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#Umdiasemreclamar - Davi Lago & Marcelo Galuppo
#Umdiasemreclamar - Davi Lago & Marcelo Galuppo
LAGO
MARCELO
GALUPPO
#UM
DIA
SEM
RE
CLA
MAR
#umdiasemreclamar
Autores:
Marcelo Galuppo
Davi Lago
Preparação:
Magno Paganelli
Revisão:
Projeto gráfico:
Jéssica Wendy
Livro digital:
Lucas Camargo
Lago, Davi.
#umdiasemreclamar: descubra por que a gratidão pode mudar a sua vida / Davi
contato@citadel.com.br
www.citadel.com.br
DAVI
LAGO
MARCELO
GALUPPO
#UM
DIA
SEM
RE
CLA
MAR
Descubra por que a GRATIDÃO pode mudar a sua vida.
SU
MÁ
RIO
Prefácio
1. Os males da ingratidão
2. O que é a gratidão
Referências
Agradecimentos
PRE
FÁ
CIO
CAMINHO DA GRATIDÃO
Dependência
O destino guia quem o segue, [mas] arrasta quem lhe resiste! […] Uma alma
verdadeiramente grande é aquela que se confia ao destino. Mesquinho e
degenerado, pelo contrário, é o homem que tenta resistir, […] que acha preferível
corrigir os deuses a emendar-se a si próprio!
A ingratidão
A ingratidão, por sua vez, consiste em não retribuir a graça ou
presente recebido, ou, pior, em esconder dos outros o fato de se ter
recebido uma graça ou dom de um terceiro ou, ainda pior, em nem
sequer reconhecer que se recebeu uma graça, presente ou
benefício. A fonte da ingratidão é a soberba, a arrogância de quem
se vê superior aos demais e por isso afirma não depender de
ninguém, concebendo-se a si próprio como autossuficiente. Mas
essa soberba é irracional e não resiste ao teste da realidade: para
sermos concebidos, precisamos de duas pessoas, uma das quais
irá nos gerar; ao morrermos, precisaremos de pelo menos mais
quatro que carreguem o nosso caixão. Entre o nascimento e a
morte, precisamos de milhares de outras pessoas. Parafraseando o
grande escritor inglês C. S. Lewis (1898-1963), o soberbo vê a todos
como dependentes de si, mas não consegue perceber que ele
também depende de outros. Por isso a soberba “corrói a
possibilidade mesma do amor, do contentamento e até do bom
senso”.
A ética da gratidão
Há uma história real que ilustra bem essa ideia. Regina havia ido
à escola de sua filha, Maria, buscá-la para trazê-la para casa. A
porteira da escola disse-lhe que Maria havia passado mal e estava
na enfermaria da escola. Regina correu até a enfermaria e
encontrou sua filha sentada na maca. A enfermeira disse que ela
estava bem, Regina se aliviou e foi com Maria até o carro. Depois
de vinte minutos de trânsito, no meio de um engarrafamento, Maria
começou a passar mal novamente, reclamando de dor e suando
muito. De repente, Maria vomitou e desmaiou. Regina ficou
desesperada: o trânsito estava parado. Regina começou a dirigir de
maneira perigosa, “costurando” entre os carros, com o pisca-alerta
ligado, para tentar chegar rapidamente ao hospital. Em uma dessas
manobras, Regina quase derrubou a motocicleta de um entregador
de pizzas. O motociclista alcançou o carro de Regina e, antes de
dizer qualquer coisa, olhou para dentro do carro, viu Maria
desmaiada, Regina aflita, e entendeu tudo. “Dona, vou abrir
caminho para a senhora”, disse o motociclista, e saiu buzinando e
pedindo passagem com os braços.
Eles chegaram em cinco minutos ao hospital. Regina correu com
a filha nos braços em direção à portaria e, quando olhou para trás,
lembrou que deixara a sua bolsa dentro do carro e o carro aberto.
Regina fez menção de voltar, mas o motociclista gritou: “Não se
preocupe, dona, eu cuido do carro até a senhora poder voltar”.
Regina pensou: “Já devo a vida de minha filha a esse homem. Se
ele furtar a bolsa, ainda assim terá valido a pena” – e consentiu de
longe. O marido de Regina chegou quarenta minutos depois, viu seu
carro aberto, com o pisca-alerta ainda ligado, agradeceu ao rapaz
que estava cuidando dele, dispensou-o, trancou o carro e entrou.
A gratidão, enfim, nos torna mais aceitáveis aos olhos dos seres
humanos, mas nos torna também mais aceitáveis aos nossos
próprios olhos, porque nos torna fortes. Reconhecer-se carente,
vulnerável e dependente é abrir mão de toda soberba, é sobretudo
reconhecer-se humano, permitindo que se estabeleçam vínculos de
solidariedade entre nós. Conhecer a própria fraqueza é benéfico,
reconhecer nossa dependência nos fortalece, como escreveu o
apóstolo Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte”.
4
POR QUE É TÃO DIFÍCIL SER
GRATO
UMA VEZ QUE SABEMOS
EM QUE CONSISTE A
GRATIDÃO E A
INGRATIDÃO, PODEMOS
PENSAR QUE SERIA
FÁCIL SERMOS GRATOS
SE APENAS
QUISÉSSEMOS SÊ-LO.
Conta-se que certa família, que viajaria para a praia por uma
estrada perigosa, orou antes de partir pedindo por proteção durante
a viagem. Aparentemente até hoje não se lembraram de agradecer
por terem chegado a seu destino sem nenhum incidente. Um pouco
de discernimento pode ajudar aqui. A imagem deturpada que temos
a nosso respeito tende a nos levar a uma concepção de pessoas
com direito a todas as coisas, inclusive aos benefícios, aos
presentes e aos dons. Passamos a reivindicar, em vez de sermos
gratos.
Reivindicar ou agradecer?
Acaso não tenho o que tenho porque o mereço, ou porque é meu direito? Por
que é preciso demonstrar agradecimento por algo? Estamos mais habituados ao
discurso dos direitos e do mérito do que a qualquer outro. Sabemos que temos
certas coisas porque as merecemos, [nós] as ganhamos com nosso trabalho e
nosso esforço. Já outras, temo-las porque temos direito a elas. Que razão pode
haver para exigir reconhecimento pelos dons recebidos? É porque se pode chamá-
los de dons? Acaso não é a linguagem do servo, uma linguagem passada e
anacrônica?
https://www.ted.com/talks/randy_pausch_really_achieving_your
_childhood_dreams
Durante pelo menos três meses, anote, ao final de cada dia, pelo
menos uma razão pela qual você é grato (não importa onde: em um
caderno, em um blog ou no próprio smartphone: o importante é que
você mantenha um registro a que possa recorrer posteriormente
para contar os motivos pelos quais você é grato). Esse exercício,
como o anterior, pode ser muito mais difícil do que parece, pois há
dias em que dificilmente encontraremos uma razão para sermos
gratos. Aqui é preciso atentar para algumas regras.
Marcos dá uma maçã a Joana, uma menina de sete anos. Como ela
fica calada diante do presente, sua mãe olha para ela com cara de
reprovação e diz: “O que é que a gente diz quando recebe uma
maçã?”. A menina estende a maçã para Marcos e diz: “Descasca!”.
Às vezes parece que nossos filhos são as pessoas mais ingratas do
mundo. Na verdade, elas só tendem a nos imitar, agindo como nós
agimos, vendo o mundo com os olhos que nós lhes damos.
Mas a caixa de tsedacá pode ter outra função com seus filhos.
Se eles forem muito novos para entenderem o que é a gratidão e
por que ela é importante, será preciso dar um estímulo extra para
eles se engajarem no exercício. Você poderá fazer isso usando o
que chamamos de uma caixa de tsedacá invertida: coloque uma
quantia em dinheiro, em cédulas ou moedas de pequeno valor,
dentro da caixa. Combine com a criança que ela irá passar um dia
inteiro sem reclamar. Cada vez que reclamar, ela perderá uma
quantia do dinheiro que estiver na caixa. O dinheiro que sobrar ao
final do dia será dela. Isso a ajudará a conscientizar-se acerca de
quanto ela reclama a cada dia.
referindo-se, provavelmente, ao mel separado da cera, sem cera, sine cira, puro. Sincero é
sem cera. Também se diz que antiquários maquiavam com cera jarros e outros objetos de
porcelana quando estavam trincados antes de vendê-los. Portanto, nesses casos, sem
[4] Malba Tahan é o pseudônimo do escritor brasileiro Júlio César de Mello e Souza, morto
em 1974.
BÔNUS
COMO AGIR COM OS
INGRATOS
AFASTAR-SE DOS
INGRATOS
Servir os ingratos
Não lhe mentiu o mendigo. Fui eu mesmo que lhe impus, não só a ele, senão a
todos a quem valho, aquele modo de proceder. E a minha exigência não passa de
um egoísmo gerado pela minha filantropia. […] Não têm conta os lábios sedentos a
que cheguei um púcaro [vasilha] d’água […] De todos, porém […] estancada a sede
[…] só recebia as mais cruas provas de ingratidão. Passada a hora da necessidade,
passava a lembrança do benefício. A princípio, meu filho, […] doíam-me as
injustiças daquele que eu beneficiava, vinham-me ímpetos de transformar os meus
sentimentos de piedade nesse indiferentismo com que a maioria dos homens
aprecia as misérias de seus semelhantes. Repudiando, porém, essa fraqueza […]
que me assaltava quando me feria uma ingratidão profunda, deliberei habituar-me a
receber tais pagas. […] Comecei a exigir, de todos quantos receberam qualquer
auxílio meu, que me deem desde logo o que iriam dar mais tarde: uma ingratidão
como paga.
GERAL
[5] Bhagavad Gita; trad. inglês Juan Mascaró. Londres: Penguin, 2003.
[7] Hume, David. Tratado da natureza humana. São Paulo: Unesp, 2001. p. 506. Livro III,
[9] Apollodorus. The Library of Greek Mythology: A new translation by Robin Hand. Oxford:
Oxford, 2008.
[10] Aquino, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2005.
<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/01/globo-de-ouro-oscilou-entre-o-obvio-e-o-
<https://www.nobelprize.org/prizes/peace/2014/yousafzai/26074-malala-yousafzai-nobel-
Disponível em <https://www.jcnet.com.br/noticias/esportes/2019/12/708503-flamengo--
[15] “Homem passa por transplante de rosto após anos de isolamento e depressão”, de 17
<https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/mundo/2017/02/homem-passa-por-
[17] Berlitz, Charles. As línguas do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. p. 223s.
dez. 2019.
[21] Kittel, Gerhard; Friedrich, Gerhard (orgs.). Theological Dictionary of the New
[23] Cervantes, Miguel de. O Engenhoso Cavaleiro D. Quixote de la Mancha, Livro II, trad.
Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2007, p. 602 – Capítulo LI.
[24] Freud, Sigmund. Obras completas, trad. Paulo César de Souza. São Paulo:
[25] Mandeville, Bernard. A fábula das abelhas. São Paulo: Unesp, 2018.
[26] Sêneca, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio, trad. portuguesa J. A. Segurado e Campos,
[27] Analectos. São Paulo: Unesp, 2012, p. 22, p. 118 e 119 e p. 123, ou seja, I.15, IV.10,
[28] Stevenson, Leslie; Haberman, David I. Dez teorias da natureza humana. São Paulo:
[29] Lewis, C.S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2017, p. 167.
[30] Comte-Sponville, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins
[31] Spinoza, Baruch. Ética, trad. Tomaz Tadeu, 2ª. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. p.
148, de onde usamos a definição 34 dos Afetos, contida na parte III da obra. Já a definição
[32] Camps, Victoria. O que devemos ensinar aos nossos filhos. São Paulo: Martins
[33] Esopo: Fábulas completas. Trad. Eduardo Berliner. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p.
199.
[34] Mora, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2001. Tomo II (E-J), p.
1228s.
[35] What Can the Brain Reveal about Gratitude? Greater Good Magazine: Science-Based
<https://greatergood.berkeley.edu/article/item/what_can_the_brain_reveal_about_gratitude>
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722001000200003>.
[37] Beber, Bruna. “De castigo na merenda”, in Rua da Padaria. Rio de Janeiro: Record,
2013.
[38] Wong, Joel; Brown, Joshua. “How Gratitude Changes You and Your Brain”, in Greater
<https://greatergood.berkeley.edu/article/item/how_gratitude_changes_you_and_your_brain
>. Acessado em 2 de janeiro de 2020. Mais dados sobre o efeito da gratidão sobre o
[39] Jarski, Rosemarie. The Funniest Thing You Never Said, compilação de frases bem-
[40] Sidarta Gautama, Dhammapada, trad. Juan Mascaró, verso 204, livro 15 (Felicidade).
<https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1580883/jewish/Bircat-Hagomel.htm>. Acesso
[44] Tradução Ecumênica da Bíblia, op. cit., p. 2246, cap. 12, v. 10.
POR QUE É TÃO DIFÍCIL
SER GRATO
[46] Alves, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar, 11ª. ed. São Paulo: Cortez, 1991.
[47] Agostinho. Confissões, trad. Lorenzo Mammì. São Paulo: Penguin/Companhia, 2017,
p. 302s.
[48] Atenção Plena – Mindfulness: Como encontrar paz em um mundo frenético. Rio de
[49] In O Livro das Semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
<https://www.ted.com/talks/randy_pausch_really_achieving_your_childhood_dreams>.
<http://keithrosen.com/2009/11/the-experience-of-gratitude-and-the-richest-person-in-the-
[55] Tradução Ecumênica da Bíblia, op. cit., 1173, cap. 1, v. 21 e cap. 2, v. 10.
[59] Engberg, D. Who Made That Progress Bar? In The New York Times Magazine, 07 de
2020.
COMO SER GRATO: SETE
EXERCÍCIOS DE
GRATIDÃO
A explicação do casal amish sobre por que não têm telefone foi
ouvida por Marcelo Galuppo em uma viagem a Lancaster,
headquarters dos amish nos Estados Unidos, em 2015. Os amish
são uma comunidade protestante radical que não usa luz elétrica ou
telefones em suas casas, nem zíperes em suas roupas. Eles usam
pequenas charretes como único meio de transporte e usam roupas,
cortes de cabelo e estilos de barba idênticos. Seu estilo de vida é
marcado pela simplicidade.
[64] Cunha, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua
[66] Mead, Frank S.; Hill, Samuel S. Handbook of Denominations in the United States, 10ª.
[68] Tahan, Malba. “O fio da aranha”, in Lendas do deserto, 13ª ed. Rio de Janeiro:
<http://www.santacasabh.org.br/ver/voluntariado_existe_de_forma_organizada_na_santa_c
[72] Unterman, Allan. Dicionário judaico de lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1992, p. 57.
[75] Williams, Mark; Penman, Danny. Atenção plena – Mindfulness, op. cit. p. 27. Veja
também o artigo Ronald E. Riggio, “There`s Magic in Your Smile”, in Psychology Today, de
[77] Kant, Immanuel. Metafísica dos Costumes, trad. José Lamego. “Doutrina da Virtude”,
§§ 31, B e 32, segunda parte. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005, p. 400-401.
entre os homens (trad. Lourdes Sãos Machado, Os pensadores, vol. XXIV, parte II. São
Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 279, onde a palavra usada é reconhecimento, e não
corresponde um direito.)
[79] Tradução ecumênica da Bíblia, op. cit., p. 2011. Lucas 15. 11-32.
[80] Goethe, Johann Wolfgang von. Maxims and Reflections. Londres: Penguin, 1998. p.
[81] Grün, Anselm. A felicidade das pequenas coisas. Petrópolis: Vozes, 2019, p. 19.
[87] Dhammapada, trad. Juan Mascaró. Londres: Penguin, 1973. p. 64 e 68, v. XV, 197 e
XVII, 221.
[88] Tahan. Maktub! 11. ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1964. p. 205s.
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Quem pensa enriquece
Hill, Napoleon
9788568014745
364 páginas