Jerusalém nos é muito preciosa, pois é através dela que
conseguimos chegar à crucificação de Jesus e consequentemente a
todas as datas de seu ministério.

Neemias, copeiro de Artaxerxes, gozando da confiança do rei lhe faz


uma petição, conforme lemos em NE 2:1-9: “Sucedeu, pois, no mês
de Nisan, no ano vigésimo do rei Artaxerxes, que estava posto vinho
diante dele, e eu peguei o vinho e o dei ao rei; porém eu nunca
estivera triste diante dele. E o rei me disse: Por que está triste o teu
rosto, pois não estás doente? Não é isto senão tristeza de coração;
então temi sobremaneira. E disse ao rei: Viva o rei para sempre!
Como não estaria triste o meu rosto, estando a cidade, o lugar dos
260

sepulcros de meus pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas


portas a fogo? E o rei me disse: Que me pedes agora? Então orei ao
Deus dos céus, E disse ao rei: Se é do agrado do rei, e se o teu
servo é aceito em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à
cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique. Então
o rei me disse, estando a rainha assentada junto a ele: Quanto
durará a tua viagem, e quando voltarás? E aprouve ao rei enviar-me,
apontando-lhe eu um certo tempo. Disse mais ao rei: Se ao rei
parece bem, dêem-se-me cartas para os governadores dalém do rio,
para que me permitam passar até que chegue a Judá. Como também
uma carta para Asafe, guarda da floresta do rei, para que me dê
madeira para cobrir as portas do paço da casa, para o muro da
cidade e para a casa em que eu houver de entrar. E o rei mas deu,
segundo a boa mão de Deus sobre mim. Então fui aos governadores
dalém do rio, e dei-lhes as cartas do rei; e o rei tinha enviado comigo
capitães do exército e cavaleiros.”

Desta forma Neemias partiu para Jerusalém onde pode contemplar


os muros que haviam sido destruídos por Nabucodonosor 139 antes.

É interessante ter a noção de que tanto tempo havia se passado e a


cidade ainda permanecesse naquele estado avassalador, conforme
pode observar o próprio Neemias: “Então lhes disse: Bem vedes vós
a miséria em que estamos, que Jerusalém está assolada, e que as
suas portas têm sido queimadas a fogo; vinde, pois, e reedifiquemos
o muro de Jerusalém, e não sejamos mais um opróbrio.” (NE 2:13)

A exemplo dos problemas que teve Zorobabel quando iniciou as


obras de recuperação do Templo, também os teve Neemias com
aqueles que agora habitavam a região (Ne 2:18) e queriam impedir a
reconstrução dos muros da cidade. Foi de tal atrevimento a oposição
feita contra aqueles que reedificavam os muros e as portas de
Jerusalém que houve por bem que Neemias destacasse metade dos
homens para vigiar a cidade contra um possível ataque dos inimigos
enquanto os demais continuavam os trabalhos (Ne 4:13-16).

Neemias foi governador da Judeia entre os anos 20 até pelo menos


32 de Artaxerxes, e não é claro nos textos se o rei tomou esta
decisão quando Neemias lhe apresentou a petição de ir a Jerusalém
ou se foi nomeado pouco mais tarde, como é mais provável (Ne
5:14). É certo, porém que começou a governar no ano 20.

Os muros foram terminados no mês de Elul (Ne 6:15), quinto do


calendário judaico, cinquenta e dois dias depois de iniciada a obra. O
261

texto de Ed 5:15 quando comparado com Ed 6:1 e Ed 7:1 não é claro


se apenas os muros foram concluídos na ocasião ou se também os
portões foram colocados. De qualquer maneira, neste ano
seguramente foram concluídos os muros e as nove portas de
Jerusalém, portanto, no mesmo ano em que foram iniciadas as
obras, no Ano Bíblico 3445.

A conexão do 20º ano de Artaxerxes com a crucificação de


Jesus
De acordo com todo o capítulo 9 do Livro de Daniel, no primeiro ano
de Dario, o medo, o profeta refletia sobre o texto de Jeremias a
respeito do fim do exílio de seu povo quando foi visitado por Gabriel.

Já vimos, quando tratamos do final do exílio, que Daniel orava a


respeito de seu entendimento acerca do fim do cativeiro judaico,
quando Gabriel veio a lhe colocar outro assunto totalmente distinto,
também sobre o futuro de Israel. De fato os dois assuntos se
mesclam de tal maneira, que muitos entendem ser a mesma coisa,
os 70 anos de Jeremias (Jr 29:10) e as 70 semanas proféticas (Dn
9:24). Em nossa opinião não são. Os 70 anos de exílio são literais e
destacados em várias citações (Jr 25:11, Jr 25:12, Jr 29:10, Dn 9:2).

A palavra do Profeta Zacarias pronunciada no 4º ano de Dario I, não


o medo, mas o filho de Cambises, neto de Ciro, quando o exílio já é
passado, também nos fala que os 70 anos foram literais: “Fala a todo
o povo desta terra, e aos sacerdotes, dizendo: Quando jejuastes, e
pranteastes, no quinto e no sétimo mês, durante estes setenta anos,
porventura, foi mesmo para mim que jejuastes?” (Zc 7:5) Isto significa
que durante os 70 anos de exílio o povo cumprira este ritual
destacado por Zacarias.

Quando Daniel refletia acerca do final do exílio, Gabriel vem a lhe


colocar a par de outra coisa totalmente distinta. Veja que naquela
altura ambos assuntos versavam acerca do futuro: o final do exílio,
que aconteceria dali a quatro anos e as semanas proféticas. Vejamos
o texto completo:

“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a


tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos
pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar
a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. Sabe e entende:
desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém,
até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas
262

semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos


angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será cortado o
Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de
vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma
inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as
assolações. E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na
metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa
das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que
está determinado será derramado sobre o assolador.” (Dn 9:24-27)

Examinemos, portanto, a lógica do tempo estipulado neste texto


respondendo as seguintes questões:

1 – Qual o significado de “setenta semanas estão determinadas” de


Dn 9:24?
Cito a resposta do ex-padre católico convertido a Jesus, pastor
batista, Aníbal Pereira dos Reis, com a qual estão de acordo as
principais correntes teológicas cristãs acreditadas: “O sentido é
figurativo, e não há de se entender que se refira literalmente a 490
dias. O vocábulo hebraico “chabua”, comumente traduzido por
semana, fundamentalmente significa setenário, que é o espaço de
sete dias ou sete anos. O de sete anos se justifica pela existência do
ano sabático (Lv 25:8), e também pela palavra de Ez 4:6: “E, quando
tiveres cumprido estes dias, tornar-te-ás a deitar sobre o teu lado
direito, e levarás a iniquidade da casa de Judá quarenta dias; um dia
te dei para cada ano.” Cada sentido de sete dias ou sete anos, há de
ser estabelecido pelo contexto. Em nosso caso presente o contexto,
é evidente, exige o de sete anos. São, portanto, setenta períodos de
sete anos cada um, ou quatrocentos e noventa anos ao todo.” (Ex-
padre, Pastor Aníbal Pereira dos Reis, Edições Caminho de
Damasco, 1981 - As Visões de Daniel – Pág. 50)

Também contarás sete semanas de anos, sete vezes


Lv 25:8 sete anos; de maneira que os dias das sete semanas
de anos te serão quarenta e nove anos.

2 – De que ponto se inicia a contagem das 70 semanas? O próprio


texto de Daniel nos responde: “Desde a saída da ordem para
restaurar, e para edificar a Jerusalém” (Dn 9:25), portanto, no 20º
ano de Artaxerxes I, no Ano Bíblico 3445 - (454 AC).

3 – Como o relato de Daniel divide a expansão destas 70 semanas?


Também o texto nos responde: “Sabe e entende: desde a saída da
263

ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o


Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas
e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das
sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si
mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o
santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá
guerra; estão determinadas as assolações. E ele firmará aliança com
muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o
sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o
assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será
derramado sobre o assolador.” (Dn 9:25-27)

Semanas Anos Total


7 49
62 434 483
1 7 490

O texto informa claramente que do 20º ano de Artaxerxes, quando foi


dada a ordem para a reconstrução da cidade, até que o Messias seja
cortado, referindo-se à crucificação de Jesus, são 69 semanas, ou
seja, 483 anos.

A 70ª semana diz respeito a acontecimentos que se referem ao


Templo de Israel. Trataremos deste assunto, portanto, no contexto
do Sermão Profético, nos dias de Jesus.

Temos, portanto, que contados 483 anos a partir do 20º ano de


Artaxerxes I (Ano Bíblico 3445), resulta que Jesus foi crucificado no
Ano Bíblico 3928 (30 DC), ponto do qual partiremos para concluir as
demais datas de seu ministério. Retomaremos este tema quando
tratarmos adiante sobre a vida de Jesus.

441 AC - Neemias retorna à Babilônia por breve tempo


(A.B. 3458)

"Mas durante tudo isto não estava eu em Jerusalém, porque no ano


trinta e dois de Artaxerxes, rei de Babilônia, fui ter com o rei; mas
após alguns dias tornei a alcançar licença do rei.” (Ne 13:6)
264

434 AC– morte de Artaxerxes I


(A.B. 3465)

Artaxerxes reinou, conforme dados históricos, por 39 anos, tendo,


desta forma, falecido em 3465 A.B.

Período Intertestamentário
É necessário que se apresente aqui uma explicação de como serão
calculadas as datas deste período histórico.

Todas elas, incluindo a morte de Artaxerxes I (último evento do


Antigo Testamento) e demais datas que veremos a seguir, são
extraídas de compêndios históricos, pois estamos a entrar naquilo
que se convencionou chamar de “Período Intertestamentário”, ou
seja, entre os dois testamentos, onde não há relato bíblico.

Especificamente no período dos Macabeus, nossas fontes são os


livros apócrifos de I e II Macabeus, Daniel e os escritos de Flávio
Josefo contidos na História dos Hebreus.

Josefo nos dá informações importantes de impressionante riqueza de


detalhes sobre os fatos. Suas datas deste período, no entanto, vêm
apontadas em forma de Olimpíadas, ou seja, anos de deslocamento
com relação ao início do império grego, as quais serão convertidas
para o respectivo ano Gregoriano.

Chegamos até aqui, conforme vimos, baseados exclusivamente nas


informações que nos dá a Bíblia, exceto nos intervalos a que se
refere o período persa, para o qual nos valemos das informações do
Museu Britânico. Vimos que a forma como a Bíblia e a história
secular se completam não é fruto do acaso.

Daqui até o nascimento de Jesus nos valeremos de datas


historicamente comprovadas, das quais obtivemos o Ano Bíblico a
partir do ano Gregoriano, ficando, portanto, esta cronologia dividida
conforme explica a tabela abaixo:

Gregoriano Período Ano Bíblico


3899 AC até 434 AC Antigo Testamento 1 a 3465
433 AC até 4 AC Período Intertestamentário 3466 a 3895
3 AC até 70 DC A vida de Jesus até a 3896 a 3928
destruição do Templo
265

Alexandre, o Grande
Ano
Gregoriano Evento Bíblico
356 AC Nascimento de Alexandre, o Grande 3.543
336 AC Alexandre torna-se rei da Grécia aos 20 anos de idade 3.563
330 AC Alexandre, o Grande, conquista a Pérsia 3.569
330 AC A duração do Império Persa foi de 213 anos 3.569
330 AC Alexandre vai a Jerusalém 3.569
330 AC Alexandre consente na construção em Samaria 3.569
323 AC Morte de Alexandre na Babilônia 3.576
323 AC O Império grego é dividido entre seus generais 3.576
323 AC Tolomeu Soter reina sobre o Egito (323 AC- 282 AC) 3.576
312 AC Seleuco I Nicator na Síria 3.587
284 AC Tolomeu Filadelfo, rei do Egito (284 A.C. - 246 A.C.) 3.615
260 AC Tolomeu Filadelfo liberta 120.000 judeus escravos 3.639
250 AC A Septuaginta é escrita 3.649

330 AC– Alexandre, o Grande, conquista a Pérsia


(A.B. 3569)

Alexandre era filho de Felipe, rei da Macedônia. Foi educado por


Aristóteles, um dos maiores filósofos da humanidade, e veio a
assumir o trono aos 20 anos de idade após o assassinato de seu pai.

Conquistou a Pérsia derrotando Dario III em 330 AC, e ao falecer em


323 AC seu reino se estendia desde a Grécia até o Afeganistão. O
império persa subsistiu, desta forma, por 213 anos.

Segundo Flávio Josefo (História dos Hebreus, Vol. 3, Cap. I, §. 451),


tomando os judeus como observadores deste confronto, a
expectativa sobre o embate entre Alexandre e Dario III era de que
Dario saísse vencedor.

Deu-se, porém, o contrário, e uma vez derrotado Dario, Alexandre


seguiu para a Síria tomando Damasco e Sidon, vindo a empenhar-se
então na conquista da cidade de Tiro.

Neste tempo a Samaria era governada por Sambalate, que havia por
sinal sido criado por Dario III. Sambalate estivera ao lado de Dario
por toda sua vida, mas quando a situação se inverteu favorável a
Alexandre, este não tardou em passar para seu lado enviando
266

inclusive oito mil homens de seu exército para auxiliar Alexandre na


guerra contra Dario.

Aproveitando-se da ocasião, com Alexandre vitorioso, Sambalate,


governador da Samaria, pediu-lhe autorização para construir um
templo no Monte Gerazim, perto de Siquém, na Samaria, e constituir
seu genro, Manassés, como sumo-sacerdote, uma vez que este já
havia ocupado o mesmo cargo no Templo de Jerusalém, mas por
razões políticas havia sido afastado do mesmo.

Alexandre autorizou e recomendou que a construção fosse ultimada


com muita urgência. Este templo viria a ser destruído no ano 128 AC
por João Hircano, 200 anos depois de haver sido construído, mas o
local continuou sendo um ponto de adoração para os samaritanos,
conforme se lê no Evangelho de João que nos relata o diálogo entre
Jesus e a mulher samaritana (Jo 4:19-21).

Alexandre enviou nesta ocasião uma carta ao sumo sacerdote de


Jerusalém, por nome Jaddo, em que lhe pedia três coisas: auxílio,
comércio livre com seu exército, e a mesma ajuda que dava a Dario.
Jaddo respondeu a Alexandre que por força de juramento nada
poderia fazer contra Dario enquanto este vivesse, pois havia entre
eles um pacto. Alexandre prometeu então punir Jerusalém logo que
se desocupasse de Tiro, e de fato, marchou contra a cidade
conforme prometera.

Diz Josefo que se preparou assim toda Jerusalém para sua chegada
esperando pelo pior, e que por inspiração divina, os sacerdotes se
vestiram de branco para recebê-lo. Ao chegar a Jerusalém e ver o
nome de Deus gravado em ouro na tiara do sumo-sacerdote,
Alexandre se prostrou em adoração.

Indagado por Parmênio, um de seus generais (a quem Alexandre


viria a assassinar posteriormente), por qual razão o homem diante de
quem todos se prostravam adorava agora um simples sacerdote,
Alexandre respondeu: “Não é a ele, o sumo-sacerdote que adoro,
mas é ao Deus de quem ele é ministro, pois quando eu ainda estava
na Macedônia e imaginava como poderia conquistar a Ásia, Ele me
apareceu em sonhos com estes mesmos hábitos, e me exortou que
passasse o estreito do Helesponto e garantiu-me que Ele estaria à
frente de meu exército e me faria conquistar o império dos persas.
Eis por que jamais tendo visto antes a ninguém revestido de trajes
semelhantes aos que Ele me apareceu em sonho, não posso duvidar
267

de que foi por ordem de Deus que empreendi esta guerra e assim
venci Dario.”

Alexandre depois de assim ter respondido a Parmênio subiu ao


templo e ofereceu sacrifícios a Deus conforme a orientação do sumo-
sacerdote, que lhe mostrou na ocasião o Livro de Daniel, onde
estava escrito que um príncipe da Grécia destruiria o império dos
persas e disse-lhe que não duvidava de que era dele de quem falava
a profecia.

O relato de Josefo não encontra paralelo na Bíblia, nem nos


apócrifos, mas quem pode duvidar que que seja verdadeiro o seu
testemunho? A Bíblia revela que Deus chamou homens poderosos
como Nabucodonosor e Ciro para cumprir Sua vontade e mesmo não
sendo mencionado o fato na Bíblia, muito mais Alexandre, que todos
os demais, prestaram um enorme serviço ao Senhor da história, pois
Jesus, na plenitude dos tempos (Gl 4:4) pregará aos judeus o
evangelho que se espalhará pelo mundo escrito e falado na língua
grega.

Alexandre aproximou o ocidente do oriente originando assim uma


cultura helênica de caráter mundial a partir do estímulo ao comércio,
tolerância religiosa e casamentos inter culturais.

323 AC– morre Alexandre, o Grande


(A.B. 3576)

Alexandre morreu na cidade de Babilônia em 323 AC, tendo seu


reino sido divido entre os quatro chefes de seu exército, conforme
profetizado por Daniel mais de dois séculos antes: “Mas, estando ele
em pé, o seu reino será quebrado, e será repartido para os quatro
ventos do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco
segundo o seu domínio com que reinou, porque o seu reino será
arrancado, e passará a outros que não eles (Dn 11:4).

Depois muita luta e várias revoltas por todo império, Antígono obteve
a Ásia; Seleuco, a Babilônia e as nações vizinhas; Cassandro, a
Macedônia, e Ptolomeu, filho de Lago, o Egito.
268

312 AC - Seleuco I Nicator na Síria


(A.B. 3.587)

Seleuco, um dos generais que herdou de Alexandre a porção


correspondente à Babilônia, iníciou seu reinado na Síria em 312 AC.
A data nos é importante pelo fato de que os livros que relatam os
acontecimentos do período dos Macabeus se baseiam nela como
início de contagem de tempo.

250 AC– a Septuaginta


(A.B. 3649)

Com a divisão do império construído por Alexandre, Pitolomeu,


chamado Soter, tornou-se Senhor do Egito, o qual governou entre os
anos 323 AC até 284 AC, dois anos antes de sua morte, quando
renunciou em favor de seu filho mais jovem, Ptolomeu Filadelfo. A
dinastia dos Ptolomeus dominaria a terra dos faraós por longo tempo,
e teria na famosa Cleópatra, sua última representante.

Ptolomeu Filadelfo passou a reinar em 284 AC e notabilizou-se pela


boa amizade que devotou aos judeus. A referência de Daniel 11:6 se
refere a este rei, cuja filha, Berenice, casou-se com o rei da Síria.

Conforme Flávio Josefo este governante chegou a libertar 120 mil


escravos judeus no Egito a custa de seus próprios recursos
financeiros, pois tais escravos pertenciam em sua maioria aos
soldados de seu exército que receberam por isto a devida
indenização.

Por recomendação de Demétrio Falero, seu bibliotecário chefe,


Ptolomeu Filadelfo empreendeu o projeto de tradução para o grego
das leis dos judeus (Pentateuco) arcando plenamente com suas
despesas. Setenta e dois sábios judeus realizaram esta tarefa (de
onde vem o nome Septuaginta dado à tradução), consumindo 72
dias. (Hist. Dos Hebreus – Flávio Josefo, Vol 3, Cap.II, § 454)

Em verdade apenas o Pentateuco foi traduzido para o grego na


ocasião, sendo o restante do Antigo Testamento igualmente
traduzido ao longo do século seguinte.
269

A revolta dos Macabeus


Ano
Gregoriano Evento Bíblico
175 AC Antíoco Epifâneo sobre o Império Seleucida 3.724
169 AC Antioco ataca e vence o Egito 3.730
Antíoco Epifânio invade novamente Israel - o templo
167 AC é profanado 3.732
167 AC Matatias dá início da revolta dos Macabeus 3.732
166 AC Judas Macabeu assume o comando da revolta 3.733
165 AC Judas reconquista Jerusalém e purifica o templo 3.734
Judas Macabeu institui a Festa das Luzes 25/12
165 AC (Kislev) 3.734
163 AC Morte de Antíoco Epifânio. Antíoco Eupator o sucede 3.736
163 AC Judas Macabeu escolhido rei e sumo sacerdote 3.736
Judas Macabeu é morto. Jônatas, seu irmão, o
160 AC substitui 3.739
A Síria se torna colônia romana sob o domínio de
63 AC Pompeu 3.836

169 AC– Antíoco (IV) Epifâneo invade o Egito


(A.B. 3730)

Como se sabe, não há livros canônicos escritos no período inter-


testamentário (fim do Antigo e início do Novo Testamento). As fontes
históricas que temos sobre este período são os escritos de Flávio
Josefo, os livros apócrifos de I e II Macabeus, e Daniel Capítulo 11.

Libertos do jugo dos gregos, após a morte de Alexandre, os judeus


vieram a estar sob o domínio dos selêucidas, descendentes de
Seleuco, um dos quatro generais que herdaram o reino de
Alexandre. A base política dos selêucidas era a Síria.

Antíoco Epifâneo, selêucida, reinou sobre a Síria entre 175 AC e 164


AC. Após tentar conquistar o Egito, em 169 AC, invadiu Israel no
retorno de sua campanha.

Embora se diga que Josefo parafraseou o livro apócrifo de I


Macabeus, suas narrativas são bem mais completas e diferem em
algumas datas e pontos, por exemplo, no que diz respeito à questão
da conquista do Egito. Conforme I Macabeus, ele logrou fazê-lo,
como se lê no texto abaixo; Josefo, no entanto, diz que Antíoco foi
dissuadido por ameaças dos romanos a abandonar o Egito. Vejamos
o texto de I Macabeus 1: 16-26:
270

"Quando seu reino lhe pareceu bem consolidado, concebeu Antíoco


o desejo de possuir o Egito, a fim de reinar sobre dois reinos. Entrou,
pois, no Egito com um poderoso exército, com carros, elefantes,
cavalos e uma numerosa esquadra. Investiu contra Ptolomeu, rei do
Egito, o qual, tomado de pânico, fugiu. Foram muitos os que
sucumbiram sob seus golpes. Tornou-se ele senhor das fortalezas do
Egito, e apoderou-se das riquezas do país. Após ter derrotado o
Egito, pelo ano cento e quarenta e três, regressou Antíoco e atacou
Israel, subindo a Jerusalém com um forte exército. Penetrou cheio de
orgulho no santuário, tomou o altar de ouro, o candelabro das luzes
com todos os seus pertences, a mesa da proposição, os vasos, as
alfaias, os turíbulos de ouro, o véu, as coroas, os ornamentos de
ouro da fachada, e arrancou as embutiduras. Tomou a prata, o ouro,
os vasos preciosos e os tesouros ocultos que encontrou.
Arrebatando tudo consigo, regressou à sua terra, após massacrar
muitos judeus e pronunciar palavras injuriosas. Foi isso um motivo de
desolação em extremo para todo o Israel. Príncipes e anciãos
gemeram, jovens e moças perderam sua alegria e a beleza das
mulheres empanou-se.”

No verso 20 do texto acima, I Macabeus se refere ao ano cento e


quarenta e três. Este tempo é contado a partir do ano 312 AC (Ano
Bíblico 3587) - ano da ascensão de Seleuco I Nicator - herdeiro da
Síria, correspondente à porção babilônica do reino dividido de
Alexandre. Os livros de Macabeus usam esta contagem de tempo,
enquanto Josefo conta o tempo deste período em olimpíadas. Desta
forma, retornando da campanha do Egito, Antíoco invadiu Israel e
saqueou o templo em 312 AC.

167 AC– Antíoco (IV) Epifânio invade novamente Israel - o templo


é profanado
(A.B. 3732)

O texto de I Macabeus 1:29-53 nos relata este acontecimento, do


qual editamos a parte principal:

"Dois anos após, Antíoco enviou um oficial a cobrar o tributo nas


cidades de Judá. Chegou ele a Jerusalém com uma numerosa tropa;
dirigiu-se aos habitantes com palavras pacíficas, mas astuciosas, nas
quais acreditaram; em seguida lançou-se de improviso sobre a
cidade, pilhou-a seriamente e matou muita gente. Saqueou-a,
incendiou-a, destruiu as casas e os muros em derredor. Seus
soldados conduziram ao cativeiro as mulheres e as crianças e
271

apoderaram-se dos rebanhos. Cercaram a Cidade de Davi com uma


grande e sólida muralha, com possantes torres, tornando-se assim
ela sua fortaleza. Instalaram ali uma guarnição brutal de gente sem
leis, fortificaram-se aí; e ajuntaram armas e provisões. Reunindo
todos os espólios do saque de Jerusalém, ali os acumularam.
Constituíram desse modo uma grande ameaça. Serviram de cilada
para o templo, e um inimigo constantemente incitado contra o povo
de Israel, derramando sangue inocente ao redor do templo e
profanando o santuário. Por causa deles, os habitantes de Jerusalém
fugiram, e só ficaram lá os estrangeiros. Jerusalém tornou-se
estranha a seus próprios filhos e estes a abandonaram. Seu templo
ficou desolado como um deserto, seus dias de festa se
transformaram em dias de luto, seus sábados, em dias de vergonha,
e sua glória em desonra. Quanto fora ela honrada, agora foi
desprezada, e sua exaltação converteu-se em tormento. Então o rei
Antíoco publicou para todo o reino um edito, prescrevendo que todos
os povos formassem um único povo e que abandonassem suas leis
particulares. Todos os gentios se conformaram com essa ordem do
rei, e muitos de Israel adotaram a sua religião, sacrificando aos
ídolos e violando o sábado. Por intermédio de mensageiros, o rei
enviou, a Jerusalém e às cidades de Judá, cartas prescrevendo que
aceitassem os costumes dos outros povos da terra, suspendessem
os holocaustos, os sacrifícios e as libações no templo, violassem os
sábados e as festas, profanassem o santuário e os santos, erigissem
altares, templos e ídolos, sacrificassem porcos e animais imundos,
deixassem seus filhos incircuncidados e maculassem suas almas
com toda sorte de impurezas e abominações, de maneira a
obrigarem-nos a esquecer a lei e a transgredir as prescrições. Todo
aquele que não obedecesse à ordem do rei seria morto. Foi nesse
teor que o rei escreveu a todo o seu reino; nomeou comissários para
vigiarem o cumprimento de sua vontade pelo povo e coagirem as
cidades de Judá, uma por uma, a sacrificar. Houve muitos dentre o
povo que colaboraram com eles e abandonaram a lei. Fizeram muito
mal no país, e constrangeram os israelitas a se refugiarem em asilos
e refúgios ocultos.”

Josefo cita, ele próprio, as maldades praticadas por este governante:


“A maior parte do povo obedeceu-lhe, fê-lo voluntariamente ou por
medo; mas estas ameaças não puderam impedir aos que tinham
virtude e generosidade de observar as leis dos pais. O cruel príncipe
fazia a estes morrer por vários tormentos. Depois de os ter feito
retalhar a golpes de chicote, sua horrível desumanidade não se
contentava de fazê-los sacrificar, mas, enquanto respiravam, ainda
fazia enforcar e estrangular perto deles suas mulheres e os filhos que
272

tinham sido circundados. Mandava queimar todos os livros das


Sagradas Escrituras e não perdoava a um só de todos aqueles em
cujas casas os encontrava.” (Hist. Dos Hebreus, Vol 4, Cap. 4, § 465)

Conforme 1 Mc 1:54: "No dia quinze do mês de Casleu, do ano cento


e quarenta e cinco, edificaram a abominação da desolação por sobre
o altar e construíram altares em todas as cidades circunvizinhas de
Judá.”

Casleu se refere ao mês judaico de Kislev, equivalente aos meses de


Novembro ou Dezembro. Ano 145 (167 AC) se refere aos anos do
império selêucida, conforme vimos.

A referida abominação da desolação, conforme o texto, seria uma


construção por sobre o altar de sacrifício do Templo. Alguns
entendem que esta passagem, juntamente com a cessação dos
sacrifícios da Lei de Moisés, e mesmo o sacrifício de animais
imundos impostos por Antíoco, seja o cumprimento da profecia feita
por Daniel 379 anos antes.

Jesus, conforme os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas),


usou esta profecia de Daniel para se referir à destruição do Templo.

"E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da
semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das
abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que
está determinado será derramado sobre o assolador.” (Dn 9:27)

167 AC– Matatias inicia a Revolta dos Macabeus


(A.B. 3732)

Matatias iniciou a revolta dos Macabeus. No geral, a dinastia que se


consolidou em Israel da descendência de Matatias passou a ser
conhecida como "asmoneus", termo que deriva do nome Asmoneu,
ancestral de Matatias, conforme explica o próprio Josefo:

"Naquele mesmo tempo, numa aldeia da Judéia chamada Modim,


havia um sacerdote da descendência de Joaribe, nascido em
Jerusalém, que se chamava Matatias, filho de João, filho de Simão,
filho de Asmoneu.” História dos Hebreus, Capítulo 8, § 467)

Na literatura judaica, o título “macabeus” se refere mais propriamente


aos filhos de Matatias, Judas e seus irmãos Jônatas e Simão, sendo
273

o título “asmoneu” mais apropriado para se referir aos descendentes


seguintes.

É mais correto ver os “macabeus” Judas, Jônatas e Simão, filhos de


Matatias, como chefes da resistência judaica, e não propriamente
como “reis” de um suposto estado Macabeu. Os três, cada qual a seu
tempo, acumularam as funções de chefes militares e de sumo-
sacerdotes do Templo de Jerusalém.
Neste tempo, muitas das cidades de Israel se encontravam tomadas
pelos selêucidas e seus aliados judeus, entre as quais se podem
citar Jericó, Emas, Betoron, Betel, Tocon e Gazara entre outras.

Após a morte de Simão, em 134 AC, podemos, sim, entender a


existência de um estado Asmoneu, que perdurará por 71 anos, até
que em 63 AC toda a região cai sob o controle dos romanos.

165 AC a 164 AC - Matatias


A revolta dos Macabeus foi iniciada por Matatias, que fugindo das
atrocidades praticadas em Jerusalém por conta da nova ordem
imposta por Antíoco Epifâneo, veio a habitar com seus cinco filhos na
cidade de Modin, onde alcançaram grande respeito por parte de seus
moradores.

Certo dia apareceu em Modin um oficial do rei a ordenar que se


oferecessem sacrifícios no altar conforme o novo costume imposto
por Antíoco. Matatias se recusou a fazê-lo e matou um dos judeus
que ali sacrificava, bem como o oficial do rei, vindo assim a se
refugiar com seus familiares nas montanhas.

Juntou-se pouco tempo depois a este pequeno grupo familiar alguns


judeus assideus que igualmente fiéis à sua religião decidiram
combater Antíoco, e muitos outros grupos foram se juntando a este
núcleo, de tal forma que se constituiu um pequeno e valente exército
disposto a combater os pagãos.

Conta Josefo que uma guarnição do rei buscou um dos grupos


revoltosos para fazê-los desistir da sedição, vindo a encontrá-los num
dia de Sábado. Pela reverência que tinham ao dia do descanso, o
grupo se recusou a pegar em armas para se defender vindo assim a
ser impiedosamente sufocado dentro da caverna em que se
encontravam. Os sobreviventes vieram relatar a Matatias o
acontecido e este os repreendeu severamente a que nunca mais
procedessem desta forma, pois ao entregar sua vida sem luta,
274

violavam igualmente a Lei de Deus, fazendo-se homicidas de si


mesmos.

164-160 AC - Judas Macabeu (Yehudah Makkabi)


Cerca de um ano depois de iniciada a revolta Matatias veio a falecer,
ocupando seu lugar na liderança do grupo seu filho Judas, de apelido
Macabeu, cujo significado é “martelo”, de onde vem o nome revolta
dos Macabeus.

Conforme a tradição judaica, a revolta dos Macabeus abriu um


precedente na história da humanidade: nunca antes uma nação
morreu por seu Deus. Esta foi a primeira guerra religiosa e ideológica
da história da civilização.

Judas Macabeu provou na liderança de seu povo ser um general


competente, havendo derrotado sucessivas vezes exércitos
imensamente mais numerosos e mais preparados no sentido militar.
Era, segundo se constata, dono de quatro predicados importantes:
forte senso de determinação, coragem pessoal, visão militar e fé
incondicional no Deus de seus pais.

Depois de sucessivas vitórias sobre o exército de Antíoco Epifânio,


Judas logrou reconquistar Jerusalém. Ocupou-se então de restaurar
e purificar o Templo, vindo a consagrá-lo novamente ao serviço
religioso judaico, exatamente três anos após Antíoco o haver violado.
A celebração deste evento marca a origem da Festa das Luzes
celebrada pelos judeus até os dias de hoje no mês de Kislêv
(Dezembro).

Josefo nos faz compreender que ao tempo de Judas Macabeu Roma


já se avultava como potência européia (Vol 4, Cap. XIII, § 492),
havendo já dominado por aquele tempo a Galácia, Espanha,
Cartagena e Grécia. Desta forma pareceu bem a Judas Macabeu
fazer com os romanos um pacto de coperação em que Roma se
comprometia a advertir àqueles que estavam sobre sua obediência a
não atacar ou colaborar com aqueles que se indispusessem contra
os judeus e da mesma forma estes fariam o mesmo por Roma.

No seu tempo veio a falecer Antíoco Epifânio, segundo Josefo, de


desgosto, por ver as sucessivas vitórias dos Macabeus na palestina,
bem como as vitórias de outros inimigos frente ao seu exército.

Antíoco Eupator, seu filho, reinou em seu lugar, vindo no início de


seu reinado a propor paz a Judas Macabeu, proposta esta que não
275

tardou a descumprir, ordenando que se destruíssem os muros ao


redor do Templo e que se matasse Onias, o sumo-sacerdote.

Após seis anos de consecutivas vitórias sobre os selêucidas, Judas


Macabeu veio a falecer em combate, sendo então substituído por seu
irmão Jônatas.

160 a 143 AC - Jônatas


Registra-se no tempo de Jônatas o cumprimento da profecia de
Isaías que nos dá conta da construção em Heliópolis, no Egito, de
um templo semelhante ao de Jerusalém. Este templo foi erguido por
Onias, filho homônimo de Onias, sumo-sacerdote de Israel no tempo
de Ptolomeu Filometor, rei do Egito. Vejamos o texto de Isaías:

“Naquele tempo o Senhor terá um altar no meio da terra do Egito, e


uma coluna se erigirá ao Senhor, junto da sua fronteira. E servirá de
sinal e de testemunho ao Senhor dos Exércitos na terra do Egito,
porque ao Senhor clamarão por causa dos opressores, e ele lhes
enviará um salvador e um protetor, que os livrará.” (Is 19:18-20)

Os partidos religiosos
Conforme instituição de Moisés (Nm 1:49-50), entre todas as tribos
de Israel foram os levitas os escolhidos para zelar pela religião do
povo.

Quando chegamos ao tempo do rei Salomão, vemos Zadoque e seus


descendentes incumbidos desta grande honra. Zadoque foi quem
ungiu Salomão rei em lugar de Davi (1 Rs 1:39), e foi ele próprio
constituído sumo-sacerdote no mesmo dia. Surgiu, desta forma, a
casta dos zadoquitas ou sadoquitas como sacerdotes da nação (1 Cr
29:22).

No judaísmo de nossos dias, os Cohen são considerados sucessores


desta casta sacerdotal, principalmente pelo peso das palavras do
Profeta Ezequiel confirmados em vários textos (Ez 40:46, Ez 43:19,
Ez 44:15, Ez 48:11).

Serão estes, segundo a tradição judaica, os que assumirão os


serviços no Templo a ser reconstruído em Jerusalém em algum
tempo no futuro. Nos dias de hoje, com o avanço da ciência, os
Cohen podem ser distinguidos através de um conjunto de
marcadores genéticos chamados "Cohen Modal Haplotype" (CMH)
que é encontrado entre judeus asquenazes (oriundos provenientes
276

da Europa Central e Oriental) e sefarditas (originários da Península


Ibérica – Portugal; e Espanha), não existindo tal seqüência genética
entre não judeus. Não se deve, no entanto, confundir o sobrenome
Cohen com a casta Cohen que são coisas distintas. (Não há aqui
nenhuma apologia à construção do Templo em Jerusalém).

Quando os Selêucidas tomaram o poder na Judéia, a religião passou


a ser moeda de troca, movida por interesses políticos. Desta forma, o
cargo de sumo-sacerdote passou a ser exercido por pessoas com
fortes vínculos políticos, porém estranhas à tradição religiosa.

Quando eclodiu a revolta dos macabeus, os hassidins se juntaram a


Matatias por questão de convicção religiosa no intento de combater
os pagãos que profanavam a religião de Israel.

Os macabeus, a princípio por força de seu prestígio junto ao povo,


passaram a ser pontificados como sumos-sacerdotes, o que não foi
bem visto entre os hassidins. Esta é a raiz do surgimento dos três
principais partidos religiosos de Israel, tão presentes nos dias de
Jesus: os fariseus, os saduceus e os essênios.

Flávio Josefo bem como outros historiadores (Hipólito, Solino, Filon


de Alexandria) nos deram a conhecer historicamente a seita dos
essênios, cujo nome significa “devotos.” A história antiga nos permite
localizá-los geograficamente nas proximidades do Mar Morto, na
região conhecida como Qunram, situada no deserto de Engadi, entre
Massada e a cidade de Jericó, precisamente onde foram descobertos
os célebres Manuscritos de Qunram em 1948.

Os essênios se consideravam os únicos e verdadeiros sadoquitas,


continuadores da ordem sacerdotal de Sadoque, e desta forma
rejeitavam a classe religiosa responsável pelo culto no Templo.

A tradição cristã reputa que João Batista era essênio não só pela
semelhança entre a doutrina de justiça social desta seita e seus
ensinamentos, bem como pelos costumes praticados por João,
conforme os evangelhos. Há semelhanças de fato, mas dificilmente
se pode aceitar isto como fato.

Os essênios eram estudiosos dos profetas, bem como acreditavam


na vinda do Messias e na proximidade do fim dos tempos, quando
seria executado o julgamento de Deus sobre os homens. Viviam uma
vida de rigores, privilegiando o bem comum ao invés da posse
privada de bens.
277

Não viviam, porém, somente reclusos, em comunidades afastadas,


havendo também essênios que habitavam nas cidades, procurando
contudo exercer um modo de vida austero. Eram desta forma uma
alternativa mais próxima à Lei de Moisés, o que fez com que muitos
hassidins adotassem a seita como prática religiosa.

Entre as três principais correntes religiosas, pode-se dizer que os


essênios eram ao mesmo tempo a mais respeitada, pela sinceridade
de seu comportamento, e a segunda maior em termos numéricos.

Os fariseus (prushim) se consideravam os herdeiros dos hassidins,


sendo muitos deles escribas por profissão e socialmente se situavam
entre as populações de classes média e média-baixa, constituindo,
desta forma, a grande maioria do povo.

Eram zelosos pela Lei de Moisés, mas valorizavam sobretudo os ritos


e tradições religiosas. Desta forma, conforme se constata em seus
embates com Jesus, registrados nos evangelhos, o valor da tradição
se sobrepunha ao sentido da Lei de Moisés. Criam na ressurreição
dos mortos, bem como em anjos e demônios, e também na vinda do
Messias. Imagine se não cressem.

Com o massacre dos essênios que se juntaram aos zelotes contra os


romanos no ano 70 D.C., são os fariseus o remanescente do
judaísmo antigo, que por sua vez veio a implantar as sinagogas pelo
mundo todo após a destruição do Templo.

A seita dos saduceus (tzadokim), por sua vez, era basicamente


constituída por sacerdotes e escribas, e embora representasse uma
minoria da população, era a mais representativa parcela do sinédrio.

Por serem em sua maioria sacerdotes, viam-se como os legítimos


herdeiros do sumo sacerdócio do Templo, e da liderança religiosa de
Israel. Não criam na vinda do Messias, nem na ressurreição dos
mortos, nem em anjos ou demônios. Os saduceus desapareceram da
história de Israel depois da destruição do Templo em 70 DC.

134 a 104 AC - João Hircano


João Hircano, filho de Simão Macabeu, sucedeu seu pai como líder e
sumo-sacerdote, governando os judeus entre 134 e 104 AC. Teve um
princípio de governo tumultuado, pois foi atacado por Antíoco que
tornou os judeus novamente tributários dos selêucidas.
278

Quando Antíoco faleceu, Hircano atacou algumas cidades


controladas pelos selêucidas, entre as quais Siquém, a então capital
da Samaria, vindo a destruir o Templo contruído por autorização de
Alexrandre, o Grande. Segundo Josefo, a destruição ocorreu 200
anos depois do templo ter sido erguido.

Combateu na Iduméia e controlou cidades importantes como Andora


e Marissa. Todos os povos dominados por Hircano tiveram que se
submeter às leis judaicas e adotar sua religião, obrigando todos os
homens à circuncisão.

Cunhou moedas com a inscrição “João, sumo-sacerdote e chefe da


comunidade judaica.”

Hircano renovou a aliança estabelecida por Judas Macabeu com os


romanos, mesmo sem ter qualquer garantia de proteção de Roma
que naquele momento passava por grande tribulação política.

Josefo afirma que o período em que Hircano reinou foi próspero para
os judeus, não só na Judéia, como também em Alexandria do Egito e
na ilha de Chipre. Nesta ocasião, Ananias, descendente de Onias, o
sacerdote que construíra o templo dos judeus em Heliópolis, no
Egito, era então comandante do exército da rainha Cleópatra, que
não deve ser confundida com a homônina famosa dos dias de Cesar.

Pode-se dizer que em seus dias se travou a primeira queda de braço


entre fariseus e saduceus. Hircano era fariseu, e desta forma
prestou-lhes homenagem certa ocasião servindo-lhes um banquete.
Conta Josefo que neste di, um dos fariseus, de nome Eleazar,
sugeriu a Hircano que abdicasse ao sumo-sacerdócio, porque
naquele tempo corria um boato que sua mãe teria sido escrava
durante o reinado de Antíoco Epifâneo, o que o tornava impuro para
a função.

Desta forma, um saduceu chamado Jônatas, muito amigo de


Hircano, o convenceu que deveria abandoná-los e passar para o seu
partido, sugerindo-lhe que perguntasse qual tipo de castigo merecia
aquele fariseu. Como seus pares sugeriram um castigo muito brando,
Hircano mudou para os saduceus, mandando abolir a lei dos fariseus
e castigá-los, o que lhe foi mal visto, pois esta seita tinha grande
apoio popular. Mesmo assim conseguiu governar por toda sua vida.
Josefo lhe atribuiu entre outros predicados o dom da profecia.
279

104 até 103 AC - Aristóbulo I


Hircano foi sucedido por seu filho mais velho, Aristóbulo I, que veio a
ser o primeiro dos asmoneus a requerer para si o título de rei.

Flávio Josefo nos informa que este mandou encerrar os irmãos e sua
própria mãe na prisão onde esta viria a morrer de fome.

Aristóbulo manteve a política de controle rígido sobre a Samaria


iniciada por seu pai, vindo a fazer nova guerra contra os idumeus
quando conquistou boa parte de seu território.

Manteve da mesma forma a doutrina de judaizar os povos


conquistados obrigando-os à circuncisão, bem como a adoção da
religião israelita. Dizem os historiadores, entre eles Josefo e
Estrabão, que Aristóbulo era uma pessoa paciente e afável.

103-76 AC - Alexandre Janeu I


Depois da morte de Aristóbulo, sua esposa Salomé mandou que
libertassem da prisão os irmãos do rei, vindo a fazer de Alexandre, o
mais velho deles, o qual foi congominado Janeu, rei em lugar de seu
marido.

É interessante notar que quanto mais poder acumulam os asmoneus,


mais se distanciam do povo e dos ideais que nortearam os objetivos
dos primitivos Macabeus. É neste sentido que os fariseus crescem na
graça do povo aproveitando-se da desaprovação popular, cuminando
num episódio no ano 90 AC, durante a celebração da festa dos
Tabernáculos, em que a população atacou Alexandre com limões na
hora do sacrifício e foram por esta causa massacradas em revide
cerca de 6 mil pessoas.

Alexandre reinou por 27 anos e é de se notar a grande expansão


territorilal conseguida durante seu governo, havendo subjugado os
idumeus, a costa de Jope e as terras ao leste do Jordão.

Conforme Fávio Josefo, o alcoolismo fez com que a saúde de


Alexandre se debilitasse favorecendo ser acometido de uma febre
que durou três anos fazendo-o morrer bastante jovem, aos 49 anos
de idade.

Antes de morrer chamou sua esposa e lhe aconselhou que buscasse


fazer um gesto de amizade para com os fariseus, pois sendo estes
fúteis e vaidosos, gostavam de ser adulados. Evitaria assim contar
com a oposição destes. Aconselhou-a também a entregar a estes o
280

seu próprio corpo para que decidissem se seria sepultado com


honras ou difamado. Mostraria desta forma real apreço por sua
opinião. Alexandra seguiu seus conselhos, e sentindo-se seguros, os
fariseus fizeram enterrar Alexandre com grandes honras conforme
nenhum rei havia recebido antes dele.

76-66 AC - Alexandra
Embora tivesse dois filhos, Hircano e Aristóbulo, o falecido Alexandre
Janeu deixou em testamento o direito de governar para sua esposa
Alexandra. Sua primeira atitude foi fazer de Hircano, seu filho mais
velho, sumo-sacerdote.

De fato Alexandra tinha de raínha apenas o nome, pois eram os


fariseus que governavam de fato. Desta forma buscaram se vingar de
todos aqueles que haviam de alguma forma sido fiéis ao antigo rei,
fazendo com que estes fossem impiedosamente mortos.

No tempo de Alexandra os fariseus conseguiram reaver os direitos


que haviam sido extintos por Hircano, falecido rei e sogro da raínha.

Numa ocasião em que a raínha Alexandra adoeceu gravemente,


Aristóbulo, seu filho mais jovem, executou um plano de levantar
contra ela as cidades fortificadas da Judéia, vindo a conquistar na
ocasião 22 praças. Mas quando se aproxima de Jerusalém encontra
sua mãe prestes a morrer.

66-63 AC - Aristóbulo II
Aristóbulo empreendeu então uma guerra contra seu irmão pela
posse do governo. Chegaram, no entanto, a um entendimento, de
maneira que Aristóbulo reinou e Hircano retirou-se para uma vida de
ócio.

No tempo de Aristóbulo começa o fio da meada da história de um


importante personagem que muito nos interessa, a de Herodes, o
Grande. O pai de Herodes, de nome Antípatro, era um idumeu muito
rico, descendente das famílias dos judeus que vieram da Babilônia.

Naquele tempo era governador da Idumeia, e através de sua riqueza


e seus relacionamentos, Antípatro fez grandes intigras a ponto de
convencer Hircano, irmão de Aristóbulo, a se refugiar junto aos
árabes, e a estes prometeu devolver algumas cidades conquistadas
no passado pelos judeus, caso o depusessem Aristóbulo e
entronisassem Hircano.
281

Este rei árabe, de nome Aretas, atacou Aristóbulo e o venceu,


obrigando-o a refugiar-se no Templo, mas Aristóbulo buscou a ajuda
de Pompeu, que a troco de muito dinheiro lhe restituiu trono,
permitindo assim que recompusesse seu exército e atacasse os
árabes e os vencesse.

Outra reviravolta causada pelas lutas pelo trono entre os dois irmãos,
veio a culminar, desta feita, não só com a deposição de Aristóbulo
por parte de Pompeu, como também pela perda da liberdade de todo
o povo, pois desde então a Judéia passou a ser tributária de Roma.

Foi sepultada assim pela ambição dos dois irmãos a liberdade que
fora conquistada a custa da revolta dos Macabeus. Os muros de
Jerusalém foram desta feita arrasados por Pompeu. Aristóbulo foi
levado prisioneiro para Roma, e a Hircano se restituiu seu cargo de
sumo-sacerdote.

Crasso, a caminho da guerra contra os partos, viria tempos depois a


passar por Jerusalém e saquear do Templo vultuosas quantias em
ouro e peças de grande valor. (Flávio Josefo - Hist. Dos Hebreus, Vol.
4, Cap III, § 572-585)

Os dois generais que atacaram o Templo de Deus, Pompeu e


Crasso, formariam em poucos anos, juntos com Júlio César, uma
aliança para governar Roma.

Gregoriano Evento Ano Bíblico


59 AC Crasso, Pompeu e Cesar formam um triunvirato 3.840
58 AC Júlio Cesar eleito consul romano 3.841
47 AC Cesar invade o Egito e proclara Cleópatra rainha 3.852
44 AC Cesar é assassinado em Roma 3.855
43 AC Marco Antônio, Augusto e Lépido triumvirato 3.856
37 AC Herodes apontado governador da Judeia 3.862
31 AC Batalha de Ácio entre Otaviano e Marco Antonio 3.868
31 AC Ocorre o grande terremoto da Judéia 3.868
30 AC Marco Antônio e Cleópatra suicidam-se no Egito 3.869
27 AC Cesar Augusto é o 1º imperador romano 3.872
282

59 AC– Júlio Cesar


(A.B. 3841)
No ano 59 AC Julio César, Pompeu e Crasso se juntam para formar o
primeiro triunvirato a governar Roma, cada qual motivado por uma
paticular necessidade: Cesar fora eleito cônsul e precisava apoio
para combater os povos gauleses ao norte; Pompeu, que era genro
de Cesar, necessitava de grandes quantidades de terras para doar a
seus soldados veteranos, e o interesse de Crasso, tido como o
homem mais rico de Roma, era obter apoio para liderar o combate
aos persas.

Em suas campanhas, César saiu-se vitorioso não somente na Gália,


mas expandiu consideravelmente as fronteiras de Roma, vindo a
conquistar a Britânia e Germânia. Crasso foi derrotado e morto frente
aos persas, num verdadeiro desastre de planejamento e logística
militar, de onde se origina o uso do termo “erro crasso” utilizado até
os nossos dias. Na mesma época morre ao dar à luz a filha de Cesar,
esposa de Pompeu, que casa-se então com a filha Scipião, maior
inimigo de Cesar. Todos estes são os ingredientes de uma guerra
civil que se forma por volta de 50 AC, quando Pompeu ordena a
César que dissolva suas legiões e retorne a Roma.

Cesar, que conhecia os nomes de todos os seus centuriões e era


amado por seus soldados, desacata as ordens do senado e marcha
com suas legiões para Roma. A guerra civil se instala terminando
com a derrota de Pompeu na Grécia e César a tornar-se ditador de
Roma e Cônsul pela segunda vez em 48 AC.

Em 47 AC, em campanha pelo Egito, César afasta do trono o rei


Ptolomeu XIII e o substituiu por sua irmã, Cleópatra, com quem vem
a gerar um filho, Ptolomeu XV (Cesarion).

Cesar criou em 46 AC o calendário juliano que viria a substituir o


calendário romano e duraria até o século XVI, quando seria
substituído pelo Gregoriano, em uso até os nossos dias. Em ambos,
o mês de Julho é uma homenagem a Júlio Cesar. Cesar foi
assassinado nem 44 AC numa reunião do senado romano.

27 AC) - Augusto Cesar


(A.B. 3872)
Após a morte de Julio César forma-se em 43 AC um segundo
triunvirato constituído por Otávio Augusto, filho adotivo de Cesar,
Lépido, e Marco Antônio, com poderes para governar Roma por cinco
anos. Depois de cinco anos no poder os três são reeleitos.
283

Lépido é exilado de Roma, restando Marco Antônio e Otávio Augusto


que disputam abertamente a supremacia do poder. Marco Antônio
chegou a selar um acordo com Augusto casando-se com sua filha
Otávia. A aliança entre os dois foi finalmente rompida quando Marco
Antônio devolve a Augusto sua filha e casa-se com Cleópatra, a
quem César havia nomeado rainha do Egito.

Na condição de rei do Egito, tendo Cesarion – Ptolomeu XV, filho de


Júlio César com Cleópatra como seu co-dirigente, Marco Antônio se
torna uma ameaça real a Augusto e a guerra entre ambos passa a
ser inevitável.
Trava-se então uma luta pelo poder que é finalmente vencida por
Otávio na batalha de Ácio, no mar da Grécia em 31 AC. Desta forma,
em 29 AC Augusto retorna a Roma como Senhor único, sem que
haja qualquer oposição ao seu nome. Marco Antônio se refugia no
Egito onde ele e Cleópatra viriam a suicidar-se.

Otávio se torna então em 27 AC imperador de Roma com o título de


Augustus (divino), de onde se deriva o nome do mês de Agosto, tanto
no calendário Juliano, quanto no Gregoriano, um mês a seguir de
Julho, em homenagem a Júlio Cesar. Curiosamente Augusto viria a
morrer no seu mês, em 19 de Agosto de 14 DC.

É de Otávio Augusto a ordem para que o mundo romano se alistasse,


ocasião em que José e Maria viajam a Belém da Judéia (Lc 2:1).

Herodes, o Grande

37 AC– Herodes governador da Judéia


(A.B. 3862)

Como se sabe, Herodes era idumeu, povo que fora “judaizado”,


sobretudo no período de João Hircano, que mesmo sendo gentio, era
conhecedor e obrigado aos usos e costumes religiosos de Israel.

Os idumeus são os edomitas, descendentes de Esaú, que ocupavam


originalmente a área situada entre o Mar Morto e o Golfo de Eilate,
ou Ácaba, como dizem os árabes, e vieram a se mudar para a região
mais ao norte da localização inicial, tanto por conta do exílio
babilônico, que removeu muitos da região, como pela invasão dos
árabes nabateus sobre suas terras.
284

A partir de 63 AC a Judéia passou a ser administrada pelo


governador romano da Síria, sendo dividida em quatro tetrarquias.

Neste tempo, por seu próprio mérito, Antípatro, pai de Herodes, fez
grandes conquistas pessoais, recebendo de Roma vários benefícios,
entre os quais a cidadania romana, isenção de impostos e o cargo de
administrador da Judéia.

Antípatro soube ao longo de sua vida como granjear a simpatia dos


novos senhores da terra, suprindo em tempos difíceis, e por
inúmeras vezes o exército romano de trigo e outros víveres de
primeira necessidade, tornando-se assim, próximo de Pompeu,
Cesar, Scauro, e Marco Antonio, entre outros. Tornou-se amigo
pessoal de Julio César quando este, depois da morte de Pompeu,
fazia guerra contra o Egito.
Nesta ocasião Antípatro arregimentou cerca de tres mil soldados, que
sob seu comando se juntaram a Mitrídates, um dos generais de
Cesar, quando este ia em seu socorro no Egito. Os fatos atestam que
Mitríades ficou a dever não só sua própria vida, como também a de
seus homens a Antípatro, que num ato de bravura e astúcia, os livrou
de serem todos mortos em batalha. Este fato foi comunicado a César
que desde então passou a dedicar-lhe tremenda estima. Foi depois
disto nomeado administrador dos negócios e interesses da Judéia.

Hircano era neste tempo sumo sacerdote do Templo em Jerusalém e


grande aliado de Antípatro. A relação de Hircano com a família de
Antípatro sempre fora boa, e os dois lados souberam tirar vantagens
desta união. O bom entendimento entre estes dois veio a trazer
grandes benefícios para Jerusalém, como por exemplo, a permissão
para reconstrução dos muros da cidade e do Templo.

Por volta de 47 AC Antípatro conseguiu nomear seu filho Fasael


governador, ou tetrarca, da Judéia, e Herodes, de apenas quinze
anos de idade, tetrarca da Galiléia.

Josefo atesta que apesar da pouca idade Herodes já mostrava


grande competência no trato com pessoas poderosas. Começa,
portanto, aqui sua jornada rumo ao destino que conhecemos.

Quando encontramos Herodes nas páginas dos evangelhos a buscar


Jesus ainda criança para matá-lo, ele é um homem de idade
avançada, já próximo de sua morte, e desta forma desconhecemos a
longa trajetória que o levou ao poder, que obstante o apoio inicial que
285

recebeu de seu pai, igualmente por seu mérito pessoal, e a custa de


muito trabalho, conseguiu chegar onde chegou.

Depois da morte de Cesar, houve grandes desentendimentos no


império e várias facções se formaram em busca do poder, uma delas
formada por Cássio e Antônio.
Quando Cássio nesta ocasião recrutava soldados na Síria, houve
grande problema de falta de recursos, e desta maneira, toda a região
foi penalizada, tendo que arcar com enormes custos para pagamento
do exército romano.

Na ocasião, mesmo além do que lhes era exigido, Antípatro


recomendou aos filhos Fazael e Herodes que auxiliassem Roma na
tarefa, e desta maneira Herodes é o primeiro a suprir boa parte desta
demanda, o que lhe fez cair nas graças de Cássio.
Já os demais governadores, que não agiram da mesma forma,
vieram a cair em desgraça.

Malico, que era o responsável por esta arrecadação, caiu em


desgraça perante Cássio, e esteve a ponto de ser morto, só não
sendo por interferência de Antípatro, o que lhe iria custar muito caro,
pois este mesmo Malico veio envenená-lo tempos depois. Herodes
vingaria a morte do pai.

Uma vez reunido este exército, Cássio e Marcos deram o seu


comando a Herodes e o fizeram governador da Baixa Síria. O fato é
que Cássio era contrário a Marco Antônio e Augusto, e veio a ser
derrotado por estes. Augusto foi combater na Gália e Antônio veio
para a Síria.

Herodes, que até então era aliado de Cássio, inimigo de Marco


Antônio, não tardou para procurá-lo a fim de explicar-se. Levou-lhe
grande soma de dinheiro e impressionou-o de tal forma que embora
houvesse presentes muitos que acusavam Herodes de traição,
Antônio sequer quis ouvi-los. Os irmãos foram confirmados tetrarcas
da Judéia e muitos dos seus acusadores acabaram na prisão.

Herodes teve depois disto que lidar com uma adversidade: Antígono,
que era filho de Aristóbulo II (66-63 AC), veio, através de uma trama
complicada, a tomar o poder na Judéia com a ajuda do rei dos
Partos. Fazel, irmão de Herodes, veio a ser aprisionado por Antígono
e mata-se na prisão.
286

Diz Josefo, que uma vez no poder, Antígono mandou cortar uma
orelha de Hircano, sumo-sacerdote, pois a lei dos judeus não
permitia que alguém que portasse algum defeito físico tivesse tal
encargo, afastando assim qualquer possibilidade de o sumo-
sacerdote vir a ocupar também o governo da nação.

Herodes travou várias batalhas contra Antígono a fim de recuperar o


governo perdido. Em meio a esta campanha veio a desposar
Mariana, neta do rei Aristóbulo, conseguindo assim alguma ligação
familiar com o povo judeu.

Antígono governou por pouco tempo, tendo sido preso e levado à


presença de Marco Antônio, que por uma solicitação de Herodes e
grande soma de dinheiro lhe mandou cortar a cabeça.

A ambição pelo poder e o medo de perdê-lo assombraram Herodes


por toda sua vida. É um medo compreensível, pois governava uma
sociedade totalmente segregada e contrária à presença de gentios
em seu meio, e Herodes nela se infiltrara à custa do preço carríssimo
da perda de liberdade do povo.

Há que se notar, no entanto, um precedente que ameniza sua


presença no poder, que é a falta de prestígio dos asmoneus perante
o povo. A gloriosa guerra dos valorosos Macabeus terminara por
legitimar, se assim se pode dizer, no trono de Davi, toda uma
geração de ambiciosos que permitiram que a cultura helênica se
misturasse à judaica, e o sumo sacerdócio fosse utilizado como
instrumento de poder. Aos olhos do povo, a troca dos asmoneus por
Herodes foi praticamente seis por meia dúzia.

O objetivo de relatar aqui algumas informações sobre Herodes, não é


outro senão tentar entender a sua personalidade, por consequência
da qual, em seu último ato insano, mandará matar os infantes de
Belém.

Herodes mandou assassinar, depois de retomar o poder de


Aristóbulo, o também homônimo Aristóbulo, irmão de sua esposa
Mariana, sumo sacerdote do Templo em Jerusalém, por medo que
Marco Antônio, vendo o prestígio que este tinha perante o povo, o
colocasse no governo da Judéia.

Por conta deste assassinato, Marco Antônio, que já nesta altura vivia
com Cleópatra, chamou Herodes para se justificar. Conta Josefo, que
antes de partir ao seu encontro Herodes deixou instruções a José,
287

seu cunhado, marido de uma de suas irmãs, que tomasse conta do


governo em sua ausência, e que caso viesse a ser condenado, que
matasse Mariana, sua esposa. Suspeitava que Marco Antônio, tendo
ouvido falar da beleza ímpar de Mariana poderia condená-lo à morte
para lhe tomar a mulher.

Herodes comprou mais uma vez sua inocência e na volta à Judéia


ouviu boatos falsos sobre a esposa. Mandou então matar José, o
cunhado que deixara no governo, por suspeitar que de alguma forma
teria se tornado íntimo de Mariana, mandando prender também sua
sogra, por achar que ela teria estimulado a suposta traição, que de
fato nunca aconteceu.

No sétimo ano de governo de Herodes, ano 31 AC, mesmo ano em


que se deu a batalha de Ácio entre Augusto e Antônio pelo governo
de Roma, houve um grande terremoto na Judéia em que dez mil
pessoas perderam a vida.

Herodes estivera então envolvido numa difícil guerra contra os


árabes da qual saiu vencedor. Voltou a Jerusalém dono de um
prestígio que jamais tivera entre os judeus.

Quando se soube que Augusto derrotara Marco Antônio, ninguém


duvidou que seria este o fim de Herodes, uma vez que a amizade
entre ele e Antônio era conhecida de todos.

Mandou matar então por precaução a Hircano, por temer que se


caísse em desgraça com Augusto, este não o substituiria no poder.

Quando foi ter com Augusto, não sabendo que sorte o esperava,
deixou a seu irmão no governo, dando novamente ordens que
matasse sua esposa se algo de ruim lhe acontecesse.

Encontrou-se com Augusto em Rodes, quando mais uma vez a sorte


lhe sorriu. Quando era de se esperar que se desculpasse com
Augusto pela traição de ter-se unido a Marco Antônio, ao contrário,
disse que só não tinha ido combate-lo pessoalmente ao lado de
Antônio porque estava ocupado numa guerra com os árabes, e que
mesmo assim, lhe enviou, conforme estava ao seu alcance na
ocasião, mantimentos para seu exército, de maneira que se
orgulhava de ter sido fiel ao amigo a quem devia tudo que tinha.
Sendo assim, morto o amigo, ofereceu a Augusto a mesma lealdade
que sempre tivera por Marco Antônio.
288

Augusto se impressionou muito com sua sinceridade e não só o


perdoou, como também o reconfirmou no reino da Judéia, vindo
desde então a ser seu admirador e amigo.

Voltando cheio de glórias desta viagem, Herodes ouviu de alguns da


corte uma acusação mentirosa de que sua esposa Mariana
tencionava envenená-lo, o que foi suficiente para que ele a
mandasse matar.

Construiu depois disto em Jerusalém um circo e um anfiteatro em


que eram praticados jogos em homenagem a Augusto. Esta atitude
distanciou-o definitivamente do povo que era contrário a estes
costumes, culminando o fato com um grupo de revoltosos decidido a
matar Herodes num dia em que havia jogos. O plano foi delatado e
todos os revoltosos foram mortos.
Josefo comenta que o delator foi então morto pela população, tendo
suas carnes sido picadas e atiradas aos cães. Herodes descobriu os
que o haviam feito tal coisa e mandou matá-los a todos juntamente
com suas famílias.

Herodes viria a recuperar seu prestígio com o povo quando uma


grande seca se abateu sobre a Judeia, de maneira que não havia
comida para o povo. Mandou então comprar trigo e víveres no Egito
para o povo a custa de seu próprio dinheiro, o que lhe rendeu em
retorno, a gratidão dos judeus. Ajudou também da mesma forma os
povos da Síria, fazendo-o admirado em todo o mundo romano, de
maneira que o ódio por sua pessoa foi momentaneamente
esquecido.

Herodes mandou construir muitos palácios e cidades, entre as quais,


Cesaréia, em homenagem a Augusto Cesar, uma cidade magnífica
que demorou doze anos para ser erguida, cujas ruínas se pode
visitar ainda nos dias de hoje.

20 AC– Herodes constroi o “terceiro Templo”


(A.B. 3879)
De todas as obras de Herodes, a que mais nos interessa conhecer
os detalhes se refere ao Templo de Jerusalém, pois foi este o
Templo visitado por Jesus.

A ele normalmente nos referimos como “Segundo Templo”, pois


nossa tradição nos reporta que Herodes apenas reformou o Templo
que fora reerguido por Esdras por ocasião do retorno dos judeus do
exílio babilônico.
289

Dá respaldo a ser chamado "Segundo Templo", o texto do Profeta


Ageu dirigido a Zorobabel e seus companheiros com palavras de
incentivo para continuarem as obras de sua reconstrução: "A glória
desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos
Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ag
2:8)

É possível compatibilizar as duas coisas, segundo os conhecedores


da matéria, se considerarmos que o pronome demonstrativo do
original hebraico (‫ זה‬- zeh) do texto de Ag 2:9 traduzido por "desta",
pode igualmente ser traduzido como "daquela", ou seja, "a glória
daquela última casa", o que poderia se referir não propriamente ao
Templo de Esdras, mas ao que Jesus visitou, considerando-se, é
claro, a informação de Josefo de serem templos distintos.
Flávio Josefo, conforme referido na História dos Hebreus, Vol. 5,
Cap. XIV- § 676, nos dá a entender que se trata de um "terceiro
Templo", uma vez que o Templo de Esdras foi desmontado e
ampliado por Herodes a partir de seu 18º ano de governo.

Josefo foi contemporâneo deste Templo, tendo-o certamente visitado


em inúmeras ocasiões. Na referência contida na História dos
Hebreus – Vol. 5, § 772 ele cita Jesus, mas não faz em qualquer
parte de sua obra qualquer vinculação com o Templo. Vejamos a
citação:

“Nesse mesmo tempo apareceu JESUS, que era um homem sábio,


se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem,
tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham
prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por
muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Ele era o CRISTO.
Os mais ilustres de nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele
fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o
abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e
vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que
ele faria muitos milagres. É dele que os cristãos que vemos ainda
hoje tiraram seu nome.”

O primeiro indício de que se trataria de um terceiro Templo se refere


às suas dimensões, pois, segundo Josefo, ele foi construído maior e
mais alto que o Templo anterior. Vejamos suas próprias palavras:
290

“Ergueu-se o Templo de cem côvados de comprimento e cento e


vinte de altura. Mas os alicerces cederam e esta altura ficou reduzida
a cem côvados.”

De acordo com 1 Rs 6:2, o Templo "que o rei Salomão edificou ao


Senhor era de sessenta côvados de comprimento, e de vinte
côvados de largura, e de trinta côvados de altura.”

Conforme o Livro de Esdras, a única referência às dimensões do


"Segundo Templo" é esta: “No primeiro ano do rei Ciro, este baixou o
seguinte decreto: A casa de Deus, em Jerusalém, se reedificará para
lugar em que se ofereçam sacrifícios, e seus fundamentos serão
firmes; a sua altura de sessenta côvados, e a sua largura de
sessenta côvados.” (Ed 6:3)

O texto de Esdras nos notifica que o projeto de construção foi


determinado por Ciro, com dimensões diferentes do projeto original,
e aparentemente não houve qualquer contestação a este respeito,
nem da parte dos sacerdotes, nem da parte de Deus.

Parece ser este ponto bastante adequado para traçarmos um


paralelo entre a revelação progressiva de Deus para os judeus e a
questão do Templo.

Tanto a Casa de Deus conceituada no Tabernáculo no deserto,


quanto a que foi construída de materiais duros por Salomão, têm
uma característica em comum: a extrema rigidez de detalhes com os
quais foram concebidas. Não é sequer possível imaginar que tanto
uma quanto outra tivessem qualquer detalhe de suas concepções
alterados ainda que minimamente.

Já uma outra situação diferente é vista na reconstrução coordenada


por Esdras, pois independente das dificuldades que circundaram esta
tarefa, e do extremo amor e dedicação por parte daqueles que dela
participaram, houve uma profunda modificação no projeto de
Salomão que se refere às suas dimensões.

Lembremos que quando Davi transportava para Jerusalém a Arca


que por vinte anos permanecera na casa de Abinadabe ocorreu um
acidente: Os bois que puxavam o carro em que esta se encontrava
se desiquilibraram e Uzá tocou a Arca (2 Sm 6:6-7). Não lhe era
permitido tocá-la, e por esta razão foi morto por Deus, independente
de sua intenção ser a melhor possível. Que se diria então se Deus
291

não estivesse de acordo com as modificações nos templos


reconstruídos?

O que parece mais correto, é que à medida que a revelação de Deus


progride, menos importância tem o Templo na relação do homem
com seu criador, a culminar com as palavras de Jesus à mulher
samaritana: “Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste
monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não
sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos
judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai
procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os
que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4:19-24)

Contextualizando-se Ezequiel 8, onde o Profeta nos dá a conhecer


as mazelas ocorridas no interior do santuário, podemos entender que
estes textos avalisam o fracasso do Templo, ou templos, pois
estabelecem o contraste daqueles com este que simboliza a
presença de Deus no meio de seu povo.

Retornando ao relato de Josefo, outro indício de que seria um


"Terceiro Templo" diz respeito à referência de o Templo original (de
Esdras) haver sido desmontado por inteiro.

Herodes, segundo Josefo, não conseguiu a princípio convencer o


povo de suas boas intenções, pois muitos achavam que seu desejo
era somente derrubar o Templo. Prometeu então não tocar o Templo
antigo até que todo o material necessário para a construção do novo
estivesse completamente disponível. Vejamos seu comentário:

“Empregou mil carretas para trazer as pedras, reuniu todo o material,


escolheu dez mil operários dos melhores e sobre eles constituiu mil
sacrificadores (sacerdotes) vestidos às suas custas, inteligentes e
práticos nos trabalhos de pedreiro e carpinteiro. Depois que tudo
estava preparado mandou demolir os velhos alicerces para serem
reconstruídos e sobre eles ergueu-se o Templo de cem côvados de
comprimento e cento e vinte de altura. Mas os alicerces depois
cederam e esta altura ficou reduzida a cem côvados.”

Outro detalhe muito interessante que Josefo nos revela diz respeito
ao muro de arrimo no entorno do Templo: “Herodes fez rodear por
outro muro todo o sopé do montículo, embaixo do qual, do lado sul,
há um profundo vale. Este muro, construído com grandes pedras
ligadas com chumbo, vai até a extremidade em baixo do montículo e
292

o rodeia por inteiro. É de forma quadrangular, tão alto e tão forte que
não se poderia contemplá-lo sem admiração. Depois que este muro
foi erguido, tão alto quanto o vértice do montículo, encheu-se todo o
vazio que havia dentro dele. Formou-se assim uma plataforma, cujo
perímetro era quatro estádios, pois cada uma das frentes tinha um
estádio de comprimento e havia um pórtico colocado no meio dos
dois ângulos.”

Em resumo Herodes teria aterrado o monte Moriá. Lembremos que o


monte já havia sido rebaixado durante o governo de Simão (142 até
134 AC), quando este retomou o Templo do controle dos selêucidas.
Herodes veio, portanto, a construir o Templo sobre um espetacular
platô, o que o colocava numa altura admirável. Foi deste lugar que
Satanáz desafiou Jesus (Mt 4:5).

O tempo total de construção deste Templo, conforme Josefo, foi de


nove anos e meio, tendo assim sido concluído em 11 AC. Contudo,
de acordo com Jo 2:20, na visita em que Jesus expulsou os
vendilhões do Templo, os judeus replicaram Jesus com estas
palavras: “ Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o
levantarás em três dias?” (Jo 2:20)

Quarenta e seis anos contados a partir da data de início da


construção por Herodes nos levariam ao ano 27 DC, um ano antes
de Jesus ser batizado, ou seja, ao início de seu ministério.
293

A vida de Jesus
294

Ele tinha, não a beleza da carne que ressalta aos olhos, mas a
verdadeira beleza da alma.
(Clemente de Alexandria)

Para que compreendêssemos que a carne não é nada comparada à


divindade, o filho de Deus quis aparecer sob uma forma que de modo
algum era bela.
(Cirilo)

Se Jesus é feio aos olhos dos homens, se suas feições são


grosseiras e vis, reconheço Nele o meu Deus.
(Tertuliano)
295

A ligação de Daniel 9 com a crucificação de Jesus - 30 DC


(A.B. 3928)

O período abrangido pelo Antigo Testamento se encerra com a morte


do rei Artaxerxes I em 434 AC. Começa então o chamado período
inter-testamentário, ou inter-bíblico, que se estende até o nascimento
do Senhor Jesus, ou melhor ainda, cerca de um ano antes, com o
advento do censo romano determinado por Augusto Cesar, primeiro
fato histórico narrado pelo Novo Testamento. Designamos
normalmente o período intertestamentário por "quatrocentos anos de
silêncio.”

A última data de interesse bíblico possível de ser determinada no


Antigo Testamento é a que justamente nos auxilia na localização do
ano da crucificação de Jesus. Trata-se do 20º ano de Artaxerxes I, a
partir do qual, conforme Dn 9:24-25, somos levados, pela adição de
483 anos, ao Ano Bíblico 3928, ano da crucificação de Jesus,
quando se cumpre o tempo de 69 das 70 semanas profetizadas por
Daniel.

Evento Data
20º ano de Artaxerxes I 3445 A.B. - 454 AC
69 semanas de Daniel em anos corridos 483 anos (69 semanas * 7 anos)
Ano da crucificação de Jesus 3928 A.B. - 30 DC

Vejamos o que nos diz Daniel: "Setenta semanas estão


determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para
cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a
iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e
para ungir o Santíssimo. Sabe e entende: desde a saída da ordem
para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o
Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas
e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” (Dn 9:24:25)

De acordo com o Dr. Aníbal Pereira dos Reis (conforme visto no


tratamento de 454 AC - 3442 A.B.), o vocábulo hebraico “chabua”,
comumente traduzido por semana, fundamentalmente significa
setenário, que é o espaço de sete dias ou sete anos, o que é
confirmado com absoluta precisão pelo texto de Levítico 25:8:
"Também contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos; de
maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e
nove anos.”
296

Ano Bíblico
3445
483
3928

Desta forma, a partir deste ano (3928 A.B.), é necessário retroceder


os anos que viveu Jesus para chegarmos ao seu nascimento e
demais datas de seu ministério.

Teoricamente, determinar o nascimento de Jesus seria uma tarefa


fácil, uma vez que se trataria de apenas subtrair de 3928 A.B. os 33
anos, suposta idade que teria ao ser crucificado. A idade de 33 anos
lhe é tradicionalmente atribuída pelo fato de Lc 3:23 declarar que
Jesus tinha “cerca de 30 anos” quando iniciou seu ministério,
somados três anos e meio a que se referem os relatos contidos no
Evangelho de João sobre as festas das quais participou, entre elas,
três diferentes Páscoas. O início de seu ministério aos trinta anos era
uma exigência da Lei de Moisés: "Da idade de trinta anos para cima
até aos cinquenta anos, será todo aquele que entrar neste serviço,
para fazer o trabalho na tenda da congregação.” (Números 4: 3)

A qual ano do calendário gregoriano equivale o Ano Bíblico 3928?

30 DC - Crucificação de Jesus
(A.B. 3928)

Lucas nos fornece a única data concreta mencionada não só nos


evangelhos (Lc 3:1), mas em todo o Novo Testamento, o ano quinze
do império de Tibério César.

Não há de fato outra data que se possa reconhecer em toda a vida


de Jesus, ou no Novo Testamento, exceto esta, e parece claro, que
ao fornecê-la, Lucas procura datar um fato importante. Leia
atentamente o Novo Testamento e veja que não há qualquer outra
identificável à luz da história secular senão esta.

Todos os quatro evangelhos relatam o batismo de Jesus, mas


apenas Lucas, o médico com vocação de historiador, nos dá um
detalhe precioso e único em termos cronológicos: a data de seu
batismo.
297

É necessária a leitura cuidadosa de Lucas 3:1-20 para nos


esclarecer qual o foco principal entre os assuntos ali tratados, pois
uma leitura desatenta pode nos levar a concluir que o evangelista
está datando o início do ministério de João e não propriamente o
batismo de Jesus. É bom que se reconheça que a maioria dos
comentaristas conclui que Lc 3:1 trata do início do ministério de João
Batista.

Quando se lê a Bíblia com o intuito de datá-la, fica nítida a dinâmica


dos autores sagrados no que se refere à sua cronologia. Os
comentaristas judeus, muito mais atentos a esta matéria que os
analistas cristãos, podem nos ensinar muito a este respeito, a
começar por uma pergunta que a regra mais básica da interpretação
bíblica nos obriga a fazer a respeito do texto em questão: Por qual
razão a única data fornecida no Novo Testamento inteiro apontaria
para um evento na vida de João Batista?

Lucas situa primeiramente o ano em que se dá o foco de seu relato,


o 15º ano de Tibério, sincronizando o imperador romano com os
demais líderes contextualizados naquele ano, entre os quais Pilatos,
governador da Judéia, Herodes, o tetrarca da Galiléia (filho de
Herodes, o Grande), Anás e Caifás, sumos-sacerdotes. Todos estes
terão algum tipo de relacionamento com Jesus.

Por passar a relatar a partir deste ponto eventos relacionados à vida


de João Batista, poder-se-ia compreender que a data se refere ao
início do ministério de João. No entanto, tal possibilidade não pode
ser aceita, pois Lucas nos faz sim, um breve relato de todo ministério
de João, sintetizando seu início, sua pregação às multidões, e
culmina dizendo que Herodes terminou por lançá-lo na prisão (Lc
3:20), para depois contar que Jesus foi por ele batizado (Lc 3:21).

Como o relato de Lucas cobre praticamente todo o ministério de


João, indo desde o seu aparecimento até a sua prisão, para só
depois mencionar o batismo de Jesus, entende-se desta forma que o
batismo é o assunto em foco. De outra forma a data não seria útil
para nada, pois nenhum outro assunto do texto em questão é por si
só uma âncora.

Não fosse assim, a qual evento da vida de João se referiria o ano 15


de Tibério? Seria o ano em que João começou a pregar o batismo de
arrependimento (v. 3), ou seria o ano em que foi preso por Herodes
(v. 20)? A que se referiria a data explicitada por Lucas?
298

Considerando todos os eventos relacionados a João, apenas dois


seriam datáveis: o início de seu ministério e o batismo de Jesus. Qual
o mais importante? Evidentemente que o batismo de Jesus.

O Apóstolo Paulo entende que se trata do batismo de Jesus, e de


maneira muito clara, em seu discurso na sinagoga de Antioquia da
Pisídia, conforme Atos 13:25, nos coloca que se trata do fim da
carreira de João, e consequentemente o início do ministério do
Senhor: "Mas João, quando completava a carreira, disse: Quem
pensais vós que eu sou? Eu não sou o Cristo; mas eis que após mim
vem aquele a quem não sou digno de desatar as alparcas dos pés.”

Compare agora com o contexto de Lucas 3:16: "Respondeu João a


todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que
vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno
de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito
Santo e com fogo.”

Pode-se assim concluir que Jesus foi batizado no 15º ano de Tibério
César no poder, correspondente ao ano 28 (DC) de nosso
calendário, data esta seguramente comprovada pela história secular.

Tibério, segundo todas as fontes históricas acreditadas passou a


reinar no ano 14 DC, ano da morte de Augusto. Desta forma, o ano
14 DC é seu primeiro ano de governo e 28 DC é seu 15°, uma vez
que 14 DC é contado como primeiro, seu ano de ascenção.

A data de Lucas (Lc 3:1) é a única âncora cronológica em todo o


Novo Testamento. Estejamos atentos a isto, pois não há nenhuma
outra data identificável por um calendário no Novo Testamento senão
esta. O único evento da vida de Jesus claramente mencionado por
um calendário é o seu batismo. Seria coincidência?

Partindo, desta forma, do ano 28 DC como data de seu batismo, e


sabendo que seu ministério durou cerca de três anos e meio, pois o
evangelho de João menciona três diferentes páscoas, podemos
concluir que Jesus foi crucificado em 30 DC, Ano Bíblico 3928.

Partindo, desta forma, do ano 28 DC como data de seu batismo, e


sabendo que seu ministério durou cerca de três anos e meio, pois o
Evangelho de João menciona três diferentes Páscoas (e a primeira
seria contada em 28), podemos concluir que Jesus foi crucificado em
30 DC, Ano Bíblico 3928.
299

Jesus teria sido batizado por João antes da Páscoa do ano 28 (Ano
Bíblico 3926).

O dia judaico 14 de Nisan no ano 28 equivale, conforme o calendário


abaixo, a 27 de Março, uma segunda-feira.

Temos, portanto, que concluir que o ministério de Jesus, que


comumente se diz ter durado cerca de três anos e meio, teria durado
no máximo três anos e três meses.

No calendário abaixo, que reproduz o calendário judaico oficial,


constam dois anos judaicos para 28 DC (3788 / 3789), porque o ano
judaico começou em Março.

Por consequência dos anos faltantes do calendário judaico, conforme


explicado anteriormente, a referência bíblica correta seria 3927 /
3928.

Hebrew Year: 3788 / 3789 / Março de 28


DOM SEG TER QUA QUI SEX SÁB
1 2 3 4
17 Adar 18 Adar 19 Adar 20 Adar
5 6 7 8 9 10 11
21 Adar 22 Adar 23 Adar 24 Adar 25 Adar 26 Adar 27 Adar
12 13 14 15 16 17 18
28 Adar 29 Adar 1 Nisan 2 Nisan 3 Nisan 4 Nisan 5 Nisan
19 20 21 22 23 24 25
10 11 12
6 Nisan 7 Nisan 8 Nisan 9 Nisan
Nisan Nisan Nisan
26 27 28 29 30 31
13 14 15 16 17 18
Nisan Nisan Nisan Nisan Nisan Nisan

Páscoa do Ano 28 (27 de Março - Segunda-feira)


300

A hipótese do nascimento de Jesus em 6 AC


Conforme Mt 2:1, algum tempo depois que Jesus nasceu, vieram
visitá-lo uns magos do oriente, que indagaram às pessoas de
Jerusalém sobre seu local de nascimento, fato que perturbou
Herodes, e toda Jerusalém. Acabam por localizar Jesus e ao se
despedirem são avisados para retornarem por outro caminho,
enquanto a família se refugia no Egito.

Herodes mandou então que fossem mortos todos os meninos


nascidos em Belém de dois anos para baixo (Mt 2:16), conforme seu
cálculo sobre a idade limite que teria Jesus nesta ocasião.

Conforme vimos pelos relatos de Josefo a respeito do caráter de


Herodes, é fácil compreender por qual razão ele veio a acrescentar
mais este crime hediondo à sua longa lista de pecados. Por medo de
perder o poder, Herodes veio a matar seus amigos e colaboradores
mais próximos: assassinou dois sumos-sacerdotes, um irmão, três
filhos, e a própria esposa. Como vemos, não lhe foi difícil tomar a
decisão de assassinar os infantes de Belém.

Desta forma, sabendo-se que a morte de Herodes é


consensualmente acreditada pelos historiadores em 4 AC,
descontados estes dois anos, poder-se-ia estabelecer o nascimento
de Jesus próximo a 6 AC. Parece razoável, uma vez que se alinha o
nascimento de Jesus com uma data historicamente aceita.

É oportuno lembrar que Dionísio, o Exíguo, estabeleceu que Jesus


nascera em 25 de Dezembro, a partir do que, a data foi fixada pela
igreja católica, sendo hoje aceita por quase todas as denominações
cristãs.

Tradição à parte, sabe-se que o natal foi fixado em 25 de Dezembro


porque pareceu bem à Igreja Católica fazer coincidir a celebração do
nascimento de Jesus com a mais importante data celebrada por
pagãos gregos e romanos naquele tempo, que se refere ao antigo
festival do nascimento do deus Sol, o que veio a facilitar
imensamente o sincretismo religioso e a aceitação da data no mundo
pagão. (The Golden Bough – O Galho Dourado - James George
Frazer – 1890, Pág 471).

Jesus nasceu provavelmente entre os meses de Agosto e Setembro


pelas evidências dos textos bíblicos, como por exemplo, a que
descreve os pastores de ovelhas fazendo a vigília do rebanho à noite
301

(Lc 2:8), o que seria impossível de acontecer em Dezembro, uma vez


que é inverno nesta época. Israel está localizado entre 29° e -33° ao
norte do Equador, o que caracteriza seu clima como subtropical, com
temperaturas no mês de Dezembro variando entre 5 e 18 graus
centígrados em Tel-Aviv, podendo chegar a zero grau nas cercanias
de Jerusalém e Belém.

José e Maria se deslocaram de Nazaré a Belém da Judéia por


ocasião do censo romano ordenado por Augusto Cesar, quando cada
chefe de família devia se apresentar em seu local de nascimento. Por
que razão os romanos fariam um censo em pleno inverno quando
poucas pessoas teriam condição de trafegar devido a dureza do
clima da estação?

Desta forma, se vincularmos o nascimento de Jesus ao fato


historicamente aceito de que a morte de Herodes ocorreu em 4 A.C.,
somos obrigados a concordar com seu nascimento entre 7 A.C. e
minimamente em 5 A.C.

Se concordamos com 6 A.C., neste caso como o mais provável ano


do nascimento de Jesus, por decorrência teríamos que concluir que
Jesus foi crucificado aos 35 anos de idade, o que contraria a
informação passada por Lucas (Lc 3:23) que Jesus tinha cerca de 30
anos quando foi batizado. Estaria correto?

30 DC
-6 AC
35

Não existe ano zero no calendário gregoriano, uma vez que o ano
anterior a 1 é 1 A.C., e não zero.

Há, de fato, dois fatores importantes a serem considerados para


concluirmos o ano de nascimento de Jesus: a morte de Herodes, e
as datas relacionadas à estrela de Belém.

Conforme as leis de Kepler, podemos determinar com exatidão, em


qualquer época da história, em qualquer data, qualquer hora e
minuto, a posição de qualquer estrela ou planeta. Podemos
“enxergar”, com precisão absoluta, o céu que estava sobre Colombo
quando este chegou ao continente americano em 12 de outubro de
1492.
302

Nesta ótica, examinaremos as principais teorias a este respeito na


tentativa de encontrar nossa estrela sobre a cidade de Belém da
Judéia. Esgotemos, antes disto, as questões referentes à morte de
Herodes.

A questão da morte de Herodes


A história data insistentemente a morte de Herodes em 4 AC. Sua
morte nos é importante, pois, conforme vimos anteriormente,
Herodes mandou que fossem mortos os meninos nascidos em Belém
dois anos antes da data obtida dos magos, o que estava, por sua
vez, relacionada ao surgimento da estrela vista por eles no oriente.
Desta forma, o nascimento de Jesus teria que ter ocorrido antes
disto, entre 5 e 7 AC.

Relatos de historiadores antigos, tais como Irineu, Hipólito de Roma,


Orígenes, Clemente de Alexandria, Cassiodorus, Julius Africanus,
Tertuliano, Hipólito,Euzébio, e Jerônimo, entre outros, colocam o
nascimento de Jesus entre 2 e 3 AC, valendo assim, o seu
testemunho histórico, pois seus registros mostram aquilo que seria o
consenso geral a respeito desta questão nos primeiros séculos da
igreja.

Ainda segundo o consenso geral entre os historiadores, a data da


morte de Herodes foi fixada baseada numa informação de Flávio
Josefo que relata a ocorrência de um eclipse lunar pouco tempo
antes de sua morte, que veio a ocorrer antes da Páscoa daquele
ano. Desta forma, a morte de Herodes teria ocorrido antes de abril.

Conforme veremos, examinando os textos de Josefo, qualquer leitor


que desconhecesse o fato de a história datar oficialmente a morte de
Herodes em 4 AC, lendo os seus textos, jamais a dataria da mesma
forma, uma vez que Josefo dá uma informação muito mais segura
sobre este evento, quando explica que Herodes reinou 37 anos
desde a sua nomeação por Marco Antônio, e 34 anos depois de
haver expulsado seu antecessor Antígono da Judéia. Herodes foi
confirmado rei da Judéia em 37 AC, e só esta informação já seria
suficiente para datar sua morte em 1 AC.

No contexto do parágrafo 741, do capítulo X, do Livro XVII das


Antiguidades Judaicas, Josefo relata os acontecimentos ocorridos
depois que ele ordenou a morte de seu filho Antípatro, que seria,
segundo seu testamento, seu principal herdeiro. O contexto é a
303

mudança do testamento de Herodes. Josefo relata assim o


acontecimento:
"Herodes mudou imediatamente o seu testamento. Em lugar do
precedente, em que tinha nomeado Antipas, seu sucessor,
contentou-se neste em nomeá-lo, tetrarca da Galiléia e da Peréia;
deu o reino a Arquelau; a Filipe seu irmão, a Traconítida, a Gaulanita
e a Batanéia, que erigiu em tetrarquia; a Salomé, sua irmã, jamnia,
Azoto e Fazaelite, com cinquenta mil peças de prata. Deu ainda
grandes presentes a todos os outros parentes, quer em dinheiro quer
em rendimentos anuais: deu a Augusto, além de sua baixela de ouro
e de prata, grande quantidade de móveis e objetos preciosos, dez
milhões de peças de prata e cinco milhões idênticas, à imperatriz e a
alguns de seus amigos. Ele sobreviveu a Antipatro (filho de
Herodes), apenas cinco dias, e morreu trinta e quatro anos depois de
ter expulso Antígono do reino e trinta e sete, depois de ter sido
declarado rei, em Roma. Não houve jamais príncipe mais colérico,
mais injusto, mais cruel e mais favorecido pela sorte. Pois, tendo
nascido em condição humilde, chegou a subir ao trono, venceu
perigos sem conta e viveu muitos anos. Quanto aos seus dissabores
domésticos, embora as tentativas de seus filhos contra ele o
tivessem tornado muito infeliz, segundo meu parecer, ele foi mesmo
feliz nisso, segundo o juízo que disso ele fazia, porque não os
considerando mais como seus filhos, mas como inimigos, ele os
castigou e vingou-se deles.”

Antígono, antecessor de Herodes, era considerado por Marco


Antônio inimigo dos romanos, além de perigoso e faccioso, e desta
forma, vendo que ele consistia ainda numa ameaça a Herodes,
mandou matá-lo. A morte de Antígono, a quem Marco Antônio
mandou cortar a cabeça, é relatada no Vol IV, Livro XV, Capítulo I,
parágrafo 628 das Antiguidades Judaicas, sem qualquer referência à
data do acontecimento.

Não obstante haver uma informação tão clara datando a morte de


Herodes 37 anos depois de ser nomeado governador da Judéia,
prefere, a maioria dos historiadores, se valer de outro indicativo da
data de sua morte: a ocorrência do mencionado eclipse, conforme
relato da mesma obra em seu capítulo VIII.

Este capítulo trata de um acontecimento em que alguns judeus


arrancam do portal do Templo uma grande águia de ouro que
Herodes havia ali colocado. Corria naqueles dias um boato de que
Herodes, já muito doente, havia morrido, de maneira que um grupo
de judeus animou-se em arrancar e destruir aquele símbolo que
304

afrontava os dois primeiros mandamentos de Moisés. E de fato o


fizeram, à luz do dia, perante uma grande multidão que estava no
Templo. Alguns deles foram presos e julgados por Herodes, que
mandou queimar vivo o líder dos revoltosos, um homem de nome
Matias, muito bem visto e querido por todos. O texto de Josefo
completa a narrativa dizendo que "naquela mesma noite sobreveio
um eclipse da lua.”

1 AC
7 de Janeiro Eclipse total
4 de Julho Eclipse total

2 AC
18 de janeiro Eclipse parcial
15 de Julho Eclipse parcial

3 AC
29 de janeiro Eclipse penumbral
28 de Fevereiro Eclipse penumbral
25 de Julho Eclipse penumbral
24 de Agosto Eclipse penumbral

4 AC
11 de Março Eclipse parcial
3 de Setembro Eclipse parcial
Tabela de Eclipses lunares entre 4 AC e 1 AC

Este fato, conforme se pode observar na tabela acima, parece


também haver sido mal interpretado, uma vez que no ano 4 AC, os
dois Eclipses lunares ocorridos foram parciais, não sendo, desta
forma, fatos dignos de destaque, enquanto se observa que no 1 AC
houve dois Eclipses totais da lua, tendo o primeiro deles ocorrido em
7 de janeiro, o mais indicativo de ser o referido por Josefo.

A razão pela qual os historiadores provavelmente optam pelo eclipse


de 4 AC deve-se ao fato de que a narrativa subsequente ao
acontecimento está mais próxima da Páscoa daquele ano, cerca de
um mês, que por sua vez, veio a ocorrer em abril. Desta forma,
acreditam os historiadores, que os fatos narrados se ajustam melhor
num período mais curto. É um raciocínio aceitável, mas pouco
provável, uma vez que num relato histórico de cerca de quatro mil
anos seria difícil, ou impossível, determinar com exatidão a duração
dos fatos narrados.
305

Além disto, adotar a referência do dito eclipse passaria por cima do


único indicativo claro acerca da morte de Herodes, este por sua vez
muito mais preciso, onde Josefo diz que ele " morreu trinta e quatro
anos depois de ter expulso Antígono do reino e trinta e sete, depois
de ter sido declarado rei, em Roma", argumento este mais que
suficiente por si só para determinar a data de sua morte.

Na mesma obra referida, no Livro XV, capítulo VII, parágrafo 644,


Josefo data indiretamente o início do governo de Herodes, quando
relata a ocorrência de um grande terremoto na Judéia. Vejamos o
texto: "No sétimo ano do reinado de Herodes, o mesmo em que se
deu a batalha de Áccio, entre Augusto e Antônio, aconteceu na
Judéia o maior terremoto de que ali se teve notícia.”

A batalha de Áccio deu-se, conforme consenso histórico, em 31 AC,


e desta forma, a informação de que Herodes iniciou seu governo em
37 AC é bastante segura. Herodes reinou 37 anos, vindo a falecer,
portanto, no ano 1 AC, como já advogam nos dias de hoje muitos
pesquisadores.

Acatar esta data como correta nos coloca mais próximos de outros
resultados consequentes, mais aceitáveis à luz daquilo que a
Escritura nos revela, tal como o fato de Jesus ter cerca de 33 anos
ser crucificado, e haver nascido entre 3 AC e 2 AC, o que também se
coaduna mais com o parecer da igreja primitiva. Mesmo assim,
analisemos ainda que por curiosidade, a questão referente à Estrela
de Belém.

A Estrela de Belém
Na Bíblia, a adoração dos astros foi proibida pela Lei de Moisés,
conforme se lê em Deuteronômio 17:3-5: "se for, e servir a outros
deuses, e se encurvar a eles ou ao sol, ou à lua, ou a todo o exército
do céu, o que eu não ordenei, e te for denunciado, e o ouvires; então
bem o inquirirás; e eis que, sendo verdade, e certo que se fez tal
abominação em Israel, então tirarás o homem ou a mulher que fez
este malefício, às tuas portas, e apedrejarás o tal homem ou mulher,
até que morra.”

Curvar-se, portanto, diante do exército celeste, aos astros de uma


maneira geral, que é o que faz a astrologia, é contra a Lei de Deus, e
é nisto que incorrem os que leem horóscopo, mapa astral, e coisas
afins. É Deus quem determina a história e não a astrologia.
306

Por outro lado, por toda a Escritura, os autores sagrados sempre se


valeram dos astros para revelar a grandeza e os sinais da parte de
Deus, tanto no Antigo Testamento como no Novo. Davi, revelando ter
uma grande consciência quanto à graça infinita de Deus diz no
Salmo 8: "Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as
estrelas que preparaste; Que é o homem mortal para que te lembres
dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o
fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com
que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste
debaixo de seus pés.”

Para além de exaltar por toda a Bíblia a majestade de Deus, os


astros são também usados para nossa advertência. O Profeta Joel,
por exemplo, diz que nos últimos tempos "o sol e a lua enegrecerão,
e as estrelas retirarão o seu resplendor.” (Joel 3: 15) O Profeta está
em perfeita sincronia com o Senhor Jesus, quando este, no Sermão
Profético, confirma estas palavras dizendo que "logo depois da
aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e
as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.”
(Mt 24:29)

A Estrela de Belém é um destes muitos sinais da Bíblia, usada, por


sua vez, para marcar para sempre nas estrelas, a chegada do
redentor da humanidade.

Talvez, por ser um fenômeno fácil de ser imaginado, é difícil de ser


explicado com exatidão em termos científicos. Nossa imaginação nos
leva a pensar que fosse algo como um cometa, ou mesmo uma Nova
ou Super Nova, algo extraordinário. Nova e Supernova são
fenômenos semelhantes, variando apenas em função do tamanho
das estrelas que os causam. Enquanto uma Nova se refere a uma
estrela anã, a Supernova se refere a uma estrela de grande massa,
10 vezes maior que o nosso Sol.

Quando termina o seu combustível, no caso de uma Supernova,


ocorre uma explosão que libera a mesma energia que o Sol
produziria em toda a sua expectativa de vida, ou seja, em 10 bilhões
de anos, e desta forma, uma explosão de tamanha magnitude
poderia ser observada da Terra, a olho nu, por diversos meses
seguidos.

Em nossos dias, com a popularização da ciência pela TV e pela


internet, quase todos têm conhecimento destes fenômenos, mas não
deixa de chamar a nossa atenção o que o rei Davi, quase mil anos
307

antes de Cristo, escreveu no Salmo 102:25-26: "Desde a antiguidade


fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão,
mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido;
como roupa os mudarás, e ficarão mudados.”

Como poderia alguém ter naqueles remotos tempos de tão pouca


ciência conhecimento de que as estrelas envelhecem?

Voltando ao nosso assunto, o último registro de uma Supernova


ocorrida em nossa galáxia, a Via Láctea, ocorreu em 1604, tendo
sido observada por Kepler, sobre quem falaremos adiante, que a
estudou juntamente com o dinamarquês Tycho Brahe. Este
fenômeno, cujo brilho durou nos céus por 18 meses, de outubro de
1604 a abril de 1605, veio derrubar o conceito estabelecido por
Aristóteles de que o Universo era fixo e imutável.

Pode-se concluir, portanto, que se a nossa estrela fosse uma


Supernova, ou mesmo ainda um cometa, todos a teriam visto,
incluindo Herodes, que conforme o texto de Mateus nada sabia a
este respeito, nem ele, nem os habitantes de Jerusalém. Mateus 2:7
nos dá conta de que o próprio Herodes "inquiriu exatamente deles
(os magos) acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera.”

Desta forma, podemos primeiramente concluir que qualquer pessoa


comum, sem conhecimento astronômico, nada teria visto nos céus de
Israel. Já os magos, astrônomos experientes, habituados à rotina
celeste, acompanharam um fenômeno tão extraordinário, que o
entenderam como algo sobrenatural, um sinal, e conforme o
consenso geral, concluíram que a estrela indicava o nascimento de
um rei. Seria isto?

Se a estrela indicasse a eles, que estava por nascer o futuro rei dos
judeus, que importância teria isto no contexto mundial a ponto de
fazer estes sábios se deslocarem desde o oriente até o pequeno
Israel? O que era Israel naquele tempo? Saberiam os magos a qual
nascimento se referia a estrela? Conheceriam eles as escrituras
sagradas?

Com certeza conheciam. Se não conhecessem, faria sentido pensar


que empreendessem esta jornada, se houvesse nascido, num caso
concreto, um novo imperador de Roma, aquele que num futuro
próximo governaria todo o mundo, mas não um rei da Judéia.
308

No entanto, quando pensamos na insignificância política do Israel


daquele tempo, somos de fato obrigados a concluir que os magos
conheciam as escrituras, e desta forma, sabiam perfeitamente que a
estrela não indicava um nascimento qualquer, mas sim, do Rei dos
reis, o Messias, o filho de Deus.

Desta forma, é bastante plausível entender que estes magos fossem


não propriamente descendentes de Abraão, mas sim estudiosos da
cultura de seu tempo, e com certeza absoluta, conhecedores dos
textos sagrados que revelavam a vinda do Messias. Caso fossem
hebreus, as escrituras os revelariam como tal, mas certamente não
eram.

O Evangelho de Lucas, por exemplo, nos mostra o comportamento


dos crentes judeus quando se deu o nascimento de Jesus, desde
Isabel e Zacarias, os pais de João Batista, até os pastores, e Simeão
e Ana, que adoraram Jesus na qualidade de filhos de Abraão. Todos
se identificam como descendentes de Abraão, e como tal, entendem
pela Escritura que sinais inequívocos revelam que é chegada a
plenitude dos tempos.

A teoria de Kepler quanto à Estrela de Belém


No campo da ciência, Johannes Kepler (1571 - 1630), astrônomo e
matemático alemão, foi o primeiro cientista moderno a se interessar
pela Estrela de Belém. Foi Kepler quem descreveu as leis dos
movimentos planetários que são utilizadas até os dias de hoje por
todos os astrônomos. Kepler é para a astronomia o que Newton é
para a física.

Por volta de 1603, Kepler, observando o alinhamento de Júpiter e


Saturno, intuiu que a Estrela de Belém poderia se referir ao mesmo
fenômeno, e desta forma, usando suas próprias leis, e baseado no
consenso histórico de que Herodes havia morrido em 4 AC, recriou a
posição destes astros nos céus de Jerusalém entre os anos 7 AC a 5
AC.

Como resultado desta simulação, Kepler constatou ter ocorrido três


conjunções de Júpiter e Saturno em 27 de maio, 5 de outubro e 1 de
dezembro, todas no ano 7 AC, sugerindo desta forma, que este
fenômeno fosse a nossa estrela.
309

Para efeito de ilustração, a figura acima mostra (no centro) as


posições de Júpiter e Saturno em 16 de abril de 7 AC, pouco mais de
um mês antes da conjunção apontada por Kepler na Constelação de
Peixes. O grande brilho à esquerda é o Sol. A imagem serve apenas
para demonstrar, quando comparada com a imagem seguinte, como
se deu a aproximação destes dois planetas neste espaço de tempo.

A imagem acima reproduz o que Kepler teria "visualizado" em 1 de


dezembro de 7 AC. A data -6 precisa do acréscimo de 1 ano, pois o
simulador usado admite o ano 0. De fato, o efeito desta aproximação,
para quem observasse o fenômeno da Terra, redundaria num brilho
310

dos planetas bastante acima do normal. Seria esta a Estrela de


Belém?

Conforme vimos, à luz da interpretação histórica, pode-se concluir


com certa segurança que os dados de Flávio Josefo acerca da morte
de Herodes foram mal interpretados, sugerindo o nascimento de
Jesus em torno de 6 AC, e desta forma, a “estrela” de Kepler não
seria a dos magos, uma vez que, baseado em uma data histórica
errada, reproduz o céu muito antes do nascimento de Jesus.

Mesmo sendo um gênio, imagine-se a dificuldade em fazer a mão


todos estes cálculos, quanto tempo e trabalho deve ter custado a
Kepler.

Nos dias de hoje, graças aos computadores, podemos recriar a


mesma simulação de Kepler em questão de minutos. A bem da
verdade, podemos, mesmo sendo pessoas sem qualquer
qualificação em astronomia, fazer muito mais do que ele fez, pois os
softwares de astronomia nos permitem varrer os céus segundo a
segundo, e desta forma, localizando primeiramente as datas fixadas
por Kepler, podemos ver a movimentação destes planetas de um dia
para o outro, ou com variação de minutos, o que para quem observa,
é o resultado semelhante a um filme.

Kepler não encontrou a nossa “estrela”, mas foi o primeiro astrônomo


moderno a lançar luzes sobre o fenômeno.

Outras teorias sobre a Estrela de Belém


Há outras teorias a respeito da Estrela de Belém, como por exemplo,
a do astrônomo Mark Thompson, membro da Real Sociedade
Astronômica Britânica, que defende que o fenômeno se refere à
conjunção de Júpiter e Regulus, a principal estrela da constelação de
Leão, que entraram em conjunção em 14 de setembro de 3 AC, 17
de fevereiro de 2 AC, e 8 de maio de 2 AC.
311

A imagem acima mostra, para efeito de se entender a movimentação


de Júpiter em direção a Regulus, o campo celeste em 29 de agosto
de 3 AC, tendo no centro da imagem o planeta Júpiter no plano
eclíptico, e abaixo a estrela Regulus, a principal da Constelação de
Leão.

A imagem acima mostra Júpiter e Regulus em conjunção no dia 14


de setembro de 3 AC, duas semanas depois da posição exposta na
imagem anterior. Note-se que a data aponta o ano -2 que se refere a
3 AC pelo fato de software admitir ano zero, que não existe no
calendário gregoriano.
312

Frederick A. Larson, é outro entusiasta da teoria de que a Estrela de


Belém se refere ao encontro de Júpiter e Regulus. Larson é autor do
livro e DVD "The Star of Bethlehem", cuja apresentação está
resumida no website www.bethlehemstar.net.

De acordo com suas conclusões, a partir de 13 de setembro de 3 AC


ocorre uma concentração de símbolos nas estrelas, o que levaria os
magos a concluir que o Rei dos reis havia nascido, sendo que em 18
de junho de 2 AC, Júpiter coroa a estrela Regulus, indo depois disto
se encontrar com Vênus, o planeta que simboliza a mãe.

Ainda segundo seu relato, esta conjunção foi tão espetacular que é
mostrada por centenas de planetários por todo mundo, por cientistas
que nada sabem a respeito do nascimento de Jesus.

Como vemos, a teoria do alinhamento de Júpiter e Regulus tem boa


aceitação e foi desenvolvida por diversos outros autores. Têm como
um dos pontos fortes a relação de importância que estes astros
possuem, de acordo com a tradição oriental, sobretudo no que diz
respeito à simbologia judaica: Júpiter, por ser o maior dos planetas
de nosso sistema solar, onze vezes maior que a Terra, é tido como
símbolo de realeza. É chamado o planeta rei; Regulus, do latim Rex,
também significa rei, e é a estrela mais brilhante da Constelação de
Leão. O leão é o símbolo da Tribo de Judá, e a ancestralidade de
Jesus vem desta ascendência. A conjunção proposta aconteceu na
Constelação de Leão.

Simulando a trajetória de Júpiter em direção a Regulus, de fato a rota


poderia guiar os magos que vinham do oriente em direção ao
ocidente até Jerusalém, uma vez que é este é o deslocamento
natural dos planetas.

De Jerusalém, conforme Mateus, quando retornaram, em direção a


Belém, fariam agora a rota ocidente - oriente, o contrário da vinda.
Também neste caso Júpiter faz este movimento, que é chamado em
astronomia de movimento retrógrado, durante o qual, por um certo
tempo, do ponto de vista de quem observa da Terra, Júpiter
pareceria estar parado sobre Belém. Isto pode ser comprovado pela
simulação em software, e numa analogia simplória, seria como
alguém que vem de carro por uma estrada a 90 km por hora e
ultrapassa um carro que vai a 80 km por hora. No momento da
ultrapassagem, por breve espaço de tempo, tem-se a impressão que
o carro que está sendo ultrapassado se encontra parado, e a seguir à
ultrapassagem, que o carro ultrapassado segue em sentido contrário.
313

É o caso de Júpiter com relação à Terra, pois suas velocidades de


translação, a volta ao redor do Sol, são muito diferentes, uma vez
que o ano de Júpiter dura 12 anos terrestres.

Há, no entanto, que se analisar estas explicações com muita cautela,


pois há em muitas destas teorias uma grande carga de
sensacionalismo, como por exemplo, o fato de algumas incluírem
mais conclusões do que o assunto em foco demanda.

Exemplificamos duas situações recorrentes e comuns a algumas


teorias: uma, a que se refere ao 25 de dezembro, que como se sabe,
é apenas uma tradição, além de ser uma data muito improvável,
como já vimos. Mesmo assim, alguns analistas pegam fatos
astronômicos ocorridos nesta data, no mesmo ano da conjunção
proposta, e vinculam com o tema, de maneira a fazer coincidir
perfeitamente todas as respostas.

Outra situação forçada diz respeito ao fato de que nas datas


analisadas, no mês de setembro de 3 AC, a Constelação de Leão se
encontra oposta à Constelação de Virgem, e desta maneira, alguns
intérpretes forçam uma analogia relacionando este fato com o texto
contido em Apocalipse 12, onde a mulher após dar a luz a um
menino é perseguida pelo dragão que objetiva matar a criança. Desta
forma, Apocalípse 12 entra, segundo algumas destas teorias, no
contexto revelado pelas estrelas na data em questão, significando
que a mulher é Maria, a criança é Jesus e o dragão é Herodes, que
busca matar a criança. Não tem qualquer sentido como profecia uma
vez que Apocalipse foi escrito 60 anos depois da crucificação de
Jesus, quando seu nascimento teria ocorrido quase um século antes.

Ora, na ânsia de querer colocar todos os ovos na mesma cesta,


estes analistas jogam por terra toda a explicação natural contida em
suas teorias, fazendo desta forma com que as mesmas sejam
deixadas de lado por quem espera encontrar um mínimo de
racionalidade. É fato que algumas pessoas abraçam abertamente
estas teorias e as defendem como revelação divina. No entanto, há
que se estar atento ao exagero de coincidências.

Seja como for, seja qual for, é certo que a Estrela de Belém nos
remete a um fenômeno natural, porém dificílimo de ser apontado com
exatidão.

Se você, por exemplo, examinar os céus através de um destes


softwares de simulação na data de seu nascimento, com certeza irá
314

encontrar algum tipo de alinhamento planetário, ou de um planeta


com uma estrela, ou duas estrelas. E daí? O que isto quer dizer?

O fato é que ao saírem da linha racional da astronomia, entram na


irracionalidade da astrologia, que Kepler, menos rigoroso que
Moisés, tratava como "a filha tola da astronomia.” Kepler observou
em sua obra intitulada Tertius Interveniens, que "o mundo, afinal de
contas, é muito mais tolo. É de fato tão tolo, que esta velha e
sensível mãe, a astronomia, é mal falada por força das travessuras
tolas de sua filha.”

Uma destas teorias está certa, e se nenhuma destas estiver, a


explicação razoável para a estrela é que tenha sido de fato algum
fenômeno semelhante a estes, e assim, se concordamos com o
nascimento de Jesus em 3 AC, então o ano que os magos teriam
avistado a estrela pela primeira vez teria sido 5 AC, e assim teríamos
que segui-la até 3 AC. Se concordamos com outra data para o
nascimento de Jesus, dois anos antes dela estaria nos céus o sinal
da estrela.

Uma última observação importante, é que se fosse possível


determinar com exatidão o dia em que a estrela pairou sobre Belém,
este dia revelaria a data em que os magos chegaram ao local onde
estava Jesus, mas nada diria sobre o seu nascimento, pois,
conforme já vimos pelo texto de Mateus, as datas estão separadas,
não se sabendo ao exato por quanto tempo. Alguns propõem que
seja por cerca de 40 dias, enquanto outros perto de um ano.

Caso queira fazer você mesmo as suas simulações a respeito destas


datas, baixe gratuitamente em seu computador o excelente software
Stellarium no endereço: http://www.stellarium.org/

A visita dos magos a Jesus


Somos, de uma maneira geral, levados a pensar no nascimento de
Jesus fortemente influenciados pelas imagens dos presépios
expostos na época do natal. Formamos, desta maneira, a idéia do
menino Jesus deitado numa manjedoura, cercado pelos pais, pelos
anjos, os pastores, os animais, e os magos que vieram do oriente
para homenageá-lo. Por cima do recinto paira a Estrela de Belém.

Como no caso que estivéssemos vendo uma fotografia deste


instante, fatos, personagens e tempo se fundem na impressão de
que estas coisas todas se sincronizam numa determinada hora de
315

um determinado dia. Ninguém está fora do alcance da sugestão


destas imagens, uma vez que o comércio se encarrega de divulgá-
las todos os anos desde muito antes da celebração do natal.

A imagem, no entanto, nos serve como ponto de partida para


analisar os principais eventos do nascimento de Jesus, pois sugere
que aconteceram juntas, coisas que estão separadas por um
considerável espaço de tempo, seu nascimento e a visita dos magos.

A estrela pairando sobre a cidade de Belém, em termos reais,


conforme vimos, marca um evento acontecido cerca de dois meses
após o nascimento de Jesus, quando os magos chegam à pequena
cidade para homenagear o menino. A tradição costuma tratá-los
como reis magos, o que provavelmente é decorrente da interpretação
do Salmo 72:11, que diz: "e todos os reis se prostrarão perante ele;
todas as nações o servirão.” A Bíblia não diz quantos eram os
magos. Inferimos que seriam três porque foram três os presentes
trazidos: incenso, mirra e ouro.

Conta Mateus que vieram a Jerusalém seguindo a estrela que lhes


aparecera no oriente. Algumas versões da Bíblia os chamam de
magos, outras, por sábios, o que é mais adequado - 'khar-tome', que
tem sua origem, conforme o Dicionário Strong, no idioma caldeu,
significando literalmente mágico. Mateus 2:1 os trata pela palavra
grega magos ( μάγος), cuja definição se aproxima mais de um
cientista do oriente, um sábio.

O sentido com o que entendemos o significado da palavra mago nos


dias de hoje difere substancialmente de seu significado no tempo do
relato de Mateus. Para nós, um mago é uma pessoa que tem
habilidade de fazer truques, ou ainda num sentido mais místico,
alguém com poderes sobrenaturais. No relato de Mateus, se refere a
sábios, pessoas com grande conhecimento em astronomia,
habituados desta forma, a lidar com os dados complexos que lhes
permitiam a análise da ciência astronômica. Magos ou sábios, como
quer que os tratemos, suas imagens estarão sempre conectadas à
Estrela de Belém.

Oito dias após seu nascimento, conforme Lucas 2:21, Jesus, no


cumprimento da Lei de Moisés foi circuncidado. Mais 33 dias se
passam no cumprimento dos dias da purificação de Maria, até que
Jesus foi levado ao Templo, em Jerusalém, para ser apresentado ao
Senhor. (Lc 2:22)
316

É preciso recordar que logo após a visita dos magos a família é


advertida para seguir para o Egito, pois Herodes iria procurar a
criança para matá-la, e desta forma, todos os rituais previstos na lei,
a circuncisão e a purificação de sua mãe, já haviam sido cumpridos
antes da visita.

A lei, conforme Levítico 12:1-4, dizia assim: "Se uma mulher


conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como
nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda. E no dia
oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio. Depois
ficará ela trinta e três dias no sangue da sua purificação; nenhuma
coisa santa tocará e não entrará no santuário até que se cumpram os
dias da sua purificação.”

Somente depois disto vieram os sábios do oriente homenagear


Jesus, e desta forma, os dois eventos, o nascimento, e a visita dos
magos, estão separados por um período mínimo de quarenta e um
dias, e conforme o relato de Mateus, a família já estava na ocasião
instalada em uma casa onde "acharam o menino com Maria sua mãe
e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-
lhe dádivas: ouro, incenso e mirra.” (Mt 2:11)

Alguns defendem que este período poderia ser maior, entre um e


dois anos depois do nascimento. No entanto, parece que é mais
razoável que a visita tenha de fato ocorrido logo depois da
purificação de Maria, pois, sendo a família residente em Nazaré, de
onde vieram a Belém apenas para cumprir com a obrigação imposta
por Augusto, seria natural permanecerem na cidade até o
cumprimento da purificação de Maria, e a apresentação de Jesus no
Templo, uma vez que Belém está muito próxima de Jerusalém, cerca
de 15 km.

3 AC– o nascimento de Jesus


(A.B. 3896)

Obviamente todos os fatos analisados até aqui com relação à morte


de Herodes e a Estrela de Belém são importantes, mas pode-se
perceber que nenhum deles é por si só suficiente para se estabelecer
com precisão a cronologia da visita dos magos, ou do nascimento de
Jesus. Precisamos de outro indicativo, pois não podemos
simplesmente retroagir dois anos a partir da morte de Herodes, seja
ela aceita como 1 AC ou 4 AC, e concluir que os magos tenham
avistado, conforme as teorias vistas, a estrela nestas datas, muito
317

menos chegar ao nascimento de Jesus desta forma. Não há lógica


para isto, uma vez que não há nenhuma informação que vincule com
absoluta precisão estes fatos.

Veja que embora as teorias que datam o surgimento da Estrela de


Belém falem concretamente de fenômenos muito convincentes,
estas, por si mesmas, não nos permitem acatar com exatidão
nenhuma data.

Temos então que utilizar a informação de Lucas 3:23 como âncora


da data de nascimento de Jesus, onde o evangelista nos diz que na
época de seu batismo, portanto, no início de seu ministério, "o
mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos.”

Lucas enfatiza a idade de Jesus mostrando claramente que de


acordo com a Lei de Moisés ele estaria apto para o ministério: "Da
idade de trinta anos para cima até aos cinquenta anos, será todo
aquele que entrar neste serviço, para fazer o trabalho na tenda da
congregação" (Números 4:3).

Constatamos também que Jesus foi batizado no ano 28 DC, 15° ano
do governo de Tibério César (Lc 3:1). Retroagindo os 30 anos de
Jesus na ocasião, temos que seu nascimento, de acordo com a
informação de Lucas, deu-se, com maior probabilidade, em 3 AC.

O Apóstolo Paulo nos diz em Gálatas 4:4 que na "plenitude dos


tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei.” Plenitude dos tempos significa o tempo cumprido, que cumpriu-
se o tempo, completou-se o tempo, que a soma de tudo está
cumprida. Em termos concretos, a plenitude dos tempos reflete em 3
AC um mundo pronto para receber o Evangelho, dado primeiro aos
judeus, e depois aos gentios.

Já nos primórdios da Igreja, quando o poder religioso se sente


ameaçado pelo caráter universal das boas novas de Deus, vem a
perseguição sobre os primeiros cristãos, que fugindo de seus
perseguidores, levam o Evangelho pelas estradas romanas. Todos
os caminhos levam a Roma, diz o ditado até os nossos dias, e é por
elas que os primeiros seguidores de Jesus andaram até os confins
da Terra espalhando a mensagem do Evangelho.

Na plenitude dos tempos, o mundo usa o grego, como língua


universal, de maneira que a proclamação da mensagem de Jesus
transcende as fronteiras do aramaico falado em Israel, e permite sua
318

perfeita compreensão na língua franca daqueles tempos. Coube,


desta forma, a Alexandre, o Grande, que impôs o grego como língua
franca do mundo, um importante papel na preparação da vinda do
Messias prometido. No tempo de Jesus, judeus da diáspora e gentios
já tinham acesso à Septuaginta completa, todos os livros do Antigo
Testamento em idioma grego.

Coube a Roma interligar os principais centros comerciais à capital do


império, bem como sedimentar os conceitos de cidadania e justiça.
Deus é o Senhor da história, e na plenitude dos tempos satisfizeram-
se todas as condições para a vinda de Jesus, não somente as
materiais, como também o cumprimento de todas as evidências que
as profecias milenares haviam antecipado no curso da história de
Israel.

Foram 1948 anos de Adão até o nascimento de Abraão; outros 1948


anos desde Abraão até o nascimento de Jesus; mais 1948 anos até
o restabelecimento do estado de Israel. Coincidência?

3 AC- a fuga para o Egito e a matança dos inocentes


(A.B. 3896)

Uma vez cumprida a apresentação de Jesus no Templo e a


purificação de Maria, nada mais impedia que a família retornasse a
Nazaré, seu local de residência. Tendo sido, no entanto, advertidos
por sonho que Herodes buscaria a criança para matá-la, seguiram
para o Egito, onde permaneceram por cerca de dois anos até que
Herodes estivesse morto.

Quando Herodes deu por falta de algum retorno da parte dos magos,
logo concluiu que haviam partido, e desta forma, tomando como base
a data que lhe haviam informado sobre o aparecimento da estrela,
mandou que fossem mortos todos os meninos nascidos em Belém de
menos de dois anos.

1 AC– o retorno a Nazaré


(A.B. 3898)

Depois da morte de Herodes a família retornou a Nazaré, muito


provavelmente em 1 AC, uma vez que Herodes faleceu, conforme
vimos, antes da Páscoa daquele ano.
319

Ano 1– Ano Domini


(A.B. 3899)

Uma vez que o Ano Bíblico 3926 equivale ao ano gregoriano 28 DC,
temos que o Ano Domini, ano 1 de nossa era, corresponde ao Ano
Bíblico 3899. Desta forma, são contados de acordo com a Bíblia,
3899 anos desde a criação de Adão até o ano 1 de nossa era, o que
de fato, conforme vimos, não corresponde ao ano do nascimento de
Jesus.

A adoção do calendário gregoriano


Jesus nasceu em plena vigência do uso de dois calendários distintos:
o romano (AUC - Ano Urb Conditae), cujo tempo era contado desde
a fundação de Roma, e o calendário juliano instituído por Júlio César
em 46 AC.

O calendário gregoriano, este que usamos em nossos dias, foi


promulgado pelo papa Gregório XIII em 24 de Fevereiro de 1582 em
substituição ao calendário Juliano, vindo a ser implantado no mesmo
ano, no dia 15 de Outubro. Foi o resultado de um trabalho de cinco
anos com o objetivo de corrigir um erro de onze dias acumulados
pelo calendário juliano, fazendo assim regressar o equinócio da
primavera do hemisfério norte a 21 de Março.

Em astronomia, equinócio é o instante em que o Sol, conforme visto


da Terra, cruza o plano do equador celeste, redundando em que o
dia e a noite duram o exatamente o mesmo tempo. O significado da
palavra equinócio (noites iguais) vem do latim aequos (igual) e nox
(noite), ou seja, dia e noite com exatamente 12 horas. Os equinócios
ocorrem nos meses de Março e Setembro, definindo assim a
mudança nas estações. Em março inicia a primavera no hemisfério
norte, e o outono no hemisfério sul; em Setembro ocorre o inverso,
iniciando a primavera no hemisfério sul e o outono no hemisfério
norte.
320

Desta forma, a reforma gregoriana fez com que o dia seguinte a 4 de


Outubro de 1582, uma quinta-feira no calendário juliano, fosse o dia
15 de Outubro, sexta-feira, no calendário gregoriano, eliminando
assim os 11 dias acumulados desde 46 AC pelo fato de o ano juliano
ser 11 minutos mais longo que o gregoriano.

Outubro de 1582
Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado
1 2 3 4 15 16
17 18 19 20 21 22 23
24 25 26 27 28 29 30
31
Outubro de 1582 no calendário juliano - salto de 11 dias para o gregoriano

Para evitar que esta diferença voltasse a se acumular, foi definido


que os anos seculares (múltiplos de 100) só seriam bissextos se
fossem divisíveis por 400. No calendário juliano todos os anos
seculares (1500, 1600, 1700, 1800, etc) eram considerados
bissextos, com um dia a mais.

Enquanto a duração do ano juliano era de 365,25 dias (365 dias e


seis horas), o ano Gregoriano dura em média 365 dias, 5 horas, 49
minutos e 12 segundos.

Ainda assim, mesmo após a correção, somando atualmente mais 27


segundos do que o ano trópico, vai redundar que nos próximos 3.000
anos vai haver um dia a mais que teria que ser corrigido no futuro.

Portugal, Espanha e Itália adotaram imediatamente o novo


calendário. Vários países europeus o fizeram ainda no século XVI e
outros no decorrer do tempo. Os últimos países a adotar o calendário
gregoriano foram a Grécia em 1923 e a Turquia em 1926.

Na estrutura semanal do calendário gregoriano, a língua portuguesa,


entre outras, trata o Domingo, dia do Senhor (Dominus Dei). No
ingles, por exemplo, o Domingo é chamado Sunday, dia do Sol, o
que remonta o culto pagão de deificar os astros, uma tradição que se
estende aos demais dias em outras línguas.
321

Portugues Espanhol Frances Ingles Astro


Domingo Domingo Dimanche Sunday Sol
Segunda-feira Lunes Lundi Monday Lua
Terça-feira Martes Mardi Tuesday Marte
Quarta-feira Miercoles Mercredi Wednesday Mercúrio
Quinta-feira Jueves Jeudi Thirsday Júpiter
Sexta-feira Viernes Vendredi Friday Vênus
Sábado Sabado Samedi Saturday Saturno

Segunda-feira, em ingles é Monday, em espanhol Lunes, e em


frances Lundi, em homenagem à Lua, que depois do Sol era o astro
que mais impressionava os homens, sobretudo pela influência que
exercia sobre as marés. Terça-feira homenageia Marte, que na
mitologia romana era o senhor da guerra; Quarta-feira é dedicada a
Mercúrio, deus do comércio; Quinta-feira é o dia de Júpiter, pai dos
deuses pagãos; Sexta-feira é devotada a Venus, a deusa do amor;
Sábado é o dia de Saturno, que era adorado pelos romanos como o
deus que representava o tempo, equivalente ao Cronos grego. Na
lingua inglesa Saturno é homenageado como Saturday. Vê-se que o
Sábado é na maioria das línguas latinas nitadamente influenciado
pelo termo hebraico Shabbath, dia do descanso da Lei de Moisés.

O Ano Domini e Dionísio, o Exíguo


Conclui-se, pelo visto anteriormente, que a reforma gregoriana nada
tem a ver com a determinação do Ano Domini, ano 1 de nossa era. O
calendário gregoriano serviu para corrigir os erros do calendário
Juliano.

A data do nascimento de Jesus já estava estabelecida no calendário


juliano, havendo sido fixada pelo monge católico Dionísio, o Exíguo,
no ano 525 DC, em decorrência de um trabalho de compilação da
tabela para determinar a Páscoa nos anos futuros, que naquele
tempo eram calculadas tendo por base o calendário juliano.

Seria um trabalho de continuidade da tabela anterior, que por uso e


costume, era contada a partir da era diocleciana. Era costume contar
eventos importantes a partir do início do reinado dos imperadores
romanos, neste caso da tábua pascal vigente na época, a contagem
era feita a partir de Diocleciano.
322

Diocleciano, imperador romano entre 284 e 305 DC, é notoriamente


reconhecido por sua capacidade administrativa. Implantou profundas
reformas no império, que contribuíram para adiar o declínio de Roma
e criaram as bases do império bizantino.

De origem humilde, Diocleciano fez carreira militar chegando a


comandante da guarda imperial e posteriormente a cônsul, tendo
sido reconhecido imperador pelo senado após matar Árrio Áper,
assassino de Numeriano, o imperador que o antecedeu.

Entre suas reformas, impôs o latim como língua oficial do império, e


também obrigou os agricultores a se fixar no campo, proibindo-os de
abandoná-lo, suprimindo desta maneira, a liberdade individual. Seu
tempo ficou conhecido como a era dos mártires, marcada pela
perseguição dos cristãos, tendo ordenado em 303 DC, a destruição
das igrejas, e a demissão dos cristãos do serviço público.

Para não continuar a se referir a Diocleciano na sua tabela pascal,


Dionísio propôs que a contagem fosse referenciada a partir do
nascimento de Jesus, trabalho este apresentado através da "Liber de
Paschate", publicado em 525. Foi assim introduzido o Ano Domini,
suposto ano de nascimento de Jesus, fixado por Dionísio em 753
AUC (Calendário romano - Ano Urb Conditae), portanto, ano 1. Como
Dionísio estabeleceu que Jesus teria nascido em 25 de Dezembro, e
como o ano juliano se iniciava em 21 de Abril, convencionou-se que
o ano de seu nascimento seria 754 AUC.

Muito tempo depois, ao sincronizar os vários calendários em uso


naquele tempo, a data veio a ser questionada em função de a morte
de Herodes, o Grande, ser historicamente reconhecida como tendo
ocorrido 4 AC. Sabendo-se que Herodes era vivo no tempo do
nascimento de Jesus, passou-se a supor que seu nascimento teria
ocorrido um ou dois anos antes disto, em 5 ou 6 AC.

Dionísio teria, desta forma, ignorado, ou talvez desconhecesse, a


opinião de alguns pais da igreja que colocavam o nascimento de
Jesus depois disto. Irineu, Clemente de Alexandria e Cassiodoro, por
exemplo, reconheciam o ano 751 AUC, correspondente a 3 AC,
enquanto Julius Africanus admitia 752 AUC - 2 ou 3 AC. Tertuliano,
Orígines, Eusébio de Cesaréia, Jerônimo e Hipólito, reconheciam o
ano 752 AUC (2 AC).
323

Mas, conforme vimos, a data da morte de Herodes, acreditada


historicamente como tendo acontecido em 4 AC, é um verdadeiro
descaso com os registros históricos.

Os anos faltantes do calendário judaico


A história secular nos diz que o homem vive no planeta há milhões
de anos, e alguns chegam a supor que são bilhões, porque ao negar
a criação como ato da vontade soberana de Deus, precisam de um
grande espaço de tempo para justificar como uma ameba conseguiu
evoluir a ponto de se transformar num Mozart.

A contagem de tempo bíblica, por sua vez, nos mostra a existência


de 3899 anos entre a criação do homem e o ano 1 de nossa era, o
que nos diz que hoje não completamos ainda 6 mil anos de
existência sobre a Terra.

Os judeus possuem uma contagem bíblica diferente da nossa, uma


vez que estabelecem 3760 ou 3761 anos para o mesmo período,
entre a criação do homem até o ano 1 de nossa era.

Qualquer fonte histórica que você pesquise relacionada a este


assunto vai apontar para um fenômeno conhecido como os "anos
faltantes", ou "missing years" no calendário judaico. Este fenômeno
se resume à falta de algo em torno entre 130 e 165 anos quando
confrontado com calendário gregoriano, dependendo da
interpretação que se faça. Se fizer a sua própria pesquisa use
preferencialmente o termo "missing years" que fornece mais material
sobre o assunto.

Enquanto historiadores de todos os tempos, entre os quais ícones do


porte de Xenofonte (430 - 355 A.C.) e Heródoto (484 - 425 A.C.),
entre outros, confirmam a existência de 10 reis governando a Pérsia
por cerca de 215 anos, o entendimento dos judeus é que o período
durou apenas 52 anos, nos quais reinaram apenas quatro reis,
exclusivamente os que estão listados na Bíblia. Segundo esta
premissa, os reis daquele tempo usavam vários pseudônimos
fazendo parecer que eram pessoas diferentes, enquanto se tratava
da mesma pessoa.

A justificativa não é sequer razoável, porque embora a Bíblia se limite


a relatar somente a metade do império persa, mesmo assim nos
mostra a existência de seis reis, sendo eles: 1- Dario, o Medo (Daniel
5:31); 2 - Ciro, o Grande (Esdras 1:1); 3 - Cambises, filho de Ciro,
324

que conforme Esdras 4:6 é tratado na Bíblia por Assuero; 4 - Dario I


(Esdras 4:24), 5 - Xerxes I, também chamado na Bíblia de Assuero,
conforme o livro de Ester, e finalmente o sexto, Artaxerxes I. (Esdras
6:7)

Poderiam eliminar da lista acima Dario, o Medo, pelo fato de não ser
ele o imperador persa na ocasião, conquanto era apenas governante
designado da Babilônia, mas se o ponto de vista judaico é bíblico,
conforme afirmam, a cronologia de Ciro na Bíblia só é contada
depois de Dario, e desta forma, seu tempo de governo deveria ser
computado. De qualquer maneira, o tempo bíblico dos cinco reis
restantes totaliza 109 anos, e se contarmos Dario, o Medo, conforme
o faz a Bíblia, totaliza-se 112 anos, um ou outro, tempos muito
superiores à contagem sugerida pela lógica judaica. Acrescente-se
que para dizer que são quatro governantes, aparentemente
eliminaram também Cambises, uma vez que tal nome não aparece
na Bíblia, o que não é correto, uma vez que é chamado de Assuero.

O período persa, não é só particularmente fácil de ser manipulado na


Bíblia, como único. Nenhum outro período da história de Israel
poderia acomodar o fenômeno dos anos faltantes senão este, pois
não há contagem dos tempos de governo destes imperadores no
relato bíblico. Para se estabelecer a cronologia do período é preciso
recorrer a fontes históricas.

Outro problema com esta contagem é que o império persa caiu


diante de Alexandre, o Grande, que conforme se sabe, derrotou
Dario III, e desta forma, seria necessário juntar pelo menos mais este
à suposta lista de 4 imperadores, e mesmo assim, seria preciso
eliminar os anos que separam Artaxerxes I, o governante do tempo
de Esdras, do tempo da conquista de Alexandre, o que significa
sumir com mais de 100 anos adicionais de história, que somados à
diferença da contagem bíblica, resulta na falta deste tempo.

Seria preciso eliminar, e de fato fizeram isto, cortaram estes anos, e


em nome da tradição, esta contagem de tempo incorreta é aceita
sem questionamento até os dias de hoje.

O responsável por este cálculo é o rabbi Yose ben Halafta, sobre


quem falamos quando tratamos da Seder Olam Rabbah. Seguimos,
por sinal, à risca, alguns de seus bons conselhos referentes à
interpretação bíblica.
325

O rabino Yose fez isto por volta do ano 160 de nossa era, quase um
século e meio depois de Jesus, que em última análise, é a razão do
tal sumiço de tempo.

A explicação mais coerente para este fenômeno se dá como sendo


provavelmente o resultado de uma manobra para ocultar dentro do
próprio judaísmo a identificação histórica de Jesus como Messias,
morto no tempo profetizado por Daniel (Dn 9:24-25).

Mas o que fazer com a profecia de Daniel? O rabino Yose interpretou


as 70 semanas como sendo o tempo decorrido entre a destruição do
primeiro e o segundo templos. Mas estes eventos estão separados
por 663 anos, não 490, conforme o dado bíblico. Precisava, assim,
de uma redução significativa do tempo para coincidir com a data de
Daniel, o que resulta neste fenômeno de anos faltantes, mas nem de
perto conforma a explicação dentro de um período aceitável do ponto
de vista histórico.

Assim, o calendário judaico pode e deve ser interpretado como "gol


de mão", servindo apenas aos propósitos do judaísmo. Já como fonte
histórica, sua contagem de tempo é não só desprezível, como
também inútil, pois se um judeu hoje abre uma conta bancária, ou
compra uma passagem de avião, estará estampado no papel a data
cristã.

Sem nos estendermos mais neste assunto, é importante reconhecer


que esta manobra cronológica desviou da verdade, ao longo dos
séculos, milhões de judeus impedidos de conhecer Jesus como o
Messias. O rabino Yose estabeleceu dentro do judaísmo um
paradigma que a tradição religiosa dos judeus cuidou de manter.

A tradição é de fato a mais destacada porta de entrada do inferno.


Lembra as palavras de Jesus: "Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito;
e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais
do que vós." (Mateus 23 : 15)
326

9 DC– Jesus celebra a Páscoa em Jerusalém


(A.B. 3908)

Conforme Lucas 2:42, Jesus esteve em Jerusalém para a celebração


da Páscoa quando tinha 12 anos de idade, em 9 DC, portanto.

14 DC– morte de Augusto e ascensão de Tibério César


(A.B. 3912)

A história secular registra a ascensão de Tibério ao trono de Roma


no ano 14 de nossa era. Lucas 3:1 faz referência a Tibério quando
aponta o batismo de Jesus em seu 15° ano de governo.

As Festas da vida de Jesus


Ano Festa Mateus Marcos Lucas João
* * * Jo 2:13
3926 AB 1ª Páscoa * * * Jo 2:23
(28 DC) * * * Jo 4:45

Tabernáculos * * * Jo 5:1

2ª Páscoa * * * Jo 6:4

* * * Jo 7:2
* * * Jo 7:10
3927 AB
Tabernáculos * * * Jo 7:11
(29 DC)
* * * Jo 7:14
* * * Jo 7:37
* * *
Dedicação * * * Jo 10:22

Mt 26:2 Mc 14:1 Lc 22:1 Jo 11:54


Mt 26:5 Mc 14:12 Lc 22:7 Jo 11:55
Mt 26:17 Mc 14:14 Lc 22:8 Jo 11:56
Mt 26:18 Mc 14:16 Lc 22:11 Jo 12:1
Mt 26:19 Mc 15:6 Lc 22:13 Jo 12:2
3928 AB
3ª Páscoa Mt 27:15 * Lc 22:15 Jo 12:20
(30 DC)
* * Lc 23:17 Jo 13:1
* * * Jo 13:29
* * * Jo 18:28
* * * Jo 18:39
* * * Jo 19:14
327

O calendário da Páscoa judaica


A primeira coisa que se deve atentar quando se trata de entender as
datas dos evangelhos referentes à crucificação do SENHOR, é o fato
de que devemos pensar em termos de calendário judaico, tanto no
que diz respeito aos dias do mês, como da semana e das horas.

Como já vimos, o calendário judaico difere substancialmente do


nosso, não só em termos do início de seu ano civil (mês de Nisã ou
Nisan), equivalente a Março ou Abril de nosso calendário, como
também pelo fato de os dias do mês não serem coincidentes com os
nossos, uma vez que o mês judaico é lunar, mais curto.

Horas
Condenação Crucificação Trevas Morte
Mateus 6ª 9ª
Marcos 3ª 6ª 9ª
Lucas 6ª
João 6ª
Nosso 06:00 09:00 12:00 15:00

Veja que a contagem das horas nos relatos dos evangelhos também
difere da nossa. Os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas)
utilizam o sistema de contagem de horas judaico, enquanto João
utiliza o sistema romano, o mesmo que o nosso. Em Mt 27:45 lemos
que “desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora
nona”, o que em nossa contagem de tempo equivale dizer entre o
meio-dia e 15 horas.

Desta forma, quando pensarmos em termos de “dia da semana”,


temos que recordar que a sexta-feira, por exemplo, que para nós
começa à meia-noite da quinta-feira, para o judeu começa às 18
horas da nossa quinta-feira, seis horas antes, ou, mais precisamente,
no por do sol.

Nos dias de hoje, em termos comerciais, Israel acompanha o horário


civil padrão do mundo cristão. Em outras palavras, se você consultar
o site do jornal Jerusalém Post (www.jpost.com), por exemplo, numa
sexta-feira, às 20 horas, embora os judeus religiosos estejam
recolhidos celebrando o Sábado, seu dia de descanso, o horário
demonstrado é GTM +2 (Greenwich Mean Time) da sexta-feira, e
não o horário religioso.
328

A principal finalidade de manutenção do calendário judaico diz


respeito à rigorosa observação das festas e dias de descanso. Não é
possível, desta forma, ler os textos referentes à última Páscoa de
Jesus pensando em termos de Março ou Abril, ou mesmo nas tábuas
pascais que adotamos, que são católicas. O cálculo católico é feito
para sempre coincidir a morte de Jesus numa sexta-feira, de maneira
que todos os anos se celebra a páscoa num fim de semana. Em
termos comparativos é como se você tivesse nascido num Domingo
e desde então comemorasse seu aniversário sempre aos domingos.

Dirão alguns que o importante é celebrar o fato, e não a data. Mas a


verdade é que ao deixarmos o fato de lado, deixamos de
compreender, conforme veremos, o real significado dos
acontecimentos.

Esquecendo o calendário pascal católico, que por ser pagão é


completamente equivocado (mas mesmo assim os protestantes o
seguem), observe que a Páscoa bíblica se inicia com a preparação
do cordeiro no dia 14 de Nisan, primeiro mês do calendário judaico:
"Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o
primeiro dos meses do ano.” (Êxodo 12 : 2) “No mês primeiro, aos
catorze do mês, pela tarde, é a Páscoa do Senhor.” (Lv 23:5)

No dia 14 de Nisan os judeus preparavam, segundo a Lei de Moisés,


o cordeiro pascal, sendo por isto chamado de "dia da preparação"
(Mc 15:42 e Lc 23:54). O sangue do cordeiro era aspergindo nos
umbrais das portas como memorial da passagem do anjo da morte
pelo Egito.

Conforme a Lei, as famílias deveriam desde o entardecer do dia 14


se recolher para dentro de seus lares a fim de “comer a Páscoa”, e
desta forma, a ceia pascal já ocorria nas primeiras horas do dia 15 de
Nisan, que se inicia ao por do sol, e não à meia-noite.

Quando em nossa cultura pensamos em primeiras horas, pensamos


em horas da manhã, mas na contagem de tempo judaica, bíblica,
portanto, refere-se às primeiras horas depois do por do sol. Esta
forma de contar o tempo se baseia nos textos de Gênesis sobre a
criação, onde cada dia é descrito como tarde e manhã:”E foi a tarde
e a manhã, o dia primeiro.” (Gn 1:5)

Os elementos da ceia pascal são a carne do cordeiro, o pão sem


fermento, e as ervas amargas: "E naquela noite comerão a carne
329

assada no fogo, com pães ázimos; com ervas amargosas a


comerão.” (Êxodo 12:8)

As Festas dos judeus


As festas têm uma grande importância na cultura judaica, estando
presentes na vida dos hebreus mesmo antes da Lei de Moisés
estabelecer várias celebrações como estatuto religioso. Note que
Moisés, quando pela primeira vez se dirigiu a Faraó pedindo que
deixasse Israel partir do Egito, portanto, antes que existisse a Lei, se
refere à celebração de uma festa: "E Moisés disse: Havemos de ir
com os nossos jovens, e com os nossos velhos; com os nossos
filhos, e com as nossas filhas, com as nossas ovelhas, e com os
nossos bois havemos de ir; porque temos de celebrar uma festa ao
Senhor.” (Êxodo 10 : 9)

Conforme todo o capítulo 23 de Levítico, as festas são chamadas as


"solenidades do Senhor", começando pela ordenança do Sábado:
"Seis dias trabalho se fará, mas o sétimo dia será o Sábado do
descanso, santa convocação; nenhum trabalho fareis; Sábado do
Senhor é em todas as vossas habitações.” (Lv 23:3)

Os judeus celebram até os dias de hoje seis grandes festas: a


Páscoa, os Pães Ázimos, o Pentecostes (Shavuot, ou Festa das
Semanas), a Festa das Trombetas (Rosh Hashaná), a Festa da
Expiação (yom Kippur) e a Festa dos Tabernáculos (Sucót, ou Festa
das Cabanas), todas elas instituídas pela Lei de Moisés. Além destas
celebram outras "festas menores", que são as comemorações do
Chanucá e Purim, instituídas depois da Lei de Moisés. Vejamos as
principais:

A Páscoa e a Festa dos Pães Ázimos - que se fundem numa só


festa, celebrada a partir de 14 até 21 de Nisan (Março / Abril),
primeiro mês do ano civil judaico, conforme Levítico 23:4-8;

A Festa das Semanas, ou Festa das Primícias, ou Shavuot para os


judeus, que a partir do domínio Grego recebeu o nome de
Pentecostes, é celebrada 50 dias após a Páscoa, em 6 ou 7 de Sivan
(Maio / Junho), conforme Levítico 23:9-25;

A Festa das Trombetas, no mês sétimo dos judeus, (Setembro /


Outubro), no dia 1 de Tishrei, marcada pelo som das trombetas;
330

A Festa da Expiação, ou Yom Kippur para os judeus, celebrada no


dia 10 de Tishrei (Setembro / Outubro), que conforme Levítico 23:29-
44 celebra o dia da expiação dos pecados do povo perante Deus;

A Festa dos Tabernáculos, ou Festa das Tendas, ou da Colheita, ou


Sucot para os judeus, em 15 de Tishrei (Setembro / Outubro), o mês
sétimo, tem um sentido agrícola e religioso, marcando o final da
colheita das frutas, encerrando assim mais um ano de colheita.

A definição de Sábado
Na análise dos mandamentos de Deus com relação ao respeito
devido aos dias de festa, destacamos um valor que se sobressai aos
demais: o conceito do Sábado.

A primeira consideração do texto de Levítico (Lv 23) é devida ao


próprio dia de Sábado, que conforme a Lei era dia de descanso,
sendo proibida nele a execução de qualquer trabalho: 'Seis dias
trabalho se fará, mas o sétimo dia será o Sábado do descanso, santa
convocação; nenhum trabalho fareis; Sábado do Senhor é em todas
as vossas habitações.” (Lv 23:3)

Os dias de festas eram considerados convocações santas, de


maneira que nenhum trabalho deveria ser executado, tal como no
Sábado. Vejamos alguns textos:

1 - Levítico 23:6-7 diz respeito à Festa dos Pães Ázimos que segue à
Páscoa: "E aos quinze dias deste mês é a festa dos pães ázimos do
SENHOR; sete dias comereis pães ázimos. No primeiro dia tereis
santa convocação; nenhum trabalho servil fareis. Mas sete dias
oferecereis oferta queimada ao SENHOR; ao sétimo dia haverá
santa convocação; nenhum trabalho servil fareis.”

Desta forma, eram, o primeiro e o sétimo dia da Festa dos Ázimos


considerados dias de descanso, respectivamente 15 de Nisan e 21
de Nisan, que eram SÁBADOS, independentes do dia da semana
que caíssem.

2 - A Festa do Pentecostes é celebrada no 50° dia após o início da


Festa dos Pães Ázimos, dia 6 ou 7 de Sivan (Maio / Junho). A Festa
dos Ázimos começa do dia 15 de Nisan, portanto, a contagem para o
Pentecostes se inicia em 16 de Nisan. Vejamos o texto
bíblico:"Depois para vós contareis desde o dia seguinte ao Sábado,
desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete
331

semanas inteiras serão. Até ao dia seguinte ao sétimo Sábado,


contareis cinquenta dias; então oferecereis nova oferta de alimentos
ao SENHOR.” (Lv 23: 15-16)

A contagem para o Pentecostes começa no 16 de Nisan. Observe


que o texto especifica "o dia seguinte ao SÁBADO" como início da
contagem, o que significa que o dia 15 de Nisan, independente do
dia da semana em que caia, é considerado um SÁBADO, dia de
descanso, conforme a Lei de Moisés em Lv 23:21: "E naquele
mesmo dia apregoareis que tereis santa convocação; nenhum
trabalho servil fareis; estatuto perpétuo é em todas as vossas
habitações pelas vossas gerações.”

3 - Referente à Festa das Trombetas, que ocorre no dia 1 de Tishrei


(Setembro / Outubro), também independente do dia da semana em
que caia é considerado um SÁBADO: "E falou o Senhor a Moisés,
dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao
primeiro do mês, tereis descanso, memorial com sonido de
trombetas, santa convocação. Nenhum trabalho servil fareis, mas
oferecereis oferta queimada ao SENHOR. (Lv 23:23-25)

4 - Quanto ao Yom Kippur, Festa da Expiação, a ordenança é a


mesma, ou seja, independente do dia da semana em que caia, é dia
de descanso: "Mas aos dez dias desse sétimo mês será o dia da
expiação; tereis santa convocação, e afligireis as vossas almas; e
oferecereis oferta queimada ao SENHOR. E naquele mesmo dia
nenhum trabalho fareis, porque é o dia da expiação, para fazer
expiação por vós perante o Senhor vosso Deus.” (Lv 23:27-28)

No contexto do Yom Kippur, para não deixar dúvida quanto a este


fato, o texto de Moisés enfatiza ainda mais a questão do Sábado:
"Também toda a alma, que naquele mesmo dia fizer algum trabalho,
eu a destruirei do meio do seu povo. Nenhum trabalho fareis;
estatuto perpétuo é pelas vossas gerações em todas as vossas
habitações. SÁBADO de descanso vos será; então afligireis as
vossas almas; aos nove do mês à tarde, de uma tarde a outra tarde,
celebrareis o vosso Sábado.” (Lv 23:30-32)

O texto acima repete várias vezes que este dia tinha um valor de
SÁBADO, independente do dia da semana em que caísse.

5 - A mesma situação se dá com relação à Festa dos Tabernáculos


(Lv 23:35) onde o primeiro e o oitavo dias são Sábados: "Porém aos
quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido do fruto da
332

terra, celebrareis a festa do Senhor por sete dias; no primeiro dia


haverá descanso, e no oitavo dia haverá descanso.” (Lv 23:39)

Tenhamos isto em mente quando analisarmos as datas referentes à


Ceia do Senhor.

O calendário judaico do ano 30


De acordo com o calendário judaico, não há qualquer hipótese de
Jesus ter sido crucificado numa sexta-feira, nem no ano 30, nem em
qualquer outro ano da década que circunda esta data.

Na forma de contar o tempo dos judeus o primeiro dia de cada mês


sempre coincide com a lua nova, e o 15° dia com a lua cheia, o que
não significa, no entanto, que a troca das luas aconteçam em
simultâneo a estes dias, apenas que estes dias acontecem nestas
luas.

Há, à disposição de todos, na internet, vários sites judaicos que


exibem este calendário, permitindo a busca de datas entre o ano 1
de nossa era até os dias de hoje. Cito dois, para sua própria
consulta: http://www.jewishyear.com/ e http://elkind.net/calendar/

É baseado neles que montamos o calendário do mês de Nisan do


ano 30, ano da crucificação de Jesus, correspondente ao nosso mês
de Abril.

De acordo com a nossa tradição, Jesus foi crucificado numa sexta-


feira, mesmo dia da última ceia com seus discípulos, referente à
celebração da Páscoa judaica, o que acontece, de acordo com a Lei
de Moisés, às primeiras horas do dia 15 de Nisan, que conforme
vimos, se inicia no entardecer do dia 14, logo após o por do sol.

Na estrita observância de seus costumes, podemos ainda hoje ver


que os judeus fazem distinção das horas nos diversos pontos do
planeta. Embora o padrão Greenwich Mean Time (GMT)
compatibilize os horários de todo mundo, há de fato uma defasagem
nos horários do por do sol de acordo com a localização da cidade.

Com relação à data em 2011, por exemplo, 14 de Nisan caiu num 18


de Abril. A Páscoa judaica foi celebrada no por do sol deste dia, já 15
de Nisan no calendário judaico, o que fez com que em Nova York a
celebração acontecesse após às 19:37 horas, hora em que se põe o
sol nesta cidade. Em Buenos Aires aconteceu a partir das 18:26
333

horas; em Jerusalém após às 19:09 horas, no Rio de Janeiro após às


17:37 horas, etc.

Se a última ceia de Jesus corresponde à celebração da Páscoa


judaica, conforme entende a nossa tradição, a mesma teria
acontecido obviamente no 15 de Nisan. Lembrando que a quinta-
feira se inicia no entardecer da quarta-feira pouco depois das 19
horas (no mês de abril) em Jerusalém, todos os eventos seguintes à
ceia, ou seja, a prisão de Jesus no Horto das Oliveiras, sua tortura na
casa de Caifás, o julgamento de Pilatos, a crucificação, todos estes
eventos teriam ocorrido no mesmo dia, a partir das 19 horas,
“primeira hora” do 15 de Nisan, até aproximadamente o mesmo
horário do dia seguinte, e desta forma, 15 de Nisan daquele ano
deveria ter coincidido com uma sexta-feira.

No entanto, ao examinarmos o calendário da Páscoa do ano 30,


encontramos o 15 de Nisan numa quinta-feira, e não sexta-feira,
como seria esperado, e assim, poderíamos considerar que o evento
não ocorreu no ano 30, ou que o calendário judaico está errado.

Examinando os anos da década que circunda o ano 30, anos entre


25 e 36, também não encontramos nenhum 15 de Nisan numa sexta-
feira. Veja a tabela abaixo:

Ano 25 Terça-feira Abril


Ano 26 Sábado Março
Ano 27 Quinta-feira Abril
Ano 28 Terça-feira Março
Ano 29 Domingo Abril
Ano 30 Quinta-feira Abril
Ano 31 Terça-feira Março
Ano 32 Terça-feira Ábril
Ano 33 Sábado Abril
Ano 34 Terça-feira Março
Ano 35 Terça-feira Abril
Ano 36 Sábado Março

Se não há nenhuma sexta-feira coincidente com 15 de Nisan na


década examinada, a outra maneira de entender a questão implicaria
propor que o calendário judaico está errado, e assim apontar onde
está a falha, se ela de fato existir. Mas não existe.
334

Alguns poderiam considerar a possibilidade de um suposto erro ser


influenciado pelo advento dos chamados "anos faltantes" na
contagem do tempo judaica. Mas estes anos faltantes são o
resultado do encurtamento do tempo histórico da dominação grega
que fez coincidir o ano 1 de nossa era com o ano 3760 dos judeus, o
que tem de real apenas o fato de ser uma convenção, como também
o é o nosso Ano Domini.

Há de fato um desacordo entre os dois calendários quando se trata


da conversão da data judaica para a gregoriana, que não pode, no
entanto, ser considerado erro, pois sendo o ano judaico 11 dias mais
curto que o nosso, os dois calendários só se sincronizam a cada 19
anos, de maneira que esta falta em nada nos afeta, uma vez que
todos os eventos relacionados à crucificação de Jesus são datados e
compreensíveis apenas à luz do calendário judaico, e não do nosso.

Veja que os calendários judaicos que sugerimos acima apresentam


15 de Nisan do ano 30 como sendo o dia 4 de Abril, quinta-feira,
quando os calendários lunares perpétuos mostram que foi 6 de Abril,
entrada da Lua Cheia.

Não é demais lembrar que no calendário judaico, o início do mês


sempre coincide com a Lua Nova, e consequentemente, o dia 15
sempre com a Lua Cheia, e desta forma, qualquer que seja o ano,
poderemos inferir que a noite da prisão do Senhor no Getsêmani era
noite de Lua Cheia, noite clara.
335

Calendário de Março / Abril do Ano 30


Abril de 30 D.C. - Ano judaico: 3790 / 3791
Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado
31 1 2 3 4 5 6
12 Nisan 13 14 15 16 17
11 Nisan Nisan Nisan Nisan Nisan Nisan
7 8 9 10 11 12 13
18 Nisan 19 Nisan 20 21 22 23 24
Nisan Nisan Nisan Nisan Nisan
14 15 16 17 18 19 20
25 Nisan 26 Nisan 27 28 29 30 1 Iyyar
Nisan Nisan Nisan Nisan
21 22 23 24 25 26 27
2 Iyyar 3 Iyyar 4 5 Iyyar 6 Iyyar 7 8 Iyyar
Iyyar Iyyar
28 29 30
9 Iyyar 10 Iyyar 11
Iyyar

Os eventos de antes da crucificação

Ano 30 DC - 9 de Nisan – Sexta-feira – Jesus visita Lázaro


João nos revela que seis dias antes da Páscoa Jesus esteve em
Betânia, na casa de Lázaro: “Foi, pois, Jesus seis dias antes da
Páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem
ressuscitara dentre os mortos. Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e
Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.” (Jo
12:1-2)

Na ocasião desta visita os principais dos sacerdotes já buscavam


uma oportunidade de matar Jesus, mas João nos esclarece ainda
mais o fato: "E muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e
foram, não só por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a
quem ressuscitara dentre os mortos. E os principais dos sacerdotes
tomaram deliberação para matar também a Lázaro.” (Jo 12:9-10)

Ano 30 DC - 10 de Nisan – Sábado - entrada triunfal em


Jerusalém
No dia seguinte à visita a Lázaro, conforme João 12:12, um Sábado,
conforme o calendário judaico, não Domingo, Jesus entra em
336

Jerusalém, cumprindo desta forma a palavra do Profeta Zacarias


escrita mais de cinco séculos antes deste dia: “Alegra-te muito, ó filha
de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e
salvo, pobre, e montado sobre um jumento, e sobre um jumentinho,
filho de jumenta.” (Zc 9:9)

Conforme a profecia, nas palavras de Marcos: “levaram o jumentinho


a Jesus, e lançaram sobre ele as suas vestes, e assentou-se sobre
ele. E muitos estendiam as suas vestes pelo caminho, e outros
cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho. E
aqueles que iam adiante, e os que seguiam, clamavam, dizendo:
Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor; Bendito o reino do
nosso pai Davi, que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas.”
(Mc 11:7-10)

Segundo a Lei de Moisés, conforme escrito em Êxodo 12:1-6, em


absoluta concordância com a exigência da Lei, no décimo dia do
primeiro mês, 10 de Nisan, Jesus é apartado como o cordeiro de
Deus para o sacrifício da Páscoa: "Falai a toda a congregação de
Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um
cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família.
Mas se a família for pequena para um cordeiro, então tome um só
com seu vizinho perto de sua casa, conforme o número das almas;
cada um conforme ao seu comer, fareis a conta conforme ao
cordeiro. O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de um
ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras. E o guardareis até
ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da
congregação de Israel o sacrificará à tarde.” (Ex 12:1-6)

Se atentarmos à história de Israel, verificaremos que também num 10


de Nisan Josué cruzou o Rio Jordão, desde a margem oriental,
quando o povo entrou a tomar posse da Terra Prometida: "Subiu,
pois, o povo, do Jordão no dia dez do mês primeiro; e alojaram-se
em Gilgal, do lado oriental de Jericó.” (Josué 4:19)

Ano 30 DC - 11 de Nisan – Domingo – os vendilhões do Templo


Uma vez em Jerusalém, Jesus expulsa os vendilhões do Templo,
consoante o que dissera o Profeta Jeremias: “E então vireis, e vos
poreis diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e
direis: Fomos libertados para fazermos todas estas abominações? É
pois esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de
salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o
Senhor.” (Jr 7:10-11)
337

O contexto apresentado por Marcos em seu Evangelho (Mc 11:12-


15) nos mostra que era o dia seguinte à entrada de Jesus em
Jerusalém. Seria, desta forma, domingo, 11 de Nisan. Marcos nos
explica assim este acontecimento: “E vieram a Jerusalém; e Jesus,
entrando no templo, começou a expulsar os que vendiam e
compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambiadores e as
cadeiras dos que vendiam pombas. E não consentia que alguém
levasse algum vaso pelo templo. E os ensinava, dizendo: Não está
escrito: A minha casa será chamada, por todas as nações, casa de
oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões.” (Mc 11:15-17)

Ano 30 DC - 12 de Nisan - Segunda-feira - o Sermão Profético e


os planos de prender Jesus
Conforme Mateus 26:1-5, Jesus pronunciou o Sermão Profético no
dia 12 de Nisan, dois dias antes da Páscoa: "Aconteceu que, quando
Jesus concluiu todos estes discursos (entre os quais o Sermão
Profético), disse aos seus discípulos: Bem sabeis que daqui a dois
dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser
crucificado.

Depois os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do


povo reuniram-se na sala do sumo-sacerdote, o qual se chamava
Caifás. E consultaram-se mutuamente para prenderem Jesus com
dolo e o matarem. Mas diziam: Não durante a festa, para que não
haja alvoroço entre o povo.”

A informação de Mateus é preciosa: os sacerdotes pretendiam


prender Jesus, mas não durante a Festa da Páscoa para que não
houvesse tumulto, mas, a delação de Judas forçou os fariseus a
fazer exatamente o contrário.

Aspectos a serem considerados a respeito da Ceia e


Crucificação do Senhor

Temos sempre que nos recordar que dia judaico se inicia ao por do
sol, e não no alvorecer, e que as horas são medidas a partir do por
do sol, no que se refere à noite, e a partir do alvorecer, no que se
refere à manhã. O horário do por do sol em Jerusalém varia no
decorrer do ano entre as 17:40 horas no inverno, até 19:15 horas no
verão.

Jerusalém esta situada no hemisfério norte, onde a primavera


começa em 21 de março, e desta forma, tendo sido Jesus crucificado
338

em Abril, o por do sol se dava por volta das 19 horas, e o amanhecer


por volta das 6 horas.

Jesus foi crucificado no mesmo dia em que tomou a Ceia junto com
os apóstolos. A ceia foi tomada às primeiras horas dia judaico, ou
seja, por volta de 19 horas, e a crucificação ocorreu na manhã
seguinte, por volta das 9 horas da manhã, hora terceira (Mc 15:25).
Mateus e Lucas omitem a hora da crucificção, mas realçam que
houve trevas entre às 12 e 15 horas (Mt 27:45 - Lc 23:44).

O principal alicerce sobre o qual construímos nossa conclusão sobre


a crucificação na sexta-feira se relaciona aos repetidos relatos dos
evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) a respeito da data da
crucificação como sendo véspera do Sábado.

Também com relação à Ceia, os três evangelhos sinóticos são


unânimes e repetem quase com as mesmas palavras que: "no
primeiro dia da festa dos pães ázimos, chegaram os discípulos junto
de Jesus, dizendo: Onde queres que façamos os preparativos para
comeres a páscoa? " (Mateus 26:17); Marcos relata o fato com a
mesma ênfase: "E, no primeiro dia dos pães ázimos, quando
sacrificavam a páscoa, disseram-lhe os discípulos: Aonde queres
que vamos fazer os preparativos para comer a páscoa?” (Marcos
14:12)

Lucas, relata desta maneira: "Chegou, porém, o dia dos ázimos, em


que importava sacrificar a páscoa. E mandou a Pedro e a João,
dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos.” (Lucas
22:7-8)

Lucas e Marcos enfatizam que "era o dia dos ázimos, dia em que
importava sacrificar a páscoa", de maneira que não resta dúvida que
se referem ao 14 de Nisan, conforme estabelece a Lei de Moisés, o
que nos faz crer que a Ceia do Senhor foi de fato a páscoa judaica.

Dos quatro evangelistas, nunca é demais lembrar que Mateus e João


foram discípulos de Jesus desde o início de seu ministério. Marcos
era discípulo de Pedro, enquanto Lucas era ligado ao apóstolo Paulo.
Desta forma, Mateus e João estavam presentes à Ceia.

Se por um lado Mateus, Marcos e Lucas datam da mesma forma o


acontecimento, concordando aparentemente com 14 de Nisan, João,
no entanto, refere que a Ceia do Senhor ocorreu antes da Páscoa,
ou seja, antes do 14 de Nisan: "Ora, antes da festa da páscoa,
339

sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste


mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no
mundo, amou-os até o fim. E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no
coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse, Jesus,
sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas,
e que havia saído de Deus e ia para Deus, Levantou-se da ceia, tirou
as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água
numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-
lhos com a toalha com que estava cingido.” (João 13:1-5)

Conforme o texto de Lucas citado anteriormente, Jesus enviou dois


dos discípulos para preparar a Páscoa, Pedro e João, de maneira
que João participou de todos estes eventos: "E mandou a Pedro e a
João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos.”
(Lucas 22: 8)

A Bíblia não tem nada a ver com a opinião da maioria, e tudo a ver
com a inspiração do Espírito Santo quanto ao resultado daquilo que
foi escrito, e assim, antes de colocarmos a questão, muito
apropriada, por sinal, de quem está certo, e quem está errado, é bom
verificarmos um preceito básico de interpretação da Bíblia: Ela é
perfeita e não contém erros, e desta maneira somos levados a crer
que ambas definições da data da Ceia do Senhor estão corretas.

O apóstolo Pedro nos assegura que "a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1:21). Assim, a
Bíblia como um todo e cada mínimo detalhe nela contido é a
expressão absoluta da palavra do próprio Deus, e não o produto do
desenvolvimento religioso, ou da vontade, ou da inspiração individual
do homem. Qual então a conclusão sobre o impasse? A conclusão é
que estão ambas informações corretas, e a nós compete conciliá-las.

Ano 30 DC - 13 de Nisan – Terça-feira – a preparação da Ceia do


Senhor
A ceia pascal, como já vimos, é composta da carne do cordeiro
sacrificado, além do pão ázimo, e de ervas amargas. As ervas
amargas representam os dias de sofrimento no Egito, enquanto o
pão sem fermento representa a pressa dos hebreus em deixar
aquele lugar.

Se Jesus tivesse comido a Páscoa, certamente haveria à mesa estes


elementos, as ervas amargas, o cordeiro e o pão sem levedura. Em
340

Mateus 5:17 o próprio Jesus afirma: " Não cuideis que vim destruir a
Lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir", e se estivesse
cumprindo a Lei, tais elementos estariam à mesa, mas não estavam,
o que nos faz concluir que não era de fato a ceia pascal, conforme a
informação de João.

A crucificação de Jesus veio a acontecer, de acordo com a maneira


dos judeus contarem o tempo, no mesmo dia em que o Senhor
tomou a Ceia com seus discípulos. Embora a Ceia tenha ocorrido à
noite e a crucificação na manhã seguinte, trata-se do mesmo dia,
pois para os judeus o dia se inicia no por do sol, e não no alvorecer.

Se por um lado Mateus, Marcos e Lucas se referem ao dia da ceia


como o “dia dos ázimos”, João afirma que ela ocorreu antes disto: "
ORA, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a
sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os
seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13:1)

A ceia pascal é tomada no dia 15 de Nisan, à primeira hora do dia,


que para o judeu, naquela época do ano, se inicia por volta das 19
horas.

Em João 13:1 o apóstolo afirma que a ceia aconteceu antes do 15 de


Nisan, e na sequência de sua narrativa confirma isto. Observe,
conforme Jo 13:27-30, que no mesmo contexto, quando Judas se
retira do cenáculo para entregar Jesus aos fariseus, mais uma vez
João confirma que a Ceia não era a Páscoa judaica: "E, após o
bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o
depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa
compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas
tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o
que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos
pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite.”
Ora, comprar o necessário para a festa significa que a Páscoa ainda
estava por acontecer.

E por último, afora todas estas questões, como situar na Páscoa a


cerimônia de lavapés? Definitivamente os discípulos não prepararam
a Páscoa, mas uma ceia de despedida para o Senhor.
341

Lucas 22 Jo 13:1-2
7 Chegou, porém, o dia dos ázimos, em que ORA, antes da festa
importava sacrificar a páscoa. 8 E mandou a da páscoa, sabendo
Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a Jesus que já era
páscoa, para que a comamos. 9 E eles lhe chegada a sua hora
perguntaram: Onde queres que a de passar deste
preparemos? mundo para o Pai,
como havia amado
10 E ele lhes disse: Eis que, quando os seus, que
entrardes na cidade, encontrareis um estavam no mundo,
homem, levando um cântaro de água; amou-os até o fim.
segui-o até à casa em que ele entrar. 11 E
direis ao pai de família da casa: O Mestre te
diz: Onde está o aposento em que hei de
comer a páscoa com os meus discípulos?

12 Então ele vos mostrará um grande


cenáculo mobiliado; aí fazei preparativos. 13
E, indo eles, acharam como lhes havia sido
dito; e prepararam a páscoa. 14 E, chegada
a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze
apóstolos

Se há, por um lado, uma aparente falta de concordância entre as


duas narrativas no que tange à data, há, por outro, um absoluto
sincronismo no que se refere ao real significado da Ceia, que afinal,
é o mesmo declarado por Paulo em I Co 5:17: “Alimpai-vos, pois, do
fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais
sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.”

Mateus, Marcos, Lucas e João tinham esta mesma compreensão. No


dia 13 de Nisan, terça-feira, os apóstolos prepararam a Ceia, que foi
tomada por Jesus e seus discípulos depois do por do sol daquele dia,
quando já iniciava um novo dia, o dia da preparação, 14 de Nisan. A
Ceia do Senhor trata desta celebração. É um memorial de que o
Cordeiro de Deus seria sacrificado naquele dia, no 14 de Nisan, por
amor a todos os homens.

Então como conciliar a diferença apresentada pelas duas “versões”


aparentemente contradizentes? A resposta está na simplicidade da
narrativa dos sinóticos.
342

Tomando o texto acima, de Lucas, a declaração do verso 7 parece


estar indicando taxativamente a Páscoa, o 14 de Nisan. Mas nos
versos seguintes Lucas explica que Jesus mandou Pedro e João
procurar pelo lugar onde seria tomada a Ceia.

Primeiramente temos que considerar que isto não é preparar a


Páscoa, cujo significado literal seria preparar o cordeiro, espargir o
sangue nos umbrais da porta da casa onde ela seria tomada, enfim,
nada disto se fez. Os apóstolos são apenas encarregados de
localizar o lugar.

Dia 13 Dia 14
13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00

Segundo, e mais importante, de fato, no dia 13 de Nisan, lembrando-


se que o dia começou as 19 horas do dia anterior e vai se estender
até o início daquela noite, por volta das 19 horas, quando começa o
novo dia, da perspectiva de quem se imagina presente naquela cena,
digamos, às 13 horas, na prática, o dia 14 já havia chegado. Chegou
de fato o dia dos ázimos, que na perspectiva daquele dia começaria
por volta das 19 horas, no por do sol, dali a poucas horas.

Uma forma de compreender bem isto, seria projetar uma situação


bastante simples: imagine que um amigo judeu te convida para
celebrar a entrada do Shabat, o Sábado de descanso judaico em sua
casa, esta semana, e ele te diz para chegar por volta das 18:30
horas.

Na nossa forma de pensar seria Sábado às 18:30, mas a celebração


de fato iniciaria às 18:30 da nossa sexta-feira. Desta forma, em
nossa perspectiva, você colocaria na tua agenda este compromisso
na sexta-feira, e não no Sábado, de maneira que na sexta-feira,
digamos, às 13 horas, você se lembra: “Chegou o Sábado.” É desta
perspectiva que os sinóticos dizem que chegou o dia dos ázimos,
que afinal, chegou mesmo.

Ano 30 DC - 14 de Nisan – quarta-feira - a crucificação


Todas as passagens do Novo Testamento, quanto ao "dia da
preparação", se referem ao 14 de Nisan, dia da preparação da
Páscoa, conforme a Lei de Moisés. Em nenhum caso se refere à
sexta-feira. Vejamos todos eles:
343

1 - Relato de Lucas quanto ao sepultamento de Jesus: "E era o dia


da preparação, e amanhecia o sábado.” (Lucas 23 : 54)

2 - Relato de João quanto às palavras jocosas de Pilatos dirigidas


aos fariseus no dia da crucificação do Senhor: "E era a preparação
da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o
vosso Rei.” (João 19:14)

3 - Relato de João quanto à providência que os fariseus queriam


tomar para apressar a morte de Jesus: "Os judeus, pois, para que no
sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação
(pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhes
quebrassem as pernas, e fossem tirados.” (João 19 : 31)

4 - Relato de João quanto ao sepultamento de Jesus: "Ali, pois (por


causa da preparação dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro),
puseram a Jesus.” (João 19 : 42)

5 - Mateus se refere ao dia seguinte à morte de Jesus quando os


sacerdotes foram solicitar a Pilatos a guarda do túmulo: "E no dia
seguinte, que é o dia depois da Preparação, reuniram-se os príncipes
dos sacerdotes e os fariseus em casa de Pilatos," (Mateus 27: 62)

Conforme vimos, o 14 de Nisan era o dia da preparação da Páscoa,


uma quarta-feira, conforme o calendário judaico do ano 30 de nossa
era. De acordo com a Lei, o 15 de Nisan, que naquele ano caiu numa
quinta-feira, era um SÁBADO, dia solene de descanso.

Vê-se pelo texto de Mateus, que no dia seguinte à crucificação, não é


o sumo-sacerdote quem vai a Pilatos pedir para colocar guardas no
túmulo de Jesus, mas sim, os príncipes dos sacerdotes. Foi uma
forma de os príncipes darem sua cota pessoal de sacrifício,
poupando o sumo-sacerdote de violar o Sábado: "E no dia seguinte,
que é o dia depois da Preparação, reuniram-se os príncipes dos
sacerdotes e os fariseus em casa de Pilatos.” (Mateus 27:62)

João 19:31 faz referência que aquele era um grande dia de


SÁBADO, pois era um dos dois SÁBADOS daquela semana. Veja na
ilustração seginte: o Sábado 15 de Nisan é o grande dia de Sábado
referido por João.
344

Mês de Nisan
4a 5a 6a Sáb Dom 2a 3a 4a

14 15 16 17 18 19 20 21

Dia 1 Fim
dos dos
Ázimos Ázimos
Sábado Sábado

Conforme o capítulo 13 de João, Jesus ceou com os discípulos, e


depois da Ceia lavou-lhes os pés. Só então Judas, que havia
previamente combinado o preço da traição de Jesus com os
sacerdotes (Mateus 26:14-16) ausentou-se do cenáculo para
entregá-lo às autoridades.

Jesus foi preso no Monte das Oliveiras tarde aquela noite. Foi
primeiramente levado à casa de Anás (João 18:13), sogro de Caifás,
o sumo-sacerdote aquele ano, e mais tarde levado à presença do
próprio Caifás.

João era de alguma forma conhecido de Anás (João 18:15) e desta


forma pode acompanhar Jesus até o interior da casa onde foi
interrogado, e também interceder para que fosse permitida a entrada
de Pedro no pátio. Foi na casa de Anás que Pedro negou Jesus
(João 18:17) pela primeira vez. Dali Jesus foi enviado à casa de
Caifás onde Pedro o negou por mais duas vezes. (João 18:24-27)

Conforme Marcos 14:61-64, Jesus foi achado pelo sumo-sacerdote


culpado de crime punível com morte, e por não ter poder para
executar a condenação levaram Jesus à presença de Pilatos para
que o sentenciasse.

O teólogo americano Robert Gundry comenta em seu “Panorama do


Novo Testamento”, Editora Vida Nova, 2ª edição, 1981, página 217,
que Anás, genro de Caifás, havia sido deposto do cargo de sumo-
sacerdote por haver sentenciado um judeu à morte na ausência do
governador.
345

O texto de João 18:28 diz que "depois levaram Jesus da casa de


Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na
audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a
páscoa.” É mais um texto que mostra claramente que a Ceia do
Senhor não correspondeu a Páscoa judaica, e que era o dia 14 de
Nisan, uma vez que os sacerdotes não queriam se contaminar para
comer a Páscoa, o que aconteceria no anoitecer daquele dia, nas
primeiras horas do 15 de Nisan. Definitivamente Jesus foi sacrificado
no 14 de Nisan.

Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira - 6 horas da manhã - início


do julgamento de Pilatos
Conforme o relato de João, o julgamento de Jesus perante Pilatos
começou às 6 horas da manhã: " E era a preparação da páscoa, e
quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei. (João
19:14)

Este é outro texto que deixa claro o dia da crucificação, 14 de Nisan,


dia da Preparação da Páscoa. João usa aqui, o horário romano, onde
o dia se inicia no por do sol, e não à meia-noite.

Algumas versões traduzem “preparação da Páscoa” como


“parasceve pascal”. Parasceve significa véspera, dia anterior. A
versão King James utiliza “preparation of the passover”. A Vulgata
Latina utiliza o termo “quartodecimanismo” como forma precisa de se
referir ao 14° dia de Nisan, 14 de Nisan.

Pilatos, não vendo em Jesus crime algum, ouvindo dizer que era
Galileu, e sabendo que Herodes, tetrarca da Galileia se encontrava
em Jerusalém por causa da semana da Páscoa, enviou-lhe Jesus
para que ele o julgasse. Também Herodes, não podendo culpar
Jesus de coisa alguma o devolveu a Pilatos. (Lucas 23:6-12)

Pilatos insistiu na inocência de Jesus certo de que propondo o indulto


da Páscoa, onde por tradição o governador soltava um judeu,
certamente Jesus seria solto em detrimento a Barrabás, mas a
maioria dos que ali estavam preferiu sua morte.

Mateus 27:24-25 reporta que Pilatos vendo crescer o tumulto lavou


suas mãos dizendo-se inocente do sangue de Jesus e o entregou à
morte. O mesmo texto destaca a resposta do povo diante da
hesitação de Pilatos: "o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos
filhos.” As duas coisas teriam repercussão eterna: lavo as mãos é
346

uma expressão utilizada até os dias de hoje; e quanto à maldição


imprecada pelos judeus sobre eles próprios e seus filhos, a própria
história cuidou de mostrar o seu efeito.

Jesus foi condenado à MORTE. Seu crime, conforme João 19:7,


reside na sentença de Caifás: "Nós temos uma Lei e, segundo a
nossa Lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.”

Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. (João 1: 11)

Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira – 3 de Abril - 9 horas da


manhã - a crucificação
Marcos usa a forma judaica de contar o tempo para nos informar que
às 9 horas da manhã Jesus foi crucificado: "E era a hora terceira, e o
crucificaram.” (Marcos 15:25)

É do consenso geral que o Evangelho de Marcos teve como primeira


destinação a cultura romana, e desta forma, ao se referir às horas,
tem o cuidado de usar a contagem judaica, de maneira a não
associar seus leitores à idéia de transferência de qualquer
responsabilidade aos romanos pela morte de Jesus.

Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira - das 12 às 15 horas -


trevas sobre a Terra
Marcos informa que entre meio-dia e 15 horas houve trevas sobre a
Terra: “E, chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até
a hora nona. " (Marcos 15:33)

Ano 30 DC - 14 de Nisan - quarta-feira - 15 horas - morte de


Jesus
Conforme MT 27:50-54, às 15 horas, quando Jesus deu seu último
suspiro, o véu que isolava no Templo o lugar santíssimo se rasgou
de cima a baixo; a terra tremeu e muitos crentes em Jesus foram
ressuscitados. Naquele preciso instante Jesus consumara sua
missão.

Recordando o contexto da conversa que Jesus tivera com a mulher


samaritana, chegara o tempo em que não havia mais separação
entre o homem e o Criador. Rompe-se o véu do Templo que fazia a
separação do Lugar Santo do Santíssimo, onde apenas o sumo-
sacerdote entrava uma vez por ano para expiar os pecados da
nação: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros
347

adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai


procura a tais que assim o adorem.” (João 4:23)

Jesus morreu, portanto, no mesmo dia que os judeus sacrificavam o


cordeiro da Páscoa. "Falai a toda a congregação de Israel, dizendo:
Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as
casas dos pais, um cordeiro para cada família. Mas se a família for
pequena para um cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto
de sua casa, conforme o número das almas; cada um conforme ao
seu comer, fareis a conta conforme ao cordeiro. O cordeiro, ou
cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das
ovelhas ou das cabras. E o guardareis até ao décimo quarto dia
deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o
sacrificará à tarde.” (Ex 12:1-6)

15 a 17 de Nisan - quinta, sexta e Sábado no seio da Terra - o


sinal do Profeta Jonas
Um dos principais textos contrários à tese da sexta-feira é a
referência dada pelo próprio Senhor Jesus quando os fariseus lhe
pediram um sinal, ao que ele respondeu: "Uma geração má e
adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o
do profeta Jonas; Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no
ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três
noites no seio da terra.” (Mateus 12:40)

Se Jesus houvesse sido sepultado na sexta-feira, obviamente não


teria cumprido os três dias e três noites, uma vez que ressuscitou no
domingo.

Os que são a favor de manter a sexta-feira como dia da crucificação


entendem que Jesus teria empregado aqui uma expressão
idiomática, o que é de fato sustentável à luz da própria Bíblia.
Gênesis 42:17-18, por exemplo, relata o confronto de José com seus
irmãos no Egito: "E pô-los juntos, em prisão, três dias. E ao terceiro
dia disse-lhes José: Fazei isso, e vivereis; porque eu temo a Deus.”

Neste caso a expressão três dias e três noites tem o mesmo valor
que três dias. Outro exemplo pode ser visto na passagem em que os
amalequitas saqueiam Ziclague e levam cativas as esposas de Davi
em 1 Sm 30:7-13, onde também três dias e três noites têm o mesmo
valor que três dias.

Ao se aplicar, no entanto, o sentido literal às palavras de Jesus,


partindo do domingo, como dia da ressurreição, teríamos que
348

entender que o Senhor ficou sepultado o dia e a noite do sábado, o


dia e a noite da sexta-feira, e o dia e a noite da quinta-feira, e desta
forma teria sido crucificado na quarta-feira, e sepultado nas primeiras
horas da quinta-feira.

A quarta-feira deve ser objeto de certa reflexão acerca do tempo que


José de Arimateia teria para cuidar do sepultamento de Jesus depois
de ser dado como morto às 15 horas, cerca de 4 horas antes do
início do novo dia. Seriam estas 4 horas tempo suficiente para José
de Arimateia ir ao palácio do governador, obter a autorização de
Pilatos, retornar ao Calvário, tirar Jesus da Cruz, limpar seu corpo e
sepultá-lo? Vejamos os fatos:

1 - Jesus foi crucificado às 9 horas da manhã, conforme nos relata


Marcos 15:25: "E era a hora terceira, e o crucificaram.”

2 - Marcos 15:34 e Mateus 27:46 nos informam que Jesus morreu às


15 horas, hora nona do horário judaico.

3 - Lucas (23:50-54) e Marcos (15:42-46) relatam que José de


Arimateia pediu a Pilatos o corpo de Jesus para ser sepultado.
Vejamos o texto de Marcos: "E, chegada a tarde, porquanto era o dia
da preparação, isto é, a véspera do sábado, chegou José de
Arimateia, senador honrado, que também esperava o reino de Deus,
e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus. E Pilatos se
maravilhou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião,
perguntou-lhe se já havia muito que tinha morrido. E, tendo-se
certificado pelo centurião, deu o corpo a José; o qual comprara um
lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num
sepulcro lavrado numa rocha; e revolveu uma pedra para a porta do
sepulcro.”

Os textos não dizem se José de Arimateia estava presente no


Calvário quando Jesus morreu. Seria mais provável que estivesse
em Jerusalém já preocupado com o sepultamento, e desta forma,
quando chegou a notícia da morte de Jesus, solicitou uma audiência
com o governador, e só depois de ter o seu consentimento foi
sepultá-lo.

Quem provavelmente retornou do Calvário com a notícia teria sido o


centurião a quem Pilatos indagou, ou mesmo outro soldado, que teria
gasto pelo menos uma hora entre certificar a morte de Jesus e
chegar a Jerusalém, considerando que o Calvário está próximo a
uma das entradas da cidade.
349

José gastaria então uma hora na melhor das hipóteses para


conseguir e terminar a audiência com Pilatos, e mais meia hora para
retornar ao Calvário.

Retirar Jesus da Cruz, limpar o seu corpo, respeitar o pranto de sua


mãe, João, das outras mulheres e demais seguidores de Jesus, e
depois transportá-lo ao local do sepultamento com certeza não
tomaria menos de duas ou três horas, sendo que qualquer destas
hipóteses faria com que Jesus fosse sepultado no anoitecer, ou seja,
quando já teria iniciado um novo dia na contagem de tempo judaica,
e desta forma, o dia do sepultamento já não seria o mesmo dia da
morte do Senhor, mas sim um novo dia, 15 de Nisan, quinta-feira,
SÁBADO, segundo a Lei de Moisés.

Ano 30 DC - 16 de Nisan - sexta-feira - a compra das especiarias


Marcos 16:1-2 diz que: "passado o sábado, Maria Madalena, e Maria,
mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. E, no
primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao
nascer do sol.”

O texto acima menciona o SÁBADO, que se refere ao 15 de Nisan,


pois, "passado o SÁBADO", por suposto o dia seguinte à
crucificação, as mulheres foram comprar aromas.

Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado Domingo

14 de Nisan 15 de Nisan 16 de Nisan 17 de Nisan 18 de Nisan


Dia 1 dos Ázimos
SÁBADO

Conforme Lucas 23:56: “E, voltando elas, prepararam especiarias e


ungüentos; e no sábado repousaram, conforme o mandamento.”

Teriam comprado os aromas na sexta-feira, para descansarem o


sábado regular e no Domingo irem ao túmulo. Ve-se claramente que
há um dia útil entre este Sábado referido e o domingo, ou seja, 16 de
Nisan, sexta-feira.
350

Ano 30 DC - 18 de Nisan – Domingo – ressurreição de Jesus


No domingo, 7 de Abril de 30, muito cedo as mulheres foram ao local
do sepultamento de Jesus e constataram que ele havia ressuscitado.
(Lc 24:1)

Jesus permaneceu entre seus seguidores por quarenta dias depois


da sua ressurreição (At 1:3), quando operou muitos sinais e foi visto
por centenas de pessoas.

João, no encerramento de seu evangelho diz que nem todas as


coisas feitas por Jesus foram registradas em livros. Os evangelhos
expressam, desta forma, apenas o singelo ponto de vista de seus
autores, que no momento em que os escreviam, tinham em mente
um propósito específico. A mensagem de Jesus, no entanto,
transcende os escritos bíblicos.

Poderia um simples carpinteiro, nascido numa cidade humilde de um


país sem expressão econômica alguma, associado a pescadores e
homens de profissões rudimentares mudar o curso da história a
ponto de o tempo em todo mundo ser dividido em antes e depois de
seu nascimento? Apenas o Filho de Deus poderia realizar uma tal
proeza.

Ano 30 DC – 27 de Lyar – 16 de Maio de 30 DC – Quinta-feira –


Ascenção de Jesus
Contados 40 dias desde o Domingo da Ressureição de Jesus, temos
que sua ascenção se deu no dia 27 do mês de Lyar, segundo mês do
calendário judaico, equivalente ao dia 16 de Maio de nosso
calendário, quinta-feira.

Ano 30 DC – 6 de Sivan – 24 de Maio de 30 DC – Sexta-feira –


Pentecostes
Conforme a promessa de Jesus, no dia de Pentecostes Deus enviou
o Espírito Santo sobre os apóstolos em Jerusalém. O Pentecostes é
a celebração das primícias, os primeiros frutos colhidos na estação.

De acordo com a Lei de Moisés (Lv 23:10-16), conforme visto, a


contagem do Pentecostes se inicia no dia 16 de Nisan, que
independente do dia da semana em que caia, é um Sábado. Inicia-
se, desta forma, no dia 16 do primeiro mês, a contagem dos 50 dias
que separam a Páscoa do Pentecostes.
351

Os judeus, para além de celebrar as primícias, celebram também,


desde o século II depois de Cristo, um outro significado para esta
festa, que é o tempo em que a Lei foi dada ao povo de Israel, 50 dias
depois do Êxodo, ou seja, 50 dias depois da Páscoa. Diga-se de
passagem, que este segundo significado da celebração tem para os
judeus uma importância maior que o significado determinado pela Lei
de Moisés.

Conforme seu costume, os judeus fazem, a partir do 16 de Nisan, por


50 dias a contagem do Ômer. Ômer é uma medida bíblica do volume
do cereal apresentado pelo sacerdote na celebração das primícias.
Conta-se, assim, um ômer por dia, onde o chefe da família declara o
dia e a semana do Ômer. No 20º dia, por exemplo, diz-se assim:
“Hoje são vinte dias, os quais são duas semanas e seis dias do
ômer.”

O Talmude diz que os saduceus, que já não existem mais, entendiam


que a contagem do Pentecostes se iniciava a partir do Sábado
regular da semana da Páscoa; Já os fariseus entendiam que se
iniciava no “grande dia de Sábado”, ou seja, o 16 de Nisan, que é a
contagem utilizada pelos judeus até os dias de hoje.

A contagem do ômer, dentro do judaísmo, serve para lembrar a


importância da conexão do Êxodo, com o Pentecostes (Shavu’ot),
onde a Páscoa representa a libertação da escravidão no Egito, mas a
doação da Lei é a redenção espiritual do pecado. Interessante como
estando tão perto da verdade os judeus não entendem que Jesus é a
verdadeira Páscoa.
352

Sobre Flávio Josefo (37 DC - 100 DC)


O primeiro fato histórico importante, seguinte à ascensão de Jesus,
não só do ponto de vista religioso, mas do arbítrio da história
universal, é a destruição de Jerusalém no ano 70 de nossa era. A
destruição da cidade está situada no meio de um período de sete
anos que vai desde o início da guerra dos judeus contra os romanos
até a primavera do ano 73 quando a Fortaleza de Massada foi
retomada dos judeus revoltosos.

É o cumprimento parcial da septuagésima semana profetizada por


Daniel: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo.”

Vimos que as 69 primeiras semanas, 483 anos contados a partir do


vigésimo ano de Artaxerxes I nos levam à data da crucificação de
Jesus: “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e
para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete
semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se
reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e
duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo.”

A última das setenta semanas se inicia com a destruição da cidade e


do Templo: “E o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e
o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim
haverá guerra; estão determinadas as assolações. E ele firmará
aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará
cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o
assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será
derramado sobre o assolador.” (Dn 9:24-27)

A grande testemunha histórica deste acontecimento foi Flávio Josefo,


que segundo sua autobiografia, nasceu no ano 37 DC, primeiro ano
de governo de Caio Calígula.

Seu nome hebraico era Yosef ben Matityahu e o nome Flávio Josefo
deriva de seu nome romano - Titus Flavius Josephus - tomado a
partir de 69 DC, quando o imperador Vespasiano o libertou depois de
captura-lo na guerra dos judeus contra os romanos, e na condição de
cidadão romano, veio assim assumir os nomes de seus benfeitores,
Vespasiano (Flavius Vespasianus) e Tito, seu filho (Titus Flavius
Caesar Vespasianus Augustus) como nomes próprios.

Era de origem nobre; sua mãe era descendente da realeza


asmoniana (conseguinte aos macabeus), enquanto seu pai era da
353

casta sacerdotal. Desde a infância demonstrou interesse pelos


assuntos políticos e religiosos de sua nação, havendo aprendido
muito cedo sobre as seitas dos fariseus, saduceus e essênios,
decidindo, na juventude, integrar-se à primeira.

Aos vinte anos de idade viajou a Roma, vindo a travar amizade com
diversas pessoas da sociedade, como também encontrar muitos
judeus inclinados a trabalhar por uma revolta contra os romanos.

No auge da guerra dos judeus contra os romanos, Josefo foi enviado


pelos principais de Jerusalém como governador para a Galileia.

Temos citado aqui duas de suas obras mais famosas: A História dos
Hebreus (Antiguidades Judaicas), e a Guerra dos Judeus Contra os
Romanos, que são testemunhos dos acontecimentos ocorridos no
século I de nossa era e importantes referências históricas
complementares aos escritos do Novo Testamento.

Observe que à exceção dos livros do Apóstolo João, todos os demais


livros do Novo Testamento foram escritos antes da destruição do
Templo em 70 DC, e que João, quando escreve suas epístolas e o
Apocalipse, o faz já distante deste acontecimento cerca de vinte
anos.

Josefo foi testemunha ocular da destruição de Jerusalém, e mais que


isto, teve um papel de grande destaque durante a referida guerra. É
interessante notar, que não por coincidência, sua obra tenha
sobrevivido até os nossos dias. Quis Deus, portanto, que seus
escritos se perpetuassem para testificar de maneira imparcial a
absoluta precisão da profecia do Senhor Jesus quanto ao destino de
Jerusalém. Jesus disse que não ficaria no Templo pedra sobre
pedra, e Josefo atesta como isto aconteceu.

Jesus, após condenar severamente a conduta dos fariseus, conforme


Mateus 23, disse que todo o peso dos pecados da nação recairiam
sobre aquela geração: "Em verdade vos digo que todas estas coisas
hão de vir sobre esta geração. (Mt 23:36)

Josefo atesta que tudo o que foi predito por Jesus aconteceu àquela
geração. Era, portanto, necessário que esta história fosse contada
por um judeu, e não por um cristão, para que fosse insuspeita, e
sobretudo por uma pessoa credível e capaz de relatar tais
acontecimentos de maneira imparcial.
354

Cito, por fim, as palavras de Vicente Pedroso, tradutor da obra de


Josefo, que na apresentação das Antiguidades Judaicas (Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 8a edição, 2004) sobre a
importância da história para se compreender o Plano de Deus, nos
diz o seguinte:

"Flávio Josefo é considerado um dos maiores historiadores de todos


os tempos. Acha-se ele, devido à sua importância não somente aos
judeus mas também a toda a humanidade, ao lado de Heródoto,
Políbio e Estrabão.

Embora não fosse profeta, e apesar de não contar com a inspiração


dos escritores bíblicos, mostra-nos ele claramente como as profecias
do Antigo Testamento cumpriram-se na vida dos filhos de Abraão.

O que isto vem demonstrar? Que a história, qual solícita e amável


serva dos desígnios divinos, tem como função realçar a intervenção
do Todo Poderoso nos negócios humanos.”

O observador inteligente da vida há de convir que a historia não é


mera permissão de Deus, mas o exercício da sua soberana vontade.
355

Antecedentes da Guerra dos Judeus contra os Romanos


"E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus
discípulos para mostrarem a estrutura do templo. Jesus, porém, lhes
disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui
pedra sobre pedra que não seja derrubada.” (Mt 24:1-2)

Quando lemos esta passagem é difícil vislumbrar aquilo que de fato


aconteceu. Como teria o Templo sido destruído, uma vez que um dos
pilares do império romano era o respeito às instituições religiosas dos
povos conquistados?

São comuns várias explicações sobre o assunto, uma delas que diz
que correu um boato entre os soldados romanos de que havia ouro
escondido entre as pedras, e, desta forma, no meio da agitação da
guerra o Templo foi literalmente desmontado. É interessante e
facilmente credível a estória, mas não é a verdade. Parece que
alguém quis fazer um gol de mão para dar consistência à profecia de
Jesus, coisa absolutamente desnecessária, uma vez que a história
real é por si mesma muito mais impressionante que isto.

Conforme os dados históricos, não só não ficou no Templo pedra


sobre pedra, como também foi destruída toda a cidade de Jerusalém,
onde, segundo o historiador Flávio Josefo, um milhão e cem mil
pessoas perderam a vida. Você consegue imaginar isto?

Afora a profecia de Jesus, o Novo Testamento não faz referência a


este fato, de maneira que, partindo do panorama político dos dias de
Jesus, é difícil imaginar como isto pode ter acontecido. A obra de
Flávio Josefo "Guerra dos Judeus Contra os Romanos" nos conta em
detalhes mínimos como tudo aconteceu. Josefo estava presente
quando caiu Jerusalém.

A destruição de Jerusalém é consequência de uma revolta que durou


7 anos, entre seu início em 67 DC e a reconquista da fortaleza de
Massada em 73 DC pelos romanos. No meio deste tempo caiu a
cidade de Jerusalém.

Mas vejamos antes alguns antecedentes: Jesus foi crucificado


durante o império de Tibério; Tibério foi sucedido por Caio Calígula,
que reinou sobre Roma entre 37 DC a 41 DC. Não fosse detido pela
morte, teria ele mesmo destruído Jerusalém muito antes do ano 70,
isto porque este imperador ordenou que fossem colocadas estátuas
no Templo, e que fossem mortos ou escravizados todos os judeus
356

que se opusessem à idéia. De fato o povo se opôs à ideia e a sua


destruição só foi detida pelo assassinato de Calígula.

Calígula foi substituído por Cláudio, que é mencionado em At 11:25-


28, no tempo em que Paulo levou o Evangelho à Antioquia. Cláudio
reinou por cerca de 13 anos, entre 41 DC e 54 DC, e foi sucedido por
Nero, seu filho, que reinou entre 54 DC e 68 DC.

Foi Nero quem nomeou Félix governador da Judeia. É a este Félix


que Paulo foi enviado, na cidade de Cesareia, quando os judeus
conjuraram sua morte em Jerusalém, conforme o registro dos
capítulos 23 e 24 de Atos.

Josefo, no capítulo 22, § 177-178, da obra "Guerra dos Judeus


Contra os Romanos", nos dá uma ideia de a quantas andava a
Judeia neste tempo:

"Ele (Félix) apenas tomou posse do cargo, fez guerra aos ladrões
que devastavam todo o país há vinte anos, prendeu Eleazar, seu
chefe, e vários outros, que mandou presos à Roma, além de mandar
matar um número incrível de outros ladrões. Depois que a Judeia
ficou livre desses ladrões, apareceram outros em Jerusalém, que de
uma maneira diferente exerciam uma profissão infame e criminosa.
Chamavam-nos de sicários, e não era de noite, mas em pleno dia e
particularmente nas festas mais solenes, que eles mostravam o seu
furor.

Apunhalavam, no meio do aperto, àqueles aos quais haviam


deliberado matar e misturavam em seguida seus gritos com os de
todo o povo, contra os culpados de tão grande crime; tudo lhes saía
tão bem, que ficavam muito tempo impunes, sem que deles se
desconfiasse. O primeiro que eles assassinaram dessa maneira, foi
Jônatas, o sumo sacerdote, e não se passava um só dia, sem que
não matassem a outros, do mesmo modo.

Dessa forma, toda Jerusalém estava tomada de pavor, pois


semelhante perigo só existira durante a guerra mais sangrenta.
Todos esperavam a morte a cada instante; tremia-se à aproximação
de qualquer pessoa; não se confiava nem mesmo nos amigos e
embora se vivesse sempre alerta, todas essas desconfianças e sus-
peitas não eram capazes de garantir a vida àqueles aos quais tais
celerados tinham decretado a morte, tão astutos e espertos eles
eram num ofício tão execrável.”
357

É interessante observar que cerca de 25 anos depois da crucificação


de Jesus, não só a cidade de Jerusalém, como também o resto do
país havia perdido a sua paz, bem de acordo com a sentença
pronunciada pelos próprios judeus, um raro caso em que "Vox
Populi, Vox Dei" (Voz do povo, voz de Deus) é de fato verdadeiro,
conforme lemos em Mateus 27:25:

62 DC - Morte de Tiago, irmão de Jesus


Félix foi substituído por Pórcio Festo, a quem se refere Atos 24:27 e
capítulos subsequentes. Festo, por sua vez, já na altura que Paulo
fora transferido para Roma, morreu, e Nero o substituiu no governo
da Judeia por Albino, a quem Josefo classifica de um homem de
maus princípios.

Josefo registra um acontecimento importantíssimo para nós, que


ocorreu no intervalo entre estes dois governos. Entre a morte de
Festo e a chegada de Albino transcorreram cerca de cinco meses, e
neste intervalo, o rei Agripa tirou o sumo sacerdócio de José para dá-
lo a Anano. Pode-se observar aqui que o sumo sacerdócio era desde
há muito tempo um cargo de confiança de quem governava o estado,
o que começou praticamente no período de Judas Macabeu dois
séculos antes disto.

Conforme Josefo, Anano, o recém nomeado sumo sacerdote, que


era saduceu, aproveitou o tempo da morte de Festo, e o fato de
Albino ainda não haver chegado, “para reunir um conselho, diante do
qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e
alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os
condenou ao apedrejamento.” Agripa tirou-lhe o sumo sacerdócio,
que exercera somente durante quatro meses, e a deu a Jesus, filho
de Daneu.” (Antiguidades Judaicas § 856)

Não se pode precisar o ano em que Festo começou a governar a


Judeia, mas sabe-se que ele morreu em 62 DC, sendo este,
portanto, o ano da morte de Tiago, irmão do Senhor.

A Guerra contra os romanos - o início das hostilidades


Albino, o novo governador, era homem corrupto e de maus
princípios. Josefo diz acerca dele: "Não houve mal que ele não
fizesse. Não se contentou em se deixar subornar por presentes, nos
negócios civis, mas tirava os bens de todos e oprimia os judeus com
novos tributos; pôs em liberdade, por meio do dinheiro, os que os
magistrados das cidades tinham condenado ou que os governadores
358

precedentes tinham detido por seus roubos, e só julgava culpados


aqueles que nada tinham para lhe dar.” (Ibid § 184)

Sobre esta questão de Albino receber dinheiro para libertar


criminosos, Josefo relata no § 861 da História dos Hebreus que
"quando Albino soube que Géssio Floro fora nomeado para substituí-
lo, pareceu querer obsequiar os habitantes de Jerusalém. Assim,
mandou trazer todos os prisioneiros, condenou à morte todos os que
realmente eram culpados de crime capital, mandou para a prisão os
que lá tinham sido postos por faltas leves e depois lhes deu a
liberdade a troco de dinheiro. Assim esvaziou as prisões, e ao
mesmo tempo todo o país ficou cheio de ladrões.” Veja-se nisto o
pano de fundo dos acontecimentos que virão a se abater sobre toda
a Judeia.

Se este Albino era mau e corrupto, foi substituído por Gessio Floro, a
quem comparado, segundo Josefo, Albino poderia ser até chamado
de bom homem: "Seus roubos (Floro) não tinham limites, bem como
outras violências; ele era cruel para com os aflitos e não se
envergonhava das ações mais vis e infames; nenhum outro jamais
traiu mais atrevidamente a verdade, nem usou de meios mais sutis
para fazer o mal.” (Ibib § 185)

Foi durante o governo deste Gessio Floro que começou a revolta que
culminaria, no ano 70 DC, na destruição do Templo.

A revolta começou com uma banalidade, em Cesareia, onde um


grego possuía um terreno perto de uma sinagoga, terreno este que
os judeus desejam comprar e se dispunham a pagar por ele bom
preço. Josefo conta que o grego não somente não se contentou em
em não vendê-lo, "mas também resolveu, para aborrecê-los ainda
mais, mandar construir neste terreno uns armazéns e deixar assim
uma passagem muito estreita para se ir à sinagoga.” Os judeus
tentaram impedir a construção e levaram o caso a Floro, o
governador recém-empossado, que recebeu destes uma certa soma
de dinheiro, prometendo, desta forma, parar a obra. Não fez nada e
deixou a coisa toda ao acaso.

Para piorar a situação, conta Josefo, que o grego, num dia de


sábado, enquanto os judeus estavam na sinagoga, começou a
sacrificar aves com o claro propósito de irritá-los, e foi assim que tudo
começou, com enfrentamento de ambas partes, gregos e judeus, de
maneira que em pouco tempo a escalada de violência tomou toda a
359

cidade, e como um rastilho de pólvora, uma simples ocorrência local,


se espalhou por todo o país.

Floro, governador da Judeia, ao invés de apaziguar a situação, viu ali


a oportunidade de fustigar os judeus, mandando atirar muitos à
prisão como também executar outros. Os judeus procuraram então,
por todas as maneiras resolver a questão de maneira legal e pacífica.
Floro, considerando-se sua influência regional como governador da
Judeia, pode ser visto e entendido neste ponto da história como um
mini Hitler, como alguém que não poupou qualquer esforço para
incentivar uma guerra dos judeus contra os romanos com o fim de
exterminá-los.

Conforme Josefo, qualquer pequena ocorrência era motivo para que


ele agisse com exagerada força contra o povo desarmado, e assim,
Floro atirou muitos à prisão e executou centenas de pessoas sem
uma razão justa. O excesso de injustiça pelo lado de Floro propiciou
que florescessem diversos grupos de revoltosos pelo lado dos
judeus. Um destes grupos, por exemplo, atacou e tomou a fortaleza
de Massada, degolando toda a guarnição romana que cuidava do
local.

66 DC - 12° ano de Nero


Como se vê, instalou-se por toda Judeia uma verdadeira guerra civil,
mas não ainda a guerra contra os romanos. Estaríamos, aqui,
situados por volta do ano 66 DC, décimo segundo ano de Nero.

A revolta não tardou a se espalhar para a Samaria e Galileia, e


mesmo por outras províncias fora da Palestina. Em Damasco, por
exemplo, a notícia de que os judeus haviam se rebelado deu lugar à
justificativa para que fossem perseguidos e mortos por seus inimigos
por se tratar de inimigos de Roma.

Conforme dissemos, a fortaleza de Massada foi conquistada pelos


judeus, que liderados por um tal Manahem, mataram toda a
guarnição romana encarregada da segurança, e tomaram posse do
arsenal que desde o tempo de Herodes se guardava naquele lugar.
Manahem armou um grande número de homens e marchou contra
Jerusalém, fazendo-se assim rei, e tornando-se chefe da revolta.

Uma vez em Jerusalém matou Ananias, o sumo-sacerdote, vindo,


depois disto, ser ele próprio morto por uma gente liderada por
Eleazar, filho do sumo-sacerdote. (Ibid § 204)
360

Eleazar contava com o apoio popular, e uma vez que todos


desejavam o fim da revolta, imaginavam que a morte de Manahem
faria cessá-la. Mas a troca de Manehem por Eleazar só fez piorar as
coisas, pois este desejava ardentemente lutar contra os romanos e
se libertar da dominação estrangeira.

Toda esta espécie de insensatez nos força a pensar que Eleazar,


bem como outros que se destacaram nesta guerra, teriam
possivelmente vivas em suas mentes a memória dos feitos heroicos
dos macabeus, e desta forma, sonhavam também se tornar heróis,
reeditando contra os romanos as vitórias de Judas Macabeu contra
os selêucidas.

Ao mesmo tempo em que passavam estas coisas em Jerusalém,


cerca de vinte mil judeus foram mortos por seus inimigos na cidade
de Cesareia. Esta cidade era um importante centro da Samaria,
sendo assim, habitada, como outras cidades da região, por maioria
gentílica, ou seja, não judeus.

A perseguição e morte dos judeus de Cesareia contou com a ajuda


do governador Floro. Josefo conta que .”.Tão grande morticínio
excitou tal furor à nação judaica, que eles devastaram todas as
cidades e aldeias na fronteira da Síria, a saber: Filadélfia, Gebonite,
Gerasa, Pella e Citópolis; tomaram de assalto Gadara, Hipoim,
Gaulanite, destruíram umas, incendiaram outras e avançaram até
Cedasa, que pertence aos tirios, Ptolemaida, Gaba, Cesareia, sem
que Sebaste e Ascalom fossem capazes de os deter. Incendiaram-na
e destruíram Antedom e Gaza. Saquearam também várias aldeias da
fronteira e mataram a todos os que puderam apanhar.”

Houve também na mesma época um massacre de muitos judeus na


Síria, em Alexandria, no Egito, e por todos os lados, de maneira que,
Céstio Galo, governador da Síria, interveio na situação enviando à
Judeia, conforme Josefo, "a décima segunda legião, que ele tinha
inteira em Antioquia, dois mil homens escolhidos das outras legiões,
seis coortes de outra infantaria, quatro regimentos de cavalaria e três
mil soldados de infantaria do rei Antíoco, armados de flechas, mil
cavaleiros e três mil soldados do rei Soheme, um terço dos quais era
de cavalaria.” (Ibid § 217)

O rei Agripa contribuiu com Céstio no esforço de sufocar a revolta


enviando em seu auxílio numerosa tropa de soldados, de maneira
que Céstio conseguiu um certo êxito em seu intento, dominando
vários focos da revolta pelo país, chegando a Jerusalém, forçando
361

assim os revoltosos a abandonar a cidade e o Templo que haviam


tomado.

Teve neste ponto da situação a oportunidade de tomar por completo


a cidade e por fim à revolta, caso atacasse os poucos focos de
resistência que ainda subsistiam, mas aconselhado por seus
generais não o fez.

Diz Josefo que "se esse general tivesse continuado o cerco, teria
logo se apoderado da cidade; mas Deus, irritado contra aqueles
malvados, não permitiu que a guerra acabasse logo", e assim, ao
abrandar o ataque ao invés de massacrar os revoltosos, Céstio deu
oportunidade para que a situação se revertesse, de maneira que os
revoltosos se reorganizaram e conseguiram expulsá-lo de Jerusalém,
matando centenas de soldados romanos. Conforme Josefo, isso
aconteceu no oitavo dia de novembro do décimo segundo ano do
reinado de Nero (66 DC).

É aqui que começa a provocação da Guerra dos judeus contra os


romanos, ao fim da qual Templo será destruído, conforme as
palavras de Jesus.

Implantou-se por toda a região um clima de guerra inimaginável, de


forma que na constatação de que o controle político sobre a
Palestina havia sido perdido, e que o mesmo poderia vir a ocorrer
nos países vizinhos, Nero deu a Vespasiano o comando das legiões
romanas na Síria, e a incumbência de massacrar os judeus para
fazer cessar a revolta. Vespasiano, viria a ser imperador de Roma
(entre 69 DC a 79 DC), bem como seria sucedido no trono por seus
dois filhos, Tito (79 DC e 81 DC) e Domiciano (81 DC e 96 DC).
362

Pequena nota sobre Vespasiano, Tito e Domiciano


Tito Flávio Vespasiano foi o primeiro imperador romano da chamada
dinastia Flaviana (Flávios), tendo governado o império entre 69 a 79.
Depois dele, seus dois filhos o sucederiam, Tito, entre 79 e 81, e
Domiciano, entre 81 e 96. Foi Vespasiano quem construiu o famoso
Coliseu romano.

Vespasiano seguiu a carreira militar vindo a destacar-se em 43 na


invasão da Britânia durante o governo de Cláudio. Foi eleito cônsul
em 51, vindo a ser nomeado governador da Província da África em
63.

Em 67, face aos acontecimentos na Judeia, foi designado por Nero


para conduzir a guerra contra os judeus. Seu filho Tito foi seu
ajudante pessoal durante esta campanha. Achavam-se os dois
ocupados com o cerco de Jerusalém quando chegou a notícia do
suicídio de Nero, em junho de 68.

Vespasiano foi aclamado imperador pelos exércitos romanos do


oriente em junho de 69. Neste intervalo de tempo Roma teve três
imperadores distintos: Galba, Oto e Vitélio. Ao regressar a Roma
para tomar posse do governo Vespasiano deixou Tito encarregado
de terminar a guerra contra os judeus.

Tito (Tito Flávio Vespasiano Augusto), filho mais velho de


Vespasiano viria a ser o imperador romano entre os anos de 79 e 81.
Foi Tito quem conquistou Jerusalém. Durante o seu governo
aconteceu a famosa erupção do Vesúvio em 79 que destruiu as
cidades de Pompeia e Herculano.

Tito foi seguido no governo de Roma por seu irmão Domiciano (Tito
Flávio Domiciano), que reinou 15 anos, entre 81 e 96. Foi no tempo
deste imperador que João, exilado em Patmos, escreveu o
Apocalipse.
363

A Guerra do Judeus Contra os Romanos


É interessante notar, que no meio do caos, quando a guerra contra
os romanos passara de possibilidade para realidade, coube
naturalmente aos religiosos, liderados pelo sumo-sacerdote, a
responsabilidade de organizar o povo na resistência, e neste sentido,
são os fariseus que tomam a dianteira deste negócio.

A expulsão de Céstio de Jerusalém deu ocasião à formação de


vários grupos de resistência aos romanos, mas sem uma liderança
centralizada, propiciou, desta maneira, a formação de grupos de
interesses diversos, o que, no final, não viria a ser a causa da derrota
dos judeus, porque seria difícil a qualquer nação da Terra derrotar o
maior exército do mundo, mas foi sim, a razão principal de tanto
sofrimento e destruição que veio sobre aquele povo.

Em Jerusalém coube a princípio a chefia da cidade ao sumo-


sacerdote Anano, mas à medida que a desobediência civil se
instalava em todos os cantos do país, mais e mais gente se refugiava
na cidade, e desta forma, diversos grupos se formaram dentro da
comunidade, muitos deles formados por ladrões e párias, cada um
querendo tirar partido financeiro do caos reinante, constituindo-se
assim, opositores uns dos outros.

No intento de organizar o país para formar uma resistência efetiva,


foram enviados às províncias governadores, visando principalmente
as cidades grandes, tais como Jericó, Tamma, Jope, Emaús entre
outras. A Flávio Josefo, da casta dos sacerdotes em Jerusalém,
coube governar a alta e baixa Galiléia.

De maneira geral, estes governadores substituíam o poder local, e


criavam sua própria forma de gerir suas províncias: trataram de
fortificar suas cidades, e recrutar homens, a maioria jovens, aos
quais eram entregues as armas disponíveis, geralmente velhas e de
baixa qualidade.

Josefo, na qualidade de governador da alta e baixa Galiléia, conta


que nomeou entre os recrutados chefes e oficiais, aos quais ensinou
os rudimentos da guerra, como por exemplo, as várias maneiras de
toques de alarme, ataque e retirada. Seu primeiro cuidado foi
conquistar o afeto do povo, e assim, dividiu com eles a sua
autoridade, escolhendo administradores das províncias e juízes para
julgar as pequenas causas. Mandou também cercar de muralhas as
praças da baixa Galiléia, e recrutou quase cem mil homens, entre os
364

quais nomeou comandantes, oficiais e chefes. Contratou também


estrangeiros, e à exceção destes, os demais eram mantidos pelas
cidades que os sustentavam de boa vontade.

Pelo lado romano, Vespasiano foi escolhido a dedo por Nero: "Sua
vida, desde a juventude até à velhice, tinha-se passado na guerra. O
império devia ao seu valor a paz de que gozava no Ocidente, que se
vira abalado pela revolta dos povos germânicos, e seus trabalhos
tinham dado ao imperador Cláudio, pai de Nero, sem esforço algum,
sem ter derramado uma gota sequer de sangue, a glória de triunfar
contra a Inglaterra, que não se podia dizer, até então, ter sido
verdadeiramente dominada. Dessa forma, Nero, considerando a
idade, a experiência e a coragem deste grande general e que ele
tinha filhos que eram como reféns de sua fidelidade, os quais no
vigor da juventude podiam servir como de braços à prudência de seu
pai, além de que talvez, Deus assim o permitia para o bem do
império, resolveu dar-lhe o comando dos exércitos da Síria.” (Guerra
dos Judeus Contra os Romanos, Capítulo 3, § 234)

Conta Josefo que "Vespasiano atacou primeiro Gadara: tomou-a sem


dificuldade, ao primeiro assalto, porque lá havia muito pouca gente
capaz de defendê-la. Os romanos mataram todos os que estavam
em idade de pegar em armas. De tal modo a lembrança da derrota
sofrida por Céstio os acirrava contra os judeus, que a impiedade foi a
marca desta campanha. Vespasiano não se contentou em mandar
incendiar a cidade, mas mandou queimar também as aldeias e as
vilas dos arredores, cujos habitantes foram escravizados em grande
parte.” (Ibid § 246)

Mateus 8:28 registra que Jesus curou nesta cidade dois


endemoniados, e que na sequência deste acontecimento foi
impedido de nela entrar.

Os romanos, além da vantagem de serem disciplinados e treinados


para a guerra, possuíam também armas eficientes, entre as quais, a
famosa Gladius (de onde deriva a palavra gladiador), uma espada de
cerca de meio metro, que além de uma ponta fina e penetrante
possuía dois gumes, ou seja, corte dos dois lados.

Em termos de máquinas de guerra, possuíam as mais modernas


para a época, como as plataformas que atingiam a altura dos muros
das cidades, catapultas, e o ariete, que o próprio Josefo descreve
quando relata o ataque romano à cidade de Jotape, onde ele próprio
se encontrava na ocasião: "Tão longo assédio e as incursões
365

contínuas dos sitiados faziam com que Vespasiano se considerasse,


ele mesmo, como sitiado; suas plataformas haviam sido concluídas
até à altura das muralhas e ele (Vespasiano) resolveu servir-se do
aríete. Essa terrível arma é feita como um poste, semelhante a um
mastro de navio de altura e grossura enormes, cuja ponta superior é
armada com uma cabeça de ferro proporcional ao restante e
semelhante à de um carneiro, o que lhe valeu o nome, porque bate
nas muralhas como o carneiro ataca também com a cabeça os seus
adversários. Esse mastro é suspenso e balançado por meio de
grossos cabos, como o braço de uma balança, sobre um outro
grande poste apoiado sobre a terra e sustentado de ambos os lados
por escoras muito fortes e bem ligadas. Assim o aríete, balançando-
se no ar, levantado e abaixado com violência por um grande número
de homens, bate com a cabeça, fortemente, sobre um muro que se
quer derrubar, e toda resistência possível cede-lhe à violência dos
golpes repetidos.” (Ibid § 254)

Em Jotape Vespasiano foi ferido por uma flecha na planta do pé, o


que causou, segundo Josefo, grande comoção entre seus
comandados, e particularmente em Tito, seu filho, que por causa
disto lutavam com muito maior ardor como que para vingar a afronta
sofrida por seu general. A cidade resistiu por apenas 47 dias, e ao
fim deste tempo, foi totalmente destruída, havendo os romanos
matado sem piedade todos os homens, independente de suas
idades, poupando apenas as mulheres e crianças. Quarenta mil
judeus perderam a vida nesta empreitada, muitos dos quais se
suicidaram. Conforme Josefo, "a tomada dessa praça cuja extrema
resistência tornou-se tão célebre, deu-se a primeiro de julho do
décimo terceiro ano do reinado de Nero” (67 DC).

Josefo conta que escapou da cidade na ocasião, vindo a refugiar-se


numa caverna juntamente com outros 40 fugitivos, mas passados
dois dias, foi denunciado por uma mulher.

Vespasiano, sabendo do paradeiro de Josefo mandou-lhe um


tribuno, de nome Nicanor, conhecido deste, que tentou convencê-lo a
se entregar. A solução para este dilema não se encontrava nas mãos
de Josefo unicamente, uma vez que seus companheiros estavam
dispostos ao suicídio para não cair nas mãos dos romanos, e assim,
lançando sorte, entregaram-se à morte um a um até que restaram
apenas Josefo e um companheiro, e assim, "Josefo, vendo que se
lançasse a sorte, ela, ou lhe custaria a vida ou ele teria que manchar
suas mãos no sangue de um amigo, aconselhou-o a viver, dando-lhe
garantia de salvá-lo”. Assim, Josefo conseguiu escapar daquele
366

tremendo perigo que correra, quer do lado dos romanos, quer dos de
sua própria nação, e entregou-se a Nicanor.” (Ibid, 270-271)

Josefo sobreviveu, desta forma, à destruição da cidade, vindo mais


tarde a tornar-se amigo de Tito e Vespasiano, conforme veremos
adiante.

Jope foi o alvo seguinte de Vespasiano, uma vez que esta cidade se
tornara um ponto de troca de bens que eram saqueados nos mares
por judeus que percorriam as costas da Fenícia, da Síria e mesmo do
Egito. Tomaram a cidade sem luta, fortificaram sua parte mais alta, e
deixaram ali uma guarnição de soldados de infantaria e muita
cavalaria, para fazerem incursões às regiões vizinhas e incendiarem
as aldeias e as vilas.

Josefo reporta batalhas extraordinárias em Jafa, Tiraqueia, Gamala,


Giscala, entre muitas outras cidades que caíram nas mãos dos
romanos. Foram todas destruídas e incendiadas, e quanto aos
moradores, tanto os moços como os velhos, foram mortos em suas
casas e nas ruas, sem que nenhum daqueles capazes de pegar em
armas fosse poupado, exceto as crianças, que foram levadas
escravas juntamente com as mulheres.

Como consequência de tamanho caos, aconteceu o que acontece


também em nossos dias, quando advém um tumulto social qualquer:
proliferaram os fora da lei, e assim, o crime atingiu por toda judeia
patamares inimagináveis.

Foi desta forma que veio sobre Jerusalém o maior dos castigos.
Josefo assim nos reporta: "Em tal miséria, as guarnições das
cidades, pensando somente em viver, segundo sua vontade, sem se
incomodar com a pátria, não cuidavam em defender os oprimidos; os
chefes dos ladrões depois de se terem unido e organizado, dirigiram-
se para Jerusalém. Não encontraram obstáculo, quer porque
ninguém tinha autoridade, quer porque a entrada estava sempre
aberta para todos os judeus segundo o costume dos nossos
antepassados, e naquele tempo, mais que nunca, porque se pensava
que para lá se ia, levado apenas pelo afeto e pelo desejo de servir à
cidade, naquela guerra.

Daí nasceu um grande mal, que, mesmo que não tivesse havido
divisão, naquela grande cidade, teria sozinho causado sua ruína,
porque uma parte dos víveres que seria suficiente para alimentar os
que eram capazes de a defender foi consumida inutilmente por
367

aquela grande multidão de homens inúteis, mas também foi causa de


revoltas que vieram depois da carestia.

Outros ladrões deixaram os campos para lançar-se sobre Jerusalém,


unindo-se aos primeiros, que eram ainda piores do que eles. Não se
contentavam de roubar e de assaltar; sua crueldade chegava ao
assassínio; sua ousadia era tal que o cometiam à luz do dia, sem
poupar nem mesmo às pessoas de condição. Começaram por
prender Antipas, que era de família real e ao qual estava confiada a
guarda do tesouro público, como o primeiro de todos, em dignidade.
Trataram do mesmo modo Levias e Sophas, filho de Raguel, que
também eram de família real e outras pessoas muito importantes.
Essa horrível insolência, lançou tal terror no espírito do povo, que
como se a cidade já tivesse sido tomada, todos só pensavam em
fugir.” (Ibid 300-301)

O Templo, bem como a Fortaleza Antônia, o Palácio do rei Agripa, e


as demais fortificações da cidade foram ocupadas por bandidos. O
Templo, desta forma, chegou ao ponto de ser, na prática, um quartel
de malfeitores.

Sobre estes Josefo comenta que "sua horrível impiedade levou-os a


ofender a Deus, entrando com os pés manchados e armas
criminosas no Santuário. Os zelotes (pois esses ímpios davam-se a
si mesmos tal nome) para se salvar dos efeitos da ira do povo,
fugiram para o Templo e lá fizeram sua fortaleza, estabelecendo nele
a sede de seu governo tirânico. Dentre tantos males que causavam,
nada era tão intolerável quanto seu desprezo pelas coisas mais
santas.

Para experimentar até onde poderiam chegar suas forças e o temor


do povo, tentaram servir-se da sorte para escolher o sumo-sacerdote,
afirmando que assim se fazia antigamente, quando tal dignidade era
hereditária; aboliam a lei para estabelecer sua injusta autoridade.
Mas eles ficaram confundidos em sua malícia, pois tendo feito lançar
a sorte sobre uma das famílias da tribo, consagrada a Deus, caiu a
mesma sobre Fanias, filho de Samuel, da aldeia de Hafrasi, que não
somente era indigno de tal cargo, mas ainda tão rústico e tão
ignorante, que nem sabia o que era o sacerdócio. Contra sua
vontade tiraram-no de suas ocupações do campo e o revestiram dos
hábitos sacerdotais, que lhe assentavam muito mal, quase como se
estivessem vestindo um ator de teatro; ensinaram-lhe depois o que
devia fazer; tão grande impiedade passava em seu espírito apenas
por um gracejo. Os verdadeiros sacerdotes, olhando de longe essa
368

comédia e de que modo se calcava aos pés a honra devida às coisas


santas, não puderam reter as lágrimas, nem o povo suportou por
mais tempo tão horrível insolência; todos sentiram-se inflamados pelo
mesmo ardor, para se libertarem de tal tirania. (Ibid 301-303)

Por causa da afronta contra o Templo, Anano, o sumo-sacerdote,


levantou o povo contra os zelotes que o ocupavam, havendo assim,
muitos mortos de ambos lados. Mas, diante da impossibilidade de
derrotar os zelotes, teve o sumo-sacerdote Anano o ensejo de pedir
a Vespasiano que viesse retomar o Templo, e conseguiu assim
convencer o povo de que este seria o único caminho viável.

Tendo sido avisados da intenção de Anano, os zelotes, por sua vez,


pediram o auxílio dos idumeus, justificando que "Anano, depois de ter
enganado o povo, queria entregar a cidade aos romanos, e que eles
(os zelotes), se tinham retirado ao Templo para não abandonar a
defesa da liberdade pública, mas que estavam cercados e prestes a
ser atacados, se não se impedisse, com um auxílio imediato, que
eles caíssem nas mãos dos inimigos e a cidade, nas dos romanos. "
(Ibid 311)

É preciso entender que toda aquela região, onde se inclui a Judeia,


Samaria, e também a Idumeia, tinham como capital a cidade de
Jerusalém, e desta forma, tal aliança entre os zelotes e idumeus foi
bastante facilitada. E assim, vieram os idumeus em auxílio dos
zelotes, e invadiram a cidade, e atacaram a guarda dos sacerdotes
que mantinha encurralados no Templo os zelotes, de maneira que no
raiar do dia seguinte, depois de intensa batalha, conforme Josefo,
havia oito mil e quinhentos mortos estendidos ao redor do Templo.

A união de zelotes e idumeus permitiu que estas forças controlassem


grande parte da cidade e no confronto desta guerra civil milhares
morreram, entre os quais Anano, bem como muitos outros
sacerdotes.

Não tardou, no entanto, para que os idumeus percebessem os


abusos dos zelotes e entendessem que haviam sido usados numa
causa injusta, e desta forma, romperam a aliança e retornaram a
suas cidades, deixando, porém, os zelotes na condição de força
dominante no confronto.

Vespasiano, que estava a par dos acontecimentos em Jerusalém foi


aconselhado a tomar proveito da situação da cidade, dividida entre
dois grupos que se atacavam mutuamente, mas justamente por esta
369

causa, contra o conselho de seus oficiais, resolveu deixar que estas


forças se aniquilassem mutuamente, e assim a conquista seria
menos penosa.

Não se pode deixar de enxergar em todos estes acontecimentos a


mão de Deus agindo contra aquele povo: Vespasiano, conforme as
palavras de Josefo, considerou "que se nos apressarmos em atacá-
los, nós os obrigaremos a se reunirem para voltar contra nós todas
as forças, que são ainda muito fortes; ao passo que se nós o
diferirmos, elas continuarão a se enfraquecer por meio dessa guerra
doméstica, que já começou a diminuí-las. Não vedes que Deus, que
luta por nós, quer que lhe sejamos devedores dessa vitória sem que
nos faça correr perigo algum? Quando uma guerra civil que é o maior
de todos os males leva os inimigos até esse excesso de furor, a se
degolarem reciprocamente, que temos nós a fazer senão continuar
como espectadores de tão sangrenta tragédia e por que nos
expormos ao perigo para combatermos pessoas que já se destroem
a si mesmas? (Ibid 325)

O retrato da cidade naqueles dias prova que Vespasiano estava


correto: havia cadáveres espalhados por todas as ruas de Jerusalém,
e quem quer que tentasse enterrar seus mortos era exterminado sem
qualquer traço de piedade.

Josefo vê, ao retratar este instante da história de Jerusalém, o


cumprimento de uma profecia. Vejamos suas palavras: "Aqueles
homens animados pelos demônios não se contentavam de calcar
aos pés tudo o que é mais digno de respeito; eles zombavam do
mesmo Deus e tomavam como loucura e ilusão as predições dos
profetas. Mas as consequências os fizeram ver que eram bastante
verdadeiras. Aqueles celerados foram os executores da predição
feita há muito tempo, de que, depois de uma grande divisão,
Jerusalém seria tomada e depois que os que mais deviam respeitar o
Templo de Deus, o tivessem profanado com sua impiedade, ele seria
queimado e reduzido a cinzas, por aqueles aos quais as leis da
guerra permitiam usar como lhes aprouvesse de sua vitória.” (Ibid
326)

Se dentro da cidade as coisas estavam ruins, com dois grupos se


digladiando até morte, piorou a situação quando houve a cisão do
grupo dos zelotes em dois partidos distintos, e desta forma, três
grupos disputavam controlar a cidade. Com o país sendo pouco a
pouco retomado pelos romanos, na visão de Vespasiano eram estes
três grupos os inimigos de Roma.
370

Fora da cidade, havia o grupo dos sicários, que tomaram a fortaleza


de Massada construída por Herodes, o Grande, onde os reis
guardavam seus tesouros, muitas armas e que também serviam para
segurança de suas pessoas.

Diz Josefo: "Estes sicários, ou assassinos, não eram em número tal


que os levasse a cometer seus crimes abertamente, por isso
matavam à traição; apoderaram-se dessa fortaleza e vendo que o
exército romano estava em descanso, e que os judeus se
digladiavam em Jerusalém, imaginaram empreender coisas em que
jamais haviam pensado, nem ousado fazer. Assim, na noite da festa
de Páscoa, tão solene entre os judeus, porque se celebra em
memória da sua libertação da escravidão do Egito, para ir tomar
posse da terra que Deus havia prometido aos nossos antepassados,
esses assassinos atacaram de improviso a pequena cidade de
Engedi antes que os habitantes tivessem tido tempo de tomar as
armas, mataram mais de setecentos deles, dos quais a maior parte
eram mulheres e crianças, saquearam todas as casas e levaram
todos os despojos para Massada.

Trataram do mesmo modo todas as aldeias e todas as vilas dos


arredores; seu número crescia cada vez mais e não havia um lugar
sequer na Judéia que não estivesse naquele tempo exposto a toda
sorte de depredação. Como acontece no corpo humano, quando a
parte mais nobre é atacada por uma grave enfermidade, todas as
outras também se ressentem, assim essa horrível divisão que tinha
reduzido a tal extremo a capital, abrindo as portas à licença, havia
feito que o mal se espalhasse por toda a parte; nada havia que
aqueles celerados não julgassem poder fazer, impunemente. Após
terem devastado tudo o que estava perto deles, retiraram-se para o
deserto, onde, depois de se terem reunido em grande número para
formar, se não um pequeno exército, pelo menos um bando
considerável de ladrões, atacaram as cidades e os Templos. Aqueles
aos quais faziam tanto mal não os poupavam quando podiam agarrá-
los, mas lhes era muito difícil, porque eles fugiam imediatamente,
com os despojos conquistados. Assim, podia-se dizer que não havia
um lugar sequer na Judéia que não participasse dos males que
faziam Jerusalém perecer.” (Ibid 340)
371

68 DC - 69 DC - Galba, Otom e Vitélio


Vespasiano, antes de atacar Jerusalém, como quisesse fazê-lo por
todos os lados, mandou construir fortes em Jericó e cidades ao
derredor, conforme eram tomadas. Milhares de judeus foram mortos
nesta campanha e as cidades incendiadas e arrasadas.

Quando o ataque a Jerusalém era iminente, "Vespasiano recebeu a


notícia da morte do imperador Nero, depois de haver reinado treze
anos. Suspendeu assim a marcha contra Jerusalém, querendo antes
saber quem seria o sucessor de Nero, e quando viu que o império
tinha caído nas mãos de Galba, julgou dever adiar seu projeto, nada
empreendendo até receber suas ordens. Mandou para esse fim, Tito,
seu filho, procurá-lo e prestar-lhe em seu nome suas primeiras
homenagens. O rei Agripa quis fazer também a mesma viagem, para
saudar o novo imperador, mas como era inverno e eles tinham em-
barcado em grandes navios, não tinham ainda passado a Acaia
quando souberam que Galba tinha sido morto, depois de ter reinado
somente sete meses e sete dias e que Otom o havia substituído.

Essa mudança não impediu que Agripa continuasse com a mesma


resolução de ir a Roma. Mas Tito, como inspirado divinamente, voltou
logo para junto de seu pai, e com ele foi a Cesaréia. Tão grandes e
extraordinários movimentos, capazes de causar a ruína do império,
mantinham todos os espíritos em suspensão e não se podia mais
pensar na guerra da judéia, porque não se podia pensar em dominar
os estrangeiros, quando se tinha tanto motivo de temer pela salvação
da mesma pátria. " (Ibid 344)

Galba foi então assassinado no centro de Roma, e Otom o sucedeu,


mas as legiões romanas na Germânia escolheram Vitélio como
imperador, e assim, havendo o confronto entre os dois postulantes,
Otom foi derrotado e se matou depois de ter reinado três meses.

Vespasiano, não querendo mais perder tempo retomou a campanha


na Judeia. À medida que se apoderava das cidades, deixava
guarnições em todas elas.

Roma, naquele mesmo tempo, estava em plena guerra civil: como


Vitélio houvesse entrado na cidade com inúmeras tropas, e ainda
pelo fato destes soldados estarem desacostumados ao luxo e
riqueza, puseram-se a saquear as casas matando quem quer que se
colocasse em seu caminho.
372

Quando Vespasiano retornou a Cesareia, depois de retomar, à


exceção de Massada, Herodiom, e Macherom, todas as praças que
estavam nas mãos dos revoltosos, soube da situação em que se
encontrava Roma, e que Vitélio fizera a si mesmo imperador. Isto
causou a Vespasiano uma grande indignação, porque lhe era
intolerável ver o império ser usurpado como uma presa qualquer. Diz
Josefo que o mau humor de Vespasiano em conversas com seus
oficiais tornou-se conhecido de seus soldados, que por sua vez,
passaram a confabular entre si quão injusta era a situação, e que ao
invés de Vitélio, era Vespasiano muito mais merecedor de tal
honraria.

Não tardou, desta forma, que toda esta indignação se transformasse


em atitude, de maneira que Vespasiano, amparado pelas suas
legiões, aceitou a incumbência de seus comandados, sendo assim
aclamado imperador de Roma. Restava agora conquistar a cidade.

Como estivesse distante de Roma, e o inverno se aproximasse,


achou por bem controlar antes Alexandria, no Egito, que além de
possuir uma considerável força militar, pois lá estavam estacionadas
duas legiões de soldados, era também, e principalmente, o maior
polo produtor de trigo e cereais que abastecia Roma. Enviou, então,
uma carta a Tibério Alexandre, governador de Alexandria, contando
que fora aclamado imperador por seus soldados, e que necessitava
de sua ajuda para assumir tamanha responsabilidade. Tibério fez de
imediato um pacto de lealdade com Vespasiano, fazendo com que
suas legiões também jurassem fidelidade ao novo imperador.

A notícia da escolha de Vespasiano espalhou-se com grande rapidez


pelo oriente, e foi acolhida com alegria por todos, uma vez que
Vespasiano era tido em grande conta por seus serviços prestados ao
império. Acrescente-se a isto a adesão das legiões que estavam na
Hungria e Moésia que pouco antes haviam se revoltado contra
Vitélio, além do fato de ter na própria Roma, Tito Flávio Sabino, irmão
de Vespasiano, como prefeito da cidade.

Vespasiano enviou a Roma, um exército liderado por Múcio, e além


deste, Antônio Primo, governador da Moésia (leste europeu -
compreendida hoje bela Sérvia e Bulgária). Contra o último Vitélio
enviou trinta mil homens liderados por Cesina, aquele que havia
derrotado Otom, e por esta razão, digno de sua confiança. Mas ao
avistar as legiões de Antônio Primo, Cesina aderiu ao partido de
Vespasiano.
373

Em Roma, quando chegou a notícia de que Primo se aproximava da


cidade, Sabino, irmão de Vespasiano, apoderou-se do Capitólio,
contando com a ajuda de Domiciano, seu sobrinho, filho mais novo
de Vespasiano.

Contra eles Vitélio enviou todas as suas forças, de maneira que


Sabino foi morto juntamente com quase todos que o ajudaram nesta
empreitada. Domiciano, que viria no futuro a reinar sobre Roma,
escapou como que por milagre.

No dia seguinte Primo chegou com seu exército derrotando Vitélio de


forma definitiva, depois deste reinar apenas dois meses. O poder foi
colocado então nas mãos de Domiciano até que seu pai chegasse. E
assim, tendo que retornar a Roma, Vespasiano deixou Tito, seu filho,
encarregado de tomar Jerusalém.

A Guerra Civil dentro de Jerusalém


Neste tempo, conforme dissemos, já havia dentro de Jerusalém um
terceiro grupo de malfeitores oriundo da divisão do partido dos
zelotes, aos quais Josefo chama de animais por seu ódio gratuito e
brutalidade. Eram, portanto, três grupos dentro da cidade a se
atacarem mutuamente, bem como às populações que estavam em
seu caminho.

No futuro breve, quando Tito já houvesse conquistado Jerusalém,


Josefo diria: " Cidade infeliz, que sofreste de semelhante, depois que
os romanos, entrando pela brecha, reduziram-te a cinzas, para
purificar com o fogo, tantas abominações e crimes que atraíram
sobre ti os raios da vingança de Deus. Poderias continuar a ser o
lugar adorável, onde ele tinha estabelecido sua morada e ficar
impune, depois de ter pela mais sangrenta e cruel guerra civil, como
nunca se viu, feito de seu Templo, o sepulcro de teus concidadãos?
Não desesperes, porém, em acalmar sua cólera, contanto que teu
arrependimento iguale a enormidade de tuas ofensas. Mas devo
conter meus sentimentos, pois que a lei da história em vez de me
permitir deter-me para chorar minhas desgraças, obriga-me a
apresentar a sequência dos tristes efeitos de nossas funestas
divisões.” (Ibid, 377)

Esses três partidos opostos agiam uns contra os outros em


Jerusalém, tendo o Templo como campo de batalha; isto no sentido
literal da palavra, uma vez que lá todos lutavam por sua posse por
estar localizado na parte mais alta da cidade. Acrescente-se ainda
que nas imediações do Templo havia um grande depósito de trigo
374

que terminou por ser incendiado, causando assim uma grande


carestia de alimentos, o que veio afinal, trazer grande fome e maior
sofrimento à população.

Josefo descreve desta forma a situação da cidade: "No meio de


tantos males que afligiam Jerusalém de todos os lados e que
tornavam aquela infeliz cidade como um corpo exposto ao furor das
feras mais cruéis, os velhos e as mulheres suspiravam pelos
romanos e desejavam ser libertados por uma guerra estrangeira, das
misérias que aquela guerra doméstica os fazia sofrer. Jamais
desolação foi maior do que a daqueles infelizes habitantes; qualquer
resolução que eles tomavam, não achavam meio de a executar; nem
podiam fugir, porque todas as passagens estavam guardadas; os
chefes desses partidos tratavam como inimigos e matavam a todos
os de que suspeitavam querer se entregar aos romanos e a única
coisa em que estavam de acordo, era dar a morte aos que mais
mereciam viver.

Ouviam-se dia e noite os gritos dos que lutavam, uns contra os


outros; por maior impressão que causasse o medo nos espíritos, os
lamentos dos feridos feriam-nos ainda mais; tantas desgraças davam
sem cessar novos motivos de aflição, mas o temor sufocava as
palavras e por uma cruel imposição retinha os suspiros no coração;
os servidores haviam perdido todo o respeito por seus senhores; os
mortos eram privados da sepultura, todos se descuidavam de seus
deveres porque não havia mais esperança de salvação; a horrível
crueldade daqueles facciosos chegou a incríveis excessos: eles
faziam montes de corpos dos que haviam matado, espezinhavam-
nos e deles se serviam como de um campo de batalha onde
combatiam, com tanto furor, que a vista de tão espantoso espetáculo,
obra de suas mãos, aumentava ainda o fogo da ira que lhes
incendiava o coração.” (Ibid 380)

Os Muros de Jerusalém
Neste tempo Tito iniciou sua marcha contra Jerusalém. Conforme
Josefo, "Tito tinha além das três legiões que haviam servido sob o
imperador, seu pai, e devastado a Judeia, a décima segunda, que
não somente era composta de ótimos soldados, mas ainda se
lembravam dos infelizes resultados sob o comando de Céstio e
esperavam o momento de se vingar de tal afronta.” (Ibid 382)

Para além das forças que já tinha a seu dispor na Judeia, contou
com grandes reforços enviados pelos reis do entorno, além de sírios,
375

e dois mil homens escolhidos no exército de Alexandria, que juntos


com três mil outros que vinham do Eufrates, eram comandados por
Tibério Alexandre, governador do Egito e o primeiro que havia
aderido a Vespasiano. Não bastassem tais credenciais, diz Josefo
que Tibério era um homem de grande experiência em assuntos de
guerra.

A formação dos exércitos que marcharam contra Jerusalém era


mesmo digna da mais épica das conquistas, e nada se parecia com a
tomada de uma pequena cidade: "Primeiro vinham as tropas
auxiliares; seguiam-nas os operários para preparar as estradas.
Depois vinham os que estavam encarregados de demarcar os limites
do acampamento. Atrás destes, as bagagens dos chefes, com sua
escolta. Logo depois vinha Tito, acompanhado por seus guardas e
outros soldados escolhidos; atrás dele, um corpo de cavalaria, que
estava à frente das máquinas.

Os tribunos e os chefes das coortes seguiam também


acompanhados por soldados escolhidos. Logo depois vinha a águia
rodeada pelas insígnias das legiões, precedida por trombetas. Os
corpos de batalha como marchavam os soldados seis a seis, vinham
em seguida. Os servos das legiões estavam atrás, com a bagagem;
os que traziam os víveres e os operários com tropas especiais para
sua guarda fechavam a marcha.” (Ibid 383)

Tito avançou com seiscentos cavaleiros escolhidos, para explorar


Jerusalém, quando foi atacado por um grande número de judeus,
ficando assim, separado do restante de seu exército. Mesmo não
estando armado, pois só pretendia fazer o reconhecimento do campo
de batalha, Tito, sem se ferir escapou, chegando ao seu
acampamento com o restante dos homens. Sobre este episódio
Josefo faz o seguinte comentário: "Vimos então, que as vicissitudes
da guerra e a conservação dos soberanos pertencem a Deus,
unicamente. Embora Tito não estivesse armado, porque não tinha
vindo para combater, mas apenas para fazer um reconhecimento,
nenhum daquele número infinito de dardos que foram lançados o
atingiu; todos passavam além, como se um poder invisível tivesse o
cuidado de desviá-los.” (Ibid 384)

Para tomar a cidade Tito teria que controlar seus muros bem como
as fortalezas que os protegiam. Imaginando-se Jerusalém como uma
estrutura quadrada, a cidade era, naquele tempo, cercada por um
muro tríplice em três de seus lados. No quarto lado, o muro era de
uma estrutura única, pelo fato deste lado dar de frente para um vale
376

praticamente inexpugnável. Diz Josefo que havia muitas casas neste


vale.

Este muro tríplice foi construído em diferentes épocas, tendo sido o


primeiro deles iniciado por Davi. Começava na torre chamada
Hípicos, no lado ocidental, e ia terminar no pórtico do Templo, que
está do lado do oriente. Ali começava o segundo muro e ia até a
Fortaleza Antônia do lado do norte. O terceiro muro começava na
torre de Hípicos, estendia-se do lado norte até a torre Psefina, e era
obra do rei Agripa, pai do Agripa daquele tempo.

Havia noventa torres espalhadas no decurso destes muros usadas


para sua proteção, entre as quais, a torre Psefina, em frente à qual
Tito havia estabelecido seu acampamento, que diz Josefo, superava
a todas as demais em beleza. Sua forma era ortogonal, muito alta, de
maneira que que quando o sol despontava, de lá se podia ver a
Arábia, o mar e até as fronteiras da Judéia. Em frente dessa torre
estava a de Hípicos e muito perto dela, ainda duas outras, Fazaela e
Mariana, todas construídas por Herodes, o Grande.

Herodes, aquele que, visando matar Jesus ainda na sua infância,


mandou eliminar todos os meninos nascidos em Belém, com idade
inferior a dois anos, era, para além de um déspota terrível, um
grande arquiteto, talvez o maior de seu tempo e possivelmente um
dos maiores que haja existido até hoje. Estas três torres formavam
um único conjunto arquitetônico, que conforme Josefo, possuíam
uma beleza e força tão extraordinárias que não havia outras
comparáveis no mundo.

A primeira torre, de cerca de quarenta metros de altura, Herodes


chamou de Hípicos, nome de um amigo. A segunda, Fazaela, levava
este nome em homenagem a Fazael, seu irmão. Tinha também cerca
de quarenta metros de altura e assemelhava-se ao farol de
Alexandria. Esta torre servia de quartel general de Simão, o líder de
um dos grupos de malfeitores que ocupava a cidade. A terceira tinha
o nome da rainha Mariana, esposa de Herodes, a quem ele próprio
assassinou por conta do ciúme. Era a mais baixa das três, com cerca
de trinta metros de altura, mas ainda assim, diz Josefo que superava
as outras duas em beleza e em riqueza de detalhes.

Outra das torres digna de nota é a Fortaleza Antônia, também


construída pelo rei Herodes para homenagear Marco Antônio de
quem fora amigo. Era ao mesmo tempo forte em seu exterior e
luxuosa por dentro, como um um palácio. Dela se podia ver todo o
377

Templo. Diz Josefo que o Templo era como a cidadela de Jerusalém,


e a torre Antônia era como a cidadela do Templo, de maneira que os
romanos, quando ainda dominavam a cidade, mantinham lá uma
guarnição para defender não só a fortaleza, como também a cidade e
o Templo. Estes foram todos mortos no tempo de Céstio.

Tito ataca os Muros de Jerusalém


O objetivo inicial de Tito era tomar a fortaleza de Antônia. Mandou
cortar as árvores que havia ao redor da cidade e com a madeira
ergueu plataformas junto ao primeiro muro no seu lado. Os
trabalhadores eram protegidos das setas atiradas pelos judeus com
telhas, ao mesmo tempo que catapultas atiravam enormes pedras
contra os muros. Vários arietes eram usados para derrubá-los..

Josefo conta que o barulho das batidas era tão intenso, que fez com
que o terror se espalhasse de tal forma dentro da cidade que causou
aquilo que Vespasiano já previra muito tempo antes: os grupos de
revoltosos que dominavam a cidade juntaram-se contra o inimigo
comum. Distribuíram-se pelas muralhas e passaram a atirar grande
quantidade de fogo e de dardos contra as máquinas dos romanos e
contra os que manejavam os aríetes. Tinham também várias
catapultas deixadas pelos romanos no tempo de Céstio, mas mal
sabiam usá-las. Depois de quinze dias de investida, os romanos
conseguiram tomar o controle do primeiro muro, conforme Josefo, no
dia 7 de maio.

Na sequência desta conquista Tito ordenou que atacassem o


segundo muro pelo seu lado norte, onde mandou concentrar os
arietes e atiradores de dardos. Em cinco dias tomaram este muro que
dava para a cidade nova, entrando nela com cerca de dois mil
soldados.

Viviam naquela parte da cidade os comerciantes. Tito aprisionou


muitos e proibiu que os matassem ou que se incendiassem suas
casas, pois, ao mesmo tempo que desejava conquistar a cidade,
desejava também conservá-la para o império e o Templo para a
cidade. Prometeu a eles que poderiam conservar seus bens desde
que se rendessem, mas os sediciosos que ocupavam aquela região
da cidade ameaçaram matar os que falassem em se entregar e até
mesmo os que somente ousassem proferir a palavra paz.

Estes primeiros soldados romanos que entraram naquela região da


cidade se deram mal, pois ficaram encurralados entre o primeiro e o
378

segundo muros, de maneira que o número de judeus só fazia


aumentar e o ataque contra estes soldados foi brutal. Josefo diz que
as ruas desta parte da cidade eram muito estreitas e o conhecimento
do lugar dava aos judeus grande vantagem, de maneira que por um
tempo conseguiram retomar o controle do local.

Os judeus, conforme explica Josefo, entenderam que aquele


contingente que entrara na cidade era todo o exército romano, como
se Deus, para castigar seus pecados, os cegasse em suas
considerações, fazendo que nem sequer imaginassem que aqueles
eram apenas um simples destacamento: "Eles não imaginavam que
os que haviam repelido eram apenas uma pequeníssima parte do
exército romano e que a fome, que crescia sempre, era para eles
outro inimigo não menos temível. Havia já algum tempo que se podia
dizer que eles viviam dos bens do povo e bebiam seu sangue, pois
tantos homens de bem sofriam muito, e vários já tinham morrido à
míngua.

Mas esse malvados consideravam a desgraça dos outros como


vantagem para si mesmos. Julgavam dignos de viver somente os
inimigos da paz, que só viviam para fazer guerra aos romanos; todo
o restante era para eles uma multidão inútil, que lhes era de peso; e
mais cruéis para com seus próprios cidadãos, do que os bárbaros
para com os seus, alegravam-se em ver morrer aquele pobre povo.

Os romanos atacaram de novo, contra sua expectativa, aquele


mesmo muro que tinham conquistado e perdido, e o fizeram durante
três dias seguidos, dando diversos assaltos, que os judeus
sustiveram com tanto ardor que eles foram sempre repelidos. Mas no
quarto dia, Tito preparou um ataque tão violento que os judeus não
puderam sustentá-lo, e assim pela segunda vez ele se apoderou
desse muro. Mandou então destruir tudo o que estava do lado do
norte e colocou guardas nas torres que estão voltadas para o sul.”
(Ibid 412-413)

Tito, antes de atacar o terceiro muro deu aos sediciosos a


oportunidade da rendição; Tentou atemorizar o povo fazendo uma
exibição de todas as suas tropas; mandou dispô-las num lugar onde
os judeus as podiam ver e mandou pagar o soldo a todos os homens.
Mas nem isto fez com que mudassem de idéia.
379

"O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos"


Josefo estava presente a estes acontecimentos, pois desde o início
da campanha de Tito servia-lhe como conselheiro, e desta forma,
Tito pediu que ele próprio se dirigisse ao povo em sua língua, a fim
de mostrar-lhes que só lhes restava entregar aquilo que na prática já
estava tomado.

É importante refletir que a situação de Jerusalém só chegou a este


ponto por causa dos grupos de bandidos que tomaram a cidade e
não por iniciativa do povo. O povo, mesmo querendo e desejando a
rendição, não podia fazê-lo por temor dos malfeitores. Estavam
assim, no pior dos mundos, cercados pelos romanos e por
malfeitores dentro da cidade.

Josefo escolheu um lugar bem alto, fora do alcance dos dardos, de


onde os judeus pudessem ouvi-lo. Apelou de todas as formas
possíveis: mostrou que as muralhas mais fortes já haviam sido
derrubadas e que só restava a mais fraca, e que sua obstinação
estava levando à ruína não só a cidade, como também o Templo e a
vida de seus cidadãos. Pediu que considerassem que Tito, destinado
para a sucessão do império, estava pronto a lhes conceder a paz; se
não a aceitassem, seriam todos mortos. Que considerassem que
mesmo que conseguissem resistir, a fome os mataria, emfim, não
houve argumento que não usasse, mas ao invés de ouvi-lo,
zombaram dele, e o injuriaram.

E assim, lembrou-lhes de muitos outros casos em que Deus lutou


pelo seu povo, mas que agora dava-se o contrário. Nada os fez
demover de sua obstinação.

Nesta altura já havia muita fome na cidade, de maneira que os que


tinham algum dinheiro vendiam secretamente os seus bens por uma
medida de trigo. A comida era escondida nos lugares mais ocultos
das casas, onde as refeições eram tomadas cruas. Os revoltosos
procuravam alimentos por todas as casas, e quando encontravam,
não só o tomavam como também matavam quem os possuía. As
pessoas eram espancadas para confessar onde escondiam alguma
comida, crianças eram violentadas em frente aos pais para causar
intimidação.

Josefo relata que "os homens eram pendurados pelas partes mais
sensíveis, fincavam-lhes na carne pedaços de pau pontiagudos e os
faziam sofrer outros indizíveis tormentos, para fazê-los declarar onde
380

tinham escondido um pão ou um punhado de farinha. Esses


carrascos achavam que, em tal conjuntura, podia-se, sem crueldade,
praticar tão horríveis ações e eles ajuntaram, por esse meio, o
necessário para viver seis dias. Tiravam dos pobres as ervas que de
noite eles iam colher fora da cidade, com perigo de vida; nem
escutavam os rogos que lhes faziam, em nome de Deus, para lhes
deixar uma pequena porção e julgavam fazer-lhes grande favor, não
os matando depois de os ter roubado.”

Os romanos capturavam diariamente um grande número destas


pessoas que tentavam encontrar fora da cidade algum tipo de erva
que pudessem comer e dar a seus filhos. Cerca de quinhentas
pessoas eram crucificadas todos os dias à vista dos que estavam na
cidade. Josefo comenta que "não eram suficientes as cruzes, e havia
já falta de lugar, para tantos instrumentos de suplício" e que "a morte
que recebiam das mãos dos inimigos parecia-lhes suave em
comparação com o que a fome e a miséria os faziam sofrer.”

Tito mandou cortar as mãos de várias pessoas que eram capturadas,


e depois de fazê-lo, enviava-os de volta à cidade para servirem de
exemplo aos outros. Não faz isto nos lembrar as palavras do povo
diante de Pilatos? " O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos
filhos.” (Mateus 27 : 25)

A Fome em Jerusalém
A situação chegou a um ponto inimaginável de sofrimento; Josefo a
descreve assim: "A fome que sempre aumentava, devorava famílias
inteiras. As casas estavam cheias de cadáveres de mulheres e de
crianças, e as ruas, de corpos de anciãos. Os moços, inchados e
cambaleando pelas ruas, mais pareciam espectros do que seres
vivos e o menor obstáculo os fazia cair. Assim, não tinham forças
para enterrar os mortos e quando mesmo as tivessem, não teriam
podido fazê-lo, quer por seu número muito elevado, quer porque eles
mesmos não sabiam quanto tempo ainda lhes restaria de vida. Se
alguém se esforçava por prestar esse dever de piedade, morria
também quase sempre de fazê-lo; outros arrastavam-se como
podiam até o lugar de sua sepultura, para ali esperar o momento da
morte, que estava próxima.

No meio de tão espantosa miséria não se ouviam choros nem


lamentos, não se escutavam gemidos, porque aquela fome horrível
com que a alma estava inteiramente ocupada afogava todos os
outros sentimentos. Os que ainda viviam, contemplavam os mortos
381

com olhos enxutos, e seus lábios inchados e lívidos lhes faziam ver a
morte esculpida no rosto. O silêncio era tão grande em toda a cidade,
como se ela tivesse sido sepultada numa noite profunda ou que lá
não vivesse mais um ser humano. Em tal contingência aqueles
celerados, que de tudo eram a causa principal, mais cruéis que a
mesma fome e que os animais ferozes, entravam naquelas casas
que eram mais sepulcros que lares, e despojavam os mortos,
tiravam-lhes até as vestes, e acrescentando ainda a zombaria a tão
espantosa desumanidade feriam com golpes os que ainda
respiravam para experimentar se suas espadas ainda tinham gume.”
(Ibid 424)

Muitos dos que conseguiam fugir da cidade para se entregar aos


romanos morriam ao se alimentar, porque estavam há dias sem
comer, e o faziam de forma apressada de forma a causar uma
terrível indigestão.

Conta Josefo que alguns destes, antes de se entregarem aos


romanos, quando possuíam ouro em suas posses, o engoliam para
ter como carregá-lo consigo. Aconteceu que um dia um desses
fugitivos foi surpreendido procurando ouro no meio de suas fezes, e
assim, correndo esta notícia, os soldados passaram a abrir os
estômagos daqueles que eram capturados para procurar ouro. Conta
Josefo que numa só noite dois mil judeus foram mortos desta
maneira. (Ibid 429)

Os cadáveres se entulhavam nas ruas da cidade, de maneira que era


impossível se deslocar pelas ruas de Jerusalém sem que se pisasse
em algum.

A conquista da Fortaleza Antônia


Os romanos construíam neste tempo plataformas e rampas para
escalar o terceiro muro, de maneira que toda a vegetação ao redor
de Jerusalém foi devastada: "Onde outrora havia bosques e árvores
frondosas, jardins deliciosos, não havia agora uma única árvore, e
não somente os judeus, mas os estrangeiros, que antes admiravam
aquela formosa parte da Judeia, agora não seriam capazes de
reconhecer, nem ver os maravilhosos arrabaldes daquela grande
cidade, convertidos em terrenos abandonados e silvestres, sem que
tão deplorável mudança os fizesse derramar lágrimas. Foi assim que
a guerra de tal modo destruiu uma região tão favorecida por Deus,
que já não lhe restava o menor vestígio de sua beleza antiga e podia-
382

se perguntar em Jerusalém, onde então estava Jerusalém.” (Ibid


433)

A Fortaleza Antônia veio por fim a cair nas mãos dos romanos, e
desta forma, muitos dos que lá se refugiavam fugiram para o Templo,
em cujas portas travou-se uma intensa batalha, com tanta gente, e
por causa disto, num espaço tão apertado, que só era possível
combater usando a espada, porque dardos e flechas eram inúteis por
causa da proximidade de uns e outros. Josefo conta que combatiam
pisando em cadáveres, e que esta batalha foi travada no escuro,
desde as nove horas da noite até o amanhecer.

Tito mandou destruir os alicerces de um lado Fortaleza Antônia de


maneira a possibilitar a entrada de um grande contingente de
soldados.

Nesta altura da situação, os judeus que conseguiam fugir da cidade e


se entregar aos romanos eram bem tratados por estes, e como já
fosse grande o seu número, Tito mandou que fossem mostrados a
seus compatriotas, para que vissem que estavam em condições
dignas e assim pudessem também proceder da mesma forma. Mas
não havia hipótese disto acontecer, pois os sediciosos matavam a
qualquer que ousasse tentá-lo.

Antes de investir contra a cidade, Tito, que desejava preservar o


Templo, mandou novamente Josefo para apelar ao bom censo e
pedir sua rendição incondicional. Mas foram vãos os apelos, e assim
resolveu atacá-los à noite. Tito comandou pessoalmente o ataque a
partir da Fortaleza Antônia.

Por causa da surpresa, os judeus atacavam indistintamente amigos e


inimigos, por causa da escuridão da noite. Josefo diz que os
romanos podiam distinguir os campanheiros do inimigo porque eles
combatiam em grupos, apertados uns contra os outros, cobertos com
seus escudos e se serviam, para se reconhecer, da senha que lhes
fora dada. Pelo lado dos judeus mataram-se mais entre eles próprios
do que pela espada do inimigo. Este combate cessou somente ao
raiar do dia com muitos mortos de ambos lados.

Tito ordenou então que a Fortaleza Antônia fosse destruída até os


alicerces para abrir espaço para a entrada das legiões. Josefo conta
assim o início da destruição do Templo: "Os judeus, enfraquecidos
pelas perdas que haviam sofrido em tantos combates, vendo que a
guerra se acendia cada vez mais e que o perigo de que o Templo
383

estava ameaçado crescia sempre, resolveram destruir-lhe uma parte,


para salvar o restante; do mesmo modo que se cortam os membros
de um corpo atacado de gangrena, para impedir que ela passe
adiante. Começaram por incendiar aquela parte da galeria que o unia
à Fortaleza Antônia, do lado do vento norte e do ocidente, e
derrubaram depois quase vinte côvados e foram assim os primeiros
que empreenderam a destruição daquela soberba construção.

Dois dias depois, vinte e quatro de julho, os romanos incendiaram a


mesma galeria. Depois de terem arruinado uns catorze côvados, os
judeus derrubaram o restante e continuaram assim trabalhando na
destruição de tudo o que podia ter comunicação com a Fortaleza
Antônia embora tivessem podido, se quisessem, impedir aquele
incêndio. Eles consideravam sem se inquietar o curso que o fogo
tomava para dele servir-se em seu proveito, e as escaramuças se
faziam todas em redor do Templo. (Ibid 452-453)

"Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias"


Paralelo ao que acontecia no Templo, a fome grassava na cidade.
Josefo conta a estória de uma mulher que quis o destino estivesse
presa na cidade naqueles dias. Era rica e fugindo da guerra que
chegara à sua aldeia veio refugiar-se em Jerusalém. Viveu ali dias
tão amargurados que ao fim de longo sofrimento matou seu filho
recém nascido para dele se alimentar. Vejamos como o autor
descreve este episódio:

.”. Matou o filho, cozeu-o, comeu uma parte e escondeu a outra.


Aqueles ímpios, que só viviam de rapina, entraram em seguida
naquela casa; tendo sentido o cheiro daquela iguaria inominável,
ameaçaram matá-la, se ela não lhes mostrasse o que tinha
preparado para comer. Ela respondeu que ainda lhe restava um
pedaço da iguaria e mostrou-lhes restantes do corpo do próprio filho.
Ainda que tivessem um coração de bronze, tal espetáculo causou-
lhes tanto horror, que eles pareciam fora de si. Ela, porém, na
exaltação que lhe causava o furor, disse-lhes, com o rosto
convulsionado: Sim, é meu próprio filho que vedes, e fui eu mesma
que o matei. Podeis comê-lo, também, pois eu já comi. Sois talvez
menos corajosos que uma mulher e tendes mais compaixão que uma
mãe? Se vossa piedade não vos permite aceitar essa vítima, que vos
ofereço, eu mesma acabarei de comê-lo.

Aqueles homens que até então não haviam sabido o que era a
compaixão, retiraram-se trêmulos, e por maior que fosse a sua
384

avidez em procurar alimento, deixaram o restante daquela detestável


iguaria à infeliz mãe.

A notícia de fato tão funesto espalhou-se incontinenti por toda a


cidade. O horror que todos sentiram foi o mesmo, como se cada qual
tivesse cometido aquele horrível crime; os mais torturados pela fome
só desejavam morrer, quanto antes, e julgavam felizes os que já
haviam morrido, antes de ter tido ciência deste fato ou ouvido narrar
coisa tão execrável. Os romanos também logo souberam de tudo,
isto é, da criança sacrificada por sua própria mãe, para que ela
pudesse continuar a viver. Uns não podiam crer no que se dizia;
outros sentiam imensa compaixão, mas a maior parte viu acender-se
ainda mais o ódio que já sentiam contra os judeus.

Tito, para se justificar diante de Deus a esse respeito, protestou em


voz alta que ele tinha oferecido aos judeus uma anistia geral de todo
o passado e visto que eles tinham preferido a revolta à obediência, a
guerra à paz, a carestia à abundância e tinham sido os primeiros a
incendiar com suas próprias mãos o Templo, que ele tinha se
esforçado por conservar, mereciam ser obrigados a se alimentar de
tão execrável iguaria. No entanto, ele sepultaria aquele horrível crime
sob as ruínas da sua capital, a fim de que o sol, fazendo a volta ao
mundo, não fosse obrigado a esconder seus raios, pelo horror, de
iluminar uma cidade onde as mães se nutriam de carne dos próprios
filhos, onde os pais não eram menos culpados que elas, pois tão
estranhas misérias não os podiam decidir a abandonar as armas.
Estas as palavras do grande príncipe, porque, considerando até que
excesso ia a raiva daqueles revoltosos, ele não achava, que depois
de ter sofrido tantos males, dos quais apenas o temor deveria trazê-
los ao cumprimento do dever, nada poderia jamais fazê-los mudar.”
(Ibid 459)

Nos mínimos detalhes este fato nos lembra as palavras de Jesus em


Mateus 24:19: "Mas ai das grávidas e das que amamentarem
naqueles dias!"

Como a realidade das palavras do Senhor poderiam ser mais


amargas e reais que isto? Quem, naqueles dias de Jesus poderia
crer que Jerusalém chegaria a este ponto?
385

O Templo incendiado
Josefo diz que em 8 de agosto Tito mandou colocar arietes na
direção dos portões do Templo em seu lado ocidental, batendo por
seis dias seguidos sem qualquer resultado. O mesmo se deu quanto
à tentativa de arrancar algumas pedras dos alicerces das portas.
Tentaram também escalar o portão com escadas, o que os judeus
repeliam, e assim, vários romanos perderam suas vidas.

Tito, vendo que o seu desejo de conservar o Templo custava a vida


de um grande número de soldados, mandou incendiar-lhe os
pórticos, que queimaram pelo restante daquele dia e toda a noite, de
maneira que, no dia seguinte, ordenou que fosse extinto o fogo e o
caminho aplainado para a passagem das tropas.
Reuniu em seguida seus comandantes para deliberarem sobre a
resolução que deviam tomar com relação ao Templo. Diz Josefo que
"uns, foram de opinião de se usar do poder que lhes dava o direito da
guerra, porque enquanto ele subsistisse, os judeus que ali se
reuniram de todas as partes da terra, sempre se haveriam de
revoltar. Outros disseram, que se os judeus o abandonassem, sem
querer mais defendê-lo, julgavam que então poderia ser conservado.
No entanto, se continuassem a fazer guerra, seria preciso incendiá-
lo, porque não deveria mais ser considerado como um Templo, mas
como uma fortaleza e seria aos judeus somente que se deveria
atribuir a ruína do mesmo, porque lhe tinham sido a causa.

Depois de terem assim opinado, Tito disse que ainda que os judeus
se servissem do Templo como de uma praça de guerra, para
continuar na sua revolta, não era justo vingar-se em coisas
inanimadas, pelas faltas cometidas pelos homens, reduzindo a
cinzas uma obra cuja conservação seria tão grande ornamento para
o império.

Ninguém mais então pôde duvidar de seus sentimentos; Alexandre,


Cerealis e Fronto foram da mesma opinião; dissolveu-se o conselho
e o príncipe ordenou que se desse descanso às tropas, para pô-las
em condições de dar um assalto mais forte ainda, quando fosse
necessário. Ordenou em seguida a algumas coortes que apagassem
o fogo e fizessem uma estrada, pelo meio das ruínas. Os judeus,
cansados e esgotados por tantas fadigas, nada mais empreenderam
naquele dia.” (Ibid 463)

Tito resolveu atacar o Templo no dia dez de agosto. Josefo vê


naquela decisão, não um ato isolado de Tito, mas verdadeiramente a
vontade de Deus a ditar o destino daquele povo: "e assim estava-se
386

na véspera desse dia fatal, em que Deus tinha, há tanto tempo,


condenado aquele lugar santo a ser incendiado e destruído depois
de uma longa série de anos, como ele tinha outrora, no mesmo dia,
sido destruído por Nabucodonosor, rei de Babilônia.

Mas não foram estrangeiros, foram os mesmos judeus a causa única


de tão funesto incêndio. Um soldado, então, sem para isso ter
recebido ordem alguma, e sem temer cometer um horrível sacrilégio,
mas, como levado por inspiração divina, fez-se levantar por um
companheiro e atirou pela janela de ouro um pedaço de madeira
aceso no lugar pelo qual se ia aos edifícios, ao redor do Templo do
lado do norte.

O fogo ateou-se imediatamente; em tão grande desgraça, os judeus


lançavam gritos espantosos. Corriam procurando apagá-lo e nada
mais os obrigava a poupar suas vidas, quando viam desaparecer
diante de seus olhos aquele Templo que os levava a poupá-las pelo
desejo de conservá-lo.” (Ibid 466 - 467)

Quando soube do ocorrido, Tito tentou apagar o fogo. "Todos os


chefes seguiram-no e as legiões depois dele, com grande confusão e
tumulto, clamores tais, que se pode imaginar, quando em tal
contingência um grande exército marcha, sem ordem e sem
disciplina.

Tito gritava com todas as forças, fazia sinais com a mão para obrigar
os seus a apagar o fogo, mas tão grande barulho impedia que ele
fosse ouvido; o ardor e a cólera de que os soldados estavam cheios,
naquela guerra, não lhes permitia notar os sinais que lhe fazia.

Assim, aquelas legiões que entravam em massa, não podiam em


sua impetuosidade ser contidas nem por suas ordens, nem por suas
ameaças; o furor as conduzia; elas apertavam-se de tal modo que
muitos caíam e eram pisados, outros, caindo sobre as ruínas do
pórtico e das galerias, ainda acesas e fumegantes, não eram,
embora vencedores, menos infelizes que os vencidos. Quando todos
aqueles soldados chegaram ao Templo fingiram não entender as
ordens que o imperador lhes dava. Os que estavam atrás exortavam
os mais adiantados a pôr fogo e não restava então aos revoltosos
nem uma esperança de poderem impedi-lo.

De qualquer lado que se lançassem os olhos, só se viam fuga e


mortandade. Matou-se um grande número de pessoas do baixo
povo, gente desarmada e incapaz de se defender. Em volta do altar
387

havia montes de cadáveres, que eram atirados, depois de


assassinados, àquele lugar santo, o qual não era destinado a
sacrificar tais vítimas; rios de sangue corriam por todos os degraus.

Tito, vendo que lhe era impossível deter o furor dos soldados e o
fogo começava a incendiar tudo em toda parte, entrou com os seus
principais chefes no Santuário e achou, depois de tê-lo observado,
que sua magnificência e riqueza sobrepujavam ainda de muito o que
a fama havia espalhado entre as nações estrangeiras e que tudo o
que os judeus diziam a esse respeito, ainda que parecesse incrível,
nada acrescentava à verdade.

Quando viu que o fogo não tinha ainda chegado ali, mas consumia
então somente o que estava nas vizinhanças do Templo, julgou,
como era verdade, que ainda poderia ser conservado; rogou, ele
mesmo, aos soldados que apagassem o fogo e mandou um oficial de
nome Liberal, um de seus guardas, que desse mesmo pauladas, nos
que se recusassem a obedecer. Mas nem o temor do castigo nem o
respeito pelo general puderam impedir-lhes o efeito do furor, da
cólera e do ódio pelos judeus; alguns mesmos eram impelidos pela
esperança de encontrar aqueles lugares santos cheios de riquezas,
porque viam que as portas estavam recobertas de lâminas de ouro e
quando Tito avançava para impedir o incêndio, um dos soldados que
havia entrado, já tinha posto fogo na porta.

Dentro acendeu-se então uma grande labareda que obrigou Tito e os


que o acompanhavam a se retirar sem que nenhum dos que estavam
fora procurasse apagá-la. Assim, esse santo e soberbo Templo foi
incendiado, não obstante todos os esforços de Tito para impedi-lo.”
(Ibid 468-469)

Josefo afirma que o Templo foi incendiado "no mesmo mês e no


mesmo dia em que os babilônios outrora o haviam incendiado. Esse
segundo incêndio aconteceu no segundo ano do reinado de
Vespasiano, mil cento e trinta anos, sete meses e quinze dias depois
que o rei Salomão o havia construído pela primeira vez; seiscentos e
trinta e nove anos, quarenta e cinco dias depois que Zorobabel o
tinha feito restaurar, no segundo ano do reinado de Ciro.

Segundo a contagem bíblica, o Templo foi destruído 1033 anos


depois de Salomão haver construído o primeiro Templo; 662 anos
depois de Nabucodonosor haver destruído o Templo de Salomão;
593 anos depois de Zorobabel o haver restaurado.
388

Tito entra em Jerusalém


Ao mesmo tempo em que o fogo consumia o Templo os romanos
matavam a todos os que encontravam. Mais proveitosa é a leitura do
próprio texto de Josefo: " Não perdoavam nem à idade, nem à
condição. Os velhos e as crianças, os sacerdotes e os leigos, eram
todos passados a fio de espada; todos eram envolvidos nessa
matança geral e os que recorriam aos rogos não eram tratados com
mais clemência do que os que tinham a coragem de se defender até
o fim; o gemido dos moribundos misturava-se com o barulho do
crepitar das chamas, que avançavam sempre e o incêndio de tão
grande edifício, situado num lugar elevado, fazia, aos que o
contemplavam de longe, pensar que toda a cidade estava sendo
devorada pelas chamas.

Nada se poderia ouvir de mais horrível, do que o ruído que ecoava


pelo ar, em todas as direções. Não se pode imaginar o que faziam as
legiões romanas, tomadas de furor; os gritos dos revoltosos, que se
viam envolvidos de todos os lados pelas armas e pelo fogo
misturavam-se com as queixas e lamentações do pobre povo, que
estava no Templo e que levado pelo desespero, ao fugir, atirava-se
nos braços dos inimigos; vozes confusas elevava até o céu a
multidão que estava no alto do monte fronteiro ao Templo, contem-
plando o horrível espetáculo.

Aqueles mesmos que a fome tinha reduzido aos extremos, aos quais
a morte estava prestes a fechar os olhos para sempre, percebendo o
incêndio do Templo, reuniam todas as suas forças para deplorar tão
grave desgraça; os ecos dos montes vizinhos e da região que está
além do Jordão multiplicavam ainda esse barulho horrível. Por mais
espantoso que fosse, porém, os males que causava eram-no ainda
mais.

O fogo, que devorava o Templo, era tão grande e violento que


parecia que o mesmo monte sobre o qual estava situado ardia todo
inteiro. O sangue corria em tal quantidade que parecia querer
competir com o fogo, quem se estenderia mais. O número dos
mortos era muito maior que o daqueles que os sacrificavam à sua
cólera e vingança; toda a terra estava coberta de cadáveres; os
soldados pisavam-nos, para poder continuar a perseguir os que
ainda tentavam fugir. Por fim os revoltosos organizaram tão violento
ataque que repeliram os romanos, chegaram ao Templo exterior e de
lá retiraram-se para a cidade.
389

Os romanos, julgando que uma vez queimado, seria inútil poupar o


restante, incendiaram, também todos os edifícios dos arredores; e
assim eles foram destruídos com tudo o que restava dos pórticos e
das portas, exceto as duas que estavam do lado do oriente e do sul,
que eles destruíram depois, até os alicerces. Incendiaram também a
tesouraria que estava cheia de uma quantidade enorme de riquezas,
quer em dinheiro quer em soberbas peças de vestuário e outras
coisas preciosas, porque os mais ricos dos judeus para lá haviam
levado o que tinham de melhor.
Fora do Templo só restava uma galeria, onde seis mil pessoas do
povo, homens, mulheres e crianças se tinham reunido para se salvar;
mas os soldados, levados pela cólera, incendiaram-na também, sem
esperar a ordem de Tito, uns morreram queimados, outros atirando-
se para baixo, para não sofrer morte semelhante, se suicidaram, de
sorte que nem um só se salvou. (Ibid 472-474)

Com o Templo tomado, passaram os soldados a atacar


indistintamente as populações da cidade, matando sem qualquer
traço de piedade mulheres, crianças e velhos. As casas eram
saqueadas e incendiadas. Os que nelas entravam, para saqueá-las,
encontravam-nas cheias de cadáveres de toda a família que a fome
havia feito perecer.

Josefo diz que "foi a oito de setembro que Jerusalém, depois de ter
sofrido tantos males, por fim, desapareceu sob o violento incêndio.
Durante o assédio, mil sofrimentos a atormentaram, fazendo que sua
felicidade e seu esplendor, que desde a fundação haviam sido
enormes, se eclipsassem, depois de a terem tornado digna de inveja.
Mas em tal conjuntura, depois de tantos males, essa infeliz cidade
não é digna de lástima, a não ser por ter agasalhado em seu seio
aquela multidão de víboras, que a devoraram e foram a causa de sua
ruína.” (Ibid 495)

Mesmo com a cidade entregue à superioridade dos romanos, ainda


assim continuou a mortandade de pessoas, mesmo havendo ordens
de Tito para que fossem poupados os que desejassem a paz.

Josefo conta que "dentre os que foram poupados, os que tinham


mais de dezessete anos foram enviados para trabalhar nas obras
públicas e Tito distribuiu um grande número deles pelas províncias
para servirem de espetáculo de gladiadores e combater contra as
feras. Os que tinham menos de dezessete anos foram vendidos.
390

Dessa forma, enquanto estes míseros eram encaminhados como


escravos, onze mil outros morreram, uns, porque seus guardas que
os odiavam não lhes deram de comer, outros, porque não o queriam
fazer, desgostosos como estavam da vida, preferiam mesmo morrer
e também porque dificilmente se encontrava trigo para alimentar
tanta gente.” (Ibid 497)

8 de Setembro de 70 DC - A destruição de Jerusalém


Conforme Josefo, "foram feitos prisioneiros durante esta guerra
noventa e sete mil homens e o assédio de Jerusalém custou a vida a
um milhão e cem mil homens, dos quais, a maior parte, embora
judeus de nascimento, não eram nascidos na judéia, mas lá se
encontravam de todas as províncias para festejar a Páscoa e haviam
ficado presos na cidade por causa da guerra.

Como não havia lugar para acomodá-los a todos, sobreveio a peste e


logo em seguida a carestia. Pode-se julgar que era difícil que aquela
cidade, sendo tão grande, estivesse de tal modo povoada, que não
havia lugar para tanta gente, principalmente esses judeus vindos de
fora, mas não há melhor prova para isso, do que o recenseamento
feito no tempo de Céstio. Pois esse governador, querendo dar a
conhecer a Nero, que tinha tanto desprezo pelos judeus, a força de
Jerusalém, rogou aos sacerdotes que contassem o povo. Eles
escolheram para isso o tempo da festa da Páscoa no qual desde as
nove horas até às onze, sem cessar, imolaram-se vítimas, cuja carne
era consumida pelas famílias, que não tinham menos de dez
pessoas, algumas até vinte.

Concluiu-se que haviam sido imolados duzentos e cinquenta e cinco


mil e seiscentos animais, de onde, contando-se apenas dez pessoas
para cada animal, teríamos dois milhões, quinhentos e cinquenta e
seis mil pessoas, purificadas e santificadas. Não eram admitidos a
oferecer sacrifícios nem os leprosos, nem os que sofriam de
gonorréia, nem as mulheres que estavam no tempo do incômodo que
lhes é ordinário, nem os estrangeiros que, não sendo judeus de raça,
não deixavam de sê-lo, por devoção a essa solenidade. Assim,
aquela grande multidão que se tinha dirigido a Jerusalém, de tantos e
tão diversos lugares, antes do cerco, lá se encontrou encerrada
como numa prisão, quando a guerra começou.

Parece, pelo que acabo de dizer, que nenhum acidente humano,


nem flagelo algum mandado por Deus, jamais causaram a ruína de
um tão grande número de pessoas, como o dos que pereceram pela
391

peste, pela fome, pelas armas e pelo fogo, durante esse cerco, ou
que foram levados como escravos pelos romanos.

Os soldados rebuscaram até nos esgotos e nos sepulcros, onde


mataram a todos os que ainda estavam vivos e desses encontraram
mais de dois mil que se haviam matado uns aos outros ou a si
mesmos, ou que tinham sido mortos pela fome. O mau cheiro que
saía desses lugares infectados era tão grande, que vários, não
podendo suportá-lo, abandonavam-no.

Assim terminou Jerusalém, no dia oito de setembro, no segundo ano


do reinado de Vespasiano. Tito ordenou que destruíssem a cidade
até os alicerces, com exceção de um pedaço do muro, que está do
lado do ocidente, onde ele tinha determinado construir uma fortaleza
e as torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana, porque,
sobrepujando a todas as outras em altura e em magnificência, ele as
queria conservar para mostrar à posteridade, quão grandes foram o
valor e a ciência dos romanos na guerra, para se apoderarem
daquela poderosa cidade, que se tinha elevado a tal nível de glória.
Essa ordem foi tão exatamente cumprida que não ficou sinal algum,
que mostrasse haver ali existido um centro tão populoso. Tal o fim de
Jerusalém, cuja triste sorte só se pode atribuir à raiva daqueles
revoltosos que atearam o fogo na guerra. (Ibid 498 - 500)

"E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, dizendo:


Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua
paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque
dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de
trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todos os lados; e te
derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não
deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo
da tua visitação.” (Lc 19:41-44)
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Maio de 2018

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