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Esta carta foi escrita com o intuito de entregar ao corpo ministerial de uma
congregação local da igreja Congregação Cristã no Brasil. Porém ao tornar pública,
ocultei a localidade e o nome dos membros do corpo ministerial por respeito a estes.

Ao ministério da Congregação Cristão no Brasil, da comum Portais em


Cajamar-SP, a saber: ir. Isaías, Ir. Airton, Ir. Paulo e ir. Carlos.

A paz de Deus seja convosco.

Venho por meio desta carta comunicar minha renúncia ao meu cargo de
músico e também os desligamentos meu e da minha esposa da instituição.

Sinto-me no dever de lhes dar uma satisfação, por respeito a vós. Tentarei
me expressar no texto a seguir:

Primeiramente peço perdão por ter deixado de me congregar convosco já


há alguns meses sem dar satisfação.

A motivação não é qualquer problema pessoal com qualquer um de vós,


sejam meus conservos, ou do ministério, pelo contrário, todos sempre nos trataram
amistosamente e não tenho qualquer objeção pessoal contra qualquer membro. No
entanto, há algum tempo, sinto que não me identifico mais com a instituição
Congregação Cristão no Brasil (a qual me referirei nesta carta como CCB), devido
a contrariedades que tenho notado no que tange a Palavra de Deus (bíblia). Não me
refiro exclusivamente à comunidade local, mas à instituição como um todo, à
estrutura, à liderança, à cultura, que são consequências de uma tradição perpetuada
por várias décadas e muitas vezes disseminadas pela liderança (conselho do Brás).

Antes de continuar, peço que, por favor, caros, não enviesem sua leitura de
modo que eu seja tido como um desviado ou apóstata. Mesmo sendo um pecador,
creio no Senhor Jesus como meu único e suficiente salvador, e se vós credes da
mesma forma, continuaremos sendo irmãos em Cristo, pois a salvação não está
atrelada a ser membro de uma determinada instituição religiosa e sim ser parte da
igreja espiritual de Cristo. Também adianto que não estou sendo arrogante em
minhas palavras, mas apenas sincero. Dito isso, continuo.

Ultimamente tenho me aplicado a examinar as escrituras e a consumir


pregações de irmãos de outras denominações evangélicas e que são zelosos
quanto à Palavra. Creio que isso foi um caminho que Deus tomou em minha vida
para conhecer melhor os fundamentos da graça e do evangelho do nosso Senhor
Jesus. Isto tem sido uma experiência maravilhosa e também um divisor de águas.

Ao passo que aprendo sobre a Palavra de Deus e o evangelho, também


encontro dissonâncias fundamentais (irreconciliáveis) na tradição e crenças da CCB
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- ainda que não haja uma homogeneidade de ideias a respeito das doutrinas e
crenças entre o ministério, pelo contrário, há muitas contradições entre os mesmos
- as quais são repassadas nas pregações e em tópicos de ensinamento. Vou listar
algumas destas contrariedades em alguns pontos abaixo:

1. Afirmarem que as pregações/revelações/profecias nos cultos são


absolutamente a Palavra de Deus, ou melhor, o que o pregador está dizendo
é absolutamente Deus quem está proferindo tais palavras. Afirmarem
também que os tópicos redigidos nas reuniões anuais gerais de
ensinamentos são revelados por Deus. Este argumento sempre foi utilizado
inclusive para fazer mérito à CCB e demérito das outras denominações
evangélicas ou pregadores, tais que estudam a bíblia e preparam seus
sermões, com dizeres do tipo “aqui a comida desce quente do céu e nas
outras denominações a comida é fria”.
Há um grande equívoco que gera consequências graves para a igreja:

 A primeira consequência é que isso torna o crente acomodado em


relação a necessidade de conhecer as Escrituras sagradas, já que a
Palavra de Deus vem “fresca do céu”, por que dever-se-ia comer a
comida “fria”? Então o crente deixa de basear sua vida de acordo com
as Escrituras, e passa a viver ansiosamente buscando revelações e
profecias, buscando saber se deve comprar ou vender, viajar ou não
viajar, fazer tal negócio ou não, etc, sendo que Deus não nos orienta a
buscar por profecias para coisas do nosso cotidiano, pelo contrário,
Jesus diz:

“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo
que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao
vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o
mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do
céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e
vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do
que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados,
acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por
que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles
crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo
Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois,
se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é
lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca
fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que
beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas
os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que
necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de
3

Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.


Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã
cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” (Mateus 6:25-34).

 A segunda é que isso torna tudo que o pregador proferir, como palavras
inerrantes, ou seja, absoluto, inquestionável, gera-se até certo receio em
questionar algo que foi pregado pelo medo de blasfemar contra o Espírito
Santo. Isto faz com que sigamos cegamente palavras de homens que
muitas vezes contrariam as escrituras ou inventam coisas que Deus
nunca disse. Isto é característica de seitas como a Católica Romana que
creem que tudo que o Papa diz ex cathedra (na cadeira de Pedro) é
revelação direta de Deus e tem o mesmo peso das Escrituras (ou as
vezes superior a esta), ou as Testemunhas de Jeová que tem seu corpo
ministerial como “homens iluminados” por Deus e inquestionáveis, os
Mórmons que creem no livro de Mórmon como inspiração comparável à
bíblia e os Adventistas que creem nas profecias de Ellen White como
tendo o mesmo nível de inspiração da bíblia. O que esses movimentos
têm em comum é que não estão satisfeitos com as Escrituras Sagradas,
buscando novas revelações e profecias. Nem o apóstolo Paulo estava
de acordo com esse desprezo pelas Escrituras, pelo contrário, Paulo
elogiou a igreja de Bereia por estudarem as Escrituras para conferir se o
que ele estava pregando estava de acordo com a Palavra de Deus (a
bíblia) e também orientou para que quando alguém profetizasse, dois ou
três deveriam julgar a profecia – eu creio que Deus possa se manifestar
de forma extraordinária por meio de revelações particulares, pois Deus
fala e faz como lhe apraz e quando necessário, porém não devemos viver
em busca disso, pois podemos cair em ciladas de falsas profecias, antes,
devemos dar maior atenção e valor à Palavra que já nos foi revelada a
mais de 2.000 anos. Paulo disse:
“Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas
maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos
dias, pelo Filho” (Hebreus 1:1 ARC)

O Filho deu autoridade aos apóstolos, pelo Espírito Santo, para


completarem a revelação do evangelho e as profecias. Além disso os
apóstolos tinham ciência de que somente eles e os profetas canônicos
tinham autoridade de Deus para a Palavra e que a revelação de Deus
estava sendo completada por estes. O profeta Jeremias condena
severamente a falsa profecia:

“Tenho ainda muito que dizer, mas vocês não o podem suportar
agora. Mas, quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda
a verdade” (João 16:12-13)
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“Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.”


(Atos 20:27)

“Seu divino poder nos deu todas as coisas de que necessitamos


para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento
daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude.” (2
Pedro 1:3)

“E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em


estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que
o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações.
Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é
de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:19-21)

“Todavia, amados, lembrem-se do que foi predito pelos apóstolos


de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Judas 1:17)

“Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas
pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do
Senhor e Salvador.” (2 Pedro 3:2)

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os


nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos
tocaram da Palavra da vida (Porque a vida foi manifestada, e nós a
vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que
estava com o Pai, e nos foi manifestada); O que vimos e ouvimos,
isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão
conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho
Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso
gozo se cumpra.” (1 João 1:1-4)

“Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, profetizando mentiras


em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei. Até quando sucederá isso
no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que só
profetizam do engano do seu coração? Os quais cuidam fazer com
que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que
cada um conta ao seu próximo, assim como seus pais se
esqueceram do meu nome por causa de Baal. O profeta que tem
um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale a
minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o
Senhor. Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o
Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra? Portanto, eis
que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas
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palavras, cada um ao seu próximo. Eis que eu sou contra os


profetas, diz o Senhor, que usam de sua própria linguagem, e
dizem: Ele disse. Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos
mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo
com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os
enviei, nem lhes dei ordem; e não trouxeram proveito algum a este
povo, diz o Senhor.” (Jeremias 23:25-32)

E se houver profecias, devemos ter como baliza a bíblia para julgar se


tal profecia está em acordo (e fielmente) com a Palavra.

“Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses,


porquanto, receberam a mensagem com vívido interesse, e
dedicaram-se ao estudo diário das Escrituras, com o propósito de
avaliar se tudo correspondia à verdade.” (Atos 17:11 KJV);

“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (1 Coríntios


14:29 ACF)

Esta prática contraria até mesmo o primeiro ponto de doutrina da CCB


que diz

“Nós cremos na inteira Bíblia Sagrada e aceitamo-La como contendo


a infalível Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito Santo. A Palavra
de Deus é a ÚNICA e perfeita guia da nossa fé e conduta, e a Ela
nada se pode acrescentar ou d'Ela diminuir. É, também, o poder
de Deus para salvação de todo aquele que crê. (II Pedro, 1:21; II
Timóteo, 3:16-17; Romanos, 1:16)”. (1º ponto de doutrina da CCB)

Para isto as Escrituras não precisam ser enfeitadas ou acrescentadas de


novas revelações, se não, expostas, explicadas (com contexto) e
exortadas se atendo fielmente ao texto.

 A terceira, que é apenas um complemento da segunda, faz com que os


próprios ministros da Palavra (há exceções) desprezem o estudo das
Escrituras, como se estudar1 fosse algo ruim, o que não tem base bíblica,
pelo contrário, diversas passagens elogiam e orientam o estudo das
Escrituras e outras repreendem aqueles que não se aplicam ao
conhecimento destas, principalmente para os ministros da Palavra:

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A palavra estudar deriva do latim (studĭum): "trabalho, cuidado, zelo”, estudar significa, entre
outras coisas, aplicar o espírito, a inteligência e a memória para aprender. (Fonte:
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)
6

“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura não errais vós em


razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” (Marcos
12:24);

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem


de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2
Timóteo 2:15);

“Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.” (1 Timóteo 4:13


ARC);

“Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito,
para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos
esperança.” (Romanos 15:4 ARC);

“Apega-te à instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua


vida. (Provérbios 4:13 ARC)
“E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que
podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo
Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para
ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para
que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para
toda a boa obra.” (2 Timóteo 3:15-17 ACF);

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna,


e são elas que de mim testificam;” (João 5:39);

“Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos


familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não
consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos
mortos?
À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra,
é porque não há luz neles.” (Isaías 8:19,20);

"O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento;


porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para
que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste
da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos."
(Oséias 4:6 ACF)

E ainda há muitos versículos que não me estenderei em replicá-los aqui,


mas deixo as referências dos tais para que os irmãos possam conferir
em suas bíblias. São estes: Atos 17:11; Deuteronômio 6:5-9; Provérbios
3:1-2; 1 Pedro 1:10-11; Provérbios 1:1-6; Salmos 119:9-16;
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Deuteronômio 17:18-20; Salmos 119:7; Provérbios 6:23; Esdras 7:9-10;


Salmos 119:97-99; Salmos 119:105; Josué 1:8; 2 Pedro 3:17-18.

Não estou dizendo que o pregador deve ter um alto grau de instrução, ou
ser erudito, ou que deva frequentar faculdades, escolas de teologia (não
que isso seja uma coisa reprovável), mas até mesmo um homem
simples, analfabeto pode compreender a Palavra de Deus, tendo em si
a mente de Cristo, mesmo não tendo a habilidade de ler, apenas de ouvir
as escrituras (e existem recursos para isso) ele pode compreender pelo
Espírito. Por outro lado, mesmo um homem culto e instruído, se não tiver
a mente de Cristo, não poderá compreender as Escrituras:

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de


Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne
bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque quem conheceu a
mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente
de Cristo.” (1 Coríntios 2:14-16)

Deste modo, se o pregador/ministro da Palavra não manejar bem as


escrituras, fazendo uma interpretação correta, observando texto e
contexto, consequentemente são altas as chances de se pregar
equivocadamente heresias e falsos ensinos;

 A quarta é que por considerarem que o fato de não estudarem as


Escrituras e considerarem ter revelações diretas de Deus, desprezam
também os que se aplicam no estudo das escrituras, considerando
em alguns casos, aqueles que questionam seus dogmas e/ou se
desligam da membresía por conta destas contradições como pessoas
que foram iludidas pelo adversário e blasfemas. Isto não estou falando
sem base, pois além de conhecer a cultura em que vivi nestes 10 anos
de batizado dentro da CCB, ter relatos de irmãos que também
sofreram este desprezo, também está documentado nos tópicos de
ensinamento de 1961:
- APÓSTATAS DA FÉ - MARINGÁ, ESTADO DO PARANÁ

[...] um pequeno grupo de pessoas que eram nossos irmãos, porém se


deixaram iludir pelo adversário. Começaram a estudar materialmente a
Bíblia tendo sido tomados por um espírito de engrandecimento que os leva
a menosprezar os servos de Deus. Blasfemam contra a Sã Doutrina e contra
as cousas santas de Deus. Utilizam-se também da liberdade de se levantar
perante o povo para lançar doutrinas totalmente extranhas, intentando
dividir a Obra de Deus. Tendo sido chamados e admoestados diversas
vezes pelos irmãos anciães, não acataram e não se humilharam; antes
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continuam a promover a dissolução no meio da irmandade. Em reunião do


Conselho de irmãos Anciães realisada a 25 de março de 1964, deliberou
fazer-se uma circular excluindo essas pessoas, nome por nome, de membro
da irmandade, aliás da Congregação. Que ninguém os receba e nem tenha
parte com eles, pois colocam-se no lugar de Core, Datham e Abiram, que
se rebelaram contra o servo de Deus Moisés, e a terra abriu sua boca e os
enguliu e vivos desceram ao sepulcro. “Números 16; 1/35”. A palavra de
pessoas que apostatam da Fé roerá como a gangrena; escapemos nossas
almas evitando tais criaturas corrompidas.

Ora, se um membro da CCB se aplica no estudo das Escrituras e por


encontrar dissonâncias entre a bíblia e os dogmas da CCB, se afasta
da mesma, o problema está na bíblia?

Alguém poderia alegar que várias destas profecias de predição tiveram real
cumprimento, porém isto não é um argumento válido para provar que vem
da parte de Deus, por dois motivos:

 Em todos os cultos são pregadas muitas “profecias” genéricas/de alta


abrangência e frases prontas do tipo “aquela promessa que você está
esperando Deus vai cumprir”, “aquilo que o adversário levou Deus vai
trazer de volta”, “o que está embaixo Deus vai colocar por cima”. É
óbvio que todas as pessoas, crentes e não crentes estão na
esperança de alguma coisa em seu benefício seja no trabalho, na
justiça, na vida financeira, cura de enfermidades, etc. Ou seja, se 2/3
dos que estão presentes no culto adotarem essa predição, e pelo
menos 1/3 receber algo de bom em suas vidas, esse 1/3 vai agradecer
pela profecia cumprida e o outro 1/3 que não recebeu vai achar que
“pegou a palavra errada” ou a predição ainda está por vir (isso
também se aplica para predições mais específicas);
 A bíblia nos alerta em várias passagens sobre as falsas profecias e
milagres que têm real cumprimento, mas que não provém de Deus
(Deuteronômio 13; Mateus 7:15-20; 1 João 4:1; Marcos 13:22-23;
2 Pedro 2:1-3; Apocalipse 19:20)

Não estou dizendo que toda profecia preditiva é falsa, mas o modo como
são proferidas na CCB não me parecem semelhante ao modelo bíblico de
profecias que não tratavam da vida cotidiana, do comprar ou vender, de
fazer ou não negócios, etc, mas sim concernentes à obra de Deus, aos
acontecimentos futuros da obra de redenção do homem.

Para concluir, esta afirmação de serem as revelações a absoluta Palavra


de Deus, dá origem a outras heresias que dificilmente serão corrigidas, pois
questionar o corpo ministerial da CCB é visto como um ato ofensivo e
rebelde neste meio;
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2. A doutrina pregada na CCB pela maioria dos pregadores é a da salvação


pelas obras, ou seja, não basta crer em Jesus, se não for seguida uma série
de mandamentos e regras (tais que muitas delas são usos e costumes
criados pelo homem), até a necessidade de ser batizado na referida
denominação, então a pessoa pode perder sua salvação. Há pregadores
inclusive que colocam em dúvida a salvação do crente pregando coisas do
tipo: “se Deus vier te buscar hoje será que você está salvo?” num tom como
se a salvação dependesse das boas obras – é claro que é normal nos
questionarmos se de fato temos a salvação, mas não pela via das obras, mas
sim se nossa fé é genuína.
Desta forma fazemos da obra expiatória de Jesus inútil, ou no máximo uma
mera coadjuvante, já que a salvação pode ser conquistada por mérito.
Isto contraria grosseiramente a Palavra de Deus.
Jesus disse:

“Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e
crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em
condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24).

Reparem que aqui Jesus deixa explicito que basta ouvir e crer. Não se trata
de “talvez, possivelmente, quem sabe”, mas TEM a vida eterna, já passou da
morte para a vida. E ele ainda diz em outra passagem que ninguém nos
arrebatará de Sua mão, nem nós mesmos temos esse poder, a graça é
irresistível:

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me


seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as
arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que
tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. Eu e o Pai somos um.”
(João 10:27-30 ARA)

Paulo disse na carta aos Efésios cap. 2:8-9:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós,
é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”

A obra de Deus em nós é completa, é 100% cumprida por Ele mesmo:

“E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a


estes também justificou; e aos que justificou a estes também
glorificou.” (Romanos 8:30).
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Há diversas outras passagens que são provas disso, mas não vou replicar
os textos completos, apenas vou deixar as referências para que os irmãos
consultem. São elas: Romanos 3:21-28; Romanos 4:2-7; Romanos 9:32-33;
Romanos 11:6; Gálatas 3:6-9; Efésios 2:8-9; 2 Timóteo 1:9.

Os próprios hinos da CCB (que a maioria são profundamente evangelísticos


e cristocêntricos) cantam a certeza da salvação somente por Cristo e a
eleição incondicional:
“Cristo me salvou e me perdoou [...]” (nº 224); “Salvo estou por Jesus, o
meu bom Salvador [...]” (nº 129); “Salvo por Seu poder, Salvo por Seu amor
[...]” (nº 205); “Eleitos nós somos por Deus, o Verdadeiro [...]” (nº 353); Eu
jamais compreenderia o Evangelho do Senhor, Se não fosse Tua graça, Seu
amor, imenso amor [...]” (nº 256); “Só em Cristo, só em Cristo, Água viva
todos podem encontrar; Só em Cristo, só em Cristo, Vós, sedentos, podereis
vos saciar [...]” (nº 181); “É só Ele o real Caminho, é o Autor da eternal
redenção [...]” (nº 64); Não duvidemos, Deus nos elegeu para Si, em Jesus
[...], Se Deus, o Pai, estando nós no mal, nos amou, perdoou, E, por Jesus,
Cordeiro divinal, salvação nos mandou. Como não dará aos eleitos Seus.
Graça e poder de chegar aos céus? (nº 368).

Os únicos que serão julgados pelas obras serão os mortos, ou seja, os ímpios
que não creram no evangelho, os vivos serão contados segundo o livro da
vida (Apocalipse 20:12-15)

Não quero dizer que temos o direito de levar uma vida de pecado já que
somos salvos, de maneira alguma, aquele que foi convertido a Jesus e
recebeu o Espírito Santo, consequentemente procurará andar em santidade
e na pratica de boas obras. Há quem argumente, com razão, que a fé sem
obras é morta como está em Tiago 2:14-26, mas elas não são a causa da
nossa salvação e sim a consequência. As boas obras são prova da nossa fé.
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
(Efésios 2:10);
“Qualquer que permanece nele não vive pecando; qualquer que vive
pecando não o viu nem o conheceu” (1 João 3:6);

“Meus irmãos, que interessa se alguém disser que tem fé em Deus e


não fizer prova disso através de obras? Esse tipo de fé não salva
ninguém. 15 Se um irmão ou irmã sofrer por falta de vestuário, ou por
passar fome, e lhe disserem: ‘Procura viver pacificamente e vai-te
aquecendo e comendo como puderes”, e não lhe derem aquilo de que
precisa para viver, uma tal resposta fará algum bem? Assim também
a fé, se não se traduzir em obras, é morta em si mesma. Poderão até
11

dizer: ‘Tu tens a fé, mas eu tenho as obras. Mostra-me então a tua fé
sem as obras. Porque eu dou-te a prova da minha fé através das
minhas boas obras!’ Crês que há um só Deus? Estás muito certo. Mas
lembra-te que os demónios também creem e tremem! És uma pessoa
bem insensata se não conseguires compreender que a fé sem obras
não vale de nada.” (Tiago 2:14-19).

Em resumo, me apropriando de um texto de autoria anônima: “[...] A graça é a


causa da salvação, a fé é o instrumento da salvação e as boas obras são a
evidência da salvação. Somos salvos pela graça, mediante a fé, para as boas
obras”.

3. A CCB tem uma tradição que, ultimamente não está tão explícita - pelo
contrário, na última reunião geral anual de 2022 têm-se feito algumas
reformas, mas que na prática vejo somente como um ato político feito por
pressões internas e externas à instituição, para se resguardarem de críticas,
pois não se vê mudança prática nos pronunciamentos dos próprios líderes –
mas no passado era muito mais evidente de que esta, a CCB, era
considerada pelos seus membros como a “graça”, a “obra de Deus” e se
referindo a outras denominações evangélicas como seitas. Pensamento que
provavelmente tem origem antes da década de 60 e que deu origem a alguns
tópicos de 1961, os quais, como já citado acima, diziam:

"- FREQUENTAR SEITAS:


Tem existido no meio da irmandade irmãos que não se satisfazendo, aliás,
acham talvez, que o que o Senhor envia pelo Espírito Santo nas congregações
não é suficiente para saciar suas almas buscando assim ser alimentados pela
sabedoria humana, freqüentando seitas onde predomina o saber e a ambição
do homem.";

“- DOUTRINA DO BATISMO
[...] O Senhor nos guiou em que só sejam considerados nossos irmãos aqueles
que se batisam entre nós [...]”

Citei estes, pois são documentos escritos, mas sabemos o quanto esse tipo
de pensamento é propagado pelas congregações inclusive pela liderança,
como temos visto ultimamente o ancião presidente pregando que “a
Congregação não é uma religião, é a graça de Deus”, “Jesus é o caminho,
mas a Congregação é a estrela”.
Irmãos, mais uma vez isso é heresia e característica de movimentos
sectários como fazem as mesmas instituições citadas anteriormente. É furtar
o mérito do sacrifício de Jesus e colocá-lo sob um CNPJ, como se a obra de
salvação tivesse sido patenteada por alguma instituição. Jesus combatia os
fariseus da época que faziam coisas semelhantes impondo ao povo regras
das quais Deus nunca mandou, para alcançar a salvação:
12

“Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos


homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos
que estão entrando.” (Mateus 23:13 ACF);

“Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos


ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-
los;” (Mateus 23:4).

Jesus já deixou claro o que é a obra/graça de Deus ao dizer:

“Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de


Deus?
Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais
naquele que ele enviou.” (João 6:28,29 ACF).

4. Nos cultos da CCB há ênfases em três tipos de objetos, dependendo do


pregador e do gosto da membresía local, são estes:
 Cultos triunfalistas/de prosperidade: estão centrados nas "viradas de
cativeiro", "abrir porta de emprego/estudo", "libertação de prova",
"justificação do homem perante os demais que o humilham", "bênçãos
materiais", "cumprir o desejo do coração", etc. Isto é contrário à
verdadeira mensagem do evangelho que em resumo diz que a razão
do nosso viver na Graça não são nossos próprios interesses, nossa
satisfação pessoal, pelo contrário, Jesus dizia que sofreríamos por
causa do seu nome (Mateus 10.22, Lucas 21.12, João 15.21),
inclusive Paulo rogando a Deus que o livrasse de sua prova material,
Deus o respondeu dizendo "a minha graça te basta" (2 Coríntios 12);
 Cultos místicos: são enfatizadas experiências sobrenaturais como
visões de anjos, revelações, apreço exagerado pelo falar em línguas
(Paulo repreende isto em: 1 Coríntios 14; Colossenses 2,18). Este tipo
de pregação não traz benefício algum para o evangelho a não ser um
sentimento de poder sobrenatural;
 Culto legalista/culto de doutrina: onde “doutrinas” são os usos e
costumes da própria denominação como o homem não usar
bermudas, ou barbas, mulheres não usarem maquilagens ou calças
compridas, ou seja, doutrinas de homens, sem embasamento bíblico,
ou com embasamento mal interpretado.

E há cultos que são um misto dos três. O que eles têm em comum é que
todos eles são antropocêntricos, ou seja, tira-se Cristo e sua obra
redentora do centro, e coloca-se o homem e suas necessidades. Os
resultados destes cultos são inflação do ego, da sensação de poder
místico, do sentimento de mérito e também de pertencimento e há pouco
resultado no entendimento das verdadeiras doutrinas cristãs e do
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genuíno evangelho que em resumo diz que somos todos pecadores, não
há mérito algum em nós, não podemos fazer barganha com Deus,
recebemos um favor imerecido de Deus enviando Jesus para morrer por
nós na cruz e nos dar a salvação e com isso estejamos satisfeitos. E a
consequência trágica de não pregar o puro e simples evangelho
verdadeiro como explícito nas escrituras é a não conversão genuína,
fazendo o ccbeano acreditar que este poderá se salvar por meritocracia
e por ser membro da CCB. Infelizmente, crendo desta forma, o ccbeano
se enquadra no grupo do qual Jesus profetiza:

“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em


teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome
não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca
vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mateus
7:22,23)

Caros, para concluir, ainda teria muitas contrariedades que eu poderia citar
como a falta de pastoreio da igreja como ensinado em 1 Pedro 5:2-4, a falta de
perdão (salvo raras exceções) aos que cometeram pecado sexual e se
arrependeram (que é considerado pela CCB como pecado de morte) o que contraria
o que é dito em Gálatas 6:1-2 e 1 João 1:8-10 ocasionando consequências graves
como a queda do pecador nas drogas, depressão e até suicídio. De fato, não acho
que todas essas heresias sejam resultado de má índole da liderança, se não
resultado de ignorância bíblica deliberada, causada pelo desprezo pelas Escrituras
e pelo culto à ignorância – já que quem demonstra pouco conhecimento das
Escrituras e prega muitas “revelações” é visto como um homem cheio do Espirito,
ao passo que o homem que dá real valor às Escrituras e se aplica aos estudos dela
é mal visto. Tal desprezo fez com que a CCB criasse um “evangelho” próprio e com
uma falsa roupagem bíblica.
Mas já me alonguei demais e só estes motivos já considero suficientes para
considerar que não me encaixo mais na cultura da CCB, pois não concordo com
estes dogmas e se algum de vocês igualmente também não concorda com essas
doutrinas deveriam manifestar-se, pois a omissão é um pecado reprovado em
diversas passagens bíblicas (I Sm 2:12-17; Tiago 4:17; Ezequiel 33:7-9; Levítico
5:1). Paulo incentiva a manifestação dos sinceros (1 Coríntios 11:19)
Escrevo esta carta com pesar em meu coração, pois a CCB faz parte de
todos esses meus 26 anos de vida. Me apropriando e adaptando as palavras do
apóstolo Paulo “sou ccbeano de ccbeano”, tradição de família, sou a quarta geração.
Na CCB eu cresci, fiz muitos amigos, conheci minha esposa, estudei a música,
assim como também ensinei, fui auxiliar de jovens, músico (e sou grato por isso).
Tenho todas as razões para continuar, mas felizmente fui impactado pelo genuíno
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evangelho do Senhor Jesus, e o Seu Santo Espírito me incomoda cada vez que vou
aos cultos ccbeanos e não escuto o verdadeiro evangelho.
Nesse momento estou procurando igreja que considero ser bíblica, que
procure dar o devido valor às Escrituras e promova o ensino da mesma, para eu e
minha família congregarmos.
Peço novamente perdão aos irmãos, não quero parecer arrogante, nem é
minha intenção desmerecer qualquer um de vós, apenas estou me expressando
com sinceridade. Novamente, não tenho nada pessoal contra qualquer um de vós,
tenho certeza que todos são ótimas pessoas e abençoadas por Deus.
Termino me despedindo e agradecendo pelo tempo que pude estar
convosco, pela amizade e carinho.
Espero que todos aqueles que ainda não foram, possam ser impactados
pela verdade do evangelho genuíno.

Deus vos abençoe.


Henrique Lima Pires. 18/07/22.

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