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1º Módulo: A relação teórica e pessoal entre Freud e Jung

Freud e Jung são dois teóricos da psicologia e da psicanálise que, provavelmente, são os mais lembrados por
todos quando pensamos a respeito da área psi. Freud talvez seja mais lembrado, mas a importância de Jung em
nossa cultura, é resumida pela maior colaborada de Jung, Marie-Louise Von Franz: “No tocante a Jung, a
originalidade e a criatividade de suas descobertas e ideias se relacionam com todo o ser humano, tendo portanto
ecoado nas mais variadas áreas exteriores a psicologia: seu conceito de sincronicidade, por exemplo, refletiu-se
na física atômica e na sinologia; sua interpretação psicológica dos fenômenos religiosos, na teologia; sua
concepção fundamental do homem, na antropologia e na etnologia; sua contribuição para o estudo dos fenômenos
ocultistas, na parapsicologia – para mencionar uns poucos casos” (VON FRANZ, 1997).
O que poucos talvez saibam é que durante um período, no início do século XX, entre os anos de 1907 a 1914,
Freud e Jung estabeleceram uma relação complexa e motivo posterior de controvérsias e polêmicas. Inicialmente
apenas profissional e teórica, ela passa a ser pessoal e afetiva (no sentido de amizade e até sentimentos de
paternidade), até rompimento cheio de mágoas, conflitos e críticas de um contra o outro. Detalharemos aspectos
pessoais e biográficos, bem como os motivos – teóricos – da separação.

1) O início – O período antes do encontro

C. G. Jung nasceu na Suíça em 1875, filho de protestantes e de uma família de pastores (11 tios, além de seu
pai, eram pastores). Freud nasceu em Viena em 1856, vinte e um anos antes de Jung, em uma família judaica. A
ascendência religiosa de ambos é importante pois influenciará o posterior rompimento, na medida em que a
interpretação do que é religioso na psique é um dos pontos da divergência.
Jung se forma em medicina na Universidade de Basileia, em 1900. Contrariando as expectativas de familiares
e professores, que viam uma carreira brilhante na área da cirurgia médica, ele decide pela carreira de psiquiatra.
O motivo, segundo ele, é que a psiquiatria lhe daria a oportunidade de reunir duas áreas de interesse: as ciências
naturais (medicina) e as ciências humanas (o estudo da psique de pacientes com sérios transtornos mentais). Em
10 de dezembro de 1900, logo após sua formatura, Jung começa a trabalhar no Hospital Burgholzli, em Zurique,
na Suíça. Ele é orientando pelo psiquiatra Eugen Bleuler, criador do conceito de esquizofrenia – que anteriormente
era chamada de demência precoce. Começam então duas atividades que são fundamentais ao longo da carreira
de Jung: a pesquisa empírica e teórica das doenças mentais, por um lado e, por outro, a prática clínica – a
tentativa de ajudar ou de melhorar o quadro dos pacientes em sofrimento.
É desta época a elaboração de uma séria de pesquisas utilizando o teste de associação de palavras. Neste
teste, há duas pessoas: o paciente e o médico. O médico cria uma série aleatória de palavras, em torno de cem, e
a cada palavra o paciente deve responder com a primeira que lhe vier à cabeça. Em todos os casos analisados,
em algumas palavras, o paciente não respondia ou demorava muito para responder, enquanto que para outras
palavras indutoras, respondia apenas com sons semelhantes (como, por exemplo, responder à palavra pai – com
cai). Nestas palavras, em que não havia resposta, demora ou som semelhante, haveria uma interferência que o
paciente não percebia, mas tentava esconder. A partir de tais experiências, Jung cunhou o conceito de complexo
de tonalidade afetiva, que pode ser definido como um forte afeto ligado a uma palavra ou um grupo de palavras
(as palavras com alteração na resposta). De acordo com o autor: “Os complexos devem sua relativa autonomia à
sua natureza emocional, sua expressão sempre depende de uma rede de associações agrupadas em torno de um
centro carregado de afeto” (JUNG, 1991, 601)
A criação do conceito de complexo foi a primeira contribuição de Jung à área da psiquiatria, e influenciou a
psicanálise e a psicologia. O conceito de complexo foi utilizado, por exemplo, na teorização a respeito do
complexo de Édipo, por Freud. E no conceito de complexo de inferioridade, de Adler.
Durante estes anos iniciais, Jung ficou mundialmente conhecido por suas pesquisas empíricas. Em 1909, ele
seria convidado, juntamente com Freud para realizarem conferências, nos EUA, na Universidade de Clark. O
convite se deu a partir das pesquisas realizadas por cada autor, antes da colaboração mútua.
O primeiro contato com a obra de Sigmund Freud se deu através do livro A Interpretação dos Sonhos, logo
após sua publicação em 1901. De primeiro, Jung confessa não ter compreendido a importância das teorias
freudianas, mas após ler atentamente ao livro, inicia um comportamento que manterá nos anos seguinte – a
defesa da psicanálise contra críticas infundadas. No começo, esta defesa é tímida e não muito aberta, mas com o
passar dos anos, Jung acaba por difundir a psicanálise pela Europa, retirando-a dos estreitos círculos judaicos de
Viena. Freud reconheceu a relevância desta defesa, pois no início do século XX (muito antes da ascensão de
Hitler ao poder) o antissemitismo, o preconceito contra os judeus, já era forte no continente europeu. De modo que
ter encontrado um importante teórico, suíço e protestante, que defendesse a psicanálise foi importante para a
psicanálise sair de seu gueto e expandia-se também para outros países.

2) Os primeiros contatos

A correspondência tem início em abril de 1906, quando Jung envia a Freud um livro seu recém-publicado,
Estudos Diagnósticos de Associações. Neste, encontra-se diversas citações à Interpretação dos Sonhos. Após
receber o livro, Freud envia uma carta a Jung em 11 de abril de 1906, agradecendo o envio e dizendo que já o
tinha comprado. Inicia-se então um longo tempo de trocas de correspondências, inicialmente formais, passando
gradativamente a cartas mais amistosas e de confiança. Em algumas delas, Jung conta seus sonhos e Freud os
interpreta.

Um ano após a primeira carta, em fevereiro de 1907, à convite de Freud, Jung viaja de Zurique para Viena, na
Áustria. No primeiro contato presencial, eles conversam sem interrupção durante 13 horas. Em sua autobiografia,
Jung diz o que sentiu do pai da psicanálise: “Eu o achei extraordinariamente inteligente, penetrante, notável sob
todos os pontos de vista” (JUNG, 2006, p. 184). Tem início então um relacionamento de proximidade e os dois
pesquisadores se tornam íntimos. Freud, por ser de uma geração anterior, por vezes considerava Jung seu
príncipe herdeiro, aquele que iria continuar a sua obra depois de sua morte. Jung em alguns textos considerava
Freud um gênio, muitas vezes incompreendido e injustamente criticado.

3) O rompimento

Este período de forte contato vai de 1907 até o começo do rompimento em 1912, com a publicação do último
capítulo do livro Símbolos da Transformação da Libido, intitulado “O Sacrifício”. Neste, Jung discorda abertamente
da concepção de libido de Freud, que, naquele momento, possuía ênfase na sexualidade. Para Jung, a libido ou
energia psíquica era mais ampla, englobando não só a sexualidade como outras áreas importantes da vida
psíquica, como o poder, a alimentação, a espiritualidade, etc. Após 1912, a relação esfria, mas Jung mantém a
Presidência da Associação Psicanalítica Internacional até maio de 1914. Os momentos antes deste rompimento
definitivo são sentidos como emocionalmente difíceis (não só para Jung – que angustia-se com a publicação do
último capítulo do livro como também para Freud, que em presença de Jung, desmaia duas vezes). Após 1914, há
apenas uma carta trocada entre os dois teóricos, quando, em 1923, Jung encaminha um paciente que sofria de
neurose obsessiva, para ser tratado por Freud.
Antes disso, a dissidência de Alfred Adler com a psicanálise de Freud em 1910 já apontava para Jung a
possibilidade de também romper com Freud. Tendo tido sempre desde o início uma certa relutância em aceitar
totalmente os pontos de vista de Freud, Jung assumiu que não conhecia tanto quanto Freud e que deveria adquirir
mais experiência, antes de poder manter um ponto de vista próprio sobre as doenças mentais, especialmente as
neuroses, e sobre o psiquismo humano em geral. Como Adler rompe as relações com Freud um pouco antes,
Jung percebe que um mesmo caso pode ser visto através de dois ângulos: sob o ponto de vista de Freud
(sexualidade) e sob o ponto de vista de Adler (poder). Adler insiste que a principal questão que o psicanalista deve
lidar não é o complexo de Édipo, mas o complexo de inferioridade, no qual os sentimentos infantis de ser inferior –
física e psiquicamente – são contrabalanceados com a vontade de poder, o desejo de ser superior aos demais.
Jung percebe que um mesmo caso poderia ser analisado e ter bons resultados se fosse interpretado sob o
ponto de vista de Freud ou de Adler. Surge então uma questão que será recorrente em sua obra: a questão dos
tipos psicológicos. Pois, não somente cada paciente possui um tipo psicológico – como Freud e Adler são
representantes de tipos psicológicos totalmente opostos, ou que, no mínimo, não podem ser explicados pelos
mesmos princípios. O segundo grande livro de Jung após o rompimento, Tipos Psicológicos (1920), procura
responder à problemática dos diferentes tipos de personalidade e é seu livro mais conhecido e vendido. Nele, há a
definição de termos que serão conhecidos por todos como introversão e extroversão, além dos tipos pensamento,
sentimento, sensação e intuição.
Importante notar que Freud permitia que outros psicanalistas desenvolvessem novos conceitos, desde que não
fossem contra às suas ideias principais. As ideias de Adler, bem como as ideias de Jung, tocam em pontos
centrais da teoria e, portanto, não poderiam ser incorporadas dentro da psicanalise, assim como queria Freud.

4) O período após o rompimento

Ao longo das obras de Jung posteriores ao rompimento, podemos notar diversas críticas à psicanálise de
Freud. Duas são especialmente frequentes: a crítica à importância ou papel central da sexualidade na psique e a
crítica ao método interpretativo. Falaremos, em seguida, também sobre a diferença das concepções sobre a
religião ou religiosidade.
Jung fazia questão de frisar que a sua abordagem diferia da de Freud não só na questão da sexualidade, mas
também no método interpretativo. Apesar de ter chamado a sua psicologia de Psicologia Analítica (quase uma
inversão de Psicanálise), Jung dizia que o método de interpretação de Freud era analítico, enquanto o seu método
próprio era sintético.
O método analítico ou redutivo procura dividir as partes de um conteúdo psíquico – como um sonho ou sintoma
– em várias partes e analisar o sentido existente ali, encontrando na análise de cada parte a chave da
interpretação. O método sintético ou hermenêutico procura fazer uma síntese de todo o conteúdo, sem analisar
cada parte com associações livres, já que associar livremente a partir de um material levaria à outros conteúdos.
Por exemplo, se o paciente havia sonhado com um leão em sua casa junto da presença de sua mãe, a
interpretação da psicanálise dividiria cada parte do conteúdo, buscando associações para cada parte: para o leão,
para a casa, para a mãe. Assim, o paciente iria pensar livremente primeiro sobre o significado de leão (tudo o que
lhe ocorresse), depois sobre o sentido de casa, e assim por diante. Possivelmente, a interpretação correta estaria
mais nas associações retiradas de cada parte do que do próprio conteúdo. Já a interpretação sintética visa não
fugir do conteúdo. Um leão é um leão e não deve ser associado com qualquer outro conteúdo.
Outra diferença é que Freud, em sua interpretação, retrocedia à história anterior do indivíduo, indo,
frequentemente, parar na infância do paciente. Para Jung (assim como para Alfred Adler), era igualmente
importante considerar o para que, o sentido teleológico do conteúdo psíquico, ou seja, considerar não apenas as
causas, mas também as finalidades, a direção que o conteúdo tomaria ou poderia tomar no futuro.
Apesar do rompimento e das críticas de unilateralidade, Jung continuou a usar as algumas ferramentas
elaboradas por Freud e Adler, com exceção do método da associação livre e do divã (Jung preferia que o encontro
psicoterapêutico fosse realizado face a face). Em um de seus últimos livros, Prática da Psicoterapia, publicado em
1951, dez anos antes de sua morte ele escreve: “Nos casos mais graves de neurose, não se deveria aplicar
indistintamente um ou outro método, mas, dependendo do tipo do problema, a análise deve seguir de preferência
os princípios de Freud e Adler. Quando as sessões começam a ficar monótonas e repetitivas (…) está na hora de
abandonar o tratamento analítico-redutivo e de tratar os símbolos anagogicamente, ou sinteticamente, o que
equivale ao método dialético e à individuação” (Jung, 1985, 16).
Outra questão crucial é a diferença feita por Jung entre o inconsciente pessoal – conceito que, apesar de já
existir de certo modo antes de Freud, foi praticamente elaborado e divulgado por ele – e inconsciente coletivo. No
livro Os arquétipos e o inconsciente coletivo, Jung define inconsciente coletivo: “Uma camada mais ou menos
superficial do inconsciente é indubitavelmente pessoal. Nós a denominamos inconsciente pessoal. Este porém
repousa sobre uma camada mais profunda, que já não tem sua origem em experiências ou aquisições pessoais,
sendo inata. Esta camada mais profunda é o que chamamos inconsciente coletivo” (JUNG, 2000, p. 15). O
inconsciente pessoal seria objeto de pesquisa da psicanálise, tudo o que foi reprimido ou recalcado e que faz parte
da história pregressa de cada um de nós. O inconsciente coletivo, por outro lado, é um dos temas mais estudados
em psicologia junguiana e diz respeito à determinados conteúdos simbólicos que podem ser encontrados em
culturas totalmente diferentes ou em tempos remotos, conteúdos que são arquetípicos. Na autobiografia de Jung,
Memórias, Sonhos e Reflexões, há a definição de arquétipo: “O conceito de arquétipo (…) deriva da observação
reiterada de que os mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem definidos que reaparecem
sempre e por toda parte. Encontramos esses mesmos temas nas fantasias, nos sonhos, nas ideias delirantes e
ilusões dos indivíduos que vivem atualmente” (JUNG, 2006, p. 485).

5) Psicologia e Religião

A forma como os fenômenos religiosos eram considerados também era diferente para um e para outro teórico.
Como escreve Phillipe Julien, no livro A Psicanálise e o Religioso: Freud, Jung, Lacan: “Se Jung se separou de
Freud a partir de 1913, não foi somente devido ao lugar que Freud concede à sexualidade. Sua oposição
concerne, sobretudo, à função religiosa no psiquismo, função que Jung considera positiva se soubermos definir
melhor o religioso” (JULIEN, 2010, p. 25).

Após o rompimento entre os dois teóricos, para Freud, Jung seria um profeta fundador de uma nova religião.
Mas o curioso é que, durante sua carreira, Jung teve que se defender frequentemente da acusação de ser místico
pelos cientistas, e de ser ateu ou agnóstico, por religiosos.
A temática da religião é realmente central dentro da Psicologia Analítica de Jung, encontrando-se presente ao
longo de suas Obras Completas. Apenas para citar algumas obras do autor que abordam diretamente a relação
entre psicologia e religião há: Resposta à Jó, Psicologia da Religião Oriental e Ocidental, Símbolo da
transformação na missa, sem contar as outras obras como Aion, estudos sobre o simbolismo do Si-Mesmo, e o
prefácio de I Ching, de Richard Wilhelm.
A definição dada por Jung para o que é religião – e para o que é numinoso – pode ser encontrada na obra
Psicologia e Religião. Esta obra é a transcrição de três conferências sobre o tema da psicologia da religião dadas
na Universidade de Yale, as Terry Lectures. No que diz respeito ao termo religião, Jung utiliza-se da etimologia
proposta por Cícero, a religião como oriunda da palavra latina relegere: “Antes de falar de religião, devo explicar o
que entendo por este termo. Religião é – como diz o vocábulo latino relegere – uma acurada e conscienciosa
observação daquilo que Rudolf Otto acertadamente chamou de numinoso, isto é, uma existência ou um efeito
dinâmico, não causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e domina o sujeito humano, mais
vítima do que seu criador” (JUNG, 1995, p. 9).
E na continuação: “Encaro a religião como uma atitude do espírito humano, atitude que de acordo com o
emprego ordinário do termo: ‘religio’, poderíamos qualificar a modo de uma consideração e observação cuidadosa
de certos fatores dinâmicos concebidos como “potências”: espíritos, demônios, deuses, leis, ideias, ideais, ou
qualquer outra denominação dada pelo homem a tais fatores; dentro de seu mundo próprio a experiência ter-lhe-ia
mostrado suficientemente poderosos, perigosos ou mesmo úteis, para merecerem respeitosa consideração, ou
suficientemente grandes, belos e racionais, para serem piedosamente adorados e amados” (JUNG, 1991, p. 10).
De modo que o religioso, desde que seja definido de forma correta, é uma questão que não pode ser ignorada
por uma teoria psicológica. Como as culturas são muito variadas e, neste sentido, cada cultura apresenta sua
forma de lidar com o religioso de forma particular, faz-se necessário um amplo estudo. Com o conceito de
inconsciente coletivo, este estudo passa a ser importante não apenas para a antropologia, história da religião ou
ciências da religião, mas igualmente importante para a psicologia. Pois conteúdos simbólicos, que foram
elaborados ou expressos em culturas totalmente diferentes, aparecem em sonhos e sintomas dos pacientes na
clínica.
Deste modo, desde o rompimento com Freud, Jung passa a desenvolver uma concepção totalmente diferente
da psique e da energia psíquica. As diferenças individuais são estudadas a partir do conceito de tipos
psicológicos. Determinados conteúdos não podem ser entendidos ou explicados tendo-se em vista os conceitos de
Freud ou Adler, ainda que estes conceitos possam ajudar na medida em que dizem respeito ao inconsciente
pessoal. Para outros conteúdos, deve-se ter em mente o conceito de inconsciente coletivo e arquétipo e, também,
uma outra forma de interpretação que não reduza tais conteúdos à história de vida de cada um, mas relacione-os
com a história da humanidade, já que fazem parte do inconsciente coletivo.
Jung escreveu em diversos textos sobre a personalidade de Freud, como sendo um autor genial, que com o
seu conceito de inconsciente influenciou toda a cultura ocidental. A partir de suas descobertas clínicas, Freud se
aventurou a analisar outros aspectos da cultura, além da psicopatologia. Tais descobertas, foram, portanto,
extremamente influentes e, tendo uma personalidade forte, Freud centrou todo o desenvolvimento da psicanálise
ao seu redor. Teóricos como Adler, Jung e (alguns anos após Wilhelm Reich) que discordaram de seu ponto de
vista, não puderem continuar contribuindo com as elaborações psicanalíticas e tiverem que criar, à parte, suas
próprias teorias e abordagens.
Assim, Jung discordava da ênfase excessiva na sexualidade, que foi central na psicanálise até 1920, quando
Freud reformula totalmente seus conceitos, passando a pensar no psiquismo sob nova dinâmica, a pulsão de vida
versus a pulsão de morte. Mas até a época do rompimento de Adler e Jung, a sexualidade era um princípio central
e embora tenham sido feitas reelaborações, ela continuou tendo relevância na psicanálise.
Com o texto de 1912, Jung passa a pensar a libido não como uma “força” psíquica apenas sexual. Para ele, a
libido deveria ser pensada como uma energia em geral, que poderia ser transformada ou reutilizada em outros
âmbitos e áreas. A partir de experiências pessoais e também a partir do contato com pacientes, ele começa a
desenvolver o conceito de inconsciente coletivo, bem como a notar as diferenças entre os pacientes – e as
diferenças nas teorias filosóficas, psicológicas, artísticas – através da ideia de tipos psicológicos.
Conclui-se que Jung não se transforma no herdeiro de Freud. Em seu ponto de vista, ele continuou dando a
importância devida à sexualidade, (e ao princípio de poder de Adler), porém buscou entender como determinados
símbolos psíquicos não são sexuais ou relacionados ao poder, mas devem ser compreendidos por sua relação
com os símbolos religiosos ou sagrados não apenas de nossa cultura como também de todos as demais. Uma
dada concepção do que transcende o cotidiano e as experiências do dia a dia está e estará sempre presente e
deve ser objeto da psicologia.

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