Você está na página 1de 13

“Não é um romance realista”, afirma

Camila Sosa Villada, autora do premiado


“Parque das Irmãs Magníficas”
Por Thiago Andrill

O livro Parque das Irmãs Magníficas (Las Malas, em espanhol) é o primeiro trabalho
da escritora, poetisa e atriz argentina Camila Sosa Villada traduzido para o português
do Brasil. A narrativa se desenrola a partir do resgate de um bebê por um grupo de
travestis na madrugada do Parque Sarmiento, em Córdoba (distante 695 km da capital
Buenos Aires). Deste parto, os caminhos das personagens são revelados, alternando-se
em convergência e distinção. “Não é um romance realista, pelo contrário”, afirma a
autora em entrevista à Bazaar. “Não são detalhes de magia, essas personagens estão
imersas em um mundo que não existe. O registro da violência – que é a única coisa que
as pessoas reconhecem como familiar, porque a exercem todos os dias – faz com que se
pense que é uma novela realista, que estou falando de minha vida”, continua.

Ganhador do prêmio Sor Juana Inés de la Cruz, da Feira Internacional do Livro de


Guadalajara, a obra é publicada por aqui pelo selo Tusquets, da Editora Planeta. A
protagonista inicia a história no auge de seus 178 anos, outra personagem vira lobiscate
nas noites de lua cheia e, dia após dia, uma terceira se metamorfoseia em direção ao seu
destino: se tornar um pássaro. Muito tem sido dito sobre um possível elemento
autobiográfico no livro – principalmente em relação ao retrato de violências nele
presentes e pela escorregadia associação dela por ser travesti. Além disso, a obra tem
sido informalmente atribuída a classificação de gênero (neste caso, literário) de realismo
mágico.

Esta possível interpretação, diz a autora, é mostra uma interpretação de quem não tem
experiência em ler um livro que não casa com nenhum gênero literário. Camila é uma
das convidadas do Agora é com Elas: Literatura e Sociedade na América do Sul, evento
organizado pelo Goethe-Institut que reúne escritoras latino-americanas e alemãs a partir
desta semana. A autora, que inaugura esta série de debates, falou à Bazaar sobre o novo
livro, a ilusão do amor romântico, ódios carregados nas costas e as dificuldades em
conceder entrevistas a jornalistas por vezes enviesados. Leia a íntegra:
Foto: María Palacios

Escrever é mais prazer ou alívio?


Nem uma coisa ou outra. Talvez quando morava com meus pais, a escrita era uma
forma de ter uma voz em uma casa onde estava completamente silenciada. Mas logo
isso deixou de ser assim, pois já faz 21 anos que moro sozinha. É inevitável. Algo que
vem comigo. Não diria que é prazer. Minhas costas doem, tenho as articulações das
mãos destruídas por má postura, editar livros é um pouco passar por um triturador de
autoestima e está tudo bem, pois é a única maneira pela qual se aprendem algumas
coisas. Tampouco é um alívio. Às vezes, as consequências se pagam mais na frente,
porque a escrita termina e a gente pensa que tem obrigação de ser fiel à ela. É inevitável
como comer.

O quão difícil foi escrever “O Parque das Irmãs Magníficas” e em quais aspectos
ele difere de trabalhos anteriores?
Não foi difícil. O difícil foi responder ao Jornalismo. Encarar outra vez todas as formas
sutis de violência e transfobia por parte dos jornalistas, enfrentar o que eles pensam que
sabem sobre o livro, embora em 90% das vezes estejam absolutamente equivocados. O
difícil é suportar perguntas do tipo: “Existia a Tia Encarna? Me explica?”. Lhe exigem
uma ficção para dar conta de uma verdade, algo que sempre fazem com as escritoras
mulheres.

A narrativa se desenrola a partir do resgate de um bebê por um grupo de travestis,


que passa a cuidar dele. É destacado, na obra, o incômodo da associação com a
infância. Para além da marginalização, que causa tal separação, a que ponto te
incomoda a violência do bem e mal?
Bom, são formas elementares de ler o mundo. Isso funciona em um quartel militar, em
um colégio de monges, em lugares onde a lógica medieval sempre funciona para
explicar algumas coisas. Eu respeito Las Malas (título do livro em espanhol, que se
refere às “Irmãs Magníficas”), a perseguição à Tía Encarna e ao seu filho. Assim foi
escrito este livro.

O olhar sobre travestis é socialmente engessado em sofrimento. No livro, você não


nega as violências (pelo contrário), mas parece mais preocupada em reclamar
contornos não estáticos – a famigerada humanidade. Qual é o seu cansaço em
pincelar o que deveria ser óbvio, mas para a maioria não é?
Não sei se escrevi reclamações, ou evidências, da m… que nos afoga. Escrevi um
romance honestamente, um romance nu. Como não vou escrever sobre esse horror
também? Porém, não estou aqui para demonstrar nada. Não é didática, não é política,
não é nada disso. É uma ficção. Os que leem saberão onde os tocará.
Foto: María Palacios
Te incomoda a associação, culturalmente muito em alta, da artista de “minoria
social” com uma suposta obrigatoriedade de também ser educadora?
Além de tudo que foi tirado de mim, toda a violência, toda a m… jogada em mim, tenho
que ter paciência e explicar as coisas? Não. Eu quero descansar. Quero fazer ficção.

Você diz que a travesti carrega o ódio do mundo nas costas. Em certo momento, a
protagonista percebe que jamais conseguiria dar tudo por uma pessoa. “O amor
não viria, porque sabia que eu não poderia responder-lhe com bondade”, diz…
Esse momento em particular do romance é como o fulgor de quem o escreve, que se dá
conta que aquele amor exige muito, que só atinge aqueles dispostos a se dissipar em
favor de um sentimento que vem programado, que pedem e dão como, se fosse possível,
um amor recíproco e estável.

É possível dar tudo por alguém ou é uma ilusão?


Não sei, nunca tive que dar tudo de mim por um homem. Você teria que perguntar a
alguém que acreditasse em tal mentira.

O conceito de romantismo estrutura a heteronormatividade, onde o núcleo sagrado


de pai-mãe-filhos é valorizado em detrimento de outras relações. Existem críticas à
centralização do amor romântico até (principalmente) entre pessoas do mesmo
gênero ou não-binárias; de como ele poderia alienar e criar expectativas irreais
sobre uma única relação. Como você observa a dinâmica entre amor romântico e
um, supostamente, mais amplo?
Nunca tive um amor romântico. Como travesti, isso esteve proibido para mim. Preferi
falar de alianças, de amores que não completam nada. Nem vem me completar, nem eu
tenho que completar ninguém. Creio na companhia e nas pessoas que não precisam de
‘um outro’ para estar alegres. Acredito na militância sexual, em pessoas que fazem sexo
e se divertem e exploram. Sou um pouco loba das estepes, veja bem… no que acredito,
sim, é que a família, esta última bandeira do catolicismo, do evangelismo, das direitas
latino-americanas, seja um lugar terrivelmente inseguro para crianças e mulheres. Aí, a
maioria dos abusos infantis ocorrem dentro das famílias. Aí, os assassinatos de
mulheres acontecem pelas mãos de seus maridos, de seus namorados; isso deve ser dito.

Com a segregação, muitas vezes legitimada por instituições públicas, é possível


fazer parte de uma nação que, como você coloca no livro, parece um monstro que
se alimenta de travestis?
Só posso falar sobre mim, pelo sentimento que tenho com a Argentina. Este país mata
as travestis, matou e continuará matando. Esta não é minha pátria. Não tenho
sentimentos nacionalistas. Não me importa se ganhamos uma Copa do Mundo, se Messi
ou Maradona ou ‘quem quer que seja’ deixa feliz toda uma nação que durante décadas
tentou matar as travestis. Mas esta terra, onde sempre existiu travestis, antes mesmo da
colônia, está cheia de gente que faz com que eu não vá para outros lugares, que eu não
conceba a vida em outro local, porque, afinal, os lugares são feitos por pessoas.

Travestis sempre contaram suas histórias, mas poucos mecanismos estavam


dispostos a registrar e divulgar. No Brasil, seu novo livro é publicado pelo selo
Tusquets, da editora Planeta. O Brasil é o país que mais mata travestis no mundo.
Como percebe o movimento do mercado editorial?
Bom, espero que não me matem. Coloquei minhas tetas ano passado e quero aproveitá-
las por pelo menos mais uma década. Por outro lado, pelo menos estou acompanhada
por outras escritoras travestis que estão criando leitoras, que vêm fazendo um estilo, um
modo de escrever. Espero que em breve chegue ao Brasil Claudia Rodríguez, escritora
chilena travesti que acredito ser a melhor escritora viva. Todas e todos nós que
escrevemos estamos atrás dela.

Você também é atriz. Qual a diferença entre falar palavras escritas por outras
pessoas e traçar as suas próprias?
A diferença é o trabalho. É o estudo. Estudar a letra, ensaiar, conhecer a palavra alheia.
Conhecer o autor, sua vida, desvendar a maior quantidade de mistérios possível.

Você traz as travestis de Córdoba como super-heroínas, com rostos cobertos por
máscaras – as suas maquiagens. Qual o custo desses poderes?
Veja bem, quase todas terminam mortas.

Harpers bazar
https://harpersbazaar.uol.com.br/cultura/nao-e-um-romance-realista-afirma-camila-sosa-
villada-autora-do-premiado-parque-das-irmas-magnificas/?amp
22/01/2022

“Estoy ejerciendo la literatura sin títulos


ni permisos”, Camila Sosa Villada sobre
Las malas
Las malas (Tusquets, 2019) se convirtió en un fenómeno literario durante esta
pandemia. Su autora argentina, Camila Sosa Villada, habla en entrevista sobre los libros
que recién adquirió, el amor, el teatro, de su vida en las calles, así como de su opinión
en torno a la ley pro aborto en la Argentina.

Por Mario Alberto Medrano

Ciudad de México, 9 de enero (SinEmbargo).- En punto de las diez de mañana, tiempo


de México -las tres de la tarde en su natal Córdoba-, Camila Sosa Villada (Argentina,
1982) responde una videollamada para charlar de Las malas (Tusquets, 2019), la novela
que se convirtió en un fenómeno literario durante esta pandemia. Camila es siempre
literatura, es siempre una ficción, es siempre teatro. Con franqueza y sin ambages, habla
con entusiasmo de los libros que recién adquirió, entre los que se hallaban nombres
como Marguerite Duras, Julián López y Penélope Fitzgerald, hasta de la música que se
escucha en su casa, el amor, el teatro, de su vida en las calles, así como de su opinión en
torno a la ley pro aborto en la Argentina.

Galardonada con el Premio de Literatura Sor Juana Inés de la Cruz 2020, precisamente
por Las malas, Sosa Villada ha escalado en los rankings literarios, junto a otras grandes
autoras, como Mariana Enríquez y Dolores Reyes, asunto que incomoda a los escritores
varones, a decir de la también actriz.

“Yo, en verdad, soy una escritora sin propósito, sin planes. El primer fulgor de Las
malas fue un personaje que hice en una obra de teatro, que era la tía Encarna, ella
aparecía al final de una obra que se llamaba El cabaret de la difunta Correa, que trataba
sobre los milagros, y yo intuía que ese personaje tenía mucha idea de dónde cortar, que
tenía material de escritura interesante, entonces comencé a escribir a partir de eso que
ella hablaba, de los milagros que están al alcance de las manos, pero sin ningún
propósito.

Por otra parte, reconozco que el libro existe tal cual es, capaz de ganarse un premio
como el Sor Juana y lograr todas esas traducciones que se ha ganado, gracias al trabajo
de edición que ha hecho Juan Forn. Él logró que este libro sea la mejor versión de sí
mismo. Yo digo que Juan lo normalizó, lo que salió de mí y pasó por sus manos y llegó
a la editorial es un poco diferente a la idea que yo tenía del libro porque yo no he hecho
talleres ni mucho menos, yo soy una escritora que está ejerciendo la escritura sin título,
sin permiso, lo que sí he hecho es escribir con el viento en contra, bajo la lluvia, bajo la
tormenta, y aun así no he dejado de hacerlo, incluso cuando no tenía ni tiempo ni
dinero, y tenía que hacer otras cosas para ganarme la vida”, confiesa Sosa Villada.
Las malas, el silencio que nombra
El parque Sarmiento, donde habita la estatua de Dante, es el telón de fondo -y primera
imagen de la narración, valdría decirlo- de esta novela, en donde se concentra la manada
de travestis, comandadas por la tía Encarna, quien, después de hallar a un bebe en una
zanja vio transformada su vida. Entre la vorágine de hombres, retenes policiacos,
enfermedades, burlas y humillaciones, esa voz en primera (un yo colectivo), que supone
la de Camila, irá narrando las vicisitudes de las mujeres que se debaten entre la pobreza
y la violencia.

“Lo digo en el discurso de agradecimiento del premio Sor Juana, que el libro gana ese
galardón también por lo que sabe ocultar, por lo que no dice. Cuando la gente me dice
‘ay, pero qué terrible ha sido tu vida’, ‘yo no sabía que las travestis vivían tan mal’,
incluso mi madre me dijo ‘hija, yo no sabía que habías vivido tanto’, lo que pienso es
que es imposible que pueda hablar de esos años, que pueda contarlo todo, pues me
volvería loca de dolor. Ha sido realmente muy difícil poder estar viva, con casi 39 años,
habiendo comenzado a trasvestirme en los años 90, yo he pasado por cosas mucho
peores que las que se cuentan en Las malas, mucho más dolorosas, humillantes incluso,
si se quiere.

Con Las malas, como dice Alice Munro en Las vidas de las mujeres, es autobiográfica
en la forma y no en el contenido. Tomé la forma de parque, el telón de fondo donde
inicia la novela, en el que estuve con una manada, las travestis, quienes me enseñaron a
serlo, pero yo inventé y llenè de plumas y animales y personajes inesperados toda una
situación que de otra manera no hubiera podido escribir.

Género amorfo

Una vez aparecida la novela de Camila, la crítica intentó posicionarla en un género


literario, ponerle un corsé que se adaptara las promociones de ventas; sin embargo, esta
obra es amorfa en su estructura, pues puede ser posicionada en la autobiografía,
biografía ficcional, el realismo mágico, como una crónica.

Obra iniciática, de descubrimientos, la narradora de esta travesía recompone su propio


mundo, devastado, entre ruinas, a veces vulnerable, pero siempre en constante
reaprendizaje. No es una obra de superación personal, como se conoce, ni intenta serlo,
pero sí hay una constante cavilación sobre la vida y el cuerpo, que es una patria
conquistada.

“A fuerza de responder preguntas de los periodistas, pude entender cómo yo desarmaba


no sólo el protocolo de escritura, es decir, tener un plan para escribir, tener una línea de
tiempo, saber qué tipo de arco tienen los personajes, qué tipo de género habita esta
escritura, eso yo lo comencé a romper, y luego comencé a romper también quiénes son
hijos y quiénes son padres, cómo se constituyen las familias, que ese contraste entre la
tía Encarna y su hijo es interesante en tanto y en cuanto la tía Encarna, porque es un
personaje brillante, se deja modificar por la existencia de ese niño al punto de
abandonar a su pareja, al punto de quedarse absolutamente sola, al punto de volverse
hombre para llevarlo al colegio, yo creo que eso sí es interesante porque además la
presencia del niño no sólo modifica la vida de la tía Encarna, sino también de todas las
otras travestis que están allí, porque deben cuidarlo, hay a una que le comienzan crecer
alas, a otra se convierte en loba.
Creo que me mayor influencia es que he sabido leer muy bien, he leído buenas
escritoras, sobre todo mujeres, es decir, he sabido leer a Marguerite Duras, a Sharon
Olds, también he leído muchas entrevistas donde Duras habla sobre la escritura,
entonces, sin saber que estaba aprendiendo, estaba aprendiendo a escribir, y eso ha sido
mi mayor escuela”, asegura.

Poesía, germen de su vida

Entrar en el universo de Las malas es confrontarse constantemente, sentir incomodidad:


lo que cuenta Camila Sosa no es sencillo de diferir, hay, para entrelazar la figura de
Dante en el parque Sarmiento, un descenso a los infiernos.

Y aquí, la poesía, como sucede en La divina comedia, hay poesía. “Creo que la poesía
es el primer contacto que tiene las personas con la escritura. Creo que es por un tema de
brevedad, economía, de magia, cualquier persona es accesible para cualquier persona y
viceversa. Luego está el hecho de que una quiere hacer durar esa instancia de intimidad,
la poesía se escribe en lapsus cortos, a veces muy intenso, a veces una puede escribir un
poema y ya se terminó ahí. También es cierto que una quiere permanecer dentro de los
libros, hasta el último momento.

Pienso en Lorca, “La noche se puso intima como una pequeña plaza”, entonces,
cualquier persona con el estudio que sea, de la procedencia que sea, se va a conmover
por un verso así, en cambio, si le das a leer una novela, la persona no tiene tiempo, se
aburre, le parece complicado, se tiene que ir al diccionario, pero la poesía tiene la
maravilla que es inmediata.

Entre la música y la fama

En estos tiempos de confinamiento, Camila ha pasado los días entre la escritura, música
y el teatro. Al cuestionarla sobre sus gustos musicales, reconoce que siempre debe haber
jazz en su vida. Asimismo, se sabe rebasada por las entrevistas y la marea de reflectores
en torno a ella y su novela.

“Me gusta mucho el jazz cantado por las tres o cuatro más importantes para mí, que son
Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan y Nina Simone. Me gusta el folclore, el
bossa nova, la música brasileña, la samba. No soy muy fiel a ningún estilo, salvo al jazz,
que siempre suena en mi casa.

Ahora, la pasó fatal dando entrevistas, primero porque yo creo que no tengo respuestas
para muchísimas cosas que preguntan, yo me siento impotente, siento que me voy a
arrepentir de lo que digo; segundo, no es lo mismo estar acostumbrada a las tablas que
el interactuar con las personas. En el escenario, finalmente, estás sola, más allá que se
tengan compañeros que te acompañen en ese momento haciendo una obra, sigues
estando sola, y eso es lo que me gusta. Soy más tímida de lo que parezco; ahorita me
viene al pelo haberme contagiado de esta mexicanidad porque de esta manera me
defiendo un poco, luego me dicen cómo es que vas a ser tímida, si eres actriz, el tipo de
fotos que te sacas, las cosas que dices, cómo puedes ser tímida, pero a al momento de
interactuar con personas, sufro muchísimo”, reconoce.

La ley pro aborto en Argentina


Acaso, una de las posibilidades de lectura de esta novela sea la parábola, con una
enseñanza de por medio, aunque sería reducirla a una forma de tratado en favor de los
travestis y los homosexuales. Para Camila, su obra sí presenta una maternidad, pero sin
reglas ni reglamentos, la ejercida por los travestis. En ese tenor, la actriz también da
cuenta de su opinión sobre la ley que actualmente se discute en Argentina sobre el
aborto seguro.

“Lo que creo es que lo que sucede en Las malas, en particular con la tía Encarna, es que
esa maternidad no es ninguna novedad para las travestis, nosotras venimos ejerciendo
maternidades sin nomenclaturas, sin definiciones, desde hace años. Conozco a travestis
que se han venido del Perú de Bolivia, del norte del País, de Paraguay, a las capitales, a
trabajar como prostitutas, y todo el dinero que ganan lo enviaban a sus casas para darle
de comer a sus hermanitos, a sus sobrinos. Entonces, estas maternidades no son una
novedad.

Después está el hecho de que el cuerpo de las mujeres sufre un tipo de violencia
específica, y es intransferible, del mismo modo que el cuerpo de las travestis sufre una
violencia que también es intransferible. En el medio lo que nos une es vivir en una
civilización un poco más saludable para todo el mundo. En eso si estoy y acompañando,
sabiendo que no soy un cuerpo prestante, que no es mi tema, que ahí no tengo más que
dar mi apoyo, decir que esto está bien, y es necesario para un país como Argentina, y
después me retiro y hasta allí llegó yo, y sé que es una labor de las mujeres, que es una
labor de los hombres trans que sigue abortando, que son violados y necesitan hacer
abortos, o lo que fuera, pero siempre con la distancia”.

Nuevos proyectos

Escritora disciplinada, Camila reconoce que el aluvión de entrevistas provocadas por


Las malas le impidió escribir, pero ahora, con más calma ha podido recuperar el ritmo
de escritora

“Ahora mismo estoy escribiendo un libro de relatos para Tusquets, que sale el año que
viene. Y ahorita se está terminando de configurar dentro de mi cabeza qué es lo que
estoy haciendo. En cuanto a los géneros literarios, es un tanto extraño. Ya me sucedió
con Las malas, que no se sabe si es una autobiografía, una crónica, una novela de
realismo mágico, con los cuentos me está sucediendo lo mismo, y es gracias a mi
ignorancia, que es una ignorancia benéfica para mí como escritora, es decir, mientras no
sepa sobre esa teoría de géneros, seguiré siendo una buena escritora, el día que sepa qué
estoy haciendo voy a tener que cambiar de modo.

Para el libro de cuentos, al principio, pensaba en el nombre de uno de los cuentos, Hacer
un hombre, la editora me dijo que le gustaba más Piel de higo, que es título de otro
cuento, y después, ahora, más ordenada mi cerebro, y esos relatos han comenzado a
formar parte de una misma nuez, de un mis hueso, me gusta mucho el título La travesti
prohibida, que es el nombre de otro de los cuentos del volumen. Veremos qué sale, pues
aún no lo termino. Luego estoy escribiendo un ensayo sobre los vendedores ambulantes
para una editorial pequeña de acá de Argentina, y yo sigo llenando páginas. Esa cosa de
escribir es la mejor escuela, y escribo, a veces cosas que no tiene sentido con otras que
voy escribiendo, y que están ahí, y que en algún momento terminan por ser parte de un
libro.
Sobre las escritoras latinoamericanas

Al cuestionar a la autora sobre el trabajo de las escritoras latinoamericanas, Camila no


oculta su orgullo de posicionarse junto a nombre como el Mariana Enríquez, entre otras,
dentro de las listas de los libros más vendidos. Asimismo, reconoce que sí existe una
diferencia entre lo que escriben las mujeres y los hombres.

“Los varones se preocupan mucho por hacerlo bien, es una exigencia del patriarcado,
que tiene que demostrar que son hábiles, cultos, que no han dejado ninguna cosa librada
al azar, siempre están muy preocupados por eso, por ganarse los premios, por las
traducciones por ser editados, al menos los escritores que tengo la buena suerte o mala
suerte de conocer acá en Argentina.

Las mujeres hacen algo de lo que los varones deberían aprender y es lanzarse al vacío
sin saber cómo se va a salir de ahí. Como a nosotras nunca se nos ha leído, durante
muchos años hemos estado en las estanterías ocupando espacios, salvo un par que han
tenido renombre, entonces nos hemos dedicado a escribir y ya. Si somos editadas, qué
fortuna, si no, pues que mala suerte, y esa cierta indiferencia con el mundo editorial ha
hecho que ahorita nosotras seamos, al menos aquí en Argentina, las que estamos
manteniendo las librerías, las editoriales, las que estamos en boca en boca.

Y yo veo a muchos hombres llorar cuando se hacen rankings. Hace poco leía que un
diario importantísimo de España reconocía que ya que Mario Vargas Llosa, por poner
un ejemplo, y tantos otros no están publicando, pues bueno, nos conformamos con estas
que están sacando libros. Y yo digo, ‘mira las lágrimas de un varón’. En Twitter, por
poner otro ejemplo, me posicionaban en los rankings de los más vendidos, y juntos a
Mariana Enríquez y Dolores Reyes, y en los comentarios, la ristra de escritores llorando,
diciendo ‘yo no conozco a tal’, ‘yo no sé quién es ella’, ‘adiós, muchachos’, decía otro.
Y nosotras lo único que hacemos escribir”, asegura.

Pandemia, el teatro y la vida

La pandemia del coronavirus puso un parón en la mayoría de los espectáculos de


entretenimiento. El teatro, por su puesto, encabezó la lista, pues la gente no podía
reunirse a ver una escena que sólo cobra sentido cuando hay público presente. Al
respecto, Camila no dejó de estar activa, tratando de formar parte de proyecto, aunque
dice que durante el aislamiento también se dedicó a descansar.

“He tenido la suerte de ser convocada para hacer una suerte de experimento teatral por
whatsapp, que se llama Audioguía para que vuelvas, donde estamos Dolores Fonzi,
Jorge Marrale, Cecilia Roth, Leonardo Sbaraglia, son monólogos, por audio de
whastapp, que tiene su ficción, su coherencia, y trata sobre una familia, cuyo cada
integrante se ha acostado con la misma persona, lo le envían audios pidiéndole que
vuelva. Fue una experiencia muy bonita, no la esperaba. Antes hicimos Amor en
cuarentena, que tenía la misma lógica: recibir audios por whatsapp”.

A pesar de sí estar activa en diversas actividades, “en la pandemia me dediqué al amor,
a ser querida, que me hagan el amor, a que me preparen tragos, a descansar, en la
medida de los posible, a entrenar físicamente, y me relajé: entendí que esa dinámica de
la pandemia sería así como la estamos viviendo y negar que esto está pasando o
enojarme, me haría más daño, que el saber que en algún momento terminará. Entonces,
me quedé aquí en mi casa, además, no ha cambiado mucho mi vida, pues a mí me gusta
estar en mi casa, aquí que aquí me quedé, feliz de estar aquí adentro” finaliza.

https://www.sinembargo.mx/09-01-2021/3921504
22/01/2022

Você também pode gostar