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Texto original por William Shakespeare

“Romeu e Julieta: a dor de um romance em branco”

Exercício seguindo Grotowski do componente curricular Projeto Integrador

PERSONAGENS

SENHORA CAPULETO – Anna Giulia “C”

MARIA CÂNDIDA/ENFERMEIRA – Mafe Reducino “A”

JULIETA – Deviane “J”

ROMEU – Paulo Ribeiro “R”

RESUMO DA ADAPTAÇÃO

Aos 3 anos e meio, Julieta foi internada num manicômio por sua mãe
que era dona dele, Senhora Capuleto não se via capaz de criar sua própria
filha e julgou ser mais fácil tratar dela como um de seus loucos internados.
Maria Cândida era a enfermeira que mesmo ganhando apenas algumas
moedas de bronze por seu trabalho, insistiu em acompanhar o caso de Julieta
desde o começo. Os anos foram se passando e a menina foi crescendo e
realmente desenvolvendo o que seriam casos de síndrome do pânico,
borderline, entre outras que faziam com que ela precisasse tomar
medicamentos fortes, esses que trazem efeito que tiram ela do mundo real
levando-a viver em função de ilusões.

Além de sua enfermeira, Julieta também tinha acompanhamento com


um psiquiatra e analista, Romeu Montecchio que estava a acompanhando
faziam apenas 3 semanas. Era só sobre ele que a menina sabia falar, mas
havia algo muito estranho nele. Senhora Capuleto não confiava no garoto
desde o início do acompanhamento e quando começaram a surgir
especulações de que ele estava tendo um caso com sua filha, tomou a decisão
de afastar ele e trazer um psiquiatra de Paris. Julieta surtou. Pensou que seu
amor de branco seria a fonte da informação que corria pelos corredores,
pensou em mata-lo mas havia a possibilidade de através dele, alcançar a
liberdade.

(Público sentado no fundo do palco, Julieta no chão aérea, Senhora Capuleto


no lugar do público fora do palco em cima de uma mesa de madeira,
Enfermeira entra pela coxia do lado esquerdo do palco)

C : Como está Julieta?

A: Eu nunca vi um caso assim nem em 12 anos. (chamando ela) Minha


ovelhinha, como está o coração? (para Capuleto) Deus me perdoe, o que
aconteceu com essa menina? (chamando a Julieta) Ei! Julieta!

(Julieta concentrada em algo na platéia, quebra ao chamarem ela algumas


vezes)

J: Que que houve? Quem me chama?

A: A senhora veio te ver

J: Aqui estou senhora, o que deseja?

C: Eis o assunto... Maria, deixe nos a sós por um tempo, é um assunto


delicado...Ou melhor, volta! Creio que possa ajudar no assunto, afinal passa
horas do seu misero dia com ela.

A: É certo, sei o horário de cada um de seus remédios.

C: É um coquetel de 14 remédios

A: Sim, um coquetel de 14 remédios – muito embora dou apenas 4 contra


minha vontade – Para um de agosto, quanto falta ainda?

C: Falta muito para um de agosto.

A: Pouco ou muito, não importa. O que é certo é que logo ela terá alta. Ela e
Suzana, teriam alta no mesmo dia, vi as duas crescerem aqui dentro mas ela
não resistiu. Desde então, onze anos se passaram.

C: Shh, fique quieta, por favor.

A: Bem, já acabei. Que deus te tenha em graça, foste a criança mais linda que
já criei, se um dia puder ver te fora daqui e feliz com alguém...
C: Pois foi para falar de alguém que vim até aqui. Julieta me diga, o que se
passa com o seu psiquiatra? (pausa)

Enfim, não importa, hoje outro psiquiatra assume o lugar de Romeu, há muito
tempo já deveria tê-lo trocado, ficará com ele associada sem que me
prejudique.

A: Não irá prejudicar, pelo contrário, ele é um psiquiatra famoso em Paris.

C: Enfim, o que me diz?

J: Vou ver se prendo nele meus olhares mas se a vista chegar além, não há de
do que me consentir vossa vontade.

C: Julieta, o doutor a espera.

(Senhora Capuleto vira de costas para o palco e mantem uma batida constante
com o sapato de sapateado/salto, Enfermeira fica do lado esquerdo do palco
mantendo o mesmo ou contratempo com o sapato de sapateado)

(Romeu entra pela parte da frente do palco como se invadisse o local)

R: Só ri das cicatrizes/ quem ferida nunca sofreu no corpo ou na mente./

(Julieta está sentada olhando fixamente para o público de costas para Romeu,
mais próxima do lado esquerdo do palco)

Que silêncio../ Será que ela teve outra daquelas convulsões? Ela mataria a lua
cheia de inveja, mas se mostra pálida e doente de tristeza, no entanto mesmo
assim é mais formosa que ela. Essa é minha dama.

Ainda não! Ela não pode saber disso! Julieta como foi sua noite? Com o olhar
está falando. Veja como ela apoia o rosto na mão.

(Julieta agoniza se arrastando no chão chorando indo em direção a Romeu)

Sugestão: nesse momento aplica o sedativo

J: Ai de mim (grito estridente)


(Apito para parar o grito)

R: Oh, falou! Fala de novo, num instante!

J: Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Porque aqui, porque agora, jura
ao menos que me ama, porque eu (Romeu, Romeu)

R: (à parte) Continuo a ouvindo mais um pouco,/ ou lhe respondo?

J: Meu inimigo é apenas o seu cargo. Continuarias sendo o que és, se acaso
médico tu não fosses. O que é médico? Não será mão, nem pé, nem braço ou
rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Se há outro cargo. Que há
num simples cargo? Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte
alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.

R: Sim,/ entendo o que dizes. Me da o nome que quiser, que continuarei sendo
seu...

(Ela o interrompe.)

J: Quem é você e como pôde espalhar nossos segredos?

(Fundo no violão “Can’t Help Falling in love” recitando o texto)

R: Por um cargo não sei como te dizer quem eu seja. Meu cargo cara santa é
odioso, por ser seu inimigo/; se o tivesse escrito diante de mim, / o rasgaria.

J: Dize-me como entraste e porque vieste. Já sei que não é mais meu
psiquiatra, no caso de ser visto por minha mãe...(Romeu interrompe)

R: Sua mãe, assim,/ não poderia me desviar do meu propósito.

J: No caso de seres visto, poderão mata-lo. ( se desespera e agarra o punho


de Romeu)

(Som estridente flauta ou apito)


R: Ai! Só de estar aqui contigo já corro perigo. Me olha com doçura, e é o
quanto basta para deixar-me à prova do ódio deles. (Romeu toca o rosto dela
durante a fala).

J: Com quem tomaste informações para até aqui chegares?

R: Com o amor, que me deu coragem; me deu conselhos/ e eu lhe os


emprestei olhos. Não sou piloto; mas se te encontrasses tão longe quanto a
praia mais extensa que o mar longínquo banha, me aventuraria para obter tão
preciosa mercancia. (Gaita ou violão para iniciar) Como está se sentindo
Julieta?

J: Amas-me? Sei que vais dizer-me sim, e creio no que dizes. Se o jurares,
porém, talvez te mostres inconstante. Ó meu gentil Romeu! Se amas,
proclama-o com sinceridade; ou se pensas, acaso, que foi fácil minha
conquista, vou tornar-me ríspida, franzir o sobrecenho e dizer não.

R: Juro pela santa lua que banha de prata as belas folhas de todas estas
árvores frutíferas… (violão)

J: Não jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos
os meses, porque não pareça que teu amor, também, é assim mudável.

R: Pelo que devo jurar?

J: Não jures nada, ou jura, se o quiseres, por ti mesmo, por tua nobre pessoa,
que é o objeto de minha idolatria. Assim, te creio.

R: Se o amor sincero deste coração… (entrega flor)

J: Para!(gritado se encolhendo quando o Romeu estica a mão) não jures; muito


embora seja toda minha alegria, não me tranquiliza ver você aqui hoje, vá
embora logo como o relâmpago que deixa de existir antes que que eu possa
dizer: adeus, meu querido.

R: Vai me deixar sair mal satisfeito?

J: Que alegria querias esta noite?

R: Trocar contigo o voto fiel de amor. (Se ajoelha e oferece o anel)

J: Antes que mo pedisses, já to dera; mas desejara ter de dá-lo ainda.


ROMEU – Quer retirá-lo? Com que intuito, querido amor?

JULIETA - Porque, mais generosa, de novo to

ofertasse. No entretanto, não quero nada, afora oque possuo. Minha bondade é
como o mar: sem fim e tão funda quanto ele. Posso dar-te sem medida, que
muito mais me sobra: ambos são infinitos.

(A ama chama dentro.)

Ouço bulha dentro de casa. Adeus, amor! Adeus! -

Ama, vou já! - Sê fiel, doce Montecchio. Espera um momentinho; volto logo.

(Retira-se da janela.)

ROMEU - Oh! que noite abençoada! Tenho medo, de

Ser um sonho, lisonjeiro demais para ser realidade.

(Julieta torna a aparecer em cima.)

JULIETA - Romeu querido, só três palavrinhas, e boa noite outra vez. Se esse
amoroso pendor for sério e honesto, amanhã cedo me envia uma palavra pelo
próprio que eu te mandar: em que lugar e quando pretendes realizar a
cerimônia, que a teus pés deporei minha ventura, para seguir-te pelo mundo
todo como a senhor e esposo.

AMA (dentro) - Senhorita!

JULIETA - Já vou! Já vou! - Porém se não for puro teu pensamento, peço-te…

AMA (dentro) - Menina!

JULIETA - Já vou! Neste momento! - ... que não sigas com tuas insistências e
me deixes entregue à minha dor. Amanhã cedo te mandarei recado por um
próprio. Sem falta. Só parece que até lá são vinte anos. Esqueci-me do que
tinha a dizer.

ROMEU - Deixa que eu fique parado aqui, até que você se lembre.

JULIETA - Esquecê-lo-ia, só para que sempre ficasses ai parado, recordando-


me de como adoro tua companhia.
ROMEU - E eu ficaria, para que se esquece, deixando de lembrar-me de outra
casa que não fosse esta aqui

JULIETA - É quase dia; desejara que já tivesses ido, não mais longe, porém,
do que travessa menina deixa o meigo passarinho, que das mãos ela solta - tal
qual pobre prisioneiro na corda bem torcida – para logo puxá-lo novamente
pelo fio de seda, tão ciumenta e amorosa é de sua liberdade.

ROMEU – Quero ser teu passarinho.

JULIETA - O mesmo, querido, eu desejara; mas de tanto te acariciar, podia,


até, matar-te. Adeus; calca-me a dor com tanto afã, que boa-noite eu diria até
amanhã.

ROMEU - Que nos teus olhos o sono baixe e no peito. Fosse eu o sono
dormindo desse jeito! Vou procurar meu pai espiritual, para um conselho lhe
pedir leal.

(Sai.) (Musicado violão)

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