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PRÓLOGO

Vidro afiado. Um grito— acho que é meu. Respirações pesadas. Barulhos


altos. Por que é tudo tão alto?

Um homem vestido com o que parecia um smoking muito caro entrou no


hospital carregando uma jovem nos braços. Ela estava pálida, suas roupas
estavam enrugadas e sua cabeça estava mole, pendurada ao lado. Seu luxuoso
cabelo preto como jato estava fluindo em ondas aveludadas. Ela era linda
mesmo nesse estado horrível.

O homem entrou no meio da sala de emergência e começou a gritar ordens:


— Eu preciso de ajuda aqui, RÁPIDO!

Uma garota jovem e nervosa, provavelmente a estagiária de plantão, veio


até eles, mas hesitou em olhar diretamente para os olhos intimidadores do
homem que usava o smoking.

— Você tem um problema, senhor?

Ele levantou uma sobrancelha, franzindo a testa para ela. Não era hora
de dar uma lição sobre protocolo.

— Você não vê a mulher que desmaiou em meus braços?

— Sim, senhor.— Ela se virou para o posto de enfermagem e gritou por


uma cama móvel.— O que aconteceu com ela?

— Eu não sei. Eu a encontrei assim. Ela estava na rua em frente ao meu


hotel. Eu acho que foi um bate e foge.
Eu acho que vi um pouco de sangue. Não é tão ruim. Eu já tive pior. Meus
pés doem. Eu estou correndo? Onde? Um carro buzina. Luzes. Eu acho que vejo
estrelas vindo em minha direção, mas elas param. Meus pés continuam doendo.

— Ela está bem, senhor. Eu preciso que você vá esperar na sala de espera.

Ele desabotoou a jaqueta sob medida e a jogou no chão sujo do hospital,


descuidadamente. O material caro não teve chance diante de sua frustração.

— Eu não vou esperar; Vou sentar aqui e ver o que você está fazendo por
essa mulher.

A estagiária estremeceu por dentro, mas se forçou a permanecer no lugar.


Ela não se deixaria intimidar por fazer seu trabalho.
— Nós vamos cuidar da paciente. Garanto-lhe que temos uma equipe
muito capaz aqui no Boston Presbyterian. Por favor, afaste-se e deixe-nos
ajudar a dama.

— Sério?— Ele era o cara legal. Ele sempre foi o cara legal, mas os últimos
dois meses o ensinaram a dizer foda-se isso quando era a hora certa.— Eu não
vejo um médico sênior. Não vejo as enfermeiras abrindo um gráfico para ela.
Você não pediu identificação e estamos aqui há quinze minutos e não verificou
os sinais vitais dela. Sou neurocirurgião em Chicago. Vou sentar-me bem aqui,
obrigado. Agora faça seu trabalho....— Ele parou e balançou a cabeça.—
corretamente desta vez.

Meus pés param de doer. Sinto como se estivesse flutuando em uma nuvem.
Estou me movendo, mas não há chão nos meus pés. Estou em um lugar com
luzes fortes. Há sim pessoas se movendo. Eu os ouço. Uma agulha. Uma picada.
Minha cabeça dói.
A mulher inconsciente estava em uma cama parecendo muito pacífica,
mas estava lutando lá dentro. Ela queria abrir os olhos, mas nas suas
pálpebras parecia que tinha pedras penduradas nelas. Um cheiro pungente de
alvejante estava incomodando o nariz, e ela precisava descobrir onde estava.
Esse cheiro não era familiar.

Finalmente, seus olhos flutuaram abertos. A luz fluorescente esfaqueou


seus olhos como escavadeiras, e ela os apertou de volta. O movimento fez sua
cabeça explodir de dor. Levou alguns minutos para ela se adaptar à luz no
quarto.

Um quarto de hospital. Era espaçoso e todo branco. Ela odiava branco. Por
que usá-lo quando havia tanta cor no mundo?

No final de sua cama, ela finalmente notou a cadeira dobrável na qual um


homem enorme estava contemplando a vista atrás da grande janela. Ela nunca
o tinha visto antes daquele dia. Ela teria lembrado de um homem tão arrojado.

Ela não sabia o que dizer, então ficou sentada esperando que ele
percebesse que estava acordada. Algo a denunciou porque ele se virou e olhou
diretamente nos olhos dela. Seus olhos verdes a atingiram como um punho no
estômago.

— Você acordou.
....E sua voz dele. Quando ele falou, foi como se a seda prateada estivesse
cobrindo o local. Por que prateada? Quem sabe? Era típico ela sentir tudo em
cores.

— Eu... sim. Onde estou?

— Boston Presbyterian. Eu te trouxe aqui.

Ele fez? Ela não tinha ideia do porquê.

Ele correu para a cama dela e checou os monitores, como se conhecesse.

— Eu deveria ligar para o médico. Eles precisam verificar você.

Ela queria protestar, mas talvez ele estivesse certo. Talvez ela precisasse
de ajuda.

— Espere.

— O que? Algo dói? Você pode respirar bem?

Ela olhou para ele e piscou rapidamente, confusa. A resposta para ambas
as perguntas foi não. Nada doia, e ele facilmente a deixou sem fôlego.

— Estou bem. Por que… por que há neve lá fora?

Ele se virou para olhar por cima do ombro o mar de branco deitado do lado
de fora da janela. Talvez ela estivesse esperando um dia quente de inverno.

— Isso é, você sabe, apenas janeiro em Boston.


A conversa foi espessa e estranha. O que você diz ao estranho que te pegou,
sem vida na calçada? O tempo parecia um tópico seguro de conversa; talvez
seja por isso que ela estava perguntando.

Ela estava se sentindo tão deslocada quanto ele? Não ajudou que a beleza
dela estivesse brilhando em seu rosto como raios do sol. Ele queria tocá-la, mas
estava errado por muitas razões.

— Janeiro?— Ela soava como que se o mero fato a assustasse até a


morte.— Não, não pode ser.

Ele não entendeu, então apenas balançou a cabeça de maneira


questionadora.

— Não. É junho. Meu aniversário está chegando. Era para ser junho,
porque...— Suas palavras morreram e um alarme disparou em sua cabeça. Ele
pegou uma caneta na mesa de cabeceira e trouxe para o rosto dela.

— Por favor, siga isto com seus olhos.

Ela fez o que lhe foi dito, sem saber que tipo de loucura estava
acontecendo.

Era junho; ela sabia disso. A neve estava errada, não ela.

— Você é médico?

— Mhm. Seus reflexos parecem bem. Querida, não é junho. Qual é a


última coisa que você lembra?
Ele não deveria fazer isso. Ele deveria chamar um médico, não lhe dar
uma consulta em um hospital onde ele não tinha privilégios. Isso não estava
apenas errado, mas também era ilegal.

— É junho. Eu estava no festival de verão há algumas semanas. Isto


acontece no primeiro dia de junho de cada ano.

— Que ano?

— 2014.

O sangue dele congelou. Lá estava, a prova.

— Querida, acho que é hora de chamar o médico.

— Você não é o médico?

Ele exalou e pegou a mão dela na dele.

— Não neste hospital, eu não sou. Acho que você está perdendo parte de
suas memórias.

Ela ouviu atentamente, mas foi como se um tornado começasse a se formar


em sua cabeça. Memórias ausentes? Que lembranças? Suas mãos quentes
foram a única âncora que ela encontrou, então ela as segurou.

— É por isso que não me lembro de você?


Seus olhos se moveram ao longo de suas mãos entrelaçadas, e foi quando
ela viu os anéis. Duas alianças de casamento simples, uma um pouco mais
larga que a outra. Uma no seu dedo e uma no dele.

— Oh, meu Deus, você é meu marido. Não me lembro do meu marido!

A cor drenou do rosto dela junto com a dele.

— Eu...

— Você é, não é? Por isso me senti tão compelida por você; foi por isso que
você me chamou de querida. Nós estamos... apaixonados.

Isso foi ruim. A sensação incapacitante de náusea e ansiedade quase o


derrubou de seus pés.

— Sim.— Ele mentiu. Ele se recusou a avaliar agora.— Sim, eu sou seu
marido.

Ele não tinha explicação para sua mentira. Ele sentiu vergonha, mas seu
lindo rosto o impediu de se corrigir.

— Não me lembro de nada. Eu não sei o seu nome.

— James Sullivan.

Seus olhos quentes e castanhos capturaram a luz na sala. Com tenacidade,


ela libertou a mão e a colocou na bochecha dele. Uma lágrima solitária caiu de
seu rosto.
— James, sinto muito. Ligue para o médico querido. Eu quero me lembrar
de nós.

Ele assentiu de agitação e foi ao painel de chamadas, mas parou logo antes
de pressionar o botão para alertar a enfermeira.

— Você se lembra do seu nome?

— Rita. Rita... Sullivan. Eu acho.


CAPÍTULO UM

Eu sou... casado.

A realização me atingiu com força total. O que eu fiz? O que eu tenho, porra
feito?

Eu me dei conta de olhar para a mulher na cama do hospital. Ela estava


bebendo uma xícara de chá e, quando sentiu meus olhos nela, olhou para cima
e sorriu. O calor que irradiava de seu rosto delicado deixou minhas mãos
suadas.

Rita.
Quem é essa mulher??

Tentei retribuir o sorriso, mas simplesmente não consegui encontrar força.


Fui salvo pelo médico de plantão que entrou no quarto, fazendo a porta tremer
em sua moldura. Um gigante barbudo de um metro e oitenta, com mais de
quarenta e cinco anos e como se estivesse seriamente irritado por ter que
trabalhar.

— Você é Monica Porter?— Ele folheou alguns gráficos procurando por


algo.

— Não doutor, meu nome é Rita Sullivan.— Foi a primeira vez que notei
o sotaque sutil na voz dela.

— Sullivan, certo. Eles acabaram de fazer seus documentos de admissão.


Ok, então os testes voltaram e você não tem anomalia no sangue. Você quer
gastar a noite aqui ou receber alta imediatamente?— Rita encolheu sob sua
carranca e olhou para mim em busca de ajuda.

Você tem que estar brincando comigo. É assim que eles tratam um paciente
desorientado?

Minha esposa?

— Com licença, Doutor.— Coloquei o sotaque no título dele.— Seria bom


saber seu nome e sua especialidade primeiro?

Na tentativa de me intimidar, ele tirou os óculos do bolso e os colocou


metodicamente.
— Doutor Richard Johansen, clínico geral.

— Ah, e você está ciente de que sua paciente tem problemas para se
lembrar de certos detalhes? Como o mês e o ano, o nome dela, seu marido...

— Sim, é apenas uma perda de memória a curto prazo. Leve-a para casa,
incite sua memória com algumas fotos; isso voltará.

Você vê, eu sou um cara legal. Em momentos como esse, desejei que
Zachary Ford estivesse aqui. Ele teria algumas palavras sábias para espalhar.

— O que foi revelado na sua TC1?

— Ela não foi levada para uma TC.

Ele não era um homem brilhante??

— Eu sei. Eu estava aqui o tempo todo.

Eu sabia que o tinha irritado. Deus, eu estava a dois comentários


estúpidos de processar o hospital.

— Senhor,

— Me desculpe, eu não peguei seu nome.

1 TC – Tomografia computorizada.
— Acho que sei o que estou fazendo. Pratico medicina há trinta anos,—
respondeu o palhaço.

Eu olhei para Rita, e seus olhos estavam nos observando. Eu esperava ver
vergonha ou talvez algum medo, mas a única coisa em seu rosto era
aborrecimento. Eu levantei o canto da minha boca para que ela soubesse que
eu estava sob controle.

— Bem, Doutor Johansen, James Sullivan é o meu nome, e estou lhe


dizendo que minha esposa não foi testada ou diagnosticada adequadamente.

Rita e eu ouvimos o som de sua boca se abrindo, fechando e depois abrindo


novamente.

— Sullivan... como o cirurgião, James Sullivan? Do Chicago General? O


homem que acabou de fazer esse discurso para a Convenção Nacional de
Cirurgia?

— Mhm, neurocirurgião, na verdade. Ela não tem perda de memória a


curto prazo. Ela tem perda de memória disruptiva2, o que significa apenas ela...

— Esquece partes de sua memória, eu sei. Doutor Sullivan, levaremos sua


esposa para um conjunto avançado de testes agora...

— Não há necessidade, dispense-a.

2 É uma inflamação que pode causa perda de memória permanentemente, se não for tratada.
Minhas palavras chocaram as duas pessoas na sala.

— Senhor, você não disse...?

— Ao contrário de você, dei a ela uma consulta adequada. Ela não tem
sinais de sangramento e seus reflexos são bons. Vou levá-la para casa e ela fará
um TC em Chicago. Eu gostaria de levá-la para casa. Agora.

Quem disse isso? Eu queria trazê-la... para minha casa?

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas talvez nós dois
devêssemos fazer uma TC em Chicago.

Nós pegamos o primeiro voo. Nós! Nós, como juntos. Eu estava


sequestrando essa mulher? Pelo menos eu estava fazendo isso em grande estilo.
Antes de cair como uma pedra no meio de uma rua de Boston, Rita estava
correndo de tênis, jeans, um suéter de lã e não usava jaqueta. Era inverno, pelo
amor de Deus. Meu sangue congelou só de pensar nisso. A primeira coisa que
fiz depois de exigir a alta foi entrar na primeira loja de roupas que pudemos
encontrar para comprar botas e casaco. Felizmente, um showroom da Hermes
ficava a poucos quarteirões de distância, então eu achei algo legal para ela.

— Como você se sente?— Eu perguntei e ofereci a ela meu copo de água.


Tirei o cinto de segurança para poder virar e dar uma boa olhada nela. O
machucado na têmpora direita parecia bom; estava curando.

— Bem, mesmo. Quando vamos falar sobre o que está acontecendo,


James?
Ela se lembrou?

— S-sobre o que... querida?

— Eu não estou lembrando do meu marido, minhas memórias. É tão


estranho, sabe? Eu sei das coisas, mas elas simplesmente não se encaixam.

Eu encontrei em mim mesmo olhar para ela com compaixão. Eu pude


entender a confusão que ela estava passando. Eu já tinha visto isso em
pacientes antes.

— Vamos começar com o que você lembra.

Ela deixou a cabeça cair no banco e fechou os olhos. Eu podia ver


frustração em suas feições, como se ela estivesse lutando com sua própria
mente.

— Eu sei que sou cubana, nascida Rita Cortez, agora Sullivan.

Com licença?

— Você lembra disso?

— Não, mas você me disse.

O que ela ouviu de mim não ia ajudar.

— Rita, você precisa se concentrar no que lembra antes de bater a cabeça.

— O que aconteceu com a minha cabeça de qualquer maneira?


— Vou lhe dizer depois de você fizer este exercício e tentarei delinear
qualquer memória que você tenha deixado.— Depois que eu puder encontrar
uma explicação do caralho.

— OK.— Ela fechou os olhos novamente e eu a guiei controlando sua


respiração. Era muito parecido com meditação, mas ela precisaria se
concentrar em ficar alerta.— Meu nome é Rita Cortez. Tenho 26 anos e sou
alérgica a kiwi. Eu gosto de desenhar e acho que sou muito boa nisso. Lembro-
me de trabalhar em algo, uma ilustração.

Lembrei-me de passar por sua bolsa para encontrar sua identificação para
a passagem de avião. Encontrei este diário e, como já havia invadido a
privacidade dela, olhei. Estava repleto dos mais belos esboços. Eu acho que isso
explica tudo.

— Lembro-me de livros; trabalho com livros?

Um nó amarra a garganta e minhas palmas ficaram suadas. Eu não


queria nada além de ter as respostas para ela.

— Podemos usar exatamente o que você lembra.

— Certo, lembro-me de um cachorro, mas acho que ele morreu. Eu sei que
fui para o ensino médio, mas nunca cheguei à faculdade. Eu sou de uma família
pobre, você sabe, pobre, mas feliz. Eu lembro da minha família..., mas sei que
não estou falando com eles. Não sei porquê, mas lembro que meu pai me disse
para nunca mais pôr os pés em sua casa, como se eu tivesse feito algo errado.
Dessa vez, quando seus olhos se abriram, um mar de lágrimas cristalinas
cobriu suas írises escuras. Ela estava prestes a chorar, e meu coração se partiu
ao vê-la. Sua dor refletia em meu coração, e tudo que eu podia fazer era lhe dar
um ombro para chorar. Enrolei meus braços em volta dos ombros dela, e ela
colocou o rosto na curva do meu pescoço, soltando alguns soluços perdidos. Seu
grito era, se possível, mais lírico do que o canto de um pássaro. Ela chorou como
uma deusa.

A comissária de bordo pegou nosso momento e veio até nós.

— Senhor, está tudo bem? Posso te trazer qualquer coisa?

— Não, não. Minha esposa está apenas... emocional. Mas estamos bem,
obrigado.

— Ok, eu vou lhe trazer alguns lenços e água com açúcar.

Quando ela voltou, Rita ainda estava deixando suas lágrimas caírem sobre
mim. Peguei um dos lenços e tentei limpar o rosto dela.

— Ok, amor, tente se acalmar, ok?

— Por que?— Ela sussurrou— Por que meu pai me disse que eu não era
mais filha dele?

Como médico, recebi muitos elogios por aliviar a dor das pessoas. Eu
gostaria de ter o poder de tomar a dela.

— Eu...
— Diga-me, por favor.

— Sinceramente, não sei. Nós nos conhecemos depois que você se afastou
deles. Você não gosta de falar sobre isso.

A decepção poderia ser facilmente lida em seu rosto. Eu gostaria de ter


algo mais para lhe dar. Em vez disso, dei-lhe o lenço de papel e ela assoou o
nariz escorrendo.

— Não sei por que sou tão sensível.

— Será assim por alguns dias, até você se acostume com o fluxo de
memória voltando para você.— Minha voz mudou, tornando-se mais profunda.
Esta era a minha voz profissional.— Veja, as memórias dão início às emoções.
Normalmente, você saberia o que esperar de uma memória, mas como seu
cérebro foi reiniciado, você revive tudo com nova intensidade.

— Então, eu vou me sentir assim o tempo todo?

Com muito esforço, me mantive sob controle. Ela precisava de compaixão


e orientação agora, e deixando de lado minhas mentiras atrozes, eu era médico.
Ninguém poderia lhe dar um cuidado melhor.

— Não, com o tempo, você aprenderá a gerenciar a absorção de sua


memória. Rita, não quero que você se preocupe; casos como o seu geralmente
têm um efeito de curto prazo.— Pelo menos foi o que o livro dizia. Não
conseguia me gabar de ter muitos casos de perda de memória na minha
mesa.— Por que não vamos a um hotel quando pousamos em Chicago?? Eu
deveria estar em Boston por mais um dia, então ninguém me espera... nós, em
casa. Podemos tirar uma folga e descobrir como fazer isso.

O rosto de Rita se iluminou com um sorriso.

— James, sinto que toda a minha vida passou pelos meus dedos. Você é a
única âncora que tenho, meu marido, e você é médico. Por que eu questionaria
o que você diz??

Por que de fato. A magnitude da realidade que eu criei me engoliu inteira.


Peguei uma mulher que não conhecia das ruas. Eu planejava trazê-la para
minha casa, e não de uma maneira divertida, Zach Ford, quando ele entrou em
um bar, pegou uma garota do tipo modelo que ele não conhecia, exceto a cor da
calcinha. Não mais; sua garota, London, esfolaria suas bolas.

Planejei levar essa mulher para casa e dizer que ela era a mãe da minha
filha. Mais uma vez, senti como se estivesse prestes a perder meu café da
manhã em um saco de vômito.

Reservei a suíte de lua de mel no The Whitehall3 em Chicago, perto da


Michigan Avenue. Eu pensei que o quarto se encaixava na ocasião e queria lhe
dar uma noite relaxante.

Pela primeira vez, tive um momento para olhá-la em detalhes. Rita era
uma mulher requintada; sua pele era beijada pelo sol e intocada por quaisquer

3 Localizado no centro de Chicago, meio quarteirão á Oeste das famosas lojas e restaurantes na Michigan
Avenue.
falhas, exceto algumas sardas no rosto que só aumentavam sua beleza. Seu
cabelo estava exuberante e escuro como o céu noturno, quando caía em ondas
pelas costas. Isso fez seu rosto tão bonito que quase me fez esquecer de olhar
para o resto. Quase. Mas era difícil para um homem descartar seu busto
generoso e aqueles quadris redondos. Ela tinha uma figura de ampulheta
perfeita.

Toda aquela beleza estava coberta por um vestido simples que eu a fiz
pegar no aeroporto de Boston. Era indigno de alguém tão tentador. Um
pensamento amargo passou pela minha cabeça, lembrando-me que minha
esposa nunca teria sido vista usando um item tão comum. Os restos da
presença de Avery em minha vida me fizeram desejar poder perder algumas
lembranças.

— Por que você não toma banho? Enquanto isso, vou trazer algumas
roupas para você. Podemos jantar no restaurante lá embaixo.

Minha sugestão a pegou de surpresa. Também me pegou de surpresa.

— Isso parece muito com um encontro.

— Pode ser se você quiser.

— Você vai à nossa casa pegar as roupas?

— Não se preocupe com isso.— Claro, eu não estava indo para casa porque
não havia roupas para ela lá. Apenas algumas coisas que Avery deixou para
trás que não se encaixavam nas curvas generosas de Rita.
— Traga-me um vestido, por favor. Quero ficar bonita quando meu marido
me levar em nossos abetos... bem, em um encontro.

Sorri para o entusiasmo dela.

— Vou vestir um terno para você.

— Só posso imaginar como você ficará deslumbrante.— Ela parecia


divertida e íntima, e me assustou muito ouvir isso. Quanto mais confortável
ela estava, mais eu percebia a seriedade de minhas ações.

O pior foi que eu sabia que poderia parar. Eu poderia contar a ela o que
fiz e colocá-la no próximo avião de volta a Boston, fazer dela o problema das
autoridades de lá.

… Mas eu não fiz. Cheguei perto dela, pesei minhas ações por um segundo
e me inclinei para beijar sua testa. Ela ainda tinha aquele cheiro distinto de
hospital, mas também seus cabelos tinham um aroma feminino, doce e picante.

— Sou apenas um acessório de cortesia para você, Rita.— E não me senti


mal por minhas palavras porque não estava mentindo. Quem nos veria só veria
uma mulher bonita com algo— eu— pendurado no braço.

— Você também pode trazer minha maquiagem, por favor?

Porra, onde eu deveria encontrar isso?

— Certo. Vá se preparar para esse banho. Volto em algumas horas, ok?

— OK.
Eu assisti seus quadris enquanto ela balançava para o banheiro, e esse
simples ato fez minha virilha queimar. Eu me vi cobiçando Rita e batendo na
porta que ela fechou na minha cara.

Eu precisava sair daqui e pensar muito sobre a minha vida e o que diabos
eu estava fazendo com ela.

Havia tantos elementos errados nessa equação. Encontrei uma mulher


desmaiada na rua e a levei para casa. Levei-a para longe de sua cidade, talvez
para longe de algumas pessoas. Senti meu coração encolhendo quando me
lembrei da simples aliança de casamento enrolada em seu dedo anelar. Em um
ato de ironia divina, o dela combinava com o meu, e foi isso que a levou olhar
para mim e perguntar se éramos casados. Eu verifiquei sua identificação e seu
gráfico; ela não era casada e nenhum nascimento foi registrado em seu
histórico médico, mas isso não me deu nenhuma certeza real de que eu não a
havia arrancado dos braços de alguém.

Saí do hotel e amaldiçoei debaixo da respiração. Eu era tão patético. Eu


não aguentava olhar para o meu reflexo na parede de vidro do saguão.
Desesperado, saí para a rua e me sentei na calçada congelada, parecendo um
cachorro que parou para lamber suas feridas no meio da Wendy City.

Meus pensamentos voaram para Avery, e em um ato final de pena, rezei


para que minha maldição a encontrasse, onde quer que estivesse. Nós nos
conhecemos na faculdade. Eu estava na faculdade de medicina; ela estava
estudando jornalismo e estava fazendo cursos de massagem. Sua irmã mais
velha possuía a chamada clínica de relaxamento, e seu interesse lateral era
acupuntura, ioga e massagem. Eu estava no time de beisebol e ela torceu por
mim. Nos apaixonamos nas salas empoeiradas da biblioteca. Após a formatura,
nos casamos imediatamente. Parecia que meus sonhos estavam se tornando
realidade; a família que eu sempre quis estava começando a tomar forma. Se
eu tivesse que apontar para um momento em que começamos a nos separar,
tinha que ser o primeiro de Avery— e somente— trabalho. Ficamos casados por
apenas onze meses quando ela começou na posição de escritora da Chicago
Style Magazine; foi aí que o gosto de moda e glamour atingiram Avery com a
força do furacão Maria. Para nossa sorte, eu tinha uma posição garantida no
Chicago Mercy General antes de terminar a faculdade de medicina. Não tive
vergonha de dizer que meu pai trabalhava aqui há anos como cirurgião plástico
antes de se mudar para o consultório particular. O dinheiro começou a chegar,
e Avery ficou feliz em ficar em casa e fazer a sua própria— empreendedora—
atividade. Compras. Para meu horror, ela se transformou no tipo de pessoa que
me assustou a vida toda— o tipo dos meus pais— fria, indiferente e egocêntrica
como minha mãe. Rapidamente, nosso casamento começou a se parecer com o
dos meus pais. Maçante. O tédio a dominou, então ela cedeu meu desejo de ter
um bebê.

Meu anjo, minha vontade de viver. Eu daria meu braço esquerdo se isso
trouxesse apenas um sorriso no rosto do meu bebê. Avery nos deixou quase sete
meses atrás, no segundo aniversário do Chelsea, e até hoje, não sei como ela
poderia sair com a nossa família. Eu? Esqueça de mim, mas nossa filha? O que
poderia ser mais importante do que ficar com aquela criança linda? O próprio
Deus não poderia me manter longe de Chelsea?

A partida da Avery está fodendo meu equilíbrio. Fiquei sozinho com noites
sem dormir para criar uma filha e pegar os pedaços da minha vida destruída.
Tudo o que eu sempre quis desde aquele dia foi meu sonho de volta. Meu
cantinho do céu.

Rita.

Quando a mulher que eu vi desmaiar na calçada de Boston, acordou e falou


sobre o nosso casamento, senti que o destino finalmente havia intervindo. Eu
tinha uma esposa, mãe da Chelsea. Eu simplesmente não podia dizer não.

Corri minhas mãos pelo cabelo, tentando acordar meu lado engenhoso. Eu
estava aqui agora, cotovelos no fundo do jogo, então tive que jogar.

Tirei meu telefone do bolso e liguei para London para pedir instruções.
Desde que ela e Zach, meu melhor amigo e meu pior pesadelo, se reuniram,
todos do nosso grupo correram para London em busca de ajuda. Ela era mãe e
pai, todos embrulhados em um corpo bonito com um sorriso caloroso. Nos
últimos seis meses, ela era mãe substituta da Chelsea no fim de semana,
passando quase todos os dias de folga que passava na minha casa, coberta de
fórmula para bebês. Eu não queria saber todas as merdas que voaram no meu
caminho por todo o sexo que Zachary perdeu. Aquele homem andaria com o pau
entre as pernas dela se não acabassem na cadeia.

— Olá, Doutor Sullivan, o que se passa?— Sua voz alegre me


cumprimentou e ouvi Zach murmurando algo ao fundo.

— Ei, estou interrompendo qualquer coisa?— Eu pensei que estava.

— James, você nunca está interrompendo. Como está Boston??


Pensei na minha resposta e cheguei à decisão de que as melhores mentiras
eram aquelas próximas da verdade.

— Na verdade, London, estou de volta a Chicago, mas ainda não cheguei


em casa. Olha, eu tenho que ajudar... uma amiga da família. Você pode me
dizer onde eu poderia comprar alguns vestidos? Eles precisam ser muito legais.

O silêncio me cumprimentou do outro lado da linha.

— Bem, você pode tentar... o shopping. Para que você precisa de roupas
femininas, James?

— Eu te disse, para uma amiga da família. Não tenho tempo para andar
por todo o shopping. Preciso de um ponto para roupas, maquiagem e talvez
algumas jóias.

— Aha, ok.— A incerteza em sua voz era óbvia.— E para que você precisa,
qual é a ocasião?

Foi quando eu soube que estava na merda. London era uma garota
inteligente, e não havia como contar o que estava fazendo. Mais uma vez,
escolhi ficar perto da verdade.

— Um vestido para um encontro seria bom.— Murmurei para o telefone


como um urso rabugento.

— Um o quê?

— Um encontro, London. Eu preciso de algo adequado para um encontro.


— Eu...— Ela foi cortada de repente e Zach veio ao telefone.

— Quanto nervo você tem nessas suas bolas pequenas, para interromper
meu dia na cama com minha namorada nua e gostosa, para que você possa sair
e marcar hoje à noite?

Esse era o tipo de idiota estúpido que ele era, mas ele teve a sorte de estar
com uma mulher que o amava como se ele pendurasse a lua.

— Cale a boca e coloque London de volta. Quanto mais cedo eu terminar


com ela, mais cedo você poderá voltar a imitá-la.

— Realmente, cara, quem é a garota?

— Eu... Zach, não quero falar sobre isso agora.

Felizmente, London estava de volta à situação antes que ele me pistolasse


ainda mais, mas eu sabia que não estava fora do gancho com ele. Ele me
pagaria por cada grama de tristeza que eu lhe dei quando ele estava atacando
London.

— James, de onde você compra seus ternos?

— Eu tenho um comprador pessoal, e ela os entrega em minha casa.

— Bom, ligue para ela. Normalmente, compradores pessoais trabalham


em pontos de venda para que ela tenha tudo o que você precisa. Se você não
encontrar nada, podemos ligar para Paris e conversar com ela.
Sua prima, Paris, trabalhava na moda. Vê? London tinha todas as
respostas.

Eu e nossa outra amiga, Jessica apostamos que sem ela, Zach não chegaria
aos cinquenta anos.

— Obrigado, você salva a vida. Eu te devo uma.— Eu devia a ela muitos,


mas ela era legal o suficiente para nunca me lembrar.

Duas horas depois, peguei um lindo vestido vermelho rubi, um par de


sapatos Valentino, algumas roupas casuais para Rita dormir e algo que me
disseram que era lingerie rendada. Eu tive a decência de não abrir essa caixa.
Pedi a Caroline, minha compradora, para enviar um guarda- roupa completo
para minha casa amanhã de manhã. Se eu acabasse com Rita em minha casa,
ela deveria ter algumas roupas lá. Todas as grifes me custaram uma pequena
fortuna, mas eu lhe devia isso.

Também peguei um buquê de rosas que combinavam com a cor do vestido


dela. Eu não sabia onde acabaríamos depois desta noite. Eu não sabia se tinha
recuperado a razão e contado a verdade, talvez convencê-la a ir ao Chicago
General para terapia de memória. Mas se um encontro fosse tudo o que eu
daria a ela, eu faria na noite da vida dela.

Minha esposa mereceria isso.

Quando voltei para o nosso quarto de hotel, encontrei Rita parecendo um


anjo sombrio com seus cabelos pretos e manto de pelúcia branco, olhando as
luzes tremeluzentes da cidade. Eu não disse nada. Eu não queria perturbar a
paz dela; coloquei as flores na mesa e pisei em sua direção, levando- a
gentilmente em meus braços, e nós dois ficamos lá, refletindo sobre as ruas de
Chicago em total silêncio.

Eu me olhei no espelho e arrumei minha gravata pela última vez. Todos


os meus pensamentos foram cativados pelo rosto de Rita quando lhe dei as
flores. Seu sorriso seria marcado para sempre em minha mente. Ela estava
sobrecarregada de emoções, quase como se ninguém tivesse feito um gesto
gentil por ela, mas esse provavelmente era apenas o meu pensamento positivo.
Não havia como uma mulher tão bonita não ser adorada e esbanjada de
presentes.

Finalmente, a porta do banheiro se abriu— depois de uma hora, devo


acrescentar— e ela era tudo o que um homem poderia desejar e muito mais. O
vestido envolveu seu corpo cheio de curvas como uma segunda pele, me fazendo
engasgar com minha própria língua. O comprador escolheu um vestido
apertado, que mostrava a pele dos ombros e parava acima do joelho. A fenda
na coxa esquerda e os saltos altos fizeram as pernas parecerem uma milha de
comprimento. Minha boca secou como um dia de verão no Saara.

— Eu estava certo, você está delicioso de terno, Sr. Sullivan.

— Você está linda em tudo, mas, umm, devo dizer que este vestido está
lhe fazendo muitos favores, querida.

— Estou feliz que você goste de como se encaixa. Afinal, estou usando
apenas para você.— Ela falou com uma forte sensualidade, e eu entrei no jogo
dela. Um pouco de paquera nunca matou ninguém.
— É melhor você estar. Eu não gosto de brigar com pessoas; geralmente,
acabo costurando o nariz no lugar.

Aproximei-me e, com um dedo, enfiei um pedaço de renda que mostrava o


sutiã, de volta na manga do vestido. Ela exalou e estremeceu com esse pequeno
gesto.

Ninguém poderia me dizer que não tínhamos química. A tensão sexual


entre nós estava aumentando a cada momento.

— Devemos descer para pegar nossa reserva.

Ela olhou para mim através de seus cílios grossos e lambeu seus lábios
gordos.

— Ou poderíamos pular o jantar juntos.

Fiquei paralisado pela franqueza de suas palavras. Uma mulher que sabia
o que queria e não tinha medo de aceitar era sempre sexy. Adicione um corpo
como Rita tinha nela e me diga como eu poderia parar minha ereção
instantânea.

O desejo dela por mim não tinha nada a ver com a minha mentira. Ela me
queria e isso me fez sentir como um Deus andando entre humanos.

Eu estava segurando o último fragmento da minha consciência com tudo


em mim, porque sabia que se ela fosse minha, agora estaríamos caindo no chão.
Ou eu estaria afundando nela. Ou o contrário. O ponto é que cair
definitivamente aconteceria.
— Amor, acho que você apreciaria o macarrão no Fornetto Mio4. Deixe-me
alimentá-la e podemos conversar sobre um copo de vinho.

— Fornetto Mio?

— É o nome do restaurante do hotel.

— Ok, se você insistir. Viemos aqui frequentemente?

— Na verdade, eu só comi aqui uma vez com meu chefe quando


participamos de uma convenção. Tenho a sensação de que hoje à noite vou
gostar mais.

— Farei o meu melhor para superar isso.

Ela colocou a mão no meu braço e saímos da sala e para os elevadores.

— Seu chefe é um homem velho e chato?— A pergunta dela me


surpreendeu e me divertiu.

— Uma mulher, na verdade. Por que você está curiosa??

— Eu quero conhecer minha competição. Ela é bonita??

4 Restaurante italiano, na East Delaware Place, juntamente com o hotel.


— Sonia Sadin? Absolutamente deslumbrante.— Com o canto do meu
olho, eu pude ver uma linha carrancuda se formando na testa dela e um canto
da minha boca disparou.— Para alguém com mais de cinquenta anos.

— Oh, eu posso lidar com isso.

— Você poderia lidar com tudo e com todos.

Seu sorriso ficou tímido, e fiquei surpreso com o quão complexa ela poderia
ser.

Toda mulher, mas com uma timidez doce para ela ao mesmo tempo. Em
um minuto, ela me fez uma proposta, no outro ela corou quando eu lhe dei os
elogios mais simples.

— Eu gostaria que você me deixasse elogiá-la sem olhar para o chão. Você
é muito bonita, Rita.— Ela encontrou coragem para me encarar diretamente.

— Você não sabe nada sobre mulheres, James? Significa que eu gosto de
você.

Isso impulsionou meu ego como nada mais. Eu nunca me senti melhor do
que naquele momento.

Entramos no restaurante e vi todos os homens na sala virando nosso


caminho. Os olhares que desceram pelo corpo dela e pararam na bunda dela
fizeram meu sangue ferver, mas tudo que eu pude fazer foi encará-los. Soltei a
mão dela e circulei meu braço em volta dos ombros, puxando o corpo para perto
de uma maneira possessiva.
Nosso garçom nos mostrou a mesa, posta como eu pedi, com rosas
vermelhas flutuando em uma tigela de água e velas piscando. Não fiquei
satisfeito ao descobrir que seus olhos também estavam voltados para Rita,
desta vez nos seios dela, então dei a ele um olhar feio também.

Sentamos, e ela estendeu a mão sobre a mesa para pegar a minha.

— Isso é perfeito, obrigada.

— Meu prazer, amor. Você quer algo específico?

— Você pode pedir qualquer coisa. Aposto que vai estar incrível.

Em outro impulso, beijei as costas da mão dela e depois virei para o


garçom.

— Começaremos com duas Bruschetta de salmão5 e uma salada Caesar6,


e para o prato principal, teremos a Tortellini com espinafre e ricota7. E...— Rita
beliscou minha mão para chamar minha atenção.

— A massa não tem manjericão, certo? Você sabe o quão grave é minha
alergia.

7
Ela também é alérgica ao manjericão?

Palavras me falharam e uma sensação paralítica de medo tomou conta.


Nunca me passou pela cabeça que ela pudesse ser alérgica a qualquer coisa,
exceto kiwi, porque já havia mencionado isso antes. Vi pessoas morrerem de
sensibilidade alimentar o tempo todo e não podia acreditar que quase a
colocava em perigo como esse.

Tudo o que eu podia fazer era olhar impotente para o garçom, e ele teve
pena de mim.

— Claro, avisarei a cozinha para segurar o manjericão do seu pedido.

— Obrigada,— disse ela e sorriu para ele, e eu nunca pensei que tivesse
ficado com mais ciúmes.

— Qualquer coisa para beber?

— Vinho, por favor, a escolha do cozinheiro.

Ele nos trouxe uma garrafa de vermelho e derramou dois copos, depois
finalmente nos deu um pouco de privacidade.

Bom, porque precisávamos conversar, e eu precisava decidir o que ia fazer


com essa mulher.

....Além de foder seu cérebro.


CAPÍTULO DOIS

Quando acordei com uma agulha na mão e sem roupas, fiquei com medo.
Eu sabia que era. A primeira coisa que notei foram as luzes poderosas e o fato
de meu cérebro não estar funcionando como deveria. As coisas estavam
confusas e não havia ordem em meus pensamentos. Eu senti como se alguém
colocasse meu cérebro em uma máquina de lavar. As coisas não estavam certas;
a paisagem lá fora não combinava com a linha do tempo na minha cabeça, e o
pânico começou a engolir meu intestino... até ele me disse que não estava
sozinha.

Nossas alianças brilhavam em um raio de luz, e meu coração pulava uma


batida.
Não me lembrava de me casar. Eu tentei desde que acordei naquele
hospital, mas nenhuma lembrança veio até mim. Ainda assim, desde que
James me disse que era meu marido, todo esse medo evaporou porque eu sabia
que ele tinha minhas peças perdidas.

Eu não sabia quem ele era e não sabia em que ano estávamos, mas ainda
me lembrava quem eu era. Eu era forte e teimosa. Eu era espirituosa e cerebral.
Eu não teria escolhido ninguém, e parecia que meu marido era um homem
infernal.

— Como nos encontramos, James? Como uma garota como eu, de uma
favela perto de Havana, acabou se casando com um médico bonito e bem-
sucedido?

— Nós...— Ele parou de repente e olhou para mim com hesitação.— Por
que não falamos sobre o que você lembra, e eu posso preencher os espaços em
branco?

Eu estava ansiosa para descobrir o que estava perdendo, não para falar
sobre o que eu já sabia, mas quem era eu para ir contra o conselho médico?

— Eu te disse, lembro de tudo, desde a minha infância e minha vida em


Cuba. Lembro-me da minha família, então as coisas começaram a ficar
embaçadas. A última lembrança quebrada que tenho é a briga com meu pai.
Sei que houve muitos gritos, mas não sei por quê.

— Sinto muito, querida, mas eu já te disse, não tenho a resposta para isso.
Você nunca disse por que você e sua família se separaram. Posso dizer que você
manteve esse trauma com você por um longo tempo. Quando você bate a cabeça,
seu cérebro é redefinido a partir desse ponto.

Fazia sentido, pensei. Era uma lembrança feia que eu queria esquecer. Eu
amei meus pais mais do que tudo. Eles eram pobres, mas trabalhavam duro, e
eu sabia que eles haviam me dado tudo ao seu alcance. E agora que eu tinha
esquecido, eu teria dado qualquer coisa para saber o que causou nossas
consequências.

Talvez eu pudesse encontrar uma maneira de acertar.

— Tudo em que consigo pensar é que sempre quis sair de casa e essa ideia
nunca se deu bem com meu pai. Em Cuba, a família vem em primeiro lugar e
você precisa manter seu povo próximo.

Ele acenou com a cabeça, entendendo.

— Lembro-me de quando eu era pequena, dez, talvez onze anos, e um


homem do nosso bairro se mudou para Los Angeles. Ele voltou um ano depois,
um grande cineasta. Ele trabalhava em um estúdio e tinha todas essas roupas
chiques. Foi a primeira vez que pensei que poderia ser uma artista, mas sabia
que Cuba não tinha muitas chances para mim.

James bebeu um gole de seu vinho e sorriu. Havia uma calma em seu rosto
que me fez relaxar. Mais uma vez, percebi a sorte de ter esse homem do meu
lado. Como eu poderia não casar com ele quando apenas um olhar foi suficiente
para me dar tudo o que eu nem sabia que precisava? Parecia uma escolha
natural para mim.
— Rita, isso é fantástico.

— Você não sabia disso?

— Não, quero dizer, a vivacidade que você tem em lembrar disso. Isso
significa que seu neocórtex8 e amígdala9 não foram afetados pelo acidente.

Involuntariamente, sorri. Esta era a nossa vida? Ele falou como um gênio,
e eu fingi entender o que ele estava dizendo? Nós sentamos na mesa de jantar
enquanto ele me contava sobre o trabalho e eu sorria, fascinada por ele?

— James, você sabe que eu só terminei o ensino médio. Como você espera
que eu saiba o que é um neocórtex?— Eu ri pela borda do meu copo de vinho.
Ele mudou desconfortavelmente e EU percebi que eu o deixei desconfortável.—
Eu sinto muito... sei que isso pode ser difícil para você também.

— Não, não! Não é isso. Eu só queria poder fazer mais por você.

O garçom colocou a comida na nossa frente. Eu queria mergulhar


primeiro, mas James me parou.

8É a peça do córtice cerebral de cérebro humano de onde um funcionamento cognitivo mais alto é pensado
para originar. Devido aos sulcos e aos cumes naturais no cérebro, o neocórtex é compreendido de quatro
lóbulos principais com funções específicas.

9 É o principal núcleo de controle de emoções e sentimentos no cérebro, controlando também as respostas


de satisfação ou medo. Suas conexões não apenas produzem uma reação emocional, mas, devido à sua conexão
com o lobo frontal, também permitem a inibição de comportamentos.
— Por favor, deixe-me fazer isso, Rita.— Suas maneiras e vontade de me
fazer sentir especial continuaram me pegando de surpresa. Não pude deixar de
me orgulhar de ser seu encontro hoje à noite.

Ele colocou a salada na lateral do meu prato e depois a devolveu para mim.
Não me lembrava de ter comida italiana além de pizza, mas imaginei que ele
sabia o que eu gostava e o que não gostava.

— Obrigada. James, você acha que podemos conversar sobre o que


aconteceu com a minha cabeça?

Mordi uma das Bruschetta e fiquei agradavelmente surpreendida com a


explosão de aromas. Tinha leve e saboroso e... caro. Tive a sensação de que
James gostava de restaurantes caros.

— Claro, umm, estávamos em Boston para uma conferência que tive lá


com a Brain Genesis Medical Association e a National Surgery Association, e
tínhamos acabado de sair do local. Não sei o que aconteceu, mas parei para
atender uma ligação; você não estava prestando atenção e correu para a rua.

Fiquei espantada com o que ele estava dizendo. Que diabos eu tinha feito?

— Eu corri na frente de um carro?

— Não, mas você ficou assustada com um e... a próxima coisa que soube
foi que vi você caindo. Eu acho que você desmaiou.

— Oh meu Deus.
— Eu realmente quero levá-la ao Chicago General e executar alguns testes
na próxima semana.

— Sim, eu… corri na frente de um carro?— Um sentimento de vergonha


explodiu e foi direto para minhas bochechas. Eu não conseguia imaginar o que
fiz e agora ele tinha que lidar com a minha perda de memória. As lágrimas se
acumularam nos meus olhos porque esse homem não perdeu a paciência ou a
calma por um segundo, e eu esperava isso desde que abri meus olhos. Em vez
disso, tudo o que me foi dado foi carinho e bondade.

— Rita, não. Eu disse alguma coisa para deixá-la triste?

— Não, mas me sinto uma idiota por fazer algo tão tolo. Oh, como eu te
envergonhei.— Coloquei minhas mãos frias nas bochechas para tentar me
refrescar e manter minhas lágrimas, mas uma escapou de qualquer maneira e
correu pela minha bochecha.

Tudo o que eu conseguia pensar era que talvez ele estivesse com um colega
que viu sua esposa estúpida e louca entrar direto no trânsito de Boston.

— Não, ei, querida!— Ele se levantou e veio se ajoelhar ao meu lado. Suas
mãos estavam esfregando minhas coxas, tentando me acalmar.— Do que você
está falando?

— Você estava lá para participar de um evento chique para médicos, com


sua esposa estúpida que nem consegue atravessar a rua direito. E agora você
tem que cuidar de mim como se eu fosse uma criança porque perdi a porra da
minha memória! Como diabos eu devo me sentir se não vergonha de estar te
arrastando para isso?
— Rita, não seja ridícula; você sofreu um acidente e não há nada para se
envergonhar.

Ele ainda estava de joelhos me segurando, me aterrando enquanto eu


passava por esse colapso nervoso, como um farol em mar tempestuoso. Não
quebramos o contato visual até o garçom limpar a garganta ao nosso lado. Foi
quando me lembrei de onde estávamos e, quando olhei para cima, vi todos no
restaurante nos observando.

Ótimo, minhas desculpas por envergonhá-lo só trouxeram mais vergonha.

— Senhor, está tudo bem? A senhora tem um problema?

— Não, me desculpe. Minha esposa teve um tempo difícil. Esperamos não


incomodar ninguém, mas envie um copo de vinho complementar a todos que
estão jantando e cobre no meu cartão de crédito.

— Vou fazer, senhor. Deixe-me saber se há algo que eu possa fazer. Talvez
a senhora queira um copo de água?

O garçom não teve coragem de olhar para mim, provavelmente esperando


uma bagunça, mas James fez, e eu assenti em silêncio.

— Sim, Perrier com limão e gelo para ela, e por favor traga nosso prato
principal; terminamos o aperitivo.

O garçom virou e se perdeu em segundo plano, deixando-me com meu


marido, que voltou para seu assento do outro lado da mesa. A distância física
entre nós me fez sentir frio.
— Sinto muito por isso, James.

— Por favor, por favor, Rita, pare de pedir desculpas. Você não fez nada
de errado. Agora não, e com certeza não quando você bateu a cabeça. Vamos
trabalhar com isso.

— OK. É apenas... Eu continuo esperando que você fique bravo e exploda


na minha cara. Sua atitude parece boa demais para ser verdadeira.

Ele franziu a testa, mas não comentou sobre o assunto, então imaginei que
tinha que confiar que ele não perderia a paciência comigo.

— Recuperar sua memória será um processo exaustivo, e você ficará


emocionada; não posso mentir para você sobre isso.

— Que tipo de médico você disse que é?

— Neurocirurgião.

Foda-se, eu sabia como pegá-los.

— Uau, então você será meu médico? Oh meu Deus, você acha que eu
preciso de cirurgia?

Ele soltou uma risada grave e sexy e, com o canto do meu olho, vi duas
outras mulheres percebendo o som delicioso. Fiquei com a impressão de que
desperdiçava muita energia mantendo as mulheres longe dele.

— Não, linda, duvido muito que você seja um caso cirúrgico e não posso
ser seu médico. Não temos permissão para tratar amigos e familiares próximos.
Mas eu tenho um amigo aqui em Chicago que gostaria de lhe dar uma consulta,
para que possamos passar para um treinador de memória e um terapeuta.

— Uma consulta para quê?

— Para descartar qualquer dano físico. E para que eu possa dormir bem à
noite. Devo dizer que me preocupo muito e costumo ser superprotetor.

— Sério?

— Mhm, como você se sente sobre isso?

— Eu sei que não gosto de receber ordens, mas também sei que gosto
quando você cuida de mim. Você não foi nada além de perfeito desde que
acordei em Boston.

— Bom, vamos aproveitar nossa refeição agora e conversar mais tarde.


Não quero jogar muito em você.

Bebemos nosso vinho e conversamos sobre outro milhão de pequenas


coisas. No fundo, eu sabia que ele estava me permitindo descobri-lo— nós—
tudo de novo. Eu não sabia o que tínhamos antes, mas este era o melhor
encontro que eu jamais poderia imaginar.

Eu estava embriagada pra caralho no caminho de volta. Nós dois


estávamos rindo de algo que ele disse, e eu estava segurando seu corpo duro
como uma pedra, enfiada debaixo do braço.
Ele chamou o elevador e, quando entramos, escorreguei no salto alto. Para
minha sorte, James estava lá para parar minha queda mais uma vez e depois
fomos abraçados.

— Tome cuidado, amor.

Foi estranho; ele era um estranho, mas ele não era. Para mim, foi a
primeira vez que o toquei, mas nunca fui tímida. E por que devo hesitar em
pegar o que queria do homem que me conhecia melhor do que ninguém? Eu já
confiei nele uma vez com meu corpo e meu coração, e confiei em Rita— plena
memória de Rita— que ela fez todas as boas escolhas, então eu fui com seus
instintos. Não consegui encontrar a força ou o equilíbrio para me levantar na
ponta dos pés, mas o puxei para baixo e, antes que qualquer um de nós pudesse
pensar duas vezes, nossos lábios se encontraram.

Ele ficou rígido em meus braços, então eu os coloquei em volta do pescoço


dele, e pensei que era quando ele registrou o que estava acontecendo. A
próxima coisa que soube foi que fui empurrada para a parede do elevador e ele
estava pressionando meu corpo.

Abri meus lábios e mordi os dele para que ele me permitisse mais acesso.
Minha língua tocou a dele, e o efeito foi eletrizante, e eu pude sentir a energia
brilhando por toda parte. Meus mamilos estavam empurrando o cetim do
vestido, e toda vez que me arrastava em seu peito, outra onda de choque me
atingia.

Quando o elevador parou e as portas se abriram, ele começou a se mover


sem terminar o beijo; nós apenas andamos cegamente pelo corredor, devorando
um ao outro. Se este era um indicador da nossa atração, não havia surpresa
que ele me convencesse a casar com ele. Este foi o beijo mais intenso da história
da humanidade.

De alguma forma, depois de muitos momentos, ele conseguiu colocar o


cartão chave e abrir a porta da nossa suíte. De repente, estávamos lá dentro, e
as coisas estavam acontecendo muito devagar, ou talvez eu quisesse ir muito
rápido.

Eu me afastei dos lábios dele e comecei a beijar sua mandíbula e seu


pescoço, querendo sentir seu gosto por toda a minha boca. Culpei o álcool por
esse comportamento de prostituta, mas não pedi desculpas.

— James.

Ele gemeu como se eu o tivesse ferido, e eu só podia ter prazer nisso. Isso
me fez sentir poderosa para fazer um homem tão bonito me querer tanto. Foi
intoxicante.

O momento quebrou quando comecei a desfazer a gravata e suas mãos me


pararam.

— Rita, espera, espera. Nós não podemos!

— O-o que?

— Nós não podemos... fazer isso. Eu...— suas palavras foram cortadas por
suas fortes respirações.— Eu tenho que te dizer uma coisa. É importante.
Que porra é essa? Alarmes começaram a disparar na minha cabeça. Tinha
que ser algo ruim se ele tivesse que parar no meio das preliminares para
conversar...

— Nós...— ele começou, mas deixou as palavras suspensas no ar.

Nós apenas sentamos no meio da sala, respirando como se tivéssemos


corrido uma maratona.

— James, você está me assustando; o que é isso?? É algo que eu fiz?

— Não é.... Rita, nós temos uma filha.

Todo traço de desejo sexual desapareceu no ar, e meus olhos cresceram


para o tamanho de melancias. A severidade de suas palavras se estabeleceu
lentamente, e meu primeiro instinto foi cobrir minha barriga com as mãos de
maneira protetora.

— O que?— Na minha cabeça, a pergunta era vocal, talvez até gritasse,


mas tudo o que saiu foi um sussurro fraco.

— Rita...

— Como posso ter uma filha?

Como eu não conseguia me lembrar de algo assim?

— James... Não posso esquecer minha filha, não...


— Rita, você está tremendo.— Eu estava?— Venha comigo, vamos sentar
na cama.

Ele me guiou para o quarto de uma maneira muito diferente do que eu


imaginava quando estávamos furiosamente nos beijando no elevador. Agora eu
estava entorpecida ao toque dele. Eu apenas segui sua força até chegarmos à
cama, e ele me fez sentar ao lado dele.

— Amor, você está se sentindo doente? Sua cabeça está doendo?

— Não.

— Por favor, Rita, respire. Não quero que você tenha um ataque de pânico.

— James, que tipo de cadela de sangue frio e pessoa infeliz esquece sua
própria filha?

— Não, Rita.

— Sim, Rita!— Eu gritei na cara dele. Comecei a chorar freneticamente,


sem me reconhecer no reflexo que vi na grande janela.— Oh meu Deus.

Ele veio até mim e colocou as mãos grandes e tranquilizadoras nos meus
ombros trêmulos.

— Querida, não faça isso consigo mesma.— Fiquei surpresa ao encontrar


o rosto dele torcido de culpa.— Ugh, eu não acredito que te fiz passar por isso.

— Você não pode me proteger de descobrir que tenho uma filha. Isto é
minha falha.
— Você não falhou em nada.

— Mas eu fiz, James.— Outro grito abalou meu corpo.— Eu falhei como
mãe.

— Não, você não fez!

Como eu poderia lidar com isso? Eu dei à luz uma criança, uma garota que
cresceu no meu corpo por meses, a trouxe para este mundo, a alimentei no meu
peito, e tudo o que levou para esquecê-la foi um pequeno machucado na minha
têmpora.

Oh, querido Senhor, perdoe-me por este pecado.

— Que tipo de mãe eu sou?

— Rita, você sofreu um acidente; passou por um trauma. Porra, você ainda
está passando por um trauma grave.

— Eu sei...— Não fez nada melhor. Não importava se eu recuperava


minhas memórias ou não; como eu poderia olhar nos olhos daquela criança e
dizer a ela que sua mãe a esqueceu?— Não consigo parar de chorar, James;
parece que meu coração foi atingido por Mike Tyson.

— Posso te abraçar?

— Por favor.— Eu disse, assentindo com lágrimas escorrendo pelo meu


rosto como se fosse estação das chuvas.
Ele andou atrás de mim e tirou o meu vestido e fechou-o lentamente pelo
meu corpo, como se estivesse tirando uma boneca da embalagem. Ele se
agachou e pegou meus tornozelos nas mãos, me fazendo sair do vestido e depois
olhou para mim.

Quando encontrei o conjunto de lingerie, fiquei um pouco envergonhada


por ele ter que escolher calcinha para mim, mas agora que vejo o fogo em seus
olhos, esse sentimento se foi.

— Tire os sapatos, querida, e eu trarei seu roupão.— Disse ele, engolindo.

Ele me colocou no manto de pelúcia e voltamos para a cama onde me deitei


no peito dele.

— Vou deixar rímel na sua camisa.

— Foda-se a camisa. Chore o quanto quiser, querida, apenas melhore.

Sua compreensão e paciência só me fizeram sentir mais tristeza. Eu não


merecia tudo isso.

— Quantos anos ela tem?

— Nove meses de idade. O nome dela é Chelsea Alexandria Sullivan, e ela


é a coisa mais bonita do mundo.

A admiração em sua voz aqueceu meu interior. Pelo menos essa criança
tinha um bom pai que poderia amá-la, não importa o quê.

— Ela é realmente um bebê.


— Sim.

— Nós a nomeamos em homenagem a São Alexandre. Eu tinha um avô


que tinha esse nome.

— Eu... sei...— ele respondeu de uma maneira estranha, mas eu estava


muito fundo para me importar.— Não se preocupe; você a amará novamente
quando a vir. É impossível não.

Eu estava com muito medo de perguntar e se eu não fizer. O pensamento


horrível de não sentir nada pela minha própria filha era demais para mim
naquele momento. Se eu deixasse minha mente ir para lá, não seria mais capaz
de ter controle sobre minhas ações.

— Tente se acalmar, amor.

— Onde ela está agora?

— Em casa, com a babá. Normalmente ela não está sozinha tanto sem nós,
mas foi uma ocasião especial.

— O que foi isso?

— A convenção que te falei... Eu meio que ganhei um prêmio lá; não é


grande coisa, mas você queria participar, e Chelsea teve que ficar em casa.

— Faz sentido. Eu me sinto tão angustiada.

— Eu sei, garota bonita. Tente dormir e amanhã começaremos novamente.


Chorei em silêncio por horas, e tudo o que ele fez foi deitar lá e esfregar
minhas costas.

Finalmente, sob seu toque carinhoso, adormeci inquieta.


CAPÍTULO TRÊS

Ela estava dormindo, mas agitada.

O nó na minha garganta mal me deixou respirar. Eu não podia acreditar


no que tinha feito. Arruinei essa mulher com algumas palavras que saíram da
minha boca sem nenhuma racionalidade.

Quando ela me beijou, perdi todos os meus sentidos nela. A sexualidade


dela era tão crua que eu podia sentir com minhas mãos. Era impossível não
reagir. Eu era apenas um homem.

E eu estava vivo.
Eu tinha vergonha de dizer que ela era tão bonita que me senti atraído
por ela, mesmo quando ela estava inconsciente em meus braços. Quão doente
era isso?

Houve alguns minutos curtos em que eu a tinha em meus braços,


cheirando-a, beijando-a, e eu estava queimando como nunca antes. Nenhuma
outra mulher me fez sentir assim, como se estivéssemos prestes a virar cinzas
ali. Levou tudo em mim para impedi-lo.

Ela tomou muito vinho e estava vulnerável, sozinha e confusa. Eu não


poderia fazer sexo com essa mulher. Eu não poderia tirar vantagem dela assim.
Meu cérebro sabia disso, mas meu pau me odiava por isso.

Naquele momento, eu queria dizer a verdade. Confessar o meu pecado e


fazer com que ela me odeie, em vez de continuar usando-a e violando sua
confiança. Não pude.

Isso não significava que eu não queria.

Quando eu estava pronto para contar a ela, meu intestino se apertou e as


palavras nunca saíram. Imagens inundaram minha mente, mas não memórias,
não. Não foi o rosto de Avery que cruzou minha visão; era o futuro. O futuro
doente, artificial e hipnotizante que minha mente e necessidades criaram. Vi
Rita em minha casa, Rita na minha vida, Rita com meu bebê, Rita, Rita, Rita...

Ela foi tudo que vi.

Eu poderia ter dito a verdade e tentado mantê-la por perto, talvez tentar
cortejá-la, seduzi-la, mas meu coração ganancioso não queria deixar de lado a
chance de ter o que eu mais queria. Uma esposa para mim, um ombro para
chorar. Uma mãe para Chelsea e alguém que, não importa o quê, estaria
esperando em casa por mim todas as noites. Depois de cada turno longo ou uma
cirurgia de doze horas, eu voltava para minha linda menina e os braços
acolhedores de Rita.

Desesperado, joguei Chelsea na mesa. Pelo amor de Deus, usei minha filha
como moeda de pechincha.

Rita caiu— ela caiu— aos meus pés aterrorizada, parecendo tão
angustiada. Eu estava pronto para tirá-la de um ataque de ansiedade, mas,
novamente, fiquei surpreso com o quão forte ela era. Uma leoa com uma juba
negra. Ela chorou sua dor e lentamente saiu de sua tristeza, reconstruindo-se
peça por peça sob meus olhos. Eu não tinha o direito de estar, mas estava
orgulhoso dela.

Hora após hora, caí mais fundo na minha mentira distorcida e não sabia
como voltaria a ver a luz. Não era como se eu pudesse mantê-la trancada e
tornar nossa pequena vida perfeita longe de todos. Eu tentaria se pudesse, mas
a porra de Zach chutaria minha porta e perguntaria a Rita quem diabos ela era
e por que ela estava tão perto de sua afilhada.

Eu só consegui dormir algumas horas quando o amanhecer chegou às


janelas, e um raio de sol veio brincar com os cílios de Rita. Minhas costas
estavam rígidas e doloridas, como se eu estivesse dormindo em tábuas de
madeira, mas não ousei me mexer e incomodá-la a dormir. Quando a luz chegou
até ela e seus olhos se abriram, fiquei bravo com o sol por perturbar seu sono.
Irônico, considerando que eu perturbei a porra da existência dela.
Ela estendeu o braço pelo meu torso e me abraçou com mais força, olhando
para cima com um sorriso.

— Bom dia.— Eu disse a ela, e minha voz soou áspera porque minha
garganta estava seca como um deserto.

Tudo o que voltei foi um barulho estridente.

— Eu sei amor; é muito cedo.

— Você sabe que eu odeio manhãs.— Ela parou e levantou a cabeça.— Eu


odeio manhãs, certo?

— Umm, algo assim. Dormimos quando dormimos; meus turnos de


trabalho são loucos e, desde que o bebê chegou, as horas de sono se tornaram
ainda mais caóticas.

— O que posso dizer é que você gosta de dormir.

Eu já havia trabalhado com pacientes mal-humorados o suficiente que


preferiam dormir mais uma hora do que me empurrar uma broca no crânio e
salvar a vida deles para conhecer um sonolento quando vi um.

— Você não deveria estar no trabalho, James?

— Não por mais um dia, vou ligar para minha chefe e dizer a ela que
preciso de um tempo de folga.

— Não faça isso por mim. Não é como se você trabalhasse em um


supermercado. As pessoas dependem de você.
Sorri e dei um tapinha nas costas dela.

— E deixar você sozinha em uma casa que você não conhece, com um bebê
de nove meses e sem memória? Eu sei que você quer se livrar de mim, amor,
mas pretendo ficar por aqui por um tempo. Além disso, precisamos cuidar de
você. Você me prometeu uma consulta, lembra-se?

— Claro, mas eu só quero que você saiba que me sinto bem. Nada dói.

— Nem sempre funciona assim. Eu só quero dar uma olhada rápida nesse
seu cérebro bonito e perturbado.

Ela assentiu e se aninhou debaixo do meu braço, com os olhos caindo


pesado.

— Não, bela adormecida, chega de dormir. Vou no banheiro, tomo um


banho e preparo um para você. Eu estava pensando que poderíamos tomar café
da manhã no pátio externo do hotel; está coberto e muito bem aquecido, mas
posso pedir serviço de quarto, se quiser.

— O pátio externo parece ótimo. Umm, eu tenho algo para vestir, ou


existem apenas vestidos sensuais naquela grande sacola de roupas caras que
você trouxe?

Eu desejei. A maneira como o vestido abraçava seu corpo na penumbra do


restaurante me assombraria por dias.
— Jeans e uma camiseta de algodão, você ficará tão bonita quanto ontem
à noite.— Ela corou, e eu beijei sua bochecha rosada, depois me levantei e fui
para o banheiro.

Enquanto escovava os dentes, espiei pela porta e a vi emaranhada no


lençol. Tão adorável. Por um segundo, pensei em dar a ela algumas horas
extras de sono. Deus sabia que Chelsea nos manteria muito acordados.

Pela primeira vez desde que ela nasceu, o pensamento da minha menina
enviou um calafrio na minha espinha. Eu realmente faria essa mulher criar
minha filha? Como eu ia explicar isso aos meus amigos e familiares? E se ela
não pudesse lidar com isso? E se ela fosse instável? E se ela fosse algum tipo
de sociopata e - não, sou eu, eu era o louco nesse cenário. Uma cachoeira de
perguntas apareceu no meu cérebro, mas quando dei outra olhada em Rita, foi
como cheirar poeira mágica.

Ela estava aqui, e era linda e poderia ser minha... por um tempo, pelo
menos. Talvez fosse assim que deveria ser. Talvez ela estivesse me encontrando
quando caiu na calçada.

Olhando para mim no espelho, balancei a cabeça. Olhe para mim tentando
encontrar algum significado transcendental em minha própria estupidez. Se
Zach estivesse aqui, ele me daria um tapa na testa; ele não precisava de mais
motivos para levar minha masculinidade para uma piada.

Com muito esforço, convenci Rita a tomar banho para podermos comer.
Foi uma ótima ideia encontrar uma mesa do lado de fora, tomando café da
manhã ao lado de um aquecedor de ambiente enquanto desfrutava da paisagem
fresca e congelada dos jardins. Cara, eu tive um dia difícil na minha frente.
Eu pedi um chá preto para mim— o único que me permiti beber durante
o dia. Tentei ficar sem cafeína— e um café da manhã completo para ela. Eu era
um aprendiz rápido. Rita gostou dos ovos Benedict em um croissant de
manteiga, provavelmente não um grande fã de peixe; ela nem tocou no salmão
defumado, mas a mulher amava suas panquecas. Ela estava em sua segunda
porção.

— Devo parar? Você está me olhando engraçado. Você está medo que eu
fique gorda e feia?

Sua preocupação genuína me fez rir.

— Você nunca poderia ser feia, Rita, e é muito difícil não dizer algo
extravagante sobre como alguns quilos a mais significam apenas mais de você
para amar.

Sua risada estava clara como uma gota de chuva e capturou a aparência
admiradora de um casal mais velho na mesa próxima. Ela era como um ímã de
alegria. Meu lado egoísta recém-descoberto pensou em quantas risadas bonitas
ela poderia presentear para Chelsea. Meu lado racional disse que essas eram
as risadas que Chelsea e eu roubariamos dela.

— James, vamos para casa hoje? Para o...bebê?

O chá se transforma em uma pedra dura na minha garganta, e eu tive que


colocar toda a minha força em engolir.
— Rita, eu ... somente se você quiser. Ouça-me, você não precisa fazer isso
agora. Amor, ninguém jamais a julgará por precisar de mais tempo para
absorver essas informações. Como médico, eu realmente recomendaria isso.

— Mas eu quero. Estou com medo de que você não confie em mim para
cuidar dela, ou...eu não sei. Eu sempre quis ser mãe, desde pequena. Brinquei
com bichos de pelúcia, trocando as fraldas e dando a mamadeira. É por isso que
estou tão magoada. Durante toda a minha vida, eu queria ser mãe e agora
esqueci minha própria filha.

Eu soube imediatamente que confiava nela para cuidar de Chelsea, e não


tinha certeza do que isso dizia sobre mim como pai. Eu faria um palpite e diria
nada de bom.

— Não, pare de se atormentar por algo que não é sua culpa.— Eu deveria
ser o único torturado pela culpa.— Minha única hesitação é que o Chelsea será
demais para você, e isso não é uma coisa ruim. Quantas vezes tenho que lhe
dizer para ter calma porque você estava em um incidente traumático, amor?

Eu estava com os cotovelos no fundo dessa bagunça, mas havia um pedaço


de mim que nunca conseguia parar de ser médico. Eu me preocupei com ela
como se ela fosse minha paciente— que neste caso era imoral e estranho,—
mas eu precisava levar tudo em consideração. Eu já havia machucado essa
mulher o suficiente; o mínimo que pude fazer foi garantir que ela tivesse uma
boa recuperação. De todas as pessoas do mundo, ela ganhou isso de mim.

— Eu quero vê-la. Eu quero ir para casa com você. Eu...


— Tudo o que você quiser. Tudo o que você deseja, eu farei, Rita. Nunca
hesite em me pedir nada. Poderíamos tirar férias se você acha que isso vai
ajudar, você, eu e a Chelsea. Talvez uma cabana em Montana nos sirva bem,
ou em algum momento da praia?

— James...

— Talvez as compras a ajudem mais, ou...

— James, eu não preciso de férias caras ou coisas bonitas.

Ela me mostrou um sorriso completo e afagou minha bochecha. Sua mão


estava quente e reconfortante, e meu primeiro pensamento foi ' como uma mãe
'. Essa mulher foi criada para ser mãe, e meu coração explodiu de prazer
pensando em como minha filha seria o centro de seu amor. Talvez eu não
merecesse nada dela, mas Chelsea merecia.

— Baby, eu não quero seu dinheiro ou tempo de trabalho, embora se eu


fosse uma garimpeira antes, me saí muito bem. Tudo o que eu quero de você é
uma família. Nossa família e nossa menina. Leve-me para casa, Doutor
Sullivan.

Com prazer. Acenei com a cabeça e beijei a palma da mão e todo o meu
medo e dúvidas desapareceram. Eu e minha esposa substituta queríamos a
mesma coisa.
CAPÍTULO QUATRO

Se você pudesse dar um salto no seu futuro, faria? Era assim que nosso
passeio de táxi parecia, como se eu estivesse viajando na casa dos vinte anos,
caminhando...onde eu deveria estar. Nós não conversamos, mas James segurou
minha mão a cada segundo e me deixou encostar nele— nele.

Eu estava assistindo as ruas passando por nós e, a cada centímetro que


passava, minha agitação crescia. Eu senti como se estivesse traindo a vida e de
alguma forma apenas conseguindo as partes boas: o marido perfeito, o bebê;
mas nunca fui uma pessoa de sorte. Nunca me deram algo que não foi ganho,
pelo destino ou por alguém que eu conhecesse. Meu único medo era que Deus
me pagasse por trapaça e, de alguma forma, levasse o atalho a esse ponto,
porque era assim que eu me sentia.

— Ei, você ainda está comigo, amor?— A voz profunda de James me tirou
dos meus devaneios bem a tempo. Eu estava muito perto de entrar em outro
ataque de choro.

— Hm? Sim, desculpe, eu estava apenas pensando.

— Por favor, Rita, não pense muito. É um conselho do médico.

— Eu simplesmente não sei o que fazer quando chegarmos lá. Devo ir ao


bebê, ir ao banheiro lavar minhas mãos? James, nem sei onde fica o banheiro
da nossa casa.

Com o canto do olho, peguei o motorista do táxi me dando uma olhada


estranha no espelho retrovisor e fiquei com vergonha de mim mesma, mesmo
que ele não tivesse ideia do que diabos estava acontecendo. Verdade seja dita,
eu também não sabia muito sobre o que diabos estava acontecendo com a
minha vida.

James pegou minha mão e colocou um beijo na minha palma. Ele sempre
fazia coisas assim: um gesto simples e amoroso que lançava todos os medos e
dúvidas na lixeira. Como diabos uma bagunça como eu, enganou um médico—
um médico… de cérebros— casar com a minha bunda? Eu tive movimentos
sexuais hipnóticos ou algo assim?

Eu olhei para ele e encontrei o mesmo sorriso calmante, como se nada nos
últimos três dias virasse seu universo de cabeça para baixo. Ele tinha uma
filha, uma esposa sem noção e, de alguma forma, continuava agindo como se
eu fosse o centro do mundo dele. Eu não conseguia parar de me perguntar se
isso não era mais difícil para ele do que para mim?

— Rita...

— O que?

— Você está pensando de novo. Relaxe, você disse que gostava de crianças,
então pense nisso como uma visita amigável. O que seria diferente se você visse
uma criança no parque?

— Umm, isso é meu?— Eu disse nervosamente, e ele riu baixinho.

— Você é fofa. Apenas diga a palavra e voltamos ao hotel.

— Não, absolutamente não. Eu quero isso. Só estou com medo de fazer


algo estúpido, como dar a ela o leite errado ou estragar suas horas de sono.—
Eu parei e quando olhei nos olhos dele, os meus ficaram mais largos.— Ou digo
Porra na frente da nossa filha bebê.

— Eu sou intolerante à lactose, então a fórmula de Chelsea é a única em


casa; o horário de dormir, comer e andar é fixado em uma parede do quarto e
ela tem nove meses. Você tem algum tempo de palavrões impunes até que ela
comece a buscá-los.

E o outro milhão de coisas envolvidas na criação de um bebê? Eu mantive


essa pergunta para mim mesma, para não adicionar mais ao prato dele.
Eu só tive que esperar um pouco até minha memória voltar. Ele disse que
voltaria.

O carro parou e minha alma caiu no chão. James pagou o motorista, saiu
e manteve a porta aberta, mas parecia que minhas emoções haviam me
prejudicado.

— Amor, vamos lá.— Uma mão grande e quente enrolou na minha, e ele
me guiou na calçada em frente a uma casa da cidade. Estávamos em uma rua
com muitos carvalhos e flores em frente aos prédios...uma rua da família.

— Nós moramos aqui?— Eu perguntei e fiquei boquiaberta. Isso era muito


diferente da pobreza que eu costumava ver em Cuba. Esta rua era mais limpa
que a garagem do meu pai.

— Esta casa aqui.— Ele apontou para o enorme prédio à nossa frente. Era
lindo, feito de tijolo vermelho e coberto de hera, como uma das antigas
universidades chiques onde nunca me deixavam entrar.

— Então, nós temos um apartamento...?

— Todo o edifício, amor. Quatro quartos, mas um agora é um berçário, três


banheiros completos e muito espaço. Possui nove quartos no total, com meu
escritório e a biblioteca, uma lareira na sala de estar e muito espaço aberto. É
bom para uma família, você verá.

A cena ao nosso redor era perfeita; era como se estivéssemos no set de um


daqueles comerciais de chicletes onde você vê uma família perfeita, vivendo
seus momentos perfeitos...
— Uau, mas James, isso parece muito.

— Isto é...nós realmente queríamos espaço quando você engravidou, então,


em vez de comprar uma das casas nos novos bairros suburbanos, decidimos por
essa velha beleza. Você ainda gosta disso?

Eu olhei para a casa do que para ele. A palavra ainda parece redundante
agora.

— Parece tudo o que eu sempre quis.— Eu nunca fui um bebê chorão e


duvidei que isso tivesse mudado nos poucos anos em que minha mente não
conseguia se concentrar, mas senti lágrimas picando meus olhos. Eu não estava
triste. Fiquei agradecida.

— Poderíamos ficar aqui por um segundo ou andar por aí. Posso mostrar
o restaurante italiano de onde gostamos de pedir comida.

— Não. Quero dizer, eu adoraria vê-lo, mas eu só quero entrar. Sei que
disse que estou com medo, mas acho que não posso mais esperar. Eu preciso
vê-la, James.

Peguei a mão dele na minha e ele assentiu. Nós dois estávamos nervosos,
mas a onda de emoção e necessidade de ver o bebê estava vibrando no meu
coração.

James assumiu a liderança e abriu a porta da frente, deixando nós dois lá


dentro. A primeira coisa que vi foram os luxuosos painéis de madeira nas
paredes e o palete cromático: azul e marfim. Cada parede estava coberta com
essas cores, fazendo o local parecer uma casa de uma revista de móveis. Era
lindo, absolutamente deslumbrante, mas algo não estava bem comigo. Era
como se eu nunca tivesse morado aqui, como se nenhuma das minhas cores
brilhantes chegasse a esta casa.

— A porta foi destrancada?— Eu perguntei, e James se virou para mim


depois de tirar os sapatos de couro e colocá-los metodicamente em uma
prateleira.

— A babá está aqui. Deveríamos voltar para casa amanhã. Por que você
não vai à cozinha e eu a deixo ir? Não quero que você se incomode com ela
agora; só vai cansá-la ainda mais.

— Ok.— Eu disse e coloquei meus sapatos ao lado de seus sapatos. Olhei


ao meu redor e ele viu minha confusão.

— A cozinha é a primeira à esquerda.— Ele se aproximou e plantou um


beijo na minha têmpora. Ele me teve.

A cozinha combinava, o corredor com armários de marfim com puxadores


dourados e belas bancadas em azul escuro. Até os copos combinavam com o
esquema de cores. Eu não estava dizendo que não era bonito, mas o que diabos
havia de errado comigo em ir apenas com duas cores. Olhando em volta, mordi
meus lábios, pensando em quão bem um pouco de vermelho entraria aqui. Até
um buquê de papoulas faria perambulações. Oh, Deus, espero ter feito um
trabalho melhor com a bebê do que com a sala.

Comecei a olhar através dos armários e entrar na geladeira, explorando o


espaço como um cachorro quando foi levado para uma nova casa do abrigo.
Quando abri as grandes portas do armário do meio, encontrei uma enorme
coleção de tigelas e pratos. Tudo azul e marfim. O que. No. Inferno? Havia algo
errado comigo? Inclinei-me para olhar para os pratos maiores nas costas e
encontrei as mesmas duas cores. Isso estava ficando ridículo.

— Ei, James.

— Sim, amor!— Sua voz respondeu de algum lugar da casa.

— Acho que precisamos redecorar um pouco. Precisamos de mais do que


apenas dois...

Quando me levantei e olhei para a porta, todas as minhas palavras


ficaram presas na garganta. James já estava lá, me observando bisbilhotando
pela cozinha enquanto segurava uma menina enrolada em um cobertor rosa e
brilhante. Ela estava distraída com o pai, movendo as mãozinhas no rosto dele
e rindo como se não pudesse acreditar que ele voltou. Tentei não ler muito o
fato de que ela não prestou atenção à minha presença.

— Oh meu Deus...— Tudo o que eu podia fazer era cobrir minha boca com
minhas mãos e olhá-la com admiração. Como eu poderia fazer algo tão bonito
e não me lembro?

— Rita, venha conhecer sua filha, Chelsea. A babá me disse que ela pulou
a soneca para estar irritada como o inferno.

— Ela não parece irritada.— Eu dei um passo à frente com medo, então
não a assustei de alguma forma. Ela era tão pequena e frágil. Vulnerável. Para
este bebê era necessário proteção e tudo o que ela tinha era uma mãe irracional
que não conseguia se lembrar de nada sobre criar um filho.
— Você quer abraçá-la?

— Eu...— Mais do que tudo, mas e se eu fizesse algo errado e machucasse


um de seus ossos pequenos?

— Amor, ela tem nove meses, não é recém-nascida. Você não precisa
hesitar em tocá-la.

— Posso me aproximar e brincar com ela enquanto ela está em seus braços
primeiro?

— Claro, venha aqui. Chelsea, olha quem temos aqui.

James apontou para mim e sorriu, mas desta vez eu pude ver os nervos se
escondendo atrás dele. Eu não poderia estragar tudo. Não podia.

Indo sentar ao lado deles, tranquei os olhos com a criança mais bonita que
já vi. Seus grandes olhos combinavam com os do pai e, quando ela finalmente
me viu, me senti presa sob o olhar dela. Ela estava curiosa para ver meu rosto,
como se estivéssemos nos conhecendo pela primeira vez, mas era só eu quem
não conseguia se lembrar.

Era como James disse, amor à primeira vista. Chelsea olhou para mim e
murmurou alguma coisa, e eu era um caso perdido. Ela tinha meu coração na
palma da mão para brincar.

— James, ela é...— Mas eu parei porque perfeita não parecia cobri-la. Ela
era definitivamente filha dele; o bebê tinha todas as suas características
bonitas e quentes.
Ela estava me contemplando com cuidado, como se soubesse que eu
precisava de tempo, mostrando novamente a sabedoria de seu pai. Deus sabia
que eu não tinha essa qualidade. A única boa decisão que eu já tomei foi nesta
sala, e eu não tinha ideia do que me guiou até aqui. Talvez um milagre.

— Rita, você está bem?

— Hm? Sim, porquê?

— Você estava franzindo a testa.

Eu estava?

— Eu estava pensando...como cheguei aqui. Todas aquelas más decisões


que tomei...

— Que decisões ruins?— Ele parecia preocupado com isso.

— Eu não sei, mas sei que houve muitas delas antes de você.

Nós olhamos um para o outro, nenhum de nós dizendo nada, o Chelsea


parece a única coisa que quebra o silêncio.

— Você vai se lembrar com o tempo.— Disse ele, mas sua voz estava seca.

Ansiosa para seguir em frente a partir deste momento embaraçoso, voltei


minha atenção para a bebê e trouxe minha mão para sua bochecha gordinha.
Sua pele era macia como uma pétala de rosa, e ela se virou para me olhar.
— Olá, Chelsea!— Ela respondeu com um sorriso e um grito feliz, e meu
coração explodiu de alegria.— Ei, bebê, estou feliz em vê-la também.

Logo ela ficou animada com toda a atenção e começou a se mexer no casulo
dos braços de James, me alcançando. Meu coração ameaçou abrir caminho
direto pela minha caixa torácica. Quando me aproximei, a mão direita foi direto
para o meu cabelo, e ela se enroscou, puxando suavemente. É por isso que as
mães mantêm os cabelos em um coque o tempo todo. Lição aprendida, pequena.

— Oh, cuidado. Esqueci de lhe dizer que ela acabou de desenvolver uma
paixão por ajudar as pessoas a alcançar um estado de calvície.

E ela era muito boa nisso.

Nossas risadas foram interrompidas pelo som de um telefone tocando em


outra sala.

— Merda, isso é meu. Eu preciso atender, amor. Você pode segurá-la por
um segundo?

— Certo.

Ele me entregou a bebê e correu para responder, e de repente fiquei no


meio de uma cozinha de cor chata com a minha filha nos meus braços. Por
alguns segundos, eu não sabia o que fazer, mas Chelsea rapidamente se sentia
confortável comigo, sentindo minhas mãos com a palma da mão, tentando
puxar ou morder tudo à vista.
Eu tinha vergonha de como era estranho segurá-la. Eu esperava vê-la e
encontrar todas as minhas memórias, reconhecer seu cheiro, sua sensação. Era
isso que eu sentia que uma mãe decente faria, mas...nenhuma reação foi
iniciada. Eu me apaixonei por ela assim que aqueles olhos verdes atingiram os
meus, mas não houve reconhecimento.

— O que vamos fazer, bebê?— Ela olhou para mim e fez um som suave,
como se estivesse disposta a me dar algum tempo para me ajustar?

Ou foi o que pensei, mas aparentemente estava errada. Chelsea começou


a ficar agitada, e eu comecei a andar na esperança de que o movimento a
acalmasse, mas isso só piorou.

Quando o primeiro grito escapou de sua boca, eu estava em pânico. Só não


sabia como distraí-la.

— Oh, querida, não chore.— No meu desespero, peguei uma maçã de uma
tigela de frutas no balcão e entreguei a ela. Ela pegou a maçã e jogou no chão,
parecendo mais irritada do que antes.

Ela estava chutando e gritando, e eu não sabia o que fazer. Com medo de
que ela se machucasse, coloquei uma das minhas mãos nas costas dela e a
mantive corpo o mais perto possível do meu peito. Isso só a fez chorar mais alto
e minhas lágrimas também começaram a fluir.

Por que eu estava tão mal nisso?

— Está tudo bem, Chelsea.— Eu disse entre soluços.— Tudo ficará bem
bebê, por favor, não fique brava.
James me encontrou balançando a filha para cima e para baixo
freneticamente e chorando como uma covarde.

— E o que está acontecendo aqui?— Ele falou baixinho, como se estivesse


tentando acalmar um animal encurralado, e eu não sabia se isso era para
Chelsea ou para mim.

— Eu... Não sei o que fazer, James.

— Parece que a bebê Chelsea precisa tirar essa soneca. Rita, respire.
Deixe-me levá-la para cima e colocá-la no chão enquanto você toma um
momento para reunir seus pensamentos, ok?

Eu assenti e entreguei a ele a garota. Ele continuou sorrindo, mas eu tinha


um gosto amargo na boca de falha. Ele me deixou por cinco minutos com nossa
filha, e eu quase tive um ataque de pânico.

Eu decepcionei os dois.
CAPÍTULO CINCO

Eu era um filho da puta podre. Se minha avó pudesse estar aqui para
assistir ao que eu estava fazendo, ela me diria que havia um lugar especial no
inferno para pessoas como eu.

Cobri Chelsea com um cobertor e observei seu rosto angelical dormindo.

Aquela voz maléfica na parte de trás da minha cabeça estava me dizendo


que isso era o melhor para todos. Eu estava fazendo isso para que Chelsea, Rita
e eu pudéssemos ser felizes.

Para ser justo, Rita estava várias horas em uma cama de hospital e
ninguém ligou para perguntar o que ela estava fazendo.
....No lado negativo, eu a sequestrei. Parecia normal tê-la por perto. Toda
vez que eu percebia o quão injusto era colocá-la em toda essa dor e drama,
roubava sua vida, eu olhava para ela e as coisas começaram a se encaixar.

Quando Chelsea fez essa birra na cozinha, ela ficou petrificada, e meu
interior se transformou em um nó ao vê-la assim, mas essa parte escura de
mim continuou sussurrando que estava tudo bem : apenas olhe como ela está
linda segurando sua filha. Eu simplesmente não conseguia encontrar forças
para viver uma vida sem Rita.

E se ela se lembrasse?

Eu estava fraco demais para pensar naquele momento. Naquele momento,


tudo o que eu sabia era que precisava encontrá-la e acalmar seus nervos, fazê-
la ficar mais um minuto.

Na cozinha, Rita estava bebendo água de um copo alto e olhando o pátio


pela janela. Eu me aproximei, abraçando o corpo dela por trás e descansei meu
queixo no ombro dela.

— Você está bem?— Eu não recebi uma resposta; em vez disso, ela mudou
de assunto.

— Parece que está prestes a chover.

— Rita...

— O que você quer que eu diga, James? Eu sinto muito.

Congelei e torci o pescoço para vê-la com um perfil incrivelmente bonito.


— Desculpa?

— Você me deixou com a Chelsea por dois minutos e tudo o que eu fui
capaz de fazer era fazer a pobre criança gritar com os pulmões. Eu era tão
horrível antes?

— Amor, olhe para mim.— Ela não fez, então eu a agarrei pelo queixo e a
fiz me encarar.— Chelsea estava cansada; as crianças choram o tempo todo;
você não fez nada de errado. Ela é uma criança, e confie em mim, haverá muito
mais de onde isso vem.

— Você sabia o que fazer.

— Eu a coloquei para dormir e sei essas coisas por causa de você.— Fechei
minha mente e percebi que mentira era essa.

— Ainda parece que estou falhando com ela repetidamente.

— Eu também. Ninguém sabe como criar filhos; somos apenas um bando


de idiotas sem noção correndo por aí, tentando impedir que pequenos humanos
morram.

Ela se inclinou para mim e riu.

— Este é o segredo? Mantenha-a viva, e tudo ficará bem?

— E amá-la.— Eu a observei com medo, com medo do que estava por vir.—
Rita, você...?
— Eu faço. Eu acho que é impossível não. Ela é uma coisinha linda. Sei
que faria qualquer coisa para mantê-la feliz, mas não sei como.

Tudo em que minha mente podia se concentrar era que ela era boa demais
para ser verdade. Sua bela alma brilhava através de toda a escuridão espessa
que minhas mentiras haviam caído sobre nós.

— Isso é o suficiente.— Eu disse determinado. Era mais do que a mãe dela.


Balancei a cabeça, recusando-me a trazer Avery para isso; havia muita sujeira
como era.— Chelsea ficará fora por pelo menos algumas horas. Que tal eu pedir
um almoço? Podemos conversar mais sobre algumas massas daquele
restaurante que eu estava falando.

— Gah, eu amo macarrão. Mas e se a bebê acordar?— O jeito que ela disse
bebê em espanhol fez meu coração pular uma batida. Parecia pessoal e
atencioso, e eu não estava mentindo quando disse que era tudo o que uma
criança precisava.

— Vamos vê-la no monitor do bebê.

— Certo.— A vergonha coloriu suas bochechas mais uma vez.

— Eu posso lhe contar tudo o que você precisa saber, o layout10 da casa,
onde você pode encontrar coisas. Estou bem aqui com você. Você disse algo
sobre uma redecoração mais cedo?

10 Modo de distribuição e arranjo dos elementos gráficos num determinado espaço.


— Umm...Eu só...Por que diabos tudo é apenas azul e marfim? Eu estava
doente ou algo assim?

Não pude conter minha felicidade quando vi um raio de fogo dela


aparecendo.

— A maioria das coisas veio com a casa.— Avery estava desinteressada


demais para mudar muito ao redor do local.— Acho que uma renovação parece
ótima. Podemos começar de novo.

— Quero dizer, eu não mudaria tudo. Eu só acho que um pouco de cor aqui
e ali, tornaria o lugar mais bonito.

— E aqui está o nosso primeiro projeto.

O resto do dia passou em paz. Zach ligou algumas vezes apenas para me
irritar— suas palavras— e ele conseguiu. O idiota ainda acreditava que eu
estava batendo botas com uma bostoniana desconhecida. London estava
definitivamente animada com a minha “namorada”. Ela estava pressionando
para que eu voltasse ao jogo desde a semana em que Avery saiu. Se ela
soubesse...

Rita e Chelsea finalmente começaram a clicar. Depois da soneca, meu bebê


era um cubo de açúcar como sempre e passava o tempo todo presa a mim e a
Rita. Ela se sentou no colo de Rita, tocou com o colar e até se inclinou para um
abraço. Meu coração pulava uma batida toda vez que via Rita observando
minha filha com seu calor. Como uma mãe deveria.
Não me interpretem mal, eu ainda me sentia uma porcaria por enganar
Rita, mas naquele momento Chelsea estava dormindo em seus braços, e
estávamos prontos para colocá-la no chão durante a noite, mas Rita parecia
que não estava pronta para fazê-lo. Ainda.

— Ela parece adormecida, amor, você não precisa mais segurá-la.

— Eu só quero ter certeza que essa bebê está realmente, realmente


dormindo.

— Ela está dormindo há meia hora, querida, mas tudo bem se você quiser
ficar um pouco mais.

— Eu simplesmente não consigo parar de olhar para essa criança linda.


Como posso esquecer de fazer algo tão puro e doce? Na verdade, James, estou
chocada por ter conseguido fazer algo tão perfeito em primeiro lugar. Você sabe
como soy un fracaso11.

O espanhol dela era adorável. Eu não sabia se Rita percebeu quando ela
mudou entre os idiomas, mas aconteceu algumas vezes hoje.

— Você acabou de dizer que é uma sarda?

Ela colocou a bebê Chelsea no berço branco da princesa e virou-se para


mim, confusa.

11 Sou uma falha.


— Por que eu diria que sou uma sarda?

Eu apenas dei de ombros e sorri para ela.

— Você não fala nada em Espanhol, James?

— Não, amor, me desculpe, mas nunca fui bom em aprender uma língua
estrangeira. Quando nos conhecemos, acabei de abandonar a ideia de ser um
poliglota. Mas sei que gosto quando você fala espanhol. Parece muito quente.

— Oh sério?— Saímos do berçário e ela parou para me olhar com os braços


cruzados sobre o peito.— Eu acabei de dizer que sou uma perdedora. Isso é
excitante para você?

Meu coração caiu quando a ouvi. Não estava bem comigo que uma mulher
tão bonita e tão resistente pudesse pensar tão pouco em si mesma. Joguei Rita
em uma vida totalmente nova, dei a ela um bebê para criar e, em menos de um
dia, ela conseguiu colocar minha filha para dormir e estava planejando
repintar a casa. Como se nada tivesse acontecido. Como se eu não a roubasse
para alimentar minhas necessidades miseráveis.

— Você é incrível da ponta dos dedos até o último cabelo da cabeça. Por
favor, evite dizer algo menos sobre você.

Seus olhos cresceram, olhando para mim com dúvida. Foi quando eu soube
que minha missão a partir de agora era fazê-la ver o pedaço do céu que ela
realmente era.

— Eu fiz muitas coisas estúpidas.


— Todos nós fizemos.— Por instinto, dei alguns passos à frente e a peguei
em meus braços, sentindo seu corpo curvilíneo se moldando no meu.— Pare
com a besteira, amor.

— Você cheira bem.

— Obrigado.

Ela traçou o contorno do meu pescoço com o nariz, inalando meu perfume,
e eu a abracei com mais força, tendo prazer no pequeno gesto, mas todo o meu
movimento parou quando senti sua língua na minha pele. A sensação de chuva
foi paralisante.

— A bebê está caída durante a noite; talvez seja hora de mamãe e papai
irem para a cama também.— A voz dela era divertida e convidativa, e a
sugestão era clara. Sem saber como reagir, beijei a testa dela e depois voltei
para olhar para ela.

— Sim, deveríamos. Nós cansamos você o suficiente por um dia.

— Então, para o quarto?

Limpei minha garganta e mudei de uma perna para outra me sentindo


desconfortável.

— Eu estava pensando… Rita, talvez eu deva ficar no outro quarto por um


tempo.
Toda a alegria em seu rosto escorreu pelo ralo em um instante, e eu
imediatamente me arrependi das minhas palavras. Eu não queria machucá-la.
Também não queria tirar vantagem dela.

— O que?

— Eu só quero que você se sinta confortável. Não se apresse em se


familiarizar… com tudo.

— Bem.— A resposta foi mais seca que o deserto do Saara.— Deixe-me


pegar o monitor do bebê para que eu possa ouvir quando a Chelsea acordar.

— Eu posso fazer isso.— Eu disse sem pensar. Eu estava acostumado a


fazer isso sozinho.

Avery não era um grande fã de acordar no meio da noite para dar


mamadeira e alimentar a nossa filha. Obviamente, minha resposta não
agradou nem um pouco a Rita.

— Você acha que eu não posso fazer isso?

— Amor, só estou dizendo que você precisa descansar. Você teve um


ferimento grave na cabeça.

— Tanto faz. Você está certo de qualquer maneira.

Ela virou os calcanhares e passou pela porta do quarto. Eu nem tive tempo
de chamar o nome dela. A única coisa que restava a fazer era me dizer que era
o melhor. Nas últimas setenta e duas horas, eu me disse isso muito.
Trouxe Rita para casa comigo porque Chelsea precisa de uma mãe. Eu a
trouxe para Chicago porque ninguém veio procurá-la no hospital. Ninguém nem
ligou. Isto é para o melhor.

Quando cheguei ao quarto de hóspedes e deitei na cama, estava pensando


que, apesar de toda a merda estúpida que fiz, minha cama ainda estava fria.
Se eu esticasse minha mão para o outro lado da cama, ainda não havia ninguém
lá.
CAPÍTULO SEIS

Acordei do pior sono com a cabeça grogue e pesada.

Talvez eu devesse ter pensado em algo desde que bati minha testa na
calçada não faz muito tempo, mas culpei James. Fui dormir furiosa e
provavelmente aumentou minha pressão arterial.

Sim, eu culpei James. O homem continuou me dispensando, e eu não


conseguia me impedir de pensar sobre isso. Era apenas a proteção dele, ou
havia algo mais por trás disso? Bem… eu não conseguia me lembrar.

A fúria foi substituída por dor e vergonha quando me lembrei dele


aproveitando a chance de pegar o monitor do bebê. Isso me lembrou mais uma
vez que eu era bastante inútil. Eu sabia que era bom que James a vigiasse—
inferno, eu nem sabia onde estavam as fraldas— mas você poderia me culpar
por me sentir uma porcaria por causa disso?

Entendi, ok? Eu era apenas meia mulher, e meu marido— esse homem
que não me lembrava de ter visto— era mais gentil e compreensivo do que eu
merecia, mas ele estava me tratando com um grosso par de luvas, e isso não
estava ajudando.

Agora o choque se foi, e eu precisava sentir que estava recuperando pelo


menos um pequeno pedaço da minha vida. Então foda-se! Isso terminou hoje.

Estalando meu pescoço como um lutador pronto para bater no ringue,


levantei minha bunda da cama e lavei meu rosto. A água fria escorreu pelo
meu rosto, tomando todo traço de hesitação pelo ralo com ela, e fiquei
agradecida por isso.

Peguei a túnica sedosa que estava pendurada na porta do banheiro e a


joguei sobre o pijama curto que encontrei no armário. Um armário enorme,
devo acrescentar, dividido entre eu e meu marido, e a julgar pelos vestidos e
por todos os pares de sapatos que encontrei, eu era uma dona de casa mimada.
Como isso aconteceu? A Rita que eu lembro costumava usar short jeans e
chinelos desgastados. Eu imaginei que a esposa de um cirurgião de elite não.

O som de um bebê rindo me mostrou o caminho para James, que estava


na cozinha, parecendo mais relaxado e doméstico do que ontem. A camisa
perfeita e imaculada se foi substituída por uma calça de moletom cinza e uma
camiseta preta, que abraçava sua parte superior do corpo como uma segunda
pele.
Droga! Como esse homem conseguiu ser um nerd e um gostoso ao mesmo
tempo?

Seu cabelo estava bagunçado e havia algo verde em seu rosto que
francamente parecia nojento, mas James ainda era uma visão para os olhos
doloridos. A imagem dele tentando convencer sua— nossa— filha para comer
essa mistura quase me fez esquecer que eu estava aqui para esclarecer esse
tolo.

Perdi muito, mas lembrei-me de uma coisa. Eu nunca fui de sentar e


esperar; eu era uma empreendedora e, naquele momento, queria ir buscá-lo.

James me viu parada na porta e olhou para cima com um sorriso


hesitante, quase como se sentisse culpado.

— Bom Dia. Espero que não tenhamos te acordado com todo o barulho que
estamos fazendo esta manhã. Chelsea odeia manhãs.

— Ela segue a mãe.— Eu disse, e ele me deu uma olhada de lado.— Que
horas são de qualquer maneira?

— Oito e meia, você deveria ter ficado mais na cama.

— Eu não tenho uma deficiência, James; pelo menos não é física.— Sem
querer, eu gritei com nele.

— Eu… desculpa. Eu nunca quis fazer você se sentir estranha, Rita. Eu


só estou preocupado. Talvez você não mostre sinais, mas lesões na cabeça
podem ser complicadas às vezes.— Aí veio o médico falar.— Estarei mais à
vontade depois de levá-la a um especialista. Hoje posso ligar para um amigo e
marcar uma consulta.

— Tudo bem, se é isso que você acha que é melhor.

Ele tinha uma xícara de café na mão e eu a peguei avidamente e engoli


em seco quando o gosto de… nada me atingiu.

— Ugh, James, que diabos é isso?

Ele riu fortemente.

— Você parece o Zach. É o meu chá de ervas. Eu bebo o tempo todo.

— Zach?

— Meu melhor amigo desde a faculdade.

Era muito cedo e eu estava com muita cafeína privada para entrar na
discussão sobre todas as pessoas em sua vida que não me lembrava.
Poderíamos passar por cima dessa merda no almoço.

— E onde guardamos o café, James?

— A máquina está no balcão da cozinha e as cápsulas estão na geladeira.


Acho que só temos café com leite de avelã e restrito de baunilha?— Ele disse,
distraído pelo bebê.

Avelã? Do que diabos ele estava falando? Eu não precisava de nenhum lixo
da Starbucks.
— Sim, não, obrigada. Onde está a minha cafetera?

Ele voltou sua atenção da Chelsea de volta para mim.

— Rita, acabei de lhe falar.— De repente, a preocupação cruzou seu rosto,


e ele disse:— Você não se lembra?

Oh.

— Não aquela cafeteira feia, minha cafetera. Minha cafeteira cubana.

James olhou para o chão com as sobrancelhas levantadas e coçou a nuca.

— Não posso dizer que sei o que é isso, amor.

— Não acredito nisso.— Eu estava simplesmente sem palavras. Vivemos


como selvagens ou algo assim? Eu compraria uma amanhã. Esqueça, eu estava
comprando duas; nunca foi uma má ideia ter uma cafetera de backup.

Enquanto James tentava novamente convencer a Chelsea a comer mais


uma vez, coloquei uma panela de água para ferver e preparar o café da maneira
mais difícil. Quando me virei para observá-los— finalmente com um pouco de
ouro preto na minha xícara— ri quando vi a Chelsea fazendo algo
humanamente possível para evitar a colher com gosma verde.

— O que é isso de qualquer maneira?

— É purê de ervilhas. Não é uma das coisas favoritas dela desde que
mudamos para alimentos sólidos.
— Então talvez ela ainda não esteja acostumada.

— Não, ela já come alimentos sólidos há três meses porque...— Ele


interrompeu sua sentença e eu não sabia por que isso me deixou nervosa.— De
qualquer forma, o pediatra insiste que ervilhas e cenouras devem fazer parte
de sua dieta, e essa pequena rebelde odeia os dois.

Quando ele terminou, a Chelsea levantou as mãozinhas e o fez largar a


tigela no chão. Eu não pude deixar de rir tanto, lágrimas reuniram nos meus
olhos.

— Oh, James, ela é a melhor bebê de todos os tempos. Vou limpar isso,
não se preocupe.

— Eu posso fazer isso, amor. A bagunça está em mim. Eu deveria saber


melhor do que tentar forçar ervilhas na Chelsea.

Tentei não me ofender com a resposta dele. Eu sabia que ele estava
preocupado com a minha saúde, então fiquei lá e o observei limpando o chão
enquanto Chelsea brincava com um brinquedo de bebê.

— James?

— Hm?

Ele não olhou para mim, mas isso não me impediu. Eu teria toda a atenção
dele em breve.

— Tivemos problemas antes...? Problemas conjugais?


Como eu esperava, minha pergunta o fez parar e se voltar para mim.

— Como assim, amor?

— Eu não estou apta… para sua satisfação? Talvez depois do bebê, eu não
seja a mesma que costumava ser. Você precisa me dizer, James.

— Que tipo de perguntas é essa? Não, não tivemos nenhum problema; não,
nada está diferente, e sim, você é… Eu nem sei como responder isso.

— Então por que não estamos? Fodendo, James? Me faça entender. Faça
o meu cérebro ferido e confuso compreendê-lo.

Ele parecia angustiado com a minha atitude e olhou para a Chelsea em


busca de apoio.

Para minha sorte, ela estava muito hipnotizada por seu brinquedo para
lhe dar uma distração.

— Rita, não temos problemas.

— Não é uma explicação, Doutor.

— Eu só não quero te machucar, isso é tão ruim? Apenas me dê um tempo


até eu levá-la a um médico, fazer outro TC e deixar minhas preocupações à
vontade. Por favor, não pense que isso é sobre você. Você é a mulher mais
bonita que eu já vi.
Ugh, essa merda de novo. O que eu tenho que fazer para convencê-lo de
que não morreria à mercê de seu pau? Agachamentos? Jumping Jacks12? Moer
a minha bunda nos braços do sofá por trinta minutos?

— James, eu não vou quebrar.— Eu disse e andei até ele. Quando


estávamos cara a cara, eu arrastei meu dedo no peito dele.— Vou deixar você
fazer todo o trabalho, prometo.

— Rita.— Oh, lá estava. A dúvida. Eu não estava chegando a lugar


nenhum com esse homem.— Não se trata de esforço físico. Atividade sexual
pode fazer seu sangue aumentar de pressão e...

— Oh meu Deus, você é um nerd. Por favor, pare de falar.— O momento


se foi e eu peguei a Chelsea nos meus braços.— Vamos, menina, vamos lavar
as mãos sujas antes que papai nos aborreça até a morte.

Saí da sala com a bebê e ouvi James chamando meu nome, mas não me
virei.

O resto do dia mudou com a velocidade de um caracol anêmico. Chelsea


manteve minha atenção o dia todo, então eu consegui evitar James, exceto
quando eu precisava que ele descobrisse onde guardamos sua chupeta, suas
mamadeiras, coisas de bebê. Tive vergonha de dizer que não apenas não me
lembrava onde eles foram colocados, mas também não sabia para que metade
deles era usados. Ela tinha uma cadeira que se balançava pelo amor de Deus.

12 Polichinelo.
Quando as nove horas rolaram, ela estava sentada, dormindo no meu peito
enquanto eu estava deitada no sofá da sala. A TV estava apagada, as luzes
estavam escuras e não havia som para perturbar esse momento. Ela era apenas
um anjinho enviado à terra. Depois de observá-la por vários minutos, decidi
que a melhor coisa era colocá-la no berço, então me movi devagar, ainda sem
saber como lidar com seu corpinho. Provavelmente foi assim que me senti na
primeira vez que a trouxemos para casa.

Coloquei-a no chão e coloquei a chupeta ao lado de seus lábios carnudos, e


ela imediatamente a agarrou. Sorrindo, acendi a luz do sono e me virei para
voltar para a sala quando encontrei James no caminho da porta.

— Ei.— Ele parecia hesitante, como se eu estivesse prestes a mordê-lo.

— Olá, James. Você veio dizer boa noite a Chelsea?

— Não, na verdade eu queria checar você. Você pulou o jantar, Rita.

— Eu tinha alguns biscoitos e uma laranja no sofá. Eu não tinha muito


apetite.

Desde que acordei naquele hospital em Boston, me senti confusa, mas


James sempre encontrava uma maneira de me deixar à vontade. Agora, todo
esse sentimento de conforto se foi. A tensão era espessa e pesada entre nós, e
eu sabia que era tudo porque bati, mas era melhor jogar com minhas cartas na
mesa.

— Você passou muito tempo em seu escritório em casa.— Eu disse,


olhando para ele.
— Eu queria te dar um pouco de espaço. Você parecia muito chateada mais
cedo, e eu não queria estar no seu caminho.

E ele se escondeu como um eremita? Foi assim que meu marido


administrou nossas lutas?

— Sim, James, eu estava. Eu ainda estou. Estou frustrada e confusa


porque não me lembro de nada sobre mim e você, e não sei por que você não
vai... De qualquer forma, devemos conversar sobre isso, não evitar um ao outro
como se tivemos uma praga.

Ele assentiu e me sinalizou para sair no corredor porque minha voz estava
começando a subir, e nenhum de nós queria acordar o bebê.

— Rita, eu não sei o que te dizer. Estou preocupado com sua saúde. Eu vi
você caindo e desmoronando na calçada sem motivo aparente, e estou com medo
de que isso aconteça novamente. Me desculpe se estou fazendo você se sentir
mal, e me desculpe por ter evitado você.

Seu pedido de desculpas fez meu interior esquentar. James era bom
demais para lidar com uma cadela como eu.

— Está tudo bem, eu também te evitei. Na verdade, estou com fome.

Ele riu, me colocou debaixo do braço protetor e beijou o topo da minha


cabeça. Quase instintivamente, abracei sua cintura e senti aquele ajuste
perfeito entre nossos corpos. Nós éramos duas peças de um quebra-cabeça.
Coloquei no micro-ondas algumas sobras do jantar de frango assado e comi
enquanto ele falava sobre seus amigos, pessoas em nossas vidas que eu não
lembrava. Primeiro, havia Zachary, imbecil extraordinário, seguido por sua
noiva, London, que aparentemente era a mulher mais doce do mundo. Devo me
preocupar com o quanto meu marido falou dela?

Ele também me contou sobre outro casal, Wendy e Jessica. Resumindo,


nós amamos todos eles e essa garota Jessica rouba nossa comida o tempo todo.
Parecia divertido se você me perguntasse.

— Você os encontrará em breve. Vou apressar a consulta para acalmar


meus nervos e então podemos começar a agir mais, umm, normal.— Então,
sexo e ter amigos era o nosso normal? Porque eu poderia trabalhar com isso.

— Você acha que eu não posso lidar com uma visita em casa. Sério, James,
como isso me machucaria?

Ele suspirou e esfregou a nuca sem saber como ir daqui.

Eu pensei que ele estava tentando evitar outro momento quente.

— Eu só não quero pressionar você agora. Não, aproveite esse tempo?

Eu deveria, não deveria?

— Claro que sim, eu só queria não me sentir tão inútil. Eu não posso nem
fazer compras porque não sei como chegar à loja e você não quer me mostrar.
James, nós dois sabemos que eu não sou de me sentar e não fazer nada. Quero
poder levar nossa garota ao parque, conversar com as pessoas, pintar
novamente. E eu quero refazer esta casa chata. Pelo menos me leve a uma loja
de flores para que eu possa comprar peônias para iluminar este lugar.

Ele riu de alegria.

— Você realmente odeia esse lugar, hein?

— Não, é elegante e bonito. Mas imagine como ficaria bom com um pouco
de vermelho, um pouco de ouro aqui e ali. Prometo não fazer nada que colidisse
com o esquema de cores original.

Talvez eu pintasse uma parede inteira no quarto da Chelsea. Unicórnios


seriam fofos.

— Rasgue o papel de parede por tudo que eu me importo. É a sua casa


também.

— E como eu devo fazer isso? Não sei onde fica a loja, além de não saber
onde está meu cartão de crédito.

Ele congelou. Transformado em uma estátua bem na minha frente.

— Certo.

— James, você está bem?

— Sim, umm, sim. Perdi sua carteira quando te carreguei no hospital.


Acabei de perceber que esqueci de ligar para o banco e cancelar os cartões de
crédito em seu nome.
— Isso é muito irresponsável, Dr. organizado.— Eu disse com todo o
sarcasmo que eu era capaz e balançou a cabeça. O banco provavelmente teria
ligado se estivéssemos sendo roubados.

— Farei isso logo de manhã. Além disso, talvez você deva manter o
monitor do bebê hoje à noite. Eu tenho que fazer uma viagem rápida ao hospital
de manhã e limpar um dos meus pacientes. Acho que não estarei em casa antes
do almoço.

— Claro, eu posso fazer isso.— Eu esperava. Eu sabia que esse era o


objetivo do meu grande discurso esta manhã, mas minhas palmas começaram
a ficar suadas. Amanhã eu estaria aqui com um bebê que mal conhecia em uma
casa monocromática que ainda era um mistério para mim. Eu pensei que
James pudesse sentir a tensão nas minhas palavras.

— Não se preocupe. Deixarei tudo à sua disposição e também deixarei


post-its detalhados.

— Você sabe, James Sullivan, eu não sei muito sobre você, mas eu sempre
tive a sensação de que você era um cara post-its.

— Isso parece um insulto.

Levantei-me e andei pela ilha da cozinha e me inclinei para beijar seus


lábios suavemente, apenas para sentir o homem provar e sussurrar acima de
seus lábios :

— Não é. Eu sei pelo menos três coisas estranhas que podemos fazer com
post-its.
Ele rosnou em um tom baixo, e eu pude ver que ele estava tentando se
controlar. Eu desejava um resultado diferente, então uma das minhas mãos
entrou no cabelo dele, coçando levemente o couro cabeludo.

— Rita.

— James.

Sua voz escondeu um aviso, mas a minha foi divertida, convidativa.


Sedutora.

— Talvez você estivesse certo, Doutor, algo dói. Que tal irmos para o
quarto e você me fazer um exame físico.

— Amor...— Quando pude sentir a rejeição chegando, esmaguei meus


lábios nos dele e, de repente, nos encontramos emaranhados em uma guerra
entre nossas línguas. Cheguei mais perto e suas mãos foram para minha
cintura, colando-me à sua figura. Isso estava quente, mas não estava quente o
suficiente.

Com precisão, empurrei as palmas das mãos para o sul até que ele abraçou
minha bunda e as deixou lá.

— Agora aperte, Dr. Sullivan.

— Merda!— Ele disse, mas fez o que lhe disseram, e eu pude sentir sua
ereção através de suas calças de moletom.

— Finalmente, marido. Você quer jogar.


CAPÍTULO SETE

Eu tentei; juro que sim. Eu mantive minha bússola moral em


funcionamento, ou o que restava dela, pelo tempo que pude, mas tudo se
transformou em fumaça. Olhar para Rita o dia todo foi difícil o suficiente, mas
sentir seios voluptuosos pressionados contra meu peito e seus quadris
curvilíneos tateando meu pau? Eu me senti atingido por um raio.

— Rita, droga, você não pode se mover assim, mulher.

Era como se eu estivesse tentando argumentar com o diabo.

— Oh, eu posso me mover de várias maneiras. Apenas deixe-me mostrar


a você.
Ela começou a andar para trás, me arrastando junto com ela. Eu estava
tão perdido nos beijos dela que não sabia que estávamos indo para o quarto
principal até ficarmos no caminho da porta.

— Pare de tentar resistir a mim, James. Eu não vou quebrar.

— Você também pode.

— James, olhe para mim.— Ela pegou minha cabeça nas mãos e me forçou
a olhar diretamente para suas poças de escuridão.— Você disse que está
preocupado porque a atividade sexual pode me fazer sentir mal, e minha cabeça
vai explodir, ou algo assim. Bem, estou lhe dizendo agora, Sullivan, que vou
subir na cama e ter muita atividade sexual. Você pode se juntar a mim ou
dormir no quarto de hóspedes. A bola está na sua quadra.

E o tribunal estava em chamas. Rita se decidiu, então o que eu estava


esperando? A culpa se reuniu na minha garganta enquanto eu pensava na
confiança que ela tinha em mim. Ela acreditava que eu era seu marido. Ela
acreditava que já havia me dado seu corpo. Então, o que diabos eu estava
fazendo aqui? Eu deveria ter me virado e saído naquele momento, mas quando
senti seus braços acorrentando minha cintura, seu hálito quente na minha
pele, soube que a decisão foi tomada por mim. Eu estava à mercê de Rita.

Desistindo da minha defesa, agarrei sua bunda e a empurrei para mais


perto de mim.

A sensação de segurá-la, sozinha foi uma das experiências mais eróticas


que eu já tive. Rita era seu próprio tipo de mulher. Ela gritava sedução, e eu
fui pego em seu feitiço como uma mosca na teia de aranha. Culpa e moralidade
poderiam queimar no inferno. Isso estava acontecendo.

— Merda, você é a mulher mais sexy que eu já conheci.— Eu disse, mas


sabia que a palavra sexy nem sequer começou a cobrir a natureza sensual de
Rita. Ela era um doce pecado, mel e veneno, tudo embrulhado neste corpo
incrível. Um santo não pôde resistir a ela, e eu nunca fingi ser um.

— Toque-me, James. Eu estive pensando sobre isso desde que abri meus
olhos.

Seguindo as instruções, peguei um punhado de sua bunda redonda.


Percebi agora que nunca havia me dedicado a apreciar a beleza da bunda de
uma mulher.

Suas mãos correram para a borda da minha camiseta, puxando-a para


cima e sobre a minha cabeça.

Ela estava com fome e ver isso nela me fez vibrar da mesma maneira. Eu
a deixei tirar a minha camiseta e imitei seus movimentos, deixando minhas
mãos viajarem pelo corpo dela, sentindo a pele sob a blusa. A sensação
aveludada era hipnotizante.

— Rita, você vai me fazer perder a cabeça.

— Bom, sua cabeça pode ser chata como o inferno.— Ela se inclinou para
mais perto e lambeu a base do meu pescoço, causando arrepios na espinha.—
Vamos para a cama, Dr. Sullivan, mas lembre-se, você não pode me fazer gritar
muito alto. Não podemos acordar o bebê.
Merda. Era impossível me conter mais, então eu a puxei para um beijo.
Fiquei excitado e nossos movimentos rapidamente se tornaram selvagens,
nossas línguas colidindo em um duelo de vontades. Ela estava decidida a não
me deixar escapar de seu aperto.

Empurrei-a para a cama e caí entre suas pernas, sentindo o calor do


núcleo. Incapaz de ir devagar, despi o corpo dela, revelando um conjunto de
lingerie branca simples. O cetim simples não foi feito para seduzir, mas a
maneira como ela envolvia sua forma atraente e o contraste entre a pele de
caramelo e a cor virginal poderia fazer qualquer homem perder a cabeça.

— Você parece… foda-se.

— Apetitosa?— Ela disse, espalhou-se na cama sob meus olhos famintos.

— Essa é exatamente a palavra que eu estava procurando.

— Ótimo, porque eu sou sua próxima refeição. Fique de joelhos, Sullivan.

Dizer que fiquei surpreso com a demanda dela seria um eufemismo. A


mulher na minha cama não compartilhou nada com a que chorou no meu ombro
quando passamos a noite no hotel.

Ela colocou um sorriso maligno e levantou uma sobrancelha.

— Você quer que eu faça...

— Agora, James.
Caí de joelhos na frente dela sem quebrar o contato visual. A tensão sexual
na sala era quase visível. O pé esquerdo dela subiu no meu ombro e me
empurrou para baixo, fazendo-me focar no centro do corpo dela. O pedaço de
cetim já estava ficando manchado por sua umidade.

— Eu preciso tirar sua calcinha.

— Eu não tenho esse tipo de paciência, Doutor, apenas a afaste.

Zach sempre me dizia que eu estava inclinado a trabalhar melhor quando


recebia ordens. Eu nunca teria acreditado que ficaria excitado com isso. Meu
pau estava em funcionamento, ansioso para se familiarizar com a pequena
senhorita dominatrix aqui.

Pronto para jogar o jogo dela, peguei as pernas dela e a puxei para mais
perto do meu rosto.

— Você está pronta, amor?

— Não, mas você está prestes a me fazer ficar.

Ou morrerei tentando. Minha testosterona atingiu minhas veias e,


naquele momento, nada parecia mais importante do que dar a ela o que ela
precisava. Eu era ganancioso por exceder as expectativas dela.

Em um movimento apressado, empurrei sua calcinha para o lado e agarrei


suas coxas para abrir mais as pernas. Em resposta, ela soltou um som
agradável.
— Espere algo, amor, porque eu estou prestes a fazer sua cabeça girar
novamente.

Ela gemeu e colocou uma das mãos no meu cabelo e puxou. A sensação foi
venenosamente deliciosa.

Quando minha língua tocou suas dobras molhadas, Rita imediatamente


tremeu debaixo de mim. O gosto da mulher sempre foi uma fraqueza minha,
mas Rita estava fazendo néctar pingar na minha boca. A doçura era altamente
viciante, e eu a devorei, enterrando meu rosto entre as suas pernas.

— Droga, James, é tão bom.— Isso só me fez ficar mais forte com ela e
empurrar um dos meus dedos em sua entrada apertada. Ela era fogo líquido
por dentro, e minhas bolas pareciam explodir por causa da sensação.— Dois.
Eu preciso de dois dedos.

— Seu desejo é meu comando.

Dei a ela três dedos e continuei provocando seu clitóris com minha língua
até que ela se desfez. Seu corpo estava espasmando, desmoronando em pedaços
na minha frente, e era a visão mais sexy que um cara podia ter. Eu fui o sortudo
que conseguiu o assento na primeira fila.

— James, porra.

— Boa.
— Então, eu casei com você por essa língua afiada, hein?— Ela disse, e
sua mão que ainda estava no meu cabelo me puxou para cima e para cima de
seu corpo.— Agora me beije.

Essa atitude mandona estava realmente funcionando para mim. Eu


gostava de uma mulher que sabia o que queria, que pudesse vocalizar seu
prazer. Eu não tinha ouvido uma palavra falada durante o sexo desde que
estava na faculdade.

— Minha vez de deixá-lo fraco dos joelhos, doutor.

Ela se levantou, me forçando a fazer o mesmo e arrastou minha calça de


moletom. Meu pau pulou feliz em conhecê-la.

— Uau, isso é impressionante. Como não me lembro de um pênis tão


grosso, James?

— Eu vou corrigir isso para você. Eu só preciso ter certeza de foder essa
memória em seu cérebro para sempre.

— Não hoje à noite, bonito.— De alguma forma, me vi na cama, deitado


de costas com sua linda silhueta me cobrindo.— Porque hoje à noite esse
balanço de quadril vai agitar seu mundo.

Ela caiu no meu pau, absorvendo tudo em apenas um movimento fluido


que me faz ceder. Essa mulher pode ser demais para lidar. Eu pensei.

Ela tinha segredos e talentos que brincavam com meu coração.


Ela se levantou e deslizou para baixo como uma maldita profissional; como
se o trabalho dela fosse servir esse pau— o meu pau.

— Foda-se, Rita.— Cheguei a tocar seus peitos, subitamente dominados


pelo desejo de sentir a pele cremosa, mas acabei com meus pulsos algemados
acima da minha cabeça e o rosto dela muito perto do meu.

— Comporte-se, Sullivan, é para você aproveitar. Isso fará você pensar


duas vezes antes de me negar novamente.

Minhas bolas se contraíram com o prazer de seu corpo apertado me


segurando como um punho. Quando seus lábios chuparam os meus em um
beijo, eu pude senti-la em todos os lugares, por todo o meu corpo. Era todo o
aroma de Rita.

— Você nunca mais dirá não, James?

— Eu não acho que posso. Mova-se mais rápido.

— E agora estamos fazendo exigências. Bem, tenha cuidado com o que


deseja.

Rita puxou o corpo para cima e eu o segui, abraçando o corpo enquanto ela
colocava as mãos nos meus ombros e pressionava os joelhos no colchão para
obter estabilidade.

— Coloque seus lábios em mim, James.— Quando o faço, sinto o gosto da


salinidade do pescoço dela e pude me ver facilmente ficando viciado nele como
um viciado em drogas.
Rita começou a montar meu pau cada vez mais rápido, me apertando com
mais força, tão dedicada a me fazer ter um orgasmo e perder a cabeça. Ela
estava trabalhando conosco com movimentos profundos, e eu pude ver que ela
estava perto de novo— seus gemidos eram cada vez mais altos, mas ela não
cedeu. Ela estava lutando contra seu próprio prazer para ver o meu. Seduzida
no esquecimento, eu deixo para lá, espirrando em seu corpo, e para melhorar,
ela seguiu alguns segundos depois, me ordenhando dentro dela. Absolutamente
nada jamais me senti melhor em toda a minha vida.

Quando caímos juntos nas cobertas da cama, recuperando o fôlego e


acertando nossas batidas cardíacas, ela riu no meu pescoço.

— Algo engraçado, Sra. Sullivan?— O recorrente se sentiu doce na minha


língua.

— Apenas pensando em como você vai implorar para fazê-lo novamente


amanhã. Eu ganhei, Sullivan.

Sim, ela ganhou com certeza.

— Amanhã? Me dê dez minutos e eu vou te foder contra a parede do


chuveiro.

— Anal?— Minha respiração cortou e tossi, engasgando no ar como um


idiota.

— O que, nós não fazemos isso? É estranho eu ter dito isso?

— Eu...
— Nós podemos tentar.

Em que diabos eu me meti com essa sereia de uma mulher.

Acordei cedo, exatamente quando o sol começou a bater na janela do


quarto, com as pernas de Rita entrelaçadas com as minhas. A intimidade e a
calma no cômodo eram inestimáveis, valendo mais do que nosso ato implacável.
Este momento colocou as coisas em perspectiva para mim. Foi por isso que eu
a chupei na minha vida, como um furacão travesso, e coloquei todas as minhas
expectativas de merda que Avery quebrou nela.

Eu a abracei mais perto do meu pescoço e beijei seu ombro nu, inalando o
cheiro de frutas cítricas e sexo que permaneciam nela. Eu estava pronto para
lamber sua delícia da cabeça aos pés, começando aqui mesmo na clavícula.

— Mmm, eu te disse, James, você nunca vai parar de querer se eu lhe der
um pedacinho de mim.

Porra. Isso foi um pedacinho?

Eu ri no pescoço dela, traçando linhas na pele dela com a minha língua.

— Bom dia, amor. Sim, você me disse isso.— Curvando meu pescoço,
chupei seu mamilo de bronze e ela ofegou de prazer sem abrir os olhos.— Você
não vai olhar para mim?

— Não, mas não deixe que isso te pare.


E eu não fiz. Fiz amor com ela lentamente, aproveitando meu tempo para
aproveitar esse momento de felicidade preguiçosa. A julgar pela história, essa
seria a única vez que eu teria meu caminho com esta bola de fogo. Embora eu
não pudesse dizer que me opusesse a ser obediente se terminasse como na noite
passada.

Uma hora depois, finalmente conseguimos sair da cama, tomar banho e


nos vestir. Rita veio até mim e me afogou em outro beijo. Estávamos prontos
para pular de volta na cama quando o monitor do bebê se acendeu e ouvimos a
Chelsea tagarelando alegremente.

— O bebê acordou.

— Mhm.— Eu respondi, chupando seu lábio inferior.

— Ela não está chorando...— Como se ela tivesse recebido uma dica,
Chelsea gritou o mais forte que pôde.— Aquela pequena traidora. Vou preparar
a mamadeira dela e o nosso café da manhã. Como você gosta de seus ovos, não
me lembro.

O que?

— Não picante será perfeito para mim. Eu não como comida apimentada,
amor, isso mexe o meu estômago.

Ela parou e olhou para mim com olhos arregalados, como se eu acabasse
de dizer a ela que tinha um fetiche secreto por pés.

— Você… sem tempero. Tipo, de jeito nenhum?


— Não, não é a minha coisa favorita no mundo.

— Mas tudo o que sei cozinhar é picante. Como você pode não amar minha
receita de feijão e arroz picante? Todos no bairro vinham à minha casa quando
minha mãe cozinhava. É delicioso, cara.

— Bem, cara,— eu disse com um sorriso. Foi bom descobrir partes dela.—
Eu nunca tive a honra de ser servido, mas se você quiser fazer isso por mim,
mesmo que isso me dê azia do inferno, eu adoraria provar. E geralmente
pedimos o jantar.

— Faremos isso; será a primeira fase do seu treinamento em alimentos


picantes. Você não pode ter uma esposa cubana e comer apenas porcaria de
mau gosto.

— Eu não acho que podemos treinar meu estômago para ingerir


condimentos que estragam o equilíbrio da minha bio flora.

— Oh, mas vamos, Doutor, ou vamos morrer tentando.

Ela me deu outro beijo apressado na minha bochecha e correu feliz pela
porta.
CAPÍTULO OITO

Por nove dias, vivemos um conto de fadas doméstico. Descobri todas as


razões pelas quais me apaixonei por esse homem— a maneira como ele acordou
muito cedo pela manhã, apenas para ficar na cama por mais meia hora me
segurando no peito; o amor que ele mostrou pela Chelsea; como ele leu esses
artigos científicos chatos e esfregou o queixo, totalmente absorvido em seu
trabalho.

Tudo o que ele fez foi sexy ou me deu prazer. Como alguém poderia não
amar isso?
Acordei todos os dias querida e satisfeita; fizemos novas memórias em
movimento. Ontem, Chelsea se levantou, ajudando-se na beira da mesa de café.
James tirou um milhão de fotos enquanto eu chorava como uma idiota.

Não importa o quão boa fosse a vida, eu gostaria de voltar para aquela
parte que faltava de mim. Eu queria saber por que minha mãe e meu pai não
estavam aqui para assistir minha filha dar os primeiros passos. O que eu fiz
para merecer a ira deles? Eu alguma vez conversarei com eles e descobriria?
Eu esperava que sim, porque a outra opção partiu meu coração.

James saiu do banheiro e me encontrou ainda nua na cama, envolta no


lençol sedoso.

— Amor, você precisa começar a se preparar. A babá estará aqui em vinte


minutos, e podemos ir.

— Si, papi, eu vou tomar um banho e me vestir. Quão bonita você me quer?

— Você está perfeita agora.

— Quero dizer, este médico que você está me levando, você disse que ele é
seu amigo. Você quer que eu seja mais bonita para poder me desfilar?

Sua boca caiu, pendurada.

— Dr. Jack Ye foi meu parceiro em uma série de consultas para um estudo
experimental há alguns anos. Ele é um dos principais especialistas em
neurologia e não, não quero que você desfile. Eu só quero que ele dê tudo claro
para seus ferimentos.
Ele estava tão preocupado o tempo todo. Eu me perguntava se era uma
coisa de médico ou se eu havia me casado com minha mãe? Eu revirei os olhos
e dei um sorriso a ele.

— Tudo bem, mas por que não estamos indo para o seu hospital?? Você
não fez o check-in por quase uma semana. Tem certeza de que não há problema
em tirar tanta folga??

— Nós não vamos ao Chicago General porque sou o chefe da neuro, e não
posso tratá-la legalmente, e sim, ainda tenho alguns dias de sobra. Eu pensei
que poderíamos tirar um dia de turista hoje após a consulta.

— Um o quê?

— Visitar a cidade como turistas. Percebi ontem à noite que você não sabe
nada sobre Chicago, e isso é uma pena. Também poderíamos ir às compras. Seu
novo telefone e cartões de crédito estão aqui, e eu odeio isso, mas terei que
voltar aos meus pacientes em breve. Tenho cirurgias na próxima semana que
não posso remarcar. Isso me deixará mais à vontade quando souber que você
está por sua conta.

Ele falou como se fosse enviado para o Iraque pelos próximos seis meses.
Eu quase ri, embora ainda estivesse um pouco chateada por ele continuar me
tratando como se eu fosse uma aleijada.

— O que você quiser, James, mas tenho certeza de que vou sobreviver
algumas horas enquanto estiver no trabalho.
— Amor, eu trabalho longas horas. Às vezes, fico preso na sala de cirurgia
por doze horas ou mais. Normalmente passo vinte e quatro a quarenta e oito
horas no hospital em um turno.— Ele parou e esfregou a nuca.— Você acha
que isso vai funcionar? Podemos conversar com a babá para ajudá-la com a
Chelsea e contratar uma governanta por algumas semanas. Eu poderia reduzir
as consultas não emergenciais e...

Levantei-me e pisei na frente dele com toda a minha nudez gloriosa para
garantir que eu tivesse toda a atenção dele.

— Ei, acalme-se papi. Eu fiz isso antes, certo. E eu posso absolutamente


fazê-lo novamente? Você e eu vamos descobrir uma merda.

— Ei, como foi lá??

James entrou na minha frente assim que saí da sala de ressonância


magnética.

Ele estava tensionado e rígido, como se eu tivesse acabado de enfiar a faca


para uma cirurgia. Esse cara precisava relaxar.
— Papi, estou bem, mas por favor não me faça fazer isso de novo, odeio o
som dessa máquina.

— Isso é apenas o ímã.

— Há um ímã nessa coisa?

— Sim, amor.— Toda a sua postura mudou na fração de segundo. Ele


endireitou os ombros, levantou o queixo e olhou seriamente para o rosto.— RM
significa ressonância magnética. O que a máquina faz é ativar ímãs muito
poderosos para criar um campo eletromagnético. Podemos ver diferentes tipos
de tecido com base em suas propriedades magnéticas.

Esse novo rosto dele realmente funcionou para mim. Quem sabia que a
conversa com um nerd poderia ser um afrodisíaco tão poderoso?

— Mhm,— eu disse e mordi meu lábio inferior.— Eu preciso de uma, ou é


só você brincando de mãe galinha?

— Sim, especialmente depois que os incompetentes em Boston não lhe


deram uma TC. Que funciona com raios-x e, às vezes, a imagem pode ser
complicada por causa da estrutura óssea. Você pode pensar em uma
ressonância magnética como uma tomografia computadorizada detalhada...

— Droga, você é gostoso.

Ele parou no meio da frase e sorriu. Chegando mais perto dele, acorrentei
sua barriga com meus braços e olhei para cima para encontrar seus olhos.
— Bem, então você deve ouvir minha palestra sobre concussões cranianas.
Vai deixar você toda molhada. Garanto.

— Já está lá. Que tal irmos a um dos quartos deste longo corredor e
tirarmos proveito dessa túnica de hospital muito solta que eu tenho?

Levantei-me na ponta dos pés e belisquei seus lábios, mas, infelizmente,


tive que parar quando o médico passou pela porta com duas enfermeiras em
sua cola.

— Estou feliz em ver que você ainda tem excelentes habilidades de


atendimento ao paciente, James.— Ele se dirigiu ao meu marido, e eles
apertaram as mãos.— Sinto muito por não ter conseguido verificar você, mas
desci de uma consulta diretamente para a sala de ressonância magnética.

— Não tem problema, Jack, eu sei o caminho por aqui, e sua equipe foi
muito útil.

Abstive-me de lembrá-lo de como a recepcionista estava tentando ser mais


útil para James— provavelmente porque sua camisa mostrava seus braços
apetitosos— do que para mim.

— Então, por que consultório particular? Por que não levar a sua...— ele
olhou para mim, sorrindo— ...amiga ao Chicago General?

Amiga? Que porra é essa? Talvez eles não fossem bons amigos, afinal.
Imaginei que todos os bons amigos teriam sido convidados para o nosso
casamento. Eu precisava pedir a James para me mostrar as fotos um dia
desses.
— Porque eu não posso tratar a Rita, então não vejo o porquê. É mais
confortável assim, então o que você sabe?

— Sim, nós recebemos os filmes, mas eu gostaria de falar com você em


particular primeiro. Você sabe, para uma consulta menos oficial. Por que não
deixamos Rita entrar em uma sala privada e tomar uma xícara de chá com a
enfermeira Rosie, aqui?

Sinto muito, não estamos falando da minha cabeça?

— Eu posso ficar. Mesmo que seja ruim, eu posso lidar com isso.

James colocou a mão no meu cotovelo e apertou para chamar minha


atenção e me acalmar.

— Rita, voltarei com você em alguns momentos. Eu só quero dar uma


olhada nos filmes, e você não pode estar naquela sala. É apenas para a equipe
médica.

Bem, merda. E agora eu precisava sentar e esperar? Este era o meu tipo
menos favorito de sentar.
CAPÍTULO NOVE

Isso não poderia ser muito bom. Se Jake queria me ver em particular,
significava que algo não estava em ordem com a cabeça de Rita.

Havia uma razão pela qual os médicos não podiam tratar membros da
família ou amigos íntimos. As emoções podem ser um perigo real quando
intervêm em nosso trabalho.

Naquele momento, eu estava surtando, embora minha lógica me dissesse


que havia muitas razões para o filme dela não ficar impecável depois daquele
golpe na cabeça, mas minhas palmas estavam suando e meu coração estava
acelerado. Eu poderia criar vinte cenários diferentes em que a vida dela estaria
em perigo.

Quando entramos em seu escritório, Jake foi para sua cadeira e começou
a brincar com uma de suas bolas de estresse. Você nunca o veria sem uma.

— Então, o que há com o segredo, Sullivan? Você me pede para dar uma
consulta sem documentos a uma mulher, se recusa a levá-la ao seu próprio
hospital e nós dois sabemos que você odeia o setor privado. O que há com essa
garota?

— É complicado, cara. Obrigado por fazer isso por mim.

— Meh, eu te devo pelo tempo em que você me salvou desse jogo de pôquer.
Mas realmente, isso é sombrio pra caralho. Ela é sua governanta sem
documentos ou algo assim?

Jake era um bom médico, mas ele também era um bastardo ganancioso
com a bússola moral de um cachorro vadio. Ele tratar Rita sem sequer pedir
uma identificação era uma enorme violação da política, e ele também podia
falar muito.

— Não, ela não é minha governanta, não seja um idiota. Ela é especial
para mim.

— Oh, entendo, finalmente saindo daquela esposa. Está tudo bem, cara.
Sou a favor de mergulhar seu pau nas águas novamente. Mas há algo que você
não está me dizendo. É mais do que apenas um ferimento na cabeça.
Desarmado, respirei fundo e coloquei minhas mãos nos bolsos.

— Ela teve um trauma na cabeça, mas também tem um caso grave de


perda de memória. A memória está desaparecida há alguns anos, mas isso é
obviamente uma repercussão do golpe. Eu só quero manter as coisas fora dos
livros.

Jake colocou as mãos sob o queixo, intrigado.

— Pode não ser.

— O que?

— Seus exames de imagem e de sangue são um verdadeiro trabalho, basta


olhar para isso.

Ele caminhou até uma tela grande e abriu as imagens de Rita.

— Sem hematomas cerebrais, sem inchaço, apenas uma concussão leve,


além de que ela não apresenta danos nos tecidos secundários. Esse golpe não
foi tão difícil quanto você pensa.

— Isso não faz sentido. Ela não se lembra de alguns anos de sua vida.
Coisas assim não acontecem apenas de um acidente. Ela deve ter sinais de
inchaço.

— Nenhum, mas...— o tom em sua voz ficou subitamente muito sóbrio.


Era o tom de más notícias de um médico.— Você deu uma olhada no TC dela?
— Não, o médico em Boston não deu a ela um após o acidente. Idiota. Você
pegou algo errado?

— Deste trauma, não, mas fiz uma varredura apenas para estar do lado
seguro. Ela deve evitar outras varreduras de raios-x pelo resto do ano, muita
radiação.

— Sim, cara, eu sei. O que apareceu no TC?

Ele abriu outro arquivo e um novo filme apareceu na tela. A diferença


entre uma tomografia computadorizada e uma ressonância magnética é que a
última tem mais precisão na exibição de tecidos moles, como o cérebro, mas
uma tomografia computadorizada mostra melhores imagens dos ossos. Eu
queria me chutar por não dar uma olhada no crânio dela mais cedo.

— James, essa mulher tem seis fraturas fechadas no crânio e, pelo que
parece, três delas foram atingidas profundamente. Minha aproximação é seis,
talvez sete milímetros.

— Porra. Eles podem ser de um acidente anterior...

— Sullivan, vamos lá, você é um neurologista de classe mundial. Um


novato podia ver que não eram feitos ao mesmo tempo. Sua Rita levou repetidos
golpes na cabeça.

A cada palavra que ele dizia, minha pressão arterial aumentava cada vez
mais.
A adrenalina estava bombeando no meu peito, me fazendo tremer. Eu
precisava me concentrar naquele momento, mas era difícil fazer através da
cortina de raiva que estava caindo sobre meus olhos.

— Nenhuma dessas fraturas parece ter sido feita por um objeto


pontiagudo.— Eu disse com uma voz áspera, mas incerta. Eu só queria estar
errado sobre isso.

— Não, sua garota foi espancada, lamento dizer. Acho que a concussão que
ela recebeu do golpe na cabeça provocou sua perda de memória, mas não é um
trauma induzido. Ela foi exposta ao estresse psicológico crônico, possivelmente
depressão.

— Isso é um tiro no escuro.

— Não. Os testes mostram impulsos das áreas corticais mais altas do


cérebro transmitidas ao sistema límbico. E o exame de sangue tem números
anormais para noradrenalina. Talvez ela não estivesse cronicamente
deprimida, mas todos os sinais estão aqui.

— Então, o circuito emocional do cérebro está comprometido. Abra a


ressonância magnética. Quero dar uma olhada no córtex pré-frontal dela.

Ele fez exatamente isso e quando chegamos à área em que eu estava


interessado, vi a cabeça dele tremendo.

— Não está iluminado.— Meus ombros afundaram.


— Atividade mínima e observe o volume do hipocampo; é muito reduzido.
James, está tudo aqui. Ela estava física e psicologicamente traumatizada. Os
sinais estão por todo o cérebro. Você não tem nada a ver com isso?

Sua pergunta me deixou enjoada.

— Que porra é essa? Claro que não! Eu nunca tocaria em uma mulher com
a intenção de machucá-la.

— Justo. Você quer ouvir minha teoria?

— Sim, eu não consigo me concentrar.

— Você disse que ela perdeu a consciência e caiu sem causa óbvia. Eu digo
que ela estava tendo um episódio de depressão ou um grande susto,
possivelmente por causa do que está causando esse tipo de estresse. O golpe na
cabeça redefiniu seu cérebro, e ela apagou apenas a parte de sua vida marcada
por abuso.

Porra, inferno.

— Ela me disse que sua última lembrança é uma briga com o pai.

— Aí está, o pai teve algumas birras e bateu nela.

Meu estômago se transformou em um nó apertado. Parecia uma teoria


lógica, e eu odiava tudo. Eu não era um homem violento. Eu nunca fui, mas
tive meu número de rodadas no ringue de boxe com Zach. Eu esperava que o
pai de Rita não cruzasse meu caminho tão cedo, porque eu estava pronto para
fazer o crânio dele igualar o da filha.
— Sullivan, já tive casos como esse antes, com pais ou tios violentos.
Talvez você deva fazê-la fazer outra consulta… para outros tipos de abuso.

De repente, um gosto amargo foi instalado na minha boca e fiquei enjoado.


Dizer que fiquei enojado com a mera ideia de uma coisa tão ridícula que
aconteceu com a Rita— minha Rita— foi uma afirmação suave.

— Então,— Jake fechou o monitor e virou-se para mim.— Eu sei que


minha recomendação é redundante para você, mas me sinto obrigado a dizer.
Ela precisa de um ambiente calmo, muito tempo para se recuperar e talvez
alguma terapia, mas eles farão muitas perguntas, e parece que você deseja
manter isso em segredo. Eu posso lhe dar um pouco de Exelon13 sob o balcão.

— Cara, eu não estou dando drogas de Alzheimer para Rita.

— Sua escolha, mas o Exelon é muito bom para a memória. Apenas


mantenha isso em sua mente.

— Absolutamente não. Agora, deixe-me chegar até ela antes que ela fique
entediada e comece a perseguir suas enfermeiras pelos corredores por diversão.
Rita é uma mulher ardente.

— Na cama?

13 Medicamento para tratamento de problemas de memória e demência.


— Por que você é assim, Jake? Eu preciso de outro favor. Deixe-me falar e
não diga uma palavra sobre sua lesão anterior.

— Você não acha que ela tem o direito de saber que seu cérebro foi abalado
como o inferno por um cara com punhos quentes?

— Não. Nunca se eu puder evitar.

— O que eu ouço, Doutor, é que eu estava certa e não há lesão. Nós


perdemos preciosas noites de sexo por causa disso.

Estávamos passeando, de mãos dadas na Randolph Street14, aproveitando


o bom tempo que tivemos hoje. A primavera estava chegando e a cidade estava
voltando à vida. Ela não conseguia parar de me dizer o quão errado eu estava.

Eu ainda estava.

14É uma rua de Chicago. Fica localizada perto de grandes teatros, bares, Pitchfork Music Festival,
restaurantes e lojas.
Eu fui uma desgraça ao juramento que fiz. Eu estava segurando
informações de saúde de uma paciente. Eu nem deveria conhecer o estado de
saúde dela. Eu não tinha direito.

— Pelo menos sabemos que estamos claros agora. Pare de segurar minha
preocupação por você, senhora.

Ela pulou e beijou minha bochecha como uma adolescente animada com
um boyband. Rita poderia se transformar dessa garota infantil e de coração
leve na criatura mais sensual da região metropolitana de Chicago em questão
de segundos; era o talento especial dela e fez minha cabeça girar.

— Eu acho que é legal você ser tão carinhoso. Eu também me importo,


você sabe. Pode não parecer como eu, porque não me lembro de nada na semana
passada, mas você e essa nossa doce filha? Você é literalmente meu mundo
inteiro. Amigos, família, não me lembro de nada, exceto vocês dois.

Suas palavras foram como um soco no meu estômago, e eu me vi quebrado


ao meio novamente. Foda-se tudo isso. Eu era apenas um homem, então sim,
ouvir que eu era o centro do universo dessa mulher fez minhas bolas crescerem,
mas eu não conseguia parar de pensar que talvez eu estivesse desviando tempo
e sentimentos dela.

— Eu sei que você faz, amor.

— Então por que o rosto franzido? O que está acontecendo, James? O


médico lhe disse algo que você está escondendo de mim?

Eu era tão fácil de ler?


— Não, na verdade não.

— Na verdade não?

— O cérebro é um órgão complicado, Rita. Passei os últimos doze anos da


minha vida estudando, e não chega nem perto o suficiente. Sua perda de
memória não pode ser explicada e não pode ser tratada, e estou percebendo
agora que isso não é grande coisa para mim. Entendo o básico do que está
acontecendo, mas como você se sente sobre isso? Há uma sólida chance de você
nunca recuperar essas memórias.

Ela parou de andar e eu me virei para olhá-la diretamente nos olhos. Eu


sabia que estava falando minha bunda para desviar da verdadeira razão pela
qual meu humor foi para o inferno, mas isso não tornou menos verdade. Ela
pode nunca se lembrar, e muitos pacientes entraram em episódios depressivos
ou ansiedade grave ao enfrentar essa possibilidade. Considerando seu estado
mental antes do acidente, os riscos foram ainda maiores.

Rita torceu a cabeça para o lado e fez algo que me surpreendeu.

Ela sorriu.

— James...você é o homem mais incrível que eu já conheci, ou pelo menos


que me lembro. Então, sim, posso perder essa parte da minha vida, mas posso
vivê-la novamente. Ao seu lado. Você me tirou dos meus pés uma vez e está
muito perto de fazê-lo novamente.

Uma pequena parte de mim ficou desapontado por ainda não estarmos lá.
Eu estava perdendo a cabeça por uma mulher que poderia acordar um dia
e perceber que eu não era nada para ela.

Passamos o dia inteiro passeando. Observar Rita fascinada por The Bean15
foi um dos melhores momentos em que eu já participei, e ela absolutamente
perdeu a cabeça sobre o pavilhão Jay Pritzker. A mulher tinha um fraquinho
por arte, e era maravilhoso vê-la absorver tudo; isso me deixou empolgado
pensando em todas as coisas que eu consegui mostrar a ela. A cidade de
Chicago era um pequeno pedaço do céu cosmopolita. Passei muitos dias
explorando as ruas, os museus e a costa do Lago Michigan quando me mudei
para cá. Sozinho. Avery nunca foi fã da cidade; ela chamou de uma ‘cidade
velha’. Los Angeles e Nova York se encaixavam melhor no estilo de vida que
ela imaginava para si mesma.

Percebi que era a primeira vez que pensava nela, ou em sua ausência, em
dias. Rita era um poderoso curativo, e se, no começo, os pensamentos de Avery
se misturavam com essa nova realidade que eu estava tentando criar e
navegar, o sexo que tínhamos apagaria completamente. A maneira como seu

15 Cloud Gate – é uma estrutura do artista Anish Kapoor, situada no centro da AT&T Plaza, no Millennium
Park, em Chicago.
corpo se curvou e torceu, a maneira como ela montou meu pau, sua sexualidade
dominante; nada poderia competir com esse lado de Rita em minha mente.

Eu me acostumei a ela estar à distância. Quando eu estava andando pelo


estacionamento do Chicago Mercy General, voltando ao trabalho, senti como se
estivesse sem casaco em janeiro.

Sentimentos mistos descreviam meu humor com precisão. Meu trabalho


foi integrado ao meu ser. Por mais que eu adorasse ficar em casa com as duas
garotas mais bonitas do mundo inteiro, aninhadas em nossa bolha de decepção,
minha mão estava desejando um bisturi. Ou uma broca. Qualquer coisa que
pudesse me levar pelo crânio e pelo cérebro de algum pobre bastardo que
acabou na minha mesa.

A chefe Sadin me enviou a prévia desse novo paciente que tínhamos, uma
jovem que perdeu toda a atividade cerebral por vinte minutos sem explicação.

Agora ela apresentou convulsões periódicas. Muitas pessoas não podiam


entender a alegria de um médico quando um caso difícil atingir sua prática.
Nós nos sentimos mal pelo paciente, eu sabia que sim, mas diabos, foi
emocionante.

Andando pelas portas e entrando no saguão, permiti que o espaço me


levasse. A agitação se estabeleceu, mas da melhor maneira possível, quase
como alguns sentidos mais elevados em mim haviam despertado. Era familiar.
Foi bom. Era exatamente o que eu precisava.

— Onde diabos você esteve, imbecil?


Assim como em casa.

Virei-me para as escadas para ver Zach me observando com os braços


cruzados e carrancudo. Eu quase ri alto. Era bom estar em casa.

— Olá, Zachary, velho amigo. Você sentiu minha falta, não sentiu?

— Senti? Você está finalmente abraçando seus ovários? O que diabos


aconteceu com você em Boston, cara? Você teve esse encontro misterioso e
secreto e depois MIA16 por duas semanas. Se você não trouxer minha afilhada
para uma visita quando tiver seu próximo turno, estou ligando para o CPS 17.
Algo está errado aqui.

Instantaneamente, fiquei tenso, mas consegui colocar um sorriso no rosto.


Zachary Ford era meu melhor amigo, o mais próximo possível de um irmão, e
eu tive que mentir para ele através dos meus dentes.

Você realmente toma as piores decisões, James.

— Chelsea está em casa com sua babá, o mais feliz possível.—


Tecnicamente, Rita estava cuidando dela, então não era uma mentira. Eu
estava livre.— Ela tinha problemas de barriga e eu não tirava folga há tanto
tempo. Era a coisa certa a fazer. Quero ter certeza de que ela ainda tem uma
vida equilibrada agora...

16 Desaparecido.

17 Serviço de Menores.
Isso chegou a Zach, e a carranca em seu rosto desapareceu, mas não
inteiramente. Ninguém, exceto London, poderia suavizar completamente sua
borda e colocar um sorriso em seu rosto.

— Alexandria é muito melhor sem aquela cobra rasa que foi sua
incubadora.

Suas palavras fizeram minha pele arrepiar. Zach nunca esteve no fã-clube
de Avery. A única razão pela qual ele estava usando o nome do meio de Chelsea
foi porque ela odiaria, e desde que ela se retirou da minha vida, ele começou a
mostrar as profundezas de sua antipatia pela minha ex-esposa.

— Zach, pare de falar sobre ela assim. Já lhe disse antes, falar mal não
está ajudando ninguém.

— Oh, não, você não consegue pular e proteger a cadela novamente. Eu


posso dizer o que eu quiser. Espero que as primeiras palavras de Alex sejam
‘foda-se, mãe’ ou pior.

— Zach...

— Cale a boca. Precisamos cobrir o pronto-socorro hoje; todos os seus


pacientes estão bem, mas preciso da sua opinião sobre um dos meus casos.

Boa. O trabalho era um território seguro agora.

— E aí?

— Vamos andar, e eu apresentarei um dos meus pacientes de longo prazo.


— Crônico?

— Genético. Eu o trato desde os treze anos.

Considerando que éramos médicos primários há apenas alguns quatro


anos, entendi que o paciente não podia ser muito velho.

— Ele não deveria estar em pediatria?

— Quando eu peguei o caso, ele estava. Eu estava trabalhando com o Dr.


Edel naquela época e pediu para ficar atualizado quando Jessica se tornou a
médica chefe. Recentemente, ele foi transferido para o General.

— Você parece envolvido.— Eu disse com suspeita, porque não era como
Zach se apegar aos casos dele.

— Sim, esse garoto me faz sentir como uma estrela do rock. Eu costumava
ser sua pessoa favorita neste hospital.

— Costumava?

Andamos por um longo corredor pela UTI e finalmente chegamos ao nosso


destino. Atrás das portas de vidro, vi um jovem com um curativo na cabeça,
uma quantidade enorme de tubos no nariz e na boca, mas ele estava sorrindo,
segurando a mão de uma mulher. Zach abriu a porta e eu pude ouvir o garoto
falar.

— Por favor, não saia; é mais fácil respirar quando você está comigo.

London sorriu para ele e afofou o travesseiro e olhou para mim e Zach.
— Eu tenho outros pacientes, Johnny, pare de tentar me encantar. Além
disso, seus médicos estão aqui para verificar você, e eu devo sair do caminho.

Não era nada incomum ver nossos pacientes tentando roubar o tempo de
London e, pela carranca no rosto de Zach, eu diria que ele ainda não estava
acostumado.

— Ele não vai se importar. Você não vai se importar, Dr. Ford, certo?

— Jonny, que tal você colocar essa energia na luta com sua doença e não
tentar seduzir minha noiva.

— Toda vez que você diz que ela é sua noiva, meus pulmões cedem um
pouco mais.

O humor sombrio do jovem me deu uma risada forte, e a atenção da sala


mudou na minha direção.

London me deu um de seus sorrisos de marca registrada e acenou, e eu


pisquei para ela. Todo mundo ficou mais feliz desde que London se tornou parte
do nosso círculo interno e assumiu o cargo em tempo integral de manter
Zachary sob controle.

— Olá, Jonny, meu nome é Dr. Sullivan e Dr. Ford acha sensato se eu lhe
der uma consulta hoje.

— Você é outro pneumologista?

— Não. London, apresente o arquivo, por favor.


— Claro, Dr. Sullivan. John Rossi é um dos nossos pacientes de longa data;
ele sofre de fibrose cística que se desenvolveu a uma taxa não agressiva.
Ontem, ele tropeçou e caiu, dando-se uma concussão e falta de ar. Além disso,
por uma razão desconhecida, ele perdeu a sensação no braço direito. Limpamos
suas vias aéreas e administramos um suplemento enzimático pancreático,
além de seus antibióticos inaladores, mas nenhuma melhora foi observada com
sua função motora.

Olhei para Zach, e ele estava assistindo London com as mãos cruzadas no
peito e o sorriso mais orgulhoso conhecido pelo homem no rosto. Eu tinha visto
Zach com garotas antes, e eu já o tinha visto com sua primeira noiva, Isabella,
quando ele descobriu o amor de cachorrinho, mas agora ele estava direto como
boceta chicoteada. Era a minha coisa favorita para assistir, honestamente.

— E você quer que eu olhe para a função neurológica dele, Zach?

— Hm? Desculpe, eu me afastei.— Vê? Boceta chicoteada.— Sim, eu


realmente apreciaria se você consertasse a mão dele para que eu pudesse voltar
a bombear antibióticos nos pulmões.

Ele poderia ser um idiota.

— Nada profissional, Dr. Ford.— Eu disse e balancei a cabeça,


desaprovando sua falta de protocolo.

— Está bem. Johnny é um dos meninos. Ele não vai contar nada para
Sadin.
Continuei balançando a cabeça e olhando para o gráfico. Eu havia pisado
no hospital há menos de quinze minutos e as coisas já haviam começado a se
mover em uma cadência agitada. A medicina pode assustar muitas pessoas,
mas para a maioria de nós, era como terapia. Pela primeira vez desde que
conheci Rita, eu não estava pensando em todas as coisas que poderiam dar
errado por causa da minha decisão idiota de pegar uma mulher que eu
literalmente encontrei na rua e enganá-la para fazer parte da minha vida. O
problema ainda estava lá, mas pelo menos agora tenho um segundo para
respirar, reunir meus pensamentos e encontrar uma maneira de controlar
minha vida, manter Rita, mas também dar liberdade a ela.

Zachary me deu um tablet com o gráfico eletrônico e eu o peguei


avidamente. Não menti quando disse que era bom ficar em casa e passar um
tempo com minha filha e consumir toda essa paixão por uma cubana gostosa,
mas, cara, eu tinha perdido tanto isso.

— Todas as suas varreduras e exames de sangue estão em seu gráfico.

— Mhm, e nada apareceu na ressonância magnética dele.

— Não, não procuramos mais, porque eu queria alguém do neuro para


uma segunda opinião. Felizmente, você encontrou algo em você para voltar ao
trabalho.

Quando comecei a faculdade, fiz dois amigos: Zach e outro cara chamado
Mark. Mark era um cara legal, calmo, contente e agradável de estar por perto,
mas ele e Zach nunca clicaram. Eles eram como água e óleo, principalmente
porque Zach era um idiota pretensioso, então deixei o amigo legal. E agora eu
estava preso com o idiota.
— London.— Eu disse, chamando a atenção da enfermeira.— Lembra
daquela vez em que o Zach beijou a ex dele no saguão do hospital?

Seu sorriso desapareceu e toda a cor drenou do rosto de Zachary. Acabei


de arruinar o dia dele e nem me arrependi; foi bom ver outra alma torturada
por uma mudança. Ele sabe que estou brincando, é meu trabalho lembrar
London de puxar sua corrente de vez em quando.

Zach cometeu muitos erros no ano passado; o amor o fodeu com força, e ele
o levou para London. Ela ainda o estava fazendo pagar por isso em todas as
ocasiões que recebia. Eles estavam noivos, mas ela se recusa a morar com ele
ainda; ela não queria marcar uma data ou fazer ‘qualquer coisa’ apressada.
Posso ou não ter lhe dado a ideia.

Quando terminei de examinar o paciente, tinha certeza de que Zach estava


planejando terminar minha vida em breve. Nós três finalmente saímos da sala
onde London me deu um abraço.

— É bom ter você de volta, James. Zach ficou entediado na sua ausência e
eu tive que pagar o preço.

Ele cortou com o peito arrogante inchado.

— Você está reclamando, Calgary? Eu pensei que você gostasse de todo o


sexo.

Ela deu um soco nele e eu ri.


— Zach, pare de ser um idiota com ela para que possamos voltar a fazer
nosso trabalho. Quero fazer alguns testes extras a Johnny para ver sua
sensibilidade a estímulos fortes. Ele pode ter cortado um nervo quando caiu.
Você acha que poderia limpá-lo se eu tiver que operar?

— Sim, mas eu também estarei na sala de cirurgia. Eu quero ficar de olho


nas funções respiratórias dele.

— Tudo bem, vou pedir para Mary fazer exames e um novo conjunto de
exames de sangue imediatamente.

Mary era minha enfermeira e minha mão direita, e eu tinha certeza agora
que ela odiava minhas entranhas. Joguei tudo nela quando tirei uma folga.

Eu me separei de Zach e London e fui ao meu escritório, mandando


mensagem no pager da Mary e abrindo meus arquivos para verificar o que
havia perdido. Em alguns minutos, a enfermeira, uma mulher bonita na casa
dos cinquenta anos com cabelos ruivos ardentes, bateu na porta e entrou no
meu escritório.

— Dr. Sullivan, é tão bom ter você de volta. Você me deve por manter esse
departamento funcional. Você sabia que todos os residentes que você tem são
muito desorganizados e esquecidos?

Uma risada baixa me escapou. Mary era uma pessoa sem besteira, e eu
sentia pena daqueles que tentavam mexer com ela e seus horários muito
apertados na minha ausência.
— Sinto que lhe devo um pedido de desculpas, Mary. Você tinha muito
com o que lidar por causa da minha licença.

— Sim, Doutor, eu fiz, e além disso, você pode adicionar essa ameaça, Dr.
Ford, que vinha todos os dias apenas para me irritar. Da próxima vez que
planejar férias, leve-o com você.

Devidamente anotado. Da próxima vez que tirasse uma folga, faria


questão de inscrever Zach para cozinhar em um curso, ou algo para mantê-lo
distraído.

— Eu te perdoo, no entanto. Fico feliz que você tenha passado mais tempo
com suas bochechas doces. Como ela está?

— Linda e feliz.

Mary me deu um sorriso enrugado.

— Bom, é assim que as crianças deveriam ser. Você é um bom pai, Dr.
Sullivan.

Suas palavras suavizaram minhas bordas, mas não achei que pertencia
ao Clube do bom pai mais. Caso contrário, eu não teria deixado minha filha
com uma estranha que eu estava fodendo.

Rapidamente, sacudi esses pensamentos e me concentrei no que estava à


minha frente; vinte e quatro horas de trabalho que dariam ao meu cérebro uma
pausa bem merecida.
Voltamos aos negócios e fiquei esfarrapado; chequei todos os meus
pacientes, fiz um cronograma operacional hermético para a próxima semana,
cortei alguns aneurismas, agora tenho minha papelada em ordem. Qualquer
coisa para sentir novamente no meu elemento. Quando finalmente saí pelas
portas quando meu turno terminou, fiquei tão entorpecido que nem pensei mais
na agilidade que marcava minha vida. Eu adorava trabalhar.

Zach e London me alcançaram no estacionamento.

— Vocês dois estão fora do gancho?— Eu perguntei e sorri.

Zach sorriu e deu um tapa na bunda de London.

— As vantagens de poder controlar sua agenda incluem que eu posso


solicitar suas horas para se alinhar com as minhas.

Bastardo sortudo.

— Ei, onde está Jess? Não vi nenhum das Monroes hoje.

— Clínica gratuita. Um monte de crianças foi admitido com catapora e


fizeram algumas horas extras para garantir que tudo estivesse bem com elas.

Jessica Monroe era uma ótima médica e só se tornava maior com o tempo.
Agora ela estava trabalhando para ser certificada em cirurgia pré-natal—
operando dentro de um útero. Quão incrível foi isso? Apenas um punhado de
pessoas foi certificado para executar esse tipo de procedimento, e eu tinha
certeza de que Jessica seria o próximo nome nessa lista. Ah, e ela era uma
idiota que roubaria sua comida; eu a tinha visto comer dos pratos de nossos
pacientes! Ela e sua esposa, Wendy Monroe, eram boas pessoas e duas de
minhas melhores amigas, portanto, mais duas pessoas que eu precisava para
justificar meu casamento falso altamente imoral.

— Sullivan, você está pronto para a próxima semana?

Zach esfregou as mãos com ganância. Por um segundo, eu não percebi o


que ele estava dizendo, mas o sorriso maligno em seu rosto dizia tudo, e eu
comecei a rir. Ah, sim, a próxima semana seria minha terapia.

London moveu os olhos entre nós, parecendo confusa.

— Do que diabos vocês estão falando?

— Na próxima semana, o novo conjunto de estudantes de medicina entra


para o horário de ensino. É como o Natal para Zach e eu.

— Você vai torturá-los, não é?

Zach jogou um braço em volta do pescoço dela e piscou.

— Grelhe-os como um bife suculento. Confie em mim, querida, você vai me


implorar para tornar a vida deles um inferno. A maioria dos estudantes de
medicina tem um grande complexo de Deus e tende a enfermeiras ásperas.

— Eu quero vê-los tentar.— Vindo da boca da mulher que desafiou um


cirurgião com quarenta anos na sala de cirurgia para salvar um paciente no
ano passado, a afirmação foi assustadora como o inferno. Eu sabia que gostaria
de ver as carnes frescas chegando para conhecer Drill Sargent London
Boudreaux. Essa garota parecia um pirulito humano, mas ela era um biscoito
duro.

— De qualquer forma, pessoal, eu tenho que correr. Quero checar Chelsea


antes da soneca no meio da tarde.

— Cara, você precisa trazer a menina em breve. Eu sinto falta dela.— Eu


sabia que ela era minha filha, e isso era um grande fator, mas eu nunca
imaginaria Zachary Ford derretendo como açúcar na chuva na frente de um
bebê. Chelsea poderia tocá-lo como um violino com apenas um sorriso. Isso
meio que me deixou curioso para ver como ele seria piegas quando seus
próprios juniores aparecessem.

Talvez ele precisasse começar a praticar...

— Que tal você tomar conta amanhã à noite? Eu só tenho meio turno e
tenho alguns planos depois.

O rosto de London se iluminou imediatamente.

— Sim, James, sim! Traga-a e deixe-a passar a noite.

— Zach, você está bem com isso?

— Absolutamente. Ela é a única razão legítima pela qual eu desistiria de


estragar London por uma noite.

Idiota romântico seria castrado em breve.


— Combinado, Chelsea fica com você amanhã à noite. Eu tenho que estar
na sala de cirurgia na manhã seguinte para poder buscá-la ao meio-dia.— E
agora que eu tinha uma pessoa muito capaz e um cirurgião desagradável
alinhado como minhas babás, eu poderia montar outras coisas.— Zachary, você
ainda tem essa associação ao Chicago Yacht Club?

— Sim, meus pais mantêm um barco na marina.

— Se não for pedir muito, você poderia marcar um jantar amanhã. Para
dois?

Luzes de ambulância se apagaram em torno de sua cabeça, e eu sabia que


a merda estava prestes a chover e derramar no meu caminho.

— Dois? Você está passando seu bebê para poder ter um encontro? Essa é
a garota que você pegou em Boston?

Porra. Ok, Sullivan, você pode fazer isso, lembre-se da regra número um
por mentir: fique perto da verdade.

— Sim, se você sabe, é a mesma mulher com quem estive algumas


semanas atrás, e é tudo o que estou disposto a discutir com você sobre o
assunto.

Sim, porque eu não querer discutir isso impediria Zachary Ford.

— Todos sabemos que você relutou em começar a namorar novamente


depois do carrapato sugador de sangue de uma ex-esposa certo, mas aqui você
está indo para um encontro chique. Novamente. Minha conclusão é que a
boceta que você está recebendo pode me ser incrível, pelo menos para seus
padrões baixos.

Ele não estava errado.

— Pare de ser grosseiro, especialmente na frente de uma dama, sua noiva


não menos.

— Obrigada, James, mas estou começando a me acostumar com o lado


grosseiro dele. Fico feliz em saber que você tem… umm, encontro amanhã. Vou
garantir que ele cuide da reserva para você. Podemos ir agora, Zach? Estou
com fome.

Meu amigo idiota sorriu e deu-lhe um beijo desleixado.

— Fome é código para tesão certo? Porque se você está com fome, tenho
mais tortura pelo meu homem Sullivan e sua nova fluffer18.

18Fluffer: é uma pessoa empregada para manter uma estrela de cinema adulto (pornográfica) masculina
despertada no set. Esses deveres, não implicam necessariamente em tocar no ator, é considerado parte do
departamento de maquiagem.
CAPÍTULO DEZ

A doce voz de Gloria Estefan estava fazendo serenata enquanto eu estava


sentada em um banquinho no meio da sala, vestindo uma tanga e uma das
camisas de James.

Na noite passada, quando eu estava andando pelos corredores como uma


lunática, porque era a primeira noite com James desaparecido— ou a primeira
que me lembro, de qualquer maneira— comecei a vasculhar a internet. Eu
descobri três fatos muito importantes: havia um mercado a alguns quarteirões
de distância, onde eu podia encontrar folhas de milho para o meu tamales19;
não podíamos visitar o Museu de Fotografia Contemporânea sem marcar uma
visita on-line e havia uma loja de materiais de arte em Chicago que tornava as
entregas das portas da frente muito rápidas. Eu disse a James que ele se
arrependeria do dia em que me deu um cartão de crédito vinculado à sua conta.
Algumas horas atrás, um belo cavalheiro de meia idade deixou não uma, não
duas, mas três caixas grandes para mim. Não sabia por que não tinha
utensílios de pintura em casa, mas não estava prestes a passar mais um dia
sem corrigir a situação. James continuou falando sobre terapia para lidar com
a tempestade de merda na minha cabeça, mas eu precisava mais disso. Esta
foi a minha meditação.

Assim que Chelsea começou a cochilar, chupando sua chupeta favorita, eu


fiz um berço improvisado no sofá da sala, coloquei um lençol no assento e
consertei meu novo cavalete. Só de olhar para a tela branca e vazia me colocou
em um estado de calma geral que eu estava perdendo.

Então eu comecei a pintar. Eu não sabia o quê, porque naquele momento


eu só tinha um fundo muito colorido. Procurei cores vivas, amarelo, vermelho
e azul, provavelmente porque estava ficando entediada com todo esse marfim
elegante nas paredes.

A porta da frente se abriu e eu sorri, sabendo que o homem alto, quente e


atencioso apareceria a qualquer momento, e eu poderia usar bem seus lábios

19 Prato tradicional da culinária mesoamericana, feito de massa ꟷꟷ normalmente feita a base de milho.
macios, mas a próxima coisa que ouvi foi um barulho suave e James xingando
em um sussurro.

Oh, porra.

Esqueci de mover as caixas vazias. Eu estava muito animada para vir e


espalhar meus óleos na tela em branco. Rapidamente, abaixei o pincel e corri
para o corredor para ver se ele estava bem.

Encontrei meu marido com um pé preso em uma caixa de papelão e quase


caí na gargalhada quando o vi lutando para se libertar.

— Você quer que eu consiga isso para você, Doutor?

Ele sacudiu a cabeça e eu pude ver os sinais de cansaço nele; as olheiras


sob seus olhos, a palidez, os cabelos bagunçados. Eu imediatamente me senti
mal por não ser mais atenciosa e limpar minha bagunça, e fui ajudá-lo.

— Oh, olá, amor, eu nem percebi você parada aí.

— Sinto muito, James; eu deveria ter limpado. Isso me deixou totalmente


louca.

Ele parou e arrastou os olhos lentamente pelo meu corpo da cabeça aos
pés. Gah, havia algo sobre esse homem; ele olhou para mim e de repente me
senti a mulher mais sedutora à vista.

— Não se preocupe com isso. Estou mais interessado em saber o que


estava na caixa. Droga.
— O que?

— Você parece tão bem.

Merda, eu estava corando?

— Você parece um pouco do lado ruim, mas ainda bonito. Como foi o
trabalho?— Perguntei e me aproximei para desfazer a gravata. Olhe para mim,
a boa esposa. Meu esforço valeu a pena quando suas mãos deslizaram atrás de
mim e apertaram minha bunda.

— Me desculpe, se eu não pareço mais apresentável para você, amor. Faz


longas horas desde a última vez que te vi.

— Você salvou muitas vidas, não salvou?

— Desculpe desapontar, mas eu só fiz algumas consultas, chamadas de


emergência e uma tonelada de papelada. A verdade é que, como sou o cirurgião
chefe do departamento de neurologia, não opero com tanta frequência.
Normalmente, minhas cirurgias são complicadas, longas e com alguns dias de
diferença.

— Então, você nunca pula nas luvas e vai embora.

— Oh eu faço. O Chicago General é um centro de trauma de nível um e às


vezes tenho que operar imediatamente, mas a cirurgia no cérebro é muito,
muito perigosa. Eu preferiria tomar meu tempo para preparar o paciente,
conhecer sua história, pesquisar o caso e ter o máximo de imagens possível do
cérebro.
Eu era casada com um nerd nível um, e eu não poderia estar mais feliz.
Lembrei-me do meu controle de impulso de bunda fraca e de ter esse homem
cerebral, alguém que dedicou um tempo para calcular cada variável
provavelmente foi uma graça salvadora para mim.

E ele tinha um ótimo pau, grosso e com veias.

Como ele estava comigo??

— Você é uma estrela do rock papi. Bem-vindo a casa.

Assim que as palavras deixaram meus lábios, pude ver um brilho suave
em seu rosto. Seus olhos brilhavam de alegria, e uma sensação de conforto se
instalava em nós dois. Eu não sabia o porquê; talvez fosse apenas algo que eu
costumava dizer antes.

— Onde está a Chelsea?

— Dormindo no sofá, por quê?

— Bom, para que eu possa te foder nesta parede para me sentir muito,
muito bem-vindo.

Por um segundo, acreditei que ele estava brincando, mas depois me vi


presa à parede. Instantaneamente, congratulei-me com a jogada difícil. Ele
aprendeu rápido.

Com cirúrgica precisão e velocidade impressionante, ele arrastou minha


lingerie para o lado, moendo sua ereção nos lábios já inchados e úmidos, e o
prazer chocando os seus movimentos enviados pelo meu corpo foram
eletrizantes.

— Você aumentou o apetite papi. Foi alguém do trabalho que deixou você
todo quente e incomodado?

— Não.

Uma boa resposta merece um prêmio, então eu abri o zíper da calça e tirei
o pau pesado dele. A pele estava aveludada e aquecida na minha mão. Eu tive
que lutar contra o impulso de me ajoelhar. Ainda não era a hora.

— Não havia outra mulher que chamou sua atenção?

— Claro que não.

Outra boa resposta, então eu dei a ele outro brinde.

— Então porque, papi. Por que você voltou para casa com tesão? Diga-me
o que fez seu sangue bombear?— Enquanto falava, fiz questão de torturá-lo
com um lento movimento da minha mão.

— Porra, era você, Rita. Passei as últimas três horas do meu turno
lembrando seu cheiro e seu gosto. Mal podia esperar para voltar.

Doutor, você acabou de ganhar o Jackpot20.

20 É um prémio acumulado em máquinas de cassinos.


Sorrindo como um felino que descobriu um pote de creme, deixei meu corpo
deslizar pela parede até enfrentar aquele pênis animal que tornava minhas
noites tão agradáveis.

— Um comportamento exemplar do marido merece ser recompensado.

— Então, o que você vai fazer, amor?

Eu ri das palavras dele.

— Nada. Você vai foder minha boca, e eu vou obedecer feliz.

Eu assisti seus olhos crescerem e peguei a ponta entre meus lábios,


chupando lentamente. Era difícil não devorar tudo, mas eu queria que ele
fizesse isso.

— Porra, Rita.— Sua mandíbula estava flexionando e seus dentes


estavam moendo, o que significava que eu estava fazendo um bom trabalho.—
Eu preciso...

— Então faça.

Perdido na luxúria, James agarrou um punhado do meu cabelo e eu sabia


que a diversão estava prestes a começar. Na necessidade de libertação, ele me
manteve no lugar e se empurrou na minha boca gentilmente, mas quando eu
chupei seu eixo, seus quadris se dobraram tanto que ele tocou a parte de trás
da minha garganta. O gemido que escapou dos meus pulmões vibrou através
de seu pau.
Sentei-me de joelhos enquanto seus movimentos de um lado para o outro
se intensificavam e, por reflexo, tentei inclinar minha cabeça para trás, mas o
punho forte de James me impediu de me mover.

Merda.

Eu me meti em problemas.

E eu gostei. Tanto que não consigo parar de tocar meu núcleo. Agora meu
orgasmo está se alimentando de seu prazer. Eu me esfreguei em pequenos
círculos, sentindo a tensão aumentando no meu abdômen.

James aumentou o ritmo, sacudindo na minha boca, a ponto de me fazer


amordaçar algumas vezes. Quando olhei para cima, pude ver um tom de
preocupação cruzando seu lindo rosto, mas o desejo que rugia em seu peito era
mais poderoso e ele não parou. Ele continuou até encontrar sua libertação, e
eu engoli cada gota com fome enquanto meu próprio clímax me esmagava como
um maldito tsunami.

Finalmente, paramos no lugar, ele olhando para baixo e encostado na


parede tentando recuperar o fôlego e eu tremendo aos pés dele. Retrato de
casamento perfeito aqui.

— Rita?

— Si, papi.

— Você vai me matar mais cedo ou mais tarde.

Eu ri e me levantei para beijar o meu marido.


— E onde você levou nosso bebê?

— Para o apartamento do meu melhor amigo. Lembra-se, eu te falei sobre


ele? Zach?

Sim, o nome dele apareceu algumas vezes. Ele parecia… um cara colorido.

— Ele não poderia ser a pediatra lésbica, então acho que ele é o cara que
se casara com a sua enfermeira.

— O primeiro e único, Zachary Ford.

— Veja o quão rápido eu aprendo? Quando posso reencontrar todas essas


pessoas divertidas?— Eu sabia que ele evitava falar sobre isso, mas não podia
ficar escondida na esperança de que uma manhã acordássemos e minha
memória estivesse milagrosamente de volta.

— Eu... em breve. Eu contei a eles sobre você hoje.

Hã?

— Como assim você disse a eles sobre mim?


— Sobre o acidente.— Havia um pequeno tremor em sua voz, como se eu
tivesse colocado ele no local. Este homem se preocupou muito.— Eu o mantive
em segredo porque não queria que nenhum de nossos amigos desagradáveis
invadisse a porta da frente e a incomodasse.

Doce, mas muito além do topo.

— E ninguém se importou o suficiente para me ligar por duas semanas?

— Como seu telefone estava perdido, todo mundo me ligou, e eu sou ótimo
em distrações.— Ele parou para me olhar do alto da minha cabeça para as
pontas dos dedos dos pés e sorriu.— Você está linda neste vestido.

Não é surpresa que ele tenha gostado desde que pegou para mim. Era um
lindo vestido verde esmeralda de cetim, com mangas compridas de leque e um
decote em linha v. A parte inferior caiu debaixo da minha bunda e mostrou
perna suficiente para fazê-lo salivar, e as sandálias de salto alto só foram
adicionadas a ela. Pensando bem, eu também gostava muito desse vestido;
trouxe à tona aquela faísca de animal nos olhos que eu sempre passava fome.

— Você pode se livrar disso mais tarde. Eu sou a favor disso. Onde você
está me levando?— Seu terno com uma jaqueta de três botões me diz que é algo
chique.

E não sei como estou confortável com isso. Eu não disse isso em voz alta,
porque não queria matar o gosto dele.

— Temos uma reserva de jantar no Chicago Yacht Club, no Monroe


Harbor.
— Uh, um restaurante da marina?

— Melhor, estou levando você em um iate. Vamos velejar no lago por


algumas horas, assistir ao pôr do sol, olhar o horizonte à noite e comer um
ótimo bife cozido no jantar.

Uma imagem piscou diante dos meus olhos. Um barco. Não era uma
memória recuperada; era apenas uma que eu esqueci que tinha. Acho que tinha
cinco, talvez seis, a primeira vez que pisei em um barco. Não era um iate, com
certeza, mas um velho barco a remo, enferrujado e coberto por uma tinta verde
rachada. Meu papai me levou para pescar; esse foi o melhor dia de pai e filha
que uma garota poderia pedir. Quando eu era pequena, sempre ouvia pessoas
dizendo coisas ao pai como ‘mas você não quer um garoto na casa?' ou ‘você
precisa de um filho para continuar seu legado’. Naquele dia no barco foi a
primeira vez que soube que meu pai estava bem comigo e isso provocou um
amor insano por água em mim.

Quando paramos na marina, eu estava sorrindo como uma idiota e, horas


depois, ainda estava. O sol se pôs e as luzes dos prédios altos tremeluziam no
lago de espelho escuro. Era assustadoramente bonito.

Sentei-me no convés apreciando a vista, e James sentou-se atrás de mim


com os braços fortes em volta da minha cintura.

— Você gostou desta noite, amor?

— Adorei cada segundo e esperava que a companhia estivesse ao seu


gosto.— Ele me empurrou para o lado para que eu pudesse olhar para trás e
para ele. Uma carranca fofa estava se formando na testa.
— Por que você diria isso? Na maioria das vezes, fico feliz ouvindo sua
respiração.

— Nada, eu… eu não sei. Eu acho que ainda estou um pouco insegura. É
estranho para mim, James. Você é o homem perfeito, e ainda me lembro de
como sou profundamente falha. Não é preciso um detetive para deduzir que
você vem de uma daquelas famílias pretensiosas de dinheiro antigo; você já
estudou em uma boa escola, tinha um piano. Sou uma garota com um diploma
do ensino médio, algum talento para desenhar, criada em uma casa de um
quarto nos arredores de Havana. Não me lembro de como te peguei, e é
frustrante. Difícil de acreditar...

O final da minha frase se perdeu na brisa e me senti exposta. Foi a


primeira vez desde o acidente que eu realmente reconheci que talvez eu não
estava cem por cento ok com tudo. Eu queria saber como minha vida se foi e
queria saber como cheguei aqui.

— Amor, não faça isso consigo mesmo.

— Você não vai me dizer muito, e eu só quero minha mente de volta.

— Você sabe por que eu não a bombardeio com informações. Você pode não
ser capaz de lidar com isso. É melhor se deixarmos seu cérebro seguir o curso
desse trauma naturalmente.— Era o que ele continuou me dizendo.

— Eu sei. Só estou perdendo uma peça enorme desse quebra-cabeça que


me diz como você me escolheu. James, eu sinto que estou embaixo de você.

Eu podia sentir o arrepio furioso atravessar seu corpo.


— Você perdeu a cabeça de verdade? Estou perto de pedir um novo
conjunto de testes para o seu maldito cérebro.— O homem estava furioso, e eu
não pensei que tinha visto esse nível de raiva nele antes.— Você é linda demais
para o seu próprio bem, espirituosa, afiada como uma faca, gentil, paciente,
engraçada. Eu poderia continuar assim a noite toda. Você não tem um pouco
de talento; Vi o que você está pintando e é um trabalho impressionante. Você
me faz rir; você cuida de mim; você me faz sentir bem comigo mesmo. Com toda
a justiça, você me fode até fazer minha cabeça girar. Não há nada que possa
ofuscar isso.

— Você não vê nenhuma falha em mim?

— Eu vejo coisas mais bonitas. Todas as coisas bonitas. Tanto que eu posso
justificar minhas ações para mim.— Eu não tinha exatamente certeza de que
segui mais.— Eu posso ver além de todas essas coisas que você vê de ruim, e
só espero que, se for o caso, você possa fazer o mesmo.

Foi a minha vez de franzir a testa, sem saber o significado por trás de suas
palavras. Eu não sabia por que estava sempre procurando algo mais profundo
quando as coisas eram tão fáceis com James. Ele era um homem genuíno. Mas
eu não sabia; algo em seu tom parecia errado... Quase como uma oração.

Quase como um aviso.


CAPÍTULO ONZE

Quando a vida estava indo muito bem, provavelmente era porque você
estava prestes a ser fodido em breve.

O mês que se seguiu ao nosso encontro em Michigan Lake foi perfeito,


mesmo com minha agenda de trabalho maluca. Rita e eu estávamos em perfeita
sincronia. Ela estava cada vez mais confortável sozinha com Chelsea, aprendeu
a percorrer o bairro e até levou o bebê para passear ontem. Quando eu estava
no hospital, ela se manteve ocupada com o projeto de reforma.

Esse poderia ter sido o único aspecto em que não estávamos sincronizados,
porque não sabia como me sentia em relação à enorme pintura da Virgem
Maria que estava pendurada em nossa sala de estar. Aparentemente, ela era a
patrona da nossa casa, embora eu tenha pago por isso.

Resumindo, minha vida estava de alguma forma voltando aos trilhos, e o


emaranhado de mentiras e manipulação parecia se encaixar.

Até ouvir a campainha tocar.

— James, você pode atender? Estou dando um banho na Chelsea.— Rita


gritou do berçário e eu andei até a porta.

Quando abri, um nó enorme se formou na minha garganta.

— Bom dia, bonito. Como está o seu domingo?

Foi uma felicidade até esses duas aparecerem na minha porta.

— Jess, Wendy, o que vocês estão fazendo aqui?

As Monroes olharam para mim, cada uma exibindo um sorriso brilhante.

— Wendy me disse que minha bunda está ficando grande, então agora
estamos correndo em nossos dias de folga.

— Realmente? É apenas março, um pouco frio para correr, se você me


perguntar. Vocês duas estão fora?

Não estava frio; na verdade, tivemos dias muito quentes ultimamente. Eu


estava apenas em espiral.
— Não,— disse Wendy.— Mas eu tenho um turno no final da tarde para
fazer uma das cirurgias de Zach, então temos tempo para alguns quilômetros.
Vamos, James, coloque a Chelsea em um carrinho e vamos embora.

— Umm, acabamos de dar um passeio e acho que ela vai tirar uma soneca
em breve,— eu disse rapidamente na esperança de que elas aceitassem a
rejeição e saíssem antes que tudo pegasse fogo, mas parecia que Jessica não
estava prestes a recuar.

— E daí? Ar fresco será ótimo para ela. Confie em mim, Sullivan. Eu sou
médica de crianças.

— Meninas...

— Sentimos falta da Chelsea e Wendy e eu concordamos que você está


agindo como sombra ultimamente, então derrame. Por que você está nos
evitando?

Instantaneamente, suas palavras me fizeram sentir uma porcaria. Eu


estava evitando meus amigos. Evitei-os como uma praga, mantendo-os no
escuro, por causa do óbvio. Esse foi outro movimento de pau da minha parte.

Então, como eu poderia começar a me explicar?

— Eu não estou exatamente evitando você, é apenas… umm...

— Pare de gaguejar como uma virgem que vê um pênis pela primeira vez.
O que está acontecendo?

Havia a Jessica desequilibrada que todos conhecíamos e amávamos.


— Eu não posso ir porque…porque eu tenho uma mulher.

Eu tenho um longo som ‘uhhh’ das duas. Mais uma vez, Jessica foi quem
aceitou a palavra.

— Então, traga-a para passear também. Todos nós podemos ser felizes,
saudáveis e sexualmente ativos. Somos adultos, James, você pode fazer sexo,
se quiser. Não estamos julgando.

Era tudo sobre sexo com elas. Ou comida.

Ainda bem que Wendy decidiu cortar e moderar a situação:

— Ninguém está julgando você por tentar reconstruir sua vida. Se você
me perguntar, esperou demais. Alguns muitos anos, é tempo.

Desde que Avery partiu, eu percebi que as tensões entre meus amigos
eram mais profundas do que elas deixavam transparecer. Para encurtar a
história, muitas pessoas não encontraram algo na Avery... ser fácil de gostar.

— Sim, obrigada, Wendy, mas é um pouco complicado.— Na hora certa,


ouvi Rita descendo as escadas com a bebê rindo nos braços.

Porra!

— Papai está na porta,— disse ela à Chelsea em um tom doce, depois se


dirigiu a mim.— Chelsea está com fome, então tivemos que adiar o banho. Está
tudo bem aí papi?
Gotas de suor nascidas da ansiedade correram pela parte de trás do meu
pescoço.

— Sim, eu estarei lá em um minuto,— eu disse por cima do ombro e me


virei para enfrentar Jessica e Wendy.

A boca de Jessica estava aberta e suas sobrancelhas foram levantadas


para o telhado.

— James Sullivan, você está transando com sua babá?

Que porra é essa?

— Não, Jess, fique calada, por favor?— Wendy também deu um tapa no
braço da esposa para fazê-la mantê-lo em baixa.

— Sinto muito, mas ela parece muito confortável cuidando da bebê. Uma
garota tem permissão para adivinhar.

Educação minha bunda.

— Jessica.— Eu disse em um rosnado baixo e de aviso, e parecia


exatamente com Zach quando ele estava chateado.

— Não leve esse tom comigo. Por que você está escondendo essa mulher?
Convide-nos, imbecil.

— Jess, talvez James tenha uma razão para não querer que marchemos
para a vida dele como duas escavadeiras.
Sim eu tinha; eu tinha tantos!

Saí de casa e fechei a porta atrás de mim.

— Meninas, olhe, a coisa entre Rita e eu é um pouco não convencional...

— Uh, Rita! Esse é um nome sexy. Ela tem uma irmã gostosa lésbica?
Ainda não encontramos uma terceira para o nosso trio.

— E não precisaremos de uma terceira se você continuar agindo como uma


cadela.— Obrigado, Wendy, minha única aliada.— Como assim, James? Existe
algo em que possamos ajudar?

Não importa o que você jogou para ela, Wendy estava sempre em um
espaço racional da mente. Zach e eu concordamos que Jess já estaria na prisão
se não tivessem sido pegas. Talvez Wendy também possa ser minha salvadora.

— Obrigado, Wendy, mas não. Essa coisa com Rita é algo sério. Muito,
muito sério, mas eu fiz alguma coisa. Eu... Eu a enganei no começo do nosso
relacionamento, coloquei-a na liderança errada e agora é tarde demais para
voltar.

— Você mentiu para ela?— Elas disseram em uníssono.

— Não tenho orgulho disso, mas estou aqui agora.

— Merda, James, o que você disse a ela?

Eu nem ia tocar nesse assunto.


— Não importa, Jess, mas por favor, podemos adiar as visitas alguns dias?
Por favor. Não tem nada a ver com você, mas estou na merda agora e não quero
estragar tudo. Eu terminei de estragar.

Eu não tinha certeza se era o arrependimento na minha voz ou se as


meninas podiam ver a vergonha e a miséria, mas ambas recuaram.

— Ok, vamos deixar você por enquanto, mas algo cheira a merda. Estou
começando a ficar preocupada.

— Jess está certa.

— Eu sei, eu realmente sei, e vou acertar por todos. Eu só preciso de mais


um tempo.

Cada palavra era verdadeira. Eu precisava encontrar um meio termo e


logo, de preferência antes de Zach bater na minha porta e ligar para o CPS em
mim de verdade.

Jessica suspirou e revirou os olhos, e foi assim que eu soube que, pelo
menos por enquanto, cheguei a ela.

— Tudo bem, você tem dois dias. É quando todos nós estamos juntos, e
vamos conversar sobre isso.

— Eu tenho uma cirurgia de dezesseis horas.

— Ótimo, então falaremos sobre isso no cérebro de uma pessoa. Eu vou


trazer lanches. Vamos, Wendy, vamos correr e apostar se Sullivan está
namorando uma mulher muito feia ou abrigando uma fugitiva.
De alguma forma, suas opções eram melhores que as reais, e isso dizia
muito sobre o meu julgamento. Isso chupou bolas grandes no momento.

Jessica e Wendy começaram a correr de volta pela minha garagem, e eu


finalmente pude relaxar e continuar com o meu dia. Eu precisava encontrar
uma maneira de consertar minha vida.

Ou uma mentira tão grande para convencer meus amigos e minha esposa
falsa secreta.

Encontrei minhas duas garotas no banheiro. Rita estava checando a


temperatura da água, e Chelsea estava chupando uma mamadeira,
embrulhada em uma daquelas adoráveis roupas de bebê que têm orelhas de
ursinho de pelúcia. Não pude deixar de bufar quando vi que Rita a colocou na
pia.

— Você quer nos ajudar a ficar limpas papi?

— Chelsea, sim, mas eu prefiro sujar você.

O sorriso desonesto que dançava naqueles lábios rosados e gordos tinha


muitas promessas. Prometia muita sujeira. Sexo com minha dama estava fora
das paradas; ela estava me transformando em um animal enlouquecido. Se não
estávamos arrancando as roupas um do outro, estávamos fazendo muito PDA21;
se não fosse PDA, eram muitas preliminares verbais. E as leves tendências de

21 Public Display of Affection— Demonstração Pública deAfeto.


BDSM que ela tinha com as quais estávamos experimentando juntos? Eu
gostei.

Eu gostava de agarrar sua garganta e prender seu corpo curvilíneo na


superfície plana mais próxima. E eu adorava agarrar o cabelo dela, porque isso
sempre a deixava de joelhos.

Eu nunca fui assim. Avery… nós nem nos beijamos em público. Ela nunca
se arriscaria a arruinar o batom por algo tão frívolo quanto amor.

Fechei os olhos e balancei a cabeça na tentativa de empurrar essas


memórias de volta. Eu não estava bravo por causa da minha vida com Avery.
Minha ex-esposa nunca foi cortada para ser o que eu queria; fiquei bravo
porque me entreguei à situação, mentindo para mim mesmo e segurando algo
que não estava lá. Eu acreditava que tínhamos a vida perfeita quando a
verdade era, nós dois vivíamos na miséria.

Eu sabia que tinha dito que consertaria isso em dois dias, mas olhar para
trás só me fez querer segurar Rita ainda mais.

— Ei, você está bem mi alma? Você se perdeu?

— Desculpe, Jessica me disse algo sobre um caso que tenho que ver na
próxima vez que estiver no hospital.

— Quem?

— Jessica Monroe, eu te falei sobre ela.

— Oh, sim do casal de lésbicas.


Eu precisava lembrar Rita para não dizer isso em torno da Jess. A mulher
odiava rótulos.

— Sim, elas estavam na porta. Aparentemente, elas correm pelo nosso


bairro agora. Não sei porque; elas não moram nem perto, mas pararam para
dizer oi.

— O QUE?! James, por que você não me chamou?

Porque teria arruinado nossa vida alternativa muito cuidadosamente


criada.

— Você estava ocupada com a Chelsea.

— Você deveria ter me dito. Agora elas vão acreditar que estou ferida, sou
louca e rude.

— Você não é nada disso. Amor, elas são todas médicas; elas sabem como
estão as coisas agora para você e eu, e todo mundo entende.

— Sim, mas não devemos começar… Eu não sei, consertar? Quando


começamos a sair, quanto tempo levou para eu conhecer sua gangue de ouro?

Boa pergunta. Mantenha as coisas simples, Sullivan.

— Não muito. Meu ouro o que?

— Você sempre fala muito bem de seus amigos, então eles devem ser de
ouro.
Ela era tão estranha e fofa. Eu amava… umm… talvez não vá lá agora.

— Eu não mencionei que Zach é um idiota?

— Você fez, eu ainda não consigo acreditar no que ele fez com a namorada.
Você também me disse que se você tiver um pneu furado no meio do deserto,
ele é o primeiro a aparecer.

Verdade. Quando ou se você conheceu Zachary Ford, percebeu que o


coração dele poderia ser ainda maior que a boca. Definitivamente era maior
que o pau dele.

Rita consertou o travesseiro flutuante do pescoço da Chelsea e a deixou na


água.

Risos instantâneos. Minha filha adorava água.

— Então me diga papi, como fizemos na primeira vez que os conheci?

Sim, mais perguntas!

— Umm, churrasco de domingo. Acabamos de nos reunir e tomar algumas


cervejas.

— Vamos fazer isso de novo. Vou pegar alguns bons bifes na próxima vez
que for ao mercado. O tempo está ficando mais quente a cada dia.

— Temos bifes no freezer.

Ela me deu uma olhada pelo ombro e revirou os olhos.


— James, temos costeletas de porco. Eu estava falando de bons bifes. Um
pouco de carne vermelha, do tipo que grelha macia e perfeita para fazer vaca
frita com as sobras.

— Vaca o que?

— Frita. É esta deliciosa receita de carne crocante cubana que minha avó
costumava fazer. Tem um sabor ainda melhor quando a carne é grelhada com
antecedência.

Seria churrasco no quintal. Pelo menos agora eu tinha um quarto do plano.

— Amor, vou para o pátio dos fundos e farei algumas pesquisas. Quer que
eu arrume um pequeno estúdio de pintura para que você possa enlouquecer lá
fora?

Eu disse louca de boa-fé. Quando Rita estava na frente de uma tela, ela
fala consigo mesma, ri do nada… honestamente, era incrível. Essa era Rita em
sua forma mais pura.

— Não, não se preocupe, eu quero fazer alguns esboços de carvão hoje.

— Ok, eu vou esperar por você lá.

Inclinei-me para dar um beijo em cima da cabeça dela e me virei para sair.

— OK, Trujillo, eu estarei lá.


...e assim, nós dois congelamos no lugar como se próprio tempo tivesse
parado... Eu sabia espanhol o suficiente para reconhecer um nome de merda
quando ouvi um.

— Oh, meu Deus, James… EU... Eu sinto muito. Não sei porque...

Não, ela não sabia, mas algo nela sabia exatamente por que é isso me
aterrorizou.

— Está tudo bem, Rita.

— Não está... Parecia tão estranho. Por que isso aconteceu?— Eu gostaria
de ter uma resposta e, ao mesmo tempo, nunca quis descobrir.— Você pode…
Pode dar banho na bebê? Eu preciso de um segundo, meu coração está batendo
muito rápido.

Antes que o meu cérebro reunisse poder suficiente para articular qualquer
coisa, ela já estava do lado de fora.
CAPÍTULO DOZE

Fugi de lá, em pânico e envergonhada. Eu não sabia o que aconteceu, e


meu cérebro estúpido não juntaria as peças para mim.

Meu coração estava crescendo no meu peito como se estivesse lutando com
minhas costelas, e eu podia sentir uma enxaqueca se aproximando de mim. O
que. Foi. Isso. Hein?

Inspire. Expire. Aguarde. Repita.

Fiz isso até que meus nervos começaram a se acalmar e pude pensar
claramente novamente. Fiquei feliz que James teve que terminar o banho da
Chelsea porque um pouco de distância era bom para mim naquele momento.
Trujillo.

Quem diabos era Trujillo?

Eu senti tanta vergonha agora. Como eu deveria olhar nos olhos do meu
marido novamente depois de chamá-lo do nome errado? Trujillo. Meu intestino
me disse que eu deveria saber quem era. Que eu sabia quem era, mas eu não
conseguia lembrar. Parecia que uma lembrança estava tentando rastejar de
volta para mim, mas era muito difícil.

Uma batida na porta me sacudiu dos meus pensamentos profundos e de


volta à terra.

— Rita, amor, tudo bem se eu entrar?

Eu sacudi e abri a porta para poder olhar para ele. Como toda essa
tempestade de merda choveu na minha vida, ele tinha a única luz no fim do
túnel.

— Você não precisa bater, James, este é o seu quarto.

Essa pequena linha de preocupação e aborrecimento se formou no meio da


testa.

— Nosso. Eu apenas pensei que talvez você precisasse de mais alguns


minutos para processar o que diabos aconteceu lá.

Se eu soubesse...

— James, sinto muito por errar seu nome. Você poderia me perdoar?
Ele colocou a cara de algo não está certo, e eu deixei meus olhos caírem no
chão com vergonha. Eu o machuquei.

— Rita, olhe para mim.— Ele me agarrou pelos ombros e me forçou a olhar
nos olhos dele.— Amor, não estou bravo ou triste ou algo desse tipo. Eu só quero
saber o que você lembra e como isso afeta você? Qualquer náusea; sua cabeça
dói; sua visão está boa?

Apenas quando pensei que estava me estabelecendo nesta vida— minha


vida— e me acostumando com o quão bom um homem poderia ser, isso
continuou pressionando. Acabei de chamá-lo do nome de outro homem. Em
nossa casa. Banhando nossa filha. E seu único cuidado era se meus olhos
estúpidos estavam bem.

— Estou bem, nada dói e não, não me lembrei exatamente… é realmente


estranho. Sinto que conheço essa pessoa, como eu deveria conhecê-lo, mas é
tudo. Nada volta e isso me irrita.

— Frustração é uma emoção normal para você agora.

— A frustração nem cobre.— Eu estava furiosa. Eu queria esclarecer


minha mente e não tinha como. Eu só queria lutar com alguém ou bater em
uma parede de merda.— Quero saber por que estou fazendo coisas assim, e
quero saber quem é o Trujillo.

A sombra nos olhos de James me disse que ele não queria que eu soubesse
quem era e, instantaneamente, meu humor mudou para melhor. No homem
certo, o ciúmes pode ser uma emoção sexy. James era definitivamente o homem
certo, primeiro porque vamos ser sinceros, qualquer coisa parecia boa no meu
doce cara, e segundo...porque eu era uma vadia.

Ele era tão doce e carinhoso, e era perfeito, mas, ao mesmo tempo, me fez
procurar problemas; encontrar alguma maneira de provocar emoções nele.
Algumas emoções muito intensas, talvez feias. Qualquer coisa que se
traduzisse em uma merda áspera. Quando a mão dele estava no meu cabelo,
seus lábios estavam machucando os meus e seu pau estava me perfurando
como uma máquina de costura, foi quando eu senti que o universo estava de
volta ao lugar.

Desesperada para sentir meu mundo se estabelecendo depois. Furacão


Trujillo, eu pulei nos braços dele e envolvi minhas pernas em volta daquela
cintura dura. Eu não era de me apaixonar pela aparência, mas meu homem
estava de dar água na boca e eu aproveitaria isso.

— Eu preciso do meu remédio, Doutor.

Seu olhar inocente e confuso desapareceu, então a diversão estava prestes


a começar.

— Onde dói, senhora?

— Meus lábios estão doloridos e meu pescoço precisa de atenção. Eu acho


que tenho um machucado.

Ele enterrou a cabeça na curva do meu pescoço e traçou uma linha de calor
com a língua.
— Não consigo encontrar uma contusão, me desculpe.

— Oh, haverá um quando você terminar comigo, Doutor. E talvez você


possa cuidar dos meus mamilos; eles parecem inesperadamente enrugar
quando você está por perto.

— Talvez seja uma reação alérgica para mim.

— Meh, isso não explica a dor, doutor.

James mordeu a pele da minha clavícula um pouco demais.

Espero que ele deixe uma marca.

— Onde dói. Diga-me, Rita.

— Entre minhas pernas. Eu acho que você deveria ir lá e limpar minha


ferida.— Mordi meu lábio e dei a ele um sorriso tímido.— E como estamos
fazendo essa coisa toda de dramatização médico-paciente, talvez você possa ser
um Dom e me arrastar para a cama pelos meus cabelos. Fico gananciosa
quando sou maltratada.

Dizer que James ficou perplexo com o meu pedido foi o eufemismo do ano.

Mas ele fez assim mesmo.

Os próximos dias se passaram sem nenhuma outra menção sobre o nome-


bomba, e eu fiquei em conflito com isso. Embora eu estivesse agradecida pela
paz de espírito que recebi por não dissecar isso, e James insistiu que estava
tudo bem, mas se ele estava tão bem com isso, por que não recebi a inquisição
usual sobre minha saúde?

E ele estava em jogo por todos os meus desejos. Todos eles. Antes dele sair
para o trabalho naquela manhã, acordei com o tapa do seu eixo no peito. Foi
demais; nosso sexo sempre foi incrível, mas ele geralmente era cuidadoso
comigo.

Eu esperava que não fosse uma compensação pelos meus erros idiotas.

Fiz uma xícara enorme de café na minha nova cafetera isso substituiu a
máquina Nespresso inútil e tentei fazer uma pintura em aquarela, mas nada
de bom aconteceu, então eu levei a Chelsea para o quintal, e a coisa mais
adorável aconteceu. Ela colocou as mãozinhas nas cores e fez impressões rosa
e amarelas por toda a natureza morta e chata em que eu estava trabalhando.

— Olhe para a minha pequena Frida Kahlo. Baby, você é natural; nós
estamos tão enquadrando isso para o papai.— Ela deu um tapa na tela
novamente e a tornou mais bonita.

— É isso aí, vamos a uma loja de suprimentos e direto ao hospital para


deixar isso.

Eu estava ansiosa para ver o Chicago Mercy General, um lugar onde meu
homem se tornou algo muito semelhante a um Deus. Duas horas e alguns
passeios de Uber depois, paramos no estacionamento. A loja de suprimentos se
transformou em uma farra de compras em algumas lojas porque o funcionário
que me vendeu a moldura do desenho me deu uma pequena ideia: eu deveria
ilustrar um livro de histórias para a Chelsea. Fomos à livraria e escolhemos
uma bela história que eu poderia desenhar, depois pegamos mais algumas
cores e papel duro que eu poderia laminar mais tarde.

Desdobrei o carrinho e dei a Chelsea a chupeta para mantê-la feliz,


embora um hospital possa ser o lugar perfeito para deixá-la gritar seus
pulmões e desabafar. Os bebês precisavam desabafar?

Passando pelas portas de vidro, entramos nessa elegante entrada de


saguão. Ah, então é um daqueles hospitais, com móveis brancos e brilhantes e
cadeiras almofadadas na sala de espera. Empurrei o carrinho para a grande
mesa que tinha escrito ‘informações’ e encontrei uma garota parecida com um
coelho atrás dela, com o nariz bonito enterrado na tela do computador.

— Com licença.— Eu disse, e ela pulou na cadeira.

— Sim, sinto muito. Eu estava lendo este artigo emocionante sobre uma
nova apendicectomia laparoscópica e... Eu sinto muito. Eu sou apenas uma
estudante de medicina.— Ela estava pirando e seus óculos enormes deslizavam
lentamente do nariz de coelho.

— Uma muito ansiosa, pelo que vejo, se você estiver estudando enquanto
trabalha. Bom, acerte esses livros. Estou procurando pelo Dr. Sullivan.

— Um segundo.— Ela bateu rapidamente no teclado e estalou os dedos


como se tivesse apenas uma grande vitória.— Sim, eu descobri como trabalhar
nesse sistema. Umm, quero dizer, Dr. Sullivan está de plantão hoje,—
Realmente?— E ele pode ser encontrado em seu escritório ou no pronto-socorro.
Acabamos de sofrer um trauma, para que ele possa estar consultando lá. Qual
é o nome do seu compromisso?
— Eu não tenho um compromisso com ele.

— Oh, então eu não sei se você pode subir. Dr. Sullivan recebe apenas
chamadas ou emergências pré-agendadas.

Não achei que tivéssemos um problema.

— Ele vai me ver de qualquer maneira.

— Oh, eu não acho...

Sim, não, eu não era o tipo de pessoa que tinha paciência para isso.

— Olha, doce, você parece ser uma garota legal. Com certeza você não vai
deixar um bebê esperar aqui e não receber atenção.— Eu disse e apontei para
Chelsea, que estava esticando os braços. Eu não era uma mãe ruim. Eu nunca
disse que ela está doente. O que eu disse foi que ela precisava da atenção do
pai. E eu precisava atenção do meu papai.

— Eu posso fazer uma ligação de emergência para você; deixe-me puxar o


banco de dados do paciente. Posso ter seu nome?

— Não, porque eu não estou no banco de dados dele.

Eu pensei.

— Oh, então eu não posso fazer nada. Posso lhe dar o número do escritório
dele e você pode marcar uma consulta.

Não, isso não ia funcionar.


— Oh, vamos lá, garotinha, nossos pacientes são nossa prioridade. Não há
necessidade de manter uma mulher tão bonita esperando apenas por causa de
uma burocracia de papelada.— Assustada com a voz profunda, virei-me para
encontrar um homem assistindo— ou caçando— sobre mim com um sorriso
elegante no rosto. Uma mecha do seu cabelo loiro sujo estava pingando sobre
os olhos na tentativa de parecer desonesto, mas seu lindo rosto de menino não
estava ajudando.

— E você é?

— Dr. Emmy Shaw, e estou feliz em ajudá-la com tudo o que você precisa.
Satisfação garantida. Sou cirurgião, você sabe. Eu opero corações.

Muito desagradável?

— Oh, me desculpe, mas eu preciso de alguém para olhar o meu estômago,


porque essa cantada esfarrapada vai me fazer vomitar em breve. Você não
deveria ser profissional?

— Por que tão defensiva? Aqui no Chicago General, gostamos de ter um


bom relacionamento com nossos pacientes, para que eu possa ajudá-la com o
que você precisar agora, ou você pode me dar seu número, e eu posso
providenciar uma ligação.

— Ou posso lhe dar uma gravata colombiana. Estou procurando pelo Dr.
James Sullivan.

— Porque você precisa de uma consulta neurológica?


Por que esse cara Shaw ainda estava aqui? E alguém poderia me dizer
para onde diabos eu deveria ir? Eu mencionei que minha paciência não era meu
ativo mais forte?

— Não, eu preciso vê-lo porque ele é meu marido, e sua filha quer dizer
olá, você também pode Doutor, me dizer onde diabos eu posso encontrá-lo?—
Eu não sabia o que havia com todo o segredo. Eu estava procurando um médico,
não o presidente.

Eu não sabia se era o meu tom ou o sarcasmo que rolava da minha língua,
mas de repente Emmy Shaw ficou sóbrio e olhou para mim de surpresa.

— Esposa, sério?

— Rita Sullivan, sua verdadeiramente esposa. Foi um prazer, mas...

— Claro, ele está no pronto-socorro agora, mas vá até ao quarto andar e


peça às enfermeiras que a levem ao escritório dele. Vou avisá-lo que você está
aqui. Uau.

— E qual é o motivo do Uau?

— Eu esperava que o Sully levasse mais tempo para lamber suas feridas,
mas aqui está você. E uma latina gostosa, nada menos.— Não menos mesmo.
Ele acabou de chamar o meu marido de Sully?— Como esses dois idiotas estão
sempre recebendo as garotas sensuais antes de mim?

Não consegui entender essa última parte, mas ele se virou e saiu antes
que eu tivesse a chance de pedir explicações.
CAPÍTULO TREZE

A primeira coisa que fiz quando comecei meu turno foi preparar uma
grande xícara de chá preto. Não tomei café, mas precisei de um aumento de
cafeína antes de ir à farmácia e começar a estourar a oxicodona. Eu estava
prestes a consertar a tampa da minha garrafa térmica quando a porta da sala
foi aberta e o Quarteto Fantástico entrou. Jessica estava marchando na frente
deles como se estivesse liderando uma unidade de atiradores marinhos.

Me. Foda.

— Hora de conversar, Sullivan.— Disse ela, e minhas palmas ficaram


suadas.
Eu precisava tomar uma decisão e rápido. O que eu fiz, cuspi mais
mentiras em seus rostos para me arrastar para fora disso ou ficar limpo?

— Tomei uma decisão muito grande; de agora em diante, só quero ser


amigo de Wendy e London.— Eu disse e fui colocar meus braços em volta dos
ombros das duas mulheres.— Porque você e Zach são dois paus.

— Ele é um idiota, um pau. Eu sou uma vagina bonita.

— Perdão, eu sou um pau enorme, grosso e impressionante.

Eu ri do gabarito infantil de Zach. Ele era o homem mais brilhante em um


raio de trinta quilômetros, mas nunca superou seu olhar adolescente idiota.

— Não é isso que uma das minhas únicas duas amigas, London, diz a
todos, meu homem.

— Pare de tentar mudar de assunto, Sullivan. Sei que London me ama e


ama o meu pau, e Jess acha que você tem muito em mente, então fale. Seus
hormônios devem estar matando você de todo o segredo.

— Não é assim que os hormônios funcionam, e você sabe disso. Estou bem.

Jessica fez uma careta, e tudo bem, porque ela adorava entrar na comida
e na vida de outras pessoas, mas quando vi Wendy olhando para mim com seus
olhos penetrantes, sabia que não tinha saída. Ela colocou a mão no meu peito
e me deu um tapinha gentil.

— James, você tem uma mulher em sua casa e não sabemos nada sobre
isso. Você sabe que eu não os encorajaria a violar sua privacidade, mas é
realmente fora de caráter para você.— Ela não fazia ideia.— E você disse que
está escondendo coisas. Isso funciona como drogas para Jessica; ela não vai
parar até você nos contar toda a sujeira.

Do outro lado, London abraçou minha cintura e apertou para mostrar seu
apoio. Pelo menos eu sabia que tinha essas duas no meu lado.

O que eu estava fazendo? Estes eram meus amigos aqui. Eu não estava
com medo de que eles me julgassem ou apontassem meus erros. Eu estava
bastante convencido de que, se eu precisasse esconder um corpo, Jessica o
massacraria e faria o resto de nossos amigos espalhar os restos da cidade.

....mas uma parte de mim foi tomada pelo medo paralisante. Eles eram
realmente meus amigos e nunca julgariam, mas todos nesta sala prestaram
juramento.

Primeiro, não faça mal.

Aplicarei, em benefício dos doentes, todas as medidas necessárias...

....Eu respeitarei a privacidade dos meus pacientes...

...lembrarei que não trato febre,... mas um ser humano doente, quem é...
doença pode afetar a família da pessoa...

Acima de tudo, não devo brincar com Deus...

Todas as palavras voltaram para mim como uma inundação, exatamente


como no dia em que toda a minha turma a recitou em voz alta no gramado em
frente ao Blair Hall22. Juramos viver de acordo com essas regras e, nas últimas
duas semanas, violei todas. Minha única desculpa, por mais patética que fosse,
era que eu fiz isso fora da minha prática. Eu ainda era um bom médico. Eu era
apenas uma desculpa lamentável de um homem.

O que me aterrorizou foi pela primeira vez, Zach tentaria ser a pessoa
melhor.

...e ele tentaria me fazer, fazer a coisa certa. Deixe-a ir. Deixe-a em paz.
A única coisa que eu não poderia fazer. Meu coração não era tão forte, nem tão
honrado.

— Estou em uma grande bagunça.— Minha voz, geralmente tão calma e


controlada, estava trêmula agora, parecendo que minhas palavras estavam
desmoronando quando as deixei sair na sala.

Deixei London e Wendy e arrastei meus pés para o sofá, onde me sentei e
deixei meus ombros caírem em derrota.

London, o doce anjo que ela era, correu para mim em busca de conforto.

— James, você sabe que estamos todos aqui para ajudar, certo?

22 Universidade Princeton Campus Blair Hall


— Baby, vamos lá, se Sullivan diz ‘uma grande bagunça’. Ele
provavelmente quer dizer que esqueceu de registrar seus impostos. Quando
eles devem sempre?

Pela primeira vez, fiquei agradecido ao ouvir Zachary falar de sua bunda.
Foi a única coisa que fez esse momento parecer menos um funeral. Meu
funeral.

De alguma forma, a discussão mudou de mim para a temporada de


impostos, e eu deveria ter ficado agradecido e tentado a sair daqui comprar
mais algumas horas, mas minha língua estúpida parecia falar por si mesma.

— Eu estou casado.

Toda conversa na sala morreu em um instante e tudo ficou em choque.

Como médico, eu deveria ter sido melhor em dar más notícias. A pata de
urso de Zach veio ao meu ombro e eu pude ver algo raro em seus olhos:
preocupação.

— Meu homem, seu divórcio aconteceu há alguns meses atrás. Você sabe
disso, certo?— Ele falou com calma, como se estivesse explicando a uma
criança.

— Não, Zach, quero dizer agora. Eu sou casado agora, com...

— Puta merda! James Sullivan, você fugiu com uma mulher desconhecida
que agora mora em sua casa? Com minha filha afilhada? QUEM ESTÁ
SOZINHO COM SUA FILHA AGORA?
Zach passou de calmo e firme a cheio, rugindo no meu ouvido.

— Eu... É pior que isso, Zachary. Sente-se e ouça, porra.— Ele ouviu e
todos na sala também.— Estou morando com uma mulher; ela acredita que
somos casados e, sim, eu a conheci quando estava em Boston.

London pediu detalhes. Yay, divertido.

— Espere, como assim ela acredita?

Inspire. Expire. Aguarde. Repita. Acabe com isso.

— Rita é um caso de perda de memória.— Eu disse, e era como se todas


as janelas da sala caíssem com um som agudo. Qualquer que seja a reação que
eles quisessem ter ficado presos, estávamos todos nos observando. Eu senti
como se fosse o mais novo panda do zoológico.

Depois de alguns minutos agonizantes, Jessica sacudiu o choque dela.

— Você quer dizer que a conheceu em recuperação? Meu Deus, James, ela
é sua paciente?

Aqui estavam algumas palavras que eu nunca acreditei que diria : Eu


gostaria que minha esposa falsa fosse minha paciente.

— Não, olha, eu não conheço todos os detalhes; em um momento, eu estava


lá em Boston, e essa linda mulher cai aos meus pés no meio da rua. Levei-a
para a sala de emergência e quando ela acordou… ela acordou e perguntou se
eu era o marido dela. Eu disse sim.
Ouvir minha própria história em voz alta me fez sentir um tolo. Não era
nem estranho ou imoral, era simplesmente estúpido.

— James, meu homem, o que você está dizendo?

— Eu apenas, Zach, entrei em pânico, ok? Estou dizendo que Rita acredita
que somos casados. Eu nunca corrigi suas suposições. Eu nunca a endireitei.
Vivemos juntos desde então.

Silêncio. Silêncio total, e de alguma forma isso foi pior do que gritar. Pelo
menos quando eles gritaram seus pulmões, eu sabia onde estávamos.

— Alguém pode dizer alguma coisa, por favor? Zach?— Eu não tenho
nada.— Jessica?

— O que você quer que a gente diga?— Ela cuspiu em resposta.

Se eu tivesse tirado as palavras de Jessica Monroe, isso significava que eu


realmente tinha estragado tudo.

— Oh meu Deus.— Zachary colocou as duas mãos no cabelo e olhou para


mim como se eu tivesse crescido um segundo pau na minha testa.— Você está
mentindo, porra.

Que porra é essa?

— Zach...

— Sullivan, você levou três dias para pegar um presente de aniversário


para London e tenta me dizer que acabou de pegar uma mulher… Não, cara,
foda-se. Isso é mentira. Você voltou com a bruxa do mar, não foi? Você e Avery
estão de volta fodendo juntos, e estão tentando nos distrair com essa mentira
de ficção científica. Foda-se. Porra. Vocês.

Ele estava furioso e fiquei surpreso. Que porra aconteceu?

— Você está mentindo.

— Ford, estou lhe dizendo a porra da verdade.

— Foda-se.— Ele se virou e invadiu o corredor, deixando seu estetoscópio


e a London.

Todos na sala ficaram surpresos com a birra que Zach havia feito, e eu
fiquei confuso como o inferno. Felizmente, London estava aqui para fazer o
controle de danos para o meu amigo.

— James, você está falando sério?

— Eu tenho medo. Eu sei que estraguei tudo, ok? E você não pode dizer
nada que eu ainda não tenha me dito no espelho. Deixe-a em paz, fique limpo,
isso é louco, é imoral, você é uma fraude, você é um idiota. Tudo.— Minha boca
de repente ficou seca e parei para tentar engolir minha ansiedade!— É o meu
ritual matinal, mas ela então. Rita, caminha atrás de mim e vejo seus olhos
negros sorrindo no espelho… e eu não posso.

Vê-la me abandonar agora me esmagaria como se eu fosse feito de vidro.


Eu não conseguia compreender isso e, se meu cérebro altamente treinado não
pudesse, deveria ter significado que não era possível. Minha vida antes de Rita
era monótona: a infância em casa com mãe e pai era boa, mas sempre contente;
a faculdade era a cena de Zach e o casamento com Avery… bem, o casamento
com Avery foi como dirigir uma Honda no limite de velocidade na interestadual
e sentir como se estivesse em uma Ferrari. Você poderia fingir que era o
mesmo, que o vento soprando seu cabelo era libertador. Que isso te fez feliz.
Mas não foi. Eu era casado com uma mulher de porcelana e disse a mim mesmo
que estávamos apaixonados. Talvez eu estivesse por um tempo, mas agora?
Agora eu podia ver quantas cores estavam faltando no meu esquema. Rita era
um arco-íris inteiro.

— Gente, eu estou na merda.

— Sim, você está.— Disse Jessica.— Olhe para Wendy; você drenou todo
o sangue das bochechas da minha esposa. Vergonhoso.

— Eu sinto muito.— Mas eu não estava. Eu deveria estar. Afinal, essa era
minha pilha de merda e era eu quem estava lidando com isso.

— James, me escute. O que você fez está errado e, para ser sincera, é
estranho pra caralho, mas você é nosso amigo. Nosso amigo estúpido e fodido.
Falo por todos quando digo que você é um cara legal. Se você gosta de alguma
merda da Síndrome de Estocolmo, tudo bem; vamos descobrir algo, mas você
tem que olhar nos meus olhos e jurar por tudo o que já lhe foi querido que, de
forma alguma, você não a forçou a fazer alguma coisa.

Suas palavras trouxeram flashbacks. Todas aquelas fraturas próximas


que vi nas varreduras de Rita voltaram para mim com a força de um tsunami.
Eu nunca coloquei minha cabeça no travesseiro à noite sem pensar nisso.
Tudo o que consegui articular de volta a Jess foi um som sufocado.

— Mais rápido, Sullivan, faço uma cirurgia em vinte minutos e Wendy


vem comigo.

— Claro, eu não sou… Eu nunca... Jess.

— Tudo bem, então vamos descobrir algo. Wendy, precisamos ir. Você
conseguiu isso?

— Sim, vá em frente.— Elas saíram e London voltou para mim.— Você


parece estressado, James.

— Estressado nem cobre.

— Ok, mas você também parece heureux.

— Eu pareço um o quê?— Ela riu e eu sorri. London gostava de nos jogar


fora com sua doce língua francesa. Ela costumava amaldiçoar seu namorado
idiota o tempo todo.

— Feliz.

Eu precisava de um longo segundo para que isso afundasse. Eu fiz. Fiquei


feliz todos os dias que acordei para encontrar a mulher mais incrível deste
hemisfério e passar meu tempo com ela e minha filha. Fiquei feliz quando ela
sorriu para mim, ou gritou em espanhol, ou quando a vi orando na cama da
Chelsea à noite.

— Se é tão óbvio, por que Zach saiu correndo pela porta?


— Não se preocupe; você o conhece, ele pode agir como um touro com
cocaína quando estiver perturbado. Estou feliz que, pela primeira vez, não sou
a capa vermelha que ele quer esfaquear com os chifres.— No começo do
relacionamento deles, Zach costumava intimidar London, e ela ainda lhe dava
tempo para isso. Essa garota pegou um punhado de bolas dele e não estava
prestes a deixar ir.

— Ele está chateado comigo.

— Ele está preocupado. É você quem está na linha aqui, James. Você é o
melhor amigo dele, e ele admira você, mas ele também cuida de você.

Ha, Ford, o grande softie.

— Eu sei.

— Onde está o Chelsea agora?

Merda.

— Ela está em casa com Rita.

London mordeu o lábio e respirou fundo. Era isso que eu mais gostava
nela, como ela parou para pensar no que estava prestes a dizer, não apenas
cuspiu alguma afirmação sem cérebro. Ela era o oposto total de Zach, e talvez
fosse por isso que eles eram tão perfeitos juntos.

— Você tem cem por cento de certeza de que o bebê está seguro?
— Absolutamente. Você não a conhece, London. Rita é doce e gentil. Ela
olha para Chelsea de uma maneira que Avery— sua própria mãe— nunca fez
antes. Estou lhe dizendo que a mulher venderia minha alma para ver Chelsea
feliz e segura.

— Então é como Jessica disse, nós vamos descobrir.

A confiança e o entendimento nos olhos de London fizeram meu intestino


se acalmar pela primeira vez em sempre. Sim, nós descobriríamos. O momento
foi morto pelo som de seu pager.

— Olha, Zach já está melhor.

— Ele está ligando para você no 911?— Se havia algo que poderia trazer
de volta o bom humor de Zach, era uma boa emergência.

— Não, ele está me chamando no armário de suprimentos 19.— E isso.


Isso poderia desafiadoramente trazer seu humor de volta.

Nós dois nos levantamos prontos para sair. Abri a porta para London, mas
alguém entrou. Emmanuel Shaw não era o homem que você queria ver em um
bom dia, muito menos quando eu acabei de ser vítima de uma maldita
inquisição.

— Olá Emmy. Prazer em vê-lo depois de todo esse tempo.

Duas semanas não estavam nem perto o suficiente para ser bom ver
Emmy, mas tanto faz. Eu jogaria bem.
— Sullivan.— Ele me deu um tapa no ombro como se fôssemos algum tipo
de irmão de fraternidade.— London, minha enfermeira mais bonita, parece que
precisa de companhia.

Ha, então isso ainda estava acontecendo. Quase por instinto, coloquei meu
braço em volta dos ombros de London.

— Shaw, sinto-me obrigado a dizer para você dar um passo atrás e deixá-
la em paz.

Ele cruzou os braços e revirou os olhos cinzentos até o crânio.

— Vamos, cara, deixe-me jogar minhas cartas agora que Zach, o rosto de
merda, não está aqui. Você tem seu doce par de pernas para mantê-lo ocupado,
Sullivan. Enviei sua nova esposa para seu consultório.

Meu queixo caiu sobre os ladrilhos brancos que cobriam o chão. Rita?
Agora Emmy também estava envolvido?

— O que?

— A peguei procurando por você no balcão de admissão, e eu fiz a coisa


cavalheiresca e mostrei a ela o caminho. Não vou mentir para você, Sullivan,
olhei para a bunda dela. Quente.

Fiquei tenso ao ouvi-lo falar sobre a bunda de Rita.

— Shaw, é melhor você parar de falar ou da próxima vez que vir uma mesa
de cirurgia, estará deitado nela.
De volta ao meu andar, a primeira coisa que vi quando saí do elevador
foram os olhos brilhantes da minha filha. Ela estava rindo como louca enquanto
estava nos braços da minha enfermeira e levantou os braços como se estivesse
alcançando o céu.

Mary fez cócegas na barriga e soltou outra risadinha alta. Eu adorava vê-
la assim.

— Olha, Chelsea, querida, seu pai está aqui.

— Sim, ele está, venha aqui princesa.— Quando Chelsea ouviu minha voz,
ela torceu o corpo inteiro para me procurar e começou a se contorcer para que
Mary a entregasse, e eu a peguei.

— Ei, menina. O que te traz aqui?

— Aquele doce braço picante que está pendurado no seu escritório a trouxe
aqui. Nova namorada, Dr. Sullivan?

— Rita está sentada no meu escritório?


— Não, ela está no seu escritório, espalhada por todos os seus arquivos de
uma maneira muito sexy. Ah, eu lembro quando eu era jovem e tinha um
namorado no primeiro hospital em que trabalhei. Você não respondeu à
pergunta.

— E eu não vou. Você pode assistir a Chelsea para mim? Temos uma
programação clara por algumas horas. Se o pronto-socorro ligar, basta delegar
outra pessoa.

— Eu já fiz isso quando a senhorita perguntou, então vá, faça o seu almoço.
Vou levar a princesa para a cafeteria para um cupcake.

— Oh, vamos manter o açúcar longe da bebê. Dê a ela uma banana.

— Vocês pais modernos e sua carga de porcaria. Vou pegar o que quero,
algo bom. Eu criei quatro filhos, e nenhum deles está morto, então vá embora
e deixe-nos ir.

Sorri, balancei a cabeça e prendi Chelsea no carrinho. Ela pegava um


cupcake porque não havia como negociar crianças mimadas com Mary.

Antes de se afastarem, Mary se virou e me deu uma piscadela.

— Eu gosto mais desta, Doutor. Muito melhor.

Eu sabia. Eu gostava também.

Meu escritório ficava no final do andar neurológico, última porta à direita.


Eu tinha o escritório da esquina porque era o médico principal aqui e porque,
na maioria das vezes, a neurologia era diferente. Eu não consegui fazer isso
como Zach, Jessica ou Shaw; não entrei pela porta, comecei a abrir pessoas e
deixei a ferida sarar depois. Não, a neurologia exigia requinte e tempo. Às
vezes, eu podia diagnosticar e ir para a sala de cirurgia imediatamente; às
vezes, levava um ano de terapia, consultas e investigações antes que eu
pudesse dar o salto e perfurasse o crânio de alguém.

Meu escritório era meu lugar tranquilo. A princípio, quando a chefe Sadin
se arriscou em mim e substituiu o velho chefe da neurologia, eu adorava. O
tempo mudou isso para mim. Com o tempo, eu costumava vir aqui para
encontrar um momento de paz, um espaço calmo e vazio, onde eu pudesse me
concentrar no trabalho e me dizer que se minha vida profissional era boa,
minha vida também era em casa.

Agora eu estava andando lá dentro feliz. Animado. Correndo para ver o


que me esperava do outro lado. Eu nunca— Nunca— senti emoção quando
Avery parou no hospital, mas quando abri a porta e vi Rita sorrindo e mordendo
o lábio, meu coração quase pulou pela porra da janela.

— Olá Dr. Sullivan.

— Olá amor. Que ventos a trazem?

— Bem, ouvi a notícia de que há um médico quente de cérebro neste


hospital e vim aqui para vê-lo com meus próprios olhos.

— Você quer que eu dê uma volta para poder dar uma olhada completa?

Ela pulou da mesa, lambeu os lábios e me deu uma olhada lateral antes
de me dar as costas graciosas.
— Mmm, não. Eu quero que você fique nu.

— Amor, eu estou no trabalho.

Ela se inclinou com um golpe rápido no braço e jogou tudo na minha mesa
no chão. Foda. Me. Então era assim que estávamos tocando.

Talvez agora não fosse a hora de dizer a ela que organizei meu escritório
de uma maneira muito precisa, e levaria horas para eu colocar tudo de volta.

— Mary me disse que você tem mais ou menos uma hora para matar, então
vamos matá-la.

— Rita...

— Nem tente, ou eu vou me colocar na sua mesa, fazer você assistir e sair.
Então você terá que lidar com isso sozinho.— Sim, bem, parecia que eu
respondi a essa ameaça porque já estava ficando duro com aço.— Sente-se,
James.

Curioso— com Rita tudo era uma surpresa— fiquei confortável em minha
própria cadeira enquanto ela se sentava entre as minhas pernas.

— O que é essa coisa no seu pescoço?

— É o meu estetoscópio.

— Coloco nos meus ouvidos e posso ouvir seu coração, certo?— Eu assenti,
e ela pegou e começou a acariciar meu peito com o tambor.— Vamos brincar,
Doutor. Oh, aí está o seu coração. James, está batendo como um louco. Existe
algo errado?

— Sim, há uma mulher na minha vida que representa um grande fator de


risco para o meu pobre coração.

— Como assim?

— Ela é sexy demais para ser saudável para mim.

— Isso significa, Sr. Sullivan, que tenho que avançar minha consulta.—
Ela deslizou o estetoscópio pelo meu torso e não parou até chegar à
protuberância nas minhas calças.— Merda, James, eu posso ouvir alguma
coisa. Por que posso ouvir alguma coisa? No seu pau?

Eu quase caí na gargalhada quando vi seus olhos de coruja, mas isso


mataria o momento, e essa era a última coisa que eu queria.

— Umm, esse é o meu fluxo sanguíneo.

— E o que isso significa?

— Isso significa que você está fazendo certo.

— Bem, para sua sorte eu sei como tratá-lo.

Ela se inclinou e me deu um beijo ardente. Sua língua entrou em um tango


tão intenso com a minha, nós dois esquecemos como a respiração funcionava
por um minuto. Eu não tinha ideia de quem quebrou primeiro, mas nós dois
fomos gastos com apenas um beijo.
Com movimentos preguiçosos, ela caminhou atrás da minha cadeira e
colocou uma das palmas das mãos nos meus ombros.

— Mãos.— Disse ela.

— E eles?

— Coloque-as nas costas.

Tudo é uma surpresa com ela.

Fiz o que me foi dito e senti o tubo do estetoscópio apertando em torno dos
pulsos. Merda.

— Rita, você precisa ter cuidado. Se meu pager disparar, preciso


responder, amor. É sério.

— Ugh, você fala demais. Eu preciso corrigir isso.— Não dando a mínima
para o que acabei de dizer, Rita começou a abrir minhas gavetas, e eu não tinha
ideia do que ela estava procurando até ela pegar uma caixa de luvas.

— Vou lhe dizer agora, amor, que não estou em exames retais.

— Vê o que estou dizendo? Você está falando demais.— Antes que eu


pudesse responder, um monte de luvas foi enfiado na minha boca e me vi
amordaçado e amarrado à minha cadeira diante de uma felina perigosa. Eu
seria triturado em pedaços pequenos quando isso terminasse, e mal podia
esperar que isso acontecesse.— Oh, Dr. Sullivan, eu vou fazer o meu caminho
com você, e não há nada que você possa fazer sobre isso.
Quando ela jogou a camisa fora e um sutiã de renda sexy em um tom
gritante de vermelho apareceu, meu pau pulsou tanto que eu tinha medo que
rasgasse meu uniforme. Eu não ficaria surpreso se isso tivesse acontecido
porque a pele impecável e bronze do seu peito era a visão mais erótica que Deus
já havia mostrado ao homem.

— Como o que você vê? Porque estou prestes a lhe dar um show que você
nunca esquecerá.— Disse ela e se aproximou de mim.— Vai levar anos até que
você possa entrar aqui e não me ver, me sentir e me ouvir entre essas quatro
paredes. Vou te levar tão fundo na minha garganta que você vai...

...E naquele momento— naquele momento perfeito no tempo— foi quando


Zach passou pela porra da minha porta sem bater. Eu sempre disse para ele
bater, porra.

— Olha, Sullivan, pensei nisso e… oh...— Ele parou no meio da frase com
o pé no ar, foi assim que ele ficou chocado. Eu poderia imaginar o porquê.—
Oh, porra. Parece que estou interrompendo.

Muito certo, ele estava, mas tudo que eu podia fazer era rosnar.

Meus olhos ficaram arregalados quando ele entrou no escritório e fechou


a porta atrás dele. Que porra é essa?

— O que há com você, Sullivan? Você parece pego.

Perturbado, cuspi minha mordaça fabricada.


— Que porra há de errado com você, Zach? Essa é a parte em que você diz
‘Oh, desculpe e sai daqui’,— eu lati e depois me lembro da mulher na minha
mesa.— Rita, coloque o meu jaleco em você.

Claro, Zach viu a oportunidade de ser um idiota e aproveitou.

— Oh, não se preocupe, linda. Antes de você e ele se reunirem, você


costumava andar neste trem de diversão.

Ela envolveu o corpo no meu jaleco branco e olhou para mim, chocada.

— Isso não é verdade, amor, não se preocupe.

— Ou pode ser, e ele está apenas mentindo por causa de seu enorme ego.

— Zach!

— Tudo bem, me desculpe. Eu só queria verificar como nossa querida Rita


está fazendo. Eu simplesmente não consigo imaginar como você esqueceu meu
lindo rosto?

Ela ainda não fez nenhum movimento para me desamarrar, então tudo
que eu podia fazer era assistir à interação deles e orar a quem estivesse lá fora
para ouvir que ele não estragou tudo para mim.

— Então, este é Zach, hein? Ouvi muito sobre você e acho que precisava
de uma pausa mental. Deus abençoe a amnésia.
— Não minta para si mesma, você me ama. Você me ama muito.— Ele deu
uma olhada furtiva em mim.— Aparentemente, você ama o James com mais
força, BDSM é mais difícil.

— Ok, Zach, você viu Rita, agora saia daqui.

— Ainda não. Cadê minha Alexandria?

— Com Mary. Pegue. Ela. Lá. Fora.

— Bem. Desamarre-o, Rita. Ele já está muito tenso.— E ele finalmente


teve a decência de sair pela porra da porta.

Rita sentou-se a alguns metros de distância e pressionou os lábios juntos,


tentando não rir.

— Algo engraçado, Sra. Sullivan?

— Sinto muito, mas foi meio divertido. Que coisa divertida devemos fazer
a seguir?

Era minha hora de tirar o ar dos pulmões dela.

— Você pode vir aqui e chupar meu pau como você se gabou. E rápido,
tenho que cortar um aneurisma mais tarde.

— James Sullivan...

— Rápido-rápido, de joelhos.
Eu estava tentando comandá-la, mas ela abalou a porra do meu mundo só
com os lábios.

Saímos do meu escritório trinta minutos depois, e Rita parecia estar


andando nas nuvens.

— Por que você está sorrindo como o gato que entrou no balde de leite,
amor?

— Porque eu ganhei.

Como diabos ela fez.

— Eu tinha você de joelhos.

— Não finja que você não estava prestes a chorar, Sullivan! Você quase
quebrou a cadeira com o seu tremor.— Ok, ela ganhou.— Você acha que somos
maus pais por abandonar nossa filha para fazer sexo?

Eu nunca fiz isso antes. Depois que Chelsea nasceu, sua mãe e eu nos
separamos ainda mais. Avery nunca sentiu que seu corpo se recuperaria da
cesariana e colocou toda a culpa no bebê. Isso foi um negócio para mim.
Uma mulher que fez isso com uma criança— minha filha— nunca poderia
me fazer querer ela.

Ela nunca fez de novo.

Fiquei arrasado quando Avery saiu, eu realmente fiquei. Eu senti como se


tivesse perdido tudo o que eu sempre quis— uma família perfeita— ela me
tirou disso e deixou Chelsea para trás. Eu era um homem que trabalhava
oitenta horas por semana. Eu não tinha horário, nem dias de folga. Eu estava
com medo de falhar como pai, porque com certeza não poderia falhar como
médico— se eu fizesse isso, as pessoas morreriam.

Rita me deu uma coisa. Não é a família, porque o que estava acontecendo
aqui estava longe de ser perfeito. Ela me deu perspectiva. Avery nunca foi
completamente minha; ela pertencia apenas a si mesma. E eu estava melhor
sem ela.

— O que há com o rosto comprimido, papi?

— Nada, só estou pensando na minha cirurgia mais tarde. Sinto muito,


mas só tenho mais vinte minutos até precisar me levantar e começar a me
preparar.

— Tudo bem, eu tenho que voltar para casa para começar o jantar e pintar
uma parede vermelha no corredor de qualquer maneira.

Palavras simples, e elas foram direto para o meu coração, mas...

— Parede vermelha?
— O que? Você não acha que um pouco de cor seria bom para aquele
corredor chato?

— Quero dizer… você pode comprar algumas flores, pendurar uma foto.
Uma parede parece extremo.

— Tudo bem, vamos conversar sobre isso.

Eu a acompanhei até os longos corredores e entrei no elevador, e assim


que apertei o botão do térreo, ela estava em mim, com os braços acorrentados
ao redor do meu pescoço.

— Rita, você está… mas não podemos fazer isso em um elevador. A Chefe
pode gostar de mim, mas não vamos insistir.

— Eu só quero te beijar.

— Você pode passar pelo hospital todos os dias?

Ela riu e, quando o elevador abriu, começamos a andar novamente, mas


estávamos em contato de corpo inteiro. Eu sabia que estava quebrando algum
tipo de protocolo PDA naquele momento, mas se Zach pudesse fazê-lo, eu
também poderia.

Por que eu estava seguindo o exemplo dele? Eu deveria ser quem o


mantinha sob controle, e não o contrário.

— Você não precisa fazer o jantar, amor.

— Ora, você ainda está com medo de experimentar minha comida picante?
— Não, Rita, quero dizer que você não tem ou precisa fazer isso. Você não
é uma dona de casa, não é desse tipo. Prefiro que você gaste o tempo pintando,
busque um hobby, encontre algo que queira fazer fora de casa,merda, gaste
todo o meu dinheiro comprando. O que te faz feliz.

Ela parou de andar e me parou também puxando minha mão.

— Amor?

— Precisamos conversar.— Essas palavras podem assustar qualquer


homem, mas o sorriso dançando nos olhos dela me deixa à vontade.— Mais
tarde.

— Mais tarde. Agora venha aqui para que eu possa te beijar, e podemos ir
buscar a Chelsea.

Encontramos minha filha tendo o tempo de sua vida nos ombros de Zach,
enquanto Wendy lhe dava a melhor performance que eu já vi.

London, Jessica e outra enfermeira, a amiga de London, Tatiana,


conversaram sobre um paciente gostoso que acabou de ser internado no pronto-
socorro

— Estou lhe dizendo, não gosto de homens por merda, mas este parece um
modelo QG. London, você pode perguntar a Tatiana, ela o viu.

— Garota, ele está bem. Tipo bem, bem. Como se eu o deixá-lo me fazer
mal aqui agora, bem.
London soltou um 'woo' e disse algo sobre como ela iria lá e verificaria o
pulso dele logo após o intervalo, e isso ativou algo em Zach.

— Estou avisando agora que, se ele for um caso cardíaco, vou deslizar meu
bisturi pelo Sul e… oh, olha, os Sullivans estão aqui.

A conversa morreu em um instante, e todos os olhos à mesa foram voltados


para nós, incluindo Chelsea, que imediatamente ficou animada e apontou para
Rita.

Surpreendentemente, Rita foi a primeira a começar a falar novamente.

— Isso vai ser estranho? Eu realmente não sei dizer; você é nova para
mim. Como foi a primeira vez que nos conhecemos?

— Eu te disse, nós fodemos.— Disse Zach, e London deu um tapa no ombro


dele.

— Não se importe com ele; ele melhora com o tempo, mas James
provavelmente já lhe disse isso.

— James me disse que ele é um idiota, mas nós gostamos dele. Então,
quem são as lésbicas?

Tossindo de surpresa, belisquei a parte de trás do braço de Rita.

— Não vamos chamá-las assim.

— Oh, mas acho incrível.


Jess levantou a mão e acenou entre ela e Wendy.

— Nós somos, e sim, somos incríveis. Rita, eu sei que você não se lembra
de muitas coisas, então deixe-me fazer uma oferta. No ano passado, minha
esposa me ofereceu a oportunidade de fazer um trio, mas adiei porque nunca
encontramos alguém digno.— Eu revirei os olhos e sorri, e todo mundo
também, porque todos sabíamos para onde isso estava indo.— Eu estava de
olho em London, mas o idiota a pegou de mim, mas agora que você não sabe
exatamente o que faz ou não gosta… que tal você vir jantar amanhã à noite e
descobrimos?

Por trinta segundos seguidos, tudo o que havia para ler no rosto de Rita
foi um choque, mas ela se recuperou rapidamente.

— Estou lisonjeada, sério. Eu nunca acreditei que era capaz de conseguir


esse homem delicioso, muito menos duas outras mulheres bonitas e sexy. Eu
mentiria se dissesse que não estou interessada.

Uma segunda tosse surpresa se formou nos meus pulmões.

— Com licença?— Eu disse e dei a ela o olhar lateral.

— O que? Você sabe que eu sou aventureira.

Jessica não demorou muito para pular de volta no cavalo.

— Oh, nós sabemos. Todos nós sabemos. Zach gosta de fofocar.

Rita bufou e eu balancei minha cabeça. Idiota.


— Sim, ele ama. Ei, Ford, lembra-se de quando você costumava dizer às
pessoas que a London é fácil?

Seu rosto ficou reto, e ele levou Chelsea pelas costas, enquanto London
trocava de cadeira e jogou um olhar que só poderia ser descrito como afiado,
porque era para cortá-lo.

— Sullivan, você precisa parar de fazer isso porque um dia desses eu vou
te dar um soco.

— Um soco otário é a única chance que você teria, imbecil. Leve-me ao


ringue por cinco rodadas, e veremos. Eu vou parar quando você parar.

— Oh meu Deus, é assim todos os dias? Vocês, rapazes, são exaustivos;


não admira que meu cérebro tenha apagado toda essa merda. Isso significa
muito vindo de mim. Eu venho de uma família cubana. Você sabe qual é a
língua nacional de Cuba?

Wendy olhou para Tatiana, encolheu os ombros e respondeu:

— Espanhol?

— Não, é gritando. Agora, Zachary, posso ter minha filha de volta?

As palavras de Rita derrubaram o ar de todos, e fiquei agradecido por não


haver explosão.

— Claro, apenas… apenas cuide dela, tudo bem?


— Claro que eu vou. Você acha que minha memória pode me atrapalhar
de ser boa...— Eu sabia que ela queria dizer a palavra mãe, mas Zach cortou.

— Não, eu não acho. Rita, nós somos família aqui, e isso significa que você
é da família.

Esses tipos de palavras suaves eram algo que não recebemos de Zach com
muita frequência. E ele poderia estar conversando com Rita, mas ele estava
olhando para mim. Ele estava nas minhas costas.— Esse garoto é a única coisa
que aprecio mais que London. Fico louco quando se trata dela.

— Bom. Então verifica que eu gosto de você. Provavelmente te amo, como


uma família, é claro.

Ela pegou Chelsea e a bebê colocou a cabecinha no peito de Rita,


aninhando-se nela imediatamente. Isso fez Zach amolecer e derreter em seu
assento.

— Então, Rita, agora que você fez as pazes com meu namorado idiota, fará
o trio com Wendy e Jessica?

— Eu posso.

— Como diabos você vai.— Eu sabia que estávamos apenas brincando,


mas estava fazendo as paradas.— Jessica, pare, não coloque ideias na cabeça
dela que me tirem da mesa. E agora que você está falando sobre isso, quando
você vai parar de se enganar? Você sempre fala sobre seu passe livre para um
trio, mas não conseguiu encontrar ninguém na grande cidade de Chicago que
gostasse.— Como todos nós não vimos através dela.— Jess, você não pode
dormir com mais ninguém e com certeza não pode compartilhar Wendy com
mais alguém.

— Ugh, tudo bem, eu não quero um trio.

E olhe para mim, o CEO de distrair as pessoas da minha vida pessoal.

— Você não quer, Jess? Mas foi você quem me deu a ideia de lhe dar o
passe livre.

— Eu sei porque pensei que seria divertido, mas não sei… você é minha
esposa. Ugh, eu costumava ser a divertida no relacionamento.

— Eu também te amo, Jess. Também não sou louca para vê-la com outra
mulher. É por isso que estou domando todas as suas ofertas ousadas.

— É por isso que eu as jogos na cara das pessoas, para assustá-las!

— Então, que tal tirar um fim de semana em Napa Valley e fazer um bom
casal.

E elas se beijaram e fizeram as pazes. Jess e Wendy eram como um filme


de garota, mal-humoradas e adoráveis de assistir. Como agora, estávamos
todos hipnotizados por elas.

— Pare de olhar para nós.— Jess apontou o dedo ao redor da mesa.— É


uma bênção acordar todas as manhãs ao lado dessa mulher.

— Eu sei exatamente o que você quer dizer.— As palavras de Rita me


trouxeram de volta ao chão. Eu olhei para ela, e ela colocou minha bochecha
em concha.— É melhor irmos e deixar todos vocês fazerem os seus trabalhos,
mas eu vou esperar por você no jantar.

— Amor, receio que não estarei em casa até meia-noite.

— Então eu vou comer às nove da noite e esperar que vocês tenham um


jantar muito tarde juntos.

Naquele momento, eu estava muito perto de gritar do fundo do meu


coração que a amava, mas nunca fui de agir antes de pensar. Eu precisava
pensar nas implicações disso.

Eu a beijei, depois fui dar um beijo na cabeça da Chelsea e todos fizeram


um som coletivo de 'aww'..., mas quando olhei para trás, notei que os olhos de
London estavam colados ao perfil de Zach. Isso por si só não era nada incomum,
mas havia algo diferente agora. E então ela falou:

— Vamos nos casar.

Ao som da voz dela, todos ficamos quietos e Zach balançou a cabeça na


direção dela.

— Eu acho que você já disse que sim, querida. Espera… você quer dizer
que deseja marcar uma data?

— Sim, então vamos lá. Vamos nos casar em primeiro de maio?

— Baby, eu te amo, mas isso é menos de dois meses. Parece um pouco


apressado para mim.
— Eu queria esperar por você no jantar. Você está assustado?

Ele estava tão chocado e perdido nos olhos dela que eu nem tinha certeza
de que ele ouviu a pergunta.

— A única coisa de que tenho medo é que você mude de ideia. Querida, eu
me casaria com você amanhã.

Porra, meu homem, olhe para você crescendo.

Eu sabia como ele estava se sentindo. Olhando para a mulher ao meu lado,
reconheci em mim o mesmo sentimento de posse e pertencimento que poderia
ser encontrado no rosto de Zach.
CAPÍTULO QUATORZE

Quando as onze horas chegaram, eu estava exausta. Chelsea teve uma


energia recém-descoberta depois da soneca da tarde, e ela simplesmente
dormiu ao passar da noite, para que eu pudesse me deliciar com uma taça alta
de vinho e pensar. Meu cérebro acabou de correr uma maratona.

Tantos rostos, pessoas, situações que eu estava tentando encontrar um


lugar. Tão estranho...

Logo depois que chegamos a Chicago, James me deu um caderno de


desenho que me deixou totalmente louca. Quando finalmente olhei para ele,
tive um estranho sentimento de reconhecimento. Não me lembrava de
desenhar nenhum deles, mas de alguma forma a existência deles fazia
sentido..., mas todas essas pessoas?

Nada.

Nenhum vestígio deles na minha mente nublada.

Quando a Chelsea não entrou em cena imediatamente, baseei-o em


choque, mas agora estava pensando que talvez eu fosse apenas ruim com
rostos. Enfim, foi um sentimento estranho, como se eu não pertencesse à minha
própria vida. Em nossa bolha oculta, eu podia me apegar ao sentimento
caloroso de ser uma família, me fundamentar nela e ignorar o fato de que nunca
mais me sentiria inteira.

...E eu só tinha a mim e minhas pinturas para conversar porque não podia
mais colocar besteira nos ombros de James, simplesmente não podia. Entre seu
dever autoimposto para me guiar de volta à normalidade e perfurar o cérebro
das pessoas, ele estava exausto.

O clique da porta interrompeu minha linha de pensamento, e as bolsas sob


os olhos de James e sua pele pálida me disseram mais uma vez que ele tinha o
suficiente no prato. Porra, o prato dele provavelmente estava cheio antes que
meu cérebro decidisse sair. Oh, estávamos bem acima do prato; sua mesa
inteira estava amontoada agora.

— Olá amor. Piadas à parte, você não deve me esperar a essa hora.

Sempre cuidando dos outros.


— Eu posso dormir amanhã se a Chelsea permitir. Você, por outro lado,
parece uma merda papi.

— Eu faço agora?— Ele caminhou até mim e acorrentou minha cintura


com os braços, permitindo-me absorver o conforto do peito.

— Sim. Você quer comer ou ir direto para a cama e dormir?

— Dormir? Eu realmente não estou tão cansado. Eu estava de pé nove


horas para remover um tumor teimoso, mas estou bem. Que tal um jantar
muito, muito tarde, e podemos conversar sobre como foi hoje para você.

Meu dia estava um pouco do lado da merda, mas eu não estava prestes a
dizer isso a ele.

Eu esperava sentir alguma coisa, ter meus sentidos chocados, mas nada
voltou para mim.

— Eu fiz um pouco de macarrão; não se preocupe, nada picante.— Eu disse


e levantei minhas mãos em defesa.— Há um prato no fogão para você; ainda
deve estar quente.

Caminhamos até a cozinha de mãos dadas, e ele se sentou com a comida


na frente dele enquanto eu tomava um gole de vinho. Aparentemente,
tínhamos um gosto pelo branco nesta casa porque era o único tipo de vinho que
eu via por aí.

— Eu sei que disse que esperaria por você, mas alimentei a Chelsea e meu
apetite começou.
— Não espero que você espere por mim, Rita, e não espero que você
cozinhe. Quero dizer, eu sei que você gosta de fazer isso, mas somente se você
quiser, querida.

— Anotado, da próxima vez vou lhe dar pão e água velhos.

— Por que você está evitando o assunto, Rita?

— De cozinhar?

— De como hoje fez você se sentir?

Porque eu não quero decepcioná-lo. Talvez eu não tenha me lembrado


muito, mas lembrei de onde vim— um bairro à beira de Havana. Eu tinha uma
boa família— desde que fiz o que foi que me expulsou da casa do meu pai—
mas éramos pobres como sujeira. Meu pai não teve absolutamente nada em seu
nome durante toda a vida, exceto algumas garrafas de rum e seu barco
enferrujado. Eu não fui educada. Eu não era elegante e não trouxe nada para
a mesa. Minha última chance de me sentir digna disso… de tudo o que eu tinha
agora era ser mais forte que uma concussão. Eu fiz algo bem que fez este
homem me poupar outro olhar e não sabia o que era. Eu não sabia se
conseguiria fazer de novo.

— Rita?

— Hmm?— Sua voz áspera me tirou da minha espiral e voltou para a


nossa cozinha.— Desculpe, meus pensamentos se arrastaram...
— Precisamos conversar sobre isso, amor. Você passou na terapia, mas eu
preciso saber… você se lembrou de alguma coisa hoje?

Seu tom era controlado e contente, mas dentro de seu peito havia
provavelmente uma esperança ardente de que nossas vidas acabassem
voltando ao normal. Eu estava prestes a esmagar essa esperança.

Quando viu a angústia no meu rosto, James abandonou o prato e pegou


minha mão na dele, enredando os dedos nos meus.

— Fale comigo, Rita.

— Eu não me lembrei de nada, ok? Eu esperava..., sinto muito, James; é


como se eles nunca tivessem existido antes. Eu sinto muito.

— Você não se lembra de nada?— Por um segundo, pensei ter ouvido um


alívio em sua voz.

— Não...

— Bom.

Meus olhos se projetaram para encontrar suas piscinas verdes me


observando com entusiasmo desbotado.

— O que?— Eu perguntei, confusa, e ele balançou a cabeça como se não


pudesse acreditar no que acabara de acontecer.

— O que quero dizer é que não lembrar imediatamente não é uma coisa
ruim. Você não pode esperar recuperar sua memória em um dia?
— Mas que tal alguns? Porque estou esperando há semanas e nem um
segundo dos últimos anos voltou para mim. Nada. Não me lembro de como nos
conhecemos ou de nossos amigos ou do que senti quando você propôs. Não sei
o que senti quando descobri que estava grávida ou no dia do nosso casamento.
E eu não tenho a menor ideia do que fiz para conseguir você.— Quando
terminei, fiquei sem fôlego, tremendo de frustração e raiva. Paciência nunca
foi meu forte, especialmente quando coisas importantes estavam em jogo.
Minha vida estava faltando e eu não tinha em mim que esperasse para
recuperá-la.

James levantou-se da cadeira e veio ao meu lado, permitindo-me o conforto


de esconder meu rosto no peito.

— Seria tão ruim não recuperar essas memórias?

— O que?

— Quero dizer. E se você nunca se lembrar… Não podemos simplesmente


viver a vida daqui?

— Não!— Caramba, não!— James, eu não posso viver minha vida sem
saber...

Afastei-me dele e me virei, recuperando o fôlego. Meus joelhos de repente


pareciam tão fracos. Desde que abri meus olhos naquele hospital, eu estava
esperando, esperando e esperando, mas nunca pensei em desistir.

— Amor, me escute, é por isso que eu queria que você visse um


especialista. Precisamos aceitar o fato de que você nunca pode receber esses
anos atrás, e não há muito que você ou eu possamos fazer. Precisamos ver o
positivo...

— O positivo?— Eu me virei para enfrentá-lo com a força de um tornado.


Ele não entendeu que eu não aguentava meia medida? Eu precisava o que todos
nós tínhamos de volta.— O que pode ser positivo em esquecer o dia em que
minha filha veio ao mundo? Que porra boa tem nisso, James?

Eu estava gritando na cara dele, mas o homem não se mexeu nem um


centímetro. O único sinal de que minha birra estava chegando até ele era uma
linha tênue se formando entre as sobrancelhas.

— Rita, o cérebro funciona...

— Não me dê essa besteira médica, Sullivan. Não! Você já fez seu discurso
sobre o quão misteriosa a mente pode ser, e eu entendo, mas você não pode me
dizer para esquecer e partir daqui.

Se eu fizesse isso, passaria a vida me perguntando se estava perdendo


alguma coisa.

James passou a mão no cabelo e arrebatou o cabelo bem cortado. Era óbvio
que isso estava comendo ele por dentro, mas não achei que estivéssemos na
mesma página. Eu estava tentando contornar a ideia de que eu nunca seria a
mesma e, no final, ele estava certo; ninguém poderia fazer nada, mas ele
jogando na minha cara realmente impressionou.
— Você é o único em que posso contar, James. Sua estabilidade, a maneira
como você sempre me empurrou para cima desde então… e agora você está me
jogando na lama.

— Estou lhe dizendo os fatos.

— Não é o que você está dizendo; é como você está dizendo. Como você não
quer que eu trabalhe e recupere minha memória.— Gritei com ele, e ele se
encolheu e deu um passo atrás. Eu pensei que minha reação esmagou a dele,
mas em questão de segundos, ele estava de pé novamente, e havia uma raiva
nele que eu nunca tinha visto antes.

— Bem, talvez não, porque acabamos de nos estabelecer e não quero que
minha vida seja reorganizada novamente.

Suas palmas bateram na mesa e o tempo parecia parar ao meu redor.

Todo o ar foi arrancado dos meus pulmões e eu caí no chão. O tsunami de


medo que me dominou era incontestável - eu não conseguia respirar; eu não
conseguia pensar.

— Rita!— Meu nome parecia um sussurro distante, e não era forte o


suficiente para me tirar. Por que isso estava acontecendo?

Eu o tinha visto levantar o braço e esperava a dor do golpe, mas nunca


veio. James não me tocou. Ele não fez. Ele acabou de bater a mesa. Repeti isso
na minha cabeça, tentando recuperar o foco. Ele. Não. Acertou em mim… mas
eu sinto que ele fez.
— Amor, me escute, você está tendo um ataque de pânico. Tente respirar
o mais firme possível.— Eu olhei para cima e encontrei os olhos dele olhando
do meu nível; ele estava ajoelhado no chão bem na minha frente, mas ele não
tentou ter nenhum tipo de contato.

À distância, ouvi o som que poderia me fazer controlar, o choro da Chelsea.

— A bebê, eu… Eu preciso...— Eu me levantei e James tentou me dar uma


mão para que eu pudesse estabilizar meu equilíbrio, mas, novamente, a coisa
mais estranha aconteceu: eu me encolhi e ele imediatamente se afastou.

Desviando por todo o corredor, eu estava tentando o meu melhor para


chegar às escadas, mas a náusea tomou o melhor de mim e, antes que eu
percebesse, estava desesperadamente entrando no banheiro onde perdi tudo o
que comi durante o dia.

A náusea me atingiu repetidamente, fazendo meu estômago convulsionar


por vários minutos seguidos. Finalmente, quando acabou, lavei o vaso sanitário
e inclinei a cabeça na parede fria.

— Amor.— James apareceu ao meu lado com um copo alto de água


gelada— Aqui, beba isso.— Ele empurrou o copo na minha direção, mas eu o
empurrei.

— Chelsea, ela está chorando.

— Eu cuidei disso; ela voltou a dormir. Respire, por favor, Rita.


Eu fiz… Eu estava tentando, mas meu corpo não queria cooperar. Minhas
respirações eram irregulares e altas, como se eu tivesse acabado de terminar a
Maratona de Boston.

— Vá, eu posso vomitar novamente.

— E daí? Eu sou médico, amor, e isso é exatamente quando eu deveria ficar


com você.

Mas foi a primeira vez que não o quis perto.

— James, estou bem, talvez tenha sido o macarrão.

— Não era o macarrão. Você teve um ataque de pânico completo. Veja


como você está tremendo ainda.

Ele estava certo; minha carne tremia como se eu fosse feita de gelatina.
Meu coração estava tentando escapar do meu peito e minhas pernas ainda não
estavam totalmente funcionais. Eu estava uma bagunça. Ele estava certo, foi
um ataque de pânico? O medo que choveu sobre mim logo antes de voar para
esse estado seria um indicador. Eu estava tão petrificada....

— Vamos na sala para que eu possa verificar seus sinais vitais e pressão
arterial.

— James...

— Não é negociável.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, fui pega no chão e levada
pela casa até o sofá. Ele se mexeu ao meu redor, me fazendo olhar para a luz,
seguir seus dedos e toda a coisa inútil que você vê nos filmes. Finalmente, ele
me ligou a um manguito de pressão arterial e, quando os números apareceram
na tela, ele franziu a testa.

— Cento e trinta por oitenta23.

— Mas isso é bom.

— Sim, mas seu pulso está muito alto. Tente relaxar. Você já teve
episódios semelhantes desde Boston?— Lá estava novamente, essa mudança
de atitude. Quando James entrou na sua pele de médico, era como se alguém
tivesse acionado um interruptor, e ele se tornou esse Deus, como se tivesse algo
de controle.

— Não, nada disso.

— O que aconteceu, uma memória te desencadeou?

Ele estava fodendo comigo agora? O cabrón24 tinha algumas bolas grandes
para trazer algo assim logo depois que ele me disse que não queria que eu me
lembrasse.

23 130 Sistólica e 80 diastólica. Comumente lido como 13/8.

24 Cabrón— Bastardo.
— ¿Me estás tomando el pelo?25

— Com licença?

— Você está brincando comigo agora? Por que você está com tanto medo,
James? O que eu posso lembrar é tão ruim?

— Não, isso não é… Estou tentando descobrir por que você caiu no chão
da cozinha.

Bem, isso foi fácil de identificar.

— Eu… Quando você teve esse momento de raiva e...— Ugh, por que isso
era tão difícil?— Eu pensei que você estava prestes a me bater.

Ele recuou como se eu tivesse lhe dado um tapa, e seu rosto estava
transfigurado com nojo e choque.

— Eu nunca...

— Eu sei.— Interrompi, ciente de quão estúpida e irracional minha reação


foi.

— Não, Rita, olhe para mim.— Ele me agarrou pelos meus antebraços,
forçando a nos aproximar.— Não importa o quão furioso eu fique; se eu chutar
e gritar... prefiro cortar meu braço do que colocar uma mão em você, ok?

25 ¿ Me estás tomando el pelo?— Você está brincando comigo?


— James, eu sei.

— Mas acho que você não entende. Você ficou com medo, e isso nunca deve
acontecer ao meu redor. Sinto muito pela minha reação. Eu estava fora de
linha, mas nunca me tema, amor. Nunca. Eu não te machucaria em um milhão
de anos e nunca deixarei ninguém fazer isso.

James era o homem mais gentil que eu já conheci. Eu sabia quase


instintivamente que ele não machucaria uma mosca, muito menos me bateria,
mas de alguma forma, eu esperava que ele me batesse amanhã.

— Você me machucou, James, quando me disse que não dava a mínima se


eu me lembro dos últimos anos ou não. Oh, não, desculpe, você disse que prefere
que eu fique assim.

Mais uma vez, ele ficou impressionado, mas não me arrependi do meu tom
ácido porque senti o mesmo quando ele me disse essas palavras meia hora
antes.

— O que eu quero dizer...

— O que você quer dizer é que eu já fodi sua vida o suficiente, e você não
quer mais aguentar essa merda. Você não acha que eu sei disso? Acordo todos
os dias sabendo que em algum momento jurei ser sua parceira e apoiá-lo, mas,
em vez disso, sou outro fardo em seus ombros. Está me comendo, e é por isso
que estou tão desesperada para me lembrar.— Ele tentou intervir, mas eu me
levantei na cara dele e levantei minha mão para silenciá-lo. Não havia como
me parar agora.— Você espera que eu viva sem saber se já tivemos anal antes
ou se eu lhe disse a verdadeira razão pela qual eu tenho uma queimadura na
minha bunda? Como você espera que eu mude o fato de termos uma filha, mas
desde que acordei na porra da cama do hospital, nenhum de nós jamais disse
algo como um simples eu te amo?

Eu sabia que tinha acabado de lançar a porra da bomba. Uma bomba que
estava pressionando meu peito por semanas e agora pode ter tirado nós dois.

— Não é, James?

— Rita, ouça...— Ele disse, mas nenhuma palavra se seguiu, então talvez
não houvesse nada de bom que eu pudesse ouvir.

— Está tudo bem, entendi. Sou uma garota pobre de Cuba, e a única coisa
que posso fazer da maneira certa é rabiscos. Eu sei que devo contar minhas
bênçãos como são. Quero dizer, olhe para mim. Para nós. Eu mal me encaixo
ao seu lado e posso aceitar isso, mas preciso saber...

Mais do que tudo, eu precisava saber por que ele estava comigo porque
não importava o que fizemos ou não— eu estava apaixonada por esse homem,
e todos os dias eu andava em casca de ovo porque não sabia o que dar a ele
para que eu pudesse mantê-lo. Uma aliança de casamento no meu dedo não
parecia tranquilizadora o suficiente quando eu não sabia como diabos chegou
lá em primeiro lugar.

— Amor, eu nem sei por onde começar a abordar isso.

— Não, não posso. Não hoje à noite. É demais para esta noite.— Eu estava
muito esgotada para ouvir mais.— Eu vou dormir.
O que eu não disse foi que eu me enterraria debaixo das cobertas da cama
do quarto de hóspedes e choraria até dormir.
CAPÍTULO QUINZE

Eu estava engasgado com minha própria agonia.

Depois que Rita fugiu da sala e se escondeu em um quarto que não era o
nosso— o mesmo que ela odiava quando eu estava tentando manter a
distância— eu me servi um copo de uísque. Eu tinha uma coleção de garrafas,
mas era um prazer que raramente me entregava. Zach me deu um Andaluzia
Striker de doze anos para comemorar a assinatura dos meus papéis de divórcio,
e eu nunca havia tocado até agora. Um uísque defumado seria normalmente o
meu deleite favorito, com a textura rica e áspera e o aroma forte e refinado,
mas o licor nunca teve um sabor tão ruim. Naquele momento, senti como se a
bebida estivesse manchada de tormento e nojo.
Havia tantas coisas que deram errado esta noite. Tantas.

Passei vinte minutos na minha garagem, sozinho, vigiando minha casa,


mas com muito medo de entrar. Eu sabia que teríamos que conversar sobre a
corrida com meus amigos e quase perdi a cabeça. Desde que ela partiu, tive um
sentimento de culpa no meu estômago, pressionando cada vez mais,
dificultando a respiração.

O que eu estava fazendo com ela?

Mais uma vez, lembrei-me de que estava empurrando uma mulher


vulnerável em um jogo que ela provavelmente não queria jogar. Colocando-a
na minha vida, fazendo-a criar minha filha, o sexo… Eu estava muito fora do
limite ético. Eu tinha certeza de que, neste momento, estava ultrapassando os
limites de algumas leis civis.

....Mas ela se encaixou imediatamente, como se tivesse sido feita para


sentar no meu braço e fazer piadas com meus amigos..., ela enfrentou Zach e o
fez se curvar aos pés com algumas palavras.

Minha garota corajosa e bonita. Não, risque isso, ela era toda mulher.
Minha mulher.

Como eu deveria contar a verdade e vê-la ir embora para encontrar sua


vida, quando todos os dias se tornava cada vez mais óbvio que ela era colocada
nesta terra para que eu pudesse encontrá-la?

Tomei outro gole de uísque, dando boas-vindas à sensação de queimação


deslizando pela minha garganta. Se ao menos pudesse queimar a memória de
Rita tremendo como um coelho assustado, se esquivando. Ela pensou que eu a
machucaria. Acertá-la, pelo amor de Deus.

A imagem mostrada na ressonância magnética voltou para mim; lembrei-


me de todas aquelas rachaduras e sinais; eles fizeram minha pele arrepiar, e
eu tinha certeza agora que tinha uma confirmação do que aconteceu.

Meus dedos se apertaram tanto no copo que eu sabia que minhas


articulações estavam brancas e drenadas de sangue. Aqui estava um
sentimento que não tive com muita frequência. Eu me senti violento. Eu estava
sentado no escuro, tentando beber minha raiva, porque eu poderia facilmente
encontrar o pedaço de merda que colocava as mãos na minha mulher com força
suficiente para quebrar seus ossos e colocá-la em um estado em que nem
mesmo o bisturi mágico de Zach poderia ajudá-lo.

Como eu poderia deixá-la ir quando sabia que algo ruim a esperava do


outro lado? Eu não me importava com a quão brava ela ficou; eu esperava que
ela nunca se lembrasse do menor pedaço de seus anos antes de mim.

Vivemos com tempo emprestado, mas...

— Foda-se!

Coloquei o copo na mesa de café sem nenhum cuidado ou paciência e pulei,


abrindo caminho pelos corredores sem luz e subindo as escadas, até a porta do
quarto de hóspedes. Não bati, mas entrei silenciosamente. A única luz no
quarto era a verde do monitor do bebê, e eu a usei para me guiar até a cama e
dar uma olhada nela. Eu nem tive tempo de trocar de roupa.
Assim que enrolei meu braço em volta de seu corpo macio, soube que ela
não estava dormindo. Ela estava tensa e rígida como um arco, mas não fez
nenhum movimento para me afastar, e isso era tudo o que eu podia perguntar.

— Amor.

— James, não. Estou tão brava com você, eu poderia patearte en las
pelotas26.— Ela murmurou para o travesseiro.

Eu amava quando ela falava em espanhol, soltando o fogo, mas desta vez
a palavra parecia fraca e esfarrapada. Jurei baixinho quando percebi o motivo
disso.

— Por favor, não chore. Sinto muito por como esta noite foi.— A única
resposta que recebi foi um suspiro profundo.— Eu fui egoísta e cruel. Eu nunca
deveria ter sugerido que é difícil lidar com sua condição.

— Mas é.

— Sim, mas não é como você pensa. A parte difícil foi vê-la no hospital,
vendo você se machucar. Tecnicamente, você ainda não se recuperou desse
acidente e, sim, é difícil lidar com isso.

Depois que ela fungou mais uma vez, ela finalmente se virou nos meus
braços, de frente para mim.

26 Patearte en las pelotas— Chutá-lo nas bolas.


Eu não conseguia ver os olhos dela por causa da falta de iluminação, mas
podia sentir o olhar dela.

— Me desculpe, eu gritei.

— Rita, nós dois sabemos que você gosta de ser barulhenta, e me desculpe
por ter gritado também.

Quando ela imitou meu abraço e puxou seu corpo para mais perto do meu,
eu sabia que estávamos no caminho certo. O conforto desse pequeno gesto
reforçou minha decisão de agarrá-la o mais forte possível.

— Ainda precisamos conversar, amor. Há coisas que precisamos


estabelecer em voz alta e clara.

— Eu sei que você nunca me bateu, mas eu tinha tanta certeza de que você
estava prestes a fazer. Foi estranho.

Reunindo meus pensamentos, tentei me preparar para o que eu ia dizer a


seguir, porque sabia que ia odiar todas as sílabas.

— Rita, você teve essa reação porque… você viveu alguns episódios
violentos antes de nos conhecermos.

— O que? Quem?

Eu desistiria de um rim para conhecer e eviscerar o sub-humano que tinha


o intestino torcido para fazê-lo. Fiquei tão tentado a descobrir; a única coisa
que estava me parando era o medo de descobrir algo muito pior. Eu verifiquei
todos os papéis dela duas vezes. Rita não era casada, não era legalmente de
qualquer maneira, mas eu não conseguia esquecer a simples aliança de
casamento que combinava com a minha, que estava envolta do dedo como uma
trela.

— Eu sei que você está ansiosa para descobrir sobre o seu passado, mas
por favor, por favor não me faça falar sobre isso. Eu não aguento. Rita, apenas
o pensamento me prepara para ir à garganta de alguém e cortá-la com um corte
limpo.

Ela colocou as pontas dos dedos nos meus lábios, parando minha
divagação.

— Está tudo bem, você não precisa. Talvez haja alguns pontos positivos
na amnésia, afinal.— Eu não sabia disso?

— Então, tudo bem se deixarmos cair?

Ela respirou fundo e começou a falar em um sussurro.

— Papito, eu quero minhas memórias de volta tanto, mas principalmente


porque sinto que essa vida perfeita que temos é boa demais para ser
verdadeira, mas também nunca senti medo mais incapacitante do que antes.
Então, eu não sei o que aconteceu, mas acho que nunca quero lembrar disso, e
entendo por que você não quer falar sobre isso. O pensamento de outra mulher
tocando em você, muito menos machucando você, me faz querer escalar as
paredes, encontrar a cadela e colocar o rosto em construção.

Bom, pelo menos estávamos na mesma página. Fiz uma rápida observação
mental para nunca deixar Rita perto de Avery, porque não importava o quanto
minha ex-esposa fosse azeda, não achava que ela merecia uma reunião com os
punhos de Rita.

— Há algo mais que preciso que você saiba, amor.

— Mhm, ótimas discussões mais sérias.

O tom seco dela me fez rir.

— Fui sincero quando lhe disse que não gosto de mudar. Eu gosto da
minha vida em ordem. Crescendo, eu nunca fui o atleta estrela ou o cara
popular; meu irmão tomou esse lugar. Eu era o inteligente, então ganhei
controle sobre minha vida eliminando qualquer coisa fora do comum.

— Nerd. Você tem um irmão?

— Cale a boca, e sim, apesar de não estarmos perto. Ele é oito anos mais
velho e mora em algum lugar no exterior.— Nós enviamos um e-mail às vezes,
principalmente nos feriados. A última vez que ouvi falar dele foi através de um
cartão postal quando Chelsea nasceu. Meu relacionamento com meu irmão era
algo que eu esperava que nunca mais fosse criado.

— Eu o conheço?

— Não.

— Então, você realmente não fala nada? E os seus pais?

— Meus pais moram na Califórnia; são pessoas legais, mas nem um pouco
afetuosas.
— Sullivan. Seu nome parece que você vem de dinheiro.

— Eu vim; meu avô possuía uma companhia de navegação. Rita, não


podemos falar sobre minha família agora? Estou tentando lhe dizer que te amo.

Ela ofegou bruscamente e se afastou de mim, e eu sabia que ela estava


tentando olhar para o meu rosto para ler minha expressão. Pena que a
escuridão era sua inimiga desta vez, porque ela veria o quão sério eu estava.
Estava na hora de admitir a verdade. Para ela e para mim mesmo.

— James, eu não deveria ter dito todas essas coisas.

— Isso não importa. Eu estava tentando dizer que gosto da minha vida em
ordem, e você é um desastre bonito que lança todo o meu planejamento
meticuloso pela porta, e eu amo cada parte de você.

— James.

— Não, me escute, eu quero que você me prometa que não importa para
onde isso vá, você se lembrará. Com ou sem suas memórias, você se lembrará
de que eu te amo.

Eu a empurrei mais forte no meu peito para reforçar minhas palavras. Eu


colocaria em pedra se fosse necessário, porque poderia haver um dia em que
essas palavras fossem minha única tábua de salvação.

— Você fala como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.— A voz dela
era pequena e insegura; minha reação foi muito rápida.

— Não, eu só quero que você tenha certeza.


No segundo seguinte, fui jogado de costas com as pernas de Rita circulando
meu torso e seus lábios gordos traçando linhas no meu pescoço. Ela acendeu
meu sistema em alguns momentos.

— Foda-se, Rita.

— É exatamente o que vou fazer, James.

Eu sabia que ela podia sentir minha ereção crescendo e empurrando sua
bunda. Pelo rolo de quadril que ela me deu, eu sabia que ela gostou.

— James, eu quero ver você.

Em conformidade, apertei o interruptor da lâmpada com luz suave na


mesa de cabeceira e a liguei, encontrando seus atraentes olhos negros
brilhando de desejo.

— Olá, linda.

— Você também é lindo, você sabe.— Ela levantou a mão para rastrear as
linhas do meu rosto, como se estivesse procurando por algo.— Seu rosto é
perfeito, um pouco macio, um pouco robusto.

Eu me levantei para plantar um beijo nos lábios dela. A única que deveria
receber elogios era ela, mas na maioria das vezes eu não conseguia encontrar
as palavras certas para retratar o quão perfeita Rita poderia ser.

Ignorando totalmente minha necessidade de devorar seus lábios e chupar


sua língua até ficarmos sem fôlego, ela quebrou nosso beijo e continuou a
deslizar suas mãos pelo meu corpo, as unhas dela arrastando linhas no meu
pescoço. Francamente, se ela me marcasse com suas garras, eu não ficaria
bravo. Deixe-me ficar manchado da Rita.

— Amor, acho que não tenho paciência...— O aperto dela no meu pescoço
aumentou, cortando as minhas palavras.

— Cale a boca e deixe-me aproveitar meu marido, James.— Ela beijou


meu pescoço e a parte superior do meu peito, deixando um rastro de fogo para
trás. Finalmente, ela começou a desabotoar minha camisa com a mão livre,
dando-se mais pele para lamber, beijar e morder.

— Você vai me deixar todo machucado. Eu pensei que era o meu trabalho,
Rita.— Toda vez que fizemos sexo, ela me empurrava para agredi-la e
aumentava seus limites, o que era estranho para mim no começo, mas agora
eu mal podia esperar para tomar meu tempo e deixar sua bunda vermelha.

— Sua hora chegará.— Com um puxão final, minha camisa se abriu e ela
inalou bruscamente.— Ninguém tão inteligente deve ter esse conjunto de
abdominais.

Bem, eu tinha que agradecer a Zach por me arrastar para a academia toda
semana. Eu me exercitei porque era bom para mim, não para construir
músculos vaidosos, mas se eles eram algo que Rita gostava, então inferno,
fiquei feliz por gostar dos pesos.

— Como o que você vê?


Sua resposta veio na forma de uma lambida lenta das minhas linhas V até
o meu peitoral, onde ela circulou meu mamilo e afundou os dentes na pele
escura. Eu cedi sob ela como uma onda de eletricidade esmagou meu corpo.

— Fácil, seu garanhão, não me jogue da cama.

— Então pare de me provocar.

— E onde seria divertido nisso, James?— Outra mordida, desta vez no


meu outro mamilo.

— Rita.— Eu disse avisando, mas falei rápido demais porque a próxima


coisa que soube foi que ela estava deslizando para baixo, abrindo habilmente
minha calça e puxando meu pau para fora. Eu estava na boca dela antes de ter
tempo de respirar novamente.— Oh, porra.

Deus, por favor, deixe todas as nossas lutas terminarem assim.

— Diga meu nome novamente.

— Rita.— Respondi instantaneamente, e ela girou a língua na minha


ponta.

— Novamente.

— Rita.— A próxima coisa que senti foi a parte de trás da garganta dela,
e o quarto começou a girar. Merda, o mundo inteiro começou a girar.
Meu corpo assumiu o controle e meus quadris dispararam, fazendo-a
engasgar alto. Meu instinto era me afastar e não a machucar, mas Rita não me
deixou.

Bruxa insaciável, ela estava lutando para respirar enquanto me engolia


até minhas bolas.

— Foda-se, pare.

Ela levantou a cabeça e olhou para mim com as sobrancelhas levantadas.

— Você não gosta disso?

Gostar disso? Eu estava pronto para adorar os pés dela.

— Estou muito perto de me fazer de bobo e não estou pronto para


terminar.

Eu assumi o comando e virei a mesa, pegando-a pelos braços e jogando-a


de costas ao meu lado. Ela despertou uma parte selvagem de mim que eu não
conseguia controlar muito bem, mas estava começando a me acostumar a me
soltar com essa mulher.

Empurrando meu peso corporal nela, forcei as pernas a se abrirem.


Percebi que não havia nada sob o vestido de noite de cetim que a cobria, e meu
pau caiu diretamente em seu núcleo aquecido, fazendo-nos gemer. Procurando
mais contato, ela começou a se mover, e eu fiz o mesmo, desfrutando da
inundação de prazer e dos deliciosos sons suaves que escapavam de sua boca.
Mal podia esperar para fazê-los se transformar em gritos.
— Devemos ir para a nossa cama, papito?

Naquele momento, eu não conseguia nem responder a ela, muito menos


me mexer. A única resposta que tive foi outro estremecimento, esfregando meu
eixo nela mais algumas vezes para lubrificação, o objetivo de sua entrada
acolhedora.

Carreguei-a com cuidado, dando-lhe tempo para se ajustar à pressão.

— Tudo bem, querida?

— Tão bom. Por favor, James, mais.

— Mais?

— Eu preciso de você o mais fundo possível. Fique sob minha pele. Entre
na minha alma.— Eu perfuraria meu caminho até lá, se fosse necessário.
Usando meu braço esquerdo, prendi a perna dela por cima do ombro, abrindo-
a, pronta para levá-la no passeio.

Ela afundou as unhas no meu peito e gritou.

— Muito?

— Nunca, agora me foda.

E eu fiz. Cru. Difícil. Sem sentido. Até que nós dois estávamos balançando
à beira da realização. Rita estava ali comigo, e ela não conseguia parar de gritar
meu nome, então eu rapidamente selei seus lábios com os meus.
— Vamos, amor, chegue lá. Eu preciso ver você esmagar em pedacinhos.—
Foi a vista mais bonita da face deste maldito planeta, e eu estava aqui na
primeira fila, curtindo o show.

Depois de mais três golpes, ela explodiu em desejo, vindo com força e
tremendo de satisfação. Seus mamilos enrugados me convidaram a prová-los,
então eu desci e chupei um com ansiedade, intensificando sua reação. Quando
senti as paredes dela se fechando ao meu redor, ordenhando meu pau dolorido,
gozei. O orgasmo me levou embora, e eu entrei nela.

Rita estava mole sob mim, nós dois lutando para recuperar a capacidade
de respirar.

— Eu amo como lutamos.— Disse ela finalmente depois de muitos


minutos, e eu rolei, lembrando que provavelmente estava esmagando seus
órgãos.

— Eu sei, eu estava lá com você.— Nunca, nos meus 28 anos de vida, senti
algo mais selvagem ou cru. Se o mundo tivesse pegado fogo, não teria me
parado. Eu precisava tê-la, sentir que éramos um.

Depois de hoje, eu precisava possuir o corpo dela. Eu não estava


familiarizado com tanta urgência, mas aqui estávamos agora.

Agora eu era um selvagem que queria marcar essa mulher e, quando ela
adormeceu, descansando a cabeça no meu ombro, o contentamento tomou conta
de mim porque sabia que minha semente estava saindo dela. Você não pode ser
mais primitivo ou possessivo do que isso.
Quando a manhã rolou, acordei na cama desconhecida, sozinho, ainda
vestido com as roupas de trabalho de ontem. Minha camisa foi aberta e as
mangas foram arrancadas de quão forte Rita me arranhou. Minha calça estava
deslizando pelos meus quadris e minha boxer estava caída com a ereção
matinal espreitando para mim debaixo dela. Eu estava uma bagunça, mas
entre o meu turno de dezesseis horas ontem, a luta e as paradas que adorei
fazer, toda a minha força desapareceu.

Ugh, eu precisava me recompor. Eu precisava de um banho e precisava de


uma maldita xícara de café. Saí da cama e me enfiei na calça, pronto para
encontrar Rita e arrastá-la no chuveiro comigo. No corredor, fui recebido por
uma presença bastante surpreendente— e não sabia dizer que era a mais feliz.

— Zach, o que diabos você está fazendo na minha casa?— A mão dele
estava na porta do banheiro de hóspedes e ele se virou para me assistir.

— Fodendo finalmente. Sullivan, são onze e meia. Eu estava começando a


pensar que você morreu dormindo.

Onze e meia? Eu nunca dormi tão tarde, nem mesmo nos meus dias de
folga.
— Sim, bem, eu tive um dia difícil.

— Eu posso ver. Você está fazendo vergonha em sua própria casa.— O seu
sorriso idiota me irritou.— Droga, essa Rita é uma mulher ou uma chita?

— Com licença?

— O seu pescoço e aquela pobre camisa parece que ela ficou louca com
você.

Espelhei seu sorriso antes que eu pudesse parar minha reação. Estávamos
muito loucos; nós éramos cruéis.

— Eu ainda não sei o que você está fazendo na minha casa, imbecil.

— Eu vim para dar um high five por você fazer sexo decente pela primeira
vez em sua vida.— Eu dei um soco no ombro dele e franzi a testa para ele como
aviso para observar sua boca estúpida.— Sinto muito, me desculpe. Não quis
desrespeitar a senhora que não tem ideia de que está na cama com um
estranho.

Se essas palavras tivessem vindo de mais alguém, eu teria arrastado sua


bunda para fora e brigado como se fôssemos bêbados do lado de fora de um bar
barato em uma noite de sábado. Ele não quis dizer nada; eu sabia que ele não
quis. Ele brincou e escondeu seu grande coração por trás do sarcasmo— ele
propôs à garota uma piada sobre a bunda dela, pelo amor de Deus— mas sua
observação me chicoteou no rosto. Eu tinha certeza de que isso poderia ser visto
no meu rosto, porque ele se aproximou e colocou uma palma grande de urso no
meu ombro.
— Ei, cara, me desculpe, tudo bem? Eu não quis dizer isso.

— Eu sei, mas isso não a torna menos verdadeiro.

— E nós dois sabemos que oitenta e seis por cento das mulheres na
América só podem esperar conhecer um cara tão atento quanto você, então
talvez não seja tão ruim assim.

Lá estava ele, uma vez na lua azul, a armadura caiu e ele teve um
momento. Eu sabia que podia contar com sua bunda estúpida toda vez que
precisava.

— Apenas oitenta e seis?— Eu disse rindo.

— Sim, o resto está procurando um homem de verdade.

— Estou na lama tão fundo que suas piadas não podem mais me tocar.

— Meu homem, eu gostaria de saber como ajudar, mas isso está muito
acima do meu salário. Não sei o que lhe dizer. Você parecia feliz quando saiu
daquela sala; ela parece feliz, você a mantém segura e saudável. Ainda é
estranho pra caralho, mas não é como se você a estivesse mantendo em
cativeiro no porão.

— Mas estou melhor? Estou mentindo para a vítima de um acidente.

— Estou realmente tentando apoiar, Sullivan. Então você deu a ela um


lar, um bebê e um sexo comum com você. Eu ainda acredito que ela poderia ter
isso pior.
Ele não fazia ideia. Memórias de Rita transfiguradas com medo em nossa
cozinha voltaram e trouxeram um gosto amargo à minha boca.

— Estou surpreso que você esteja a bordo. A julgar pela sua reação inicial,
pensei que você entraria aqui e gritaria o que fiz na cara dela. Ou chamaria a
polícia para mim.

— Primeiro, se ligássemos para a polícia toda vez que um crime menor


fosse cometido, meus pais iriam à falência por nos representar no tribunal;
segundo, o que eu sei? A última vez que vi uma garota de quem gostava, tornei
sua vida um inferno por meses.

Cara, ele era um idiota para a querida London. Ela poderia fazer muito
melhor do que esse idiota. Eu sabia; ela sabia, e ele também, mas ninguém
poderia amá-la como ele. Ele estava absolutamente chicoteado.

E eu também. Novamente. Exceto que desta vez, ela valeu a pena.

— Eu a amo, Zach.

— Eu sei que você faz, você é um vagabundo. Você provavelmente se


apaixonou por ela antes de desembarcar em Chicago.

— Então, o que eu faço se um dia ela acordar e se lembrar de que sua vida
está em outro lugar, longe de mim.

Zach respirou fundo e balançou a cabeça.

— Eu não posso cobri-lo por você, cara. Você caiu de joelhos quando uma
mulher que era uma óbvia garimpeira, mãe descuidada e uma cadela enorme
o deixou. Esta, que realmente verifica todas as suas caixas? Se você a perder,
entrará na loucura e terei que oferecer um bom lar para Alexandria.

Ele não estava errado. Eu me senti impotente só de pensar em começar de


novo, só que desta vez não haveria mulher perfeita caindo em meus braços. Ela
se tornou uma parte tão grande da minha vida— meu coração— em tão pouco
tempo. Se ao menos eu a tivesse conhecido um dia antes, um golpe na cabeça
mais cedo, como teria sido minha vida?

— Então, dê a ela um motivo para ficar depois que ela se lembrar.

— Foi assim que você convenceu London a perdoar sua bunda por
encontrá-lo em um abraço com sua ex-noiva?— Eu nunca perguntei o que
aconteceu naquele dia depois que ela o deixou; tudo o que eu sabia era que ele
deixou o hospital um homem quebrado e voltou feliz e apaixonado, como eu
nunca o tinha visto antes.

— Sim, dei a ela todo o charme e minha genitália mágica.— Eu revirei os


olhos para ele.— Eu a amava muito e esperava perdão. No final do dia, é tudo
o que podemos fazer.

Ele estava tão certo que era assustador. Zach não era do tipo que levava
as coisas a sério ou dava bons conselhos, mas de alguma forma hoje ele estava
na zona, pregando as duas coisas.

— Obrigado, cara. Deixe-me trocar e escovar os dentes, e eu te encontro lá


embaixo.
— Estamos no seu pátio dos fundos; as meninas queriam tomar café lá
fora.

— Ótimo, me salve uma xícara. Rita as joga para dentro como se fossem
doses de tequila preta.

Eu não estava brincando; ela passava quatro xícaras por dia de alguma
forma. Toda aquela cafeína não era boa para ela, ou assim eu continuava
dizendo, mas ela não me ouviu. Por que ela faria? Não foi como eu estudei por
anos para poder dar esse conselho.

Mulher doida e louca.

Porra, como eu a amava. Parecia tão libertador poder dizer isso o tempo
todo, mesmo na minha cabeça.

Alguns minutos depois, estava composto e saí para encontrar todo mundo
ao redor da mesa, Chelsea montando nos ombros de Zach e puxando seus
cabelos para uma vida querida. Isso deve ter sido doloroso; minha menina teve
um aperto forte. Eu sabia porque senti. Talvez ela entrasse em queda de braço
ou algo assim.

Rita olhou para cima e sorriu para mim, esticando uma mão na minha
direção, e eu a peguei com gratidão.

— Bom dia, cabeça sonolenta. Temos convidados.

— Eu posso ver. Encontrei Ford esgueirando-se nos corredores como um


rato doméstico. Você ainda não me disse o que está fazendo aqui, cara.
— Oh, eles têm ótimas notícias. Sente-se. Eu consertei seu chá preto.

Sentei-me ao lado dela e tomei um gole da enorme xícara. Todo mundo


tinha uma, exceto Zach, que estava bebendo uma garrafa de cerveja.

— Atingindo a bebida tão cedo, meu amigo? Oh, isso é uma intervenção
para o alcoolismo de Zach?

— Cale a boca, idiota, eu vim direto do hospital. É hora do jantar para


mim.

— De qualquer forma.— Disse London, chamando minha atenção. Ela


parecia um dia ensolarado na praia, como sempre.— Estamos aqui para
convidá-lo para a nossa festa de noivado neste fim de semana. Já conversamos
com a chefe Sadin e limpamos o cronograma para todos os convidados. Você e
Wendy ainda estarão de plantão, mas não precisam estar no hospital, portanto,
tenha seu pager com você.

Boas notícias, de fato. Isso estava realmente acontecendo; meu homem


Ford estava se estabelecendo. Bem, de muitas maneiras, ele já se acalmou, mas
seria estranho ver isso realmente acontecendo. Ele odiava a instituição do
casamento desde que seu primeiro compromisso falhou, e agora estava ansioso
para trazer London na frente de um ministro e dizer eu aceito.

De repente, me ocorreu que Rita e eu nunca teríamos isso: o casamento, o


bolo, a primeira dança, e eu adoraria nada além de vê-la andando pelo corredor.

— Isso parece ótimo. Como você se sente sobre isso, Zach?


Se a carranca em seu rosto fosse um indicador, eu diria que ele odiava.
Essa festa pode trazer muitas lembranças feias para ele.

— Não é uma festa de noivado. É apenas um almoço no lado do rio com


amigos e familiares. Meus pais estão chegando e a tia e o tio de London estão
vindo da Flórida.

Rita riu e tomou um gole da xícara.

— Parece uma festa de noivado para mim. Por que tão resistente, Zach? É
um evento feliz.

— Porque estamos noivos há meses; todo mundo sabe. Eu quero um


casamento.— Ele bateu o pé no chão como uma criança, e Chelsea fez um som
de acordo com ele. Esses dois tinham um vínculo estranho.

London entrou e o acalmou com um toque suave no joelho.

— E teremos um casamento em mais algumas semanas, querido.


Reservamos o local; conversamos com os vendedores… nós vamos nos casar.
Mas você sabe o quanto minha prima queria dar essa festa para nós. Não pude
partir o coração dela e dizer não.

Rita estava derretendo em sua cadeira ouvindo-a.

— Oh, London, sua prima parece um anjo,— disse ela, e Zachary bufou
sarcasticamente.

— Mais como um demônio sexy. E adivinhe qual é o nome dela, Rita.


Por que esse nome era tão engraçado para ele?

— Umm… amnésia, Zach. Eu não sei o nome dela.

— Paris. O nome dela é Paris.

— Zach!— London interveio novamente, caso contrário, estaríamos aqui o


dia todo debatendo o fato de que as pessoas nomeavam seus filhos em
homenagem às cidades.— Então, esperamos que vocês três estejam lá.

Ela estava sendo legal, mas não havia escolha no assunto, então eu disse
a ela exatamente isso.

— London, querida, sou o padrinho dele e ele precisa do apoio. Não


sentiríamos falta do mundo.

— Eu não entendo, papi; esta é uma celebração do amor deles. Zach, você
deve parar de ficar mal-humorado e agradecer que essa linda mulher queira
levá-lo como marido.

Eu adorava que ela estivesse ficando confortável com as pessoas da minha


vida, mas fiz uma anotação para atualizá-la com o passado de Zach assim que
eles saíssem, para que pudéssemos evitar conversas como essa no futuro.

— Rita, amor, não é isso. Zachary sabe como ele tem sorte de ter a London.
Você não precisa ir toda mamãe.

— Eu não estou. Só estou dizendo que ele deveria mostrar mais


entusiasmo. Quantas festas de noivado se recebe?
Essa deveria ter sido uma pergunta retórica, mas do outro lado da mesa,
meu melhor amigo limpou a garganta e ajeitou Chelsea, colocando-a no joelho
e dando-lhe as chaves do carro para brincar.

— Esta seria a segunda para mim, Rita. A primeira vez não foi tão boa.

— Oh...— O rosto dela caiu, e eu e London colocamos a mão no ombro


dela.— Ok, ok, culpa da Rita. Eu não sabia que você era divorciado.

— Eu não sou; não chegou tão longe.

Rita deu-lhe um aceno de entendimento.

— Bem, desta vez chegará tão longe, então que tal tirar o melhor proveito
desta festa e ficar bêbado.— Minha linda garota, sempre engenhosa e pronta
para pular de pé. Não é à toa que Zach não pôde deixar de sorrir.

— Então, você está se oferecendo para me manter longe de conversa fiada


e manter os copos de champanhe vazios comigo?

— Champagne? O que nós temos dezesseis? Vamos fazer doses de bebida


de verdade.— Ela mexeu as sobrancelhas.— Rum de Cuba.

— De acordo. Eu posso até gostar, afinal.

Eu ri e, pelo canto do olho, vi London abraçando Rita e sussurrando um


suave 'obrigada' a ela.

Parecia que a vida estava melhorando a cada dia, e eu estava me


acostumando cada vez mais.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Uma lágrima febril caiu na página em que eu estava desenhando uma


família de ursos para o livro de histórias da Chelsea. A onda de remorso no
meu peito ameaçou me derrubar.

Por que apenas me lembro da feiúra? Por que não posso simplesmente
acordar e ter lembranças minhas em um vestido de noiva ou trazendo minha
filha para casa?

Minha cabeça estava latejando quando alguém entrou e bateu um martelo


no meu crânio, tornando ainda mais difícil assimilar a imagem que estava
voltando para mim.
Meu pai não me jogou para fora de casa, eu saí. Com um homem. Eu saí e
ele me disse para nunca mais voltar.

A imagem apareceu embaçada no começo: eu estava sentada aqui, na


mesa de jantar, preparando tudo para começar a pintar quando o rosto de meu
pai apareceu na minha cabeça. No começo, pensei que era só porque estava
sentindo falta dele. Papi e mamá eram bons pais— eles não amavam no sentido
tradicional; eles não me embalaram e leram histórias como eu fiz para minha
filha, mas nunca fiquei com fome ou suja e nunca fui apresentada ao cinto de
meu pai. Eles trabalhavam duro todos os dias e me davam tudo o que tinham,
me colocavam na escola para que eu pudesse ter uma vida melhor. Durante
toda a minha vida, senti-me agradecida e procurei uma maneira de retribuí-
los, e lembrei-me de quando meu pai me contou 'Ir a la escuela y hacerlo mejor
por ti mismo'— vá para a escola, faça melhor por si mesma.

Eu não fiz. James me levou embora.

Peça por peça, a memória se construiu em minha mente, trazendo tudo de


volta.

Era meu vigésimo aniversário quando recebi uma carta de aceitação da


Universidade de La Habana— Eu teria sido a primeira da minha família a
frequentar a faculdade. Papi, abriu a carta e leu para mim. Ele estava tão
orgulhoso.

Um gosto amargo entrou na minha boca pensando no que aconteceu


depois.
— Mi hija27, você fez isso. Você será uma contadora. Rosa Maria.— Ele
chamou minha mãe.— Venha aqui para ver isso. A universidade a quer.

A figura completa da minha mãe apareceu na moldura da porta, usando


um vestido mesma cor do pôr do sol e limpando as mãos molhadas no avental
que estava pendurado no pescoço.

— Não, você está falando sério, Carlos?

— Si, si , e ela recebeu uma bolsa de estudos. Rosa Maria, nossa filha fará
um nome para si mesma. Talvez ela tenha uma daquelas casas chiques da
cidade.

Suas palavras me fizeram afundar minha cabeça entre meus ombros; eles
estavam aplaudindo e cantando, e eu estava reunindo meus nervos para abrir
a minha boca. Isto era meu aniversário, afinal, e eu me daria o quê, algo
merecido.

— Eu não vou.

Em segundos, a sala caiu em silêncio, toda a felicidade diminuiu, drenou,


empurrada pela minha impertinência. O rosto do meu pai ficou sóbrio e seus
olhos escureceram olhando para mim e carregando mil avisos.

27 Mi Hija— Minha filha.


— Repita, Rita.— Sempre que meu pai dizia para repetir algo, não repetir
significa que ele não tinha ouvido. Isso significava que ele estava dando uma
segunda chance de retificar o que foi dito.

— Papi, ouça...

— É melhor você não me desafiar, Rita.

— Eu não quero ir.

— Você não quer fazer algo que valha a pena com sua vida? Você é uma
garota, Rita; você precisa dessa educação para apoiá-la, se quiser ter uma vida
melhor.— Lá estava, a coisa da garota de novo. Papi estava sempre triste por
causa da minha fraqueza biológica, e lutei com unhas e dentes para provar que
ele estava errado. Ele está assustado porque, embora ele não queira que um filho
carregue seu nome, o mundo vai me ver como fraca. Hoje eu me manteria firme
e escolheria fazer as coisas do meu jeito, como qualquer filho faria.

— Eu quero fazer algo de mim mesma, e farei. Eu vou provar para você,
mas aqui não.

— O que você quer dizer? Você foi aceita em outro lugar? Rita, isso são
ótimas notícias.

Ele amoleceu um pouco, e o nó no meu intestino se apertou.

— Não, eu não vou para a universidade. Não este ano de qualquer


maneira.

E eu estaria morta antes de ser contadora. Quem iria querer fazer aquilo?
— Rita!— Minha mãe chorou e cobriu a boca com as duas mãos e papai
acenou. Ele não tinha paciência para lágrimas.

— Escute-me, você irá obter esse diploma. Vou arrastá-la para a faculdade
se isso for preciso. Isso é sobre aquele garoto que você está vendo?

Não ajudou minha situação que papai o odiava.

— A decisão é minha, pai. Minha, sozinha. Não estou dizendo que estou
desistindo da escola, mas quero tentar outra coisa primeiro.

— O que esse cabrón inútil lhe disse? Se ele colocar mais ideias estúpidas
na sua cabeça, vou começar a caçá-lo e quebrar seu crânio com meu facão.

Tons de vermelho começaram a aparecer nas bochechas, testa e pescoço,


nos olhos queimando com fúria consumidora.

— Papi.

— Não!

— Eu serei sua esposa; posso fazer muito mais coisas na América do que
posso aqui.— Eu falei, olhando-o diretamente nos olhos.

— Não fale essas palavras sob meu teto, Rita. Nenhuma filha minha será
uma prostituta. Una Puta, é isso que você quer?— Ele poderia muito bem ter
me dado um tapa.

— Você vai para a faculdade e este é o fim de tudo. Agora saia da minha
frente, eu não quero olhar para você agora.
As palavras caíram ao meu redor como uma cachoeira de dor.

— Me escute.— Tentei implorar, mas ele só franziu a testa mais fundo na


minha direção.

— E você não verá mais esse garoto. Ele é veneno. Veneno! Desde o dia que
ele veio a esta cidade, você foi a piada de todos.

Ele não teria que passar por tanta vergonha na frente dos amigos do bar
se ele tivesse um filho.

Eu tive que tentar.

Eu tive que sair.

Eu tive que lutar por mim.

— Estou indo embora. Estou me mudando com ele para a costa leste, para
Nova York ou Boston, em algum lugar onde eu possa encontrar um emprego
como artista. Papi, estou saindo daqui a duas semanas, e eu quero sua
bênção.— Eu queria a aprovação dele mais do que qualquer coisa.

Seu rosto ardente começou a ficar um tom preocupante de roxo.

— Você me escuta, criança, você ouça! Você. Não. Vai. Vê-lo novamente
enquanto morar debaixo do meu telhado. Se você quiser sair, faça-o, mas
também pode fazer isso hoje porque se você optar por jogar sua vida fora por
um homem que não vale a merda que pisei esta manhã, você estará morta para
mim.
A adaga de seu desgosto pressionou meu núcleo, me cortando e me
rasgando ao meio. Eu nunca esperava que tais palavras odiosas viessem da
boca do meu pai. Eu sabia que ele nunca gostou que eu estava vendo alguém,
mas isso?

Meu próprio pai.

Ele queria que eu fizesse do seu jeito, e isso nunca funcionaria. Eu poderia
fazer isso por minha conta.

Meu pai queria que eu estivesse segura e eu queria deixá-lo orgulhoso, mas
eu também estava apaixonada. Louca. Loucamente. Meu homem nunca
esperaria que eu terminasse faculdade aqui, e ele me deu muito o que esperar.
Ele me contou todas as coisas incríveis que poderíamos fazer: melhorar nossas
vidas, começar uma família e talvez fosse muito cedo para pensar sobre isso,
mas eu queria tanto.

Corri para o meu quarto pequeno e lotado e arrumei tudo o que possuía em
uma bolsa de ginástica e uma mochila— ninguém poderia dizer que eu possuía
muita coisa— e arrastei-as para fora de casa. Minha mãe estava chorando e me
implorando para parar de ser teimosa e agir assim.

Parar de ser teimosa? Como eu poderia fazer isso? Eu era filha do meu pai
depois de tudo.

— Rita, volte para casa. Você vai me matar se fugir.

Tão dramática, mamãe.


Olhei para trás mais uma vez e pela janela quebrada da nossa sala, vi meu
pai de costas viradas, assistindo ao jogo como se nada tivesse acontecido. Ele
nem se importava em gritar com sua única filha— sua única filha. Isso me fez
decidir. Eu terminei.

Eu me senti doente. A inundação de emoções era arrogante. Era como se


eu estivesse revivendo tudo de novo, e a dor era crua e amarga. Eu queria
chutar e gritar e, o mais importante, queria que James voltasse para casa
depois da corrida para poder gritar com ele. Meu coração precisava encontrar
uma maneira de descarregar e, irracionalmente, coloquei a culpa em seus
ombros.

A porta da frente se abriu e James entrou. Chelsea estava rindo muito, e


ele estava fazendo voz de bebê conversando com ela, jogando algo no chão e
vindo na minha direção.

— Bem, as pessoas na loja nunca esquecerão a nossa visita. Nossa filha


derrubou uma pirâmide de caixa de cereais. Afastei meu rosto dela por trinta
segundos e tudo aconteceu...— Ele parou para colocar Chelsea em seu canto
onde estavam todos os brinquedos e me encontrou surtando, agachada no sofá,
enxugando minhas lágrimas.— O que aconteceu?

Seu alarme estava visível.

— Você me levou embora.

As palavras flutuaram entre nós por muitos segundos, e eu pude


praticamente ver o sangue escorrendo do rosto do James. Ele ficou pálido e
seus olhos se arregalaram, com medo engolindo suas feições.
— Ri-Rita...— ele tentou falar, mas as palavras falharam. Sua atitude em
relação à minha acusação foi suficiente para mim. Ele sabia o que fez; ele me
levou para longe da minha família.

— Você me levou embora. É por isso que você não queria que eu me
lembrasse de nada! Você estava escondendo isso de mim.

Minha voz ficou tão alta quando terminei a frase que vi Chelsea vacilar e
largar a chupeta, e me odiei por isso. Eu estava tão excitada que nem pensei
que minha filha estava no cômodo.

Eu precisava me controlar.

— James, fale!— Eu odiava esse silêncio juvenil, como se o problema


desaparecesse se não falássemos sobre isso. Eu precisava falar sobre isso, e
com certeza, eu precisava de alguém para brigar comigo sobre isso.

— Baby, sinto muito… amor, Rita, ouça, por favor. Apenas me dê uma
chance de explicar.

Suas mãos estavam tremendo, e ele deu três pequenos passos em minha
direção com cuidado, como se estivesse com medo de que eu pudesse sair pela
porta a qualquer momento.

Me ocorreu que os papéis foram revertidos desde a nossa última luta;


agora eu estava espumando de raiva e ele estava assustado. Assustado. A
angústia sufocante ao seu redor era quase visível, e isso me fez sentir
arrependida por desencadeá-lo.
— Estou deixando você explicar, então diga alguma coisa.

— Eu estava perdido e depois vi você. Eu perdi minha cabeça… Eu sinto


muito. Rita, por favor, você disse que se lembraria que eu te amo.

Ha? Não havia como eu esquecer, não depois que ele dançou devagar
comigo a noite toda na festa de noivado de Zach e London e me fodeu como um
maníaco depois.

— Que diabos, James? Eu sei o que você fez, mas isso não muda o fato de
eu estar brava. Eu perguntei a você, James. Eu perguntei por que o meu pai
me odeia, e você não disse uma palavra. Mas você sabia o tempo todo. Ele me
expulsou porque eu queria me mudar para cá com você?

— O que?!— Ele gritou, chocado.

— Meu pai me deserdou por sua causa. Porque eu escolhi você!

James desviou o olhar e respirou devagar, com os ombros afundando,


liberando toda a tensão.

Mais uma vez, ele escolheu o silêncio, e isso me deixou louca.

— James, eu não pretendo falar com a porra das paredes, então é melhor
você me olhar.

Ele levou um bom tempo para se recompor e me confrontar. Trancamos os


olhos. Eu fiz uma careta, mas tudo o que consegui em troca foi um olhar suave,
destinado a me acalmar.
— Oh, amor, é disso que se trata?

— É importante para mim, James. Meu coração se partiu cem vezes


porque eu não sabia o que aconteceu.

— Minha linda garota.— Em dois passos, ele estava ao meu lado, e eu fui
puxada para um abraço de urso tão apertado que eu tinha medo que minhas
costelas quebrassem.— Não fique brava, não. Vamos conversar.

Ele era tão carinhoso que era difícil manter meu ato enfurecido junto
porque, três segundos depois, senti meu corpo derreter. Seu calor era viciante.
Eu me senti segura e querida— ele me segurou como se eu fosse o mundo
inteiro dele, como se eu não gritasse tão alto que quase fiz nossa filha chorar,
como se eu não pudesse fazer nada errado aos olhos dele...

Minha tristeza e raiva derreteram. Não foi culpa dele; nunca foi, mas
fiquei tão magoada por perder minha família— novamente— que eu precisava
de um bode expiatório para lidar.

Eu estava tão errada.

....Porque valeu a pena...

— Papi, sinto muito pela maneira como agi.

— Não se preocupe, eu amo suas pequenas birras. O que você se lembrou?

Eu me aninhei mais perto dele e esfreguei meu nariz em seu pescoço,


inalando o aroma cru do James.
— Meu pai me expulsou porque eu queria morar com você na América e
sabia que você não esperaria que eu terminasse a faculdade. Ele ficou bravo
quando eu recusei minha bolsa por você.

— Sente-se e assista a Chelsea por um segundo. Vou fazer uma xícara de


chá para que possamos conversar sobre isso, tudo bem?

Quando finalmente assenti, ele me deixou, entrou na cozinha, deixando-


me sozinha com a bebê que estava me observando, de olhos arregalados.

Sim, bebita28, sua mãe é uma vadia louca.

Fui dar um beijo na cabeça dela, e ela esticou as mãos para um abraço,
então me sentei para levá-la ao meu peito. Deus, essa garota era seriamente
perfeita.

Talvez eu pedisse a James para levar Chelsea de férias a Cuba, trazê-la


para a casa dos meus pais. Não havia como alguém dar as costas a essa garota.
Minha mãe derretia à vista e meu pai engolia suas palavras se pudessem ver
minha filha porque, apesar de seus medos e dúvidas, fiz algo de bom.

James voltou com duas xícaras fumegantes, encontrando-me no chão


abraçando a Chelsea.

— Deixe-a brincar com os brinquedos de pelúcia; ela ficará bem.

28 Bebita— Bebê
Ele se certificou de que ela estava ocupada com outra coisa e me deu uma
mão para me ajudar. Quando nos acomodamos no sofá, ele enfiou um braço em
volta do meu ombro.

— Rita, eu não te levei embora, e certamente não fiz você desistir de ir


para a faculdade.

Espere o que?

— Você não fez?

— Não, amor. Sinto muito por você não estar mais em boas relações com
sua família, porque sei que dói. Eu gostaria de poder melhorar, mas minhas
mãos estão um pouco atadas porque nunca os conheci. Eu nunca ficaria entre
você e seu pai. Porra, eu nunca estive em Cuba.

— Nunca?

— Não.

— Oh, devemos ir a Cayo Coco29; eles têm a melhor praia do mundo.

— Umm, não, isso seria Daytona30.

29 Cayo Coco— é uma ilha tropical do grupo Jardines del Rey, ao largo do centro de Cuba.

30 Daytona Beach— é uma cidade na costa atlântica da Flórida.


Eu revirei meus olhos com tanta força nas palavras dele que quase me dei
dor de cabeça.

— Olha, amigo, Daytona pode ter a NASCAR, mas você não pode me dizer
que a areia é tão branca ou a água é tão azul quanto em Cuba. É o paraíso na
Terra.

Por um segundo rápido, seu aperto aumentou.

— Você sente falta disso?

Eu não conseguia me impedir de suspirar, uma sensação amarga de


melancolia lavando.

— Eu faço um pouco. Eu amo isso aqui; é aqui que você e a Chelsea estão,
mas eu gostaria de poder voltar. Não me interprete mal, a vida em Cuba não é
um passeio no parque, mas eu gostaria de visitar algumas vezes.

— Então iremos.— Disse ele sem hesitar.— Não precisamos da permissão


do seu pai para tirar férias, amor. Eu adoraria ver o Cavo Coco.

— É Cayo Coco, você pendejo.

— Eu sou um o que agora?

Adorável gringo.

— Eu te chamei de idiota, mas não se preocupe, eu disse de uma maneira


amorosa.
— Sim, eu não gosto desse apelido.— Mas seus olhos estavam sorrindo.

— Você gosta mais de papito? Você gosta quando eu olho para você e te
chamo de papai?— Eu arrastei as minhas unhas no peito dele para acentuar
minhas palavras, e pela respiração aguda que ele inalou, eu diria que
funcionou.

— Droga, Rita, ainda não terminamos de conversar.

— Certo. Você realmente não me levou embora?— Ele balançou a cabeça


parecendo arrependido.— Não acredito que saí com outro homem. Eu tinha
uma bolsa de estudos completa e recusei. Por que eu faria isso? Foi o homem
que… que me bateu?

Ele virou pedra ao meu lado, seu corpo ficou rígido e seu rosto congelou,
mas ninguém podia negar o fogo em seus olhos. Eu estava preocupada que ele
pudesse entrar em um intervalo.

— Nunca. Traga. Isso. À. Tona.— As palavras foram cuspidas pelos dentes


dele.— Nunca traga isso à tona. Eu não posso, Rita. Eu não posso. Se falarmos
sobre isso, você me encontrará na prisão em breve.

Oh droga. Ele estava bravo. Louco como nunca tinha pensado em ver o
James.

— Ok, ok, eu não preciso saber. Acalme-se, papito. Foi melhor quando
pensei que foi você quem me fez sair; isso teria feito meu pensamento
imprudente valer a pena.
— Mas você me encontrou no final e eu te encontrei. Não importa como; o
importante é que estamos aqui agora. Não faz diferença como ou quando.— Ele
disse isso de novo e de novo, tentando me tranquilizar, marcando na minha
cabeça que isso não importava. Nada importava; minha vida antes era apenas
uma maneira de chegar onde eu estava agora, e talvez ele estivesse certo. Eu
já tinha perdido uma parte da minha vida, então por que não viver neste
presente feliz?

— OK. Só não acredito que recusei ir para a universidade assim. Lembro-


me de como estudei por isso. Isso já te incomoda?

— Rita, você teve uma vida antes de mim e eu tive uma vida antes de você.
Eu gostaria que você não se preocupasse com isso.

— Não, não é isso. Incomoda-lhe que você seja um gênio casado com uma
mulher sem carreira que só terminou o ensino médio? Algum de seus amigos
riu de você por isso?

Eu olhei para ele, tentando esconder meu constrangimento sob uma


fachada casual, sem mostrar o quanto eu desejava poder ser melhor para ele.

Os olhos de James estavam arregalados e sua boca estava aberta como eu


acabei de dizer a ele que tinha uma segunda vagina.

— Vou dizer isso uma vez, e é melhor passar pela porra do seu crânio
grosso: você nunca poderia me fazer sentir vergonha de forma alguma. Eu não
ligo para o seu diploma. Você pode ir à faculdade, se quiser, vender suas
pinturas ou apenas ficar em casa, posso pagar tudo.
— Eu só quis dizer...— Mas eu não consegui interpor seu discurso retórico.

— Eu nunca conheci uma mulher mais inteligente ou uma mente mais


afiada na minha vida, então, por favor, não se subestime. Você é ousada e
inteligente, pode ficar perigosa, e se alguém ousasse insultar sua inteligência
de alguma forma, teria que me aturar.

Este homem. Este homem perfeito que sempre encontra as palavras


perfeitas para me acalmar. Quando eu estava confusa, ele estava lá para
iluminar meu caminho, quando eu estava com medo; ele me fez sentir segura,
e quando eu tinha vergonha, ele me levantou até o maldito céu— tudo com
algumas palavras e aqueles olhos amorosos que descobriram seu coração na
minha frente,

Eu não conseguia me impedir de colocar minha xícara de chá de lado e


pular no colo dele, batendo nos lábios dele e levando a língua para uma dança
sensual com a minha. Não paramos até não haver mais ar nos pulmões.

— Eu te amo, Sullivan.

— Certifique-se de lembrar.

— Você continua dizendo isso, por quê?

Ele me arrastou para baixo para morder meu lábio inferior.

— Apenas me prometa que se você ficar brava comigo, vai se lembrar,


amor.

— James, você nunca poderia me deixar tão louca.


— Apenas prometa.— Eu balancei minha cabeça e revirei meus olhos para
ele, mas ele beliscou meu queixo e me olhou fixamente nos olhos.

— Rita, prometa.— Toda a minha diversão desapareceu e, de repente,


senti como se estivéssemos compartilhando um momento íntimo— um voto.

— Eu prometo, James Sullivan, não importa o que aconteça, nosso amor


virá primeiro.

E com isso, ele me afogou em outro beijo, selando nossas palavras para
sempre.
CAPÍTULO DEZESSETE

Os corredores do Chicago General estavam anormalmente quietos e isso


me esfregou da maneira errada. Eu sofria da superstição médica, como muitos
de meus colegas, então esse tipo de calma parecia um sinal de que algo ruim
aconteceria.

Encontrei Mary e a Dra. Sandra Brook, a residente ao meu serviço esta


semana.

Eles acabaram de admitir o Sr. Sora, quem seria o nosso próximo caso.

— Boa tarde, senhoras. Mary, como está o nosso paciente?


— Tão bom quanto se pode esperar de um jovem de trinta anos que está
perdendo a visão.

Acenei com a cabeça e voltei minha atenção para a residente.

— Doutora Brook, você pode apresentar o caso, por favor?

— Claro.— Disse ela sem hesitação ou gagueira, e isso me fez sentir mais
relaxado. Eu só tinha visto Sandra Brook algumas vezes em ação, e ela tinha
apenas um segundo ano, mas Zach tinha muitas palavras complementares
para esta. Isso deve ter significado que ela era boa porque aquele bastardo mal-
humorado não gostava de merda.— Talbot Sora, 31 anos, estágio dois de câncer
apresentando um tumor intramedular. Olhei para as imagens e não é um
grande tumor; parecia muito operável para mim. Eu não sabia por que os
outros médicos...

Oh, mentes jovens. Tão ansiosas para cortar as pessoas, às vezes


esqueciam o objetivo: como cirurgiões, precisávamos entrar e garantir que um
problema direcionado desaparecesse— consertamos— mas como médicos,
precisávamos dar aos nossos pacientes o melhor atendimento e oferecer a eles
uma solução que, no final, provaria dar a eles o melhor resultado possível em
todos.

— Eu sei por que, porque em uma situação como essa, Doutora Brook, você
não coloca alguém debaixo da faca até que todos os outros caminhos de
tratamento se esgotem. Se for intramedular, significa que estamos enfrentando
um crescimento na coluna.

— Eu sei.
— E você sabe como seria fácil matar um nervo enquanto entrava lá e
enfiava uma lâmina afiada ao redor de um tumor?— Eu disse e levantei minha
sobrancelha.

— Bem, sim, mas a imagem mostra dimensões reduzidas.

Ok, hora de ensinar. Moldar novatos era incrível.

— Você já fez parte de um caso neurológico, do diagnóstico à operação?

— Não, senhor.

— Eu posso dizer, e precisamos mudar isso. Na neuro, temos algumas


zonas vermelhas quando se trata de extração de tumores, porque trabalhamos
em partes do corpo altamente vascularizadas ou onde há nós nos nervos. Com
o objetivo de eliminar todos os riscos, as proporções precisam ser recalculadas;
portanto, geralmente, um cirurgião não opera até que o carcinoma, o nódulo, o
inchaço ou o que você alveja seja dez por cento menor que o tamanho normal
operável.

Quando olhei para ela, fiquei satisfeito ao ver que ela escreveu tudo em
um pequeno caderno de bolso, franzindo a testa para a página como se estivesse
tentando forçar essa informação em seu cérebro. Talvez Zach estivesse
realmente certo ao ver algo bom nesta.

— Entendi. Isso facilita o procedimento cirúrgico?

— Não. Apenas nos dá uma melhor visibilidade.

— Isso também se aplica ao inchaço?


— O inchaço do cérebro funciona de maneira diferente. O cirurgião precisa
agir em consequência do caso. É um processo individual.

Ela assentiu e rabiscou algumas palavras mais determinadas em seu bloco


de notas e depois olhou para mim com um olhar neutro no rosto.

— Então, nenhuma operação? Não vamos abri-lo?— A tristeza em sua voz


era tão óbvia que Mary e eu jogamos com sua ânsia.

— Sr. Sora não é uma costeleta de porco, Sandra.

Seus ombros afundaram.

— Eu sei, não quero ser desrespeitosa.

— Você quer passar o máximo de tempo possível na sala de cirurgia,


entendi, mas tente esconder sua reação na frente do paciente, por favor.— Não
queremos que ninguém se sinta como um experimento científico.— Você
trabalhou com a Ford por algumas semanas. Ele manteve você no banco?

— Não, Doutor Sullivan. Eu nunca estive na sala de cirurgia com você


antes e tinha certeza de que sua condição de visão era operável.

— Oh, sua condição de visão não tem nada a ver com o tumor.

Sua boca formou um O perfeito, surpresa com a minha afirmação.

— O que? Você já consultou o paciente?


— Não, mas examinei o prontuário e o prontuário médico dele. Ele está
perdendo a visão por causa de Neurite óptica, e podemos tratar isso não
cirurgicamente.— Uma inflamação do nervo óptico era praticamente óbvia por
seus sintomas, mas não fiquei surpreso que Brook tenha chegado à conclusão
de que era um efeito colateral do câncer. Eu costumava ser da mesma maneira,
mas os tempos lhe davam multas, e era isso que eu estava tentando ensinar.—
Mary?

— Eu agendei o Sr. Sora para um teste de perimetria quando foi internado


esta manhã com o doutor Lee-Kwang. Neurite óptica foi confirmada.— Um
sorriso liso estava dançando em seus lábios, orgulhoso por ela ter antecipado
minhas necessidades. Não fiquei surpreso; Mary foi mais útil para mim do que
metade dos médicos com quem trabalhei. Eu sabia que ela se aposentaria em
breve, e eu não tinha nenhuma ideia de como eu sobreviveria depois disso.

— Então eu falhei. Sinto muito, Dr. Sullivan; não levei em consideração


todos os fatos e diagnostiquei mal.

Eu dei uma tapinha no ombro dela algumas vezes para reforçar sua moral.

— Está tudo bem, agora você sabe. Você pode deixar esse olhar
decepcionado. Vou operar amanhã e vou levá-la comigo.

E assim, ela viu estrelas filhas da puta.

— Realmente? Você está me levando em um caso diferente?


— Não, eu vou apresentar uma jogada ousada. Vou receber uma
ressonância magnética de contraste detalhada do Sr. Sora e irei extrair o
tumor. Você vai ajudar.

— E o problema da visibilidade?

— Usaremos a ressonância magnética como um mapa virtual e guiaremos


o bisturi e o cateter por isso. Os riscos ainda são altos, mas já fiz isso antes.
Você está dentro?

— Absolutamente!— Eu não esperava nada diferente.

Isso foi revigorante— quinze minutos da euforia em se perder no emprego.


Foi a primeira vez desde o outro dia que a sensação de estripação do medo
deixou o meu corpo.

Quando entrei, e Rita olhou para mim com olhos vazios, me chamando de
mentiroso..., falando em levá-la embora. Todo pesadelo que eu já imaginei nos
últimos dois meses ganhou vida. Eu pensei que a tinha perdido, para o bem e
para sempre. Isso me fez perceber o quanto eu precisava fazer algo e encontrar
uma solução para fazê-la ficar, se ela se lembrasse, porque se eu não fizesse,
um dia eu poderia chegar em casa e realmente encontrar a mulher que eu
amava me deixando— e essa machucaria duas vezes mais que o show de fugir
da Avery.

Nada me fez relaxar antes de agora, nem mesmo o 69 de soprar a mente


que ela me deu para pedir desculpas por ‘ter uma birra’. Eu simplesmente não
conseguia abalar a ansiedade de perdê-la até agora.
— Mary, qualquer outra coisa que eu precise olhar?

— Não, Doutor. A chefe estava procurando por você mais cedo.

Ah, eu esperava não estar com problemas, e orei a Deus que não se
tratasse de outra conferência para a qual eu tinha que ir. Entendi que Sonia
Sadin queria nos colocar no mapa e absorver toda a boa publicidade que podia,
especialmente após o escândalo de negligência com o qual ela teve que lidar no
ano passado, mas eu não estava com disposição para essa merda. Todo o meu
tempo livre pertencia a Rita, e eu não perderia esses momentos para me
trancar na biblioteca e trabalhar em algumas pesquisas por um mês.

Percorri o hospital, parando para conversar com alguns membros da


equipe, olhando em volta e finalmente cheguei ao saguão onde a chefe Sadin
estava conversando com o chefe do departamento ortopédico e seis outros
médicos nessa especialidade. Ouvi dizer que eles receberam a fundação de um
novo laboratório de ensino a ser aberto aqui no Chicago Mercy General para o
desenvolvimento de enxertos ósseos, e foi uma notícia incrível. Não é à toa que
Sonia estava brilhando e estava com a cabeça erguida como uma rainha.

Eu me aproximei deles, apertei a mão de todos os médicos e esperei até a


Sonia terminar sua interação.

— Bem, Dr. Pikai, estou feliz que tudo esteja dentro do cronograma.
Ficaria feliz em assinar a papelada quando você e sua equipe estiverem
prontos. Agora, se você me der licença.

Eles se afastaram e ela se virou para mim sorrindo.


— Agora, agora, meu filho pródigo, você acabou sendo uma visão muito
rara nos dias de hoje.

Ah, então isso foi um tapa no pulso.

— Sinto muito, chefe, mas todo o meu trabalho está atualizado e minhas
horas na clínica gratuita são ótimas.

Ela me mostrou o caminho para andar em direção aos elevadores.

— Eu sei disso; foi apenas uma observação.

— Mary me disse que você estava me chamando.

Ela me deu um olhar lateral onisciente e, com a mão esquerda, organizou


o xale de veludo que cobria seus ombros. Em qualquer dia da semana, Sonia
Sadin parecia uma donzela de ferro— ela me intimidou e a Zach.

— Eu estava apenas perguntando como você está.

Claro, ela só queria um bate-papo. Eu não comprei isso.

— Chefe, há algo errado?

— Não, James. De fato, notei que você não passa tanto tempo no hospital
quanto costumava.

— Não perdi um turno e tenho tudo absolutamente sob controle, chefe,


mas tinha muito o que cuidar em casa.
Ela sabia da minha maldita situação, então de onde vinha essa merda? Eu
era o médico mais organizado neste hospital. Eu nunca deixaria meu
departamento ficar sobrecarregado porque tirei muito tempo de folga.

— Chefe? James, eu não estou te advertindo; Estou apenas perguntando.


Sei por experiência própria que ser mãe solteira e ter o tipo de carreira que
você tem pode ser esmagador às vezes. Sim, você me estragou com suas horas
extras e longas consultas ao longo dos anos, mas eu estava prestes a perguntar
se precisávamos discutir seu contrato e diminuir seu horário.

Oh inferno. Agora eu era o idiota.

— Sonia, me desculpe se eu estava fora de linha.

— Oh pare. Como você pode ficar fora de linha quando o Ford também é
meu funcionário?

Verdade isso.

— Obrigado, mas não preciso mudar minha agenda. Eu tenho isso sob
controle. É verdade que não fico mais aqui, mas faço extensas consultas e
pesquisas sobre todos os casos do meu escritório em casa, porque agora não...—
Não sinto necessidade de ficar longe da minha casa.— Eu tenho isso coberto.

— Bom. Falando em Ford, você recebeu o seu Save the Date31?

31Reserva a data - É um pré-convite. Nele vão apenas as informações mais básicas sobre o acontecimento:
motivo do evento (casamento), nome(s) de quem convida, o dia do evento e o local (cidade).
Eu ri do fundo do meu coração. Ela odiava isso. Ela estava feliz por Zach
e London, mas por causa do seu pequeno caso de amor e agora do casamento
deles, a chefe teve que rever e revisar a política de confraternização interna
três vezes este ano. O RH está cansado deles.

— Eu sou o padrinho. Eu não preciso disso. Você está trazendo um


encontro, chefe?

Eu nunca a tinha visto com um homem e conhecia essa mulher há mais


de dez anos quando ela era minha professora.

— Não preciso disso, mas se você está pedindo para escoltar um amigo, eu
poderia aceitar isso.

Bem, porra, agora eu tinha que contar a ela sobre Rita. Não que eu
mencionasse uma palavra sobre a situação por trás disso, mas ainda sentia que
fui enviado para um palco nu na frente de centenas de pessoas.

— Umm, na verdade..., vê, Sonia, eu já tenho um encontro.

— Realmente? Existe alguém do hospital? Preciso ter certeza de que você


também está legalmente coberto?

— Não, não se preocupe, você não a conhece, mas é sério. Rita é parte do
motivo pelo qual passo mais tempo fora do hospital.

— Entendo.— O telefone dela tocou, alertando-a, e ela parou para ler


alguma coisa. Ela franziu a testa para a tela e balançou a cabeça.— Droga.

— Qualquer coisa errada?


— Shaw deveria cobrir o pronto-socorro hoje, mas ele está com uma febre
desagradável. Ele tem alguém cobrindo por ele, mas não estará aqui por mais
algumas horas, então Ford é o único médico de plantão para emergências.
James, podemos conversar mais tarde? Eu tenho que fazer algumas reuniões
para que eu possa me preencher.

— Oh, não se preocupe, eu posso fazer isso, me ligue.

Isso só me ajudaria a entorpecer a minha mente e pararia de entrar em


pânico como um idiota por algo que ainda não havia acontecido.

— Você tem certeza? Eu tenho que ir falar com o quadro de funcionários


para não encontrar outra pessoa se você mudar de ideia.

— Positivo.

Ela assentiu e eu fui ao consultório das enfermeiras para contar a


mudança, onde encontrei Tatiana cochilando em uma cadeira.

— Oh, Dr. Sullivan, desculpe. Turno duplo.

— Sinto muito por lhe dizer isso, mas você parece um inferno. Vá dormir
algumas horas nos quartos de plantão.

— Eu deveria, não deveria? Acabamos de admitir esse garoto, e ele está


realmente assustado. Eu queria ficar de olho nele.

— Você será mais útil depois de algumas horas de sono. Ei, você viu a
London por acaso?
— Sim, ela acabou de sair da cirurgia e saiu para tomar um café. Você
precisa dela? Eu poderia ligar.

— Estou apenas procurando por Zach.— Eu disse e caminhei para a área


de estar externa, porque os dois periquitos estavam unidos no quadril. Você
quer encontrar um deles? Procure o outro.

Encontrei-os em um banco, abraçando enquanto compartilhava a mesma


xícara de café.

Eu sempre soube que ele era um grande romântico, mas era fofo ver a
confirmação.

— Olhe para vocês dois, já em lua de mel.

— Pelo menos London sabe que estamos em lua de mel, mas você pode
dizer a mesma coisa sobre sua esposa?— Ford revidou e bateu o ar dos meus
pulmões.

Sua garota deu um tapa na coxa para fazê-lo calar a boca.

— Não dê ouvidos a ele, James. Ei, eu estava pensando, humm, Paris será
minha dama de honra, mas devo perguntar a Rita também? Eu não estava
planejando ter damas, mas também posso perguntar a Jess e Wendy. Você
sabe, para fazer Rita se sentir incluída.

Eu a amava. Naquele momento— mais do que o habitual— eu a amava.


Fiquei tão impressionado com o gesto dela que a puxei dos braços de Zach para
um abraço para mostrar minha gratidão.
— Vocês dois vão comprar tampões juntos a partir de agora?— Meu amigo
resmungou e eu sabia que ele estava chateado por ver outros braços em
London. Ford era uma cadela possessiva.

— Cale a boca, Zach. James, você está bem?

— Mhm, estou muito agradecido por isso. Eu sei que você não pode estar
muito confortável para se envolver nessa mentira. Obrigado por me apoiar.

— Claro, nós somos, e não deixe que ele te engane. Depois da festa de
noivado e das duas garrafas de tequila que Zach e Rita tomaram juntos, ele me
disse que ela é a melhor mulher que ele já viu. Eu incluída.

— Apenas do ponto de vista da bebida, querida. Você fica puta depois de


três copos de vinho.

Ele sorriu para nós como um idiota.

— Você acha que ela é incrível?

— Quero dizer, sim, ela é. Honestamente, considerando seu histórico e


mau gosto, você não poderia ter encontrado uma melhor. Você tem sorte que
ela caiu em seus braços.— Isso, eu era; ninguém poderia negar.— Nenhuma
mulher tão legal escolheria você conscientemente.

— Pau.

— Idiota.

— Vocês dois, parem! Esta não é a terceira série.


Levantei minhas mãos para me render antes que London decidisse nos
agarrar pelos ouvidos.

— Para responder sua pergunta, não, você não precisa mudar seus planos
para Rita. Para ser sincero, sentar na frente de todos em um vestido fofo não é
coisa dela; além disso, este é o momento de Paris.

A prima de London era uma estrela sozinha, e ela sabia disso. Ela gostava
de brilhar e ter toda a luz nela, e era difícil não ser magnetizado por uma pessoa
dessas. Ela carregava uma energia sedutora que podia reunir multidões a seus
pés, o que estava realmente acontecendo. Eu tinha participado de um de seus
desfiles de moda com London e Zach, quando Avery estava por perto— era isso
seu tipo de evento— e eu tinha visto homens e mulheres a adorando.

— Oh, ela terá um momento certo. Ontem recebemos uma entrega de seis
vestidos, todos rotulados; ‘casamento’.

— Você e Ford ainda não moram juntos?

Ele rosnou e cruzou os braços como uma criança mal-humorada, o que ele
era.

— Ele queria, mas entre o trabalho e o planejamento de um casamento em


um mês, não havia tempo para fazer as malas e mudar minhas coisas. Faremos
isso depois da cerimônia.

— Você não está indo em lua de mel?


— Estamos, mas não sei quando ou onde, porque seu amigo teimoso não
vai me dizer merda nenhuma.— O palavrão me fez rir. Parecia que a boca suja
do meu amigo estava passando para ela.

— Sullivan.— Ford finalmente levantou a sua bunda para entrar na


conversa.— Havia algo que você queria de nós antes de arruinar o nosso café?

— Oh, vamos cobrir o pronto-socorro juntos por algumas horas. Eu esqueci


disso.— Quando eu disse as palavras, todos os nossos bipes dispararam.

— Bem, parece que você tem sorte; temos uma entrada. Duas
ambulâncias.

Ah Merda.

Zach foi o primeiro a trancar a porta, transformando-se neste super-


homem com um jaleco branco. As emergências sempre traziam o melhor e o
pior dele, como agora...

— London, você pode se mover mais rápido? Preciso que você limpe a sala
de trauma para mim.

— Estou bem atrás de você, acalme-se.

— Bem, você deve correr mais rápido e fazer o trabalho.— Ela jogou um
olhar sujo para ele, mas manteve outras palavras para si mesma. Todo mundo
por aqui sabia que ele era um chefe durão, sempre esperando a perfeição da
equipe médica com quem trabalhava— especialmente London.
Nós três chegamos rapidamente ao pronto-socorro, usando vestidos, luvas
e máscaras cirúrgicas, e pelo canto do olho, peguei a Jess fazendo o mesmo.

— Ei, o que você está fazendo aqui embaixo?

— O ER ligou, uma das vítimas é uma criança de quatro anos.

Porra, esses foram os piores. Eu não sabia como Jess conseguia ver tanto
trauma infantil todos os dias.

De repente, as portas duplas se abriram e duas macas foram empurradas


por paramédicos. Havia muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e todos nós
estávamos tentando manter o foco.

Jess correu para o garoto com duas outras enfermeiras e seu residente em
pediatria, enquanto London, Zach e eu fomos para a outra.

— Um enorme outdoor caiu e feriu várias pessoas. Aqui temos uma


mulher de trinta e dois anos, apresentando várias fraturas ósseas. Seu pulso
está em todo lugar, e ela teve duas convulsões no caminho para cá.

O paramédico nos deu a informação de maneira rápida e clara, e eu olhei


para Zach.

— Sua chamada, Dr. Ford. Lidere o caminho.

— Sala de trauma um, agora. London, preciso de raio-x e um teste


respiratório; seus movimentos torácicos são irregulares. Sullivan, não posso
mandá-la para a TC até descobrir uma maneira de estabilizar seu coração.
Você pode fazer uma consulta cega?
— Sim, mas mova-se rápido.

Todos nós entramos na sala, pessoas se mexendo, e eu dei um passo para


trás para ajustar tudo. Os rostos ficaram embaçados e os sons e gritos na sala
desapareceram, dando-me espaço para pensar. Éramos apenas eu e a paciente
agora.

Eu verifiquei as pupilas e os ferimentos na cabeça, observando tudo o que


podia ser visto. Eu estava checando os monitores quanto a anormalidades
quando ouvi a mulher gemendo de dor.

— Senhora, você pode me ouvir? Você está no hospital, mas não se


preocupe, você está em ótimas mãos.— Pânico instalou em seus olhos, e ela
olhou para mim, angustiada, então tentei acalmá-la falando baixo e devagar,
certificando-me de que ela me entendesse.— A dor desaparecerá em breve.

A mulher tentou me dizer uma coisa e moveu uma mão para o abdômen,
mas era difícil entendê-la.

— Você pode dizer de novo?— Eu perguntei, mas ela só fez alguns sons
murmurantes. Algo no jeito que ela parecia me desencadeou.— Coloque a mão
direita no nariz, por favor.

Ela tentou seguir minhas instruções, mas a palma da mão pairava sobre
o rosto sem rumo. Ela havia perdido o controle sobre seu movimento, porra.

— Zach, eu preciso levá-la para a sala de cirurgia agora.

— O ritmo cardíaco dela está uma bagunça.


Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a paciente começou a
convulsionar, tomada por outra convulsão.

— Ou agora!— Eu rugi sobre o barulho.— O cérebro dela está sangrando


e o hematoma está crescendo. Eu preciso abri-la. Ford, entre comigo para
garantir que seu coração se recupere.— Ele assentiu e todos começaram a se
mover.

Vinte minutos depois, estávamos todos esterilizados e andando na sala de


cirurgia

— Zach, eu preciso de uma luz verde.

— Sim, entre. Vou diminuir o pulso dela com remédios.

— Drill, por favor.— Eu disse, e Mary me entregou o instrumento.

Coloquei a broca no crânio dela e a queimei, sentindo o osso se abrindo


com um todo limpo. Mais alguns milímetros e veríamos o cérebro.

Esses foram os momentos em que me senti mais poderoso e confiante.

Se apenas toda a minha vida pudesse ser tão fácil de gerenciar quanto
perfurar o cérebro de alguém.

Entrei e fiz a mágica por quarenta e cinco minutos. Eu estava pronto para
fechar quando o monitor acendeu e começou a apitar.

— Zach?— Perguntei o mais calmamente possível sem desviar o olhar da


minha incisão.
— Ela está v-fib32, sem pulso. Porra.

— Tente reanimá-la com adrenalina; você não pode usar as pás quando
tenho duas agulhas na cabeça dela.

Ele latiu um pedido para London, que tinha tudo pronto, e eles esperaram
que os monitores calassem a boca enquanto eu continuava me concentrando no
meu trabalho. O menor tremor da minha mão poderia destruir essa mulher—
eu não podia me dar ao luxo de entrar em pânico.

A voz de Zach chamou minha atenção.

— London, me dê um bisturi.

— Ford, o que você está fazendo?— Operações duplas eram muito


arriscadas para serem feitas no calor do momento, não importa quão bons em
nossos trabalhos pensássemos que nós éramos.

— Ou você para o que está fazendo para que possamos chocá-la, ou eu abro
o peito dela para fazer massagem cardíaca. Escolha rápido porque ela está
morrendo.

Porra.

— Se eu parar agora, o cérebro dela será afogado por sangue.

32 V-fib— Fibrilação Ventricular.


— Scalpel33.— Ele repetiu, e mais uma vez, eu me desconectei do que
estava acontecendo na sala. Quando finalmente tive o sangramento sob
controle, olhei para cima e vi um Zach desesperado, com os braços cotovelos no
fundo do paciente.

— Porra. Vamos senhora, lute!

Ao seu lado, London estava balançando a cabeça. Com um olhar


desanimado, ela me mostrou o relógio. A mulher não teve pulso por mais de
vinte minutos. Ela se foi.

Minha boca secou como se eu tivesse engolido uma colher de poeira.

— Zach, deixa pra lá.— Mas ele não parou de tentar trazê-la de volta. Ele
continuou por mais cinco minutos.

Chamei o nome dele novamente, mas ele não vacilou. Por trás dele,
London colocou a mão trêmula no braço dele e sussurrou para ele.

— Baby, você precisa parar.

— Porra!— Ele disse, assustando todos na sala e indo embora.

— Hora da morte, oito e trinta e quatro.

Sim, foda-se mesmo.

33 Scalpel— Bisturi.
Mais tarde, depois que estávamos todos limpos e as coisas começaram a
esfriar, encontrei Zach em um corredor, sentado em uma cama de hospital.

— Você está ok cara?

— Sim, sinto-me um merda depois daquela emergência.

— Jessica me disse que o garoto está bem; ele só tem um braço quebrado,
então algo deu certo.

Toda vez que tivemos baixas, tentei me concentrar no lado positivo, e uma
criança que quase foi esmagada por um outdoor que passava por esse tipo de
acidente... foi um milagre.

— Ótimo.

— Eles têm uma causa de morte? Ela estava tentando apontar para o
estômago quando estávamos no pronto-socorro. Talvez tenhamos perdido
algum sangramento interno.

— Não, o coração dela estava muito fraco mesmo antes do acidente, e isso
era demais. Não havia nada que pudéssemos ter feito. Ah, e seu exame de
sangue voltou; ela estava apontando para o abdômen tentando nos dizer que
estava grávida.

Um taco de beisebol metafórico caiu no meu estômago. Nunca ficava mais


fácil.

Nunca. E talvez fosse porque eu tinha Chelsea agora, mas meu mau
humor se tornou um pesadelo.
— Ei, cara.— Eu disse— Você está coberto no pronto-socorro? Eu
realmente quero ir para casa agora.

— Você precisa da sua boceta de apoio?

— Bem, nem todos nós temos o conforto de trabalhar ao lado.— Eu disse


secamente e me virei para sair.

Não éramos amargos um com o outro, mas toda essa frustração tinha que
ir a algum lugar.

Entrei em casa, joguei as chaves do meu carro no suporte perto da porta e


afrouxei minha gravata. O dia tinha sugado a minha energia, mas esse foi o
trabalho para o qual me inscrevi.

Rita apareceu no topo da escada usando dois pedaços de seda, uma


camisola de noite curta e uma túnica combinando com chinelos rosa e fofos. Ela
deve ter feito algumas compras, porque não havia como as atrocidades com
orelhas de coelho que ela tinha nos pés virem da mesma loja da qual eu trouxe
suas roupas.
— Ei, querido. Como foi o trabalho?— Porcaria. Tudo o que eu conseguia
fazer era olhar para ela e sorrir brevemente.— Algo errado?

— Não, amor, só estou cansado.— E eu estava; não era mentira. Eu estava


exausto.

Coloquei a mão no meu cabelo e olhei para ela, observando os passos


graciosos que ela deu quando desceu para me encontrar. Cara, essa era uma
mulher linda, com sua pele de caramelo perfeita brilhando na luz suave e seus
cabelos lentos e brilhantes chovendo sobre os ombros. Ela veio silenciosamente
em minha direção e me puxou para os lábios para um beijo reconfortante, e era
como se ela estivesse tentando absorver meu mau humor para fazê-lo
desaparecer.

Depois de provar sua profundidade, recuei, acariciando seu rosto com


minhas juntas e absorvendo suas feições. Bonita. Ela era uma maravilha.

Agora, mais do que nunca, me senti tomado, aceso, apaixonado por ela.

— Papi. Eu estava divagando,— disse ela, mas não consegui me


concentrar nas palavras dela porque estava muito focado nos lábios dela— os
lábios dela enrolados no meu pau.

— Eu sei dirigir?

Eu saí e olhei nos olhos dela.

— O que?
— Levei Chelsea ao parque hoje e não consegui encontrar um Uber, e
comecei a me perguntar. Quero saber se tenho uma licença porque acho que
adoraria dirigir.

Foda-se, eu não estava no perfeito juízo por isso agora. Eu não poderia
jogar esse jogo com ela agora.

— Rita...— Eu não tinha ideia se ela sabia dirigir e minha mente não podia
criar uma história agora.

— Então?— Ela insistiu, mas eu já tinha decidido não ter essa discussão.

Inclinei-me e chupei a pele fina e sensível do pescoço dela e isso a fez calar
a boca. Ela tinha exatamente o gosto que você esperaria que uma mulher como
Rita provasse, açúcar queimado e especiarias. Ela era a melhor sobremesa do
menu. Tomada no momento, eu a mordi com força suficiente para deixar uma
marca, e ela gemeu, dando boas vindas à dor.

— Ah, tão bom pra caralho. Não esqueça o que eu estava prestes a
perguntar, James.

Ah, mas era exatamente isso que eu estava prestes a fazer.

Puxei o corpo dela para mais perto, peguei-a do chão e me movi.

Algo queimou em mim, e o desejo era tão ruim que fez o sofá da sala
parecer uma milha de distância.

Desesperado por tê-la, dei três passos até chegarmos à parede mais
próxima.
Eu a empurrei para dentro e enganchei uma das pernas em volta da minha
cintura para que ela pudesse sentir minha ereção. Meu pau parecia que era
feito de aço.

— Papi!

— Bem aqui com você. Chega de falar. Eu preciso de você, querida.— Em


resposta, ela rolou os quadris, mostrando-me como ela já estava molhada—
sempre tão preparada para mim.— Rita, me segure porque estou prestes a
foder a porra do seu cérebro.

O prazer explodiu sob minha pele, e mergulhamos em um duelo de


línguas, chupando e mordendo um ao outro violentamente enquanto eu abria
meu zíper e puxava minha boxer. Rita enfiou a mão debaixo da minha camisa
e descobriu meus ombros, afundando as unhas na minha carne. Porra, foi bom.
Isso foi realmente, realmente, bom.

Com um punho forte, agarrei a base do meu pau, me guiando para


encontrar a entrada da Rita. Não perguntei se ela estava pronta, porque assim
que o meu pau a tocou, senti seus sucos pingando em mim.

— Porra!— Eu rosnei e afundei até minhas bolas em um único impulso.—


Estou prestes a brutalizar essa boceta bonita.

— Sim, papi, tão bom e profundo. Estou tão feliz que escolhi não usar
calcinha.— Eu pensei que deveríamos descartar isso. Eu nunca mais quis ver
calcinha nela.
— Amor, espere.— Eu não estava brincando sobre foder o cérebro dela.
Comecei a me mover cada vez mais rápido, atingindo seu centro sem piedade,
e a única coisa audível era nosso corpo colidindo.

Eu queria me marcar nela.

— Mais forte papito.— Ela implorou em doce agonia, e eu fiquei mais do


que feliz em obedecer. Meu único objetivo era atender a todas as necessidades
dela.

Coloquei uma mão no quadril dela para prendê-la na parede e outra no


pescoço, segurando com força. Ela me sentiria por dias.

A sensação era tóxica, enchendo meus pulmões e agarrando minha


garganta, e eu estava perdido nela. Quando o sexo dela se contraiu e me
apertou, eu perdi. Do nada, o clímax explodiu em mim e eu atirei no meu
esperma nela… mas não parei. Eu não estava pronto para parar. Eu continuei
levando-a no passeio comigo.

Olhei para baixo, apenas para ver nossos corpos se encontrando, nós dois
unidos no meu esperma. O visual era incrível.

— Porra!— Nós dois cantamos ao mesmo tempo.

— James, eu ...— ela tentou articular algo, mas foi em vão. Seus olhos
estavam arregalados e cheios de brilhos.— Eu...
— Você está gozando, eu sei. Deixe ir, amor.— Ela começou a tremer e
ceder, deixando-se engolir por um orgasmo maciço e, mais uma vez, me jogou
no limite. Nós nos reunimos e deslizamos pelo chão.

Eu estava sem fôlego demais para me importar, então me deitei no chão,


encharcado de suor com Rita no peito. Nossas respirações estavam febris, perto
de um apito, e levou alguns minutos para nós reagrupar.

— Foda-me papi!

Eu ri e acariciei a cabeça dela.

— Novamente?— Eu perguntei, divertido.

— Oh, acho que não posso. Você machucou minha coño.

— Mesmo com meu conhecimento limitado de espanhol, eu sei que isso


significa boceta. Você está sofrendo?

— Da melhor maneira possível, mas acho que não consigo me levantar.

— Bom, eu não quero me levantar.

— Você quer dormir aqui no chão, no corredor?

Eu faria se minhas costas não gritassem por um colchão. Porra, como eu


adoraria uma massagem...
....O pensamento me fez congelar. Avery costumava massagear minhas
costas depois de cada cirurgia; era o nosso primeiro ritual de casal, e eu sempre
fui grato por isso.

Rita sentiu a mudança na minha atitude, passando de alegre para


irritada, e sua mão quente acariciou minha bochecha.

— Ei, papi, que pasa?— O tom dela era mais suave do que eu já tinha
ouvido, cheio de cuidado?

— Nada, desculpe. Eu apenas me afastei por um segundo.

— Ok, mas podemos voltar ao meu problema agora? Eu sei dirigir um


carro?

Realmente, isso de novo? Pelo menos agora minha mente estava clara
novamente, porque ela derreteu cada gota de amargura que eu trouxe para
casa do hospital.

— Não, querida, você não pode, mas pode começar a aprender se quiser.—
A verdade era que eu não tinha ideia se ela sabia dirigir um carro. Não havia
carteira de motorista na carteira e, mesmo que houvesse, eu não arriscaria. Se
ela não conseguia se lembrar de como dirigir, não havia como deixá-la ao
volante.

— Ah ok. Talvez eu vá.


Planos de longa data. Mais uma vez, a sensação perturbadora de que
talvez não tenhamos tempo para fazer todas essas coisas aninharam no meu
peito.
CAPÍTULO DEZOITO

Eu amava casamentos.

Não me lembrava de ter ido a um, nem mesmo ao meu, mas adorava
casamentos.

Embora houvesse muitos vestidos pendurados no meu armário, James


insistiu em um novo, algo para combinar com o seu lenço de bolso. Ele me levou
para a boutique de roupas mais elegante que eu já vi— o tipo que lhe serve
champanhe. Tentei uma dúzia de vestidos, desfilando-os na frente do meu
marido, esperando seu selo de aprovação. Eu me senti como Julia Roberts em
Pretty Woman34, exceto que James era muito mais sexy que Richard Gere.

Fui para um vestido longo e sedoso na cor do vinho sangria, sem alças e
com um decote de coração, muito diferente do vestido preto e apertado que usei
para a festa de noivado. A saia foi cortada nas duas pernas, mostrando minha
pele que brilhava por causa dos cremes que usei. Eu me observei no espelho
alto do camarim e fiquei satisfeita com a aparência das minhas pernas nos
saltos altos prateados que escolhi.

Atrás de mim, James entrou na sala parecendo arrebatador em seu


smoking, adaptado apenas para ele. Ele estava mais bonito do que nunca.

Seus olhos estavam na tela do telefone e, quando ele finalmente olhou


para cima na minha direção, o olhar de admiração em seu rosto quase me
derrubou.

— Você gosta da vista, Dr. Sullivan?— Eu perguntei de brincadeira.

— Porra, inferno.— Em um instante de segundo, eu estava nos braços dele


e ele estava me beijando estupidamente.— Você é tão fodidamente bonita. Eu
tenho que mantê-la colada ao meu lado hoje à noite, ou vou acabar lutando com
algum idiota que decidir ficar muito perto de você.

34 O filme ‘ Uma linda mulher’.


Estava ligada imediatamente. Eu amei que poderia torná-lo possessivo
sobre mim.

— E você acha que eu não vou ter um problema com alguma idiota que
tentará roubá-lo para dançar? Se eu vir alguém que trabalha no seu hospital
olhando para você com os olhos do coração, vou trabalhar com você todos os
dias.

— Depois do número que você puxou no meu escritório, a única coisa que
consigo pensar quando estou no trabalho é sobre você e essa boca da qual sou
tão conhecido.

Nós nos beijamos novamente. Se fôssemos continuar com isso, estaríamos


atrasados, e essa boca da qual ele gostava tanto estaria no seu pênis
novamente.

— James, papi, se você continuar me tocando assim, não chegaremos à


cerimônia. Zachary vai odiar se o padrinho estiver atrasado.

— Correto. Amor, eu sei que você não tem muitas jóias...

— Eu notei, mas não estou surpresa. Acho que nunca tive dinheiro
suficiente para comprar um anel para mim, mas estou bem com apenas nossas
alianças.

Ele balançou a cabeça, parecendo um pouco triste.

— Eu vou mudar isso. Sei que nunca lhe dei um anel de noivado, mas
gostaria de levá-la a um joalheiro para fazer algumas peças para você.
— James, eu não preciso ou particularmente quero coisas caras, mas
poderíamos comprar algo para Chelsea, talvez uma pulseira com o nome
dela.— Então a minha visão caiu em seu pulso e no relógio de prata que o
adornava.— Isso é um Rolex?

— Sim, eu tenho três, todos presentes dos meus pais, mas não os uso com
muita frequência. Você gosta disso?— Oh, isso deve ter custado mais do que
meus pais fizeram em um ano.

— Parece sexy em você. Nós precisamos ir; a cerimônia começa em duas


horas.

E precisávamos estar lá pelo menos noventa minutos antes para tirar


algumas fotos e garantir que todos conhecessem seus papéis durante o dia, ou
Paris teria nossas bundas.

Eu conheci a prima de London na festa de despedida de solteira— ou mais


como um jantar de despedida de solteira com junk food e toneladas de vinho;
tanto vinho que James teve que vir e me levar para casa por cima do ombro.
Paris era uma supernova, todo brilho, glamour e moda. Ela era divertida e
bonita, e eu absolutamente a amei, mas na última semana, cheguei à conclusão
de que ela tinha a alma de um sargento. Ela não perdeu os mínimos detalhes
deste casamento.

— Vá tirar Chelsea do berço e eu ligo para o serviço de carro.

Minha filha estava esperando pacientemente, brincando com um


brinquedo estridente. Hoje seria o dia de London, mas a Chelsea roubaria o
show. Ela estava tão bonita em um vestido branco e cheio e faixa de cabeça
correspondente que tinha uma flor. Seus olhos que tinham a mesma cor do pai
brilhavam de alegria quando cheguei a ela. Seus braços pequenos se estendiam
até mim, mostrando que ela queria ser apanhada, e eu obedeci feliz.

— Oh, seu anjinho adorável.— Suas bochechas gordinhas coravam com a


cor rosa mais macia e ela riu.

Chelsea estava tão bem comportada e contente quanto seu pai. Durante
todo o passeio até o local, ela tomou uma mamadeira cheia de chá de camomila,
sem fazer barulho.

— Uau, este lugar é incrível.

Fiquei hipnotizada pelo lugar. Zach e London optaram por fazer uma
cerimônia externa na caminhada do rio. O convés aberto estava decorado com
luzes e rios de flores— milhares e milhares de orquídeas— que faziam o local
parecer um conto de fadas.

— Mhm, é lindo. O Riverwalk35 tem um significado especial para eles.

Oh, que romântico.

Foi uma celebração do amor, todos os altos e baixos que os levaram até lá.

Tanta emoção.

35 Riverwalk— é uma das mais deliciosas atrações da cidade, um parque no centro Fort Lauderdale.
Eu senti meu coração flutuando com tantas emoções. Não pude deixar de
me perguntar se meu casamento era algo parecido com essa pequena foto do
céu.

Alguns funcionários estavam pairando na esquina e, enquanto


caminhávamos um pouco mais, vimos Zachary e Paris conversando em frente
ao arco das flores.

Zachary Ford era um homem bonito; eu já sabia disso. Ele era alto e bem
construído, e seu smoking se encaixava como uma luva, abraçando seu corpo
com perfeição, mas tudo isso não tinha nada a ver com a beleza que irradiava
dele. O sorriso zombeteiro habitual em seu rosto se foi, e a única coisa que
restava era pura e absoluta beatitude.

Ele se virou para nós, e o olhar em seu rosto trouxe lágrimas aos meus
olhos.

— Oh, aqui está você! James, preciso que você ouça meus votos mais uma
vez.

— Meu homem, eu li seus votos seis vezes. Você precisa se acalmar.

— Do que diabos você está falando? Estou calmo como um dia ensolarado
de verão.— Ele disse, e Paris bufou por trás dele.

— Sim, como um dia de verão na Sibéria. James, Rita, estou feliz por vocês
estarem aqui porque acho que essa brincadeira está ficando fria. É melhor você
encontrar uma maneira de aquecê-los rapidamente, porque se ele pensar em
sair sem London, eu o pendurarei pelas bolas ao lado do Bean. Ele será a
próxima atração de Chicago.

Vê? Parecia que ela era feita de fondant36 com seus cabelos sexy e vestido
rosa pálido firmemente envolto em seu corpo assassino, mas ela poderia ser tão
assustadora.

James riu tanto que teve que colocar a mão no estômago.

— Paris, você está deslumbrante.— Meu marido disse, e eu não conseguia


nem ficar brava porque era verdade.— Acho que ele ficará bem, mas não se
preocupe, porque vou ficar de olho nele.

— Obrigada! Eu odiaria caçá-lo por ter fantasiado minha prima no dia do


casamento.

Zach rosnou e perdeu um pouco do seu humor eufórico.

— Isso nunca vai acontecer, Paris.— Sua voz era dura como aço
inoxidável, e lembrei que James me contou como sua primeira namorada o
abandonou.

A piada pode ter chegado um pouco perto demais de casa.

— Onde está a noiva corada?— Eu perguntei, animada.

36 Fondant— é uma pasta de açúcar fundido que solidifica após ser aplicada sobre o doce. Ela fez uma
referencia de como ela é solida.
— Ela está se preparando com minha mãe, mas ninguém pode vê-la. Não
apenas Zach, mas todos são estritamente proibidos de ir falar com ela porque
estamos sob alto risco de lágrimas.

Não fiquei surpresa. Eu já me sentia prestes a chorar e nada tinha


acontecido ainda.

Zach pegou Chelsea do carrinho e começou a andar por aí, conversando


com ela e brincando com as decorações.

— Bem, papi, pelo menos temos uma babá grátis.

Na hora seguinte, Paris nos fez tirar um milhão de fotos pré-cerimônia—


eu nem sabia que isso era uma coisa— e conhecer um monte de gente.

A família inteira de Zach estava aqui, de tias-avós e sua avó, a sua irmã,
Lillyane, que ouvi dizer que pretendia chegar à Suprema Corte em breve.

Todo mundo do seu lado estava na lei, então ele era o rebelde. Você pode
imaginar isso? Uma família onde a ovelha negra era o cara que se tornou
médico? Eu mentalmente revirei meus olhos pensando sobre isso. De onde eu
vim, as coisas eram um pouco diferentes.

Eu estava olhando para a água cintilante quando James veio por trás e
beijou meu ombro.

— Você precisa se sentar, amor. Está começando.

— Oh, que emocionante.


Fui buscar minha filha com Zach, que estava tentando parecer que nada
poderia afetá-lo, mas suas mãos tremiam como gelatina.

— Você vai ficar bem cabrón; não surte.

Ele balançou a cabeça e franziu a testa profundamente— esse deveria ter


sido seu movimento de assinatura. Realmente, ele deveria ter procurado uma
marca comercial.

— Por que todo mundo pensa que eu estou pirando? Eu não estou! Eu
quero isso! Se tenho medo de alguma coisa, é que London verá que não sou bom
o suficiente para ela e cancelar tudo.

Oh, ele não era doce, ficando nervoso assim? Seu grande coração espiava
pela fachada do saco de lixo e, toda vez que isso acontecia, suas bordas se
suavizavam.

— O que está acontecendo? Zach está pirando?— Ouvimos Jessica, e todo


mundo se virou para vê-la e Wendy usando vestidos verdes e sorrisos enormes
que podiam iluminar toda a cidade de Chicago.

— Estou bem, pelo amor de Deus. Todo mundo, vá e encontre seus lugares
antes que Paris comece a atacar as pessoas.

— Ok, mas preciso lhe dizer que tivemos uma prévia do vestido de London
e ah Garoto. Lembre-se, Zachary, se você conseguir uma ereção lá em cima,
todos veremos.— Disse ela, e todos rimos.— Rita, você vai ficar conosco?

— Sim, estamos na primeira fila do lado esquerdo.


— Oh, nós sabemos. Todos nós temos o mapa laminado de Paris.

Encontramos nossas cadeiras e nos sentamos. Eu tinha Chelsea nos


braços, e ela balbuciava algo agudo quando viu o pai, querendo ir até ele.

— Eu sei bebita, eu quero abraçá-lo também.

Do meu lado, Wendy riu e me deu uma olhada lateral.

— As coisas são boas entre você e James, no entanto?

— Perfeito.— Sinceramente, não poderia ter pedido mais.

Uma música suave de violino encheu o ar, tocando uma linha romântica,
e todos ficaram em silêncio ouvindo. Zach estava no altar com James e Paris
ao seu lado, meu marido batendo no ombro para tranquilizá-lo de que tudo
ficaria bem.

...Então o ritmo da música mudou, e London entrou no braço do tio,


corando como uma adolescente. Ela parecia um anjo hoje. O vestido branco
flutuava ao seu redor, fazendo parecer que ela estava andando no ar. Eu não
tinha dúvida de que todos no ambiente prenderam a respiração observando-a.

Ela chegou ao ministro e seu tio a entregou a Zach para se casar.

Emoções sólidas estavam bloqueando minhas vias aéreas, sabendo que


meu pai nunca esteve lá para me entregar.

— Caro amado...— o ministro começou seu discurso, falando sobre amor e


compromisso e quando olhei para James, vi que ele já estava me prendendo
com os olhos. Não pude evitar meu sorriso sonhador porque sabia que
estávamos pensando na mesma coisa— nós. Eu sabia que naquele momento
estávamos fazendo uma promessa um ao outro.— Acredito que você preparou
seus próprios votos.

London respirou fundo e lutou contra suas emoções.

— Zachary, você é um idiota!— A multidão cresceu em gargalhadas.— E


eu te amo com tudo o que tenho. Não posso deixar de olhar para você como se
você tivesse pendurado a lua no céu. Você não apenas me faz sentir feliz e
amada; você me faz sentir protegida, segura… você me faz sentir em casa. E eu
nunca quero deixar os seus braços. Juro honrá-lo e estar ao seu lado para
sempre, para apoiar tudo você está sonhando com e amar você através de tudo.
Juro nunca aguentar o seu humor e desafiá-lo, porque foi isso que nos uniu.

O lugar estava cheio de ‘aww' e ‘ohh’ soando, e Paris já estava derretendo


no chão em uma poça de lágrimas.

— Juro ser seu marido legalmente casado por completo. A verdade é que
não posso fazer muitas coisas certas. Não consigo trocar um pneu ou uma
lâmpada ou acender um fogo. Não posso admitir quando estou errado ou
desistir da comida ruim, mas um dia eu te encontrei, e tudo mudou. Eu
encontrei algo. Eu sou bom em… Eu sou bom em amar você, e juro fazer isso até
a morte e além disso. Temos o nosso joguinho onde te chamo de todos nomes de
cidades e, quando começou, você me perguntou o porquê. Por que eu te chamo
de Miami? Boston, Ontário? Porque seu nome nos meus lábios parece a
promessa para sempre, e eu queria mantê-lo para uma ocasião especial. Hoje,
na frente de todos de nossos amigos e familiares, juro adorar aos seus pés o que
resta da minha vida, London.

— Com o poder investido em mim pelo estado de Illinois, eu vos declaro


marido e mulher. Você pode beijar a noiva.— O ministro colocou seu selo de
aprovação sobre o casamento; Zach puxou sua esposa para um beijo feroz, e
todos se levantaram para torcer por eles.

Todos os barulhos começaram a se misturar, tornando-se apenas um


murmúrio de sons, e minha cabeça estava enevoada. Eu não sabia de onde
vinha a repentina onda de angústia, mas estava me engolindo rápido.

O que está acontecendo?

Chelsea estava se contorcendo em meus braços, mas não consegui reunir


meu foco para acalmá-la. Olhei através das pessoas e vi James abraçando seu
melhor amigo.

Tudo parecia tão familiar, mas ainda assim tão estranho...

Casamento… votos... Eu aceito... um padre… uma igreja...

Eu me vi em um vestido branco de verão… Eu vi o anel… Eu vi tudo.

Mas eu não vi James.

Meu corpo começou a tremer sob o ataque de tantas lembranças. Com


movimentos fracos, virei-me para Wendy e bati no ombro dela.
— Você pode segurar...— as palavras presas na minha garganta.— ...o
bebê.

— Claro, dê-a para mim. Você está bem?— Eu quase deixei Chelsea nos
braços dela.

Chelsea... quem é essa bebê? Quem são essas pessoas?

Em pânico, dei alguns passos para trás, procurando espaço para respirar.
Eu me senti sobrecarregada.

Todos os anos que perdi começaram a voltar para mim, todos os sonhos,
esperanças, dor, pessoas...

....Mas nenhum vestígio de James ou da bebê— de qualquer bebê. Eu


nunca estive grávida. Eu era casada, sim, tive uma cerimônia sagrada em uma
igreja, mas não com James. Eu era casada com outro homem.

Nada fazia sentido. Por que não me lembro quando conheci James?

Tentei me forçar a ordenar todas as coisas que vi, todo o horror, medo e
encontrar aquele momento feliz em que encontrei meu marido e mudei minha
vida, mas nunca veio.

Minha memória parou em Boston. Eu escapei do meu apartamento de um


quarto depois que uma faca foi presa na minha garganta. Corri sem rumo na
rua procurando ajuda. Eu vi um carro; eu vi pessoas, e tudo ficou preto. Foi
quando tive um ferimento na cabeça.

Oh Deus! Oh, Santo Senhor do alto...


Eu não conseguia me lembrar de conhecê-lo antes daquele dia porque
nunca fiz.

Ele mentiu para mim. Meu corpo havia sido espancado e machucado, mas
nada estava tão perto de me matar quanto suas mentiras.

Fui roubada do meu passado e fui tratada com mais futuro do que pude
suportar.
CAPÍTULO DEZENOVE

Peguei London no abraço de urso mais apertado e a beijei nas duas


bochechas.

— Estou tão feliz por vocês dois!

— Obrigada, James, por tudo. Por torcer por nós desde o início, por ser seu
padrinho e um amigo tão bom.

— Eu apenas cuidei dele até você chegar aqui, mas a partir de hoje, esse
imbecil é de sua responsabilidade.— Eu ri e admirei meu melhor amigo por
quinze anos. Eu o tinha visto no seu melhor e no seu pior, mas até hoje, não
achava que ele fosse capaz de chorar. Ele estava tentando esconder, mas seus
olhos brilhavam com as lágrimas.

Eu fui pegar o braço dele.

— Você é um sortudo filho da puta. Ela é sua agora. Legalmente.

— Você pode acreditar? Além disso, não me chame de filho da puta;


mamãe vai perder se ouvir você.— Sim, ela nos agarrou pelas orelhas mais de
uma vez por xingar.

— Talvez agora você tire essa cabeça grande da sua bunda e cuide dessa
sua dama.

— Você realmente acha que precisa me dizer isso? Essa mulher é a porra
do meu mundo. Vou atirar em você no joelho antes de deixar qualquer coisa
acontecer com ela.

— Estou feliz por você também, Sullivan, por ter encontrado alguém. Não
importa que você a tenha atraído como um monstro na rua; Rita é uma mulher
incrível.

— Ela é mais do que isso.

— Sim, então estou dando um tiro no seu conselho, segure-a. Você precisa
contar a ela.

— Contar a ela o que?— Eu estava perdendo alguma coisa?


— A porra da verdade. Diga a ela e diga que você a ama, porque é óbvio
que você a ama, sua boceta grande. Dê a ela um bom pau e verifique que ela
nunca deixará você, não importa o quê.— Minha boca ficou seca.

Eu não poderia, eu poderia?

— Vamos pensar nisso outro dia, porque hoje é sobre você e London.

Ele me deu outro rápido abraço de irmão e foi embora para receber
parabéns de outros convidados. Zach estava certo. Eu tive sorte de ter
encontrado Rita do jeito que eu a encontrei. Uma necessidade espontânea de
segurá-la tomou conta de mim e comecei a procurá-la com meus olhos. A
primeira coisa que vi quando finalmente a encontrei na multidão foi que ela
estava olhando com a mão no peito, como se algo a atingisse e a deixasse sem
fôlego. Algo estava errado. Eu sabia quase por instinto.

Comecei a andar em uma passada rápida, ansioso para chegar até ela,
empurrando as pessoas para fora do meu caminho. Eu ainda estava a dez
passos de distância quando ela olhou para cima e nossos olhos trancaram.

O tormento e o desgosto nos olhos dela me fizeram parar de mover.

Eu não precisava de nenhuma palavra. Ela sabia. Rita recuperou a


memória e o conselho de Zach chegou alguns segundos tarde demais. Um
batimento cardíaco tarde demais. Uma vida perdida tarde demais.

Ficamos assim, ninguém pronto para se mover, até que de alguma forma
encontrei forças para combater o medo paralisante e me aproximar o suficiente
para que ela pudesse me ouvir.
— Baby, não me olhe assim. Por favor, me dê uma chance de explicar.
Cinco minutos.

Eu estava perdendo-a. Ela estava escorregando pelos meus dedos como


areia, bem na frente dos meus olhos desamparados.

Eu a alcancei e, em um gesto automático, ela recuou e isso me doeu. Rita


fugindo de mim me rasgou em pedaços.

— Não me toque.— A voz dela era um sussurro e quebrada, me fazendo


encolher.— Por quê?

Havia muita acusação em seu tom e com razão, mas se ela apenas ouvisse.

— Amor, nada mudou. Eu ainda sou o mesmo homem com quem você
dorme todas as noites, o homem que te ama como um louco.

— Eu não conheço esse homem, James!— Ela voltou a falar com um


sussurro gritado, e fiquei muito agradecido por ela não ter levantado a voz para
combinar com seu estado de espírito. A última coisa que precisávamos era de
uma audiência.

— Dois minutos. Tudo o que preciso são dois minutos com você, Rita; é
tudo o que estou pedindo.— Inferno, eu iria de joelhos e agradeceria ao céu se
ela me desse trinta segundos.

Mas ela não fez. Com seu lindo rosto marcado por remorso e nojo, ela se
virou e fugiu para a saída. Eu não tinha tempo a perder, então comecei a correr
atrás dela e gravei uma mensagem rápida para Wendy: Preciso sair.
Emergência. Cuide da Chelsea.

Onde diabos ela foi?

Eu estava tentando encontrá-la no mar de pessoas que tentavam chegar


ao casal feliz, mas era difícil distinguir qualquer coisa entre tantas cores e jóias
brilhantes. Finalmente, vi um canto do vestido vermelho desaparecendo atrás
da porta do banheiro e decidi segui-la.

Isso não poderia ter acabado; não poderia terminar assim. Eu não
permitiria.

Entrei no banheiro feminino e dois pares de olhos examinadores


pertencentes a duas mulheres mais velhas que não reconheci se moveram. Eu
pensei que elas eram algum tipo de tias de Zach— a trapaceira e a batedora, e
se as histórias fossem verdadeiras, elas ganharam esses apelidos.

— Com licença, jovem, como ousa entrar aqui. Este é o banheiro feminino.

Merda! Eu não precisava de educação agora.

— Sim, senhora, me desculpe. Só estou procurando minha esposa.— Eu


olhei em volta, mas era como se Rita tivesse desaparecido da face da Terra.
Que diabos? Eu a tinha visto entrando aqui.

— Você deveria ter esperado por ela lá fora; isso é absurdo, é...— Seu
discurso foi interrompido pelo som de uma mulher vomitando. Minha mulher.

— Senhoras, se vocês me derem licença.


Fui até o último cubículo e empurrei a porta, mas estava trancada. Eu não
conseguia chegar até ela, e era triste, especialmente porque eu podia ouvi-la
respirando com força e lutando atrás da porra da porta.

— Rita, querida...

— Vai embora!— Ela gritou comigo e lavou o vaso sanitário.

— Amor, por favor, por favor, estou te implorando. Por favor, abra a porta
e deixe-me vê-la.— A angústia estava esmagando minha garganta.

— Afaste-se de mim.— Desta vez, seu tom era constante, mas as palavras
foram acusadas de repugnância.

Eu matei seu lindo sorriso. Aquela serenidade e admiração que ela tinha
nos olhos apenas algumas horas atrás se foram, e eu fui o culpado. Eu sabia
que era o culpado, mas não deixaria que isso me impedisse.

— Rita, pelo amor de Deus, deixe-me vê-la.— Ela não disse nada, então
eu decidi mudar minha tática.— Recuperar sua memória pode ser... essa
náusea pode ser um sinal para o seu nível de estresse, ou pior, um abscesso...

Para minha surpresa, o pedaço de madeira que estava me bloqueando


voou com tanta força que atingiu a parede.

— Não faça isso. Não faça o bom médico comigo. Como você ousa?

Como ouso, de fato.

— Rita, eu te amo.
— Oh meu Deus.— Ela caminhou até a pia com passos desajeitados, e eu
poderia dizer que ela estava tonta. Porra, isso foi tão difícil para ela.— Você é
um daqueles psicopatas que eles mostram no Discovery Channel. O que você
ia fazer? Drenar o meu sangue? Me colocar em uma vala? Me forçar a entrar
em um círculo de tráfico de pessoas?

Eu quase ri do ridículo da situação, mas seus olhos estavam sérios. Rita


estava assustada e com razão. Tirei essa mulher da cidade dela da casa dela…
Eu era apenas um estranho.

— Eu nunca poderia te machucar.— Não conscientemente, mas eu sabia


que estava machucando-a agora.

Tentando fazê-la se sentir segura, levantei minhas mãos e dei-lhe um


olhar implorando. Eu só precisava que ela ouvisse.

— Você é louco. E de quem é aquele bebê? Você a sequestrou do hospital?

— Chelsea é minha filha.— Vê, isso foi bom. Mesmo se ela estivesse
gritando, perguntas significavam que ela estava procurando respostas, e isso
me deu uma abertura para defender meu caso.— Eu era casado antes e
recentemente me divorciei. Chelsea é o resultado desse relacionamento. Ouça...

— Ouvir? Você é surdo? Você ouve as malditas palavras que está dizendo?
Você! Você me disse que éramos casados, que eu tenho uma filha!

Eu fiz. Em uma tentativa desesperada de agarrar algo bom, estraguei tudo


e agora não sabia o que fazer. Ela não estava me dando uma chance de explicar,
e tudo que eu podia fazer era assistir impotente minha vida indo para o lado.
Novamente.

— Eu… você assumiu que éramos casados quando acordou.

Toda a confusão e hostilidade que fervia nela se transformavam em raiva


pura e volátil.

— Você nunca me corrigiu, James! Não tente me culpar por essa situação
fodida quando foi você quem a criou. Você me trouxe para esta cidade, colocou
uma criança nos meus braços e... oh, querido Dios. Todas essas pessoas estão
mentindo para você. Que tipo de grupo fodido você está?

Foda-se, foda-se! FODA-SE! Eu precisava manter isso sob controle, porque


Deus sabia que eu amava essa mulher, mas ela era uma bola de fogo em bons
dias, e eu não poderia tê-la arruinando o casamento de London.

— Rita, não faça isso. Eles são boas pessoas e realmente se importam com
você. Se você recebeu alguma desinformação, é porque eu pedi. Rita, eu te amo.
Eu me apaixonei por você, por sua beleza caótica e sua luz, por como você é boa
com minha filha. Você tem que acreditar em mim.

Sua boca se abriu, mas nenhuma palavra escapou, e eu não sabia se isso
era um bom sinal ou não. Tudo o que eu sabia era que eu quis dizer cada
palavra do caralho.

— Eu não te conheço e não conheço essa criança. Ela não é minha!— A


rejeição dela a Chelsea enviou punhais direto para o meu peito. Ela estava
mentindo para si mesma agora, porque eu tinha visto o cuidado e o amor que
ela tinha pela Chelsea.

Eu tinha um cartão sobrando… um.

— Quando eu te levei ao médico, ele me deixou olhar suas imagens, Rita.—


Eu não conseguia nem olhar para ela enquanto falava.— Seu crânio foi
fraturado mais de uma vez, provavelmente com alguns objetos duros. Vi como
você reagiu quando levantei minha voz para você. Eu… Eu sei que você não
estava feliz. Você não estava segura.

Eu assisti uma dúzia de emoções tomarem conta do seu rosto como ondas
em uma costa solitária. Do choque à raiva e, finalmente, se estabeleceu no
medo bruto. Isso só me deixou mais determinado a mantê-la perto, porque eu
cortaria meus braços antes de deixar alguém tocá-la.

— Quão baixo você está disposto a ir, James Sullivan?— Eu afundaria no


inferno se me desse apenas uma chance de mantê-la perto de mim. Parecendo
horrorizada e angustiada, ela colocou a mão no pescoço e olhou
desesperadamente ao redor.

— Ele vai me matar. Ele vai me encontrar e me matar por isso.

Uma inundação de sangue congelado tomou conta de mim. Assassino.


Letal. Eu nunca teria acreditado que era capaz de violência mortal, mas ela
estava à beira de chorar, e eu estava pronto para destruir quem quer que fosse
ele.
— Você nunca mais precisa ter medo, Rita. Você está mais segura aqui
comigo, e sim, o que eu fiz é… Não tenho uma palavra para isso, mas não vou
me desculpar por tirá-la dessa vida.

Tapa!

A palma da mão caiu na minha bochecha direita e virou minha visão para
os espelhos.

— Rita...

Tapa! Outro.

— Você não tem ideia do que eu passei. Você viu uma imagem, uma foto
de merda, mas eu estava lá para cada sucesso. Mas o que você sabe? Nada.—
Ela parou e respirou fundo:— Nenhum espancamento me machucou mais do
que você fez. Você me deu a ilusão de uma vida que eu sabia que não merecia;
você levou minha vida embora! Você me fez uma mãe apenas para que isso seja
arrancado de mim agora!

— Você não precisa desistir...

— Meu coração quebrou um milhão de vezes todas as noites. Fui dormir e


não me lembrei da minha filha! Se você acha que algum dano pode ser pior do
que isso, então você é hijo de puta delirante!

Suas lágrimas começaram a escorrer por suas bochechas vermelhas e, sem


pensar, eu lancei para a frente, levando-a em meus braços.
— Baby, não. Oh, meu amor, nunca mais quero vê-la triste ou com medo.
Eu não vou permitir.

Ela não estava lutando, mas estava mantendo distância, ficando imóvel
em meus braços.

— James, eu preciso sair daqui agora!— A voz dela era um sussurro fraco
perdido entre soluços.

— Eu vou te levar para onde quiser, apenas me diga.

— Não.— Não?!— Eu preciso me afastar de você. Fique com seus amigos;


este é o dia deles.

— Rita, eu não posso deixar você passear quando você está neste estado.

Ela se afastou de mim olhando morta nos meus olhos com um olhar duro.

— Eu não sou da sua conta. Sou casada com outro e agora preciso começar
a limpar a bagunça que você fez.

O que?! Alarmes, bandeiras vermelhas, sinais de parada, você escolhe, e


todos eles dispararam na minha cabeça naquele momento.

— Não, não, não, Rita, não! Você não pode se afastar de mim. Você é minha
família, porra; você é minha.— Eu me senti paralisado pelo desamparo e pelo
pânico! Ela não podia... ela não podia… e quanto a mim... E a Chelsea?

E a Rita? Ela não podia voltar lá.


Ela começou a se afastar, apontando para a porta, e eu me virei para olhá-
la, mas não consegui me mexer. A ansiedade era incapacitante.

— Rita… você prometeu.

No meio do caminho, ela parou para me olhar, ainda chorando.

— Você prometeu que se lembraria do quanto eu te amo. Não importa o


quê.

Por uma fração de segundo, houve indecisão nos olhos dela, mas morreu
tão rápido quanto minha esperança.

— Adeus, James Sullivan. Não temos mais nada a dizer um ao outro.


Fique longe de mim.
CAPÍTULO VINTE

Era difícil respirar. E foi tão difícil andar por causa dos sapatos estúpidos.
Eu os odiava. Eu odiava esse vestido. Eu odiava essa cidade inteira. Eu odiava
tudo o que o homem já havia tocado.

Essa coisa toda parecia um filme de terror, mas não era. Era a minha
realidade fodida.

O que eu fiz agora? Trujillo estava me procurando? E se ele estivesse,


quanto tempo até esmagar minhas rótulas por fugir?

Trujillo Batista era o tipo de homem que você via bebendo em um bar,
rindo com os amigos, encantando todos à esquerda e à direita. Ele era atento e
doce, brilhando à luz do dia como um diamante, mas tudo mudava quando o sol
se pôs, e não havia mais raios para refletir mentiras de sua máscara de espelho.
Eu o conheci no último ano do ensino médio, logo após meu décimo oitavo
aniversário. Ele me deixou encantada com as suas cantadas e um sorriso
obscuro, mas principalmente foram suas histórias de liberdade que venderam
meu coração para ele.

Nascido em Boston, de pai cubano e mãe americana, Trujillo me fez


desenhar para ele o tempo todo. Ele via um prédio ou uma paisagem e me pedia
para desenhá-lo, e ele sempre mantinha todos. Ele fez parecer que minha arte
significava alguma coisa. Ele me contou sobre todas as galerias de arte que
visitou nos EUA, todas as coisas que eu poderia fazer com minha arte… é claro,
eu me apaixonei como um filhote desamparado, estúpido e cego.

Então, eu saí com ele. Eu segui o sonho— uma vida como meu pai queria
para mim, mas nos meus termos. Eu pensei que estava perseguindo minha fé
até Trujillo começar a cuspir veneno na minha cara.

Tivemos apenas uma pequena cerimônia religiosa na Catedral de São


José, o santo padroeiro do casamento, apenas nós dois e algumas freiras para
testemunhar.

Ele nunca quis que eu conhecesse sua família ou me casasse legalmente,


mas eu estava bem com isso porque todas as manhãs ele me dizia que eu era
uma garota bonita e eu era talentosa. Na noite em que nos casamos, ele me
levou para jantar em um belo restaurante italiano com as mais incríveis
pinturas a óleo nas paredes.
Duas semanas depois, ele me deu um novo conjunto de telas e óleos para
treinar minha mão sobre eles— eu estava em êxtase, andando nas nuvens.
Fiquei tão impressionada com a felicidade que estraguei o café expresso dele.
Trujillo bateu a minha mão esquerda no balcão e quebrou meu mindinho para
ter certeza de que nunca esqueceria minha lição.— Nunca use adoçante no café,
apenas açúcar mascavo. Valeu a pena quebrar os meus ossos.

A partir daí, eu estava caindo livre no inferno.

Toda semana, toda vez que saíamos de casa— quando ele me permitia—
ele via algo que não gostava e me ensinava outra lição.

Às vezes eu revidava, mas isso não me tornava menos vítima. Eu estava


perdida, sozinha e dependente do homem que tirou toda a sua frustração de
mim.

O que eu deveria fazer, sair? Ir para onde? Minha família me disse para
não chegar à porta lambendo minhas feridas quando Trujillo me chutasse até
o meio-fio.

Ir para a polícia? Eu? Uma imigrante cubana sem nada em meu nome e
passaporte vencido?

Presa. Eu era um rato pequeno em uma armadilha grande e ruim.

No dia em que perdi minha memória, ele ameaçou cortar minha garganta
porque me viu conversando com o carteiro. Trujillo levou o sangue cubano
fervente de seu pai; ele era possessivo— possuído por ciúmes. Se ele deixasse
o apartamento por mais de vinte minutos, olharia em volta para ver se os
móveis estavam no mesmo local. Uma vez eu chutei um travesseiro do sofá da
sala, e ele me acusou de esgueirar outro homem para 'dar a ele uma chupada
rápida como uma prostituta de trinta dólares'— suas palavras, não minhas. Eu
tive tantos punhos nas costas que não consegui sair da cama por nove dias. Eu
corri— eu estava correndo de um facão que pressionou meu pescoço quando
James me encontrou. A imagem ainda estava confusa, mas não tive um
acidente. Eu corri e corri e corri, tão rápido que eu tinha certeza de que estava
prestes a voar e depois..., era como se alguém pegasse minhas baterias. Eu me
senti entorpecida e caí como uma pedra em um lago, apenas para acordar
olhando para os olhos mais quentes que eu já tinha visto. Verde primavera,
feliz, luminoso. Os olhos de James não carregam uma fração do mal sombrio
que espreita dentro de Trujillo.

James.

Ele me pegou na rua e cuidou de mim...

....Não. Ele me vendeu outra fantasia bem pintada! E esta foi boa, oh, foi
tão boa.

Balançando a cabeça e tentando recuperar o foco, olhei ao meu redor para


os becos do parque em que estava. Eu não tinha ideia de como cheguei aqui ou
onde diabos era aqui. Este parecia ser o status quo da minha vida
recentemente; eu não tenho ideia de onde estou ou para onde estou indo. E
desta vez eu não podia contar com James para me guiar por esse labirinto e
voltar à normalidade.

Onde, em nome de Deus, eu deveria ir agora? Eu não poderia voltar para


a nossa... a casa; meu telefone estava morto— graças a Jesus, porque tocou
sem parar por uma hora— e meu cartão de crédito era inútil porque eu não
estava disposta a gastar mais um centavo do dinheiro daquele homem.

Eu não poderia voltar para Boston.

Eu não poderia voltar para Cuba.

Eu não poderia voltar para James.

Eu estava condenada.

Horas depois, quando o sol se pôs e foi substituído pelas luzes da cidade,
meu corpo estava gasto; meus pés estavam com uma dor atroz por toda a
caminhada de salto alto, e minha cabeça estava pulsando. Com pouca energia,
sentei em um banco de madeira no coração deste parque desconhecido. Eu
provavelmente parecia uma drag queen fracassada com este vestido, meu
cabelo bagunçado e rímel escorrendo pelo meu rosto.

Eu não conseguia parar as lágrimas. Por mais que tentasse me dizer que
isso não era motivo de choro, que eu deveria estar furiosa e não triste yo soy
cubana e soja mais forte que este— Eu sou uma cubana e sou mais forte que
isso— não consegui parar.

A onda de desgosto e preocupação era poderosa demais para controlar.

O que ele vai fazer agora? Ele ficaria bem? Ele se lembraria da visita com
o eletricista na quinta-feira para reparar a tomada quebrada? Ele sabia que a
Chelsea estava quase sem fórmula e alguém precisava ir na loja amanhã...?

Chelsea.
A imagem de bochechas gordinhas sorridentes e um par de lindos olhos
verdes me atingiram com a força de um tsunami desencadeando na praia. Eu
nunca mais a veria, e a sensação de perda estava se instalando no espaço oco
do meu peito. Não me lembrava de ter amado algo tanto quanto amava aquela
criança… ou seu pai estúpido. Agora eu tinha que viver a vida sem esse amor,
e não pude deixar de me perguntar se valia a pena.

Uma garota correndo sozinha me viu e parou na minha frente parecendo


um pouco confusa. Sim, eu também ficaria confusa se visse uma palhaça chique
chorando em um parque às dez horas da noite, nesse clima frio.

— Umm...você está bem? Posso ajudá-la a chegar em casa ou algo assim?

— Não, obrigada.— Eu lutei para falar as palavras, mas minha voz soou
empoeirada e minha garganta estava doendo depois de longas horas chorando.

— OK. Você quer um pouco de água?— Oh, eu poderia tomar. Acenei para
a garota, agradecida por sua oferta, e ela se aproximou para me dar uma
garrafa selada.

— Obrigada, e eu estou bem, sério; você não precisa se preocupar. Apenas


um dia ruim.— O pior da história.— Você não precisa da água?

— Continue, estou voltando de qualquer maneira.— Disse ela com um


sorriso compreensivo e seguiu seu caminho. Para sua casa porque ela tinha
uma para ir.

Desanimada com a pilha de merda com a qual tive que lidar, bebi
lentamente a água em goles, tentando lavar tudo. Não funcionou, mas eu não
pude ficar aqui a noite toda, e havia apenas dois lugares que eu conhecia nesta
cidade: a casa de Zach e a casa das Monroe.

Eles mentiram para mim, sem rodeios e na minha cara, mas eu não tinha
outra escolha agora. Eu não poderia ir no Zach e London na noite de núpcias
depois de mais do que provável que eu já tivesse arruinado a recepção e dado
um tapa no padrinho duas vezes.

Com um plano em mente, voltei aos meus pés e encontrei o caminho para
sair do parque para procurar um táxi. Felizmente, guardei algum dinheiro da
minha corrida para a loja de artigos de arte há alguns dias e, vinte minutos
depois, o motorista me deixou na frente de uma casa em Rogers Park. Eu
adorava aquele lugar desde a primeira vez que James recebeu um convite para
o jantar e visitamos. A casa em si era pequena e íntima, um lugar de dois
quartos que parecia instantaneamente em casa, e o cenário era bonito— era
como se elas vivessem dentro de um cartão postal. Elas tinham acesso direto
ao lago, uma pequena praia particular e um píer no meio de uma das maiores
cidades da América. Olhando para o pequeno chalé da cidade no lago Michigan
e de volta aos arranha céus brilhantes e estradas movimentadas, percebi o
quanto amava esta cidade. Eu nunca havia encontrado meu lugar em Boston,
mesmo antes de se transformar na minha prisão; era muito pomposa, rígida
demais para mim. Mas aqui? Era como se Chicago fosse construída para
combinar com meu coração: um pouco de calma, muito caos e tantas cores
brilhantes.

Casa. Minha casa. E agora eu tive que me despedir disso e tudo por causa
de James fodido Sullivan. Por que ele não podia simplesmente sentar comigo
no hospital, me dizer que ele era meu médico ou algo assim. Eu teria ficado de
cabeça para ele de qualquer maneira. Como eu não podia.

Uma nova inundação de lágrimas se reuniu atrás das minhas pálpebras,


e eu não tive escolha a não ser deixá-las ir e mover mecanicamente meus pés
para a porta para bater.

Eu podia ouvir Wendy correndo para a porta e abrindo-a. Ela estava


vestida com calça de ioga e uma camiseta folgada, e seu cabelo, tão bem
trançado antes, agora estava lavado na hora. Quando ela me viu e o estado
deplorável em que eu estava, seus olhos ficaram arregalados, preocupados e
um pouco culpados. Sim, ela deveria estar.

— Rita, meu Deus, você parece… você não está bem.— Não era uma
pergunta.

— Quem diabos está na porta tão tarde, querida?— Ouvi a voz de Jessica
falando de algum lugar da casa.

— Umm, bem, Rita está aqui, querida.— Em questão de segundos, a


esposa de Wendy estava ao seu lado, me observando com uma carranca.

— Rita, boneca, onde você esteve e o que diabos aconteceu? James estava
desesperado procurando por você; ele teve que sair da recepção cedo. Acho que
ele está em casa com a Chelsea esperando por você.

Eu podia ouvir a preocupação na voz dela, mas não sabia dizer que meu
humor havia mudado muito. Eu já estava no ponto mais baixo.
— James e a filha dele vão ficar bem. Eu...— Percebi que não precisava
me explicar porque elas pegaram no meu tom.

— Você se lembrou.— Disse Wendy, e Jessica permaneceu abafada ao seu


lado, olhando para algo no chão.

— Sim, eu fiz.

— E como você se sente sobre tudo?

Frustrada, cansada e com fome. Joguei minhas mãos no ar.

— Como parece que estou me sentindo? Como merda!— Fiz uma tentativa
de limpar as trilhas molhadas do meu rosto, mas só piorei, as costas da minha
mão ficando pretas de rímel manchado.— Olha, eu sei que ele é seu amigo, mas
nunca mais quero vê-lo. A única coisa que saiu de sua boca que eu acreditava
ser verdadeira foi quando ele me disse que você era uma boa pessoa. E eu
preciso de ajuda.

Dessa vez, Jessica assumiu a liderança da conversa.

— Garota, goste ou não, você faz parte do grupo. Como podemos ajudar?

Demorou alguns segundos para superar o nó na minha garganta.

— Eu não tenho para onde ir.— Vergonha esmagadora me atingiu. Eu


estava cansada de ficar com os outros.

Sem outra palavra, Wendy pegou minha mão e me arrastou, fechando a


porta atrás de nós, e Jessica me envolveu em um roupão de banho.
— Umm, Jessica, você só está de calcinha.— Eu disse e Wendy riu ao meu
lado.

— Sim, seja o que for, somos todas mulheres aqui, e você deve estar
congelando. Vá com Wendy para a cozinha para que ela possa bombear alguns
líquidos quentes em você. Nosso quarto só tem um banheiro, mas vou lhe dar
um banho na banheira no banheiro principal.

Ugh, um banho pode ser a única coisa para salvar minha sanidade hoje.

— Jess, eu posso tomar um banho.

— Cale a boca. Chá, banho e podemos conversar depois.

Poderíamos nunca conversar? Eu terminei de falar. Eu precisava de


conserto. Consertar a minha vida destruída. Mas assenti com gratidão porque
meu peito estava um pouco mais leve agora do que quando eu estava lambendo
minhas feridas no parque.

— Eu preciso de mais um favor. Por favor, não diga a ele onde estou, não
posso...

Ambos suspiraram e se entreolharam ansiosamente.

— Vamos nos comprometer; diremos a James que você está aqui, para que
ele saiba que você está segura, mas eu e Jess prometemos que não
permitiremos que ele se aproxime de você se você não quiser.

— Eu não quero, e no momento em que você disser a ele que vou ficar com
você, James estará à sua porta.
— Você conheceu minha esposa? Jessica vai chutá-lo nas bolas se ele a
empurrar com muita força.— Sim, eu pude ver isso acontecendo.

Depois de três xícaras de chá, afundei em um banho úmido, tentando


relaxar meus músculos e minha mente, mas não estava funcionando. Enquanto
meu corpo estava mole, minha mente começou a correr mais rápido. Trujillo,
James, o espancamento, Cuba, eu, Chelsea. Era como se eu estivesse presa em
um laço de tormento, e tudo que eu podia fazer era chorar. Eu estava
começando a ficar chateada comigo mesma por todo esse lamento, porque eu
não era esse tipo de mulher. Eu sofri muito. Eu tinha minhas costelas
quebradas sob os punhos de um homem que jurou na frente de Deus que ele
cuidaria de mim, e sim, às vezes lágrimas caíam, mas não assim e não tantas.

Então por que? Porque agora eu não estava sofrendo, não. Agora eu estava
de luto.

Antes que meu corpo se machucasse, e sugasse; quebrou algo em mim que
nunca mais seria inteiro— o medo pode ficar comigo para sempre— mas eu
sempre sabia que em algum lugar havia uma saída. Eu só tinha que encontrá-
la. Agora eu me senti assim apenas fechada. Meu coração perdeu muito. Perdi
o homem que amava— amava— porque como poderia acreditar em uma
palavra que ele disse? Ele me usou. Eu estava perdida e confusa, e ele
aproveitou meu corpo e minha mente fraca. Não importava o quanto eu o
amava, ou de quantas maneiras ele poderia me fazer gozar; ele me usou como
seu fantoche.

O que aconteceria com minha bebê quando eu saísse— agora que eu saí.
Eu fiquei tentando me dizer que ela não era minha, mas sabia que daria minha
vida, cada gota de sangue cubano que carregava, sem hesitação, por aquela
menina. O pensamento de seguir em frente sem ela era insuportável.

O grito da Chelsea foi a última coisa que ouvi na minha cabeça antes de
adormecer inquieta.

Acordei quando Jessica beliscou meu nariz e fiquei confusa.

— O que?

— Você adormeceu na banheira. Vamos lá, a água está fria e você parece
uma passa.— Oh, que apetitoso.

— Estou nua, vire-se.

— Oh, vamos lá, Rita, nós duas somos mulheres.— Disse ela com uma
piscadela.

— Boa tentativa, vire-se. Acabei de fazer sexo com pessoas aleatórias em


Chicago.— Jessica se virou e saiu rindo alegremente, e fiquei agradecida por
isso. Eu precisava de um pouco de felicidade ao meu redor agora, ou posso
acabar recorrendo ao suicídio.
— Você está decente?

— Si.— Eu disse depois que apertei o nó no roupão de banho.

— Wendy arrumou o outro quarto para você e pegou algumas roupas dela.
Você pode ir direto para dormir, se quiser, ou podemos descer as escadas,
saborear um pouco de vinho… ou um pouco de tequila.

Quero dizer, o que diabos poderia dar errado? Eu assenti e encolhi os


ombros. Talvez a névoa que pudesse ser encontrada em uma garrafa de Don
Julio fosse exatamente o que eu precisava.

— Vocês não precisam trabalhar amanhã?

— Não. A chefe Sadin deu a todos do círculo interno um dia de folga para
se recuperar após o casamento.

— Ela parece uma boa dama.

— Ha! Ela é uma titã. Ela estava no casamento. Pena que você fugiu antes
de conhecê-la.

Não por escolha.

— O que você disse sobre tequila?

— Sim, shots! Talvez nos tiramos as roupas e nos beijemos. Eu posso ser
sua recuperação.
— Você já deixou o mundo saber que você é uma molenga por dentro e uma
boceta chicoteada, para poder parar com essa farsa machista.— Eu disse,
divertida e bati no ombro dela.

Caminhamos para a sala e pudemos ouvir Wendy na cozinha murmurando


algumas palavras no telefone. Demorou uma fração de segundo para saber
quem estava do outro lado da ligação.

— Sim, ela está aqui sã e salva… não… não… escuta, talvez todos
devêssemos dormir… não, só estou lhe dizendo o que ela disse… Rita não quer
ver você… Jesus, não… Escute-me, seu grande idiota; ela está exausta,
assustada, louca e você não quer receber toda essa emoção… ugh, você não ouve
o que estou dizendo? Deixe-me esclarecer para você: James, eu te amo, mas se
você vier aqui, deixarei Jess te afugentar com uma vassoura… aha… aha… nós
vamos… aha… ok, agora desligue o telefone e verifique Chelsea. Eu posso ouvi-
la chorando ao fundo.

A última parte atirou flechas no meu coração, e eu tive que me impedir de


pular e correr de volta para encontrar minha bebê. Pensar que ela estava triste
contorceu meu coração da maneira mais dolorosa.

Afogando-me em angústia, olhei para Jessica, e o olhar misericordioso em


seu rosto era demais para suportar. Lágrimas começaram a se reunir
novamente, mas desta vez eu estava pronta para revidar. Peguei a garrafa de
tequila e a balancei com tanta força que bastava congelar minha dor a tempo.
CAPÍTULO VINTE E UM

Chelsea pegou a chupeta e jogou-a do outro lado da sala com outro grito
cruel. Ela estava cansada; ela estava irritadiça e honestamente, eu senti o
mesmo.

— Eu sei. Menina, eu sei! Prefiro ter Rita aqui também.— Peguei minha
garota nos braços e inalei aquele doce cheiro de bebê. Ela foi a única razão pela
qual eu consegui manter minhas coisas juntas naquele momento.

Ela se foi; ela saiu.

Eu deveria estar acostumado a ter mulheres saindo da minha vida agora.


Quando Avery desapareceu na noite e deixou nossa filha com a babá,
fiquei arrasado sob uma montanha de emoções, mas a mais distinta era a raiva.
Eu estava com raiva dela por ter a audácia de colocar algo— qualquer coisa—
acima da felicidade da Chelsea. Eu estava louco. Eu estava com medo de criar
essa bebê sozinho. Fiquei descontente com a virada feia que minha vida tomou,
mas isso? Eu nunca tinha me sentido assim antes.

Eu estava flutuando através de nuvens de tristeza e medo, preocupação e


o sabor amargo da ausência. A casa estava vazia sem Rita para preencher o
espaço com suas risadas altas e presença radiante.

O único consolo que tive foi que sabia que a Wendy e a Jessica a
manteriam segura, pelo menos por hoje à noite. Eu sabia onde ela estava e
onde ela abaixaria a cabeça; pelo menos não precisava me preocupar com isso.
Eu disse a Wendy muito alto e claro, Rita não deve deixar Chicago. Não
importa o que ela pensasse ou o que estivesse dizendo, elas precisavam mantê-
la aqui. Eu não a deixaria voltar para aquele lugar que a quebrou, e não dei a
mínima para quem a esperava.

Duas horas depois, a Chelsea finalmente dormiu e eu pude dar um passo


atrás.

Como diabos eu me recuperaria disso? Eu não podia assistir a mulher que


amava se afastar de mim e sobreviver.

Enchendo um copo de cristal com o uísque mais forte que eu tinha nas
prateleiras, estava pensando em como as mesas se voltaram contra mim:
alguém poderia acreditar que hoje Zach me deu bons conselhos? Quantas vezes
eu disse para ele me ouvir para evitar um desastre… e ele nunca fez. Hoje,
trocamos de lugar.

....Se ao menos eu tivesse a chance de seguir seu conselho.

Eu não tinha chance de dormir esta noite, então apenas me sentei no sofá
provando o uísque lentamente, não o suficiente para me embebedar, mas
apenas para facilitar a digestão de tudo.

Eu não conseguia acompanhar todos os pensamentos que passavam pela


minha cabeça ou todas as perguntas, e eu nem tinha certeza de que queria,
então fiquei aqui imóvel, não pronto para desistir, mas ciente de quão
impotente eu era.

Ela me amou; ela nos amou. Eu sabia que ela fazia, mas para que isso era
bom? Essa pergunta ecoou na minha cabeça pelo resto da noite e, quando o sol
estava de volta ao céu, eu sabia que era hora de desistir do uísque e me buscar
um chá? Foda-se, eu teria um dos expressos cubanos de ataque cardíaco de Rita
apenas para ter o cheiro da casa como se ela ainda estivesse aqui.

Cheguei à cozinha, liguei meu fogão elétrico e coloquei a cafeteira de metal


da Rita. Demorou exatamente três segundos para perceber que não tinha ideia
de como usar isso, mas não estava prestes a desistir. Eu precisava de uma
vitória, por menor que fosse, então não deixaria essa cafeteira me fazer
ajoelhar.

Quatorze minutos e dois tutoriais do YouTube depois, eu estava pronto


para preparar a maldita coisa quando meu telefone tocou no outro cômodo. Meu
coração quase saiu do meu peito porque havia a menor possibilidade de Rita
ligar. Todo o meu entusiasmo desapareceu quando vi um número desconhecido
na tela.

— Olá?— Eu respondi e esperei; houve uma pequena pausa antes que a


voz de Avery caísse sobre mim como uma pedra pesada lançada do céu.

— Olá James. Eu preciso da minha pulseira de volta. Aquele que a minha


avó me deu; você sabe, eu usei no nosso casamento. É de ouro com pérolas e
alguns diamantes.

— Com licença?

Acho que o álcool, o cansaço e a dor me atingiram porque não havia como
ouvir isso direito. De jeito nenhum.

— Eu realmente preciso disso, James e rápido. A velha mulher está pronta


para ir para o além, e se eu não aparecer no leito de morte dela usando isso,
ela me tirará do testamento. Você sabe quanto dinheiro ela tem para dar.
Estarei na cidade na próxima semana e posso buscá-la.

Eu nunca tive um sentimento tão feio em relação a uma mulher, e quero


dizer nunca.

Eu nem queria definir a emoção que passou por mim naquele momento.

— É melhor que seja uma piada.

— James, é muito importante.


— Meses. Você se foi há meses sem deixar vestígios, sem telefonemas, sem
uma palavra que não foi passada por um advogado. Você não vê uma foto da
sua filha há meses, e a primeira coisa que você diz é sobre a porra de uma
pulseira?

Silêncio. Sim, é melhor ela ficar calada. Quem faz algo assim?

Minha raiva só cresceu em intensidade pensando na minha Rita. Ela se


recusou a falar comigo, mas aposto que ela estava girando e torcendo pensando
em Chelsea. Aquela mulher que encontrei nas ruas há poucas semanas era
uma mãe melhor para minha filha do que aquela que eu pensava ser minha
esposa para sempre. Se ainda havia alguma dúvida, Avery a esmagou naquele
momento.

— Eu ia perguntar sobre ela depois. Como ela está?

— Você realmente se importa?

Outra longa pausa oscilou entre nós.

— O que você quer que eu diga, James? Eu nunca quis uma filha; é muito
cedo. Não estou pronta para ser mãe de ninguém, mas você está para ser pai.
Eu não seguro nada contra a criança, no entanto. Não é culpa dela que nosso
casamento tenha caído pelas rachaduras.

Do que diabos essa mulher estava falando? Eu estava começando a


suspeitar em um nível real que ela começou a usar drogas.
— Não, não é; a culpa é sua, Avery. Você nem teve a cortesia de falar
comigo sobre isso. Você acabou de sair de casa e abandonar a sua bebê recém-
nascida. Com outro homem do caralho.— Foi a primeira vez que conversamos
desde a partida dela. Primeira oportunidade de jogá-la com minha frustração
venenosa, mesmo que não fosse como eu. Mas hoje? Hoje perdi a mulher que
amava, e se Avery foi quem levou a chance, que assim seja.

— Eu não saí com outro homem, não me faça parecer uma trapaceira. Ele
é meu agente. Agora pare de protelar e vá buscar minha pulseira. Eu preciso
disso.

Protelar? Ela pensou que falar sobre a nossa filha era protelar?

— Eu não tenho sua pulseira, Avery. Você levou todas as suas roupas e
jóias com você.— E a bagagem bastante cara. Ela limpou a caixa de segurança
que mantinhamos no banco de qualquer vestígio de uma pedra brilhante e
dividiu nossa conta bancária.

Isso foi tudo; ela não levou uma foto, um brinquedo, nada.

— Não, eu não tenho, então significa que você tem!

— Eu não tenho sua pulseira.— Eu disse com o tom mais achatado


possível.

Quando ouvi a voz dela, me preparei para sentir meu intestino arrancado
de mim. Eu esperava mais dor, mais sentimento, mais… algo, qualquer coisa,
mas eu só senti pena dela.
Foi muito revelador. Eu me esquivei de uma bala, bem, não exatamente
esquivei-me porque me casei com ela, mas tirei a maldita bala.

— Sim, você tem. Você não pode ficar com isso; é meu. James, estou
falando sério; se você não devolver isso para mim, eu o processarei por isso. É
minha propriedade.

HA! Eu comecei a rir.

— Boa sorte com isso. Não sei o que o juiz dirá sobre você se você aparecer
no tribunal por uma pulseira, mas não se deu ao trabalho de fazê-lo por sua
filha. Já tive o suficiente disso, adeus Avery. Não me incomode novamente se
não for sobre a Chelsea.

Eu estava chateado com ela, mas não fui cruel; se ela quisesse ver Chelsea,
eu não iria esconder a bebê dela. Honestamente, não achei que isso fosse um
problema tão cedo.

Balancei a cabeça, tentando largar todo esse inconveniente extra. Avery


não poderia ter me contatado em um momento pior, mas eu precisava deixar
aquele maldito telefonema. Eu tinha apenas um objetivo naquele momento:
trazer minha mulher de volta.

Eu não sabia se tinha chance. Sinceramente, não, mas não estava


deixando ir sem lutar. Ela valia o suor e o sangue. Ela valia a porra da minha
vida.

Por um lado, eu tinha certeza; eu cuidaria daquela mulher se fosse a


última coisa que fiz nesta terra, mesmo que ela escolhesse me deixar para trás.
Ninguém. Nenhum homem ou mulher, nem mesmo Deus, passaria por mim
para machucá-la novamente.

O medo animal em seus olhos quando ela falou sobre aquele homem, seu
marido, pelo amor de Deus, era o único combustível que eu precisava. Ela
nunca teria que se sentir assim novamente, porque o que Deus uniu eu nunca
me separaria dela.

As rodas começaram a se mover na minha cabeça, juntando as coisas


quando fui interrompido pelo som desagradável do meu pager. Porra! Algo
estava realmente errado se o hospital me chamasse em um dia de folga. Peguei
meu telefone de volta e liguei para Mary, que eu sabia que estava no turno
enquanto conversávamos.

— Fui chamado no pager; o que está acontecendo?

— Doutor Sullivan, você tem que vir aqui. É Thomas Dallas, sua última
extração de tumor. Ele está apreendendo, e o TC mostra muita construção
fluida ao redor de seu cérebro. Você precisa chegar aqui e fazê-lo rápido.— Puta
merda!— O médico de plantão quer fazer isso, mas ele é um desleixado,
inexperiente...

Mary levou seu trabalho muito a sério e nunca colocaria um paciente em


risco para me deixar sentar na minha bunda e cuidar do meu coração partido.

— Me dê meia hora; reserve uma sala de cirurgia e verifique se ele está


preparado.

— Já pronto!— Ela disse, e a linha ficou morta.


Porra, eu precisava ligar para a babá e seguir em frente. Por algumas
horas, tive que trancar Rita no fundo da minha mente e voltar ao jogo.

Subi as escadas correndo, pegando o que precisava para a estrada e


discando a babá ao mesmo tempo. Ela atendeu a segunda ligação.

— Doutor Sullivan?

— Ei, querida, desculpe incomodá-la em um fim de semana, mas eu tenho


uma emergência no hospital. Chelsea precisa de alguém para cuidar dela.

— Oh, estou acostumada com sua agenda, mas Dr. Sullivan, quando você
disse que estaria em casa o fim de semana inteiro, planejei uma fuga para o
outro lado do lago. Estou em Michigan, senhor, Union Pier.

E o que diabos eu estava fazendo agora?

— Oh, entendi.

— Sinto muito; posso chegar em casa em algumas horas e ir direto para


sua casa.

— Não, não, não se preocupe. Aproveite o seu dia no lago. Vou ligar para
alguns amigos.

Nos despedimos e comecei a coçar a cabeça procurando por uma ideia.

Não havia como eu deixar minha bebê na porta do Zach no primeiro dia
de sua lua de mel; ele tentaria me castrar e eu não tinha babá de volta. Eu não
precisava de uma nos últimos três meses porque tinha Rita aqui.
Porra! Eu pensei que não teria escolha a não ser levar Chelsea comigo e
deixá-la na creche. O pensamento não se encaixava bem comigo, porque eu
sabia que minha filha odiava a creche geral da Chicago Mercy. Eu só a deixei
lá por algumas horas uma vez quando tive que cortar um rápido aneurisma.

Gentilmente, fui ao quarto dela e a acordei; nos preparamos juntos e eu


dei a mamadeira para ela antes de ir para o carro. Foi quando o milagre
aconteceu, meu telefone tocou e o nome de Wendy piscou na tela.

O que?

— Eu… sim?— Eu respondi com muita hesitação, porque esse telefonema


poderia trazer esperança ou uma tonelada de más notícias. E se algo
acontecesse com Rita?

E se ela fosse embora?

— Ei, James, você está bem?

— Wendy o que está errado?— Falamos ao mesmo tempo, e então eu fechei


minha boca para deixá-la falar.

— Nada aconteceu. Eu estava apenas checando você. Você precisa de


alguma coisa?

Sim, Rita.

— Eu não estou ótimo, Wendy, mas não posso me concentrar nisso agora.
Operação de emergência no hospital. Acabei de receber um alerta de pager.
— Oh, e a babá chegou aí?

— Não, estou levando a Chelsea para a creche.

— O que? Não! Ela odeia a creche. Traga-a aqui.

— Baby, eu… Eu faria, mas a última coisa que quero é tornar o dia da
Rita menos suportável.

— Espere.— Disse ela, e eu pude ouvir sons abafados.— Traga-a aqui.


Você ainda não está autorizado a entrar aqui em casa.

Ótimo, Rita ficou repelida pela minha visão. Impressionante.

— Ela não precisa mais passar por isso, Wendy. Eu me sinto uma porcaria
por fazê-lo em primeiro lugar.

Todo esse maldito pesadelo que eu fiz foi doentio e distorcido. Eu sempre
soube disso, mas ela era um milagre demais para deixar ir. A última coisa que
pude fazer foi respeitar os limites dela ou o que restava deles.

— Sullivan, ela está desmoronando, e parte disso está acontecendo porque


ela sente falta da Chelsea. Ela acordou três vezes na noite passada para checá-
la… e voltou para o quarto de mau humor quando percebeu que a bebê não
estava aqui. Por favor.

...E meu coração estava desmoronando com ela, mas se acelerou na mesma
velocidade.
Pensar que ela tinha tanto amor por minha filha depois de ouvir de Avery
a maneira como fiz hoje foi o melhor tratamento que qualquer médico poderia
dar à amargura em mim. Ela ainda se importava, e esse era o forro de prata
que eu estava procurando desesperadamente.

— Se é isso que Rita quer.

— É o que ela quer e o que ela precisa… e o que você necessita.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

O café com sabor de avelã que Wendy pegou na Starbucks tinha um gosto
doce e leitoso, mas eu fiquei agradecida de qualquer maneira. Meu corpo
reconheceu as trilhas de cafeína enterradas sob todo esse açúcar e a abraçou.

Hoje foi ainda pior que ontem. Ontem, vi minha bela vida caindo aos
pedaços como um castelo de areia atingido por um torpedo, mas agora eu
realmente tinha que viver nessa porra de realidade e não gostava. Fisicamente,
meu corpo havia desistido de mim. Eu estava tão cansada que estava realmente
doendo, mas não consegui me forçar a cair em um sono profundo.
Enquanto cheirava minha xícara de café, tentando ficar chapada com a
energia e me recompor, as Monroes entraram lado a lado, ambas usando um
daqueles sorrisos más notícias, não nos mate.

— O que?— Eu perguntei, entrando em pânico.

Com as mãos para cima, Jessica se aproximou e sentou ao meu lado.

— Então, James está a caminho daqui.— Eu não tive tempo de entrar em


pânico porque ela pulou para interromper minha reação.— Ele não vai ficar,
apenas deixará a Chelsea. Ele foi chamado para uma cirurgia de emergência.

Oh, certo. Fiquei esquecendo que fora dos muros da sua casa, ele era esse
Deus que tinha o peso de muitas vidas em seu ombro.

— Espere, ele está... ele está trazendo a bebê?— Meu coração parecia que
acabei de empurrar uma pedra enorme. Eu tenho que ver a Chelsea. Pelo
menos mais uma vez, eu a veria. Oh, eu poderia começar a cantar agora, e Deus
sabia o quão surda eu era.

— Ele não tinha uma babá durante o dia e... olha, se você não quer vê-la,
eu entendo. Eu não gosto, mas entendo. Vamos mantê-la longe...

— Longe...não! Eu realmente quero vê-la.— Meu sussurro cortou a tensão


na sala.

— Ok, bom, porque acho que ele acabou de entrar na nossa garagem. Ele
só vai andar até a porta, então fique à vontade para se esconder aqui.
A campainha tocou e eu soltei o ar que estava segurando nos pulmões. Foi
tão estranho. Eu ainda estava brava, furiosa, mas agora que ele estava tão
perto, eu podia respirar novamente. Eu não queria vê-lo; na verdade, acho que
nunca mais poderia olhar para ele sem tentar castrar o homem, mas... era bom
saber que ele estava por perto. Havia tanto feio no meu passado, tanta miséria,
e ele entrou na minha vida para preenchê-la com toda essa calma graciosa. Se
ele estivesse aqui, isso significava que o passado não poderia chegar até mim.

Um arrepio sacudiu através de mim só de pensar no que poderia acontecer


se Trujillo colocasse as mãos em mim novamente. Voltar não era uma opção;
ele não teve nenhum problema em me chutar até que eu sangrasse antes,
quando ele não tinha motivo. Agora ele me mataria e não seria rápido.

Depois de alguns segundos e uma conversa sussurrada que eu não peguei,


Jess e Wendy voltaram com Chelsea se esforçando para usar sua mamadeira
de fórmula, amarrada com segurança no assento do carro.

No momento que a vi, toda gota de mal que eu conhecia no mundo parecia
desaparecer. No momento que ela me viu, a mamadeira foi rapidamente
esquecida. Ela lançou um som agudo e feliz e praticamente pulou em meus
braços, então eu a abracei o mais forte que pude.

— Oh olá, bebita. Você sentiu falta da ma... Você sentiu minha falta,
menina?— A palavra mamãe quase escorregou dos meus lábios e sinceramente
não sabia como me sentir. Eu não era mãe dela; isso era um fato.

— Oh meu Deus, isso é tão adorável. Ela sentiu tanto a sua falta!— Wendy
bateu palmas e veio nos abraçar. Isso estava se transformando muito
rapidamente em uma situação brega, e eu não poderia dizer que reagi bem a
elas. Eu não era esse tipo de pessoa, e você pode me culpar? Tudo o que eu sabia
nos últimos seis anos era violência e punição.

Passamos algumas horas no chão, brincando com Chelsea e seus


brinquedos barulhentos, desfrutando de sua risada até que finalmente ela
dormiu exausta nos meus braços e deitou para tirar uma soneca.

— Deus, eu perdi um dia como este. Apenas nós garotas, sentadas em


nossas bundas, fofocando, comendo lixo e sem pagers. Estamos perdendo o
vinho, mas tenho certeza de que todos tiveram o suficiente para beber ontem à
noite.— Disse Wendy e olhou para mim e sua esposa com sobrancelhas
acusatórias e levantadas.

Sim, limpamos mais de uma garrafa ontem à noite, mas eu já estava me


sentindo tão mal que nem senti a ressaca.

— Isso ajudou muito ter vocês duas. Obrigada novamente, pessoal, por me
deixarem ficar aqui. Eu tenho… Não tenho para onde ir.

Mudando desconfortavelmente em seu assento, Jessica limpou a garganta


e colocou a mão no meu ombro.

— Acho que é hora de falar uma merda séria. Então, você se lembra que
James não é de forma alguma casado com você; você sabe que todos mentimos
para proteger, humm, bem, a mentira dele.

— Eu fiz.
— Você acabou de recuperar a memória imediata ou um espectro completo
de memórias.

A mudança na voz dela foi bem parecida com o que aconteceu com James
quando ele falou no hospital.

— Não fique toda médica comigo, estou bem.

— Desculpe, desculpe! Só estou curiosa, eu acho. Ainda tenho coisas para


mentir?

Eu não esperaria nada menos dessa mulher do que me dizer diretamente


na minha cara que ela mentiria por seu amigo.

— Eu lembrei de tudo. A cada minuto que estava desaparecido. James não


estava em nenhum desses minutos.

— Sim, eu sei. Queremos que você saiba de onde viemos. Ele entrou nessa
bagunça sozinho; não sabíamos nada no começo. Quero dizer, ele disse a Zach
que estava transando com uma garota...

— Jess!— Sua esposa gritou de revolta, tomando cuidado para não


assustar Chelsea.

Me desculpe, ele disse o que?


— Ele estava transando com uma garota? Este hombre tiene valor37!

— Desculpe, querida, nós não habla38. Wendy pegou algumas frases de


suas novelas, mas é isso. E ele não disse assim; vamos lá, estamos falando de
James. Ele disse que está vendo uma mulher, como um amigo de merda.

— Ok, deixe-me esclarecer as coisas; ele não me fodeu. Eu o fodi. No


começo ele era tímido como uma virgem, e quando eu— deixe-me repetir isso,
eu— fiz com ele, éramos todo o caminho para foder como coelhos, algemas e
trelas.

Wendy olhou para mim como uma coruja perdida, enquanto Jessica mal
segurou sua risada. Mhm, era verdade, ele me fez trabalhar para trazê-lo para
a cama, e foi assim… esquisito. Eu nunca gostei de sexo; sempre foi muito
curto, muito apressado e muito brutal. Eu não tinha ideia de que o prazer—
esse tipo de prazer— estava por trás daqueles breves momentos de agressão
física. Mas agora? O que eu e James tínhamos estava além da merda; era uma
extravagância excêntrica sexual que sempre me deixava sem fôlego e carente
por mais. Eu não era mais passiva; eu não apenas fiquei lá pensando que
acabaria logo, e então eu poderia ir dormir. James me deixou assumir o controle
e adorou aos meus pés.

Por que diabos ele teve que mentir e nos arruinar antes de começarmos?
Porra!

37 Este hombre tiene valor— Este homem tem coragem.

38 Habla— Fala.
— Eu chamarei ele 'tímido como uma virgem' até o dia em que morrer,
prometo.— Eu acreditava que ela faria, porque se algo era genuíno nessa coisa
toda, era a boca desencadeada de Jessica.— Então, e agora? Sinto que estamos
todos na ponta dos pés em torno dessa pergunta. Você vai voltar para Boston?
Você é de Boston?

Um gosto amargo encheu minha boca.

— Eu sou de Cuba e vivi— vivia— em Boston.— Aí veio a bomba.— Eu


sou casada.

Wendy disse.— O quê?— Ao mesmo tempo em que Jessica disse.— Que


porra é essa?

Eu assisti suas reações de muito perto, e o choque foi óbvio. Na Wendy, vi


uma pitada de culpa angustiante... oh, não, não se sinta mal por manter eu
dele.

— Oh meu Deus, você quer que entremos em contato com seu marido?
Jess, você precisa encontrar esse homem.

— Mas eu não quero. Sua esposa está desaparecida há três meses e ele
não faz nada. Ele vale a pena?— Ela disse e encolheu os ombros.

— Ele pode estar procurando por ela enquanto falamos, e ele não pode
encontrá-la por causa do que James e nós fizemos!

— Eu teria encontrado você.— Jess deu outro encolher de ombros


descuidado.
— Ele… ele costumava me bater.— Todo som ao nosso redor congelou, até
o relógio que elas tinham na lareira parecia mudo. Silêncio morto.— Eu o
conheci quando era muito jovem; ele me levou da casa do meu pai. Eu pensei
que estava apaixonada; nos casamos...

Jessica cortou.

— James disse que verificou seu estado civil na sua identificação.

Ele fez? Inteligente, mas não o suficiente.

— Foi apenas uma cerimônia na igreja. Sou profundamente católica e


insisti em me casar na frente de Deus. É tudo o que me importava. Depois de
seis, sete meses no nosso relacionamento, ele me bateu pela primeira vez. As
coisas ficaram difíceis depois disso.

Difícil? Ha! As coisas estavam quebradas e contaminadas como uma cena


pintada no inferno, mas eu não estava prestes a chorar de pena na frente delas.

— Filho da puta, Wendy, você está certa, precisamos encontrar esse cara.
Para que eu possa castrá-lo.— Ela se virou para mim, me agarrou pelos meus
ombros e me olhou inexpressiva nos olhos. Não havia humor lá, sarcasmo ou
hesitação.— Estou falando sério. Preciso de onze minutos com ele para cortar
suas bolas e costurá-lo de volta. Porra!

Sua voz subiu e Chelsea ficou agitada, assustada com os sons, e eu movi
minha mão na barriga dela para acalmá-la. Alguns segundos depois, ela estava
perdida em seus sonhos novamente, chupando com força a chupeta.
— Eu não posso voltar lá. Eu realmente não posso.

— Não pode?— Wendy se mudou para a esposa e as duas me observaram


com uma intensidade convincente.— Quem diabos você acha que deixaria você
voltar com aquele monstro?

Uau, foi a primeira vez que ouvi essa mulher amaldiçoar e tive certeza de
que não seria a única surpresa. Até Jessica ficou um pouco confusa com os
palavrões.

— Eu não quero voltar para Trujillo. Oro a Deus que ele nunca me
encontre, não importa onde eu acabe.

— Oh, ele pode te encontrar. Você pode ligar para ele aqui agora. Eu
literalmente ajudaria Jessica a desmembrá-lo com precisão cirúrgica. Rita, isso
é tão horrível.

Eu não sei disso? Continuei escovando o corpo mole da Chelsea para tentar
me manter calma, mas era difícil manter minhas lágrimas sob controle, e me
vi dominada por soluços novamente, mas não por medo ou tristeza. Para essas
duas maníacas que... se importavam. Eu tinha alguém no meu lado, e a
libertação que senti foi esmagadora.

Eu estava cansada de sentir tudo tão profundamente. Os últimos dois dias


foram suficientes, obrigada.

— Podemos seguir em frente com isso. Não quero mais pensar em Trujillo.
Não se eu não precisar.
As duas me deram um aceno solene.

— Então, você vai ficar em Chicago.— Disse Wendy, e ela parecia muito
satisfeita com sua conclusão.

— Não. Não, eu não vou.— Esta cidade não tinha um lugar para mim.—
Acho que não tenho escolha a não ser voltar para Havana, tentar começar de
novo.

Comece o que acabou? Havia algo a ser recuperado?

— Uau, deixar o país? Isso é um pouco extremo, não é?— Ela disse e
colocou a mão na boca de Jessica para impedi-la de entrar.

Não era extremo, eu estava desesperada.

— O que mais eu posso fazer?

Jessica franziu a testa e afastou a mão de Wendy do rosto, pronta para


soltar.

— Você poderia ficar aqui. Garota, goste ou não, você tem uma vida aqui,
e agora você quer largar tudo e partir?

— Não é a minha vida.— Eu cuspi de volta, e ela franziu a testa ainda


mais fundo.

— James não adora o chão que você toca com os pés? Chelsea não clama
por você segurá-la? London não queria você no casamento dela? Zach não age
como um idiota com você?— Ele fez, e eu aprendi que essa era sua maneira de
mostrar afeto. Que homem estranho ele era.— Inferno, eu convidei você para
um trio com minha linda esposa. Você não escolheu ter essa vida, e sim, isso
está uma bagunça, eu vou lhe dar isso, mas isso não a torna menos verdadeira.

Suas palavras e a coragem por trás delas fizeram a Terra mudar sob mim
e, por alguns segundos, fiquei caindo livre. Não havia como ficar aqui,
nenhuma possibilidade.

— Eu preciso ir a algum lugar que eu possa chamar de lar. Há tanta coisa


em mim que precisa ser reconstruída.

— Há quase três milhões de pessoas em Chicago, e tenho certeza que a


cidade encontrará um lugar para você.

— Meninas, eu… o que eu faria? Eu não trabalho. Eu nunca tive um


emprego. Eu não tenho uma casa ou um apartamento. Tudo o que tenho é um
green card que não me ajuda muito.

Eu não queria ir embora, mas o que mais eu poderia fazer com o nada que
eu tinha?

Olhando para a Chelsa ao meu lado, meu coração se partiu ao pensar em


deixá-la para trás.

— Fique conosco ou deixe-nos ajudá-la a se estabelecer em um hotel ou


alugar um lugar. Além disso, há uma terceira opção.

Eu estava morrendo de fome por um pingo de ajuda, então encerrei essa


discussão.
— Qual é a terceira opção?

— Entre em sua casa, a que você já tem. Coisa doce, seu homem te ama e
adora te foder.— Havia a verdadeira Jessica; eu tinha medo que ela estivesse
caindo demais no lado doce.— Ele fez errado com você, eu sei; todos nós fizemos
errado, mas nunca vi James tão feliz. Ele era casado quando eu o conheci,
envolvido em um relacionamento normal. Eles deveriam ser felizes, mas nem
chega perto do que vocês têm. Só estou dizendo que talvez você precise dar a
ele a chance de pagar por esse erro antes de deixar algo tão bom.

Fiquei surpresa com ela. Eu esperava que uma conversa sincera viesse da
Wendy; ela era a calma. Ela era o grande cérebro da casa, sempre pensando no
futuro e sendo racional, mas Jessica? Ela era crua e visceral, nada como essa
senhora fofa sentada na minha frente.

— Ele tem uma filha com outra mulher.— Eu disse e imediatamente


percebi que acabei de dizer algo estúpido. Quem se importava com isso? Este
foi o menor dos nossos problemas.

— E você é casada com um monstro.— Ela nem sabia. A palavra nem


chegou perto de descrever Trujillo; ele era um psicopata.— Vocês dois
cometeram erros, confiaram nas pessoas com seus corações, e daí?

— O que aconteceu com ela? A mãe da Chelsea, quero dizer.

Jessica e Wendy fizeram uma careta como se eu as fizesse comer algo


amargo, e Wendy tentou mais uma vez ser racional e não ferir os sentimentos
de ninguém.
— Ela não está mais conosco.

O que?

— Wendy, baby, não a faça parecer morta, não. Avery é uma cadela
colossal que deixou James e abandonou a sua bebê.

— Jess, nós duas estamos bravas com ela, mas não é o nosso lugar para
julgar...

— Foda-se. Ela. Rita, não ouça Wendy, me escute. Desde que ele estava
na faculdade, James tinha um emprego em tempo integral tentando agradar
aquela cadela e impedir que o resto do mundo a estrangulasse. Ela não deu
nada em troca, nada e, no final, se ela quisesse deixá-lo, James estaria bem
com isso. É quem ele deve ser bom para as pessoas, e também é a razão pela
qual Zach continua chamando ele de sem bolas.

— Oh, ele tem bolas.

— Eca, nojento.— Ela riu e revirou os olhos.— Ele estaria bem com isso
se Avery não rejeitasse Chelsea como se ela fosse um inconveniente. Eu quase
matei a cadela quando fiz o parto da Chelsea.

Minhas sobrancelhas dispararam, curiosas.

— Você fez o parto?

— Mhm, sim eu fiz. Essa jovem era muito teimosa e não queria sair e nos
conhecer, e sua mãe estúpida não queria uma cesariana porque não queria
danificar seu corpo bonito. James teve que literalmente implorar para que ela
entrasse na sala de cirurgia antes que o bebê sufocasse ou saísse com danos
nos pulmões.

— Oh meu Deus!— Cobri a boca para suprimir a sensação de náusea. Que


tipo de pessoa...

— Sim, então foda-se ela. Ela deixou James e deixou a Chelsea. Você sabia
que ela se foi por meses e nem ligou para ver o que diabos sua filha recém-
nascida estava fazendo? Dentição, cólica? Avery não estava aqui por nada
disso. No dia em que saiu sem aviso prévio, Chelsea chorou por duas horas
porque estava morrendo de fome e James não tinha nenhuma fórmula em casa.
Ela nem apareceu na audiência de custódia, então os advogados de James
conseguiram reduzir seus direitos parentais.

A cada palavra que ela dizia, fiquei mais irritada. Aposto que algumas
pessoas, talvez a maioria das pessoas, se sentiriam mal ou mostrariam
compaixão, mas tudo que eu queria fazer era encontrar essa mulher e colocá-
la no chão como um cachorro, porque Jessica estava certa; ela era vadia. Quem
diabos faz isso? Por quê? Por que ter uma filha e sair?

Por que ela e eu não podíamos...?

A lembrança apertou minha garganta e impediu que o ar chegasse aos


meus pulmões. Trujillo tentou me engravidar por anos. Ele costumava me dizer
que seria o seguro dele que eu não tentaria escapar dele, porque então eu teria
algo a perder. Eu estava com medo do que ele poderia fazer com uma criança
para me machucar, mas uma pequena parte de mim sempre ansiava por isso.
Um pequeno humano que seria meu, dependeria de mim e... me amaria.
Uma pessoa pequena para melhorar meus dias com risadinhas e sorrisos.

Depois de alguns anos, era óbvio que eu não podia ter filhos, e isso me
esmagou porque se houvesse vida além de Trujillo, era quando eu sabia que
nunca estaria cheia.

E de alguma forma, eu tenho um tempo precioso demais com a Chelsea.


Foi uma bênção de cima, um presente de Santa Madonna. Eu simplesmente
não conseguia entender o fato de que alguém se afastaria disso.

— Como essa mulher poderia deixar Chelsea para trás? Como ela ousa?—
Minha voz tremia de indignação.

Wendy se levantou e correu para a cozinha para pegar algumas garrafas


de água para nós, porque estava muito claro que todas precisavam e me deixou
em paz com Jessica.

— Como você pode?— Ela perguntou com uma voz baixa e controlada.

— Como eu posso o que?

— Largar a Chelsea e o James e nunca olhar para trás. Vamos, Rita, você
está apaixonada por James, você sabe disso. Não importa como tudo começou
ou o que ele fez; você o ama e ninguém te culpa. Quero dizer, ele é como o
homem perfeito; se eu tivesse o menor interesse em paus, perseguiria o dele.

Ela estava certa. Exceto de pegar uma mulher inconsciente e fabricar uma
vida falsa inteira ao seu redor, James era o homem perfeito. Ele amava da
maneira mais bonita, com admiração e adoração, e sua violência era mantida
apenas sob os lençóis. E garoto, ele era gostoso. Toda essa estética nerd sexy,
masculina e muscular poderia chamar a atenção de qualquer mulher. Elas se
jogavam nele. Eu já tinha visto isso toda vez que saíamos; as mulheres olhavam
para James como se ele fosse o prêmio brilhante e olhavam para mim como se
eu fosse o Cerberus39 que as mantinham afastadas. Um dia em breve, alguém
chegaria até ele. Ela seria banhada com a atenção dele e acariciada por suas
mãos, e ela seria fodida no esquecimento todas as noites… e eu não estaria aqui
para cavar um buraco grande o suficiente para caber no corpo dela.

Uma nova onda de náusea se estabeleceu no meu estômago. Tudo sobre


isso me fez querer vomitar tudo de dentro de mim. A dor se tornou física.

Felizmente, Wendy voltou com a água e os copos cheios de gelo e limão.


Essas duas viviam uma vida chique.

— Ei, ficamos sem água com gás, Rita, me desculpe. Sei que você prefere
isso, mas depois irei ao supermercado. Poderíamos ir juntas, levar a Chelsea
para passear.— Eu não respondi, apenas acenei com a cabeça e peguei o copo
das mãos dela.— Tudo bem? Jessica, o que você fez com ela?

— Nada! Eu apenas apontei o óbvio. Ela ama James e não precisa sair da
porra do país. Eles ainda podem fazer isso.

— Jess, olhe para ela, ela está quase chorando. Rita, não fique brava com
ela; você sabe como é minha esposa.

39 Vírus.
— Estou bem. Jessica está certa de qualquer maneira. Estou deixando
para trás a melhor coisa que já me aconteceu. Porra! A melhor coisa que já
aconteceu com alguém. Parece que estou cortando uma esquina levando um
homem que não é meu e a filha de outra pessoa.

— Baby.— Disse Jess.— James é seu, ponto final. Mesmo se você for
embora, acho que ele nunca se entregará a alguém do jeito que ele fez com você,
também é incrível pra caralho acontecer duas vezes. Você viveu um pesadelo,
Rita. Este é o seu feliz para sempre, por que não o agarrar com as duas mãos?

Sim, por que não? Por causa do que James fez? Eu poderia ter rido de mim
mesma naquele momento. Eu estava com vergonha de dizer isso em voz alta,
mas a primeira vez que Trujillo me bateu, ele falou um 'Eu sinto muito’ por
causa do meu jeito, e eu o perdoei. Eu o perdoei pela segunda vez, pela terceira
vez... Levei meses para ver o que estava acontecendo. Eu era a vítima e não
havia mais perdão em mim. Então, como eu poderia perdoar isso e não dar uma
chance a James.

James Sullivan fez a coisa mais louca e incrível: ele se apaixonou por mim,
talvez muito cedo e talvez da maneira errada, mas como eu não poderia
conceder o perdão? Como eu não poderia venerá-lo por isso?

— Hum meninas? Tudo bem se eu deixar a Chelsea com vocês por algumas
horas?

— Você está tentando sair do país agora?— Com olhos suspeitos, Jess
apontou um dedo para mim.
— Não, não. Eu só… Eu preciso ir ver James. Eu sei que ele está
trabalhando, mas eu quero estar lá quando ele terminar.

Antes que eu percebesse, fui puxada para um abraço apertado por Wendy,
que não podia conter sua felicidade presunçosa.

— Eu vou te levar. Jess pode ficar aqui e tomar conta, e eu vou fazer
compras enquanto você espera. Oh, meu Deus, estou tão feliz que podia chorar.

— Por favor, não, porque se você começar, começarei de novo e já tive o


suficiente disso. Ou talvez eu vomite no seu sofá. Essa náusea está me
afetando.

— Hã.— O som veio de Jessica.

— O que?— Ela deu de ombros e achei legal, mas havia uma pergunta em
seus olhos que mexia comigo.— Jessica?

— Oh nada. Você está sentindo mais alguma coisa, qualquer dor? Sua
cabeça está bem?

— Não, apenas náusea e algumas dores de cabeça, mas provavelmente por


não dormir.

— Então fadiga e náusea?

— Estou bem.

— Hã.
— Wendy, podemos ir? Ela está me assustando.

— Sim, ela é uma esquisita, vamos lá.— Disse ela sobre o riso da esposa.

Eu beijei a bochecha macia da Chelsea e saímos pela porta.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Quando saí da cirurgia, encontrei um pandemônio no pronto-socorro.

— O que diabos está acontecendo?— Gritei com a garota atrás do balcão


de admissão do pronto-socorro.

— O motorista com raiva quase bateu em um ônibus escolar.—


Caramba!— Para evitar o impacto, ele jogou o carro na calçada e bateu em
muitos pedestres. Oito pessoas foram admitidas e temos mais sete ambulâncias
a caminho; somos todos no convés prático.

Este dia ficou mais terrível a cada minuto.


— O que eu posso fazer?

— Sala dois de trauma.— Ela me entregou um gráfico, e eu peguei, junto


com um par de luvas frescas.— Múltiplas fraturas e contusões. Ele bateu a
cabeça no pára-brisa. Umm, ele é o motorista, Dr. Sullivan.

— Você deveria ter deixado essa parte de fora. Agora tudo o que quero
fazer é cortar o suprimento de oxigênio dele.

Essa era a parte feia do trabalho. O juramento se aplicava a todos, até


desprezíveis de baixa vida que passeavam com o carro na porra da calçada. Ele
machucou mulheres e crianças, pessoas inocentes.

Rita era inocente.

Alguém a machucou também, e se ele cruzasse meu caminho, eu


transformaria seu corpo no próximo projeto científico em que meus residentes
praticavam vasectomias.

Balancei a cabeça para recuperar meu foco, porque não importa o quanto
eu desejasse a Rita, agora eu tinha que ir e salvar a vida do canalha.

Entrei e encontrei uma enfermeira e um residente do primeiro ano.


Realmente, apenas eles?

— Ninguém mais?— Eu perguntei, e o cara deu um passo à frente.

— Sim, Dr. Sullivan, todo mundo está respondendo às ligações. Estamos


um pouco taquigrafados.
— Ok, seus nomes.— Eles precisavam ser meus olhos, mãos e cérebros
extras, então precisávamos criar um relatório.

— Eu sou o Dr. Hoover.— Disse ele, empurrando o peito para a frente de


uma maneira arrogante. Oh, nós tínhamos um arrogante. Eu vou te quebrar,
garoto. Eu não estava tentando ser um Zach— desculpe, eu quis dizer um
idiota— mas éramos um hospital de ensino. Ensinamos técnica, mas também
ensinamos humildade. Ninguém era Deus, não importa quantas pessoas ele
abriu.

— E você?— Eu olhei para a enfermeira maluca com cabelos verdes. Ela


deve ser nova, porque eu teria lembrado de ter visto isso.

— Emma, Dr. Sullivan. Emma Ashton.

— Bom. Nosso paciente parece estável o suficiente.— Verifiquei os


monitores e o gráfico. Ele precisava de uma consulta neuro porque deu um
golpe maciço na cabeça, mas, além disso, houve apenas fraturas ósseas. Ele
estaria fora dessas portas em pouco tempo.

Eu dei a volta e verifiquei seus sinais vitais.

— Tudo parece bom, mas ainda precisamos de uma ressonância magnética


para confirmar. Emma, preciso que você faça um conjunto completo de testes,
tomografia computadorizada da cabeça, ressonância magnética de contraste e,
por favor, não deixe ninguém administrar nada, exceto morfina por dor, até
que tenhamos uma imagem clara de seu cérebro.

— Sim, senhor, imediatamente.


— Quero vocês dois no caso, mantenha-o supervisionado...

— Dr. Sullivan.— O jovem médico me chamou.— A urina dele está


marrom. Senhor, seus rins estão falhando.

Oh, foda-se. Porra. Foda-se esse dia e foda-se esse cara se ele morrer
comigo hoje.

— Ligue para a sala de cirurgia; estamos subindo agora. Eu preciso de


sangue nele agora. Preciso de raios-X portáteis em cima da mesa e preciso dele
na lista de transplantes agora. Chame o clínico, diga a ele que ele precisa de
um cirurgião agora.

A enfermeira voou pela porta e fiquei com o outro médico para mover o
paciente.

— Dr. Hoover, vamos levá-lo à ressonância magnética juntos para que eu


possa dar tudo de bom para a cirurgia. Anda.

Ele acenou com a aprovação imediatamente, sem nenhum traço de


hesitação ou arrogância. Bom.

Meia hora e muita agitação depois, eu tinha todas as informações


necessárias.

Este dia foi amaldiçoado.

— Ele está sangrando em seu cérebro. Eu preciso drenar isso e parar o


sangramento agora. O clínico geral precisa encontrar uma maneira e operar ao
meu redor. Vou levá-lo para a sala de cirurgia; você vai contar para quem está
indo lá comigo o que acabei de lhe dizer. E encontre, minha enfermeira.

Eu estava lavando minhas mãos até os cotovelos e entrando quando a


porta deslizante à minha esquerda se abriu e London apareceu.

— Ei, James.

— London, o que você está fazendo aqui, amor?

— Todas as mãos no convés de emergência. Até a chefe está na sala de


cirurgia para amputação.

— Mas é sua lua de mel.

— Oh, James, não vamos para a Europa por mais alguns dias. Nossos
pagers ficaram loucos; o que deveríamos fazer? É uma selva lá fora. Ouvi dizer
que você está operando o culpado.

— Sim, você veio assistir?

— Estou aqui para ajudá-lo. Mary está no pronto-socorro costurando


baixas menores.

— Impressionante, esfregue.

Ela entrou comigo e sentou-se à minha direita. Foi um prazer ter London
me ajudando na sala de cirurgia; sua atenção aos detalhes poderia competir
com a de Mary, e ela estava muito curiosa. Se não estivéssemos sob tanta
pressão, eu a deixaria segurar a broca e fazer o primeiro buraco. Duas horas
depois, conversamos sobre tecido cerebral, ação adequada, drenagem de
fluidos, todas as coisas divertidas.

Olhei por cima do corpo e olhei para o residente que continuava checando
os monitores.

— Dr. Hoover, talvez você queira dar o exemplo da enfermeira Boudreaux


e talvez perguntar algo de vez em quando. Não sei o que você não sabe, doutor,
mas temos que trabalhar juntos.

— Sim, senhor, mas, você sabe, eu já sei tudo isso. Quero dizer, tudo bem
se ela perguntar; ela é apenas uma enfermeira. Compreendo que ela esteja
tentando ser melhor em seu trabalho e eu respeito isso, mas sou médico. E eu
estou mais interessado em cardiologia de qualquer maneira.

London não prestou atenção a ele, mas fiquei chateado com os comentários
dele.

— Você está realmente interessado em cardiologia?

— Sim, senhor.

— Bem, eu não contaria com você vendo o interior de um coração agora ou


nos próximos anos. Não depois que você contar ao Dr. Ford, como você
desrespeitou a esposa dele.

— Dr. Sullivan, está tudo bem.— Disse ela.

— Você está certa, está tudo bem, e desde o Dr. Hoover conhece a
neurocirurgia tão bem.— Eu me afastei da mesa e levantei as mãos.— Podemos
almoçar enquanto ele termina aqui. Vamos, Doutor, você precisa parar esse
sangramento.

O homem congelou na minha frente, com os olhos arregalados, parecendo


um cervo bebê nos faróis de um Land Rover.

— Dr. Sullivan, eu não quis dizer...

— Você não?

— Não, senhor, eu não quis desrespeitar nenhum de vocês. Eu sinto muito.

Quebre-os e melhore-os. Eu amava isso. Havia algo incrível em moldar


mentes jovens assim.

— Ok, então todos nós podemos voltar aos negócios.

O resto da cirurgia foi melhor do que eu esperava e, além disso, Hoover


estava realmente prestando atenção. Ele até fez a London algumas perguntas
sobre cuidados pós-operatórios.

— Dr. Hoover, venha aqui, por favor.— Chamei e o coloquei atrás de mim
em segundos.— Estamos bem aqui; veja como o tecido protetor tem essa cor
cinza e opaca?

— Sim.

— Isso indica que o sangramento está sob controle; a lesão está selada.
Gostaria de me ajudar a fechar?
— Absolutamente.

— London, abaixe a luz para que nós dois possamos ver.— Quando ela faz
e nós dois tivemos um bom visual, eu me virei para Hoover.— Existem três
agulhas de vedação e precisamos extrair cada uma. A extração precisa ser lenta
e constante, então você precisa de uma boa mão para isso. Farei as duas
primeiras e então você pode ir para a terceira.

Coloquei toda a minha concentração para fazer isso com a qualidade dos
livros didáticos e acabei hoje. Quando terminasse, chegaria em casa, veria
minha filha, mas não Rita. Porra. Eu não poderia fazer isso naquele momento.
Eu precisava ficar com a minha cabeça clara por mais quinze minutos, então
eu poderia arrastar minha bunda para casa e desmoronar.

— Ok, Dr. Hoover, agora você.

Eu assisti com os olhos de falcão, tudo, desde a maneira como ele se


aproximou da mesa até a maneira como respirou, porque o menor movimento
poderia matar o paciente.

Hoover colocou a mão na ponta da agulha e observei alegremente que não


havia uma sombra de tremor na mão. Bom, estávamos indo bem.

— Agora comece a puxar muito, muito devagar e não aperte a mão.

A última coisa que esse homem precisava era de um residente do primeiro


ano brincando no seu cérebro como ovos mexidos.
Assim que ele começou a se mover, ouvimos sons nos corredores. Pessoas
gritando, coisas batendo no chão. O que diabos estava acontecendo?

— Mantenha-se firme, Dr. Hoover. Não preste atenção ao barulho.

Ele acenou com a cabeça e não tirou os olhos da agulha, mas foi mais difícil
dizer do que fazer porque os gritos ficaram mais altos.

— Dr. Sullivan, quer que eu verifique lá fora?— London perguntou.

— Não, está tudo bem. Provavelmente é apenas uma correria. Hoje


tivemos muitas admissões.— Mas assim que articulei as palavras, um alarme
forte começou a tocar no hospital. Que porra é essa? E agora, um incêndio?

O microfone estava ligado e a voz da Sonia Sadin cresceu na sala:

— Código Preto! Repito isso, Código Preto no centro cirúrgico. Trancar


para baixo Protocolo.

Nós três congelamos no lugar. Código preto. Código. Preto. Isso não
poderia estar acontecendo. Não aqui e não agora. Deus, isso era horrível. Eu
tinha London comigo. Eu precisava ter certeza de que ela estava segura.

— Hoover, não mova essa agulha; você precisa tirá-la.

— Estou tentando, Dr. Sullivan, o que está acontecendo; o que é um código


preto?— Eu não tive tempo de ensiná-lo a aprender os malditos códigos.

— Atirador ativo.— Sussurrou London. Ela estava aterrorizada e com


razão.
— Há um atirador ativo no prédio.

— Sim, precisamos fechar esse homem agora. London, você não pode sair
do chão se estiver travando. Quero que você entre na sala de lavagem, tranque
a porta e desça no chão.

— O que? Não! Não, James, você precisa de mim para que possamos
encerrar isso aqui.

— London, eu não estou brigando com você sobre isso. Vá, agora, eu
preciso que você esteja segura, então Hoover e eu...

Minha sentença foi interrompida pela porta deslizante da sala de


operações. Ninguém deve passear, então Zach chegou aqui para cuidar de
London ou...

Eu me levantei e todos os meus piores medos se tornaram realidade. Eu


estava de frente para um homem com escuridão nos olhos e um Desert Eagle
carregada nas mãos. Um metro e meio de distância de mim.

A um metro da esposa do meu melhor amigo.

— Oh, não se importe comigo,— disse o homem com uma voz áspera, do
tipo que você tem ao fumar dois maços por dia.— Não precisa se preocupar. Só
estou procurando um pendejo.

Pendejo? Não, isso tinha que ser uma coincidência.

Tentando me manter firme e parecer o mais composto possível, levantei


as mãos e forcei minha voz a parecer exigente e calma.
— Senhor, temos um homem aqui com o cérebro exposto. Estou
gentilmente pedindo para você sair, para não colocarmos em risco a vida dele.

— Sim, sim, eu vou. Assim que eu descobrir se o tolo que estou procurando
está aqui ou não.

— Hum, Dr. Sullivan, minha mão está começando a tremer e não consigo
parar.

Havia puro pânico em sua voz.

— Hoover, não se mexa. Tire agora.

— Eu não acho que posso.

Bam! Tiro disparado.

O som ecoou entre as paredes de vidro e concreto, deixando para trás um


frio sentimento de medo. Todos paramos no lugar, e meus olhos foram para a
mão de Hoover, que estava se movendo, tremendo mais a cada segundo.

— James Sullivan, que bom ver você. Eu nunca teria te reconhecido sob a
máscara, a touca de cabelo e tudo mais. Afinal, eu só assisti você de longe.

A realização caiu na minha cabeça como o martelo de Thor. Não foi uma
coincidência.

— Eu preciso fechar meu paciente.


— Eu não me moveria se fosse você. É assim que as pessoas morrem
quando têm uma arma na cabeça.

A ameaça enviou Hoover pela borda e ele soltou a agulha, recuando.

— Porra. Eu preciso chegar perto da mesa!

— Deixe-o morrer, doutor. Você e eu precisamos conversar um pouco sobre


a nossa esposa.

Todos os monitores dispararam de uma vez e minha cabeça começou a


girar. Minha Rita. Ele chegou até ela? Ela estava bem? Este era ele; esse era o
monstro que colocou sombras nos olhos dela.

— London, Dr. Hoover, saiam da sala.

— Muito fofo, Dr. Sullivan?— Ele disse com uma expressão maldosa e
enojada que fez meu nome parecer um insulto.

— Você disse que me quer, e aqui estou eu, então deixe-os ir.— Eu tinha
muito a perder aqui, mas não estava prestes a mostrar.

— Você está fodendo a minha esposa. Não apenas isso, mas você a levou
para longe de mim. Levei semanas para descobrir o que diabos aconteceu com
ela, saber que ela perdeu a cabeça, e a próxima coisa que sei é que ela está
servindo sua boceta para você, provavelmente por dinheiro. Você está pagando
bem a ela, Doutor? Porque sou eu quem deve receber— A raiva começou a
colocar o meu sangue em movimento como uma centrífuga, e eu vi vermelho.
Porra. Vermelho. Ele poderia entrar aqui com um tanque. Eu morreria antes
de deixar algo— alguém— insultá-la.

— London, saia daqui agora!

Dei um passo em direção a ele para ter certeza de que estava na frente da
arma, mas quando London seguiu meu pedido e foi para a porta, a mira da
pistola a seguiu.

— Pare aí, ou você será a próxima nessa mesa.— Uma mesa que logo
estaria vazia porque a pressão sanguínea do paciente estava caindo como uma
pedra no fundo do oceano. Eu lidaria com isso mais tarde, assim que tivesse a
London segura, então a puxei para o meu lado, cobrindo-a parcialmente.—
Você realmente a quer fora, não é? Ela deve ser importante para você. Oh
espere. Você está traindo a Rita? Não se preocupe, ela nunca saberá. Eu fiz isso
também. O segredo é quebrar o braço quando ela suspeitar.

London gritou, e ouvi-a cortar a respiração por causa do choque, e isso só


fez o rugido no meu peito mais alto. Eu vibrei com fúria.

— Eu sei que você sente que tem grandes bolas quando tem uma arma na
mão ou está lutando com uma mulher, mas não empurre sua sorte. Essas balas
não podem protegê-lo para sempre.

Tentei dar um passo à frente, mas London agarrou meu braço e apertou
tentando me fazer parar. A única razão pela qual eu estava fazendo isso foi
porque não queria colocá-la em perigo. Se eu me afastasse das mãos de um
maníaco violento com uma arma, mas um cabelo na cabeça de London fosse
tocado, Zach ia me abrir e transplantar meu coração na minha bunda.
— Olha, eu não sei o que você quer, mas você não está chegando perto da
Rita novamente. Você entrou armado em um hospital, ameaçando médicos e o
meu paciente estará morto em minutos. Garanto-lhe que todo policial
conhecido pelo homem está atrás daquela porta, pronto para caçá-lo.

— A intimidação não vai funcionar, Doutor, porque eu sei o que fazer com
policiais e outras coisas.— Policiais e outras coisas? Eu não acho que esse cara
entendeu o que diabos estava acontecendo. Ele entrou e atirou com uma arma
em um hospital. A Segurança Interna provavelmente estava do lado de fora
enquanto conversávamos.— Eu tinha que salvar a minha esposa do homem
louco que a sequestrou e a desonrou. Quem força uma mulher sem lembranças
a transar, Doutor? Nós dois podemos sair algemados.— Eu ficaria feliz com
esse resultado se isso significasse que ele apodrecesse na prisão pelo resto de
sua vida miserável.

— Você não está aqui para me matar, caso contrário você já teria atirado
em mim. E você deve ter cuidado se não quiser se matar porque temos tanques
de oxigênio aqui. Atire de novo, e todos nós podemos explodir.

Ele riu e olhou em volta, depois deu de ombros casualmente, mas a arma
não se moveu nem um centímetro do meu rosto.

— Sim, você está certo, eu não sou um assassino. Matar não traz prazer,
mas eu gosto do sofrimento, da violência. Sou apenas um marido ferido, Doutor.
Você pisou em minha honra e eu estou aqui para fazer você sofrer.— Ele parou
e olhou de uma maneira muito observacional pela sala, quase como se estivesse
fazendo anotações mentais.
Foi quando eu soube que Rita estava errada; ele não era um psicopata,
não.

Não havia vestígios de instabilidade mental nesse cara. Ele era frio e
calculista e sabia exatamente o que estava fazendo. Ele não era doente; ele era
um monstro que precisava ser morto.

— Deixe-os levar o paciente e partir. Pelo menos deixe a enfermeira...

— Cara, você é realmente obcecado por ela. Eu posso ver o porquê. Seios
bonitos, querida.

— Esse homem está morrendo ao nosso lado.

— Sim, isso não é por minha causa; ele estava assim quando cheguei aqui.
Agora acho que é hora de fazer você sofrer.— Eu podia sentir o quão difícil
London estava tremendo atrás de mim, e os joelhos de Hoover desistiram dele;
ele caiu no chão com um som de ’umpf'’ e começou a soluçar.— Como você gosta
tanto da cadela loira, eu gostaria de vê-lo limpando o sangue dela do chão.

E então aconteceu. Foi menos de uma fração de segundo, mas parecia que
minha vida passou por mim. Ele moveu a mão e apontou para a barriga da
London. Eu não pensei naquele segundo; minha mente estava vazia, intocada
pelo medo da Rita ou da minha filha.

London estava perto de mim, já meio coberta pelo meu corpo, então sem
pensar, eu a empurrei no chão e pulei na frente dela. A arma disparou no meu
quadril. Porra!
Os primeiros trinta segundos foram entorpecidos por causa da adrenalina,
mas depois disso, uma forte queimadura me atingiu da cabeça aos pés. A dor
era séptica e me deixou tonto. Era difícil lembrar por que estávamos aqui,
porque ouvi London gritar, por que minha perna parecia cair ou por que o
grande monitor à minha direita fazia esse som. Apenas uma coisa foi
distinguida através da névoa— a voz zombeteira vinda do porco que atirou em
mim.

— Oh, cara, por que você faria isso? Loira, você é uma vadia melhor que
Rita? Você deve ser desde que o médico pulou na frente de uma bala por você.
Eu não sairia na chuva por aquela mulher; ela é frígida e estéril como uma
cadela castrada.

Algo em mim marcou. Suas palavras repugnantes chutaram meu motor e


a adrenalina voltou, me empurrando para os meus limites. A dor se foi; todos
e tudo desapareceram em segundo plano. Havia apenas eu e ele em uma névoa
vermelha de raiva, e foi aí que as mesas viraram. Ele não era mais o agressor.
Ele era a presa e eu era o predador.

Lancei para a frente e torci o pulso até a arma cair no chão; foi a primeira
vez que o treinamento militar que recebi do meu irmão foi útil.

Com um som rosnado, o homem recuou e tentou dar um soco em mim, mas
errou, e foi nesse momento que eu o soltei. Soco, depois do soco, depois do soco
até o rosto ficar irreconhecível sob o sangue. Eu não sabia o que aconteceu
depois; a raiva pintou tudo em preto da meia-noite.

....E eu não me lembrava de ter parado.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Depois que Wendy me deixou no hospital, levou vinte minutos para


encontrar minha compostura.

Vamos, Rita, pare de ser uma vagabunda. Ele estava errado, não você!

Eu ia marchar até lá e exigir um pedido de desculpas e uma explicação,


uma melhor que 'oh, isso aconteceu.'— Eu ia pedir uma longa lista de razões
pelas quais eu deveria confiar nele novamente, e se fosse convincente, eu
poderia pedir um pau. Quem sabia?

Respirei fundo e comecei a andar como se estivesse em uma missão, mas


para onde diabos eu estava indo? Eu duvidava que ele estivesse em seu
escritório; Wendy disse que o hospital estava bastante ocupado hoje. Não passei
pela entrada principal, mas por outra porta na ala esquerda do hospital que
tinha que ser o pronto-socorro porque muitas ambulâncias estavam
estacionadas na frente. Não havia lobby nem nada, apenas uma sala enorme
com camas e pessoas correndo como loucas.

Uma senhora estava gritando com uma enfermeira mais velha para não a
tocar até o marido dela chegar lá, e havia outro homem em uma cama mais
longe da porta, humm, ele estava perdendo algumas partes e havia muito
sangue no chão. Ah merda eu deveria estar aqui? Finalmente, meus olhos
caíram sobre uma mesa que parecia um ponto de informação em que uma
garota morena estava olhando para um computador, então eu fui até ela e bati
na mesa.

— Com licença.

— Olá, você precisa de uma admissão?— Ela disse, mas nem sequer olhou
na minha direção.

— Não, na verdade estou procurando por alguém.

— Não aqui, esta é a sala de emergência. Por favor, vá para a área de


espera designada.

Como o inferno que eu vou. O que houve com as recepcionistas neste


hospital? Esta foi a segunda que tentou me parar.
— Na verdade, estou procurando o meu… marido.— A palavra parecia
estranha na minha língua, embora eu chamasse James assim todos os dias há
meses.

— Ele foi admitido no pronto-socorro?— Mais uma vez, ela usou um tom
claro e entediado e não olhou para mim.

— Não...

— Senhora, se você não tiver uma emergência, precisa sair agora.

Você tinha que ser muito infeliz ou estúpido para me empurrar quando eu
estava com tanta frustração em mim.

— Ei, Barbie morena? Deixe a porra do computador por um minuto e olhe


para mim antes que eu perca a cabeça.— Ela congelou com a xícara de café na
mão e olhou para mim— foda-se finalmente— mas seu rosto parecia que ela
mordeu uma cebola como se fosse uma maçã suculenta.

— Eu tenho um nome, Helena.— Como devo saber disso?— E você não


pode falar assim. Você precisa esperar seu marido na sala de espera ou
perguntar sobre ele no balcão de informações que fica na entrada principal.—
No final da frase, a voz dela estava alta e as pessoas começaram a olhar em
nossa direção. É melhor eles se sentarem porque eu estava começando esta
festa.

— Diga-me para esperar mais uma vez, veja o que acontece!

— Senhora, se você não tiver uma emergência, chamarei segurança.


Essa garota estava me dando uma atitude, e eu nunca gostei disso. Eu
bati minhas mãos em sua mesa alta e me levantei, meus pés balançando no ar,
e me inclinei para a frente para ter certeza de que estava na cara dela para que
ela pudesse ver como eu estava chateada.

— Você pode estar em emergência em breve se não entrar nesse


computador e me dizer se meu marido está operando ou não. O nome dele é Dr.
Sullivan. Vamos, rápido-rápido, cadela.— Eu estava muito perto de gritar
agora.

— Você não pode me dizer o que fazer.— Helena gritou como uma criança.

Eu estava no meio da mesa quando senti um par de braços fortes me


puxando para trás e me segurando no lugar. Virei-me para encontrar Zachary
Ford olhando para mim com olhos confusos, mas muito divertidos.

— Ei, ei, ei, Rita, acalme-se.

— Zach, você quer que eu chame segurança?— A Barbie morena


perguntou.

— É Dr. Ford, Helena e não, entenda.— Seu rosto era de aço inoxidável
até que ele se virou para mim e sorriu.— Por que você está tentando ter uma
luta de boxe com a equipe do pronto-socorro?

— Ela foi rude, antes de tudo, e ela não vai me dizer onde diabos está
James, e eu preciso encontrá-lo. Agora.
— Ele está em cirurgia. Houve um acidente muito ruim no centro da
cidade, e tivemos muitas pessoas entrando, mas estou livre agora. Vamos pegar
uma xícara de café e esperar por eles.

— Eles?

— Oh, sim, London é sua enfermeira.

Ele começou a andar e eu segui. Quando saímos do pronto-socorro, a


paisagem mudou; tudo estava limpo e bonito, paredes de vidro e assentos
confortáveis por toda parte. Este hospital realmente valia as contas médicas.

— O hospital inteiro é tão chique? Porque o que eu vi parece mais um


prédio de escritórios.

— A ala oeste e essa entrada central, sim, mas tudo mais, umm, nem
tanto.

— Eles só tinham dinheiro para fazer metade?

— Oh, não, tudo é de primeira qualidade. Tecnologia, salas, laboratório,


tudo. Mas na ala oeste há mais escritórios e salas de consulta e, por outro lado,
temos o piso cirúrgico, o pronto-socorro e a UTI. As coisas ficam confusas o
tempo todo.— Faz sentido.— O que há com o interesse repentino?

Paramos na frente de um carrinho de café e ele pediu para nós dois. Fiquei
surpresa que ele se lembrasse de como eu gostava de beber: café expresso com
dois açúcares marrons.
— Bem, eu não sei, James trabalha aqui, e eu sempre me senti um pouco
fora da minha zona quando se tratava de seu trabalho. Pelo que sei, ele é um
deus cirúrgico.

— Seu homem é o melhor neurocirurgião nesta parte do mundo. Ele


dominou técnicas que apenas um punhado de pessoas no mundo possui.

— Ele é tão jovem.— Toda vez que eu ouvia falar de um bom médico, eles
tinham cinquenta anos e eram mal-humorados como ursos, mas não James. A
escola médica era longa; ele deve ter sido um gênio, um gênio legítimo, para
realizar tudo isso em tão pouco tempo.

— Sim, não conte a ninguém, mas éramos grandes nerds na faculdade.

— Eu imaginei, mas quando você encontrou tempo para ir à academia e


se deixar levar.

Porque os dois se exercitavam três vezes por semana, não importa o quê.
Eu tinha visto James saindo para encontrar Zach para o boxe depois de perder
uma noite inteira de sono.

— Os esportes ajudam a oxigenar seu cérebro. Tudo faz parte do processo,


querida. Vamos sentar aqui e eu mandarei mensagem no pager da London para
onde eles devem vir quando terminarem.

— Ei, por que vocês estão no trabalho? Você acabou de se casar.

— Temos algumas semanas de folga, mas hoje eles precisavam de mãos.


Algum idiota atropelou um monte de pedestres.
— De jeito nenhum! Por favor me diga que ele está na cadeia.

— Sullivan está perfurando o crânio dele enquanto falamos.

Oh, que delícia.

— Você quer falar sobre o elefante na sala?— Ele perguntou, me vigiando


sobre sua xícara de cappuccino fumegante.

— Eu não sou o elefante na sala?

— Eu estava falando sobre sua partida repentina ontem. Você ficou para
o bolo?

Eu ri e dei um tapa na testa, na verdade me sentindo relaxada pela


primeira vez desde então... desde.

— Cara, você é assim… Eu saí logo após a cerimônia.

— Desculpe, eu não te procurei, senhorita egoísta, mas eu estava meio


ocupado, você sabe, me casando com o amor da minha vida, dando a ela minha
atenção total no dia mais importante de nossas vidas.— Sua sobrancelha
estava torta, mas o sorriso nunca deixou seus olhos.

— Sim, ok. Eu lembrei, você sabe.

— Eu sei.

Oh, isso me surpreendeu. Jessica e Wendy estavam praticamente sem


noção quando apareci na porta delas de mau humor.
— James te disse?

— No dia do meu casamento? Não, ele tentou ser legal, disse a todos que
você estava com enxaqueca, mas eu posso ver através dele. Como você se sente
sobre isso?

— Você mentiu para mim, idiota. Não acredito que você disse ao seu
melhor amigo o que ele fez foi ok.

Ele riu tanto do fundo de sua alma que estava tremendo na cadeira.

— Eu não fiz isso. Eu disse para ele te levar para a delegacia mais próxima
e te deixar lá. Pior, eu disse que se ele deixasse a minha afilhada com uma
estranha, eu ligaria para o CPS para ele. Eu disse que ele era louco. Eu disse
que ele estava doente. Eu contei tudo a ele. Não é minha culpa que o idiota te
ama como um filhote de cachorro doente.

Ama. James me amava. Ele me disse isso muitas vezes, mas de alguma
forma em toda essa confusão, suas palavras pareciam vazias. O amor parecia
uma ferramenta para me manter à distância.

Meu sorriso deixou meu rosto e fiquei com uma sensação de vazio. Eu
queria que ele me amasse.

— Você acha que é verdade? Que ele me ama, quero dizer.

— Você está brincando, certo? Sullivan esculpiria o coração e daria para


você brincar. É estranho, você sabe. Eu pensei que ele amava Avery, sua ex,
mas agora percebo que ele não amava. Eu acho que agora ele também vê. Ele
lhe deu seu dinheiro, seu sobrenome, sua dignidade, suas bolas, seu dinheiro
novamente, mas nunca o seu coração. Você? Querida, su corazón é sua
propriedade legal.— Zach parou para acentuar a gravidade de suas palavras.—
Rita, se você for embora, levará isso com você, goste ou não, e eu não vou gostar
da pilha de bagunça humana que você deixará para trás. Assim?

— E daí?

— Você está saindo?

— Eu estou de pé aqui… Eu não sei. Estou tentando descobrir minha vida


agora.— Minha voz tremia porque meu interior estava latejando, tentando
digerir tudo o que ele acabou de dizer.

— Por favor, eu estou te implorando, descubra com ele. Não quero ter que
levar Sullivan na minha lua de mel porque ele está deprimido.— Nós dois rimos
de novo. Eu não pude evitar, o cara era engraçado. Um idiota engraçado. E ele
tinha um jeito, descontraído, mas escondendo muita sabedoria. Era fácil sentar
e respirar ar ao seu redor. Deus sabia que eu precisava respirar desde a última
vez que senti os braços de James ao meu redor.— Seja fiel a si mesma, Rita;
você encontrou algo bom aqui em Chicago. Amor de verdade com um bom
homem. Quem lhe trará flores aleatoriamente se você largar James?

Todo mundo sabia que ele estava fazendo a mesma coisa, mas London me
disse que não havia como Zach se esclarecer sobre ter um hábito tão brega.

— Ele é um bom homem. Um homem bom, distorcido e louco.— Eu disse,


olhando para frente.— Mas bom em geral.— E eu sabia melhor do que muitos
quão importante a bondade era em um homem.— Você sabe o que Jessica diria?
— Para não desistir de alguém que me ama tanto, isso comeria minha
bunda?

— Umm… Eu estava indo para, “Você encontrou sua Wendy”, mas sim, eu
posso imaginá-la dizendo isso também.

Mais risadas nos influenciaram. Eu levantei minha xícara de café e ele


brindou comigo para isso. Para comer e amar. Bonita. Eles estavam bem. Eu
não conseguia dar as costas a isso, não antes de encontrar um motivo para
deixar ir— um motivo melhor do que o que eu tinha agora, porque uma mentira
branca, não importa a quão fodida, não era suficiente. Simplesmente
desapareceu.

Sentamos em um silêncio confortável, observando as pessoas andando por


aí, cuidando do dia em que dois homens caminharam em nosso caminho
parecendo estar no meio de uma briga. Um deles não parecia ter mais de vinte
anos e o outro, eu reconheci. Foi aquele médico que me atingiu na primeira vez
que visitei James no trabalho. Qual era o nome dele, Emil, Emmanuel?

Ele levantou a voz para o garoto e Zach pulou da cadeira.

— Emmy, o que diabos você está fazendo? Você está no meio do maldito
hospital.— Emmy, certo. Olhe para Zach, todo profissional tentando não dizer
a palavra foda.

— Fique fora disso, Ford, este é meu paciente.

— Isso é pior, seu idiota, você estava gritando com ele.— Eu mordi meu
lábio para não apontar que eles estavam gritando um com o outro.
O jovem entrou entre eles e levantou os braços magros.

— Eu não sou seu paciente; meu pai é. Isso é legal mesmo? Você continua
me pedindo para lhe dar meu rim. Eu já disse que não.

Emmy levantou as mãos, frustrado e deu alguns passos em círculo antes


de se virar para a criança.

— Seu pai está morrendo enquanto falamos, e você é compatível. Você é


jovem e saudável; a mudança no seu estilo de vida será mínima após a cirurgia
e sua mãe quer você...

— Não, não traga minha mãe para isso. Ela é… ela não sabe...

O garoto estava caindo aos pedaços sob nossos olhos, e foi doloroso assistir.

Para sorte de todos, Zach colocou a mão no ombro para acalmá-lo.

— Dr. Shaw, isso é suficiente. O destinatário é seu paciente e você está


proibido de conversar com qualquer possível doador.

— Você está esperando que eu deixe meu paciente morrer por causa de
algum protocolo?

— Espero que você faça isso porque sou seu chefe.

Eles continuaram brigando, lançando fatos e grandes palavras um para o


outro que nem o garoto nem eu podíamos entender, então ele desistiu e veio
sentar comigo.
Eu olhei para ele, procurando em seu rosto.

Um filho que não queria salvar seu pai era quase bíblico. Eles checaram o
sangue dele para ver se ele era compatível, mas não checaram mais nada. Seus
punhos estavam cerrados e tremendo— raiva— seus ombros estavam tensos e
sua cabeça estava em obediência— medo— e seus olhos injetados com sangue—
angústia. Eu não era médica, mas reconheci os sintomas.

— Quão ruim é isso?— Perguntei alto para que ele pudesse me ouvir sobre
os dois médicos que continuavam discutindo ao nosso lado.

— Pai?

— Os espancamentos.— O garoto olhou para mim com uma mistura de


surpresa e terror, um olhar que eu conhecia muito bem ao vê-lo no espelho.

Minhas palavras chamaram a atenção dos outros homens que finalmente


pararam de falar para ouvir nossa conversa.

— Ele... começou quando eu tinha onze anos. Ficou pior ao longo dos anos.
Não posso revidar porque ele continua dizendo que fará minha mãe pagar por
isso.— Ele tem algo a perder.— Eu não posso fazer isso. Eu não posso dar a ele
o meu...

E alguém poderia culpá-lo? Porque eu não podia. Eu conhecia a dor dele.


Eu sabia como um osso se sentia quando quebrava, mas não se comparava ao
medo. Viver todos os dias com medo de que qualquer respiração pudesse trazer
de volta o castigo...
— Entendi.— Eu disse, porque consegui.— Você tem duas opções, deixe-o
morrer e apodrecer no inferno, mas isso deixaria você sempre se perguntando
se você é um pouco do monstro que nem ele é… ou você pode sacrificar isso,
deixá-lo viver sua vida miserável e assistir você tirar sua mãe daquele buraco
do inferno. E bater nele de volta na saída.— Olho por olho.

Ninguém se mexeu. Ficamos sentados e esperamos, e eu não tinha ideia


de quantos minutos se passaram até o garoto se levantar, endireitar as costas
e olhar para o Emmy Shaw com uma expressão de Hard Rock.

— Vamos fazer isso.

— Sério?— O médico perguntou, mas todo esse entusiasmo que ele tinha
antes se foi há muito tempo. Ele estaria salvando um agressor.

— Sim. Eu quero bater nele de volta. Leve-me para minha mãe para que
eu possa falar com ela, por favor.

Shaw não disse mais nada, apenas acenou com a cabeça e mostrou a
direção ao garoto, mas antes de sair, os dois pararam para me poupar mais um
olhar, e eu não estava confortável com a compaixão que encontrei nele.

Quando chegaram aos elevadores, Zachary voltou e sentou-se ao meu lado.

— Uau, Rita, isso foi fantástico. Bem-vinda ao lado feio do negócio que
salva vidas.— Voltando ao café, ele bebeu devagar e franziu a testa no meu
caminho.— Como você sabia?
Eu não sabia se poderia encontrar em mim para começar tudo de novo.
Passar por cima com Jessica quase me quebrou.

— Eu fui aquele garoto uma vez.— Eu disse, e a resposta usual veio à


tona. Estava tudo lá em seu rosto: choque, pena, compaixão, eufemismo, raiva,
todos eles brilhavam sobre suas feições.

— Seu pai?

— Meu marido?

— Que porra?— Ele disse tão rápido, quase como se fosse um reflexo.

— Zachary, eu não posso… não de novo.

Ele murmurou um ok, e nós dois voltamos a sentar em silêncio, só que


desta vez o conforto que encontramos nele se foi. Eu me senti exposta e aberta,
mas então algo aconteceu… Zachary, deixou-me ver seu lado suave.

Sem palavras, ele se inclinou e circulou meu braço com o braço forte, e
funcionou. A sensação pesada levantou do meu peito.

— Obrigada, Zach.

— Você sabe que não importa o que aconteça com você e James, nós temos
suas costas, certo? Felizmente, quebraria as costas de qualquer homem que
machuque uma mulher. Porra, me dê o nome dele, e enviaremos Jess para caçá-
lo.
Eu nunca acreditei que iria rir falando sobre minha vida com Trujillo, mas
aqui estava eu, quase convulsionando.

— Wendy disse a mesma coisa. Por que Jessica é a valentona em todas as


histórias?

— Porque ela é maníaca. O último cara que a interrompeu no trânsito está


em terapia agora.— Oh, porra.

Ficamos sentados assim, brincando e conversando sobre todo tipo de


bobagem quando seu pager disparou, ao mesmo tempo com um som de alarme
muito alto.

— Que porra é essa?

— Zach, o que está acontecendo?

— Precisamos evacuar?— Ele disse e olhou ao redor do ambiente


alarmado.

— Fique perto de mim.

— Zachary, você está me assustando.

As pessoas estavam correndo, algumas parecendo ocupadas, outras


gritando, outras chorando...

Uma mulher mais velha que parecia uma CEO, mas usava um jaleco
branco, atravessou o chão brilhante e deu ordens a um grupo enorme que
parecia como uma equipe de segurança. Zach pegou minha mão e fugiu para
ela, me arrastando.

— Chefe! Este código é real?

— Zachary, por favor, você tem que sair para a segurança agora.—
Segurança? Por que não estávamos seguros aqui?

— Então é verdade?

— Sim, há um atirador ativo no hospital.— Todo o sangue drenou do meu


corpo, e Zach, o grande e ruim Zach, ficou branco como um lençol.

— Onde?

— Zachary, saia. Isso é uma ordem!

— ONDE, CHEFE?!— Seu rugido fez as grandes janelas tremerem em


seus caixilhos.

— No andar cirúrgico.

Cirúrgico? Um milhão de arrepios me atingiram quando percebi que era


onde James estava. E ele estava com London.

Zach correu para as escadas com a velocidade de um raio, enquanto a


mulher chamava seu nome e a segurança. Foram necessárias três pessoas para
detê-lo e derrubá-lo.

— Chefe, tire seus cães de mim. Minha esposa está lá.


— A polícia está a caminho.

— Se algo acontecer com ela...

Se alguma coisa… se… e se...

Fiquei paralisada de medo. Paralisada.

Eu acho que Zach chamou meu nome.

Alguém estava me carregando. Eu estava me movendo, mas não senti


meus pés.

Barricadas. Polícia. Sirenes. Fita amarela.

Zach estava xingando muito. Ele empurrou alguém, alguém de uniforme.


Isso não poderia ser bom.

Um milhão de coisas estavam acontecendo, e eu não entendi nenhuma


delas. Tudo o que eu sabia era que o homem que eu amava estava lá dentro.
Fiquei vigiando a porta, mas ele não saiu.

O homem que eu amei. Eu o amava com tudo em mim.

Havia uma bala entre eu e o homem que eu amava.


Quase meia hora. Vinte e seis malditos minutos do inferno. Eu sabia
porque contava cada segundo venenoso. Ninguém entrou e ninguém saiu, nem
uma única alma saiu pelas portas do hospital em 26 minutos. Lá estavam
policiais por toda parte e equipes de forças especiais subiam no telhado. Era
como se tivéssemos pousado no meio de um filme distópico de Bruce Willis.

Por que eu era um ímã para uma catástrofe? Parecia que tudo no meu
caminho era para infligir dor, só que desta vez eu não era a única vítima.

Ao meu lado, Zach não parava de brigar com oficiais, exigindo ser deixado
entrar. Eu sabia que se ele tivesse a menor chance de entrar, ninguém seria
capaz de enfrentá-lo.

Todo mundo estava do lado de fora no amplo estacionamento, mas o ar


estava muito carregado de tensão para ser fácil de respirar. Eu não era exceção;
a cada respiração, eu sentia como se estivesse sufocando, me aproximando de
uma morte lenta. Minha respiração foi completamente arrancada dos meus
pulmões quando a estação de rádio do policial perto de mim disparou.

— Tiro disparado! Tiro disparado! Proteja o perímetro, estamos nos


mudando.— Foi a voz de um homem, provavelmente a equipe que se levantou
no telhado. E se eles entrassem e as coisas fossem para o sul? E as pessoas lá
dentro? Onde estava James?

Ao meu redor, ouvi suspiros e soluços. Zach entrou no modo Hulk


completo, puxando as barricadas e tentando seguir para quem ele amava.
Cinco oficiais tiveram que segurá-lo e fazê-lo ficar de fora.

Tiro disparado.

Oh, Deus, por favor, não deixe isso acontecer.

Desamparada diante da dor, deixei meu corpo desistir e caí de joelhos para
orar. Eu tinha sido presa no chão e atingida por um cabo de força antes, mas
nunca me senti mais impotente.

O céu tenha piedade...

Padre Nuestro, que estás en cielo,

santificado sea tu nombre ;

venga a nosotros tu reino ;

hágase tu voluntad, na terra como no cielo.40

Ah, papi, só não faça nada estúpido como tentar ser o herói e pular na
frente de uma arma. Seu mentiroso estúpido, compulsivo e bonito, por favor,
não seja o seu eu incrível. Fique em algum lugar seguro.

40Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; deixe seu reino vir; Seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.
Se James estivesse lá, e ele estivesse com London, eu sabia que ele agiria
como um escudo humano.

Danos hoy nuestro pan de cada día ;

perdona nuestras ofensas,

como también nosotros perdonamos a los que nos ofenden ; no nos dejes
caer na tentação,

y líbranos del mal.

Amén.41

Orei através de lágrimas pesadas, como nunca havia orado antes. Solto
meus soluços em silêncio, engolindo os sons de choro e implorando por
absolvição. Não sabia quanto tempo fiquei assim, ajoelhada no concreto, mas a
voz de Zach me puxou de volta à terra.

— London! London, venha aqui, querida! Ei, tire suas mãos de mim, cara,
minha esposa está sangrando.

Sangramento? London?

41Dê-nos nosso pão de cada dia hoje; perdoar nossas ofensas, como perdoamos aqueles que nos ofendem;
não nos deixe cair em tentação, e nos livra do mal. Amém.
Eu olhei para cima e a vi correndo em nossa direção, colidindo com os
braços de Zach e segurando-a por uma vida querida. Vendo que me deu arrepios
por toda parte.

— Zach, acalme-se, querido.— Disse ela, mas não ajudou que sua voz
estivesse quebrando. Ela estava chorando, e suas roupas e mãos estavam
cheias de sangue. Um rio disso.— Não é meu, não é meu! Estou bem.

— Oh, obrigado, porra.— Zachary pegou o rosto dela nas mãos dele,
tocando-a com admiração, como se ele estivesse checando duas vezes que ela
estava aqui.

Eu queria o mesmo conforto. Alguns outros estavam saindo; policiais


estavam entrando, mas eu não vi James. Onde estava James?

Eu me levantei e corri para London e peguei seu pulso em um movimento


desesperado. Eu nem percebi o sangue que agora estava manchando minha
mão.

— London, onde está James? Ele deveria estar com você, onde...?

— Oh, Deus, Rita, você está aqui… não. Você deveria sair.

Ela falou e quase me trouxe de volta aos meus joelhos. Não havia outro
lugar que eu preferisse estar.

— London, onde está o meu… Sinto muito por estragar o seu casamento.
Se você me odeia, tudo bem, mas me diga, onde está James… Eu preciso vê-lo.
— Calma. Vocês duas.— Zach entrou entre nós, e o paramédico que estava
vindo para verificar London recuou, sentindo a tensão em nossa conversa.—
Baby, você estava na sala de cirurgia com Sullivan e ninguém sabe onde ele
está. Se ele deixou você sozinho lá e foi embora, eu vou...

— Ele salvou minha vida.— Aninhada sob o braço do marido, London


olhou para mim e havia um conglomerado de emoções lutando em suas piscinas
azuis. Por fim, a culpa venceu.— Ele pulou na frente de uma bala para mim.
Rita, sinto muito...

— Não, não, ele não pode ser… Eu preciso chegar até ele. Eu tenho que ir
agora.— Eu não tinha muita certeza do que estava dizendo ou do que estava
fazendo. Eu estava muito chapada de adrenalina, mas não consegui escapar do
aperto firme de Zach.

— Você não pode entrar lá.— Ha, engraçado, ele dizer isso.

— O atirador está sob custódia; ele foi preso.— Eu pude ver a luta por trás
da aparente calma que London tentou retratar.— Ele foi baleado, mas os
médicos já o atenderam. Ele estava lúcido. Rita, você não pode entrar lá… o…
o cara estava procurando por James.

— Baby, o que você está dizendo? Por que o atirador procuraria por James?

Sim, porquê?

Por que alguém desejaria mal a James? Como eles ousam?


London abriu a boca para falar, mas parou imediatamente e olhou para
mim.

Foi quando eu soube. Tudo poderia ser lido em seu rosto. James foi baleado
por um homem que veio aqui para caçá-lo.

Senhor.

Eu teria caído no chão se não fosse o corpo de Zach me apoiando. Meus


olhos caíram no sangue manchando as minhas mãos.

— Ele está aqui. Trujillo me encontrou.— O sussurro pertencia a mim,


mas era a voz de uma estranha. Era a voz trêmula de uma garota que morreu
meses atrás em Boston. A Rita assustada; a Rita quebrada, sempre com medo.
Eu gostaria de nunca mais vê-la, mas agora ele está aqui.

— Quem?— Zachary perguntou e London respondeu. Trujillo, meu marido


e atormentador.— Merda, Rita, eu tenho que tirar você daqui, e você, querida,
eu quero que você faça o check-up.

— Zachary eu não fui ferida. Pressionei a lesão de James para parar o


sangramento, só isso.

— London.— Chorei como um animal ferido.— Por favor, me leve até ele.
E se ele não conseguir?

— Ei, não! Ele vai ficar bem. Escute, vocês dois, James levou um tiro no
quadril, mas pelo que eu saiba, apenas o osso foi afetado. Ele nem caiu. Na
verdade, ele se lançou naquele maníaco e o colocou em coma.
— Sullivan fez o que?

Boa pergunta, Zachary.

— Sim, o rosto dele nunca será o mesmo. Seus dentes foram deixados para
trás no chão da sala de cirurgia. James está bem, todo mundo está bem. Eles
vão limpar sua ferida e costurá-lo, e todos nós podemos vê-lo depois.

— Rita e eu vamos vê-lo. Estou ligando para Paris para buscá-la; você está
indo para casa, tome um banho e não saia do nosso quarto… nunca
novamente.— O lançamento em sua voz me deixou à vontade.

Eu poderia ter chorado de novo, gritando graças ao céu, mas isso foi o
suficiente.

Chega de lágrimas. Terminei.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

— Porra, Sandra, isso dói.— Lati para a residente e mordi a minha


língua.— Sinto muito, Dra. Brooks, a adrenalina está desaparecendo.

— Não tem problema, senhor. Você é meu chefe e um herói, então me


amaldiçoe. Eu tenho que limpar profundamente sua ferida, e ela vai doer.

Eu sabia.

— Eu não sou um herói. Eu fiz o que todo mundo teria feito.

— Mhm, todo mundo pularia na frente de uma bala e desarmaria sozinho


e, umm, bateria na merda de um atacante.
Eu teria feito pior se a equipe da SWAT não tivesse me afastado dele.
Minha mente estava em branco na época; tudo o que eu queria era dar a ele
uma pequena fração do que vi no rosto de Rita naquela noite, ela pensou que
eu ia bater nela.

Agora que o choque se foi, tudo parecia surreal. Uma arma. Um homem.

London. O paciente...

A única vítima real não podia nem cair sobre os ombros do atirador; estava
nos meus. Se eu não tivesse deixado Hoover tentar manobrar essa agulha...

O paciente estava sem vida antes que alguém tivesse a chance de


ressuscitar, e mesmo que um médico tivesse chegado a tempo, era provável que
seu cérebro estivesse perto de purê de batatas.

Ao nosso redor, os horríveis sentimentos da ameaça começaram a se


dissipar. As pessoas estavam andando por aí, a equipe estava trabalhando em
plena capacidade para colocar as coisas de volta nos trilhos. Era como se nunca
tivesse acontecido, mas eu tinha certeza de que nunca mais seria o mesmo
depois de hoje.

— London?— Eu sabia que ela não foi ferida. Eu só quero ter certeza de
que ela chegou em segurança.

— Eu a vi com o Dr. Ford, e ela parecia bem.

Quase quando Sandra Brooks o chamou, Ford se materializou na moldura


da porta com seu rosto tradicional de carranca.
— Seu filho da puta rançoso...

Eu não podia fazer muito, exceto coaxar meu pescoço para vê-lo, porque
Brooks me pressionou para não me sentar.

— Sinto muito, Zachary, por colocar London em perigo assim. Não há nada
que você possa dizer para me fazer sentir mais baixo.

— Você também agiu como um escudo humano para protegê-la, então não
me dê essa besteira.

Ele estava sorrindo, mas não havia dúvida de que hoje o sobrecarregaria
com o peso de dez anos. Tive a sensação de que ele balançava alguns cabelos
grisalhos.

— Eu esperava dizer olá ao seu punho.

— Eu esperava que você não fosse tão estúpido, já que você tem seis
certificações no conselho, mas ei, nós conseguimos o que obtemos. Estamos
bem, cara, estamos todos bem.

— Ela estava em perigo por minha causa. Se algo tivesse acontecido com
ela...

— Se algo tivesse acontecido com London, eu teria queimado este lugar no


chão, mas não aconteceu. Vamos deixar assim.

Sim, vamos todos seguir em frente a partir de hoje. Mas o que havia além?

— Eu tenho que ligar para casa.


— Chelsea ainda está com as meninas. Liguei há dez minutos e ela estava
almoçando. Purê de cenouras ou alguma merda. Elas sabem o que aconteceu.
Jess teve que tomar um Xanax, mas eu disse a elas que todos estão bem.

— Ainda eu...

— Cara, você pode calar a boca por um segundo? Você não precisa cuidar
de todos. Você. Estou feliz que você esteja aqui, conversando e tudo.

O inferno deve estar congelando porque seus olhos estavam brilhando nas
luzes, quase como se estivessem molhados.

— Umm, Ford, você está chorando?— Eu ri alto e senti uma pitada de dor
do movimento e parei.

— Eu não estou. Que porra você está dizendo?

— Quem é o maricas agora, otário?

— Brooks.— Ele chamou a residente que nos prestou absolutamente zero


atenção. Eu acho que as pessoas estavam se acostumando conosco.— Qual é o
status?

— Tirei a bala e tenho que costurá-lo agora. Dr. Sullivan vai viver. Na
verdade, ele pode ir para casa amanhã se estiver limpo de infecção.— A última
coisa que eu precisava era de um choque séptico.

— Zach, você precisa procurar meu telefone ou qualquer outro telefone.

— Rita está lá fora.


— O que? Ela… ela veio me ver?

A garra que apertava o meu coração parecia finalmente se soltar, e não


tinha nada a ver com o fato do perigo ter desaparecido. Era a Rita. Ela estava
aqui. Impaciente para vê-la novamente, olhei para trás de Zach, mas não havia
ninguém lá.

— Eu quis dizer que ela está no corredor, esperando para vê-lo. Ela estava
aqui antes que o código fosse executado. Tivemos uma conversa sobre muitas
coisas profundas.

— O que há com você hoje? Lágrimas, conversa de garota. Você está de


TPM?— Oh, eu amei isso. As mesas finalmente viraram.

— Foi bom dizer isso, não foi?

— Um pouco sim.— Eu estava mentindo; foi incrível.

— A mulher te ama, cara. Não é nada como Avery; não tem nada a ver
com seu dinheiro ou sua família rica e de alta classe.— É claro que não, Rita
não tinha ideia de quão influente minha família era.— Ela te ama por seu
coração. E ela disse algo sobre você comer a bunda dela.

Eu pulei nos cotovelos, mas o choque de dor me levou de volta para baixo.

— Eu nunca, quero dizer que não… ainda não.

— Você deveria, é incrível.

A única coisa que faltava nessa discussão era Jessica.


— Lamentamos, Dra. Brooks, Ford é um idiota.

— Hmm? Eu não estava ouvindo.— Claro, ela não estava.— Continue


falando sério ou o que quiser, porque eu tenho que lhe dar quatro pontos, e isso
vai doer.

Como uma cadela. Ela empurrou a agulha do gancho pela minha pele e eu
amaldiçoei em voz alta.

— Como você tem certeza que ela me ama?

— Vamos, cara, você também sabe. Talvez desta vez tente convidá-la para
um encontro antes de enganá-la para ser a mãe da sua bebê.

— Não sei se há um sentimento forte o suficiente para suavizar as


cicatrizes dos meus erros.

— Sim, existe. Rita me aguenta, ri das piadas sujas de Jessica, ama a bebê
Alexandria. Você é o herói dela. Quero dizer, o rosto dela quando ouvimos que
você bateu no ex desagradável, repugnante e desagradável? Você poderia dar
a lua a uma mulher, e isso não colocaria esse olhar em seu rosto.

— Espere, ela sabe quem era?

— Sim, e eu sei o que ele fez. Eu te disse, tivemos uma conversa sincera.
A chefe recebeu notícias da sede da polícia, a propósito. Como o paciente
morreu, eles estão acusando Trujillo Batista de terrorismo doméstico. Meu pai
e seu amigo na suprema corte estão por todo o caso; ele nunca mais verá a luz
do dia.
Isso foi fácil demais. A prisão foi um prazer para alguém como ele. Eu
ficaria feliz em terminar o trabalho que comecei se a equipe de intervenção não
tivesse invadido a porta e me puxado dele.

— Quero conversar com seu pai, preciso de um favor.

— Você vai porque eles precisam do seu depoimento, mas não


imediatamente.

— Quero outra acusação de abuso doméstico. Eu sei que é irrelevante no


caso, mas ela merece, cara. Eu já vi suas imagens e a maneira como ela se
assusta se eu me mover rápido demais. Rita também precisa de sua justiça.

Zac permaneceu em silêncio por alguns momentos, olhando para longe,


tentando encontrar algo na parede, depois assentiu quase imperceptivelmente.

— Claro, sim, eu vou deixar meu velho saber.

Depois disso, não havia muitas palavras para serem ditas. Eu empurrei a
dor enquanto Zach estava sentado em uma cadeira ao meu lado com os braços
cruzados, mostrando apoio da única maneira que ele sabia, franzindo a testa.
Eu lhe daria um troféu Melhor amigo do ano no Natal. Ele mereceu depois de
hoje.

Quinze minutos depois, Brooks e duas enfermeiras me moveram para uma


sala de recuperação privada que parecia muito com uma suíte de hotel, com
uma cama elegante, uma enorme TV e banheiro privativo. Eu acho que ser o
paciente VIP teve suas vantagens.
Tatiana era a enfermeira responsável pelo meu caso e fez tudo o que era
humanamente possível para garantir meu conforto. A mulher até afofou meu
travesseiro.

— Dr. Sullivan, você está bem? Posso fazer qualquer coisa, trazer-lhe
qualquer coisa?

— Estou bem, e você deve começar a me chamar de James. Nossos


melhores amigos se casaram.

— Sim, mas eu não quero desrespeitá-lo, senhor. Você é um dos melhores


médicos que temos.

— Você chama o Ford pelo primeiro nome.

— Eu faço sim. Eu só tenho um enorme respeito por você… James.

— De volta para você. Eu preciso de outra coisa, no entanto. Você pode,


por favor, encontrar alguém para mim?

— Sua nova e misteriosa esposa? Ela já está lá fora, e eu não posso mais
ficar mantendo ela lá. Posso mandá-la entrar?

— Por favor, faça.

Eles me deram uma pequena dose de Vicodin para aliviar a dor e, sim, se
eu não fizesse movimentos bruscos, o ferimento de bala não estava mais
pulsando, mas me vi desejando um tipo diferente de medicamento. Felizmente
para mim ela explodiu pela porta como uma bela tempestade e congelou na
moldura da porta.
— James.— Ela cobriu a boca com as mãos, mas não a tempo de pegar um
gemido triste. Não, não, eu nunca mais podia ver essa mulher triste. Eu não
aguentava.

— Ei, amor, eu estou bem. Eu prometo a você, tudo passou e só me


machuquei superficialmente.

— Superficialmente? Você levou um tiro.

— Levemente.

Rita gritou e correu para a minha cama. Em segundos, ela estava


empurrando o lençol para o lado e pulou nos meus braços. Aceitei-a com
profunda urgência para ter seu corpo próximo. Minha mente e minha alma a
queriam, mas não pude evitar o rosnado instável da dor que escapou dos meus
lábios.

— Oh, desculpe, eu estou machucando você.— Ela tentou afastar o corpo,


mas eu a parei, transformando meus braços em uma gaiola rígida. Eu
precisava do contato.

— Deixe-me te abraçar.

— Você não está desconfortável?

— Isso não importa.— Eu senti como se uma faca estivesse torcendo no


meu quadril, mas não ia me parar. Eu a segurei firme e cheirei seu cabelo, me
certificando repetidamente que era real. Rita estava de volta comigo.
— Por favor, você pode me perdoar?— Perdoá-la? Eu? O que eu tinha que
perdoar?— Isso é tudo culpa minha. Você levou um tiro por minha causa. Ugh,
eu deveria ter visto isso chegando.

— Ninguém teria visto isso acontecer. Temos segurança muito cara aqui.
Aquele psicopata não deveria transformar aqui em uma área restrita.

— Você poderia ter morrido por minha causa! Eu poderia ter sido a razão
pela qual a Chelsea ficaria órfã. Quem teria tomado conta dela então? Quem a
teria amado? A mãe que não queria uma cesariana para salvar sua filha?

Uau, ok. A menção de Avery me pegou de surpresa. Com tudo o que


aconteceu na vida de Rita, esqueci que tinha minha parte feia e suja.

— Então nós dois aprendemos muito sobre o passado um do outro hoje.

— Mhm. Sei que Trujillo acabou de apontar uma arma para você, mas não
sei se ele é pior que sua ex esposa.— Eu poderia dizer, ele era. Voltei ao sorriso
que ele tinha no rosto quando estava falando de mim lavando o sangue de
London do chão. Avery era uma cadela do tipo A, mas esse homem estava
profundamente perturbado.— Eu não quero pensar em Chelsea morando com
ela.

— Na verdade, desde ontem, Zach e London são os guardiões da Chelsea.


Fazia parte do meu presente de casamento para eles.

— Oh, o que mais nós conseguimos?

— Pulseiras combinando Cartier e lingerie comestível, feitas sob medida.


— Uh, diamantes e sexo. Vendido.— Disse ela, levantando as
sobrancelhas de brincadeira. Fiquei muito agradecido por esse momento
descontraído e brincalhão.

— Eles adoraram. Amor, precisamos conversar.

— Sim, acho que sim. Foi por isso que saí, James, para protegê-lo de algo
assim. Eu sabia que se Trujillo me encontrasse, ele me mataria; ele é um
homem muito ciumento, então minha única opção era fugir de você.

— Não é sua culpa, então pare de segurá-la contra si mesmo.


Aparentemente, ele estava nos observando por um tempo. O homem está
mentalmente perturbado, e nenhum de nós pode fazer nada a respeito.

— Eu deveria ter sido seu alvo.

— Você era o alvo dele, mas acabou agora. Ele não vai voltar, nunca.

— Eu ouvi.— Havia liberação em sua voz, mas vergonha em seus olhos.


Ela desviou o olhar, mas eu peguei o queixo dela e trouxe o rosto de volta para
o meu.

— Ele está olhando a vida atrás das grades.— Ou a vida sob o solo, porque
eu não estava planejando deixá-lo estar no mesmo hemisfério com Rita
novamente.— Eu não quero falar sobre isso. Eu quero falar sobre nós.

— Sinto muito por sair assim. Eu deveria ter sido mais atenciosa com Zach
e London. Mas não sinto muito por dar um tapa em você. O que estava na sua
cabeça? O que você estava pensando em me ver e me dizer que sou a porra da
sua esposa?

Pela primeira vez desde que comecei essa bagunça, sabia o que estava
pensando; eu tinha a resposta que não era capaz de dar a mim mesmo até
agora.

— Meu coração estava chamando por você.— Gritando de fome.— Você


olhou para mim com seus infinitos olhos de ônix e me perguntou se eu era seu
marido. Eu não era, mas sabia, Rita. Eu sabia. Eu deveria ser. É tão simples
assim.

Rita abriu a boca algumas vezes antes de falar.

— Romântico. Estranho e ainda errado, mas não posso mentir e dizer que
não me toca. Eu nunca conheci romance, você sabe, um homem para fazer algo
para me seduzir… Não foi assim para mim. E você fez muito. Eu estava
pensando que você é o marido perfeito, mostrando tanto amor e apreço à sua
esposa, e você é, mas sabendo que fez tudo isso por uma estranha? Você fez
muito para me fazer sentir amada e segura, e isso torna as coisas muito mais
incríveis.

— Mas ainda um pouco estranho?

— Muito estranho. Eu acho que você me sequestrou.

— Sim, acho que sim.— Não tenho orgulho, mas também não sinto muito.
Eu faria isso de novo e de novo, mil vezes, se necessário.— Amor, eu quero você
na minha vida. Não, na verdade, não há vida sem você. Rita, eu nunca menti.
Eu te amo. Quero passar o resto da minha vida fazendo você se sentir segura e
amada. Minha filha não pode dormir se você não estiver lá e ir ao nosso quarto
sem você na outra noite parecia andar no freezer. Estou disposto a fazer de
tudo para que você me conceda perdão e me dê uma chance de acertar.

A coisa mais extraordinária aconteceu; ela se inclinou e me puxou para


um beijo. Quando nossos lábios se encontraram e combinaram, um arrepio
passou pelo meu corpo. Foi mais do que um beijo, um ato físico de amor. Foi
uma experiência. Rita estava respirando vida e esperança em mim, como fez
na primeira vez que a empurrei para minha vida.

— Seu perdão é concedido e também a chance. Eu te amo. Eu amo tudo


sobre você; há tanto amor, bondade e sensualidade em você que ainda é difícil
compreender que eu tenho você.

Ela me teve há muito tempo. Eu sou dela. Desta vez, quando Zach diz que
eu sou chicoteado, ele não estaria falando besteira.

— Quero acertar desta vez, levá-la em alguns encontros, podemos


encontrar um apartamento para você ou um hotel. Podemos ir devagar.

— Lento? Que porra é essa, não! Você quer que a gente namore?— A julgar
pelo olhar em seu rosto, eu estava perto de outra surra.

— Bem, eu pensei que você poderia querer ter seu tempo para me
conhecer.

— Eu te conheço melhor do que você mesmo. Eu sei que você ronca um


pouco. Eu sei como você gosta do seu chá de ervas nojento que cheira a grama.
Eu sei como você gosta de organizar suas camisas. Eu sei quando essa veia no
seu pescoço está aparecendo é quando você está pronto para o orgasmo. Eu
quero o que tivemos. Acordar com você, ir até a cozinha e preparar-se para a
Chelsea. Não… você não pode tirar isso de mim. Não estou me movendo, fim
da história.

Fim da história? Sobre o que estávamos brigando?

— Amor, eu adoraria nada além de ter você ao meu lado a cada momento
até o dia em que morrer. Eu quero que a gente vá para casa.

— Bom.— Fui recompensado com outro beijo ardente.— E você deveria


fazer algo sobre o meu nome.

Música. Música do caralho nos meus ouvidos. Não pude deixar de sorrir
amplamente.

— Que tal isso?

— O seu combina comigo melhor.

Ela se adequava melhor a mim. Nenhum nome jamais teria um toque


melhor do que Rita Sullivan. Com isso em mente, eu a levei para um tango
sensual, beijando suas bochechas e a curva do pescoço.

Eu a encontrei.

Ela estava aqui.

Ela estava ficando.


Para sempre.
EPÍLOGO

— Olhe para você, garotão, finalmente andando. Não acredito que você
levou um mês para se recuperar de uma pequena bala.— Zach estava sentado
no meu pátio, bebendo uma cerveja gelada e sorrindo como um idiota.

— Do que você está falando? Eu sempre fui capaz de andar. Eu


literalmente saí do hospital.

— Você estava mole, como uma boceta.

Balançando a cabeça, dei um soco no ombro dele e me virei para a cena na


nossa frente. Família e amigos. Hoje era o aniversário de Rita e, em vez de sair,
ela queria fazer um churrasco no quintal. Até a chefe Sadin estava aqui com o
filho. Foi a primeira vez que conheci o jovem garanhão, e ele era um jovem
simpático. Dezenove e selvagem, ele estava dando à mãe, uma cirurgiã de
renome mundial, toneladas de tristeza, falando em abandonar a faculdade e
ingressar em uma banda punk. Foi engraçado ver alguém romper a cara
perfeita de pôquer da chefe; humanizou o meu herói.

Todo mundo estava ao redor da mesa, rindo e conversando; Jessica estava


falando de uma criança que ela tinha na pediatria que dava o dedo a todos.
Paris estava brincando com a Chelsea, e minha linda esposa— de verdade
agora— estava conversando com Karl Sadin sobre sua futura carreira musical.
Eu gostei do garoto, mas é melhor ele parar de olhar para os peitos dela. Tudo
entre os tornozelos e o pescoço era apenas para mim.

— Então, você é casado com uma autora agora, hein? O poderoso nome
Sullivan passou a publicar.

— Futura autora.— O livro de Rita estava se dando tão bem. Uma história
infantil com suas ilustrações. Eu estava tão orgulhoso; ela estava trabalhando
tanto para isso, e a alegria que esse projeto trouxe aos seus olhos não tinha
preço. Todas as sombras que espreitavam ali foram exorcizadas.— Graças a
Paris e as conexões que ela tem com esse agente do livro.

Rita e Paris ficaram bastante próximas desde o incidente. A prima da


London ficou mais de uma noite para ajudar com a Chelsea quando eu ainda
estava comprometido com o descanso na cama, e elas começaram a falar sobre
arte e desenhos. A próxima coisa que soube foi que ela trouxe um contrato para
Rita publicar uma história para dormir. Pelo sorriso que ela colocou no rosto
de minha esposa, eu ficaria para sempre em dívida com ela.
— London e eu estávamos pensando.— Mal podia esperar para ouvir
isso.— Que tal você levar Rita para comemorar? Podemos ficar com a Chelsea
no próximo fim de semana, quando estivermos de folga.

— Realmente?— Ele assentiu, sorrindo. Eu não sabia o que aconteceu na


lua de mel dele, mas meu amigo realmente gostava de viajar.— Isso seria
ótimo. Eu tenho que verificar com a Rita, pensar, ela pode estar ocupada com
outra reunião ou algo assim.

A editora estava ligando para ela em algumas reuniões para falar sobre
design, impressão e outras coisas. Foi incrível vê-la se vestir de terninho que a
fazia parecer ainda mais sexy, mulher e conquistar o mundo.

Quase como se soubesse que eu estava falando sobre ela, Rita pegou a mão
de Jessica e caminhou até mim.

— Se vocês, senhoras, terminaram de fofocar sobre cervejas, posso ficar


com meu marido por um minuto, Ford?— Ela gostava de brincar que Zach é
meu namorado. Eu senti como se tivesse superado minha fase de namoro,
namorados há muito tempo. Eu prefiro esposa do trabalho.

— Somente se valer a pena. Para que você precisa do meu homem?

— Eu não faço ideia. Jess quer nos dizer algo em particular.

Zach nos deu luz verde e nós três entramos no meu escritório.

— O que há, Jess?


— Eu tenho que dizer algo, porque é óbvio que vocês dois estão alheios.
Rita, você andou bebendo?

— O que? Não.

— Drogas? Cigarros? Você é cubana, fuma charutos?

— Não.

— Jessica, por que você está grelhando a Rita? O que está acontecendo.

— Sua esposa está grávida.

— Com licença?— O choque geralmente acontecia na forma de uma onda


fria, mas desta vez foi como se meu peito estivesse pegando fogo.

— Rita está grávida. Suspeitei por um tempo, mas agora tenho certeza.
Quando ela disse que queria um pouco de uísque, eu sabia que tinha que
esclarecer vocês dois, idiotas.

Rita balançou a cabeça.

— Jessica, isso é impossível.— Disse ela.

— Você esteve fodendo o James nos últimos dois meses? Porque se você
fez, garanto que há um caminho.

Oh, nós estivemos fodendo.

— Eu não posso ter filhos. Eu tentei antes… Não posso.


Jessica balançou a cabeça discordando dela. Eu não conseguia falar por
causa do nó na garganta. Eu sabia que a Jess era uma boa médica, certificação
de placa dupla, ela é uma cirurgiã pediátrica inicial e OBGYN, ela não deixou
de diagnosticar.

— O canalha já fez um teste de fertilidade?

— Não.

— Então ele era, porque você está grávida. Faça um teste e aceite que
estou certa.

Eu não conseguia me afastar de Rita; era como se uma luz quente


estivesse brilhando ao seu redor. Ela colocou as mãos na barriga e olhou para
mim em choque.

— Umm, pessoal, se vocês não quiserem este, pode a Wendy e eu tê-lo?

Que porra é essa?

— Saia, Jess.

— Ok.— Disse ela, fazendo beicinho e saiu.

No segundo em que ouvi a porta se fechar, pulei em Rita e a levantei,


beijando cada centímetro de pele disponível.

— Amor, me diga que você está feliz. Diga-me que você quer isso.— Ela
ainda estava calada e eu não sabia ler isso.
— Feliz? Sinto como se estivesse andando em nuvens. Você está?

Eu? Para responder, eu a beijei tão fundo que meus lábios certamente
imprimiram em sua alma.

— Você vai me dar outro bebê!

— Nós vamos ter outro bebê.

Conversamos e rimos ao mesmo tempo. A vida nunca foi tão boa.

— Este é o melhor presente de aniversário que você poderia me dar, Dr.


Sullivan— Ela disse, passando os dedos pelos meus cabelos e me observando
com olhos sonhadores.

De repente, fui surpreendido por um forte desejo de tê-la. Meu pau estava
crescendo e pulsando, mas justamente quando eu estava decidido a esquecer
nossos convidados e levá-la na minha mesa para comemorar, ouvi a porra da
campainha tocando.

— Quem diabos...— Fiquei visivelmente frustrado.

— Eu não sei, mas devemos responder. Já tocou duas vezes.

De mãos dadas, caminhamos até a porta da frente e não consegui controlar


minha reação feliz. Fiquei olhando para o lindo sorriso dela que combinava com
o meu, mas quando finalmente abri a porta, a surpresa se estabeleceu no meu
rosto.

O que diabos estava acontecendo hoje?


— Seb? O que em nome de Deus você está fazendo aqui?

O homem enorme na minha frente exalou em liberação e cruzou seus


braços grandes e tatuados.

— A mãe me disse que você levou um tiro de merda. Por que é a primeira
vez que ouço sobre isso?

— E você veio aqui?

Ele veio me checar? Ele se importava se eu tivesse levado um tiro? Desde


quando?

— Claro, eu vim te ver. Você não precisa ser tão idiota, Jojo.— O velho
apelido me fez querer dar um soco nele e levá-lo em um abraço de urso ao
mesmo tempo. Também não consegui, porque Rita falou ao meu lado.

— Baby, você não vai colocar o seu convidado para dentro.

— Oh, Avery, olá. Prazer em vê-la novamente.— Idiota do caralho. A


última vez que ele viu Avery foi no nosso casamento, e eu nem fiquei surpreso
que ele não tivesse ideia de como ela era.

— Eu não sou Avery.— Rita cuspiu de volta.

— Não?— Ele olhou para mim, confuso.

— Rita, este é meu irmão, Sebastian. Sebastian, esta é minha esposa, Rita.
Eles apertaram as mãos de uma maneira estranha. É melhor ele começar
a mostrar mais respeito a ela.

— Oh, então você é o irmão infame que vive na Europa.

— Para ser justo, eu não moro em lugar nenhum por muito tempo.
Depende de quais ordens eu tenho. Sinto muito pela confusão, mas ainda estou
um pouco… Eu estava no casamento do Jojo, e foi com uma mulher chamada
Avery. Não que eu esteja de luto pela ausência dela, apenas curioso.

— Eu sou divorciado e casado novamente.

— Jojo? Você tem que me contar mais sobre esse apelido, Sebastian.

— Ele é meu irmãozinho, então eu costumava chamá-lo de meu pequeno


Jojo. Que merda, cara, você se divorciou e tem uma nova esposa, e é a primeira
vez que ouço sobre isso? Você ia me contar?— A tensão estava aumentando
entre nós dois. Meu relacionamento com meu irmão era problemático, na
melhor das hipóteses, inexistente na pior.

— Desde quando você se importa com a minha vida amorosa?

— Vida amorosa? Você se casou, eu merecia uma ligação.

— A mãe não informou você em sua pequena conversa particular?— Ele


era o filho favorito dela, afinal.

— Não, ela não fez. Não acredito que você esconderia isso de mim.
— Honestamente, eu não sabia que você dava a mínima para mim ou para
o que eu faço. Exército, dever, família, certo? Nessa ordem.

— Não comece com isso.

— Ei! Pare, vocês dois!— Rita levantou a voz o suficiente para cobrir nós
dois.— Sua mãe teve um punhado com vocês dois, hein.

— Amor, Sebastian é um idiota...

— Cale a boca, pequeno Jojo. Seu irmão está aqui agora; ele estava
preocupado com você, então você pode ser legal?— Tudo o que eu pude fazer foi
concordar. Ele veio... para me ver.

A última vez que Seb perguntou como eu estava, acho que ainda estava no
ensino médio.

— Ótimo. Sebastian, é muito bom conhecê-lo, finalmente. Na verdade,


temos alguns amigos, então por favor entre.

— Que amigos? Eu não gosto muito de pessoas?

— Você também não é médico?— Ela perguntou, divertida.

— As pessoas que trato estão desmaiadas ou gritando de dor. Você sabe,


muito ocupado para conversar. Sou cirurgião de trauma.

— Bom, ok. Umm, você provavelmente conhece Zach. Ele é amigo de


James há anos.
— O cara Ford?

— Sim, ele e sua esposa também estão aqui.

— Ele se casou também?— Fiquei mais uma vez surpreso com o interesse
que meu irmão demonstrou no que está acontecendo ao meu redor.

— Você está bravo por ele também não ter notificado você, imbecil?

Inesperadamente, o rosto de Sebastian escureceu e ele se virou para Rita,


olhando bem nos olhos dela, como se estivesse tentando se desculpar.

— Jojo está certo, eu não deveria estragar sua festa. Obrigado pelo convite,
Rita, mas estarei a caminho.

— O que? Não!— Ela literalmente apertou o braço dele, e eu não pude


evitar o choque de ciúmes que senti no meu estômago.— Ele não quis que você
fosse embora, certo, querido?

— Claro, eu não quero que você saia. Eu não te vejo há sete anos.

Senti mais falta dele do que ele sentia minha falta.

— Dios no lo quiera, isso é insano. Vocês dois têm muito o que acompanhar
e algumas coisas para resolver. Além disso, temos um anúncio a fazer, e é algo
que você deve saber também.

Ele não teve chance na frente de Rita. Ela era a humana mais teimosa de
Chicago, e era do jeito dela ou de jeito nenhum. No final, meu irmão entrou em
minha casa pela primeira vez e fomos para o quintal. Rita estava liderando o
caminho enquanto nós dois estávamos andando lado a lado.

— Espanhola?— Ele sussurrou no meu caminho.

— Cubana.— Respondi e sorri como um diabo.

— Agressiva.— Você não tem ideia, mano. Ela é fogo líquido.

Quando chegamos lá fora, notei que Sebastian parou e congelou no lugar.

— Algo errado?

Seu olhar estava cortando o quintal, apontando para a mesa.

— A cabeça vermelha, o que ela está fazendo aqui?

Hã?

— Paris? Ela é prima da esposa de Zach e amiga da família. Por quê?

— Porque acabei de transar com ela no banheiro do aeroporto de


Heathrow.

Oh.

Oh, porra!

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