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Todos sabem que a bola é redonda, porém muitos não sabem ler o jogo e adaptar-se
às dificuldades do mesmo. O segredo está na adaptabilidade. Adaptarmo-nos em cada
momento ao jogo, é fundamental para criarmos mais linhas de passe, oportunidades e
golos. Um belo golo é o culminar de um exercício de passes e de movimentos corretos
onde criamos novas áreas para poder meter a bola na rede. O futebol é simples. Não
tem nada que enganar. Muitas das vezes não podemos controlar o resultado final, mas
podemos controlar o nosso resultado pessoal que pode ou não influenciar o final. A
bola é redonda e quando não estamos à espera, o inevitável pode acontecer e a nossa
vida pode ter um rumo totalmente diferente do rumo que estávamos à espera. Por
isso, nunca temos de desistir dos nossos sonhos, mas sim moldá-los à mudança que a
vida nos trás. Todos nós temos uma mensagem para espalhar ao longo da vida, não
temos de ter medo da mudança e temos de estar sempre abertos a novas ideias,
pensamentos e oportunidades. Tempos difíceis vêm e vão, mas a nossa atitude em
relação a estes tempos é o que faz a diferença. É difícil prever o futuro, mas tenho
vindo a aperceber-me durante a minha vida que aquilo que damos às pessoas quer
seja simpatia, altruísmo, ou curiosidade, volta para nós com mais intensidade. Ter a
capacidade de ler e adaptarmo-nos a situações diferentes é fundamental porque nada
na vida vai ser igual ao dia anterior. Será sempre um novo dia com novos
pensamentos, novas experiências que ficam na pele de uma pessoa para sempre.
Quanto mais variedade de experiências fizermos, mais conseguimos perceber onde
vamos e com quem queremos partilhar experiências únicas. A vida é difícil, mas as
relações de amizades que ficam desta partilha de experiências ficam para uma vida. É
realmente única a sensação de partilhar um campo de futebol com amigos ou voltar de
um jogo de autocarro e cantarmos todos durante quase toda a viagem para celebrar
uma vitória importantíssima. Uma das coisas que aprendi ao longo destes anos todos
de futebol é a forte ligação de amizades que se criam para toda a vida.
Capitulo 2. USA
O primeiro ano nos Estados Unidos foi o mais difícil da minha vida porque não sabia
falar bem a língua e porque os norte-americanos do Sul são muito mais fechados e
conservadores. A minha primeira noite foi passada em casa de um dos capitães de
equipa. Eu perguntei-lhe onde era a casa de banho e ele disse-me que tinha de entrar
no quarto dele e era à direita. Quando entrei no quarto dele, vi uma bandeira dos
confederados e uma pistola 6mm na cabeceira. Disse para mim mesmo: “Onde é que
te foste meter.” Eu não consegui dormir nessa noite e nas restantes três noites antes
de me transferir para as “dorms” do campus, onde os atletas viviam. Por minha sorte
vivi com um espanhol de Madrid que também era o primeiro ano dele. Desde cedo
houve uma boa conexão e ainda somos grandes amigos porque passámos por
situações difíceis os dois e ajudámo-nos mutuamente. Pepe San Roman é o nome dele
e vou-lhe estar eternamente grato pelos bons momentos passados juntos. Os
primeiros seis meses no Arkansas foram os mais difíceis da minha vida porque a nossa
equipa era muito má, os treinadores também, eu estava lesionado do meu pé de
preferência, o esquerdo, mas jogava fora da minha posição. Eu sou um avançado e
estava a jogar a defesa esquerdo porque “não havia mais esquerdinos na equipa” era o
que o treinador me dizia. Os treinos de preparação para a época eram baseados em 3
horas por dia de musculação, treino físico muito intenso e muito pouco treino com
bola. No primeiro dia de treinos houve 10 jogadores que vomitaram dada a tanta
intensidade de treinos. Nos Estados Unidos dão demasiada importância aos treinos a
nível físico e muito pouco ao nível técnico e ainda menos ao tático e ao estratégico.
Eles pensam que se estás fisicamente uma “máquina,” podes ganhar aos teus
adversários. No meu primeiro jogo de pré-época, ainda me lembro, estávamos a jogar
contra a University of Mobile, mas o jogo era em Jackson, Mississippi com cem por
cento de humidade e mosquitos por todo o lado. Eu pensava que nós éramos uma
equipa muito alta e física antes de ver os nossos adversários. Eles eram uns autênticos
gigantes e o meu adversário direto tinha 2 metros de comprimento e muitos de
largura. Era uma autêntica besta. Mais de metade da equipa titular deles era composta
por Afro-Americanos que corriam que nem desalmados por 90 minutos. Eu pensava
que iria jogar “futebol” nos Estados Unidos, não uma mistura entre “American
football” e o nosso futebol. A realidade é que cheguei à conclusão que nos Estados
Unidos não se gosta tanto do nosso futebol que eles chamam: “soccer” como em
todos os cantos do mundo. Lá os desportos reis são muitos e o “soccer” não está
incluído. Estes são: Baseball, American Football, Basketball, Golf, Lacrosse, Softball,
entre outros. Começámos o campeonato mal e acabámos ainda pior. Eu joguei
cinquenta por cento dos jogos a defesa esquerdo que não é a minha posição e os
outros cinquenta por cento dos jogos estava no banco e muitas vezes nem era
utilizado. A nossa mascote era “The Bears” em que o urso era meigo e dócil, um pouco
como a nossa equipa. Isto foi a minha realidade no primeiro campeonato universitário
nos Estados Unidos da América. Entretanto, tinha de estudar no meu tempo “livre.” Já
tinha muito pouco tempo para divertir-me ou estar com amigos porque tinha um ou
dois treinos por dia muito cansativos fisicamente e emocionalmente, e ainda tinha de
estudar depois dos treinos, era um cansaço contínuo até às pausas Americanas:
Thanksgiving e Spring Break. Entrei quase em depressão porque o choque de culturas
foi tão grande que não me conseguia expressar no meu melhor. Mas se eu não tivesse
enfrentado tamanha desilusão não teria a força de vontade e destreza que tenho hoje.
Imagina um rapaz de 18 anos de Lisboa habituado a estar numa grande cidade e a ter
uma família, amigos, e namorada incríveis e, de repente, tem de deixar para trás para
ir atrás de algo tão incerto como é ir para um país novo do outro lado do Oceano e ter
de fazer novas amizades e ter de se habituar a uma realidade e rotina totalmente
diferentes. O que aprendi nesta experiência foi que nada te é dado, mas tu tens o
poder de conquistar tudo o que queres se trabalhares para isso.
Capitulo 4.
“O futebol tem 2 vidas fora e dentro do campo...e tens de ser coerente”
Condições para jogar “What os in for me?”
11 de Novembro de 2018
O meu propósito na vida é ajudar quem mais necessita, ser feliz e fazer as pessoas à
minha volta feliz. Cada dia tento ajudar uma pessoa ou fazer alguém sorrir. Todos os
dias agradeço a Deus por ter casa onde dormir, comida, saúde, de ter uma família
generosa onde o amor é genuíno e bondoso. Agradeço por ter nascido num país em
que há pouca criminalidade e onde se vive bem. Agradeço por ter tido experiências
únicas e por todas as lições aprendidas durante e após essas experiências. Posso dizer
que sou um rapaz sortudo, mas que sabe usar a sorte que tem, com inteligência e
sabedoria. Tenho 23 anos de idade, mas poderia ter 35 ou 40 tendo em conta a
quantidade de experiências que vivi fora da minha zona de conforto. Fora da tua zona
de conforto, percebes verdadeiramente quem és, qual o teu propósito nesta vida, e
para onde queres ir. Quando sentes na pele que gostas de algo e que estás desposto a
lutar por isso, não hesites e vai em busca disso que certamente vais ser recompensado
de alguma forma. Faz o que gostas. Só temos uma vida por isso temos de aproveitá-la
ao máximo sem deixarmos para trás ressentimentos.
A minha vida é, e sempre foi feita e moldada por desafios. Aos 6 anos decidi inscrever-
me na vela, karaté, na natação, mas a bola era, e sempre foi a minha melhor amiga.
Aos 9 anos para além disso, fui recrutado para fazer o conservatório e escolhi o piano
como instrumento e também fiz aulas de canto e de formação musical. A música foi
sempre fascinante para mim porque não só me faz relaxar nos tempos de stress, mas
também me faz apreciar as coisas de forma positiva e isso faz me sentir bem no meu
dia a dia. O som do piano gera uma harmonia ímpar entre a minha alma e perceber o
que vem na alma dos que estão ao meu redor sejam eles conhecidos, novos ou velhos
amigos. Não gosto de levar a vida muito rigidamente. Comparo a minha vida com o
vento. Há sempre vento mesmo que não o vejamos, mas às vezes vem de oeste outras
de Norte outras de Sul, mas sempre com um objetivo claro e coerente na sua direção.
Quando me sinto só ou chateado com algo, a música enche-me de alegria como se
fosse um abraço de um amigo que já não vejo há muito tempo ou de um olhar intenso
de uma rapariga que preenche o meu espírito de confiança, esperança e de conforto.
Viver é bom. Por isso não hesites e vive com ânimo, entusiamo, energia positiva, e
sempre com muito respeito e humildade.
Outro aspeto que me motiva todos os dias é a consciência nas minhas capacidades seja
no futebol ou num trabalho. O Fernando Pessoa dizia: “Põe quanto és no mínimo que
fazes.” Vivo sempre a minha vida com o objetivo de melhorar-me porque sem essa
mentalidade nada se conquista. Gostar da própria vida é fundamental e ainda mais
importante é não se deixar influenciar por pessoas que não têm a tua visão e sonhos.
Seguir o teu caminho sempre com perseverança é fundamental para a realização dos
teus objetivos. Ter a tua autonomia é também algo muito importante para libertar a
tua mente. É fundamental estar perto de pessoas e amigos que tenham a tua visão e
sonhos porque sabes que não estás sozinho a lutar por algo que realmente é muito
difícil. As experiências que tens ao longo da tua vida servem para te tornar mais forte e
com mais sabedoria.
O último dia de treinos no Uggiano foi muito estranho porque acordei como se fosse
um dia normal, mas não é. Sou uma pessoa muito otimista, mas estes oito meses
foram complicados. Depois de passar 4 anos da minha vida em ambientes muito
profissionais e com condições equivalentes à Serie A italiana, passei os últimos oito
meses da minha vida a treinar e jogar em pelado num nível muito abaixo do meu. Eu
fiz esta escolha porque o meu sonho é um dia estar no principal escalão de futebol
italiano. E sei que tenho de começar por baixo. Acabar o campeonato com 10 golos e
10 assistências foi quase um milagre tendo em conta a falta de qualidade da minha
equipa. É muito difícil jogar com quem não sabe jogar. O mais absurdo é que os meus
colegas pensam que sabem jogar bem quando não têm nem a qualidade técnica nem a
táctica, nem muito menos os valores essenciais do desporto em geral. Isso é o maior
problema da maioria dos jogadores nestes campeonatos inferiores. Aquilo que eu
tenho a noção e que já provei nesta época desportiva é que sou muito superior a esta
divisão e estou curioso para me ver em divisões acima para ver se sou capaz de igualar
as minhas performances desta época. A vida é feita de desafios, é para isso que eu
vivo. A vida para mim só faz sentido se formos em busca dos nossos sonhos com muita
perseverança e sempre muito consciente das próprias qualidades, mas sem falar muito
fora de campo. Aquilo que conta são os 90 minutos dentro de campo. Eu sou um
guerreiro e sei que vou sair por cima de todos estes obstáculos.