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Amizade Colorida

Anna Lyvian
Capitulo 1
Aquela louca vontade de gritar ao mundo o que sinto inunda minha mente, mas me
controlo. É o último dia de aula. Por um lado, bom, por outro, um pesadelo. Acontece
que estou perdidamente apaixonada há um ano por Benjamin, ou apenas Ben, como
todos o chamam. E o pior é que ele sabe graças a uma "amiga" minha. Agora ele se
gaba para todo mundo e passa a aula inteira me provocando. Todos os dias.
Amo amar ele. Ele é espontâneo, uma pessoa ótima de se amar. Pena que tem o ego
enorme. Não entendo o porquê de ele se orgulhar por eu amar ele, mas sempre que
pode, se exibe para os amigos. Nem me importo mais com as pessoas vindo me
perguntar se é verdade. Apenas confirmo e continuo minha vida. O único problema é
que não aguento mais sofrer por ele não gostar de mim da mesma forma. Eu já fiz de
tudo para conquista-lo, mas é impossível. Minha melhor amiga sempre me ajuda, mas
ainda assim é doloroso vê-lo conversando com outras garotas e até beijando.
-Estela, me empresta esse lápis?-Sophia, minha melhor amiga diz já pegando o lápis
sem minha permissão.
Estamos dentro de sala na aula de recuperação de matemática. Eu não precisava vir
hoje, mas queria me despedir dos meus amigos e olhar para Ben uma última vez esse
ano. Ele está com a turma dele no fundo tentando aprender algo. Amo quando ele está
concentrado. Enruga a testa e estreita os olhos. Um fofo.
Algo atinge minha bochecha e eu olho na direção de quem jogou.
-Tem um negócio aí escorrendo da sua boca...Credo, Estela, para de olhar para ele como
se fosse um pedaço de carne, nos homens temos sentimentos também.-Aleph diz e todos
que ouviram, riem.
Aleph é o típico garoto popular, gostosão e burro, para variar. Ele não gosta muito de
mim, percebi isso após um ano de tormento. Nos consideramos amigos, pois temos o
mesmo grupo de amigos. Ele é melhor amigo do meu melhor amigo.
-Vai pra merda, Aleph.-Falo diretamente para ele com um sínico e habitual sorriso.
Habitual, pois, é rotina para mim trocar farpas com Aleph.
Ele dá seu típico sorriso sedutor que faria qualquer garota abrir as pernas. Qualquer
garota menos eu. O desgraçado nasceu com os dentes perfeitos e tem uma boca carnuda,
por que logo ele tinha que nasce com um sorriso bonito assim? Uma injustiça, pois o
cara se acha.
Olho para o Ben de novo e ele continua concentrado.
-Então, o que vocês vão usar na despedida? -Gabi pergunta.
No sábado, nossa sala irá fazer uma festa para comemorar o fim do ano letivo. O que é
meio errado, pois para a maioria, o ano letivo só vai acabar no final de Dezembro.
Aleph é um desses.
-Roupas.-Falo ainda olhando pro Ben.
Recebo um tapa na cabeça. Pela mão pesada, só pode ser do Gusta, melhor amigo do
Aleph e meu melhor amigo. O filho de uma boa mãe que une meu grupo com o do
Aleph.
-Para de babar, Estela, daqui a pouco estamos nos afogando na sua saliva gosmenta.-
Gusta diz fazendo cena como se estivesse se afogando. A razão de Gusta e Aleph serem
melhores amigos é simples. Um idiota simpatiza com o outro.
Aleph e ele sempre implicam comigo por causa de Ben. Gusta eu perdoo, ele só quer me
ver feliz e implicar é o seu jeito de me dizer que estou sendo idiota.
Sim eu sei que sou idiota. Apenas cheguei num ponto que não me importo mais. Minha
vida é assim. Eu parei de tentar algo diferente há muito tempo.
Gabi faz cara de nojo e volta a falar com a Maitê e a Fani, com Gusta no seu pé do
ouvido.
Quem aguenta um namorado grudento desse?
Eu me sinto um pouco excluída com elas. Não gostamos das mesmas coisas, todas essas
coisas de meninas, maquiagem, sapatos, roupas e um garoto em cada esquina. Gosto de
me vestir bem, de me arrumar, só não faço disso algo constante na minha vida, Sophia
sempre diz para eu não confiar nelas. No fundo, ela tem razão. Foi Maitê que espalhou
sobre meus sentimentos por Ben.
Sophia não estuda na minha sala, só está aqui hoje, pois conseguiu convencer a
professora que precisava de aulas extras. Ela é assim, 7, 8 e até mesmo um 9 é tortura
para ela. Nos conhecemos desde que me entendo por gente. Nossos pais, meus, dela e
de Gusta, são amigos desde a época do colégio. Crescemos todos juntos, todos moramos
perto um dos outros. Sophia é alguns meses mais velha que eu e eu sou alguns meses
mais velha que gusta. A pouca diferença de idade ajudou na nossa aproximação de hoje.
Logo chega o intervalo e saímos todos de sala. Sophia não tem mais aulas hoje, então
vai para casa. Eu, como já comentei, vou ficar para me despedir dos meus amigos. Fico
na cola de Gabi e Gusta. Nosso Colégio não tem essa de panelinhas, mas sempre tem a
turma dos populares. No caso, são Ben, Gusta, Aleph, Felipe, Gabi e Maju.
Felipe é um garoto do último ano. Ele é até legal, mas é muito fechado, não cheguei a
conversar com ele. Maju é a garota mais bonita do primeiro ano, segundo os garotos.
Não gosto muito de ficar com essa turma, mas Gabi sempre me arrasta por causa do
Ben. Meus intervalos perfeitos é apenas eu e Sophia sentadas na mesa mais afastada da
cantina devorando umas 5 merendas de uma vez e fazendo muita palhaçada.
Pegamos uma mesa para nós e eu sento ao lado do Gusta. Fora as brigas e implicâncias
que temos um com o outro, somos amigos civilizados. Gabi não tem ciúmes de mim e
Gusta, ela sabe que somos amigos de longa data e ele me ajudou em um dos piores
momentos que sofri por Ben.
Acontece que eu já me humilhei demais para ele. O ensino médio não ajuda nessa parte,
como diria meu primo Júlio, o adolescente deveria deixar de existir. Acontece que esse
pessoal minimiza, pisa e ri dos sentimentos das pessoas.
-Buh! -Gusta me assusta.
Eu estava tão distraída que dei um pulo.
-A cara dela! -Aleph diz rindo e eu o fulmino com o olhar.
Não sei ao certo quando começou, mas eu sempre tive uma raiva incontrolável de
Aleph. Eu nem sei o porquê, ele chegou na escola na oitava série, mas sempre estudou
em outra sala. Eu o via de longe e o achava um grande babaca. Nesse ano ele veio
estudar na minha sala e apesar de não conversamos muito, minha opinião não mudou.
-Ei cara, não devia falar assim com ela, já que você vai pedir aquilo.-Felipe diz.
Olho curiosa pra eles. Não tem nada que Aleph me peça, que eu aceite.
-O que?-Pergunto.
-Eu ia te pedir algumas aulas de Química e matemática, se eu não tirar pelo menos um
nove em cada, vou reprovar de ano. -Ele diz meio sem graça.
Percebo o olhar de Ben em mim. Por alguma razão desconhecida, ele tem ciúmes de
mim com o Aleph. Passo praticamente a aula inteira conversando com Gusta e ele não
liga, mas se Aleph falar comigo, ele faz cara feia.
Odeio que ele pense que me interessei por outros garotos. Eu sei, é idiota. Gusta e
Sophia já me disseram, mas eu sou assim.
-Bom, devia ter pensado nisso antes de começar com suas piadinhas pra cima de mim.-
Digo e todos da mesa fazem a maior algazarra.
Ben sorri satisfeito.
-Qual é gatinha, é só uma aula.-Ele insiste.
-Desiste Aleph, vai ser ótimo não ter você na sala ano que vem.-Digo.
Aleph aperta os lábios e por um momento eu quase tive pena dele.
Ficamos conversando até o sinal bater e voltamos para a sala. Gusta e eu apostamos
uma queda de braço. É claro que eu perdi. Gusta tem alguns músculos, não mais que
Ben ou Aleph, mas os dele são bem significativos.
A galera toda está ao nosso redor é claro que era esperado que eu perdesse pra Gusta,
mas Aleph simplesmente me dá um leve tapa na cabeça.
-Ta precisando comer mais, ein.-Aleph zomba. Tá bem claro que ele está desesperado
por essas aulas. Ele falou mais comigo hoje do que o ano inteiro. E detalhe, ele parece
completamente desconfortável falando qualquer besteira para apenas ter o que falar
comigo.
-Mais?-Gusta zomba do meu apetite insaciável e totalmente genético, pois puxei a
minha mãe.
Gusta se levanta e Aleph senta no lugar de Gusta.
-Se eu ganhar, você me da aulas, se você ganhar, eu danço de cueca pra você. -Ele diz.
É claro que ele não ia dançar de cueca para mim, mas era engraçado imaginar aquilo.
-Por que eu não saio ganhando em nenhuma das duas?-Pergunto.
Aleph revira os olhos e coloca o braço em cima da mesa.
-Vai?
-Claro que não, não é justo!-Reclamo.
-E se eu for em seu lugar?-Ben, que estava atrás de mim esse tempo todo, pergunta.
Fico tão hipnotizada com seus olhos que apenas balanço a cabeça e levanto. Namoral,
eu com certeza faço parte dos adolescentes que deveriam deixar de existir.
Os dois começam a queda e braço e eu e Gusta torcemos. É engraçado ver Aleph
olhando para Ben e para mim a todo momento. Ben ganha e eu sorrio.
-Acho que não vou precisar dar aulas pra ninguém.-Digo.
-Mas vai ganhar uma dança minha.-Aleph diz com sorriso malicioso. Juro que consigo
ouvir garotas suspirando.
-Não, você perdeu pra mim.-Ben diz.
-Mas a aposta era pra ela, você sabe, prefiro dançar para uma garota.-Aleph diz.
Demoro uns dez segundos para perceber o que está acontecendo. Ben está com ciumes
de Aleph.
-Você não vai dançar pra ela.-Ben diz indiferente. Ele devia saber que qualquer coisa
nesse tom, serve como um desafio.
Aleph sorri. Se levanta e quando percebo, ele está em cima da mesa tirando a blusa e
dançando para mim. Minha reação instantânea, é rir. Olho em volta e estão todos
olhando. Procuro algum professor mas parece não estar na sala.
Aleph tira a camisa e joga em mim. Gargalho ainda mais alto. Ele consegue ser mais
forte que Ben. Eu sei que Aleph não faz academia. Seu corpo é assim, pois ano passado,
tivemos um trabalho de educação física que tivemos que montar uma academia
reciclável. Aleph tem esse corpo por causa disso. Enquanto Ben, Gusta ou Felipe vão
todos os dias para a academia, Aleph parece ser musculoso naturalmente. Desconfio que
ele perdeu essa queda de braço de propósito, é sua cara querer aparecer.
Aleph desce da mesa e pega sua camisa da minha mão.
-Eu sabia que você ia gostar.-Ele diz.
-Adoro ver gente babaca dançando em cima da mesa.-Digo.
Ele ri.
-Professor tá vindo cara, bota essa camisa.-Ben diz.
Aleph coloca a camisa e se senta enquanto o professor entra na sala e todos nos
sentamos.
Na saída, eu procuro o Gusta, eu sempre volto com a Sophia, mas hoje ela saiu mais
cedo. Encontro ele com a Gabi. Vou até eles, então sinto uma mão no meu ombro. Me
viro com o coração a mil com a possibilidade de ser Ben, mas é apenas Aleph.
-Estela, por favor, eu preciso dessas aula!-Ele diz. Claramente ele desistiu de me pedir.
Agora ele está implorando.
Aleph sempre consegue o que quer e isso me irrita. Se eu der essas aulas para ele, todos
do colégio vão dizer que estamos dando uns '"pegas". Se isso cair no ouvido do Ben,
posso perder quaisquer chances que um dia tive com ele.
-Não Aleph, já disse, você tem má fama, não quero ninguém falando de mim.-Digo.
-E se não contarmos para ninguém? Posso dizer que você não aceitou então eu procurei
um universitário, mas por favor, eu te imploro!-Ele diz e eu vejo que está realmente
preocupado com a nota.
Minha mãe me criou da melhor forma, é difícil para eu negar algum favor à alguém que
realmente precisa, e se ninguém souber...pode dar certo.
-Ta bem.-Digo. Seria ótimo começar o ano que vem sem Aleph, mas a coisa certa a se
fazer, é ajudá-lo.
Ele sorri aliviado.
-Na sua casa ou na minha?-Ele pergunta.
De jeito nenhum vou ficar sozinha com ele.
-Na biblioteca, amanhã às nove.-Digo.
-Nove? Tipo da manhã? É muito tarde!
-Não vou acordar cedo pra olhar pra essa sua cara, meus horários ou nada feito.-Digo
cruzando os braços.
Ele revira os olhos.
-Ta. Mas só pra constar, eu não gosto de você, não precisa ter medo de pensarem que
estamos nos pegando, eu não faria isso com a cachorrinha do Ben.-Ele diz.
Isso me abala mais do que pensei. Eu sei o que falam de mim, não é nenhuma novidade.
Mas "cachorrinha do Ben" é um pouco pesado.
-Que bom que o sentimento é recíproco.-Falo e viro as costas. Não quis demonstrar que
fiquei magoada, e talvez tenha dado certo pois Aleph não me seguiu.
Acabou que Gusta foi embora e tive que ir para casa sozinha. Tudo por causa do idiota
do Aleph, mas pelo menos, passei em frente a casa de Ben e vi ele.
Chego em casa e minha mãe está lendo no sofá.
-Cheguei!-Digo gritando e jogando a mochila no sofá.
Ela olha pra mochila e depois para mim. Ok, eu entendi. Pego a mochila e levo para o
meu quarto e encontro Maresia, meu cachorro. Tem mensagem do Ben no meu celular.
Meu coração para umas três vezes, mas ele apenas quer saber minha nota em Biologia.
Antes de dormir, coloco meu despertador para tocar as nove horas. Ele que me espere.
Odeio a ideia de estar com Aleph, mas agora já é tarde. Sophia me liga antes de dormir
e conto pra ela. Ela odeia Aleph. Ele já tentou algo com ela. Sophia caiu nos seus
encantos e ele conseguiu um beijo dela. Hoje, Sophia não suporta olhar na cara dele.
Aleph nunca vai mudar. Se Ben, que é seu amigo, diz que ele não presta é porque ele
realmente não é flor que se cheire. Durmo lembrando de Ben disputando uma queda de
braço com Aleph por mim.
Capitulo 2
Sinceramente, não sei o que é pior, levantar nove da manhã em um sábado ou acordar
ouvindo aquela clássica música irritante do despertador. Levanto ainda zonza. Sempre
tive um grande problema em acordar cedo, meu pai chama de preguiça e minha mãe de
genética, o que importa é que não tem quem faça eu acordar antes das 9, por isso meus
pais me colocaram para estudar a tarde. E junto comigo, Gusta e Sophia. Eu realmente
agradeço aos meus pais por sempre nos deixarem juntos.
Quando finalmente consigo abrir meus olhos completamente, me levanto e vou escovar
os dentes. Ouço o barulho de algo fritando. Quando chego a cozinha, meu pai está
fritando nuggets de frango. É meu preferido. Minha mãe está ao seu lado rindo dele.
Maresia está dormindo. Ele nem sabe a sorte que tem.
-Bom dia.-Meu pai diz surpreso ao me ver.
-Não é um bom dia se eu acordo cedo.-Digo.
Minha mãe revira os olhos.
-Na sua idade, eu estaria indo dormir agora.-Ela diz.-Mas eu não sou um bom
exemplo...nem sei pai. Continue assim.
-Deus foi muito bom em nos dar uma filha que não é como nós.-Meu pai diz e eu rio.
Sempre ouço histórias do passado dos meus pais por Tio Rafa, meu padrinho. Meus
pais, os pais de Sophia e os pais de Gusta estudaram juntos em um colégio interno. Tio
Rafa me contou que eles eram lendas, aprontavam coisas que eu nunca poderia
imaginar. Na época, minha avó era diretora do colégio e eles deixavam ela louca.
Minha mãe é escritora. Ela tem um passado conturbado com seus pais e meu pai, e
colocou tudo isso em palavras, hoje ela é até um pouco famosa.
-Por que acordou tão cedo?-Meu pai pergunta.
-Marquei de ajudar um amigo em algumas matérias. -Digo.
-Amigo?-Ele pergunta indiferente.
Meus pais são liberais, acho que é por isso que não apronto, mas meu pai tem
problemas com amigos homens, ele só aceita Gusta. Tenta parecer um pai moderno,
mas sei que no fundo ele só quer me proteger. Meu pai sabe melhor do que ninguém
como garotos são, sabe o quão cafajestes eles podem ser e sabe que eles podem partir
seu coração como ninguém. Sempre que meu pai não gosta de algum amigo meu, eu
fico esperta com ele e logo ele se revela um idiota.
-Amigo da escola. -Digo.
Minha mãe me da um olhar significativo. Tenho vontade de dizer a ela que não é nada
disso que ela está pensando.
Meu pai coloca os nuggets em um prato.
- Eu só fritei pra mim querida, não sabia que você acordaria agora.-Ele diz.
Minha mãe o empurra.
-Sam, pelo amor de Deus, é sua filha, ofereça pra ela!-Ela diz.
-Você só está dizendo isso porque não te ofereci e nem vou.-Meu pai diz.
As vezes, os dois brigam como duas crianças.
-Eu não quero esses seus nuggets gordurosos...nossa meu bem, você acordou mais
bonito, me dá até vontade de...
Minha mãe faz que vai beija-lo e pega o prato da sua mão.
-Luna!-Meu pai diz enquanto minha mãe ri de sua cara.
Minha mãe adora comer e ela não é gorda. Não entendo isso, mas meu pai diz que é
porque todo mundo fala que ela come muito e vai engordar e pra pagar a língua das
pessoas, ela continua linda e esbelta. Palavras de um homem apaixonado de meia idade.
-Eu como no caminho, vou trocar de roupa.-Digo.
Já são nove e meia. Aleph deve estar louco. Procuro meu celular e vejo que tem onze
chamadas perdidas sua. Quando vou retornar a ligação, ele liga novamente.
-Telefone da melhor professora do mundo, com quem eu falo?-Digo atendendo o
telefone.
-Onde você está? Eu to plantando nessa biblioteca a mais de meia hora.-Aleph diz
bravo.
-Eu disse, se quiser aulas, tem que ser nos meus horários.
-Mas você marcou nove horas. -Ele reclama.
-Marquei, mas não disse que chegaria esse horário, beijo.-Desligo o telefone.
Aleph vai me matar e eu vou rir muito. Quando eu tinha sete anos, nos mudamos para
um lugar que fique perto da escola, no mesmo bairro que Gusta e Sophia, a biblioteca é
perto da escola, então vou andando.
Assim que chego, vejo Aleph impaciente me esperando. Ele tem alguns livros do lado e
está mexendo no celular.
-Bom dia.-Digo sentando na sua frente.
Ele levanta a cabeça e me dá um sorriso falso.
-Chegou cedo. -Ele ironiza.
-Acordei de bom humor.
Vou explicando a matéria pra ele e quando percebo, está rindo mexendo no celular.
-Aleph, caramba, presta atenção. -Digo.
-Eu tô prestando.-Ele diz guardando o celular. -O avogrado é igual a cinco.
Dou um tapa na sua cabeça.
-O avogrado é 6,02 seu idiota.
Ele parece ofendido.
-Você sempre me chama assim e nem me conhece.
-É por que você é um idiota.-Falo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Aleph solta a respiração que estava prendendo. É impressão minha ou ele está realmente
ofendido?
-Repete.-Ele diz claramente magoado.
Fico a centímetros do seu rosto.
-Idiota.
Aleph revira os olhos e me empurra devagar. Volto com a explicação e quando vejo, ele
está no celular de novo. Pego o celular da sua mão e coloco no meu sutiã.
-Presta atenção! -Digo.
-Você acha que não tenho coragem de colocar a mão aí?-Ele diz com um sorriso
malicioso.
-Tenta e eu vou embora.-Cruzo os braços.
Ele cerra os lábios e volta a olhar pro livro. Até que enfim consegui ensinar ele...ou
mais ou menos. Aleph tem um sério problema com distrações, sei que toda essa coisa de
números pode ser chato pra ele, por isso não fico no seu pé. Quando entramos para
matemática, ele fica totalmente confuso.
-Aleph, me diz uma coisa que você gosta de fazer.
-Pegar meninas e jogar futebol.-Ele diz
Reviro os olhos. E ainda me questiona quando falo que ele é um idiota.
-Tudo bem. Digamos que você tivesse um time e em um campeonato, os jogos foram
classificados em torno e retorno. Ou seja, cada time jogava dois jogos. Se ao todo,
foram realizados 210 jogos, quantos times jogaram no campeonato?-Digo.
Ele rabisca algumas coisas, após alguns minutos ele se vira pra mim.
-Acho que 15 times.-Ele diz ainda um pouco em dúvida.
Aleph não é burro, ele apenas não se interessa.
-Ta certo. Aleph, você sabe fazer isso.-Digo.
Ele passa a mão no cabelo.
-Mas eu fico nervoso quando vejo aquela prova em branco e se eu não tirar um nove,
vou reprovar de ano.-Ele diz.
Afago seu braço.
-Você consegue, quando receber a prova, olha somente pra primeira questão. Foca
somente nela, você vai ver que vai ser mais fácil depois que resolver a primeira. -Digo.
-Vou tentar.
-Eu acredito em você, não é nenhum bicho de sete cabeças, é apenas matemática.
Ele da uma risada pelo nariz.
-O que é engraçado?-Pergunto.
-Você é legal.-Ele diz.-Como alguém legal como você gosta de alguém como o Ben?
Fico confusa com sua pergunta. Pensei que os dois fossem amigos.
-Eu o vejo com outros olhos, Ben é engraçado e sabe fazer uma garota se sentir especial,
cada aspecto dele é inusitado. Mas por que a pergunta? Achei que fossem amigos.
-Não somos muito chegados, na verdade, ele que não gosta muito de mim, não sou
nenhum santo para falar dele, mas o que ele faz com você é horrível, sei que ele tem
ciúmes de você comigo, então sempre que posso, provoco você.
Então esse é o motivo por eu ser atormentada por esse idiota todos os dias.
-Ele é um fofo com ciúmes, me faz até pensar que ele gosta de mim, mas acaba no
momento que você se afasta.-Digo.
Aleph então sorri como se tivesse tido a ideia do século.
-Ei, você faria de tudo para ter ele, não é? -Aleph pergunta.
Não gosto de falar desse jeito, mas sim, eu realmente amo Ben.
-Acho que sim.
-E se fôssemos amigos coloridos?-Ele diz.
Toda essa matemática deve estar afetando seu cérebro. Ou meu, pois eu não posso ter
ouvido o que acho que ouvi. Mas Aleph está com um semblante sério. Ele realmente
sugeriu isso.
-Você está ficando louco.-Digo.
-Não estou não, pensa bem, ele morre de ciúmes de mim, você disse que ele é melhor
quando está com ciúmes, então vamos dar um motivo para ele ter ciúmes toda hora, sou
homem, sei como funciona nossa cabeça, e não vai durar muito tempo, eu posso ficar
um ou dois meses sem ficar com outra garota.-Ele diz.
Aleph tem um bom argumento, mas ainda assim é loucura. É claro que seria divertido
chocar todos nossos amigos, íamos ser o assunto do ano...quer dizer, Aleph é totalmente
disputado, mas ninguém nunca viu ele namorar, e eu, a cachorrinha do Ben, como ele
me chamou. Ia ser ótimo se ele parasse de me chamar assim.
-E o que você ganha com isso?-Pergunto.
-Muitas coisas, essa semana eu descobri que as garotas do colégio têm um grupo no
whatsapp onde nenhuma delas podem ficar comigo. Elas se revoltaram por eu ficar com
elas, com suas amigas, primas, irmãs...enfim, elas dizem que não presto. Agora, se eu
mostrar que posso ter algo sério, não um namoro, mas uma ficante fixa, elas vão
esquecer essa história toda. E meu pai não vai me perturbar por levar para casa uma
garota diferente todo fim de semana...vou fazer raiva para o Ben, ter uma professora em
tempo integral e ainda pegar a garota mais gostosa do colégio.
Processo tudo que ele falou e apenas uma coisa me chama atenção.
-Como assim a garota mais gostosa do Colégio?-Pergunto.
Ele suspira e me olha como se explicasse algo a uma criança de dois anos.
-Todo ano fazemos uma lista das mais gostosas do Colégio. Você é a primeira desde o
ano passado. Por isso Ben vive se exibindo por aí.
Por essa eu não esperava.
-Mas ainda é loucura... e nojento. Classificar garotas por peito, bunda e cintura...-Digo.
-Se você aceitar, rasgamos a lista. Escuta, vai dar certo pois nos odiamos, não vamos
nos apaixonar um pelo outro, afinal você é a cachorrinha do Ben e eu sou apaixonado
por essa vida de galinha.
Aleph tem lábia. Ele está conseguindo me convencer. Já fiz mil coisas para conquistar
Ben, mas ciúmes nunca foi uma opção pra mim. Se eu fiz do meu jeito por tanto tempo
e não obtive resultado algum, talvez eu possa tentar do jeito de Aleph.
-Podemos tentar.-Digo.
-Ótimo, vamos começar na festa de despedida hoje à noite, aparecemos juntos e damos
alguns beijos, vão todos espalhar a notícia, então postamos fotos juntos com legenda de
amizade. Depois das férias, retomamos o plano dentro de sala, mas eu queria impor
algumas condições. -Aleph diz.
Pra quem não consegue escrever o próprio nome sem olhar na identidade, ele até que é
organizado.
-Que condições? -Pergunto.
Ele encosta as costas na cadeira.
-Se não vou ficar com mais nenhuma garota esse tempo todo, você vai ter que está ao
meu dispor e aulas sempre que eu precisar.-Ele diz.
Que absurdo. Ele fala como se fosse eu que estivesse implorando por essa coisa de
amigos coloridos.
-Então aqui vai minhas condições, nada de sexo, apenas beijos e talvez algumas
apalpadas na bunda. Eu que mando nessa "relação" e posso te dar um tapa se você tentar
algo.-Falo.
Ele pensa um pouco.
-Feito.-Estende a mão pra mim e eu a aperto, mas Aleph machuca minha mão e eu dou
um murro no seu braço.
-Acho que já estudamos demais por hoje.-Digo.
Ele assente. Vem em minha direção para me beijar e eu o empurro.
-O que? Vamos fazer isso hoje a noite mesmo.
-Então espere até a noite.
Tiro seu celular do meu sutiã e jogo na mesa.
-Vai me pegar que horas?-Pergunto.
-Ah, você sabe...a noite inteira se quiser .
Quero ficar brava, mas a única coisa que consigo fazer é rir. Se qualquer outra pessoa
que não seja Aleph me dissesse isso, eu teria nojo do cara, mas é Aleph, esse é seu jeito
e eu estou acostumada a ter nojo da sua cara.
-Você é um babaca.-Digo rindo. -As sete eu vou tá pronta.
Levanto e vou embora. Eu não tinha nem pensado em uma roupa pra festa. Meus pais
me deram um cartão quando fiz quinze anos, para usar para comer ou comprar roupas.
Não sou do tipo que passa horas em um shopping experimentando roupas, então só o
uso para comer. E o limite é baixo, apenas para eles não se preocuparem de ter que me
dar dinheiro sempre que eu sair.
Ligo para Sophia ir comigo no shopping, mas seu celular está desligado. Então ligo pra
Gusta. Nenhum jovem tem carteira aos dezesseis ou dezessete anos, mas todos sabem
dirigir, pelo menos todos que conheço. Moro numa parte boa de se morar, as ruas não
são movimentadas e...bom, as pessoas aqui precisam ser boa de vida para morar aqui.
Meu pai me ensinou a dirigir quando eu tinha 15 anos, normalmente eles me emprestam
l carro em dia de semana ou horários que não tenham policiamento.
Combino com Gusta para irmos ao shopping, mas digo que vamos apenas almoçar.
Pego um 99 e vou para o shopping. Quando chego, encontro Gusta e vamos comer. Fico
na dúvida se conto a ele sobre o plano, mas ele é melhor amigo do Aleph também, acho
que não faz mal ele saber. Conto tudo enquanto comemos e até Gusta diz que essa ideia
pode funcionar. Ele sabia da lista das mais gostosas do Colégio e não me contou pois
pensou que eu já sabia. Pedi que ele me ajudasse a escolher alguma roupa e ele deu um
pulo bem longe, mas após eu fazer chantagem emocional, ele me ajudou e eu acabei
comprando um vestido preto lindo.
Estou louca para ver a cara de Ben quando me vir com Aleph. Espero que tudo isso
valha a pena. Aleph não é o tipo certo para se ter uma amizade colorida.
Capitulo 3
Ele só pode estar de brincadeira. Com certeza, é uma vingança por hoje de manhã. Eu
deveria agora ligar pra Gusta e pedir que ele me pegasse, ele me deve isso, eu e Sophia
reprovamos um ano de propósito para ficarmos na mesma série que ele e todos
terminarmos o Colégio juntos. Claro que prometemos não contar a ninguém,
principalmente nossos pais, e fizemos isso na primeira série, mas mesmo assim, foi um
sacrifício.
Meus pais estão no quarto deles lá em cima. Quando completei doze anos, me mudei
para um quarto no térreo da casa e eles ficaram no andar de cima. Assim, eu achava que
teria mais privacidade para minhas festas do pijama.
Eu estou passando impaciente os canais da televisão esperando o idiota do Aleph que
está atrasado quase uma hora. Já deixei mil mensagens e o celular só dá desligado.
Ouço uma buzina de carro vindo do lado de fora. Até que enfim esse idiota chegou.
-Mãe, pai, tô saindo!-Grito.
Pego minhas chaves e abro a porta. Tranco de volta e vejo Aleph impaciente no carro.
Ele está lindo, não consigo vê-lo bem daqui, mas Aleph sempre foi bonito. Ele buzina
mais uma vez enquanto olho para ele e lembro que o que ele tem de beleza, tem de
grosseria, basbaquice e idiotice.
Vou até o carro e abro a porta.
-Eu já estava desistindo, não acredito que vamos chegar atrasados pelo que fiz hoje de
manhã.-Digo me sentando.
-O que? Acha que eu estou me vingando? Eu me atrasei porque tive alguns problemas
para sair de casa.-Ele diz dando a partida.
-Liguei para o seu celular e ninguém atendeu.
-Meu pai tomou de mim.
Não falo mais nada o caminho inteiro. Aleph parece estar levemente abalado, mas como
se isso fosse normal. Chegamos a festa e já vejo algumas pessoas. As festas que nossa
sala dá, são as melhores, convidamos quase todos do Colégio e como a festa é nossa,
podemos colocar bebida nos drinks, geralmente o adulto "responsável" que compra as
bebidas e aluga o espaço, é Felipe. Se vou estar com Aleph essa noite, significa que vou
ficar na turma dele e Ben é da turma dele.
Saio do carro e encaro Aleph.
-Você está muito gostosa.-Ele diz de um jeito engraçado me analisando.
-Você não sabe como elogiar uma garota, mas obrigada mesmo assim.-Digo segurando
seu braço.
-Escuta, não vamos beber essa noite, se eu chegar em casa bêbado, meu pai me mata e
não quero problemas com seus pais.-Se ele conhecesse meus pais, não estaria falando
isso. Meus pais são totalmente a favor de eu aproveitar a vida.
-E você, nada de me deixar de lado pra falar com alguma garota ou ficar com seus
amigos.-Digo.
Entramos e está bombando. O lugar está agradavelmente cheio. Ninguém falta nessas
festas, como eu disse, são as melhores e essa é a última do ano. Vejo Sophia com
algumas pessoas da sala dela. Arrasto Aleph até lá e dou um abraço nela.
-Queria ficar com você a festa inteira, mas infelizmente não posso deixar meu novo
amigo.-Sussurro no seu ouvido e ela revira os olhos pro tchauzinho de Aleph. De longe
vejo Ben e meu coração dispara me deixando imóvel. Aleph percebe e me puxa para
não fazer papel de otária.
Quando Ben me vê, quase sorrio com o seu olhar para mim, mas me contenho. Ele olha
pra Aleph e depois para mim, e cutuca Felipe.
Aperto o braço de Aleph para tentar me controlar. Ben está lindo. Ele faz qualquer
pessoa que esteja no mesmo ambiente que ele, parecer menos brilhante.
Aleph cumprimenta Felipe, Ben e Gusta que só agora vi que ele estava ali.
-Se perdeu no caminho e teve que vir com o Aleph?-Felipe diz me olhando de cima
embaixo descaradamente.
-Não, ele me buscou em casa.-Felipe e Ben nos olham surpresos.-Dei uma aula pra ele
hoje e ficamos amigos.-Explico.
-Está linda.-Felipe diz.
Sorrio pra ele e olho pra Ben. Ele me olha e é como se tivesse uma energia me
envolvendo. Meu corpo é tomado por calafrios e engulo seco enquanto penso no que
devo fazer.
-Oi. -Digo.
Ben passa o braço pela minha cintura e fala no meu ouvido.
-"Cê" ta linda.
Me arrepio com esse gesto. Fico boba calculando cada gesto que faço. Se eu me deixar
levar pela emoção, vai tudo por água abaixo. Ben sempre faz isso. Ele sabe o efeito que
tem em mim, e por isso, ele sempre me provoca desse jeito.
-Obrigada.-Digo e me surpreendo pela voz fofa que eu fiz.
Gabi se aproxima com dois copos na mão e entrega um para Gusta.
-Estela!-Ela diz me abraçando.-Achei que você não vinha.
-Pois é, tivemos um pequeno imprevisto.-Digo ciente que Ben está nos ouvindo. É
difícil descrever, mas fico extremamente nervosa perto dele e mesmo que eu ensaie uma
conversa de 4 segundos a semana inteira, vou acabar dando um deslize.
-Tivemos?-Ela pergunta.
Então começa a tocar uma música rápida que sempre anima as festas. É minha desculpa
pra sair dali antes que eu fale algo sem pensar.
Olho pra Aleph.
-Eu amo essa música.-Digo.
-Então vamos dançar!-Ele diz.
Pega minha mão e Gusta vem atrás com Gabi. Felipe e Ben pegam a primeira garota
que veem e arrastam pra pista de dança. Ben não fica longe de nós. Danço ao redor de
Aleph rebolando um pouco e depois ele segura minha cintura e se inclina em meu
ouvido.
-Se quiser impressiona-lo, vai ter que fazer bem mais que isso.-Ele diz.
Levanto as sobrancelhas para ele. Aleph bufa e pega minhas mãos. Ele coloca em seu
peito e dança. Faço o mesmo que ele (sem a parte de colocar a mão no meu peito). Viro
de costa para ele e ele me puxa pra si me fazendo gargalhar. Me vira de frente e nossos
rostos estão próximos.
-Estão todos olhando.-Ele avisa.
-Ótimo. -Digo afundando minha boca na dele.
Acontece que Aleph não gosta de aparecer com garotas assim em público. Ele é aquele
que só fica com a garota um momento e já parte para outra. E já faz algum tempo que
estamos aqui e ele não desgruda de mim.
Seu beijo é calmo e ao mesmo tempo excitante. Agora eu entendo o porquê de quase
todas as garotas que conheço, serem apaixonadas por Aleph. Ele me aperta contra si me
fazendo suspirar. Eu poderia beija-lo minha vida inteira facinho.
Afundo minhas mãos nos seus cabelos pretos o impedindo de parar. Pra mim, a festa
está apenas começando.
-Você beija bem.-Ele sussurra.
Sorrio.
-Você também não é nada mal.-Digo.
Aleph sorri e me beija novamente. Morde forte meu lábio inferior e finaliza com um
selinho.
Voltamos a dançar e meus olhos vão direto para Ben. Ele está beijando a garota com
quem está dançando. Paraliso vendo aquela cena. Eu praticamente consigo sentir o
toque dele em mim. Mas ele está tocando outra pessoa.
Aleph parece ter percebido e pega minha mão.
-Quer ir pegar algo pra beber?-Ele pergunta.
Assinto e ele me leva. Não vou chorar, minha maquiagem é cara, não vou desperdiçar
com isso. Mas eu fiquei mal. Por um momento, com Aleph, foi como se não houvesse
ninguém em volta, então eu vi ele e o lugar pareceu cheio demais pra mim.
-Quer saber? Foda-se as regras que eu impus, você precisa de algo forte e eu também
pra te aguentar babando por ele.-Aleph diz.
-Você não disse que seu pai iria...
-Esquece meu pai, se concentre no agora.-Ele diz e se vira para o barman.
-Tem alguma preferência?-Ele pergunta.
-Forte e que me faça esquecer o que vi.-Digo.
-Então vai ser tequila.
Após alguns segundos, ele me entrega um drink de morango com tequila.
Desconfio que ele mandou botar bebida a mais. De qualquer forma, estou acostumada a
beber bebida forte. Desde os 15 anos, eu, Gusta e Sophia saímos para festa ou bebemos
com amigos. Sophia não gosta muito, mas ela se recusa a deixar eu e Gusta sozinhos
com bebidas fortes ao alcance. Mas desde que ele começou a namorar com a Gabi,
temos saído pouco.
Vejo Ben conversando com duas meninas e elas estão claramente dando em cima dele.
É como dizem, não adianta chegar dando o coração se vem outra e dá a...quer saber?
Deixa pra lá.
Viro o copo todo na boca e já sinto o efeito. Ignoro a queimação e tento não fazer
careta.
-Uou! Essa é das minhas!-Aleph diz e vira o copo.
Ele pede mais um e apostamos quem vira mais rápido, ele ganhou mas se fossemos
apostar quem fica bêbado primeiro, adivinha quem ganharia?
Começa a tocar outra música conhecida e arrasto Aleph pro meio da pista. Dançamos e
rimos como se não houvesse amanhã. Então meu pequeno problema sempre que bebo
aparece.
-Preciso ir no banheiro.-Sussurro ao Aleph.
-Quer que eu vá com você?-Ele pergunta.
-Não precisa, sei o caminho.
Pisco para ele e vou um pouco zonza em direção a banheiro, quando estou chegando,
alguém me cutuca e congelo no chão quando vejo que é Ben. Sabe o que dizem sobre
estar bêbado e ficar sóbrio quando ver os pais? Ben tem esse efeito em mim.
-Eai? -Ele diz.
Sorrio para ele.
-Tudo bem?-Pergunto.
-Tô sim, eu só...vocês estão juntos?-Ele pergunta.
Fico uns dois segundos processando a pergunta até perceber que ele está se referindo ao
Aleph.
-Ah, não. Somos apenas amigos. -Digo.
Ele muda o peso de um pé para o outro.
-Não foi o que pareceu.-Ele diz.
-Apenas amigos.-Repito novamente gaguejando um pouco.
Eu poderia passar minha vida inteira olhando para esses olhos. Ben assente e me da um
tchauzinho. Me viro e forço minhas pernas a se moverem em direção ao banheiro. Após
me aliviar, volto a pista de dança mas não encontro Aleph. O procuro por toda a festa e
o encontro sentado sozinho. Uma garota se aproxima dele. Fico de longe apenas
observando. Eles conversam por três ou quatro segundos e ela vai embora.
Vou até ele.
-Não acredito, o grande Aleph dispensando uma garota bonita.-Digo batendo palmas.
Ele revira os olhos, mas está sorrindo.
-Eu cumpro minhas promessas, agora vamos beber.-Ele diz.
Vamos até o bar e pegamos mais duas bebidas.
-Os garotos já estão indo embora, vamos todos dormi na casa do Felipe, quer ir? A
Gabi, o Gusta e seu Ben vão. -Aleph diz.
Se o Gusta vai estar lá, não vou correr perigo algum e não estou nem um pouco afim de
ir pra casa agora.
-Tá, vou ligar pros meus pais.-Digo.
-Quer ir lá pra fora para eles não ouvirem o barulho?-Aleph pergunta.
-Sinceramente, vai ser o barulho que vai convence-los.
Ele me olha confuso. Pego o celular e disco o número da minha mãe.
-Espero que não esteja me ligando para te buscar. São onze horas ainda.-Minha mãe
diz.
-Não mãe, alguns amigos meus vão dormir na casa de um amigo e me convidaram, o
Gusta e a Gabi vão tá lá, posso ir?-Pergunto.
Ele faz um interrogatório sobre o amigo e após algum tempo ela deixa. Saímos para
encontrar o pessoal e Gusta e Gabi vão conosco no carro.
-Vocês estão saindo?-Gabi pergunta do Banco de trás.
-Não, apenas amigos.-Digo.
Ela não está conformada ainda.
-Mas vocês se beijaram.-Ela diz e eu concordo. -Então são amigos coloridos.
-Acho que sim.-Digo.
Aleph tenta não rir do meu desconforto. Chegamos a casa de Felipe. É bem grande.
Apenas um andar e uma piscina.
Saímos todos do carro e Maju, que não vi a festa inteira, abriu o portão para nós. Ben
estava com Felipe na sala. Maju me dá dois beijos no rosto e vai para a cozinha. Sento
com Aleph em um sofá. Como Gusta está o tempo todo com Gabi, Aleph é a segunda
pessoa que tenho mais intimidade nessa sala. Nunca pensei que diria isso desse idiota.
Felipe liga a televisão e coloca no canal de esportes. Parece que seus pais viajaram e ele
tem a casa só pra ele. Tinha cerveja na geladeira, então ficamos bebendo, conversando e
rindo de Gabi bêbada. Fora ela, Gusta e eu éramos os comediantes. Sempre tínhamos
um comentário engraçado sobre cada assunto. Felipe disse que a próxima vez, eu tenho
que vir.
Maju está ao lado de Ben. Ele tem a mão direita na coxa esquerda dela. Não é de hoje
que sei que eles já ficaram.
Fico um pouco desconfortável e encosto meu corpo no sofá. Quando vejo, estou quase
dormindo.
Eu sabia sobre essas reuniões que Felipe dava na sua casa, mas não sabia que era tão
divertido. Eles apenas bebem e falam coisas engraçadas.
-Já ta morgada?-Felipe diz pra mim.
-Tô exausta também.-Maju fala.
-Tem só três quartos, Gusta, você pode ir com a Gabi para aquele.-Ele aponta para uma
porta.-Vocês dois vão ter que ficar no meu quarto, eu durmo em um colchão no chão. -
Felipe diz a Ben e Maju.
-E eu no quarto de sempre.-Aleph fala.
Dividiram os quartos, mas ninguém disse aonde vou dormir. Eu não quero reclamar,
então vou esperar todos irem deitar.
Maju é a primeira. Depois Gusta leva Gabi que já está quase desmaiando. Mas eu não
me entrego. São mais de quatro da manhã. Minhas piadas não fazem mais sentido e por
alguma razão, ficou mais engraçado.
-Você está quase caindo, por que não vai dormir?-Aleph sussurra no meu ouvido.
-Sinceramente, Felipe não falou onde vou dormir.-Confesso.
Aleph ri da minha cara e eu bato nele.
-Eu te levo.-Ele diz.
Se levanta e diz para os garotos que vai dormir.
-Já? Você é sempre o último.-Ben diz desconfiado.
Aleph dá de ombros e me leva com ele, mas antes de sair da sala, consigo ouvir Felipe
falando "perdeu a gata" para Ben. Isso deixou minha noite parcialmente mais feliz. Se
Felipe disse isso, quer dizer alguma coisa, não é?
Aleph me leva até um quarto e eu me jogo na cama.
-Quando sair fecha a porta.-Digo.
-Não vou sair, vou dormir aqui também. -Ele diz.
-Na cama?-Pergunto.
Ele me joga um olhar como se dissesse " Não vou nem responder."
Tira a blusa na maior cara de pau. Ta certo que já vi ele sem camisa antes, mas nunca
em um quarto quando estamos a sós. Ele joga a camisa para mim.
-Veste -Ele fala.
-Por que?-Pergunto.
-Vai dormir com esse vestido apertado? Vai cortar sua circulação.-Ele diz.
Reviro os olhos para ele. Saio na cama e vou para o canto do quarto.
-Não olha.-Digo.
Ele vira de costas e murmura "como se eu nunca tivesse visto uma mulher sem roupas. "
Tiro o vestido rápido e coloco a blusa que vai até a metade da minha coxa. Não pedi
para ser baixa. Me deito na cama e me enrolo nos cobertores.
-Já. -Digo
Aleph se vira e deita ao meu lado de costas para mim. Faço o mesmo. Durmo
lembrando do longo dia de hoje e sorrio ao lembrar de Ben perguntando sobre eu e
Aleph.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 4
Acordo dando de cara no chão.
Me levanto com dor de cabeça e vontade de matar o primeiro que ver pela frente. Olho
em volta e estou no quarto na casa de Felipe e Aleph está esparramado na cama.
Lembro da noite passada e a dor na cabeça me força a sentar na cama. Se eu estivesse
mais disposta, Aleph estaria com a cara no chão agora, mas sinto que se mover um
músculo, vou explodir.
Ainda estou com a blusa de Aleph. O afasto e tento me deitar. Aleph é um fofo
dormindo. Ele tem enormes olhos selvagens que assim, parecem tão tranquilos que é até
difícil pensar nele como aquele babaca. Tem uma mecha no seu rosto. Seu cabelo não é
grande, mas ela está la. A afasto e no mesmo momento que faço isso, a porta se abre e
Ben me olha surpreso.
Ele observa a minha roupa e o que estou fazendo. Me encolho e tento parecer natural.
-Estamos fazendo café da manhã. -Ben diz. Olho pra Aleph me perguntando se devo
acorda-lo.-Ah, nem se incomode, geralmente ele dorme até meio dia.
Assinto e me levanto. Vou até Ben e passo por ele ciente que o mesmo está me olhando.
Vou até a cozinha e Maju e Gabi também estão vestidas como eu. Fico mais aliviada.
-Bom dia.-Digo.
-E essa cara? Aleph não te deu sossego ontem a noite?-Maju diz maliciosa.
Tento esconder o rubor e me sento.
-Isso se chama ressaca, e Aleph dormiu como uma pedra.-Digo.
Gusta me joga um olhar de lado. Ele abraça Gabi e, Felipe e Maju me servem café.
-Café preto, não gosto de leite.-Digo quando Maju está para colocar o leite.
Ela me entrega a xícara e tento afundar minha ressaca nela. Conversamos um pouco e
marcamos uma próxima. Felipe vai viajar, então vai ser apenas ano que vem. Maju e
Gabi comentam dos vestidos mais feios da festa e eu tento olhar pra elas sem sentir
vontade de vomitar.
Aleph aparece na sala.
-To começando a achar que tinha maconha naquela cama.-Gusta diz.
-A princesinha não me deixou dormir.-Aleph diz.-Ficou me chutando a noite inteira.
Jogo um olhar mortal para ele.
-Eu? Você sabe a onde eu acordei hoje? No chão!-Digo.
Ben e Maju riem e Aleph dá de ombros. Senta ao meu lado e Maju serve seu café.
-Sem...-Ele começa.
-Eu sei, sem leite. Vocês são estranhos.-Ela diz.
Aleph não liga para o que ela fala. Apenas toma um gole do seu café e olha para mim.
-Quando quiser ir me fala.
Assinto.
Ficamos conversando coisas banais até o telefone de Felipe tocar. Ele atende e passa
para o Aleph.
-É seu pai, mano.-Felipe diz.
-Eu não te falei pra bloquear o número dele?-Aleph diz irritado e Felipe dá de ombros.-
Me dá isso aqui.
Aleph sai da cozinha.
-Qual é a do pai dele?-Pergunto.
-Ele é um pouco chato, quer Aleph em casa e não aceita esse jeito dele de viver, se
quiser saber, se envolver com Aleph é furada.-Ben diz.
Não sei a razão, mas não gostei de Ben falando assim de Aleph, ainda mais por uma
coisa tão pessoal.
-E você já se envolveu com ele pra saber?-Digo e só depois me dou conta.
Nunca falei assim com Ben. Com Aleph, já me acostumei a falar assim, mas Ben é
diferente. Todos da mesa riem, menos eu e Ben. Ele me olha como se não acreditasse
que eu disse isso. Nem eu acredito, mas não me arrependo, Aleph não é como todos
dizem e acho que desse nosso acordo, pode sair uma grande amizade.
-Não, é só o que dizem.-Ben diz.
-Não acredite em tudo que dizem. -Falo.
Ben olha diretamente nos meus olhos. Engulo seco, mas não paro de encara-lo. Aleph
volta me fazendo desviar o olhar.
-Eu preciso resolver umas coisas, quer ir agora, Estela?-Aleph pergunta.
-Aham. -Murmuro.
Me despeço de todos, pego minhas coisas e saímos. Assim que entramos no carro,
Aleph suspira.
-Convencemos? -Ele pergunta.
Lembro dos comentários e os olhares de Ben.
-Com certeza. Só temos que continuar com isso para não pensarem ser uma coisa
passageira.-Falo.
Ele liga o carro.
-Então próximo passo, postar fotinha fofa com legenda de amizade. Me dá seu celular.-
Ele diz.
-Acabei de acordar e meu cabelo está um ninho de rato.-Reclamo.
E está mesmo. Não sou de frescurinha, mas eu me olhei no espelho hoje e desejei não
ter feito.
-Continua gostosa.-Aleph comenta.
Reviro os olhos. Para ele, estar bonita é ter peito e bunda. Isso é machista e cansa. E o
pior é que não sei se bato nele ou deixo pra lá. Na dúvida, fico calada.
-Vai fazer o que amanhã?-Aleph pergunta.
-Dormir.-Digo.
-Não sei se você gostaria, mas Ben e Maju vão no cinema amanhã e me chamaram. Ele
me disse para chamar uma garota, mas não disse quem.-Aleph diz.
Ver Ben com outra garota, ainda mais Maju, vai me dar dor de cabeça, mas sei porque
Aleph fez essa proposta, se quero realmente provocar Ben, tem que ser assim, dar o
troco com a mesma moeda. Vai doer? Com certeza, mas nunca fui de me restringir por
dores futuras, geralmente nem penso no que vai acontecer, apenas faço. Como Aleph
disse ontem à noite, viva o agora.
-Me manda mensagem com o horário.-Falo e saio do carro.
Escuto o barulho do carro partindo e entro em casa com minha chave. Encontro minha
mãe levando uma colher de cereal para a boca.
-Bom dia.-Digo mesmo sabendo que está quase na hora do almoço. Para ela ainda está
tomando café, ela e meu pai devem ter saído ontem à noite.
-E essa roupa?-Minha mãe pergunta.
Só agora percebo que ainda estou usando a camisa de Aleph. Minha mãe, sem dúvidas
algumas, deve estar pensando besteira. Sinceramente, com a cabeça da minha mãe, não
sei como eu não tenho uns 15 irmãos.
-É de um amigo, eu não ia dormir com aquele vestido apertado, né?
-E onde você dormiu? Ou melhor, com quem?-Ela pergunta indiferente, mas sei que
está louca para arrancar algo de mim.
Nunca fui de esconder as coisas da minha mãe, até porque não são muitas as coisas que
ela não me deixa fazer. Quando pergunto se posso ir em uma festa, vejo seus olhos
brilhando quase me perguntando se pode ir também. Mesmo ela fazendo isso, eu ainda
saia escondido. Porque a graça é essa. A adrenalina do medo dos pais descobrirem, a
parte de arquitetar mil planos para sair e não ser pego, tudo. Posso estar dando um mal
exemplo, mas o proibido é melhor.
-Mãe, se eu te contar algo, promete não contar pro papai?-Ele sim, não entenderia esse
meu plano bobo de conquistar Ben.
-Claro.-Ela diz colocando a tigela de lado.
-Lembra do garoto que te falei? O Ben?-Ela assente.-Ele não gosta de mim da mesma
forma, então um amigo meu, Aleph, que percebi que Ben sente ciúmes dele comigo,
sugeriu que tivéssemos uma espécie de amizade colorida para provocar Ben e ver se tem
alguma reação nele e eu conquista-lo assim. É loucura?
Ela pensa um pouco.
-Não é loucura. Sabe, seu pai morria de ciúmes de mim, na verdade, até hoje se algum
cara der em cima de mim, ele vai tentar mata-lo. Ele me disse uma vez que ciúmes é
uma coisa natural quando se gosta de alguém . Só quero que você entenda, se ele sente
ciúmes, ele tem algum sentimento por você.
Ouvir isso da minha mãe, me deixa mais esperançosa.
-Então...pode dar certo?
-Acho que sim.-Ela diz.
-Que bom, estou cansada de ser touxa.-Falo brincando
-Estela, amar é ser trouxa aos olhos de quem não conhece o amor.
Eu já ouvi isso antes, ou melhor, eu li. Ela faltou colocar algumas luzes piscando ao
redor dessa frase no seu livro. Ela tem razão. O amor nos deixa boba. Só quem ama ou
já amou sabe como é esse desejo interno de passar por qualquer situação apenas para ter
a pessoa. Sabe como é congelar no meio da pista de dança, sabe como é deixar os erros
da pessoa passar, sabe como é enxergar defeitos, como qualidades. Vemos as pessoas
com outros olhos e quando pensamos nisso e dizemos: "é verdade", estamos pesando
em alguém. Eu penso em Ben.
-Então eu devo realmente amar Ben, pois todos dizem que sou trouxa.-Digo.
Ela ri.
-Apenas ignore essas pessoas e siga seu coração. E quando nada der certo...-Ela começa.
-Apenas olhe para o céu e fale com as estrelas. Eu sei, você já me disse isso.
Ela olha no fundo dos meus olhos e coloca meu cabelo para trás.
-Vai lá tirar essa blusa, seu pai já deve descer, e convide esse amigo para almoçar ou
jantar qualquer dia desses.-Ela diz. Assinto e me levanto.-Ah, quase ia esquecendo,
Júlio está de férias da faculdade e vai passar umas semanas com a gente aqui em São
Paulo.
Ah não. Júlio é legal, apesar de vivermos nos alfinetando, gostamos de fazer isso um
com o outro, mas acontece que Sophia é apaixonada por Júlio. Ele é bonito e tal, mas
ela não entende o quanto é nojento ouvi-la suspirar por meu tio/primo. Não sei como me
referir a ele. Acontece que Júlio é irmão do meu pai e primo da minha mãe. Como
crescemos juntos e temos idades próximas, eu prefiro o considerar um primo.
Nem deixo minha mãe continuar falando, apenas vou para meu quarto e ligo pra Sophia.

☆☆☆☆☆☆
-Diga Aleph é o cara mais gostoso do mundo.-Aleph diz.
-Aleph, é o cara mais idiota do mundo.-Falo e o Flash quase me cega.
Pronto. Foto tirada, agora é só postar e ir encontrar Maju e Ben. Estou no carro com
Aleph em pleno domingo à noite. Contei a Sophia do que aconteceu na casa de Felipe e
contei e chegada de Júlio. Ele pirou, fez questão de marcar festas do pijama lá em casa.
Pelo que eu a conheço, só irá chamar Gusta, pois não quer nenhuma garota em cima de
Júlio. Ela reclama da minha paixão platônica, mas a dela é ainda pior.
Júlio está no segundo período do curso de História. Ele estuda na UNB, em Brasília. Ele
é mais próximo da minha mãe do que do meu pai, apesar dos dois serem irmãos. Não é
para menos, o passado deles é complicado, mas sei que não há ressentimento, é apenas
questão de afinidade.
Chegamos ao shopping. Eu e Aleph saímos do carro e vamos juntos até o cinema.
-Esqueci de te falar, minha mãe te chamou pra almoçar ou jantar qualquer dia desses.-
Falo.
Ele enruga a testa.
-Seus pais são diferentes, quer dizer, eles são legais.-Ele diz.
-De fato eles não são normais, parecem dois adolescentes dentro de casa, acho que é por
isso que são liberais comigo.-Falo.
Chegamos na bilheteria e encontramos Ben e Maju. Eu sei que eles não estão
namorando, mas estão saindo e isso pode ser um pouco pesado para mim. A cara de Ben
ao me ver, valeu a pena. Ele realmente não me esperava aqui. Ele e Aleph não são
nenhum pouco próximos. Até Aleph estranhou o convite de Ben e suspeito que ele
tenha feito isso para ter a certeza se eu e Aleph estamos saindo. Se Aleph trouxesse
outra garota, nosso plano iria por água a baixo.
-Estela! Não sabia que você vinha!-Maju diz.
Ela não é má pessoa, mas o fato de estar próxima demais de Ben, me irrita. Claro que
eu sei que ela faz parte do grupinho e que eles são bem amigos, mas mesmo assim.
-Aleph me chamou ontem depois que saimos da casa de Felipe, não tive como avisar.-
Digo a ela.
Dou um sorriso ao Ben e ele retribui. Ele deveria ser preso por um sorriso tão bonito.
Sinto minhas pernas virarem gelatina e me apoio em Aleph que cumprimenta os dois e
se vira pra mim.
-Que filme quer assistir?-Ele pergunta.
-Na verdade, a Maju já escolheu.-Ben diz.
-Não tem problema se ela quiser assistir outro, eu to aqui pela pipoca.-Maju diz.
Sorrio para ela e encaro o painel com os filmes que estão em cartaz. Eu gosto de todo
tipo de filme, menos os que tem aranhas. Tenho aracnofobia*.O que é contraditório ao
argumento de minha mãe sobre eu não ter medo de nada.
-Aquele de terror?-Pergunto.
-Essa é minha garota!-Aleph diz bagunçando meu cabelo. Maju concorda e Ben não tem
outra escolha se não for concordar. Ele e Aleph vão comprar os ingressos e eu e Maju a
pipoca.
-Você e Aleph então? Eu confesso, vocês eram os últimos que pensaria ser um casal.-
Ela diz quando estamos sozinhas.-Pelo menos você esqueceu o Ben.
-Aleph e eu somos apenas amigos. E não esqueci o Ben, só...-Não termino, pois não sei
o que falar a ela.
-De qualquer forma, você e Ben ou você e Aleph, são um casal bonito.-Ela diz.
Compramos duas pipocas Jumbo e quatro refrigerantes. Os garotos chegam e já estamos
atrasados para a próxima sessão. Entramos e sou a ultima a sentar, a única cadeira
disponível é entre Ben e Aleph. Tenho certeza que Aleph fez de proposito. Os trailes
terminam e o filme começa.
Na metade do filme, nós quatro estamos quase para ser expulsos. Acontece que Aleph e
Ben passaram o filme todo fazendo graça e eu e Maju rindo deles. O que era um filme
de terror, virou comedia. Gosto do senso de humor de Ben. Ele é um pouco lento para
entender as coisas e isso o torna mais engraçados. Sempre que faz uma piada, procura
risadas e sempre encontra as minhas.
-É impressão minha ou esse lugar ficou mais frio de repente?-Maju pergunta.
Ben passa o braço por seus ombros e ela se aconchega nele. Aleph olha para mim
tentando segurar a risada e abre os braços. Reviro os olhos e me aconchego nele.
-Ele é um babaca, mas logo vai perceber o que ta perdendo.-Aleph sussurra.
-E o que ele ta perdendo?-Pergunto indiferente.
-Você, mas pensando bem, as únicas qualidades suas é ser gostosa e beijar bem.
-Você também não é nada mal.-Digo.
-Isso é sobre ser gostoso ou beijar bem?-Ele pergunta e dá um pulo com a cena do filme.
Gargalho sua reação e deixo a pipoca de lado.
-Os dois, mas não se acha, você ainda é o maior babaca que ja conheci.-Digo virando
seu rosto para mim.
-Babaca ou não, temos um acordo e você tem que me beijar quando eu estiver com
vontade.-Ele diz.
Sua boca está próxima a minha e confesso, quero me perder em seus labios como na
ultima vez. Essa é a parte boa de ter um amigo colorido. Podemos dizer o que quiser um
pro outro e ele não vai pensar que esteja apaixonada.
-E você está com vontade?-Pergunto mordendo o lábio.
Ele me beija respondendo minha pergunta. Ele pode ser o que for, mas beija bem. Não
melhor que o Ben, mas tenho a teoria que se você tem sentimentos pela pessoa, o beijo
vai ser perfeito.
Ouço Ben tossindo ao meu lado. Aleph e eu sorrimos e nos separamos. Olho pra Ben e
ele não está com uma cara nada boa. Me sinto culpada e ao mesmo tempo, bem. Isso
pode ser jogo sujo, mas é a única forma que encontrei de fazer Ben sentir algo por mim.
Quando o filme acaba, a coisa mais inusitada acontece. Ben se oferece para me deixar
em casa. Olho diretamente pra Aleph procurando ajuda. Ele diz que não tem problema e
vai embora. Ben deixa Maju em casa primeiro e agora estamos a sós. Só a proximidade
dele me deixa desnorteada. Queria morar no Canadá para ficar mais tempo sozinha com
ele. Ficamos calados o caminho inteiro e quando chegamos em frente a minha casa, o
agradeço.
Abro a porta e antes de sair, Ben segura meu braço e seu toque faz todo meu interior
revirar. Olho para ele.
-Não importa se você está com ele ou não, pois eu sei que ainda pensa em mim. -Ben
diz e me solta. -Boa noite.
Nem sei como consegui sair do carro, mas quando percebo, estou na minha cama
tentando digerir as palavras de Ben.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 5
-Quer dizer então que amanhã Aleph vem jantar aqui?-Sophia fala com nojo na voz.
Não ligo se ela fala assim dele, sei que ela não gosta dele e tem seus motivos. Estamos
quase no final de dezembro. Faltam três dias para o Natal e Júlio chegou ontem. Sophia
marcou a festa do pijama para hoje e Gusta chegará a qualquer momento.
Nesse período, não tenho saído muito com Aleph, apenas o bastante para postar uma
foto toda semana, e estamos muito amigos. Não ficamos mais juntos apenas pelo
acordo, saímos juntos e nos divertimos pela companhia um do outro. Na última vez que
saímos, ele disse que poderia vir amanhã jantar aqui em casa. Meus pais já estão
informados e tenho certeza que minha mãe vai preparar um banquete.
-Sim e você e Gusta vão estar também. -Falo.
-Portanto que minha cadeira seja ao lado de Júlio, por mim tudo bem.-Ela diz.
Reviro meus olhos a ela e termino de arrumar meu quarto. Nessas festas do pijama,
apenas botamos o papo em dia. Gusta fala da namorada, Sophia fala de Júlio e eu falo
de Ben. Não é chato, afinal eu e Gusta sempre soltamos uma piadinha. Visto a blusa do
meu pijama e quando vou tirar a calça, minha mãe aparece na porta.
-Estela, Sophia, o jantar ta na mesa, que horas o Gusta vai chegar?-Minha mãe pergunta.
-É só eu ficar algumas semanas sem pisar aqui que já sente saudades, é amor demais.-
Gusta diz dando um susto na minha mãe.
Ela dá um tapa na cabeça dele. De uns tempos para cá, Gusta tem tratado minha mãe
como se fosse um de seus amigos e ela faz pior.
-Se acha só um pouco, né? Já terminou com a namorada e se assumiu?-Minha mãe
pergunta a ele.
-Quando eu sair do armário, te aviso para você me apresentar uns bofes. -Gusta
responde fazendo minha mãe gargalhar e ir para a cozinha.
Ele nos cumprimenta e vamos todos jantar. Minha mãe fez omelete. É o preferido de
Júlio. Sophia não gosta de ovo e minha mãe fez frango para ela.
Sentamos todos a mesa, inclusive meu pai e Júlio que está na minha frente.
-Como está a faculdade, Júlio?-Minha mãe pergunta.
-Tô levando.-Ele diz.
Júlio não é de muitas palavras.
Sophia aperta meu braço por debaixo da mesa e eu olho para ela prestes a perguntar o
que ela ta fazendo quando percebo Júlio sorrindo para ela. Será que eu fico assim perto
de Ben? Deus, minha amiga está quase babando.
-Então...mãe, o que vai cozinhar amanhã pro Aleph?-Pergunto e com a menção do nome
de Aleph, Sophia desperta.
-Já ta pensando na janta de amanhã? Esse é minha garota.-Meu pai diz.
-Do que ele gosta?-Minha mãe pergunta.
-Ele não tem frescura com comida, mas eu sei que ele gosta de massa.-Digo.
-Namorado novo?-Júlio pergunta com um sorriso implicante.
Gusta dá uma risada baixa como se fosse engraçado.
-Só um amigo.-Digo.
O assunto acaba por aí. Após o jantar, Júlio diz que vai encontrar uns amigos em uma
boate e Sophia, Gusta e eu vamos preparar nossas coisas. Ele pega tudo que vamos
precisar nos armários e eu mudo o Wifi para meu quarto, assim o sinal fica melhor.
Sophia fica sentada mexendo no celular até terminarmos.
-Pronto. Internet rápida.-Digo.
Gusta joga tudo que ele pegou na cama e seu celular toca. Ele olha no visor e joga o
celular na cama.
-Quem era?-Sophia pergunta.
-Gabriela.-Gusta diz.
-Por que não quer atender sua namorada?-Pergunto.
-Porque ela não é mais minha namorada.-Gusta fala indiferente.
Olho pra Sophia e ela está com a mesma cara de confusa. Eu gosto da Gabi, não tenho
nada contra ela, mas Sophia não a suporta. Na verdade, Sophia não gosta de quase
nenhuma garota. Acho que ela só gosta de mim porque fomos criadas juntas.
-Terminaram por quê? -Pergunto.
Ele senta e encosta a cabeça na parede. Nunca achei que ele e Gabi tivessem aquela
química ou sentissem um pelo outro o que sinto por Ben, mas eles eram um casal bonito
e estão juntos a algum tempo. É de se estranhar eles terminarem de uma hora para outra.
Gusta tenta não demonstrar tanta emoção, mas qualquer um no lugar dele estaria pior.
-Ela me traiu.-Ele diz.
Minhas mãos vão direto para minha boca. Sophia parece não acreditar também.
-Com quem?-Sophia pergunta.
-Com ninguém...quer dizer, ela tentou beijar o Aleph e ele não deixou, aí ela falou que
eu não iria saber, mas ele mesmo assim não quis.-Gusta explica.
-Nossa. Parece que Aleph realmente está cumprindo o acordo. -Penso alto.
-Ele não fez pelo acordo, fez por nossa amizade. -Gusta diz pensativo.
Eu estou com nojo dela. Ele é meu melhor amigo e sei que ele nunca fez algo parecido
com ela e a vaca faz isso.
O silêncio é interrompido por uma risada da Sophia. Olhamos pra ela como se fosse
louca.
-Eu tava pensando, pelas histórias que nossos pais contam, sua mãe armaria algum
plano pra se vingar. -Sophia diz olhando pra mim.
Ela tem razão, minha mãe era um pouco levada.
-Ele entraria na casa da Gabi escondida e rasparia as sobrancelhas dela que nem ela e
sua mãe fizeram com aquela Celeste.-Digo a Sophia.
Damos algumas risadas, mas Gusta fica sério.
-Eu faria isso. -Gusta diz.
Olhamos para ele.
-Eu também. -Digo.
-Nunca gostei dela.-Sophia diz.
O silêncio toma conta do lugar. Nunca tive tanta vontade de seguir os passos da minha
mãe como agora. Meus pais sabem que costumávamos sair à noite, por mais que eu
quisesse que fosse escondido, eu sabia que eles descobriam, mas não me diziam
achando que iria estragar a melhor fase da minha adolescência. Uma vez peguei o
celular da minha mãe para fazer uma ligação e vi um aplicativo diferente. Então
descobri que ela rastreava meu celular. Não a culpei, pois sou uma adolescente e por
mais que ela seja liberal, ainda é mãe e se preocupa.
-Vamos fazer?-Pergunto.
Gusta tira as chaves do seu carro do bolso.
-Eu tô com o carro do pai, alguma de vocês tem creme depilatório?-Ele pergunta.
-O meu acabou.-Digo.
-Não trouxe nenhum. -Sophia diz.
-Então pensamos em outra coisa no caminho.-Digo.
Saímos e vamos o caminho inteiro tentando pensar em algo. Nem acredito que estamos
fazendo isso. Até entendo porque meus pais gostavam, estamos fazendo planos e é
divertido, toda essa adrenalina é surreal. Já é mais de meia noite e torcemos para que
Gabi esteja dormindo. Estamos parados em frente à sua casa. A janela está aberta e
todas as luzes estão acesas. Decidimos improvisar com o que encontrarmos.
-Eu quero muito ir no banheiro.-Gusta diz.
-Agora não é hora.-Falo.
Conseguimos ver a cabeça de Gabi pela janela.
-E agora?-Sophia pergunta.
-Esperamos ela sair do quarto e fazemos alguma coisa. -Digo.
Ficamos algum tempo sentados e Sophia começou a falar sobre desistir e voltar pra
casa. Gusta e ela começaram uma pequena discussão e eu tive que apartar.
-Sophia, se você não quiser fazer, pode ficar no carro.-Falo.
-Você não está com medo?-Ela pergunta.
Eu posso estar sentindo mil emoções, mas nenhuma delas é medo. Não quero mais
nenhum laço de amizade com Gabi então se algo ser errado, não tenho nada a perder.
-Não, vai ser divertido.-Falo.
-Ela está se levantando!-Gusta diz.
Olhamos para a janela, Gabi levantou e está indo em direção a porta.
-Tudo bem, eu e Gusta entramos e Sophia vigia, qualquer coisa manda uma mensagem.-
Falo.
Arrasto Gusta pela gola da camisa e corremos até a janela. Ele me dá uma ajuda para
subir e entramos os dois no quarto. Recebo uma mensagem de Sophia dizendo que Gabi
está no sofá e olho pra Gusta.
-O que vamos fazer?-Sussurro.
Olho em volta e procuro algum marcador para escrever na parede ou algo parecido, mas
consigo enxergar apenas uma parede rosa cafona e móveis brancos.
Se eu fosse minha mãe, o que eu faria?
Olho em volta e tenho uma ideia.
-Gusta, ainda está com vontade de ir ao banheiro?-Pergunto.
-Muita.-Ele diz.
Vou até o guarda-roupa e o abro.
-Lhe apresento o seu banheiro.-Falo como uma assistente de palco.
Gusta me olha confuso e eu o empurro para o guarda-roupa. Ouço o barulho do seu
zíper abrindo e me viro. Não é uma coisa que eu queira ver. Ando pelo quarto e
encontro uma tesoura. Ela tem uma prateleira cheia de bonecas. Sem pensar, corto o
cabelo e cada uma e quando estou na última, meu celular vibra.
E uma mensagem da Sophia avisando que Gabi está vindo.
-Gusta, ela ta vindo!-Falo e corro até a janela.
Olho pra Gusta e ele está fechando as portas do guarda-roupa e correndo atrás de mim.
Quando ouço a porta se abrindo, minha cara já está no gramado do lado de fora e Gusta
está caído em cima de mim.
Ouvimos o grito de Gabi e tentamos segurar o riso. Meu coração está batendo forte e
meu corpo todo envolto à adrenalina. Minha respiração está acelerada, mas o sorriso
não sai do rosto.
Sophia manda outra mensagem dizendo que já está no carro e eu e Gusta vamos até lá.
-Isso foi demais!-Gusta diz.
-Meu coração tá muito acelerado! Meu Deus! Aquilo foi surreal!-Digo.
-Eu não participei tanto, mas estou me sentindo como vocês.-Sophia diz.
-Mas que merda é essa!?-Gabi grita tão alto que conseguimos escutar.
Acho que nunca gargalhei tão forte e nunca um riso meu foi tão verdadeiro quanto esse.
Agora entendo o que minha mãe dizia sobre viver a vida. Isso é viver a vida, é se
arriscar, é sentir fortes emoções, é estar com quem você ama, independente do lugar ou
da situação, pois eles fazem qualquer lugar ficar colorido.
-Para casa agora?-Gusta pergunta ligando o carro.
-Podíamos passar no Mcdonalds antes.-Sophia diz.
Gusta assente e dirige. Fico o caminho inteiro pensando no que acabamos de fazer e
sempre sorrio. De onde tirei a ideia de Gusta fazer xixi nas roupas de Gabi? Ela deve
estar morrendo de nojo agora. Chegamos ao Mcdonalds e entramos. Eu peço batata,
Gusta e Sophia pedem dois sanduíches, quando vamos pagar, recebo uma mensagem da
minha mãe pedindo para levar um sanduíche para ela. Com certeza ela deve ter se dado
conta que saímos e visto no aplicativo do seu celular que estamos aqui. Peço um
sanduíche para ela e assim que nossos lanches chegam, comemos e conversamos.
O telefone de Gusta toca e ele faz uma careta.
-Nós devíamos ter jogado o celular na privada.-Ele diz.
-Deixa eu atender.-Sophia diz.
Gusta entrega o celular para ela e Sophia atende.
-Alô! Não, ele não está, quem quer saber?....Ah, desculpa Gabriela, é que aqui no
celular está escrito piranha... Falo sim...Tenha uma boa noite....Que você queime no
inferno também querida, um beijo.-E desliga.
Sophia falou na maior calma do mundo, o que deve ter irritado muito a Gabi. Gusta e eu
estamos quase caindo da cadeira de tanto rir.
-Vocês são as melhores amigas do mundo, serio.-Gusta fala após um ataque de risos.
-Está se sentindo melhor?-Pergunto.
-Muito, Gabi era uma nojenta, nem sei como aguentei ela esse tempo todo.-Gusta diz.
-Agora vamos pra casa, pois o Júlio já deve estar chegando.-Sophia diz.-Ele acabou de
postar uma foto dizendo que a noite foi boa.
Pego o lanche da minha mãe e vamos para casa, mas no caminho, vimos uma blitz e
como ninguém tem carteira, desviamos o caminho totalmente. Chegamos a achar que
estávamos perdidos, mas Gusta reconheceu a rua da casa de Aleph. Ele nos mostrou a
casa. É bonita, quem vê, acha que alguma mulher mora, pois tem cortinas florais. Aleph
nunca falou de sua mãe, a única coisa que sei de sua família, é que seu pai é um pouco
rabugento. Isso não é justo, amanhã ele vai conhecer meus pais e eu não sei nada dos
seus. Vou cobrar dele ao menos uma apresentação. O seu carro está parado na frente e
está tudo apagado.
Chegamos em casa e Júlio chegou 2 segundos depois. Meu pai emprestou o carro para
ele e agora ele está guardando na garagem. Sophia fez com que nosso caminho até a
porta de casa fosse lento o suficiente para Júlio entrar conosco.
-Curtindo também?-Júlio perguntou pra mim.
-Claro que sim, mas nossa curtição hoje foi diferente.-Digo.
-Imagino, pra você sair com essa blusa de dormir.-Ele fala.
Olho para minha blusa e ela é a parte de cima do meu pijama favorito. Agora lembrei
que eu estava me vestindo quando Gusta chegou e eu esqueci de vestir o pijama de uma
forma que estou de calça jeans e blusa de dormir.
-Pelo menos eu não tô cheirando a perfume barato.-Digo.-Isso tem cheiro de beterraba.
Entramos ainda nos alfinetando e Gusta e Sophia apenas assistindo e rindo. Ele dá boa
noite para nós e Sophia faz uma voz tão sensual que Gusta e eu ficamos incomodados.
Vou deixar o lanche para minha mãe. Ela e meu pai estão assistindo um filme de terror.
Ela me agradece e eu volto ao meu quarto. Nós três ficamos rindo e nos divertindo e
encerramos a noite com um filme pela internet.
Capitulo 6
-Mãe, por favor, para de cozinhar, ninguém come tanta massa em um só dia.-Digo.
-Sua mãe come.-Meu pai grita da sala.
Minha mãe fez lasanha, macarronada, pão de alho e pizza caseira para o jantar porque
eu disse que Aleph gosta de massa. Já está quase anoitecendo e Aleph já me mandou
uma mensagem dizendo que está chegando. Fiz Gusta e Sophia virem e os dois estão
com Júlio e meu pai na sala jogando vídeo game. As vezes quando Gusta vem para cá,
sinto como se ele fosse o melhor amigo do meu pai e não meu. Minha mãe deu um
vídeo game pro meu pai no aniversário dele, mas ela jogava mais que ele. Agora ela está
terminando de escrever um livro e não joga mais.
-Eu estou em processo criativo. -Minha mãe diz.
O que significa, que ela está mais louca que o normal. Ela coloca tudo na mesa e eu vou
me trocar. Visto uma roupa básica, não é como se eu fosse me arrumar toda pra ver
Aleph.
A campainha toca e peço para alguém atender. No momento que saio do quarto, vejo
Sophia revirando os olhos de costa para Aleph. Ele parece um pouco desconfortável,
mas me vê e abre um sorriso. Vou até ele e dou um abraço. Ele me envolve em seus
braços e consigo sentir o odor forte do seu perfume amadeirado. Nos afastamos o
suficiente para ficarmos cara a cara.
-Isso é cheiro de pizza?-Ele pergunta baixinho. Acho interessante seus olhos serem
enormes e mesmo assim ele ficar atraente.
-Pizza e outras mil coisas.-Digo e antes que posso terminar a frase, sou jogada pra trás
por Gusta. Ele cumprimenta Aleph do jeito deles e eu dou língua pra ele. Percebo Júlio
e meu pai apenas observando.
-Esse é Aleph.-Digo.-E Aleph, esse é Júlio, meu primo e Sam, meu pai.
Aleph cumprimenta os dois e minha mãe aparece na sala. Ela examina Aleph e me dá
um olhar de aprovado. Quero muito me enfiar no primeiro buraco que achar.
-E essa é Luna, minha mãe.-Digo.
Minha mãe cumprimenta ele e chama todos para jantar. Como prometido, Sophia se
senta ao lado de Júlio. Aleph fica entre mim e Gusta, e Sophia ao meu lado. Minha mãe
está ao lado de Gusta e meu pai entre ela e Júlio.
-Você gosta de massa, Aleph?-Minha mãe pergunta. Digo "cínica" a ela sem emitir som
algum assim que ela olha para mim, e a mesma apenas me dá um sorriso.
-É meu preferido. -Aleph diz.
Nos servimos em silêncio, apenas com o barulho dos talheres batendo nos pratos. Fico o
tempo todo olhando para o meu pai que examina Aleph como se ele fosse um animal
com espécie não identificada. Confesso que estou um pouco ansiosa pelo julgamento
dele. Ao contrário de muitos adolescentes hoje em dia, levo a opinião dos meus pais
muito a sério.
-Então, como se conheceram?-Minha mãe pergunta.
-Estudamos juntos.-Digo o óbvio.
-Disso eu sei, quero saber como ficaram tão amigos e...-Ela não termina pois dou a ela
um olhar repreensivo. Ela iria perguntar como ficamos tão amigos para ter uma amizade
colorida.
-Gusta é meu melhor amigo, então Estela sempre ficava no nosso grupo, e um dia pedi
que ela me ajudasse em Química e Matemática, então ficamos bem amigos a partir
desse dia.-Aleph diz.
-Química e matemática do segundo ano é um terror, sei como é.-Meu pai diz.
Olho pra minha mãe e ela murmura "pra você era mesmo".
-Mas graças a Estela, estou no terceiro ano.-Aleph diz olhando pra mim.
Eu apenas o ajudei a lembrar que é capaz se ele se interessar. Mas ele fala como se
realmente fosse grato a mim, como se eu tivesse descoberto a cura do câncer.
-Não foi nada.-Digo um pouco sem graça
Sophia me cutuca e eu olho para ela.
-Ele ta fazendo de propósito.-Ela sussura.
Quem está fazendo o que de propósito? Juro que as vezes (sempre), tenho vontade de
bater em Sophia para ela explicar melhor o que diz.
-Quem?-Pergunto.
Ela olha pra Júlio e ele está arrumando o topete. Imito estar vomitando para Sophia e ela
me dá um tapa.
-O que vai fazer no Natal?-Minha mãe pergunta ao Aleph.
-Vou passar com meu pai, minha irmã e meu sobrinho. -Ele diz.-Geralmente a gente
senta na sala e abre os presentes.
Aleph diz como se estivesse lembrando. Eu realmente estou curiosa sobre sua família,
mas Aleph não é do tipo que se abre fácil. Suspeito que ele leva essa vida, para tentar
esconder seus problemas emocionais. Não sou psicóloga ou algo assim, mas sou
apegada em detalhes. As vezes isso é chato pois percebo quando as pessoas mudam por
pequenos gestos e as vezes, nem é do jeito que imagino.
-E sua mãe?-Meu pai pergunta.
Aleph não responde, ele olha para o meu pai, depois para mim. Seu olhar prende no
meu e sinto ele desconfortável com a pergunta.
-Ela não resistiu a uma cirurgia há dois anos. - Ele diz por fim e encara o prato na sua
frente.
Às vezes fico imaginado como seria perder minha mãe e não sei se suportaria a dor. Ela
está sempre comigo, para qualquer coisa, não só ela, como meu pai. Minha mãe sempre
me diz que eu era completamente apaixonada pelo meu pai quando era pequena. Ela diz
"era apaixonada" como se eu ainda não fosse. Acho que isso acontece e na vida,
procuramos alguém parecido com aquele homem que você se apaixonou quando
criança. Sabe quando vestíamos as roupas da nossa mãe para parecer ela? É porque
queremos ser iguais a ela, uma mulher que o pai se apaixonou. Acontece que ele nos
amava antes mesmo de existirmos.
A jantar terminou com algumas perguntas sobre Aleph e depois fomos para a sala. Notei
que Gusta e Aleph sumiram. Logo que nos mudamos para essa casa, meus pais a
reformaram e fizeram uma pequena sacada no quarto da minha mãe. Lá da de ver as
estrelas e também um pouco da cidade. Gusta, Sophia e eu, sempre que nossos pais
vinham jantar aqui, brincávamos de esconde-esconde e Gusta e eu sempre nos
escondíamos na sacada, pois Sophia tinha medo de altura e não procurava lá. Uma vez,
Sophia desistiu de nos procurar, mas nós dois continuamos lá e dormimos. Gusta guarda
um pedacinho daquele dia, pois ele adora aquela sacada tanto quanto eu e aposto que é
lá que está agora.
Subo as escadas e vou até o quarto da minha mãe. A porta que leva a sacada está aberta
e eu coloco o pé dentro. Gusta e Aleph estão conversando, mas não me viram. Quando
ouço o meu nome, volto para o quarto e tento ouvir a conversa.
-Eu não sei, ta? Só tô confuso, nem sei por que te disse isso.-Aleph diz.
-Disse porque sou seu melhor amigo, mas não esquenta, isso é normal, sentir atração,
acontece com qualquer um, a Estela é bonita, vai me dizer que nunca sentiu isso com
ninguém antes?-Gusta diz.
-Ela é diferente, sabe? Ela bagunça até o cara mais organizado, imagina eu que já sou
uma bagunça. -Aleph diz.
Escuto uma risada fraca de Gusta.
-Vai por mim, isso é só atração, mas se você sentir algo a mais, te aconselho a parar
com esse lance de vocês.-Gusta diz.
-Tem razão, não é como se eu fosse me apaixonar, né? Ela nem faz o meu tipo, as vezes
a vejo como um amigo em vez de amiga, e isso vai acabar logo, o babaca do Ben ta
começando a ver como a Estela é, e não vai demorar até ele ir atrás dela.-Aleph diz.
Eu posso ser cheia de defeitos, mas não entendi essa de que não sou o tipo dele? Eu
deveria estar triste? Que eu saiba, o tipo dele é vadia sem noção. Espero alguns
segundos e entro. Os dois me dizem "oi" e eu me escoro ao lado de Gusta.
-O que fazem aqui?-Pergunto.
-Só tô mostrando pro Aleph o único lugar de São Paulo que a poluição não impediu de
ver as estrelas. -Gusta diz.
Não sei que macumba foi essa que minha mãe fez, mas daqui vemos o céu
perfeitamente, enquanto em outros lugares, parece estar sem estrelas. Minha mãe tem
essa coisa com estrelas e confesso que não sou muito diferente, afinal, não tem como
não olhar para esse céu e não ficar encantada com tamanha beleza.
-Vou ver se ainda tem pão de alho, vocês querem?-Gusta pergunta.
-Não.-Digo.
-Não, mas se ainda tiver pizza, pode trazer.-Aleph diz.
Gusta pisca e sai.
Aleph olha para mim e eu lembro da conversa que ouvi.
"Ela bagunça até o cara mais organizado, imagina eu que já sou uma bagunça".
Acho que essa foi a coisa mais doce que disseram de mim e foi de um cara que sente
apenas atração por mim. Minha vida amorosa sempre foi uma bosta mesmo, Ben
conseguiu me esgotar totalmente. Mas embora eu tenha sofrido por Ben, tenha chorado,
sido trouxa milhões de vezes, eu acredito no amor. Acredito que duas pessoas podem se
apaixonar e ficarem juntas a vida inteira. Sim, eu acredito que todos temos um Príncipe
encantado, ele apenas não vem com cavalo branco e uma rosa na mão. A única coisa
que ele traz, é nossa outra metade. Eu acredito que tem alguém para a gente aí fora,
acredito no amor verdadeiro e acredito na intensidade de um beijo de amor. O que posso
fazer? Eu apenas acredito pois Deus não daria a capacidade de amar, sem nos dar
alguém para amar.
E eu acredito que Ben é minha outra metade e acredito que foi ele que Deus reservou
para mim.
Eu acredito, e acreditar, foi o que me sustentou esse tempo e não me deixou cair.
Então sou arrancada dos meus pensamentos por dedos estalando na minha frente. Pisco
e olho para Aleph.
-Eu falei com você.-Ele diz.
-Foi mal, eu tava só pensando um pouco.-Digo.
Ele se apoia no parapeito e olha o movimento de carros.
-Acho que seria bom você ir lá em casa qualquer dia desses, já que estamos nesse
acordo, posso tentar usá-lo para meu pai parar de pegar no meu pé, ele ta insuportável e
hoje quase não consigo sair de casa.-Ele diz.
Aleph está me ajudando tanto com Ben e sinto como se eu fosse inútil nesse acordo.
-É só marcar.-Digo.
-Podemos fazer isso depois do ano novo. -Ele diz. -Falar nisso, vai passar a onde?
-Dormindo.-Falo.
-Vem cá, você fez alguma coisa na sua vida que não seja dormir?-Ele pergunta
brincalhão.
Às vezes eu acordo para comer.
Dou um risada baixa e não o respondo.
-E você?-Pergunto após algum tempo.
-Aonde vou passar o ano novo?-Ele pergunta e eu assinto. -Vai ter uma festa na
cobertura de um hotel que Felipe alugou, mas ele vai viajar e como já tinha pago,
deixou comigo e com Ben. Vamos dar uma festinha, se quiser ir, eu agradeço, pois é
tradição o primeiro beijo de ano novo ser a meia noite e você sabe, eu te prometi não
ficar com mais nenhuma garota.-Ele diz.
Eu realmente não estou com vontade de passar o ano novo em uma festa. Me sinto
culpada por Aleph, nunca parei para pensar que deve ser difícil para ele ficar apenas
comigo. E se por minha causa, ele perder o amor da vida dele? Pode ser exagero, mas
pode acontecer.
-Eu te libero do acordo por um dia.-Digo.
-Sério? Você não precisa fazer isso se quiser.-Aleph diz surpreso.
Até eu estou surpresa.
-Tá tudo bem, é só um dia.-Digo.
Ele assente e volta a olhar pra rua. Gusta volta com um pedaço de pizza em uma mão,
dois pães de alho na outra mão e um na boca.
Ele entrega a Aleph o pedaço de pizza e me oferece o pão de alho. Recuso e tento
controlar o enjoo vendo Gusta enfiar os três pães de alho inteiros na boca e após
mastigar, me mostrar o melequeiro que ficou na sua boca.
Contamos ao Aleph o que fizemos com a Gabi e ele disse que somos loucos e que na
próxima vez devemos chama-lo. Quando fica tarde, Gusta e Aleph vão embora e Sophia
dorme aqui em casa. Ela vai me ajudar a escolher algo para o Natal. Vamos fazer uma
grande festa com todos os amigos da minha mãe e meus avós.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 7
Hoje é 31 de dezembro, às dez e trinta e seis da noite, e eu estou deitada na minha cama
olhando para o meu teto com estrelas de plástico que brilham no escuro, pensando sobre
a festa de hoje. Eu autorizei Aleph a beijar uma garota e isso não sai da minha cabeça.
Eu estou arrependida, mas entendo o lado dele. Ele está meio que preso a mim e me
sinto culpada, mas ao mesmo tempo, não quero ele beijando outra garota. Não é ciúmes,
é apenas...nem eu sei explicar.
Falei com minha mãe antes de ela sair, ela e meu pai foram passar o ano novo com os
amigos. Ela me disse para ir a festa, me divertir, e pelo menos essa noite, esquecer desse
acordo, esquecer de Ben e esquecer de qualquer coisa que me impeça de tomar algumas
doses de Vodca. Ela me disse apenas para não esquecer, o celular e os golpes de Tae-
kwon-do que aprendi quando mais nova. A maiorias das meninas queriam balé, mas eu
queria bater em alguém e arrastei Sophia comigo. Fizemos apenas alguns meses, pois o
horário ficou apertado e saímos, mas ainda aprendi algumas coisas.
Se até minha mãe diz que devo ir à festa, acho que devo realmente fazer isso. Mas não
vou sozinha, Sophia vai passar o ano novo em casa, posso tentar convence-la a ir. Júlio
disse mais cedo que estava procurando um lugar para ir com os amigos, acho posso
fazer isso dar certo.
Saio do meu quarto e encontro Júlio no telefone.
-Ei, ainda ta procurando um lugar pra ir?-Pergunto.
Ele coloca a mão no microfone do telefone e olha para mim.
-Estou quase chamando meus amigos pra cá.-Ele diz.
-Aleph vai dar uma festa na cobertura de um hotel, Gusta vai e se quiser pode levar seus
amigos.-Digo.
Ele assente e volta a falar no telefone.
Vou para o meu quarto e procuro meu celular. Tem uma chamada não atendida de
Gusta. Ignoro e ligo pra Sophia.
-Estela?-Ela pergunta.
-Não, sua avó.-Falo e escuto ela bufar no outro lado da linha.-Se arruma, vamos a uma
festa.
-Ah não, achei alguns livros antigos na biblioteca e já estou no quarto livro da saga,
não vou sair daqui até terminar. -Ela diz. - E além disso, só quer ir para vigiar o Ben.
Sophia e seus livros. Gosto de ler, mas não tanto quanto ela. Sophia já leu sagas com
dez livros em menos de uma semana, e não eram pequenos. Ela amanhecia o dia lendo,
dormia algumas horas e voltava a ler. Ela estava viciada e não saia mais de casa, seus
pais tiveram que proibi-la de ler livros por alguns meses, mas ela voltou.
Confesso que ainda não tinha pensado em Ben, mas esse é outro motivo para eu ir, e
vou deixar ela pensar que é apenas por Ben.
-Está me trocando por um livro?-Pergunto.
-Você já leu Harry Potter? Meu Deus, como alguém em sã consciência diz ser mais
importante que ele? -Ela fala indignada.
Tenho que faze-la ir comigo a essa festa.
-Júlio vai.-Digo.
Escuto o barulho de algo cair no chão.
-Você acha que branco é muito clichê? Acho que vou de vermelho, é a cor do amor, não
é mesmo?
Caio na gargalhada.
-Te pego em meia hora.-Digo e desligo o telefone.
Agora a parte mais complicada, a questão que assombra a humanidade feminina. Você
pode ser o que for, patricinha, gótica, desleixada, ou simplesmente não ligar para esse
tipo de coisa. Mas uma coisa é certa, sempre que for sair de última hora para encontra
um garoto que está afim, você se fará seguinte pergunta:
Com que roupa eu vou?
Não tenho nada no meu guarda-roupas que me sirva para usar hoje. Se eu for seguir o
conselho da minha mãe e esquecer tudo que me faz bater a cabeça, vou precisar de algo
que me dê segurança. Quem sabe eu não encontre essa roupa milagrosa no guarda-
roupas da minha mãe?
Subo as escadas e entro no seu quarto, abro o guarda-roupas e procuro algo. Noto que
tem um papel no meio das roupas. É um desenho de uma garota observando as estrelas.
Não entendo essa mania que meus pais têm de guardar tudo no guarda-roupas. Meu pai
diz que é costume dos tempos de escola. Eles se conheceram em um colégio interno e o
guarda-roupas era onde escondiam algo.
Acho alguns vestidos que podem dar em mim, então opto pelo pretinho básico. Jogue a
primeira pedra quem nunca fez isso. Preto é a cor do glamour, minha gente!
Pego ele e me visto rápido. Tem mangas até o pulso e vai até a metade da minha coxa,
eu me sinto segura com ele.
Termino de me arrumar a tempo de pegar Júlio saindo de casa.
-Aonde pensa que vai sem mim?-Pergunto.
-Não sabia que iria.-Ele diz.
-Eu vou, você vai me levar e vamos passar pra buscar Sophia.-Digo indo em sua
direção.
Ele se esquiva como se não estivesse confortável em me levar. Quer saber? Que se dane
se ele não quiser, ele vai me levar ou eu vou levar ele. Pego suas chaves, ele tenta me
impedir, mas já estou correndo até o carro e abrindo a porta. Ele senta ao meu lado sem
protestar e eu ligo o carro.
☆☆☆☆☆☆
-Lembra, eu não te conheço e se eu subir no palco e começar a tirar a roupa, você não
tem nada a ver com isso, mas não esquece que você é minha carona.-Digo a Júlio antes
de entrar na festa. Liguei pra Gusta há alguns minutos e ele disse que ia falar com os
seguranças para liberar nossa entrada. Perguntei onde ele estava e parece que tinha se
perdido dos garotos.
-Digo o mesmo.-Ele diz e entra junto de alguns amigos.
Sophia o segue com o olhar e depois olha para mim.
-Só você mesmo pra me fazer largar a magia dos livros, para um lugar como esse.-Ela
fala cruzando os braços.
-Relaxa, nada que algumas doses de ânimo para esse seu mal-humor.-Falo
chacoalhando seus braços.
-E com ânimo, você quer dizer...?-Ela pergunta, mas nem preciso responder.
Pego na sua mão e a puxo para dentro. Nos atrasamos um pouco no caminho e falta
meia hora para a meia noite. O lugar está lotado, mas tem seu charme. É grande para
uma cobertura, tem um palco com som ao vivo, um bar, uma piscina e muita gente. Não
me admiro Gusta ter se perdido.
Sophia parece estar incomodada com todo o barulho. Tento chegar até o bar e peço duas
bebidas vermelhas para a gente. Coloco o copo na sua frente e ela recusa.
-Vamos lá, é vermelho, como bombeiros e eu sei que você adora bombeiros.-Falo com
uma voz fofa.
Ela solta uma risada e pega o copo da minha mão. Vira todo o shot* na boca e não faz
uma só careta. Viro o meu e peço mais outro. Após três shots cada, já estamos rindo à
toa.
-Vamos dançar!-Grito.
Ela levanta a palma da mão para mim, como se dissesse "espera" e pede mais
dois shots ao barman. Viramos um cada e vamos a pista de dança. Está muito cheio,
mas o fato de todas as pessoas estarem girando, me faz rir. Dançamos juntas, rebolando
e gritando junto a música.
-Eu quero dançar com o Júlio!-Sophia grita.
-O que você está fazendo?-Pergunto por cima do barulho.
-A música está alta, ninguém pode nos ouvir!-Ela grita.
Entendi sua brincadeira.
-Eu quero beijar o Benjamin até dar cãibra na minha boca.-Grito e olho em volta.
Ninguém nos ouve e isso é divertido.
Gritamos coisas absurdas por um tempão, e chegou uma hora que nem estávamos
ouvindo uma a outra. A música nos nossos ouvidos é eletrizante e Sophia está fazendo
esse momento ser memorável.
-Gusta tentou me beijar!-Sophia grita bem na hora que a música parou. Algumas
pessoas olham estranho para nós, mas não acho que é pelo que Sophia diz, e sim pelo
meu queixo no chão.
-Como assim ele tentou te beijar?-Pergunto.
Ela parece ter se dado conta do que falou e fica tão vermelha quanto seu vestido.
-Foi sem querer, eu fui na sua casa pegar um esmalte que minha mãe pediu, mas só a
mãe dele sabia onde estava e ela tinha saído, então ficamos conversando e ele começou
a falar da Gabi, eu falei que tinham muitas garotas que morreriam pra ficar com ele e ele
entendeu errado a situação e tentou me beijar, mas eu não deixei e não nos falamos
mais.-Ela confessa tudo como se eu fosse um padre.
-Ei, relaxa, hoje a noite é nossa e o que importa é que estamos bêbadas e gatas!-Digo no
mesmo tempo que uma música eletrônica surge e a faço pular comigo e nos divertir.
De repente a música para.
-Atenção para a contagem de 10 segundos para a meia noite!-Uma voz masculina diz do
palco.
Então eu meu lembro do principal motivo de vir aqui. Olho pra Sophia.
-Preciso achar o Aleph! -Grito e ela fica sem entender.
-Nove!-A multidão a minha volta grita.
Pego o braço de Sophia e a puxo.
-Oito!
Tento passar o mais rápido possível pela multidão.
-Sete!
Vejo de longe, o cabelo assanhado de Aleph perto da piscina.
-Seis!
Meu coração acelera com toda adrenalina e puxo Sophia na direção dele.
-Cinco!
Estamos perto.
-Quatro!
Vejo sua boca se mexendo para alguém a sua esquerda.
-Três!
Largo o braço de Sophia e tento andar mais rápido.
-Dois!
Finalmente chego perto da piscina e percebo que o espaço aqui é mais aberto.
-Um!
Congelo no lugar quando Aleph agarra uma morena e a beija. Ouço o barulho dos gritos
de feliz ano novo um pouco abafados. Então braços me puxam e minha boca encontra
outros lábios macios.
Não penso, apenas beijo. Não me importaria até se fosse uma garota, eu sou muito
burra, fiz toda essa corrida para que Aleph fosse meu primeiro beijo no ano novo, e
esqueci que o liberei hoje. Ele poderia ficar com quem ele quiser. Não posso culpa-lo.
As mãos da pessoa que está me beijando vão até minha cintura, e por um momento, me
perco. Me entrego ao beijo e sinto frio na barriga. Pode ter sido a bebida, ou toda minha
frustração, mas passo a mão nos braços da pessoa e reconheço.
-Feliz ano novo.-Quando essa voz entra na minha cabeça, tomo um susto e me jogo pra
trás, mas seus braços ao meu redor me impedem de cair. Meu coração parece estar
saindo do meu peito e uma onda de nervosismo, ansiedade, enjoo passa por mim junto
com o susto.
-Ben? -Digo ainda tentando digerir.
Ben me beijou.
-Você está linda.-Ele diz.
Sinto minhas bochechas esquentarem e sorrio.
-Por que fez isso?-Sei que minha pergunta foi idiota, mas tenho álcool no meu corpo e
só a presença dele é suficiente pra me fazer perder a linha.
-Por que te beijei? Eu te vi e não consegui me segurar.
Quem não consegue se segurar, sou eu depois disso.
Nos afastamos devagar ainda olhando um nos olhos do outro. Quando estou com ele,
sinto uma energia tão intensa nos envolvendo, é quase como se eu fosse literalmente
atraída por ele. Como um imã.
-Aleph está vindo. -Ouço a voz de Sophia baixinha no meu ouvido.
Olho para trás e ela está com os braços cruzados. Desvio minha atenção para Aleph
vindo até mim um pouco confuso. Olho novamente pra Ben e ele parece bem satisfeito.
-Não sabia que vinha.-Aleph diz olhando de Ben, para mim.
-Decidi de última hora.-Digo.
Meus lábios ainda formigam.
-Pelo visto não foi tão de última hora assim.-Ele diz me olhando de cima embaixo.
Fico um pouco desconfortável com Aleph e Ben tão próximos. Aleph falou aquilo por
eu estar bem vestida?
-Ambos sabemos que ela não precisa de muito tempo pra ficar mais bonita.-Ben diz me
deixando sem graça.
Olho pra Sophia em busca de ajuda. Não consigo conversar com esses dois juntos, é
muito sentimento misturado. Meu amor por Ben, minha amizade com Aleph.
-Acho que vi aquela nossa amiga antiga, vem comigo, Estela.-Sophia diz e eu solto o ar
que estava prendendo.
Saio com ela até o banheiro e respiro fundo.
-O que acabou de acontecer?-Pergunto.
-Ben te beijou e Aleph pareceu estar te elogiando-Ela diz indiferente.
Eu ainda estou tentando digerir o beijo e Ben ainda me veio com aquela frase. Talvez o
plano esteja funcionando.
-Pronta?-Sophia pergunta.
-Pra que?
-Volta para lá. -Ela diz o óbvio.
-Preciso de mais dois shots.-Digo.
Ela ri e saímos do banheiro. Sophia foi buscar nossa bebida e eu voltei para perto da
piscina. Percebi Aleph e Ben longe um do outro. Agora sim, consigo me concentrar.
Aleph está sozinho, então vou fazer companhia a ele.
-Oi.-Digo.
Ele olha para mim. Sempre achei interessantes seus olhos. É a parte do seu corpo que
mais chama atenção, são poucos os caras que ficariam bonitos com olhos assim.
-Lembrou de mim?-Ele pergunta.
Sério que ele vai começar com isso?
-Nunca esqueço.-Digo.-Ajeita essa cara de bunda, é ano novo.
Ele faz uma cara de tédio.
-Você devia ter me avisado que vinha.
-Eu falei com Gusta, pensei que ele iria falar.-Digo.
-Não o vejo há um tempão, você poderia ter me ligado.
-Por que está irritado? Deu o seu primeiro beijo no ano novo, está com seus amigos em
uma festa bacana e eu tô aqui agora, o que já é motivo para estar pulando de alegria.-
Falo.
-Meu primeiro beijo esse ano foi com uma estranha, não tem nada de divertido nisso,
enquanto isso você estava lá beijando o Ben.
Estreito os olhos. Ele está o que eu tô achando que está?
-Aleph, você está com ciúmes?-Pergunto com um sorriso divertido que não pude conter.
-Você é minha amiga, provavelmente a única que tive na vida, temos um acordo e você
quebrou ele.
Sério mesmo? Fico um pouco irritada, afinal, ele também beijou uma garota.
-Você está falando sério? Também beijou outra pessoa. -Digo.
-É diferente, você deixou.-Ele fala nervoso.
-Então você pode e eu não?
Ele fica calado. Não precisa responder, o silêncio já diz por si. Nunca tive tanta vontade
de matar Aleph e olha que ele já me fez muita raiva.
-Quer saber? Vamos parar de brigar, estamos em uma festa, é ano novo, vamos apenas
curtir.-Digo.
-Vai curtir com o seu Ben.
Impressionante. Isso saiu da boca de Aleph. Ele fala que Ben é um babaca, mas olha só
quem está sendo um grosso, babaca e idiota. Parabéns Aleph, você conseguiu me deixar
realmente com raiva, mas quer saber? Eu vim para curtir e é isso que vou fazer. Vou
seguir o conselho da minha mãe e esquecer ele, esquecer Ben e tudo que me deixar
entre os shots de bebida vermelha que me deixam louca.
-Eu vou curtir, mas não só com Ben, vou curtir com todo mundo, porque vim aqui para
isso, quer saber de uma coisa? Eu até cheguei a vir apenas por você, mas passou e agora
eu vou curtir por mim.-Dou as costas a ele e vejo Sophia com nossas bebidas.
A minha noite está só começando.

☆☆☆☆☆☆
Shots: Pequenas doses em pequenos copos de bebida alcoólica.
Capitulo 8
Estou com raiva, estou embriagada e estou quase fazendo xixi nas calças. Na verdade, a
raiva de Aleph passou ha dois shots atrás, mas acontece que a fila do banheiro está
dando voltas e Sophia sumiu. Que espécie de melhor amiga deixa a outra sozinha e
bêbada na fila de um banheiro?
Tá, talvez não tão bêbada, Sophia estava mais que eu, pesando assim, a amiga
irresponsável sou eu.
Pego meu celular que estava esse tempo todo no meu esconderijo secreto (Sutiã), e ligo
para ela.
Assim que ela atende, consigo identificar onde a mesma está. O barulho é alto e consigo
ouvir alguém cantando ao fundo. Ela está perto do palco.
-Estela? Onde você está? Eu tô muito louca mas não tô louca sozinha, você tem que vim
ficar louca comigo! -Ela diz por cima do barulho.
Pelo visto, ela está pior que eu imaginei. Sophia não tem muito costume de beber, por
isso, fica bêbada rápido. Acho que todos os shots que tomamos até agora, fizeram
efeito. Conheço meus limites e ao contrário dela, fico bêbada com exatos 9 shots e até
agora foram... cinco no bar e dois aqui.
Sete.
Mais dois e eu não respondo por mim.
-Sophia, vem aqui pro banheiro.-Digo tentando ser autoritária.
-Ah não Estela, eu estou no palco! Vem dançar comigo! As pessoas são legais! Aí meu
Deus! Elas querem que eu tire a roupa, te ligo depois!-Sophia desliga.
Perfeito.
Sem pensar, dígito o número de Gusta.
-Onde você está? Já rodei a porcaria desse terraço inteiro, perdi a contagem para meia
noite e nem sei mais onde fica a parte da piscina.-Gusta diz furioso.
- Cala boca e olha pro palco.-Digo.
-Que?...Ah, droga, já vi.-E desliga.
Agora é só eu e minha bexiga cheia. A fila anda e sou a próxima a entrar.
Obrigada, meu senhor!
Com toda essa correria, nem tive tempo de sentir aquela sensação nostálgica quando se
é ano novo. Nem tive tempo de sentir saudades de tudo que passei no ano e nem pude
fazer minhas tão esperadas promessas de ano novo. Ainda estou tentado cumprir a de 3
anos atrás, mas nunca deixo de fazer. É um clichê gostoso, pois é pessoal e te desafia a
fazer algo que você sabe que não vai, mas quer.
Tiro o chapéu para quem cumpre promessas de ano novo, pois eu mesma, nunca cumpri
nenhuma. Acho que esse ano devo baixar minhas expectativas. Talvez apenas conseguir
entrar em uma universidade e cursar engenharia. É mais uma meta, do que promessa.
Finalmente minha vez de ir ao banheiro chega. Entro rapidamente antes que faça xixi
nas calças.
Assim que me alivio e saio, dou de cara com Maju. Ela está vestida em um vestido curto
e branco. Usa um salto alto e está mais alta que eu. Ela tem quinze anos, mas vestida
assim, parece ser de maior.
-Estela, oi!-Ela diz surpresa ao me ver.
-Olá Maju.-Digo.
Damos um beijinho no rosto da outra e ela vai embora. Estou sozinha. Minha melhor
amiga está provavelmente nua em cima do palco, meu melhor amigo está tentando acha-
la e a pessoa que era para estar me acompanhando por termos um acordo e ser meu
amigo colorido, está sendo infantil e babaca.
Quer saber? Vou procurar a solução no fundo de um copo. Vejo que Aleph está sentado
com alguns amigos e na sua mão tem um copo de alguma bebida. O bar está longe, está
lotado e daqui que eu chegue lá, vai ser o réveillon do ano que vem.
Me dirijo até ele. De princípio, Aleph não me vê, quando percebe minha presença, já
estou dando um sorriso falso a ele com seu copo na mão.
-Obrigada.-Digo e viro as costas.
Consigo sentir seu olhar sobre mim. Como prometido, acho minha solução no fundo do
copo de o que parecia ser tequila. Alguns segundos depois de engolir e fazer uma careta,
tudo começa a girar. Pisco procurando foco, mas a cena é tão absurdamente engraçada
que gargalho. Deixo meu corpo se levar pela música. Sinto que posso tudo. Canto junto
com Maroon 5. Essa banda é da época da minha mãe, mas é realmente boa e gosto de
algumas músicas. Essa, Animals, é minha preferida.
As palavras saem embaralhadas e acho graça disso. É difícil até pronunciar uma palavra
em português, imagina em inglês. Isso é tão divertido!
Será que Aleph encheu o copo novamente?
Mas o copo está na minha mão!
Noto alguns garotos olhando. Sensualizo na pista de dança e eles riem.
Devem estar gostando.
Continuo sensualizando e dançando atraindo mais olhares. Eu devo estar realmente
arrasando.
Então alguma coisa agarra meu braço.
-O que é isso?-Pergunto e encaro os grandes olhos de Aleph.
Ele tem olhos tão bonitos.
-Você tá passando vergonha.-Ele diz no meu ouvido.
Solto meu braço do dele. Esse idiota acabou de fazer uma cena e agora fica querendo
me proteger.
-Você que tá! Você passou vergonha quando nasceu, porque...-Eu juro que a frase soou
melhor na minha cabeça.
Ele segura meus ombros e me leva até onde seus amigos estão. Me faz sentar e como
acho que se eu não sentar, vou sair bolando, aceito numa boa.
Minha boca está seca.
-Quero água.-Digo.
Ele olha em volta como se procurasse algo. Pra que? Tem vários copos na minha frente!
Pego o primeiro que vejo e viro todo na boca até perceber que não é água.
-Isso não é água!-Digo e tomo outro gole, pois estou com sede.
Aleph toma o copo de mim. Alguns amigos dele riem. Ele pega meu braço e me tira
dali. Deus! Que garoto confuso!
Me solto dele e recupero o equilíbrio.
-Olha aqui! Você é um babaca, idiota e infantil! Me mandou curtir e é isso que estou
fazendo!-Falo para ele se tocar.
Sua expressão é de raiva. Ele está com raiva de mim. Eu que devia estar com raiva dele.
O que eu fiz pra esse garoto? Aonde eu fui me meter?
-Você ta bêbada! Como deixou isso acontecer? Achei que fosse mais responsável,
Estela. -Ele diz.
Reviro os olhos. Ele não é meu pai para falar assim comigo. Eu só quero dançar e me
divertir, e não ficar levando sermão de Aleph.
-Você não é ninguém pra me dar sermões.-Falo cruzando os braços.
-Você está brava! Eu que devia estar, olha, já está fazendo bico.-Ele diz.
Eu não faço bico. Coloco as mãos na boca e sinto meu lábio contraído em um bico. Meu
Deus! Eu faço bico, como uma criança. Todo mundo faz alguma coisa quando estar
bravo. Alguns inflam as narinas, outros franzem o cenho e eu faço a mais infantil de
todas. Um bico. 17 anos achando que eu era fofa brava e eu fiz bico desde sempre.
-Eu não quero fazer bico! Aleph, me ajuda, não quero parecer uma criança!-Imploro a
ele.
Sua expressão de raiva muda para seu velho sorriso divertido. Já disseram que todos
ficam mais atraentes quando você está bêbado? Pois é verdade, e agora imagine alguém
que já era bonito, como Aleph. Não consigo parar de encarar seus olhos. São tão
grandes e azuis! Quando eu ter filhos, quero todos com esses olhos.
-Você não parece uma criança, chega até ser adorável.-Ele diz.
-Acha mesmo?-Pergunto.
Ele assente. Olha em volta e depois checa o relógio.
-Então vai parar de brigar comigo?-Pergunto.
Ele levanta as sobrancelhas, fazendo seus olhos como foco principal. Tenho que parar
de ficar reparando nos olhos de Aleph, mas é quase impossível, não tem como ignorar
algo que está bem na sua frente.
-Se prometer não fazer mais nenhuma besteira.-Ele diz.
Estendo meu dedo mindinho a ele. Ele entende e ri. Entrelaçamos nossos dedos como
uma promessa antiga que me arrisco a dizer que todos já fizeram quando crianças. Isso
ainda vale para mim.
-Então vamos curtir!-Grito e levanto meus braços pro alto.
Pego sua mão e levo para a pista de dança. Cantarolo a música e danço ao mesmo tempo
com a risada rouca de Aleph. Nunca percebi que sua risada era assim, eu sempre vi
como uma risada normal.
Ele pega minha mão e me gira várias vezes. Será que ele ainda não entendeu que já não
estou bem para isso? Tropeço e meus pés, mas ele me segura dizendo "opa". Encaro seu
rosto que está à milímetros acima do meu. Ele faz o mesmo e vou fechando os olhos até
minha cabeça tombar sobre seu peito. Envolvo seu pescoço com meus braços e tento
alcançar seu ouvido.
-Eu quero ir pra casa.-Digo.
-Quer que eu te leve?-Ele pergunta.
Então lembro de Júlio. Aquele filho de uma maldita mãe é minha carona. Do jeito que
ele é, deve ter se esquecido e saído sem mim.
-Onde tá o Júlio? Ele tá com a chave de casa.-Falo lembrando que foi ele que fechou a
porta.
Aleph segura meus ombros e suas mãos escorregam até as minhas. Seu gesto meu faz
arrepiar.
-Eu o vi saindo com alguns amigos, achei que você ia com o Gusta.-Ele diz.
Como eu disse, ele esqueceu de mim. Infelizmente, estou sempre certa. Gusta deve estar
com Sophia, e acho bem difícil eu encontra-los nessa multidão. Aceitar a carona de
Aleph é minha melhor opção, mas eu realmente não quero atrapalhar.
-Não é nem duas da manhã, não precisa fazer isso, eu posso pegar um, taxi.-Digo.
-A festa não vai ter graça quando você for embora, eu te levo.-Ele diz.-Vou só me
despedir dos caras.
Assinto e ele pega minha mão. Vamos até seus amigos e percebo que Ben está entre eles
agora. A lembrança do nosso beijo invade minha mente. Sinto minhas bochechas
esquentarem quando meus olhos encontram os deles e me escondo em Aleph. Sinto seus
músculos ficarem rígidos e tensos.
-Já vou galera, tenho que deixar a bebinha em casa.-Aleph diz.
Ben se levanta e vem até nós.
-Ei, se quiser eu levo ela, não precisa se incomodar.-Ben diz a Aleph.
Os dois falam de mim como se eu não estivesse do lado deles. Na verdade, parece que
nem existo. Eles se encaram e claramente um parece incomodado com a presença do
outro.
-Não é incomodo.-Aleph diz.
-Tem certeza? Pareceu quando ela chegou na hora que você estava beijando a Cassia.-
Ben diz.
Aleph estava incomodado com minha presença? Então para que diabos ele me chamou a
essa festa? Não me atrevo a falar nada. Se eu olhar bem, consigo ver faíscas saindo de
seus olhos. Algo me diz que essa rixa dos dois é mais antiga do que eu pensei.
-Eu vou leva-la Ben, pelo menos eu dou o devido valor que ela merece.-Aleph diz.
Ele me empurra para longe de Ben e vem logo atrás. Ele conseguiu deixar Ben sem
palavras. Demorou um pouco até eu me dar conta que aquilo tudo foi por minha causa.
Tanto que já estamos em frente ao carro.
-Ai meu Deus! Ben estava discutindo com você por mim!-Falo e coloco as mãos na
boca abismada com minha descoberta.
-Faz um favor, se você não quiser que eu te jogue do carro em movimento, não fala
mais desse imbecil pra mim.-Aleph fala sério.
Entramos no carro. Aconteceu algo, isso tudo não é por mim, entendo Aleph e também
o respeito, então não vou forçar nada. Mas curiosidade é o que não falta em mim.
Aleph dá a partida e eu encosto minha cabeça no banco e bufo de tédio. Olho pra Aleph
e ele está concentrado na rua. Bufo novamente para chamar sua atenção, mas ele não me
nota. Então me inclino para a frente e ligo o som. Um sertanejo daqueles que quase
ninguém gosta, mas todo mundo sabe a letra ressoa e eu cantarolo junto. Como se não
fosse o bastante minha interpretação em áudio da música, faço uma visual também.
Faço gestos com as mãos e me sinto em um videoclipe. Por cima da música, escuto
Aleph falando que sou maluca e canto ainda mais alto. Ele abre um sorriso e olha para
mim, balança a cabeça e volta sua atenção para a rua.
Paramos em frente minha casa e desligo o som. Noto que Júlio não está.
-Não acredito que esse cretino não veio pra casa!-Digo.
-É cedo para o Réveillon, ele deve ter ido a outra festa ou casa de alguém.-Aleph diz.
Bufo e cruzo meus braços. Meus pais só devem chegar de manhã e não vou ficar
plantada aqui em frente de casa até isso acontecer.
-E agora?-Pergunto.
-Você pode ir lá pra casa, íamos marcar algo lá mesmo, por que não um café da
manhã?-Aleph diz.
Somos amigos, não é? Nada de errado, sempre durmo na casa de Gusta e é como dormir
na Sophia. Eu e Aleph já somos íntimos, quer dizer, ele conhece meus pais e está me
ajudando a conquistar o Ben, na minha opinião, isso já nos torna bem amigos.
-Está bem.-Digo.
Capitulo 9
Chegamos a casa de Aleph a poucos minutos. Está tudo escuro. Algumas flores na
entrada e cortinas florais, entregam que vive alguma mulher aqui. Tem dois andares e o
quarto de Aleph fica no andar de cima. Ele me pede para fazer silêncio enquanto
subimos as escadas.
Assim que entramos no seu quarto, percebo sua parede cinza. E é apenas isso. Nenhuma
foto, ou prateleira ou qualquer coisa na parede, apenas a tinta cinza. Tem uma cama de
casal, um computador, uma televisão, um closet e uma porta que imagino levar a um
banheiro. O quarto é simples, mas tem seu charme. Apenas achei que ele seria tão alegre
como Aleph demonstra. A viagem de carro me deixou enjoada, mas menos tonta.
-Eu te daria roupas da minha irmã, mas ela ainda não chegou e odeia que eu mexa nas
coisas dela. -Ele diz pegando uma blusa no closet.
-Ta.-Digo baixo.
Ele joga a blusa para mim.
-Quer tomar um banho? -Assinto.-Vou depois de você.
Ele me joga uma toalha e entro no banheiro. E tudo branco e é impossível ignorar tudo
girando. Ligo o chuveiro e após tirar a roupa, entro debaixo da água fria. Fecho os
olhos, deixo a água escorrer e já me sinto um pouco melhor. Fico bons 15 minutos
debaixo do chuveiro até Aleph bater na porta. Ele devia ter um pouco mais de educação,
eu estava planejando minha vida aqui.
Me enrolo na toalha e pego minhas roupas junto com a blusa de Aleph. Abro a porta e
encontro Aleph emburrado, mas sua carranca se desfaz assim que me vê e dá lugar ao
seu típico sorriso malicioso, só que mais...quente.
-Gatinha, eu devia ter entrado em vez de ficar batendo. -Ele diz.
Dou língua a ele e o empurro para o banheiro. Assim que a porta se fecha com os
últimos requisitos de sua risada rouca, jogo a toalha na cama e visto a blusa de Aleph.
Cobre minha bunda, mas ainda sim está curta. Tem mangas até o pulso e é azul
marinho. Já vi Aleph com essa blusa, lembro de ficar melhor nele do que em mim.
Coloco minhas roupas em um canto e me jogo na cama. Sinto o cheiro de Aleph no
cobertor, que por sinal, é o único. Vai dar briga, está frio e o ar-condicionado ligado não
ajuda, talvez se eu me enrolar e fingir que estou dormindo, Aleph não tenha coragem de
tirar de mim.
Então faço exatamente isso, mas antes checo o celular e vejo uma mensagem de Ben.
"Estela, desculpa por hoje, espero que tenha chegado bem, boa noite e feliz ano novo,
minha princesa."
Minha.
Minha princesa.
Princesa não é o "adjetivo" certo para me descrever, mas valeu a intenção. Essa
mensagem provoca menos borboletas da minha barriga do que pensei. Ouço o barulho
do chuveiro desligando e respondo algo rápido, como "Tudo bem, boa noite e feliz ano
novo."
Me enrolo na coberta e fecho os olhos bem a tempo de ouvir a porta ser aberta. Escuto
os passos de Aleph lentamente sobre o quarto. Alguns segundos depois, penso até que
ele não está por estar tão silencioso, porém, contrariando minha teoria, o cobertor é
tirado de mim a força.
-Ei! -Grito.
-Meu quarto, minhas regras.-Ele diz zombando do que falei pra ele no dia que fomos
estudar.
-Eu tô com frio!-Falo.
-Fala baixo e para de fazer bico ou... -Ele diz.
Reviro os olhos e deixo meu bico ainda mais "bicoso".
-Ou o que?-Pergunto.
Sinceramente, todo meu ser pensou que ele iria me empurrar, mostrar o dedo do meio e
até mesmo me bater, mas Aleph não fez nada disso. Ele simplesmente me beijou com
tanta força e desejo que caímos os dois na cama. Meu corpo todo respondeu aos seus
beijos e minhas mãos involuntariamente vão ao seu cabelo. Sua língua invade minha
boca e suas mãos me puxam cada vez mais para ele, sendo que estamos completamente
colados. Meu coração bate forte em meu peito e posso sentir o seu batendo forte
também. Em um momento, nossas batidas parecem sincronizadas e perdidas uma na
outra, assim como nossas bocas. Sua boca se separa da minha, mas ainda perto o
suficiente para sentir sua respiração. Encaro seus lindos olhos e não importa o que eu
faça, eu só quero mais dele.
Sua boca vai para meu pescoço, o que já é covardia. Nesse momento, perco meus
sentidos e descubro que nem Vodca poderia me deixar tão louca e me fazer perder a
razão tão rápido.
Ele volta com aquela coisa de outro mundo que ele chama de boca, para a minha e
morde meu lábio. Sua mão vai até minha coxa e sobe a blusa. Por reflexo, minhas mãos
vão até as suas o impedindo.
-Desculpa. -Ele diz e tira suas mãos.
Olha nos meus olhos como se procurasse algum sinal de desprezo ou raiva, mas não
estou com nada disso. Nem eu mesma sei o que estou sentindo.
-Tô com sono.-Digo bocejando.
Ele sai de cima de mim e nos embrulha, me abraça pela cintura colando nossos corpos.
Antes de pegar no sono, sua mão se entrelaça com a minha e ele beija minha cabeça.

☆☆☆☆☆☆
Acordo com Aleph se mexendo. Percebo onde estou e lembranças de ontem a noite
invadem minha mente. Poderíamos falar sobre o que rolou ontem, quer dizer, fizemos
aquilo por puro desejo e talvez tenhamos ideias erradas sobre o outro, mas prefiro
deixar para lá e fingir que aquilo foi totalmente normal e não mexeu comigo.
-Bom dia.-Ele diz bocejando.
-Credo, vai escovar esses dentes.-Digo sentindo seu refrescante hálito da manhã.
-Saiba que o seu hálito também não está nada cheiroso.-Ele diz.
Dá um tapa na minha bunda e levanta antes que minha mão acerte seu peito. Ele vai até
o banheiro e vou atrás.
-Vou escovar os dentes com o que? -Pergunto.
-Toda vez que Gusta vem aqui dormir aqui, ele esquece a escova de dentes, ele só usou
essa, uma vez.-Aleph diz estendendo uma escova branca e azul pra mim.
Perdi a conta de quantas vezes Gusta teve que usar minha escova de dentes.
Pego a escova, coloco pasta e escovamos os dentes juntos. Aleph termina primeiro que
e assopra na minha cara.
-E agora?-Ele pergunta.
-Merece até um beijinho.-Digo com a boca cheia de espuma.
Ele ri e sai do banheiro.
Assim que termino, tento dar um jeito no meu cabelo e volto ao quarto. Tem uma muda
de roupa na cama e o quarto está vazio.
Devem ser as roupas da irmã de Aleph. Ela não deve ser muito velha, pois suas roupas
parecem dar em mim.
Saio do quarto devidamente vestida e dou de cara com uma garota que parece ter uns 18
ou 19 anos. Ela sorri pra mim e pela semelhança, deve ser a irmã de Aleph. Ela tem
cabelos castanhos e olhos cinzas. Aleph e ela tem os mesmos olhos, mudando apenas a
cor, pois o de Aleph, algumas horas parece castanho e outras horas um azul fraco.
Ela me olha de cima embaixo me estudando e fico envergonhada por estar com suas
roupas.
-Meu nome é Camylle.-Ela diz estendendo a mão e finalmente vejo um sorriso.
-Estela.-Digo apertando sua mão.
-Aleph é muito teimoso, mas até que ele acertou, você fica bem com qualquer coisa.-Ela
pisca.-Está procurando ele?
-Ele meio que me deixou sozinha, então sim.-Digo.
Ela me pede pra segui-la e me leva até a cozinha, onde Aleph e um homem com a idade
próxima a de meu pai estão sentados. Aleph me vê e junto dele, o homem que imagino
ser seu pai.
-Pai, essa é Estela, minha amiga.-Ele diz.-Estela, esse é Hélio.
O homem não sorri. Apena acena e volta os olhos ao seu sanduíche. Camylle me pede
para sentar e me sento ao lado de Aleph. Ele pergunta o que quero comer e peço apenas
um café preto.
-Como foi sua noite, mana? -Aleph pergunta a Camylle.
-Dancei como nunca, até conheci um carinha.-Ela diz.
Hélio, o pai de Aleph, olha pra Camylle e balança a cabeça desaprovando sua atitude.
-Vocês só querem saber de festa, pulam de relacionamento e relacionamento como se
fosse algo banal, tudo bem ir pra festa, mas pelo menos acompanhado de uma pessoa
só.-Hélio diz.
Ele parece ser mal-humorado e sempre que puder, falar algo parecido para os filhos.
-Para sua informação pai, não fico com uma garota a não ser Estela a algum tempo.-
Aleph diz claramente irritado.
Ridiculamente, eu coro. Agora Aleph tem a atenção do pai. Ele olha pra mim e depois
para Aleph.
-Ela dormiu aqui?-Ele pergunta.
-Não tinha ninguém na minha casa e eu estou sem as chaves então tive que vir.-Digo me
defendendo. Ele deve estar achando que sou uma vadia qualquer.
-Eu faria o mesmo. Estuda aonde?-Hélio pergunta a mim.
-Estudamos juntos. Eu e Aleph.-Digo.
Ele assente.
-Seus pais?
-Minha mãe é escritora, está lançando um livro novo e meu pai é publicitário, ele tem
uma empresa aqui perto na verdade.-Digo lembrando de quando meu pai me levava para
trabalhar com ele.
-Sua mãe é escritora? Qual o nome dela?-Ele pergunta.
Aleph e Camylle me observam atentamente.
-Luna. Luna Santiago. -Respondo.
Hélio dá uma risada.
-Tenho todos os seus livros, eram da Cristina, mas quando nos separamos ela deixou
aqui e eu resolvi ler um dia. Ela é realmente boa.-Minha mãe me ajuda até quando não
sabe.-Você é de boa família, eu preciso perguntar, o que alguém como você faz andando
com meu filho?
Demoro alguns segundos até perceber que é uma piada. Solto uma risada nervosa, mas
após Hélio rir também, todos rimos mais à vontade. Conversamos mais um pouco. Falo
sobre meus pais e coincidentemente, descubro que ele estudou no mesmo Colégio que
meus pais. Disse que reconheceu o nome da minha mãe, mas assim que disse o do meu
pai, ele lembrou. Parece que seu colega de quarto era do grupo dos meus pais. Um tal de
Daniel, eu já ouvi falar dele, meus pais falam muito dele e de sua esposa. Ele conta das
coisas que ouviu falar dos meus pais e até que rimos um pouco. Após o café da manhã,
junto minhas coisas e Aleph e Camylle vão me deixar em casa.
-Foi ótimo te conhecer, Camylle.-Digo saindo do carro.
-Me chame de Camy, pode aparecer quando quiser para aliviar o humor do meu pai.-Ela
diz.
Me inclino na janela do carro e fico frente a frente pra Aleph.
-Obrigado por tudo.-Digo.
-Mereço pelo menos um beijo pela hospitalidade.-Ele diz.
Reviro os olhos e dou um beijo em Aleph. Camy, buzina e sorrimos. Dou um
tchauzinho e entro em casa.
Júlio está largado no sofá, roncando. Minha mãe está pintando sua cara e meu pai está
rindo ao lado dela. Esses são meus pais maduros.
-Bom dia família, feliz ano novo.-Digo.
Eles me olham e minha mãe pede silêncio. Balanço a cabeça e vou ao meu quarto. Me
jogo na cama processando cada momento desde a noite passada. Só consigo pensar em
Ben e Aleph. Releio mil vezes a mensagem de Ben até meus pais me chamarem para
almoçar.
Sentamos a mesa todos. Júlio ainda dorme no sofá com a cara cheia de palavras
ofensivas e desenhos também.
-Como foi seu ano novo?-Minha mãe pergunta.
-Interessante.-Respondo.
-Dormiu aonde?-Meu pai pergunta.
-Casa do Aleph, sabia que o pai dele era colega de quarto do Daniel?-Digo.
Olho pro meu pai estudando sua reação.
-Ele é um garoto legal, devia trazer mais vezes. -Meu pai diz.
Aleph foi aprovado por meu pai, então. Olho pra minha mãe e ela está pensativa.
-Acho que me lembro dele, já o vi saindo do quarto do Daniel uma vez que fui falar
com o Ruan.-Minha mãe diz.
-E a Sophia? -Meu pai pergunta.
Aí Meu Deus, sou a pior amiga do mundo. Sophia estava super mal ontem e eu nem se
quer quis saber como ela estava. Se fosse ao contrário, Sophia já estaria aqui com mil
remédios e uma enorme paciência
-Ela tava um pouco mal, vou lá na sua casa.-Digo me levantando.
-Não vai nem comer?-Meu pai pergunta.
Balanço a cabeça e saio, mas antes consigo ouvir meu pai perguntando a minha mãe,
como eu saí de dentro dela.
Capitulo 10
-Aleph, eu tô com uma puta dor de cabeça!-Digo e minha cabeça lateja mais ainda.
Em pleno sábado de férias, eu fico doente. Estamos na segunda semana do ano e Felipe
chegou de viajem há poucos dias. Ele chamou alguns amigos para uma pequena
"reunião" na sua casa e eu e Aleph estamos incluídos na sua lista. Eu já tinha dito a
Aleph que não iria, pois além da garganta inflamada, estou com dor de cabeça, e ele me
aparece na porta da minha casa implorando que eu vá.
Ele disse que posso levar Sophia, mas não adiantaria nada, ela não bebe desde o ano
novo e não quer beber mais pelo resto da sua vida. Se não fosse por Gusta, ela teria
ficado pelada na frente de toda aquela gente. Ele levou ela pra casa e cuidou dela, já que
a mesma, estava um trapo. Pedi desculpas umas mil vezes e ela insiste em dizer que não
tive culpa de nada, mas eu a arrastei até lá, eu a fiz beber e eu a deixei sozinha. Me sinto
a pior amiga do mundo.
Aleph estala os dedos na minha frente me chamando atenção.
-Vamos, por favor, se eu ficar mais 10 minutos na minha casa, me mato.-Ele implora.
-Em vez de ir pra festinha, poderia comprar remédio na farmácia pra mim e ficar
comigo até a dor passar.-Digo emburrada.
-Por favor, não precisa ficar muito tempo com a gente, já tem seu quarto prontinho lá e
prometo não demorar muito.-Ele implora.-Pela nossa amizade.
É assim que Sophia e Gusta me ganham quando querem que eu faça algo que não quero.
Com esse apelo e Aleph me olhando com seus grandes e lindos olhos, fica um pouco
difícil recusar.
-Aleph...
-Por favor, o babacão vai tá lá. -Ele diz e referindo a Ben.
Bufo.
-Está bem, mas você está me devendo uma.-Digo.
Ele sorri e até que minha decisão valeu a pena. Minha cabeça parece ter melhorado, mas
ainda assim, sei que todo aquele barulho vai me incomodar. Troco de roupa rápido,
arrumo uma mochila pequena com uma muda de roupa e aviso meus pais. Aleph me
espera na porta e saímos. São quase dez da noite. Só Aleph para me fazer sair essa hora.
-Espero que cumpra sua promessa.-Digo quando ele estaciona o carro.
Saímos do carro e me certifico que estou com minha bolsa. Meu termômetro está la
dentro. Ainda não sei como Aleph me convenceu a isso. Vir até aqui do estado que
estou. Aleph consegue tudo o que quer, isso irrita.
Entramos e a primeira pessoa que vejo, é Gusta. Ele me da um beijo na cabeça e
cumprimenta Aleph. Os dois saem como se eu não estivesse com eles e eu bufo. Eu nem
deveria estar aqui. Por que Aleph fez tanta questão que eu viesse?
Sigo os dois e encontro umas 12 pessoas sentadas em cadeiras formando um círculo na
varanda. Tem uma piscina e eu juro que se não tivesse no estado que estou, já estaria lá
dentro. Felipe, Ben, Maju e Gabi estão na roda. Cumprimento os três e recebo um olhar
significativo de Ben. Sento entre Gusta e Aleph. Me oferecem bebida e recuso, pois, irá
cortar o efeito dos remédios que tomei. Passo a maior parte do tempo ignorando os
olhares de Ben, escorada no braço de Aleph e tentando sorrir a cada piada.
-Eu juro que você vai me pagar por me fazer vir. -Sussurro a Aleph.
Ele tenta me dar um selinho e eu empurro seu rosto. Ele ri e percebo Felipe nos
olhando.
-Quando vão assumir?-Ele pergunta.
Todos os olhares estão voltados a nós. Gusta me olha com um sorriso debochado
esperando minha resposta e não consigo deixar de notar Gabi tentando chamar sua
atenção. Isso me lembra o dia que fizemos uma brincadeirinha com ela. Me pergunto o
que ela fez com as roupas.
Olho pra Aleph e ele está olhando para mim. Ambos não sabemos como explicar. Foi
um milagre eu ter entendido de cara a pergunta, geralmente sou bem lenta.
-Somos apenas amigos.-Digo.
-Nada mais? -Felipe insiste.-Vocês estão ficando desde o ano passado, vai Aleph, pede a
garota em namoro.
Fico Vermelha. Desencosto de Aleph e tento fingir não estar incomodada com a
pergunta.
-Ela ja disse, somos apenas amigos.-Aleph diz. Ele deve estar com tanta vergonha
quanto eu...ou não. Aleph é bem descarado.
-Namorem, namorem, namorem!-Surge um coro.
Me levanto e saio dali. As pessoas não entendem, o que eu sinto por Aleph, é carinho de
amizade. Por que veem amor em tudo? Felipe foi um dos primeiros a saber o que eu
sinto por Ben e ele faz isso. Estou chateada e essa agonia de estar doente não ajuda. Vou
direto para o quarto que fiquei na última vez que estive aqui. Me jogo na cama e a dor
de cabeça vem. Eu adoraria estar em casa enrolada nos meus cobertores assistindo
alguma série e talvez até comendo chocolate. Mas não, eu aceitei vir para cá.
Me jogo de cara na cama e me encolho. De qualquer forma, é apenas uma noite e Aleph
prometeu que não me deixaria sozinha. Sinto meu corpo quente e pego o termômetro.
Coloco debaixo do braço e fico esperando apitar. Após algum tempo, ele apita e eu
checo a temperatura ao mesmo tempo que a porta se abre.
-38,4 graus, Aleph, eu estou quase pegando fogo. -Digo olhando pro termômetro.
-Isso é bem quente, você está bem?
Dou um pulo deixando cair o termômetro. Não é Aleph, e sim Ben. Meu coração
dispara e tenho a sensação que se eu abrir a boca, vai sair tudo, menos palavras
reconhecidas no dicionário.
Benjamin Souza Lameira. Sobrenomes dos pais, que juntos, são estranhos. Que tipo de
pessoa combina Souza e Lameira com um nome grande, como Benjamin? Nunca vi sua
mãe, mas ele deve ter um mal gosto terrível.
-Estela?-Ele diz me tirando dos meus pensamentos estranhos sobre seu nome estranho.
-Sim?-Digo.
-Por que está aqui? Você ta queimando em febre. -Ele pergunta vindo até mim e
colocando a mão na minha testa.
-Aleph me pediu pra vir.-Respondo sentindo minha pele formigar onde ele toca.
Ele me olha com semblante preocupado.
-Acho que Felipe tem alguns remédios, eu já volto.-Ele diz e se volta para a porta.
-Não precisa, eu trouxe.-Digo.
Retiro da minha bolsa uma cartela de analgésicos.
-Vou buscar água de qualquer jeito. -Ele diz e sai.
A última pessoa que eu pensei que entraria por essa porta, entrou. Ben entrou e ele
parecia realmente preocupado. Sinto vontade de matar Aleph por ter me convencido a
vir. Não preciso do cuidado de ninguém. Na verdade, hoje não acordei bem. Não por
estar doente, quando digo que não estou bem, é por questão de espírito.
Tenho ótimos pais, uma vida boa, melhores amigos que me amam, é até um ficante fixo.
Eu deveria estar feliz, mas não estou. É como se eu estivesse sentindo falta de algo que
não sei o que é. Algo dentro de mim parece não estar encaixado. Apenas não é um bom
dia.
Aquele ânimo que eu tinha, parece ter desaparecido. Aquele prazer que eu sentia de
amar Ben foi substituído por desespero por ele não sentir o mesmo, esse medo estranho
de sentir algo a mais pro Aleph. Sim, eu confesso, não foi normal o que eu senti no ano
novo, mas sei que só pode virar algo mais, se eu permitir e ainda tem a pressão do
último ano no colegial.
Eu estou cansada.
Simples assim.
Queria que tudo fosse mais fácil e que eu voltasse a ser como antes. Eu mudei. Sinto
isso. Sinto meu coração se fechando a pequenas coisas, sinto que não posso mais me
considerar uma romântica, pois me entreguei a esse acordo e vi que é possível ficar sem
amar.
Eu não sei o que é isso dentro de mim. Gostaria que alguém me respondesse o porquê
de eu me sentir apenas uma metade.
Vou até o banheiro para lavar o rosto e vejo uma banheira. Ela sempre esteve ali? Na
última vez que estive aqui, entrei apenas para me trocar, não devo ter percebido. Sem
pensar, entro na banheira vazia e abraço as pernas.
Aqui é relaxante.
-Estela?-Ouço a voz de Ben vindo do quarto.
-Estou no banheiro.-Digo.
Ben entra trazendo um copo com água e me entrega. Tiro uma pílula da cartela e coloco
na boca. Bebo a agua e sinto a pílula passando por minha garganta. Coloco o copo no
chão e me viro pra Ben sem saber o que esperar dessa cena.
-Posso te fazer uma pergunta?-Ben diz.
Assinto.
-Por que escolheu ele?
Pisco absorvendo suas palavras. Claramente ele está falando de Aleph.
-Como assim escolher? Não estamos juntos.-Digo.
-Então vocês não tem nada?-Ele pergunta.
-Por que quer saber?-Pergunto um pouco mal humorada.
Quer saber? Outra coisa que estou cansada, é do Ben. Tem horas que ele parece gostar
de mim e outras que não parece nem ligar pra mim. Minha cabeça já está uma confusão
e ele ainda vem com essa. Que droga, se decide.
-Por nada.-Ele diz e vai saindo.
Solto um suspiro.
-Espera.-Digo. Ele veio aqui, ficou preocupado e foi até buscar água pra mim. Acho que
eu não devia descontar meu mau-humor nele mesmo ele sendo parte da causa dele.-Foi
mal, apenas não estou muito bem.
Ele olha pra mim. Dentro dos meus olhos como costuma fazer para me provocar.
-Eu entendo. Tem dias que não aguento nem minha mãe, parece que meu humor
depende de como eu me sinto por dentro.-Ele diz.
-Pois é. Respondendo a sua pergunta, somos apenas bons amigos.
Ele olha pra banheira como se pedisse permissão para entrar. Se fosse Aleph, entraria
sem pedir. Acho graça nisso. Faço um gesto com a mão indicando que ele pode entrar e
o mesmo faz isso. Ele quase não cabe, mas conseguimos ficar os dois. Suas pernas
encostam nas minhas e eu estou ciente disso.
-Se for assim, vou te fazer companhia, aqui é o último lugar que a Maju vai me
procurar.-Ele diz.
Arqueio a sobrancelha.
-Está fugindo dela?
-Acho que sim. Estávamos ficando e agora ela quer me fazer assumir um compromisso,
mas não gosto dela desse jeito.
Você não gosta de ninguém, garoto.
Mais uma perdida nos encantos do Ben.
-Entendo ela.-Digo.
Falei de propósito. Queria apenas que ele soubesse como é amar e não ser amado. É
morrer todos os dias. Mas isso não depende de mim, a vida que vai ensinar a ele.
Ele fica desconfortável. Passa a mão nos cabelos e olha de relance para mim. Não devia,
mas sinto vontade de sorrir vitoriosa.
-Me desculpa, sério. Eu fui um babaca esse tempo todo. Nem sei explicar porque faço
isso com você, e agora que vejo você com Aleph, justo com ele....
Fico tão tentada à perguntar o que houve entre os dois que ignoro totalmente as
desculpas de Ben.
-Ben, o que houve com vocês dois?
Ele apenas me encara, mas sua mente parece estar viajando em uma memória passada.
-Quando eu tinha 14 anos, conheci Aleph e ficamos muito amigos. Eu confiava nele
para tudo. E tinha uma garota. O nome dela era Sarah e era minha namorada. Eu era
completamente apaixonado por ela e Aleph sabia.
Ele não fala mais nada. Minha curiosidade me atiça a perguntar o que aconteceu, mas
Ben não parece muito confortável contando a história. Quando estou desistindo de
descobrir, ele continua.
-Não vou entrar em detalhes, mas digamos que ela tirou a virgindade do Aleph enquanto
ainda estávamos juntos e ele nega até hoje. O que mais me magoou, foi ele ter mentido.
Não imagino Aleph fazendo isso. Quando Gabi se insinuou pra ele, Aleph a afastou e
contou pra Gusta, mas se bem que já faz 2 anos e como dizem, as pessoas mudam.
Agora entendo Ben ter ciúmes de Aleph. Ele não quer se ver perdendo outra garota pra
Aleph. Não tem nada a ver comigo e sim com o seu orgulho masculino.
-Isso é horrível, mas Aleph mudou.-Digo.
-Pra você, talvez, mas ele continua com a mania de pegar minha garota.
Eu ouvi direito?
-Sua?
Ben dá um suspiro.
-Eu não sei o que sinto, mas estou gostando de você. Eu apenas queria que chegasse a
ser o que você sente por mim.
Lá vem ele com suas confusões.
-Então quando você souber o que quer, me procura.-Me levanto e saio.
Vou para a cozinha e me sirvo um copo de água. Por que eu agi daquele jeito? Ben disse
que estava gostando de mim e aonde tá o Aleph? Ele prometeu não me deixar sozinha e
foi exatamente o que fez.
-Você ta horrível.-Gusta diz me dando um susto.
-E você é um ótimo amigo. Você e Aleph, pode entregar o recado a ele.-Digo.
Viro as costas e sigo para a varanda da frente, onde não tem ninguém. Minha febre
passou e tudo que quero é ir embora.
Meu coração apanhou por muito tempo por quem ele mais batia. Talvez hoje, logo hoje,
ele tenha se cansado.
Eu queria não ter sentimentos por míseros 10 minutos. Será que as pessoas seriam mais
felizes se não tivessem sentimentos?
Então eu lembro da sensação. Daquela sensação gostosa de se sentir amada pelos
amigos, de amar alguém, de sentir aquela saudade gostosa que sabemos que podemos
matar quando quiser, daquele medo de perder alguém. Se Deus nos deu a capacidade de
sentir essas coisas, então não seríamos felizes sem elas.
Não vou deixar meu coração se fechar. Nem que eu esteja tão cansada que queria
desistir, nem que meu coração apanhe mais do que um lutador de UFC. Eu prometo
nunca deixar meu coração se fechar.
Hoje foi apenas um dia ruim e dias ruins terminam como qualquer outro dia.
-Ouvi dizer que você está chateada.-Aleph pergunta atrás de mim.
Me viro para ele e dou um sorriso de lado. Ele vem até mim e passa o braço por meus
ombros.
-Um pouco, mas estou conseguindo me resolver.-Digo.
-Seja o que for que fez, conseguiu deixar Ben desnorteado. Ele foi pro quarto dele e não
quer falar com ninguém.-Aleph diz.
-Apenas disse a verdade.
Entramos e ele pergunta se quero ir dormir. O remédio me deixou com sono então digo
que sim. Vamos para o quarto e dormimos cada um para um lado.
Acordo com Aleph se mexendo e me levanto. Me sinto bem melhor. Mais disposta e
menos confusa. Balanço Aleph até ele acordar com seu delicioso mal humor. Quem
deveria estar com mal humor era eu por acordar às oito da manhã.
-Vamos lá, eu quero ir pra casa.-Digo o balançando.
Ele continua dormindo.
Tenho uma ideia um pouco desconfortante. Vale a pena tentar.
Assopro na sua cara o fazendo sentir meu cheiroso hálito matinal.
-Pelo amor de Deus, eu ja acordei.-Ele diz se levantando enquanto eu caio na risada.
Vamos juntos escovar os dentes e eu acabo com a cara cheia de pasta de dente. Dessa
vez não tomamos café com o pessoal. O pai de Aleph ligou e ele me deixou em casa.
Da varanda, ouço alguns gritos dos meus pais. Acho que estão brigando. Eles não
costumam brigar por algo que não seja comida.
Entro em casa e encontro os dois emburrados um com o outro.
-O que foi?-Pergunto.
-Seu pai marcou uma viagem de negócios justo no mês que vou estar viajando em turnê
para divulgar meu livro novo.-Minha mãe cruzando os braços olhando para meu pai.
Ela está usando um avental sujo e os cabelos presos. Mas não se engane, essa daí é mais
arisca do que deixa parecer.
Meu pai revira os olhos.
-É importante pra empresa, vamos fechar um contrato milionário. MILIONÁRIO! -Ele
reclama.
A briga toda é por eu ficar sozinha.
-Por que não vou com você, mãe? -Pergunto.
-A viagem está marcada pro início do ano letivo, você não pode faltar.-Ela diz.
-Mãe, pai, já tenho 17 anos. Posso me cuidar sozinha. Essas viagens de negócio não
duram mais que uma semana e eu sei cozinhar, vou ficar bem.-Digo.
-Tem certeza?-Meu pai pergunta.-Pode ficar na casa da Sophia.
Não vou aguentar uma semana com Laura e Tiago, os pais de Sophia. Tiago é um
adolescente em pele de homem e Laura consegue ser mais irritante que Sophia na TPM.
-Vou ficar bem.-Digo.-Agora parem de brigar.
Eles aceitam. O que devo esperar dessa semana? Ainda mais quando soube que será a
semana de Carnaval?
Capitulo 11
Primeiro dia de aula. Nem sei o que esperar, apenas que esse ano eu fique na mesma
sala que Sophia. Nunca fiquei nervosa para essas coisas. Nunca tive medo de me
arriscar ou experimentar coisas novas. Eu até gosto de mudanças, sair do comum.
Minha mãe viaja hoje e ela está se despedindo do meu pai com um beijo que faria
qualquer pessoa ficar sem graça. Ela vem até mim e me dá um forte abraço.
-Eu volto logo.-Ela diz.
-Eu sei mãe, como um ioiô.
Quando eu era pequena, minha mãe teve que viajar e me deixou com uma babá
enquanto meu pai trabalhava. Eu não queria que ela fosse embora e ela me disse uma
coisa que lembro até hoje.
Eu estava emburrada, provavelmente fazendo um bico daqueles. Ela veio até mim e se
abaixou ficando na minha altura. Tirou uma mecha do cabelo do meu rosto, me fitou
com seus olhos castanhos e disse "sabe o ioiô? Ele vai e volta, assim como a mamãe. Eu
vou, mas eu volto para você."
Ela estava certa, como um ioiô, tudo que vai, volta...menos o dinheiro que eu emprestei
pra Gusta, esse nunca mais vai voltar.
Ela sorri, pega sua mala e vai até à porta, mas antes, dá mais uma olhada em nos dois.
-Amo vocês. -Ela diz olhando para o meu pai e depois para mim.
Assim que ela sai, meu pai se volta para mim.
-Primeiro dia de aula?-Ele pergunta.
-Infelizmente.-Digo.
Ele coça a cabeça e vem até mim.
-Sabe, você já está no último ano, tem alguma ideia do que quer fazer da vida?-Ele
pergunta.
Como qualquer pessoa, eu já tinha pensado sobre o que quero no futuro, mas não
consigo escolher. Sempre me dizem para escolher algo que eu goste. Eu gosto de dormir
e não acho que tenha um curso assim na faculdade. Seja o que for que eu vá escolher,
tem que ser do ramo de exatas. Talvez engenharia ou Física quem sabe.
-Por enquanto vou só estudar, pai. Não tenho ideia do que fazer depois da escola.
-Seja o que for, tenho certeza que você será ótima. -Ele diz.
Sorrio ao mesmo tempo que ouço o latido de Maresia. Não contei, mas meu cachorro
estava na casa de Gusta a algum tempo. Ele tem uma cadela e ela está no cio. Acho que
não preciso mais comentar nada.
Se Maresia está aqui, provavelmente Gusta também está. É de lei, eu, Gusta e Sophia
irmos juntos no primeiro dia de aula.
-Boa tarde melhor amiga e amador do futebol!-Gusta diz entrando.
-Vou te mostrar o amador, liga o vídeo game que eu vou pegar o jogo.-Meu pai diz e vai
até o quarto.
Maresia se solta da coleira e sai pulando pela casa. Sophia entra atrás de Gusta. Ela me
olha e eu conheço esse olhar. Ela quer me contar algo.
Não preciso perguntar o que é, pois, o motivo entra usando uma calça preta e um sorriso
lindo.
-Aleph? -Digo.
-Surpresa? Eu vim pelo almoço. -Ele diz.
Outra lei. O almoço do primeiro dia de aula é sempre aqui em casa. Minha mãe deixou
tudo preparado.
Meu pai volta com o jogo e ele e Gusta começam uma partida.
-Sabe pai, você tem seus amigos, não precisa roubar o meu.-Digo.
Ele apenas ri e continua jogando. Rafa, o pai de Gusta, não aparece aqui a algum tempo.
Acho que meu pai sente falta dele e do pai de Sophia.
Júlio foi embora antes de ontem e tive que aguentar Sophia reclamando. O que não
fazemos por uma amiga? Ela reclamou menos que o normal, isso eu admito.
Vou até a cozinha e coloco a comida na mesa. Braços envolvem minha cintura e eu dou
um pulo quase derrubando tudo.
-Droga, Aleph!-Digo.
Ele me abraça ainda mais apertado e fico completamente desestabilizada. Procuro seus
olhos e ele está sério.
-Eu estava com saudades.-Ele diz.
Estreito meus olhos e dou um meio sorriso.
-Aleph, é você mesmo?-Pergunto.
Ele tira os braços de mim.
-Então é verdade, eu sou tão grosso que quando sou carinhoso com alguém, a pessoa
estranha.-Ele diz.
Rio por dentro. Ele parece completamente sério. Como se seja quem for que disse isso,
o atingiu em uma ferida.
-Quem disse que você é grosso?-Pergunto.
-Minha irmã. -Ele diz se sentando.
-A pessoa é tão grossa a um ponto que até a irmã diz.-Falo terminando de servir a mesa.
Aleph revira os olhos. Essa coisa de ficar se atacando, é nossa coisa. Ele é a única
pessoa que sei que posso brincar falando o que eu quiser e não vai ficar com raiva.
Gusta é um pouco sensível, ele nem sempre leva tudo na brincadeira e Sophia, nem se
fala.
-Ta na mesa.-Grito.
Em segundos, a mesa está cheia. Estamos todos comendo o bife à parmegiana que
minha mãe fez e lambendo os beiços. Minha família sempre foi muito fã de comida,
então como Sophia e Gusta vivem aqui em casa, aprenderam a ser.
-Então, o que vão fazer no Carnaval?-Meu pai pergunta.
Uma coisa que eu nunca entendi, é porque as aulas começaram na semana do Carnaval.
Teremos aula até quarta-feira e aí é Carnaval. Meu pai viaja na terça e volta na segunda
a noite.
-Eu vou dormir.-Digo.
-Vou botar meus livros em dia.-Sophia responde.
-Aleph e eu vamos passar as 4 noites sem dormir e curtindo.-Gusta diz com um sorriso
orgulhoso.
-Meus garotos.-Meu pai diz.-Estela, ninguém dorme 4 dias seguidos, tenta se divertir
com os meninos.
-O senhor está mandando sua única filha curtir o Carnaval com dois garotos
completamente irresponsáveis? -Pergunto indignada.
Ele parece pensar bem.
-Às vezes me pergunto como você pode ser nossa filha, em casa dormindo, ou na rua no
Carnaval, só espero que se divirta.
Muitos me dizem que tenho os melhores pais do mundo. Mas eu sei que eles são assim
comigo, pois passo confiança a eles. Eles sabem que não sou de fazer besteira, sabem
que não sou irresponsável, eles depositam em mim sua confiança casa vez que eu saio
por aquela porta. Eu amo isso neles. Amo saber que meus pais me entendem e confiam
em mim. Confiança, é a base de qualquer relacionamento, seja ele familiar, amoroso ou
de amizade. Não há nada melhor do que saber que você pode confiar sua vida a alguém
de olhos fechados.
-Vou sim, pai.
-Quero que me ligue todas as noites e para sua mãe também. Se se sentir sozinha, pode
chamar um dos seus amigos para vir dormir aqui. Mas ninguém além desses três aqui na
minha frente pode ultrapassar essa porta, está bem?
-Ta pai.
O homem da minha vida.

☆☆☆☆☆☆
Acho que em toda história da terra, nunca houve um primeiro dia de aula tão chato. Não
tem ninguém novo. As mesmas pessoas na minha sala e os mesmos professores. Foi
como uma quarta-feira no mês de abril, mas é uma segunda-feira no mês de fevereiro.
Ben nem se quer olhou para mim. Também não olhei para ele, isso se chama frescura.
Quando não aceitam a verdade ou quando mudamos com a pessoa e ela fica com
frescura para o nosso lado. Se ele está pensando que vou ficar rastejando como uma
cachorrinha novamente, ele está enganado. Eu posso ser completamente apaixonada por
ele, mas tenho meu orgulho e só vou voltar a falar com ele, se ele parar de frescura e vir
falar comigo. Nunca vi ninguém morrer de amor e eu não vou ser a primeira.
Passei o dia com Gusta e Aleph. Gabi veio me pedir ajuda para reconquistar Gusta e eu
apenas ri da cara dela. Esse ano teremos nossa formatura, as blusas do terceirão e o
famoso trote do terceirão. Vamos deixar para fazer o trote quando tivermos nossas
blusas, então vai demorar um pouco.
Gusta e Aleph são os palhaços da turma, mas hoje eles se superaram. Minha barriga
doeu de tanto rir. Mas foi apenas por 10 minutos. Logo as aulas voltaram a ser a chatice
de sempre.
Falamos sobre o Carnaval e ninguém tem ideia de onde ir. Aqui em São Paulo, tem o
desfile das escolas de samba, e toda aquela gente reunida no Carnaval de rua, bebendo e
suando, não é bem minha praia, e todos somos de menor. Pensamos em ir em um bloco
de dia na Av. Paulista e a noite, irmos para alguma festa. Os garotos querem ir
fantasiados e eu não acho má ideia. Até lá, pensaremos em uma fantasia.
Essa última parte foi que convenceu Sophia a ir. Ela adora se fantasiar.

☆☆☆☆☆☆
Meu pai foi embora antes de ontem e deixou uma lista de instruções para eu fazer. A
maioria delas envolve me alimentar. Hoje é o segundo dia de carnaval. Ontem, eu e
Sophia passamos o dia atrás de fantasias e achamos duas perfeitas. Estamos terminando
de vesti-las. Aleph e Gusta vão nos buscar daqui a alguns minutos. Eles disseram que a
fantasia deles era surpresa e não quiseram nos falar.
Eu vou de gatinha e Sophia vai de deusa grega. Não era as fantasias que queríamos,
acontece que era as únicas da loja. Nosso bloco de carnaval consiste em algumas
pessoas do colégio, Felipe e a irmã de Aleph. Quando anoitecer, vamos todos para a
casa de Felipe, vai ter uma festa lá, mas dessa vez não vamos dormir lá.
Termino de ajeitar minha tiara de orelhas de gatinho na cabeça e me olho no espelho.
Um top tomara que caia preto mostrando minha barriga, um short curto de paetê, meia
calca arrastão, um laco no pescoço, um rabo preso no short e orelhas de gato. Isso foi o
que a loja me vendeu.
Ben vai estar lá. Confesso que estou animada para essa noite.
-Você está linda! Acho que estou começando a gostar da minha fantasia.-Sophia diz.
A observo, ela realmente está linda.
Um top branco, uma saia curta branca, uma espécie de cinto grego dourado, uma linda
tiara de louros dourada na cabeça e uma maquiagem linda.
Uma verdadeira deusa grega. Deixei comida e água para Maresia. Estamos prontas e só
falta Gusta e Aleph chegarem.
-Ainda bem que o sol já baixou.-Sophia comenta.
-Verdade, não vou aguentar andar com essa fantasia no meio do sol.-Digo.
Ouço batidas na porta e imagino ser os garotos. Sophia e eu vamos abrir a porta.
-Eu já me achava gostoso, aí me colocam dentro de uma fantasia dessa...eu sou foda
demais!-Aleph diz entrando e eu não consigo evitar rir.
-Que fantasia é essa?-Pergunto.
-Sou o Espartano mais gostoso do mundo, eu fico lindo até de saia.-Ele diz se achando.
Ele realmente está gostoso. Nunca vi pernas masculinas ficarem tão lindas em saias.
Sinto uma vontade imensa de passar a mão em cada músculo seu, mas me controlo. Na
sua mão direita, uma espada de brinquedo e toda aquela fantasia de espartano faz Aleph
ficar muito engraçado.
Aleph me analisa e me joga um olhar malicioso. Daria tudo para saber o que ele está
pensando.
Então noto a presença de Gusta e olho pra Sophia. Em sincronia, gargalhamos por sua
fantasia.
-Mas que porcaria é essa?-Sophia diz se recuperando do ataque de risos.
-Nunca vi nada tão idiota, combina direitinho com o carnaval.-Digo.
-Vocês não entenderam o real significado da fantasia.-Ele diz.
Gusta simplesmente costurou uma terceira perna na parte da frente da calca jeans e
encheu de espuma, assim parece algo bem imoral, porem engraçado.
-Eu entendi que você foi atrás de fantasia hoje e sua mãe teve que dar um jeito.-Digo.
Ele dá de ombros.
-Você só diz isso porque me conhece.-Ele fala.
-Vamos?-Sophia pergunta.
Pego meu celular e coloco dentro do meu sutiã. Sophia faz o mesmo com o seu e
saímos. No carro, Aleph e Gusta vão na frente e eu e Sophia atrás. Gusta tem
dificuldade de estacionar, mas assim que conseguimos, descemos do carro e andamos
um pouco (muito) até encontrar o pessoal. De longe vejo Ben, Felipe, Maju e Gabi.
Maitê também está com eles e uma turma que reconheço do colégio.
Maju parece estar fantasiada de mulher maravilha, Felipe é uma salsicha gigante, Maitê
é uma anja com um vestido realmente curto e Ben está de canibal, eu acho. Parece que é
moda os garotos usarem saia.
Perco umas duas batidas olhando pra ele. Aleph, que está no meu lado, parece perceber
meu nervosismo pois entrelaça sua mão na minha tirando uma grande tensão do meu
corpo. Ben me vê. Seus olhos vêm direto para os meus e ficam assim. Engulo seco e
aperto a mão de Aleph. Ele olha pra mim e me passa um olhar confiante.
-Vai beber hoje?-Ele pergunta.
-Não muito, dessa vez não tenho ninguém pra cuidar de mim.-Digo.
Ele ri.
-Você sabe que eu não me importaria nenhum pouquinho de te dar um banho.
Minha mente fértil, imagina a cena de Aleph me dando banho e chego a corar.
Cumprimento a todos ainda com o olhar de Ben em mim. Já está incomodando. O som
está alto e Gusta e Sophia foram comprar algo para bebermos.
-Daqui a pouco ele abre um buraco em você.-Aleph comenta incomodado.
Sorrio.
-Está com ciúmes?-Brinco.
Ele passa os braços pela minha cintura me trazendo para mais perto dele. Meu coração
dispara com esse gesto e encaro descaradamente sua boca. Ele parece notar, pois sorri e
vem lentamente em minha direção, mas em vez de beijar minha boca, Aleph beija meu
pescoço. Sua boca sobe até minha orelha e a mordisca. Mil calafrios percorrem meu
corpo e minhas mãos vão até seu rosto e o puxo até minha boca. Ele me beija
lentamente. Sinto suas mãos descendo até minha bunda, e como estamos em lugar
público, seguro suas mãos e as levanto de volta ao meu quadril.
Ele faz uma cara de desapontado, o que me faz rir.
-É carnaval, me deixa tirar uma casquinha dessa bunda gostosa.-Ele fala brincando e eu
gargalho forte.
Sua risada se mistura com a minha e percebo que o som das duas juntas, é perfeito para
meus ouvidos.
Uma garota seminua passa por nós e Aleph olha pra ela.
-Gostosa ela, não é?-Ele pergunta.
Serio Aleph? Serio mesmo? Você está perguntando isso para mim? Não deveria, mas
isso me incomoda, quero dizer, acho que homem nenhum deve olhar para outra mulher,
tendo uma ao seu lado. Sendo ela namorada, ou não.
-Se você diz.-Digo indiferente e Aleph ri.
-Olha o bico que eu tanto gosto.-Ele diz e imita meu bico. Tento segurar o riso, mas é
impossível. Aleph consegue arrancar de mim os melhores risos.-Eu posso passar o dia e
a noite procurando, mas não vou achar garota mais gostosa que você nesse lugar.
Encaro seus lindos olhos. Acho que nunca vou me cansar de ouvir Aleph me chamando
de gostosa. No começo, eu odiava, tenho mias características do que ser gostosa, mas o
olhar de Aleph ao dizer isso mudou, consigo ver na sua cara que esse não é o único
elogio que Aleph quer fazer a mim,
-Pena que não posso dizer o mesmo de você, passou um cara vestido de policial
agorinha e eu adoraria ser revistada por ele.-Digo.
Aleph tem uma cara séria, mas após ver meu sorriso de deboche e ver que não tem
nenhum cara vestido de policial por perto, ele percebe ser uma brincadeira e ri. Daria
tudo por mais momentos como esse.
Ele olha para detrás de mim e sigo seu olhar. Então vejo Camy vindo até nós. Mas não
vejo apenas Camy, vejo Felipe de boca aberta quase babando. Ela parece perceber e o
encara. Os dois ficam parados se olhando, o que é engraçado, pois Felipe é uma salsicha
gigante e Camy é uma vampira sexy.
Olho pra Aleph e ele parece perceber que aí tem coisa. Camy desvia o olhar de Felipe e
volta a andar.
-Olá.-Ela diz.
-Camy, por favor, primeira regra para quando nos encontramos no mesmo lugar...-
Aleph começa.
-Eu sei, não nos conhecemos, mas eu vim falar com a Estela e não com você.
Aleph revira os olhos.
-Eu vou atrás do Gusta, ele tá demorando.
Ele sai e xingo baixinho por seus braços deixarem meu corpo.
Camy ainda olha para Felipe um pouco confusa.
-Algum problema?-Pergunto.
-Eu já fiquei com esse garoto no ano novo, eu realmente gostei dele e ele me deu o
número dele, mas adivinha!? Era o numero de uma senhora de 90 anos. Ele me fez de
trouxa e agora está quase babando por mim.-Ela diz.
-Temos uma coisa em comum, tá vendo o índio do lado dele? Me fez de trouxa por
quase um ano e tá com essa cara de retardado pra cima de mim.
Ela ri e volta a olhar pra Felipe.
-Homens são tão idiotas, mas beijam tão bem...mas não vou ficar aqui, até o fim da
noite, Gabriel ainda vem falar comigo.-Ela diz.
-Quem é Gabriel?-Pergunto.
Seu queixo cai e vejo fúria nos seus olhos.
-Pelo visto, não é a salsicha.-Ela diz e sai desfilando no seu salto 15.
Não deveria, mas acho graça de tudo isso. Então minhas pernas bambeiam e meu
coração acelera quando o maior babaca do mundo vem em minha direção.
-Estela, tem um minuto?-Ben pergunta com um olhar diferente. Percebo que ele
realmente está com medo da minha resposta.
Capitulo 12
Um minuto.
Ben me pediu um minuto. Pela sua cara, acho que isso vai durar mais de um minuto.
Eu queria muito ser como minhas heroínas de livros e séries. Em uma situação como
essa, elas dariam a volta por cima e deixariam Ben com a maior cara de tacho, mas eu
simplesmente quero ouvir o que ele tem a dizer.
É Carnaval, eu deveria estar me divertindo e zoando com meus amigos, mas eu quero
ouvir o que Ben tem a dizer e me magoar depois.
Eu só sinto que preciso.
Dou de ombros como se dissesse "tanto faz". Como se ele estar aqui, fosse totalmente
insignificante e não mudasse nada na minha vida, mas muito pelo contrário. Sua
presença, aqui na minha frente, muda tudo.
Talvez.
Ben passa a mão no cabelo, um pouco nervoso. Ele engole seco e parece estar
escolhendo as palavras.
-Você me disse para quando eu tiver certeza do que sinto, te procurar. Acontece que eu
tenho e isso me assusta, pois nunca senti por mais ninguém. Pelo menos não nessa
intensidade. Cada vez que eu te vejo, acende algo em mim, não sei explicar, apenas
sinto e quero continuar sentindo.-Ele respira fundo e solta uma risada.-É Carnaval, com
certeza não é a melhor época para eu dizer tudo isso.
Cada palavra sua caiu como um peso. Eu estou completamente sem reação e nenhuma
célula do meu corpo acredita no que acabei de ouvir. Calafrios percorrem meu corpo e
de repente me sinto incomodada com esse sentimento.
-Ben...-É o que eu consigo dizer.
-Estela, eu estou apaixonado por você e quero namorar com você. -Ele diz com um
brilho nos olhos que nunca tinha visto antes.
Meu coração aperta e eu simplesmente não sei o que dizer.
Então uma pessoa me chama atenção atrás de Ben.
Aleph.
Ele está dançando exibindo sua saia fazendo algumas pessoas rirem. Ele sorri. Aleph
sorri pelo simples fato de que pessoas estão rindo por sua causa, por seu carisma
contagiante. É uma das coisas que gosto nele. Seu jeito bobo de ser, apenas para ver o
sorriso no rosto de outras pessoas. Já reparei que quando ele faz uma piada ou algo
engraçado, ele olha em volta para todas as pessoas que estão olhando, e se elas rirem,
seu corpo relaxa.
Olho pra Ben e ele está esperando uma resposta. Ben quer namorar comigo e
estranhamente, eu não quero isso.
Queria poder dizer que é por mim, mas não é. Admito. Olhando para Aleph desse jeito,
não consigo considerar a ideia de estar com outro cara, mesmo o tal cara ser Ben.
Eu apenas não estou a vontade com isso. Eu negaria até a morte na frente de Aleph, mas
o que sinto por ele, não é apenas amizade e eu quero desfrutar mais um pouco desde
sentimento.
-Ben, eu não estou preparada para isso...-Começo mas Ben me interrompe.
-É por ele, não é? Aleph. -Engulo seco. Não confirmo, mas também não nego.-Não tem
problema, Estela, eu vou te esperar pois um dia, Aleph vai se mostrar pra você, o babaca
que ele é, e nesse dia, vou estar te esperando. Passei tempo demais para perceber o que
estava bem debaixo do meu nariz e eu estou mortalmente arrependido.
Ben me dá um beijo no rosto e se afasta lentamente me olhando nos olhos daquele jeito
especial que só ele consegue fazer.
Estou totalmente sem palavras. Ben acabou de se declarar para mim. O momento que eu
anseio por meses aconteceu e eu simplesmente queria sumir do mesmo jeito que Ben
sumiu da minha frente no resto da tarde.
Não conto para Aleph sobre essa conversa. Ajo normal, como se nada tivesse
acontecido, mas aconteceu e eu espero não me arrepender dessa decisão.
Gusta e Sophia aparecem uma hora depois dizendo que se perderam um do outro e cada
um foi procurar o outro até se encontrarem aqui perto. O mais estranho é tudo isso levar
mais de uma hora.
Assim que a noite cai e as estrelas iluminam o céu, todos vamos para a casa de Filipi.
Sophia rasgou o vestido enquanto estava procurando Gusta, então vamos antes a sua
casa para ela trocar de roupa.
-Não vai demorar nada, no máximo uma hora. -Ela diz e entra.
-Como assim uma hora?-Aleph pergunta.
-Ela provavelmente vai experimentar o guarda-roupa todo.-Digo bufando.
-Não precisam esperar, Sophia está com o carro. -Gusta diz.
-Ela vai fica puta da cara se formos sem ela.-Comento.
Gusta aperta o volante e olha pra Aleph como se fizesse um pedido silencioso.
-Vão no meu carro, eu espero ela.-Gusta diz indiferente.
Cerro os olhos para ele. Isso realmente saiu da boca de Gusta? João Gustavo Telles
Medeiros disse que vai fazer algo por alguém por sua própria conta e não parece
nenhum pouco incomodado com isso?
Gusta percebe minha desconfiança.
-Não me olha com essa cara, meu aniversário tá chegando e eu quero uma festa
surpresa! -Ele explica sua boa ação.
-Aham. -Aleph murmura e Gusta revira os olhos para ele.
Automaticamente, lembro do que Sophia me disse sobre Gusta ter tentado beijar ela.
Sou apegada em detalhes e desde que Gusta terminou com Gabi, tenho percebido que
ele tem agido estranho perante Sophia. Será que tem alguma chance de ele gostar dela?
Nós crescemos juntos, desde pequena, noto que o relacionamento entre eles dois, não é
o mesmo que tenho entre Gusta e eu ou Sophia e eu. Eu era como a cola do nosso trio.
Acredito que se não fosse por mim, eles nunca seriam amigos, pois os dois são
completamente diferentes.
Gusta tem esse seu jeito mais desleixado, ele adora estar no meio de muita gente e não
perde uma farra, já Sophia, é toda organizada e controladora com suas coisas, prefere
mil vezes um filme em casa à um filme no cinema e dispensa qualquer farra por uma
xícara de café e um bom livro.
Por esses motivos, nunca achei os dois tão amigos.
-Ela já tá no mundo da lua de novo.-Gusta diz estalando os dedos na minha frente.
-Não tô não. -Digo.
-Nos vemos daqui a uma hora ou mais.-Gusta diz saindo do carro.
Aleph muda de lugar e vai para o banco do motorista, e eu tento passar para o banco da
frente quase sem sucesso.
Observo cada movimento de Aleph enquanto ele liga o carro e dirige. Presto atenção em
cada músculo seu se contraindo e em cada movimento, até uma mexida mínima no dedo
mindinho, mas não por que eu quero, é algo quase automático.
-Se você tirar uma foto, dura mais.-Aleph diz me provocando.
Eu sabia que ele percebeu que eu o olhava, mas isso apenas me fazia o encarar com
mais intensidade.
-Prefiro ao vivo.-Digo.
Aleph abre um pequeno sorriso involuntário. Após perceber, desfaz o sorriso e quase
posso ouvir seu cérebro trabalhando por uma frase espertinha que me deixará sem graça.
Pelo visto, não deu certo, pois ficamos em silêncio o resto do caminho. Assim que
chegamos a casa de Felipe, que é tão familiar para mim quanto minha própria casa, saio
do carro e espero Aleph.
O som já estava alto quando eu estava dentro do carro e assim que abri a porta, a música
alta eletrônica invadiu meus ouvidos me convidando para uma dança.
Não espero Aleph se juntar a mim, apenas entro na casa e observo a multidão de
pessoas que nunca vi na vida. Está um pouco escuro, mas um enorme globo de luz
colorido ilumina toda a sala. Consigo ver várias garrafas de Vodca, Whisky e cerveja
vazias pelo chão.
Alguém toca meu ombro e não preciso me virar para saber quem é. Conheço o toque de
Aleph, de alguma forma, é diferente. Parece atiçar uma parte de mim que nunca tinha
visto antes. Seus enormes olhos percorrem meu corpo e suas mãos vão até meus
ombros. Tenho um mini ataque com esse gesto assim que seus dedos tocam meus
ombros cobertos.
-Você está suando, me deixa tirar essa coisa.-Aleph diz.
Ele tira o curto casaquinho que enfeita minha fantasia com a ponta dos seus dedos
roçando minha pele. Sinto sua respiração na minha nuca e embora tenha umas cem
pessoas ou mais ao nosso redor, sinto como se existisse apenas Aleph e eu, e isso me
assusta.
A ideia de me sentir assim com ele, me assusta. Com Ben, foi mais fácil, era esperado
eu me apaixonar por um cara como ele, mas Aleph não. Ele não tem nada a ver comigo
e tudo a ver ao mesmo tempo. É confuso, mas eu também sou.
-Vi você conversando com Ben.-Ele diz.
Sinto uma pontada de ciúmes na sua frase. Nunca eu imaginaria que Aleph falaria dessa
forma comigo, na verdade, nunca imaginei que ninguém falaria dessa forma comigo.
Mas sonhei. Eu sou uma romântica...ou era. Nessa altura, nem sei o que sou.
Não me sinto à vontade em falar isso para Aleph. Sei que com ele, posso falar sobre
qualquer coisa, mas esse assunto, é como se fosse meu assunto proibido. O que é
irônico, pois foi esse assunto que nos fez ser o que somos hoje.
Amigos coloridos.
-Ele só me pediu desculpas.-Digo.
-Só isso?-Ele pergunta mais uma vez.
O puxo pelo braço para mudar de assunto e o levo até a pista de dança. Começo a
rebolar e noto que ele está com o meu casaquinho em volta do pescoço. O que é
engraçado, pois não combina nada com sua roupa de espartano.
Aleph fica alguns segundos me olhando e então entra no ritmo. Gargalho com sua dança
e percebo seu sorriso. Sei o quanto Aleph adora fazer as pessoas rirem.
Olho dentro dos seus olhos, sem medo, sem vergonha e sem pudor, me jogo nos seus
braços e colo nossos lábios. Suas mãos vão até minha cintura e me puxam contra ele me
fazendo suspirar no meio do beijo.
Cada vez que isso acontece, uma parte até pouco tempo desconhecida, acorda e me faz
ter ideias. Após algumas músicas, Aleph e eu vamos buscar algumas bebidas na
cozinha. Felipe pensou em tudo para a festa. Ele fez uma espécie de bar e na hora vejo a
bebida vermelha que tomei no ano novo.
Lembrando do estado que fiquei nessa data, opto por um bebida de limão com apenas
5% de teor alcóolico. Aleph pega um copo de cerveja e voltamos para a pista, mas dessa
vez mais próximos do bar.
Gabi esbarra em nós e nos dar um sorriso.
Por educação, sorrio de volta.
-Estela, você viu o Gusta? -Ela pergunta.
Olho para Aleph. Com certeza Gusta falou para ele sobre nossa brincadeira com ela e o
quanto ele a odeia. Aleph me dá um olhar que estranhamente eu entendo.
-Ele está vindo com a Sophia.-Aleph diz.
-Pois é, ela praticamente mora na casa dele, mas se eu tivesse um namorado como
Gusta, também viveria na sua casa.-Digo.
Os olhos de Gabi saltam para fora.
-Como assim namorado?-Ela pergunta desesperadamente.
Encosto meu rosto no braço de Aleph para tentar esconder dela o quanto estou me
divertindo com tudo isso.
-Nós estamos um pouco ocupados agora, daqui a pouco os dois chegam, se quiser pode
tentar falar com ele antes dos dois irem para o quarto.-Aleph diz e saímos dando
tchauzinho e sorrindo.
Quando estamos a uma certa distância de Gabi, desatamos na risada até nossas barrigas
doerem.
-Você viu a cara dela?-Pergunto me recompondo.
Aleph se recompõe ainda com um sorriso no rosto. Percebo que ele está realmente feliz.
Seus olhos brilham e seu sorriso é sincero.
Ele é levemente empurrado por um garoto que passou e percebo levar vários empurrões
também derrubando minha bebida e quando me dou conta, todos estão em fila indiana
com as mãos nos ombros da pessoa na frente rindo e cantando. A fila anda e sou
obrigada a colocar minhas mãos nos ombros de uma garota. Procuro Aleph na multidão
e o acho um pouco longe.
Ele ainda está sorrindo.
Entro no ritmo e danço e canto com todos, mas sinto uma necessidade enorme de estar
perto dele, tanto que não consigo desviar meus olhos dos seus e percebo que ele tenta
chegar até mim.
Desvio de alguns copos com bebidas de cor estranha que são jogados e tento chegar até
Aleph.
Quando finalmente minha mão toca a sua, uma estranha sensação de bem-estar invade
meu corpo e apena rio. Dou uma risada forte, feliz e dessa vez, não foi provocada pelo
álcool.
Então um copo de bebida me atinge como um míssil bem no meu decote, encharcando
meu busto inteiro. Aleph não disfarça em olhar a área atingida muito menos sua risada.
Eu até estou irritada pelo acontecimento, mas o som da sua risada me faz fazer apenas
uma coisa:
Sorrir.
Acho que nunca sorri tanto, quanto nos últimos tempos que tenho andado com Aleph.
Ele me arrasta para longe da multidão e de toda a bagunça. Estamos fora da casa, perto
do seu carro.
-Isso foi irado. -Aleph comenta.
-Fala isso porque não foi você a ser atingido por...-Respiro fundo sentindo o cheiro e o
inconfundível cheiro sobe entra nas minhas narinas.-Cerveja!
-O cheiro está ótimo pra mim.-Ele diz.
-Você não tem vergonha de dizer isso seu bêbado!-Digo e ele cai na risada.
-Vou te confessar, você faz bem pra mim.-Aleph diz.
Olho para ele a procura de alguma expressão de deboche, mas ele está falando sério.
Devo estar com a maior cara de otaria admirada com o que ele falou, pois Aleph não é o
cara mais carinhoso do mundo.
Não chega bem perto.
Vejo o carro de Sophia estacionar no nosso lado e ela e Gusta saem do carro. Sophia
mudou de fantasia e agora está com uma fantasia de fada. Me pergunto onde ela
arranjou uma tão rápido.
-Achei que a festa era lá dentro.-Gusta comenta.
Me viro para ele mostrando a enorme mancha de cerveja no meu vestido.
-Toma, distraída. -Sophia diz.
-Já estão jogando bebida? Droga Sophia, eu falei pra você se apressar.-Gusta diz a
arrastando pra dentro.
Ela bate o pé, mas Gusta é mais forte e os dois entram na casa.
-E nós? -Aleph pergunta.
Não faz sentido, mas o fato de ele se referir a "Estela e Aleph " como "Nós " me faz
sorrir.
-Nós vamos para casa.-Decreto.
Aleph não protesta, o que é estranho. Ele é o Aleph, deveria me contraria até se eu
dissesse que ele é o cara mais gostoso do mundo...quero dizer, se eu dissesse isso,
Aleph não iria me contrariar. Ta para nascer alguém que se ame mais do que Aleph.
Passo o caminho inteiro até minha casa, cantando e batucando com os dedos no ritmo
da música que sai do rádio. Aleph tenta imitar cada artista, o que foi engraçado quando
tocou uma música do Michael Jackson.
Assim que avisto minha casa e percebo todas as luzes apagadas, lembro que estou
sozinha.
Não costumo ter medo dessas coisas de fantasmas ou espíritos, mas nunca passei uma
noite inteira sozinha nessa casa. Penso em ligar para Sophia ou Gusta, mas eles
chegaram a pouco tempo na festa e vão querer curtir.
Então me lembro da limitada lista do meu pai sobre as pessoas que poderiam dormir
aqui.
-Aleph, fica aqui em casa?-Pergunto.
Aleph olha para mim com um sorriso divertido.
-Está me convidando para dormir com você?-Ele pergunta com uma ponta de malícia na
voz.
Conheço esse seu jogo. Ele quer me deixar sem graça.
Não hoje.
Me aproximo de seu rosto e me apoio colocando minhas duas mãos nas suas pernas. O
vejo engolir seco e completamente assustado com meu gesto inesperado, mas ao mesmo
tempo, vejo desejo em seus olhos.
-Quem falou que vamos domir? -Pergunto e vejo sua boca levemente se abrindo e seu
rosto corando
Não acredito. Eu consegui fazer Aleph ficar sem graça. Volto ao me lugar aos risos e
coloco a mão na barriga que está doendo de tanto rir.
-Você tinha que ter visto sua cara!-Falo e Aleph fica ainda mais vermelho.-Vamos, eu
estou com fome.
Saio do carro e nem espero ele vir atrás. Abro a porta e me jogo no sofá. Aleph fica
parado na porta observando.
-O que foi?-Pergunto.
Ele não fala nada, apenas vem e minha direção e me beija. Suas mãos vão para minhas
coxas e ele me bota em seu colo. Agarro seu pescoço enquanto experimento a oitava
Maravilha do mundo (o beijo de Aleph).
Sinto que estamos nos movimentando e então minhas costas encontram a maciez da
minha cama.
Nesse momento, me perco totalmente. Aquela parte de mim que eu comentei mais cedo,
que agora estou a apelidado de deusa interior, está vestida com uma lingerie da Victoria
Secret's chamando pelo nome de Aleph enquanto faz uma dança sensual ao som de
Beyoncé.
Claro que não é meu caso. Coloquei minha lingerie da 25 de Março que comprei no ano
passado. Essa é a vida.
Acho que nunca me senti tão entregue a um sentimento ou a uma pessoa. Suas mãos no
meu corpo me fazer revirar os olhos de tanto tesão e seus beijos ficam cada vez mais
quentes e dominantes.
Suas mãos vão até a barra do meu vestido e eu me afasto bruscamente de Aleph.
Ele me olha como ninguém nunca me olhou antes. Ninguém nunca me olhou com tanto
desejo e ninguém nunca me fez sentir tanto desejo. Quase me fazendo ter me
arrependido por cortar o clima.
Quase.
Apesar de desejo, seu olhar também é interrogativo.
-Não quero estragar o que tenho com você, Aleph. Você é muito importante pra mim.-
Digo.
É verdade. Não parei o beijo por medo ou pelo fato de eu ainda ser virgem, e sim pelo
fato de que isso pode acabar totalmente com o que temos.
Já ouvi histórias de amigos que após transarem, a amizade nunca foi a mesma. Não
quero que isso aconteça comigo e Aleph. Ele é importante para mim. Mais do que
deveria ser.
-É diferente com a gente. -Aleph diz como se pudesse ler meus pensamentos.-Somos
duas pessoas que tentam ser amigas, mas as vezes sentimos uma puta atração e um puto
desejo um pelo outro.
Com o término dessa frase, Aleph afunda sua boca na minha e é como se todas minhas
preocupações sumissem.
Simplesmente não ligo para minha lingerie velha ou minha preocupação sobre nossa
amizade. A única coisa que quero é ele.
Me entrego para Aleph totalmente aproveitando cada momento como se fosse o último.
Sentindo cada toque seu e suspirando a casa vez que meu coração me assusta por bater
tão forte. Minhas unhas arranham levemente suas costas e beijo cada centímetro de pele
que vejo.
Nessa noite, eu fui totalmente dele e ele foi totalmente meu. Eu posso dizer isso, pois
após tudo isso, quando eu estava de olhos fechados no peito de Aleph, tenho quase
certeza que ouvi três palavrinhas saindo de sua boca antes de pegar num sono profundo:
Eu te amo.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 13
Acordo com alguém beijando meus lábios e sorrio me lembrando da noite passada. De
cada detalhe, cada olhar, cada beijo, cada toque, cada palavra.
Lembro de ter ouvido Aleph falar que me ama, mas não se encaixa na minha cabeça.
Talvez...Talvez tenha sido apenas um sonho. Já tive "sonhos" que até hoje juro que
foram reais, mas Sophia insiste em dizer que nada aconteceu. Pode ter sido pelo calor
do momento, nunca se sabe, ele pode ter achado que eu não estava ouvindo.
Na dúvida, vou deixar para lá. Se ele disser outra vez, me convenço que não foi um
sonho, mas se ele não falar, acredito na teoria de Sophia que eu durmo tanto que não
consigo diferenciar sonho de realidade.
-E você estar fazendo de novo.-Aleph diz.
Olho para ele.
Seus olhos preguiçosos hoje estão cor de mel, uma tonalidade fraca e ao mesmo tempo
intensa. Sua boca está contraída em um sorriso divertido e percebo estar com minha
mão enlaçada na dele.
-O que eu fiz?-Pergunto.
-Não está aqui. Você viaja em seus pensamentos e esquece do mundo real. -Aleph diz.
Acho que nunca percebi que faço isso, mas pensando bem, cansei de contar quantas
vezes estalaram os dedos na minha frente durante um pensamento muito interessante.
Minha barriga ronca. Lembro que quando chegamos ontem a noite, não comemos pois...
Abro um sorriso.
-Está com fome?-Pergunto.
Ele levanta as sombrancelhas.
-Estou.-Ele diz com um olhar malicioso e beija meus lábios.
Suas mãos passam pela minha cintura e passeiam por minhas costas. Pouco a pouco ele
baixa as mãos até minha bunda e a aperta.
-Não esse tipo de fome.-Digo e ele ri.
Aleph me envolve em seus braços e me dá um beijo na cabeça. Seus braços ao meu
redor, me fazem ter uma sensação de lar. De cuidado e carinho. Me sinto protegida e
como se esse fosse meu lugar.
-Quem chegar por último, lava a louça. -Aleph diz e sai correndo.
Não tenho nem tempo de pensar, apenas levanto e corro até a cozinha, o que foi
estúpido pois Aleph já estava lá sentado com as mãos atrás da cabeça como se tivesse
ali há muito tempo.
Dou língua para ele e vou para o banheiro escovar os dentes. Aproveito para tomar um
banho rápido e lavar meu cabelo. Quando saio, percebo que meu guarda roupa está
aberto e está faltando uma toalha. No mínimo, Aleph tomou banho no banheiro de
visitas.
Após me trocar, vou até a cozinha e Aleph está com uma toalha Branca enrolada na
cintura servindo uma xícara de café, de costas para mim.
Seu cabelo está molhado, e algumas gotas caem na sua nuca e deslizam até suas costas.
Sinto uma enorme vontade de traçar com meus dedos, suas costas e o abraçar.
Então me lembro que temos intimidade o bastante para realizar minha fantasia.
Vou até ele em silêncio observando as gotas e com cuidado, traço o caminho de sua
nuca até a toalha. Vejo sua pele se arrepiar e sorrio. O envolvo com meus braços e o
aperto forte como se meu mundo dependesse disso. Sinto seus músculos ficarem rígidos
como se estivesse surpreso com meu gesto. Fecho os olhos quando seu cheiro entra
pelas minhas narinas.
Ele não está usando perfume, é apenas o seu delicioso cheiro.
Meu coração dá um salto assim que ele se vira para mim e me encara com seus olhos
selvagemente lindos.
Ele me envolve com seus braços e me aperta contra si.
-Eu fiz café.-Ele diz.
Olho para detrás dele e vejo a garrafa de café, duas xícaras cheias e torradas em cima da
mesa.
-Já pode casar.-Digo.
-É uma o indireta?-Aleph pergunta com um sorriso divertido.
Sinto minhas bochechas esquentarem e Aleph ri. Ele não desvia o olhar dos meus olhos.
Uma mecha do seu cabelo está no seu olho. Aquela mecha marota que insiste em ficar
na frente da perdição que são seus olhos.
Fico na ponta do pé e a tiro de lá. Claro que não preciso ficar na ponta do pé para
alcançar o cabelo de Aleph, fiz isso apenas para ficar mais próxima de sua boca e roubar
um beijo.
Tenho me sentido diferente em relação ao Aleph. Não posso negar, e eu não deveria ir
mais afundo com isso, lembro do dia que fizemos o acordo. Falamos sobre não nós
apaixonarmos e no dia que ouvi a conversa de Gusta e Aleph na sacada, Aleph deixou
bem claro que se ele sentir algo a mais por mim, acabaria com o que temos.
Então se ainda não acabou, é porque ele não sente?
E se ele disse isso, é por não querer se apaixonar por mim...?
A parte racional de mim, pensa isso.
Mas a parte romântica e sonhadora, acredita que ele disse "Eu te amo" e acredita que ele
pode sentir algo por mim, do mesmo jeito que sinto por ele.
Pois eu gosto do Aleph.
Vejo dedos estalando na minha frente e acordo do meu transe. Aleph revira os olhos
sorrindo, como se quisesse dizer "outra vez".
Me sento e ele senta ao meu lado. Tomamos nosso café e conversamos sobre o dia de
ontem, até lembrarmos do que falamos para Gabi.
-Sophia vai me matar.-Digo.
-Bota a culpa em mim, ela já me odeia mesmo.-Aleph diz e reflete.-Eu nem sei porque
ela tem raiva de mim.
Fico surpresa.
-Não sabe?-Pergunto e ele balança a cabeça. Pela sua expressão, ele está falando a
verdade. Conheço Aleph tanto quanto me conheço. -Você não lembra que ficou com
ela?
Ele franze a testa e então sua expressão muda totalmente para surpresa.
-Era ela? Meu Deus, ele mudou!-Aleph diz.
Eu rio tanto com sua expressão, que derramo café na minha roupa.
-Ela apenas tirou o aparelho e começou a se arrumar mais.-Digo.
Sophia sempre teve uma beleza natural, mas graças a puberdade e seus dentes que antes
eram tortos, ela usava aparelho e tinha algumas espinhas. O incrível é que ela conseguia
ser bonita mesmo assim.
-Então, o que vamos fazer hoje?-Aleph pergunta.
Instantaneamente fico feliz por ele estar sugerindo passar o dia comigo.
-Filme? Pipoca? Posso trazer um colchão para a sala, ligar o ar condicionado do quarto
e abrir a porta para gelar aqui. Apagamos a luz, pegamos um cobertor e fazemos nosso
próprio cinema.-Digo.
Ele concorda. Terminamos o café e pego um pijama do meu pai para ele. Aleph veste o
pijama e fica assim. Como se não fosse nada perigoso ele ficar com apenas uma peça de
roupa na minha frente.
Faço pipoca e Aleph escolhe um filme. Quando termino, ligo o ar condicionado do
quarto e peço para Aleph levar o colchão. Arrumo tudo direitinho e vou trocar minha
roupa suja de café. Abro meu guarda roupa e encontro a blusa que Aleph me emprestou
quando dormi com ela na casa de Felipe.
Nem louca vou deixar ele vestir ela. Quero limpar minha vista mais um pouco com a
visão do seu peitoral.
Pego um shortinho preto e curto e visto junto com a blusa de Aleph. Quando volto a
sala, Aleph está deitado no colchão com o controle na mão e a outra mão na pipoca.
Apago a luz e deito ao seu lado.
Seu olhar segue cada gesto meu e não deixo isso passar. Deito no seu braço e me sinto
estranhamente confortável.
Estranho, pois, ele é Aleph.
Estranho, pois, é novo para mim.
E isso é estranhamente bom.
O filme começou e juro que não prestei atenção em nada. Nem Aleph prestou atenção.
O filme foi apenas som de fundo para nossos beijos e risadas.
Me sinto tão bem. Aleph me faz sentir bem. Eu gosto da maneira que ele me faz gostar e
vida.
-É o terceiro dia de Carnaval e eu estou deitado aqui com você.-Aleph diz olhando nos
meus olhos.-Se alguém tivesse me dito isso há uns dois ou três meses atrás, eu nunca
acreditaria e diria que a pessoa está louca.
Uma pergunta passeia em minha mente.
Por quê?
Será que pergunto isso a ele? Por que ele está aqui? Por que ele prefere está aqui
comigo?
-O grande Aleph.-Digo.
Ele dá de ombros.
-O grande Aleph.-Ele diz baixinho e me beija.
Ouço meu telefone tocar no quarto e vou até lá. Quando entro no quarto, ele para de
tocar.
É Sophia.
Se for realmente importante, ela irá retornar.
Volto a sala e jogo meu celular para Aleph.
-Você fica tão linda em pé, sério, andando então, meu Deus!-Aleph diz.
-O que você quer?-Pergunto rindo.
-Água. -Ele diz e faz uma cara de cachorrinho.
O que me faz lembrar de Maresia. Ele deve estar na parte de cima da casa, pois ainda
não o vi. Coloco sua comida e pego água para Aleph. Quando volto, ele está com meu
celular na mão e bloqueia assim que me vê.
-O que foi?-Pergunto.
Ele fica calado.
Dou o copo a ele e pego o celular de sua mão. Assim que desbloqueio a tela, mensagens
de Ben aparece junto com outras 300.
"Princesa, estou pensando em você e pensando no nosso beijo no ano novo, só Deus
sabe o quanto eu quis te beijar ontem depois que me delcarei."
"Ainda está com aquele babaca? Eu estive te observando a noite toda, você é boa
demais para ele e você sabe disso."
"Eu estive pensando sobre o porquê de você ter escolhido ele e não consigo pensar em
um só motivo, ambos sabemos que ele não tem capacidade de gostar de ninguém."
"Estela, entendo se não quiser me responder, só quero que saiba, eu te amo e direi isso
todos os dias para você nunca esquecer. "
E após isso, tem mensagens de todas as pessoas da minha escola. Gente que eu nunca vi
e gente que nunca falou comigo, todos falando a mesma coisa.
Ben é o cara certo pra você.
Engulo seco. Estudo a reação de Aleph, mas é ilegível. Não era assim que eu queria que
ele soubesse, afinal, o objetivo do nosso acordo, é conquistar Ben e eu consegui. Não
temos mais nenhum motivo para continuar com isso...
Temos?
-Quando iria me contar?-Aleph pergunta.
-Não sei.-Digo.
Então ele me olha nos olhos e consigo ver. Aleph tem um olhar triste e ao mesmo tempo
preocupado.
-Então, acabou?-Ele pergunta.-Você vai ficar com ele e vamos voltar a ser o que éramos
antes.
Nunca vi Aleph falar assim.
Não é o que eu quero.
-Não precisamos nos apressar.-Digo un pouco baixo.
Aleph limpa a garganta e se levanta.
-Acabou o acordo Estela, conseguimos o que queríamos, era esse o objetivo, não era?
-Aleph, espera.-Ele faz o que peço. Ele espera eu falar algo, mas as palavras ficam
presas na minha garganta.
-Estou esperando.-Ele diz.-Tem algo a me dizer?
Me levanto e fico frente a frente com ele.
-Não quero que isso acabe. -Falo por fim.
Não é exatamente o que eu queria dizer, mas foi o que consegui dizer. Pela primeira vez
na minha vida, estou com medo do que vai acontecer.
Pela primeira vez, tenho medo do futuro e das consequências dos meus atos.
-Então você está me escolhendo ao invés dele?-Ele pergunta.
Não é isso que estou fazendo.
Na verdade, eu não escolhi nenhum dos dois. Ainda gosto de Ben e gosto de Aleph. Isso
é estranho, mas é o que sinto. E Ben, ao contrário de Aleph, disse que me ama, está de
certa forma, lutando por isso, pois tenho certeza que todas aquelas pessoas não
acordaram hoje e simplesmente resolveram me mandar uma mensagem dizendo que
Ben é o cara certo. Não posso descartar isso.
-Não. Eu não escolhi nenhum dos dois.-Digo.
-Sabe, faz alguns dias que eu tenho pensado em você.-Aleph confessa e meu peito
afunda.-Mas não é nada que devo me preocupar. Ben mesmo disse, não sou capaz de
gostar de ninguém, não é? Ben é o cara certo pra você.-Aleph diz e vai até meu quarto.
Fico totalmente sem palavras. Sinto vontade de chorar e nem sei porque. Meu peito dói
em pensar em não ter Aleph.
Falo como se eu o tivesse.
Mas não tenho.
Penso em suas palavras. O que ele quis dizer? Estou tão confusa, mas a parte racional de
mim, está dizendo que ele não gosta de mim. Aleph apenas seguiu o acordo e eu, a
idiota, envolvi meus sentimentos nisso tudo.
Fui idiota em pensar que Aleph poderia gostar de mim e fui idiota em deixar meu
coração mandar. Eu sou uma completa idiota em pensar que um cara como Aleph
poderia sentir algum sentimento romântico por mim.
Eu me sinto tão imbecil.
Vou até o quarto e Aleph está juntando suas roupas. Ele pega a chave do carro de Gusta
e passa por mim sem me olhar. Vai em direção a porta e eu corro até la.
-Espera, está mesmo indo embora?-Pergunto.
-Não é óbvio?-Ele pergunta.
-Então acabou?
Aleph me olha nos olhos daquele seu jeito. Minhas pernas tremem e acho que vou
desmaiar aqui mesmo. Ele vem em minha direção e me beija. Joga o que tinha, mas
mãos no chão e agarra minha cintura.
Posso sentir no seu beijo. É um beijo de despedida. Ele está indo embora.
Aleph está indo embora.
Assim que nos separamos, Aleph pega suas coisas e vai até a porta.
-Até mais, Estela.-Ele diz.
-Aleph...
Ele sai me deixando sozinha e completamente quebrada.
A ficha caiu. Aleph foi embora e eu estou apaixonada por ele.
Eu amo o Aleph, mas ele não me ama.
Eu estou completamente despedaçada.
E isso é minha culpa.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 14
Aleph se foi.
Estou repetindo isso na minha cabeça a uns 3 minutos. Ele foi frio e insensível. Ele
estava sendo aquele Aleph que eu achava que conhecia no ano passado e não o Aleph
que eu conheço hoje.
O Aleph que gosta de fazer as pessoas rirem, o Aleph que se importa com o que as
pessoas mais proximas acham, o Aleph que gosta de café puro pela manhã, que faz
qualquer coisa para me provocar, que apesar de parecer um idiota, ele vai te ajudar. Ele
sabe a hora de ser um amigo e ser um amante.
Ele se importa comigo.
E justo, por eu conhece-lo bem, sei que não devo ir atrás dele. Eu nem ao menos sei se
ele quer alguma coisa comigo, ele foi frio em relação a esse acordo.
E quando ele me perguntou se eu tinha algo a dizer a ele...Deus! Ele tinha um olhar
diferente e eu pude ver esperança lá.
Estou confusa!
Aleph me confunde!
Tem momentos que ele não parece nem gostar de mim e outro que chego a pensar que
ele possa me amar.
É estranho pensar em Aleph amando algo ou alguém. Ele parece usar esse seu jeito de
viver e seu humor como defesa. Acho que fui a pessoa que mais chegou a conhecer
Aleph. Acho que nem Gusta o conhece como eu o conheço.
Aleph não tem o coração ferido. Ele tem medo de ter o coração partido, pois vê tantas
pessoas por aí sofrendo por amor. Ele deve pensar que o amor é horrível e doloroso.
Mas não é.
O amor não é nada disso.
O amor não dói. O amor é um sentimento maravilhoso! O que dói, são as coisas que
vem junto com o amor. Ciúmes dói. Perda dói. Arrependimento dói.
São coisas que vem junto com o amor, mas não fazem parte do amor. O sofrimento é
inevitável, eu assumo, mas a sensação de apenas estar com aquela pessoa, faz tudo valer
a pena.
Meu celular toca me tirando dos meus pensamentos. Limpo uma lágrima solitária que
escorre por minha bochecha e atendo sem nem ver quem está me ligando.
-Alô?-Digo.
-Estela, precisamos conversar!-Sophia diz.
Meu coração aperta e uma imensa vontade de abraça-la, me inunda.
-Você precisa vir aqui, Aleph foi embora e...Acho que estou apaixonada por ele.-Falo.
E fim de chamada. Sophia não responde e nem precisa. Sei que ela está nesse momento
correndo até minha casa.
Minha melhor amiga. Ela sempre deixou a dor dela de lado para cuidar da minha. Não
importa o que tenha acontecido na sua vida, eu posso ter quebrado uma unha e ela vem
me ajudar. Perdi a conta de quantas vezes Sophia levou minha mochila pois eu estava
cansada quando éramos mais novas. Ela via minhas amigas falsas antes de mim e não
sei nem quantas vezes, ela foi a uma festa comigo, mesmo não querendo, apenas para
me vigiar. Ela sabe minhas fraquezas melhor do que ninguém e com certeza deve ter
percebido primeiro do que eu, que essa história de amizade colorida não ia dar certo.
Onde eu estava com a cabeça quando aceitei isso? É impossível ficar com uma pessoa
por tanto tempo e não sentir nada. É impossível ser beijada do jeito que fui, ser olhada
do jeito que fui, ser tratada do jeito que fui e não se apaixonar.
Ainda mais por Aleph.
A simples menção do seu nome em minha mente, causa um efeito imenso em meu
coração. Aleph ocupava um grande espaço na minha vida e só agora percebo isso.
Ouço uma leve chuva cair e em minutos se torna uma tempestade.
Me jogo no colchão a abraço meu corpo. Estou usando a camisa dele.
Não tem mais o cheiro dele, mas consigo imagina-lo vestido nela.
Em poucos minutos a porta se abre revelando uma Sophia preocupada e molhada.
Não consigo segurar. A olhando assim, faz com que eu deposite para fora quaisquer
sentimentos em forma de lágrimas.
A única pessoa que não tenho vergonha de me ver chorando.
Coloco a mão no meu rosto molhado e sinto os braços de Sophia ao meu redor. Ela
beija minha cabeça e ficamos assim até eu me sentir aliviada o bastante para falar.
Pois chorar alivia.
-Fala. Pode dizer que sou uma burra.-Digo.
Ela afaga meus cabelos e solta uma risada. Não foi debochando, apenas me dando
conforto e tentando aliviar a tensão.
-Você não é burra. Ninguém é burro por amar alguém. Burro é quem foge do amor.
Você apenas se jogou em um abismo onde não sabia se teria alguém lá em baixo para te
segurar. Isso é o amor. -Ela diz baixinho no meu ouvido.
A abraço forte e ela retribui, como se com esse abraço, ela pudesse dividir minha dor.
-Sophia, eu não me joguei nesse abismo de propósito. Eu caí enquanto estava distraída e
só fui perceber que estava caindo quando cheguei no final e ninguém me segurou.-Falo.
Ela empurra meus ombros delicadamente para me olhar nos olhos.
-Está errada. Eu estou aqui te segurando e vou sempre te segurar, porque você é minha
melhor amiga. Minha irmãzinha mais nova.
Ela diz e meu mundo, que antes estava desabado, agora está se remontando. Mas não
por completo.
-Não está tudo perdido. Aleph em algum momento disse que não gosta de você?-Ela
pergunta e balanço a cabeça. -Então! Fala com ele, diz para ele o que você sente. Mas
fala isso pessoalmente, olhando nos olhos dele.
Sophia está certa. Sem dúvidas, o melhor conselho que recebi nos últimos tempos.
Pego meu celular e procuro Aleph nos contatos.
Minha não treme quando aperto em "chamar" mas em nenhum momento hesito. Sophia
me passa um olhar confiante enquanto o primeiro "bip" soa.
Eu não pensei quando liguei. Eu não pensei quando coloquei o telefone no ouvido e
pensei menos ainda quando sua voz rouca disse "Alô" no segundo toque.
-Aleph...-Olho para Sophia e ela faz gestos para mim dizer algo.-Eu preciso falar com
você.
Ouço sua respiração e apenas isso. Quando estou para perguntar se ele está na linha,
Aleph fala.
-Quando?
Toda tensão em mim parece ter se esvaído e solto a respiração que nem notei que estava
prendendo.
Vai acontecer. Eu vou ter que me abrir e talvez isso possa ter um final feliz.
-Amanhã. Você vai para a avenida? -Pergunto.
Não é o melhor lugar, mas quero que seja em um lugar onde eu possa dar dois passos e
me perder totalmente de Aleph caso dê algo errado. E não tem lugar melhor para isso do
que no Carnaval.
-Acho que vou dar uma passada lá. É importante?
-Você não faz ideia.-Digo e o sinto sorrir.
Ele sabe exatamente o que vou falar e parece estar feliz com isso.
-Até amanhã então Estela.
-Até amanhã Aleph.-Digo, mas não desligo o telefone. Fico ouvindo o som da sua
respiração e sorrindo nervosa até ouvir a risada de Aleph e o seu "tchau". Então ele
desliga.
Meu coração está para sair pela boca e acho que nunca fiquei tão nervosa.
Nem com Ben.
Aleph, de alguma forma é diferente. O sentimento que sinto por ele é diferente. Minhas
batidas são diferentes. Parece ser tudo mais intenso e desesperado.
Como se tudo dependesse disso. Posso estar exagerando, mas é exatamente assim que
me sinto.
Sophia dorme aqui. Me dá apoio e me ajuda a deixar o nervosismo controlável.
O beijo de despedia de Aleph não sai da minha mente assim como suas carícias na
última noite. Contei a Sophia sobre essa noite e em vez do sermão que esperava levar,
recebi um sorriso surpreso e amistoso. E junto, um comentário.
-Eu sabia desde o começo que tudo isso iria acontecer.

☆☆☆☆☆☆
Sabe quando lembramos que temos um coração batendo no nosso peito, tentamos senti -
lo, mas não conseguimos?
Então.
Não estou tendo problemas com isso neste momento, pois até uma pessoa que está a 10
metros de mim pode saber que ele está quase saindo pela boca.
Minhas mãos estão suando e estou enjoada. Cada vez que um cara moreno passa por
mim nessa avenida, meu coração dispara pensando ser Aleph.
Não sei como consegui chegar aqui. Meus pés vinham no automático e minha mente
não parava de ensaiar tudo que vou falar para Aleph.
Vou falar que cada toque dele me faz alucinar, que toda vez que vejo a grandes olhos,
me derreto toda no lugar, minhas pernas viram gelatina e dentro do meu peito, um
sentimento já visto, porém mais forte, se aloja. Vou falar que quero sentir o gosto do seu
beijo todos os dias, que quero toca-lo sem pudor e ouvir sua risada rouca. Quero sempre
ouvir ela, pois é o som mais bonito do mundo.
Quem é Bethoveen perto de você quando ri?
Quem é Monalisa perto do seu sorriso?
Ah, moreno, quero a paz que você me traz. Apenas isso.
Sabe aquele sentimento de estar incompleta? Sumiu no momento que seu sorriso fez
meu coração bater mais forte.
Aleph já devia ter chegado. Está pouco movimentado aqui, vi algumas pessoas da
escola curtindo o Carnaval e nada mais.
Então meus olhos faltam sair da minha cabeça quando vejo uma certa pessoa vindo em
minha direção. Ele para na minha frente e me fita enquanto baixo a cabeça
envergonhada.
Não era para isso acontecer.
-Estela. Você não respondeu minhas mensagens.-Ben diz.
Engulo seco. Olho em volta à procura de Aleph, mas ele parece não ter chegado.
-Ben, você não devia ter feito aquilo.-Digo.
Ele coloca as mãos na cabeça.
-O que você queira que eu fizesse? Eu estou lutando por você. Eu te amo e isso não vai
mudar da noite pro dia. Você não sabe quantas noites eu passe em claro me
arrependendo por todo esse tempo que nunca te dei bola.-Ben diz.
Seus olhos chegam a marejar e meu peito afunda. Ele tem um olhar verdadeiro e
desesperado. Nunca o vi assim.
Ben está realmente falando a verdade. Cada palavra de sua boca sai com um turbilhão
de sentimentos, implorando a mim, meu amor.
-Ben, por favor...-É o que consigo dizer.
Ele coloca as mãos no rosto e se vira de costas então percebo que ele está chorando.
Ben está chorando em um lugar público por minha causa.
Porque ele me ama.
Sinto uma enorme pena. Eu sei exatamente o que ele está passando, pois a alguns meses
atrás, era eu no seu lugar. Não sou uma ogra sem coração. Não vou deixar Ben
chorando, virar minhas costas e ir embora.
Coloco a mão no seu ombro e o abraço. Seu abraço é caloroso. Ele me abraça apertado
com medo de me perder.
Como se eu fosse dele.
Como se eu pertencesse a ele.
Como se tudo que ele quisesse, estivesse entre seus braços.
A mim.
Me afasto dele um pouco e limpo suas lágrimas. Vejo um sorriso se instalando no seu
rosto e sorrio também.
Então ele me beija.
Não respondo ao beijo. Fico imóvel e surpresa com esse gesto. Tento o empurrar, mas
seus braços estão seguros em volta de mim.
Quando finalmente consigo me desvencilhar de seus braços, tenho vontade de me bater
várias vezes seguidas e gritar.
Pois Aleph está no meu lado vendo tudo.
Pânico toma conta de mim e quando penso que Aleph vai embora, ele faz o contrário.
Ele vem até mim.
-Aleph...-Digo e ele me corta.
No seu rosto, um sorriso frio.
-Eu sou um completo idiota, não é? Eu juro que achei que você tinha algo para me falar,
mas só queria esfregar na minha cara que está com ele. Quer saber? Esquece que um dia
eu existi, pois vou fazer o mesmo. Eu te odeio Estela, sabe por que? Porque eu
te amava. E você sabe disso pois ouviu quando te falei, mas não importa para você, não
é mesmo? Você tem que me humilhar. -Ele cospe as palavras como se fosse uma
comida nojenta que não gostou.
Ele fala como se eu tivesse planejado isso tudo. Ele fala com tanto ódio, que a única
coisa que consigo fazer, é me virar para que ele não veja as lágrimas no meu rosto e ir
embora.
Pego um táxi e vou chorando o caminho todo até em casa.
Pois a dor em meu peito é inexplicável. É torturante o suficiente para eu pensar me
jogar do carro. Em pegar um faca e arrancar meu coração, para a dor sumir.
Essa dor que não pode ser resolvida com anestesia ou analgésicos. Mas nada disso é
culpa do amor.
Isso é culpa das coisas que o amor traz.
As palavras de Aleph se repetem em minha mente. O motorista nem se quer cobrou a
viagem e me desejou boa sorte para lidar com tudo isso.
Ele não sabe o que aconteceu, mas eu reconheço alguém que já experimentou do amor
quando vejo.
Apenas assinto para ele entro em casa. Sophia está na sala me esperando. Ela está com o
telefone no ouvido, mas desliga assim que me vê.
Não quero conversar.
Corro até meu quarto e tranco a porta.
Logo batidas aparecem e eu peço para ir embora. Sophia, como uma boa amiga, diz que
vai dormir no quarto de hóspedes e sai.
Afogo minha cara no travesseiro e grito.
Grito, pois, eu não devia ter ido embora. Eu devia ter ficado e tentado explicar.
O que eu ouvi, não foi um sonho. Foi real.
Aleph disse que me ama.
Mais lágrimas vez e eu respiro fundo.
A dor, parece agora parte de mim. Estou aqui a algumas horas e já passa da meia noite.
Cheguei a um ponto que estou apenas olhando para o teto de cara inchada e pensando.
Fantasiando se tudo fosse diferente. Não consigo mais chorar e apenas fico oscilando.
Se eu nunca tivesse aceitado o acordo, o que poderia ter acontecido?
E se eu tivesse me declarado para Aleph antes?
Cada pensamento meu, tem apenas um caminho. Aleph.
Nem sei quantas vezes já repeti seu nome hoje. E agora ele me odeia. Ele. Acha que eu
o humilhei e não o amo.
DEUS! ALEPH ME AMA E EU PERDI A MINHA ÚNICA CHANCE!
Então batidas frenéticas surgem na minha porta.
-Vai embora Sophia, por favor!-Digo.
-Estela, abre isso aqui! Aleph está encrencado.-Ela diz.
Assim que meu cérebro absorve as palavras, corro até a porta com meu coração
acelerado. Me deparo com Sophia desligando o celular e um olhar preocupado.
-O que aconteceu?-Pergunto.
-Aleph e Ben brigaram no Carnaval, os dois foram presos, mas o pai de Aleph pagou a
fiança. Parece que ele brigou com o pai e tá por aí com um corte feio na sobrancelha e
completamente sozinho.-Ela diz rápido como uma metralhadora.
Meu peito aperta e eu me seguro em Sophia.
-Quem te disse?-Pergunto.
-Ele ligou para Gusta à uma meia hora e Gusta me ligou.-Ela diz corando.
Vou até o sofá e me sento. Aleph está por aí. Ele está mal e machucado. Eu nunca me
perdoaria se algo acontecesse a ele. Não posso deixa-lo por ai sozinho. Não importa se
ele está com raiva de mim.
Aleph é importante demais para mim.
-Eu vou atrás dele.-Digo.
Me levanto antes que Sophia me impeça e vou até a porta. Assim que abro, dou de cara
com ele.
Fico uns dois segundos olhando para seu rosto inchado, seu olho roxo e o enorme corte
na sobrancelha com sangue seco ao redor.
Então sou pega de surpresa por um abraço forte onde cada musculoso do meu corpo
relaxa e um enorme sorriso aparece junto as lágrimas no meu rosto quando Aleph
murmura no meu ouvido.
-Eu odeio essa parte de mim que te procura quando eu estou mal.
Capitulo 15
Limpo minhas lágrimas e olho para Aleph. Tem um simples corte em sua sobrancelha,
mas me deixa exageradamente preocupada.
Fico uns três segundos olhando para o corte antes de dar um susto em Aleph.
-Aí meu Deus, seu idiota, olha esse corte!-Falo um pouco alto por conta do
nervosismo.-Sophia, tem uma caixa de remédio no guarda roupas dos meus pais.
Sophia assente e sobe as escadas.
Volto a olhar para Aleph. Ele limpa os últimos requisitos de lágrimas do meu rosto e me
olha confuso, como se não esperasse toda essa preocupação.
Então me lembro que há poucas horas, ele não queria nem olhar no meu rosto. Por causa
do que ele viu.
Aleph disse que me amava. No passado. Será que esse sentimento pode ter mudado?
Será que o motivo de ele estar aqui, é por ele me amar?
Mesmo ele achando que eu não gosto dele da mesma forma, mesmo depois do que ele
viu, do que ele acha que fiz, ele está aqui.
Aleph está aqui.
O abraço novamente e não estou nem aí se ele está surpreso por esse gesto. Não estou
nem aí se ele me empurrar, se ele me chamar de insensível ou qualquer coisa do tipo.
Eu não ligo. Eu o amo.
Só não tenho coragem de dizer isso a ele. Hoje mais cedo, eu estava preparada para
dizer tudo, mas agora, olhando no seu rosto, não vai sair nada. As palavras parecem ter
fugido da minha boca. Depois de ouvir ele dizer tudo aquilo de mim, simplesmente não
consigo falar, apenas sentir.
Eu queria.
Queria poder olhar no fundo dos seus olhos e dizer o quanto amo, mas não da.
Não é frescura, não é o tão famoso "cu doce", é apenas medo.
Engraçado, nunca fui de ter medo, e agora, por causa Aleph, tenho medo até de falar.
O que ele está fazendo comigo?
-Eu não devia ter vindo, Estela. Ben não vai gostar. -Aleph diz.
Sinto uma enorme vontade de levar minha mão ao seu rosto, mas paro no meio do
caminho.
-Não ligo para o que o Ben pensa.-Falo um pouco tímida.
Por que eu fiz isso? Por que não falei confiante como sempre faço?
-Mas eu vi...-Ele comeca, já um pouco alterado e eu intercedo sabendo onde isso iria
dar.
-Eu não gosto do Ben. Não sinto a mesma coisa que sentia antes.-Digo.
Aleph me estuda. Ele abre a boca para falar algo, mas eu balanço a cabeça como se não
quisesse mais falar disso e me aproximo dele. Coloco uma mão no peito para acalmar as
batidas, mas é inútil. Só a proximidade dele gera energia suficiente para abastecer o
Brasil inteiro.
Fico na ponta do pé e passo a mão no seu olho roxo. Se Aleph está assim, imagino
como Ben deve estar. Com certeza Aleph não pegou leve com ele.
Vejo seu pomo de Adão subindo e descendo. Seus olhos, a parte que mais gosto nele,
estão fixos no meu. Como se não quisesse perder nenhum detalhe.
Sinto vontade de sorrir quando ele balança a cabeça e aquela mecha marota fica na sua
testa. A ajeito devagar sem tirar meus olhos do dele.
Não consigo desviar o olhar.
Então ele desvia.
Ele olha para minha boca e posso notar isso. Mas ele hesita em me beijar e posso
entende-lo, mesmo que cada músculo do meu corpo queira isso.
-Aqui, eu achei caix...-Sophia diz descendo as escadas, mas ao nos ver tão próximos,
tenta não atrapalhar e abre um sorriso.
Pena que é tarde. Assim que ouvimos a voz dela, ficamos a um metro de distância um
do outro.
Ela me entrega a caixa, dá um tchauzinho para Aleph e sobe as escadas novamente com
o celular na mão como se tivesse algo muito importante para fazer la em cima.
Puxo Aleph até o sofá e procuro algo para limpar o ferimento. Ele me observa e sinto
seu intenso olhar no meu rosto.
Acho alguns curativos e alguns remédios para cortes.
-Então, como isso aconteceu?-Pergunto limpando o ferimento.
-Depois que você saiu, Ben veio me confrontar dizendo que eu não devia ter falado
daquele jeito com você. Pela primeira vez na vida, concordo com ele em algo.-Aleph
diz. Ele faz uma pausa para tentar não fazer careta enquanto limpo.-Eu dei o primeiro
soco. Se você acha que minha situação está feia, não viu a cara dele.
-Quando soube da briga, apostei em você -Digo e ele ri.
-Depois a polícia apareceu e nos levaram pra cadeia e ligaram pro meu pai. Ele
começou a brigar comigo e dizer que ia me expulsar de casa, então eu falei que estava
indo embora e sai na rua. Mas cada passo que eu dava, só me deixavam mais perto de
você.
-Aleph...Não faz mais isso comigo. Eu te disse, você é importante pra mim. -Falo
colocando o curativo.
O observo. Mesmo com olho roxo, rosto inchado e um curativo mal feito na
sobrancelha, ele consegue ser o cara mais lindo do mundo.
-Eu só preciso saber se você sente alguma coisa por mim. Ja te falei o que eu sinto e se
você quiser, posso repetir. Eu te amo, Estela.
Perco umas duas batidas. É até difícil acreditar que isso saiu da boca do Aleph.
O garoto mais grosso e sem sentimentos que conheci. Mas ninguém é assim. Todos
temos sentimentos, alguém apenas escolhem não demonstrar.
Abro a boca para falar, mas não sai. Mordo a língua como se isso fosse uma punição e
beijo Aleph.
Se não consigo demonstrar com palavras, vou demonstrar com sentimentos e gestos.
Fico com medo que ele não corresponda, mas passa assim que sinto suas mãos na minha
cintura. Ele me levanta e me coloca em seu colo.
No beijo, demonstro tudo que não consigo dizer. Beijo Aleph com tanta saudade e tanto
desejo que sorrio por ser correspondia do mesmo jeito.
Dois corações batendo forte sicronizadamente e duas bocas sedentas uma pela outra.
Suas mãos percorrem meu corpo me atiçando. Seguro seu rosto e dou um demorado
selinho.
Aleph e dá um pequeno sorriso mordendo o lábio inferior e encarando minha boca.
-Posso passar a noite aqui?-Ele pergunta.
-A casa é sua.-Digo.-Mas amanhã vai ligar pro seu pai. Ele deve estar preocupado.
Aleph faz uma careta mas não discute.
-E onde vou domrir?-Ele pergunta com seu típico sorriso malicioso.

☆☆☆☆☆☆
-Sabe, na última vez que domirmos nessa cama, ela pareceu maior.-Aleph diz olhando
para mim.
Dou de ombros.
-Continua do mesmo tamanho para mim.-Digo.
Aleph pisca e caímos na risada.
Acontece que eu "acidentalmente" derrubei Aleph no chão quando acordamos. Hoje é
segunda feira e Aleph decretou que não vai aparecer na escola com o rosto cheio de
hematomas, então dormirmos um pouco tarde pensando que poderíamos acordar bem
tarde.
Mas são sete da manhã acordei com alguém apertando minha bunda e querendo me
beijar. É um ótimo modo de acordar, mas não as sete da manhã.
-Você é muito vingativa.-Ele diz deitando de volta na cama.
-Você que não entende o meu relacionamento com o sono.-Falo e ele sorri.
Em um milésimo, Aleph está em cima de mim beijando meu pescoço. Quem fica com
sono em uma situação dessa?
Ouvimos batidas na porta e lembro que não estamos sozinhos em casa.
-Estou saindo, qualquer coisa me liga.-Sophia grita e ouvimos seus passos até sumirem.
-Está com fome?-Pergunto e Aleph me joga um olhar malicioso.
-Muita.-Ele diz e volta a beijar meu pescoço.
-Não esse tipo de fome. -Digo e Aleph me olha confuso.
-Depois eu que sou o pervertido, você fica maldando as coisas que falo. Eu disse que
estava com fome e realmente estou.-Ele diz magoado.
Ele realmente conseguiu me convencer por 2 segundos com seu teatrinho.
O empurro e levanto, mas Aleph me derruba no chão e se aproxima do meu ouvido.
-Não é a única vingativa aqui.-Ele diz e sai antes que eu possa fazer algo.
Me levanto e vou até a cozinha. Aleph está preparando café, então faço sanduíches.
-Ta sabendo do churrasco do terceirão?-Aleph pergunta.
-Não. -Digo.
-Vai ser daqui umas duas semanas, eu acho. Na casa do Ben.
Faço careta.
-Já vi que não vou.-Digo.
Aleph parece gostar do que falei.
-Somos dois.
O assunto morre aí.
Após tomarmos café, vamos para sala assistir algo e fico deitada no seu peito olhando
sua mão. Entrelaçando ela na minha e vendo como ficam bonitas juntas.
Depois de tudo, Aleph está aqui e não consigo parar de repetir isso a mim mesma.
-Olha só.-Aleph pede que eu olhe para a televisão.-Já assisti esse filme umas cem vezes,
a imagem é um pouco ruim, mas da de ver bem.
Eu já ouvi falar desse filme e do livro dele também. Sophia garantiu que eu estivesse
bem atualizada sobre essa saga e tenho certeza que esse filme é Harry Potter e a
Câmara secreta.
Assisto com Aleph na boa, quando de repente uma aranha enorme aparece na televisão.
Escondo meu rosto em Aleph quando a sensação de agonia e o medo me consome.
Acho que já comentei que tenho um pouco de aracnofobia.
-O que foi?-Aleph pergunta.
-Tenho medo de aranhas.-Digo.
Parece besteira, mas não é. Toda vez que vejo uma aranha ou as vezes apenas penso em
uma, me dá uma agonia como se mil aranhas subissem em cima de mim e imagino elas
com seus olhos enormes me mordendo.
-Aranhas? Tipo aquelas aranhas africanas carnívoras? Maiores que minha mão e
peludas, com seis olhos pretos enormes e uma boca mortífera? -Aleph diz e imagino
uma aranha idêntica a que ele descreveu.
-Droga Aleph-Grito e ele cai na gargalhada.
Reviro os olhos e tento não olhar para o filme.
Ele consegue me irritar como ninguém, me deixar com medo e me fazer sentir segura ao
mesmo tempo. Consegue me arrancar os melhores sorrisos e os piores choros. Ele
consegue me fazer sentir especial a qualquer momento.
E tudo em mim ama tudo nele.
-Sabe, você ainda não ligou pro seu pai.-Digo.
Aleph faz uma careta. Aposto que ele estava torcendo que esquecece.
-Sério? Ele está ocupado, o Isaque está lá em casa e ele adora meu pai.-Aleph diz.
Não lembro de Aleph ter comentado de alguém chamado Isaque.
-Quem é Isaque?-Pergunto.
-Filho da Camy, ele mora com o pai, mas vem nos visitar mo Natal e algumas vezes nas
férias. Achei que tinha falado para você.-Ele diz.
Então me lembro da primeira vez que Aleph veio aqui. Ele falou que iria passar o Natal
com o pai, a irmã e o sobrinho. Camy é muito nova, imagino que Isaque tenha uns dois
anos.
-Não importa, você é filho dele, ele deve estar preocupado. -Digo.
Aleph cerra os lábios e pega seu celular. Ele deixa no viva-voz até seu pai atender.
-Aleph, onde você está?
Aleph olha pra mim a procura de apoio e eu faço gestos para ele falar.
-Estou na casa da Estela.-Ele diz por fim.
-Por favor, volte pra casa, eu não quis dizer tudo aquilo.-Ele diz.
Aleph não fala nada.
-Ele vai voltar sim.-Digo.
Aleph arregala os olhos pra mim e finjo que não vejo.
-Estamos te esperando, filho.
E desliga o telefone. Dou um olhar de " eu te disse " e Aleph revira os olhos. Passamos
o dia assim. Juntos, se alfinetando e se amando. Ele vai embora ao anoitecer e vou dar
uma arrumada na casa até dormir.
Acordo com barulhos na cozinha. Me levanto assustada e vejo meu pai fazendo algo
para comer. Assim que ele me vê, me dá um beijo na cabeça e pergunta como foi o
Carnaval.
Conto a ele a parte que não teve todo aquele drama e vou me arrumar para ir à escola.
Meu pai quis me deixar hoje e obviamente não neguei. Assim que chego na escola, vejo
toda a turminha de populares e Aleph está nela. Assim que ele me vê, vira de costas
para a garota que ele estava conversando e vem em minha direção.
Praticamente esqueço como anda, então fico parada respirando fundo para acalmar o
coração com a imagem de Aleph vindo até mim.
Ele faz uma coisa que nunca tinha feito na escola antes.
Me beija e pega minha mão enquanto todos os olhares julgadores estão em nós.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 16
Estou um pouco apreensiva. Quero dizer, estão todos nos olhando. Todos tirando suas
próprias conclusões do que veem. Aleph nunca me beijou na escola. Ele nunca beijou
garota alguma na escola. Ele sabe que aqui a fofoca corre rápido e não comete esse erro.
Mas sua mão está entrelaçada com a minha e ele tem um sorriso confiante no rosto.
Passo meus braços por seu pescoço e fico na Ponta do pé para falar no seu ouvido.
-Estão todos nos olhando.-Sussurro.
-Quero que todos saibam que você é minha.-Ele diz e sorrio boba. -É só agir
naturalmente.
A campainha para irmos para a sala de aula soa em nossos ouvidos. Encosto minha testa
na de Aleph e sorrimos juntos, como se só de estarmos próximos um do outro, fosse
motivo para sorrir a toa.
Pelo canto do olho, vejo Ben.
Admito, a cara que ele fez ao me ver com Aleph, fez meu coração doer. Ele tinha uma
expressão de derrota, como se tivesse um bilhete premiado e depois descobrisse que era
falso.
Tento não olhar para ele. Pode ser insensível da minha parte, mas é apenas assim que sei
que posso enfrentar tudo isso.
O dia passou rápido. As aulas foram se arrastando e no intervalo, percebi todos falando
de mim. Não consegui ouvir, pois toda vez que chegava perto, eles mudavam o assunto,
mas consigo ver os olhares tortos.
Isso realmente incomoda, mas não ligo. Pelo menos tento parecer não ligar. Gusta faltou
aula hoje, mas mesmo assim Aleph ficou comigo e Sophia no intervalo. Os dois até que
estão se dando bem, claro que aqui acolá, eles se alfinetam, mas está sendo melhor do
que antes.
Aleph me deixa na casa de Sophia pois prometi a ela que dormiria lá hoje.
-Ainda acho que seria mais interessante se eu participasse da festa do pijama de vocês
duas.-Aleph diz assim que estaciona o carro.
Sophia se mete no nosso meio e olha feio para Aleph.
-Aguentar você na escola, até que vai, mas se pisar em uma lajota da minha casa, vai ser
a última coisa que você vai pisar.-Ela diz e sai do carro.
Aleph revira os olhos e me olha.
Sabe quando o encontro de dois olhares parece durar horas, mas na verdade se passaram
segundos? Sabe quando olhamos dentro dos olhos da pessoa e vemos nela tudo que falta
em você e mais um pouco? Aleph e eu somos duas metades iguais, a mais perfeita
simetria e posso perceber isso em apenas um olhar, pois não me apaixonei por Aleph
por seu beijo ou seu rosto.
Me apaixonei por sua voz, sua risada, por seu senso de humor, por quem ele é quando
estamos apenas nós dois e...tudo. Se o tema da redação do Enem desse ano fosse sobre o
que fez me apaixonar por Aleph, certamente eu não entraria em nenhuma faculdade,
pois palavras não bastam para descrever.
-Até mais.-Digo mas Aleph segura meu braço.
-Sabe, eu faço de tudo para ver os outros felizes, vivia rindo, parecia até que a minha
vida era feliz mas no fundo, bem lá no fundo, eu estava triste e cansado de tudo isso.
Então você apareceu e fez cada minuto da minha inútil existência valer a pena.
Sabe o amor? O amor é quando o coração acende por dentro com apenas palavras.
Aleph me faz sentir uma idiota, uma idiota que não sabe como confessar que ama seu
amigo.
-Eu poderia dizer o mesmo, você me ensinou que quando olhamos muito para uma só
estrela, esquecemos de prestar atenção nas outras. -Digo e ele sorri.
Se inclina em minha direção e meu corpo automaticamente faz o mesmo. Nossas bocas
ficam próxima, mas não se tocam e quando Aleph sorri, também sorrio.
E ficamos assim. Ora olhando para seus olhos, ora olhando para sua boca. Como se
tivéssemos todo o tempo do mundo, mas queremos gastar assim.
-Me amarro no teu sorriso.-Ele diz.
Meu sorriso, de alguma forma, fica mais amplo. Sei que a felicidade alcançou meus
olhos e sei no que Aleph está pensando, pois é o mesmo que estou pensando.
Nunca imaginei em fazer essas coisas fofas e melosas com alguém. Sempre que um cara
vinha com alguma frase fofa, eu falava algo como "para de viadagem" ou ria da cara
dele.
Mas com Aleph não. Parece ser natural.
-Até amanhã, seu feio. -Digo.
-Até amanhã, sua bruxa.-Ele diz.
Me faço de ofendida e ele rir.
-Bruxa né, vou me lembrar disso.-Digo.
Faço isso pois sei exatamente o que ele vai fazer. Pois sei que ele gosta de provocações
e eu também gosto.
Me viro e abro a porta do carro, mas não consigo chegar a sair. Aleph me puxa com
tanta selvageria que me arrepio e me beija.
-Nojentos! -Sophia grita do lado de fora.
Sei que ela está com um sorriso no rosto por me ver feliz e está apenas fazendo graça.
-Como você a aguenta?-Aleph pergunta.
Sorrio a ele.
-Ela é minha melhor amiga.
Saio do carro e encontro Sophia revirando os olhos para mim, mas caímos na
gargalhada em seguida e entramos na sua casa.
Vejo Tiago, o pai de Sophia esparramado no sofá mudando os canais da televisão. Ele
nos vê e dá um sorriso. Laura, sua mãe, entra na sala e dá um sorriso ao me ver. Ela
senta ao lado de Tiago e dá um beijo na ponta do seu nariz.
Sophia me cutuca e finge vomitar. Rimos juntas e vamos até seu quarto. Me pergunto se
sou toda essa melosidade com Aleph.
Jogo minha mochila no canto e me jogo na cama dando um longo suspiro.
-Está com fome?-Sophia me pergunta.-Minha mãe não fez janta, pede alguma coisa pra
você comer.-Ela diz guardando a mochila e procurando uma toalha no closet.
-E você?-Pergunto.
-Não estou com fome.-Ela diz.
Tudo bem. Até se alguém falasse que daqui a um minuto, um meteoro cairia na terra
exterminando toda a raça humana seria menos estranho do que Sophia falar que não está
com fome. Ela, Gusta e eu não negamos comida nunca. Amamos comer. Só que de uns
tempos para cá, eu estive apaixonada por Ben e meu estômago embolava quando
pensava em comer, então quando eu estava superando Ben, aparece Aleph. Mas Sophia
dizer que não está com fome, só pode significar duas coisas.
1- Ela acabou de comer.
2-Ela está apaixonada.
E não comemos nada desde o almoço.
Ela joga uma toalha para mim e fica parada olhando pra mim.
-Que cara é essa?-Sophia pergunta.
Levanto devagar.
-Você está me escondendo algo?-Pergunto
Ela fica pálida. Parece que todo sangue do seu rosto de esvaiu. Essa foi a prova. Sophia
está me escondendo algo e tem a ver com seus sentimentos.
-Eu queria ter te contado, mas você estava tão mal por Aleph, que preferi esconder para
mim.-Ela diz.
-Bom, não estou mais mal por Aleph.-Digo.-Por que não me contou?
Ela faz um coque no cabelo e se senta.
-Exatamente por isso, você está tão bem com ele, que não quero despejar meus
problemas sobre você.
Sento ao seu lado.
-Não seja boba, eu nunca vou reclamar por ouvir seus problemas. Você é minha melhor
amiga, e eu sempre vou te ouvir e te ajudar.-Digo.
Ela me abraça. Me lembro das vezes que era eu em seu lugar. Quando eu estava mal, ela
largava o que estivesse fazendo para me ajudar. Me sinto culpada por não ter percebido
que algo a incomodava antes.
-Eu estou confusa.-Ela diz por fim. Como se fosse apenas isso que a incomoda.
-E?-Digo.
-Fiquei com Gusta no carnaval, aí dois dias depois, Júlio me mandou uma mensagem e
começamos a conversar. Ele disse que sempre me achou bonita, mas nunca teve
coragem de chegar em mim e agora disse que vai vir pra cá pra São Paulo esse final de
semana e quer me ver...mas eu estou confusa porque acho que estou apaixonada por
Gusta.
Meu queixo cai. Eu entendo ela. Entendo totalmente o que ela está sentindo. Eu estive
confusa desse jeito. Mas me decidi no momento que percebi o tamanho que Aleph
ocupa no meu coração.
-Sophia, me responde uma coisa.-Ela me observa já com os olhos marejados e enormes.
Como se eu fosse resolver todos seus problemas.-Por quem seu coração bate mais forte?
Por qual dos dois, você está assim, sem fome? Qual dos dois nomes, ao ser mencionado
em uma conversa aleatória, faz seu coração disparar?
Ela apenas me observa. Está pensando.
Sinceramente, não sei quem ela vai escolher.
-E se o que responde todas essas suas perguntas, não me trata tão bem quanto o outro? E
se eu escolher o que amo e deixar de lado o que me faz bem, o que não vai me fazer
sofrer?-Ela pergunta.
Pego sua mão e dou um sorriso fraco a ela.
-Você vai ser uma tola se escolher o cara que te faz bem ao cara que você ama. Não
adianta ficar com uma pessoa só porque sabe que ela não vai te fazer sofrer, pois você
vai sofrer sim. Não por causa dessa pessoa, mas pelo cara que você ama. Você vai
sofrer por estar longe dele e vai sofrer ao olhar a pessoa do seu lado e desejar outro.-
Digo e ela abaixa a cabeça.
Me dá um abraço demorado, me agradecendo pelo simples fato de sermos amigas.
Pois amizade é isso.
-Você está certa. Sério, se você fosse homem, eu casaria com você! A melhor
conselheira e amiga que existe!-Ela pega uma toalha e seu celular e sai do quarto com
um sorriso decidido.
Quem diria. O mundo realmente dá voltas. Gusta e Sophia. Júlio e Sophia. Confesso
que estou curiosa para saber quem ela escolheu. Quem é o cara que faz seu coração
bater mais forte e tira sua fome.
Pego a toalha que Sophia me deu e vou tomar meu banho.

☆☆☆☆☆☆

-Fala logo, sua vaca!-Digo pulando em cima de Sophia.


Ela faz cara de suspense.
Ela está prestes a me dizer qual dos dois é o cara. Sophia me fez esperar até o outro dia,
minutos antes de irmos para o colégio. Estamos na sala de estar esperando Aleph vir nos
buscar.
-Acho que não vou contar agora.-Ela diz.-Vou esperar ele chegar.
Rá! Ela disse que vai esperar ele chegar. Júlio disse que viria para São Paulo no final de
semana.
Ele é o cara.
Sophia escolheu Júlio.
Deus, isso vai causar um caos na nossa amizade com Gusta. Estou até vendo, eles vão
parar de se falar, vão ficar um com vergonha um do outro e nunca mais vamos sair os
três juntos. Não vou deixar isso acontecer. Esses dois vão se acertar nem que eu tenha
que amarra-los um de frente pro outro por horas.
Isso vai dar uma dor de cabeça.
Alguém toca a campainha. Sorrio, pois sei que é Aleph.
Abro a porta e me escoro.
-Sophia, nosso motorista chegou.-Digo e Aleph ri.
-Nossos motoristas, você quer dizer.-Ela diz ao mesmo tempo que Gusta aparece no
meu campo de visão.
Meu queixo cai. E junto, um sorriso. Não acredito que Sophia me enganou desse jeito.
Ela vai até Gusta e dá um abraço nele.
Ele é o cara.
Abraço os dois e pulo demostrando minha felicidade pela cena que estou vendo.
-Aí meu Deus! Meus dois melhores amigos! Eu amo vocês gente, Gusta, se você
machucar a Sophia, eu te parto no meio e isso vale pra você também Sophia!
Acho que nunca estive tão feliz, pois a verdadeira felicidade, é além de você está feliz,
seus amigos e as pessoas que você ama, também estarem.
Isso é ser feliz.
Mesmo que seja apenas por um momento.
Pois a vida é feita de momentos.

☆☆☆☆☆☆
Essa semana, foi a melhor. Com Gusta e Sophia juntos, Gabi saiu do nosso grupo. No
intervalo, somos apenas nós quatro. Eu, Aleph, Sophia e Gusta. As pessoas, fora os
meus pais, mais importante para mim. Não me importaria em estar em um lugar
horrível, desde que essas 3 pessoas estivessem comigo.
Ainda ouço cochichos, mas apenas ignoro. Também soube que uma nova aluna vai
chegar na segunda feira.
Hoje é sexta. Vamos todos ao cinema após a aula. Os minutos parecem não correr
enquanto tento prestar atenção em uma única palavra do meu professor de história.
Às vezes me pego pensando, que as aulas deviam ter legenda como filmes e series em
inglês, pois história para mim, parece ser em outra língua.
Assim que o sinal toca, olho para Gusta e Aleph e eles esperam eu arrumar minha
mochila, olho para a porta e Sophia esta timidamente entrando, mas assim que ela vê
Gusta, abre um grande sorriso.
Confesso que estou um pouco enciumada, mas faz parte.
Ben passa por nós e fico totalmente sem reação. Isso tudo ainda é estranho. Ben não
confronta Aleph, ele apenas me olha e sai.
-Vamos?-Sophia pergunta.
-Quero ir no banheiro antes.-Digo.
Vamos todos até o banheiro, mas os meninos esperam do lado de fora. Entro na
primeira cabine desocupada que vejo e num instante me alivio.
-Estela é muito burra. Você viu que ela e Aleph estão no maior amor? Ele vai trair ela
na primeira oportunidade.-Uma voz feminina diz.
-Ele é o cara errado para ela. Ben que é o cara certo, ele ama ela de verdade, qualquer
um ver. Que garota burra.-Outra voz feminina.
Então é isso que as pessoas têm falado de mim nos últimos dias? Estão decidindo por si
próprias quem é o cara certo para mim?
-Aleph não presta. -Uma das garotas conclui.
-Então Estela presta menos ainda por estar com ele.-A outra diz.
Não me aguento. Ben pode ser o cara certo e Aleph o cara errado aos olhos dos outros,
mas para mim, Aleph é o cara errado certo. Simples assim.
Abro a porta com tanta brutalidade, que as garotas se assustam. Já as vi pelo colégio.
Uma delas é amiga de Gabi e a outra é um ano anterior ao meu. Elas me olham
assustadas e arrependidas. Não por ter dito tudo aquilo, mas por ter me deixado ouvir.
-Quem vocês pensam que são para decidir minha vida? Sim, Aleph é o cara errado e
Ben o cara certo. Eu sei disso....
-Eu sou o cara errado?-Aleph diz entrando no banheiro feminino.
Isto não pode ta acontecendo.
-É Aleph, mas....
-Mas? Serio? De novo, Estela? Vai lá com o seu cara certo.-Ele diz ao mesmo tempo
que uma mulher da limpeza o expulsa do banheiro.
Ele não me deixou terminar. Não me deixou dizer que ele é o cara errado certo. Pois
Aleph está longe de ser o cara certo. Ele não é flor que se cheire, é galinha e acho que
nunca entrou em um relacionamento. Mas ele é o meu cara errado. O cara que eu amo e
independente do que falem, ele sempre vai ser meu.
Vou ter tempo de explicar a ele tudo o que quis dizer.
Saio do banheiro e vou atrás dele, mas ele me ignora completamente.
Tento não ficar com raiva e continuo insistindo na frente de todo mundo sem vergonha
alguma.
-Aleph, se você me ama, não dê mais nenhum passo.-Grito e ele para.
Ele para por dois segundos olha pra trás e anda novamente me deixando plantada no
chão com todos os olharem sobre mim e sussurros altos dizendo "Eu disse".

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 17
Que grande idiota!
Idiota é o adjetivo que tenho usado para descrever Aleph desde sexta. E hoje é segunda
feira.
Na sexta a noite, quando cheguei em casa, tentei ligar para Aleph, mas o filho da mãe
não me atendeu. Dei um tempo a ele e no sábado, liguei novamente.
Ele atendeu e foi um grosso. Tentei entender o lado dele, tentei ser educada e não me
exaltar. Tentei ser a pessoa mais compreensiva do mundo, mas Aleph não me deu
chance de explicar. Nesse mesmo dia, Júlio chegou e no domingo, ele me deu uma
carona até a casa de Aleph e Camy disse que ele não queria me ver.
Eu juro que estou tentando entender, mas pra que tanta infantilidade? Pra que tanta
raiva? Aleph não é assim.
Se fosse eu em seu lugar, certamente ficaria com raiva se ouvisse aquilo, mas daria uma
chance de explicar. Mas nem isso Aleph está fazendo.
Então eu me pergunto.
Onde está todo aquele amor que ele disse sentir por mim? Onde está meu Aleph, que me
tratava como a única pessoa em sua vida, que me tocava como uma flor delicada, que
me olhava como se eu fosse uma bela e única paisagem natural?
Ou ele mentiu para mim e nunca me amou, ou...eu não sei.
Queria tanto entender o que está acontecendo com Aleph, queria que ele me contasse
tudo, para resolvermos juntos como adultos.
Mas não. Tudo entre mim e Aleph tem que ser complicado. Tem que ter algo para
impedir. Sempre.
Deveria ser mais simples. Tudo seria mais simples se as pessoas falassem tudo que
sentem. O amor não é difícil. As pessoas que complicam com joguinhos de sedução e
seus grandes egos. Aleph é orgulhoso, eu sou orgulhosa. Mas diferente dele, eu sei
quando meu orgulho está atrapalhando.
Por que ele tem que ser assim?
Por que eu amo ele assim?
O amor tem suas travessuras.
E eu estou com raiva de Aleph. Raiva por ele não atender minhas ligações e não
responder minhas mensagens. Raiva por não me deixar explicar, por supostamente ter
mentido que me ama.
Não tem nada pior do que você defender a pessoa e depois ela provar que é exatamente
o que os outros falavam.
Até Ben me avisou sobre ele.
E eu não quis acreditar.
Então por que uma parte de mim ainda acha que ele realmente me ama? Por que uma
parte de mim está estranhando tudo isso?
Porque eu o amo.
Gusta e Sophia vão me buscar hoje. Estou pronta sentada no sofá pensando em tudo
isso.
Meu celular toca e um calafrio se apodera de mim por pensar ser Aleph.
Mas não é.
-Oi mãe! -Digo.
-Estela! Que saudade filha, eu tô pra derrubar esse lugar!-Minha mãe diz e eu sorrio,
pois apenas sua voz me conforta de um jeito que só mãe pode fazer.
-Como está tudo aí? -Pergunto.
-Ontem quase saio na briga com uma senhora que insistiu em dizer que o meu quarto
era dela!-Ela diz.
Então eu não consigo segurar. Estou cercada por pessoas que me amam. Meus pais,
meus amigos. Já são quatro pessoas. Mais do que a maioria tem. E essas quatro pessoas,
não sei explicar, mas consigo sentir nas suas vozes, nos seus olhares e nos seus gestos,
que com eles posso me permitir ser fraca. Posso me dar ao luxo de chorar e reclamar.
Então eu choro e soluço ao telefone com minha mãe.
-Estela? Meu anjo, por que está chorando?-Sua voz é doce e calma.
Me lembra de quando eu ralava o joelho quando criança.
-Ah mãe...tanta coisa aconteceu.
-Eu estou aqui. Eu vou desistir dessa turnê, a editora não vai ter coragem de me
demitir.-Ela diz.
-Não precisa deixar seus afazeres por mim, mãe, está realizando seu sonho.-Digo e a
sinto sorrir.
-Meu amor, eu já realizei meu sonho, minha família é meu sonho, eu volto logo.
Limpo minhas lágrimas, nos despedimos e eu desligo. Devo estar com a maior cara de
choro, então resolvo passar uma base no rosto para disfarçar.
Lembro de um episódio na sexta, quando eu estava voltando para casa. Fui assaltada por
um homem enorme. Ele tinha apenas uma faca , mas foi o bastante para me deixar em
choque. Ele levou apenas alguns trocados da minha carteira, não pediu meu celular.
Falei para meu pai e ele disse que vai entrar em contato com um amigo policial dele.
Parece que o cara é um dos melhores policiais de São Paulo e ficou famoso após
resolver o caso do assassinato do bebê que se estivesse vivo, eu estaria o chamando de
tio.
Na verdade, minha mãe que resolveu o caso com seus instintos, mas o policial é um
velho amigo da família, então ele merece os créditos. E além disso, o cara parece ter
aprendido com minha mãe como se resolve um caso, pois resolveu todos que pegou.
No momento que termino, ouço Gusta buzinando. Ele deve estar sem paciência, pois
sempre entra.
Pego minha mochila e saio. Gusta e Sophia estão nos bancos da frente. Agora que me
dou conta que perdi meu lugar ao lado de Gusta na frente.
Entro casada e percebo que os dois também estão.
-Tão de brincadeira né? Vocês já brigaram?-Pergunto incrédula.
Sophia revira os olhos.
-Ele não quer assumir que tem ciúmes de mim.-Ela diz.
Ah se meus problemas fossem assim.
-E por que ele teria ciúmes? -Pergunto.
Gusta está a olhando.
-Fala. -Ele diz.
Sophia bufa.
-Júlio foi lá em casa ontem e Gusta chegou na hora.-Ela diz.
Será que Júlio está realmente gostando dela? Ele não é de fazer isso, prefere que as
garotas vão até ele.
-Sophia, você quer alguma coisa com o Júlio?-Pergunto.
-Lógico que não. -Ela diz.
-Pronto, resolvido, coloca esse pé no acelerador e vamos pra escola.-Digo.
-Credo, o que houve com você?-Sophia pergunta.
Aleph foi o que houve.
Ninguém fala nada, e também não quero que fale. Quero apenas olhar nos olhos de
Aleph e ver se consigo sentir o que sentia antes. Aquela sensação que ele me ama e
nunca vai amar outro alguém.
Chegamos na escola e espero Gusta estacionar. Fico tentada a perguntar a ele sobre
Aleph. Mas não faço.
Como chegamos já atrasados, vamos direto pra sala de aula. Sophia vai para a dela e eu
e Gusta vamos para a nossa.
Assim que abro a porta, todos os olharem ficam sobre mim. Menos um. Um olhar que
está faltando. O olhar que me interessa, com olhos grandes e com uma pontada natural
de malícia.
Ele não está aqui. O filho de uma mãe faltou aula apenas para não olhar pra mim. Hoje
tem trabalhos de matemática para entregar, Aleph vai ficar sem o ponto e eu não vou
estar aqui para ajuda-lo no final do semestre quando ele ficar de recuperação.
Engraçado.
Até com raiva, eu me importo com Aleph.
No meio da aula, recebo uma mensagem e texto da Sophia. Não costumo usar o celular
em sala, até porque nossa escola é muito rígida nesse quesito, mas para Sophia, a garota
mais neurótica que conheço, usar o celular em sala, deve ser importante, então vejo sua
mensagem.
Sophia: Miga, a aluna nova tem a maior cara de patricinha, quero mudar de sala!!!!
Estela: Ela é da sua sala? Qual o nome dela?
Sophia: Sarah, eu acho. Chegou aqui querendo mandar em tudo, mas a vaca é linda de
morrer!!!!
Estela: Só espero que a gente não se esbarre por aí, parece ser o tipo de pessoa que me
tiraria do sério. O professor ta olhando, conversamos no intervalo.
Sophia: Tá!!
Sarah. Esse nome não me é estranho.
Não estou preocupada com a tal novata, se ela for do jeito que Sophia descreveu, não
adianta nada ser bonita e ter o caráter podre.
O intervalo chegou e Gusta e eu fomos atrás de Sophia. Ela nem precisou me mostrar a
tal Sarah. A vi de longe.
Mais uma vez, seu nome não é estranho.
Ela tem o cabelo castanho. Mais claro que o meu. Um nariz fino, olhos castanhos e um
puta corpo.

Ela é bonita. Confesso. Mas sua voz não deixa de ser irritante. Ela passa por mim me
olha. Vejo nojo no seu olhar. Como se fosse superior a mim e a todos ao seu caminho.
Embora aparentemente ela seja uma metida, seu jeito de andar é um tanto peculiar. Ela
anda com uma certa marra malandra.
Ela esbarra em Sophia e nem pede desculpas, apenas a fuzila com o olhar, como se a
desafiasse a dizer algo.
Gusta assobia.
-Você acabou de ser rebaixada para a segunda garota mais gostosa do Colégio.-Ele
comenta e Sophia dá um murro em sua barriga.
Todos olham para Sarah e ela parece gostar da atenção. Ela vai em direção a Ben, que
parece completamente surpreso. Eles trocam algumas palavras e Ben sai de perto dela.
Seguimos o dia assim, Ben disse que queria falar comigo após a aula e eu disse que tudo
bem. Não é como se eu fosse ignora-lo.
Eu gostaria muito de saber o que Aleph está pensando. Gostaria de poder dizer a ele o
que estou pensando.
Logo as aulas terminam e saímos todos. Gusta e Sophia vão sair, então vou andando
para casa. Quando estou a alguns metros de distância da escola, sou surpreendida por
Ben no seu carro.
-Você saiu rápido. -Ele diz.
Esqueci que eu havia ficado de falar com ele após ás aulas.
-Queria falar comigo?-Pergunto.
-Entra aí, te dou uma carona.
Minhas pernas de sedentária reclamam e resolvo entrar no carro.
Me lembro da última vez que estive aqui. Ben falou algo arrepiou até o último fio de
cabelo. Naquela época, eu era completamente apaixonada por ele. Hoje, ainda tenho
sentimentos por ele, mas não como antes.
Eu comprovo, é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo, mas não vai ser na
mesma intensidade. Sempre vai ter um que vamos amar mais que o outro.
Esse alguém é Aleph.
Ele conseguiu me conquistar. Conseguiu me fazer apaixonar, mesmo ja estando por
outro.
-Não é nada demais, apenas queria saber se você vai para o churrasco na minha casa
esse sábado. -Ben diz ao meu lado me tirando de meus pensamentos.
Eu disse a Aleph que não iria. Embora estejamos brigados, não vou desfazer minha
promessa. E além disso, seria apenas mais um motivo para brigas.
-Desculpe Ben, não vou.-Digo.
Ele olha para mim. Ele me olha com desejo. Mas não desejo carnal, um desejo, que
suspeito ser, porque ele quer que seu seja a idiota de antes. A que amava ele e lambia o
chão que ele pisava.
Isso não vai acontecer.
-Você é mesmo incrível. Mesmo depois do que ele fez, você continua sendo fiel a ele.
Eu era o cara mais sortudo do mundo e não sabia.
Meu coração aperta. Ben pega minha mão e a aperta como gesto de carinho. Eu me
sinto bem perto dele.
Olho pela janela e vejo Sarah com seu nariz empinado. Ao seu lado, tem dois caras
tatuados e grandes. O carro para perto dela no sinal e rezo para que ela não nos veja.
-Olha lá sua amiga.-Digo a Ben.
Ele segue meu olhar.
-Ele não é minha amiga.-Ele diz com um pontada de raiva na voz.
-Mas a vi falando com você hoje.-Digo.
Ben faz uma careta.
-Lembra daquela minha história com Aleph? Sarah é a garota que Aleph "roubou" de
mim. -Ben diz e me lembro. Eu sabia que seu nome não me era estranho.
Quais as chances de uma coincidência dessa acontecer?
-Ela mudou.-Ben diz.
-Como assim mudou?-Pergunto.
-Não sei, ela só mudou.
Não discuto. Fico a observando. Ela então sorri mostrando seus dentes perfeitos.
Meu coração dispara quando vejo o motivo do seu sorriso.
E depois parece parar quando o vejo a abraçando.
E então, sinto uma enorme vontade de me matar quando ela o beija.
E quando nossos olhares se cruzam, é pior. Sinto as lagrimas vindo com um sentimento
de ódio. Quero descer do carro e quebrar a cara desses dois, mas não faço.
Isso apenas comprovou o que eu imaginava. Aleph não me ama. Ele apenas fingiu para
ter de mim o que queria.
Ele deve estar nesse momento, chorando de rir por dentro. Deve estar me achando a
maior idiota e sentindo prazer por me ver assim.
Completamente surpresa, com lagrimas escorrendo até a bochecha e a maior cara de
idiota.
Ben segura meu braço com se fosse me impedir de sair do carro e arranca antes mesmo
de o sinal abrir. Ele parece sentir minha dor.
-Você está bem? -Ele pergunta.-Por favor, não chora, ele não merece suas lágrimas. Por
favor.
Engulo seco e tento segurar as lagrimas. Ben encosta o carro e percebo que chegamos
em casa.
-Não chora.-Ele diz novamente.
Limpa uma lágrima da minha bochecha e faz carinho.
O abraço forte. E ele retribui na mesma intensidade. Sinto que posso derreter aqui.
-Você é forte, não chora. Não aguento ver você chorando. Você é importante pra mim.-
Ele diz e consigo parar de chorar.
Apenas fico descansando a cabeça em seu ombro até me sentir melhor.
Porque ele me faz sentir bem.
A noite cai e saio do carro. Mas antes dou um beijo no rosto de Ben, o que o deixa com
um sorriso enorme e me faz rir.
-Ben!-Digo antes de ele ir embora.-Vou no seu churrasco.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 18
A cena se repete mil vezes por dia na minha cabeça. Aleph andando até Sarah e ela o
beijando, depois ele me vê e fica parado. Ainda consigo lembrar de como ele ficou
surpreso e perdido.
Confesso.
Esperei por ele. Eu esperei por Aleph a noite toda. Uma ligação, uma mensagem,
qualquer coisa. Esperei ele me explicar o que vi. Qualquer coisa servia, eu iria acredita
nele.
Mas não.
Aleph não veio.
Aleph não ligou.
Aleph não mandou mensagem.
Mas Ben sim.
Ele perguntou se eu estava bem. Perguntou se ele poderia fazer algo para me ajudar.
Tenho certeza que ele não sabe como esconder um cadáver, então disse que não.
Não tem nada pior, do que esbarrar com ele nos corredores do Colégio. Sinto seu olhar
sobre mim como uma promessa. Uma promessa vazia.
Pois é isso que Aleph é.
Gusta e Aleph ainda são muito amigos. Eu entendo. Aleph é uma pessoa maravilhosa
para ter como amigo, e mesmo que Gusta quisesse parar de falar com ele por minha
causa, eu não deixaria.
Essa semana foi horrível. É horrível ver Sarah e Aleph juntos, é horrível ouvir o que as
pessoas falam e é horrível ver Aleph virando a cara quando nossos olhares se
encontram.
Porque meu olhar sempre parece procurar o dele.
E eu odeio isso.
Tenho me mantido forte até então. O que me sustenta, é o pensamento que isso vai
passar. É aquela parte de mim, uma bem pequena, que acredita que Aleph me ama.
O aniversário de Gusta está próximo. Resolvemos fazer uma festa surpresa para ele aqui
em casa. Vamos convidar todos os seus amigos, até mesmo Aleph. Pedi que Sophia
cuidasse dessa parte, e ela, mesmo não gostando nada da ideia, aceitou.
Pois ela sabe o valor da amizade, e sabe que o dia perfeito de Gusta só seria completo
com o melhor amigo.
Minha mãe chegou ontem. Foi a única vez que chorei nesse período. Contei tudo a ela.
Ela me ouviu e ficou com um pouco de raiva de Aleph, mas disse que ele lembra meu
pai no quesito fazer burrada.
Ela me fez rir e disse que se essa Sarah mexer comigo, seremos eu e ela contra todos.
Ela disse que não hesitaria nem um segundo de dar na cara da vadia.
Hoje é o churrasco na casa de Ben. Soube que tem piscina e o Aleph vai. Jurei para mim
mesma que hoje, vou deixar uma veia sua pulsando ou não me chamo Estela.
Estou arrumando uma bolsa. Vesti um biquíni branco e azul, eu nunca o usei pois
sempre achei que não combinava comigo. Ele é bem sexy e perfeito para fazer raiva a
Aleph. Se ele se importar comigo, é claro.
Visto um short jeans por cima e uma regata. Meus óculos escuros e uma sandália de
dedo. Coloco protetor na bolsa e de propósito, nenhuma roupa.
Ben insistiu em me buscar e eu não neguei. Em minutos, ouço ele buzinando e saio.
Entro no carro e consigo perceber Ben tentando não olhar para mim. Mas o pego
olhando para minhas pernas e ele fica vermelho. Acho graça disso, se fosse Aleph,
olharia sem pudor e ainda faria um comentário.
-Está linda.-Ele diz.
Sorrio para ele.
-Já chegaram todos?-Pergunto.
-Só falta você. -Ele diz.
Sei que Ben gosta de música eletrônica, e é exatamente o que está tocando. Acho
incrível o som de músicas eletrônicas, uma vez até conheci uma mulher da idade de
minha mãe, ou quase, que já ganhou vários concursos de música eletrônica. Ela era uma
grande DJ e tinha um marido que parecia ama-la bastante. Maya era seu nome.
Chegamos a casa de Ben e logo vejo Gusta. E ao seu lado, Aleph.
Assim que ele me vê, seus olhos parecem saltar, mas minha alegria de vê-lo assim,
acaba quando Sarah aparece e senta no seu colo.
Paro de andar por alguns segundos, mas continuo, dessa vez determinada.
Dou um grande abraço em Gusta.
-Onde está Sophia?-Pergunto.
-Foi ao banheiro. Está arrasando hoje, pra quem é tudo isso?-Gusta diz e percebo que
Aleph se inclina para ouvir melhor.
-Para Ben, quem mais seria?-Digo como se fosse óbvio.
Sophia vem até nós e faz cara de nojo quando vê Sarah sentada no colo de Aleph.
-O grude já chegou?-Ela diz se referindo a Sarah.
-E pelo visto não vai sair tão cedo.-Digo.
Ben vem até nós. Ele mudou de roupa, usa apenas uma bermuda exibindo seu peitoral.
Confesso que fica difícil me concentrar no seu rosto.
-O almoço já está pronto, quando quiserem comer...-Ele diz.
-Obrigada.-Sophia diz arrastando Gusta para onde está servindo o almoço.
Aleph passa por mim, e junto dele Sarah. Os dois não me olham, mas sigo Aleph com o
olhar até ele sair do meu campo de visão.
Me sento em uma das cadeiras e Ben senta ao meu lado.
-Está melhor?-Ele pergunta.
-Tô levando, só é difícil vê-lo com ela. Sabe, poderia ser qualquer pessoa, mas justo
ela?!-Digo.
-Eu também estranhei, mas ela sempre gostou dele, sempre preferiu ele a mim.-Ele diz
olhando para Sarah. Então olha pra mim. Nos meus olhos.-Como você.
Ben tem mania de partir meu coração com essas frases.
Ficamos em silêncio, apenas nos olhando e vendo as pessoas rirem e jogarem uns aos
outros na piscina.
Sempre gostei de água. De nadar e ficar horas e horas mergulhando. É relaxante.
Quando pequena, uma vez fomos a praia. Foi minha primeira vez. Meus avós foram
conosco e Júlio também. Foi perfeito, mas Júlio tentou me afogar por eu ter jogado suas
conchas no mar.
-Acho que vou nadar. -Digo.
-Vou com você. -Ben diz.
Nos levantamos e vamos até a beira da piscina. Tenho vergonha até o último fio de
cabelo, mas sei que Aleph está olhando para mim.
Tiro a blusa e coloco em uma cadeira, tiro o short devagar para o biquíni não ir junto.
Minha avó sempre me disse para fazer assim.
Então todos os olhares estão em mim.
Ben pula na piscina jogando água em mim e logo Gusta faz o mesmo. Entro e dou um
mergulho.
-Onde está Sophia?-Pergunto a Gusta.
-Está almoçando. -Ele diz e joga água em mim.
Os garotos arranjam uma bola e nós e mais umas 3 pessoas jogamos vôlei na água.
Quando sinto fome, saio da piscina e visto apenas meu short jeans. Levo Gusta comigo
e o faço comer também.
Até que ele e Sophia somem. Provavelmente foram namorar em algum lugar. Fico
apenas sentada e olhando todos. Então vejo Aleph e Sarah entrarem na piscina.
Observo eles. Sarah arranca alguns assobios por onde passa e Aleph parece nem se quer
se importar.
Talvez ela seja apenas mais uma de suas peguetes. Começa a tocar uma música
eletrônica famosa e todos vão dançar. Ben me chama e aceito.
Dançamos juntos e me divirto bastante. Mas logo lembro quando dançava com Aleph.
Ele sempre fazia algo para eu rir.
Odeio que Aleph estrague os poucos momentos que consigo sorrir.
Quando a música acaba, volto a piscina, mas dessa vez com Sophia. Ficamos
conversando sobre o aniversário de Gusta. Ela não tem ideia do que dar para ele.
-Eu já disse, você já tem o presente.-Digo.
-Estela!-Ela me repreende e rimos.
-Estou falando sério, seria perfeito, no aniversário dele. -Digo.
-Estamos juntos há pouco tempo, eu acho que está cedo para isso.
Reviro os olhos.
-Não ligue para que os outros pensam, se você quiser, faça. Apenas isso.-Falo e ela
concorda.
-Está com frio?-Ela pergunta saindo.
-Não, vou ficar mais um pouco.
Dou um mergulho e fecho os olhos. Amo essa leveza que a água traz. Fico alguns
segundos debaixo d'água e quando levanto, ouço ecos. Assim que minha audição fica
melhor, percebo ser a voz de Sophia.
A procuro e vejo ela discutindo com Sarah.
Sarah empurra Sophia e meu sangue ferve. Quando me dou conta, já estou fora da
piscina com minhas mãos no cabelo de Sarah. Ela me chuta na barriga e me contraio,
mas nem louca vou perder para ela.
Puxo seu cabelo para baixo e dou uma joelhada no seu rosto. Mas o tufo de cabelo que
eu segurava, veio todo na minha mão e ela ficou livre. Ela começa a me dar murros, mas
não sinto dor, apenas o desejo de a fazer pagar. Dou uma série de tapas e murros e
consigo derruba-la no chão.
Cresci com Gusta e Júlio. Ou eu aprendia a brigar, ou apanhava dos dois.
Fico por cima dela e dou vários tapas em sua cara até que sou tirada no chão. Chuto o ar
e ainda consigo acertar a cara de Sarah.
Percebo que os braços ao meu redor são de Ben e Aleph ajuda Sarah. Minha respiração
está acelerada e jogo um olhar mortal a Sarah e Aleph.
-Sua Vadia!-Sarah diz. Seu rosto está coberto de segue. Provavelmente eu quebrei seu
nariz.
Tento me soltar dos braços de Ben, mas ele me mantém firme.
-A única vadia aqui é você! -Ela tenta se soltar de Aleph, mas ele não deixa. Dou uma
risada sem humor.-Vem, pode vir, vai ser um prazer acabar com você!
-Chega.-Ben diz e me arrasta para longe dela.
Ele me senta em uma cadeira e Sophia vai buscar água.
-Droga cara, a Estela tava acabando com a Sarah!-Gusta diz a Ben.
-Em compensação, está toda roxa. -Ben diz me examinando.
-Valeu a pena, ainda tem sangue dela nas minhas mãos. -Digo.
Gusta pisca para mim e sussurra "Minha garota".
Sophia volta com a água e uso para lavar minhas mãos.
-Amiga, você sabe que sou completamente contra a violência, mas você foi incrível.-Ela
diz.
Sophia me conta que esbarrou em Sarah sem querer e Sarah já foi pra cima de Sophia.
Daria tudo para descontar minha raiva mais um pouco.
Agora que toda adrenalina passou, sinto a dor. Tem alguns lugares do meu braço que
estão roxos e minha costela dói.
Não me arrependo de nada.
-Quer ir embora?-Gusta pergunta.
Assinto.
-Antes vou me lavar.-Digo.
-Tem um chuveiro na lateral da casa.-Ben diz.
Me levanto e pego minha bolsa. Vou até onde Ben me instrui e acho o chuveiro.
O ligo e me ponho debaixo. Ainda tem alguns fios de cabelos na minha mão. Sorrio por
ter finalmente me vingado de Sarah.
Então lembro que minha roupa está na beira da piscina. Desligo o chuveiro e esbarro em
algo que me deixa sem equilíbrio.
Fisicamente e emocionalmente.
Pois esbarro em Aleph.
Olho para cima. Em seus olhos e ele olha nos meus. Então me olha de cima em baixo,
mas não fico com vergonha. Consigo ver em seus olhos, que ele está lembrando de algo.
E eu sei muito bem o que é.
Essa proximidade, nossas poucas roupas, tudo. Eu apenas de biquíni e ele com um
calção de banho.
É perigoso.
Sinto uma imensa vontade de voar no seu pescoço e tê-lo aqui mesmo. Mas não faço.
Me controlo e ignoro meu coração acelerado, minhas pernas bambas e a vontade de
derreter.
Ele coloca as mãos nos meus braços, sobre meus hematomas.
-Com licença. -Digo. Aleph engole seco e sai da minha frente. Pego minha bolsa e saio
dali o mais rápido possível.
Respiro fundo. Meu coração continua para sair do meu peito. Visto minha roupa por
cima do biquíni, coloco meus óculos e procuro Gusta.

☆☆☆☆☆☆
-Filha, eu só quero saber de uma coisa, saiu sangue?-Minha mãe pergunta após eu
contar tudo o que rolou hoje.
-Da cara dela? Deve estar saindo até agora.-Digo.
Ela está fazendo uma massagem em mim e estamos na sala.
-Minha garota!-Ela diz.
Sorrio.
-Quer dizer então que a senhorita andou brigando?-Meu pai diz aparecendo na sala.
Me encolho. Eu sou a filha certinha. Não faço essas coisas.
-Ela quebrou o nariz da vaca e ainda arrancou metade do cabelo dela!-Minha mãe diz.
-Luna, pelo amor de Deus, que exemplo você está dando pra ela? Sair brigando por aí? -
Meu pai diz.
-Ela estava apenas defendendo a Sophia.-Minha mãe explica.
Meu pai estreita os olhos. Seu olhar ilegível. Esse é a única parte que me arrependo de
ter brigado com Sarah. Não vou aguentar um olhar de reprovação do meu pai.
Ele se senta ao meu lado balançando a cabeça e já sei que vem bronca.
-Saiu mesmo sangue?-Ele pergunta e assinto.- Bate aqui.
Ele estende a palma da mão e sorrio. Damos um toque e passo minha noite com eles.
Abraçados e assistindo um filme.
Capitulo 19
-Não, desculpem, mas vocês tem que sair.-Digo.
-Filha, seus amigos vão gostar da gente, eu ainda sei rebolar como antes!-Minha mãe
diz e começa uma dança engraçada.
-Sua mãe não joga mais futebol comigo, preciso de amigos para jogar!-Meu pai diz.
Eu não acredito que estou ouvindo isso.
-Pai, são meus amigos e não os seus, essa festa vai ficar sem graça com meus pais
rodando o tempo todo.-Digo.
Eles querem de qualquer jeito ficar para o aniversário de Gusta.
-Prometemos não atrapalhar.-Minha mãe diz.
-Uma hora. Vocês ficam uma hora e depois saem.-Digo e eles aceitam.
Sophia e eu planejamos tudo. Vai ser aqui na minha sala mesmo, vamos reunir alguns
amigos, pizza, refrigerante e um pequeno bolo que minha mãe fez. Compramos cerveja,
apenas para descontrair, não quero ninguém bêbado. Sophia planejou uma briga com
Gusta ontem. É apenas para ele pensar que é o pior dia da sua vida, então vem a
surpresa.
Vou dizer a ele que quero entregar meu presente e vou pedir para que ele venha até aqui
em casa, e aí todos aparecemos e Sophia vai dar seu presente.
A ajudei a escolher. Ela disse que estava pronta, então compramos uma lingerie
maravilhosa. Ela está nervosa, tem medo da reação de Gusta, mas sei que vai dar tudo
certo.
Ela falou com Aleph e ele disse que vinha.
Se eu estou nervosa?
De modo algum. Nervosismo é uma palavra fraca para o que estou sentindo.
É algo mais.
Mas o assunto aqui, é o aniversário de Gusta e não o pilantra do meu ex amigo colorido.
Quero que tudo hoje seja perfeito. Gusta merece. Eu o amo como um irmão. Minha mãe
sempre dizia que queria ter vários filhos, mas por um motivo que não sei, ela só teve a
mim. Porém, ela trata Gusta, Sophia e Júlio como filhos.
Sophia entra na casa sem ao menos bater. Ela está mais nervosa que eu. Gusta é
importante pra ela. Talvez não do mesmo jeito que é importante para mim.
Ela está para ter um ataque.
-O bolo chegou? -Ela pergunta.
-Não. -Digo.
Ela bate o pé no chão.
-Droga! Vai dar tudo errado! Marcamos para as cinco horas e já são quase três!-Ela diz.
Cada vez que algo atrasa ou não sai do jeito que ela quer, Sophia repete o horário que
marcamos para o aniversário como se eu não soubesse.
-Vai dar tudo certo.-Digo.-A cerveja já ta na geladeira!
Ela revira os olhos.
-Sinceramente, eu não sei por que te aguento.
-Porque você me ama! E você sabe que tendo cerveja na geladeira, vai ser o melhor
aniversário para Gusta.
Ela ri e pela primeira vez hoje. Sinto que toda sua tensão se esvaiu com essa risada.
-Pode pedir que Ben busque uma caixa de som na casa daquela sua amiga Maitê?-
Sophia pergunta.
Acho estranho esse pedido. Ela realmente deve estar querendo que saia tudo perfeito.
Sophia não gosta de Maitê. Ela não gosta de quase nenhuma garota. Suas amizades
sempre foram poucas e a maioria homens.
-Por que você não vai?-Pergunto.
Ela me dá um olhar como se dissesse: "Não é obvio?"
Bufa , balança a cabeça e vai até a cozinha.
Ligo para Ben e faço o que Sophia pediu. O bolo chegou em seguida. Algo simples,
apenas para não passar em branco. Sophia e eu arrumamos tudo. Cada detalhe como se
fosse uma festa para o Papa. Acho que não é apropriado eu falar isso, já que vai ter
bebidas e duvido que os quartos fiquem desocupados.
Quando vemos, são quatro e meia. Sophia se arruma comigo. Penso em vestir vestido
ou saia, mas está um pouco frio, talvez eu vista um short e uma blusa com manga.
Sophia está vestindo uma saia de cintura alta, uma blusa e um casaco por cima. Não
passamos maquiagem. Meus pais estão brigando na sala pelo controle da televisão e as
cinco e ponto, todos chegam. Inclusive Ben com a caixa de som. Aleph está com Felipe.
Graças a Deus a dinossarah não veio. Iria sair eu, ela e minha mãe na peia aqui. Quando
o vi entrando, perdi totalmente o chão.
Só de lembrar de todas nossas conversas, de todas as nossas caricias principalmente, de
todos nossos olhares. Esses sim, são o que me destrói. Os olhares apaixonados, cheios
de desejos um pelo outro.
Ele passa por mim como se não me visse. Isso doeu. Será que ele me esqueceu, ou finge
tão bem assim?
Após todos chegarem, ligo para Gusta.
-Melhor amigo do mundo que faz aniversário hoje???-Digo fazendo uma voz fofa.
-Fala Estela.-Ele diz mal humorado.
O plano deu certo. Ele está arrasado por Sophia ter brigado por ele. Isso torna tudo mais
interessante.
-Credo, vem aqui em casa pegar teu presente.-Digo.
-Amanhã.-Ele diz.-Meus pais querem que eu fique em casa.
Mentiroso. Rafael e Andreia, os pais de Gusta, estão mais do que avisados sobre a festa.
-Vem logo, aposto que fui a única pessoa que te ligou hoje, conversei com Sophia
ontem, tenho que te contar o que ela disse.-Falo.
Com a menção do nome de Sophia, ele parece estar convencido.
-Está bem, mas apenas alguns minutos.
O que o amor não faz.
Desligo o celular e peço que todos se escondam no meu quarto e no quarto dos meus
pais. Não sei como vão caber todos, mas é apenas por alguns minutos.
Entro no meu quarto lotado de gente e pego o pequeno presente que comprei para
Gusta.
Noto que Aleph não está aqui. Ele deve estar escondido no quarto dos meus pais. Queria
muito me convencer que ele está lá porque esse quarto traz muitas lembranças, mas sei
que ele apenas não quer correr o risco de se esbarrar comigo.
O que a falta de amor não faz.
Após alguns minutos, ouço batidas na porta. Peço que todos façam silencio e abro a
porta. Gusta está horrível. A cara inchada entrega que ele estava chorando. Quase me
arrependo de ter armado tudo isso.
-O que aconteceu com você?-Pergunto.
Ele entra e suspira alto.
-Eu não sei o que fiz para Sophia ficar com raiva de mim! Você precisa me ajudar.
Meu coração aperta. Meu melhor amigo está realmente apaixonado pela minha melhor
amiga. Acho que toda garota já tentou juntar dois amigos. Não precisei fazer isso, eles
dois nasceram um para o outro e sabem disso.
-Fica calmo, você sabe como ela é. Hoje é seu aniversário, se anima!-Digo.
Ele faz uma careta, então nota a caixinha na minha mão.
-O que era tão importante que me fez sair de casa para vir buscar?-Ele pergunta.
Sorrio e entrego a caixinha a ele. Gusta abre a caixa e fica sem entender quando vê o
que tem dentro.
-Um apito?-Ele pergunta rindo.
-Assopre.-Digo.
Ele me olha como se eu fosse louca e leva o apito devagar até sua boca.
Espero que tudo dê certo.
Assim que a nota aguda do apito termina, Gusta passa dois longos segundos olhando
para minha cara. Então uma multidão surge e todos abraçam e pulam enquanto a música
começa. Vira a maior festa e quase não vejo Gusta.
Então presencio uma linda cena.
Gusta vê Sophia e ela sorri para ele, que afasta todos ao seu redor e corre até ela para
abraça-la. Ele a levanta do chão e ela joga a cabeça para trás rindo. Eles sorriem um
para o outro, com as bocas próximas e se beijam. Todos aplaudimos e não consigo
segurar as lagrimas.
Meu olhar automaticamente procura o de Aleph, mas não o acho. Então o vejo. Ele está
a um passo de Gusta e quando os dois se veem, dão um abraço apertado. Vejo a boca de
Aleph se mexendo e lagrimas correm pelo rosto de Gusta, e isso, por algum motivo, me
faz chorar mais ainda.
Todos vão para cima de Gusta e meus pais estão no meio de todos. Minha mãe se
mistura bem, ela não é muito alta, já meu pai, está todo sem jeito perto de adolescentes,
mas não esconde o sorriso ao abraçar Gusta.
Após cada pessoa abraçar Gusta, vamos todos dançar, mas antes Gusta me puxa para
um abraço. Ele ainda não me agradeceu, mas só de ver seu sorriso, valeu a pena.
-Eu te amo! Obrigado por isso.-Ele diz.
-Você merece isso e muito mais, irmão.-Digo.
Nos abraçamos novamente e Sophia o puxa. Não estou muito no clima para festas, pois
cada vez que meu olhar encontra o de Aleph, sinto vontade de me jogar pela janela do
oitavo andar de um prédio qualquer.
Fico apenas sentada observando.
Observo Gusta e Sophia felizes.
Observo enquanto recuso o pedido de Ben para dançarmos.
Observo ele dançando com Maju, mas sempre de olho em mim.
Observo quando Aleph tenta subir as escadas de fininho.
Mas ele não passa despercebido. Não por mim.
Espero alguns minutos e subo devagar. Vejo a porta do quarto dos meus pais aberta e
entro. Vejo de longe a silhueta de Aleph na sacada. Ando rapidamente. Cada passo meu,
são duas batidas do meu coração. Encosto na coluna. Estou a menos de um metro de
Aleph e não tenho certeza do que estou fazendo.
-Estela.-Aleph diz e fecho os olhos ao ouvir sua voz.
Que saudade de ouvir meu nome na sua voz.
-Aleph.-Digo.
E ficamos assim até eu tomar uma atitude e ir para seu lado. Para olhar nos seus olhos.
-Acho que precisamos conversar.-Digo.
Ele assente.
-Eu esperava por isso.
Meu coração está na minha garganta. Tento respirar fundo para me acalmar ou vou
desmaiar aqui.
-Então pode me explicar como mudou de ideia sobre mim de uma hora pra outra?-
Pergunto.
Aleph dá um suspiro e me encara. Ele segura meus ombros e me olha fixamente com
seus lindos olhos.
-Isso é maior do que parece.-Ele diz por fim.
Meu sangue esquenta.
-Então me explica! Me dá uma desculpa, a mais esfarrapada que for, eu vou acreditar!
Qualquer coisa, mas não diz que não me ama, pois eu não acredito. Não depois do que
me disse, depois daquela noite e depois dos melhores dias da minha vida. Eu só quero
que você volte para mim! Quero que você volte a ser meu, droga! Seu imbecil!-Cuspo
tudo como uma metralhadora de tão rápido.
Aleph coloca a cabeça entre as mãos e não posso acreditar no que estou vendo.
Aleph está chorando.
Me desarmo completamente.
Fico completamente surpresa. Chorar, foi a última coisa que pensei que ele faria. Juro
que pensei que Aleph fosse rir ou ir embora sem falar nada.
Mas chorar? Nem se quer passou por minha cabeça.
Ele tenta controlar, mas apenas faz com que chore mais. Sinto meus olhos encherem de
lágrimas.
Coloco a mão no ombro de Aleph e ele se esquiva brutalmente.
-Não toca em mim.-Ele diz.
-Por quê? - Pergunto.
-Porque se você tocar em mim, eu não vou conseguir parar de te tocar.-Ele diz.
-Não vejo problema nisso.-Digo e puxo seu rosto em direção ao meu.
Assim que seus lábios tocam os meus, tenho vontade de chorar. A única coisa que
consigo pensar antes de Aleph me pegar no colo e me levar até a cama, é que finalmente
ele é meu.
Sua boca vai do meu pescoço e minha orelha. Ele respira forte no meu ouvido e não sei
como descrever tamanho prazer.
Suas mãos vagueiam da minha coxa até minha bunda e uso todo meu corpo para o beijo.
Tranco minhas pernas ao redor dele e olho nos seus olhos.
-Você é linda. -Ele diz e beija meu pescoço novamente.
Então ele me empurra para longe.
-Eu não posso.-Ele diz baixinho.
-Por quê?- Pergunto.- Não vai me dizer que é pela Dinossarah!
Sua expressão que era de completa tristeza, mudou e agora ele está com um sorriso
divetido.
-Dinossarah?-Ele pergunta.
Droga. Sem querer a chamei do jeito que me refiro a ela em minha consciência.
-Tira esse sorriso do rosto.-Digo.
Ele se fecha completamente. Se levanta e fica olhando para mim.
-Já falei, isso é maior do que você imagina.-Ele diz.
Me levanto e vou até ele. Seu rosto ainda está molhado pelas lágrimas, então passo
delicadamente a mão no seu rosto e Aleph fecha os olhos com meu toque.
-Me deixa de ajudar. Nós dois juntos! Como antes.-Falo.
Ele balança a cabeça diversas vezes.
-Não quero você metida nisso, nada é como antes, algumas coisas mudaram. Segue em
frente, fique com Ben, ele te ama e você sabe disso.
-Não. Como pode dizer isso? Eu faço qualquer coisa por você, Aleph eu te...-Ele tampa
minha boca com sua mão e olha dentro dos meus olhos.
-Eu te amo. Mas nós dois não podemos ficar juntos, então sugiro que esqueça que eu
disse isso, pois não vou dizer de novo e se me perguntarem, vou negar até a morte.-Ele
diz já com uma expressão amigável.
Meu coração se enche de alegria quando ele diz as três palavras. Sorrio. Mas logo
lembro do resto da frase.
-Não me peça para esquecer, você mesmo sabe o quão irresistível e inesquecível você é.
-Falo e ele ri.
Que saudade dessa risada.
-Desculpe Estela, vou me afastar de você. Essa é a última vez que vamos nos ver.
Não o encaro.
Por quê? Por que tudo isso? Por causa da dinossarah? Ele está me trocando por ela.
No que ele não quer que eu me meta? Meu Deus! No que Aleph está metido?
Ele dá um último e demorado selinho em meus lábios e sai. Me jogo na cama incapaz
de mover qualquer músculo.
Nem que eu passe minha vida inteira, mas vou descobrir no que Aleph está metido e
vou ajuda-lo.
-Estela, está tudo bem? Vi Aleph saindo daqui com uma cara nada boa.-Ben diz na
porta.
Se vou ajudar Aleph, preciso de alguém que conheça Sarah bem. E quem melhor para
isso do que alguém que já foi apaixonado por ela?
-Ben, preciso de você.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 20
Ben abre um pequeno sorriso travesso.
-E você precisa de mim para...
-Descobrir o que está acontecendo com Aleph.-Digo.
Ele levanta as sobrancelhas e percebo que tem uma expressão cansada no seu rosto. Já
tive essa expressão. No tempo que eu era apaixonada por Ben.
Ele está de dar amor a alguém que não o aceita. A alguém que não sente o mesmo. Ele
está cansado de sempre estar como segunda opção. Mas não o vejo assim. Sinto um
grande carinho por Ben. O mesmo carinho que sinto por Gusta. Carinho de cuidar como
se fosse irmão.
Ben e eu não temos toda essa intimidade, mas quando olho para ele, o vejo tão familiar.
Sinto necessidade de estar perto dele e nessas últimas semanas, posso ter confundido
isso com amor. O fato que ele me faz bem.
Ben senta ao meu lado.
-Então, qual é o plano?-Ele pergunta.
-Não temos um plano, mas você pode me ajudar a ter. Você conhece a Sarah.
-Eu falei, ela mudou.-Ele diz por fim.
É a segunda vez que Ben diz isso. Gostaria de ter conhecido a Sarah de antes para saber
o quanto ela mudou.
-Não é possível que ela tenha mudado tanto...me fale como ela era.
Ele deita na cama e eu deito ao seu lado e ficamos olhando para o teto.
-Ela era meiga. Amava os animais e já leu todos os livros que você pode imaginar. Ela
usava saias e vestidos. Eu sempre dizia que ela era uma princesa. Tinha o sorriso mais
lindo e eu amava quando ela tinha algo para me contar. Ela me olhava com curiosidade
e ansiedade. Tinha sempre um sorriso. Fazia qualquer pessoa se apaixonar pelo seu jeito
tímido. Ela era linda. Por dentro e por fora.
Ele fala tudo com um sorriso e olhos brilhantes. Ben era realmente apaixonado por
Sarah.
-Por que ela está assim?-Pergunto.
-Sinceramente, ela está parecendo um marginal. O jeito que anda, que fala. Tudo.-Ele
diz.-Então eu acho que se quisermos saber o que está acontecendo com Aleph, devemos
começar descobrindo o que aconteceu com Sarah.
-Obrigada.-Digo.
Mesmo Ben gostando de mim, ele está me ajudando a reconquistar Aleph. Todos
tinham se enganado quando me diziam que Ben é um babaca. Ele está longe disso.
Seria mais fácil se eu estivesse apaixonada por Ben?
Sem dúvida alguma.
Acontece que era para ser um acordo para conquistar Ben. Deu tão certo e tão errado ao
mesmo tempo, pois não só conquistei o coração de Ben, como entreguei o meu a Aleph.
A lembrança de seus beijos vem a minha mente e sorrio, pois, eu estava certa. Aquela
mínima parte de mim estava certa. Aleph me ama, e se não me ama, ele finge muito
bem.
Mas tem algo o bloqueando. E eu preciso descobrir o que é.
-Por?- Ele pergunta levantando as sobrancelhas.
-Por estar comigo.
Nos abraçamos e encontro um certo conforto nisso.
-Eu sempre vou estar com você, apesar de tudo, eu te amo.
Sorrio. E apenas isso. Pois cada vez que Ben diz que me ama, não tenho palavras, pois
não posso retribuir, e me deixa mal.
A última coisa que quero, é iludir Ben, mas ele sabe muito bem onde está se metendo.
-Então, por onde começamos?-Pergunto.
-Começamos curtindo a festa de Gusta, vamos deixar tudo isso para amanhã e nos
divertir.-Ele diz me puxando para a sala.
Meus pais parecem ter ido embora, a música está alta e vejo pessoas com copos de
cerveja. Estão todos dançando e se divertindo.
Isso é um pouco injusto, por que eles podem ser felizes e eu não? Por que não consigo
curtir assim como eles?
-Não faz essa cara, você também vai se divertir.-Ben diz como se pudesse ler meus
pensamentos.
Ele pega minha mão e leva a onde um grupo de pessoas estão dançando. Ele começa a
dançar na minha frente, mas não consigo me divertir com isso.
-Estela, dança! Apenas dance! -Ele diz por cima da música.
Faço uma careta.
Ben vem devagar com suas mãos estendida e então ele me dá um susto me levantando e
me rodando. Agarro no seu pescoço e consigo sorrir.
Ele me coloca no chão e faz cócegas em mim. Minha risada é alta, então percebo que
posso sim me divertir. Pois tudo vai se resolver, e no final tudo vai acabar bem. Assim
como nos contos de fadas. Vou ter meu final feliz.
Espero.
Danço e canto com Ben sem me importar com quem estar olhando. Normalmente não
faria isso perto dele, pois pensará que sou completamente desequilibra. Mas é Ben. E eu
sou eu. Isso soou estranho, mas é apenas isso.
Eu sou eu.
Aquele eu que a criança que fui se orgulharia.
Quando eu era criança, criei uma personalidade que achei que seria perfeita para mim.
Estranhamente, percebi que aquela personalidade ja era minha quando criança e posso
tê-la mudado nos últimos tempos, mas agora ela está de volta.
A prova, é eu estar dançando como se não houvesse amanhã.
Pois é assim que temos que viver. Todos os dias vemos tragédia na televisão. Pessoas
sendo mortas, pessoas que tinham muito para viver e sempre que vejo algo assim, me
pergunto se a pessoa aproveitou a vida.
Eu vou aproveitar a minha. Eu estou aproveitando a minha. Mas eu não me importaria
de aproveitar a vida com Aleph ao meu lado.
-Estela, pelo amor de Deus, vamos sentar.-Ben diz após não sei quantos minutos.
-Va você, estou me divertindo. -Grito por cima da música.
Ben parece realmente cansado, mas ele não me deixa.
Ficamos até minhas pernas não aguentarem mais e eu saber que Gusta e Sophia saíram a
algumas horas.
Gusta saiu de sua própria festa.
Eu poderia estar furiosa, mas tenho certeza que após Sophia ter mostrado o presente,
Gusta não quis esperar mais um minuto.
Gusta é um bobão. Ele não esperava por isso.
Pouco a pouco as pessoas vão embora, deixando apenas a mim, Ben e a bagunça. E não
estou falando da bagunça na minha mente.
-Quer ajuda para arrumar? -Ben pergunta.
Tudo o que quero é dizer sim.
-Não quero incomoda-lo.-É o que eu digo.
-Deixa de ser besta, não vou ficar olhando você trabalhar.-Ele diz e abro um pequeno
sorriso.
Começamos com os sacos de lixo. Juntamos tantos copos e pratos descartáveis que é
capaz de poluir o Brasil inteiro.
Limpamos o chão e coloco algumas coisas de volta no lugar.
-Acho que está bom por hoje.-Falo.
-Está bem.
-Então amanhã?-Pergunto.
-Amanhã. -Ben diz e vai embora.

☆☆☆☆☆☆
-
Estamos rodando esse lugar a meia hora.-Falo entediada.-Nós a perdemos.
-Calma, eu a vi entrando nessa rua.-Ben diz.
-Você disse isso a três ruas atrás.-Digo.
Hoje, tiramos o dia para seguir Sarah. Vamos descobrir onde ela está morando e
perguntar sobre ela aos vizinhos.
O plano parecia bom se Ben não tivesse parado para comprar um churros e perdido
Sarah.
Ele ri e eu o encaro perplexa.
-O que? É engraçado-Ele diz.
Reviro os olhos.
-Ali!-Grito alto o bastante para Ben e todos a um raio de 3 metros ouvirem, inclusive
Sarah.
Ela me reconhece e vem pisando duro até nós. Logo sei que isso não vai dar certo, mas
não vou dar mole para ela.
-Está me seguindo? -Ela diz, mas sai abafado por causa do vidro do carro.
Finjo que não estou ouvindo e faço gestos para ela falar mais alto. Faço ela repetir a
mesma coisa quatro vezes até perceber que estou tirando uma com sua cara e quebrar o
vidro com seu celular.
Não quebrou totalmente, apenas rachou, mas seu celular já era. Saio do carro furiosa
com intenção de arrancar mais um tufo desse cabelo sedoso e maravilhoso.
Por que ela tem que ser tão linda?
-Está maluca?-Grito.
-Você ainda não viu nada!-Ela grita atraindo atenção de pessoas. Ben se põe ao meu
lado e quando estou prestes a gritar algo a Sarah, Aleph aparece e me faz esquecer o que
iria dizer.
O encaro. Ele se põe ao lado de Sarah e tenta não olhar no meu rosto.
-Perdeu a língua?-Sarah diz.
Então toda minha raiva volta.
-Desculpe, eu estava lembrando do seu sangue na minha mão, como está o nariz? Acho
que eu consegui desentortar um pouquinho aqui.-Digo seu nariz e ela segura minha
mão.
A empurro com um chute e ela cai no chão.
-Sua vadia! Por que está aqui? É por ele? Pois está perdendo seu tempo, ele não te ama!-
Sarah grita do chão.
Olho para Aleph e ele está olhando pra baixo. É agora que essa vadia vai ter o que
merece. Se ela não se intimida quando a atinjo fisicamente, talvez eu a atinja
emocionalmente.
-Fala pra ela Aleph. Fala que você me ama! Fala que me beijou ontem, que disse que
me amava. Fala pra ela que...
-Cala a boca!-Aleph grita me interrompendo.
Engulo seco. O encaro assustada. Sinto as lagrimas vindo e ignoro. Não acredito que
Aleph disse isso.
Sarah tem um sorriso vitorioso no rosto.
Sinto as lágrimas descendo nas minhas bochechas e ódio. Muito ódio.
Corro para cima de Aleph batendo nele. Esmurro e estapeio seu peito sem dó e ele não
se mexe. Soluço. Grito.
Até que Ben me coloca no carro e vamos embora.
Fico o caminho todo em silêncio. Não quero falar sobre isso. Por que Aleph fez isso?
Por que ele me mandou calar a boca?
Por quê?
O que eu fiz de errado? O que mudou de ontem para hoje? Será que eu estava errada?
Será que o que Aleph estava fingindo, era que me amava?
Amar é uma palavra tão forte e tão bonita para ser fingida.
Vou tirar essa história a limpo, vou descobrir o que está acontecendo e eu juro, se Aleph
tiver me enganando, eu vou faze-lo pagar, pois ninguém machuca Estela Santiago Reis,
e sai impune por isso.
-Precisamos de um plano, pois vou matar aquela bruxa e depois vai ser Aleph.-Falo.
-Eu sabia que você ia falar isso, por isso pensei em algo.
Me viro para Ben.
-Segunda feira, vamos pegar a ficha da Sarah no sistema do Colégio, e descobrir onde
ela estudou e onde mora. Vamos falar com ex-colegas de turmas e depois os vizinhos.
Vamos descobrir tudo sobre ela, quem são seus pais, e até seu tipo sanguíneo.
-O que eu faria sem você?-Digo.
O plano está feito. Só falta executar. Aleph disse que ontem seria a última vez que
iríamos nos ver. Ele está completamente enganado. Isso tudo só vai acabar, quando eu
disser que vai acabar.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 21
-Eu entro e você distrai. -Ben diz.
Estamos em frente a secretaria. Iremos pegar os dados de Sarah e descobrir onde ela
mora, com quem mora, de que escolas veio e outras coisas. Investigaremos tudo.
Aleph não veio a aula hoje e tenho a impressão que essa não será a última vez.
-Nada disso. Vou ficar nervosa e gaguejar, eu entro e você distrai, afinal, quem
desconfiaria desse rostinho? -Digo apertando sua bochecha.
Ben faz careta, mas dá uma risada todo convencido.
-Está bem, você ganhou, mas se algo der errado, eu assumo toda a culpa.
Reviro os olhos. Ben está muito protetor comigo ultimamente.
-Se algo der errado, a culpa será nossa.-Digo.
-Mas...
-Mas nada. Você não vai se ferrar sozinho, e isso é só uma hipótese, sou filha de Luna
Santiago, sou praticamente uma ninja.-Falo convencida.
-Por ser filha de uma escritora...?
Esqueci que Ben não sabe nada sobre minha mãe.
-Eu definitivamente preciso contar algumas histórias para você, mas agora não é a hora,
vamos logo com isso.-Falo.
Ben faz cara de confuso e ignoro. Fico encostada ao lado da porta fingindo estar
distraída mexendo no celular e Ben bate na porta.
Ele me olha e abre a porta devagar.
-Dona Fátima? Posso falar com a senhora um instante? -Ele pergunta.
Em segundos, dona Fátima, a secretária baixinha de 50 anos e totalmente obcecada por
caras mais novos, aparece.
-Pode falar, docinho.-Ela diz e seguro a risada.
Ela dá em cima de todos os alunos e pelo visto, Ben a agradou.
-É que eu soube que a senhora escreve livros de romance...eróticos e...queria uma dica -
Ben fala e eu fecho os punhos para não cair na gargalhada na sua frente.
-Claro, entre aqui!-Ela diz.
-Na verdade, eu tenho claustrofobia, podemos conversar aqui fora mesmo?-Ele diz.
-Como quiser.-Ela diz.
Ben consegue fazer com que dona Fatima vire de costas para mim.
-Eu estou escrevendo um romance...gay. E queria saber em que momento devo fazer
eles...você sabe.
Cubro a boca com a mão e entro na sala devagar. Corro até o computador.
Dígito "Sarah" e aparecem mais de cem resultados. Não sei o sobrenome dela, talvez eu
devesse ter deixado Ben entrar aqui.
Mas agora já era e preciso dar meu jeito.
Ela parece ter minha idade, então específico o ano de nascimento e tenho um resultado
Sarah Giovanna Oliveira Lameira.
Tem que ser essa vaca.
Imprimo todos os seus dados e antes de fechar a busca, uma ideia boba passa pela
minha cabeça.
Rapidamente procuro pelo nome de "Aleph."
O único aluno da escola que tem esse nome.
Imprimo seus dados e saio dali o mais rápido possível. Rápido o bastante para poder
ouvir a conversa de Ben e Fátima.
-...descreva cada detalhe, desde o momento que o membro...-Então Ben me vê.
-Ahn...muito Obrigado pelas dicas dona Fátima, eu tenho aula agora.-Ele diz.
-Por nada docinho, apareça quando quiser, e na próxima vez venceremos sua
claustrofobia e ficaremos na minha sala, onde ninguém pode nos atrapalhar.
Ela pisca para Ben e entra.
Não consigo segurar a risada. Quase tenho um ataque de risos na frente de Ben.
-Romance gay? De onde tirou isso?!-Digo.
-Eu estava nervoso, é a primeira vez que uma mulher de 50 anos da em cima de mim,
foi o que saiu.
-Está certo.
-Conseguiu?-Ele pergunta e consigo ver medo na sua voz. Medo de que todo seu
trabalho foi em vão.
-É claro!-Digo estendendo a folha.
-Então amanhã faltaremos aula e investigaremos isso.-Ben diz.

☆☆☆☆☆☆
Pelo que diz a ficha, Sarah mora com os pais. Não tem irmãos e foi expulsa da última
escola que esteve. Não consta endereço, mas pelo menos temos o nome da última
escola, que é em um bairro da periferia de São Paulo.
Passei a noite examinando as fichas de Aleph e Sarah.
Ben quer ir sozinho, mas estou curiosa e isso tem um interesse pessoal para mim.
Preciso saber qual é a dessa Sarah e vai ser hoje.
Ben vem me buscar. Contei a minha mãe e ela disse que está tudo bem em faltar aula
hoje, mas pediu que eu não contasse ao meu pai.
Nesse momento, ela está recebendo uma velha amiga. Meg seu nome. Ela tem cabelos
castanhos e dois bebês. Gêmeos.
Recebo uma mensagem de Ben dizendo para encontra-lo na escola, pois seu pai insistiu
em deixa-lo lá. Isso dificulta as coisas, pois significa que estamos à mercê do transporte
público.
-Mãe, Ben me pediu para encontra-lo na escola, vou indo.-Digo.
-Espere, nós acompanhamos você, temos que ir aquela farmácia lá perto mesmo.-Minha
mãe diz.
Faço careta.
Amo crianças, mas amo elas longe de mim.
Meg coloca os gêmeos no carrinho e saímos os cinco. No caminho, três pessoas
perguntaram se os bebês são gêmeos. Minha mãe deu três respostas intolerantes a cada
uma delas.
"Ah, não. Um deles é dublê de ação."
"Pois é, hospital tava em promoção, compre um, leve dois."
"Bom, na verdade eles são de pais diferentes."
Todas as três pessoas ficaram sem graça e a última até acreditou. Mas percebeu que era
apenas sarcasmo no momento que Meg e eu caímos na gargalhada.
Mas minha felicidade não dura muito. Logo volta a pensar que se tivéssemos o endereço
de Sarah, tudo seria mais fácil.
-Então, como se conheceram?-Pergunto a minha mãe e Meg.
-Ela é irmã da minha ex-arqui-inimiga.-Minha mãe diz.
Então me lembro de Meg do livro da minha mãe. Eu a chamava de a garota do cinema.
Claro que seu nome no livro era outro. Acho que era Veronica, ou algo assim.
Ela é apenas alguns anos mais nova que minha mãe.
-E como está Celeste?-Minha mãe pergunta.
Celeste é a irmã de Meg.
A ex-arqui-inimiga de minha mãe. Queria que minha vida fosse tão emocionante quanto
a vida da minha mãe foi.
-Ela está no Japão eu acho. Miguel está com ela. Os dois estão em uma segunda lua de
mel há uns 8 meses ou mais.-Meg diz.
-Bem a cara da Celeste. E a filha deles?
-Está em Nova York com nossa tia. A Gigi é a cópia da Celeste.-Meg diz.
-Late mas não morde.-Minha mãe comenta e as duas riem juntas.
Logo chegamos a escola e vejo Ben escondido. Ele está até engraçado tentando se
esconder atrás de uma árvore.
-Ei. -Digo.
-Foi mal, meu pai pegou o carro, teremos que ir de ônibus. -Ele diz como se esperasse
que eu fizesse um show por termos que ir de ônibus.
-Sem problemas.-Digo.-Onde é o ponto de ônibus mais próximo?
Ele dá um pequeno sorriso e vamos até a esquina.
Ben está acostumado com garotas ficando com ele por seu carro e sua beleza. Ele está
acostumado com essas periguetes.
Não me importo de andar de ônibus. Não me importo de abraçar alguém que esteja
suado, não me importo em ter que dividir a conta. São coisas da vida. Não nasci em
berço de ouro, sei que meus pais trabalham muito.
-Então vamos a antiga escola?-Ben pergunta.
Como tudo seria mais fácil se tivéssemos seu endereço.
-Sim.

☆☆☆☆☆☆
Chegamos a escola antiga de Sarah. Está em horário de aula, então apenas alguns
funcionários estão no local. Ben trocou de blusa dentro do ônibus, de uma forma que
parecemos apenas dois amigos andando por aí.
-Será que alguém aqui se lembra da Sarah?-Pergunto.
-Só tem um jeito de saber.-Ben pega minha mão e entramos na escola.
Vamos direto para a secretaria.
Ben bate na porta e uma mulher alta e morena nos manda entrar. Olho para Ben, um
pouco nervosa e entramos.
-Olá. -Falo.
-O que posso fazer por vocês?-A mulher pergunta.
-Somos estudantes e estamos fazendo um trabalho que temos que descrever a
personalidade de algum amigo e escolhemos a Sarah Lameira. Ela estudou aqui, não é?-
Digo
-A Sarah? Me lembro dela, ótima menina.-A mulher diz enquanto digita algo.
-Estamos falando da mesma Sarah?-Digo.
-Cabelos castanhos, lábios sempre vermelho e bonita?-A mulher diz ainda digitando
algo.
Ela descreveu Sarah, mas ela não é a única Sarah que é desde jeito, não é mesmo?
-Eu tenho uma foto.-Ben diz pegando o celular. Ele mostra a foto a mulher que
finalmente desvia o olhar do computador.
-Sim, é ela.-A mulher diz e volta a olhar pro computador.
Ben e eu nos olhamos.
Ele está pensando o mesmo que eu. Sarah não é uma ótima menina.
-E...o que mais você tem a dizer sobre ela?-Pergunto.
-Ela era simpática, foi uma pena ter saído.
-Você quer dizer, uma pena ela ter sido expulsa. -Ben diz.
A mulher arregala os olhos para nós.
-Ela não foi expulsa, sua mãe a tirou do Colégio, ela foi para o Japão, e deixou a filha
em Nova York, eu acho.-A mulher diz.
-Uma perguntinha, por acaso o nome da mãe dela é Celeste?
A mulher assente.
Meu Deus.
Isso é mesmo possível? Sarah é filha da ex-arqui-inimiga da minha mãe? Meg se referiu
a ela como Gigi, o nome da Sarah, é Sarah Giovanna. Ela é esperta, usa o outro nome
para a família.
Mas então o que ela está fazendo aqui? Pelo que Meg disse, ela deveria estar com a tia.
Tem algo errado nessa história e talvez essa seja a minha carta na manga para Sarah.
-A quanto tempo Sarah saiu da escola?-Pergunto.
-Uns sete ou oito meses.
O que Sarah fez nesse intervalo de tempo? O que a mudou? Por que só agora ela
resolveu voltar a escola e justo na mesma escola de Aleph?
Uma mulher entra e junta o lixo da sala. Ela veste um uniforme velho dos funcionários e
não tem uma cara muito agradável.
-Sarah sempre foi boa pessoa? Quero dizer, nunca a viram confrontar alguém?-
Pergunto.
-Estou achando que seu interesse é mais pessoal do que profissional. Já disse, Sarah era
uma das melhores alunas dessa escola, então se não tiver mais nenhuma pergunta,
podem se retirar, pois tenho muito a fazer.
Ben e eu nos olhamos e nos levantamos. A mulher que estava juntando o lixo da sala
me da um olhar significativo que entendo na hora. Ben e eu saímos da sala e antes que
ele me puxe para conversar, sigo a mulher.
-Onde...?-O repreendo com o olhar antes que ele termine a frase e apenas me segue.
Seguimos a mulher até um pequeno depósito com materiais da limpeza e ela dá um
sorriso quase imperceptível e se abaixa para pegar algo mas acaba derrubando um balde
com vários produtos de limpeza. Me abaixo para ajudá-la a juntar tudo e quando
termino, ela segura meu braço.
-Eu conheço Sarah.-Ela diz.-Aquela vadiazinha.
Não sei porquê, mas essa mulher já me agradou.
-Como a conhece? -Pergunto.
-Ela namora um cara...-A mulher começa.
-Aleph. O que ele tem a vez com isso?-Digo um pouco desesperada.
-Aleph? Não. Ela namora o Diogo, meu filho. Ela está traindo meu filho? Diogo vai
matar esse cara e depois matará ela.-A mulher diz.
Olho para Ben. Se Sarah já tem namorado, o que ela quer com Aleph?
-Não. Ela não está traindo ele. Sabe onde posso encontrá-la? O endereço?-Digo.
-Ela mora com meu filho. Eles devem estar agora ocupados, se quiser vê-la, passa lá a
noite. É o único horário que ela está.
-Tudo bem. Qual é o endereço?
A mulher nos passa o endereço e aproveitamos que Sarah e Diogo estão "ocupados" e
vamos até lá.
Não é longe daqui.
Eu nunca vim a essa parte de São Paulo. Aqui parece que existe um ponto de venda de
drogas a cada casa. Ando agarrada em Ben. Não que eu esteja com medo. É so para
garantir.
Chegamos ao endereço que a mulher nos passou e logo noto que a casa é diferente de
qualquer outra. A casa de Sarah é a mais bonita, uma casa de luxo comparado a todas as
outras.
Ben parece estar pensando o mesmo que eu.
-O que querem aqui? -Um homem alto cheio de tatuagens e barba diz nos assustando.
-Somos amigos da Sarah.-Digo.
Ele tenta nos intimidar. Então mexe na barriga e vejo que ele carrega uma arma.
-Sarah não tem amigos que não sejam daqui. Diogo não deixa.-Ele diz.
-Então ela está mentindo para esse Diogo, pois somos seus amigos.-Falo.
Ele me olha de cima embaixo e dá um sorriso malicioso. Ben fica na defensiva e tenta
ficar na minha frente, mas eu o empurro.
-Ninguém mente para o Diogo.-O homem diz mordendo o lábio.
Levanto a sobrancelha.
Finjo ajeitar a gola da sua camiseta e o sinto vacilar.
-Então...Quem é esse Diogo?-Pergunto.
-Meu chefe, princesa. O dono do bairro.
Ele não precisa dizer mais nada. Essa casa, esse bairro, essas pessoas, a atitude de
Sarah. Posso estar julgando o livro pela capa, mas as vezes, tudo é o que parece.
Diogo é o traficante daqui e Sarah é sua namorada. O que explica toda essa moral que
ela acha que tem.
Esses caras ganham muito dinheiro. Sarah está envolvida com gente errada por causa
disso e Aleph pode estar correndo perigo. Esses caras não brincam em serviço e sei que
eles não gostam que mexam com sua garota.
-Nós vamos indo.-Digo.
O cara segura meu braço.
-A onde pensa que vai? Que tal uma voltinha pela comunidade?-Ele diz me lançando
um sorriso esquisito.
Ben empurra o cara que rapidamente coloca a mão sobre a arma.
-Talvez outra ocasião. -Digo e arrasto Ben para longe dali.
Conto tudo a ele. Tudo que estava passando por minha cabeça e tudo que descobri
baseado no meu raciocínio. Ben concorda comigo. Temos que avisar Aleph. Toda essa
situação pode acabar mal para ele.
Vamos para minha casa, para assim, podermos pensar no que vamos fazer. Meus pais
parecem ter saído.
-Temos que avisar Aleph. -Ela diz jogando a mochila no sofá e se sentando. Sento ao
seu lado.
-Ele é cabeça dura, não vai nos escutar.-Digo.
-Você tem que tentar.
Esse garoto existe? Ben existe? Ele já confessou que me ama e mesmo assim está me
ajudando.
Porque ele me ama.
E ele quer me ver feliz.
Sorrio para ele.
Então meu celular vibra e recebo uma mensagem. Meu coração dispara quando vejo o
nome de Aleph.
Será que ele finalmente se tocou?
Abro a mensagem.
Estela, sei o que você e Ben estão fazendo. Pare. Não quero que ajude, não quero mais
saber de você. Quero que quando me veja, mude de calçada, evite lugares. Você foi
meu pior erro e eu me arrependo de todos os momentos que tivemos. Nunca falei tão
sério e se estou falando isso por mensagem, não é porque sou covarde, e sim porque
não quero ver você nunca mais.
Solto o celular no sofá e desabo no choro. Não acredito que Aleph disse isso. Quer
saber? Cansei.
Aprendi com minha experiência com Ben. Não vou mais correr atrás de quem não quer
meu amor. Posso amar Aleph mais do que qualquer coisa, mas trouxa, não serei mais.
Vou ama-lo calada. Todo amor que sinto, as vezes vira ódio e outras o mais puro amor.
Agora, é algo no meio disso.
Ben parece ter lido a mensagem, pois me abraçou com tanta força que me faltou o ar.
-Eu estou aqui. Eu sempre vou estar.-Ele diz.
Então faço algo que foi tão espontâneo quando a teoria ridícula de Aristóteles sobre a
geração espontânea.
Eu o beijo.
Capitulo 22
-Ben...desculpa, não seu porque fiz isso.-Digo me afastando de Ben.
Ao contrário de mim, ele tem um grande sorriso no rosto.
-Não tem porquê se desculpar.-Ele diz.
-Não posso fazer isso, pois para mim, não significa nada, e vou apenas te iludir.
Ele passa o polegar na minha bochecha e me olha nos olhos.
-Eu sei. Sei no que estou me metendo e quero ficar com você, mesmo que você me iluda
e me largue depois.
Fico sem palavras.
-Ben...
-Eu te amo. Não importa o que você diga ou faça, eu te amo e isso é problema meu.
Ben está aqui por mim. Ben é o único que está me segurando nos últimos tempos, é
quem me trata como se fosse sua vida e repete que me ama sempre que pode. É Ben que
demonstra isso a cada gesto, que está me arraçando sorrisos quando o que eu mais quero
é chorar.
É tudo Ben.
Mas ele é apenas Ben.
-Por favor, você vai apenas se ferir.
-E você acha que eu não sei? Acha que eu não sei que tudo que estou fazendo, apenas te
aproxima mais dele? Que eu estou praticamente te entregando de bandeja à ele? Mas eu
não ligo. Não ligo, pois é o único meio que encontrei de estar com você. Mesmo que
isso acabe mal para mim.
O abraço forte. Nesse momento, só consigo pensar sobre o que Ben fez por mim. Sou
grata a ele por isso, e queria poder retribuir do mesmo jeito.
Ele me faz bem.
Estar com ele me faz bem. Afasta um pouco os meus pensamentos de Aleph. De tudo o
que está acontecendo.
E talvez eu deva seguir em frente. Aleph deixou claro que não quer me ver. Que não me
quer por perto.
Talvez eu deva guardar essa dor de não tê-lo aqui, dentro de mim e tentar algo com Ben.
Tentar ser feliz com alguém que eu sei que me ama.
-Obrigada. -Sussurro a ele.-Não vou mais atrás de Aleph.
Ele me olha surpreso.
-Mas você o ama.
-Eu sei. Mas ele não me ama. Vou fazer o que ele pediu.-Falo.
Ben franze o cenho.
-Então tudo que passamos foi em vão? -Ele pergunta.
-Não. Descobrimos quem Sarah é e temos algo contra ela, caso ela queira se vingar de
mim.
-Justo. Mas poderíamos usar isso para tirar Aleph dessa.-Ben sugere.
Ele está certo. Mas após aquela mensagem, meu orgulho levantou uma muralha em
volta do meu coração.
-Ele sabe no que está se metendo.-Falo por fim.
-Está bem.
Ben vai embora e me afogo em meus edredons. Maresia passa a noite na minha cama e
tento levar meus pensamentos a algum rumo que não seja Aleph, pois estou cansada.
Não aguento mais suas mudanças de sentimentos. Um dia ele me ama e no outro me
odeia. Não tenho saco para aguentar isso.

☆☆☆☆☆☆
Mais uma semana, e Aleph não veio para aula. Tenho andado com Ben nos ultimos
dias. Ele me trata como uma princesa e isso me incomoda. Todos da escola vêm me
dizer que eu finalmente estou com o cara certo. Ninguém além de Gusta sente falta de
Aleph. São todos falsos, que quando Aleph era o popular, não faltava gente perto dele,
agora, as pessoas só usam palavras feias para descreve-lo.
Ele que parecia ter diversos amigos, acabou que no final, dois ou três se importam
apenas.
E mais uma vez meus pensamentos são levados a ele.
Eu não durmo desde o dia que recebi aquela mensagem. Quero dizer, dormi umas duas
horas aquele dia e no outro uma hora, mas depois disso, não preguei o olho. Posso até
estar virando um zumbi e juro que hoje de manhã, vi um cavalo atravessando a cozinha.
Talvez eu deva dormir para parar de ter alucinações. Isso está me deixando louca.
-Estela, quer uma carona? Duvido que você queira andar na rua desse jeito.-Ben diz.
Hoje foi o trote do terceirão. Nada demais, apenas pintamos as caras, usamos roupas
coloridas e fizemos algumas pegadinhas.
Em outra época, Aleph, Gusta e eu teríamos feito desse trote, o melhor. Entraria para a
história do Colégio. Mas agora são outros tempos.
-Aceito sua carona.-Digo.
-Então...se decidiu?-Ele pergunta assim que entramos no carro.
Ben me fez uma proposta. Ele me pediu em namoro, mas me deu total liberdade para
sair do namoro sem precisar dar explicações. Mas acho que não estou pronta para isso
ainda. Não estou pronta para seguir em frente assim.
Talvez eu deva esperar que essa sensação de que no meu peito, não há um coração,
acabe.
Se um dia acabar.
A sensação é que não tenho coração. Quero dizer. Tem algo pulsando dentro de mim, é
evidente, senão eu não estaria viva. O que não tem, é todo aquele sentimento e todas
aquelas emoções que o cérebro nos proporciona e colocamos a culpa no coração.
Eu não sinto nada. Não sinto medo. Não sinto dor. Não sinto alegria. Apenas aquela
momentânea, que acaba assim que minha mente volta à tona.
-Não Ben. Desculpe.
-Ei, tudo bem. Você sabe que eu te entendo.-Ele diz.
Dou um leve sorriso forçado a ele e seguimos. Encosto a cabeça na janela. Fixo minha
visão em um ponto e fico assim.
Então eu vejo Aleph. Tem um cara dando socos nele e o arrastando para um beco. Então
ele some.
-Ben! Eu vi! Era ele! Eu sei que era, Aleph está ali!-Grito.
Ben para o carro bruscamente.
-Não tem nada ali, Estela.-Ele diz.
Pode ter sido por um breve momento. Mas eu vi. Era ele.
-Vamos lá ver.-Digo.
Ben estaciona o carro e vou determinada até o beco. Ele segue atrás de mim.
Pela primeira vez nessa semana, meu coração bate forte. Por nervosismo, pois sei que
era Aleph e ele estava correndo perigo.
Entramos no beco.
Mas não há nada. Está vazio e é sem saída. Não tem como Aleph ter saído e eu não ter
visto.
-Eu falei. Não há nada aqui.-Ben diz.
-Mas eu vi! Era ele! Ele estava levando socos e...Era ele!-Digo nervosa.
Minhas mãos tremem e não sei o motivo. Droga! Era ele. Eu sei que era.
Ben vem até mim, devagar.
-Estela, há quanto tempo você não dorme?-Ben pergunta.
Minhas olheiras estão tão feias assim?
-Alguns dias.-Respondo.
-E você já teve alguma alucinação ou algo parecido?-Ele pergunta.
-Talvez.-Respondo.
Não vou admitir que fiquei louca.
Ben me olha preocupado. Oh não. Eu sei o que ele está pensando. Ele acha que o que vi,
foi uma alucinação.
-Tem chances de o que você viu...-Ele começa e eu o interrompo.
-Não. Não se atreva a dizer isso. Eu sei o que vi.-Falo.
-Sabe, é normal quando se passa alguns dias sem dormir, ter alucinações. Nada grave,
apenas alguns segundos que sua mente viaja.
-Eu sei, Ben. Mas aquilo não foi uma alucinação. Eu vi Aleph.-Digo passando por ele e
indo até o carro.
-Só estou preocupado. Por favor, durma hoje, ou serei obrigado a conversar com seus
pais.-Ele diz vindo atrás de mim.
Se meus pais souberem, vão me obrigar a dormir.
-Não faça isso. Eu vou dormir hoje. Prometo.-Digo.
Não é difícil mentir para as pessoas que gostamos.
Isso parece tranquilizar Ben. Não vejo mal em uma mentira que deixará a pessoa feliz.
Chegamos em casa e vou direto para meu quarto. Deito e fico olhando para o teto como
se de alguma forma Aleph fosse sair dali e me explicar tudo.
Mas isso não vai acontecer.
Porque Aleph não que me ver.
Parecem ter dois pesos debaixo dos meus olhos. Às vezes, o quarto gira e viajo para
outra dimensão, mas são apenas meus pensamentos.
Após alguns minutos recebi mensagens de Gusta e Sophia preocupados. Ben deve ter
contado tudo a eles.
Agora meus amigos acham que sou louca.
Não respondo e logo Sophia me liga. Desligo o celular, volto minha atenção ao teto e
penso no que vi hoje.
Aquilo não parecia uma alucinação. Aquilo foi tão real quanto esse momento.
Então ouço batidas na porta.
-Estela, Sophia está aqui.-Minha mãe diz.
Mas será possível? Não posso ficar sozinha?
Abro a porta e Sophia entra.
-Que história é essa de você não estar dormindo e tendo alucinações? -Ela pergunta.
-Foi só uma vez e eu não estou louca.-Falo.
-Ben me contou que viu Aleph hoje. Estela, não vê que foi apenas uma travessura do
seu cérebro? Ele apenas fez você ver o que queria. Aleph.
-Aleph sendo atacado.-Corrijo-a.-Você acha que é isso que quero ver? Se fosse uma
alucinação, ele estaria cantando um jazz antigo e dançando em um poste de cueca.
Aquilo foi real.
Sophia suspira.
-Você não está bem. Prometa que vai dormir hoje ou eu fico aqui para garantir.-Ela diz.
-Eu prometo. - Minto.
Ela relaxa o corpo.
Menti por uma boa causa. Ela está menos preocupada e vai embora.
Sophia se despede e a observo sair.
E mais uma vez, passo a noite em claro, até que em um momento, eu apago
completamente.
Ouço batidas. Um som abafado de algo batendo diversas vezes no vidro seguido pela
voz abafada de Sophia me mandando abrir o olhos.
Então a obedeço.
Abro os olhos devagar e a vejo através do vidro. Então percebo que estou no carro. Com
uma mão na chave e a outra no volante.
-Abre isso.-Ela diz furiosa.
Destravo o carro e Sophia abre a porta.
-O que está fazendo no carro?-Ela pergunta irritada.
Tento puxar da memória, mas a última coisa que me lembro, é de apagar na minha
cama.
-Eu não sei.-Digo.
-Pois eu tenho uma ideia. Por causa da sua falta de sono, você virou sonâmbula e veio
até o carro. E sabe como eu sei? Porque eu vim cedo para vez você e garantir que tinha
dormido e vejo você vindo até o carro de olhos fechados. Demorei para perceber que
você estava dormindo.
Ainda me sinto um pouco grogue. Encosto minha cabeça no banco e respiro fundo.
-Você tem noção do que poderia ter acontecido se eu não tivesse chegado?-Sophia diz.-
E se sua mãe tivesse te visto? Anda logo, sai daí.
Ela me ajuda a sair e me leva até meu quarto. Deito na cama e tento segurar um bocejo,
mas é impossível. Isso é pior que ressaca.
-Você ainda tem dúvidas se isso está te afetando? Se o que você viu ontem era ou não
real?
Será? Será que foi apenas um truque da minha mente? Quero dizer, eu não lembro de
absolutamente nada e acordei no carro.
Se aquilo que pareceu tão real, foi um truque da minha mente, o que mais foi? O que
mais eu acho que foi real e não foi?
-Você está certa.-Digo.
Sophia levanta as sobrancelhas, surpresa.
-Sério? Fácil assim? Você realmente não está bem. -Ela diz.-Vou trazer café.
Ela se vai.
Alucinação ou não, aquilo pode ter sido algum sinal. E se Aleph realmente não estiver
bem? Tenho uma sensação ruim dentro de mim.
Sei que ele disse que não quer mais me ver. Mas não posso ignorar isso. Só preciso
saber se ele está bem, aí o deixo em paz. Ele não precisa nem me ver. Eu posso vê-lo de
longe e ir embora.
Assim que Sophia volta, digo a ela minha ideia e ela concorda se eu dormir. Aceito a
oferta.
Ela diz aos meus pais que peguei uma gripe e vou passar o dia de cama. Nem vejo
quando ela sai. Durmo até minha barriga roncar com o cheiro da janta.

☆☆☆☆☆☆
-Eu não esperava que todos viessem.-Digo.
-Quero notícias do meu melhor amigo.-Gusta diz.
-Quando foi que eu deixei vocês dois se meterem em encrenca sozinhos?-Sophia
pergunta.
-Estou aqui por você. -Ben diz.
Pedi que um deles me acompanhasse até a casa de Aleph. Não quero ir sozinha, mas
todos vieram.
-Vocês são os melhores.-Digo.
Entramos no carro e vamos todos até a casa de Aleph.
Assim que chegamos, minhas pernas tremem. Minhas mãos tremem. Meu mundo treme.
Ele dá aquela balançada de sempre ao ver Aleph.
Vamos até a porta e travo antes de bater.
-Quer que eu faça? -Gusta pergunta.
-Não. Eu consigo.-Digo.
Bato na porta e assim que a maçaneta gira, quero dar meia volta e ir pra casa.
Mas não é Aleph que abre.
É Camy.
-Estela!-Ela diz.
-Eu só quero saber se Aleph está bem, por favor, mesmo que ele tenha dito para você
não falar nada, eu preciso saber.-Digo.
Ela me olha confusa.
-Estela, Aleph não está aqui. Ele não aparece em casa para dormir há algum tempo, mas
aparecia todas as manhãs para buscar algo. Porém, ele não apareceu hoje.-Ela diz.

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 23
-Como assim?-Digo já assustada.
A imagem de Aleph levando vários socos e sendo arrastado para o beco se repete várias
vezes na minha cabeça e mais uma vez considero a ideia de tudo ter realmente
acontecido.
-Ele não veio. Já liguei e ele não retorna.-Ela diz.-Mas deve estar tudo bem, deve ter
acontecido um imprevisto e ele não pôde vir.-Camy diz.
-E você acredita nisso?-Pergunto e ela fica calada.-Você sabe o tipo de gente com quem
Aleph está andando? Sabe no que ele anda se metendo?
Ela balança a cabeça.
-Não. Mas uma vez, ele trouxe uma garota. Ela era...Terrível.
-Terrível como?-Sophia pergunta.
-Na nossa frente, ela parecia um amor de pessoa, mas os dois ficaram sozinhos no
quarto, e ela me intrigou, pois ele ainda estava com você na época, então eu escutei
atrás da porta e ela parecia mandar nele. Foi estranho.
O mais estranho, é que Sarah entrou no Colégio três dias após Aleph e eu brigarmos,
então eles tinham contato antes disso. Será que Aleph estava me traindo? Não seria uma
tração, já que não tínhamos compromisso, mas...para mim seria.
-E você sabe onde ele está morando?-Gusta pergunta.
-Não. Ele brigou com nosso pai, então não quis me dizer onde está, pois tem receio que
nosso pai vá procurar por ele.-Ela diz.
Tem um grande aperto no meu coração. Aleph não está bem e eu não posso fazer nada
para ajudá-lo. Ele não quer me ver.
Nos despedimos de Camy e vamos para o carro.
-Temos que encontra-lo.-Gusta diz.-Se o que a Estela viu foi verdade, ele está ferrado.
-Vão vocês, ele não quer me ver.-Digo.
Ben chega mais perto de mim.
-Você não acha que tem chances de a Sarah ter mandando aquilo para você e não ele?
Quer dizer, ela enganou a própria mãe, pode fazer isso.-Ele diz.
Será?
Ela é capaz disso.
Ben está fazendo algo perigoso. Ele está me dando esperança. Isso pode acabar com
qualquer coração.
Mas eu posso me sustentar nessa esperança por enquanto.
Sorrio para Ben.
-Vamos acha-lo.
-Minha garota.-Gusta diz e damos um toque.
Ele parece feliz, mas quem conhece ele, pode ver sua preocupação estampada no seu
tique nervoso na perna. Chega a dar agonia.
-Por onde começamos?-Sophia pergunta.
-Meus pais tem um amigo policial. Você o conhece, Gusta. É o Caleb, posso pedir a ele
que me ajude a rastrear o celular de Aleph.-Digo.
-Vão vocês dois, Sophia e eu podemos ir atrás de Sarah e Diogo.-Ben diz.
-E onde é isso?-Sophia pergunta.
Olho para Ben.
-Nem queira saber.-Digo.

☆☆☆☆☆☆
Enquanto Gusta e eu convencíamos Caleb a nos ajudar, Ben e Sophia foram atrás de
Sarah. Se essa vadia tiver alguma coisa a ver com o desaparecimento de Aleph, eu juro
que acabo com a vida dela.
Liguei para Caleb minutos atrás e estamos a caminho da delegacia. Disse a ele que
Gusta perdeu o celular e tem algo muito importante lá, e precisamos acha-lo.
Ele estranhou, mas aceitou fazer isso por baixo dos panos. Aposto que nenhum dos seus
colegas aceitaria ele usar o trabalho para caprichos de dois adolescentes de 17 anos.
-Será que Sophia e Ben já chegaram?-Pergunto a Gusta que não tira o olho do celular.
-Recebi uma mensagem há 4 minutos dizendo que eles acabaram de chegar.
Gusta está preocupado. Lá não é nenhum morro do Alemão, mas é perigoso. Ainda mais
se forem mexer com o "chefão". Entendo sua preocupação.
-Vai ficar tudo bem. Você à conhece. É só ela abrir a boca para falar das ações
feministas, que todos vão sair de perto dela.-Digo.
Ele ri. Assente e entramos na delegacia.
Vejo Caleb e longe. Ele é um quarentão irresistível. Ninguém sabe por que ele está
solteiro, mas tenho uma ideia.
Noto quando uma pessoa gosta de outra. É só prestar atenção nos olhares, e tenho visto
isso em Caleb por anos. Mas nem sempre seus olhares são para uma mulher. Posso estar
completamente errada, mas Caleb joga no mesmo time que eu.
-Estela, Gustavo.-Ele cumprimenta.
Caleb é alto. Barba malfeita e feições bonitas. Pode ser meio nojento falar da bunda de
um cara de quase quarenta anos, mas...bom. É isso.
-Caleb.-Eu e Gusta dizemos juntos.
-Então, qual o número que tenho que rastrear?-Ele diz com um sorriso.

☆☆☆☆☆☆

-Que demora pra rastrear um celular.-Gusta diz.


Dou um tapa nele.
-Fala baixo.
Estamos a bastante tempo aqui. De fato, está demorando, mas não é pra tanto. Sophia
me ligou há 20 minutos e disse que Diogo está em casa, mas Sarah não. Eles
perguntaram onde está Aleph e Diogo apenas riu e mandou eles irem embora. Sophia
quis discutir, mas Ben a tirou de lá e agora eles estão vindo para cá.
Agora, mais do que nunca, estou com medo. Aconteceu algo com Aleph, é óbvio. E se
isso foi ontem, estou com medo de como vou encontra-lo. Só espero que ele esteja bem.
É meu único pedido.
-Estou com medo, Gusta.-Falo.
Ele aperta os lábios e me abraça.
-Vai ficar tudo bem.-Ele diz no meu ouvido.
Caleb volta com uma cara desconfiada.
-Encontrou?-Pergunto.
-Não é seu celular, não é Gusta?-Ele diz.
Engulo seco e sinto Gusta fazer o mesmo.
-Talvez.-Ele diz.
Caleb solta um suspiro.
-Seja o que for, está longe. O celular se encontra em um galpão quase fora da cidade,
estou imprimindo o endereço.-Ele diz e uma mulher entrega um papel a ele. Ele revisa o
papel e me entrega.-Na próxima vez que quiser achar seu namorado, fale a verdade, será
uma honra dar um susto nele com você.
Caleb pisca e eu sorrio. Ele provavelmente deve ter checado as informações do
aparelho.
-Muito obrigada!-Digo.
-O que perdemos? Acharam seu celular, amor?-Sophia chega com Ben atrás dela.
Caleb dá um sorriso debochado da atuação fajuta de Sophia.
-Achamos.-Caleb diz.
-Que bom, Gusta é tão descuidado, deixa em qualquer lugar.-Ela diz.
Caleb tira o celular do bolso.
-Eu entendo, sou do mesmo jeito. -Então o celular de Gusta começa a tocar no seu
bolso.-Ah, desculpe, liguei sem querer...Mas não havia sumido?
Sophia fica branca e Gusta e eu rimos com Caleb.
-Ele está só tirando uma com sua cara.-Falo e ela fica vermelha.-Obrigada Caleb, até
outro dia.
Saímos da delegacia e vamos correndo para o endereço. Não literalmente correndo,
vamos no carro de Gusta.
Eu começo a me desesperar quando vejo a placa de saída da cidade.
-Aí Meu Deus, pensem bem, se vocês fossem matar alguém, matariam no centro da
cidade ou em um galpão à 20 quilômetros da cidade? -Pergunto.
-Calma, ele está bem, sabe como aquele lá é teimoso.-Ben diz.
-E cabeça dura.-Gusta diz.
-Vaso ruim não quebra. -Sophia comenta.
Respiro fundo. Conto os segundos até chegar a um galpão no meio do nada. Tem uma
Fazenda próxima, mas parece abandonado.
Gusta estaciona o carro e todos saímos.
-Nós vamos primeiro.-Ben diz a Gusta e ele concorda.
-Não, quero vê-lo.-Digo.
-Você vai vê-lo, mas por favor, deixa a gente ir primeiro.-Gusta diz.
Olho para Sophia e ele parece concordar com ele. Dou um suspiro como resposta e
vamos atrás deles. Paramos na porta e Gusta faz um sinal para esperarmos. Ele e Ben
abrem devagar e então escancaram a porta e saem correndo.
Desespero me consome. Corro atrás deles me libertando dos braços de Sophia e paraliso
quando vejo Aleph no chão. Tem um cobertor nos seus pés e ele parece estar algemado
a uma mesa. Seu olho está roxo e tem sangue saindo do seu nariz.
Sua blusa tem uma mancha de sangue, mas parece que ele limpou as mãos lá. Fico
paralisada. Sem reação.
Gusta e Ben tentam quebrar a algema enquanto Aleph está meio grogue.
-Vadia...-Sophia sussurra atrás de mim.
Olho para ela e sigo seu olhar. Sarah está com o telefone de Aleph no ouvido e está
olhando a cena com grandes olhos assustados.
Vou até ela pisando forte, determinada a quebrar seu pescoço.
-Eu vou acabar com você.-Digo.
-Um toque e eu ligo para Diogo, duvido ele deixar Aleph sobreviver dessa vez.-Ela diz.
Paro no lugar.
-Você se acha muito esperta, não é? -Sophia diz.
Sarah dá de ombros.
-Tenho meus momentos.-Ela retruca.
-Se você tivesse o matado...-Começo.
-Iria fazer o que? Ah, por favor, se eu quisesse ele morto, ele já estaria morto. Diogo até
quis, mas eu não deixei.-Ela diz orgulhosa.
-Se você tocar um dedo nele, eu conto seu segredinho, Sarah, ou devo dizer Gigi. -Falo
e ela abaixa o telefone.
-Como?-Ela pergunta.
-Não é a única que tem seus momentos. O aviso está dado.-A olho de cima embaixo.-
Vamos Sophia.
Pego o celular de Aleph na sua mão e dou meia volta. Os garotos parecem ter
conseguido tirar as algemas, pois já estão no carro, então Sophia e eu vamos correndo
até lá.
Ben e Gusta já estão no banco da frente. Aleph está deitado no detrás. Entro e coloco
sua cabeça no meu colo e Sophia faz o mesmo com os pés.
Ele parece estar consciente, mas sua mente parece estar em outro lugar.
-O levamos para o hospital?-Sophia pergunta.
-Não!-Aleph diz.-Pra casa, mas não para a minha. Para a toca do coelho!
-Ele deve estar dopado ou algo assim, vamos levar pra minha casa.-Gusta diz.
Aleph dorme assim que entramos na cidade. Eu acaricio seu rosto. Estava com tanta
saudade disso. Tudo que importa é que ele está bem.
E se ele quiser ver minha cara de novo, estarei sempre ao seu lado. Independentemente
de qualquer coisa.
Chegamos a casa de Gusta e os garotos o levam para o quarto dele. Rafa e Andreia
parecem não estar em casa. Sophia faz um chá e eu limpo seus ferimentos.
Ele ainda está dormindo.
Mais tarde ele acorda.
Sophia deixou o chá e todos me deixaram a sós com ele.
Ele abre os olhos devagar. Sorrio não contendo minha felicidade de vê-lo bem. Sirvo
uma xícara de chá e entrego a ele enquanto se senta.
Ele me olha desconfiado.
-O que faz aqui?-Ele pergunta após dar um gole no chá
-Eu fiquei preocupada.-Digo.
Ele dá um risada sem humor que me assusta.
-Sei. Já pode ir embora, ou você esqueceu da mensagem?
Engulo seco. Então era verdade. Não foi Sarah que escreveu, foi Aleph.
-Não esqueci. Eu só precisava ver se você estava bem. -Digo.
-Já viu, pode ir embora.
Fico irritada. Tudo bem que ele não queira me ver, mas sou a única idiota que morreria
por ele. Ele devia pensar sobre isso.
-Você é um insensível! Saiba que se não fosse por mim, você ainda estaria naquele
lugar!-Digo e saio batendo a porta.
Gusta, Sophia e Ben me olham assustados.
Vou até Gusta.
-Vai lá e conversa com aquele imbecil e depois me conta o que aconteceu, pois apesar
de tudo, isso me interessa.-Digo.
-E você, me acompanha até em casa?-Pergunto a Ben.
Ele assente e saímos.

☆☆☆☆☆☆
Imbecil.
Um grande imbecil.
Queria poder odiá-lo.
Queira poder esquece-lo e viver minha vida.
Mas nem tudo é do jeito que queremos, não é?
Gusta chegou a poucos minutos. Está na minha frente prestes a me contar o que
aconteceu com Aleph.
-Desembucha.-Digo.
-Parece que a Sarah queria se vingar dele por ter largado ela. Ela disse que se ele não a
ajudasse, ela machucaria você. Ele não obedeceu e você foi assaltada. Ela mandou ele
pegar seu celular, então aconteceu aquele episódio do banheiro. Ele não ficou realmente
com raiva, mas Sarah mandou ele se afastar de você. Ele teve que fazer alguns
trabalhos, como cobrar uns drogados, coisa leve. Aí Diogo descobriu tudo e achou que
Aleph estava atrás da Sarah, o que resultou nele no galpão. Sarah não deixou matarem
ele. Sabiam que estávamos indo até lá.
Até que faz sentido.
Aleph está nisso por mim. Não é à toa que não me quer por perto. Se ele está do jeito
que está, a culpa é minha. Mas poderíamos resolver isso de outro jeito. Pena que Aleph
é cabeça dura.
O que me intriga, é saber o que Sarah queria com meu celular.
O melhor a fazer, é me afastar. Vi seus olhos hoje. Vi como ele se sente perto de mim,
não é nada parecido há alguns meses atrás. Não é nada parecido com o ano novo ou o
Carnaval. Aqueles foram os melhores dias da minha vida e é difícil aceitar que aquilo
mudou assim tão rápido.
-O que vai fazer agora?-Gusta pergunta.
-Eu não sei.-Digo.
Capitulo 24
Esquece-lo.
É isso aí, preciso esquece-lo.
Afinal, eu estou aqui há ONZE DIAS.
Onze dias sem sair de casa, a não ser, ir para a escola, pois meu diploma de engenharia
não vai se conquistar sozinho.
Mas fora isso, virei uma múmia.
Tenho que parar de toda vez que eu tiver um problema, me esconder no meu quarto. As
pessoas desistem de gente assim. Não é à toa que Aleph desistiu de mim.
Recebi notícias dele semana passada. Ele está em casa. Se reconciliou com o pai e está
feliz! Ótimo para ele, pois estou aqui sofrendo por alguém que não quer nem saber de
mim.
Eu me arrependo completamente de ter aceitado aquela proposta. Tudo por causa de
uma amizade colorida que não deu certo. É claro que não deu certo. Onde eu estava com
a cabeça, quando aceitei aquilo?
Dói. Dói muito.
As pessoas vêm até aqui e dizer que o tempo vai resolver. Só consigo ter pena do
tempo. Sentado em uma mesa com milhões de problemas para resolver.
Eu descobri que desapegar de alguém que você ama, é morrer todos os dias. Pois aquela
pessoa traz a vida a você.
Eu não quero uma vida! Eu não preciso da vida que Aleph traz para mim! Eu não
preciso dele. Eu estou com raiva. Estou com tanta raiva que seria capaz de dar um tiro
na cara dela...e depois ir cuidar.
Isso é patético.
Estar aqui é patético.
Eu sou patética.
É sábado! Eu deveria estar me arrumando para ir a uma festa, ou indo ao cinema assistir
um filme qualquer de super-herói, mas não. Eu estou aqui afogada na minha própria
saliva.
Foi assim que descobri que eu babo enquanto durmo.
-Estela, Sophia está aqui! -Minha mãe grita.
-Diga a ela que estou no banho e não vou sair tão cedo.-Grito de volta.
Segundos depois minha mãe entra no quarto.
-Nós duas sabemos que você não vai tomar banho tão cedo. -Ela diz.-Você é igualzinha
seu pai nessa coisa de sofrer.
É claro que eu tomo banho. Mas não com tanta frequência.
Minha mãe se aproxima e senta ao meu lado.
-Eu lembro de uma vez...na verdade, foi sua avó que me contou essa história, você tem
que ouvi-la contando, é hilária. Então, seu pai e eu havíamos brigado e eu fiquei na casa
do Rafa, aí ela foi visitar ele e ela não conseguiu passar da porta. Seu pai estava a dias
chorando e deitado no seu quarto sem tomar banho.
Sorrio. Isso é a cara do meu pai. Até entendo ele. Não tenho vontade e levantar da cama
e não vou ver ninguém.
-Respeito sua privacidade, mas estou sempre aqui para te ouvir, e isso ta cheirando a
Aleph. Só ele consegue fazer você ficar assim.
-Eu não gosto dele.-Digo mais para mim mesma do que para ela.
Talvez se eu fazer as pessoas acreditarem nisso, eu também acredite.
-Sei. Se você pudesse ver o brilho nos seus olhos apenas com a menção do nome
dele...mas tudo bem, se quer se convencer disso, eu aconselho filmes melosos e a
companhia de um amigo. Funcionou para mim.
Com ela pode não ter colado, mas é porque é minha mãe. Ela me conhece melhor do
que ninguém.
Dou um pequeno sorriso a ela e assinto.
Ela beija minha cabeça e sai.
Para um sábado, até que passou rápido. Prometi a mim mesma que tentaria dormir para
não ficar tento alucinações como na última vez.
Acordei com batidas na porta e o belo rosto de Ben na minha porta.
-O que você quer?-Pergunto.
-Quero que saía dessa cama, pois hoje é domingo e dia será nosso e não aceito não
como resposta.-Ele diz.
-Não.-Sussurro e dou um sorrisinho quando sua cara se fecha. Embrulho minha cabeça,
então sinto o cobertor sendo tirado de mim a força.
-Eu poderia estar nua. -Falo pegando o cobertor de volta.
-Eu estava contando com isso.-Ben diz.
Reviro os olhos.
-Você tem dez minutos pra sair desse pijama, vou espera-la na sala.-Ele diz e sai.
Impressionante. Domingos foram feitos para descansar, para ficar em casa e dormir.
Mas de acordo com a lógica idiota de Ben, hoje o dia é nosso.
Me visto rápido e encontro Ben na sala conversando com minha mãe. Eles me veem e
param de falar.
-Sobre o que estavam falando? É sobre mim, não é? -Pergunto.
-Só estava dizendo a Ben como você ta por causa do Aleph. -Minha mãe diz.
Reviro os olhos.
-Eu já superei. Não gosto mais dele.-Falo e aponto para Ben. -E você tem que me levar
para curtir o dia e vamos começar indo a alguma lanchonete.
Ben sorri.
-Essa é a Estela que conheço.
Tenho vontade de dizer a ele que essa Estela, ninguém conhece e muito menos ele, pois
nunca precisei fingir sentimentos e ainda mais esconde-los, mas fico calada.
Ben coloca uma música qualquer de uma banda qualquer, eu realmente não estou
ligando, só quero que esse dia acabe logo, e aí será amanhã e os dias irão passar e quem
sabe, o tempo resolve me ajudar com meu problema.
Chegamos a uma lanchonete. Ben abre a porta para mim e me seguro para não revirar os
olhos e apenas abro um sorriso. Não é ele, sou eu. Eu sou o problema.
Sentamos em uma mesa. Ben escolheu uma perto da janela, onde posso ver o
movimento da rua. Como estou sem vontade de conversar, finjo estar extremamente
interessada no tráfego de pessoas e carros.
Ben pede nossos lanches e consigo ver pelo canto do olho que ele está tentando me
fazer olha-lo.
O cara saiu da casa dele para tentar me animar e me trouxe a uma lanchonete. Acho que
devo pelo menos isso a ele, então olho para ele.
-Eu tenho notícias de Aleph.-Ben diz.
Aleph. Seu nome agora, parece algo perdido, uma história mal resolvida, algo que não
vale a pena lembrar.
-Não quero saber. Eu não gosto dele.-Falo.
-Eu falei com ele, ele perguntou de você...
Balanço a cabeça. Não quero ouvir nada sobre Aleph. Não quero me encher de
expectativa de novo. É uma das piores dores, quando você mesmo se ilude com
expectativas e no final dá tudo errado.
-Para. Eu disse, não quero saber. -Digo olhando nos olhos dele.
Ben parece assustado. Ele assente e volto minha atenção a janela.

☆☆☆☆☆☆
Eu não gosto de você.
Eu não gosto de você.
Eu não gosto de você.
Você é um idiota.
Eu não gosto de você.
Você me fez sofrer.
Eu não gosto de você.
Me fez acreditar que era possível um "nós".
Eu não gosto de você.
Cada vez que penso nessa frase, dou um sorriso a Ben para mostrar que estou me
divertindo.
Afinal, não é todo dia que alguém me traz ao circo.
Como foi o espetáculo? Pergunte a Ben, ele assistiu, eu apenas estava viajando como
sempre fazia. Tenho a capacidade de sair totalmente da realidade sem mexer um dedo.
Ben me deixou em casa e o agradeci pelo dia.

☆☆☆☆☆☆
Hoje, consegui convencer a todos com minha atuação barata que não gosto dele.
Todos acreditaram. Sou uma ótima atriz, tenho que admitir. Falei a todos eles que Aleph
me fez sofrer tanto, que não sobrou sentimentos por ele. Agia normal quando seu nome
era citado, como se não houvesse nada demais nisso. Como se ele fosse um
desconhecido.
De fato é.
Aleph mudou tanto que nem o conheço mais.
Ele não é o mesmo Aleph que cuidou de mim no ano novo e nem o mesmo Aleph que
deixou de ir para o Carnaval, para assistir um filme na sala comigo.
Hoje finalmente acabou e está começando o amanhã. Não vejo a hora do tempo agir.
Não vejo a hora de tudo voltar a ser como era antes. De essa bola no meu peito ir
embora, dos calafrios na barriga só de pensar em pensar nele, não existirem mais.

☆☆☆☆☆☆
É final de semana de novo. Nessa semana, nem sei quantas vezes repeti a frase "Eu
estou ótima!" Com um sorriso no rosto.
Sophia me chamou para ir a uma festa, mas já tenho compromisso e deixei isso claro
para ela e Gusta. Eu disse a onde ia, mas não disse com quem ia, ou melhor, com quem
eles acham que eu vou, pois, a verdade é que vou sozinha e se descobrirem que vou a
um restaurante apenas para pensar, vão me chamar de louca, mas eu passei por lá ontem
e era perfeito. O restaurante era perfeito. Não muito lotado, mas todas as pessoas tinham
um sorriso no rosto.
Não sei o que deu na minha cabeça, talvez realmente seja a minha sanidade mental
sendo afetada pelas mentiras que conto. Mas não são mentiras quando estou lutando
para acontecer e quando acontecer, eu falo a verdade.
Pego minha bolsa e vou andando até o restaurante. Olho pelo vidro e vejo o mesmo que
vi ontem, apenas com rostos diferentes.
Entro e sento em uma mesa de costas para a porta. Um garçom vem me atender e peço
batatas e um refrigerante. Tiro um livro qualquer da bolsa e finjo ler, mas apenas estou
observando.
Em uma mesa no fundo, tem dois homens de terno batendo um papo animado. Eles riem
mesmo com milhares de papéis espalhados pela mesa. Eles gostam da companhia um do
outro.
A minha esquerda, tem uma senhora de idade, uma mulher mais nova e um menino que
aparenta ter de seis a sete anos, vestido de super-herói. As duas conversam e a mais
velha dá risada quando o menino derruba um copo de suco, enquanto a mais nova briga
com ele.
A minha direita, um casal sentado. O garoto parece familiar para mim...Oh!
É Júlio. E a garota parece ser...a Camy.
Não sabia que Júlio estava na cidade. E muito menos que ele conhecia Camy, mas
parecem bem próximos para mim.
Fico os observando. Quem diria. Era as últimas pessoas no qual eu apostaria, mas
pensando bem, Camy faz o tipo de Júlio. Me pergunto se ele sabe que ela tem um filho.
Mas o que importa? Se ele realmente gostar dela, não vai se importar.
O garçom vem até mim e me entrega as batatas e refrigerante. Ele olha para mim um
pouco confuso.
-Estela?-Ele pergunta.
-Sou eu.-Digo.
-Mandaram eu entregar isso.-Ele me dá um guardanapo de papel e vai embora.
Fico sem entender, mas quando abro, vejo que tem algo escrito. Com certeza, é Júlio
querendo me explicar a cena que vi.
Você está na terceira mesa a esquerda. Está usando a mesma blusa que usou quando
nos encontramos na biblioteca. Você estava linda naquele dia. Eu queria muito
explicar, mas parte de mim sabe que você não vai ouvir, por isso mandarei esse
guardanapo, que era a única coisa que eu tinha para escrever, pelo garçom. Quando
me procurar, estarei no outro lado da rua pegando um táxi, mas esperarei para ver sua
reação, não por você.
Sem mágoa, com amor.
Aleph.
Meu coração acelerou a cada palavra. Olhei para trás e vi apenas o vulto de alguém indo
embora. Me levanto, mas antes deixo dinheiro em cima da mesa, saio correndo até a
entrada ainda a tempo de ver Aleph entrando em um táxi, como prometido. Ele olha
para mim antes do táxi seguir. Dentro dos meus olhos. E só consigo pensar em uma
coisa: Merda, eu o amo.
Por que ele faz isso?
Por que ele me confunde assim?
Mas chega. Acabou essa de criar esperança. Se ele quisesse realmente falar comigo,
teria entrado naquele restaurante e sentado no meu lado.
Guardo o guardanapo dentro do meu livro e vou para casa pensando no que Aleph tem
na cabeça para fazer uma coisa dessa.
Numa semana, ele diz que me ama e estamos juntos, na outra, briga comigo por uma
besteira e diz que não me ama. Depois me beija e diz que me ama de novo, então me
trata mal e manda uma mensagem dizendo para me afastar e esquece-lo.
E agora vem até um restaurante e me manda um guardanapo escrito com coisas que ja
sei, pois, o resumo daquilo tudo, é que ele é um covarde que não se decide.
Minha mente está cheia. Está pesada com tudo que tem acontecido. Decido ligar para
Sophia e tentar desabafar sem falar a verdade.

☆☆☆☆☆☆
Sophia lê o guardanapo pela sétima vez.
-Ele é louco! Ainda bem que você já desapegou. -Ela diz.
-Pois é, imagina se eu ainda gostasse dele, eu estaria no chão.
É onde eu gostaria de estar agora.
-Ainda bem que ele vai embora.-Ela diz.
Não consigo evitar de arregalar os olhos com o que Sophia falou.
-Como assim ele vai embora?-Pergunto.
-Ben não te falou? Aleph vai morar com um tio em Campinas.
Aquele dia que Ben queria me dizer algo sobre Aleph...deveria ser isso. Por que eu não
o ouvi? Eu fingir que não o amo sabendo que ele está aqui, nessa cidade, na sua casa, é
uma coisa, com ele em outra cidade, é outra coisa.
Meu coração aperta. Não vou mais vê-lo. Nunca mais vou ver aquele sorriso malicioso,
ou aquele olhar selvagem. Nunca mais.
Então desmorono. Não vou conseguir continuar com isso.
-Eu menti. -Digo já soluçando. Sinto as lágrimas incontroláveis escorrerem pela minha
bochecha e aquela velha dor no meu peito.
Sophia se assusta e me abraça.
-O que foi? O que você mentiu?-Ela pergunta.
-Eu não gosto dele, mas quando o vejo, meu coração ainda acelera, eu não gosto dele,
mas não consigo evitar calafrios quando seu nome é citado em uma conversa, eu não
gosto dele, só que meu coração não entendeu ainda, eu não gosto dele e nem sei onde eu
estava com a cabeça quando desejei beijar ele hoje, eu não gosto dele e tento fingir pra
todo mundo que isso é verdade, mesmo que não consiga fingir nem pra mim e talvez se
alguém acreditar nessa frase idiota, eu também acredite, mas eu tentei não gostar dele e
apenas consigo não gostar de mim por isso.
Capitulo 25 – Aleph
Uma nova vida.
Foi o que meu pai disse.
Uma nova vida para eu estragar.
Eu não quero ir. Não quero deixar Camy, meu sobrinho, Gusta e ela.
Ela sim. A garota que conseguiu fazer meu coração de pedra, bater. Que consegue fazer
eu fazer coisas que nunca imaginei fazer, coisa que nunca imaginei falar. Eu apenas
olho para ela e me dá vontade de dizer tudo. Eu ajo como um sonâmbulo acordado. Sei
o que estou fazendo, mas não consigo parar.
Mesmo depois de tudo, eu estou aqui. Escrevendo coisas idiotas em um guardanapo
para ela.
Vim até o restaurante para me despedir de Camy e vi ela. Nunca imaginei que ela
estaria aqui. Não consigo entrar. Meus pés estão travados. Eu a olhei e tive vontade de
dizer tudo o que sinto e ao mesmo tempo, vontade de gritar com ela. Para equilibrar,
resolvi escrever o bilhete.
Um garçom passa na minha frente e espero ele chegar perto. Alguns segundos depois
que parecem horas, chamo sua atenção.
-Como posso ajudar?-Ele pergunta.
Entrego o bilhete a ele.
-Pode dar isso à aquela garota? A de cabelos castanhos que está do lado daquele casal?-
Pergunto.
O garçom assente e sai. Fico esperando para ver sua reação. No começo ela parece um
pouco confusa, mas logo vejo sua respiração ficar mais nervosa e quando percebo que
ela vai me olhar, corro até o outro lado da rua onde está o táxi que me trouxe. Entro no
carro e me forço a não olhar, mas sou fraco. Olho em sua direção e lá está ela. Quando
eu olhei nos seus olhos, só consegui pensar em uma coisa: Eu ainda a amo.
Mas agora é tarde e não vou ficar depois do que ela me fez. Não vou morrer de amor.
Não por fora, pelo menos.
Como ela conseguiu? Eu era apaixonado pela vida de galinha. Meu esquema era não
ficar com uma garota em público, assim, não ficava com má fama, mas as garotas
começaram a espalhar que ficaram comigo e descobri que fui a causa do fim de muitas
amizades. Depois que descobriram o galinha que eu era, elas não queriam mais ficar
comigo, então tive a ideia da amizade colorida com Estela. Funcionou, as garotas
pareceram esquecer da minha fama, porém, após ver ela virando copos de tequila,
impressionando meus amigos e principalmente me impressionando, não senti vontade
de ficar com mais nenhuma garota.
Eu me apaixonei.
Eu fui um idiota.
Quando tudo parecia ter dado certo, Sarah apareceu. Eu nem lembrava mais dela e
quando a vi, achei que era outra pessoa. Ela mudou.
Ela me ameaçou e botou a Estela no meio. Não acreditei e tive notícias que Estela foi
assaltada. Não poderia ter sido coincidência, não é?
Ela me pediu para me afastar de Estela, mas antes, pegar seu celular. Eu estava em uma
berlinda, e decidi que Estela era mais importante. Entrei naquele banheiro para pegar
seu celular e ouvi a conversa.
Aquilo me abalou e eu vi a brecha para afastar Estela. A coisa mais difícil do mundo,
foi não olhar para trás aquele dia e dizer que a amava.
Os dias foram ficando insuportáveis e não estava gostando nada da aproximação dela e
do Ben. Sarah me fez novas ameaças e eu não sou burro, sei o tipo de gente que ela
estava se metendo. Fiz tudo que ela pediu.
No churrasco, confesso que me orgulhei de Estela quando ela acabou com Sarah e ali
pensei, se Estela consegue enfrenta-la, eu também consigo.
Mas eu estava errado. As ações de Estela caíram sobre mim e tive que fazer trabalhos
mais pesados. Sarah me botava para cobrar homens com o dobro do meu tamanho, suas
dúvidas.
Tentei sair, mas sentia que cada vez estava me afundando mais. Eu fiz tudo isso por
Estela. Sarah estava louca. Ela estava cega por vingança e por amor. Mas não amor por
mim, e sim por seu traficante.
E quando eu estava quase saindo daquela vida, veio o episódio da mensagem.
E em seguida, Diogo descobriu. Ela me perseguiu uma vez, mas consegui escapar,
porém não tive tanta sorte na segunda. Por Deus, se Sarah não o tivesse impedido, eu
estaria morto.
E agora estou aqui, prestes a entrar no avião com destino a Campinas. Meu tio por parte
de pai soube da história por meu pai e ofereceu sua casa até eu melhorar. Fui forçado a
aceitar.
Antes de entrar no avião, olho para trás e vejo Camy. Acabou que eu nem me despedi
dela.
Ela deve ter corrido bastante para conseguir chegar a tempo e apenas me dá um sorriso.
Eu e ela sempre íamos a casa do Tio Arthur nas férias, e espero que esse não seja um
adeus definitivo, pois eu odiaria lembrar que a última vez que vi Camy, apenas acenei
como se tivéssemos nos encontrado na rua.
Entro no avião e parto para minha nova vida.

☆☆☆☆☆☆
Estou aqui há um dia e meio e estou tentando me adaptar. Tenho um quarto só para mim
e começo na escola na segunda.
Tio Arthur trabalha o dia todo no escritório e só chega à noite. Mal nos vemos, pois
quando chega, ele apenas janta e vai dormir. Agora, neste momento, ele está
trabalhando e eu estou lavando o rosto.
Aqui, eu acordo a hora que quero e é quase meio dia. Tio Arthur tem uma empregada e
sua nova função é fazer meu almoço. Ele almoça em um restaurante em frente a
empresa que trabalha, por isso, como sozinho.
Sinto falta dela. Sinto falta dela quando vejo uma aranha e imagino a cena que ela faria.
Sinto falta dela quando me deito na cama e fico desejando suas carícias, sinto falta até
do sarcasmo dela e ainda mais dos seus beijos. Sinto falta dela quando...
Batidas na porta interrompem meus pensamentos. Me levanto e abro a porta.
Fico tão surpreso que meu coração parece parar. A última pessoa que pensei que bateria
nessa porta, está aqui na minha frente com uma cara de brava e as mãos na cintura.
-O que está fazendo aqui?-Pergunto surpreso quase sorrindo.
-Precisamos conversar.-Ela diz
Levanto uma sobrancelha.
-Desculpa, mas não temos nenhum assunto pendente para conversar.-Digo.-Como sabia
que eu moro aqui?
Ela revira os olhos e entra na casa sem minha permissão.
-Temos sim e Camy me explicou o endereço.
-Qual é Sophia, você veio de tão longe para conversar? -Pergunto.
-Sim. Sobre ela. Estela.-Ela diz e perco umas duas batidas.-Viu! Eu sabia! Se você
pudesse ver a sua cara quando falei o nome dela, eu sabia que você ainda a ama.
Engulo seco.
-Está errada, já pode ir.-Digo tentando empurra-la.
-Eu não peguei um avião até aqui para ser expulsa, senta aí que agora nós vamos
conversar. -Ela diz.
Sophia sabe como botar medo em alguém. Embora eu saiba exatamente o rumo que essa
conversa vai tomar, me sento e resolvo ouvir o que Sophia tem a dizer.
-Vamos logo com isso.-Digo.
-Você está mal. Ela está mal. Voltem e tudo ficará bem.-Ela diz.
Reviro os olhos.
-Não depois daquela mensagem.-Digo.
Sophia se exalta.
-Tá de brincadeira, né? Tá na cara que tudo que você escreveu naquela mensagem era
mentira! Para de bancar o difícil e vai atrás dela, vocês estão apenas atrasando a
felicidade.
Fico confuso.
-Sophia...Eu não escrevi nenhuma mensagem.-Falo.
Ela pisca sem reação.
-Escreveu sim.-Ela diz.
-Não, eu recebi uma mensagem de Estela.-Digo.
-Claro que não. Eu li a mensagem que você mandou. -Ela diz.
Pego meu celular e abro as mensagens.
-Essa é a única mensagem que Estela eu trocamos.-Digo dando meu celular a ela.
Sophia lê tudo e volta a me olhar com olhos arregalados.
-Ela não escreveu isso! Ela nunca escreveria isso para você, ela te ama!-Sophia diz.-
Estela recebeu uma mensagem sua dizendo para ela se afastar e afirmando que você não
a ama.
Que absurdo. Nunca escrevi algo assim. Nunca seria capaz.
-Não foi eu.-Falo.
Sophia tem um olhar perdido que logo parece ter encontrado, pois ela arregala eles e
bate no meu braço diversas vezes.
-Ordinária! Agora eu sei para que Sarah queria o celular de Estela, ela planejava isso
desde o começo! -Sophia diz.
Será que Sarah fez isso? É claro que fez. Ela estava cega.
-Sarah deve ter pegado o celular de Estela sem ela ver e clonado o chip e depois
devolvido.-Reflito.
-Não seria difícil, pela foça que Estela tava, ela faria isso facinho. -Sophia diz. Ela abre
um grande sorriso de repente.-Então foi tudo um mal entendido. Você pode voltar e
resolver tudo.
Voltar? Encarar tudo? A essa hora, todos que conheço devem ter ficado sabendo de toda
história e não estou pronto para perguntas e olhares repreensivos. Vou ter que encarar
meu pai, e encarar...Estela
-O que foi?-Sophia pergunta.-Aleph, você vem ou não comigo?

☆☆☆☆☆☆
Capitulo 26
Eu tenho problemas mentais por achar graça da minha situação. Quero dizer, é
engraçado o jeito que a esperança é massacrada dentro do meu peito.
É engraçado essas minhas mudanças de opinião constante quando se trata de Aleph. Foi
engraçado a reação de Sophia quando explodi com ela, apenas não queria que ela
tivesse sumido.
Ligo para ela desde ontem e o seu telefone está desligado ou fora de área. Os pais dela
me avisaram que ela viajou e esqueceu de me avisar. Não a culpo por ter me deixado
nessa solidão, pois eu escolhi assim, eu me deixei levar pelo sentimento e agora tenho
que lidar com as consequências.
Já tentei assumir, me entregar, negar e esconder, mas nada disso fez o sentimento
diminuir, então vou apenas deixar guardado. Aleph a esta hora deve estar no quinto
sono. Ele não deve perder sono pensando em mim como faço com ele. Ele não deve
fazer uma retrospectiva dos momentos que passamos juntos como está passando na
minha cabeça. Ele deve estar apenas dormindo.
Tranquilo e sem preocupação.
Essa é a única coisa que não consigo aceitar. O fato de ele ter me esquecido assim, num
piscar de olhos. A mesma pessoa que apareceu de madrugada na minha casa, chorando e
dizendo "eu odeio essa parte de mim que te procura quando não estou bem". Essa frase
nunca vai sair da minha cabeça. Vou guardar nas minhas memórias mais profundas.
Dois amigos dos meus pais, estão aqui em casa. É um dos amigos de Colégio deles. Eles
tinham perdido contato, mas resolveram fazer uma visita para nós. Os pais de Gusta e
Sophia também estão aqui.
-Estela, Suzanna e Daniel querem te ver.-Minha mãe diz com a cabeça para dentro do
quarto.
São quase seis da manhã.
-Vou apenas trocar de roupa.-Falo e ela assente.
Assim que ela sai, me levanto e mudo de roupa. Saio do quarto e vejo uma mulher de
pele morena que deve ser a Suzanna e um homem de cabelos e olhos pretos que deve
ser Daniel. Ao lado deles, um garoto que parece ser mais novo que eu um ou dois anos
de olhos pretos e pele cor de caramelo. A cor da sua pele combina perfeitamente com os
olhos e sei que ele deve fazer sucesso com as garotas por onde anda.
Os pais de Gusta, Andreia e Rafa, são os primeiros a notar minha presença. Gosto do
jeito que tio Rafa deixou os cabelos crescerem até a altura do queixo, realmente
combinou com ele. Andreia sempre foi a mesma desde que me entendo por gente, mas
para que mudar? Ela fica linda com as marcas do tempo.
Laura me vê e cutuca Suzanna até que todos me olham.
-Nossa. Ela é sua cara -Daniel diz para Sam.
-Eu jurava que ela tinha nascido com cabelos loiros. -Suzanna reflete.
Falam de mim como se eu não estivesse.
-É pintado.-Falo.-Como vão?
-Ela é educada? Se eu não tivesse visto nascer, não acreditaria que é sua filha.-Daniel
fala para minha mãe e da um leve empurrão de amigos.
-Eu sou educada...com quem merece.-Minha mãe diz.
Vou até eles e cumprimento Suzanna, Daniel e por fim, o garoto.
-Anthony.-O garoto se apresenta.
-Estela.-Digo e dou um sorriso.
Ele abre outro em resposta e nos afastamos. Começa um interrogatório sobre minha
vida e tento ao máximo responder com um sorriso. Essa noite dei uma cochilada de
meia hora entre quatro e cinco da manhã e não consegui dormir mais, então estou
tentando raciocinar, porém está sendo difícil.
Quase desabo quando perguntam sobre minha vida amorosa, mas minha mãe percebe e
desvia o assunto.
-Então, vocês ainda tem aquela casa de campo aqui perto?-Ela pergunta.
-Deve estar um pouco abandonada, ninguém vai lá há alguns anos, mais ainda é nossa.-
Daniel diz.
A menção da casa de campo me chama a atenção. Sempre gostei de ar livre, aquela
sensação de paz na natureza.
-Poderíamos passar um fim de semana lá. -Rafa propõe. - Tem o feriado da semana
Santa na quinta, poderíamos aproveitar.
Todos se olham animados considerando a ideia.
-Alguém precisaria ir lá antes para limpar.-Suzanna diz.
-Eu vou.-Digo e todos me olham.-Posso chamar Sophia e Gusta, a gente vai na quinta e
vocês podem ir no sábado.
-Tem certeza? -Meu pai pergunta.
-Vai ser legal.-Digo.
Realmente estou precisando sair um pouco da civilização. Pode me ajudar a me distrair.
-Anthony poderia ir.-Suzanna diz e se vira para o filho.-Você não tem muitos amigos e
os pais dessas pessoas foram uma das melhores coisas que já me aconteceu.
Anthony parece não querer, mas não consegue contrariar o pedido da mãe.
-Ta. -Ele diz por fim.
O celular de Laura toca e ela atende.
-Onde está? Eu estava preocupada, como você sai assim?...Vai me explicar mesmo,
estou na casa da Luna, quer que eu vá te buscar?...e ainda coloca seu namorado no meio
das suas gracinhas?... pois na próxima vez avise a sua melhor amiga também, beijo.-Ela
desliga.
Pelo diálogo, pude entender que é Sophia. Hoje temos aula, então ela deve ter chegado.
-Ela está vindo?-Pergunto.
-Gusta foi busca-lá no aeroporto. -Laura diz.
Conversamos sobre algumas coisas até todos resolverem ir almoçar em um restaurante.
Recusei a oferta e Anthony também, o que resultou que ficamos sozinhos.
Não temos muito papo, quando senti que estava entediando ele, liguei o vídeo game do
meu pai e o deixei jogando sozinho.
Vou para meu quarto e dou um cochilo antes da escola, mas sou acordada por Sophia.
Ela entra no quarto sem pedir permissão e me assusto.
-Está louca? Por onde esteve?-Pergunto.
-Preciso te dizer uma coisa.-Ela fala e minha barriga dá um nó. Quando alguém te diz
isso, nunca é coisa boa.
-O que foi?
-Eu fui ver Aleph. Você não vai acreditar no que descobri, Sarah clonou seu chip e
mandou uma mensagem horrível para Aleph, por isso ele não queria mais saber de você
e foi embora, mas ele te ama. Eu vi nos olhos dele e eu pedi para que ele voltasse para
cá.
Cada palavra faz meu coração bater tão forte que tenho medo de desmaiar aqui mesmo.
-E?-Pergunto.-Ele veio?
Ela da um sorriso amistoso. Entendo na hora.
- Ele não quis vir, não é?-Pergunto.
-Sinto muito.
Respiro fundo.
-Tudo bem. Eu já esperava.
E de novo, minhas esperanças são pisadas.
Sophia está errada. Se Aleph me amasse, viria até aqui. Sou capaz de mover montanhas
por ele, porque ele não pode pegar um avião e voltar para mim?
Exatamente. Ele não me ama. Ele não gosta de mim.
-Ele disse que não estava pronto. Acredite, eu gritei com ele, mas minha paciência não
estava nos melhores dias e fui embora. Pelo menos descobrimos Sarah.
Eu já esperava isso. Aleph é covarde demais para enfrentar os problemas de frente.
-Bom, não importa, eu vou ficar bem. Só preciso de uma pequena vingança.
-O que você está pensando?-Ela diz.
-Gusta está com você?-Pergunto.
-Ta lá na sala com aquele garoto, a propósito, quem é ele?
-Filho de uns amigos dos nossos pais. Chame Gusta, vou fazer uma ligação para uma
certa ex-inimiga da minha mãe.

☆☆☆☆☆☆
Sem dúvidas, o ponto alto da minha semana foi ver Sarah sendo arrastada pelo braço,
pela mãe.
Todo mundo viu. Estávamos no intervalo, na escola, e então uma mulher loira e uma
cara nada boa, chegou gritando e puxando o braço de Sarah que parecia ter visto um
fantasma.
Antes de ela ir embora, parei as duas e dei um abraço em Sarah fingindo ser uma amiga
se despedindo, mas apenas falei no ouvido dela: "Isso é o que você ganha em mexer
comigo, espero que não tenha uma próxima vez, e se tiver, acredite, te boto atrás das
grandes assim" finalizo estalando os dedos e dou um grande sorriso a ela.

☆☆☆☆☆☆
-São apenas 4 dias e não quatro anos.-Gusta diz a Sophia.
Ela lhe joga um olhar mortal e coloca as duas malas dela dentro do táxi.
Pelo que conheço Sophia, ela está levando coisas reservas e coisas reservas para as
coisas reservas.
Nossos pais não deixaram nós irmos dirigindo até a casa de campo, então a solução foi
pegar um táxi.
Coloco minha mochila no carro junto com a de Gusta e Anthony e entramos. Anthony
vai no banco da frente com o motorista e eu, Gusta e Sophia vamos atrás. Coloco meus
fones e tento não pensar em Aleph e na nossa história frustrada de amor.
Murmuro baixinho as musicas até chegarmos. Meus olhos não acreditam no que vêem.
Sair de toda aquela poluição da cidade, para um lugar silencioso, bonito e com ar de
paz.
Pagamos o taxista e Anthony abre o portão.
Assim que ele abre a casa, percebemos que ela realmente vai precisar de uma limpeza e
vamos ter que trabalhar duro.
Sophia e Gusta vão pegar os materiais de limpeza e Anthony abre o resto da casa. Vou
com ele para conhecer o lugar. Os móveis velhos dão um certo charme. Na parte de
cima da casa tem os quartos. Escolho o meu e coloco minhas malas na cama.
Gusta e Sophia chegam com os materiais de limpeza, colocamos uma música alta e
começamos a limpeza.
Começamos pelos quartos e com o trabalho em grupo, rapidamente terminamos. A parte
de baixo é mais complicada. Eu e Gusta limpamos a sala e a área enquanto Sophia e
Anthony limpam a cozinha e os banheiros.
Limpar está me ajudando a me distrair. Após limpar a casa, lavamos os pratos e copos
que estavam no armário e limpamos a geladeira. Fizemos uma feira antes de vir e
colocamos tudo na geladeira e nos armários. Quando a noite cai, já está tudo limpo e
estamos famintos. Decidimos fazer macarrão para comer e sobrou para eu cozinhar.
Não me importei, eu realmente quero me distrair.
Confesso que foi o melhor macarrão que fiz na minha vida. Todos comeram e
repetiram. Mais tarde, nos reunimos na sala para conversar. Infelizmente, a conversa
tomou um rumo no qual eu não queria.
Aleph.
-Esqueçam ele, tudo bem? Até entendo, Gusta, ele é seu melhor amigo, mas não falem
dele perto de mim.-Falo já estressada.
Gusta se levanta e pega sua mochila.
-Eu sei exatamente do que você ta precisando.-Ele diz.
Jogo um olhar interrogativo para ele.
-Você não fez isso, Gusta! Eu pedi que não fizesse!-Sophia diz.
-Ela ta precisando! Olha pra ela, precisa desabafar e nada melhor do que isso.-Gusta diz
tirando uma garrafa de tequila da bolsa.
Sorrio.
-Vocês não vão beber! Estela, qual é, você é mais forte que isso, vamos apenas
conversar e nos distrair.-Sophia pede.
-Prefiro beber.-Digo me levantando e indo até Gusta.
-Nossos pais vão descobrir!-Sophia diz.
-Eles só chegam no sábado. -Gusta diz.
-Eu não conto.-Anthony diz.
-Está resolvido. -Digo.
Anthony bebe conosco, mas depois do terceiro copo, vai domir. Gusta e eu continuamos
firme e fortes. Sophia está nos impedindo de fazer besteira, e com besteira, quero dizer
não me deixar ligar para Aleph.
Ela tomou o celular da minha mão umas três vezes, mas algo em mim está me forçando
a ligar para ele. Ele precisa me ouvir.
Após metade da garrafa ele precisa me ouvir.
Ele não vai fazer o que fez e sair dessa sem ouvir umas e outras. Ah não!
Meu celular está ao lado de Sophia. Ela nunca vai me deixar ligar para ele.
Vou até Gusta tentando andar reto, mas está tudo embaçado. Quando chego nele, fico na
ponta do pé e tento falar em seu ouvido.
-Tira...a Sophia daqui.-Digo tentando não gaguejar.
Gusta assente e me empurra. Ele vai em direção a Sophia pisando forte. Ele a segura
pela cintura, segura seus cabelos e lasca um beijo daqueles nela.
Fico até incomodada, mas Gusta a leva devagar para o quarto.
Pego meu celular e disco o número de Aleph. Ele não antende, então ligo novamente e
novamente e novamente até que sua voz sonolenta e rouca surge do outro lado da linha
me fazendo congelar.
-Alô. -Ele diz.
Respiro fundo.
-Aleph.-Digo.
-Estela.-Ele diz e sinto sua voz falhar.
-Olha aqui, você é um idiota. Um idiota grande e sem sentimentos. Um idiota...muito
grande. Seu idiota!-Grito no telefone.
-Você tá bêbada?-Ele pergunta claramente irritado.
-Tô! E a culpa é sua! É sempre sua culpa! Você é o culpado de tudo que passei! Seu
idiota!-Grito. -Você sabe onde estou? Pois eu não. Sabia que você é a única pessoa que
consegue me fazer sorrir de verdade? E isso sinceramente me preocupa.
-Droga Estela! Por que você tem que ser assim?! Quer saber? Vai dormir, amanhã
conversamos, não tô com paciencia para você. -Ele diz e desliga.
Não tá com paciência para mim?
-Enfia essa paciência na sua bunda!-Grito e jogo o celular no sofá.
Pego a garrafa de tequila e viro a noite sozinha.

☆☆☆☆☆☆
Acordo com alguém mexendo em mim. Uma dor enorme invade minha cabeça. Abro os
olhos devagar e vejo Sophia.
Minha visão pouco embaçada faz minha cabeça doer mais.
-Você não tem jeito. -Ela diz me ajudando a levantar.
Sento no sofá e Gusta coloca uma xícara de café na minha frente.
-Café puro?-Pergunto e ele assente.
Assim que o gosto quente e confortante do café toca minha língua, já me sinto melhor e
a sensação melhora a cada gole.
-O que eu perdi?-Pergunto.
-Não muito, acabamos de acordar.-Gusta diz.
Olho para o café preto e lembro de Aleph. Como eu gostaria que ele entrasse por aquela
porta.
-Vocês chamaram alguém?-Anthony pergunta olhando a janela.
-Não. -Sophia diz.
-Bom, tem um carro entrando.
Meu coração acelera inexplicavelmente. Está tão forte que me dá enjoo. Ou é apenas
por conta da bebida.
Será mesmo que o amor da minha vida vai entrar por essa porta?
-O carro estacionou.-Anthony diz.
-Eu abro a porta.-Digo correndo até a porta esperando alguém bater.
Mais uma vez aquela esperança está em mim. Então um medo me consome. Medo de
ser decepcionada de novo.
Batidas surgem na porta. Meu coração está a mil por hora e ainda sinto vontade de botar
tudo pra fora.
Abro a porta devagar e meu coração acelera mais ainda.
Fui decepcionada outra vez.
Pois não é Aleph.
É Ben.
E minhas esperanças mais uma vez são estraçalhadas por mais ninguém do que Aleph.
Ben parece perceber a decepção no meu olhar. E é assim que vai acabar?
Se depender de mim, sim. Pois as vezes, temos que deixar o orgulho agir para não nos
decepcionar. Tem poucas coisas piores que uma decepção amorosa. É uma coisa que
ninguém deveria passar, mas todo mundo passa.
Está decidido, vou esquecer o Aleph e seguir minha vida.
Então minhas pernas ficam bambas e meu coração dispara de um jeito que acredito que
qualquer um nesse lugar possa ouvir
Até mesmo Aleph.
Pois ele está aqui.
Ele está usando um jeans rasgado, uma blusa azul quase preta, a barba rala e um óculos
escuro. Ele está maravilhoso.
Aleph sai detrás de Ben e acho que todo meu sangue a esvaiu e eu perdi o raciocínio. Eu
não sei o que fazer. Aleph não tira os olhos de mim e nem seus óculos podem esconder
isso.
E agora, olhando para ele tão de perto, eu esqueço que um dia quis esquece-lo.
Mesmo tenha sido há segundos atrás.
Consigo ouvir o grito de Sophia e sentir os olhares surpresos.
Meu coração parece estar fora do meu corpo.
-A gente pode conversar? – Aleph pergunta, me fazendo suspirar pesadamente e cada
lembrança minha que tenho dele, passar num rápido flashback na minha mente.
Em um segundo, os óculos de Aleph foram parar na gola da sua camiseta e eu pude
visualizar aqueles enormes olhos que me levam a loucura. Ele dá um passo se
aproximando e eu dou um passo para o lado oposto. Não quero me decepcionar.
-Conversar sobre o que?-Questiono.
-Sobre nós. Essa história já foi longe demais.
Sinto vontade de rir.
-Sei que não facilitei as coisas, Estela, mas eu estou aqui apavorado com medo de você
virar as costas e dizer que não tem mais jeito.
Meus olhos começam a lacrimejar, mas eu não me permito chorar aqui na frente dele. Já
não basta eu ter quase desidratado por causa dele.
-Eu não sei o que dizer.-Confesso.
-Então deixa que eu falo.-Ele diz.
Olho ao redor. Todos estão nos olhando e esperando minha resposta. Bom, graças a
eles, eu já tenho uma.
-Aqui não. No meu quarto. -Digo.
Ele assente e consigo ver o olhar decepcionado no rosto de Sophia por não poder
presenciar a cena.
Dou meia volta e vou até meu quarto ciente que ele está atrás de mim. Eu me sinto suja.
Dormi no chão e estou pura tequila.
Entramos no quarto e Aleph já começa a falar, mas eu o interrompo quando sinto que
provavelmente meu desodorante está mais que vencido e não tem jeito algum de eu
conversar com Aleph, fedendo.
-Preciso de um banho.-Digo.
-Ah, qual é, Estela! Vai ficar adiando só para me castigar?-Ele pergunta.
-Não, Aleph! Eu estou suja, dormi no chão agarrada a uma garrafa de tequila, eu
PRECISO de um banho.-Digo.
Aleph consegue me tirar do sério em segundos.
Ele revira os olhos e deita na cama. Coloco as mãos na cintura de forma autoritária.
-Você não está achando que vai ficar aqui enquanto eu tomo banho, não é? -Digo.
Aleph bufa e sai do quarto. Na verdade, a chuveirada é um pretexto. Eu preciso
organizar minha cabeça. Tenho que pensar no que fazer. Não quero me fazer de difícil,
mas também não posso baixar a guarda.
Faço do banho o mais demorado possível, lavando o cabelo. Assim que termino, me
enrolo na toalha e meu cabelo em outra.
Saio do banheitro e dou de cara com Aleph sentado na minha cama como se sempre
estivesse ali.
\Agarro o nó da toalha. Se ela cair, o negócio vai ficar feio para o meu lado.
-Eu pedi pra você esperar.-Digo.
-É o que estou fazendo.-Ele diz. Sua voz agora está com segurança.
Então ele se levanta e vem em minha direção me imprensando na parede. Todo meu
corpo estremece respondendo a ele, mas agarro ainda mais o nó da toalha.
-O que você está fazendo?-Pergunto.
-Tentando baixar sua guarda.-Ele diz.
Parabéns. Conseguiu.
Respiro fundo e o empurro.
-Eu não iria vir, mas quando você me ligou e disse que nem sabia onde estava, eu fiquei
preocupado. Eu percebi que te amo e que não posso continuar negando. Peguei uma
carona até aqui e liguei para sua mãe. Ela me passou o endereço e Ben se ofereceu para
me trazer.
Engulo seco. Eu realmente não estou confortável apenas de toalha nessa proximidade
com Aleph.
-Eu estou arrependido por não ter percebido tudo isso antes. Eu te amo, Estela. Me
perdoa.-Ele pede.
Apenas o encaro. Eu não tenho reação. Alguns neurônios foram queimados.
-Eu tô com saudade da tua pele, dos teus olhos de manhã cedo, do jeito que tu fica
tímida perto de mim, de como tu perde a vergonha depois de umas doses, do teu medo
de aranha, dos teus beijos, de tudo.-Ele fala tudo com o olhar desesperado e preso ao
meu.
Eu me rendo. Me jogo nos braços dele e sinto a toalha cair. Eu não estou nem aí. É ele
que eu quero e sempre será ele. Até o fim.
Porque apesar das nossas falhas, eu só consigo ser feliz com ele. E quando o abraço, não
consigo segurar um sorriso tímido quando ele me abraça forte e suspira aliviado no meu
ouvido um "eu te amo".
Mas é assim quando a gente ama. A gente sofre, supera, finge que aprendeu e se entrega
de novo.
E eu assumo. Sou completamente apaixonada por Aleph.

☆☆☆☆☆☆
Alguns meses depois...
A pior parte de estar no último ano escolar, é por ser o último ano escolar. Passamos 11
ou 12 anos reclamando de ir para a escola, para quando chegar no último dia de aula,
você querer que tudo volte.
Principalmente o ensino médio. É a fase que descobrimos a vida. A fase que nunca
esqueceremos.
E hoje, estou assim. Relembrando meus anos de escola e sentindo saudade. Faculdade é
uma nova fase.
Hoje, é o baile de formatura. A última vez que entrarei naquela escola acompanhada
pelas pessoas que mais amo. Vou ter que fazer o discurso de formatura, graças a Aleph
e Gusta. Fizemos uma aposta que eu perdi e meu castigo foi esse. Quem poderia
adivinhar que Gusta e Aleph realmente iriam maquiados uma semana inteira?
Posso ter perdido, mas valeu a pena.
Falar em Aleph, desde o dia que voltamos na casa de campo, não nos separamos mais. E
nem vamos, para mim, namoro tem que ter propósito de casamento e Aleph e eu temos
planos. Planejamos como vai ser nossa vida daqui para frente, pois mesmo que nos
discordamos em quase tudo, uma coisa nós dois concordamos. Temos a certeza absoluta
que queremos passar o resto da vida um com o outro.
Depois do que passamos, ficou claro que quando é para ser, até os ventos mudam. Cada
vez que nos separávamos, alguma força oculta nos juntava novamente. Sempre.
Aquilo tudo, serviu de lição para mim, Aleph e a todos que vão acompanhar nossa
história. Afinal, minha mãe passou os últimos meses entrevistando a mim e a Aleph
para escrever um livro sobre nós. O lançamento será no ano que vem e espero que seja
outro sucesso. Minha mãe tomou gosto em escrever romances, após minha história,
talvez ela escreva algo sobre ela e meu pai, mas são apenas planos futuros.
Aleph e eu, toda vez que brigamos, lembramos do tempo que passamos separados e é
como se sentíssemos toda aquela dor e voltamos corremos um para os braços do outro.
Nunca nossas brigas foram maiores que nosso amor. Essa foi nossa lição.
A lição que os expectadores, como Sophia, Gusta, Camy, e mais outras pessoas que
acompanharam nossa história tiraram, é que não adianta estar com quem faz você bem,
se quem você ama, é outro.
Há algum tempo, conversei com Ben. Ele disse que ainda me amava. Perguntei a ele,
porque ele me ajudou a ficar com Aleph e ele apenas disse: " te ver feliz me deixa
feliz".
Ele vai se mudar para Bahia depois da formatura.
Sophia e Gusta estão firmes e fortes.
Sophia vai fazer Direito na USP e eu consegui passar para Engenharia Civil no mesmo
lugar. Já Gusta vai fazer ciências contábeis em uma faculdade particular. Aleph vai
fazer arquitetura nessa mesma faculdade. Ele saiu de casa. Seu tio que mora em
Campinas se ofereceu para pagar um apartamento para ele até o fim da faculdade e o pai
vai ajudar com as despesas. Ele e Gusta estão planejando dividir o apartamento no
começo do próximo ano.
E agora eu estou vestida em um vestido que nunca imaginei usar. Longo e cor de vinho.
O busto é todo na renda e é colado ao meu corpo. Ele é perfeito.
Já está no horário marcado para Aleph me pegar. Coloco meu discurso que passei dois
dias escrevendo, dentro do meu sutiã ao mesmo tempo que minha mãe entra no quarto.
Assim que ela me vê, sua primeira reação é sorrir. Um sorriso encantado que se Aleph
tiver metade desse entusiasmo ao me ver, serei a garota mais feliz do mundo.
Assim que vejo minha mãe de corpo todo, abro um sorriso igual. Ela está linda. Um
vestido creme e longo.
-Você está maravilhosa.-Digo.
-Eu sei, mas você está mais!-Ela diz vindo até mim.
Ficamos as duas em frente ao espelho
-Você acha que Aleph vai gostar, mãe? -Pergunto.
Ela me olha de cima embaixo.
-Sabe por que me casei com seu pai?-Ela pergunta.
-Porque o ama.-Digo.
-Também, mas principalmente, porque ele me ama do jeito que sou. -Ela diz.-Você
cresceu tão rápido. Em um momento, você estava e esforçando para dar os primeiros
passos e agora está nesse vestido e vai pra faculdade ano que vem e já tem 18 anos.
-Mãe, não chora.-Digo sentindo meus olhos lacrimejarem.-Vai borrar a maquiagem.
-Tá...
A porta se abre e meu pai pega eu e minha mãe em um abraço.
-Ah, eu sabia, sua mãe está na TPM, ou ela arrancava umas lágrimas suas por bem, ou
por mal. -Ele diz.
-Vai se ferrar, Sam.-Ela diz.-Eu não estou na TPM, nossa filha ta crescendo e...-E ela
começa a chorar de novo.
Meu pai a abraça e ela enfia a cabeça no seu peito, como se ali, fosse seu porto seguro,
longe de quaisquer problemas.
Meu pai aponta para a sala e vou até lá. Sophia, Gusta e Aleph estão me esperando.
Assim que meus olhos encontram o de Aleph, travo. Congelo no lugar com a visão de
Aleph de terno. Meu coração está acelerado e meus olho gostando do que veem. Ele
está maravilhoso.
Ele vem até mim e cada passo seu, minha respiração fica mais acelerada. Abro um
enorme sorriso quando sua mão toca a minha e ele entrelaça seus dedos nos meus.
-Esse seu vestido ta rasgado.-Ele diz colocando a mão na mim o coxa nua.
O vestido tem um corte até um pouco acima da metade da minha coxa no lado direito.
-Por que não pode me fazer um elogio como uma pessoa normal?-Pergunto.
-Ta, isso foi idiota, é que quando te vi, me faltaram palavras.-Ele diz em tom galante.
-Agora sim.-Digo e ele sorri.
Ouço alguém limpar a garganta atrás de mim e quando Aleph vê, me larga
instantaneamente.
-Boa noite, senhor.-Aleph diz ao meu pai.
Olho para meu pai e ele tem um olhar crítico e medonho. Ele vem até nós e aperta forte
a mão de Aleph olhando diretamente nos seus olhos. Consigo ver Aleph engolindo seco
e sorrindo nervoso
-Ja vamos.-Digo e puxo meu pai para um abraço.
-Achei que gostasse dele.-Sussurro no ouvido do meu pai.
-Eu gosto, mas ele não pode saber.-Ele sussurra de volta me fazendo sorrir.
A aprovação do meu pai é mais importante que qualquer coisa.
Nós quatro vamos no carro de Gusta e meus pais vão no carro deles buscar Rafa e
Andreia.
Aleph e Gusta abrem a porta do carro para mim e Sophia, e entramos. Sophia na frente
com Gusta e eu e Aleph atrás. Juntos. Como deve ser.
-Achamos um apartamento.-Gusta comente quebrando o gelo.-Nos mudamos no
começo de Janeiro.
-Como é o apartamento?-Sophia pergunta.
-Tem dois quartos, um deles é suíte, uma cozinha, sala e um banheiro. É pequeno, mas é
nosso.-Gusta diz.
-Então você terá um quarto so para você? -Pergunto maliciosamente a Aleph,
imaginando as noites que vou passar com ele.
-E adivinha quem ganhou a aposta para a suíte? -Ele diz.
-Quem?-Pergunto chegando mais perto.
Aleph coloca a mão na minha coxa nua e sobe até a minha bunda. Em segundos, estou
no seu colo e estamos olhando um nos olhos do outro com expectativa.
-Seu namorado gostoso.-Ele diz.
Sorrio e mordo forte seu lábio inferior. Ele estremece e aperta minha cintura para me
fazer parar, mas apenas mordo mais forte.
-Malvada.-Ele diz assim que solto seu lábio.
Pisco para ele ao mesmo momento que o carro para. Desço do seu colo e saio do carro
rapidamente. Sophia sai também e sorri para mim. Um sorriso de amigas que estão
animadas para a noite mais esperara do ano. Não só pela formatura, mas pelo grande
trote planejado por mim, Aleph, Sophia, Gusta e Ben.
Minha mãe deu a ideia. Ela tinha esse grande plano na época que estudava no Colégio
interno, mas conheceu meu pai e acabou que não o executou. Não poderia deixar o
Colégio sem virar uma lenda, como ela e meu pai foram.
Os garotos se põem ao nosso lado e entrelaço meu braço com o de Sophia. Entramos no
Colégio atrás de um casal que reconheço como um garoto da minha sala e uma garoto
do primeiro ano. Assim que entramos no ginásio, lugar onde a festa está sendo
executada, me arrepio. Está tudo maravilhoso. Olho pro teto, e vejo o plástico que não
faz parte da decoração.
Não faz, pois, foi ideia minha.
Não faz, pois, está escondendo o grande trote.
Ninguém percebeu.
A festa está chata. Estão todos quase dormindo. Eu sabia muito bem que isso iria
acontecer, por isso, nosso trote é perfeito. Vai animar esse lugar como nunca. Após
algumas horas, chamam os formandos para receber os diplomas.
Somos levados para perto do palco, separados de todos os convidados. Vejo Ben nessa
correria e tento falar com ele, mas ele está longe.
Nos afastamos. Ele virou grande amigo de Gusta e Aleph, mas não fala comigo do jeito
que era antes. Ele está me evitando. Essa pode ser a última vez que vou vê-lo e não
posso desperdiçar a chance. Apesar de tudo, ele significa muito para mim.
Vou me infiltrando entre as pessoas e ignorando alguns palavrões que soltam apos eu
pisar no pé delas. Assim que Ben me vê, ele passa alguns milésimos de segundos me
olhando e vira as costas. Apresso o passo e consigo alcançar seu ombro.
-Por que está fazendo isso?-Pergunto.
-O que estou fazendo?
-Esta me evitando.-Digo.
Ele cerra os lábios e vejo seu pomo de Adão se mover.
-Não estou te evitando.-Ele diz.
-Resposta errada. Eu te amei por quase um ano, sei quando você mente, agora me diz o
porquê está me evitando.
Ele revira os olhos, mas continuo persistente até ele ceder.
-Por que eu te entreguei para ele. Você estava frágil, qualquer garoto aproveitaria a
situação para conquistar você, mas eu simplesmente te ajudei a voltar para ele. Eu me
culpo, eu tenho ódio de mim mesmo por isso. É por isso que estou indo embora, não dá
mais para te ver com ele, não se preocupe comigo.
Levo devagar minha mão até seu rosto. Coloco uma mecha de cabelo no lugar e faço
carinho no seu rosto.
-Eu me preocupo com você. Eu sempre vou me preocupar. Você é meu amigo e me
ajudou no momento que eu mais precisei. Fez de tudo para fazer brotar um sorriso no
meu rosto. Você é um cara ótimo, Ben, você vai encontrar alguém e as vezes, essa
pessoa está bem debaixo do seu nariz.-Digo olhando para Maju.
Ben segue meu olhar e assim que Maju percebe que Ben está olhando para ela, a mesma
cora e tenta disfarçar.
Sempre soube que ela tinha uma queda por ele.
-Eu nunca vou esquecer de você, Estela. Eu só quero sua felicidade.-Ele me dá um beijo
na testa e sorri.
Volto ao meu lugar e percebo que Aleph estava me procurando.
-Aí está você, a cerimonia está para começar.-Ele diz um pouco nervoso.
Não conheço esse lado tinido de Aleph que fica nervoso com a ideia de aparecer em
público. É fofo.
Então as luzes mudam e a diretora do colégio aparece no palco. Ela fala algumas
palavras sobre o ano letivo e diz está orgulhosa de nós. Logo ela chama aluno por aluno
para receber o diploma, em ordem alfabética.
Aleph é o primeiro. Ele olha para mim e dou um sorriso passando segurança a ele.
Prometendo com um olhar, estar sempre com ele, sob qualquer circunstância.
Aleph vai até o palco, pega o diploma e sai. Vão mais umas doze pessoas, inclusive
Ben, então chega minha vez. Ando sem tirar os olhos da diretora. Pego o diploma da sua
mão e acidentalmente olho para as pessoas. Meus olhos prendem nos olhos das pessoas
que mais amo.
Meus pais.
Meus avós.
Meus amigos.
Aleph.
Uma coisa que nunca te avisam antes de se apaixonar, é que você nem percebe quando
todas as palavras boas e bonitas no mundo, descrevem apenas uma pessoa. Que ele
acaba sendo o seu mundo e por mais que você negue, o seu mundo vai girar em torno
dele. Não o mundo real, mas o seu mundo. Aquele que te permite sonhar, que te permite
ser você mesmo.
Sorrio e vou para o lado de Aleph. Ele segura minha mão e esse simples gesto me faz
ter certeza que estou no lugar certo.
Com o meu cara errado.
Ele é o errado, mas é minha maior certeza.
O amor tem dessas peças.
Quando todos os alunos recebem o diploma, chega a hora de pagar a promessa.
-Agora algumas palavras de Estela Santiago Reis, nossa formanda que se ofereceu para
fazer o discurso de formatura.-A diretora diz .
Vou até o palco e procuro os olharem que antes achei. Estão todos aqui, testemunhando
minhas conquistas.
-Olá gente. Acho que ninguém começa um discurso de formatura com "Olá gente", não
é?...Bom, vocês percebem o que está acontecendo? Percebem o quanto crescemos e
amadurecemos? Foram 3 longos anos. O Ensino Médio não é fácil. Não passa nem
perto disso. Essa é a época que estamos descobrindo o mundo e todos sabemos como o
mundo pode ser cruel. Mas também tem a parte boa. Quero agora que todos lembrem
dos últimos 3 anos. Lembram daquela vez que o professor Maurílio mandou todos da
turma para a sala da coordenadora, pois estavam todos colando e dando cola na sua
prova? E os eternos trabalhos da professora Greta, as histórias do professor Jonas...e os
amores da professora Jéssica, as palhaçadas das turmas, as brigas no intervalo, e aqueles
momentos eternos com nossos amigos. Pois além de conhecimento, vamos sair daqui
hoje cientes que fizemos os melhores amigos do mundo. Muito obrigado a todos...-Olho
para Aleph, Sophia e Gusta. Eles sabem exatamente o que vem a seguir e já estão
preparados.- Às vezes a vida nos dá provas, onde as escolhas que fazemos são eternas e
a forma em que agimos fundamentará o nosso futuro.O momento que estamos vivendo
agora é com certeza um momento muito importante da nossa vida e é por isso que
devemos aproveitar. Por isso, aqui vai um gostinho do agora!
Gusta e Aleph puxam as cordas e o plástico se rasga fazendo todo o confete, balões,
purpurina e toda a bebida cair em cima de todos. Sophia coloca uma música eletrônica e
os garotos puxam outra corda fazendo cair mais bebida. A pista de dança é preenchida
por alunos molhados com a boca aberta esperando a Vodca cair na boca e pulando e
dançando. A diretora vem em minha direção e corro até meus amigos e saio dali o mais
rápido possível.
Conseguimos ouvir de longe o barulho da música e estamos rindo e nos divertindo
como nunca.
A vida é feita de momentos. No final, é apenas isso que sobra. Momentos.
Então devemos aproveitar cada um deles e nos divertir como for, mas não podemos
esquecer que há um amanhã.
Ainda correndo, encharcados, a meia noite nas ruas movimentadas de São Paulo, paro
um pouco para recuperar o folego e observo as luzes enfeitando a cidade, meus amigos
rindo e meu amor me olhando como se eu fosse a pedra mais rara existente.
Eu ganhei na loteria. Tenho amor reciproco. Me enganei quando pensava que amava
Ben. Agora sei o que é amor de verdade. Amor, quando não é reciproco, não é amor.
Simples assim.
E eu tenho orgulho de dizer, que meu amor, começou de uma amizade colorida.
Capitulo especial de ano novo
A época do ano que mais amo, é o fim de ano.
É a época que todos nós nos reunimos e celebramos. Juntos.
E esse ano vai ser ainda mais animado do que ano passado.
No ano passado, por causa da minha formatura que foi um dia antes do Ano novo,
comemoramos de ressaca e não foi lá essas coisas, mas esse ano, será especial.
Eu farei ser especial.
Todos os amigos dos meus pais virão, meus avós, e minha mãe pediu que eu convidasse
a família de Aleph. Eles toparam na hora.
Amanhã é véspera de ano novo.
E será mais perfeito que o Natal. Passei em casa mesmo e mal vi meus amigos e
namorado essa semana.
Acabo de terminar o segundo período de engenharia civil. Entrar na faculdade foi uma
experiência nova para mim e está sendo cansativo. Caramba, tenho vontade de morrer
todo dia com todos aqueles cálculos e trabalhos, mas Aleph e eu sempre almoçamos
juntos, mesmo estudando em faculdades diferentes. Isso deixa meu dia melhor e me dá
ânimo para levantar e enfrentar mais um dia de aula.
Está sendo difícil, mas não comparado a Aleph e Gusta que ficaram e duas matérias
cada. Agora vão correr atrás para compensar. Seus pais estão uma fera com eles e sei
que o fim de ano vai ser a única época de sossego deles no ano.
Eles continuam morando juntos naquele apartamento que eles chamam de casa. É claro,
como ninguém pensou que dois filhos mimados morando sozinho, a casa seria um
resort. Aquilo é a maior bagunça. No aniversário de Gusta, Sophia e eu decidimos fazer
uma surpresa. Aleph havia me dado uma chave reserva para quando eu quisesse
aparecer no meio dá noite e naquele dia, Sophia e eu chegamos sem avisar, abrimos a
porta e nos deparamos com uma infestação de ratos.
Sophia quase desmaia. Nem eles sabiam dá infestação, mas não era pra menos, a louça
parecia ser de semanas, suas roupas estavam na máquina de lavar sem água, apenas com
sabão e a máquina lá, ligada.
A maioria das suas blusas tinham marcas de queimadura de ferro de passar, e na
geladeira tinha tanta comida estragada que não me atrevi a entrar no banheiro.
Nesse dia ajudamos eles a fazer as malas e voltaram a casa dos pais até que cuidassem
da infestação. Ficamos jogando vídeo game na casa de Gusta até Sophia lembrar que
tínhamos prova no outro dia.
-Estela, estão batendo na porta, pode atender?-Minha mãe grita dá cozinha.
Saio do meu quarto e vou abrir a porta. Meus avós estão lá com duas malas enormes e
um sorriso de orelha a orelha.
-Querida, nem parece que vi você na semana passada!-Minha avó diz. Ela não parece ter
mais de 60 anos, seus cabelos que um dia foram loiros vibrantes, estão apagados e os
fios brancos se mesclam com o amarelo fraco. Até seus olhos que era um azul forte
parecem ter ficado mais claros, porém, ela tem o mesmo olhar determinado de que me
lembro.
-Cada dia mais linda.-Meu avô diz. Agora ele sim mudou. Seu rosto está mais enrugado
do que o dá minha avó, apesar deles terem a mesma idade, os cabelos brancos e feições
rígidas, porém esse sorriso apaga qualquer vestígio do homem sério que minha mãe o
descrevia.
Dou um grande abraço nos dois.
A história dá minha família é um tanto complicada. Minha avó é mãe do meu pai, e meu
avô é pai dá minha mãe. Eles eram apaixonados na adolescência mas acabaram se
separando. Porém anos depois, após cada um ter seus filhos, os acasos do destino
juntaram os dois novamente.
-Quem é?-Minha mãe grita dá cozinha.
Meus avós entram.
-É você, Luna?-Meu avô pergunta.
Minha mãe vem até a sala tirando o avental. Seu olhar para o pai é bastante
significativo. Ela sempre o olha como se agradecesse por ter um pai.
-Pai.-Ela diz e o abraça.
Não vemos meus avós há alguns anos.
Ela se desfaz do abraço e vê a sogra.
-E Helena. Sempre um prazer.-Ela diz e dá um sorriso falso.-Ô Samuel, tua mãe tá aqui,
vem cumprimentar a bruxa velha!
E começou.
-A bruxa velha aqui está enxutinha, meu bem.-Minha avó diz.
Minha mãe a examina.
-Certo, tô vendo que não mudou o gosto para roupas.-Ela enruga o nariz.-E nem pra
perfume. Credo.
E volta pra cozinha.
Vai ser um Réveillon interessante.
-Mae! Pensei que só chegaria amanhã!-Meu pai diz aparecendo na sala.
-E ela faz algo que diz?-Minha mãe grita dá cozinha.
Todos ignoram.
Meu pai dá um abraço na mãe e se vira pro sogro.
-Senhor Guilherme.-Eles dão um aperto de mão
-Samuel.-Meu avô responde.
-Onde vamos dormir?-Minha avó pergunta.
-Sangue de Jesus tem poder!-Minha mãe diz de repente ao meu lado. Nem a vi
chegando.-Duas malas gigantes! Vocês pretendem passar a Páscoa aqui também?
-Não seja boba, eu trouxe presentes! Agora meu filho, leve as malas pro nosso quarto
que vou ajudar a Luna com os preparativos pra ceia.
Meus avós disseram que trariam presentes de Natal por todos os Natais que não
passamos juntos por causa da distância. E ainda mais que inventamos de fazer um
amigo oculto de réveillon.
Minha mãe faz careta.
-Não será uma ceia, será um jantar de Réveillon.
-Eu sei mas tenho que dar uma olhada na sua geladeira e ver o que faz mal, aposto que
tem aqueles nuggets de frango, aquilo é veneno!-Minha avó diz indo até a cozinha.
Minha mãe parece estar imaginando como vão ser os dias com ela aqui, pois seu
semblante é de puro terror.
Meu pai passa o polegar em sua bochecha e quaisquer restigios de tristeza desaparecem
do seu rosto.
-Não deixa ela jogar os nuggets fora, amor. Você sabe....-Meu pai começa.
-É o seu preferido, eu sei, não vou deixar.-Ela responde.
Esse diálogo tem tanta emoção que nem parece ser sobre nuggets de frango.
Minha mãe vai em direção a cozinha.
-Se você tocar nos meus nuggets, eu vou jogar água sanitária em todas suas roupas!-
Minha mãe grita ameaçando.
Eu amo essa família.
Meu pai sobe com as malas para o quarto de hóspedes e sobram apenas eu e meu avô.
Conversamos um pouco sobre a faculdade até Júlio chegar. Então é como se eu não
existisse. Volto ao meu quarto e me deito na cama. Não falei com Aleph hoje, no
mínimo ele e Gusta devem tá arrumando o apartamento pra inspeção mensal de seus
pais.
Talvez eu deva ligar pra ele. Ou não. Não faço o estilo namorada grudenta, mesmo me
coçando pra pegar esse telefone e discar seu número que sei decorado de trás pra frente.
Namorada.
Demorou pra cair a ficha. Eu lembro dá primeira vez que ele me apresentou como sua
namorada. Eu fiquei toda boba. Na segunda também. E a terceira.
Na verdade, até hoje, depois de mais de um ano, se ele me apresentar como sua
namorada, eu me derreto toda.
É algo que chamo de efeito Aleph.
Os sintomas são calafrios, reações retardadas, e excesso de carinho.
OK, vou ligar pra ele.
Disco seu número rapidamente e cai direto na caixa postal.
Talvez se eu ligar de novo...
E caixa postal novamente.
Tudo bem. Só queria ouvir sua voz.
Então meu celular toca. É ele.
Não. É Sophia.
-Late.-Falo.
-Me diz que não esqueceu o presente do amigo secreto! Porque eu esqueci.
Eita.
Eu esqueci mesmo. Eu fiquei deixando tudo para depois. Até fui uma vez no shopping,
mas estava tão lotado que voltei pra casa.
Hoje não deve passar um fio de cabelo na porta.
-Ai meu Deus. E agora? Eu esqueci.-Falo baixo para ninguém ouvir. Se minha mãe
descobrir vai ficar uma fera.
-Vamos agora! Se arruma, vou aí te buscar.
E desliga.
O mais estranho é Sophia ter esquecido. Ela geralmente é extremamente organizada
com suas coisas.
Me arrumo rapidamente. Procuro meu cartão de crédito no meio das minhas coisas e
coloco na bolsa.
Meus pais me deram um cartão para minhas necessidades.
Em 15 minutos, Sophia chega.
Já passa das 13:00. Temos ainda uma tarde toda, mas como não queremos ficar horas e
horas andando no centro dá cidade, vamos direto ao shopping. Assim que chegamos, me
arrependo de não ter vindo de taxi. O estacionamento não tem uma vaga se quer
disponível. Tem carros estacionados nas calçadas, e mesmo daqui consigo ver que está
lotado.
-Não mesmo, eu não vou ficar sem o presente!-Sophia diz analisando a situação.
-Falar nisso, como você foi esquecer?-Pergunto.
-Gustavo me tira do sério. A gente brigou esses dias e eu tenho andado meio aérea.-Ela
dia.-Segura aí.
Sophia pisa fundo para pegar a vaga de outro carro, mas perdemos a competição.
-Brigaram por quê?
-Não quero falar sobre isso agora.-Ela fica calada um tempo até que dá um murro no
volante.-Esse desgraçado nem me atende.
Ela estaciona o carro na calçada em frente a porta do shopping e suspira.
-Tenho quase certeza que não podemos estacionar aqui.-Digo.
Ela olha pra mim pelo canto do olho.
-Eu. Não. Ligo!-Ela diz estressada e sai do carro batendo a porta forte.
Eu a conheço. Seja o que for que está acontecendo entre os dois, é algo sério.
-Sabe, Aleph também não me atende, talvez eles estejam arrumando o apartamento.-
Digo.
Sophia está dando passos largos e rápidos até o shopping e eu estou tentando
acompanha-la com minhas pernas curtas.
-Jura? E por que quando eu liguei pro Aleph há uma meia hora atrás, ele disse que
estava no centro dá cidade?-Ela diz.
Ele a atendeu? Por que ele não me atendeu?
Entramos no shopping e já paramos ali mesmo.
-Ai meu Deus.-Digo.
Que estaria lotado, já era esperado, mas isso é surreal. Eu nunca tinha visto tantas
pessoas assim. O falatório é perturbador. Escolhemos um dos shoppings menos
visitados dá cidade e está assim.
-Então temos poucas horas e as filas devem estar enormes então vamos nos separar e
nos encontrar em frente ao MC Donald's exatamente às 15:34. -Sophia diz. Ela parece
ter esquecido os problemas para se concentrar na nossa missão.
-Deviamos ter pegado emprestado alguma criança. A fila dá Americanas dá de ver
daqui.-Falo.
Sophia olha para a loja.
-Ah, aquela é a fila preferencial.-Ela diz e pega na minha mão me arrastando no meio da
multidão.-Eu pensei que se comprarmos em lojas menos conhecidas, podemos
economizar tempo nas filas.
-Você tem razão, até acho que sei onde vou.-Digo.
-Eu também. Acredita que eu tirei o Gusta? Poderia ser mais irônico?
-Não mesmo. Bom, vou indo. -Falo mas ela já tem sumido.
Eu tirei tio Kaio. Eu não o vejo há um tempão, mas lembro da minha mãe ter
mencionado uma vez que ele gosta de carros. Encontro uma miniatura em réplica
perfeita de uma BMW que deve ser bem rara pelo preço que custou.
Certo, isso foi fácil. Mas é claro que passei um tempão na fila. Assim que termino, vou
direto encontrar Sophia e ela está parada em frente ao MC Donald's me esperando com
uma sacola na mão.
Vamos direto para saída e quando saímos temos uma surpresa. O carro foi guinchado.
-Era o que me faltava.-Sophia comenta.
-E agora?-Pergunto.
-Agora eu vou pegar táxi até o Detran e você leva os presentes pra sua casa, mais tarde
eu passo lá pra buscar.-Ela diz.
-Um táxi até em casa vai custar uns 80 reais!-Digo.
-E um Uber?-Ela pergunta.
-To sem o aplicativo, você tem aí?-Pergunto.
-Desinstalei porque estou sem memória no celular.-Ela diz.
O mal de ter 5000 fotos de trabalhos, livros, slides, provas e até o próprio quadro.
Faculdade é uma desgraça.
-Vou ligar pro meu pai, então.-Digo.
Ela assente, me entrega a sacolas e sai andando até os táxis.
Coloco as sacolas no chão e tento ligar para meu pai. Ninguém atende. Tento de novo. E
de novo. Nada.
Tento ligar pra Aleph novamente e nada.
Então arrisco ligar para Gusta.
Ele atende no primeiro toque.
-Fala, Estela.
-Graças a Deus, tá fazendo o que? Preciso de ajuda. -Falo.
-To no centro com o Aleph...mas ele não está comigo agora.
Mentiroso.
-Preciso que venha no shopping perto do apartamento de vocês me buscar.-Digo.
-Ta...eu vou te buscar no shopping perto do meu apartamento... sozinho.-Ele fala e
desliga.
Gusta está estranho, mas pelo menos posso tirar essa história de briga a limpo.
Assim que ele chega, jogo as sacolas dentro do carro e entro.
-Eai, o que aconteceu?-Ele pergunta.
-Ah, guincharam o carro da Sophia.-Falo.
Ele me olha surpreso e começa a dirigir.
-Como assim guincharam?-Ele pergunta.
-Ela estava nervosa por causa de alguma coisa e estacionou na calçada do shopping.-
Falo olhando para ele estudando sua reação.
Ele levanta as sobrancelhas e suspira.
Bufo.
-Fala sério, o que aconteceu entre vocês?-Pergunto.
Gusta passa a mão na testa suada. Como se ficasse nervoso só de lembrar do assunto.
-Bom...se ela não te contou...-Ele começa e dou um tapa no seu braço.
-Oh Gustavo! Você é meu melhor amigo também. Aposto que contou pro Aleph.-Digo.
-Ah! Eu esqueci do Aleph!-Ele diz.
-O que? O que esqueceu?-Pergunto.
Ele olha para mim nervoso e murmura um palavrão. Ele pega o celular, disca um
número e coloca no ouvido.
-Ei cara, ainda ta me esperando?-Ele faz uma pausa.-Agora tá complicado...mas não se
preocupe, eu vou resolver tudo.
E ele desliga o telefone. Tá na cara que estava falando com Aleph.
Pego meu celular, disco o número de Aleph e ligo pra ele.
Chama.
Chama.
Chama.
E não atende.
Mas que merda tá acontecendo?
-Sera que dá pra me explicar?-Pergunto.
Ele suspira.
-Você vai ver a Sophia hoje?-Ele pergunta.
-Vou, ela vai lá em casa buscar um presente.-Digo.
Ele puxa algo da parte de trás do carro -uma sacola- e então me entrega.
-Entrega isso pra ela. Depois que você ver isso vai entender tudo.-Ele diz.
Pego a sacola e abro. Sinto todo meu sangue sumir do meu corpo.
-Um teste de gravidez!? Sophia está grávida?-Pergunto.
-Eu tô te entregando um teste de gravidez então acho que a resposta óbvia é: NAO SEI.-
Ele diz grosso como sempre.
Reviro os olhos.
-Então é por isso...por isso vocês brigaram.-Falo.
-Eu não posso ter um filho. Não agora. Aí ela me fala que tá atrasada e que sem querer
esqueceu de tomar a pílula uma vez... nós brigamos, falei pra ela que ter um filho nesse
momento seria o mesmo que acabar com nossa relação...ela tá me ligando desde cedo
pra eu ir deixar esse teste pra ela, mas eu estava comprando presentes e depois tive que
levar o Aleph pra tua casa, e ela continuou me ligando e ligando. Ela não me ouve,
sabe? Tá sempre...
-Você levou o Aleph pra minha casa?-Interrompo ele.
-Que?-Ele diz.
-Você acabou de dizer que levou o Aleph pra minha casa.-Digo.
-Eu não disse isso.-Ele fala.
-Disse sim.-Digo.
Ele para o carro.
-É aqui que você fica, pode descer.-Ele diz.
Olho em volta.
-Aqui não é minha casa. É na próxima quadra.-Digo.
-Eu sei, mas eu tenho o que fazer, desce aqui. Anda!-Ele diz.
Eu tenho vontade de pegar a cara de Gusta e sair arrastando na beira do asfalto até lá em
casa.
-Eu não vou descer.-Digo.
Gusta desce do carro e tira todas minhas sacolas e coloca na calçada.
Saio do carro.
-Ei! Pode parar!-Falo.
-Feliz Ano novo .-Ele diz entrando no carro.
Só tenho tempo de chutar a traseira antes de ele me deixar aqui plantada no meio da rua.
Eu vou matar ele.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
-Meu amor, nós não vamos desconvidar o Gusta.-Minha mãe diz e eu bufo que nem
uma criança.
-Quem é Gusta? Seu namorado?-Minha avó pergunta se metendo da conversa.
-Não, é o filho do Rafa e dá Andreia.-Minha mãe diz a ela.
-Ah, o menino. Já deve tá grande, ein? Peguei ele no colo uma vez...será que se lembra
de mim?-Minha avó diz.
-Graças a Deus não, se não teria traumatizado a criança.-Minha mãe diz.
-Oh Luna, tenha mais respeito com os idosos.-Meu pai grita da sala.
Consigo ver minha avó ficando vermelha daqui.
-Idosa é a senhora sua mãe! -Ela diz indo para a sala brigar com meu pai.
Minha mãe se vira para mim.
-Essa velha tá cada dia mais louca.-Ela diz.-Eu vou olhar o pudim, precisa de mais
alguma coisa?
-Não.-Falo.
E ela me deixa sozinha.
Eu estou com tanta raiva do Gusta. Ontem entreguei o teste de gravidez pra Sophia e
antes de eu contar tudo, ela sumiu. Ligo para ela e ela não atende. Perguntei prós meus
familiares o que diabos Aleph veio fazer aqui e ninguém admite que ele veio.
E hoje é véspera de ano novo. Era para ser o meu dia mais animado, mas estou
preocupada com Sophia e com Aleph.
Falta poucas horas para todos chegaram.
E agora vou ter que me arrumar para ficar em casa. O que já estou acostumada, a
maioria das datas comemorativas é aqui em casa por causa da comida minha mãe. Ela
adora cozinhar e comer depois.
Vou tomar um banho e começo a me vestir. Passei o ano dizendo a mim mesma que iria
ignorar o clichê de usar branco no ano novo, mas não resisti. Meu vestido é lindo. Vai
até o joelho e é colado ao corpo. Cavado na cintura e com um decote lindo. Tem vários
detalhes cor de rosa e vou combinar ele com um tênis salmão bem fofo.
Quando saio do quarto toda vestida, encontro meu avô assistindo jogo com meu pai.
Eles me veem e me dão um sorriso.
-Olha, que linda!-Meu avô diz.
-Venha aqui, sente conosco.-Meu pai diz.
Sento ao lado do meu pai e ele passa o braço pela minha cintura e me dá um beijo na
cabeça.
-Isso me lembra de quando o Tiago se vestia de palhaço para vocês não ficarem com
medo dos fogos.-Meu pai comenta. -Pena que não temos mais uma criança na casa.
Tiago é o pai da Sophia. Nós não tínhamos medo dos fogos, mas ver o Tio Tiago
vestido de palhaço era impagável então nós fingíamos.
-Na verdade o sobrinho do Aleph vem. -Digo.
-Serio? Por que ninguém me falou? Vou ligar pro Tiago.-Ele diz se levantando e
ficamos apenas eu e meu avô
-Onde está a minha avó?-Pergunto a ele.
-Na cozinha com sua mãe.-Ele responde e faz uma careta.
Meu Deus, como ainda não explodiram tudo?
-Acha que alguém deveria vigiar as duas?-Pergunto.
-Nah. Mesmo que as duas pareçam se odiar, elas se amam. Você sabe que sua mãe não
teve uma figura materna muito presente e que sua avó começou a se dar com o filho
quando ele tinha quase sua idade. As duas tem um vínculo impossível de entender, mas
que funciona.-Ele diz.
Meu vô tem razão. A árvore genealógica da minha família é meio complicada so com
meus pais e meus avós. Quando colocamos Júlio no meio, fica ainda mais difícil de
entender.
Falar nele...
-E o Júlio?-Pergunto.
-Ta com a namorada.-Ele diz.
Ah, eu odeio essa garota. Quando Júlio e Camy terminaram, foi um choque para todos.
E um mês depois ele apresentou a Luana para nós.
Não sei se é por causa da minha afeição por Camy, mas não consigo me dar com Luana.
O filho da Camy criou um laço muito bonito com o Júlio e é por isso que ela vem.
Ninguém sabe ao certo o porquê do término deles, apenas dizem que foi opção dos dois.
A campainha toca.
Me levanto para atender e assim que abro a porta me deparo com Tio Kaio, a mulher
dele e a filha deles.
Eles entram e eu chamo meu pai.
Me ocupo arrumando todos os presentes em baixo da árvore de Natal que ainda nesta
montada. Deixamos aí para colocar os presentes do amigo oculto. Depois vou colocar
uma música e após a terceira, a campainha toca novamente.
Vou correndo abrir.
Quando vejo Tia Laura e o Tio Tiago com Sophia atrás deles, não dá pra segurar o
sorriso.
-Olha! Mas está linda! Vocês duas cresceram tanto!-Tia Laura diz e abraça Sophia.
A histérica Tia Laura de sempre.
Tio Tiago olha para mim e levanta uma sacola na sua mão.
-Trouxe minha fantasia de palhaço, cadê o Sam?-Ele pergunta já entrando.
-Onde coloco os presentes?-Tia Laura pergunta.
-Ah, eu arrumo.-Digo.
Pego os presentes da sua mão e deixo ela entrar.
E agora somos apenas eu e Sophia.
-E então, o que deu?-Sussurro a ela.
Sophia suspira.
-Foi mal, Estela. Eu não tô afim de conversar, se o Gusta chegar, me avisa, tenho que
entregar o presente dele.-Ela diz e entra.
Tento não ficar brava e entender o lado de Sophia, mas o que custa ela me dizer o
resultado do teste?
Levo os presentes para debaixo da árvore e vejo um muito mal embrulhado.
Não é difícil embrulhar um presente, Sophia poderia ter se esforçado mais, mesmo
estando mal assim.
Tento ajeitar o presente e sem querer rasgo com minha unha. Merda.
Melhor eu trocar a embalagem é avisar para Sophia depois. Levo presente para o meu
quarto e procuro algum papel de presente. Acho na minha gaveta. Ainda é do meu
aniversário.
Abro o presente.
Estranho, é um...
Teste de gravidez é uma roupinha de bebê!
O teste tem dois pausinhos. Positivo.
Eu não acredito. Sophia está mesmo grávida. E ela tirou Gusta, faz sentido isso estar no
meio dos presentes. Não acredito que ela vai anunciar aqui. Gusta vai ficar arrasado.
Vai ser uma loucura. Preciso conversar com ela sobre isso.
Embrulho o presente e coloco de volta na árvore. Procuro Sophia pela casa e a encontro
conversando com minha mãe. Estou prestes a ir falar com ela quando a campainha toca
e meu pai me manda atender.
Abro a porta e dou de cara com meus padrinhos e Gusta.
Talvez eu possa resolver essa situação avisando Gusta. Ajudar ele a compreender, e na
hora que ela foi entregar o presente para ele, ele dizer coisas bonitas e os dois se
resolverem.
Dou um beijo nos meus padrinhos e puxo Gusta pelo braço. A essa altura nem me
importo que ele me deixou na rua.
Arrasto ele pro meu quarto enquanto ele reclama o caminho todo.
-Ei! Desculpa, tá? Não precisa me matar, não. É ano novo.-Ele diz.
-Não vou te matar. Precisamos conversar.-Digo.
Ele se senta.
-É sobre a Sophia ou Aleph?-Ele pergunta.
Fico tentada a responder "Aleph" e tirar de letra essa história toda. Mas meu dever é
com Sophia.
-Sua namorada. -Digo e ele assente esperando a bomba.-Ela tá grávida.
Ele respira fundo. Consigo ver ele ficando cada vez mais branco. Ele não pode desmaiar
aqui. Dou um tapa na sua cara.
-Ta maluca?-Ele pergunta.
-Sophia tirou você no amigo oculto e vai te dar o teste de gravidez de presente. Ela vai
anunciar a todos.-Digo.
Eu não sei se Gusta perdeu a consciência. Ou se ele está apenas digerindo tudo. Pois ele
nem me olha. Seu olhar é para o teto. Travado. Completamente assustado.
Dou outro tapa nele.
-Você tem que parar de fazer isso.-Ele diz.
-Reage! Acabei de te contar a notícia mais importante da tua vida! A mulher que tu ama
tá grávida do teu filho. -Digo.
-Não fala assim que eu desmaio.-Ele diz.
-Gustavo! A Sophia é umas das poucas coisas boas que te aconteceram. E agora vai ter
outro ser que é a junção de vocês dois. O resultado do amor de vocês. -Digo.
-Eu não tenho estabilidade financeira e muito menos emocional para um bebê.-Ele diz.
-Você acha que nossos pais tinham? Você sabe que eles engravidaram da gente uns 3 ou
4 anos mais velhos que a gente só. E olha para eles, nós somos mais maduros que eles.
O tio Tiago tá se vestindo de palhaço, sua mãe é a louca dos cachorros e não vou nem
falar da briga infantil entre minha mãe e minha avó. Mas eles conseguiram pois tinham
o apoio um dos outros. E é exatamente o que você e Sophia tem.-Digo.
Ele se deita. Ficamos assim por horas. Conversando, discutindo, se entendendo. Nem
vimos o tempo passar.
-...olha, chega. Só me diz uma coisa, você ama a Sophia?-Pergunto já de saco cheio.
-Obvio!-Ele diz sem nem pensar antes.
-Então você vai largar ela gravida? Do seu filho!-Digo quase gritando.
-Obvio que não! Ela é o amor da minha vida! Eu nunca faria isso com ela mesmo que eu
perca minha vida, vou ama-la até o fim.-Ele diz se exaltando.
-Então! Por que estamos há horas gritando um com o outro?-Pergunto.
-Eu não sei! Não vou dizer que planejei amar esse bebê, mas a mulher que eu amo me
deu ele e eu sei que vou ama-lo também.-Ele diz.
Ficamos nos olhamos. De repente se abre um sorriso no rosto dele e percebo que
também estou sorrindo.
-Chegamos a um consenso.-Digo.
-Sem dúvidas.-Ele diz e pega minha mao.-Eu não sei o que faria sem você. Tô até mais
animado com essa história.
-Já que resolvemos, pode contar o que tem pra me contar sobre o Aleph?-Pergunto ao
mesmo tempo que a porta do meu quarto é aberta.
Sophia nos olha com cuidado. Certamente curiosa para saber se estávamos falando dela.
Por sorte mudei de assunto.
Sorte mesmo?
Eu estava prestes a descobrir porque diabos Aleph está me ignorando.
-Ahn...vamos jantar e depois começar o amigo oculto para terminar antes da meia
noite.-Ela diz.
Gusta se levanta.
-Estamos indo.-Ele diz.
Ela assente e sai.
-Não terminamos essa conversa.-Digo.
Ele revira os olhos e sai na minha frente.
Quando chego a sala onde todos estão reunidos, tenho a vaga lembrança do ano novo do
ano passado. Aleph e eu ainda estavamos com nosso acordo de amizade colorida. Eu
estava me apaixonando por Aleph...bons tempos.
E assim que meu olhar cruza com o de Aleph, sinto os mesmos calafrios que senti
aquela noite quando vi ele. O mesmo sentimento de dúvida e alívio por achar ele. Claro
que dessa vez ele não está beijando outra.
-Ate que enfim, vamos logo jantar!-Minha mãe diz assim que me vê.
Estão todos aqui.
Tio Tiago está vestido de palhaço brincando com o sobrinho de Aleph. A irmã dele está
sentada no sofá conversando com minha avó. Júlio está com a namorada do outro lado
da sala. Dá pra ver que tem uma tensão entre Júlio, Luana e Camy.
Anoto mentalmente que nesse próximo ano vou dar os tapas que Júlio merece.
Minha mãe está se direcionado a mesa. Ela está linda. Tá usando um vestido solto
branco é uma sapatilha. Minha mãe não parece ter a idade que tem.
Tua Laura está colada nela e as duas parecem está rindo de algo.
Meu pai está com meu avô e meus amigos rindo e tomando cerveja.
Sophia está encolhida num canto e Gusta está em outro quase atravessando ela com o
olhar.
E Aleph está ao seu lado.
Olhando pra mim.
Por que toda vez que vejo ele olhando assim pra mim, só consigo pensar no quanto eu
estou ferrada e sortuda ao mesmo tempo?
Ele anda até mim ao mesmo tempo que todos se levantam e vão para a mesa de jantar.
-Tava ali pensando se a mulher mais linda dessa casa tinha ido passar o ano novo com
outra pessoa.-Ele diz chegando perto. Eu sei o que ele vai fazer. Me agarrar pela cintura
como sempre faz para ficarmos com os rostos próximos.
-Tava conversando com Gusta no quarto.-Falo.
Seus braços estavam quase me envolvendo, mas ele simplesmente abaixa.
-Sobre?-Ele pergunta.
Desgraçado. Ah como eu queria saber o que Gusta sabe.
-Segredo.-Digo.
Aleph vacila. Aí tem coisa. E não parece ser boa. O que o Gusta sabe que fez Aleph
parecer uma criança quando a mãe descobre que ele quebrou um copo e escondeu.?
-O que tá acontecendo?-Pergunto.
-Você me vê depois de dias e nem me dá um beijo? -Ele diz.
-Por que não me atendeu ontem? Por que veio aqui em casa? Por que você tá estranho?-
Bombardeio ele com as perguntas.
Ele levanta os braços.
-Opa! Perguntas demais pra uma barriga vazia, vamos lá jantar.-Ele pega na minha mão
e me puxa pra mesa.
O jantar foi como sempre é quando estamos todos reunidos. Muita bagunça, muitos
barulho e até algumas brigas.
A maioria entre minha mãe e minha avó.
Logo quando acabamos, chegou a hora do amigo oculto.
Falta 30 minutos pra meia noite.
Meu avô se oferece para começar.
Ele pega o seu presente na árvore de natal e fica na frente de todos.
-A pessoa que eu tirei é um vacilão.-Meu avô diz.
-Julio!-Minha mãe grita.
-Isso!-Meu pai diz.
Eles ensaiaram isso. Certeza.
Claro que rendeu muita risada. Luana olhou pra minha mãe como se quisesse matar ela.
Eu espero que ela não tente, minha mãe é uma barraqueira de primeira.
Júlio se levanta para receber o presente.
Meu avô deu um kit de perfume pra ele.
E então ele vai até a árvore de natal e pega outro presente.
-A pessoa que eu tirei... é uma pessoa muito especial pra mim. Eu não conheço a muito
tempo, mas fez a minha vida ficar mais colorida. Eu amo essa pessoa com todo minhas
forças.-Ele diz.
Luana se leva da sorrindo.
-É a Camy!-Minha mãe grita.
Eu e metade da sala prendemos a risada.
É oficial. Minha mãe pegou implicância com a Luana.
-Na verdade é o Isaque.-Júlio diz.
Luana se senta e cruza os braços.
.
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.
.
-Um perfume!-Tia Laura diz ao receber o presente da minha avó.
-Vish, tá com nota fiscal?-Minha mãe comenta.
-Ela não é mal educada como você, não trocaria um presente que eu dei.-Minha avó diz.
Minha mãe bufa.
-Você nunca me deu um presente pra eu trocar.-Minha mãe diz.
-Mas você trocou todos os que eu dei pro Sam!-Minha avó diz.
Minha mãe olha pro meu pai.
-Você contou?-Ela diz e dá um tapa nele.
-Ai! Eu não contei!-Meu pai diz.
Ops.
-Ah, eu contei.-Digo.
Minha mãe olha para mim.
Agora me deu medo. Foi sem querer e foi no natal.
-Certo, próximo.-Tia Laura diz.
Ela pega um presente.
-Esse presente vai pra coisinha mais linda desse mundo. A menina mais fofa!
-Uh! É o Tiago!-Minha mãe diz.
-Ha-Ha!-Tio Tiago diz e aperta o nariz de palhaço.
-É minha filha!-Tia Laura diz.
Sophia se levanta.
Olho para Gusta. Ele sabe o que vem a seguir. Eu mesma estou tremendo. Sophia vai
até a mãe e a abraça. Caramba, como as duas são parecidas. Os mesmos cabelos pretos,
os mesmos olhos escuros, as feições... Sophia é uma versão mais nova da tia Laura, mas
sua personalidade e totalmente diferente dos pais.
Tia Laura entrega o presente a Sophia e observa ela abrir. Um sorriso se abre no rosto
da Sophia. Um grande sorriso. Ela olha para a mãe admirada e dá um grande abraço.
-Mostra!-Minha mãe grita.
Sophia ri e abre o presente para todos nós vermos o que tem dentro. Vários livros. Ela
vai tirando os livros e posso ver que não são livros comuns. São livros de colecionador.
Não foi atoa o sorriso de Sophia.
Então tia Laura se senta e Sophia se põe no meio da sala. Ela parece nervosa e faz o que
sempre fizemos desde criança em situação assim. Olhamos uma pra outra. Lembro de
uma vez que Sophia se apresentou para a escola toda no show de talentos. Ela ia cantar
uma canção com um garoto. Ela estava para fazer um buraco no chão de tão nervosa e
começou a errar a letra, então seu olhar pousou em mim, lá na primeira fila. Sophia
cantou olhando pra mim e eu passei pra ela toda a segurança que ela precisava.
Então eu fiz a mesma coisa. Olhei para Sophia como se dissesse "tudo vai ficar bem!"
-Bom, boa noite.-Ela disse e todos respondemos a ela. -Eu tirei uma pessoa muito
especial. Alguém que eu convivi a vida toda, vivi muitas aventuras e quis matar
diversas vezes. Essa pessoa me ensinou tanto...eu passei minha vida inteira lendo
romances, acreditando naquilo e me perguntando se isso aconteceria comigo. Até que eu
vi que esses romances são apenas coisas de livros. Não são reais. E então ele apareceu e
me mostrou que eu estava errada. Eu vivi aqueles romances que eu lia, vivo até hoje
graças a ele e essa é a melhor experiência que eu poderia ter. Obrigada por ser meu
protagonista.-Sophia diz a última parte olhando para Gusta.
É claro que a nerd dos livros emocionaria todos nós. Gusta estava chorando. Seus olhos
estavam marejados e dava para ver que ele tentava segurar mas era impossível. Não
dava com a mulher da vida dele, a mãe do seu primeiro filho, falando todas aquelas
palavras lindas para ele.
Então ele se levanta.
-Por que você nunca falou nada assim pra mim?-Ouvi meu pai sussurrar pra minha mãe.
Olhei para os dois pedindo silenciosamente que calassem a boca, mas não pareceu ter
funcionado.
-Por que será? Você não sabe me fazer um elogio, me falar uma coisa bonita sem tá
bêbado ou colocar um palavrão no meio. Nada romântico, Sam. Nada romântico.-Ela
respondeu e virou a cara.
-Qual é, Luna!-É a última frase do meu pai antes de Gusta começar a falar.
Ele já estava frente a frente com Sophia, segurando suas mãos.
-Eu sei, tá bom? E tudo bem! Eu tô tão feliz! Juntos nós vamos conseguir, você é a
mulher da minha vida e...-Ele se vira para todos nós.-Esta esperando um filho meu!
Então a bagunça começa.
-Eu vou desmaiar!-Tia Laura diz e se joga nos braços do tio Tiago.
Tio Rafa, o pai de Gusta, se levanta e fica olhando para Gusta como se tivesse um
conselho bem sábio para dar pra ele. Enquanto isso tia Andreia fica sentada olhando pra
eles com a boca aberta. Os demais convidados parecem apenas surpresos, a não ser
minha avó. Ela age como se esperasse algo assim.
-Eu nem sabia que a Sophia e o Gusta já transam.-Meu pai sussurra pra minha mãe.
-Querido, até nossa filha transa, por que eles não?-Minha mãe sussurra de volta e eu
quero me matar.
-Mae! -Falo alto e ela apenas dá de ombros enquanto meu pai me encara alarmado.
-Espera aí! Que história é essa?-Sophia fala alto chamando atenção de todos.
Gusta suspira e a olha com ternura.
-Desculpa pela forma que agi, vamos fazer a coisa certa, vamos ser bons pais. -Ele diz
sorrindo.
-Eu não acredito que está grávida! Como pôde fazer isso, minha filha?-Tio Tiago
pergunta.
-Ora, Tiago. Todos sabemos como isso acontece, para de gritar com a menina, você e
Laura eram piores, eu me lembro muito bem de você indo no Caleb pegar você sabe o
que.-Minha mãe faz tio Tiago baixar o tom de voz.
-O Caleb policial? Aquele que tem uma queda pelo meu pai?-Pergunto a minha mãe.
Ela está prestes a responder quando ela entende minha pergunta inteira.
-Caleb não tem uma queda pelo seu...-Ela olha pro meu pai e abre a boca.-Caramba, isso
explica muita coisa!
-Gente, pelo amor de Deus, me escutem!-Sophia grita.
Todos nós calamos e olhamos para ela.
Eu me levanto e vou até a árvore de natal. Sophia está nervosa e eu tenho que ajuda-la a
botar tudo pra fora.
-Olha, Gusta, isso foi lindo. Foi maravilhoso saber disso!-Ela diz agora dando um
sorriso. Pego o presente que eu mesma embrulhei e entrego pra Sophia.-O que é isso?
-Sem querer eu rasguei e embrulhei de novo. É o presente do Gusta. -Falei e me
posicionei atrás deles.
Sophia pegou o presente e suspirou. Ela entregou para Gusta e o observou abrir.
-Eu sei o que tem aqui. -Ele diz tirando o teste de gravidez e o pequeno boddy
branquinho. -Vamos ter um bebê.
-O que?-Minha mãe grita e eu chio pra ela ficar calada.
Vários olhares de reprovação estão em cima de Sophia e eu me encolho por ela.
-Perai, o que?-Agora foi Sophia.-Esse não é meu presente! Eu não estou grávida! Meu
Deus!
-Como assim não está grávida?-Gusta e eu perguntamos juntos.
Um silêncio enorme se instala na sala, todos os olhares voltados para Sophia que olha
para o presente completamente abismada. E uma única pergunta, estava na cabeça de
todos nessa sala, se o presente não era de Sophia, de quem era?
Então minha mãe se levanta e abraça a Sophia como se fosse uma filha e dá um beijo na
cabeça dela.
-Eu quero você e todos aqui saibam que não importa o que aconteça, mesmo que isso
aqui não seja seu, Sophia, se fosse, se acontecesse qualquer coisa, você ainda seria
nossa Sophia, você ainda seria incondicionalmente amada por todos nós e eu iria te
defender pra qualquer um que fosse, tá bem? O mesmo vale para minha filha, Gusta,
Aleph e Júlio. Vocês são jovens, pode parecer que alguns problemas são o fim do
mundo, mas eu garanto que não são e não tem nada no mundo que não me faça defender
vocês com unhas e dentes sejam de quem for. -Sophia abraça minha mãe e chora no seu
peito.
Eu não consigo segurar e começo a chorar também.
Eu não faço a mínima ideia de quem eu vou ser daqui a 10, 20, 30 anos. Mas nesse
momento, eu quero ser igualzinha à minha mãe, a mulher mais incrível que eu conheço.
O tio Tiago se levanta e se junta ao abraço. Vejo Gusta limpando os olhos e me dá mais
vontade de chorar ainda.
Então a Tia Laura se levanta, mas ela não se junta ao abraço. Ela vai até o presente,
analisa a caixa e o que tem dentro e sorri com lágrimas caindo sobre suas bochechas.
-Na verdade, esse presente é meu. Você vai ter uma irmã, Sophia, e o Tiago vai ser
papai. -Tia Laura fala e o Tio Tiago explode de emoção abraçando ela e rodando ela no
ar.
Ele chora no ombro dela como um bebê, e minha mãe permanece abraçada com Sophia,
as duas limpando as lágrimas e eu não consigo imaginar momento mais emocionante.
-Então...acho que agora é o Gusta, né?-Julio diz quebrando o clima e recebendo um tapa
na cabeça da minha mãe.
-Na verdade, eu ainda não entreguei meu presente a ele. -Sophia diz indo até a árvore e
tirando de lá um presente. Ela entrega a Gusta que demora alguns segundos encarando
Sophia, até pegar e abrir.
Gusta põe a mão no peito.
-Você...?-Gusta começa a rir incontrolavelmente e dá um beijão em Sophia. Chego mais
perto para ver o que tem na caixa, e é apenas dois pares de pantufas iguais.
Olho para Sophia como se tivesse uma interrogação enorme em cima da minha cabeça e
ela ri.
-Uma vez estávamos passando no shopping e ele viu essas pantufas e disse que essa
seria a primeira coisa que compraria quando fôssemos morar juntos. -Ela diz e Gusta
não consegue resistir e a abraça de novo.
Isso foi fofo.
E isso me lembra alguém que não foi nada fofo comigo hoje.
Procuro Aleph pela sala, e lá está ele, olhando a cena sorrindo com Isaque no seu colo
dormindo.
-Ta bom, gente, vamos continuar, o Isaque já dormiu, já está tarde, se continuar assim, a
gente vai virar o ano e não vai ter acabado.-Falo batendo palmas expulsando todo
mundo para seus lugares, deixando só Gusta lá.
-Ta, eu tirei uma mãe incrível, uma tia incrível, um amor de pessoa, porém se pisar no
calo dela... é melhor não fazer. -Ele diz indo até a árvore e tirando um presente de lá.
Todos os olhares vão para minha mãe.
-Mas olha como tá mal criado esse menino, olha Rafael, tá vendo a petulância?-Minha
mãe diz indo até Gusta.
-Errado não tá. -Tio Rafa dá de ombros.
Minha mãe fuzila ele com o olhar.
Após a troca de presentes, é a vez de minha querida mãe. E assim que ela se posiciona
no meio da sala, eu já sei que algo vai acontecer. Ela está com o olhar dela de quem vai
fazer um show, e eu não sou a única que percebi. Tio Rafa, Tio Tiago, Tio Kaio, meus
avós e meu pai estão com uma cara, como se já tivessem presenciado um bom show da
minha mãe antes.
-Muito bem, eu não conheço muito bem a pessoa que eu tirei, mas eu espero conhecer,
quem sabe uma dia a gente se torne até amigas, não é mesmo?-Poucos nessa sala
conseguiram notar a ironia no tom de voz da minha mãe.
-Eu não sei quem poderia ser...-Minha avo pensa alto cautelosamente, como se estivesse
procurando saber onde esse show da minha mãe vai dar.
-Ora, mãe, está bem claro, acredito que seja a Luana. – Meu pai fala como se tivesse
ensaiado a frase.
Minha mãe aponta para ele.
-Exato, sempre um gênio, Sam. Eu tirei a Luana.-Minha mãe fala com naturalidade, ao
contrário do meu pai, ela é uma excelente atriz.
Luana parece surpresa e sorri. Minha mãe retribui o sorriso e pega com cuidado uma
caixa quadrada de presente. Luana se aproxima dela e dá um abraço na minha mãe.
-Eu comprei isso pois soube que ama aranha.
Arregalo os olhos na menção da palavra aranha. Vejo na cara de Luana que ela odeia
aranha, mas claramente não quer deixar minha mãe sem graça por ter errado o presente.
Minha mãe faz gestos para Luana abrir o presente. E Luana, com muita coragem, abre o
laço. Os quatro lados da caixa caem e revelam uma caixa de vidro com nada mais do
que uma tarântula viva dentro. Luana dá um pulo para trás, eu me afasto já sentindo
meu coração disparar e sinto uma vontade enorme de chorar só de olhar para a tarântula.
Então, atrás de mim, eu sinto a presença da única pessoa no mundo capaz de me
acalmar em qualquer circunstancias, ainda mais uma circunstância dessa. Aleph segura
minha mão e me puxa para minhas costas encostarem nele, e assim, nesse gesto sutil,
despercebido por todos nessa sala, Aleph faz meu medo virar segurança.
Júlio corre até Luana e afasta ela dá tarântula.
-Pelo amor de deus Luna, eu disse que a Luana odeia aranhas!-Júlio fala pegando a
caixa de vidro, e acidentalmente abrindo a portinha. A tarântula sai da caixa
rapidamente e fica em cima da mesa. Num intervalo de 10 segundos, não tinha uma
alma viva além da minha mãe na sala.
Minha mãe fala com a tarântula como se ela fosse um cachorro fofinho, o que é algo
inédito, afinal minha mãe não fala assim nem com nosso cachorro. Ela pega a tarântula
na mão e coloca de volta no vidro. Luana chora e ouço ela pedir baixinho para Júlio
levar ela para casa.
E foi assim que minha mãe começou a criar uma tarântula no seu quarto, gerando
inúmeras brigas e pregou inúmeras pecas no meu pai.
Após Luana e Júlio entregarem seus presentes e irem embora dessa noite cheia de
emoção, continuamos o amigo oculto como se nada tivesse acontecido, afinal, essa
família está acostumada com fortes emoções, duas notícias de gravidez, mesmo que
com uma falsa e uma tarântula solta na sala, é apenas uma segunda feira para nós.
Tia Andreia foi a próxima, ela tirou meu pai. Deu a ele um VR. Minha mãe revirou os
olhos pensando nas horas que meu pai vai perder em frente ao vídeo game. E então meu
pai fez sua cara cênica enquanto segurava o presente.
-A pessoa que eu tirei é uma pessoa querida por mim. Bom, todos sabem qual é o meu
maior orgulho, a coisa que eu mais amo no mundo, minha filha Estela. E ela não é mais
aquele bebe que eu acompanhava, que aparecia com um dodói ou que provocou o Gusta
até ele empurrar ela ou algo assim, pois Estela era assim, sempre começava as brigas. E
eu não posso mais olhar por ela, não sei mais de tudo da vida dela, mas saber que ela
tem os amigos e o Aleph perto dela sempre, me deixa mais tranquilo para dormir à
noite. E saber que ela está com alguém que faria tanto por ela, quanto por mim, por isso
resolvi repensar minha decisão de hoje, então, Aleph, meu presente para você seria só
uma blusa que a Luna comprou outro dia, mas junto dela, agora você tem meu sim.

Meu pai olha para Aleph sério, e vejo um sorriso brotar no rosto de Aleph. Ele se
apressa para abraçar meu pai e vejo sua boca de mexer no ouvido dele. E eu,
completamente curiosa, tentando saber que diabos é esse presente.
Meu pai se senta ao lado da minha mãe e eles dão as mãos. Aleph olha diretamente para
mim, respirando fundo antes de começar a falar.
-Eu nunca, na minha vida inteira, imaginei que seria tão feliz. Eu nunca imaginei que
amaria tanto alguém, nunca pensei que estaria num lugar com pessoas que conheci há
poucos anos e me sinto em família. Nunca pensei que estaria fazendo algo assim, e a
benção do homem mais importante da sua vida, é extremamente importante para mim. E
eu tive. Minha amiga oculta não é só minha amiga. Nunca nem se quer chegamos a ser
só amigos. Fomos do ódio um pelo outro, para uma amizade colorida complicada, até
um amor incondicional. E agora, espero eu, um amor para vida inteira, porque, Estela,
minha melhor amiga, minha namorada e minha vida, casa comigo?
Eu nem consigo olhar em volta para a reação de todos. Mal ouço a Sophia suspirar alto
de surpresa, ou Camy soltar um meu deus do céu!. E eu até consigo ouvir minha mãe
chorando, mas minha atenção mesmo, está toda voltada a criatura mais incrível no
mundo, olhando para mim com olhos suplicantes. Um olhar único, pois é um olhar
pedindo que eu o ame a vida inteira. E como diabos existiria a possibilidade de eu dizer
não? Essa palavra foi extinta do meu vocabulário assim que Aleph me pediu para casar
com ele.
E assim, eu me levantei, abracei ele com toda minha forca enquanto era girada pela sala
e disse um enorme, eloquente e alto SIM!
Sim, eu vou casar com o amor da minha vida.
E assim, de repente, o barulho dos fogos começam, indicando que um novo ano chegou
e Aleph e eu permanecemos abraçados ouvindo todos os murmúrios de feliz ano novo,
olhando um para o outro, como se fosse o momento mais incrível de nossas vidas.

fim

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