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DAVI

LAGO
MARCELO
GALUPPO
#UM
DIA
SEM
RE
CLA
MAR
#umdiasemreclamar

Copyright © 2020 Davi Lago e Marcelo Galuppo

1ª edição: Dezembro 2020

Direitos reservados desta edição: CDG Edições e Publicações

O conteúdo desta obra é de total responsabilidade dos autores e não reflete

necessariamente a opinião da editora.

Autores:

Marcelo Galuppo

Davi Lago

Preparação:

Magno Paganelli

Revisão:

3GB Consulting e Ana Grillo

Projeto gráfico:

Jéssica Wendy

Livro digital:

Lucas Camargo

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Lago, Davi.

#umdiasemreclamar: descubra por que a gratidão pode mudar a sua vida / Davi

Lago, Marcelo Galuppo. –- Porto Alegre : CDG, 2020.

ISBN: 978-65-87885-26-1 (ePub)


1. Gratidão 2. Ética 3. Autoajuda I. Título II. Galuppo, Marcelo

20-3548 CDD 158.1

Angélica Ilacqua - Bibliotecária - CRB-8/7057

Produção editorial e distribuição:

contato@citadel.com.br

www.citadel.com.br
DAVI
LAGO
MARCELO
GALUPPO
#UM
DIA
SEM
RE
CLA
MAR
Descubra por que a GRATIDÃO pode mudar a sua vida.
SU

RIO
Prefácio

1. Os males da ingratidão

2. O que é a gratidão

3. Por que ser grato

4. Por que é tão difícil ser grato

5. Como ser grato: sete exercícios de gratidão

Bônus: Como agir com os ingratos

Referências

Agradecimentos
PRE

CIO

CAMINHO DA GRATIDÃO

A gratidão, mais que nobre gesto de reconhecimento, permite


enxergar a realidade de modo diferente. Cultivá-la, de modo
profundo, é essencial, conforme bem indica o papa Francisco:
“Gratidão não é simplesmente uma palavra amável para se usar
com os estranhos e ser educado”. Ser grato é sinal de maturidade,
virtude dos que são reverentes à vida e, a exemplo de Jesus Cristo,
permanecem serenos mesmo ante as adversidades. Quem é grato
tem clareza sobre essa realidade, por isso é mais feliz.

Há os que enfrentam enfermidades, situações de miséria, até


mesmo a solidão, mas não se abatem pela tristeza, apegam-se à
esperança e experimentam profunda alegria. Percebem que a
existência não se restringe às dores, também efêmeras. Essa
profunda compreensão é coerente com o que ensina a fé cristã.

A Palavra de Deus, fonte inesgotável de valores, em muitas


passagens, orienta o ser humano a ser grato, a exemplo da
indicação de São Paulo Apóstolo na Primeira Carta aos
Tessalonicenses: “Dai graças, em toda e qualquer situação, porque
esta é a vontade de Deus, no Cristo Jesus, a vosso respeito”. Seguir
a vontade de Deus é caminho para a liberdade e a genuína alegria.

A gratidão transforma o coração, ilumina os olhos para enxergar


as muitas riquezas, dons de Deus oferecidos à humanidade.
Conduz ao reconhecimento do bem que se recebe do próximo, do
irmão. Agradecer sempre, com sinceridade, fortalece o sentido de
reverência e respeito. Cria e consolida vínculos de proximidade e
reciprocidade.

Gratidão é remédio com poder para superar sentimentos que


obscurecem a vida, fecundando a capacidade moral de ser melhor a
cada dia. Cura a soberba, a inveja e o orgulho, venenos na vida
pessoal, articuladores de uma sociedade que adota as dinâmicas
desastrosas da disputa, do ódio e do individualismo. Dissipa os
males que enfraquecem a compaixão e intensificam a indiferença.

A leitura destas reflexões, com referências da Ética e da


Religião, oferece a oportunidade para exercitar a capacidade
humana, que também é dom de Deus, de ser grato. Que cada
página possa inspirar esse sentimento, fonte de apreço pela vida,
sinal de maturidade na relação com o mundo e com as pessoas,
sustento para o qualificado exercício da cidadania.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo,


Presidente da CNBB
1
OS MALES DA INGRATIDÃO
SE HÁ ALGO
UNIVERSALMENTE
REPUDIADO É A
INGRATIDÃO.

Ninguém gosta de pessoas ingratas. Dificilmente alguém atribui a si


mesmo a ingratidão, defeito moral que geralmente atribuímos aos
outros. Não é comum se ouvir falar de alguém que, perguntado pelo
gerente de Recursos Humanos durante uma entrevista de emprego
sobre que defeito teria, tivesse respondido: “Sou ingrato”. Há um
forte sentimento moral de reprovação dos atos de ingratidão e,
consequentemente, de aprovação moral dos atos de gratidão.

É fácil perceber que a cultura em geral condena a ingratidão.


Nos escritos dos filósofos ocidentais e orientais, nos mitos gregos,
no hinduísmo, no budismo, no judaísmo e no cristianismo, na
história da Guerra de Troia, nas fábulas de Esopo, de La Fontaine e
de Pérrault, dos irmãos Grimm, no Inferno, de Dante Alighieri, em
Otelo, Macbeth e Júlio César, de William Shakespeare, O morro dos
ventos uivantes, de Emily Brontë, no Dom Casmurro de Machado de
Assis e no Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, a
ingratidão é sempre avaliada como um vício de trágicas
consequências.

Tome o Bhagavad Gita, por exemplo, um clássico do hinduísmo


e da filosofia oriental. Nele o arqueiro Arjuna está prestes a engajar-
se em uma batalha ao lado da dinastia dos Pandavas contra a
dinastia dos Kauravas. Quando, já no campo de batalha, contempla
os dois exércitos, Arjuna fica imobilizado, pois vê em ambos os
lados pais, avós, filhos, netos, sogros, tios, mestres, irmãos,
companheiros e amigos. Não importava o que Arjuna fizesse:
lutando de um lado ou de outro ele seria ingrato com alguém, pois
em ambos havia pessoas a quem ele devia algo, e por isso ele se
perguntou: “Devo matar meus próprios mestres que, apesar de
cobiçarem meu reino, são, no entanto, meus professores sagrados?
Eu preferiria comer nesta vida a comida de um mendigo do que
comida real temperada com o sangue deles!”.

Ou pense ainda no grande vilão do Novo Testamento, Judas


Iscariotes, que traiu Jesus por um misto de ganância, inveja,
egoísmo, despeito e ingratidão (não é coincidência que teólogos
como São Tomás de Aquino tenham dedicado páginas e páginas ao
tema da ingratidão).

Ou então considere o mito grego de Édipo: sua falta consistiu em


que, mesmo sem sabê-lo, ele se casou com sua própria mãe após
haver matado seu pai, uma grande ingratidão.

A ingratidão é algo execrável, por isso, ver um filho maltratar um


pai nos causa mais repulsa e indignação do que ver um pai
maltratar um filho. O filósofo David Hume disse: “De todos os crimes
que as criaturas humanas são capazes de cometer, o mais terrível e
antinatural é a ingratidão, sobretudo quando é cometida contra os
pais e quando se mistura aos crimes mais flagrantes, que são a
violência física e a morte”. É por isso que em vários países, inclusive
o Brasil, a ingratidão do herdeiro priva-o de seu direito à herança.

A ingratidão não apenas torna alguém repudiável: ela o isola.


Esse isolamento pode ocorrer de duas maneiras. Em primeiro lugar,
a ingratidão gera uma prevenção do mercado e das pessoas em
geral contra quem a pratica, e à medida que alguém se torna
conhecido como ingrato, mais dificilmente poderá contar com o
apoio e os favores dos outros. Em segundo lugar, a ingratidão isola
porque contamina os relacionamentos. Na medida em que alguém
se mostra ingrato, não apenas aquele que lhe fez um favor, mas
todos os que estão à sua volta são prejudicados com a injustiça de
seu ato. Mesmo seus parentes e amigos sofrem com a ingratidão,
porque os vícios de alguém afetam diretamente aqueles que lhe têm
estima, como ensina o mito de Édipo. A ingratidão impede que nos
tornemos verdadeiramente humanos, estendendo suas
consequências a todos, não apenas ao ingrato e àquele que a
recebeu como paga pelos seus favores. Portanto, sabermos o que
são a gratidão e a ingratidão pode nos ajudar a viver uma vida
melhor.

Esse será nosso percurso neste livro. Primeiramente, vamos


discutir o que entendemos, do ponto de vista da Ética, por gratidão
(e também por ingratidão), qual é a sua fonte e o que ela envolve.
Passaremos em seguida a discutir as razões para sermos gratos e
as razões por que, paradoxalmente, é tão difícil para nós sermos
gratos. Depois, iremos propor sete exercícios de gratidão que
pressupõem os conceitos apresentados nos três capítulos iniciais,
cujo objetivo é despertar a consciência do sentimento de gratidão e
ajudar a desenvolvê-la.

Finalmente, como um bônus, vamos discutir o que se deve fazer


com relação às pessoas ingratas, propondo diferentes modos de
lidar com elas. Trata-se de um bônus porque nesse capítulo
discutimos não o que acontece com quem recebe um dom, um
presente ou uma bênção, mas como uma pessoa que os dá deve
agir com quem não reconhece o benefício que recebeu. Nossas
fontes para isso serão principalmente a Filosofia e os conceitos
particulares de várias religiões, em especial o cristianismo, o
judaísmo, o budismo e o hinduísmo. Todas elas fornecem bons
exemplos para esclarecer nossa concepção filosófica de gratidão.
2
O QUE É A GRATIDÃO
O QUE SE FAZ QUANDO
SE GANHA ALGO?

Tom Hanks agradeceu a sua esposa e a seus filhos por receber o


Globo de Ouro pelo conjunto de sua obra em 2020; Malala
Yousafzai agradeceu a seus pais e a seus professores por receber o
Prêmio Nobel da Paz em 2014; o treinador Jorge Jesus, do
Flamengo, agradeceu à torcida rubro-negra pelo apoio ao time em
2019, quando conquistou o Campeonato Brasileiro e a Taça
Libertadores da América; Andrew Sandness agradeceu, em 2017, a
Lily Ross, por lhe ter doado o rosto de seu falecido marido, em um
dos transplantes de rosto mais bem-sucedidos de todos os tempos.
Os israelitas compilaram no livro dos Salmos inúmeras orações de
agradecimento, e o grande filósofo Aristóteles (384-322 a.C.)
percebeu que o discurso de agradecimento é uma constante nas
relações humanas, ao ponto de dedicar-se a analisar o chamado
discurso demonstrativo, em que se elogia ou se censura alguém, e,
consequentemente, em que se agradece ou se repreende alguém
ou algum feito. E é impressionante que, ao sistematizar os discursos
em três tipos, Aristóteles pense que haja um deles dedicado
precisamente ao agradecimento.
O agradecimento é a resposta adequada do ser humano quando
recebe algo. Em geral, nós agradecemos quando alguém segura
uma porta de elevador para entrarmos ou quando nos telefonam
para dar uma boa notícia. Somos gratos quando recebemos algo de
alguém. Somos gratos por Paul McCartney ter composto
“Yesterday”; somos gratos pelas defesas de Taffarel na Copa do
Mundo de Futebol de 1994; somos gratos por Clarice Lispector ter
escrito A hora da estrela. Também podemos ser gratos ao nosso
gato, quando se aconchega a nós, ronronando. Somos gratos
quando recebemos um presente. Somos gratos porque
reconhecemos o bem que alguém nos fez. Mas não são só as
palavras que expressam a gratidão. Há, por exemplo, o caso de
Luís.

Desde cedo, Luís trabalhou no porto de Manaus, em um


armazém que era de propriedade de seu pai, Mário – um homem
muito simples e rude. Quando completou dezoito anos, Luís encheu-
se de coragem e, com certo temor, pediu ao pai que começasse a
lhe pagar um salário mínimo pelo seu serviço. Até então, Luís nunca
havia recebido por seu trabalho, mas ele já namorava com Ana e
queria se casar com ela algum dia. Quando Luís pediu ao pai que
passasse a remunerá-lo, este o despediu. Luís, então, procurou seu
padrinho, Francisco, dono de um pequeno hotel, para pedir-lhe um
emprego. Mas Francisco lhe fez outra proposta: durante um ano,
pagaria um salário mínimo por mês a Luís, não para que ele
trabalhasse, mas para que ele estudasse para o vestibular de Direito
na Universidade Federal do Amazonas. Luís agarrou aquela
oportunidade com muito entusiasmo, e em parte por seus dons
naturais, em parte por causa do estudo que aquela bolsa lhe
proporcionou, Luís passou em primeiro lugar no vestibular. Luís se
casou com Ana no dia seguinte à sua formatura no curso de Direito.

Seu primeiro cliente foi um libanês chamado Said, que pagou


pelos serviços prestados com uma pequena sala em um prédio
comercial, onde Luís instalou seu escritório. Graças a seu talento, o
escritório cresceu para se tornar um dos maiores escritórios de
advocacia de Manaus. Passados muitos anos, Francisco morreu. O
hotel de Francisco havia ido à falência vinte anos antes e era Luís
quem mantinha seus padrinhos com uma mesada. Luís havia
também custeado toda a educação dos dois filhos de Francisco, e
foi ele quem sustentou a viúva de Francisco até a sua morte.

No ano passado, Said morreu. Sua viúva procurou por Luís e


pediu-lhe que cuidasse do espólio de Said. Para surpresa de Luís,
ao começar a inventariar os bens, ele descobriu que, antes de
morrer, Said havia consumido quase todo o patrimônio de sua
empresa em maus negócios. Luís nunca pensou em cobrar da viúva
de Said pelo inventário, mas também nunca pensou que iria fazer o
que fez. Ao final do processo, Luís não só não cobrou pelo serviço
como também doou à viúva a sala que Said lhe dera em
pagamento, muitos anos antes. Ele disse para a viúva: “A sala que o
seu Said me deu, quando comecei a advogar, valia muito mais do
que o serviço que prestei para ele, e sempre pensei que aquilo era
injusto. Entenda, dona Joana, não estou fazendo caridade, estou
fazendo justiça”.
Essa é uma história real sobre generosidade movida por
gratidão.

Agradecer – questões linguísticas

Em todos os idiomas há uma palavra ou frase para expressar


gratidão: Gracias em espanhol, thank you em inglês, danke em
alemão, grazie em italiano, takk em norueguês, epharistó em grego,
todah rabash em hebraico, tesekkür em turco, asanti em suaíli,
spasiba em russo, multumesc em romeno, shukran em árabe,
danyavad shukria em híndi, arigato em japonês, doh shieh em
mandarim… Mas, em português, a palavra para agradecer tem um
significado especial, se a comparamos a outras línguas modernas.

O professor António Nóvoa, em um vídeo que ficou famoso na


internet (que você pode assistir com o QR Code abaixo), distingue
três níveis do agradecimento (palavra com a mesma origem
etimológica de gratidão e de graça) a partir do ensino de São Tomás
de Aquino (1225-1274). Para Tomás de Aquino, há três graus na
gratidão: “O primeiro é que o homem reconheça o benefício
recebido; o segundo consiste no louvor e na ação de graças; o
terceiro consiste em prestar a retribuição no lugar apropriado e no
momento oportuno, de acordo com as posses de cada um”.
https://qrd.by/amwul3

O nível mais superficial de agradecimento é o nível do


reconhecimento meramente intelectual: meu intelecto reconhece
que alguém me foi útil. Esse é o nível da língua inglesa, em que a
expressão para o agradecimento é “thank you” (de to think, pensar)
– ou da alemã, em que a palavra é “danke” (de denken). Aliás, é
interessante notar que em alemão, pelo menos no dicionário,
agradecer (danken) vem antes de pensar (denken). O nível
intermediário é o nível do favor que se presta, nível da língua
francesa, em que a expressão para agradecimento é “merci” (pois
recebo uma mercê, um favor, uma graça) – mesma ideia do
castelhano “gracias” e do italiano “grazie”. O nível superior é o nível
do vínculo, o nível em que nos sentimos ligados a alguém pelo que
nos fez, nível da língua portuguesa, em que a expressão de
agradecimento é “obrigado”: eu me sinto obrigado diante de você
pelo que você me fez. Mas obrigado a que, exatamente?

A palavra agradecer e a palavra gratidão vêm do latim gratia,


que, por sua vez, vem do grego χάρις (charis), que quer dizer graça,
dom, presente recebido: algo que recebemos de outra pessoa, de
Deus ou da natureza, algo que é importante para nós, mas que nós
mesmos não podemos prover, algo que só podemos gozar e usufruir
se nos for dado. A partir da Septuaginta[1], descobrimos que a
palavra hebraica que lhe corresponde é hnn ou hen (‫)חֶ סֶ ד‬, que
significa um favor gratuito, intencional e especial feito pelo soberano
ao súdito. Gratidão envolve alguém que presenteia algo
voluntariamente a outra pessoa que não pode prover-se desse bem
ou dom, indicando, portanto, uma carência de quem recebe algo,
carência não só porque não possui a coisa, mas, sobretudo, porque
não tem condições de conquistar ou adquirir aquilo.

Essa carência (ou dependência) envolvida na gratidão é o que


leva Victoria Camps a defini-la como “o sentimento dos pobres, dos
que nada têm e a quem tudo vem dado pela graça por alguém” – ou,
como Jesus Cristo aponta no Sermão do Monte, o sentimento dos
“humildes de espírito”.

Dependência

A dependência é a fonte da gratidão, que é uma resposta positiva


sob a forma de um sentimento a um benefício voluntariamente
concedido a que não se tem direito. Ser grato é reconhecer que
aquilo que é importante para nós não depende apenas de nossas
forças, ou melhor, depende principalmente, ou exclusivamente, de
outra pessoa. Isso também significa que, por depender da vontade
de outra pessoa, não temos o direito de reivindicar tal bem ou dom:
ele nos vem de graça.

Nós, seres humanos, somos essencialmente seres dependentes.


Já fomos comparados a outros seres vivos, desde abelhas até vírus,
mas talvez o ser a que mais nos assemelhemos sejam os liquens.
Liquens são o produto da simbiose entre duas outras espécies, as
algas e os fungos. Se tiramos as algas dos liquens, não há liquens,
mas fungos. Se tiramos os fungos dos liquens, não há liquens, mas
algas. Nós somos exatamente assim: dependemos tanto uns dos
outros que, se tirarmos os outros, deixamos de ser o que somos, e
talvez nem possamos existir. Somos dependentes uns dos outros, e
é pouco provável que haja outros animais como nós, que dependam
tanto de seus pais simplesmente para sobreviver durante boa parte
de sua vida.

A modernidade, no entanto, difundiu no Ocidente a ideia de que


somos seres autônomos, independentes, os únicos responsáveis
por nosso destino. É quase impossível discutir aqui as causas que
deram origem a esse modo de nos concebermos, mas podemos
apontá-las todas na Europa dos séculos 15 e 16: o Humanismo, o
Renascimento, o desenvolvimento do capitalismo, as grandes
navegações, a Reforma Protestante e a Revolução Científica
levaram o ser humano a conceber-se, primeiro,
epistemologicamente, como a fonte do conhecimento, depois,
eticamente, como ser autônomo, e finalmente, econômica e
politicamente, como o burguês, que se sustenta no próprio mérito
para se inserir no mundo social, independentemente de outros seres
humanos. No arcabouço dos ideais modernos, aparentemente, cada
um de nós é o único responsável pelo seu próprio destino. Nossas
escolhas e nosso empenho em realizá-las parecem ser para nós os
únicos responsáveis por sermos quem somos.
Trata-se de um equívoco. Há muito de nossas próprias escolhas
naquilo que somos, mas há também agentes externos que não
controlamos e que também determinam que sejamos quem somos,
chame-se a isso de Deus, destino, sorte, coincidência ou
simplesmente acaso. Como ensinava Sêneca a seu discípulo
Lucílio:

O destino guia quem o segue, [mas] arrasta quem lhe resiste! […] Uma alma
verdadeiramente grande é aquela que se confia ao destino. Mesquinho e
degenerado, pelo contrário, é o homem que tenta resistir, […] que acha preferível
corrigir os deuses a emendar-se a si próprio!

Sábias palavras. A maior parte de nossa vida depende muito mais


do destino do que de nosso simples desejo, e é por isso que o
filósofo chinês Confúcio (século 6 a.C.) entendia que a única coisa
que dependeria exclusivamente de nós seria o nosso caráter. Não
podemos escolher se seremos ricos ou pobres, mas podemos
escolher se seremos honestos ou desonestos. Não podemos
escolher se seremos saudáveis ou doentes, mas podemos escolher
se teremos ou não coragem para enfrentar a doença.

Somos seres dependentes. Dependemos uns dos outros e de


fatores que não controlamos. Por mais legítimo que seja estabelecer
metas e objetivos na vida e procurar os meios necessários para
implementá-los, nada pode nos assegurar que eles serão atingidos.
Não podemos escolher nosso futuro, mas podemos escolher a
gratidão, independentemente do que nos aconteça.

A ingratidão
A ingratidão, por sua vez, consiste em não retribuir a graça ou
presente recebido, ou, pior, em esconder dos outros o fato de se ter
recebido uma graça ou dom de um terceiro ou, ainda pior, em nem
sequer reconhecer que se recebeu uma graça, presente ou
benefício. A fonte da ingratidão é a soberba, a arrogância de quem
se vê superior aos demais e por isso afirma não depender de
ninguém, concebendo-se a si próprio como autossuficiente. Mas
essa soberba é irracional e não resiste ao teste da realidade: para
sermos concebidos, precisamos de duas pessoas, uma das quais
irá nos gerar; ao morrermos, precisaremos de pelo menos mais
quatro que carreguem o nosso caixão. Entre o nascimento e a
morte, precisamos de milhares de outras pessoas. Parafraseando o
grande escritor inglês C. S. Lewis (1898-1963), o soberbo vê a todos
como dependentes de si, mas não consegue perceber que ele
também depende de outros. Por isso a soberba “corrói a
possibilidade mesma do amor, do contentamento e até do bom
senso”.

A relação entre a soberba e a ingratidão já foi observada por


Miguel de Cervantes (1547-1616) em uma carta que seu
personagem Dom Quixote escreveu a Sancho Pança,
aconselhando-o sobre como deveria agir para ser um bom
governador. Dom Quixote lembra a seu fiel escudeiro que “a
ingratidão é filha da soberba”. Um coração ingrato é terreno fértil
para todo tipo de maldade. Se a gratidão é fruto do reconhecimento
da dependência, o egoísmo e a soberba são a origem da ingratidão.
Por isso o filósofo André Comte-Sponville afirma que “o egoísta é
ingrato: não porque não goste de receber, mas porque não gosta de
reconhecer o que deve a outrem”.

Alguns podem pensar que a fonte da ingratidão não seria a


soberba, mas a nossa dificuldade em aceitar as coisas como são,
dificuldade gerada pela distância entre o ideal e o real, quando há o
primado absoluto do princípio do prazer sobre o princípio da
realidade, característico da vida das crianças. Ou seja, temos
dificuldade em lidar com a distância que muitas vezes existe entre
nossos desejos e expectativas em relação à vida e à realidade que
se impõe diante de nós – que pode ser mais árdua que nossos
planos e até brutal. Mas quando investigamos a fundo, descobrimos
que essa distância não é a causa originária da ingratidão: no
máximo é uma causa derivada, decorrente da visão exagerada e
deturpada que formulamos sobre nós mesmos.

Temos a tendência de projetar sobre nossas vidas uma


expectativa descomedida, exagerando nosso valor em detrimento
do valor dos outros. Iludimos a nós mesmos sobre o poder que
temos de conduzir nossa vida como quisermos, sobre o poder que
temos sobre nosso destino. São o egoísmo e a soberba que elegem
a nós como critério e modelo para o mundo, que produzem uma
defasagem entre o ideal e o real.

A ética da gratidão

Não basta dizer o que a gratidão é: precisamos saber também o que


a gratidão não é. E o mesmo ocorre com a ingratidão. Por exemplo,
ingratidão não se confunde com traição. Há, evidentemente, uma
profunda conexão entre ambas, pois implicam a ideia de se retribuir
um bem com um mal. Por isso, ingratidão e traição muitas vezes
são tratadas como sinônimos. Mas, se é verdade que todo traidor é
um ingrato, não é verdade que todo ingrato é um traidor. A traição é
um tipo de ingratidão que remete ao futuro (alguém trai hoje uma
pessoa a quem deveria ser fiel por gratidão, a fim de obter um
benefício no futuro), enquanto a ingratidão, em sua forma mais
comum, remete ao passado (eu reajo hoje de maneira indigna a um
favor ou benefício que me foi prestado por alguém ontem). A traição
ocorre quando instrumentalizamos de maneira ingrata a nossa ação
para obter uma vantagem, diferente da mera sensação de sermos
os únicos responsáveis pelo nosso destino.

Por sua vez, a gratidão não é uma simples retribuição de uma


ação benéfica, mas a retribuição do sentimento que motiva a
eventual retribuição. A retribuição da ação é importante, mas ela
pode ser apenas um modo de não gerar interdependência, um modo
de se desvincular de alguém, e não de se vincular. Retribuir a ação
é pagar, ficar quite, não dever mais nada a alguém, e isso pode ser
feito independentemente de qualquer virtude ou sentimento da
pessoa que retribui, enquanto a gratidão é mais do que isso.
Gratidão é sair do “zero a zero” que a ideia de retribuição envolve.

Comte-Sponville observa que, se a gratidão fosse apenas pagar


um favor com outro favor, então ela seria “servilidade disfarçada,
egoísmo disfarçado, esperança disfarçada. Só se agradece[ria] para
se ter mais (diz-se ‘obrigado’, [mas] pensa-se ‘mais!’ […] Não [seria]
virtude: [seria] vício”. Além disso, retribuir é, em muitos casos,
impossível (como retribuir alguém que me doou um rim? Quanto
vale o órgão, para que eu fique quite?), e é provável que nos
sintamos tanto mais gratos quanto mais difícil for a retribuição. A
gratidão não é, portanto, apenas agradecer, expressar o
reconhecimento pelo favor recebido, porque “agradecer é dar; ser
grato é dividir”.

A gratidão também não é algo que se produz agregando-se algo


ao outro (como um pagamento por aquilo que nos fez), mas algo
que se produz em nós, uma dívida que é ao mesmo tempo uma
forma da alegria que se manifesta como contentamento em receber.

Há uma história real que ilustra bem essa ideia. Regina havia ido
à escola de sua filha, Maria, buscá-la para trazê-la para casa. A
porteira da escola disse-lhe que Maria havia passado mal e estava
na enfermaria da escola. Regina correu até a enfermaria e
encontrou sua filha sentada na maca. A enfermeira disse que ela
estava bem, Regina se aliviou e foi com Maria até o carro. Depois
de vinte minutos de trânsito, no meio de um engarrafamento, Maria
começou a passar mal novamente, reclamando de dor e suando
muito. De repente, Maria vomitou e desmaiou. Regina ficou
desesperada: o trânsito estava parado. Regina começou a dirigir de
maneira perigosa, “costurando” entre os carros, com o pisca-alerta
ligado, para tentar chegar rapidamente ao hospital. Em uma dessas
manobras, Regina quase derrubou a motocicleta de um entregador
de pizzas. O motociclista alcançou o carro de Regina e, antes de
dizer qualquer coisa, olhou para dentro do carro, viu Maria
desmaiada, Regina aflita, e entendeu tudo. “Dona, vou abrir
caminho para a senhora”, disse o motociclista, e saiu buzinando e
pedindo passagem com os braços.
Eles chegaram em cinco minutos ao hospital. Regina correu com
a filha nos braços em direção à portaria e, quando olhou para trás,
lembrou que deixara a sua bolsa dentro do carro e o carro aberto.
Regina fez menção de voltar, mas o motociclista gritou: “Não se
preocupe, dona, eu cuido do carro até a senhora poder voltar”.
Regina pensou: “Já devo a vida de minha filha a esse homem. Se
ele furtar a bolsa, ainda assim terá valido a pena” – e consentiu de
longe. O marido de Regina chegou quarenta minutos depois, viu seu
carro aberto, com o pisca-alerta ainda ligado, agradeceu ao rapaz
que estava cuidando dele, dispensou-o, trancou o carro e entrou.

Maria já estava melhor e Regina saiu, sem saber que o marido já


havia dispensado o motociclista de seu posto. Regina não encontrou
o motociclista. Sua bolsa e seus pertences estavam trancados
dentro do carro. Regina nunca soube nem sequer o nome do rapaz,
nunca conseguiu agradecer-lhe, mas, desde que isso ocorreu, há
dez anos, ela ora por ele todas as noites. O fato de ela não ter
retribuído não significa que não seja grata.

O filósofo Baruch Spinoza (1632-1677) afirmou em sua Ética que


“o agradecimento ou gratidão é o desejo ou empenho de amor pelo
qual nos esforçamos por fazer bem a quem, com igual afeto de
amor, nos faz bem”. Se considerarmos que, segundo Spinoza, o
amor é “uma alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior”,
então a gratidão é a alegria por termos recebido de alguém algo que
nos era importante e que não éramos capazes de alcançar por nós
mesmos, alegria que nos vincula pela interdependência ao outro, a
quem queremos bem e, por isso, a quem também fazemos o bem.
Gratidão envolve reciprocidade. Gratidão é uma das maneiras de
dizer amor.

Por isso a gratidão, apesar de se manifestar em quem recebe o


dom, mais do que em quem o concede, não se encerra naquela
pessoa: gratidão é também compartilhamento solidário do dom,
amor que transborda gerando serviço, que gera novamente amor.
Como diz Victoria Camps, “a capacidade de agradecer não só
mostra que se valoriza o que se tem, mas […] se constitui [em] um
caminho para a solidariedade com os que não têm”. Há, portanto,
uma importante questão ética na gratidão: ela apresenta uma
justificativa para a ação (o reconhecimento da dependência que
temos uns dos outros) e vincula determinado sentimento que se
produz na pessoa agradecida por seu ato (uma espécie de amor).

[1] A Septuaginta é a tradução do Antigo Testamento (Bíblia), do hebraico para o grego,

realizada entre os séculos 3 e 1 a.C.


3
POR QUE SER GRATO
A UTILIDADE DA
GRATIDÃO

Há uma fábula de Esopo que se chama A Formiga e a Pomba. Ela


conta que uma formiga começou a se afogar na água. Uma pomba
que voava por ali viu a cena e, tomada de compaixão, arrancou um
galhinho e jogou-o na água, pelo qual a formiga se salvou. Passado
algum tempo, um passarinheiro besuntou caniços com visgo e
prendeu a pomba. Vendo isso, a formiga mordeu o pé do
passarinheiro, que se desequilibrou e agitou o caniço, facilitando a
libertação da pomba.

Veja como, em primeiro lugar, a gratidão estabelece vínculos de


solidariedade entre aquele que recebeu um favor e aquele que o
praticou. Por meio da gratidão, os relacionamentos deixam de se
pautar apenas por padrões utilitaristas, nos quais o outro só importa
quando nos é útil: a solidariedade é um “efeito colateral da gratidão”.

Em segundo lugar, a gratidão também embeleza as pessoas,


torna-as mais atraentes. Para além do conceito jurídico e teológico
de cháris, há nessa palavra grega um sentido estético. Os filósofos
gregos Platão (428-327 a.C.) e Plotino (205-270) afirmavam que
algo era belo se tivesse graça (se fosse gracioso). A beleza de algo
dependeria do fato de que há uma característica intrínseca àquilo
que é belo que não pode ser reduzida a outros conceitos (como
proporção, harmonia ou dignidade), e que faz com que a coisa seja
altamente apreciada em si mesma do ponto de vista estético.

Pode parecer que, quando dizemos que a gratidão embeleza a


pessoa, devemos estar usando o termo beleza metaforicamente,
com um sentido completamente diferente do que atribuímos ao
termo quando dizemos que uma modelo famosa ou que uma obra
de arte é bela, é graciosa, mas é exatamente o contrário: algo
intrínseco (e, nesse sentido, exclusivo) à elegância inquestionável
de Costanza Pascolato, ao drama e à perfeição dos afrescos de
Michelangelo na Capela Sistina ou ao cuidado do advogado Luís
com seus benfeitores, algo intrínseco a quem concede um favor, um
dom ou uma graça, mas também intrínseco a quem, movido pela
gratidão, desenvolve determinado sentimento em relação ao
benfeitor, fazem deles pessoas graciosas, fazem deles seres únicos
e dignos de alto apreço.

Em terceiro lugar, a gratidão é fonte de felicidade, alterando


nosso cérebro e afastando a depressão, melhorando nosso sono,
estimulando nossos relacionamentos amorosos e aumentando a
nossa imunidade biológica. O professor Glenn Fox realizou um
experimento para determinar essa conexão, expondo voluntários a
depoimentos gravados por sobreviventes do Holocausto que se
salvaram com a ajuda de outra pessoa. Os testemunhos foram
“traduzidos” para a segunda pessoa, como se o depoimento fosse
vivido pela pessoa que o ouvia (algo mais ou menos assim:
“Imagine que, em uma noite de inverno, em um campo de
concentração, você recebesse um agasalho de outro prisioneiro”),
pedindo aos voluntários que tentassem se imaginar efetivamente
naquelas situações. Esses voluntários foram submetidos a exames
de ressonância magnética e descobriu-se que, naqueles que
reportavam um sentimento de gratidão ao ouvir o depoimento,
observava-se uma alteração na atividade das regiões do cérebro
associadas à empatia, à regulação das emoções e ao processo de
alívio do estresse. Algumas dessas regiões do cérebro também são
estimuladas quando socializamos ou sentimos prazer (como afirmou
a poeta Bruna Beber, “a felicidade é muito mais desconcertante que
a dor”).

Joel Wong e Joshua Brown descobriram algo semelhante em


outra pesquisa. Eles dividiram trezentos voluntários em três grupos.
Os integrantes do primeiro grupo escreveram semanalmente uma
carta de agradecimento a alguém durante doze semanas (ainda que
não fosse necessário que efetivamente enviassem a carta ao
destinatário; de fato, apenas 23% dos voluntários desse grupo
enviaram suas cartas). Nesse período, os integrantes do segundo
grupo escreveram semanalmente uma carta sobre seus sentimentos
negativos com relação às suas vidas. O terceiro grupo, de controle,
não escreveu qualquer carta. O que Wong e Brown descobriram é
que os integrantes do primeiro grupo reportaram uma melhora
gradual de sua condição psíquica à medida que escreviam suas
cartas.

Os pesquisadores, então, supuseram que isso ocorreu porque a


gratidão nos liberaria de emoções tóxicas ao criar laços mais
profundos entre as pessoas (os pesquisadores notaram, por
exemplo, que o uso do pronome pessoal de primeira pessoa do
plural – nós – foi mais comum nas cartas escritas por pessoas do
primeiro grupo do que nas cartas dos integrantes do segundo grupo,
e que naquelas cartas também houve menos expressão de
sentimentos negativos, tais como ressentimento e raiva).

Além disso, um fato notável é que mesmo os integrantes do


primeiro grupo que não enviaram suas cartas perceberam melhora
em suas condições psíquicas (não é, portanto, a comunicação da
gratidão a um benfeitor que produz em nós a felicidade, mas o fato
de nos tornarmos conscientes do sentimento de que somos gratos).
A neurociência e a psicologia comprovam que a gratidão
reprograma nosso cérebro de tal forma que nos tornamos aos
poucos mais felizes.

Para além da utilidade: comunidade e condição humana

Ninguém nega que a gratidão seja útil: quando se é grato, geramos


laços de solidariedade e de fraternidade que nos amparam e nos
consolam; quando somos gratos, tornamo-nos mais atraentes e
mais felizes. Mas se fosse apenas isso, talvez bastasse que
parecêssemos ser gratos, que agíssemos como se fôssemos gratos,
sem que nosso sentimento se alterasse. Por causa das pessoas que
possam manter uma “aparência de gratidão” apenas para desfrutar
de benefícios práticos, o moralista francês François de La
Rochefoucauld disse com sarcasmo: “Gratidão é meramente a
esperança secreta por favores posteriores”. Parecer ser grato é útil,
mas basta aprofundarmos nossa reflexão para percebermos que a
gratidão vai além da aparência e da utilidade: a gratidão diz respeito
à ética inerente à nossa condição humana.

Em várias religiões, a gratidão marca nossa relação com Deus


ou com a esfera da espiritualidade. O budismo, por exemplo, afirma
que a gratidão produz o contentamento, que é considerado o maior
de todos os tesouros. Esse é também o caso do judaísmo. Segundo
a tradição rabínica, ninguém pediu para nascer, e por isso o fato de
que estamos aqui é um dom divino, fruto da graça de Deus, sendo
nossa vida um bem que não podemos prover por nós mesmos, mas
de que, obviamente, necessitamos. Uma das cerimônias em que a
percepção dessa realidade se concretiza é o Bircat Hagomel: antes
da leitura da Torá (a lei escrita por Moisés), alguém que sobreviveu
a um grande perigo vai à frente da sinagoga e pronuncia uma
bênção de agradecimento: “Bendito és Tu, ó Senhor nosso Deus,
Rei do Universo, que concede aos culpados beneficência, pois
concedeu a mim o bem”, ao que toda a congregação responde:
“Amém; Aquele que te concedeu o bem, Ele te conceda todo o bem
sempre”. O agradecimento nos torna conscientes de que nossa vida
é frágil, e está sempre na dependência de nosso relacionamento
com outros (seja com Deus, seja com a comunidade).

A gratidão permite-nos estabelecer relacionamentos profundos e


verdadeiros com as pessoas, sem o que não podemos ser felizes. O
ingrato se relaciona com os outros apenas superficialmente e
esporadicamente, porque, não envolvendo reciprocidade de afeto,
apenas a dimensão externa das ações é requerida em seus
relacionamentos, e por isso ele não pode nem conhecer nem ser
conhecido verdadeiramente pelo outro. Os relacionamentos
superficiais, entretanto, inviabilizam a vida em sociedade no longo
prazo.

A gratidão produz vínculos sociais, e vemos isso, por exemplo,


nos mandamentos dados por Deus a Moisés no monte Sinai. Entre
eles, há um que diz: “Honra teu pai e tua mãe, conforme o
SENHOR, teu Deus, te ordenou, a fim de que teus dias se
prolonguem e que sejas feliz sobre a terra que o SENHOR, teu
Deus, te dá”. Trata-se de um princípio ético de justiça
intergeracional: assim como nossos pais manifestaram seu amor por
nós quando éramos incapazes de prover nosso próprio sustento,
chega a hora de retribuirmos. Por acaso não é esse o fundamento
ético do sistema de repartição da Previdência Social vigente no
Brasil, em que uma geração custeia os benefícios sociais da
geração que lhe antecedeu? Não necessariamente com bens (mas
também com eles, se preciso for), mas sempre com amor. A
gratidão recorda que somos como os nós de uma trama que nos
prende uns aos outros, como na música de Arnaldo Antunes:

Antes de mim vieram os velhos


Os jovens vieram depois de mim
E estamos todos aqui
No meio do caminho dessa vida
Vinda antes de nós
E estamos todos a sós
No meio do caminho dessa vida
E estamos todos no meio
Quem chegou e quem faz tempo que veio
Ninguém no início ou no fim.

Em nosso nascimento, fomos naturalmente inseridos em uma


família, com seus hábitos, seus valores, seus padrões de
comportamento, que ajudaram a moldar quem somos. O mesmo se
dá com a nação em que nos inserimos. A maioria de nós não o fez
voluntariamente, mas por nascimento. É verdade que podemos
mudar de família e até de nação. Mas o fato de que somos seres
humanos nos insere definitivamente nessa grande comunidade que
não conhece limites temporais ou espaciais, da qual não podemos
sair: a humanidade. Temos uma linhagem genética e cultural que
nos constitui seres humanos e que nos liga uns aos outros; temos
um destino comum. Devemos ser gratos por isso, e é por meio da
gratidão que nos apropriamos da nossa condição de membros
dessas comunidades.

A gratidão, enfim, nos torna mais aceitáveis aos olhos dos seres
humanos, mas nos torna também mais aceitáveis aos nossos
próprios olhos, porque nos torna fortes. Reconhecer-se carente,
vulnerável e dependente é abrir mão de toda soberba, é sobretudo
reconhecer-se humano, permitindo que se estabeleçam vínculos de
solidariedade entre nós. Conhecer a própria fraqueza é benéfico,
reconhecer nossa dependência nos fortalece, como escreveu o
apóstolo Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte”.
4
POR QUE É TÃO DIFÍCIL SER
GRATO
UMA VEZ QUE SABEMOS
EM QUE CONSISTE A
GRATIDÃO E A
INGRATIDÃO, PODEMOS
PENSAR QUE SERIA
FÁCIL SERMOS GRATOS
SE APENAS
QUISÉSSEMOS SÊ-LO.

Na prática, sabemos que não é tão fácil quanto parece. Um antigo


provérbio oriental diz que “as pessoas que ganham entradas são as
que vaiam primeiro no teatro”. Infelizmente a ingratidão está por
toda parte, inclusive em nós mesmos. É importante, então,
identificarmos quais são as barreiras que impedem a gratidão.

Uma falsa imagem sobre nós mesmos

Um primeiro obstáculo à gratidão é nossa tendência a nos


superestimarmos, criando uma falsa autoimagem e tornando a
tarefa de sermos gratos quase impossível de ser realizada. Nossos
desejos devem ser realizados, nossa vontade é mais importante,
nossos valores são os únicos que importam, e se o frustrarem, se o
mundo real não for como o mundo que idealizamos, não temos
razão para agradecer, pois valorizamos mais o que pedimos do que
aquilo que recebemos. Por isso, somos muito rápidos em pedir e
reivindicar e muito lentos em agradecer.

Conta-se que certa família, que viajaria para a praia por uma
estrada perigosa, orou antes de partir pedindo por proteção durante
a viagem. Aparentemente até hoje não se lembraram de agradecer
por terem chegado a seu destino sem nenhum incidente. Um pouco
de discernimento pode ajudar aqui. A imagem deturpada que temos
a nosso respeito tende a nos levar a uma concepção de pessoas
com direito a todas as coisas, inclusive aos benefícios, aos
presentes e aos dons. Passamos a reivindicar, em vez de sermos
gratos.

Reivindicar ou agradecer?

Um segundo obstáculo à gratidão é a nossa ânsia em reivindicar em


vez de agradecer. É provável que você já tenha assistido ao filme
Forrest Gump (1994). Forrest Gump, interpretado por Tom Hanks, é
um jovem ingênuo que não parece ser muito esperto. Alista-se como
por engano no Exército norte-americano durante a guerra do Vietnã.
Lá, durante um ataque de vietcongues, ele salva heroicamente o
tenente Dan Taylor (Gary Sinise), que, infelizmente, tem as duas
pernas amputadas. Há uma grande diferença entre os dois
personagens. Ainda que Forrest Gump não tenha perdido suas
pernas, sempre foi vítima de bullying por causa de sua inteligência
limitada e pelo fato de ter usado órteses ortopédicas quando
criança. Mas, graças à influência de sua mãe, Forrest Gump
aprendeu a viver no tempo presente, gozando cada momento de
sua vida, sendo grato por cada um deles. Na vida de Forrest Gump,
tudo vem como uma graça, um dom, um presente, pelo que ele é
grato. Já Dan Taylor vive amargurado pelo que perdeu, protestando,
contra o Exército americano e contra Deus, por terem lhe negado
algo que era seu por direito (as pernas).

Victoria Camps observou que a sociedade ocidental


contemporânea se tornou a sociedade dos direitos, ensinando-nos
que temos direito a muitas coisas, mas sem nos mostrar o limite
entre aquilo a que realmente temos direito e aquilo a que não temos
direito:

Acaso não tenho o que tenho porque o mereço, ou porque é meu direito? Por
que é preciso demonstrar agradecimento por algo? Estamos mais habituados ao
discurso dos direitos e do mérito do que a qualquer outro. Sabemos que temos
certas coisas porque as merecemos, [nós] as ganhamos com nosso trabalho e
nosso esforço. Já outras, temo-las porque temos direito a elas. Que razão pode
haver para exigir reconhecimento pelos dons recebidos? É porque se pode chamá-
los de dons? Acaso não é a linguagem do servo, uma linguagem passada e
anacrônica?

Equivocadamente, a maioria de nós passou a imaginar que haveria


um direito natural a tudo. Com isso, perdemos a capacidade de
apreciar o que nos é dado de graça, o dom, o presente, o benefício,
o favor. Isso não significa que devamos abrir mão de nossos
direitos, que nos são assegurados pelo Estado e que foram
conquistados por nós, mas certamente é preciso haver
discernimento para distinguirmos o que é, de fato, nosso direito e o
que não passa de simples desejo. Talvez seja exatamente a
gratidão que auxilie a reencontrar o equilíbrio.

Este é o caso de Forrest Gump: ele é como São Francisco de


Assis, que, mesmo na hora da morte, em meio ao sofrimento
causado por suas muitas enfermidades, depois de ter saudado
como “irmãos” o sol, a lua, as estrelas, o vento, o fogo, a água e a
terra (dons gratuitos de Deus em nossa vida), consegue chamar
também a morte de sua “irmã”, e ser grato por ela:

Louvado sejas, meu Senhor,


por nossa irmã, a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes o que ela achar
Conformes à tua santíssima vontade,
porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.

Essa também é a lição do livro de Jó, no Antigo Testamento. Jó


era um homem muito rico, cheio de saúde e com muitos filhos, um
homem feliz. Por tudo isso Jó dava graças a Deus. Um dia o diabo
provocou a Deus dizendo-lhe que Jó só lhe era grato porque tinha
todos esses dons que lhe foram dados por Deus. Deus, então,
autorizou o diabo a privar Jó de tudo o que tinha, menos de sua
vida. Jó perdeu os bens, os filhos e a saúde física, mas disse: “Nu
saí do ventre da minha mãe, nu para ela hei de voltar. O SENHOR
deu, o SENHOR tomou. Bendito seja o nome do SENHOR! […]
Sempre aceitamos a felicidade como um dom de Deus. E a
desgraça? Por que não aceitaríamos?”. O que Jó manifestou nessas
palavras é que ele reconhecia não ter direito a nenhuma dessas
coisas: tudo era dom, graça, presente de Deus, e este não podia ser
chamado de injusto por tirar-lhe qualquer dessas coisas que, afinal
de contas, pertenciam a ele mesmo, não a Jó. E a Bíblia diz que
Deus aprovou a atitude de Jó: “E o SENHOR elevou ao dobro todos
os bens de Jó […]. O SENHOR abençoou os anos de Jó a seguir,
mais ainda que os anteriores”.

Agradecer em todo o tempo e viver o presente

O terceiro obstáculo à gratidão é a nossa dificuldade de valorizar as


coisas boas da vida em meio às lutas e sofrimentos. Simplesmente
não podemos ser reféns das situações difíceis – senão, não
viveríamos um dia sequer. Como bem observou o poeta Mário
Quintana, “Os jornais sempre proclamam que a ‘situação é crítica’”,
e isso provavelmente é verdade.

O livro de Jó nos ensina a sermos gratos mesmo em meio ao


sofrimento. O mesmo ocorreu com o apóstolo Paulo. Em sua
primeira carta aos moradores de Tessalônica, ele pediu-lhes que
fossem sempre alegres, dando graças em todas as circunstâncias,
mesmo em meio ao sofrimento. Paulo não pediu a seus irmãos que
se sentissem agradecidos em alguns momentos ou apenas nos
bons momentos, mas que fossem gratos em todos os momentos,
inclusive nos maus!

Sabemos que não é fácil sentir-se grato depois da morte de um


filho, em meio a uma doença grave ou quando se é demitido do
emprego. Quando estamos no meio da tempestade, é difícil ser
grato por ela. É claro que, vendo de fora e no longo prazo, há a
possibilidade de se justificar a tempestade e todos os
acontecimentos de modo a ser grato por eles. No longo prazo, um
pai judeu pode ter agradecido por seu filho morrer antes que fosse
enviado a um campo de concentração. No longo prazo, um homem
pode agradecer por ter contraído um câncer, que foi o que lhe
permitiu conhecer sua esposa, a enfermeira responsável pela
quimioterapia. No longo prazo, alguém pode agradecer por sua
demissão, que o levou a empreender e a ficar rico. Não é disso que
se trata. Não se trata de avaliar as consequências dos
acontecimentos, mas de perceber que os acontecimentos não
dependem apenas de nós, de perceber que nós é que somos
dependentes. Jó não sabia qual seria o final de sua história, mas
sabia desde sempre que deveria ser grato, apesar dos sofrimentos.

Diante dos desafios tristes da vida, não podemos nos refugiar no


passado ou no futuro. No caso do pai que agradece por seu filho
não ter sido enviado ao campo de concentração, ou do marido que
agradece por ter se casado com alguém da clínica de quimioterapia,
ou do trabalhador que se descobre um empreendedor, é o futuro
que legitima a gratidão. Mas o futuro e o passado não são reais. O
futuro ainda não existe, e o passado nunca existiu (porque, quando
existiu o tempo a que chamamos de passado, ele existiu como
presente, e, de qualquer forma, não é mais real, não está mais
presente).

Em geral é isso o que costumamos fazer, procurar no passado e


no futuro toda a justificativa do que temos vivido no presente.
Rubem Alves conta que as crianças geralmente são condenadas a
viverem apenas em função de seu futuro – o que você vai ser
quando crescer? Médico! Advogado! Engenheiro! E para isso é
preciso estudar muito e brincar pouco: as crianças geralmente são
privadas de seu presente e são concebidas como adultos em
potencial. Mas, no caso de uma criança que tenha uma leucemia
grave, o pai não irá perguntar o que ela quererá ser quando crescer,
simplesmente porque ela não irá crescer. Por isso seu pai apenas
pergunta: “De que você quer brincar hoje?”.

Se o futuro lhe está sendo negado, essa criança recupera seu


direito ao presente, interditado às demais, e, junto com ela, o pai
também recupera o direito de ser pai novamente, não apenas o
provedor, e por isso devemos ser gratos.

Muito de nossa incapacidade de apreciar a beleza do mundo que


nos cerca e de sermos gratos está no fato de que perdemos a
capacidade de viver no presente. Nossa vida, via de regra, é regida
apenas pelo futuro ou pelo passado. Como dizem Mark Williams e
Danny Penman, “Nós só temos um momento para viver, este
momento, mas tendemos a viver no passado ou no futuro. É raro
notarmos o que está acontecendo no presente”. Quando
percebemos que só podemos ser gratos pela vida presente, somos
levados a perceber que tudo é um dom, que somos
interdependentes em todas as coisas. Percebemos que a vida é um
dom gratuito, e devemos estar agradecidos por cada momento em
que inflamos o peito ou por cada momento em que ouvimos uma
criança chamar pelo nosso nome.

Devemos ser gratos pelo tempo presente – é ilusório adiar a


gratidão para um tempo futuro indeterminado, é inútil carregar o
passado de reclamações e ressentimentos. Devemos ser gratos
pelo que recebemos, e não pelo que gostaríamos de receber.
Devemos aprender a viver no presente: a vida está acontecendo
agora. Caminharemos adiante com gratidão ou não? Vamos
envelhecer amargurados ou vamos nos tornar cada vez mais gratos,
como uma criança? Afinal, somos “cada vez mais jovens nas
fotografias”, como diz a poeta Ana Martins Marques, ou seja, o
tempo passará de qualquer maneira. Portanto, é importante lembrar
hoje que a vida é um dom gratuito, que nos foi concedido sem que
por ela pedíssemos e sem que a ela tivéssemos direito, e por isso
só podemos ser agradecidos. Mas só podemos fazer isso nos
concentrando no que temos, não no que nos falta.

Quando falamos que é possível ser grato mesmo em meio ao


sofrimento e a eventos que só podem ter consequências ruins,
como a perda de um filho para uma doença grave, afirmamos que
mesmo nessas circunstâncias há ocasião para ser grato, não,
obviamente, pela morte do ente querido, mas pelo tempo que viveu.
Essa, talvez, seja a lição do filme A Chegada, de Denis Villeneuve
(2016). Essa foi a lição de Randy Pausch, um professor universitário
norte-americano que, acometido por um câncer incurável (que o
matou em pouco tempo), proferiu uma conferência de despedida em
sua universidade sobre como aproveitar a vida e sobre o que, de
fato, importa nela. Gratidão é uma das palavras que sintetizam o
modo como encarou sua vida (assista à palestra em inglês no Ted
Talks com o QR Code ao lado).

https://www.ted.com/talks/randy_pausch_really_achieving_your
_childhood_dreams

Há uma parábola budista, contada por Daisetsu Teitaro Suzuki,


que ilustra essa ideia. Havia um estudante, frustrado com a escola e
preocupado com o futuro, que procurou seu professor em busca de
alguma orientação sobre como agir. O professor lhe contou uma
história, dizendo que havia um monge que estava caminhando pelas
montanhas; de repente, apareceu um tigre, que começou a caçar o
pobre rapaz. Para se proteger, ele correu para a beira do penhasco
e desceu para uma plataforma na montanha, dependurando-se na
raiz de uma árvore, de modo que aquele tigre não conseguia
alcançá-lo. Alguns metros abaixo, ele viu outros quinze tigres, todos
famintos e prontos a devorá-lo.

O monge estava ali, equilibrando-se e esperando que os tigres


desistissem dele e fossem embora ou que ele se cansasse de se
equilibrar e caísse para a morte certa. Para piorar a situação, a raiz
na qual se dependurara estava se arrebentando aos poucos. De
repente, o monge olhou para a esquerda e viu um pé de morango,
no qual havia um único morango, maduro, vermelho, fragrante. O
monge, então, pensou: “Mas que morango maravilhoso!”. Logo,
apanhou-o e comeu-o. O estudante esperou algum tempo para que
o professor terminasse a história, mas depois de alguns minutos
ficou claro que ela já havia se encerrado. E o estudante disse:
“Mestre, não entendi… O monge está prestes a ser devorado e
come um morango? Isso é tudo? Qual é a lição?”. O mestre
respondeu: “A lição é saber e abraçar a experiência de estar vivo.
Você deve estar vivo a cada momento de sua vida. Olhe para você:
você está fugindo dos tigres que estão perseguindo você, pensando
como tudo seria melhor se fosse diferente. E você está tão ocupado
com isso que não consegue olhar para o lado, ver que ali há um
morango magnífico e saboreá-lo. Você está experimentando a
sensação de ser a mais afortunada pessoa do mundo pelo que está
presente em sua vida hoje ou você está sendo consumido pelo
medo do que não está presente na sua vida, pelo medo do que
pode lhe ocorrer no futuro?”.

A parábola budista tem o mesmo sentido do filme Forrest Gump:


podemos ficar preocupados com o que tivemos no passado e não
temos mais, ou com o que tememos não ter no futuro, ou
simplesmente gozar e ser gratos pelo que temos no presente.

Agradecer pelas pequenas coisas e pelas coisas em curso


Um quarto obstáculo à gratidão é nossa incapacidade de
comemorar os pequenos dons da vida. Aqueles de nós que
agradecem por algo geralmente lembram-se de fazê-lo diante de um
grande dom, presente ou graça: a cura de uma doença grave (mas
não de um resfriado); a contratação em um emprego, depois de
meses desempregado (mas não por ter recebido um elogio de um
cliente); a compra de um carro ou de uma casa (mas não de um par
de chinelos). Vimos que o livro de Jó e a carta de Paulo nos
ensinam a agradecer por todas as coisas (grandes e pequenas) e
em todas as circunstâncias (favoráveis ou adversas). Nós
certamente sabemos disso, mas só num plano intelectual (lembra-se
dos graus da gratidão em São Tomás de Aquino?). A correria do
cotidiano da vida e a repetição dos dons e das graças nos
anestesiam de tal modo que nem sequer nos impressionamos
quando recebemos os mais preciosos dos bens: um beijo da pessoa
amada, um café oferecido ao visitarmos alguém ou simplesmente o
abanar do rabo de um cachorro ao chegarmos em casa e a troca
dos sapatos apertados do dia por um aconchegante par de chinelos.
É muito difícil sermos gratos se esperamos apenas pelas grandes
coisas para podermos agradecer; mas se passamos a agradecer
pelas pequenas coisas, o tempo todo teremos oportunidade de
expressar verdadeira gratidão pela vida.

Também será muito difícil aguardarmos que um processo seja


concluído para termos o dom, o presente, a graça inteira ao nosso
dispor. Ao contrário, o comum é que eles sejam recebidos em
etapas, pouco a pouco. Antes que um tumor seja extirpado, muitas
vezes ele simplesmente reduz de tamanho, e isso também é motivo
para agradecermos: o processo de cura não chegou a seu fim, mas
já se iniciou.

Devemos agradecer não só pelas coisas concluídas, mas


também pelas coisas em curso. Há uma história bíblica no primeiro
livro de Samuel que retrata isso. Os hebreus estavam em guerra
com as nações poderosas ao seu redor e, entre elas, com algum
destaque, a nação dos filisteus. Os filisteus haviam sido derrotados,
e Samuel erigiu um memorial de pedra e o chamou de “Ebenézer,
isto é, Pedra de Socorro”, porque, disse ele, “até aqui o SENHOR
nos socorreu”. A guerra não havia chegado ao fim, mas a vitória
provisória era motivo suficiente para Samuel ser grato: Ebenézer!

Ser grato pelas coisas em processo lembra a história de Brad


Meyer, o inventor da barra de progresso na computação (aquele
recurso gráfico que diz que 80%, 90%, 95% de um download ou de
uma atualização de um programa já se concluiu). O que é
interessante é que o progresso que ela indica (por exemplo, 90%)
nunca corresponde exatamente ao progresso do download ou da
atualização. Ela não retrata algo que ocorre objetivamente, no
computador. A função dela é outra, subjetiva: ela acalma o usuário,
dando-lhe a sensação de que algo está em processo. Se
aprendermos a ser gratos pelo que está em processo, ficaremos
menos ansiosos acerca de todas as coisas, acerca de nossas
próprias vidas.

Por isso não armazene ingratidão. Como disse a poeta e


slammer Mel Duarte, “Não guarde ingratidões, isso machuca o peito.
Já se passaram tantas gerações, e o futuro sempre será incerto”.
Faça o oposto: some gratidão. Há um famoso hino cristão,
composto por Johnson Oatman Jr., chamado Count Your Blessings
(Conta tuas bênçãos). Tente contar as bênçãos, os presentes, os
dons, as graças que você recebeu em apenas um dia, diz o hino:
esse pode ser o melhor conforto no meio dos momentos difíceis da
vida. É preciso aprender a parar na correria da vida e a contar tudo
de bom que já recebemos. Certamente as grandes bênçãos,
certamente os dons completos, mas também os abundantes e
pequenos dons que recaem sobre nós, inclusive aqueles que são
apenas parciais.
5
COMO SER GRATO: SETE
EXERCÍCIOS DE GRATIDÃO
A PEDAGOGIA DA
GRATIDÃO

Se a gratidão fosse apenas um dever, como pensava o filósofo


prussiano Immanuel Kant (1724-1804), duas consequências
decorreriam disso: alguém poderia ser grato ou poderia ser ingrato.
A hipótese de Cássia ser mais grata que Fernanda, que seria mais
grata que Antônio, não existia para Kant. O dever ou é cumprido ou
é descumprido, ou tudo ou nada. Nesse exemplo, apenas Cássia
pode ser considerada grata, sendo Fernanda e Antônio ingratos.
Nossa experiência cotidiana, no entanto, indica que existem graus
na gratidão. Um episódio da vida de Jesus é sobre isso.

Havia entre os judeus o dever de recolher o dízimo, a décima


parte de toda a colheita, destinada à manutenção do templo. Um
dia, Jesus viu no templo homens ricos depositando suas ofertas na
caixa de contribuições. Havia também uma pobre viúva que
depositou duas pequenas moedas na caixa da coleta. Em termos
absolutos, ela deu muito menos que os homens ricos e deve ter
impressionado bem menos aos sacerdotes do que os homens ricos;
mas as duas moedinhas devem ter feito mais falta em seu
orçamento do que a contribuição dos ricos fizera no orçamento
deles.
Jesus, no entanto, afirmou que ela doou mais que os homens
ricos: “Todos eles tiraram de seu supérfluo para depositar nas
ofertas, mas ela tirou de sua miséria, para depositar tudo o que tinha
para viver”. Jesus não disse que os homens ricos não deram nada
em sinal de gratidão, que não eram gratos ou que não cumpriram a
lei em alguma medida. Ele disse que a mulher pobre dera mais em
sinal de gratidão, fora mais agradecida (mostrara-se mais
dependente de Deus) do que os ricos. Isso é especialmente
importante se consideramos a condição de pobreza em que viviam
as viúvas nos tempos bíblicos, não havendo nem trabalho, nem
bens, nem previdência social que as sustentassem. Se repararmos
o texto, e diferentemente do que propaga a teologia da
prosperidade, nenhum benefício econômico decorreu para ela como
fruto de seu sacrifício. Não foi o quanto ela deu, mas o que ela fez, o
seu gesto, que agradou a Jesus, e sua recompensa não foram bens
materiais, mas a própria graça.

Se a gratidão não é (apenas) um dever, talvez ela seja uma


virtude, como a entende André Comte-Sponville, e, como virtude,
ela possa se realizar de forma gradativa. Se alguém pode ser mais
ou menos corajoso que outras pessoas, se alguém pode ser mais
ou menos temperante, então as virtudes, inclusive a gratidão,
admitem uma gradação.

Na tradição aristotélica, uma virtude é uma disposição adquirida


para escolher determinadas ações, uma tendência a agir de
determinado modo. Mas essa tendência não é inata. Quando
nascemos, temos apenas a potencialidade de sermos virtuosos.
Essa potencialidade se desenvolve em nós quando imitamos
determinadas ações de modo repetido, o que produz em nós a
segunda natureza, segundo a qual passamos a agir. Compare as
virtudes com a etiqueta: usar a colher para tomar uma sopa é uma
tendência que se desenvolve em nós pela imitação, não é um
comportamento natural (ainda que não seja também contra a
natureza).

Se a gratidão é uma virtude, além de se realizar de modo


gradual, ela também pode ser desenvolvida, e podemos desenhar
exercícios para desenvolvê-la; podemos estabelecer uma pedagogia
da gratidão. Às vezes leva algum tempo para desenvolvermos
adequadamente uma virtude, e o mesmo acontece com a gratidão,
mas certamente ela pode ser desenvolvida. Você notará que os
exercícios que propomos se sobrepõem, não apenas porque podem
ser realizados concomitantemente, mas também porque os
conceitos explicitados em alguns deles são pressupostos por outros.
Assim, eles podem ser realizados sucessivamente ou
simultaneamente.

1. FIQUE UM DIA SEM RECLAMAR

A nossa vida é experimentada um dia de cada vez, tanto que, ao


final do dia, muitos de nós dizem: “Estou morto!” – e irão renascer
depois de uma noite de sono reparador. Um único dia equivale a
uma vida toda.

O primeiro exercício que propomos a você e que aparece no


título deste livro dura apenas um dia, é o mais simples, o mais direto
e, surpreendentemente, talvez o mais difícil deles: passe um dia (24
horas) sem reclamar. A principal função desse exercício é tornar-nos
conscientes de que a ingratidão é o padrão natural do ser humano.

Para realizá-lo, você precisará registrar o horário em que iniciará


o exercício. Não será preciso registrar quantas vezes você viola seu
comando (“não reclamar”) porque, a cada vez que você o fizer, você
deverá reiniciar a contagem do tempo.

Em seu dicionário[2] , Antônio Geraldo da Cunha diz que


reclamar, em sua origem, é “fazer impugnação ou protesto, verbal
ou por escrito, opor-se”. Reclamar significa exigir algo que
entendemos ser nosso direito, sendo, portanto, um termo jurídico:
“ele reclamou seu título sobre aquela coisa” (ou seja, reivindicou a
propriedade de algo), “ele reclamou contra seu patrão” (ou seja, ele
ingressou com uma ação para receber por seus direitos
trabalhistas), “ele propôs uma reclamação no Supremo Tribunal
Federal” (ou seja, propôs uma ação ao Supremo Tribunal Federal
para levar ao conhecimento desta corte que um juiz usurpou sua
competência). Quem reclama acredita que tem direito a algo. No
entanto, a experiência ensina que reclamamos indistintamente com
relação àquilo a que realmente temos direito e àquilo que nos é
dado de graça. Por isso, esse exercício exige que durante 24 horas
você simplesmente fique sem reclamar, inclusive renunciando àquilo
que você pensa ser seu direito.

Note que há muitas maneiras de reclamar. Por exemplo, usando


a buzina no trânsito (claro que não queremos que você deixe de
evitar um acidente usando a buzina, mas queremos que você
distinga o uso legítimo da buzina, como alerta, do uso da buzina
como reclamação, pelo trânsito estar lento, por exemplo). Outra
forma de reclamar é apertando repetida e insistentemente o botão
do elevador, antes que ele chegue (apertá-lo uma vez é o suficiente
para acioná-lo para que venha até você e o transporte; mais de uma
é impacientar-se com o fato de que, a seu juízo, ele está
demorando, como se você fosse a única pessoa a ser servida por
ele). Um suspiro (não um suspiro de amor, mas quando manifesta
impaciência) conta também como uma reclamação. Você precisará
de discernimento para distinguir que situações verbais e não verbais
constituem uma reclamação de ingratidão e deverá reiniciar a
contagem do tempo toda vez que reclamar de algo ou de alguém.

2. ESCREVA UM DIÁRIO DE GRATIDÃO

Durante pelo menos três meses, anote, ao final de cada dia, pelo
menos uma razão pela qual você é grato (não importa onde: em um
caderno, em um blog ou no próprio smartphone: o importante é que
você mantenha um registro a que possa recorrer posteriormente
para contar os motivos pelos quais você é grato). Esse exercício,
como o anterior, pode ser muito mais difícil do que parece, pois há
dias em que dificilmente encontraremos uma razão para sermos
gratos. Aqui é preciso atentar para algumas regras.

Em primeiro lugar, o motivo pelo qual você expressa a gratidão


deve ser autêntico. Isso quer dizer que não valem motivos como
“Pelo ar que respiro”, ou “Por mais um dia de vida”. Quando
dizemos autêntico, queremos que entenda que o motivo tem que ser
seu, e não de toda a humanidade.
Em segundo lugar, o motivo pelo qual você expressa sua
gratidão deve ter acontecido no mesmo dia em que você o registrar.
Isso quer dizer que você não poderá criar um estoque de gratidão
para cumprir esse exercício (“Hoje tenho dois motivos para ser
grato, mas vou guardar um para amanhã”).

Finalmente, o motivo do dia não pode repetir um motivo pelo


qual você já foi grato durante os três meses do exercício (se você
hoje agradeceu por ter conseguido apreciar a beleza de uma praça,
você não poderá usar esse motivo no prazo de três meses
novamente). Quando você não conseguir se lembrar de um motivo
para agradecer, não escreva “Não tenho nada a agradecer hoje”.
Pareceria que ninguém lhe ofereceu nada nesse dia, e isso não é
verdade: pode ter sido um sorriso, pode ter sido uma piada, pode ter
sido um bom-dia dito por alguém, mas dificilmente passamos um dia
sem que alguém, a natureza ou Deus nos ofereçam algo. Em lugar
disso, escreva: “Não consegui me lembrar de nada pelo que
agradecer hoje”. A gratidão é um sentimento que ocorre na pessoa
que recebe, portanto, o problema é com você, não com outra
pessoa.

Além disso, repare bem no exemplo que demos anteriormente


acerca daquilo pelo que agradecer. O agradecimento precisa ser
sincero. Sincero vem do latim sincerus[3]. Agradeça sem se
autoenganar. O engano aqui consistiria em colocar nas coisas, e
não em si mesmo, o verdadeiro motivo para ser grato: agradeça,
então, porque você conseguiu apreciar a beleza de uma praça, não
porque hoje você viu uma praça bonita.
Foque no que ocorre em você, já que a gratidão é um tipo de
sentimento, um modo de apreciar o mundo. Objetivamente, a beleza
da praça sempre esteve ali para ser apreciada, você é que,
subjetivamente, nunca conseguiu fazê-lo.

Acreditamos que, à medida que você for avançando ao longo


das semanas com este exercício, será mais fácil encontrar motivos
de gratidão, pois isso se tornará uma prática e você terá maior
habilidade para reconhecer motivos pelos quais agradecer. Como
neste exercício a nossa atenção passará a ser requerida para
encontrar motivos de gratidão a fim de não fazermos feio ao final do
dia, passamos a prestar mais atenção ao modo como reagimos
àquilo que nos é dado. É provável que os motivos para ser grato
sempre tenham estado presentes na sua vida, mas, como você não
prestava atenção, acabava não se conscientizando deles.

3. ESCREVA CARTÕES DE GRATIDÃO

Antigamente, íamos à casa de nossa avó quando era seu


aniversário, e lá nos encontrávamos com todos os nossos primos.
Ela preparava brigadeiro e aquele bolo delicioso que só ela sabia
fazer. Ficávamos ouvindo histórias de quando ela era criança,
cantávamos parabéns juntos… hoje, enviamos um coração pelo
WhatsApp e isso é tudo.

Certa vez, um de nós, em uma viagem ao estado da Pensilvânia,


nos Estados Unidos, ouviu uma explicação de um casal amish para
o fato de eles não terem telefones em suas casas. Eles disseram
que, quando você precisa tratar de um assunto com alguém, se
você o faz pelo telefone, terá uma conversa superficial que durará
cinco minutos. Mas se, para poder conversar com essa pessoa,
você tiver que preparar sua charrete, e tiver que percorrer todo o
caminho que separa suas casas, você não ficará lá menos do que
uma hora. Poderá, então, olhar nos olhos dela, experimentar o bolo
que ela fez para você, criar vínculos profundos e duradouros.

O mesmo problema ocorreu com as cartas. Há trinta anos, as


cartas eram um meio de comunicação muito usado entre as
pessoas. Você pode reescrever uma carta quantas vezes quiser
antes de enviá-la, e por isso a comunicação é mais precisa. Claro
que hoje podemos escrever e-mails. Mas a lógica das cartas
incorpora outro elemento: o tempo. A demora da resposta era um
elemento que, na maioria das vezes, fazia com que pensássemos
na pessoa o tempo todo. E o tempo requerido para que a resposta a
uma carta chegasse até você ajudava a aclarar a sua mente e a
responder de forma menos impulsiva. Esse tempo – intransponível
pelos recursos tecnológicos disponíveis à época – requeria de nós
paciência, e por isso acabávamos aprendendo a ser mais pacientes
com todas as coisas – afinal, não havia alternativa: era esperar ou
esperar. Depois se popularizou o telefone, veio a internet e com ela
o e-mail, o telefone celular e, finalmente, as redes sociais digitais.
Agora, mandamos três palavras abreviadas para uma pessoa e, se
a mensagem não for respondida em dois minutos, nós surtamos.

É claro que existem muitas maneiras de se expressar a gratidão:


um telefonema, um bolo que fazemos especialmente para alguém,
um convite para estarmos juntos e até mesmo um simples sorriso.
Há vezes em que nos esquecemos do poder que um sorriso tem.
Pesquisas recentes demonstram que sorrisos alteram o
funcionamento dos neurotransmissores em nosso cérebro. Em
pessoas que sorriram espontaneamente e foram submetidas a
exame de ressonância magnética, percebeu-se a ativação da
mesma região do cérebro responsável pela felicidade. Outras
pesquisas comprovam o efeito contagiante do sorriso: quando
vemos alguém sorrindo, a atividade das regiões de nosso cérebro
responsáveis pela avaliação social se intensifica: pessoas que
sorriem parecem mais simpáticas às demais. Essas mesmas
regiões do cérebro são responsáveis pela imitação social e, por
isso, respondemos a um sorriso com outro.

Apesar da eficiência de um telefonema ou do poder empático


que tem um sorriso, escrever cartas e cartões, que de resto pode
ser uma boa terapia para alguns dos males da vida moderna, é
certamente um bom exercício para nos tornarmos mais gratos.

Propomos que você escreva pelo menos um cartão (ou carta) de


agradecimento por semana durante esses três meses de exercícios,
ou seja, um total de cerca de doze cartões. Vimos no capítulo 3
(“Por que ser grato”) que, mesmo que não enviemos esses cartões,
o simples fato de escrevê-los nos tornará mais gratos. Mas nós
propomos que você envie efetivamente esses cartões a seus
destinatários. Dará trabalho, porque você terá que descobrir o
endereço dessas pessoas (ou seja, você acabará as conhecendo
melhor) e ir ao correio (finalmente você vai descobrir onde é a
agência dos Correios mais próxima de sua casa!). Mas enviar a
carta gerará vínculo, interdependência com a pessoa que a receber:
é um grande prazer receber uma carta ou cartão pelo correio, em
uma época em que só recebemos propagandas, contas e boletos
bancários, e a pessoa ficará sensibilizada. Randy Pausch é da
mesma opinião: “Demonstrar gratidão é uma das atitudes mais
simples e poderosas que os seres humanos são capazes de
expressar uns pelos outros, [e…] os bilhetes de agradecimento
ficam melhores à moda antiga, com papel e carta”.

Uma variação do exercício é fazer post-its (pequenos bilhetes)


de gratidão em casa para seus familiares. Ser grato, já vimos, não é
fácil, mas parece que é ainda mais difícil expressar a gratidão para
aqueles que vivem conosco. Uma boa alternativa pode ser escrever
mensagens de gratidão e colocá-las em lugares inusitados, como no
espelho do armário de seu cônjuge ou dentro do armário do
banheiro.

Uma ideia complementar é procurar por aqueles a quem nunca


tivemos a oportunidade de expressar nossa gratidão e começar a
enviar cartões e cartas de agradecimento a eles. Muitos ficarão
surpresos ao descobrir que, passado muito tempo, você ainda é
grato pelo que eles fizeram.

Para esse exercício, vale também a regra de que o


agradecimento deve ser autêntico e sincero. Fazendo isso, você
reprogramará seu cérebro para a gratidão, mas também reforçará
os vínculos entre você e as pessoas a quem você é grato.

4. AGRADEÇA AOS INVISÍVEIS


É mais fácil reconhecer os favores de quem julgamos ser superior a
nós. Contudo, deveríamos pontilhar nossa vida com mais gratidão
também àqueles que nos são desconhecidos, anônimos, que muitas
vezes cruzam nosso caminho apenas por alguns instantes. Por
exemplo, os funcionários de uma empresa que contratamos, os
atendentes de algum estabelecimento, os recepcionistas em uma
sala de espera, a funcionária da companhia aérea no aeroporto.
Devemos nos lembrar que todos eles são seres humanos como nós,
todos igualmente dependentes uns dos outros. O fato de pagarmos
por algum serviço não nos desobriga de nossos vínculos de
solidariedade humana.

A gratidão vaga que implicitamente expressamos por nos


encontrarmos em locais limpos e seguros deveria se converter em
uma gratidão expressa aos trabalhadores responsáveis por isso.
Esse exercício propõe que você expresse sua gratidão àqueles que
são invisíveis e que tornam possível a você realizar as atividades
requeridas onde você estuda, onde trabalha, no condomínio onde
mora e na cidade em geral. Expresse sua gratidão a eles, mas de
modo autêntico e sincero, que não reflita simplesmente o bom
trabalho que eles fazem, mas também como você se sente pelo
bom trabalho que eles fazem.

Passe a agradecer todas as vezes que perceber que alguém lhe


fez algum favor – ainda que fosse dever da pessoa, porque esta é a
beleza da gratidão: ela vai além de uma mera formalidade social,
reafirmando nossa interdependência. Agradecer mais às pessoas
com quem interagimos no percurso da vida amplia nosso
discernimento social.
5. DIVIDA O DOM

A gratidão deve criar em nós generosidade, e não egoísmo. Como


vimos no capítulo 2 (“O que é a gratidão”), se agradecer é dar, ser
grato é dividir. Não é possível se apropriar da bênção, do dom, da
graça de modo egoísta.

Uma lenda contada por Malba Tahan[4] ilustra bem isso, e se


chama “O fio da aranha”. Um ladrão chamado Kandata, homem
muito corrupto e maldoso, morreu sem se arrepender e foi enviado
para o inferno. Durante séculos sofreu suplícios e tormentos, mas
um dia seu coração foi tocado pela luz do arrependimento. Kandata
ajoelhou-se e pediu perdão a Deus de modo fervoroso. Um anjo
apareceu e lhe disse: “O Senhor da Compaixão me enviou,
Kandata, para tirá-lo do inferno. Algum dia de sua vida você realizou
algum favor para alguma criatura, por mais insignificante que ela
fosse?”. Depois de muito pensar, Kandata respondeu que um dia viu
uma aranha e pensou: “Não pisarei nela, porque é fraca e
inofensiva”. O anjo disse então que essa aranha viria para salvá-lo.
Quando o anjo desapareceu, Kandata viu um fio de aranha
descendo das alturas, e entendeu que era por ele que deveria subir
para fugir do inferno. Ele começou a subir pelo fio, mas, no meio da
subida, resolveu olhar para baixo, e viu que outros condenados
também estavam subindo pelo fio atrás dele. Temendo que o fio não
resistisse a tanto peso, gritou para os outros condenados: “Larguem,
malditos, que este fio é só para mim!”. Nesse momento o fio se
partiu e Kandata e os outros condenados caíram novamente no
inferno. Como diz Malba Tahan, “O fio salvador, forte o bastante
para levar ao Céu milhares de criaturas arrependidas de seus
crimes, rompera-se ao sofrer o peso do egoísmo que a maldade
insinuara em um coração”.

Devemos repartir dons, favores e graças que recebemos, porque


não são como dinheiro, para que alguém tenha mais dele, é preciso
que outros tenham menos. Repartir dons é como a saúde de que, à
medida que algumas pessoas se tornam mais saudáveis em uma
comunidade, todos os demais se beneficiam e se tornam também
mais saudáveis.

É fácil repartir os bens materiais, e na maioria das religiões isso


é feito sob a forma de esmolas, doações e dízimos. Se eu ganho um
prêmio, posso dar uma parte dele a outras pessoas. Se recebo um
salário mensalmente, posso dar uma parte dele para uma instituição
de qualquer natureza. Mas como fazer com bens imateriais? Saúde,
por exemplo? Ou conhecimento? Felizmente, também é possível
dividir esses bens. Claro que não podemos tomar uma parte de
nossa saúde e dá-la a outra pessoa, mas podemos empregar parte
do nosso tempo nos voluntariando para cuidar de enfermos.
Podemos dedicar parte de nosso tempo livre para ajudar crianças
de comunidades carentes a estudarem, com aulas de reforço.

Há algo impressionante na experiência do voluntariado, narrado


por todos aqueles que a ela se dedicam. Apesar de os voluntários
doarem algo (seu tempo, suas forças físicas e intelectuais, suas
habilidades e mesmo seus bens materiais), são eles que se sentem
gratos pelo que fazem, e não apenas quem recebe. Há diversos
depoimentos sobre isso.
Uma voluntária declarou que “O trabalho voluntário, antes de
mais nada, faz um bem à própria pessoa. Acho que viemos ao
mundo para nos relacionarmos. Nos sentimos felizes em perceber o
outro, em ter contato com o outro”. Outra disse que “muito mais do
que doamos. Ficamos muito felizes ao ver que tudo o que fazemos
é convertido em ajuda às pessoas que estão aqui. Quem trabalha
junto aos pacientes e tem oportunidade de dar carinho, de levar uma
palavra, se sente gratificado por isso”, e outra, ainda, afirmou que
“aprendemos muito [com o voluntariado]. Principalmente com as
crianças. Percebemos o quanto elas são fortes. Às vezes, estão
com alguma doença grave. Mas estão lá, lutando, brincando, rindo.
Vemos a capacidade que elas têm de transcender aquela situação.
É muito gratificante”.

O voluntariado é especialmente útil para dividir um tipo


específico de dons: aqueles que recebemos ao nascer. Esse é o
caso do dom para as artes, do dom para as línguas, do dom para a
música (os artistas são as pessoas mais generosas que existem).
Se não desenvolvermos os dons em talentos que possam ser
empregados para o benefício de todos, estaremos sendo egoístas,
estaremos sendo ingratos. Esses tipos de dons podem ser
repartidos de muitas formas, como apresentando músicas e peças
de teatro em hospitais, dançando com idosos em asilos ou apenas
contando piadas para fazer uma criança rir, por exemplo.

Também podemos agradecer pelos bens imateriais (que vemos


como espirituais) repartindo bens materiais (afinal, o que pode ser
mais espiritual que o dinheiro? Um pedaço de papel que vale muito
mais do que ele mesmo…). Os judeus, por exemplo, fazem isso
com o mandamento de Tsedacá. A generosidade e a gratidão
sempre foram parte integrante do judaísmo, desde o tempo dos
patriarcas, e os rabinos ensinam que devemos sempre nos colocar
no lugar dos carentes, porque somos como eles diante de Deus.
Assim como recebemos suas bênçãos materiais e espirituais
graciosamente, devemos suprir as necessidades dos outros também
de maneira graciosa.

O livro de Deuteronômio, na Bíblia, ordena: “Se houver em teu


meio um pobre, um dos teus irmãos, numa das tuas cidades, na
terra que o SENHOR te dá, não endurecerás o teu coração e não
fecharás a mão para o teu irmão pobre, mas tu lhe abrirás
largamente tua mão e lhe concederás todos os empréstimos a
penhor que vier a necessitar”. A referência à mão no mandamento é
importante, como lembram os rabinos, pois significa que somos
todos diferentes (uns ricos, outros pobres), mas somos todos dedos
de uma mesma mão (membros de uma mesma comunidade), todos
importantes.

Lendo o mandamento no livro de Deuteronômio, muitos podem


pensar que tsedacá significa caridade, mas na verdade significa
justiça (lembra-se da história do advogado de Manaus?), e ela se
realiza todas as vezes que alguém provê as necessidades materiais
ou espirituais de alguém – mesmo de um rico –, seja com dinheiro
(ou outros bens materiais), seja com palavras reconfortantes.

Na interpretação talmúdica e rabínica, esse mandamento só


pode ser cumprido se for realizado voluntariamente e com alegria,
pois quem assim o faz compreende que não está abrindo mão de
nada que seja seu, uma vez que todos os bens, na verdade,
pertencem a Deus, sendo os ricos apenas seus depositários. A
generosidade e o amor são as respostas da gratidão, e é por isso
que o mandamento de tsedacá é interpretado como um ato de
justiça, como restituição àqueles a quem Deus os destinou, e não de
caridade. Sendo assim, dentro da tradição do judaísmo, não é quem
provê bens materiais para um pobre que dá algo, mas exatamente o
contrário: é quem recebe, o pobre, quem dá algo muito mais
importante para o homem justo, que é a oportunidade de cumprir o
mandamento de tsedacá. E é porque tanto o rico dá algo (o bem
material para o pobre) quanto o pobre dá algo (a oportunidade para
o rico cumprir seu dever religioso) que um vínculo contratual se
estabelece entre eles, um vínculo comunitário. Por isso, doe-se.

Finalmente, é preciso lembrar uma regra sobre dividir o dom.


Ainda que a generosidade decorra da gratidão e que uma das
formas de manifestar a gratidão seja dividindo, ser grato não é fazer
algo, mas desenvolver certo sentimento por alguém que nos fez um
favor, como vimos no capítulo 2 (“O que é a gratidão”). Por isso, a
gratidão é avessa ao alarde. Essa aversão está presente. Se
continuarmos com o exemplo da tsedacá, no seu mandamento os
rabinos dizem que a melhor forma de cumpri-lo é com anonimato,
tanto de quem dá, para que não se vanglorie, pensando que está
dando algo de seu, quando está sendo apenas um veículo de Deus
para que ele distribua suas bênçãos, quanto de quem recebe, para
que não se envergonhe com a caridade de alguém. O alarde indica,
na maioria das vezes, não uma virtude, mas um vício moral (a
bajulação), e corrompe o sentido da própria gratidão. É próprio do
bajulador e daquele que, estando falsamente agradecido, quer se
passar por agradecido, manifestar de maneira excessiva sua falsa
gratidão para instituir um direito em seu lugar, como se uma
declaração pública de dívida fosse suficiente para saldá-la. Na
verdade, o sentimento produzido na pessoa grata não gera o desejo
de quitar a dívida. O que ele gera é amor.

6. CELEBRE SEU ANIVERSÁRIO

Existem várias cerimônias de gratidão em todo o mundo. O


Thanksgiving (Ação de Graças), que celebra a fartura da colheita no
Novo Mundo, é uma das festas mais importantes dos Estados
Unidos da América e é celebrado na última quinta-feira de
novembro, dando início aos chamados Holidays (festas de fim de
ano). Os judeus têm o Hagomel, sobre o qual falamos no capítulo 3
(“Por que ser grato”), mas quase todos os festivais judaicos são
cerimônias de gratidão, como o Pessach (Páscoa, que celebra a
libertação do povo de Israel do Egito), o Shavuot (Pentecostes, que
celebra o fim da colheita e a entrega da Torá [Mandamentos] no
monte Sinai) e Hanukkah (Festa das Luzes, que celebra a
rededicação do Templo de Jerusalém após a vitória da revolta dos
macabeus).

Há também cerimônias particulares de celebração da gratidão.


Há um casal que, em seu aniversário de namoro (estão casados há
quarenta anos, mas ainda agradecem a presença de um na vida do
outro no aniversário de início de seu namoro), reúne filhos e netos
para agradecer. Nesse dia, o brinde é feito não com champanhe,
mas com um conhecido refrigerante sabor laranja, porque, quando
começaram a namorar, há mais de quarenta anos, era comum que o
rapaz fosse à casa da moça para pedir autorização a seus pais para
namorá-la, e, no caso deles, o que foi servido naquela noite foi o
dito refrigerante. O refrigerante esteve presente no momento inicial
de seu relacionamento, e por isso ele tem um papel especial na
memória e na celebração da gratidão pelo casal.

Há o caso de um homem que, curado de um câncer há muito


tempo, visita anualmente os enfermeiros que cuidaram dele em sua
quimioterapia no dia em que recebeu a notícia de que estava
curado. Não os médicos, de quem todos se lembram, mas os
enfermeiros, de quem infelizmente nos esquecemos quando somos
curados. Criar uma cerimônia de gratidão é anular a força
anestesiante que o cotidiano tem sobre nós e que nos inclina à
automatização e ao esquecimento.

Para criar uma cerimônia particular de gratidão que o tempo não


atenue, é preciso, em primeiro lugar, encontrar um motivo para
celebrar: a aquisição de um carro novo provavelmente não é um
motivo para isso, mas entrar em remissão no caso de um câncer é
um forte candidato à gratidão ano após ano. Em segundo lugar, é
preciso pensar em um rito específico para a cerimônia (elementos e
ações que rememoram o fato, como tomar o refrigerante de laranja
no caso do casal ou a visita anual aos enfermeiros no caso da
remissão de um câncer); é preciso definir quem participa dela (se
será só você, você e alguém mais, você e muitas pessoas).
Finalmente, é preciso estabelecer uma data e um local para a
cerimônia: será o aniversário do dia em que recebeu a notícia que
se tinha câncer, e sua luta se iniciou, ou do dia em que recebeu a
notícia de que estava curado, e sua luta se encerrou? Irá visitar os
enfermeiros no hospital ou os convidará para irem à sua casa?

Mas se você acha difícil criar uma cerimônia e reconhecer um


motivo especial para celebrar sua gratidão, há uma festa a que
todos estamos tão acostumados que simplesmente nos
esquecemos que é uma cerimônia de agradecimento: a celebração
do aniversário.

É muito impressionante que haja pessoas que não gostem de


celebrar o próprio aniversário. Há aqueles que simplesmente não
querem lembrar que o seu tempo na Terra está se findando. Há
aqueles que se incomodam porque muitos se esquecem de nossos
aniversários. Mas há também aqueles que pensam que comemorar
o aniversário é um desperdício de tempo. Pensamos que se trata de
um equívoco.

Não temos o poder de garantir nossa própria sobrevivência.


Neste exato momento um meteoro pode estar caindo sobre nós, e
em um segundo não estaremos mais vivos. Felizmente isso não
aconteceu. São tantos fatores que conspiram contra nós que é um
verdadeiro milagre que estejamos vivos: um naco de carne mal
mastigado e mal deglutido que pode nos asfixiar, a queda em um
piso molhado no banheiro que pode levar a um traumatismo
craniano, um elevador que se desprende, um avião que cai, um
carro que nos atropela, uma bactéria mortal contida em uma fruta
mal lavada. É claro que, estatisticamente, estamos livres desses
perigos, mas mesmo assim há pessoas que morrem nessas
circunstâncias.

Não é impressionante que a maioria de nós não sofra nenhum


desses acidentes? O impressionante é que nós, autores, e você,
leitor, não estejamos no grupo das exceções, porque alguém tem
que estar nesses grupos de risco! É claro que caminhamos em
direção à morte, mas estamos vivos hoje! Há um quadrinho do
Snoopy em que ele e Charlie Brown estão assentados à beira de um
lago. Charlie Brown diz: “Algum dia todos nós iremos morrer,
Snoopy!”, ao que Snoopy responde: “Verdade. Mas todos os outros
dias, não”.

Temos motivos de sobra para agradecer por estarmos vivos,


temos motivos para nos sentir gratos em nossos aniversários, e não
apenas pelos anos que vivemos: são os amigos e parentes que nos
ligam e nos visitam, mas também aqueles que não se lembram de
nós, não porque não nos amem, mas porque se esqueceram, em
meio aos seus problemas, e que depois se sentirão culpados por
terem se esquecido; é o fato de que a passagem do tempo
provavelmente nos fez mais sábios e melhorou nossa condição
econômica. É verdade que há também a decadência física e, não
raramente, intelectual e financeira que acompanham nosso
envelhecimento. Mas também é verdade que todos nós somos
frágeis e carentes, não só os idosos.

Nós nos enganamos quando tentamos nos convencer de que


nosso destino depende somente de nós quando somos jovens,
quando tentamos nos convencer de que não dependemos (e de que
nunca dependeremos) de ninguém e de que temos direito a
determinado tipo de vida, como discutimos no capítulo 4 (“Por que é
tão difícil ser grato”). Ao contrário, participamos de uma linhagem
familiar e social na qual uma geração tem que cuidar do bem-estar
das gerações que lhe antecederam e das gerações que lhe
sucederem, como discutimos no capítulo 3 (“Por que ser grato”).
Nascemos para cuidar uns dos outros. Mais uma vez é preciso
invocar a sabedoria da Bíblia, que afirma ser uma bênção alguém
conhecer não apenas seus filhos, mas também os filhos de seus
filhos.

Este exercício, portanto, é o mais fácil de todos: simplesmente


celebre seu aniversário, e, quando o fizer, lembre-se de dizer a
todos que o parabenizarem que você se sente autêntica e
sinceramente agradecido por celebrar mais um ano de vida.

7. ENSINE A GRATIDÃO A SEUS FILHOS

Marcos dá uma maçã a Joana, uma menina de sete anos. Como ela
fica calada diante do presente, sua mãe olha para ela com cara de
reprovação e diz: “O que é que a gente diz quando recebe uma
maçã?”. A menina estende a maçã para Marcos e diz: “Descasca!”.
Às vezes parece que nossos filhos são as pessoas mais ingratas do
mundo. Na verdade, elas só tendem a nos imitar, agindo como nós
agimos, vendo o mundo com os olhos que nós lhes damos.

O último exercício de gratidão não é o último por acaso. Para


que seus filhos se tornem gratos, é preciso que você se torne grato
antes deles, dando-lhes o exemplo. E isso vale não só para os
filhos. Para que os subordinados se tornem gratos, é preciso que o
chefe se torne grato antes deles; para que os alunos se tornem
gratos, é preciso que o professor se torne grato antes deles. E,
seguindo a teoria aristotélica das virtudes, sobre a qual falamos no
início deste capítulo, é pela imitação de seu exemplo que eles
aprenderão a ser gratos, não estudando sobre a gratidão, mas
vendo você praticar a gratidão, pois, como diz Comte-Sponville, “Se
a virtude pode ser ensinada […] é mais pelo exemplo do que pelos
livros”.

Se você quer que seus filhos se tornem gratos, estimule-os a


expressar sua gratidão. Estimule-os a agradecer com um cartão por
um convite dos pais de um colega para passar o final de semana
com eles, ou por um presente de aniversário. Mas de nada
adiantará fazê-lo se você também não enviar cartões de
agradecimento quando receber convites ou presentes, pois o que
você pede deles lhes parecerá algo artificial e hipócrita. Peça-lhes
também para ficarem um dia sem reclamar ou para escreverem um
diário de gratidão. Mas se você não fizer isso antes de exigir que
façam, tudo lhes parecerá insincero e sem sentido.

Outra possibilidade é inspirar-se no mandamento de tsedacá, de


que falamos no exercício 5 (“Divida o dom”). Há muitas maneiras de
cumpri-lo, mas uma em especial é muito interessante. Há, em
muitas residências judaicas, um pushke (caixa de tsedacá), um
pequeno cofre que fica estrategicamente colocado de modo que
todos os membros da casa tenham acesso a ele. Isso estimula as
crianças a se envolverem com o mandamento. Você e seus filhos
podem colocar nela o troco da padaria ou da lanchonete da escola,
e pode combinar com seus filhos que, ao final do mês, o dinheiro
que estiver na caixa será doado para uma boa causa.

Mas a caixa de tsedacá pode ter outra função com seus filhos.
Se eles forem muito novos para entenderem o que é a gratidão e
por que ela é importante, será preciso dar um estímulo extra para
eles se engajarem no exercício. Você poderá fazer isso usando o
que chamamos de uma caixa de tsedacá invertida: coloque uma
quantia em dinheiro, em cédulas ou moedas de pequeno valor,
dentro da caixa. Combine com a criança que ela irá passar um dia
inteiro sem reclamar. Cada vez que reclamar, ela perderá uma
quantia do dinheiro que estiver na caixa. O dinheiro que sobrar ao
final do dia será dela. Isso a ajudará a conscientizar-se acerca de
quanto ela reclama a cada dia.

O objetivo não é que a criança não reclame, mas que ela


desenvolva, pela imitação de seu exemplo, um sentimento. Por isso
o importante é que você dê o exemplo. Se ela ficar um dia sem
reclamar, você deve fazer o mesmo. E quando você for escrever
seus cartões de agradecimento, estimule-a a fazer o mesmo junto
com você e depois vá com ela aos Correios. Permita que ela
aprenda com seu exemplo em tudo o que fizer de bom.

[2] Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa.


[3] Segundo Antenor Nascentes, a origem etimológica da palavra é um pouco obscura,

referindo-se, provavelmente, ao mel separado da cera, sem cera, sine cira, puro. Sincero é

sem cera. Também se diz que antiquários maquiavam com cera jarros e outros objetos de

porcelana quando estavam trincados antes de vendê-los. Portanto, nesses casos, sem

cera dá a entender “sem enganar alguém”. (N.P.).

[4] Malba Tahan é o pseudônimo do escritor brasileiro Júlio César de Mello e Souza, morto

em 1974.
BÔNUS
COMO AGIR COM OS
INGRATOS
AFASTAR-SE DOS
INGRATOS

Immanuel Kant dizia que gratidão “consiste em honrar uma pessoa


em virtude de um ato de benemerência que nos dispensou” e que
ela é “um dever, quer dizer, não é meramente uma máxima da
prudência”, não algo que seja meramente aconselhado, mas um
mandamento de cumprimento obrigatório. No entanto, como
observou Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), a gratidão
“representa um dever que se deve cumprir, mas não um direito que
se possa exigir”. Não há como impedir que as pessoas sejam
ingratas, conosco ou com os demais. Devemos, inclusive, contar
com a ingratidão da maioria das pessoas, como sugerimos no
capítulo 4 (“Por que é tão difícil ser grato”).

Há uma história no Evangelho de Lucas que ilustra bem isso, o


encontro de Jesus Cristo com um grupo de dez leprosos. Jesus os
curou e pediu-lhes que procurassem o sacerdote em Jerusalém,
para que ele atestasse a cura e os declarasse purificados, como
exigia a lei de Moisés. Lucas conta que “um dentre eles, vendo que
estava curado, voltou dando glórias a Deus em altas vozes. Lançou-
se de rosto em terra aos pés de Jesus, rendendo-lhe graças; ora,
era um samaritano. Então Jesus disse: ‘Acaso os dez não foram
todos purificados? E os outros nove, onde estão?’ Não se achou
ninguém entre eles para voltar e dar glória a Deus; a não ser este
estrangeiro!”.

A ingratidão é mais comum que a gratidão, e é prudente contar


com ela. Se, com Jesus, apenas 10% dos leprosos foram gratos,
imagine como será com você e conosco! Que a ingratidão é mais
comum também é o que ensina a fábula O viandante [viajante] e a
víbora, de Esopo. Um viajante encontrou uma víbora congelada
durante o inverno. Sentindo pena do pobre animal, ele a colocou
sob sua roupa para aquecê-la. Quando se descongelou, a víbora
picou o viajante, que aprendeu tarde demais a contar com a
ingratidão dos outros.

Sendo assim, é preciso saber reconhecer o ingrato, e a parábola


do Filho Pródigo ajuda-nos a reconhecê-lo e a entender a dinâmica
que conduz algumas pessoas da ingratidão à gratidão. Contou
Jesus que um pai tinha dois filhos. “O mais moço disse ao seu pai:
‘Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe.’ E o pai fez para eles a
partilha dos seus bens.” O filho mais moço partiu para longe do pai e
gastou todos os seus bens, até se encontrar em uma condição de
indigência. Não tendo sequer alimento, ele pensou: “Quantos
operários de meu pai têm pão de sobra, enquanto eu aqui morro de
fome! Vou ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e
contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um
dos teus diaristas”. Quando ele vinha ao longe, o pai correu
emocionado até o filho e o abraçou. O filho mais moço começou a
dizer o texto que decorara: “Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já
não mereço ser chamado de teu filho…”. Antes que o filho
completasse a frase, pedindo que o tratasse como a um servo, o pai
o interrompeu e pediu a seus servos que o vestissem com a melhor
roupa possível e que preparassem um banquete para ele.

Quando o filho mais velho chegou, ficou amargurado,


reclamando, e disse ao pai: “Já faz tantos anos que eu te sirvo sem
ter jamais desobedecido às tuas ordens, e a mim nunca deste um
cabrito sequer para festejar com meus amigos. Mas quando chegou
esse teu filho […] mataste o bezerro gordo para ele!”. O pai então
respondeu que o filho mais velho sempre estivera com ele, mas o
mais novo era como um morto que voltara a viver, e era preciso
comemorar esse fato.

Podemos fazer uma leitura dessa parábola a partir do tema da


gratidão – sem prejuízo das outras leituras dessa pérola narrativa.
Aqui há um primeiro indício de quem é o (filho) ingrato: o ingrato diz
que ele tem direito ao que recebe, e isso ocorre tanto com o filho
mais novo, que pede que o pai divida a herança antes mesmo de
sua morte, quanto com o filho mais velho, que se amargura porque
entende que teria direito a um cabrito e a muitas outras coisas,
como fica subentendido.

Há outro indício da ingratidão de ambos os filhos:


aparentemente, eles achavam que podiam sentir mais prazer longe
do pai do que perto dele: o filho mais novo, que partiu para longe do
pai em busca de prazer, e o filho mais velho, que desejou celebrar
com seus amigos, e não com seu pai, mas nunca teve coragem de
fazê-lo.
Mas há uma diferença entre ambos os irmãos. O filho mais novo
descobriu, ao final, que não são simplesmente os bens materiais
finitos do pai, mas o trabalho, a ação infinita realizada pelo dono da
fazenda (o pai) que provia tudo para ele. O filho mais velho, no
entanto, viu-se como se ele próprio fosse a causa da abundância
dos bens do pai – ou, pelo menos, um fator essencial para seu
sucesso. Por isso, há uma dinâmica diferente entre ambos: o filho
mais novo tem sua soberba vencida, enquanto o filho mais velho
não muda seu sentimento. O filho mais novo passou da ingratidão à
gratidão, enquanto o filho mais velho continuou tão ingrato como
sempre foi (só não teve oportunidade em que manifestasse sua
ingratidão antes), não se vinculando nem ao pai, nem ao mais novo
(a quem ele não chamou de irmão, mas de “esse teu filho”). O filho
mais novo, ao contrário, em total dependência, se mostrou disposto
a vincular-se novamente ao pai, mesmo na condição de servo, se
fosse a única que lhe restasse.

Já que não podemos evitar que as pessoas sejam ingratas


conosco, há muitos modos de se lidar com ingratos. Antes de mais
nada, alguém que age com ingratidão é alguém que também age
com estupidez, com certa inabilidade para o trato social, pois lhe
teria sido muito mais útil se, mesmo não se sentindo grato,
aparentasse sê-lo. Por que você quereria se aproximar de alguém
que tem não uma, mas duas falhas graves, a ingratidão e a
inabilidade social?

A primeira maneira de se lidar com pessoas ingratas é se


afastando delas, porque são egoístas e ineptas, incompetentes para
a vida, como já observou Goethe, para quem “a ingratidão é sempre
uma forma de fraqueza. Nunca vi homens competentes serem
ingratos”. Ingratidão é coisa de quem não pensa. O monge Anselm
Grün nos lembra que “quem pensa devidamente é também grato. A
pessoa ingrata não pensa corretamente em sua vida”. Não se trata
de fazer um sermão para essas pessoas, o que geralmente é inútil
(pois, se são soberbos, por que deveriam ouvi-lo?), mas
simplesmente de se afastar delas aos poucos. A sabedoria bíblica
no livro dos Provérbios recomenda: “Não te faças amigo de um
homem iracundo, nem andes com o violento, para que não te
habitues aos teus caprichos, nem armes uma trampa [armadilha]
para ti mesmo”. O mesmo vale com o ingrato.

Servir os ingratos

Se essa estratégia vale para alguns ingratos, não vale, no entanto,


para todos. Por exemplo, como agir com um filho ingrato?
Dificilmente um pai ou uma mãe abandonariam um filho ingrato, e
sempre se conta com a possibilidade de que o filho ingrato aprenda
com seu erro e acabe se tornando grato. Mas até lá, como devemos
proceder?

Identificado um ingrato a quem amamos (como um filho), uma


maneira de agir é aplicar na relação com essa pessoa um princípio
básico do hinduísmo chamado svadharma. Começamos este livro
contando a história do arqueiro Arjuna, que, ao se deparar com
amigos, parentes e mestres nos dois lados da batalha, ficou
imobilizado, pois não queria ser ingrato com nenhum deles. Krishna,
então, disse-lhe que deveria aplicar svadharma à sua ação para que
pudesse compreender de modo mais claro o que de fato estava
envolvido. Arjuna deveria fazer o que Krishna lhe pedia, engajar-se
com seu arco e flecha ao lado dos Pandavas, simplesmente porque
esse era o desejo de Krishna, independentemente das
consequências da ação para o próprio Arjuna.

Svadharma significa agir com desapego pelas consequências da


ação, sem ter em vista a retribuição que dela pode advir, porque
essa é a coisa certa a se fazer. É o apego às consequências da
ação que produz a confusão em nossa mente e nos impede de agir
corretamente. Krishna disse: “Cumpra o seu dever, ainda que seja
humilde, e não o dever de um outro, ainda que seja grande. Morrer
realizando o próprio dever é vida, viver realizando o dever de um
outro é morte”.

O princípio moral que Krishna estabelece é faça a coisa certa,


ainda que nenhuma consequência (ou consequências ruins, como
ser odiado por um filho que é disciplinado pelo pai) decorra disso. E
fazer a coisa certa é fazer o que é necessário para alguém, não
necessariamente o que essa pessoa deseja, como ensina James
Hunter no clássico da literatura corporativa O monge e o executivo.
Como líderes, os pais devem servir as necessidades de seus filhos,
mesmo quando não correspondam a seus desejos, e mesmo
quando não se mostrem agradecidos pelo seu comportamento.
Essa ideia estrutura ainda o budismo clássico. No Dhammapada,
Buda reivindica para seus discípulos que eles expressem amor
entre os homens que os odeiam e que, em suas ações, eles devem
“abandonar a raiva e abrir mão do orgulho. O sofrimento não pode
ferir o homem que não está preso a nada, que nada possui”. Quem
não tem nada, nem soberba, nem orgulho, nem raiva, nada pode
perder.

Há uma história de Malba Tahan, chamada Ingratidão exigida,


que ilustra isso. Um viajante presenciou um velho xeique atirar um
punhado de moedas de ouro aos pés de um mendigo. O mendigo
gritou: “Alá te castigue, velho nojento! Longe de mim, podridão!
Possa o fogo do Maligno livrar-nos de tuas mãos pestilentas”. Ao
ouvir isso, o viajante estava prestes a espancar o mendigo em
represália ao que ele dissera a seu benfeitor, quando o mendigo lhe
pediu que não batesse nele, pois era o xeique que exigia dele esse
comportamento. Não acreditando, o viajante perguntou ao xeique se
isso era verdade, e este respondeu:

Não lhe mentiu o mendigo. Fui eu mesmo que lhe impus, não só a ele, senão a
todos a quem valho, aquele modo de proceder. E a minha exigência não passa de
um egoísmo gerado pela minha filantropia. […] Não têm conta os lábios sedentos a
que cheguei um púcaro [vasilha] d’água […] De todos, porém […] estancada a sede
[…] só recebia as mais cruas provas de ingratidão. Passada a hora da necessidade,
passava a lembrança do benefício. A princípio, meu filho, […] doíam-me as
injustiças daquele que eu beneficiava, vinham-me ímpetos de transformar os meus
sentimentos de piedade nesse indiferentismo com que a maioria dos homens
aprecia as misérias de seus semelhantes. Repudiando, porém, essa fraqueza […]
que me assaltava quando me feria uma ingratidão profunda, deliberei habituar-me a
receber tais pagas. […] Comecei a exigir, de todos quantos receberam qualquer
auxílio meu, que me deem desde logo o que iriam dar mais tarde: uma ingratidão
como paga.

Nem havia mais surpresa e sofrimento para o xeique, nem ele


deixava de fazer o que era o certo: isso é svadharma. Krishna
ensinou a Arjuna que “um dom é puro quando é dado de coração
para a pessoa certa, na hora certa e no lugar certo, e quando não se
espera nada em troca. Mas quando é dado esperando-se algo em
troca ou tendo-se em vista uma recompensa futura, ou quando é
dado sem se desejar dar, ele se origina da paixão e é impuro. E um
dom dado à pessoa errada, na hora errada e no local errado, ou que
não venha do coração, e é dado com desprezo orgulhoso, é um
dom da escuridão”. Para quem não espera ser recompensado, o
destino é-lhe sempre favorável. Faça o certo, sem esperar
recompensa por isso.

Se somos odiados por aqueles a quem amamos, devemos amá-


los, e não os odiar; servi-los em suas necessidades, e não os
abandonar à própria sorte, pois se perto deles é difícil corrigi-los,
que dirá longe! O nome disso é amor. O nome disso é graça. O
nome disso é gratidão.
RE
FE
RÊN
CIAS

GERAL

Há muitas fontes não ortodoxas, fora dos ensaios de filosofia e dos


grandes livros religiosos da humanidade, largamente citados e
referenciados nos diversos capítulos deste livro, com as quais
podemos aprender mais sobre a gratidão (e a ingratidão). Uma boa
alternativa são filmes como A cor púrpura (The Color Purple), de
Steven Spielberg (1985); A felicidade não se compra (It’s a
Wonderful Life), de Frank Capra (1946); A lista de Schindler
(Schindler’s List), de Steven Spielberg (1993); A vida é bela (La vita
è bella), de Roberto Benigni (1997); Ao mestre com carinho (To Sir,
with Love), de James Clavell (1967); Cinema Paradiso, de Giuseppe
Tornatore (1988); A chegada (Arrival), de Denis Villeneuve (2016);
Com mérito (With Honors), de Alek Keshishian (1994); Era uma vez
em Tóquio (Tokyo Monogatari), de Yasujiro Ozu (1953); O clube do
imperador (The Emperor’s Club), de Michael Hoffman (2002);
Tomates verdes fritos (Fried Green Tomatos), de John Avnet (1991);
e Uma história de Natal (A Christmas Carol), de Robert Zemeckis
(2010).

Da mesma forma, a literatura tem muito a dizer sobre a gratidão,


em livros como A divina comédia (Divina Commedia), de Dante
Alighieri (1304); A lição final, de Randy Pausch (2008); Grande
sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa (1956); Gratidão, de
Oliver Sacks (2015); o conto “Bola de Sebo” (“Boule de Suif”), de
Guy de Maupassant (1886); Sobre ratos e homens (On Mice and
Men), de John Steinbeck (1939); O Paraíso perdido (Paradise Lost),
de John Milton (1674); O morro dos ventos uivantes (Wuthering
Heights), de Emily Brontë (1847); Ethan Frome, de Edith Wharton
(1911, infelizmente sem tradução em português); além de várias
peças de William Shakespeare, sendo a mais notável delas seu
Júlio César, de 1599.
OS MALES DA
INGRATIDÃO

O Bhagavad Gita foi consultado na versão em inglês de Juan


Mascaró[5], e aqui citamos o discurso introdutório de Arjuna,
pedindo iluminação a Krishna sobre o que fazer diante da batalha
iminente[6]. A citação de David Hume vem de seu Tratado da
natureza humana[7]. O mito de Édipo tem muitas fontes, sendo as
principais a peça de Sófocles de mesmo nome[8] e a Biblioteca de
Apolodoro[9]. A Suma Teológica de São Tomás de Aquino foi
consultada na versão da editora Loyola. O tratado sobre a Gratidão
encontra-se no volume VI da coleção[10], mais especificamente nas
questões 106 e 107 da II seção da II parte[11].

[5] Bhagavad Gita; trad. inglês Juan Mascaró. Londres: Penguin, 2003.

[6] Ibidem, verso I, 34, p. 6 e verso II, 5, p. 9.

[7] Hume, David. Tratado da natureza humana. São Paulo: Unesp, 2001. p. 506. Livro III,

Parte I, Seção 1, § 24.


[8] Sófocles. A trilogia tebana: Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona; 9ª. ed. trad. Mario

da Gama Cury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

[9] Apollodorus. The Library of Greek Mythology: A new translation by Robin Hand. Oxford:

Oxford, 2008.

[10] Aquino, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2005.

[11] Ibidem, na versão consultada, p. 572-590.


O QUE É A GRATIDÃO

Sobre o agradecimento de Tom Hanks, consulte a matéria “Globo de


Ouro oscilou entre o óbvio e o quase absurdo nos prêmios de
cinema”[12]. Sobre o agradecimento de Malala, consulte seu
discurso de agradecimento, Malala Yousafzai – Nobel Lecture[13].
Sobre o agradecimento do treinador Jorge Jesus, consulte o artigo
“Flamengo: Jorge Jesus agradece torcida rubro-negra”[14]. Sobre o
agradecimento de Andrew Sandness pelo seu novo rosto, consulte a
matéria “Homem passa por transplante de rosto após anos de
isolamento e depressão”[15]. Aristóteles trata do Discurso
Demonstrativo na Retórica[16]. As palavras utilizadas em várias
línguas para expressar agradecimento foram retiradas de As línguas
do mundo, de Charles Berlitz[17].

O vídeo de António Nóvoa sobre a especificidade da palavra


obrigado na língua portuguesa pode ser encontrado facilmente no
YouTube[18]. Os graus da gratidão são apresentados por São
Tomás de Aquino na questão 107, artigo 2 da II-II da Suma
Teológica[19]. É dele também a ideia de que três ações
caracterizam a ingratidão[20]. Para o conceito de charis e de hen,
consultamos respectivamente o Theological Dictionary of the New
Testament[21] e o Theological Lexicon of the Old Testament[22].
A citação de Miguel de Cervantes Saavedra está em seu O
Engenhoso Cavaleiro D. Quixote de la Mancha[23]. A ideia de que o
domínio do princípio do prazer pelo princípio da realidade ocorre na
passagem para a vida adulta é apresentada por Freud em
Formulação sobre os dois princípios do funcionamento psíquico[24].
Bernard Mandeville nos comparou às abelhas[25], e o Agente Smith,
personagem do filme Matrix (1999), nos comparou aos vírus. As
Cartas a Lucílio, de Sêneca, foram citadas pela excelente tradução
portuguesa de J. A. Segurado e Campos.[26]

Confúcio é um autor epigramático difícil de ser interpretado sem


o auxílio de um comentário. A ideia acerca da variabilidade do
destino mas da imperturbabilidade do caráter está em várias
passagens do Analectos[27]. Para uma apreciação mais direta da
ética de Confúcio, veja o livro de Leslie Stevenson e David I.
Haberman, Dez teorias da natureza humana[28]. C. S. Lewis referiu-
se não propriamente à soberba, mas ao orgulho[29]. No entanto, a
palavra latina soberbia sempre foi utilizada pelo cristianismo para se
referir a esse vício moral (a palavra orgulho, que não deriva
diretamente do latim, é de uso muito mais recente). A relação entre
o egoísmo e a ingratidão já foi notada por André Comte-
Sponville[30], que também estabeleceu a diferença entre agradecer
e ser grato. É dele também a observação de que a mera retribuição
é desejo por mais, ganância, egoísmo (p. 152). O conceito de
agradecimento de Baruch Spinoza está na sua Ética[31]. Victoria
Camps é quem concebe a gratidão como sentimento dos que
recebem algo por graça, e não por direito[32]. É ela, também, quem
estabelece a relação entre gratidão e solidariedade.
[12] Folha de S.Paulo, 6 de janeiro de 2020. Disponível em

<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/01/globo-de-ouro-oscilou-entre-o-obvio-e-o-

quase-absurdo-nos-premios-de-cinema.shtml>. Acesso em: 7 jan. 2020.

[13] Malala Yousafzai – Nobel Lecture, 10 de dezembro de 2014. Disponível em

<https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2014/yousafzai/26074-malala-yousafzai-nobel-

lecture-2014/>. Acesso em: 7 jan. 2020.

[14] “Flamengo: Jorge Jesus agradece torcida rubro-negra”. De 24 de dezembro de 2019.

Disponível em <https://www.jcnet.com.br/noticias/esportes/2019/12/708503-flamengo--

jorge-jesus-agradece-torcida-rubro-negra.html>. Acesso em: 7 jan. 2020.

[15] “Homem passa por transplante de rosto após anos de isolamento e depressão”, de 17

de fevereiro de 2017. Disponível em

<https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/mundo/2017/02/homem-passa-por-

transplante-de-rosto-apos-anos-de-isolamento-e-depress.html>. Acesso em: 7 jan. 2020.

[16] Aristoteles. Rhétoric. Paris: Livre de Poche, 1991. p. 93s., 1358a.

[17] Berlitz, Charles. As línguas do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. p. 223s.

[18] Disponível em <https://www.YouTube.com/watch?v=mF2RUpozO3Q>. Acesso em: 30

dez. 2019.

[19] Aquino, op. cit., p. 586.

[20] Idem, p. 587, q. 107, a. 3.

[21] Kittel, Gerhard; Friedrich, Gerhard (orgs.). Theological Dictionary of the New

Testament, vol. IX. Grand Rapids: WM. B. Eerdmans, 2006, p. 372.


[22] Jenni, Ernst; Westermann Claus. Theological Lexicon of the Old Testament, vol. I.

Peabody: Hendrickson, 2012, p. 439.

[23] Cervantes, Miguel de. O Engenhoso Cavaleiro D. Quixote de la Mancha, Livro II, trad.

Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2007, p. 602 – Capítulo LI.

[24] Freud, Sigmund. Obras completas, trad. Paulo César de Souza. São Paulo:

Companhia das Letras, 2010. V. 10. p. 108-121.

[25] Mandeville, Bernard. A fábula das abelhas. São Paulo: Unesp, 2018.

[26] Sêneca, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio, trad. portuguesa J. A. Segurado e Campos,

Carta CVIII, 11 e 12. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, p. 590.

[27] Analectos. São Paulo: Unesp, 2012, p. 22, p. 118 e 119 e p. 123, ou seja, I.15, IV.10,

IV,11 e IV.14, por exemplo, mas sempre de modo indireto.

[28] Stevenson, Leslie; Haberman, David I. Dez teorias da natureza humana. São Paulo:

Martins Fontes, 2005, em especial p. 40.

[29] Lewis, C.S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2017, p. 167.

[30] Comte-Sponville, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins

Fontes, 1995, p. 146.

[31] Spinoza, Baruch. Ética, trad. Tomaz Tadeu, 2ª. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. p.

148, de onde usamos a definição 34 dos Afetos, contida na parte III da obra. Já a definição

6 apresenta o que é o amor, p. 142.

[32] Camps, Victoria. O que devemos ensinar aos nossos filhos. São Paulo: Martins

Fontes, 2003, p. 69.


POR QUE SER GRATO

A fábula de Esopo A formiga e a pomba foi retirada de Esopo:


Fábulas completas[33]. Para as considerações estéticas sobre o
conceito de gratidão, nossa fonte original foi o verbete Graça no
Dicionário de Filosofia de J. Ferrater Mora[34]. Uma divulgação da
pesquisa do professor Glenn Fox sobre a relação entre gratidão e
reprogramação do cérebro pode ser encontrada em What Can the
Brain Reveal about Gratitude?[35]. Para compreendermos melhor
sua pesquisa, recorremos ao artigo de Judith Butman e Ricardo F.
Allegri intitulado “A cognição social e o córtex cerebral”[36]. A
citação da poeta Bruna Beber é do poema “De castigo na
merenda”[37]. A pesquisa de Joel Wong e Joshua Brown é
reportada por eles no artigo de divulgação intitulado “How Gratitude
Changes You and Your Brain”[38]. A citação de La Rochefoucauld
está na obra The Funniest Thing You Never Said[39]. A afirmação
de que o contentamento é o maior dos tesouros foi feita pelo próprio
Buda, no Dhammapada[40]. Utilizamos também a fórmula da
bênção do Bircat Hagomel[41], e o texto dos Dez mandamentos foi
consultado na versão de Deuteronômio 5:16[42]. Citamos a letra de
“Velhos e jovens”, de Arnaldo Antunes[43]. A citação de Paulo sobre
a fortaleza de quem se reconhece fraco está na Segunda Epístola
aos Coríntios[44].

[33] Esopo: Fábulas completas. Trad. Eduardo Berliner. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p.

199.

[34] Mora, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2001. Tomo II (E-J), p.

1228s.

[35] What Can the Brain Reveal about Gratitude? Greater Good Magazine: Science-Based

Insights for a meaningful Life. 04/08/2017. Disponível em

<https://greatergood.berkeley.edu/article/item/what_can_the_brain_reveal_about_gratitude>

. Acessado em 2 de janeiro de 2020.

[36] Butman, Judith; F. Allegri, Ricardo. “A cognição social e o córtex cerebral”, in

Psicologia: Reflexão e crítica, vol. 14, n. 2. Porto Alegre, 2001. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722001000200003>.

Acessado em 10 de janeiro de 2020.

[37] Beber, Bruna. “De castigo na merenda”, in Rua da Padaria. Rio de Janeiro: Record,

2013.

[38] Wong, Joel; Brown, Joshua. “How Gratitude Changes You and Your Brain”, in Greater

Good Magazine: Science-Based Insights for a Meaningful Life. 06/06/2017. Disponível em

<https://greatergood.berkeley.edu/article/item/how_gratitude_changes_you_and_your_brain

>. Acessado em 2 de janeiro de 2020. Mais dados sobre o efeito da gratidão sobre o

cérebro podem ser encontrados em


<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/expressar-gratidao-pode-mudar-

seu-cerebro.html> em 30 de dezembro de 2019.

[39] Jarski, Rosemarie. The Funniest Thing You Never Said, compilação de frases bem-

humoradas. Londres: Ebury Press, 2004.

[40] Sidarta Gautama, Dhammapada, trad. Juan Mascaró, verso 204, livro 15 (Felicidade).

Londres: Penguin, 1973, p. 64.

[41] Bircat Hagomel. Disponível em

<https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1580883/jewish/Bircat-Hagomel.htm>. Acesso

em: 30 dez. 2019.

[42] Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Loyola, 1994, p. 277.

[43] Pode ser consultada em <https://www.letras.mus.br/arnaldo-antunes/91780/>. Acesso

em: 30 dez. 2019.

[44] Tradução Ecumênica da Bíblia, op. cit., p. 2246, cap. 12, v. 10.
POR QUE É TÃO DIFÍCIL
SER GRATO

O provérbio oriental citado está registrado na obra Provérbios do


Mundo Todo[45]. A história do filho acometido de leucemia é
contada por Rubem Alves em Estórias de quem gosta de
ensinar[46]. A teoria de Santo Agostinho sobre o tempo, que discute
a irrealidade do passado e do presente como dados objetivos do
mundo, ocupa todo o livro XI de suas Confissões[47]. A citação de
Mark Williams e Danny Penman foi retirada de seu livro Atenção
plena – Mindfulness[48]. O verso da poeta Ana Martins Marques é
do “Poema de trás para frente”[49]. A palestra de Randy Pausch,
além de sua versão online de 2007 no site Ted Talks[50], pode ser
encontrada em seu livro A lição final[51].

A parábola do magnífico morango, contada por Daisetsu Teitaro


Suzuki, pode ser encontrada no texto de Keith Rosen Gratitude and
the Parable of the Magnificent Strawbery[52]. O Cântico das
Criaturas de São Francisco de Assis pode ser encontrado no
site[53]. Para a crítica de Victoria Camps ao excesso de direitos que
nos atribuímos, consulte-se mais uma vez seu livro O que devemos
ensinar a nossos filhos[54]. Para a história de Jó, consulte-se a
Tradução Ecumênica da Bíblia[55].
O verso de Mário Quintana é da obra A cor do invisível[56]. A
Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses também foi consultada
na Tradução Ecumênica da Bíblia[57], como também o versículo
sobre a dedicação do memorial ao auxílio divino (Ebenézer)[58]. A
história da invenção da barra de progresso é recontada no artigo de
Daniel Engberg, “Who Made That Progress Bar”[59]? A citação da
poeta Mel Duarte é do poema “Brisas Avulsas”[60]. Para a história e
a letra (em inglês) do hino de Johnson Oatman Jr. Count Your
Blessings, consulte o site Hymnary.org[61].

[45] Provérbios do mundo todo. Rio de Janeiro: Gryphus, 2001.

[46] Alves, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar, 11ª. ed. São Paulo: Cortez, 1991.

[47] Agostinho. Confissões, trad. Lorenzo Mammì. São Paulo: Penguin/Companhia, 2017,

p. 302s.

[48] Atenção Plena – Mindfulness: Como encontrar paz em um mundo frenético. Rio de

Janeiro: Sextante, 2015. p. 69.

[49] In O Livro das Semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

[50] A versão online de 2007 está disponível em

<https://www.ted.com/talks/randy_pausch_really_achieving_your_childhood_dreams>.

Acesso em: 7 jan. 2020.

[51] Pausch, Randy. A lição final. Rio de Janeiro: Agir, 2008.


[52] Rosen, Keith. Gratitude and the Parable of the Magnificent Strawbery. Disponível em

<http://keithrosen.com/2009/11/the-experience-of-gratitude-and-the-richest-person-in-the-

world-a-zen-parable-of-the-magnificent-strawberry/>. Acesso em: 2 jan. 2020.

[53] franciscanos.org.br. Disponível em <https://franciscanos.org.br/carisma/simbolos/o-

cantico-das-criaturas>. Acesso em: 17 jan. 2020.

[54] Camps, op. cit., p. 69.

[55] Tradução Ecumênica da Bíblia, op. cit., 1173, cap. 1, v. 21 e cap. 2, v. 10.

[56] Quintana, Mário. A cor do invisível. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2012.

[57] Bíblia, op. cit., p. 2311, cap. 5, v. 16 e 18.

[58] Ibidem, 1Samuel 7.12, p. 413.

[59] Engberg, D. Who Made That Progress Bar? In The New York Times Magazine, 07 de

março de 2014, disponível em <https://www.nytimes.com/2014/03/09/magazine/who-made-

that-progress-bar.html>. Acesso em: 7 jan. 2020.

[60] In Negra Nua Crua. São Paulo: Editora Ijumaa, 2016.

[61] Hymnary.org, disponível em

<https://hymnary.org/text/when_upon_lifes_billows_you_are_tempest>. Acesso em: 2 jan.

2020.
COMO SER GRATO: SETE
EXERCÍCIOS DE
GRATIDÃO

A história da doação da viúva no templo é contada no Evangelho de


Lucas[62]. A definição aristotélica da virtude encontra-se no livro II
da Ética a Nicômaco[63]. A definição etimológico-jurídica de
reclamar está no Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua
Portuguesa[64]. Antenor Nascentes é quem afirma haver conexão
entre a palavra sincero e mel sem cera[65].

A explicação do casal amish sobre por que não têm telefone foi
ouvida por Marcelo Galuppo em uma viagem a Lancaster,
headquarters dos amish nos Estados Unidos, em 2015. Os amish
são uma comunidade protestante radical que não usa luz elétrica ou
telefones em suas casas, nem zíperes em suas roupas. Eles usam
pequenas charretes como único meio de transporte e usam roupas,
cortes de cabelo e estilos de barba idênticos. Seu estilo de vida é
marcado pela simplicidade.

É claro que isso não define o que são os amish, um grupo


anabatista igualitarista e pacifista com fortes vínculos comunitários
(geralmente não mantêm contato sequer com outros amish que não
vivam na mesma área geográfica) originado na Suíça do século 17 e
que foi expulso da Europa pelos católicos e por grupos protestantes
no século 18, refugiando-se na Pensilvânia e em Ohio. Para
conhecer mais acerca deles, consulte o verbete Mennonite (grupo
do qual os amish derivam) no Handbook of Denominations in the
United States[66]. A citação de

Randy Pausch é de seu livro A lição final[67]. A história de


Kandata está no conto de Malba Tahan intitulado “O fio da aranha”
(uma lenda hindu)[68]. As declarações de pessoas manifestando
gratidão por atuar como voluntárias foram retiradas da matéria
“Voluntariado existe de forma organizada na Santa Casa de BH há
46 anos”[69]. O mandamento de tsedacá está prescrito no livro de
Deuteronômio[70]. Sobre tsedacá, leia-se o artigo “tsedacá, um
conceito judaico”[71], assim como o verbete Caridade no Dicionário
judaico de lendas e tradições[72]. O desenho de Snoopy foi retirado
da internet[73].

Há muitos versículos na Bíblia que indicam que uma vida longa é


sinal de bênçãos, como em Provérbios 17.6[74]. Há textos que
reportam pesquisas sobre o poder do sorriso de alterar nosso
cérebro, como o livro de Mark Williams e Danny Penman e o artigo
de Ronald E. Riggio[75]. A citação de André Comte-Sponville sobre
como se adquirem as virtudes é de seu Pequeno tratado das
grandes virtudes[76].
[62] Lucas 21, in Bíblia, op. cit., p. 2024.

[63] Ética a Nicômaco. Foi consultada a tradução francesa de J. Tricot: Éthique a

Nicomaque. Paris: J. Vrin, 1994. p. 100s.

[64] Cunha, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua

Portuguesa, 2ª. ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1997. p. 668.

[65] Nascentes, Antenor. Dicionário Etimológico Resumido. Rio de Janeiro: Instituto

Nacional do Livro, 1966. p. 690.

[66] Mead, Frank S.; Hill, Samuel S. Handbook of Denominations in the United States, 10ª.

ed. Nashville: Abindgon Press, 1995. p. 186s.

[67] Pausch, op. cit., p. 179.

[68] Tahan, Malba. “O fio da aranha”, in Lendas do deserto, 13ª ed. Rio de Janeiro:

Conquista, 1963, p. 9 a 13.

[69] Publicada em de 28/08/2017 e disponível em

<http://www.santacasabh.org.br/ver/voluntariado_existe_de_forma_organizada_na_santa_c

asa_bh_há_46_anos.html>. Acesso em: 3 jan. 2020.

[70] Bíblia, op. cit., p. 290, Deuteronômio 15.7-8.

[71] “Tsedacá, um conceito judaico”, no site Ser Judeu, disponível em

<http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/tsedaca/home.html>. Acesso em: 3 jan. 2020.

[72] Unterman, Allan. Dicionário judaico de lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

1992, p. 57.

[73] Disponível em <http://erimadeandrade.blogspot.com/2016/01/frases-que-me-fizeram-

pensar.html>. Acessado em 12 de janeiro de 2020.


[74] Tradução Ecumênica da Bíblia, op. cit., p. 1258.

[75] Williams, Mark; Penman, Danny. Atenção plena – Mindfulness, op. cit. p. 27. Veja

também o artigo Ronald E. Riggio, “There`s Magic in Your Smile”, in Psychology Today, de

25/06/2012. Disponível em <https://www.psychologytoday.com/us/blog/cutting-edge-

leadership/201206/there-s-magic-in-your-smile>. Acesso em: 4 jan. 2020.

[76] Comte-Sponville, op. cit., p. 7.


COMO AGIR COM OS
INGRATOS

A definição de gratidão de Immanuel Kant está na “Doutrina da


Virtude”[77]. A ideia de Jean-Jacques Rousseau de que a gratidão
representa um dever a que não corresponde um direito está no
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre
os homens[78]. A parábola do filho pródigo está no Evangelho de
Lucas[79]. A relação entre a ingratidão de alguém e sua inabilidade
encontra-se em Johann Wolfgang von Goethe[80].

A citação de Anselm Grün está no livro A felicidade das


pequenas coisas[81]. O provérbio bíblico que recomenda o
afastamento dos mal-humorados está em Provérbios 22.24-25[82].
A história sobre a cura dos dez leprosos por Jesus Cristo está no
Evangelho de Lucas 17.14-18[83]. A fábula “O viandante e a víbora”,
de Esopo[84] , está no livro Fábulas completas. O discurso de
Krishna está no Bhagavad Gita[85]. A ideia de líder servidor está no
livro de James C. Hunter O monge e o executivo[86]. A citação de
Buda está em The Dhammapada[87]. A lenda de Malba Tahan sobre
a ingratidão exigida está no livro Maktub![88]. A passagem sobre a
necessidade de desapego naquilo que damos aos outros também
está no Bhagavad Gita[89]. Se você for religioso, saiba que tanto o
cristianismo (na Epístola de Paulo aos Colossenses 3.17[90] quanto
o hinduísmo (Bhagavad Gita[91] ensinam que devemos fazer tudo
como uma oferenda a Deus, e por isso devemos fazê-lo da melhor
maneira possível, independentemente de qualquer retribuição que
recebamos.

[77] Kant, Immanuel. Metafísica dos Costumes, trad. José Lamego. “Doutrina da Virtude”,

§§ 31, B e 32, segunda parte. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005, p. 400-401.

[78] Rousseau, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade

entre os homens (trad. Lourdes Sãos Machado, Os pensadores, vol. XXIV, parte II. São

Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 279, onde a palavra usada é reconhecimento, e não

propriamente gratidão, e considera que a gratidão representa um dever a que não

corresponde um direito.)

[79] Tradução ecumênica da Bíblia, op. cit., p. 2011. Lucas 15. 11-32.

[80] Goethe, Johann Wolfgang von. Maxims and Reflections. Londres: Penguin, 1998. p.

21, aforisma 185.

[81] Grün, Anselm. A felicidade das pequenas coisas. Petrópolis: Vozes, 2019, p. 19.

[82] Tradução ecumênica da Bíblia, op. cit., p. 1268.

[83] Ibidem, op. cit., p. 2015.

[84] Esopo, Fábulas completas, op. cit., p. 519.

[85] Bhagavad Gita, op. cit., p. 20, verso III, 35.


[86] Hunter, James C. O monge e o executivo, 15ª. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

[87] Dhammapada, trad. Juan Mascaró. Londres: Penguin, 1973. p. 64 e 68, v. XV, 197 e

XVII, 221.

[88] Tahan. Maktub! 11. ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1964. p. 205s.

[89] Gita, op. cit., p. 78, XVII, 20-22.

[90] Tradução Ecumênica da Bíblia, op. cit., p. 2297.

[91] Gita, op. cit., p. 45, IX, 23-24.


A
GRA
DECI
MEN
TOS
Temos muito o que agradecer, e sobretudo muitos a quem
agradecer.

Vários amigos e parentes manifestaram apoio quando souberam


que estávamos escrevendo este livro, e são tantos que não
correremos o risco de omitir algum nome citando outros, mas
gostaríamos de agradecer de modo especial a André Fonseca, da
editora Citadel, que se empolgou e se engajou no projeto deste livro,
e a Dom Walmor Oliveira de Azevedo, pelo generoso prefácio.

Tratamos todas as histórias reais de gratidão que foram


recontadas no livro com alguma liberdade e alteramos os nomes de
seus personagens para preservar-lhes as identidades. Nem todas
as histórias puderam fazer parte deste livro, mas todas nos
inspiraram e ajudaram a clarificar o que significa a gratidão.
Marcelo Galuppo
Várias pessoas compartilharam suas leituras e suas histórias sobre
gratidão comigo: Augusto Lacerda Tanure, Giordano Bruno Soares
Roberto, Ivana Zaine Almeida, Ludgero Bonilha de Moraes, Luiza
Simonetti, Márcia Galuppo Mattar, Samir Galuppo Mattar e Vitor
Maia Veríssimo. Também gostaria de agradecer àquela que é a mais
crítica de meus leitores, Carla, e a seus filhos, João Marcelo e Ana
Ester. Talvez eles achem um pouco farisaico o que foi escrito neste
livro, conhecendo o autor tão de perto, mas é preciso lembrar o que
Jesus Cristo disse sobre os fariseus: não façam o que eles fazem,
mas façam o que eles dizem para vocês fazerem. Finalmente,
gostaria de agradecer ao Davi Lago, por dividir seu tempo comigo, e
a Deus, por ter colocado todas essas pessoas maravilhosas em
minha vida.
Davi Lago
Gostaria de agradecer à minha esposa, Natalia, e minha filha, Maria.
Agradeço a Deus diuturnamente pela vida delas. Várias pessoas me
inspiraram a ingressar neste projeto – especialmente minha família:
Elienos Lago, Esmeralda Lago, Roberto Assunção, Dirce Assunção,
Geovanni Maurício, Roberta Assunção, Giovanna Assunção, Daniel
Assunção, Karine Lago e Raphael Sathler. Agradeço também a
meus irmãos, Lucas Lago e Priscila Lago, com quem aprendi a
dividir tudo desde criança, de balas Skittles ao tempo no Nintendo;
das densas angústias às mais puras alegrias da vida. Por fim,
agradeço ao meu professor e mentor acadêmico Marcelo Campos
Galuppo, por ter me ensinado a pensar com rigor sem perder a fé, a
esperança e o amor.
Que tal praticar um exercício e tentar reclamar menos? Use como
base as próximas páginas para criar cartões e acompanhe sua
melhora diária.
Livros para mudar o mundo. O seu mundo.

Para conhecer os nossos próximos lançamentos e títulos


disponíveis, acesse:

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Onde ele habita? Quais suas principais armas mentais? Quem são
os alienados e de que forma eles ou elas se alienam? De que forma
o Diabo influencia a nossa vida do dia a dia? Como a sua
dominação influencia nossas atitudes? O que é o medo? Como
nossos líderes religiosos e nossos professores são afetados pelo
Diabo? Quais as armas que nós, seres humanos, possuímos para
combater a dominação do Diabo? Qual a visão do Diabo sobre a
energia sexual? Como buscar uma vida cheia de realizações,
valorizando a felicidade e a liberdade? Essas perguntas e muitas
outras são respondidas pelo próprio Diabo, que se autodenomina
"Sua Majestade", de acordo com Napoleon Hill. O seu propósito,
escrito com suas próprias palavras, é ajudar o ser humano a
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ao jovem Napoleon Hill em 1908 com comentários do autor
redigidos três décadas depois, quando já era um especialista em
filosofia motivacional. A única coisa sobre a qual temos total domínio
são os nossos pensamentos. Para assumir as rédeas – ou o leme –
de seu destino e seguir o curso desejado, antevendo e desviando de
obstáculos, você deve controlar sua mente, ou seja, pensar antes de
agir. Pensar direito, é claro. Pensamento criativo, organizado e
focado é base para a definição de objetivos e de planos para
alcançá-los. A mente, assim como o corpo, precisa ser corretamente
exercitada para se manter ágil e saudável. Criatividade, organização
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