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TODAS AS CORES DA

HUMANIDADE
- A ETIOLOGIA DAS EMOÇÕES HUMANAS -

UMA BREVE HISTÓRIA DO CÉREBRO


- A FANTÁSTICA FÁBRICA DE LEMBRANÇAS -

Trecho de Veja, maio de 2006:

“Por seus mistérios, o CÉREBRO é considerado a última fronteira do conhecimento sobre o


corpo humano. Relativamente pequeno – pesa entre 1 e 1.5 quilo, o órgão é extremamente
complexo. Contém cerca de 100 bilhões de NEURÔNIOS, cada um deles ligado a milhares de
outros. Esse enorme número de interconexões, chamadas SINAPSES, permite o intenso fluxo de
comunicações que, (ao tecer gradativamente as lembranças da nossa vida: infância,
juventude, maturidade), nos torna HUMANOS. (...).”

DESVENDANDO (UM POUCO) O CÉREBRO


- UM RESUMO DA TEORIA -

“Para alguma coisa boa nos haverá de servir a memória”


Ensaio Sobre a Cegueira
José Saramago

MEMÓRIA
E A ETIOLOGIA DOS SENTIMENTOS HUMANOS

Saiba como, ao evoluir a MEMÓRIA (a aptidão para preencher o cérebro com as lembranças
da nossa vida), nos tornamos HUMANOS; - ou seja, adquirimos a capacidade de exteriorizar
emoções: amor, ódio, dor (psíquica), prazer, trauma, saudade, desejo, culpa, inveja, orgulho,
frustração, bondade, crueldade, indiferença, gratidão, perdão, etc.
ARTE & CIÊNCIA

VEJA a seguir uma síntese do trabalho, que – por sua vez – é constituído basicamente por
ilustrações simples e citações: utilizo trechos de obras conhecidas – literatura, cinema e
música - para explicar todos os argumentos apresentados. Agradeço a paciência e atenção.

“Como diz o velho-criança Navaia Caetano:


Nós nada descobrimos. As coisas, sim, se revelam”
A Varanda do Frangipani
Mia Couto

AMAURI HIRAKAWA

TEL (041 81) 9 9785 5035

EMAIL: hirakawa2h@gmail.com

“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará


ao seu tamanho original.”
EINSTEIN

Nos capítulos iniciais, apenas apresento os princípios da teoria. Portanto, é natural que
algumas questões suscitem dúvidas. Mas asseguro que tudo será esclarecido no decorrer do
trabalho. Para entender o nosso CÉREBRO (não é preciso ser neurocientista), basta possui UM,
– tenho certeza que ao longo dos capítulos tudo ficará mais claro e certamente você irá
entender e se identificar com todos os argumentos apresentados.

Peço apenas que mantenha o foco no cerne da questão: demonstrar que o nosso
CÉREBRO é uma fabulosa indústria de LEMBRANÇAS, - e que são estas, as
lembranças pessoais, que definem quem SOMOS; - ou seja...

LEMBRANÇAS são os blocos de construção da nossa INDIVIDUALIDADE


“Quanto a mim, tenho dias bons e dias ruins. Quando chegam os dias ruins, LEMBRO
dos dias que foram bons. A MEMÓRIA é uma grande benção, Peter.
É a melhor coisa que existe – depois da morte.”
TRILOGIA DE NOVA YORK
Paul Auster

A Etiologia dos Sentimentos Exclusivamente Humanos


“Não tendo mais nada; Entre céu e terra que; Minha memória.”
Eliseo Diego

Como veremos no decorrer do trabalho, cada LEMBRANÇA da nossa vida, - somatiza uma
determinada EMOÇÃO:

LEMBRO da infância, .............................................................................logo sinto saudade;


LEMBRO do abuso infantil, .........................logo sinto as sequelas psicológicas do trauma;
LEMBRO da perda (entes queridos), ............................................logo sofro (dor psíquica);
LEMBRO do objeto da aversão, ...................................................................logo sinto ódio;
LEMBRO do objeto da afeição,...................................................................logo sinto amor;
LEMBRO do objeto do prazer, ...........................................logo sinto compulsão e desejo;
LEMBRO de minhas limitações - e dos atributos alheios, .......logo sinto ambição e inveja;
LEMBRO dos erros, ...................................................................logo sinto arrependimento;
LEMBRO das dificuldades por vir,...................................................logo sinto preocupação;
LEMBRO das conquistas, ........................................................................logo sinto orgulho;
LEMBRO dos fracassos (e objetivos não alcançados) ......logo sinto desilusão e frustração;
LEMBRO do benefício ofertado, ............................................................logo sinto gratidão;
LEMBRO (e imagino) a dor e o sofrimento alheio, ....logo sinto indiferença ou compaixão;
LEMBRO do ato torpe e cruel, ............................... logo sinto rancor e ânsia por vingança;
LEMBRO do ato imprudente,..................................................... logo sinto o peso da culpa;
LEMBRO da guerra (ou violação, abuso, atentado, ultraje sofrido), ........ logo sinto *TEPT;
*Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

“Bom seria se em nossa cabeça houvesse coisas para serem tocadas,


em lugar das lembranças que a gente rumina sem cessar.”
O COMPROMISSO
Herta Müller
“Meus Vizinhos Não Têm Lembranças, logo Não Expressam Emoções”
“Meus vizinhos não têm preocupações, não se apaixonam, (...), não choram, (...), não buscam a
felicidade. Não são bajuladores, ambiciosos, rancorosos, vaidosos, invejosos, generosos,
ciumentos, negligentes, sublimes, engraçados, viciados, avarentos, violentos, apaixonados,
rabugentos, hipócritas, meigos, durões, maldosos, mentirosos, ladrões, compulsivos, corajosos,
covardes, crentes, pervertidos nem otimistas. -- Eles estão mortos. Eu me chamo Violette
Toussaint. Fui vigia ferroviária e agora sou Zeladora de Cemitério.”
ÁGUA FRESCA PARA AS FLORES
Valérie Perrin

Todas as Cores da Humanidade


HUMANO é todo ser vivo capaz de exteriorizar EMOÇÕES.

Portanto, como veremos no decorrer do trabalho, nós, bípedes, de todas as cores e formas,

SOMOS TODOS HUMANOS

SINHOZINHO HUCK PERCEBE QUE SENTIMENTOS (HUMANIDADE) NÃO TÊM COR

Jim LEMBRA da família, logo sente saudade


“Fui dormir, e Jim não me chamou quando era a hora da minha vigia. Ele muitas vezes fazia
isso. Quando acordei, bem na hora do amanhecer, ele tava sentado ali com a cabeça baixa
entre os joelhos, gemendo e chorando por si mesmo. Não dei atenção, nem deixei ele perceber
que eu sabia o que era. Ele tava LEMBRANDO da mulher e dos filhos, lá bem longe, e ele tava
abatido e com SAUDADES de casa, porque nunca tinha saído (fugido) de casa antes na vida, e
acho que ele gostava tanto do pessoal dele quanto os brancos gostam dos seus. Não parece
natural, mas acho que é assim. Muitas vezes ele gemia e chorava desse jeito de noite, quando
achava que eu tava dormindo, e dizia, “Lizabeth, pobrezinha! Johnny, pobrezinho! É muito
duro, num ispero vê ocês mais, nunca mais!”. – Ele era um negro muito bom (humano), o Jim.”
AS AVENTURAS DE HUCKLEBERRY FINN
Mark Twain
“Por que nos ensinaram essa m3rd4 de Sermos Humanos?”
“Eu estava como o prisioneiro que encontra no carcereiro o único ser com quem trocar
as Humanidades. E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de Sermos
Humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar
(sem exteriorizar emoções). Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só
uns poucos (apenas os bípedes* – para o bem e para o mal) aprenderam a lição da
Humanidade.”
O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO
Mia Couto

*O advento do BIPEDALISMO possibilitou a evolução da MEMÓRIA e determinou a Aurora do Homem.

LEMBRO, logo sinto 3 sentimentos: Vergonha, Dor e Fúria!


“Nunca antes ela (Fola) sentiu o que sente nesse momento. Três sentimentos lutando por sua
respiração, por sua força: primeiro a raiva de Femi (raiva ao LEMBRAR de Femi, - seu irmão, a
quem confiou a guarda dos filhos: os gêmeos Taiwo e Kehinde), o ódio puro e cristalino, uma
raiva não diluída por pena ou dúvida; -- então, a dor que é de Taiwo (agora em seus braços),
sua vergonha e seu sofrimento, um poço que flui sob o peito direito; -- então, sua própria
vergonha e sofrimento, por ela saber (agora) o que aconteceu, por saber o que ela sentiu o
tempo todo em seus gêmeos, que eles foram machucados, ela pensa, porque não tinham mãe.
Porque a mãe pensou que (Fola LEMBRA que - após o marido abandonar a família – ela sentiu-
se incapaz de prover e educá-los) eles não precisavam de uma mãe como ela. (...)”
ADEUS, GANA
Taiye Selasi

Tenho consciência de que alguns capítulos (pela aparente estranheza dos títulos) podem afugentar
muitos leitores. Mas como sei que – muitos ou poucos – até o presente momento eu não possuo leitor
nenhum, sigamos em frente.

“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.”


Churchill
ÍNDICE
Asseguro que, apesar dos títulos, o conteúdo é claro e simples; - pois...

“A física (a ciência em geral) não passa de uma busca da simplicidade derradeira.”


Leon Lederman

Cap. I : Uma breve INTRODUÇÃO (a base da teoria)................................................... pag. 006

Cap. II : O TEMPO É UMA ILUSÃO, ainda que persistente (disse Einstein, com razão)..pag. 028

Cap. III : A lei de Conservação da Massa – e o PRESENTE ABSOLUTO............................pag. 034

Cap. IV : Medindo a Expectativa de Vida – em um PRESENTE ASOLUTO.......................pag. 042

Cap. V : Medindo a idade das coisas – em um PRESENTE ABSOLUTO..........................pag. 046

Cap. VI : CÉREBRO: a fantástica fábrica do PASSADO – de cada um..............................pag. 057

Cap. VII : Reconstituindo VOCÊ – em um PRESENTE ABSOLUTO....................................pag. 066

Cap. VIII : CÉREBRO: a fantástica fábrica do FUTURO - de cada um................................pag. 074


A PARTIR DE AGORA JÁ NÃO SE FAZ NECESSÁRIO SEGUIR A SEQUÊCIA. VOCÊ PODE ESCOLHER
O CAPÍTULO QUE POR VENTURA DESPERTE SUA CURIOSIDADE – OBRIGADO.

Cap. IX : As marcantes, inesquecíveis LEMBRANÇAS da infância – em 14 citações......pag. 079

Cap. X : VEMOS NO CÉREBRO, não com os olhos – em 9 citações................................pag. 093

Cap. XI : A Conquista do HUMANO (exteriorização de emoções) – em 11 citações......pag. 102

Cap. XII : QUEM É VOCÊ ? – quem é a pessoa que você chama de EU ? ........................pag. 111

Cap. XIII : Todo CÉREBRO é naturalmente inteligente – em 10 citações..........................pag. 121

Cap. XIV : AS LEMBRANÇAS – em 36 citações da literatura e do cinema........................pag. 139

Cap. XV : Terapia de Regressão às Lembranças (não às vidas) PASSADAS.....................pag. 194

Cap. XVI : ALZHEIMER – o mal removedor de lembranças (explicação).........................pag. 199

Cap. XVII: CÉREBRO – a fantástica fábrica dos SONHOS (e pesadelos)..........................pag. 206

Cap. XVIII: CÉREBRO – a fantástica fábrica do PENSAMENTO.........................................pag. 215

Cap. XIX : CÉREBRO - A Fantástica Fábrica de EMOÇÕES..............................................pag. 225

Cap. XX : CÉREBRO e a ilusão do TEMPO em 6 mentes brilhantes................................pag. 264

Cap. XXI : CÉREBRO e a ilusão do TEMPO no cérebro de EINSTEIN e HAWKING...........pag. 285

Cap. XXII: MEMÓRIA – Ônus da Existência = Peso das Lembranças...............................pag. 294

Cap. XXIII: Cinco VOCÊ (S) no Multiverso da Sanidade....................................................pag. 301

Cap. XXIV: Uma Breve Fábula do ESPAÇO-TEMPO – a inexistente 4ª dimensão.............pag. 310


Cap. XXV: O RECICLADOR DO UNIVERSO – Lixão de Átomos a Céu Aberto....................pag. 319

“Uma lição central da ciência é que, para compreender questões complexas, ou até
simples (como é este o caso), devemos tentar libertar a mente dos dogmas e
garantir a liberdade de publicar, contradizer e experimentar.”

Carl Sagan

CAPÍTULO

I
“As ideias não são de ninguém – disse o bispo. Com o indicador, desenhou no ar uma série de
círculos contínuos, e concluiu: andam voando por aí, como os anjos.”
DO AMOR E OUTROS DEMÔNIOS
Gabriel Garcia Marquéz

CÉREBRO
O EXTRAORDINÁRIO TECELÃO DE LEMBRANÇAS

SUPER INTERESSANTE
( junho - 2012)

“O CÉREBRO HUMANO é o objeto mais complexo do Universo. Tem 100 bilhões de neurônios,
que podem formar 100 trilhões de conexões (sinapses). Se fosse possível criar um computador
com o mesmo número de circuitos do cérebro, ele consumiria 60 milhões de watts por hora,
segundo estimativas de cientistas da Universidade de Stanford. É o equivalente a quatro usinas
de Itaipu trabalhando simultaneamente. (...).”

1 - 100 BILHÕES DE NEURÔNIOS – A Maravilhosa Usina de Lembranças: em nosso CÉREBRO há


uma Película de Neurônios convenientemente preparada para registrar/filmar as impressões
dos nossos 5 sentidos: visão, audição, paladar, olfato e tato.
Portanto, todas as LEMBRANÇAS da nossa vida (infância, juventude, maturidade), estão
impressas em nosso CÉREBRO (Linha da Memória) – e são formadas por:

imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

2 – IMENSIDÃO INTERIOR: no entanto, como veremos no decorrer do trabalho, por subestimar


a Vastidão Infinita do nosso CÉREBRO, criamos a ilusão de que as LEMBRANÇAS da nossa vida
(infância, juventude, maturidade) estão - fora do nosso cérebro - distribuídas na inexistente
Esteira do Tempo que Passou.

Na realidade, todas as LEMBRANÇAS da nossa vida estão contidas/registradas nas


profundezas do nosso CÉREBRO – distribuídas em nossa Linha da Memória.

“Dos cinco sentidos, a visão, para mim, sempre foi soberana. Eu poderia perder tudo (os não
menos importantes): audição, paladar, olfato e tato, - desde que mantivesse
a função dos olhos.”

(Comigo no Cinema)
Martha Medeiros

CÉREBRO
- A Incrível Olaria de Lembranças -
- TODAS AS LEMBRANÇAS DA NOSSA VIDA SÃO FORMADAS PELAS IMPRESSÕES DOS SENTIDOS -
LINHA da MEMÓRIA
destaca-se em vermelho na ilustração acima

“O HOMEM é feito de olhos, ouvidos, nariz, língua e tato, (...), Talvez por não se encontrar
igualmente desperto em cada um dos seus CINCO SENTIDOS, se é que, então, nesta época de
que vimos falando, não estavam as pessoas ainda a aprender alguns deles ou, pelo contrário, a
perder outros que hoje nos seriam úteis, JOSÉ olhava-se a si mesmo como se fosse
acompanhando, a distância, a lenta ocupação do seu corpo por uma alma que aos poucos
estivesse regressando, (...).”
O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO
José Saramago

“O Sexto Dia”

3 – PREENCHENDO O CÉREBRO – com as lembranças da nossa vida: o homem é feito de


BARRO (oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio...), e preenchido com um sopro de
LEMBRANÇAS.
Portanto, você (cada indivíduo) é a soma total das LEMBRANÇAS de tudo que vivenciou -
através dos 5 sentidos. Ou seja, VOCÊ...

VOCÊ preencheu o cérebro com as IMAGENS de tudo que VIU durante a vida; as cores e as
formas do mundo exterior: pessoas, paisagens, objetos, coisas e tudo mais. Portanto...
MEMÓRIA VISUAL

TEMOS UM CÉREBRO COM GRANDE APTIDÃO PARA REGISTRAR IMAGENS.

“O jovem resumiu, de repente animado, dando uma palmada na própria coxa:


- Ninguém pode tirar de mim (do cérebro) tudo aquilo que eu VI.” -
CORRENTES
Olga Tokarczuk

VOCÊ preencheu o cérebro com os SONS de tudo que OUVIU durante a vida; os sons e a
fúria do mundo exterior: vozes, músicas, ruídos, barulhos, explosões e tudo mais. Portanto...
MEMÓRIA AUDITIVA

TEMOS UM CÉREBRO COM GRANDE APTIDÃO PARA REGISTRAR SONS.

VOCÊ preencheu o cérebro com os SABORES de tudo que DEGUSTOU durante a vida; o
gosto das coisas do mundo exterior: comidas, bebidas e tudo mais. Portanto...
MEMÓRIA DEGUSTATIVA

TEMOS UM CÉREBRO COM GRANDE APTIDÃO PARA REGISTRAR SABORES.

VOCÊ preencheu o cérebro com os AROMAS de tudo que OLFATEOU durante a vida; os
odores do mundo exterior : perfumes, fragrâncias, hálitos, fedentinas, miasmas e tudo mais.
Portanto...
MEMÓRIA OLFATIVA

TEMOS UM CÉREBRO COM GRANDE APTIDÃO PARA REGISTRAR AROMAS


VOCÊ preencheu o cérebro com as MPRESSÕES TÁTEIS de tudo que TOCOU durante a vida.
Ou seja, você registrou em seu cérebro a percepção tátil das coisas do mundo exterior; além
das sensações de calor, frio, dor, etc. - também a configuração exterior dos corpos: forma,
maciez, consistência, textura, peso, temperatura e tudo mais. Portanto...
MEMÓRIA TÁTIL

TEMOS UM CÉREBRO COM GRANDE APTIDÃO PARA REGISTRAR SENSAÇÕES TÁTEIS

Uma preciosa Lembrança Tátil da Mãe


– Guardada no cérebro de Poornima –

“Mesmo assim, o que ela havia pensado (“você se esquece dos sons que não escuta todos os
dias”) se provou verdadeiro: com o passar dos meses, Poornima foi esquecendo a voz da mãe.
Mas a lembrança que ela conseguiu guardar (em seu cérebro), a única que permaneceu
mesmo, foi a de que, por um momento (“três ou quatro meses antes de morrer”) – enquanto
penteava seus cabelos -, a mãe havia pousado a mão neles. Fora um gesto muito leve, e
mesmo assim Poornima o sentira, e ia sentir para sempre (nossas lembranças – boas ou más -
são indeléveis): o peso da mão de sua mãe, tão delicado e ligeiro como uma garoa depois de
um dia quente de verão. Tão pequeno e tão cansado, mas com força suficiente para abrir
caminho através de suas veias como se fosse sangue. No fim, decidiu a menina, aquele peso (a
lembrança daquela sensação tátil – em seu cérebro) era o mais belo de todos (tornou-se a mais
bela lembrança da mãe). (...). E o peso de sua mão enquanto penteava os cabelos de Poornima
era tudo o que restava da mãe. Às vezes, muitas vezes, ela se agarrava a essa lembrança, a
esse peso, como se por si só fosse capaz de guiá-la através de trilhas escuras e cerradas em
meio à floresta até, a menina esperava, uma clareira. (...).”
O BRILHO DO SOL QUE INVADIU A NOSSA CASA
Shobha Rao

CÉREBRO
- O Império dos Sentidos -

“Nada há no intelecto (cérebro)


sem que antes tenha passado pelos nossos (5) sentidos”.
ARISTÓTELES

Os Cinco Sentidos da Paixão


“Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de olhar, gostar de ouvir, gostar
de lamber, gostar de cheirar, gostar de tocar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não
passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo. No caso de Venâncio e Dalva, o gosto
de cada sentido grudava os dois para mais de muitas vidas, pareciam eternos de tão juntos.
(...). Até que Dalva engravidou. (...).”
TUDO É RIO
Carla Madeira

4 – MUNDO, mundo, vasto mundo; Mais vasto é meu CÉREBRO (à Drummond): como já foi
dito, por subestimar a Vastidão Infinita do nosso CÉREBRO, criamos a ilusão de que as
LEMBRANÇAS da nossa vida (infância, juventude, maturidade) estão - fora do nosso cérebro -
distribuídas na inexistente Esteira do Tempo que Passou.

Na verdade, todas as LEMBRANÇAS da nossa vida estão contidas/impressas no interior do


nosso CÉREBRO – distribuídas em nossa Linha da Memória.
Observe a ilustração abaixo...

VASTIDÃO INTERIOR
BIOLEMBRANÇAS
(Diário de Recordações)

DISTRIBUÍDAS EM NOSSA LINHA DA MEMÓRIA – DENTRO DO CÉREBRO,

AS LEMBRANÇAS DE TODOS OS EPISÓDIOS DA NOSSA VIDA: INFÂNCIA, JUVENTUDE, MATURIDADE.

IMENSIDÃO INTERIOR

1 - Meus Verdes Anos: observe a ilustração acima - ao LEMBRAR de sua infância, por exemplo,
você regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro – destacada em vermelho na
ilustração) até chegar na época em que você “Era Feliz e Não Sabia”. No entanto, por
subestimar a Vastidão Interior do próprio cérebro, você cria a ilusão de que regressou na
inexistente Esteira do Tempo que Passou.

2 - Sim, O Tempo é Uma Ilusão: seu PASSADO (as lembranças de sua vida: infância, juventude,
maturidade) encontra-se no interior do seu CÉREBRO – e não fora. Portanto, o TEMPO (ou a
Esteira do Tempo) é uma ilusão causada pela evolução da MEMÓRIA (Linha da Memória) – na
cabeça do Homo Sapiens.
3 – O Presente é Absoluto: isto significa que vivemos em um ETERNO PRESENTE. Ou seja:
apenas o PRESENTE realmente existe. Sei o quanto isso pode parecer estranho, - ou
incognoscível; mas, acredite, tudo isso será facilmente esclarecido nos próximos capítulos.

4 – A Ilusão de Efemeridade: à medida que Permanecemos no Presente (mais 1 ano; mais 10


anos; mais 20 anos, etc.), vamos gradativamente acumulando no cérebro as LEMBRANÇAS dos
episódios vividos nesse período – e construindo o nosso PASSADO.

As lembranças mais antigas – as da nossa infância, por exemplo - vão se distanciando em


nossa Linha da Memória (dentro do cérebro); e assim, cria-se a ilusão de que se afastam na
inexistente Esteira do Tempo.
“TUDO ISSO SERÁ REVISTO E ESCLARECIDO NOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS”

UNIVERSO ESTACIONÁRIO
(Estático no Presente)

“Einstein escreveu, em carta, que a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma
ilusão, ainda que persistente. Que será que ele queria dizer com isso? (...). Hoje nem
mesmo a Passagem do Tempo é garantida pela ciência. (...)
SUPERINTERESSANTE
(30/ABR/1988 – veja a citação completa no cap. 2)

Explicação: a ciência não garante a Passagem do Tempo porque não há Passagem de Tempo (passado-
futuro). O Universo existe em um Eterno Presente. Leia trecho abaixo:

“O TEMPO É UMA ILUSÃO? - Conceitos podem emergir de um UNIVERSO que é, em essência,


totalmente ESTÁTICO (Estacionário no Presente). (...). Agora - conforme os físicos
gradualmente tiram do TEMPO a maioria dos seus atributos - muitos na física teórica
passaram a acreditar que o TEMPO, FUNDAMENTALMENTE, NÃO EXISTE. (...).”
SCIENTIFIC AMERICAN
(FEV de 2011 – leia citação completa no cap. 2)

A Dúvida Temporal do Santo


“Onde estarão o passado e o futuro, se é verdade que existem?”
Santo Agostinho
(veja a citação completa no cap. 2)
Explicação: como será facilmente elucidado no decorrer do trabalho, apenas o PRESENTE é real –
vivemos em um Eterno Presente. Já o nosso CÉREBRO, por sua vez, cria a ilusão do passado e do futuro.

Lembra, Muana, Lembra!


“Engraçado como a MEMÓRIA falha (constata a escrava Muana Lòmué, - “que sabe ler e
escrever”- diferente de muitos akuya da época), mas à medida que vamos escrevendo
(relatando as lembranças da sua vida: Infância, juventude, maturidade) ela (as lembranças)
vai surgindo, como ossos que estão soterrados em cova rasa (dentro do cérebro) e são
descobertos pela chuva.”

“Retornei sozinha para a Vale Longo. A casa vazia. Apenas eu e minhas recordações*.”
O CRIME DO CAIS DO VALONGO
Eliana Alves Cruz

*Leia mais sobre as lembranças de Muana, Akin Sangokunle e Dona Anolina no cap. 9 e 14.

5 – AMARCOD – io mi ricordo: leia a seguir, 7 CITAÇÕES onde é posto em evidência o tecido


de que nós somos feitos: AS LEMBRANÇAS.

Peço sua atenção, pois esses trechos resumem – em poucas palavras, - a base da teoria
proposta...

I – AS LEMBRANÇAS NO CÉREBRO DE NAKATA

“—Eu também não tive amigos durante muito tempo – disse a Sra. Saeki. Excetuando,
é claro, as LEMBRANÇAS.
– Sra. Saeki, para dizer a verdade, Nakata não tem nenhuma LEMBRANÇA. Porque
Nakata é fraco da cabeça. O que seria exatamente uma LEMBRANÇA?
-- A Sra. Saeki voltou a olhar para as próprias mãos e, em seguida, para Nakata. –
LEMBRANÇAS o aquecem por dentro. Mas, ao mesmo tempo, LEMBRANÇAS são
capazes de estraçalhá-lo internamente.
-- Nakata sacudiu a cabeça. – Que problema difícil. Nakata ainda não entendeu o que é
uma LEMBRANÇA.”
KAFKA À BEIRA-MAR
Haruki Murakami

OBS

As Lembranças Pessoais contidas no cérebro (Linha da Memória) de NAKATA, - ‘mesmo


sem percebê-las’ - são formadas por:

imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

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Fazes-me Falta - A LEMBRANÇA DE UM SOM – no cérebro dos Íntimos

“Tantas vezes te pedi: <<Diz-me que me amas, diz só uma vez. Mesmo que seja mentira.
Diz-me. Só para eu guardar (no cérebro) o som da tua voz a dizer essa palavra.>>.”
Fica Comigo Esta Noite
Inês Pedrosa

II – AS LEMBRANÇAS NO CÉREBRO DE JULIA

LEMBRANÇAS & Rugas – VAZIOS & Preenchimentos

As LEMBRANÇAS em nosso cérebro (boas ou más) são indeléveis; temos que carregá-las na
cabeça por toda a vida, e suportar as consequências. Leia a seguir um trecho do belo conto:
UM CÉU AZUL DESSES, - de Mona Awad...
“Só (divorciada-rejeitada) e recuperada de um caso grave de COVID, Julia – no dia do seu
aniversário – encontra-se numa Clínica Estética clandestina (localizou-a na Deep Web).

– Bem – Julia diz, afinal, porque não aguenta mais o silêncio. – Qual o veredito?

-- Você teve um ano difícil, não? – Diz a “esteticista”.

-- Todo mundo teve, não? -- Julia diz, baixo.

-- Está tudo aqui (em seu rosto), infelizmente, -- diz ela, por fim. Seus dedos delineiam os vincos
da testa de Julia, as rugas marcadas entre as sobrancelhas. Os vasos em volta do nariz, os
sulcos ladeando a boca. Rugas naso-labiais, o nome certo delas, Julia fica sabendo. Rugas de
riso que nem de risada nasceram. Ela retira os discos de algodão das pálpebras de Julia e ergue
um espelho à frente do seu rosto.

– As LEMBRANÇAS e a pele são uma coisa só – diz ela. – Boas LEMBRANÇAS, boa pele.
LEMBRANÇAS tristes... (E aí ela se interrompe. Porque o espelho já fala por si). – Preciso te
perguntar uma coisa: o quanto você é apegada às suas LEMBRANÇAS?

-- Julia se olha no espelho. As dores da vida (as LEMBRANÇAS da sua vida: perdas, mágoas,
desilusões...) bem gravadas na sua pele. Seus poros escancarados feito bocas berrando mudas.
Só o peso (das terríveis LEMBRANÇAS da pandemia global) do ano passado já basta para
imprimir uma velhice talvez permanente. E Julia diz ao seu reflexo:

-- Nada apegada. Nem um pouco apegada. Mais tarde (após o procedimento), na rua e sem
máscara, ela diz para si mesma – um céu azul desses! (esperança... talvez.).”
O PROJETO DECAMERÃO
New York Times Magazine

OBS

As Lembranças Pessoais impressas no cérebro (Linha da Memória) de JULIA,


são formadas por:

imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

------------x------------

“Pareceu ao médico que a ouvia chorar, um som quase inaudível, como só pode ser o de umas
lágrimas que vão deslizando lentamente até às comissuras da boca e aí se somem para
recomeçarem o ciclo eterno das inexplicáveis dores e alegrias humanas”
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
José Saramago
III - AS LEMBRANÇAS NO CÉREBRO DE HOSSI

SER ou não SER - Sebastião Eusébio, um gajo qualquer


No trecho do livro a seguir, - do escritor angolano José Eduardo Agualusa, - temos Hossi
Apolónio Kaley: um ex guerrilheiro da UNITA que, após ser atingido por dois raios (o primeiro
tirou-lhe a vida; o segundo a devolveu), perdeu, - ou foram removidas do seu cérebro – as
LEMBRANÇAS de vários episódios da sua vida.

Ele levanta a seguinte questão: o que faz sebastião SER sebastião? Seria o somatório das
partes do seu corpo (olhos, mãos, braços, orelhas, nariz...)? Ou seria o somatória das
LEMBRANÇAS da sua vida (infância, juventude, maturidade), - registradas em seu CÉREBRO?

“A mim, - disse Hossi, - o que me assusta são esses Buracos na Memória (ausência de algumas
LEMBRANÇAS pessoais em sua Linha da Memória – dentro do cérebro). Alguém avança para
mim, e nunca sei se é um velho amigo a querer me abraçar ou um desafeto com uma pistola na
mão. Então, por uma questão de sobrevivência, trato a todos como inimigos. (...). Vivo no
terror de um dia acordar e não saber quem SOU.

Imaginem um gajo, um gajo qualquer. Vamos lhe dar um nome e uma ocupação, para melhor
expor a questão. Por exemplo, Sebastião Eusébio, camponês. Agora a gente arranca-lhe os
olhos, - pode ser com uma faca, pode ser com uma colher de chá, - e o gajo continua a SER o
Sebastião Eusébio, camponês, embora cego. Agora vamos cortar-lhe uma das mãos, depois
um braço, uma orelha, a seguir o nariz, enfim, vamos desbastando o Sebastião Eusébio, golpe
a golpe, como se fosse a ramada de uma árvore. Mesmo completamente mutilado ele
continuará a SER o Sebastião Eusébio.

Agora experimentemos arrancar-lhe não pedaços do corpo, o que é bastante fácil, exige
apenas mão firme, alguma prática e um certo alheamento do espírito. Vamos arrancar-lhe
LEMBRANÇAS. Primeiro arrancamos-lhe (do cérebro de Sebastião) a imagem (lembrança) da
mãe pilando milho com as outras mulheres, enquanto cantavam; depois a LEMBRANÇA boa
das brincadeiras com os irmãos e os primos entre o canavial, junto ao rio; a seguir, a
LEMBRANÇA do frescor da água tirada do moringue; tiramos também de dentro do CÉREBRO
do Sebastião Eusébio as LEMBRANÇAS das histórias que a avó lhe contava, o cheiro do
cachimbo e as pequenas gargalhadas dela. Agora então respondam-me: aquele homem que
nunca foi menino (pois fora removida - do seu cérebro – as LEMBRANÇAS da sua infância),
aquele homem ainda é o Sebastião Eusébio? (...).

-- Perder LEMBRANÇAS não é o mesmo que perder um braço – disse-me Hossi. – Quando
perdemos um braço sabemos que perdemos um braço. As pessoas olham para nós e sabem
que perdemos um braço. Com as LEMBRANÇAS, não. Não sabemos que as perdemos (que
foram apagadas do nosso cérebro), mas, como as perdemos, alguma coisa no nosso espírito
deixa de funcionar (perde-se a noção da EXISTÊNCIA de vários episódios da nossa vida; ou, em
outras palavras, perdemos um pouco da nossa individualidade, – ou do nosso EU).”

A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS


José Eduardo Agualusa

OBS

As Lembranças Pessoais que foram apagadas do cérebro (Linha da Memória) de HOSSI,


eram formadas por:

imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

------------x-------------

“O ser humano tem tudo quanto é tipo de problema, mas há um que me interessa muito:
ele não sabe se medir. Um alfaiate mede uma pessoa por fora sem dificuldade
nenhuma, mas o homem se complica na hora de medir-se por dentro.
Um Alfaiate Interior nos faz falta.”
O LIVRO SELVAGEM
Juan Villoro

IV – AS LEMBRANÇAS NO CÉREBRO DE JANAÍNA

Avó Janaína regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e se perde/se acha nas
lembranças de sua infância; - de onde não consegue mais regressar.

“Dora – que é enfermeira – tem conhecimento de que é comum que pessoas idosas com
doenças graves (como é o caso de sua avó Janaína) desenvolva um quadro demencial agudo,
chamado delirium. (...).
-- “Rute, Rute, entra aqui.” Me estende a mão e eu a seguro. (...). -- “Vem, vamo experimentar
aquela calça antes que Mainha e Painho chegue em casa,” e gargalha.

Rute? Já ouvi esse nome. -- “Janaína, Rute é sua irmã? Eu sou a Dora, lembra? Sua neta.” E ela
responde, rindo, -- “Oxe, Rute, que besteira, claro que você é minha irmã, minha irmã mais
querida!”.

O que resta de Janaína sem sua memória? (...). A memória é uma costura fina a alinhavar (em
nosso cérebro) passado e presente. (...). Sem ela não há a sabedoria de Janaína. Sem ela não
há sua história (a história da sua vida: infância, juventude, maturidade). Diante de mim, a
velha Janaína se fez novamente menina Janaína, minha avó voltou no tempo (regressou em
sua Linha da Memória – dentro do cérebro), para muito antes de tudo o que eu soube sobre
ela. Vi no rosto envelhecido uma expressão alegre, um trejeito leve e desobediente de uma
Janaína moça que jamais conheci. Mas, onde estava minha avó? Precisava tanto de sua
orientação... O que faço, Janaína, o que faço se você não voltar a ser você? Se meus pés se
soltarem do chão e eu sair flutuando como um balão sem rumo? Preciso que me ensine. Ainda
tenho que te perguntar tantas coisas... Me conta do seu passado (das lembranças de sua vida),
me conta de sua irmã Rute. - Janaína, quantas são as formas de perder alguém? (...).

(Dora lembra que quando no seu local de trabalho) Na UTI, se ninguém estivesse olhando, me
sentava ao lado dos velhinhos, para assistir seu retorno ao passado (para assistir o paciente
regressar em sua Linha da Memória – dentro do cérebro). Havia beleza naquilo. Eles
mergulhavam no curso de uma vida (nas lembranças de sua vida) e encontravam no fundo um
tesouro esquecido (as saudosas lembranças da infância). Submergiam como velhos e vinham à
tona como meninos que encontraram moedas no chão da piscina. (...).”

“Tudo passa na Terra, como uma flor efêmera derrubada pelo sopro do vento. Mas existe algo
mais forte do que a morte: a lembrança dos ausentes na memória (cérebro) dos vivos”
Valérie Perrin

“Janaína agora é memória (no cérebro de Dora). Resgatar os momentos (lembranças


compartilhadas) com vovó é como assistir a uma cena em cores quentes, tons alaranjados.
Como se nos tivessem eternizados numa pintura expressionista, ou uma grande tapeçaria
tecida com as linhas do pôr do sol, onde nos retratam felizes, imóveis, emaranhadas. Tudo ali
emana calor e aconchego. Janaína irradiava uma luz só dela, hoje extinta no planeta. Volto à
vovó (às lembranças de sua avó), de olhos fechados, sempre que o mundo desbotado, em tons
pastéis, ameaça me descorar. A lembrança de Janaína (no cérebro de Dora) brilha, então,
como talismã.”

GAMELEIRA-BRANCA
Sofia Aroeira

OBS
As poucas Lembranças da Infância que sobraram no cérebro (Linha da Memória) da
avó JANAÍNA, eram formadas por:

imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

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A Lembrança do Sabor e do Cheiro da Moqueca – no Cérebro de Dora


“Tinha certeza, nunca mais uma moqueca teria aquele gosto, o sabor daquele tempo, daquela
terra (litoral da Bahia). E eu (agora em São Paulo) seguiria sendo assaltada, de repente, no
metrô, ou parada na varanda do meu apartamento, pelo cheiro (pela lembrança do sabor e do
cheiro – em seu cérebro) que salivaria a boca de saudade, e traria imediatamente a sensação
de estar ali, apoiando o cotovelo sobre a mesa de pedra de minha infância, enquanto minha
mãe cozinhava. (a lembrança do sabor e do cheiro da moqueca – além de fazer Dora salivar – a
faz regressar em sua Linha da Memória até chegar nas lembranças de sua infância).

GAMELEIRA-BRANCA
Sofia Aroeira

V - AS LEMBRANÇAS NO CÉREBRO DE ALICE

Neste livro (Comigo no Cinema) a escritora e poetiza Martha Medeiros relata suas impressões
(não é crítica, são apenas expressões de sentimentos) sobre sua segunda paixão: o Cinema. A
propósito do filme em questão (Para Sempre Alice – 2015), ela opina sobre um tema médico
polêmico. Qual seria a forma humanamente menos traumática (ou mais aceitável) para
morrer: morte súbita, falência múltipla dos órgãos, câncer, Alzheimer...

“A atriz Julianne Moore ganhou o Oscar ao interpretar uma mulher de 50 anos (Alice Howland)
que sofre do Mal de Alzheimer. Ela perde (esquece o significado dos sons de) palavras, não
reconhece feições (imagens), esquece com quem estava conversando, e sobre o quê. Menos
mal porque ainda consegue produzir flashbacks (regressar em sua Linha da Memória – dentro
do cérebro, e), lembrar a infância e acontecimentos remotos. Porém, nos casos em que a
MEMÓRIA (todas as lembranças da nossa vida: infância, juventude, maturidade) vai inteirinha
para o brejo (são varridas do nosso cérebro), de que adiantou ter vivido?*

*LEMBRO, logo existo – como veremos no cap. XVI (A Origem do mal de Alzheimer), ao perder
nossas lembranças, também perdemos a noção da própria existência.

Não faz sentido atravessar tantos conflitos e amores, ter cometido tantos erros e acertos, e
não poder, mais adiante (ao avaliar-refletir sobre as lembranças dos episódios vividos),
contabilizá-los. No inventário de uma vida, vale o que se fez e o que se sentiu. Se tudo foi
esquecido (se nossas lembranças forem apagadas do cérebro), esvaziam-se nossos setenta
anos, nossos noventa ou cem (Anos de Solidão). Qualquer longevidade passará a valer um
segundo.

Espero um dia olhar para fotos antigas e me reconhecer no sentido mais amplo, recordar o que
vivia naquele momento do click, dizer “parece que foi ontem” sem sofrimento. Quero lembrar
sabores, sorrisos, gestos (imagens, sons, sabores, aromas e sensações táteis), enfim, os flashes
(lembranças) que iluminam a estrada (Linha da Memória) atrás de nós. Quero inclusive
lembrar os arrependimentos e as dores, que vistos de longe parecerão bem menores – e
essenciais. Quero rir muito de mim, me recordando de trás para frente (ao longo da Linha da
Memória – dentro do cérebro).

Porque, se não for assim, nossa vida terá valido para os outros, os que nos lembram, mas não
terá valido para nós mesmos. Seremos (se acometidos pelo Alzheimer) uns desmemoriados
sem alicerces, vagando num presente ilusório, desaparecendo a cada instante que passa. (...).
Morreríamos alienado, sem poder avaliar, através da MEMÓRIA, se valeu ou não a pena. Se
temos que morrer um dia (que jeito), que seja abraçado às nossas recordações.”
COMIGO NO CINEMA
Martha Medeiros

OBS

As Lembranças Pessoais que foram apagadas – assim como as que persistem - no cérebro
(Linha da Memória) de ALICE, eram formadas por:

imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

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Um Som de Lágrimas no Cérebro da Tia Encarna


“As outras travestis seguem a ronda sem prestar atenção aos movimentos da Tia Encarna.
Anda desmemoriada, a Tia, repetindo as mesmas velhas piadas. As coisas mais recentes e
próximas (episódios recentes) não têm lugar em sua memória (cérebro). Chega um momento
da vida em que nenhuma recordação está a salvo. Desde então, anota tudo em caderninhos,
gruda anotações na porta da geladeira, uma maneira de vencer o esquecimento. Algumas
pensam que deve estar ficando louca, outras acreditam que ela deixou de lembrar por
cansaço. Tia Encarna levou muita porrada; botinas de policiais e de clientes jogaram futebol
com sua cabeça, (...).

De modo que ninguém se preocupa quando ela as deixa, quando responde à sirene do seu
destino. (...). Tia Encarna persegue algo assim como um perfume (um cheiro) ou um ruído (um
som – martelando seu cérebro). Nunca é possível saber quando ela vai atrás de algo.
Paulatinamente, aquilo que a convocou se revela: é o pranto de um bebê. (...). Muita fome e
muita sede. Isso se sente no clamor do bebê e é a causa da atribulação da Tia Encarna, que
entra no bosque com desespero porque sabe que em algum lugar há uma criança que sofre. É
inverno no Parque, e a friaca é tão forte que congela as lágrimas. (...)”
O PARQUE DAS IRMÃS MAGUINÍFICAS
Camila Sosa Villada

VI - “Onde você estiver, Não se esqueça de mim”


(R. Carlos – N. Caymmi)

“Savitha ficou sentada sozinha diante da charkha, tecendo o prometido sári, presente para o
casamento arranjado da amiga (e antevendo, talvez, uma traumática separação). Poornima,
deitada no tapete ao lado, sentia-se afundar como uma pedra. Ela sabia que estava dormindo,
mas continuava escutando a voz de Savitha, (...), como um murmúrio do vento, a chuva caindo.
E ela a ouviu dizer: -- Não se esqueça de nada, Poornima. Nem uma lembrança sequer. Se você
esquecer, será como se tivesse se juntado à pedra no fundo do mar, aquela à qual todos nós
estamos amarrados. Então, lembre-se de tudo. Prenda. Prenda todas as lembranças
(compartilhadas por ambas) entre as dobras do seu coração (cérebro), como se faz com uma
flor nas páginas de um livro. E então, quando quiser olhar para elas ( relembrá-las), quando
quiser olhar de verdade (recordá-las), Poornima, você só tem que erguer a lembrança contra a
luz.”
O BRILHO DO SOL QUE INVADIU A NOSSA CASA
Shobha Rao
VII - “Precisávamos Lembrar Sobre Lydia”
“Por um instante, a voz de Lydia (16 anos) ficou congelada, mas, quando enfim emergiu,
estava tão alterada que nem ela nem a mãe a reconheceram.

-- Já falei, não preciso da sua ajuda – berrou.

No dia seguinte, Marilyn (mãe de Lydia) esqueceria aquele momento (o pedido de socorro da
filha): o grito de Lydia, o tom estridente de sua voz. Aquilo desapareceria da lembrança que
guardaria de Lydia, do mesmo jeito que as lembranças que guardamos das pessoas amadas
sempre se suavizam (se distanciam em nossa Linha da Memória – dentro do cérebro) e se
simplificam, perdendo complexidade como se fossem escamas. Naquele momento, perplexa
com o tom inabitual da filha, ela o atribuiu ao cansaço de fim de tarde. (...).

Mais tarde, ao recordar aquela última noite, a família não se lembrará de quase nada. Tantas
coisas (as lembranças de tantos episódios) serão diminuídas pela tristeza por vir. Rubro de
excitação, Nath (irmão mais velho de Lydia) tagarelou durante todo o jantar, mas nenhum
deles – incluindo ele próprio – se lembrará dessa loquacidade incomum. (...). Não se lembrarão
da luz do sol, no fim da tarde, derramando-se na toalha de mesa como manteiga derretida, ou
de Marilyn dizendo: “Os lilases estão começando a florir”. Não se lembrarão de James (pai de
Lydia) sorrindo à menção de Charlie’s Kitchen, lembrando de antigos almoços com Marilyn, ou
de Hannah (irmã caçula de Lydia) perguntando: “As estrelas são as mesmas em Boston?” E
Nath respondendo: “É claro que sim”. Tudo isso (todas essas lembranças) terá sumido (do
cérebro da família) pela manhã. Eles (a família) vão dissecar essa última noite (vão vasculhar o
cérebro em busca da lembrança de algum detalhe revelador não percebido – sobre Lydia)
durante anos a fio. O que passou despercebido que deveriam ter notado? Que pequeno gesto,
esquecido, poderia ter mudado tudo? Vão analisar os mais ínfimos detalhes (vão analisar as
mais ínfimas lembranças sobre os últimos momentos de Lydia – antes do suicídio),
perguntando-se como aquilo tudo dera tão errado, e nunca terão certeza de nada. (...)”
TUDO O QUE NUNCA CONTEI
Celeste Ng

A Memória e a Percepção da Existência das Coisas

6 - O UNIVERSO AO REDOR: como podemos constatar na prática, percebemos a EXISTÊNCIA


das coisas (o mundo à nossa volta) através das Impressões dos Sentidos. Ou seja, para nós
(para nosso cérebro) as coisas só passam a EXISTIR realmente quando conseguimos:

VÊ-LA e/ou OUVÍ-LA e/ou DEGUSTÁ-LA e/ou CHEIRÁ-LA e/ou TOCÁ-LA.


Veja a seguir um trecho do poema O Guardador de Rebanhos, - de Fernando ‘Alberto Caeiro’
Pessoa...

“-- NÃO ACREDITO EM DEUS PORQUE NUNCA O VI.


-- Mas se Deus é as árvores e as flores,
-- E os montes e o sol e o luar,
-- Então acredito nele,
-- Então acredito nele a toda hora,
-- E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
-- E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos”. - (e pela boca, e pelo nariz, e pelo tato).
A propósito, o nosso cérebro é um Guardador de Lembranças.

7– QUE O DIGA SÃO TOMÉ – “Só acredito vendo!”: no início do trecho acima, o poeta afirma
que não acredita na EXISTÊNCIA DE DEUS porque nunca conseguiu VÊ-LO - ou seja, nunca
conseguiu registrar sua imagem no cérebro.

Essa mesma questão é abordada por Gabriel García Márquez, em seu mais
célebre romance: Cem anos de Solidão, - veja o trecho...

O PAPARAZZO DO CRIADOR

“Enquanto isso, Melquíades acabou de plasmar (fotografar) nas suas placas tudo o que era
plasmável em Macondo e abandonou o aparelho de daguerreotipia aos delírios
de José Arcadio Buendía, que tinha resolvido utilizá-lo para obter o prova científica da
EXISTÊNCIA DE DEUS. Mediante um complicado processo de exposições superpostas, tomadas
em lugares diferentes da casa, estava certo de fazer mais cedo ou mais tarde o
DAGUERREÓTIPO DE DEUS*, se existisse, ou acabar de uma vez por todas com a suposição
da sua existência.”
*Até onde se sabe, sejam eles seguidores ou haters, Deus não costuma enviar selfie.

EXPLICAÇÃO: em outras palavras, o patriarca dos Buendía (por meio dos cinco sentidos)
condiciona a existência de Deus à possibilidade de: ver a imagem de Deus (principalmente), ou
ouvir a voz de Deus, ou tocar em Deus, ou sentir o cheiro de Deus, ou sentir o sabor de Deus.
Delírio dos Sentidos
Mas, alguém pode dizer, há pessoas que juram que já VIU Deus. É verdade, mas a isto
chamamos Alucinação Visual. Mas também há pessoas que afirmam que OUVIU o chamado
de Deus. É verdade, mas a isto chamamos Alucinação Auditiva. E ainda há outros que
afirmam que sentiu o TOQUE de Deus. É verdade, mas a isto chamamos Alucinação Tátil. E
assim segue o mundo... Este mesmo raciocínio é valido para personagens que vão do
inofensivo Papai Noel ao terrível Monstro do Lago Ness; sem esquecer, é claro, o nosso
querido ET de Varginha.

8 – A EXISTÊNCIA DE PLUTÃO QUE SEMPRE EXISTIU: o planetoide PLUTÂO existe desde a


formação do nosso Sistema Solar - há aproximadamente 4.6 bilhões de anos.

No entanto, o Nono Planeta só passou a existir para nós após VÊ-LO (e registrar sua
imagem em nosso cérebro) em 1929, quando foi finalmente descoberto ...

“Outra ideia fixa do astrônomo americano Percival Lowell era a existência, em algum ponto
além de Netuno, de um desconhecido nono planeta, apelidado de Planeta X. (...). Infelizmente,
ele morreu de repente em 1916. (...). No entanto, em 1929, um jovem do Kansas chamado
Clyde Tombaugh, que não tivera nenhuma educação formal em astronomia, mas era diligente
e perspicaz, após um ano de procura paciente, conseguiu detectar PLUTÃO, um ponto fraco de
luz num firmamento fulgurante. (...)”
BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO
Bill Bryson

Duas Observações

a - Toda a Luz que não Podemos VER: este mesmo raciocínio é válido para o Descobrimento
da América (Colombo – 1492), o Descobrimento do Brasil (Cabral – 1500), a descoberta dos
Anéis de Saturno (Galilei – 1610), etc. Pois tudo isso, - embora ‘não existisse’ para nós - já
EXISTIA há bilhões de anos.

Além dos demais eventos semelhantes, como por exemplo: as partículas e os elementos
químicos EXISTEM desde o Big Bang - há aproximadamente 15 bilhões de anos.
No entanto, só passaram EXISTIR para nós quando foram descobertos (percebidos pelas
impressões dos nossos sentidos): rádio e polônio (casal Curie, 1898); elétron (J.J. Thomson,
1897); próton (Rutherford, 1919); nêutrons (J. Chadwick, 1932), etc.

Portanto, as coisas (tudo no Universo) só passam a EXISTIR realmente para nós,


após serem detectadas pelas impressões dos nossos CINCO SENTIDOS:
ou a visão, ou a audição, ou o paladar, ou o olfato, ou o tato.

b - Ensaio Sobre a Cegueira: por exemplo, um indivíduo invisual (de nascença), obviamente,
não consegue VER sua namorada. No entanto, ele tem a certeza de que ela EXISTE porque:

AUDIÇÃO: ele percebe a existência dela ao ouvir a sua voz;

OLFATO: ele percebe a existência dela ao sentir o seu cheiro;

TATO: ele percebe a existência dela ao tocá-la, beijá-la ou tateá-la.

DONA UMBELINA SÓ ENXERGA POR DENTRO


(vemos nossas lembranças – dentro do cérebro)

“A velha africana Umbelina estava completamente cega. Ficava sentada em um banquinho na


porta de entrada do terreiro, onde todos lhe cumprimentavam com grande respeito.
Caminhava por aquelas terras sem tropeçar em nada. Tinha os caminhos (as lembranças dos
caminhos) todos na cabeça. Caminhos que incluíam a enorme ladeira que levava ao Outeiro
Redondo, onde reinavam pés de cajá, de caju, a casa de fazer farinha, (...).”
ÁGUA DE BARRELA
Eliana Alves Cruz

A Memória e a Percepção da Própria Existência


9 – LEMBRO de mim, logo existo: LEMBRO de todos os episódios da minha vida (infância,
juventude, maturidade), logo tenho a percepção de que EXISTO. No entanto...

ALZHEIMER
- O Removedor de Lembranças –

No entanto, ao perder nossas lembranças (ao serem apagadas do cérebro) – como ocorre com
o Mal de Alzheimer, por exemplo – perdemos gradativamente a noção da própria existência.
Tudo isso será esclarecido no cap. XVI.
Enquanto isso, leia as 2 citações abaixo:

I – CEM ANOS DE SOLIDÃO


Gabriel Garcia Marquéz

“(...) Mas Visitación explicou que o mais temível da doença da insônia não era a
impossibilidade de dormir, (...) mas sim a sua inexorável evolução para uma manifestação mais
crítica: o ESQUECIMENTO. Queria dizer que quando o doente se acostumava ao seu estado de
vigília, começavam a apagar-se da sua memória (CÉREBRO) as lembranças da infância, em
seguida (as lembranças do) o nome e a noção das coisas, e por último (as lembranças da) a
identidade das pessoas e ainda a consciência do próprio SER (perde as lembranças de SI
mesmo), até se afundar numa espécie de idiotice sem PASSADO. (...).”

II – SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS


José Eduardo Agualusa

“Iniciei meu diário há mais de vinte anos, porque me atormentava a ideia de acabar como o
meu pai. O velho Ernesto começou a perder a MEMÓRIA logo após sair de Huambo. O
processo foi rápido. O passado (as lembranças da sua vida: infância, juventude, maturidade)
apagou-se (do seu cérebro) da frente para trás. Primeiro, não conseguia recordar-se do que
fizera na semana anterior. A seguir, do que acontecera cinco ou seis anos antes. Finalmente, só
lhe restava uma ou outra imagem (lembrança) da alegre meninice, em Benguela, nos remotos
anos 30 do século passado. Eu estava com ele quando morreu: -- O mar – murmurou. – Já só
me LEMBRO do mar.”

EXPLICAÇÃO

O sr. Ernesto Benchimol (ou os habitantes de Macondo) poderia afirmar:

Não LEMBRO da minha infância, logo ela deixou de EXISTIR para mim;

Não LEMBRO dos episódios da minha juventude, logo ela deixou de EXISTIR para mim;

Não LEMBRO de episódios recentes da minha vida, logo eles deixaram de EXISTIR para mim;
Ver cap. XVI.

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“Uma nova descoberta tem 3 estágios: primeiro ela é ridicularizada; depois
é contestada, e, finalmente, aceita. Se antes não for creditada à pessoa errada.”
ALEXANDER VON HUMBOLDT

Oxalá consiga escapar do vaticínio do ‘Inventor da Natureza’*


*premiada biografia de Humboldt, escrita por Andrea wulf

CAPÍTULO

II
A EXISTÊNCIA DO TEMPO QUE NUNCA EXISTIU
TEMPO: UMA ILUSÃO PERSISTENTE – EM NOSSO CÉREBRO

“A distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão,


ainda que persistente”.
Albert Einstein

TÍTULOS ALTERNATIVOS

UMA BREVE HISTÓRIA DO CÉREBRO – UMA BREVE FÁBULA DO TEMPO

Ambos os títulos acima seriam apropriados para este trabalho. Pois, como veremos no
decorrer dos capítulos, ao evoluir a MEMÓRIA (a aptidão para preencher o cérebro com as
lembranças da nossa vida), nos tornamos HUMANOS; ou seja: obtemos a capacidade de
exteriorizar EMOÇÕES.

Mas, em contrapartida, criamos inconscientemente a ilusão do TEMPO em nosso cérebro.


Sim, O TEMPO É UMA ILUSÃO. E tudo será facilmente esclarecido a seguir (cap III, IV e V).

“O tempo é uma mentira, mas é uma mentira necessária”


(involuntária)
José Eduardo Agualusa

“Não creio no tempo, mas que as bruxas existem, elas existem!”

a – Uma Breve Fábula do TEMPO: Sei que este assunto – a suposta passagem do tempo -
pode parecer algo estranho, ou fora de propósito; mas para entendermos as ENGRENAGENS
DO NOSSO CÉREBRO é essencial solucioná-lo, e explicar como – AO EVOLUIR A MEMÓRIA –
criamos a ilusão do tempo (passado – futuro) em nossos MIOLOS.

“Isto quer dizer que o tempo é um mistério e não é nem mesmo uma coisa,
e ninguém jamais resolveu o quebra-cabeça de como o tempo é
exatamente – conclui Christopher Boone.”
O ESTRANHO CASO DO CACHORRO MORTO
Mark Haddon

b – O PRESENTE É ABSOLUTO: isto significa que vivemos em um ETERNO PRESENTE. Portanto,


como apenas o PRESENTE realmente existe, dedicaremos os próximos capítulos para explicar
que o passado e o futuro não passam de ilusões, ainda que persistentes, - segundo Einstein.

“Talvez a ideia correcta seja a de que o futuro é tão somente um imenso vazio,
a de que o futuro não é mais que o tempo de que o ETERNO PRESENTE se alimenta.”
O HOMEM DUPLICADO
José Saramago
c- ”ABOUT TIME” – filme 2013: em todo caso, estou ciente de que, por ser uma nova ideia
(propor mudança na nossa forma de pensar o mundo), essa “Questão de Tempo” pode parecer
algo inextrincável e assustador. Mas, acredite, não há porque se preocupar, pois tudo será
facilmente esclarecido.

CRONOS – O TITÃ TEMPORÁRIO

Para muitos da Física Teórica, o TEMPO tornou-se um conceito bastante questionável


(duvidoso), - como podemos constatar nas 3 citações abaixo:

trecho retirado da revista

1 – SUPER INTERESSANTE
(30/ABR/1988)

“QUESTÃO DE TEMPO: Einstein escreveu, em carta, que a diferença entre passado,


presente e futuro é apenas uma persistente ilusão. Que será que ele queria dizer com isso?
Enquanto para o relógio de Isaac Newton o Tempo é Absoluto (tempo objetivo – transcorre
uniformemente para todos e para tudo), para Albert Einstein o Tempo é Relativo (tempo
subjetivo – muda aos sabores do vento). HOJE NEM MESMO A PASSAGEM DO TEMPO É
GARANTIDA PELA CIÊNCIA”.

Trecho retirado da revista

2 - SCIENTIFIC AMERICAN
(FEV de 2011 - por Craig Callender)

“O TEMPO É UMA ILUSÃO? - Conceitos podem emergir de um UNIVERSO que é, em


essência, totalmente ESTÁTICO (Estacionário no Presente). (...) O momento PRESENTE parece
especial. Ele é real. Entretanto, por mais que se lembre do passado ou antecipe o futuro, você
vive o PRESENTE. Em outras palavras, parece que o TEMPO flui no sentido de que o PRESENTE
está constantemente se atualizando (o presente não PASSA; apenas se TRANSFORMA). (...) A
lacuna entre o entendimento do ‘tempo científico’ e o nosso entendimento do ‘tempo do
cotidiano’, sempre intrigou os pensadores ao longo da história (como é o caso de Santo
Agostinho, - veja citação abaixo). (...) Agora - conforme os físicos gradualmente tiram do
TEMPO a maioria dos seus atributos - muitos na física teórica passaram a acreditar que o
TEMPO, FUNDAMENTALMENTE, NÃO EXISTE. (...).”
3 - O PRESENTE ABSOLUTO DE SANTO AGOSTINHO
- o sábio santo céptico – em relação ao tempo, claro está –

“O que é, pois, o TEMPO? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá
apreendê-lo, mesmo só como pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu
conceito? E que assunto mais familiar e mais frequente nas nossas conversas do que o TEMPO?
Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos
dizem quando dele nos falam. Então o que é, por conseguinte, o TEMPO? Se ninguém me
perguntar, eu sei o que é o TEMPO; mas se alguém me perguntar, não sei o que dizer.

E de que modo existem aqueles dois tempos – o passado e o futuro – se o passado já não
existe e o futuro ainda não veio? Afinal, onde estão o passado e o futuro, se é verdade que
existem?

Parece-me, então, que o TEMPO é simplesmente uma extensão (criação) da própria mente.
Assim, começo a ponderar que o TEMPO é subjetivo, e, portanto, só existe na mente humana
(cérebro) como um aspecto de nossa maneira de ver as coisas.”

“Nem o futuro nem o passado existem. Nem se pode afirmar que os tempos são três: passado,
presente e futuro. Talvez fosse melhor dizer que os tempos são: o PRESENTE do passado, o
PRESENTE do PRESENTE e o PRESENTE do futuro. E estes só estão em minha mente, não os vejo
alhures. O PRESENTE do passado é a memória, o PRESENTE do PRESENTE é a percepção do
agora, e o PRESENTE do futuro é a expectativa. Então, não seria mais prudente afirmar que só
há o PRESENTE ?”

Uma Breve Biografia do Santo de Hipona


(354 dC – 430 dC)

“Ex-escravo de paixões perniciosas” (foi um adolescente da pá virada – dona Mônica, sua mãe,
que o diga), - Santo Agostinho foi um filósofo e teólogo cristão; é o autor de Confissões (sua
autobiografia – e hino de louvor) -- de onde o trecho acima foi retirado. Fez a mais importante
reflexão sobre o TEMPO na história do pensamento. Sempre pondo em dúvida a sua
existência; - afinal, como é possível apreender algo que não se consegue exprimir por
palavras?
d - A Percepção do TEMPO (?!): a propósito, caro internauta, por acaso você já viu o TEMPO?
Uma esteira contínua com aproximadamente 15 bilhões de anos (originou-se com o Big
Bang?!), contendo passado, presente e futuro?

Ou por acaso já ouviu o tempo? Ou conseguiu sentir seu sabor?


Ou sentiu seu cheiro? Ou conseguiu tocá-lo?

A resposta é NÃO. Claro que NÃO – POIS O TEMPO NÃO EXISTE. Na realidade, como presume
Graig Callender, no trecho da Scientific American:

“O Universo é, em essência,
totalmente estático; – e o tempo, fundamentalmente, não existe.”

em outras palavras

O UNIVERSO É ESTÁTICO – ESTACIONÁRIO NO PRESENTE – O PRESENTE É ABSOLUTO

ou seja

- VIVEMOS EM UM ETERNO PRESENTE -

- O PRESENTE NÃO PASSA; APENAS SE TRANSFORMA -


assim sendo

- APENAS O PRESENTE É REAL -

Este, sim, você consegue: vê-lo, ouvi-lo, degustá-lo, cheirá-lo e tocá-lo.

e – Vivemos em um ETERNO PRESENTE: se apenas o PRESENTE é real, onde estarão o passado


e o futuro se é verdade que existem? Como veremos a partir do próximo capítulo, a noção de
que o mundo se desloca numa suposta Esteira do Tempo (passado – futuro), é apenas uma
ilusão que idealizamos involuntariamente em nosso cérebro ao evoluir o Traço Favorável da
MEMÓRIA.
Ainda com relação ao PRESENTE ABSOLUTO, peço que leia as 2 citações a seguir, pois
presumo que Borges e Saramago (melhor do que eu - não sei por quê!),
explicam melhor essa coisa....

1 - O PRESENTE ABSOLUTO DE JORGE LUIS BORGES


- o passado e o futuro são meras Ficções –

“Uma das escolas de Tlön chega a negar a existência do TEMPO: argumenta que o passado
não tem realidade senão como lembrança; que o futuro não tem realidade senão como
esperança; e que o presente, este, sim, é indefinido.”

“O tempo não existe; é apenas uma convenção”

2 - O PRESENTE ABSOLUTO DE CAIM


José Saramago

“Então estamos no FUTURO, perguntamos nós, é que temos visto por aí uns filmes que tratam
do assunto, e uns livros também. -- Sim, essa é a fórmula comum para explicar algo como o
que aqui parece ter sucedido, -- O FUTURO, dizemos nós, e respiramos tranquilos, já lhe
pusemos o rótulo, a etiqueta, -- Mas, em nossa opinião, entender-nos-íamos melhor se lhe
chamássemos outro PRESENTE, porque a Terra é a mesma, sim, mas os PRESENTES delas vão
variando (o PRESENTE não passa, apenas se TRANSFORMA) , uns são PRESENTES passados,
outros são PRESENTES por vir, é simples, qualquer um perceberá.”

OBS: este assunto (a ilusão do tempo) será esclarecido no cap. XXIV:

UMA BREVE FÁBULA DO ESPAÇO-TEMPO ,– A INEXISTENTE 4ª DIMENSÃO.

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Nos 3 capítulos a seguir (III, IV e V), explicaremos os fundamentos do Presente Absoluto.

CAPÍTULO

III
A LEI DA CONSERVAÇÃO DA MASSA E O PRESENTE ABSOLUTO
O PRESENTE NÃO PASSA; APENAS SE TRANSFORMA

a - LEI DA CONSERVAÇÃO DO PRESENTE: como já foi dito, antes de abordar o cerne da questão
(como funciona as engrenagens do nosso cérebro), se faz necessário esclarecer os
fundamentos do PRESENTE ABSOLUTO. Como veremos a seguir, essa teoria nada mais é do
que uma reinterpretação da lei da CONSERVAÇÃO DA MASSA. Ou seja, o Casal Lavoisier (Marie
– Antoine) foram os primeiros a perceberem que...

VIVEMOS EM UM ETERNO PRESENTE

ANTOINE-LAURENT LAVOISIER
(1743 – 1794)

“(...) Durante anos, ele e madame Lavoisier ocuparam-se de estudos rigorosos. Eles
descobriram, por exemplo, que um objeto que enferruja não perde peso, como se acreditava;
pelo contrário, ganha peso – uma descoberta extraordinária. De algum modo, ao se oxidar, o
objeto atraía partículas básicas do ar. Foi a primeira percepção de que a matéria pode ser
TRANSFORMADA, mas não eliminada (e muito menos diluída pelo envelhecimento). Se você
queimasse este LIVRO agora, sua matéria se transformaria em cinza e fumaça, no entanto a
quantidade líquida de matéria no Universo continuaria a mesma (pois a cinza e a fumaça se
Conservaria no Presente). Um conceito revolucionário. Isto se tornou conhecido como a lei da
Conservação da Massa. (...)”
Breve História de Quase Tudo
Bill Bryson
EXPLICAÇÃO

b - FAHRENHEIT 451: de acordo com a citação, o LIVRO, ao queimar-se, se transforma em


cinza e fumaça. Mas toda essa matéria resultante (cinza e fumaça) se CONSERVA NO
PRESENTE, - pois, como diz o texto, a quantidade líquida de matéria no Universo continua a
mesma. É simples, não?

Portanto, já é possível concluir que a teoria do PRESENTE ABSOLUTO é tão somente uma
confirmação da lei de LAVOISIER. Em outras palavras, a lei da CONSERVAÇÃO DA MASSA
conclui que: na Natureza...

“TUDO SE TRANSFORMA, MAS SE CONSERVA NO PRESENTE”


ou seja

O PRESENTE não passa; apenas se TRANSFORMA

c – UNIVERSO ESTÁTICO: como foi dito, o Presente é Absoluto – ou seja: vivemos em um


ETERNO PRESENTE. Iniciemos, pois, a explicação (não se preocupe pois é muito fácil entendê-
lo): para acompanhar os argumentos propostos, você deve levar em conta que...

1 – VOCÊ: pra facilitar compreensão, digamos q nasceu em 1999, - você tem 23 anos de idade;

2 – A VIDA: o surgimento da vida na Terra (o Big Birth) é estimada em 4 bilhões de anos;

3 – A TERRA: a idade estimada da formação do nosso Sistema Solar é de 4.6 bilhões de anos;

4 – O COSMOS: a idade estimada do nosso Universo (o Big Bang) é de 15 bilhões de anos;

“É compreensível que alguém pergunte como foi possível saber que estas coisas sucederam
assim e não doutra maneira, A resposta a dar é a de que todos os relatos são como os da
Criação do Universo, Ninguém lá esteve, ninguém assistiu, mas toda a
gente sabe o que aconteceu.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
José Saramago
1 - O PRESENTE NÃO PASSA, APENAS SE TRANSFORMA: Você (“nascido em 1999”) é um
PRESENTE que se transforma há 23 anos:

VOCÊ Permanece no Presente há 23 anos (converta para sua idade real);

VOCÊ não ENVELHECE ao se deslocar no tempo (passado – futuro), - o tempo não existe;

VOCÊ se TRANSFORMA ao Permanecer no Presente, - vivemos em um ETERNO PRESENTE;

VOCÊ – estacionário no presente – se TRANSFORMA há 23 anos (desde que nasceu);

VOCÊ se transforma mas se CONSERVA NO PRESENTE há 23 anos ( Lei de Lavoisier);

2 - O PRESENTE NÃO PASSA, APENAS SE TRANSFORMA: o milagre da vida em nosso planeta é


um PRESENTE que se transforma (e evolui) há 4 bilhões de anos:

A VIDA Permanece no Presente há 4 bilhões de anos (desde o Big Birth);

A VIDA não ENVELHECE ao se deslocar no tempo (passado – futuro); - o tempo não existe;

A VIDA se TRANSFORMA ao Permanecer no Presente; - vivemos em um ETERNO PRESENTE;

A VIDA – estacionária no presente – se TRANSFORMA (e evolui) há 4 bilhões de anos;

A VIDA se transforma mas se CONSERVA NO PRESENTE há 4 bilhões anos (Lei de Lavoisier);

3 - O PRESENTE NÃO PASSA, APENAS SE TRANSFORMA: nosso planeta é um PRESENTE que se


transforma há 4.6 bilhões de anos:

A TERRA Permanece no Presente há 4.6 bilhões de anos (desde a formação do Sistema Solar);

A TERRA não ENVELHECE ao se deslocar no tempo (passado – futuro); - o tempo não existe;

A TERRA se TRANSFORMA ao Permanecer no Presente; - vivemos em um ETERNO PRESENTE;


A TERRA – estacionária no presente – se TRANSFORMA há 4.6 bilhões de anos;

A TERRA se transforma mas se CONSERVA NO PRESENTE há 4.6 bil. de anos (Lei de Lavoisier);

4- O PRESENTE NÃO PASSA, APENAS SE TRANSFORMA: o Universo é um PRESENTE que se


transforma (e se expande) há 15 bilhões de anos:

O COSMOS Permanece no Presente há 15 bilhões de anos (desde o Big Bang);

O COSMOS não ENVELHECE ao se deslocar no tempo (passado – futuro); - o tempo não existe;

O COSMOS se TRANSFORMA ao Permanecer no Presente; - vivemos em u ETERNO PRESENTE;

O COSMOS – estacionário no presente – se TRANSFORMA há 15 bilhões de anos;

O COSMOS se transforma mas se CONSERVA NO PRESENTE há 15 bi. de anos (Lei de Lavoisier);

O UNIVERSO É INFINITO NÃO POR SE EXPANDIR, MAS POR SE TRANSFORMAR PERMANENTEMENTE

--------------X-----------------

NADA ENVELHECE; TUDO SE TRANSFORMA


“NADA ENVELHECE; TUDO SE CONSERVA NO PRESENTE; TUDO SE TRANSFORMA”

Lavoisier

Nada ENVELHECE ao se deslocar no tempo - o tempo não existe;


Tudo se TRANSFORMA ao Permanecer no Presente - o Presente é Absoluto.
1. VOCÊ – Estacionário no Presente – se TRANSFORMA há 23 anos.
Você não ENVELHECE ao se deslocar no tempo.

2. A VIDA – Estacionária no Presente – se TRANSFORMA (e evolui) há 4 bilhões de anos.


O milagre da VIDA não ENVELHECE ao se deslocar no tempo.

3. A TERRA – Estacionária no Presente – se TRANSFORMA há 4.6 bilhões de anos.


Nosso planeta não ENVELHECE ao se deslocar no tempo.

4. O COSMOS – Estacionário no Presente – se TRANSFORMA há 15 bilhões de anos .


O Universo não ENVELHECE ao se deslocar no tempo.

NOSSO ASTRO REI

No cerne do Sol, o hidrogênio se TRANSFORMA em hélio – e assim libera a energia essencial à


vida na Terra. O hidrogênio não ENVELHECE em hélio, concorda? Portanto...

NÃO HÁ ENVELHECIMENTO, APENAS TRANSFORMAÇÃO

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“Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, porque tanto a água quanto o homem
mudam (se transformam) incessantemente. Nada existe de
permanente a não ser a MUDANÇA.”
HERÁCLITO

A TRANSFORMAÇÃO URGE – E CONDUZ O MUNDO

1 - VOCÊ – Estacionário no Presente há 23 anos – é conduzido pela TRANSFORMAÇÃO,


não pelo tempo;
2 - A VIDA NA TERRA – Estacionária no Presente há 4 bilhões – é conduzida pela
TRANSFORMAÇÃO, não pelo tempo;

3 - A TERRA – Estacionária no Presente há 4.6 bilhões de anos – é conduzida pela


TRANSFORMAÇÃO, não pelo tempo;

4. O UNIVERSO – Estacionário no Presente há 15 bilhões de anos – é conduzido pela


TRANSFORMAÇÃO, não pelo tempo;

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Admirável Epopeia Imóvel: o mundo se transforma, evolui e se expande – sem sair do lugar

UMA EXTRAORDINÁRIA ODISSEIA ESTÁTICA

1 - VOCÊ SÓ EXISTE NO PRESENTE


VOCÊ nasceu no presente, e permanecerá aqui – Estacionário no Presente – por toda a vida.

Portanto, VOCÊ – há 23 anos – se transforma SEM SAIR DO LUGAR – ou sem sair do presente;

2 - A VIDA SÓ EXISTE NO PRESENTE


O milagre da VIDA surgiu no presente (com o Big Birth), e permanecerá aqui – Estacionária no
Presente – até... bom, até sabe-se Deus quando!* .

Portanto, a VIDA em nosso planeta – há 4 bilhões de anos – se transforma (e evolui)


SEM SAIR DO LUGAR – ou sem sair do presente;

3 - A TERRA SÓ EXISTE NO PRESENTE


Nosso planeta surgiu no presente, e permanecerá aqui – Estacionário no Presente – até...
bom, até quando for possível nos suportar*.

Portanto, a Terra – há 4.6 bilhões de anos – se transforma


SEM SAIR DO LUGAR – ou sem sair do presente;

4 - O UNIVERSO SÓ EXISTE NO PRESENTE


O Universo surgiu no presente (com o Big Bang), e permanecerá aqui – Estacionário no
Presente – até o... até o Big Crunch (?!).

Portanto, o Cosmos – há 15 bilhões de anos – se transforma (e se expande)


SEM SAIR DO LUGAR – ou sem sair do presente;

*BILHÕES E BILHÕES
Carl Sagan

“(...) Se não cuidarmos, podemos aquecer o nosso planeta pelo efeito estufa ou esfriá-lo e
escurecê-lo com uma guerra nuclear, e não podemos ignorar, claro, o perigo causado pelo
impacto de um asteroide ou um cometa. Com a chuva ácida, a diminuição da camada de
ozônio, a poluição química, a radioatividade, a destruição das florestas tropicais, e inúmeros
outros ataque ao meio ambiente, a nossa civilização pretensamente avançada pode estar
alterando o delicado equilíbrio ecológico que a Vida na Terra evoluiu com dificuldade ao longo
de 4 bilhões de anos. (...).

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Parabéns, todo o Universo, por mais 1 anos de vida.

FELIZ ANIVERSÁRIO
Como estará o mundo no próximo ano, após 365 dias de Permanência no Presente?

VOCÊ estará 1 ano mais TRANSFORMADO* , não 1 ano mais velho;

VOCÊ luta para Permanecer no Presente, não para sobreviver ao tempo;


A VIDA na Terra estará 1 ano mais TRANSFORMADA, não 1 ano mais velha;

A VIDA em nosso planeta luta para Permanecer no Presente, não para sobreviver ao tempo

A TERRA estará 1 ano mais TRANSFORMADA, não 1 ano mais velha;

A TERRA luta para Permanecer no Presente, não para sobreviver ao tempo;

O UNIVERSO estará 1 ano mais TRANSFORMADO, não 1 ano mais velho;

O UNIVERSO luta para Permanecer no Presente, não para sobreviver ao tempo;

*METAMORFOSE AMBULANTE
- Toca Raul! -

COMO VOCÊ SE TRANSFORMA AO PERMANECER NO PRESENTE ?

explicação

tudo que vc come se TRANSFORMA em você; tudo que vc bebe se TRANSFORMA em você;
tudo que vc fuma se TRANSFORMA em você; tudo que vc cheira se TRANSFORMA em você;
tudo que vc respira (inclusive o ar poluído) se TRANSFORMA em você, etc. Entendeu?

Mas, você diria, estou habituado a só comer porcaria, beber porcaria e coisas do gênero. Bom,
nesse caso... nesse caso passemos ao próximo capítulo.

RIOBALDO SE TRANSFORMA

“O senhor... Mire, veja; o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não
estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, - mas que elas vão sempre MUDANDO.
Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão.”
GRANDE SERTÃO – VEREDAS
Guimarães Rosa

OBS: como já dito, este assunto (a ilusão do tempo) será esclarecido no cap. XXIV:
UMA BREVE FÁBULA DO ESPAÇO-TEMPO ,– A INEXISTENTE 4ª DIMENSÃO.

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CAPÍTULO

IV
A EXPECTATIVA DE VIDA – EM UM PRESENTE ABSOLUTO
- Sobre a Brevidade da Vida – em um Eterno Presente -

UM BREVE CONTO DE DUAS ROSAS VULGARES

“(...) Quero crer que este costume nasce da ‘Brevidade da Vida’. Para as rosas, escreveu
alguém, o jardineiro é eterno. E que melhor maneira de ferir o eterno que mofar de suas iras?
Eu passo, tu ficas; mas eu não fiz mais que florir e aromar, servir a donas e a donzelas, fui
letra de amor, ornei a botoeira dos homens, ou expiro no próprio arbusto, e todas as mãos, e
todos os olhos me trataram e me viram com admiração e afeto. Tu não, ó eterno; tu zangas-te,
tu padeces, tu choras, tu afliges-te! A tua eternidade não vale um só dos meus minutos. (...).”
QUINCAS BORBA
Machado de Assis

EXPECTATIVA DE VIDA

Considerando que o Presente é Absoluto, esta expressão deve ser interpretada como...

EXPECTATIVA DE PERMANÊNCIA NO PRESENTE


Leia os exemplos a seguir:

A - VOCÊ: como a ‘Expectativa de Vida Humana’ é de 80 anos, significa que você, ao nascer –
salvo dos infortúnios da vida – dispõe de 80 anos para Permanecer no Presente, -
independente dos ponteiros do relógio;

B – Efemerópteros: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 24 horas. Significa que esse belo
inseto
aquático, ao nascer, dispõe de apenas de 1 dia para Permanecer no Presente – independente
dos ponteiros do relógio;

C– Borboleta-Monarca: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 40 dias. Significa que esse belo
inseto migratório, ao nascer – salvo do inseticida que envenenam as plantas onde elas põem
seus ovos – dispõe de 40 dias para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do
relógio;

E - Pernilongo: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 3 meses. Significa que esse querido
mosquito hematófago, ao nascer - salvo da raquete elétrica - dispõe de 90 dias para
Permanecer no Presente (e azucrinar nossas vidas) – independente dos ponteiros do relógio;

F - Abelhas: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 5 meses. Significa que esse inseto (crucial para
o equilíbrio dos ecossistemas), ao nascer, dispõe de 5 meses para Permanecer no
Presente – independente dos ponteiros do relógio;

G - Baratas: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 6 meses. Significa que esse adorável inseto,
ao nascer – salvo das chineladas da vida – dispõe de 6 meses para Permanecer no
Presente – independente dos ponteiros do relógio;

H - Ratos: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 4 anos. Significa que esse mamífero roedor,
ao nascer – salvo das ratoeiras da vida – dispõe de 4 anos para Permanecer no
Presente – independente dos ponteiros do relógio;

I – Boto-cor-de-Rosa: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 7 anos. Significa que esse golfinho
fluvial, ao nascer – salvo da pesca criminosa – dispõe de 7 anos para Permanecer no
Presente – independente dos ponteiros do relógio;
J – Gato-Maracajá: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 13 anos. Significa que esse caçador
noturno de aves domésticas, ao nascer – salvo de atropelamentos e da caça por retaliação –
dispõe de 13 anos para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;

K – Ariranha: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 20 anos. Significa que esse carnívoro
semiaquático, ao nascer – caso sobreviva à perda de seu habitat – dispõe de 20 anos para
Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;

L – Tubarão-Azul: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 20 anos. Significa que esse belo seláquio,
ao nascer – caso escape de transformar-se em sopa de barbatana numa birosca da China –
dispõe de 20 anos para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;

M – Pinguim-de-Magalhães: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 25 anos. Significa que essa


bela ave marinha, ao nascer – salvo da poluição e da degradação do seu habitat – dispõe de 25
anos para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;

N – Jumento do Gonzagão (“que é nosso irmão”): têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 30 anos.
Significa que esse injustiçado quadrúpede, ao nascer – salvo dos açoites e do abandono, pois
foram substituídos por motos – dispõe de 30 anos para Permanecer no Presente –
independente dos ponteiros do relógio.

O – Rinoceronte-de-Java: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 35 anos. Significa que esse raro
mamífero, ao nascer – salvo da matança covarde e criminosa – dispõe de 35 anos para
Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;

P – Peixe mero: têm uma ‘expectativa de Vida’ de 40 anos. Significa que esse peixe dócil e de
grande porte, ao nascer – salvo da pesca predatória – dispõe de 40 anos para Permanecer no
Presente – independente dos ponteiros do relógio;

Q – Gorila-das-Montanhas: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 40 anos. Significa que esse


magnífico primata, ao nascer – salvo da caça ilegal, doenças e desmatamento – dispõe de 40
anos para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;
R - Elefante: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 80 anos. Significa que esse magnífico
e inteligente mamífero, ao nascer - salvo do ensandecido risco da extração e comércio do
marfim – dispõe de 80 anos para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do
relógio.

S – Molusco Bivalve: têm uma ‘Expectativa de Vida’ de 500 anos. Significa que esse molusco,
ao nascer - graças ao seu extraordinário metabolismo lento - dispõe de 500 anos para
Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;

T - Chimpanzés: nosso irmão mais próximo em DNA (99.4 % semelhante), têm uma
‘Expectativa de Vida’ de 40 anos. Isto significa que esse quase humano*, ao nascer – salvo da
caça predatória, epidemias, cativeiro, domesticação, cobaia de laboratório, etc. – dispõe de 40
anos para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio.

*falta-lhe tão somente evoluir a MEMÓRIA.

“Marley & Eu” – A Saga Continua


- Você tem 23 anos de idade; seu inseparável vira-lata tem 5 anos de idade -

K. VOCÊ – 23 ANOS: você, portanto, já Permaneceu no Presente por 23 anos. Considerando


que a nossa ‘Expectativa de Vida’ é de 80 anos, significa que você ainda dispõe de 57 ANOS
para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros do relógio;

L. BOB – 5 ANOS: seu cão de rua, portanto, já Permaneceu no Presente por 5 anos.
Considerando que sua ‘Expectativa de Vida’ é de 15 anos, significa que seu querido amigo
rafeiro ainda dispõe de 10 ANOS para Permanecer no Presente – independente dos ponteiros
do relógio.

G1 – 20/12/2016
À Mell

“A Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula que no Brasil existam mais de 30 milhões de
animais nas ruas das cidades. Destes, 20 milhões são cachorros. (...).”
OBS: como já foi dito, este assunto (a ilusão do tempo) será esclarecido no cap. XXIV:

UMA BREVE FÁBULA DO ESPAÇO-TEMPO ,– A INEXISTENTE 4ª DIMENSÃO.

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CAPÍTULO

V
DURAÇÃO - PERÍODO DE EXISTÊNCIA - LONGEVIDADE

A MEDIDA DE PERMANÊNCIA DAS COISAS


(A IDADE DAS COISAS – NO PRESENTE ABSOLUTO)

Veremos a seguir alguns exemplos para demonstrar como se calcula o ‘Período de Duração das
Coisas’ – em um PRESENTE ABSOLUTO...

1. VOCÊ (“nascido em 1999”): Permanece no Presente há.............................. 23 anos (PP=23);

2. Torres Gêmeas – WTC (1973 - 2001): Permaneceu no Presente por............28 anos (PP=28);

3. Ópera de Arame (1992): Permanece no Presente há................................. 30 anos (PP=30);

4. Parque Nacional Serra da Capivara (1979): Permanece no Presente há.....43 anos (PP=43);
5. Casa da Ópera – Sydney (1973): Permanece no Presente há..................... 49 anos (PP=49);

6. Estátua do Padre Cícero (1969): Permanece no Presente há......................53 anos (PP=53);

7. Revolver - The Beatles (1966): Permanece no Presente há........................ 56 anos (PP=56);

8. Cristo Redentor (1931): Permanece no Presente há................................... 91 anos (PP=91);

9. Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (1907): Permanece no Presente há 115 anos (PP=115);

10. Igreja Monte Bom Jesus (1902): Permanece no Presente há..................120 anos (PP=120);

11. Teatro Amazonas (1896): Permanece no Presente há............................126 anos (PP=126);

12. Torre Eiffel (1889): Permanece no Presente há .....................................133 anos (PP=133);

13. Estátua da Liberdade (1885): Permanece no Presente há ....................137 anos (PP=137);

14. Elevador Lacerda (1869): Permanece no Presente há............................153 anos (PP=153);

15. Ponte Duarte Coelho (1868): Permanece no Presente há......................154 anos (PP=154);

16. Big Ben (1859): Permanece no Presente há....... .................................. 163 anos (PP=163);

17. Caruaru - PE (fundação - 1857): Permanece no Presente há.................165 anos (PP= 165);

18. 12 Profetas (Aleijadinho): Permanece no Presente há ......................+ 200 anos (PP=200);

19. Taj Mahal (1632): Permanece no Presente há...................................... 390 anos (PP=390);

20. Forte dos Reis Magos (1599): Permanece no Presente há.................... 423 anos (PP=423);

21. Mona Lisa (da Vinci): Permanece no Presente há.............................. + 500 anos (PP=500);

22. Torre de Pisa (1173): Permanece no Presente há................................. 849 anos (PP=849);

23. Coliseu de Roma (70 dC.): Permanece no Presente há quase........... 2000 anos (PP=2000);

24. Muralha da China: Permanece no Presente há ............................+ 2000 anos (PP=2000);

25. Árvore do Gen. Sherman*: Permanece no Presente há ................+ 4000 anos (PP=4000);

26. Pirâmides de Egito: Permanece no Presente há .............................+ 4700 anos (PP=4700);

27. Nosso Planeta: Permanece no Presente há........................4.6 bilhões de anos (PP=4.6 b.);

28. O Milagre da Vida (Big Bith): Permanece no Presente há.............4 bilhões anos (PP=4 b.);

29. Nosso Universo (Big Bang): Permanece no Presente há.......... 15 bilhões anos (PP=15 b.);

30. FÓSSIL: é um fragmento de uma antiga forma que resistiu à Força de Transformação do
mundo, e conseguiu se conservar e PERMANECER NO PRESENTE por milhares, - e até milhões
de anos. Por exemplo: LUZIA*...

*LUZIA
(Scielo, out/2009)
por Verlan valle e Ricardo Ventura
“O crânio de uma mulher escavado em Lagoa Santa, MG, na década de 1970, tornou-se um
ícone científico e cultural do Brasil. LUZIA é tida como um dos mais antigos remanescentes
ósseos humanos das Américas, com aproximadamente 11.500 anos. Neste trabalho, (...) o
espécime foi transubstanciado em um indivíduo dotado de características pessoais próprias,
relacionado à ancestralidade biológica e cultural do povo brasileiro. (...)”.

O FÓSSIL DE LUZIA

LUZIA resistiu à Força de Transformação do Mundo, e conseguiu Permanecer no Presente por


cerca de 11.500 anos. Os fósseis são as MEMÓRIAS da Terra; verdadeiros heróis da resistência;
insurgentes da transformação.

LUZ SOB LUZIA


- Mais um epitáfio no País das Más Notícias -

Enquanto escrevo sobre LUZIA (trágica, infeliz coincidência), é reportado pela TV


(Fantástico – rede Globo) um incêndio no Museu Nacional - RJ. Presumo que LUZIA
resistiu à ‘Força de Transformação da Natureza’; mas, lamentavelmente, não resistirá à nossa
irresponsabilidade. É triste, muito triste!

Fóssil é um milagre que resistiu à Força de Transformação de Mundo e conseguiu


Permanecer no Presente, - para se tornar...

AS LEMBRANÇAS DA TERRA

“Tornar-se um fóssil não é fácil. O destino de quase todos os organismos vivos – mais de 99.9%
deles – é reduzir-se a nada. Quando sua chama se apagar, cada molécula sua será arrancada
ou fluirá de você para ser posta em uso em outro sistema (como parte de uma folha, outro ser
humano ou uma gota de orvalho, - por exemplo). É assim que as coisas funcionam. Mesmo que
você consiga fazer parte do pequeno grupo de organismos, inferior a 0,1%, que não são
devorados, as chances de ser fossilizado são ínfimas. Para um organismo tornar-se fóssil,
muitas coisas precisam acontecer. Primeiro, é preciso que ele morra no lugar certo. Somente
15% das rochas conseguem preservar fósseis, de modo que não adianta perecer num local de
futuro granito. Em termos prático, o falecido precisa ser enterrado em sedimento, onde possa
deixar uma impressão, como uma folha em lama úmida, ou decompor-se sem exposição ao
oxigênio, permitindo que as moléculas de seus ossos e das partes duras (e, muito
ocasionalmente, das partes mais moles), sejam substituídos por minerais dissolvidos, criando
uma cópia petrificada do original. Depois, à medida que os sedimentos em que jaz o fóssil
forem indiferentemente pressionados, dobrados e sacudidos pelos processos da Terra, o fóssil
precisará, de alguma maneira, preservar uma forma identificável (e se Conservar no Presente).
Finalmente, mas acima de tudo, após permanecer (no PRESENTE por) dezenas, ou talvez
centenas, de milhões de anos oculto, ele precisa ser encontrado e reconhecido como algo que
vale a pena conservar. (...). Os fósseis são, em todos os sentidos, raríssimos. (...)”

UMA BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO


Bill Bryson

Antes de concluir este breve capítulo, falaremos mais um pouco sobre o RELÓGIO...

O OVO DE NUREMBERG
- PRIMEIRO INVENTAMOS O TEMPO; EM SEGUIDA CONSTRUÍMOS O RELÓGIO –

“(...). No velho radinho de pilha, a canção chegou ao fim, e o locutor disse, Atenção, ao terceiro
sinal serão quatro horas. Uma das cegas perguntou, rindo, Da tarde, ou da madrugada, e foi
como se o riso lhe doesse. Disfarçadamente, a mulher do médico acertou o relógio (que havia
parado) e deu-lhe corda, as quatro eram as da tarde, Ainda que, na verdade, a um relógio
tanto lhe faz, vai da uma às doze, o mais são ideias dos humanos.”
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
José Saramago

1 - O Relojoeiro Cego: como acabamos de constatar nos 30 exemplos acima citados, o


RELÓGIO, como um instrumento de medição comum, serve tão somente para medir o quanto
as coisas Permanecem no Presente – e é só. Pois O TEMPO NÃO EXISTE, e nós, portanto, não
vivemos no limiar do TIC-TAC do relógio.

Na realidade, o Presente é Absoluto, e, por conseguinte, nós vivemos em um ETERNO


PRESENTE – Ou seja...

‘LUTAMOS para Permanecer no Presente; não para sobreviver ao TEMPO’


em outras palavras
nós não vivemos no DECORRER DO TEMPO – nós vivemos no DECORRER DO PRESENTE

2 - RELÓGIO – O Inimigo Imaginário: contrariando o grande poeta gaúcho Mário Quintana


(citação abaixo), nós, bípedes, ao nascermos, dispomos de aproximadamente 80 ANOS para
Permanecer no Presente, - independente dos ponteiros do relógio.

Portanto, nós NAÕ vivemos nos limites dos ponteiros do relógio; NÃO vivemos no limite da
passagem do tempo; NÃO vivemos no tempo; NÃO existe tempo.

“O mais feroz dos animais domésticos é o Relógio de Parede: conheço um que


já devorou três gerações da minha família”.
Mário Quintana

“O tempo é uma construção artificial que sobrepomos a nós e à qual nos submetemos (...).
É quando perdemos a noção do tempo que medimos bem o seu artificialismo.”
VERGÍLIO FERREIRA
- escritor e professor português -

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ILUSÕES VISUAIS EM NOSSO CÉREBRO

“A imaginação humana é assim, às vezes pega em coisas reais e transformam-nas em visões,


outras vezes põem o delírio a jogar às escondidas com a realidade, por isso é tão frequente
confessarmos que não sabemos a quanta andamos, a imaginação a puxar de um lado, a
realidade a empurrar do outro, Em boa verdade, a linha reta só existe na geometria, e ainda
assim não passa de uma abstração”.
A CAVERNA
José Saramago

3 - FICÇÃO & REALIDADE - Confusões Visuais em Nosso Cérebro: na definição de REALIDADE


tem-se que é tudo aquilo que possui existência verdadeira. Nós, bípedes, temos a aptidão para
ver a REALIDADE e interpretá-la em nosso cérebro. O problema é que as IMAGENS da
realidade quando transportadas para o nosso cérebro podem ser involuntariamente
deturpadas.

4 – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: o nosso CÉREBRO, no


entanto, ignora que o universo é estático – Estacionário no Presente – e cria a ILUSÃO VISUAL
de que o mundo se desloca numa inexistente Esteira do Tempo (passado – futuro). Da mesma
forma que...cérebro , no entanto, ignora que o nosso Universo é Estático – ESTACIONÁRIO NO
PRESENTE, - e cria a ILUSÃO VISUAL de que o mundo se desloca numa inexistente Esteira do
Tempo (passado – futuro). Da mesma maneira que...

5 – Do Geocentrismo aos Excêntricos Terraplanistas: o nosso cérebro ignora o formato


circular do nosso planeta, e cria a ILUSÃO VISUAL de que a Terra é plana. Assim como, da
mesma maneira, o nosso cérebro ignora o Heliocentrismo (comprovado por Copérnico,
Galilei...), e cria a ILUSÃO VISUAL de que o Sol gira em torno da Terra. Leia as 2 citações
portuguesas, com certeza:

I. O SOL DOS MAIA – EÇA DE QUEIRÓS

“Diz Afonso da Maia que – ao contrário do neto, Carlos – o pequeno Eusebinho passava o dia
nas saias da titia a decorar versos, páginas inteiras do Catecismo de Perseverança. Ele por
curiosidade um dia abrira este livreco e vira lá << que o Sol é que anda em volta da Terra -
como antes de Galileu , - e que o nosso Senhor todas as manhãs dá as ordens ao Sol, para
onde há de ir e onde há de parar, etc., etc. >>. E assim lhe estavam arranjando uma almazinha
de bacharel...”

II. O SOL DE JOSUÉ – JOSÉ SARAMAGO


“—Um súbito fez abrir a boca de Josué, -- Que não podes fazer parar o Sol (?!), perguntou e a
voz tremia-lhe porque cria estar proferindo, ele próprio, uma horrível heresia,

-- Não posso fazer parar o Sol (respondeu Deus) porque parado já ele está; sempre o esteve
desde que o deixei naquele sítio,

-- Tu és o Senhor (insistiu Josué), tu não podes equivocar-te, mas é isso que os meus OLHOS
veem (cérebro – vemos no cérebro), o Sol nasce naquele lado, viaja todo o dia pelo céu e
desaparece no lado oposto, até regressar na manhã seguinte, (...).

– Não, homem, os teus olhos (cérebro) iludem-te, (respondeu Deus) a Terra move-se, dá voltas
sobre si mesma (rotação) e vai rodopiando pelo espaço (translação) ao redor do Sol,

-- Então, se assim é, manda parar a Terra, (...), a mim é-me indiferente desde que possa acabar
com os amorreus,

-- Se Eu fizesse parar a Terra, Josué, não se acabariam só os amorreus, acabava-se o mundo,


acabava-se a humanidade, acabava-se tudo....

OBS: como já foi dito, este assunto (a ilusão do tempo) será esclarecido no cap. XXIV:

UMA BREVE FÁBULA DO ESPAÇO-TEMPO ,– A INEXISTENTE 4ª DIMENSÃO.

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Considerando que a arte prescinde de atualizações, finalizaremos este capítulo citando 11 composições
que abordam o TEMPO. Pois, parafraseando o Poeta...

O TEMPO NÃO É PRECISO; A POESIA É PRECISO

TIME
Pink Floyd

“O “tic-tac” vai marcando cada momento de mais um dia monótono; E você ainda perde
tempo gastando as horas de modo descuidado; Perambulando por aí, em sua terra natal;
Esperando alguém ou algo que te mostre o caminho; (...). Cada ano vai ficando
mais curto; Parece não haver mais tempo (...); Planos que dão em nada; Ou meia página de
linhas rabiscadas; Esperar em quieto desespero... O tempo se foi, a música chega ao fim (...).”

ORAÇÃO AO TEMPO
Caetano Veloso

“Por seres tão inventivo; E pareceres contínuo; TEMPO, tempo, tempo, tempo; És um dos
deuses mais lindos; E quando eu tiver saído; Para fora do teu círculo; TEMPO, tempo, tempo,
tempo; Não serei nem terás sido; Ainda assim acredito; Ser possível reunirmo-nos; TEMPO,
tempo, tempo, tempo; Num outro nível de vínculo;

TEMPO REI
Gilberto Gil

“Não me iludo; Tudo permanecerá do jeito que tem sido; Transcorrendo; Transformando;
Tempo e espaço navegando todos os sentidos; Pães de Açúcar, Corcovados; Fustigados pela
chuva e pelo eterno vento; Água mole, pedra dura; Tanto bate que não restará nem
pensamento; Não se iludam, não me iludo; Tudo agora mesmo pode estar por um segundo;
Tempo Rei! Oh, Tempo Rei! Oh, Tempo Rei! Transformai as velhas formas do viver; Ensinai-me,
oh, Pai! O que eu ainda não sei; Mãe Senhora do Perpétuo socorrei!

O TEMPO NÃO PARA


Cazuza

“Disparo contra o Sol; Sou forte, sou por acaso; Minha metralhadora cheia de mágoas; Eu sou
um cara; (...); Dias sim, dias não; Eu vou sobrevivendo sem um arranhão; Da caridade de quem
me detesta; A tua piscina tá cheia de ratos; Tuas ideias não correspondem aos fatos; O tempo
não para; Eu vejo o futuro repetir o passado; Eu vejo um museu de grandes novidades; O
tempo não para; Não para, não, não para; (...);

TEMPO PERDIDO
Legião Urbana

“Todos os dias quando acordo; Não tenho mais o tempo que passou; Mas tenho muito tempo;
Temos todo o tempo do mundo; Todos os dias antes de dormir; Lembro e esqueço como foi o
dia; Sempre em frente; Não temos tempo a perder; Nosso suor sagrado; É bem mais belo que
esse sangue amargo; E tão sério; E selvagem; Selvagem; Selvagem; (...); Temos nosso próprio
tempo; Temos nosso próprio tempo; Temos nosso próprio tempo; (...);
TEMPOS MODERNOS
Lulu Santos

“Eu vejo a vida melhor no futuro; Eu vejo isso por cima de um muro; De hipocrisia que insiste
em nos rodear; (...); Eu vejo um novo começo de era; De gente fina, elegante e sincera; Com
habilidade pra dizer mais sim do que não, não, não; Hoje o tempo voa, amor; Escorre pelas
mãos; Mesmo sem se sentir; Que não há tempo que volte, amor; Vamos viver tudo que há pra
viver; Vamos nos permitir.”

INDO COM O TEMPO


Zé Ramalho

“O tempo vai passando, E com ele eu vou, Não deixo para trás, Nada do que eu sou, Me lembro
claramente, De tudo que eu vivi, Até a fase negra, Dela não esqueci, Será que chegarei, Na
terra prometida? Ou atravessarei, O túnel de luz, (...).”

TEMPOS INSANOS
Karol Conka

“— (...). Nem preciso dizer que eu tô no comando; Nesse barco só fica quem estiver remando;
Carta na manga, já tenho os meus planos; Eu tô deslizando em Tempos Insanos; (...). Minha
proteção começa pela manhã; Me preparo pro que vem amanhã; Minha proteção começa pela
manhã; Me preparo pro que vem amanhã; (...).”

O TEMPLO DO TEMPO
Flaira Ferro

“Eu sou o templo do tempo; O tempo acontece em mim; No meu rosto, na minha pele; No meu
modo de vestir; Sou um rio de horas; E um mar de segundos; Sou vazio agora; Amanhã eu sou
profundo; Revejo o passado; Anseio o futuro; Procuro um relógio; Pra não ser vagabundo; (...).”

SOBRE O TEMPO
Pato Fu

“Tempo, tempo, mano velho; Falta um tanto ainda, eu sei; Pra você correr macio; Como zune
um novo sedã; Tempo, tempo, tempo, mano velho; Vai, vai, vai – Vai, vai, vai; Tempo amigo,
seja legal; Conto contigo pela madrugada; Só me derrube no final; (...).”
RESPOSTA AO TEMPO
Nana Caymmi

“Batidas na porta da frente; É o tempo; Eu bebo um pouquinho; Pra ter argumento; Mas fico
sem jeito, calado, ele ri; E ele zomba do quanto eu chorei; Porque ele sabe passar; E eu não sei;
(...). Respondo que ele aprisiona, eu liberto; Que ele adormece as paixões, eu desperto; E o
tempo se rói com inveja de mim; Me vigia querendo aprender; Como eu morro de amor; Para
tentar reviver. (...).”

O Tempo no Cérebro de Bernardo


“Sabe o pior que acontece comigo, Clara?... O tempo. O tempo que cresceu, engordou, e o dia
não acaba... Quando eu ficava bêbado, ele tinha menos horas, agora tem não sei quantas, e é
uma agonia, te juro. Quero que chegue a noite para eu dormir e, quando me deito, durmo duas
horas e acordo sem sono e... me apavoro porque sei que tenho mais tempo (de Permanência
no Presente) para pensar (nas lembranças da sua vida), um dia mais longo para viver sem
saber muito bem que porra vou fazer (com o tempo de Permanência no Presente que ainda lhe
resta).

Dust In The Wind – Kansas


Leonardo Padura

O Tempo no Tempo da Escravidão


Tempo implacável para os Escravos – Tempo ocioso para os para os Senhores

“O tempo é como farinha numa peneira: não se pode impedir que escorra rápido até sobrar
apenas o que não pode passar em seus orifícios. E ele seguiu o seu curso implacável para os
que cumpriam as tarefas braçais da vida (como por exemplo: “cortar cerca de 15 toneladas
diárias de cana, do alvorecer ao anoitecer, em jornadas de mais de 12 horas” – de
Permanência no Presente*); mas esse mesmo tempo fluía em seu passo lento para os que
desfrutavam do ócio nada produtivo (“viagens, festas, futricas, conchavos políticos, conluios
comerciais”). A maioria dos Senhores apenas arrumavam formas de (*Permanecer no
Presente, e) não fazer nada. Maneiras inventivas certamente, mas mesmo assim inúteis.
É possível especular que alguns se convencessem de que aquela era o ordem natural das
coisas, que a gente preta havia nascido para aquilo mesmo, e destas tarefas jamais sairiam;
mas também é provável que outras nunca se conformassem com esta ordem. (...)”

*A Percepção da Permanência no Presente é pessoal, e, portanto, diferente para cada indivíduo. Por
exemplo: a sensação de quem Permanece no Presente – durante 12 horas – cortando cana é
completamente diferente da sensação de quem Permanece no Presente – durante 12 horas –
fofocando.

ÁGUA DE BARRELA
Eliana Alves Cruz

OBS: como já foi dito, este assunto (a ilusão do tempo) será esclarecido no cap. XXIV:

UMA BREVE FÁBULA DO ESPAÇO-TEMPO ,– A INEXISTENTE 4ª DIMENSÃO.

no Cap. XXIV (UMA BREVE FÁBULA DO ESPAÇO-TEMPO: a inexistente 4ª DIMENSÃO)


abordaremos novamente este assunto.

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NO LIVRO DO NOSSO CÉREBRO


CADA LEMBRANÇA = UMA PÁGINA DA VIDA

“FANTASMA DO PAI: (...). Adeus, devo agora partir! Os pirilampos anunciam que a madrugada
se aproxima. Adeus! Adeus, Hamlet! LEMBRA-TE DE MIM!

HAMLET: Ó legiões do céu! Ó Terra! Que mais? Invocarei o inferno? Não, aquieta coração! Não
fiqueis arruinados de súbito, músculos; aguentai-me! QUE ME LEMBRE DE TI? Sim, pobre
fantasma, sim! Enquanto minha MEMÓRIA tiver sede neste mundo desvairado, NÃO ME
ESQUECEREI DE TI! Sim, pois hei de varrer das PÁGINAS DA MEMÓRIA todas as reminiscências
frívolas, as vãs sentenças poéticas, os vestígios da juventude que aí ficaram; e apenas a página
do teu mandamento hei de preservar no LIVRO DO MEU CÉREBRO, - limpo de reles lembranças.
Sim! Sim! Por Deus! Jurei-o. Assim seja. “
SHAKESPEARE
(trecho do filme de, e com Laurence Olivier – 1948)

O PASSADO EM NOSSO CÉREBRO

Neste capítulo veremos que, ao evoluir a MEMÓRIA (aptidão para preencher o cérebro com as
lembranças da nossa vida: Infância, juventude, maturidade), criamos a ilusão passado, e,
consequentemente, A ILUSÃO DO TEMPO - em nossos miolos.

CAPÍTULO

VI
CÉREBRO
A FANTÁSTICA FÁBRICA DO PASSADO - DE CADA UM
(Cada cabeça – um Passado)

“O passado, aí tendes o que nós somos.


Não há uma outra forma de julgar e definir um homem”.
Oscar Wilde

“A vida é igual um LIVRO. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando
estamos no fim da vida é que sabemos como nossa vida decorreu. A minha, até aqui,
tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.”
QUARTO DE DESPEJO
Carolina Maria de Jesus

O Livro Selvagem
1 – Uma Breve História de um Livro em Branco: o Presente é Absoluto - ou seja, vivemos em
um Eterno Presente. Nesta condição, VOCÊ – como um livro a ser escrito – nasce com o
cérebro VAZIO: sem conteúdo, sem história, sem passado.

No entanto, no decorrer da sua existência (Permanência no Presente), VOCÊ vai gradativa-


mente preenchendo sua cabeça (Linha da Memória) com as lembranças da sua vida: infância,
juventude, maturidade.

E assim, escreve a história da sua vida, e constrói o seu PASSADO – no cérebro.

--“Vejo que o senhor jornalista não acredita que uma pessoa possa refazer a sua vida com
uma identidade diferente e um genuíno sentimento de pertencimento relativo ao país que o
acolheu (diz o agora Paulo Costa Pinto, brasileiro, - outrora Jean Mpuanga, congolês).

-- Não, não consegue. – Diz categórico Daniel Benchimol. Uma pessoa é o seu PASSADO; e o
PASSADO não muda. “

“O cão que sabe matar também tem de saber carregar


(no cérebro – a lembrança do) o que matou”

Hossi Apolónio Kaley

A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS


José Eduardo Agualusa

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“Que mundo prodigioso eu tenho em minha cabeça!”


Wer War Kafka?

2 – Mundo, Mundo, Vasto Mundo – mais vasto é meu CÉREBRO (à Drummond): por
subestimar a Vastidão Infinita do nosso CÉREBRO, criamos a ilusão de que as LEMBRANÇAS da
nossa vida (infância, juventude, maturidade) estão - fora do nosso cérebro - distribuídas na
inexistente Esteira do Tempo que Passou.

Na realidade, todas as LEMBRANÇAS da nossa vida estão contidas/impressas nas


profundezas do nosso CÉREBRO – distribuídas em nossa Linha da Memória.
Observe a ilustração abaixo...
(diário de recordações dotadas de vida e movimento)

BIOLEMBRANÇAS
- AUTOBIOGRAFIA CONSTRUÍDA COM NOSSAS LEMBRANÇAS – NO INTEROR DO CÉREBRO -

TÃO GRANDE; TÃO PERTO


- TODAS AS LEMBRANÇAS DA NOSSA VIDA – CONTIDAS NAS PROFUNDEZAS DO CÉREBRO SEM-FIM –

“Como chamar o pequeno de pequeno, e o grande de grande, quando um e outro são


igualmente infinitos? Já faz tempo que não os diferencio. Para mim, uma pessoa já é tanto.
Dentro dela há de tudo (um universo inteiro construídos com lembranças pessoais). – É possível
se perder ali”.
SVETLANA ALEKSIÉVITCH

BRAIN TIME
3 – O Passado em Nossos Miolos: observe a ilustração acima... o PASSADO ( as lembranças da
nossa vida: infância, juventude, maturidade) só existe em nosso cérebro; o TEMPO, portanto,
é uma ilusão causada pela evolução da MEMÓRIA - na cabeça do homem.

“ O passado não reconhece o seu lugar; está sempre presente. “


(em nosso cérebro)
Mário Quintana

TBT - A MÁQUINA DO TEMPO NEUROLÓGICA


Túnel do Tempo = Túnel da Memória

4 – RELÓGIO INTERIOR -- Autoestrada de Lembranças Pessoais: Assim sendo, VOCÊ não


regressa na inexistente Esteira do Tempo para lembrar da sua infância, por exemplo. Na
realidade, VOCÊ regressa em sua Linha da Memória (dentro do seu cérebro) para recordar a
saudosa aurora da sua vida – Ah! Eu era feliz e não sabia!

“A Infância (boa ou má) há de ficar para sempre na memória de todos, nítida e insuperável,
muito acima de qualquer outra fase da vida.”
Sérgio Porto

“Por que sou capaz de (regressar na Linha da Memória – dentro do cérebro, e) relembrar assim
fatos de épocas longínquas? Por que a qualquer momento uma história qualquer se presta à
ressurreição de (...) coisas que nenhum retrato guardou e que tomaram parte ativa na minha
vida passada? Por que está tudo assim tão gravado em mim (as lembranças são indeléveis)?
Nem sequer preciso fechar os olhos para encontrar figuras (lembranças de episódios) de minha
infância. (...). O que relembro hoje é realmente minha infância ou colaboro com minha
imaginação atual? Estou vestindo agora com roupagens novas minhas velhas lembranças ou
estão elas com a mesma roupa do momento em que ocorreram? Vivi tudo o que relembro?
(...). Sim, sim, recordo muito bem; vestia sempre azul-claro e branco e, de início, minha infância
turbulenta e sadia não prestou nenhuma atenção ao fato. (...).”
CRÔNICA: PROMESSA EM AZUL E BRANCO
Eneida Costa de Morais
“Eu já estivera ali, não estivera, muito tempo atrás? Tinha certeza que sim. As memórias
de infância às vezes são encobertas e obscurecidas pelo (outras lembranças de episódios)
que vem depois, como brinquedos antigos esquecidos no fundo de um armário
abarrotado de um adulto, mas nunca se perdem por completo.”
O OCEANO NO FIM DO CAMINHO
Neil Gaiman

A Ilusão da Efemeridade do Tempo

5 – Lembranças Passageiras: as LEMBRANÇAS da sua infância (as mais antigas) vão se


distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro – em vermelho na ilustração). No
entanto, criam a ilusão de que se distanciam na inexistente Esteira do Tempo que Passou.

“Talvez a minha juventude foi demasiado breve.


O tempo passa e se passa em vão com ele”.
Wer War Kafka?

A juventude de Franz Kafka*, ao contrário do que ele imaginava, não se distanciou na


inexistente Esteira do Tempo – o tempo não existe. Na realidade, as lembranças da sua
juventude se distanciaram em sua LINHA DA MEMÓRIA – dentro do seu cérebro.
* O autor será citado no cap. XX.

A Bagagem do Viajante Solitário


“You’re gonna Carry That Weight”
The Beatles

6 – LEMBRANÇAS – nossa maior e mais fiel companheira: cada indivíduo carrega – em sua
cabeça – o peso de suas lembranças; ou o fardo do seu passado; ou ônus da existência; ou o
filme da sua vida.

E não importa onde esteja ou aonde vá, dia e noite, dormindo ou acordado,
transportamos NO CÉREBRO o fardo das nossas recordações.
“Por mais que você corra, seu passado sempre te alcança.”

“Cada um arrasta seus medos. Só que alguns pesam mais que outros. (...). Por mais que você
caminhe, por mais que se afaste, seu inferno pessoal (as boas e más lembranças)
sempre vai junto (dentro do cérebro).”
Como Poeira ao Vento
Leonardo Padura

Fantasiando o Passado
“Em geral, Lavínia detestava abordar seu passado (as lembranças de sua vida: infância,
juventude, maturidade). Significava reabrir feridas, revisitar um mundo de privações e
violências. Para contentar clientes que perguntavam sobre sua vida pregressa, ela costumava
mentir. Inventava biografias falsas ao sabor de seu estado de espírito na hora. Uma de suas
mentiras prediletas: apresentava-se como a ovelha negra de uma família capixaba tradicional,
uma família arruinada, que a obrigava a prostituir-se para pagar dívidas. Fantasias que
serviam para protegê-la da lembrança dos episódios de uma dureza absurda de seu (real)
passado. Um pântano pegajoso que ainda a atormentava. (...).”
EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS
Marçal Aquino

Cuspindo o Passado
“Na minha boca, a pasta tinha endurecido, formando uma espécie de espuma leitosa, e estava
começando a escorrer pelos cantos. Cuspi tudo. -- Escovar. Escovar. Cuspir. – Escovar. Escovar.
Cuspir. Por que será que meu pai nunca me disse para não coçar o saco? Por que será que meu
pai nunca me ensinou a escovar os dentes com aquela espuma leitosa? Por que será que ele
me criou para viver feito um bicho? Por que será que todos os pobres vivem desse jeito, na
sujeira e na feiura? – Escovar. Escovar. Cuspir. – Escovar. Escovar. Cuspir. Se, pelo menos , os
homens pudessem cuspir assim o seu passado (as lembranças de sua vida), com essas
facilidade...
O TIGRE BRANCO
Aravind Adiga

Espanando o Passado
“Devíamos ter vendido o piano também. Deslizo meu dedo pela tampa. Fazendo uma linha na
poeira. Mamãe suspira e vai embora, porque sabe que não vou poder descansar até não haver
mais nada de poeira na superfície do piano. Vou até o armário de suprimentos e pego alguns
panos. Que ótimo se eu pudesse limpar nossas memórias (nosso passado) assim. (...).”
MINHA IRMÃ, A SERIAL KILLER
Braithwaite Oyinkan

Assistindo ao Filme do Passado


“Nos últimos anos de vida, tio Halin conviveu com essa paisagem (a baía do Rio Negro) sozinho
no pequeno depósito de coisas velhas, entregue aos Meandros da Memória (carregando o
filme do seu passado – dentro do cérebro), porque sorria e gesticulava, ficava sério e tornava a
sorrir, afirmando ou negando algo indecifrável ou tentando reter uma lembrança (de um certo
episódio) que estalava na sua mente (cérebro), uma cena qualquer (uma lembrança qualquer)
que se desdobrava em outras (lembranças), como um filme que começa na metade da história
e cujas cenas (lembranças) embaralhadas e confusas pinoteiam (em sua Linha da Memória –
dentro do cérebro).”
DOIS IRMÃOS
Milton Hatoum

Salvo dos Tormentos do passado


“Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores
contrariados. O doutor Juvenal Urbino o sentiu logo que entrou na casa ainda mergulhada em
sombras, à qual chegara acudindo a chamado de urgência para se ocupar de um caso que para
ele tinha deixado de ser urgente há muito. O refugiado antilhano Jeremiah de Saint-Amour,
inválido de guerra, fotógrafo de crianças e seu adversário de xadrez mais compassivo, se havia
posto a salvo dos Tormentos da Memória (de seu passado – das lembranças de sua vida) com
uma fumigação (fatal) de cianureto de ouro. (...).

- Minha ideia é que este homem era um santo – disse o comissário.


- Era algo ainda mais raro – disse o dr. Urbino: - um santo ateu.
O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA
Gabriel Garcia Marquez

O Passado nos Tempos do Cólera


“Deqo (apesar de apenas 9 anos – de Permanência no Presente) sente que está se
retirando para o passado (regressando em sua Linha da Memória - até chegar nas
lembranças do Campo de Refugiados de Saba’aD – Somália). Lembranças de (sua
melhor amiga) Anab viva são devoradas por imagens (lembranças) dela morta, o
silêncio penetrado por seus gritos, o calor e depois o frio de sua pele enquanto o cólera
a esvaziava, agora banhando Deqo em ondas (ambas – na época com 6 anos - foram
vítimas da epidemia). O que tinha feito a alma escoar de seu corpo, e não do de Deqo?
Será que ela (a alma de Anab) quisera apenas voltar para sua mãe (enterrada no
cemitério do próprio Campo),e quisera tanto que deixara o corpinho de boneca (de
Anab) e sumira da terra? (...).”
O POMAR DAS ALMAS PERDIDAS
Nadifa Mohamed

Ensaboando o Passado
“O tecido leve e acetinado já começava a amarelar com o tempo (com o longo tempo de
Permanência no Presente). A falta de ar, de sol e principalmente de movimento tem o poder de
estragar as coisas e faz sem dó o mesmo com a gente. Dalva desenterrou no armário seu
vestido de noiva. Lavou o forro relendo com a ponta dos dedos cada nome ( dos familiares e
amigos – presentes no casamento), Lembrando cada história bordada ali. Não era um gesto de
saudade, a saudade que tinha de tudo o que não aconteceu depois de seu casamento não
cabia nem nos gestos nem na falta deles. Lavou o vestido como um ritual de passagem. Uma
boa Ensaboada no Passado (nas lembranças das graças e desgraças de sua vida), queria ir
embora. (...).”
TUDO É RIO
Carla Madeira

Despedida Diária do Passado


“Como na sua ilha o dia mais longo não passava de treze horas, anoitecia já às sete da
tarde, de modo que Robinson (mísero náufrago) tinha então de interromper as suas
ocupações. Antes de cair a noite, porém, (...), dedicava uma hora às suas
reminiscências da pátria (às lembranças dos familiares e amigos – e demais episódios
que compõem o seu passado), do lar paterno e à rememoração dos fatos do dia a
expirar; adormecendo satisfeito, (...), de se haver mostrado sempre resignado à sua
sorte. (...).”
ROBINSON CRUSOÉ
Daniel Defoë
Passado Desordenado
“Kehinde não confia em sua MEMÓRIA quando tenta recordar o passado. Os cortes dos pulsos
(o trauma provocado) embaralharam suas lembranças, rearranjando-as. Os arquivos
permanecem (no cérebro), mas (ao longo de sua Linha da Memória, as lembranças ficaram)
fora de ordem.”
ADEUS, GANA
Taiye Selasi

Fugindo do Passado
“Madame Gaelle queria encontrar um homem para se casar, que o convenceria a levá-la para
longe, para Port-au-Prince, ou até para outro país. Havia (em seu cérebro) lembranças demais
naquela cidade (sobretudo as lembranças das perdas: marido, filha...) para segurá-la ali, e,
ao mesmo tempo, fazer com que tivesse vontade de fugir de Ville Rose.”
CLARA DA LUZ DO MAR
Edwidge Dantcat

Vitor - Um Triste Homem do Passado


“Matheus não conseguia admirar o pai, Vitor. (...). Considerava-o fraco, um tipo do passado,
incapaz de se mover mentalmente (virar a página da memória) no novo universo da liberdade
(pós Revolução dos Cravos). Um linear, ainda: toda a vida apaixonado por uma só mulher
(Maria Eduarda, mãe de Matheus – que o abandonou por muitos), e por meia dúzia de ideais e
fidelidades. Vitor não conseguia despegar-se do passado. Dia a dia ele lhe aparecia mais
refulgente, na última lágrima de cada garrafa. (...).”
Fica Comigo Esta Noite
Inês Pedrosa

OBS: No capítulo XVIII (O QUE É O PENSAMENTO?), abordaremos novamente a nossa


Imensidão Interior, - ou a Vastidão Infinita do nosso CÉREBRO

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Neste capítulo faremos uma reconstituição da sua existência, – em um PRESENTE ABSOLUTO:
desde seu nascimento até o dia atual. A coisa é mais simples do que imagina; contudo, como já
foi acordado, e por não saber sua idade real, consideremos que “VOCÊ NASCEU EM 1999”

CAPÍTULO

VII
- VIVEMOS EM UM ETERNO PRESENTE -

VOCÊ NO PRESENTE ABSOLUTO

Você não ENVELHECE ao se deslocar na Esteira do Tempo – o tempo não existe.


Você apenas se TRANSFORMA ao Permanecer no Presente.

Considerando que nasceu em 1999, e estamos em 2022, - significa que VOCÊ Permanece no
Presente há 23 anos. Portanto, perguntado sobre sua idade, você deve responder:
Permaneço no Presente há 23 anos (PP = 23).

você – como um saco vazio que não para em pé – nasceu com a cabeça oca

1 – Uma Breve História de um Cabeça de Vento: o Presente é Absoluto, ou seja: vivemos em


um Eterno Presente. Nesta condição, VOCÊ – como qualquer bípede – nasceu com o CÉREBRO
vazio: sem conteúdo; sem história; sem passado. No entanto...

2 – VOCÊ – O Memorioso: no entanto, à medida ai MEMORIZANDO a sua Permanência no


Presente, VOCÊ foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória)
com as LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude e maturidade. E assim, construiu o seu
PASSADO – na cabeça.

Observe a Ilustração: no lado direito está escrito – em vermelho – nascimento: 1999.


Como foi acordado, esta será sua data de nascimento.

O FARDO DA EXISTÊNCIA

VOCÊ , POR ENQUANTO, CARREGA – EM SEU CÉREBRO – UM PASSADO COM 23 ANOS DE LEMBRANÇAS

3 – ÔNUS DA EXISTÊNCIA – o peso das lembranças: como você Permanece no Presente há


apenas 23 anos, significa que, até a presente data, VOCÊ carrega em seu cérebro um passado
com apenas 23 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS. Assim como..

Em 2032, você carregará – em seu cérebro – 33 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS;

Em 2042, você carregará – em seu cérebro – 43 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS;

Em 2092, você carregará – em seu cérebro – 93 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS; etc.


Obs: como veremos no Cap. XXII, quanto mais se Permanece no Presente, maior será o peso das
LEMBRANÇAS que temos que transportar, - no CÉREBRO.
O HOMEM É UM BONECO DE VITALINO
- feito de barro* e preenchido com um sopro de lembranças -

---“De que me estás a falar, filha,

-- De que deveríamos pôr-nos a fabricar Bonecos de Barro,

-- Bonecos, exclamou o pai em tom de escandalizada surpresa, Bonecos, nunca ouvi uma ideia
mais disparatada,

-- Sim, senhor meu pai, bonecos, estatuetas, manipanços, monos, bugigangos, sempre-em-pés,
chame-lhes como quiser (...).

– É uma aventura que vai acabar mal, filha,

-- Também acabou mal a que não era aventura, meu pai. (...).
A CAVERNA
José Saramago

*Oxigênio, Carbono, Hidrogênio, Nitrogênio, - e um bocadinho de Ca, P, K, S, Na, Cl e Mg.

4– A ILUSÃO DO TEMPO – na sua cabeça: o seu PASSADO (as lembranças da sua vida: infância,
juventude, maturidade) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é apenas uma
ilusão causada pela evolução da MEMÓRIA – em nossa cabeça.

“O tempo nada mais é do que a distância entre nossas lembranças”.


(dentro do cérebro)
HENRI AMIEL

CADA CABEÇA, UM PASSADO

- o seu PASSADO, por enquanto, possui apenas 23 anos de lembranças pessoais –


“Não vivo no passado; o passado é que vive em mim”
(em meu cérebro)
Paulinho da Viola

Observe a ilustração

o PASSADO (as lembranças da sua vida: infância, juventude, maturidade) só existe em seu
cérebro; o TEMPO, portanto, como já foi dito, é tão somente uma ilusão causada pela
evolução da memória – na cabeça dos bípedes

Estrada da Vida – My Way


(Milionário & José Rico – Sinatra & Elvis )

5. LA STRADA – Esteira de Lembranças Pessoais: observe a ilustração acima. A sua Linha da


Memória (em vermelho) – que contém as lembranças de todos os episódios da sua vida –
começa em 1999, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até o dia de hoje, 2022.

Linha da Memória = Caminhos da Vida

“Viver é fácil: até os mortos conseguem. Mas a vida (as lembranças dos caminhos que
percorremos durante a vida) é um ônus que precisa ser carregado (no cérebro) por todos os
viventes. A vida, caro senhor, a vida é um beijo doce em boca amarga. (...). Uns não vivem por
temer morrer; eu não morro por temer viver. Entende, o senhor?
O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO
Mia Couto

6. CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal: as LEMBRANÇAS de todos os episódios da


sua vida (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas em sua Linha da
Memória – dentro do seu cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, você criou a ilusão de que suas lembranças
pessoais (seu passado) estão – fora do seu cérebro – distribuídas na inexistente ‘Esteira do
Tempo que Passou’.

“Mas, dirás tu, se você não guardou na Retina da Memória (cérebro) a imagem (lembranças)
do que fui, como é que podes assim discernir a verdade daquele tempo, e experimentá-la
depois de tantos anos? Ah! Indiscreta! Ah! Ignorantona! Mas é isso mesmo (a evolução da
memória) que nos faz senhores da Terra, é esse poder de restaurar o passado (reviver as
lembranças da nossa vida – arquivadas dentro do cérebro), para tocar a instabilidade das
nossas impressões e a verdade dos nossos afetos.”
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
Machado de Assis

7. LEMBRANÇAS EFÊMERAS – memórias passageiras: à medida que as LEMBRANÇAS da sua


infância (as mais antigas) vão gradativamente se distanciando em sua Linha da Memória
(dentro do cérebro), criam a ilusão de que se afastam na inexistente Esteira do Tempo que
Passou.

“Como o tempo (de Permanência no Presente) custa a passar quando a gente espera!
Principalmente quando venta. Parece que o vento maneia o tempo”.
O TEMPO E O VENTO
Érico Veríssimo
8. VOCÊ HUMANO – Sentimental: cada lembrança da sua vida, somatiza uma determinada
emoção (veremos tudo isso no cap. XIX). Portanto, ao regressar em sua Linha da Memória
(dentro do cérebro) e LEMBRAR de um determinado episódio da juventude, por exemplo, você
pode SENTIR: saudade, trauma, afeição, aversão, orgulho, frustração, revolta, perdão, etc.

“Algumas coisas são grandes demais para serem vistas; algumas emoções
intensas demais para serem sentidas”.
SANDMAN
Neil Gaiman

O QUE ESTÁ POR VIR?

9 – Expectativa de Permanência no Presente: considerando que a Expectativa de Vida humana


é de aproximadamente 80 ANOS, significa que VOCÊ, ao nascer, dispõe de 80 ANOS para
PERMANECER no PRESENTE – independente dos ponteiros do relógio.

“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não
tenhamos, nisso, um dia a menos nela”.
Fernando Pessoa

O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas: como já foi explicado, você já PERMANECEU NO
PRESENTE por 23 ANOS. Isto significa que VOCÊ, - salvo dos infortúnios da vida, - ainda dispõe
de 57 ANOS para Permanecer no Presente.

Assim sendo, pergunto: VOCÊ já pensou o que fará com o período de Permanência no
Presente que ainda lhe resta?

“Toda a diversidade, todo o encanto, toda a beleza da vida é feita de sombra e luz.”
Anna Kariênina
Liev Tolstói
10. ACASOS DA VIDA – Permanecer ou não Permanecer; eis a questão!: como já foi dito,
nós, bípedes, ao nascermos, dispomos de aproximadamente 80 ANOS para Permanecer no
Presente – independente dos ponteiros do relógio.

Mas é evidente que não podemos contar com esse número (80 anos) para programar a nossa
vida. Não há certezas nesse mundo; tudo é imprevisível. A cada momento nos deparamos com
as casualidades da vida: às vezes trágicas; outras vezes radiantes.

*RIOBALDO FALA SOBRE OS ACASOS DA VIDA


- maravilhosos ou desastrosos, - quem vai saber? –

“Ao que, digo ao senhor, pergunto: em sua vida é assim? Na minha, agora é que vejo (“ao
refletir sobre as lembranças da minha vida”), as coisas importantes, todas, em caso curto de
acaso foi que se conseguiram, - pelo pulo fino de sem ver se dar, - a sorte momenteira, por
cabelo por um fio, um CLIM de clina de cavalo. Ah, e se não fosse, cada acaso, não tivesse sido,
qual é então que teria sido o meu destino seguinte? Coisa vã, que não conforma respostas”.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Guimarães Rosa

Obs: caso o mundo fosse previsível, nós já teríamos morrido de tédio. Pois – enquanto a
certeza é paralisante e gera o comodismo – são justamente as dúvidas, incertezas e
descontentamentos que nos levam adiante.
“DEVEMOS TORCER PELA CHEGADA DE UMA CRISE
SEMPRE QUE FOMOS AMEAÇADOS POR UMA ERA DE ESTABILIDADE”

11 – BÍPEDES & QUADRÚPEDES – Macacos do Asfalto x Gorilas da Montanha: como


somos ,geneticamente semelhantes (99.4%), qual a real diferença (0.6%) entre...

Homens e Chimpanzés?

“Os vestígios de hominídeo mais famosos do mundo são de um australopitecino, com 3,18
milhões de anos (de Permanência no Presente), encontrados em Hadar, na Etiópia, em 1974,
por uma equipe liderada por Donald Johanson. (...). O esqueleto tornou-se mais familiarmente
conhecido como LUCY, por causa da canção dos Beatles “Lucy in the sky with Diamonds”.
Johanson nunca duvidou de sua importância. “Ela é o nosso ancestral mais antigo, o Elo
Perdido (?!*) entre o macaco e o ser humano”, ele disse. “
BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO
Bill Bryson

Como forma de homenagem, daremos o nome LUCY em nosso chimpanzé...

Explicando a Diferença

VOCÊ – ao Permanecer no Presente – preenche o CÉREBRO com as lembranças da sua vida;

LUCY – ao Permanecer no Presente – não preenche o CÉREBRO com lembranças da sua vida;
ou seja

Você LEMBRA da sua infância; Lucy não LEMBRA da sua infância;

Você LEMBRA da sua juventude; Lucy não LEMBRA da sua juventude;

Você LEMBRA de episódios recentes da sua vida; Lucy não LEMBRA de episódios recentes;
conclusão

Você possui um boa MEMÓRIA; um chimpanzé, por enquanto, ainda não a EVOLUIU.

*Elo Perdido no TEMPO; Elo Achado no ESPAÇO

Como veremos no decorrer do trabalho, uma espécie não substitui uma outra no TEMPO – o
tempo não existe. Na realidade, uma espécie substitui uma outra no ESPAÇO. Por exemplo:
com a extinção dos dinossauros, o ESPAÇO antes ocupado por eles foi gradativamente sendo
ocupado por outras espécies, e, entre elas, pequenos mamíferos – nossos ancestrais.

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“Os velhos ruminam o passado (no cérebro); os jovens


antecipam o futuro (no cérebro)”
Marquês de Maricá

CAPÍTULO
VIII
CÉREBRO
A FANTÁSTICA FÁBRICA DO FUTURO - DE CADA UM

“Cada segundo que passa é como uma porta que se abre para deixar entrar o que ainda não
sucedeu, - Isso a que damos o nome de futuro, porém, desafiando a contradição com o que
acabou de ser dito, talvez a ideia correcta seja a de que o futuro é tão somente um imenso
vazio, a de que o futuro não é mais que o tempo de que o ETERNO PRESENTE se alimenta.”
O HOMEM DUPLICADO
José Saramago

Até agora vimos que – ao preencher nosso CÉREBRO (Linha da Memória) com as lembranças
da nossa vida – criamos a ilusão do PASSADO em nossa cabeça. A partir de agora, para
concluir o argumento, veremos também como criamos a ilusão do FUTURO em nosso cérebro.

Como seu CÉREBRO servirá de modelo para a demonstração,


não esqueça do nosso acordo:

“VOCÊ NASCEU EM 1999”

A – VOCÊ SEM METAFÍSICA – como um pastel de vento : como foi explicado, o PRESENTE É
ABSOLUTO, ou seja: vivemos em um Eterno Presente. Nesta condição, VOCÊ – como um pastel
de feira – nasceu (“em 1999”) com o cérebro OCO: sem conteúdo, sem essência, sem história,
sem passado. No entanto...

B– De Cabeça Cheia: no entanto, à medida que foi memorizando a sua Permanência no


Presente, você preencheu gradativamente seu CÉREBRO (Linha da Memória) com 23 anos de
lembranças da sua vida. E assim, construiu o seu passado – na cabeça.
“Estão sempre aqui, as filhas da p&%#!”
“(Darío, agora um bem-sucedido neurocirurgião na Catalunha). – Sabe que às vezes sonho que
estou em Cuba? Esta coisa – Darío tocou no crânio -, esta coisa (seu passado = suas
lembranças) é do caralho. Faz o que tem vontade, não nos perdoa, nunca nos dá sossego. Às
vezes me pergunto até quando as coisas (lembranças dolorosas de pobreza e humilhação) que
vivi (em Cuba) vão me perseguir. Porque estão aqui, as filhas da puta... E as coisas boas ( boas
lembranças) também, é verdade.”
Como Poeira Ao Vento
Leonardo Padura

EM SEU CÉREBRO
VOCÊ, POR ENQUANTO, CARREGA UM PASSADO COM APENAS 23 ANOS DE LEMBRANÇAS PESSOAIS

CADA CABEÇA – UM PASSADO


C – 23 ANOS – de Lembranças no Cérebro: este, portanto, é o seu PASSADO – ou sua história;
ou o filme da sua vida. E, como fica claro na ilustração acima, você o carrega na CABEÇA – e
não na inexistente “Esteira do Tempo que Passou”.

Expectativa de Vida = Expectativa de Permanência


Como foi explicado, a Expectativa de Vida Humana é de aproximadamente 80 anos; isto
significa que, ao nascer, salvo dos infortúnios da vida, VOCÊ dispõe de 80 anos para
PERMANECER no PRESENTE – independente dos ponteiros do relógio.

D – 57 ANOS – de Esperanças no Cérebro: assim sendo, como você já Permaneceu no


Presente por 23 ANOS, significa que você ainda dispõe de 57 ANOS para Permanecer no
Presente.

E assim, com a expectativa, possibilidade ou esperança de PERMANECER NO PRESENTE por


mais 57 ANOS, você cria a ilusão do FUTURO em seu cérebro.
Observe a ilustração abaixo...

EM SEU CÉREBRO
(VOCÊ CRIA O PASSADO COM SUAS LEMBRANÇAS: 23 ANOS -- E CRIA O FUTURO COM A ESPERANÇA: 57 ANOS)
PEDIDO DE DESCULPA – ILUSTRAÇÃO DESATUALIZADA

Peço desculpas, mas, por ser um completo analfabeto digital (e não ter como pagar por uma
assistência técnica) , não consigo retirar e atualizar a ilustração acima.

Portanto, onde se lê: 20 ANOS de lembranças; leia-se: 23 ANOS de lembranças.

E onde se lê: 60 ANOS de esperança; leia-se: 57 ANOS de esperança.

OBSERVE A ILUSTRAÇÃO ACIMA

SEU PASSADO: 23 anos de lembranças – SEU FUTURO: 57 anos de esperanças.

CÉREBRO
- o cofre que contém o que passou – e espera o que está por vir –

“O destino, quantas vezes será preciso dizê-lo, é um COFRE como não existe outro, Que ao
tempo é aberto e fechado, olhando dentro dele (dentro do cérebro), podemos ver o que já
aconteceu, a vida passada, tornada destino cumprido (23 anos de LEMBRANÇAS), Mas do que
está para suceder (57 anos de ESPERANÇAS), não alcançamos mais do que uns
pressentimentos, umas intuições....”.
O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO
José Saramago

“Uma das superações mais importantes que Buda nos apontou é exatamente a do passado (23
anos de LEMBRANÇAS), porque já foi vivido, bem ou mal, já transcorreu e não é reparável. E,
ao mesmo tempo, não tentar projetar o futuro (57 anos de ESPERANÇAS)... pois ainda não
ocorreu, e querer predizê-lo é fonte de ansiedade, e a ansiedade gera sofrimento. (...).
Portanto, Loreta (ou seria Elisa?), a travessia espiritual significa tentar encontrar a plenitude
do presente. Disse o Indicador de Caminhos – o iluminado Chaq. (...).”
COMO POEIRA AO VENTO
Leonardo Padura

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AMARCORD – Io Mi Ricordo
Belas ou trágicas, neste capítulo veremos as sempre marcantes Lembranças da Infância –
eternizadas em nosso cérebro – através de 20 citações literárias.

CAPÍTULO

IX
AS LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA – EM NOSSO CÉREBRO
“ Pois esse era o único sonho de nossa mãe: voltar ao lugar onde fôramos felizes e onde
vivêramos em paz (Makomani – junto ao mar Índico – terra natal de Imani Cinza, a Viva).
Aquela saudade era infinita. Haverá, a propósito, saudade que não seja infinita?
MULHERES DE CINZAS
Mia Couto

TBT – A MÁQUINA DO TEMPO PESSOAL


- Regressão Interior –

Como foi explicado, VOCÊ não regressa na inexistente Esteira do Tempo para LEMBRAR da
infância, - o tempo não existe. Na realidade, VOCÊ regressa em sua Linha da Memória (dentro
do cérebro) para LEMBRA (reviver, rememorar, recordar) a aurora da sua vida.

“São sempre enormes as coisas da infância, as maiores (lembranças) que teremos na vida, eu
penso. As mais inesquecíveis. Talvez, as mais sentidas como verdadeiras. Passamos o resto da
vida (o resto de nossa Permanência no Presente) atrás dessa sensação – disse o professor
Jardim, comovido. A lembrança de sua mãe, de quem se separara muito cedo para ir estudar,
sempre o deixava engasgado. (...). Abel (“que deixou-se arrastar por suas palavras
nostálgicas”) sentiu aquelas palavras (do professor) entrarem dentro dele (dentro do cérebro)
e tudo (as lembranças de sua infância com Caim: o saudoso abacateiro, Foguete – o cão do
vizinho...), tudo parecia mesmo enorme. (...).”
VÉSPERA
Carla Madeira

Veja a seguir, 20 CITAÇÕES que evocam a infância, - começando pelo grande Charles Dickens...

1– DAVID COPPERFIELD

Nesse trecho, que inicia o livro (cap. II), David Copperfield (ou Charles Dickens – por que não?)
regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e chega até as LEMBRANÇAS da sua
infância; - dando início, assim, ao relato da história da sua vida...
“Os primeiros objetos que assumem presença distinta diante de mim, quando olho para trás
(vemos nossas lembranças – dentro do cérebro), para o vazio de minha infância, são minha
mãe com seu belo cabelo e formas jovens (uma boneca de cera, - segundo a srta. Betsey), e
Peggotty, a criada da família, com seus olhos tão escuros que parecem escurecer até o que os
cerca em seu rosto, faces e braços tão firmes e vermelhos que eu me perguntava por que os
passarinhos não preferiam picar a ela em vez de maçãs. (...).

Tenho em minha mente (cérebro) uma impressão (lembrança tátil de Peggotty) que não
consigo distinguir da lembrança de fato, do contato do indicador de peggotty, que ela
costumava estender para eu segurar, e que era áspero pelo trabalho com agulha, como um
pequeno ralador de noz-moscada (memorizamos sensações táteis – no cérebro).

Isso pode ser fantasia, embora eu ache que a MEMÓRIA da maioria de nós é capaz de recuar
(regressar na Linha da Memória – dentro do cérebro) a esses tempos mais do que muitos
supomos; assim como acredito que o poder de observação (memorização) dos detalhes em
crianças muito novas seja bem mais admirável por sua atenção e precisão. (...)

Eu deveria ter escrúpulos de estar “divagando” ao me deter para falar disso, mas é o que me
leva a observar que cultivei essas conclusões em parte na experiência do meu próprio EU; e se,
por qualquer coisa que eu ponha nesta narrativa (“das lembranças da minha vida”), vier a
parecer que fui uma criança muito observadora, ou que, como adulto, tenho uma forte
LEMBRANÇA de minha infância, eu sem dúvida admito ambas essas características.

Olhando para trás (“para as lembranças do meu passado – dentro do cérebro”), como eu dizia,
para o vazio de minha infância, os primeiros objetos de que me lembro destacados por si
mesmos da confusão das coisas (das demais lembranças da infância) são minha mãe e
Peggotty. De que mais me LEMBRO? Vamos ver. (...).

2 – DANIEL SEMPERE LEMBRA DA INFÂNCIA

“(Ao regressar na Linha da Memória – dentro do cérebro) Ainda me LEMBRO daquele


amanhecer em que o meu pai me levou pela primeira vez a visitar o ‘Cemitério dos Livros
Esquecidos’. Desfiavam-se os primeiros dias do verão de 1945 e caminhávamos pelas ruas de
uma Barcelona apanhada sob céus de cinza e um sol de vapor que se derramava sobre a
Rambla de Santa Mônica numa grinalda de cobre líquido.”
A SOMBRA DO VENTO
Carlos Ruiz Zafon
3 – BRÁS CUBAS LEMBRA DA INFÂNCIA

“Vim. Não nego que, ao avistar a cidade natal, tive uma sensação nova. Não era efeito da
minha pátria política, era-o do Lugar da Infância, a rua, a torre, o chafariz da esquina, a
mulher de mantilha, o preto do ganho, as coisas e cenas (lembranças) da meninice, buriladas
na MEMÓRIA (cérebro). Nada menos que uma renascença. O espírito, como um pássaro, não
se lhe deu da corrente dos anos, arrepiou o voo na direção da fonte original (regressou em sua
Linha da Memória – dentro do cérebro), e foi beber da água fresca e pura (lembranças
cândidas da infância), ainda não mesclada do enxurro da vida (ainda não ‘contaminadas’ pelas
conflituosas lembranças da vida adulta)”.
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
Machado de Assis

4 – A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA - LEMBRAR DA INFÂNCIA

“E, aí, Nhô Augusto (estropiado, - após sobreviver por um triz à tocaia do major Consilva)
LEMBROU da mulher e da filha (que o haviam abandonado para escapar à sua má índole). Sem
raiva, sem sofrimento, mesmo, só com uma falta de ar enorme, sufocando. (...). Até que pôde
chorar, e chorou muito, um choro solto, sem vergonha nenhuma, de menino ao abandono. E,
sem saber e sem poder, chamou alto soluçando: -- Mãe... mãe... Tudo perdido! (arrependido –
ao lembrar que durante toda a vida sempre foi um grande fdp!). E ele teve uma vontade
virgem, uma precisão de contar a sua desgraça (de regressar em sua Linha da Memória –
dentro do cérebro, - e), repassar as misérias (lembranças) da sua vida. Mas não desabafou
(estava, então, na casa de um desconhecido casal de camponeses pobres – que o socorrera ).
Também não rezou. Porém a luzinha da candeia, a tremer, com brilhos bonitos no poço de
azeite (o fez lembrar da meninice), contando histórias da infância de Nhô Augusto, histórias
mal lembradas, mas todas de bom e bonito final. Fechou os olhos. Suas mãos, uma na outra,
estavam frias. Deu-se ao cansaço. Dormiu.
SAGARANA
Guimarães Rosa

5 – EDMOND DANTÉS REGRESSA À MARSELHA – E LEMBRA DA INFÂNCIA

“Dantés seguiu adiante; cada passo que dava oprimia seu coração (cérebro) com uma nova
emoção (cada lembrança – em nosso cérebro – somatiza uma determinada emoção; –
veremos no cap. XIX); todas aquelas lembranças da infância, lembranças indeléveis,
eternamente presentes no pensamento (cérebro), estavam lá; afloravam em cada canto de
praça, em cada esquina de rua, em cada cruzamento. (...). Nada mais o LEMBRAVA do
aposento do seu pai: não era mais o mesmo papel de parede, todos os velhos móveis, amigos
de infância de Edmond, presentes em sua lembrança (cérebro) em todos os detalhes, haviam
desaparecido.”
O CONDE DE MONTE CRISTO
Alexandre Dumas

6 – ERA NATAL, E OS ROSTOV, TRISTES, LEMBRAM DA INFÂNCIA


(Nicolau, Natacha + Sonia)

“—Não te acontece às vezes pensar – disse Natacha ao irmão -, não te acontece pensar que
nada mais terás, absolutamente mais nada, que toda a felicidade que podias usufruir já te foi
concedida? E isto não é tão triste?

-- Naturalmente! – volveu Nicolau – Às vezes, quando me sinto feliz, quando toda a gente está
alegre em volta de mim, de repente sinto uma espécie de desgosto de tudo e vem-me à ideia
que todos temos de morrer. (...).

-- Oh!, sei muito bem o que isso é! Como te compreendo! – ocorreu Natacha. – Eu era ainda
muito pequena quando isso aconteceu. Lembras-te? Tinham- me castigado por eu ter comido
ameixas. Enquanto todos vocês dançavam, eu fiquei fechada na sala de aula. E o que eu
chorava! Nunca me esquecerei desse momento! (...). E o principal é que não tinha culpa.
Lembras-te?

-- Sim, lembro-me – volveu Nicolau. – Lembro-me de que depois fui ter contigo e quis consolar-
te, e, queres saber?, não sabia como. Muito patuscos éramos! Eu tinha nessa altura um boneco
e quis oferecer-to. Lembras-te?

-- E tu lembras-te? Voltou Natacha com um sorriso sonhador. – Muito, muito antes, quando
nós ainda éramos muito pequeninos e o tio nos chamou ao gabinete. (...). Entramos, e que
vimos nós?

-- Um preto – concluiu Nicolau, sorrindo alegremente. Pois então não me havia de lembrar? E
ainda hoje não tenho a certeza se era realmente um preto ou se nós o teríamos visto apenas
em sonhos ou se nos teriam contado uma história assim. (...). – Lembras-te, Sonia?

-- Sim, sim, eu também me lembro vagamente – interveio Sonia, hesitando. (...).

-- E lembras-te de uma vez, estávamos nós a fazer rebolar ovos no salão. (...). Lembras-te? Que
engraçado era! (...).

Sorridentes, iam fazendo desfilar diante deles (no cérebro de cada um) não recordações
tristes, mas esses quadros (lembranças) poéticos da infância, essas impressões do mais
longínquo passado (lembranças que se distanciaram na Linha da Memória – dentro do
cérebro), em que os sonhos se confundem com a realidade.
SÓNIA, como sempre, mantinha-se à margem, se bem que as suas reminiscências fossem
comuns (menos por ser prima, e mais por ser pobre – Sónia nutria uma paixão sem esperança
por Nicolau; – a Condessa Rostova não o permitiria). De resto, as suas (lembranças da infância
– em seu cérebro) eram mais pobres, e as que porventura recordava não lhe despertavam na
alma as mesmas impressões poéticas. No entanto, já era muito para SÓNIA contentar-se com a
alegria dos dois e poder vibrar ao mesmo diapasão.”
GUERRA E PAZ
Liev Tolstoi

7 – URANIA CABRAL LEMBRA DA INFÂNCIA

“É um aroma quente, que toca em alguma fibra íntima da sua MEMÓRIA (cérebro) e a devolve
à infância (o aroma da sua terra natal, República Dominicana – Santo Domingo, a faz
regressar em sua Linha da Memória – dentro do cérebro – até chegar nas lembranças da sua
infância), às buganvílias multicoloridas penduradas nos tetos e nas sacadas, a esta avenida
Máximo Gómez. O Dia das Mães! É claro. Maio de sol radiante, chuvas diluviais, calor, (...). O
colégio Santo Domingo, nos domingos em que ia com tia Adelina e as primas às sessões
infantis do Cinema Elite. (...). Sua casa também não mudou muito, embora em sua MEMÓRIA
(nas lembranças – em seu cérebro) o cinza das paredes fosse mais intenso e agora está
desbotado, cheio de manchas, descascado. O jardim se transformou num matagal, folhas
mortas e grama seca. (...). Lá está a mangueira. O flamboiã era este? Possivelmente, quando
tinha folhas e flores; agora, é um tronco de braços cortados e raquíticos. (...).”
A FESTA DO BODE
Mário Vargas Llorsa

8 – ESTEBAN TRUEBA LEMBRA DA INFÂNCIA

“Desceu do comboio na estação de San Lucas. Era um lugar miserável. A essa hora não se via
vivalma no cais de madeira, com o telhado arruinado pela intempérie e pelas formigas. (...).
Dali podia ver-se todo o vale através de uma neblina ténue que subia da terra molhada pela
chuva da noite. (...). Olhou à volta (e regressou em sua Linha da Memória – dentro do
cérebro). Na sua infância, a única época feliz que podia recordar, antes que o pai acabasse por
arruinar-se e abandonar-se à bebida e à própria vergonha, tinha andado a cavalo com ele por
aquela região. Recordava que em Las Tres Marias tinha brincado no verão, mas isso tinha sido
a tantos anos que a MEMÓRIA (as lembranças em seu cérebro) quase se desvanecia e não
podia reconhecer o lugar. “
A CASA DOS ESPÍRITOS
Isabel Allende

9 – CHRISTOPHER BOONE LEMBRA DA INFÂNCIA

- Mas, para isso, ele explica como funciona sua Linha da Memória – dentro do cérebro –

(Christopher tem 15 anos e é portador de um tipo de autismo)

“Minha MEMÓRIA é como um filme (o filme da sua vida – produzido por suas lembranças –
dentro do cérebro). É por isso que eu sou tão bom em LEMBRAR coisas: como as conversas que
anotei neste livro, o que as pessoas estavam usando (memorizamos imagens – no cérebro),
como elas cheiram (memorizamos aromas – no cérebro), mas isso porque minha MEMÓRIA
tem uma trilha de registro farejadora, que é como uma trilha de registro de sons
(memorizamos sons – vozes, músicas, barulhos – no cérebro).

E quando me pedem para LEMBRAR alguma coisa, posso simplesmente pressionar Rewind, FF
ou Pause como num videocassete, só que mais como num DVD, porque não tenho que Rewind
(regressar na Linha da Memória) tudo para trás para acessar a LEMBRANÇA de uma coisa de
algum tempo atrás. E não há botões, também, porque é uma coisa que está acontecendo na
minha CABEÇA. Se alguém diz pra mim: - Christopher, como era sua mãe? ... eu posso dar um
Rewind (regressar na Linha da Memória – dentro do cérebro) e parar em diferentes cenas
(diferentes lembranças) e dizer como ela era.

Por exemplo, eu podia dar um Rewind direto para (as lembranças de) 4 de julho de 1992,
quando eu tinha 9 anos de idade (*vemos nossas lembranças – dentro do cérebro), e era
sábado, e nós estávamos de férias na Cornualha e, à tarde, estávamos numa praia, num lugar
chamado Polperro. E a mãe estava usando shorts de algodão, (...), sutiã de biquíni azul-claro
(...), e estava fumando (...), tomando banho de sol (...), e lendo um livro (...), e ela disse: - Que
merda, está um gelo! . (...).

Só que não me LEMBRO de nada de antes dos meus 4 anos porque eu não olhava ( não
registrava no cérebro) as coisas do jeito certo, e daí não consigo me LEMBRAR de nada
direito.”
O ESTRANHO CASO DO CACHORRO MORTO
Mark Haddon

*Como explicaremos a seguir (cap. X), VEMOS nossas lembranças – dentro do cérebro.

10 – RIOBALDO LEMBRA DA INFÂNCIA


“O senhor sabe: Deus é definitivamente; o demo é o contrário Dele... Assim é que digo: eu, que
o senhor já viu que tenho retentiva (boa memória) que não falta, recordo tudo da minha
meninice. Boa, foi. Me lembro dela com agrado; mas sem saudade. Porque logo sufusa uma
aragem dos acasos (lembranças de episódios pesarosos). Para trás, não há paz. O senhor sabe:
a coisa mais alonjada da minha primeira meninice, que eu acho na MEMÓRIA (quando
regressa em sua Linha da Memória – dentro do cérebro), foi o ódio, que eu tive de um homem
chamado Gramacedo. (...). Do ódio sendo. Acho que, às vezes, e até com ajuda do ÓDIO que se
tem a uma pessoa, que o AMOR tido a outra aumenta mais forte. Coração ( cérebro) cresce de
todo lado. Coração (cérebro) vige feito riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e
campinas. Coração (cérebro) mistura paixões (mistura lembranças – boas e más). Tudo cabe.”

“A que, este mundo é muito misturado – mas tudo cabe!”

(...).Baixei, mas fui ponteando opostos (como amor e ódio). Que isso foi o que sempre me
invocou, o senhor sabe: eu careço de que o bom seja bom, e o ruim ruim, que dum lado esteja
o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da
tristeza! Quero todos os pastos demarcados... Como é que posso com este mundo? A vida é
ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. A que,
este mundo é muito misturado (*o CÉREBRO que ama, também odeia; exprime saudade e
trauma; alegria e tristeza; esperança e desespero, etc.).
GRANDE SERTÃO – VEREDAS
Guimarães Rosa

EXPLICAÇÃO

*A Culpa é das Lembranças: como veremos no cap. XIX (CÉREBRO – A fantástica Fábrica de
Emoções), cada lembrança da nossa vida, somatiza uma determinada emoção. Portanto,
RIOBALDO pode afirmar:

LEMBRO da infância, logo sinto agrado, não saudade;

LEMBRO do jagunço Gramacedo, logo sinto aversão e ódio;

LEMBRO do jagunço Hermógenes, logo sinto aversão e rancor;

LEMBRO do líder dos jagunços Joca Ramiro, logo sinto admiração e respeito;

LEMBRO de Diadorim, logo sinto (além da dor da perda e da saudade) afeição e amor.

11 - *ADEN ROBLEH LEMBRA DA INFÂNCIA


(*O LIVRO É AUTOBIOGRÁFICO)
“Certa manhã (em Paris, - onde agora reside), eu ia levando você (sua filhinha Déa, de 4 anos)
para escola, você me fez uma pergunta com o máximo de atenção e de afeição na voz. Sem
prejulgar o objeto da interrogação, eu sabia que aquela pergunta devia ter muito importância
para você. E sem dúvida para mim também. (...).

-- Papai, por que você dança quando anda? Você dança assim quando você anda, está vendo?

(...). Os antigos nômades que compõem minha árvore genealógica dizem que a verdade sai da
boca das crianças e a gratidão, dos olhos da vaca que acaba de parir. Esse proverbio nunca me
pareceu tão exato quanto naquela manhã. Você, minha filhinha, você me remetia à verdade
com uma dose de afeição não desprovida de firmeza. (...).

TUDO me veio à lembrança (a pergunta o fez regressar em sua Linha da Memória – dentro do
cérebro – até chegar nas LEMBRANÇAS da sua infância, - no Djibuti, sua terra natal, país
africano, localizado na costa do Mar Vermelho).

Eu sou essa criança que nada entre o presente e o passado. Basta que eu feche os olhos ( e
voltá-los para dentro do cérebro) e tudo me vem à lembrança. LEMBRO do cheiro da terra
molhada depois da primeira chuva (memorizamos aromas – no cérebro), LEMBRO da poeira
dançando nos raios de luz (memorizamos imagens – no cérebro). E me LEMBRO da primeira
vez que fiquei doente. Eu devia ter seis anos (de Permanência no Presente). A febre me
castigou uma semana inteira (memorizamos sensações táteis – no cérebro). Calor, suor e
calafrios. Meus primeiros tormentos datam daquela época.

Uma madrugada no início da década de 1970, em Djibuti. A Memória (sua Linha da Memória –
dentro do cérebro) me leva sempre a esse ponto de partida. Hoje em dia, minhas lembranças
estão menos turvas porque eu soube mobilizar esforços para recuar no tempo (regressar em
sua Linha da Memória – dentro do cérebro) e pôr um pouco de ordem na confusão (das
lembranças) da minha infância. (...).”
POR QUE VOCÊ DANÇA QUANDO ANDA?
Abdourahman A. Waberi

12 – MUANA ‘MACUA-LÓMUÈ LEMBRA DA INFÂNCIA

MUANA, natural de Moçambique, escrava no Brasil, regressa em sua Linha da Memória


(dentro do cérebro), e descreve – ao “professor de Língua Ingleza”, Mr. Toole – as saudosas
lembranças de sua infância – livre e feliz...

“Fechei os olhos para ver as imagens (lembranças) dentro de mim (dentro do cérebro) e elas
surgiram límpidas como cristal fino (...). Como diz um provérbio da minha terra “é melhor
perder a vista que a alma” e sempre nesta mesma hora eu desperto, pois esse céu de escuridão
quase clara faz meu espírito enxergar meu povoado num momento mágico em que apenas três
coisas havia (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro): a imensidão úmida da planície
verde, o silêncio de doer os ouvidos e o monte dominante na paisagem. Posso sentir o ar fresco
depois de uma das muitas chuvas abundantes que caem no sopé do monte Namuli. Nunca
mais esquecerei essa sensação e o cheiro de natureza misturado com a terra encharcada
(memorizamos aromas – no cérebro).

O verde que domina a paisagem no meu local encantado impressiona. Todo o povoado
transborda com uma abundância de espécies de plantas e animais que só existem lá. O solo
fértil onde minha família plantava milho e criava cabras abrigava dezenas de casas circulares
de terra batida e telhado de palha. Havia um rio, o Ligungo, com milhares de pedregulhos em
sua extensão onde nós, crianças, nos divertíamos, (...). Nos trechos em que as mulheres
lavavam as roupas, as pedras ficavam cobertas pelos panos estampados secando ao sol, o que
dava um colorido especial e inusitado à paisagem. Eu dizia que eram “pedras-flores”. Eu, meu
melhor amigo – Umpalla – e muitos outros meninos e meninas do povoado éramos felizes nas
cachoeiras que sangram as pedreiras e formam aquelas nuvens de vapor quando a água se
acaba em espuma... Tudo isso me refresca a mente e os olhos do espírito nesta lida em que me
encontro deste outro lado. Lembro-me de cada detalhe como se fosse hoje... e veja que já faz
muitos anos (de Permanência no Presente) que saí de lá! Como poderia esquecer? (...).”
O CRIME DO CAIS DO VALONGO
Eliana Alves Cruz

13 – AKIN XANGOCUNLÉ LEMBRA DA INFÂNCIA

Akin Sangokunle – em 1888, quando estava finalmente liberto – regressa em sua Linha da
Memória (dentro do cérebro) até o ano de 1849 (quando tinha 9 anos de idade) para
descrever a sua maior e mais traumática lembrança da infância...

“Ferro em Brasa no Cérebro”


“Firmino, na verdade, Akin *Sangokunle (*aquele que se ajoelha para Xangô), se recordava
muito bem de tudo desde o dia em que fora obrigado a caminhar por dias (“junto com cerca de
40 prisioneiros-escravizados”) de Iseyin, pequena região do reino de Oiò (atual Nigéria), no
oeste africano, em direção à Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, (...). O ano era 1849 e
contava apenas com nove anos (de Permanência no Presente) quando foi empurrado com
brutalidade para dentro daquele barco grande (Tumbeiro). Podia sentir ainda (hoje) o coração
gelado (*cérebro trêmulo) pelo pavor e raiva que o dominaram naquele momento. (...).
*cérebro é a Arca dos Sentimentos – ver cap. XIX.

Depois de uma espera que parecia uma eternidade naquele depósito (“de escravos
provenientes de todas as partes – uma Babel negra cheirando a fezes, urina e a outros
dejetos”), foram acordados no meio da noite e caminharam cerca de dois quilômetros até o
embarque. Akin olhou ligeiramente para trás. Esta seria a última imagem (lembrança) daquele
continente que sua retina (cérebro) registraria. Um vento levantava redemoinhos de folhas
secas. Olhou para o alto das palmeiras iluminadas pela lua e sentiu o peito apertar. Todas as
lembranças da infância em Iseyin vieram como numa única tela (em seu cérebro), que
entendeu ser preciso apagar (as saudosas lembranças: pai, mãe, irmãos – todos mortos) ao
menos momentaneamente se não quisesse morrer. Embora esta última ideia, a de morte, já
não lhe parecesse tão má assim. (...).

Firmino não fazia concessões para nada e alimentava sistematicamente a revolta que o
acompanhou desde a África, quando foi capturado e embarcado, até aquele momento.
Reconstituia (no cérebro) cada detalhe (cada lembrança de sua vida) em relatos, sonhos e
pesadelos. Não, ele não iria ESQUECER, e por isso avivava o carvão em brasa do ressentimento
com muita paciência, persistência e zelo. (...).”

Cicatrizes Interior

“Quando Firmino virou de costas para pendurar as roupas num cabideiro, Martha (sua
sobrinha neta) não conseguiu conter uma exclamação de assombro. As cicatrizes salientes e
escuras tomavam quase toda a extensão da pele. Eram queloides, cicatrizes de uma vida de
guerras.

– Não se assuste, filha (disse Firmino), cada uma é um troféu, e as que estão por dentro (as
lembranças da guerra por liberdade, e pós-liberdade) são ainda maiores.”
ÁGUA DE BARRELA
Eliana Alves Cruz

14 – MARIAZINHA LEMBRA DE SUA INFÂNCIA METADE

“Nunca quis. Nem muito, nem parte. Nunca fui eu, nem dona, nem senhora. Sempre fiquei
entre o meio e a metade. Nunca passei de meios caminhos, meios desejos, meia saudade. Daí o
meu nome: Maria Metade. (...).

Pois lhe confesso (senhor escritor): aqui, penumbreada nesta prisão, não sofro tanto quanto
sofria antes. É que aqui, sabe, acabo saindo mais que lá em minha casa natal. Vou onde? Saio
pelo pé de meu pensamento (viaja em seu Universo Interior). Por via de lembrança eu retorno
(regressa em sua Linha da Memória – dentro do cérebro) ao Cine Olympia, em minha cidade
de outro tempo (no Presente Anterior). Sim, porque depois de matar o Seis (seu esposo – “que
nunca ascendeu a pessoa”) reganhei acesso a minhas lembranças. É assim que, cada noite,
volto à matinê das quatro de minha meninice. (...).

Não entrava no cinema que me estava interdito. Eu tinha a raça errada, a idade errada. Mas
ficava no outro lado do passeio, a assistir ao riso dos alheios. Ali passavam as moças belas,
brancas, mulatas algumas. Era lá que eu sonhava. Não sonhava ser feliz, que isso era
demasiado em mim. Sonhava para me sentir longínqua, distante até do meu cheiro. Ali, frente
ao Cinema Olympia, sonhei tanto até o sonho me sujar. (...).”
O FIO DAS MISSANGAS
Mia Couto

15 – LENI LEMBRA DE SUA INFÂNCIA ERRANTE

“Meteu as mãos nos bolsos das calças e começou a caminhar lentamente pela beira de uma
das piscinas, a cabeça inclinada, os ombros caídos. Leni (16 anos) mirou as costas encurvadas
do pai e sentiu um pouco de pena. Supôs que estivesse recordando dias mais felizes, os dias da
infância, as tardes de verão passadas naquele lugar. Mas logo deixou de sentir dó. Pelo menos
ele (que teve uma infância plena) podia voltar a lugares cheios de lembranças. Podia
reconhecer uma árvore e (ao regressar em sua Linha da Memória) reconstituir o dia em que ele
e os amigos tinham subido até a copa. Podia lembrar-se da mãe desdobrando uma toalha
quadriculada sobre uma daquelas mesas agora destruídas. Ao passo que ela (Leni), por sua
vez, não tinha nenhum paraíso perdido (dentro do cérebro) para onde pudesse voltar. Fazia
muito pouco que deixara a infância, mas sua MEMÓRIA (cérebro) estava vazia. Graças ao pai,
ao Reverendo Pearson e à sua (itinerante) santa missão, (para Leni) suas lembranças de
infância resumiam-se ao interior do próprio carro, aos quartos miseráveis de centenas de
hotéis todos iguais, ao rosto de dezenas de crianças com que ela não chegara a conviver por
tempo suficiente para já sentir saudade na hora de ir embora, a uma mãe de cujo rosto quase
não lembrava mais. (...).”
O VENTO QUE ARRASA
Selva Almada

16 – MARCUS MESSNER LEMBRA DE SUA INFÂNCIA PÓSTUMA

“(Ao regressar em sua Linha da Memória – dentro do cérebro). Uma de minhas mais
estranhas recordações de infância tem a ver com o abate de galinhas não Kosher, em que a
cabeça era simplesmente decapitada. Zaz-trás! Então punham a galinha num cano afunilado,
(...), onde o sangue escorria para um grande barril. Vez por outra as pernas das galinhas ainda
se moviam e, mais raramente, uma delas caia do cano, quando então, começava a correr sem
cabeça de um lado para outro. (...). A sangueira, a matança... Meu pai já estava calejado, mas
no começo eu (“tinha uns 6 ou 7 anos”) naturalmente fiquei perturbado. (...). Mas aquele era o
nosso negócio e bem cedo eu o aceitei. (...).”
INDIGNAÇÃO
Philip Roth
17 – DAMARIS LEMBRA DE SUA INFÂNCIA CULPADA

“Iam completar oito anos. (...). Damaris e Nicolasito chegaram sozinhos ao seu destino, um
ponto baixo e cheio de rochas onde as ondas lambiam o rochedo. (...). A princípio ficaram
observando tranquilamente umas formigas-saúvas que desciam em fila por uma árvore,
carregando pedaços de folhas. (...). Então ele se aproximou dos rochedos dizendo que queria
que os respingos das ondas o molhasse. Damaris (por ser local, fazia as vezes de guia) tentou
impedi-lo. Explicou que era perigoso, disse que naquele lugar os rochedos eram escorregadios
e o mar, traiçoeiro. Mas ele não lhe deu ouvidos, se deteve na pedra e a onda que arrebentou
nesse momento, violenta, o levou. (...). – A imagem (lembrança) ficou gravada na MEMÓRIA
(cérebro) de Damaris assim: um menino branco e alto diante do mar, em seguida uma golfada
branca da onda, e depois nada, as rochas vazias sobre um mar verde que, de longe, parecia
tranquilo. E ela ali, junto às saúvas, sem poder fazer nada. (...).
A CACHORRA
Pilar Quintana

18 – JEANNETTE LEMBRA DE SUA INFÂNCIA EM CHAMAS

“Eu estava em chamas. É a minha lembrança mais antiga (gravada em seu cérebro). Eu tinha
3 anos de idade e vivíamos em um estacionamento de trailers em uma cidade do sul do
Arizona. Estava de pé em uma cadeira diante do fogo, usando um vestido rosa que minha avó
havia comprado (...). Eu gostava de girar em frente ao espelho, pensando ser uma bailarina.
Mas naquele momento usava o vestido para preparar cachorros-quentes. (...). Podia ouvir
mamãe cantando na sala ao lado, (...). Juju, nosso vira-lata preto, me observando (farejando o
petisco*). (...). Quando senti um calor no lado direito do corpo. Virei e percebi que meu vestido
estava pegando fogo. (...). Dei um berro. Senti a queimadura e ouvi estalos horríveis enquanto
o fogo queimava meus cabelos. Juju latia. Berrei de novo. Mamãe chegou correndo, (...).”
CASTELO DE VIDRO
Jeannette Walls

*Visão & Faro: nós, bípedes, possuímos um CÉREBRO com grande aptidão para registrar imagens. Já os cães – os
quadrúpedes – possuem um CÉREBRO com grande aptidão para registrar adores. Por ex: você reconhece seu cão
pela aparência (cor, tamanho, raça, etc.); já seu cão o reconhece pelo cheiro. – Veremos essa questão ao longo do
trabalho.

19 – JASON LEMBRA SUA INFÂNCIA MULTIVERSO


“Essas noites de outono carregam uma energia que desperta algo primal dentro de mim
(dentro do cérebro). Algo de muito tempo atrás (do Presente Anterior). Da minha infância em
Iowo. Relembro as partidas de futebol na escola, a luz forte dos refletores jorrando sobre os
jogadores (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro). Sinto o cheiro das maçãs quase
maduras (sentimos o cheiro de nossas lembranças), o azedo da cerveja que rolavam nas festas
nos campos de milho (sentimos o gosto de nossas lembranças). Sinto o vento batendo em meu
rosto (sentimos as sensações táteis de nossas lembranças) enquanto cruzo uma estradinha
rural à noite na caçamba da velha picape, a terra subindo em redemoinhos vermelhos à luz dos
faróis traseiros. Toda extensão de minha vida se espreguiçando lá na frente (quando se tem
ainda um longo tempo para Permanecer no Presente). É a grande beleza da juventude. A
ausência de peso que a tudo permeia porque ainda não houve nenhuma escolha errada,
nenhum caminho tomado, e a estrada que se bifurca num ponto adiante é cheia de puras e
ilimitadas possibilidades. (...).”
MATÉRIA ESCURA
Blake Crouch

20 – NDALU LEMBRA DA INFÂNCIA

“–Estórias de antigamente é assim que já foram há muito tempo?

-- Sim, filho.

-- Então antigamente é um tempo, Avó?

-- Antigamente é um lugar.

-- Um lugar assim longe?

-- Um lugar assim DENTRO, filho.”

“Acho que as lembranças são cócegas invisíveis que ficam dentro das pessoas.
E quando me lembro dessas coisas começo a rir sozinho.”

AVÓDEZANOVE E O SEGREDO DO SOVIÉTICO


Ondjaki
-
romance no qual o autor narra – com realismo mágico – as lembranças da sua infância –

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Neste capítulo explicaremos – através de 9 citações literárias – que, na realidade, VEMOS NO
CÉREBRO, - não com os olhos.

Janela da Alma*
“Dos cinco sentidos, a visão, para mim, sempre foi soberana. Eu poderia perder tudo: audição,
paladar, olfato e tato, - desde que mantivesse a função dos olhos. (...). O imperdível
documentário (*de J. Jardim e W. Carvalho – 2001) mostra depoimentos de pessoas que têm
algum problema de visão ou que estão totalmente cegas. É um ensaio sobre a cegueira (aliás,
José Saramago está entre os depoentes), mas não só a cegueira concreta, e sim da cegueira
abstrata, a cegueira da mente e dos sentimentos. (...)”
COMIGO NO CINEMA
Martha Medeiros

CAPÍTULO

X
VEMOS NOSSAS LEMBRANÇAS – DENTRO DO CÉREBRO

CINEBIOGRAFIA INTRACRANIANA
(Drama, Comédia, Fantasia, Aventura, Romance, Espionagem, Terror, Trash, ...)
“O Filme da Minha Vida Passou Diante dos Meus Olhos”
Provavelmente você já ouviu esta frase em algum momento da vida. A explicação é muito
simples: diante de uma situação em que há grande estresse e/ou risco de morte, o nosso
CÉREBRO entra em colapso, e a nossa Linha da Memória (que contém as lembranças de todos
os episódios da nossa vida – ou filme da nossa vida) desmorona sobre si mesma – e passam
diante dos nossos olhos.
Rotten T, S das 7, PH Santos, Redatora de M, Getro, Super 8, Refúgio Cult, I Boscov, Meus 2 cent , 16 mm, Adoro C, IMDb...

A propósito, caso fosse avaliado por algum site de críticas, qual seria a nota atribuída ao
*Filme da sua Vida? Então... Como ele só existe em nossa cabeça (e só nós o vemos),
só quem pode julgá-lo somos nós mesmos, concorda?
*Plano 9 do Espaço Cerebral – de Alan Smithee: o FILME da minha vida, modéstia a parte, seria digno do Framboesa de Ouro.

Filme de Lembranças Partidas


“Que vão todos à merda. Desde a tarde da sua desgraça (acidente que a deixou tetraplégica –
“com o corpo preso numa armadura medieval”), Arantxa não é mais dona da própria vida. E só
queria ficar sozinha, porra, sozinha (trancada no banheiro). Para se olhar no espelho? Bem, e
se for, e daí? Olhou os próprios olhos, tensa, desafiadora, à espera de que começasse o Filme
das Lembranças (de sua vida: infância, juventude, maturidade), o relato de cenas (lembranças
de episódios) de sua vida partida. Sim, partida, em cacos como uma garrafa que caiu no chão.
E em cada pedacinho, uma lembrança, um episódio, as sombras e figuras dispersas de seu
passado. – Espelhinho, espelhinho, me diz quando, me diz onde, me diz quem.
Arantxa (44 anos) lembrou (regressou em sua Linha da Memória até) um sábado de 1985. Já
viera à sua MEMÓRIA outras vezes. O cara (23 anos – Arantxa, 19) não era nem bonito nem
feio, nem alto nem baixo. Ia sempre à discoteca KU, em Igueldo, como ela, e querendo ou não
a gente acaba estabelecendo algum contato visual. (...).”
PÁTRIA
Fernando Aramburu

*OLHO INTERNO
VEMOS NOSSAS LEMBRANÇAS – DENTRO DO CÉREBRO
Ao fechar os olhos, imediatamente os voltamos para dentro do próprio cérebro – e assim,
conseguimos VER todas as lembranças da nossa vida: infância, juventude, maturidade. Faça o
teste e comprove-o você mesmo. Portanto, o homem é o único animal capaz de enxergar a si
mesmo. Consequentemente...

VEMOS NO CÉREBRO, NÃO COM OS OLHOS

Essa questão é abordada e explicada nas 9 citações a seguir...

1 – ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA


José Saramago

A trama desse célebre romance aborda não uma epidemia de cegueira concreta, mas sim a
cegueira abstrata: o véu negro da estupidez que acomete quem vê a realidade à sua volta, mas
não consegue refletir sobre as IMAGENS desta realidade, - no cérebro. Isso fica bem claro nos
trechos a seguir:

-- “Se queres ser cego, sê-lo-ás; – Já éramos cegos no momento em que cegámos; -- Cegos
que, vendo, não veem; -- Os cegos estão sempre em guerra, sempre estiveram em guerra; --
Isto é uma loucura, -- Deve de ser, estamos num manicómio;”

Apesar disso, no trecho abaixo, o médico, que é oftalmologista e um dos protagonistas, explica
exatamente – cientificamente - como o nosso CÉREBRO é que realmente VÊ...

“Quando o médico terminou o seu relato (sobre tudo que investigara nos livros antes de ter
cegado) o motorista, que escutava com atenção, disse de lá,

-- Aposto que o que sucedeu foi terem-se entupido os canais que vão dos olhos até aos miolos,

-- Forte besta, resmungou indignado o ajudante de farmácia,

-- Quem sabe, o médico sorriu sem querer, na verdade os olhos não são mais do que umas
lentes, umas objectivas, o CÉREBRO É QUE REALMENTE VÊ, tal como na película a IMAGEM
aparece, e se os canais se entupiram, como disse aquele senhor...”

EXPLICAÇÃO

“No Egito faraônico dos tempos de Akhenaton, segundo uma religião monoteísta extinta que
adorava o Sol, a LUZ era considerada o olhar de Deus. Naqueles tempos remotos (no Presente
Anterior), imaginava-se que a VISÃO fosse uma espécie de emanação que partia do olho.
A VISÃO seria parecida com um radar. Prolongava-se para fora do olho e tocava
no objeto que estava sendo visto. (...).
BILHÕES E BILHÕES
Carl Sagan

A – Cabeça de VISÃO: ao contrário das crenças do antigo Egito, o processo de VER ocorre de
maneira oposta: primeiro você OLHA um determinado objeto: um umbuzeiro, por exemplo;
em seguida, a IMAGEM da árvore (o reflexo da luz sobre ela) singra o espaço e penetra em
seus OLHOS; e por último, - após registrar a IMAGEM em seu cérebro, - finalmente você pode
VÊ-LA, - em seus MIOLOS.

B – A dinâmica do OLHAR: você não percebe todo esse processo porque tudo acontece na
velocidade da LUZ. Ou seja, as IMAGENS (do mundo exterior) singra o espaço, penetra em seus
olhos e chega ao seu cérebro a uma velocidade de 300.000 km/seg.

C- Écran nos MIOLOS: na realidade, não VEMOS um palmo à nossa frente; só enxergamos
quando as IMAGENS (do universo ao nosso redor) chegam ao nosso CÉREBRO. Por exemplo:
neste exato momento, você NÃO está vendo a tela do seu computador sobre a mesa; na
realidade, você está vendo a IMAGEM da tela dentro do seu CÉREBRO.

2 - OLHOS D’ÁGUA
Conceição Evaristo

Lembrança da Cor das Lágrimas


“Uma noite, há anos (no Presente Anterior), acordei bruscamente e uma estranha pergunta
explodiu de minha boca. De que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada, custei a
reconhecer o quarto da nova casa em que eu estava morando. (...). E a insistente pergunta
martelando, martelando. De que cor eram os olhos de minha mãe? (...). Eu achava tudo muito
estranho, pois (ao regressar na Linha da Memória – e vê suas lembranças) me lembrava
nitidamente de vários detalhes do corpo dela (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro).
Da unha encravada do dedo mindinho do pé esquerdo... da verruga que se perdia no meio de
uma cabeleira crespa e bela... Um dia (...), descobrimos uma bolinha escondida bem no couro
cabeludo dela. Pensamos que fosse carrapato. A mãe cochilava e uma de minhas irmãs, aflita,
querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer, puxou rápido o bichinho. A mãe e nós rimos e
rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto, das lágrimas escorrerem. Mas de que cor
eram os olhos dela? (...)”

3 – O LEITOR
Bernhard Schlink

No trecho a seguir, o protagonista, Michael Berg, explica como ele, apesar da distância,
permanece vendo – EM SUA TELA INTERIOR (cérebro) – as lembranças da bela e angustiada
HANNA (uma personagem que carrega, em silêncio, o peso da culpa – de todos)...

“Estava em pé no escritório do meu pai. Observei-a. Ela deixou vaguear o olhar pelas estantes,
como se lesse um texto (ela era analfabeta). Ficou parada à janela, olhou para a escuridão,
para o reflexo das estantes e para o seu reflexo. É uma das imagens (lembranças) que me
ficaram da Hanna (em seu cérebro). Memorizei-as, e consigo projetá-las numa TELA INTERIOR
(cérebro) e olhá-las, imutáveis, sem desgaste. (...). E pode então acontecer de as projetar
(outras lembranças da Hanna) repetidamente uma atrás das outras na minha TELA INTERIOR
(cérebro), e ter que as olhar (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro).

Uma delas é a Hanna (a lembrança da Hanna) que calça as meias na cozinha. Outra é a Hanna
(a lembrança da Hanna) em pé diante da banheira, segurando o toalhão com os braços
afastados. Uma outra é Hanna (a lembrança da Hanna) de bicicleta, com a saia flutuando ao
vento. Depois, a imagem (a lembrança) da Hanna com um vestido de riscas azuis e branca...
Olhou-se de alto a baixo, voltou-se, dançou alguns passos, olhou-se no espelho, (...), e
continuou a dançar. (...). Depois... Hanna (a lembrança da Hanna), na piscina, em calções e
blusa atada com um nó na cintura. Da adolescência, esta foi a última imagem (lembrança) da
Hanna que permaneceu em meu CÉREBRO. – Então ela sumiu.”

(...). Demorou um certo tempo até que meu corpo (cérebro – ao lembra de Hanna) deixasse de
ter saudades do seu... Sua recordação (embora permanecesse no cérebro) parou de me
acompanhar por todo o lado. Ficou para trás (se distanciou em sua Linha da Memória – dentro
do cérebro), como fica uma cidade quando o comboio parte. Só a reencontrei no tribunal.
4 – NAÇÃO CRIOULA
José Eduardo Agualusa

Na enregelante Paris, de dezembro de 1872, “onde o nevoeiro cobre tudo como uma noite
branca”, Fradique Mendes LEMBRA E VÊ A IMAGEM de Ana Olímpia – em seu cérebro.
E assim, atormentado pela saudade da “sua doce Princesa” – que a havia deixado na
ensolarada Luanda - decide escrever-lhe...

“Nesta cidade anoitecida é a MEMÓRIA da tua luz (da tua lembrança – em meu cérebro) que
me guia e conforta. VEJO-TE, constantemente te VEJO (tua lembrança – em meu cérebro),
como pela primeira vez te vi, rodando belíssima nas voltas da rebita ou meditando gravemente
na Muxima, sozinha na capela, enquanto lá fora o rio imóvel sob o largo sol, pareciam em
silêncio meditar contigo. VEJO-TE (tua lembrança – em meu cérebro) depois atravessando a
galope a Praia dos Veados. VEJO-TE (tua lembrança – em meu cérebro) rir ao longe e o teu riso
chegar até a mim trazido pela brisa (vemos e ouvimos nossas lembranças – dentro do
cérebro), salgado e fresco, húmido e forte, e eu volto a sentir, como então senti, a viva
presença da Vida. (...). Escreve, diz-me o que decidiste. Condena-me ao Inverno ou salva-me
dele. (...). Não me lamentes – condenado a viver no Inverno, trago comigo (em meu cérebro) a
MEMÓRIA do sol. Amo-te, hei-de amar-te sempre.”

5 - O ESTRANHO CASO DO CACHORRO MORTO


Mark Haddon

Christopher Boone, de 15 anos, com seu jeito peculiar e detalhista (ele sofre de um tipo de
autismo), explica como VÊ AS LEMBRANÇAS, - EM SEU CÉREBRO.

E é dessa forma que ele consegue identificar as pessoas; saber como agir em situações difíceis;
e, nas horas vagas, investigar a morte do cachorro da vizinha, - crime do qual fora
injustamente acusado...

“E é assim que reconheço alguém, (...). Eu vejo o que está vestindo, se usa bengala, óculos, (...),
- e eu uso o Search em minhas MEMÓRIAS (regressa em sua Linha da Memória – dentro do
cérebro – e procura uma determinada lembrança), para ver se eu já as encontrei antes. E é
assim também que decido como agir em situações difíceis (...). Por exemplo: se vejo alguém
deitado no chão da escola, uso o Search (regressa e procura na Linha da Memória – dentro do
cérebro) para passar todo minha MEMÓRIA até achar uma IMAGEM (lembrança), e então
comparo-a com a que está acontecendo na minha frente e decido se a pessoa está deitada por
brincadeira, tirando uma soneca, ou tendo um ataque epiléptico. Caso seja este o caso, eu
afasto os móveis (...), para evitar que bata a cabeça, tiro minha jaqueta e ponho debaixo da
cabeça dela e vou e chamo um professor.

Outras pessoas também têm IMAGENS (lembranças) em sua cabeça. Mas elas são diferentes
porque as IMAGENS na minha cabeça são IMAGENS (lembranças) de coisas que realmente
aconteceram. E outras pessoas têm IMAGENS (lembranças) em suas cabeças de coisas que não
são reais e que não aconteceram (aficionado por ciências exatas, o CÉREBRO de Christopher
não comporta a imaginação de um Dom Quixote – personagem que veremos no cap. XVIII).

E a avó (senil) tem IMAGENS (lembranças) em sua cabeça, também, mas suas IMAGENS (as
lembranças no cérebro da avó) são todas confusas, como alguém que misturou um filme e ela
não pode dizer o que aconteceu na ordem em que aconteceu, e assim ela pensa que as pessoas
mortas ainda estão vivas e ela não sabe se alguma coisa aconteceu na vida real ou se
aconteceu na TV. “

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OBSERVAÇÃO
O QUE É O AUTISMO? : não sendo especialista, darei uma explicação superficial. Uma pessoa
dita “normal” – através dos seus sentidos: visão, audição, paladar, olfato e tato – registra em
seu cérebro as impressões do mundo ao seu redor, que, por sua vez, é composto por: imagens,
sons, sabores, aromas e sensações táteis.

Em seguida, de posse dessas informações – contidas em seu cérebro – ela as utiliza para
interagir com esse mundo exterior: questionando, refletindo, criando, fofocando, maldizendo,
jogando conversa fora, enfim, aporrinhando todos em sua volta, etc.

Uma pessoa AUTISTA registra em seu cérebro as impressões do mundo ao seu redor: imagens,
sons, sabores, aromas e sensações táteis. O problema é que em lugar de usar essas
informações contidas em seu cérebro para se comunicar com o mundo exterior, ele “opta” por
guardá-las todas para si; e, numa espécie de egoísmo inconsciente (sem maldade), passa a
viver exclusivamente dentro do seu Mundo Interior, - imerso nas profundezas do próprio
cérebro.

AUTISMO x HIPERATIVIDADE

Fazendo uma analogia, enquanto o AUTISTA manifesta concentração excessiva, fechando-se


dentro de si mesmo (refugiando-se dentro do próprio cérebro), o comportamento HIPERATIVO
manifesta o oposto: falta de concentração e autocontrole, como se quisesse abraçar, num
único amplexo, todo o mundo à sua volta.
6 – SAGARANA
Guimarães Rosa

Raymundão, apesar da idade, ainda LEMBRA E VÊ – em seu cérebro – a imagem (retrato) da


sua primeira topada...

“Você ainda se LEMBRA da primeira topada sua, Raymundão? – perguntou o Major Saulo. –
Ah, seô Major, foi um boi retaco, que caminhava na gente por gosto e investia de olho aberto e
cabeça alteada, feito vaca... O senhor sabe, esse é o pior que tem pra se escorar... (...). Se tive
medo? Só na horinha em que o bicho partiu em mim, eu achei que ele era grande demais, e
pensei que, de em-antes, eu nunca tinha visto um boi grande assim... Mas isso foi assim num
átimo, porque depois as mãos e o corpo da gente mexem por si, e eu acho que até a vara se
governa... Quando dei fé, a festa tinha acabado. (...). O pior foi que eu piscava, e afundei a
cabeça nágua fria, mas sem valer, porque fiquei o dia com aquele boi ( imagem, lembrança do
boi) dentro das minhas vistas (dentro do cérebro), QUE NEM UM RETRATO, que doía até...

7 – DESONRA
J. M. Coetzee

Expulso da universidade por se envolver com uma aluna, o agora ex-professor, David Lurie,
numa súbita explosão, mergulha nas profundezas do cérebro e VÊ AS LEMBRANÇAS (imagens)
de todas as mulheres que conheceu durante a vida (e olha que não foram poucas – ô,
inveja!)...

“Numa súbita explosão, como se entrasse de repente em um sonho acordado, uma torrente de
IMAGENS (enxurrada de lembranças) começa a fluir, IMAGENS (lembranças) de mulheres que
conheceu em dois continentes, algumas tão distantes (em sua Linha da Memória – dentro do
cérebro) que mal as reconhece. Como folhas sopradas pelo vento, misturadas, elas passam
diante dele (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro). Um claro campo coberto de
criaturas: centenas de vidas ligadas à dele. Prende a respiração, querendo que a visão
(procissão de lembranças – em seu cérebro) prossiga. O que aconteceu com elas, todas essas
mulheres, todas essas vidas? Haverá momentos em que elas também, ou algumas delas, são
mergulhadas, sem aviso prévio, num oceano de lembranças? A menina alemã: será possível
que nesse mesmo instante ela esteja lembrando do homem que lhe deu uma carona em uma
estrada da África e que passou a noite com ela? (...). Com todas ele saiu enriquecido. (...). E
como uma flor que se abri em seu peito, seu coração (seu cérebro – por preservar tais
lembranças) se enche de gratidão.

8 – SE A RUA BEALE FALASSE


James Baldwin

“A mente (cérebro) é como um objeto que pode ficar empoeirado (impregnado por lembranças
indesejadas). O objeto não sabe, assim como a mente. Por isso, depois daquela tarde ( do
incidente com Fonny) na loja de legumes, eu (Tish) via Bell (o policial branco - e posterior algoz
de Fonny) em toda parte, o tempo todo (Tish via a lembrança do policial em seu cérebro –
constantemente). (...). Ele tinha cabelos ruivos e olhos azuis. Caminhava igual ao John Wayne,
com passadas largas como se quisesse varrer o mundo. Como seus heróis, ele tinha cabeça
pequena, barrigão e bunda grande, e seus olhos eram tão vazios quanto os de George
Washington. Mas eu estava começando a aprender alguma coisa sobre o vazio daqueles olhos.
E o que estava aprendendo me deixava morta de medo. (...). No fundo daquele azul que não
pisca, há uma crueldade infinita, uma malevolência gélida. Naquele olho, você não existe – se
der sorte. Mas se for forçado a reparar, você estará marcado, marcado, marcado... (...).”

9 – BLADE RUNNER
ROY BATTY, O REPLICANTE
Ao fim de sua busca por respostas – e momentos antes de morrer – , o Replicante regressa em sua Linha da
Memória, relembra as lembranças mais significativas de sua breve vida, e as descreve...

“Eu VI coisas que vocês homens jamais imaginariam. Naves de guerra em chamas ao largo da
constelação de Órion. Eu VI (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro) raios-C
resplandecerem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser... Agora todos esses
momentos (lembranças de episódios vividos) se perderão para sempre, como lágrimas na
chuva. Hora de morrer! “
RIDLEY SCOTT – PHILIP K. DICK

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Neste capítulo veremos como, ao evoluir a MEMÓRIA (ao desenvolver a aptidão para
preencher o cérebro com as LEMBRANÇAS da nossa vida: infância, juventude, maturidade),
nos tornamos HUMANOS. Ou seja: adquirimos a capacidade de exteriorizar EMOÇÕES.

SUPREMACIA DE TODAS AS CORES


HUMANO é todo ser vivo capaz de exteriorizar EMOÇÕES.

Portanto, definitivamente, todos nós, bípedes, de todas as cores e formas,

SOMOS TODOS HUMANOS


(para o bem e para o mal)

“A ideia de que os brancos europeus podiam sair colonizando o resto do mundo estava
sustentada na premissa de que havia uma Humanidade Esclarecida (essa coisa é esclarecida
no cap.13) que precisa ir ao encontro da Humanidade Obscurecida, trazendo-a para essa luz
incrível (“a doença branca”). Esse chamado para o seio da civilização sempre foi justificado
pela noção de que existe um jeito de estar aqui na Terra, uma certa verdade, ou uma
concepção de verdade (branca), que guiou muitas das escolhas feitas em diferentes períodos
da história.”
(AILTON KRENAK – TRECHO DO LIVRO – IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO)

As Doenças do Brasil
Valter Hugo Mãe

CAPÍTULO

XI
A CONQUISTA DO HUMANO
AS LEMBRANÇAS EXPLICAM A ETIOLOGIA DOS SENTIMENTOS EXCLUSIVAMENTE HUMANOS

TUTOR DE MIOLOS

“O mesmo se passava com os TERAPEUTAS DA MENTE que o ministério da saúde, correndo


para imitar as providências terapêuticas da igreja (que ofereciam o tranquilizante espiritual do
confessionário), tinha enviado para o auxílio dos mais desesperados. É que não foram poucas
as vezes em que um psicólogo, no preciso momento em que aconselhava o paciente a deixar
sair as lágrimas como sendo a melhor maneira de aliviar a dor que o atormentava, se desfazia
em convulsivo choro ao lembrar-se de que também ele poderia ser o destinatário de um
sobrescrito idêntico na primeira distribuição postal de amanhã (pois agora, a MORTE – em seu
novo modus operandi – se anuncia com 8 dias de antecedência através de uma carta em
envelope arroxeado). (...). E acabavam os dois (psicologista e paciente) a sessão em
desabalado pranto, abraçados pela mesma desgraça.”
AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE
José Saramago

A – Administradores de Lembranças Alheias – à Wundt, Pavlov, Freud: após VOCÊ acomodar-


se no divã, a primeira pergunta do psicanalista será:

QUAL A LEMBRANÇA QUE O AFLIGE?


(anamnese)

VOCÊ, então, regressa em sua Linha da Memória (dentro do seu cérebro) e descreve a
lembrança de uma perda; ou a lembrança de um trauma; ou a lembrança de uma mágoa; ou a
lembrança de uma desilusão amorosa, etc.

LEMBRO da perda, logo SOFRO;

LEMBRO do erro, logo me ARREPENDO;

LEMBRO do abuso (físico ou moral), logo sinto o peso do TRAUMA, etc.


“As lembranças escuras são como abismos: ninguém se deve debruçar nelas”
MULHERES DE CINZAS
Mia couto

B – ‘Sessão de Terapia’ – de lembranças: por serem indeléveis, não é possível remover uma
Lembrança Aflitiva do CÉREBRO. Mas o Terapeuta de Recordações pode fazer com que você a
“aceite”. Afinal, o sofrimento é inerente a toda forma de vida que foi capaz de evoluir a
MEMÓRIA – que, como será explicado, é uma aptidão restrita a nós, BÍPEDES.

“Julia pergunta, - Quanto tempo você (U Ba, o sábio) demorou para superar essa perda (a
morte dos pais)? – Superar? Não acho que eu diria isso. Quando superamos alguma coisa, nós
avançamos, deixamos isso para trás. Deixamos os mortos para trás ou os levamos conosco?
Acho que nós os levamos conosco (levamos as lembranças dos entes queridos – em nosso
CÉREBRO). Eles nos fazem companhia. Eles permanecem conosco, ainda que de outra forma.
Temos que aprender a viver com eles (com as lembranças deles – em nosso cérebro) e com a
sua morte. (...). A vida é um dom repleto de mistérios no qual o SOFRIMENTO (lembranças de
episódios dolorosos) e a FELICIDADE (lembranças de episódios exultantes) são entrelaçados
inextricavelmente (em nosso cérebro). É vã qualquer tentativa de ter um sem o outro. “
A ARTE DE OUVIR O CORAÇÃO
Jan-Philipp Sendker

HOMO EMOJIS
( HUMANO – EMOJI, DEMASIADO EMOJI )

“O Quanto há de humano no ser humano, e como proteger esse humano em si?”


Dostoiévski

C – HUMANO – Cada lembrança, uma emoção: cada lembrança da nossa vida, somatiza uma
determinada emoção. Portanto, ao evoluir a MEMÓRIA (a aptidão para preencher o CÉREBRO
com as lembranças da nossa vida), nos tornamos HUMANOS. Ou seja, conquistamos a aptidão
para exteriorizar EMOÇÕES: amor, ódio, dor, prazer, culpa, indiferença, revolta, perdão,
saudade, trauma, orgulho, frustração, inveja, etc.

LEMBRO da perda, logo SOFRO


O REGRESSO DE CARLA – SÓ POR DENTRO

-- eu soube que a menina que morreu era amiga sua.


– a Carla (também de 8 anos).
– e você tá se sentido como?
– sozinha. Quando ela volta, seu Luís? (ele tirou os óculos de novo. O olho de pedra – catarata
– me assustou um pouco menos).
– ela não volta. Quer dizer, ela só volta dentro de nós (dentro do cérebro) toda vez que alguém
LEMBRAR dela. Fora, nunca mais.

Vento, o Cão de Rua


-- veterinário: dá pra saber que ele já é bem idoso. – Claro, respondi entendendo que o tempo
(tudo se transforma – e morre - no Decorrer do Presente, e) sempre leva as nossas coisas
preferidas no mundo e nos esquece aqui olhando para a vida sem elas. (...). Não me importo,
que seja breve o nosso encontro. Porque na minha memória somos para sempre. Não existe
morrer dentro (pois as lembranças de nossas perdas permanecem vivas – em nosso cérebro), é
como uma canção. As canções não morrem nunca porque elas moram dentro (do cérebro) das
pessoas que gostam delas. Você conhece (lembra) aquela da rua? Se essa rua se essa rua fosse
minha? Eu mandava eu mandava ladrilhar (...).”
O PESO DO PÁSSARO MORTO
Aline Bei

“Nada pode fazer murchar; Nem apagar a esperança; Desta linda flor chamada lembrança.”
Água Fresca Para as Flores
Valérie Perrin

HOMO EMOCIONAL

Este assunto será abordado no CAP XIX (CÉREBRO – A Fantástica Fábrica de Emoções), onde
cada sentimento será explicado separadamente, - através de citações literárias.

TODAS AS FORMAS DO AMOR


Todas as Cores do Sofrimento

Renée LEMBRA de Lucien, logo sofre sua perda


“Os ricos pensam que a gente do povo, talvez por ter uma vida rarefeita, privada do oxigênio
do dinheiro e das boas maneiras, sente as Emoções Humanas com intensidade menor e
indiferença maior. Já que éramos (o casal Renée e Lucien) concierges (porteiros), pareciam
favas contadas que para nós a morte era como uma evidência no curso dos acontecimentos,
ao passo que para os ricos se revestiria nos trajes da injustiça e do drama. Um porteiro que se
apaga é um ligeiro vazio no cotidiano, uma certeza biológica a que não está associada
nenhuma tragédia, e para os proprietários que cruzavam com ele diariamente na escada ou na
porta de seu cubículo, Lucien era uma não existência que retornava a um nada do qual jamais
tinha saído, um animal que, por viver uma semivida, devia talvez, no momento da morte, sentir
apenas uma semirevolta.

Que, como todo mundo (todos os bípedes: ricos ou pobres, doutos ou iletrados, vermelhos ou
amarelos), - pudéssemos sofrer o inferno e que, à medida que a dor devastava nossa
existência, acabássemos de nos decompor em nós mesmos, em meio ao tumulto do medo e do
horror que a morte inspira em qualquer um, - não aflorava no espírito de ninguém naquele
prédio. (...).”
A ELEGÂNCIA DO OURIÇO
Muruel Barbery

Nas 11 citações a seguir, fala-se um pouco sobre HUMANIDADES...

1 – O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO


Mia Couto

“Eu estava como o prisioneiro que encontra no carcereiro o único ser com quem trocar as
Humanidades. E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de Sermos Humanos?
Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar (sem exteriorizar
emoções). Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só uns poucos (apenas os
bípedes – para o bem e para o mal) aprenderam a lição da Humanidade.”

2 – SUÍTE FRANCESA
Irene Nemirovisk

“Sabemos muito bem que o SER HUMANO é complexo, múltiplo, dividido, imprevisível, mas é
preciso o Tempo da Guerra ou de grandes mudanças para o vermos. É o espetáculo mais
apaixonante e terrível”.
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“A centrífuga separa o mel.” – Explica August sobre o funcionamento do seu apiário. “Tira a
parte ruim e deixa a parte boa. Eu sempre achei que seria ótimo ter centrífugas assim para
os seres humanos. Era só jogá-los aí dentro e pôr a máquina para funcionar.”
A VIDA SECRETA DAS ABELHAS
Sue Monk Kidd

3 – JUDAS
Amos Oz

“Após muitas hesitações, Jesus e seus seguidores subiram para Jerusalém. Mas aqui de novo
foi assolado por dúvidas. E não apenas dúvidas, mas também um temor mortal. Tão simples
quanto isso, como o de um SER HUMANO. Um temor mortal e HUMANO, muito HUMANO, se
apoderou de seu coração (cérebro – “LEMBRO que sou humano e mortal, logo sinto medo”):
‘Se puderes, rezou Jesus a Deus, afasta de mim esse cálice’.

4 – MOBY DICK
Herman Melville

“Muito esforço e poucos ganhos para os que pedem ao mundo que lhes dê uma explicação; o
mundo não pode explicar-se. (...). De tempestade em tempestade! Que assim seja, então.
Parido com dores, é certo que o SER HUMANO viva com sofrimento e morra em agonia! Que
assim seja, então. Eis um bom material para o infortúnio. Que assim seja, então. “

5 – O LEITOR
Bernhard Schlink

“Ah, o senhor quer entender o que é que faz com que os homens possam cometer coisas tão
medonhas. (...). – O que é que quer entender realmente? Compreende que se mate por paixão,
por amor ou por ódio, pela honra ou por vingança? – Michael Berg assente com a cabeça.
– Compreende, também, que se mate para enriquecer, ou para ter poder? Que se mate
durante as guerras ou numa revolução? – Voltei a assentir. – Mas... Mas aqueles que foram
mortos nos Campos de Concentração não tinham feito nada aos que os mataram. É isso que
quer dizer? (...). – Tem razão, não havia guerra e nem nenhum motivo para o ódio. Mas o
carrasco também não odeia aquele que vai executar e, contudo, executa-o. Porque lho
ordenaram? (...). – Não, não estou a falar de ordens e da obediência. (...). – O carrasco faz o
seu trabalho porque são-lhe totalmente indiferentes, tanto os pode matar como não matar.
(...). Vá lá, diga que um homem não deve ser tão INDIFERENTE em relação a outro. Não foi isso
que aprendeu? A ser solidário com tudo que tenha feições humanas? O respeito pela vida? A
dignidade humana? (...)”

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O CIO DO CARRASCO

“Eu sabia. – Diz Riobaldo. - Nunca, mesmo depois, eu nunca soube tanto disso, como naquele
tempo. O Hermógenes, homem que tanto tirava seu prazer do medo dos outros, do sofrimento
dos outros. Aí, arre. Foi que de verdade eu acreditei que o inferno é mesmo possível. Só é
possível o que em homem se vê, o que por homem passa. Longe é, o “Sem-olho” (longe é o
diabo; perto é o homem).”
GRANDE SERTÃO – VEREDAS
Guimarães Rosa

6 – MULHERES DE CINZAS
Mia Couto

“Sorte a dos que, deixando de SER HUMANOS, se tornam feras. Infelizes os que matam a
mando dos outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém.
Desgraçados, enfim, os que, depois de matar, se olham ao espelho e ainda acreditam serem
pessoas. (...). É para isso que servem as fardas: para afastar o soldado da sua HUMANIDADE.”

7 – TRILHAS
Robyn Davidson
- A INCRÍVEL JORNADA DE UMA MULHER PELO DESERTO AUSTRALIANO –

“Depois de 160 anos de guerra tácita contra os aborígenes, tempo durante o qual o
assassinato em massa era praticado em nome do pregresso, e enquanto o último massacre
brutal estava acontecendo no Território do Norte em 1930, o governo colonial havia criado
esta (Aldeia Areyonga) e outras reservas aborígenes em terras que nem os fazendeiros de gado
nem ninguém mais queria. Como todos acreditavam que o povo nativo terminaria morrendo
aos poucos, permitir que eles habitassem pequenas áreas de suas próprias terras era
considerado uma medida temporária. (...). Os negros foram todos reunidos como gado pela
polícia e por cidadãos a cavalo, portando armas de fogo. (...). O governo permitiu que
missionários administrassem muitas dessas reservas e lá confinassem e controlassem o povo.
As crianças mestiças eram tiradas das mães à força, pois os brancos achavam que elas, por
serem mestiças, tinham ao menos uma pequena chance de se tornarem HUMANAS.

8 – UMA ESPERANÇA MAIS FORTE QUE O MAR


Mellissa Fleming
(DOAA AL ZAMEL – A INCRÍVEL HISTÓRIA DA REFUGIADA SÍRIA)

“Neste livro, partilhei de meu sofrimento com vocês. É apenas um pequeno vislumbre das
dificuldades e da dor que suportam refugiados do mundo todo. Represento apenas uma entre
os milhões de vozes que se arriscam diariamente para ter uma vida de dignidade. A perigosa
jornada feita pelos refugiados para alcançar a segurança na Europa costuma levar ao
desespero e morte. Mas colocamos nossas vidas nas mãos de contrabandistas cruéis e
impiedosos porque não temos alternativas. Enfrentamos os horrores da guerra e a indignidade
da perda de nossos lares. Nosso único desejo é viver em paz. Não somos terroristas. SOMOS
SERES HUMANOS COMO VOCÊS. Temos um coração que sente (CÉREBRO – cujas lembranças
expressam): desejo, amor, mágoa, esperança... (...).”

9 – ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA


José Saramago

“Entalado entre dois carros, o corpo de um homem apodrece. A ‘Mulher do Médico’ desvia
os olhos (não suporta registrar a imagem da morte – em seu cérebro). O ‘Cão das Lágrimas’
aproxima-se, mas a morte intimida-o (atormenta-o sentir o odor da morte – em seu cérebro),
ainda dá dois passos, de súbito o pêlo encrespou-se-lhe, um uivo lacerante saiu-lhe da
garganta, o mal deste cão foi ter-se chegado tanto aos HUMANOS, vai acabar por sofrer como
eles.”

10 – ÁGUA FRESCA PARA AS FLORES


Valérie Perrin

Morte por Humanidade Aguda Grave

“Amanhã vamos ter um enterro às quatro da tarde. Um novo residente para o meu cemitério
(diz Violette, a zeladora). Um homem de 55 anos, que morreu por ter fumado demais. Enfim,
isso foi o que os médicos disseram. Eles nunca dizem que um homem de 55 anos pode morrer
por não ter sido amado, não ter sido ouvido, ter recebido contas demais, ter solicitado
empréstimos demais, ter visto os filhos crescerem e irem embora, sem se despedir de verdade.
Uma vida de críticas, uma vida de caras feias. Então ele gostava muito do seu cigarrinho e seu
charuto para ‘Desembrulhar o Estômago’ (para suportar as lembranças das desilusões da
vida). (...).”

11 – AS DOENÇAS DO BRASIL
Valter Hugo Mãe

“Honra e Meio da Noite - Dois Humanos Aflitos da Cor”

“Meu nome é Honra, sagrado Honra (“meu nascimento é um golpe inimigo no corpo de minha
mãe [abaeté] que foi atacada sem permissão pelo branco”), teu nome é Meio da Noite,
sagrado Meio da Noite. Justifica tua sorte para que eu acredite. E Meio da Noite respondeu:
sou negro, conseguir fugir, só entendo isto. De onde venho só havia dor. Meus povos morrem a
trabalhar, espancados sem razão, estuprados. Meus povos negros morrem. Eu fujo de morrer e
mais aceito ser mordido por uma besta, devorado pela fome de algum predador, do que perder
a vida inteira a trabalhar sem descanso, debaixo dos insultos e das batidas. A fome dos bichos
é mais digna do que a ganância (doença) do branco. Meus povos começam a fugir. A minha
fuga traz meus povos. (...). Mataram meu pai, mataram minha mãe, mataram meu irmão.
Agora só vivem no que lembro (LEMBRO das perdas, logo sofro: a evolução da memória
estabelece a aurora das emoções humanas), e eu lembro pouco, menos a cada vez, para
conseguir viver. (...). Não me odeies, rapaz branco (mameluco – caboclo). Sou apenas um rapaz
negro que pede para viver. Não sou um animal. Sou alguém, sim. Eu sou alguém (humano). E
só lamento talvez a possibilidade de ser feio (diferente da cor, assim como Honra – “o feio
branco”). Não sei ser bonito, talvez. Eu não sei. (...).

Desse abismo (“que o animal branco fizera na ideia e que chamara de futuro – A Palavra
Abissal”), o negro haveria de ser resgatado. O mais imenso mar não o esconderia para sempre.
(...). Honra chamava: irmão, meu irmão, sagrado Meio da Noite, onde estás. Nossos povos em
toda a parte nos pedem ajuda. (...). Agarra minha mão. Não largues nunca.”

O Ritual do Chá
“Lá fora o mundo ruge ou dorme, as guerras se inflamam, os homens vivem e morrem, as
nações perecem, outras surgem e breve são tragadas, e em todo esse barulho e todo esse
furor, nessas erupções e nessas ressacas – enquanto o mundo vai, se inflama, se dilacera e
renasce -, agita-se a Vida Humana.

-- Então, bebamos uma xícara de chá. – Diz Renée à sua amiga (única) Manuela.”
A ELEGÂNCIA DO OURIÇO
Muriel Barbery
HOMO SENTIMENTALIS

Como já foi dito, este assunto será abordado no cap. XIX (CÉREBRO – A Fantástica Fábrica de
Emoções), onde cada sentimento será explicado separadamente, - através de citações
literárias.

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Neste breve capítulo explicaremos quem realmente VOCÊ É - POR DENTRO. E não esqueça que
este assunto (QUEM É VOCÊ ?) será complementado no cap. XXIII

“A Pele que Habito”

“A pele aliás, a PELE é tudo quanto queremos que os outros vejam de nós, por baixo delas
nem nós próprios conseguimos saber QUEM SOMOS”.
TODOS OS NOMES
José Saramago

CAPÍTULO

XII
QUEM É VOCÊ ?
SUPER INTERESSANTE
(pub. 18 out 2009 – atu. 18 out 2017)
Rodrigo Rezende

O SEGREDO DE SER VOCÊ


“Como você virou você – a pessoa que você chama de EU.”

QUEM É VOCÊ?
“COMO VOCÊ VIROU VOCÊ? Essa pessoa que você chama de EU nem sempre esteve aí.
Entenda a formação da sua consciência. (...). Estudar o EU é um desafio para a ciência. Afinal,
como usar evidências científicas para explicar o filme (feito com as lembranças da nossa vida)
que se desenrola dentro do seu CÉREBRO. Ainda mais se a única poltrona nessa sala de cinema
mental já está ocupada por você (apenas nós vemos nossas lembranças – dentro do cérebro).
(...).”

“Pois a questão de QUEM É VOCÊ é um mistério, e você não tem nenhuma


esperança de que ele algum dia seja resolvido”.
DIÁRIO DE INVERNO
Paul Auster

“Um Homem É o Que Memoriza”

1- Antes de ser VOCÊ: como já foi dito, o Presente é Absoluto, - ou seja: vivemos em um
ETERNO PRESENTE. Nesta condição, você – como uma panela de barro vazia – nasceu com o
cérebro OCO: sem conteúdo, sem história, sem passado.
Entretanto, no decorrer da sua Permanência no Presente, você foi gradativamente
preenchendo sua cabeça (Linha da Memória) com as LEMBRANÇAS da sua vida: infância,
Juventude, maturidade.

E assim, finalmente – com o cérebro preenchido com lembranças pessoais – você passou a ser
a pessoa que você chama de EU. E agora, sim, você já tem condições de responder a
desconcertante e muitas vezes enigmática pergunta inicial.

“A Cabeça Que Habito”

2 – QUEM É VOCÊ? : esta pergunta costuma gerar paralisia ou desconforto, mas é muito
simples respondê-la. Para isso basta que VOCÊ regresse em sua Linha da Memória (dentro do
cérebro) e descreva as LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade. Ou seja...

“DESCREVAS TUAS LEMBRANÇAS E EU SABEREI QUEM TU ÉS”.

Descrevendo Lembranças

“As pessoas me recebem e relatam suas experiências (descrevem as lembranças da sua vida)
de formas diferentes... Umas começam a relatar imediatamente: “Eu me LEMBRO... Guardo
tudinho na MEMÓRIA (cérebro), como se fosse ontem...”. Outros postergam o encontro:
“Preciso me preparar... Não quero mergulhar naquele inferno novamente (“não quero
mergulhar nas entranhas do cérebro e relatar/reviver as angustiantes recordações da
guerra”).

-- Valentina Pávlovna é uma dessas que passou muito tempo com medo, e só a contragosto
me deixou entrar em seu Mundo Inquieto (cérebro - construído com as aterradoras
lembranças da 2ª Guerra Mundial).”
A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER
Svetlana Aleksiévitch

“O passado (as lembranças da nossa vida) não é tão fértil quanto o esterco que coloco na terra
(diz o bondoso Sasha – jardineiro-zelador do cemitério). Ele se parece mais com cal.
O veneno que queima os brotos. É, Violette, o passado é (muitas vezes) o veneno
do presente. Remoê-lo (relembrá-lo) é morrer um pouco.”
Água Fresca Para as Flores
Valérie Perrin
SOMOS FEITOS DE LEMBRANÇAS
- Cada Lembrança, Uma emoção -

-- LEMBRO do objeto da afeição, .................................................................logo sinto amor;

-- LEMBRO do objeto da aversão, .................................................................logo sinto ódio;

-- LEMBRO da perda (entes queridos), ................................................................logo sofro;

-- LEMBRO da ausência, .........................................................................logo sinto saudade;

-- LEMBRO do erro, ....................................................................logo sinto o peso da culpa;

-- LEMBRO das conquistas, ......................................................................logo sinto orgulho;

-- LEMBRO das derrotas, ......................................................................logo sinto frustração,

-- LEMBRO das atrocidades da guerra, .........................logo sinto estresse pós-traumático, etc.

OBS

Este assunto será esclarecido no cap. XIX: CÉREBRO – a Fantástica Fábrica de Emoções.

3- “Conhece-te a ti mesmo”: faça o teste a seguir e comprove-o VOCÊ mesmo: regresse em


sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e busque a lembrança de um episódio significativo
da sua vida... Encontrou? Sim. Agora descreva qual é a emoção que esta lembrança o faz
SENTIR: saudade, trauma, afeição, aversão, gratidão, revolta, orgulho, culpa, arrependimento,
vergonha...

“Por quê? – (responde U Ba à indagação de Julia) – Todos têm que conhecer o mundo? Neste
vilarejo, em todas as casas, em qualquer casebre, você conseguirá encontrar todos os gêneros
de emoções humanas: amor e ódio, medo e ciúmes, inveja e alegria. Eu não precisaria sair à
procura deles (o mundo está todo aqui).”
A ARTE DE OUVIR O CORAÇÃO
Jan-Philipp Sendker

Somos Feitos de Átomos e Preenchidos com Lembranças

4 – LEMBRO, logo sinto: como vimos no item acima, cada lembrança da sua vida, somatiza
uma determinada emoção. Portanto, ao DESCREVÊ-LAS, nós passamos a saber quais são: suas
afeições, seus desafetos, suas vitórias, seus fracassos, suas dores, suas alegrias, suas
frustrações, suas saudades, seus traumas, etc . – E assim, saberemos quem é VOCÊ. Ou seja...

LEMBRANÇAS pessoais são os blocos de construção da sua INDIVIDUALIDADE


- ou da pessoa que você chama de EU -

“Posso passar o resto da minha vida falando do PASSADO (descrevendo as lembranças da sua
vida – contidas em seu cérebro), - disse tio Hakim, com uma voz mais descansada. (...). Na
manhã de segunda-feira continuava falando, e só interrompia para rever os animais e dar uma
volta no pátio da Fonte, onde molhava o rosto e os cabelos; depois retornava com mais vigor,
com a cabeça (cérebro) formigando de cenas e diálogos (de lembranças de episódios vividos),
como alguém que acaba de encontrar a Chave da Memória. “
RELATO DE UM CERTO ORIENTE
Milton Hatoum

Carregamos o Nosso EU na Cabeça

5 – LEMBRANÇAS – a maior e mais fiel companhia do homem: como foi explicado, cada
indivíduo carrega – em sua cabeça – o peso de suas lembranças; ou o fardo do seu passado; ou
ônus da existência; ou o filme da sua vida.

Portanto, não importa onde esteja ou aonde vá, dia ou noite, dormindo ou acordado, sejam
elas boas ou más, VOCÊ carrega em seu cérebro o peso das suas recordações.

“Quando amanheceu e Irving abriu os olhos (após 15 anos de exílio na Espanha), fugiu de sua
casa (decrépita – onde sobrevivem mãe e irmã) numa tentativa de fugir de si mesmo para se
perder na cidade (Havana), própria e alheia ao mesmo tempo, o território de
suas melhores e suas piores lembranças.”
Como Poeira Ao Vento
Leonardo Padura

6 – A Conquista da Solidão: com a evolução da MEMÓRIA, o homem passou a preencher o


CÉREBRO com as lembranças da sua vida. E assim, deixou de ser um BANDO e conquistou a
INDIVIDUALIDADE – ou a solidão. Vivemos na solidão de nossas lembranças; no egoísmo das
nossas ações; na idiossincrasia do nosso comportamento...
Mesmo que fôssemos todos fisicamente idênticos (genoma comum), as lembranças pessoais
fariam com que fôssemos todos diferentes.

“Por que as pessoas têm de ser tão sós? Qual o sentido disso tudo? Milhões de pessoas neste
mundo, todas ansiando, esperando que outros as satisfaçam, e contudo se isolando.
Por que? A terra foi posta aqui só para alimentar a solidão humana?
MINHA QUERIDA SPUTNIK
Haruki Murakami

A CONQUISTA DO EGOÍSMO
-- SENTIMOS a nossa dor, não a dor dos outros;
-- SENTIMOS a nossa sede, não a sede dos outros;
-- SENTIMOS o nossa fome, não a fome dos outros;
-- SENTIMOS...

“A desgraça alheia não pesa em nossa balança”.


CERVANTES

QUINCAS BORBA
Machado de Assis

“(...) Sobejam Exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou
em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, - um triste molambo
de mulher, - chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a
passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.

-- É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo.

-- Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?

O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; não é preciso estar
embriagado para acender um charuto nas misérias alheias. Bom padre Chagas! – Chamava-
se Chagas. – Padre mais que bom, que assim me incutisse por muitos anos essa ideia
consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o mal dos outros. (...). Tudo ideias
consoladoras. Bom padre Chagas!”

“Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de
apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.”

7 - “Raio Que o Parta!”: a individualidade (o egoísmo nosso de cada dia) cria a ilusão de que
os raios (as coisas ruins) só caem na cabeça dos OUTROS; e esquecemos que para os demais
indivíduos (para o restante da humanidade), nós é que somos O OUTRO. Portanto, muito
cuidado com os raios!!!
“Oh! O homem; o mais egoísta de todos os animais; o mais personalista de todas as criaturas,
que continua a acreditar que a Terra gira, que o Sol brilha, que a Morte ceifa (os outros),
apenas para ele; formiga que amaldiçoa Deus do alto de uma haste de capim.”
O CONDE DE MONTE CRISTO
Alexandre Dumas

A Cabeça Que Habito

7 – QUEM É VOCÊ ? : portanto, como já foi dito, para responder à questão proposta no título
da SUPER INTERESSANTE, basta que VOCÊ regresse em sua Linha da Memória (dentro do
cérebro) e descreva as LEMBRANÇAS de todos os episódios da sua vida: infância, juventude,
maturidade.

Mas é preciso deixar claro que não pode MENTIR (tentar omitir, inventar ou falsear suas
lembranças). E aí, vai encarar? Não é uma tarefa das mais fáceis, pois o nosso cérebro é...

Cérebro é o Armário Onde Escondemos os Nossos Esqueletos

AUTOBIOGRAFIA
Que Diabo de Filme Ruim é Esse?!

Caso você consiga escrever um livro relatando fielmente/verdadeiramente as lembranças de


todos os episódios da sua vida, revelará realmente/genuinamente quem é VOCÊ.

O problema é que este tipo de narrativa (autobiográfica) costuma conter a maior quantidade
de mentiras por parágrafos escritos. Adoramos mentir em causa própria: nossos erros são
disfarçadamente justificados; enquanto nossos êxitos são discretamente, quando não
descaradamente enaltecidos; - e tudo escrito sob a névoa sórdida do natural egoísmo humano.

“(...) De qualquer modo, foi esse o motivo de minha lorota; pela primeira vez, sucumbi à
tentação que ronda todo autobiógrafo, à ilusão de que, como o passado só existe na nossa
memória (cérebro) e nas palavras que tentam em vão encapsulá-lo, pode-se criar
acontecimentos pretéritos simplesmente por dizer que ocorreram. (...)”
OS FILHOS DA MEIA-NOITE
Salman Rushdie
A seguir veremos 4 CITAÇÕES que abordam o tecido de que são feitos o
homem, - e a mulher: AS LEMBRANÇAS...

1 - GUERRA E PAZ
Liev Tolstoi

André Bolkonski - desiludido e cheio de conflitos filosóficos, morais e religiosos - regressa em


sua Linha da Memória (dentro do cérebro), - e reavalia as lembranças da sua vida: o valor ou o
vazio da sua existência...

“E neste mundo de guerras, interesses e desamor, qual o papel de Deus?”

“Toda (as lembranças da) sua vida lhe aparecera por muito tempo como que projetada por
uma lanterna mágica através de um vidro e a uma luz artificial. E agora via ( realmente,
nitidamente as lembranças da sua existência), de súbito, sem qualquer interposição de vidros,
à clara luz do dia, esses quadros (lembranças pessoais) grosseiramente coloridos. Sim, sim,
aqui estão elas, essas miragens enganosas (lembranças ilusórias) que tanto me emocionaram,
exaltaram e me fizeram infeliz; -- dizia a si próprio, fazendo perpassar pela imaginação toda a
fantasmagoria da sua existência e vendo-a agora à branca e fria luz da nítida proximidade da
morte. Ei-las (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro), essas figuras mal iluminadas que
então me pareciam tão belas e misteriosas. A glória, o bem público, o amor de uma mulher, a
própria pátria... Quão grandes pareciam essas belas coisas (quão grandes e belas pareciam
essas lembranças), com que profundo sentido elas se me apresentavam! E afinal como tudo
isso é mesquinho, pálido, miserável! (...).

Retinham-lhe no pensamento (cérebro) sobretudo as três grandes dores (as lembranças das
três maiores desilusões) da sua existência: seu romance... (paixão por Natacha), a morte do pai
e a invasão francesa (por Napoleão), que alcançara já metade da Rússia. << O amor!... Aquela
garotinha que se me afigurava rica de forças misteriosas! Sim! E eu amava-a. Entretinha com
ela poéticos sonhos de amor, de felicidade mútua. Pobre rapaz! E depois? Acreditava em não
sei que de amor ideal que me conservaria fiel todo o tempo que estaria ausente. E ela acabaria
por se consumir, como a meiga pomba da fábula, esperando, esperando sempre. Ai de mim! É
tudo muito mais simples... Tudo é muito mais simples e muito mais repugnante!>>”.

2 – PACHINKO
Min Jin Lee

“O que o surpreendeu foi que, sentindo a proximidade da morte, ficou aterrorizado com o seu
caráter definitivo. Havia muitas coisas que não conseguira fazer e ainda mais coisas que nunca
deveria ter feito. LEMBROU dos pais, que não deveria ter abandonado; LEMBROU do irmão,
que não deveria ter trazido para Osaka; LEMBROU do trabalho em Nagasaki, que não deveria
ter aceitado. Ele não tinha filhos. Por que Deus o mantinha vivo? Estava sofrendo e, em certo
sentido, podia lidar com isso; mas estava causando sofrimento nos outros e não sabia por que
tinha que continuar vivendo e RELEMBRANDO (refletindo sobre as lembranças de sua vida, e,
sobretudo) a sucessão de decisões terríveis que não haviam parecido tão terríveis assim
quando foram tomadas. Será que a vida era assim para a maioria das pessoas? Desde o
incêndio (bomba atômica sobre Nagasaki), nos poucos momentos em que se sentia lúcido e
grato por respirar sem dor, Yoseb tentava enxergar o que havia de bom em sua vida, mas não
conseguia. Ficava deitado no colchão, repassando mentalmente os erros que (reavaliando –
dentro do cérebro - as lembranças dos erros que), em retrospecto, pareciam tão óbvios. Não
sentia mais raiva da Coreia nem do Japão; acima de tudo sentia raiva da própria estupidez. Ele
orava para que Deus o perdoasse por ser um velho tão ingrato. (...).”

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“A culpa foi minha, chorava ela (a rapariga de óculos escuros – pela morte do ladrão de
carros), e era verdade, não se podia negar, mas também é certo, se isso lhe serve de
consolação, que se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências
dele, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis,
não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar.
(...).”

Ensaio Sobre a Cegueira


José Saramago

3 - HEREGES
Leonardo Padura

Nesse trecho, vemos que Daniel Kaminsky carrega – em seu cérebro - não só as LEMBRANÇAS
dos seus entes queridos mortos, mas também as LEMBRANÇAS, mesmo que difusas, dos seus
algozes, - ambas indeléveis...

“A partir daquele dia (1958), Daniel começou a viver outra das etapas de sua vida que gostaria
(em vão) de apagar de sua persistente MEMÓRIA (cérebro). (...). Podia atenuá-la, nunca sua
cura definitiva.

Aos 27 anos, aquele rapaz nascido polonês e judeu, convertido ao catolicismo, essencial e
legalmente cubano, já tinha uma ligação traumática com a morte. Mas os rostos específicos
(as lembranças das pessoas - em seu cérebro) que se relacionavam com essa ferida eram
apenas os mais amorosos: os de seus pais e de sua irmã, dos avós e tios Kellersteins, o de
monsieur Sarusky, seu primeiro professor de piano, lá em Cracóvia, e da belíssima esposa do
mestre, madame Ruth, (...). Todos devorados pelo Holocausto.
Os algozes (as lembranças dos carrascos – em seu cérebro), por outro lado, eram sombras
difusas, espectros diabólicos, aos quais nem valia a pena tentar dar o rosto, (...). Porque nas
imagens (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro) transmitidas por seu consciente, para
Daniel era impossível conectar as feições conhecidas dos grandes responsáveis pelo massacre
(Hitler e seus jagunços), com o rosto do homem real dedicado a ameaçar, surrar, cuspir, sujar
os judeus, gozando de seu enorme poder para provocar pavor: o homem sem feições precisas
que muitas vezes em suas recordações (cérebro) apertava o gatilho de uma pistola encostada
na nuca. (...)”

4 - TEREZA – CANSADA DE GUERRA – CARREGA NO CÉREBRO


- AS LEMBRANÇAS DOS SEUS MORTOS -

“Nos ombros (cérebro) de Tereza, os MORTOS (as lembranças dos entes queridos) pesam,
carga ruim. Até agora ela os conduziu sem demonstrar desânimo. Aguentou o peso dessas
mortes (as lembranças das perdas) na cacunda, delas ressuscitando por três vezes. Mas Janu
pesa demais, com esse defunto Tereza não aguenta. Januário Gereba, marinheiro, Janu do
bem-querer, morri em tua morte, me acabei de vez.”
TEREZA BATISTA CANSADA DE GUERRA
Jorge Amado

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“Esse é o problema com as coisas vivas, - disse Lettie. Não duram muito. Jovens num dia,
velhos no outro. E depois ficam só as lembranças (em nosso cérebro). E as lembranças
desvanecem (se distanciam em nossa Linha da Memória – dentro do cérebro) e
se confundem, viram borrões.
O OCEANO NO FIM DO CAMINHO
Neil Gaiman

OBS
REVISTA VEJA
(junho – 2003)
“Cientista americano, Morris Goodman, demonstra que homens e chimpanzés apresentam
99.4 % de semelhança em seu DNA, e reabre um debate da época de Charles Darwin.”

SARTRE SÍMIO: caso os chimpanzés evoluam a MÉMÓRIA (algo absolutamente possível – pois
nós também já fomos quadrúpedes e vivíamos trepados nas árvores, lembram?), mas caso
evoluam a MEMÓRIA, um chimpanzé poderá preencher o CÉREBRO com as lembranças da sua
vida: infância, juventude, maturidade. E assim, ao refletir sobre elas (ter a consciência de si
mesmo), poderá, quem sabe, vir a se tornar um... EXISTENCIALISTA (!?). – Deus é pai, ninguém
merece; vade-retro, Antoine Roquentin e sua Náusea – porra, sujeito chato!!!

OBS: este assunto (QUEM É VOCÊ ?) será complementado no cap. XXIII

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Sublime Engenho da Natureza


Neste capítulo falaremos sobre inteligência, desinteligência, teste de QI, - e outras bobagens
do gênero. Sim, tudo isso não passa de um amontoado de tolices; pois, como veremos a
seguir, - através de 10 citações literárias, - todo cérebro é NATURALMENTE INTELIGENTE.

“Palavras de um Xamã Yanomami”

“Os brancos se dizem inteligentes. Não o somos menos. Nossos pensamentos se expandem em
todas as direções (na imensidão do cérebro – ver cap. 18) e nossas palavras são antigas e
muitas. Elas vêm de nossos antepassados. Porém, não precisamos, como os brancos, de peles
de imagens (não precisam da escrita) para impedi-las de fugir da nossa mente. Não temos de
desenhá-las, como eles fazem com as suas. Nem por isso elas irão desaparecer, pois ficam
gravadas dentro de nós (dentro do cérebro). Por isso nossa MEMÓRIA é longa e forte.”
DAVI KOPENAWA – TRECHO LIVRO – A QUEDA DO CÉU

As Doenças do Brasil
Valter Hugo Mãe
CAPÍTULO

XIII
PREENCHENDO O CÉREBRO COM CONHECIMENTOS

SUPER INTERESSANTE
24 set 2018
(Eduardo Szklarz – Bruno Garattoni)

“QI – QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA: (...) Em 1955, o psicólogo romeno-americano David


Wechsler publicou o WAIS: Wechsler Adult Intelligence Scale, que se tornou o teste de QI mais
aceito entre psicólogos, psiquiatras e pesquisadores da cognição humana. (...). Consiste numa
bateria de testes que avaliam a capacidade intelectual em 4 eixos: compreensão verbal,
raciocínio, memória e velocidade de processamento.... (...)”

QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA X QUOCIENTE DE INFORMAÇÃO

1 – Miolos Brilhantes: esqueça a desmiolada citação acima (da Super Interessante), pois, na
realidade, não é possível medir, calcular, mensurar a INTELIGÊNCIA. E a razão é muito simples:

todo CÉREBRO é um milagre da criação; todo CÉREBRO é genial;


todo CÉREBRO é um sublime engenho; Enfim...

TODO CÉREBRO É NATURALMENTE INTELIGENTE.

2 – Como um Livro a Ser Escrito: a questão é que nascemos com o CÉREBRO vazio. Em outras
palavras, todos nós nascemos analfabetos, - ou “burros”, se quisermos usar o termo corrente.
Assim sendo, apenas no decorrer da nossa vida (da nossa Permanência no Presente) podemos
nos tornar “inteligentes”.

Mas para isso se faz necessário preencher gradativamente nossos MIOLOS (Linha da Memória)
com conhecimentos: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, Enem,
universidade, doutorado, etc.

Biblioteca Interior

3 - Biblioteca de Babel: Imagine que seu cérebro seja uma BIBLIOTECA – viva e infinita.
O problema é que ela nasce vazia. Ou seja, no decorrer da sua existência você terá que
preenchê-la com LIVROS.

4 – HOMEM: um ser dotado de inteligência? Presumo que a princípio a resposta é NÃO. Pois,
como já foi dito, o mais correto seria afirmar que o HOMEM, ao nascer, é um ser
dotado de um CÉREBRO. Em seguida, - após preenchê-lo com informações – este tornar-se-á
apto a desenvolver: intelecção, sapiência, lucidez, discernimento, perspicácia, raciocínio,
sagacidade, destreza, sutileza, engenho, habilidade, senso, talento, apreensão, compreensão,
percepção, etc.

Quociente de Conhecimentos

Portanto – voltando à citação inicial da Super Interessante – só é possível medir tão somente o
Quociente de Informação que um indivíduo absorveu (memorizou em seu cérebro) no
decorrer da vida.

Todo Cérebro Nasce Vazio

5 - Cabeças de Vento: nascemos com a cabeça OCA. No entanto, como foi explicado, no
decorrer da nossa existência (Permanência no Presente), devemos preencher o CÉREBRO
(Linha da Memória) com conhecimentos. E assim, podemos transformar os nossos MIOLOS, e
torná-lo apto a ser o que é: um Prodígio da Natureza. Veja a ilustração...
“Quando eu era criança, queria ser um LIVRO quando crescesse. Gente se pode matar como
formigas, mas LIVRO sempre há uma chance de sobrar algum, a continuar a sua vida de
prateleira, eterna e silenciosa, em uma estante esquecida de um país remoto.”
AMÓZ OZ

LER UM LIVRO SIGNIFICA TRANSFORMÁ-LO EM LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO


– E assim, o que era um simples objeto inanimado adquiri vida própria em nossa cabeça -

“Mais tarde, aprendi que os livros acontecem dentro de nós. Claro que eles podem ser bonitos
de ver, mas são sobretudo incríveis de pensar. Eu disse que ler é como caminhar dentro de
mim mesmo. E é verdade. Quando lemos estamos a percorrer o nosso próprio interior.
(...). Todos os livros são infinitos. Começam no texto e estendem-se pela imaginação.
CONTOS DE CÃES E MAUS LOBOS
Valter Hugo Mãe

Salvar um LIVRO significa retirá-lo da estante e, através da leitura, transportá-lo para o interior
do nosso cérebro; – onde ele ganha vida ao se transformar em Lembranças Animadas.

DESIGUALDADE INTECTUAL
Todos os Cérebros Nascem Iguais – Pois todos nascem Vazios
6 - Igualdade Mental: todo CÉREBRO é uma maravilha da natureza; Mas, como nascem
VAZIOS, significa que todos nós nascemos ANALFABETOS. Ou seja, - além de careca,
desdentado e desnudo, - viemos ao mundo como um completo iletrado, inculto, apedeuto e
ignaro.

“Educação não transformam o mundo. Educação MUDA pessoas.


Pessoas transformam o mundo.”

Paulo Freire

Portanto, não importa se o indivíduo é branco ou preto, homem ou mulher, rico ou pobre, e
muito menos a quantidade de neurônios; - nada disso possui qualquer relevância. Na
realidade, assim como não existem raças superiores ou inferiores, também não há pessoas (ou
povos) mais inteligentes nem menos inteligentes.

O que existe são CÉREBROS que foram cuidadosamente aproveitados (preenchido com
conhecimentos), enquanto outros CÉREBROS foram irresponsavelmente
negligenciados (não preenchidos com conhecimentos).

7 - ESCOLHAS: apenas para reforçar tudo que já foi dito, digamos que seus pais escolhessem
(certas ou desastradas, somos a única espécie capaz de fazer escolhas), mas digamos que seus
pais optassem por não educá-lo (não preencher seu cérebro com conhecimentos). Hoje,
portanto, você seria um analfabeto como outro qualquer, e não teria condições intelectuais
de LER o que acaba de LER.

Felizmente seus pais foram diligentes e acertadamente escolheram educá-lo. Portanto, como
já foi dito, todo CÉREBBRO é um Milagre da Natureza; mas para fazê-lo ser o que é, tudo
dependerá de uma simples escolha:

‘preenche-lo com conhecimentos, ou não preenchê-lo com conhecimentos.’

PREENCHENDO O CÉREBRO COM CONHECIMENTOS


Como exemplo, peço que leia as 11 CITAÇÕES abaixo; pois estas (muito melhor do que os
meus argumentos) o fará compreender melhor essa questão.

“Eu já disse que os livros são como espelhos: cada pessoa encontra (desperta) neles aquilo que
está em sua própria mente (cérebro). (...). Os livros são espelhos indiscretos e arriscados:
fazem com que as ideias mais originais saiam da sua cabeça e trazem à tona outras
novas que você não sabia que tinha. Quando você não ler, essas ideias ficam
presas dentro da sua cabeça e não servem para nada.
O Livro Selvagem
Juan Villoro

1 - MEIO SOL AMARELO


Chimamanda Ngozi Adichie

UGWU é um garoto pobre que saiu da sua aldeia para trabalhar, como criado, na casa do prof.
ODENIGBO, – que o incentiva a preencher o CÉREBRO com conhecimentos...

“Este aqui é o mundo – disse o Patrão --, se bem que as pessoas que desenharam o mapa
resolveram pôr a terra deles em cima e a nossa, embaixo. Mas não existe um em cima e um
embaixo, entende? (...). Nosso mundo é redondo, e nunca termina. Nee anya, isto aqui é tudo
água, os mares e oceanos, aqui é a Europa e, aqui, o nosso continente, a África, e o Congo fica
no meio. Um pouco mais para cima é a Nigéria, e Nsukka é aqui, no Sudeste; é aqui que nós
estamos. (...). Você frequentou a escola?

-- “Já faz muito tempo, sah. Mas eu aprendo (memorizo conhecimentos - no cérebro) tudo
muito rápido”.

-- “Seu pai devia ter pedido dinheiro emprestado!”, retrucou o Patrão , de mau humor: “A
educação é prioridade! Como é que podemos resistir à exploração se não temos as
ferramentas para entender o que é exploração? (...). Vou matricular você na escola primária
(...). A única forma de obter o respeito dos outros é ser o melhor, entendeu?

-- “Entendi, sah”, disse Ugwu. “Obrigado, sah.”

-- “Existem duas respostas para as coisas que eles vão lhe ensinar sobre a nossa terra: a
resposta verdadeira e a resposta para passar de ano. Você tem que LER LIVROS (preencher o
cérebro com informações) e aprender as duas versões. (...). Eles vão lhe ensinar que um
homem branco chamado Mungo Park descobriu o rio Níger. Besteira! Nosso povo pescava no
rio Níger muito antes que o avô dele tivesse nascido. Mas, no seu exame, escreva que foi
Mungo Park.

-- “Pois não, sah”. Ugwu desejou que esse Mungo Park não tivesse ofendido o Patrão tanto
assim.”

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A VIDA SECRETA DAS ABELHAS


Sue Monk Kidd

“T. Ray (pai de Lily) achava as pessoas de cor pouco inteligentes. Como quero dizer a verdade,
incluindo as piores coisas, confesso que eu achava que podiam ser inteligentes, mas não tanto
quanto eu, que era branca. Deitada ali, no catre do apiário, fiquei pensando como August era
inteligente e fina, e fiquei surpresa com isso. Foi assim que eu soube que tinha algum
preconceito enterrado dentro de mim.”

SOBREVIDAS
Abdulrazak Gurnah

--“Você nem sabe o que é matemática, não é verdade? Nós (alemães) viemos trazer isso a
vocês, a matemática e tantas outras coisas inteligentes que vocês não teriam sem nós. Essa é a
nossa Zivilisierungmission,” – disse o oficial (da Schutztruppe), e com o braço esquerdo fez um
gesto na direção da janela, para o boma, seu rosto magro e os lábios finos vincados num
sorriso sardônico. “Esse é o nosso plano ardiloso, (...). Nós viemos civilizar vocês. Unafahamu?”

– “Ndio bwana!” – respondeu Hamza.


MULHERES DE CINZAS
Mia Couto

“Comissário de Nkokolani, o sgt Germano de Melo escreve ao conselheiro José de Almeida, em


1895: -- Não sei por que razão me causa impressão ver um preto (Imani Cinza) ESCREVER.
Apraz-me que falem a nossa língua com propriedade e sem sotaque. Contudo, sinto
como uma invasão o domínio que eles possam ter da ESCRITA. (...).”

TERRA SONÂMBULA
Mia Couto

“O velho Tuahir, ignorante das letras, não lhe despertara a faculdade da leitura. (...). Ele pede
então que o miúdo dê voz aos LIVROS. Dividissem aquele encanto como sempre repartiram a
comida. Ainda bem que você sabe LER, Miudinga, - comenta o velho. Não fossem as LEITURAS
eles estariam condenados à solidão. Seus devaneios caminhavam agora pelas letrinhas
daqueles escritos”.

Com Livro em Punho!


“Cora visitava a biblioteca com frequência. Levava Molly consigo, quando conseguia convencê-
la. Elas se sentavam uma ao lado da outra, Cora com um livro de ficção ou um romance, e
Molly folheando as páginas de um conto de fadas. Um condutor de carroças as parou
um dia quando estavam prestes a entrar. Disse ele:

-- O senhor dizia que a única coisa mais perigosa que um preto com uma arma, era um preto
com um livro. Isso aí (a biblioteca) deve ser uma pilha enorme de pólvora preta, então!”
UNDERGROUND RAILROAD
Colson Whitehead

Eu Leio, Eu Escrevo – Muana Lomuè


“Eu leio e eu escrevo, como estou escrevendo agora. (...). Não podem desconfiar de modo
algum! Deus o livre! Apenas de pensar estremeço. Baixar-me-iam o azorrague, me poriam a
ferros, vender-me-iam para algum engenho cruel, como aquele (Engenho Tamarineira), lá
pelas bandas de Valença. (“Tenho lembranças da viagem feita na companhia de meu senhor
àquela fazenda”). As imagens (em seu cérebro) do Tamarineiras me apavoram. (...). Muito
Senhor de Engenho também não sabia (ler e escrever). Mais um motivo para esconder muito
bem escondido o meu segredo, pois eles não toleram ver um preto ou uma preta saber alguma
coisa que eles não sabem e que não é trabalho de força dos braços. (...).”
O CRIME DO CAIS DO VALONGO
Eliana Alves Cruz
12 Anos de Escravidão
“Se quiser sobreviver, faça e diga o mínimo possível. Não diga a ninguém quem você realmente
é, e que sabe LER e ESCREVER (que possui um cérebro repleto de conhecimentos).
A não ser que queira morrer.”
- Conselho de um companheiro de infortúnio ao agora também escravo, Solomon Northup –
Filme baseado na autobiografia de Solomon - do diretor Steve McQueen

2 - VIDAS SECAS
Graciliano Ramos

CONHECIMENTOS
Seu Tomás preencheu o CÉREBRO – Fabiano não preencheu o CÉREBRO

“Seu Tomás da bolandeira falava bem, estragava os olhos (preenchia o cérebro com
conhecimentos) em cima de JORNAIS e LIVROS, mas não sabia mandar: pedia. (...). Mas todos
obedeciam a ele. (...). Certamente aquela sabedoria inspirava respeito. (...). Em horas de
maluqueira, Fabiano desejava imitá-lo: dizia palavras difíceis, truncando tudo, e convencia-se
de que melhorava. Tolice. Via-se perfeitamente que um sujeito como ele não tinha nascido
para falar certo. (...).

Ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? (...). Tinha vindo ao
mundo para amansar boi brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão.
Era sina. O pai vivera assim, o avô também. (...). Cortar mandacaru, ensebar látegos, - aquilo
estava no sangue. Conformava-se. Era um desgraçado, era como um cachorro, só
recebia ossos. (...).

Sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Mas eram bonitas
as palavras. (...). Muito bom uma criatura ser assim, ter recursos para se defender ( com conhe-
cimentos acumulados no cérebro). Ele não tinha. Se tivesse não viveria naquele estado. (...).”

OBS

Não existe sina, destino e muito menos herança genética; não há cérebro predefinido a ser
“SECO”, levando o seu portador a uma “Vida Seca”. Apenas o CÉREBRO de Fabiano – assim
como dos pais e avós – não foi preenchido com conhecimentos, - embora estivesse apto a
acumular um ‘Mundo de Saber’.
Uma Odisseia a Ser Escrita
nosso CÉREBRO é como se um LIVRO que nasce em branco. Se você nada escrever nele (não
memorizar conhecimentos), este permanecerá vazio; e você não terá condições intelectuais de
– através da imaginação – idealizar e construir: uma piroga; ou uma caravela; ou um ônibus
espacial.

3 – MORTE E VIDA SEVERINA


João Cabral de Melo Neto

“Num mocambo, às margens do Capibaribe, após o nascimento de uma criança, as Ciganas do


Egito – considerando que a mesma não preencherá o CÉREBRO com conhecimentos – prever
como será a sua vida, - Severina...

“- Atenção peço, senhores, Para esta breve leitura: Somos ciganas do Egito, Lemos a sorte
futura. Vou dizer todas as coisas, Que deste já posso ver, Na vida desse menino, Acabado de
nascer: Aprenderá a engatinhar, Por aí, com aratus, Aprenderá a caminhar, Na lama, como
goiamuns, E a correr o ensinarão, Os anfíbios caranguejos, Pelo que será anfíbio, Como a gente
daqui mesmo. Cedo aprenderá a caçar: Primeiro, com as galinhas, Que é catando pelo chão,
Tudo que cheira a comida; Depois, aprenderá com outras espécies de bichos: Como os porcos
nos monturos, Com os cachorros no lixo. Vejo-o uns anos mais tarde, Na Ilha do Maruim,
Vestido negro de lama, Voltar de pescar siris; E vejo-o, ainda maior, Pelo imenso lamarão,
Fazendo dos dedos iscas, Para pescar camarão. (...).”

INTELECTO SEVERINO?

Não existe “CÉREBRO SEVERINO” (predestinado a uma ‘Vida Severina’), apenas as ciganas
“previram” que a criança – durante a vida - não preencherá o CÉREBRO com conhecimentos.

A criança não tem culpa nenhuma, claro. Pois se ela não frequenta a escola, é por total
irresponsabilidade do Mundo Adulto que a cerca: os pais, os vizinhos, o padeiro, o quitandeiro,
o gari, o motoboy, o padre, o delegado, o juiz, o prefeito...

Enfim, todos os adultos são os culpados pela tragédia. A propósito, não educar uma criança
(não preencher seu cérebro com conhecimentos) é um Crime Contra a Natureza.
4 - POR QUE VOCÊ DANÇA QUANDO ANDA?
Abdourahman A. Waberi

No início dos anos 1970, no Djibuti – país africano, na costa do Mar Vermelho, e colônia
francesa até 1977 – Aden Robleh preenche o CÉREBRO com conhecimentos...

“Como eu já disse, Béa, minha filhinha, Madame Annick (a professora) era uma francesa da
França. Ela não só sabia ler e escrever, como conhecia bem essa língua, suficientemente bem
para vir ao nosso país e transformar bisnetos de pastores nômades, como eu, - em crianças
que sabem ler, contar e escrever. Era necessário que eles entrassem no mundo moderno e que
tivessem uma vida melhor que a de seus pais. A República Francesa lhe dera essa missão
sagrada. Todas as crianças, louras ou negras (pois todos nascem com o CÉREBRO VAZIO),
devem receber instrução (preencher o cérebro com conhecimentos) para depois conseguir uma
boa posição na vida. Liberdade, igualdade e fraternidade para todos. (Apesar do jugo colonial
– dos males o menor).

5 - O CONDE DE MONTE CRISTO


Alexandre Dumas

Encarcerado no Castelo de If, Edmond Dantès, por meio do amigo e preso político Abade Faria,
preenche o CÉREBRO com conhecimentos – o verdadeiro tesouro....

“De qualquer forma, meu verdadeiro tesouro, acredite, meu amigo, não é o que me esperava
sob as escuras rochas de Monte Cristo; é, a despeito dos carcereiros, sua presença, nosso
convívio; são esses raios de inteligência que o senhor pôs em meu CÉREBRO; essas línguas que
plantou em minha MEMÓRIA e que até crescem com todas as suas ramificações filológicas;
essas ciências diversas que me proporcionou a profundidade e importância do conhecimento;
eis o meu tesouro, amigo, eis em que o senhor me fez rico e feliz. Esta fortuna não é nada
quimérica; é bastante concreta, e todos os soberanos da terra, mesmo os Cesar Bórgia, não
conseguiriam me roubá-la (pois um Tesouro Intelectual ninguém consegue removê-lo do
cérebro).”

6 - FILHA DA FORTUNA
Isabel Allende

Miss Rose Sommers – amante da música e da literatura, e contra todos os preconceitos da


época – incentiva ELIZA, sua filha adotiva, a preencher o CÉREBRO com conhecimentos...

“Passava horas acocorada atrás da cortina da sala, devorando uma a uma as obras clássicas
da biblioteca de Jeremy Sommers, os livros românticos de Miss Rose, os jornais atrasados e
qualquer leitura a seu alcance, por mais enfadonha que fosse. Conseguiu que Jacob Todd lhe
oferecesse uma das suas bíblias, (...). Mergulhava no Antigo Testamento com um fascínio
mórbido pelos vícios e paixões dos reis que seduziam esposas alheias, profetas que castigavam
com raios terríveis e pais que geravam descendência nas suas filhas. No quarto dos armários,
onde se acumulavam velharias, encontrou mapas, livros de viagens e documentos de
navegação do seu tio John, que lhe serviram para precisar os contornos do mundo. Os
preceptores contratados por Miss Rose ensinaram-lhe francês, escrita, história, geografia e um
pouco de latim, bastante mais do que incutiam (no cérebro) às raparigas nos melhores colégios
da capital onde, no fim de contas, a única coisa que aprendiam (memorizavam no cérebro)
eram orações e boas maneiras.

As leituras desordenadas, tal como as histórias do capitão Sommers, puseram sua


IMAGINAÇÃO a voar (dentro do cérebro - ver cap. XVIII). Esse tio navegador aparecia em casa
com o seu carregamento de ofertas, alvoroçando-lhe a fantasia com suas histórias inauditas de
imperadores negros em tronos de ouro, de piratas malaios que colecionavam olhos humanos
em caixinhas de madrepérolas, de princesas queimadas nas piras funerárias dos seus idosos
maridos. (...).
7 – GRANDES ESPERANÇAS
Charles Dickens

O Sr. Joe Gargery, cunhado de Pip, explica e aconselha ao mesmo sobre a importância da
aprendizagem, - sobre a necessidade de preencher o CÉREBRO com conhecimentos...

“- Sou, sim, Joe. – Disse Pip. - Sou muito ignorante (vulgar – como disse a orgulhosa e esnobe
Estella). – Bem Pip, disse Joe (“sem entender bem essa questão metafísica”), seja ou não seja
verdade, o fato é que tens que começar sendo vulgar em matéria de ESTUDO pra depois poder
ser invulgar, a meu ver! (TODOS – REIS E VASSALOS - NASCEM COM O CÉREBRO VAZIO) O rei
lá, sentado no trono dele, com a coroa na cabeça, não pode escrever as leis do Parlamento em
letra de imprensa sem antes começar, quando ainda era príncipe, antes de ser promovido, a
APRENDER as letras do alfabeto (a preencher o cérebro “real” com conhecimentos) – Ah!, -
acrescentou Joe, com um meneio de cabeça repleto de significados, - e tem que começar no A,
e seguir até o Z. E eu sei o que é fazer isso, mesmo não tendo feito muito direitinho. – Havia
alguma esperança nessa sabedoria, - pensou Pip, - e ela me animou um bocado. “

8 - MEMORIAL DO CONVENTO
José Saramago

Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685 / 1724) – inserido como personagem nessa grande
fábula-épico de Saramago, – foi um sacerdote, cientista e inventor brasileiro. Apesar de que,
para o autor, o fato de ele ter nascido aqui, no Brasil, não lhe parecesse algo muito canônico
(verossímil – comum). Mas, enfim, apócrifo que seja, ele nasceu aqui, na capitania de São
Vicente.

Padre Bartolomeu criou, entre outros artefatos, o primeiro balão aerostático da história. No
trecho a seguir, fica claro que o nosso “Padre Voador” possuía um CÉREBRO (“sublime
engenho”) com uma espantosa capacidade de memorização. Veja...

“Têm ambos a mesma idade, vinte e seis anos, como de Baltasar Sete-Sóis já sabíamos, porém
são duas diferentes vidas, a de Baltasar trabalho e guerra, uma acabada, outra que terá que
recomeçar, a de Bartolomeu Lourenço, que no Brasil nasceu e novo veio pela primeira vez a
Portugal, de tanto estudo e MEMÓRIA que, sendo moço de quinze anos, prometia, e muito fez
do que prometeu, dizer de cor (de memória) todo Virgílio, Horácio, Ovídio, Quinto Cúrcio,
Seutónio, Mecenas e Séneca, para diante e para trás, ou donde lhe apontassem, e dar a
definição de todas as fábulas que se escreveram, e a que fim as fingiram os gentios gregos e
romanos, e também dizer quem foram os autores de todos os livros de versos, antigos e
modernos, até o ano de mil e duzentos, (...), e prometia também justificar e defender toda a
filosofia e os pontos mais intricados dela, e explicar a parte de Aristóteles, ainda que extensa,
com todos os seus embaraços, termos e meios-termos, (...), e responder a todas as dúvidas da
Sagrada Escritura, tanto do Testamento Velho como do Novo, repetindo de cor (de memória),
quer a fio corrido, quer salteado, todos os Evangelhos dos quatro Evangelistas, para trás e para
diante, e o mesmo das epístolas de S. Paulo e S. Genónimo, (...), e o mesmo de todos os reis da
Escritura, e o mesmo, para baixo e para cima, para a esquerda e para a direita, dos Livros dos
Salmos, (...), e que não são canónicos os dois Livros dos Esdras, como afinal não parecem muito
canónicos, diga-se aqui para nós e sem outras desconfianças, este sublime engenho, estas
prendas e MEMÓRIA nascidas e criadas em terra de que só temos requerido o ouro e os
diamantes, o tabaco e o açúcar, e as riquezas das florestas, e o mais que nela ainda virá a ser
encontrado, terra doutro mundo, amanhã e pelos séculos que hão de vir, sem contar a
evangelização dos Tapuias, que só ela nos faria ganhar a eternidade.”

OBSERVAÇÃO

a - TESTE DE QI: esse teste não mede inteligência, pois , como foi dito, todo CÉREBRO é
um ‘Sublime Engenho’. O teste mede tão somente a Capacidade de Memorização de
Conhecimentos – que é variável, claro.

b – Boa Retentiva: alguém capaz de memorizar (registrar no cérebro) e repetir de cor, quer a
fio corrido, quer salteado, os dois volumes de calhamaço de Tolstoi, GUERRA E PAZ, não é mais
inteligente do que aquele que não consegue repetir de cor ( de memória) a primeira estrofe do
“Parabéns Pra Você”. Apenas o primeiro tem uma capacidade maior de MEMORIZAÇÃO; - ou
boa Retentiva Cabedora, como diria o grande Riobaldo, de Guimarães Rosa.

c - Nuvem Fechada: com relação aos 3 protagonistas da ODISSEIA ESPACIAL de Saramago,


podemos afirmar que a incrível Blimunda Sete-Luas tinha a espantosa benção/maldição de
VER – em seu cérebro – as pessoas por dentro; Baltasar Sete-Sóis, ex-soldado, preencheu o
cérebro com os parcos conhecimentos da agricultura e da guerra; já o padre Bartolomeu
Lourenço, por sua vez, preencheu o cérebro com todos os conhecimento da época, - e é por
esse motivo que, na vida real, ele tornou-se cientista e inventor.

Felizmente Existem os Livros


“Felizmente existem os LIVROS. Podemos esquecê-los numa prateleira ou num baú, deixá-los
entregues ao pó e as traças, abandoná-los na escuridão das caves, Podemos não lhes pôr os
olhos durante anos, mas eles não se importam, esperam tranquilamente, fechados sobre si
mesmos para que nada do que têm dentro se perca, Até que o momento que sempre chega,
aquele dia em que nos perguntamos, Onde estará aquele livro (...), e o livro, finalmente
convocado, aparece.”
A CAVERNA
José Saramago

9 – A PÉROLA QUE ROMPEU A CONCHA


Nadia Hashimi

RAHIMA – nossa protagonista, a pérola do título - ouve o diálogo entre a sua mãe, Raisa, e a
sua desbocada e adorável tia, KHALA SHAIMA. Esta alerta à irmã sobre a necessidade de
EDUCAR as meninas (Shala, Parwin, Rahima, Rohila e Sitara); sobre a importância de preencher
o CÉREBRO delas com conhecimentos...

É por isso que é importante que essas meninas frequentem a ESCOLA, Raisa. Caso contrário,
nunca terão nada. Seja sensata. Olhe para mim e pense no que pode acontecer com Parwin
(que assim como Khala Shaima, também possui uma deficiência física).

– Eu sei, eu sei. Eu me preocupo com ela mais do que com as outras.

– E com razão. Apesar de tudo o que Madar-jan fez, eu fui preterida. (...). E agora olhe para
mim, enrugada e sozinha. Sem filhos. Às vezes acho que foi melhor seu marido ( contrário à
educação das meninas) passar tanto tempo ausente (combatendo russos, Talibã e disputas
tribais), aquele inútil. Pelo menos assim tenho mais oportunidades de vir aqui e passar algum
tempo com suas filhas. (...). Seja realista: antes que você se dê conta, terá que considerar
seriamente os pretendentes. Exceto para Parwin. Terá sorte se aparecer alguém interessado
nela. (...). Parwin-e-lang (Parwin, a manca. - Apelido, comum no Afeganistão, de acordo com a
deficiência física de cada indivíduo). É o que ela é. Alá é testemunha de que eu a amo tanto
quanto você, mas é assim que as pessoas a chamam, (...). Assim como eu sou Shaima-e-Kup.
Sempre fui Shaima, a corcunda. Se Parwin for à ESCOLA, pelo menos poderá pegar um LIVRO E
LER (e preencher o cérebro com conhecimentos). Pelo menos terá a chance de conhecer algo
diferente destas quatro paredes e do cheiro do ópio do pai (vício comum aos soldados afegãos,
como uma forma de “fugir” do peso das lembranças das guerras – fixadas no CÉREBRO).

(RAHIMA – casada e infeliz – conversa com a tia kHALA SHAIMA). – Eu só gostaria que eles
mandassem as duas (Rohila e Sitara – as mais jovens e ainda solteiras) à ESCOLA. - Khala
Shaima suspirou. – Isso era tudo o que eu queria para cada uma de vocês. Um pouco de
instrução que pudessem levar com vocês (no cérebro) para o resto da vida. (...). Você vai
compreender mais tarde, Rahima. Cada gota de conhecimento (acumulado no cérebro: inglês,
computação, etc.) faz algum bem. Olhe para mim. Tenho sorte de saber LER. É como uma vela
em um quarto escuro. O que eu não sei, posso descobrir sozinha (nos LIVROS - e promover uma
odisseia em seu Espaço Interior). “

“A MENTE IA AONDE O CORPO NÃO PODIA LEVÁ-LA.”

“Por intermédio dos livros você viaja a outros mundos. Um livro é o melhor meio de transporte:
leva você a lugares distantes, não polui, é pontual, barato e não causam enjoo.”
O LIVRO SELVAGEM
Juan Villoro

10 – A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO


Martha Batalha

“Porque Eurídice, vejam vocês, era uma mulher brilhante (nasceu com um cérebro brilhante –
mas vazio). Se lhe dessem (se preenchesse seu cérebro com) cálculos elaborados ela projetaria
pontes. Se lhe dessem um laboratório ela inventaria vacinas. Se lhe dessem páginas brancas
ela escreveria clássicos. Mas o que lhe deram foram cuecas sujas para lavar. (...). Eurídice
jamais seria uma engenheira, nunca poria os pés num laboratório e não ousaria escrever
versos, mas essa mulher se dedicou à única atividade permitida que tinha um quê de
engenharia, ciência e poesia: a Culinária. (...).”

OBS
BÍPEDES Analfabetos – QUADRÚPEDES Alfabetizados:

Todos os mamíferos, sem exceção, nascem com o CÉREBRO vazio – e aprendem através do
mesmo processo: Memorização de conhecimentos.

Por exemplo, MAMÃE ELEFANTE ensina e – através da memorização de conhecimentos no


cérebro – os filhotes aprendem: a colocar-se sobre as patas ao nascerem, a amamentar-se
corretamente, a deslocar-se junto com a manada, qual material vegetal é comestível, onde
encontrar água, como se defender, quando atacar, onde buscar refúgio, etc.

Portanto, assim como acontece conosco, para que o seu CÃO receba um canudo
de formatura, é preciso preencher o CÉREBRO dele com conhecimentos.

“Um CÃO pode (ao memorizar conhecimentos no cérebro) ser adestrado para caçar;
pastorear rebanhos; proteger residências ou pessoas; auxiliar policiais; conduzir
pessoas cegas; salvamento de pessoas afogadas, soterradas em escombros
ou avalanches; exibições circenses, etc.
Fonte Wikipédia

11 - AULA ESPETÁCULO – ARIANO SUASSUNA


- TRANSCRITO DO YOUTUBE –

“Desde menino eu tinha dois encantamentos: um era a leitura. O pessoal hoje me diz: ‘olha,
Ariano, a juventude não está mais lendo não’. Eu não acredito... Mas... Vocês não ficam
preocupados não? Eu fico com pena. Porque eu vou dizer uma coisa... Leitura, que coisa boa!
Olhe, vocês não imaginam que alegria que eu tinha não! Eu assim que me alfabetizei, eu
comecei a ler. Outro dia um jornalista de São Paulo me perguntou se eu tinha o hábito da
leitura. Eu falei: o hábito, não; eu tenho a paixão da leitura. Pois bem, eu me deitava numa
cama, botava um bolinho de bolacha aqui e abria um livro. Menino, que coisa! Que alegria! Era
como um mundo novo que se abria diante de mim. O livro... Que coisa boa... O outro
encantamento era o circo... (...).”

“Agora não há outra música senão as das palavras, e essas, sobretudo as que estão nos livros,
são discretas, (...), este longo fio de som (murmúrio solitário da leitura) que poderá
infinitamente prolongar-se, porque os livros do mundo, todos juntos,
são como dizem que é o universo, infinitos.”

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA


José Saramago

Antes de encerrar este capítulo, faremos uma breve observação...

OBS
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL x HUMANIDADE ARTIFICIAL

HAL 9000 – Eu, Robô: o que determina o humano não é a inteligência; pois, como já foi dito,
todo CÉREBRO é natural e potencialmente inteligente: basta preenchê-lo com conhecimentos.
Na realidade, como veremos no cap. XIX (CÉREBRO – A Fantástica Fábrica de Emoções), o
que caracteriza o HUMANO é a capacidade de exteriorizar EMOÇÕES. Assim sendo, lanço um
desafio (amistoso, claro): VOCÊ seria capaz de imaginar um ROBÔ capaz de amar, odiar,
mentir e sentir MEDO?

É claro que NÃO. Você pode acumular (inserir) milhões de informações no HD de um


computador e transformá-lo no poderoso supercomputador Sunway TaihuLight. Mas este
jamais conseguirá demonstrar desdém ou desprezo pelo UNIVAC I (primeiro computador
comercial do mundo), e muito menos sentir inveja ou rancor pela chegada de uma versão
moderna e atualizada de um outro supercomputador. Em outras palavras, um computador
jamais conseguirá exteriorizar sentimentos; jamais tornar-se-á um sublime e desprezível
HUMANO.

“Não somos ROBÔS nem pedras falantes, senhor agente, disse a Mulher do Médico (durante o
interrogatório), em toda a verdade HUMANA há sempre algo de angustioso, de aflito, Nós
somos, e não estou a referir-me simplesmente à fragilidade da vida, somos uma
pequena e trêmula chama que a cada instante ameaça apagar-se,
e temos MEDO, acima de tudo temos MEDO. (...)”
ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ
José Saramago

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CAPÍTULO

XIV
A BAGAGEM DO VIAJANTE - SOLITÁRIO
( carregamos no cérebro o peso das nossas recordações)

37 CITAÇÕES
LEIA a seguir 37 citações retiradas da literatura e do cinema, onde é posto em evidência...

O TECIDO DE QUE NÓS SOMOS FEITO: AS LEMBRANÇAS.


Por que tantas citações ? Porque escrevo muito mal, - sou “totalmente isento de realizações
retóricas”. Não conseguiria expor com clareza a minha teoria, e nem persuadi-lo sem o auxílio
das palavras alheias. Dito isso, agora vamos a elas...

“Por toda a minha vida eu acumulei memórias (no cérebro) – elas se


tornaram, de certo modo, os meus bens mais preciosos.”
“Alice Howland”- PARA SEMPRE ALICE – Lisa Genova

1 – MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS


Machado de Assis

Brás Cubas, apesar de morto (“seria longo e desnecessário explicar o processo”), regressa em
sua Linha da Memória – dentro do cérebro – e descreve as LEMBRANÇAS da sua vida:
infância, juventude, maturidade e morte. Suposto o uso vulgar seja iniciar o relato pelo
princípio (seu nascimento), algumas considerações o levaram a adotar diferente método, e
decidiu começar pelo fim (sua morte):

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu


cadáver, dedico como Saudosa Lembrança estas Memórias Póstumas.”

“Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns 64 anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía
cerca de 300 contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. (...).”
“(...). Obra de finado. Eu, Brás Cubas, escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia,
e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no
livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu
romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as
duas colunas máximas da opinião.

Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um


prólogo explicito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de
um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que
empreguei na composição destas Memórias (o relato – pós morte - das lembranças da sua
vida), trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás
desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor,
pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.”

2 - MEMORIAL DO CONVENTO
José Saramago

Apesar da idade, as lembranças – no cérebro de João Francisco – permanecem ‘vivas’...

“(...) A JOÃO FRANCISCO foi Baltasar Sete-Sóis dizer aonde iam, -- Meu pai, vou com Blimunda
Sete-Luas à Serra do Barregudo, ao Monte Junto, ver como está a máquina em que voámos de
Lisboa, a Passarola, LEMBRA-SE, quando aí se disse que o Espírito Santo tinha passado pelos
ares, por cima do convento, não foi Espírito Santo nenhum, fomos nós, com o padre
Bartolomeu Lourenço, o Voador, LEMBRA-SE dele, aquele padre que esteve cá em casa quando
a mãe ainda era viva, e ela quis matar o galo, mas ele não deixou, que muito melhor que
comer o galo era ouvi-lo cantar, nem seria coisa que se fizesse às galinhas. Ouviu estas
RECORDAÇÕES João Francisco, e ele, que costumava não falar, disse, LEMBRO-ME DE TUDO,
meu filho, (...)”

O peso das Lembranças – o ônus da Existência

OBS: como veremos no cap. XXII, quanto mais se Permanece no Presente (quanto maior for a
nossa idade), maior será o peso das lembranças que somos obrigados a carregar – no
CÉREBRO.
3 - VIDAS SECAS
Graciliano Ramos

Boas ou más, exultantes ou aflitivas, as LEMBRANÇAS são indeléveis – não podemos apagá-las
do cérebro. No entanto, Fabiano – não sabendo disso – esforça-se por esquecer suas
infelicidades...

Fabiano sentou-se desanimado na ribanceira do bebedouro. (...). Tinha ali comida para dois ou
três dias; (...). Como andariam as contas com o patrão? Estava ali o que não conseguiria nunca
decifrar. Aquele negócio de juros engolia tudo, e afinal o branco ainda achava que fazia favor.
O soldado amarelo (que o havia espancado e humilhado)... Fabiano, encaiporado, fechou as
mãos e deu murros na coxa. Diabo. Esforçava-se por esquecer uma infelicidade, e vinham (as
lembranças de) outras infelicidades. Não queria lembrar-se do patrão e do soldado amarelo.
Mas lembrava-se, com desespero, enroscando-se como uma cascavel assanhada. Era um
infeliz, era a criatura mais infeliz do mundo.

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EXPLICAÇÃO

LEMBRO do patrão, logo sinto desespero;


LEMBRO do soldado amarelo, logo sinto ódio;
LEMBRO do escasso estoque de comida, logo sinto preocupação;

A – Cada Lembrança, Uma Emoção: como veremos no cap. XIX (CÉREBRO – A Fantástica
Fábrica de Emoções), cada lembrança da nossa vida, somatiza uma determinada emoção. Ou
seja, a evolução da MEMÓRIA (a aptidão para preencher o CÉREBRO com as lembranças da
nossa vida) determinou a origem dos sentimentos exclusivamente HUMANOS: amor, ódio,
saudade, trauma, prazer, pesar, orgulho, frustração, culpa, inveja, etc.

B – “SENTIR É VIVER”: — Com efeito – disse Carlos ao velho amigo Alencar, o poeta – pareces-
me um pouco murcho... Falta-te o ar aureolado. O poeta encolheu os ombros. – O evangelho lá
diz bem claro... Ou é a Bíblia que o diz?... Não; é São Paulo... São Paulo ou Santo Agostinho?...
Enfim, a autoridade não faz o caso. Num desses santos livros se afirma que este mundo é um
Vale de Lágrimas... – Em que a gente se ri bastante, disse Carlos alegremente. O poeta voltou a
encolher os ombros. – Lágrimas ou risos, que importava?... Tudo era SENTIR, tudo era VIVER!”
OS MAIAS
Eça de Queirós
4 - GABRIELA, CRAVO E CANELA
Jorge Amado

Sem saber que GABRIELA – por ser uma força da natureza – não seria posse de ninguém, o
negro Clemente se apaixona e não consegue tirar a lembrança dela da cabeça...

LEMBRO compulsivamente do objeto da afeição, logo sinto amor

-- Tá pensando (lembrando) na moça? – perguntou Fagundes a Clemente.


-- Ela nem me disse até logo... Nem me olhou de despedida.
– Ela tá virando tua cabeça. Tu não é mais o mesmo.
– Como se a gente nem se conhecesse... Nem até logo.
– Melhor é não lembrar (não LEMBRAR de Gabriela), tirar ela da cabeça. Não é mulher pra tu
nem pra mim, - aconselhou Fagundes. Os olhos do negro Clemente perscrutavam a selva, sua
voz fez-se suave para falar de Gabriela.

-- Tou com ela (a lembrança dela) metida em meu juízo; mesmo querendo, não posso esquecê-
la.
– Tu tá maluco. Ela não é mulher pra se viver cum ela.
– Que é que tá dizendo?
-- Num sei... Pra mim é assim. Tu pode dormir cum ela. Fazer as coisas. Mas ter ela mesmo, ser
dono dela como é das outras, isso ninguém vai nunca ser.
– E por quê?
– Num sei, o diabo é que sabe. Num tem explicação.

Como disse João Fulgêncio a seu Nacib...

-- Tem certas flores, você já reparou? que são belas e perfumadas enquanto estão nos galhos,
nos jardins. Levadas pros jarros, mesmo jarros de prata, ficam murchas e morrem.
Assim era Gabriela - nasceu para ser livre; amar e florir a céu aberto.

--------------x--------------

EXPLICAÇÃO

LEMBRO constantemente de Gabriela, logo estou completamente embeiçado por ela.


Como veremos no cap. XIX, o AMOR não passa da somatização de uma lembrança que
permanece fixa, obsessivamente fixa - em nosso cérebro.

Nas 4 citações a seguir,


vemos outras manifestações do AMOR nas palavras de Jorge Amado...
1 - LEMBRANÇA GRUDENTA
- TEREZA BATISTA CANSADA DE GUERRA -

“Gostar é fácil, acontece quando menos se espera, um olhar, uma palavra, um gesto e o fogo
lavra queimando peito e boca; difícil é ESQUECER (a lembrança do bem-querer – incrustada
nas entranhas do cérebro), a saudade consome o vivente; amor não é espinho que se arranca,
tumor que se rasga, é dor rebelde e pertinaz, matando por dentro.”

2 - LEMBRANÇAS QUE PERMANECEM


- DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS -

“Nos primeiros tempos de viuvez, permanece Dona Flor em preto e em silêncio, numa espécie
de devaneio, nem sonho nem pesadelo, entre os crescentes murmúrios das comadres e as
memórias dos sete anos de casamento (que permaneceram em seu cérebro). (...) Trancada em
sua aflição e anseio, fluía em meio àquele mundo de lembranças (compartilhadas com o
falecido Vadinho), recordando os momentos de risos e as horas de amargura. (...). Ai, nunca
mais! Só o desejo a sustenta, e a MEMÓRIA.”

3 - LEMBRANÇA ESFUMAÇADA
- TERRAS DO SEM FIM -

“Antonio Vitor prometera voltar para Ivone, um dia, rico, bem vestido, de botinas
rangedeiras. Agora, esses pensamentos (lembranças apaixonadas) já não existiam na sua
cabeça. Agora ele é um capanga de Juca Badaró, conhecido pela rapidez do seu tiro. A
Lembrança de Ivone (que antes expressavam afeição e saudade) se esfumaçou na sua
MEMÓRIA (cérebro).”

4 - LEMBRANÇAS PECAMINOSAS
- TIETA DO AGRESTE -

“Ricardo cometerá pecado mortal, com certeza, se espiar a tia. Mas quando acontece de VER
(e registrar a imagem da tia – no cérebro) sem querer, por acaso? Por mais que faça,
impossível não enxergar tão expostos atributos. Pior que ver, é PENSAR (na lembrança de
Tieta). (...). Queira ou não, de olhos fechados ou abertos, ele lembra, imagina (vendo as
lembranças de Tieta – em seu cérebro). A gente LEMBRA sem querer; é a maneira de Deus
provar a fé, o zelo dos eleitos.”

Fábula da Ilha do Amor e da Fome


-- O que era, então? – Indagou Poornima. – O que ele (o deus Krishna) toca (para deusa Radha)
é uma música de amor, afinal.
-- É verdade – concordou Savitha. – Mas também é uma música de fome.
-- Agora Poornima estava ainda mais confusa. – De fome?
-- Talvez a senhora (“a velha louca da feira”) estivesse querendo dizer que a ilha (Majuli) era o
fim da fome. Ou o começo dela. Ou vai ver que a fome nunca tem um começo. Ou um fim.
Como a melodia da flauta de Krishna.
-- Mas, e o amor?
-- O que é o amor, Poornima? – falou Savitha. – O que é o amor se não um tipo de fome?
O BRILHO DO SOL QUE INVADIU A NOSSA CASA
Shobha Rao

5 - PONCIÁ VICÊNCIO
Conceição Evaristo

Como nós não tivemos o privilégio de conhecer o Vô Vicêncio, temos que pedir a sua neta,
Ponciá Vicêncio, que regresse em sua Linha da Memória (dentro do seu cérebro) e descreva
as saudosas LEMBRANÇAS do seu querido avô...

O primeiro homem que Ponciá Vicêncio conhecera fora o avô. Guardava (no cérebro) mais
imagem (lembranças) dele, do que a do próprio pai. Vô Vicêncio era muito velho. Andava
encurvadinho com o rosto quase no chão. Era miudinho como um graveto. Ela era menina, de
colo ainda, quando ele morreu, mas se lembrava nitidamente de um detalhe (vemos nossas
lembranças – dentro do cérebro). Vô Vicêncio faltava uma das mãos e vivia escondendo o
braço mutilado para trás. Ele chorava e ria muito. Chorava feito criança. Falava sozinho
também. O pouco tempo em que conviveu com o avô, bastou para que ela guardasse ( no
cérebro) as marcas (lembranças) dele. Ela reteve na memória (cérebro) os choros misturados
aos risos (ouvimos nossas lembranças – no cérebro), o bracinho cotoco e as palavras não
inteligíveis de Vô Vicêncio. Um dia ele teve uma crise de choro e riso tão profunda, tão feliz, tão
amarga que desse jeito adentrou-se no outro mundo. Ela, menina de colo, viu e sentiu o odor
das velas acesas durante toda a noite, (...), sentiu o cheiro de biscoito frito, de café fresco
(memorizamos ODORES e SABORES - no cérebro) dado para as mulheres e as crianças que
estavam fazendo quarto ao defunto. (...). Ponciá Vicêncio, mesmo menina de colo ainda, nunca
esqueceu (reteve em seu cérebro – como uma lembrança marcante) o derradeiro choro e riso
do avô.”

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OS 5 SENTIDOS - DO CÉREBRO
Não esqueça que, além de IMAGENS, principalmente IMAGENS, também memorizamos no
CÉREBRO: sons, sabores, aromas e sensações táteis.

Agora responda as questões abaixo e tire suas próprias conclusões:

1 - Filmoteca de Lembranças: feche os olhos, regresse em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e responda: qual o seu filme(s) favorito? Encontrou a lembrança? Sim. Então isto
significa que neste exato momento você está VENDO as imagens do filme -- em sua cabeça.

2 – Discoteca de Lembranças: feche os olhos, regresse em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e responda: qual sua(s) Banda de Rock favorita? Encontrou a lembrança? Sim. Então
isto significa que neste exato momento você está OUVINDO as músicas da banda -- em sua
cabeça.

3 – Cardápio de Lembranças: você seria capaz de – com olhos vendados – identificar todos os
ingredientes que compõem sua pizza favorita (muçarela, calabresa, catupiry...)? Claro que sim.
Pois você já havia Memorizado os Sabores (no cérebro), e consegue identificá-los de olhos
fechados.

4 – Perfumaria de Lembranças: você seria capaz de – com os olhos vendados, utilizando-se


apenas do olfato – identificar seus produtos de higiene pessoal (perfume, desodorante,
sabonete, champoo, etc)? Claro que sim. Pois você já havia Memorizado os Cheiros (no
cérebro), e consegue identificá-los de olhos fechados.

5 - Desenhando Sensações Táteis no Cérebro: você seria capaz de – com os olhos vendados –
identificar todos os objetos sobre sua mesa de trabalho (tela, teclado, mouse, impressora,
documentos, livros, cadernos, canetas, etc.)? Claro que sim. Pois à medida tateia um objeto,
você vai gradativamente desenhando suas formas no CÉREBRO – e o identifica.

6 - Lendo no Cérebro: na Leitura em Braille, o invisual – ao pressionar levemente o caractere


com os dedos – desenha sua configuração exterior no CÉREBRO, e o identifica.

CONCLUSÃO
vemos no CÉREBRO, não com os olhos;
ouvimos no CÉREBRO, não com os ouvidos;
sentimos os sabores no CÉREBRO, não com a boca;
sentimos os aromas no CÉREBRO, não com o nariz;
percebemos as sensações táteis no CÉREBRO, não com as mãos.

7 - FILMADORA ORGÂNICA: devemos entender o nosso CÉREBRO como sendo uma Filmadora
Viva, capaz de registrar: imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

“Às vezes parece que a nossa MEMÓRIA (as lembranças em nosso cérebro) sofre um processo
análogo aos das FOTOS tiradas por polaróides. Durante cerca de 30 anos (de Permanência no
Presente), quase não LEMBREI de Jansen (fotógrafo e amigo). (...). Ele deixou a França no mês
de junho de 1964, e escrevo estas linhas em abril de 1992. Nunca mais tive notícias dele e não
sei se está vivo ou morto. Sua LEMBRANÇA ficara hibernando (em seu cérebro), mas eis que
ressurge no início desta primavera”.
PRIMAVERA DE CÃO
Patrick Modiano

6 - ALIÓCHA KARAMAZOV

QUEM É ALIÓCHA? Para responder a essa questão, temos que pedir ao mesmo que regresse
em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e descreva uma marcante, comovente
LEMBRANÇA da sua infância. – E assim, sabendo um pouco quem ele FOI, podemos saber um
pouco quem ele É agora...

“Já contei que, tendo perdido sua mãe aos quatro anos, dela se lembrou por toda a sua vida,
de seu rosto (memorizamos imagens – no cérebro), de suas carícias (memorizamos impressões
táteis – no cérebro), “como se eu a visse viva” (em suas lembranças – dentro do cérebro).
Semelhantes recordações podem persistir (cada qual o sabe), mesmo numa idade mais tenra,
mas não permanecem como pontos luminosos nas trevas, como o fragmento de um imenso
quadro que tivesse desaparecido. Era o caso para ele: lembrava-se de uma suave noite de
verão, da janela aberta aos raios oblíquos do Sol poente; a um canto do quarto, uma imagem
santa com a lâmpada acessa e, diante da imagem, sua mãe ajoelhada, soluçando como numa
crise de nervos, lançando gemidos e exclamações(vemos e ouvimos nossas lembranças –
dentro do cérebro). Ela o tomara em seus braços, apertando-o a ponto de sufoca-lo, e
implorava por ele à Santa Virgem, afrouxando seu amplexo para empurrá-lo para a imagem
como a pô-lo sob sua proteção... Tal era a cena! (Tal era a lembrança da mãe -- em seu
cérebro). Aliocha lembrava-se do rosto de sua mãe, exaltado, mas sublime, segundo suas
recordações. (...). Na sua infância e na sua mocidade, era antes concentrado e até mesmo
taciturno, não por timidez, (...), mas por uma espécie de preocupação interior tão profunda que
o fazia esquecer-se dos que o cercavam. Mas gostava e tinha fé em seus semelhantes, sem
passar jamais por simplório ou ingênuo. (...). Parecia mesmo resignado a admitir tudo sem
reprovação, embora muitas vezes com profunda melancolia. (...)”.

OS IRMÃOS KARAMAZOV
- Fiódor Dostoiévski -

7 - O SOL É PARA TODOS


- Harper Lee -

CALPURNIA, que era uma das quatro na Alforria que sabia ler, filosofa sobre
a memória dos homens e das mulheres...

“—É assim tão velha, Cal? – Perguntou Jem.

-- Sou mais velha que o Sr. Finch – disse Calpurnia sorrindo. – Quantos anos ao certo, não sei.
Uma vez, tentamo-nos LEMBRAR, tentamos descobrir quantos anos eu tinha... sei é que me
LEMBRO de mais coisas do que o patrão, algumas, não muitas, por isso não devo ser muita
mais velha, isto sem contar que as mulheres têm mais MEMÓRIA que os homens.

-- Quando é que faz aniversário, Cal? – Só festejo no Natal. Assim é mais fácil de LEMBRAR...

8 - TERRA SONÂMBULA
Mia Couto

“Ficam – Muidinga e o tio – por um enquanto a respirar tristezas; o cacimbo (névoa) se


adensava. O miúdo, então, lhe pergunta: por que razão ele nunca consegue LEMBRAR antigas
recordações? Porquê o antigamente, todo tempo anterior à doença lhe estava impedido, mais
coberto de cacimbo que os terrenos em volta?

-- Tio, eu aprendi (memorizei no cérebro) tudo de novidade: andar, falar. Meus olhos (cérebro)
se LEMBRAM das leituras, meus dedos (cérebro) não ESQUECERAM as letras. Mas eu não sei
LEMBRAR nada do meu passado. Por quê, tio?
Tuahir então resolve lhe dizer a verdade. O miúdo tinha sido levado ao feiticeiro. O velho lhe
pedira para que tudo (todas as lembranças da guerra) fosse retirado da cabeça de Muidinga.

-- Pedi isso por causa é melhor não ter LEMBRANÇA destes eventos que passou. Ainda tiveste
sorte com a doença, Muidinga. Pudeste ESQUECER tudo. Enquanto eu não, carrego esse peso
(o peso das lembranças da guerra – dento no cérebro).”

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UM RIO CHAMADO TEMPO - UMA CASA CHAMDA TERRA


Mia Couto

“-- Aquele homem, - disse Miserinha, vai carregado de sofrimento (com o cérebro repleto de
lembranças amargas).
– Como sabe?
– Não vê que só o pé esquerdo é que pisa com vontade? Aquilo é peso no coração (peso das
lembranças – dentro do cérebro).

Miserinha explica-me que sabe ler a vida de um homem pelo modo como ele pisa no chão.
Tudo está escrito em seus passos, os caminhos por onde ele andou (nas lembranças dos
caminhos por onde ele andou).

– A terra tem suas páginas: os caminhos. Está me entendendo?


– Mais ou menos.
– Você lê o livro, eu leio o chão.”

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EXPLICAÇÃO

O velho Tuahir LEMBRA dos horrores da guerra, logo sente estresse pós-traumático;

Muidinga NÃO LEMBRA da guerra, logo não sente o trauma;

LEMBRO da crueldade, da sordidez humana, logo SOFRO

Solvente Removedor de Lembranças: caso fosse possível retirar - do cérebro do velho Tuahir -
as lembranças trágicas da guerra, findaria seu sofrimento. Mas, lamentavelmente, as
LEMBRANÇAS – boas ou más – são indeléveis; não se pode apagá-las do CÉREBRO.

9 - CIDADÃO KANE
Orson Welles
O repórter Jerry Thompson (William Alland), na tentativa de reconstituir a vida do Sr. Charles Foster
Kane, entrevista seu ex-secretário, agora aposentado, o Sr. Bernstein (Everett Sloane):

--“Sr. Bernstein, o senhor afirma que ROSEBUD – a última palavra dita pelo Sr. Kane no leito de
morte, – poderia, talvez, se referir à lembrança de uma garota que o mesmo conheceu na
juventude. Mas seria mesmo possível ao Sr. Kane lembrar-se desse evento após tantos anos?

-- Bem, você é muito jovem, Sr. Thompson, talvez por isso não seja capaz de imaginar o quanto
um sujeito é capaz de lembrar das coisas do seu passado (das lembranças da sua vida –
contidas no cérebro). Tome a mim como exemplo. Um dia -- e isso aconteceu em 1896 – eu
estava indo para Jersey de balsa, quando avistei uma outra balsa. Nela havia uma garota que
usava um vestido branco e carregava um guarda-sol (vemos nossas lembranças – dentro do
cérebro). Eu só a VI por um segundo (ela não o viu), enquanto ela passava em seu passeio de
barco por mim.

E desde então eu nunca mais avistei aquela garota de cabelo ruivo novamente ( mas a
lembrança dela permaneceu – em seu cérebro); mas sabe de uma coisa? Em todo esse tempo
não houve um único dia em que eu não lembrasse dela. Portanto, meu caro repórter, não
subestime a MEMÓRIA de um velho.”
Obs: na verdade, ROSEBUB possui um outro significado; mas para isso é preciso que você assista ao filme com
muita atenção – até o último take.

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“Florentino Ariza, por outro lado, não deixara de LEMBRAR dela um único instante desde que
Firmina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam
transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, noves meses e quatro dias (de
Permanência no Presente). Não tivera que manter a conta do esquecimento fazendo uma risca
diária nas paredes de um calabouço, porque não se havia passado um dia sem que
acontecesse alguma coisa que o fizesse LEMBRAR-SE dela. (...).”
O AMOR NOS TEMPOS DE CÓLERA
Gabriel Garcia Marquez

EXPLICAÇÃO
- A Culpa é das Lembranças -

a – Lembrança Visguenta: como veremos no cap. XIX, - o AMOR não passa da somatização de
uma lembrança que permanece fixa, obsessivamente fixa - em nosso CÉREBRO.

O Sr. Bernstein VIU beldade ruiva, e registrou sua bela imagem no CÉREBRO. E desde então
ela tornou-se uma LEMBRANÇA constante, recorrente. Em outras palavras, o Sr. Bernstein
apaixonou-se por toda a vida por uma garota que viu uma única vez na vida.
b – O Cérebro Tem Razões Que a Própria Razão Desconhece: a propósito, nós AMAMOS NO
CÉREBRO, não no coração. O coração – desculpem-me os poetas – o coração é apenas um
músculo, órgão central responsável pela circulação sanguínea.

Não Subestime a Memória de um Velho!

“Agora, depois que envelheci, sou assaltado por memórias, incrivelmente nítidas, de coisas
passadas. Como se alguém, dentro da minha cabeça, se entretivesse
a folhear um velho álbum fotográfico.”
TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO
José Eduardo Agualusa

10 - AS ÚLTIMAS TESTEMUNHAS
(Crianças na Segunda Guerra Mundial)

Svetlana Aleksiévitch

Não subestime a Memória de uma Criança!

“Essas cenas, esses fogos (vemos nossas lembranças - dentro do cérebro)... São a minha
riqueza. É um luxo eu ter sobrevivido... Ninguém acredita em mim, nem mamãe acreditava.
Quando começamos a recordar depois da guerra, ela se surpreendia: “Você não pode se
lembrar disso, era muito pequeno, alguém te contou...”. Não, eu mesmo lembro... As bombas
explodiam (ouvimos nossas lembranças – dentro do cérebro), e eu me agarrava ao meu irmão
mais velho: “Quero viver! Quero viver!”. Tinha medo de morrer, mas o que eu podia saber
sobre morte na época? O quê? Eu mesmo lembro... (...). Lembro que os adultos falavam: “Ele é
pequeno. Não entende”. E eu me surpreendia: “Como esses adultos são estranhos, por que eles
decidiram que eu não entendo nada? Entendo (lembro) tudo!”. A guerra é meu livro de
história. Minha solidão... Perdi a época da infância, ela fugiu da minha vida. Sou uma pessoa
sem infância, em vez de infância (em lugar das lembranças comuns da infância – no cérebro),
tenho a guerra (tenho lembranças das atrocidades da guerra – no cérebro).

Vássia Khárevski - quatro anos - Hoje: arquiteto.


11 - SUÍTE FRANCESA
Irene Nemirovisk

“Bruno Von Falk (oficial alemão) Tirou a boina militar, pegou-lhe nas mãos. Antes de a beijar,
apoiou a face contra elas, num gesto a um tempo suave e imperioso, talvez numa tomada de
posse, talvez numa tentativa para imprimir nela, como um selo, A QUEIMADURA DE UMA
LEMBRANÇA (tatuou a lembrança de Lucille – em seu cérebro). – Adeus, - disse a Lucille. –
Adeus. Nunca a ESQUECEREI.”

EXPLICAÇÃO

VINICIUS: quando o poeta afirmou “O amor é eterno enquanto dura”, – entenda-se: o AMOR
será eterno enquanto a lembrança do objeto da afeição permanecer viva – em nosso
CÉREBRO. Mas até quando isso é possível ?

Nas 4 citações abaixo temos alguns exemplos sobre a persistência das lembranças,
- ou sobre a persistência da paixão....

I - MEU NOME É VERMELHO


Orhan Pamuk

“Se eu tivesse (diz o Negro sobre sua amada, Shekure, - há muito distante), - Se eu tivesse
levado comigo um retrato à veneziana de Shekure, acho que não teria sentido tanto a sua falta
durante o meu longo périplo, por não conseguir me LEMBRAR direito da minha amada, cuja
fisionomia eu havia ESQUECIDO em algum lugar que ficara para trás (se distanciou em sua
Linha da Memória – dentro do cérebro). Porque se a IMAGEM do ser amado fica viva no seu
coração (no seu cérebro), O MUNDO INTEIRO É SUA CASA.

II - NAS TUAS MÃOS


Inês Pedrosa

“Não me LEMBO da tua cara, meu amor, chego à rua e em todos os homens te reconheço, o
que deve querer dizer que te estou a ESQUECER irremediavelmente.

III - SAGARANA
Guimarães Rosa

“Bem que havia de ser razoável ter podido ao menos dizer à prima (Luísa, - esposa do seu
amigo Ribeiro) que ela era o seu amor... (...). Teria ela adivinhado o seu querer-bem?... E que
bom que seria se ela tivesse ficado sabendo! Ao menos, agora, de vez em quando se
LEMBRARIA dele, dizendo: Primo Argemiro também gostou de mim....”
IV - OS MISERÁVEIS
Victor Hugo

“Marius descia esse declive vagarosamente, com os olhos fitos no que não via. (...). A
LEMBRANÇA de um ente ausente (Cosette) acende-se nas trevas do seu coração (cérebro);
quanto mais completamente desapareceu aquele ente (Cosette), tanto mais brilhante é a
LEMBRANÇA (dela - em seu cérebro); a alma desesperada e obscura vê no seu horizonte aquela
luz, estrela da noite anterior. Ela! Eis a que se reduzia todo o PENSAR de Marius (pensava
obsessivamente na lembrança de Cosette). (...). E dizia consigo: << Se ao menos pudesse tornar
a vê-la antes de morrer! >>.” (...). – Redução do Universo a uma só criatura, expansão de uma
só criatura até o infinito, - eis a definição do amor...

12 - A ESTRADA
Cormac McCarthy

CARREGAMOS EM NOSSO CÉREBRO BOAS E MÁS RECORDAÇÕES


- NÃO PODEMOS FAZER ESCOLHAS – POIS AMBAS SÃO INDELÉVEIS -

“Atravessaram a cidade ao meio-dia do dia seguinte. Mantinha o seu menino bem perto, ao
seu lado. A cidade estava quase toda queimada. Nenhum sinal de vida. Carros na rua
incrustada de cinzas, tudo coberto de cinza e poeira. Rastros fósseis na lama seca. Um cadáver
na soleira de uma porta seco feito couro. Arreganhando os dentes para o dia. Ele puxou o filho
mais para perto. -- Apenas se LEMBRE que as coisas (Lembranças) que você põe na cabeça
ficam lá para sempre, falou ao filho. Você talvez queira pensar sobre isso. – Você esquece de
algumas coisas, não se esquece? – Sim. Você ESQUECE do que quer LEMBRAR, e se LEMBRA do
que quer ESQUECER”.
13 - O GRANDE GATSBY
- F. Scott Fitzgerald -

- Gatsby preencheu seu cérebro com Grandes Esperanças e Terríveis Desilusões -

“(...) Quase cinco anos! Devia ter havido momentos, mesmo naquela tarde do reencontro, em
que Daisy não correspondera totalmente aos seus sonhos... Não por culpa dela, mas devido à
colossal vitalidade da ilusão que ele (Gatsby) alimentara. Uma idealização que havia crescido e
se tornado maior do que ela, maior do que qualquer coisa no universo. (...). Não há intensidade
de ardor ou de euforia (lembranças de momentos sublimes ou devastadores) que possa
desafiar aquilo que um ser humano é capaz de armazenar em seu fantasmagórico coração
(cérebro).

EXPLICAÇÃO

Lembranças e Emoções não Correspondidas

Daisy, ao LEMBRAR eventualmente de Gatsby, sente ua certa, se não total indiferença;

Gatsby, por sua vez, LEMBRA obsessivamente de Daisy, logo sente ua avassaladora afeição;
Mesmo que idealizada no cérebro de Gatsby, a obsessiva LEMBRANÇA de Daisy – sua grande paixão - foi a
responsável por sua vertiginosa ascensão, e por sua queda abissal.

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O GIGANTE ENTERRADO
Kazuo Ishiguro

“Então Beatrice perguntou ao barqueiro: há pouco o senhor falou de seu dever de interrogar
todo casal que espera fazer a travessia, e assim descobrir se o VÍNCULO DE AMOR entre ambos
é forte o bastante para permitir que eles morem juntos na ilha. Bem, senhor, é só para
satisfazer a curiosidade de uma velha, que tipo de perguntas faz para descobrir o que precisa?

Por um momento o barqueiro pareceu hesitar. Depois disse: bem, boa senhora, se um casal
acredita que o vínculo entre eles é forte o bastante, tenho que pedir a cada um deles,
separadamente, que (regressem em sua Linha da Memória – dentro do cérebro e) me relate
SUAS LEMBRANÇAS MAIS CARAS. Dessa forma, a verdadeira natureza do vínculo entre ambos
logo se revela. (ou pode não revelar vínculo algum – como é o caso de Gatsby e Daisy).”
14 - A MORTE DE IVAN ILITCH
Leon Tolstoi
(O INÍCIO, COMOVIDO, APRESENTA-SE AO FIM)

Solitário, enfermo e desiludido, IVAN ILITCH só encontra alguma “vida” ao regressar em sua
Linha da Memória (dentro do cérebro) e relembrar os singelos episódios da sua infância...

“Ultimamente, na solidão em que se encontrava, (...) – solidão mais completa do que qualquer
outra, seja no fundo do mar ou no centro da Terra -, IVAN ILITCH vivia somente das
lembranças do passado (registradas em sua Linha da Memória – dentro do cérebro). Um após
outro, os retratos (lembranças) do seu passado iam aparecendo para ele (vemos nossas
lembranças – dentro do cérebro).

Sempre começavam com os acontecimentos mais recentes (lembranças de episódios recentes)


e depois voltavam para os mais distantes, sua infância, e ali ficavam. Se lembrasse, por
exemplo, nas ameixas secas que foram oferecidas no jantar de hoje, imediatamente seu
pensamento (Linha da Memória) o remetia para as ameixas frescas francesas de sua infância
(o sabor das ameixas do jantar de hoje o conduz em sua Linha da memória - dentro do cérebro
- até as lembranças do sabor das ameixas da sua infância), aquele gosto peculiar, e sentia a
água na boca de quando desciam para pegá-las e, junto com essa lembrança do gosto de
ameixas, surgia uma série de outras lembranças da mesma época – sua babá, seu irmão, seus
brinquedos.

“Mas não devo lembrar disso, é muito doloroso”, e IVAN ILITCH forçava-se a voltar ao
(amargurado) presente. (...) Mas quanto mais para trás olhasse mais vida encontrava. Houve
mais coisas boas e mais vida em si, lá atrás. (...) << Há um ponto de luz lá longe, no início da
vida, mas, depois disso, tudo foi ficando cada vez mais negro e afastando-se cada vez mais, em
proporção inversa à distancia que me separa da morte >>, pensou IVAN ILITCH. *

EXPLICAÇÃO

*IVAN ILITCH percebe que, enquanto as lúdicas lembranças da sua infância (o início) cada
vez mais se afastam em sua Linha da Memória (dentro do cérebro),
a possibilidade da morte (o fim) cada vez mais se aproxima.

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O PRÓLOGO SEMPRE APRESENTA-SE AO EPÍLOGO

“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de
RECORDAR aquela tarde remota (da sua infância) em seu pai o levou para conhecer o gelo”.
CÉLEBRE INTRODUÇÃO DE CEM ANOS DE SOLIDÃO
Gabriel Garcia Marquéz

15 - MELQUIADES, O INOLVIDÁVEL

- POIS IMORTALIZADO AO PERMANECER NAS LEMBRANÇAS DOS QUE FICAM -

“Aquele ser prodigioso que dizia possuir as chaves de Nostradamus era um homem lúgrube,
envolto numa aura triste, com um olhar asiático que parecia conhecer o outro lado das coisas.
Usava um chapéu grande e negro, e um casaco de veludo patinado pelo limo dos séculos. (...).
No sufocante meio-dia em que Melquíades revelou os seus segredos, José Arcadio Buendía teve
a certeza de que aquele era o princípio de uma grande amizade. As crianças se assombraram
com os seus RELATOS FANTÁSTICOS (relatos das lembranças da sua vida). Aureliano, que
naquele tempo não tinha mais de cinco anos (de Permanência no Presente), havia de
RECORDAR pelo resto da vida como o viu naquela tarde, sentado contra a claridade metálica e
reverberante da janela, iluminando com a sua profunda voz de órgão os territórios mais
escuros da imaginação, enquanto esguichava pelas têmporas a gordura derretida pelo calor.
José Arcadio, seu irmão mais velho, havia de transmitir aquela imagem maravilhosa, como
uma RECORDAÇÃO HEREDITÁRIA, a toda a sua descendência. Úrsula, pelo contrário, conservou
(em seu cérebro) uma LEMBRANÇA desagradável daquela visita, porque entrou no quarto no
momento em que Melquíades quebrava por distração um frasco de bicloreto de mercúrio. (...).
Aquele cheiro acre ficaria para sempre em sua memória (cérebro) vinculado à LEMBRANÇA de
Melquíades.
CEM ANOS DE SOLIDÃO
Gabriel Garcia Marquéz

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Sobre Verdades e Mentiras

SUPER INTERESSANTE
(pub. 31 mar 1988 – atu. 31 out 2016)

“TUDO MENTIRA - Ninguém gosta de admitir esta dura verdade: TODOS MENTEM. Seja para
agradar a alguém, escapulir de uma encrenca, ser o herói de alguma aventura nunca vivida,
levar vantagem na vida. Com sua pernas curtas, a mentira caminha no passo do homem desde
que o mundo é mundo, e não dá sinal de perder o fôlego, muito pelo contrário. Todos temos
um pouco, ou muito, de Pinocchio. (... ou do Barão de Munchausen; ou de Pantaleão; ou de
Chicó de Suassuna; ou de Jakob, o mentiroso... ).”

EXPLICAÇÃO

a - Os Falaciosos: o assunto aqui tratado nada tem a ver com o grande MELQUÍADES; um dos
personagens mais fascinantes do romance. Apenas arranjei uma brecha para explicar, em
poucas palavras, o que significa a MENTIRA.

Para o bem ou para o mal, MENTIR significar tentar omitir, acrescentar, inventar ou falsear as
LEMBRANÇAS de algum episódio da nossa vida. Somos naturalmente egoístas, portanto, a
nossa “Versão dos Fatos” (Lembranças dos Fatos) quase sempre tenderá àquela que nos
pareça mais vantajosa:

- Eu não sabia de nada!;


- Nunca participei de negociatas!;
- Não o conheço e nunca estive no local do crime!;
- Minhas palavras foram mal interpretadas e retiradas do contexto!;
- Nossa bandeira é a luta contra a corrupção! (qdo praticada pelos outros, não por nós), etc.

“Já que a MEMÓRIA, que é susceptível e não gosta de ser apanhada em falta, tende a
preencher os esquecimentos com criações de realidade próprias, obviamente espúrias,
mais ou menos contíguas aos fatos de cujo acontecer só lhe havia ficado uma
lembrança vaga, como o que resta da passagem de uma sombra”.
TODOS OS NOMES
José Saramago

b - Se és o Papa; sou Napoleão (III): quando um indivíduo idealiza algo no cérebro e acredita
genuinamente em suas fantasias – como é o caso do nosso RUBIÃO ( do romance Quincas
Borba, de Machado de Assis, - e do qual citaremos mais adiante) – já não se trata de “Mentiras
ou Verdades”, mas de um problema neurológico que necessita de acompanhamento
psicológico.

“É Tudo Verdade! – É Tudo Mentira!”

“— Pois sim, mas eu pergunto. Suponha que você está no seminário e recebe a notícia de que
eu vou morrer... Ou que me mato de saudades, se você não vier logo, e sua mãe não quiser que
você venha, diga-me, você vem ? Deixa seminário, deixa sua mãe, deixa tudo, para me ver
morrer? – Venho, - respondeu Bentinho. Capitu teve um risinho descorado e incrédulo, e com a
taquara escreveu uma palavra no chão; inclinei-me e li: MENTIROSO.
DOM CASMURRO
Machado de Assis

16 - IRINEU FUNES – O MEMORIOSO


- Lixão de Lembranças – não a céu aberto, mas dentro do cérebro -

Ficções de Borges

“Nós, de uma olhadela, percebemos três taças em uma mesa; Funes, todos os rebentos e
cachos e frutos que compreende uma parreira. Sabia as formas das nuvens austrais do
amanhecer do dia 30 de abril de 1882, e podia compará-las na LEMBRANÇA (cérebro) aos veios
de um livro encadernado em couro que vira somente uma vez e às linhas da espuma que um
remo levantou no rio Negro na véspera da batalha do Quebracho. Essas LEMBRANÇAS (em seu
cérebro) não eram simples; cada imagem visual estava ligada às LEMBRANÇAS das demais
sensações do evento relatado (sons, sabores, odores e impressões táteis). (...) Então disse:
“Mais RECORDAÇÕES (no cérebro) tenho eu sozinho que as que tiveram todos os homens desde
que o mundo é mundo. Minha MEMÓRIA (cérebro), meu senhor, é um despejadouro de lixos
(lembranças inúteis).”

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“Lembro-me de um linguista que se queixava de não ser capaz de esquecer nenhuma das vinte
e tal línguas que conhecia. Dizia que se sentia enlouquecer por ter a cabeça cheia de
informações de que não necessitava. Sentia-se atalhufado de irrelevâncias.”
NAS TUAS MÃOS
Inês Pedrosa

17 - SVETLANA ALEKSIÉVITCH
(ESCRITORA BIELORRUSSA – MERECIDO NOBEL 2015)
Como veremos no cap. XVII, os SONHOS (e pesadelos) são construídos – em nosso cérebro –
com fragmentos de lembranças da nossa vida.

Antes, porém, utilizaremos 3 citações da escritora bielorrussa para fazer ua breve explicação:

I - A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER

“Por acaso nós entendíamos o que é a guerra? Éramos jovens... Agora eu acordo de noite com
medo quando sonho que estou na guerra... Um avião está voando, meu avião, ganha altura e...
Cai... Então entendo que estou caindo. Nos últimos minutos... Dá tanto medo enquanto não
acordo, enquanto o sonho não se evapora... “

Anna Semiónovna Dubróvna – Tenente Piloto

II - MENINOS DE ZINCO

“De manhã você acorda e fica contente se não Lembra dos Sonhos. Não conto meus sonhos
para ninguém, mas eles voltam... Os mesmos sonhos... É como se eu estivesse dormindo e
visse um grande mar de gente. (...). Então entendo que estou deitado num caixão... (...).
Lembro bem disso... Mas estou vivo, lembro que estou vivo, mas estou num caixão. (...). O que
aconteceu? Por que estou no caixão? De repente a procissão para, e escuto alguém falando:
“Me dê o martelo”. Então me vem um pensamento: estou sonhando... É como se fosse
realidade e sonho ao mesmo tempo.

Soldado – comunicações

III - VOZES DE TCHERNÓBIL

“Com frequência sonho que passeio com o meu filho pelas ruas ensolaradas de Prípiat (vemos
nossos SONHOS – no cérebro). Hoje é uma cidade fantasma. Caminhamos e comtemplamos as
rosas, em Prípiat havia muitas rosas, grandes canteiros de rosas. Foi um sonho. Toda a nossa
vida já é um sonho. Na época eu era tão jovem, meu filho era pequeno... Eu amava... Agora
tudo que restou foram as recordações (tudo passa; só as lembranças permanecem – em nosso
cérebro).

Nadiéjda Petróvna Vigóvskaia

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EXPLICANDO OS SONHOS
a - A Matéria de Que São Feitos os Sonhos: às vezes suaves (oníricos), às vezes aflitivos
(pesadelos), os SONHOS são apenas pequenas historietas – fabricadas aleatoriamente em
nosso cérebro – com fragmentos de lembranças da nossa vida. Portanto, como veremos no
cap. XVII...

LEMBRANÇAS pessoais são a matéria com a qual são fabricados os nossos SONHOS

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OBS

b - Narrando Lembranças: todos os livros da escritora bielorrussa, SVETLANA ALEKSIÉVITCH,


se baseiam em testemunhos reais de pessoas comuns que se predispõem a regressar em sua
Linha da Memória (dentro do cérebro), - e relatar as LEMBRANÇAS da sua vida.

Lembranças pessoais de indivíduos em meio a eventos importantes da história de um país ou


do mundo. Evidentemente não podemos exigir que tais lembranças sejam totalmente fieis à
realidade – afinal, somos humanos, não é mesmo? Mas, no conjunto, resulta numa descrição
pungente de um determinado acontecimento histórico.

18 - CRIME E CASTIGO
Fiodor Dostoiévski

Como veremos no cap. XVII, os SONHOS (e pesadelos, claro) são produzidos – em nosso
cérebro – com fragmentos de lembranças da nossa vida.

No trecho a seguir, veremos como o cérebro de ROSKÓLHNIKOV (psicopata/protagonista do


romance) busca uma lembrança marcante da sua infância – a tortura e morte de uma égua de
carga por um bando de aldeãos embriagados – e com ela tece um sonho doentio...

“Num estado doentio, os SONHOS costumam destingüir-se pelo seu extraordinário colorido e
clareza, e pela estranha semelhança com a realidade. Apresentam-nos às vezes um quadro
maravilhoso; e o cenário e todo o processo de representação são ao mesmo tempo tão
verossímeis e com uns pormenores tão exatos e inesperados, mas em tão artística harmonia
com a totalidade do quadro, que seria em vão que o próprio SONHADOR tentaria evocá-los,
depois de desperto, ainda que fosse um artista como Puchkin ou Turguêniev. Esses SONHOS,
SONHOS DOENTIOS, ficam sempre gravados na MEMÓRIA (cérebro) por muito tempo e
produzem uma forte impressão no organismo alterado e enfraquecido do homem
(principalmente daquele que está premeditando um assassinato – “um espetáculo selvagem e
horrível”.)”.

Após o crime...

ROSKÓLHNIKOV LEMBRA DO CRIME


Logo sente o peso da CULPA, - ou sente o receio do CASTIGO?

- Uma Lembrança Manchada de Sangue -

“Daquilo... daquilo esquecera-se completamente; mas lembrava-se a todo momento que se


esquecera de qualquer coisa de que não era possível esquecer-se (a lembrança de que matou
covardemente duas irmãs, senhoras de idade, - um delas nitidamente com retardo mental )... e
angustiava-se e afligia-se perante essa recordação (uma lembrança fixa - e suja de sangue -
em seu cérebro); gemia, enfurecia-se ou espantava-se, ficava tomado de um medo indomável.
Então erguia-se na cama, queria disparar; mas havia sempre alguém que o dominava à força,
e caia de novo na inercia e no torpor”.

“Um cão que sabe matar também tem saber carregar (no cérebro)
a lembrança do que matou”
José Eduardo Agualusa

José EdJ

19 - O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA


Lima Barreto

(“VÁ e VEJA” – e registre as imagens em seu CÉREBRO)

Após registrar os terríveis episódios em seu CÉREBRO ( Linha da Memória), o Mj Quaresma


escreve à irmã, Adelaide, e descreve as horríveis lembranças da guerra – são
Relatos Selvagens...
“Que combate, minha filha! Que horror! QUANDO ME LEMBRO DELE, passo as mãos pelos
olhos como para afastar (do cérebro) uma visão (lembrança) má. Fiquei com horror à guerra...
Um infernal zunir de balas, chorões sinistros, imprecações (ouvimos nossas lembranças - no
cérebro) – e tudo isto no seio da treva profunda da noite... Houve momentos que se
abandonaram as armas de fogo: batíamos à baioneta, a coronhadas, a machado, a facão.
Filha: um combate de trogloditas, uma cousa pré-histórica... Eu duvido, eu duvido, duvido da
justiça disso tudo, duvido da sua razão de ser, duvido que seja certo ir tirar do fundo de nós
todos a ferocidade adormecida, aquela ferocidade que se fez e se depositou em nós nos
milenários combates com as feras, quando disputávamos a terra a elas... (...). Armadas com
machado, sem piedade, sem amor, sem sonhos generosos, a matar, sempre a matar... Este teu
irmão que estás vendo também foi descobrir dentro de si muita brutalidade, muita ferocidade,
muita crueldade... Eu matei, minha irmã; eu matei! (...) Perdoa-me! Eu te peço perdão, porque
preciso de perdão e não sei a quem pedir, a que Deus, a que homem, a alguém enfim... Não
imaginas como isto (o peso das lembranças da guerra – dentro do cérebro) me faz sofrer... (...).
O que dói é a alma, é a consciência.”

--------x--------

“Um animal nunca pode ser tão cruel, tão artística e elaboradamente
cruel quanto o ser humano”
“Ivan Karamázov”

A crueldade humana tem como base a nossa aptidão para premeditar.


Nos itens a seguir (de A a F), abordaremos este assunto.

PREMEDITAÇÃO
ATO DE DECIDIR POR ANTECIPAÇÃO – NO CÉREBRO – DECISÃO QUE ANTECEDE A EXECUÇÃO DO ATO

A – Dark Side of the Brain: a crueldade humana se fundamenta na nossa aptidão para
PREMEDITAR. Ou seja, o homem é o único animal capaz de idealizar antecipadamente seus
atos no CÉREBRO, para só em seguida executá-lo com as MÃOS.

Por exemplo, o homem inicialmente premedita no cérebro: quem vou matar, como vou matar,
quando vou matar, onde vou matar. Em seguida ele concretiza a barbárie com as mãos.
B - Do Bestunto do Carrasco às Garras da Besta: Portanto, “Um Cabra Marcado Para Morrer”*,
morre duas vezes: primeiro a vítima é morta no cérebro do carrasco, em seguida é morta pelas
suas mãos .
*Doc. de Eduardo Coutinho

C - O Cérebro e as Mãos do Homem: primeiramente nosso cérebro idealiza (sejam elas coisas
boas ou más), em seguida nossas mãos a executam...

-- APOLLO 11: primeiro a nave espacial foi idealizada no cérebro; em seguida foi construída
com as mãos;

-- NONA SINFONIA: primeiro Beethoven a idealizou no cérebro; em seguida compôs com as


mãos;

-- DOM QUIXOTE: primeiro Cervantes idealizou a história no cérebro; em seguida ele a


escreveu com as mãos;

-- CONSPIRACY* - A Solução Final: primeiro o Holocausto foi idealizado no cérebro; em


seguida ele foi executado com as mãos .
*Filme com Kenneth Branagh.

-- A ROSA DE HIROSHIMA: primeiro a bomba foi idealizada no cérebro; em seguida ela foi
construída e arremessada com as mãos;

-- O SUBLIME E O VIL: portanto, como vimos acima, para o bem ou para o mal, a premeditação
é uma aptidão exclusivamente HUMANA.

RASKÓLHNIKOV PREMETIDA – NO CÉREBRO

Crime e Castigo – Dostóievski

“De repente, estremeceu; um pensamento (a idealização do crime – em seu cérebro), o mesmo


da noite anterior, tornou a atravessar a sua imaginação (cérebro). Mas não estremecera pelo
fato de lhe ter ocorrido aquela ideia. Porque sabia, pressentia que ela havia infalivelmente de
ocorrer-lhe
e estava à espera dela; demais, essa ideia (o crime – covarde, cruel, imperdoável – que
resultaria em duplo assassinato) não datava da noite anterior. Mas havia esta diferença: é que
um mês atrás, e até essa noite, era apenas um desvario, ao passo que agora (o psicopata, até
então latente, rompe a casca do ovo e põe a cabeça para fora)... agora surgia com uma
aparência nova, de certo modo ameaçador e absolutamente desconhecido, e ele próprio o
reconhecia... O sangue subiu-lhe a cabeça e os olhos nublaram-se. (...)”.
D – RODION – O Ordinário: não julgo o escritor, apenas o personagem. RASKOLHNIKOV divide
os homens em duas categorias: ordinários e extraordinários. Na realidade, ele não passa de
um reles sociopata como tantos outros (que existem de verdade), e que não merecia a
redenção (Sônia).

Caso sua vítima, Aliona, tivesse preenchido seu CÉREBRO com conhecimentos, ela poderia –
em lugar da desprezível e ordinárial velha má do penhor – ter sido gerente de um grande
banco. E assim, o intelectualizado senhor Rodion não se sentiria um ser tão extraordinário a
ponto de matá-la (a ela e a sua simplória irmã, Lisa) a machadada.

Por Quantas Andam o Projeto da Criação?

E – DI – Design Inteligente: agora deixemos uma questão em aberto para refletir: VOCÊ acha
que o Universo foi primeiramente idealizado no cérebro de um Criador, e só em seguida –
durante seis dias – ele o construiu com suas mãos ?

Criação Premeditada ?
F - Para ficar mais claro: VOCÊ acha que o mundo foi idealizado (num cérebro) antes de ser
construído (com as mãos)? Ou, pelo contrário, VOCÊ acha que tudo independe de um DESIGN
INTELIGENTE (cérebro idealizador), e que uma singularidade e o consequente Big Bang são
coisas que acontecem de vez em quando?

ANTES DO SEXTO DIA...

“Não falta mesmo quem sustente que Deus, antes de se pôr a amassar o barro com que depois
nos fabricou, começou por desenhar (idealizar antecipadamente no cérebro) com um pau de
giz o HOMEM e a MULHER na superfície da primeira noite”,
TODOS OS NOMES
José Saramago
20 - GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Guimarães Rosa

Nesse consagrado romance, o narrador-personagem RIOBALDO, ex-jagunço, já idoso, regressa


em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e descreve as LEMBRANÇAS da sua vida:
vitórias, derrotas, alegrias, decepções, afetos, desafetos, medos;- além, claro, do seu amor
reprimido por Diadorim.

Nesse trecho, RIOBALDO explica ao seu interlocutor sobre a dificuldade de narrar suas
LEMBRANÇAS de forma “alinhavada”, contínua, sequencial. O mais comum, diz ele, é contá-las
de forma “desgovernada”, com idas e vindas ao longo da sua Linha da Memória. Veja:

“Por tudo, rés-coado, fico pesando. Gosto. Melhor, para a ideia (cérebro) se bem abrir (para
relatar as lembranças da sua vida), é viajando em Trem de Ferro. Pudesse, vivia para cima e
para baixo, dentro dele. Informação que pergunto: mesmo no céu, fim de fim, como é que a
alma vence se esquecer (das lembranças de) tantos sofrimentos e maldades, no recebido e no
dado? A como?...

(...). Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não
pense. (...). Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. (...). A lembrança da vida
da gente se guarda em trechos diversos (ao longo da nossa Linha da Memória – dentro do
cérebro), cada um (cada lembrança) com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que
nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas (lembranças de
episódios) de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar,
cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa (interpretamos as
antigas lembranças sob o nosso atual discernimento). Sucedido desgovernado. Assim eu acho,
assim é que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas ( lembranças
antigas) que ficaram muito mais perto da gente do que outras (lembranças), de recente data.
O senhor mesmo sabe. (...).

(...). Ah, mas falo falso. O senhor sente? Desmente? Eu desminto. Contar (descrever as
lembranças da nossa vida) é muito, muito dificultoso. Não pelos anos (de Permanência no
Presente) que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas (certas lembranças)
passadas – de fazer balancê, de se remexerem dos lugares (ao longo da nossa Linha da
Memória). O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que nem não. São tantas
horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos (tantas lembranças de episódios vividos),
tudo miúdo recruzado.

(...). Agora, que mais idoso me vejo, e quanto mais remota aquilo reside (quanto mais distante
em sua Linha da Memória – dentro do cérebro), a lembrança demuda de valor – se
transforma, se compõe, em uma espécie de decorrido formoso.

(...). Só os meus homens. Escutava, olhava – e eram aqueles: que muitas estrepolias ainda iam
decerto agir, e muita má gente matar. Aos dez e dezes, digo, afirmo que me lembro de todos.
Esses passam e transpassam na minha recordação (cérebro), vou destacando a contagem (das
lembranças de tantos episódios). Nem é por me gabar de retentiva cabedora (boa memória),
nome por nome, mas para alimpar o seguimento de tudo o mais que vou narrar ao senhor
nesta minha conversa nossa de relato (das lembranças da sua vida). O senhor me entende?

21 - A METAMORFOSE
Franz Kafka

Nosso trágico amigo Gregor Samsa, há muito metamorfoseado, ainda consegue, de alguma
forma, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) para relembrar uma época,
não muito distante, em que, em lugar de rastejar, como agora, ainda se locomovia de forma
erecta...

“De dia ou de noite, Gregor mal dormia. Muitas vezes assaltava-o a ideia de que , ao tornar a
abrir-se a porta, voltaria a tomar a seu cargo os assuntos da família, como sempre fizera;
depois desde longo intervalo, vinham-lhe mais uma vez ao pensamento (cérebro) as figuras
(lembranças) do patrão e do chefe de escritório, dos caixeiros-viajantes e dos aprendizes, do
estúpido do porteiro, de dois ou três amigos empregados noutras firmas, de uma criada de
quarto de um dos hotéis da província, uma recordação, doce e fugaz, de uma caixeira de uma
loja de chapéus que cortejara com ardor, mas demasiado lentamente. – Todas (as lembranças)
lhe vinham à mente (cérebro) , juntamente com (as lembranças de) estranhos ou pessoas que
tinha esquecido completamente. Mas nenhuma delas podia ajudá-lo a ele nem à família, pois
não havia maneira de contatar com elas, pelo que se sentiu feliz quando (as lembranças) se
desvaneceram. (...).”

EXPLICAÇÃO

a - Artrópode Sentimental: nosso desafortunado protagonista, Gregor Samsa, transformou-se


num enorme inseto, é verdade. Mas era um INSETO HUMANO. Pois, embora não conseguisse
expressá-la com a voz, era capaz de, ao relembrar seu passado, exteriorizar emoções: afeto,
gratidão, saudade, medo, preocupação, mágoa, frustração, desespero, resignação, etc. -- e, às
vezes, até uma vã e fugaz esperança.

b - Cada Lembrança, Uma Emoção: cada lembrança da nossa vida, somatiza uma determinada
emoção. Como veremos no cap. XIX, a evolução da MEMÓRIA (a aptidão para preencher o
CÉREBRO com as lembranças da nossa vida) determinou a Etiologia das Emoções Humanas:
amor, ódio, saudade, dor, culpa, frustração, esperança, etc.
22 - INFIEL
Ayaan Hirsi Ali

Livro biográfico da ativista, escritora e política somali-holandesa-americana. No trecho abaixo,


ela regressa em Linha da Memória (dentro do cérebro) e relata uma pesarosa lembrança da
sua infância...

“Minha irmãzinha Quman nasceu quando eu tinha três anos, mas a única lembrança que me
deixou (no cérebro) foi a sua morte. Tenho na mente (cérebro) a imagem de um homem alto
parado à porta (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro), carregando um bebê enrolado
em panos. Todos sussurravam Innaa Lillaahi wa innaa Illaahi raajiuun – “De Alá viemos e a Alá
voltaremos” (ouvimos nossas lembranças – dentro do cérebro). Lembro-me de ter puxado o
xale de mamãe para lhe dizer que aquele homem estava querendo roubar a minha irmã;
Lembro-me dela repetindo muitas e muitas vezes as mesmas palavras, com os demais. Então,
na minha memória (cérebro), o homem parte com Quman, que está chorando, e mamãe o
acompanha, lívida de dor. Anos depois, quando eu já estava grande o bastante para entender
o que era a morte, perguntei como era possível que a pequena Quman chorasse tanto se
estava morta. Mamãe disse que quem estava chorando era eu. Chorara durante horas sem
parar.

EXPLICAÇÃO

a - LEMBRO da perda da minha irmãzinha Quman, logo SOFRO: como veremos no cap XIX, a
evolução da MEMÓRIA (a aptidão para preencher o CÉREBRO com as lembranças da nossa
vida) determinou o origem do sofrimento (dor psíquica), e do ritual do luto. Veja outro
trecho...

“Certa manhã, quando eu estava no colégio, uma súbita rajada de vento me atingiu com tanta
força que quase me derrubou. Com ela, chegou um cheiro gostoso de chuva que me encheu de
saudade da minha terra (memorizamos odores – no cérebro) . O cheiro da chuva era, talvez, o
mais pungente que eu recordava da minha breve existência na Somália”.

EXPLICAÇÃO

b - LEMBRO da minha infância na Somália, logo sinto SAUDADE: o cheiro da chuva a fez
regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) até chegar às lembranças do Cheiro
da chuva da sua terra natal.
23 - EU SOU MALALA
(Malala Yousafzai)

MALALA, hoje na Inglaterra, e apesar de todas as comodidades, frequentemente regressa


em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) para relembrar sua querida
terra natal, localizada no vale do Swat, no Paquistão...

“Venho de um país criado à meia-noite. Quando quase morri, era meio-dia. Há um ano
(9/out/2012 – com 15 anos de Permanência no Presente) saí de casa para ir à escola e nunca
mais voltei. Levei um tiro de um dos homens do Talibã e mergulhei no inconsciente do
Paquistão. (...) Hoje, quando abro os olhos de manhã, anseio por ver o meu velho quarto, com
as minhas coisas, as roupas todas no chão e os troféus que ganhei na escola nas prateleiras.
(...) Fecho os olhos (para voltá-los para dentro do cérebro) e por um momento regresso ao meu
querido vale (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro) – às montanhas de topo coberto
de neve, aos campos verdes ondulantes, aos refrescantes rios azuis. Meu coração ( cérebro)
sorri quando me lembro dos habitantes do Swat. Meu pensamento (Linha da Memória –
dentro do cérebro) me leva até a escola e lá eu me reúno com minhas colegas e professoras.
Encontro Moniba, minha melhor amiga, e nos sentamos juntas, conversando e brincando,
como se eu nunca tivesse saído de lá. (...).”

EXPLICAÇÃO

a - LEMBRANÇAS – nossa mais fiel Companheira de Viagem: boas ou más, as lembranças


nunca nos abandonam. Aonde quer que vamos, carregamos (no cérebro) o peso das nossas
recordações.

b - A Bagagem do Viajante: MALALA, por razões óbvias, se viu obrigada a abandonar sua terra
natal. No entanto, ela trouxe em seu cérebro 15 anos de recordações do seu antigo lar – e
nossas lembranças, como já foi dito, são indeléveis, não se pode apagá-las do cérebro.

24 - PARA PODER VIVER


- A jornada de uma garota norte-coreana para a liberdade -
Yeonmi Park

Nesse trecho de sua autobiografia, YEONMI regressa em sua Linha da Memória (dentro do
cérebro), e relata as primeiras LEMBRANÇAS da sua infância...

“Cheguei a este mundo cedo demais. Minha mãe estava com apenas 7 meses de gestação, e eu
pesava menos de 1.5 kg quando nasci. O médico disse que não havia nada que pudessem fazer
por mim. Eu dependia de mim mesma para viver. (...).

Quando eu era criança, costumava ficar na escuridão contemplando as luzes de Chaingbai do


outro lado do rio. (...). Era excitante VER (vemos e ouvimos nossas lembranças – no cérebro) os
fogos de artifícios coloridos explodindo no preto aveludado do céu durante os festivais do Ano-
Novo chinês. Nós não tínhamos coisas parecidas no nosso lado da fronteira. Às vezes, quando
eu caminhava rio abaixo para encher meus baldes com água e o vento úmido soprava na
direção certa, eu podia Sentir o Aroma das comidas deliciosas feitas nas cozinhas do outro
lado (memorizamos aromas – no cérebro). O mesmo vento trazia as VOZES das crianças
chinesas que brincavam na margem oposta (ouvimos nossas lembranças – dentro do cérebro).
– Ei, você! Está com fome aí?, gritavam os meninos em coreano. – Não! Cale a boca, seu chinês
gordo! , eu gritava de volta. Não era verdade. De fato, eu estava com muita fome.

25 - A RAINHA DE KATWE
Tim Crothers

O livro relata a emocionante e verídica história de PHIONA MUTESE, moradora de Katwe – a


maior favela de Uganda – que conseguiu vencer a pobreza e conquistou um lugar no mundo
do xadrez. Nesse trecho, PHIONA regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e
relata a lembrança de um episódio marcante da sua infância...

“Não tenho lembrança do meu pai”, diz Phiona. “Eu era tão nova que nem sabia como ele
havia morrido. Depois de seu funeral, ficamos na aldeia algumas semanas, e uma manhã
quando acordei, minha irmã mais velha, Juliet, me contou que estava com dor de cabeça.
Pegamos algumas ervas e as demos a ela e então ela foi dormir. Na manhã seguinte a
encontramos morta na cama. É disso que me lembro.”

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(...). Como é analfabeta, Harriet – mãe de Phiona – não deu um nome à sua filha recém
nascida, apenas um som: FI – OH – NAH. O nome jamais foi soletrado. Quando perguntam a
Harriet como o nome de sua filha é soletrado, ela não compreende a pergunta.”
“— Depois da morte de meu marido eu fiquei sozinha e com um monte de filhos e não
conseguia pagar o aluguel - diz Harriet. – Era tão, tão terrível. Eu não podia pagar suas escolas
e não lhes deixavam fazer provas nem ter boletins. Finalmente, precisei escolher entre EDUCAR
MEUS FILHOS (preencher o cérebro deles com conhecimentos), ou alimentá-los.”

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UM BREVE ENSAIO SOBRE O ATO DE LER


SUPER IINTERESSANTE
(pub. 18 out 2009 – atu. 18 out 2017

“Seus olhos acabam de bater nas manchas pretas que formam as letras desta frase e, como
mágica, uma VOZ surge na sua cabeça. Já parou para pensar o quanto isso é estranho? (...).”

EXPLICAÇÃO

Livro de Cabeceira – lendo e ouvindo no cérebro: ao LER sozinho, em silêncio, apenas para si
mesmo, você OUVE a sua própria voz – dentro do cérebro. Da mesma forma que:

ao LEMBRAR da sua música favorita, você a ouve – em seu cérebro;

ao LEMBRAR da sua mãe, você ouve a VOZ dela – em seu cérebro;

ao LEMBRAR da sua namorada, você ouve a VOZ dela – em seu cérebro;

ao LEMBRAR da sua cantora favorita, você ouve a VOZ dela – em seu cérebro;

ao LEMBRAR do relato da Criação do Mundo, vc ouve a VOZ do Cid Moreira – em seu cérebro;

A propósito, lemos no CÉREBRO, não com os olhos. Pois o processo de decodificar símbolos
para extrair significados, é realizado, obviamente, pelos nossos MIOLOS.

OUVIMOS NO CÉREBRO
- não com os ouvidos -

“—A rapariga dos óculos escuros ainda lhe pediu que a deixasse OUVIR de vez em quando um
bocadinho de música (no único radinho de pilha que havia em toda a camarata), só para não
perder a lembrança, justificou,

-- Mas o velho da venda preta foi inflexível, dizia que o importante era saber as notícias do que
se ia passando lá fora, quem quisesse música que a OUVISSE dentro da sua própria cabeça,
PARA ALGUMA COISA BOA NOS HAVERÁ DE SERVIR A MEMÓRIA,

-- Tinha razão o velho da venda preta, a música do rádio já arranhava como só uma má
recordação é capaz de arranhar, por isso mantinha-o no mínimo volume, à espera de que as
notícias chegassem.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
José Saramago

26 - RELATO DE UM CERTO ORIENTE


Milton Hatoum

“Foi uma das IMAGENS (lembranças) mais dolorosas da minha infância (a morte trágica da
pequena Soraya); talvez por isso eu tenha insistido em invocá-la em duas ou três cartas que ti
escrevi; na tua resposta me chamavas de privilegiada, porque esses eventos haviam
acontecido quando eu já podia, bem ou mal, fixá-lo na MEMÓRIA (cérebro). Numa das cartas
que me enviaste, escreveste algo assim:

-- “A VIDA COMEÇA VERDADEIRAMENTE COM A MEMÓRIA”.

(...). Que privilégio, dizias, o de poder RECORDAR tudo isso! Pois eu, vestido de marinheiro, não
participava sequer do estarrecimento, da tristeza dos outros. Lembro apenas que Soraya
existia; e que , segundo Emilie me diria nos anos seguintes: a tua prima Soraya viajou...”

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“Na parede da memória; Essa lembrança é o quadro que dói mais”.


(Belchior – Elis: Como Nossos Pais)

EXPLICAÇÃO

LEMBRO da Soraya, logo sofro sua morte;

NÃO LEMBRO da Soraya, logo não sofro sua morte;

LEMBRO da perda, logo SOFRO: como veremos no cap XIX, a evolução da MEMÓRIA (a aptidão
para preencher o CÉREBRO com as lembranças da nossa vida) determinou a origem do
sofrimento (dor psíquica), e do ritual do luto. Pois em nosso CÉREBRO as lembranças dos
mortos permanecem VIVAS.

“As folhas caem; as estações passam; só as lembranças são eternas.”


ÁGUA FRECA PARA AS FLORES
Valérie Perrin
As 3 citações a seguir (relatos reais) foram retiradas dos livros de
SVETLANA ALEKSIÉVITCH...

1- “Uma pessoa está morrendo diante dos seus olhos... E você sabe, vê que não pode ajudar
em nada, que ela só tem alguns minutos. Você beija, faz carinho, diz palavras afetuosas. Se
despede dela. Bom, não podia ajudar com mais nada... Guardo aqueles rostos até hoje na
minha memória (cérebro). Vejo todos, todos os rapazes (vemos nossas lembranças – dentro do
cérebro) . Por algum motivo achei que ia esquecer de algum, nem que fosse de um rosto. Pois
não esqueci de ninguém. Lembro de todos... Vejo todos... (no cérebro). Queríamos fazer
túmulos para eles com as nossas próprias mãos, mas também nem sempre conseguíamos.
Íamos embora, e eles ficavam.

*Tamara Stiepánovna Umniáguina – sgt enfermeira

2 – “...O morto está ali, deitado, e no rosto dele vemos certo espanto: como, vou morrer? É
possível que eu tenha morrido? Enquanto ele escutava... Até o último minuto eu dizia que não,
como iria morrer? Beijava, abraçava: o que foi, o que foi? Ele já estava morto, olhos no teto, e
eu ainda estava sussurrando algo... Tranquilizando. Os sobrenomes já se apagaram da minha
MEMÓRIA (cérebro), mas os rostos ficaram gravados... (vemos nossas lembranças – dentro do
cérebro).”

*Enfermeira – sem identificação

3- “Gosto das minhas recordações... Gosto das minhas recordações porque nelas todos estão
VIVOS. Tenho lá tudo (dentro do cérebro): a mamã... o papá... Vladia... (...). Vivo sozinha, (...).
Talvez eles estejam todos comigo (as lembranças dos mortos permanecem “vivas”- em nosso
cérebro)... (...). Tenho a impressão de que nos tocamos com as mãos...

**Maria Voitechonok – escritora, 57 anos.


*A Guerra Não Tem Rosto de Mulher – **O Fim do Homem Soviético.

“A vida é uma sombra que passa, como na oração fúnebre de Yom Kippur. A morte
também é uma sombra que passa. Só a DOR (as lembranças dos nossos mortos)
não passa. Continua e continua (em nosso cérebro). Sempre.
Goershom Wald – JUDAS – Amos Oz

------------------X----------------
27 – HISTÓRIA DA MENINA PERDIDA
Elena Ferrante

LENU – ao final da juventude; início da idade madura – regressa em sua Linha da Memória
(dentro do cérebro) e descreve as lembranças de um episódio ultrajante (na época), que
envolveu Nino – sua paixão da infância e adolescência...

“Hoje, que tenho toda uma vida atrás de mim (carrega um longo passado – feito com
lembranças pessoais – dentro do cérebro), sei que reagi àquela notícia de modo exagerado e,
enquanto escrevo, percebo que intimamente sorrio. Conheço muitos homens e muitas
mulheres que poderiam narrar experiências (suas lembranças pessoais) não muito diferentes: o
amor, o sexo, são irracionais e brutais. Mas na época não aguentei. O dado concreto –
Eleonora está grávida de sete meses – me pareceu uma infâmia mais insuportável que Nino
pudesse fazer comigo. Lembrei-me de Lila, do momento de incerteza enquanto ela e Carmen se
consultaram com o olhar, como se tivessem mais coisa a me comunicar. (...). Elas sabiam? E
por que Lila desistira de me contar? Atribuíra a si mesma o direito de dosar a minha dor? Algo
ali se rompeu em meu peito e no ventre. (...). Eu me dobrei em duas de tanto sofrimento, os
braços cruzados, o corpo todo dolorido, sem conseguir falar nem gritar. Então me levantei de
ímpeto. (...). Disse numa espécie de estertor: expulse ele daqui!

28 – O MORRO DOS VENTOS UIVANTES


Emily Brontë

A Lembrança de Heathcliff Está Sempre, Sempre no Cérebro de Cathrine


(Total Eclipse Of The Brain)
Bonnie Tyler

“(...) Nelly, não sei como explicá-lo, mas certamente que tu e toda a gente tem a noção de que
existe, ou deveria existir, um outro eu para além de nós próprios. Para que serviria eu ter sido
criada, se apenas me resumisse a isto? Os meus grandes desgostos neste mundo foram os
desgostos do Heathcliff (ambos compartilham as mesmas lembranças, - de episódios
dolorosos), e eu acompanhei e senti cada um deles desde o início; é ele (a lembrança dele – no
cérebro) que me mantém viva. Se tudo mais perecesse e ele ficasse, eu continuaria, mesmo
assim, a existir; e, se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, o universo tornar-se-ia para
mim numa vastidão desconhecida, a que eu não teria a sensação de pertencer. (...). O meu
amor por Heathcliff é como as penedias que nos sustentam: pode não ser um deleite para os
olhos, mas são imprescindíveis. Nelly, eu sou o Heathcliff. Ele (a lembrança de Heathcliff) ESTÁ
SEMPRE, SEMPRE NO MEU PENSAMENTO* (cérebro).

Lembranças de Amor e Destroços


“Já sabemos tudo um do outro. Este saber inclui muitos capítulos dolorosos (lembranças de
episódios excruciantes compartilhados por ambos), páginas repetidas de desilusão, desastres,
um mar de destroços inapagáveis. No entanto, continuamos a encontrar-nos às escondidas de
nós próprios, continuamos a responder à urgência da felicidade que nos convoca, à revelia do
nosso próprio naufrágio. (...). Todo o amor é uma prisão, minha querida, uma prisão inventada
por nós contra a escancarada brutalidade da vida. (...).”
Todo O Amor – Fica Comigo Esta Noite
Inês Pedrosa

*EXPLICAÇÃO

O Que é o Pensamento?

Como veremos no cap XVIII, PENSAR significa meditar, raciocinar, ponderar, cogitar, ruminar,
matutar sobre as LEMBRANÇAS da nossa vida. Ou seja:

PENSAMOS sobre nossas LEMBRANÇAS

a – PENSE você: para exemplificar, pedirei a você que regresse em sua Linha da memória
(dentro do cérebro) e procure uma LEMBRANÇA de um episódio significativo da sua vida...
Encontrou? Sim. Então isto significa que neste exato momento você está:

vendo a lembrança em seu cérebro, - e está refletindo sobre ela.


PENSAR = LEMBRAR
PENSAR é naturalmente utilizado como sinônimo de LEMBRAR.

Portanto, Cathrine pode afirmar:

Heathcliff está sempre, sempre no meu PENSAMENTO;


ou
Heathcliff está sempre, sempre em minha LEMBRANÇA;

Enquanto Heathcliff pode afirmar:

LEMBRO de toda as humilhações que sofri desde a infância, logo ODEIO HINDLEY;
ou
PENSO em toda as humilhações que sofri desde a infância, logo ODEIO HINDLEY

--------X--------

b – CATHRINE & HEATHCLIFF - Atração Fatal de Amor e Fúria: como veremos no cap XIX, o
AMOR e o ÓDIO (duas paixões) não passam da somatização de uma LEMBRANÇA que
permanece fixa, obsessivamente fixa – em nosso CÉREBRO.

“Pois os seus bastiões não eram feitos de pedra, nem aliás de carne ou de sangue,
mas daquilo que havia de mais imaterial e, ao mesmo tempo, de mais
invencível do mundo: o amor e o ódio.”
SUÍTE FRANCESA
Irene Nemirovisk

29 – É ISTO UM HOMEM?
Primo Levi
AC – DC
Antes do Campo de Concentração -- Depois de Campo de Concentração

O NOSSO CÉREBRO CONTÉM

as LEMBRANÇAS do que éramos -- e as LEMBRANÇAS de que agora somos

“Ainda guardávamos (no cérebro) a LEMBRANÇA da nossa vida anterior, mas veladas e
longínquas e, portanto, profundamente suaves e tristes, como são para todos as LEMBRANÇAS
DA INFÂNCIA e de tudo que já acabou, - enquanto o momento de nossa chegada ao Campo de
Concentração marcava para cada um de nós o início de uma diferente sequência de
LEMBRANÇAS, recentes e duras, continuamente confirmadas pela experiência presente, como
feridas que tornassem a abrir-se a cada dia. (...).

Chegamos ao fundo. Mais para baixo não é possível. Condição humana mais miserável não
existe. Nada mais é nosso: tiraram-nos as roupas, os sapatos, até os cabelos. Roubarão
também o nosso nome, e, se quisermos mantê-lo, devemos encontrar dentro de nós a força
para tanto (devemos encontrar DENTRO DO CÉREBRO as lembranças do que fomos), para que,
além do nome, sobre alguma coisa de nós, do que éramos. (...)”.

A - EXPLICAÇÃO: tudo pode ser retirado de nós, exceto as LEMBRANÇAS do que fomos. Pois o
nosso PASSADO, enquanto vivermos, permanecerá inalterado – em nosso cérebro. No
entanto... Leia outro trecho:

NULL – O HOMEM OCO

“Ele é Null Achtzehn. Chamava-se apenas: 018, os três algarismos finais da sua matrícula;
como se todos tivessem compreendido que só os homens têm direito a um nome, e que Null
Achtzehn já não é um homem. Imagino que até ele próprio tenha esquecido seu nome; em
todo caso, comportava-se como se assim fosse. Quando fala, quando olha, dá a impressão de
estar INTERIORMENTE OCO (com o CÉREBRO vazio: despojado de suas lembranças pessoais),
nada mais que um invólucro, como certos despojos de insetos que encontramos na beira dos
pântanos, ligados por um fio às pedras e balançando pelo vento”.

B - EXPLICAÇÃO: um homem – esvaziado temporariamente de suas lembranças em razão de


um trauma, como é o caso de Null Achtzehn – perde a noção da própria existência: não lembra
quem FOI, e não lembra quem É. Leia outro trecho...

AS MEMÓRIAS DO CÁRCERE
– constroem sonhos pesarosos –
“A viagem levou uns vinte minutos. O caminhão parou; via-se um grande portão e, em cima do
portão, uma frase bem iluminada – cuja LEMBRANÇA (em seu cérebro) ainda hoje me
atormenta nos sonhos: ARBEIT MACHT FREI – O Trabalho Liberta. (...). Quando o pesadelo
mesmo, ou o incômodo nos despertam, tentamos em vão decifrar seus elementos, rechaçá-los
um por um, fora da nossa percepção atual, para defender o nosso sono da sua intromissão.
Mas, logo que fechamos os olhos, percebemos novamente que o nosso CÉREBRO recomeçou a
trabalhar, independente da nossa vontade, zune e martela, sem descanso, constrói fantasmas
e signos terríveis, sem parar os traça e os agita numa névoa cinzenta na Tela dos Sonhos”.

C – EXPLICAÇÃO: como veremos no cap XVII, os SONHOS são construídos – aleatoriamente em


nosso cérebro – com fragmentos de lembranças da nossa vida. Além do mais, nós não
escolhemos os sonhos, é pois o nosso CÉREBRO que – autônomo – os constroem.

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30 - NORWEGIAN WOOD
- Haruki Murakami -

Nesse trecho, Toru Watanabe regressa 18 anos em sua Linha da Memória (dentro do cérebro),
e chega às LEMBRANÇAS do outono de 1969, quando estava prestes a completar 20 anos...

“-- Eu gostaria que você nunca se ESQUECESSE de mim. Você vai se LEMBRAR para sempre que
eu EXISTIR e estive assim ao seu lado como agora?

-- Claro. Vou me LEMBRAR para sempre, - respondi a Naoko.

“Mesmo hoje, passados 18 anos (de Permanência no Presente), ainda sou capaz de
RELEMBRAR nitidamente a paisagem da pradaria (vemos nossas lembranças – no cérebro). A
superfície da montanha, (...), as espigas das eulálias balançavam por toda parte ao sabor da
brisa de outono e uma nuvem comprida aderia perfeitamente ao domo azul enregelado. (...).
O vento cortava a pradaria (memorizamos sensações táteis – no cérebro) e agitava levemente
os cabelos de Naoko, entrando em seguida bosque adentro. Nos ramos das árvores, as folhas
murmuravam, e ao longe ouvia-se o latido de um cão (ouvimos nossas lembranças – no
cérebro).(...).

Que fascinante é a MEMÓRIA. Enquanto eu estava dentro dessa paisagem, praticamente não
prestei atenção nela. Não poderia imaginar que 18 anos (de Permanência no Presente) mais
tarde a RELEMBRARIA em seus pormenores. Mesmo assim, as LEMBRANÇAS sem dúvida se
distanciam (em nossa Linha da Memória – dentro do cérebro), e eu já me esqueci de inúmeras
coisas. Por vezes, sou assaltado pela imensa apreensão de escrever este relato baseado na
MEMÓRIA. (...). Não teriam todas as REORDAÇÕES fundamentais se acumulado num local
obscuro de meu corpo (cérebro), numa espécie de limbo, transformando-se em lama
inconsistente?

De qualquer forma, no momento isso é tudo que eu tenho. Aperto fortemente contra o peito as
RECORDAÇÕES imperfeitas que se dissiparam a continuam a se dissipar a cada segundo
(continuam a se distanciar em sua Linha da Memória – dentro do cérebro), escrevendo este
livro como um homem faminto chupando ossos. Esse é o único modo de cumprir a promessa
que fiz a Naoko. (...). Entendo também agora a razão de ela ter me pedido para nunca
ESQUECÊ-LA. Obviamente Naoko sabia. Ela sabia que na minha MENTE (cérebro) as
LEMBRANÇAS dela iriam desaparecer gradualmente (iriam se distanciar em sua Linha da
Memória – dentro do cérebro). Pensar nisso me deixa profundamente triste. Porque Naoko
nunca chegou sequer a me amar*.”

*Pois apesar do suicídio do namorado, Kizuki, sua lembrança - no cérebro de Naoko -


permanecia como sendo a única que despertava a sua afeição.

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DUAS LEMBRANÇAS EM SÓ CÉREBRO*

Kitty, indecisa, regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e reflete


sobre as lembranças de seus dois pretendentes:
Liévin & Vrónski

“Ela sentia que essa noite, quando os dois se encontrariam pela primeira vez, seria decisiva
para o seu destino. E, o tempo todo, ela os via em pensamento (via as lembranças de Liévin e
Vrónski - em seu cérebro), ora separadamente, ora juntos. Quando pensava no passado
(regressava em sua Linha da memória), detinha-se com satisfação e com ternura nas
lembranças de seu convívio com Liévin. As lembranças da infância e da amizade entre Liévin e
seu falecido irmão davam um encanto especialmente poético às relações entre Kitty e ele. O
amor de Liévin, do qual ela estava convencida, a lisonjeava e a alegrava. E lembrar-se dele era
leve.

Já em suas recordações sobre Vrónski misturava-se algo de embaraçoso, embora ele fosse, no
grau mais elevado, um homem tranquilo e sociável; como se houvesse algo de falso – não nele,
que era muito simples e gentil -, mas nela mesma, ao passo que, com Liévin, Kitty sentia-se
perfeitamente simples e serena.

Por outro lado, assim que pensava no seu futuro com Vrónski, erguia-se à sua frente a
perspectiva de uma felicidade deslumbrante; com Liévin, porém, o futuro se apresentava
nebuloso.”
ANNA KARIÊNINA
Liev Tolstoi

*o CÉREBRO tem razões que a própria razão desconhece. – Em todo caso, sugiro a Kitty que aguarde o Baile, e
veremos, então, com quem Vrónski dançará a mazurca.
31 - MOBY DICK
Herman Melville

LEMBRO obsessivamente do membro ausente, logo anseio por dementada VINGANÇA

“AHAB, na cabine, em seu solilóquio de vingança ensandecida. (...). Sim, murmurou, foi Moby
Dick quem me desmastreou! (a lembrança de seu infortúnio permanece trovejando – em seu
cérebro). Vou persegui-la até as chamas do inferno! – (...). E conclama aos comandados:
Aquele de vós que sinalizar uma baleia de cabeça branca, mandíbula deformada, fronte
enrugada e três furos na cauda, receberá está moeda de ouro!

(...). STARBUCK: Não tenho medo, senhor, mas vim pescar baleias, e não vingar meu
comandante. Quanto renderás tua vingança, capitão, caso a consigas? Vingar uma besta que
não FALA (não LEMBRA, logo não ama, não odeia: não tem a consciência do bem e do mal –
apenas luta pela sobrevivência)! Gritou Starbuck – Que te atacou simplesmente por um instinto
cego! Loucura! Isso me parece uma blasfêmia! Que Deus nos proteja a todos, - disse com
humildade. (...). – E, junto ao mastro principal: - Oh! Minha alma foi subjugada. Vejo
claramente meu triste papel: obedecer revoltado, odiar com compaixão. Uma alma torturada,
devo ajudá-lo. Ainda há esperança. Deus há de extirpá-lo de seu propósito alucinado. (...). Vou
tentar lutar contra os sombrios acontecimentos por vir. Oh! Fiquem ao meu lado, me deem
amparo, me protejam, influências abençoadas.

(...). Talvez devido aos quase oniscientes navios baleeiros, varando os mais secretos mares do
mundo, e aos milhares de arpões arremessados ao longo de todas as praias continentais,
conseguirá o Leviatã resistir a uma caçada tão implacável? A uma matança tão impiedosa? Se
ele não será afinal exterminado dos oceanos, e a última baleia, como o último homem, fumará
seu último cachimbo e evaporar-se-á na baforada final.

(...). Mas, se o mundo for mais uma vez inundado, a baleia eterna sobreviverá e, alçando-se na
crista mais alta da inundação equatorial, farar jorrar seu desafio espumante aos céus”.

OBS
Este assunto – a vingança – será abordado no cap XIX:
CÉREBRO – A Fantástica Fábrica de Emoções.
32 – ÚRSULA
Maria Firmina dos Reis
(1822 \ 1917 – primeira romancista negra brasileira – livro, obra prima, pub. 1859)

TÚLIO – recém alforriado pelo recente amigo, Tancredo – anuncia sua partida. Ao ouvi-lo, a
Preta SUZANA, sua mãe por afeição, regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e
descreve as LEMBRANÇAS de uma época em que era jovem, feliz - e LIVRE...

-- Mãe Suzana, graças à generosa alma deste mancebo, sou hoje livre. Livre como o pássaro,
como as águas; livre como éreis na vossa pátria. Estas últimas palavras despertaram no
coração (cérebro) da velha escrava uma recordação dolorosa (até então adormecida); soltou
um gemido magoado, curvou a fronte para a terra, e com ambas as mãos cobriu os olhos.

-- Túlio olhou-a com interesse. – Não se aflija, mãe Suzana – disse. – Para que essas lágrimas?
Ah! Perdoe-me, eu despertei-lhe lembranças bem tristes!

A africana limpou o rosto com as mãos, e um momento depois exclamou: Sim, para que estas
lágrimas?!... Dizes bem! Elas são inúteis, meu Deus; mas é um tributo de saudade, que não
posso deixar de render a tudo quanto me foi caro! Liberdade! Liberdade! ... Ah! Eu a gozei na
minha mocidade! (...). Túlio, meu filho, ninguém a gozou mais ampla do que eu. Tranquila no
seio da felicidade, via despontar o sol rutilante e ardente do meu país, (...), eu corria as
descarnadas e arenosas praias, com minhas jovens companheiras, brincando alegres. (...). Ah!
Meu filho! Mais tarde deram-me em matrimônio a um homem, (...), e com o penhor dessa feliz
união veio uma filha querida: (...) que era minha vida, minhas ambições, minha suprema
ventura. (...). E esse país de minha afeições, e esse esposo querido, e essa filha amada, ah,
Túlio! Tudo me obrigaram OS BÁRBAROS a deixar! Oh! Tudo, tudo, até a própria liberdade! (só
restaram as LEMBRANÇAS – em seu cérebro).

-- Ah! Pelo céu! – exclamou o jovem Túlio, enternecido. – Sim, pelo céu, para que essas
RECORDAÇÕES!?

-- RECORDAÇÕES não matam, meu filho. Se matassem, há muito que morrera, pois vivem
comigo (em seu cérebro) todas as horas. – Vou contar-te (descrever as lembranças) do meu
cativeiro.

Tinha chegado tempo da colheita, e o milho e o inhame e o amendoim eram em abundância


nas nossas roças. (...). Era uma manhã risonha e bela, (...), mas eu estava triste e não sábia o
porquê. (...). Ainda não tinha vencido cem braças do caminho, (...). E logo dois homens
apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma escrava! Foi
embalde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros
sorriam-se das minhas lágrimas, (...). Quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me
ficava (nas lembranças – em seu cérebro) – pátria, esposo, mãe e filha, e LIBERDADE! Meu
Deus! O que se passou no fundo da minha alma, só Vós o pudestes avaliar!....
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio no estreito e infecto porão
de um navio (TUMBEIROS). Foram trinta dias de cruéis tormentos, (...), até que abordamos às
praias brasileiras. Para caber a Mercadoria Humana, fomos amarrados em pé, e acorrentados
como animais ferozes, (...). Davam-nos a água imunda, (...) e comida má e ainda mais porca:
vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É
horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a
consciência. (...). A dor da perda da pátria, dos entes caros, da liberdade foi sufocada nessa
viagem pelo horror constante de tamanhas atrocidades. Não sei ainda como resisti – é que
Deus quis poupar-me para provar a paciência de sua serva com novos tormentos que aqui me
aguardavam.

-- Vai, Túlio, meu filho! Que o Senhor guie o teus passos, e te abençoe, como eu te abençoo.”

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Outro trecho do mesmo livro:

ESCRAVIDÃO

Corpo Acorrentado X Cérebro Alforriado

“Cadeia infame e rigorosa, a que chamam “ESCRAVIDÃO”!... E entretanto este (o escravo)


também era LIVRE, livre como um pássaro, como o ar; porque no seu país não se é escravo.
(...). Oh! A mente (cérebro)! Isso sim ninguém a pode escravizar!

Nas asas do pensamento, o homem remonta-se (regressa em sua Linha da Memória – dentro
do cérebro - até chegar às lembranças de uma época em que era um ‘Django Livre’...) dos
ardentes sertões da África, VÊ* os areais da pátria e procura abrigar-se debaixo daquelas
árvores sombrias do oásis, quando o sol requeima e o vento sopra quente e abrasador: VÊ* a
tamareira junto à fonte; VÊ* a cabana onde nascera, e onde livre vivera! (*vemos nossas
lembranças – dentro do cérebro).

Desperta porém em breve dessa doce ilusão (doces lembranças de liberdade), ou antes sonha
que a engolfara, e a realidade opressora lhe aparece: é escravo e escravo em terra estranha.
Fogem-lhe (as lembranças ‘unchained’) dos areais ardentes, das sombras projetadas pelas
árvores, do oásis do deserto, da fonte e da tamareira. Foge a doce ilusão de um momento;
porque a ALMA (que é feita com as lembranças da nossa vida – dentro do cérebro) está
encerrada nas prisões do CORPO! Ela (a alma) chama-o a realidade, chorando, e o seu choro,
só Deus compreende! Ela (a alma) não se pode dobrar, nem lhe pesam as cadeias da
escravidão; porque é sempre livre, mas o CORPO geme, e ela (a alma) sofre, e chora; porque
está ligada a ele (o corpo) na vida por laços estreitos e misteriosos.”

OBS: esse trecho magistral explica que, sim, é possível aprisionar o CORPO de um homem, mas
nunca, jamais o seu CÉREBRO. Pois em suas lembranças (pensamento – imaginação) ele será
sempre LIVRE.
“Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito”
HAMLET

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Alma Agrilhoada
- DODÓ TEM O CORPO LIVRE, MAS SEU CÉREBRO PERMANECE ACORRENTADO -

“Por alguns momentos, Adônis (ao ver sua filha, Dodó, aparentemente conformada e sem
maiores ambições, como uma eterna doméstica de uma família branca - os Tosta) achou que
foi em vão tanta luta. Era como se tivessem escapado de uma gaiola (com a Lei Áurea – 1888)
para cair em outra mais cruel que estava dentro (da cabeça) de cada um deles. Grilhões
pesados.”
ÁGUA DE BARRELA
Eliana Alves Cruz

33 – O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS
Mia Couto

Adriano Santiago, o poeta, encantado pela fascinante MANIARA, afirma desejar muito que a
mesma regresse em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e descreva as LEMBRANÇAS
da sua vida...

“Queria muito ouvir a tua história (as lembranças da tua vida), MANIARA, saber quem tu és –
peço. E advirto Benedito Fungai para que traduza literalmente (MANIARA se expressa no
dialeto Chissena). Pois desconfio que o rapaz esteja embelezando as falas (embelezando as
lembranças) da sua mãe.

-- Quer que fale de mim? – Maniara sacode a cabeça, divertida. – Nunca peça uma coisa
dessas a uma mulher como eu. Essa mulher vai contar-lhe sonhos como se fossem lembranças.

Sorri, com falsa timidez. Maniara entrelaça os dedos nos meus e conduz-me até o lugar onde
esteve a pilar. Aponta para o fundo do almofariz e diz: o que restava ali no fundo, esse farelo
moído, era o que a vida havia feito com ela. -- É assim a minha vida, meu patrão (“O Mundo é
um Moinho” – Cartola).

Esse era o seu destino: a vida nascia e morria nos seus braços. Não era, afinal, muito diferente
das outras mulheres de Inhaminga: transitava de um filho morto para um outro que ia morrer.
Maniara abre as mãos e anuncia: -- Com esta mão abro a luz; com esta outra, fecho o escuro.

-- Minha mãe está a dizer, - explica Benedito – que ela tem dois serviços: é parteira de dia e
enterradeira de noite.
-- Volte à noite, meu patrão – convida Maniara. – Nessa altura falamos mais à vontade. No
escuro as palavras (lembranças) perdem o dono.”

Ou(de Permanência no Presente) depois, Diogo Santoiago (filho), o escritor, reencontra OB

“Obliterar o Passado”

--“Não tenho o teu desejo de visitar o PASSADO (reviver as lembranças da nossa vida). Nós
dois, caro Diogo Santiago (filho do poeta), vivemos em sentidos opostos. Tu queres LEMBRAR.
E eu quero ESQUECER.

-- Ninguém esquece – declaro a Benedito. – Apenas fazemos de conta.

-- Então deixa-me fazer de conta que me ESQUECI.

Entendo quanto custam as LEMBRANÇAS a Benedito (as lembranças da sua vida - impressas no
cérebro). Foi daqui desta vila que há quatro décadas, ele e Jerónimo, seu irmão, apanharam
um camião que os levou à cidade. Fugiram da guerra. Mas também escapavam da miséria.

34 - DOM CASMURRO
Machado de Assis
(1839 – 1908)

Para entender/explicar o conhecido trecho abaixo, teremos que transferir para o irascível Dom
Casmurro as datas de nascimento e morte do seu criador: 1839 - 1908.

Portanto, quando Dom Casmurro se refere às DUAS PONTAS DA VIDA, significa as duas pontas
da sua LINHA DA MEMÓRIA: 1839, juventude; e 1908, velhice.

“Um dia, há bastantes anos (no Presente Anterior), lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a
casa em que me criei na antiga rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia
daquela outra, que desapareceu. (...). O meu fim evidente era atar AS DUAS PONTAS DA VIDA
(as duas extremidades da sua Linha da Memória: 1839 e 1908), e restaurar na velhice a
adolescência. Pois, senhor, não conseguir recompor o que foi nem o que fui. (...). Se só me
faltassem os outros (as lembranças dos outros: familiares e conhecidos), vá; um homem
consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto EU mesmo (falta clareza nas
lembranças de si mesmo – contidas em seu cérebro), e esta lacuna é tudo. (...).
(As lembranças de muitos episódios) daquela vida antiga aparece-me despida de muitos
encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e,
de memória, conservo (“em meu cérebro”) alguma recordação doce e feiticeira.

Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e
lembrou-me escrever um livro. (...). Vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo
(das profundezas do cérebro). Desse modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma
obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma (lembrança de um episódio
marcante que ocorrera numa) célebre tarde de novembro (de 1857), que nunca me esqueceu.
Tive outras muitas (lembranças de outros episódios), melhores, e piores, mas aquela (a
lembrança daquela tarde) nunca se me apagou do espírito (cérebro). É o que vais entender,
lendo (lendo o que vem a seguir: sua autobiografia – ou o relato das lembranças da sua
vida).”

35 - 94 ANOS DE LEMBRANÇAS DE BARRELA


NO CÉREBRO EXTRAORDINÁRIO DE D. ANOLINA DE TODOS OS SANTOS

Tia NUNU, - apesar da doença e da idade, e contra todas as expectativas – consegue regressar
em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e relatar, com riqueza de detalhes, as
lembranças dos episódios mais significativos de sua vida...

“-- Mas, tia, me conta mais!

– Calma, filha. Sempre que você vier aqui, me pergunte alguma coisa. Às vezes, você sai e eu
me LEMBRO de tudo. A cada vez que você me pergunta vou me LEMBRANDO... Quem me
contou tudo foi minha mãe (Damiana), foi minha avó (Martha), minha bisavó (Umbelina)... Eu?
Eu era apenas uma menina...

“Sobre Como Este Livro Aconteceu”

Tia Anolina, a tia Nunu, que também é personagem desta história, foi sempre um mistério para
mim. Na infância, eu olhava minha tia avó paterna com um misto de curiosidade e medo.
Medo por ouvir casos da fase em que era “louca brava”, (...). Curiosidade porque ela era capaz
de passar dias inteiros dialogando, rindo e chorando, orando e brigando (com suas
lembranças) com personagens invisíveis (que habitam seu Mundo Interior). Tudo baixinho, em
algum canto da casa, num eterno murmúrio. (...). E me batia uma vontade incrível de
perguntar quem eram essas pessoas, o que pensavam, o que estavam dizendo...

Embora tenha sido sempre tratada com o máximo cuidado e carinho, nada do que tia Nunu
falava era levado realmente a sério. Afinal, quem poderia dar crédito à mulher que saíra nua
pelas ruas do bairro e assustava as criancinhas? Quem poderia ver fundamento nos relatos
esquizofrênicos da moça estranha com passagens pelo alcoolismo? Como tomar como verdade
algo dito por uma senhora “carola” louca que perambulava sem rumo o dia inteiro por missas
diversas pela cidade?

No entanto, como a vida gosta de ser irônica e pôr em xeque nossas certezas, a “Pedra da
Roseta” para desvendar nossas origens estava com ela. (...). Em 2010, comecei por distração, a
pesquisar nomes na internet. Qual não foi minha surpresa ao ver as informações surgindo na
tela com muito mais detalhes do que eu poderia supor? Foi então que, depois de tomar notas
básicas, respirei fundo e fui até a “louca”. (...).

Tia Anolina é diagnosticada com esquizofrenia paranoide, caracterizada por delírios,


alucinações, confusões mentais, entre outros sintomas. De cara, entendi que ela não me diria
nada de relevante se a tratasse como um dos meus entrevistados em coberturas jornalísticas.
Teria que ser um pouco atriz e entrar no mundo dela (entrar em seu Universo Pessoal –
construído com as lembranças de sua vida).

Percebi que ela , na verdade, vive quase que noventa por cento do seu tempo entre (as
lembranças dos) os anos 1920 e 1940, quando era criança e jovem. Fala com pais, avós,
parentes e conhecidos (ouvimos nossas lembranças – dentro do cérebro) como se estivessem
vivos (nossos entes queridos permanecem vivos - na memória) e é capaz de descrever cenários
(vemos nossas lembranças – dentro do cérebro) com uma riqueza de detalhes impressionante
para uma idosa de mais de 90 anos (de Permanência no Presente), que passou por
eletrochoques e medicações pesadas a vida toda. Ela não anda sem ajuda e não enxerga, mas
seus olhos parecem abertos para dentro dela mesma (para dentro do cérebro). Comecei a
conversar como se também estivesse vivendo lá (dentro do seu mundo), como se estivesse
convivendo com todos eles. Bingo! Ao conquistar sua confiança, abriu-se o BAÚ de tia Nunu.

Agora, passados cinco anos (de Permanência no Presente), creio que é hora de deixá-la em seu
mundo (Mundo de Lembranças) e com seus queridos. Não pergunto mais nada nem peço que
me revele qualquer LEMBRANÇA, embora, ao sentar ao seu lado, ela sempre me lembre de
quem eu realmente sou.”

ÁGUA DE BARRELA
Eliana Alves Cruz

Veja a seguir, as LEMBRANÇAS em 5 filmes...

36 - REBECCA – A MULHER INESQUECÍVEL


I - Alfred Hitchcock – 1940
Fontaine ( A Sucessora) – Sabe, eu... eu queria que houvesse uma invenção... Uma invenção
que pusesse as lembranças em frascos, como perfume. E que nunca se esvaísse, nunca
envelhecesse. E quando quisesse, abria o frasco... e viveria todas as lembranças novamente.

Olivier – E que recordação em especial conservaria?

Fontaine – Oh, todas elas, todos estes últimos dias! Encheriam muitos, muitos frascos.

Olivier – Às vezes, estes pequenos frascos contém demônios... Demônios (lembranças aflitivas)
que de alguma maneira se instalam em você (no cérebro)... justo quando você tenta a todo
custo esquecer.”*
*O personagem se refere a vã tentativa de esquecer (apagar do cérebro) a lembrança do suicídio/assassinato [?] da
sua ex mulher Rebecca — a inesquecível do título.

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“Às vezes, como diz Hamlet, o barulho das coisas (certas lembranças) mais profundamente
sepultadas (no cérebro) sai da terra e, como o fogo do fósforo, corre loucamente pelo ar;
mas são chamas (lembranças) que iluminam apenas por um momento para depois se
extinguirem (apenas param de brilhar – mas permanecem no cérebro).”
Gérard de Villefort – O CONDE DE MONTE CRISTO – Alexandre Dumas

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II - ASAS DO DESEJO
Wim Wenders – 1987

MARION PENSA (e ouve sua voz – dentro do cérebro): “ Está acabado. Nem sequer uma
temporada (o circo faliu). Mais uma vez, sem tempo para terminar algo. Esta noite será a
última do meu velho número. E é lua cheia. E a trapezista vai cambaleante... Quieta. Nunca
imaginei que o adeus ao circo seria assim. Na noite passada ninguém apareceu e nós nos
apresentamos como uns tolos... E eu voei pelo picadeiro como uma pobre galinha. E agora
voltarei a ser garçonete. Merda! Momentos como aquele, como este de agora, serão uma
BELA MEMÓRIA (em seu cérebro) dentro de alguns anos (de Permanência no Presente). (...).
Viver... Uma olhada é o bastante. O circo... Terei saudades”.

III - COMO ERA VERDE O MEU VALE


John Ford – 1942
Huw Morgar, com 50 anos, decide abandonar sua terra natal. Mas antes regressa em sua Linha
da Memória (dentro do cérebro) para descrever as lúdicas lembranças da sua infância...

“Vou-me embora do meu vale. E desta vez para sempre. Deixo para trás (“mas levo em meu
cérebro”) 50 anos de MEMÓRIA. MEMÓRIA... Estranho que a mente (cérebro) esqueça do que
se passou há instantes, e retenha – de forma clara e viva – a lembrança do que se passou anos
atrás (no Presente Anterior).

(...) Como posso crer que tantos parentes e amigos se foram, quando suas vozes continuam
exultantes em meus ouvidos (ouvimos nossas lembranças – dentro do cérebro)? Não. Não e
outra vez, não. Pois eles continuam vivos em minha mente (as lembranças dos entes queridos
permanecem vivas - em nosso cérebro).

Não há barreira que nos separe do passado. Você pode (ao regressar em sua Linha da
Memória – dentro do cérebro) voltar a reviver o que quiser dele, se puder lembrar. Portanto,
ao fechar os olhos (e voltá-los para dentro do cérebro), meu vale, como é hoje (“triste”), pode
desaparecer, para dar lugar ao vale (“feliz”) que eu vi quando era garoto (vemos nossas
lembranças – dentro do cérebro). Não havia vale tão lindo e tão verde... “.

– E assim, começa o filme...

IV - CINEMA PARADISO
Giuseppe Tornatore – 1988

“-- Alo! Sim. Salvatore Di Vita. Como assim, não o conhece? Sim, isso mesmo. Eu sou a mãe
dele. Estou ligando da Sicília. Tentei o dia todo. Entendi. Não está. Então, por favor, poderia me
dar seu telefone residencial? Obrigada, bom dia.

-- É um telefonema inútil (diz a amiga da mãe de Salvatore). Está ocupado; sabe-se lá onde
está, e pode ser que nem LEMBRE mais. Ouça o que eu digo, desista. Já faz 30 anos (de
Permanência no Presente) que não aparece. Sabe como ele é...

-- Ele se LEMBRARÁ. Tenho certeza. Conheço-o melhor que você. Se descobrir que não o
avisamos, ficará magoado. < Alo! Gostaria de falar com o Sr. Salvatore. Sou a mãe dele... >.”

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OBS: SALVATORE, o Totó, recebe o recado: a morte do querido amigo/pai adotivo ALFREDO – o
projecionista. Essa triste notícia faz com que Salvatore regresse em sua Linha da Memória
(dentro do cérebro) até chegar nas saudosas LEMBRANÇAS da sua infância – e o filme
começa...
V - CONTA COMIGO
Stand by Me -- Rob Reiner – 1986

Gordie Lachance, escritor, regressa em sua Linha da memória (dentro do cérebro) e chega até
as LEMBRANÇAS do verão de 1959, quando ele tinha doze anos e vivia numa pequena cidade
do interior. Então recorda de um episódio em que, juntamente com os seus três melhores
amigos, saíram em busca do corpo de um adolescente que estava desaparecido na mata. Ao
começar a narrar suas LEMBRANÇAS, o filme inicia...

“Eu tinha de 12 para 13 anos, e foi a primeira vez que vi um ser humano morto. Foi no verão de
1959. Foi há muito tempo (no Presente Anterior). Eu morava numa cidadezinha do Oregon.
População de apenas 1281 pessoas; mas para mim era o mundo inteiro. (...). Eu nunca mais
tive amigos como os que eu tive naquela época. Meu Deus! E alguém teve?

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Na citação a seguir, veremos o que é, talvez, o esquete científico ou artigo cômico mais sério e
engraçado já publicado a respeito das Viagens no Tempo...

37 - GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS VOL II


Douglas Adams

A bordo da Coração de Ouro - a nave movida a improbabilidade infinita -, ARTHUR DENT VIAJA
NO TEMPO...

“Um dos maiores problemas encontrados em Viajar no Tempo não é vir a se tornar
acidentalmente seu pai ou sua mãe – uma família com mente aberta lida bem
com essas questões. Não há tampouco problema em mudar o curso da
história – pois as peças se juntam como num quebra-cabeça e tudo
dá na mesma no final, acho eu.”

“O PROBLEMA maior é simplesmente gramatical, e a principal obra a ser consultada sobre


esta questão é o Tratado do Dr. Dan Streetmentioner, manual dos 1001 Tempos Gramaticais
Para o Viajante no Tempo. Ensina, por exemplo, a descrever algo que estava prestes a
acontecer com você no passado antes de você evitá-lo pulando no tempo para dois dias depois
com a intenção de evitá-lo. O evento é descrito distintamente conforme você esteja referindo-
se a ele do seu ponto natural no tempo, de uma época no futuro posterior, ou numa época no
passado posterior ao evento; e posteriormente vai ficando mais e mais complicado caso você
esteja viajando de cá para lá no tempo na tentativa de torna-se seu próprio pai ou sua própria
mãe.”

“A MAIORIA dos leitores chega até o ‘Futuro Semicondicional Subinvertido do Plagal do


Pretérito Subjuntivo Intencional’ antes de desistir; e de fato em edição mais recente
desse livro as páginas subsequentes têm sido deixadas em branco para economizar custos de
impressão.O GUIA da Galáxia Para Caronas passa por cima desta abstração acadêmica,
parando apenas numa nota lembrando que o termo ‘Futuro Perfeito’ foi abandonado assim
que se descobriu que não é. (...).”

-------------------------------------

OBS
Só mesmo com senso de humor britânico (de Douglas Adams) é possível abordar tal matéria;
muito embora nem todos os ingleses concordem. Leia o trecho abaixo...

Portal G1 – 20 maio 2010:

“Levando em conta a Teoria da Relatividade, de Einstein, o cientista britânico Stephen


Hawking, enxerga a possibilidade de que o ser humano terá a capacidade de construir uma
nave espacial tão veloz que o permitiria Viajar no Tempo.” – (então tá, né?).

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Antes de encerrar o capítulo – e aproveitando o gancho deixado pelo brilhante “artigo


científico” de Douglas Adams -, falaremos um pouco mais sobre este ente imaginário chamado
tempo. Leia a seguir os itens de A a H:

E não esqueça que este assunto – a ilusão do tempo – será abordado e esclarecido no
cap. XXIV: Uma Breve Fábula do ESPAÇO-TEMPO – a inexistente 4ª dimensão.
STEPHEN HAWKING E ARTHUR DENT VIAJAM... NO TEMPO

a – Habeas Corpus Preventivo: antes que eu seja cancelado – por negar a existência do tempo
– peço que me concedam o benefício da dúvida. E para quem acredita no tempo, peço que leia
um trecho do livro O UNIVERSO NUMA CASCA DE NOZ, de Stephen Hawking:

O Senhor dos Anéis – de Tempo

“Meu amigo e colega Kip Thorne (Nobel de Física em 2017, acredite!), não é do tipo que segue
a linha convencional da física. Isso o levou a ter a coragem de ser o primeiro cientista sério a
discutir as Viagens no Tempo como uma possibilidade prática. (...). Afinal, como poderíamos
nos proteger de alguém com uma Máquina do Tempo? Essa pessoa poderia mudar a história e
dominar o mundo! (...).

A questão é: por que as Viagens no Tempo não estão ocorrendo por toda parte? A resposta é
que estão ocorrendo em escala microscópica, mas não as percebemos. (...). Por exemplo: uma
partícula que se desloca acima da velocidade da luz, pode circular sem parar em um ANEL NO
ESPAÇO-TEMPO. Seria como no filme Feitiço do Tempo, em que um repórter tinha de viver o
mesmo dia repetidamente. (...).

“A Filosofia da Viagem no Tempo”


Roberta Sparrow – Donnie Darko

b – Capacitor de Fluxo - I’ll Be Back! : até admito ser possível as VIAGENS NO TEMPO, mas só
conheço dois indivíduos que foram capazes de realiza-la: Marty McFly (De volta para o
Futuro), e Arnold Schwarzenegger (Exterminador do Futuro). Peço desculpas pelo tom
agressivo (afinal, tenho que conquistar a sua atenção, não é mesmo?), mas presumo que os
adeptos dessa teoria obteriam mais êxito como roteiristas de Hollywood.

Hollywood e a Máquina Neurológica do Tempo


c – Jornada nas Lembranças: como já foi explicado, VOCÊ pode - sempre que quiser e durante
toda a vida - regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e reviver as lembranças
de qualquer episódio do seu PASSADO. A propósito, fazemos isso tempo todo – sem perceber.
THE MIND MACHINE
H G Wells

Admito que voltar ao nosso próprio PASSADO (reviver as lembranças da nossa vida - dentro do
cérebro), não é nada se comparada às possibilidades fascinantes proporcionadas por uma
MÁQUINA DO TEMPO: mudar o passado, conquistar o mundo e outras peripécias do gênero.
Mas, como tal geringonça só pode ser concebida através de Efeitos Especiais, melhor é deixá-
la a cargo das delirantes aventuras de HOLLYWOOD, concorda?

A propósito, adoro filmes sobre Viagens no Tempo; – mas é pura fantasia. Em todo caso, se
você é um cinéfilo, como eu, não se preocupe, pois o Hollywood sobreviverá... ao TEMPO:

CINEMATECA TELETRANSPORTADA

A Máquina do Tempo; Planeta dos Macacos 1; Em Algum Lugar do Passado; Exterminador do


Futuro; De Volta Para o Futuro; Feitiço do Tempo (valeu, Hawking!); 12 Macacos; Corra Lola,
Corra; Frequency; Antes que Termine o Dia; Donnie Darko; Minority Report; Efeito Borboleta;
Déjà Vu; A Garota Que Conquistou o Tempo; Camisa de Força; Crimes Temporais; O Curioso
Caso de Benjamin Button; Triângulo do Medo; A Mulher do Viajante no Tempo; Sr. Ninguém;
Star Trek: the future begins; O Homem do Futuro; Meia-noite em Paris; Contra o Tempo; Sem
Segurança Nenhuma; A Casa do Lago; Looper; A Casa do Fim dos Tempos; Primer; Homens de
Preto 3; Questão de Tempo; Liga da Justiça – paradox; O Predestinado; Interestelar; No Limite
do Amanhã; Vingadores – Ultimato; Durante a Tormenta; Call – A Ligação; Tudo em Todo o
Lugar ao Mesmo Tempo, etc.

UMA QUESTÃO DE TEMPO NA FÓRMULA 1

- resolva o dilema abaixo -

d – Autódromo Airton Senna: tomemos como exemplo uma corrida de F1. Caso os pilotos se
deslocassem no TEMPO, no momento crucial em que o líder da corrida ultrapassasse um
retardatário, resultaria num estrupício temporal inimaginável. Seria algo bem sinistro, veja:

Nesta condição, veríamos o FUTURO (o líder) ultrapassar o PASSADO (o retardatário),


enquanto você, no PRESENTE, assistiria a toda essa bagaçeira com um torniquete
nos MIOLOS, concorda? Enfim, nada disso ocorre porque...
TODOS OS PILOTOS SE DESLOCAM NO ESPAÇO
- NÃO NO TEMPO –

ESPAÇO !!!: em qualquer momento da corrida, todos os pilotos estão no PRESENTE; todos
compartilham o mesmo PRESENTE; vivemos em um eterno PRESENTE. Portanto, cada piloto,
em relação aos concorrentes, está à frente no ESPAÇO ou atrás no ESPAÇO: 1 cm; ou 1 m; ou 1
km, etc.

TEMPO???: nenhum piloto, repito, nenhum piloto está à frente no TEMPO ou atrás no TEMPO:
1seg; ou 1min; ou 1h, etc. – o tempo não existe. Como diria o lendário narrador Bueno: Eu já
sabia! Eu já sabia!

CONCLUSÃO
O ESPAÇO É REAL; O TEMPO, UMA ILUSÃO

e – Distância Sideral: apenas o ESPAÇO realmente existe; consequentemente, como já foi dito:
tudo se desloca no ESPAÇO, não no TEMPO, - ou seja...

Uma Ferrari se desloca no ESPAÇO, não no tempo;


Usain Bolt se desloca no ESPAÇO, não no tempo;
Você se desloca no ESPAÇO, não no tempo;
ASSIM COMO...

A Terra translada no ESPAÇO, não no tempo;


As Galáxias se deslocam no ESPAÇO, não no tempo;
A Luz se desloca (a 300 mil km/seg) no ESPAÇO, não no tempo;
O Universo se transforma e se expande no ESPAÇO, não no tempo;
Salto Quântico: um elétron se desloca (de forma esquisita, admito) no ESPAÇO, não no tempo.

O Ócio Improdutivo dos Flintstones

f – O Tempo Na Noruega da Pedra Lascada: se o TEMPO realmente existisse, e sua esteira


(passado – futuro) nos conduzisse confortavelmente à evolução, nós ainda estaríamos numa
caverna com IDH 10 (uma espécie de Dinamarca do Paleolítico), sorvendo um delicioso
Hidromel Pétrus, - e aguardando o FUTURO chegar.

Pois se tudo viesse com o Passar do Tempo, por que arriscaríamos a pele em busca das coisas?
Bastaria se deitar numa rede e aguardar o futuro chegar, não é mesmo?

Só que NÃO. NÃO mesmo. Lamento contrariá-los, meus caros amigos bípedes; mas nós
ganhamos um CÉREBRO para – ao preenchê-lo com conhecimentos – descobrir a agricultura e
plantar o trigo, e não para ficar aguardando o milagre da Multiplicação dos Pães.

Bota a Cara no Sol, Homo Erectus!

g - Monty Python – Em Busca do Cálice Sagrado: mas, enfim, o TEMPO felizmente não
existe. E o futuro (os benefícios do progresso) não virá de bandeja, - em troca de nada.

Pelo contrário, somos nós que – ao preencher o cérebro com conhecimentos – fazemos o
“nosso tempo” e buscamos a EVOLUÇÃO: o domínio do fogo, ferramentas básicas, a
agricultura, a roda, a caravela, a imprensa, máquina a vapor, telégrafo, raio x, rádio, lâmpada,
fotografia, telefone, cinema, penicilina, televisão, Apolo 11, internet, - e, finalmente, o
fantástico Photoshop: jamais imaginei que poderia um dia ostentar uma barriga de tanquinho
nas redes socias.

“Road to Nowhere”
Talking Heads

h – “Deixa a Vida Me Levar… Vida, Leva Eu! : peço desculpas ao grande Zeca Pagodinho, mas
não existe Esteira do Tempo para conduzir a nossa VIDA para lugar nenhum. Pelo contrário,
somos nós que – ao lutar para Permanecer no Presente – evoluímos e carregamos a VIDA nas
costas.

Caso o TEMPO realmente existisse, e sua esteira (passado – futuro) conduzisse a nossa VIDA, o
Zeca Pagodinho ainda estaria em seu querido Bairro de Xerém – aguardando o futuro chegar,
e o sucesso bater à sua porta. Mas, como o Zeca bem sabe, tudo se consegue com muito
trabalho, pois... “Camarão que Dorme, a Onda Leva”. E como dizia minha avó:

“Quem espera sempre... Quem espera vai continuar esperando; sempre!”


“Quem Leva a Vida Sou Eu”
LENINE

“O único milagre que podemos fazer será o de continuar a viver, - disse a mulher do médico, -
amparar a FRAGILIDADE DA VIDA um dia após outro dia, como se fosse ela a cega, a que não
sabe para onde ir, e talvez assim seja, talvez ela (o milagre da Vida em nosso planetaa)
realmente não o saiba, entregou-se às nossas mãos depois de nos ter tornado inteligentes, e a
isto a trouxemos, (...).”
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
José Saramago

E não esqueça que este assunto – a ilusão do tempo – será novamente abordado e esclarecido
no CAP XXIV: Uma Breve Fábula do ESPAÇO-TEMPO – a inexistente 4ª dimensão.

OBS
A s regras para citações inclui a página que o texto foi extraído. O problema é que quase
todos os livros citados são versões digitais gratuitas. O que torna quase impossível cumprir tal
exigência. Por exemplo, a versão digital de Lima Barreto: O Triste Fim..., apresenta-se,
dependendo da fonte, com 66 págs. a 404 págs. No entanto, se for o caso, posteriormente
farei constar a recomendação. Obrigado pela compreensão.

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Neste breve capítulo falaremos sobre
Vidas Passadas, Viagens Extracorpóreas e outras alucinações...

CAPÍTULO

XV
TERAPIA DE REGRESSÃO ÀS LEMBRANÇAS PASSADAS
SUPER INTERESSANTE
(pub. ago 2003 – atz. out 2016)

“LEMBRANÇAS DE VIDAS PASSADAS – induzidas ou não, algumas pessoas contam histórias de


uma outra vida: delírio, fraude ou experiências reais? – muita gente diz ter descoberto coisas
que nem imaginava sobre si mesmo na chamada terapia de vidas passadas, ou terapia
regressiva vivencial: nome, profissão e época em que viveu em outras encarnações. A técnica,
que consiste em hipnotizar o paciente e fazê-lo regredir para antes da data de seu nascimento,
parte da premissa de que traumas vividos em existências anteriores afetam o estado
psicológico e físico dos pacientes. (...)”.

CRENÇAS, HOMENS E BARATAS

1 – Minhas Vidas Passadas – no cérebro: o paciente (crédulo – adepto) submetido a essa dita
terapia (acima citada), regressa em sua própria Linha da Memória (dentro dos seus miolos), e
mergulha inconscientemente na imensidão de seu Universo Particular; que, por sua vez, é
constituído pelas LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade .

‘Imensidão Interior’
No entanto, por subestimar a Vastidão Infinita do próprio CÉREBRO, o paciente acredita na
ilusão de que regressou na inexistente Esteira do Tempo.
Nos Tempos da Roma Antiga

2 - “Ave Cesar – os que vão morrer o saúdam!” : por exemplo, um homem, - machão
femeeiro - sob hipnose, regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e encontra as
lembranças do filme *GLADIADOR (Ridley Scott - 2000); – um filme que assistira na juventude.

Daí conclui erroneamente que, em vidas passadas, teria sido o destemido general
Russell “Maximus”Crowe – na época do Império Romano.

Não quero ferir ou desrespeitar as crenças (fantasias de conveniências) de quem quer que
seja; mas, a bem da realidade, devo afirmar que tudo isso não passa de uma grande bobagem.
Em todo caso, pelo menos a regressão não levou o machão xavequeiro até as lembranças do
filme *PRISCILLA – A Rainha do Deserto. Neste caso, presumo, seria bem mais difícil... expandir
o assunto.
*A propósito, são 2 ótimos filmes, apesar de submetidos a uma experiência esdrúxula.

“Rubião era mais crédulo que crente; não tinha raciocínio para atacar nem para defender
nada: -- terra (cérebro) eternamente virgem para se lhe plantar qualquer coisa. (...). Foi uma
vidente de São João d’Del Rei que lhe meteu (no cérebro), em criança, essa ideia de
metempsicose. Dizia ela que a alma cheia de pecados ia parar num corpo de um bruto; chegou
a jurar que conhecera um escrivão que acabou feito gambá. (...).”
Quincas Borba
Machado de Assis

O PASSADO SÓ EXISTE – COMO LEMBRANÇAS – EM NOSSO CÉREBRO

3 - “Rogai Por Mim”: na realidade, não existe passado e muito menos vidas passadas. No
entanto, como dizia Saramago: “A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos
convém.” Ou seja, adoramos legislar em causar própria; e assim criamos fantasias tolas e
egocêntricas: inventamos o paraíso para os nossos, e o inferno para os outros.

EGOÍSMO
- Nossa Segunda Pele -

(...). Com o mal dos outros posso eu bem, Palavras que nenhuma disse, mas que todas
pensaram, Na verdade ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela
segunda pele a que chamamos EGOÍSMO, bem mais dura que a outra (a primeira pele) , que
por qualquer coisa sangra. “
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
José Saramago

4 – Artrópodes Kardecistas: não entendo o porquê as baratas, após a morte (após uma
chinelada), também não têm o direito à... transmigração da alma. Ou será que ela poderia
reencarnar em você, - o autor da chinelada fatal? Duvido que acredite nisso.

“(...). Mas a cozinha estava vazia e escura (nenhuma sombra da bela Atalia), e acendeu a luz a
tempo de ver uma BARATA marrom e gorda fugindo dele (fugindo da luz) numa corrida
enviesada para debaixo da geladeira. Por que está fugindo, riu Shamuel, eu não tocaria em
você, o que tenho contra você? O que você fez contra mim? E em que eu sou melhor do que
você?”
Judas – Amos Oz

5 – O Big Birth: como vimos na citação acima, Shamuel não se considera melhor do que uma
barata. E você, o que acha? Leia a seguir um trecho que descreve o surgimento do Milagre da
Vida em nosso planeta...

O MILAGRE ÚNICO DA VIDA


A VIDA – ESTÁCIONÁRIA NO PRESENTE – SE TRANSFORMA E EVOLUI HÁ 4 BILHÕE DE ANOS

“Em um certo ponto em um passado inimaginavelmente distante (no Presente Anterior), uma
pequena bolsa de substâncias químicas nervosamente adquiriu vida. Ela absorveu alguns
nutrientes e pulsou com suavidade (...). Mas esse pacote ancestral (microrganismo) faz algo
adicional e extraordinário: partiu-se e produziu um descendente. Um feixe minúsculo de
material genético passou de uma entidade viva para outra e nunca mais parou. Foi o momento
de CRIAÇÃO para todos nós. Os biólogos costumam chamar esse momento de o Grande
Nascimento (o BIG BIRTH). Aonde quer que você vá no mundo, qualquer que seja o animal,
planta, inseto ou pingo de matéria, se estiver vivo, usará o mesmo dicionário e conhecerá o
mesmo código. TODA A VIDA É ÚNICA (todos os seres vivos possuem uma origem comum).
Somos todos o resultado de um único truque genético transmitido de geração para geração há
quase 4 bilhões de anos (de Permanência no Presente).”
BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO
Bill Bryson

CONCLUSÃO

A Evolucão das Espécies, graças a deus, serve para que VOCÊ – após preencher o cérebro com
conhecimentos – tome consciência de que um dia já foi uma AMEBA. – E Viva a Evolução!!!

EQM
Experiência de Quase-Morte e Viagens Extracorpóreas

SUPERINTERESSANTE
(maio de 2005 – por Maurício Oliveira)

“Ao final da cirurgia de emergência, para estancar um sangramento cerebral que a deixou à
beira da morte, há 3 anos, a atriz Sharon Stone relatou aos médicos as sensações
perturbadoras que lembrava do período de inconsciência. Disse ter atravessado rapidamente
um túnel (sua Linha da Memória – dentro do cérebro) e mergulhado em uma forte luz branca
(que é a LUZ do nosso nascimento: a luz original; nossa primeira lembrança) que transmitia
uma sensação de paz e serenidade. Contou também que pressentiu a companhia de seus
parentes e amigos mortos, prontos para recebê-la do outro lado (as lembranças dos entes
queridos ‘mortos’ permanecem ‘vivas’ – em nosso cérebro). De repente, contudo, ela fez o
caminho de volta (em sua Linha da Memória – dentro do cérebro), e acordou.”

EXPLICAÇÃO

“Quero Ser Sharon Stone”


(Quero Ser John Malkovich – filme de 1999 – Spike Jonze)

6 – Experiências Extracorpóreas – Jornadas nas Lembranças: na realidade, em tais condições –


onde uma paciente, apesar da gravidade, ainda conserva alguma atividade cerebral – ela
(Sharon Stone, no caso) ‘viaja’ em sua própria LINHA DA MEMÓRIA (dentro do cérebro), e
mergulha em seu Universo Interior, formado pelas lembranças da sua vida: Infância,
juventude, maturidade. No entanto...

Cérebro Infinito
No entanto, por subestimar a Vastidão Interior do próprio cérebro, a atriz (mais conhecida
como Srta Catherine Tramell) imagina equivocadamente que está vivenciando uma
jornada mística fora-do-corpo.

“Os únicos fantasmas nos quais acredito são as lembranças. Sejam elas reais ou imaginárias.
Para mim, as entidades, os mortos-vivos, os espíritos, todas essas coisas sobrenaturais só
existem na cabeça dos vivos. (...). A saudade, a dor, o insuportável pode nos fazer ressuscitar e
sentir coisas que superam a imaginação. Quando alguém morre, morre. Menos na alma (nas
lembranças que permanecem no cérebro) das pessoas que ficam. E a alma (cérebro) de um
único homem é muito maior do que o universo.”
ÁGUA FRESCA PARA AS FLORES
Valérie Perrin

OBS
Este assunto – a imensidão interior do nosso cérebro – será esclarecido
no CAP XVIII: CÉREBRO – A Fantástica Fábrica do Pensamento.

7 - O Que é a Verdade? O cérebro foi feito para interpretar a REALIDADE, não para reinventá-
la. Nossas fantasias (crenças) – por mais ensandecidas, iracundas e sanguinárias que sejam –
nunca deixarão de ser o que são: delírios exclusivistas.

O Universo é um MILAGRE INFINITO . Desse modo, só consigo presumir um deus cósmico, de


todos e de tudo; não vislumbro religiões e deuses de facções, - e até mesmo com
antecedentes criminais.

“Descobrir o nome e o significado de deus não compete a ninguém (diz Halla à sua irmã
gêmea, Sigrudur, que estar irremediavelmente doente). Deve dar-nos medo a necessidade de o
entender. Deve dar-nos medo a necessidade de entender deus. Ele é o desconhecido, se por
ventura se der a conhecer então é uma falsidade.”
A DESUMANIZAÇÃO
Valter Hugo Mãe

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Neste capítulo explicaremos a origem e as consequências do mal de ALZHEIMER.

CAPÍTULO

XVI
CÉREBRO INFINITO
Revista Época (g1) – 02/03/2018

”O cérebro humano contém aproximadamente 100 bilhões de NEURÔNIOS, e estes são


renovados regularmente no cérebro ao logo da vida, diz estudo: a formação
de novos neurônios no cérebro humano ao longo da vida é um dos assuntos mais misteriosos
para os neurocientistas. (...). Agora, um novo estudo realizado por cientistas do ‘Instituto de
Karolinska, na Suécia, revela evidências diretas e inéditas de que novos neurônios são
formados continuamente ao longo da vida. (...) Mais especificamente, cerca de 1400 novos
neurônios são gerados por dia em nosso cérebro. (...).”

ALZHEIMER
O MAL REMOVEDOR DE LEMBRANÇAS

DW – MADE FOR MINDS (19/04/ 2016)

“O primeiro diagnóstico, em 1901, foi feito pelo médico psiquiatra alemão Alois Alzheimer
(1864 – 1915). Mais de cem anos depois, continua a busca para desvendar e encontrar
um remédio que cure essa doença tão enigmática. (...)”.
1 - 100 BILHÕES DE NEURÔNIOS – a matéria-prima das recordações: em nosso CÉREBRO há
uma Película de Neurônios convenientemente preparada para registrar/filmar as impressões
dos nossos 5 sentidos: visão, audição, paladar, olfato e tato.

Portanto, todas as LEMBRANÇAS da nossa vida (infância, juventude, maturidade), estão


impressas/contidas em nosso CÉREBRO (Linha da Memória) – e são formadas por:

imagens, sons, sabores, aromas e impressões táteis.

Assim sendo, conectar neurônios (construir sinapses) significa fabricar lembranças no cérebro.
Portanto...

´NEURÔNIOS são a matéria com a qual são fabricadas as nossas LEMBRANÇAS

“Lembranças são os filhos dos neurônios.”


Jorge Mautner

2 - MAL DE ALZHEIMER – O Exterminador de Passados: o mal ocorre quando as SINAPSES se


rompem (as conexões entre os neurônios se desfazem), e apagam progressivamente do nosso
cérebro as LEMBRANÇAS da nossa vida: infância, juventude, maturidade.

Ou seja, a doença aniquila do cérebro o nosso passado – ou nossa história; ou nosso


conteúdo; ou nossa essência; ou nossa alma.

O nome pouco importa, a verdade é que o CÉREBRO do paciente vai sendo gradativamente
esvaziado de seu bem mais precioso: as lembranças. Na prática, e de forma resumida, a
doença se manifesta da seguinte forma:

NÃO LEMBRO dos episódios da minha infância, logo ela deixou de existir para mim;

NÃO LEMBRO dos episódios da minha adolescência, logo ela deixou de existir para mim;

NÃO LEMBRO de episódios recentes da minha vida, logo eles deixaram de existir para mim;

NÃO LEMBRO dos familiares, amigos e conhecidos, logo eles deixaram de existir pra mim;
E em seu estágio mais avançado...

NÃO LEMBRO do meu passado (pois todas as lembranças da minha vida foram apagadas do
cérebro), logo perdi a percepção da própria EXISTÊNCIA – ou perdi a alma.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
José Saramago

-- “(...) Então o médico (que é oftalmologista) disse, -- Se eu voltar a ter olhos, olharei
verdadeiramente os olhos dos outros, como se estivesse a ver-lhes a alma,

-- A alma, perguntou o velho da venda preta,

-- Ou o espírito, respondeu o médico, o nome pouco importa,

-- Foi então que, surpreendentemente, se tivermos em conta que se trata de pessoa que não
passou por estudos adiantados (não preencheu o cérebro com conhecimentos aprofundados) ,
a ‘rapariga dos óculos escuros’ disse, DENTRO de nós (dentro do cérebro) há uma coisa que
não tem nome (lembranças), essa coisa é o que SOMOS.

MEMÓRIA E A PERCEPÇÃO DA EXISTÊNCIA


SER ou não SER

3 - LEMBRO, logo existo: lembro de todos os episódios da minha vida ( infância, juventude,
maturidade), logo tenho a consciência de que existo – e SOU.

No entanto, como foi explicado acima, ao perder (ao serem apagadas do cérebro) as
lembranças da nossa vida – como acontece com o Mal de Alzheimer – perdemos a noção da
própria existência - e deixamos de SER.

Leia as 2 citações abaixo (Cem Anos de Solidão – e – Para Sempre Alice):

I - CEM ANOS DE SOLIDÃO


- Gabriel García Márquez -

“(...) MAS VISITACIÓN explicou que o mais temível da doença da insônia não era a
impossibilidade de dormir, (...), mas sim a sua inexorável evolução para uma manifestação
mais crítica: o ESQUECIMENTO. Queria dizer que quando o doente se acostumava ao seu
estado de vigília, começavam a apagar-se da sua memória (CÉREBRO) as lembranças da
infância, em seguida (as lembranças do) nome e a noção (finalidade) das coisas, e por último
(as lembranças da) identidade das pessoas e ainda a consciência do próprio SER (perde as
lembranças de SI mesmo), até se afundar numa espécie de idiotice sem PASSADO. (...).”

Pilar Ternera foi quem contribuiu quando concebeu o artifício de ler o PASSADO nas cartas
como antes tinha lido o futuro. Com esse recurso, os insones começaram a viver num mundo
construído pelas alternativas incertas do baralho. (...).
José Arcadio Buendía decidiu então construir a Máquina da Memória, que uma vez tinha
desejado para se LEMBRAR dos maravilhosos inventos dos ciganos. A geringonça se
fundamentava na possibilidade de repassar, todas as manhãs, e do princípio ao fim, a
totalidade dos conhecimentos (lembranças essenciais) adquiridos durante a vida. Imaginava-a
como um dicionário giratório que um indivíduo situado no eixo pudesse controlar com uma
manivela, de modo que em poucas horas passassem diante dos seus olhos as noções mais
básicas para viver. (...).”

“O BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS”

II - PARA SEMPRE ALICE


Lisa Genova

“Nós, nos primeiros estágios da doença (Alzheimer), ainda não somos completamente
incompetentes (...), mas já não temos competência suficiente para que nos sejam confiadas
muitas demandas e responsabilidades de nossa vida anterior (como por exemplo: um gari
esquece de varrer; um neurocirurgião esquece como operar, – pois a arte, as técnicas
memorizadas foram apagadas do cérebro).

Temos a sensação de não estar nem lá nem cá como um personagem numa terra bizarra. É
um lugar muito solitário e frustrante para se estar (...). Não tenho nenhum controle sobre os
ONTENS que conservo (no cérebro) e os ONTENS que são apagados (do cérebro). (...) O meu
maior receio: deixar de SER eu mesma (perder todas as lembranças da sua vida).

Meus ontens (as lembranças do seu passado) estão desaparecendo (do cérebro) e meus
amanhãs são incertos. Então para que eu vivo ? Vivo para cada dia. Vivo o presente. Num
amanhã próximo esquecerei o hoje, mas não significa que o hoje não tenha importância.
4 – QUATRO CITAÇÕES – sobre lembrar e esquecer: as citações abaixo não se referem
especificamente ao Alzheimer. Apenas demonstram que, às vezes, temos que vasculhar as
gavetas do CÉREBRO até encontrar uma determinada lembrança; outras vezes sentimos que
estamos a perdê-las; outras vezes sentimos que a perdemos definitivamente...

PÁTRIA
Fenando Aramburu

“(Bittori expressa o porquê da mágoa que sente por sua filha). Nerea não foi ao velório nem ao
enterro do pai (Txato – morto pelo ETA). – Posso vir a ter Alzheimer, ESQUECER que mataram
você (o marido), ESQUECER até o meu nome; mas juro que, enquanto houver uma luzinha
acesa na minha MEMÓRIA (cérebro), vou LEMBRAR o que ela fez, vou LEMBRAR que ela não
estava por perto quando mais precisamos.”

1Q84 lll
Haruki Murakami

“Aquela garota parecia alguém que Ushikawa já havia visto em algum lugar. Alguém que vira
recentemente , talvez, (...). Ushikawa acelerou a rotação de sua MEMÓRIA e vasculhou a fundo
todos os arquivos (lembranças) armazenados em seu CÉREBRO. Estreitou os olhos e espremeu
os MIOLOS como um pano de chão. Sentiu uma dor aguda nos nervos. De repente, descobriu
que esse alguém era Eriko Fukada.

A CONTADORA DE FILMES
- Hernan Rivera Letelier -

“A mesma coisa acontecia com as lembranças mais lindas da minha mãe (que até então
conservara – no cérebro). As imagens (lembranças) dos poucos momentos felizes vividos com
ela, iam se desvanecendo em minha memória (cérebro), inapelavelmente, como as cenas de
um filme velho. Um filme em preto e branco. E mudo.”

MEU PAI
(Anthony Hopkins -- Florian zeller)
“Eu me sinto como se estivesse perdendo todas as minhas folhas (as lembranças da sua vida –
contidas em seu cérebro). Os galhos, o vento e a chuva... Não sei mais o que está acontecendo.
(...). Quem sou EU, exatamente?

OBS
MEMÓRIA E A ILUSÃO DE POSSE

‘EU POSSUO E TENHO’ – registrado em meu cérebro – as lembranças de todos os meus BENS:
empresas em vários países, fortunas em paraísos fiscais, fazendas várias, terrenos em áreas
nobres, apartamentos no One Madison, casas de praia nas Bahamas, jato Bombardier Global,
Ferrari 250 GTO, Bugatti La Voiture, etc. - Além de muitos amigos em todos as esferas do
poder.

No entanto, ao perder a MEMÓRIA...

NÃO LEMBRO DAS MINHAS PROPRIEDADES, LOGO TUDO DEIXOU DE EXISTIR PARA MIM
Portanto, um breve aviso aos poderosos, ditadores, corruptos e congêneres:

LEMBRE enquanto pode – e viva sua fugaz ilusão de POSSE

5 – Maratona Cerebral: aparentemente, na ausência de uma cura, a LEITURA – como uma


forma de exercício cerebral – serve para fortalecer as sinapses. E assim, manterem saudáveis
as nossas lembranças.

“Leia, leia, leia. Leia tudo – bobagem, clássicos, bom e ruim, e veja
como são feitos. Você irá absorver.
WILLIAM FAULKNER

“Fui catar papel, mas estava indisposta. Vim embora porque o frio era demais. Quando
cheguei em casa era 22:30h. (...). Li um pouco. Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um
livro. O livro é a melhor invenção do homem.
Quarto de Despejo
Carolina Maria de Jesus
LEMBRANÇAS HACKEADAS

6- Memórias Roubadas – do interior do cérebro: nesse trecho do livro de Haruki Murakami,


ele faz uma associação pertinente entre o esquecimento e a perda da identidade. Veja...

O IMPIEDOSO PAÍS DAS MARAVILHAS


(e o fim do mundo)

“(...) a MEMÓRIA fora-me roubada. Enfureci-me com esta ideia. Ninguém tinha o direito de me
arrebatar as minhas RECORDAÇÕES (do interior do cérebro). Era a minha história (“meu
passado; minha essência; minha alma”). Roubar a MEMÓRIA de alguém era o mesmo que
roubar-lhe a vida. À medida que a minha zanga foi aumentando, esqueci-me do medo. Hei de
sobreviver, dê lá por onde der, decidi. Sobreviverei. Vou sair deste louco mundo de trevas e
recuperarei todas as RECORDAÇÕES que me roubaram. Chegue ou não O Fim do Mundo,
renascerei como um SER completo. (...)”
... E NA CIDADE DO FIM DO MUNDO:

Quando o guardião saiu, a (minha) sombra fez um sinal indicando que me aproximasse.

– Tenho uma coisa para te dizer – disse a sombra. – É verdade, já não tenho forças para me
agarrar a ti, mas, se conseguir escapar desta Cidade, poderemos voltar a ser UM. Eu livro-me
de morrer aqui, e tu recuperas as tuas memórias e tornarás a SER o que eras originalmente.
(...) Ei! Alto aí! Não me digas que estás com dúvidas? – A (minha) sombra estremeceu.

-- Sim, estou com dúvidas – reconheci. – Não me lembro de como EU era antes. Valerá a pena
recuperar minhas lembranças e voltar a ser EU mesmo? (...) É que agora eu começo a sentir
algum apego a esta Cidade.

-- O que dizes-me – respondeu a sombra – é que nesta cidade não há lutas, nem ódio, nem
desespero. Magnífico! Olha, se tivesse forças, eu aplaudia. Mas o fato de não haver nem lutas,
nem ódio, nem ambição significa que também não existe o oposto de tudo isso. Ou seja, não
existe alegria, amor ou esperança.

A RECONQUISTA DAS LEMBRANÇAS

“Então, o ‘visitante desconhecido’, entendeu. Abriu a mala entupida de objetos indecifráveis, e


dentre eles tirou uma maleta com muitos frascos. Deu para beber a José Arcadio Buendía uma
substância de cor suave, E A LUZ SE FEZ NA SUA MEMÓRIA (e as lembranças voltaram a brilhar
– em seu cérebro). Seus olhos se umedeceram de pranto, (...), e ainda antes de reconhecer o
recém-chegado numa deslumbrante explosão de alegria. Era Melquíades. Enquanto Macondo
festejava a RECONQUISTA DAS LEMBRANÇAS, José Arcadio Buendía e Melquíades sacudiram a
poeira da velha amizade.”

Cem Anos de Solidão


- Gabriel Garcia marquéz -

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CAPÍTULO

XVII
SUPER INTERESSANTE
(março – 2006)

A CHAVE DOS SONHOS


“Toda noite sua mente viaja para um mundo fantástico. Por que isso acontece? O que a ciência
sabe sobre os SONHOS ? O que eles dizem sobre nós? Nos sonhos, o fantástico é natural e as
coisas não precisam fazer sentido. No mundo dos acordados, o homem tenta há milênios
descobrir um sentido para os SONHOS. (...).”

CÉREBRO
A FANTÁSTICA FÁBRICA DE SONHOS – E PESADELOS

1 - A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS – A Matéria-prima da Odisseia dos Oniros: os sonhos


(superestimados por Freud) são apenas historietas nonsense – sem qualquer significado –
fabricados aleatoriamente em nosso cérebro com fragmentos de LEMBRANÇAS da nossa vida.
Portanto...

‘LEMBRANÇAS pessoais são a matéria com a qual são fabricados os nossos SONHOS’

“As reminiscências do dia servem de material aos sonhos da noite”


-- Quincas Machado de Assis Borba –

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2 - CÉREBRO – O Tear Encantado dos Sonhos: como já foi explicado, o PRESENTE É ABSOLUTO
- vivemos em um Eterno Presente. Nesta condição, o homem – como uma Lâmpada Mágica
vazia – nasce com o cérebro OCO: sem conteúdo; sem história; sem passado.

No entanto, à medida que Permanece no Presente, vai preenchendo gradativamente o


cérebro (Linha da memória) com as LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude,
maturidade.

E assim, - com o cabeça repleta de lembranças pessoais , - obtém matéria-prima para fabricar
os seus SONHOS.

portanto, como já foi dito...

LEMBRANÇAS são o tecido de que são feitos os SONHOS

“A Memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos,


e os sonhos fazem-se combinando recordações.”
Jorge Luis Borges

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3 - DIVERTIDAMENTE – Miolos Insone e Traquinas: os SONHOS ocorrem quando a nossa
imaginação – ao brincar com as nossas lembranças – passa a elaborar historietas disparatadas:
às vezes agradáveis (oníricas), às vezes aflitivas (pesadelos).

A propósito - nunca é demais lembrar - não esqueça que toda essa Viagem Encantada é
perpetrada nas profundezas do nosso CÉREBRO, e não fora.

Sonhos e Pesadelos No Coração das Trevas

“Parece que estou tentando contar-lhes um sonho (ou pesadelo) – fazendo uma vã tentativa,
porque nenhum relato de sonho pode transportar-nos à sensação do sonho, aquela mistura de
absurdo, surpresa e atordoamento em meio a um tremor de incontida revolta, aquela noção de
ser capturado pelo incrível que não é nada mais do que a precisa essência dos sonhos...”.
JOSEPH CONRAD

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4 - SONHANDO O QUE PLANTOU – no cérebro: como já foi dito, os SONHOS são fabricados –
dentro do cérebro - com fragmentos de lembranças da nossa vida. Portanto, você certamente
já SONHOU com pessoas, situações e coisas que conheceu durante a vida. Assim sendo,
podemos afirmar que FREQUENTEMENTE...

UM PROFESSOR sonha lecionando;

UM DELEGADO sonha com diligências policias;

UM MÉDICO sonha com emergências hospitalares;

UM JOGADOR sonha disputando partidas decisivas – ou simples peladas;

UM CORRUPTO sonha participando de negociatas, dinheiro enfiado no, e na cueca, etc.

Em outras palavras, cada indivíduo preenche o cérebro com as LEMBRANÇAS que


quiser, e, com elas, produz os sonhos que merecem.

“Sonho meu; sonho meu;


Vai buscar (dentro do cérebro – as lembranças de) quem mora longe, sonho meu. ”
DONA IVONE LARA

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5 - CÉREBRO – Eu Sou o Senhor do Castelo: não escolhemos SONHAR. Pelo contrário, é o
nosso CÉREBRO que – autônomo – elabora o roteiro, dirige e determina o nosso papel no
SITDREAM: às vezes somos protagonistas, às vezes coadjuvantes, - mas sempre um
personagem autômato, perdido no próprio Universo Encantado feito de lembranças pessoais.

“As pessoas não escolhem os sonhos que têm, são, pois,


os sonhos que escolhem as pessoas”
O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO
José Saramago

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6 - “QUANDO OS ANIMAIS SONHAM” – à Laika*: todos os animais (o que incluem todos os


mamíferos, sem exceção), repetindo, todos os animais com aptidão para armazenar
LEMBRANÇAS no cérebro, possuem capacidade para SONHAR: cães, gatos, macacos, antas,
hienas, bestas, “Ratos e Homens”, etc. Na citação abaixo, podemos constatar que o pai do
Evolucionismo acerta novamente, leia...

“Cachorros, gatos, cavalos, e provavelmente todos os animais superiores,


até mesmo as aves, têm SONHOS VÍVIDOS. O que é demonstrado
pelos movimentos e pelos sons que emitem durante o sono.”

Charles Darwin

Evidentemente, o CÉREBRO dos animais (não nós, os outros animais) produzem sonhos
elementares porque são fabricados com lembranças primárias. Por exemplo: seu CÃO
sonha perseguindo o gato do vizinho; sonha brincando com você; sonha que está tomando
banho, etc. Enfim, o cérebro do seu CÃO produz apenas sonhos simplórios.
*LAIKA A
Heroína Involuntária da Conquista Espacial

Em 3 de novembro de 1957, a cadela LAIKA – uma vira-lata das ruas de Moscou – foi escolhida
para viajar a bordo do satélite soviético SPUTNIK 2, tornando-se o primeiro ser vivo a viajar
para o espaço. LAIKA, sozinha, numa viagem sem volta, morreu entre cinco e sete horas após o
lançamento. Caso a cadela LAIKA tivesse sobrevivido e retornado à Terra, traria em seu
cérebro as lembranças de uma Fantástica Odisseia no Espaço – e sonharia com as estrelas.

“Eu realmente fico triste quando lembro da pobre Laika. É terrível mandar um cão para o
espaço sem comida o bastante. Ela teve de fazer isso pelo progresso humano. Ela não
pediu para ir. (...). Eles sabiam desde o início que ela não retornaria.
Então eles a mataram. Eles simplesmente a mataram.”
FALA EM OFF DO MENINO INGEMAR
Minha Vida de Cachorro – filme 1985 – Lasse Hallström

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7 – CÉREBRO PEDANTE – sonhos de exceção: os sonhos (como tudo no Universo) é um


Milagre da Criação. Porém – individualmente falando – não têm nada de especial. Ou seja, os
sonhos de um indivíduo dito intelectual podem ser mais “complexos” porque estes possuem
um CÉREBRO enriquecido pela leitura (conhecimentos memorizados).

Já um indivíduo iletrado (com um CÉREBRO vazio de conhecimentos) produz sonhos mais


simples. E é só. Não há motivo para ninguém sentir-se superior ou inferior a outrem. Como já
foi explicado, Desigualdade Intelectual não significa Desigualdade Humana.

Como vimos, para o nosso CÉREBRO, tecer um sonho é uma mera recreação;
enquanto que para um mago...

“Então o mago (na tentativa de criar um Adão de Sonhos) compreendeu que o empenho de
modelar a matéria incoerente e vertiginosa de que se compõem os sonhos é o mais árduo
que se pode empreender (...), mais árduo que tecer uma corda de areia ou
amoedar o vento sem rosto.”

Ficções - Borges
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8 - REM – Os Sonhos Que só Existem Quando São Lembrados: só lembramos dos sonhos
quando acordamos durante ou imediatamente após sonhá-los. Caso contrário – ao continuar
nos braços de Morpheus – os sonhos prosseguem em nosso labirinto cerebral (Linha da
Memória) – e perdem-se para sempre.

Com relação ao momento REM (Movimento Rápido dos Olhos), este fenômeno acontece no
exato momento em que estamos vendo nossos sonhos – DENTRO DO CÉREBRO.
Caso sejamos despertados nesta condição, é bem mais provável que lembremos do
Sonho Sonhado.

OS SONHOS NO CÉREBRO DA CONTADORA DE FILMES

A Fada do Cine embaralha (em seu cérebro) as lembranças dos filmes que viu, com as
lembranças da realidade vivida, – e fabrica seus sonhos:

“Outra coisa que me acontecia era que – de tanto ver e contar filmes – muitas vezes eu os
embaralhava com a realidade (embaralhava as lembranças – dos filmes e da realidade – em
seu cérebro). E me custava LEMBRAR se determinada coisa eu tinha vivido ou visto projetada
na tela. OU SE HAVIA SONHADO. Porque acontecia que até meus próprios SONHOS eu os
confundia depois com as cenas de filmes. (...)”
A CONTADORA DE FILMES
Henán Rivera Letelier

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9 – Composição dos Sonhos: como foi explicado, os sonhos são feitos com cacos de
lembranças pessoais espalhadas no cérebro. E como nossas lembranças são formadas pelas
impressões dos sentidos, os SONHOS, consequentemente, também são formados por:
imagens, sons, sabores, aromas e sensações táteis.

“Após a independência do país, chegou a Guerra Civil – que é uma cobra que usa os nossos
próprios dentes para nos morder. Seu veneno circulava agora em todos os rios da nossa alma.
De dia já não saíamos, de noite já não sonhávamos. O sonho é o olho da vida.
Nós estávamos cegos.
TERRA SONÂMBULA
Mia couto

*Neste caso o escritor moçambicano, Mia Couto, utilizou a palavra sonho como sinônimo de esperança.

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10 – Os Sonhos dos Invisuais:


os cegos de nascença – impossibilitados de ver (e registrar no
cérebro) o panorama do mundo exterior – produzem sonhos sem IMAGENS. No entanto,
podem, naturalmente, SONHAR com: sons, sabores, aromas e impressões táteis.

APENAS para exemplificar: um deficiente visual pode sonhar com sua namorada; no entanto,
como não há lembranças da IMAGEM dela em seu cérebro, ele não consegue VÊ-LA em seus
sonhos. Por outro lado, ele pode...

Pode ouvir a voz da namorada - nos sonhos;


Pode sentir o perfume da namorada - nos sonhos;
Pode perceber as impressões táteis nos sonhos: os beijos, abraços, apalpações e outras
intimidades táteis.

ÚRSULA, ao perder a visão para a catarata, recorre à memorização dos sentidos que
sobraram (audição, paladar, olfato e tato) para continuar a viver
quando as trevas da doença já não o permitissem:

“Não disse nada a ninguém, pois teria sido um reconhecimento público da sua inutilidade.
Empenhou-se numa calada aprendizagem (memorização de conhecimentos - no cérebro) das
distâncias das coisas (pelo tato) e das vozes das pessoas (audição – memorizamos SONS no
cérebro), para continuar vendo com a MEMÓRIA quando já não o permitissem as sombras da
catarata. Mais tarde havia de descobrir o auxílio imprevisto dos cheiros (olfato – memorizamos
AROMAS no cérebro), que se definiram nas trevas com uma força muito mais convincente do
que os volumes e a cor (imagens) e a salvaram definitivamente da vergonha de uma renúncia.
(...). Conheceu com tanta certeza o lugar em se encontrava cada coisa ( pelo tato –
memorizamos impressões táteis no cérebro) que ela mesma se esquecia às vezes de que estava
cega. “
Cem Anos de Solidão
Gabriel Garcia Marquéz

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11 – Os SONHOS são Multicor ou em Preto & Branco ?: para demonstrá-lo, peço que VOCÊ
feche os olhos e regresse em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e responda: qual a cor
da Terra quando avistada do espaço?

“ A TERRA É AZUL ! ”
à Yuri Gagarin
Sua resposta está correta. Portanto, podemos afirmar que...

nossos SONHOS são coloridos porque são fabricados com LEMBRANÇAS coloridas.

OUTRO EXEMPLO: feche os olhos e regresse em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e
busque a imagem do nosso Pavilhão Nacional... Encontrou? Agora descreva – “vendo a
imagem em seu cérebro” – quais são as cores da nossa bandeira: verde, amarelo, azul e
branco. Portanto, como nossas lembranças são coloridas, fabricamos sonhos coloridos.

QUARTO DE DESPEJO
Carolina Maria de Jesus

“...Eu dormi. E tive um sonho maravilhoso. Sonhei que eu era um anjo. Meu vestido era amplo.
Mangas longas cor de rosa. Eu ia da Terra para o céu. E pegava as estrelas na mão para
contemplá-las. Conversar com as estrelas. Elas organizaram um espetáculo para homenagear-
me. Dançavam ao meu redor e formavam um risco luminoso. Quando despertei, pensei: eu sou
tão pobre. Não posso ir num espetáculo, por isso Deus envia-me estes Sonhos Deslumbrantes
pra minh’alma dolorida. Ao Deus que me protege, envio os meus agradecimentos.”

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SCIENTIFIC AMERICAN
(NOV – 2008):

Na citação abaixo, temos uma definição histórica do nosso CÉREBRO em funcionamento.


Certamente será útil para finalizar este capítulo, e compreender melhor a dinâmica
dos SONHOS. Veja o trecho:

“Em 1937, o grande neurocientista sir. Charles Scott Sherrington, expôs o que viria a se tornar
uma descrição clássica do CÉREBRO EM FUNCIONAMENTO. Ele imaginou pontos de luz
sinalizando a atividade das células nervosas (neurônios) e suas conexões (sinapses). Segundo
ele, durante o sono profundo somente umas poucas áreas remotas do CÉREBRO brilhariam.

Mas ao despertar, é como se a Via Láctea iniciasse uma verdadeira dança cósmica.
Rapidamente a massa encefálica se transforma num tear encantado, onde
milhões de agulhas cintilantes tecem (...) uma verdadeira harmonia de
padrões secundários alternantes. (...).”

EXPLICAÇÃO
I - DORMIR significa “Desligar o Cérebro” e apagar temporariamente as lembranças da nossa
vida. É por este motivo que – “durante o sono profundo” – somente umas poucas áreas
remotas do cérebro (poucas lembranças) brilham.

II - AO DESPERTAR, “nossa massa encefálica se transforma num tear encantado”, porque


nossas lembranças também acordam – e passam a *brilhar.

III - O CÉREBRO fabrica os nossos sonhos com essas poucas lembranças que permanecem
“acessas” durante o sono profundo. É por este motivo (a escassez de matéria-prima) que os
nossos sonhos são breves e tênues.

IV – *O Iluminado: as lembranças da nossa vida (infância, juventude, maturidade) são


formadas essencialmente - principalmente por IMAGENS; e as IMAGENS, obviamente,
*brilham, - em nosso cérebro.*O Iluminado: as lembranças da nossa vida (infância, juventude,
maturidade) são form

DOM QUIXOTE DORME


“Só entendo que, quando durmo, não tenho medo nem esperança, nem trabalho nem glória.
Vida longa a quem inventou o SONO. Capa que cobre todos os pensamentos (lembranças)
humanos, manjar que tira a fome, água que afugenta a sede, fogo que abranda o frio, frio que
mitiga o calor, enfim, moeda geral com que se compram todas as coisas, balança e medida que
iguala o pastor ao rei e o tolo ao sábio. O SONO só tem uma coisa má: se parece com a morte,
pois entre um adormecido e um morto há pouca diferença.”
Miguel de Cervantes

DOM CASMURRO SONHA


“Fui à janela indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se
esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais. A noite não
me respondeu logo. Estava deliciosamente bela, os morros pelejavam de luar e o espaço
morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os sonhos já não pertenciam à sua
jurisdição. (...) Os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram aposentados, e os
modernos moram no CÉREBRO da pessoa. (...).”
Machado de Assis

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CAPÍTULO

XVIII
“Havia uma coruja na pista. Atropelada (Savitha narra o episódio à sua amiga Poornima). Eu
agora estava bem perto, entende, debruçada por cima dela, pensando em como poderia
ajuda-la. Mas o que eu poderia fazer? Mas, enquanto olhava, percebi que ela estava tentando
me dar um recado. Eu juro. (...). A coruja disse... e a essa altura ela estava suspirando, quase
morrendo mesmo... ela disse: “Mas essa é a questão com vocês, humanos. Vocês PENSAM
demais, não é mesmo?”

O Brilho do Sol que Invadiu a Nossa Casa


Shobha Rao

CÉREBRO
A FANTÁSTICA FÁBRICA DO PENSAMENTO
Afinal de contas,
O QUE É O PENSAMENTO ?

“Há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer.”
DRUMMOND

1 – Uma Breve História do Pensamento: PENSAR significa refletir, meditar, raciocinar,


imaginar, maturar, sobre as LEMBRANÇAS da nossa vida: infância, juventude, maturidade.

Em outras palavras...

PENSAMOS SOBRE NOSSAS LEMBRANÇAS


Por exemplo: VOCÊ pode regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e

PENSAR...
PENSAR numa lembrança de um episódio significativo da sua infância; ou...

PENSAR numa lembrança de um episódio significativo da sua adolescência; ou...

PENSAR numa lembrança de um episódio significativo da sua fase adulta; ou...

PENSAR numa lembrança de um episódio que ocorreu recentemente; ou

PENSAR numa lembrança de um episódio trivial de qualquer fase da sua vida, etc.

“Pensar! Pensar! Pensar!... É bastante tormentoso para um mortal! Pensar é audácia. Só Deus
tem esse direito e privilégio. Pensar é – ou deveria ser – coisa serena e tranquila; e os nossos
corações palpitam e os nossos pobres cérebros pulsam demais para isso.”
MOBY DICK
Herman Melville

EM NOSSO CÉREBRO
Pensamos sobre as lembranças da nossa vida: infância; juventude; maturidade

(Autobiografia de Lembranças Vivas)

“Cérebro é um aparelho com o qual pensamos que pensamos.”


Ambrose Bierce

JANINA DUSHEIKO
encontra, na igreja, o seu lugar preferido para PENSAR em paz – em suas lembranças...

“Às vezes costumava entrar na igreja e ficar em paz. (...). As pessoas todas imersas em seus
pensamentos, revendo aquilo que aconteceu (revendo e pensando – dentro do cérebro – nas
lembranças do que aconteceu) e imaginando o que poderia acontecer.

À semelhança de todos, me sentava no banco e caía numa espécie de devaneio. Pensava


preguiçosamente (nas lembranças da sua vida), como se os pensamentos viessem de fora de
mim, das cabeças dos outros, ou talvez das cabeças dos anjos de madeira. (...). Nesse aspecto
a igreja era um bom lugar, pois sempre vinha à minha mente (cérebro) algo novo (pensava em
outras lembranças), diferente dos pensamentos que tinha em casa.

Às vezes tinha a impressão de que, se quisesse, poderia ler ali os pensamentos das outras
pessoas. Algumas vezes (imaginava que) ouvia os pensamentos alheios em minha própria
cabeça: “Que padrão escolhemos para o papel de parede novo do quarto: seria melhor o liso,
ou talvez com um estampado delicado? – O dinheiro na conta tem uma taxa de juros
demasiadamente baixa, outros bancos dão uma comissão melhor!. (...). – De onde ela tira
tanto dinheiro? Como ela consegue comprar toda essa roupa? – Como ele envelheceu! Olhe
quanto cabelo branco! E pensar que era o homem mais bonito no vilarejo. E agora? Está
acabado... – Nunca, jamais permitirei que os outros me tratem como se fosse uma
criança!...”.

O que haveria de errado nesse tipo de pensamento? Os meus não são muitos diferentes. É bom
que esse Deus, caso exista, ou mesmo que não exista, nos tenha providenciado algum lugar
para poder pensar em paz (em nossas lembranças). Talvez seja esse o objetivo principal da
oração – pensar em paz (nas lembranças da nossa vida), não querer nada, não pedir nada;
simplesmente colocar a sua própria cabeça em ordem. Isso deveria ser o suficiente. (...).”
SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS
Olga Tokarczuk,

E na África do Sul sob o regime do Apartheid dos anos 1980,


LEX TRABALHA... E PENSA

“-- Me diga, o reverendo Simmers pergunta, faz quanto tempo que trabalha para eles?
– Doze anos, senhor. Responde Lexington, o motorista negro da família Swart.
– E o que é que você pensa deles, daquela família?
– Lexington hesita, sorrindo largo de nervosismo. Eles me tratam bem, senhor.
– Eles te tratam bem, tá, ótimo. Mas o que é que você pensa deles?
– Não, eu não estou pensando neles, senhor. Eu só estou trabalhando, não pensando.

A declaração é uma inverdade, mas Lexington não pode responder sinceramente. Pressente
que o reverendo quer alguma coisa (dos Swart), mas dar-lhe o que ele quer pode colocar sua
posição em perigo. Nem sempre é possível agradar dois brancos ao mesmo tempo. (...)”
A PROMESSA
Damon Galgut

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O PENSAMENTO VOA
(Astronautas do Espaço Cerebral)

2- FELICIDADE – de Lupicinio Rodrigues: a seguir, veremos um trecho dessa que é uma de


suas composições mais conhecidas, - e a explicação do fenômeno relatado no final da estrofe:

“Felicidade foi-se embora;


E a saudade no meu peito ainda mora;
E é por isso que eu gosto lá de fora; Porque eu sei que a falsidade não vigora;
A minha casa fica lá de trás do mundo;
Aonde eu vou em segundo;
Quando começo a pensar;
O pensamento parece uma coisa à toa;
MAS COMO É QUE A GENTE VOA QUANDO COMEÇA A PENSAR? “

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3 - JORNADA NAS LEMBRANÇAS – Taikonautas da Alma: respondendo a indagação contida na


canção de Lupicínio Rodrigues, - ao PENSAR, regressamos em nossa Linha da Memória (dentro
do cérebro) e voamos em nosso Universo Pessoal – construído com as lembranças da nossa
vida.

No entanto, por subestimar a Vastidão Interior do Nosso Cérebro, temos a falsa sensação de
que, AO PENSAR, ‘voamos’ para fora do nosso cérebro, – ou para fora de nós mesmos.

Na realidade, como podemos ver na ilustração abaixo, toda essa Odisseia Encantada do
PENSAMENTO é perpetrada nas profundezas do nosso cérebro...

O PENSADOR
RODIN DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO
(COSMONAUTAS DO ESPAÇO INTERIOR)
Challenger de Neurônios do *Major Tom

(CADA CABEÇA, UM UNIVERSO)


(WHERE IS MY MIND? – PIXIES)

À STEPHEN HAWKING
(1942 – 2018)

“Eu poderia viver recluso numa casca de noz (ou numa cadeira de rodas)
e me considerar rei do espaço (interior) infinito.”
´´HAMLET ``

*Citação de Shakespeare extraída do livro de Hawking (cap 3): “O UNIVERSO NUMA CASCA DE NOZ.”

“Não há prazer mais complexo que o do pensamento”


Jorge Luis Borges
*Major Tom - Space Oddity – David Bowie

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4 - PENSAMOS E IMAGINAMOS - no cérebro: como já foi dito, PENSAMOS sobre as
lembranças da nossa vida, - contidas dentro do cérebro. No entanto...

PERDIDOS NO ESPAÇO - INTERIOR


(lost in Space – 1965/68 )

No entanto, por subestimar a Imensidão Infinita do nosso CÉREBRO, criamos a ilusão de que,
ao PENSAR, singramos o espaço exterior e – rumo ao infinito e além – navegamos por mares
nunca antes navegados.

Na realidade, ao PENSAR (ou imaginar) perpetramos uma Fabulosa Jornada nas entranhas do
próprio CÉREBRO. No trecho a seguir, Machado de Assis narra uma Viagem Encantada pelo
interior do cérebro do nosso atormentado mas deveras imaginativo Rubião...

RUBIÃO DAR ASAS À IMAGINAÇÃO


Em REALIDADE (fora do seu cérebro) Rubião é um tolo; em IMAGINAÇÃO (dentro do seu cérebro) Rubião é um rei

“Rubião estava em uma longa cadeira de extensão, ermo do espírito (tragado por sua
imaginação), que rompera o teto e se perdera no ar (numa odisseia pelas entranhas do próprio
cérebro). A quantas léguas iria? Nem condor nem águia o poderia precisar. Em marcha para a
Lua, - não via cá em baixo mais que felicidades perenes, chovidas sobre ele, desde o berço,
onde o embalaram fadas, até à Praia de Botafogo, aonde elas o trouxeram, por um chão de
rosas e bogaris. Nenhum revés, nenhum malogro, nenhuma pobreza; - vida plácida, cosida de
gozo, com rendas de supérfluo. Em marcha para a Lua (viajando em sua Linha da Memória –
dentro do cérebro). (...). Ficando só, Rubião atirou-se a uma poltrona, e viu passar muitas
coisas suntuosas. Estava em Biarritz ou Compiègne. (...). Governou um grande Estado, ouviu
ministros e embaixadores, dançou, jantou, - e assim outras ações narradas em
correspondências de jornais (e livros*) que ele lera e lhe ficaram de MEMÓRIA (que ele lera e
lhe ficaram gravados no cérebro). (...). Sentia-se então imperador dos franceses, incógnito, de
passeio. (...). Napoleão, não; chama-me Luís (Napoleão III). Sou o teu Luís, Sofia; não é
verdade, galante criatura? Ai, se tu soubesses o gosto que me dás quando te ouço essas duas
palavras: Meu Luís! – E tu és a minha Sofia, - a doce Sofia da minha alma. (...). Far-te-ei
duquesa. Ouviste?”

* “tantas frases compôs e ruminou, que acabou por “escrever” todos os livros que lera”.
QUINCAS BORBA
Machado de Assis
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O ENGENHOSO FIDALGO DA CABEÇA ERRANTE

5 – O Cérebro Encantado do Cavaleiro da Triste Figura: com a sua imaginação ilimitada, o


mais lúcido dos aventureiros lunáticos idealiza suas fabulosas odisseias mentais...

Destemido, Dom Alonso Quijano enfrenta seus Moinhos de Vento: mais de 30 desaforados
gigantes que, embora “reais”, só existem em seu CÉREBRO...

“Enfim, ele se embrenhou tanto na leitura que passava as noites lendo até clarear e os dias até
escurecer; e assim, por dormir pouco e LER muito, secou-lhe o cérebro (pelo contrário, encheu-
lhe o CÉREBRO com as fabulosas aventuras dos Romances de Cavalaria – ou dos HQ e filmes
dos Vingadores dos dias atuais), de maneira que veio a perder o juízo (ou melhor, adquiriu
talento e inventividade). Sua imaginação (cérebro) se encheu de tudo aquilo que lia nos livros,
tanto de encantamentos como de duelos, batalhas, desafios, ferimentos, galanteios, amores,
tempestades e disparates impossíveis; e se assentou de tal modo em sua mente (cérebro) que
todo aquele amontoado de invenções fantasiosas parecia verdadeiro: para ele não havia
história mais real no (seu) mundo (cérebro).”
DOM QUIXOTE
Miguel de Cervantes

Dom Quixote
Um triste doido-de-pedra? Será mesmo?

Pois saibam que Guillermo del Toro, James Cameron, George Lucas, Spielberg, Ridley Scott,
Tim Burton, Peter Jackson, Christopher Nolan, Irmãs Wachowski, Denis Villeneuve, Tarantino,
David Lynch, - entre muitos, também são acometidos por surtos de Alucinações Visuais
(idealizadas - voluntária ou involuntariamente – no cérebro). A diferença é que estes as
transformam em filmes: O Labirinto do Fauno, Avatar, StarWars, Indiana Jones, Blade Runner,
Edward Mãos de Tesoura, Braindead, A Origem, Matrix, Duna, alguns, todos, etc. A Propósito,
Dulcineia de Toboso não fica nada a dever a Jessica Rabbit, de Robert Zemeckis.
“As horas que sou feliz é quando estou residindo nos meus castelos imaginários”.
(construídos na imensidão do cérebro)
QUARTO DE DESPEJO
Carolina Maria de Jesus

Palavras – IMAGINAÇÃO – Imagens


“As palavras não são nada. Deviam ser eliminadas (diz o Poeta – pai das gêmeas, Halldora e
Sigridur). Nada do que possamos dizer alude ao que no mundo é. Com 32 letras num alfabeto
não criamos mais do que objetos equivalentes entre si, todos irmanados na sua ilusão. As
letras da palavra cavalo não galopam, nem as do fogo bruxuleiam. E que importa como se diz
cavalo ou fogo se não se autonomizam do abecedário.
A DESUMANIZAÇÃO
Valter Hugo Mãe

...Mas, - ao contrário do que diz o Poeta - A IMAGINAÇÃO transforma as palavras em IMAGENS


EM NOSSO CÉREBRO

“Claro – respondeu o tio Tito. – Vocês (Juanito e Catalina – que liam o livro juntos) estavam
empolgados e queriam ver esse momento. Quando você LÊ, nunca enxerga as LETRAS, e sim as
coisas (imagens) sobre as quais as letras falam: um bosque, uma casa com cara de biblioteca,
uma farmácia. Os livros funcionam como espelhos e janelas: estão cheios de IMAGENS.
O LIVRO SELVAGEM
Juan Villoro

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UNIVERSO INTERIOR

6 - UNIVERSO infinito; CÉREBRO abissal: na citação abaixo, o astrônomo real inglês Martin
Rees, tenta dimensionar a espantosa imensidão do UNIVERSO. No entanto, poderia muito bem
estar a falar da espantosa imensidão do nosso CÉREBRO.

MARTIN REES
- trecho de Breve História de Quase Tudo – Bill Bryson -
“O Universo Visível – o ‘pequeno universo’ que conhecemos e do qual podemos falar – tem 1.6
milhão de milhões de milhões de milhões de quilômetros de diâmetro. Mas o universo geral – o
meta universo – (assim como o nosso cérebro) é ainda mais espaçoso: há mais espaço do que
você pode imaginar, mesmo sem se dar ao trabalho de tentar imaginar algum espaço adicional
além.”

Observe a Ilustração
Você tem todo o universo – e no qual você pode até voar – contido no espaço mínimo de uma
única lembrança, – dentro da sua cabeça.

INFINITO EXTERIOR = INTERIOR INFINITO


Starman = Memoryman

Bowie, o saudoso Homem das Estrelas, era também o Homem das Lembranças
Assim como o UNIVERSO contém todas as estrelas, nosso CÉREBRO contém todas as lembranças
“O Universo é um lugar muito grande; talvez o maior de todos”.
- ASSIM COMO O NOSSO CÉREBRO -

UM ESTRANHO EM GOA – JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

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No capítulo a seguir, veremos como evolução da MEMÓRIA (a aptidão para preencher o


cérebro com as lembranças da nossa vida: Infância, juventude, maturidade) determinou a
origem das EMOÇÕES HUMANAS – ou a gênese do

HOMO SENTIMENTALIS

“Existem sentimentos demais para poucas definições e palavras”


Milan Kundera

CAPÍTULO

XIX
SUPREMACIA HUMANA
HUMANO é todo ser vivo capaz de exteriorizar EMOÇÕES
PORTANTO, TODOS NÓS, BÍPEDES, DE TODAS AS CORES E FORMAS,

SOMOS TODOS HUMANOS

“Dora teve uma sensação estranha, um misto de dor e formigamento sob o esterno, agravados
por salvas de palpitações, que iam e vinham. Provavelmente experiências como essa foram
responsáveis pela consagração da ideia de que no coração estão guardados os sentimentos.
Mas como ela bem sabe (lembra das aulas na Faculdade – Dora é enfermeira), o coração é
uma bomba automática, propulsora de sangue, e nada mais. (...).”
GAMELEIRA-BRANCA
Sofia Aroeira

CÉREBRO
A FANTÁSTICA FÁBRICA DE EMOÇÕES

LEMBRO, LOGO ME EMOCIONO


- A Invenção do Humano -

Ao preencher o CÉREBRO (Linha da Memória) com as lembranças da nossa vida (infância,


juventude, maturidade), nos tornamos HUMANOS – demasiado humano, dizem.
Para demonstrá-lo, siga as instruções abaixo:

a - Regresse em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e busque a LEMBRANÇA de um


episódio significativo da sua vida...

b – Encontrou? Sim. Então agora descreva qual o sentimento que esta lembrança em seu
cérebro somatiza em seu corpo: saudade, trauma, aversão, afeição, frustração, orgulho,
tristeza, alegria, culpa, resignação...
EM NOSSO CÉREBRO
Cada lembrança da nossa vida - somatiza uma determinada emoção

LEMBRANÇAS pessoais – contidas em nosso CÉREBRO

EXPLICAM A ETIOLOGIA DOS SENTIMENTOS EXCLUSIVAMENTE HUMANOS.

NOVE ESTÓRIAS
- J. D. SALINGER -

O trecho abaixo faz parte do conto “Teddy”. - Alias, Theodore McArdle, de 10 anos, uma
espécie de dalai-lama mirim. O trecho aborda a exteriorização de emoções
como demonstração de humanidade:

“ -- Eu queria saber por que as pessoas acham tão importante ser emotivo”, disse Teddy. “A
minha mãe e o meu pai não acham que uma pessoa é humana a não ser que ela ache um
monte de coisas bem tristes, ou bem irritantes, ou bem – bem injustas, por assim dizer. O meu
pai fica bem emotivo quando lê o jornal. Ele acha que eu sou desumano”.

-- Nicholson (com seus 30 anos, e admirador do guru-mirim) bateu a cinza do cigarro. “E devo
supor que você não expressa emoções”, ele disse.
-- Teddy refletiu antes de responder. “Se tenho, eu não lembro de ter usado”, ele disse. “Eu não
vejo utilidade nas emoções.”

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Veja a seguir um resumo identificando as nossas principais EMOÇÕES, e a explicação


correspondente – que serão feitas, é claro, através de citações literárias.

ÍNDICE
A. LEMBRO obsessivamente do objeto da afeição, logo sinto AMOR......................pág. 225
B. LEMBRO obsessivamente do objeto da aversão, logo sinto ÓDIO.......................pág. 227
C. LEMBRO da perda, logo SOFRO............................................................................pág. 229
D. LEMBRO da ausência, logo sinto SAUDADE..........................................................pág. 236
E. LEMBRO do abuso físico e psicológico, logo sinto TRAUMA de INFÂNCIA............pág. 239
F. LEMBRO imprudência cometida, logo sinto o peso da CULPA..............................pág. 241
G. LEMBRO da infâmia sofrida, logo anseio por VINGANÇA.....................................pág. 243
H. LEMBRO do objeto do prazer, logo o DESEJO......................................................pág. 246
I. LEMBRO da guerra, logo sinto Estresse Pós-Traumático......................................pág. 247
J. LEMBRO das condições indignas em que vivemos, logo sinto REVOLTA...............pág. 251
K. LEMBRO das minhas limitações, logo sinto INVEJA do talento alheio..................pág. 252
L. LEMBRO e reconheço o benefício recebido, logo sinto GRATIDÃO......................pág. 253
M. LEMBRO do erro cometido, logo sinto o peso do ARREPENDIMENTO................pág. 255
N. Somos todos HUMANOS – pois compartilhamos as mesmas EMOÇÕES.............pág. 257
O. O Pináculo da Criação?.........................................................................................pag. 258

P. Escolhidos e Excluídos...........................................................................................pag. 259

“SÃO MUITAS LEMBRANÇAS, logo SÃO MUITAS EMOÇÕES!”


COMO DIRIA O REI
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AMOR & ÓDIO


- duas paixões -
Aparentemente antagônicos, tamanha e a semelhança (psicológica) entre ambos que somos
obrigados a explicá-los conjuntamente. A propósito, assim como no AMOR,
também há ÓDIO não correspondido.

A – LEMBRO obsessivamente do objeto da afeição, logo sinto amor;


(que é Eterno Enquanto Dura – como disse o poeta)

B – LEMBRO obsessivamente do objeto da aversão, logo sinto ódio;


(que é Eterno Enquanto Dura – como talvez dissesse o poeta)

AMOR e o ÓDIO, como vimos acima, não passam de uma sequela (reação psicossomática) de
uma LEMBRANÇA que permanece fixa, obsessivamente fixa em nosso CÉREBRO. Para
exemplificar, utilizarei trechos de 2 livros de Gabriel Garcia Marquez:

Do Amor e Outros Demônios – Cem Anos de Solidão

item A
O PADRE CAYETANO LEMBRA OBSESSIVAMENTE DE SIERVA MARIA

- o objeto de sua paixão –

“O padre Cayetano Delaura ficou de olhos fechados para pensar melhor nela (para lembrar
melhor dela) enquanto rezava. Retirou-se para biblioteca mais cedo que de costume, pensando
nela (lembrando dela) e quanto mais pensava nela (quanto mais lembrava dela), mais
aumentava suas ânsias de pensar (ânsias de lembrar dela). (...) E sem dar tempo ao pânico, o
padre libertou-se da matéria turva (limites religiosos) que o impedia de viver. Confessou que
não passava um instante sem pensar nela (sem lembrar dela), que tudo que comia e bebia
tinha o gosto dela (tudo que comia e bebia o fazia lembrar dela), que a vida era ela, a toda
hora e em toda parte (a lembrança de Sierva Maria inunda seu cérebro), como só Deus tinha o
direito e o poder de ser (impotente ao perceber a lembrança de Sierva Maria sobrepondo-se à
lembrança do seu deus), e que o gozo supremo do seu coração (do seu cérebro) seria morrer
com ela (com a lembrança dela – em seu cérebro – para todo o sempre!). (...)”

EXPLICAÇÃO

PENSAMOS em nossas lembranças: como já foi explicado, pensar é normalmente empregado


como sinônimo de lembrar. Portanto, o Pe Cayetano pode afirmar:

PENSO obsessivamente em Sierva Maria, logo estou loucamente apaixonado;

ou...

LEMBRO obsessivamente de Sierva Maria, logo estou perdidamente apaixonado.

“Então o Sr. Euclides disse: Eu não tenho ninguém que gosta de mim... Eu sou aleijado.
Eu gosto muito da senhora, D. Carolina. A senhora (sua lembrança)
tá dentro da minha cabeça”.
Carolina Maria de Jesus
(Quarto de Despejo*)

*Em seu livro – autobiográfico – Carolina não deixa claro se cedeu aos encantos do seu Euclides, mas para mim esta é a
Declaração de Amor mais simples e bela que já li.

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item B
AMARANTA LEMBRA OBSESSIVAMENTE DE REBECA

- o objeto do seu rancor –

“A única que não tinha perdido por um só instante a consciência (a lembrança) de que Rebeca
estava viva, apodrecendo na sua sopa de larvas, era a implacável e envelhecida Amaranta.
Pensava nela (lembrava de Rebeca) ao amanhecer, quando o gelo do coração (gelo do cérebro)
a acordava na sua cama solitária, e pensava nela (lembrava de Rebeca) quando ensaboava os
seus seios murchos e o ventre macilento, e quando vestia as brancas anáguas e camisetas de
cambraia da velhice, e quando trocava na *mão a venda negra da terrível expiação
(*queimou-a propositalmente). Sempre, a toda hora, adormecida ou acordada, nos momentos
mais sublimes e nos mais abjetos, Amaranta pensava em Rebeca (Amaranta lembrava de
Rebeca), porque a sua solidão havia selecionado (no cérebro) as LEMBRANÇAS, - e incinerado
as entorpecentes montanhas de lixo nostálgico (lembranças nostálgicas) que a vida acumulara
no seu coração (no seu cérebro) e havia purificado, magnificado e eternizado as outras
(lembranças), as mais amargas. Por ela é que a sua sobrinha (Remédios, a Bela) sabia da
existência de Rebeca. Cada vez que passavam pela casa decrépita (de Rebeca), contava-lhe (à
sobrinha) um incidente ingrato, uma fábula de opróbrio (sobre Rebeca), tentando desta forma
fazer com que o seu extenuante rancor (por Rebeca) fosse partilhado pela sobrinha e, por
conseguinte, prolongada além da sua morte. (...) Ninguém se deu conta de que Amaranta
tecera naquela época uma linda mortalha para Rebeca. (...) Elaborou o plano com tanto ÓDIO
que estremeceu com a ideia de que agiria da mesma maneira se fosse por AMOR. (...)”

EXPLICAÇÂO

PENSAMOS em nossas lembranças: como já foi explicado, pensar é naturalmente empregado


como sinônimo de lembrar. Portanto, AMARANTA pode afirmar:

PENSO obsessivamente em Rebeca, logo sinto ódio;

ou...

LEMBRO obsessivamente de Rebeca, logo sinto ódio.

OBS: qual a razão do ÓDIO de Amaranta pela sua irmã adotiva, Rebeca? Seria INVEJA? Rebeca era mais
atraente. Ou seria CIÚME? Pois ambas, aparentemente, se apaixonaram (?) pelo garboso Pietro Crespi.
Ou seria simplesmente AMOR? – uma paixão velada, que, por ser velada, transformou-se em ódio? Não
faço a mínima ideia.

“Ele, então, me mostrou as telas... estava empolgado, orgulhoso; eu implorei pra ele tirar
aquele ódio (do pai) da alma (apagar/aceitar as lembranças do pai – que estavam gravadas
em seu cérebro como desenhos rupestres). Disse que não ia tirar o que sobrara da
vida... as MEMÓRIAS, ele disse. Depois saiu sem avisar. Fugiu...”.
Milton Hatoum
(Cinzas do Norte)

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Duas Observações Sobre o Amor e o Ódio

I – Do Amor e do Ódio – em um só cérebro : no trecho a seguir, fica bem claro que, tamanha é
a semelhança entre ambos os sentimentos que corre-se um sério risco de confundi-los no
cérebro:

“Veja, por exemplo, que quando você AMA alguém ou ODEIA alguém, em ambos os casos, você
está a todo instante (com o CÉREBRO ocupado: lembrando do ser amado ou odiado) ansioso
por saber onde ele está, com quem está, se está ou não está bem, o que está fazendo, no que
está pensando, quais são seus temores. O coração (cérebro) é falso como ninguém, ele é
incorrigível; quem poderá conhece-lo? Assim falou o profeta Jeremias.”
JUDAS
Amos Oz

II - O Cérebro Tem Razões Que a Própria Razão Desconhece: como foi explicado, amamos e
odiamos no CÉREBRO. O coração – desculpem-me os poetas e românticos em geral –, o
coração é apenas um músculo, motor central da circulação do sangue.

A única semelhança entre ambos é que assim como podemos sofrer e morrer do coração,
também pode-se sofrer e morrer por amor, - ou por ódio.

“Não pode existir um coração (cérebro) para odiar e outro para amar.
O ser humano só tem um”.
Tamara Stiepánovna Umniáguina - A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER – Svetlana Aleksievitch

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item C
“Existe algo mais forte do que a morte: a lembrança dos ausentes na memória dos vivos.”
Água Fresca Para as Flores
Valérie Perrin

AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM A ORIGEM

DO SOFRIMENTO (DOR PSIQUICA) E DO RITUAL DO LUTO

“E se entretanto mudaram as modas, se o luto, de branco, passou a ser negro,


as lágrimas, quando sentidas, são as mesmas.”
José Saramago
O Evangelho Segundo Jesus Cristo

a - LEMBRO da perda (entes queridos), logo SOFRO: como já foi dito, a evolução da
MEMÓRIA (a aptidão para preencher o cérebro com as lembranças da nossa vida) determinou
a origem da angústia...

“Gone with the Wind”

... E TUDO SE VAI COM O VENTO; SÓ AS LEMBRANÇAS PERMANECEM


- em nosso cérebro -

“A morte é um exagero. Leva demasiado. Deixa muito pouco.”


(deixa apenas lembranças)
A Desumanização
Valter Hugo Mãe
b – Cérebros Enlutados: entes queridos, animais de estimação, bens matérias, a juventude,
enfim, tudo se perde no decorrer da nossa existência. No entanto, as lembranças de tudo que
já FOI um dia, permanecem SENDO - em nosso cérebro.

“A vida é apenas uma longa perda de tudo que amamos”


Água Fresca Para as Flores
Valérie Perrin

RÉQUIEM
- O luto eterno de uma mente com lembranças –

c – Carregamos na CABEÇA uma Necrópole de Lembranças: como podemos constatá-lo pelo


comovente pranto do patriarca dos Buendía...

“Nessa noite Pietro Crespi o encontrou (José Arcadio Buendía) no corredor, chorando o
chorinho sem graça dos velhos, chorando por Prudencio Aguilar, por Melquíades,
pelos pais de Rebeca, por seu pai e sua mãe, por todos os que podia LEMBRAR
e que então estavam sozinhos na morte”.

CÉREBRO é o jazigo onde reluz e vivem as lembranças dos MORTOS

“Como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis, transformadas


agora em memórias (em nosso cérebro) iguais a pequenos paraísos-perdidos.”
Caio Fernando de Abreu
A Última Lembrança de Sierva María
(NO CÉREBRO DO MARQUÊS)

“A porteira (do Convento Santa Clara) se inclinou à razão. Tomou Sierva María pela mão, sem
lhe dar tempo para uma despedida, e a passou pela porta da roda. Como o tornozelo lhe doía
ao caminhar, a menina tirou o chinelo esquerdo. O marquês a viu afastar-se coxeando do pé
descalço e com o chinelo na mão. Esperou em vão que num raro instante de compaixão a filha
se voltasse para olhá-lo. A última lembrança que lhe ficou (no cérebro) foi o da menina
acabando de atravessar a galeria do jardim, arrastando o pé ferido, até desaparecer no
pavilhão das Enterradas Vivas. (...).”
DO AMOR E OUTROS DEMÔNIOS
Gabriel García Marquez

A Última Lembrança de May das Dores do Mundo


(NO CÉREBRO DE LILY)

“Ficamos vendo-a descer os degraus da varanda e passar pelas árvores (rumo ao seu Muro de
Lamentações: “estou cansada de carregar o peso do mundo”). Há coisas na vida que a gente
não consegue esquecer, por mais que tente, e aquela cena (aquela lembrança de May – a
última) foi uma delas. May passando pelas árvores com o facho de luz iluminando seu caminho
e depois sendo tragada pela escuridão. (...).

Fechei os olhos e suas melhores imagens (melhores lembranças) vieram à minha cabeça. Vi as
trancinhas dela brilhando no esguicho (vemos nossas lembranças – dentro do cérebro), vi seus
dedos arrumando as migalhas de bolachas, trabalhando com afinco para salvar a vida de uma
única barata. Vi o chapéu que ela usou no dia em que dançou conga com as Filhas de Maria.
Mas vi principalmente a luz de amor e angústia que aparecia tantas vezes no seu rosto. No
final, essa luz acabou queimando-a. (...).”

Todas as Dores do Mundo


A TRISTEZA DOS OUTROS

“É uma longa história, Lily. Eu acho que você notou... que May é (era) especial.” – “Ela se
perturba com facilidade,” eu disse. - “É porque May sente as coisas de forma diferente de nós.”
- August falou, pondo a mão no meu braço. - “Lily, quando você e eu ouvimos falar de uma
desgraça, ficamos tristes por algum tempo, mas não nos desesperamos. É como se tivéssemos
um muro de proteção em volta do coração (em volta do cérebro) para a tristeza (as
lembranças das perdas) não tomar conta de nós. Mas May não tem isso. Tudo entra nela, todo
o sofrimento que existe lá fora (se infiltra por uma fenda no muro de seu cérebro), e faz com
que sinta como se essas coisas estivessem acontecendo com ela. Não consegue ver a diferença.
(...).”

Marcas do que se foi: Lembranças

“O fazendeiro (negro) ligou o rádio e a voz das Suplemes invadiu a cabine da caminhonete com
“Baby, baby, where did our love go?”. Não há nada como uma música sobre o amor perdido
para nos lembrar que todas as coisas preciosas podem desaparecer com facilidade de
onde foram postos com tanto cuidado.”
A VIDA SECRETA DAS ABELHAS
Sue Monk Kidd

“Quando choramos nossas perdas, ficamos tão transtornados, que a gente chora, para o bem
ou para o mal, também por nós mesmos. Choramos pelo que nós éramos. Choramos pelo que
não somos mais. Choramos pelo que um dia não seremos de modo algum.”

O ANO DO PENSAMENTO MÁGICO


*Joan Didion

d - JOAN DIDION* (1934 – 2021): escritora, jornalista e ensaísta americana; a autora do livro
acima citado, foi casada com o também escritor John Dunne, entre 1964 e 2003. - E perdeu
sua filha, Quintana (1966 – 2005), logo após a publicação do mesmo livro. Isto significa que...

I - SEU MARIDO, John, não mais existe. Mas as lembranças compartilhadas com ele (39 anos
de recordações), permaneceram “vivas” em seu cérebro.

II - SUA FILHA, Quintana, não mais existe. Mas as lembranças compartilhadas com ela (39 anos
de recordações), permaneceram “vivas” em seu cérebro.

“O Sol já se foi; agora só nos resta (no cérebro) as memórias daquela luz.”
Naruto Uzumaki

“Mais ainda assim, por muito talento dialéctico que se deite na panela, será difícil de
sustentar que a recordação de um morto (em nosso cérebro) possa ser a
razão para que um vivo decida continuar vivo”
A CAVERNA
José Saramago

e – A Aceitação: se pudéssemos apagar (do cérebro) as lembranças das nossas perdas,


findaria o sofrimento. Mas, lamentavelmente, as LEMBRANÇAS são indeléveis, não podemos
apagá-las do cérebro.

Assim sendo, só nos resta aceitar a dor da perda como algo natural, - aos BÍPEDES. Pois o
sofrimento é inerente a toda forma de vida que foi capaz de evoluir a MEMÓRIA.

“Sei também que, se a gente vai continuar vivo, chega uma hora em que a gente tem que
abandonar os mortos (acolher e aceitar viver com suas lembranças – no cérebro),
deixa-los ir, mantê-los mortos.”
O ANO DO PENSAMENTO MÁGICO
Joan Didion

“Vão para o paraíso as pessoas de quem os outros sentem falta. Paraíso é o


espaço que ocupamos (como uma saudosa lembrança) no coração (cérebro) dos outros”.
TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO
José Eduardo Agualusa

f – PARTE 1 – A Terra dos Mortos: trecho retirado do livro Vozes de Tchernóbil, de Svetlana
Aleksiévitch.

“Vou ao cemitério. A minha mãe está lá. A minha filhinha pequena... O tifo a consumiu
durante a guerra. (...). Também o meu marido está lá. Fídia. Eu me sento perto de todos eles.
Suspiro. E até posso falar com eles, tanto com os vivos quanto com os mortos (pois as
lembranças dos nossos mortos permanecem vivas – em nosso cérebro). Para mim não há
diferença. Ouço tanto uns quanto os outros. Quando você está só... E quando está triste. Muito
triste... (...).”
Zinaída Levdokímovna Kovaliénka
(residente da zona proibida)

“A palavra que usara ? Plantar. Diz-se assim na língua de Luar-do-Chão. Não é enterrar o
defunto. É plantar o defunto. – Disse avó Dulcineusa. – Porque o morto é coisa viva. “
UM RIO CHAMADO TEMPO; UMA CASA CHAMADA TERRA
Mia Couto

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CÉREBROS ENTORPECIDOS

- como não se pode apagar as lembranças do cérebro, escolhemos, às vezes, narcotizá-las -

g – CÉREBRO ADICTO – Memória Dissociada: bebidas alcoólicas e drogas (legais ou ilegais)


realmente “funcionam”, e servem para – ao entorpecer o nosso cérebro – neutralizar
temporariamente o peso das nossas LEMBRANÇAS. Na prática isso ocorre da seguinte forma:

Não LMBRO das minhas perdas, logo não sofro;

Não LEMBRO dos meus fracassos, logo não sinto frustração;

Não LEMBRO dos meus erros, logo não sinto arrependimento;

Não LEMBRO dos abusos sofridos na infância, logo não sinto o peso do trauma;

Não LEMBRO do meu passado, logo não sei quem SOU - Dissociação de Personalidade;

Não LEMBRO da dura realidade ao meu redor, logo sou livre e feliz - Dissociação da Realidade;

No entanto, no dia seguinte, o efeito extasiante passa, e você percebe que as duras
LEMBRANÇAS (das perdas, traumas, erros e fracassos, etc.) permanecem todas lá, vivas e
pulsantes - em seu CÉREBRO. A única solução, infelizmente, é continuar alcoolizado ou
drogado.

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h – Fugindo de SI mesmo: trecho abaixo foi retirado do elogiado livro-reportagem CHASING


THE SCREAM – A História do Fracasso no Combate às Drogas, de Johann Hari...
“Depois de algum tempo, começou a perceber os padrões da mente das pessoas (adictos ...).
Lembrei-me dos dependentes que aparecem no livro (Billie Holiday, entre outros). O que todos
têm em comum? (lembranças de episódios traumáticos – em seu cérebro) Infâncias horríveis,
marcadas por violência, abuso sexual ou pela duas coisas. (...). Então pensei: e se esse
dependente crônico já não estavam perturbados antes de descobrirem as drogas? E se ficasse
provado que as drogas não eram o terremoto, mas os tremores secundários (das lembranças)
de suas vidas?

“Dissociação”, explica ele. “Você tira sua consciência do que está acontecendo à sua volta” (as
lembranças de sua excruciante realidade presente). – E se vê livre de suas terríveis lembranças
(do seu doloroso passado).

“A realidade é dolorosa e imperfeita -, dizia minha mãe: - a realidade fere,


mesmo quando , por instantes, nos parece sonho.”
O VENDEDOR DE PASSADOS
José Eduardo Agualusa

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item D
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM A ORIGEM DA

SAUDADE

“Sentimento nostálgico e melancólico associado à recordação de pessoa,


situação ou coisa ausente, distante ou extinta”.
Dicionário Michaelis On-line

AMARCORD
(Io Mi Ricordo – Federico Fellini - 1973)

LEMBRO da minha infância, logo sinto SAUDADE

Federico Fellini NÃO regressou na inexistente Linha do Tempo para relembrar sua infância, - o
TEMPO não existe. Na realidade, ele regressou em sua Linha da Memória (dentro do cérebro)
para RELEMBRAR dos episódios que marcaram a aurora da sua vida; - e assim, elaborou o seu
filme magistral. Acompanhe abaixo 7 citações que abordam este sentimento...

I - Os Meus Oito Anos


(Casimiro de Abreu)

“Oh! Que saudades que eu tenho; Da aurora da minha vida; Da minha infância querida; Que os
anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores. Naquelas tardes fagueiras; À sombra
das bananeiras; Debaixo dos laranjais! Como são belos os dias do despontar da existência!
(...).”

II - Caruaru do Meu Tempo de Menino


(Azulão)

Caruaru, do meu Bom Jesus do Monte; Pra quem vive tão distante por conta do destino; Ai
Caruaru, do meu tempo de menino; Ainda me lembro das festanças da Matriz; Das noitadas de
retreta e do velho chafariz; Dos roletes de cana-caiana, cocada de coco e amendoim; Da
burrica, das bolas de gude; Dos banhos de açude que não saem de mim (não saem do cérebro,
- as lembranças apenas se distanciaram em nossa Linha da Memória)”.

III - Chega de Saudade


(Tom – Vinicius)
“Vai, minha tristeza; E diz a ela que sem ela não pode ser; Diz-lhe numa prece; Que ela
regresse; Porque eu não posso mais sofrer; Chega de saudade; A realidade é que sem ela; Não
há paz, não há beleza; É só tristeza e a melancolia; Que não sai de mim, não sai de mim, não
sai (mesmo distante, a lembrança do objeto da afeição não sai do cérebro do poeta); (...)

IV – Gostava Tanto de Você


(Tim Maia)

“Não sei por que você se foi; Quantas saudades eu senti; E de tristezas vou viver; E aquele
adeus não pude dar; Você marcou na minha vida; Viveu, morreu na minha história (as
lembranças dela faz parte da história da vida do poeta); Chego a ter medo do futuro; E da
solidão que em minha porta bate; E eu... Gostava tanto de você... (...).”

V – Cheiro da Saudade
(Alceu Valença)

“Quando te lembras do cheiro da minha carne; Cheiro de mares, cheiro de bares, do Bar do
Trevo; E tuas ventas (cérebro) sentem o cheiro da saudade; Quintais, pomares, cheiro do
cravo, dos meus cabelos; Te dá vontade de beijar a minha boca; E ficas louca, como quem
arde; Tu não te lembras que o meu cheiro acelera o coração? É feito lança, é flor-de-cheiro, É
como brilho da paixão! Ô morena do coração de rubi; Tu não tens pena; Morena, pena de ti ?”

OBS: presume o poeta que o CHEIRO da sua carne, dos mares, bares, quintais, pomares, cravos e dos
seus cabelos – no cérebro da Morena – a faz LEMBRAR dele, e sentir saudade.

VI – Sentado à Beira do Caminho


(Roberto & Erasmo)

“Meu olhar se perde na poeira; Dessa estrada triste; Onde a tristeza e a saudade de você;
Ainda existem; Esse sol que queima no meu rosto; Um resto de esperança; De ao menos ver de
perto o seu olhar, Que eu trago na lembrança (o poeta segue seu caminho pela estrada triste,
mas traz – em seu cérebro – a lembrança do alhar da sua musa); Preciso acabar logo com
isso...
VII – Era Domingo
(ReIginaldo Rossi)

“Essa história se passou; Quando eu deixei o meu grande amor; Naquela estação sorrindo; Um
dia lindo; Era domingo; E lá se foi meu grande amor; Olha o trem nem me avisou; Partiu
levando num vagão; Meu grande amor, meu coração; E eu a deixei ali sorrindo; E aqui fiquei
me consumindo; E se você já teve um amor; Que um certo dia lhe deixou; Deve sentir no
coração (sentir no cérebro – cujas lembranças da amada, além da saudade, também
expressam...); A mesma mágoa e a mesma dor; Do autor que fez essa canção.”

”Mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das memórias antigas.”


- DENTRO DO CÉREBRO -
Dom Casmurro

RIOBALDO SENTE SAUDADE

“A gente se encontrava no faio, escutava o orvalho, a mata cheio de cheiroso, estalinhos de


estrelas, o deduzir dos grilos e a cavalhada a peso. Dava o raiar, entreluz da aurora, quando o
céu branquece. Ao o ar indo ficando cinzento, o formar daqueles cavaleiros, escorrido, se
divisava. E o senhor me desculpe, de estar retresando em tantas minudências (detalhando suas
lembranças nostálgicas). Mas até hoje eu represento em meus olhos (“vejo as lembranças – em
meu cérebro”) aquela hora, tudo tão bom; e, o que é, é SAUDADE. (...). Vinham quebrando
barras. Dia de maio, com orvalho, eu disse. LEMBRANÇA da gente é assim...”
GRANDE SERTÃO – VEREDAS
Guimarães Rosa

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item E
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM O

TRAUMA DE INFÂNCIA – ABUSO INFANTIL


“Sobre Meninas e Lobos”
Clint Eastwood

LEMBRO do abuso sofrido na infância, logo sinto as sequelas do TRAUMA

As LEMBRANÇAS desse crime horrendo (que permanecerá no cérebro da vítima por toda a
vida) somatizam: vergonha, revolta, repúdio, nojo, insegurança, depressão, etc. Isto ocorre
porque as lembranças desse gênero de crime transformam-se em aterradoras feridas - no
cérebro da vítima.

“A vida (nosso passado = as lembranças da nossa vida) nunca pode ser refeita.
Pegue uma folha de papel e a rasgue. Você pode colar todos os pedaços,
mas os rasgos, as dobras e a fita adesiva ainda vão estar lá.
Água Fresca Para as Flores
Valérie Perrin

DEPOIMENTO RETIRADO DO LIVRO - SEM PARAÍSO E SEM MAÇÃ


Bebel Soares

Suprimir alguns trechos do relato para tornar essa imundície humana mais suportável.
O homem é capaz de realizar os feitos mais sublimes e os atos mais repugnantes.

“AMANDA tinha uma infância feliz. (...). Tinha onze anos e corria pelos corredores brincando
com duas amigas. (...). Quando se separou delas encontrou o professor de (...), que pediu um
abraço. (...). Ela acreditou num carinho paternal, mas ele a levou para o banheiro e trancou a
porta. A inocência de uma criança roubada. Toda a maldade do mundo revelada.

(...) O medo era tanto que a paralisou. Não reagiu. (...). Durante quatro horas ela foi
violentada. – “Você nunca vai esquecer de mim”. – Dizia o algoz. – “E se contar para alguém,
farei coisas muitos piores com você”.

Teve laceração na vagina, ânus, canal vaginal e colo do útero. Foi para casa tentando esconder
a dor e as feridas. Sangrou e chorou sozinha. Decidiu que nunca contaria nada a ninguém.
Decidiu apagar aquele dia da sua vida. Não sabia que era impossível (pois as lembranças são
indeléveis – não podemos apagá-las do cérebro).

Mudou seu comportamento. Ficou rebelde, agressiva, impaciente, intolerante. Mas seus pais
nunca souberam o real motivo. (...). Nem sempre as crianças conseguem se expressar com
palavras. Nem sempre os adultos querem ou conseguem enxergar os sinais. Teve anorexia.
Teve bulimia. Teve depressão. Tentou tirar sua própria vida para ver se a dor passava. (...)

“O inominável existe, é esse o seu nome, nada mais.”


Ensaio Sobre a Cegueira
José saramago

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Todo o Passado que Não Podemos Mudar

“A única coisa que em mim não muda é o meu passado: a memória do meu passado humano.
O passado (as lembranças da nossa vida) costuma ser estável, está sempre lá,
belo ou terrível, e lá (em nosso cérebro) ficará para sempre”.
O VENDEDOR DE PASSADOS
José Eduardo Agualusa

Kirby Reflete Sobre suas Lembranças Traumáticas

“Nada é infinitamente redutível. É possível partir um átomo, mas não se pode transformá-lo
em NADA. As coisas (lembranças despedaçadas) permanecem (em nosso cérebro), agarram-se
a nós, mesmo quando estão partidas. Uma hora ou outra é preciso catar os cacos
(de estilhaços de lembranças espalhadas pelo cérebro).”

ILUMINADAS
Lauren Beukes

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Item F
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM O SENTIMENTO DE

CULPA

LEMBRO da imprudência dolosa, logo sinto o peso da CULPA

Este sentimento é abordado no trecho de

CEM ANOS DE SOLIDÃO


Gabriel Garcia Marquéz.

ÚRSULA IGUARÁN, jovem e recém casada, por ter sido responsável pelo conflito que levou seu
marido a matar Prudencio Aguilar, compartilha com José Arcadio Buendía um terrível
sentimento de CULPA...

“Numa noite em que não conseguia dormir, Úrsula saiu para beber água no quintal e VIU (em
seu cérebro) Prudencio Aguilar junto à tina. Estava lívido, com uma expressão muito triste,
tentando tapar com uma atadura de esparto o ferimento da garganta. Não lhe produziu medo,
mas pena. Voltou ao quarto para contar ao esposo que o tinha visto, mas ele não ligou. “Os
mortos não voltam”, disse. “O que acontece é que não aguentamos com PESO DA
CONSCIÊNCIA.

Duas noites depois, Úrsula tornou a VER (em seu cérebro) Prudencio Aguilar no banheiro,
lavando com a atadura de esparto o sangue coagulado do pescoço. Outra noite, VIU-O ( em seu
cérebro) passeando na chuva. José Arcadio Buendía, irritado com as alucinações (visuais) da
mulher, foi para o quintal armado com a lança. Ali estava o morto com a sua expressão triste.
– “Vá pro caralho! – gritou-lhe José Arcadio Buendía. – Cada vez que voltar, eu o mato de
novo!”. Prudencio Aguilar não foi embora , nem José Arcadio Buendía se atreveu a arremessar
a lança. (...).

Desde então não conseguiu mais dormir. Atormentava-o (as lembranças do morto – em seu
cérebro) a enorme desolação com que o morto o havia olhado da chuva, a profunda nostalgia
com que se lembrava dos vivos. “Deve estar sofrendo muito”, dizia Úrsula. “Vê-se que está
muito só”. (...). Numa noite em que o encontrou lavando as feridas no seu próprio quarto, José
Arcadio Buendía não pôde aguentar mais. – Está bem, Prudencio – disse-lhe. – Nós vamos
embora deste povoado para o mais longe possível e não voltaremos nunca mais. Agora vá,
fique sossegado”.
“Matar um homem é uma coisa terrível, Kid. Você retira dele tudo que ele foi (‘seu passado’), e
retira tudo que ele poderia ter sido (‘seu futuro’).”
William Munny – do Missouri
- Os Imperdoáveis – Clint Eastwood -

“Para ele o passado era uma doença, e as lembranças um castigo. Ele queria morrer no
esquecimento. Fugiu. Ele queria viver longe da culpa.”
ANTES DE NASCER O MUNDO
Mia Couto

Antes de encerrar este item, vamos recorrer à aparição do fantasma de Prudencio Aguilar, e
explicar as...

ALUCINAÇÕES VISUAIS
Realidade x Imaginação

EXPLICAÇÃO

A. Alucinação Visual 1: Dom Quixote podia avistar um inofensivo moinho de vento, mas
quando a imagem, enfim, chegava ao seu CÉREBRO (vemos no cérebro), - ele a interpretava
como sendo um monstro ameaçador.

B. Alucinação Visual 2: Úrsula (e o marido) podia avistar um inofensivo galo-de-briga, mas


quando a imagem, enfim, chegava ao seu CÉREBRO (vemos no cérebro), - ela a interpretava
como sendo o fantasma de Prudêncio Aguilar.

C. Alucinação Visual 3: temos a aptidão de VER a realidade (um moinho de vento - ou um galo-
de-briga, etc.). Mas também podemos distorcer a realidade quando a vemos em nosso
CÉREBRO.

D. Cérebro do Espanto – a Residência Hill: é por este motivo que a cabeça do homem
transformou-se no maior castelo malassombrado que já existiu – e tornou-se comuns: o
avistamento de OVNI, aparições de santas e visões do Jack Risonho.

E. A Verdade de Cada Um: como a REALIDADE (quando vista em nosso cérebro) tornou-se
subjetiva, mesmo numa alucinação coletiva cada um enxerga (em seus miolos) o fantasma
que merece.
F. Alucinações Sensoriais: as Alucinações Visuais são as mais comuns (aos bípedes, claro). Mas
também há ALUCINAÇÕES: auditivas, palatáveis, olfativas e táteis.

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item G
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM O SENTIMENTO DE

VINGANÇA

LEMBRO do ato infame, logo anseio voltar ao ‘Covil da Hiena’ e promover a VINGANÇA

Este sentimento é expressado no trecho de


Ensaio Sobre a Cegueira
José Saramago.

Após o estupro coletivo (em troca de comida), a mulher do médico decide voltar à Camarata
dos Malvados para, além da própria (repulsiva e ultrajante) violação que sofrera,
também VINGAR a morte da Cega das Insônias...

“Enquanto lentamente avançava pela estreita coxia, a mulher do médico observava os


movimentos daquele que não tardaria a matar, (...) devagar, ela aproximou-se, rodeou a cama
e foi colocar-se por trás dele, (...). -- A mão levantou lentamente a tesoura, as lâminas um
pouco separadas para penetrarem como dois punhais, -- Nesse momento, o último, o Chefe
dos Malvados pareceu dar por uma presença, mas o orgasmo retirara-o do mundo das
sensações comuns, privara-o de reflexos, -- Não chegarás a gozar, pensou a mulher do médico,
e fez descer violentamente o braço. “ (...).

-- Mataste um homem, espantou-se o primeiro cego,


-- Sim, o que mandava do outro lado, espetei-lhe uma tesoura na garganta,

-- Mataste para vingar-nos, para vingar as mulheres tinha de ser uma mulher, disse a rapariga
dos óculos escuros, e a vingança sendo justa, é coisa HUMANA, se a vítima não tiver um direito
sobre o carrasco, então não haverá justiça,

-- Nem HUMANIDADE, acrescentou a mulher do primeiro cego.”

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Boa de Espanto “Revenge”


“Boa de Espanto anuncia: - Se eu vir mil brancos, de entre mil brancos, eu saberei qual me feriu
um filho (Honra, um mestiço – um amargurado guerreiro de corpo ocupado). Seu rosto (a
lembrança do bárbaro – o algoz branco que a estuprou, quando então ainda era uma cunhatã)
parou agora diante dos meus olhos. Vejo (no cérebro) tão claramente quanto as evidências de
nosso terreiro. (...). O animal branco está diante de minha memória (cérebro) como uma coisa
de deitar a mão e agarrar. A mata abeira. A mata abeira o inimigo para a vingança digna dos
abaeté. Devíamos cantar, meu duplo (Altura Verde – seu marido). Devíamos cantar para
começar a fazer a alegria. (...). Começou a morte do branco. Ela prepara agora sua partida.
(...).

O guerreiro (Altura Verde) abraçou sua feminina (Boa de Espanto) e agradeceu. Ele respondeu:
o teu inimigo mais abeirou. Tua lembrança (do ato atroz) abeira o inimigo. Ele vai ser
encontrado pelo nosso povo e nosso povo vai matar. Quando tombar, o educaremos. Será
inteiro na alegria abaeté. Não haverá mais sofrimento.
AS DOENÇAS DO BRASIL
Valter Hugo Mãe

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Diadorim “Revenge”
“Mas Diadorim repuxou freio, e esbarrou; e, com os olhos limpos, limpos, ele me olhou muito
contemplado. Vagaroso, que dizendo: -- “Riobaldo, hoje-em-dia eu nem sei o que sei, e, o que
soubesse, deixei de saber o que sabia...” -- Demorei que ele mesmo por si pudesse pôr
explicação. E foi ele disse: -- “Por VINGAR a morte de Joca Ramiro, vou, e vou e faço, consoante
devo. Só, e Deus que me passe por esta, que indo vou não com meu coração ( cérebro) que bate
agora presente (motivada não pelas lembranças do presente), mas com o coração (cérebro) de
tempo passado (motivada, sim, pelas lembranças do que passou)... E digo...”
GRANDE SERTÃO – VEREDAS
Guimarães Rosa

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Janina “Revenge”
“A ira torna o raciocínio mais claro e perspicaz, faz enxergar com mais nitidez. Concentra as
outras emoções e controla o corpo. Não há dúvida de que toda a sabedoria deriva da ira,
pois a ira é capaz de ultrapassar quaisquer limites.”
SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS
Olga Tokarczuk

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item H
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM A ORIGEM DO DESEJO

ESCRAVOS DO DESEJO

LEMBRO obsessivamente do prazer, logo DESEJO o objeto causador

comida, bebida, compras, cassino, vídeo game, internet, sexo, drogas e rock and roll, etc.

A COMPULSÃO
Compulsão é uma imposição interna que nasce da ânsia de saciar a lembrança de um prazer
que permanece fixa, obsessivamente fixa - em nosso cérebro.
“O prazer dura uma noite, mas a lembrança (do prazer e do objeto) é para sempre.”
A Cidade Ilhada
Milton Hatoum

SUPER INTERESSANTE
(18/ABR/2011)

“O QUE PROVOCA A NINFOMANIA? A ninfomania, caracterizada por um apetite sexual


excessivo, é um transtorno psiquiátrico – não existem razões biológicas para explicar sua
origem. De acordo com o Código Internacional de Doenças (CID), a ninfomania é considerada
uma compulsão, não relacionada à produção de hormônios sexuais. Assim como a compulsão
por comida, bebida ou por compras. Ela acontece quando a paciente não consegue controlar
seu impulso, no caso da ninfomania, por sexo. (...).”

EXPLICAÇÃO

(as lembranças – em nosso cérebro – explicam a compulsão)

1 – LEMBRO obsessivamente do prazer do sexo, logo desejo praticá-lo constantemente;

2 – LEMBRO obsessivamente do prazer da comida, logo desejo comer constantemente;

3 – LEMBRO obsessivamente do prazer extasiante das drogas, logo a desejo constantemente;

4 – LEMBRO obsessivamente do prazer das compras, logo desejo gastar constantemente;

5 – LEMBRO obsessivamente do prazer de roubar, logo sou um grande corrupto fdp; etc., etc.

OBSESSÃO
(lembrança fixa – compulsão exagerada)

“A minha ideia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se ideia fixa. Deus te livre, caro leitor, de
uma ideia fixa (lembrança fixa); antes um argueiro, antes uma trave no olho.”
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
Machado de Assis

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item I
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM O

TRAUMA DE GUERRA

SUPER INTERESSANTE
Public. 30 nov 2008 – Atualiz. 16 mai 2018
(Por Danilo Cezar Cabral)

“O Exército americano transforma homens em máquinas de matar, mas não os ensina a


continuar vivendo. Milhares são as vítimas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT),
uma doença que condecora soldados com paranoia, vícios e suicídio.

Faluja, Iraque, 9 nov 2004. No telhado de um prédio, o cabo James Blake Miller tentava
manter os insurgentes o mais longe dele e de seus companheiros. No tiroteio, seus
companheiros quase atingiram Luis Sinco, fotógrafo do L. A. Times que acompanhava a
unidade e que, findo o combate, tirou um retrato de Miller. (...). Virou celebridade.

Feliz por estar de volta, o marine não se preocupou quando a esposa disse que ele estava
apertando o pescoço dela durante a noite. Achou que era passageiro, assim como seus
pesadelos sobre o Iraque (sonhos e pesadelos são fabricados – em nosso cérebro - com
fragmentos de lembranças da nossa vida). Só depois de olhar pela janela e VER o corpo de um
iraquiano na calçada (vemos nossas Alucinações Visuais - no cérebro), Miller resolveu buscar
ajuda psiquiátrica. Diagnóstico: trauma de guerra”.

LEMBRO da guerra, logo sinto ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

Um trauma pode se realizar das mais variadas formas: lembranças de um assalto, sequestro,
violações sexuais, acidentes, perdas, etc. No entanto, veremos abaixo 3 CITAÇÕES que
revelam, especificamente, a origem e as consequências de um Trauma de Guerra...
1 - MENINOS DE ZINCO
(Svetlana Aleksiévitch)

O livro em questão – cujo trecho abaixo descreve um típico trauma de guerra – relata
testemunhos reais dos familiares e sobreviventes da guerra Soviética-Afegã (1979 – 1989). O
título faz referência aos Caixões de Zinco, lacrados, nos quais os soldados mortos voltavam
para casa. E como a autora deixa bem claro, no lado afegão também houve mortos, muitos
mortos, - além de lágrimas e traumas de guerra.

“MEU SACHENKA”

“Ele era muito carinhoso, é raro um menino ser tão carinhoso. Sempre beijava, abraçava:
“Mamãe... Mamãezinha...”. Depois do Afeganistão (licença temporária) ficou ainda mais
terno. Em casa, para ele tudo estava bom. Mas havia uns momentos em que ficava sentado,
calado, não via nada. À noite saltava da cama e andava pelo quarto. Uma vez acordei com um
grito: “Está explodindo, está explodindo! Mamãe, estão atirando...” (vemos e ouvimos nossas
lembranças – dentro do cérebro). Outra noite escutei: alguém estava chorando. Quem podia
estar chorando aqui? Não havia crianças pequenas. Abri a porta do quarto dele: ele estava
envolvendo a cabeça com as duas mãos e chorava. -- Sacha, meu Sachenka, filhinho, por que
está chorando? Estou com medo, mamãe. – E nenhuma palavra a mais. (De volta ao
Afeganistão...). Meu Sacha foi ferido por quinze estilhaços de uma vez. Só teve tempo de dizer:
“Está doendo, mamãe. (...).

EXPLICAÇÃO

(Lembranças da Guerra – no cérebro do veterano – origina o Trauma de Guerra)

I - Souvenirs da Guerra – no cérebro: digamos que um indivíduo combateu por cinco anos
numa guerra estúpida (desculpem o pleonasmo bélico). Finda a guerra, ele regressa ao
conforto e a segurança do seu lar. Então qual é o problema? O que saiu errado? Pois o
veterano agora se divorciou, afastou-se dos amigos, tornou-se um alcoólatra e faz
acompanhamento psiquiátrico. A resposta é simples: ele voltou da guerra, é verdade, mas
trouxe - EM SEU CÉREBRO - cinco anos de lembranças da guerra. Portanto...

II - LEMBRANÇAS – nossa mais fiel companheira: portanto, não importa onde esteja ou aonde
vá, seja dia ou noite, dormindo ou acordado, o homem carrega - NO CÉREBRO - o peso das
suas recordações.
NO CÉREBRO DO EX-COMBATENTE
as lembranças da guerra são formadas por...

IMAGENS da guerra: cenários devastados, cidades destruídas, corpos amontoados, etc.

SONS da guerra: tiros, explosões, gritos do Coração das Trevas: “O horror! O horror!”;

CHEIROS da guerra: pólvora, fumaça, miasmas de corpos em decomposição, etc.

SABORES da guerra: a ração de guerra, a base de enlatados, é algo por si só traumatizante.

IMPRESSÕES táteis da guerra: frio, calor, pés esfolados, ferimentos, câimbras, cefaleia, etc.

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2 – PEQUENA ABELHA
Chris Cleave

Comovente história de uma refugiada nigeriana de 16 anos, que foge de seu país
e consegue entrar ilegalmente na Grã-Bretanha.

Lembranças da Guerra – no cérebro da Abelhinha -- origina o Trauma de Guerra

“Uma garota africana magricela – que fugiu de sua aldeia e apareceu aqui!”

“Mas o filme na sua memória (o filme da sua vida: formado por suas lembranças), desse não
se pode livrar assim com tanta facilidade. Aonde quer que você vá, ele está sempre passando
dentro da sua cabeça. Portanto, quando digo que sou uma refugiada, você deve compreender
que não existe refúgio. (...). Embarquei como clandestina num grande navio de aço, mas o
terror (as lembranças da guerra) embarcou junto, dentro de mim (dentro do cérebro). Quando
deixei minha terra natal pensei ter escapado, mas em alto-mar comecei a ter pesadelos
(sonhos e pesadelos são fabricados – em nosso cérebro - com fragmentos de lembranças da
nossa vida). Fui ingênua ao imaginar que sairia de meu país sem nada. Era uma carga (de
lembranças das atrocidades da guerra) pesada a que eu levava (no cérebro)”.

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3 – KAFKA À BEIRA-MAR
Haruki Murakami

Lembranças da Guerra – no cérebro da professora primária -- origina o Trauma de Guerra


(o incidente no bosque)

“Eu dava aulas numa escola na província de Yamanachi. Era responsável pela atividade ao ar
livre do grupo de crianças que entrou em Coma Simultâneo no incidente ocorrido pouco antes
do fim da guerra, naquele longínquo outono de 1944.

A mim, contudo, me parece que o fato (as lembranças do fato) se deu ainda ontem, tão
estranhamente vívido e próximo o sinto de mim. Não consigo afastar da mente (cérebro) a
lembrança daquele dia. Ela está sempre ao meu lado como uma sombra. Me faz passar por
noites de insônia, perturbados por sonhos (que são fabricados com fragmentos de lembranças
da nossa vida). (...) Sinto que o incidente continua a afetar a minha vida até hoje. (...) Nesse
momento vejo-me compelida a perguntar: quais foram as consequências tanto na vida das
crianças quanto na minha? Grave como foi, o caso tem de ter deixado seqüelas físicas e
emocionais.

Pouco a pouco, tanto a monstruosa guerra como a perda irreparável de preciosas vidas vão se
tornando ocorrências de um passado distante (as lembranças vão se distanciando em nossa
Linha da Memória – dentro do cérebro), como estrelas velhas e geladas.

Por outro lado, existem lembranças que, por mais tempo que se passe (por mais que se
Permaneça no Presente), não conseguimos de maneira alguma apagar de nossa memória
(cérebro). Lembranças que não se desgastam. Que resistem em nosso íntimo (cérebro),
irremovíveis como pedras angulares. Para mim, o incidente no bosque é uma delas”.

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item J
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM A

REVOLTA X RESIGNAÇÃO
(revolta dos filhos x resignação dos pais)

LEMBRO das condições análoga à escravidão, logo sinto REVOLTA

O livro citado é TORTO ARADO, de Itamar Vieira Junior, merecido destaque em 2020. No
trecho a seguir, BELONÍSIA, uma das protagonistas, descreve uma lembrança que, - por ser
marcante/traumatizante – tornou-se recorrente em seu cérebro...

“Um dia, meu irmão Zezé perguntou ao nosso pai, Zeca Chapéu Grande, o que era Viver de
Morada. Por que não éramos também donos daquela terra, se lá havíamos nascido e
trabalhado desde sempre. (...). Por que não fazíamos daquela terra nossa, já que dela
vivíamos, plantávamos as sementes, colhíamos o pão. Se dela retirávamos nosso sustento.”

“ESSE DIA (A LEMBRANÇA DESSE DIA) VIVE EM MINHA MEMÓRIA (CÉREBRO).


NÃO SE APAGA NEM SE AFASTA (EM SUA LINHA DA MEMÓRIA) AINDA QUE ENVELHEÇA.”

“Meu pai retirou o chapéu, o calor fazia minar de seu corpo um suor grosso que lavava seu
rosto (...). << Pedir Morada é quando você não sabe para onde ir, porque não tem trabalho de
onde vem. Não tem de onde tirar o sustento. Aí você pergunta pra quem tem e quem precisa
de gente para trabalho, --“moço, o senhor me dá morada?”>>

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“Essa cova em que estás, Com palmos medida, É a cota menor, Que tiraste em vida, - É de
bom tamanho, Nem largo nem fundo, É a parte que te cabe neste latifúndio,
- Não é cova grande, É cova medida, É a terra que querias ver dividida.”
MORTE E VIDA SEVERINA
João Cabral de Melo Neto

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“Eles estavam morrendo lentamente – isso era bem claro. Eles não eram inimigos,
eles não eram criminosos, eles não eram nada mais na terra,
além de sombras negras de doenças e fome.”
O CORAÇÃO DAS TREVAS
Joseph Conrad

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item K
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM A

INVEJA

LEMBRO das minhas limitações (física, intelectual, artística, profissional, patrimonial, etc.),
logo sinto INVEJA dos atributos alheios.

CISNES SELVAGENS
(Jung chanG)

Em sua autobiografia, a escritora chinesa, residente em Londres, descreve as lembranças da


sua vida durante a Revolução Cultural – na China. No trecho abaixo, veremos a manipulação
dos mais sórdidos sentimentos humanos:

“A notícia (morte de Mao Tsé-tung – 9/set/1976) encheu-me de uma tal euforia que, por
instantes, fiquei paralisada. (...). Sabia que o consideravam um filósofo, e tentei perceber que
filosofia tinha sido verdadeiramente a dele. Pareceu-me que o seu princípio básico era a
necessidade de perpétuo conflito. Para ele os conflitos humanos constituíam a força motriz da
história, (...). Talvez a teoria de Mao não fosse mais do que uma extensão de sua
personalidade. (...). Compreendia os mais feios instintos humanos, como a INVEJA e o
RANCOR. E sabia como mobilizá-los para servir aos seus próprios fins. Governava induzindo as
pessoas a odiarem-se umas as outras. (...). Ao fazer vir à tona e alimentar o que de pior havia
nas pessoas, Mao criara um deserto moral e uma terra de ódio. (...).

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OBS: Nunca houve na China, sob o regime de Mao, o equivalente a uma KGB. Pois o ditador transformou
todos os habitantes em censores do regime; cada indivíduo – motivado por inveja, rancor ou pura
maldade – poderia, sem qualquer comprovação, delatar um familiar, vizinho, conhecido, amigo ou
inimigo. Para o bem ou para o mal, a INVEJA move o mundo.
Rivalidade – INVEJA – Evolução

“Dia 28 de julho (1964) os EUA lançarão o Ranger Seven de Cape Kennedy, na Flórida,” disse o
sr. Cronkite na TV. “Um voo de 253 665 milhas para o foguete atingir a Lua. O objetivo será
tirar fotografias da superfície e enviá-las de volta.”

– “Jesus Cristo”, disse Rosaleen. “Um foguete para a Lua.” August sacudiu a cabeça. “Daqui a
pouco eles estão andando por lá.” Todo mundo tinha pensado que o pres. Kennedy estivesse
biruta quando declarou que um dia um homem pisaria na Lua. O jornal de Sylvan chamou essa
ideia de Visão Lunática. (...). Mas nunca se deve subestimar o poder de uma rivalidade
ferrenha (inveja). Nós queríamos ultrapassar os russos (Yuri Gagarin - 1961): foi isso que nos
fez tentar sair da Terra. Parecia que agora conseguiríamos. (...).”
A VIDA SECRETA DAS ABELHAS
Sue Monk Kidd

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item L
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM A

GRADIDÃO

LEMBRO da bondade, do benefício ofertado, logo sinto reconhecimento e GRATIDÃO.

No livro OS DA MINHA RUA, do escritor angolano ONDJAKI, ele regressa em sua Linha da
Memória (dentro do cérebro) e relata as lembranças de alguns episódios que marcaram a sua
infância. E, entre eles...

“UM PINGO DE CHUVA”


Nesse belo episódio, Ndalu Jacó relembra uma comovente história de
despedida e gratidão:
“Era uma tarde quase bonita numa cor amarelo e castanha que o Sol tinha posto dentro do
apartamento pequeno deles (vemos nossas lembranças – no cérebro). Serviram chá para nós,
aguado mas doce, cheio de ternura (memorizamos sabores – no cérebro). Depois, o camarada
prof. Ángel explicou-nos, com palavras um bocadinho difíceis, que a missão deles em Angola
havia terminado e que se iam embora muito em breve. (...). Vimos a camarada profa. Maria
chorar escondida na cozinha (memorizamos sons – no cérebro) e tivemos de fazer força para
parar as lágrimas.

Nas despedidas acontece isso: a ternura toca a alegria, a alegria traz uma saudade quase
triste, a saudade semeia lágrimas, e nós, as crianças, não sabemos arrumar essas coisas
(emoções) dentro do coração (dentro do cérebro).

A Romina tirou da mochila um bonito frasco cheio de compota de morango. (...). Todos nós
sabíamos que aquela era a nossa prenda de despedida (e gratidão). (...). As mãos da camarada
profa. Maria tremiam ao agarrar as mãos do marido como se, naquele gesto, eles
conseguissem agarrar as mão de todos os seus alunos em Angola. (...).

Quando chegamos lá em baixo, o Sol já tinha ido embora. (...). Um pingo de chuva, sozinho,
caiu-me na cabeça, nessa que foi a última vez que vimos aqueles camaradas professores
cubanos.”

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“Não gosto de despedidas porque elas têm esse cheiro de amizades que se transformam (no
cérebro) em recordações molhadas com bué de lágrimas.”

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Item M
AS LEMBRANÇAS EM NOSSO CÉREBRO EXPLICAM O

ARREPENDIMENTO
LEMBRO do erro cometido, logo sinto o peso do remorso - e do ARREPENDIMENTO.

Veja a seguir o discurso de Richard Nixon (8/ago/1974), comunicando sua renúncia:


“Renunciarei à presidência efetivamente amanhã ao meio-dia. Eu lamento profundamente
todos os danos que possam ter ocorrido no curso dos acontecimentos que levaram a esta
decisão. Eu gostaria de dizer apenas que, se alguns dos meus julgamentos estavam errados – e
alguns estavam errados – eles foram feitos no que eu acreditava na época, que fossem do
melhor interesse da nação... Vou sem rancor daqueles que foram contra mim.”

“O senhor mesmo disse que o erro traz o remorso e que o remorso é o veneno da existência.
(...). E insinuou que ter uma memória (cérebro) maculada (pelas lembranças dos erros)
era uma maldição perpétua”.
JANE EYRE
Charlotte Brontë

OBS: Nixon pode até não ter reconhecido a gravidade do erro cometido, mas certamente se
arrependeu pelas consequências. Ser banido da política e da História de seu país não deve ter
sido uma LEMBRANÇA (fardo) nada fácil de carregar - em seu cérebro.

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COMO ACABAMOS DE VER NOS ITENS ACIMA…

EM NOSSO CÉREBRO
CADA LEMBRANÇA DA NOSSA VIDA -- SOMATIZA UMA DETERMINADA EMOÇÃO
Homens e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos

Como vimos, ao evolução da MEMÓRIA (a aptidão apara preencher o CÉREBRO com as


lembranças da nossa vida) determinou a Aurora do Homem. Ou seja, as lembranças pessoais -
em nosso cérebro – explicam a

ETIOLOGIA DOS SENTIMENTO EXCLUSIVAMENTE HUMANOS

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item N
E por falar em SER humano...

AS CORES DA HUMANIDADE

HUMANO é todo ser vivo capaz de exteriorizar EMOÇÕES


Portanto, todos nós, bípedes, de todas as cores e formas,

SOMOS TODOS HUMANOS

Teoria da Grande Substituição (?!)


(de humanos por humanos?! - , que p044@ é essa?!)

Como podemos constatar nos itens acima, as EMOÇÕES (humanidade) são inerentes a toda
forma de vida que foi capaz de evoluir a MEMÓRIA. – E isto inclui os bípedes de todas as cores
e formas. E com relação a tão propagada “Diferenças Raciais” (Supremacia Branca, Raça
Ariana, Eugenia Nazista e outras fuleragens do gênero) , fica bem posto que não passa de mais
uma humanice estúpida que nós inventamos como (mais um) pretexto para nos odiarmos
mutuamente.

“Se ainda não o disse, aí fica. Se disse, fica também. Há conceitos que se devem
incutir na alma (cérebro) do leitor à força de repetição.”
Dom Casmurro

Repetindo: somos todos iguais em HUMANIDADE – pois compartilhamos as mesmas


EMOÇÕES. E quanto a tal Superioridade Racial, só posso afirmar que...

“UMA MENTIRA quando repetida muitas vezes se transforma numa GRANDE MENTIRA.”
À Goebbels, com carinho.- Se ele disse, aí fica; se não disse, fica também – foda-se!.

QUARTO DE DESPEJO
Carolina Maria de Jesus

“O BRANCO é que diz que é superior. Mas que superioridade apresenta o branco? Se o negro
bebe pinga, o branco bebe. A enfermidade que atinge o preto, atinge o branco. Se o branco
sente fome, o negro também. A natureza não seleciona ninguém. (...). Preterir o preto é o
mesmo que preterir o Sol. O homem não pode lutar contra os produtos da natureza.”

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Item O

O PINÁCULO DA CRIAÇÃO (?)


GÊNESIS 1.26-31

“E criou Deus o homem à sua imagem e semelhança (perfeito, pleno, sábio, belo, eterno...).
Deus os abençoou e lhes disse: -- Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a
terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais
rastejantes. E assim foi. E viu Deus que tudo havia ficado muito bom. (...)”

MEMORIZO CONHECIMENTOS NO CÉREBRO,

Logo sou inteligente e me considero o Ápice da Criação!

SÓ QUE NÃO! Não mesmo. Lamento desapontá-los, meus caros amigos bípedes, mas nós não
somos a culminação de p... nenhuma. O que realmente somos é um chimpanzé que evoluiu a
MEMORIA; um reles macaco que LEMBRA, – e não vejo nenhum demérito nisso. Muito pelo
contrário, Viva a Evolução!!!

Nós, humanos, costumamos legislar em causa própria porque a história (e as fábulas – como o
trecho acima) é escrita por quem evoluiu a MEMÓRIA.

“Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão


sempre os heróis das narrativas de caça”.
A Confissão da Leoa – Mia Couto
(Provérbio Africano)

QUEM É MELHOR OU PIOR?

“Mas por que, então, deveríamos ser úteis? E para quem? Quem é que dividiu o mundo em
criaturas úteis e inúteis, e quem lhe deu o direito de fazê-lo? Desse modo, o cardo não teria o
direito de viver, nem o rato que devora os grãos nos armazéns, nem sequer as abelhas ou os
zangões, as ervas daninhas ou as rosas. Quem foi o dono da mente que se atreveu a tanta
arrogância para julgar quem é melhor ou pior? (...).
SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS
Olga Tokarczuk

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item P

NÃO SOMOS A ÚLTIMA BOLACHA DO PACOTE


DA CRIAÇÃO
“Uma das ideias que os seres humanos têm mais dificuldade em aceitar, é que não somos a
culminação de nada. Nossa presença aqui nada tem de inevitável. Faz parte da vaidade
humana tendermos a pensar na evolução como um processo que, no fundo, foi programado
para nos produzir (em detrimento das demais espécies)”.

* Ian Tattersall - paleontólogo

A Soberba Humana
“No charco onde a noite se espelha, o sapo acredita voar entre as estrelas”.
Mia couto

NÃO SOMOS NEM MELHORES NEM PIORES,

apenas parte de um milagre singular...

“(...) Aonde quer que você vá no mundo, qualquer que seja o animal, planta, inseto ou pingo
de matéria que você veja, se estiver vivo, usará o mesmo dicionário e conhecerá o mesmo
código. TODA VIDA É ÚNICA. Somos todos o resultado de um único truque genético transmitido
de geração para geração há quase 4 bilhões de anos (de Permanência no Presente). (...)”.
*Matt Ridley - geneticista

*Citações de Breve História de Quase Tudo – Bill Bryson


“Que obra-prima, o homem! Quão nobre pela razão! Quão infinito pelas faculdades! Como é
significativo e admirável na forma e nos movimentos! Nos atos quão semelhantes aos anjos!
Na apreensão, como se aproxima aos deuses, adorno do mundo, modelo das criaturas!
No entanto, o que é para mim essa quintessência de pó? (...)”.
HAMLET

“O leniviy mozg de Hoffstetler encontra nas ruas cinzentas e sujas daquela cidade provas da
organização cosmológica presente em toda matéria, dos menores corpúsculos aos
aglomerados de galáxias incomensuráveis. Portanto, ele é apenas um ponto insignificante
interpretando um papel insignificante na história. É por isso, pelo menos, que ele reza.”
A FORMA DA ÁGUA
Guillermo del Toro – Daniel Kraus

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CAPÍTULO

XX
Neste capítulo veremos...

A ILUSÃO DO TEMPO EM 6 MENTES BRILHANTES


(kafka, Ataulfo, Guimarães, Proust, Carolina e Melquíades)
1
A ilusão do tempo na cabeça de

FRAZ KAFKA
O PROCESSO

O TEMPO E O PROCESSO NA CABEÇA DE JOSEPH K. : na tentativa de defender-se de um


PROCESSO (transcendental? – Enfim, é algo que envolve altos desígnios, segundo Frau
Grubach, sua senhoria), enfim, na tentativa de defender-se de um processo, JOSEPH K. cogita
dispensar seu advogado e, ao defender a si mesmo, terá que elaborar a famigerada Primeira
Petição.

Para tanto, terá que regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e relatar todas as
LEMBRANÇAS da sua vida. Assim, presume, poderá provar sua inocência ou, quem sabe,
encontrar a lembrança de algum crime – ou pecado.

“Agora K. já não sentia qualquer hesitação; era preciso fazer aquela petição. Se não tivesse
tempo no escritório, iria redigi-la em casa, à noite. (...). A petição constituía um trabalho quase
interminável. Podia facilmente concluir que seria impossível terminá-la algum dia. Não por
preguiça ou previsão calculada, mas porque, no seu desconhecimento da natureza da
acusação e de todos os seus prolongamentos, precisava (regressar em sua Linha da Memória –
dentro do cérebro, e) LEMBRAR-SE de toda a sua vida (infância, juventude, maturidade), nos
menores detalhes, expô-la em todas as suas nuanças, discuti-la sob todos os aspectos. E ainda
por cima, que trabalho triste!

Talvez fosse bom para ocupar o espírito de um aposentado e ajudá-lo a passar os longos dias
vazios. Mas agora que K. tinha necessidade de concentrar todas as suas forças cerebrais no
trabalho, que queria gozar como um jovem as suas curtas noitadas e breves madrugadas... Era
agora que tinha que se ocupar com a redação daquela petição! Não parava de se lamentar!

EXPLICAÇÃO

O TEMPO NO CÉREBRO DE FRANZ KAFKA


(1883–1924)
KAFKA NASCEU OCO

a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição, KAFKA –


como qualquer bípede – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua essência, sem
história; sem passado; No entanto...

b – KAFKA – o memorioso: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no Presente, Kafka


foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória) com as
LEMBRANÇAS da sua vida : infância, juventude, maturidade . E assim, construiu o seu
PASSADO -- na cabeça;

c - CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Kafka: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de Kafka (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas em sua
Linha da Memória -- dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, KAFKA criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, -- distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’.
d - KAFKA E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu em 3 de
julho de 1883, e faleceu em 3 de junho de 1924, significa que KAFKA Permaneceu no Presente
por apenas 40 anos (PP = 40);

e – A ESTRADA DA VIDA – A Esteira da Memória: observe a ilustração acima... A Linha da


Memória de KAFKA – que contém as lembranças de todos os episódios da sua vida – começa
em 1883, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até findar-se em 1924, com a sua
morte.

f - O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Kafka viveu (Permaneceu no Presente)


por 40 anos. Significa que ao final de sua breve existência, ele carregava em seu cérebro um
passado com 40 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

g - A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Kafka: o PASSADO de Kafka (as lembranças da sua


vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão causada pela
evolução da MEMÓRIA - na cabeça do ‘Homo Erectus’.

h – TBT – A MÁQUINA NEUROLÓGICA DO TEMPO: Kafka pôde, sempre que quisesse, e


durante toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), - e reviver as
lembranças de qualquer episódio da sua vida.

i – LEMBRANÇAS PASSAGEIRAS: as lembranças da juventude de Kafka (as mais antigas), vão se


distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro). No entanto, criam a ilusão de que
se afastam na inexistente ‘Esteira do Tempo que Passou’.

j - KAFKA HUMANO - Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro)


e LEMBRAR dos principais episódios da sua vida, Kafka SENTIA: amor, ódio, saudade, trauma,
alegria, tristeza, orgulho, frustração, arrependimento, revolta, gratidão, perdão, etc.

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2
A ilusão do tempo na cabeça de

ATAULFO ALVES
“MEUS TEMPOS DE CRIANÇA” – A Saudade de Ataulfo Alves : o grande Ataulfo, ao regressar
em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), pôde rememorar sua saudosa meninice. E
assim, obteve inspiração para compor uma de suas mais conhecidas canções:

*”Eu daria tudo que eu tivesse;


Pra voltar aos dias de criança;
Eu não sei pra que que a gente cresce;
Se não sai da gente (não sai do cérebro) essa lembrança;

Aos domingos, missa na matriz; Da cidadezinha onde eu nasci;


Ai, meu Deus, eu era tão feliz; No meu pequenino Miraí; --

Que saudades da professorinha; Que me ensinou o beabá;


Onde andará Mariazinha; Meu primeiro amor, onde andará?;

Eu igual a toda meninada; Quantas travessuras que eu fazia;


Jogo de botões sobre a calçada; Eu era feliz e não sabia.”

EXPLICAÇÃO

O TEMPO NO CÉREBRO DE ATAULFO


(1909 – 1969)

ATAULFO NASCEU OCO


a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição, ATAULFO –
como qualquer bípede – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua essência, sem
história; sem passado; No entanto...

b – ATAULFO – o memorioso: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no Presente,


Ataulfo foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória) com as
LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade . E assim, construiu o seu
PASSADO - na cabeça;

c - CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Ataulfo: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de ATAULFO (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas em
sua Linha da Memória -- dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, ATAULFO criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, - distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’.

d - ATAULFO E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu em 2 de


maio de 1909, e faleceu em 20 de abril de 1969, significa que ATAULFO Permaneceu no
Presente durante 59 anos ( PP = 59).

e – A ESTRADA DA VIDA – A Esteira da Memória: observe a ilustração acima... A Linha da


Memória de ATAULFO – que contém as lembranças de todos os episódios da sua vida –
começa em 1909, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até findar-se em 1969,
com a sua morte.

f - O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Ataulfo viveu (Permaneceu no Presente)


durante 59 anos. Significa que ao final de sua existência, ele carregava em seu cérebro um
passado com 59 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

g - A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Ataulfo: o PASSADO de Ataulfo (as lembranças da sua


vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão causada pela
evolução da MEMÓRIA - na cabeça do ‘Homo Erectus’.
h – TBT – A MÁQUINA NEUROLÓGICA DO TEMPO: Ataulfo pôde, sempre que quisesse, e
durante toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e reviver as
lembranças de qualquer episódio da sua vida.

i – LEMBRANÇAS PASSAGEIRAS: as lembranças da infância de Ataulfo (as mais antigas), vão se


distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro). No entanto, criam a ilusão de que
se afastam na inexistente ‘Esteira do Tempo que Passou’.

j - ATAULFO HUMANO - Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e LEMBRAR dos principais episódios da sua vida, Ataulfo SENTIA: amor, ódio,
saudade, trauma, alegria, tristeza, orgulho, frustração, arrependimento, revolta, gratidão,
perdão, etc.

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3
A ilusão do tempo na cabeça de

GUIMARÃES ROSA

“MEUS TEMPOS DE CRIANÇA” – A Saudade de Guimarães Rosa: numa entrevista ao seu


biógrafo Renard Perez, o autor do épico Grande Sertão: Veredas, regressa em sua Linha da
Memória (dentro do cérebro) e recorda sua saudosa infância, passada em Cordisburgo,
interior de Minas Gerais. Veja um trecho:

“Armar alçapões para apanhar sanhaços – e depois tornar a soltá-los. Que maravilha! Puxar
sabugos de espiga de milho, feitos boizinhos de carro, brinquedo saudoso. Prender
formiguinhas em ilhas, que eram pedras postas num tanque raso, e unidas por pauzinhos,
pontes para formiguinha passar. Aproveitar um fiozinho d’água, fazendo-o de Danúbio ou de
São Francisco, ou de ‘Sapakral-lal’, com todas as curvas dos ditos, com as cidades marginais
marcadas por grupos de pedrinhas, tudo isso sob o vôo matinal das maitacas de Nhô Augusto
Matraca, no quintal. (...).”
EXPLICAÇÃO

O TEMPO NO CÉREBRO DE GUIMARÃES


(1908 – 1967)

GUIMARÃES NASCEU OCO

a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição, GUIMARÃES


– como qualquer bípede – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua essência, sem
história; sem passado; No entanto...

b – GUIMARÃES – o memorioso: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no Presente,


Guimarães foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória) com as
LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade . E assim, construiu o seu
PASSADO - na cabeça;

c - CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Guimarães: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de Guimarães (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas
em sua Linha da Memória - dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, GUIMARÃES criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, - distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’.
d - GUIMARÃES E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu em 27
de junho de 1908, e faleceu em 19 de novembro de 1967, significa que GUIMARÃES
Permaneceu no Presente durante 59 anos (PP = 59).

e – A ESTRADA DA VIDA – A Esteira da Memória: observe a ilustração acima... A Linha da


Memória de GUIMARÃES – que contém as lembranças de todos os episódios da sua vida –
começa em 1908, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até findar-se em 1967,
com a sua morte.

f - O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Guimarães viveu (Permaneceu no


Presente) durante 59 anos. Significa que ao final de sua existência, ele carregava em seu
cérebro um passado com 59 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

g - A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Guimarães: o PASSADO de Guimarães (as lembranças


da sua vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão causada pela
evolução da MEMÓRIA - na cabeça do ‘Homo Erectus’.

h – TBT – A MÁQUINA NEUROLÓGICA DO TEMPO: Guimarães pôde, sempre que quisesse, e


durante toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e reviver as
lembranças de qualquer episódio da sua vida.

i – LEMBRANÇAS PASSAGEIRAS: as lembranças da infância de GUIMARÃES (as mais antigas),


vão se distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro). No entanto, criam a ilusão
de que se afastam na inexistente ‘Esteira do Tempo que Passou’.

j - GUIMARÃES HUMANO - Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e LEMBRAR dos principais episódios da sua vida, Guimarães SENTIA: amor, ódio,
saudade, trauma, alegria, tristeza, orgulho, frustração, arrependimento, revolta, gratidão,
perdão, etc.

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4
A ilusão do tempo na cabeça de

MARCEL PROUST

“MEUS TEMPOS DE CRIANÇA” – A Saudade de Marcel Proust: numa matéria de Veja (out –
2004), a jornalista Thereza Venturoli, aborda o prêmio Nobel destinado a uma pesquisa
pioneira sobre como o nosso cérebro analisa e arquiva os aromas:

“Acontece com todo mundo: de repente, bate um perfume de mulher ou o aroma de pão
recém-saído do forno, e é o que basta para se volte (regresse na Linha da Memória até chegar,
por exemplo, a) a uma festa da adolescência, ou a uma tarde da infância. O olfato é uma
máquina do tempo poderosa, que rendeu passagens belíssimas da literatura – como aquela em
que o escritor francês Marcel Proust (1871 – 1922), num trecho célebre (transcrito abaixo) de
Em Busca do Tempo Perdido, o autor/narrador vê sua vida de criança se erguer inteira a partir
do aroma de uma simples xícara de chá... “

O Aroma do Chá – no Cérebro de Proust

“... Abatido por um dia sem graça, (...) pus aos meus lábios uma colherada de chá na qual eu
deixara amolecer um pedacinho de Madeleine... Estremeci, (o aroma do chá o faz regressar em
sua Linha da Memória [dentro do cérebro] até chegar às lembranças do aroma do chá da sua
infância) um prazer delicioso me invadira, isolado, sem a noção de sua causa. (...) Não me
sentir mais medíocre, contingente, mortal. De onde vinha esse prazer poderoso? (...). (Proust
VÊ as belas lembranças da sua infância - em seu cérebro - e as descreve) Todas as flores de
nosso jardim e as do parque de Swann, e as ninfas do rio Vivonne, e a gente simples da aldeia,
e toda a cidade de Combray e seus arredores – tudo aquilo que toma corpo e se torna sólido
saiu, cidades e jardins, de minha xícara de chá.”
O TEMPO NO CÉREBRO DE PROUST
(1871 – 1922)

PROUST NASCEU OCO

a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição, PROUST –


como qualquer bípede – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua essência, sem
história; sem passado; No entanto...

b – PROUST – o memorioso: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no Presente,


Proust foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória) com as
LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade . E assim, construiu o seu
PASSADO - na cabeça;

c - CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Proust: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de Proust (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas em
sua Linha da Memória -- dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, PROUST criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, - distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’.
d - PROUST E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu em 10 de
junho de 1871, e faleceu em 18 de novembro de 1922, significa que PROUST Permaneceu no
Presente por apenas 51 anos (PP = 51);

e – A ESTRADA DA VIDA – A Esteira da Memória: observe a ilustração acima... A Linha da


Memória de PROUST – que contém as lembranças de todos os episódios da sua vida – começa
em 1871, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até findar-se em 1922, com a sua
morte.

f - O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Proust viveu (Permaneceu no Presente)


durante 51 anos. Significa que ao final de sua breve existência, ele carregava em seu cérebro
um passado com 51 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

g - A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Proust: o PASSADO de Proust (as lembranças da sua


vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão causada pela
evolução da MEMÓRIA - na cabeça do ‘Homo Erectus’.

h – TBT – A MÁQUINA NEUROLÓGICA DO TEMPO: Proust pôde, sempre que quisesse, e


durante toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e reviver as
lembranças de qualquer episódio da sua vida.

i – LEMBRANÇAS PASSAGEIRAS: as lembranças da infância de PROUST (as mais antigas), vão se


distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro). No entanto, criam a ilusão de que
se afastam na inexistente ‘Esteira do Tempo que Passou’.

j - PROUST HUMANO - Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e LEMBRAR dos principais episódios da sua vida, Proust SENTIA: amor, ódio, saudade,
trauma, alegria, tristeza, orgulho, frustração, arrependimento, revolta, gratidão, perdão, etc.

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5
A ilusão do tempo na cabeça de

CAROLINA MARIA DE JESUS

“MEUS TEMPOS DE CRIANÇA” – A Saudade (Pedaços da Fome) de Carolina: trecho do ensaio


“Memórias da Infância e Juventude de Carolina Maria de Jesus (BITITA: 1914 – 1977)”, de José
Carlos Gomes da Silva, professor de antropologia - UFU:

“Minha mãe cozinhava com lenha. Nós não podíamos comprar, íamos buscá-la no mato.
Reuniam-se várias mulheres: a Maria Preta, a Joaquina e a Maria Triste, minha mãe e
eu. Levávamos um machado. Que suplício andar no mato procurando um pau aqui,
outro ali. Quando encontrávamos um pau seco, que alegria! Era como se
encontrássemos um filão de ouro. Era aquela andança dentro do mato, das sete
ao meio-dia. Eu gostava de ir pra comer frutas silvestres: jatobá, pitanga, gabiroba, araticum,
maracujá e marmelo-de-cachorro.”

EXPLICAÇÃO

No trecho acima, CAROLINA regressa em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) e relata as
lembranças pretas (tristes, árduas) da aurora da sua vida.

O TEMPO NO CÉREBRO DE BITITA


(1914 – 1977)
O NOSSO CÉREBRO É UM “QUARTO DE DESPEJO” - DE LEMBRANÇAS USADAS

CAROLINA NASCEU OCA

a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição, CAROLINA –


como qualquer bípede – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua essência, sem
história; sem passado; No entanto...

b – CAROLINA – a memoriosa: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no Presente,


CAROLINA foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória) com as
lembranças da sua vida: infância, juventude, maturidade . E assim, construiu o seu
PASSADO - na cabeça;

c - CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Carolina: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de Carolina (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas em
sua Linha da Memória - dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, CAROLINA criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, - distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’.
d - CAROLINA E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu em 14
de março de 1914, e faleceu em 13 de fevereiro de 1977, significa que CAROLINA Permaneceu
no Presente durante 62 anos (PP = 62);

e – A ESTRADA DA VIDA – A Esteira da Memória: observe a ilustração acima... A Linha da


Memória de CAROLINA – que contém as lembranças de todos os episódios da sua vida –
começa em 1914, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até findar-se em 1977,
com a sua morte.

f - O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Carolina viveu (Permaneceu no


Presente) durante 62 anos. Significa que ao final de sua existência, ele carregava em seu
cérebro um passado com 62 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

g - A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Carolina: o PASSADO de Carolina (as lembranças da


sua vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão causada pela
evolução da MEMÓRIA - na cabeça do ‘Homo Erectus’.

h – TBT – A MÁQUINA NEUROLÓGICA DO TEMPO: Carolina pôde, sempre que quisesse, e


durante toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e reviver as
lembranças de qualquer episódio da sua vida.

i – LEMBRANÇAS PASSAGEIRAS: as lembranças da infância de CAROLINA (as mais antigas), vão


se distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro). No entanto, criam a ilusão de
que se afastam na inexistente ‘Esteira do Tempo que Passou’.

j - CAROLINA HUMANA - Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e LEMBRAR dos principais episódios da sua vida, Carolina SENTIA: amor, ódio,
saudade, trauma, alegria, tristeza, orgulho, frustração, arrependimento, revolta, gratidão,
perdão, etc.

Cérebro Iluminado – Recordações Escuras

“A minha vida até aqui tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.”
Além do peso das lembranças - que por serem pretas,
pesam mais - CAROLINA também carregava...

“Estendi as roupas rapidamente e fui catar papel. Que suplício catar papel atualmente. Tenho
que levar a minha filha, Vera Eunice. Ela está com dois anos. (...). Suporto o peso do saco na
cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços. Tem hora que revolto-me. Depois domino-
me. Ela não tem culpa de estar no mundo
QUARTO DE DESPEJO
Carolina Maria de Jesus

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6
A ilusão do tempo na cabeça de

MELQUÍADES – GARCIA MARQUÉZ


- O CONTADOR DE HISTÓRIAS -

Contador de Histórias é alguém com grande aptidão para – ao regressar em sua Linha da
Memória (dentro do cérebro) – descrever as LEMBRANÇAS da sua vida.

A narrativa pode ser de lembranças fantasiosas (como é o caso das Aventuras


do Barão Munchausen); ou de lembranças reais - como é o caso do
nosso prodigioso MELQUÍADES. - Veja trecho ...

Cem Anos de Solidão

“Por essa época, MELQUÍADES tinha envelhecido com uma rapidez assombrosa. (...) O cigano
parecia estragado por um mal tenaz. Era, na realidade, o resultado de múltiplas e estranhas
doenças contraídas nas suas incontáveis viagens ao redor do mundo.
Conforme ele mesmo contou (relatou as lembranças de sua odisseia na Terra) a José Arcadio
Buendía, a morte o seguia por todas as partes, farejando-lhe as calças, mas sem se decidir a
dar o bote final. Era um fugitivo de quantas pragas e catástrofes que haviam flagelado o
gênero humano.

Sobreviveu à pelagra na Pérsia, ao escorbuto no arquipélago da Malásia, à lepra em


Alexandria, ao beribéri no Japão, à peste bubônica em Madagascar, ao terremoto na Sicília e
um naufrágio multitudinário no estreito de Magalhães. Aquele ser prodigioso que dizia possuir
as chaves de Nostradamus era um homem lúgubre, envolto numa aura triste, com um olhar
asiático que parecia conhecer o outo lado das coisas. Usava um chapéu grande e negro, como
as asas estendidas de um corvo, e um casaco de veludo patinado pelo limo dos séculos. (...).”

O TEMPO NO CÉREBRO DE MELQUÍADES


(1927 – 2014)

OBS: 1927 e 2014, grafados na ilustração, correspondem aos anos de


nascimento e morte do autor Gabriel García Marquéz.

MELQUÍADES NASCEU OCO

a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição,


MELQUÍADES – como qualquer bípede – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua
essência, sem história; sem passado; No entanto...
b – MELQUÍADES – o memorioso: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no
Presente, Melquíades foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da
Memória) com as LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade . E assim,
construiu o seu PASSADO - na cabeça;

c - CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Melquíades: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de Melquíades (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas
em sua Linha da Memória - dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, MELQUÍADES criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, - distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’.

d - MELQUÍADES E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu em 6


de março de 1927, e faleceu em 17 de abril de 2014, significa que MELQUÍADES Permaneceu
no Presente durante 87 anos (PP = 87);

e – A ESTRADA DA VIDA – A Esteira da Memória: observe a ilustração acima... A Linha da


Memória de MELQUÍADES/GABRIEL – que contém as lembranças de todos os episódios da sua
vida – começa em 1927, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até findar-se em
2014, com a sua morte.

f - O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Melquíades viveu (Permaneceu no


Presente) durante 87 anos. Significa que ao final de sua existência, ele carregava em seu
cérebro um passado com 87 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

g - A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Melquíades: o PASSADO de Melquíades (as


lembranças da sua vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão
causada pela evolução da MEMÓRIA - na cabeça do ‘Homo Erectus’.

h – TBT – A MÁQUINA NEUROLÓGICA DO TEMPO: Melquíades pôde, sempre que quisesse, e


durante toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e reviver as
lembranças de qualquer episódio da sua vida.
i – LEMBRANÇAS PASSAGEIRAS: as lembranças da infância de MELQUÍADES (as mais antigas),
vão se distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro). No entanto, criam a ilusão
de que se afastam na inexistente ‘Esteira do Tempo que Passou’.

j - MELQUÍADES HUMANO - Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e LEMBRAR dos principais episódios da sua vida, Melquíades SENTIA: amor, ódio,
saudade, trauma, alegria, tristeza, orgulho, frustração, arrependimento, revolta, gratidão,
perdão, etc.

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Antes de concluir este capítulo, vamos aproveitar o assunto: MELQUÍADES - O Contador de


Histórias, - para explicar como se deu a origem...

A ORIGEM DA FALA
(HOMO TAGARELUS)

FOLHA DE S. PAULO
(23 JUN 2004)

“O SURGIMENTO DA FALA: um estudo espanhol com crânios de hominídeos fez a ciência


avançar um passo na tarefa de responder a uma das grandes incógnitas da evolução humana:
em que ponto o homem primitivo começou a usar a linguagem? (...).”

HOMO LOQUAZ

1 - Narrando Lembranças: a partir do exemplo de MELQUÍADES, fica óbvio que – ao tentar


descrever nossas lembranças - desenvolvemos a FALA. Ou seja, a LINGUAGEM surge pela
necessidade imperiosa de compartilhar as ‘lembranças de episódios vividos’: lembranças de
uma caçada exitosa, lembranças de uma tempestade, lembranças de erupção vulcânica, etc.
2 – Livro de Lembranças: o HOMEM – como um livro em branco – nasce com o CABEÇA vazia.
No entanto, à medida que preenche o cérebro com as LEMBRANÇAS da sua vida, obtém
matéria-prima para elaborar as suas narrativas. Portanto...

A FALA surge da tentativa de descrever-narrar-relatar nossas LEMBRANÇAS

A FUNÇÃO ANTROPOLÓGICA DO DIÁLOGO


- somar aborrecimentos -

“Carmo ficou aborrecida e triste (ao lembrar e narrar o episódio com o Aguiar), e eu com ela.
Trocamos os nossos aborrecimentos (descrevemos as lembranças das nossas misérias), quero
dizer que os somamos, e ficamos com o dobro cada um. (...)”.
MEMORIAL DE AIRES
Machado de Assis

AS MÃOS DO HOMEM

3 – Pinturas Rupestres: o homem desenvolveu a Habilidade Manual ao tentar desenhar suas


LEMBRANÇAS. Por exemplo: as pinturas das Grutas de Lascaux, na França, e da Serra da
Capivara, no Piauí, nasceram da tentativa do homem de reproduzir – nas paredes das
cavernas - as IMAGENS registradas em seu cérebro: lembranças de uma caçada; lembranças
do cotidiano; lembranças das paisagens à sua volta; lembranças do pôr do Sol; lembranças da
abóbada celeste, etc. E assim, podemos concluir que...

FALA: o homem desenvolveu a fala ao tentar descrever suas LEMBRANÇAS;

MÃOS: o homem desenvolveu a Habilidade Manual ao tentar desenhar suas LEMBRANÇAS.

Portanto, ao evoluir a MEMÓRIA (ao preencher o cérebro com as lembranças do seu cotidiano: que são
formadas basicamente por IMAGENS), o homem desenvolveu a FALA e a Habilidade Manual.

4 – Homo Erectus: voltaremos a este assunto (a origem da fala e da habilidade manual) na


próxima postagem; Mas posso adiantar que a aurora do HOMO SAPIENS (a evolução da
MEMÓRIA) dá-se a partir do advento do BIPEDALISMO. Leia trecho a seguir...
UMA BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO
Bill Bryson –

“O BIPEDALISMO é uma estratégia exigente e arriscada. Significa reformular a pélvis para que
ela se torne um instrumento sustentador de carga. Para preservar a força necessária, o canal
vaginal precisa ser relativamente estreito. Isso tem duas consequências imediatas muito
importantes e outra a longo prazo. Primeiro significa muita dor no parto e um risco de
fatalidade bem maior para a mãe e o bebê. Além disso, para a cabeça do bebê passar por tal
espaço apertado, ele precisa nascer enquanto seu cérebro é pequeno – portanto, enquanto o
bebê ainda é indefeso. Isso requer que a criança receba cuidados por um longo tempo, o que,
por sua vez, implica uma união sólida entre macho e fêmea. Tudo isso já é problemático o
suficiente quando se é o senhor intelectual do planeta, mas quando se é um austrolopitecino
pequeno e vulnerável, com o cérebro do tamanho de uma laranja, o risco deve ter sido enorme.

Um hominídeo erecto conseguia VER melhor (e preencher o cérebro com imagens), mas
também era visto (farejado) com mais facilidade. Mesmo agora, como espécie, somos
absurdamente vulneráveis na selva. Quase todo animal grande que você possa citar é mais
forte, mais veloz e possui mais dentes do que nós. (...) Portanto, por que nossos ancestrais
desceram das árvores e saíram da proteção das florestas para caminhar e se arriscar nas
savanas?

OBS
Por que abandonamos a segurança do quadrupedalismo e optamos pelo arriscado
bipedalismo? Tudo isso será esclarecido na próxima postagem. Mas fica o desafio: qual a sua
opinião a respeito? Por que decidimos descer das árvores e se arriscar nas savanas?

CAIM
José Saramago

“Estarás aqui dia e noite, dissera Lilith, Só não tinha acrescentado, Serás, quando assim o
decidir, o meu Boi de Cobrição, palavra esta que parecerá não só grosseira, como mal aplicada
no caso, uma vez que, em princípio, cobrição é coisa de animais quadrúpedes, não de seres
humanos, mas que muito bem aplicada está porque estes (agora bípedes) já foram tão
quadrúpedes como aqueles, por quanto todos sabemos que o que hoje denominamos braços e
pernas foi durante muito tempo tudo pernas, até que alguém se terá lembrado de dizer aos
futuros homens, Levantem-se que já é hora.”
5 – O Homo Erectus inventou a MEMÓRIA: De acordo as últimas descobertas da
paleontologia, o Homo Erectus (o intrépido bípede errante) tem início entre 7 e 8 milhões de
anos atrás (no PRESENTE ANTERIOR). Este evento determina a Aurora do Homem, pois o
bipedalismo permitiu a evolução da MEMÓRIA.

E com a memória, origina-se a INTELIGÊNCIA: o desenvolvimento da fala e da habilidade


manual, a confecção dos Instrumentos Acheulianos (a machadinha simples, em forma de
lágrima, foi a primeira peça de tecnologia avançada), o domínio do fogo, a caça (o primeiro
empreendimento coletivo e organizado), a invenção roda, a prática da agricultura,
domesticação dos animais, etc.

OBS: sem o BIPEDALIMO não haveria como evoluir a MEMÓRIA, e sem esta não haveria
INTELIGÊNCIA. Tudo isso será esclarecido na próxima postagem.

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CAPÍTULO

XXI
EINSTEIN & HAWKING
A ILUSÃO DO TEMPO EM 2 MENTES RADIANTES

O Tempo no Cérebro dos Imaginosos

Considerando que você, caro internauta, já possui um conhecimento razoável da teoria,


presumo que possamos compartilhar a ousadia de explicar como Albert Einstein (1879 – 1955)
e Stephen Hawking (1942 – 2018), criaram a ILUSÃO DO TEMPO – na cabeça.
O tempo na cabeça de

ALBERT EINSTEIN

O MENINO EINSTEIN
(site prof. C. A. dos Santos – Ufrgs)

“(...) Além do preconceito racial, suas dificuldades de memorização provocavam violentas


reações dos seus professores. (...) Um chegou a dizer que Einstein jamais chegaria a servir
para alguma coisa. (...). Provavelmente em razão desses traumas, (...) da infância à
adolescência, apenas três fatos lhe são relevantes: as lições de violino da sua mãe; as aulas de
geometria do seu tio Jakob e a bússola que ganhou do pai.”

EINSTEIN NASCEU OCO

a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição, EINSTEIN –


como um Universo bolha – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua essência, sem
história; sem passado; No entanto...
b – EINSTEIN – o memorioso: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no Presente,
Einstein foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória) com as
LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade. E assim, construiu o seu
PASSADO – na cabeça;

c – CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Einstein: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de Einstein (infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas em
sua Linha da Memória – dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, EINSTEIN criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, - distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’.

D – ENSTEIN E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu em 14 de


março de 1879, e faleceu em 18 de abril de 1955, significa que EINSTEIN Permaneceu no
Presente durante 76 anos (PP = 76);

e – “CORDEL DE FOGO ENCANTADO” – Autobahn de Lembranças: observe a ilustração


abaixo... A Linha da Memória de EINSTEIN – que contém as lembranças de todos os
episódios da sua vida – começa em 1879, com o seu nascimento, e segue de forma
contínua até findar-se em 1955, com a sua morte.

O CÉREBRO DE EINSTEIN
- contém as lembranças de todos os episódios da sua vida: infância, juventude, maturidade –
OBSERVE A ILUSTRAÇÃO

EINSTEIN não regressava na Esteira do Tempo pra lembrar da infância: lições de violino da
mãe, aulas de geometria do tio Jacob ou da bússola presenteada pelo pai – o tempo não
existe;

Ele regressava em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) para lembrar da sua infância.

F – O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Einstein viveu (Permaneceu no


Presente) durante 76 anos. Significa que ao final de sua existência, ele carregava em seu
cérebro um passado com 76 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

G – A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Einstein: o PASSADO de Einstein (as lembranças da


sua vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão causada pela
evolução da MEMÓRIA – na cabeça do ‘Homo Erectus’.

H – TBT – A máquina Neurológica do Tempo: Einstein pôde, sempre que quisesse, e durante
toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e refletir sobre seu
fantástico Universo Pessoal (E=mc²) – construído com as extraordinárias lembranças
(conhecimentos) da sua vida.
I – LEMBRANÇAS EFÊMERAS: à medida que as lembranças da infância de Einstein (as mais
antigas) vão se distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), cria a ilusão de
que se afastam na inexistente Esteira do Tempo que Passou;

j – EINSTEIN HUMANO – Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e LEMBRAR da juventude (preconceito, incompreensão, dificuldades financeiras,
etc.), Einstein SENTIA: amor, ódio, saudade, trauma, alegria, tristeza, orgulho, frustração,
arrependimento, revolta, gratidão, perdão, etc.

Veja a seguir mais algumas questões sobre Einstein em um


PRESENTE ABSOLUTO...

LEMBRANÇA
- nossa maior e mais fiel companheira –

não importa onde esteja ou aonde vá, seja dia ou noite, dormindo ou acordado,

EINSTEIN carregava – no cérebro – o peso das suas RECORDAÇÕES.

EINSTEIN não memorizou sua vida ao se deslocar na Esteira do Tempo;

Ele memorizou sua vida ao Permanecer no Presente – vivemos em um ETERNO PRESENTE.

EINSTEIN não envelheceu ao se deslocar 76 anos na Esteira do Tempo – não existe tempo;

Ele apenas se transformou ao Permanecer no Presente por 76 anos – o Presente é Absoluto.

NÓS lutamos para Permanecer no Presente; não para sobreviver ao TEMPO.


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O TEMPO NA CABEÇA DE

STEPHEN HAWKING

“Se tivesse uma Máquina do Tempo, voltaria ao ano de 1967, para o nascimento do meu
primeiro filho, Robert. Meus três filhos me trouxeram bastantes alegrias.”
Stephen Hawking

HAWKING NASCEU OCO

a – O PRESENTE É ABSOLUTO – vivemos em um Eterno Presente: nesta condição, HAWKING –


como uma Casca de Noz – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem conteúdo; sua essência, sem
história; sem passado. No entanto...

b – HAWKING – o memorioso: no entanto, ao MEMORIZAR a sua Permanência no Presente,


Hawking foi gradativamente preenchendo sua massa encefálica (Linha da Memória) com as
LEMBRANÇAS da sua vida: infância, juventude, maturidade. E assim, construiu o seu
PASSADO – na cabeça;

c – CIBERESPAÇO INTERIOR – O Cérebro Abissal de Hawking: as LEMBRANÇAS de todos os


episódios da vida de HAWKING (Infância, juventude, maturidade), estão impressas/contidas
em sua Linha da Memória – dentro do cérebro.

No entanto, por subestimar sua Vastidão Interior, HAWKING criou a ilusão de que suas
lembranças pessoais (seu passado) estão fora do seu cérebro, - distribuídas na inexistente
‘Esteira do Tempo que Passou’;

d – HAWKING E SUA IDADE – de Permanência no Presente: considerando que nasceu no dia 8


de janeiro de 1942, e faleceu no dia 14 de abril de 2018, significa que HAWKING Permaneceu
no Presente durante 76 anos (PP = 76);

e – “CORDEL DE FOGO ENCANTADO” – Highway de Lembranças: observe a ilustração abaixo...


A Linha da Memória de HAWKING – que contém as lembranças de todos os episódios da sua
vida – começa em 1942, com o seu nascimento, e segue de forma contínua até findar-se em
2018, com a sua morte;

O CÉREBRO DE HAWKING,
- contém as lembranças de todos os episódios da sua vida: infância, juventude, maturidade –
OBSERVE A ILUSTRAÇÃO

HAWKING não regressava na Esteira do Tempo para lembrar do nascimento do


seu primeiro filho, Robert – não existe tempo;

Ele regressava em sua Linha da Memória (dentro do cérebro) para lembrar do filho.

F – O ÔNUS DA EXISTÊNCIA – O Peso das Lembranças: Hawking viveu (Permaneceu no


Presente) durante 76 anos. Significa que ao final de sua existência, ele carregava em seu
cérebro um passado com 76 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

G – A ILUSÃO DO TEMPO – na Cabeça de Hawking: o PASSADO de Hawking (as lembranças da


sua vida) só existe dentro do seu CÉREBRO. O tempo, portanto, é uma ilusão causada pela
evolução da MEMÓRIA – na cabeça do Homo Erectus;

h – TBT – A Máquina Neurológica do Tempo: Hawking pôde, sempre que quisesse, e durante
toda a vida, regressar em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), e refletir sobre o seu
prodigioso Universo Pessoal (horizonte de eventos de um Buraco Negro) – formado pelas
extraordinárias lembranças (conhecimentos) da sua vida.

I – LEMBRANÇAS EFÊMERAS: à medida que as lembranças da juventude de HAWKING (as


mais antigas) vão se distanciando em sua Linha da Memória (dentro do cérebro), criam a ilusão
de que se afastam na inexistente Esteira do Tempo que Passou;

j – HAWKING HUMANO – Sentimental: ao regressar em sua Linha da Memória (dentro do


cérebro) e LEMBRAR dos principais episódios da sua vida, Hawking pôde SENTIR: amor, ódio,
saudade, trauma, alegria, tristeza, orgulho, frustração, arrependimento, revolta, gratidão,
perdão, etc.

Veja a seguir mais algumas informações sobre HAWKING em um


PRESENTE ABSOLUTO...

LEMBRANÇA
- nossa maior e mais fiel companheira –

Não importa onde esteja ou aonde vá, seja dia ou noite, dormindo ou acordado,

HAWKING carregava – no cérebro – o peso das suas RECORDAÇÕES.

HAWKING não memorizou sua vida ao se deslocar na Esteira do Tempo.

Ele memorizou sua vida ao Permanecer no Presente – vivemos em um ETERNO PRESENTE.

HAWKING não envelheceu ao se deslocar 76 anos na Esteira do Tempo – o tempo não existe;

Ele apenas se transformou ao Permanecer no Presente por 76 anos – o Presente é Absoluto.

NÓS lutamos para Permanecer no Presente; não para sobreviver ao TEMPO.

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No capítulo a seguir, veremos que quanto mais se Permanece no Presente (quanto maior a
nossa idade), maior será o Peso das Lembranças que teremos que transportar – no cérebro.

CAPÍTULO

XXII
A LONGEVIDADE E O PESO DAS LEMBRANÇAS
“A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER”

‘E o peso da existência recai como uma carga enfadonha


sobre os ombros do viajante solitário’
Adriana Tanese Nogueira

BREVE HISTÓRIA DE UMA CABEÇA DEVOLUTA

A – Cabeça de Vento: você – como o Espantalho da Terra de Oz – nasceu VAZIO: sem


conteúdo; sem essência, sem história; sem passado; no entanto...

Taxidermista de Lembranças

No entanto, à medida que vai memorizando sua Permanência no Presente, você irá
gradativamente preenchendo seu CÉREBRO com as lembranças da sua vida: infância,
juventude, maturidade. – E assim, constrói a sua INDIVIDUALIDADE – ou sua essência, - ou seu
conteúdo, - ou sua alma.
“Na minha opinião, depois da morte, a matéria deveria ser aniquilada. Seria o método mais
adequado para lidar com o corpo (...), essa miséria humana – um torrão de matéria. Assim os
corpos aniquilados voltariam diretamente para os buracos negros de onde vieram. As ALMAS
viajariam para a Luz com a velocidade da Luz. Isso se de fato existir algo como a ALMA.
SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS
Olga Tokarczuc

LEMBRANÇAS pessoais são os blocos de construção da nossa UNICIDADE

B – O ônus de SER: veja a seguir, 3 exemplos para ilustrar a equivalência entre a nossa IDADE e
o Peso das Lembranças – ou o peso da alma. Pois, como disse o Poeta...

“Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena.”

O Peso das Lembranças = O Peso da Alma

“Fui muito infeliz. Diria, até mesmo, que reduzida a nada. Inexistente. Vazia. Fui como meus
vizinhos (Violette – a Zeladora de Cemitério – mora no local de trabalho), mas pior. Minhas
funções vitais funcionavam, mas sem mim. Sem o peso de minha ALMA, que, segundo dizem
por aí, sejamos nós gordos ou magros, grandes ou pequenos, jovens ou velhos, é de 21
GRAMAS.”
AGUA FRESCA PARA AS FLORES
Valérie Perrin

OBS: segundo um estudo (ou experiência – não sei bem – apenas li numa resenha sobre ótimo
filme de Alejandro Iñárritu: 21 GRAMAS), ao pesar um corpo humano imediatamente após a
morte, este pesará 21 GRAMAS a menos. Não sei a origem do “estudo”, mas devo ressaltar
que quando o cérebro morre, as lembranças (nosso EU ou nossa ALMA) se extingue com ele.
Presumo que esse processo natural não possa ser medido nem pesado.

A BAGAGEM DO VIAJANTE 1
(Quanto mais se Permanece no Presente, maior será o Peso das Lembranças)
1 – Eternamente JOVEM: digamos que você tenha 16 anos de idade. Significa que você
Permanece no Presente há 16 anos, e, portanto – como um Atlas da existência – você carrega
em seu cérebro um PASSADO com apenas 16 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

Ao ser indagado sobre sua idade, você deve responder:


Permaneço no Presente há 16 anos (PP=16).

2 – LEMBRANÇA - nossa mais fiel Companheira de Viagem: e não importa onde esteja ou
aonde vá, dia e noite, dormindo ou acordado, você conduz – como uma cangalha no lombo
dos burros – um PASSADO com 16 anos de lembranças – na cabeça;

EM SEU CÉREBRO,
- você carrega, por enquanto, um fardo com apenas 16 anos de lembranças –

CADA CABEÇA, UM MUNDO DE LEMBRANÇAS

3 – Cabeça Peso Pena: é fácil carregar na cabeça um PASSADO com apenas 16 anos de
lembranças, não é mesmo? Seu cérebro ainda encontra-se faminto por MEMÓRIZAR: novos
conhecimentos, novas aventuras, novas experiências, novas descobertas, etc.

“No frigorífico vi uma mocinha comendo salchichas do lixo. Ela disse-me que quer um serviço
para andar bem bonita. Ela está com 15 anos. Época em que achamos o mundo maravilhoso.
Época em que a rosa desabrocha. Depois vai caindo pétala por pétala e surgem
os espinhos. Uns cansam da vida. Sucumbem.”
QUARTO DE DESPEJO
Carolina Maria de Jesus
4 – Expectativa de Permanência: considerando que nossa Expectativa de Vida é de 80 ANOS,
significa que você – oxalá, salvo dos infortúnios da vida – ainda poderá Permanecer no
Presente por mais 64 ANOS – independente dos ponteiros do relógio.

---------x-----------

A BAGAGEM DO VIAJANTE 2
- quanto mais se Permanece no Presente, maior será o peso das lembranças –

1 – A Idade da LOBA: digamos que você tenha 40 anos de idade. Significa que você Permanece
no Presente há 40 anos, e, portanto – como um Atlas da existência – carrega em seu cérebro
um PASSADO com 40 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

Ao ser indagado sobre sua idade, você deve responder:


Permaneço no Presente há 40 anos ( PP=40).

“Cada um tem seu passado (feito de lembranças) fechado em si (oculto no cérebro), tal como
um livro que se conhece de cor, mas que os outros apenas veem a capa.”
Virginia Woolf

2 – LEMBRANÇAS – nossa mais fiel Companheira de Viagem: e não importa onde esteja ou
aonde vá, dia e noite, dormindo ou acordado, você conduz – como uma cangalha no lombo das
mulas – um PASSADO com 40 anos de lembranças – na cabeça;

EM SEU CÉREBRO,
- você, por enquanto, carrega um fardo com 40 anos de lembranças –
CADA CABEÇA, UM MUNDO DE LEMBRANÇAS

3 – CABEÇA Peso Meio-Pesado: agora já não é tão fácil carregar na cabeça um PASSADO com
40 anos de lembranças (de êxitos e fracassos), não é verdade? Mas, enfim, você já teve seus
bons momentos, e o PRESENTE continua – apesar de tudo;

4 – Expectativa de Permanência: considerando que nossa Expectativa de Vida é 80 ANOS,


significa que você – oxalá, salvo das Balas-Perdidas da vida – ainda poderá Permanecer no
Presente por mais 40 ANOS,- independente dos ponteiros do relógio.

OBSERVAÇÃO

5 – CÉREBRO LISÉRGICO – Lembranças Psicodélicas: o álcool (drogas em geral) proporciona


prazer porque anulam provisoriamente o Peso das Lembranças – ou Ônus da Existência.
Significa que, sob o efeito das drogas, você...

NÃO LEMBRA das perdas, logo não sofre;

NÃO LEMBRA dos erros, logo não sente arrependimento;

NÃO LEMBRA dos fracassos, logo não sente frustração;

NÃO LEMBRA dos pecados, logo não sente culpa, etc.

Mas, na manhã seguinte, o entorpecimento se vai, e as lembranças – que são indeléveis –


ainda estão lá, vivas e pulsantes – em sua cabeça;

---------x---------
A BAGAGEM DO VIAJANTE 3
- Quase Cem Anos de Solidão –

1 – A GRANDE BELEZA – A Cruz dos Anos e a Eternidade e Um Dia: digamos que tenha 99 anos
de idade. Significa que você Permanece no Presente há 99 anos, e, portanto – como um ATLAS
da existência – carrega em seu cérebro um PASSADO com 99 anos de LEMBRANÇAS PESSOAIS.

Ao ser Indagado sobre sua idade, você deve responder:


Permaneço no Presente há 99 anos (PP=99).

“Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal


como sobreviveu na memória humana.”
Marguerite yourcenar

2 – LEMBRANÇA – nossa mais fiel Companheira de Viagem: e não importa onde esteja ou
aonde vá, dia e noite, dormindo ou acordado, você conduz – como uma cangalha no lombo de
um asno – um PASSADO com 99 anos de lembranças – na cabeça;

“Um passado agitado é uma doce companhia na velhice.”


Noel Clarasó

EM SEU CÉREBRO

- você agora carrega um fardo com 99 anos de lembranças -

(Tanto passado; quantas lembranças!)


CADA CABEÇA, UM MUNDO DE LEMBRANÇAS

“O que passou, passou. Mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre.”
(em nosso cérebro)
Johann Goethe

4 – CABEÇA Peso Pesado: definitivamente não é nada confortável carregar um PASSADO com
99 anos de lembranças – na cabeça. Portanto, a partir de agora, é mais aconselhável se
dedicar a atividades menos arriscadas, como por exemplo: praticar montanhismo,
paraquedismo, saltar de bungee jumping, estudar física nuclear... Enfim, é bom começar a se
mexer e fazer qualquer coisa, pois...

SE HOUVESSE UM ETERNO AMANHÃ, NADA FARÍAMOS HOJE


- mesmo Jogando Dados, deus sabe o que fez – e louvado seja por suportar o que nós fazemos –

“O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria
(boas lembranças). Armazena (no cérebro) suavidade para o amanhã.”
Leonardo da Vinci

5 - ...E a Real TERCEIRA IDADE: nosso corpo não ENVELHECE com o passar do tempo, - o
tempo não existe. Na realidade, nossa estrutura física tão somente se TRANSFORMA ao
Permanecer no Presente – vivemos em um eterno presente. Portanto...
Não há ENVELHECIMENTO; apenas TRANSFORMAÇAÕ

“Lembro do primeiro beijo como se fosse hoje!”


Vovô Abe Simpson

Como disse Bart Simpson, “os velhos (os mais transformados) odoram falar do passado”. E é
verdade, claro. Pois – me respondam os jovens bípedes – como não falar do PASSADO
se nós o transportamos em nossa cabeça?

“Como Nascem os Sinos”


“Como todo mundo, Tonico (o velho sineiro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Pretos) teme a morte, mas percebe que ela tem se aproximado devagar, sem escândalo, e isso
lhe dá certa tranquilidade. (...). E se eu tivesse tropeçado e morrido agora? Não chorariam no
meu velório, Tonico pensa. (...). Afinal quem sente falta de velhos tão velhos?”

“Tonico se lembra, porque lembrar agora é seu ofício.”

“Quando era menino, Tonico fazia esse mesmo caminho na companhia da mãe e das irmãs,
para assistir à missa, não mudou quase nada. (...). Lembra-se de como o povo se apinhava ali,
ele sempre arrepiado de sono e friagem, o menorzinho dos filhos. O padre dava ordem para o
repique do sineiro ainda no escuro e o sino tocava naquele breu, baloiçando para lá e para cá,
no alto da torre, como uma moeda reluz no fundo de um córrego. (...). Acabada a missa, ele
corria para fora da igreja, olhava para a torre e finalmente enxergava o pai lá em cima,
manobrando o badalo, tingido agora pela luz da manhã. Aos treze anos, começou a aprender
com ele a linguagem dos sinos, (...), para substituí-lo um dia no alto da torre. Os sinos. Amava-
os como o pai os tinha amado, (...), mas Tonico envelheceu (se transformou), agora não
consegue mais. Alguém, no entanto, precisa continuar. (...). Minha nossa, terei tempo (de
Permanência no Presente) para ensinar isso tudo? (...). Cadê Josué (seu sobrinho neto – um
desinteressado aprendiz) ? É, talvez devesse ter ensinado antes para outra pessoa, agora é
tarde. (...).”

ERVA BRAVA
Paulliny Tort

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“É impossível viver sem saber o que sou e para que estou aqui, - disse Liévin consigo. (...). Na
matéria infinita, no espaço infinito, surge um organismo-bolha, e então essa bolha se aguenta
um pouco, rebenta, e essa bolha sou eu. (...). Trata-se de uma verdade cruel, mas era o único e
derradeiro resultado dos esforços seculares do pensamento humano naquela direção. (...).”
ANNA KARIÊNINA
Liev Tolstól

No capítulo a seguir, veremos VOCÊ SENDO VOCÊ EM CINCO VERSÕES POSSÍVEIS , ou seja, 5
versões de quem VOCÊ poderia ter sido. O enunciado pode parecer um bocadinho confuso;
mas não se preocupe, - a explicação é muito simples.

Antes, porém, vamos repetir e explicar – em poucas palavras – como VOCÊ virou VOCÊ:

CAPÍTULO

XXIII
SUPERINTERESSANTE – OUTUBRO, 2009
Texto Rodrigo Rezende

O SEGREDO DE SER VOCÊ


“Como você virou você – a pessoa que você chama de EU.”

QUEM É VOCÊ?
SOMOS FEITOS COM LEMBRANÇAS
LEMBRANÇAS pessoais são os blocos de construção da pessoa que você chama de EU

O LEMBRADOR: como foi explicado, o PRESENTE É ABSOLUTO – significa que vivemos


em um ETERNO PRESENTE. Nesta condição, você – como uma garrafa PET abandonada num
lixão – nasceu com o CÉREBRO vazio: sem essência; sem história; sem passado. No entanto...

No entanto, à medida que ia memorizando sua Permanência no Presente, VOCÊ foi


gradualmente preenchendo o CÉREBRO (Linha da Memória) com as lembranças
da sua vida: idiomas, hábitos alimentares, costumes, manias, conhecimentos, profissões,
crenças, descrenças, gostos, desgostos, vícios, virtudes, afetos, desafetos e tudo mais. E assim,

VOCÊ passou a ter conteúdo e conquistou a sua INDIVIDUALIDADE

“(...) Ainda no ventre, uma gelatina, um girino, um troço cabeçudo, É extraordinário como se
formam um homem e uma mulher, indiferentes, lá dentro do seu ovo, ao mundo de fora, e
contudo com este mundo mesmo se virão defrontar, como rei ou soldado, corcunda ou
maneta (...), alguma coisa sempre, que tudo nunca pode ser, e nada menos ainda.
Porque enfim, podemos fugir de tudo, não de NÓS próprios. (...)”.
MEMORIAL DO CONVENTO
José Saramago

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LEMBRANÇAS pessoais são os blocos de construção da sua INDIVIDUALIDADE


- ou da pessoa que você chama de EU -
A CONQUISTA DA UNICIDADE

“Pensei que não há grande diferença entre as coisas e as pessoas, Têm sua vida, duram um
tempo, e em pouco acabam, como tudo no mundo, Ainda assim, se um cântaro pode substituir
outro cântaro, (...), o mesmo não acontecem com as pessoas, é como se no nascimento de
cada uma se partisse o molde de que saiu, por isso é que as pessoas não se repetem.
A CAVERNA
José Saramago

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VOCÊ NO MULTIVERSO

CINCO VOCÊ(S) QUE VOCÊ PODERIA TER SIDO

QUEM É VOCÊS CINCO?


A pergunta é intrigante, mas não se assuste; vamos esclarecer e torná-la inteligível. A partir
de agora demonstraremos VOCÊ sendo VOCÊ em 5 condicionais. Sim, é verdade, acredite: você
poderia SER, hoje, uma pessoa totalmente diferente do que É. Veja:
“Se EU não sou EU, quem diabos sou EU, então?!
Douglas Quaid
(Total Recall – Paul Verhoeven)

POSSÍVEL VOCÊ 1

VOCÊ 1 – O Católico: digamos que VOCÊ fala português, é católico, gosta de futebol, cerveja,
feijoada, samba e... é um Físico das Partículas (ninguém é perfeito! ).

No entanto, é preciso deixar claro que VOCÊ não nasceu assim, e nem fadado a sê-lo assim.
Todos esses conhecimentos e informações foram adquiridas (registrados em seu cérebro) no
decorrer de sua Permanência no Presente – ou no decorrer de sua vida.

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POSSÍVEL VOCÊ 2

VOCÊ 2 – O Xintoísta: digamos que VOCÊ, ao nascer, tenha sido adotado e criado no Japão.
Hoje, portanto, VOCÊ falaria Nihongo, seria xintoísta, adoraria sumô, beberia saquê, comeria
karaage, ouviria enka e... seria um taxonomista (só pode ser Karma!).

Fisicamente VOCÊ seria o mesmo, mas o seu CÉREBRO teria sido preenchido com diferentes
lembranças: outro idioma, outras crenças, outros hobbies, outros hábitos alimentares, outros
gostos musicais, outra profissão, outros conhecimentos, outros conceitos, outros
preconceitos...

EXPLICAÇÃO

O CORPO, o mesmo; O CONTEÚDO, diferente

VOCÊ nasceu com o HD virgem, - ou com o cérebro vazio. Portanto, você PODERIA...

a) Falar qualquer língua: memorizar os ideogramas e o significado de qualquer idioma;

b) Professar qualquer credo: memorizar os rituais/cerimoniais de qualquer religião;


c) Gostar de qualquer esporte: memorizar a coreografia e as regras de qq modalidade;

d) Gostar de qualquer bebida: memorizar o sabor e habituar-se aos efeitos de qq destilado;

e) Gostar de qualquer comida: memorizar o sabor e habituar-se ao gosto de qq iguaria;

f) Gostar de ouvir qualquer música: memorizar os sons e vir a apreciar qq estilo musical;

g) Exercer qualquer ofício: memorizar os conhecimentos e técnicas de qualquer profissão;

CONCLUSÃO

Você NÃO nasceu católico ou islamita, falando português ou bengali, adorando futebol
ou cricket, apreciando feijoada ou mughlai, fadado a ser engenheiro de software ou gari, etc.

Tudo isso são conhecimentos-costumes-hábitos-comportamentos naturalmente impostos


pelo GRUPO (tribo, clã, país) ao qual VOCÊ pertence, - e memorizados em seu cérebro
no decorrer da sua vida.

“Conte-nos o que VOCÊ deseja ser e nós lhe implantaremos as MEMÓRIAS equivalentes (em
seu cérebro). Quer ser um policial? Ou ser um atleta de elite? Ou ser um agente secreto?
FALA DO VENDEDOR DA EMPRESA RECALL
( “Total Recall” - Paul Verhoeven – à Philip k. Dick)

A Língua Original

I - IDIOMAS – ouvindo os SONS no cérebro: veremos agora como utilizamos o CÉREBRO para
aprender a FALAR qualquer vernáculo. Primeiro ouvimos o SOM da palavra e a registramos no
cérebro. Em seguida – ouvindo o som da palavra (pa-ra-le-le-pí-pe-do) no cérebro – tentamos
reproduzi-la com a VOZ. Este processo é válido para todas as palavras e para qualquer idioma:

primeiro ouvimos os sons de uma palavra (de qualquer idioma) e a registramos no cérebro;
em seguida, tentamos reproduzi-la com a voz.

II - Surdez – Mudez: é por este motivo que todo surdo também é mudo – embora não tenha
nenhum problema vocal. Ou seja, o surdo – impossibilitado de registrar os SONS das palavras
no cérebro – não consegue reproduzi-las com a VOZ.

III - Mamã, Mamã, Mamã: por ser esta - MAMÃE - a palavra mais repetida pelas zelosas
progenitoras (pequerrucho da mamãe; miúdo da mamãe, pimpolho da mamãe; pirralho da
mamãe, etc.), é natural que seja a primeira palavra balbuciada pelas crianças.
O bebê ouve a palavra e a memoriza; em seguida – ouvindo os SONS (mamãe – mamãe -
mamãe) no cérebro – a criança tenta reproduzi-la com a VOZ: mamã, mamã, mamã. Mesmo
sem saber o seu real significado.

IV – “O Homem que Sabia Javanês”: a propósito, não existe Língua Original (hebraico,
aramaico, grego, tupi-guarani). Nosso CÉREBRO nasce vazio; - podemos aprender (memorizar)
qualquer idioma.

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POSSÍVEL VOCÊ 3

VOCÊ 3 – O Clone: clonar a si mesmo só se prestaria à realização de um capricho (estético) fútil


e despropositado.

Em outras palavras, seu CLONE, é verdade, seria fisicamente idêntico a VOCÊ. No entanto,
como nasceria com o CÉREBRO vazio (sem conteúdo; sem história; sem passado), o CLONE iria
preenchê-lo com as próprias LEMBRANÇAS: outros idiomas, outras profissões, outros
costumes, outras crenças, outras descrenças, outros gostos, outros desgostos, outras vitórias,
outros fracassos, outros vícios, outras virtudes, outros afetos, outros desafetos - e tudo mais.

E assim, o seu CLONE construiria a sua própria individualidade – que, por sua vez, seria
completamente diferente da sua. Em linguagem figurada diríamos que o livro clonado teria a
mesma capa, porém seu conteúdo seria completamente distinto: pois cada um escreveria a
sua própria história de vida.

Por exemplo, você é um sujeito agitado e gosta da música barulhenta e cavernosa da cantora
ENYA; seu clone seria um sujeito zen e prefere a música calma e contemplativa da banda
SEPULTURA. Entendeu? É por aí...

‘LEMBRANÇAS são os blocos de construção da nossa INDIVIDUALIDADE’


em outras palavras...

Seu CORPO é clonável; já as suas lembranças pessoais (o seu EU) é inclonável*.

*perdão pelo neologismo infame, e pela nulidade do assunto.

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POSSÍVEL VOCÊ 4

VOCÊ 4 – O Ignaro: digamos que seus pais tivessem “escolhido” (certas ou desastradas, somos
a única espécie capaz de fazer escolhas), - mas caso seus pais optassem pela
irresponsabilidade de não EDUCÁ-LO (não enviá-lo à escola para preencher seu cérebro com
conhecimentos), hoje VOCÊ seria fisicamente o mesmo, no entanto – com o cérebro vazio de
conhecimentos – VOCÊ não teria condições intelectuais de LER e muito menos entender o que
acaba de LER agora.

EXPLICAÇÃO

I - Miolos Eruditos: diferente do exemplo acima, seus pais foram responsáveis e o educaram
corretamente. O que faz de você um indivíduo ESCOLARIZADO – ou seja: apesar de ter nascido
com a cabeça vazia, hoje você possui um CÉREBRO (Linha da Memória) repleto de
conhecimentos. Observe a ilustração...

SEU CÉREBRO
contém todos os conhecimentos adquiridos no decorrer de sua Permanência no Presente
“O homem nasceu para aprender (preencher o cérebro com conhecimentos).
Aprender tanto quanto a vida lhe permita.”
Guimarães Rosa

II - Biblioteca de Lembranças: a Linha da Memória (dentro do cérebro) é o cabedal onde


arquivamos todos os conhecimentos adquiridos durante a vida; - conhecimentos que você irá
transportá-lo na cabeça por toda a vida. E quanto mais conhecimentos (acumulados no
cérebro), maior será: seu poder de criatividade, empreendimento, aprimoramento, melhores
oportunidade de empregos, melhores salários e tudo mais.

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POSSÍVEL VOCÊ 5

VOCÊ 5 – O Herdeiro: digamos que seus pais fossem ambos ganhadores do NOBEL; mas,
apesar disso, optassem por não EDUCÁ-LO (não preencher o seu cérebro com conhecimentos).
Nesse caso, hoje VOCÊ seria um analfabeto como outro qualquer: com pouca instrução e
subempregado.

Isto acontece porque nós HERDAMOS apenas os traços físicos (genéticos) dos nossos pais:
alto, baixo, gordo, magro, careca, gadelhudo, narigudo, vesgo, cabeçudo, feioso,
malproporcionado (vou parar de me descrever), etc. Nós NÃO herdamos as LEMBRANÇAS
(conhecimentos acumulados no cérebro) dos nossos pais.

Portanto – mesmo sendo filho de pais com mentes brilhantes, - como o seu cérebro nasceu
VAZIO (sem conhecimentos), permanecerá VAZIO.

CONCLUSÃO

Acabamos de ver VOCÊ sendo VOCÊ em 5 condições diversas. No entanto, é preciso


deixar bem claro que você poderia ser diferente do é INTELECTUALMENTE, mas não diferente
em HUMANIDADE. – Ou seja: você – em qualquer das 5 condições descritas – manifestaria as
mesmas emoções: amor, ódio, dor, culpa, orgulho, frustração, gratidão...

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CAPÍTULO

XXIV
UMA BREVE FÁBULA DO ESPAÇO-TEMPO
- a inexistente 4ª dimensão -

‘BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO’


Bill Bryson

“O mais desafiador e antiintuitivo de todos os conceitos na teoria da Relatividade Geral é a


ideia de que o TEMPO faz parte do ESPAÇO. (...) Na verdade, de acordo com Einstein, o TEMPO
é variável e está sempre mudando. Possui até uma forma. Ele está associado –
“inextricavelmente interligado”, na expressão de Stephen Hawking – às três dimensões do
espaço (altura, largura e comprimento) formando uma 4ª dimensão curiosa denominada
ESPAÇO-TEMPO. (...).”

“O maior inimigo do conhecimento é a ilusão da verdade”.


Stephen Hawking

Ilusões da Verdade
1 - ESPAÇO-TEMPO: este conceito – formulado no início do século passado – só ganhou forma
(e credibilidade) porque na época, mais do que hoje, acreditava-se na existência do TEMPO; e,
por conseguinte, era necessário incluí-lo em algum lugar.

E assim, por pura falta de opção, resolveram associar e interligar o suposto TEMPO às 3
dimensões do ESPAÇO (altura, largura e comprimento), para formar o disparatado e
inexistente espaço-tempo – a fictícia 4ª DIMENSÃO. Leia o trecho a seguir...

SUPER INTERESSANTE
pubc. 31 mai 2007 – atul. 31 out 2016
Salvador Nogueira

“QUANTAS DIMENSÕES EXISTEM NO UNIVERSO? – A teoria de Einstein diz que são 4, mas há
cientistas que falam de 11 ou mais dimensões (Teoria M, Teoria das Cordas, Teoria da
Supergravidade, - e outras bizarrices do gênero). Afinal, quem é que está certo?

No início do século 20, a resposta era tão óbvia quanto velha (contudo correta!). Euclides, lá na
Grécia antiga, já havia sacado que são 3 as direções possíveis para qualquer movimento (em
relação a qualquer objeto): para cima ou para baixo (altura); para a esquerda ou para a direita
(largura) e para a frente ou para trás (comprimento). Portanto, o ESPAÇO possui 3 dimensões:
altura, largura e comprimento. Fácil, não?

Até que, em 1905, Einstein começou a bagunçar tudo (literalmente – lamento, mas é verdade).
Nesse ano, ele fez 3 descobertas importantes e (... uma delas envolve a equivalência entre
tempo e espaço – para formar o destrambelhado espaço-tempo – a equivocada 4ª
dimensão).”

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Amigo Imaginário

2 - Tyler Durden Isn’t Real: como veremos a seguir, essa curiosa 4ª DIMENSÃO (espaço-tempo)
é apenas um involuntário ente imaginário - uma pegadinha cerebral culposa. O problema é
que este conceito serviu para despertar uma espécie de ‘Godzilla Adormecido’: um
tresloucado Chupacabra-de-Sete-Cabeças. Pois, como vimos acima, já existem interpretações
do Universo com DEZENAS DE DIMENSÕES (!!!???), - é mole ou quer mais?!.

Presumo que o ‘raciocínio’ seja o seguinte: se o Einstein inventou a 4ª dimensão, que mal tem
em acrescentar mais um bocadinho? Mas, enfim, pergunto, por que complicar tanto se a Física
não passa da busca da simplicidade final?

A BUSCA DA SIMPLICIDADE DERRADEIRA


(Leon Lederman – Nobel Física 1988)

“O modelo padrão – tosco e incompleto – carece de elegância e simplicidade. Ele é complicado


demais. Possui excesso de parâmetros arbitrários. Não imaginamos realmente o Criador
girando vinte botões para definir vinte parâmetros a fim de criar o Universo que nós
conhecemos. A Física não passa da busca da simplicidade derradeira.
BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO
Bill Bryson

*Ele se refere ao Mundo Subatômico – às partículas – mas seu conceito se aplica a toda a Física.

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3 – Um Milagre Tridimensional: Reconheço que o Universo é um prodígio infinito; no entanto,


ele possui apenas 3 dimensões: altura, largura e comprimento. Ou seja, não existe TEMPO, e
muito menos espaço-tempo – a extravagante 4ª dimensão.

Na realidade, apenas o ESPAÇO realmente existe. Veja...

a - VOCÊ – Estacionário no Presente – se desloca no ESPAÇO, não no tempo;

b - A TERRA – Estacionária no Presente – translada no ESPAÇO, não no tempo;

c - O UNIVERSO – Estacionário no Presente – se expande no ESPAÇO, não no tempo;

conclusão
o ESPAÇO é real; o TEMPO, uma ilusão
--------X------

Site Esportelandia.Com

“Em 2009, no Campeonato Mundial de Berlim, USAIN BOLT correu os 100 metros em 9,58
segundos, naquele que é o melhor tempo da história até hoje.”
EXPLICAÇÃO

Bolt – ao Permanecer no Presente por apenas 9,58 segundos – consegue se


deslocar 100 metros – no ESPAÇO
PORTANTO

Usain Bolt se desloca no espaço, não no tempo

Bolt e a Corrida Espacial

4 – USAIN BOLT: embora um fenômeno, ele apenas se desloca no ESPAÇO, não no tempo.
Caso o BOLT , numa prova de corrida, se deslocasse no tempo, certamente já teria sumido do
PRESENTE, - e estaria perdido “em algum lugar do futuro”.

Sem contar que, seus concorrentes, atônitos, ficariam extraviados “em algum lugar do
passado”. Convenhamos, isso não faz o menor sentido.

Na realidade, em qualquer prova de velocidade, todos os atletas iniciam a corrida no presente;


a executam no presente; e a concluem no presente. Portanto, Bolt...

BOLT, em relação aos adversários, chega à frente no ESPAÇO:


1 metro, 2 metros, 10 metros, etc.

BOLT não chega à frente no TEMPO: 1 segundo, 2 segundos, 10 segundos, etc.

Bizarrice Temporal

Sem contar que ainda há uma outra bagaceira temporal para complicar, vejamos: caso o BOLT,
numa corrida, se deslocasse na Esteira do Tempo, e, por alguma razão, parasse na metade do
trajeto, ele ficaria estacionário no TEMPO (?!).

E se BOLT, estacionário na metade da corrida, fizesse uma volta de 180 graus e regressasse ao
ponto de partida, ele voltaria ao PASSADO (?!). É evidente que nada disso ocorre, pois...

Tudo se desloca no ESPAÇO; Nada se desloca no TEMPO

Bolt se desloca no ESPAÇO, não no tempo;

Uma Ferrari se desloca no ESPAÇO, não no tempo;

Você se desloca no ESPAÇO, não no tempo;

Assim como...

Um átomo se desloca no ESPAÇO, não no tempo;

A Terra translada no ESPAÇO, não no tempo;


A Via Láctea se desloca no ESPAÇO, não no tempo.

Nosso Universo se expande no ESPAÇO, não no tempo.

O Salto de Niels Bohr


O Salto Quântico – por mais desconjuntado que seja - acontece no ESPAÇO, não no tempo;

Pois um elétron (as partículas) se desloca no ESPAÇO, não no tempo;

A Gravidade de Isaac Newton


A Atração Gravitacional (que os objetos exercem uns sobre os outros) é uma consequência da
curvatura do ESPAÇO; não da curvatura do TEMPO .
POR EXEMPLO

Em nosso Sistema Solar, o SOL – com sua grande massa – provoca um arqueamento
(encurvamento) no colchão do ESPAÇO; atraindo, dessa forma, a Terra e os demais planetas
em direção ao seu centro.

Portanto, o nosso SOL provoca tão somente uma DOBRA ESPACIAL; não uma DOBRA
TEMPORAL. Pois, como já dissemos, o tempo não existe.

IMPACTO KT

Queda de Asteroide – Extinção dos Dinossauros

- fim do período Cretáceo (K); início período Terciário (T) –

A Era dos Dinossauros: eles reinaram e conseguiram Permaneceram no Presente por cerca de
160 milhões de anos; até que foram extintos há cerca de 65 milhões de anos (no Presente
Anterior). A extinção em massa fez desaparecer aproximadamente 90% das espécies
terrestres. Mas entre as espécies sobreviventes, estavam os pequenos mamíferos – nossos
“ancestrais”.

ESPAÇO VAZIO
- HÁ VAGAS -

Portanto, o ESPAÇO antes ocupado pelos dinossauros tornou-se vago (com a sua extinção), e
foi gradativamente preenchido pelas espécies sobreviventes. Em outras palavras...

Uma espécie substitui uma outra no ESPAÇO, não no tempo.


DR – DISCUTINDO A RELAÇÃO

dar um TEMPO na relação – ou - dar um ESPAÇO na relação

Numa separação amistosa, o ex-casal se distanciam no ESPAÇO, não no tempo. Pois no caso de
uma reconciliação, o casal regressa no ESPAÇO. Ou seja, anula o ESPAÇO que os separavam e
se reencontram. Ou você acha que o casal, ao se reencontrar, regressam no TEMPO. Isso não
faz o menor sentido, concorda? Portanto, o correto seria afirmar:

“Vamos dar um EPAÇO na relação, - para que, distante um do outro,


possamos refletir e, quem sabe, solucionar nossos conflitos ”

5 - UM MILAGRE EM 3D -- 1 é pouco; 2 é bom; 3, apenas 3 dimensões é perfeito!: o Universo é


um Espanto Infinito, mas possui apenas três dimensões: Altura, largura e comprimento.
Portanto, lamento afirmar, mas com relação ao denominado espaço-tempo (a fantasiosa 4ª
dimensão), ambos, Einstein e Hawking, estavam errados. Pois...

apenas o ESPAÇO é real; o TEMPO é uma ilusão

“O Universo é um sonho de um sonhador infinito.”


Fernando Pessoa

Deus é um operário, sonhador, talvez; - mas não um mágico excêntrico. Portanto, Ele criou o
mundo com apenas 3 dimensões – e gostou do que viu, dizem.

Já a disparatada 4ª DIMENSÃO (espaço-tempo), não passa de um desnecessário adorno


humano; um adereço inventado pela mente humana e acrescentado à Criação – com a
intenção, talvez, de cobrar direitos autorais pelo Conjunto da Obra. E como diria o saudoso Pe
Quevedo, com autoridade para falar por Ele:

“A Quarta Dimenson Non Ecxiste!”

A Ilusão da Verdade na Cabeça de Stephen Hawking


6 - A Teoria de Nada: mesmo que respeitosamente, devo afirmar que as especulações de
STEPHEN HAWKING ( A Teoria de Tudo, Anéis de Tempo, Buracos de Minhoca, Paradoxo dos
Gêmeos, Máquina do Tempo, “Back To The Future”, etc ), são apenas obras da sua fértil
imaginação; são ilusões da verdade - em suas próprias palavras.

Leia a seguir um trecho do seu livro O Universo Numa Casca de Noz...

“Viagens no Tempo. É difícil especular abertamente sobre esse tema, pois corre-se o risco de
provocar protestos contra o desperdício de dinheiro público, ou receber uma solicitação de que
a pesquisa seja secreta para fins militares. (...). Você pode estar pesando que este capítulo faz
parte de uma conspiração do governo para encobrir as Viagens no Tempo. Talvez você esteja
certo. (...). Afinal, como poderíamos nos proteger de alguém com uma Máquina do Tempo?
Essa pessoa (ou grupo terrorista, por exemplo) poderia mudar a história e dominar o mundo.
(...)”

lamento afirmar, mas esse cyberpunk atentado terrorista (“The Time Traveller”), especulado
por Hawking, jamais será posto em prática. Por um motivo elementar:
o tempo não existe – exceto na cabeça dos bípedes.

7 – A Guerra dos Mundos – H. G. Wells: em certa ocasião, HAWKING afirmou que Civilizações
Extraterrestres poderiam ser hostis. Segundo ele, nós seríamos colonizados- escravizados pelos
malvados ET’ S.

”Por isso o nosso avô sempre relembrava: Nem precisamos de inimigos. Sempre nos
bastámos a nós mesmos para nos derrotarmos”.
A CONFISSÃO DA LEOA
Mia Couto

8 - Ex Machina – Instinto Artificial: Hawking afirmou ainda que a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


poderia ser um risco para humanidade. – Ele talvez tenha esquecido que, até onde se sabe,
quem perpetrou o HOLOCAUSTO e construiu as bombas Little Boy e Fat Man foi o homem! Ou
por acaso teria sido o robô T 1000? Ou, talvez, o HAL 9000?

Enfim, são argumentos absurdos; mas nós os abordaremos em outra oportunidade. Peço
desculpas novamente pelo tom hostil, mas não posso defender meu trabalho sem
questionar o trabalho alheio. Afinal, como diria Mark Twain:

“Se as pessoas não tivessem opiniões diferentes, não haveria corridas de cavalos”.

9 - CRIAÇÃO & FX: assim como o Realismo Mágico na literatura, os Efeitos Especiais
funcionam muito bem no cinema – mas apenas no cinema. Portanto, o universo é um
MILAGRE INFINITO, mas possui apenas 3 dimensões: altura, largura e comprimento.

O Tempo na Hora do Espanto

O tempo (espaço-tempo - a inexistente 4ª dimensão) é tão somente uma abstração, um mero


POLTERGEIST que – como todo fantasma que se preza – só existe em nosso CÉREBRO.

Chroma Key

Afinal de contas, me responda caro internauta: quem você acha que criou o mundo?
Teria sido “Deus”, ou a ‘Industrial Light & Magic’, do George Lucas?

ODE À BELA REALIDADE INFINITA


- três dimensões me bastam! -

“A espantosa REALIDADE das coisas;


É a minha descoberta de todos os dias;
Cada coisa é o que é;
E é difícil explicar o quanto isso me alegra;
E quanto isso me basta.”
-- “Alberto Caeiro” –

”Que maravilhoso e surpreendente esquema temos aqui da magnífica


imensidão do universo (EM 3D). Tantos Sóis. Tantas Terras...!”
Christian Huygens
Stephen Hawking
(1942 – 14 março, 2018)

Lamento sua morte (acabei de ver no JN), e peço desculpas pelo tom propositalmente
agressivo que usei para, ao desqualificar seu trabalho, chamar a atenção para o meu. Enfim -
por falta de alternativas, ou de talento - me utilizei de artifícios de um anônimo, que mora
numa região anônima, de um país intelectualmente anônimo.

“conhecimentos são ideias em movimento“

10 - NEWTON – O Feiticeiro da Renascença (1642 – 1727): o pai da Lei do Movimento e da


Gravitação Universal, entre outros feitos, dedicou a maior parte da vida não às ciências exatas
(física e matemática), mas à ALQUIMIA. Seu objetivo era encontrar a Pedra Filosofal e outras
tolices do gênero. Portanto, assim como Hawking, todo gênio tem o direito de especular e
formular bobagens. Pois...

- os erros fazem parte da evolução do conhecimento -

-Trecho retirado de G1 – 12 FEV 2016


“(...) A primeira detecção de Ondas Gravitacionais (que provocam distorções, dobras no
Espaço-Tempo), fenômeno previsto por Einstein há 100 anos, podem permitir Viagens no
Tempo (...), Ou ir para outro planeta em questão de segundos, por exemplo. Essas ideias, que
vêm dos filmes de ficção, podem estar mais próximas de virar realidade. Afirma pesquisador do
INPE, *Fulano Beltrano Cicrano Henry DeTamble.

*melhor não nomear o autor desse delírio temporal.

11 – Minha Teoria Está Correta: no entanto – ao contrário dos meus pares – não sou
diplomado em HARVARD e muito menos em CAMBRIDGE. Em outras palavras, não possuo
‘bons antecedentes’ (credibilidade, claro está). Portanto, divulgá-lo não será uma tarefa fácil –
e é bem provável que permaneça no anonimato. Mas devo pelo menos tentar.
OBS

a – Cacos da Realidade: ISAAC NEWTON não inventou a Gravitação Universal, ele apenas
desvendou uma fração da realidade. CHARLES DARWIN não inventou a Evolução das Espécies,
ele apenas desvendou uma fração da realidade.

EINSTEIN não inventou a equivalência entre massa e energia (E = MC 2), ele apenas desvendou
uma fração da realidade. Descobriu que ambas são duas formas da mesma coisa: massa é
energia concentrada; energia é massa dispersa , - aguardando acontecer.

b – “Lavo Minhas Mãos”: também no meu caso, apenas desvendei uma fração da realidade.
Assim sendo, quem teve a monumental tarefa de criar o UNIVERSO ESTÁTICO (Estacionário no
Presente) só pode ter sido “DEUS”. Eu apenas desvendei esse pequeno detalhe; – fiquei com a
tarefa mais fácil, acreditem.

-------------x-------------

Neste último capítulo, veremos que tudo que já existiu se TRANSFORMOU em tudo que agora
existe; nenhum um único átomo foi desperdiçado; tudo é reciclado; todos nós somos feitos
com material retornável. Pois...

TUDO SE TRANSFORMA (E MORRE); MAS SE CONSERVA NO PRESENTE


PARA SE TRANSFORMAR EM OUTRAS FORMAS

“Todos os seres derivam de outros seres mais antigos


por transformações sucessivas”
Frase/ideia atribuída a
ANAXIMANDRO DE MILETO
XXV
“Todas as coisas são feitas de átomos (nós, inclusive). Eles estão por toda a parte e
constituem tudo o que existe. Olhe à sua volta. Tudo são átomos. Não apenas os objetos
sólidos, mas o ar entre eles. E além de serem fantasticamente duráveis,
eles estão aí em números inconcebíveis.”
RICHARD FEYNMAN

LIXÃO DE ÁTOMOS A CÉU ABERTO


SOMOS TODOS FEITOS COM ÁTOMOS RETORNÁVEIS
- Lei de Lavoisier -

Antoine-Laurent Lavoisier: como já dissemos, a teoria do PRESENTE ABSOLUTO nada mais é do


que a confirmação/reinterpretação da lei da Conservação da Massa, de Lavoisier. Veja
novamente o trecho de...

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO


Bill Bryson

“(...) Durante anos, ele e madame Lavoisier ocuparam-se de estudos rigorosos. Eles
descobriram, por exemplo, que um objeto que enferruja não perde peso, como se acreditava;
pelo contrário, ganha peso – uma descoberta extraordinária. De algum modo, ao se oxidar, o
objeto atraía partículas básicas do ar. Foi a primeira percepção de que a matéria pode ser
TRANSFORMADA, mas não eliminada (e muito menos diluída pelo envelhecimento). Se você
queimasse este LIVRO agora, sua matéria se transformaria em cinza e fumaça, no entanto a
quantidade líquida de matéria no Universo continuaria a mesma (a cinza e a fumaça se
Conservaria no Presente – para serem transformadas em outras formas). Um conceito
revolucionário. Isto se tornou conhecido como a lei da Conservação da Massa (ou lei da
Conservação no Presente). Infelizmente, coincidiu com outro tipo de revolução – a Revolução
Francesa -, e nela Lavoisier estava do lado totalmente errado.(...)”
A – FAHRENHEIT 451: o LIVRO, ao queima-se, deixou de existir, evidentemente; mas toda a
matéria resultante da queima (cinza e fumaça) se Conservou no Presente.

Este entendimento deve ser estendido a todo o Universo. Em outras palavras, tudo no mundo
se transforma (vive, morre e se desintegra), mas os despojos se CONSERVAM no PRESENTE –
para serem reaproveitado na formação de outras formas. Veja outro trecho do mesmo livro...

NATUREZA

A Extraordinária Catadora de Átomos Recicláveis

“Por serem tão longevos, os ÁTOMOS realmente circulam. Cada átomo do seu CORPO já deve
ter passado por várias estrelas e feito parte de milhões de organismos no caminho
(transformações) até VOCÊ.

Cada um de NÓS é tão numeroso atomicamente e na morte é tão vigorosamente reciclado que
é provável que um número significativo dos SEUS átomos – até 1 bilhão, estimou-se – tenha
pertencido a Shakespeare. Outro bilhão veio de Buda e Genghis Khan e Beethoven e qualquer
outra figura histórica que lhe venha à cabeça. (...).

Portanto, somos todos reencarnações (atômicas - materiais) – embora efêmeras. (...). Ao


morrermos, por conseguinte, os nossos átomos (SE CONSERVARÃO NO PRESENTE E)
procurarão novas aplicações: como parte de uma folha, outro ser humano ou uma gota de
orvalho. (...)”
BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO
Bill Bryson

“Disse vó Janaína, - Vê Dora, uma fulozinha, assim que nem você. Dentro dela tem tudo o que é
a vida. Vê como as pétalas estão, em círculo. A vida é círculo, Fia. Cada coisa nesse mundo
nasce para morrer, e morre para nascer. Gente volta a ser terra, a ser chuva, a ser mar. Gente
volta a fazer parte do espírito alumioso de Deus; Gente volta a ser força da natureza; Gente
volta a integrar-se ao espírito alumioso do que transita.”
GAMELEIRA-BRANCA
Sofia Aroeira

ASHES to ASHES
David Bowie
De acordo com citação acima, podemos concluir que...

I – Caso nosso Universo chegue ao fim (com o Big Crunch?), tudo se transformaria em PÓ
(cinza e fumaça), mas toda essa matéria resultante se Conservaria no Presente – para se
transformar (sabe-se lá Deus!) em um outro Universo (?);

II – Caso a Terra (nosso Sistema Solar) chegue ao fim, tudo se transformaria em PÓ (cinza e
fumaça), mas toda essa matéria resultante se Conservaria no Presente – para se transformar
em outros planetas, outras estrelas, outras galáxias;

III – Ao morrermos, nosso corpo se transformará em PÓ (cinza e fumaça), mas toda essa
matéria resultante se Conservará no Presente – para, ao se transformar, fazer parte de uma
folha, outro ser humano ou uma gota de orvalho.

“Nada se perde; tudo se transforma”

B - A MASSA E A ENERGIA – se Conservam no Presente: ainda sobre o trecho de Breve História


de Quase Tudo, fica bem claro que todos, absolutamente todos os ÁTOMOS (massa e energia)
que constituíam tudo que já existiu (dinossauros, Homem de Neandertal, preguiça-gigante,
mamutes, Colosso de Rodes, Biblioteca de Alexandria, Dodô, Lobo da Tasmânia, World Trade
Center, - e tudo mais), se CONSERVARAM NO PRESENTE - e foram reutilizados para construir
tudo que agora existe:

outros quadrúpedes, outros bípedes, outras estátuas, outras bibliotecas,


outras Torres Gêmeas, - e tudo mais.

C – O ESCTRANHO CASO DO CACHORRO – Mark Haddon: no trecho desse livro a seguir, nosso
protagonista mirim, Christopher Boone, explica (sem perceber) que tudo se TRANSFORMA
(morre e se desintegra), mas toda essa matéria resultante se Conserva no Presente para
serem reutilizados na FORMAÇÃO de outas formas...

“O que ocorre na realidade quando você morre é que seu cérebro para de trabalhar e seu
corpo apodrece, como aconteceu com o coelho, quando ele morreu, e nós o enterramos na
terra, nos fundos do jardim. E todas as suas moléculas foram partidas em outras moléculas que
se misturaram à terra, que são comidas por vermes e vão para as plantas, e se a gente cava no
mesmo lugar, dez anos (de Permanência no Presente) depois, não vai encontrar nada, exceto o
esqueleto. E mil anos (de Permanência no Presente) depois, o esqueleto também desaparece.
Mas, tudo bem, sendo assim, porque agora ele (o ex- coelho) é parte das flores, da macieira e
dos arbustos. (...).

Mas a mãe foi cremada. (...). Isso significa que ela foi colocada num caixão e queimada e virou
pó, e depois cinza e fumaça (que se Conservou no Presente). Eu não sei o que aconteceu com a
cinza e não pude perguntar no necrotério porque não fui ao funeral. Mas a fumaça sai pela
chaminé, entra no ar e tem vezes que eu procuro no céu e fico achando que há moléculas da
mãe lá em cima, ou nas nuvens sobre a África ou sobre a Antártica, ou caindo como chuva nas
florestas tropicais do Brasil, ou como neve em algum lugar. (...).”

TIRANDO A CARTOLA PARA O MESTRE

Segundo o poeta, “O Mundo é Um Moinho” que – Estacionário no Presente – se


TRANSFORMA (e se expande) desde o Big Bang;

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O GRANDE RECICLADOR DO UNIVERSO


- NADA se perde; NADA morre; TUDO se transforma -

-- LAVOISIER --

1- Tudo se CONSERVA NO PRESENTE – e é reaproveitado: de acordo com as citações acima,


podemos afirmar que a quantidade de ÁTOMOS no Universo permanece inalterável desde o
Big Bang. Portanto, toda essa Matéria-prima original se CONSERVA NO PRESENTE há 15 bilhões
de anos, – onde vem sendo empregada como Material Reutilizável.

DEUS É UM CATADOR DE LIXO RECICLÁVEL


- Átomo Extraordinário” – à Vik Muniz -

2 - Do que VOCÊ é feito ?: também podemos concluir que os ÁTOMOS (cinza e fumaça –
massa e energia) de tudo que já existiu, se CONSERVOU NO PRESENTE e foi reutilizado para
construir tudo que agora existe.
Portanto, no seu CORPO (sim, estou falando de você), no seu CORPO há bilhões de ÁTOMOS
que pertenceram a todos os organismos que já existiram: Shakespeare, Buda, Beethoven, John
Lennon, Elvis Presley* - e tudo mais.

*CORREÇÂO: nenhum átomo do seu corpo pertenceu ao Rei do Rock. Porque, como todos
sabem, e o Myth Busters comprovou: “ELVIS NÃO MORREU!”

3 - O que será feito de VOCÊ ? : por uma questão de justiça e agradecimento, ao morrer, os
seus ÁTOMOS (cinza e fumaça) se Conservarão no Presente e serão reaproveitados para
compor novas aplicações: como parte de uma folha, outro ser humano ou uma gota de
orvalho.

“E o anjo, se anjo era, disse: do Barro ao Barro, o Pó ao Pó, a Terra à Terra. Nada começa
que não tenha que acabar, tudo o que começa nasce do que acabou”.

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO


José Saramago

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MÃOS À MASSA

O Universo é uma Massa de Modelar que – Estacionária no Presente – se transforma


progressivamente há 15 bilhões de anos.

O MOINHO DE ÁTOMOS DE TODAS AS CORES


“Vós, bípedes, que aqui entrais, deixai lá fora toda a soberba”

O PÓ (cinza e fumaça) de todos os negros que já existiram, se Conservou no Presente e se


transformou em todos os brancos que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todos os peles-vermelhas mortos pelo genocídio indígena, se


Conservou no Presente e se transformou em todos os caras-pálidas que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todos os Aborígenes massacrados pelos colonizadores, se Conservou


no Presente e se transformou em todos os australianos que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todos os mortos no Genocídio Armênio, se Conservou no Presente e


se transformou em todos os turcos que agora existem;
O PÓ (cinza e fumaça) de todos os judeus mortos no holocausto, se Conservou no Presente e
se transformou em todos os alemães que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todas as vítimas da bomba de Hiroshima, se Conservou no Presente


e se transformou em todos os norte-americanos que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todos os mortos no Genocídio da Bósnia, se Conservou no Presente


e se transformou em todos os sérvios que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todos os Tutsis mortos no Genocídio de Ruanda, se Conservou no


Presente e se transformou em todos os Hutus que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todos os palestinos mortos na Faixa de Gaza, se Conservou no


Presente e se transformou em todos os judeus que agora existem;

O PÓ (cinza e fumaça) de todas as vítimas de ataques terroristas, se Conservou no Presente e


se transformou em todos os homens-bombas que, neste exato momento, preparam seus
cinturões de explosivos.

E assim, o mundo – Estacionário no Presente – continua. E...

A TRANSFORMAÇÃO NÃO PÁRA!


DE TODOS OS NOMES – OS VIVOS E OS MORTOS

O PÓ de todos os mortos, se Conservou no Presente e se transformou em todos os vivos.

ETNIA apresenta...
MARACATU ATÔMICO
“Somos todos juntos uma miscigenação (atômica);
E não podemos fugir da nossa etnia;
Índios, brancos, negros, mestiços;
Nada de errado em seus princípios;
O seu e o meu são iguais; Corre nas veias sem parar (...).”

- Chico Science e Nação Zumbi -

DOUTRINA HUMANITAS
Quincas Borba
(Vida e Morte – Duas Expansões)

“(...) O encontro de duas expansões (vida e morte), ou a expansão de duas formas, pode
determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a
supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio
universal e comum. (...). Nunca viste ferver a água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se
e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas
transitórias. (...). É a vida emendando a morte; a morte emendando a vida.”
ATÉ AQUI CHEGUEI! Por enquanto, é só. Espero, estando você aqui, não ser esta uma jornada
solitária. Obrigado pela atenção.

Caruaru – PE, 08 OUT 2018 – 23 :24 h (revisão: 19 ago 2021 – 20:59h)

REVISÃO: 21 maio 2022 – 10:43h

REVISÃO: 30 OUT 2022 – 21:49H

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