Você está na página 1de 8

Agrupamento de escolas Ibn Mucana

Francisca Nunes
Iara Rocha

A QUÍMICA E OS PERFUMES

Prof. Cristina Rouxinol


2022/2023
Agrupamento de Escolas Ibn Mucana

A palavra perfume deriva do latim “per fumum”, que significa “através do fumo”. Desde o tempo em que o
homem descobriu o fogo, que os cheiros começaram a surgir com a queima de madeiras, flores e plantas,
despertando assim os sentidos do ser humano. [1]

Contextualização histórica [1]

Era Egípcia: No Antigo Egito usavam-se fragrâncias exóticas e resinas aromáticas, não só para fazer
perfumes e cosméticos, como também como uma parte importante de cerimónias religiosas. Para além
disso, a queima de incenso estava muito ligada à adoração dos deuses, e grandes quantidades deste eram
queimadas todos os dias nos templos em todo o território egípcio. [2]

Gregos: O perfume tinha muita importância para a vida do grego antigo, sendo considerado o centro da
hospitalidade, da riqueza, da vida diária e até da filosofia. Este era visto como sendo algo erótico e
espiritual, e as suas origens estão entrelaçadas com a mitologia grega, acreditando-se que foram os deuses
que ensinaram as técnicas de perfumaria às pessoas. [3]

Bíblia: Várias são as passgens bíblicas sobre os perfumes. (Exemplo: "Eu lhe dei banho com água e, ao lavá-
la, limpei o seu sangue e a Perfumei"; "A fragrância dos seus Perfumes é suave; o seu nome é
como Perfume derramado. Não é à toa que as jovens o amam!"). Para além disso, é referida a queima dos
incensos, e as espécies de mirra, açafrão, canela e óleos vindos da azeitona para purificar os ambientes
sagrados que eram marcados pelos cheiros. [4]

Nobreza: Também há citações onde as mulheres passavam seis meses a tomar banho com determinada
especiaria, e os outros seis com outra para serem apresentadas ao rei. E como sinal de respeito, os reis
usavam perfumes feitos de mirra nas suas carruagens para saberem que a sua presença foi sentida.

Árabes: Embora a origem do perfume esteja no Antigo Egito, foram os árabes que souberam aperfeiçoar e
desenvolver novas técnicas para a fabricação de fragrâncias. Um dos maiores exmplos disso, foi a
possibilidade de produção de água de rosas com a descoberta da destilaçáo do álcool, e a técnica de
macerar as plantas com água.  [5]

Constituição de um perfume [6]

A elaboração de um perfume compreende basicamente os seguintes componentes: etanol desnaturado


(C₂H₆O), essência ou fragrância, fixador, propilenoglicol (C₃H₈O₂) e água destilada (H₂0).

O propilenoglicol é um álcool usado como solvente por ser inodoro, incolor e ter um alto ponto de
ebulição. Este aplica-se na elaboração de um perfume devido à sua capacidade de se ligar às moléculas da
fragrância e desacelerar a dispersão delas. Por isso, a força de um perfume pode ser alterada, aumentando
ou diminuindo a quantidade deste álcool.

Francisca Nunes e Iara Rocha 2


Agrupamento de Escolas Ibn Mucana
Para além da essência e do solvente, os fabricantes adicionam à mistura substâncias denominadas de
fixadores, que podem ser de origem natural ou sintética. Estas têm a função de retardar a evaporação da
essência, e consequentemente, prolongar os efeitos do perfume.

Concentração de essência [7]


A quantidade de essência diluída no álcool e na água influencia a intensidade e duração desta. Quanto à
sua concentração, os perfumes são classificados em:
Parfum: Possui entre 20% e 40% de óleos essenciais no seu volume total, sendo a forma mais “pura” e
concentrada de perfume, e por isso fixa-se intensamente na pele, durando aproximadamente 12 ou mais
horas. Este perfume é raro no mercado e o seu preço é geralmente elevado.
Eau de Parfum: Contém 11 a 15% de óleos essenciais, tendo uma durabilidade de 6 a 8 horas.
Eau de Toilette: É mais suave, contendo 6 a 10% de essência, e portanto um máximo de fixação na pele de
6 horas.
Eau de Cologne: A água de colónia apresenta uma intensidade maior quando aplicada, no entanto contém
apenas 3 a 5% de óleos essenciais na sua mistura, durando em média 2 horas.
Splash: Por fim, Splash é o perfume com menor concentração de óleos essenciais, menos de 1%, durando
menos de 2 horas.
Fragrância ou essência [6]
Uma fragrância é uma mistura de substâncias odoríferas líquidas, resinosas ou sólidas de origem natural ou
sintética num solvente apropriado. A essência ou fragrância confere propriedades aromáticas a um
produto final cosmético, farmacêutico ou de decoração, podendo ser composta por diversas matérias
primas, organizadas de acordo com a preferência do perfumista. Assim sendo, um perfume é constituído
por uma combinação de fragrâncias, distribuídas segundo uma pirâmide olfativa.
Para se ter uma ideia, são necessárias cinco toneladas de rosas para se obter um quilo deste óleo essencial
e oito milhões de jasmins para se obter igual quantidade. Por esta razão, as essências de fontes naturais
estão a ser substituídas por compostos sintéticos, aumentando a sustentabilidade.
Notas olfativas dos perfumes [8]
É de se reparar que as fragrâncias mudam na nossa pele à medida que o tempo passa. Isto acontece
porque são compostas por três tipos de notas, sendo estas classificadas de acordo com a ordem em que
evaporam: as de saída (ou cabeça), as de coração (ou corpo) e as de fundo (ou base). 
Nota de cabeça: Esta é a porção mais volátil da composição, sendo por sua vez acentuada pelo uso de
ingredientes altamente voláteis, como por exemplo, óleos cítricos e lavanda, que evaporam facilmente
quando o perfume seca na pele. Esta nota não é mais nem menos que o impacto inicial percecionado ao
abrir o frasco de perfume, durando aproximadamente 30 minutos e representado cerca de 15 a 20% da
fórmula.
Francisca Nunes e Iara Rocha 3
Agrupamento de Escolas Ibn Mucana
Nota de corpo: Esta nota evapora mais lentamente que a anterior, dando personalidade ao perfume e
sendo por isso o corpo da fragrância. É exalada quando o perfume começa a ser absorvido pela pele,
fazendo-se aqui uso de produtos de baixa volatilidade, como especiarias, flores (rosa, jasmim) e compostos
químicos como os aldeídos. As notas de corpo duram de 30 minutos a 8 horas e representam 50 a 60% da
composição.
Nota de fundo: Esta nota é a menos volátil, fixando-se intensamente na pele e por isso é a última a
desaparecer. Aqui usam-se extratos de madeiras, especiarias (gengibre e noz moscada), resinas (incenso),
alimentos (café, caramelo), podendo ou não ser adocicada através do uso de baunilha ou canela. As notas
de fundo duram de 8 a 24 horas e representam 20 a 30% da composição.
Famílias olfativas [9]
Para que pudesse existir uma linguagem e um vocabulário que fossem comuns a todas as empresas foi
criada uma classificação olfativa para as fragrâncias. Não se trata de uma classificação definitiva, mas de
um vocabulário especializado que permite a compreensão e a separação das fragrâncias em famílias
olfativas.
Assim, as fragrâncias podem ser classificadas quanto à sua origem: amadeiradas (madeiras das árvores e
musgo), verdes (plantas, folhas, ervas) animais e florais; ou quanto ao seu odor: amadeiradas (aroma
quente terroso), cítricas (aroma a lima, limão, laranja ou tangerina), frutadas (doces e fortes), e por fim
florais (aromas doces, mas frescos).
Perfumes aldeídicos [10]
Aldeídos, o que são?
Aldeídos são um grupo de componentes de origem orgânica, derivados dos hidrocarbonetos e
reproduzidos em laboratório. Mais especificamente, um aldeído é um composto orgânico que contém um
grupo carbonilo terminal. Esse grupo funcional, chamado grupo aldeído, consiste num átomo de carbono
ligado a um átomo de hidrogénio através de uma ligação covalente simples e a um átomo de oxigénio
através de uma ligação covalente dupla. Assim, a fórmula química deste grupo é – CH = O.
 
 
 
 
 
 

Grupo funcional aldeído

Francisca Nunes e Iara Rocha 4


Agrupamento de Escolas Ibn Mucana
Geralmente, estes compostos possuem um cheiro agradável e são frequentemente usados em perfumes e
aromas alimentares. No entanto, o odor dos aldeídos com baixa massa molecular é irritante, tornando-se
melhor à medida que o número de carbonos aumenta. Por esta razão, os aldeídos de maior massa
molecular, ou seja, que possuem de 8 a 12 átomos de carbono, são muito utilizados na indústria de
cosméticos na fabricação de perfumes sintéticos.
Os perfumes aldeídicos podem ser florais, frutados ou cítricos - por exemplo, um perfume aldeídico floral
fresco acrescenta a impressão de brisas frescas e de flores como jasmim e rosa, já um perfume aldeídico
floral amadeirado é caracterizado por aromas de cedro, carvalho e outras madeiras que sugerem calor.
Aldeídos aromáticos [10]
As moléculas de aldeídos aromáticos têm estruturas muito complexas, mas são provavelmente as mais
fáceis de identificar por terem um benzeno ligado ao grupo aldeído. Uma vez que este é um
hidrocarboneto classificado como hidrocarboneto aromático, todos os compostos aromáticos têm um anel
benzénico (C₆H₆).
Os aldeídos de cadeia linear são amplamente utilizados na perfumaria:
- Aldeído Heptanal (C7) com odor de ervas verdes;
- Aldeído Octanal (C8) que lembra a laranja;
- Aldeído Nonanal (C9) com noances de odor de rosas;
- Aldeído Decanal (C10) com forte odor a casca de laranja;
- Aldeído Undecanal (C11) presente no óleo das folhas de coentro;
- Aldeído Dodecanal (C12) com noances florais de violetas.  

Um dos primeiros perfumes que usou os aldeídos foi o N°5 de Chanel. Este foi criado pelo perfumista
Ernest Beaux, em 1921, e desde então os aromas chamados "aldeídicos" conquistaram o mundo. O Chanel
N°5 possui em sua constituição aldeídos C10, C11 e C12.

Composição química das fragrâncias [11]


Como já foi referido anteriormente, as fragrâncias características dos perfumes foram obtidas durante
muito tempo exclusivamente a partir de óleos essenciais extraídos de flores, plantas, raízes e de alguns
animais selvagens. Esses óleos receberam o nome de óleos essenciais porque continham a essência, ou
seja, aquilo que confere à planta o seu odor característico. Embora estes ainda sejam obtidos a partir
dessas fontes naturais, têm sido cada vez mais substituídos por compostos sintéticos.

Francisca Nunes e Iara Rocha 5


Agrupamento de Escolas Ibn Mucana
Os óleos, que são ainda obtidos naturalmente, para que possam ser usados na produção de perfumes
devem ser separados do resto da planta. Desta forma, recorre-se a diferentes técnicas que se baseiam nas
suas diferenças de solubilidade, volatilidade e temperatura de ebulição. A extração por solventes, por
exemplo, utiliza o solvente éter de petróleo (líquido obtido na destilação do petróleo constituído por
hidrocarbonetos) para extrair óleos essenciais de flores. Já o óleo de eucalipto pode ser separado das
folhas, passando-se através delas uma corrente de vapor de água - destilação por arraste de vapor. 
Uma vez obtido o óleo essencial, a análise química permite identificar quantos e quais componentes estão
presentes. Hoje, é possível identificar todos os componentes de um óleo, mesmo aqueles que estão
presentes em quantidades mínimas, podendo chegar a ter mais de 30 componentes. Antigamente, apenas
era possível reconhecer os que se encontravam em maior quantidade.

Componentes de óleos essenciais [11]


Uma vez identificados os componentes de um óleo essencial, os químicos podem fabricá-los
sinteticamente e torná-los mais baratos. Uma outra possibilidade é a síntese de novos compostos com um
aroma semelhante ao produto natural, porém com estruturas totalmente diferentes.
A grande maioria das fragrâncias usadas hoje em dia é fabricada em laboratório, sendo os produtos
sintéticos utilizados para aromatizar produtos de limpeza (sabonetes, detergentes, amaciadores de roupa)
e produtos de higiene pessoal, como desodorizantes, e ainda para criar ilusões, como deixar o plástico dos
assentos dos automóveis com cheiro a couro. 

Principais componentes de alguns óleos essenciais

Francisca Nunes e Iara Rocha 6


Agrupamento de Escolas Ibn Mucana
A química sintética [11]
Os produtos sintéticos talvez nunca substituam completamente os naturais, sendo que os perfumes mais
caros apenas os usam para acentuar o aroma dos óleos naturais. No entanto, uma grande contribuição da
química sintética tem sido, sem sombra de dúvida, a possibilidade de preservação de certas espécies
animais e vegetais, que corriam o risco de extinção devido à procura descontrolada de óleos essenciais.
Uma outra contribuição é a diminuição do preço dos perfumes, abragendo o seu uso a um maior número
de pessoas.
Os perfumistas podem criar o aroma de uma flor abstrata inexistente com a conjugação de fragrâncias,
mas é a química sintética que oferece o potencial para criar cheiros completamente novos. Foi exatamente
esta combinação de essências naturais com a concentração de aldeídos sintéticos, cujo aroma não se
encontra na natureza, que fez o Chanel nº5 tão especial. [6]
 

 
 
 
 
 

  Alguns compostos utilizados como fragrâncias artificiais

Francisca Nunes e Iara Rocha 7


Agrupamento de Escolas Ibn Mucana
Bibliografia:
[1] https://www.unifaccamp.edu.br/repository/artigo/arquivo/08122021090526.pdf
[2] https://antigoegito.org/o-incenso-no-antigo-egito/
[3] https://www.webartigos.com/artigos/o-perfume-na-grecia-antiga/2972
[4] https://novabiblia.com.br/perfume-na-biblia
[5] https://divainparfums.pt/blogs/blog-divain/perfumes-arabic-history
[6] https://reportagens.bondalti.com/pt/artigo/perfumes-os-aromas-da-quimica/
[7] https://pt.oriflame.com/beautyedit/health-beauty/learn-the-difference-between-fragrances
[8]https://blog.lancome.com.br/notas-de-saida-corpo-e-fundo-conheca-a-anatomia-do-seu-perfume_a126
[9] https://www.gosteieagora.com/2012/09/entendendo-perfumes-notas-familias-olfativas/
[10] https://aloucadosperfumes.com/2013/12/12/aldeidos-o-que-sao/
[11] http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc04/quimsoc.pdf

Francisca Nunes e Iara Rocha 8

Você também pode gostar