Você está na página 1de 140

1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde
Curso de Psicologia

Ana Carolina Corrêa D’Agostini

O USO DA HIPNOSE COMO FERRAMENTA


TERAPÊUTICA NA ÁREA DA SAÚDE: UMA
COMPREENSÃO ANALÍTICA DA PSICOSSOMÁTICA

SÃO PAULO
2009
2

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde
Curso de Psicologia

Ana Carolina Corrêa D’Agostini

O USO DA HIPNOSE COMO FERRAMENTA


TERAPÊUTICA NA ÁREA DA SAÚDE: UMA
COMPREENSÃO ANALÍTICA DA PSICOSSOMÁTICA

Trabalho de conclusão de curso como


exigência parcial para a graduação no
curso de Psicologia, sob orientação da
Profª. Drª. Liliana Liviano Wahba.

SÃO PAULO
2009
3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha orientadora Liliana Liviano Wahba por sua ajuda,
atenção, paciência e cuidado.

À psicóloga Magda Pearson que, com muita disposição aceitou fazer parte desta
pesquisa, disponibilizando uma paciente de sua clínica como participante e me possibilitando
ainda mais inspiração e admiração à psicologia enquanto prática clínica.

À paciente participante que confiou na proposta deste trabalho enquanto parte de sua
busca pela cura.

Aos meus pais Marcos e Izilda por terem me possibilitado seguir tantos caminhos e
chegar aonde cheguei, servindo como inspiração e amparo nos momentos necessários.

Ao meu irmão Daniel pela companhia e diversão durante toda a vida.

Às minhas senhoras queridas, Tereza, Annita, Lucília e Lunga que sempre me


acompanharam mostrando cuidados, sabedoria e humor.

Ao meu afilhado Lucas, que com todo seu encanto e pureza em seu começo de vida,
me alegrou tantas vezes com sua presença.

À minha família pelo apoio e carinho.

Aos meus fiéis amigos pelo interesse e incentivo neste projeto e pela compreensão
nos momentos de ausência.
4

“Uma conversa centrada, orientada por uma


busca significativa, tem esse maravilhoso poder
de abstrair o tempo, as distrações, os
segundos pensamentos, e fazem surgir
exatamente aquilo que parece ter um desejo
próprio de se transformar em palavras.”
(Gambini, 2008, p.127).

“... a psique e o corpo não estão separados,


mas são animados por uma mesma vida.
Assim sendo, é rara a doença corporal que não
revele complicações psíquicas, mesmo
quando não seja psiquicamente causada”
(Jung,1953,p.194).
5

D’AGOSTINI, ANA CAROLINA CORRÊA. O uso da hipnose como ferramenta


terapêutica na área da saúde: uma compreensão analítica da psicossomática. São Paulo,
2009. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso)- Curso de Psicologia – Faculdade
de Ciências Humanas e da Saúde, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Orientador: Profª. Drª. Liliana Liviano Wahba.

RESUMO
O presente estudo visa apresentar uma revisão histórica da concepção de hipnose e seu
uso voltado à saúde. Procura apresentar que as técnicas de aplicação da hipnose em
psicoterapia progrediram de forma notável e extraordinária nos últimos anos,
distinguindo-se da utilização única da sugestão direta para a remoção de sintomas ou
como objetivo de modificar atitudes como no século passado. Através da ilustração de
um caso clínico em atendimento psicológico, foi escolhida a abordagem analítica para
embasamento teórico, pois esta fornece subsídios para a compreensão holística do ser
humano, ou seja, de vê-lo em sua totalidade em que psique e corpo são indissociáveis.
Sob a reflexão desta linha teórica foram aplicadas técnicas de hipnose Ericksoniana e
utilizados os instrumentos de autobiografia livre, desenho semi-dirigido e questionário do
sintoma. Os resultados revelaram que os sintomas foram simbolizados pela paciente e,
segundo seu relato, o sintoma - psoríase -, desapareceu.

Palavras- chave: hipnoterapia Ericksoniana, psicossomática, psoríase, psicologia


analítica.
6

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8
2 OBJETIVO ............................................................................................. 12
3 HIPNOSE ................................................................................................ 13
3.1 Definição de hipnose ...................................................................... 13
3.2 História da hipnose ......................................................................... 13
3.3 Ernest Rossi .................................................................................... 17
3.4 Milton Erickson ............................................................................... 19
4 PSICOSSOMÁTICA ............................................................................... 24
4.1 Abordagem junguiana ...................................................................... 24
5 TRABALHO TERAPÊUTICO .................................................................... 29
5.1 Psicoterapia analítica ...................................................................... 29
5.2 Psicoterapia breve de embasamento ericksoniano .......................... 31
5.3 Pele .................................................................................................. 34
5.4 Psoríase ........................................................................................... 37
6 SÍMBOLOS E PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO ...................................... 39
6.1 Símbolos ........................................................................................... 39
6.2 Processo de individuação ............................................................... 41
6.3 Complexos ...................................................................................... 43
7 MÉTODO .................................................................................................. 47
7.1 Características do estudo ............................................................... 47
7.2 Participante .................................................................................... 48
7.3 Instrumentos .................................................................................... 48
7.3.1 Técnica de hipnoterapia ericksoniana .......................................... 48
7.3.2 História do sintoma psicossomático .......................................... 50
7.3.3 Desenho temático ......................................................................... 51
7.3.4 Autobiografia livre ......................................................................... 52
7.4 Procedimento .................................................................................. 53
7.4.1 Local e realização da pesquisa ...................................................... 53
7.4.2 Seleção dos participantes ........................................................... 53
7.4.3 Aplicação dos instrumentos ........................................................... 53
7.4.4 Procedimento para análise de dados ............................................. 54
7.5 Procedimento ético ......................................................................... 55
8 RESULTADOS E ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS ............................... 56
8.1 Análise dos questionários do sintoma ............................................. 56
7

8.2 Análise das autobiografias livres ...................................................... 57


8.3 Análise dos desenhos semi-dirigidos ............................................... 59
8.3.1 Desenho realizado antes da terapia breve de embasamento
ericksoniano....................................................................................... 60
8.3.2 Desenho realizado ao final da terapia breve de embasamento
ericksoniano.............................................................................. 63

9 Discussão ................................................................................................ 67
10 Considerações finais ........................................................................... 77
REFERÊNCIAS ........................................................................... 79
GLOSSÁRIO ........................................................................... 85
ANEXOS
Anexo A Desenho realizado antes da terapia breve de
embasamento ericksoniano................................................ 86

Anexo B Desenho realizado ao final da terapia breve de


embasamento ericksoniano................................................ 87

Anexo C Autobiografia livre realizada antes da


terapia breve de embasamento ericksoniano.................. 88

Anexo D Autobiografia livre realizada após a terapia breve de


embasamento ericksoniano.............................................. 89

Anexo E Questionário respondido antes da terapia breve de


embasamento ericksoniano.............................................. 90

Anexo F Questionário respondido ao final da terapia breve de


embasamento ericksoniano.............................................. 93

Anexo G Transcrição das sessões.................................................. 95


Anexo H Termo de Consentimento Livre Esclarecido..................... 138
Anexo I Termo de Consentimento Livre Esclarecido para o
responsável da Instituição onde será realizada a
pesquisa........................................................................... 139

Anexo J Termo de Compromisso do Pesquisador Responsável... 140


8

1 INTRODUÇÃO

Iniciei meu curso de graduação em psicologia na PUC-SP em 2004.


Assim que começou a matéria de Psicologia Analítica, minha identificação foi
imediata com a visão proposta por Carl Gustav Jung, que me pareceu completa,
profunda e principalmente inspiradora. No terceiro ano da faculdade cursei a
eletiva de Psique e Corpo com a professora Denise G. Ramos, e tenho viva a
sensação de como aquilo que estávamos aprendendo na sala de aula fazia
sentido para uma possível explicação do fenômeno do adoecimento. Aquela aula
de certa forma anunciou incipientemente e sabiamente algumas questões que se
tornaram constantes em minha formação acadêmica.
Nesse mesmo período fui estimulada por uma pessoa que se
interessava pelo tema da hipnose a me inscrever no curso de Hipnose Clínica e
Hospitalar ministrado pelo COGEAE-SP. Iniciei as aulas sem grandes
expectativas, com dúvidas e com críticas à técnica devido ao posicionamento de
Freud a respeito do assunto. Ao longo dos quatro meses que seguiram às aulas,
vi-me fascinada pelas possibilidades que aquela técnica poderia proporcionar na
área da saúde e como a hipnose na atualidade diferia do modelo utilizado pelo pai
da psicanálise. Lembro-me da aula de um professor do Hospital das Clínicas que
ilustrou seu método com diversos casos que chegaram a ele como incuráveis e
de grande sofrimento mental e psíquico, mas, com sua especialidade médica, a
psicoterapia e técnicas de hipnose, foi capaz de auxiliar tais pacientes para a
remissão dos sintomas e, principalmente, para a compreensão destes. Foi nesse
curso também que conheci a psicóloga Magda S. C. Pearson, que com força e
leveza apresentou o tema da metáfora e do trabalho desenvolvido por Milton
Erickson como alternativas para a psicoterapia e simbolização dos sintomas
trazidos por seus pacientes.
Curiosamente, nessa época, eu apresentava alguns sintomas que há
alguns anos me acompanhavam. Para me ver livre destes busquei a cura com
médicos de diversas especialidades, que com dificuldade para me dar um
diagnóstico exato, receitavam exames e medicações com o intuito de eliminar o
sintoma. Nada parecia resolver de fato, e por anos permaneci sem saber qual
caminho seguir e qual era o significado daqueles sinais em meu corpo.
9

Imediatamente compreendi o sentido de meu interesse tão claro e direcionado ao


tema do adoecimento, ao significado dos sintomas, à relevância da psicoterapia
como caminho, a técnicas auxiliares da hipnose e o enfoque da linha teórica
analítica, pois este possibilita a compreensão holística do homem.
Somente mais tarde pude me aproximar daquilo que meus sintomas
diziam. Não foi um caminho simples e padronizado, e sim possibilitado pelo
conjunto da psicoterapia na linha junguiana, pela visão médica integrada, e
também finalmente por esta pesquisa, na qual através de subsídios teóricos e
análise de um caso clínico, pude ter maior compreensão daquilo que há tantos
anos buscava e me causava sofrimento.
Para Jung (2004), a atitude repressiva da consciência obriga que o
lado inconsciente se manifeste indiretamente através dos sintomas, que com
freqüência, são de caráter emocional. Pela vivencia de um afeto avassalador,
emergiriam à superfície partes de conteúdos do inconsciente, sob a forma de
pensamentos ou imagens. O autor argumenta que os processos corporais e os
mentais atuam simultaneamente e de forma totalmente misteriosa para nós,
afirmando que determinadas condições fisiológicas são claramente produzidas
por doenças mentais, e outras, mesmo que não sejam causadas, são
acompanhadas de processos psíquicos. O autor utiliza o termo sincronicidade
como um princípio ativo que age no mundo, no qual os “fatos de certa maneira
aconteçam juntos como se fossem um só, apesar de não captarmos essa
integração” (JUNG, 2007, p. 30). Ele conclui ser incapaz de definir se é o corpo
ou a psique que tem maior prevalência sobre o indivíduo.
O presente estudo se insere no corpo teórico que vem crescendo cada
vez mais, na qual é usada a visão holística e da psicossomática na compreensão
do adoecer. É relevante porque traz à tona a importância da psicologia na área da
saúde, seja na clínica ou na hospitalar, e possibilita a promoção da cura e bem
estar diante da compreensão psicológica do paciente. Neste trabalho focar-se à
também a teoria da hipnose enquanto possibilidade terapêutica.
Alguns autores se dedicaram ao estudo de temas similares ao desta
pesquisa. Serino (1999) apresentou uma proposta clínica para a prática na
medicina, na qual buscou integrar a compreensão simbólica presente na vivência
orgânica e os recursos científicos trazidos pela medicina. Fez uso da visão
10

analítica, da psicossomática simbólica e do pensamento simbólico para


fundamentar o conceito de unicidade entre corpo e psique.
Ferreira (2004) abordou em sua obra o fenômeno psique-corpo e a
morte, e desenvolveu uma prática terapêutica voltada ao atendimento de
pacientes que se encontravam em estado terminal. Buscou possibilitar uma
melhor administração da dor por meio do relaxamento corporal e da visualização
e de técnicas da hipnose, e realizou uma leitura simbólica do adoecimento de
acordo com os pressupostos da psicossomática junguiana.
Machado (2005) analisou uma disfunção respiratória – a rinite alérgica
– como expressão simbólica por meio de um estudo psicossomático sob a
perspectiva junguiana. Contou com três participantes e buscou facilitar a
expressão dos símbolos associados à doença.
Ramos (2006) enfoca em seus estudos as doenças consideradas
orgânicas a partir do ponto de vista da psicologia junguiana. Explicita como a
psicologia analítica fornece subsídios para o tema do fenômeno psique-corpo e
apresenta a análise de diversos casos de doenças orgânicas em psicoterapia,
levando a uma melhora significativa na saúde geral dos pacientes.
Mateus (2008) buscou verificar se existe alteração glicêmica em
portadores de Diabetes Mellitus tipo II após vivenciarem situações agradáveis por
meio da técnica da hipnose Ericksoniana. Em uma pesquisa com dez
participantes concluiu que a hipnose auxiliou na diminuição do nível glicêmico dos
pacientes após a última sessão.
Esta pesquisa contém quatro capítulos, partindo da teoria e de
pesquisas relevantes à análise de um caso clínico. Assim, no Capítulo 1 –
Hipnose – aborda-se descrição histórica do uso e do significado da técnica
voltado à área da saúde. Apresenta-se também a definição e técnicas propostas
pelos principais autores que serviram de embasamento para essa pequisa: Milton
Erickson e Ernest Rossi. No Capítulo 2 – Psicossomática-, descreve-se a visão de
mente e corpo como interligados, partindo dos pressupostos apresentados
principalmente por Denise G. Ramos, Carl G. Jung e outros autores influenciados
por estes. No Capítulo 3- Trabalho terapêutico- observam-se os principais
fundamentos da terapia de fundamento analítico e apresenta-se a técnica
utilizada pela psicoterapeuta responsável pela psicoterapia breve com
embasamento ericksoniano. Em seguida, faz-se uma análise simbólica da pele,
11

maior órgão do corpo humano e da psoríase, tema central do sintoma


apresentado pela paciente descrita no caso clínico. No Capítulo 4 - Símbolos e
processo de individuação- define-se o símbolo enquanto tema central da
psicologia analítica, a relação com o processo de individuação e a concepção de
complexos a partir de Carl G. Jung e outros autores que se baseiam em seus
pressupostos. Em seguida, relata-se o método da presente pesquisa, os
instrumentos utilizados e os resultados e análise decorrente de todo o trabalho.
Finalmente, apresentam-se as Conclusões alcançadas depois dessa pesquisa
que uniu a teoria à prática e possibilitou a pesquisadora enriquecimento pessoal,
intelectual e profissional.
12

2 OBJETIVO

Observar a percepção de um paciente a respeito de seus sintomas em


sessões de hipnose.
13

3 HIPNOSE
3.1 Definição de hipnose

Será apresentada no presente capítulo uma revisão histórica do uso da


hipnose na área da saúde assim como os fundamentos teóricos de Milton
Erickson, um dos principais autores do uso desta técnica em atendimento clínico.
A hipnose faz parte da história da humanidade desde tempos
imemoriais. Na Antiguidade, por exemplo, os estados de “transe” eram
conhecidos e relatados como estado de sono induzidos de forma artificial que
apresentavam diversos fenômenos de natureza psíquica e/ou orgânica.
Contrariando o mito universal a respeito da natureza do estado
hipnótico como sinônimo de sono, todos os estudos científicos relacionados ao
tema demonstram que o transe é antes de tudo semelhante ao estado de vigília.
De acordo com Passos (1979), é um estado de estreitamento da consciência
provocado de forma artificial que fisiologicamente se distingue do sono,
caracterizando-se pelo aparecimento espontâneo (ou decorrente a um estímulo
verbal) de uma variedade de fenômenos tais como alteração da atenção e da
memória, maior sugestionabilidade, presença de idéias e respostas diferentes
daquelas do estado mental regular, maior sugestionabilidade e aumento da
labilidade dos processos regulados pelo sistema nervoso autônomo.
O rapport é essencial para a utilização da hipnose, pois, em sua
ausência, não há maneira de se utilizar qualquer processo indutivo. Esta
inseparabilidade é tão evidente que, em casos em que o rapport se rompe, o
paciente sai imediatamente da hipnose.
Segundo Fernandes (1999), na concepção Ericksoniana, o transe
hipnótico é um fenômeno natural no cotidiano, pois todos experimentam diversos
tipos de fenômenos de natureza hipnótica tais como a abstração, o devaneio e a
concentração em uma única idéia (monoidéia). No estado de transe hipnótico é
observado o aumento da capacidade da pessoa de ter a atenção estreitada
dirigindo-se para imagens sensório-auditivas, imagens visuais e imagens de
memória para sua vida percebida.

3.2 História da hipnose


14

Com o intuito de contextualizar o uso da hipnose na área da saúde,


será apresentado um histórico a partir dos autores Passos e Labate (1998).
Franz Anton Mesmer [1734 -1815], formado em Medicina (Viena), é
considerado como o criador da era moderna do hipnotismo. Defendia a idéia de
que “um fluído magnético misterioso emanaria das estrelas enchendo todo o
universo e influenciando todos os organismos vivos. A má distribuição deste fluido
produziria a doença” (MESMER apud PASSOS e LABATE, 1998, p.1). A partir
das curas realizadas através de um imã pelo Padre Maximiliano Hell [1720-1792],
Mesmer começou a utilizar magnetos sobre o corpo de seus pacientes
conseguindo levá-los a um estado semelhante ao sono (Transe Magnético), do
qual estes saíam com uma crise do tipo convulsivo com melhoras significativas ou
até mesmo livres dos transtornos apresentados inicialmente.
Posteriormente, Mesmer concluiu que o uso de magnetos não era
necessário, e sim que a imposição das mãos sobre o paciente produzia o mesmo
efeito. Após a morte de Mesmer, Marqués de Puységur [1751-1825], um de seus
discípulos que continuou a empregar o magnetismo, conseguiu por acidente
induzir um de seus empregados ao estado de transe sem crise. Concluiu a partir
desta experiência que em tal estado o sujeito era capaz de pensar e articular suas
palavras de maneira mais clara do que quando acordado, denominando assim
este estado de sonambulismo e reconhecendo também a amnésia ao despertar.
Já em 1813, o português Abade Faria [1756-1819] defendeu em
Paris que os fenômenos do magnetismo deveriam ser compreendidos na base da
sugestão, excluindo, portanto a idéia de fluidos ou forças especiais nos ditos
transes magnéticos. Contribuiu também com novas idéias, principalmente
atribuindo a causa do sonambulismo ao próprio indivíduo e não ao operador desta
indução, tendo estudado a percepção dos fenômenos das sugestões pós-
hipnóticas, as alterações da personalidade e a auto-sugestão.
Em 1829, Jules Cloquet relatou o primeiro caso de amputação de
mama atingido por tumor e a partir daí diversos médicos e autores como John
Elliotson [1791-1868], professor de Medicina da Universidade de Londres e
presidente da Royal Medical Sugery Society, realizaram cirurgias de pequeno e
grande porte através do sono mesmérico.
Por volta de 1854, Jean Martin Charcot [1825-1893], iniciou seus
estudos a respeito do transe e os fenômenos envolvidos neste. Por meio de sua
15

experiência, a idéia de simulação foi excluída por completo, e o hipnotismo teve


de ser finalmente aceito. Charcot foi também pioneiro na demonstração das
etapas de profundidade hipnótica, denominando-as nas fases de catalepsia,
letargia e sonambulismo.
Ainda segundo os autores, Josef Breuer (1841-1925), por meio de
um caso de histeria que chegou a seu consultório, desenvolveu um método de
tratamento hipnótico através de entrevistas. Conseguiu, neste caso, que sua
paciente verbalizasse sob hipnose o material que até então estava reprimido e
denominou este método de catártico. Breuer, empolgado com sua descoberta,
compartilhou-a com seu amigo e colega de profissão Sigmund Freud [1856-1939].
Chertok e Stengers (1989), afirmam que ao retornar a Viena, em 1887,
Freud começou utilizar a técnica hipnótica à maneira de Bernheim (fenômeno da
sugestão pós-hipnótica), e defendeu que a hipnose possibilitava ao médico forte
autoridade, o que sugeriria que nenhum padre ou taumaturgo jamais a tenha
alcançado até então devido ao fato de concentrar todo o interesse psíquico do
hipnotizado na pessoa do médico. Por meio da técnica da hipnose, Freud
procurava obter as memórias reprimidas do paciente.
Freud abandonou a hipnose ao constatar incapacidade de alcançar um
estado profundo de hipnose em um número significativo de pacientes e ao
discordar do mecanismo da sugestão, defendendo que, após aplicação desta
técnica, o mesmo problema ressurgia ou outro sintoma aparecia anulando a
sugestão aplicada.
De acordo com Passos (1974), ele passou a utilizar uma técnica
pessoal denominada associação livre, e escolheu para seu tratamento o nome de
psicanálise. Para ele esta psicanálise era essencialmente a arte de interpretar, e
embora tenha abandonado o hipnotismo como método, conservou aspectos
decorrentes de sua prática na hipnose, tais como o divã, a preferência por um
ambiente tranqüilo e o relaxamento muscular.
Já em 1889, sob a presidência de Charcot, foi realizado o I Congresso
Mundial sobre o Hipnotismo Experimental e Terapêutico em uma época onde a
hipnose teve reconhecimento oficial da Faculdade de Medicina e coincidiu com o
avanço da medicina francesa. Depois, aos poucos, veio a decadência da hipnose,
e de acordo com Pierre Janet, em 1923, “essa profunda decadência e esse
desaparecimento tão rápido, após um tão grande entusiasmo, tal
16

desenvolvimento, não podem deixar de ser surpreendentes” (JANET apud


PASSOS e LABATE, 1998, p.8).
Dois motivos principais fizeram com que a hipnose caísse em desuso
no início do século 20: o advento e o desenvolvimento da anestesia química e o
desenvolvimento de técnicas psicoterápicas vindas com a descoberta de Freud e
sua posição em relação à hipnose.
Pierre Janet inovou o uso da hipnose aliando a esta a importância da
questão da interpretação. Pois, de acordo com Passos e Labate (1998), os efeitos
das sugestões pós-hipnóticas ficariam inexplicáveis se não fosse admitida a
existência de uma segunda consciência que conservasse a lembrança do
sonambulismo apesar do despertar.
Com o fim do uso da hipnose como anestésico e do descrédito no
contexto terapêutico as apresentações de palco se multiplicavam, fazendo com
que voltasse ao estágio anterior de Mesmer para o público leigo e até para as
profissionais. A idéia de algo oculto e misterioso tornou a ser associada à
hipnose; entretanto, permaneceu como objeto investigativo nos laboratórios de
reflexologistas da Escola Pavloviana e também continuou a ser estudada em
departamentos de Psicologia e Psiquiatria de Instituições Científicas.
O ressurgimento da hipnose e seu firmamento definitivo como método
terapêutico, deu-se durante a Segunda Guerra Mundial [1938-1945] graças à
necessidade de se abreviar a psicoterapia nos casos de neuroses de guerra,
quando voltou a ser associada a uma psicoterapia dinâmico-analítica. Muitas
intervenções também foram feitas sob estado hipnótico para anestesia, já que os
anestésicos eram guardados somente para grandes casos, sobretudo em campos
de prisioneiros.
No Relatório da Associação Médica Canadense, em 1963, foi
defendido que:
1) A hipnose tem um potencial de contribuição para qualquer
condição na qual a psicoterapia possa ser efetiva; 2) As técnicas
hipnóticas podem abreviar o tempo requerido para a investigação
e/ou tratamento das condições orgânicas como uma sobrecarga
funcional como conseqüência de retroação(feedback); 3) A
hipnose pode servir como um instrumento valioso de pesquisas
nos estudos do comportamento humano e no condicionamento,
no processo de aprendizagem, na produção experimental de
neuroses artificiais, nos conflitos e condições psicossomáticas
experimentais (PASSOS, 1974, p.19).
17

O grande impulso do ressurgimento da hipnose, entretanto, se deu


mediante o Relatório da Associação Médica Britânica (1955). Nesse trabalho, foi
defendido que “o hipnotismo é útil e pode, em alguns casos, ser o tratamento
escolhido das chamadas desordens psicossomáticas e psiconeuroses” (PASSOS
e LABATE, 1998, p.11).
Conforme foi descrito historicamente, a hipnose teve importância e
participação na área da saúde e desenvolvimento de conhecimento tanto para a
área médica como para a psicológica. Atualmente, de acordo com Labate (2005),
é utilizada em aplicações em clínicas médicas, ginecologia, obstetrícia, cirurgia,
anestesiologia, dermatologia, reabilitação dos transtornos neuro-musculares,
oftalmologia, oncologia, pediatria, remoção de hábitos e aprendizado entre outras
especializações e implicações psicológicas. Segundo Mateus (2008, p.6),
atualmente é estudada em diversos campos da área da saúde. Oficialmente, no
Brasil, somente os conselhos de Medicina, Odontologia e Psicologia reconhecem,
legal e cientificamente, a prática da hipnose. Seu estudo tem crescido de modo
considerável e sua aplicação clínica tomou grande impulso, principalmente na
área das psicoterapias e no terreno da psicossomática.
Edelweiss (1994) afirma que a hipnose adquiriu fama de estar
supostamente superada e de se constituir em fenômeno pouco sério e banal, cuja
significância não era válida devido a idéias conturbadas e estigmatizadas sobre
seus fenômenos. Tais fenômenos são reflexos de uma trajetória histórica em que
a falta de clareza sobre sua real natureza se constitui em ameaça para a ordem
científica, política e moral da sociedade. Nesse sentido, é natural que pesquisas
científicas que tenham a hipnose como objeto de estudo tenham sido
desestimuladas e desprestigiadas. Para Mateus (2008), este é um tema recente
na área científica que muitas vezes sofre controvérsias quanto ao seu
entendimento, sua definição, classificação e até mesmo nos possíveis usos. É
interessante notar que historicamente o termo foi evoluindo, mas ainda há muita
confusão nessa área.

3.3 Ernest Rossi

Rossi (1997) se propôs a estudar um método no qual fosse possível


utilizar a mente e os métodos considerados mentais para curar as doenças do
18

corpo. Enquanto psicólogo clínico treinado por Milton Erickson, o autor


desenvolveu uma visão psicobiológica da cura entre mente e corpo fazendo uso
da hipnose terapêutica.
O autor propõe que todas as mudanças que ocorrem ao nosso
redor, assim como aquelas sentidas intimamente por cada um, podem ser vistas
como transformações na forma como são organizadas as informações. Ele
denomina tais transformações sentidas entre a mente e o corpo como “transdução
de informação”. Delimita que sua teoria sofreu grande influência de Bernheim, um
dos nomes principais da hipnose, chegando à conclusão de que todas aquelas
abordagens que se propõem a unificar a mente e o corpo buscam facilitar “o
processo de converter palavras, imagens, sensações, idéias, crenças e
expectativas nos processos fisiológicos da cura do corpo” (ROSSI, 1997, p. 45).
Propôs também em 1981, que a origem das desordens psicossomáticas reside
nas distorções causadas por estresse dos ritmos psicobiológicos ultradianos no
núcleo supraquiasmático do hipotálamo, e a hipnoterapia ericksoniana serviria
justamente para normalizar e equilibrar tais ritmos pelo sistema nervoso
autônomo.
A concepção de trabalho psicoterapêutico se baseia principalmente
em facilitar os processos de ordem natural e criativa da vida diária de um paciente
para que ele possa reconhecer seus padrões próprios de comunicação entre
mente e corpo. Ao fazer uso da técnica de hipnose, o autor propõe que o
terapeuta nunca está em posição de dirigir o paciente para algo que ele não
esteja apto a fazer, e sim está simplesmente presente como alguém que
conduzirá a um processo exploratório referente a uma questão trazida pelo
mesmo. O autor defende que o uso do pensamento criativo mostra que aquilo que
é novo é essencialmente gerado pela pessoa de modo inconsciente para que a
mente consciente integre tal nova idéia a partir de seus padrões prévios de
entendimento de si e do mundo. Em outras palavras, o trabalho fundamental
consiste em direcionar o paciente a um estado criativo de solução de seus
problemas.
O ato de fechar os olhos, para o autor, tem o poder de acentuar de
forma imediata a geração de ondas alfa cerebrais, o que está fortemente ligado
ao senso criativo e à experiência imagística. Complementando, estar de olhos
fechados também facilita:
19

Uma mudança dos processos racional e linear do pensamento


hemisférico esquerdo para uma característica de processar mais
fundamental, holística do hemisfério direito, com suas associações
mais concludentes para o sistema de transdução de informação
mente-corpo, límbico-hipotalâmico (ROSSI, 1997, p. 112).

O terapeuta, a partir desta condição do paciente, pode ocasionalmente


questionar sobre a experiência interior que foi ou que está sendo experenciada e
observar os sinais cognitivos, emocionais e sensórios que são indicativos do
envolvimento de trabalho interior vividos no transe, tais como conforto,
relaxamento, distorção de tempo, ilusões, regressão de idade, mudança no globo
ocular, diminuição da freqüência respiratória e traços faciais mais relaxados.
Vindo ao encontro ao que foi apresentado sobre a hipnose e seu uso
voltado à saúde, seguem as idéias difundidas pelo principal autor que embasa a
análise e execução desde trabalho: Milton H. Erickson.

3.4 Milton Erickson

Em toda vida deveria entrar um tanto de confusão... e


também um tanto de esclarecimento (ERICKSON,
1995, p.7).

Na obra Seminários didáticos com Milton Erickson, organizada e


comentada por Jeffrey K. Zeig (1995) é esclarecido que a abordagem
ericksoniana propõe que os aspectos de um sujeito funcionam melhor quando de
forma inconsciente, ou seja, sem tantos obstáculos trazidos pela mente
consciente. O autor, para que isso fosse possível no trabalho com seus pacientes,
fez uso de diversos meios indiretos para possibilitar mudanças de natureza
inconsciente.
Dentre os meios indiretos estava o de utilizar histórias para estabelecer
uma relação de empatia com o inconsciente, como, por exemplo, para dar vida a
idéias simples, esclarecer um assunto, ilustrar um ponto de vista, sugerir soluções
a partir das conclusões dadas pelo paciente, levar ao reconhecimento da pessoa,
semear idéias, aumentar a motivação, implantar diretivas, diminuir a resistência e
recolocar ou redefinir um problema. Quanto mais elaboradas e individualizadas
20

forem as histórias ou anedotas utilizadas para os respectivos pacientes, mais


eficiente será o seu uso na psicoterapia.
Bauer (2002, p.64) define o método hipnótico criado por Milton H.
Erickson como “hipnose naturalista”, que se resume principalmente por criar um
tipo único de transe para cada paciente. É um método que se utiliza de linguagem
de fácil acesso, de sugestões indiretas e pode-se utilizar também de “sugestões
diretas na construção de um transe mais maleável e natural a cada pessoa” o que
mostra que não se segue uma metodologia muito formal.
De acordo com a autora, Erickson era oposto às induções formais e
utilizava um princípio de semelhanças, no qual buscava e compreendia a situação
em que se encontrava o sujeito e o comportamento apresentado se tornava o
remédio definitivo e parte da indução a ser realizada. A autora enfatiza ainda que
o objetivo da hipnoterapia ericksoniana é o de colocar o paciente como condutor
de sua própria cura utilizando suas características peculiares e sugestionando-o
por meio destas a buscar ainda mais recursos pertencentes a si. A terapia, dentro
desse ponto de vista, evolui a partir do paciente e as técnicas guiadas pelo
terapeuta sempre se direcionam a um comportamento mais efetivo para a cura.
Erickson considerava a mente inconsciente como uma parte sábia, portanto,
poderia-se considerar a “hipnoterapia naturalista uma ferramenta de trabalho que
faz o sujeito experienciar e eliciar seus recursos internos como o caminho para a
cura de seus problemas” e o uso de técnicas indiretas, tal como a hipnose,
“eliciam com mais facilidade as forças adormecidas dentro do paciente” (BAUER,
2002, p.67).
Zeig (2003, p.16), autor da obra Vivenciando Erickson, define seu livro
como produto de uma orientação baseada na psicoterapia hipnótica de Milton
Erickson, que consiste em três ensaios e uma entrevista realizada com ele em
1973. O autor ressalta que algumas das intervenções utilizadas por Erickson são
decorrentes de técnicas empregadas por ele mesmo para lidar com a dor e as
deficiências deixadas por uma poliomelite na infância. Define o trabalho do autor
como único, pois “realçava as características únicas de cada indivíduo que,
motivado por necessidades singulares e defesas negativas, requeria modelos
originais de abordagem ao invés de técnicas ortodoxas, dogmáticas e sem
imaginação”.
21

Ainda, segundo Zeig (2003, p.24), a psicoterapia ericksoniana se


baseia na modificação de padrões mal adaptados do paciente, possibilitando
“mudanças, elucidando o passado ou promovendo insights sobre o significado ou
a função dos sintomas”. A ênfase é que o tratamento seja breve, embora não haja
um número estabelecido de sessões, flexível, voltado para resultados e a principal
ferramenta do método proposto é a comunicação psicológica indireta, para que
assim seja possível ocorrer, mediante os valores pessoais do pacientes,
“associações internas e promover mudanças no contexto, até que houvesse um
suficiente suprimento de associações que permitissem ao paciente efetivar por si
mesmo e voluntariamente as mudanças necessárias” (p.78). Em outras palavras,
Erickson propunha que o terapeuta auxiliasse seu paciente a chegar aos seus
potenciais próprios não percebidos antes do trabalho terapêutico e assim
caminhar para mudanças.
Mateus (2008, p. 20, 21, 22), desenvolveu uma tabela na qual é
possível observar as principais diferenças entre as abordagens mais comuns em
hipnose: a Postura Tradicional (Clássica) e a Postura Ericksoniana (Naturalista),
das quais derivam outros nomes utilizados para a técnica. Segue abaixo uma
variação da tabela apresentada pelo autor.
Temas Postura Tradicional Postura Ericksoniana
Teóricos Jean-Martin Charcot, Milton H. Erickson
Iniciadores Josef Breuer
da abordagem e Sigmund Freud
Entendimento Direcionada a busca Direciona a possibilidade
do problema e recordação do passado de mudanças, usando o passado
ou não
Tipo de diagnóstico Taxativo, possivelmente Potente pelo direcionamento dado
realizado patologizante e/ou de a uma mudança possível
impotência frente à
mudança.
Comunicação Muito diretivo, com Postura chamada naturalista
comandos e ordens através da noção de utilização,
diretas. conferindo eficiência.
Indução do transe e Script, roteiro rígido, o Flexível, direcionada a cada
hipnose mesmo para todos os paciente, feito sob medida.
pacientes.
22

Hipnotizabilidade Preocupação com Necessária de acordo com cada


grandes intensidades dos caso
fenômenos e
variabilidades
Sugestionabilidade Tão mais sugestionável o Noção de responsividade,
paciente, melhor. dependendo esta mais da
capacidade de condução e
estabelecimento de rapport do
hipnoterapeuta do que do paciente
Hipnotizabilidade e Acredita que apenas Podem ocorrer complexas
Sugestionabilidade pacientes com complexos mudanças com níveis leves de
e intensos níveis podem transe, não importando os níveis
passar por hipnoterapia de hipnotizabilidade e
sugestionabilidade
Relação terapeuta- Estabelecimento claro de Noção não clara de autoridade
paciente autoridade e hierarquia diminuindo a resistência

Sidney Rossen (1982) foi um grande amigo, discípulo e editor convidado


por Milton Erickson para escrever sobre seu trabalho. Dentro da comunidade
voltada ao uso da hipnose Erickson é reconhecido como líder, um dos autores
mais influentes da técnica e foi o editor fundador da Sociedade Americana de
Hipnose Clínica.
Rossen (1982, p.25) defende, a partir da obra de Erickson, que todas as
experiências vividas afetam não só a mente consciente, mas também o
inconsciente e que “a maior parte da vida é inconscientemente determinada e que
isto não é necessariamente imutável”. Em suma, o autor ficou conhecido por se
utilizar de histórias na psicoterapia, o que auxiliava seus pacientes a enxergar a
situação que estavam vivendo de uma nova maneira e também simbolizá-la.
A partir dessa visão é possível elucidar o motivo da escolha da psicologia
analítica, aliada à técnica de Milton Erickson, para o trabalho de análise de caso
clínico nesta pesquisa,
Como bem resumiu Fernandes (1999), a hipnose é um estado de
canalização da atenção para o interior, em que, a partir desta visão, o paciente
pode simbolizar suas emoções e sentidos trazidos pela doença. No capítulo
seguinte será discutida a concepção de psicossomática. Os profissionais que se
23

utilizam da hipnose enxergam seus pacientes em sua totalidade, ou seja,


consideram mente e corpo como indissociáveis, o que torna a técnica de hipnose
e tal concepção da integridade entre mente e corpo possíveis complementares.
24

4 PSICOSSOMÁTICA
4.1 Abordagem junguiana

Todos temos tendência a somatizar toda vez que as


circunstâncias internas ou externas ultrapassam os
nossos modos psicológicos de resistência habituais.
(MCDOUGALL, 2000, p.03)

A Dra. Denise G. Ramos é a pioneira no Brasil em pesquisas, estudos


e desenvolvimento de um modelo psicológico teórico no campo da psicologia
analítica para ser aplicado no tratamento e compreensão das doenças
consideradas orgânicas. Para esta pesquisa será utilizada a definição e
pensamento da autora sobre a psicossomática, pela qual:
- há relação da doença com a totalidade do indivíduo;
- busca-se a compreensão dos significados da doença para o indivíduo;
- considera-se a perspectiva simbólica do corpo e de seus sintomas;
-olha-se a singularidade da doença individualmente.
De acordo com a autora, não há um consenso quanto ao uso do
termo “psicossomática”. Historicamente, Ramos (2006) atribuiu a primeira
definição a Heinroth, um psiquiatra alemão que em 1808, pesquisou e tentou
explicar a origem da insônia. Ele concluiu que seria um distúrbio de origem
psicossomática e que cada fase da vida da pessoa poderia fornecer razões para a
continuidade da mesma. Atualmente, considera-se que foi Felix Deutsch, em
1922, o primeiro autor a introduzir o termo ´medicina psicossomática´, embora
tenha sido Helen Dunbar que, em 1935, forneceu a base principal para a
formação dessa área, com observações sistemáticas e aplicações de uma
metodologia científica.
Segundo Ramos (2006), os fenômenos que envolvem a saúde do
indivíduo devem ser vistos como totalidades dinâmicas criativas e que evoluem.
Não devem ser compreendidos, pelo contrário, mediante a dissecação de suas
partes ou pela simples observação dos componentes. Para a autora, a
“discrepância entre o corpo descrito e o corpo vivido” (p.14) é um dos elementos
fundamentais na dificuldade, de elaboração de uma linguagem comum entre a
medicina e a psicologia, que:
25

há tantos anos dissociadas, essas duas áreas do conhecimento


sofrem preconceitos mútuos que só resultam em atrasos para
ambas [...] E até mesmo a psicossomática sofre da mesma
neurose na medida em que tenta reduzir as patologias a uma
casuística psicológica, replicando o método redutivista e
biomédico (RAMOS, 2006,p.14)

Defende ainda que:

O uso do modelo analítico em pacientes com sintomas orgânicos


leva a uma melhora no seu quadro de saúde geral. Mesmo
quando não ocorre melhora orgânica, devido ao caráter
irreversível da patologia, o estudo evidencia que o paciente, ao
compreender seu processo individual e atribuir-lhe um significado
simbólico, sente-se aliviado e apresenta mudanças favoráveis
tanto em seu estado de humor como em sua capacidade de
resiliência (RAMOS, 2006,p.77)

Rossi (1997) propõe uma visão psicobiológica a respeito do dualismo


cartesiano entre mente e corpo. Para o autor, ambos não representam fenômenos
separados, e sim são parte de um sistema de informação assim como a própria
biologia. Ele critica a defesa da maioria dos autores acerca do tema, que se
limitam a dizer apenas que a mente e o corpo são conectados.
O autor defende seu ponto de vista a partir de quatro hipóteses
integradas:
1) O sistema límbico-hipotalâmico é o maior elo de conexão
anatômica entre mente-corpo.
2) Processos de memória, aprendizagem e comportamento
dependentes de estado codificados nos sistemas límbico –
hipotalâmico e adjacentes são os maiores transdutores de
informação entre mente-corpo.
3) Todos os métodos de cura mente – corpo e hipnose
terapêutica operam acessando e reenquadrando os sistemas
de memória e aprendizagem dependentes de estado que
codificam sintomas e problemas.
4) A codificação dependente de estado de sintomas e
problemas mente- corpo podem ser acessados por abordagens
psicológicas, bem como fisiológicas (ex: drogas) – e a resposta
placebo é uma inferência sinérgica de ambos(ROSSI,1997, p.
80).

Enfatiza também que a ciência médica prioriza os meios de facilitar a


cura por meio da anatomia, da fisiologia e da farmacologia, ou seja, tem enfoque
principal nos aspectos físicos da mente e do corpo. Em contrapartida, o autor
apresenta uma visão psicofisiológica de compreensão da saúde para mostrar que
fatores psicológicos podem facilitar também o processo de cura.
26

De acordo com Serino (1999, p.12), a medicina moderna tem como


referência básica o olhar focal, no qual se busca “o fundamento da doença na
síntese representada pela concretude orgânica, passível de nomeação,
localização e normatização”. É um olhar com caráter investigador no qual parte-se
de uma hipótese, segue-se para o diagnóstico patológico e conseqüente ação
terapêutica para cura ou controle da doença. A autora enfatiza ainda que a
doença apresenta-se como “o grande personagem, como material de estudo e
investigação a ser apoderado pelo conhecimento médico” (p.13). Nesse
raciocínio, a pessoa doente ao fazer suas queixas e contar sua história fica em
segundo plano perante seu sintoma no qual não participa ativamente. A ação
terapêutica age, portanto, no sentido de abolir aquilo que é considerado mal para
o corpo e vê a “disfunção orgânica como expressão dela mesma, não sendo
compreendida na perspectiva do todo a que ela pertence” (SERINO, 1999, p.14).
A autora considera que se pode compreender essa visão como uma
forma de controle e domínio próprios da civilização ocidental atual e dos ideais de
controle da sociedade patriarcal, que está bem representada dentro dos
paradigmas da ciência médica atual. A partir desse ponto de vista, é interessante
ressaltar a importância de uma visão da saúde mais abrangente em que a
medicina e a psicologia possam se enriquecer mutuamente.
Fica claro, a partir da discussão proposta pelos autores, que a
medicina e a psicologia, ao disputarem a verdade total a respeito do ser humano,
tornam a visão unilateral, o que provoca, além de uma posição pretensiosa, um
considerável atraso nos estudos e no tratamento da saúde. É possível pensar
também que o paciente , nesse raciocínio de dissecação das partes de seu corpo,
busca diferentes profissionais que o dividem em pequenas partes e não olham
sua totalidade. Portanto, de acordo com Ramos (2006, p.17), “é imprescindível
que se desenvolva um corpo teórico coerente, que abranja com maior amplitude a
grandeza de um tema tão complexo quanto a questão do fenômeno psique-corpo,
na saúde ou na doença”.
Ferreira defende que a psicologia analítica forneça subsídios para essa
proposta, e por essa visão, o termo psicossomática:

Deriva do reconhecimento de uma interdependência fundamental


entre mente e corpo, em todos os estágios de doença e saúde.
Seria um reducionismo considerar que há doenças de causas
27

puramente psicológicas ou puramente orgânicas, pois há sempre


um pluralismo na observação de qualquer fenômeno (FERREIRA,
2002, p.13).

As bases da visão psicossomática pela abordagem analítica já haviam


sido propostas por Carl G. Jung [1875-1961] ,em 1906, ao propor o experimento
de associação de palavras, considerado um dos métodos para abordar os
aspectos desconhecidos da mente juntamente com a análise de sonhos e a
imaginação ativa. Em tal experimento, segundo Jung (2007), as palavras que ao
serem repetidas fossem errôneas ou de reprodução insegura, indicariam um
complexo, uma “conglomeração de sentimentos estranhos ou dolorosos,
normalmente inacessíveis ao contato exterior. É como se um projétil arrebentasse
a grossa camada da persona, em direção à camada obscura” (JUNG, 2007, p.
44).
Ferreira (2002) discute que após o estudo do experimento de
associação de palavras, Jung considerou possível a observação básica da
psicofisiologia, e seus resultados poderiam ser um indicativo que tanto os
sintomas físicos quanto os psíquicos seriam manifestações simbólicas de
complexos considerados patogênicos. Nas palavras de Jung,
[...] a distinção entre mente e corpo é uma dicotomia artificial, um
ato de discriminação baseado muito mais na peculiaridade da
cognição intelectual do que na natureza das coisas. De fato, é tão
íntimo o inter-relacionamento dos traços psíquicos e corporais que
podemos não somente estabelecer inferências sobre a
constituição da psique a partir da constituição do corpo como
também podemos inferir características corporais a partir das
peculiaridades psíquicas (JUNG, 1971, p.916).

É interessante ressaltar que durante esse período, Dunbar, a autora


referida no início deste capítulo como a base principal para a formação da área de
psicossomática, esteve com Jung em Zurique. Este realizava, então seus estudos
e teorias no assunto, pouco antes de publicar seu livro intitulado Mudanças
emocionais e biológicas: uma pesquisa da literatura sobre inter-relações
psicossomáticas: 1910 -1933. Seguiu-se a fundação da sociedade American
Psychomatic Society e também o lançamento da revista Psychomatic Medicine
em 1939, ambas de idealização e autoria de Dunbar, e ocorreu “a emergência da
psicossomática como um campo organizado de pesquisa científica, dando início
28

a um movimento que visava transformar o atendimento clínico” (RAMOS, 2006,


p.36).
Muller (2005), autora que estudou e escreveu sobre psicossomática e a
visão simbólica de uma doença de pele (vitiligo), considera que cada paciente
representa sua doença de forma única, incluindo as crenças próprias sobre
identidade, causa, duração e cura. Propõe que tais representações mostram a
resposta cognitiva do paciente com seus sintomas e a doença, e que as respostas
emocionais são processadas em paralelo à representação de doença.
Tendo em vista que no presente estudo será analisado um caso clínico
considerado de natureza psicossomática, é relevante discutir o caráter terapêutico
proposto pela psicologia analítica para a compreensão e embasamento teórico do
mesmo.
Dahlke (1996, p.7), autor que enfatiza a importância de se conhecer e
interpretar o significado das doenças como forma de combatê-las com maior
eficácia, considera o corpo como “palco de acontecimentos desconhecidos da
alma” e ressalta a importância “de descobrir o que o agride, e para tanto, o corpo
oferece as indicações necessárias”. Defende ainda que o principal meio de
expressão corporal é justamente a linguagem simbólica, que é encontrada “em
todos os mitos e tradições religiosas, nas ilustrações de lendas e contos de fada
e, naturalmente, nesse veículo simples e direto que é a linguagem corrente” (p.8).
A linguagem do corpo, dentre a qual a linguagem dos sintomas, é
apenas uma das fundamentais subformas lingüísticas:

[...] a mais falada de todas as línguas. Todos a falam, mesmo que


nem sempre o façam conscientemente e que muitos jamais
cheguem a compreender o que lhes diz o próprio corpo. Todos
trazem o conhecimento de uma linguagem corporal quase em
estado de latência, e ´por isso mostram algum assombro ao tê-la
subitamente avivada. É como se ela pertencesse a um tesouro do
saber que não podemos abarcar, e que desde tempos imemoriais
estivesse adormecida em nós, esperando para ser despertada
(DAHLKE, 1996, p.8).

Quanto ao método de trabalho analítico na psicoterapia e o aplicado na


presente pesquisa, há alguns princípios a seguir formulados.
29

5 TRABALHO TERAPÊUTICO

5.1 Psicoterapia Analítica

De acordo com Whitmont (1969), a psicologia analítica, em nível


prático, é permeada por um encontro dialético entre duas pessoas: o paciente e o
analista, ambos imprevisíveis, únicos e até certo ponto incognoscíveis. Portanto,
seus modos de agir são constituídos não somente por fatores conscientes, mas
também por aspectos inconscientes que nunca serão totalmente revelados. O
processo de terapia consiste justamente no encontro destas variáveis e na busca
de autoconhecimento.

Para de tentar encontrar Deus (como algo fora de ti), e o universo,


e coisas semelhantes; procura-O a partir de ti mesmo e aprende
quem é [...] aprende de onde vêm a tristeza e a alegria e o amor e
o ódio, e despertando apesar de não o querer, e dormindo apesar
de não o querer, e enfurecendo-se apesar de não o querer, e
apaixonando-se apesar de não o querer. E se tu por acaso
investigares mais atentamente essas coisas, O encontrarás em ti
mesmo. (MONOIMUS, apud WHITMONT, 1969, p.12)

Jacoby (1992, p.31) enfatizou que na prática junguiana, o interesse


principal é no material que provém do inconsciente, que se manifesta, por
exemplo, por meio de sonhos e desenhos. Diferentemente da psicanálise, em que
há maior ênfase nas inter-relações entre o analista e o analisando (transferência),
Jung pareceu não dar grande importância a esse processo após o rompimento
com Freud em 1912, mas defende que a transferência se faz presente em todos
os relacionamentos humanos no sentido de que, de forma inconsciente,
vivenciamos o outro como um objeto para as próprias necessidades. Precisamos
de outras pessoas até mesmo para o próprio desenvolvimento psíquico, ou seja,
para o processo de individuação e para tomar consciência dos complexos. Ainda,
segundo o autor, uma das características mais importantes do analista deve ser a
de sempre questionar seus sentimentos, reações, opiniões e emoções para estar
ciente das projeções que podem ocorrer por sua parte sem perder a
espontaneidade na terapia. O analista junguiano também deve ter consciência de
que sua função não é a de simplesmente curar, mas saber que o verdadeiro
30

auxílio só poderá surgir “por meio de uma transformação da atitude do paciente,


através da obtenção de um relacionamento correto com seu subconsciente”.
O autor descreve ainda o modelo clássico da terapia junguiana, em
que paciente e terapeuta sentam-se em cadeiras de frente um ao outro e, dessa
forma, o terapeuta tem liberdade para se relacionar de maneira espontânea com a
realidade trazida pelo seu paciente, não se restringe a uma técnica fixa e juntos
irão trabalhar para obter material do conteúdo inconsciente principalmente
mediante da análise dos sonhos.
Para Gambini (2008), a riqueza do trabalho analítico na teoria
junguiana reside na idéia que na relação terapêutica há uma força psíquica
presente nas interações que surgem dentro deste campo compartilhado. O
paciente, dentro desse processo, participa mesmo que inconscientemente ou
passivamente da formação de novas configurações, novas imagens e novas
visões.
De acordo com Muller (2005, p.118), no trabalho terapêutico com
pacientes que apresentam alguma doença, é interessante observar a imagem
feita por estes, pois “é possível entender o símbolo, como expressão da psique”, e
as imagens criadas podem evidenciar “sentimentos reprimidos e aspectos de seu
agir de vida”. A autora acredita que na psicoterapia o paciente pode obter maior
autoconhecimento e conseqüente desenvolvimento da consciência e do processo
de individuação, pois “a individuação não é algo que ocorre passivamente, mas
exige a colaboração ativa do ego, que deve buscá-la e conquistá-la com
empenho, engajamento, paciência e coragem” (MULLER, 2005, p.52).
Jung (1964, p.275) enfatizou em sua obra que há acontecimentos na
vida de todos nós de que não tomamos consciência e que aparentemente se
tenha ignorado o seu significado emocional. Defende que para entrar em contato
e compreender a organização do psiquismo e da personalidade global de um
paciente é fundamental considerar o quão importante é a função de seus sonhos
e as imagens simbólicas. Na terapia junguiana não há regra fixa quanto ao tempo
de duração para êxito do trabalho terapêutico, pois “tudo depende da capacidade
de indivíduo para tomar consciência das ocorrências interiores e do material
apresentado pelo seu inconsciente”. Defende ainda que o terapeuta deve sempre
se questionar se um fenômeno mental observado é de natureza consciente ou
31

inconsciente e, também, se um acontecimento exterior é percebido pelo paciente


por meios conscientes ou inconscientes.
Pieri (2002, p.17) delimita que a aceitação é elemento fundamental da
arte terapêutica, do diálogo entre paciente e psicoterapeuta e ocorre no sentido
de reconhecer, acolher e tolerar, por parte da consciência, conteúdos que antes
lhe eram desconhecidos.Uma das etapas é a aceitação sombra, ou seja, dos
aspectos próprios vistos como negativos ou intoleráveis e, nas palavras do autor a
respeito da importância da aceitação: “não se pode mudar aquilo que
interiormente não se aceitou”. Partindo do pressuposto, de acordo com o autor de
que a doença possa ser vista como um estado de dissociação das diversas partes
psíquicas, e que a saúde seja a integração das partes entre si, os tratamentos
psicoterápicos auxiliariam de maneira efetiva o paciente a cuidar de si e assim
poder confrontar-se consigo mesmo e com o mundo.

5.2 Psicoterapia breve de embasamento ericksoniano

De acordo com Rossi (1997, p 106), psicoterapeuta de embasamento


ericksoniano, a maioria dos pacientes procura a terapia porque apresenta
sintomas ou problemas que não sabem como resolver e crêem que o terapeuta vá
curá-los de qualquer sintoma ou providenciar respostas para os problemas
trazidos. Entretanto, o papel do terapeuta não é de realizar tais tarefas, e sim de
oferecer a seu paciente um campo amplo de exploração, buscar abordagens
possíveis para que o paciente entre em contato com o que está ligado às suas
questões e frente a isso, expor “ao repertório exclusivamente pessoal do paciente
os recursos internos para a solução do problema”.
Ele traz a importância de o paciente escutar e receber suas mais
embaraçosas experiências, e costuma dizer a eles que não é preciso dizer ao
terapeuta nada que não queira, pois esta seria uma forma positiva de evitar ou
despontencializar a resistência eventual sentida. Em outras palavras, quando o
paciente sente que mantém o controle de si mesmo, está capacitado a receber e
tornar mais fácil seu processo terapêutico.
Enfatiza que o terapeuta deve facilitar e encorajar seu paciente às
compreensões próprias, para que ele possa ser capaz de processar seus
conteúdos de maneira mais apropriada e independente do terapeuta, que tem o
32

papel de simplesmente amparar e permitir que o trabalho criativo ocorra


internamente. Ao atingir as próprias soluções e delimita que o paciente acessa de
maneira espontânea seus recursos criativos interiores.
O autor esclarece que o terapeuta pode facilitar experiências criativas
em seu paciente que permitam novos padrões de comunicação entre mente e
corpo, por exemplo, mediante sugestões de relaxamento e conforto. Alerta que
este deve aprender a facilitar “sem entrar no caminho dos próprios padrões
emergentes e únicos de cura do paciente”, o que representa “uma arte que requer
cuidadosa observação, sensibilidade, habilidade, humildade e restrição por parte
do terapeuta” (ROSSI, 1997, p.108). Enfatiza que apesar de existirem diversas
modalidades de psicoterapia, todas elas têm em comum três etapas para a
resolução das questões trazidas:

1)Terapeuta e paciente iniciam uma comunicação;


2)Eles se empenham em algum tipo de trabalho terapêutico; e
3)Eles provavelmente possuem algum critério para a resolução do
problema de forma a saberem quando descontinuar a
interação.(ROSSI, 1997, p.108).

Na hipnoterapia tradicional, técnica utilizada pelo autor, as etapas


acima se constituiriam de:

1)Estabelecer confiança e rapport;


2)Iniciar um ritual formal de indução hipnótica; e
3)Despertar o paciente e ratificar a resolução do problema.
(ROSSI, 1997, p. 109).

Delimita também que ao longo de sua experiência clínica notou que o


pensamento criativo possui relevante importância no processo terapêutico, pois
aquilo que é novo, é geralmente gerado no inconsciente. A mente consciente,
portanto, é capaz de receber a nova idéia a partir da validação e integração com
padrões próprios prévios de entendimento.
Observa-se que a terapia analítica e a de embasamento ericksoniano
diferem em muitos aspectos quanto à visão e tratamento de um paciente. Ambas
podem possibilitar mudanças na compreensão particular, entretanto a analítica é
mais voltada para o autoconhecimento, integração dos aspectos conscientes e
inconscientes e postura pouco diretiva do terapeuta, enquanto a ericksoniana é
33

mais condutiva, metódica, focal e voltada para uma resolução estabelecida entre
paciente e terapeuta.
Considerando-se que o inconsciente está constantemente produzindo
imagens, Jung (1916a, p.355) desenvolveu a técnica de imaginação ativa na qual
o objetivo é possibilitar conversas interiores. O autor considera que o mundo
exterior é experimentado por meio dos sentidos e o interior por meio de fantasias,
sendo a fantasia “uma expressão, uma aparência que se coloca para algo
desconhecido, mas real”. Considera também como uma técnica para diferenciar o
ego das figuras do inconsciente, na qual se estabelece um diálogo com as
imagens produzidas, sejam estas visuais, verbais ou feitas de material plástico,
movimento e escrita.
Após o estabelecimento do diálogo livre com a imagem criada, deve-se
exercer uma crítica consciente como se fosse uma pessoa real, até que um fim
considerado satisfatória seja alcançado. Nesse contexto, os pensamentos
internos podem ser vistos como ocorrências objetivas, portanto é importante
possibilitar ao inconsciente manifestar-se, já que quando reprimido pela
consciência, normalmente é levado a manifestações indiretas e sintomáticas.
Mais importante que a compreensão da experiência nesse exercício, é que os
processos inconscientes possam vir à consciência sob a forma de fantasias, pois
estas demandam participação ativa para serem experenciadas.
Os efeitos da realização consciente de fantasias conscientes, de acordo
com Jung (1916a, p. 360), são: “estender o horizonte consciente incluindo
conteúdos inconscientes, diminuir gradualmente a influência dominante do
inconsciente e trazer mudanças de personalidade em termos de atitude geral;
esta importante mudança é a função transcendente”.
Jung (1916b, p. 168) descreve a técnica de lidar com as fantasias a partir
da concepção que esta serve como uma forma de utilizar a energia que está no
estado emocional perturbado. O procedimento pode ser visto como um
enriquecimento e uma clarificação do afeto, pois os conteúdos são trazidos mais
próximos à consciência tornando-se mais impressivos e compreensivos, tendo
assim influência favorável e vitalizante.
A seguir, serão mostradas visões de diferentes autores que
pesquisaram e escreveram sobre a pele e seu significado simbólico. O intuito é
integrar esses conhecimentos não só para dar subsídios à análise do caso que
34

será apresentada posteriormente, mas também para contribuir no pensamento e


olhar de diferentes formas de tratamentos dos profissionais da saúde para
portadores de doenças de pele.

5.3 Pele

Perguntamo-nos o que a pele, enquanto maior órgão e fronteira do


corpo humano seria capaz de sinalizar por meio de suas características e
alterações: calor, frio, marcas, identidade e emoções. Da angústia à felicidade na
maneira particular de cada um em expressar aquilo que é mais próprio de si.
Estés (1994, p.251) vê o corpo como “um sensor, uma rede de
informações, um mensageiro com uma infinidade de sistemas de comunicação-
cardiovascular, respiratório, ósseo, vegetativo, bem como o emocional e o
intuitivo”. Assume que o corpo faz uso da pele para registrar todos os
acontecimentos vivenciados por uma pessoa e relaciona-o à imagem da pedra de
Rosseta, na qual saber decifrar possibilita olhar a um registro vivo de ricos
significados. Enfatiza que limitar a beleza e o valor do corpo a qualquer coisa
inferior a essa magnificência, é forçar o corpo a viver sem legitimidade.
De acordo com Anzieu (1989) todos os seres vivos, todos os órgãos e
todas as células possuem uma pele ou uma casca. No ser humano a pele
abrange cerca de 20% do peso total do corpo no recém nascido e 19% no adulto,
e ocupa uma superfície muito maior do que qualquer outro órgão dos sentidos.
Na vida embrionária ela é formada antes dos outros sistemas sensoriais e
comporta grande densidade de receptores (50 por 100 milímetros quadrados), e
é, portanto, um sistema com muitos órgãos dos sentidos tais como tato, pressão,
dor, e calor e está em íntima conexão com os outros órgãos dos sentidos
externos (audição, visão, olfato e paladar) e com as sensibilidades sinestésicas e
de equilibração. A pele protege o equilíbrio do meio interno das perturbações
externas, no entanto, em sua forma, textura, coloração e cicatrizes, ela conserva
essas marcas e o estado interior, que supostamente deveria ser preservado,
revela nossa boa ou má saúde orgânica e é um espelho da nossa alma. A pele
permite e impede o contato direto com o meio, é superficial e profunda, é sensível
ao ponto de oferecer grandes quantidades de dor e prazer e é um órgão de
importante transmissão do ambiente ao cérebro. O autor enfatizou em sua obra
35

que as sensações advindas da pele introduzem as crianças antes mesmo do


nascimento a

Um universo de grande riqueza e grande complexidade, universo


ainda difuso, mas que desperta o sistema percepção-consciência,
que subentende um sentimento global e que fornece a
possibilidade de um espaço psíquico originário (ANZIEU, 1989,
p.14).

A pele expressa os nossos sentimentos mesmo quando não estamos


cientes deles. Ela “não pode recusar um sinal vibroátil ou eletrotátil: ela não pode
fechar os olhos ou a boca nem tapar os ouvidos ou o nariz. Ela respira e perspira,
secreta e elimina, mantém o tônus, estimula a respiração, a circulação, a
digestão, a excreção e certamente a reprodução; ela participa da função
metabólica” (ANZIEU,1989, p.16). Além dessas características, o autor enfatiza
que a pele humana apresenta para o exterior características físicas variáveis
conforme a idade, o sexo, a etnia e a história pessoal.
Para Muller (2005), a pele é um órgão de comunicação e percepção
visível. Ela é o maior órgão de percepção no momento do nascimento, tornando-
se meio para o contato físico e para a transmissão de sensações físicas e
emoções. A autora considera que as ligações que existem com o sistema nervoso
tornam a pele altamente sensível a emoções independentemente da nossa
consciência, e por ambos apresentarem uma origem embriológica comum, é
possível assumir que o que ocorre num sistema pode ter sua contrapartida no
outro.
Ainda de acordo com a autora, a pele reflete o funcionamento do
organismo e seus aspectos mostram também os estados de ser fisiológico e
também psicológico. Este órgão exerce o papel simbólico da proteção e de limite
entre o eu e o outro, pois “ao mesmo tempo em que nos protege, é a fachada que
nos expõe” (STRAUSS, 1989, p.221). Já, para Anzieu (1989), a pele, o maior
órgão do corpo humano, é de origem ao mesmo tempo em que orgânica, também
imaginária, como forma de proteção de nossa individualidade e maneira primal de
troca com o outro.
36

Muller (2005) defende que no tratamento de doenças de pele, a


partir do entendimento psicodermatológico, são freqüentemente aliadas ao
tratamento médico as seguintes medidas:

a)tratamento psicoterápico nas diferentes correntes;


b)técnicas de relaxamento, hipnose, grupos de auto-ajuda;
c)trabalho em conjunto de médico com o psicoterapeuta;
d)uso de drogas psicotrópicas, principalmente ansiolíticos e
antidepressivos.

Feldman (2004, p. 284), por realizar uma leitura simbólica e focar a pele
como objeto de estudo dentro da psicologia analítica, tem suas idéias consideradas
e apresentadas de maneira significativa no presente estudo. O autor desenvolveu
um trabalho intitulado “A skin for the imaginal” onde discute “o desenvolvimento do
espaço interno, a evolução das barreiras psíquicas e a capacidade de simbolização
no primeiro aparecimento durante a infância”. O autor define a capacidade de
simbolização como a facilidade de “utilizar pensamento, imagem e emoção de uma
forma integrada com o propósito de desenvolvimento psíquico” e utiliza o conceito
de “pele psíquica” como uma maneira primária de barreira psicológica com o
mundo circundante.
Ele defende que a evolução do espaço interno e das barreiras
psíquicas de um sujeito são ambas características referentes ao desenvolvimento
que facilitam a capacidade de simbolização, assim como componentes
significativos da vida psíquica que emergem na infância e tem um impacto
significativo no desenvolvimento e no decorrer da vida. Tais elementos formariam
as bases de nossas experiências de si e de identidade, assim como teriam um
impacto em nossa capacidade de vínculo e individuação.
Ainda, segundo o autor, a forma precursora da capacidade de
simbolização de um indivíduo tem:

base no desenvolvimento sensorial da criança durante o primeiro


ano de vida. Nesse sentido, o desenvolvimento de diferentes
formas sensoriais, tais como o toque, o cheiro, o gosto, a visão e
os sons e a experiência infantil da pele como uma fronteira que
define o que é vivido internamente em oposição ao que é vivido
externamente ao self, são fundamentais para o desenvolvimento
psicológico (FELDMAN, 2004, p.284).
37

Devido a este trabalho ser baseado principalmente na obra de Carl


Gustav Jung, é interessante mostrar que o próprio autor em sua autobiografia
Memórias, Sonhos e Reflexões (Jung, 1961), escrita aos seus oitenta e três anos
de idade, narra uma passagem sobre sua infância onde relaciona um sintoma em
sua pele com um turbulento período emocional vivido por ele e por sua família.

Eu sofria segundo minha mãe me contou mais tarde, de um


eczema generalizado. Obscuras alusões a dificuldades da vida
conjugal de meus pais pairavam em torno de mim. Pode ser que
minha doença se relacionasse com uma separação momentânea
de meus pais (1878). Minha mãe permanecera então, durante
vários meses, no hospital da Basiléia e é presumível que tivesse
adoecido em conseqüência de sua decepção matrimonial. Nessa
época, uma tia aproximadamente vinte anos mais velha do que
minha mãe, cuidava de mim. A longa ausência de minha mãe me
preocupava intensamente. A partir desse momento a palavra amor
sempre me suscitava a desconfiança (JUNG, 2006, p.37).

Através do trecho acima, é possível pensar que o autor vinculou o seu


sintoma na pele (eczema) com o sofrimento ocasionado pela separação dos pais
e com a ausência sentida pela mãe no período de hospitalização. Em sua
narração, e partindo das idéias defendidas por Feldman (2004) a respeito das
experiências na infância e problemas de pele, pode-se dizer que Jung não foi
capaz de conter emoções difíceis enquanto criança e isto apareceu em sua pele,
da maneira que refletia o contato, o vínculo e não poderia ser escondido. Nas
palavras de Feldman (2004, p.289), complementando o que foi apresentado, “a
pele é o envelope que contém o corpo, e é a pele que propicia os pontos de
contato com o mundo externo”.
Apresenta-se a seguir uma breve descrição dos sintomas,
características e simbologia da doença de pele que é objeto de estudo neste
trabalho.

5.4 Psoríase

Dentre as principais doenças cutâneas de maior incidência na população,


de acordo com Silva e Muller (2007 p.9), encontra-se a psoríase. É caracterizada
pelo “aparecimento na pele de lesões róseas ou avermelhadas, recobertas de
escamas secas e esbranquiçadas. Muitas vezes, estas lesões estão localizadas
apenas nos cotovelos, joelhos ou couro cabeludo. Em outros casos, as lesões
38

podem se espalhar por toda a pele”. As unhas podem ser afetadas e, muito
raramente, as articulações, causando a artrite psoriásica. Para as autoras, pode
ser classificada como uma psicodermatose, em decorrência do fator emocional
ser identificado como agravante da doença. Trata-se de uma doença crônica de
pele que afeta homens e mulheres na mesma proporção em cerca de 1 a 3% da
população mundial e, geralmente, ocorre na segunda ou terceira década de vida.
Ainda segundo Silva e Muller (2007, p.9), a causa da psoríase é
multifatorial e:

emerge da interação entre base genética, fatores ambientais e


psicológicos. O ciclo evolutivo das células epidérmicas é mais
rápido na psoríase do que na pele normal; tais células, por serem
imaturas, provocam intensa produção de escamas (paraceratose).
A velocidade de trânsito das células na psoríase é de cinco dias,
enquanto na pele normal é de treze dias.

De acordo com Dahlke (1996, p.293) em sua análise simbólica da


doença, a psoríase, por se manifestar na pele, está relacionada ao contato, ao
carinho e à delimitação. No plano sintomático, o autor aproxima os sintomas à
“formação de couraça, armação de fronteira e medo de se machucar”. O
tratamento da psoríase indicado pelo autor deve levar o paciente a aprender a se
defender de maneira diferente da habitual aliviando o corpo dessa tarefa e
reconhecer as conseqüências do encouraçamento na vida da pessoa.
Neste trabalho de estudo de caso a partir da visão psicossomática,
foi feita uma leitura simbólica de expressões orgânicas. Conforme foi apresentado
neste capítulo, tal visão pede a compreensão do que é apresentado no corpo com
um olhar que considera a totalidade da experiência vivida pelo sujeito, assim
como suas associações frente à doença para uma apropriação mais legítima e
íntegra de si.
39

6 SÍMBOLOS E PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO


6.1 Símbolos

A compreensão simbólica é um dos temas centrais da psicologia


analítica. Posto que um dos instrumentos utilizados na presente pesquisa é a
análise de dois desenhos, nesse capítulo apresenta-se a concepção de símbolo
para essa linha teórica, a relevância deste frente ao estudo dos fenômenos e a
relação com o processo de individuação.
Jacobi (1971) define o símbolo dentro da concepção analítica como
o meio de manifestação de um arquétipo e a essência da energia psíquica.
Representa ainda um significado visível encoberto por algo profundo, repleto de
significados e estimulador enquanto possibilidade de expressão de algo
desconhecido ao observador. Possibilita uma nova impressão dos processos
psíquicos e, conseqüentemente, novos caminhos a serem seguidos.
Chevalier (2007, p. XVI) levanta que o “sintoma é uma modificação nas
aparências ou funcionamento habituais; que pode revelar certa perturbação e um
conflito”. Para o autor, os símbolos representam o cerne da vida imaginativa,
revelando o que está oculto no inconsciente e possibilitando abertura para o
desconhecido. A percepção do símbolo é pessoal não só por apresentar
variações em cada indivíduo, mas também por proceder da pessoa e sua
totalidade.
Jung (1964, p.20) definiu “símbolo” como um termo que “implica
alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós”, em outras palavras,
significa algo que está além de seu significado óbvio e manifesto. O autor dá
importância à exploração de um símbolo, pois a mente pode ser conduzida a
idéias que escapam à razão e a utilização de um termo simbólico pode inclusive
ser a representação de algo que não pode ser definido com facilidade ou
integralmente. Portanto, para as coisas serem observadas em sua mais justa
perspectiva, é preciso entender tanto o passado do homem quanto o seu
presente, daí a importância essencial de mitos e símbolos serem compreendidos.
Os símbolos ainda podem dizer respeito à transcendência e libertação do
indivíduo, pois segundo Jung (1984, p.119), no sentido de conter “o potencial
40

transformador que conduz a psique ao desenvolvimento, sendo a via régia para o


inconsciente”.
L. Von Franz, na obra O homem e seus símbolos, de Jung (1964,
p.304), defendeu que o inconsciente é composto de um conteúdo rico que se
manifesta “não apenas no material clínico, mas também no mitológico, no
religioso, no artístico e em todas as outras atividades culturais através das quais o
homem se expressa”. Por essa concepção, é possível pensar que a psicologia
analítica fornece embasamento teórico para a aplicação e análise da técnica de
desenho semi-dirigido enquanto compreensão e simbolização do sintoma em
questão.
Segundo Whitmont (1969, p.17), a psicologia do século XX começou a
direcionar a atenção do homem para a utilização de símbolos como forma
eficiente de compreensão e uso de domínios não racionais e intuitivos do seu
funcionamento. Assim como o átomo, a psique não é um objeto físico palpável
que pode ser visto como algo que é ou não é de determinada classificação. No
máximo fala-se da psique de modo indireto através da descrição do
comportamento de outras pessoas ou da própria experiência subjetiva. Ainda
segundo o autor, a hipótese mais básica de acordo com a psicologia analítica é,
portanto, de que a psique humana é composta de uma totalidade que pode ser
descrita somente através de uma abordagem simbólica que “aponta para além de
si própria e para além daquilo que pode se tornar imediatamente acessível à
nossa observação”.
Por esta tratar-se de uma pesquisa da área da saúde que engloba o
conceito de psicossomática a partir de Denise G. Ramos, é fundamental ressaltar
a visão da autora da doença enquanto símbolo. Para Ramos (2006) todas as
doenças são um símbolo que revelam uma disfunção no eixo ego-Self. A
compreensão dos sentidos do símbolo em questão no trabalho terapêutico mostra
a correção que pode ser feita no intuito do conteúdo inconsciente ser integrado à
consciência. A autora levantou a hipótese de que pacientes que expressam
disfunções sob a forma de uma simbologia orgânica, podem ser compreendidos
como:

Que a consciência tenha dificuldade de integrar o símbolo


emergente devido à complexidade nele envolvida. Situações
41

existenciais profundas ou traumáticas podem trazer certos


questionamentos que o ego, não conseguindo integrá-los no
plano abstrato, é induzido a somatizar (RAMOS, 2006, p.77)

Serino (1999, p.19), define o termo “simbólico” como uma maneira onde o
pensamento simbólico pode ser utilizado para a apreensão de perspectivas
significantes da doença orgânica e inter-relação entre “o material orgânico e o
energético psíquico”.
Complementando a visão de símbolo como facilitador da compreensão do
adoecimento, a imagem, de acordo com Graciani(2003), é uma variável que faz
parte das questões relacionadas à saúde. Ela pode não ser usada de modo
sistemático no tratamento ou durante diagnóstico, mas se mostra como um
determinante crítico da saúde. Fazendo um paralelo com o uso de técnicas da
hipnose apresentados neste trabalho, é possível pensar, portanto, que a
imaginação não é somente concomitante a todo processo de cura, mas se faz
presente em todas as interações dos profissionais da área da saúde e seus
pacientes. Para a autora,

O uso de visões interiores para auxiliar o processo de cura não é


um conceito novo. Os budistas Tibetanos usam as imagens dessa
forma desde o século XIII ou até antes. A abordagem budista
normalmente envolve a meditação como base na imagem de uma
divindade no ato de cura de um sintoma. Entretanto só
recentemente as imagens foram usadas no Ocidente por médicos
e profissionais da saúde (GRACIANI, 2003, p.16).

6.2 Processo de individuação

De acordo com Jung (1971, p.50), individuação é o processo de tornar-


se um ser único, entender a própria singularidade e distanciar-se de
desconhecimento de si. É a valorização das peculiaridades individuais, fator de
importância fundamental de melhor adaptação social e “diferenciação gradual de
funções e faculdades que em si mesmas são universais”. Em outras palavras,
compreende-se como um processo de desenvolvimento psicológico voltado às
qualidades individuais, pelo qual o homem se aproxima do que realmente é.
É importante salientar que cada indivíduo, ainda segundo o autor, é
composto de características universais, portanto, insere-se no coletivo, e que
essas características se mostram de maneira individual em cada pessoa.
42

A individuação, dentro desse pensamento, deve ser compreendida como uma


junção de todos esses fatores: os individuais e os coletivos e uma meta de livrar o
si-mesmo do que envolve falsamente a persona, que tal como uma “máscara”,
busca causar determinado efeito na sociedade e ocultar o que há de verdadeiro
na natureza do indivíduo.
Cabe ressaltar a opinião do autor sobre os processos inconscientes.
Ele enfatiza que é difícil definir como se formam e do que exatamente consistem,
mas defende que se manifestam de forma parcial através de sintomas, fantasias,
ações e, quando dormimos, nos sonhos. Com o auxílio de tais manifestações
seria possível detectar o estado momentâneo dos processos inconscientes e do
curso de seu desenvolvimento dentro do processo de individuação. O
inconsciente é, portanto, contínuo, profundo, reage aos conteúdos conscientes e
produz material produtivo e significativo a ser integrado.
Jung (1964, p.162) caracteriza o processo de individuação como
originariamente inconsciente e também espontâneo e que compõe a natureza
humana inata. Entretanto, tal processo “só é real se o indivíduo estiver consciente
dele e, conseqüentemente, com ele mantendo viva ligação”. O homem, portanto,
é capaz de fazer parte de seu desenvolvimento de maneira consciente com
cooperação ativa. Tal aspecto ativo do núcleo psíquico deve buscar uma forma de
existência singular mais profunda, e o ego deve se entregar e escutar tal processo
com o propósito de crescimento. É preciso, portanto, compreender o que o nosso
“eu” assinala em determinada circunstância e momento de vida.
Ainda que não se alcance a plenitude da consciência, a ampliação da
mesma é possível assim como a integração de conteúdos do inconsciente
pessoal e aproximação aos conteúdos do inconsciente coletivo.
Por mais que ampliemos nosso campo de consciência, sempre
haverá uma quantidade indeterminada e indeterminável de
material inconsciente, que pertence à totalidade do si–mesmo.
(JUNG, 1971, p.53)

Porém, por mais que a consciência de si ultrapasse a compreensão


total, quanto mais consciente nos tornamos de nossas características, mais se
tornará menor o conteúdo do inconsciente pessoal inserido no inconsciente
coletivo.
43

Faz parte também do processo de individuação o que Jung (1964,


p.168) denominou de “a realização da sombra”, que significa conhecer aspectos
da própria personalidade que “por várias razões havíamos preferido não olhar
muito de perto”. A sombra engloba características pouco familiares ao ego que
fazem parte principalmente da esfera pessoal e que poderiam também ser
conscientes, e quando uma pessoa tenta entrar em contato com os conteúdos
desta, traz à consciência aspectos que negava existir em si - mesma e que com
facilidade conseguia ver nos outros. A importância de integrar também o conteúdo
da sombra é por ser ela geralmente composta de valores necessários à
consciência que aparecem sob um aspecto que dificulta a sua integração na
subjetividade e na vida de cada um.
Stein (1998) defende que é possível fracassar na tarefa de
individuação, ou seja, no processo de tornar-se uma pessoa integrada, de
personalidade unificada e indivisa, pois pode permanecer não-integrada até
alcançar uma idade avançada e acreditar e ser vista como alguém que viveu uma
vida social bem sucedida, embora não aprofundada nas questões pessoais.
O autor definiu também o mecanismo de compensação, meio pelo qual
a individuação ocorre que se fundamenta basicamente na idéia de que a relação
entre consciente e inconsciente é compensatória. O ego tem a tendência de
tornar-se unilateral, e quando isso acontece na vida psíquica de um sujeito o
inconsciente tende a compensar principalmente por meio de sonhos com o intuito
equilibrar o sistema psíquico e adaptar o indivíduo de maneira mais efetiva ao
meio ambiente circundante.
Cada pessoa possui seu processo de desenvolvimento e de auto-
realização, portanto há infinitas variações do processo de individuação, no qual
cada um deve buscar o que diz respeito ao que é exclusivamente seu. Uma das
formas da consciência ser ampliada conforme foi descrito acima, pode ocorrer por
meio do autoconhecimento advindo do trabalho terapêutico. Stein (1998, p.159)
enfatiza que Jung, após o rompimento com Freud, priorizava a compreensão e os
estudos da problemática referente à segunda metade da vida, ou seja, de seus
pacientes adultos, onde há o “surgimento mais explícito do si-mesmo na
consciência. Os métodos usados por Jung para ajudá-las nesse complexo projeto
passou a ser chamado de análise junguiana”.
44

6.3 Complexos

De acordo com Kast (1997) os complexos podem ser caracterizados


como pontos suscetíveis de crise em um indivíduo, que se manifestam por meio
da emoção e são constituintes da vida psíquica. Nos complexos há diversos
conteúdos perturbadores para o desenvolvimento pessoal, mas há também novas
possibilidades para a vida do indivíduo quando ocorre a aceitação dos complexos,
ou seja, quando é encontrada uma forma de confrontá-los por meio dos símbolos.
Dessa forma pode-se entender os complexos como inerentes à condição humana
e os símbolos como forma de expressão e transformação destes. Os complexos,
portanto, não são puramente evidentes; devem ser abordados mediante a
emoção e os significados dados pelo indivíduo para que sejam trazidos à
consciência, pois enquanto permanecerem na dimensão inconsciente serão
projetados.
Em relação à figura materna, Kast (1997) delimita que há traços
essenciais do arquétipo materno tais como a sabedoria, bondade, aquela que
cuida, dá sustento e possibilita as condições de crescimento, fertilidade e
alimento. Apresenta também atributos referentes ao instinto, ao oculto, ao
obscuro, ao devorador e ao sedutor. Apesar de a figura materna se apresentar de
certo modo universal, sua imagem muda na experiência individual, mas não é
somente da mãe pessoal que provém todas as influências na psique infantil: é o
arquétipo projetado na mãe que confere à mesma um caráter mitológico,
autoridade, e até mesmo numinosidade. Fica claro, portanto, que o arquétipo
materno é a base do complexo materno.
A autora define as conseqüências da exacerbação do feminino, com
a intensificação dos instintos femininos e primeiramente do instinto materno.
Nesse sentido, a meta principal da mulher seria ter um filho e o homem entraria
como algo secundário na relação. A personalidade da própria mulher também
teria importância secundária, mostrando-se ser pouco consciente por viver a vida
nos outros e identificar-se.
Estés (1994) reconhece que a maioria dos adultos possui uma mãe
interior como herança da sua mãe verdadeira. Neste aspecto da psique, a mãe
interior não é exclusivamente composta da experiência advinda da mãe pessoal,
mas também de outras figuras maternas que estiveram presentes, assim como
45

das imagens transmitidas pela cultura na época da infância a respeito da mãe boa
e da mãe perversa. É fundamental que a mãe tenha recebido atenção materna
para retribuir à sua própria prole, pois embora tenha um vínculo com seus filhos,
não é capaz de se transformar de repente em uma mãe completa por si mesma.
Para os adultos, se houve conflitos com a mãe concreta na infância e mesmo que
eles não existam mais, persistirá uma figura da mãe na psique que reage e fala
da mesma forma com que fazia no passado. A autora denomina esse complexo
materno como um dos aspectos centrais da psique feminina.
Nas palavras de Faria (2003, p.102), assim como o complexo materno, o
“complexo paterno se estrutura na relação com o pai pessoal ou seu substituto,
entremeada de elementos da fantasia provenientes do arquétipo paterno”. O autor
delimita também a questão do pai ausente, que é aquele que exerce a
paternidade da maneira inadequada, e ocasiona frustração, por exemplo, por
meio da falta de atenção e respostas às necessidades do filho de afeto e
dedicação.
Jung (1971) descreve os complexos paterno e materno partindo do
princípio que aqueles que com ingenuidade crêem que seus pais são tais como
vistos por eles, projetam tal imagem de forma inconsciente e, quando os pais
morrem, continuam a atuar como se fosse um espírito autônomo. O autor
denomina esse fenômeno de complexo paterno ou materno. Neumann (1995)
delimita que uma relação primal normal seria caracterizada pela confiança no
amor advindo da mãe, pelo desenvolvimento de um ego integral positivo e de uma
ligação entre ego e Si-mesmo1 firme e duradoura. A segurança que seria
adquirida na relação primal vivida positivamente capacitaria o ego a integrar as
crises com as quais o indivíduo se depara ao longo de sua vida. Segundo o autor,
a vivência de abandono e desamparo pode ser perturbadora para o
desenvolvimento primário saudável, resultando em um ego negativizado,
agressividade intensa e inconsciente, e atitudes egocêntricas.
Pieri (2002) assume que a defesa funciona como um processo psíquico
parcialmente inconsciente no qual o eu busca reduzir ou eliminar de diferentes
formas qualquer elemento que seja pensado ou percebido como nocivo à própria
integridade. Tal forma de defesa pode se manifestar produzindo ou não um efeito

1
Ver glossário. Si-mesmo é equivalente à definição de Self.
46

adaptativo de acordo com seu grau de rigidez e do contexto em que se


manifesta. O autor afirma que este não é um termo utilizado com freqüência na
psicologia analítica, mas nota que pode ser percebido na visão de Jung no
exemplo do complexo materno negativo, que leva a pessoa a se afastar da mãe.
Jung (1971) delimita que em um estágio de desenvolvimento
amadurecido de um indivíduo, quando já estão presentes representações antes
inconscientes, pode haver retirada das projeções. Kast (1997, p.51) defende que
os complexos quando totalmente inconscientes podem atuar como psiques
parciais, e é, portanto essencial estabelecer a conexão com a consciência devido
à que a energia contida no distúrbio emocional e constituinte do complexo é “a
energia de que o paciente precisa para continuar a se desenvolver”.
Considerando que o tema central desta pesquisa é particularmente
relativo à doença, ao sintoma e ao símbolo, pode-se citar a consideração de Kast
(1997) que vincula os complexos ao corpo. Ela defende que os complexos são
principalmente experenciados corporalmente, já que a essência dos complexos se
encontra nos aspectos emocionais e o corpo é a via principal de manifestação
destes.
47

7 MÉTODO

7.1 Características do estudo

Este estudo foi realizado por meio da Observação Participante e


caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa de análise de caso segundo o
referencial da abordagem analítica.
É importante enfatizar que não se entrará na análise do discurso e
conteúdo integral das sessões, e tão somente de elementos ilustrativos do
mesmo, já que o intuito não foi o de analisar as sessões.
Penna (2007) define a pesquisa qualitativa como uma abordagem
interpretativa e compreensiva dos fenômenos e de busca de seus significados e
finalidades. Afirma que o paradigma junguiano parte da concepção ontológica de
ser humano e do mundo e engloba uma totalidade que envolve os aspectos
conscientes e inconscientes. Portanto, a proposta epistemológica central da
Psicologia Analítica é a de tornar viável o conhecimento do inconsciente.
É interessante notar que dentro da pesquisa em Psicologia Analítica
deve ser ressaltado que o ato de pesquisar engloba um processo dinâmico de
produção científica, bem como a visão do pesquisador como parte integrante
desse processo, pois este participa de forma ativa interagindo com o aspecto
consciente e inconsciente do fenômeno pesquisado. Dentro dessa esfera, o
conhecimento produzido engloba a produção de um conhecimento novo e
relevante, de autoconhecimento do pesquisador e aspectos inconscientes que se
relacionam à psique pessoal e coletiva.
A autora delimita que o acesso ao inconsciente é indiretamente
possibilitado somente por via das manifestações na consciência, ou seja, pelo
símbolo, responsável pelo intermédio nessa relação, objeto de pesquisa a ser
investigado sob o enfoque da Psicologia Analítica. O pesquisador deve ser capaz
de olhar o fenômeno em questão como um símbolo repleto de significados e
sentidos, como algo que o mova para o desconhecido, ou seja, para que os
conteúdos inconscientes se tornem conhecidos e sejam integrados à consciência.
Farah (2009) discorre que a observação participante no processo
investigativo é uma proposta metodológica na qual há participação imersiva por
48

parte do pesquisador que, inserido no contexto de seu objeto de estudo, pode


identificar de maneira mais apurada os aspectos fundamentais e:
encoraja os pesquisadores a mergulharem nas atividades do dia a
dia das pessoas as quais eles tentam entender. Diferentemente
da testagem de idéias (dedução) elas podem ser desenvolvidas a
partir das observações (indução)
(MAY, 2004, apud FARAH, 2009, p.46)

A autora defende que, assim como na metodologia junguiana, a


principal vertente da observação participante é que esteja inclusa a subjetividade
do observador dentro da pesquisa, pois tal consideração pode representar
elemento fundamental para a produção de novos conhecimentos.

7.2 Participante

Participou da pesquisa uma paciente diagnosticada com psoríase de


quarenta anos de idade.

7.3 Instrumentos

7.3.1 Técnica de hipnoterapia ericksoniana

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa de análise de


caso psicossomática em terapia breve de embasamento ericksoniano. A
pesquisadora denominou a intervenção realizada como “Terapia Breve de
Embasamento Ericksoniano”. Por se tratar de uma pesquisa acadêmica foi
discutida essa nominação com a orientadora responsável e com a psicoterapeuta
que direcionou os atendimentos. Isso não significa que a psicoterapeuta utilize
esta conotação em seu trabalho.
Durante as sessões de psicoterapia breve de embasamento
ericksoniano, foram utilizadas principalmente as técnicas de metáfora, entremear
palavras, indução da respiração, indução de um lugar agradável, sonhos
induzidos, regressão de idade, relacionando selfs e passo a passo em cima do
sintoma. Apresenta-se a seguir as definições destas técnicas de acordo com
Bauer (2002) e com Pearson (2009), a psicoterapeuta responsável pelas sessões.
Para Pearson (2009), o tratamento deve primeiramente evocar um
caso-problema para posteriormente definir o objetivo a ser seguido e buscar a
meta que se busca comunicar. O psicoterapeuta deve listar as palavras mais
49

utilizadas pelo paciente ou que melhor se encaixam na situação, reconhecer as


crenças limitantes, selecionar o espaço semântico e assim criar um símbolo do
problema em questão. As etapas finais consistem em selecionar os recursos
necessários para se atingir os objetivos desejados para assim transferir tais
recursos em linguagem metafórica consistente com o espaço semântico
selecionado, para finalmente estabelecer uma ponte ao futuro e traduzi-la no
espaço metafórico.
Segundo a autora, o uso de metáforas é essencial para a comunicação
humana e é simples de ser aplicado em psicoterapia. Pode possibilitar uma forma
de ressignificação do sintoma, aprofundar o transe, desviar a atenção e para
tratamentos específicos como o de doenças psicossomáticas, no qual o sintoma
torna-se uma metáfora.
A técnica de entremear palavras, freqüentemente utilizada por Milton
Erickson, consiste em reconhecer as palavras - chave utilizadas constantemente
pelo paciente e que podem auxiliá-lo quando ressignificadas. O terapeuta deve,
de acordo com a psicoterapeuta, utilizá-las durante o transe modificando a
entonação de sua voz e o sentido enfocado pelo paciente.
A indução da respiração é considerada uma ferramenta importante,
pois é vista pela psicoterapeuta como uma forma de atingir o transe e a
respiração é uma boa metáfora de limpeza, saúde e vida. Já a indução a um lugar
agradável pode proporcionar um local de proteção ao paciente, no qual ele pode
usar a técnica para realizar auto-hipnose e se colocar neste local protegido em
momentos de ansiedade ou insegurança.
A técnica relacionando selfs consiste em estabelecer conexão entre a
doença e o corpo. A hipnoterapia busca conectar o self cognitivo e o self somático
através dos recursos que o paciente apresenta para que haja relação entre
ambos.
Os sonhos induzidos, de acordo com a autora, transmitem os desejos
do inconsciente quando utilizados em transe. O terapeuta pode pedir ao paciente
que sonhe quando este se encontrar em transe mais profundo. Posteriormente,
devem ser feitas perguntas e interpretações por parte de ambos.
De acordo com Bauer (2002), a técnica de regressão de idade é um
fenômeno natural do transe e pode ocorrer espontaneamente ou ser induzida.
Inclui memórias, pensamentos e imagens como revivificação, na qual o paciente
50

fala e age como se tivesse a idade determinada daquele fato. É importante


salientar que não importa se o fato ocorreu ou não, e sim se deve considerar a
realidade vivida e sentida por aquela pessoa, pois é um material advindo do
inconsciente.
Ainda segundo a autora, a técnica do passo a passo em cima do
sintoma tem como objetivo utilizar cada etapa de como a pessoa cria o problema
para posteriormente ressignificá-lo e criar a indução com os mesmos passos.
Defende que o problema deve ser metaforizado para ser mais bem
compreendido.

7.3.2 História do sintoma psicossomático

Trata-se de um questionário elaborado para a presente pesquisa que é


uma adaptação do modelo apresentado por O´Halon (1994, p.43).
Para o autor, que se utiliza dos fundamentos da terapia e da hipnose de
Milton Erickson, o sintoma deve ser entendido como um comportamento ou
experiência indesejável do qual o paciente procura se ver livre. Auxilia a
compreensão do sintoma, pois oferece uma descrição completa do mesmo, e
assim pode-se “rastrear passo a passo a seqüência dos
acontecimentos/comportamentos, bem como as circunstâncias em que o sintoma
ocorre”.
Serino (1999, p.104) fundamenta a importância de ser permitido ao
paciente historicizar sua doença, pois pode assim “travar elos significantes entre
seu processo orgânico e psíquico” e “pode ser terapêutico na medida em que
possibilite a apropriação do corpo como instância erótico-relacional e singular de
si mesmo”.

QUESTIONÁRIO DA HISTÓRIA DO SINTOMA


(ADAPTAÇÃO DO MODELO PROPOSTO POR O´HALON A PARTIR DOS CONCEITOS
DE MILTON ERICKSON)

Sintoma apresentado:
1) Quando começou o seu sintoma?
2) Quais eram as circunstâncias naquele momento de vida?
51

3) Você percebe em qual momento do ano, do mês, da semana ou do dia o sintoma


se manifesta?
4) Qual é a localização do sintoma?
5) Qual é a intensidade do sintoma?
6) Qual é a duração do sintoma?
7) Você percebe se o sintoma ocorre quando está sozinho ou na presença de
alguém?
8) Se sim, quem está presente quando o sintoma se manifesta?
9) Como é ou como são essas presenças?
10) Existe algum lugar que você percebe que o sintoma se manifesta com maior
freqüência?
11) O que se passa normalmente em seguida da manifestação do sintoma?
12) Nomeie o seu sintoma.
13)Por quê esse foi o nome escolhido?

7.3.3 Desenho temático

Foi proposto que a participante desenhasse uma imagem que


representasse seu sintoma ao início e ao término dos encontros. Escolheu-se a
técnica do desenho, pois é simples de ser aplicada além de possibilitar a
expressão de conteúdos próprios. A análise dos desenhos semi-dirigidos foi feita
a partir da perspectiva e método de Gregg M. Furth (2004, p. 14), autor que se
baseia na abordagem junguiana da cura pela arte. Para ele, é justamente a
interpretação que possibilita ao paciente rever e mudar suas opiniões subjetivas
sobre a real criatividade estética para uma melhor compreensão da realidade
psíquica autônoma mostrada pelos desenhos. O autor enfatiza também, que “isso
leva a uma perplexidade – por parte do paciente e também do terapeuta- diante
da sabedoria de sua criatividade fundamental”.
Apresenta que conhecer a si mesmo significa principalmente integrar à
consciência aquilo que está envolvido no inconsciente. O material inconsciente é
manifesto através de uma linguagem inconsciente, como por exemplo, através
dos sonhos e dos desenhos, portanto, uma análise sistemática destes pode
facilitar maior compreensão e consciência dos conteúdos inconscientes. Ele
enfatiza ainda que o material expresso nos desenhos pode revelar diversos
aspectos da personalidade total de um indivíduo, ampliar a autocompreensão por
meio desta forma de comunicação simbólica e descreve a importância de
52

conhecer o próprio psiquismo, de se aproximar dos aspectos desenvolvidos e não


desenvolvidos e assim evitar a projeção desses aspectos nas pessoas ao redor.
Ele descreve seu método de análise de desenhos partindo do
pressuposto de que se deve olhar inicialmente para a figura sem idéias
preconcebidas; entretanto, é importante direcionar o olhar para o que ela
aparentemente mostra e significa a partir da relação com a vida do criador do
desenho. Seguindo tal pensamento, são definidas três premissas para a
compreensão da linguagem presente nos desenhos: a existência de um
inconsciente no qual se originam os desenhos e os sonhos, a visão da figura
como um método válido de comunicação entre o consciente e o inconsciente e a
transmissão da intenção desta como confiável. Considera-se, portanto, que mente
e corpo são inerentemente conectados.
Furth (2004) direciona a interpretação dos desenhos a partir do
conceito de “ponto focal”, que pode ser entendido como uma diretriz da maneira
mais indicada de abordar a psique do paciente. É relevante enfatizar que, para
determinar o estado da psique, não se deve partir de um “ponto focal” isolado, e
sim de uma combinação de diversos pontos focais e suas características.
O autor delimita que o terapeuta deve inicialmente se ater à primeira
impressão e aos primeiros sentimentos causados pelo desenho. É importante que
tal concepção inicial não se fixe e que seja permitido ao paciente desenvolver as
associações próprias. O segundo momento da análise de um desenho exige que
o terapeuta atue como um pesquisador no sentido de considerar o material
utilizado, o desenho em relação ao tamanho do papel, o posicionamento dos
elementos da figura, a harmonia entre estes, as cores utilizadas, a forma, a
direção do movimento, os itens omitidos e os elementos repetidos. Deve,
portanto, considerar pequenas partes do desenho para se orientar nos elementos
apropriados nos quais focará sua atenção. O terceiro momento, considerado pelo
autor como mais complexo, engloba reunir e sintetizar o que foi visto a partir de
componentes individuais e reunir tal informação como um todo.

7.3.4 Autobiografia livre

Foi proposta a redação de uma autobiografia na qual o sujeito escreveu


livremente a respeito de sua vida. Esta é uma técnica interessante, pois:
53

O uso deste tipo de material permite-nos observar o movimento


narrativo do indivíduo no que concerne à descrição de sua vida
pessoal. A imaginação, neste contexto, desempenha um papel
importante na rememoração biográfica e revela o modo particular
como cada pessoa interage com aspectos culturais da linguagem
(MACHADO, 2005, p.42).

7.4 Procedimento

7.4.1 Local e realização da pesquisa

O estudo foi realizado com uma paciente de uma clínica psicológica no


estado de São Paulo-SP, juntamente com a psicoterapeuta responsável pelo
local.
A pesquisadora atuou como observadora participante - junto à
psicoterapeuta - durante as sessões que constituíram o tratamento total de
psicoterapia breve de embasamento ericksoniano

7.4.2 Seleção dos participantes

Critérios de inclusão:
1. Faixa etária de 18 a 65 anos;
2. Apresentar quadro clínico que pode ser considerado psicossomático;
3. Houve critérios de exclusão: Seriam excluídas da pesquisa pessoas
portadores de perturbação ou doença mental, sujeitos em situação de
substancial diminuição em suas capacidades de consentimento e pessoas
próximas ao pesquisador (familiares ou amigos);
4. Estar de acordo e assinar o termo de consentimento.

7.4.3 Aplicação dos instrumentos

Foram observadas oito sessões de cinqüenta minutos de duração, uma vez


por semana e durante dois meses. Na primeira sessão explicou-se à participante o
propósito da pesquisa, apresentou-se o Termo de Consentimento Livre, pediu-se
que fosse escrita uma autobiografia em estilo livre, que fosse preenchido o
questionário da história do sintoma apresentado e que fosse feito um desenho semi-
54

dirigido. A seguir, ocorreram as sessões com embasamento e técnicas de hipnose


de Milton Erickson.
Após as seis sessões seguintes, foi pedido novamente que a paciente
escrevesse uma autobiografia em estilo livre, que fosse preenchido o questionário
da história do sintoma apresentado e que fosse feito um desenho semi-dirigido. As
instruções dadas foram que fosse feito um desenho que representasse o sintoma.
Foi dada somente uma folha de papel tamanho A4, lápis de cor e giz de cera. Ao
término do desenho, foi pedido que a participante falasse sobre o desenho e desse
um título.
As sessões foram gravadas, de acordo com o consentimento da participante,
por um gravador de voz Powerpack DVR-1920®.

7.4.4 Procedimento para análise de dados


Os resultados obtidos pela história do sintoma, a autobiografia livre e
associações ao desenho foram analisados de acordo com as principais categorias
temáticas comuns entre eles, que foram selecionadas pela pesquisadora a partir da
leitura feita dos resultados à luz da teoria da psicologia analítica.
O estudo de caso apresentado neste trabalho foi analisado seguindo os
pressupostos de Baptista e Campos (2007), em que os temas relevantes e comuns
entre os instrumentos utilizados são agrupados em categorias.
O método de Análise de Conteúdo exige que o pesquisador esteja
aberto para “ver no conteúdo apresentado o que de fato o fenômeno observado
apresenta, tornando visível o oculto”. Para o autor, quando o sujeito envolvido neste
tipo de pesquisa participa de questões abertas, tal técnica possibilita ao pesquisador
“organizar e compreender as respostas através de um processo contínuo de
identificar dimensões, categorias, tendências e relações na possibilidade de se
desvendar”.
A pesquisa com estudo de caso, de acordo com Baptista (2007), é um
modo de se fazer ciência principalmente quando se trata de um fenômeno
multideterminado a ser estudado de maneira profunda a singularidade de
determinado caso. Apresenta também possibilidade didática e construtiva, pois por
meio do estudo e da análise do caso pode-se mostrar teoria e técnica conjuntamente
e formular novas hipóteses. Ainda segundo o autor, além de ser possível comprovar
hipóteses já existentes, é uma boa ferramenta de pesquisa por oferecer a
55

possibilidade de ilustrar um raciocínio clínico, como é o caso do presente estudo, em


que parte-se da idéia que um exemplo explorado a fundo pode ser mais válido e
enriquecedor que resultados estatísticos. Cada caso estudado se trata de toda uma
vida do sujeito, portanto não é possível explorar todos os detalhes principalmente
pela singularidade e especificidade, “apesar de conter o que existe de universal,
comum, arquetípico em todos os seres humanos” (BAPTISTA, 2007, p. 253). O autor
defende ainda que a experiência clínica no campo da pesquisa disponibiliza infinitas
variáveis e fenômenos, portanto, a partir dessa concepção realiza-se certa seleção
delimitada pelo fenômeno de interesse a ser pesquisado.

7.5 Procedimento ético

Essa pesquisa segue as normas do Comitê de Ética em pesquisa, do


Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE - Resolução CNS 196/96, IV.
1,2) e do Termo de Compromisso do Pesquisador Responsável presentes na
Deliberação 06/2007 de 25/04/2007 que definiu o Regimento dos Comitês de
Ética em pesquisa (CEP) da PUC-SP.
Os Termos de Consentimento, o Termo de Compromisso do
Pesquisador e o Termo de Compromisso do Pesquisador Responsável pela
Instituição estão anexados (Anexos H, I e J).
56

8 RESULTADOS E ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS

8.1 Análise dos questionários do sintoma

Temas Questionário I Questionário II

(Anexo E) (Anexo F)
Início do sintoma 1990 Há 16 anos
Relações com as Problemas com o pai, “Era muito nova, insegura e com
manifestações do irmã e filho medo. Tinha 20 anos e me casei
sintoma nova”.
Localização do sintoma Cabeça Cabeça
Intensidade do sintoma Suportável “Hoje estou curada”.
Sensação com a Coçeira
manifestação do
sintoma
Nome do sintoma e Pulga. “Tenho a sensação Pássaro. “Hoje estou livre e
motivo de que anda na cabeça”. voando que nem um
passarinho”.

Observa-se que inicialmente a paciente vinculava ao sintoma as


circunstâncias de seu momento de vida a características externas mais voltadas
para as relações familiares, tais como os cuidados com o filho e o vínculo com o
pai e a irmã. É possível supor que a paciente projetava em outros conteúdos
internos desconhecidos.
No segundo questionário observa-se que a paciente tem maior foco sobre
si mesma e atribui o início de seu sintoma a uma emoção vivida por ela.
Os nomes dados aos sintomas sugerem que houve grande mudança na
percepção destes na doença em questão (psoríase) principalmente devido à
percepção de melhora e cura atribuídos pela paciente2. O que antes significava
uma “pulga” que andava em sua cabeça, o que poderia ser relacionado à idéia de
problemas, coçeira e irritação, passou a ser simbolizado como um pássaro que
voa livremente, ou seja, um sentimento de soltura e maior liberdade.

2
Nesta pesquisa não houve acompanhamento médico para determinar diagnóstico atual e prognóstico.
57

Foi considerado que a incoerência entre as épocas de início do sintoma


foram meras confusões no cálculo dos anos passados, pois tal informação não se
mostrou relevante quando comparada às relações e sentimentos vinculados ao
sintoma.

8.2 Análise das autobiografias livres

Temas Autobiografia I Autobiografia II


(Anexo C) (Anexo D)
Identificação “[...] o hobby dele é pintar quadros.
com o pai Então eu acho que eu tenho um pouco
de artista. Sempre gostei de arte e
moda”.
Maternidade “Isso para mim significa muito: criá-lo “Tive filho com vinte anos [...]”.
de perto”.
Planos para o “Estou com quarenta anos, sei que já
futuro passaram várias fases da minha vida,
mas sou nova ainda e vou recomeçar
[...] Me achar profissionalmente é o
principal agora na minha vida”.
“Hoje eu estou mais velha e faria um
curso de moda. Até vi em uma
faculdade”.
Relações “Vim para o Brasil com dois anos com “Vim para o Brasil com o meu
familiares o meu pai e minha mãe ficou por lá pai quando ele se separou da
porque eles se separaram”. minha mãe. Morei com os
meus avós e com o meu pai
“Sempre vivi cuidando e para a família. junto, até os sete anos”
Mas agora eu to mais vivendo pra
mim”. “Conheci meu marido. Conheci
o irmão dele no colégio e aí
conheci meu marido e me
casei com vinte anos”.

“[...] Tenho um casamento


58

muito feliz e muito estável”.


Estudos e “[...] Eu sempre gostei de esporte. Nos “O meu forte era esporte
interesses estudos eu nunca me aprofundei muito mesmo, não estudar”.
e nunca foi meu forte”.
“[...] fiz vários cursos. Fiz de
decoração, costura, datilografia, tênis”.
“[...] eu deveria fazer moda ou mexer
com cabelo e maquiagem, pois hoje o
que eu gosto é isso”.
Sintoma “Esse tratamento foi muito feliz
pra minha vida porque hoje eu
estou curada”.
Auto-imagem “Meu lado é mais artístico e gosto de “[...] estou liberta, muito feliz e
fantasiar”. voando por aí que nem o
passarinho que eu pintei aqui
no papel”.

Nota-se que na autobiografia I a paciente mostrava identificação


com a figura paterna, diferentemente da autobiografia II na qual não houve
menção de alguma similaridade. Isto pode sugerir maior compreensão do que o
pai representou na vida da paciente e melhor apreensão de seus aspectos para
poder se distanciar de algo que trouxe sofrimento à sua infância e vida atual.
Foi percebida diferença também quanto a importância da maternidade,
pois primeiramente foi enfatizada e descrita a relevância de criar um filho com
proximidade e posteriormente a paciente somente citou que teve um filho aos
vinte anos.Isto pode indicar que a paciente se tornou mais próxima de suas
questões, objetivos pessoais e obteve maior clareza da relação que teve com seu
filho na infância.
Em ambas, os temas referentes às relações familiares são enfatizados,
porém na segunda autobiografia a paciente cita que morou com seus avós até os
sete anos, o que pode indicar uma referência de cuidados até tal idade, pois já
que na primeira somente é comentado que não foi criada por sua mãe após a
separação de seus pais. A paciente enfatiza que viveu cuidando de sua família
atual e mostra estar rompendo com este padrão ao dizer que está vivendo mais
para si. É interessante notar que o marido no primeiro texto é citado somente
59

como alguém que lhe deu um conselho, diferentemente do segundo texto, no qual
ela descreve como ambos se conheceram, o casamento e afirma a importância
da relação.
A segunda autobiografia realizada é mais sintética que a primeira em
relação aos planos para o futuro e aos estudos e interesses. Pode-se pensar que
inicialmente a paciente quis fornecer mais informações a respeito de suas
preferências e características principais, focando-se mais posteriormente a
mudança de sua auto-imagem e de seu sintoma.
Na primeira, a paciente não atribuiu nenhum significado ao seu sintoma
(psoríase), motivo pelo qual ela procurou atendimento psicológico e aceitou
participar da presente pesquisa. Já na segunda, ela escreve que está curada e
como o tratamento a auxiliou. Isto pode sugerir que inicialmente ela não atribuía
significados e vivências ao seu sintoma, podendo indicar maior compreensão a
significação do mesmo após as sessões.

8.3 Análise dos desenhos semi-dirigidos

Temas Desenho I Desenho II


(Anexo A) (Anexo B)
Sentimento inicial Estranhamento e Mudança, alegria e compreensão.
da pesquisadora curiosidade.
Tema central Pulga Pássaro
Impressões Grande em relação “Liberta e voando que nem um passarinho”.
pessoais ao tamanho do
inseto e
proporcional ao
tamanho de seu
problema. Pulga
representa a
coceira na cabeça.
Tamanho Grande. Grande.
Sombreado Excessivo. Menor quantidade.
Palavras Pulga Nome da paciente
Preenchimento Desenho grande Desenho grande em relação ao papel.
em relação ao
60

papel.
Cores Vermelho, verde, Verde, marrom, preto, vermelho,
azul, laranja, laranja, amarelo e azul. Não houve uso
marrom-claro, indevido das cores.
marrom-escuro e
preto. Uso
indevido das
cores.
Posicionamento Esquerdo Direito e para cima.
Pontos focais Agressividade, Saúde, inovação, perspectiva futura,
contenção, agressividade canalizada e liberdade.
passado, saúde e
ansiedade.

8.3.1 Desenho realizado antes da terapia breve com embasamento


ericksoniano
O sentimento inicial da pesquisadora ao olhar o desenho foi de
estranhamento e curiosidade a respeito da relação daquela imagem com a
história de vida e com o sintoma apresentado. Ao mesmo tempo, aquele desenho
parecia ser feito por alguém que aprecia este tipo de atividade.
A paciente, ao ser pedido que comentasse e descrevesse o que havia
feito, nomeou o seu desenho como “Pulga” e relatou que estava um pouco grande
em relação ao tamanho real do inseto. Considera que, quando o fez, o tamanho
era proporcional ao seu problema. Ela comentou que havia mostrado o desenho
ao seu marido, e que havia sido ele quem o considerou grande demais para a
folha e o relacionou ao tamanho de seu problema ao conversarem.
Acha que fez o desenho colorido, pois sua “vida não está preta” e “não
está se sentindo nem preta nem escura, e sim colorida”. A paciente diz acreditar
no significado trazido pelas cores escolhidas, e se considera uma pessoa feliz,
mas que está em tratamento. Ressaltou que fez “a pulga grande porque o
problema está grande” e que fez “ as perninhas” porque sua cabeça “está
coçando muito”. Avalia que a psoríase está “piorando e coçando” também na
região do peito e dos braços.
61

Observa-se que o desenho pode ser considerado de tamanho


excessivo em relação ao tamanho da folha e do inseto na realidade. A pulga foi
feita com sombreado ao redor de todo o corpo, o que pode mostrar que uma
maior quantidade de tempo e energia foi dedicada a esse aspecto em que “a
energia investida no sombreado pode indicar fixação ou ansiedade a respeito do
que o objeto sombreado representa simbolicamente” (FURTH, 2004, p. 110). Tal
análise é relevante por se considerar que a paciente estava prestes a iniciar um
tratamento que trataria de seu sintoma, questões pessoais e possível
compreensão destes. É interessante notar também que o sombreado no desenho
sugere uma encapsulação da figura central. Furth (2004, p.118) compreende esse
tipo de aspecto no desenho como uma “necessidade de desenhar limites
específicos ao redor de si mesmo” e indica que talvez seja importante questionar
o que o indivíduo que realizou a figura teme, por que ele precisa estar preso
dentro de algo ou o que está ocorrendo em sua vida que o prende. A partir desse
dado, pode-se interpretar a necessidade da paciente de defesa.
A palavra “pulga” foi escrita no desenho, o que pode indicar que a
paciente temia não ter transmitido com clareza a mensagem presente em seu
desenho. A palavra auxiliaria justamente a definir o que estava tentando ser dito e
a diminuir as chances que aquilo que foi feito fosse mal interpretado. A questão
inicial trazida com essa interpretação foi o de perguntar-me sobre aquilo que
possivelmente estaria sendo mal interpretado na vida daquela pessoa. O uso da
palavra no desenho pode sugerir também o questionamento de como a paciente
confia em outras formas de comunicação que não a verbal, como através da arte,
por exemplo, que pode ser uma forma mais abstrata de comunicação na qual
talvez ela temesse não ter tido sua imagem compreendida.
Quanto ao preenchimento da folha observa-se que, apesar do que foi
feito estar em tamanho grande, há certo vazio no papel. De acordo com a técnica
proposta para a análise de imagens pode-se olhar para o desenho como se ele
fosse simbolicamente a vida da pessoa, portanto, isso pode sugerir a idéia de
desconhecimento e certo vazio interior.
As cores utilizadas em um desenho podem indicar a relevância de
fatores psicológicos e/ou físicos, fatores somáticos que possivelmente
representam efeito importante nas vivências do sujeito, equilíbrio ou desequilíbrio
e até mesmo sentimentos. É importante definir que para Furth (2004) a análise
62

das cores deve ser considerada como instrumento suplementar, pois em muitas
situações é difícil realizar uma interpretação acurada das cores. Para uma
interpretação mais coerente, ele sugere que seja pensando a maneira como a cor
foi usada, a localização na página, a quantidade, a intensidade e sobre quais
aspectos da imagem ela está situada. As cores, portanto, não fornecem
informação a respeito da história do desenho, apenas mostram de maneira mais
ampla o que os elementos da imagem têm a dizer.
Nota-se que foi escolhida a cor vermelha para o olho, a verde e a azul
para as patas, e a cores laranja, azul e verde para a cabeça. É interessante notar
que houve um deslocamento das cores dentro desse símbolo e se questionar que
significados podem ter sido trazidos. A cor vermelha, psicologicamente, pode
sinalizar uma questão de importância vital, emoções arrebatadoras, a fúria e a
agressividade. A cor laranja pode refletir uma situação que envolva ansiedade,
possível decréscimo de energia ou a saída de uma situação ameaçadora. É
interessante notar que esta cor é pouco utilizada em relação às outras, e está
presente na região do corpo e da cabeça da pulga.
Uma estratégia facilitadora proposta pelo autor para se fazer a análise
das cores, é relacioná-las a onde estão presentes no meio ambiente de forma
natural. O verde, por exemplo, remete a plantas que tem um bom potencial para o
crescimento. Já o azul pode denotar distância, assim como o céu, e o fluxo vital
da vida. Nota-se que tais cores foram utilizadas nas patas da pulga, que são o
modo do inseto de caminhar, atacar e se defender. Isso pode sugerir força
interior, vontade e impulsionamento para a cura.
A cor marrom foi utilizada para a pintura do corpo, e variou da
intensidade clara para a escura. A cor marrom-claro pode “denotar luta para
superar as forças destrutivas e retornar a um estado saudável” (FURTH, 2004, p.
159) e a cor marrom – escuro pode indicar a idéia de sustento. É interessante
lembrar que a paciente escolhida para este estudo apresenta um sintoma
considerado psicossomático, denotando possivelmente a vontade de se curar, a
busca por onde se apoiar e compreender seus aspectos destrutivos.
Já a cor preta foi utilizada em todo o contorno do desenho, nas garras,
na boca, no olho e em alguns traços no corpo. O preto pode sugerir contenção,
simbolizar o desconhecido e é geralmente visto como negativo. As garras feitas
63

sugerem agressividade, pois foram feitas compridas e afiadas. Tal dado sugere
que a agressividade na paciente é forte.
O desenho foi feito no canto esquerdo da folha e com a cabeça da
pulga também voltada para esse lado, o que pode mostrar um direcionamento
maior para as questões referentes ao passado.
A partir dos elementos analisados no desenho pode-se considerar
que os pontos focais se relacionam à agressividade, à contenção, ao passado, à
saúde, à defesa e à ansiedade.

8.3.2 Desenho realizado ao final da terapia breve com embasamento


ericksoniano

Nota-se que o desenho realizado após a terapia breve com


embasamento ericksoniano apresenta diferenças curiosas e significativas em
relação ao primeiro desenho feito pela paciente.
O sentimento inicial da pesquisadora ao olhar o desenho foi de
mudança, alegria e compreensão. Quanto às associações próprias da paciente,
foi considerado que ao final da pesquisa ela se sentiu “liberta e voando que nem
um passarinho”.
Ambos os desenhos ocupam um espaço grande na folha, o que pode
indicar força por parte da paciente. O sombreado foi utilizado novamente, porém
desta vez foi em menor quantidade e somente abaixo das garras do pássaro, o
que pode sugerir que há menor ansiedade em relação ao que o objeto feito
representa simbolicamente na vida da paciente.
Foi realizado contorno de cor verde ao redor de todo o pássaro, mas é
notável que foi feito em menor quantidade que no primeiro desenho ( pulga). Isso
pode sugerir que há menor necessidade de desenhar limites específicos ao redor
de si e de se colocar longe dos outros. O desenho aparenta estar menos preso e
a cor preta aparece para contornar somente parte da asa do pássaro e pequena
parte do corpo, o que pode indicar maior liberdade de buscar aquilo que se quer e
menor contenção em relação a isto.
A paciente utilizou novamente uma palavra em seu desenho, mas
desta vez apenas escreveu seu apelido no canto direito da folha, sugerindo a
assinatura do autor do desenho, o que pode indicar maior apropriação de si sem
64

o temor de não transmitir de maneira clara a sua mensagem e ser mal


compreendida. O nome escrito foi coberto na publicação desta pesquisa para
preservar a identidade da participante.
O espaço utilizado no desenho denota menor sensação de vazio. Há
maior aproveitamento do espaço da folha, embora não esteja excessivamente
preenchido, o que poderia indicar energia excessiva e supercompensação.
É interessante notar que houve mudança da posição na folha nesse
último desenho. O pássaro está no canto direito, o que pode indicar um olhar para
o futuro e caminhando para cima, além de haver um chão para que ele se apóie o
que pode indicar uma base mais estável e segura. Houve também a utilização de
mais cores, o que pode mostrar maior diferenciação de afeto.
Observa-se que diferentemente do primeiro desenho, a cor utilizada
para contorno foi o verde, as garras são menores e mais proporcionais ao
desenho, a cor utilizada foi o marrom, o que pode sugerir a “luta para superar as
forças destrutivas e retornar a um estado saudável” (FURTH, 2004, p. 159) e
pouco da cor preta, que está condensada no bico do pássaro. Isso pode sugerir
que após o trabalho desenvolvido, a paciente pôde canalizar melhor sua
agressividade. A cor vermelha foi misturada com a cor laranja na região do corpo
e da cabeça e também no contorno que faz a divisão com o corpo, pintado em
amarelo. O vermelho, conforme foi descrito anteriormente, pode indicar
agressividade, fúria, emoções fortes e doença. A cor laranja pode sinalizar, além
de um possível decréscimo de energia e ansiedade, a saída de algo ameaçador e
a cor amarela pode refletir prioridade da natureza espiritual ou intuitiva, algo de
importante valor e como “a amarelidão do sol pode significar a energia que dá
vida” (FURTH, 2004, p. 159). Pode-se supor que a energia canalizada na
agressividade está menos intensa e voltada para o equilíbrio direcionado à cura.
A cor verde está presente de maneira notória no desenho, e foi
considerada pelo autor em seus estudos como referente ao ego e corpo com
saúde, relacionada ao crescimento e inovação da vida, justamente como um
processo de cura. A cor azul, presente na cabeça do pássaro (local onde se
apresentava principalmente o sintoma) e no pescoço, que entre as funções
apresentadas conecta a cabeça ao resto do corpo, pode denotar saúde, energia,
fluxo vital e distância em relação a algo que vá contra tais aspectos.
65

É notório que as cores não podem ser vistas destoantes em relação ao


animal na realidade, diferentemente do que foi feito na pulga.
Chevalier (2007, p.687, 688) no Dicionário dos Símbolos reuniu
atribuições ricas ao símbolo do pássaro em diversas culturas, cujo conteúdo pode
ilustrar alguns aspectos percebidos na paciente após o término da pesquisa.
O pássaro simbolizaria dentro da concepção taoísta a significação de
leveza e símbolo da imaginação, na qual os imortais adotam a forma de aves
como “leveza e a liberação do peso terrestre”, assim como “a representação da
alma que se liberta do corpo”. O autor concebe a figura também a partir do Corão,
pois a palavra pássaro é utilizada freqüentemente como sinônimo de destino e
imortalidade da alma na figura de um falcão preso em uma gaiola que é chamado
pelos sons do tambor de um Mestre. A mística muçulmana atribui o nascimento
ao “desabrochar do corpo espiritual”, pois “quando este quebra sua ganga
terrestre o pássaro rompe sua casca”. Retoma também o mito de Fênix, pássaro
de fogo composto de força vital, que simbolizava a alma na concepção egípcia.
Já os hopis atribuem aos pássaros o poder da comunicação com os
deuses. Ibn Haldun, de acordo com o autor, assume que se trata essencialmente
da capacidade de se comunicar com o desconhecido que se desperta em nós,
necessitando primordialmente de uma “imaginação forte e poderosa”.
Ambos os desenhos feitos pela paciente foram de animais. Jung
(1987) levanta a questão se certos arquétipos presentes nos animais pertençam
ao sistema da vida em si e, por conseqüência, sejam a expressão pura da vida,
cujo modo de ser no mundo dispensa qualquer outra explicação. Mostra ainda
que o símbolo do animal aponta para o “extra humano, para o suprapessoal” (
JUNG, 1987, p. 89) pois os conteúdos da camada do inconsciente coletivo são
compostos de resíduos das funções de antepassados animais do homem, cuja
existência na Terra é muito maior que o existir humano.
Fridlund (2009) apresenta que a riqueza de símbolos animais está
presente em diversas manifestações culturais, seja na religião, contos de fadas,
mitos, sonhos, nas artes e demais produções do imaginário; reflete a importância
de tal símbolo e o quanto é necessário integrar os conteúdos psíquicos vitais. Os
animais participam da humanidade desde tempos imemoriais e, uma vez que são
parte integrante da natureza, é natural que a psique utilize imagens de animais
para se expressar.
66

Já, para Hillman(1992),a percepção humana em relação às imagens


em forma de animais pode possibilitar a compreensão de aspectos que escapam
à racionalidade, e a maneira como os animais se mostram nos sonhos e
desenhos pode indicar a atitude em relação ao inconsciente. O autor
defende que na medida em que se entra em contato com a imaginação, nos
aproximamos aos animais, no sentido de maior vivacidade instintiva, maior
compreensão, um nariz aguçado e um ouvido afiado.
É importante citar, apesar de não diminuir o valor interpretativo, que na
sessão cinco (Anexo G, sessão 6,p.121), a psicoterapeuta comentou que a
paciente “veio toda parecendo um passarinho verde” e questionou se ela havia
visto “um passarinho verde”. Isto pode ter induzido o desenho da imagem do
pássaro.
A partir dos elementos analisados no desenho pode-se considerar que
os pontos focais se relacionam a saúde, inovação, perspectiva futura,
agressividade canalizada e liberdade. Dentro de tal concepção, fica claro que os
pontos focais são amplos e que a técnica projetiva diagnóstica utilizada na
presente pesquisa, representa também uma maneira da facilitar o processo
analítico e sugerir questões e possíveis caminhos a serem seguidos.
67

9 DISCUSSÃO

Nesta paciente percebe-se que antes do trabalho ser realizado não


havia compreensão do sintoma e seu autoconhecimento era baixo. Na história de
vida trazida, a paciente relatou ter nascido na Europa, ter uma irmã gêmea e uma
irmã mais velha. Morava com seus pais até os dois anos de idade, até que ambos
resolveram divorciar-se e a mãe escolheu ficar com a filha mais velha, restando
ao pai cuidar das gêmeas na mudança para o Brasil. O pai chegou à cidade de
São Paulo com duas filhas pequenas e foi morar com seus pais, e foi dito pela
paciente que teve uma infância feliz graças aos cuidados maternos exercidos pela
avó e na convivência com a irmã. O pai sempre foi visto como alguém frio,
agressivo, que não tinha carinho e atenção com as filhas e que estava sempre
acompanhado de muitas mulheres.
A situação mudou novamente quando o pai da paciente resolveu se
casar levando suas filhas para morar com ele e a nova madrasta. A paciente
relatou a dificuldade de mais uma separação, na qual não havia mais convívio
com os avós paternos. A madrasta era vista como alguém extremamente
agressivo e que não aceitava as filhas de seu novo marido, chegando a agredi-las
física e verbalmente. A paciente relata que apanhava principalmente na região da
cabeça e que era chamada de burra e incapaz de ser alguém no futuro. Nesse
período, apresentava dificuldades escolares principalmente no ensino de idiomas,
o que a levou buscar cursos na área artística e a mudar diversas vezes de escola.
Casou-se aos vinte anos e logo teve seu único filho, hoje com vinte anos. Quando
o menino era pequeno, a paciente relata que começou a ser agressiva e a bater
nele sem entender por que o fazia. Concomitantemente notou os primeiros sinais
da psoríase na região da cabeça. Logo na segunda sessão vinculou seu
comportamento agressivo à época da morte da mãe na Europa e a idade similar à
de seu filho quando começou a sofrer maus tratos do pai e da madrasta,
percebeu também que a localização do sintoma era o local no qual principalmente
apanhava. Notou que estava repetindo o padrão de aquilo que tinham feito com
ela, do quão difícil e não compreendida havia sido sua infância e a relação com os
pais e mostrou entender o sentido que seu sintoma trazia.
68

Ao longo das sessões e pela comparação feita da análise entre a


primeira e a última sessão, foi possível notar mudanças na percepção do sintoma
e sua apreensão simbólica assim como relacioná-lo a emoções decorrentes das
relações familiares, auto-imagem, doença, agressividade, doença, planos para o
futuro e a importância da religião em seus parâmetros.
Considerando o processo de individuação principalmente como a
diferenciação da personalidade e a capacidade de elaboração mediante
apropriação dos conteúdos inconscientes para a consciência, pode-se observar
que o caso clínico descrito nesta pesquisa possibilitou à paciente simbolizar seu
sintoma e, dessa forma, integrá-lo junto ao conhecimento sobre si-mesma, num
processo de diferenciação de sua personalidade. O símbolo, quando
compreendido, permite a elaboração e abre caminho para a assimilação dos
complexos.
Os instrumentos aplicados possibilitaram realizar uma interpretação
analítica da participante, que mostrou aspectos de si relativos ao ego e aos
complexos. Mostrou ter força egóica e fortes motivações inconscientes para
seguir seus objetivos, pois mesmo com todas as dificuldades em sua história e
em sua realidade psíquica, o processo revelou que houve ao menos integração
parcial e a possibilidade de lidar melhor com o aspecto agressivo, tema central
relacionado ao seu sintoma, maior assertividade, compreensão e
autoconhecimento.
Em relação aos complexos, as emoções trazidas pela paciente se
manifestaram nas formas de agressividade e raiva, e foi relatado que houve
ataques de violência sofridos ao longo da infância por parte do pai e da madrasta
e, posteriormente, pela própria paciente na idade adulta com seu filho.
Jung (2007, p.21) considera a emoção ou o afeto, diferentemente do
sentimento que não evidencia manifestações físicas ou fisiológicas, como algo
que interfere em nós: “por ela somos carregados, atirados para fora de nós
mesmos. O indivíduo fica tão alterado como se uma explosão o tivesse
arremessado para fora dos limites de sua pessoa”. Assim como dito pela
paciente, “eu estava muito nervosa, tinha muitos problemas em relação ao meu
filho, eu batia muito no meu filho.” (Anexo G, sessão 2, p. 96).
Siqueira (2008, p. 92) define a hostilidade, à medida que provoca
alterações fisiológicas, como uma característica de afetos não diferenciados. A
69

diferenciação, ou seja, a integração à esfera consciente pode possibilitar uma


evolução qualitativa na consciência deixando de ter um significado meramente
fisiológico. A paciente do estudo foi capaz de relacionar seu sintoma a aspectos
relacionados à agressividade sofrida e também expressa por ela: “Me socavam na
cabeça, me jogavam da escada” (Anexo G, sessão 2, p.100) e “Eu não tava
entendo por que vem a psoríase, agora eu to entendendo o porquê.O fundo da
psoríase é esse. Nunca tratei isso. Agora que está me vindo à mente”(Anexo G,
sessão 2, p. 96). Diante dessa perspectiva compreensiva, o autor define que “uma
abordagem da hostilidade que viabilizasse uma leitura simbólica dos sintomas
poderia, quem sabe, transformar afetos em sentimentos e diminuir a
sintomatologia orgânica” e delimita a sua origem como multidimensional,
englobando aspectos genéticos, sociais, individuais e ambientais. Wiener (1998)
entende que a raiva costuma ocorrer em decorrência de uma frustração
relacionada ao que é desejado, mas não é necessariamente destrutiva, pois pode
promover a função de desenvolvimento, adaptação e quando não-integrada, pode
evoluir para o sentimento de fúria ou ódio. Nessa linha de raciocínio, Whitmont
(1991) defende também que características essencialmente humanas, tais como
a fome, a inveja, o medo e a violência, quando reconhecidos e explorados pelo
indivíduo podem se tornar formas significantes de criatividade, de força interior e
de consolidação da individualidade, direcionando algo que antes poderia
representar destrutividade à construtividade.
Foi assinalado que houve abandono materno na infância, uma
experiência difícil e incompreensível. A paciente durante as sessões relatou
algumas passagens vividas com dificuldade em sua infância. Jung (1964) defende
que as crianças freqüentemente se esquecem de acontecimentos que foram
marcantes para os adultos que a norteiam e guardam lembranças de algum
incidente ou história que ninguém parece notar. Quando tais recordações infantis
são trazidas à tona revelam aspectos básicos que constituem a personalidade da
criança e podem ser compreendidas mediante os símbolos. Tal visão do autor se
assemelha a uma temática trazida pela participante, na qual veio à tona a imagem
de uma ocorrência que simboliza o abandono, em que estava “sozinha. Sentada
no quarto. Sozinha. No quarto vermelho que eu morava na Europa e vi nas fotos.
Eu lembro. Eu era muito pequena. Menos de um ano talvez. (longo silêncio). Acho
que eles não estavam na sala. Saíram de casa e me deixaram. Me esqueceram
70

ou me largaram na casa. Não sei o que aconteceu aquele dia. Eu não ficava
separada da minha irmã gêmea. Aquele dia me separaram. Que estranho. (Anexo
G, sessão 4, p.110) e “ agora eu entendo os meus medos, sabia? “(Anexo G,
sessão 4, p. 111).
Diante de tal narrativa, comprova-se o postulado por Neumann (1995),
de que a relação primal é de importância fundamental e apresenta possíveis
conseqüências e distúrbios quando mal estabelecida. Confirma-se na fala da
paciente relativa à separação não elaborada da mãe: “Me lembro com dois anos
me separando da minha mãe” (Anexo G, sessão 2, p. 97) e “a minha irmã dois
anos mais velha ficou na Europa com a minha mãe e eu não sei por que
(entonação de braveza). As gêmeas, minha irmã e eu, ficamos com o meu pai e
eu não sei por que” (Anexo G, sessão 2, p. 98).
Nesta paciente percebe-se que, na vivência das relações familiares,
um dos aspectos centrais notados foi a acentuação do complexo materno e
paterno. Conforme narrado pela paciente, “Eu sinto uma coisa, eu tenho medo
muito de perda” (Anexo G, sessão 3, p. 107). Kast (1997) escreve a respeito da
vivência de complexo de ser desprezado, o sentimento da criança desprezada e a
relação desta com pessoas que não suprem suas necessidades. Aquele que
apresenta tal complexo pode apresentar suspeitas constantes de novamente ser
desprezado ou até mesmo questionar se está sendo desprezado em diversas
situações. Seu Eros teria desenvoltura exclusiva à maternagem, e conforme
observado no conteúdo das sessões e na primeira autobiografia, a participante
ressaltou a importância de ter exercido a maternagem de forma próxima,
transmitindo valores e educação para seu filho e citando-o constantemente, mas
permanecendo, possivelmente inconsciente em sua relação pessoal, o que traria
a conseqüência de manifestação violenta na forma de poder. Observa-se tal
comportamento quando a paciente relata que bateu em seu filho, que desejava
um tipo específico de namorada para ele e pensava em abrir um negócio
conjunto. O intelecto não é priorizado, tendo como conseqüência a incapacidade
de apreciar o próprio intelecto ou sua profundidade. Pode-se pensar na visão da
paciente a respeito de si, na qual relatou ter optado dedicar parte de sua vida aos
cuidados com a família, deixando de trabalhar e estudar.
Nota-se que a paciente possui diferentes figuras relativas à mãe
interior: possivelmente a figura de uma mãe concreta que a abandonou na
71

primeira infância e representa a perda e a rejeição, a madrasta, que deixou a


imagem de agressora e desmotivadora, e a avó paterna, responsável pelas
lembranças e referências de cuidado e afeto. Relatou também que não sabia
como lidar com seu filho e por isso chegou a agredi-lo fisicamente, atribuindo tal
comportamento às dificuldades de exercer a maternidade durante a infância de
seu filho. Conforme postulado teoricamente, é fundamental que a mãe tenha
recebido atenção materna para retribuir à sua própria prole. Em outras palavras,
como muitas mulheres são filhas de mães fragilizadas, elas próprias podem ter
este modelo interno de automaternagem e, aquelas que possuam tal constructo
psíquico, manteriam essa imagem na família e seriam vistas como alguém que
apresenta redução de sua capacidade instintiva e inexperiência. Ilustrando essa
idéia, houve relato da participante não ter sido vista por sua sogra como alguém
capaz de cuidar sozinha do filho, e ter sido considerado necessário colocar uma
pessoa para vigiá-la e ajudá-la.
Considera-se que houve mudança na percepção do complexo materno,
pois a paciente aparentemente pôde elaborar tal questão de forma a não estar
mais tão fundida à relação que teve com sua mãe. Começou a ter uma visão mais
abrangente na qual olhava para outros aspectos de sua história e de sua relação
com outros membros da família e se mostrou mais centrada em si. Estés (1994)
clarifica a possível experiência de uma mulher que teve uma mãe destrutiva na
própria infância. Tal período não pode ser apagado, mas pode ser atenuado por
meio da reconstrução da mãe interna. Deste ponto de vista, quando o elemento
complexado não é mais projetado, ou seja, quando o pai e a mãe não são mais
vistos como culpados por tudo, ocorre provavelmente a percepção de que os
complexos fazem parte da própria pessoa, mesmo que tenham tido início nos
embates e experiências com a família. Ao aceitar isso e entrar verdadeiramente
em contato com seu complexo e com seu elemento constituinte, a paciente pode
redirecionar a energia depositada nele.
No caso discutido notou-se também a presença do complexo paterno
mediante afirmações como: “Me dói essa indiferença dele” e no diálogo com a
Psicoterapeuta: “Você tem alguma lembrança boa dele?Paciente: Não, não.
Nenhuma. Nenhum beijo, nenhum abraço, nada. Nada para te falar. É uma coisa
triste” (Anexo G, sessão 2, p.104). A relação da paciente com seu pai foi marcada
por autoritarismo, agressividade e ausência, o que pode ter influenciado a
72

constelação da figura de um pai- terrível e que exerceu a paternidade de maneira


inadequada.Pode-se tecer um paralelo com a importância da figura paterna, em
que o comportamento paterno pode ocasionar no filho a falta de autoconfiança e
dificuldades adaptativas.
A paciente afirmou nas sessões e nas autobiografias livres que
enfrentou dificuldades de aprendizado na escola e não houve acolhimento ou
auxílio em sua casa. Nas palavras da paciente: “Ela (a madrasta) batia... Batia na
cabeça, não tinha paciência de estudar comigo e me batia na cabeça com a
caneta. Me batia na cabeça. Me dizia que eu era burra porque não conseguia tirar
dez.Então, ela me batia na cabeça, falava que eu era burra, meu pai falava que
eu não iria conseguir nada na vida. Pra mim isso sempre foi falado”. (Anexo G,
sessão 2, p. 100). Jung (1964) esclarece que, ao atingir a idade escolar, a
criança inicia a fase de estruturação egóica e de adaptação ao mundo externo.
Essa fase costuma trazer vivências consideradas difíceis e é exigido da criança
que enfrente impulsos interiores ainda não compreendidos com clareza e que
enfrente exigências do mundo exterior. Caso o desenvolvimento da consciência
seja perturbado em sua condição natural, a criança, para se afugentar das
dificuldades externas e internas, pode se isolar em uma “fortaleza íntima” (JUNG,
1964, p.165).
Percebe-se que a paciente atribuiu a causa de sua agressividade à
repetição ao que fizeram nela durante a infância, o que demonstra identificação
com seu complexo. É notável também que a paciente vinculou o seu sintoma
diretamente à figura da madrasta, também parte de seu complexo materno:
“Psicoterapeuta: E a psoríase tem aparecido no decorrer desses 17 anos? Em
que momentos ela aparece? Paciente: Na minha vida? Ela? A madrasta?
Psicoterapeuta: Não, a psoríase. Paciente: Quando tenho problemas ela vem”.
(Anexo G, sessão 2, p.102), o que sugere relação com a agressividade sofrida e
apropriação do símbolo presente.
A paciente apresenta um abandono acentuado principalmente em
relação à figura materna. Isso pode sugerir que haja uma função materna
depreciada, em parte resgatada mediante o olhar que a psicoterapeuta e a
observadora participante tiveram por ela, tendo, portanto, ocorrido transferência e
projeção materna. De acordo com Jung (2007) a cura não se relaciona
necessariamente à transferência. Defende que tal projeção ocorre em decorrência
73

de condições psicológicas peculiares, e, assim como o trabalho analítico envolve


integrar outros mecanismos à consciência, o mesmo deve ocorrer com a
transferência, que se não ocorrer não interfere no processo, já que o conteúdo
surgirá da mesma forma. O autor enfatiza que toda e qualquer revelação que for
necessária e quiser se manifestar ocorrerá através dos sonhos do paciente.
É relevante vincular a violência sofrida pela paciente com o local de
aparecimento de seu sintoma (cabeça), com as queixas de adaptação em sua
infância e, posteriormente, com os planos futuros para si de querer estudar e
encontrar sua vocação. Nas palavras de Jung (1981, p.175):

Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, algo


que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que
solicita cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a
parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e
tornar-se completa.

Foi visto que houve mudanças em relação à percepção da auto-


imagem da paciente, que se mostrou mais confiante, mais centrada e afirmou se
sentir mais bonita e mais forte. A psoríase na cabeça foi descrita como algo
incômodo e que possivelmente dificultava alguns cuidados com sua aparência.
Conforme dito pela paciente: “a coceira da cabeça eu não tenho mais nada”
(Anexo G, sessão 6, p.128), “Eu estou bem assim, sem ...Sem coceira.Sem
coceira nenhuma, sabia.Eu melhorei muito” (Anexo G, sessão 7, p.128) e “a
paciente chegou à sessão dizendo que havia mudado o seu cabelo e que gostava
de aparecer através de seu visual” (Anexo G, sessão 7, p.128). A respeito de
estar se sentindo mais bonita, afirmou que “todo mundo me falou” (Anexo G,
sessão 7, p.129).
A partir dessa concepção, é possível traçar um paralelo com o mito e a
interpretação feita por Estés (1994) da história “O patinho feio” de Hans Christian
Andersen, escrita em 1845.
Os mitos, de acordo com Chevalier (2007), têm o poder de condensar
em uma história uma multiplicidade de situações semelhantes às experenciadas
pelo homem e possibilita a descoberta de tipos de relações constantes na
humanidade. Considerando os mitos como forma de expressão de arquétipos e
de temas básicos do inconsciente coletivo dentro da cultura em que aparecem, é
possível identificar temas similares aos apresentados nesta pesquisa.
74

Assim como na história de vida da paciente, a autora considera que


o personagem central foi torturado por acontecimentos alheios à sua influência e
é a mãe quem primeiramente deve aceitar e lutar pela individualidade do filho. O
patinho da história simboliza a natureza selvagem que, quando forçada a
enfrentar circunstâncias difíceis, luta de maneira instintiva para continuar viva,
agüenta e resiste mostrando a continuidade como uma das mais características
mais fortes. O mito mostra também a importância de se encontrar a verdadeira
família psíquica, ou seja, de alcançar a sensação de pertencimento ao todo.
Como a história do presente estudo, a criança que nasce e cresce
considerada inadequada, pode adquirir seus próprios recursos para aprender a
sobreviver. Embora seja claramente difícil conviver em um meio que não nos
impulsiona, o processo de formação da identidade atinge um ponto- na melhor
das hipóteses- em que a ameaça, ou o trauma, já estejam vinculados ao passado,
e se processa a cura das antigas feridas e se estimule o olhar para o futuro.
A participante do caso descrito encontrou bases na arte para mostrar
sua criatividade e para fazer planos para o futuro, pois comentou sobre seu
interesse e vocação para estudar e trabalhar com moda e artes e claramente
vivenciou dificuldades ao longo de sua infância. O isolamento precoce de uma
criança, por exemplo, pode causar um ferimento na psique desde cedo, e ela
começa a criar imagens negativas sobre si, refletidas pela família e pela cultura
da qual é parte, levando-a a crer que é fraca, inaceitável e que esta será uma
verdade independente do esforço feito para mudar a situação.
A menina se sente rejeitada pelos mesmos motivos que o patinho,
pois em muitas culturas há uma expectativa quando nasce uma filha, tais como
que ela seja de certo tipo, tenha os mesmos valores e competências que a família
e, na fantasia dos pais, espera-se que os filhos sejam perfeitos e reflitam seu jeito
de ser. A participante descreve seu pai como um executivo bem sucedido e com
diversos talentos, o que pode justificar seu sentimento de não ter correspondido
às expectativas familiares.
Serino (1999) delimita que aquilo que dificulta o indivíduo para o
convívio interpessoal pode levá-lo também a deparar-se com o relacionamento
consigo mesmo. Ou seja, a individualidade e seus conteúdos orgânicos e
psíquicos seriam ativados pela doença e o trabalho terapêutico resgataria o
sintoma mediante a apreensão simbólica. Desse modo, a autora refere que a
75

doença pode ser compreendida como um recurso corporal evolutivo para um


estágio de consciência integrador de polaridades: uma etapa do processo de
individuação.
Para Pieri (2002) olhar o corpo apenas como algo biológico é
insuficiente para a compreensão da relação entre consciente e inconsciente, pois
o corpo e a alma são duas mostras da mesma substância e a intercomunicação
entre ambos é tão íntima, que é possível obter informações sobre a constituição
da psique e do corpo e a relação destes. Nas palavras da paciente se evidencia
esta afirmação: “É...E aconteceram umas coisas que a psoríase tá procriando.
Psicoterapeuta: Que foi defrontar com a agressividade? Paciente: É, tá louco!”
(Anexo G, sessão 2, p. 102).
Com respeito ao local de manifestação do sintoma, Chevalier (2007)
concebe a cabeça simbolicamente como o princípio ativo de cada um, a
autoridade de governar, ordenar e instruir. Pode-se pensar que a paciente possui
dificuldades em governar a si e sua vida e foi capaz de organizar-se melhor.
Neste sentido, a paciente encontrou bases na arte para revelar sua criatividade e
fazer planos para o futuro, pois comentou sobre seu interesse e vocação para
estudar e trabalhar com moda e artes.
Um elemento constante foram os desejos e planos expressos para o
futuro, o que pode demonstrar o anseio de transformação da paciente:”vamos
começar do zero nossa vida” (Anexo G, sessão 6, p.128), “eu quero fazer as
minhas coisas, quero fazer esporte porque eu gosto muito de esporte, eu preciso
fazer uma coisa para mim, não quero ficar só cuidando de casa, um curso alguma
coisa que eu goste, eu preciso me achar..”(Anexo G, sessão 6, p.127). Pieri
(2002, p.144) examina que desejar simboliza um movimento psíquico de caráter
afetivo e cognitivo, que por meio de uma lógica específica, se direciona a
“constituir simultaneamente uma realidade externa e uma realidade interna que
são diferentes em relação às já dadas”. Mostra uma intenção de algo que subsiste
na psique enquanto representação, além de sinalizar uma potência criativa que
tem a capacidade de inovar ou regenerar aquilo que está fora do homem, dentro
dele e principalmente mostra o reabrir cognitivo e afetivo das representações
particulares.
76

Demonstrou também forte apelo religioso e lhe atribuiu em grande


parte a cura do sintoma, a problemas familiares: “Eu não posso escolher a igreja
que eu quero ir”, “O Deus dela( da irmã) é o dinheiro” (Anexo G, sessão 3, p. 107)
, e “ ele (o cunhado) não quer que eu ore por ele, ele está uma fera comigo” (
Anexo G, sessão 5, p. 112) e em sua concepção de mundo: “Tudo é para o reino
do Deus” ( Anexo G, sessão 5,p.117) e “acho que vai ser da melhor forma, acho
que Deus já fez assim”( Anexo G, sessão 6, p.123). Entende-se que a religião
possui o significado de uma força maior que governa, orienta sua vida e como
uma garantia de força sobrenatural para sua própria salvação. Tal aspecto se
relaciona ao ego que se apóia em uma força maior e em um símbolo de
transcendência, aspecto importante para a compreensão do caso. Pieri (2002,
p.431) postula que aquele que é religioso, crê que Deus é o criador de tudo aquilo
que é considerado incompreensível e sente a presença e a vontade divina em
todas as coisas. Ele delimita que a idéia de salvação, representa uma categoria
religiosa relacionada à superação do mal presente no mundo e, metaforicamente,
pode se compreender como um “resgate da finitude, da dor e da morte”.
Jung (1964) delimita que devido a existirem inúmeros aspectos fora do
alcance da compreensão humana, são utilizados com freqüência termos
simbólicos que tem a função de representar conceitos que não são facilmente
definidos ou compreendidos de maneira integral. Este seria justamente um dos
motivos pelo qual todas as religiões fazem uso da linguagem simbólica e se
expressam através de imagens.
Os usos das técnicas de hipnose aliados a metaforização e à
imaginação permitiram à paciente ressignificar, simbolizar e prosseguir seu
percurso no processo de individuação com maior integração de conteúdos
internos, ampliação de consciência e identidade fortalecida, em que a conexão
ego- Self, eu-outro e psique-corpo se encontram alinhadas e menos dissociadas.
77

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enquanto observadora participante me senti grata por ter sido possível


fazer parte de um processo de descoberta, de apreensão de si e de
transformação. Foram percebidas projeções de cunho transferencial e
contratransferencial que fazem parte de um processo desta natureza.
A proposta do trabalho teve por objetivo ampliar a concepção de quão
complexos são os temas referentes ao adoecimento e como podem ser tratados
sob múltiplas perspectivas. Fundamenta a relevância da abertura de um espaço
de escuta no qual seja permitido ao paciente trazer sua singularidade e sua mais
íntima relação com seu sintoma, e traz à tona a temática de que a doença
orgânica pode simbolizar um pedido não formalizado de compreensão e de
auxílio.
No caso apresentado, embora a paciente admita que foi curada de seu
sintoma após o término da pesquisa, ressalta-se que na psicoterapia pode ocorrer
ou não a cura e, principalmente, prioriza-se a busca de sentido: portanto
considera-se que houve apropriação- pelo menos em parte- do símbolo contido
no sintoma, ilustrando assim, o conceito de unicidade entre corpo e mente.
Entender tal unicidade como primordial contribui na área da saúde no sentido de
ampliar a visão compreensiva do fenômeno de adoecimento, assim como
possibilita um olhar mais atento para o corpo humano e suas múltiplas
expressões. Embora tenha sido defendido que toda doença é multifatorial, não foi
intuito desta pesquisa considerar que todo processo de adoecimento e cura se dê
conforme foi apresentado neste caso clínico: foi apenas um aspecto do adoecer
que se verificou. Um sintoma pode ser físico ou mental, e independentemente de
sua causa principal, ambos se relacionam mutuamente.
O intuito deste trabalho não foi o de apresentar nem de elucidar todas
as questões relativas ao assunto hipnose, pois se trata de um tema amplo e com
múltiplas variações técnicas. Os achados deste estudo sugerem que a hipnose
ericksoniana se apresenta como alternativa válida na área da saúde, mas levanta-
se o questionamento para futuros trabalhos que busquem verificar se resultados
de melhora e apreensão do sintoma se mantém após o término das sessões.
Uma outra pesquisa consistiria em acompanhar esse percurso em uma
78

psicoterapia junguiana. Cabe elucidar que inicialmente o interesse central a ser


estudado era a eficácia da hipnose, no entanto no decorrer do estudo de caso a
partir da visão analítica a da perspectiva psicossomática, o foco passou a ser a
interpretação e a riqueza possibilitados pelo símbolo.
Nesse sentido, ressaltou-se que o mais importante dentro de um
processo de autoconhecimento e cura é a relação e os sentidos que se
estabelecem, pois os símbolos têm a particularidade de sintetizar os conteúdos
advindos da consciência e do inconsciente, e remetem à descoberta de
possibilidades favoráveis à vida pessoal e social de cada um. Cabe ressaltar que
o processo de cura é amplo e relativo à transformação psíquica e, portando, neste
sentido, é parte do processo de individuação.
Os instrumentos utilizados no estudo puderam auxiliar o olhar de busca
para desvendar os significados trazidos pela paciente, e por meio de uma leitura
analítica simbólica e seus significados, percebeu-se um recurso para integração
de aspectos corporais e psíquicos. Nessa perspectiva, os resultados obtidos
inspiram a sugerir futuros trabalhos e continuidade com mais pacientes, não mais
como observadora participante, e sim como psicoterapeuta, e fundamentalmente
com um médico que defina o prognóstico, diagnóstico, evolução do caso até a
possível remissão dos sintomas. É importante ressaltar que se pensou
inicialmente em ter um parecer médico para esta pesquisa, mas dadas às
circunstâncias da disponibilidade da psicoterapeuta em colaborar com a pesquisa
e a urgência da paciente em iniciar o tratamento, isso não foi possível. Dessa
maneira, acredita-se que a visão da psicologia e da medicina possam se auxiliar
mutuamente para ampliar a compreensão individual e a singularidade da doença
trazida pelo paciente, possibilitando uma participação mais ativa e única a
respeito da patologia.
Apesar de todas as possibilidades apontadas e de ter tido somente
uma participante, é possível afirmar que a pesquisa alcançou seu objetivo
principal, podendo ilustrar a alteração na percepção do sintoma e a interação
psicossomática que, ao englobar os aspectos orgânicos e emocionais, apresenta
a visão de um todo único.
79

REFERÊNCIAS

ANZIEU, Didier. O eu-pele. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1989.

BAPTISTA, Makilim Nunes. Metodologias de pesquisas em ciência: análises


quantitativa e qualitativa / Makilim Nunes Baptista, Dinael Corrêa de Campos –
Rio de Janeiro: LTC, 2007.

BAUER, Sofia M. F. Hipnoterapia ericksoniana passo a passo. Campinas: Livro


Pleno, 2002.

CHERTOK, LEON & STENGERS, Isabelle. O coração e a razão: a hipnose de


Lavoisier a Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

CHEVALIER, Jean, 1906- Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, gestos, formas,


figures, cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.

DAHLKE, Rudiger. A doença como símbolo. Pequena enciclopédia de


Psicossomática. São Paulo: Cultrix, 1996.

EDELWEISS, Malomar Lund. Com Freud e a Psicanálise: De volta à hipnose. São


Paulo: Lemos Editorial & Gráficos LTDA, 1994.

ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos. Mitos e histórias do
arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

FARAH, Rosa Maria. Ciberespaço e seus navegantes: novas vias de expressão


de antigos conflitos humanos. São Paulo, 2009.Mestrado- Faculdade de
Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

FARIA, Durval Luiz de. O pai possível: conflitos da paternidade contemporânea.


São Paulo: EDUC : FAPESP, 2003.
80

FELDMAN, Brian. A Skin for the imaginal. Journal of Analytical Psychology,n. 49,
285-311. Califórnia: Pablo Alto, 2004.

FERNANDES, Miltom Vicente. O sistema de crenças e as habilidades de


enfrentamento da doença pelo paciente oncológico: uma proposta de abordagem
pela hipnoterapia ericksoniana . São Paulo, 1999. Doutorado-Faculdade de
Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

FERREIRA, Maria Lúcia Tavares. A psique do paciente com câncer na fase


terminal . São Paulo, 2002. Mestrado– Faculdade de Psicologia,Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.

FERREIRA, Maria Lúcia Tavares. O pêndulo de cristal. Uma terapia psico-


oncológica. –Aparecida-SP: Idéias e Letras, 2004.

FRIDLUND, Christiane Ennes. Acesso em: Artigos. In: Symbolon. Curitiba,


Paraná. Disponível em:<http://www.symbolon.com.br/artigos/osimboloanim.htm>
Acesso em: 21 de setembro. 2009.

FURTH, Gregg M. O mundo secreto dos desenhos. Uma abordagem junguiana da


cura pela arte.São Paulo: Paulus, 2006.

GAMBINI, Roberto .A voz e o tempo: Reflexões para Jovens Terapeutas. São


Paulo: Ateliê Editorial, 2008.

GRACIANI, Carmen Lúcia Aparecida da Silva. A visualização como recurso para


elaboração do adoecer oncológico .São Paulo, 2003.Monografia(Trabalho de
conclusão de curso)-Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.

HILLMAN, James. Psicologia Arquetípica. São Paulo,Cultrix,1992.

JACOBI, Jolande. Complex/Archetype/Symbol in the psychology of C. G. Jung.


Princeton University Press, United States of America: 1971.

JACOBY, Mario. O encontro analítico. Transferência e relacionamento humano/


Mario Jacoby; trad. Claudia Gere. São Paulo: Cultrix, 1992.

JUNG, Carl Gustav.Two Essays on Analytical Psychology. A relação entre o ego e


o inconsciente.Collected works v.7. Structure and dynamics of the psyche- par.
3.5 Princeton: Princeton University Press, 1916a.
81

JUNG, Carl Gustav.Two Essays on Analytical Psychology. Collected works v.8.


Structure and dynamics of the psyche- par. 166-175. Princeton: Princeton
University Press, 1916b.

JUNG, Carl Gustav. Two Essays on Analytical Psychology. Collected works


v.7. Princeton: Princeton University Press, 1953.

JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. Trad: Dora Ferreira da Silva.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1961.

JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1964.

JUNG, Carl Gustav. Psychological Types. Collected Works v.6. Princeton:


Princeton University Press, 1971.

JUNG, Carl Gustav. O desenvolvimento da personalidade. OC XVII. Rio de


Janeiro: Vozes, 1981.

JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. Trad: Mateus Ramalho Rocha.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1984.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. Tradução de Maria Luiza Appy.


Petrópolis, Vozes, 1987.

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos e reflexões / C.G. Jung; organização e


edição de Aniela Jaffé; tradução de Dora Ferreira da Silva- 1. Ed. Especial-Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

JUNG, Carl Gustav. Fundamentos de psicologia analítica . Tradução de Araceli


Elman; prefácio e introdução de León Bonaventure.13. Ed – Petrópolis, Vozes,
2007.

KAST, Verena. A dinâmica dos símbolos: fundamentos da psicologia junguiana.


São Paulo: Ed Loyola, 1997.

LABATE, Isabel.Hipnose Clínica e Terapêutica. Curso Ministrado no COGEAE.


São Paulo, 2004.
82

MACHADO, Pericles Pinheiro Jr. A dimensão simbólica da rinite alérgica: uma


perspectiva junguiana. Monografia (Trabalho de conclusão de curso)- Faculdade
de Psicologia. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.

MATEUS, Rodrigo Cazarotto. Repercussões psicossomáticas da hipnose em


pessoas com diabetes mellitus tipo 2. Mestrado em Psicologia Clínica- Faculdade
de Psicologia. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008.

MCDOUGALL, Joyce. Teatros do corpo: o psicossoma em psicanálse/ Joyce


Mcdougall; trad. Pedro Henrique Bernardes Rondon. São Paulo: Martins Fontes,
2000.

MELANDI, Mariana Roque. Medicina e Alma: uma contribuição da psicologia


analítica na área da saúde. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) –
Faculdade de Psicologia. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2004.

MULLER, Marisa Campio. Psicossomática: uma visão simbólica do vitiligo. São


Paulo, Editora Vetor, 2005.

NEUMANN, E. História da origem da consciência. São Paulo: Cultrix, 1995.

O´HALON, William Hudson. Raízes profundas. Fundamentos da terapia e da


hipnose de Milton Erickson/ William Hudson O´Halon; trad: Jonas Pereira dos
Santos. Campinas: Psy II, 1994.

PASSOS, Moraes & LABATE, Isabel. Hipnose Considerações Atuais. São Paulo,
Editora Atheneu, 1998.

PASSOS, Antonio Carlos de Moraes. Contribuições da técnica de


dessensibilização mediante a visualização cênica hipnótica. Tese de
Doutoramento apresentada ao Departamento de Psiquiatria da Faculdade de
Medicina de Jundiaí. São Paulo, 1974.

PASSOS, Antonio Carlos de Moraes. Revista Brasileira de Medicina


(PSIQUIATRIA). Hipnose Médica. Número 01, novembro, 1979.

PEARSON, Magda. Depoimento sobre técnicas de hipnoterapia ericksoniana.


Instituto brasileiro de stress pós-traumático. São Paulo, 2009.
83

PENNA, Eloísa Damasco. Pesquisa em psicologia analítica: reflexões sobre o


inconsciente do pesquisador. Bol. psicol, dez. 2007, v.57, no.127, p.127-138.
ISSN 0006-5943.Também disponível em: <http://pepsic.bvssi.org.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S000659432007000200002&lng=pt&nrm=iso> (Acesso em
06/08/09).

PIERI, Paolo Francesco. Dicionário junguiano/ Paolo Francesco Pieri; trad. de Ivo
Storniolo. São Paulo: Paulus, 2002.

RAMOS, Denise Gimenez. A psique do corpo. A dimensão simbólica da


doença. São Paulo, Summus, 2006.

ROSSEN, Sidney. My voice will go with you.The teaching tales of Milton


Erickson.Norton Publisher, New York, United States of America, 1982.

ROSSI, Ernest Lawrence. A psicobiologia da cura mente-corpo. Novos conceitos


de hipnose terapêutica/ Ernest Lawrence Rossi; trad. Ana Rita P. de Moraes. Belo
Horizonte: Psy, 1997.

SILVA, Juliana Dors Tigre da; MULLER, Marisa Campio. Uma integração teórica
entre psicossomática,stress e doenças crônicas de pele. Estud. psicol.
(Campinas), Campinas, v. 24, n. 2, jun. 2007 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
166X2007000200011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 15 nov. 2009. doi:
10.1590/S0103-166X2007000200011.

SERINO, Susana de Albuquerque Lins. Diagnóstico compreensivo simbólico.Uma


proposta de ressiginificação da doença orgânica para a prática médica.Mestrado
em Psicologia Clínica. Faculdade de Psicologia. São Paulo, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 1999.

SIQUEIRA, Guilherme Tavares de. Hostilidade: uma revisão de literatura no


referencial teórico junguiano. Mestrado em psicologia clínica. Núcleo de Estudos
Junguianos – PUC-SP. São Paulo, 2008.

STEIN, Murray. O mapa da alma. Uma introdução/ Murray Stein; trad. Álvaro
Cabral. São Paulo: Cultrix, 1998.

Strauss, G. Skin Disorders. Baltimore: Williams Wilkins, 1989.


84

WHITMONT, Edward. A busca do símbolo. Conceitos básicos de Psicologia


Analítica. São Paulo, Editora Cultrix, 1969.

WHITMONT, Edward. Retorno da deusa. São Paulo: Summus Editorial, 1991.

WIENER, Jan. Under the volcano: varieties of anger and their transformation. J.
Anal. Psych., 1998.

ZEIG, Jeffrey K. Seminários didáticos com Milton H.Erickson. Hipnose, metáforas


e comunicação em psicoterapia. Belo Horizonte: Psy II, 1995.

ZEIG, Jeffrey K. Vivenciando Erickson.São Paulo: Livro Pleno, 2003.


85

GLOSSÁRIO

Anima: Compreende a atitude interna do homem, normalmente representada por


uma figura feminina. Na anima estariam contidas todas as qualidades ausentes
na consciência (RAMOS, 2006).
Animus: Na mesma concepção que anima, o animus representaria a atitude
interna da mulher, normalmente projetada por uma figura masculina.
Arquétipo: Representação psicológica do instinto (RAMOS, 2006).
Ego: Complexo formado por uma percepção geral do nosso corpo e existência e,
a seguir, pelos registros da memória. É o centro de nossas atenções e dos
desejos, sendo o cerne indispensável da consciência. (JUNG, 2007).
Persona: Atitude voltada para o meio externo. Funciona como um complexo que
tem por finalidade adaptar tanto o homem quanto a mulher ás exigências do
mundo exterior (RAMOS, 2006).
Self: O mesmo que Si-mesmo. Totalidade da psique. Edinger designou a ligação
vital entre ego-Self, a qual assegura a integridade do ego.( RAMOS, 2006).
Sombra: Parte do inconsciente na qual estariam contidas todas as qualidades
reprimidas desagradáveis, inferiores ou negativas do indivíduo (RAMOS, 2006).
86

Anexo A
Desenho realizado antes da terapia breve de embasamento ericksoniano.
87

Anexo B
Desenho realizado ao final da terapia breve de embasamento ericksoniano.
88

Anexo C
Autobiografia Livre realizada antes da terapia breve com embasamento
ericksoniano

Eu nasci na Aústria, vim para o Brasil aos dois anos com o meu pai e
minha mãe ficou por lá porque eles se separaram. Daí eu estudei em São Paulo
em um colégio suíço-alemão até a quinta série e fiz vários cursos. Fiz de
decoração, costura, datilografia, tênis... Eu gostava muito da área esportiva e era
muito boa nos esportes.
Eu não fiz faculdade, mas queria ser professora de ginástica porque eu era
muito boa em esportes, sempre me destacava e no tênis eu era a melhor. Eu
tinha um condomínio na praia com o meu pai e lá eu sempre me destacava no
tênis e na natação. Então, eu sempre gostei de esporte. Nos estudos eu nunca
me aprofundei muito e nunca foi meu forte. No colégio eu tinha muitos amigos,
mas tive que trocar para outro colégio, pois tinha problemas com línguas. Eu tinha
que aprender português, alemão, francês e inglês. Quando começou o francês eu
tive dificuldade em aprender, daí eu mudei para uma escola tradicional por três
anos e depois tive problemas de estudos. Fui me adaptando ao estudo, mas eu
não era das melhores alunas. Enquanto isso eu fazia curso de decoração e
terminei o curso em uma escola de artes. Eu sempre gostei de coisas artísticas,
mas foi difícil terminar porque uma hora entrou arquitetura, tinha que fazer
matemática e sai muito da arte.
O meu pai é economista, administrador de empresas e o hobby dele é
pintar quadros. Então eu acho que eu tenho um pouco de artista. Sempre gostei
de arte e moda.
Hoje eu estou com quarenta anos e o meu marido sempre fala pra mim que
eu deveria fazer moda ou mexer com cabelo e maquiagem, pois hoje o que eu
gosto é isso. Hoje eu estou mais velha e faria um curso de moda. Até vi em uma
faculdade. Meu lado é mais artístico e gosto de fantasiar e acho que meu lado é
mais esse.
Agora eu tenho filho de vinte anos e sempre vivi cuidando e para a família. Mas
agora eu to mais vivendo mais pra mim, eu estou procurando mais os meus
89

objetivos, meu filho está grande. Eu vivia mais para a minha família e acho
importante, pois eu fui criada pelos meus avós e depois eu fui criada por madrasta
e achei importante o meu filho ser criado por uma mãe. Para mim isso valia muito
à pena. Se ele fosse criado por outra mãe, por uma babá eu acharia estranho.
Isso para mim significa muito: criá-lo de perto. A criação do europeu é diferente da
do brasileiro, pois é criado por uma mãe e não por babá. Então isso já é diferente
e as pessoas estranham esse meu lado, mas eu acho muito importante, pois hoje
o meu filho tem outra educação, ele fala diferente, não fala palavrão, tem uma
educação fina tudo porque eu que criei, a mãe, e não uma babá, sogra ou
ninguém. Então, eu acho a educação muito importante você dar pro filho e eu
aprendi isso com a minha família também. Acho que não é importante trabalhar
fora, pensar que precisa de dinheiro e trabalhar feito uma louca. Aí você vê os
seus filhos envolvidos com drogas, no mundo, tudo...não sei. Acho importante
você dar uma estrutura, uma base boa, para depois quando adolescente não se
perderem com drogas e bebidas como vi muito na Europa. Para mim foi
importante dar esse base pro meu filho, hoje vejo que ele está maduro e pode
seguir a vida com confiança e eu agora vou fazer meu cursos.
Estou com quarenta anos, sei que já passaram várias fases da minha vida,
mas sou nova ainda e vou recomeçar. Estava vendo os cursos, mas vieram uns
problemas financeiros e não pude fazer. Me achar profissionalmente é o principal
agora na minha vida, pois o resto eu já trabalhei. Já trabalhei o emocional, preciso
achar agora o meu lado profissional.
90

*Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos envolvidos.

Anexo D
Autobiografia Livre realizada ao final da terapia breve com embasamento
ericksoniano

Eu nasci na Europa em 1969. Morei por lá por dois anos e vim para o Brasil
com o meu pai quando ele se separou da minha mãe. Morei com os meus avós, e
com o meu pai junto, até os sete anos. Quando meu pai se casou de novo, eu fui
morar com ele.
A gente estudava em um colégio tradicional muito difícil de São Paulo. A
gente tinha que aprender quatro línguas: português, francês, alemão e inglês.As
matérias desse colégio eram todas em alemão ou em português. Eu fazia vários
cursos: decoração, corte e costura, tênis...Eu fazia tênis e adorava esporte. O
meu forte era esporte mesmo, não estudar.
Daí fiz quinze, dezesseis, dezessete anos e conheci meu marido. Conheci
o irmão dele no colégio e aí conheci meu marido e me casei com vinte anos.Tive
filho com vinte anos também.
Hoje eu estou com quarenta anos e tenho um casamento muito feliz e
muito estável.
Esse tratamento foi muito feliz pra minha vida porque hoje eu estou curada,
estou liberta, muito feliz e voando por aí que nem o passarinho que eu pintei aqui
no papel.
91

*Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos envolvidos.

Anexo E
Questionário respondido antes da terapia breve com embasamento ericksoniano

QUESTIONÁRIO DA HISTÓRIA DO SINTOMA


(ADAPTAÇÃO DO MODELO PROPOSTO POR O´HALON A PARTIR DOS
CONCEITOS DE MILTON ERICKSON)

Sintoma apresentado: Psoríase.


14)Quando começou o seu sintoma?
Em 1990.
15)Quais eram as circunstâncias naquele momento de vida?
Eram muito problemáticos, pois era nova e não sabia lidar com o meu filho.
16)Você percebe em qual momento do ano, do mês, da semana ou do dia
o sintoma se manifesta?
Quando tenho problemas emocionais relacionados ao meu pai e a minha
irmã.
17)Qual é a localização do sintoma?
Cabeça.
18)Qual é a intensidade do sintoma?
Suportável.
19)Qual é a duração do sintoma?
Com a cortisona e com terapia dura 3 dias.
20)Você percebe se o sintoma ocorre quando está sozinho ou na
presença de alguém?
Não, sozinho.
21)Se sim, quem está presente quando o sintoma se manifesta?
Sozinha.
22)Como é ou como são essas presenças?
Não há.
23) Existe algum lugar que você percebe que o sintoma se manifesta com
maior freqüência?
Na cabeça (em frente).
92

24)O que se passa normalmente em seguida da manifestação do


sintoma?
Coça.
25)Nomeie o seu sintoma.
Pulga.
26)Por quê esse foi o nome escolhido?
Porque tenho a sensação de que anda na cabeça.
93

Anexo F
Questionário respondido ao final da terapia breve com embasamento
ericksoniano.

QUESTIONÁRIO DA HISTÓRIA DO SINTOMA


(ADAPTAÇÃO DO MODELO PROPOSTO POR O´HALON A PARTIR DOS
CONCEITOS DE MILTON ERICKSON)
Sintoma apresentado: Psoríase
1) Quando começou o seu sintoma?
Há 16 anos.
2) Quais eram as circunstâncias naquele momento de vida?
Era muito nova, insegura e com medo. Tinha 20 anos e me casei nova.
3) Você percebe em qual momento do ano, do mês, da semana ou do dia
o sintoma se manifesta?
Quando ficava preocupada com algum problema que eu não conseguia
resolver ,ou os problemas de fora que me atingiam ou como lidar com o
meu filho.
4) Qual é a localização do sintoma?
A cabeça.
5) Qual é a intensidade do sintoma?
Hoje eu estou curada.
6) Qual é a duração do sintoma?
Hoje nenhuma.
7) Você percebe se o sintoma ocorre quando está sozinho ou na
presença de alguém?
Sintoma nenhum.
8) Se sim, quem está presente quando o sintoma se manifesta?
____
9) Como é ou como são essas presenças?
_____
10) Existe algum lugar que você percebe que o sintoma se manifesta com
maior freqüência?
94

_____
11)O que se passa normalmente em seguida da manifestação do
sintoma?
___________
12)Nomeie o seu sintoma.
O meu sintoma hoje é um pássaro.
13)Por quê esse foi o nome escolhido?
Estou livre do sintoma e da doença e estou muito feliz por ter feito este
trabalho com as psicólogas. As psoríases passaram. As coceiras pareciam
pulgas andando na minha cabeça, mas a cura foi trabalhada com hipnose,
terapia, Deus e as duas grandes psicólogas me ajudaram a ser mais
independente ficando cada dia mais forte e trabalhando meus pontos
fracos. Hoje estou liberta e voando que nem um passarinho. Obrigada.
95

Anexo G
Transcrição das sessões

Sessão 1
A paciente concordou com a proposta e com as condições da presente
pesquisa e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Realizou o
desenho que representasse seu sintoma (psoríase), respondeu ao questionário
semi-dirigido e escreveu a autobiografia livre.

Sessão 2
Paciente: Eu acho que a minha psoríase tem muito fundo emocional. Muito.
E eu acho que melhorou muito com a acupuntura que estou fazendo.
Psicoterapeuta: Há quanto tempo você está fazendo acupuntura?
Paciente: Faz sete meses. Eu até percebi que emagreci e desinchei olhando
fotos minhas. Passo Prosalic, um líquido na cabeça para a psoríase. Só tenho na
região do cabelo. Descama, meu cabelo cai, coça. Eu tenho que usar um
shampoo anti-caspa. Eu começo a inchar muito, não consigo fazer regime. Estou
quase há um ano sem cortisona. Foi muito bom para mim ter feito acupuntura. Me
tirou a ansiedade e me fez emagrecer. Mas agora está começando a voltar
porque estou tendo alguns problemas e percebi que voltou. Aqui atrás da cabeça
estou com uma enorme. Estou aqui para entender o que está em acontecendo,
mas é muito fundo emocional. E eu tenho uma irmã gêmea. Ela não tem isso.
Psicoterapeuta: Você mora no Brasil desde quando?
Paciente: Eu vim com dois anos para cá. Tenho mais uma irmã que mora na
Suíça. Meu pai se separou da minha mãe. Os dois são da Europa. Minha mãe já
morreu. Ela morreu aos 40 anos. Hoje o meu pai está com 70 anos.
Psicoterapeuta: Você é casada?
Paciente: Sou. Tenho um filho de 19 anos. Ele estuda administração de
empresas. Casei cedo, aos 20 anos. E. Mas o meu fundo emocional é muito..
É...totalmente emocional e é ligado ao meu pai.
Psicoterapeuta: Me conte um pouco.
Paciente: Uma pergunta: Você quer que eu comece...?
Psicoterapeuta: Desde o início.
96

Paciente: O problema da minha infância, o problema..?


Psicoterapeuta: Não, vamos começar a falar do início da psoríase. Do que você
acha, do que depois da infância...
Paciente: (interrompe) Eu acho que eu sei onde começou a minha psoríase.
Psicoterapeuta: Onde você acha que começou?
Paciente: Deixa eu lembrar agora. Estava no quarto, no sítio, minha cabeça
estava coçando e mostrei para a minha sogra.
Psicoterapeuta: Em que ano era?
Paciente: Foi quando meu filho tinha 4 anos de idade. Foi a fase que eu batia no
meu filho. Agora que estou lembrando
Psicoterapeuta:Ah.. Da agressividade
Paciente: Tem todo um porque isso. Quando ele tinha dois anos, foi em 1983,
começou a coçar a minha cabeça e fui mostrar pra sogra. Ela disse: você esta
com psoríase na cabeça inteira. Perguntei o que era isso e ela disse que eu
estava com coceira. Porque eu estava muito nervosa, tinha muitos problemas em
relação ao meu filho, eu batia muito no meu filho..
Psicoterapeuta: Com o seu filho?
Paciente: Hmmm agora que eu to me...que eu to falando porque...Estou me
...agora que você está falando porquê, eu estou entendendo o porquê.
Psicoterapeuta: Exatamente. Você vai entender o porquê.
Paciente: Eu não tava entendo porquê vem a psoríase, agora eu to entendendo o
porquê.O fundo da psoríase é esse. Nunca tratei isso. Agora que está me vindo à
mente.
Psicoterapeuta: Você nunca tratou isso?
Paciente: Não.Só fiz terapia por causa do meu filho, tá.
Psicoterapeuta: Você não tinha ligado...?
Paciente:Não, agora que veio na minha mente quando você falou “ que data”?
Lembrei da data e que o meu filho era pequeno e que a minha sogra viu. Agora
que me veio na mente.
Psicoterapeuta: Atualmente ele está com quantos anos?
Paciente: 19 anos.
Psicoterapeuta: Então faz 17 anos.
97

Paciente: Faz muito tempo que estou com a psoríase.E ela vai e volta e eu boto
essa medicação. Mas eu não tratei ela, eu tratei o meu problema com o meu filho
com as psiquiatras.Tratei o problema do meu pai, porque o meu pai batia...
Psicoterapeuta: Batia em você?
Paciente: É. Em mim e na minha irmã gêmea. Então eu tratei isso e consegui,
consegui ficar em paz com meu filho, assumi meus erros perante todo mundo...
Foi um tratamento de mais de três anos com psiquiatras, psicólogos e remédios
até eu ter alta. Então eu assumi o tratamento e fiz tudo direitinho. Foi uma coisa
ótima. Assumi perante Deus, perante todos, eu assumi! Mas agora que você falou
“quando foi?” me deu um “click” na cabeça, foi quando meu filho tinha 3, 4 anos
de idade.
Psicoterapeuta: Que você se viu violenta na relação. Porque essa é uma
constatação.
Paciente: É.. Isso veio na minha cabeça agora e estava esquecido.
Psicoterapeuta: Pode descruzar um pouco as pernas, sente-se direito. Eu vou ler
um pouquinho, o que é normalmente o que a gente faz. Em hipnose devemos ter
essa postura, pode descruzar os braços.
Paciente: É eu preciso relaxar.
Psicoterapeuta: Isso precisa relaxar, vamos relaxar a cabeça. A psoríase na
verdade é a formação de uma couraça, de uma armação, é uma coisa de
fronteira, a couraça de caráter. Medo de se machucar, por detrás dessa casca
dura esconde-se um caroço mole. De uma limitação de todas as direções. Não se
deixar nada mais para entrar ou sair. O extremo da delimitação, da conduta ao
isolamento, da delicada perda de uma importante matéria de vida. Então, a
formação da couraça dá-se no sacrifício para fortificar a fronteira, rompendo-se
então essas defesas reforçadas que sobrevém de graves perdas. A psoríase
normalmente faz um paralelo com a Alemanha Oriental. Ela nos oferece a
imagem política quando você pensa no muro, naquela couraça.
Paciente: Hmm... Deixa eu falar uma coisa. Nessa época, quando meu filho
estava com 3, 4 anos, a minha mãe morreu.
Psicoterapeuta: Vamos então apontar a sua história de vida.
Paciente: Me lembro com dois anos me separando da minha mãe. Minha irmã e
eu com o meu pai do lado. Eu com dois anos vindo para o Brasil.
98

Psicoterapeuta: Quando seu filho tinha dois anos a psoríase aparece, e quando
seu filho tinha dois anos a sua mãe morre. Vamos pensar nesses padrões
repetitivos da sua vida. Respire profundamente e me conte um pouco da história.
Da história que você sabe. (silêncio de 2 minutos, a paciente está com os olhos
fechados e chora muito). Quem é você. Deixa vir. Vá soltando lentamente a
respiração, respire profundamente. Na hora certa e no momento certo você vai
começar a falar um pouquinho da sua história. Eu deixo aqui uma frase do Platão
que gosto muito que diz “Tudo aquilo que a gente compreende, a gente perdoa”.
Então vamos compreender a sua história de vida, vamos ressignificar.
Paciente: Eu não sei muito da minha história.
Psicoterapeuta: Você sabe que nasceu de um pai e de uma mãe e viveu dois
tipos de história: a história oficial e a história íntima, que temos dentro da nossa
mente, da nossa realidade. Importa a história que você considera.
Paciente: É de pequena que você está falando?
Psicoterapeuta: Você veio ao Brasil com 2 anos. O que aconteceu com o papai e
com a mamãe?
Paciente: Eu sei que nasci na Europa. Eu vivi dois anos com a minha mãe. Aí
eles se separaram... (chora e interrompe e fala). Não sei dizer direito porque o
meu pai fala muita mentira.
Psicoterapeuta: A história que você vivenciou foi que você viveu dois anos com a
sua mãe. Você e a sua irmã...
Paciente: A gente veio para o Brasil. Nós éramos três filhas. A minha irmã dois
anos mais velha ficou na Europa com a minha mãe e eu não sei por que
(entonação de braveza). As gêmeas, minha irmã e eu, ficamos com o meu pai e
eu não sei por quê.
Psicoterapeuta: Então a irmã mais velha tinha quatro anos e a sua irmã e você,
dois anos.
Paciente: Nós viemos para o Brasil porque os pais dos meus pais moravam aqui
e tinham uma situação de vida boa. Moramos com eles para eles ajudarem a criar
a minha irmã e eu. Isso foi uma coisa boa, maravilhosa, esse relacionamento com
a minha vó que eu me dava muito bem. Minha irmã também. Morávamos na
cidade de São Paulo mesmo eu um bairro de classe alta. Meu pai tinha várias
namoradas, várias! Levava para casa, tinha uma, duas, três...
Psicoterapeuta: E como você se sentia?
99

Paciente: Eu achava péssimo. Via ele saindo um dia com uma, outro dia com
outra..
Psicoterapeuta: Sua irmã e você formaram vínculo com alguma delas?
Paciente: Com uma só, que era professora do colégio onde estudávamos. Daí
ele conheceu outra que era do condomínio lá da praia e estão juntos até hoje.
Psicoterapeuta: Vocês estavam com quantos anos?
Paciente: Dez anos. Ele conheceu, resolveu casar e aí mudou tudo! Foi uma
fase dificílima.
Psicoterapeuta: Ela aceitava vocês?
Paciente: Aceitava, mas eu não queria morar com ela de jeito nenhum. Eu queria
morar com a minha vó. Eu não aceitava.
Psicoterapeuta: E como era você naquela época com dez anos?
Paciente: Meu pai não deixava mais a gente ter ligação com o meu vô. Então a
gente se afastou...teve um afastamento.
Psicoterapeuta: Então a relação foi cortada?
Paciente: Cortou! Foi péssimo. Isso daí mexeu muito comigo. Já começou aí,
entendeu?
Psicoterapeuta: E qual foi o contato com a mãe lá na Europa?
Paciente: Contato nenhum. Nenhum.
Psicoterapeuta: Vocês não voltavam a Europa?
Paciente: Voltávamos, mas pouco. E quando estávamos lá nos encontrávamos
duas ou três vezes e acabou!E ponto.
Psicoterapeuta: Era uma coisa muito fria então?
Paciente: Muito fria. Com os meus avós também era uma coisa muito fria. Tudo
frio, muito frio. O mais difícil mesmo foi com a minha avó.
Psicoterapeuta: Ela foi praticamente a sua mãe então?
Paciente: (concorda emocionada fazendo um movimento com a cabeça)
Psicoterapeuta: E o que aconteceu com a sua avó?
Paciente: Ela morreu de câncer, mas antes acabou voltando lá pra Europa
porque brigou com a minha madrasta também. Foi tanta briga que acabou
voltando pra lá, ficou doente e morreu. A minha mãe também morreu de câncer.
Psicoterapeuta: Com quantos anos você estava?
Paciente: 15, 16 anos.
Psicoterapeuta: Me conta uma coisa.E as gêmeas? Como elas são?
100

Paciente: Muito unidas.


Psicoterapeuta: Muito unidas. Vocês se apegaram uma à outra.
Paciente: Muito. A gente fez uma apêndice.
Psicoterapeuta: Quem que era a mais brava?
Paciente: A minha irmã que é a nervosa e eu sou a recoada. Eu sou muito...A
minha irmã é a dominadora e eu sou..Não sei porque é assim, mas teve isso de
ela me proteger porque me batiam mais. Muito.
Psicoterapeuta: Quem?
Paciente: Meu pai e minha madrasta,
Psicoterapeuta: Te espancavam?
Paciente: Uh! Me socavam na cabeça, me jogava da escada.
Psicoterapeuta: Ela mudou quando casou com o seu pai?
Paciente: Não! Quando ela casou, ela já batia muito na gente.
Psicoterapeuta: Então ela tinha alguma coisa com as gêmeas?
Paciente: Não sei! Ela batia... Batia na cabeça, não tinha paciência de estudar
comigo e me batia na cabeça com a caneta. Me batia na cabeça. Me dizia que eu
era burra porque não conseguia tirar dez.
Psicoterapeuta: Você tinha dificuldade de estudar?
Paciente: Tinha. (se emociona). Ela me batia com a caneta na cabeça! É horrível.
Psicoterapeuta: E o seu pai? Ele sabia disso?
Paciente: Sabia de tudo, mas ele só queria saber de trabalhar, trabalhar,
trabalhar. Ele era executivo de uma multinacional. E eu tinha muitas dificuldades
na escola. Estudava numa escola puxada e não entendia quando tinha alemão e
francês. Eu tinha tanta dificuldade! Eu não sei por quê! Talvez se eu tivesse ido a
psicólogos teria me ajudado muito.
Psicoterapeuta: Com certeza.
Paciente: Eu tenho uma certa dificuldades com línguas. A psiquiatra já me falou
que quando chega no cérebro eu demoro.
Psicoterapeuta: Você é destra ou canhota?
Paciente: Sou destra mesmo. Então, ela me batia na cabeça, falava que eu era
burra, meu pai falava que eu não iria conseguir nada na vida. Pra mim isso
sempre foi falado.
Psicoterapeuta: E batia na sua cabeça?
Paciente: Muito.
101

Psicoterapeuta: E batia mais na sua cabeça.


Paciente: Sempre na cabeça.
Psicoterapeuta: E você pode imaginar como que você batia no seu filho?
Paciente: Ah, arrastava ele pelo chão puxando pelo braço. Mas foi só uma vez.
Psicoterapeuta: Uma vez só?
Paciente: Não. Umas quatro vezes.
Psicoterapeuta: E na verdade seu filho tinha dois anos. O que ele fazia para te
deixar assim?
Paciente: Aah eu não sei! Qualquer coisa, qualquer besteira me irritava. Era
hereditariedade. Eu estava repetindo o que faziam em mim.
Psicoterapeuta: O seu pai também batia em você?
Paciente: Batia. Os dois me batiam. E na minha irmã também. Ela chegou a fazer
b.o. contra o meu pai quando já estava casada.
Psicoterapeuta: Então tinha muito essa coisa da agressividade.
Paciente: É. Veio do meu pai. Uma coisa muito forte, muito violenta.
Psicoterapeuta: E depois que a sua avó paterna faleceu, o que aconteceu com o
seu avô?
Paciente: Ficou na Europa. Ele se dava muito bem com o meu pai e também já
morreu. Quando eu me casei fui pra casa do meu vô porque fui mandada embora
da minha casa.
Psicoterapeuta: Por quê?
Paciente: Porque meu avô também estava super maluco. Parece tudo...tudo
louco.
Psicoterapeuta: E a sua agressividade? Apareceu, como você diz, só com o seu
filho? Ou surgiu em outras situações?
Paciente: Acho que foi pós -parto.
Psicoterapeuta: Você teve depressão pós -parto?
Paciente: Acho que sim. Foi pouco depois.
Psicoterapeuta: Foi na questão da maternagem?
Paciente: Foi. Eu nunca fui agressiva. Eu era recoada.
Psicoterapeuta: A psoríase surge com esse material recalcado, que vem, vem...
E uma das coisas que você pode ter marcado, e muito, é essa madrasta batendo
muito na sua cabeça. Estoura bem na cabeça.
Paciente: Hmm.. bom...bom...é.Faz sentido.
102

Psicoterapeuta: Até então não tinha tanta agressividade. E aonde estourou?


Paciente: É na cabeça.
Psicoterapeuta: E a pele é a última coisa para sair. É a fronteira. Aquilo que você
não gosta em você.
Paciente: É difícil.
Psicoterapeuta: E a psoríase tem aparecido no decorrer desses 17 anos? Em
que momentos ela aparece?
Paciente: Na minha vida?Ela? A madrasta?
Psicoterapeuta: Não, a psoríase.
Paciente: Quando tenho problemas ela vem. Como agora, esses financeiros.
Psicoterapeuta: E aí ela vem?Vem a agressividade também. Você tem vontade
de explodir? De lutar contra isso?E você contém?
Paciente: Estou preocupada com o meu marido, preocupadíssima com ele e a
depressão que ele estava. Essa preocupação com o dinheiro (o marido da
paciente também estava sendo atendido pela mesma psicoterapeuta).
Psicoterapeuta: Ele está melhor, aquela fase ruim passou. Sua preocupação
nunca foi o dinheiro?
Paciente: Não, nunca foi. Quando eu tinha muito dinheiro eu não era feliz.
Psicoterapeuta: E no seu marido também aparece a psoríase quando ele está
em ataque, não?
Paciente: Aparece. É... E aconteceram umas coisas que a psoríase ta
procriando.
Psicoterapeuta: Que foi defrontar com a agressividade?
Paciente: É, tá louco!
Psicoterapeuta: E toda essa situação de agressividade é como se você
segurasse essa energia para dentro de você. E rompe em você a psoríasee, que
é aquela coisa da energia que você não pode conter. Aquilo que a gente não
pode mudar vamos então ressignifcar tudo isso que foi muito difícil.
Paciente: Eu falei pro meu marido que eu não estou agüentando mais,
principalmente aquele irmão dele se metendo na nossa vida também. Eu não sei
o que faço, não agüento mais. O meu marido agora quer parar a vida dele para
cuidar do pai. Eu falei para ele parar que isso já está demais. E parece que eu fico
me segurando e estoura até o colesterol.
103

Psicoterapeuta: Você ta me falando que tem essa energia, tem que liberar. Você
precisa disso. Alguma coisa, alguma atividade para você soltar.
Paciente: Eu sei... Eu preciso disso. Eu fazia muito isso antes. Tá tudo aqui pra
dentro.
Psicoterapeuta: Fechado?
Paciente: É eu falei pro meu marido. Eu gosto de viajar, ele não gosta de viajar.
Preciso pegar uma estrada. Já falei pra ele. Os pais dele já estão... Você sabe...
Já falei... Nós temos que viver. Eu não estou agüentando.
Psicoterapeuta: Talvez seja a hora de você retomar a sua vida mesmo.
Paciente: Eu já falei para ele que não agüento. E eu seguro.
Psicoterapeuta: Vai segurando, vai segurando. Talvez seja hora de você prender
a se defender de outra maneira e aliviar seu corpo dessa tarefa. Essa couraça
pode dizer para não entrar em contato com você. Um aprisionamento.
Paciente: É eu sei disso. Acho que eu tenho que ficar mais afiada com o meu pai,
isso acaba comigo. Sabia?
Psicoterapeuta: Posso te entender. Dói?
Paciente: Me dói essa indiferença dele.
Psicoterapeuta: Você sente que é como se ele não soubesse ser pai?
Paciente: Ele não sabe. Não sabe nem um pouco. Ai, mas é difícil viu (chora).
Psicoterapeuta: Você acha que pode compreender quem é esse pai?
Paciente: Ele já foi chamado por psicólogas antes. Ele vai lá, fala que gosta das
filhas e volta para o mundo dele. É muito egocêntrico. Parece esquizofrênico. É
pintor, vive só para ele, executivo, ele se ama, todo narcisista, não acredita em
Deus, só ele tem o poder.
Psicoterapeuta: E se ele for doente. Você pode compreender?
Paciente: Ele é frio.
Psicoterapeuta: Tem esse embotamento afetivo?
Paciente: Tem. Muito.
Psicoterapeuta: E não consegue formar vínculos?
Paciente: Ele é assim. Assim.
Psicoterapeuta: Talvez compreendendo você possa perdoá-lo.
Paciente: Humm (faz silêncio e mexe a cabeça como se concordasse).Sei que
ele deve sofrer muito na vida. Fora que ele acabou com a minha herança.
Psicoterapeuta: Foi?
104

Paciente: Ele fez a cabeça do meu vô para desfazer o testamento com a minha
mãe. Ele faz coisas diabólicas, não de pai.
Psicoterapeuta: Você pode criar uma proteção para essa crueldade dele.
Paciente: É coisa de louco mesmo. Louco.
Psicoterapeuta: Adianta ficar buscando o contrário?
Paciente: Agora me deu um click. Ele é louco mesmo. Parece que entendo. Não
posso e nunca pude esperar nada. Ele tem coisas infantis também.
Psicoterapeuta: O que por exemplo?
Paciente: Esquiar, andar de bicicleta, blog, fotoblog.coisas ridículas e infantis. Se
coloca com umas fotos com máscara de macaco, de palhaço.
Psicoterapeuta: Quantos anos ele tem agora?
Paciente: Tem 80.
Psicoterapeuta: Você tem alguma lembrança boa dele?
Paciente: Não, não. Nenhuma. Nenhum beijo, nenhum abraço, nada. Nada para
te falar. É uma coisa triste.
Psicoterapeuta: Ele teve filhos com a segunda mulher?
Paciente: Não conseguiu. Morreram três quando ainda tinham meses.
Psicoterapeuta: Essa história toda me passa que você precisa de uma proteção
para você mesma. Talvez precise liberar isso.
Paciente: É estranho que nem lembro mais da minha psoríase. Eu esqueço dela.
É meu marido que sempre vê. Estou com uma na cabeça mas não está me
incomodando. A acupuntura que eu fiz acho que ajudou também;
Psicoterapeuta: Você acha então que está ressignificando todo esse material?
Paciente: Acho que tudo está ajudando. Fiz terapia o ano passado inteiro.
Psicoterapeuta: Mas antes ela te incomodava?
Paciente: Muito. Inchava, coçava, ardia. Eu tive que tomar cortisona e engordei
dez quilos. Caía meu cabelo. Agora já emagreci.
Psicoterapeuta: Tinha um grande incômodo então?Tinha um preço né?
Paciente: É.
Psicoterapeuta: Quero que você feche os olhos agora um pouquinho. Pense em
tudo isso que a gente conversou hoje. Como começou a sua psoríase. Como a
sua sogra te chamou a atenção. Agora vamos deixar todo esse material em uma
caixinha para que na próxima semana a gente abra novamente essa caixinha.
Pense que tudo aquilo que a gente compreende, a gente perdoa. Toda a sua vida,
105

todas as histórias. Quando se é capaz de perdoar, não há mais necessidade de


formar essa couraça. Pense nisso e vá voltando devagar.
Paciente: Eu relaxo fácil, sabia? Muito fácil! Muito bom.
Sessão 3
Psicoterapeuta: Vamos lá. Como você descansa?
Paciente: Eu descanso, eu fecho o olho, eu penso em outras coisas.
Psicoterapeuta: O quê você mais gosta, montanha, mar?
Paciente: Mar.
Psicoterapeuta: Pode fechar os olhos. Presta atenção agora na sua respiração.
Respira...Respira...Enche os pulmões..Inspira o ar...Depois vai esvaziando... A
imaginação ganha da vontade, portanto nesse momento você pode imaginar que
está em uma praia, sinta os seus pés na areia, vendo o mar, sentindo a brisa do
mar. Enquanto a sua mente consciente vai me escutando, a sua mente
inconsciente vai viajando até a praia e você vai entrando em contato com a brisa
do mar. Respira profundamente... Você vai relaxando e vai entrando cada vez
mais em uma viagem interna... Em sua mente inconsciente.. Essa mente que é
conhecida como a parte sábia.. Vai se sentindo protegida na poltrona...Você vai
entrando em uma viagem em sua mente inconsciente....E enquanto você vai
respirando a brisa do mar, vai se sentindo protegidamente, saudavelmente. Você
começa a sentir agora a areia em seus pés, a água do mar... Sentindo-se bem
confortável... Protegidamente... sentindo a alegria do contato com a água,
brincando com a sua pele, relaxando, protegidamente, saudavelmente, sentindo-
se uma criança, essa criança eterna que temos dentro de nós. Sentindo a brisa do
mar...A criança feliz e alegre, aquela criança que constrói o castelo de areia, que
sonha que busca a alegria no contato da água, que tem vida pura, saudável, cada
vez mais, protegidamente, saudavelmente, é uma relação em que você entra no
inconsciente, e esse mar vai buscando no coração cada vez mais confortável.
Quando você entra em contato com o teu inconsciente a tua parte sábia, a parte
que sabe tudo, nos protege, nos fortalece, entre, em contato com o seu eu,
sentindo a pele cada vez mais renovada, sua pele cada vez mais saudável,
protegida e saudável de todas as impurezas, de todos os sentimentos, de todos
os medos, vai renovar cada célula do seu corpo, e um novo corpo transparente,
transparente como essa água, livre como esse mar, forte como esse mar, esse
corpo saudável, uma pele mais saudável, mais firme, mais rigorosa, mais
106

translúcida, e essa sensação cada vez mais harmônica com o seu corpo, com
esse mar, a sua vida e você com total domínio sobre todas as emoções e você
tem todo o domínio do seu corpo.

Vai agradecendo todas as partes do meu corpo, e agradeça todas as células do


seu corpo, todos os órgãos, todas as partes do meu corpo. Agradeça à vida,
agradeça papai e mamãe pela vida, sem o papai e sem a mamãe jamais teria
vida, fique um pouquinho na praia e na sua imaginação trazendo uma pessoa à
sua mente, talvez você pense na mamãe, naquela mamãe aquela que ficou longe,
talvez você pense em falar algumas coisas para a sua mãe, palavras não ditas,
mas sentidas no coração daquela menina que vivia com o pai em outro país. E
neste momento então, essa menininha vai despertando no colo dessa mãe, e esta
mãe, traga as lembranças que vieram. Essa técnica nos permite ressignificar,
reinventar uma história bonita, romântica que talvez acalme o nosso coração.
Então nesse momento recrie essa história com a sua mãe, sinta o amor da sua
mãe, você que também é mãe sabe quanto uma mãe passa alguns meses
sonhando com seu filho na barriga tendo uma relação pela mesma luta de pai e
mãe, pela aquela luz que virá, para o bebê ela é tudo que o bebê tem e quando
ela olha aquela criatura tão bonita, tão linda e não há nada que se compare a um
abraço gostoso de mãe, sinta agora abraçada com sua mãe, protegida pela sua
mãe e como às vezes a gente consegue ver cenas inesquecíveis na beira da
praia, imagina você agora sendo abraçada, rindo muito, feliz, onde os braços te
protegem muito forte, sinta a sensação de acalentar, de proteger só você e sua
mãe. E agora você pode se despedir dessa mãe da sua imaginação e voltar a ter
o seu tamanho, revivenciando, respira e volte a caminhar nas areias e volte para
o lugar onde você começou a imaginar. Respira com a força vital renovada, com a
pele pura e límpida, com o corpo saudável e protegida, faça três respirações, e
vai retomando à sua mente consciente. Vai voltando, abra os olhos no seu tempo
e no seu momento. E agora então você contar esta experiência para nós.
Psicoterapeuta: Na hipnose nós temos uma meta, existe uma coisa chamada
relaxamento, existe outra coisa chamada meditação e outra coisa chamada
hipnose.
Hipnose eu tenho que ter uma meta, então desde que eu ligo o (gravação
incompreensível) o que normalmente a gente faz como hipnólogo? A gente tem
107

uma estratégia, porque eu quero chegar num ponto, eu quero acionar um ponto,
então esse ponto, por isso que eu falei com a você a primeira vez, eu tenho esse
ponto, então o quê eu fiz? Eu quero resgatar as células saudáveis do teu corpo.
Quando eu pergunto para a pessoa assim: onde ela descansa mais? Vamos
supor no mar, então fica mais fácil ela já tinha essa imagem, você é boa de
imaginação, de repente a pessoa quer no campo, então eu a levo pela floresta ai
eu tenho que achar um contato com a pele, então o mar para mim é mais fácil
porque você estava lá entendeu? E aí ele renova a pele. Então ele renova, ele
limpa. Eu precisava trazer sua mãe para o inconsciente, porque já falou da outra
vez. Eu fiz um link com aquilo, a gente utiliza, é o princípio de Erickson da
utilização, eu utilizo toda a tua história e faço uma nova leitura, eu ressignifico
essa história.
Paciente: O engraçado é que eu sei tudo o que eu ouço né?
Psicoterapeuta: Sim. Então amanhã que você vai ter que enfrentar um dia difícil,
que tem raiva, que tem energia. Tem que querer para falar: “não, estou indo,
chega, vou me proteger”. Exatamente. “vou me proteger”. Eu quando tenho que
enfrentar um dia difícil monto uma couraça.
Paciente:Eu estou mais aliviada. Mais leve. A minha psoríase piorou.
Psicoterapeuta: Então, por que piorou? Ela piorou porque nós estamos
mexendo.
PacienteEu sei.
Psicoterapeuta: Hoje eu dei o primeiro ponto, que foi o primeiro banho de mar
que vai liberar, na semana que vem a gente já vai fazer com a imagem do que
sai.
Paciente:Eu sinto uma coisa, eu tenho medo muito de perda.
Psicoterapeuta:Um sentimento de perda.
Paciente:Eu tenho medo de perda minha irmã agora, a gente está brigando
muito.
Psicoterapeuta: Na verdade, a perda para você seria a separação da sua irmã,
né? Vamos enfrentá-la.
Paciente: É que ela xinga, ela me xingou.
Psicoterapeuta: Ela está na raiva, né?
Paciente: É. Mas é que ela é muito materialista.O Deus dela é o dinheiro, isso
afunda.
108

Psicoterapeuta: Então essa primeira coisa que a gente tem que fazer para rever
este dinheiro, Então rever seu dinheiro, toda essa aplicação e aí quando tiver
essa liberdade, essa devolução aí nós resgatamos. Eu sempre digo isso: amores
que não morrem que nunca deixam de existir, pai, mãe e irmãos.
E você já fez os dois lados, já teve muito dinheiro, isso é um. Já teve dinheiro e
teve amor.
Paciente:Para mim não era amor. Saúde que é o mais importante. Harmonia na
família. Embora este dinheiro esteja trazendo muitas brigas, por falta e vice-versa.
Sabe, eu fico muito preocupada com esse dinheiro porque o meu cunhado teve
muita inveja desse dinheiro.
Paciente: Novo testamento ((gravação incompreensível) judeu, olha aqui ( nome
presente em uma passagem, da Bíblia). Estava escrito! Não tem coincidência,
não tem, (gravação incompreensível), (cita o nome novamente), o quê quer dizer
isso?
Psicoterapeuta:Não tem.
E ele (gravação incompreensível) totalmente, porque não pegou e abriu e
(gravação incompreensível).
Paciente:É esse nome, o quê quer dizer?
Psicoterapeuta:(cita o nome...)
Paciente: Quer dizer alguma coisa? Tem a ver.
Psicoterapeuta: Claro que tem
Paciente:Falei para o meu marido: tem haver alguma coisa.
Psicoterapeuta:Claro que tem ele não te perdoou, da forma como foi feita.
Paciente:Ele está com uma namorada ótima.
Ama ele, ama, ama.
Psicoterapeuta: A gente não escolhe, ele não superou a frustração, o seu
cunhado não tinha sido frustrado, este é o grande problema, as pessoas não
(gravação incompreensível) muito pequenas então querem tudo, querem
manipular tudo, querem controlar tudo e não controla, o outro vai embora.
Paciente:Ele também tem que perder essa também. Ela ficou assustada, viu.
Psicoterapeuta:Se ele continuar tendo esses ataques...
Paciente: Mas ela ficou assustada, ficou quieta daí ela tomou a direção e falou
para ele “você vai ter que pedir desculpas para todo mundo, você vai pedir
desculpas para o ( nome de parente)”. Fez um por um pedir desculpas.
109

Psicoterapeuta: Temos que encerrar. Nos vemos na semana que vem.

Sessão 4
A paciente trouxe uma foto de quando tinha três anos no colo de sua mãe na
Europa e ofereceu de presente à psicoterapeuta e à observadora participante.
Psicoterapeuta: E essa menina continua com a franjinha!
Paciente: (risos) Pois é! Eu corto assim porque é meu marido quem gosta e
pede. Faz tempo que estou com ela.
Psicoterapeuta: Muito bonita a foto. Onde você a guarda?
Paciente: Vou colocar em um quadro. A minha mãe era linda, linda. Muito bonita.
Isso porque você não viu a minha irmã gêmea.
Psicoterapeuta: Como ela é?
Paciente: Igualzinha! Muito bonita. Ai, esse final de semana fiquei até doente de
tanto que briguei com a minha irmã.
Psicoterapeuta: O que aconteceu?
Paciente: (gravação incompreensível). A terapia está me dando muita força. Eu
não iria consegui agüentar sozinha.
Psicoterapeuta: Você tem essa força interior. Terapeuta nenhum é mágico, só
lidamos com os próprios recursos que a pessoa tem.
Paciente: Eu sou assim (gravação incompreensível). E dessa vez eu ouvi. Fiquei
quieta enquanto ela choramingava. Eu não ataquei dessa vez. Não tem
condições, eu falei isso para ela. E eu me explicando que tenho que pagar a
faculdade do meu filho, que tenho que pagar minhas coisas. Acho que aí veio
uma luz nela. Eu fui pensando em pegar ponto por ponto para ver onde eu
chegava na discussão. Só pensava em mim, no meu marido e no meu filho. Não
dava. Ela só me atacando.
Psicoterapeuta: (gravação incompreensível)
Paciente: A minha irmã está frágil Só tremia a boquinha.Sei que fui mais forte.
Lembrei da terapia e da psoríase que parou de coçar.
Psicoterapeuta: Parece que você está percebendo como se coloca no atrito e no
conflito. Quando você está em um atrito fica entre o estar e o não estar.
Paciente: Mas eu não pensei em nada disso. Não pensei em nada. O meu
problema é só a minha irmã. Não pensei nem em pai nem em mãe.
110

Psicoterapeuta: Ou o problema é a família toda e sua irmã faz parte?


Paciente: O meu problema muito grande é minha irmã. O que me pegou muito
fundo foi a minha irmã. Foi ela.
Psicoterapeuta: (gravação incompreensível) Vamos cada vez mais recuperar o
que é seu. Respira. (gravação incompreensível). É uma técnica da família da
hipnose.Olhe para a foto que você trouxe por alguns segundos e pense nela. Me
diga se você perceber alguma alteração em seu corpo. (a psicoterapeuta mostrou
uma vareta colorida à paciente e pediu que ela seguisse os movimentos feitos por
ela com os olhos).
Paciente: Estou pensando na minha mãe. Na hora que você abaixou a vareta
veio uma depressãozinha. Senti uma coisa no coração.
Psicoterapeuta: Vai alterando, né?
Paciente: É uma coisa impressionante. Sinto no coração mesmo.
Psicoterapeuta: Vamos continuar.Vai dando uma sensação no coração. Foca
nisso.
Paciente: Muitos sentimentos vindo à tona.
Psicoterapeuta: Quais?
Paciente:Tristeza, choro. Muita tristeza.
Psicoterapeuta: Muita tristeza
Paciente: Saudades. Choro. Tristeza. Medo.
Psicoterapeuta: Foca nesse medo. Medo de quê?
Paciente: De ficar sozinha.
Psicoterapeuta: (gravação incompreensível) Deixa vir. Qual a sensação de com
quantos anos você está nesse medo?
Paciente: Pequena eu acho. Sozinha. Sentada no quarto. Sozinha. No quarto
vermelho que eu morava na Europa e vi nas fotos. Eu lembro. Eu era muito
pequena. Menos de um ano talvez.
Psicoterapeuta: E sua mãe estava aonde?
Paciente: No apartamento. Eu era muito pequena. Eu nem andava ainda. A
minha irmã gêmea não estava comigo.
Psicoterapeuta: Não? Vocês estavam separadas?
Paciente: O quarto era branco com cortina vermelha. O chão era branco.
Paciente: E o que aconteceu?
Paciente: Estava sentada no quarto sozinha ( chora).
111

Psicoterapeuta: Respira. E você estava com vontade de fazer o que? Chorar?


Chamar alguém?
Paciente: (longo silêncio). Acho que eles não estavam na sala. Saíram de casa e
me deixaram.
Psicoterapeuta: Respira. Deixa vir.
Paciente: Me esqueceram ou me largaram na casa. Não sei o que aconteceu
aquele dia. Eu não ficava separada da minha irmã gêmea. Aquele dia me
separaram. Que estranho.
Psicoterapeuta: Você conta estar se sentido sozinha na casa, com o peito
apertado, medo...
Paciente: (longo silêncio). Não tinha barulho na sala. Eu estava sozinha.
Psicoterapeuta: Você estava só?
Paciente: Nunca me contaram nada disso. Eu não conseguia abrir a porta
sozinha. Só eu estava lá. Sem ninguém. Sentada no quarto sozinha. Me deixaram
sozinha.
Psicoterapeuta: Deixa vir. Respira. Protegidamente. (gravação incompreensível).
Deixa vir. Independente do que foi, passou e você pode deixar essa sensação
desagradável lá no passado. Depois de tanto tempo você se fortaleceu nessa
experiência. Uma criança que é capaz de ficar sozinha é capaz de tudo. Quando
compreendemos o nosso sintoma, perdoamos. Talvez a sua mãe. Talvez o seu
pai. (gravação incompreensível). Agora você pode compreender essa sensação
de vazio, de angústia, de solidão, de medo. Até em momentos em que (gravação
incompreensível). Re-visitar o passado é ficar em paz com esse passado. Re-
visitar o passado é ressignificar o sofrimento. É perdoar. Apenas ressignificamos
e perdoamos.
Já que você lembrou desse quarto talvez você pode começar a acessar memórias
desse quarto protegidamente. Talvez você possa ter outras lembranças desse
quarto. Isso, protegidamente. Respira. Vá voltando até sua idade atual. Aqui em
São Paulo, no dia de hoje. Calmamente. Abra os seus olhos devagar e quando
puder conte a sua experiência.
Paciente: Agora eu entendo os meus medos sabia? Tem tudo a ver, apesar de
eu adorar ficar sozinha em casa. É uma coisa impressionante. Europeu é meio
louco né. Deixam criança sozinha. Tenho medo de pensar o que eles fizeram
comigo sabia? Eu pensei em muitas coisas. No final eu tava vendo o travesseiro
112

na minha cabeça. Que coisa horrível. Tem muitas coisas. Quero te dizer que você
é uma excelente terapeuta viu.
Psicoterapeuta: Obrigada.
Paciente: É verdade! Já procurei quatro psicólogas e foi só papo furado. Nada
profundo. Eram coisas não tratadas.
Psicoterapeuta: E talvez elas reapareçam na forma de sintomas...
Paciente: Isso hoje foi uma loucura.Senti um aperto aqui no tórax. Acho que isso
de ser européia também me faz ser uma pessoa fechada.
Psicoterapeuta: Fique em paz. Respire. Semana que vem nos encontramos para
continuar essa nossa jornada.
Sessão 5
A paciente chegou dizendo que estava se sentindo estranha, pois havia
comido um pacote inteiro de bolachas.
Paciente: O meu cunhado chegou na minha casa semana retrasada e viu a
minha foto com a minha mãe naquele negócio grande (a paciente havia trazido
esta foto com sua mãe durante a infância vivida na Europa), daí ele pegou todas
as fotos e viu, ele não sabia que eu estava indo naquela igreja, que eu estava
indo. Daí ele falou: “porque você está levando a foto de todo mundo e a minha
junto?” Ai eu falei: não, é que a máquina não sei como apagar a foto.Sabe por
que eu falei? Porque ele ficou que nem um leão, quase subiu encima de mim,
quase que a gente se matou um dia lá, sábado.
Psicoterapeuta: Agora, sábado?
Paciente: Não, sábado retrasado, e ele não quer que eu ore por ele, ele está uma
fera comigo, ele não quer que eu ore pela foto dele. Ele falou que eu estou indo
na igreja, que é macumbeira, que a Igreja (gravação incompreensível) eu falei:
Para com isso, deixa eu ir na igreja que eu quero. Ele não deixa escolher a igreja
que eu quero ir, eu não agüento mais ficar sendo mandada, ele e a mãe dele, eu
já falei para o meu marido: eu não suporto mais as pessoas ficarem mandando
onde eu tenho que ir, que igreja que eu tenho que ir, eu não suporto mais isso. Eu
não posso escolher a igreja que eu quero ir.
Psicoterapeuta:Qual é a diferença da igreja que você está indo e da igreja dele?
Você tem todo o direito de ir à igreja que você quer. (gravação incompreensível)
113

Paciente: Então, (gravação incompreensível) achou ótima essa igreja que eu


estou indo e o meu cunhado fica “metendo o pau” nessa igreja que eu estou indo,
“que essa igreja é macumbeira, que essa igreja é isso, que essa igreja é aquilo.”
Psicoterapeuta: A sua religião é evangélica?( a paciente já haviam comentado
anteriormente sobre sua religião).
Paciente: É evangélica, mas o meu cunhado fica inventando moda, “que não
pode orar pela foto, que não pode se guiar pela foto, que não sei o que lá.” Eu
falei que a pastora lá da igreja pediu para pegar foto minha com a minha mãe, daí
eu que quis pegar foto de todo mundo, eu não posso fazer isso? Eu falei para ele:
eu faço o que eu quiser. “não, minha foto vai rasgar, tira daí.” Daí ele conseguiu
rasgar. Mas tem uma coisa que ele fez na minha casa que isso mexeu comigo,
mexeu, sabe, ele vem na minha casa e vem fazer as coisas comigo, sabe, eles
tem mania de mexer com religião.Eles são assim, eles têm uma mania, ele e a
mãe dele (a sogra da paciente), a mãe dele é assim. Ela quer mandar. Eu não
agüento essa pressão mais.
Psicoterapeuta: O que ela quer mandar? Fala para mim.
Paciente: Sabe o que eu não agüento a pressão deles? Com a religião. Eu sou
evangélica, tem dia que eu não estou a fim de ir à igreja, ela fica pressionando:
“hoje você vai à igreja?” não. “por que você não vai?” porque eu estou cansada de
papo de igreja. (gravação incompreensível) ela falou assim: “por que você não foi
no( nome de um padre)?”. Sabe, é cobrança o dia inteiro por causa de religião, eu
não agüento mais eu falei para o meu marido.
Psicoterapeuta: Claro, religião é liberdade.
Paciente: Faltou liberdade: deixa eu não querer ir, deixa eu querer ir. Sabe, eu
não agüento mais essa pressão em cima de mim, eu não agüento mais. Daqui a
pouco eu não vou mais em nenhuma, eu falei para o meu marido. Daqui a pouco
eu vou estourar, não vou em nenhuma mais, eu não agüento mais essa pressão
de religião em cima de mim, fica um querendo que eu não vá, fica um querendo
que eu vá. Eu queria sair da Batista, eu já falei para meu marido: eu quero mudar,
eu queria ir para a Assembléia de Deus. Estava louca para ir para a Assembléia
de Deus. Eles não me dão tempo de eu pensar, eu queria muito mudar de igreja,
faz tempo que eu quero mudar, a pastora não deixa eu mudar de igreja, não dá
tempo de eu pensar no que eu quero fazer, eles não deixam eu escolher, eles não
deixam eu escolher, isso é um problema que eu estou tendo muito na minha vida
114

espiritual. A escolha de uma igreja que eu quero ir, que eu me sinta bem, não
precisa ser uma igreja muito bonita. Mas não é isso que eu quero: eu quero uma
igreja mais simples, uma igreja que as pessoas busquem oração, gostem de mim,
e lá eu não gosto mais.
Psicoterapeuta: Isso na Batista?
Paciente: Eu falei: nós estamos batendo de frente, eu com o meu cunhado, eu
estou até orando por ele, levo a foto dele, ele está em cima de mim, nós estamos
batendo de frente, eu estou vendo que a “batata” é entre mim e o meu cunhado,
toda hora, ele está em cima de mim, “por que você ora por mim? Por que você
está orando por mim? O que você fez de errado?”
Psicoterapeuta: Eu sei, mas parece que seu cunhado quer que você deve deixar
de olhar para ele. E por que você não devolve a foto do trabalho dele?
Paciente:Eu não quero ter foto dele mais.
Psicoterapeuta: Não? Então ótimo. O seu cunhado segue o caminho dele na
religião. Se você quer colocar um bezerro no curral e ele não quer ir de jeito
nenhum, o quê você faz?
Paciente:Não faz.
Psicoterapeuta: Puxa o rabo dele até ele entrar, certo?
Paciente: É, e o cunhado dele no restaurante falou sobre o dízimo quando me
viu. Já veio falando no meio da conversa, “por que você deu o dizimo?” Falei que
foi porque eu quis dar e acabou. Eu dei. “Quando você deu, já entrou o dinheiro?”
tudo ele quer saber. Não, não entrou dinheiro coisa nenhuma (a paciente se
refere a herança deixada por sua mãe), você entendeu? Tudo ele quer saber.
Psicoterapeuta: Me diz uma coisa, qual seria um jeito de lidar com essa
situação?
Paciente: Fechar a boca, eu sei.
Psicoterapeuta: Não dê pérolas aos porcos. Respira e ouve o que ele está
falando. Ele está falando para você não orar por ele. Porque amai vossos
inimigos, e também é preciso às vezes afastar-se deles. Certo?
Paciente: Eu falei para o meu marido: não dá teu irmão.
Psicoterapeuta: Então pronto.
Paciente: Ah, é difícil.
Psicoterapeuta: Eu sei (gravação incompreensível).
115

Paciente: Não, eu sei, mas é uma cobrança que eu vou te falar, na casa
(gravação incompreensível) eu não vou porque é muita cobrança, eu não gosto
que me cobre, eu falei para o meu marido: tenho quarenta anos, deixa eu fazer o
que eu quiser.
Psicoterapeuta: Pelo menos isso né?
Paciente: Sabe, é cobrança, cobrança, eu tenho que aprender a falar não, esse é
o problema.
Psicoterapeuta: Aprender a falar não, a falar mais ao menos assim por alto:
“não, eu não vou porque isso.” Não, vai à igreja, não precisa ficar falando. Deus
mesmo disse: “ore de portas fechadas.”
Paciente: Não, eu sei disso.Mas foi o meu marido que falou, não foi eu.
O meu marido fala demais para o irmão dele, essa é que é a palavra.
Paciente: (gravação incompreensível) igreja, (gravação incompreensível) falado.
Paciente:Está vendo, estar com “TPM” dá nisso.
Psicoterapeuta:Olha, toda terapia de “TPM” sai da estratégia.
Paciente:Sai não é?
Psicoterapeuta: Sai, (gravação incompreensível) Uma mulher chegou aqui e
falou: “que barulho é este? Que barulho estranho é este?” Eu tinha uma
fontezinha aqui que (gravação incompreensível) a mulher chegou aqui: “ai, você
vai me desculpar viu, vou desligar.” Ela desligou com tanta fúria da tomada que
quebrou. Ela falou: “ah, vou te dar outra.” Eu falei: não, (gravação
incompreensível) “TPM.”
Paciente: Eu tenho muita “TPM,” sabia?
Psicoterapeuta: É que você vai guardando, você vai guardando, (você vai
ganhando pressão).
Paciente: Eu não agüento.
Psicoterapeuta: E você vai ficando amarrada, agora, na verdade, está
entendendo o processo?
Paciente: Eles me amarram aqui (sinaliza a cabeça).
Psicoterapeuta: Então, está saindo (gravação incompreensível) armadura não é?
Para te proteger, agora estão tirando esta armadura, então está menos direto de
verdade, é questão de aprender a falar.
Paciente:Antes eu xingava a minha sogra, a gente se dava muito mal (gravação
incompreensível).
116

Psicoterapeuta: Bastante, se davam mal?


Paciente: Nossa, quando eu morava com ela? Uh. Eu bati no meu filho e ela
colocou empregada né? Botou empregada para cuidar de mim, para me vigiar em
casa, eu bati no meu filho no começo (gravação incompreensível). Ela botou
gente para olhar né?
Psicoterapeuta: Ela protegeu o neto né?
Paciente: Protegeu, daí ela cuidou tudo, mas a gente se dá bem. Mas é muita
cobrança essa coisa de religião, eu acho. Isso vai me irritando, vai me (gravação
incompreensível). Acho que é por isso que eu comia bolacha.
Sabia que eu comia bolacha, de raiva eu comia bolacha. Sério, analisando agora
que a gente está falando, não era “TPM.”
Psicoterapeuta: Era por que então?
Paciente: Não era por “TPM” que eu comia bolacha, foi depois. Era de raiva.
Agora analisando: não era “TPM” coisa nenhuma é de raiva. Eu sei que eu não
posso comer por causa do colesterol, não posso comer bolacha, não tenho que
comer bolacha, faz muito tempo que eu não faço uma dessa, é que eu tenho
cuidado do meu colesterol. Daí ela falou, porque eu estou uma semana com esse
negócio do meu cunhado embutido em mim porque eu não agüento, daí eu comi
a bolacha porque ela falou de novo de religião. Mas como é que eu faço com a
minha cabeça quando a pessoa dá dessas?Para soltar?
Psicoterapeuta: A raiva?
Paciente: É eu não sei. Como é que eu trabalho tudo isso?
Psicoterapeuta: Primeiro, eu acho que respira profundamente, depois pensa:
“como é que eu posso me defender disso? (gravação incompreensível)
Paciente: É isso é estranho. Família é complicado. Brigas..E a minha sogra
cismando com a minha escolha de religião.
Psicoterapeuta: Então a gente tem que notar que não tem que ficar enaltecendo
as pessoas. Nem os religiosos, Deus não quis isso, é Deus quem dá a liberdade
de você poder escolher. Então se a sua sogra vier falar isso, você escuta, deixa
passar o ataque e se por um acaso ela ainda voltar ao ataque , aí você chega e
fala assim: “ó, é o seguinte, Deus me deu liberdade de escolher, não é a senhora
que vai destruir isso, eu tenho o poder da escolha.” É o ataque seguinte, você
entendeu? Quando vem eu desvio primeiro.
Paciente: E eu ataco na hora né?
117

Psicoterapeuta: (gravação incompreensível)


Paciente: É eu preciso saber resolver. Deus está vendo o que eu faço o que eu
não faço.
Psicoterapeuta: Deus conhece o coração de todo mundo, se você quiser dar o
dizimo dê e dê de coração, não precisa ficar falando ao vento, não fala para
ninguém, e se falar, fala que (gravação incompreensível).
Paciente: Lá na Europa também é assim, sabia? As pessoas falam na cara.Ah,
mas eu acho ótimo, eu aprendi muito com isso (...).
Sabe que a minha irmã era assim, mas a minha irmã era assim, estranha.
Psicoterapeuta:Mas eu acho ótimo, pelo menos ela (gravação incompreensível)
mas eu acho que é melhor a pessoa viver invadindo a tua praia, que isso? A
pessoa vem te dando um palpite para você dar o dízimo ou não.
Paciente:Mas quando tiver eu vou falar assim: porque você não dá tudo para o
reino de Deus, o que sobra ai? Tudo é para o reino de Deus.
É exatamente, você tem que dar tudo para o reino de Deus. E ele dá?
Meu cunhado não dá nada, só pede o dinheiro da mãe dele.
Mas é difícil discutir com ele.
Psicoterapeuta: Quando a pessoa é difícil não precisa nem discutir, nem entrar.
Paciente: Mas eu falo para o meu marido, discutir com o irmão dele é uma coisa
(gravação incompreensível). Ataque de (gravação incompreensível) está indo
contra mim agora, está uma coisa que você não tem idéia. O meu cunhado está
em cima de mim que nem um cachorro louco. Está focado em mim. Ah, mas ele
está focado muito em mim. Toda semana ele está focado em mim. Aquele
negócio é de louco.
Nossa, está uma coisa de louco, agora o foco dele é em mim, eu não estou
agüentando.
Psicoterapeuta: Não sai da linha, deixa passar, se não passa tem como se
defender. Tem que falar para ele: “ó, parei de (gravação incompreensível) com
você tá(gravação incompreensível)e eu te ajudei o quanto eu pude, quanto eu
pude eu te ajudei e você sabe disso.
Paciente: O meu cunhado tem uma energia muito ruim eu acho, falei para o meu
marido: me faz até mal.
Psicoterapeuta: Então se guarde e se proteja.
118

Paciente:O que me pegou é o dinheiro, você sabe disso. É uma coisa negativa
assim: “não quero que você ganhe dinheiro, você não merece.”. Sinto que ele
pensa assim.
Psicoterapeuta: Sai disso, (gravação incompreensível) respira. O quê te faz
sentir protegida?
Paciente: Não sei, coisas boas, não uma pessoa.
Psicoterapeuta:Não, (gravação incompreensível) coisas boas.
Paciente:Pessoas positivas.
Psicoterapeuta:Eu tenho uma técnica de hipnose, que nós chamamos de
Couraça. Então vamos fazer. A doutora (gravação incompreensível) aplicava
muito.Então cruza as pernas, respira, respira três vezes, imagine agora você
tirando uma segunda pele para vestir agora, como se você tivesse montando
agora através da sua mente, pode ser um plástico, pode ser uma (gravação
incompreensível), pode ser uma roupa mesmo de nadador, mergulhador, não
importa, tem que ser um material muito maleável e leve, adaptável ao corpo.
Respira, mentalize: “eu sou eu me protegendo de toda energia negativa, de toda
pessoa negativa. Construo agora a minha segunda pele, uma couraça que vai me
defender de todas as circunstâncias (gravação incompreensível), respire e vai
automaticamente construindo esta couraça do topo da sua cabeça até a ponta
dos seus pés, com esse material que pode ser transparente, que pode ser
colorido, não importa. Mas essa segunda pele, essa couraça vai te proteger
contra essas pessoas negativas que se aproximam de você, te defendem, te
defendendo, te protegendo, só você sabe que você está vestindo esta segunda
pele. Só você pode tirar essa couraça, quando você estiver num lugar positivo,
pessoas positivas, você vai repetir o exercício respirando três vezes, retirando sua
couraça, bem de vagar para não machucar sua pele. Isso, e agora sempre que
você precisar lembre-se de colocar essa couraça. Respire três vezes, (gravação
incompreensível) abra os olhos bem devagar, bem devagar(gravação
incompreensível) relaxe mais um pouquinho, isso. Reconstrua essa couraça,
feche os olhos.
Paciente:Está tão gostoso que eu estou quase dormindo.
Psicoterapeuta:É eu vi que você não está querendo voltar. Então assim, vamos
pegar a mesma situação, então vai, feche os olhos, reconstrua a sua couraça,
então veja até na hora que você estiver pegando o telefone, com a sua sogra,
119

com outras pessoas, e elas estiverem falando alguma coisa para te estragar,
construa a sua couraça. Coloca um protetor nos ouvidos de maneira que nada te
abale, nada do que você vai ouvir vai te abalar. (gravação incompreensível)você
estiver com seu cunhado (gravação incompreensível), se sinta forte, protegida e
defendida pela a sua couraça. Imagine agora uma situação que você está
fazendo um diálogo com ele, e ele está te agredindo e você está serena,
protegida, através desta couraça nada te atinge, (gravação incompreensível)
protegida, e se em determinados momentos você achar que você tem que
responder a altura, imagina essa força do emissor estando dentro de você e
fazendo com que você responda de uma maneira sincera, coerente porque eu sei
que você está sentindo, (gravação incompreensível)honestidade, e essa couraça,
você agora construiu, vai te proteger muito mais do que (gravação
incompreensível), para o seu cunhado, você pode tirar e colocar a hora que você
achar que seja necessário, não precisa de (gravação incompreensível) para dizer
as pessoas: “afastem-se de mim.”Com esta couraça você pode tudo, dizer: “(...),
eu vou saber receber, e aquilo que a sua mão (gravação incompreensível)
Respira, três vezes, repetindo para você mesma: “eu sou eu, eu sou eu e possuo
a sabedoria infinita e sei me dar bem e vou me dar bem em todos os ambientes,
com todas as pessoas, recebendo energia ou me protegendo desta energia, ora
recebendo energia positiva, ora me defendendo da energia negativa, eu sou eu.
Isso, mexendo as pernas, levantando, abrindo os olhos, até acordada para hoje,
dia dezessete. Esse recurso da couraça você vai poder usar quando você achar
necessário.
Paciente:Interessante. Muito interessante.
Psicoterapeuta:Essa técnica é boa, eu uso muito essa técnica. Quando eu entro
em algum lugar e está lotado, uso minha couraça.
Paciente:(gravação incompreensível) couraça, muito couraça de Deus sabia?
Psicoterapeuta:Já ouvi falar da de Deus, mas hoje eu pensei, tenho que por
essa técnica no lugar.Como você está muito nessa revolta, eu pensei (gravação
incompreensível).
Paciente:É que eu acho diferente, esse tema, é que eu acho diferente.
Psicoterapeuta:Eu sei, tem uma técnica da couraça né?
Paciente:Tem.
120

Psicoterapeuta:Eu pensei, mas eu não falei porque, já está naquele momento


que ela está, vai a mil: “deixa eu escolher a minha religião, outros falam: “eu não”
É nessa hora que você tem que puxar o (gravação incompreensível)
Paciente:É que a gente tem a couraça da justiça.
Psicoterapeuta:Tem , tem muita couraça, nós temos um (gravação
incompreensível)que ele fala da couraça, gente é maravilhoso, que essa couraça,
nossa. E é essa couraça,e ai fazendo eu pensei comigo: ela pode substituir,
porque é preciso também uma couraça.
Paciente:(gravação incompreensível)
Psicoterapeuta: E vai sumir porque você não precisa. Abaixo de mim toda a
doença de pele, (gravação incompreensível, e está sendo bom.
Paciente:Nossa, para mim é isso mesmo.
(gravação incompreensível)
Psicoterapeuta:E você na verdade já vem de uma família rica, já (gravação
incompreensível)
Paciente:É mas eu acho que com o meu marido fica mais difícil. Estou afastada
da igreja dele, estou muito, o pastor dele pediu muito para ver se eu voltava, daí
que explodiu hein?
Psicoterapeuta:É.
Paciente:É mas eu falei isso para ele, que ele é muito protetor com todos. Faz
mal para ele eu acho.
Psicoterapeuta:Ele é muito protetor né?
Paciente:(gravação incompreensível) falou que ele é, como é que chama, aquele
que cuida de todos. Não , está na bíblia, ele é um, ele tem mania de acolher todo
mundo.
Psicoterapeuta:Ele é um protetor?
Paciente:É horrível isso. Ele quer cuidar de todo mundo e não cuida dele.Sei lá,
eu falei para ele: pára de cuidar de todo mundo e vai cuidar de você.
Psicoterapeuta:É, Cristo disse: “ame ao seu próximo como a ti mesmo.” Se você
não estiver cuidando de você, você não consegue cuidar dos outros., a pessoa
que é protetora, que gosta de cuidar de todo mundo. E tem aquele que sabe
receber, então, ele eu sei que ele tem (gravação incompreensível), então ele tem
a humildade de pedir: “me ajuda aqui?” Porque parece que pedir é ele voltar para
a (gravação incompreensível). Pelo contrario, todos nós temos o nosso lado fraco,
121

então eu acho que o fato até dele estar em terapia também já é um pedido de
ajuda.
Paciente:Mas ele é muito fechado!
Psicoterapeuta:Temos que encerrar por aqui. Até quarta que vem.
Sessão 6
A paciente antes de entrar na sessão contou à observadora participante e à
psicoterapeuta que estava feliz, pois parte da herança deixada por sua mãe havia sido
recebida por ela. Esta era uma questão burocrática que estava preocupando a paciente e
causando discussões na família.
Psicoterapeuta:O que aconteceu de coisa boa? Que você veio toda parecendo um
passarinho verde, viu um passarinho verde. O que foi?
Paciente:Não, não sei.
Psicoterapeuta:
O que está te dando essa onda de felicidade?
Paciente:Eu sou assim,sabia?
Psicoterapeuta:O teu normal é assim?
Paciente:É eu pareço bipolar.
Psicoterapeuta:Altos e baixos?
Paciente:Muitos.
Eu estou muito assim sabia? Ai eu sei por quê.
Psicoterapeuta:Então me fala.
Paciente:Eu parei de fazer acupuntura. Está mexendo muito comigo. Eu parei com a
acupuntura há três semanas, mas está mexendo com a minha emoção que é uma
loucura. Eu estou assim (pá), eu tenho que voltar urgente a fazer acupuntura.
Psicoterapeuta:Vamos com calma.
Paciente:Não, sabe por quê? Hoje eu estou ótima, ontem eu estava um bagaço.
Chorando com a minha sogra e orando. Ontem eu estava se você me visse, eu estava
chorando e ela orando eu estava assim pensando que não agüento mais.
Psicoterapeuta:Será que não é pela notícia que veio?
Paciente:Também é essa notícia, eu não sabia que vinha a notícia, eu sei que vem. Eu
sei que vem, mas é o meu marido que me estabiliza, sabia? Porque eu sozinha sei que
vem, mas ele me estabiliza. E quando eu fico quietinha e essa noite eu não durmo
porque ele fica falando: meu coração vai ter enfarte, vou ter enfarte. Ele fica assim a noite
inteira. Ninguém merece e eu fico desestabilizada.
Psicoterapeuta:Notícia de ontem às dez horas da noite muita coisa muda né. É uma
perspectiva mais óbvia.
122

Paciente:Hoje já tem, hoje vai ter a perspectiva e mudou. Mudou tudo.


Psicoterapeuta:Então você tem motivos para hoje estar mais alegre.
Paciente:Sim, hoje eu estou muito.
Psicoterapeuta:Eu quero saber se você não tendo aumenta ou diminui essa...
Paciente:Não, não também porque ontem a tarde eu estava dançando, eu tenho essas
...
Psicoterapeuta:Ontem à tarde você estava dançando por quê?
Paciente:Não sei, eu tenho assim,sabia?Eu tenho esse jeito, mas eu não sei se é por
falta da acupuntura, porque a acupuntura é uma coisa impressionante de bom, eu queria
achar o remédio.
Psicoterapeuta:Tudo é bom, depende de como você está recebendo isso.
Paciente:Eu acho que tudo é um conjunto pra mim.
Psicoterapeuta:É um conjunto.
Paciente:Também. E eu tive uma crise porque o meu cunhado falou “você não vai
receber porque são cinco anos”, ai veio um negócio e eu me apavorei.
A paciente falava sobre a herança que estava por receber e como seu cunhado estava
vendo a situação.
Psicoterapeuta:É bom que ele pense assim...
Paciente: É bom, eu falei para o meu marido, é ótimo.
Psicoterapeuta: É ótimo, é isso mesmo.
Paciente: Já estou cuidando da minha vida, estou vendendo os terrenos, eu falei para
ela; está vendendo os terrenos, vai vender o apartamento e vai casar e vai embora.
Psicoterapeuta: Resolve o problema.
Paciente: Por isso que eu estou feliz, eu falei para ela.
Psicoterapeuta: Então tem uma lógica, não está tendo um sonho.
Paciente: Eu estou feliz porque meu cunhado e a mãe dele falaram o seguinte. A minha
sogra falou “eu vou vender algumas coisas para o meu filho (o cunhado), vou vender
terreno”, o meu cunhado falou, “vou vender terreno, vou vender tudo para casar e ir
embora porque ele quero embora para o sul do Brasil abrir um negócio”.Eu falei “ótimo,
faça isso mesmo, faça, eu falei faça”, não fazendo do meu dinheiro mas fazendo do seu,
eu falei faça(o cunhado da paciente queria parte da herança a ser recebida para abrir um
negócio no sul do Brasil), ai eu conversei com o meu marido e falei “o que você acha?”
Eu falei pro meu marido: pelo amor de Deus, pára de brigar, eu falei pára deixa a tua
mãe, eu falei deixa ela fazer em vida)dar para o filho dela que não adianta quando está
morto ficar fazendo as coisas, acho isso uma besteira. Eu falei que o meu cunhado está
precisando de ajuda agora, eu falei para ele, então deixa ela ajudar, vai que seja um
momento da vida dele.
123

Psicoterapeuta:Você lembra a semana passada você disse (gravação incompreensível).


E o que você falou para ele? Conte melhor dessa parte que você vai doar (parte da
herança). É um cumprimento da sua promessa?
Paciente:Mas eu falei. É verdade.
Psicoterapeuta:Captou?
Paciente:Captei. Porque já queria começar a brigar.
Psicoterapeuta:Essa é a parte sua que você está cumprindo. Foca nisso.
Paciente:Olha só, você tem razão. Você falou uma coisa....
Psicoterapeuta: Fica livre disso.
Paciente:Também acho, ficar livre, acabou. Livrar.
Psicoterapeuta:Por um lado; de um jeito ou do outro ele vai fazer isso.
Paciente:Também acho.
Psicoterapeuta:Até com uma avaliação (gravação incompreensível.)
Paciente:Acho que para nós vai ser melhor o lado da mãe porque não vai pegar o meu,
eu acho sabia, não vai entrar no meu, acho que vai ser da melhor forma, acho que Deus
já fez assim, não vai entrar no meu acho, eu não vou me sentir coagida...
Psicoterapeuta: Desestabilizada.
Paciente:Eu acho...
Psicoterapeuta: Porque você estava se sentindo....
Paciente: Eu estava me sentindo roubada, não sei o que lá, ele falou da minha irmã, o
meu marido, então, você já sabe, então tem também esse negócio da minha irmã.
Psicoterapeuta:Escuta aqui (gravação incompreensível) vocês tem uma dificuldade
muito grande de confiar no pai.
Paciente:Sei.
Psicoterapeuta:O seu marido é um homem forte, um homem (gravação
incompreensível.) que tinha contatos (gravação incompreensível.) mas como ela não tem
a mesma estrutura, entendeu, então ela parte para o ataque, (gravação incompreensível)
antes de você falar não já vou te atacando e acabou.
Paciente:Apesar que a minha irmã é igual ao meu pai.
Mas ele já falou: chega, acabou, vamos cortar relacionamentos. Eu falei pro meu marido:
vamos parar que a minha cabeça já vai; eu falei , eu estou cheia de problemas, chega.
Eu falei pára. Mas eu já contei. Minha sogra falou para mim isso, minha sogra falou para
mim. Me falou para pegar o telefone e falar.
Psicoterapeuta: Se ela tem o direito de falar.
Paciente: Agora eu só falei porque o advogado não quer que a gente bata boca ainda,
mas depois eu vou falar.
Psicoterapeuta: Pronto já diminuiu (gravação incompreensível.) está bocejando.
124

Paciente: Eu já estou...
Psicoterapeuta:Já está bocejando.
Paciente:Eu relaxo rápido.
Psicoterapeuta: Assim eu não consigo te alcançar, você tem que relaxar um pouco.
Você sonhou essa semana?
Paciente: Eu para sonho.. Sabe que eu não lembro! Sou péssima para sonho. Deixa eu
ver...
Psicoterapeuta:
Vamos fazer uma técnica de hipnose, que se chama sonhar acordada. É um sonho
acordada, inclusive ele dá um sono, topa?
Paciente:Topo.
Psicoterapeuta:Então vamos fazer, sonhar acordada. Vamos ver. Vamos bolar um
sonho. O que você gostaria de sonhar um dia?
Paciente:Vamos ver. Eu gosto muito de viagens.
Psicoterapeuta:Pode ser uma meta, exatamente, pode ser uma meta.
Paciente:Eu gosto muito de viagens, sabia?
Psicoterapeuta:Viajar? Que lugar você gostaria de ir que ainda você não foi?
Paciente:Sabe que lugar que eu iria agora?Paris (a paciente começou a rir até os olhos
lacrimejarem). Eu estava pensando agora isso.
Psicoterapeuta: Vamos contar uma data para isso. Vamos por uma data, um período,
nós vamos montar um cenário, depois você vai vivenciar.
Paciente: Data como? Agora ou depois?
Psicoterapeuta:Um período vamos pegar um período.
Paciente:Desse ano?
Psicoterapeuta:Não, pode ser do próximo ano eu não sei.
Paciente:Do ano que vem dá?
Psicoterapeuta:Dá.
Paciente:Próximo às férias, pode ser?
Psicoterapeuta: Pode ser.
Paciente: Tem que dar férias do meu marido, porque ele vai voltar a trabalhar, ele volta a
trabalhar em outubro e nós íamos para (gravação incompreensível.) que nós não
conhecemos, ele gostaria de conhecer a França, e eu não conheço (gravação
incompreensível) porque eu fui com a minha sogra daí a gente queria passar por Paris,
conhecer a parte francesa que eu não conheço e eu queria conhecer os cafés, tem o
queijo (gravação incompreensível.) que eu queria ir por conta do queijo, então é um
passeio que a gente queria fazer.
Nós viemos calmos da Europa.
125

Psicoterapeuta: Seu filho vai junto?


Paciente: Ele vai. A gente ia para a Itália também, eu gostei da Itália.
Psicoterapeuta: Então você está em outubro de 2010.
Paciente:Tem que ser em julho. Tem que ser julho para mim acho que julho do ano que
vem.
Psicoterapeuta:Por quê?
Paciente:O meu marido vai voltar, não, não vai dar em julho tem que ser um ano depois.
Psicoterapeuta:Vamos pensar em uma outra meta: como você quer estar em junho do
ano que vem?
Paciente:É melhor (a paciente fechou os olhos, começou a respirar profundamente e a
soltar o ar pela boca)
Psicoterapeuta:Fecha os olhos um pouquinho, imagina que você está virando a tua
folhinha agora, então já passou julho, já passou agosto, setembro, outubro, novembro,
dezembro. Direto para a entrada de 2010. Janeiro (os olhos da paciente começaram a
piscar rapidamente, suas mãos começaram a deslizar levemente pelas pernas e sua
testa ficou franzida), fevereiro, março, abril, maio, junho...Como se você estivesse
olhando no espelho, vai sentindo como você está, totalmente relaxada, deixando a sua
mente inconsciente, vai se sentindo cada vez melhor e mais saudável , com a sua pele
totalmente saudável, com a sua mente totalmente renovada, alegre e saudável(a
paciente esticou as duas pernas e se acomodou de maneira mais a vontade na cadeira)
com sua saúde totalmente renovada, sentindo a (gravação incompreensível) cada vez
mais forte dentro de você, despreocupada serena e tranqüila.
Construa o cenário na sua mente ( a paciente mudou a expressão de preocupação
expressa através de sua testa franzida) enquanto você deixa a sua respiração (gravação
incompreensível) e protegidamente e revelando nesse cenário tudo o que você quer estar
fazendo em julho de 2010, vai desenhando nessa tela por completo, ,vou realizar, já
realizei , por enquanto você fica desenhando no seu plano mental. Procura nele agora
alguns pontos importantes para que você se sinta cada vez melhor, saudável,
recuperada, revigorada, alegre, em paz consigo mesma e com os outros e se por acaso
vier algum pensamento negativo tenta dissipar, tenta colocar uma cor mais alegre, eu me
sinto saudável, protegida, alegre e em paz.
Eu me vejo como uma criatura saudável, alegre e em paz, tomo posse do meu (gravação
incompreensível) com amor e gratidão, tomo posse com amor e gratidão , hoje com amor
e gratidão, renova todas as células do meu corpo com amor e gratidão, eu sei que aqui
dentro (gravação incompreensível) feito todos os dias.
Imagine que agora você sendo abençoada por mãos douradas que vai do topo da sua
cabeça invadindo todas as partes do seu corpo, invadindo todas as células do seu
126

corpo,bem devagar, você vai imaginar esse calendário voltando para o dia de hoje
enquanto você respira (a paciente recolheu as pernas e sentou-se da maneira habitual).
Paciente:Nossa, parece que é profundo mais é leve ao mesmo tempo. Meus olhos
estavam grudados.
Psicoterapeuta:É fundo e leve exatamente, a sensação é legal. Você vai e volta.
Paciente:O meu marido tem medo ele falou:Você consegue voltar sozinha, né? Eu volto.
Psicoterapeuta:Você volta porque já vai certo, tem gente que por exemplo, fica um
pouquinho disssociado.
Paciente:Eu estou fazendo mais, porque eu estou ansiosa que nem hoje por exemplo.
Psicoterapeuta:Eu acho que é alguma distorção de tempo, entendeu você pode
aumentar um pouquinho porque é uma viagem, eu já me vejo lá, quando eu estou
esperando uma resposta e eu vou ficar ansiosa, eu já me vejo lá. Isso é bárbaro.
Paciente:É mesmo? Porque às vezes eu consigo fazer sozinha.
Psicoterapeuta:Isso a gente chama de projeção do tempo com progressão do tempo. É
que muitas vezes você já passou por isso.
Paciente:É que às vezes eu vejo no real; fora o cansaço essas coisas eu faço isso.
Porque eu já vejo no real as coisas acontecendo.
Psicoterapeuta:Isso é bom.
Paciente:É bom?
Psicoterapeuta:É ótimo.
Paciente:E é o real. Ai que cena linda que visualizei.
Psicoterapeuta:Conte como foi.
Paciente:Sabe o que é, é assim, a minha felicidade é a seguinte, eu tenho muitos
problemas, para a minha felicidade, o meu marido tem que estar junto.
Psicoterapeuta:Que bom. Ele é o teu marido.
Paciente:Sabe por quê? Porque ele está numa depressão muito grande.
Um quadro lindo, eu sorrindo e ele também sorrindo, mas não com coisas materiais mas
com felicidade, com amor, sorrindo.
Psicoterapeuta:Esse conflito (gravação incompreensível)
Paciente:É isso que não está dando mais, é isso o que a gente está vivendo há dois
anos atrás com felicidade, viajando, fazendo sonho (gravação incompreensível) na frente
de novo, fazendo planos o que nós vamos fazer, o que nós vamos comprar de novo. A
gente estava assim há dois anos, isso é uma delícia, num jardim lindo, (gravação
incompreensível) verde, uma casa linda, fazendo planos, o meu marido sorrindo fazendo
brincadeira. O nosso filho com uma namorada loira.
Psicoterapeuta:E porque loira?
Paciente:Eu tenho mania de namorada loira e o meu filho gosta de mulher escura.
127

Psicoterapeuta:Você não vai ter uma nora loira então.


Paciente:Não sei ele gosta de gente com pé até mais escuro; ele fica doido, fazer o quê,
ele gosta. Eu vi o meu filho com uma moça sorrindo e veio isso projetos e (gravação
incompreensível) com ela e o meu marido falou “será que vamos abrir um negócio com o
nosso filho”, ele estava falando de abrir coisas assim, (gravação incompreensível) o meu
filho sorrindo. Porque o meu filho também está meio; ele está muito fechado e as notas
dele, até que, por exemplo, em direito ele tirou dez, mas ele não foi tão bem, mas até que
deu para ele passar, mas ele falou para mim “mãe eu não fui muito bem porque eu
também estou preocupado com vocês, ele falou eu estou preocupado com vocês.” Então
tudo é um conjunto de família então a gente melhorando, eu vi que ele estava sorrindo,
quer fazer as coisas dele também, então eu vi que o cenário mudou tudo, tudo mudou. E
eu fazendo as minhas coisas, por exemplo, é o que eu falei para o meu marido, eu quero
fazer as minhas coisas, quero fazer esporte porque eu gosto muito de esporte, eu preciso
fazer uma coisa para mim, não quero ficar só cuidando de casa, um curso alguma coisa
que eu goste, eu preciso me achar...
Psicoterapeuta:Se ocupar.
Paciente: Eu preciso.
Psicoterapeuta:Não só ficar minhocando, minhocando...
Paciente:Eu não agüento mais cuidar de casa, eu quero fazer um curso, alguma coisa,
eu preciso me achar. Só fico minhocando, pai e mãe, pai e mãe.
Psicoterapeuta:Pai, mãe, sogro, cunhado.
Paciente:É fica nessa redoma, mas ele também fica nessa redoma.
Psicoterapeuta:E trazendo tudo para dentro.
Paciente: (gravação incompreensível) eu trago para casa, mas ele...
Psicoterapeuta:Traz preocupações e não consegue nem dormir.
Paciente: O problema é esse ele não quer voltar para o trabalho antigo dele.
Se não fizer (gravação incompreensível) para mim, pode ir embora. Eu falei para ele isso,
que eu não estou agüentando mais. Quando ele estava ele ficava oito horas no trabalho
por que ganhava esse dinheiro para ficar lá sofrendo? Ganha um salário de (gravação
incompreensível) porque eu tenho a minha aposentadoria que eu posso pagar a
transferência, posso pagar um (gravação incompreensível) e eu vou pagar já, posso
pagar uma aposentadoria da Europa eu, não de nada , a Europa pode pagar um
(gravação incompreensível ) de sessenta anos com o salário mínimo são três mil euros.
Psicoterapeuta:Nossa que maravilha.
Paciente:Eu vou pagar já para mim.
Psicoterapeuta: Claro.
128

Paciente: Eu falei se quiser sair do trabalho, saia não ouça nem tua mãe nem teu pai.
Nasce outro homem, ele queria fazer medicina.
Psicoterapeuta: Ele queria fazer medicina..
Paciente: Eu falei, vai fazer o que você quer , pára, vai fazer o teu sonho, agora não vai
por causa da mãe e do pai eu acho isso bobagem, sabia? Eu falei para ele sair da polícia,
acho bobagem você ficar segurando, agora a gente vai mexer direito o dinheiro no
banco. Eu falei vamos começar do zero nossa vida.
Eu falei sai da polícia vai fazer outro curso chega. Eu acho que a polícia traz
muita energia negativa. Porque no sexo mesmo, no sexo, porque no sexo a gente
se torna um a pessoa só e no sexo eu percebi meus demônios muito
perturbadores (...) da polícia muitas coisas ruins, ele via muito e percebia coisas
ruins, no sexo mesmo porque vem né. Porque vêm coisas de lá, depois vem e faz
sexo e “bum”, vem um negócio ruim, isso é horrível.
A coceira da cabeça eu não tenho mais nada.
Até aqui tinha uma que desapareceu ( a paciente sinalizou a região do peito).
Psicoterapeuta: Está cada vez mais (gravação incompreensível) derrubamos o
muro de Berlim.
Paciente: Vai ser o conjunto todo.
Psicoterapeuta: Veio com tudo, né?
Paciente:Veio com tudo o meu tratamento e entrou tudo.
Sessão 7
A paciente chegou à sessão dizendo que havia mudado o seu cabelo e que
gostava de aparecer através de seu visual.
Psicoterapeuta:Como é que você está?
Paciente:Eu estou bem assim, sem ...Sem coceira.Sem coceira nenhuma sabia.
Psicoterapeuta:A coceira a gente já se livrou! Quantas sessões foram?
Paciente:Oito.
Psicoterapeuta:Oito só?
Paciente:Parece que foram mais, né?
Psicoterapeuta:Parece.Em termos de fortalecimento, olhando a sua história,
você melhorou muito?
Paciente:Eu melhorei muito.
Psicoterapeuta:Você está mais bonita, mais centrada.
Paciente:Todo mundo fala, você sabia?
129

Psicoterapeuta:Você está mais bonita.


Paciente:Todo mundo me falou.
Psicoterapeuta:Eu acredito.
Paciente:Todo mundo fala.
Psicoterapeuta:Eu acho que a transformação da terapia também está no rosto.
Paciente:Todo mundo falou.
Psicoterapeuta:Está mais centrada, está mais adulta, um sentimento mais
adulto.
Paciente: Eu percebi sabe o quê? Que eu estou menos focada na minha irmã.
Psicoterapeuta:Você está pensando mais em você?
Paciente: Eu estou menos focada na minha irmã isso eu percebi muito claro, e eu
até falei com o meu cunhado, com um amigo, então eu dei uma lição de vida para
ele, foi isso que eu percebi a diferença que fez essa terapia.
Psicoterapeuta:Que bom.
Paciente:Porque eu falei para o meu marido isso na semana passada. Ele estava
muito assim: porque a sua irmã, porque ela, porque o filho dela, porque o filho
dela aquilo. Eu cheguei para ele e falei assim: para de cuidar da vida dela. Porque
eu que sou irmã, não estou nem aí. Falei isso porque ele estava em um
desespero com tudo. Eu falei para ele para cuidarmos da nossa vida, então eu vi
que...Eu não estou querendo cuidar da vida mais de ninguém.
Psicoterapeuta:Que bom!
Você consegue ser forte na medida em que você também está forte.
Paciente:
Na minha outra terapia, a terapeuta me jogou contra a minha sogra. Eu tive que
trabalhar as mesmas coisas a outra terapeuta, mas deu alguma coisa errada na
terapia dela que eu bati de frente com todo mundo. Não tem nem como explicar.
Psicoterapeuta:E você aprendeu sobre a questão de bater de frente?
Paciente:Mas deu tudo errado lá com ela.
Psicoterapeuta:Buscando você pode ajudar sem se rebaixar, você pode ajudar
sem adoecer.
Paciente: Mas eu não entrei no problema.
Psicoterapeuta:Não? Então você acha não é para entrar no problema. Entra no
seu.
130

Paciente: Eu não entrei porque eu falei para ela: o problema não é meu, mas ela
queria que eu entrasse, mas eu falei “não esse problema não é meu”.
Psicoterapeuta: Isso é defesa.
Paciente:Esse problema não é meu, eu falei para ela. Nem o de ontem,
percebeu, ontem eu saí com o meu cunhado e ele falou: eu não quero que você
se intrometa nos problemas da minha casa e da minha família que eu não me
intrometo na tua casa.
Psicoterapeuta:E como você ouviu isso?
Paciente:Eu ouvi bem.
Psicoterapeuta:Digeriu?
Paciente: Não. Eu digeri. Eu fiquei quieta, não, eu ouvi, espera aí, mas isso que
eu queria falar com você. Ele falou assim “você não se intrometa com a minha
mãe, nem na minha casa, você não tem nada a ver com os meus problemas nem
com a minha mãe”
Psicoterapeuta:Isso é uma carta de liberdade. Eu entendo assim, não é? Você
está livre.
Paciente:Estou livríssima. E a mãe dele? Será que ela pensa assim? Ela que
veio cobrar.
Psicoterapeuta:O quê?
Paciente:Ela falou: “como você não falou com ele, você devia ter falado”.
A mãe dele veio falar “Você tem que falar para ele que você tem tudo a ver
conosco”
Psicoterapeuta:Vai entendendo que foi uma liberdade.
Paciente: Você acha?
Psicoterapeuta: Você já está liberta disso.
Paciente:Eu estou liberta.
Psicoterapeuta: Agora você pode sair com ele para fazer outras coisas..
Paciente: Com que?
Psicoterapeuta:Com o seu cunhado, só que não tem nada a ver com os
problemas dele.
Paciente: Com ele e com a mãe dele?
Psicoterapeuta:Não foi isso que ele disse?
Paciente:Ele disse.
131

Ontem eu cheguei, sentei e falei pro meu cunhado: você não acha que...Ele
interrompeu e disse: eu já te falei, você não tem nada a ver com a minha casa,
nem com a minha família“.
Psicoterapeuta:E porque você foi falar? Eu acho que você não digeriu esse
recado. Você pegou pelo lado ruim, pessoal.
Paciente:Mas espera aí, eu já fiz isso com o meu marido, eu já fiz isso ai no
passado, sabe o que eu fiz?
Psicoterapeuta:Mas ele é seu marido.
Paciente:Mas eu já fiz isso com a família dele, sabe o ele fala? “Você vai fazer
isso com a minha família? Vai largar meu pai e minha mãe?”
Psicoterapeuta:
Não é questão de largar.
Paciente:Mas ele fala assim. Daí eu não vou mais lá.
Psicoterapeuta:Mas isso daí que é diferente, você pegou por um lado só.
Paciente:Mas daí eu não sei lidar com isso.
Psicoterapeuta:Não, você é oito ou oitenta.
Paciente:Eu sou, eu sou, você sabia que eu sou assim?
Psicoterapeuta:E o caminho do equilíbrio?
Paciente:Como é que eu lido com isso? Como é que eu faço?
Eu não sei lidar com o meio termo. Como é que eu faço? Porque a minha sogra
fala assim “você tem que me proteger. Você tem que falar para o seu cunhado
que você tem que ver tudo aqui porque você é minha nora e você é como uma
filha para mim”. E agora?
Psicoterapeuta: É uma questão difícil. A Maria Helena Rizzo, que é uma
psicanalista, disse o seguinte: quando a filha dela casou, ela chegou para a filha e
disse assim: “você sempre vai fazer parte da minha família, eu não faço da sua.
Então para eu ir à sua casa você vai ter que me chamar, você vai ter que me
convidar, eu vou ligar.
Paciente:Mas eu tenho uma convivência com a minha sogra que você não tem
idéia.Nós somos que nem amigas. Você não sabe essa nora nova que ela
arrumou. Ela disse assim: Eu já sou vinte anos sogra, hoje eu descobri que eu
sou sogra”. Eu falei que eu não acredito.Nós duas somos como mãe e filha, mas
eu falei cada um é cada um, você vai ter que saber lidar com isso, com a nora
nova.
132

Psicoterapeuta:Claro. Mas você pode continuar super amiga dela.


Paciente: Mas ela quer que eu a proteja, daí começa essa história.
Psicoterapeuta:Tenta não repetir o mesmo padrão para dar resultado diferente.
Paciente:Não vai dar, eu vou ter que botar limite para ela.
Psicoterapeuta:Fazer a mesma coisa...
Paciente: Porque o meu cunhado já falou duas vezes “não é o seu problema, a
casa não é sua”.
Psicoterapeuta: Quem criou o filho?
Paciente:Ela. E ele é igual a ela e ela é igual a ele, porque ela também é assim,
ela bate no peito e fala assim “eu mando, a casa é minha”, ela também é assim,
porque eu não entro na casa dela eu falo assim “eu vou até o limite dela eu não
passo do limite porque eu tenho educação, eu tive educação européia então você
sabe, eu vou até; eu tenho um limite de educação eu não passo dos limites dela.
Agora o meu cunhado veio me dar e ela chegou para mim e me deu uma boa
idéia domingo, ela falou assim “ quando ele vier te pedir alguma coisa você fale
para ele que você não tem nada a ver com a vida dele” ela me deu uma boa idéia
domingo.
Psicoterapeuta:Está certa, na mesma moeda. Agora isso não quer dizer que
você não vai proteger a sua sogra, que você não vai ajudá-la, que você vai deixar
de ir lá, tem que saber lidar.
Paciente:Agora eu tenho que saber ...
Psicoterapeuta:Você já velejou?
Paciente:Já, eu tinha barco a velas.
Psicoterapeuta:Isso, um exercício excelentíssimo.
Paciente:Eu tenho. Tinha.
Psicoterapeuta: Aonde é que eu estou querendo chegar. Como é que a gente vai
fazer com o barco a vela conforme o vento, não é isso? A gente abaixa a vela,
levanta, amarra isso é o equilíbrio. Essa é a sua metáfora, você pega na sua
mente um barquinho a vela. Quando começar a tumultuar, busca o equilíbrio. Eu
estou na minha praia e eu estou com o meu barquinho do equilíbrio, me deixa eu
colocar ele lá baixa, amarra a vela.
Paciente:Vou ter que aprender.
Psicoterapeuta:Vira conforme o vento.
133

Paciente:Tem livro pra eu comprar que eu possa ler sobre isso? Eu adoro ler
sobre isso, sabia? Eu gosto de livros auto...
Psicoterapeuta:De auto-ajuda?
Paciente:Adoro. Porque te ensina muito, né.
Psicoterapeuta:Eu acho que o que mais me ensina é você sentir, é você se
conectar.
Paciente:Porque antes eu fugia. Eu estava fugindo e me deprimindo. Eu tenho
que enfrentar o meu cunhado, porque ele que nem meio que meu pai, assim, para
mim, eu tenho que enfrentar, vou conversar com ele, vou sentar porque para mim
ele é meio que meu pai, eu falo para o meu marido, então eu vou enfrentar.
Psicoterapeuta:É um aprendizado o seu cunhado. Como você vai aprender a
lidar com ele, talez você possa aprender a lidar com o seu pai.
Paciente:Você sabia? O meu cunhado gosta das mesmas coisas que o meu pai,
gosta de cachorro por exemplo, é uma coisa impressionante.
Psicoterapeuta:Então é isso.
Paciente: Eu acho que o meu cunhado sempre quer me cutucar né.
Psicoterapeuta: Quando você pensa no seu cunhado, que bicho você lembra?
Nesse momento a paciente fecha os olhos e permanece sorrindo ao falar dos
animais.
Paciente:Que bicho? Eu penso num touro.
Psicoterapeuta:Em um touro. E quando você pensa no seu pai?
Paciente:Que signo que o meu cunhado é?Deixa eu pensar.
Psicoterapeuta:Não. Não importa. E o que seria seu pai? Quando você pensa
em um bicho, que bicho você pensa?
Paciente:Não o meu cunhado não é um touro, meu pai é. O meu cunhado é igual
meu pai, um escorpião.
Psicoterapeuta:Então muito bem, o bicho é o escorpião. Como é que você lida
se tiver que entrar aqui nesse momento dois escorpiões? Imagina: fecha os olhos
e imagina entrando numa sala, como você enfrenta os escorpiões?
Paciente:Mas ele é grande?
Psicoterapeuta:E se você fosse um bicho, que bicho você seria?
Paciente:Isso que eu estou vendo. Sabe como é que eles chamam de onça.
Psicoterapeuta:Onça pintada? Você é uma onça pintada.
Paciente:Eu sou uma onça.
134

Psicoterapeuta:Então imagina uma onça e um escorpião conversando.


Paciente:É que a onça ela fica mais, ele não ataca primeiro fica mais; ela ataca
primeiro, né? Ela fica esperando.
Psicoterapeuta:Ela espera ou ataca? Eu acho que com o escorpião ela não
deveria fazer isso, porque se ela estiver muito distraída o escorpião vai pela
patinha dela e ataca. Então, como ela é grande, como ela é maior e ela é esperta,
ela vai se aproximar, mas nem tanto.
Paciente:Mas ela é esperta você entendeu, sou eu mesma, porque ela espera. É
que eu me vejo ela espera e pensa para depois atacar, eu sou assim.
Psicoterapeuta:Ah! É tão interessante que a gente poderia dar a metáfora da
onça pintada. Tem umas pintinhas...
Paciente:Tem tudo a ver, porque eu espero, tem tudo a ver com o meu caráter.
Eu espero, olho e penso para depois atacar, tem muito a ver com o meu estilo.
Agora eu estou indo um pouquinho mais rápido, antes eu esperava um pouquinho
mais.
Psicoterapeuta:Agora, eu acho que você poderia se transformar. Pensamos
juntas.
Paciente:Poderia me transformar em outro bicho.
Psicoterapeuta:Qual outro bicho você poderia se transformar? Vamos fazer uma
zooformose. A gente podia pegar aquela pinta...
Paciente:Engraçado eu sempre pensei em bicho com pinta, quer ver que
engraçado, joaninha, girafa tem pinta?
Psicoterapeuta:Tem pinta.
Paciente:Que coisa, que engraçado na minha mente.
Psicoterapeuta: Olha que interessante.
Paciente:Agora eu pensei naquele outro, flamingo que é lindo.
Psicoterapeuta:Ah! Que lindo.
Paciente:Flamingo que é salmão.
Psicoterapeuta:Um salmão lindo.
Paciente:Com as pernas compridas.
Psicoterapeuta:O escorpião não vai pegar porque ele fica na água, ele voa.
Paciente:Ele fica na água e eu adoro água.
Psicoterapeuta:E também gosta de viajar, de mudar.
Paciente:Então tem tudo a ver.
135

Psicoterapeuta:Ele sai do alvo da cadeia biológica do escorpião. Então o


caminho do meio tem a ver assim você está aqui, à entrada de um flamingo é
leve, ele pousa, não tem que ser essa coisa da intensidade, quando você
perceber que você está perdendo a força pensa no flamingo, ele voa, sabe, ele
sai um pouquinho, ele traz comida, ele vai para outros vales.
Paciente:Que engraçado isso, como que conectamos coisas.
Psicoterapeuta:Para você ver como o inconsciente é. E o que é mais
interessante ainda é que quando você estava com pensando em um animal, eu
pensei no flamingo.
Paciente:Eu estou tão relaxada.
A paciente estava com os olhos praticamente fechados e com uma aparência
extremamente tranqüila.
Psicoterapeuta:Que bom percebeu o caminho que nós fizemos hoje?
Paciente:Eu percebi.
Psicoterapeuta:A imagem. A gente usou uma técnica dos símbolos.
Paciente:Isso é interessante hein.
Psicoterapeuta:Na sua casa nós temos um flamingo e o que mais? O seu marido
seria o quê?
Paciente:Hipopótamo. Ele adora hipopótamo.
Psicoterapeuta:O seu filho?
Paciente:O meu filho, deixa eu ver, como animal, nossa nunca pensei ! O nome
dele quer dizer cavalo.
Psicoterapeuta:Quer dizer cavalo?
Paciente:Sim, quer dizer cavalo. Mas cavalo é quieto, será?
Psicoterapeuta:Domesticado? Como é que ele?
Paciente:Ele é quieto, observador, não fala muito, fechado, muito parecido com o
pai. Agora que eu estou conhecendo o meu marido, o meu filho é muito parecido
com ele, porque eu não sabia da onde vinha, agora que o meu marido está
fazendo terapia, eu estou vendo que ele é muito fechado, eu não sabia da onde
vinha esse temperamento do meu filho porque eu achei que fosse do meu sogro,
porque eu não sou tão fechada assim e eu vi que era do meu marido, porque
agora que a gente está vindo para cá eu falo “ fala o que você sente para mim”,
eu estou treinando para ver se ele fala mais.
136

O temperamento dele é difícil, muito difícil lidar com uma pessoa assim. Ainda
bem que eu não entro na dele.
Nós somos totalmente diferentes.
Psicoterapeuta:Mas também gostam de água.
Paciente:Sabe quem mais sofre? Eu, O meu filho agora tem sofrido pouco
porque ele tem um temperamento quieto, mas agora essas três semanas ele tem
saído que eu estou até impressionada. Ele é quieto, mas agora têm saído com os
amigos. Agora está começando e eu estava esperando. Acho que agora está
começando, está começando e eu acho que chegou a hora do meu filho ter
coragem de dirigir o carro, acho que chegou a hora. Acho que chega a hora da
pessoa, e eu estava esperando. Eu perguntei pra ele: e aí quando vai chegar a
hora? Os amigos deles tem ido todos os dias na casa do meu cunhado, ele é
animado.Então vão os amigos do meu filho, a irmã do meu cunhado, eles vão
comer cachorro quente, um dia vão para o cinema e vai todo mundo junto.Então e
o meu filho vai, e o meu marido fica desanimado, então o meu filho também fica.
É aquele negócio.E eu falei para ele: vamos um pouco para o sítio, vamos fazer
um churrasco. E ele só fala: “ah, não tem dinheiro”.Porque bebida é uma coisa
cara. Eu falei para ele “pára de ser tonto e retardado porque eu não estou nem
aí“, eu estou, mas se a pessoa fica gastando dinheiro com bebida eu acho que ela
tem que ser madura, guardar dinheiro principalmente para a terapia, eu acho que
a terapia me ajudou nisso.
Psicoterapeuta:Sua irmã que animal que é?
Paciente:Minha irmã é um bicho muito...Uma cobra que pica.
Psicoterapeuta:Já pensou uma cobra enrolada...
Paciente:Deixa eu te falar uma coisa, você que mexe com espiritismo, né?
Psicoterapeuta:Eu não mexo com espiritismo.
Paciente:Eu sei, mas deixa eu te falar uma coisa.
Psicoterapeuta:Mas eu não mexo com espiritismo.
Paciente: Uma pessoa que eu conheço, falou que o marido dela viu, é que eu
não acredito em espiritismo, então deixa eu te falar. O marido dela viu a minha
mãe sentada na cama dele, falou que a minha mãe chegou para ele e falou assim
que vai deixar a gente em paz. Com quarenta anos agora, que vai embora, que
agora vai deixar a gente em paz e que ela fez tudo aquilo e vai embora.
Psicoterapeuta:Deixar vocês em paz do que?
137

Paciente:Sabe que eu sinto que; eu falei para o meu marido, esses dias na
Europa tem alguma maldição hereditária. Eu não sei o que é eu sinto. E eu não
sei se é por causa que a família do meu avô veio do negócio do Hitler,
entendeu? Então eu falei para o meu marido, tem coisas que assim tem muita
coisa espiritual mesmo.
Psicoterapeuta:Energia?
Paciente:Tem, tem muita coisa, muita energia.
Psicoterapeuta:Tem energia.
Paciente:Agora travou. É tudo muito estranho espiritual, tem uma coisa espiritual
eu não sei o que é, mas tem uma coisa espiritual.
Psicoterapeuta:Mas a energia você pode imaginar, é isso que eu estou te
falando.
Paciente:Você é católica?
Psicoterapeuta:Eu sou católica apostólica daquela que vai à missa.
Paciente:Eu sei. Isso para mim não é espiritismo.
Psicoterapeuta:Na verdade é o estado mental da pessoa.
Paciente:Você reza para santo, né?
Psicoterapeuta:Cada um mexe com aquilo que tem fé, ora, mas vale a fé. Cada
um tem que seguir o seu caminho, da mesma maneira que eu sou católica, a
minha irmã é pastora evangélica.A família tradicionalmente é católica, tem gente
espírita também. No sentido de cada um é cada um.
Paciente:É que meu pai mexe com muitas coisas.
Sabe o que eu tenho medo; não tem coisas que vem para o bem, meu medo é
mexer com coisa ruim, é isso que eu tenho medo.
Psicoterapeuta:Nos encontramos na semana que vem e podemos continuar
discutindo essa questão.

Sessão 8
No último encontro a paciente preencheu o questionário, fez a autobiografia livre e
realizou o desenho que representasse o sintoma que a trouxe buscar auxílio
psicológico. Ela se emocionou ao se despedir e pediu à observadora participante
que mantivesse contato, pois aqueles encontros semanais iriam lhe fazer falta.
138

Anexo H

Termo de Consentimento Livre Esclarecido

Eu, _______________________________________, RG ___________,


residente à
_______________________________________________________________,
concordo em participar da pesquisa “O uso da hipnose como ferramenta
terapêutica na área da saúde: uma perspectiva analítica”, realizada por Ana
Carolina Corrêa D´Agostini. A pesquisa consistirá em sessões com técnicas de
hipnose, em desenhos temáticos que representem o sintoma, autobiografia livre e
questionário da história do sintoma psicossomático.
Autorizo para fins exclusivos desta pesquisa a utilização dos dados
coletados. Declaro estar ciente de que:
- qualquer publicação deste material excluirá toda informação que permita minha
identificação por parte de terceiros;
- não haverá nenhum dano ou risco à saúde;
- posso encerrar minha participação no trabalho a qualquer momento que
julgue necessário;
- no final da pesquisa poderei obter informações sobre os resultados.

Declaro ter lido este Termo de Consentimento e compreendido as


informações que me foram apresentadas.

___________________________
Assinatura

São Paulo, ___ de _________ de 2009.


139

Anexo I

Termo de Consentimento Livre Esclarecido para o responsável da


Instituição onde será realizada a pesquisa

Eu, _______________________________________, RG ___________,


residente à
_______________________________________________________________,
responsável pela Instituição_________________________________________,
concordo em participar da pesquisa “O uso da hipnose como ferramenta
terapêutica na área da saúde: uma perspectiva analítica”, realizada por Ana
Carolina Corrêa D´Agostini. Permito que o trabalho seja realizado na Clínica e
declaro ter lido o Termo de Compromisso do Pesquisador e os objetivos
propostos. . A pesquisa consistirá em sessões com técnicas de hipnose, em
desenhos temáticos que representem o sintoma, autobiografia livre e questionário
da história do sintoma psicossomático.
Autorizo para fins exclusivos desta pesquisa a utilização dos dados
coletados. Declaro estar ciente de que:
- posso encerrar minha participação no trabalho a qualquer momento que
julgue necessário;
- não haverá nenhum dano ou risco à saúde;
- no final da pesquisa poderei obter informações sobre os resultados.
Declaro ter lido este Termo de Consentimento e compreendido as
informações que me foram apresentadas.

___________________________
Assinatura

São Paulo, ___ de _________ de 2009.


140

Anexo J

Termo de Compromisso do Pesquisador Responsável


(vide documento em anexo)

Você também pode gostar