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O Amor de Romeu e Julieta

O AMOR DE
ROMEU E JULIETA
ARNALDO SILVEIRA

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ACERVO ZAPCHAU
O Amor de Romeu e Julieta

PERSONAGENS
CUPIDO
ROMEU
JULIETA
AMA
FREI
PRÍNCIPE

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ACERVO ZAPCHAU
O Amor de Romeu e Julieta

(. Cupido, que e uma estatua, já esta em cena, diz:).


CUPIDO Duas familias semelhantes em dignidade, na bela verona, onde se passa
nossa estoria. Uma antiga desavença se torna um novo conflito e o sangue
deixa sujas maos inocentes. Alheio a briga desses dois inimigos, um par
de descendentes, fieis amantes, põe fim às suas vidas num lastimável
infortúnio que ultrapassa os limites da família, sepulta a richa de sesus
pais. O nosso par de herois tem seus laços amarrados em uma festa dada
pela família dos capuleto; onde Romeu ve pela primeira vez sua amada
Julieta. Nasce o amor que enche os seus corações e os fazem ter encontros
secretos, pois, a rivalidade dos seus nomes não permite aflorar seus
sentimentos em público.
ROMEU (Na festa, pegando na mão de Julieta.). Se profano com minha mão
indigna esste santo relicário, eu aceito a penitência, meus lábios, dois
peregrinos solitários parados ficam para redimir o toque rude com um
suave beijo.
JULIETA Bom peregrino, ofende demais tua mão que se mostrou irreverente e
devota, pois santos possuem mãos, mãos que peregrinos tocam, e palmo a
palmo é santo o beijo do devoto.
ROMEU Santos não tem lábios, e os devotos também...
JULIETA Sim peregrino, os lábios devem ser usados para orar e ...
(A cena congela para dar vez ao Cupido.).
CUPIDO A descoberta do inesperado chega através da Ama, que sem querer,
torna-se a primeira pessoa a comtemplar o amor que jovem par brotara.
AMA Julieta!!!!
JULIETA (Assustada). Ama!!!
AMA Julieta, depressa tua mãe te quer falar.
(Julieta sai.).
ROMEU Quem é a mãe dela?
AMA Ora cavalheiro, a mãe dela e a dona desta casa, e uma dígna senhora,
sabia e virtuosa, amamentei a filha aquela com quem falavas! Eu te digo
quem vier desposá-la ficará cheio de ouro. (Sai).
ROMEU Ela e uma capuleto! Oh, conta cara! Minha vida é dívida do meu inimigo!
(Sai.).
JULIETA Vem cá, Ama! Quem é aquele cavalheiro?
AMA Qual?
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O Amor de Romeu e Julieta

JULIETA Aquele que falava comigo há pouco!


AMA Ah, não sei !
JULIETA Então vai perguntar...
(A Ama pergunta ao Cupido que lhe entrega a flecha que sela o nome de
Romeu.).
AMA Quem é aquele cavalheiro que há pouco falava com a menina Julieta?
CUPIDO É aquele cujo nome está cravado nesta flecha, e será o pote onde
depositado será o amor de Julieta. Vai e faze com que esta chegue para
ferir de amor o coração de tua senhora!
AMA Romeu montéquio! Oh! (Vai até Julieta). O nome dele é Romeu, um
montéquio, o único filho de teu maior inimigo! Toma, leva ao teu coração
o que o Cupido escolheu para ti.
JULIETA (Com a flecha presa em seu peito diz:). Meu único amor do meu ódio
brota, tão tarde conhecido e tão tarde amado, nascer prodigioso do amor
que és para mim e devo me apaixonar pelo inimigo!!!
CUPIDO Sem que ninguém saiba, exceto sua Ama, Julieta e Romeu se encontram
outras vezes, agora um para negar o nome do outro e deixar nascer o
amor...
ROMEU Oh! E a minha darna! 0 meu amor! Ah, se ela soubesse disso! Ela fala,
mas nao diz nada! Que importa! O seu olhar brilha, vou responder! Eu
sou ousado, não é comigo que ela fala. Eu vou pedir a duas estrelas, as
duas mais formosas estrelas do ceu que brilhem em seus olhos até a noite
seguinte. Vê como ela apoia a seu rosto na mão! Ah, se eu fosse uma luva
dessa mão para poder tocar naquele rosto.
JULIETA Ai de mim!
ROMEU Ela fala! Ah, fala de novo anjo brilhante!
JULIETA Oh! Romeu! Romeu! Por que tu és Romeu? Renega teu pai e recusa teu
nome, ou se não quiseres, jura que apenas que me Ama e não mais serei
uma capuleto!
ROMEU Devo ouvir mais, ou devo responder?
JULIETA É apenas teu nome o meu inimigo! És o que és, embora sendo montequio!
Que é montequio? Não é mão nem outra parte qualquer que pertença a um
homem. Oh, que seja um outro nome! O que há em nome? O que nós
chamamos de rosa com outro nome teria igual perfume, assim serias
Romeu, se não te chamasses Romeu conservarias tão preciosa perfeição
que és sem título. Romeu, risque teu nome e em troca de teu nome não faz
parte de ti, e fica comigo inteira!

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O Amor de Romeu e Julieta

ROMEU Eu vou aceitar tua palavra, chama-me apenas de amor e eu estarei


rebatizado, de agora em diante não serei mais Romeu.
JULIETA Que homem és tu? Que encoberto pela noite entras assim em meu
segredo?
ROMEU Por um nome não sei dizer quem sou! Meu nome, cara santa, me é odioso
por ser teu inimigo, se o tivesse escrito, o teria rasgado.
JULIETA Meus ouvidos ainda bebem cem palavras sequer da tua boca, mas
reconheço o som, tu não és Romeu és um montequio.
ROMEU Não bela donzela, se isso a desagrada.
JULIETA Como aqui entrastes e a que viestes, conta-me! Alto é o muro do jardim e
difícil de escalar, e o lugar é morte certa considerando quem tu és, caso
fosses encontrado por um de meus parentes!
ROMEU Com as leves asas do amor consegui transpor esse muro, pois barreira
alguma conseguirá deter o amor... É tentando o amor tudo, que o amor
realiza, e assim sendo teus parentes não podem me deter. Basta que me
ames, e eles que me vejam.
JULIETA Tu me amas? Sei que dirás que sim, e creio na tua palavra. Então se esse
amoroso pendor for sério, teu propósito de casamento, dize-me amanhã
pela pessoa que eu mandar te procurar, onde e a que horas vamos realizar
a cerimonia... E toda minha ventura a teus pés deporei, e seguirei o meu
senhor por todo o mundo.
AMA Julieta!!!
JULIETA Já estou indo! Mas se não tiveres esse propósito, eu te suplico, não
insistas mais e me deixa com a minha dor. Amanhã mandarei!
ROMEU Que prospere minha alma.
JULIETA Mil vezes, boa noite! (Beija a mão de Romeu e sai).
CUPIDO Suponhamos e tudo é de supor, que Julieta e Romeu, antes de se casarem,
travaram com Frei lourenço este diálogo curioso arquitetado por machado
de assis.
JULIETA Uma só pessoa?
FREI Sim filha, e tão logo houver feito de vos ambos uma só pessoa, nenhum
outro poder vos desligará mais. Andai, andai, vamos ao altar, que estão
acendendo as velas...
ROMEU Para que velas? Abençoai-nos aqui mesmo. Para que altar e velas? O céu
é o altar! Não tarda que a mão dos anjos acenda ali as eternas estrelas,
mas, ainda sem elas, o altar é este! A igreja está aberta, podem
descobrir-nos, eia, abençoai-nos aqui mesmo.

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ACERVO ZAPCHAU
O Amor de Romeu e Julieta

FREI Não, vamos para a igreja! Daqui a pouco estará tudo pronto. Curvarás a
cabeça filha minha, para que olhos estranhos, se algum houver, não
cheguem a reconhecer-te ...
ROMEU Vã dissimulação, não há, em toda verona, um talhe igual ao da minha bela
Julieta, nenhuma outra dama chegaria a dar a mesma impressão que esta...
Que impede que seja aqui? O altar não é mais que o céu!
FREI Mais eficaz que o céu!
ROMEU Como?
FREI Tudo o que ele abençoa perdura. As velas que ali verás arder hão de
acabar antes dos noivos e do padre que os vai ligar, tenho-as visto morrer
infinitas... Mas as estrelas...
ROMEU Que tem? Arderão ainda, nem ali nasceram senão para dar ao céu a
mesma graça que a terra. Sim, minha divina Julieta, a via-lactea é como
pó luminoso dos teus pensamentos, todas as pedrarias e claridades, altas e
remotas, tudo isto está aqui perto e resumido na tua pessoa, porque a lua
plácida, imita a tua indulgência, a vênus, quando cintila, é como os fogos
da tua imaginação. Aqui mesmo padre, que outra formalidade nos pedes
tu? Nenhuma formalidade exterior, nenhum consentimento alheio. Nada
mais que o amor e vontade. O ódio de outros separa-nos, mas o nosso
amor conjuga-nos.
FREI Para sempre!
JULIETA Conjuga-nos, e para sempre. Que mais então? Vai a tua mão fazer com
que parem todas as horas de uma vez. Em vão o sol passará de um céu a
outro céu, e tornará a vir e tornara a ir, não levará consigo, o tempo que
fica a nossos pés como um tigre domado. Monge amigo, repete essa
palavra amiga!
FREI Para sempre!
JULIETA Para sempre! Amor eterno! Eterna vida! Juro-vos, que não entendo outra
língua senão essa. Juro- vos que não entendo a língua de minha mãe.
FREI Pode ser que tua mãe não entendesse a língua da mãe dela, a vida é uma
babel, filha, cada um de vos vale por uma nação.
ROMEU Não aqui, padre, ela e eu somos duas províncias, da mesma linguagem,
que nos aliamos para dizer as orações, com o mesmo alfabeto e um só
sentido. Nem há outro sentido que tenha algum valor na terra . Agora
quem nos ensinou essa linguagem divina não o sei eu, nem ela, foi talvez
alguma estrela... Olhai, pode ser aquela que começa a cintilar no espaço.
JULIETA Que mão celeste a teria acendido? Rafael talvez, ou tu amado Romeu.
Magnífica estrela, serás a estrela da minha vida, tu que marcas a hora do
meu consórcio. Que nome tem ela padre?

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FREI Não sei de astronomias, minha filha.


JULIETA Hás de saber por força. Tu conheces as letras divinas e humanas, as
próprias ervas do chão, as que matam e as que curam... Dize, dize...
FREI Eva eterna!
JULIETA Dize o nome dessa tocha celeste, que vai alumiar as minhas bodas, e
casai-nos aqui mesmo. Os astros valem mais que as tochas da terra!
FREI Valem menos. Que nome tem aquele? Nao sei. A minha astronomia não é
como a dos outros homens. (Depois de alguns instantes de reflexão). Eu
sei o que me contaram os ventos, que andam de cá e de lá, abaixo e
acima, de um tempo a outro tempo, e sabem muito, porque são
testemunhas de tudo. A dispersão não lhes tira a unidade, nem a
inquietação a constância...
ROMEU E o que vos disseram eles?
FREI Coisas duras! Heródoto conta que xerxes um dia chorou; mas não conta
mais nada. Os ventos é que disseram o resto, porque eles lá estavam com
o capitão, e recolheram tudo... Escutai; aí começam eles a agitar-se,
ouviram-nos falar e murmuram... Uivais amigos ventos, uivais como nos
jovens dias das termópilas.
ROMEU Mas que te disseram eles? Contai, contai depressa!
JULIETA Fala a gosto, nós te esperaremos.
FREI Gentil criatura... Aprende com ela filho, aprende a tolerar as demasias de
um velho lunático. O que e que me disseram? Melhor fora não repeti-lo;
mas, se teimais em que vos case aqui mesmo, ao clarão das estrelas,
dir-vos-ei a origem daquela, que parece governar todas as outras... Vamos,
ainda é tempo, o altar espera-nos.. Não? Teimosos que sois...
Contar-vos-ei o que me disseram os ventos, que lá estavam em torno de
xerxes, quando este vinha destruir a hélade com tropas inumeraveis. As
tropas marchavam diante dele a poder de chicote, porque este homem, crú
amava particularmente o chicote e empregava-o a miudo, sem hesitação e
remorso. O próprio mar, quando ousou destruir a ponte que ele mandara
construir, recebeu em castigo trezentas chicotadas. Era justo, mas para
não ser somente justo, para ser também abominável, xerxes ordenou que
decaptassem a todos que tinham construído a ponte e não souberam
faze-la imperecível. Chicote e espada, pancada e sangue.
JULIETA Oh!!! Abominável!!!
FREI Abominável mais forte. Força vale alguma coisa, a prova é que o mar
acabou aceitando o jugo do grande persa. Ora, um dia à margem do
helesponto, curioso de contemplar as tropas que ali ajuntara, no mar e em
terra, xerxes trepou à um alto morro feitiço, donde espalhou as vistas para
todos os lados. Calculai o orgulho que ele sentiu. Viu ali gente infinita, o
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melhor leite mugido a vaca asiática, centenas de milhares aos pés de


centenas de milhares, várias armas, povos diversos, cores e vestiduras
diferentes, mescladas, baralhadas, flecha e gládio, tiara e capacete, pele de
cabra, pele de cavalo, pele de pantera, uma algazarra infinita de coisas.
Viu e riu, farejava a vitória. Que outro poder viria contrastá-lo? Sentia-se
indestrutível. E ficou a rir e a olhar com longos olhos ávidos e felizes.
Olhos de noivado, como os teus, moço amigo...
ROMEU Comparação falsa. O maior déspota do universo é um miserável escravo,
se não governa os mais belos olhos femininos de verona. E a prova é que,
a despeito do poder, chorou.
FREI Chorou é certo, 1ogo depois, tão depressa acabara de rir... A cara
embruscou-se de repente, e as lágrimas saltaram-lhe grossas e
irreprimíveis. Um tio do guerreiro, que ali estava, interrogou-o dizendo
espantado; ele respondeu melancolicamente, que chorava, considerando
que tantos milhares e milhares de homens que ali tinha diante se si, e às
suas ordens, não existiria um só ao cabo de um século. Até aqui herodoto;
escutai agora os ventos. Os ventos ficaram atonitos. Estavam justamente
perguntando uns aos outros, se esse hotemem que era feito de ufania e
rispidez, teria nunca chorado em sua vida, e concluíram que não, que era
impossível, que ele não conhecia mais que a injustiça e crueldade, não a
compaixão. E era a compaixão que ali vinha lacrimosa, era ela que
soluçava na garganta do tirano... Então eles rugiram de assombro, depois
pegaram das lágrimas de xerxes e ... Que farias tu delas?
ROMEU Secá-las-ia, para que a piedade humana não ficasse desonrada.
FREI Não fizeram isso, pegaram das lágrimas todas e deitaram a voar pelo
espaço a fora, bradando as constelações. Aqui estão! Olhai, olhai, aqui
estão os primeiros diamantes da alma bárbara! Todo o firmamento ficou
alvoroçado; pode crer-se que, por um instante, a marcha das coisas parou.
Nenhum astro queria crer nos ventos. Xerxes! Lágrimas de xerxes eram
impossíveis, tal planta não dava em tal rochedo. Mas ali estavam elas,
eles as mostravam contando sua curiosa história, o riso que servira de
concha à essas pérolas, as palavras dele, e as constelações não tiveram
remédio, e creram finalmente que o duro xerxes houvesse chorado. Os
planetas miraram longo tempo essas lágrimas inverossímeis, não havia
como negar que traziam o amargo da dor e o travo da melancolia. E
quando pensaram que o coração que as brotara de si tinha particular amor
ao estalido do chicote... Deitaram um olhar oblíquo, como que
perguntando de que contradições eram elas feitas. Um deles disse aos
ventos que devolvessem as lágrimas ao bárbaro, para que as engolissem...
Mas os ventos responderam que não e detiveram-se para deliberar. Não
cuideis que só os homens dissessem uns dos outros.
JULIETA Também os ventos?

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FREI Também eles. O aquilão queria converte-las em tempestades do mundo,


violentas e destruidoras, como o homem que as gerara, mas os outros
ventos não aceitaram a idéia. As tempestades passam ligeiras, eles
queriam alguma coisa que tivesse perenidade, um rio, por exemplo, ou
um mar novo, mas não combinaram nada e foram ter com o sol e a lua. Tu
conheces a lua, filha.
ROMEU A lua é ela mesma, uma e outra são a plácida imagem da indulgência e do
carinho, é o que eu te disse há pouco, meu bom confessor.
JULIETA Não, não creias nada do que, ele disser, Frei amigo, a lua é a minha rival,
é a rival que alumia de longe o belo rosto do galhardo Romeu, que lhe dá
um resplendor de opala, a noite, quando ele vem pela rua...
FREI Terão ambos razão. A lua e Julieta podem ser a mesma pessoa, e é por
isso que querem o mesmo homem. Mas, se a lua és tu, filha, deves saber o
que ela disse ao vento.
JULIETA Nada, não me lembra nada.
FREI Os ventos foram ter com ela, perguntaram-lhe o que fariam das lágrimas
de xerxes, e a resposta foi a mais piedosa do mundo. Cristalizemos essas
lágrimas, disse a lua, e façamos delas uma estrela que brilhe por todos os
séculos, com a claridade da compaixão, e onde vão residir todos aqueles
que deixarem a terra, para achar ali a plenitude que lhes escapou.
JULIETA Sim, eu diria a mesma coisa. Lume eterno, berço de renovação, mundo do
amor continuado e infinito, estávamos ouvindo a tua bela história.
FREI Não, não, não.
JULIETA Nao?
FREI Não, porque os ventos foram também, ao sol, e tu que conheces a lua, não
conheces o sol, amiga minha. Os ventos levaram-lhe as lágrimas,
contaram a origem delas, e a conselho do astro da noite, falaram da beleza
que teria essa estrela nova e especial. O sol ouviu-os e redarguiu que sim,
que cristalizassem as lágrimas e fizessem delas uma estrela, mas nem tal
como o pedia a lua, nem para igual fim. Há de ser eterna e brilhante, disse
ele, mas para a compaixão basta a mesma lua com a sua enjoada e
dulcíssima poesia. Não, esta estrela feita das lágrimas que a brevidade da
vida arrancou um dia ao orgulho humano ficará pendente do céu como o
astro da ironia, 1uzirá cá de cima sobre todas as multidões que passam,
cuidando não acabar mais e sobre todas as coisas construídas, fim desafio
dos tempos. Onde as bodas cantarem a eternidade, e lá fará descer um dos
seus raios,1ágrimas de xerxes, para escrever a palavra da extinção, breve,
total, irremissível. Toda epifania receberá esta nota de sarcasmo. Não
quero melancolias que são as rosas pálidas da lua e suas congêneres...
Ironia sim, uma dura boca, gelada e sardonica...
ROMEU Como? Esse astro explendido...
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O Amor de Romeu e Julieta

FREI Justamente filho, e é por isso que o altar é melhor que o céu, no altar a
benta vela arde depressa e morre as nossas vistas.
JULIETA Como de ventos!
FREI Não, não.
JULIETA Ou ruim sonho do lunático. Velho lunático disseste à pouco, és isso
mesmo. Vão sonho ruim, como os teus ventos, e o teu xerxes, e as tuas
lágrimas, e o teu sol, e toda essa dança de figuras imaginárias.
FREI Filha minha...
JULIETA Padre meu, que não há, quando menos, uma coisa imortal, que é o seu
amor, e ainda outra, que é o incomparável Romeu. Olha bem para ele, vê
se há aqui um soldado de xerxes, não, não, não. Viva o meu amado, que
não estava no helesponto, nem escutou os desvarios dos ventos noturnos,
como este frade, que e a um tempo amigo é inimigo, se só amigo, e
casa-nos. Casa-nos onde quiseres, aqui ou além, diante das velas ou
debaixo das estrelas, sejam elas de ironia ou de piedade, mas casa-nos,
casa-nos, casa-nos...
(Depois saem enquanto toca um canto gregoriano simbolilando o
casamento, o Cupido fala).
CUPIDO Então homem, mulher feito Romeu e Julieta, a pressão feita pelos pais à
Julieta para que casasse com paris. O triste acontecimento se revela, por
erro fatal, Romeu e Julieta despedem-se do mundo com palavras de
morte. O veneno retira do mundo o doce da vida de Romeu que vê sua
amada adormecida no sepulcro. Depois de acordar e ver seu amado ainda
de lábios quentes, mas com a alma fora de seu corpo, se faz de bainha
para uma adaga certeira que a coloca no mesmo plano que Romeu.
PRÍNCIPE Capuleto e montequio, vede como caiu a maldição sobre nosso ódio, vede
como o céu mata as nossas alegrias com o amor, e eu ao concordar com o
vosso conflito, perdi também bons parentes, todos foram punidos.
CUPIDO Esta manhã nos trouxe paz sombria, o sol radioso não mostrará o rosto
seu, pois jamais houve estória mais triste que esta... De Julieta e de
Romeu.

Fim

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ACERVO ZAPCHAU
O Amor de Romeu e Julieta

Textro extraído das obras de william shakespeare e machado de assis


Adaptação: Arnaldo Silveira

Texto protegido pelas leis de direito autoral do brasil, biblioteca nacional.


Todos os direitos reservados ao autor.
Para montagem integral ou uso parcial da obra:
Contato com:
Arnaldo silveira
Fones: 41 266.8663 ou celular 41 91240422
E-mail: arnaldo_silveira@hotmail.com

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