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na Folia de Reis:
uma investigação acerca de tempo, mito,
memória e sentido
Editora da UCG Editora Kelps
Pró-Reitora da Prope Presidente
Presidente do Conselho Editorial Antônio Almeida
Profa. Dra. Sandra de Faria
Coordenador Geral da Editora da UCG Coordenadores da Editora Kelps
Prof. Gil Barreto Ribeiro Ademar Barros
Waldeci Barros
Conselho Editorial Leandro Almeida
Prof . Dra. Regina Lúcia de Araújo
a
A Densidade do Próprio
na Folia de Reis:
uma investigação acerca de tempo,
mito, memória e sentido
Goiânia, GO
2009
Copyright © 2009 by Andréa Luísa Teixeira
Editora Kelps
Rua 19 nº 100 - St. Marechal Rondon
CEP 74.560-460 - Goiânia - GO
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Comissão Técnica
Sandra Rosa
Diagramação
Wolney Unes
Revisão
Laerte de Araújo Pereira
Projeto Gráico e arte-inal da capa
ISBN:
CDU: 398(81)
DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem
a autorização prévia e por escrito da autora. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9610/98) é
crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2009
Este livro é dedicado
à luz de minh’alma, a família que tenho.
Agradecimentos especiais:
Secretaria Municipal de Cultura - todos os funcionários
em nome de Kleber Adorno;
Binômino da Costa Lima,
Horieste Gomes,
Salma Saddi.
Densidade
Macktub!
Bariani Ortencio
Da Academia Goiana de Letras
Andréa na Folia de Reis
letra desta música pode ser modiicada de acordo com o nome dos
donos das casas. Se estes oferecem algo para os foliões comerem, estes
cantam Louvação da Mesa, repetindo o mesmo ritual da lapinha,
deixando desta vez o chapéu sobre a mesa.
Os ritos na Folia de Reis persistem através dos anos, mesmo
sofrendo as mutações inerentes à cultura.
A memória e a oralidade podem ser mais bem compreendidas
a partir dos conceitos de Havelock e mesmo de Jardim.
Deus lhe pague a bela mesa que nos deu nesse dia,
Santo Reis que alumeia você com sua família,
Olha que mesa bonita, tem uma lor e a linda palma,
Quando chegar lá no céu, tem uma cama pra sua’lma.
que a escrita seja perfeita, a língua falada será sempre mais luente
e rica. Por mais que tentemos registrar ielmente a oralidade, por
qualquer meio representacional, por qualquer suporte, pecaremos
em não captar, uma mera respiração sequer: “Os gregos, entre 1100
e 650 a.C., o que lograram realizar izeram sem apoio em nenhuma
escrita” (Havelock, 1994, p 99).
A linguagem forma-se através da respiração, de sons, do
aparelho humano responsáveis pela fala; através das letras, esse
processo se dá de outra forma. A preservação da linguagem oral,
para a transcrição de um documento, é ainda mais valorizada quando
dispomos de recursos que garantam sua forma.
A conformação cultural a ser seguida, pode ser alterada através
dos tempos, levando-se em consideração os complementos de que
cada cultura necessita ou acha importante acrescentar. Como exemplo,
o modelo da música Louvação da Mesa pode ser complementada
com estruturas rítmicas diferentes de outros tempos, levando-se em
consideração os complementos incorporados de cada cultura, ou seja:
podiam não ter acontecido cinquenta anos atrás, mas os Reiseiros de
hoje acham importante acrescentar.
Não podemos esquecer que existe um fator muito forte na Folia
de Reis que faz com que a oralidade desta manifestação transcenda
os tempos, que é a religiosidade.
O Grupo de Reis encontra sua identidade nesta prática, e
acredita que, enquanto existir uma semente da família, a Folia de Reis
irá continuar. Eles não se importam com o dinheiro que pode não ser
arrecadado, ou se não irão conseguir ganhar as roupas para sair na
Folia, tampouco se preocupam com a aquisição de instrumentos, pois
muitas vezes eles inventam e constroem a sua ferramenta de trabalho
(chocalho; lautas de tabocas, alumínio ou pvc; tambor, triângulo e
reco-reco). Mesmo sabendo que este trabalho dura somente de dez
a quinze dias por ano, os Reiseiros mantêm na lembrança durante
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maneira, ela muda, mas permanece algo, e o que permanece é o que faz
com que ela prossiga; se isto morrer, morre a Folia. Ela não é alguma
coisa que está ausente da sua presença, ela é a sua presença do modo
como a presença se apresenta. É justamente este aspecto que dará a
dinâmica, e é a própria cultura que propõe isto.
A arte constitui mundo, ela não imita. A Folia de Reis é
constituição de um mundo; mas a Folia é a representação da trajetória
dos três Reis Magos, porém, a partir do momento que ela se faz e se
apresenta em Correntina, ela se ritualiza, mas ganha também uma
densidade do próprio.
O mundo não seria o mesmo se não tivesse o Reisado em
nossas cidades, aquilo que constitui mundo, o que é mundo no sentido
heideggeriano? Alguma coisa que se difere da physis, a physis é aquilo
que se dá por si mesmo. Nasce um rio, é physis, o que chamamos de rio
é mundo. O mundo são sempre estes investimentos de transformação.
Os integrantes da Folia tentam fazer permanentemente não mais a si
próprios como indivíduos, mas o próprio evento. Ao fazer permanente
o evento, eles fazem simbolicamente ou alegoricamente, anunciando
outro, eles fazem iguras importantes, rememoráveis e memoráveis
naquele acontecimento.
Eles se lembram, e cada um deles pretende se tornar imortal
naquilo. Os foliões tentam constituir obra. É uma obra de registro
oral, parecida com a obra do aedo grego, porque ele saía cantando,
até que um dia começaram a anotar. A Folia de Reis não precisa disso
para subsistir, ela pode vir a renascer algum dia, mas não quer dizer
que necessite disso.
A música dos Reis é sempre uma performance única. A música
não pode ser reproduzida, ela produz e, produzindo, ela produz o real,
o mundo. A música é essencial na Folia de Reis porque ela provoca
a possibilidade do Dasein, da densidade do próprio.
Conclusão
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