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A Amante Roubada do Sheik

Por: Ella Brooke & Jessica Brooke

Todos os Direitos Reservados.


Copyright 2015 Ella & Jessica Brooke
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Tabela de conteúdos
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze

OUTRA HISTÓRIA QUE VOCÊ PODE GOSTAR


A Noiva do Sheik
Capítulo Um
Amy Monroe sorriu para o cartão postal que sua irmã, Alexis, havia enviado. Há mais ou menos dois
anos, sua irmã havia sido raptada pelo Xeique Farzad Yassin e agora ela era xeica. A foto que ela tinha
enviado era de si mesma com o filho, Farid, brincando nos amplos jardins do palácio. Era uma imagem
adorável e, mesmo que a princípio Amy não tivesse ficado empolgada com o novo rumo da vida da irmã,
agora ela estava contente. Não era possível fingir aquele nível de felicidade e, além disso, Farid era
basicamente a criança mais fofa que ela jamais havia conhecido. Parte dela estava sentindo ciúmes enormes
da irmã por ela ter encontrado alguém – mesmo que da maneira menos convencional possível. Sim, uma parte
de Amy também se preocupava que Alexis tivesse basicamente arruinado sua carreira em direito em troca de
romance, mas, ao mesmo tempo, ela nunca tinha visto a irmã sorrir tanto. Suspirando, ela largou o cartão
postal e as demais fotos e se dirigiu para seu armário.

Fuçando lá dentro, ela puxou um dos onipresentes conjuntos de calça e camisa preta e passou as mãos
por seus cabelos negros, curtos e picados. A cor não era natural e ultimamente ela se sentia tentada a fazer
umas mechas azuis escuras ou roxas. Ela trabalhava numa cafeteria no campus da Universidade de Boston e
mudar a cor provavelmente a faria se sentir mais como parte da contracultura do campus do que o contrário.
Colocando uma faixa para segurar seu cabelo curto para trás, Amy agarrou sua bolsa e saiu correndo pela
porta.

A noite seria longa: hoje ela trabalhava no último turno e fechava à uma da manhã. Sendo um negócio
familiar, o Café Lem’s tinha se desdobrado para conseguir uma licença para vender álcool. Poder colocar
conhaque no café – como os irlandeses – assim como ter uma lista de bandas universitárias locais que
tocavam lá, garantiam que eles sempre fechassem tarde. Amy preferia assim. Era melhor do que se levantar
antes do sol, especialmente nos invernos intermináveis de Boston.

Teoricamente, depois de se formar ela tinha vindo pra cá para tentar um mestrado em belas artes, em
escrita criativa. Ela largou o curso em pouco tempo e descobriu que, mesmo tendo muitas ambições, no
momento a única coisa apropriada para sua atitude e seu tédio era preparar café e bolinhos. Não era
exatamente o que ela achava que estaria fazendo aos vinte e três anos. Diabos, considerando que duas
meninas do seu círculo de amizades (sem brincadeira!) eram literalmente rainhas de seus próprios países, ela
realmente parecia uma preguiçosa. Não que ela fosse uma, exatamente, mas ela se sentia de fato uma
fracassada, como se ela não tivesse a menor ideia do que fazer da vida ou mesmo do que queria.

Claramente, não era servir café batizado com álcool para graduandos, mas era o melhor que ela podia
fazer por enquanto.

O fim do seu turno estava se aproximando. Era uma quinta feira, o que significava que hoje não tinha
nenhuma banda, que eram exclusivas de sexta e sábado à noite. Além disso, o semestre estava apenas
começando. As pessoas ainda não estavam desesperadas o suficiente para estarem digitando seus trabalhos às
pressas depois da sexta xícara de café. Elas estariam. Quando as provas finais chegavam, conseguir um bom
assento próximo a uma tomada no Café Lem’s era um esporte violento. Ainda assim, a noite estava calma e, à
exceção de dois clientes regulares que estavam ao fundo lendo romances russos do tamanho de pesos de
portas, ela estava sozinha quando começou a esfregar a pia e a máquina de cappuccino.

Pelo menos, era o que ela pensava. Quando faltavam vinte minutos para a hora de fechar, o homem
mais lindo que ela jamais tinha visto entrou na loja. Ele era alto, mais de um metro e oitenta, com ombros
largos e a pele morena. Seus olhos eram de um impressionante e profundo verde jade, e ele tinha uma barba
curta. O único pequeno “defeito” em seus traços era uma cicatriz por cima da sobrancelha esquerda; mas
sério, ela tinha certeza que, para uma garota ávida, ele conseguiria dar um jeito naquilo. Era só contar a
estória da “cicatriz de guerra” e ele ficaria ainda mais charmoso do que antes. Diabos, só os olhos dele já
eram o suficiente para Amy se perder dentro.

“Como posso ajudá-lo?” ela perguntou.

“Dvar,” ele disse, sorrindo para ela e lendo seu crachá. “E você é Amy.”

“Bom, nós sabemos que você sabe ler, ótimo. Então você pode escolher o que quiser.”

“E se o que eu quiser for você?”

Ela corou e revirou os olhos. Ela não saía com um homem há muito tempo. Não que ela não fosse
atraente. Francamente, desde que ela havia feito patinação no gelo (não muito bem, mas ainda assim), quando
era menina, Amy sempre gostava de manter seu corpo em dia. Então ela era magra, mas também baixa. Amy
mal tinha um metro e cinquenta e sete, se é que tanto, e era muito magrela. Ela nunca tinha sido o tipo de
mulher que deixava as pessoas de queixo caído quando entrava em algum lugar. Isso nunca acontecia. No
entanto, da maneira que Dvar olhava para ela, bem... Ele parecia um homem que tinha se arrastado pelo
deserto e encontrado um oásis.

Era um pouco demais, mas ela gostava, Amy admitiu para si mesma enquanto varria a franja para trás
da orelha.

“Isso não está no cardápio, mas nós temos um ‘explosão mocha’ e alguns brownies que sobraram. E as
pessoas adoram nosso pão de sementes.”

Dvar suprimiu o riso. “Sério?”

“Todo mundo aqui é um estudante universitário tentando ser vegano, macrobiótico ou algo do tipo,
então não é tão incomum assim.”

“Eu acho que prefiro algo com mais substância,” ele disse, sua voz como um ronronado profundo. “O
que você tem pra mim?”

“Nós temos um ótimo cappuccino com Bailey’s. Vou fazer um pra você,” ela disse, já vaporizando o
leite.

Amy não conseguiu não corar sob o escrutínio do homem. Sério, ela tinha visto modelos de cueca
menos atraentes. Será que esse era o trabalho dele? Talvez ele fosse algum modelo de Nova Iorque que, seja
lá porque, tinha decidido que era hora de visitar Boston – porque quem não gostava de montes e mais montes
de neve, e lixo que sequer podia ser recolhido. Deus, se ela tivesse que usar uma pá para liberar seu carro
mais uma vez – não que ela o usasse com frequência, mas ainda assim – ela ia enlouquecer.

Dvar sorriu para Amy enquanto ela terminava de fazer a bebida. Depois ele estendeu a mão para
pegar a xícara, e era óbvio que ele estava enrolando de propósito. Ele não tinha se enganado quando seus
dedos passaram pelos dela ao pegar a bebida.

“Foi um prazer ser servido por tal beldade.”

Amy corou novamente e empurrou suas franjas picadas para longe dos olhos. Deus, agora ela
desejava ter deixado o cabelo com seu tom natural de castanho e com um corte que pelo menos lembrasse
cachos. Caramba, tinha muito tempo desde a última vez que um homem – muito menos um homem tão bonito
assim – tinha prestado atenção nela. Ela nem sempre sentia que tinha a melhor isca.

“Então pode agradecer com uma boa gorjeta. Uma garota tem que sobreviver.”

Ele sorriu, e foi o sorriso mais luminoso que ela jamais havia visto. De repente, pareceu que sua
teoria sobre ele ser um modelo de verdade não estava assim tão errada. Dvar tirou uma nota de vinte dólares
do bolso de sua jaqueta com a mão livre e colocou-a na jarra de gorjetas. “Eu não me preocuparia com isso,
Amy.”

“Obrigada, mas por mais gentil que você seja, vinte dólares não vão manter o lobos longe da porta
por muito tempo.”

Ele assentiu e deu um passo para trás, e ela quis reclamar um pouco pela perda de contato e
proximidade física. “Ainda assim, cuidado com esses lobos. Você nunca sabe aonde vai encontrá-los.”

Com isso, o Sr. Alto, Bonito e Sensual saiu pela porta, deixando Amy com sua vida sem graça.
Suspirando, ela terminou de limpar a cozinha e depois pegou o esfregão e o balde. Ainda havia muita limpeza
pela frente.

***

Boston estava gelada.

Isso não era novidade, eles estavam no meio da maior e mais forte onda de frio que a cidade jamais
havia visto. Todo fim de semana parecia receber uma nova nevasca, e todo mundo estava falando sobre o
recorde de queda de neve e como em breve esse seria, literalmente, o inverno com mais neve de todos os
tempos. Enquanto seus dentes batiam em sua caminhada de volta para o apartamento, Amy apertou o casaco
com mais firmeza em volta do corpo. Ela havia deixado os malditos protetores de orelha na cafeteria e se
arrependia de ter cometido um erro tão bobo. Agora suas orelhas estavam como cubos de gelo e havia no
mínimo mais quatro quarteirões para andar. Ela também não estava indo lá muito rápido. Os montes de neve
estavam altos em suas panturrilhas e ela sentia que afundava, não importa quão leve e ligeira ela tentasse ser
em suas botas.

Argh, ela precisava de férias.

Bom, sua irmã tinha oferecido para recebê-la em uma visita, e o sol do deserto tinha que ser melhor
que aquela lama sem fim.

Sacudindo a cabeça, ela tirou o celular e começou a digitar os longos códigos internacionais que a
conectavam a Alexis. Ela não tinha terminado quando ouviu passos atrás de si. Amy se virou para olhar e
franziu as sobrancelhas. Havia uns quatro caras atrás dela, e todos tinham uma complexão morena. Alguns
tinham barbas grossas e pretas, ou mesmo grisalhas, e pareciam estrangeiros, um pouco como os homens que
ela tinha visto na cerimônia de casamento de sua irmã. Isso era um pouco estranho.

Franzindo as sobrancelhas apologeticamente, ela se moveu para a beira da calçada ocupada. “Sinto
muito. Aqui estou eu, tomando todo o espaço na rua. Não foi muito legal da minha parte. Quer saber, podem
passar e eu me preocupo com telefonemas mais tarde.”

Os homens sequer se mexeram. Ao invés disso, apenas continuaram olhando para ela como ela fosse
um bife gratuito numa fila de buffet.

Colocando o telefone de volta no bolso, Amy tentou ficar calma. Ela assentiu e voltou para o meio da
calçada. “Bom, então eu vou na frente. De novo, me desculpem por ter tomado tanto espaço, a culpa foi
minha” ela terminou, saindo num passo muito mais apressado do que antes, mas não era exatamente uma
corrida descarada. Ela temia que, se fizesse isso, eles a perseguiriam. Mesmo assim, quando ela saiu, eles
também começaram a andar atrás dela, seus passos firmes e medidos de acordo com os dela.

Ao passar por uma barbearia cujas janelas eram revestidas de filme, Amy estremeceu por razões que
não tinham nada a ver com o frio. Os quatro homens mal estavam a quinze centímetros dela agora e seguindo-
a passo a passo. Segurando sua bolsa mais perto do corpo, ela decidiu que tentar ignorá-los não ia ajudar.
Eles claramente queriam algo dela, e ela estava morrendo de medo do que poderia ser. Ela podia adivinhar, e
seu estômago se revirava só de imaginar. Havia apenas dois quarteirões (cheios de neve) até seu apartamento.
Inspirando profundamente e torcendo para que tudo desse certo, ela disparou.

Seus pulmões queimaram e ela desejou que não fosse quase uma e meia da manhã. Deus, como ela
queria ser mais rápida, como ela queria não sentir sua vantagem diminuindo com cada passo que dava. No
primeiro quarteirão os homens estavam logo nos seus calcanhares, tão perto que um deles agarrou a alça da
bolsa de Amy. Ela puxou a bolsa, mas a alça se arrebentou e ela largou tudo pra trás. Ela substituiria os
malditos cartões de crédito depois, desde que ela não se tornasse uma estatística criminal hoje. O segundo
quarteirão não foi tão fácil. Ela estava a uma distância considerável de seu prédio quando escorregou em um
enorme trecho de gelo.

Amy caiu com força, vendo estrelas à sua frente, e foi invadida pela tontura ao bater a cabeça no
concreto.

Quatro pares de mãos estavam sobre ela e ela se contorceu, chutando e gritando com qualquer
tentativa de toque. Mas não foi o suficiente. O homem mais alto, com quase um metro e noventa e cinco de
altura e uma enorme barba grisalha, finalmente conseguiu pregar os braços dela por trás das costas.

“Me solte!” ela gritou. Arqueando o pescoço, ela olhou em volta, mas a rua estava vazia. “Me deixem
em paz e eu não conto pra ninguém, eu juro.”

O homem maior balançou a cabeça e enfiou algo escuro, como um capuz, sobre o rosto de Amy, e ela
não conseguiu ver mais nada além do tecido negro. “Não, Senhorita Monroe, isso não vai funcionar. Afinal,
nós temos que trazer a nova xeica para o nosso mestre.”

Isso foi tudo que ela ouviu. Depois dessa declaração ameaçadora, algo afiado mordeu sua pele atrás
da orelha e tudo virou escuridão.
Capítulo Dois
O Xeique Dvar Yassin da Jardânia certamente tinha coisas melhores a fazer. Isso não era mentira, de
certa forma. Seus primos, Farzad e Munir, ambos de nações vizinhas, estavam interessados em montar uma
frente organizada contra os mercenários e o exército do Leban. Era hora de acabar com eles e com a turba que
eles instigavam, de uma vez por todas. Dvar não podia se opor a isso. Afinal, aquela nação beligerante
causava mais do que a sua cota de problemas para a Jardânia, especialmente com suas agressões na fronteira
leste. Eles estavam corrompendo grupos revoltosos dentro das próprias fronteiras da Jardânia e coisas
terríveis estavam acontecendo – atrocidades que ele nunca poderia ter imaginado dentro do seu reino. Ele
tinha participado de uma longa reunião de três dias com seus primos na semana anterior. Parecia que uma
guerra era inevitável a essa altura. Dvar apenas esperava que os Estados Unidos ficassem do seu lado.
Afinal, a esposa de seu primo Munir, Emma, era a filha de um poderoso senador.

Qualquer coisa que ajudasse, pois os problemas estavam chegando em todas as terras governadas pela
dinastia Yassin, e a situação só piorava.

Mas ele não podia passar a vida trancado na sala de guerra, e ele confiava em seus primos para
lidarem com a questão pelo menos por mais uma semana, o quanto fosse necessário para consolidar os
acordos que ele precisava colocar em prática. Talvez – tá certo, talvez não, definitivamente – Dvar estivesse
morrendo de inveja de seus primos. Ambos tinham encontrado noivas incríveis e atraentes ao sequestrarem
mulheres americanas. Farzad parecia particularmente feliz com Alexis Monroe e, francamente, tendo espiado
sua pequena e bela irmã na cerimônia de casamento há muitos meses, Dvar conseguia entender por quê. A
família inteira era mais do que impressionante.

Ele havia se apaixonado pela irmã mais nova, Amy, mesmo à distância.

É por isso que, um belo dia, ele se viu sentando em uma mesa no meio da quadra principal da
Universidade de Boston, observando a garota. Ele queria entendê-la um pouco antes de levá-la de volta com
ele para a Jardânia. Até então, ele sabia que ela passava a maior parte do tempo sozinha. Mesmo tendo
largado sua pós-graduação, ela com frequência estava no campus, passando o tempo na quadra e observando
pessoas, ou, mais provavelmente, trancada na biblioteca. Ela era uma intelectual. Julgando por seu cabelo
tingido e piercings – eles nunca serviriam para uma xeica de verdade – isso o surpreendeu um pouco. O
vocabulário dela era ríspido o suficiente, e ele tinha comprovado isso por si mesmo no casamento. Amy não
havia medido palavras com Farzad, especialmente no que dizia respeito aos métodos de sedução de seu
primo. Ainda assim, esse lado mais quieto e pensativo surpreendeu e deleitou Dvar. Havia algo naquela
pensativa observadora de pessoas que podia ser cultivado, manipulado e encorajado até levá-la a ter o tipo
de elegância e pensamento cuidadoso que destacavam uma verdadeira xeica.

Ela se moveu um pouco e olhou por cima do ombro, e ele levantou o jornal para cobrir o rosto.
Algumas vezes desde que ele havia começado sua vigília, ela quase o havia pego no flagra, quase o viu
olhando para ela. Amy era também esperta, ciente dos seus arredores. É claro, Dvar havia servido e liderado
seu próprio exército por muitos anos. Também não era fácil surpreendê-lo.

“Maravilha,” ele disse para si mesmo. “Ela vai se sair muito bem.”

***

Hakim, seu emissário de mais confiança, entrou nos alojamentos privados do jatinho particular.
Apertada nos braços do velho homem estava a pequena trouxa praguejante pela qual Dvar estivera esperando.
“Meu xeique, nós estamos com a Senhorita Monroe, como foi pedido. Nós já estamos voando e estaremos na
Jardânia dentro de dez horas.”

Ele sorriu e apontou para a garota. “Muito bem, agora nos deixe.”

“Ela é um pouco difícil, meu senhor.”

Ele riu, genuinamente tocado com a preocupação de Hakim. Mesmo que a espoleta estivesse xingando
pelos cotovelos e tentando chutar tudo que estivesse ao alcance, ela ainda assim mal tinha um metro e meio, e
provavelmente pesava uns quarenta quilos, no máximo “Acho que dou conta dela.”

“Ela conseguiu machucar o Asaad, senhor.”

“Então talvez ela prefira jogos diferentes,” ele disse, assentindo para Hakim. “Agora, por favor, vá.”

Hakim hesitou só por um instante antes de fazer uma reverência e se retirar para a ala principal do
jato. O capuz ainda estava sobre a cabeça da garota e suas mãos estavam amarradas atrás das costas. Dvar
aproveitou a situação para fechar a porta, garantindo que esta estivesse trancada.

“Agora,” ele disse, circundando Amy e passando a mão pelas clavículas dela. Eles tinham tirado o
casaco dela antes de amarrá-la, o que significava que a mesma adorável camiseta preta – aquela que se
esticava convidativamente sobre seus seios bem formados – era o que ele via agora. Ele podia até sentir a
pele dela, macia como manteiga cremosa. “Você está a seis mil metros de altura. Você não poderia escapar
nem que tentasse, e eu não recomendo que você tente sair desse cômodo. Eu jogo sujo, Senhorita Monroe.”

Ela arfou e ele a viu se encolher mesmo por baixo do capuz preto que estava sob sua cabeça. “Por que
você está fazendo isso?” Ele deu de ombros e puxou o pano preto do rosto dela. Olhos inteligentes e agudos,
azuis como cristal cortado, o encararam de volta. Amy piscou mais algumas vezes, como se estivesse
tentando juntar suas forças. “Eu te conheço, não? E não só da cafeteria.”

Ele assentiu. “Você tinha muito mais raiva e foco no meu primo Farzad, e na sua percepção de como
ele havia tratado sua irmã.”

Ela o encarou de queixo caído, e ele podia ver o fogo queimando através daquelas assombrosas
profundezas cor de safira. “Você o que? Você está de brincadeira? Eu não curto essa palhaçada de princesa
árabe. Eu quero ir pra casa!” Ela se atirou para frente e tentou chutá-lo.

Dvar tinha que admitir – a menina era rápida. Ele pulou de lado, mal escapando, e depois se
esgueirou para trás dela. Empurrando-a para a cama, ela rolou-a de bruços e prendeu-a entre seu corpo e o
colchão.

“Isso não foi legal, espoleta.”

Ela se sacudiu embaixo dele, mas ele tinha quarenta e cinco quilos de músculo sobre ela, e ela não
tinha a menor chance de movê-lo. “Sai de cima de mim, caramba!”

Ele sorriu e beijou a garganta dela, deixando sua língua hesitar e banhar o ponto onde o pulso dela
batia. “Não, isso é para depois, minha xeica. Mas isso não significa que a gente não possa se divertir um
[1]
pouquinho aqui. Você nunca quis fazer parte do Mile High Club ?”

Ela ficou imóvel como uma estátua por baixo dele. “Eu quero ir pra casa. Eu não quero ser uma rainha
como minha irmã, e eu certamente não pedi pra isso acontecer.”
“Não, eu não acho que você pediu,” ele disse. “Agora, eu vou me levantar, e você não vai se mexer
dessa cama. Se você fizer isso, não vai gostar das consequências.”

Ela concordou embaixo dele. “Você não vai me machucar, vai?”

“Há jogos que eu prefiro, espoleta, mas nada disso é relevante aqui ou agora. Eu não vou te jogar na
cama de novo se você não fugir nem tentar me chutar. Não é uma troca justa? Eu vou ser educado desde que
você também seja.”

“Eu não sei o que ‘educado’ significa pra você em seja lá qual inferno de deserto onde você nasceu,
mas para mim significa que você não sequestra mulheres que estão voltando do trabalho e as maltrata!” ela
disse.

Ele ficou de pé e sorriu para ela, enquanto ela rolava de costas. “Bom, espoleta, cada família tem seus
costumes. Os homens Yassin sabem o que querem. Nós vemos o que queremos e depois vamos lá e pegamos.
Você era algo que eu simplesmente tinha que ter desde o momento em que eu te vi.”

“Bom, eu não posso dizer que o sentimento é mútuo, seu babaca.”

Ele deu de ombros. “Nós precisamos arrumar coisas melhores pra fazer com essa sua boca, Amy.”

“Eu acho que tenho muita coisa pra dizer pra você. Eu já te mandei pro inferno?”

Ele deu uma risadinha. Não é à toa que seu primo tinha ficado tão encantado pela irmã dela, Alexis.
Era tanta vivacidade, tanta intensidade... Um desafio maior do que qualquer uma das mulheres do seu harém.
Era definitivamente uma distração digna para tirar sua mente da guerra e do caos. Dvar riu profundamente
mais uma vez e se inclinou sobre ela. Ele não caiu sobre a cama ou colocou seu peso sobre Amy, apenas se
abaixou para poder beijar seus lábios.

Amy fechou os lábios com força e não se mexeu embaixo dele. Isso não duraria muito, não se ele
pudesse fazer algo a respeito. Finalmente, ele estendeu uma mão e apalpou o seio dela. A pele era macia e
flexível sob seu toque, e natural também. Ela era pequena e magrela, mas ele adorava a sensação do delicado
seio dela em sua mão. Através do fino tecido da blusa e do sutiã dela, ele já conseguia sentir o mamilo
endurecendo.

Dvar passou seu polegar ali e ela estremeceu, o mamilo instantaneamente enrijecendo sob seus
cuidados. Ele aproximou a boca da orelha dela. “Nem pense em me morder.”

“Eu não pensei,” ela disse, mas seu tom de voz era fraco e vacilante. Ela tinha pensado sim. Mais uma
vez, ela se mostrou uma lutadora, uma qualidade excelente para uma xeica, para uma futura mãe da linhagem
Yassin. “Eu não gosto disso.”

“Seu mamilo está duro sob o meu toque,” ele disse, enfatizando seu argumento ao esfregar o mamilo
dela com um movimento circular, curtindo a sensação em sua mão. “Você está respirando de forma
entrecortada. Diabos, até suas pupilas estão se dilatando. Você está mais excitada do que gostaria de admitir.”
Ele enfatizou seu argumento beijando-a nos lábios, deixando que seus dentes mordiscassem a macia pele
dela. Ele não a fez sangrar ou qualquer coisa do tipo, mas ele gostava da sensação do lábio dela, tão macio e
vulnerável entre os seus dentes.

Amy inspirou profundamente e estremeceu embaixo dele. Suas pálpebras se agitaram e ela o avaliou,
os olhos semiabertos, sua expressão faminta apesar da raiva.
Ele sorriu novamente e beijou-a, descendo pelo pescoço dela em direção à sua clavícula. Ele passou
os dentes sobre os ombros dela, curtindo a maneira como ela estremecia sob seus toques. Sua mão ainda
estava massageando o seio dela, e ele mal podia esperar para sentir o calor dela em volta de sua ereção, para
se sentir em casa ao enterrar sua carne dentro dela. Mas isso demoraria um pouco, era melhor deixar que as
coisas se estendessem. Não seria divertido se ele tomasse tudo de uma vez.

Afinal, paciência não era uma das virtudes?

Ainda assim, talvez um pouquinho mais de diversão não fosse fazer mal. Ele beijou os lábios dela
uma última vez e até deixou sua língua invadir a boca dela, se enroscando na dela e lutando para dominá-la.
Mesmo assim, ela se contorceu e lutou por baixo dele, como se Amy não fosse se render a sequer um beijo de
livre e espontânea vontade. Ótimo, ela era tão motivada e cabeça dura quanto ele. Isso seria uma competição
de vontades, e ele mal podia esperar para vencer. Enquanto a beijava, ele esfregou sua ereção contra os
quadris dela, prometendo muito mais quando eles chegassem em casa, na Jardânia.

Se levantando, ele sorriu para ela. “Eu te vejo em breve, espoleta, e da próxima vez que eu te ver...”

“Você vai me deixar ir, seu babaca egoísta?” ela exigiu.

“Não, nós vamos brincar de verdade.”


Capítulo Três
Não havia muito que ela pudesse fazer para ficar confortável. Pelo menos ela tinha se livrado do
capuz preto – que fedia a óleo de patchouli, fumaça de cigarro e alguma outra coisa. Amy achava que era
suor. Deus, quantas outras vítimas ou almas assustadas e sequestradas tinham sido forçadas a usar aquele
negócio? Ainda assim, ela manobrou até ficar sentada e se inclinou na cabeceira de ébano.

Num avião? Sério? É claro que, se você é um xeique e tem bilhões de dólares, porque não
desperdiçá-los?

Soltando um suspiro profundo e vacilante, ela tentou não chorar. Não era o estilo dela. Ela era muito
mais a favor de gritar com as pessoas, dizendo a elas exatamente o que pensava. Diabos, chutar certos
xeiques sabe-tudo na virilha parecia uma ótima ideia. Ela congelou, pensando na maneira como ele havia se
esfregado nela, a ereção rígida dele contra o seu cerne. Amy estremeceu e disse a si mesma que o que ela
sentia não importava, o que importava era que Dvar a havia sequestrado, a roubado de sua vida, e ia esperar
certas coisas dela.

E ainda assim, uma parte dela não estava tão chateada.

Ela estava desesperadamente entediada e indiferente com sua humilde vida em Boston.

Diabos, ela estava congelando seu maldito traseiro naquele lugar. Talvez ela não tivesse planejado ser
salva do inverno sendo sequestrada e enviada para o Oriente Médio, no deserto escaldante, mas qualquer
coisa tinha que ser melhor que a desolação à qual ela estivera se agarrando.

A sensação do membro dele, tão duro e pronto contra o corpo dela, era uma memória provocadora,
assim como a sensação do polegar dele, gentil, mas forte em seu mamilo direito. Deus, ela não podia mentir
para si mesma, não completamente, e ela não podia contar uma estória bonita para si mesma dizendo que não
se sentia atraída por Dvar de forma alguma. Ela o havia achado absurdamente bonito desde o momento em
que ele tinha entrado na cafeteria. Só o cheiro dele e a sensação do corpo dele pressionado contra o seu já
faziam com que seus fluidos começassem a jorrar.

O que diabos estava errado com ela?

É claro, aquelas incríveis maçãs do rosto, os olhos verdes como jade, e os ombros largos colocariam
qualquer mulher heterossexual de joelhos.

Nessa bagunça toda, essa era a parte que mais a deixava com raiva. Tudo que Dvar precisava ter feito
era pedir, e ela teria viajado com ele, teria estado interessada nele. Agora ela achava que ele a via como uma
espécie de brinquedo. Ele a havia adquirido e agora ele esperava que ela se comportasse, obedecesse, e
fosse a sua xeica perfeita.

Até parece.

Ela não ia se curvar para ninguém, nem para um homem tão sexy e, até agora, tão talentoso quanto
Dvar.

Ela estava sentada lá, ruminando sobre quais seriam as suas chances de fuga se ela simplesmente
saísse correndo na pista de pouso do aeroporto, quando a porta se abriu e ela se encolheu. À sua frente estava
o homem alto e de cabelos grisalhos que a havia segurado com mais força. Era Hakim, não era?

O homem tinha uma bandeja carregada de amendoins, alguns sanduíches e refrigerante. Ele fez uma
pequena reverência e colocou a bandeja na cama do lado direito dela. “Xeica Amy, você precisa comer.”

Ela revirou os olhos e se inclinou para frente. “Minhas mãos estão um pouco amarradas aqui. Hakim,
certo?”

Ele se curvou novamente. “Sim, minha xeica. Esse é o meu nome. Bom, então, esse é um problema. Eu
não tenho permissão para te soltar. Você pode escapar, mesmo que isso seja tanto inútil quanto tolo.”

“Sim, eu ouvi. Eu não ia despressurizar a cabine ou algo do tipo a mais de seis mil metros de altura.”

“E não seria apropriado que a xeica enfiasse a cara na comida,” ele disse, franzindo as sobrancelhas
acanhadamente. “Eu vou chamar meu mestre. Ele pode ser capaz de atender às suas necessidades.”

Ela corou, pensando na maneira come ele quase havia atendido às suas necessidades alguns momentos
antes. “Claro, eu não quero morrer de fome. Quer dizer, eu não acho que isso vai acontecer, mas eu estou
faminta, Hakim.”

Ele sorriu. “Eu acho que cabe ao Dvar cuidar disso.”

Antes que ela pudesse contestar, o homem tinha ido embora. Ela ficou lá piscando, como se ele
estivesse escondendo sua verdadeira velocidade. Considerando que Hakim havia sido enviado para capturá-
la, Amy de repente se perguntou se haveria algum motivo pra ele ser o encarregado de realizar favores
“sujos” para o xeique. Provavelmente ele era um dos funcionários mais bem treinados de Dvar – outro motivo
pelo qual ela não tinha a menor chance de escapar. Mesmo que ela conseguisse se livrar das amarras
apertadas em seus pulsos e passar, desarmada, pela guarda de três ou quatro homens enormes, bom, eles
estavam mais que certos. Não é como se ela tivesse um paraquedas extra ou o desejo suicida de despencar
milhares de metros até o oceano (será que tinha tubarões?) embaixo.

Então tudo que ela tinha agora eram câimbras nos braços e uma bandeja cheia de sanduíches que ela
não podia comer. Ah, e um xeique que era incrivelmente gostoso, mas que a queria à disposição dele. Até
parece. Falando nele, Dvar esgueirou-se de volta para o cômodo. Mais uma vez, era como se todo o ar
tivesse saído do corpo de Amy. Ela nunca tinha visto alguém tão bonito em pessoa antes – os ângulos
acentuados do seu rosto e suas maçãs altas, os lábios apertados, e, como sempre, aqueles brilhantes olhos cor
de jade que pareciam ver e absorver tudo em volta dele. O xeique era observador acima de tudo, isso Amy
conseguia sentir em seus próprios ossos.

“Eu fiquei com fome,” ela disse, empinando o queixo desafiadoramente. Era um gesto fútil quando ela
estava amarrada e não podia machucar sequer um maldito gatinho, mas a fazia se sentir melhor. Ninguém ia
levá-la sem uma briga. Se isso ia acontecer com alguns chutes bem colocados ou com farpas verbais, não
importava. Ela não pertencia ao harém de ninguém.

Dvar assentiu e se sentou do outro lado da cama. A bandeja balançou, mas nada caiu, mesmo com o
deslocamento de peso. O xeique sorriu para ela e passou uma mão por seus cabelos. Amy ficou parada, mas,
francamente, gostou demais da proximidade dele para tentar afastar a cabeça. Ela não estava com vontade de
negá-lo acesso. Além disso, se ela o chateasse, ela ia passar as próximas dez horas até o Oriente Médio sem
nada no estômago e ela não tinha exatamente comido muito durante seu turno. Por enquanto, entrar no jogo
parecia ser a melhor estratégia.

Mãos grandes e estranhamente calosas – talvez nem todos os xeiques levassem vidas fáceis de luxo –
acariciaram seu cabelo e depois tocaram sua bochecha. Ela estremeceu com aquele toque e, certamente, não
podia ser a sua garganta que estava choramingando. Diabos, ela nunca tinha choramingado na vida. Amy se
recusou a admitir que estivesse fazendo aquilo agora.

“Como eu disse, estou com fome. Então, oh grande e poderoso soberano, o que você vai fazer a
respeito?”

“O que você quer que eu faça, espoleta?”

“Estou com sede,” ela disse.

O sorriso dele se alargou e ela tinha certeza que aquela mesma expressão tinha feito outras mulheres
caírem de joelhos na frente dele. Suplicantes. Ele abriu o refrigerante e deu um longo gole. Amy lambeu os
lábios enquanto o pomo de adão dele subia e descia em sua garganta. Diabos, ela era tão patética que só a
visão de algumas gotas daquele líquido cor de âmbar pingando da barba e do bigode dele faziam com que sua
umidade aumentasse. Ótimo, ela ainda estava morrendo de sede, e agora nos dois sentidos.

Dvar se inclinou e a beijou. Foi um beijo longo e duradouro, carregado com mais gentileza do que ela
tinha imaginado que ele fosse capaz. Suas ações anteriores tinham sido famintas e ávidas, ações gananciosas
que procuravam apenas tomar e dominar. Agora? Agora ele estava carinhosamente se banhando na língua
dela, envolvendo-a com a dele. Ela quase deu risadinhas com as cócegas que os pelos faciais dele faziam. A
língua e os lábios dele estavam doces, com o sabor do refrigerante, e ainda um pouquinho frios.

“Está com menos sede agora?” ele perguntou, com o sorriso maliciosamente largo.

Ela bufou. “Não exatamente, Casanova. Eu gostaria de um pouco de refrigerante pra mim!” Ele
assentiu, tomou outro gole e se inclinou na direção dela. Amy viu aonde aquilo estava indo e cutucou-o com o
ombro. “Boa tentativa. Eu não sou um passarinho.”

Ele engoliu e deu de ombros. “Mas você é minha prisioneira. E eu já brinquei disso antes.”

“Ai, eca, essa não é uma brincadeira da qual eu vou participar tão cedo, mesmo com meus braços
amarrados atrás de mim,” ela argumentou.

Ele assentiu e depois abriu o outro refrigerante, um só pra ela. Ela definitivamente apreciou aquela
concessão. Ele encostou a borda na boca dela e deixou que o líquido entornasse para dentro. Ela deu goles
gananciosos e, apesar de seus melhores esforços, o refrigerante cobriu sua pele, deixando-a doce e pegajosa.
Mesmo assim, ela não bebia nada há horas e o líquido gelado era tudo que ela esperava, aplacando pelo
menos uma das sedes que queimava seu corpo.

Dvar puxou a lata de refrigerante de volta e colocou-a na mesa ao lado dele, perto da outra lata. “Eu
acho que você derramou um pouco, espoleta.”

“Eu não posso exatamente me limpar,” ela disse, passando a língua pelos cantos da boca e esperando
que isso fosse o suficiente.

Ele se inclinou para frente e começou a ajudá-la com a situação, lambendo os cantos da sua boca, a
ponta do seu queixo, e indo parar no topo da sua camisa. Algumas gotas tinham descido até sua clavícula
exposta e Dvar lambeu a pele ali langorosamente. Ela se esticou o máximo que conseguia, o tempo todo
lamentando as malditas algemas em seus pulsos. De repente ela queria muito tocá-lo, sentir a espiral de
músculos que, ela sabia, estavam por baixo do terno dele – do contrário, a roupa não cairia tão bem – ou o
cabelo grosso e escuro no topo da cabeça dele.
“Você ainda está com sede?” ele perguntou, finalmente, e ela sentiu falta do contato entre sua pele e a
talentosa – e possivelmente demoníaca – língua dele.

Ela balançou a cabeça. “Mas ainda estou morrendo de fome. O que você pretende fazer a respeito
disso, meu senhor?”

Os olhos dele se estreitaram. “Não fale desse jeito.”

“Ah, me desculpe,” ela disse. “Quero dizer, ‘meu senhooor.’ Eu não devo enunciar tudo, mestre?”

“Você é insolente,” ele disse, com o tom de voz baixo e ameaçador. Ele segurou o queixo dela com o
polegar e o indicador da mão direita. Ela então percebeu quão maior do que ela ele era (não que isso fosse
difícil), e muito mais forte. Amy não conseguia mexer a cabeça, nem mesmo um centímetro, não importa o
quanto ela tentasse. “Agora,” Dvar disse. “Tente novamente. Me peça comida com o respeito que o seu
xeique merece.”

“Meu xeique,” ela disse, batendo os cílios timidamente. “Eu adoraria que você me desse alguns
amendoins e sanduíches. Seria possível? Seria muito trabalho?”

“Melhor, mas não está ótimo,” ele disse. “Mas nós temos tempo para transformá-la na reverente xeica
que você precisa ser.”

“‘Reverente?’ Você não está colocando o carro na frente dos bois?” ela perguntou.

“Nunca,” ele disse, soltando o queixo dela e pegando o sanduíche.

O cheiro era quase divino para ela, que estava tão faminta, com toques de manteiga de amendoim e
mel, se ela não estava enganada. Dvar pegou o sanduíche em suas enormes mãos, fazendo-o parecer
minúsculo. Se ela não estivesse vendo com os próprios olhos, teria pensado que eram aperitivos. Mas não
eram. Sem querer, Amy corou ao pensar quão grandes deviam ser outras partes do corpo dele. Ela empurrou
esse pensamento para longe. Ela era uma prisioneira, caramba. Ela não ia cair nessa. Seu plano era simples:
esperar o avião aterrissar, correr para a luz do dia na pista de pouso, e arrumar uma maneira de ligar para sua
irmã e pedir pra ela chamar ajuda.

Simples, fácil.

Então porque é que ela já estava fantasiando a respeito de ficar aqui e deixar que as mãos grandes e,
aham, outras coisas fizessem o que quisessem com ela?

Ele estendeu a mão e interrompeu os pensamentos dela. Ele levou um pedaço partido de sanduíche até
a boca dela e ela deu uma mordida – e talvez, só um pouquinho, ela lambeu os lábios e gemeu mais do que
seria apropriado. Claro, o sanduíche era bom e ajudava sim a aplacar as chamas da fome rugindo dentro dela,
mas não era exatamente um néctar dos deuses. No entanto, ela gostava de provocar Dvar, tentando-o. Ela
podia vê-lo se contorcendo em seu assento, o contorno da ereção dele se endurecendo através do tecido das
suas calças. Os olhos dele se estreitaram, direcionando uma atenção bem focada nela, as pupilas se dilatando
dentro dos círculos cor de jade.

“Isso é incrível,” ela ronronou, lambendo os lábios novamente e rindo dele, que partia o próximo
pedaço ansiosamente.

Dvar levou a porção até a boca dela novamente e ela deu uma mordida ávida, deixando seus dentes
passarem – não morder, não exatamente – pelo indicador dele. “Cuidado, espoleta.”
Ela engoliu e deu de ombros. “Você sabe que tem uma expressão americana, ‘essa gatinha tem
garras’?”

“Não estou familiarizado, não.”

“Bem, eu prometo que não só tenho garras, mas também uns dentes bem fortes. Você talvez queira ser
bonzinho comigo.”

Ele assentiu e deu outro pedaço pra ela. O primeiro sanduíche já estava pela metade, e ela não tinha
certeza se estava aliviada ou decepcionada. Tudo que Amy sabia era que a atenção e os esforços do xeique a
deixavam confusa. Parte dela estava com medo e frustrada, e só queria ir para casa o mais cedo possível. No
entanto, uma parte mais profunda e atávica dela, algo primal e estranho para sua mente racional – bem, ela já
estava dolorosamente molhada –, queria que ele fosse mais longe.

Perceber isso a chocou, mas aquilo também a excitava.

Deus, o que estava acontecendo com ela?

Será que ela tinha ficado completamente maluca?

“Você está bem?” ele perguntou, as profundezas cor de jade se colorindo de preocupação.

Ela o avaliou especulativamente. “Você sequer se preocupa com o meu desconforto? Você fez, tipo,
quatro caras me sequestrarem, minhas mãos estão amarradas, e eu estou com medo do que vai acontecer se eu
tiver que ir ao banheiro.”

“A copiloto é mulher; ela pode te ajudar.”

“Que alívio,” ela replicou. “Eu sou só uma posse pra você e nós dois sabemos disso.”

“Você é mais que isso,” ele disse silenciosamente antes de colocar o sanduíche de volta na bandeja e
pegar tudo para levar para a parte principal do avião, longe do quarto privado dela. “Descanse dessa vez,
Amy. Quanto mais você dormir, mais rapidamente nós chegaremos ao nosso destino.”

“E à minha escravidão sexual, mal posso esperar!”

Ele franziu a sobrancelha e entortou a cabeça. Deus, será que ela era tão transparente com sua luxúria
quanto ele? Era óbvio que ele a queria. Diabos, até um cego perceberia. Será que ele via que pelo menos
parte do seu corpo traidor também ansiava por ele?

“Eu acho que você me quer mais do que demonstra, Amy. Agora, bons sonhos.”

Ela revirou os olhos depois que a porta foi fechada e tentou se acomodar no colchão embaixo dela.
Seus braços já estavam entorpecidos graças à falta de circulação, como se um milhão de formigas estivessem
picando-os. Assim mesmo, ela se viu caindo em um sono irregular. Ela não foi atormentada por pesadelos de
sequestro e tortura; Amy sabia que nada tão drástico quanto barras ou afogamento simulado estava em seu
futuro. Não. Ao invés disso, ela sonhou com penetrantes olhos cor de jade que olhavam para ela por entre
suas pernas, e com a fome que queimava dentro deles.
Capítulo Quatro
Havia pirâmides imensas do lado de fora da janela.

Havia pirâmides.

O cérebro dela não estava processando isso. Há menos de vinte e quatro horas ela estivera presa no
inverno mais frio jamais registrado em Boston, e agora Amy estava na suíte real do hotel Mena House no
Cairo, Egito, olhando sobre o campo de golfe e diretamente para as pirâmides. Você sabe, o Rei Tutancâmon,
maldições, e múmias antigas? Sim, essas pirâmides. Elas eram imensas, tão impressionantes que Amy se
sentia insignificante ao lado delas, como se não houvesse nada nela que importasse em comparação com algo
que havia durado séculos. O quarto também era maravilhoso – uma enorme cabeceira circular folheada a ouro
de verdade que fazia até a cama king size parecer pequena, o rico tapete oriental em tons de bronze e
vermelho, e a mobília antiga feita das mais finas sedas. Dizia-se que o Mena House vinha hospedando
celebridades e reis por gerações. Amy acreditava.

O check in tinha sido interessante.

Ela tinha sentido uma vontade desesperada de correr no instante em que a haviam retirado do avião.
[2]
Pra falar a verdade, ela tinha feito isso, mas então Hakim – e ela devia chamá-lo de o maldito Flash – a
havia agarrado e empurrado com força mais do que suficiente para dentro da limusine. Ela tinha esperado
aterrissar na Jardânia, para começar plenamente sua vida estranha e um novo capítulo como a rainha de uma
terra completamente estrangeira. A última coisa que ela esperava ver eram os sinais indicando que ela havia
chegado ao Egito. Amy se perguntou se talvez um dos primos de Dvar estava atualmente visitando o reino da
Jardânia. Talvez o seu novo xeique não quisesse enfrentar o escrutínio da família. Talvez ele quisesse
encantá-la com um passeio pelo mais velho país do Velho Mundo. Ou, diabos, talvez ele quisesse sua própria
distração antes de retornar para suas obrigações governantes. Amy não podia ter certeza.

No saguão do Mena House, Hakim a havia segurado firmemente, com uma arma enterrada
discretamente em suas costelas. Tentar pedir ajuda teria sido suicida e uma idiotice absurda, então Amy
manteve a boca fechada. Agora ela era uma imitação fajuta de Julia Roberts em Uma Linda Mulher, olhando
para uma cidade que ela nunca tinha visto exceto em livros de fotografia, e com o luxo da melhor suíte do
hotel empilhado sobre ela.

Ela não tinha palavras.

Mas Dvar parecia ter. Ele caminhou até ela e passou um braço por cima de seu ombro. Ela tencionou
os músculos com o contato inesperado, mas ele cheirava tão bem, a cúrcuma e almíscar, e ela não conseguia
não se sentir atraída por ele também. “É lindo, não é?”

Ela concordou. “Eu não fazia ideia. Eu sabia que elas eram grandes, mas eu não... como é que dá pra
sequer imaginar?”

“Não dá. Eu tinha sete anos a primeira vez que meu pai me trouxe aqui a negócios. Foi incrível.” Ele
se virou e sorriu para ela. “É sempre incrível.”

Amy engoliu em seco. Ele era muito mais alto do que ela, provavelmente uns quarenta centímetros a
mais, então não era como se eles estivessem se encarando olho no olho. Diabos, estava mais pra olho no
peito largo e forte, mas ele estava olhando para baixo, para ela, com aqueles encantadores olhos verdes, e ela
se sentia caindo novamente.
[3]
Ela se sacudiu. “Eu preciso de um banho ou algo do tipo. Estou coberta tanto do sal de rocha de
Boston quanto de areia do Cairo e isso é uma loucura.”

“Eles têm chuveiros,” ele disse, a voz como um ronronado. “Vou pedir para entregarem algumas
[4]
roupas aqui. Você é bonita demais para ficar vestida de barista .”

“Você conhece a palavra?” ela perguntou, um pouco surpresa.

“Eu mesmo estudei nos Estados Unidos, um tempo em Harvard. Não seja idiota. Além do mais, quem
você acha que inventou o café?” ele observou, se direcionando para a porta. “Aliás, antes que você tenha
ideias, o quarto tem três andares de altura e eu duvido que amarrar os lençóis uns nos outros vá te levar muito
longe. Além disso, Hakim e Nasir estão posicionados em ambos os lados da porta. O telefone não funciona.
Eu pedi que a recepção o desconectasse para mim porque não quero ser perturbado.”

Ela franziu as sobrancelhas. “Você está falando sério?”

“Muito, Senhorita Monroe. Você é minha agora, e você nunca vai escapar de mim – jamais,” ele disse,
batendo a porta atrás de si ao sair para o saguão principal.

Amy suspirou e testou o telefone, só pra ter certeza. A equipe dele tinha confiscado seu celular há
muito tempo. Fiel à palavra dele, o telefone sequer conectou. Estava completamente silencioso, não havia
nem o maldito tom de discagem. Indo até a varanda, ela avaliou a queda. Mesmo que ela soubesse como
amarrar os lençóis uns nos outros, ainda era alto demais. Além disso, ela tinha uma política de não basear
suas decisões de vida em coisas que tinha visto nos desenhos do Patolino e do Pernalonga, mesmo porque
elas raramente funcionavam, mesmo pra eles.

Ótimo, até agora todos os seus brilhantes planos ou tentativas de fuga tinham sido completamente
[5]
frustrados ou acabado como fracassos totais. Que pena que ela não era o MacGyver . Diabos, ela até
aceitaria ser a versão paródia: McGruber. Amy não era inventiva o suficiente pra isso. Pelo amor de Deus,
ela era uma ex-estudante e uma barista temporária endividada. Ela não tinha a menor esperança de descobrir
uma maneira de escapar. Não é como se ela fosse uma das garotas nos filmes de James Bond.

Dando de ombros, ela agarrou as fofas toalhas brancas dispostas para ela e foi para o banheiro. Era
tão lindo quanto o resto do quarto, com paredes de mármore e um chuveiro duplo com duchas a vapor. Tudo
brilhava, decorado com o que também pareciam ser folhas de ouro, e ela presumiu que tudo era feito com
aquela aparência só porque qualquer outra coisa seria tão cara e esbanjadora que não daria nem pra imaginar.
Estendendo a mão, ela ligou a água numa temperatura pouco abaixo de escaldante e tirou sua roupa imunda.

Quando os menores fiapos de vapor começaram a encher o chuveiro, ela entrou. Depois de tanto
tempo amarrada, a água era como o paraíso, as gotas quentes caindo sobre seus braços ainda formigantes e
entorpecidos. Havia marcas, arranhões e linhas vermelhas no local onde as algemas haviam mordido sua
pele. Não havia cortes e ela esperava que, em algumas horas, ninguém poderia mais ver. As coisas poderiam
ter sido piores. Diabos, ela ainda estava morrendo de medo de que as coisas ficassem muito piores. Como
era aquela expressão sobre nenhum porão no inferno?

Ela pensou que era onde estava atualmente.

Mas o inferno tinha trajes bonitos, o homem mais sexy que ela jamais tinha visto, e chuveiros de luxo.
Era melhor do que as ideias de forquilha e pés de bode que ela tivera antes. Não havia lagos de fogo aqui,
apenas o constante pulsar do chuveiro enquanto a água varria sobre ela, lavando as dores e o medo do dia
para longe.

Amy suspirou e inclinou a cabeça contra o mármore. A sensação era fria, um contraste com o calor de
sua pele ou o calor se acumulando em suas vísceras. Deus, o que diabos ela faria? Ela se virou para alcançar
o xampu e deu um pulo pra trás. Dvar estava lá.

Nu, em toda sua glória.

Ele devia ter entrado de fininho enquanto ela deixava toda a sujeira se desprender dela.

Ela lambeu os lábios ao vê-lo. Mesmo enquanto seu coração batia selvagemente, mesmo ao estender
os braços para cobrir seus seios e esconder sua própria nudez, ela ainda assim não conseguia tirar os olhos
dele. Ele era muito maior do que ela poderia ter imaginado, com relação à largura. O terno tinha escondido
tanto do que havia por baixo... Ele tinha ombros largos, um porte de jogador de futebol americano, ou seja lá
qual fosse o equivalente estrangeiro. Rúgbi, não era? Ele tinha uma constituição tão poderosa, como se ele
sozinho pudesse ter construído aquelas malditas pirâmides lá fora. Seu peito era perfeitamente esculpido,
como o Davi de mármore de Michelangelo. Ela engoliu com força enquanto a água escoava pelo torso dele e
corria em fios sobre as linhas de seu abdômen, um tanquinho, e ela se perguntou se o homem vivia em uma
academia.

Governantes não eram pra ser homens ocupados, em teoria?

Ela sabia que o presidente americano não se parecia nada com isso.

Bom, talvez fosse alguma estratégia para manter a Jardânia feliz. Talvez as mulheres ganhassem um
bilhete de loteria de vez em quando para dar uma espiada nos “bens” do xeique. Fazia tanto sentido quanto
qualquer outra coisa que ele tinha feito nas últimas vinte e quatro horas. Dizer que ela tinha caído no buraco
[6]
do coelho era tão pouco em comparação ao que de fato estava acontecendo que não tinha mais graça.

Ainda assim, a água continuou descendo, para o “caminho da felicidade” de pelos que levavam aos
cachos negros sobre a virilha dele. Seu membro saltava daquele tufo de cabelos, duro e de dar água na boca.
Amy tinha tido a sua cota de amantes na faculdade, mas ela nunca tinha visto ninguém tão grande. Não eram
proporções cômicas ou pornográficas, mas o xeique certamente não tinha nenhum motivo para sentir
vergonha. Aquilo certamente explicava sua atitude arrogante.

“Eu... isso é privado,” ela disse, finalmente encontrando sua voz, mesmo que soasse pequena e miúda
até para seus próprios ouvidos.

“É mesmo?” ele perguntou, dando um passo à frente e chegando perto o suficiente para que seu
membro se movesse e tocasse a barriga dela. Ela estremeceu com aquela intimidade, mas não
necessariamente odiou o contato. “Você tem que aprender, espoleta, que nada é privado de mim – não mais.”
Ele chegou mais perto, seu membro quente e duro entre eles enquanto ele acariciava a bochecha dela. “Você é
minha.”

***

Dvar não sabia muito bem o que estava fazendo.

Seu plano original tinha sido encontrar um traje apropriado para sua nova xeica e lhe dar espaço para
que ela pudesse digerir os eventos do dia. E então ele recuperou o bom senso. Ele não precisava que Amy
Monroe “concordasse” com nada. Não havia espaço para barganha aqui, sem negociações. Ele não era um
bobo, tolo e sentimental como seus primos. Ele era o rei e principal general da Jardânia, e ele teria Amy na
hora que quisesse. Agora, ele a queria molhada e de joelhos.

Então ele mandou Hakim buscar as roupas e voltou para o chuveiro. Amy estava tão fora de si que
Dvar e encontrou inclinada na parede de mármore, o azulejo frio pressionando sua testa. Ele adorou observar
aquilo, era um prazer desvalorizado. Tomar o que ele queria era sua prioridade, claro, mas era possível
aprender tanto – especialmente sobre uma amante – apenas observando as pessoas quando elas eram si
mesmas. Ela empurrou seu cabelo picado da testa, e ele pensou que daria ordens para que ela deixasse aquele
maldito cabelo crescer. Ela não era régia o suficiente ainda, não tinha a aparência de uma xeica. Ele tinha
visto as longas madeixas da irmã dela e, sim, Amy ficaria perfeita com uma juba de cachos negros e naturais
caindo pelas costas. Ainda assim, o resto dela era maravilhoso – a silhueta frágil, os seios pequenos, mas
empinados e com mamilos rosa escuro, e as pernas longas e esguias.

O tempo de ficar olhando tinha acabado.

Ele entrou e se divertiu com a maneira como ela o examinava. Ele se perguntou se ela estaria molhada
só por causa do chuveiro, se ela se sentia excitada pela mera visão dele como ele se sentia excitado por ela.
Ela estava respirando com dificuldade e ele estava hipnotizado pelos macios montes de carne no peito dela,
pela maneira como eles subiam com cada inspiração.

Ela era dele, e era hora de ensiná-la isso.

Depois das palavras gaguejantes dela, ele cruzou o banheiro e pressionou sua ereção contra ela.

Ah sim, era hora de começar pra valer.

“Então, espoleta, o que você acha que eu vou fazer com você?” ele perguntou, pressionando seu pênis
na pele macia e tentadora da barriga dela. “Como você acha que eu vou te tomar?”

Amy engoliu em seco e seus olhos se lançaram pelo cômodo, e ele se perguntou se ela estava
avaliando suas chances de fuga.

Ele estendeu os braços e prendeu as duas mãos dela contra o frio mármore do chuveiro. “Você não
pode sair, não dessa vez. Eu controlo tudo, então estou só perguntando o que você acha que vai acontecer.
Nós vamos trepar como animais? Será que eu devo de tomar, como dizem os americanos, de ‘cachorrinho’?
Você já experimentou sexo anal? Será que eu devo te dar uma experiência completamente nova nesse
sentido?”

Ele sorriu. “Você é tão pequena, então talvez eu apenas te levante e te faça me cavalgar, suas pernas
enroladas na minha cintura enquanto eu mergulho profundamente no seu cerne. O que você quer, Amy? Do que
você precisa?”

Ela lutou contra a pressão dele, mas ele apenas apertou os pulsos dela ainda mais com os dedos,
provavelmente com força o suficiente para deixar marcas, mas ele não se importava. Ele tinha que fazer isso,
ele precisava que ela entendesse e aceitasse o papel de xeica, e a primeira regra era que ela sempre estava
disponível para seu xeique. Ela vivia para servir as necessidades dele e as de mais ninguém.

Não hoje.

Nem nunca mais.

“Eu quero que você me solte.”


“Não, espoleta,” ele disse, sua ereção se esfregando nela agora. “Você não quer.”

Ele manobrou um pouco até que apenas uma de suas enormes mãos estivesse segurando ambos os
pulsos dela. Com a mão direita, ele passou os dedos vagarosamente pelos seios dela, depois por sua barriga
até o macio tufo de cabelos escuros no vértice de suas coxas. Eles eram tão delicados... Ele se perguntou
quais outras surpresas macias o aguardavam quando ele explorasse sua espoleta.

Experimentando, ele entrou com os dedos entre as coxas dela. Amy as fechou com força e o encarou,
seus olhos azuis, tão parecidos com geleiras, encarando-o com uma rebelião fogosa. Ele só pressionou-a com
mais força, deixando sua ereção falar por ele.

“Deixe-me entrar, espoleta. É muito mais fácil assim.”

“Eu...”

Ele forçou as coxas dela a se abrirem e sentiu a umidade ali, sentiu os fluidos dela se acumulando
sobre ele, e soube que não havia a menor possibilidade de aquilo tudo ser apenas água do chuveiro. Ah sim,
ela estava tão excitada quanto ele. Caramba, considerando as rápidas inspirações com as quais ela estava
lutando, Amy estava mais do que ávida pelo que ia acontecer com ela. Ele correu os dedos pela escorregadia
pele dela e depois pelas macias dobras de seu cerne. A sensação era de veludo em suas mãos, mais uma vez
surpreendentemente macio e tenro.

Amy estremeceu e suas pernas pareceram ceder por baixo dela por um momento. Ela só não caiu na
frente dele porque as imensas mãos de Dvar a estavam segurando. Isso seria pra mais tarde. Ele teria muito
tempo para colocá-la de joelhos, a língua maliciosa e brincalhona dela lambendo a cabeça de sua ereção.
Agora? Agora ele só queria senti-la e fazê-la gritar de prazer, fazê-la se esquecer completamente dos Estados
Unidos.

“Você está tão molhada e pronta, espoleta. Você está pronta pra quê?”

Ela ainda estava encarando-o, mas parte dela parecia esperta o suficiente para entender o que ele
queria.

“Você, eu quero você.”

Ele assentiu. “Pode estar certa disso. Você vai resistir?” ele perguntou, mexendo a mão pelas dobras
dela até o sensível feixe de nervos aninhado no meio. Ele pressionou o polegar ali, movendo-o em círculos
grosseiros, e ela soltou um gemido que penetrou diretamente na parte mais primitiva do cérebro dele. O seu
membro se contraiu por conta própria, e ele estava tão desesperado que simplesmente precisava estar dentro
dela.

Dvar não disse nada, mas se moveu novamente, passando os braços pela cintura dela e se sentindo
aliviado quando ela não tentou bater nele ou arranhá-lo com suas mãos, que agora estavam livres. Ele a
levantou como se ela não pesasse nada – e, francamente, o peso dela era mesmo negligenciável. As pernas
dela se enrolaram na cintura dele, e ele deixou sua ereção escorregar para dentro dela. Ela estava apertada a
princípio, e era óbvio, mesmo que ela provavelmente não fosse virgem – quem era, hoje em dia – que fazia
um tempo que ela não transava. A cabeça dele estava entrando quando ela sibilou.

“Você está bem?”

Ela assentiu e franziu as sobrancelhas. “É só maior do que o normal.”


Ele deu uma risadinha e começou a beijar a garganta dela, deixando-a se acostumar com tudo. Ele
desceu beijando seus ombros até a base da garganta dela, perto da clavícula. Ele passou a língua pela base do
pescoço dela e depois subiu para mordiscar seus lábios, mordendo-os ocasionalmente, curtindo a sensação
da pele delicadamente presa entre seus dentes. Ela gemeu e o membro dele se contraiu novamente, entrando
com mais facilidade dentro dela por causa de seus fluidos, que escoavam cada vez mais. Centímetro por
centímetro, ele escorregou para dentro dela, sentindo seu calor e pressão, o canal dela tão apertado, quase
como se estivesse massageando-o enquanto ele empurrava sua ereção para o fundo do cerne dela.

Finalmente, ela estava em posição e ele sentiu como se até suas bolas estivessem dentro dela. Dvar
sorriu para os brilhantes olhos azuis dela. “Parece que nós temos o encaixe perfeito, espoleta.” Ele moveu os
quadris tentativamente e ela enterrou as unhas nas costas dele, arranhando-o com a perfeita mistura entre
prazer e dor. “Agora, quais são as palavras mágicas?”

Ela franziu a sobrancelha para ele. “Abracadabra?”

Ele moveu os quadris só um pouquinho, provocando tanto ela quanto ele mesmo. Foi preciso ter mais
autocontrole do que ele se imaginava capaz. Ele queria saqueá-la desesperadamente, se sentir gozar fundo
dentro dela com uma urgência e necessidade animal. Ainda assim, isso era um jogo. Ele queria que ela
pedisse, implorasse. Ele ia quebrar seu sarcasmo e sua desobediência mesmo que ele morresse de desejo ali
mesmo.

“Droga! Que tal ‘abre-te sésamo’?”

Ele a empurrou de leve e riu enquanto ela gemia e estremecia sob os esforços dele. “Eu acho que algo
já está definitivamente aberto, espoleta.”

“Argh, por favor, então!”

“Por favor, o que?” ele provocou, deixando sua voz ficar baixa e rouca, como um ronronar.

“Por favor, me coma, Dvar.”

“Não, esse não é o meu título, e você sabe disso.”

Ela se esfregou nele, mas ele sabia que aquela tentativa patética de gerar fricção não saciaria as
coisas por muito tempo. “Por favor, meu xeique, por favor!”

Ele assentiu, não mais precisando ensiná-la uma lição ou provocá-la. Ele começou de verdade, seus
quadris encontrando seu próprio ritmo frenético contra os dela. Ele empurrou para dentro dela, seu membro
enclausurado no cerne dela, sentindo seus músculos começarem a ondular e se mover em volta dele. Os
fluidos dela estavam escoando livremente agora, facilitando os movimentos deles. As unhas dela se
enterraram na pele dele, seus seios macios e flexíveis contra o peito dele. Amy levou os lábios até o ombro
dele e sentiu seu gosto ali, beijando-o, passando a língua, até raspando os dentes na pele sensível. O pênis
dele deu um espasmo de excitação e aquilo o fez se mover com mais força e fervor. Ela estava gemendo
acima dele, segurando-o como se a sua própria vida dependesse disso, como se ele fosse um maldito touro
em um daqueles rodeios americanos.

Diabos, talvez ele fosse.

Então ele sentiu: os espasmos em seus testículos, a tensão na boca do estômago. Ele gozou, atirando
sua semente dentro dela, sentindo seu sêmen se misturar com os fluidos dela e com a água do chuveiro, agora
fria. Mas ele manteve o ritmo da melhor forma possível mesmo ao continuar gozando – ela ainda não tinha
sentido o mesmo alívio.

Ele era o chefe e podia ser insensível, mas ele ainda era um xeique que tentava agradar.

Ele passou a mão entre seus corpos e tocou o clitóris dela mesmo enquanto ela enrolava as pernas
mais estreitamente entorno de sua cintura. Dedos ágeis, ainda que calosos, esfregaram desenhos
semicirculares ali, enquanto os quadris dele se elevavam para encontrar os dela. Era escorregadio e
bagunçado e quase violento, mas a paixão voava livre e solta entre eles.

Ele estava adorando.

Ela finalmente gozou, gritando o nome dele e uma coleção de xingamentos que o impressionou. Ele
não a tinha visto gritar assim sequer com seus guardas, e ele pensou que ontem ela tinha chamado eles de tudo
que era possível.

Amy se acalmou e finalmente caiu para frente no ombro dele. Até ele estava cansado, extenuado a tal
ponto que ele sabia que teria que largá-la o mais rapidamente possível.

Ele beijou as pálpebras fechadas dela. “Bem vinda ao Oriente Médio, minha xeica. Bem vinda ao
lar.”
Capítulo Cinco
Depois daquilo, Amy foi deixada para finalmente terminar seu banho. Espera, o que era aquilo,
exatamente? Bem, ela sabia o que aquilo era: aquilo era o sexo mais incrível que ela jamais havia
experimentado. Isso não era mistério. A parte que era tão estranha pra ela, tão inesperada, era que ela tinha se
submetido a tudo sem questionar, ela tinha sido perfeitamente complacente. Tá bom, talvez não
[7]
completamente. Dvar era muito maior do que ela, com a constituição de um quarterback americano, e ela
claramente não teria sido capaz de obrigá-lo a fazer nada que ele não quisesse. Afinal, o homem tinha
segurado ambos os seus braços com uma única mão enorme. As únicas escolhas reais que lhe haviam sido
oferecidas no chuveiro eram as posições. Ainda assim, talvez ela pudesse ter lutado mais. Ela não se casaria
com esse homem, não seria a maldita xeica dele, ou escrava de prazer, ou seja lá o que mais ele estivesse
imaginando que ia acontecer.

É claro, mesmo enquanto terminava de se esfregar, deixando a água escorregar entre suas coxas, Amy
conseguia sentir o calor se espalhando em sua barriga, o desenrolar agradável de conforto e saciedade. Seu
cerne ainda estava formigando e, francamente, ela sabia que grande parte dela gostaria de nada mais do que
ficar aqui – bem, eventualmente na terra dele, a Jardânia – e ser a rainha dele.

O homem sabia como levá-la às alturas do prazer, mais do que qualquer um dos seus colegas
desastrados.

Nossa, ele era como um maldito deus grego enviado diretamente pra ela.

Mas ele não tinha pedido, diabos; ele tinha apenas carregado ela para outro mundo, alheio a quaisquer
planos de vida que ela pudesse ter. Tá certo, seu maior plano parecia envolver um monte de firulas ao servir
café, mas a questão não era essa. Ela não era Alexis; ela não era sua irmã, facilmente levada ou enganada até
[8]
ter síndrome de Estocolmo . Ela não ia simplesmente cair na cama com esse xeique, não importa quão surreal
o orgasmo tivesse sido.

Suspirando, ela pulou pra fora do chuveiro e se secou. Com cuidado, ela vestiu o grosso roupão
felpudo. Não havia motivo para pensar que Dvar não estava lá fora esperando por ela, e ela não queria dar a
ele a impressão errada de que queria uma segunda rodada. Tá certo, ela queria, mas ela não precisava que ele
soubesse disso. Força de vontade, era disso que ela precisava. Ela precisava de força de vontade o suficiente
[9]
para aguentar isso tudo até que pudesse chamar a atenção da irmã, ou da Interpol , ou alguma coisa do
gênero.

Quando ela passou para o quarto principal, ela revirou os olhos. Seus instintos estavam certos e Dvar
estava deitado no suntuoso colchão, examinando-a com uma fome feral. Pelo menos ele estava vestido com
um simples par de calças de linho e uma camisa branca de abotoar, também de tecido leve. Ela franziu as
sobrancelhas.

“O que?”

“Eu esperava, sei lá, robes e um turbante, talvez?”

“Eu prefiro me vestir como os ocidentais às vezes. Eu fui educado nos Estados Unidos, espoleta, e eu
achei que ia facilitar as coisas pra você.”
Ela bufou. “Porque a sua escolha de guarda-roupa me faz sentir tão melhor a respeito de ser uma
escrava sexual.”

“Você será a xeica, uma rainha. Você é muito mais do que uma adição qualquer ao meu harém.”

“Você tem um?”

“Ah, sim, mas talvez eu aposente a maioria delas. Você é uma transa bastante irresistível, Srta.
Monroe.”

Ela engoliu em seco e empurrou sua própria fome e necessidade dele para longe. “Muito bem, vista
qualquer coisa. E eu, o que devo vestir?”

Ele sorriu e apontou para o pé da cama. Havia uma diáfana cobertura cor de rosa, como algodão doce.
Não era grossa e pesada como as burcas escuras que ela tinha visto no noticiário ou mesmo visitando o reino
de sua irmã, mas ainda cobriria bastante seu corpo. Franzindo a sobrancelha, ela caminhou até a roupa e
pegou-a. O caftan rosa era transparente.

“Eu não posso sair assim.”

“Ah, essa não é a única coisa para você,” ele disse, mexendo nos lençóis e revelando uma roupa de
duas peças. Um conjunto lilás com calças de gênio (ela se lembrou de vídeos do rapper M.C. Hammer) e uma
bandoleira com cristais de verdade e braceletes dependurados. “Eu resolvi ser criativo em um dos mercados
aqui perto. É um clichê e tanto, mas tantas garotas americanas sempre quiseram ser aquela princesa no filme
da Disney... pensei que você podia me divertir.”

“Quer dizer que mesmo fora da Jardânia você quer que eu faça o papel da garota sem noção do
harém.” Ela olhou para a cama e cruzou os braços sobre o peito. “Eu não vou usar isso de forma alguma, não
tem a menor possibilidade.”

Ele deu de ombros. “Então você vai ver as pirâmides de Giza no seu mais fino roupão de banho, ou
nua. Não me incomoda. Quente como é nesse maldito lugar, talvez você esteja certa de ir nua. Mas eu não
acho que você ia gostar muito, espoleta. Você parece ser modesta demais pra isso, apesar de gritar muito.”

“Você não pode estar falando sério! Eu não posso sair por aí vestida que nem a Princesa Jasmim.”

“Ah, você pode e você vai, então pode se aprontar,” ele disse, pulando da cama e saindo do quarto.

Amy sacudiu a cabeça e começou a se enfiar naquela roupa infernal. Se ela ia ficar presa aqui, então
ela pelo menos precisava de alguma roupa, mesmo que essa não deixasse nada em aberto para a imaginação.

***

Dvar sorriu para Amy quando ela tomou seu braço estendido. Atrás deles, Hakim e Nasir ficavam de
guarda. “Você está magnífica.”

A mão dele traçou o contorno da barriga dela, sua estreita cintura estava magnificamente emoldurada
pelo cós dourado das calças. Ela era muito mais bonita do que qualquer mulher que ele jamais havia visto,
mais ainda por conta daquele temperamento fogoso que ele mal podia esperar para domar. Talvez ele
estivesse com sorte nesse departamento. Ela eventualmente colocou as roupas, afinal. Já era alguma coisa.

“Eu sinto que saí diretamente de As 1001 Noites.”


“Então você pode ser a minha Sherazade pessoal. Quais estórias você vai me contar essa noite, minha
querida?”

“O conto do xeique que não entendia que ele não estava no controle de tudo,” ela soltou.

Ele riu. “Isso não vai me interessar muito. Eu prefiro ouvir as suas fantasias mais obscuras, Srta.
Monroe.”

As bochechas pálidas dela coraram com um lindo tom de escarlate que destacava suas belas maçãs do
rosto. Ah, era divertido jogar com essa aqui. Isso o surpreendeu. Durante suas observações, ele tinha
percebido que ela era muito áspera com a maioria das pessoas que a incomodavam, mesmo no trabalho.
Caramba, ela tinha passado a maior parte de seu tempo juntos insultando ou ofendendo (bem inutilmente) seus
homens. Havia um lado mais meigo e frágil ali, e ele queria explorá-lo também.

Diabos, quem ele achava que estava enganando? Ele queria explorar qualquer coisa que Amy tivesse
a oferecer.

“Será que também preciso te lembrar,” ele disse, “que Hakim e Nasir são muito bons no que fazem.
Eles são guardas excelentes e os melhores atiradores da Jardânia. Se você sequer pensar em fugir ou alertar
alguém, eles vão atirar.”

“Você está falando sério?”


[10]
Ele balançou a cabeça. “Espoleta, são balas de borracha para controle de multidões ou um taser em
um dos casos. Então você pode escolher seu veneno. Só não tente bancar a heroína. Não há nada além de luxo
e sexo fenomenal aqui. A maioria das mulheres mataria para estar no seu lugar,” ele sorriu para ela enquanto
eles pegavam o elevador para a limusine que os aguardava. “Afinal, eu sou um dos solteirões mais ricos e
cobiçados do mundo.”

“Bem, talvez eu não queira nada com o dinheiro de petróleo dos Yassin,” ela disse, sua mandíbula
apertada.

As portas se fecharam e ele tentou ignorar a maneira como Hakim chegou mais perto dele. Dvar
estava quase certo que, apesar do tom de voz e das palavras duras, Amy não começaria a chutar ou fazer
qualquer coisa que pudesse machucá-los. Quase.

“Então eu acho que você já está bastante apegada ao sexo.”

“Você é um porco.”

“Você gosta,” ele disse simplesmente.

A descida no elevador foi curta, assim como a ininterrupta transição para a limusine. Hakim e Nasir
se sentaram na frente, e ele tomou o banco de trás com Amy.

“Você fez bem,” ele disse. “Veja, se você apenas ficar em silêncio e permitir que tudo corra
normalmente, então você vai curtir o estilo e as maravilhas do Cairo. A cidade inteira está à sua disposição.
Você pode ter o que quiser, sabe, você só precisa pedir.”

Ela o encarou, empurrando a franja picada para trás da orelha. “Será que você tem um celular? Eu
adoraria um.”
“Não, e você sabe que nenhuma comunicação vai acontecer por um tempo durante o período de
adaptação.”

“Isso é um eufemismo,” ela bufou. “Não podemos estar tão longe das pirâmides. Eu consigo vê-las na
nossa varanda.”

“É verdade,” ele disse, colocando um braço em volta do ombro dela.

Amy ficou tensa, mas ele observou enquanto ela olhava para Nasir, que a encarava de perto. Ele era
um guarda-costas muito bom, no final das contas. Ela então relaxou, e talvez a ideia estivesse finalmente
entrando na sua cabeça dura, a ideia de que não havia mais necessidade de lutar contra isso, de que a vida
dela estava destinada a isso.

“É legal, pelo menos,” ela murmurou enquanto a limusine saltitava pela poeirenta estrada desértica
que os levava ao principal caminho de areia até as pirâmides. Eles teriam que tomar camelos para atravessar
a areia grossa, mas eles ainda tinham alguns minutos no carro. “Eu nunca andei de limusine antes.”

“Eu pensei que tinha, com a sua irmã.”

“Eu não visitei a Alexis muitas vezes. Eu nunca estive numa limusine antes. Eu nunca fiz o tipo ‘garota
de luxo’ antes.”

“Sério?”

Ela bufou. “Você sequer conversou com seu primo Farzad sobre qualquer coisa a respeito da nossa
família? Meu pai se separou da minha mãe quando eu tinha uns oito anos e nós passamos aperto com tudo.
Alexis fez um monte de empréstimos para pagar a escola de direito. Não importa agora, mas nós tivemos
muitos jantares de comida congelada quanto éramos crianças e Natais com meias e calcinhas úteis de
presente porque não sobrava nenhum dinheiro para brinquedos.”

“Ah.”

“Exatamente, e agora eu sou barista, então eu me viro, mas eu não frequento bailes de gala ou ando em
carros enormes, sabe?”

Ele assentiu e não conseguiu encontrar as palavras que queria. Ele tinha ficado intrigado pela beleza e
determinação de Amy nas poucas vezes em que a tinha espiado ao visitar o palácio do primo. Ele tinha ficado
mais encantando e certo de que a queria quando ele e sua equipe a tinham perseguido durante a semana
anterior, em Boston. Ainda assim, uma vez que a irmã de Amy era uma advogada licenciada, ele sempre tinha
presumido que a família dela tinha dinheiro. Francamente, o fato de a infância dela soar dura e solitária o
deixou extremamente chocado.

“Eu sinto muito que o seu pai-”

“Meu pai,” ela cortou, “é um grande babaca. Ele sequer foi ao casamento da Alexis porque a nova
esposa dele não estava a fim de viajar. Ele teve uma crise de meia idade, fugiu pra sei lá onde, e de vez em
quando envia um cartão de aniversário – geralmente no dia errado. Ele foi, e ainda é, um baita idiota.”

“Ainda assim, eu ia dizer que eu entendo as dores de se crescer sem pai.”

Ela franziu a sobrancelha. “O que?”


“Meu pai foi morto em uma batalha quando eu tinha apenas doze anos. Ele era um general, como eu, e
levava a sério suas obrigações para com o povo da Jardânia. Alguns xeiques apenas bolam estratégias, mas
ele achava que era seu dever fazer tudo que pudesse durante a batalha para proteger seus cidadãos. Um
daqueles malditos vira-latas do Leban atirou nele.”

“Eu sinto muito.”

“Foi a algum tempo atrás, bastante tempo,” ele disse, suspirando.

Mesmo então, a mão dele foi para o bolso das calças. Para qualquer lugar que fosse, ele carregava a
medalha mais prezada de seu pai. A lua crescente prateada era um símbolo do seu alto ranque no exército
antes de sua morte, como era costume na Jardânia. Aquele objeto colocava os pés de Dvar no chão, o ligava a
um pai que estava se esvaindo de sua memória. As lembranças tinham se desbotado depois de quase duas
décadas, é claro, mas ele também temia ver seu pai apenas através dos olhos ingênuos de um jovem menino.
Ele não se lembrava do homem como ele tinha sido, e Dvar apenas desejava que eles tivessem tido tempo
para todas as conversas que pais e filhos deviam ter, que ele tivesse orientações para o trono. Havia dias em
que ele não tinha a menor ideia do que estava fazendo.

Tá certo, quase todos os dias.

Ele sempre sentia que seu pai teria sabido, que seu pai teria feito tudo de uma maneira muito melhor.

“Você é xeique desde os doze anos?”

Ele assentiu. “De certa forma. O título é meu desde aquela época, mas um conselho de generais
governou o país até eu fazer vinte e um. Eu não teria tido a menor ideia do que fazer. Mas pelos últimos onze
anos sim, eu estive oficialmente no comando da Jardânia e trabalhei para mantê-la a salvo. Às vezes parece
quase impossível. Mas chega de assuntos deprimentes, Srta. Monroe. Me diga: o que você acha de
limusines?”

Ela sorriu para ele. “O couro é a coisa mais macia e incrível que eu jamais toquei. Eu queria ter
dinheiro pra andar numa dessas o tempo todo.”

Ele deu uma risadinha enquanto a limusine parava no estacionamento e pulou pra fora. Dando a volta
rapidamente, ele abriu a porta dela antes mesmo que Hakim pudesse fazê-lo, afinal, Dvar sabia ser um
cavalheiro com algumas coisas. O queixo dela caiu com a oferta, e ele teria de se lembrar de demonstrar
cavalheirismo com mais frequência. Ela certamente gostava daquilo. “Amy, sua carruagem a aguarda.”

Ela avaliou o camelo e sua modesta manta. Bom, não era exatamente uma sela, mas ia ter funcionar.
Talvez “montar” fosse o melhor eufemismo. “Você só pode estar brincando.”

***

“Uau,” ela disse. Ele adorava observá-la.

Não era estranho? Com a maioria de seu harém, ele precisava sentir enquanto elas o tocavam, sentir
suas carícias e seu desejo. Ele desesperadamente queria isso de Amy também, mas ele ficava igualmente
contente em observá-la, em ver a felicidade e a intensa curiosidade se espalharem por seu rosto. Ah, diabos.
Dvar podia ser completamente honesto a respeito de tudo. Às vezes ele era um amante totalmente egoísta.
Com Amy, no entanto, ele já se via prometendo a dar a ela qualquer prazer que pudesse, contanto que ele
pudesse ver o brilho em seus olhos cor de safira, o espanto em seu olhar.
Ele assentiu e pegou a mão dela. Eles estavam entrando no profundo túnel de uma das pirâmides em
direção à câmara interior. Ele já tinha ido lá mais de uma vez e sabia que havia riquezas e joias. Por outro
lado, não havia mais o mofo tóxico – do tipo que havia contaminado os participantes da escavação original
[11]
de Carter em busca de Tutancâmon – nem maldições tolas. Mas Dvar conseguia entender que, para os não
iniciados, estar dentro de túneis e cavernas que tinham estado fechados e escondidos por milhares de anos
era, de certa forma, incompreensível.

Amy definitivamente parecia intrigada por isso tudo enquanto agarrava a mão dele com força e
levantava sua lanterna.

“Isso é incrível!” ela exclamou, inspirando profundamente para se estabilizar. O guia havia parado e
estava explicando como se comportar dentro da tumba quando. Eles estavam em uma parte do túnel que - até
ele podia ver na opaca luz – estava prestes a se abrir extensamente. “Eu também nunca viajei muito; só pra
ver Alexis ou meu sobrinho, Farid, obviamente.”

“Isso é só o começo, espoleta,” ele disse, passando a mão pela delicada pele de porcelana do
pescoço dela e se deleitando com a maneira como ela tremeu sob seu toque.

“É o que você diz e uau!” ela disse, enquanto eles entravam, em fila, na câmara da tumba.

A única coisa que havia lá agora era o sarcófago com a tampa removida. Geralmente isso não era
parte do tour, mas ele havia pago uma grande quantia para que ela pudesse ver o interior por um momento, ver
a múmia lá dentro. Caso não permanecesse bem protegida, a múmia nunca duraria exposta ao ar aberto. Mas
regras existiam para serem quebradas com a quantidade certa de influência – ele sempre havia acreditado
nisso.
[12]
Amy circundou o enorme caixão de pedra, os hieróglifos e as luminosas pinturas de Anubis ainda
visíveis nele. Lá dentro, o corpo encolhido não era exatamente uma visão que inspirava assombro, mas ainda
assim ela se inclinou pra frente o máximo que o guia permitiu. Era como se todo o seu corpo estivesse
vibrando enquanto ela pulava pra cima e para baixo nas pontas dos pés. Se ele soubesse que apelar para o
gosto dela por história a teria feito relaxar tanto, ele teria feito isso muito antes.

“Há quanto tempo ele está aqui?”

“Ramsés III foi colocado na tumba por volta de três mil anos antes de Cristo,” o guia explicou.

Ela sacudiu a cabeça. “Cinco mil anos? Isso é impressionante, eu não consigo nem imaginar. Que
viagem.”

Ele sorriu e caminhou para frente, puxando-a para perto dele. “Ora, ora, quem diria que você ficaria
tão entusiasmada com homens mortos?”

Ela bufou e, talvez ela não tivesse sequer percebido, mas a Srta. Monroe estava claramente se
aconchegando nele. Ah sim, aquelas defesas – aquela maldita teimosia – estavam se esvanecendo
rapidamente. “É simplesmente surreal. Eu só tinha visto isso na televisão ou em livros do colégio. É como se
tudo que eu vi numa revista National Geographic estivesse de fato aqui e é muito mais vívido e interessante
do que Boston.”

“Muitas coisas são,” ele disse, puxando-a para seu peito. “Venha, se você ficou tão animada com uma
múmia, imagine então o que você vai sentir ao ver os tesouros.”
***

Era um país diferente e uma cultura diferente, mas Amy estava convencida de que, talvez, algumas
coisas permaneciam constantes nas terras desérticas. Afinal, enquanto andava pelo museu, avaliando todos os
artefatos da tumba do Rei Tutancâmon em exposição, ela estava convencida de que, fosse um rei egípcio de
milênios atrás ou um atual barão do petróleo, o amor pela riqueza ostensiva era o mesmo. Aqui, tudo era feito
de ouro. Havia cadeiras, estátuas de águia e de pantera, emblemas do cajado do pastor. Tudo de ouro. Era
[13]
quase o suficiente para fazer uma garota desdenhar o toque de Midas .

Mas isso não era tudo. A coleção também era mais do que completa.

Ela passou por um mostrador de vidro e ficou impressionada com os vasos canopos. Pelo menos esse
era o nome escrito na etiquetazinha. Olhando mais de perto, ela fez uma careta. Esses simples vasos de pedra
decorados com tampas douradas que representavam uma variedade de seres – de chacais a macacos a falcões
– continham o que havia sobrado dos órgãos secos extraídos do antigo menino rei.

“Hum, então isso é tudo que sobra no final?”

Dvar riu atrás dela. Estranhamente, ela estava começando a amar aquele som. Ela gostava do
ribombar rico que saía do peito dele, ainda mais quando ele estava próximo à orelha dela, com seu hálito
fazendo cócegas e provocando-a. Um calor se espalhou pela barriga dela e de repente sua calcinha pareceu
terrivelmente molhada. Deus, o xeique era sexo ambulante, não era?

Ela fechou os olhos e respirou profundamente algumas vezes. Amy não estava interessada em ser
paparicada ou em ganhar passeios VIP. Não era o que ela queria. Ela queria ir para casa, de volta para sua
vida entediante em um apartamento minúsculo onde nada interessante jamais acontecia. Ela queria sua
liberdade e suas escolhas. Não importava que, só de voltar para os Estados Unidos, ela teria que voltar para
sua vida de servir café; não muito. O que importava era que ele não ia fazer escolhas por ela, soltando
decretos que mudariam a estrutura da vida dela para sempre.

Isso já tinha acontecido com ela antes.

O pai dela tinha feito isso. Um belo dia ele se levantou e foi embora.

Ela não permitiria aquilo novamente, nunca mais.

Dvar riu novamente e o clitóris dela latejou. Desesperadamente, Amy tentou esmagar qualquer luxúria
que pudesse surgir dentro dela. “Às vezes sim, mas considerando que estamos aqui vendo três salas cobertas
com as riquezas com as quais ele foi enterrado, além de um sarcófago e tanto, eu não acho que foi tão ruim.”

“Eu só quis dizer que, no final das contas, tudo o que sobrou de Tutancâmon cabe em mais ou menos
quatro vasos e está enrolado em bandagens num caixão grande e chique,” ela disse, franzindo a sobrancelha
pra Dvar.

Ele deu de ombros. “É um caixão folheado a ouro e é um dos tesouros mais famosos do mundo. Ser
conhecido, esse é um objetivo. Ele pode ter morrido com apenas dezoito anos e não ter feito muitas coisas
importantes na vida, mas o que importa é ser lembrado pela história.”

Ela franziu a sobrancelha. “Seu pai tem monumentos em homenagem a ele?”

Ele assentiu e pareceu ficar mais ereto com aquela pergunta. “Tem um pilar de mármore para ele nos
jardins. O pai era mais do que impressionante. Ele está em todos os livros de história da Jardânia, assim
como meu avô e meu bisavô, todos grandes líderes.”

“Até agora você fez o que?” ela perguntou, seu tom de voz endurecendo. Tinha que ser assim. Se ela
se permitisse, ela se apaixonaria por Dvar e nunca mais teria seu livre arbítrio ou sua liberdade novamente.
“Sequestrou uma garota e esperou que seus primos o ajudassem a resolver a crise com a invasão do Leban?”

“É uma situação política espinhosa. Há rumores de que eles têm armas nucleares. O que você sugere
que façamos? Nós temos que pensar nas coisas direito, e eu não sou só um sequestrador de mulheres. Talvez
isso ainda te surpreenda, mas as meninas do harém estão lá como convidadas e algumas delas imploraram
para ser incluídas. Elas sabem o que significa.”

“E o que significa?” ela exigiu, circundando-o com as mãos nos quadris e o queixo empinado na
direção dele. “O que elas poderiam querer com uma vida dessas?”

“É uma oportunidade. Um estipêndio é enviado às famílias delas e nada falta às minhas meninas. É
algo que muitas desejariam ter.”

Ele estava se aproximando e ela o estapeou com força na bochecha. “Então elas são suas putas? Bem
literalmente! Eu não sou assim, e eu não vou ser sua puta. Pode esquecer. Só porque eu não sou rica e cresci
na pobreza... Eu tenho mais respeito próprio do que isso.”

Ele esfregou o maxilar e a agarrou grosseiramente pelo cotovelo. O coração dela pulou para a
garganta e ela percebeu que tinha ido longe demais. Hakim e Nasir já estavam correndo em sua direção, as
mãos entrando nos bolsos dos casacos. Dvar balançou a cabeça.

“Não, a Srta. Monroe e eu tenho uma conta para acertar. Venha comigo, espoleta. Disciplina nunca foi
tão importante.”

Com isso, ele a arrastou para fora da sala em direção a um pequeno corredor lateral do museu. Era
escuro e mofado, e ela imaginou que o lugar era às vezes usado como depósito improvisado, especialmente
por causa das caixas de papelão espalhadas em volta dela.

“Isso não foi inteligente,” ele disse. Ele apertou os dentes e seus olhos cor de jade queimaram com
fogo. “Você não faz seu xeique de bobo.”

“Você não é meu xeique,” ela cuspiu de volta, incapaz de se curvar completamente perante a ele. Teria
sido uma jogada mais esperta se ela implorasse por proteção ou perdão ou qualquer outra coisa. Ela nunca
tinha sido uma garota tão esperta. As mulheres da família Monroe sempre falavam o que pensavam. “Você é
meu maldito sequestrador, e eu nunca vou me esquecer disso.”

Ele assentiu e empurrou-a contra a parede. As mãos dela bateram de palmas abertas na parede. “Então
você precisa ser punida.”

“O que? Aqui?”

“É um tour privado e ninguém vai ousar nos interromper. Você sabe que Hakim e Nasir vão garantir
que isso não aconteça.”

“Eu vou gritar,” ela disse.

“Ninguém vai vir,” ele disse com toda a certeza, sua voz soando com uma clareza de ferro. “Você
pertence a mim agora, espoleta, e eu serei respeitado,” ele disse. Dvar reforçou seu argumento manobrando a
mão direita por baixo do tecido do caftan dela e depois alcançando o cós de suas calças de harém. “Eu acho
que você precisa entender que eu controlo tudo na sua vida agora, eu controlo quando você sente prazer e
quando você sente dor.”

“Eu...”

Dvar sequer a avisou, ele apenas se inclinou para frente e ela podia sentir a ereção dele pressionando
contra as suas costas, enquanto as mãos dele passavam por seus pelos púbicos e alcançavam suas dobras.
Apesar da pressão em seu corpo e da ira na voz dele, ele era gentil em seu toque, seus dedos traçando
padrões delicados pela pele macia ali. Ela já estava molhada, tinha estado desde que ele tinha sussurrado em
seu ouvido, tão perto dela. Foi muito fácil para ele escorregar os dedos pela superfície, provocando-a e
atormentando-a de uma maneira bem diferente.

Ela estremeceu e tentou se afastar da parede. Ele a pressionou com mais força e ela sentiu a força dos
músculos do peito dele enquanto ele se inclinava sobre ela, prendendo-a sob seu peso. “Por favor.”

“Não. Você está tão pronta, você está tão molhada, Srta. Monroe,” ele ronronou na orelha dela.

Por um momento, ele capturou o lóbulo da orelha dela entre seus dentes. Dvar brincou com ele,
roçando contra ele enquanto seus dedos exploravam os profundos entalhes das dobras dela. Ele soltou a
orelha dela e, apesar do medo que fazia seu coração bater depressa, ela gemeu com a perda de contato. Deus,
parecia que o coração dela ia explodir do peito. Ela estava morrendo de medo, e ainda assim ela mesma
conseguia admitir, com muita clareza, que nunca tinha estado tão excitada em toda a sua vida. Esse homem
poderoso e dominante – diabos, esse deus vivo – a queria, e ela também o queria desesperadamente.

“Então faça alguma coisa a respeito, caralho,” ela cuspiu, seu corpo ainda tremendo sob o dele.

“Eu vou fazer,” ele prometeu.

Ao dizer isso, dois dedos grossos escorregaram para dentro do canal dela, movendo facilmente para
dentro e para fora, escorregadios com os fluidos dela. O polegar ligeiramente caloso dele encontrou o botão
de prazer dela. A princípio ele apenas deixou o dedo ali e se concentrou em mergulhar os outros dedos nela.
Os músculos dela se contraíram deliciosamente em seu cerne, e ela saboreou a sensação dos dedos dele, tão
grossos e satisfatórios, em sua parte mais interna.

“Preciso de mais,” ela disse, arfando.

“Posso dar um jeito, espoleta,” ele disse.

Ela o sentiu pressioná-la com mais força, seus quadris flexionando um pouco no ritmo dos fortes
movimentos de sua mão. Os nervos dela formigaram como se estivessem pegando fogo, como se tudo
estivesse queimando dentro dela ao mesmo tempo. Então ele começou a esfregar seu nó de nervos com um
toque áspero. Ela se agarrou contra ele e sentiu suas pernas cedendo embaixo de si. O fogo estava crescendo
através dela como se fosse uma chama de alarme máximo. Seus músculos estavam estremecendo por baixo
dela, e ela teria caído se os quadris poderosos de Dvar não estivessem mantendo-a pregada na parede.

A mão dele estava se movendo rápida e furiosamente agora, e ela fechou os olhos, sobrecarregada
pelas sensações, todas elas – havia o cheiro dele, de almíscar com um leve toque de cúrcuma; o corpo dele,
pesado e denso, empurrando contra ela; e a umidade fluindo de seu cerne. Era muita coisa ao mesmo tempo, e
o fogo florescendo através dela como se cada toque dos dedos dele fosse o mesmo que jogar gasolina em uma
grande pira incandescente.
Finalmente, os dedos dele entraram fundo no centro dela e ela gozou, faíscas crepitando por todo o
seu corpo, luzes explodindo por trás de seus olhos. Ela afrouxou nos braços dele mesmo enquanto ele
esfregava os quadris nela mais uma vez, a ereção dele bem óbvia contra as suas costas.

“Você é minha agora, espoleta, diga.”

“Vá para o inferno.”

Ele riu e se afastou.

Ela quase tropeçou – afinal, suas pernas pareciam gelatina – mas conseguiu ajustar suas calças e seu
caftan. Sua calcinha estava encharcada, mas ela ia ter que aguentar até que tivesse permissão para trocá-la.
Ela estava prestes a se virar para encará-lo quando ele a surpreendeu, empurrando-a e prendendo-a
novamente na parede.

Sem pedir, ele deu dois tapas fortes e doloridos em seu bumbum. Aquilo com certeza deixaria marcas,
e seria difícil se sentar pelos próximos dias. Ela mordeu o lábio e tentou segurar as lágrimas que ameaçavam
se acumular em seus olhos.

“Minha,” ele praticamente rosnou, “você sabe disso agora.”

Com isso, ele se foi, deixando ela para se recompor, uma tarefa na qual Amy parecia estar falhando
rapidamente.
Capítulo Seis
“Ela ainda é insolente, meu senhor,” Hakim disse.

Dvar assentiu e deu um gole em sua bebida, uma dose dupla de bourbon, no bar do Mena House. “Ela
é mesmo, mas acho que ela está começando a aprender.”

“Há meninas melhores, se você me permite dizer,” Hakim respondeu, passando a mão por sua barba
grisalha. “No harém tem um monte de garotas que são lindas e obedientes, que entendem os costumes da
Jardânia e que ficariam felizes em honrá-lo como você merece.”

“Essa é uma maneira de criticar minha escolha de xeica?” ele perguntou.

“Não, meu senhor, mas é uma maneira de dizer que você sempre dificulta as coisas para si mesmo,
mais do que é absolutamente necessário. Isso é algo que você quer fazer? Você realmente quer ser rejeitado e
insultado?”

“Eu não acho que os insultos são verdadeiros. Eles parecem ser mais um passatempo do que qualquer
outra coisa para ela. Eu entendo a necessidade de rebelião. A princípio eu também não aceitei bem a
academia militar e o treinamento. Se ser um pouco ríspida a ajuda a se ajustar à sua nova vida e me dá uma
desculpa para espancar aquele delicioso bumbum dela, então quem sou eu para discutir?”

“Ainda assim, há tantas outras coisas na sua mente – os rebeldes, a guerra fermentando com o Leban –
talvez uma consorte mais agradável seria mais fácil, sobrecarregaria menos sua mente.”

“Eu acho que a briga é exatamente o que eu estou precisando, meu velho amigo,” ele disse enquanto
terminava sua bebida. “Ela é tudo que eu sempre quis em uma mulher.”

“Ela não é da Jardânia.”

“E eu sabia que você se agarraria a isso. Eu imaginei que esse era o argumento. Por enquanto, ter
noivas americanas não incomoda nenhum dos meus primos. Talvez elas sejam feitas de um material mais
resistente do que muitos de nós imaginávamos. Eu acho que, estranhamente, o desafio alivia minhas
preocupações por um tempo. Se ela fosse muito dócil, não haveria desafio, e o medo de o Leban ter bombas
atômicas roeria minha alma.”

“Muito bem, mas e se ela nunca relaxar? E se ela sempre o odiar?”

Ele deu uma risadinha ao pedir mais uma dose dupla para o barman. “Ora, Hakim, é essa a sua
maneira de dizer que está preocupado comigo? Não se preocupe. Eu sou feito de um material mais resistente,
e algumas caras feias e birras da Srta. Monroe não vão me desencorajar em absoluto.”

“Ainda assim, é difícil ser rejeitado com tanta frequência.”

Ele bufou e deu um gole em sua nova bebida. “Me dê um pouco de crédito. Eu consigo derreter a
resistência da maioria das mulheres.”

Hakim levantou uma sobrancelha. “Não estou questionado sua proeza, meu xeique, mas meramente
lembrando-o que fazer uma mulher gozar algumas vezes não é a mesma coisa que construir um compromisso
para a vida toda. Você não pode esperar manter sua xeica na mira de uma arma ou de um taser para sempre.
Eventualmente, ela terá que se adaptar aos rigores da vida no palácio e fazer o que se espera dela como
esposa do chefe de estado. Eu não duvido da sua habilidade de dar-lhe prazeres carnais, mas eu me preocupo
sim com vocês alcançando a conexão correta.”

“O amor é um conto de fadas, algo para crianças.”

“Seus pais certamente não pensavam assim. Mesmo com o harém, Danae era a preferida dele e todos
sabiam disso.”

“Ah, acredite em mim,” ele disse, dando outro gole e se inclinando contra o balcão do bar, “Amy é
muito mais do que a minha preferida agora.”

“É claro, meu xeique, mas agora você tem que garantir que ela sinta o mesmo, sem pressão.”

“Não, nenhuma – apenas o futuro da linhagem real e da legitimidade do meu reino. Por que eu deveria
me preocupar com isso?” Dvar bufou, colocando o copo vazio no balcão e se levantando. “Falando nisso, eu
prometi encontrá-la no restaurante, então acho melhor irmos andando, para quando o Nasir a trouxer. Não
acha?”

Hakim estendeu a mão e segurou o braço de Dvar. Se qualquer outro homem de sua guarda tivesse
feito isso, teria sido executado, mas Hakim era seu guarda-costas pessoal desde que Dvar era criança, e o
velho homem tinha assumido uma posição de mentor para ele depois da morte repentina de seu pai. Talvez
isso o tivesse tornado mais familiar do que ele deveria ser, mais petulante, mas Dvar não podia voltar atrás
agora. Na maior parte do tempo, ele não queria voltar atrás.

Exceto quando o velho homem o estava assediando, agindo de forma paternalista e condescendente.

“Meu xeique, apenas tenha cuidado. Faça isso do jeito certo.”

“Eu sempre faço, Hakim,” ele disse, finalmente se afastando e ajeitando sua lapela. “Vamos?”

***

Ele tinha tomado providências para que parte da sua equipe se juntasse a eles no Cairo. Uma das suas
mulheres preferidas do harém (ela tinha feito parte do harém de seu pai e era mentora das meninas, ela não
dormia com ele) agora estava aqui, com uma seleção de roupas e joias para sua futura esposa. Phedre era
sábia e confiável. Ela também tinha um ótimo gosto para moda. Ele não tinha a menor dúvida de que Amy
estaria resplandecente quando entrasse.

Dvar se agitava em sua cadeira e reajustava o assento. A sala de jantar Khan El Khalili do Mena
House era primorosa. Parecia mais um pátio coberto do que qualquer outra coisa. Então, mesmo havendo um
teto sobre as mesas, não havia paredes confinando-as. Ao invés disso, havia cortinas de miçanga preta caindo
do dossel até o chão de azulejos embaixo. Através delas, mesmo ao entardecer, podia-se ver as imensas
pirâmides. A impressionante maravilha do mundo antigo estava lá, pronta para receber olhares mesmo
enquanto eles comiam. Ele esperava que Amy gostasse disso, ela tinha ficado arrebatada com tudo até agora.

Falando naquela garota diabólica, ele não conseguiu segurar um largo e, sim, ávido sorriso quando ela
atravessou a multidão no restaurante. Ela não estava vestida em nada excessivamente árabe ou exclusivo da
cultura dele. Dessa vez, Phedre havia escolhido o clássico vestidinho preto. Era um modelo justo de cetim
que abraçava bem as curvas discretas dela. O corte era alto nas coxas e tinha um decote de coração. Ficava
fabuloso, combinando com o grande colar de ouro e ametista no pescoço dela.
[14]
Seus olhos estavam delineados artisticamente com bastante kohl , o que os fazia brilhar como as
mais raras e belas safiras. “Me desculpe. Aparentemente eu ganhei uma transformação de Barbie e ninguém
me contou.”

Ele deu uma risadinha ao se levantar e puxar a cadeira para ela. “Essa é uma das vantagens.”

Ela contorceu o rosto levemente ao se sentar, soltando um silvo de dor, e o coração dele se encheu de
uma aflição profunda quando ele percebeu que talvez tivesse batido nela com mais força do que era
necessário. Ele teria que dar um jeito nisso depois do jantar. Era a coisa certa a se fazer. Ela era sua xeica e
era seu dever proteger e cuidar dela da melhor maneira possível, mesmo que ela precisasse aprender seu
lugar. Amy ainda precisava da segurança dos seus braços no final do dia.

“Então eu fui a Princesa Jasmim e agora eu me sinto um pouco como a Barbie,” ela disse novamente,
gesticulando para a grande joia em seu pescoço. “Será que eu quero saber do que você vai me vestir da
próxima vez?”

“Eu tenho tantas ideias, Srta. Monroe.”

“Se elas envolvem couro, nós vamos ter muitos problemas,” ela disse, e enquanto ela falava seu nariz
se enrugava da maneira mais deliciosa e convidativa. Era quase adorável. “Eu não vou ser nenhuma amante
de fetiche.”

Ele riu enquanto o garçom servia a champanhe e o pão sírio para eles. Havia também húmus e uma
coleção de azeitonas e outros aperitivos frios para eles começarem. Ele havia feito o pedido dela com
antecedência – hamam mahshi – e estava curioso para ver como ela ia reagir.

Ele se viu rindo tanto com ela, e não era apenas o choque com sua atitude americana, ou sua
insistência em desafiá-lo a todo momento. As coisas eram fáceis com ela. Francamente, com as coisas graves
que estavam acontecendo em seu país, ele sentia que havia anos desde a última vez que tinha rido tanto. Era
bom para sua alma ser tão livre, tão leve. Estendendo a mão, ele serviu champanhe para ela e fez o mesmo
para si.

“Ainda assim, você está notável essa noite. Você devia aceitar os elogios que consegue receber,
espoleta.”

Ela suspirou e balançou a cabeça. “Você só está me amaciando para transar de novo.”

“Não,” ele disse, sua voz honesta enquanto ele pegava um pedaço de pão sírio e passava no húmus.
“Eu acho que você precisa de mais amor e carinho do que isso.”

“O que você sabe sobre isso? Meu bumbum está mais do que machucado. Eu não consigo vê-lo muito
bem, mas a sensação é como se ele estivesse pegando fogo.”

“Talvez ele possa se igualar à maneira que eu te faço sentir por dentro também,” ele respondeu,
sorrindo ao colocar o pão na boca.

“Por dentro, eu concordo que sou quente de outra maneira,” ela disse, corando, e ele adorou aquela
onda vermelha em suas bochechas pálidas. “Sério, qual é?”

“Eu estou com fome, você está com fome, então nós comemos.”

“Não foi o que eu quis dizer.”


“Mas é a resposta lógica perfeita para essa pergunta. Você quer que eu te tranque no seu quarto e te
traga pão e bolachas? Talvez uma garrafa d´água?”

“Eu sou uma prisioneira,” ela ressaltou. “Por mais legal que Phedre seja, ela estava lá parcialmente
como seus olhos e ouvidos. Da mesma forma, eu dou um passo pra fora da porta e lá está Nasir e seu taser.
Então eu não entendo porque você está sendo tão legal comigo. Eu estou aqui quer queira quer não.”

“Não tem por que tratá-la como uma prisioneira.”

Olhos azuis chamejaram perigosamente. “Eu sou uma prisioneira, então você não está me tratando
como nada.”

“O que eu quero dizer é que me importo muito com você; eu não a teria escolhido se não me
importasse, então porque você simplesmente não aceita que quero fazer coisas legais para você? Eu te levei
em um tour VIP pelas descobertas arqueológicas mais incríveis que o homem já fez. Eu tenho algo planejado
para depois do jantar – não é sexual, então nem precisa começar – e você não faz ideia do que mais eu tenho
na manga.”

“Eventualmente você vai me enfiar numa torre na Jardânia, então de que importa o que você me
mostrar agora?”

“Você acha que sua irmã é uma prisioneira do meu primo Farzad?”

“Não, mas ela quer estar lá. Ela voltou de livre e espontânea vontade depois que descobriu que estava
grávida. Eu não quero que essa seja a minha vida. Eu só quero ir pra casa. Era uma vida modesta e bastante
ruinzinha, mas era minha e eu a criei completamente sozinha.”

“Ser independente é importante para você, não é?”

“Não seria para qualquer um?” ela retrucou, enfiando um pouco de pão e húmus na boca. “É
extremamente importante para mim. Qualquer outra coisa pode ser perdida a qualquer momento. Se eu
depender das pessoas, elas podem foder com a minha vida, ou ir embora, ou morrer.”

Ele fez uma pausa e esfregou a mão pela curta barba. “Sim, eu consigo ver como isso seria difícil.
Doeu por anos depois que meu pai se foi.”

“Como se respirar fosse uma tarefa,” ela completou, e era quase como se ela estivesse lendo os
pensamentos dele. Sinistro.

“Sim, mas nós sobrevivemos. Você não pode passar a vida inteira sozinha, lutando apenas por si
mesma. E uma família?”

“Mamãe é ótima, e Alexis e meu sobrinho Farid também são incríveis. Nós não fomos sempre
próximas, mas Alexis e eu estamos nos entendendo ultimamente, e eu não preciso ser mantida como escrava
sexual de um xeique para me sentir preenchida. Pare de se achar.”

Ele suspirou. Ela quase havia cedido. A hesitação dela em se conectar e a dor que ela sentia com a
traição de seu pai era real. Aquilo era algo que ela claramente não compartilhava com todo mundo, e
explicava porque ela parecia estar se fechando em uma concha, parecia estar tentando ignorar todas as
tentativas que ele fazia de envolvê-la.

“É claro que o sexo é parte disso, Amy, mas vamos dizer que eu também me importo com você. Eu e
minha equipe te observamos por uma semana, e você estava se afogando. Não era nada mais do que uma
monotonia de zumbi: servir o próximo cliente, descansar, e pagar o aluguel.”

“É temporário,” ela se defendeu, mesmo que tivesse desviado os olhos, abaixando-os para suas mãos.
“Eu só tenho que descobrir o que fazer, agora que não vou mais cursar o mestrado em belas artes.”

“O que é isso?”

“Teria sido um mestrado em escrita criativa,” ela admitiu.

“E qual foi o seu curso na graduação?”

“Qual foi o seu?”

“Administração, depois que eu passei pelo serviço militar na Jardânia. Eu tinha que aprender a
governar um país tanto do campo de batalha quanto da sala de reuniões. Isso não era negociável. Agora, o que
você era antes de tentar a escrita criativa?”

Ela suspirou e continuou focada principalmente em suas próprias mãos. “Na verdade, eu estudei
história, com especialização nas Cruzadas. Era algo que eu realmente amava na Universidade Americana. Eu
acho, não sei, já que fiz algumas matérias de inglês... eu nem sei. Eu queria escrever um romance histórico de
ficção sobre as guerras.”

Ele franziu as sobrancelhas. Interessante. Então Amy sabia mais do que demonstrava sobre a história
de pelo menos parte do mundo árabe. “O livro teria sido sobre o que?”

“Por que você se importa? Eu era péssima, então eu larguei.”

“Talvez você não fosse péssima. Talvez você fosse apenas muito crítica consigo mesma, da mesma
maneira que é comigo.”

Ela segurou um sorriso e voltou a olhar pra ele. Ainda bem que um pouco de alegria tinha voltado
àqueles olhos. “Você é o pior de todos. Eu tenho o bumbum machucado pra provar isso,” ela concluiu. “De
qualquer forma, era tão autoindulgente e tolo.”

“Vamos ver.”

“Ia ser sobre uma garota tipo a Joana D’Arc, uma menina que finge ser um cavaleiro de verdade para
lutar nas Cruzadas, e então ela é capturada pelo general inimigo.”

Ele riu e ficou aliviado quando o garçom trouxe seus pratos e os colocou na mesa. “Então eu poderia
contribuir com a pesquisa. Afinal, eu tenho a minha cota de antiguidades árabes pelo palácio. Ele existe há
mil anos e está na minha linhagem familiar há quase trezentos.”

“Impressionante,” ela disse, e depois franziu as sobrancelhas para o prato. “O que é isso? Parecem
três pintinhos com risoto.”

“É uma mistura de trigo com cebolinha e outras ervas. Na verdade é pombo recheado, hamam mahshi.
É uma iguaria aqui, e é extraordinariamente macio. Eu prometo que você vai gostar.”

Ela deu de ombros. “Bom, já que estamos no Cairo, né?” Amy examinou a carne mais uma vez antes
de pegá-la com os dedos e trazê-la à boca. “Não sei se quero fazer isso.”
“Não seja uma, er, franga,” ele disse, tirando com a cara dela. Para encorajá-la, Dvar colocou um
pedaço da carne branca na boca. Estava úmida e deliciosa, como sempre. “Viu? Eu sobrevivi. Você não está
com medo de fazer algo que eu acabei de fazer, está, espoleta? Você não está tentando me mostrar que esse
grande xeique malvado não pode te dar ordens?”

Com os olhos azuis queimando, ela enfiou um enorme pedaço na boca. Foram necessários alguns
goles de água e até um de champanhe, assim como algumas mastigadas concentradas antes que ela
conseguisse engolir um naco daquele tamanho. Depois de mais alguns goles, ela conseguiu respirar
normalmente de novo. Ela também não parecia mais com um esquilo, com as bochechas cheias de comida.

“O veredito, Srta. Monroe?”

“Pra falar a verdade, isso foi muito bom. É muito mais suculento do que qualquer frango que eu jamais
comi.”

“Bom, não é exatamente o mercado de Boston, então não seja tão plebeia. Seria excelente de qualquer
forma, os chefs aqui são fabulosos.”

“Eu tenho um pressentimento que aqui tem o melhor de tudo, estou certa, Dvar?”

Ele assentiu e estendeu a mão, pegando a mão esquerda dela na sua e apertando-a de leve. Ele ficou
feliz que ela o deixou fazer aquilo, mas ele teria feito de qualquer maneira. “Você não tem ideia de quão certa
está.”

***

O mercado de Khan El-Khalili era diferente de qualquer lugar que Amy jamais havia conhecido. Ela
já tinha experimentado tanta vertigem nas últimas trinta e seis horas, das ruas cheias de neve e sal de Boston
para a multidão de corpos se empurrando em volta dela no calor. Ela tinha trocado de roupa, vestindo uma
simples calça jeans e uma camisa preta, mas, por causa da insistência de Dvar, havia colocado o caftan rosa
por cima para ficar mais modesta. Não era exatamente um pedido, não quando o taser estava por perto, mas
ela estava feliz com as roupas confortáveis por baixo.

O mercado era na verdade uma série de velhos prédios de pedra, completos com minaretes e
parapeitos intricados. Havia mercadores por todos os lados, mesmo à noite – eles usavam holofotes e
lanternas para encorajar os compradores. Em alguns casos, os estandes eram simples cobertores estendidos
no chão, com sacos de ervas ou temperos em cima. Mulheres com robes longos e rústicos, e com as
bochechas marcadas com fuligem e cinzas, tentavam conseguir os melhores preços para seus artigos. Alguns
dos estandes eram enormes e impressionantes. Os olhos dela se escancararam quando eles pararam no
vendedor de candelabros. Eles não se pareciam nada com modelos de cristal do mundo ocidental. Ao invés
disso, eles eram feitos de lindos globos de vidro soprado que brilhavam como planetas ou estrelas na noite.
Alguns eram ainda mais detalhados, com apenas uma fonte luz e com o topo do globo coberto por grades de
metal. Eles faziam-na lembrar das velhas lâmpadas a gás em filmes de época, mas eles não eram de alumínio
ou algo simples. Não. Eles eram esculpidos com desenhos geométricos fascinantes, e ás vezes tinham
brilhantes tons de azul.

Havia também estandes com mais roupas e objetos que a faziam pensar em Sherazade ou na Princesa
Jasmim. Havia bandoleiras e calças de gênio em tons de carmesim vivo, verde neon, ou nos azuis mais
claros. No entanto, as roupas tinham um tecido fino que passava por cima da barriga e do colo, mas ainda
transparente para permitir que a bandoleira de joias por baixo pudesse brilhar e ser o centro das atenções.
Tudo também tinha um cheiro tão diferente. Na verdade, o mais correto seria dizer que tudo tinha um
cheiro, ponto. Ela nunca tinha percebido o quão higienizado e artificial era o mundo do shopping, tão
hermeticamente fechado. Aqui? Aqui ela sentia o cheiro de carne cozinhando com páprica em um estande de
comida de rua, misturado com o almíscar e o suor de dezenas de corpos e um toque de açafrão e lavanda que
vinha de uma banca de temperos. Não havia oito minutos que eles tinham passado pela seção de carnes do
mercado e o cheiro tinha sido pungente, opressor, e alguns dos cortes pareciam ter passado um pouco da data.

Era um arranjo real, vivo, e ela estava chocada com o quanto amava tudo aquilo.

Depois de meses à deriva, sem saber qual seria seu próximo passo, se sentir tão conectada com o
pulso da humanidade que crescia entorno dela era completamente diferente.

Dvar estava sorrindo largamente com isso, e talvez ela não devesse mostrar seu encantamento no rosto
com tanta evidência. Por outro lado, quantas vezes ela havia estudado isso? Com qual frequência ela tinha
lido estórias sobre locais longínquos e mercados de beduínos? Com qual frequência ela tinha ouvido falar
das maravilhas e dos esplendores do Oriente Médio e suas rotas de comércio? Talvez, parte daquilo fosse
realmente o que estava faltando no seu projeto, na sua obra prima. Ela tinha a teoria – toda a história sobre as
Cruzadas e as duas culturas envolvidas – que, por quatro anos, havia sido atulhada em seu cérebro, mas ela
não tinha um quadro de referência de verdade.

Ela nunca tinha sentido o cheiro do suor de cem corpos se esfregando no mercado.

Ela nunca tinha visto o esplendor de tanta prata fulgurante na pequena loja onde eles haviam parado.
Todas as joias estavam expostas, mas um homem vigilante com seu próprio taser no quadril os observava de
seu banquinho. Dvar parou e apontou para a ampla gama de itens.

“Você pode escolher o que quiser, espoleta. Apenas uma coisa, então escolha sabiamente.”

Ela revirou os olhos. “Ainda está tentando me comprar?” As palavras eram duras, mas o tom era
brincalhão quando ela entortou o canto direito da boca em um meio sorriso.

Ele deu de ombros. “Estou honrando minha xeica. Escolha o que desejar, meu amor.”

Ela ficou um pouco surpresa com o carinho. Ela não achava que Dvar pudesse estar falando sério. Pra
falar a verdade, ele mal a conhecia. Ainda assim, a maneira como ele tinha falado “amor” havia sido gentil, e
tinha feito seus joelhos fraquejarem. Deus, o que estava acontecendo com ela? Será que ela sequer queria
tentar ligar para a irmã e pedir ajuda assim que encontrasse um telefone?

Amy não tinha mais tanta certeza.

Ainda assim, ela ofereceu um sorriso doce, se recuperando rapidamente do choque das revelações
dele. O mercado tinha grandes pulseiras de prata filigrana com lindas gemas de turquesa, jade e ametista no
centro. Havia cruzes cópticas que terminavam com desenhos semelhantes a estrelas e picos em cada lado,
algumas adornadas com miçangas amarelas e vermelhas também. Os colares eram peças enormes, às vezes
com dois ou três centímetros de espessura, e compostos de fileiras alternadas de prata e grossas miçangas
turquesa. Eles eram feitos para ecoar os padrões das joias de Tutancâmon, mesmo que não fossem reais. Até
alguns dos pingentes ecoavam a herança daquela terra antiga, com falcões e escaravelhos de jaspe vermelha.

Ainda assim, nada daquilo era exatamente o que ela estava procurando. Enquanto o seu... Espera, qual
era a palavra? Seu sequestrador? Amante? Ah, foda-se. Enquanto Dvar estava olhando simples pingentes de
prata que tinham um estilo muito mais ocidental e bem mais discreto, a atenção dela finalmente foi atraída
para um pingente longo que terminava em um grande olho aberto. Um destaque com algum tipo de pedra azul
tinha sido adicionado para dar a impressão de que o olho via tudo, ao mesmo tempo em e moldurava o olho
com um pouco de seu próprio kohl.

“O que é aquilo?” ela perguntou, apontando para o pingente.

Tanto o vendedor, o homenzinho loquaz e rotundo, quanto Dvar a encararam. O homem ficou ávido, se
aproximando dela e falando em um árabe rápido. Dvar franziu as sobrancelhas e olhou para o colar como se
ele fosse tão espalhafatoso quanto um objeto feito para enganar turistas. Ele passou as mãos pelo metal e pelo
contorno dourado, aquele estranho metal azul em volta do olho.

“É um olho mal. Você sabe o que é isso?”

“Não.”

“É um amuleto geralmente dado a crianças pequenas para afastar espíritos malignos, mas é também
usado por adultos que o escolhem como uma maneira de manter a má sorte longe. É tudo baseado em contos
da carochinha e superstições. Você não gostaria de algo menos gauche? Como eu disse, você pode escolher
qualquer coisa aqui ou, diabos, a gente pode ir a um dos vendedores de ouro também.”

Ela balançou a cabeça. “Não, tem algo de especial nele.” E como isso, Amy o pegou e prendeu o
fecho em volta do pescoço. O pingente se dependurava longamente e o olho balançava embaixo, entre seus
seios e por cima das joias de ametista que ela ainda não havia tirado.

Dvar balançou a cabeça ao colocar a mão do bolso e tirar de lá as coloridas notas estrangeiras. Ele
disse algo concisa e rapidamente em árabe, antes de passar o braço envolta dos ombros dela e guiá-la até a
banca de kebabs, aquela que estava cozinhando a carne com o cheiro incrível e que fazia cócegas em seu
nariz com toques de páprica.

Talvez um pombo fosse pequeno demais para segurar sua fome até o dia seguinte; seu estômago já
estava roncando.

Ele franziu as sobrancelhas para o olho azul aninhado no peito dela. “Você realmente acha que precisa
de boa sorte?”

Ela assentiu. “Eu fui sequestrada por um xeique nefário, afinal; um homem que faz o que bem quer
comigo em museus públicos. Eu nuca sei contra o que terei de lutar.”

Ele sorriu enquanto os dois passavam por um beco estreito e depois escorregou a mão por baixo do
caftan e da camisa dela. Mãos ásperas estavam sobre o seu seio direito, apalpando, e ela parou, gemendo um
pouco. Era a sensação mais incrível que jamais havia sentido. O toque dele, mesmo algo tão básico, a
deixava selvagem e desejosa, fazia com que seus ossos se transformassem em gelatina e seus músculos
fraquejassem.

Ela o queria.

Ela o queria desde o momento que o tinha visto na cafeteria, com os olhos de jade brilhando para ela
e aquela barba curta, mas, de alguma forma, iminentemente lambível. Ainda assim, isso aqui não era a ala
privada de um museu e ela não estava pronta para ser presa – mesmo com o dinheiro dele – e enfiada em uma
prisão estrangeira por atentado ao pudor. Se inclinado na direção dele, ela o beijou na bochecha.

“Isso fica pra depois,” ela sussurrou. “Vamos achar comida agora.”
“Você realmente está com fome é de comida?” ele ronronou, a voz dele naquele ribombar profundo
que fazia um calor subir pelo abdômen dela e seu cerne mais interno se contrair de necessidade.

“Não, nunca, Dvar. Me leve de volta para o Mena House. Eu acho que você me prometeu um cuidado
especial,” ela disse, sua voz mais ofegante do que nunca.

Diabos, ela era uma Monroe, afinal, não era?

***

Ela estava estendida, nua, diante dele. Não era mais um choque. Ele a tinha visto por completo no
chuveiro naquela manhã e a tinha devastado. No entanto, algo estava diferente dessa vez, algo muito mais
delicado e vulnerável. Os lençóis de seda eram divinos contra a pele dela, especialmente o tecido dolorido
de seu bumbum. A enorme cabeceira dourada brilhava sob a fraca luz da lua.

Ela adorava.

O luar causava um jogo intrincado de luz refletida e sombras que brincavam nas maçãs do rosto de
Dvar, fazendo com que elas se elevassem ainda mais e parecessem mais pronunciadas. Era como se ele
tivesse sido esculpido em mármore, moldado pelas mãos mais experientes. Ela tinha pensando isso da
primeira vez que o havia visto e não conseguia refrear sua mente de fazer comparações com o David de
Michelangelo, mesmo que Dvar fosse muito mais bem dotado. Ainda assim, ele era perfeito; como se Deus –
ou o destino, ou o universo – o tivesse criado como um projeto especial para superar todos os outros homens
que existiam.

Missão cumprida.

Afinal, ela não queria nada mais do que lamber cada pedacinho dele, passar sua língua pelas
ondulações de seu abdômen. Diabos, ela queria contar cada um de seus músculos. Era possível ter um
tanquinho de dez? Ela podia se perder no corpo dele, no estreito corte de seus quadris ou na maneira que os
pelos desciam do seu osso púbico para o tufo de cabelo grosso e escuro sobre seu membro.

Mas não estava certo.

Aquilo tudo a incomodava. Ela estava se apaixonando por ele. Ela percebia que estava genuinamente
curtindo a companhia dele, gostando das piadas que ele fazia, simpatizando com suas próprias perdas e
responsabilidades. Ela conseguia até admitir que, de certa forma, era divertido ser a Cinderela dele,
permitindo que ele a banhasse de presentes e viagens. Ela podia chegar a amar isso.

Não era como se ela nunca fosse ver a irmã ou o sobrinho. Diabos, ela os veria até mais sendo a
rainha de uma nação vizinha e aliada do que morando em outro continente. Farzad e Dvar eram primos
próximos, então é claro que a família dela aprovaria.

Era só que... Esse não era seu plano, ou suas regras, e ela não queria abrir mão daquele controle.

O melhor que ela podia fazer era tirar as roupas voluntariamente e esperar para ver o que ele ia fazer
com a babosa que tinha nas mãos, o que a palavra “cuidado” significava pra ele.

Dvar engatinhou sobre as mãos e os joelhos pela cama monstruosa. Suas mãos seguravam um pedaço
de pano e a garrafa de babosa, mas mesmo se movendo daquela maneira estranha, ele era a encarnação da
graciosidade. Ela tinha vislumbres de uma pantera ou algum outro predador poderoso perseguindo-a pela
seda, e o colchão embaixo dela já estava úmido com seus próprios fluidos.
Ele parou então e colocou a garrafa e o pano na mesa de cabeceira ao lado dela. Então ele passou por
cima dela, deixando que sua ereção se movesse à sua frente e tocasse a pele sensível de sua barriga, até
entrando um pouquinho em seu umbigo.

Ela deu uma risadinha e se contorceu enquanto ele reajustava sua posição e sentava ao lado dela. A
babosa estava de volta nas mãos dele e ele esfregou uma na outra, espalhando a pomada verde.

“Você nunca devia usar roupas,” ele disse. “Você fica incrível sem elas. Como se você tivesse sido
feita para ficar nua, sem brincadeira.”

“Eu acho que você está brincando um bocado, meu senhooor,” ela disse, esticando o título mais uma
vez como já havia feito antes. Ela sabia que aquilo o irritava, mas Amy estava começando a entender que,
mesmo com toda aquela conversa rude, Dvar parecia gostar quando ela retrucava. O homem era um
paradoxo. “Eu sei que eu não sou uma gostosona. Eu sou um pouco magrela demais, antes de qualquer coisa.”

“Você é radiante,” ele disse, e havia uma reverência em seu tom de voz que novamente a confundiu,
assim como quando ele a havia chamado de seu “amor.” Talvez ela fosse (ou estivesse começando a ser) mais
importante pra ele do que até ele imaginava. “Agora,” ele comandou, sua voz profunda e retumbante, “vire de
bruços.”

“O que você vai fazer se eu me recusar?” ela provocou. “Sua mão já está coberta – as duas, pra falar
a verdade. Você não pode me agarrar agora, Dvar.”

“Estou mandando, minha rainha.”

Ela suprimiu o riso e rolou de barriga para baixo, assobiando um pouco ao sentir a frieza das mãos
dele. Ele as estava passando pelas nádegas dela, esfregando a babosa nas marcas machucadas que as próprias
mãos dele haviam deixado mais cedo.

“Você está bem vermelha aqui, caramba.”

“Dá pra ver as enormes silhuetas vermelhas das suas mãos?” ela perguntou, seu tom se elevando de
forma mais dura.

Quando ele tinha feito aquilo, ela tinha se assustado e lágrimas subiram aos seus olhos. Ela sabia
muito bem que havia um preço a se pagar por desobedecê-lo, por tentar ser ela mesma, ser dona do próprio
nariz. Ela simplesmente não tinha o menor interesse em ter medo daquilo. Ela sofreria as consequências uma
dúzia de vezes antes de se transformar em uma donzela murcha, caramba.

“Não,” ele disse, seu próprio tom de voz duro como diamante, mesmo enquanto ele continuava seus
cuidados. As grandes mãos dele causavam uma sensação incrível no bumbum dela, massageando-o com o
maior carinho e atenção. Enquanto os pontos onde ela havia apanhado ainda queimavam, eles agora tinham
voltado ao normal pela refrescante babosa. “Só está um pouco marcado, mas você vai estar bem pela manhã.
Além disso,” ele disse, se inclinando para provocar o lóbulo da orelha dela novamente, “se eu não tivesse te
batido, então você não teria isso agora.” Ele ressaltou seu argumento limpando uma das mãos nos lençóis e
depois movendo-a para baixo dos quadris de Amy para tocar seus pelos púbicos. “Ora. Você não pode me
dizer que isso não vale à pena. Eu estou aqui agora, minha xeica, e eu estou pronto para reverenciar seu
corpo. Tudo que você tem que fazer é me dizer o que você quer que eu faça.”

Ela estremeceu sob o toque dele, mas então, de repente, rolou de costas para olhá-lo, para encará-lo
nos olhos. Aquelas profundezas cor de jade quase brilhavam como esmeraldas à luz da lua. Ela perdeu o
fôlego. Caramba. Isso seria mais fácil se ele não fosse tão bonito. “Apenas deite comigo. Eu só quero que
você me abrace.”

Ele assentiu e limpou as duas mãos nos lençóis. Dvar deitou no colchão ao lado dela e abriu os
braços. Ela se aconchegou, seu traseiro contra os quadris dele, enquanto a ereção dele pressionava contra ela.
O membro dele se contraiu um pouco e ela não era boba: ela sabia que ele com certeza queria mais, que tinha
um tempinho desde o banho e que ele não tinha gozado no museu, como ela.

Mas era disso que ela precisava – da intimidade.

Ela aninhou o queixo no ombro dele e bocejou. “Obrigada. Eu me sinto melhor.”

Ele beijou a testa dela e assentiu, a cabeça dele apoiada na dela. “Qualquer coisa por você, espoleta.”

Ela então adormeceu, acreditando que a maior parte disso era verdade.
Capítulo Sete
A mão dela era macia e quente na dele enquanto os dois encaravam a grande porta francesa que ia do
chão ao teto e os separava da varanda do palácio. Era o amplo estrado de onde ele fazia seus discursos e suas
promessas para seu povo. Agora era hora de fazer mais uma. Algo havia mudado na noite anterior no Cairo;
algo tinha acalmado Amy e ela não o olhava mais com fúria. Ela tinha parado de examinar telefones e
atendentes de balcão com melancolia. Era mais do que isso, até. Era diferente pra ele também. Ele sempre
tinha sido um homem que podia tomar ou largar suas mulheres. Enquanto o harém tinha seus prazeres,
particularmente com Kamala – que era adorável e tinha uma língua tão incrível e delicada – mesmo então, ele
nunca sentia que essas mulheres o afetavam.

Ele tinha escolhido Amy porque ela o interessava, porque ela era linda e feroz, mas ela estava
destinada a ser, como ele havia dito a Hakim, nada mais que uma distração. Uma rainha, sim, mas ele não
estava esperando um amor profundo até a alma.

Apenas dois dias haviam se passado com ela. Ele ainda não ia dizer que era exatamente isso que
estava sentindo.

Mas era algo.

Ele nunca tinha dormido tão bem quanto ao segurá-la em seus braços. Os pesadelos que o haviam
atormentado desde a morte de seu pai não tinham incomodado na noite anterior. E na manhã seguinte ele não
podia ter prazer maior do que assistir os raios dourados do sol nascente brincarem sobre os cabelos negros e
a pele pálida dela. Ela estava se tornando mais do que um desejo ou uma obsessão para ele, e ele queria
desesperadamente que seu povo entendesse isso.

Mais do que seus sentimentos ou os de seu povo, no entanto, ele esperava que ela também estivesse
mudando. Ele esperava que ela também quisesse fazer isso dar certo, ao invés de estar apenas aguardando o
momento certo para tentar escapar. Ele não podia ter certeza, mas o contentamento naquelas profundezas cor
de safira tinha parecido tão real e tranquilizador naquela manhã. Ele não acreditava que ela pudesse esconder
aquilo, que ela tivesse aquele tipo de habilidade. Ele se agarrava a isso porque queria sua rainha a seu lado,
tão comprometida com tudo quanto ele era.

“Estamos esperando? Pensei que as câmeras e os conselheiros do governo e o resto todo estivessem
aqui esperando por nós,” ela disse com a voz hesitante.

Ele estendeu a mão e empurrou o cabelo dela do rosto. Às vezes suas franjas negras, pontudas e
bagunçadas, caíam em seus olhos. O cabelereiro real teria que dar um jeito de consertar aquilo. Os olhos dela
eram profundos como o oceano e nunca deviam ser escondidos do mundo. Eles eram tão régios quanto ela
viria a ser.

“Você não tem nada a temer. Meu povo vai te amar. Eles viram o quanto Omai e as outras terras se
deram bem com suas noivas americanas. Eles sabem que você vai servi-los bem.”

Ela assentiu. “É muita gente. Eu nunca esperei ser o tipo de pessoa que atrai multidões.”

“Confie em mim, espoleta, você parece o tipo de mulher que pode fazer isso e lançar dez mil
navios,” ele respondeu, beijando-a na bochecha. “Você está pronta, não está, Srta. Monroe?”
Ela suspirou e baixou os olhos para os azulejos do chão do palácio, aparentemente hipnotizada pelos
padrões geométricos e pelos intricados triângulos azuis e dourados ali. “Você não quer dizer ‘Xeica
Yassin?’”

“Você não é oficial ainda, mas vai ser, e será glorioso.”

Ela suspirou e olhou para ele, mas mesmo ele não conseguia deixar de reparar no olhar lacrimoso
dela. “Apenas me prometa que eu não vou me perder, que você não vai me dispensar quando eu deixar de ser
novidade, e eu vejo aonde essa aventura vai me levar.”

Ele se segurou para não dar um largo sorriso. Essa era a melhor notícia que ele tinha escutado em
meses, especialmente com os perigos que ameaçavam sua nação, que estava a um passo da guerra. “Bem, eu
suponho que tentar – e parar de insistir que eu sou seu maldito sequestrador – seja um começo.”

“Não é? Não deixe isso tudo lhe subir à cabeça, Dvar.”

“Eu nunca deixo,” ele disse, pegando o braço dela no seu e guiando-a para a varanda.

A multidão era de centenas abaixo dele, todos os seus súditos leais em seus robes e burcas mais finos,
todos eles aplaudindo no instante em que ele e Amy alcançaram a balaustrada. Ele pegou a mão dela com a
sua e levantou ambas sob suas cabeças, como se eles fossem os vencedores de uma corrida. Talvez, se isso
desse certo, essa seria uma vitória ainda maior: encontrar amor e consolo um no outro em um mundo tão
difícil.

Beijando Amy nos lábios, ele soltou sua mão e caminhou até o pódio. Ele havia preparado uma curta
declaração, afinal ele precisava fazer com que seus súditos compreendessem a alegria que ele tinha trazido
para eles. Falando em árabe, ele disse:

“Meu povo, a Jardânia sempre foi uma nação forte, uma nação orgulhosa.” Os aplausos da multidão e
os próprios olhos da sua espoleta concentrando-se nele com tanta atenção encorajaram Dvar a continuar.
“Nós somos um feixe de esperança e progresso para nossos vizinhos, uma terra que vem mantendo a paz
desde os sacrifícios de meu pai. Nós sempre resistimos e, mesmo com as coisas ficando difíceis mais uma
vez, eu trouxe um grande presente dos Estados Unidos. Essa é Amy Monroe, futura Xeica Yassin da Jardânia
e, um dia, a mãe dos meus filhos, do próximo xeique. Acolham-na com o mesmo calor com o qual vocês me
acolheram depois da morte de meu pai, acolham-na em nosso rebanho.”

Ele sorriu e desceu do pódio, andando da direção de Amy e trazendo-a de volta para ficar ao lado
dele como a rainha que ela era. “Sua Xeica!”

A multidão rugiu, aplaudindo ruidosamente abaixo deles. Alguns dos homens removeram seus
turbantes e abanaram-nos no ar em sinal de aceitação, tentando disfarçar seu entusiasmo. Ao lado dele, o
rosto de Amy era tão expressivo: o queixo dela estava caído e seus brilhantes olhos azuis reluziam no sol do
final da tarde.

Ela devia estar tão impressionada quanto ele, especialmente com o calor de seu povo se estendendo
até ela.

Dvar se inclinou e deu um longo beijo nela, sua língua se enroscando com a dela. Se afastando, ele
sorriu para ela, cutucando-a levemente com sua barba bem aparada. “Bem vinda ao lar, espoleta.”

***
Amy ficou aliviada quando as festividades da tarde acabaram. Ela presumiu que, logo depois de sua
recepção surpreendentemente calorosa, ela seria levada diretamente para o quarto que compartilharia com o
xeique. No entanto, Dvar tinha franzido a sobrancelha de forma apologética e disse que tinha uma conferência
por telefone com seus primos sobre a crescente crise do Leban. Phedre a levaria para os quartos do harém e
faria o possível para acomodá-la com uma roupa apropriada para a noite. Phedre também a apresentaria para
o resto do harém. Ele estava com tanta pressa que ela sequer teve a chance de perguntar sobre isso. Ela seria
mais uma dentre tantas? Mesmo que ela fosse a rainha e a pretensa mãe de seus futuros filhos um dia, ela teria
que competir por atenção num mar de mulheres núbeis vestidas em caftans minúsculos e calças de gênio?

Ela simplesmente não sabia e aquilo a aterrorizava.

Ainda assim, ela sorriu enquanto a mulher mais velha a guiava pelos corredores longos e sinuosos que
levavam aos quartos do harém. Phedre era adorável, mesmo que seu cabelo tivesse ficado quase
completamente grisalho na velhice. Era um cabelo longo, que descia pelas suas costas até os quadris em uma
trança longa e grossa. O nariz dela era agudo e ligeiramente adunco, e seus olhos castanhos eram calorosos e
gentis.

“Então,” Amy disse, surpresa ao perceber que não estava mais tentando lutar contra aquilo.

Ela não pensava mais em se virar e sair correndo para salvar sua vida e sua liberdade, ela não olhava
mais ao redor procurando um telefone ou outro meio de comunicação. Certamente, sua irmã Alexis a veria no
noticiário em breve, de qualquer forma. Ainda assim, depois da noite anterior e da segurança que ela havia
sentido ao dormir nos braços de Dvar, ela não queria fugir. Adicionando a isso as estimas calorosas daquele
povo e a beleza tanto da Jardânia quanto do palácio, então era como um conto de fadas. Mas grande parte
dela não acreditava nisso. Ela sabia que não ia durar. Afinal, Amy não era esse tipo de garota. Coisas felizes
não aconteciam com ela. Ela era a garota abandonada e sozinha, a garota que enrolava e que não tinha um
plano de vida.

Ainda assim, ela podia seguir com o fluxo. Ela podia tentar. Mesmo que durasse só um pouco, mesmo
que fosse uma glória efêmera como no filme A Lenda dos Beijos Perdidos, ela ia tentar. Ela se permitiria ser
feliz, mesmo se apenas por um tempo. Afinal, uma voz fria e fina lhe disse, se enrolando no aperto de suas
vísceras, você nunca teve planos ou um futuro de verdade pra início de conversa.

Phedre percebeu que Amy tinha se perdido em pensamentos e se voltou para encará-la, seus grandes
olhos castanhos repletos de preocupação. “Então o que? Minha xeica, se você me permite, você parece
preocupada. Eu não entendo como isso pode ser. Todos estão encantados com a sua presença aqui. Pra ser
sincera, faz anos que não vejo Dvar sorrir assim.”

“Ele está sempre brincando comigo. Ele é tão jovial que eu não posso acreditar que ele seja
reservado.”

“Ele é assim com você,” ela ressaltou. “Conosco, minha xeica, ele é muito mais reservado. Eu vejo
como ele sorri com você, e eu fico feliz que ele tenha isso. Eu tentei ajudá-lo e confortá-lo o máximo que
pude desde que seus pais se foram.”

“A mãe dele?”

“Ela morreu alguns depois do pai dele, basicamente definhou...”

“Puxa vida,” Amy disse, e as duas recomeçaram a andar. “Mas eu não entendo.”

“Não?”
“Não, quero dizer, claramente ela deve ter amado o pai dele, eu imagino, se você diz que ela morreu
por causa de um coração partido.”

“Sim, basicamente,” a outra mulher disse virando à direita. Talvez fosse bom que Amy não estivesse
tentando fugir. Afinal, mesmo que ela escapasse, ela nunca conseguiria achar o caminho pelas passagens
labirínticas do palácio. “Mas porque você duvidaria disso?”

Amy corou, sentindo o sangue correr rapidamente por suas bochechas. “Bom, ele ainda visitava o
harém, não visitava?”

Se Phedre sentia alguma vergonha por fazer parte daquilo, ela não disse nada a respeito. “Sim, mas
isso é diferente. O xeique e eu ocasionalmente tínhamos relações físicas, até a sua morte, mas era só isso. Ele
amava sua rainha, mas precisava de alívio de outras maneiras.”

“Mas isso não é amor! Nos Estados Unidos nós nunca fazemos isso.”

“Não existem casos ou casamentos abertos ou poliamor?”

“Ora vamos, isso não é a mesma coisa. Você fala de um casamento de verdade, mas aí ele pode dar
um pulo do outro lado do corredor, onde tem um punhado de beldades, e escolher qualquer uma que quiser,
como se estivesse num maldito buffet!”

Phedre riu. “Eu entendo porque Dvar se diverte tanto com você. Você tem um fogo tão forte correndo
por dentro... Você não entende nada dos nossos costumes, mas você acha que sabe. Se essa raiva é a respeito
do seu xeique e do que você teme que Dvar faça, até onde eu saiba, ele ainda não decidiu como vão ser seus
arranjos.”

“Então isso me faz sentir tão melhor. Ele me roubou da minha casa, e eu sinceramente estou intrigada
demais com o que ele tem a oferecer para dizer não completamente; mas, ao mesmo tempo, como ele pode
dizer que eu sou importante quanto ele tem dúzias de mulheres babando atrás dele toda noite?”

“Isso é algo que vocês vão ter que resolver juntos,” Phedre disse, fazendo uma última virada.

Elas pararam na frente de uma porta enorme, que tinha pelo menos quatro metros de altura e era
entalhada na madeira mais densa. A porta era folheada a ouro e Amy de repente sentiu que precisava falar a
senha correta para poder ter uma consulta particular com o Mágico de Oz.

“Uau, eu vim parar nas 1001 Noites de verdade, ou no mundo ideal do Aladim? Eu... nossa!”

Phedre sorriu. Era um gesto de esfinge que não disfarçava seus verdadeiros sentimentos, não de
verdade. “Agora você entende porque as mulheres largam suas famílias e vêm pra cá tão jovens e
esperançosas. Quarenta anos atrás, eu me senti como você quando vi com meus próprios olhos. É surreal e
maravilhoso.” Ela estendeu a mão e abriu as grandes portas com um empurrão. “Benvinda ao harém, minha
xeica.”

Amy arfou ao ver o enorme teto em arco. Era cheio de mosaicos, e teria caído muito bem em uma
mesquita ou nas antigas torres que ela tinha visto no Cairo. As sedas mais brilhantes estavam penduradas no
teto, criando um lindo dossel para um espaço tão grande quanto vários campos de futebol. De um lado havia
uma série de penteadeiras antigas, todas feitas de mármore branco e enormes espelhos. Do outro havia uma
coleção de travesseiros macios, também feitos de sedas e cetins tão brilhantes quanto um arco-íris.
Finalmente, havia uma coleção de camas – de solteiro, mas ainda assim adoráveis –, cada uma com seus
próprios postes e também dosséis. Devia haver duas dúzias delas espalhadas por um dos lados do quarto, e
agora ela sabia que havia vinte e três mulheres (Phedre era obviamente como uma mãe para Dvar)
competindo com ela. Vinte e três mulheres que poderiam um dia dar prazer a ele caso ela não conseguisse.

E mesmo que ela o conhecesse há apenas dois dias, sua garganta queimou e seus olhos se encheram de
lágrimas. Ela era pequena e leve, uma menina pálida com um cabelo que ela mesma tinha tingido e cortado
em nome da experimentação dos vinte e poucos anos. Ela não podia competir com essas beldades exóticas e
roliças, com curvas que se estendiam por dias e seios tão bem ressaltados pelas sedas que elas usavam.

Amy era sem graça, afinal, e não havia nada que ela pudesse fazer para vencer contra essas mulheres.

Quando ele quisesse vir aqui, ele viria.

Uma mão gentil estava em seu ombro e os olhos escuros de Phedre a observaram repletos de
ansiedade. “Você está bem, minha xeica?”

Ela assentiu. “Eu simplesmente não fazia ideia de que as coisas aqui eram tão intrincadas, tão
bonitas.” Amy tinha tentado dar a entender que estava falando apenas dos arranjos, mas ela estava bastante
certa de que não havia enganado Phedre, e enxugar os olhos não tinha ajudado muito a esconder seus
verdadeiros sentimentos.

Uma garota alta, que não podia ter mais de dezenove ou vinte anos e que era, no mínimo, uma cabeça
mais alta que Amy, se aproximou a passos largos. Ela tinha um peito amplo e largo que mal cabia dentro de
sua bandoleira. Seu rosto em forma de coração era marcado por um nariz estranhamente aquilino e olhos frios
e cinzentos que a encararam de cima.

“Sim, nós somos lindas, não somos, rainha?” a voz da garota estava revestida de desprezo.

Amy se ergueu o mais alto que conseguia (está certo, não era muito) e colocou as mãos nos quadris.
“Quem é você?”

“Meu nome é Kamala, minha rainha, e eu sou a favorita do harém. Eu fui treinada como acrobata em
minha juventude e o xeique sempre favoreceu minha flexibilidade.” Ela sibilou essa última palavra, e Amy
suprimiu o impulso – aquele desejo intenso – de estapear a outra mulher. Isso talvez enfurecesse Dvar, mas,
pior ainda, talvez fizesse com que os outros tivessem pena daquela vadia. Isso não podia acontecer. “Então,
como posso ajudá-la, minha rainha? Você precisa de um vestido melhor? Ou talvez você queira ajuda com
essas pontas duplas?”

Ela balançou a cabeça e enrolou as mãos em punhos ao lado do corpo. “Na verdade, eu tenho Phedra,
que com certeza pode me ajudar.” Com isso, ela caminhou para as penteadeiras e esperou que a mulher mais
velha se juntasse a ela. Quando Amy falou novamente, suas palavras saíram rápida e furiosamente, e ela não
conseguiu manter sua voz tão uniforme quanto gostaria. “Quem é ela? Não é possível que ela seja a preferida
de Dvar. Não é possível. Ela é fria e cruel e parece uma maldita cobra, até eu consigo sentir.”

Phedre balançou a cabeça. “Ela é certamente a favorita, e ela não mentiu a respeito de seus, como ela
disse, talentos.”

Seus ombros caíram e ela se sentiu grata pela gentileza de Phedre, feliz pela outra mulher que a
abraçava e ninava. “Ela é a favorita?”

“Ela era antes de você chegar, e ela não é feliz. Ignore o que ela diz. Há um ditado aqui que diz
‘apenas corações envenenados podem criar palavras tão venenosas’. É ciúmes, minha querida, então não
preste atenção.”
Amy suspirou e olhou para seu pálido reflexo no espelho. Ela parecia cansada e exaurida do estresse
e das viagens dos últimos dias. Havia grandes olheiras cinzentas abaixo de seus olhos, e ela não se parecia
nada com a outra garota, com sua pele morena e seus olhos lindamente delineados. “Talvez isso não vá durar
sequer o tempo de uma piscada.”

“Ou você devia confiar em mim,” Phedre disse, pegando um pente e algumas embalagens de
maquiagem. “Kamala era sem graça quando chegou aqui, e eu a ajudei a descobrir como melhor utilizar seus
dotes femininos. É assim que as coisas são, e eu vou te treinar.”

“Por quê? Não é inevitável, já que Kamala é a favorita?”

“Ela é uma valentona e é cruel com todas as meninas aqui. Não tem nada que eu gostaria mais do que
vê-la humilhada e mandada embora,” ela continuou, pegando um brilhante pente de prata encravado com rubis
e diamantes. O pente tinha o formato de um falcão e Amy sorriu, se lembrando de sua recente viagem ao
Cairo. “Minha rainha, quando eu terminar com você, nenhuma mulher chegará aos seus pés. Será minha honra
e meu prazer.”
Capítulo Oito
O jardim estava disposto com tudo que ele podia imaginar. Na noite seguinte, depois de um longo dia
de reuniões, Dvar tinha preparado tudo para um piquenique perfeito com sua rainha. O próprio jardim era um
lugar ideal. Ele continha adoráveis gavinhas dependuradas de madressilva e hera. Havia lindas estátuas de
querubins e anjos feitas de mármore. Ressaltando tudo aquilo havia uma fonte central que se iluminava à noite
e mudava de cores continuamente, do azul para o rosa para o lilás e de volta para o azul. No entanto, o
destaque principal era a miríade de arbustos de rosas. Eles tinham feito parte da coleção premiada de sua
mãe. Cada um tinha uma coleção diferente de flores e ele estava cercado de explosões de pétalas vermelho
sangue, laranja e brancas. Algumas eram roxas ou até escuras, quase pretas, especialmente à luz da lua.

Para o jantar, ele tinha arrumado algo simples, apenas alguns pães sírios e tâmaras. A carne era pernil
de cordeiro, fácil de colocar entre o pão e fazer um sanduíche para levar à boca.

Quando Amy entrou no jardim, ele precisou de todas as suas forças para não comê-la ali mesmo. Ela
estava usando uma roupa que ele tinha comprado pra ela pessoalmente no mercado: calças de harém
vermelhas que combinavam com uma bandoleira cravada de rubis e diamantes. Havia uma fina camada de
tecido que cobria sua barriga, tecnicamente cobrindo aquela área, mas ele conseguia ver a linda extensão de
pele branca por baixo da roupa facilmente. Ele ficou intrigado e deleitado com o botão azul safira no umbigo
dela.

Julgando por aquilo e pelos barretes e presilhas no cabelo dela – o longo cabelo dela – ele presumiu
que Phedre tinha ajudado com as suas escolhas de moda e com as extensões adicionadas ao seu visual.

Ele aprovava.

Diabos, julgando pela maneira como seu pênis endureceu e pressionou contra o tecido de suas calças,
ele tinha certeza, definitivamente, que ele inteirinho mais do que aprovava.

Os largos contornos de kohl nos olhos dela, os cílios longos e luminosos em volta de suas
profundezas cor de safira, e os lábios dela que estavam vermelhos como sangue complementavam o look
ainda mais. Ele mal podia esperar para ter aqueles lábios enrolados na sua ereção. O toque final era a
simples corrente de prata descendo pelo pescoço dela, com seu cintilante amuleto azul, o olho mal, encaixado
cuidadosamente entre seus seios.

Ele finalmente ficou de pé, torcendo para que ela não notasse o quão entusiasmado ele estava em vê-
la. Ela tinha passado a noite anterior com o harém uma vez que a sessão de planejamento dele tinha se
estendido, e um dia sem ela parecia tempo demais. Era como se ele tivesse corrido uma maratona e pudesse
finalmente – só agora, depois de vinte e seis milhas – beber a bendita água em volta dele. Dvar lhe deu um
abraço apertado enquanto sorria.

“Minha xeica, você está adorável. Verdadeiramente quente, como uma espoleta deveria ser.”

Ela elevou os olhos para ele e ele percebeu aquele delicioso rubor cobrindo as pálidas bochechas
dela. “Que bom que você gosta. Eu... esse lugar inteiro é incrível. Eu sinto que cada cômodo é mais lindo que
o anterior.”

Ele riu ao guiá-la para o cobertor. Atrás deles, a fonte se ascendeu com a luz roxa, complementando o
brilho nos olhos dela magnificamente. “Você viu tão pouco. Quando as coisas se acalmarem, eu mal posso
esperar para te levar aos estábulos, para que você possa ver como os meus cavalos árabes premiados são
lindos. Meu tio criou muitos, e eu aprendi o hábito com meu primo, Munir. Você vai gostar deles.”

“Eu, ah, não sei montar,” ela disse, olhando para baixo e se assentando no cobertor. “Isso não vai ser
um problema, vai?”

Ele sorriu. “Eu acho que não. Afinal, espoleta, eu tenho a sensação de que há poucas coisas que você
não consiga dominar. Você certamente conquistou os corações do meu povo e o meu.”

Ela assentiu e ele observou a garganta dela se movendo quando ela engoliu em seco. “Eu acho.”

Franzindo a sobrancelha, ele abriu a cesta e colocou a comida no cobertor. Ele também pegou um
champanhe e serviu uma taça para ela. “Você parece preocupada. Qual é o problema, Amy?”

Ela piscou e ele percebeu que devia ser porque ele tinha usado o nome dela. Agora parecia errado
provocá-la com Srta. Monroe – afinal, logo era pertenceria a ele legalmente, uma vez que a cerimônia fosse
arranjada. Ela seria Xeica Yassin e seu nome antigo não cabia mais aqui entre eles.

“Não é nada.”

Ele deu um gole na sua própria bebida, se divertindo com as cócegas que as bolhas faziam no seu
nariz. “Você não está com fome? É uma refeição simples, e eu prometo que guardei o pombo para outra
noite.” Ele gesticulou para o cordeiro, que estava bem assado e praticamente caindo do osso. “Você não tem
nada contra isso, certo?”

Ela riu um pouco, parte do seu brio e do seu bom humor usual retornando. “Não é isso. E só pra você
ficar sabendo, eu dei conta do pombo muito bem. Eu comi um completamente sozinha e foi a carne mais
suculenta que eu jamais experimentei.”

Ele sorriu e se aproximou dela. “Há outras coisas ainda mais suculentas para a sua boca, eu prometo.”

Ela deu uma risadinha. “Eu acho que percebi isso.” Amy bebericou sua bebida e depois comeu alguns
pedaços de pão sírio. “É só que conhecer o harém foi mais surpreendente do que eu poderia ter imaginado.
Elas são tão lindas e eu não sei... eu nem sei quanto tempo isso vai durar.”

Abaixando sua bebida, ele estendeu a mão e acariciou a bochecha dela. “Eu não peço a qualquer uma
para ser minha esposa e me ajudar a liderar meus súditos. Isso aqui é pra valer.”

“E eu estou disposta a ver aonde isso vai dar. Eu não tinha nada mais acontecendo em casa e os
últimos dias têm sido pra lá de incríveis, mas eu sei que nada dura para sempre. Meus pais não duraram.”

As narinas dele se dilataram e ele balançou a cabeça. “Eu não sou assim.”

“Você tem vinte e três mulheres a menos de setenta metros daqui, todas dispostas e capazes de servi-
lo em todas as suas necessidades. Aquela Kamala não tentou esconder nada, de forma alguma.”

Dvar levou aquilo em consideração. Havia coisas que ele adorava fazer com Kamala, ou pelo menos
havia adorado. Aquela menina estava sempre disposta a tentar de tudo e ela era tão flexível, graciosa e ávida.
Ele ia sentir falta daquilo, mas ele nunca teria previsto que sua noiva americana teria tanta aversão a um
harém, considerando que arranjos abertos eram melhores do que o divórcio.

Pegando ambas as mãos dela com a sua, ele as apertou com força. “Te incomoda tanto assim? O que
eu e Kamala temos? Eu nunca a considerei como uma igual.”

“Então talvez eu seja apenas um número divertido de judô verbal e uma reprodutora, se é que nós
vamos chegar a isso.”

“Não, não é isso de forma alguma.”

“Então podemos tentar só nós dois? Podemos construir alguma coisa antes? Eu sei que um harém é
tradição, e você teve anos pra aproveitar todas as vantagens dele, mas é muito importante pra mim que eu seja
a única mulher a quem você recorre. Parece justo?”

Ele inspirou profundamente e sentiu seu maxilar se apertando. Quando ele falou, sua voz estava baixa
e deliberada. “Você não vai colocar limites no nosso relacionamento. Eu estou no comando, espoleta, e eu
achei que você sabia disso.”

“Você sabe que a minha irmã vai me visitar em breve. Nós acabamos de aparecer no noticiário da Al
[15]
Jazira e eu sei que a Alexis vai ligar para checar como eu estou. Mesmo que você não me deixe atender, ela
e Farzad estarão aqui em breve para ver com os próprios olhos. Se você não tentar fazer de mim uma
prioridade, eu vou embora com eles. Eu juro. Dê um ano, e se não for o suficiente, se você ainda precisar de
Kamala ou do resto do harém, então nós veremos.”

“Você ainda está colocando condições.”

“Não me importa. Eu vou te largar se você mantiver o harém.”

“É tradição.”

Os olhos dela estavam queimando com fogo azul. “Se você me quer, então você tem que me mostrar.”

Ah, ele ia mostrar a ela...

Dvar empurrou toda a comida para fora do cobertor, não se importando se alguma coisa fosse parar na
fonte ou em meio aos arbustos de rosas. Ele agarrou Amy e ela tentou se afastar, mas ela pertencia a ele,
caramba, e ele tinha sido absurdamente paciente ao esperar tanto, não pulando em cima dela no segundo em
que ela tinha entrado no jardim.

Ela se contorceu por baixo dele, mas ele a segurou, prendeu os pulsos dela acima da cabeça e a
segurou ali. Os quadris dele estavam se esfregando nos dela, e quando ela parou de se mexer ele soube que
ela tinha sentido a sua ereção se aninhando nela; que ela tinha sentido a paixão se agitando dentro dele.

Ele se inclinou para baixo e raspou os dentes pela pele do pescoço dela, e Amy estremeceu e gemeu
embaixo dele. Ela não estava mais lutando ativamente para se livrar dele. Ele raspou novamente, dessa vez
traçando seu caminho para a depressão na clavícula dela. Sua longa língua arqueou para fora e ele começou a
lamber a pele macia ali, sentindo o gosto dela, aquele sabor de oleandro e especiarias, de verão ameno e de
um frescor verde. Ela era divina.

E ela era dele.

Só dele.

“Agora, estamos seguindo as regras de quem?” ele perguntou.


Ela o encarou enquanto ele segurava seus pulsos. “Minhas.”

Ele se esfregou nela quase dolorosamente, sua ereção provocando o cerne dela através do tecido de
suas roupas. “Não. Regras de quem, espoleta? Você sabe quais. Diga!” ele enfatizou seu argumento sugando o
ombro dela com força, deixando um chupão, a pele dela ficando roxa sob os lábios dele. “Diga!”

Ela choramingou, seus olhos azuis encobertos por pálpebras pesadas. “Suas regras, Dvar. Somente
suas.”

Ele passou a mão por baixo do tecido da bandoleira e encontrou o mamilo direito dela. Ele podia
imaginar aquele pico rosa escuro embaixo da sua mão. Ele massageou o seio dela e pressionou os dedos
contra o mamilo, fazendo com que ele se elevasse, pontudo. Amy gritou e se agarrou nele, mas não com
desespero – com necessidade. Era puro e animalesco, e ele também não conseguia segurar seu desejo.

O tempo que eles levaram para se livrar de suas roupas pareceu eterno. Mas logo ela estava deitada
na frente dele, nua da cintura pra baixo, seus lindos cachos escuros como uma floresta convidativa na frente
dele. Ele se inclinou e beijou o vértice das coxas dela, enquanto suas mãos brincavam e agarravam os seios
dela.

Voltando a se sentar, ele sorriu para ela. “Você pertence a quem?”

“Você, só você,” ela disse, estendendo a mão e escorregando seus dedos delicados e habilidosos pela
ereção dele.

“Eu preciso de você dentro de mim, Dvar, por favor.”

Ele obedeceu. Tempo demais havia se passado desde aquele banho, afinal. Ele se posicionou por
cima dela e escorregou seu membro pelas macias dobras dela. Ele sibilou ao sentir o calor e aquele
maravilho encaixe apertado que parecia massagear sua ereção enquanto ele entrava, centímetro por
centímetro. Era um encaixe incrível, como se ela tivesse sido feita para ele. Os quadris dele se mexiam por
conta própria, sua paixão atávica se espalhando por ele. Ele tentou ir devagar, fazer amor com ela, mas foi
mais rápido do que isso, cheio de fome e urgência.

Para ela a sensação era fantástica, e ele deixou uma mão descer para os quadris dela e apertá-los
enquanto a outra tocava o clitóris. Amy sibilou e afundou as unhas o melhor que podia nas escápulas dele, por
baixo da camisa. Ele gostava daquela pontada de dor, da insinuação de algo mais no aperto dela. Ela
balançou com ele, suas pernas enroladas em sua cintura.

O ritmo entre eles aumentou e ele sentiu suas bolas se contraírem em antecipação. Ela se inclinou para
cima e o beijou, a língua dela se enrolando com a dele. Era agora.

Ele gozou então, entornando dentro dela, sentindo as espirais de prazer se lançarem através de seu
corpo até ele desabar no cobertor abaixo. Ela ficou deitada ao lado dele, gritando com o próprio prazer e
estremecendo ao seu lado. Eventualmente, depois que os dois haviam terminado, ele a pegou nos braços e a
abraçou com força. Beijando o topo da cabeça dela e desviando por pouco do pente de falcão que ela usava -
aquele cujos rubis contrastavam com seus cabelos, fazendo-os brilhar como ébano –, Dvar falou.

“Eu te amo.”

Ai, Alá, aquilo realmente tinha saído da sua boca?

Ele piscou alertado, assim como ela, como se um balde de água gelada tivesse sido jogado sobre eles.
Era muito difícil de acreditar, de entender. Ele amava apenas sua família. Sim, ele tinha se divertido com
mulheres, ou ficado encantado com seus talentos, mas essa saciedade era completamente diferente e muito
mais real.

Olhos azuis, grandes e assustados, o encararam. Amy mordeu o lábio e hesitou antes de falar. “Eu não
compreendo.”

“Eu te amo, e você está certa, não há mais ninguém. Não vai acontecer mais nada com o harém, nunca
mais.”

“Eu…”

Ele a beijou novamente, mas ela ainda estava embaixo dele. Se afastando, ele passou uma mão pelo
cabelo dela. Era tão macio e sedoso ao toque, e ele teria que recompensar Phedre muito bem pela
transformação que ela tinha feito. “Diga algo.”

“Eu gosto de você e eu vou tentar. Eu fico muito agradecida que você concorde a respeito do harém,
mas isso é tudo que eu tenho a oferecer agora.”

Ele assentiu e a puxou para perto, sentindo seu corpo magro e rijo contra o seu. Não era tudo que ele
queria, mas teria que ser o suficiente por enquanto porque ele não ia deixar sua espoleta ir.

Nunca.
Capítulo Nove
Seis semanas depois

Dvar franziu a sobrancelha para seu primo Farzad através da ligação no Skype. “Essa informação
sobre as forças do Leban é precisa?”

Seu primo suspirou e passou uma mão pelo cabelo escuro e rebelde. “Sim, meus melhores espiões a
revisaram, e não há a menor sombra de dúvida sobre o que está acontecendo. Eles estão se mobilizando e
logo estarão na sua fronteira leste como um enxame, se aliando com os rebeldes. Eu lhe enviarei tropas em
breve, e eu e Alexis visitaremos na semana que vem para ajudar a colocar as coisas no lugar. Minha esposa
talvez esteja um pouco irritada por você ter monopolizado a irmã dela por tanto tempo.”

“Eu não monopolizei nada,” ele disse, sorrindo para o primo. “Eu tenho estado ocupado e Amy
também queria curtir o período de lua de mel.”

“Posso dizer que você é um grande imitador por ter pego sua própria noiva americana?”

Dvar riu, longamente e com vontade. “Então você também é, já que seguiu os passos de Munir. Mas
essas mulheres americanas, elas são uma coisa, não são?”

“Elas são difíceis, mas elas valem à pena.”

Dvar assentiu. “Eu concordo plenamente, mas você acha que nós damos conta do exército do Leban?
Se a informação de Munir estiver correta, então talvez eles tenham recursos nucleares também.”

“Primo, em três séculos, você já viu alguém foder com o Império Yassin?”

Ele deu de ombros. “Eu retiro o que disse. Eu só queria…”

“Eu também sinto falta do meu tio e do meu pai. Eu entendo,” Farzad ecoou.

“Então nos vemos em uma semana, e vamos fazer todos os que nos desafiam se arrependerem.”

“Parece um bom plano.”

“Seria um bom plano apenas se tivesse alguns passos mais detalhados,” Dvar disse, taciturno. “Nesse
momento, tudo o que eu tenho é ‘dar uma surra no Leban’, mas não tenho um mapa de como de fato chegar lá.”

“Então fique aliviado que há duas cabeças e talvez a ajuda daquelas fogosas irmãs Monroe.”

“Sério, você permite que uma mulher planeje com você?”

“Eu conheço bem a minha mulher. Te vejo no domingo,” seu primo respondeu, deixando a ligação cair.

Dvar suspirou e beliscou o osso do nariz com os dedos. Sua cabeça estava latejando e suas palmas
suavam. Tudo parecia mais possível com o apoio e as piadas de seu primo, mas na fria luz do dia e na
extensão solitária da sua sala de reuniões, as coisas eram mais opressivas. Ele não podia deixar oito milhões
de pessoas sofrerem por causa da crueldade do Leban, mas ele não era o líder que seu pai tinha sido. Mesmo
então, da última vez que o Leban havia invadido, eles tinham perdido seu rei.
Ele balançou a cabeça, preocupado com o que seria feito da sua terra.

Além disso, ele tinha mais a perder a essa altura. Não havia apenas o seu reino ou o seu povo, com o
qual ele se preocupava muito, mas também Amy, que ainda estava resistindo a alguns dos arranjos, mas que
logo seria oficialmente sua xeica. Faltava apenas um mês para o casamento, já que tantos dignitários e outras
coisas tinham de ser trazidos para o evento. Ele mal podia esperar pelo dia que ela seria dele oficialmente,
quando o seu anel estaria no dedo dela e o mulá os uniria frente a Alá e a todos os demais.

“Senhor,” Hakim disse, entrando na sala. “Eu trouxe o almoço. Tem algo mais que eu possa fazer para
ajudá-lo?”

Ele assentiu e considerou a oferta. “Eu vou comer.”

“Isso seria uma novidade. Você parece ter perdido o apetite.”

“Essa guerra que se aproxima – acaba com a digestão de qualquer um.”

“Então você precisa das suas forças,” Hakim retrucou. “O que pode te ajudar a relaxar?”

Ele sorriu. “A espoleta é boa pra isso.”

“Você não pode transar o tempo todo, meu xeique, mas talvez um longo dia com ela fosse bom. Talvez
você possa finalmente mostrar os estábulos e os cavalos para ela hoje.”

“Você é brilhante! Eu sabia que tinha um bom motivo pra te manter por perto,” Dvar retrucou.

“Eu achei que era por causa da minha belíssima aparência, meu xeique.”

“Dificilmente,” ele disse, se levantando. “Eu volto em breve.”

Com isso, ele se apressou pelos corredores. Levou um tempo para chegar à ala onde ficava o harém.
Às vezes, mesmo com suas preocupações a respeito das outras mulheres, Amy se confortava passando o
tempo com Phedre. Ele passou pelas portas duplas e ignorou a multidão de mulheres se aglomerando à sua
volta. Elas sentiam falta dele, mas a essa altura da sua vida, ele não sentia falta delas. Ele era especialmente
cuidadoso em relação à Kamala, e seus olhos se estreitaram quando ela se aproximou dele. Ela não manteve a
distância respeitosa das outras.

Ao invés disso, ela se inclinou contra ele, pressionando seus seios contra o peito dele de uma maneira
óbvia e desesperada. “Nós sentimos sua falta.”

“Eu não duvido,” ele disse, colocando as mãos nos ombros dela e empurrando-a para longe.

Ela tropeçou um pouco e uma carranca dura marcou seu rosto por um instante antes que ela
conseguisse recuperar sua pose. “Se você jamais precisar de qualquer coisa, meu senhor, então você sabe
onde me achar.”

“Eu sei onde você esteve pelas últimas seis semanas, Kamala. Não é como se eu pudesse me
esquecer.”

Algumas das outras garotas deram risadinhas, e ele ficou satisfeito quando as bochechas dela
enrubesceram de vergonha e raiva. Ela girou sobre os calcanhares e correu para o outro lado do cômodo.
Kamala ainda falou por cima do ombro ao se retirar. “Você vai me querer eventualmente, Dvar. Um
leopardo nunca muda suas manchas.”

Enrolando as mãos em punhos ao lado do corpo, ele a ignorou. Ele nunca voltaria para ela, não
importa o que suas mãos e língua pudessem oferecer. Ele estava apaixonado e adorava sua futura esposa.
Kamala podia apodrecer no inferno se dependesse dele, mesmo que os quadris dela fossem tão convidativos
enquanto ela rebolava pra longe. Dvar se esgueirou pelo grupo até encontrar Amy perto das penteadeiras. Ela
parecia estranhamente pálida, mesmo para uma americana, e ele se perguntou se ela tinha dormido mal na
noite anterior.

Ele estendeu o braço e agarrou seus ombros, e ela pulou nos braços dele.

O que diabos está acontecendo?

“Você está bem, espoleta?”

Ela assentiu e olhou para ele. Ela estava suada também. “Sim, que surpresa. Pensei que você estava
conversando com Farzad.”

“Eu estava. Ele e a família estarão aqui em uma semana. Sua irmã tem reclamado. Talvez nós
estejamos sendo amorosos demais.”

Ela corou e mordeu o lábio, sua mão desviando um pouco em direção aos quadris. Aquele era um
convite que ele adoraria aceitar, mas só depois que eles cavalgassem. “Eu adoraria vê-la. Eu acho que nós
estivemos meio ocupados ultimamente...”

Ele se inclinou e beijou-a, já endurecendo ao sentir o gosto dela em sua língua. “Estivemos mesmo,
espoleta. Falando em estar ocupado, eu estava me perguntando se você gostaria de ir cavalgar comigo?”

“Eu não sei se tenho coordenação suficiente para isso.”

“Você consegue. Eu vou preparar a égua mais velha e gentil para você, ou pensar em uma alternativa.
Eu tenho mais algumas coisas para fazer com meus generais.”

“Sem boas novas de Farzad, então?”

“Nenhuma,” ele disse, frustrado. “Mas vai haver. Nós vamos dar um jeito.”

“Ótimo. Eu mesma estava indo para o mercado. Eu... Phedre e eu íamos ver joias.”

“Você pode ter acesso às joias da coroa se quiser.”

“Mas eu estou com vontade de tomar um ar,” ela acrescentou, com o tom ainda hesitante.

“Tem alguma coisa errada?”

“Não,” ela disse, beijando-o novamente. “E não, não tem nada a ver com te deixar. Eu prometi tentar,
e você tem sido maravilhoso.”

“Sim, eu tenho. Nunca houve reclamações.”

Ela revirou aqueles seus olhos azuis como gelo. “Não deixe que as coisas subam à sua cabeça,
Casanova.”
Ele colocou os quadris contra as costas dela. “Ah, outras coisas sempre ‘sobem’ por você, querida.”

Amy riu e o beijou mais uma vez. “Nós estaremos de volta as três, e aí podemos ir cavalgar, mesmo
tendo certeza que vou cair.”

“Ótimo,” ele respondeu, acariciando a bochecha dela. E ele não tinha apenas imaginado que ela
estava suada, não quando a sua mão tinha voltado escorregadia. “Você tem certeza que está bem? Você não
está com febre, está?”

“Não, só animada e agitada nessa temperatura quente, você sabe como é.”

Ele assentiu e voltou apressadamente para o escritório, preocupado que ela estivesse escondendo algo
dele, mas ele simplesmente não tinha certeza do que.

***

Amy não estava se sentindo bem ultimamente. Ela não sabia exatamente o que estava acontecendo,
mas ela se sentia exausta quase o tempo todo. Talvez fosse apenas um ajuste dos invernos gelados e
enjoativos de Boston para as temperaturas quentes e abafadas que chegavam a cinquenta e um graus Celsius
nas terras desérticas que a cercavam. Ainda assim, depois de uma noite incrível com Dvar – e todas as noites
eram incríveis – ela se encontrou esgotada e exausta como nunca.

Mancando um pouco para o quarto do harém, ela se sentou em um macio travesseiro laranja e acenou
para Phedre. A mulher mais velha estava resplandecente naquele dia, vestindo um caftan cor de berinjela
cravejado com cristais Swarovski.

“Minha xeica, como posso ajudá-la hoje?”

“Você pode me dizer se há algum médico que eu possa ver.”

“Há um médico real.”

“Eu digo na cidade. Eu não me sinto bem, mas não quero preocupar Dvar se for apenas uma
insolação.”

“Se você achasse que era apenas uma insolação, então você não estaria pedindo um médico particular
só pra você.”

“A guerra está se aproximando, e se for alguma coisa séria eu vou contar pra ele, mas, do contrário, a
mente dele precisa estar clara para planejar.”

Phedre mordeu o lábio inferior e considerou-a. “Pode ser, mas eu devo aconselhá-la a não manter
segredos em um relacionamento, minha xeica.”

“Eu só preciso saber por que estou tão cansada e...” ela parou então, sentindo a náusea subir através
dela, e saiu correndo para o banheiro.

Amy chegou lá bem em tempo de vomitar várias vezes na cabine fechada. Ela regurgitou até sua
garganta começar a arder, até os músculos do seu peito ficarem doloridos com o esforço. Cansada, ela deixou
sua cabeça pesar na porcelana fria e começou a chorar.
Quase dois meses haviam se passado desde a sua última menstruação.

Por um tempo, ela sequer tinha pensado que essa irregularidade era um sinal de que algo estava
errado. Ela tinha passado por situações muito estressantes, jogada em um ambiente novo. Além disso, no
passado, quando ela tinha sido patinadora, isso acontecia o tempo todo. Ela era tão magra que não tinha
regularidade nenhuma, mas isso? Isso explicava tudo – a exaustão, a náusea, e a maneira como ela se sentia
mal.

Ai, Deus.

Ela não estava pronta.

Ela sequer tinha certeza de que ia ficar aqui, de que Dvar conseguiria manter sua promessa a longo
prazo para fazer dela a número um do harém. Mesmo com um filho, não havia garantia de que ela não
terminaria como sua mãe: abandonada e jogada fora como lixo. O filho dela seria o herdeiro, mas ela não.

Eles mal tinham começado a se conhecer, e era inevitável que o Leban e a Jardânia entrassem em
guerra.

Meu Deus, o que eu vou fazer?

Braços cuidadosos e macios envolveram-na; ela enterrou o rosto no ombro de Phedre e chorou,
deixando as lágrimas fluírem. A outra mulher balançou-a, acalmando-a e tentando ajudar Amy a estancar as
lágrimas.

“Eu conheço alguém. Nós vamos assim que você tiver forças.”

Ela assentiu e seguiu Phedre para as penteadeiras. Ela precisava começar seu dia. Afinal, ela podia
estar errada, mas Amy não achava isso.

***

“Sabe,” Kamala ronronou, se sentando ao lado dela frente aos espelhos. “Você parece ainda mais
pálida do que de costume. Isso é muito impressionante para uma americana como você.”

Ela examinou a garota ao seu lado. Sua blusa, se é que aquele fino pedaço de seda podia ser chamado
disso, tinha um decote generoso demais. Era quase pornográfico. “Bom, deve ser o que Dvar prefere,” ela
disse friamente.

“Você sabe que é só um interesse temporário, que ele só está fazendo o que os primos fizeram.”
Kamala chegou mais perto dela. “Ele nunca permanecerá fiel a você. Ele nunca desejará um mestiço como
próximo xeique herdeiro.”

Amy a estapeou com força, feliz em ver o vergão já inchando no rosto da outra menina. “Meu
sobrinho, Farid, é o herdeiro de Omai e ele é meio americano. É um ponto forte, não uma fraqueza.”

Kamala esfregou a bochecha. “Aproveite enquanto está no topo, sua vadia americana. Não vai durar
muito.”

Amy assistiu enquanto ela saía correndo e sorriu para si mesma. Era o único raio de luz em um dia
completamente horrível.
***

“Bem, minha querida, o exame de sangue veio positivo,” o médico disse.

Ele era um homenzinho encarquilhado, com uma longa barba branca e ombros ligeiramente
encurvados. Amy não sabia de onde Phedre o conhecia, mas ela estava contente por isso. Ele tinha maneiras
excelentes, e foram apenas a sua doce gentileza e as mãos de Phedre segurando as suas que mantiveram os
pés de Amy no chão. Fora isso, a cabeça dela estava girando e ela estava nauseada de uma maneira que, ela
suspeitava, não tinha nada a ver com os enjoos matinais da gravidez.

“O que eu faço agora?” ela perguntou.

“Nós gostaríamos de fazer um ultrassom rápido agora, só pra ver como as coisas estão,” ele disse. “O
feto vai ser pequenininho, pouco diferenciado, mas vamos só checar pra ver como ele está.”

Ela assentiu e sua garganta estava seca demais para falar, para dizer qualquer coisa. Depois que ele
saiu da sala, ela tirou o xale e a blusa. Deitando-se na mesa de exame, Amy descansou a cabeça no
travesseiro. Então ela inspirou profundamente, lembrando a si mesma para não surtar ou hiperventilar. No
mínimo, isso devia ser terrível para o bebê.

As mãos de Phedre não haviam largado as suas, e ela as agarrou com tanta força que quase temeu
estar machucando a outra mulher. Naquele momento, a velha amante do harém era sua única conexão com a
realidade e a sanidade.

“Shh, minha xeica, vai dar tudo certo.”

“Eu só... eu ainda nem sei se Dvar me quer. Eu nem sei se ele vai voltar para Kamala ou se eu vou
ficar. Tem dias que tudo que eu quero é ir para casa. E tem outros que ele me abraça apertado e é o êxtase
mais incrível que eu jamais conheci.”

“Apenas descanse e considere os fatos. Aí você pode tomar suas decisões.”

“Mesmo se eu não tiver ideias claras a respeito do que isso seja?”

Phedre suspirou, mas não pôde dizer mais nada uma vez que o velho médico entrou pela porta com
uma máquina de ultrassom, desajeitada e que parecia ter sido feita na década de 80. Ele montou-a e depois
passou gel por sua ponta arredondada.

“Agora, Srta. Monroe, isso vai ser bastante frio,” ele disse.

Ela sibilou um pouco com a mordida gelada do gel e então, espontaneamente, virou o rosto para o
monitor. Ainda não havia muito para se ver. A imagem era incrivelmente embaçada e, novamente, a máquina
era consideravelmente velha. No entanto, ela podia distinguir a curvatura redonda do pequeno corpo em
desenvolvimento e a grande cabeça. Pequenos olhos negros estavam começando a se formar.

Seu filho.

Não, é nosso filho; do Dvar e meu. Há algo realmente nos unindo, pelo menos eu espero.

Lágrimas subiram aos seus olhos e ela sentiu-as correndo por suas bochechas. Aquela era a imagem
mais linda que ela jamais tinha visto.
Capítulo Dez
O cavalo era enorme.

Ele era alto – ficava acima até da grande silhueta de Dvar –, e ela observou enquanto o monstro
gigante chutava com suas patas traseiras. Sua crina escura esvoaçava e ele relinchou alto ao lado dela. Ele
tinha uma sela, que ela notou ser grande e parecida com algo saído de um antigo filme de bangue-bangue. Pelo
menos parecia grande o suficiente para uma cavalgada confortável, mesmo que ela estivesse morrendo de
medo de ser jogada longe.

Ela tinha prometido que ia montar, e agora não podia desistir. Não devia afetar nada. Dvar prometeu
que ela não ia cair, que ele ia encontrar o cavalo mais calmo e ágil para ela montar. Encarando esse gigante,
ela tinha a sensação de que isso não era verdade, nem um pouco. O árabe diante dela podia até ser
maravilhoso, mas ela não tinha certeza de que ele era muito amigável.

Estendendo a mão, ela deu um pulo quando ele relinchou de novo.

Ao lado dela, Dvar riu e acariciou o ombro do cavalo. “Esse é o Tornado, e ele é o cavalo mais bem
treinado do nosso estábulo. Eu mesmo o domei quando ele ainda era um potro e tinha acabado de ser
castrado.”

Ela se encolheu um pouco, mas finalmente tocou a bochecha dele. Era macio como veludo sob suas
mãos. O cavalo soltou o ar pelo nariz e Amy, mesmo assustada como estava e com o coração ainda
martelando, não conseguiu segurar um sorriso. “Ele é lindo, mas você jura que ele não é louco? Eu não sei se
topo montar sozinha.”

Sem perceber, ela passou a mão por cima da barriga. Talvez ela não fosse exatamente montar sozinha.

“Você não vai. Eu decidi fazer um evento em grupo hoje. Depois eu te ensino na velha égua por si
mesma, mas hoje eu estou no controle,” ele disse, oferecendo suas mãos com os dedos entrelaçados para
ajudá-la a subir no cavalo.

Amy examinou o monstro mais uma vez e pisou nãos mãos dele. Ela confiava nele para a maioria das
coisas, afinal; confiava no julgamento dele. Ela só não confiava nele plenamente no que dizia respeito a seu
coração, e isso era muito mais complicado agora que ela tinha o filho deles dentro dela, agora que os riscos
eram mais altos do que nunca. Ela levantou a perna e passou por cima do cavalo. Logo ela sentiu uma brisa
por trás de suas costas e o cavalo se moveu um pouco sob o peso de Dvar.

Braços fortes e capazes a envolveram pela cintura e depois passaram por baixo para pegar as rédeas.
Ele estalou a língua uma vez e bateu os calcanhares com força na barriga do cavalo. E lá foram eles, trotando
pela areia.

***

Talvez ele tivesse outros motivos.

Sim, ele queria ensiná-la a montar. Os árabes eram uma raça fabulosa, uma das raças mais valorizadas
do mundo, e eles eram incríveis de cavalgar. Ele queria que sua xeica os amasse tanto quanto ele amava, que
ela sentisse a liberdade da fuga. Eles trotaram juntos pela areia, a poeira em torvelinhos atrás deles. Ele
adorava a maneira como o cabelo dela, ainda comprido com as extensões, esvoaçava atrás dela, uma cortina
rica e escura de ébano que esvoaçava no nariz dele.

Hoje ela cheirava a baunilha e romã.

A vantagem – e motivo oculto – disso era que ele adorava sentir seus quadris contra os dela. Toda vez
que o cavalo se movia, seus quadris impulsionavam para frente, caindo ritmicamente com a marcha poderosa
do animal. Isso permitia que ele empurrasse sua extensão contra os quadris de sua amante, sua xeica, e era
ainda mais incrível do que a velocidade e o poder embaixo dele.

Depois de um longo trote, ele fez com que Tornado diminuísse a velocidade para um passo lento, e
então inclinou para frente e beijou o pescoço de Amy. “Eu pensei que, depois de meia hora, você ia gostar de
um descanso. Como você se sente?”

“Eu acho que minhas pernas parecem gelatina, e eu também tenho bastante certeza, meu senhooor, que
minha bunda vai estar cheia de roxos mais tarde.”

“Você sabe que isso foi só um trote, certo? Nós não estávamos galopando pelos campos, nem
correndo.”

“Não importa. Eu sou uma garota da cidade, nascida e criada, e não é como se eu tivesse prática. É
uma experiência completamente diferente, sair fazendo ‘tum, tum, tum,’” ela bufou. Amy reforçou seu
argumento olhando por cima do ombro, os olhos azuis cheios de alegria. “Foi um pouco demais. Sabe, você
definitivamente me deve uma massagem com babosa essa noite.”

Ele se inclinou e beijou o pescoço dela. “Isso é mais do que possível, espoleta. O prazer será todo
meu. Quem disse que eu não arranjei essa coisa toda só pra te namorar?”

Ela sorriu e empurrou as costas contra ele com a maior força que conseguia. “Eu acho que você fez
isso sim. Você com certeza parece entusiasmado o suficiente.” A voz dela se tornou um ronronado baixo
quando ela disse isso, fazendo o sangue bombear furiosamente pelas veias dele. As coisas que essa mulher
fazia com ele.

“Bom, você definitivamente parece melhor,” ele disse enquanto davam mais uma volta pelo ringue.
“Você parece mais animada. Você estava tão suada essa manhã, eu fiquei realmente preocupado.” Ele enrugou
a sobrancelha e perguntou. “Você se divertiu no mercado?”

Os olhos dela estavam fixos no percurso à frente dele, mas ele sentiu o corpo dela congelar contra o
seu. “Hein?”

“O mercado? Você e Phedre foram comprar joias, como você disse, certo? Eu sei que Hakim as levou
e as assistiu do mercado. Você gostou?”

“Eu não achei nada,” ela disse depois de uma longa pausa, “que fosse tão maravilhoso ou útil, eu
espero, como o meu amuleto de proteção contra o olho mal.”

Ele revirou os olhos. “É um pingente tão simples, não é verdadeiramente digno da minha rainha. Você
não gostaria de outra coisa? Minha mãe tem o mais lindo colar de diamantes no cofre.”

Os ombros de Amy caíram. “Significa o suficiente para mim que ele vai me proteger e trazer sorte à
nossa família.”
“Nossa família?”

“Sim, você sabe, você e eu, mas também, ah, minha irmã, Farzad, e Farid, e todo mundo, com a
chegada da guerra. Francamente, eu acho que nós vamos precisar de toda sorte que conseguirmos. Quem
diabos rejeita sorte?”

“Eu nunca tive superstições em alta conta,” ele disse, agarrando as rédeas com mais força. “Eu
sempre gostei de pensar que eu faço a minha própria sorte. Meu pai sempre dizia que fatalismo é inútil.”

“Então isso é estúpido. Eu não sou a Poliana, mas eu acredito que às vezes o destino – ou a sorte, ou o
universo, pode escolher seu eufemismo – pode estar cuidando de nós, também; nós podemos contar com
eles.”

Ele bufou e cutucou o pescoço dela com o nariz. “Agora, espoleta, só falta você me dizer que existem
anjos da guarda e santos, ou seja lá no que vocês cristãos acreditam, olhando por todos nós.”

“Coloque mais desprezo nessa frase,” ela disparou.

Ele puxou as rédeas e o cavalo parou. Agarrando os ombros dela, ele a girou para que ela o
encarasse. “Só existe a sorte que nós fazemos. Eu não caio nas vicissitudes de nada mais.”

“Então,” ela disse, seus olhos cor de safira soltando faíscas enquanto sua mão direita brincava com a
corrente do seu colar. “Você está sendo um babaca e um idiota teimoso. Que surpresa! Às vezes não tem
problema pedir um pouco de ajuda.”

“E eu não acredito num homem por trás da cortina. Aliás-” ele começou.

Então o cavalo soltou um guincho assustador e deu ré. O movimento imediatamente o jogou na areia.
Horrorizado, Dvar assistiu enquanto Amy girava e agarrava a crina com as mãos. Ela gritou, soltando um
guincho de furar os ouvidos, enquanto o cavalo disparava pelo percurso. Ele não foi longe antes de dar ré
mais uma vez e colapsar. Dessa vez ela foi lançada e bateu com força nas grades do circuito.

Ele começou a se levantar, mas parou instantaneamente ao ver as familiares e terríveis espirais de
escamas pretas e marrons. Era a víbora palestina, a mais mortal de todas as víboras da Jardânia, uma cobra
com veneno o suficiente para derrubar um cavalo de corrida em menos de um minuto. Respirando o mais
devagar possível e se movendo em passos curtos e leves, Dvar alcançou o coldre em seu quadril e pegou a
arma que carregava consigo, sua pistola de serviço preferida, do seu treinamento militar.

Em tempos de guerra e intriga, era tolice não andar com ela, e o xeique ficou tão aliviado de tê-la
agora.

Ele a puxou rapidamente e soltou a trava de segurança. A víbora cheirou o ar com a língua, tão
enrolada em si mesma que ele sabia o que aquela postura significava. Ela então deu o bote e ele mirou,
puxando o gatilho. O animal estourou com o choque da bala, e suas duas metades caíram na areia diante de
Dvar.

Passando rapidamente pela bagunça, ele correu para o acidente.

Ele olhou para Tornado e era óbvio que o cavalo estava morto. O peito do animal não se movia nem
um pouquinho, e seus olhos já estavam vidrados com o puxão da morte. As moscas, de alguma forma,
pareciam sentir isso, e vieram descendo do céu. Ele passou por isso tudo e se encaminhou para o seu amor.
Ela estava respirando, com inspirações lentas e superficiais, mas já era alguma coisa. Ele podia das
um jeito. Se ela tivesse se machucado tanto que tivesse morrido...

Não, ele nunca pensaria nisso.

Ele não tinha a menor vontade de viver com uma dor tão dilacerante, ser separado dela dessa
maneira.

Se ajoelhando, Dvar a pegou em seus braços. Havia um corte feio em sua têmpora direita. Sangue
jorrava abundantemente da ferida, se emaranhando no cabelo dela e marcando sua pele de porcelana.

“Espoleta! Você está bem?” ele pegou o braço dela e sentiu o pulso, fraco e entrecortado, e ele
imaginou que ela ainda estivesse em choque. Ele a sacudiu com mais força, desesperado para despertá-la. Ela
precisava recobrar a consciência. Se ela entrasse em choque completamente, ela talvez nunca saísse dele.
“Amy!”

Ela piscou para ele, claramente aturdida, e seus olhos azuis estavam obscurecidos pela confusão e
pelo medo. Foi o suficiente para fazer o coração dele bater com tanta força contra o peito que ele podia
imaginar seu esterno quebrando por causa da pressão crescendo dentro dele.

Ele esfregou a bochecha dela e ignorou a maneira como sua mão voltou coberta de sangue pegajoso.
“Amy, você consegue me ouvir?”

Ela gemeu e então seus olhos reviraram para trás.

Em pânico, ele a pegou em seus braços e rapidamente a carregou como uma noiva para o cocho.
Pingando água no rosto dela, pelo menos ele conseguiu limpar as pegajosas sardas vermelhas do rosto dela.
Depois de molhá-la algumas vezes, ela se sentou e cuspiu, seus olhos ainda fora de foco, mas ela parecia
mais acordada do que antes. Pelo menos, dessa vez, ela falou.

“Dvar? O que… minha cabeça dói tanto.”

“Eu sei, e eu vou te levar para os estábulos. Eles podem nos ajudar.”

“Estábulos? Eu não me lembro do que estávamos fazendo,” ela disse, procurando em volta
selvagemente com os olhos, virando a cabeça até ver o enorme corcel morto atrás dela. “Ai, meu Deus!”

“Não pense nisso,” ele disse, apertando-a com mais força. “Você está bem. Nós estamos bem, e
vamos te levar ao médico. Não foi uma queda tão feia.”

“Dói tanto, e eu estou preocupada com o bebê,” ela disse, explodindo em lágrimas e se enrolando no
ombro dele.

As mãos dele congelaram, e por um momento Dvar ficou chocado demais para processar o que estava
acontecendo.

Um bebê? Ela está grávida? Desde quando, caralho?

Ele empurrou a raiva e o choque para longe de sua mente, agarrou-a novamente e correu para os
estábulos. Sua xeica e seu filho precisavam de um médico. E precisavam agora.

***
Tudo era um borrão de luz, som e cor. Pelo menos, era o que Dvar sentia. O mundo era plano e agudo
ao mesmo tempo, e enquanto esperava sentado na ala privada do hospital, ele não conseguia pensar em nada
mais que em sua xeica e seu filho. Há quanto tempo ela estava grávida? Não podia ser muito. Afinal, não
dava pra perceber ainda e eles só se conheciam há sete semanas. Mas uma queda? Será que isso ia matar a
criança? Será que ia machucar Amy permanentemente? Será que ele conseguiria viver se eles perdessem a
criança?

Ele não tinha certeza.

Ele não tinha certeza de nada.

Afinal, como é que alguém podia ficar tão apegado a algo que sequer sabia que existia?

Normalmente, ele a teria abrigado em uma ala segura do palácio, mas ele não podia. As instalações
no hospital local, em Ahmud, eram de última geração, parte da Universidade de Pesquisa da Jardânia. Ele
queria que todos os especialistas disponíveis estivessem presentes para esse caso, e ele estava ao telefone na
maldita sala de espera contatando alguns dos melhores obstetras americanos, colocando-os em espera caso
Amy e o bebê precisassem deles também.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, um dos médicos saiu e tossiu para ele. “Meu
xeique, eu posso atualizá-lo com relação à situação de sua noiva.”

Ele olhou para cima e sua garganta estava seca como se a poeira do deserto a estivesse cobrindo
completamente. “O que está acontecendo?”

“Meu xeique, a queda resultou em uma concussão leve para a xeica. Nós aconselhamos que ela passe
a noite aqui, sob observação, mas tanto ela quanto o bebê ficarão bem. Nós apenas achamos que cavalgadas e
outras atividades extenuantes devem ser evitadas pelos próximos sete meses, mais ou menos.”

“Há quanto tempo ela está grávida?”

“Aproximadamente seis semanas. Parabéns, meu xeique,” o médico concluiu, fazendo uma reverência
eficiente. “Que a linhagem dos Yassin continue a crescer e prosperar com a nova vida crescendo dentro dela.
Agora, se você vier comigo, você poderá ver os dois.”

“Obrigado, doutor, e considere dobrado o seu orçamento para esse ano.”

“Meu xeique, é muita generosidade, mas nós apenas fizemos o que teríamos feito para qualquer
paciente.”

Ele assentiu ao ser conduzido para o quarto. “Então espero que vocês continuem fazendo.”

“Nós faremos. Agora, só alguns minutos – sua xeica precisa descansar e recuperar as forças,” o
médico disse, sorrindo para ele.

Dvar assentiu bruscamente e andou vagarosamente para a cadeira ao lado esquerdo de Amy.
Hesitante, com medo de que ela o estivesse rejeitando e de que fosse por isso que ela havia escondido a
gravidez, ele estendeu o braço e pegou a mão dela. Em sua ansiedade, ele tinha certeza de que estava
agarrando com mais força do que deveria, com mais força do que seria considerado educado. Ele só não
queria que ela fosse embora. Ele podia ordenar aquilo, é claro, e ela ficaria, mas ele queria que ela ficasse
por vontade própria.
Porque ela o amava, como ele amava ela.

“Precisamos conversar, espoleta.”

Ela suspirou e seus olhos estavam repletos de lágrimas; gotas frias e úmidas caindo do gelo de seus
orbes azuis. “Eu sei. Eu só descobri sobre o bebê essa tarde. Phedre e eu fomos a um médico depois que eu
vomitei e percebi que não tinha menstruado. Eu tinha pensado que era por causa da mudança de ambiente.”

“Mas você sabia quando fomos cavalgar essa tarde. Por que não me contou?”

Ela engoliu em seco e olhou para baixo, para suas mãos unidas. “Foi tão repentino, e eu não pensei
que a cavalgada fosse ser perigosa ou difícil. Como é que eu ia saber que cobras iam surgir do nada?”

“Você devia sabre que andar a cavalo e fetos não são compatíveis.”

“Eu só estava chocada. Eu não tinha certeza do que fazer ou do que eu queria.”

“A Jardânia não tem as mesmas regras que os Estados Unidos,” ele disse asperamente. “Nós não ‘nos
livramos’ de problemas sem mais nem menos.”

“Eu nunca faria isso!” ela gritou, seus olhos azuis agora queimando de raiva. “Eu só estava com medo
de te contar. Eu não quero que você nos rejeite.”

“Você será minha xeica em uma cerimônia em alguns meses. Por que eu rejeitaria vocês?”

“Porque eu não... eu sou só eu, e você sempre pode mudar de ideia.”

Ele balançou a cabeça e colocou a mão sobre a barriga dela, sobre a criança crescendo entre eles.
“Eu nunca te mandaria embora. Diabos, se você se lembra bem, eu viajei um mundo de distância para trazê-la
para o meu próprio mundo. Mesmo considerando o nosso primeiro fim de semana juntos, toda a paixão que
nós compartilhamos, eu nunca te quis tanto quanto agora. Eu não sei como você pode duvidar disso.”

Ela fungou e esfregou os olhos. “Eu agradeço por isso, mesmo. Eu sinto muito que escondi minha
gravidez, e eu não farei nada que coloque nossa criança em risco novamente. Ela é tão importante para mim
quanto para você.”

“Não parece, ainda.”

“Eu pensei que a cavalgada ia ser com uma égua velha e tranquila. Eu não achei que fosse ser
complicado.”

“Então eu agradeço a sua cautela, Amy,” ele disse, se inclinando e beijando-a longa e demoradamente,
e ele adorou o gosto da sua língua sobre a dela. Ela era voraz em seus beijos, gananciosa a faminta, e ele
gostou muito daquilo.

Ele só se preocupava que não fosse o suficiente, e aquela preocupação ainda o atormentava quando
ele saiu do quarto para dar à sua futura esposa e seu filho o descanso que eles tanto precisavam.
Capítulo Onze
Não havia nada mais reconfortante do que sentir os braços de sua irmã em volta dela. Amy relaxou no
abraço de Alexis. Elas se pareciam, de certa forma: tinham os mesmos traços acentuados e aquilinos, os
mesmos olhos cortantes, e o cabelo escuro. Amy tingia o seu num tom artificial de preto monocromático – ou,
mais precisamente, tinha tingido, até que Phedre e as extensões a tinham transformado. Agora as únicas
grandes diferenças entre Amy e sua irmã mais velha eram a estatura e a cor. Ela ainda estava pálida e
exaurida dos repetitivos invernos de Boston, enquanto sua irmã tinha se bronzeado graças aos muitos anos
vivendo sob o sol de Omai. Ela também era mais redonda, cheia de curvas macias por causa da gravidez de
seu filho, Farid, que agora estava fazendo um ano.

Falando no homenzinho em questão, seu sobrinho pulou na cama, apesar dos protestos de Alexis, e
sentou no colo de Amy. Aqueles enormes olhos verdes – aquela perturbadora cor de jade – deviam ser a
marca registrada da dinastia Yassin porque eles lembravam-na de Dvar.

Amy lutou contra as lágrimas. Ela tinha estragado tudo. Além de ter que competir com as outras
mulheres do harém, mais bonitas, ela agora tinha que superar o fato de que havia arruinado a confiança do seu
noivo.

Farid não falava ainda, ele era muito pequeno, mas ele choramingou um pouco e acariciou a bochecha
dela. Ela suspirou e beijou o topo da cabeça do sobrinho. Deus, em menos de oito meses ela teria seu próprio
filho – se era menino ou menina ninguém sabia ainda – e ela teria que cuidar dele. Jesus, sete semanas atrás
ela mal estava sobrevivendo como barista. Mesmo com os recursos do seu futuro marido, e Phedre, e as
outras mulheres em volta para ajudá-la, como ela poderia estar pronta?

“Amy, nós soubemos que o bebê está bem. Como está a sua cabeça?”

Ela suspirou e esfregou-a, sentindo as bandagens com pesar. “Ainda dói quando eu encosto e eu me
sinto tonta. No entanto, depois de passar a noite aqui, o médico tem certeza que não tem nada errado comigo.
Não há nenhum hematoma subdural ou qualquer coisa perigosa.”

Sua irmã suspirou de alívio e abraçou tanto ela quanto Farid. “Fico tão feliz. Você não faz ideia de
como eu estava preocupada. Farzad… todos nós entramos no avião o mais rápido possível e ainda assim
pareceu uma eternidade até chegar aqui. Eu não conseguiria descansar até ter você nos meus braços.”

“Para ver com os próprios olhos? Eu sou uma garota Monroe. Nós somos duronas.”

“Exatamente, e eu nem estou aqui para dizer ‘eu avisei.’”

“Sobre cavalgar e gravidez? Porque eu não contei isso pra você, mas eu provei definitivamente que
essa é uma péssima ideia, com certeza.”

“Não, eu quero dizer, você tinha muito a dizer quando eu engravidei durante o curso de direito.”

Ela suspirou. “Talvez esses xeiques Yassin realmente cheguem de fininho, você nunca sabe. Eu só... eu
tenho medo dele não se importar de verdade.”

“Por que você pensaria isso? Você devia ter ouvido ele no telefone com Farzad. Ele estava em pânico
que você e o bebê pudessem ter se machucado. Definitivamente, você é a única coisa na qual ele tem pensado
nos últimos dois dias.”

Ela assentiu e acariciou o cabelo lustroso e escuro do sobrinho. “Mas talvez ele só se importe porque
agora eu lhe dei um herdeiro. Talvez essa seja a única coisa que importa pra ele.”

“Por que você pensaria isso? Deus, eu vi os olhos de Dvar quando chegamos aqui. Ele estava
desolado e isso foi depois dele descobrir que vocês dois estavam bem. Eu acho que ele só estava preocupado
que algo terrível pudesse ter acontecido com você.”

“Bem, claro por que... eu simplesmente não sou uma menina de harém, tá bom? Você não entende. Tem
uma mulher aqui que mal é uma mulher, talvez dezenove anos, se tanto, e ela era a favorita de Dvar e ele não
prometeu que nunca vai visitar o harém. Agora eu vou ser uma bagunça gorda e grávida, e quão mais fácil não
vai ser para ele voltar para alguém mais jovem, núbil, e da própria cultura dele? Quero dizer, em comparação
com Kamala eu podia muito bem ser comida de cachorro.”

Os olhos de sua irmã se estreitaram. “Eu também me senti assim. Uma das mulheres do harém de
Farzad tentou seduzi-lo e eu fiquei com a impressão errada. Isso me custou uns bons meses solitários, grávida
e passando dificuldades em casa. Não valeu à pena. Se você está realmente preocupada com o harém, então
você precisa fazê-lo entender isso. Mas eu encontrei o Dvar mais de uma vez. Eu não necessariamente aprovo
o plano dele de roubar minha irmã.”

“Como se essa também não fosse uma marca registrada dos Yassin.”

“Verdade, mas ele não vai voltar para uma garota do harém. Se essa Kamala fosse tão ótima, então ela
seria a próxima xeica, e ele estaria feliz com o herdeiro que ela estaria carregando. Você não perde pra ela.”

“Eu sinto isso. Eu sou baixinha e pálida e tão comum, e ele ainda não prometeu que nunca mais vai
amar outra garota de harém. Eu não sei mais o que estou fazendo,” Amy disse, as lágrimas se formando em
seus olhos. Desde que ela havia descoberto que estava grávida, ela sentia que a única coisa que fazia era
chorar. Nem era por causa das mudanças hormonais. Era o medo de que sua família, que mal havia começado,
pudesse ser destruída tão facilmente pelas curvas matadoras e pelos olhos sedutoras de Kamala. “Eu nem sei
mais o que eu sinto.”

“Então você precisa conversar com ele e encontrar um pouco de paz nisso tudo porque ele te ama e eu
vejo isso, mesmo que você não veja,” sua irmã insistiu, beijando-a na bochecha.

***

“Você parece um morto-vivo,” Farzad disse, entregando uma xícara de chá pra ele.

Dvar pegou-a e tomou o líquido avidamente, apenas ligeiramente irritado quando algumas gotas
caíram em sua barba curta. “Obrigado, é o que trinta e seis horas sem dormir fazem com você. Eu também me
sinto como um morto-vivo, então essa é uma vantagem.”

“Então se prepare para se sentir pior ainda. O exército do Leban está se mobilizando na minha
fronteira e na sua. Na próxima semana, eles vão lanças uma guerra em duas frentes. Eu já tenho o
compromisso do primo Munir e do exército americano. Nós estamos preparando nossas próprias forças para
uma guerra em solo e logo será hora de atacar.”

“Então eu irei para as linhas de frente, mesmo com a minha noiva grávida. Entendi.”

“Você pode dar um pulo em casa, mas é hora de acabar com essa batalha de uma vez por todas. Eu
estou cansado da intriga e dos rebeldes. Estou cansado de tudo isso. Nós precisamos acorrentar esses
cachorros do Leban, eliminar cada um deles.”

“Eu concordo. Eu só... eu perdi meu pai para a guerra, e eu me preocupo. Eu não quero deixar meu
filho ou filha dessa maneira também.”

“Nós temos quatro nações poderosas enfrentando o Leban. Em alguns abençoados meses, isso tudo
terá terminado e nós teremos a vitória que precisamos tão desesperadamente.”

“Eu espero que sim, meu primo, e eu espero que o custo não seja alto demais,” ele disse, olhando para
o quarto onde sua querida espoleta estava, se recuperando e se consolando com sua irmã. “Essas são todas as
boas novas? Por favor, me diga que não há nada mais grave no horizonte do que uma guerra aberta.”

“Se pelo menos fosse só isso,” Farzad disse, se levantando e caminhando de um lado para o outro.

“O que?”

Ele suspirou. “Meus informantes, assim como a CIA, indicam que há um espião em sua própria casa,
primo, que alguém na sua equipe – um de seus melhores amigos – deve estar vazando informações para o
Leban.”

“Isso é impossível.”

Ele suspirou e levantou as mãos, as palmas abertas. “É de mau gosto atirar no mensageiro. Eu só quis
dizer que você deve ter cuidado e trabalhar com mais afinco. Tudo é possível, e você tem que se acostumar
com o fato de que há uma cobra no seu seio, alguém se escondendo no seu meio que quer prejudicar não
apenas a Jardânia, mas muito provavelmente sua família.”

“Então, mesmo parecendo impossível, eu vou começar a investigar isso,” ele disse, fechando os
punhos ao lado do corpo. “Nada vai machucar minha família. Nada.”

***

Seis meses e meio depois...

“Você tem que continuar comendo, espoleta,” ele disse, entregando a ela a salada fresca e o frango
que o médico havia recomendado.

Amy tinha desenvolvido diabetes gestacional e tinha de ser alimentada regularmente para não entrar
em hiperglicemia e para que o bebê não entrasse em coma por causa do excesso de açúcar no sangue. Eles
ainda não tinham perguntado pelo sexo. Ele queria muito saber, mas ela era tradicional e tinha insistido que
seria muito mais divertido se fosse uma surpresa. Mas não saber estava matando Dvar, e era também um
sentimento agridoce, de certa forma. Ele nem devia estar pensando nisso, mas ele estava extremamente
preocupado que a criança pudesse morrer. O bebê era grande demais e com certeza nasceria prematuramente
– talvez uma semana ou duas – graças à diabetes. Mas era mais que isso. Se ele perdesse sua criança, se os
pulmões dela não funcionassem por causa da doença, se qualquer coisa desse errado... Bom, Dvar só queria
saber o maldito sexo de uma vez.

Amy mastigou seu filé de frango fracamente e até mordeu a maçã que tinha sido dada a ela. “Eu sei,
mas é tão difícil...”

Ele se inclinou e beijou a testa dela enquanto afastava o cabelo da sua pele suada. “Eu sei, mas quanto
mais você comer, melhor você vai ficar – é pelo bem do bebê e pelo seu. Só falta mais um mês e o Dr. Rashid
tem certeza que você vai aguentar.”

Sua esposa fez uma carranca e se voltou para a comida. Fazê-la comer era sempre uma luta. Se ele
estivesse num clima mais brincalhão, ele teria chamado aquilo de “a luta eterna”, mas ele nunca brincava,
hoje em dia. Ainda assim, ela tentava muito, independentemente de quão doente ou exausta estivesse. É só que
o cabelo de sua espoleta estava murcho e sem graça, seus olhos sempre pesados de sono, e sua respiração
entrecortada. Com frequência, ela também ficava tonta. Era uma luta montanha acima, mas ela havia lutado
como uma leoa por mais de seis meses. Ele sabia que ela aguentava continuar, ou, pelo menos, ele esperava
que ela aguentasse.

Ela finalmente terminou a salada, mesmo que houvesse mais folhas verdes no prato do que ele
gostaria. “Viu, eu comi tudo, como prometido.”

“Quase. Você sabe que eu tenho que ir embora daqui a alguns dias, de volta para o front. E eu não
quero.”

Ela pegou a mão dele e colocou-a sobre sua barriga, que mesmo agora não estava nem de perto tão
redonda quanto ele gostaria, não com a doença dela e sua dificuldade em se alimentar. “Nós não nos
importamos. Nós sabemos que você é necessário.”

“Meu pai também era,” ele disse, apertando o maxilar.

Ela suspirou e beijou-o de forma casta. Ele sentia falta dessa parte do relacionamento deles. Agora
eram apenas suaves beijos roubados e longas noites apenas abraçando-a, esperando que ela continuasse
respirando até o alvorecer. Ele sentia falta da avidez física de seus primeiros dias, mas não o suficiente para
voltar para o harém. Essa mulher, a única que ele amava, estava fazendo tanto para trazer o filho deles para o
mundo. Como ele poderia não amá-la por isso? Nenhuma criança como Kamala ou qualquer outra mulher do
harém poderia sequer sonhar em se comparar a isso.

“Você não é o seu pai. Você vai voltar para casa, para nós. Eu tenho toda a fé do mundo em você,” ela
disse, seu tom de voz calmo e claro.

“Você acha isso, mas toda vez que eu estou lá, eu só quero estar aqui. Eu preciso acabar com aqueles
bastardos do Leban ao leste, mas eu só quero abraçar minha esposa e meu filho, como estou fazendo agora,”
ele disse, apertando-a com força em seus braços para reforçar seu argumento. “Eu voltarei o mais rápido que
puder, amor, e depois disso eu não vou embora até ele ou ela chegar.”

“Parece ótimo,” ela respondeu, chiando um pouco e mordendo o lábio inferior.

“O que foi?” ele perguntou, bem familiarizado com os humores e as expressões de sua espoleta depois
de tantos meses.

“Nada.”

“Tem alguma coisa sim. Eu vou perguntar a Phedre. Ela é mais honesta que você.”

“Você quer dizer,” Amy replicou, apertando os lábios, “que ela está mais disposta a te contar tudo.”

“Minha espiã mais leal... Então, porque você está chateada? É porque Kamala entrou aqui atrás de
Phedre como um maldito cachorrinho?”
Amy balançou a cabeça muito forçadamente para parecer sincera. “Não, de forma alguma.”

“Eu acho que é.”

“Tá bom, eu fico cansada com o ar mandão que ela joga pra cima de mim. Às vezes, mesmo com tudo
que nós passamos, eu tenho medo de você me mandar embora ou me manter como uma reprodutora, e apenas
amar as meninas do harém. Elas são mais bonitas e são do Oriente Médio e sabem tudo da sua cultura, e eu
estou tendo dificuldades de aprender tudo como se estivesse na escola.”

Ele suspirou. “Você é a mãe do meu filho.”

“Mas eu sou mais que isso. Eu te amo, e eu espero que você me ame também depois de tanto tempo
juntos, mas eu tenho medo de estar errada.”

Dvar deu uma risadinha e continuou rindo com mais força quando ela deu um soco fraco no ombro
dele. “Não, continue fazendo isso.”

“Eu estou abrindo minha alma e todas as minhas inseguranças para você, e você está rindo?”

“Estou rindo porque é ridículo. Eu nunca te deixaria, e, francamente, agora que eu descobri que
Kamala está te incomodando tanto, eu vou mandá-la de volta para as terras dos beduínos. Ela não cabe aqui.”
Ele se inclinou e beijou-a, deixando sua língua dançar e massagear a dela. “Ela nunca vai caber aqui. A única
mulher que eu quero é você.”

“Mas por causa do bebê-”

“Eu sempre quis você,” ele enfatizou, beijando-a novamente. “Agora descanse para poder comer a
próxima rodada. Você sabe que o Dr. Rashid te colocou num cronograma rígido.”

“Eu sei. Se eu perder, pode ser um desastre para o açúcar dele e o meu,” ela disse, agarrando a
barriga. “Eu farei qualquer coisa para protegê-lo, eu prometo.”

“E é por isso que eu te amo,” ele disse, saindo do quarto e indo de encontro ao Dr. Rashid, que o
esperava.

Ele era um homem jovem, só um pouco mais velho que Dvar, mas era também um prodígio. Ele tinha
entrado na universidade aos dezenove anos e trabalhava em Londres como um dos melhores especialistas em
cuidado neonatal intensivo e gravidez de risco. Ele tinha sido trazido especificamente para atender a xeica
vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, desde que o diagnóstico de diabetes tinha aparecido no
terceiro mês de gravidez. Ele tinha descendência muçulmana, mas tinha sido criado por uma mãe britânica,
então ele mantinha o rosto completamente barbeado, o que o fazia parecer ainda mais jovem.

“Como ela está realmente?” ele perguntou.

“Meu xeique, o bebê está tão grande que espero que ela entre em trabalho de parto a qualquer minuto,
mesmo com um mês de antecedência. Você precisa atrasar sua visita às linhas de frente.”

“Considere feito. E os pulmões do bebê?”

“Serão bons o suficiente. Ele ou ela talvez precisará de tubos e de uma incubadora pelo primeiro mês
ou dois de vida, mas tudo dará certo. Apenas não a deixe.”
Ele olhou para o quarto de sua xeica. “Acredite em mim, nada me faria deixá-la.”

***

Ela acordou com o sol do final da tarde infiltrando pelas grossas cortinas atrás dela. Piscando ao
acordar, ela viu Hakim, facilmente distinguível por seu cabelo grisalho e sua altura, segurando uma bandeja
carregada de frutas e verduras, assim como salmão fresco para o jantar.

“Não precisava. Eu tenho certeza que Phedre podia ter feito isso.”

“Minha xeica, é claro que eu preciso.”

Ela franziu a sobrancelha, mas se sentou da melhor maneira possível. “Não tem problema, e eu
imagino que você tenha que examinar um monte de informações e reuniões e planos para a linha de frente.”

Ele assentiu, mas puxou um pano e ela franziu a sobrancelha. Não era o estilo dele, andar por aí
carregando lenços. “Eu tenho uma missão mais urgente, Amy.”

Ela piscou. Ele nunca tinha chamado ela disso antes. Tinha sido “Srta. Monroe” até o casamento, e
agora era sempre em deferência ao seu título de xeica. “O que está acontecendo?”

“É só que o general do Leban quer conhecê-la,” ele bufou, colocando uma mão sobre a boca dela
antes que ela pudesse gritar e enfiando o pano sobre seu rosto. Ela sentiu um cheiro cortante e enjoativo que
queimou seu nariz.

Depois nada além de escuridão.


Capítulo Doze
“Ah, Xeica Yassin, é um prazer conhecer você.”

A voz que assaltou seus ouvidos era dura e fria; como algo revestindo tudo em sua mente turva. Amy
se sentou da melhor maneira possível, mas sibilou quando amarras morderam seus braços, algemas que a
mantinham presa nas armações de ferro da cama, e com os braços e pernas abertos – mas vestida, graças a
Deus. Sua garganta estava seca e sua visão nadava. Ela não tinha certeza de quando havia comido pela última
vez e aquilo a assustava. Se ela não comesse, a hiperglicemia a dominaria. Pior ainda, seu bebê poderia
entrar em coma por estar com níveis inapropriados de açúcar no sangue.

“Quem é você?”

“Eu sou o general das forças do Leban. Seu marido e os primos dele estão dizimando meus homens e
nós estamos perdendo; eu posso ver a maré virando, a não ser que eu jogue uma boa mão.”

“Eu não… o que?” ela piscou. “A última coisa que eu me lembro é do Hakim entrando com a comida
e com clorofórmio, e o que diabos está acontecendo?”

“Hakim tem sido um agente duplo muito leal. Eu não queria recorrer a isso,” ele disse, acariciando
uma barba espessa e imunda que estava emaranhada de poeira. “Mas recorri. Seu marido tem uma escolha.
Ele pode se render ao Leban e recuperar a esposa e o filho, ou ele pode receber a sua cabeça numa caixa.”

“Você não pode fazer isso! Eu não importo, mas nossa criança sim. Por favor, eu tenho diabetes e se
eu não comer, o bebê vai morrer de qualquer forma.”

“Então,” ele disse, seus dentes amarelos brilhando na luz, “vamos esperar, xeica, que seu marido
responda rápido,” ele disse, batendo a porta do quarto atrás de si, e ela já podia ouvir o clique da fechadura.

Ela se inclinou contra a cabeceira e usou todas as suas forças para tentar escapar, quase arrancando os
ombros das articulações com seus esforços. Nada aconteceu. Gemendo, ela relaxou de volta no colchão.
Desse jeito ela não podia nem alcançar seu filho, não podia nem reconfortá-lo.

“Seu pai virá, meu bem. Você vai ver,” e ela tentou ignorar o tom oco e fraco de sua voz. Sim, Dvar
viria, mas será que seria tarde demais?”

***

“Onde ela está?” ele exigiu, correndo pela extensão da sua sala de guerra até Hakim.

Ele tinha chegado uma hora antes para alimentar sua amada e ela tinha sumido. Ele também havia
encontrado Phedre desacordada no corredor. Ela disse que Hakim havia feito aquilo, que ele tinha empurrado
a rainha para seus subordinados e ela não tinha a menor ideia de onde Amy estava agora.

Agora ele tinha as lapelas do robe de Hakim entre suas mãos e estava pressionando o outro homem
com força contra a parede de mármore do palácio. Algo estalou e ele deu um sorriso largo, um sorriso feral,
feliz com a dor. Ele estava sofrendo, então Hakim, o traidor, precisava sofrer também.

“Onde está a minha esposa?”


Hakim, alguém que ele tinha acreditado ser um amigo confiável, rosnou para ele. A expressão era tão
estranha no rosto de seu assim chamado velho amigo que ele mal a reconheceu. “Eu passei todos esses anos
sendo o ‘motoboy’ de uma criança fraca, alguém que só trouxe vergonha para seu pai. Você pode fazer o que
ele teria feito e salvar seu país, ser um herói, ou você pode trocar a Jardânia, entregá-la para controle total do
Leban. Você quer aquela vadia americana ou você quer o seu povo?”

“O que?”

“O general Hassad está com ela, e ele vai deixá-la passando fome até você se render a ele. Então faça
sua escolha.”

Ele examinou o outro homem, aquele que ele tinha visto como uma figura paterna desde que seu
próprio pai havia perecido nessas guerras intermináveis. Fechando o punho, ele deu um soco forte em Hakim,
curtindo o estalo do osso ao quebrar o nariz do traidor. Seu punho voltou salpicado de sangue. “Minha
escolha é minha família. Agora, vamos ao Hassad. Ele vai se arrepender de tudo isso.”

Talvez não fosse a escolha que seu pai faria, tentar salvar sua família, mas era o que importava para
ele, caramba, e ele não ia perdê-los agora. Puxando seu telefone, ele ligou para os dois primos e soltou uma
rápida série de ordens. Eles iam levar a briga para o Leban e acabar com essa guerra e com esse tumulto de
uma vez por todas.

***

Ele entrou facilmente pelas portas do palácio de Hassad. Seus homens e seus primos estavam
enfrentando o exército, até as forças armadas dos Estados Unidos estavam com eles. Ele se sentia como um
caubói daqueles filmes de bangue-bangue que seu pai tanto gostava. Havia guardas perseguindo-o, mas pegar
sua pistola nove milímetros e atirar nos lacaios foi um trabalho rápido. Correndo pelas escadas do palácio,
ele procurou pelo quarto mais bem vigiado e encontrou-o rapidamente. Havia dez homens em volta.

Ele se escondeu atrás de uma pilastra e jogou uma granada, contando até dez até que ela explodisse e
espalhasse a guarda por toda parte. Dvar passou por cima dos pedaços de corpos e entrou correndo no
quarto. Ele teve vontade de vomitar ao ver Amy, pálida e abatida, desmaiada na cama. Ela estava respirando,
mas lenta e irregularmente. Pairando sobre ele estava Hassad, com sua barba emaranhada e um cigarro entre
os dentes.

“Ora, ora, Dvar, você é um tolo. Eu pensei que você se encontraria comigo diplomaticamente, cederia
às minhas demandas. Ao seu redor, seus homens estão morrendo e as vidas de seus primos estão em risco.
Você acha que pode ter sua rainha de volta? Já se passaram dois dias e eu não a alimentei, nem sequer lhe dei
água. Você acha que seu fedelho sequer está vivo?”

“Solte-a, Hassad. Abra as algemas e eu te levarei a julgamento.”

“Eu acho que não,” Hassad disse, sua mão direita se aproximando da pistola em seu quadril.

Dvar foi mais rápido, deixando sua arma ressoar com um tiro retumbante que ecoou pelo quarto. O
buraco era estranhamente limpo, atravessando o torso do general, e uma bagunça sangrenta já se espalhava
por seu robe branco e seu peito. Ele começou a gorgolejar sangue e caiu de joelhos.

Dvar correu para a cama, e só se permitiu tempo o suficiente para chutar o general agilmente nas
costelas, apressando sua jornada para o inferno. Era mais do que satisfatório vê-lo desmoronar no chão e
nunca mais se mexer. Estendendo a mão, ele acariciou o rosto de sua amada.
“Amy, por favor, estou aqui.”

Ela piscou para ele e falou com um sussurro, chiando pesadamente. “O bebê, eu não sinto mais os
chutes... estou com tanto medo.”

Ele assentiu e beijou-a. “Não se preocupe, amor, ele está salvo agora. Eu prometo.”

E isso foi tudo que ele teve tempo de dizer antes que ela desmaiasse novamente, e ele começou a
procurar a chave.

***

Quando ela acordou, estava gritando.

A dor dos últimos dias era demais. Amy se sentou ereta, radiante que as visões de seu marido
salvando-a não tinham sido apenas alucinações. Ela olhou para baixo e encarou sua barriga reta.

O que diabos...

Em pânico, ela passou a mão no abdômen e estremeceu. Ela não sentiu nada. Estava lisa e muito
menor do que ela lembrava. Ela não conseguia sentir seu bebê chutando ou se movendo. Ele tinha morrido?
Pelo amor de Deus, o que estava acontecendo?

Ela ficou de pé, se sentindo vacilar, mas persistiu mesmo quando foi assaltada por uma vertigem. Ao
chegar à porta do quarto, tanto Dvar quanto Phedre correram até ela. Cada um a segurou por baixo de um dos
braços, apoiando-a e mantendo-a ereta.

“Onde está o bebê? Eu... ele morreu?”

Phedre riu. “Não, está tudo bem. Você estava tão doente que logo que voltou para o palácio o Dr.
Rashid te anestesiou e fez uma cesariana de emergência. Você esteve apagada por alguns dias desde então,
mas o bebê está na ala especial, numa incubadora. Os pulmões estão bem, mas ele precisa de descanso e
comida.”

“O que... o coma doeu?” ela perguntou.

Phedre então a entregou completamente para Dvar e ela relaxou no abraço do marido. “Eu acho que
você precisa ver esse milagre por si mesma, minha xeica.”

Ela olhou para Dvar, para aqueles olhos de jade que pareciam dominar o mundo inteiro e o coração
dela. “O bebê está bem?”

“Nosso filho, Hamzah, está bem. Nosso leãozinho é forte. Ele não entrou em coma, e ele só precisa de
mais alguns dias como prematuro, mas ele está bem. Forte como a mãe dele.”

Lágrimas subiram aos seus olhos e ela beijou Dvar, curtindo o gosto dele e o almíscar que era tanto
dele quanto do seu perfume caro. O cárcere com o general tinha parecido eterno, mesmo que tivessem sido
apenas alguns dias de pânico. Agora eles estavam seguros, e estavam juntos.

Tudo o mais era pequeno e sem importância. Eles tinham um ao outro.

Ao entrarem no berçário, ela começou a chorar abertamente, radiante ao ver seu pequeno e lindo
filho, o cabelo escuro já espesso em sua cabecinha. Estendendo a mão, ela o acariciou através das janelas da
incubadora, ao mesmo tempo se inclinando contra o marido. “Ele é perfeito.”

“Ele é.”

“E eu o amo.”

Dvar suspirou e beijou-a. Era um beijo que prometia muito mais por vir à noite, muito mais coisas que
fariam seus olhos revirarem e a deixariam sem fôlego. “E eu amo vocês dois, minha xeica. Bem vinda ao lar.”
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A Noiva do Sheik

De Sophia Lynn e Jessica Brooke

Todos os direitos reservados.


Copyright 2015-2016 Sophia Lynn
Capítulo Um
Alice Winter recostou a cabeça na borda da banheira de porcelana e tentou apreciar o fato de que seus
músculos doloridos estavam mergulhados em água aromatizada com jasmins. Além disso, em apenas algumas
horas, estaria ao lado da sua melhor amiga do mundo, que se casaria com um homem que, ao que parecia, era
um dos solteirões mais cobiçados do planeta. Mas era um pouco difícil relaxar, quando uma mulher esfregava
vigorosamente seu cabelo, outra esfoliava seu rosto e uma terceira preparava suas unhas para a manicure.

De acordo com Sheridan, esta era uma tradição: as madrinhas não faziam parte necessariamente dos
casamentos islâmicos, mas a noiva era sempre banhada, paparicada e embelezada dessa forma antes da
cerimônia – por isso Alice estava recebendo um tratamento similar.

“Você tem certeza de que não sou eu que estou me casando?”, perguntou Alice, um pouco irritada.

A gargalhada alta de Sheridan ecoou do outro quarto. “Tenho certeza. Afinal, sou eu que estou com o
anel de noivado.”

“Humpf.” Alice teria dito mais, mas a mulher que esfregava seu couro cabeludo fez um gesto para que
afundasse a cabeça. Suspirando, Alice mergulhou mais um pouco na banheira e depois inclinou a cabeça, para
que a raiz do cabelo ficasse totalmente submersa. Os dedos longos da mulher deslizaram pelas madeixas
vermelhas de Alice, enxaguando o shampoo, e depois a puxaram de volta para cima, para que pudesse
começar a condicioná-las.

Alice suspirou novamente.

Eventualmente, foi libertada das garras das Três Fúrias, como as chamava – qualquer tentativa de
movimento não autorizado era seguida de uma repreensão feroz. Por libertada queria dizer que as senhoras
haviam se afastado por tempo suficiente para que ela escapasse do confinamento da banheira. Ela então foi
imediatamente seca e coberta com um robe branco macio, seu cabelo envolvido em uma toalha de microfibra
aromatizada, para que secasse mais rápido.

Pelo menos não seria preciso fazer muito em relação a isso. O seu corte estilo bob, com a parte da
frente mais longa, não permitia que se fizessem muitos penteados, além de alisá-lo ou colocar gel e deixar os
cachos bagunçados. Alice já tinha optado pelo look alisado. Dubai era mais avançada que a maioria das
cidades do Oriente Médio, mas ainda era muito conservadora, e ela precisava estar de acordo. O estilo do
seu cabelo já chamava mais atenção do que o da maioria, com seus cachos vermelho-fogo e um corte curto,
ousado.

As Fúrias a apressaram para dentro do quarto, onde Sheridan estava sentada em frente à penteadeira,
já vestida em uma ghaagra chamativa. A volumosa saia de pregas se arrastava pelo chão e cobria seus pés, e
a blusa longa do conjunto era detalhadamente bordada em ouro. Sua maquiagem já estava pronta, seus lábidos
pintados em um vermelho forte, e seus olhos marcados com kajal.

“Uau”, provocou Alice, conforme assistia a uma das assistentes deslizar uma gargantilha pesada de
ouro em torno do pescoço de Sheridan, para se unir à grande variedade de outras peças penduradas em seus
pulsos e colo. “Você está carregando ouro suficiente para o resgate de um rei”.

“Na verdade, é meu dote”, disse Sheridan, colocando a língua para fora. “Não posso entrar nesse
casamento sem nada, sabe?”
Alice riu. “Ah, sim. Porque você estaria totalmente desprovida, se não fosse a generosidade do
xeique”. Ambas sabiam que aquilo era absurdo. Sheridan tinha vindo de uma família rica e, por si só, havia
ganhado milhões de dólares no mercado imobiliário, antes de decidir vender sua empresa e ficar ao lado de
Kalid, como sua rainha.

Alice se perguntou se um dia encontraria alguém que a amasse tanto, que ela estivesse disposta a
abandonar sua carreira dessa forma. Já havia passado um longo tempo procurando, mas ainda estava por
encontrar um homem que amasse mais do que amava a moda... Ou melhor, que valesse todo esse amor. Em sua
maioria, não eram bons o suficiente para mais do que uma noite.

Uma das assistentes puxou a manga do seu robe, levando-a para longe de Sheridan. Elas soltaram as
volumosas dobras do sári de Alice em torno do seu corpo – um sári verde escuro, bordado em prateado – e
enrolaram e prenderam até que ela estivesse devidamente coberta.

Quando Alice se virou para se olhar no espelho, teve de admitir que o sári ficava realmente muito
bom nela. Se não fosse pela pouca praticidade das dobras de tecido balançando em volta e caindo sobre o
seu ombro, consideraria vesti-lo novamente. Mas, de forma geral, preferia os vestidos mais justos e mais
curtos que permitiam que tivesse mais movimento.

Você sabe que os sáris de todo dia são mais práticos do que isso.

Era verdade. Ela já havia visto programas de moda suficientes para saber que o que vestia agora era
algo cerimonial, e não para uso diário. Um sári normal provavelmente teria muito menos tecido para se
preocupar.

Por que estou pensando sobre isso? Não vou me mudar para cá ou algo assim.

Alice balançou a cabeça e as mulheres a levaram para a segunda penteadeira – montada somente para
a ocasião – para que pudessem começar a fazer sua maquiagem. Ela estava começando a se envolver no
momento. Estaria de volta aos Estados Unidos pouco depois disso, de volta à vida corrida, frenética, da
indústria da moda de Nova York, onde não havia lugar para sáris ou celebrações de casamentos com duração
de três dias. Nada disso.

Porém, os homens aqui eram surpreendentemente bonitos, ela concluía enquanto olhava para a frente e
permitia que as mulheres aplicassem pó sobre sua pele. Ontem, na cerimônia Mehendi – que era,
basicamente, um chá de panela e parte da tradicional festa de casamento muçulmana de três dias – ela havia
conhecido Karim, o irmão do Xeique Kalid. O coração de Alice bateu um pouco mais rápido quando se
lembrou de seu sorriso aberto e da forma como seus olhos cor de âmbar se iluminaram quando se apresentou
a ela. Ela não havia passado muito tempo em sua companhia, mas ele era bonito e charmoso, o que era um
bom começo. Se não fosse pelo fato de Sheridan lhe ter revelado que era noivo, talvez tivesse flertado com
ele. Mas ficava longe de homens casados e comprometidos. Adorava um desafio, assim como todo mundo,
mas não estava procurando por drama. Já tinha visto muitos relacionamentos serem destruídos pela
infidelidade e considerando quão rígidas eram as leis islâmicas, não ficaria surpresa se ter um caso com um
príncipe do Dubai a fizesse ter sua cabeça cortada ou algo assim.

“Tudo bem”, disse uma das mulheres, com um sotaque carregado. “Você está pronta.”

Alice piscou e se encarou no espelho. Elas haviam maquiado suas pálpebras com um bronze cintilante
e delineado seus olhos com kajal, e aplicado uma leve camada de blush sobre suas acentuadas maçãs do
rosto. A base suavizava sua pele pálida, e o toque dramático de vermelho nos seus lábios era incrivelmente
parecido com o de Sheridan.
Sorrindo, ela se virou para a melhor amiga. “O que você acha?”

“Maravilhoso”, declarou Sheridan, levantando-se. As dobras volumosas da saia dançavam em torno


dela conforme se mexia, e as franjas douradas na sua cintura tilintavam alegremente. “Acho que estamos
praticamente prontas, não?”

“Ainda não”, advertiu uma das mulheres. “Você ainda precisa da sua dupatta.”

Elas trouxeram um enorme pedaço de tecido vermelho e dourado, que era tão longo que poderia ser
facilmente transformado em um vestido. As mulheres cuidadosamente vestiram o tecido sobre Sheridan, para
que ficasse no topo da sua cabeça e fluísse em volta do corpo, de forma a demonstrar modéstia, ao mesmo
tempo em que não cobrisse o cabelo ou a face, ou escondesse a riqueza das joias que vestia.

“Uau”, murmurou Alice, enquanto olhava para Sheridan. Ela não sabia se era por causa da dupatta,
que se parecia tanto com um véu de noiva, mas de repente ela se deu conta, como que pela primeira vez, que
sua melhor amiga estava se casando. Lágrimas caíram dos cantos dos seus olhos e ela piscou, com força.
“Isso realmente está acontecendo.”

“Está.” Lágrimas brilharam nos olhos azuis de Sheridan, e algumas escorreram pela lateral de suas
bochechas. “Realmente está.”

“Sem chorar!”, pediu uma das mulheres, apressando-se com um guardanapo, para secar as lágrimas.
“Precisarei refazer sua maquiagem!”

“É verdade”, lembrou Alice, como se ela mesma não tivesse chorado. “E você não quer se atrasar
para o casamento, quer?”

“Não”, Sheridan fungou, depois ajeitou os ombros, com um olhar determinado em seu rosto. “Não
deixarei que algumas lágrimas me atrasem. Vamos nos casar hoje, não importa o que aconteça.”

“Assim é que se fala.”

***

Karim conferiu seu relógio uma última vez antes de sair de seus aposentos, para se dirigir ao jardim
para o Nikah – o segundo dia do casamento e o dia em que a cerimônia de fato aconteceria. O dia em que seu
irmão e sua noiva seriam unidos, transformando-se em uma só pessoa.

Os nervos pulsavam pelas suas veias conforme ele percorria o labirinto de corredores do palácio. Era
quase como se fosse ele que fosse se casar – mas não era. Sua noiva não tinha nem conseguido ir ao
casamento, então ele não poderia se casar hoje, mesmo se quisesse.

Não, este dia era para seu irmão, para sua felicidade e o “felizes para sempre”, que já tinha passado
da hora.

O murmúrio de vozes o levou a um pequeno aposento, que saía diretamente do corredor principal,
onde os convidados aguardavam nas alas laterais pelo início da cerimônia. Karim respirou e entrou no
aposento, encontrando Kahlid, que já estava lá, juntamente com o pai de Sheridan e sua melhor amiga, Alice
Winter.

Sua respiração parou quando Alice se virou para olhar para ele; seu cabelo vermelho deslumbrante
balançando em torno de seu rosto anguloso. Seus olhos verdes-garrafa se iluminaram quando o viram. Ela
vestia um sári verde escuro, fluido, que acentuava suas curvas elegantes e fazia seu coração bater muito mais
rápido do que tinha direito.

“Olá, Karim.” Ela sorriu, seus ousados lábios vermelhos se curvando nos cantos.

“Aí está você!”, exclamou Kahlid, quebrando o encanto antes de Karim ter a oportunidade de
responder. “Bem na hora também”, acrescentou, conforme a música começava a tocar lá fora.

Para fora da grande janela, filas de cadeiras haviam sido arrumadas por todo o gramado do jardim, e
o caminho entre elas levava a um arco branco rendado. Karim logo iria estar perto de Kahlid embaixo
daquele arco, ao seu lado, quando seu irmão oficialmente desse seus votos à mulher que amava.

“Imagino que deva ir buscar a noiva”, disse o pai de Sheridan, Daniel Hawkins. Ele era um homem
mais velho e robusto, com uma coroa de cabelo grosso, loiro acinzentado. Como Karim e Kahlid, ele vestia
um herwani e salwar, ao invés de um terno ocidental tradicional.

“E você precisa ir para fora”, disse Alice a Kahlid. “Você não quer que a sua noiva saia e descubra
que o noivo dela não está no altar, quer?”

“De jeito nenhum”, Kahlid riu e se apressou para fora, beijando amigavelmente o rosto de Alice,
depois dirigiu seu olhar obscuro em direção ao seu irmão. “Encontro você lá fora.”

“Claro”, Karim sorriu, de forma encorajadora. “Eu não perderia isso por nada neste mundo.”

Kahlid desapareceu no jardim e Karim o assistiu, conforme ele caminhava pelo corredor coberto de
pétalas de rosa, em direção ao altar. As fileiras de cadeiras estavam lotadas de convidados do mundo todo:
dignitários dos países do entorno, inclusive dos Emirados, assim como amigos e familiares.

A maioria dessas pessoas também viria, um dia, do mundo todo para assistir ao seu casamento.

“Acho que esta é a nossa deixa”, murmurou Alice, assustando Karim. Ele olhou para baixo, vendo-a
ao lado de seu ombro, também olhando para o jardim. Daí percebeu que a música tinha mudado para a
próxima estrofe, o que significava que era a hora de se dirigirem ao corredor.

“Sim, acho que você está certa”, disse Karim, com um sorriso. Ele ofereceu seu braço e Alice
aceitou, virando o pulso para colocar a palma da mão na parte interna do braço dele. Seu tríceps pressionou a
lateral de Karim e o coração dele pulou novamente.

Karim se perguntou se aquilo aconteceria se sua noiva estivesse lá.

Desviando-se desses pensamentos, guiou Alice para fora do cômodo e pelo corredor, até onde Karim
os aguardava. Ele sentiu os olhos da plateia sobre eles, especialmente sobre Alice. Olhos masculinos
passeando pelo seu vestido. Em resposta, ele a segurou de forma um pouco mais protetora ao seu lado. A
curva do quadril dela roçou em Karim, mas ele manteve os olhos fixamente firmes sobre seu irmão, ignorando
o impulso de olhar na direção dela.

Finalmente chegaram ao arco, e Karim soltou Alice, com um leve sinal de alívio. Ele se uniu ao irmão
de um lado, conforme Alice ia para seu lugar do outro, e todos se viraram em direção à entrada, para ver
Daniel Hawkins guiar gentilmente Sheridan através das portas para encontrar seu futuro marido. A respiração
presa de Kahlid fez surgir um sorriso dos lábios de Karim – ele estava, assim como deveria, atordoado pela
beleza de sua noiva. Ela estava deslumbrante em seus trajes de noiva, com a ghaagra e dupatta, e seus olhos
azuis brilhavam com o brilho que somente o amor e a felicidade poderiam inspirar, conforme ela se
aproximava de Kahlid.

Um dia, pensou Karim, enquanto tocava o anel em seu bolso, que logo estaria no dedo de Sheridan.
Um dia ele também estará casado e também será feliz para sempre.
Capítulo Dos
“Karim, está tudo bem com você?”

Karim disse um palavrão quando a bola de tênis passou quicando e ele se virou com o calcanhar para
ir atrás dela. Estava na quadra de tênis com Kahlid de manhã, com era sua tradição. Sempre que estavam em
casa, começavam a manhã com uma partida de tênis amistosa, tanto para fazer o sangue se movimentar, quanto
para passar um pouco de tempo juntos, antes de o dia começar.

“Estou bem”, resmungou Karim, enquanto corria atrás da bola. Ele voltou para a quadra, depois jogou
a bola para o ar e a sacou para Kahlid.

Kahlid, sem esforço nenhum, a devolveu com um backswing gracioso, e Karim se dirigiu ao fundo
para pegá-la, antes que passasse por cima de sua cabeça. Mas calculou mal, inclinando-se muito para trás.
Apesar de ter batido na bola com a extremidade traseira da raquete, perdeu o equilíbrio, caindo no cimento
verde, fazendo o barulho de uma forte pancada.

“Ok. Acabou.” Franzindo a testa, Kahlid colocou de lado sua raquete e se aproximou. A bola quicou
para longe, atrás de Kahlid, esquecida, enquanto ele esticava a mão para o irmão. “Não o vejo tão desastrado
na quadra desde que tínhamos quatorze anos. O que está acontecendo com você?”

Karim suspirou ao segurar a mão do irmão e deixá-lo ajudar a ficar de pé. “É que... Azira disse que
não conseguiria vir hoje. O seu trabalho como modelo na China foi estendido.”

“Entendo”, Kahlid olhou para ele atentamente. “E isso o está chateando?”

Karim suspirou. “Acho que não deveria. Eu sabia que, como modelo, ela teria compromissos que
criariam conflitos de agenda entre nós. Mas se ela não poderia estar aqui para o casamento, eu pelo menos
esperava que chegasse para o Valima. É que... Tenho medo de que esse tipo de coisa seja visto como uma
afronta para a nossa família.”

“Eu não me preocuparia tanto com o que o público pensa”, disse Kahlid. “O que realmente importa é
o que você pensa.”

Karim ficou sério. “Eu acho que ela é saudável, bonita e um bom par. E essas são as coisas que mais
importam quando escolhemos uma esposa.”

“É verdade”, Kahlid inclinou a cabeça, escolhendo não se envolver em uma discussão que os dois já
tinham tido várias vezes nos últimos meses.

Karim suspirou. “Podemos só jogar tênis?”

“Como quiser, mano.” Kahlid se virou, depois pulou sobre a rede baixa para recuperar a bola. Mas
enquanto via o irmão se afastar, Karim não consegui se livrar da sensação de que as palavras não ditas de
Kahlid voltariam a incomodá-lo muito em breve.

***

“Sabe?”, Alice sussurrou a Sheridan, quando entravam na sala de banquetes. “Preciso dizer que a
comida aqui sempre tem um aroma completamente divino.”

Sheridan zombou ao ver Alice fazendo quase uma varredura nas mesas do bufê, cobertas de panelas e
bandejas de prata, cheias de comida. “Calma, tigresa. Você vai babar no vestido.”

“Só um pouquinho”, Alice fingiu que limpava a baba do queixo e em seguida se aproximou da mesa
dos padrinhos, com Sheridan. Esta era a última parte da cerimônia de casamento, a Valima, em que a família
do noivo realizava um enorme banquete que significava a consumação do casamento, o que devia ter
acontecido na noite anterior.

Pelo brilho no rosto de Sheridan quando acordou nesta manhã, e o cintilar dos olhos de Kahlid quando
levantou da cadeira para receber sua nova noiva, Alice teve a sensação de que eles realmente consumaram o
casamento, e talvez tenham feito um pouco mais. Ela sentiu um lampejo de inveja com essa ideia – já fazia
duas semanas que tinha feito sexo pela última vez – o que, com essa viagem, mais o frenesi resultante de
terminar todo o seu trabalho antes de partir, significava que uma sessãozinha revigorante de sexo poderia ser
bem útil agora.

“Minha linda esposa!”, exclamou Kahlid, quando se aproximou de Sheridan com os braços abertos.
Seus olhos escuros cintilavam quando a abraçou. “Você está maravilhosa, como sempre.”

“Oh, obrigada, marido”, Sheridan brincou antes de dar um beijo na bochecha dele. Ela vestia uma
abaya azul profundo, com bordados prateados, que combinavam perfeitamente com seus olhos, e seu cabelo
estava preso, com uma pilha florescente de cachos que quase fizeram Alice desejar que tivesse mantido o
cabelo comprido, para que pudesse fazer algo parecido.

“E você também está adorável, é claro”, disse Kahlid a Alice, abraçando-a também. Ele então puxou
uma cadeira, para que Sheridan pudesse sentar perto dele, depois apontou a uma cadeira na outra ponta da
mesa. “Eu inicialmente pretendia que você sentasse perto da Sheridan, mas o pai dela insistiu em ter essa
honra. Você se importa de se sentar aqui?”

Alice piscou quando olhou para a cadeira na outra ponta da mesa. Era diretamente na frente da
cadeira em que pretendia sentar, apenas dois assentos distante da de Kahlid… E bem ao lado da cadeira
vazia, estava Karim, que olhava diretamente para ela. Uma onda quente se espalhou pelas bochechas de Alice
pela intensidade dos olhos cor de âmbar de Karim, e sua pulsação se apressou.

“Hum, claro, sem problemas”, disse abruptamente.

“Tem certeza?” O pai de Sheridan colocou a mão no seu ombro. “Não quero expulsá-la de sua
cadeira, se você estava planejando se sentar aqui.”

“Não é problema.” Sorrindo, Alice beijou rapidamente Daniel na bochecha, ganhando um sorriso do
senhor. “Tenho certeza de que Karim não morde.”

Ela então deu uma piscada para Karim, cujos olhos brilharam, com surpresa. Mas ele rapidamente se
recuperou, também com um sorriso, puxando a cadeira ao seu lado.

“Eu não mordo, a menos que haja comida envolvida”, ele sussurrou perto do ouvido dela, enquanto
empurrava sua cadeira de volta.

Outra onda de calor esquentou suas bochechas. “Bom, até onde sei, parece que há comida envolvida
aqui”, ela destacou, enquanto ele se ajeitou na cadeira ao lado dela.
Karim riu. “Sim. E, por sinal, é comida excelente”, disse ele, enquanto os garçons se aproximavam
para servi-los.

Alice recebeu um frango na manteiga, uma espécie de purê de espinafre com especiarias, arroz
basmati e uma pequena cumbuca de pepinos, embebidos em um molho picante de iogurte, no qual o pão podia
ser mergulhado. Ela passou a maior parte do tempo conversando com os vários familiares na mesa, e havia
muitos – ao que parecia, a família real tinha muitos primos e parentes distantes. Eles eram todos muito
agradáveis e bem educados e com todo tipo de histórias para contar. Alice estava preocupada que fossem um
pouco avessos a ela, por causa da diferença de raças, mas, na verdade, eram curiosos, e perguntaram tanto
sobre os costumes dela quanto contaram sobre os seus.

Quando o banquete terminou, as mesas foram retiradas, e Kahlid e Sheridan se uniram a vários outros
casais para dançar. Alice assistia desejosamente, em volta da pista de dança, enquanto Sheridan rodopiava
com seu novo marido. Ela adorava dançar, mas neste território desconhecido, não tinha certeza da forma
apropriada de abordar um homem e convidá-lo para um giro pelo salão. Normalmente, quando convidava
alguém para dançar em seu país, significava que o estava avaliando para o sexo, e frequentemente acabava na
casa dele. Mas aqui, entre todas essas pessoas do Oriente Médio, estava perdida.

“Você parece estar seriamente precisando de um par para dançar.” Alice se assustou com o som da
voz de Karim no seu ouvido. Ela olhou para cima, para vê-lo parado ao seu lado direito, seus olhos de âmbar
cintilando sobre ela, apesar de nenhum sorriso adornando seus lábios. Ele havia trocado seu sherwani de
antes por um terno escuro, que vestia perfeitamente seu corpo alto e magro. O colarinho branco reluzente de
sua camisa contrastava com a pele morena. Seus traços eram realmente divinos, como os de seu irmão: altas
maçãs do rosto, maxilar quadrado... Mas seu nariz era um pouco mais delicado, seus olhos mais pálidos, seus
lábios um pouco mais cheios. E a forma como aqueles cílios densos emolduravam aqueles olhos cintilantes,
cor de âmbar...

Para com isso, Alice. Ele é comprometido.

“Preciso de um par para dançar”, ela respondeu, com um tremor no canto dos lábios. “Você está
oferecendo?”

“Bom, considerando que a minha amada não está aqui hoje para dançar comigo, acho que preciso de
uma parceira para dançar também”, Karim ofereceu-lhe a mão.

Borboletas voaram no estômago de Alice quando viu a mão estendida de Karim. Era uma boa ideia?
Deveria dançar com ele?

Por que não? Ele certamente não iria convidá-la para dançar se isso fosse criar um problema...
Não no casamento do irmão.

“Não seria inapropriado ou algo assim, né?”

Karim balançou a cabeça. “Não, de jeito nenhum. Os pares não precisam ser casais para dançar,
desde que sigam uma certa decência.”

“Certo.” Engolindo seco, colocou a mão sobre a dele. O calor da palma dele envolveu suas mãos. Ele
encaixou os dedos nos dela e dobrou o braço, pousando as mãos em seu peito. As pessoas iam abrindo
caminho enquanto ele a guiava pela pista de dança; ela segurou a respiração, esperando que alguém fizesse
alguma objeção. Mas ninguém fez. Na verdade, Sheridan abriu seu sorriso brilhante do outro lado do salão,
claramente concedendo sua aprovação.
Bem, acho que é isso, então.

Alice levantou a cabeça para olhar para os olhos cor de âmbar de Karim, quando ele colocou uma
mão sobre seu ombro, e a outra na curva das suas costas. Uma melodia viva e exótica começou a soar dos
alto-falantes, e Karim uniu suas mãos com as dela, enviando uma onda de eletricidade.

“Relaxe”, murmurou, um sorriso fazendo seus lábios se curvarem. “Você está muito tensa.”

Alice inspirou profundamente pelas narinas e expirou lentamente pela boca, forçando os ombros a
relaxarem. Eles dançaram juntos por toda a música, em perfeita sintonia, e eventualmente Alice se esqueceu
de que estava com vergonha, das sensações que as mãos de Karim inspiraram nela, quando se perderam pela
música.

“A música aqui no Oriente Médio é muito diferente”, comentou. “Muito mais... Dramática do que
aquelas com as quais estou acostumada nos Estados Unidos.”

Karim sorriu para ela. “Esta é uma música no estilo Arabesque”, disse ele, enquanto a girava na pista.
“Apenas um entre tantos estilos musicais encontrados aqui no Oriente Médio. Você verá que temos gostos
muito variados de cultura para cultura.”

“Posso imaginar”, disse Alice. “Você gosta de música?”

“Coleciono um ou outro álbum, no tempo livre”, seus olhos piscaram. “Talvez da próxima vez que
você vier visitar, posso mostrar alguns deles.”

As bochechas de Alice esquentaram: quando um cara a convida para ir à casa dele, para mostrar a
coleção de discos, no mundo dela, é um convite para muito mais do que apenas ouvir música. Mas Karim não
a estava acariciando de forma inapropriada: era uma maneira cordial, não lasciva.

Relaxe, garota, ela se repreendeu. Ele provavelmente só está tentando ser simpático.

“Eu gostaria de fazer isso, em algum momento”, disse ela.

Eles dançaram em silêncio por mais alguns minutos, antes de ela finalmente deixar escapar o tópico
que a estava incomodando. “Então, você tem uma noiva?”

Karim errou o passo por um momento. “Tenho. O nome dela é Azisa Shahaad.”

“Oh!”, os olhos de Alice se abriram quando a imagem de uma beldade árabe de pele escura passou
pela sua cabeça. “A modelo?”

Karim elevou as sobrancelhas. “Sim. Você a conhece?”

“Bom, não pessoalmente”, disse Alice, “mas trabalho na indústria da moda, então seria difícil não ter
ouvido falar dela. Ela é uma estrela em ascensão no mundo fashion atualmente”.

“Ah, então você também trabalha no mundo da moda?” Os lábios de Karim se curvaram novamente.
“Que irônico.”

“Bem, não sou uma modelo”, afirmou Alice, “trabalho na Armani, como compradora”.

“Sério?” Os olhos âmbar de Karim a percorreram de cima a baixo, e dessa vez havia, sem dúvidas,
uma onda de calor nas suas profundezas. “Bom, você certamente não faria feio em uma passarela, se minha
opinião contar alguma coisa.”

O calor se espalhou pelo ventre de Alice por conta do olhar dele, combinado com o elogio. Karim
então mudou de direção, seus movimentos leves e graciosos, e um formigamento percorreu o corpo de Alice,
enquanto o tórax dele se esfregava contra o dela. A temperatura foi gradativamente crescendo até quase
ferver, até que seu coração estivesse disparado novamente. O ar entre eles havia se espessado a ponto de ela
quase não conseguir respirar. Nunca havia sentindo nada como isso ao dançar com um homem, e certamente
não com alguém que nem estava tentando seduzir.

Jesus, o que está acontecendo? Por que não conseguia manter o pensamento longe do pecado em
relação a este homem?

A música finalmente acabou, e Karim a guiou para fora da pista. Um alívio a atravessou, quando ele a
soltou de seu abraço perigoso. Alice tinha o mau pressentimento de que, se continuassem por mais uma
música, ela atravessaria um limite do qual iria se arrepender.

E apesar de Alice ter poucos limites na vida, orgulhava-se muito de se negar a atravessar aqueles que,
de fato, tinha.

“Obrigado pela honra de me conceder esta dança”, Karim esboçou uma reverência, com seus olhos
cor de âmbar ainda brilhando.

“Foi um prazer”, disse Alice, automaticamente devolvendo a reverência da forma mais cortês que
conseguia com sua abaya.

“Eu garanto, o prazer foi todo meu”, Karim inclinou a cabeça, depois se afastou e deixou Alice o
observando, enquanto desaparecia no meio das pessoas.

Teria de se lembrar de não ficar sozinha com ele em nenhuma circunstância, disse a si mesma
enquanto o via se afastar. Um homem que podia inspirar nela sentimentos como esses era perigoso e, se ela
não tivesse cuidado, ele a desvendaria.
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[1]
Gíria aplicada a pessoas que já mantiveram relações sexuais em um avião em voo.
[2]
Super-herói da DC Comics que combate o crime usando sua velocidade sobre-humana.
[3]
Mineral utilizado para derreter gelo e neve.
[4]
Pessoa que prepara e serve bebidas que têm o café-expresso como base.
[5]
Personagem de uma série americana de ação e aventura que resolvia problemas complexos ao criar coisas a partir de objetos comuns.
[6]
Referência ao livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol.
[7]
Posição ofensiva do futebol americano.
[8]
Distúrbio no qual uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou
amizade perante o seu agressor.
[9]
Organização internacional de polícia criminal.
[10]
Arma de eletrochoque.
[11]
Howard Carter, arqueólogo e egiptólogo britânico.
[12]
Deus egípcio antigo dos mortos e moribundos, sempre representado com cabeça de chacal. Era sempre associado com a mumificação e a vida
após a morte na mitologia egípcia.
[13]
Personagem da mitologia grega que tinha o dom de transformar tudo o que tocava em ouro.
[14]
Cosmético a base de galena moída e outros ingredientes, usado como rímel principalmente pelas mulheres do Oriente Médio, norte da
África, África subsaariana e sul da Ásia.
[15]
Maior emissora de televisão jornalística do Catar e a mais importante rede de televisão do mundo árabe.

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