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Termodinâmica Básica

Autor: Prof. Ariathemis Moreno Bizuti


Colaborador: Prof. José Carlos Morilla
Professor conteudista: Ariathemis Moreno Bizuti

Formado em Física pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com mestrado em Física Aplicada pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2006 iniciou a carreira de docência na Universidade Paulista (Unip), atuando
em áreas básicas, como Cálculo e Física. A partir de 2013, foi inserido na área de Térmica e Fluido, auxiliando no
desenvolvimento de aulas práticas, materiais didáticos e revisão dos tópicos desenvolvidos em disciplinas como
termodinâmica e transferências de calor.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B625t Bizuti, Ariathemis Moreno.

Termodinâmica básica. / Ariathemis Moreno Bizuti. – São Paulo:


Editora Sol, 2018.

184 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-049/18, ISSN 1517-9230.

1. Termodinâmica básica. 2. Propriedades de substâncias puras.


3. Dispositivos combinados. I. Título.
CDU 536.7

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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permissão escrita da Universidade Paulista.

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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Juliana Mendes
Lucas Ricardi

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Sumário
Termodinâmica Básica

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7

Unidade I
1 CONCEITOS INICIAIS..........................................................................................................................................9
1.1 Dimensões e unidades......................................................................................................................... 10
1.2 Propriedades termodinâmicas......................................................................................................... 13
1.2.1 Massa específica e volume específico............................................................................................. 13
1.2.2 Conceituando a pressão........................................................................................................................ 15
1.2.3 Temperatura e suas escalas................................................................................................................. 17
1.3 Breve revisão de energia.................................................................................................................... 22
2 PROPRIEDADES DE SUBSTÂNCIAS PURAS............................................................................................. 24
2.1 Título........................................................................................................................................................... 29
2.2 Diagramas de fase................................................................................................................................. 33
2.3 Energia interna....................................................................................................................................... 34
2.4 Entalpia...................................................................................................................................................... 36
3 A EQUAÇÃO PARA O GÁS............................................................................................................................. 44
4 A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA PARA SISTEMAS.................................................................. 59
4.1 Transferência de calor......................................................................................................................... 60
4.1.1 Transferência de calor por condução.............................................................................................. 61
4.1.2 Transferência de calor por convecção............................................................................................. 64
4.1.3 Transferência de calor por radiação................................................................................................. 65
4.2 Trabalho..................................................................................................................................................... 67
4.3 A Primeira Lei da Termodinâmica................................................................................................... 75

Unidade II
5 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA APLICADA AOS PROCESSOS............................................... 90
5.1 Processo isocórico ou isométrico................................................................................................... 90
5.2 Processo adiabático.............................................................................................................................. 93
5.3 Processo isobárico...............................................................................................................................100
5.4 Processo isotérmico............................................................................................................................108
5.5 Processo politrópico...........................................................................................................................110
6 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA APLICADA AO VOLUME DE CONTROLE........................113
6.1 Volume de controle e conservação da massa..........................................................................114
6.2 Dispositivos que adicionam ou extraem energia...................................................................124

5
6.3 Dispositivo de expansão ou estrangulamento........................................................................130
6.4 Dispositivos de mistura de fluido.................................................................................................135
7 OUTROS DISPOSITIVOS E DISPOSITIVOS COMBINADOS.................................................................137
7.1 Trocadores de calor.............................................................................................................................137
7.2 Dispositivos que aumentam a velocidade.................................................................................141
7.3 Dispositivos combinados..................................................................................................................145
7.3.1 Ciclo Rankine.......................................................................................................................................... 145
7.3.2 Ciclo de Refrigeração.......................................................................................................................... 148
7.3.3 Ciclo Brayton.......................................................................................................................................... 153
8 A SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA..................................................................................................156
8.1 Máquinas térmicas e o enunciado de Kelvin‑Planck............................................................158
8.2 Refrigeradores e enunciado de Clausius....................................................................................161
8.3 Ciclo de Carnot.....................................................................................................................................165

6
APRESENTAÇÃO

A Termodinâmica é uma ciência que explica, por leis ou modelos matemáticos, o calor e sua aplicação
na vida cotidiana. Diferentemente do início do contato da humanidade com o fogo, hoje é possível
controlar e aplicar essa energia térmica nos mais diversos processos, desde o simples aquecimento, por
exemplo, tomar café quente em dias frios, passando pela transformação de matérias‑primas industriais,
através da alteração de seu estado, como a reciclagem de latas de alumínio (que são derretidas e se
transformam em barras sólidas), até o desenvolvimento de novas máquinas térmicas.

Para um futuro engenheiro de produção, reserva‑se a necessidade de entender os fenômenos do calor


nas várias áreas industriais e, assim, com esta disciplina, inicia‑se a trajetória para entender e aplicar
a energia do calor. Nesse contexto, tal matéria enseja transmitir conhecimentos da Termodinâmica
clássica, possibilitando a análise e a aplicação da energia térmica em problemas cotidianos.

No desenvolvimento da disciplina, devem‑se considerar os seguintes tópicos: conceitos de energia


mecânica, trabalho e calor; Primeira Lei da Termodinâmica; substâncias puras; relação entre PVT (Pressão,
Volume, Temperatura) e diagrama de fases; mudança de fases; tabelas termodinâmicas e equações de
estado; desigualdade de Clausius; entropia e seu balanço; processos isentrópicos.

7
TERMODINÂMICA BÁSICA

Unidade I
Frequentemente os meios de comunicação divulgam os efeitos e consequências do aquecimento
global na vida moderna. No dia a dia, é comum observar uma grande variação do clima, ficando quente,
frio, seco ou chuvoso, tudo em um pequeno espaço de tempo Dessa forma, a cultura para o uso da
energia está se alterando e, aos poucos, há mais investimento e conscientização para o uso de energias
renováveis. Mas qual é a relação de tais energias com a Termodinâmica?

O objeto de estudo da Termodinâmica é a energia e sua transformação, transporte ou


simplesmente a capacidade de se acumular. Muitos equipamentos da vida moderna usam tais
transformações para as comodidades diárias: um motor transforma energia química (combustão)
em energia mecânica (movimento); usinas que processam açúcar e álcool utilizam a transformação
da energia da biomassa (através de sua queima) em eletricidade; centrais elétricas utilizam energia
hídrica (movimento de água) ou eólica (movimento do vento) para obtenção de eletricidade; a
energia solar pode ser transformada em energia elétrica (painéis solares), fotossíntese (processo
físico‑químico para obter glicose), calor latente.

Observe que muitos processos industriais estão relacionados com a Termodinâmica, desde a concepção
de motores, turbinas e máquinas até a simples utilização das energias para manter o funcionamento, o
aquecimento ou o resfriamento.

Há duas formas de estudar a Termodinâmica: a primeira aborda os conceitos básicos que serão
importantes para entender os fenômenos apresentados; a segunda apresenta o modelo matemático que
detalha o fenômeno estudado.

1 CONCEITOS INICIAIS

Na Física é comum associar o termo dinâmica ao estudo das causas do movimento, mas em
Termodinâmica não existe, inicialmente, o interesse em estudar todas as etapas envolvidas no processo,
concentrando‑se apenas em dois pontos de observação: o início e o final do processo.

Em termodinâmica é muito comum ter acesso às informações de parte do processo, em geral as


condições iniciais, e com isso definir as condições finais. Em suma, para os estudos da Termodinâmica
sempre será observado um cenário (como uma foto) que carrega todas as condições daquele momento,
descrevendo as propriedades da matéria em quantidades físicas, estabelecendo‑se relações entre estas.

Quando uma quantidade de matéria (massa) é observada, um sistema termodinâmico está definido
e suas propriedades poderão ser obtidas com o auxílio de variáveis específicas, por exemplo, o volume,
a energia etc. A quantidade de massa (sistema) está separada do ambiente externo por um contorno,
que pode ser real (como uma parede) ou imaginário. Tudo que está fora do sistema é denominado
9
Unidade I

vizinhança. Caso não ocorra a interação da massa com a vizinhança, o sistema é definido como isolado,
ou seja, a sua energia total é constante.

Um exemplo cotidiano de sistema isolado é a garrafa térmica, a qual contém em seu interior um
recipiente de vidro com paredes duplas preenchidas com ar rarefeito, acarretando uma ineficiente troca
de calor com a vizinhança. Embora a garrafa térmica seja um exemplo mais próximo de sistema isolado,
como está presente no mundo real, ou seja, fora da condição ideal, sempre haverá perdas de energia e
trocas térmicas com o meio.

Sistemas podem trocar energia e/ou matéria com a vizinhança. Sistemas que trocam apenas energia
com a vizinhança são definidos como sistemas fechados. Note que um sistema fechado não troca
matéria (massa) com a vizinhança; apenas energia, na forma de calor ou trabalho, pode fluir para a
vizinhança. Denomina‑se sistema aberto aquele que pode trocar energia e matéria com a vizinhança.
Em ambos os sistemas, e de certa forma na Termodinâmica, a temperatura pode ser utilizada para
especificar um estado.

Mas em qual fase a matéria pode ocorrer na Termodinâmica?

Quando foi mencionada a matéria presente em um sistema, não ficou definido se a massa observada
era, por exemplo, uma quantidade de gelo, água ou vapor d’água. Observe que os três estados da
matéria, ou fases, são apresentadas no exemplo.

A matéria pode assumir a fase sólida, líquida ou gasosa. A fase sólida apresenta uma forma definida,
não se expande ou flui para assumir a geometria do recipiente. Na fase líquida, a forma assumida pela
massa de líquido depende do recipiente que o contém, ou seja, um líquido é capaz de fluir para assumir
a geometria do recipiente, mas ainda não é capaz de se expandir para ocupá‑lo inteiramente. Na fase
gasosa, não há uma forma definida e o gás tende a se expandir até ocupar todo o volume do recipiente.

Para um sistema, a fase pode ser homogênea ou heterogênea. Em uma fase homogênea, as
propriedades do sistema permanecem inalteradas, enquanto para a fase heterogênea há alteração das
propriedades, ou seja, as três fases da matéria podem coexistir – por exemplo, em um recipiente fechado
podem existir água e vapor d’água.

1.1 Dimensões e unidades

Na análise de fenômenos físicos, a informação envolve sempre um número e uma dimensão. Assim,
a grandeza física pode ser representada da seguinte forma:

Grandeza Física = Número x Dimensão

A dimensão será representada pelo sistema de unidades adotado. Porém, existem situações
especiais que não necessitam da dimensão, ou seja, são grandezas físicas adimensionais, ou números
adimensionais, e são representadas por:

10
TERMODINÂMICA BÁSICA

Grandeza Física = Número

As dimensões podem ser divididas em primárias e secundárias. As dimensões primárias são, por
exemplo, massa (M), comprimento (L), tempo (T) e temperatura (θ). Observe que a grandeza física pode
ser escrita com tais dimensões, não necessitando a adoção de um sistema de unidades. Por exemplo, a
velocidade de um objeto é a razão entre espaço e tempo; assim, pode ser representada pela dimensão
de comprimento (L) e tempo (T), ou seja, L/T.

No Brasil, a unidade de qualquer grandeza física envolve o Sistema Internacional de Unidades


(SI), também conhecido como sistema métrico. Além do sistema internacional, muitas máquinas são
configuradas para o sistema inglês de unidades. Ao encher o pneu de um automóvel no posto, ou ao ler
as recomendações do fabricante no manual, observe que a pressão, expressa normalmente em pascal no
SI, em geral está em libra‑força por polegada quadrada (psi).

Tabela 1 – Grandezas fundamentais e sistemas de unidades

Sistema Internacional Sistema inglês


Grandeza fundamental
Unidade Símbolo Unidade Símbolo
Comprimento metro m pé ft
Massa quilograma kg libra‑massa lbm
Tempo segundo s segundo s
Temperatura kelvin K rankine R
Força newton N libra‑força lbf
Pressão pascal Pa libra‑força por polegada quadrada psi
Energia joule J British Thermal Unit BTU
Potência watt W BTU por hora BTU/h

Adaptada de: Tipler (2009, p. 695‑696).

Existem grandezas físicas muito pequenas ou muito grandes. A melhor forma de expressá‑las é
utilizando notação científica, a qual emprega potências de 10. Por exemplo, a distância entre duas
cidades é de 50 km, mas poderia ser escrita como 50.000 m (50 x 103 m), 5.000.000 cm (5 x 106 cm). Na
tabela que segue, é apresentado um resumo dessas notações científicas e dos prefixos mais utilizados.

Tabela 2 – Prefixos‑padrões de unidades

Múltiplos Prefixo Símbolo


1012 tera T
109 giga G
10 6
mega M
10 3
quilo k
10 2
hecto h
10 –2
centi c

11
Unidade I

10–3 mili m
10 –6
micro µ
10 –9
nano n
10 –12
pico p

Adaptada de: Tipler (2009, p. 5).

Por fim, as grandezas físicas podem ser expressas em diferentes unidades. Mas como devemos
proceder para alterar a unidade sem interferir nas medidas realizadas para a grandeza física?

Uma técnica conhecida e utilizada considera o fator de conversão, definido como a razão entre as
unidades – a atual e a desejada – de modo que a resposta dessa razão seja a unidade. Por exemplo,
a razão entre um minuto e sessenta segundos pode ser utilizada como fator de conversão, pois a sua
resposta é a unidade.
1min 60 s
=1 e =1
60 s 1min

Lembrete

A multiplicação de qualquer grandeza com um fator unitário não


alterará a grandeza medida.

Como exemplo, observe a conversão de 5 minutos em segundos e em horas, utilizando‑se a ideia do


fator de conversão.

5 min = 5 min x 1 = 5 min

60 s
5 min = 5 min × = 300 s
1min

1h
5 min = 5 min × = 0,083 h
60 min

Ao aplicar o fator de conversão, como o intuito era alterar a unidade de minutos, no fator
de conversão o minuto faz parte do denominador, pois este é cancelado ao realizar o cálculo
algébrico. Para aplicar um bom fator de conversão, sempre saiba a relação entre as unidades e inicie
a sua razão do fator de conversão inserindo a unidade que precisa ser alterada. Não se esqueça de
respeitar as leis algébricas.

12
TERMODINÂMICA BÁSICA

1.2 Propriedades termodinâmicas

Conforme apresentado, um sistema se caracteriza pela quantidade de matéria, ou seja, massa. Assim,
as propriedades podem estar ou não vinculadas com a massa. Propriedades que dependem da massa são
denominadas extensivas, por exemplo, volume, energia total, massa etc. Propriedades que independem
da massa são denominadas intensivas, por exemplo, densidade, pressão, temperatura etc.

Lembrete

Propriedade é qualquer grandeza que descreve um sistema.

Duas propriedades podem ser utilizadas para definir o estado de um


sistema simples.

Estado representa a quantidade física que especifica o sistema.

Quando ocorre a alteração de um estado para o outro, um processo está definido, ou seja, quaisquer
das propriedades do sistema podem se alterar. Para um regime permanente, as propriedades do sistema
não se alteram. Caso o sistema não sofra nenhuma alteração espontânea, mesmo quando submetido
a pequenas perturbações, o estado está em equilíbrio. Uma outra possibilidade ocorre quando um
processo quase estático ou de quase equilíbrio se inicia, ou seja, o processo do sistema é muito lento, de
modo que lhe permita ajustar‑se para que as propriedades de uma parte do sistema não mudem mais
rapidamente do que a outra parte.

Embora a matéria seja formada por moléculas, apresentando‑se espaços vazios entre seus átomos,
assume‑se o modelo contínuo para os estudos de Termodinâmica.

1.2.1 Massa específica e volume específico

Todo sistema apresentará uma massa e, consequentemente, um volume. Na Termodinâmica o


volume é uma propriedade física que é tratada como variável. Para fluidos, definir a massa não é uma
tarefa simples, afinal a temperatura varia o volume do sistema, e torna‑se mais interessante trabalhar
com o conceito de massa específica (ρ):

m  kg 
ρ=  3
∀ m 

Muitos livros abordam a massa específica como densidade. Esse termo não está errado, mas
cuidado para não se confundir com a densidade relativa. Quando o experimento com um recipiente
contendo metade de água e a outra metade de óleo é realizado, observa‑se que o óleo fica acima da
camada de água; é muito comum alguém falar que o óleo está acima da água por ser menos denso,
ou seja, a água é mais “pesada” que o óleo. É comum que ocorra sempre a comparação com a água.

13
Unidade I

Dessa forma, para definir a densidade relativa (também denominada gravidade específica), basta
realizar a razão entre a massa específica da substância observada e a massa específica padrão da água
(geralmente, adota‑se 1.000 kg/m3):

ρx
d = dr =
ρágua

Outra informação interessante é definida pelo volume específico, variável com grande aplicação
na termodinâmica. O volume específico (ϑ) é representado pela razão do volume que uma substância
ocupa em relação a sua massa:

∀ 1  m3 
ϑ= =  
m ρ  kg 

Observação

O volume específico é o inverso da massa específica. Como o valor


da massa específica para diversas substâncias está tabelado, determinar
o volume específico a partir da massa específica torna‑se uma tarefa
menos trabalhosa.

Exemplo de aplicação

Uma massa de 0,35 kg de uma substância ocupa um volume de 70 cm3. Indique qual será a sua
massa específica, o volume específico e a densidade relativa.

Solução

A massa específica é obtida pela divisão da massa pelo volume. Observe que será necessário realizar
uma conversão de unidade, pois a resposta deve estar no Sistema Internacional de Unidades. Dessa
forma, considere para o volume:

 10 −6 m3 
∀ = 70 cm3 ×  3 
= 70 × 10 −6 m3
 1cm 

Aplicando‑se a massa e o volume na equação:

m 0,35 kg
ρ= = − 6 3
= 5000 kg / m3
∀ 70 × 10 m

14
TERMODINÂMICA BÁSICA

Lembre‑se de que o volume específico equivale ao volume dividido pela massa ou apenas ao inverso
da massa específica:

∀ 70 × 10 −6 m3
ϑ= = = 0,0002 m3 / kg
m 0,35 kg

ou

1 1
ϑ= = = 0,0002 m3 / kg
ρ 5000 kg / m3

Logo, a densidade relativa será:

ρx 5000 kg / m3
d= = = 5,0
ρágua 1000 kg / m3

A densidade relativa sempre será adimensional e indica quantas vezes mais “pesada” a substância é
em relação à água.

1.2.2 Conceituando a pressão

O primeiro conceito de pressão (p) relaciona a força aplicada em uma área:

F
p=
A

Porém, ressalta‑se que a força que atua em uma certa área de seção deve ser perpendicular à superfície,
ou seja, deve formar ângulo de 90°, o que também é denominado força normal FN. Considerando o
Sistema Internacional de Unidades, expressa‑se a força em newtons (N) e a área em metros quadrados
(m2). Assim, a pressão será expressa pela unidade pascal (Pa):

 N
 Pa = 2 
m

Uma outra unidade adotada para a pressão é a atmosfera (atm). O experimento que definiu o
valor da pressão atmosférica foi realizado por Torricelli, com um aparato que consistia em uma
cuba e um tubo fino de 1 m de comprimento, ambos com mercúrio. Durante o experimento,
Torricelli vedou a abertura do tubo, inserindo‑o na cuba de cabeça para baixo; após retirar a
vedação no interior da cuba, parte da coluna de mercúrio do tubo escoou até que o equilíbrio
hidrostático fosse atingido. Considerando o experimento ao nível do mar e a uma temperatura
15
Unidade I

de 0 °C, a coluna de fluido desceu até a altura de 76 cm. Com isso, a primeira medida da pressão
atmosférica (patm) resultou em:

1 atm = 76 cmHg = 760 mmHg = 1,013 . 105 Pa

Os equipamentos que medem a pressão são denominados manômetros. Quando um manômetro é


construído, é aferido à pressão atmosférica, medindo assim apenas a pressão de uma coluna do fluido.
É comum tais equipamentos apresentarem a unidade no sistema inglês, ou seja, a pressão é medida em
libras‑força por polegada ao quadrado (psi), em que:

libra − força lbf


1psi = 1 2
=1
(polegada) in2

Um fator de conversão importante é 1 psi = 6,9 . 103 Pa.

Para uma coluna de fluido, a pressão varia com a profundidade. Quando possível, faça o seguinte
experimento: mergulhe em uma piscina com profundidade maior que 2 m e perceba que, ao chegar
ao assoalho da piscina, haverá uma grande pressão no seu ouvido, a qual diminuirá à medida que
você ascender à superfície da água. A pressão para essa camada de fluido é denominada pressão
manométrica (pman) e caracteriza‑se pelo peso (ou força gravitacional) da coluna de fluido, podendo
ser expressa por:

FG m . g
pman = =
A A

Note que a massa pode ser substituída em função da massa específica. Assim:

ρ. ∀ .g ρ. A .h.g
pman = =
A A

pman = ρ . g . h

Quando a pressão manométrica é relacionada com a pressão atmosférica, tem‑se a pressão absoluta,
ou seja, a pressão total em um ponto. Matematicamente:

pabs = patm + pman

pabs = patm + ρ . g . h

16
TERMODINÂMICA BÁSICA

Lembrete

Muitos problemas da Termodinâmica são caracterizados para a pressão


absoluta. Fique atento para não utilizar a pressão errada.

A pressão atmosférica sempre está vinculada com a região na qual será


medida. O valor apresentado no texto é para o nível do mar. Em qualquer
posição diferente, a pressão deve ser obtida de tabelas termodinâmicas.

Exemplo de aplicação

Um tubo cilíndrico de 2 m de altura e 10 cm de diâmetro tem 45% de sua altura preenchidos com
água (1.000 kg/m3) e está ao nível do mar. Determine a pressão manométrica e a pressão absoluta.

Solução

Para definir a pressão manométrica, basta verificar a altura do nível de água a ser analisado:

pman = ρ . g . h

pman = 1000 . 9,8 . 0,90

pman = 8820 Pa

A pressão absoluta é obtida somando‑se a pressão manométrica, anteriormente calculada, com a


pressão atmosférica. Assim:

pabs = patm + ρ . g . h

pabs = 1,013 . 105 + 1000 . 9,8 . 0,90

pabs = 110120 Pa

1.2.3 Temperatura e suas escalas

Imagine o seguinte experimento: você segura em uma das mãos um pedaço de madeira, enquanto
na outra está um pedaço de metal. Qual, aparentemente, está mais frio? Certamente em sua resposta o
metal será o mais frio; porém, isso está correto?

Se ambos os materiais estiverem expostos ao ambiente, com o passar do tempo as suas temperaturas
serão iguais, afinal o equilíbrio térmico deverá ocorrer. Um erro comum é imaginar que o tato pode
medir a temperatura. Na verdade, o tato percebe o fluxo de calor (energia térmica), ou seja, é possível
17
Unidade I

verificar se um objeto está quente quando a energia térmica flui deste para a mão e frio se a energia
térmica fluir da mão para o objeto. Dessa forma, a temperatura é a medida da quantidade de energia
cinética molecular da substância ou a sua agitação molecular.

Observação

Lei Zero da Termodinâmica: se dois objetos estiverem em equilíbrio


térmico com um terceiro objeto, todos estarão em equilíbrio térmico um
com outro, ou seja, apresentarão a mesma temperatura.

Quando você está com febre e necessita determinar o valor, é comum


colocar um termômetro abaixo da axila. Com o passar do tempo, o
termômetro que está frio começará a aquecer até equilibrar a temperatura
com o seu corpo. No momento em que o equilíbrio térmico ocorrer, tanto
o corpo quanto o termômetro apresentarão a mesma temperatura. Assim,
para mensurar a febre, aplica‑se diretamente a Lei Zero da Termodinâmica.

Temperatura e calor são, muitas vezes, utilizados como sinônimos, apesar de serem conceitualmente
diferentes. Temperatura mede o nível de agitação molecular, e quanto maior for a agitação, maior será
a temperatura. Calor, ou energia térmica, relaciona a energia que se transfere de um objeto para outro
devido a uma diferença de temperatura.

Para definir a temperatura é comum utilizar termômetros. No Sistema Internacional de Unidades,


as escalas que podem ser utilizadas são Celsius e Kelvin. Para o sistema inglês de unidades, utilizam‑se
as escalas Fahrenheit e Rankine. Água foi utilizada para definir as escalas Celsius e Fahrenheit, ou seja,
estas dependem das propriedades dessa substância. Na Termodinâmica é comum utilizar as escalas
absolutas, Kelvin e Rankine, afinal estas não dependem das propriedades da substância medida.

A definição de uma escala termométrica ocorreu com o auxílio de um termômetro comum e dois
pontos específicos: o primeiro é o ponto de fusão (ou ponto de gelo) da água, obtido pela inserção do
termômetro em um banho de água e gelo, até que o equilíbrio térmico seja atingido; para o segundo
ponto, insere‑se o termômetro em água fervente até que o equilíbrio térmico seja atingido, observando‑se
o ponto de vapor (ou de ebulição) da água. Em ambos os pontos, a pressão permanece em 1 atm.

Com os dois pontos definidos, é possível criar uma escala numérica para eles. Na escala Celsius,
considera‑se para o ponto de gelo o valor de 0 °C (lê‑se: zero grau Celsius) e para o ponto de vapor o
valor de 100 °C (lê‑se: cem graus Celsius). A escala Celsius entre os pontos de gelo e vapor é subdividida
em cem partes iguais. Em países de língua inglesa é comum utilizar a escala Fahrenheit. Considera‑se
para esta escala o valor de 32 °F para o ponto de gelo e 212 °F para o ponto de vapor; entre estes dois
pontos, a escala é subdividida em 180 partes iguais. Na figura a seguir é possível observar a representação
esquemática das escalas.

18
TERMODINÂMICA BÁSICA

Celsius Fahrenheit

Ponto de vapor 100 ºC 212 ºF


(ebulição da água)

180 divisões
100 divisões
TC TF

Ponto de gelo 0 ºC 32 ºF
(solidificação da água)

Figura 1 – Representação esquemática das escalas termométricas

Para criar uma relação que transforme a unidade Celsius em Fahrenheit, ou vice‑versa, basta realizar
a razão entre as escalas. Por exemplo, iniciando do lado esquerdo, faça a diferença da escala menor pela
diferença da escala maior e repita exatamente o mesmo para o lado direito. Logo:

TC − 0 T − 32
= F
100 − 0 212 − 32

TC T − 32
= F
100 180

100 5
TC = (TF − 32) = (TF − 32)
180 9
ou

9
TF = TC + 32
5

Onde TF representa o valor observado na escala de temperatura em Fahrenheit e TC representa o valor


observado na escala de temperatura em Celsius.

Para algumas aplicações termodinâmicas é necessário expressar a temperatura tendo por base um valor
de referência, o qual não deve ser definido de acordo com a energia térmica de uma substância. A temperatura
de referência recebe o nome de temperatura do zero absoluto, formando as escalas absolutas de temperatura,
como a escala Kelvin, no Sistema Internacional de Unidades, e a escala Rankine, no sistema inglês.

Para definir a escala Kelvin, utiliza‑se um termômetro a gás e apenas um ponto de referência para
a temperatura. Geralmente o ponto utilizado é denominado ponto triplo da água. A temperatura na
qual o ponto triplo da água ocorre corresponde ao valor de 273,15 K (duzentos e setenta e três kelvin,
aproximadamente). Note que será comum aproximar o valor da temperatura kelvin para 273 K.
19
Unidade I

Lembrete

No ponto triplo da água as três fases coexistem. Assim, nesse ponto há


água na fase sólida (gelo), na fase líquida e na fase gasosa (vapor d’água). A
temperatura necessária para que isso ocorra é de 0,01 °C, com uma pressão
de vapor de 610 Pa.

Quando trabalhamos com escalas relativas, como Celsius e Fahrenheit, é


comum utilizar o símbolo grau (°). Escalas absolutas, como Kelvin e Rankine,
não necessitam do símbolo.

A escala Kelvin comumente é transformada em escala Celsius. Dessa forma, considera‑se:

TK = TC + 273

ou

TC = TK – 273

Onde TK representa o valor observado na escala de temperatura em Kelvin e TC representa o valor


observado na escala de temperatura em Celsius. Para muitos processos, os modelos matemáticos
consideram variações de temperatura . Enquanto houver análise da variação da temperatura, poderemos
trabalhar com a temperatura em Celsius ou em Kelvin, afinal ambas as escalas são divididas em 100
partes iguais, conforme pode ser observado na figura a seguir, o que lhes garante a mesma variação de
temperatura. Assim, variar a temperatura em 1 °C equivale a variar a temperatura em 1 K.
Celsius Kelvin Fahrenheit Rankine

Ponto de vapor 100 ºC 373 K 212 ºF 672 R


(ebulição da água)
180 divisões

180 divisões
100 divisões

100 divisões

Ponto de gelo 0 ºC 273 K 32 ºF 492 R


(solidificação da água)

Zero absoluto -273 ºC 0 -460 ºF 0

Figura 2 – Representação esquemática das escalas termométricas, com os pontos de ebulição e solidificação da água, bem como o zero absoluto

20
TERMODINÂMICA BÁSICA

Para transformar a escala Rankine em Fahrenheit, ou vice‑versa, deve‑se considerar:

TR = TF + 460

ou

TF = TR + 460

Onde TR representa o valor observado na escala de temperatura em Rankine e TF representa o valor


observado na escala de temperatura em Fahrenheit.

É possível transformar apenas as unidades absolutas, ou seja, pode‑se transformar Kelvin em Rankine
e vice‑versa, diretamente. Para tal, deve‑se considerar:

TR = 1,8 TK

Em Termodinâmica, é muito comum trabalhar com escalas absolutas na aplicação da Lei dos Gases.

Exemplo de aplicação

Um ser humano pode apresentar um estado febril quando a sua temperatura atinge 37 °C. Qual seria
a temperatura equivalente nas demais escalas de unidades?

Solução

Iniciando pela escala Fahrenheit, basta utilizar o modelo matemático apresentado e o estado febril
na escala no sistema inglês será determinada:

9
TF = TC + 32
5

TF = 1,8 x 37 + 32

TF = 98,6 ºF

Para entregar a temperatura na escala absoluta, utiliza‑se a relação de transformação Celsius‑Kelvin:

TK = TC + 273

TK = 37 + 273

TK = 310 K

21
Unidade I

Na escala Rankine, há duas possibilidades para realizar a transformação. Pode‑se partir do valor encontrado
em Fahrenheit ou em Kelvin. Independentemente do modelo matemático adotado para transformar
as unidades, a resposta final deve ser próxima. Muitas vezes será difícil encontrar valores exatos, pois há
aproximações nos modelos matemáticos desenvolvidos. Entretanto, os valores deverão ser próximos.

TR = TF + 460

TR = 98,6 + 460

TR = 558,6 R

ou

TR = 1,8 TK

TR = 1,8 x 310

TR = 558 R

1.3 Breve revisão de energia

Como mencionado anteriormente, a Termodinâmica se preocupa com a energia, sua transformação


e transferência. Em cursos de Física, é comum utilizar e estudar a energia cinética (EC) e a potencial (EP):

mv2
EC = e EP = m . g . h
2
Onde m representa a massa, v a velocidade, g a aceleração gravitacional e h a altura. Porém, devem‑se
considerar as outras formas de energia, como a energia interna, a eletromagnética, a química e a nuclear.

Nos estudos em Termodinâmica, três energias são abordadas: a energia cinética, a energia potencial
e, especialmente, a energia interna (U), vinculada com a estrutura molecular e a vibração das moléculas
de um sistema.

A temperatura influencia diretamente a energia interna, afinal o movimento das moléculas aumenta
ou diminui com a variação da temperatura. Muitas vezes a energia cinética e a potencial são desprezadas
na Termodinâmica, e apenas a energia interna é interessante. De qualquer forma, a energia total do
sistema é definida por:

mv2
E = EC + EP + U = + mgh + U
2

22
TERMODINÂMICA BÁSICA

A Lei da Conservação da Energia permanece válida, ou seja, a energia não será criada nem destruída,
apenas transformada. Ao considerar um sistema isolado, a energia de um ponto inicial será exatamente
igual à do ponto final de amostragem.

Exemplo de aplicação

Considere um dia chuvoso no qual as folhas de uma árvore acumulem gotas de chuva. Uma gota da
chuva na parte inferior da folha, ao se desprender dela, parte do repouso e cai de uma altura h no solo.
É possível definir uma equação para a velocidade de queda da gota de chuva?

Solução

Partindo da conservação da energia e considerando os pontos de análise – a folha e o solo –, a


energia é escrita como:

E1 = E2

EC1 + EP1 + U1 = EC2 + EP2 + U2

m1v12 mv2
+ m1gh1 + U1 = 2 2 + m2gh2 + U2
2 2

Pelo enunciado é possível verificar que, na folha, a gota está em repouso (v1 = 0), e a distância entre
a folha e o solo é h1 = h. Enquanto a gota está caindo, ou seja, ainda não atingiu o solo, a altura deve
ser considerada (h2 = z). Considerando que a temperatura se manteve constante, ou seja, as energias
internas permanecem inalteradas:

m×0 mv22
+ mgh + U = + mgz + U
2 2

mv22
mgh + U − mgz − U =
2

mv22
mg(h − z) =
2

2g(h − z) = v22

v2 = 2g(h − z)

23
Unidade I

Saiba mais

Os livros a seguir relacionam a Termodinâmica e suas máquinas,


proporcionando uma visão geral da aplicação dessa área no dia a dia:

CHALINE, E. 50 máquinas que mudaram o rumo da História. São Paulo:


Sextante, 2014.

QUADROS, S. A Termodinâmica e a invenção das máquinas térmicas.


São Paulo: Scipione, 1996.

2 PROPRIEDADES DE SUBSTÂNCIAS PURAS

Entende‑se por substância pura qualquer elemento que apresente em toda a sua extensão a mesma
composição química, por exemplo, água e nitrogênio. As substâncias podem apresentar‑se em diferentes
fases, como fase sólida, líquida ou gasosa. A água, embora uma substância comum, é de grande interesse
nos estudos de Termodinâmica e pode coexistir nas três fases, como gelo (fase sólida), água (fase líquida)
e vapor (fase gasosa).

Na Termodinâmica, são estudadas principalmente as fases líquida e gasosa. Dessa forma, é comum
tratar líquidos e gases como fluido. Um fluido no qual a energia será adicionada ou removida, enquanto
se submete a um processo, será definido como fluido de trabalho – por exemplo, em automóveis, a
mistura ar‑combustível é o fluido de trabalho, responsável pela combustão dentro do motor.

Lembrete

Um fluido é uma substância que escoa à medida que uma tensão


cisalhante é aplicada.

Mas como ocorre o processo de mudança de fase?

Considere uma quantidade de gelo. Quando este é aquecido, a variação da temperatura aumentará
a vibração molecular, acarretando um ganho de energia cinética para algumas moléculas, tornando‑as
capazes de “quebrar” o estado sólido, ou simplesmente derreter. Este é o início do processo da mudança
de fase sólida para a líquida.

Após todo o derretimento do gelo, uma quantidade de água pode ser submetida ao aquecimento, e,
novamente, a variação da temperatura dará energia cinética suficiente para algumas moléculas “quebrarem”
a fase líquida, iniciando‑se o processo de ebulição, ou seja, a alteração da fase líquida para a gasosa.

24
TERMODINÂMICA BÁSICA

Observação

A alteração da fase líquida para a gasosa pode ser denominada de ebulição,


vaporização e evaporação. Enquanto na ebulição o processo de mudança de
líquido para vapor ocorre com a formação de bolhas, na evaporação não há
formação de bolhas. Por exemplo, para regular a temperatura do corpo, um
ser humano transpira e o suor evapora da pele (não entra em ebulição).

O processo de mudança da fase gasosa para a líquida é chamado de condensação. Se um sólido se


transforma em gás, o processo é denominado sublimação. A figura seguinte apresenta um resumo da
nomenclatura das mudanças de fase.
Solidificação Condensação

Sólido Líquido Vapor

Fusão Vaporização

Sublimação
(gelo seco, naftalina)

Figura 3 – Representação esquemática das fases e das denominações de suas mudanças

Quando existe a necessidade de alterar a fase de uma substância, inicialmente uma energia térmica na
forma de calor é injetada no sistema. Tal energia é responsável por aumentar a temperatura e possibilitar o
início do processo de mudança de fase. A quantidade de calor (Q) necessária para aumentar a temperatura
de uma quantidade de substância é proporcional à variação de temperatura e à massa da substância:

Q = m . c . ∆T

Onde m representa a massa da substância, c representa o calor específico e ∆T representa a variação


de temperatura. Na tabela a seguir é possível encontrar o valor do calor específico a pressão constante,
bem como a massa específica de alguns líquidos a 25 °C.

Tabela 3 – Propriedades de alguns líquidos a 25 °C


(exceto o gelo, que está no estado sólido e a 0 °C)

Substância cp (kJ/kgK) ρ (kg/m3)


Água 4,184 997
Gelo (273 K) 2,04 917
Benzeno 4,8 602

25
Unidade I

Etanol 2,46 783


Gasolina 2,08 750
Glicerina 2,42 1260
Óleo de motor 1,9 885
R‑134a 1,43 1206
R‑410A 1,69 1059

Adaptada de: Borgnakke e Sonntag (2009, p. 560).

Durante a mudança de fase, pressão e temperatura tornam‑se propriedades dependentes, ou


seja, ambas apresentarão a mesma variação. Se a mudança de fase ocorre a uma determinada
temperatura, a pressão para tal mudança é denominada pressão de saturação. Se a mudança
de fase ocorre a uma determinada pressão, a temperatura para tal mudança é denominada
temperatura de saturação.

Após o aquecimento e o início do processo de mudança de fase, não há mais variação da energia.
Todo o calor aplicado ao sistema será utilizado para mudar a fase, e o sistema permanecerá a temperatura
constante. A energia térmica necessária para fundir uma quantidade de massa de uma substância, sem
que ocorra variação de temperatura, é definido por:

Q = m . LF

Onde LF é denominado calor latente de fusão. Esse processo é reversível, ou seja, para congelar a
água é necessário retirar calor, enquanto para derreter o gelo é necessário aplicar calor. Uma equação
geral para a mudança, ou transição de fase, será:

Q=±m.L

Se o calor entra no sistema, a equação apresenta um sinal positivo, utilizado, por exemplo, quando o
sólido se funde. Se o calor sai do sistema, a equação apresenta um sinal negativo, utilizado, por exemplo,
quando o líquido se solidifica.

Repetindo o raciocínio, a quantidade de energia térmica necessária para colocar uma quantidade de
massa de uma substância em ebulição é definida por:

Q = m . LV

Onde LV é denominado calor latente de vaporização. A tabela seguinte apresenta algumas


substâncias e seus respectivos pontos de fusão e ebulição, bem como os calores.

26
TERMODINÂMICA BÁSICA

Tabela 4 – Substâncias a 1 atm: pontos de fusão e ebulição;


calores latentes de fusão e vaporização

Ponto de Calor latente de Ponto de ebulição Calor latente de


Substância fusão (K) fusão LF (kJ/kg) (K) vaporização LV (kJ/kg)
Água líquida 273,15 333,5 373,15 2257
Álcool etílico 159 109 351 879
Bromo 266 67,4 332 369
Chumbo 600 24,7 2023 858
Cobre 1356 205 2839 4.726

Adaptada de: Tipler (2009, p. 604).

Um resumo dos processos de mudança de fase pode ser observado na figura do exemplo a seguir. Nas
retas horizontais (retas azuis) não há alteração de temperatura, apenas mudança de fase (sólido‑líquido,
líquido‑vapor). Nas retas inclinadas as fases puras (sólido, líquido e vapor) são aquecidas e, portanto, há
uma variação de temperatura.

Exemplo de aplicação

Ao abandonar cubos de gelo em uma superfície num dia quente, é comum observarmos o derretimento
do gelo e a formação de uma poça de água. Entretanto, se 60 g de gelo a –10 °C forem transformados
em 60 g de água líquida a 40 °C, quanto de calor deverá ser utilizado para esse processo?

Solução

Observe que o gelo irá aquecer até iniciar o processo de derretimento, ficará a temperatura constante
até derreter totalmente e, já como água líquida, a temperatura irá aumentar até atingir a apresentada
no enunciado. Com o auxílio das Tabelas 1 e 2, os seguintes valores podem ser encontrados:

cgelo = 2,04 kJ/kg . K

cágua = 4,184 kJ/kg . K

LFusão = 333,5 kJ/kg

A primeira etapa é aumentar a temperatura do gelo para iniciar o processo de derretimento. Observe
que a temperatura inicial é de –10 °C, e a final, para esta etapa, é de 0 °C. Como a massa não está no
Sistema Internacional de Unidades, lembre‑se de transformá‑la (60 g = 60 . 10–3kg). Assim, a quantidade
de calor necessário será:

Q1 = mgelo cgelo ∆T

Q1 = 60 . 10-3 . 2,04 × 103 [0-(-10)]


27
Unidade I

Q1 = 1224 J

Na segunda etapa, o gelo inicia o processo de derretimento, ou seja, a fase sólida é alterada para a
fase líquida. Nesse processo, a temperatura é constante:

Q2 = mgelo LF

Q2 = 60 . 10-3 . 333,5 . 103

Q2 = 20010 J

Para a terceira etapa, a água deve ser aquecida de 0 °C para 40 °C:

Q3 = mágua cágua ∆T

Q3 = 60 . 10-3 . 4,184 . 103 (40 - 1)

Q3 = 10042 J

A quantidade de calor total para transformar o gelo em água será:

QT = Q1 + Q2 + Q3

QT = 1224 + 20010 + 10042

QT = 31276 J
T

Água líquida se
130 ºC transforma em
vapor d'água a
100 ºC V
Ponto de
ebulição Vapor d'água é
100 ºC Q = mL aquecido Q = mc∆T
L-V

Gelo se funde, L
transformando-se Aquecimento de Q = mc∆T
em água líquida a água líquida
Ponto de 0 ºC
fusão Q = mL S = Sólido
0 ºC S - L = Sólido - Líquido
S-L Tempo
S L = Líquido
Aquecimento do Q = mc∆T L - V = Líquido - Vapor
-10 ºC gelo V = Vapor

Figura 4 – Representação esquemática de mudanças de fase da água

28
TERMODINÂMICA BÁSICA

2.1 Título

Quando as fases são puras, não há dúvida sobre em qual estado o fluido está. Mas o que ocorre
quando as fases estão em processo de mudança? Como definir a fração de líquido ou gás presente em
uma mistura? Sempre que existir uma mistura saturada, uma nova propriedade deverá ser considerada:
o título (x). Por definição, título é a razão entre a massa de vapor (mv) e a massa total (m) da mistura:

mv
x=
m

A escala de variação do título está entre 0 e 1. Quanto maior a fração de líquido saturada, mais
próximo do 0 o título estará. Quanto maior a fração de vapor saturada, mais próximo do 1 o título estará.

Lembrete

O estado do líquido no qual o vapor começa a se formar durante o


aquecimento a pressão constante é denominado líquido saturado.

Quando todo o líquido se vaporiza por aquecimento, o estado


denomina‑se vapor saturado.

Existe uma relação alternativa para o título, a qual considera o volume específico do fluido. A definição
de título continua sendo a razão das massas, ou seja, não será realizada uma nova definição do título
como função da razão dos volumes, apenas será apresentada uma forma alternativa. Considerando a
massa total do fluido:

m = mI + mv

Onde mI é a massa do líquido e mv é a massa do vapor. O mesmo pode ocorrer com o volume total
(∀), ou seja, relaciona as frações do volume líquido ∀I e do volume de vapor ∀v:

∀ = ∀I + ∀v

Observe que a equação do volume total pode ser reescrita em função do volume específico. O
volume específico (ϑ) correlaciona massa e volume:

∀ = ∀I + ∀v

ϑ m = ϑI . mI + ϑv . mv

Note que o título pode ser inserido nesta equação, afinal mv = x . m, e a massa da fração líquida deve
ser escrita em função da massa de vapor:

29
Unidade I

ϑ m = ϑI . (m – mv) + ϑv . mv

ϑ m = ϑI . m – ϑI . mv + ϑv . mv

ϑ m = ϑI . m + mv (ϑv - ϑI)

ϑ m = ϑI . m + x . m (ϑv - ϑI)

ϑ m = m [ϑI + x (ϑv - ϑI)]

ϑ = ϑI + x (ϑv - ϑI)

ϑ = ϑI + x . ϑIV

A diferença entre as propriedades da fase gasosa (vapor) e da líquida sempre são rotuladas pelo
subíndice Iv. Muitas propriedades termodinâmicas podem ser encontradas em tabelas termodinâmicas.

Exemplo de aplicação

Em um recipiente cilíndrico há uma massa de 3 kg de água saturada a 120 °C, com título de 0,6.
Determine o volume das frações líquido e vapor d’água.

Solução

Por definição, o título é uma razão da massa de vapor pela massa total. Assim, para a mistura
saturada, a massa da fração vapor será:

mv = x m

mv = 0,6 × 3,0

mv = 1,8 kg

Enquanto a fração da massa líquida será:

m = ml + mv

ml = m - mv.

ml = 3,0 – 1,8.

ml = 1,2 kg

30
TERMODINÂMICA BÁSICA

Para definir o volume de cada fase, é necessário descobrir os volumes específicos do líquido e do
vapor (Tabela 5).

Para definir a propriedade, considera‑se a tabela de água (líquido saturado) a 120 °C:

Volume específico (m3/kg) Energia interna (kJ/kg)


T (ºC) p (kPa) Líquido Vapor saturado Líquido Vapor saturado
saturado (ϑI) Evaporação (uIv)
(ϑv) saturado (uI) (uv)
120 198,5 0,001060 0,89186 503,48 2025,76 2529,24

Os valores para os volumes específicos são: ϑI = 0,001060 m3/kg e ϑI = 0,89186 m3/kg. Assim, o
volume da fração líquido será:

∀l = ml . ϑl

∀l = 0,001060 . 1,2

∀l = 0,0 0127 m3

Enquanto o volume da fração vapor será:

∀v = mv . ϑv

∀v = 0,89186 . 1,8

∀v = 1,605 m3

O título apresenta significado para a mistura saturada, onde as frações líquido e vapor podem ser
determinadas. Mas o que ocorre quando o título se torna um, ou seja, há apenas vapor saturado? Quando
o vapor saturado é atingido, ou seja, a última gota do líquido saturado vaporizou, se o calor continuar
sendo adicionado, o aquecimento desse vapor saturado resultará em vapor superaquecido. Observe que o
título perde o seu significado no estado de vapor superaquecido, pois a substância existe apenas como gás
(vapor). Dessa forma, para tal estado a pressão e a temperatura tornam‑se propriedades independentes.

Tabela 5 – Volume específico e energia interna, em função da temperatura, para água


saturada

Água saturada
Volume específico (m3/kg) Energia interna (kJ/kg)
T (ºC) p (kPa) Líquido Vapor saturado Líquido Vapor
Evaporação (uIv)
saturado (ϑI) (ϑv) saturado (uI) saturado (uv)
0,01 0,6113 0,001000 206,132 0 2375,33 2375,33
5 0,8721 0,001000 147,118 20,97 2361,27 2382,24

31
Unidade I

10 1,2276 0,001000 106,377 41,99 2347,16 2389,15


15 1,705 0,001001 77,925 62,98 2333,06 2396,04
20 2,339 0,001002 57,7897 83,94 2318,98 2402,91
25 3,169 0,001003 43,3593 104,86 2304,9 2409,76
30 4,246 0,001004 32,8922 125,77 2290,81 2416,58
35 5,628 0,001006 25,2158 146,65 2276,71 2423,36
40 7,384 0,001008 19,5229 167,53 2262,57 2430,11
45 9,593 0,001010 15,2581 188,41 2248,4 2436,81
50 12,35 0,001012 12,0318 209,3 2234,17 2443,47
55 15,758 0,001015 9,56835 230,19 2219,89 2450,08
60 19,941 0,001017 7,67071 251,09 2205,54 2456,63
65 25,03 0,001020 6,19656 272 2191,12 2463,12
70 31,19 0,001023 5,04217 292,93 2176,62 2469,55
75 38,58 0,001026 4,13123 313,87 2162,03 2475,91
80 47,39 0,001029 3,40715 334,84 2147,36 2482,19
85 57,83 0,001032 2,82757 355,82 2132,58 2488,4
90 70,14 0,001036 2,36056 376,82 2117,7 2494,52
95 84,55 0,001040 1,98186 397,86 2102,7 2500,56
100 101,3 0,001044 1,6729 418,91 2087,58 2506,5
120 198,5 0,001060 0,89186 503,48 2025,76 2529,24
130 270,1 0,001070 0,6685 546 1993,9 2539,9
140 361,3 0,001080 0,50885 588,72 1961,3 2550,02
150 475,9 0,001090 0,39278 631,66 1927,87 2559,54
160 617,8 0,001102 0,30706 674,85 1893,52 2568,37
170 791,7 0,001114 0,24283 718,31 1858,14 2576,46
180 1002,2 0,001127 0,19405 762,08 1821,62 2583,7
190 1254,4 0,001141 0,15654 806,17 1783,84 2590,01
200 1553,8 0,001156 0,12736 850,64 1744,66 2595,29
220 2317,8 0,001190 0,08619 940,85 1661,49 2602,35
240 3344,2 0,001229 0,05976 1033,19 1570,75 2603,95
260 4688,6 0,001276 0,0422 1128,37 1470,64 2599,01
280 6411,7 0,001332 0,03017 1227,43 1358,66 2586,09
300 8581 0,001404 0,02167 1331,97 1230,99 2562,96
320 11274 0,001499 0,01549 1444,55 1080,93 2525,48
340 14586 0,001638 0,0108 1570,26 894,26 2464,53
360 18651 0,001892 0,00694 1725,19 626,29 2351,47
370 21028 0,002213 0,00493 1843,84 384,69 2228,53
374,1 22089 0,003155 0,00315 2029,58 0 2029,58

Fonte: Borgnakke e Sonntag (2009, p. 576‑577).

32
TERMODINÂMICA BÁSICA

2.2 Diagramas de fase

Para uma substância alterar o seu estado, é necessário existir condições de equilíbrio de fase, pois para
uma dada pressão a temperatura permanecerá constante durante a mudança de fase. A representação
gráfica das fases é definida pelo diagrama de fases, conforme visualizado na figura a seguir.
Sólido-líquido Líquido-gás
p

Líquido

Sólido

Gás
Ponto
triplo
T
Sólido-gás

Figura 5 – Representação esquemática do diagrama de fase pT, apresentando‑se as regiões de temperatura


e pressão na qual cada fase pode ocorrer

Ao observar o diagrama pressão‑temperatura anterior, deve‑se considerar que existe apenas uma
informação de pressão e temperatura para cada ponto das curvas do diagrama (isto é, existe apenas
uma fase para o ponto), exceto no ponto triplo, em que é possível verificar a coexistência das três fases.
As linhas sólidas, apresentadas em diferentes cores, mostram o limite das fases e suas separações. À
esquerda das linhas verde e azul está a região onde apenas a fase sólida será encontrada. Abaixo das
linhas vermelha e azul está a região onde apenas a fase gasosa será encontrada. Por fim, entre as linhas
verde e vermelha está a região onde a fase dominante é a líquida. A linha verde, denominada no gráfico
Sólido‑Líquido, também é definida por linha de fusão e separa o sólido do líquido. A linha vermelha,
denominada no gráfico Líquido‑Gás, também é definida por linha de vaporização (ou ebulição, ou
evaporação) e separa o líquido do gás. A linha azul, denominada no gráfico Sólido‑Gás, apresenta a
transformação de um sólido diretamente em gás, sendo denominada sublimação.

Além do diagrama pressão‑temperatura, é possível identificar as fases em diagramas de fase T – ϑ


e p – ϑ, conforme a figura que segue. Para diferentes variações de temperatura e pressão, o diagrama
de fase apresentará regiões distintas. A primeira região à esquerda apresentará o líquido comprimido. A
segunda região, abaixo da curva apresentada, é a da mistura saturada. A terceira região ficará acima da
curva e à direita, sendo definida como a de vapor superaquecido.

Existem duas linhas sólidas que separam as fases de uma substância (figura a seguir) e são
denominadas linha de líquido saturado e linha de vapor saturado.

A linha de líquido saturado separa a região do líquido comprimido e a região da mistura saturada. Para
um líquido se transformar em vapor, o processo de mudança de fase se inicia nessa linha, mantendo‑se à

33
Unidade I

esquerda da linha apenas líquido comprimido e à direita mistura saturada. Exatamente na linha de líquido
saturado, haverá o líquido saturado com título zero, isto é, haverá 100% de líquido e 0% de vapor.

Já a linha de vapor saturado separa a região de vapor superaquecido e a região da mistura saturada.
Exatamente nessa linha, haverá apenas vapor saturado (título 1). Ainda para o diagrama existe um
ponto, denominado ponto crítico, que representa o encontro da linha de líquido saturado com a de
vapor saturado. Os valores de pressão e temperatura críticas são tabelados. Apenas como exemplo, para
a água, a pressão no ponto crítico é de aproximadamente 22,1 MPa, enquanto a temperatura crítica é
de aproximadamente 374 °C.
Ponto crítico Ponto crítico
T p
Vapor Vapor
superaquecido superaquecido
ido
com quido
prim

Linha de vapor
p = constante saturado

comprimido
Líquido
Mistura Linha de vapor Mistura
saturada saturada T = constante
saturado

Linha de líquido Linha de líquido


saturado saturado
ϑ ϑ

Figura 6 – Representação esquemática dos diagramas de fase de uma substância pura. À esquerda, diagrama de fase
temperatura‑volume específico. À direita, diagrama de fase pressão‑volume específico

2.3 Energia interna

Uma substância é composta de diversas moléculas que se movimentam à medida que a temperatura
varia. Considerando o zero absoluto, não haverá nenhum movimento molecular, mas à medida que a
temperatura aumentar, as moléculas se movimentarão cada vez mais rápido.

A quantidade de energia térmica que uma substância tem é denominada energia interna (U). Para
a Termodinâmica, é muito comum trabalhar com variáveis específicas, por exemplo, a energia interna
específica (u). Partindo da ideia do título mencionada anteriormente e reproduzindo o desenvolvimento
matemático realizado para o volume, a energia interna específica será definida por:

u = ul + x (uv – ul)

Onde uI indica a energia interna específica da fração líquida da mistura e uv indica a energia interna
específica da fração de vapor da mistura. Como se trata de uma energia, a unidade utilizada para
qualquer tipo de energia é o joule (J). Porém, como se trata de uma energia específica e como a unidade
de joule é pequena, a unidade de energia interna específica será o quilojoule por quilograma (kJ/kg).

34
TERMODINÂMICA BÁSICA

Exemplo de aplicação

Considere um processo que ocorre a pressão constante, onde 0,7 kg de água, que ocupa 3% da
unidade de volume de um cilindro e está a 100 °C, é aquecido até 300 °C. Determine a variação da
energia interna.

Solução

Na primeira etapa do exercício, deve‑se determinar o valor do título. Para isso, o volume específico
do estado inicial da água deve ser determinado. Observe que o volume da água será 3% de 1 m3, ou
seja, 0,03 m3.


ϑ1 =
m

0,03
ϑ1 =
7

ϑ1 = 0,0428 m3 / kg

Através da Tabela 5 e considerando o estado 1 (100 °C):

Volume específico (m3/kg) Energia interna (kJ/kg)


T (ºC) p (kPa) Líquido Vapor saturado Líquido Vapor
Evaporação (uIv)
saturado (ϑI) (ϑv) saturado (uI) saturado (uv)
100 101,3 0,001044 1,6729 418,91 2087,58 2506,5

Os valores obtidos para os volumes específicos são ϑI = 0,001044 m3/kg e ϑv = 1,6729 m3/kg. Note
que o valor encontrado para o estado 1 se situa entre a fase líquida e a fase gasosa, ou seja, é uma
mistura saturada. Assim, o título será:

ϑ = ϑl + x (ϑl - ϑv)

ϑ1 − ϑl
x=
ϑ v − ϑl

0,0428 − 0,001044
x=
1,6729 − 0,001044

x = 0,025

35
Unidade I

A partir da definição do título, pode‑se definir a energia interna. Para água a 100 °C, verifica‑se que
os valores da energia interna específica serão: uI = 418,91 kJ/kg e uv = 2506,5 kJ/kg.

u1 = ul + x (uv – ul)

u1 = 418,91 + 0,025 (2506,5 – 418,91)

u1 = 471,10 kJ/kg

Esse valor define a energia interna para a mistura que se formou no estado 1. Para o estado 2, houve
aquecimento até 300 °C e a pressão é de 100 kPa (assume‑se próximo a pressão atmosférica, quando
não mencionada).

p = 100 kPa (45,81)


T (ºC)
ϑ (m3/kg) u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
300 2,63876 2810,41 3074,28 8,2157

A energia interna específica (Tabela 4) será de: u = 2810,41 kJ/kg. A variação da energia interna é
dada por:

∆U = m (u2 – u1)

∆U = 0,7 (2810,41 – 471,10)

∆U = 1638 J

2.4 Entalpia

Máquinas térmicas são dispositivos que transformam a energia térmica em algum tipo de energia,
por exemplo, uma turbina transforma a energia térmica do vapor em energia elétrica, através de um
eixo rotativo. Sempre que um dispositivo envolve um fluido de trabalho, há o uso das propriedades
termodinâmicas U + p∀, que definem a entalpia (H):

H = U + p∀

Para fluido em escoamento, a entalpia indica toda a quantidade de energia útil em uma substância.
A entalpia pode ser escrita como uma variável específica. Assim, a entalpia específica será:

h = u + pϑ

Observe que as tabelas (água saturada e vapor superaquecido) apresentadas na sequência


apresentam os valores para as propriedades estudadas até o momento: volume específico, energia
interna e entalpia. Tais tabelas são apresentadas em função da temperatura do fluido de estudo.
36
TERMODINÂMICA BÁSICA

Exemplo de aplicação

Considere um pistão que mantém 3 kg de água saturada, a pressão constante, em um volume de


0,5 m3. Se a temperatura da água for aumentada de 45 °C para 700 °C, qual será a variação da entalpia?

Solução

O primeiro passo é definir a entalpia inicial da água saturada.

Observe a Tabela 6 e considere a temperatura de 45 °C:

Entalpia (kJ/kg) Entropia (kJ/kgK)


T (ºC) p (kPa) Líquido Vapor Líquido Vapor
Evap. (hIv) Evap. (sIv)
saturado (hI) saturado (hv) saturado (sI) saturado (sv)
45 9,593 188,42 2394,77 2583,19 0,6386 7,5261 8,1647

A entalpia da fração líquida será de h1 = 188,42 kJ/kg, enquanto a pressão de saturação será
psat = 9.593 kPa. Como a pressão está próximo de 10 kPa, com o auxílio da Tabela 7 e considerando a
temperatura de 700 °C, a entalpia será de h2 = 3928,73 kJ/kg.

p = 10 kPa (45,81)
T (ºC)
ϑ (m3/kg) u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
700 44,91052 3479,63 3928,73 10,4028

Assim, a variação da entalpia será:

∆H = m(h2 – h1)

∆H = 3(3928,73 – 188,42)

∆H = 11221 kJ

Fique atento para trabalhar com a Tabela 7, pois você sempre irá precisar da pressão para
localizar a microtabela que será utilizada e, depois, deverá procurar a temperatura requerida
pelo exercícios. Com o cruzamento das informações pressão e temperatura, os valores desejados
poderão ser obtidos.

37
Unidade I

Tabela 6 – Água saturada: entalpia e entropia, em função da temperatura

Água saturada
Entalpia (kJ/kg) Entropia (kJ/kgK)
T (ºC) p (kPa) Líquido Vapor Líquido Vapor
Evap. (hIv) Evap. (sIv)
saturado (hI) saturado (hv) saturado (sI) saturado (sv)
0,01 0,6113 0 2501,35 2501,35 0 9,15662 9,15662
5 0,8721 20,98 2489,57 2510,54 0,0761 8,9496 9,0257
10 1,2276 41,99 2477,75 2519,74 0,151 8,7498 8,9007
15 1,705 62,98 2465,93 2528,91 0,2245 8,5569 8,7813
20 2,339 83,94 2454,12 2538,06 0,2966 8,3706 8,6671
25 3,169 104,87 2442,3 2547,17 0,3673 8,1905 8,5579
30 4,246 125,77 2430,48 2556,25 0,4369 8,0164 8,4533
35 5,628 146,66 2418,62 2565,28 0,5052 7,8478 8,353
40 7,384 167,54 2406,72 2574,26 0,5724 7,6845 8,2569
45 9,593 188,42 2394,77 2583,19 0,6386 7,5261 8,1647
50 12,35 209,31 2382,75 2592,06 0,7037 7,3725 8,0762
55 15,758 230,2 2370,66 2600,86 0,7679 7,2234 7,9912
60 19,941 251,11 2358,48 2609,59 0,8311 7,0784 7,9095
65 25,03 272,03 2346,21 2618,24 0,8934 6,9375 7,8309
70 31,19 292,96 2333,85 2626,8 0,9548 6,8004 7,7552
75 38,58 313,91 2321,37 2635,28 1,0154 6,667 7,6824
80 47,39 334,88 2308,77 2643,66 1,0752 6,5369 7,6121
85 57,83 355,88 2296,05 2651,93 1,1342 6,4102 7,5444
90 70,14 376,9 2283,19 2660,09 1,1924 6,2866 7,479
95 84,55 397,94 2270,19 2668,13 1,25 6,1659 7,4158
100 101,3 419,02 2257,03 2676,05 1,3068 6,048 7,3548
120 198,5 503,69 2202,61 2706,3 1,5275 5,602 7,1295
130 270,1 546,29 2174,16 2720,46 1,6343 5,3925 7,0269
140 361,3 589,11 2144,75 2733,87 1,739 5,1908 6,9298
150 475,9 632,18 2114,26 2746,44 1,8417 4,996 6,8378
160 617,8 675,53 2082,55 2758,09 1,9426 4,8075 6,7501
170 791,7 719,2 2049,5 2768,7 2,0418 4,6244 6,6663
180 1002,2 763,21 2014,96 2778,16 2,1395 4,4461 6,5857
190 1254,4 807,61 1978,76 2786,37 2,2358 4,272 6,5078
200 1553,8 852,43 1940,75 2793,18 2,3308 4,1014 6,4322
220 2317,8 943,61 1858,51 2802,12 2,5177 3,7683 6,286
240 3344,2 1037,31 1766,5 2803,81 2,7015 3,4422 6,1436
260 4688,6 1134,35 1662,54 2796,89 2,8837 3,1181 6,0018
280 6411,7 1235,97 1543,55 2779,53 3,0667 2,7903 5,857
300 8581 1344,01 1404,93 2748,94 3,2533 2,4511 5,7044
320 11274 1461,45 1238,64 2700,08 3,4479 2,0882 5,5361

38
TERMODINÂMICA BÁSICA

340 14586 1594,15 1027,86 2622,01 3,6593 1,6763 5,3356


360 18651 1760,48 720,52 2481 3,9146 1,1379 5,0525
370 21028 1890,37 441,75 2332,12 4,1104 0,6868 4,7972
374,1 22089 2099,26 0 2099,26 4,4297 0 4,4297

Fonte: Borgnakke e Sonntag (2009, p. 576‑577).

Tabela 7 – Propriedades do vapor saturado em função da temperatura

Vapor superaquecido
p = 10 kPa (45,81) p = 50 kPa (81,33)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 14,67355 2437,89 2584,63 8,1501 3,24034 2483,85 2645,87 7,5939
50 14,8692 2443,87 2592,56 8,1749 ‑ ‑ ‑ ‑
100 17,19561 2515,5 2687,46 8,4479 3,41833 2511,61 2682,52 7,6947
150 19,51251 2587,86 2782,99 8,6881 3,88937 2585,61 2780,08 7,94
200 21,82507 2661,27 2879,52 8,9037 4,35595 2659,85 2877,64 8,1579
250 24,13559 2735,95 2977,31 9,1002 4,82045 2734,97 2975,99 8,3555
300 26,44508 2812,06 3076,51 9,2812 5,28391 2811,33 3075,52 8,5372
400 31,06252 2968,89 3279,51 9,6076 6,20929 2968,43 3278,89 8,8641
500 35,67896 3132,26 3489,05 9,8977 7,13364 3131,94 3488,62 9,1545
600 40,29488 3302,45 3705,4 10,1608 8,05748 3302,22 3705,1 9,4177
700 44,91052 3479,63 3928,73 10,4028 8,98104 3479,45 3928,51 9,6599
800 49,52599 3663,84 4159,1 10,6281 9,90444 3663,7 4158,92 9,8852
900 54,14137 3855,03 4396,44 10,8395 10,82773 3854,91 4396,3 10,0967
1000 58,75669 4053,01 4640,58 11,0392 11,75097 4052,91 4640,46 10,2964
1100 63,37198 4257,47 4891,19 11,2287 12,67418 4257,37 4891,08 10,4858
1200 67,98724 4467,91 5147,78 11,409 13,59737 4467,82 5147,69 10,6662
1300 72,6025 4683,68 5409,7 14,581 14,52054 4683,58 5409,61 10,8382
p = 100 kPa (99,62) p = 200 kPa (120,23)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 1,694 2506,06 2675,46 7,3593 0,88573 2529,49 2706,63 7,1271
150 1,93636 2582,75 2776,38 7,6133 0,95964 2576,87 2768,8 7,2795
200 2,17226 2658,05 2875,27 7,8342 1,08034 2654,39 2870,46 7,5066
250 2,40604 2733,73 2974,33 8,0332 1,1988 2731,22 2970,98 7,7085
300 2,63876 2810,41 3074,28 8,2157 1,31616 2808,55 3071,79 7,8926
400 3,10263 2967,85 3278,11 8,5434 1,5493 2966,69 3276,55 8,2217
500 3,56547 3131,54 3488,09 8,8341 1,78139 3130,75 3487,03 8,5132
600 4,02781 3301,94 3704,72 9,0975 2,01297 3301,36 3703,96 8,7769
700 4,48986 3479,24 3928,23 9,3398 2,24426 3478,81 3927,66 9,0194
800 4,95174 3663,53 4158,71 9,5652 2,47539 3663,19 4158,27 9,245
900 5,41353 3854,77 4396,12 9,7767 2,70643 3854,49 4395,77 9,4565

39
Unidade I

1000 5,87526 4052,78 4640,31 9,9764 2,9374 4052,53 4640,01 9,6563


1100 6,33696 4257,25 4890,95 10,1658 3,16834 4257,01 4890,68 9,8458
1200 6,79863 4467,7 5147,56 10,3462 3,39927 4467,46 5147,32 10,0262
1300 7,2603 4683,47 5409,49 10,5182 3,63018 4683,23 5409,26 10,1982
p = 300 kPa (133,55) p = 400 kPa (143,63)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,60582 2543,55 2725,3 6,9918 0,46246 2553,55 2738,53 6,8958
150 0,63388 2570,79 2760,95 7,0778 0,47084 2564,48 2752,82 6,9299
200 0,71629 2650,65 2865,54 7,3115 0,53422 2646,83 2860,51 7,1706
250 0,79636 2728,69 2967,59 7,5165 0,59512 2726,11 2964,16 7,3788
300 0,87529 2806,69 3069,28 7,7022 0,65484 2804,81 3066,75 7,5661
400 1,03151 2965,53 3274,98 8,0329 0,77262 2964,36 3273,41 7,8984
500 1,18669 3129,95 3485,96 8,325 0,88934 3129,15 3484,89 8,1912
600 1,34136 3300,79 3703,2 8,5892 1,00555 3300,22 3702,44 8,4557
700 1,49573 3478,38 3927,1 8,8319 1,12147 3477,95 3926,53 8,6987
800 1,64994 3662,85 4157,83 9,0575 1,23722 3662,51 4157,4 8,9244
900 1,80406 3854,2 4395,42 9,2691 1,35288 3853,91 4395,06 9,1361
1000 1,95812 4052,27 4639,71 9,4689 1,46847 4052,02 4639,41 9,336
1100 2,11214 4256,77 4890,41 9,6585 1,58404 4256,53 4890,15 9,5255
1200 2,26614 4467,23 5147,07 9,8389 1,69958 4466,99 5146,83 9,7059
1300 2,42013 4682,99 5409,03 10,0109 1,81511 4682,75 5408,8 9,878
p = 500 kPa (151,86) p = 600 kPa (158,85)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,37489 2561,23 2748,67 6,8212 0,31567 2567,4 2756,8 6,76
200 0,42492 2642,91 2855,37 7,0592 0,35202 2638,91 2850,12 6,9665
250 0,47436 2723,5 2960,68 7,2708 0,39383 2720,86 2957,16 7,1816
300 0,52256 2802,91 3064,2 7,4598 0,43437 2801 3061,63 7,3723
350 0,57012 2882,59 3167,65 7,6328 0,47424 2881,12 3165,66 7,5463
400 0,61728 2963,19 3271,83 7,7937 0,51372 2962,02 3270,25 7,7078
500 0,71093 3128,35 3483,82 8,0872 0,59199 3127,55 3482,75 8,002
600 0,80406 3299,64 3701,67 8,3521 0,66974 3299,07 3700,91 8,2673
700 0,89691 3477,52 3925,97 8,5952 0,7472 3477,08 3925,41 8,5107
800 0,98959 3662,17 4156,96 8,8211 0,8245 3661,83 4156,52 8,7367
900 1,08217 3853,63 4394,71 9,0329 0,90169 3853,34 4394,36 8,9485
1000 1,17469 4051,76 4639,11 9,2328 0,97883 4051,51 4638,81 9,1484
1100 1,26718 4256,29 4889,88 9,4224 1,05594 4256,05 4889,61 9,3381
1200 1,35964 4466,76 5146,58 9,6028 1,13302 4466,52 5146,34 9,5185
1300 1,4521 4682,52 5408,57 9,7749 1,21009 4682,28 5408,34 9,6906
p = 800 kPa (170,43) p = 1000 kPa (179,91)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,24043 2576,79 2769,13 6,6627 0,19444 2583,64 2778,08 6,5864
200 0,2608 2630,61 2839,25 6,8158 0,20596 2621,9 2827,86 6,6939

40
TERMODINÂMICA BÁSICA

250 0,29314 2715,46 2949,97 7,0384 0,23268 2709,91 2942,59 6,9246


300 0,32411 2797,14 3056,43 7,2327 0,25794 2793,21 3051,15 7,1228
350 0,35439 2878,16 3161,68 7,4088 0,28247 2875,18 3157,65 7,301
400 0,38426 2959,66 3267,07 7,5715 0,30659 2957,29 3263,88 7,465
500 0,44331 3125,95 3480,6 7,8672 0,35411 3124,34 3478,44 7,7621
600 0,50184 3297,91 3699,38 8,1332 0,40109 3296,76 3697,85 8,0289
700 0,56007 3476,22 3924,27 8,377 0,44779 3475,35 3923,14 8,2731
800 0,61813 3661,14 4155,65 8,6033 0,49432 3660,46 4154,78 8,4996
900 0,6761 3852,77 4393,65 8,8153 0,54075 3852,19 4392,94 8,7118
1000 0,73401 4051 4638,2 9,0153 0,58712 4050,49 4637,6 8,9119
1100 0,79188 4255,57 4889,08 9,2049 0,63345 4255,09 4888,55 9,1016
1200 0,84974 4466,05 5145,85 9,3854 0,67977 4465,58 5145,36 9,2821
1300 0,90758 4681,81 5407,87 9,5575 0,72608 4681,33 5407,41 9,4542
p = 1200 kPa (187,99) p = 1400 kPa (195,07)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,16333 2588,82 2784,82 6,5233 0,14084 2592,83 2790,00 6,4692
200 0,1693 2612,74 2815,9 6,5898 0,14302 2603,09 2803,32 6,4975
250 0,19235 2704,2 2935,01 6,8293 0,1635 2698,32 2927,22 6,7467
300 0,21382 2789,22 3045,8 7,0316 0,18228 2785,16 3040,35 6,9533
350 0,23452 2872,16 3153,59 7,212 0,20026 2869,12 3149,49 7,1359
400 0,2548 2954,9 3260,66 7,3773 0,2178 2952,5 3257,42 7,3025
500 0,29463 3122,72 3476,28 7,6758 0,25215 3121,1 3474,11 7,6026
600 0,33393 3295,6 3696,32 7,9434 0,28596 3294,44 3694,78 7,871
700 0,37294 3474,48 3922,01 8,1881 0,31947 3473,61 3920,87 8,116
800 0,41177 3659,77 4153,9 8,4149 0,3528 3659,09 4153,03 8,3431
900 0,45051 3851,62 4392,23 8,6272 0,38606 3851,05 4391,53 8,5555
1000 0,48919 4049,98 4637 8,8274 0,41924 4049,47 4636,41 8,7558
1100 0,52783 4254,61 4888,02 9,0171 0,45239 4254,14 4887,49 8,9456
1200 0,56646 4465,12 5144,87 9,1977 0,48552 4464,65 5144,38 9,1262
1300 0,60507 4680,86 5406,95 9,3698 0,51864 4680,39 5406,49 9,2983
p = 1600 kPa (201,40) p = 1800 kPa (207,15)
T (ºC)
ϑ (m3/kg) u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m3/kg) u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,1238 2595,95 2794,02 6,4217 0,11042 2598,38 2797,13 6,3793
250 0,14184 2692,26 2919,2 6,6732 0,12497 2686,02 2910,96 6,6066
300 0,15862 2781,03 3034,83 6,8844 0,14021 2776,83 3029,21 6,8226
350 0,17456 2866,05 3145,35 7,0693 0,15457 2862,95 3141,18 7,0099
400 0,19005 2950,09 3254,17 7,2373 0,16847 2947,66 3250,9 7,1793
450 ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
500 0,22029 3119,47 3471,93 7,5389 0,1955 3117,84 3469,75 7,4824
600 0,24998 3293,27 3693,23 7,808 0,22199 3292,1 3691,69 7,7523
700 0,27937 3472,74 3919,73 8,0535 0,24818 3471,87 3918,59 7,9983
800 0,30859 3658,4 4152,15 8,2808 0,2742 3657,71 4151,27 8,2258

41
Unidade I

900 0,33772 3850,47 4390,82 8,4934 0,30012 3849,9 4390,11 8,4386


1000 0,36678 4048,96 4635,81 8,6938 0,32598 4048,45 4635,21 8,639
1100 0,39581 4253,66 4886,95 8,8837 0,3518 4253,18 4886,42 8,829
1200 0,42482 4464,18 5143,89 9,0642 0,37761 4463,71 5143,4 9,0096
1300 0,45382 4679,92 5406,02 9,2364 0,4034 4679,44 5405,56 9,1817
p = 2000 kPa (212,42) p = 2500 kPa (223,99)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,09963 2600,26 2799,51 6,3408 0,07998 2603,13 2803,07 6,2574
250 0,11144 2679,58 2902,46 6,5452 0,087 2662,55 2880,06 6,4084
300 0,12547 2772,56 3023,5 6,7663 0,0989 2761,56 3008,81 6,6437
350 0,13857 2859,81 3136,96 6,9562 0,10976 2851,84 3126,24 6,8402
400 0,1512 2945,21 3247,6 7,127 0,1201 2939,03 3239,28 7,0147
450 0,16353 3030,41 3357,48 7,2844 0,13014 3025,43 3350,77 7,1745
500 0,17568 3116,2 3467,55 7,4316 0,13998 3112,08 3462,04 7,3233
600 0,1996 3290,93 3690,14 7,7023 0,1593 3287,99 3686,25 7,596
700 0,22323 3470,99 3917,45 7,9487 0,17832 3468,8 3914,59 7,8435
800 0,24668 3657,03 4150,4 8,1766 0,19716 3655,3 4148,2 8,072
900 0,27004 3849,33 4389,4 8,3895 0,2159 3847,89 4387,64 8,2853
1000 0,29333 4047,94 4634,61 8,59 0,23458 4046,67 4633,12 8,486
1100 0,31659 4252,71 4885,89 8,78 0,25322 4251,52 4884,57 8,6761
1200 0,33984 4463,25 5142,92 8,9606 0,27185 4462,08 5141,7 8,8569
1300 0,36306 4678,97 5405,1 9,1328 0,29046 4677,8 5403,95 9,0291
p = 3000 kPa (233,90) p = 4000 kPa (250,40)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,06668 2604,1 2804,14 6,1869 0,04978 2602,27 2801,38 6,07
250 0,07058 2644 2855,75 6,2871 ‑ ‑ ‑ ‑
300 0,08114 2750,05 2993,48 6,5389 0,05884 2725,33 2960,68 6,3614
350 0,09053 2843,66 3115,25 6,7427 0,06645 2826,65 3092,43 6,582
400 0,09936 2932,75 3230,82 6,9211 0,07341 2919,88 3213,51 6,7689
450 0,10787 3020,38 3344 7,0833 0,08003 3010,13 3330,23 6,9362
500 0,11619 3107,92 3456,48 7,2337 0,08643 3099,49 3445,21 7,09
600 0,13243 3285,03 3682,34 7,5084 0,09885 3279,06 3674,44 7,3688
700 0,14838 3466,59 3911,72 7,7571 0,11095 3462,15 3905,94 7,6198
800 0,16414 3653,58 4146 7,9862 0,12287 3650,11 4141,59 7,8502
900 0,1798 3846,46 4385,87 8,1999 0,13469 3843,59 4382,34 8,0647
1000 0,19541 4045,4 4631,63 8,4009 0,14645 4042,87 4628,65 8,2661
1100 0,21098 4250,33 4883,26 8,5911 0,15817 4247,96 4880,63 8,4566
1200 0,22652 4460,92 5140,49 8,7719 0,16987 4458,6 5138,07 8,6376
1300 0,24206 4676,63 5402,81 8,9442 0,18156 4674,29 5400,52 8,8099
p = 5000 kPa (263,99) p = 6000 kPa (275,64)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,03944 2597,12 2794,33 5,9733 0,03244 2589,69 2784,33 5,8891

42
TERMODINÂMICA BÁSICA

300 0,04532 2697,94 2924,53 6,2083 0,03616 2667,22 2884,19 6,0673


350 0,05194 2808,67 3068,39 6,4492 0,04223 2789,61 3042,97 6,3334
400 0,05781 2906,58 3195,64 6,6458 0,04739 2892,81 3177,17 6,5407
450 0,0633 2999,64 3316,15 6,8185 0,05214 2988,9 3301,76 6,7192
500 0,06857 3090,92 3433,76 6,9758 0,05665 3082,2 3422,12 6,8802
550 0,07368 3181,82 3550,23 7,1217 0,06101 3174,57 3540,62 7,0287
600 0,07869 3273,01 3666,47 7,2588 0,06525 3266,89 3658,4 7,1676
700 0,08849 3457,67 3900,13 7,5122 0,07352 3453,15 3894,28 7,4234
800 0,09811 3646,62 4137,17 7,744 0,0816 3643,12 4132,74 7,6566
900 0,10762 3840,71 4378,82 7,9593 0,08958 3837,84 4375,29 7,8727
1000 0,11707 4040,35 4625,69 8,1612 0,09749 4037,83 4622,74 8,0751
1100 0,12648 4245,61 4878,02 8,3519 0,10536 4243,26 4875,42 8,2661
1200 0,13587 4456,3 5135,67 8,533 0,11321 4454 5133,28 8,4473
1300 0,14526 4671,96 5398,24 8,7055 0,12106 4669,64 5395,97 8,6199
p = 8000 kPa (295,06) p = 10000 kPa (311,06)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,02352 2569,79 2757,94 5,7431 0,01803 2544,41 2724,67 5,614
300 0,02426 2590,93 2784,98 5,7905 0,02242 2699,16 2923,39 5,9442
350 0,02995 2747,67 2987,3 6,13 0,02641 2832,38 3096,46 6,2119
400 0,03432 2863,75 3138,28 6,3633 0,02975 2943,32 3240,83 6,4189
450 0,03817 2966,66 3271,99 6,555 0,03279 3045,77 3373,63 6,5965
500 0,04175 3064,3 3398,27 6,7239 0,03564 3144,54 3500,92 6,7561
550 0,04516 3159,76 3521,01 6,8778 0,03837 3241,68 3625,34 6,9028
600 0,04845 3254,43 3642,03 7,0205 ‑ ‑ ‑ ‑
700 0,05481 3444 3882,47 7,2812 0,04358 3434,72 3870,52 7,1687
800 0,06097 3636,08 4123,84 7,5173 0,04859 3628,97 4114,91 7,4077
900 0,06702 3832,08 4368,26 7,735 0,05349 3826,32 4361,24 7,6272
1000 0,07301 4032,81 4616,87 7,9384 0,05832 4027,81 4611,04 7,8315
1100 0,07896 4238,6 4870,25 8,1299 0,06312 4233,97 4865,14 8,0236
1200 0,08489 4449,45 5128,54 8,3115 0,06789 4444,93 5123,84 8,2054
1300 0,0908 4665,02 5391,46 8,4842 0,07265 4660,44 5386,99 8,3783
p = 15000 kPa (342,24) p = 20000 kPa (365,81)
T (ºC)
ϑ (m3/kg) u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m3/kg) u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
Sat. 0,01034 2455,43 2610,49 5,3097 0,00583 2293,05 2409,74 4,9269
350 0,01147 2520,36 2692,41 5,442 ‑ ‑ ‑ ‑
400 0,01565 2740,7 2975,44 5,881 0,00994 2619,22 2818,07 5,5539
450 0,01845 2879,47 3156,15 6,1403 0,0127 2806,16 3060,06 5,9016
500 0,0208 2996,52 3308,53 6,3442 0,01477 2942,82 3238,18 6,14
550 0,02293 3104,71 3448,61 6,5198 0,01656 3062,34 3393,45 6,3347
600 0,02491 3208,64 3582,3 6,6775 0,01818 3174 3537,57 6,5048
650 0,0268 3310,37 3712,32 6,8223 0,01969 3281,46 3675,32 6,6582
700 0,02861 3410,94 3840,12 6,9572 0,02113 3386,46 3809,09 6,7993

43
Unidade I

800 0,0321 3610,99 4092,43 7,204 0,02385 3592,73 4069,80 7,0544


900 0,03546 3811,89 4343,75 7,4279 0,02645 3797,44 4326,37 7,283
1000 0,03875 4015,41 4596,63 7,6347 0,02897 4003,12 4582,45 7,4925
1100 0,042 4222,55 4852,56 7,8282 0,03145 4211,3 4840,24 7,6874
1200 0,04523 4433,78 5112,27 8,0108 0,03391 4422,81 5100,96 7,8706
1300 0,04845 4649,12 5375,94 8,1839 0,03636 4637,95 5365,1 8,0441
p = 30000 kPa p = 40000 kPa
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK) ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
375 0,001789 1737,75 1791,43 3,9303 0,001641 1677,09 1742,71 3,8289
400 0,00279 2067,34 2151,04 4,4728 0,001908 1854,52 1930,83 4,1134
425 0,005304 2455,06 2614,17 5,1503 0,002532 2096,83 2198,11 4,5028
450 0,006735 2619,3 2821,35 5,4423 0,003693 2365,07 2512,79 4,9459
500 0,008679 2820,67 3081,03 5,7904 0,005623 2678,36 2903,26 5,4699
550 0,010168 2970,31 3275,36 6,0342 0,006984 2869,69 3149,05 5,7784
600 0,011446 3100,53 3443,91 6,233 0,008094 3022,61 3346,38 6,0113
650 0,012596 3221,04 3598,93 6,4057 0,009064 3158,04 3520,58 6,2054
700 0,013661 3335,84 3745,67 6,5606 0,009942 3283,63 3681,29 6,375
800 0,015623 3555,6 4024,31 6,8332 0,011523 3517,89 3978,8 6,6662
900 0,017448 3768,48 4291,93 7,0717 0,012963 3739,42 4257,93 6,915
1000 0,019196 3978,79 4554,68 7,2867 0,014324 3954,64 4527,59 7,1356
1100 0,020903 4189,18 4816,28 7,4845 0,015643 4167,38 4793,08 7,3364
1200 0,022589 4401,29 5078,97 7,6691 0,01694 4380,11 5057,72 7,5224
1300 0,024266 4615,96 5343,95 7,8432 0,018229 4594,28 5323,45 7,6969

Fonte: Borgnakke e Sonntag (2009, p. 580‑582).

O calor latente já foi estudado, mas agora pode ser definido em função da entalpia. Durante o
processo de mudança de fase de uma substância a pressão constante, a variação da entalpia para a
condição saturada de duas fases é denominada calor latente. A energia necessária para vaporizar ou
condensar uma unidade de massa é hIg = hg – hI. A mesma ideia pode ser utilizada para o calor de fusão
e o calor de sublimação.

3 A EQUAÇÃO PARA O GÁS

Um gás pode ser tratado como ideal ou real, conforme os diversos modelos já estudados em Física ou
Química. Ao iniciar qualquer estudo, sempre existe a necessidade de simplificá‑lo, de modo que seja possível
entender todo o conceito envolvido, bem como os modelos matemáticos apresentados. Na Termodinâmica
não será diferente, ou seja, o estudo do gás será realizado para o modelo ideal. Com isso, através da
análise experimental do comportamento do gás ideal a baixa pressão, obtém‑se um modelo matemático
denominado equação de estado. Dessa forma, para o gás ideal, a equação de estado correlaciona pressão,
volume ou volume específico e temperatura, sendo comumente expressa como a Lei do Gás Ideal:

pϑ = RT

44
TERMODINÂMICA BÁSICA

Onde p representa a pressão absoluta do gás, ϑ representa o volume específico, R representa a


constante do gás e T representa a sua temperatura absoluta.

Lembrete

Uma equação de estado é uma representação algébrica que relaciona,


ao menos, duas propriedades termodinâmicas.

Observação

Cuidado ao trabalhar com a constante do gás (R). Um erro comum é


utilizar a constante universal dos gases (Ru) no lugar da constante do gás.

A constante do gás será diferente para cada tipo de gás estudado. Assim, a relação entre as constantes
mencionadas será:

Ru
R=
M

Onde M representa a massa molar do gás, conforme apresentado na Tabela 8. Mas como utilizar a
massa molar? Por exemplo, lembre‑se de que em um quilomol (kmol) de nitrogênio existem 28,01 kg,
afinal a sua massa molar é 28,01. Utiliza‑se a relação kmol – kg devido à constante universal dos gases,
pois o seu valor é Ru = 8,314 kJ/kmol ⋅ K.

Tabela 8 – Propriedades de alguns gases ideais a 25 °C (298 K)

Gás Fórmula química Massa molar


Ar ‑ 28,97
Argônio Ar 39,95
Butano C4H10 58,12
Dióxido de carbono CO2 44,01
Monóxido de carbono CO 28,01
Etano C2H6 30,07
Etileno C2H4 28,05
Hélio He 4,00
Hidrogênio H2 2,02
Metano CH4 16,04
Neon Ne 20,18
Nitrogênio N2 28,01
Octano C8H18 114,23

45
Unidade I

Oxigênio O2 32,00
Propano C3H8 44,1
Vapor H2O 18,02

Adaptada de: Kross e Potter (2015, p. 462).

É possível visualizar a Lei do Gás Ideal em diferentes modelos matemáticos:

p∀ = mRT

p = ρRT

p∀ = NRuT

Onde ∀ representa o volume do gás, ρ representa a sua massa específica e N representa a


quantidade de mols (kmol). Qualquer equação apresentada anteriormente pode ser utilizada para
o gás ideal. O que vai definir qual será o melhor modelo a utilizar são as variáveis expressas no
exercício ou experimento.

Exemplo de aplicação

Em uma pequena sala de análise de substâncias biológicas há 12 kg de oxigênio. A sala apresenta


1 m de comprimento, 90 cm de largura e 2,5 m de altura. Determine a pressão da sala, caso a sua
temperatura seja de 25 °C.

Solução

Observe que a massa foi apresentada no enunciado, indicando a escolha da equação da Lei
do Gás Ideal que correlacione todas as variáveis apresentadas (massa, volume e temperatura) e a
requerida (pressão).

A temperatura em Celsius deve ser convertida para a temperatura absoluta:

TK = TC + 273

TK = 25 + 273

TK = 298 K

O volume da sala deve ser determinado:

∀=l×c×h

46
TERMODINÂMICA BÁSICA

∀ = 0,9 × 1,0 × 2,5

∀ = 2,25 m3

Finalmente, a constante do gás pode ser definida. Observando a Tabela 6, verifica‑se que a massa
molar do oxigênio é 32:

Ru
RO2 =
M

8,314
RO2 =
32

RO2 = 0,260 kJ / kgK

Com todas as informações calculadas, pode‑se definir a pressão requerida:

p∀ = mRT

mRT
p=

12 × 0,260 × 298
p=
2,25

p = 413,2 kPa

Caso um gás real seja considerado, é possível utilizar a Lei do Gás Ideal?

O modelo do gás ideal poderá ser utilizado para o gás real, mas um fator de compressibilidade
(Z) deverá ser considerado. O fator de compressibilidade para um gás ideal é 1, mas para o gás real é
definido por:


Z=
RT

Os valores do fator de compressibilidade podem ser obtidos de gráficos, os quais não serão
apresentados neste livro e são expressos conforme a temperatura reduzida (TR), a pressão reduzida (pR) e
o volume específico pseudorreduzido (ϑR). Todas as propriedades reduzidas são expressas por:

47
Unidade I

p
pR =
pcr

T
TR =
Tcr

ϑ
ϑR =
RTcr / pcr

As constantes do ponto crítico (Tcr, pcr, ϑcr) podem ser observadas na Tabela 8. O volume específico
ϑ
pseudorreduzido é determinado por ϑR = . A figura que segue apresenta o fator de
ϑ cr
compressibilidade de diversos gases em função da pressão reduzida.

Tabela 9 – Ponto crítico de diversas substâncias

Peso Pressão Volume específico


Substância Fórmula Temperatura (K)
molecular (MPa) (m3/kg)
Amônia NH4 17,031 405,5 11,35 0,00426
Argônio Ar 39,948 150,8 4,87 0,00188
Dióxido de carbono CO2 44,01 304,1 7,38 0,00212
Monóxido de carbono CO 28,01 132,9 3,5 0,00333
Cloro Cl2 70,906 416,9 7,98 0,00175
Hélio He 4,003 5,19 0,227 0,0143
Hidrogênio (normal) H2 2,016 33,2 1,3 0,0323
Neônio Ne 20,183 44,4 2,76 0,00206
Óxido nítrico NO 30,006 180 6,48 0,00192
Nitrogênio N2 28,013 126,2 3,39 0,0032
Dióxido de nitrogênio NO2 46,006 431 10,1 0,00365
Óxido nitroso N2O 44,013 309,6 7,24 0,00221
Oxigênio O2 31,999 154,6 5,04 0,00229
Dióxido de enxofre SO2 64,063 430,8 7,88 0,00191
Água H2O 18,015 647,3 22,12 0,00317
Xenônio Xe 131,3 289,7 5,84 0,000902
Acetileno C2H2 26,038 308,3 6,14 0,00433
Benzeno C6H6 78,114 562,2 4,89 0,00332
n‑Butano C4H10 58,124 425,2 3,8 0,00439
Difluorcloroetanoa (142b) CH3CCLF2 100,495 410,3 4,25 0,0023
Difluorclorometano (22) CHCLF2 86,469 369,3 4,97 0,00191
Diclorofluoretanoa (141) CH3CCL2F 116,95 481,5 4,54 0,00215

48
TERMODINÂMICA BÁSICA

Diclorotrifluoretanoa CHCL2CF3 152,93 456,9 3,67 0,00182


(123)
Difluoretanoa (152a) CHF2CH3 66,05 386,4 4,52 0,00272
Difluormetanoa (32) CF2H2 52,024 351,3 5,78 0,00236
Etano C2H6 30,07 305,4 4,88 0,00493
Álcool etílico (etanol) C2H5OH 46,069 513,9 6,14 0,00363
Etileno C2H4 28,054 282,4 5,04 0,00465
Metano CH4 16,043 190,4 4,6 0,00615
n‑Pentano C5H16 72,151 469,7 3,37 0,00421
Propano C3H8 44,094 369,8 4,25 0,00454
Propeno C3H6 42,081 364,9 4,6 0,0043
Refrigerante misto R‑410A 72,585 344,5 4,9 0,00218
Tetrafluoretano (134a) CF3CH2F 102,03 374,2 4,06 0,00197

Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 908).

Equações mais complexas podem ser utilizadas para definir o estado do gás real. Também relacionam
pressão, temperatura e volume específico. A primeira equação alternativa à Lei do Gás Ideal será a
equação de Van der Waals:

RT a
p= − 2
ϑ −b ϑ

Com as constantes a e b sendo relacionadas por:

27R2 Tcr2
a=
64pcr

RTcr
b=
8pcr

Os valores dos pontos críticos devem ser retirados da Tabela 9. Na Tabela 10 é possível observar os
valores numéricos das constantes a e b.

49
Unidade I

1,1
1,0 TR = 2,00

0,9
TR = 1,50
0,8

0,7 TR = 1,30
RT
Pv
Z=

0,6 TR = 1,20
Legenda
0,5 Metano Isopentano
TR = 1,10 Etileno n-Heptano
Etano Nitrogênio
0,4 Propano D. Carbono
n-Butano Água
TR = 1,00
0,3 Curvas médias baseadas em
dados para hidrocarbonetos
0,2

0,1
0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0
Pressão reduzida PR

Figura 7 – Fator de compressibilidade para diferentes gases

A segunda possibilidade para definir um gás real é utilizar a equação de Beattie‑Bridgeman. A


diferença em relação à equação de Van der Waals está em sua melhor precisão:

RuT  c   b  A  a
p= 2 
1 − 3   ϑ + B0 1 −   − 02 1 − 
ϑ  ϑT    ϑ  ϑ  ϑ

Os valores das constantes (A0, B0, a, b, c) poderão ser encontrados em tabelas específicas. Para alguns
gases, considere a Tabela 11. A variável ϑ indica o volume molar específico, sendo definido por ϑ = ϑM.

Lembrete

A equação de estado que apresentará o melhor ajuste, em função das


relações reais das propriedades, é a que considera a maior quantidade de
constantes de gás no modelo matemático desenvolvido.

Tabela 10 – Constantes para equação de estado de Van der Waals

Gás a (Pa.m6/kg2) b (m3/kg)


Ar 163 0,00127
Amônia 1468 0,00220
Dióxido de carbono 188,3 0,000972
Monóxido de carbono 188 0,00141

50
TERMODINÂMICA BÁSICA

Freon 12 71,8 0,000803


Hélio 214 0,00587
Hidrogênio 6083 0,0132
Metano 888 0,00266
Nitrogênio 174,7 0,00138
Oxigênio 134,4 0,000993
Propano 481 0,00204
Água 1703 0,00169

Adaptada de: Kross e Potter (2015, p. 462).

Tabela 11 – Constantes para equação de estado de Beattie‑Bridgeman

Gás A0 B0 a b c
Ar 131,84 0,04611 0,01931 0,00110 4,34 . 104
Nitrogênio 136,23 0,05046 0,02617 0,00691 4,20 . 104
Oxigênio 151,09 0,04624 0,02562 0,00421 4,80 . 104
Dióxido de carbono 507,28 0,104760 0,07132 0,07235 6,60 . 105

Fonte: Kross e Potter (2015, p. 62).

Exemplo de aplicação

Um recipiente de 5 m3 é preenchido com 30 kg de nitrogênio a 450 °C. Determine a pressão total do


recipiente utilizando os três modelos apresentados anteriormente.

Solução

Observando a massa molar (Tabela 6) do nitrogênio (28,1) é possível definir qual será a sua constante
de gás:

Ru
RN2 =
M

8,314
RN2 =
28,1

RN2 = 0,296kJ / kgK

Aplicando o primeiro modelo estudado, a Lei do Gás Ideal, verifica‑se que a pressão será:

p∀ = mRT

51
Unidade I

mRT
p=

30 . 0,296 . (450 + 273)


p=
5

p = 1284 kPa

O segundo modelo que será utilizado foi desenvolvido por Van der Waals. Há duas possibilidades
para resolver essa equação. As constantes podem ser determinadas através das equações ou podem
ser obtidas diretamente na Tabela 10. Através da tabela verifica‑se que a = 174,7 Pa ⋅ m6/kg2 e
b = 0,00138 m3/kg. Para calcular as constantes, devem‑se considerar os valores críticos apresentados na
Tabela 7 (Tcr = 126,2 K, pcr = 3,39 MPa).

27R2 Tcr2
a=
64pcr

27 . 2962 .126,22
a=
64 . 3,39 .106

a = 173,65 Pa . m6 / kg2

RTcr
b=
8pcr

296 .126,2
b=
8 . 3,39 .106

b = 0,001377 m3 / kg

Pequenas divergências podem ocorrer entre as constantes calculadas e as constantes apresentadas


pela Tabela 10. Isso acontece pelo uso de modelos numéricos diferentes. Entretanto, como sugestão,
sempre utilize o valor tabelado e deixe o cálculo para o momento no qual não houver acesso à tabela da
constante de Van der Waals. Antes de realizar o cálculo da pressão, deve‑se calcular o volume específico:

∀ 5
ϑ= = = 0,167 m3 / kg
m 30

52
TERMODINÂMICA BÁSICA

A pressão, pelo modelo de Van der Waals, será:

RT a
p= − 2
ϑ −b ϑ

296 ⋅ (450 + 273) 174,7


p= −
0,167 − 0,00138 0,1672

p = 1286 kPa

O terceiro modelo utilizado foi descrito por Beattie‑Bridgeman. Através da Tabela 11, os valores das
constantes são obtidos:

A0 = 136,23

B0 = 0,05046

a = 0,2617

b = 0,00691

c = 4,20 ⋅ 104

O volume molar específico será definido por

ϑ = ϑM = 0,167 ⋅ 28,1 = 4,69 m3 / kmol

Dessa forma:

RuT  c   b  A  a
p= 2 
1 − 3   ϑ + B0 1 −   − 02 1 − 
ϑ  ϑT    ϑ  ϑ  ϑ

8,314 ⋅ (450 + 273)  4,20 ⋅104 


p=  1 − 
4,692  4,69 ⋅ (450 + 273)3 

  0,00691  136,23  0,2617 


4,69 + 0,05046 1 − 4,69   − 2 
1− 
  4,69  4,69 

p = 1290 kPa

53
Unidade I

Lembrete

O modelo matemático desenvolvido por Beattie‑Bridgeman é o


mais preciso.

É possível calcular propriedades como energia interna e entalpia para o gás ideal?

A melhor maneira de definir tais propriedades é utilizar o conceito apresentado anteriormente, os


calores específicos.

Lembrete

A quantidade de energia requerida por uma unidade de massa de


uma substância para que a sua temperatura se eleve um grau é a própria
definição de calor específico.

Duas propriedades independentes, como temperatura e volume específico, são suficientes para
definir o estado de qualquer sistema compressível simples. Dessa forma, a energia interna também pode
ser analisada considerando a temperatura e o volume específico: u (T, ϑ). Como pode ocorrer a variação
da energia interna em função das duas propriedades, a melhor maneira de defini‑la é com o auxílio da
regra da cadeia (muito utilizada em cálculo):

 ∂u   ∂u 
du =   dT +   dϑ
 ∂T  ϑ  ∂ϑ  T

O calor específico a volume constante será definido por:

 ∂u 
cϑ =  
 ∂T  ϑ

Joule verificou experimentalmente que a energia interna não depende da temperatura. Por tal razão,
o segundo termo à direita da equação da variação da energia interna vai a zero:

 ∂u 
  = 0
∂ϑ T

Conforme verificado no exemplo resolvido anteriormente, a maioria dos gases reais pode ser tratada
como gás ideal, afinal é possível utilizar a Lei do Gás Ideal em seu modelamento matemático. Sempre
que um gás se comportar como um gás ideal, a energia interna poderá ser escrita como:

54
TERMODINÂMICA BÁSICA

du = cϑdT

Integrando a equação anterior para dois estados específicos, o estado 1 e o estado 2, através da
variação da energia interna, pode‑se obter o calor específico a volume constante:

u2 T2
∫u1 du = ∫T1 cϑdT
u T
u u2 = c ϑ T T2
1 1

∆u = u2 - u1 = cϑ(T2 - T1)

A entalpia também pode ser definida conforme duas propriedades, por exemplo, a temperatura e a
pressão: h(T, p). Assim, a variação da entalpia pode ser definida como:

 ∂h   ∂h 
dh =   dT +   dp
 ∂T  p  ∂p  T

O calor específico a pressão constante é definido pelo primeiro termo do lado direito da equação:

 ∂h 
cp =  
 ∂T  p

Considerando um gás ideal, verifica‑se que a entalpia também é uma função da temperatura. Dessa
forma, a variação da entalpia pode ser reescrita como:

dh = cpdT

Integrando a equação da variação da entalpia dois estados específicos, o estado 1 e o estado 2, o


calor específico a pressão constante pode ser obtido por:

h2 T2
∫h1 dh = ∫ cpdT
T1

h T
h h2 = cp T T2
1 1

∆h = h2 - h1 = cp(T2 - T1)

55
Unidade I

Caso não seja possível ter acesso às informações da energia interna e da entalpia para os estados,
pode‑se escrever uma relação entre os calores específicos e a constante do gás. Para isso, considere a
definição de entalpia:

h = u + pϑ

Utilizando a definição da Lei do Gás Ideal, verifica‑se que:

p∀ = mRT


p = RT
m

pϑ = RT

Considerando um gás ideal, a variação da entalpia será:

dh = du + RdT

Dividindo a equação da variação da entalpia pela variação da temperatura, obtém‑se a relação entre
calores específicos e a constante do gás:

dh du dT
= +R
dT dT dT

cP = cϑ + R

As tabelas termodinâmicas comumente expressam apenas o valor do calor específico a pressão


constante, pois através da relação apresentada, podem‑se obter os demais valores desejados.
Entretanto, a tabela apresentada no final deste livro‑texto mostra os valores das variáveis
apresentadas para diversos gases. A Tabela 10 foi desenvolvida para uma temperatura de 25° C e
uma pressão de 100 kPa, exceto para os gases que apresentam uma pressão de saturação (que deve
ser considerada) menor que 100 kPa.

A razão entre os calores específicos (k) é uma nova propriedade termodinâmica, amplamente
divulgada em tabelas e que auxilia na determinação de qualquer calor específico:

cp
k=

56
TERMODINÂMICA BÁSICA

Exemplo de aplicação

Utilizando a razão entre os calores específicos, defina uma equação para determinar o calor específico
a pressão e a volume constantes. Necessariamente, a constante do gás deve estar na equação.

Solução

A razão entre os calores específicos e a relação entre calores específicos e a constante do gás são
expressas por:

cp
k= e cϑ + R

Considerando o calor específico a pressão constante:

cp = cϑ + R

cp
cp = + R
k

cp Rk
cp = +
k k

cp k = cp + kR

cp k - cp = kR

cp (k – 1) = kR

kR
cp =
(k − 1)

Considerando o calor específico a volume constante:

cp = cϑ + R

kcϑ = cϑ + R

kcϑ - cϑ = R

cϑ (k – 1) = R

57
Unidade I

R
cϑ =
(k − 1)

Lembrete

Fluidos incompressíveis apresentam os mesmos calores específicos


(cϑ = cp), ou seja, o volume específico não se altera durante todo o processo.
Em Termodinâmica será utilizado o calor específico a pressão constante (cp);
porém, para sólidos e líquidos, é comum expressar apenas o calor específico
(c). Para a água, utiliza‑se cp = 4184 J/kgK. A variação da energia interna,
para muitas aplicações de líquidos e sólidos, pode ser expressa por:

u2 – u1 = h2 – h1 = c(T2 – T1)

Tabela 12 – Propriedade dos gases ideais a 25 °C e 100 kPa

Gás Peso molecular R (kJ/kg K) ρ (kg /m³) cp (kJ/kg K) cv (kJ/kg K) k


Acetileno 26,038 0,3193 1,05 1,699 1,38 1,231
Água (vapor) 18,015 0,4615 0,0231 1,872 1,41 1,327
Ar 28,97 0,287 1,169 1,004 0,717 1,4
Amônia 17,031 0,4882 0,694 2,13 1,642 1,297
Argônio 39,948 0,2081 1,613 0,52 0,312 1,667
Butano 58,124 0,143 2,407 1,716 1,573 1,091
Dióxido de carbono 44,01 0,1889 1,775 0,842 0,653 1,289
Monóxido de carbono 28,01 0,2968 1,13 1,041 0,744 1,4
Etano 30,07 0,2765 1,222 1,766 1,49 1,186
Etanol 46,069 0,1805 1,883 1,427 1,246 1,145
Etileno 28,054 0,2964 1,138 1,548 1,252 1,237
Hélio 4,003 2,0771 0,1615 5,193 3,116 1,667
Hidrogênio 2,016 4,1243 0,0813 14,209 10,085 1,409
Metano 16,043 0,5183 0,648 2,254 1,736 1,299
Metanol 32,042 0,2595 1,31 1,405 1,146 1,227
Nitrogênio 28,013 0,2968 1,13 1,042 0,745 1,4
Óxido nítrico 30,006 0,2771 1,21 0,993 0,716 1,387
Óxido nitroso 44,013 0,1889 1,775 0,879 0,69 1,274
n‑Octano 114,23 0,0727 0,092 1,7113 1,638 1,044
Oxigênio 31,999 0,2598 1,292 0,9216 0,662 1,393
Propano 44,094 0,1886 1,808 1,679 1,49 1,126
R‑12 120,914 0,06876 4,98 0,616 0,547 1,126

58
TERMODINÂMICA BÁSICA

R‑22 86,469 0,09616 3,54 0,658 0,562 1,171


R‑32 52,024 0,1598 2,125 0,822 0,662 1,242
R‑125 120,022 0,06927 4,918 0,791 0,722 1,097
R‑134a 102,03 0,08149 4,2 0,852 0,771 1,106

Adaptada de: Borgnakke e Sonntag (2009, p. 561).

4 A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA PARA SISTEMAS

Já foi mencionado que o cerne da Termodinâmica é o estudo da energia, bem como suas
transformações e sua transferência. A relação fundamental para entender esses processos será expressa
pela Primeira Lei da Termodinâmica, acrescentando ao Princípio da Conservação de Energia os conceitos
das trocas de energia ou por transferência de calor, ou pela realização de trabalho.

Lembrete

Um sistema apresenta uma quantidade fixa de massa que não pode


cruzar a sua fronteira. Pode variar em forma e volume, mas a massa sempre
será fixa. Já um sistema termodinâmico deve apresentar um potencial para
troca de energia com o meio ao qual está exposto (em geral, o ambiente).

Antes de definir a Primeira Lei da Termodinâmica, será necessário estudar os tipos de trabalho e
como o calor se transfere. Entretanto, uma dúvida simples ao modelar a Primeira Lei da Termodinâmica
nas mais diversas aplicações está ligada aos sinais que devem ser utilizados para trabalho ou calor.

Muitos processos termodinâmicos são descritos considerando a quantidade de calor que é fornecida
para o sistema e o trabalho realizado pelo sistema. A quantidade de calor (Q) sempre será positiva
quando ocorrer transferência de calor para dentro do sistema, e será negativa quando ocorrer
transferência de calor para fora do sistema.

Em relação ao trabalho (W), este será positivo quando for realizado pelo sistema sobre a vizinhança,
ou seja, existe transferência de energia para fora do sistema; e será negativo quando for realizado sobre
o sistema pela vizinhança, ou seja, existe transferência de energia para dentro do sistema. Por exemplo,
o processo de expansão de um gás apresenta trabalho positivo, enquanto o processo de compressão
apresenta um trabalho negativo. A figura a seguir resume os possíveis sinais para calor e trabalho.
Vizinhança
Calor é positivo quando Trabalho é positivo quando
entra no sistema Q>0 W>0
sai do sistema
Sistema
Calor é negativo quando Trabalho é negativo quando
sai do sistema
Q>0 W<0
entra do sistema

Figura 8 – Convenção de sinais e trocas de energia de um sistema térmico

59
Unidade I

Observação

O que é um processo termodinâmico?

Nos processos termodinâmicos sempre haverá um tipo de energia se


transformando em outro. Um exemplo simples para visualizar um processo
termodinâmico é a pipoca. Quando pipoca é produzida, necessita‑se de
milho, uma panela com tampa e uma fonte de calor. Quando o milho é
aquecido pela chama de um fogão, existe a transferência de calor para
o milho (que será o sistema considerado). Depois de aquecido, o milho
estoura e, durante a sua expansão (transformação de milho em pipoca),
o seu volume se altera na panela até o momento de empurrar a tampa.
Assim, existe a realização de trabalho sobre a tampa. Por fim, o estado
do milho foi alterado, afinal houve mudança de volume, temperatura e
pressão durante o processo.

4.1 Transferência de calor

O calor transferido pode ser avaliado de três formas específicas: a condução, a convecção e a radiação.
Em todos os processos de transferência de calor, o interesse é determinar a taxa de transferência de
energia. Lembre‑se do exemplo da pipoca mencionado anteriormente: se a panela for de alumínio, haverá
transferência de calor entre a chama do fogão e o interior da panela. Note que na Termodinâmica o
interesse do estudo se volta para as diferentes formas de energia, enquanto em processos de transferência
de calor o principal foco é o calor e como ocorre a sua transferência nos diversos meios.

Calor e temperatura são grandezas físicas diferentes. Dessa forma, cuidado para não cometer o erro
comum de considerá‑las sinônimos. Calor é definido como o movimento da energia que, naturalmente,
sempre ocorre do sistema de maior energia para o sistema com menor energia. A temperatura é avaliada
no nível de agitação molecular, ou seja, quanto maior a agitação molecular, maior será a temperatura.
Calor

Bloco Bloco
quente frio

Figura 9 – Calor sempre será transferido devido ao gradiente (diferença de temperatura). Naturalmente, a transferência ocorre do
objeto com maior temperatura para o objeto com menor temperatura

Um processo de transferência de calor só poderá acontecer se houver uma diferença (ou gradiente)
de temperatura entre os sistemas avaliados. Sempre que a transferência de energia ocorrer pela diferença
de temperatura, o calor será avaliado.
60
TERMODINÂMICA BÁSICA

Mais precisamente, a energia térmica de um sistema é definida como calor (Q), mas a transferência
dessa energia será definida pela transferência de calor (Q). Em aulas anteriores foi apresentada
uma forma de medir a quantidade de calor transferida para um processo (Q), por exemplo, quando
as transformações de fase (gelo se transformando em vapor) foram apresentadas. Agora é a taxa de
transferência de calor que será apresentada, ou seja, a quantidade de calor transferida por unidade
de tempo. A unidade que será utilizada para a transferência de calor (Q), no Sistema Internacional de
Unidades, será o watt (W = J/s).

A transferência de calor ocorre de um sistema para outro quando existe uma diferença de temperatura.
Mas como acontece o processo de transferência nos diferentes meios estudados?

O processo que ocorre no interior de um objeto, com o calor se transferindo molécula a molécula, é
denominado condução. A condução ocorre para sólidos, isolados ou quando estão em contato (um com
outro), e para fluidos em repouso, os quais, fisicamente, podem ser tratados como sólidos. Quando o
processo, necessariamente, envolve o movimento do fluido, é denominado convecção. Por fim, quando
a energia térmica se transfere através de uma onda eletromagnética, o processo é denominado radiação.

4.1.1 Transferência de calor por condução

Pense no seguinte experimento: você segura uma barra metálica e a outra ponta é colocada no
fogo. Por quanto tempo você irá conseguir segurar a barra sem que a sua mão queime? Perceba
que o calor se propagará da ponta que está em contato com o fogo até a sua mão, ou seja, o calor
foi transferido de uma região com maior energia térmica (calor) para uma região de menor energia
térmica, confirmando a necessidade de uma diferença de temperatura para que o fluxo de calor
ocorra. Microscopicamente, seria possível visualizar as colisões entre os átomos com maior energia
cinética (alta temperatura) e os átomos que se movimentam mais lentamente, apresentando uma
menor energia cinética (e menor temperatura).

Condução é um processo de transferência de calor atribuído aos sólidos. Mas todos os sólidos
apresentarão a mesma eficiência no processo de transferência de calor?

Infelizmente, não. Sólidos se dividem em materiais que conduzem o calor (ou eletricidade) e materiais
que o isolam. Por exemplo, os metais representam a classe de materiais que conduzem o calor, afinal em
seu interior há elétrons livres, os quais transmitem rapidamente a energia térmica da região mais quente
para a região menos quente. Logo, em geral, metais são bons condutores térmicos.

Uma regra que pode ser utilizada, e na maioria dos casos funciona, é correlacionar
condutores/isolantes térmicos com condutores/isolantes elétricos. Antes de concluir a ideia sobre os sólidos
condutores e isolantes, faça o seguinte experimento: coloque uma das mãos na maçaneta de uma porta
de madeira, e a outra, diretamente na madeira da porta. Qual estará mais fria, a maçaneta ou a madeira?
Embora a sensação térmica possa enganar você – afinal a maçaneta, que é feita de metal, parecerá mais
fria em um primeiro momento –, ambos os sólidos estarão à mesma temperatura. A confusão térmica
ocorre porque o metal é um bom condutor de calor, enquanto a madeira é um isolante térmico.

61
Unidade I

Outra regra que não deve ser ignorada sobre a transferência de calor é que esta sempre ocorre em
regiões com gradiente (ou diferença) de temperatura, fluindo da maior para a menor, conforme pode ser
visualizado na figura que segue.

TQ TF
L

Figura 10 – Condução de calor em uma barra uniforme. A barra apresenta uma espessura L (ou,  , ∆x) com uma seção reta de área
A. A extremidade esquerda da barra é mantida a uma temperatura maior (temperatura quente, TQ), enquanto a extremidade da direita
é mantida a uma temperatura menor (temperatura fria, TF), fazendo o calor fluir da esquerda para a direita. Nas extremidades, há um
isolante ideal, de modo que não ocorra troca de calor com o meio ambiente

A taxa de transferência de calor depende da geometria, da espessura, do tipo de material e


da diferença de temperatura a que o meio está submetido. Experimentalmente, pode‑se observar
que a taxa de transferência de calor através de uma camada plana é proporcional à diferença de
temperatura através da camada e à área de transferência de calor, mas inversamente proporcional
à espessura da camada:

kA
Q = ∆T
L

Onde k representa a condutividade térmica do material, ou seja, a capacidade de conduzir calor. No


caso‑limite, ou quando uma quantidade de calor (dQ) é transmitida através da barra em um intervalo
dQ 
de tempo (dt), a taxa de transferência de calor é dada por =Q.
dt

Lembrete

Quanto maior for o valor da condutividade térmica do material, maior


será a capacidade desse material de conduzir calor, o que caracteriza
os bons condutores térmicos. Quanto menor o valor da condutividade
térmica do material, menos calor será conduzido, caracterizando um
material isolante.

Uma outra forma de indicar a transferência de calor por condução ocorre através do fluxo de calor
( q ). Sempre que a palavra fluxo for utilizada, não se esqueça de dividir a grandeza mensurada (taxa de
transferência de calor) pela área, ou seja:

Q
q =
A

62
TERMODINÂMICA BÁSICA

As unidades de taxa de transferência de calor são expressas pela potência (energia por tempo); no
Sistema Internacional, a taxa de transferência de calor é o watt (1 W = 1 J/s), enquanto a da condutividade
térmica é w/mK.

Tabela 13 – Condutividade térmica de algumas substâncias na temperatura ambiente

Substância K (W/mK)
Alumínio 205,0
Latão 109,0
Metais
Chumbo 34,7
Aço 50,2
Tijolo isolante 0,15
Concreto 0,8
Cortiça 0,04
Sólidos Feltro 0,04
Gelo 1,6
Lã mineral 0,04
Isopor 0,01
Ar 0,024
Gás Hidrogênio 0,14
Oxigênio 0,023

Adaptada de: Çengel (2012, p. 20).

Exemplo de aplicação

Considere uma placa de concreto com 50 cm de comprimento, 75 cm de altura e 5 cm de espessura.


Determine a taxa de transferência de calor e o fluxo de calor se a temperatura em um de seus lados for
de 30 °C, enquanto o outro lado estiver a 10 °C.

Solução

O exercício apresenta uma placa de concreto. A primeira tarefa é definir o valor de sua condutividade.
Observando a Tabela 10, verifica‑se que a condutividade térmica do concreto será kconcreto = 0,8 W/mK.
Todas as variáveis que não estão no Sistema Internacional de Unidades deverão ser convertidas.

Assim, a taxa de transferência de calor será:

kA
Q = ∆T
L

63
Unidade I

0.8 ⋅ 50 ⋅10 −2 ⋅ 75 ⋅10 −2


Q = (30 − 10)
5 ⋅10 −2

Q = 120 W

Para definir o fluxo de calor a área dessa placa não será considerada.

Q
q =
A

Q k
q = = ∆T
A L

0.8
q = (30 − 10)
5 ⋅10 −2

q = 320 W
m2

A unidade de fluxo de calor sempre será expressa por watt por metro quadrado (W/m2).

4.1.2 Transferência de calor por convecção

O processo de transferência de calor que ocorre em todo o fluido, seja um líquido ou um gás, é a
convecção, que ocorre pelo movimento de massa de fluido de uma região com maior temperatura para
outra de menor temperatura.

Por exemplo, considere o sistema de arrefecimento (refrigeração) do motor de um automóvel:


um fluido térmico é impulsionado através de uma bomba, caracterizando‑se um processo de
convecção forçada. Se a convecção ocorrer sem a necessidade de uma máquina, será denominada
convecção livre.

O modelo matemático para o processo de convecção é expresso pela Lei de Resfriamento de


Newton, relacionando a proporcionalidade da taxa de transferência de calor por convecção com a
diferença de temperatura:

Q = hA(Ts − T∞ )

Onde h é o coeficiente convectivo, com unidade de W/m2K, A representa a área na qual o fluido
está em contato durante o escoamento, Ts é a temperatura da superfície e T∞ é a temperatura do
64
TERMODINÂMICA BÁSICA

fluido em escoamento, ou suficientemente longe da superfície. Nela, a temperatura do fluido é igual à


temperatura da superfície sólida.

Exemplo de aplicação

Uma resistência elétrica é utilizada para aquecer um ambiente num dia de inverno que está a 10 °C.
Sabendo que o calor gerado por tal resistência equivale a 120 W enquanto a sua temperatura for de
250 °C, determine o coeficiente de transferência de calor para o ambiente, considerando um aquecedor
com 0,0425 m2 de área e desprezando qualquer outro processo de transferência de calor.

Solução

Aplicando a equação que representa a Lei de Resfriamento de Newton:

Q = hA(Ts − T∞ )

Q
h=
A(Ts − T∞ )

120
h=
0.0425 ⋅ (250 − 10)

h = 11,8 W/m2K

Note que a resposta está em Kelvin, pois na escala termométrica de Celsius e Kelvin sempre haverá
a mesma variação.

4.1.3 Transferência de calor por radiação

Qualquer energia emitida pela matéria sob a forma de ondas eletromagnéticas, como a luz visível,
a radiação infravermelha e a radiação ultravioleta, é denominada radiação. Diferentemente dos outros
processos apresentados, a radiação pode ocorrer inclusive no vácuo, ou seja, não necessita de nenhum
meio para se transferir. Como o foco do estudo é a transferência de calor, a radiação estudada é a radiação
térmica, ou seja, a energia emitida por toda matéria que se encontra a uma determinada temperatura
(superior ao zero absoluto). As emissões podem ocorrer em sólidos, líquidos e também nos gases.

A energia emitida por uma superfície é proporcional à área e à temperatura absoluta da superfície.
A taxa de transferência de calor por radiação aumenta muito rapidamente com a temperatura absoluta,
já que é proporcional a sua quarta potência e também depende da emissividade do material, ou seja,
da sua capacidade de emitir energia. A transferência de calor a partir de uma superfície sólida para as
vizinhanças é definida pela Lei de Stefan‑Boltzmann:

65
Unidade I

Q = εσA(Ts4 − Tviz
4
)

Onde σ representa uma constante física fundamental denominada constante de


Stefan‑Boltzmann, cujo valor numérico será de 5,67 . 10–8 W/m2K4. A emissividade pode variar
entre 0 e 1. Emissividade igual a 1 é para um corpo negro, o qual absorve ou emite uma quantidade
máxima de radiação.

Exemplo de aplicação

No inverno é comum a sensação de frio devido à perda de calor por radiação do corpo para a
vizinhança. Considere um ambiente que está a 5 °C e uma pessoa que tem uma área corpórea de 1,75
m2 e temperatura de 35 °C. Determine a taxa de transferência de calor da pessoa para o ambiente.

Solução

A emissividade para o ser humano está em 0,95 e as temperaturas apresentadas deverão ser expressas
em kelvin. Dessa forma:

Q = εσA(Ts4 − Tviz
4
)

Q = 0.95 ⋅ 5,67 ⋅10 −8 ⋅1.75 ⋅ (35 + 273) − (5 + 273) 


4 4
 

Q = 285,3 W

Lembrete

Estratégia para resolver problemas em Termodinâmica:

1. Leia com máxima atenção o enunciado. Ao ler, tente interpretar o


texto e liste todas as variáveis apresentadas.

2. Sempre que possível, faça um desenho esquemático que represente


o exposto pelo enunciado.

3. Converta todas as unidades para um sistema de unidades (geralmente


o Sistema Internacional de Unidades) e obtenha todos os valores das
propriedades (tabelas termodinâmicas).

66
TERMODINÂMICA BÁSICA

4. Se possível, estabeleça hipóteses, separe as equações pertinentes e


aplique as leis necessárias ao exercício.

5. Verifique a sua resposta e analise se é coerente com o problema


apresentado.

4.2 Trabalho

A transferência de calor é uma das duas possíveis formas de fazer a energia fluir em processos
termodinâmicos. A outra forma de estudar tal transferência de energia de ou para um sistema
termodinâmico é pelo trabalho.

O primeiro contato com a definição de trabalho ocorreu na Mecânica, sendo definido como a força
aplicada a um objeto que resultará em seu deslocamento, na mesma direção da força aplicada. Assim,
para a Mecânica, trabalho (W) é expresso por:

W=F.d

Por ser também uma forma de energia, a unidade no Sistema Internacional de Unidades que melhor
o representa é o joule (J = N . m).

Em Termodinâmica, o trabalho é relacionado à pressão. Porém, antes de defini‑lo, algumas


informações termodinâmicas serão úteis.

• Trabalho
 é representado por uma expressão vetorial, em que o produto escalar do vetor força

( F ) pelo vetor deslocamento ( s ) resulta em um vetor tangencial para a trajetória.

s2
 
W1−2 = ∫ F . ds
s1

• Trabalho depende da trajetória, ou seja, não se deve representar um incremento de trabalho


com um diferencial exato (dW). A melhor representação é dada por (δW).

• Como o trabalho não representa uma propriedade termodinâmica, não é possível expressá‑lo por
subíndices, W1 ou W2.

• A trajetória influencia o trabalho, assim o trabalho do processo 1 ao processo 2 deve ser indicado
por W1–2 (W12 ou W).

O primeiro conceito de pressão estudado considera uma força normal, necessariamente perpendicular,
aplicada à superfície de estudo. Em Termodinâmica, a força de pressão continua agindo normalmente à
superfície que contém o fluido e pode ser expressa por:

67
Unidade I

F=p.A

Retornando ao estudo do trabalho do processo 1 ao processo 2 e aplicando o módulo dos


vetores apresentados:

s2
 
W1−2 = ∫ F . ds
s1

s2
W1−2 = ∫ p ⋅ A ⋅ ds
s1

Observe que o produto A . ds representa um incremento de volume, d∀. O trabalho que atua na
fronteira de um sistema pode ser expresso por:

∀2
W1−2 = ∫ p ⋅ d∀
∀1

Caso o trabalho seja expresso em sua forma diferencial,, não esqueça que uma diferencial inexata
deve ser utilizada, afinal trabalho depende da trajetória. Se a pressão for constante, W1–2 = p (∀2 – ∀1).

Embora tenha sido apresentada a convenção do sinal para trabalho e calor na Figura 8, considere:

• trabalho positivo: quando for realizado pelo sistema na vizinhança;

• trabalho negativo: quando for realizado pela vizinhança no sistema.

Como mencionado anteriormente em relação a outras variáveis, para definir o trabalho específico
W
(w), basta dividir o trabalho pela massa, w =. Para uma pressão constante, o trabalho específico pode
m
ser definido em função do volume específico:

W1-2 = p (∀2 - ∀1)

W1−2 p(∀2 − ∀1)


=
m m

w1-2 = p (ϑ2 - ϑ1)

68
TERMODINÂMICA BÁSICA

Lembrete

Por definição, a integral é uma função utilizada para a obtenção da área


sob curvas em plano cartesiano.

Como apresentado anteriormente, na Termodinâmica o trabalho está definido em função de uma integral,
sendo possível obtê‑lo através da área do gráfico pressão versus volume (p∀) em um plano cartesiano.

Considere o motor de um automóvel em funcionamento; quando a mistura combustível‑ar é


inserida nos cilindros do motor, um pistão será responsável pela sua compressão e, consequentemente,
após uma faísca haverá uma explosão, o que empurrará o pistão para a posição inicial, ou seja, haverá
um processo de expansão dos gases (resultado da queima ocorrida durante a combustão).

Através da figura a seguir, é possível observar o processo de compressão/expansão que um sistema pode
sofrer, com a área abaixo da curva representando o trabalho. Uma alternativa para indicar os sinais do trabalho
é considerá‑lo positivo se houver uma expansão do sistema e negativo quando houver uma compressão.
p p
p1 p2
Expansão Compressão

p2 p1

W = área W = área
W>0 W<0

V1 V2 V V2 V1 V

Figura 11 – Sistemas com pressão variável: a área abaixo da curva define o valor do trabalho

Em qualquer processo no qual a pressão será constante, fica impossível a realização do trabalho
no sistema.

Lembrete

O conceito inicial de pressão (p) relaciona uma força (F) perpendicular à


F
superfície e uma área superficial (A). Dessa forma, p = .
A

Um sistema termodinâmico pode variar o seu estado inicial até um estado final passando por
diferentes estados intermediários, ou caminhos. A representação de um diagrama p∀ (figura a seguir)

69
Unidade I

ocorre apenas quando os estados são de equilíbrio. Nos diagramas p∀, o ponto 1 é representado pelo
estado inicial (p1, ∀1) e o ponto 2 representa o estado final (p2, ∀2). Para passar do estado 1 para o estado
2, há diferentes caminhos:

• Caminho A: deve‑se manter a pressão p1 constante até que o volume se expanda para ∀2, com
posterior redução da pressão para p2.

• Caminho B: aumenta‑se o volume de ∀1 para ∀2, enquanto se diminui a pressão de p1 para p2.

• Caminho C: diminui‑se a pressão p1 até p2, mantendo‑se o volume constante; depois, com uma
pressão constante p2, diminui‑se o volume de ∀1 para ∀2.

P W = área

1 A 3
P1
Caminho A: 1 → 3 → 2
Caminho B: 1 → 2
C A Caminho C: 1 → 4 → 2
B

P2
4 C 2

A A A
1 2

Figura 12 – Possíveis caminhos para o trabalho realizado durante a mudança de estados

O trabalho realizado pelo sistema será equivalente à área abaixo da curva:

• Caminho A: W = área abaixo da linha 1 → 3.

• Caminho B: W = área abaixo da curva 1 → 2.

• Caminho C: W = área abaixo da linha 4 → 2.

Lembrete

Nenhum trabalho é realizado a volume constante. Assim, nos processos


3 → 2 e 1 → 4, ambos apresentando volume constante, não há trabalho
realizado.

Através da figura anterior, conclui‑se que o trabalho realizado pelo sistema depende dos seus
estados, inicial e final, bem como do caminho que conecta tais estados. Logo, o trabalho depende
do caminho.

70
TERMODINÂMICA BÁSICA

Observação

De modo semelhante ao trabalho, o calor que é fornecido ao sistema


termodinâmico para que uma mudança de estado ocorra também depende
do caminho.

Exemplo de aplicação

Um cilindro condensa, a pressão constante, 5 kg de vapor a 100 kPa e 200 °C até que o título seja de
50%. Qual será o trabalho necessário para os processos?

Solução

Com o título, pode‑se escrever o volume específico do processo desconhecido. Através da Tabela 7,
o volume específico para o processo 1 será ϑ1 = 2,17226 m3/kg.

Vapor superaquecido
p = 100 kPa (99,62)
T (ºC)
ϑ (m /kg)
3
u (kJ/kg) h (kJ/kgK) s (kJ/kgK)
200 2,17226 2658,05 2875,27 7,8342

Da equação do título e considerando os volumes específicos:

ϑ2 = ϑl + x (ϑv - ϑl)

ϑ2 = 0,001044 + 0,5 (1,6729 – 0,001044)

ϑ2 = 0,83697 kJ/kg

Água saturada
Volume específico (m3/kg) Energia interna (kJ/kg)
Líquido Líquido Vapor
T (ºC) p (kPa) saturado Vapor saturado saturado Evaporação saturado
ϑI Jv uI uIv uv
100 101,3 0,001044 1,6729 418,91 2087,58 2506,5

No processo de condensação, o trabalho será definido por:

w1-2 = p (ϑ2 - ϑ1)

W 1−2
= p ( ϑ2 − ϑ1)
m
71
Unidade I

W1-2 = p m (ϑ2 - ϑ1)

W1-2 = 100 . 103 . 7 . (0,83697 – 2,17226)

W1-2 = - 934703 J = - 934,7 kJ

O trabalho é negativo desde que o volume esteja diminuindo. Uma forma alternativa é considerar
que o trabalho negativo representa um trabalho realizado (feito) no sistema (vapor).

Além do trabalho mensurado em Termodinâmica em função do volume, há mais três formas de trabalho
que é interessante estudar, pois podem ser aplicadas nas mais diferentes máquinas térmicas. Essas formas
de trabalho avaliam a deformação de uma mola linear, a rotação de um eixo e a corrente elétrica.

Nas aulas de Física, é provável que você tenha estudado a deformação de uma mola. Para isso, uma
força foi aplicada na mola e a sua deformação foi medida, resultando na relação:

F = kx

Onde k representa a constante elástica da mola, sendo medido em N/m. Dessa forma, o trabalho
necessário para esticar uma mola de uma posição (x1) para outra (x2) será:

x2
W = ∫ Fdx
x1

x2
W = ∫ kxdx
x1

1
W = k(x22 − x12 )
2

Exemplo de aplicação

Uma placa retangular de acrílico, com 3 m2 de área, está presa em uma mola que se encontra em
equilíbrio, ou seja, não há elongação. Para transportar tal placa, jatos de ar são aplicados com uma
pressão constante de 100 kPa, o que, por sua vez, desloca a placa em 30 cm. Se a constante elástica
da mola for de 50 kN/m e sua compressão for equivalente a um terço da altura deslocada da placa de
acrílico, qual será o trabalho realizado pelo ar na placa?

Solução

Haverá dois trabalhos, um relativo à força do ar aplicado à placa, resultando em seu deslocamento,
e outro devido à compressão da mola. Assim, o trabalho total será:

72
TERMODINÂMICA BÁSICA

W = War + Wmola

W = par A h + 0,5 k x2

W = 100 . 103 . 3 . 0,30 + 0,5 . 50 . 103 . 0,102

W = 90,25 kJ

É muito comum, em aplicações mecânicas, tratar trabalho realizado como consequência de um eixo
rotativo. Em um eixo rotativo, uma força denominada tensão de cisalhamento (τ) é aplicada em uma
fração da área (dA), ocasionando um movimento circular com velocidade angular (ω). O trabalho é
consequência das forças tangenciais; logo, um incremento dessa força pode ser definido como:

dF = τ dA

dF = τ . 2 . π . r dr

O trabalho que é transmitido para o eixo rotativo pode ser denominado potência. Por sua vez, a
potência, ou taxa de variação de trabalho, relaciona a força multiplicada pela velocidade:

 = vdF
W ∫
A

 = R ωrdF
W ∫ 0

 = R ω . rτ . 2πrdr
W ∫ 0

 = 2πω R τ . r2dr
W ∫ 0

Mola Eixo rotativo Resistência elétrica

k dA τ
r +
V R i
-
R

F=k.x

Figura 13 – Representação esquemática do trabalho em uma mola, em um eixo rotativo e em um circuito elétrico

73
Unidade I

O torque transmitido para o eixo pode ser definido como:

R
T = 2π ∫ τ . r2dr
0

Portanto, o trabalho de um eixo rotativo será:

 = T.ω
W

Observação

Cuidado ao trabalhar com a velocidade angular. Normalmente, as


máquinas apresentam a velocidade angular em rotações por minuto (rpm).
Entretanto, sempre é conveniente apresentar a velocidade angular em
radianos por segundo (rad/s). Para isso, o seguinte fator de conversão deve

ser considerado: 1rpm = .
60
Exemplo de aplicação

Um motor gira a 350 rpm e produz um torque de 200 N . m. Qual é a potência transmitida para o
eixo? Se o motor ficar 5 minutos em operação, qual o trabalho realizado?

Solução

A potência transmitida será definida por:

 = T⋅ω
W

 = 200 ⋅ 350 ⋅  2π 
W  
60

 = 7330,4 W
W

Para determinar o trabalho, parte‑se da taxa de variação do trabalho, e o requisito para determinar
tal valor é o tempo. Assim:

W
= T⋅ω
t

W=T.ω.t
74
TERMODINÂMICA BÁSICA

W = 7330,4 . 5 . 60

W = 2199 kJ

Por fim, o último trabalho abordado relacionará a corrente e a resistência elétrica. Considere que
uma resistência será mergulhada em um fluido. A taxa de energia transmitida para o fluido será definida
pela potência obtida:

Potência = V . i

V2
P=
R

As variáveis representam: a tensão elétrica, ou diferença de potencial (V), a corrente elétrica (i) e a
resistência (R).

Exemplo de aplicação

Determine a taxa de variação do trabalho que um circuito elétrico apresentou durante um pico de
energia em que a tensão foi de 220 V e a corrente, de 1,2 A.

Solução

A potência, ou taxa de variação do trabalho, será definida por:

 = V ⋅i
W

 = 220 ⋅1,2
W

 = 264 W
W

4.3 A Primeira Lei da Termodinâmica

Já foi mencionado que a transferência de energia pela fronteira de um sistema pode ocorrer por
calor ou trabalho. Mas o que é a Primeira Lei da Termodinâmica?

Essa lei estuda a energia e sua transferência em processos e ciclos termodinâmicos, sendo uma
generalização do princípio de conservação da energia. Para defini‑la, será considerada uma quantidade
fixa de matéria, ou seja, um sistema. Assim, a Primeira Lei da Termodinâmica aplicada ao sistema sujeito
a um processo é expressa por:

75
Unidade I

∆E = Q - W

Por enquanto, o calor e o trabalho são as únicas formas de se transferir energia para dentro ou
para fora do sistema, representando a quantidade de energia que será armazenada ou liberada, mas tal
transferência resultará em variações das energias interna (∆U), cinética (∆EC) e potencial (∆EP):

∆E = ∆U + ∆EC + ∆EP

Em sistemas estacionários, não há variação das energias cinética e potencial (∆EC = ∆EP = 0), ou
seja, a única energia de interesse nesse processo termodinâmico é a energia interna. Assim:

∆U = Q - W

Na equação anterior, embora o calor e o trabalho dependam do caminho do processo, como a


variação da energia interna poderia ser identificada, de modo a não se obter um resultado equivocado
para os possíveis caminhos?

Através de experiências pode‑se mostrar que a variação da energia interna não depende do caminho.
Nesta experiência, verificou‑se que a energia interna depende apenas dos estados inicial e final de
qualquer processo termodinâmico, e não do caminho.

Exemplo de aplicação

Considere uma quantidade fixa de massa. Qual será a variação da energia do sistema se em um
processo 160 kJ de calor forem transferidos para este, enquanto há 325 kJ de trabalho realizado
para a vizinhança?

Solução

Como o calor é adicionado ao sistema, este será positivo. O trabalho é feito pelo sistema sobre a
vizinhança, ou seja, também será positivo. Dessa forma, a variação da energia será:

∆E = Q – W

∆E = 165 – (+325)

∆E = - 160 kJ

O sinal negativo na equação apenas demonstra que o sistema perdeu 160 kJ de energia. Note
que não é possível definir qual o tipo de energia que contribuiu para as perdas. Assim, considera‑se a
contribuição de todas as energias (interna, cinética e potencial).

76
TERMODINÂMICA BÁSICA

Existem dois casos especiais para a Primeira Lei da Termodinâmica. Quando um processo termodinâmico
passa por várias etapas e retorna ao estado inicial, um processo cíclico se formou. No processo cíclico, o
estado inicial é igual ao estado final, e toda a variação da energia interna torna‑se nula:

∆Uciclo = Qciclo – Wciclo

0 = Qciclo – Wciclo

Qciclo = Wciclo

Se um trabalho total for realizado nesse sistema cíclico, toda a quantidade de energia deverá ser
transferida sob a forma de calor.

Outro caso especial ocorre quando o sistema está isolado, ou seja, não há troca de calor nem trabalho
com a vizinhança. Para qualquer processo termodinâmico no qual o sistema é isolado, Q = W = 0, o que
resulta em ∆U = 0. Logo, em um sistema isolado, a energia interna permanece constante.

Exemplo de aplicação

Para cozinhar alguns vegetais, uma panela com 3 kg de água a 25 °C é colocada no fogão e tampada.
O fogão será responsável por transferir calor para a água até que a sua temperatura atinja 70 °C. Qual
será a quantidade de calor necessária para que a água atinja tal temperatura?

Solução

Utilizando a tabela da água saturada, podem‑se obter os valores da energia interna para as
temperaturas indicadas no enunciado.

Volume específico (m3/kg) Energia interna (kJ/kg)


T (ºC) p (kPa) Líquido saturado Vapor saturado Líquido saturado Evaporação Vapor saturado
ϑI ϑv uI uIv uv
25 3,169 0,001003 43,3593 104,86 2304,9 2409,76
70 31,19 0,001023 5,04217 292,93 2176,62 2469,55

A função da tampa na panela é diminuir a perda de calor para o ambiente, de modo a torná‑la
irrelevante. Como o volume de fluido permanece constante (W = 0), a Primeira Lei da Termodinâmica
se reduz para:

∆U = Q – W

∆U = Q

Q = m (u2 – u1)

77
Unidade I

Q = 3 (292,93 – 104,86)

Q = 564,21 kJ

Como a resposta do calor é positiva, isso indica que o calor foi transferido para a água.

Saiba mais

O artigo apresentado a seguir demonstra o trabalho de Joule que


resultou na Primeira Lei da Termodinâmica e pode ser obtido em:

PASSOS, J. C. Os experimentos de Joule e a Primeira Lei da Termodinâmica.


Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 31, n. 3, p. 3603‑1‑3603‑5, 2009.
Disponível em: <http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/313603.pdf>. Acesso
em: 19 out. 2017.

Exemplo de aplicação

Vários processos termodinâmicos são observados no diagrama p∀ apresentado a seguir.


p(Pa)

2 4
11 . 104

4,5 . 104
1 3

A
3,0 . 10-3 7,0 . 10-3 (m3)

Figura 14 – Diagrama pressão‑volume

Para o processo 1 – 2, o sistema recebe 175 J de calor e, para o processo 2 – 4, o sistema também
recebe 700 J de calor. Determine a variação da energia interna para: o processo 1 – 2, o processo 1 – 2
– 4 e o processo 1 – 3 – 4. Para o processo 1 –2 –3 , defina a quantidade de calor.

Solução

Para o processo 1 – 2, não existe nenhuma variação de volume e, portanto, W12 = 0, enquanto Q12 = 175 J.

78
TERMODINÂMICA BÁSICA

Observe que o processo 2 – 4 ocorre a pressão constante; como há um aumento de volume no


processo, o trabalho realizado pelo sistema será positivo e, no processo de expansão, será:

W24 = p(∀4 - ∀2)

W24 = 11 . 104 . (7,0 . 10-3 – 3,0 . 10-3)

W24 = 440 J

Para o processo 1 – 2 – 4, o trabalho total será:

W124 = W12 + W24

W124 = 0 + 440

W124 = 440 J

Ainda para tal processo, o calor total será:

Q124 = Q12 + Q24

Q124 = 175 + 700

Q124 = 875 J

Com o calor e o trabalho, a energia interna para o processo 1 – 2 – 4 será:

∆U124 = Q124 - W124

∆U124 = 875 - 440

∆U124 = 435 J

A energia interna independe do caminho, ou seja, em ambos os processos, 1 – 2 – 4 ou 1 – 3 – 4, o


seu valor será o mesmo, ∆U 124 = ∆U134 = 435 J. Para provar isso, o cálculo do trabalho total e do calor
deve ser realizado. O trabalho total será definido por:

W134 = W13 + W34

W134 = p(∀3 - ∀1)+ 0

W134 = 4,5 . 104 . (7,0 . 10-3 – 3,0 . 10-3) + 0

W134 = 180 J
79
Unidade I

O trabalho no processo 3 – 4 será igual a zero, pois não há variação do volume. Agora, aplicando‑se
a primeira lei ao processo 1 – 3 – 4, a sua quantidade de calor será:

∆U134 = Q134 - W134

Q134 = ∆U134 + W134

Q134 = 435 + 180

Q134 = 615 J

Resumo

A Termodinâmica estuda a interação da energia com a matéria, através


de seu armazenamento, transformação ou transferência. Alguns conceitos
e fórmulas importantes foram apresentados nesta unidade:

Sistema: sempre irá representar uma quantidade fixa de matéria, ou


seja, a massa. Um sistema apresentará uma fronteira real ou imaginária,
cuja função é separá‑lo da vizinhança.

Vizinhança: tudo o que está fora do sistema; em algum momento, a


palavra ambiente (o lado de fora de um sistema em estudo) pode virar
sinônimo de vizinhança.

Sistema aberto: energia e massa podem ser transferidas à vizinhança.

Sistema fechado: não existe troca de massa com a vizinhança; apenas


calor e trabalho podem ser trocados com ela.

Sistema isolado: não existe troca de energia e massa com a


vizinhança; energia e massa permanecem constantes, obedecendo às leis
da conservação.

Volume de controle: uma região com forma e volume fixos, onde um


fluido pode escoar, ou seja, a massa pode variar.

Estado: características de uma substância definidas pelos valores


específicos das propriedades. Geralmente, duas propriedades intensivas são
suficientes para definir o estado de uma substância.

80
TERMODINÂMICA BÁSICA

Processos: todos os estados que uma substância percorre para que o


seu estado inicial se altere até o estado final.

Propriedades: qualquer característica de uma substância que possa


ser calculada através de observações experimentais, ou simplesmente
mensurada.

Propriedade intensiva: qualquer propriedade que não dependa da massa.

Propriedade extensiva: qualquer propriedade que dependa da massa.

Propriedade específica: representa a divisão de uma propriedade


extensiva pela massa.

Massa específica (ou densidade): representa a massa de uma substância


m
dividida pelo seu volume, ρ = .

Peso específico: representa o peso de uma substância dividido pelo
P
volume que ocupa, γ = = ρ . g .

Volume específico: representa o inverso da massa específica, ou o
∀ 1
volume de uma substância dividido pela sua massa, ϑ = = .
m ρ
Pressão: a componente normal da força que atua sobre a área
F
superficial, p = .
A
Pressão atmosférica: definida, pelo experimento de Torricelli, como
760 mmHg ao nível do mar.

Pressão manométrica: definida como a pressão de uma coluna de


fluido, pman = ρ . g . h.

Pressão absoluta: soma da pressão atmosférica local e da manométrica,


pabs = patm + ρ . g . h. Em muitos problemas termodinâmicos, essa pressão
será muito utilizada.

Lei Zero da Termodinâmica: se dois objetos estiverem em equilíbrio


térmico com um terceiro objeto, todos estarão em equilíbrio térmico.

Temperatura: indica o nível de energia térmica contido em uma


substância. No sistema internacional, a escala de temperatura é a Celsius,

81
Unidade I

enquanto no sistema inglês de unidades é o Fahrenheit. Para converter


9
uma escala em outra, basta utilizar a relação: TF = ⋅ TC + 32 .
5
Temperatura absoluta: comumente utilizada em sistemas
termodinâmicos, para o sistema internacional, considera‑se a escala Kelvin,
enquanto no sistema inglês utiliza‑se a escala Rankine. Para converter uma
escala em outra, basta utilizar a relação: TR = 1,8 . TK.

Energia cinética: energia associada ao movimento do sistema.

Energia potencial: energia que pode ser armazenada por um sistema.

Conservação da energia: a quantidade total de energia de um sistema


permanece constante. Para um sistema termodinâmico, considera‑se:
mv12 mv22
+ mgh1 + U1 = + mgh2 + U2 .
2 2
Fluido: qualquer substância que entre em escoamento (movimento)
com a aplicação de uma tensão cisalhante.

Fase: representa qualquer parte homogênea (apresenta as mesmas


propriedades físico‑químicas) de uma substância.

Calor: representa a energia térmica que se transfere do objeto de maior


temperatura para o de menor temperatura.

Condensação: processo em que vapor se transforma em líquido.

Solidificação: processo em que líquido se transforma em sólido.

Fusão: processo em que sólido se transforma em líquido.

Vaporização: processo em que líquido se transforma em vapor.

Calor de fusão: energia térmica necessária para derreter uma unidade


de massa da substância estudada.

Calor de sublimação: energia térmica necessária para vaporizar


completamente uma unidade de massa do sólido.

Calor de vaporização: energia térmica necessária para solidificar


completamente uma unidade de massa de vapor.

82
TERMODINÂMICA BÁSICA

Calor específico: quantidade de energia térmica necessária para


aumentar em um grau a massa unitária da substância.

Calor latente: energia térmica necessária para alterar a fase da unidade


de massa da substância.

Título: representa a massa de vapor em função da massa total da


m
mistura. Matematicamente, x = v .
m
Mistura saturada: mistura que contém líquido e vapor.

Líquido saturado: estado da substância que inicia o processo de


vaporização, ou seja, o líquido inicia a fervura.

Líquido comprimido: a sua temperatura está abaixo do ponto de ebulição.

Vapor: fase gasosa de uma substância que está próxima de condensar.

Vapor saturado: estado em que toda a mistura está vaporizada.

Para uma substância pura, quando duas propriedades intensivas


e independentes são definidas, todas as outras propriedades podem ser
determinadas.

Energia interna: energia térmica associada aos movimentos


moleculares de uma substância. Na sua forma específica, a energia interna
será u = uI + x (uv - uI).

Entalpia: para um sistema, define a máxima quantidade de energia que


pode ser removida como calor. Matematicamente, H = U + p . ∀.

Fluido de trabalho: qualquer fluido que possa ser utilizado para


adicionar ou retirar energia.

Equação do gás: em Termodinâmica, um gás será tratado como ideal


e relacionado por p∀ = mRT.

Constante do gás: é a razão da constante universal dos gases com a


massa molar do gás em estudo.

Gás real: o modelo do gás ideal deve ser ajustado por um fator de
compressibilidade.

83
Unidade I

Fator de compressibilidade: relaciona o comportamento do gás real



com o ideal, Z = .
RT
Propriedades reduzidas: propriedades que auxiliam na utilização
de gráficos para obter a compressibilidade. Consideram‑se pressão e
temperatura reduzidas, bem como volume específico pseudorreduzido:
p T ϑ
pR = , TR = , ϑR = .
pcr Tcr RTcr / pcr

Duas propriedades independentes são suficientes para definir o


estado de qualquer sistema simples. Assim, a variação da energia interna
será ∆u= u2 – u1 = cϑ(T2 – T1), e a variação da entalpia será ∆h = h2 – h1
= cp(T2 – T1).

Os calores específicos a pressão e volume constantes podem ser


definidos como função das variações da entalpia e da energia interna.
Existe uma relação alternativa que para a constante do gás: cp = cϑ + R.

Uma nova propriedade termodinâmica pode ser definida com a razão


cp
dos calores específicos: k = .

Processo termodinâmico: verifica a transformação de um tipo de
energia em outro. Na Termodinâmica, muitos processos estão descritos em
função da quantidade de calor e do trabalho.

Quantidade de calor: é positiva quando a transferência de energia


ocorre para dentro do sistema e negativa quando ocorre para fora.

Trabalho: positivo quando sai do sistema e negativo quando entra


no sistema.

Transferência de calor: pode ocorrer por condução, convecção ou


radiação, mas sempre necessita da diferença de temperatura.

Condução: processo de transferência de calor que ocorre em sólidos ou


kA
fluidos em repouso, Q = ∆T .
L
Convecção: processo
. de transferência de calor que ocorre com fluidos
em movimento, Q = kAs(Ts – T∞).

84
TERMODINÂMICA BÁSICA

Radiação: processo de transferência de calor que pode se propagar em


qualquer meio, inclusive no vácuo, Q = εσA(Ts4 − T∞4 ) .

Trabalho: definido como o produto da força aplicada pelo


deslocamento causado.

Em Termodinâmica, é conveniente expressar o trabalho considerando


a pressão, W1–2 = p(∀2 – ∀1). O trabalho depende fortemente da trajetória.
1
Trabalho exercido por uma mola, W = k(x22 − x12 ) .
2
Potência: relaciona a taxa de variação do trabalho, ou seja, a razão
 =W.
entre a energia (trabalho) e o tempo, W
∆t
Trabalho de eixo rotativo: geralmente expresso como potência,
 = T .ω.
relaciona o torque e a velocidade angular do eixo, W
.
Trabalho de uma resistência elétrica, W = V i = i2 . R

Primeira Lei da Termodinâmica: estudo da energia e de sua


transferência em processos e ciclos, ∆U = Q – W.

Ciclo termodinâmico: o processo estudado apresenta diversas etapas


e, no final, retorna à condição inicial. Para um ciclo, não existe variação da
energia interna e a Primeira Lei da Termodinâmica se torna Qciclo = Wciclo.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2008) Uma panela de pressão cozinha muito mais rápido do que uma
panela comum, ao manter mais altas a pressão e a temperatura internas. A panela é bem vedada,
e a tampa é provida de uma válvula de segurança com uma seção transversal (A) que deixa o
vapor escapar, mantendo, assim, a pressão no interior da panela com valor constante e evitando
o risco de acidentes.

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Unidade I

Tabela de pressão absoluta da água saturada em função da temperatura


Temp. (ºC) Pressão (kPa) Temp. (ºC) Pressão (kPa) Temp. (ºC) Pressão (MPa)
0,01 0,6113 50 12,350 100 0,10135 Patm = 10 kPa
5 0,8721 55 15,758 105 0,12082 g = 10 m/s2
10 1,2276 60 19,941 110 0,14328 Válvula
A = 4 mm2
15 1,7051 65 25,033 115 0,16906
20 2,3385 70 31,188 120 0,19853
25 3,1691 75 38,578 125 0,2321
30 4,2461 80 47,390 130 0,2701
35 5,6280 85 57,834 135 0,3130 Panela de
pressão
40 7,3837 90 70,139 140 0,3613
45 9,5934 95 84,554 145 0,4154

Considerando os dados fornecidos na figura e na tabela e uma situação em que a panela contém água
saturada, a massa da válvula, em gramas, para garantir uma pressão manométrica interna constante de
100 kPa, e o correspondente valor aproximado da temperatura da água, em ºC, são, respectivamente:

A) 4 e 100.

B) 4 e 120.

C) 40 e 100.

D) 40 e 120.

E) 400 e 100.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: para que essa alternativa fosse correta, seria necessário alterar a aceleração da gravidade
para 1 m e considerar que a pressão interna fosse a pressão absoluta.
s2
B) Alternativa incorreta.

Justificativa: para que essa alternativa fosse correta, seria necessário alterar a aceleração da gravidade
para 1 m .
s2

86
TERMODINÂMICA BÁSICA

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: para que essa alternativa fosse correta, seria necessário considerar que a pressão
interna fosse a pressão absoluta.

D) Alternativa correta.

Justificativa: veja a solução.

1) Válvula

Massa: M

Área (secção transversal): A = 4 mm2 = 4.10‑6 m2

2) Panela de pressão (água saturada)

Pressão manométrica interna: P = 100 kPa = 100.103 Pa

3) Equilíbrio de forças na válvula:

Peso (válvula) = Pressão ∙ Área

M ∙ g = P ∙ A → M ∙ 10 = 100 ∙ 103 ∙ 4 ∙ 10‑6

Massa = M = 4 ∙ 10‑2 kg = 40 g

Para a determinação da temperatura, é necessário lembrar que a pressão interna a que se refere
o problema é a pressão efetiva (ou manométrica). Essa pressão é a diferença entre a pressão interna
e a pressão atmosférica. Como a tabela está mostrando a pressão absoluta, para a determinação da
temperatura, é necessário somar a pressão interna com a pressão atmosférica, igual a 101 kPa. Com isso,
a pressão absoluta fica igual a 201 kPa ~ 0,2 MPa. Assim, consultando a tabela fornecida no problema,
a temperatura interna é igual a 120 oC.

Em resumo:

Água saturada

Pressão absoluta = 100 + 101 = 201 kPa = 0,201 MPa

Tabela de pressão absoluta em função da temperatura:

0,201 MPa ≈ 0,19853 MPa → 120 °C

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Unidade I

Tabela de pressão absoluta da água saturada em função da temperatura


Temp. (ºC) Pressão (kPa) Temp. (ºC) Pressão (kPa) Temp. (ºC) Pressão (MPa)
0,01 0,6113 50 12,350 100 0,10135
5 0,8721 55 15,758 105 0,12082
10 1,2276 60 19,941 110 0,14328
15 1,7051 65 25,033 115 0,16906
20 2,3385 70 31,188 120 0,19853
25 3,1691 75 38,578 125 0,2321
30 4,2461 80 47,390 130 0,2701
35 5,6280 85 57,834 135 0,3130
40 7,3837 90 70,139 140 0,3613
45 9,5934 95 84,554 145 0,4154

Temperatura ∼ 120 °C

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: para que essa alternativa fosse correta, seria necessário alterar a aceleração da gravidade
para 100 m e considerar que a pressão interna fosse a pressão absoluta.
s2
Questão 2. (Enade 2014) Um ambiente termicamente confortável é uma das condições que devem
ser consideradas em projetos de edificações. A fim de projetar um ambiente interno com temperatura
de 20 ºC para uma temperatura externa de 35 ºC, um engenheiro considerou, no dimensionamento, um
fluxo de calor através de uma parede externa de 105 W/m2, conforme ilustra a figura seguinte.

Tint = 20 ºC

105 W/m2

Text = 35 ºC
20 cm

A tabela a seguir apresenta os valores da condutividade térmica para alguns materiais de construção.

Material Condutividade térmica λ (W . m-1 . K-1)


Concreto 1,40
Pedra natural 1,00
Placa de aglomerado de fibras de madeira 0,20

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TERMODINÂMICA BÁSICA

Placa de madeira prensada 0,10


Placa com espuma rígida de poliuretano 0,03

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA TÉCNICAS. NBR 15220‑1: Desempenho térmico de edificações – Parte 1: Definições,
símbolos e unidades. Rio de Janeiro, 2005, p. 8. (Adaptado).

A fim de obter a temperatura interna desejada, qual deve ser o material selecionado, entre os
apresentados na tabela anterior, para composição da parede externa?

A) Concreto.

B) Pedra natural.

C) Placa de madeira prensada.

D) Placa com espuma rígida de poliuretano.

E) Placa de aglomerado de fibras de madeira.

Resolução desta questão na plataforma.

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