Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
org)
Copyright © 2017, Autores
Reitora: Prof.ª Dr.ª Eliane Superti
Vice-Reitora: Prof.ª Dr.ª Adelma das Neves Nunes Barros Mendes
Pró-Reitora de Administração: Wilma Gomes Silva Monteiro
Pró-Reitor de Planejamento: Prof. MSc. Allan Jasper Rocha Mendes
Pró-Reitor de Gestão de Pessoas: Emanuelle Silva Barbosa
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Prof.ª Dr.ª Camila Maria Risso Sales
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof.ª Dr.ª Helena Cristina Guimarães Queiroz Simões
Pró-Reitor de Extensão e Ações Comunitárias: Prof. Dr. Rafael Pontes Lima
Pró-Reitor de Cooperação e Relações Interinstitucionais: Prof. Dr. Paulo Gustavo P. Correa
Diretor da Editora da Universidade Federal do Amapá
Tiago Luedy Silva
Editor-Chefe da Editora da Universidade Federal do Amapá
Fernando Castro Amoras
Conselho Editorial
Ana Paula Cinta Luis Henrique Rambo
Artemis Socorro do N. Rodrigues Marcus André de Souza Cardoso da Silva
César Augusto Mathias de Alencar Maria de Fátima Garcia dos Santos
Cláudia Maria do Socorro C. F. Chelala Patrícia Helena Turola Takamatsu
Daize Fernanda Wagner Silva Patrícia Rocha Chaves
Elinaldo da Conceição dos Santos Robson Antonio Tavares Costa
Elizabeth Machado Barbosa Rosilene de Oliveira Furtado
Elza Caroline Alves Muller Simone de Almeida Delphim Leal
Jacks de Mello Andrade Junior Simone Dias Ferreira
José Walter Cárdenas Sotil Tiago Luedy Silva
Obra de opor, por medo de ser manso, e causa para se ver respeitado.
Todos tretam por tal regra: proseiam de ruins, para mais se valerem,
porque a gente ao redor é duro dura. O pior, mas, é que acabam, pelo
mesmo vau, tendo de um dia executar o declarado, no real. Vi tanta
cruez! Pena não paga contar; se vou, não esbarro. E me desgosta, três
que me enjoa, isso tudo. Me apraz é que o pessoal, hoje em dia, é bom
222
de coração. Isto é, bom no trivial. Malícias maluqueiras, e
perversidades, sempre tem alguma, mas escasseadas. Geração minha,
verdadeira, ainda não eram assim. Ah, vai vir um tempo, em que não
se usa mais matar gente... Eu, já estou velho. (ROSA, 1994, p. 24-25)
7“Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear
o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera; digo”. (ROSA, 1994,
p. 403)
223
espaço de identificação e relação. Se a paisagem pode ser definida como
“tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança” (SANTOS,
1988, p.61), então sua essência se corporificaria na materialidade fixa,
no instante de sua apreensão. O sertão das bem-querências não se
ancora, todavia navega nas rememorações, relacionando aquilo que era
apreendido pelas sensações às emoções que evocava, deixando de ser
mera paisagem para se tornar em sua memória espaço de relações e
representações. Se antes o expositor do sertão era a jagunçagem e a
violência – e os sistemas de objetos e os sistemas de ações que o
caracterizava matizavam sua existência – na vazante imagética dos
olhos de Diadorim outro objeto surgia: um sertão idílico manifesto se
um discurso sensível.
O “homem-d’armas, brabo bem jagunço” Reinaldo8 causara
estranhamento a Riobaldo na sua apreensão de mundo, na sua
humanização do espaço, o que lhe parecia fraqueza, porém o narrador
confessa sua rendição a esta apreensão do mundo herdada de
Diadorim: “sopesei meu coração, povoado enchido, se diz; me cri
capaz de altos, para toda seriedade certa proporcionado. E, aí desde
aquela hora, conheci que, o Reinaldo, qualquer coisa que ele falasse,
para mim virava sete vezes” (ROSA, 1994, p. 198).
O trecho a seguir mais explana esta ideia:
8Quando nas memórias de Riobaldo Diadorim ainda não era Diadorim, mas
o companheiro que conhecera desde menino no de-Janeiro.
224
surpresa. E a macieza da voz, o bem-querer sem propósito, o
caprichado ser – e tudo num homem-d’armas, brabo bem jagunço –
eu não entendia! Dum outro, que eu ouvisse, eu pensava: frouxo, está
aqui um que empulha e não culha. Mas, do Reinaldo, não. O que
houve, foi um contente meu maior, de escutar aquelas palavras.
Achando que eu podia gostar mais dele. Sempre me lembro. De
todos, o pássaro mais bonito gentil que existe é mesmo o
Manuelzinho-da-croa. (ROSA, 1994, p. 196-197)
Referências
AUGÉ, Marc. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da
supermodernidade. Trad. Maria Lúcia Pereira. Campinas: Papirus,
1994.
9 Vi como é que olhos podem. Diadorim tinha uma luz (...). O que Diadorim
reslumbrava, me lembro de hei-de me lembrar, enquanto Deus dura. (ROSA,
1994, p. 581)
225
GALVÃO, Walnice Nogueira. Rapsodo do sertão: da lexicogênese à
mitopoese. In: vários (Org.). Cadernos de Literatura Brasileira: Guimarães
Rosa. 1ed. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.
MEYER, Monica Angela de Azevedo. A natureza do sertão. In: João
Guimarães Rosa. (Org.). A Boiada - Os caminhos do sertão de João
Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira & Saraiva, 2011.
NUNES, Benedito. De Sagarana a Grande sertão: veredas. In.:
PINHEIRO, Vitor Sales (Org.) A Rosa o que é de Rosa: literatura e
filosofia em Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.
RICOEUR, Paul. O si-mesmo como um outro. Trad. Luci Moreira Cesar.
Cam- pinas: Papirus, 1991.
_______. Tempo e narrativa. Tomo 3. Trad. Constança Marcondes Cesar.
Campinas, SP: Papirus, 1994.
ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Editora Nova
Aguilar, 1994.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado – fundamentos
Teórico e metodológico da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988.
_______. A Natureza do Espaço. São Paulo: Edusp, 1994.
_______. “Mapa do Mundo: tempos e espaços hegemônicos?” In.:
Saber Plural. nº 3. São Paulo: ECA/USP, 1996.
226