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Esta carta foi escrita com o intuito de entregar ao corpo ministerial de uma
congregação local da igreja Congregação Cristã no Brasil. Porém ao tornar pública,
ocultei a localidade e o nome dos membros do corpo ministerial por respeito a estes.
Venho por meio desta carta comunicar minha renúncia ao meu cargo de
músico e também os desligamentos meu e da minha esposa da instituição.
Sinto-me no dever de lhes dar uma satisfação, por respeito a vós. Tentarei
me expressar no texto a seguir:
Antes de continuar, peço que, por favor, caros, não enviesem sua leitura de
modo que eu seja tido como um desviado ou apóstata. Mesmo sendo um pecador,
creio no Senhor Jesus como meu único e suficiente salvador, e se vós credes da
mesma forma, continuaremos sendo irmãos em Cristo, pois a salvação não está
atrelada a ser membro de uma determinada instituição religiosa e sim ser parte da
igreja espiritual de Cristo. Também adianto que não estou sendo arrogante em
minhas palavras, mas apenas sincero. Dito isso, continuo.
- ainda que não haja uma homogeneidade de ideias a respeito das doutrinas e
crenças entre o ministério, pelo contrário, há muitas contradições entre os mesmos
- as quais são repassadas nas pregações e em tópicos de ensinamento. Vou listar
algumas destas contrariedades em alguns pontos abaixo:
“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo
que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao
vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o
mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do
céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e
vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do
que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados,
acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por
que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles
crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo
Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois,
se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é
lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca
fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que
beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas
os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que
necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de
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A segunda é que isso torna tudo que o pregador proferir, como palavras
inerrantes, ou seja, absoluto, inquestionável, gera-se até certo receio em
questionar algo que foi pregado pelo medo de blasfemar contra o Espírito
Santo. Isto faz com que sigamos cegamente palavras de homens que
muitas vezes contrariam as escrituras ou inventam coisas que Deus
nunca disse. Isto é característica de seitas como a Católica Romana que
creem que tudo que o Papa diz ex cathedra (na cadeira de Pedro) é
revelação direta de Deus e tem o mesmo peso das Escrituras (ou as
vezes superior a esta), ou as Testemunhas de Jeová que tem seu corpo
ministerial como “homens iluminados” por Deus e inquestionáveis, os
Mórmons que creem no livro de Mórmon como inspiração comparável à
bíblia e os Adventistas que creem nas profecias de Ellen White como
tendo o mesmo nível de inspiração da bíblia. O que esses movimentos
têm em comum é que não estão satisfeitos com as Escrituras Sagradas,
buscando novas revelações e profecias. Nem o apóstolo Paulo estava
de acordo com esse desprezo pelas Escrituras, pelo contrário, Paulo
elogiou a igreja de Bereia por estudarem as Escrituras para conferir se o
que ele estava pregando estava de acordo com a Palavra de Deus (a
bíblia) e também orientou para que quando alguém profetizasse, dois ou
três deveriam julgar a profecia – eu creio que Deus possa se manifestar
de forma extraordinária por meio de revelações particulares, pois Deus
fala e faz como lhe apraz e quando necessário, porém não devemos viver
em busca disso, pois podemos cair em ciladas de falsas profecias, antes,
devemos dar maior atenção e valor à Palavra que já nos foi revelada a
mais de 2.000 anos. Paulo disse:
“Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas
maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos
dias, pelo Filho” (Hebreus 1:1 ARC)
“Tenho ainda muito que dizer, mas vocês não o podem suportar
agora. Mas, quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda
a verdade” (João 16:12-13)
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“Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas
pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do
Senhor e Salvador.” (2 Pedro 3:2)
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A palavra estudar deriva do latim (studĭum): "trabalho, cuidado, zelo”, estudar significa, entre
outras coisas, aplicar o espírito, a inteligência e a memória para aprender. (Fonte:
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)
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“Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito,
para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos
esperança.” (Romanos 15:4 ARC);
Não estou dizendo que o pregador deve ter um alto grau de instrução, ou
ser erudito, ou que deva frequentar faculdades, escolas de teologia (não
que isso seja uma coisa reprovável), mas até mesmo um homem
simples, analfabeto pode compreender a Palavra de Deus, tendo em si
a mente de Cristo, mesmo não tendo a habilidade de ler, apenas de ouvir
as escrituras (e existem recursos para isso) ele pode compreender pelo
Espírito. Por outro lado, mesmo um homem culto e instruído, se não tiver
a mente de Cristo, não poderá compreender as Escrituras:
Alguém poderia alegar que várias destas profecias de predição tiveram real
cumprimento, porém isto não é um argumento válido para provar que vem
da parte de Deus, por dois motivos:
Não estou dizendo que toda profecia preditiva é falsa, mas o modo como
são proferidas na CCB não me parecem semelhante ao modelo bíblico de
profecias que não tratavam da vida cotidiana, do comprar ou vender, de
fazer ou não negócios, etc, mas sim concernentes à obra de Deus, aos
acontecimentos futuros da obra de redenção do homem.
“Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e
crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em
condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24).
Reparem que aqui Jesus deixa explicito que basta ouvir e crer. Não se trata
de “talvez, possivelmente, quem sabe”, mas TEM a vida eterna, já passou da
morte para a vida. E ele ainda diz em outra passagem que ninguém nos
arrebatará de Sua mão, nem nós mesmos temos esse poder, a graça é
irresistível:
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós,
é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”
Há diversas outras passagens que são provas disso, mas não vou replicar
os textos completos, apenas vou deixar as referências para que os irmãos
consultem. São elas: Romanos 3:21-28; Romanos 4:2-7; Romanos 9:32-33;
Romanos 11:6; Gálatas 3:6-9; Efésios 2:8-9; 2 Timóteo 1:9.
Os únicos que serão julgados pelas obras serão os mortos, ou seja, os ímpios
que não creram no evangelho, os vivos serão contados segundo o livro da
vida (Apocalipse 20:12-15)
Não quero dizer que temos o direito de levar uma vida de pecado já que
somos salvos, de maneira alguma, aquele que foi convertido a Jesus e
recebeu o Espírito Santo, consequentemente procurará andar em santidade
e na pratica de boas obras. Há quem argumente, com razão, que a fé sem
obras é morta como está em Tiago 2:14-26, mas elas não são a causa da
nossa salvação e sim a consequência. As boas obras são prova da nossa fé.
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
(Efésios 2:10);
“Qualquer que permanece nele não vive pecando; qualquer que vive
pecando não o viu nem o conheceu” (1 João 3:6);
dizer: ‘Tu tens a fé, mas eu tenho as obras. Mostra-me então a tua fé
sem as obras. Porque eu dou-te a prova da minha fé através das
minhas boas obras!’ Crês que há um só Deus? Estás muito certo. Mas
lembra-te que os demónios também creem e tremem! És uma pessoa
bem insensata se não conseguires compreender que a fé sem obras
não vale de nada.” (Tiago 2:14-19).
3. A CCB tem uma tradição que, ultimamente não está tão explícita - pelo
contrário, na última reunião geral anual de 2022 têm-se feito algumas
reformas, mas que na prática vejo somente como um ato político feito por
pressões internas e externas à instituição, para se resguardarem de críticas,
pois não se vê mudança prática nos pronunciamentos dos próprios líderes –
mas no passado era muito mais evidente de que esta, a CCB, era
considerada pelos seus membros como a “graça”, a “obra de Deus” e se
referindo a outras denominações evangélicas como seitas. Pensamento que
provavelmente tem origem antes da década de 60 e que deu origem a alguns
tópicos de 1961, os quais, como já citado acima, diziam:
“- DOUTRINA DO BATISMO
[...] O Senhor nos guiou em que só sejam considerados nossos irmãos aqueles
que se batisam entre nós [...]”
Citei estes, pois são documentos escritos, mas sabemos o quanto esse tipo
de pensamento é propagado pelas congregações inclusive pela liderança,
como temos visto ultimamente o ancião presidente pregando que “a
Congregação não é uma religião, é a graça de Deus”, “Jesus é o caminho,
mas a Congregação é a estrela”.
Irmãos, mais uma vez isso é heresia e característica de movimentos
sectários como fazem as mesmas instituições citadas anteriormente. É furtar
o mérito do sacrifício de Jesus e colocá-lo sob um CNPJ, como se a obra de
salvação tivesse sido patenteada por alguma instituição. Jesus combatia os
fariseus da época que faziam coisas semelhantes impondo ao povo regras
das quais Deus nunca mandou, para alcançar a salvação:
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E há cultos que são um misto dos três. O que eles têm em comum é que
todos eles são antropocêntricos, ou seja, tira-se Cristo e sua obra
redentora do centro, e coloca-se o homem e suas necessidades. Os
resultados destes cultos são inflação do ego, da sensação de poder
místico, do sentimento de mérito e também de pertencimento e há pouco
resultado no entendimento das verdadeiras doutrinas cristãs e do
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genuíno evangelho que em resumo diz que somos todos pecadores, não
há mérito algum em nós, não podemos fazer barganha com Deus,
recebemos um favor imerecido de Deus enviando Jesus para morrer por
nós na cruz e nos dar a salvação e com isso estejamos satisfeitos. E a
consequência trágica de não pregar o puro e simples evangelho
verdadeiro como explícito nas escrituras é a não conversão genuína,
fazendo o ccbeano acreditar que este poderá se salvar por meritocracia
e por ser membro da CCB. Infelizmente, crendo desta forma, o ccbeano
se enquadra no grupo do qual Jesus profetiza:
Caros, para concluir, ainda teria muitas contrariedades que eu poderia citar
como a falta de pastoreio da igreja como ensinado em 1 Pedro 5:2-4, a falta de
perdão (salvo raras exceções) aos que cometeram pecado sexual e se
arrependeram (que é considerado pela CCB como pecado de morte) o que contraria
o que é dito em Gálatas 6:1-2 e 1 João 1:8-10 ocasionando consequências graves
como a queda do pecador nas drogas, depressão e até suicídio. De fato, não acho
que todas essas heresias sejam resultado de má índole da liderança, se não
resultado de ignorância bíblica deliberada, causada pelo desprezo pelas Escrituras
e pelo culto à ignorância – já que quem demonstra pouco conhecimento das
Escrituras e prega muitas “revelações” é visto como um homem cheio do Espirito,
ao passo que o homem que dá real valor às Escrituras e se aplica aos estudos dela
é mal visto. Tal desprezo fez com que a CCB criasse um “evangelho” próprio e com
uma falsa roupagem bíblica.
Mas já me alonguei demais e só estes motivos já considero suficientes para
considerar que não me encaixo mais na cultura da CCB, pois não concordo com
estes dogmas e se algum de vocês igualmente também não concorda com essas
doutrinas deveriam manifestar-se, pois a omissão é um pecado reprovado em
diversas passagens bíblicas (I Sm 2:12-17; Tiago 4:17; Ezequiel 33:7-9; Levítico
5:1). Paulo incentiva a manifestação dos sinceros (1 Coríntios 11:19)
Escrevo esta carta com pesar em meu coração, pois a CCB faz parte de
todos esses meus 26 anos de vida. Me apropriando e adaptando as palavras do
apóstolo Paulo “sou ccbeano de ccbeano”, tradição de família, sou a quarta geração.
Na CCB eu cresci, fiz muitos amigos, conheci minha esposa, estudei a música,
assim como também ensinei, fui auxiliar de jovens, músico (e sou grato por isso).
Tenho todas as razões para continuar, mas felizmente fui impactado pelo genuíno
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evangelho do Senhor Jesus, e o Seu Santo Espírito me incomoda cada vez que vou
aos cultos ccbeanos e não escuto o verdadeiro evangelho.
Nesse momento estou procurando igreja que considero ser bíblica, que
procure dar o devido valor às Escrituras e promova o ensino da mesma, para eu e
minha família congregarmos.
Peço novamente perdão aos irmãos, não quero parecer arrogante, nem é
minha intenção desmerecer qualquer um de vós, apenas estou me expressando
com sinceridade. Novamente, não tenho nada pessoal contra qualquer um de vós,
tenho certeza que todos são ótimas pessoas e abençoadas por Deus.
Termino me despedindo e agradecendo pelo tempo que pude estar
convosco, pela amizade e carinho.
Espero que todos aqueles que ainda não foram, possam ser impactados
pela verdade do evangelho genuíno.