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ÁREA INTERESSADA: Graduação – Pedagógico – Ensino a Distância

Credenciamento do Egresso junto ao Conselho de Regional de Fisioterapia e Terapia


ASSUNTO:
Ocupacional

Os Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional têm noticiado, por vários


REFERÊNCIA:
canais, que não irão conceder credenciais para Egressos de Cursos a Distância

DATA: 17/02/2023

PARECER N° 02/2023 – VIT/GER/REG

RESUMO EXECUTIVO

Possibilidade dos Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional negarem credenciais


CONSULTA:
para Egressos de Cursos a Distância

1. O Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI cumpre todas as normas necessárias para
FORMAÇÃO DO ACADÊMICO no Curso de Fisioterapia e Terapia Ocupacional na modalidade a
distância.

2. A inscrição no Conselho de Classe é DIREITO INDIVIDUAL, uma RELAÇÃO PRIVADA do Egresso


com o Conselho. A obrigação da IES fornecer o Diploma e o Histórico Escolar.
CONCLUSÃO:
3. Por ser um DIREITO INDIVIDUAL a IES não possui legitimidade jurídica em nome do Egresso.

4. O Egresso pode ser orientado a buscar amparo judicial para solucionar suas questões junto
Conselho de Classe. Uma das alternativas é propor uma Mandado de Segurança; podendo
inclusive ser coletivo (reunindo outros Egressos).

1. HISTÓRICO

No dia 16 de setembro de 2019 o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia


Ocupacional da 3ª Região (CREFITO-3) publicou no Diário Oficial da União1 a Resolução n° 68, de 12 de
setembro de 2019 que “Proíbe a inscrição de Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais oriundos de cursos
realizados na modalidade a distância e dá outras providências”. Sendo que seu art. 1º tem a seguinte
disposição:

Art. 1º - Não permitir a inscrição e o registro como profissional neste CREFITO-3 de


egressos de cursos de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional realizados na modalidade
à distância.

1
Diário Oficial da União (D.O.U) n° 179, de 16 de setembro de 2019 – Seção 1 – pág. 144.

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Desde já, dois aspectos merecem destaque:

1º - O fato da Resolução n° 68/2019 ter sido publicada em Diário Oficial da União


não lhe dá nenhuma legitimidade e/ou validade jurídica;

2º - A proibição de inscrição de egressos de cursos na modalidade a distância NÃO


TEM NENHUMA SUSTENTAÇÃO JURÍDICA2.

Não bastasse a ilegalidade cometida por meio da Resolução n° 68/2019, o CREFITO-3


encaminhou e-mail prestando a mesma informação da proibição da credencial aos egressos de cursos na
modalidade EAD, vejamos:

Além disso, em matéria intitulada “Conselho Regional não aceitará inscrições de


fisioterapeutas formados em EAD”, veiculada no dia 25 de novembro de 2022 na Revista Ensino Superior3,
o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 3ª Região (CREFITO-3) manifestou-se no
seguinte sentido:

O presidente do Crefito-3 informa que foram enviadas cartas e comunicados aos


cursos de São Paulo e assegura que o conselho não aceitará inscrições de profissionais
do modelo EAD. “Pois não há garantia de que tenham sido preparados para a
responsabilidade exigida”.

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Como será demonstrado no presente parecer.
3
https://revistaensinosuperior.com.br/conselho-e-contra-fisioterapia-
ead/#:~:text=O%20presidente%20do%20Crefito%2D3%20informa%20que%20foram%20enviadas%20cartas,preparados%20para%20a%20responsa
bilidade%20exigida%E2%80%9D (Acesso em 17/02/2023 – 11:09h).

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Por óbvio, estas práticas, reiteradas, contra o ensino na modalidade a distância
praticas pelo CREFITO-3 e por outros Conselhos da área, terminam por estabelecer um clima de pânico e
insegurança aos Acadêmicos matriculados nestes Cursos Superiores.

2. ENSINO SUPERIOR - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO PRESENCIAL E EDUCAÇÃO A


DISTÂNCIA – VEDADA A DISTINÇÃO

No Brasil a Educação tem status Constitucional, sendo que o art. 205 da Constituição
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Federal prevê que a mesma possa ser promovida pelo Estado em colaboração com a sociedade. E a iniciativa
privada tem liberdade para atuar, desde que observadas as devidas normas, mediante a autorização e
avaliação do Poder Público.

Há que se destacar ainda que a educação brasileira tem como referencial a Lei n°
9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases) que, no que tange ao ensino superior, traz alguns dispositivos que
merecem destaque:

Art. 45 - A educação superior será ministrada em instituições de ensino superior,


públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização.

Art. 46 - A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento


de instituições de educação superior, terão prazos limitados, sendo
renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação.
[...]

Art. 48 - Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão


validade nacional como prova da formação recebida por seu titular.

Como se observa, a partir dos citados artigos da Lei n° 9.394/94 a educação superior
é de responsabilidade das instituições de ensino superior (IES). As quais devem ser credenciadas (e
recredenciadas) em processo específico de avaliação pelo Ministério da Educação (e/ou seus órgãos). Os
cursos ofertados pelas IES, a partir da respectiva avaliação, serão autorizados e reconhecidos. E, por fim, os
diplomas de cursos superiores reconhecidos (desde que registrados) terão validade nacional – PROVANDO
A FORMAÇÃO DE SEU TITULAR, como preconizado pela Portaria n° 1.095 de 25 de outubro de 2018,
emanada do Ministério da Educação, Gabinete do Ministro:

4 Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,

visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

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Art. 2º - Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão
validade nacional como prova da formação recebida por seu titular.

Parágrafo único – O reconhecimento de curso presencial na sede não se estende às


unidades fora de sede, para fins de registro do diploma.

Art. 3º - Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas próprias


registrados, e aqueles conferidos por instituições não universitárias serão registrados
por universidades credenciadas, na forma da legislação vigente.

Art. 4º As universidades, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e os


Centros Federais de Educação Tecnológica registrarão os diplomas por eles próprios
expedidos e poderão registrar diplomas conferidos por IES não universitárias.

Outro aspecto importante diz respeito a vedação, quando da emissão do diploma, de


distinção entre a modalidade de ensino presencial e a modalidade de ensino a distância, como estabelecido
pelo art. 100, do Decreto n° 9.235 de 15 de dezembro de 2017, vejamos:

Art. 100. É vedada a identificação da modalidade de ensino na emissão e no registro


de diplomas.

Em suma, legislação pátria não faz distinção quanto a validade jurídica do diploma
expedido pelas Instituições de Ensino Superior, seja na modalidade presencial ou na modalidade a distância.

3. ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS – CONSELHOS PROFISSIONAIS – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

O Conselho Federal e os respectivos Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia


Ocupacional foram criados pela Lei n° 6.316, de 17 de dezembro de 1975, que na forma de seu art. 1º têm a
incumbência de FISCALIZAR o EXERCÍCIO da PROFISSÃO:

Art. 1º - São criados o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Fisioterapia e


Terapia Ocupacional, com a incumbência de fiscalizar o exercício das profissões de
Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional definidas no Decreto-lei nº 938, de 13 de
outubro de 1969 (destaque nosso).

Enquanto o Conselho Profissional fiscaliza o exercício da profissão, a FORMAÇÃO dos


profissionais é responsabilidade das Instituições de Ensino Superior, as quais se encontram sob a égide do
Ministério da Educação (MEC) e da legislação pertinente, como explicitou a Secretaria de Regulação e
Supervisão da Educação Superior (SERES), na Nota Técnica n° 392/2013/CGLNRS/DPR/SERES/MEC:

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[...] temas relacionados ao exercício profissional são de competência dos Conselhos
Profissionais, enquanto temas relacionados a formação acadêmica, regulação e
supervisão da educação competem a este Ministério da Educação[...].

A mesma Nota Técnica faz referência ao Parecer CNE/CEB N° 20/2020 do Conselho


Nacional da Educação:

Uma coisa é a atribuição da área educacional de definição de diretrizes para a


organização, funcionamento e supervisão dos sistemas de ensino e das escolas, em
termos de diretrizes para a estruturação curricular dos cursos, determinando
condições de oferta, critérios e procedimentos de avaliação da aprendizagem,
requisitos para matrícula e aproveitamento de estudo e de competências constituídas,
bem como para expedição de cerificados e diplomas.

Outra coisa é a atribuição dos órgãos de fiscalização do exercício profissional no que


se refere às atribuições principais e à ética profissional. Não cabe ao órgão profissional
definir condições de funcionamento de cursos e de programas educacionais. O que lhe
compete é definir as atribuições profissionais correspondentes a partir da respectiva
lei de regulamentação da profissão (...), considerando o diploma expedido e registrado
por escolas autorizadas e supervisionadas pelos órgãos próprios do sistema
educacional, como determinam as próprias leis referentes à regulamentação das
profissões (g. n.)

Ainda a respeito da importante atuação dos Conselhos Profissionais há que destacar


o Parecer CNE/CES N° 209/2020, cujo relator era o Conselheiro Antonio Carbonari Netto:

Para o registro na categoria profissional, os Conselhos Profissionais verificam se o


curso de origem do profissional possui ato autorizativo e de reconhecimento emanado
pelo agente regulador da educação, nos termos da legislação. Assim, estabelece-se
uma relação profícua, na qual ambos os atores são importantes e possuem atribuições
complementares. Os sistemas de educação (federal, estaduais e do distrito federal)
respondem pela formação, e, aos Conselhos Profissionais, cabe o registro e a
fiscalização da atividade profissional.

Contudo, comprovam-se hoje relatos de Conselhos Profissionais que criam regras


que vão além daquelas estabelecidas pelos sistemas de ensino, e chegam a negar o
registro ao profissional que se formou em curso que, apesar de atender às DCNs e
aos regramentos complementares para a oferta estabelecidos pelo sistema de
ensino, não cumpriu “outras regras”, impostas pelos próprios Conselhos Profissionais.
Nesse âmbito, encontram-se negativas de registro pela incompatibilidade da carga de
estágio prescrita pelo conselho profissional, ainda que o CNE tenha estipulado
patamares diferentes ou atividades do ensino a distância, regulados por normas
específicas.

Novamente, é preciso relembrar que as regras para o ensino são competência dos
sistemas de educação. Há, ainda, circunstâncias nas quais alguns Conselhos
Profissionais estabelecem que coordenadores de curso ou professores de
determinadas disciplinas que sejam exclusivamente formados nos cursos
determinados, estejam registrados nos conselhos e em dia com as anuidades
(extrapolando suas competências), isso para que os alunos formados no curso em que

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atuam possam receber o registro profissional. Ou seja, Conselhos Profissionais
invalidam atos praticados pelo sistema de ensino, muitas vezes para manter a reserva
de mercado, ou mesmo para receber anuidades de inadimplentes. Portanto, é
evidente que este Conselho Nacional de Educação (CNE) não pode se omitir a
prescrever regras claras que visem proteger aos estudantes e egressos de cursos
superiores regulares, na graduação e na pós-graduação (destaques nossos).

O Judiciário, por meio de diversos julgados, encampa o entendimento do Ministério da


Educação, fixando entendimento de que cabe aos Conselhos de Classe apenas fiscalizar o exercício da
profissão e não a formação acadêmica.

Vejamos alguns exemplos:

01) EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.


CONSELHO PROFISSIONAL. CURSO EAD. DIREITO AO REGISTRO PROFISSIONAL.
(I)LEGALIDADE.

I - O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.453.336/RS, firmou o


entendimento no sentido de que "aos conselhos profissionais, de forma geral,
cabem tão somente a fiscalização e o acompanhamento das atividades inerentes ao
exercício da profissão, o que certamente não engloba nenhum aspecto relacionado
à formação acadêmica".

II- A alegação da apelante de que não se poderia admitir curso de EAD para a
profissão fiscalizada pela autarquia, contraria a jurisprudência que aponta não caber
aos conselhos profissionais a fiscalização de aspectos ligados à formação acadêmica.

III - Cabe ao MEC a fiscalização da regularidade e legalidade dos cursos oferecidos


aos cidadãos. (TRF4, AC 5011179-37.2019.4.04.7110, QUARTA TURMA, Relatora
VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos autos em 20/10/2022) (destaques
nossos).

02) ADMINISTRATIVO. CREA. REGISTRO PROFISSIONAL. NEGATIVA BASEADA NA


NECESSIDADE DE ANÁLISE DE CURSO DE GRADUAÇÃO PELO CONSELHO
PROFISSIONAL. DESCABIMENTO. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. REDUÇÃO.

1. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.453.336/RS, firmou o


entendimento no sentido de que "aos conselhos profissionais, de forma geral, cabem
tão somente a fiscalização e o acompanhamento das atividades inerentes ao
exercício da profissão, o que certamente não engloba nenhum aspecto relacionado
à formação acadêmica".

2. A negativa de registro profissional, fundada na necessidade de análise do curso de


Engenharia Civil - Modalidade EAD, da Universidade Anhanguera, pelo Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia do Mato Grosso do Sul, não encontra respaldo
legal. Precedentes desta Corte.

3. Apelo parcialmente provido apenas para reduzir os honorários advocatícios


sucumbenciais. (TRF4, AC 5003005-05.2020.4.04.7110, TERCEIRA TURMA, Relatora
MARGA INGE BARTH TESSLER, juntado aos autos em 12/05/2021) (destaques nossos).

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03) ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. CREA/MS. CREA/RS. DIREITO AO REGISTRO
DO CURSO PERANTE O CONSELHO. POSSIBILIDADE.

Não cabe aos Conselhos Profissionais exercer papel expressamente atribuído pela
lei ao Ministério da Educação e seus órgãos específicos, que detêm competência para
a regulamentação e fiscalização da adequação de cursos de graduação, inclusive
quanto ao seu conteúdo e forma. (TRF4, AC 5001306-76.2020.4.04.7110, Terceira
Turma, Desembargadora Federal Vânia Hack DE Almeida, por unanimidade, juntado
aos autos em 10-8-2021) (destaques nossos)

4. CONCLUSÕES

O Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI cumpre todas as normas


necessárias para ofertar Curso de Fisioterapia e Terapia Ocupacional na modalidade a distância. Portanto,
observa todas as normas pertinentes à FORMAÇÃO DO ACADÊMICO e os Conselhos de Classe não têm
razões para negar a inscrição do Profissional.

Quanto a inscrição junto ao Conselho de Classe para obtenção de uma credencial é um


DIREITO INDIVIDUAL e uma RELAÇÃO PRIVADA entre o Egresso e o respectivo Conselho, cabendo à IES,
apenas, o fornecimento do Diploma e do Histórico Escolar.

Por fim, como se trata de um DIREITO INDIVIDUAL do Egresso, a IES não possui
legitimidade jurídica para atuar em nome deste.

Nada impede que Egresso possa ser orientado a buscar amparo judicial para solucionar
as dificuldades impostas pelo Conselho de Classe. Uma das alternativas pode ser propor um Mandado de
Segurança; podendo inclusive ser coletivo (caso reúna outros Egressos).

Esse é nosso entendimento.

S. M. J.

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