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Saúde Coletiva

ISSN: 1806-3365
editorial@saudecoletiva.com.br
Editorial Bolina
Brasil

Ruas, Gualberto; Couto, Victor Fernando; Sousa Pegorari, Maycon; Gonçalves Ohara, Daniela;
Kawakami Jamami, Luciana; Jamami, Maurício
Avaliação respiratória, capacidade funcional e comorbidade em indivíduos com hipertensão arterial
Saúde Coletiva, vol. 10, núm. 59, 2013, pp. 31-36
Editorial Bolina
São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84228211006

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avaliação em saúde
Ruas G, Couto VF, Pegorari MS, Ohara DG, Jamami LK, Jamami M. Avaliação respiratória, capacidade funcional e comorbidade em
indivíduos com hipertensão arterial

Avaliação respiratória, capacidade


funcional e comorbidade em indivíduos
com hipertensão arterial
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) caracteriza-se por elevados níveis pressóricos e seu aparecimento pode
estar associado ao sedentarismo. Desta forma o objetivo deste estudo foi avaliar o pico de fluxo expiratório (Peak
Flow), força muscular respiratória (FMR), função pulmonar, tolerância ao exercício (TC6), comorbidades e grau de
dispneia em indivíduos com hipertensão arterial. Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de caráter explo-
ratório e intencional. Foram avaliados 38 mulheres e 11 homens. Realizou-se espirometria, Peak Flow, FMR e o
TC6. Além disso, foi aplicado questionário de comorbidades (Van Manen et al., 2001) e o grau de dispneia (Fle-
tcher,1960). Observou-se que os valores obtidos foram significativamente menores que os previstos para a Peak
Flow (403±76 vs 333±122l/min), PEmáx (79±5 vs 67±25cmH2O), PImáx (81±5 vs 54±25cmH2O), para distância
percorrida no TC6(485±56 vs 409±102m) e para as variáveis espirométricas. As comorbidades mais frequentes
foram diabetes mellitus, artrose e a dispneia relatada por 35%. Sendo assim, as pessoas com hipertensão arterial
avaliadas apresentaram diminuição significativa na Flow Peak, na FMR, na função pulmonar e na tolerância ao
exercício, sendo importante introduzi-los em programas de condicionamento físico.
Descritores: Hipertensão; Testes de função respiratória; Comorbidade.

High blood pressure (HBP) is characterized by elevated blood pressure and its appearance may be associated
with physical inactivity. To evaluate the peak expiratory flow (peak flow), respiratory muscle strength (RMS), lung
function, exercise tolerance (6MWT), comorbidities and severity of dyspnea in hypertensive subjects. 38 women
and 11 men were evaluated. Performed spirometry, peak flow, FMR, and the 6MWT. In addition, a questionnaire
was applied to comorbidities (Van Manen et al., 2001) and the degree of dyspnea (Fletcher, 1960). The values
obtained were significantly lower than those for peak flow (403 ± 76 vs. 333 ± 122l/min), MEP (79 ± 5 vs 67 ±
25cmH2O), MIP (81 ± 5 vs 54 ± 25cmH2O), 6MWT (485 ± 56 vs 409 ± 102m) and spirometric variables. The
most common comorbidities were diabetes, arthritis and dyspnea was reported by 35%. Hypertensive partici-
pants evaluated had significant decrease in Peak Flow in FMR, lung function and exercise tolerance, so it’s im-
portant to bring them into programs of fitness.
Descriptors: Hypertension; Respiratory function tests; Comorbidity.

La hipertensión arterial (HTA) se caracteriza por presión arterial elevada y su aparición puede estar asociada
con la inactividad física. El objetivo de este estudio fue evaluar el flujo espiratorio máximo (flujo máximo), la
fuerza muscular respiratoria (RMS), la función pulmonar, la tolerancia al ejercicio (6MWT), las comorbilidades y
la gravedad de la disnea en los pacientes con hipertensión arterial. Se evaluaron 38 mujeres y 11 hombres. Se
realizó espirometría, flujo máximo, FMR y la 6MWT. Además, se aplicó un cuestionario a las comorbilidades (Van
Manen et al., 2001) y el grado de disnea (Fletcher, 1960). Los valores obtenidos fueron significativamente infe-
riores a las de un flujo máximo (403 ± 76 vs 333 ± 122l/min), MEP (79 ± 5 vs 67 ± 25cmH2O), MIP (81 ± 5 vs 54
± 25cmH2O) para la 6MWT (485 ± 56 vs 409 ± 102 m) y las variables espirométricas. Las comorbilidades más
frecuentes fueron diabetes mellitus, artritis y disnea en 35%. Los individuos con hipertensión arterial evaluados
mostraron una disminución significativa en el flujo máximo en la función pulmonar FMR, y la tolerancia al ejerci-
cio, siendo importante ponerlos en programas de acondicionamiento físico.
Descriptores: Hipertensión arterial; Pruebas de función respiratoria; Comorbilidad.

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Gualberto Ruas Daniela Gonçalves Ohara


Fisioterapeuta. Mestre em Fisioterapia Respiratória. Fisioterapeuta. Especialista em Docência do
Doutorando em Fisioterapia Respiratória pela Ensino Superior. Especialista em Saúde do
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Adulto na modalidade Residência Multiprofissional.
Professor do Curso de Graduação em Fisioterapia da Mestranda em Fisioterapia pela UFSCar.
Universidade Federal do Triângulo Mineiro-UFTM.
gualbertoruas@yahoo.com.br Luciana Kawakami Jamami
Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia
Victor Fernando Couto Cardiorespiratória. Mestre em Fisioterapia.
Fisioterapeuta. Especialista em Ventilação Mecânica em Professora no Centro Universitário Paulista.
Adulto. Mestre em Fisioterapia. Coordenador e professor
do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Filosofia e Maurício Jamami
Ciências Humanas de Goiatuba-GO (FAFICH). Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia
Respiratória. Mestre em Fisioterapia.
Maycon Sousa Pegorari Doutor em Ciências Fisiológicas. Professor
Fisioterapeuta. Especialista em Saúde Coletiva. Associado do Departamento de Fisioterapia-UFSCar.
Especialista em Saúde do Idoso na modalidade Docente Permanente do Programa de
Residência Multiprofissional. Mestrando em Atenção á Pós-graduação de Fisioterapia-USFCar.
Saúde - UFTM.

Recebido: 02/06/2011
Aprovado: 13/09/2012

INTRODUÇÃO emocional, dislipidemia e o sedentarismo3.

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença


crônico-degenerativa, caracterizada por altos níveis
pressóricos, com valores de pressão arterial sistólica (PAS)
O sedentarismo e a inatividade física são fatores que
podem levar a uma diminuição na tolerância ao esfor-
ço, e consequentemente dificuldade na realização de
acima de 140 mmHg e pressão arterial diastólica (PAD) atividades físicas e recreacionais devido ao cansaço e
acima de 90 mmHg, podendo ser classificada em leve, dispneia, que impedem e desestimulam a prática de
moderada, alta e grave1. exercícios físicos.
Atualmente, a HAS é um problema de saúde pública por A atividade física é um dos principais recursos não far-
sua magnitude, risco, complicações e dificuldades no con- macológicos para o controle dos níveis pressóricos, pois
trole2. Devido a isto, as políticas públicas de diagnóstico e induz uma bradicardia sinusal diminuindo a pressão arterial,
tratamento da HAS proporcionaram o maior incentivo gover- melhora o consumo de oxigênio, diminui a viscosidade do
namental que por meio de campanhas públicas dissemina- sangue devido ao aumento da atividade fibrolítica e diminui-
ram a preocupação no controle da pressão arterial. ção da atividade plaquetária. Além disso, o desenvolvimento
Os hábitos de vida modernos, mecanização do traba- da circulação colateral repercute na redução da resistência
lho, modificações econômicas, políticas e sociais são em vascular total pela consequente vasodilatação4,5.
parte responsáveis pela alta incidência de HAS, associa- Uma das formas simples e de baixo custo para avaliar a
dos ao aumento da expectativa de vida, avanços tecnoló- tolerância ao esforço é o teste de caminhada de seis minutos
gicos e científicos. (TC6), que é utilizado na avaliação de portadores de pneu-
Estudos populacionais evidenciam a importância do con- mopatias, porém recentemente utilizado em pacientes com
trole dos níveis pressóricos para a redução da morbidade cardiopatias com baixa capacidade aeróbia6.
e mortalidade cardiovascular2, sendo que as doenças mais O TC6 avalia as respostas global e integrada dos sistemas
frequentes nas pessoas com hipertensão arterial são: diabe- envolvidos durante o exercício, incluindo os sistemas car-
tes mellitus, problemas renais, doenças cardíacas e acidente diovascular e respiratório, porém, não fornece informações
vascular encefálico3. específicas sobre a função de cada sistema envolvido no
Vários fatores de risco estão ligados ao aparecimento e exercício ou sobre o mecanismo de limitação, o que é possí-
desenvolvimento da HAS entre eles: raça, idade, sexo, here- vel por meio dos testes de desempenho máximo 7.
ditariedade, obesidade, consumo de álcool, contraceptivo A HAS é assintomática e silenciosa podendo perpetuar
oral, tabagismo, consumo de sal, diabetes mellitus, tensão por anos, levando em longo prazo a alterações sistêmi-

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cas, principalmente lesões cardiovasculares progressi- lizava uma inspiração máxima seguida de uma expiração
vas 8. As alterações que ocorrem no sistema cardiovascu- máxima e forçada utilizando-se um Peak Flow (PF) meter
lar podem causar complicações no sistema respiratório, Air Zone®.
devido às interações existentes entre estes dois órgãos A força muscular respiratória foi obtida através de
(coração e pulmão). um manovacuômetro marca Gerar®, calibrado em ±
Poucos estudos avaliam as repercussões pulmonares na 300 cmH2O. Os pesquisados realizaram manobras de
força muscular respiratória, permeabilidade das vias aéreas Pressão Inspiratória Máxima (PImáx) e Pressão Expiratória
e tolerância ao esforço em portadores de hipertensão arterial Máxima (PEmáx) 10.
justificando a realização deste trabalho. Para as manobras espirométricas, de peak flow e manova-
O objetivo deste trabalho foi avaliar a função pulmonar, cuometria foram realizadas no mínimo 3 manobras e no máxi-
pico de fluxo expiratório, força muscular respiratória, capa- mo 10, sendo que a diferença não deveria ultrapassar 10%.
cidade funcional, fatores de comorbidade e a presença de O TC6, que avalia a capacidade funcional, foi realizado
dispneia em indivíduos portadores de HAS. em um corredor plano de 30 metros de comprimento e 2
metros de largura. O voluntário caminhou acompanhado
METODOLOGIA por um avaliador, com o objetivo de percorrer a máxima dis-
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de caráter tância possível durante seis minutos, foi monitorizado con-
exploratório e intencional. tinuamente com oxímetro de pulso portátil marca Nonin®,
Foram avaliados 49 indivíduos com HAS, 38 mulheres e modelo Ônix, possibilitando obter os valores de saturação
11 homens com média de idade de 60 ± 9 anos e média de periférica de oxigênio (SpO2) e freqüência cardíaca (FC) que
Índice de Massa Corpórea de 30 ± 5 Kg/m2 com controle foram anotados no repouso, primeiro, segundo, quarto e
medicamentoso, com média de pressão arterial sistólica de sexto minuto do TC6.
132 ± 13 mmHg e média de pressão arterial diastólica de 80 Além disso, foi mensurada a pressão arterial em repouso
± 8 mmHg em repouso. e no final do TC6 questionando-se a sensação de cansaço
Foram incluídos neste estudo indivíduos com diagnóstico com a Escala de Borg Ratings of Perceived Exertion (EB-RPE)
médico de HAS, com idade entre 40 a 80 anos, no Centro pré e pós TC6.
Universitário Central Paulista – UNICEP (São Carlos-SP) no A cada volta foram proferidos estímulos verbais de incenti-
período de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011e que vo, porém não foi permitido que durante o teste o voluntário
concordaram em participar voluntariamente deste estudo, e o avaliador conversassem11.
assinando um termo de consentimento livre e esclarecido, Foi dada orientação aos voluntários que, caso houves-
conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. se a necessidade de parar, o mesmo deveria permanecer
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do na pista de caminhada na posição ortostática com o
- UNICEP (parecer número 18165). cronômetro acionado e, assim que possível, retomasse a
Foram excluídos deste estudo voluntários com doenças caminhada. Decorridos os seis minutos, caso não voltasse
graves, instáveis hemodinamicamente, com problemas res- a caminhar, considerou-se a distância percorrida até o
piratórios associados ou com problemas ortopédicos que momento da interrupção.
impedissem a realização do TC6 e pacientes com dificuldade Também foram listados os fatores de comorbidade, os
de compreensão. quais foram baseados na listagem das 23 doenças mais fre-
quentes de acordo com Van Manen et al (2001)12 o grau de
Procedimento Experimental dispneia em repouso foi avaliado utilizando a escala de disp-
A avaliação foi composta de prova de função pulmonar, neia Medical Research Council(MRC)13, na qual o indivíduo
peak flow, manovacuometria, teste de caminhada de seis apenas assinalava uma alternativa referente ao grau de falta
minutos e utilização do questionário de comorbidade e de ar. A escala MRC é delimitada em cinco graus, sendo que
escala de dispneia. quanto maior o grau, maior o relato de dispneia.
Na prova de função pulmonar utilizou-se um espirô-
metro Vitalograph 6800® respeitando-se as Diretrizes Análise dos dados
da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia9. Para fins de análise estatística foi considerado o valor máxi-
O teste foi composto de manobras de Capacidade Vital mo obtido na manovacuometria e peak flow, o qual foi com-
Lenta (CVL), Capacidade Vital Forçada (CVF) e Ventilação parado com o previsto de acordo com Neder et al (PImáx e
Voluntária Máxima (VVM). PEmáx) 14 e Nunn e Gregg (Peak Flow)15.
Foi avaliado o pico de fluxo expiratório com o voluntário Também foi considerada a distância percorrida no TC6 a
na posição ortostática, utilizando um clipe nasal. Foi rea- qual foi comparada com a distância prevista de acordo com

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a fórmula de Enright e Sherril (1998)16. Com relação ao TC6 não ocorreu alteração significativa na
Para a interpretação espirométrica dos resultados foi reali- pressão arterial diastólica. Entretanto, observaram-se aumen-
zada uma comparação do obtido com o previsto de acordo tos significativos na pressão arterial sistólica, saturação peri-
com Pereira, Sato e Rodrigues17. férica de oxigênio, frequência cardíaca e Escala de Borg no
Os valores obtidos e previstos foram comparados através início e no fim do TC6 (Tabela 3).
do Teste de Wilcoxon (p≤ 0,05). Realizou-se também análise A distância percorrida no TC6 foi significativamente
qualitativa para os fatores de comorbidade. inferior ao previsto (485 ± 56 vs 409 ± 102 m) conforme
ilustrado na figura 1.
RESULTADOS Na tabela 4 pode-se constatar o número de comorbidades
Não se observou alterações significativas dos valores previs- associadas presente nos pacientes com HAS.
tos em relação aos obtidos para as variáveis espirométricas Além disso, o diabetes e a artrose foram as comorbidades
CVL, CVF, Volume Expiratório Forçado no 1º segundo (VEF1) com maior prevalência neste estudo (Tabela 5).
e relação VEF1/CVF. Entretanto, as variáveis Fluxo Expiratório Avaliou-se também o grau de dispnéia através da escala
Forçado 25-75%, Pico de Fluxo Expiratório Forçado e MRC em que a maioria não relatou sentir dispneia (Tabela 6).
Ventilação Voluntária Máxima apresentaram diminuição
significativa nos indivíduos com hipertensão arterial em DISCUSSÃO
comparação ao previsto (Tabela 1). As condições cardiovasculares presentes na HAS podem
aumentar a pós-carga sistêmica,
levando a um aumento do traba-
Tabela 1 - Pessoas com hipertensão arterial de acordo com médias, desvios padrão
e resultados do Teste de Wilcoxon para as variáveis espirométricas previstas e obtidas. lho cardíaco, conseqüente redu-
São Carlos, 2011. ção de sua eficiência mecânica
que por sua vez altera a propul-
Variáveis Previstas Obtidas Teste de Wilcoxon
são sangüínea normal do sangue
Capacidade Vital Lenta (l) 2,8 ± 06 2,6 ± 0,6 NS
arterial e venoso para dentro e
Capacidade Vital Forçada (l) 2,8 ± 0,6 2,8 ± 0,6 NS
fora dos pulmões. Assim o cora-
Volume Expiratório Forçado no 1º segundo (l) 2,3 ± 0,5 2,2 ± 0,6 NS
ção e os pulmões podem ser
Relação VEF1/CVF (%) 79 ± 2 79 ± 6 NS
considerados como uma única
Fluxo Expiratório Forçado 25-75% (l/s) 2,8 ± 0,5 2,2 ± 0,9 *
unidade funcional18.
Pico de Fluxo Expiratório Forçado (l/min) 367 ± 64 303 ± 103 *
A HAS é uma doença sistêmi-
Ventilação Voluntária Máxima (%) 90 ± 26 84 ± 28 *
ca que pode levar a repercussões
l: litros; %: porcentagem; l/s: litros por segundo; l/min: litros por minuto; NS: não significativo; *: significativo (p≤ 0,05). pulmonares. Neste estudo se veri-
ficou que 24% dos participantes
apresentaram anormalidades nas
Na espirometria, 12 sujeitos apresentaram anormalidades funções respiratórias (padrão obstrutivo). Observou-se ainda
sendo que 10 apresentaram obstrução leve e 2 apresentaram que os participantes apresentaram diminuição significativa
obstrução moderada, segundo classificação Diretrizes para nas variáveis espirométricas de Fluxo Expiratório Forçado
teste de função pulmonar. 25-75%, Pico de Fluxo Expiratório Forçado e Ventilação
Na tabela 2 observa-se alterações significativas dos valores Voluntária Máxima. Além dessas alterações verificou-se
previstos em relação aos obtidos para permeabilidade das neste estudo que a força muscular respiratória também apre-
vias aéreas, PImáx e PEmáx. sentou diminuição significativa.
A maioria dos pacientes apre-
sentaram comorbidades associa-
Tabela 2 - Indivíduos com hipertensão arterial conforme médias, desvios padrão das à HAS, sendo que as mais
e resultados do Teste de Wilcoxon para a permeabilidade das vias aéreas, PImáx e
comuns foram diabetes melli-
PEmáx previstas e obtidas. São Carlos, 2011.
tus, artrose, insônia, enxaque-
Variáveis Previstas Obtidas Teste de Wilcoxon ca, arritmia, gastrite e obesida-
Permeabilidade das vias aéreas (l/min) 403 ± 76 333 ± 122 * de. Segundo Lopes et al.19 as
PI máx (cmH2O) 81 ± 5 54 ± 25 * comorbidades mais frequentes
PE máx (cmH2O) 79 ± 5 67 ± 25 * encontradas nos indivíduos com
hipertensão arterial são diabetes,
PI máx: Pressão Inspiratória Máxima; PEmáx: Pressão Expiratória Máxima; l/min: litros por minuto; cmH2O: centímetros
de água; *: significativo (p≤ 0,05). obesidade e dislipidemias.

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A obesidade pode triplicar


Tabela 3 - Pesquisados com hipertensão arterial de acordo médias, desvios padrão e o risco do desenvolvimento de
resultados do Teste de Wilcoxon para as variáveis obtidas no TC6. São Carlos, 2011. hipertensão arterial exponen-
Variáveis Previstas Obtidas Teste de Wilcoxon cialmente com o aumento do
Pressão Arterial Diastólica (mmHg) 80 ± 8 82 ± 16 NS peso corporal5, podendo favore-
Pressão Arterial Sistólica (mmHg) 131 ± 13 141 ± 19 * cer o desgaste articular e desen-
Saturação Periférica de Oxigênio (%) 96 ± 2 95 ± 2 * volvimento da artrose devido ao
Frequência Cardíaca (bpm) 81 ± 13 112 ± 20 * peso elevado.
Escala de Borg 8±2 12 ± 3 * Além disso, a presença da
gastrite pode estar associada à
mmHg: milímetros de mercúrio; %: porcentagem; bpm: batimentos por minutos; NS: não significativo; *: utilização diária de medicamen-
significativo (p≤0,05).
tos anti-hipertensivos por longo
período de tempo, podendo
Figura 1 - Pesquisados com hipertensão arterial de acordo com ainda estar relacionada a maus hábitos alimentares e pre-
valores da distância percorrida e prevista no TC6; São Carlos, 2011. sença de estresse frequente.
Distância percorrida
560
Tabela 5 - Pesquisados conforme presença de doenças
520 associadas à HAS.São Carlos, 2011.
480 Comorbidades Nº Pacientes
440 Diabetes 13
Artrose 12
400 Insonia 8
360 Desvio Padrão Enxaqueca 6
Erro Padrão Arritmia, Gastrite 5
320 Obesidade, Artrite, Problemas Renais 4
Média
Osteoporose, Hérnia de Disco 3
280
Obtida Prevista Angina, Depressão, Cardiomegalia 2
* significativo (p ≤ 0,05)
Vesícula, Infarto, Epilepsia, AVC, Problemas de 1
Tireóide, Câncer, Cistite

Tabela 4 - Pesquisados de acordo a comorbidades


associadas à hipertensão arterial. São Carlos, 2011.
Nº Pacientes Nº Comorbidades Tabela 6 - Pesquisados segundo grau de dispnéia na escala
1 9 MRC. São Carlos, 2011.
1 6 Nº Pacientes Grau de Dispneia
5 5 33 0
5 4 2 1
8 3 8 2
12 1 2 3
17 2 4 4
1 5

A diabetes mellitus é um dos principais fatores de risco para


as doenças cardiovasculares3, pois é uma complexa desordem A dispneia é um sintoma que pode levar a inatividade
metabólica caracterizada por deficiente captação da glicose física, consequentemente diminuindo a tolerância ao
pelos tecidos resultando em uma insuficiente produção de exercício21. Neste estudo 35% dos pacientes apresen-
insulina pelo pâncreas ou perda da sensibilidade periférica taram dispneia conforme se avaliou por meio da escala
à insulina. Os níveis elevados de glicose circulante estão MRC que é uma escala simples e fácil de utilizar que
associados com uma difusa lesão vascular e microvascular em descreve a sensação de dispneia22.
especial na retina, nos rins e na circulação coronária20. Provavelmente essa sensação de dispnéia pode ter levado

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os pacientes a apresentarem uma diminuição significativa sugerindo que apesar de ser um teste rápido e submáximo
na distância percorrida no TC6, sugerindo que a dispnéia pode promover ajustes fisiológicos que possibilita avaliação
pode ser um dos principais sintomas que influenciam nas das alterações pressóricas e da FC, além de fornecer infor-
alterações respiratórias e de tolerância ao esforço em pes- mações sobre a tolerância ao esforço.
soas com hipertensa arterial. Assim, o sistema respiratório merece ser enfocado em pro-
O TC6 é utilizado há muito tempo na avaliação de gramas de reabilitação cardíaca para avaliação e incremento
pacientes portadores de doenças respiratórias. Atualmente, da função pulmonar, força muscular, permeabilidade das
este teste é considerado como indispensável na avaliação vias aéreas, tolerância ao exercício e alívio da dispneia, pois
de pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, se observou neste estudo uma diminuição significativa nas
porém é pouco utilizado na prática clínica em pacientes variáveis respiratórias e na tolerância ao exercício.
com cardiopatias.
No TC6 a PAS apresentou aumento significativo devido CONCLUSÃO
ao esforço físico. A pressão arterial sistólica aumenta com o Neste estudo os indivíduos com hipertensão arterial avalia-
aumento da intensidade do esforço, devido ao aumento do dos apresentaram diminuição significativa no pico de fluxo
débito cardíaco e do volume sistólico4. expiratório, na força muscular respiratória e na tolerância ao
A FC também aumentou significativamente após o TC6 exercício, sendo importante introduzi-los em um programa
que é um comportamento esperado devido ao ajuste do de reabilitação cardíaca visando uma melhora do seu condi-
sistema cardiovascular frente ao exercício físico. Outra cionamento físico e tolerância ao exercício, sugerindo ainda
variável que apresentou aumento significativo foi a EB, que os programas de reabilitação cardíaca acrescentem em
indicando um aumento no nível de cansaço após o TC6, sua avaliação uma abordagem respiratória.

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