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Produção brasileira ‘visível’ em Avaliação do Ciclo de Vida

Elaine Aparecida da Silva

Universidade Federal do Piauí, Departamento de Recursos Hídricos, Geotecnia e Saneamento Ambiental,


elaine@ufpi.edu.br

Resumo

A sustentabilidade ambiental deixou de ser acessória e passou a ser essencial diante do cenário, antes apenas prenunciado, de escassez dos
recursos naturais e da dificuldade de gestão dos mesmos. Desse modo, é crescente a disponibilidade de ferramentas que auxiliam o seu
alcance, tais como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que possibilita a identificação dos impactos ambientais associados aos distintos
estágios do ciclo de vida de produtos, processos e serviços. Como consequência, é também progressivo o número de publicações científicas
sobre o conteúdo. Esse trabalho teve como objetivo analisar as publicações sobre ACV desenvolvidas por pesquisadores brasileiros e
divulgadas em periódicos indexados na Web of Science. Através da pesquisa nesta base de dados, realizada por tópico com a expressão
“life cycle assessment” ou LCA, foram identificados 280 trabalhos cujo país de origem é o Brasil. O país é o 16º colocado no ranking de
países com produção científica sobre o conteúdo; mais de 86% dos trabalhos foram publicados nos últimos seis anos, a maioria em inglês e
em periódicos internacionais bem conceituados no sistema Qualis. Isso demonstra que, apesar de ser um campo novo para a grande
maioria dos pesquisadores brasileiros, as publicações possuem qualidade científica, proporcionada, também, pelas colaborações
estabelecidas com cientistas de outros países. Através do currículo Lattes dos pesquisadores mais produtivos em ACV, foi possível
identificar mais trabalhos relacionados à temática que não foram incluídos nos registros encontrados, como livros, capítulos de livros,
trabalhos apresentados em eventos científicos; além de outros artigos. Desse modo, os trabalhos de mapeamento de
pesquisas/pesquisadores devem incluir outros mecanismos de busca, além das bases de dados, a fim de contemplar distintas modalidades
de produtos de pesquisa. Também, paralelamente à publicação de trabalhos em periódicos de alto impacto, os pesquisadores brasileiros
podem publicar textos nos moldes do jornalismo científico ou em periódicos indexados em bases com acesso gratuito para que a ACV se
torne mais conhecida.

Palavras-chave. Avaliação do Ciclo de Vida; Life Cycle Assessment; LCA; Publicações brasileiras em ACV; Web of Science.

Introdução
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) ou Life Cycle Assessment (LCA), como é conhecida mundialmente, é uma
ferramenta de gestão ambiental que possibilita a identificação dos impactos ambientais associados a
processos/produtos/serviços em diferentes estágios do seu ciclo de vida (ABNT, 2009). Desse modo, governos
de todo o mundo tem incentivado o uso dessa ferramenta (GUINÉE et al., 2011). Conforme Williams, Weber e
Hawkins (2009, p. 929), “a ACV tem desenvolvido o seu próprio campo, com uma comunidade global
envolvida no desenvolvimento e implementação de metodologias, infra-estrutura de dados/software e estudos de
caso”.
No Brasil, há iniciativas que objetivam a difusão e consolidação da abordagem do ciclo de vida. Dentre as quais,
a criação da Associação Brasileira do Ciclo de Vida (ABCV), em 2002, que atua junto às empresas e
instituições acadêmicas de ensino e pesquisa, órgãos governamentais e sociedade organizada (ABCV, 2016); a
aprovação, em 2010, do Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida – PBACV (BRASIL, 2010). Além
disso, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) mantém um site para o público da
academia, elaborou e vem divulgando a cartilha ‘O pensamento do ciclo de vida: uma história de descobertas’
voltada para o público infantil; está à frente da construção do Banco Nacional de Inventário e da organização da
Revista Latino-Americana de ACV (IBICT, 2016).
Ainda, com o objetivo de “criar um ambiente de cooperação entre empresas interessadas no uso de ACV no
Brasil, que permita a otimização de recursos; educar e capacitar as empresas sobre o conceito, sua aplicação e
benefícios; disponibilizar e disseminar para diversos públicos informações sobre a ferramenta e influenciar e
apoiar o governo para criação do Banco de Dados Brasileiro”, a ABCV, o Instituto Akatu e nove empresas
(Braskem, Danone, Embraer, GE, Grupo Boticário, Natura, Odebrecht, Oxiteno e Tetra Pak) criaram, em 2012,
a Rede Empresarial Brasileira de Avaliação do Ciclo de Vida. Depois, outras empresas (3M do Brasil, Alcoa,
Basf, Duratex, Klabin, Petrobras, Vale e Votorantim Cimentos) aderiram à iniciativa. Atualmente, a Rede é
coordenada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável – CEBDS (CEBDS,
2016).
As primeiras publicações científicas sobre ACV surgiram na década de 1990 (FINNVEDEN et al., 2009). Esta
informação coincide com os primeiros registros do termo “life cycle assessment” que aparecem no Ngram
Viewer (ferramenta do Google que conta o número de palavras ou frases nos livros digitalizados pela empresa).
Contudo, segundo Hou et al. (2015), o ritmo de publicação no campo de ACV aumentou exponencialmente nos
últimos dezesseis anos. Neste trabalho, utilizou-se a base de dados Web of Science (WoS) a fim de analisar as
publicações científicas de ACV que envolvem pesquisadores brasileiros; através da identificação das suas
procedências, contexto de aplicação (áreas), qualidade e pesquisadores referência no conteúdo. Essa análise
possibilitou caracterizar os trabalhos pesquisados que estão disponíveis para a comunidade científica
internacional. A WoS é uma base de dados, desenvolvida pela Thomson Reuters, na qual são indexados
periódicos do mundo todo.

Análise bibliométrica da Avaliação do Ciclo de Vida


Na WoS estão disponíveis vários trabalhos de análise bibliométrica sobre ACV. Estrela (2015) faz uma análise
crítica dos trabalhos, dessa natureza, de Chen et al. (2014) e Hou et al. (2015) abordando três aspectos: seleção
de palavras-chaves adequadas, cobertura incompleta das bases para anais de eventos científicos e as
inconsistências na atribuição institucional dos autores dos trabalhos. Desse modo, ela recomenda que os autores
que publicam sobre esse conteúdo sempre incluam o termo “life cycle assessment” (preferido nas normas
International Standardization Organization - ISO) nas palavras-chave; contemplem no mapeamento resultados
de pesquisa de outros tipos, como trabalhos publicados em conferências científicas, livros, capítulos de livros e
relatórios revisados criticamente; e, por último, verifiquem as variações de como podem aparecer o nome das
instituições a qual são vinculados, utilizando a forma mais empregada.
Sobre a escolha de palavras-chave adequadas, Estrela (2015) chama atenção para o fato de que Chen et al.
(2014) e Hou et al. (2015) não tenham incluído nas suas pesquisas siglas comumente relacionadas aos trabalhos
de ACV, tais como: LCI, LCIA e a própria LCA. Consequentemente, as publicações que contém apenas as
siglas não foram abrangidas na análise feita pelos autores. A fim de verificar a observação feita pela autora,
neste trabalho, fez-se a busca na WoS1 pelo termo “life cycle assessment” utilizando o filtro ‘topic’ e foram
encontrados 10.863 ocorrências. Ao realizar a mesma pesquisa e incluir a sigla LCA (“life cycle assessment”
topic or LCA topic), utilizando o operador boleano ‘or’ – que soma as ocorrências – foram encontrados 16.070
resultados. Contudo, a segunda pesquisa inclui, também, trabalhos em que a sigla LCA é empregada para
designar outros termos - siglas homógrafas (mesma escrita, mas significação diferente).
Com relação às inconsistências na associação entre as publicações e as filiações dos seus respectivos autores,
Estrela menciona trabalhos (GARCIA-ZORITA et al. 2006; EGRET 2014; TAŞKIN e AL, 2014 e VENETS,
2014) que apontam as desvantagens do processamento automático de informações feito nesse tipo de banco de
dados, além da imprecisão causada pela variedade de nomes alternativos e da falta de padronização no campo de
filiados. Para corrigir esse problema, a Thomson Reuters disponibiliza o campo de pesquisa ‘Organizations-
Enhanced’ na análise de resultados que contempla o nome mais utilizado de uma organização, além de todos os
registros que contém as variantes do nome dessa organização (THOMSON REUTERS, 2016). Nessa pesquisa,
utilizando os dois filtros da WoS (‘Organizations’ e ‘Organizations-Enhanced’), foram encontradas resultados
divergentes, por exemplo, para Universidade Estadual de Capinas (Unicamp) que indica 24 e 29 ocorrências,
respectivamente.

Metodologia
Na consulta realizada na base de dados WoS, foram utilizados dois campos de busca para adição simultânea dos
termos ‘life cycle assessment’ e LCA. Os dois termos foram agregados pelo operador boleano ‘or’, que soma as
ocorrências. O filtro aplicado ‘topic’, recupera trabalhos cujos termos indicados aparecem no título, palavras-
chaves e/ou no corpo do texto. Esse filtro torna a pesquisa mais ampla do que a realizada por ‘title’, por
exemplo. Na pesquisa inicial, foram encontrados 16.070 resultados. Depois disso, fez-se um refinamento por

1
Dados recuperados em 28/04/2016.
‘countries/territories’, sendo utilizado como referência o ‘Brazil’. Após o refinamento, foram identificados 322
resultados.
Além disso, foram utilizadas as opções de refinamento para pesquisas avançadas (‘analyze results’), a fim de
classificar os resultados da pesquisa conforme as seguintes categorias: agências financiadoras, anos de
publicação, áreas de pesquisa, autores, categorias da WoS, idiomas, organizações, países e territórios
(possibilitando identificar os trabalhos que envolvem pesquisadores de outros países), série de livros, tipos de
documentos, títulos das fontes e títulos das conferências.
A partir da análise das áreas de pesquisa nas quais estão classificados os 322 trabalhos encontrados, constatou-
se que foram recuperados também publicações que continham a sigla LCA; mas que essa não se referia à ‘Life
Cycle Assessment’, ou seja, siglas homógrafas (como exemplo: Losartan Carboxylic Acid / Linear Combination
Analysis / Linear Chain Approximation). Assim, foram excluídos 42 trabalhos que se enquadravam nessa
situação. Após essa exclusão, foram recuperados 280 trabalhos, os quais serão analisados na seção de
resultados.

Resultados e Discussão
O Brasil é o 16º colocado no ranking de países que tem produção científica sobre ACV, sendo este um campo
novo para a grande maioria dos pesquisadores brasileiros. Comparativamente, o país é o 3º colocado no ranking
de produção científica sobre o biodiesel2, no qual houve uma intensa política de valorização da área. As
publicações sobre ACV, envolvendo pesquisadores do país e divulgadas em periódicos indexados em bases
internacionais, são recentes. Na WoS, por exemplo, mais de 86% dos trabalhos são dos últimos seis anos (2010
a 2016). Além disso, a ACV tem se mostrado promissora; pois há um aumento gradativo de publicações. Nos
quatro primeiros meses de 2016, foram publicados vinte e oito trabalhos relacionados ao tema. A tendência é
que os números de 2015 sejam superados, ano em que houve a maior quantidade de trabalhos dessa natureza
(sessenta e oito).
Os 280 trabalhos (articles, proceedings papers, reviews, editorials materials) sobre ACV são das mais diversas
áreas de pesquisa, como: engenharia, ciências ambientais, ecologia, energia, combustíveis, agricultura,
biotecnologia aplicada, termodinâmica, ciência dos materiais, química, tecnologia da construção, física, ciências
da computação, tecnologia/ciência dos alimentos, mecânica, recursos hídricos, conservação da biodiversidade,
economia de negócios, pesquisa operacional/ciência de gestão, tecnologia científica, meteorologia/ciências
atmosféricas, ciência dos polímeros, sistemas de controle de automação, silvicultura, ciência da
informação/biblioteconomia, engenharia metalúrgica/metalurgia, mineração, processamento mineral, ciência
nuclear, ciência das plantas e ciências sociais. Alguns deles se enquadram, concomitantemente, em mais de uma
dessas áreas.
Do universo total de trabalhos de ACV na WoS, o mais citado (CHONG, et al., 2010) recebeu 954 citações;
enquanto o trabalho brasileiro (PACCA, SIVARAMAN e KEOLEIAN, 2007), publicado em inglês, sobre o
mesmo tema possui oitenta citações. Já o artigo brasileiro mais citado, publicado em português, possui apenas
oito citações. Inquestionavelmente, os trabalhos publicados em inglês têm mais possibilidades de serem lidos e,
com efeito, citados por pesquisadores de outros países. Além disso, a citação de trabalhos publicados em
periódicos internacionais bem conceituados é condição para aprovação dos trabalhos até mesmo nos periódicos
do país.
Os brasileiros que desenvolvem pesquisa em ACV têm estabelecido colaborações científicas com pesquisadores
estrangeiros: 75% dos trabalhos incluem cientistas de outros países (Estados Unidos, França, Itália, Holanda,
Espanha, Alemanha, Suécia, Bélgica, Suíça, entre outros). Como exemplo, o trabalho de Smith et al. (2012)
envolve pesquisadores de vinte instituições em vários países e entre eles, um pesquisador vinculado à Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) do Rio de Janeiro. Isso explica a predominância de
publicações em inglês (94,5%) e reflete na qualidade dos produtos finais; já que eles utilizam a ferramenta há
mais tempo.
A maioria desses trabalhos foi publicada em periódicos internacionais bem conceituados no sistema Qualis da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Como exemplo, na área de Ciências
Ambientais, os periódicos com a maior quantidade de artigos sobre o tema apresentam a seguinte classificação:

2
Pesquisa realizada na WoS pelo ‘tópico’ biodiesel e refinada por ‘países/territórios’.
Journal of Cleaner Production / Energy (qualis A1) e Resources, Conservation and Recycling (qualis A2). O
International Journal of Life Cycle Assessment (Int J Life Cycle Assess) é o segundo periódico em que são
publicados mais trabalhos de ACV, mas não é classificado no Qualis na área de Ciências Ambientais3. Nos
periódicos mencionados, juntamente com Environmental Science Technology e Journal of Industrial Ecology,
são publicados a maioria dos trabalhos com abordagem em ACV.
O Qualis da CAPES possibilita a avaliação da produção intelectual dos programas de pós-graduação através da
aferição da qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos periódicos
científicos. A classificação é realizada pelas áreas de avaliação e é atualizada anualmente. Os periódicos são
enquadrados em estratos, sendo ‘A1’ o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5 e ‘C’ que tem peso zero. Além
disso, o mesmo periódico, ao ser classificado em duas ou mais áreas distintas, pode receber diferentes
avaliações (CAPES, 2015). Essa classificação é baseada no Fator de Impacto (FI) que é calculado, anualmente,
pelo Institute for Scientific Information (ISI), publicado no Journal Citation Reports (JCR), e corresponde ao
número de citações recebidas pelos artigos publicados no periódico nos dois anos anteriores à avaliação,
dividido pelo número de artigos publicados no período (JCR, 2016). Para ser incluído nos quatro estratos
superiores (A1 a B2), o periódico deve ter FI medido pelo ISI.
Mesmo a ACV tendo, indubitavelmente, aplicação na área ambiental por revelar os impactos ambientais de
produtos/processos/serviços de forma pontual; os pesquisadores que a utilizam não necessariamente estão
alocados nas ciências ambientais. Como verificado, os trabalhos de ACV são desenvolvidos nas mais diversas
áreas de pesquisa. Desse modo, ao aplicar essa ferramenta, o componente ambiental é integrado a outras áreas
do conhecimento. Portanto, torna-se oportuno verificar a qualidade dos periódicos, por meio do FI ou do sistema
Qualis, nas áreas em que os pesquisadores estão inseridos, como também naquelas em que há interesse na
obtenção de bolsas de pesquisa ou financiamento de projetos por agências de fomento.
Muitas pesquisas de ACV, analisadas neste trabalho, são financiadas por instituições brasileiras e internacionais.
As agências brasileiras de fomento à pesquisa que mais tem contribuído para o desenvolvimento dessa área são
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a CAPES e a Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Os nomes das agências de fomento aparecem com variações,
dificultando a identificação imediata da quantidade que cada uma financiou, tendo em vista que os trabalhos
podem ter sido incluídos, simultaneamente, nos diferentes registros. Como exemplo, o caso do CNPq em que há
mais de dez variações com o nome do Conselho em português, em inglês ou somente a sigla. Dentre as
instituições internacionais, foram identificadas: European Commission, Energy Technologies Institute,
Biotechnology and Biological Sciences Research Council, além de outras.
Há treze registros de trabalhos que abordam a ACV publicados em português (4,5% do universo pesquisado),
tendo sido publicados nos periódicos: Engenharia Sanitária e Ambiental (GARCIA e VON SPERLING, 2010;
ROCHA, LINS e SANTO, 2011; REICHERT e MENDES, 2014); Polímeros, Ciência e Tecnologia (QUEIROZ
e GARCIA, 2010; SILVA e MOITA NETO, 2015), Química Nova (RODRIGUES, 2011; FRANCO et al.,
2013), Informação & Sociedade – Estudos (CAFE e MENDES, 2009); Revista Escola de Minas (SANTOS e
TENÓRIO, 2010), Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental (CLAUDINO e TALAMINI, 2013),
Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental (CAMPOLINA, SIGRIST e MORIS, 2015) e
Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (BOA VISTA, SHIBAO e SANTOS, 2015), Revista de
Administração, Contabilidade e Sustentabilidade (ALVES e FREITAS, 2015).
Os cinco pesquisadores brasileiros com o maior número de publicações em ACV, registradas na WoS, são,
respectivamente, Aldo Roberto Ometto (quatorze), Sebastião Roberto Soares (onze), Electo Eduardo Silva Lora
(dez), Joaquim Eugênio Abel Seabra (dez) e Otavio Cavalett (nove). Através do currículo Lattes desses
pesquisadores, foi possível identificar mais trabalhos relacionados à temática que não foram incluídos nos
registros encontrados, como livros, capítulos de livros, trabalhos apresentados em eventos científicos; além de
outros artigos. Outra maneira de identificar cientistas brasileiros que são referência em ACV é através da
Plataforma Lattes. Desse modo, faz-se pesquisa por assunto (“life cycle assessment”) e utiliza-se os filtros de
base (doutores) e de nacionalidade (brasileira). Assim, são encontrados 267 ocorrências. No entanto, essa outra
alternativa de pesquisa inclui pesquisadores que participaram, eventualmente, de uma banca ou evento sobre o
assunto e, por isso, possuem essa palavra-chave registrada em seu currículo.

3
O Int J Life Cycle Assess possui qualis em outras áreas de avaliação, como: Ciência de Alimentos, Engenharias I,
Engenharias II, Engenharias III, Farmácia e Interdisciplinar (qualis A2), Ciências Agrárias I e Materiais (qualis B2),
conforme o último evento de classificação da CAPES (Qualis 2014) (PLATAFORMA SUCUPIRA, 2016).
As instituições de ensino de origem da maioria dos trabalhos de ACV estão concentradas nas regiões sudeste e
sul do Brasil: Universidade de São Paulo - USP (52 registros), Unicamp (29 registros), Universidade Federal de
Santa Catarina - UFSC (27 registros) e Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (25 registros). A
EMBRAPA também se destaca, possuindo 16 registros, entre os quais trabalhos sobre pegada de carbono
(FIGUEIRÊDO et al., 2013; RUVIARO et al., 2015; De LÉIS et al., 2015) desenvolvidos por meio da ACV.
Vale considerar que o trabalho de De Léis et al. (2015), por exemplo, está incluído, simultaneamente, nos
registros da UFSC, da EMBRAPA, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e da Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI/CEPA).
Foram identificadas 33 ocorrências de trabalhos publicados em conferências, simpósios ou outros eventos de
natureza científica, demonstrando que a cobertura da base WoS para esse tipo de publicação ainda é muito
pequena. A mesma situação acontece com os títulos de série de livros, em que foram identificados apenas
quatorze registros. Desse modo, os trabalhos de mapeamento de pesquisas/pesquisadores devem incluir outros
mecanismos de busca a fim de contemplar distintas modalidades de produtos de pesquisa.

Considerações Finais
A análise das pesquisas de ACV, publicadas em periódicos indexados na WoS, permitiu identificar a posição
brasileira em relação a outros países na produção científica desse conteúdo. Ainda, o acompanhamento mais
acurado dos trabalhos desse país revelou que a ferramenta tem sido utilizada por pesquisadores de diversas áreas
e que estes têm estabelecido colaborações com cientistas de todo o mundo. Dessa forma, as publicações são,
predominantemente, em inglês. Há somente treze trabalhos publicados em português e um em espanhol. Vale
considerar que, a pesquisa em outras bases (como, Scielo) dos termos (‘avaliação do ciclo de vida’ / ACV) em
português possibilitaria a recuperação de mais trabalhos nessa língua.
Os trabalhos publicados em português têm menos alcance do que os publicados em inglês, refletindo uma
quantidade muito menor de citações. Contudo, eles são relevantes para a disseminação de um conteúdo que
pode ser considerado novo para a comunidade científica brasileira. Dessa maneira, paralelamente à publicação
de trabalhos em periódicos de alto impacto, os pesquisadores podem publicar textos nos moldes do jornalismo
científico ou em periódicos da base de dados do Scielo que, diferente dos periódicos da CAPES, tem acesso
gratuito; a fim de tornar a ferramenta mais conhecida e despertar o interesse de mais pesquisadores.
As pesquisas de análises bibliométricas, realizadas por meio de base de dados (WoS, Science Direct, Scopus,
Scielo, entre outras), são práticas; uma vez que o pesquisador encontra disponíveis muitas informações
organizadas e concentradas no mesmo local. No entanto, a agregação dessas informações pode causar
inconsistências que devem ser corrigidas por meio de uma análise mais criteriosa e complementadas com o
auxílio de outras bases.

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