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Narrações pandêmicas
e outras prosas
Araguaína
2023
REITORIA Eroilton Alves dos Santos
Airton Sieben Superintendente de Infraestrutura
Reitor pro tempore Clarete de Itoz
Natanael da Vera-Cruz Gonçalves Araújo Superintendente de Tecnologia da Informação
Vice-reitor pro tempore Andressa Ferreira Ramalho Leite
Kênia Ferreira Rodrigues Superintendente de Comunicação
Pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Roberto Antero da Silva
Denise Pinho Pereira Diretor do Centro de Ciências
Pró-reitora de Planejamento, Orçamento Integradas (Cimba) - CCI
e Desenvolvimento Institucional Andressa Francisca
José Manoel Sanches da Cruz Diretora do Centro de Ciências Agrárias - CCA
Pró-reitor de Assuntos Estudantis Fernando Holanda Vasconcelos
Warton da Silva Souza Diretor do Centro de Ciências da Saúde - CSS
Pró-reitor de Finanças e Execução Orçamentária Marco Aurélio Gomes de Oliveira
Andréia de Carvalho Silva Diretor do Centro de Educação,
Pró-reitora de Gestão e Humanidades e Saúde- CEHS
Desenvolvimento de Pessoas Meirilane Leocadio
Braz Batista Vas Diretora do Sistema de Bibliotecas da UFNT
Pró-reitor de Graduação Joana Marcela Sales de Lucena
Rejane Cleide Medeiros de Almeida Coordenação da Editora Universitária - EDUFNT
Pró-reitora de Extensão, Cultura
e Assuntos Comunitários
Conselho Editorial
Adriano Lopes de Souza | Alesandra Araújo de Souza Aos sobreviventes, aos que partiram e à
César Alessandro Sagrillo Figueiredo | Joaquim Guerra de Oliveira Neto
Mara Pereira da Silva | Rozana Cristina Arantes | Ruy Ferreira Da Silva
ciência que renovou nossas forças para
lutar pela vida.
Capa: Guilherme Silva Vanderley
Projeto gráfico de miolo: Zeta Studio
ISBN:
PREFÁCIO
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NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS
de acontecimentos em ordem cronológica. Assim, ao conceber sobre a condição humana, fazendo com que o leitor redescubra
uma crônica, o escritor faz um resgate do tempo de forma a dignidade de objetos, como trabalho, dor, prazer e alegria, que
que não canse o leitor, procurando esconder a complexidade se misturam a emoções esquecidas.
pressentida sob uma límpida naturalidade, como uma conversa
A retomada dessas características e do conceito de crônica
sem rumo, parecendo residir na relação com a elocução oral.
servem para nos fazer lembrar de que há muito sabemos que esse
Um cronista emprega, portanto, um estilo que se aproxima da
gênero, ao ser tomado como objeto de estudo em sala de aula, pode
marcha do pensamento, sem artifícios para expressar o que está
aproximar literatura e realidade, uma vez que oportuniza o contato
na alma, oscilando entre o relato impessoal, frio e descolorido
com temáticas que são capazes de desenvolver o diálogo e o senso
de um acontecimento trivial, e a recriação do cotidiano por
crítico, favorecendo um processo formativo amplo. A partir da
meio da fantasia.
leitura de crônicas variadas, é possível que se reconheçam os traços
Em relação ao narrador, ele é o próprio autor e tudo o que constitutivos que regem o gênero e, além disso, partir para uma
diz parece ter acontecido de fato, como se fosse uma reportagem. oficina prática de escrita que levará o escritor/autor a documentar
O limiar entre o jornalístico e o literário é tão presente assim como seus próprios olhares perante a vida. Tendo isso em vista, podemos
a semelhança com o conto. Sobre isso, Martins (1980) diz que: inserir os jovens educandos no universo da leitura escolar e forma-
tiva, levando-os a observar que nossos mundos particulares estão
Muitas vezes a crônica se chega tão próximo
presentes no texto literário assim como esses textos também estão
do acontecimento que redunda em simples presentes em nossos mundos particulares. É dessa aproximação e
reportagem, perdendo sua identidade. Outras, cumplicidade que surge a crônica: ligeira, subjetiva e construída
mantém suas características, chegando-se ao sobre os alicerces de uma linguagem simples, cotidiana.
conto sem nele se transformar, literatizando
o acontecimento. Esse meio termo entre o Definitivamente a crônica se trata de um gênero didático
acontecimento e o lirismo parece ser a postura
e passível de escolarização, assim como fazem os professores
ideal do cronista para a elaboração de sua
crônica. (MARTINS, 1980, p. 10)
que organizam essa singela obra. Aqui, não se trata de apenas ler
e interpretar crônicas, mas, num gesto ainda mais alvissareiro,
No dizer de Sá (2000, p.11), a crônica equilibra o coloquial trata-se do resultado de uma oficina de criação que traz luz a
e o literário, permitindo que o lado espontâneo e sensível per- diferentes textos que ora são considerados/lidos como crônicas,
maneça como elemento provocador de outras visões do tema, ora provocam-nos, como leitores, a inquietude que o gênero deve
assim como acontece em nossas conversas diárias e em nossas provocar, na tentativa de encaixá-lo, classificá-lo.
reflexões. A crônica relata, então, uma circunstância, um pequeno Os estudantes (licenciandos em Letras pela UFNT, ainda
acontecimento do dia a dia, transformando-o em um diálogo nos primeiros períodos do curso), cronistas, autores dos textos
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NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS
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campo da palavra, está sob o domínio dos efeitos do significante. tidos e de não sentidos, pois ela faz trabalhar o questionamento
Longe de um viés conteudista, deparamo-nos, nestas reflexões, da literalidade. O texto literário abre-se ao equívoco, dado o seu
com a escrita do sujeito. Escrever, portanto, pressupõe um giro endereçamento ao campo do outro (do semelhante) e do Outro
subjetivo da posição diante do trauma, ainda que precariamente: de (do campo da linguagem).
uma posição de fixação (prevalência2 do Real) para uma posição
Para além da pandemia, como acontecimento histórico,
de ficção (prevalência do Simbólico). É sabido que essa inversão
marcado por um tempo de clausura, de medo, de terror, de ameaça
de posição não é plena nem bem-sucedida, mas passível de se
de morte e de muitas mortes, estamos lidando com o seu poder
constituir como efeito da linguagem. É sabido, sobretudo, que
significante. Esse acontecimento, com suas forças destrutivas,
nos espaços acadêmicos, comumente, a escrita é convocada muito
potencializadas pela necropolítica, só poderá ser atravessado pela
mais para a circulação de textos próprios desses espaços e menos
capacidade simbólica de construir ficções com esse significante.
para a escrita dos sintomas (individuais e coletivos) dos sujeitos.
E a escrita pode ganhar aí contornos importantes, sobretudo, em
Sendo assim, o que está em jogo, nesta (re)inversão de espaços que naturalizam outro tipo de escrita, como é a Uni-
posição, é o refazer dos acontecimentos, lançando-se ao movi- versidade, uma escrita marcada pelo efeito da unidade textual.
mento de desdobrar-se a palavra, retroagir com a palavra, (re)
Na esteira da Psicanálise freudo-lacaniana, assumir a
velar com a palavra, metaenunciar com a palavra; no caso desta
perspectiva da pandemia, como real, significa dizer que não há
obra, com a palavra sob a sua dimensão escrita. Neste ponto, um
encontro com ela; há, na verdade, um movimento de deparar-
questionamento se (im)põe a nós: será que é possível refazer os
-se com ela. A semântica do lexema “deparar” põe em cena o
acontecimentos tão cruéis e permeados de horror da pandemia
“encontrar-se de modo inesperado (com); topar (...)” (HOUAISS,
da Covid-19? Talvez, no exercício arriscado da palavra, uma
2015, p. 294). Há o real; há a pandemia. Contudo, resta-nos assu-
possível resposta fosse dada por aquilo que a literatura ensinou
mir uma posição ética3, no sentido psicanalítico do termo em
à Psicanálise freudo-lacaniana.
que a experiência com a palavra ressignifique o acontecimento
Não perdendo de vista os limites, a posição de ficção da pandemia no campo da palavra. Diante desta assertiva, não
pressupõe movimentos de (re)elaboração de sentidos e de não estamos desconsiderando, no seio social, as decorrências que
sentidos. A literatura traz à tona o fracasso da circulação de sen- precisam ser dadas para os concernidos pela pandemia, sobretudo
os operadores da necropolítica genocida e ecocida.
2 Na lógica topológica, Lacan (1972-1973) encontrou um modo de formalizar a
constituição e o funcionamento do sujeito a partir da figura do “nó borromeano”.
Esse nó é estruturado, topologicamente, com base em três registros, que se 3 Na concepção lacaniana, a ética do sujeito toca no modo como subjetivamente
interdependem, quais sejam: Real, Simbólico e Imaginário. Na teoria lacaniana, renunciamos as forças destrutivas para nos inscrevermos no laço social; o individual
esses registros estão em uma relação inextricável. Sendo assim, já pensando no perde, para que o coletivo ganhe. Um outro modo de pensarmos nesta posição
comportamento da superfície de cada registro, Lacan (1972-1973) acentuou a ética é trazermos para a cena da Universidade outros processos de escrita; no caso,
perspectiva de que a incidência de um sobre o outro é dada pela prevalência. a experiência cruel, traumática e dolorosa com a pandemia.
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Inscritos exatamente nesta posição ética, nós organiza- com, tendo a escrita do sujeito como ponto de aplicação mais
dores e acadêmicos do Curso de Letras/Português e Inglês não sublime. É que passamos a construir outros espaços de escrita
cedemos em nosso desejo, também no sentido psicanalítico do na Universidade, não para avaliação quantitativa, cujo fim é a
termo, em (re)inventarmos outros sentidos e não sentidos com aprovação em dada disciplina; passamos a uma escuta e a uma
o significante “pandemia”. A posição assumida, nesta obra, é leitura sensível e colaborativa da experiência do sujeito com
produzir ficção entre sentidos e não sentidos, de modo que a seus traumas.
circulação deste resta como enigma. A transmissibilidade em
As 20 (vinte) narrativas que o leitor terá acesso, na pri-
jogo entre escrever sobre e ler sobre é a do enigma. Não se sabe
meira parte desta obra, incidem, insistem e repetem a captura
o que será transmitido. Só se sabe, insabidamente, que há real,
de seus autores no circuito do significante “pandemia” e de
que há pandemia, que há sujeito.
seus efeitos. As narrativas, de modo sensível, tocam na singu-
Não é à toa que, no título desta apresentação, por meio laridade da pandemia para cada um de seus autores. Insistimos
do recurso do tachado da fonte, a construção parentética na perspectiva de que a singularidade aí não está para a ordem
“circulação de” está interditada. Esse efeito de interdição do do inusitado, mas, sim, para a simbolização que se marca na
sintagma em tela serve-nos para marcar a perspectiva do jogo e pela linguagem. Sob o primado do axioma lacaniano de que
que estamos assumindo com o significante “pandemia”. É sig- a angústia é um afeto que não engana (LACAN, 1962-1963),
nificante, porque interdita a significação literal, porque o traço podemos considerar que o significante “pandemia” e a falta
com o tachado põe em suspenso o caráter categórico de que que ele faz trabalhar no campo do Outro passam a ganhar
haverá “circulação de”. Mas, ao mesmo tempo, esse mesmo recobrimento simbólico. É preciso dizer, é preciso escrever
traço produz a ideia de que poderá haver a “circulação de”; a sobre a pandemia e sobre outros aspectos da vida, ainda que
inscrição está lá, ainda que sob esse jogo da (im)possibilidade, o real permaneça irredutível.
acionado pelo tachado. O campo do significante é exatamente
O significante “pandemia” segue operando efeitos nas
isto: há efeitos de deslizamento, fazendo trabalhar o fracasso
vinte de três narrativas que compõem a primeira parte desta
da significação unívoca.
obra, isto é, no bloco sobre “Narrações pandêmicas”. Neste ponto,
Se há pandemia, se nós nos deparamos com ela, como usufruindo, mais uma vez, dos fundamentos da Psicanálise freu-
manifestação cruel do real, há, também, na justa medida, a (im) do-lacaniana, podemos pensar nesse significante em uma rede,
possibilidade de se fazer algo com ela, cuja resposta está para em uma cadeia, em que outros significantes se mostram atados.
a ordem da singularidade. Trata-se de singularidade e não de O sujeito é uma urdidura de fios significantes. No caso das nar-
aspecto inusitado, fazendo-se pensar em respostas pragmáticas, rativas a serem lidas, o leitor se deparará com a narratividade
irresponsáveis. E nós nos fiamos nessa perspectiva do fazer algo do horror da pandemia: isolamento, distanciamento, quarentena,
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doença, despedida, incerteza, cuidados, vacina, paciente, médico, colaborativo de socialização de leitura é ali tematizado em seu
caos, vírus, máscara etc. caráter intersubjetivo.
Esse campo de associação de palavras em torno do A obra traz, ainda, tanto no início quanto no final, uma
significante “pandemia” faz trabalhar o trauma desta sob o compilação de formulações significantes sobre a pandemia,
olhar sensível de um segmento populacional da sociedade, que produzindo o efeito de que se trata de manchetes de jornal. Apa-
é a juventude. As narrativas produzem ficções para diferentes rece, nesse texto, formulações verbais e formulações imagéticas,
enredos, personagens, espaço, tempo e narrador principal, con- dispostas em quadros justapostos. Nas primeiras formulações,
cernidos, ora pelo mal-estar da pandemia, ora pela esperança não perdendo de vista o campo da associação de palavras,
em dias vindouros. É a escrita que está ali em jogo como um aparecem recorrentemente: coronavírus, mortes, COVID-19,
modo de ficcionalização de (re)invenção do acontecimento mortos, pandemia, COVID-19, brasileiros, contágio, protestos
histórico da pandemia. etc. Nas segundas formulações, ocorrem a imagem de uma
injeção, logo na parte superior, a imagem que representa a tão
O leitor terá acesso a uma segunda parte da obra, intitulada
propalada morfologia do vírus da COVID-19, a imagem com
“Outras prosas”, contendo nove narrativas. O foco literário das
alguns instrumentos característicos de laboratório, tendo essa
narrativas são diversos: desde a narração de fatos do cotidiano até
representação do vírus como composição imagética, e a imagem
à perspectiva do que ainda virá, para citarmos alguns exemplos.
da bandeira do Brasil em segundo plano, tendo a representação
Nesta parte da obra, podemos, também, trabalhar com o campo
do vírus como primeiro plano.
de associações de palavras; o leitor irá se deparará com: carta,
síndico, mar, afogamento, lua, conversa, abraço, sorriso, assalto, Se, por um lado, a escrita convocou os concernidos pela
bolo, sol, amanhã, cais, tristeza etc. presente obra, por outro, é chegada a hora de a leitura convocar
o leitor, considerando, em ambos os casos, que a circulação de
Na terceira parte, “Algumas palavras sobre as experiências
sentidos e de não sentidos é da ordem do enigma. Não se sabe
de escrita”, os acadêmicos que se lançaram à proposta foram
o que se transmite, pois a linguagem nos dá o testemunho da
impelidos a escrever sobre a relação com a própria escrita. Nesse
incompletude do sujeito. Diante da escrita e da leitura, uma
exercício, o que esteve em foco foi o movimento de metaenunciar
posição parece ser certa: termos de nos haver com os signi-
sobre a escrita, com o mote de pôr em circulação sentidos e não
ficantes do trauma que a pandemia pôs, associativamente,
sentidos sobre o uso e a menção da palavra. Ainda com base na
em circuito.
técnica da cadeia associativa entre as palavras, vamos perceber
que essa metaenunciação passa a ser significativa, pois aparecem
Os organizadores
designações e adjetivações sobre a escrita. Além disso, o aspecto
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NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS
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Como informa o primeiro parágrafo, do artigo 1º, da Por- A escrita, aqui, em seu estatuto de “pharmacon,
taria Nº 343, havia um prazo passível de prorrogação (30 dias). não é nem o remédio, nem o veneno [...] Nem/
No entanto, diante do avanço da doença nas cidades brasileiras, nem, sendo ao mesmo tempo ou bem isso,
do acelerado número de pessoas infectadas e do aumento diário ou bem aquilo”, de acordo com a dosagem
e o corpo que a receber, no momento ou
de óbitos, todos esses fatores tornavam o retorno à normalidade
estado que a receber. (DERRIDA, 1995, p.
cada vez mais distante. Passamos a ler sucessivas publicações 10-11 apud ANDRADE, 2013, p. 30; aspas e
de reedições de portarias dos órgãos responsáveis pela saúde em itálico no original)
níveis federal, estadual e municipal que visavam conter os danos
da pandemia por meio de limitação de atividades que causavam A ideia não se restringia a apenas escrever como forma
aglomeração de pessoas. de superação das perdas e dores, pois o ponto alto da atividade
era dividir coletivamente a experiência, considerando o olhar
Destarte, somando todas as dificuldades encontra-
individual sobre a pandemia, através de leituras compartilhadas
das pelos estudantes, acompanhamos, através das mídias e
com os colegas. Tínhamos interesse em saber o efeito da pro-
de divulgações científicas, as notícias sobre o crescimento
dução do texto e da partilha, pois essa relação de confronto da
exponencial do adoecimento mental da população mundial.
realidade com a representação do real apresentava o potencial de
Para Faro et al (2020), “Quanto à saúde mental, é importante
afetar aquele que escreveu e a pessoa que leu através da escuta.
dizer que as sequelas de uma pandemia são maiores do que
Nas discussões dos textos produzidos, percebíamos os impactos
o número de mortes.” No nosso entorno acadêmico, muitos
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diários da pandemia nas nossas vidas e nos sentíamos, de algum Desse modo, olhávamos para aquelas formas textuais como
modo, fortalecidos pela troca de visões. um encontro com nós mesmos num movimento simbólico de visão
retrospectiva para avaliar a vida, tendo como marco temporal o
Como produtos dessas interações online, ao longo das aulas
“momento em que o mundo parou” (o trânsito, o trabalho, a escola,
telepresenciais foram gerados diferentes gêneros textuais em
o lazer, a rotina de afazeres, as festas etc.) e prospectando de forma
prosa (crônicas, contos, relatos e episódios). Apesar de a temática
positiva o reinício, talvez a segunda chance de sermos melhores, tal
que orbita tais produções está situada na narração da experiência
como a reflexão que nos aponta o narrador de “Catarse”:
pessoal na pandemia e tal aspecto pressupor uma vinculação
imediata aos temas mórbidos, fato que claramente aconteceu,
no entanto, algumas narrações apresentaram pontos de fuga e Quando o mundo lamentou, percebi que eu
também lamentava. Quando o mundo sentiu
de evasão. Esses textos traziam estórias com algo de comicidade
saudades de sair perambulando pelas ruas,
e de indignação (“Se não tirar foto a vacina não tem efeito” e do trânsito barulhento das cidades grandes,
“As queixas de uma máscara descartada”), reflexões filosóficas ou de sair para fora e se sentar na calçada
(“Dias incomuns”, “Cocoricó”, “Quinze dias”), o reencontro de para conversar com a vizinha, se reunir em
família ou entre amigos, reclamar que não
vizinhos desconhecidos (“A jiboia”) e outros.
tinha tempo para mais nada por causa do
Mesmo tendo como matéria-prima as inquietações da reali- trabalho ou dos estudos, percebi que eu
também lamentava.
dade, ou seja, a vida humana, essas narrações evocam elementos
(...)
imaginários frutos de inventividade através da manipulação Quem diria que eu, logo eu, sentiria algo que
intencional da linguagem para atingir efeitos de sentido diversos me mudaria para sempre.
nos textos. Como nos lembra Candido (2000, p. 53), “A arte, e
portanto, a literatura, é uma transposição do real para o ilusório A possibilidade de publicação de um livro, com textos dos
por uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de alunos participantes da disciplina Letramento literário, amadu-
ordem para as coisas, os seres, os sentimentos.” receu após debate sobre as produções escritas dos estudantes
de Letras, em reunião de colegiado, tendo sido impulsionada
O exercício dialético de livre expressão do Ser proporcio-
também com divulgação de edital de livre concorrência para
nado pela escrita literária pressupõe que “Esta liberdade, mesmo
e-book pela editora da UFNT. Vale destacar que houve, por parte
dentro da orientação documentária, é o quinhão da fantasia, que
dos organizadores, uma seleção cuidadosa do material, mediante
às vezes precisa modificar a ordem do mundo justamente para
leitura crítica e trabalho conjunto de revisão dos textos.
torná-la mais expressiva (...)” (CANDIDO, 2000, p. 13).
Assim, organizamos esta obra em três partes: a primeira,
intitulada “Registros da pandemia em formas livres de narra-
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NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS
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(Colagem com efeito visual de manchetes de reportagens
de jornais sobre a Covid-19 no Brasil)
registros da pandemia
em formas livres de narração
QUINZE DIAS
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
quer forma eu vou deixar esse serviço no muro para depois e Conversamos sobre plantas inicialmente, porém acabei desco-
não lhe perturbar mais por agora.”. “De forma alguma, vou brindo que nossos interesses culturais eram semelhantes. Senti
apenas regar as plantas e não lhe atrapalharei mais com minha como se estivesse numa conversa de bar com um velho amigo
conversa.”. “Falando em plantas, se me permite o conselho, essa e nem sabia que precisava tanto disso. Durante duas semanas
que a senhora está prestes a afogar não precisa de tanta água inteiras nos comunicamos diariamente, cada um trazia um tópico
assim.”. “Oh, você entende de plantas? Confesso que jardina- novo pra discussão e eu sentia que ali, no nosso muro comparti-
gem nunca fez parte da minha área de interesses, apenas tomo lhado, era meu local seguro de esquecimento do mundo. Um dia
conta agora que minha mãe…”. Um silêncio cortante penetrou ele não aceitou meu convite para entrar, me avisou que testou
minha alma ao me lembrar dela. Passei vários minutos sem positivo. Inicialmente entrei em pânico e um sentimento até
lembrar de como o mundo mudou, não, o meu mundo. “Sinto egoísta pairou sobre minha mente: “Eu vou perder ele também”.
muito.”. Ele me tirou do meu limbo momentâneo. “Obrigada, Mas me disse que estava com leves sintomas e que iria se isolar
mas sobre as plantas novamente, você entende de substratos?”. para também me proteger. Foram 3 semanas de isolamento sem
“Ah sim, não comentei ainda, mas sou jardineiro, trabalho numa nenhum contato e em meus pensamentos a memória de nossas
floricultura.”. “Pois você caiu do céu, sem querer abusar muito manhãs foi se encolhendo, Beto voltou a ser apenas o vizinho
de sua boa vontade, mas você poderia me instruir um pouco com quem eu não conversava e eu voltei a ser a moradora nova
sobre como cuidar dessa jiboia que insiste em querer morrer?” e sozinha que não sabia cuidar das plantas.
Ele deu uma longa gargalhada. “Ajudo sim, mas primeiro deixe
Penso que sua presença foi uma necessidade passageira,
eu descer essa escada.”. “O senhor não gostaria de vir aqui?
lidar com meu luto estava desgastante demais e ter ele ali por
Passei um café agora há pouco e já que aceitou me ajudar com
perto aliviava um pouco. Quando ele melhorou já não sentia
as plantas…”. ‘’Sem problemas. estou com saudades do ofício,
mais alegria em conversar comigo, sofria de muitas sequelas da
já estou em casa tem 2 meses.”. “Nossa, eu achei que estava
doença e por várias vezes sua mente divagava em confusão e
enlouquecendo há um mês de home office, imagino que deva
demorava a retornar. Parou de vir. Minha jiboia murchou e eu
estar bem mais estressante e preocupante para você.”. “Estamos
me fechei completamente. Hoje, quando me sentei lá fora na
todos no mesmo barco. vou dar a volta e tocar a campainha,
varanda, estava torcendo para vê-lo, agora que já fazia mais de
está bem?”. “Claro. vou lá pra frente também.”. Por sorte, estava
um ano do nosso primeiro encontro no fundo do quintal. “Eu
no meu horário de intervalo, então consegui passar quase duas
tomei a vacina”, ele me disse. “Que bom ouvir isso, eu tomei
horas conversando com meu vizinho.
a minha semana passada”. “Qualquer dia desses a gente podia
Foi uma manhã proveitosa, pois, embora ambos estivés- conversar de novo, não é?”. “Sim.”, disse sem empolgação. Ele
semos de máscara e a mais de 2 metros de distância, eu senti ia entrando em casa quando me falou uma última vez: “Quase
novamente aquela vivacidade que só uma conversa pode oferecer. esqueci, eu lhe trouxe um substrato pra sua jiboia.”. “Ela morreu.”
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
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A DESPEDIDA COCORICÓ
Parecia um dia como qualquer outro. O sol estava luzente, A pandemia, que a essa altura dos acontecimentos parece
como se tivéssemos a sensação de que algo iria acontecer hoje, ainda desenfreada, com certa ironia, me ensinou a desacelerar,
caminhei para a casa da minha tia. Sabe aqueles dias em que por isso, enquanto penso sobre como desenrolar esta crônica,
você tem a certeza de que vai acontecer, mas não quer acreditar, trago à memória meus primeiros dias de março de 2020, na
assim, eram as despedidas, elas sempre vinham como surpresas fazenda onde meus pais vivem.
e iam sem deixar rastros.
Bem longe da agitação urbana e de tudo relacionado a ela,
Ainda mais nos dias que vivemos pessoas vêm e vão como coisas simples para mim ganharam um novo valor, e na tentativa
bagagens de avião e números falados. Respirei fundo e entrei na falha do isolamento social me aproximei dos bichos...
casa, o silêncio pairava no ambiente. A casa era pequena, mas
Foi nesse contexto rústico e livre que pude observar o
bem confortável, no quarto onde ela estava deitada havia uma
comportamento das minhas galinhas, e como elas se relacionam
janela aberta e a luz do sol trazia uma sensação de pureza no
entre si, diga-se de passagem, foi a experiência mais “penosa”
lugar. E lá estava ela silenciosa com seus pensamentos e senti-
da minha vida. Elas são verdadeiras pérolas e agem com uma
mentos que ninguém sabia, os médicos já não davam esperanças
singularidade interessante, por isso, vou provar o que digo e,
de melhoras, eram seus últimos dias.
deixando de conversa, listarei alguns pontos que anotei ao longo
Sentei-me a seu lado e disse: – nós estamos bem, tia, o pai, a dos dias, estas análises estruturam o meu quintal para uma gali-
mãe e o Calebe. Este, meu sobrinho de quem ela tanto gosta. Observei nhada tranquila e saudável:
por mais alguns minutos, respirou fundo como se entendesse tudo
o que eu disse, peguei na sua mão e dei um beijo e saí. Voltei para I - Despertador: no quintal não se admitem preguiçosos, o dia
o dia que já não era como outro dia. As despedidas eram assim começa lá para as 5:00 da manhã, o cantar do galo rompe
frias e silenciosas e quando se podia despedir, ficaria um vazio, o silêncio da madrugada e as galinhas descem do poleiro
em meio a tantas coisas no mundo, rebuscado de uma tristeza que com fome na espreita do sonhado milho.
ninguém queria passar, mas sempre vinha como surpresas que não II - Orquestra: talvez esta seja a mais importante e leva o
se podia recusar. E assim foi a minha despedida. título do texto, cacarejar é uma questão de honra, e este
som possui inúmeros significados, e um deles, por exem-
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
plo, indica que as fêmeas que botaram pela primeira vez Por fim, ainda sinto muito por tudo que a pandemia me
podem anunciar para todos que já são galinhas com todas impossibilitou, mas agora olhando sob outro prisma consigo
as penas, digo, com toda certeza. perceber os “cocoricós” fazendo mais sentido.
III – Poligamia e irmandade: é necessário partilhar o milho e
o marido, ou seja, não adianta fazer queixas nem cobrar
fidelidade, o esposo é para todas, mas quem poderá dizer
que isto é ruim? Pelo menos ele não ficará o tempo inteiro
ao pé da galinha e, caso o galo queira, poderá ciscar no
quintal do vizinho, às escondidas, é claro.
IV - Liberdade e dieta: notei que elas preferem subir nas mesas,
entrar em casa, e fazer ninhos em lugares inusitados faz
parte do desenvolvimento delas, como também comer
insetos, restos de alimentos, capins e qualquer coisa que for
comestível ou não, assim fazem uma nutrição equilibrada.
V – Proteção e defesa: percebi que algumas mães são tão
bravas que podem bicar você caso apenas tente chegar
pertos de seus filhotes, elas voarão na sua cabeça com
tanta veemência que nunca se esquecerá. Tudo isso para
mostrar que o pintinho pode até ser amarelinho, mas não
é para o seu bico, nem para petisco de predadores.
VI – Contraste e evolução: também aceitamos as diferenças,
no quintal possuímos galinhas de todas as cores, pesos e
tamanhos, aqui não há discriminação pois todas vieram do
mesmo antecessor, o Tiranossauro Rex, Darwin diria que
elas são uma versão mais descomplicada do tal predador,
suspiramos aliviados.
VII – Cálculo e euforia: as hortas são um prato cheio para elas,
pois ao menor sinal de deslize a festa está dada, irão ciscar
e desenterrar, comendo até os últimos grãos plantados, isso
significa que elas realmente sabem bem como soltar a franga.
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
COVID-19 – Ok! Mas pegue esse álcool e essa máscara. Perdi minha
família, por não acreditar no vírus, mas tive a sorte de ainda
estar viva e não quero morrer agora.
Letícia Sales dos Santos
– Tá bom! Sinto muito.
Um homem acorda em um hospital, sozinho. O hospital Já estava tarde, os dois decidiram dormir, como havia
“mais grande” da cidade estava abandonado, havia corpos empi- apenas um quarto e uma cama eles dormiram juntos. Naquela
lhados no fundo dele. Ele fica desesperado, pois não vê sua família, noite estava fazendo muito frio, então para se aquecerem eles
nem seus filhos e amigos, então ele sai andando para sua casa. se abraçaram, ele não resistiu à beleza da mulher e o seu corpo
colado nela e a beijou. Ele acordou com o barulho das tosses
Quando ele chega em sua casa, não tem ninguém, as fotos e secas, perguntou para ela:
roupas não estão mais lá, ele fica se perguntando o que aconteceu
naquela cidade que todas as casas estão abandonadas. Desespe- – Você está bem?
rado, sem saber o que tá acontecendo, ele pega seu carro e vai – Não, acho que você me infectou.
para uma cidade chamada Vânia, próxima a sua cidade natal.
Chegando lá, ele encontra com uma mulher no posto e pergunta: – Não é possível, estou me sentindo bem.
– O que está acontecendo? – Eu não te contei, mas algumas pessoas são assintomáticas.
– Você não sabe? Você tá infectado? – Não pode ser! Temos que encontrar um jeito para você
ficar bem. Não tem nenhuma vacina?
– Infectado?
– Ainda não, sinto muito.
– Sim. Alguns meses atrás, houve o começo de uma pan-
demia, grande parte da população foi infectada por um vírus A partir daquele dia, ele ficou isolado, não lembrava que
chamado COVID-19, desde então, ninguém mais pode sair ou havia transmitido para sua mulher e filhos, por causa do des-
tocar alguém sem usar álcool e máscara. respeito às leis, de ficar isolado e usar álcool e máscara. Infeliz-
mente, agora não é só seu corpo que está isolado, mas todos os
– Não estou infectado. Estava no hospital, mas lá está seus sentimentos de culpa, por não ter seguido as ordens e ter
abandonado e estou me sentindo bem. transmitido o vírus para as pessoas que ele amava.
– Tenho que ir.
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Lentamente soltou minha mão e foi em direção a suas plantas, tar cada segundo, cada instante. Ah, minha avó! Este dia só me
fiquei sem entender nada, mas deixei para lá. traz arrependimentos e lembranças cruéis. Dói-me saber que não
irei mais ter a oportunidade de me despedir, de abraçá-la, e de
Na manhã seguinte, acordei com o pensamento inclinado
principalmente me desculpar por não aproveitar adequadamente
para aquela frase. Peguei um café preto acompanhado com uns
os momentos. Um vírus veio e tristemente fez um estrago em
bolinhos (feitos pelas mãos da fada Marina) e fui em direção ao
nossas vidas, agora meu coração chora despedaçado.
jardim, como era bem cedinho dava para ver o nascer do sol.
Encostei na parede de barro e fiquei observando a minha avó
cuidar das suas plantas, foi uma cena esplêndida, ela cantava
com uma energia que transmitia pelo ar, a conexão com as flores
eram surreais, até parecia que elas sorriam! Foi um momento
magico, fiquei encantada e sem palavras, e, ao mesmo tempo,
me questionava: como não tinha observado antes? Meu Deus! Na
parte da tarde as minhas encantações continuaram, dessa vez o
cenário foi o riacho, dona Marina banhava e “tibungava” como
uma criança, lavava aqueles cabelos branquinhos como flocos
de neve com uma alegria extrema. Quantas coisas deixei passar,
o orgulho tomou conta do meu coração de uma forma que não
conseguia enxergar a simplicidade das coisas.
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
INÍCIO DA PANDEMIA Mais tarde fui ao mercado, saí pela rua e estava tudo deserto,
ao chegar lá, me deparei com todas as pessoas usando máscaras
e um rapaz na portaria com um litro de álcool jogando nas mãos
Andreia Pereira dos Santos de quem estava entrando no estabelecimento. Foi aí que tive a
certeza de que estávamos lidando com algo sério e gravíssimo.
Acordei pela manhã ansiosa e um pouco antes do horário, No dia seguinte, fui convidada para ir a um aniversario,
para dar tempo de me arrumar. Era meu primeiro dia na facul- fiquei meio pensativa, mas não recusei o convite. Fui, e me diverti
dade, e teria que estar no ponto de ônibus às 6:00 horas em ponto. bastante... (Depois vieram as consequências de minha teimosia).
Corri apressada, quando ouvi da minha casa a suada do ônibus Alguns dias depois, acordei doente, com dor de garganta e quei-
passando na rua de cima. mando em febre. Fui imediatamente ao hospital, e para minha
– Paraaa o ônibus, motorista! surpresa estava com COVID. Cheguei em casa triste, e passei
os piores dias de minha vida, isolada, sem contato com meus
Ele freou logo em seguida! Entrei imediatamente com o amigos e familiares. Eu tive a certeza de que nunca devemos
suor escorrendo no rosto, olhei para dentro do ônibus e todos desacreditar das coisas sérias, e que nossos atos podem trazer
estavam me olhando (Fiquei envergonhada). Cheguei na facul- consequências devastadoras para nossas vidas. Me recuperei,
dade, assisti todas as aulas. Mas, para a minha surpresa, e dos e fiquei com a lição de que podemos fazer nossa parte durante
demais alunos, logo fomos informados que não teríamos aulas esse período pandêmico. Fique em casa!
nos dias seguintes, e que a cidade iria entrar em quarentena. A
sala ficou um alvoroço, ninguém estava entendendo nada! Em
seguida a professora fala: Pessoal, acalmem-se! Teremos que ser
compreensíveis neste momento, e a melhor forma de nos prevenir
desse vírus é ficando em isolamento.
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QUANDO TUDO PAROU mostrar a face sem esconder sorriso, queremos assistir às aulas
sem telas nem vídeos. Queremos notícias simples, podem até ser
de CPI, só não queremos mais ouvir: precisa-se de vaga de UTI.
Fabiana Santos
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
ROTINA DE CUIDADOS NA PANDEMIA Por isso, evitava, ao máximo, proximidade com pessoas
que não utilizavam máscaras. Em um momento do dia, recebi
uma mensagem no meu celular. Era uma notícia muito triste, um
Jhonatas Viana Alencar dos moradores mais antigos da minha cidade morreu, vítima da
COVID-19. Ele tinha setenta e cinco anos de idade. Quando as
Em um certo dia, liguei minha televisão e comecei a assistir demais pessoas souberam da morte ficaram de luto em solida-
o jornal, que dizia: o número de mortes causadas pela COVID- riedade à família.
19 aumenta a cada dia. Isso me deixou muito assustado, fiquei Depois de receber essa notícia, fiquei preocupado com a
pensando na melhor forma de me proteger dessa terrível doença. minha avó. Ela é uma senhora de oitenta anos, possui uma saúde
Durante a pandemia, saía de casa apenas para comprar muito frágil. Eu ligava para ela constantemente, para saber como
comida, remédios e pagar as contas, obedecendo às recomenda- estava, dizia para ela cumprir corretamente o isolamento social,
ções das autoridades de saúde. E todas as vezes que eu precisava evitando sair de casa sem necessidade. E quando fosse sair, não
comprar algo, utilizava máscara e fazia o distanciamento social. esquecesse de usar máscara.
Quando estava andando pelas ruas, da minha cidade, observava Fiquei muito feliz, ao receber a notícia de que minha avó tomou
muitas pessoas aglomeradas, conversando sem utilizarem máscaras. a primeira dose da vacina contra a COVID-19. Tempos depois, ela
Isso me surpreendeu muito, pois, mesmo em tempos de pandemia, me ligou muito contente, dizendo que tomou a segunda dose. Essa
ainda havia muitas pessoas que não obedeciam às restrições. informação me deixou muito feliz. Depois liguei para ela dizendo
que, quando a pandemia acabasse, iria visitá-la, após muito tempo.
Logo depois, cheguei no mercado, para comprar man-
timentos, e lá tinha poucas pessoas, esperando na fila, para Sei que esse dia ainda vai chegar, e até lá estou aguardando
comprar comida. Dessa vez fiquei mais satisfeito, todas elas ansiosamente este reencontro. Tempos depois, parei para pensar
usavam máscaras. sobre a situação em que ainda vivemos, lembrando dos momentos
em que podíamos visitar, festejar, viajar, levar uma vida normal.
Logo pela manhã, quando voltava da padaria, ouvi uma pessoa A COVID-19 trouxe desânimo, isolamento e muita tristeza. Por
dizer que, na noite anterior, viu muitas pessoas se aglomerando em isso, quando tudo voltar ao normal, aproveitarei, ao máximo, o
uma casa próxima do centro da cidade. Confesso que ao ouvir essa tempo que foi perdido nessa pandemia, valorizando cada vez
informação fiquei mais cuidadoso ainda, pois a possibilidade de mais a família, os amigos e, principalmente, a vida.
essas pessoas terem contraído a COVID-19 era bem alta.
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SE NÃO TIRAR FOTO A VACINA NÃO TEM EFEITO – Ah! Agora não se tem nem o direito de ir e vir como
bem quiser!
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O PACIENTE UMA NOVA REALIDADE
Quando você ler esta carta, pode ser que eu tenha partido Em março de 2020, foi quando começou a primeira onda
para uma viagem sem volta. Escrevo hoje, para relatar meu sofri- da COVID-19 na minha cidade, fazendo com que todos mudas-
mento e de milhares de pessoas. Neste ano de 2020, minha vida sem sua rotina e utilizassem o isolamento social como medida
nunca mais foi a mesma. Recebi a terrível notícia, pelos veículos de prevenção. Em consequência causou impactos na saúde,
de comunicação, que o planeta estava passando por um período educação e economia gerando incertezas, insegurança e medo
pandêmico devastador. Lojas, comércio, igreja, faculdade, esco- na população. Muitas pessoas perderam seu emprego e tiveram
las, tudo parou. Os governos municipais em face da inércia do que se reinventar para poder conseguir sustentar suas famílias.
governo federal tiveram que tomar as rédeas e criar mecanismos
A empresa onde trabalhei fechou, deixando todos os fun-
para conter a pandemia. Um estado de caos se instalou no nosso
cionários desempregados. Por essa razão, decidi que precisava
país. O presidente, que mais parece um menino, não consegue
reverter a situação, pois tenho uma filha e o meu esposo está
lidar com as pressões políticas e da sociedade.
trabalhando como motoboy, porque a empresa onde trabalhava
Onde estou, não desejo para ninguém, há 30 dias em um reduziu o número de funcionários ocasionando sua demissão, e
leito de hospital, não sei o que acontecerá amanhã. Todos os dias agora preciso ajudá-lo nas despesas mensais de casa. Tive a ideia
penso que não sobreviverei, minha saúde a cada dia se vai, me de fazer máscaras de pano para vender, segundo a recomendação
sinto como se fosse uma bateria de celular que aos poucos vai se do ministério da saúde, o uso da máscara evita a disseminação
esgotando, sem ter a oportunidade de ser recarregada. Sinto-me do vírus; comecei vendendo para familiares e amigos; como a
lesado por um governo negacionista que nada fez para conter a máscara passou a ser um acessório do dia a dia, as vendas tiveram
proliferação do vírus. Se estou aqui neste ambiente hospitalar, um aumento significativo e atualmente tenho uma loja online que
deitado em uma cama, foi consequência de tais atitudes. atende ao público da minha cidade, o meu esposo faz as entrega
em domicílio e estou conseguindo atender todas as demandas.
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
e continua tendo aula através do ensino remoto. Vejo que, mesmo PANDEMIA E AS MUDANÇAS EM NOSSAS VIDAS
diante das dificuldades, os profissionais da educação não medem
esforços para continuar exercendo seu trabalho e ajudando os
alunos da melhor maneira possível, percebo tudo isso como algo Maria Alessandra Alves dos Santos
positivo, mesmo o vírus mudando a rotina de todos, mas a vida
segue adiante e exige que acompanhemos todas as mudanças Pandemia, de fato são várias emoções ao mesmo tempo,
para conseguir nos adaptar a uma nova realidade. uma praga que tem manifestado tantos sentimentos, em especial
Ainda não tomei a vacina, mas aguardo ansiosa para quando o de morte. Porque foi de repente que esse mal mudou a vida de
chegar a minha vez. Espero que retomemos a rotina de trabalho, todos os seres humanos. Assim, foi o medo que invadiu a vida
estudos, que o fluxo nas unidades de saúde e hospitais diminuam de todos. Olha só: muitos filhos que perderam seus pais, foram
principalmente em decorrência da COVID-19, que melhore a muitos pais que penderam seus filhos, mães que sonharam em
situação do cenário econômico do Brasil para gerar empregos ter filhos, mas, tiveram seus sonhos interrompidos, houve o
e mudar a realidade de milhares de pessoas. Aguardando esse desemprego de muitos pais de família...
momento extraordinário. Os hospitais em estado de calamidade, os médicos têm que
lutar contra o tempo para salvar vidas e já não tem mais vagas.
Os grandes heróis estão se cansando, estamos em seção limitada.
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REGISTROS DA PANDEMIA EM FORMAS LIVRES DE NARRAÇÃO
AS QUEIXAS DE UMA MÁSCARA DESCARTADA nessa doença imunda, não custa nada usarem por consideração
e respeito com quem procura se cuidar direitinho. É triste! A
falta de empatia e respeito ao próximo é muito grande nos dias
Ágata Gomes da Rocha de hoje. E o pior é ver que grande parte da população age dessa
forma, vendo pessoas morrerem, observando a calamidade dos
Dentro dessa lata de lixo imunda, aumenta ainda mais a hospitais e, ainda assim, continuam sem mudar os seus hábitos.
decepção que sinto com os seres humanos, ao ver tanto desres- E para mim, então, uma máscara profissional, muitas vezes usada
peito com a sociedade. A falta de amor ao próximo, de solida- por algumas horas, e descartada como algo sem utilidade e des-
riedade. Ou apenas por maldade, preguiça, ou estupidez...não necessária dentro dessa lata imunda de lixo, várias espalhadas
sei. Qual a dificuldade em colocar uma máscara no rosto para por muitas ruas das cidades?! É triste.
a própria proteção e a proteção de outras pessoas? Se proteger
dessa doença maldita e tão fatal, que está assombrando todo o
mundo, é questão de empatia aos familiares, amigos e aos demais.
Em compensação, ainda é possível observar bons exemplos de
pessoas que cumprem com o que é pedido, que se cuidam, e em
todos os lugares procuram sempre se cuidar, higienizando as
mãos e usando máscaras corretamente, nem que sejam as feitas
em casa, e não tão eficientes, simplesinhas, porém dão grande
exemplo de quem quer preservar a própria saúde e a de seu
próximo. Imaginem eu, uma máscara com filtro e tratamento
eletrostático, clipe nasal interno e ainda tem elásticos de látex
com regulador, que se ajusta perfeitamente ao rosto, uma máscara
profissional PFF2, vendo tanta gente besta desprotegida, visto
que, ao que estou sabendo por aqui, algumas pessoas não acredi-
tam muito nessa história de pandemia não, é como dizem: “é só
uma gripezinha, que não faz muito mal não”. Faça-me o favor!
Sei que posso incomodar, algumas pessoas têm dificuldades de
me usar, mas usar somente quando precisar, quando for sair na
rua, quando tiver que estar em ambiente com muitas pessoas,
não será tão ruim assim. E mesmo que as pessoas não acreditem
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O QUE A PANDEMIA ME TIROU
Lorrany Rocha
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UMA CARTA AO SÍNDICO
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OUTRAS PROSAS
Portanto, devo avisar ao síndico daquela alta montanha Sufocada, perdida, me afogando em alto mar, sem nenhum
de concreto; avisar que a sua segurança é falha, que o porteiro, colete salva-vidas, sem nenhum bote, sem nenhuma esperança,
aquele senhorzinho, que nem ao menos me questionava se eu era apenas com um coração dolorido e um vazio maior do que o mar
mesmo um morador, estava muito velho para o trabalho. Devo em que estou sendo continuamente afogada.
avisar também que acima do parapeito devia haver uma grade Hoje é um daqueles dias em que eu perco as contas de
alta e de muita resistência, que pudesse resistir aos mais loucos quantas vezes eu segurei o choro, de quantas vezes eu disse
pensamentos suicidas e às coragens surgidas em momentos de “eu estou bem, é só cansaço”, quando só eu sei o quanto estou
dor. Deveria eu avisar, além disso, que os altos prédios são um destruída. Eu minto porque algumas mentiras, quando são
convite ao suicídio, mesmo que lá de cima a vista seja tão linda. contadas várias vezes, viram uma verdade, e como eu queria
Bem como, lá do alto, tão perto das nuvens poderiam até tocar que fosse verdade.
as estrelas e em um pequeno salto chegar ao espaço.
Como eu queria que a dor que eu sinto em cada músculo,
essa dor que invade as minhas entranhas, fosse apenas o cansaço
que pode ser vencido com uma boa noite de sono. Falando em
sono, tem tanto tempo que eu não durmo, que eu não descanso
nem sonho. Minhas noites e madrugadas se resumiram a lamento
e solidão, escuridão, medo e murmúrios. Apenas tormentos, da
minha própria mente, do meu próprio mar.
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OUTRAS PROSAS
Hoje é um dia difícil, daqueles que eu nem deveria ter CONVERSA INACABADA
ousado enfrentar, mas agora que eu estou no olho do furacão, a
única opção que me resta é esperar que passe, que de fato seja
apenas uma fase, como tantas pessoas dizem para mim Isabel Ambrozio | Kaillany Fernanda
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OUTRAS PROSAS OUTRAS PROSAS
– Você não concorda comigo, Gabriele? – perguntou a de – Vai entrar, ou não? Eu não tenho o dia todo para esperar
cabelo rosa. a princesa se decidir!
– Concordo... – a outra falou sem firmeza. Indignada, olhei para o motorista, contendo minhas emo-
ções pelos recentes acontecimentos, forcei um sorriso educado
Mas ela concordava com o quê, se parecia que ela não
– obrigado, mamãe, pela educação! –, e entrei no ônibus. Dei
queria concordar exatamente?
um último olhar para as garotas, mas elas já tinham ido embora.
– Só tome cuidado. – a que não falava nada, quero dizer,
Cheguei ao meu novo emprego, iniciei meu trabalho
Gabriele, finalmente abriu a boca.
“aparentemente” tranquila, como a boa profissional que era. No
– Mas eu estou! entanto, vez ou outra me lembrava das garotas. Me vi pensando
e cogitando possibilidades dentre os assuntos que elas poderiam
– Não está não... não queria que fosse eu a dizer isso, mas
ter conversado naquele momento. Mas nada fazia sentido.
acho que ninguém mais faria.
Com os pensamentos a mil, comecei a cometer pequenos
Minha nossa, a Gabriele estava muito falante!
erros durante meu primeiro dia, como: exclamar de repente, cho-
– Então me explica, por que só eu tenho que tomar cuidado? rar de angústia, rir de desespero, tremer de curiosidade. Enfim,
quase fui demitida porque estava envolvida num assunto que
Gabriele, então, se aproximou da garota de cabelo rosa, e
nem era meu, mas daquelas duas garotas!
eu, num gesto involuntário para ouvir melhor, seja lá o que ela
tinha para dizer à outra, me curvei no assento, joguei meu cabelo Ao chegar em casa, descobri a moral da história: nunca
para trás, deixando meus ouvidos totalmente expostos. Gabriele ouça uma conversa pela metade, muito menos vá embora antes
abriu a boca, então... o ônibus chegou de repente! Me coloquei que ela acabe.
de pé, num salto – um gesto mais assustado, do que de prontidão
pela espera. Voltei meus olhos para as garotas, mas, já era tarde.
Gabriele já havia se explicado, e eu não pude ouvir nada!
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OUTRAS PROSAS
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O ASSALTO DO BOLO SÓ MAIS UM DIA DE SOL
Era quase noite na cidade, e todos caminhavam pelas ruas, Era um dia de sol lá naquela pequena cidade na qual vivi
a tarde tranquila fora interrompida por barulhos de tiros. Todos por muitos anos. Nesse dia, mais ou menos pelo meio da tarde,
correram assustados sem entender o que acontecia, alguns se eu estava deitado em minha cama, lendo algum livro, não lembro
esconderam por trás de árvores, carros e outros corriam sem rumo. qual, mas devia ser algum romance clássico, esses são os meus
preferidos, diga-se de passagem. Quando, naquele momento,
Até que o assaltante aborda uma pobre mulher trabalhadora;
ouvi tocar o meu celular, era uma mensagem de WhatsApp de
que chegara ao portão de sua casa, depois de um cansativo dia
um amigo que vivia em uma cidade vizinha, não muito longe
de trabalho. Imediatamente, o assaltante anuncia:
e nem tão perto, um meio termo, nem lá, nem cá, como dizem.
– É um assalto! Ele me perguntou se eu estava bem, e logo eu respondi que sim,
perguntei o mesmo a ele, que de maneira mútua, afirmou que sim,
E a mulher levanta os braços ao alto e diz:
estava bem. Posteriormente, me perguntou quais eram os meus
– Por favor, não atire! planos para a semana, se eu iria para alguma festa ou algum bar,
sair, beber, curtir. Eu disse que não, não tinha nada programado.
– Pode levar, tudo que tenho!
Vendo a minha completa disponibilidade, esse amigo me
– Mas não me mate!
convidou para ir em sua cidade para uma grande festa, no con-
Logo o assaltante pega uma sacola que a mulher deixara vite ele dizia que eu ficaria em sua casa por alguns dias antes
cair ao chão e sai correndo. Após o susto, a mulher, mais calma, da festa e outros mais depois dela. Eu olhei o meu saldo no
procura uma sacola em que trazia um bolo para o lanche da tarde. banco, e o meu dinheiro na carteira, percebi que era pouco, mas
decidi viver essa aventura, então me organizei, arrumei a mala
Seria um assalto ou um assaltante querendo driblar a fome?
e embarquei no primeiro ônibus maltrapilho que passou no dia
seguinte. Comigo, levei a vontade de me divertir, de quem sabe
tentar uma dança ou algo a mais. Chegando lá, fui recebido com
alegria por meu amigo e seus familiares, era um clima de festa
na cidade, afinal, era um grande show, tinham algo a comemorar,
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OUTRAS PROSAS OUTRAS PROSAS
não lembro muito bem do que se tratava e tampouco o motivo vez aquela ação outrora praticada: parar, beber a minha água e
real de tanta farra. Mas isso pouco importa, faltavam dois dias apenas observar, e, mesmo que olhassem para mim de uma forma
para a festa e eu já estava muito animado. meio estranha como quem julga um observador, eu permaneceria
ali, até que os olhos me fossem cheios de algo antes nunca visto.
Escolhi a dedo aquela roupa a qual usaria, uma calça em tons
Não demorou muito, em um momento de descuido, quando meu
terrosos, uma camisa preta para disfarçar quaisquer gordurinhas
coração pouco esperava, o atingi com um forte golpe, implacável.
que pudessem surgir e também porque o black me deixa com um ar
Olhei para ela como se não houvesse mais um mundo no qual eu
misterioso, é uma cor belíssima, afinal de contas. Coloquei alguns
estava inserido, era como se cada célula do meu corpo tivesse
acessórios: pulseiras, cordões e anéis, todos pretos ou em tons que
se voltado para aquela paisagem, sem qualquer tipo de defesa
remetem ao luto. Nem ao menos parecia que eu estava a caminho
ou retaliação, estava entregue.
de uma festa daquele estilo, entretanto, eu pouco me importava,
aquele era o meu jeito de me vestir e estava tudo às mil maravilhas. Ela se cobria de um all black que combinava com as cores
Partimos, então, para aquele baile, é assim que chamam hoje em que eu usava, ao lado dela pequenos seres que pouco importam,
dia. Chegando lá, me deparei com muita gente, algumas pessoas pois, ela, da forma que brilhava, era o mais belo espetáculo que já
conhecidas, outras nem tanto, e muitas outras eu jamais havia visto, tive o prazer de ver. As luzes ao seu redor favoreciam o vermelho
normal para uma festa com milhares de pessoas de todos os lugares. do seu batom, que refletia nas poucas nuvens que surgiam com
inveja do seu brilho. Eu, por outro lado, estava paralisado, não
Andei pelo ambiente por horas e horas, com meu amigo
ouvia o que me diziam, apenas acenava com a cabeça em sinal
e amigos dele, cansei. Depois de tanto andar, parei, comprei
de concordância, por pura educação. Meus olhos brilhavam tanto
uma água e me permiti observar aquele local, aquelas pessoas,
que podiam ser confundidos com alguns daqueles refletores de
aquelas músicas, aquele clima frio e ao mesmo tempo tão pro-
alta potência, que iluminavam o palco daquele artista, que nunca
pício ao calor, com tantos corpos ali juntinhos uns aos outros,
em sua vida teve o talento suficiente para compor uma melodia
alguns dançando, outros conversando, outros beijando, outros,
tão linda quanto ela.
assim como eu, apenas observando. Olhando para os lados o
tempo todo, tentando encontrar nos olhares algo que pudesse, Meu amigo me cutucou perguntando o que tanto eu olhava,
de alguma forma, me encantar. Não demorou muito, logo eu eu respondi lentamente que não era nada, por medo de revelar a
desisti e andei novamente, não dancei, não somente porque não ele que naquele momento eu era o homem mais feliz do mundo,
sei essa prática, mas também porque senti que aquela noite me medo de ter a minha felicidade roubada, medo de perder, por
traria algo mais que uma dança. um instante que fosse, a visão daquela gloriosa rainha. Então,
daquela forma, eu o ignorei, afinal ele tampouco existia agora.
Depois que percebi que a noite não era para danças e
No meu mundo só existia eu e ela, naquele momento, com aquele
tampouco para qualquer outra curtição, decidi tentar mais uma
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OUTRAS PROSAS
clima, com aquela sensação de que tudo seria nosso, de que CASA DE CAMPO
todas as estrelas se apagariam só para verem o nosso brilhar.
E era verdade, todas elas se apagaram, e os outros planetas se
curvaram para ela, a nossa guia, aquela para quem olhamos em Emilly Nayady C. de Souza | Jhonatas Viana Alencar
noites de paixão, aquela que está em cada verso da minha pobre
poesia, a lua. De vez em quando, vou para a casa dos meus pais que fica
no interior do Pará, leva umas 5 horas para chegar até lá. Não
é tão longe, mas as responsabilidades da vida de adulto exigem
sacrifícios como viver longe deles, do lugar incrível onde cresci
e do qual tenho boas lembranças.
Como tinha avisado para minha mãe que iria, quando che-
guei por volta das 7 horas da noite, ela já tinha preparado minha
comida favorita (arroz, feijão, e carne de sol com bastante cheiro
verde). Todos os dias acordávamos cedo para iniciar as ativida-
des diárias, meu pai começava indo para o curral ordenhar as
vacas e minha mãe ligava o rádio no último volume, e começava
varrendo o terreiro, me acordava com o som de músicas de raiz
e, para ajudar nos afazeres, coloquei o milho para as galinhas, e
para o porco que se chamava Afonso, em seguida fomos tomar
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OUTRAS PROSAS
café. Logo após ajudei minha mãe a molhar a horta na qual O AMANHÃ
tinha tomate, alface, couve, um canteiro grande de cebolas e
de coentro, o famoso cheiro verde e capim santo; colhemos os
legumes para o almoço. Posteriormente, fui com meu pai para a Thays Viana Silva Braga
represa alimentar os peixes e garantir a mistura para o almoço.
Após o almoço, fomos para o barracão de palha e lá come- O amanhã, esse que a gente idealiza e almeja tanto que
çaram a contar histórias que eles ouviam quando eram crianças, chegue logo, talvez possa até existir um dia num breve espaço
uma delas me chamou atenção. Dizia que havia muito tempo de tempo. Mas estou convencida de que ele não está tão próximo
atrás, morava um velhinho solitário dentro de uma mata, ele quanto imaginamos que esteja, amanhã vai além da percepção
trabalhava quebrando coco e colhendo frutas para se alimentar, cronométrica de tempo. Os dias se repetem e se apagam e,
não tinha amizade com ninguém e quando anoitecia desaparecia assim, amanhã se torna uma utopia – que nunca chega, é como
na mata. Essa faz parte de uma das histórias de antigamente se estivéssemos presos em um túnel do tempo.
que meus pais sabem contar, então combinamos de fazer uma Amanhã ao acordar, talvez seja tarde para apreciar o nas-
caminhada pelas redondezas da nossa casa de campo, encon- cer do sol, ouvir o canto dos passarinhos, respirar ao ar livre. O
tramos um grupo de tetéu que, ao perceber nossa presença, nos almoço em família, estar com alguém que amamos, ir às praças,
perseguiram. A trilha era interessante, tinha pés de goiaba, jaca, bares, festas, dentre tantos lugares, talvez isso amanhã serão
manga, abacate, cupu, laranja, logo mais à frente avistamos um apenas momentos que estarão guardados na nossa lembrança.
córrego muito bonito com profundidade e água cristalina, onde
minha mãe lavava roupas. Acreditamos tanto no tal amanhã, que nele depositamos todas
as nossas esperanças. E é nesse amanhã que talvez eu entenda a dor
Depois de admirarmos essa beleza natural voltamos para do outro, a solidão que é sentida por causa do temido isolamento,
descansar e começar tudo outra vez. a falta daqueles que se foram sem ter tempo de se despedir e a
dimensão do valor que as pequenas coisas da vida têm.
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OUTRAS PROSAS
CAIS EM TRISTEZA O Homem, muitas vezes, foi enganado, mas também enganou
a si mesmo, em um ou mais amores mentirosos, ninguém amou
ninguém. Na vida deste homem, muitas mágoas permanecem, o
Guilherme Silva Vanderley nome delas eu não sei, mas uma delas foi loira e depois morena,
foi ruiva e colorida, foi corte e ferida, foi o começo do fim, o
O Homem de crachá tem o nome de João, Pedro, Paulo, início da dor, do ir e vir, do medo e da intensa vontade de sumir.
Valdemar, chame-o como quer chamar. O Homem tem 21 ou 38 O Homem chora horas e horas, não consegue mais viver assim.
anos e muitas histórias tristes para contar. Este Homem que não O Homem sai de casa exatamente às seis, vai ao traba-
vive, vive por falar, que a vida que ele vive é muito dura de aturar. lho, faz um milhão de coisas idiotas, sem sentido além de mera
Contudo, vemos o Homem vivendo a balbuciar, ao sair de casa compilação de inutilidades. Além disso, ele almoça sempre o
cedo, — estou indo trabalhar —, e no fim da tarde, ao respirar, mesmo prato: arroz, feijão, salada e um copo de suco de manga.
tudo que ele quer é voltar para casa e descansar. Outrossim, é Em outros momentos, o Homem anda pela cidade, olhando
verdade que o vemos em outros lugares: boates, viadutos e bares. os letreiros, procurando alguma cartomante para chamá-la de
O vemos também aqui, onde ele está agora, neste cais, sozinho, caloteira. O Homem grita em silêncio pelas longas ruas que
como outrora. O Homem pensa sobre a vida e sobre os amores logo chegam ao fim, e, sem ter para onde ir, o Homem para por
não correspondidos, e, depois daqui, pelos becos escondidos, aqui, no cais, caindo em lágrimas que se vão, com o tempo e o
vai a uma festa, encher a cara até o fundo, se jogar na noite, se passar das águas.
perder de si e do mundo.
O Homem é um pobre homem, tinha sonhos, mas não vê
O Homem não tem culpa de ser tão solitário, vazio, triste, sentido em nada mais. Ele não tem cachorro, tampouco papagaio,
ordinário, não tem culpa de viver assim, pelos cantos, ouvindo odeia amar os animais. Ademais, o Homem odeia muitas outras
cantos que não encantam, enfim. Embora nada o encante, o coisas, como café frio, noite quente e um luar meio diferente.
Homem sorri, agoniante, tentando maquiar o mundo onde está, Porém, ele também tem seus gostos e costumes, como beber água
o trabalho, o fato que tem de acordar cedo, muito cedo. Este é ou tequila, de dose em dose, pelos bares, para esquecer a vida.
um Homem que chora pelas noites mal dormidas, pelos banhos Entre outras características, o Homem não é alto, tem um metro
demorados, pelo sono que não vem, pelos dias mal-humorados. e noventa centímetros de pura pequenez. Afinal, quem não se
Todavia, este Homem só quer ser amado, amar, ser revigorado, sente gigante jamais alcançará o céu. Deixando de lado frases
ele quer ser feliz. Porém quem vê o Homem, vê tristeza, mágoas, clichês, voltaremos ao nosso protagonista, pois precisamos dar
solidão, melancolia. Quem vai amar alguém assim? Ninguém. a ele mais atenção, enfim: o Homem não sente mais vontade de
Você amaria?
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OUTRAS PROSAS
viver, ele não quer mais sentir como se nunca estivesse sendo
visto, ele quer não existir.
O Homem irá sair deste cais, andar pelas ruas desta cidade,
beber, namorar, gritar, ser quem nunca foi. O Homem vai chegar
em casa, sujo e vazio, sem ninguém para o amparar e, então,
morrerá nesta mesma noite. O Homem irá preparar um cenário
com flores, perfumes e bastante cor, como nunca antes fez. Este
Homem pegará uma lâmina e cortará os próprios pulsos, naquele algumas palavras sobre
cenário, ali na sala, assistindo ao seu filme favorito, eu não sei qual
é, não me pergunte. Pergunte a ele, aliás, pergunte mais coisas as experiências de escrita
a ele, pode ser que ele queira conversar. Entretanto, não adianta
mais perguntar, pois o Homem já se convenceu e percebeu que
só ele pode e vai entender a si mesmo. Só ele sabe o que sente e
só ele sabe o que fazer. Ninguém jamais entrará em sua mente.
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Dara Gomes Souza
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ALGUMAS PALAVRAS SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE ESCRITA
Participar da discussão dos textos dos colegas também foi HELLEN CAROLINY S. CARDOSO
muito enriquecedor para minha experiência com a escrita e o
desenvolvimento do raciocínio para construir histórias.
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MARTHA AURORA ISABEL AMBROZIO
A construção individual a princípio me deixou super aflita, Ao escrever individualmente meu texto, percebi que teria
por várias vezes achei que não conseguiria redigir uma crônica algumas dificuldades no desenvolvimento das ideias. (...) tentei
sozinha. Desde o dia que foi passada a atividade me peguei pen- tirar de minha própria realidade, todavia também tentei retra-
sando no que iria escrever, e compartilhei com alguns colegas tar o cotidiano das pessoas que viviam insatisfeitas com suas
de casa, que em um tom de brincadeira me sugeriram a ideia do vidas, mas perceberam que isso não era nada diante de tudo o
tema. Pensei várias formas de como eu poderia desenvolvê-lo. que aconteceu ano passado. As perdas sofridas, a sensação de
impotência, o medo constante de que as coisas não melhorariam
Em minha mente não queria algo triste, mesmo que o
nunca, foram essas e outras coisas que quis relatar.
momento fosse de profunda tristeza, mas, a princípio, como
somos brasileiros, brasileiro sempre tira uma graça de tudo. E Considerei as tantas reclamações que ouvi (e que também as
de uma forma leve e rápida as palavras foram se encaixando e fiz) de pessoas querendo um tempo para elas mesmas, pois estavam
um dia antes da entrega consegui entregar o meu texto. cansadas de seus trabalhos, estudos, da rotina cansativa do dia a
dia, por isso desejavam “ironicamente” que os finais de semana
Na aula, ao saber que teria que compartilhar, tive um pouco
fossem mais longos. Quando de fato isso aconteceu (a quarentena),
de medo, mas estava lá e era uma oportunidade a mais para apren-
essas mesmas pessoas ansiavam retornar aos seus cotidianos. Foi
der e é errando que aprendemos, então, com toda empolgação, li
buscando retratar essa ambiguidade que criei meu texto.
para a classe. Com o coração grato vi que a professora, mesmo
pontuando e sugerindo algumas mudanças, entendeu e gostou A respeito da leitura compartilhada, gostei muito de apre-
bastante da ideia principal da crônica, que era o humor. Vi que sentar meu texto aos colegas, pois assim pude descobrir quais
eu não havia escrito só um texto, eu havia aprendido e quebrado outras percepções puderam ser atribuídas ao meu texto. Acredito
barreiras que nem sabia que existiam em mim, afinal, a oficina que essa troca de opiniões é muito importante para saber se o
se deu como um grande aprendizado para a vida. que queria transmitir foi realmente entendido por todos.
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KAILLANY FERNANDA OLIVEIRA BRITO ISABELLA CRISTINA MORAIS
No começo, quando a atividade foi proposta eu não Escrever não é fácil, requer esforço, concentração, doação
pensava que iria ter grandes dificuldades para escrever, apesar de si. Escrever uma situação, no momento do acontecimento,
das minhas fragilidades na hora de escrever, eu já havia escrito parece ser relativamente fácil, já que se torna uma espécie de
crônicas, contos, histórias e afins por diversão. Então, escrever desabafo, mas toda escrita tem suas complicações e complexi-
uma crônica não seria algo tão difícil, certo? Errado. dades. Por isso, descrever a realidade de um momento tão difícil
como esse que passamos foi árduo, principalmente, encontrar as
Quando me sentei na cadeira para escrever, as ideias
palavras que se encaixassem com uma dor mundial e ao mesmo
não vinham, as palavras não faziam sentido para mim e eu não
tempo uma dor particular, foi duro.
conseguia formular algo que considerasse apresentável. O medo,
a ansiedade e a falta de foco (falta essa que veio se tornar tão
presente em minha vida no pós-covid) me travaram, e nesse
momento, em meio tantas angústias, abri minha alma e as colo-
quei no papel. Aquele texto não era o melhor que eu tinha feito,
mas sem dúvida um dos mais sinceros, pois tudo o que guardei
e escondi, coloquei para fora através do texto.
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JHONATAS VIANA ALENCAR
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SOBRE OS AUTORES
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NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS
ofertado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de aos doze de idade. Natural do Estado do Maranhão, mudou-se aos
Nível Superior (CAPES). nove anos de idade para São Domingos do Araguaia no Estado
do Pará, onde iniciou os estudos na Educação Básica. Atualmente
Emilly Nayady Consolação de Souza é acadêmica da licenciatura
reside na cidade de Araguaína - TO.
em Letras, do Centro de Ciências Integradas, da Universidade Federal
do Norte do Tocantins (UFNT) e está cursando o 6° período. Participa Isabel Ambrozio é acadêmica da Licenciatura em Letras, do Centro
como bolsista CAPES do projeto de Residência Pedagógica através de Ciências Integradas, da Universidade Federal do Norte do Tocan-
do Núcleo Língua Portuguesa. tins (UFNT) e está cursando 6º período. De 2020 a 2022 foi bolsista
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).
Fabiana Santos é formada em pedagogia Faculdade de Filosofia e
Atualmente é voluntária do Programa Institucional de Voluntário
Letras De Boa Esperança (FAFIBE) e é acadêmica do Curso de Licen-
em Iniciação Científica e Tecnológica (PIVIT) e bolsista do Programa
ciatura em Letras (Língua Portuguesa e Literatura), do Centro de
de Residência Pedagógica (PRP). Ama cantar e tocar violão, às vezes
Ciências Integradas, da Universidade Federal do Norte do Tocantins
se atreve a escrever histórias de fantasia na calada da noite.
(UFNT) e, atualmente, está cursando o 7° período. É bolsista-resi-
dente do Programa Residência Pedagógica. Isabella Cristina Morais do Nascimento é acadêmica da Licenciatura
em Letras, Câmpus de Porto Nacional e está cursando 3º período.
Guilherme Silva Vanderley é acadêmico de Licenciatura em
Letras, no Centro de Ciências Integradas da Universidade Federal Jhonatas Viana Alencar é acadêmico da Licenciatura em Letras,
do Norte do Tocantins (UFNT), cursando o 6º período. Atuou de do Centro de Ciências Integradas, da Universidade Federal do Norte
2020 a 2022 como bolsista no Programa Institucional de Bolsas do Tocantins (UFNT) e está cursando o 6° período.
de Iniciação à Docência (PIBID), e participa como voluntário no
Kaillany Fernanda Oliveira Brito é acadêmica de Licenciatura em
Programa de Residência Pedagógica (RP), ambos executados pela
Letras, do Centro de Ciências Integradas, da Universidade Federal
CAPES. Além disso, é bolsista no Programa Institucional de Bolsas
do Norte do Tocantins (UFNT) e está cursando 6° período. É bolsista
de Iniciação Científica (PIBIC). No blog Em letras, divulga crônicas,
Capes do Programa de Residência Pedagógica como residente.
cordéis e resenhas.
Letícia Sales dos Santos é acadêmica da Licenciatura em Letras,
Hellen Caroliny S. Cardoso é acadêmica da Licenciatura em Letras,
do Centro de Ciências Integradas, da Universidade Federal do Norte
do Centro de Ciências Integradas, da Universidade Federal do Norte
do Tocantins (UFNT) e está cursando 8º período. Participa como
do Tocantins (UFNT).
bolsista (Capes) do projeto Residência Pedagógica de Língua Inglesa.
Idenilde Pacheco é acadêmica da Licenciatura em Letras, no
Lorrany Rocha é acadêmica da Licenciatura em Letras, do Cen-
Centro de Ciências Integradas da Universidade Federal do Norte
tro de Ciências Integradas, da Universidade Federal do Norte do
do Tocantins (UFNT) e está cursando o 6° período. Participa como
Tocantins (UFNT).
bolsista (Capes) do projeto Residência Pedagógica. É compositora
e poetisa. (Poemas não publicados). Escreveu seu primeiro poema
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NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS
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NARRAÇÕES PANDÊMICAS E OUTRAS PROSAS
João de Deus Leite: É graduado no Curso de Letras, mestre e doutor, ÍNDICE REMISSIVO
pela Universidade Federal de Uberlândia. É Professor Adjunto na Uni-
versidade Federal do Tocantins. Foi membro do Conselho Municipal
de Educação de Araguaína/Tocantins (2018-2019). Tem trabalhado com
as seguintes temáticas: discursividades pedagógicas sobre o ensino e a
aprendizagem de língua portuguesa em diferentes situações discursivas,
A M
identidade/identificação de diferentes grupos vulneráveis. Realizou,
Máscara
como atividade integrante de seu doutoramento, Estágio Sanduíche Amor Medo
no Exterior, no Instituto Politécnico de Leiria (IPL) sob a orientação Morte
da Profa. Dra. Susana Nunes e do Prof. Luís Felipe Tomás Barbeiro. É C Mortos
Caos
coordenador do Programa de Pós-graduação em Demandas Populares
Catarse N
e Dinâmicas Regionais (PPGDire). Compaixão Negacionismo
Contágio Negligência
Coronavírus
COVID-19 P
Crise sanitária Pandemia
Crise social Política
Crítica social
R
D Reflexão sobre a vida
Descaso
Desinformação S
Doença respiratória Saudade
Dor Saúde mental
Solidão
G Solidariedade
Generosidade
U
I União
Impotência Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
Incerteza
Infecção V
Insegurança Vacina
Isolamento social Vida
Vírus
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“A cavalo de galope / a cavalo de galope / a cavalo de galope / lá vem a
morte chegando”. Assim principiam os versos de Carlos Drummond de
Andrade, no poema A morte a cavalo. A morte se figurativiza de diferen-
tes formas nas culturas, ao longo do tempo, mas é sempre a “indesejada
das gentes”, como diz o poeta em outro texto. Aqui, ela vem a cavalo,
a aceleração sendo denunciada pelos efeitos rítmicos produzidas pela
repetição das palavras nos versos heptassílabos, que nos levam a ouvir
suas patas apressadas. Em seu lamento, Drummond fala da morte que
aos poucos vai levando os mais próximos, amigos, parentes, até que o
sujeito reste “sozinho e oco”. Se escrevemos e lemos nesse momento, foi
porque sobramos. E o que nossa escrita pode revelar?