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SÃO PAULO
2009
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SÃO PAULO
2009
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à minha orientadora Liliana Liviano Wahba por sua ajuda,
atenção, paciência e cuidado.
À psicóloga Magda Pearson que, com muita disposição aceitou fazer parte desta
pesquisa, disponibilizando uma paciente de sua clínica como participante e me possibilitando
ainda mais inspiração e admiração à psicologia enquanto prática clínica.
À paciente participante que confiou na proposta deste trabalho enquanto parte de sua
busca pela cura.
Aos meus pais Marcos e Izilda por terem me possibilitado seguir tantos caminhos e
chegar aonde cheguei, servindo como inspiração e amparo nos momentos necessários.
Ao meu afilhado Lucas, que com todo seu encanto e pureza em seu começo de vida,
me alegrou tantas vezes com sua presença.
Aos meus fiéis amigos pelo interesse e incentivo neste projeto e pela compreensão
nos momentos de ausência.
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RESUMO
O presente estudo visa apresentar uma revisão histórica da concepção de hipnose e seu
uso voltado à saúde. Procura apresentar que as técnicas de aplicação da hipnose em
psicoterapia progrediram de forma notável e extraordinária nos últimos anos,
distinguindo-se da utilização única da sugestão direta para a remoção de sintomas ou
como objetivo de modificar atitudes como no século passado. Através da ilustração de
um caso clínico em atendimento psicológico, foi escolhida a abordagem analítica para
embasamento teórico, pois esta fornece subsídios para a compreensão holística do ser
humano, ou seja, de vê-lo em sua totalidade em que psique e corpo são indissociáveis.
Sob a reflexão desta linha teórica foram aplicadas técnicas de hipnose Ericksoniana e
utilizados os instrumentos de autobiografia livre, desenho semi-dirigido e questionário do
sintoma. Os resultados revelaram que os sintomas foram simbolizados pela paciente e,
segundo seu relato, o sintoma - psoríase -, desapareceu.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8
2 OBJETIVO ............................................................................................. 12
3 HIPNOSE ................................................................................................ 13
3.1 Definição de hipnose ...................................................................... 13
3.2 História da hipnose ......................................................................... 13
3.3 Ernest Rossi .................................................................................... 17
3.4 Milton Erickson ............................................................................... 19
4 PSICOSSOMÁTICA ............................................................................... 24
4.1 Abordagem junguiana ...................................................................... 24
5 TRABALHO TERAPÊUTICO .................................................................... 29
5.1 Psicoterapia analítica ...................................................................... 29
5.2 Psicoterapia breve de embasamento ericksoniano .......................... 31
5.3 Pele .................................................................................................. 34
5.4 Psoríase ........................................................................................... 37
6 SÍMBOLOS E PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO ...................................... 39
6.1 Símbolos ........................................................................................... 39
6.2 Processo de individuação ............................................................... 41
6.3 Complexos ...................................................................................... 43
7 MÉTODO .................................................................................................. 47
7.1 Características do estudo ............................................................... 47
7.2 Participante .................................................................................... 48
7.3 Instrumentos .................................................................................... 48
7.3.1 Técnica de hipnoterapia ericksoniana .......................................... 48
7.3.2 História do sintoma psicossomático .......................................... 50
7.3.3 Desenho temático ......................................................................... 51
7.3.4 Autobiografia livre ......................................................................... 52
7.4 Procedimento .................................................................................. 53
7.4.1 Local e realização da pesquisa ...................................................... 53
7.4.2 Seleção dos participantes ........................................................... 53
7.4.3 Aplicação dos instrumentos ........................................................... 53
7.4.4 Procedimento para análise de dados ............................................. 54
7.5 Procedimento ético ......................................................................... 55
8 RESULTADOS E ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS ............................... 56
8.1 Análise dos questionários do sintoma ............................................. 56
7
9 Discussão ................................................................................................ 67
10 Considerações finais ........................................................................... 77
REFERÊNCIAS ........................................................................... 79
GLOSSÁRIO ........................................................................... 85
ANEXOS
Anexo A Desenho realizado antes da terapia breve de
embasamento ericksoniano................................................ 86
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVO
3 HIPNOSE
3.1 Definição de hipnose
4 PSICOSSOMÁTICA
4.1 Abordagem junguiana
5 TRABALHO TERAPÊUTICO
mais condutiva, metódica, focal e voltada para uma resolução estabelecida entre
paciente e terapeuta.
Considerando-se que o inconsciente está constantemente produzindo
imagens, Jung (1916a, p.355) desenvolveu a técnica de imaginação ativa na qual
o objetivo é possibilitar conversas interiores. O autor considera que o mundo
exterior é experimentado por meio dos sentidos e o interior por meio de fantasias,
sendo a fantasia “uma expressão, uma aparência que se coloca para algo
desconhecido, mas real”. Considera também como uma técnica para diferenciar o
ego das figuras do inconsciente, na qual se estabelece um diálogo com as
imagens produzidas, sejam estas visuais, verbais ou feitas de material plástico,
movimento e escrita.
Após o estabelecimento do diálogo livre com a imagem criada, deve-se
exercer uma crítica consciente como se fosse uma pessoa real, até que um fim
considerado satisfatória seja alcançado. Nesse contexto, os pensamentos
internos podem ser vistos como ocorrências objetivas, portanto é importante
possibilitar ao inconsciente manifestar-se, já que quando reprimido pela
consciência, normalmente é levado a manifestações indiretas e sintomáticas.
Mais importante que a compreensão da experiência nesse exercício, é que os
processos inconscientes possam vir à consciência sob a forma de fantasias, pois
estas demandam participação ativa para serem experenciadas.
Os efeitos da realização consciente de fantasias conscientes, de acordo
com Jung (1916a, p. 360), são: “estender o horizonte consciente incluindo
conteúdos inconscientes, diminuir gradualmente a influência dominante do
inconsciente e trazer mudanças de personalidade em termos de atitude geral;
esta importante mudança é a função transcendente”.
Jung (1916b, p. 168) descreve a técnica de lidar com as fantasias a partir
da concepção que esta serve como uma forma de utilizar a energia que está no
estado emocional perturbado. O procedimento pode ser visto como um
enriquecimento e uma clarificação do afeto, pois os conteúdos são trazidos mais
próximos à consciência tornando-se mais impressivos e compreensivos, tendo
assim influência favorável e vitalizante.
A seguir, serão mostradas visões de diferentes autores que
pesquisaram e escreveram sobre a pele e seu significado simbólico. O intuito é
integrar esses conhecimentos não só para dar subsídios à análise do caso que
34
5.3 Pele
Feldman (2004, p. 284), por realizar uma leitura simbólica e focar a pele
como objeto de estudo dentro da psicologia analítica, tem suas idéias consideradas
e apresentadas de maneira significativa no presente estudo. O autor desenvolveu
um trabalho intitulado “A skin for the imaginal” onde discute “o desenvolvimento do
espaço interno, a evolução das barreiras psíquicas e a capacidade de simbolização
no primeiro aparecimento durante a infância”. O autor define a capacidade de
simbolização como a facilidade de “utilizar pensamento, imagem e emoção de uma
forma integrada com o propósito de desenvolvimento psíquico” e utiliza o conceito
de “pele psíquica” como uma maneira primária de barreira psicológica com o
mundo circundante.
Ele defende que a evolução do espaço interno e das barreiras
psíquicas de um sujeito são ambas características referentes ao desenvolvimento
que facilitam a capacidade de simbolização, assim como componentes
significativos da vida psíquica que emergem na infância e tem um impacto
significativo no desenvolvimento e no decorrer da vida. Tais elementos formariam
as bases de nossas experiências de si e de identidade, assim como teriam um
impacto em nossa capacidade de vínculo e individuação.
Ainda, segundo o autor, a forma precursora da capacidade de
simbolização de um indivíduo tem:
5.4 Psoríase
podem se espalhar por toda a pele”. As unhas podem ser afetadas e, muito
raramente, as articulações, causando a artrite psoriásica. Para as autoras, pode
ser classificada como uma psicodermatose, em decorrência do fator emocional
ser identificado como agravante da doença. Trata-se de uma doença crônica de
pele que afeta homens e mulheres na mesma proporção em cerca de 1 a 3% da
população mundial e, geralmente, ocorre na segunda ou terceira década de vida.
Ainda segundo Silva e Muller (2007, p.9), a causa da psoríase é
multifatorial e:
Serino (1999, p.19), define o termo “simbólico” como uma maneira onde o
pensamento simbólico pode ser utilizado para a apreensão de perspectivas
significantes da doença orgânica e inter-relação entre “o material orgânico e o
energético psíquico”.
Complementando a visão de símbolo como facilitador da compreensão do
adoecimento, a imagem, de acordo com Graciani(2003), é uma variável que faz
parte das questões relacionadas à saúde. Ela pode não ser usada de modo
sistemático no tratamento ou durante diagnóstico, mas se mostra como um
determinante crítico da saúde. Fazendo um paralelo com o uso de técnicas da
hipnose apresentados neste trabalho, é possível pensar, portanto, que a
imaginação não é somente concomitante a todo processo de cura, mas se faz
presente em todas as interações dos profissionais da área da saúde e seus
pacientes. Para a autora,
6.3 Complexos
das imagens transmitidas pela cultura na época da infância a respeito da mãe boa
e da mãe perversa. É fundamental que a mãe tenha recebido atenção materna
para retribuir à sua própria prole, pois embora tenha um vínculo com seus filhos,
não é capaz de se transformar de repente em uma mãe completa por si mesma.
Para os adultos, se houve conflitos com a mãe concreta na infância e mesmo que
eles não existam mais, persistirá uma figura da mãe na psique que reage e fala
da mesma forma com que fazia no passado. A autora denomina esse complexo
materno como um dos aspectos centrais da psique feminina.
Nas palavras de Faria (2003, p.102), assim como o complexo materno, o
“complexo paterno se estrutura na relação com o pai pessoal ou seu substituto,
entremeada de elementos da fantasia provenientes do arquétipo paterno”. O autor
delimita também a questão do pai ausente, que é aquele que exerce a
paternidade da maneira inadequada, e ocasiona frustração, por exemplo, por
meio da falta de atenção e respostas às necessidades do filho de afeto e
dedicação.
Jung (1971) descreve os complexos paterno e materno partindo do
princípio que aqueles que com ingenuidade crêem que seus pais são tais como
vistos por eles, projetam tal imagem de forma inconsciente e, quando os pais
morrem, continuam a atuar como se fosse um espírito autônomo. O autor
denomina esse fenômeno de complexo paterno ou materno. Neumann (1995)
delimita que uma relação primal normal seria caracterizada pela confiança no
amor advindo da mãe, pelo desenvolvimento de um ego integral positivo e de uma
ligação entre ego e Si-mesmo1 firme e duradoura. A segurança que seria
adquirida na relação primal vivida positivamente capacitaria o ego a integrar as
crises com as quais o indivíduo se depara ao longo de sua vida. Segundo o autor,
a vivência de abandono e desamparo pode ser perturbadora para o
desenvolvimento primário saudável, resultando em um ego negativizado,
agressividade intensa e inconsciente, e atitudes egocêntricas.
Pieri (2002) assume que a defesa funciona como um processo psíquico
parcialmente inconsciente no qual o eu busca reduzir ou eliminar de diferentes
formas qualquer elemento que seja pensado ou percebido como nocivo à própria
integridade. Tal forma de defesa pode se manifestar produzindo ou não um efeito
1
Ver glossário. Si-mesmo é equivalente à definição de Self.
46
7 MÉTODO
7.2 Participante
7.3 Instrumentos
Sintoma apresentado:
1) Quando começou o seu sintoma?
2) Quais eram as circunstâncias naquele momento de vida?
51
7.4 Procedimento
Critérios de inclusão:
1. Faixa etária de 18 a 65 anos;
2. Apresentar quadro clínico que pode ser considerado psicossomático;
3. Houve critérios de exclusão: Seriam excluídas da pesquisa pessoas
portadores de perturbação ou doença mental, sujeitos em situação de
substancial diminuição em suas capacidades de consentimento e pessoas
próximas ao pesquisador (familiares ou amigos);
4. Estar de acordo e assinar o termo de consentimento.
(Anexo E) (Anexo F)
Início do sintoma 1990 Há 16 anos
Relações com as Problemas com o pai, “Era muito nova, insegura e com
manifestações do irmã e filho medo. Tinha 20 anos e me casei
sintoma nova”.
Localização do sintoma Cabeça Cabeça
Intensidade do sintoma Suportável “Hoje estou curada”.
Sensação com a Coçeira
manifestação do
sintoma
Nome do sintoma e Pulga. “Tenho a sensação Pássaro. “Hoje estou livre e
motivo de que anda na cabeça”. voando que nem um
passarinho”.
2
Nesta pesquisa não houve acompanhamento médico para determinar diagnóstico atual e prognóstico.
57
como alguém que lhe deu um conselho, diferentemente do segundo texto, no qual
ela descreve como ambos se conheceram, o casamento e afirma a importância
da relação.
A segunda autobiografia realizada é mais sintética que a primeira em
relação aos planos para o futuro e aos estudos e interesses. Pode-se pensar que
inicialmente a paciente quis fornecer mais informações a respeito de suas
preferências e características principais, focando-se mais posteriormente a
mudança de sua auto-imagem e de seu sintoma.
Na primeira, a paciente não atribuiu nenhum significado ao seu sintoma
(psoríase), motivo pelo qual ela procurou atendimento psicológico e aceitou
participar da presente pesquisa. Já na segunda, ela escreve que está curada e
como o tratamento a auxiliou. Isto pode sugerir que inicialmente ela não atribuía
significados e vivências ao seu sintoma, podendo indicar maior compreensão a
significação do mesmo após as sessões.
papel.
Cores Vermelho, verde, Verde, marrom, preto, vermelho,
azul, laranja, laranja, amarelo e azul. Não houve uso
marrom-claro, indevido das cores.
marrom-escuro e
preto. Uso
indevido das
cores.
Posicionamento Esquerdo Direito e para cima.
Pontos focais Agressividade, Saúde, inovação, perspectiva futura,
contenção, agressividade canalizada e liberdade.
passado, saúde e
ansiedade.
das cores deve ser considerada como instrumento suplementar, pois em muitas
situações é difícil realizar uma interpretação acurada das cores. Para uma
interpretação mais coerente, ele sugere que seja pensando a maneira como a cor
foi usada, a localização na página, a quantidade, a intensidade e sobre quais
aspectos da imagem ela está situada. As cores, portanto, não fornecem
informação a respeito da história do desenho, apenas mostram de maneira mais
ampla o que os elementos da imagem têm a dizer.
Nota-se que foi escolhida a cor vermelha para o olho, a verde e a azul
para as patas, e a cores laranja, azul e verde para a cabeça. É interessante notar
que houve um deslocamento das cores dentro desse símbolo e se questionar que
significados podem ter sido trazidos. A cor vermelha, psicologicamente, pode
sinalizar uma questão de importância vital, emoções arrebatadoras, a fúria e a
agressividade. A cor laranja pode refletir uma situação que envolva ansiedade,
possível decréscimo de energia ou a saída de uma situação ameaçadora. É
interessante notar que esta cor é pouco utilizada em relação às outras, e está
presente na região do corpo e da cabeça da pulga.
Uma estratégia facilitadora proposta pelo autor para se fazer a análise
das cores, é relacioná-las a onde estão presentes no meio ambiente de forma
natural. O verde, por exemplo, remete a plantas que tem um bom potencial para o
crescimento. Já o azul pode denotar distância, assim como o céu, e o fluxo vital
da vida. Nota-se que tais cores foram utilizadas nas patas da pulga, que são o
modo do inseto de caminhar, atacar e se defender. Isso pode sugerir força
interior, vontade e impulsionamento para a cura.
A cor marrom foi utilizada para a pintura do corpo, e variou da
intensidade clara para a escura. A cor marrom-claro pode “denotar luta para
superar as forças destrutivas e retornar a um estado saudável” (FURTH, 2004, p.
159) e a cor marrom – escuro pode indicar a idéia de sustento. É interessante
lembrar que a paciente escolhida para este estudo apresenta um sintoma
considerado psicossomático, denotando possivelmente a vontade de se curar, a
busca por onde se apoiar e compreender seus aspectos destrutivos.
Já a cor preta foi utilizada em todo o contorno do desenho, nas garras,
na boca, no olho e em alguns traços no corpo. O preto pode sugerir contenção,
simbolizar o desconhecido e é geralmente visto como negativo. As garras feitas
63
sugerem agressividade, pois foram feitas compridas e afiadas. Tal dado sugere
que a agressividade na paciente é forte.
O desenho foi feito no canto esquerdo da folha e com a cabeça da
pulga também voltada para esse lado, o que pode mostrar um direcionamento
maior para as questões referentes ao passado.
A partir dos elementos analisados no desenho pode-se considerar
que os pontos focais se relacionam à agressividade, à contenção, ao passado, à
saúde, à defesa e à ansiedade.
9 DISCUSSÃO
ou me largaram na casa. Não sei o que aconteceu aquele dia. Eu não ficava
separada da minha irmã gêmea. Aquele dia me separaram. Que estranho. (Anexo
G, sessão 4, p.110) e “ agora eu entendo os meus medos, sabia? “(Anexo G,
sessão 4, p. 111).
Diante de tal narrativa, comprova-se o postulado por Neumann (1995),
de que a relação primal é de importância fundamental e apresenta possíveis
conseqüências e distúrbios quando mal estabelecida. Confirma-se na fala da
paciente relativa à separação não elaborada da mãe: “Me lembro com dois anos
me separando da minha mãe” (Anexo G, sessão 2, p. 97) e “a minha irmã dois
anos mais velha ficou na Europa com a minha mãe e eu não sei por que
(entonação de braveza). As gêmeas, minha irmã e eu, ficamos com o meu pai e
eu não sei por que” (Anexo G, sessão 2, p. 98).
Nesta paciente percebe-se que, na vivência das relações familiares,
um dos aspectos centrais notados foi a acentuação do complexo materno e
paterno. Conforme narrado pela paciente, “Eu sinto uma coisa, eu tenho medo
muito de perda” (Anexo G, sessão 3, p. 107). Kast (1997) escreve a respeito da
vivência de complexo de ser desprezado, o sentimento da criança desprezada e a
relação desta com pessoas que não suprem suas necessidades. Aquele que
apresenta tal complexo pode apresentar suspeitas constantes de novamente ser
desprezado ou até mesmo questionar se está sendo desprezado em diversas
situações. Seu Eros teria desenvoltura exclusiva à maternagem, e conforme
observado no conteúdo das sessões e na primeira autobiografia, a participante
ressaltou a importância de ter exercido a maternagem de forma próxima,
transmitindo valores e educação para seu filho e citando-o constantemente, mas
permanecendo, possivelmente inconsciente em sua relação pessoal, o que traria
a conseqüência de manifestação violenta na forma de poder. Observa-se tal
comportamento quando a paciente relata que bateu em seu filho, que desejava
um tipo específico de namorada para ele e pensava em abrir um negócio
conjunto. O intelecto não é priorizado, tendo como conseqüência a incapacidade
de apreciar o próprio intelecto ou sua profundidade. Pode-se pensar na visão da
paciente a respeito de si, na qual relatou ter optado dedicar parte de sua vida aos
cuidados com a família, deixando de trabalhar e estudar.
Nota-se que a paciente possui diferentes figuras relativas à mãe
interior: possivelmente a figura de uma mãe concreta que a abandonou na
71
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos. Mitos e histórias do
arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
FELDMAN, Brian. A Skin for the imaginal. Journal of Analytical Psychology,n. 49,
285-311. Califórnia: Pablo Alto, 2004.
JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1964.
PASSOS, Moraes & LABATE, Isabel. Hipnose Considerações Atuais. São Paulo,
Editora Atheneu, 1998.
PIERI, Paolo Francesco. Dicionário junguiano/ Paolo Francesco Pieri; trad. de Ivo
Storniolo. São Paulo: Paulus, 2002.
SILVA, Juliana Dors Tigre da; MULLER, Marisa Campio. Uma integração teórica
entre psicossomática,stress e doenças crônicas de pele. Estud. psicol.
(Campinas), Campinas, v. 24, n. 2, jun. 2007 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
166X2007000200011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 15 nov. 2009. doi:
10.1590/S0103-166X2007000200011.
STEIN, Murray. O mapa da alma. Uma introdução/ Murray Stein; trad. Álvaro
Cabral. São Paulo: Cultrix, 1998.
WIENER, Jan. Under the volcano: varieties of anger and their transformation. J.
Anal. Psych., 1998.
GLOSSÁRIO
Anexo A
Desenho realizado antes da terapia breve de embasamento ericksoniano.
87
Anexo B
Desenho realizado ao final da terapia breve de embasamento ericksoniano.
88
Anexo C
Autobiografia Livre realizada antes da terapia breve com embasamento
ericksoniano
Eu nasci na Aústria, vim para o Brasil aos dois anos com o meu pai e
minha mãe ficou por lá porque eles se separaram. Daí eu estudei em São Paulo
em um colégio suíço-alemão até a quinta série e fiz vários cursos. Fiz de
decoração, costura, datilografia, tênis... Eu gostava muito da área esportiva e era
muito boa nos esportes.
Eu não fiz faculdade, mas queria ser professora de ginástica porque eu era
muito boa em esportes, sempre me destacava e no tênis eu era a melhor. Eu
tinha um condomínio na praia com o meu pai e lá eu sempre me destacava no
tênis e na natação. Então, eu sempre gostei de esporte. Nos estudos eu nunca
me aprofundei muito e nunca foi meu forte. No colégio eu tinha muitos amigos,
mas tive que trocar para outro colégio, pois tinha problemas com línguas. Eu tinha
que aprender português, alemão, francês e inglês. Quando começou o francês eu
tive dificuldade em aprender, daí eu mudei para uma escola tradicional por três
anos e depois tive problemas de estudos. Fui me adaptando ao estudo, mas eu
não era das melhores alunas. Enquanto isso eu fazia curso de decoração e
terminei o curso em uma escola de artes. Eu sempre gostei de coisas artísticas,
mas foi difícil terminar porque uma hora entrou arquitetura, tinha que fazer
matemática e sai muito da arte.
O meu pai é economista, administrador de empresas e o hobby dele é
pintar quadros. Então eu acho que eu tenho um pouco de artista. Sempre gostei
de arte e moda.
Hoje eu estou com quarenta anos e o meu marido sempre fala pra mim que
eu deveria fazer moda ou mexer com cabelo e maquiagem, pois hoje o que eu
gosto é isso. Hoje eu estou mais velha e faria um curso de moda. Até vi em uma
faculdade. Meu lado é mais artístico e gosto de fantasiar e acho que meu lado é
mais esse.
Agora eu tenho filho de vinte anos e sempre vivi cuidando e para a família. Mas
agora eu to mais vivendo mais pra mim, eu estou procurando mais os meus
89
objetivos, meu filho está grande. Eu vivia mais para a minha família e acho
importante, pois eu fui criada pelos meus avós e depois eu fui criada por madrasta
e achei importante o meu filho ser criado por uma mãe. Para mim isso valia muito
à pena. Se ele fosse criado por outra mãe, por uma babá eu acharia estranho.
Isso para mim significa muito: criá-lo de perto. A criação do europeu é diferente da
do brasileiro, pois é criado por uma mãe e não por babá. Então isso já é diferente
e as pessoas estranham esse meu lado, mas eu acho muito importante, pois hoje
o meu filho tem outra educação, ele fala diferente, não fala palavrão, tem uma
educação fina tudo porque eu que criei, a mãe, e não uma babá, sogra ou
ninguém. Então, eu acho a educação muito importante você dar pro filho e eu
aprendi isso com a minha família também. Acho que não é importante trabalhar
fora, pensar que precisa de dinheiro e trabalhar feito uma louca. Aí você vê os
seus filhos envolvidos com drogas, no mundo, tudo...não sei. Acho importante
você dar uma estrutura, uma base boa, para depois quando adolescente não se
perderem com drogas e bebidas como vi muito na Europa. Para mim foi
importante dar esse base pro meu filho, hoje vejo que ele está maduro e pode
seguir a vida com confiança e eu agora vou fazer meu cursos.
Estou com quarenta anos, sei que já passaram várias fases da minha vida,
mas sou nova ainda e vou recomeçar. Estava vendo os cursos, mas vieram uns
problemas financeiros e não pude fazer. Me achar profissionalmente é o principal
agora na minha vida, pois o resto eu já trabalhei. Já trabalhei o emocional, preciso
achar agora o meu lado profissional.
90
Anexo D
Autobiografia Livre realizada ao final da terapia breve com embasamento
ericksoniano
Eu nasci na Europa em 1969. Morei por lá por dois anos e vim para o Brasil
com o meu pai quando ele se separou da minha mãe. Morei com os meus avós, e
com o meu pai junto, até os sete anos. Quando meu pai se casou de novo, eu fui
morar com ele.
A gente estudava em um colégio tradicional muito difícil de São Paulo. A
gente tinha que aprender quatro línguas: português, francês, alemão e inglês.As
matérias desse colégio eram todas em alemão ou em português. Eu fazia vários
cursos: decoração, corte e costura, tênis...Eu fazia tênis e adorava esporte. O
meu forte era esporte mesmo, não estudar.
Daí fiz quinze, dezesseis, dezessete anos e conheci meu marido. Conheci
o irmão dele no colégio e aí conheci meu marido e me casei com vinte anos.Tive
filho com vinte anos também.
Hoje eu estou com quarenta anos e tenho um casamento muito feliz e
muito estável.
Esse tratamento foi muito feliz pra minha vida porque hoje eu estou curada,
estou liberta, muito feliz e voando por aí que nem o passarinho que eu pintei aqui
no papel.
91
Anexo E
Questionário respondido antes da terapia breve com embasamento ericksoniano
Anexo F
Questionário respondido ao final da terapia breve com embasamento
ericksoniano.
_____
11)O que se passa normalmente em seguida da manifestação do
sintoma?
___________
12)Nomeie o seu sintoma.
O meu sintoma hoje é um pássaro.
13)Por quê esse foi o nome escolhido?
Estou livre do sintoma e da doença e estou muito feliz por ter feito este
trabalho com as psicólogas. As psoríases passaram. As coceiras pareciam
pulgas andando na minha cabeça, mas a cura foi trabalhada com hipnose,
terapia, Deus e as duas grandes psicólogas me ajudaram a ser mais
independente ficando cada dia mais forte e trabalhando meus pontos
fracos. Hoje estou liberta e voando que nem um passarinho. Obrigada.
95
Anexo G
Transcrição das sessões
Sessão 1
A paciente concordou com a proposta e com as condições da presente
pesquisa e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Realizou o
desenho que representasse seu sintoma (psoríase), respondeu ao questionário
semi-dirigido e escreveu a autobiografia livre.
Sessão 2
Paciente: Eu acho que a minha psoríase tem muito fundo emocional. Muito.
E eu acho que melhorou muito com a acupuntura que estou fazendo.
Psicoterapeuta: Há quanto tempo você está fazendo acupuntura?
Paciente: Faz sete meses. Eu até percebi que emagreci e desinchei olhando
fotos minhas. Passo Prosalic, um líquido na cabeça para a psoríase. Só tenho na
região do cabelo. Descama, meu cabelo cai, coça. Eu tenho que usar um
shampoo anti-caspa. Eu começo a inchar muito, não consigo fazer regime. Estou
quase há um ano sem cortisona. Foi muito bom para mim ter feito acupuntura. Me
tirou a ansiedade e me fez emagrecer. Mas agora está começando a voltar
porque estou tendo alguns problemas e percebi que voltou. Aqui atrás da cabeça
estou com uma enorme. Estou aqui para entender o que está em acontecendo,
mas é muito fundo emocional. E eu tenho uma irmã gêmea. Ela não tem isso.
Psicoterapeuta: Você mora no Brasil desde quando?
Paciente: Eu vim com dois anos para cá. Tenho mais uma irmã que mora na
Suíça. Meu pai se separou da minha mãe. Os dois são da Europa. Minha mãe já
morreu. Ela morreu aos 40 anos. Hoje o meu pai está com 70 anos.
Psicoterapeuta: Você é casada?
Paciente: Sou. Tenho um filho de 19 anos. Ele estuda administração de
empresas. Casei cedo, aos 20 anos. E. Mas o meu fundo emocional é muito..
É...totalmente emocional e é ligado ao meu pai.
Psicoterapeuta: Me conte um pouco.
Paciente: Uma pergunta: Você quer que eu comece...?
Psicoterapeuta: Desde o início.
96
Paciente: Faz muito tempo que estou com a psoríase.E ela vai e volta e eu boto
essa medicação. Mas eu não tratei ela, eu tratei o meu problema com o meu filho
com as psiquiatras.Tratei o problema do meu pai, porque o meu pai batia...
Psicoterapeuta: Batia em você?
Paciente: É. Em mim e na minha irmã gêmea. Então eu tratei isso e consegui,
consegui ficar em paz com meu filho, assumi meus erros perante todo mundo...
Foi um tratamento de mais de três anos com psiquiatras, psicólogos e remédios
até eu ter alta. Então eu assumi o tratamento e fiz tudo direitinho. Foi uma coisa
ótima. Assumi perante Deus, perante todos, eu assumi! Mas agora que você falou
“quando foi?” me deu um “click” na cabeça, foi quando meu filho tinha 3, 4 anos
de idade.
Psicoterapeuta: Que você se viu violenta na relação. Porque essa é uma
constatação.
Paciente: É.. Isso veio na minha cabeça agora e estava esquecido.
Psicoterapeuta: Pode descruzar um pouco as pernas, sente-se direito. Eu vou ler
um pouquinho, o que é normalmente o que a gente faz. Em hipnose devemos ter
essa postura, pode descruzar os braços.
Paciente: É eu preciso relaxar.
Psicoterapeuta: Isso precisa relaxar, vamos relaxar a cabeça. A psoríase na
verdade é a formação de uma couraça, de uma armação, é uma coisa de
fronteira, a couraça de caráter. Medo de se machucar, por detrás dessa casca
dura esconde-se um caroço mole. De uma limitação de todas as direções. Não se
deixar nada mais para entrar ou sair. O extremo da delimitação, da conduta ao
isolamento, da delicada perda de uma importante matéria de vida. Então, a
formação da couraça dá-se no sacrifício para fortificar a fronteira, rompendo-se
então essas defesas reforçadas que sobrevém de graves perdas. A psoríase
normalmente faz um paralelo com a Alemanha Oriental. Ela nos oferece a
imagem política quando você pensa no muro, naquela couraça.
Paciente: Hmm... Deixa eu falar uma coisa. Nessa época, quando meu filho
estava com 3, 4 anos, a minha mãe morreu.
Psicoterapeuta: Vamos então apontar a sua história de vida.
Paciente: Me lembro com dois anos me separando da minha mãe. Minha irmã e
eu com o meu pai do lado. Eu com dois anos vindo para o Brasil.
98
Psicoterapeuta: Quando seu filho tinha dois anos a psoríase aparece, e quando
seu filho tinha dois anos a sua mãe morre. Vamos pensar nesses padrões
repetitivos da sua vida. Respire profundamente e me conte um pouco da história.
Da história que você sabe. (silêncio de 2 minutos, a paciente está com os olhos
fechados e chora muito). Quem é você. Deixa vir. Vá soltando lentamente a
respiração, respire profundamente. Na hora certa e no momento certo você vai
começar a falar um pouquinho da sua história. Eu deixo aqui uma frase do Platão
que gosto muito que diz “Tudo aquilo que a gente compreende, a gente perdoa”.
Então vamos compreender a sua história de vida, vamos ressignificar.
Paciente: Eu não sei muito da minha história.
Psicoterapeuta: Você sabe que nasceu de um pai e de uma mãe e viveu dois
tipos de história: a história oficial e a história íntima, que temos dentro da nossa
mente, da nossa realidade. Importa a história que você considera.
Paciente: É de pequena que você está falando?
Psicoterapeuta: Você veio ao Brasil com 2 anos. O que aconteceu com o papai e
com a mamãe?
Paciente: Eu sei que nasci na Europa. Eu vivi dois anos com a minha mãe. Aí
eles se separaram... (chora e interrompe e fala). Não sei dizer direito porque o
meu pai fala muita mentira.
Psicoterapeuta: A história que você vivenciou foi que você viveu dois anos com a
sua mãe. Você e a sua irmã...
Paciente: A gente veio para o Brasil. Nós éramos três filhas. A minha irmã dois
anos mais velha ficou na Europa com a minha mãe e eu não sei por que
(entonação de braveza). As gêmeas, minha irmã e eu, ficamos com o meu pai e
eu não sei por quê.
Psicoterapeuta: Então a irmã mais velha tinha quatro anos e a sua irmã e você,
dois anos.
Paciente: Nós viemos para o Brasil porque os pais dos meus pais moravam aqui
e tinham uma situação de vida boa. Moramos com eles para eles ajudarem a criar
a minha irmã e eu. Isso foi uma coisa boa, maravilhosa, esse relacionamento com
a minha vó que eu me dava muito bem. Minha irmã também. Morávamos na
cidade de São Paulo mesmo eu um bairro de classe alta. Meu pai tinha várias
namoradas, várias! Levava para casa, tinha uma, duas, três...
Psicoterapeuta: E como você se sentia?
99
Paciente: Eu achava péssimo. Via ele saindo um dia com uma, outro dia com
outra..
Psicoterapeuta: Sua irmã e você formaram vínculo com alguma delas?
Paciente: Com uma só, que era professora do colégio onde estudávamos. Daí
ele conheceu outra que era do condomínio lá da praia e estão juntos até hoje.
Psicoterapeuta: Vocês estavam com quantos anos?
Paciente: Dez anos. Ele conheceu, resolveu casar e aí mudou tudo! Foi uma
fase dificílima.
Psicoterapeuta: Ela aceitava vocês?
Paciente: Aceitava, mas eu não queria morar com ela de jeito nenhum. Eu queria
morar com a minha vó. Eu não aceitava.
Psicoterapeuta: E como era você naquela época com dez anos?
Paciente: Meu pai não deixava mais a gente ter ligação com o meu vô. Então a
gente se afastou...teve um afastamento.
Psicoterapeuta: Então a relação foi cortada?
Paciente: Cortou! Foi péssimo. Isso daí mexeu muito comigo. Já começou aí,
entendeu?
Psicoterapeuta: E qual foi o contato com a mãe lá na Europa?
Paciente: Contato nenhum. Nenhum.
Psicoterapeuta: Vocês não voltavam a Europa?
Paciente: Voltávamos, mas pouco. E quando estávamos lá nos encontrávamos
duas ou três vezes e acabou!E ponto.
Psicoterapeuta: Era uma coisa muito fria então?
Paciente: Muito fria. Com os meus avós também era uma coisa muito fria. Tudo
frio, muito frio. O mais difícil mesmo foi com a minha avó.
Psicoterapeuta: Ela foi praticamente a sua mãe então?
Paciente: (concorda emocionada fazendo um movimento com a cabeça)
Psicoterapeuta: E o que aconteceu com a sua avó?
Paciente: Ela morreu de câncer, mas antes acabou voltando lá pra Europa
porque brigou com a minha madrasta também. Foi tanta briga que acabou
voltando pra lá, ficou doente e morreu. A minha mãe também morreu de câncer.
Psicoterapeuta: Com quantos anos você estava?
Paciente: 15, 16 anos.
Psicoterapeuta: Me conta uma coisa.E as gêmeas? Como elas são?
100
Psicoterapeuta: Você ta me falando que tem essa energia, tem que liberar. Você
precisa disso. Alguma coisa, alguma atividade para você soltar.
Paciente: Eu sei... Eu preciso disso. Eu fazia muito isso antes. Tá tudo aqui pra
dentro.
Psicoterapeuta: Fechado?
Paciente: É eu falei pro meu marido. Eu gosto de viajar, ele não gosta de viajar.
Preciso pegar uma estrada. Já falei pra ele. Os pais dele já estão... Você sabe...
Já falei... Nós temos que viver. Eu não estou agüentando.
Psicoterapeuta: Talvez seja a hora de você retomar a sua vida mesmo.
Paciente: Eu já falei para ele que não agüento. E eu seguro.
Psicoterapeuta: Vai segurando, vai segurando. Talvez seja hora de você prender
a se defender de outra maneira e aliviar seu corpo dessa tarefa. Essa couraça
pode dizer para não entrar em contato com você. Um aprisionamento.
Paciente: É eu sei disso. Acho que eu tenho que ficar mais afiada com o meu pai,
isso acaba comigo. Sabia?
Psicoterapeuta: Posso te entender. Dói?
Paciente: Me dói essa indiferença dele.
Psicoterapeuta: Você sente que é como se ele não soubesse ser pai?
Paciente: Ele não sabe. Não sabe nem um pouco. Ai, mas é difícil viu (chora).
Psicoterapeuta: Você acha que pode compreender quem é esse pai?
Paciente: Ele já foi chamado por psicólogas antes. Ele vai lá, fala que gosta das
filhas e volta para o mundo dele. É muito egocêntrico. Parece esquizofrênico. É
pintor, vive só para ele, executivo, ele se ama, todo narcisista, não acredita em
Deus, só ele tem o poder.
Psicoterapeuta: E se ele for doente. Você pode compreender?
Paciente: Ele é frio.
Psicoterapeuta: Tem esse embotamento afetivo?
Paciente: Tem. Muito.
Psicoterapeuta: E não consegue formar vínculos?
Paciente: Ele é assim. Assim.
Psicoterapeuta: Talvez compreendendo você possa perdoá-lo.
Paciente: Humm (faz silêncio e mexe a cabeça como se concordasse).Sei que
ele deve sofrer muito na vida. Fora que ele acabou com a minha herança.
Psicoterapeuta: Foi?
104
Paciente: Ele fez a cabeça do meu vô para desfazer o testamento com a minha
mãe. Ele faz coisas diabólicas, não de pai.
Psicoterapeuta: Você pode criar uma proteção para essa crueldade dele.
Paciente: É coisa de louco mesmo. Louco.
Psicoterapeuta: Adianta ficar buscando o contrário?
Paciente: Agora me deu um click. Ele é louco mesmo. Parece que entendo. Não
posso e nunca pude esperar nada. Ele tem coisas infantis também.
Psicoterapeuta: O que por exemplo?
Paciente: Esquiar, andar de bicicleta, blog, fotoblog.coisas ridículas e infantis. Se
coloca com umas fotos com máscara de macaco, de palhaço.
Psicoterapeuta: Quantos anos ele tem agora?
Paciente: Tem 80.
Psicoterapeuta: Você tem alguma lembrança boa dele?
Paciente: Não, não. Nenhuma. Nenhum beijo, nenhum abraço, nada. Nada para
te falar. É uma coisa triste.
Psicoterapeuta: Ele teve filhos com a segunda mulher?
Paciente: Não conseguiu. Morreram três quando ainda tinham meses.
Psicoterapeuta: Essa história toda me passa que você precisa de uma proteção
para você mesma. Talvez precise liberar isso.
Paciente: É estranho que nem lembro mais da minha psoríase. Eu esqueço dela.
É meu marido que sempre vê. Estou com uma na cabeça mas não está me
incomodando. A acupuntura que eu fiz acho que ajudou também;
Psicoterapeuta: Você acha então que está ressignificando todo esse material?
Paciente: Acho que tudo está ajudando. Fiz terapia o ano passado inteiro.
Psicoterapeuta: Mas antes ela te incomodava?
Paciente: Muito. Inchava, coçava, ardia. Eu tive que tomar cortisona e engordei
dez quilos. Caía meu cabelo. Agora já emagreci.
Psicoterapeuta: Tinha um grande incômodo então?Tinha um preço né?
Paciente: É.
Psicoterapeuta: Quero que você feche os olhos agora um pouquinho. Pense em
tudo isso que a gente conversou hoje. Como começou a sua psoríase. Como a
sua sogra te chamou a atenção. Agora vamos deixar todo esse material em uma
caixinha para que na próxima semana a gente abra novamente essa caixinha.
Pense que tudo aquilo que a gente compreende, a gente perdoa. Toda a sua vida,
105
translúcida, e essa sensação cada vez mais harmônica com o seu corpo, com
esse mar, a sua vida e você com total domínio sobre todas as emoções e você
tem todo o domínio do seu corpo.
uma estratégia, porque eu quero chegar num ponto, eu quero acionar um ponto,
então esse ponto, por isso que eu falei com a você a primeira vez, eu tenho esse
ponto, então o quê eu fiz? Eu quero resgatar as células saudáveis do teu corpo.
Quando eu pergunto para a pessoa assim: onde ela descansa mais? Vamos
supor no mar, então fica mais fácil ela já tinha essa imagem, você é boa de
imaginação, de repente a pessoa quer no campo, então eu a levo pela floresta ai
eu tenho que achar um contato com a pele, então o mar para mim é mais fácil
porque você estava lá entendeu? E aí ele renova a pele. Então ele renova, ele
limpa. Eu precisava trazer sua mãe para o inconsciente, porque já falou da outra
vez. Eu fiz um link com aquilo, a gente utiliza, é o princípio de Erickson da
utilização, eu utilizo toda a tua história e faço uma nova leitura, eu ressignifico
essa história.
Paciente: O engraçado é que eu sei tudo o que eu ouço né?
Psicoterapeuta: Sim. Então amanhã que você vai ter que enfrentar um dia difícil,
que tem raiva, que tem energia. Tem que querer para falar: “não, estou indo,
chega, vou me proteger”. Exatamente. “vou me proteger”. Eu quando tenho que
enfrentar um dia difícil monto uma couraça.
Paciente:Eu estou mais aliviada. Mais leve. A minha psoríase piorou.
Psicoterapeuta: Então, por que piorou? Ela piorou porque nós estamos
mexendo.
PacienteEu sei.
Psicoterapeuta: Hoje eu dei o primeiro ponto, que foi o primeiro banho de mar
que vai liberar, na semana que vem a gente já vai fazer com a imagem do que
sai.
Paciente:Eu sinto uma coisa, eu tenho medo muito de perda.
Psicoterapeuta:Um sentimento de perda.
Paciente:Eu tenho medo de perda minha irmã agora, a gente está brigando
muito.
Psicoterapeuta: Na verdade, a perda para você seria a separação da sua irmã,
né? Vamos enfrentá-la.
Paciente: É que ela xinga, ela me xingou.
Psicoterapeuta: Ela está na raiva, né?
Paciente: É. Mas é que ela é muito materialista.O Deus dela é o dinheiro, isso
afunda.
108
Psicoterapeuta: Então essa primeira coisa que a gente tem que fazer para rever
este dinheiro, Então rever seu dinheiro, toda essa aplicação e aí quando tiver
essa liberdade, essa devolução aí nós resgatamos. Eu sempre digo isso: amores
que não morrem que nunca deixam de existir, pai, mãe e irmãos.
E você já fez os dois lados, já teve muito dinheiro, isso é um. Já teve dinheiro e
teve amor.
Paciente:Para mim não era amor. Saúde que é o mais importante. Harmonia na
família. Embora este dinheiro esteja trazendo muitas brigas, por falta e vice-versa.
Sabe, eu fico muito preocupada com esse dinheiro porque o meu cunhado teve
muita inveja desse dinheiro.
Paciente: Novo testamento ((gravação incompreensível) judeu, olha aqui ( nome
presente em uma passagem, da Bíblia). Estava escrito! Não tem coincidência,
não tem, (gravação incompreensível), (cita o nome novamente), o quê quer dizer
isso?
Psicoterapeuta:Não tem.
E ele (gravação incompreensível) totalmente, porque não pegou e abriu e
(gravação incompreensível).
Paciente:É esse nome, o quê quer dizer?
Psicoterapeuta:(cita o nome...)
Paciente: Quer dizer alguma coisa? Tem a ver.
Psicoterapeuta: Claro que tem
Paciente:Falei para o meu marido: tem haver alguma coisa.
Psicoterapeuta:Claro que tem ele não te perdoou, da forma como foi feita.
Paciente:Ele está com uma namorada ótima.
Ama ele, ama, ama.
Psicoterapeuta: A gente não escolhe, ele não superou a frustração, o seu
cunhado não tinha sido frustrado, este é o grande problema, as pessoas não
(gravação incompreensível) muito pequenas então querem tudo, querem
manipular tudo, querem controlar tudo e não controla, o outro vai embora.
Paciente:Ele também tem que perder essa também. Ela ficou assustada, viu.
Psicoterapeuta:Se ele continuar tendo esses ataques...
Paciente: Mas ela ficou assustada, ficou quieta daí ela tomou a direção e falou
para ele “você vai ter que pedir desculpas para todo mundo, você vai pedir
desculpas para o ( nome de parente)”. Fez um por um pedir desculpas.
109
Sessão 4
A paciente trouxe uma foto de quando tinha três anos no colo de sua mãe na
Europa e ofereceu de presente à psicoterapeuta e à observadora participante.
Psicoterapeuta: E essa menina continua com a franjinha!
Paciente: (risos) Pois é! Eu corto assim porque é meu marido quem gosta e
pede. Faz tempo que estou com ela.
Psicoterapeuta: Muito bonita a foto. Onde você a guarda?
Paciente: Vou colocar em um quadro. A minha mãe era linda, linda. Muito bonita.
Isso porque você não viu a minha irmã gêmea.
Psicoterapeuta: Como ela é?
Paciente: Igualzinha! Muito bonita. Ai, esse final de semana fiquei até doente de
tanto que briguei com a minha irmã.
Psicoterapeuta: O que aconteceu?
Paciente: (gravação incompreensível). A terapia está me dando muita força. Eu
não iria consegui agüentar sozinha.
Psicoterapeuta: Você tem essa força interior. Terapeuta nenhum é mágico, só
lidamos com os próprios recursos que a pessoa tem.
Paciente: Eu sou assim (gravação incompreensível). E dessa vez eu ouvi. Fiquei
quieta enquanto ela choramingava. Eu não ataquei dessa vez. Não tem
condições, eu falei isso para ela. E eu me explicando que tenho que pagar a
faculdade do meu filho, que tenho que pagar minhas coisas. Acho que aí veio
uma luz nela. Eu fui pensando em pegar ponto por ponto para ver onde eu
chegava na discussão. Só pensava em mim, no meu marido e no meu filho. Não
dava. Ela só me atacando.
Psicoterapeuta: (gravação incompreensível)
Paciente: A minha irmã está frágil Só tremia a boquinha.Sei que fui mais forte.
Lembrei da terapia e da psoríase que parou de coçar.
Psicoterapeuta: Parece que você está percebendo como se coloca no atrito e no
conflito. Quando você está em um atrito fica entre o estar e o não estar.
Paciente: Mas eu não pensei em nada disso. Não pensei em nada. O meu
problema é só a minha irmã. Não pensei nem em pai nem em mãe.
110
na minha cabeça. Que coisa horrível. Tem muitas coisas. Quero te dizer que você
é uma excelente terapeuta viu.
Psicoterapeuta: Obrigada.
Paciente: É verdade! Já procurei quatro psicólogas e foi só papo furado. Nada
profundo. Eram coisas não tratadas.
Psicoterapeuta: E talvez elas reapareçam na forma de sintomas...
Paciente: Isso hoje foi uma loucura.Senti um aperto aqui no tórax. Acho que isso
de ser européia também me faz ser uma pessoa fechada.
Psicoterapeuta: Fique em paz. Respire. Semana que vem nos encontramos para
continuar essa nossa jornada.
Sessão 5
A paciente chegou dizendo que estava se sentindo estranha, pois havia
comido um pacote inteiro de bolachas.
Paciente: O meu cunhado chegou na minha casa semana retrasada e viu a
minha foto com a minha mãe naquele negócio grande (a paciente havia trazido
esta foto com sua mãe durante a infância vivida na Europa), daí ele pegou todas
as fotos e viu, ele não sabia que eu estava indo naquela igreja, que eu estava
indo. Daí ele falou: “porque você está levando a foto de todo mundo e a minha
junto?” Ai eu falei: não, é que a máquina não sei como apagar a foto.Sabe por
que eu falei? Porque ele ficou que nem um leão, quase subiu encima de mim,
quase que a gente se matou um dia lá, sábado.
Psicoterapeuta: Agora, sábado?
Paciente: Não, sábado retrasado, e ele não quer que eu ore por ele, ele está uma
fera comigo, ele não quer que eu ore pela foto dele. Ele falou que eu estou indo
na igreja, que é macumbeira, que a Igreja (gravação incompreensível) eu falei:
Para com isso, deixa eu ir na igreja que eu quero. Ele não deixa escolher a igreja
que eu quero ir, eu não agüento mais ficar sendo mandada, ele e a mãe dele, eu
já falei para o meu marido: eu não suporto mais as pessoas ficarem mandando
onde eu tenho que ir, que igreja que eu tenho que ir, eu não suporto mais isso. Eu
não posso escolher a igreja que eu quero ir.
Psicoterapeuta:Qual é a diferença da igreja que você está indo e da igreja dele?
Você tem todo o direito de ir à igreja que você quer. (gravação incompreensível)
113
espiritual. A escolha de uma igreja que eu quero ir, que eu me sinta bem, não
precisa ser uma igreja muito bonita. Mas não é isso que eu quero: eu quero uma
igreja mais simples, uma igreja que as pessoas busquem oração, gostem de mim,
e lá eu não gosto mais.
Psicoterapeuta: Isso na Batista?
Paciente: Eu falei: nós estamos batendo de frente, eu com o meu cunhado, eu
estou até orando por ele, levo a foto dele, ele está em cima de mim, nós estamos
batendo de frente, eu estou vendo que a “batata” é entre mim e o meu cunhado,
toda hora, ele está em cima de mim, “por que você ora por mim? Por que você
está orando por mim? O que você fez de errado?”
Psicoterapeuta: Eu sei, mas parece que seu cunhado quer que você deve deixar
de olhar para ele. E por que você não devolve a foto do trabalho dele?
Paciente:Eu não quero ter foto dele mais.
Psicoterapeuta: Não? Então ótimo. O seu cunhado segue o caminho dele na
religião. Se você quer colocar um bezerro no curral e ele não quer ir de jeito
nenhum, o quê você faz?
Paciente:Não faz.
Psicoterapeuta: Puxa o rabo dele até ele entrar, certo?
Paciente: É, e o cunhado dele no restaurante falou sobre o dízimo quando me
viu. Já veio falando no meio da conversa, “por que você deu o dizimo?” Falei que
foi porque eu quis dar e acabou. Eu dei. “Quando você deu, já entrou o dinheiro?”
tudo ele quer saber. Não, não entrou dinheiro coisa nenhuma (a paciente se
refere a herança deixada por sua mãe), você entendeu? Tudo ele quer saber.
Psicoterapeuta: Me diz uma coisa, qual seria um jeito de lidar com essa
situação?
Paciente: Fechar a boca, eu sei.
Psicoterapeuta: Não dê pérolas aos porcos. Respira e ouve o que ele está
falando. Ele está falando para você não orar por ele. Porque amai vossos
inimigos, e também é preciso às vezes afastar-se deles. Certo?
Paciente: Eu falei para o meu marido: não dá teu irmão.
Psicoterapeuta: Então pronto.
Paciente: Ah, é difícil.
Psicoterapeuta: Eu sei (gravação incompreensível).
115
Paciente: Não, eu sei, mas é uma cobrança que eu vou te falar, na casa
(gravação incompreensível) eu não vou porque é muita cobrança, eu não gosto
que me cobre, eu falei para o meu marido: tenho quarenta anos, deixa eu fazer o
que eu quiser.
Psicoterapeuta: Pelo menos isso né?
Paciente: Sabe, é cobrança, cobrança, eu tenho que aprender a falar não, esse é
o problema.
Psicoterapeuta: Aprender a falar não, a falar mais ao menos assim por alto:
“não, eu não vou porque isso.” Não, vai à igreja, não precisa ficar falando. Deus
mesmo disse: “ore de portas fechadas.”
Paciente: Não, eu sei disso.Mas foi o meu marido que falou, não foi eu.
O meu marido fala demais para o irmão dele, essa é que é a palavra.
Paciente: (gravação incompreensível) igreja, (gravação incompreensível) falado.
Paciente:Está vendo, estar com “TPM” dá nisso.
Psicoterapeuta:Olha, toda terapia de “TPM” sai da estratégia.
Paciente:Sai não é?
Psicoterapeuta: Sai, (gravação incompreensível) Uma mulher chegou aqui e
falou: “que barulho é este? Que barulho estranho é este?” Eu tinha uma
fontezinha aqui que (gravação incompreensível) a mulher chegou aqui: “ai, você
vai me desculpar viu, vou desligar.” Ela desligou com tanta fúria da tomada que
quebrou. Ela falou: “ah, vou te dar outra.” Eu falei: não, (gravação
incompreensível) “TPM.”
Paciente: Eu tenho muita “TPM,” sabia?
Psicoterapeuta: É que você vai guardando, você vai guardando, (você vai
ganhando pressão).
Paciente: Eu não agüento.
Psicoterapeuta: E você vai ficando amarrada, agora, na verdade, está
entendendo o processo?
Paciente: Eles me amarram aqui (sinaliza a cabeça).
Psicoterapeuta: Então, está saindo (gravação incompreensível) armadura não é?
Para te proteger, agora estão tirando esta armadura, então está menos direto de
verdade, é questão de aprender a falar.
Paciente:Antes eu xingava a minha sogra, a gente se dava muito mal (gravação
incompreensível).
116
Paciente:O que me pegou é o dinheiro, você sabe disso. É uma coisa negativa
assim: “não quero que você ganhe dinheiro, você não merece.”. Sinto que ele
pensa assim.
Psicoterapeuta: Sai disso, (gravação incompreensível) respira. O quê te faz
sentir protegida?
Paciente: Não sei, coisas boas, não uma pessoa.
Psicoterapeuta:Não, (gravação incompreensível) coisas boas.
Paciente:Pessoas positivas.
Psicoterapeuta:Eu tenho uma técnica de hipnose, que nós chamamos de
Couraça. Então vamos fazer. A doutora (gravação incompreensível) aplicava
muito.Então cruza as pernas, respira, respira três vezes, imagine agora você
tirando uma segunda pele para vestir agora, como se você tivesse montando
agora através da sua mente, pode ser um plástico, pode ser uma (gravação
incompreensível), pode ser uma roupa mesmo de nadador, mergulhador, não
importa, tem que ser um material muito maleável e leve, adaptável ao corpo.
Respira, mentalize: “eu sou eu me protegendo de toda energia negativa, de toda
pessoa negativa. Construo agora a minha segunda pele, uma couraça que vai me
defender de todas as circunstâncias (gravação incompreensível), respire e vai
automaticamente construindo esta couraça do topo da sua cabeça até a ponta
dos seus pés, com esse material que pode ser transparente, que pode ser
colorido, não importa. Mas essa segunda pele, essa couraça vai te proteger
contra essas pessoas negativas que se aproximam de você, te defendem, te
defendendo, te protegendo, só você sabe que você está vestindo esta segunda
pele. Só você pode tirar essa couraça, quando você estiver num lugar positivo,
pessoas positivas, você vai repetir o exercício respirando três vezes, retirando sua
couraça, bem de vagar para não machucar sua pele. Isso, e agora sempre que
você precisar lembre-se de colocar essa couraça. Respire três vezes, (gravação
incompreensível) abra os olhos bem devagar, bem devagar(gravação
incompreensível) relaxe mais um pouquinho, isso. Reconstrua essa couraça,
feche os olhos.
Paciente:Está tão gostoso que eu estou quase dormindo.
Psicoterapeuta:É eu vi que você não está querendo voltar. Então assim, vamos
pegar a mesma situação, então vai, feche os olhos, reconstrua a sua couraça,
então veja até na hora que você estiver pegando o telefone, com a sua sogra,
119
com outras pessoas, e elas estiverem falando alguma coisa para te estragar,
construa a sua couraça. Coloca um protetor nos ouvidos de maneira que nada te
abale, nada do que você vai ouvir vai te abalar. (gravação incompreensível)você
estiver com seu cunhado (gravação incompreensível), se sinta forte, protegida e
defendida pela a sua couraça. Imagine agora uma situação que você está
fazendo um diálogo com ele, e ele está te agredindo e você está serena,
protegida, através desta couraça nada te atinge, (gravação incompreensível)
protegida, e se em determinados momentos você achar que você tem que
responder a altura, imagina essa força do emissor estando dentro de você e
fazendo com que você responda de uma maneira sincera, coerente porque eu sei
que você está sentindo, (gravação incompreensível)honestidade, e essa couraça,
você agora construiu, vai te proteger muito mais do que (gravação
incompreensível), para o seu cunhado, você pode tirar e colocar a hora que você
achar que seja necessário, não precisa de (gravação incompreensível) para dizer
as pessoas: “afastem-se de mim.”Com esta couraça você pode tudo, dizer: “(...),
eu vou saber receber, e aquilo que a sua mão (gravação incompreensível)
Respira, três vezes, repetindo para você mesma: “eu sou eu, eu sou eu e possuo
a sabedoria infinita e sei me dar bem e vou me dar bem em todos os ambientes,
com todas as pessoas, recebendo energia ou me protegendo desta energia, ora
recebendo energia positiva, ora me defendendo da energia negativa, eu sou eu.
Isso, mexendo as pernas, levantando, abrindo os olhos, até acordada para hoje,
dia dezessete. Esse recurso da couraça você vai poder usar quando você achar
necessário.
Paciente:Interessante. Muito interessante.
Psicoterapeuta:Essa técnica é boa, eu uso muito essa técnica. Quando eu entro
em algum lugar e está lotado, uso minha couraça.
Paciente:(gravação incompreensível) couraça, muito couraça de Deus sabia?
Psicoterapeuta:Já ouvi falar da de Deus, mas hoje eu pensei, tenho que por
essa técnica no lugar.Como você está muito nessa revolta, eu pensei (gravação
incompreensível).
Paciente:É que eu acho diferente, esse tema, é que eu acho diferente.
Psicoterapeuta:Eu sei, tem uma técnica da couraça né?
Paciente:Tem.
120
então eu acho que o fato até dele estar em terapia também já é um pedido de
ajuda.
Paciente:Mas ele é muito fechado!
Psicoterapeuta:Temos que encerrar por aqui. Até quarta que vem.
Sessão 6
A paciente antes de entrar na sessão contou à observadora participante e à
psicoterapeuta que estava feliz, pois parte da herança deixada por sua mãe havia sido
recebida por ela. Esta era uma questão burocrática que estava preocupando a paciente e
causando discussões na família.
Psicoterapeuta:O que aconteceu de coisa boa? Que você veio toda parecendo um
passarinho verde, viu um passarinho verde. O que foi?
Paciente:Não, não sei.
Psicoterapeuta:
O que está te dando essa onda de felicidade?
Paciente:Eu sou assim,sabia?
Psicoterapeuta:O teu normal é assim?
Paciente:É eu pareço bipolar.
Psicoterapeuta:Altos e baixos?
Paciente:Muitos.
Eu estou muito assim sabia? Ai eu sei por quê.
Psicoterapeuta:Então me fala.
Paciente:Eu parei de fazer acupuntura. Está mexendo muito comigo. Eu parei com a
acupuntura há três semanas, mas está mexendo com a minha emoção que é uma
loucura. Eu estou assim (pá), eu tenho que voltar urgente a fazer acupuntura.
Psicoterapeuta:Vamos com calma.
Paciente:Não, sabe por quê? Hoje eu estou ótima, ontem eu estava um bagaço.
Chorando com a minha sogra e orando. Ontem eu estava se você me visse, eu estava
chorando e ela orando eu estava assim pensando que não agüento mais.
Psicoterapeuta:Será que não é pela notícia que veio?
Paciente:Também é essa notícia, eu não sabia que vinha a notícia, eu sei que vem. Eu
sei que vem, mas é o meu marido que me estabiliza, sabia? Porque eu sozinha sei que
vem, mas ele me estabiliza. E quando eu fico quietinha e essa noite eu não durmo
porque ele fica falando: meu coração vai ter enfarte, vou ter enfarte. Ele fica assim a noite
inteira. Ninguém merece e eu fico desestabilizada.
Psicoterapeuta:Notícia de ontem às dez horas da noite muita coisa muda né. É uma
perspectiva mais óbvia.
122
Paciente: Eu já estou...
Psicoterapeuta:Já está bocejando.
Paciente:Eu relaxo rápido.
Psicoterapeuta: Assim eu não consigo te alcançar, você tem que relaxar um pouco.
Você sonhou essa semana?
Paciente: Eu para sonho.. Sabe que eu não lembro! Sou péssima para sonho. Deixa eu
ver...
Psicoterapeuta:
Vamos fazer uma técnica de hipnose, que se chama sonhar acordada. É um sonho
acordada, inclusive ele dá um sono, topa?
Paciente:Topo.
Psicoterapeuta:Então vamos fazer, sonhar acordada. Vamos ver. Vamos bolar um
sonho. O que você gostaria de sonhar um dia?
Paciente:Vamos ver. Eu gosto muito de viagens.
Psicoterapeuta:Pode ser uma meta, exatamente, pode ser uma meta.
Paciente:Eu gosto muito de viagens, sabia?
Psicoterapeuta:Viajar? Que lugar você gostaria de ir que ainda você não foi?
Paciente:Sabe que lugar que eu iria agora?Paris (a paciente começou a rir até os olhos
lacrimejarem). Eu estava pensando agora isso.
Psicoterapeuta: Vamos contar uma data para isso. Vamos por uma data, um período,
nós vamos montar um cenário, depois você vai vivenciar.
Paciente: Data como? Agora ou depois?
Psicoterapeuta:Um período vamos pegar um período.
Paciente:Desse ano?
Psicoterapeuta:Não, pode ser do próximo ano eu não sei.
Paciente:Do ano que vem dá?
Psicoterapeuta:Dá.
Paciente:Próximo às férias, pode ser?
Psicoterapeuta: Pode ser.
Paciente: Tem que dar férias do meu marido, porque ele vai voltar a trabalhar, ele volta a
trabalhar em outubro e nós íamos para (gravação incompreensível.) que nós não
conhecemos, ele gostaria de conhecer a França, e eu não conheço (gravação
incompreensível) porque eu fui com a minha sogra daí a gente queria passar por Paris,
conhecer a parte francesa que eu não conheço e eu queria conhecer os cafés, tem o
queijo (gravação incompreensível.) que eu queria ir por conta do queijo, então é um
passeio que a gente queria fazer.
Nós viemos calmos da Europa.
125
corpo,bem devagar, você vai imaginar esse calendário voltando para o dia de hoje
enquanto você respira (a paciente recolheu as pernas e sentou-se da maneira habitual).
Paciente:Nossa, parece que é profundo mais é leve ao mesmo tempo. Meus olhos
estavam grudados.
Psicoterapeuta:É fundo e leve exatamente, a sensação é legal. Você vai e volta.
Paciente:O meu marido tem medo ele falou:Você consegue voltar sozinha, né? Eu volto.
Psicoterapeuta:Você volta porque já vai certo, tem gente que por exemplo, fica um
pouquinho disssociado.
Paciente:Eu estou fazendo mais, porque eu estou ansiosa que nem hoje por exemplo.
Psicoterapeuta:Eu acho que é alguma distorção de tempo, entendeu você pode
aumentar um pouquinho porque é uma viagem, eu já me vejo lá, quando eu estou
esperando uma resposta e eu vou ficar ansiosa, eu já me vejo lá. Isso é bárbaro.
Paciente:É mesmo? Porque às vezes eu consigo fazer sozinha.
Psicoterapeuta:Isso a gente chama de projeção do tempo com progressão do tempo. É
que muitas vezes você já passou por isso.
Paciente:É que às vezes eu vejo no real; fora o cansaço essas coisas eu faço isso.
Porque eu já vejo no real as coisas acontecendo.
Psicoterapeuta:Isso é bom.
Paciente:É bom?
Psicoterapeuta:É ótimo.
Paciente:E é o real. Ai que cena linda que visualizei.
Psicoterapeuta:Conte como foi.
Paciente:Sabe o que é, é assim, a minha felicidade é a seguinte, eu tenho muitos
problemas, para a minha felicidade, o meu marido tem que estar junto.
Psicoterapeuta:Que bom. Ele é o teu marido.
Paciente:Sabe por quê? Porque ele está numa depressão muito grande.
Um quadro lindo, eu sorrindo e ele também sorrindo, mas não com coisas materiais mas
com felicidade, com amor, sorrindo.
Psicoterapeuta:Esse conflito (gravação incompreensível)
Paciente:É isso que não está dando mais, é isso o que a gente está vivendo há dois
anos atrás com felicidade, viajando, fazendo sonho (gravação incompreensível) na frente
de novo, fazendo planos o que nós vamos fazer, o que nós vamos comprar de novo. A
gente estava assim há dois anos, isso é uma delícia, num jardim lindo, (gravação
incompreensível) verde, uma casa linda, fazendo planos, o meu marido sorrindo fazendo
brincadeira. O nosso filho com uma namorada loira.
Psicoterapeuta:E porque loira?
Paciente:Eu tenho mania de namorada loira e o meu filho gosta de mulher escura.
127
Paciente: Eu falei se quiser sair do trabalho, saia não ouça nem tua mãe nem teu pai.
Nasce outro homem, ele queria fazer medicina.
Psicoterapeuta: Ele queria fazer medicina..
Paciente: Eu falei, vai fazer o que você quer , pára, vai fazer o teu sonho, agora não vai
por causa da mãe e do pai eu acho isso bobagem, sabia? Eu falei para ele sair da polícia,
acho bobagem você ficar segurando, agora a gente vai mexer direito o dinheiro no
banco. Eu falei vamos começar do zero nossa vida.
Eu falei sai da polícia vai fazer outro curso chega. Eu acho que a polícia traz
muita energia negativa. Porque no sexo mesmo, no sexo, porque no sexo a gente
se torna um a pessoa só e no sexo eu percebi meus demônios muito
perturbadores (...) da polícia muitas coisas ruins, ele via muito e percebia coisas
ruins, no sexo mesmo porque vem né. Porque vêm coisas de lá, depois vem e faz
sexo e “bum”, vem um negócio ruim, isso é horrível.
A coceira da cabeça eu não tenho mais nada.
Até aqui tinha uma que desapareceu ( a paciente sinalizou a região do peito).
Psicoterapeuta: Está cada vez mais (gravação incompreensível) derrubamos o
muro de Berlim.
Paciente: Vai ser o conjunto todo.
Psicoterapeuta: Veio com tudo, né?
Paciente:Veio com tudo o meu tratamento e entrou tudo.
Sessão 7
A paciente chegou à sessão dizendo que havia mudado o seu cabelo e que
gostava de aparecer através de seu visual.
Psicoterapeuta:Como é que você está?
Paciente:Eu estou bem assim, sem ...Sem coceira.Sem coceira nenhuma sabia.
Psicoterapeuta:A coceira a gente já se livrou! Quantas sessões foram?
Paciente:Oito.
Psicoterapeuta:Oito só?
Paciente:Parece que foram mais, né?
Psicoterapeuta:Parece.Em termos de fortalecimento, olhando a sua história,
você melhorou muito?
Paciente:Eu melhorei muito.
Psicoterapeuta:Você está mais bonita, mais centrada.
Paciente:Todo mundo fala, você sabia?
129
Paciente: Eu não entrei porque eu falei para ela: o problema não é meu, mas ela
queria que eu entrasse, mas eu falei “não esse problema não é meu”.
Psicoterapeuta: Isso é defesa.
Paciente:Esse problema não é meu, eu falei para ela. Nem o de ontem,
percebeu, ontem eu saí com o meu cunhado e ele falou: eu não quero que você
se intrometa nos problemas da minha casa e da minha família que eu não me
intrometo na tua casa.
Psicoterapeuta:E como você ouviu isso?
Paciente:Eu ouvi bem.
Psicoterapeuta:Digeriu?
Paciente: Não. Eu digeri. Eu fiquei quieta, não, eu ouvi, espera aí, mas isso que
eu queria falar com você. Ele falou assim “você não se intrometa com a minha
mãe, nem na minha casa, você não tem nada a ver com os meus problemas nem
com a minha mãe”
Psicoterapeuta:Isso é uma carta de liberdade. Eu entendo assim, não é? Você
está livre.
Paciente:Estou livríssima. E a mãe dele? Será que ela pensa assim? Ela que
veio cobrar.
Psicoterapeuta:O quê?
Paciente:Ela falou: “como você não falou com ele, você devia ter falado”.
A mãe dele veio falar “Você tem que falar para ele que você tem tudo a ver
conosco”
Psicoterapeuta:Vai entendendo que foi uma liberdade.
Paciente: Você acha?
Psicoterapeuta: Você já está liberta disso.
Paciente:Eu estou liberta.
Psicoterapeuta: Agora você pode sair com ele para fazer outras coisas..
Paciente: Com que?
Psicoterapeuta:Com o seu cunhado, só que não tem nada a ver com os
problemas dele.
Paciente: Com ele e com a mãe dele?
Psicoterapeuta:Não foi isso que ele disse?
Paciente:Ele disse.
131
Ontem eu cheguei, sentei e falei pro meu cunhado: você não acha que...Ele
interrompeu e disse: eu já te falei, você não tem nada a ver com a minha casa,
nem com a minha família“.
Psicoterapeuta:E porque você foi falar? Eu acho que você não digeriu esse
recado. Você pegou pelo lado ruim, pessoal.
Paciente:Mas espera aí, eu já fiz isso com o meu marido, eu já fiz isso ai no
passado, sabe o que eu fiz?
Psicoterapeuta:Mas ele é seu marido.
Paciente:Mas eu já fiz isso com a família dele, sabe o ele fala? “Você vai fazer
isso com a minha família? Vai largar meu pai e minha mãe?”
Psicoterapeuta:
Não é questão de largar.
Paciente:Mas ele fala assim. Daí eu não vou mais lá.
Psicoterapeuta:Mas isso daí que é diferente, você pegou por um lado só.
Paciente:Mas daí eu não sei lidar com isso.
Psicoterapeuta:Não, você é oito ou oitenta.
Paciente:Eu sou, eu sou, você sabia que eu sou assim?
Psicoterapeuta:E o caminho do equilíbrio?
Paciente:Como é que eu lido com isso? Como é que eu faço?
Eu não sei lidar com o meio termo. Como é que eu faço? Porque a minha sogra
fala assim “você tem que me proteger. Você tem que falar para o seu cunhado
que você tem que ver tudo aqui porque você é minha nora e você é como uma
filha para mim”. E agora?
Psicoterapeuta: É uma questão difícil. A Maria Helena Rizzo, que é uma
psicanalista, disse o seguinte: quando a filha dela casou, ela chegou para a filha e
disse assim: “você sempre vai fazer parte da minha família, eu não faço da sua.
Então para eu ir à sua casa você vai ter que me chamar, você vai ter que me
convidar, eu vou ligar.
Paciente:Mas eu tenho uma convivência com a minha sogra que você não tem
idéia.Nós somos que nem amigas. Você não sabe essa nora nova que ela
arrumou. Ela disse assim: Eu já sou vinte anos sogra, hoje eu descobri que eu
sou sogra”. Eu falei que eu não acredito.Nós duas somos como mãe e filha, mas
eu falei cada um é cada um, você vai ter que saber lidar com isso, com a nora
nova.
132
Paciente:Tem livro pra eu comprar que eu possa ler sobre isso? Eu adoro ler
sobre isso, sabia? Eu gosto de livros auto...
Psicoterapeuta:De auto-ajuda?
Paciente:Adoro. Porque te ensina muito, né.
Psicoterapeuta:Eu acho que o que mais me ensina é você sentir, é você se
conectar.
Paciente:Porque antes eu fugia. Eu estava fugindo e me deprimindo. Eu tenho
que enfrentar o meu cunhado, porque ele que nem meio que meu pai, assim, para
mim, eu tenho que enfrentar, vou conversar com ele, vou sentar porque para mim
ele é meio que meu pai, eu falo para o meu marido, então eu vou enfrentar.
Psicoterapeuta:É um aprendizado o seu cunhado. Como você vai aprender a
lidar com ele, talez você possa aprender a lidar com o seu pai.
Paciente:Você sabia? O meu cunhado gosta das mesmas coisas que o meu pai,
gosta de cachorro por exemplo, é uma coisa impressionante.
Psicoterapeuta:Então é isso.
Paciente: Eu acho que o meu cunhado sempre quer me cutucar né.
Psicoterapeuta: Quando você pensa no seu cunhado, que bicho você lembra?
Nesse momento a paciente fecha os olhos e permanece sorrindo ao falar dos
animais.
Paciente:Que bicho? Eu penso num touro.
Psicoterapeuta:Em um touro. E quando você pensa no seu pai?
Paciente:Que signo que o meu cunhado é?Deixa eu pensar.
Psicoterapeuta:Não. Não importa. E o que seria seu pai? Quando você pensa
em um bicho, que bicho você pensa?
Paciente:Não o meu cunhado não é um touro, meu pai é. O meu cunhado é igual
meu pai, um escorpião.
Psicoterapeuta:Então muito bem, o bicho é o escorpião. Como é que você lida
se tiver que entrar aqui nesse momento dois escorpiões? Imagina: fecha os olhos
e imagina entrando numa sala, como você enfrenta os escorpiões?
Paciente:Mas ele é grande?
Psicoterapeuta:E se você fosse um bicho, que bicho você seria?
Paciente:Isso que eu estou vendo. Sabe como é que eles chamam de onça.
Psicoterapeuta:Onça pintada? Você é uma onça pintada.
Paciente:Eu sou uma onça.
134
O temperamento dele é difícil, muito difícil lidar com uma pessoa assim. Ainda
bem que eu não entro na dele.
Nós somos totalmente diferentes.
Psicoterapeuta:Mas também gostam de água.
Paciente:Sabe quem mais sofre? Eu, O meu filho agora tem sofrido pouco
porque ele tem um temperamento quieto, mas agora essas três semanas ele tem
saído que eu estou até impressionada. Ele é quieto, mas agora têm saído com os
amigos. Agora está começando e eu estava esperando. Acho que agora está
começando, está começando e eu acho que chegou a hora do meu filho ter
coragem de dirigir o carro, acho que chegou a hora. Acho que chega a hora da
pessoa, e eu estava esperando. Eu perguntei pra ele: e aí quando vai chegar a
hora? Os amigos deles tem ido todos os dias na casa do meu cunhado, ele é
animado.Então vão os amigos do meu filho, a irmã do meu cunhado, eles vão
comer cachorro quente, um dia vão para o cinema e vai todo mundo junto.Então e
o meu filho vai, e o meu marido fica desanimado, então o meu filho também fica.
É aquele negócio.E eu falei para ele: vamos um pouco para o sítio, vamos fazer
um churrasco. E ele só fala: “ah, não tem dinheiro”.Porque bebida é uma coisa
cara. Eu falei para ele “pára de ser tonto e retardado porque eu não estou nem
aí“, eu estou, mas se a pessoa fica gastando dinheiro com bebida eu acho que ela
tem que ser madura, guardar dinheiro principalmente para a terapia, eu acho que
a terapia me ajudou nisso.
Psicoterapeuta:Sua irmã que animal que é?
Paciente:Minha irmã é um bicho muito...Uma cobra que pica.
Psicoterapeuta:Já pensou uma cobra enrolada...
Paciente:Deixa eu te falar uma coisa, você que mexe com espiritismo, né?
Psicoterapeuta:Eu não mexo com espiritismo.
Paciente:Eu sei, mas deixa eu te falar uma coisa.
Psicoterapeuta:Mas eu não mexo com espiritismo.
Paciente: Uma pessoa que eu conheço, falou que o marido dela viu, é que eu
não acredito em espiritismo, então deixa eu te falar. O marido dela viu a minha
mãe sentada na cama dele, falou que a minha mãe chegou para ele e falou assim
que vai deixar a gente em paz. Com quarenta anos agora, que vai embora, que
agora vai deixar a gente em paz e que ela fez tudo aquilo e vai embora.
Psicoterapeuta:Deixar vocês em paz do que?
137
Paciente:Sabe que eu sinto que; eu falei para o meu marido, esses dias na
Europa tem alguma maldição hereditária. Eu não sei o que é eu sinto. E eu não
sei se é por causa que a família do meu avô veio do negócio do Hitler,
entendeu? Então eu falei para o meu marido, tem coisas que assim tem muita
coisa espiritual mesmo.
Psicoterapeuta:Energia?
Paciente:Tem, tem muita coisa, muita energia.
Psicoterapeuta:Tem energia.
Paciente:Agora travou. É tudo muito estranho espiritual, tem uma coisa espiritual
eu não sei o que é, mas tem uma coisa espiritual.
Psicoterapeuta:Mas a energia você pode imaginar, é isso que eu estou te
falando.
Paciente:Você é católica?
Psicoterapeuta:Eu sou católica apostólica daquela que vai à missa.
Paciente:Eu sei. Isso para mim não é espiritismo.
Psicoterapeuta:Na verdade é o estado mental da pessoa.
Paciente:Você reza para santo, né?
Psicoterapeuta:Cada um mexe com aquilo que tem fé, ora, mas vale a fé. Cada
um tem que seguir o seu caminho, da mesma maneira que eu sou católica, a
minha irmã é pastora evangélica.A família tradicionalmente é católica, tem gente
espírita também. No sentido de cada um é cada um.
Paciente:É que meu pai mexe com muitas coisas.
Sabe o que eu tenho medo; não tem coisas que vem para o bem, meu medo é
mexer com coisa ruim, é isso que eu tenho medo.
Psicoterapeuta:Nos encontramos na semana que vem e podemos continuar
discutindo essa questão.
Sessão 8
No último encontro a paciente preencheu o questionário, fez a autobiografia livre e
realizou o desenho que representasse o sintoma que a trouxe buscar auxílio
psicológico. Ela se emocionou ao se despedir e pediu à observadora participante
que mantivesse contato, pois aqueles encontros semanais iriam lhe fazer falta.
138
Anexo H
___________________________
Assinatura
Anexo I
___________________________
Assinatura
Anexo J