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COMTE, A . " Metodologia das Ciências Sociais" .

In
:
MORAES FILHO, Evaristo (or.). Augusto Comte :

uJ? v \o. c , Sociologia. Sã o Paulo: Á tica : 1989 , p . 73- 103.


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2. METODOLOGIA DAS
CIÊNCIAS SOCIAIS

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* Método e doutrina — O método em ação
“ Desde que se trate, n ã o somente de saber o que é o método
positivo, mas de ter a seu respeito um conhecimento bem claro e bem
profundo para lhe poder dar um uso efetivo, é na açã o que ele deve
ser considerado ; são as diversas grandes aplicações já verificadas, feitas
pelo espírito humano, que convém estudar. Numa palavra, evidente-
mente, só pelo exame filosófico das ciências é possível alcan çar esse
objetivo. O método não é suscetível de ser estudado separadamente
das pesquisas em que é utilizado ; ou , pelo menos, neste caso, realiza-se
somente um estudo morto, incapaz de fecundar o espírito que a ele
se dedica. »

Tudo o que dele se pode dizer de real, quando se o considera


abstratamente, reduz-se a generalidades de tal modo vagas que n ão
poderiam ter nenhuma influ ência sobre o regime intelectual. Desde
que se estabeleceu, em tese lógica, que todos os nossos conhecimentos
devem ser fundados na observa ção, que devemos proceder ora dos fatos
para os princípios, e ora dos princípios para os fatos, e alguns outros
aforismos semelhantes, conhece-se muito menos claramente o método
do que alguém que estudou , de maneira pouco aprofundada, uma só
ciência positiva, mesmo sem intençã o filosófica. Por haver desconhecido
este fato essencial, nossos psicólogos foram levados a tomar suas fan-
tasias por ciência, acreditando compreender o método positivo por
terem lido os preceitos de Bacon ou o discurso de Descartes.
Ignoro se, mais tarde, se tornará possível fazer a priori um verda-
deiro curso de método inteiramente independente do estudo filosófico
das ciências ; mas estou convencido de que isso é inexecut á vel hoje,
I
quando os grandes processos lógicos n ã o podem ainda ser explicados
com a precisão suficiente, separados de suas aplicações. Ouso acres-
75
74
ção nem a menor inconse-
centar, além disso, que, mesmo podendo tal cometimento ser realizado de objetivo, sem nenhuma viciosa obstina
viesse a demonstrar posterior-
a seguir, o que, em verdade, se deixa conceber, seria, entretanto, quência filosófica , se o exercício efetivo
mente a inferioridade do mé todo a princípio adotado.” ( CPP . v. IV,
somente pelo estudo das aplicações regulares dos processos científicos m p. 151 e 190 ) .
que se poderia chegar a formar um bom sistema de h ábitos intelectuais,
o que constitui, no entanto, a finalidade essencial do método.” { CPP.
v. I, p. 21-22. )
m
m
“O vigor e influência de um m étodo medem-se pelo n ú mero e pela
importância de suas aplicações : aqueles que nada mais produzem
dei-
xam logo, absolutamente, de ser empregados.” ( OPS [1825 ]. p. 145. )
“Se vimos, em geral, na ú ltima lição, que é impossível conhecer o
método positivo quando se quer estudá-lo separadamente de seu em-
prego, devemos acrescentar agora que somente se pode dele formar '
uma idéia nítida e exata estudando sucessivamente, e na ordem conve-
Teoria e fatos — fatos significantes e não-significantes
niente, sua aplicação a todas as diversas classes principais dos fenômenos “Todos os bons espíritos repetem, desde Bacon, que somente co-
fun-
naturais. Uma só ciência n ã o bastaria para atingir esse objetivo, ainda nhecimentos reais repousam em fatos observados. Esta m áxima
que a escolhendo o mais judiciosamente possível. Porque, embora o damental é evidentemente incontestável, se se aplica , como conv ém , ao
método seja essencialmente idêntico em todas, cada ciência desenvolve estado viril de nossa inteligência. Mas, reportando-se à forma çã o dos
especialmente tal ou qual de seus processos característicos cuja in- nossos conhecimentos, não é menos certo que o espírito humano, em
fluência, muito pouco pronunciada em outras ciências, permaneceria seu estado primitivo, n ão podia nem devia pensar assim. Porque, se
despercebida. Assim, por exemplo, em certos ramos da Filosofia, é a de um lado qualquer teoria positiva deve necessariamente fundar-se
em
observa çã o propriamente dita ; noutros, é a experiência, e tal ou qual observações, é igualmente sensível, de outro , que, para entregar - se à
natureza de experiê ncias, que constituem o principal meio de explora- ' observa ção, nosso espírito necessita de uma teoria qualquer . Se , ao
ção. Do mesmo modo, determinado preceito geral, que faz parte inte- contemplar os fenômenos, não os relacionássemos imediatamente a
grante do método, foi fornecido primitivamente por uma certa ciência ; alguns princípios, n ão somente nos seria impossível combinar essas
e, se bem que possa ser em seguida levado a outras, é em sua origem observações isoladas, e, por conseguinte, extrair delas algum resultado,
que deve ser estudado para ser bem conhecido, como, por exemplo, a mas seríamos mesmo inteiramente incapazes de retê-las; e, na maioria
teoria das classificações.” { CPP. v. I, p. 59. ) das vezes, os fatos ficariam despercebidos sob nossos olhos.” { CPP .
“Em toda ciência real, as concepções relativas ao método propria- v. I, p. 5. )
mente dito são, por sua natureza, essencialmente insepar áveis das que “A tais aberra ções [de só se dar crédito às observa ções diretas e
se relacionam diretamente com a pró pria doutrina . Isoladas de qualquer imediatas], ainda demasiado nocivas, misturam-se hoje cada vez mais
aplicação efetiva, as mais justas noções sobre o método reduzem-se erros menos grosseiros, mas quase tão deploráveis, ao empirismo sis -
sempre, por força, a algumas generalidades incontestáveis, mas muito tem ático que se esforça em impor às observa ções sociais, sobretudo
vagas, profundamente insuficientes para dirigir com verdadeiro sucesso
Wk históricas, quando se proíbe dogmaticamente, a título de imparcialidade,
as diversas pesquisas de nossa inteligência, porque n ão caracterizam as o emprego de alguma teoria qualquer. Seria dif ícil, sem d ú vida, imagi-
modificações fundamentais que esses preceitos demasiado uniformes nar um dogma lógico mais radicalmente contrário ao verdadeiro espírito
devem sofrer diante de cada assunto considerado. ( . . . )
}!
fundamental da Filosofia Positiva, como també m ao caráter especial
que deve manifestar no estudo próprio dos fenômenos sociais. Em
A Filosofia Positiva , subordinando sempre a idealidade à realidade, -
qualquer ordem de fenômenos de que se possa tratar, mesmo em re
n ão poderia jamais admitir essas vãs controvérsias lógicas, que só a lação aos mais simples, nenhuma verdadeira observaçã o é possível
Filosofia Metaf ísica engendra, sobre o valor absoluto de tal ou qual sem que seja primeiramente dirigida e finalmente interpretada por uma
método, feita abstraçã o de qualquer aplica ção científica. Admitindo, a .33
* teoria. ( . . . )
esse respeito, preferências sempre puramente relativas, que somente -
Fica doravante evidente, do ponto de vista verdadeiramente cien
podem, em qualquer caso, resultar de uma harmonia mais bem verifi- tífico, que toda observação isolada, inteiramente empírica , é essencial -
cada entre os meios e o fim, essas preferê ncias mudariam imediatamente
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mente nociva, e mesmo radicalmente incerta. A ciê ncia somente poderia
utilizar-se daquelas que se relacionam, pelo menos hipoteticamente, a
que o verdadeiro espírito positivo, no fundo, nã o se encontra menos
afastado do empirismo do que do misticismo; é entre essas duas aberra-
uma lei qualquer, sendo esta vincula ção o que constitui a principal
ções, igualmente, funestas, que sempre deve caminhar.” ( DPEP. p. 16. )
diferen ça característica entre as observa ções dos cientistas e a do conhe-
cimento vulgar, que, no entanto, abrangem os mesmos fatos, com a
1
ú nica distin ção dos pontos de vista. Conduzidas de outra forma,
somente podem servir as observa ções, ademais, a t ítulo de materiais
"
4 Ciência e previsão 4
provisórios, exigindo mesmo na maioria das vezes uma indispensá vel
revisã o ulterior. Tal prescriçã o lógica deve, por sua natureza, tornar-se “Qualquer ciência consiste na coordena çã o dos fatos. Se as di-
tanto mais irresistível , quando se trata de fenômenos mais complicados, vv
- versas observa ções fossem inteiramente isoladas, n ão haveria ciência.
em que, sem a luminosa
indicar— ã o de uma teoria pré via — de resto,
mais eficaz quanto mais real for -, o observador n ão saberia , na maio -
Pode-se até dizer geralmente que a ciência é essencialmente destinada
a dispensar, tanto quanto o comportam os diversos fenômenos, qualquer
ria das vezes, o que deve considerar no fato que se realiza sob seus j observa çã o direta, permitindo deduzir do menor n ú mero possível de
olhos. £ pela vincula çã o dos fatos precedentes que se aprende verda- dados imediatos o maior n ú mero possível de resultados. Não se encon-
deiramente a considerar os fatos seguintes. ( . . . ) Quanto mais se tra a í, de fato, o uso real, quer na especula ção, quer na ação, das leis
que conseguimos descobrir entre os fenômenos naturais?” (CPP. v.
reflita sobre este assunto, mais se sentir á nitidamente que, sobretudo
neste caso, quanto melhor se tenham relacionado os fatos conhecidos,
melhor se poder á, n ã o somente apreciar, como até perceber os fatos
ainda desconhecidos. ( . . . ) £ evidente que a ausência de qualquer
teoria positiva é o que torna , hoje, as observa ções sociais t ã o vagas e
II, p. 72. )
- '

“£ nas leis dos fenômenos que consiste realmente a ciê ncia , à qual
os fatos propriamente ditos, por mais exatos e numerosos que possam
ser, nada mais fornecem do que os materiais indispensá veis. Ora , con-
t ão incoerentes. Os fatos n ã o faltam, sem d ú vida, já que nesta ordem siderando a destina çã o constante destas leis, pode-se dizer, sem nenhum
de fen ômenos, mais claramente do que em nenhuma outra , os mais exagero, que a verdadeira ciência, longe de ser formada de simples
vulgares sã o necessariamente os mais importantes, n ão obstante as observa ções, tende sempre a dispensar, tanto quanto possível, a explo-
pueris pretensões dos vãos coletores de anedotas secretas ; mas esses ra çã o direta , substituindo-a . por essa previsão racional, que constitui, a
fatos jazem profundamente esté reis, e mesmo essencialmente desperce - todos os respeitos, o principal cará ter do esp írito positivo, como o
bidos, embora nos encontremos neles mergulhados, por falta das dispo- conjunto dos estudos astronómicos nos levará claramente a perceber.
» sições intelectuais e das indica ções especulativas, indispensá veis à sua Essa previsã o, consequência necessá ria das relações constantes desco-
verdadeira exploraçã o científica. ( . . . ) Nenhum fato social poderá bertas entre os fenômenos, nã o permitirá jamais confundir a ciência
ter significa ção verdadeiramente científica sem ser imediatamente rela - á

real com essa vã erudição que acumula maquinalmente os fatos, sem
cionado a outro fato social ; puramente isolado, mantém-se inevitavel - pretender deduzi-los uns dos outros. ( . . . ) Assim , o verdadeiro espírito
mente no estado esté ril de simples anedota , suscet ível no m á ximo de - positivo consiste sobretudo em ver para prever, em estudar o que é a
i. satisfazer uma curiosidade v ã , mas incapaz de qualquer uso racional”. m fim de concluir o que ser á , segundo o dogma geral da invariabilidade
{ CPP , v. IV, p. 219-21 e 223. ) das leis naturais.” ( DP. p. 16-17. )
“Depois que a subordina ção constante da imagina ção à observação “ ( . . . ) sem esta indispensável condição [ previsão], n ã o existe,
t foi unanimemente reconhecida como a primeira condição fundamental falando propriamente, ciê ncia ; h á somente erudição, quaisquer que
de qualquer sã especula çã o cient ífica , uma interpreta ção viciosa tem possam ser a import â ncia e a multiplicidade dos fatos recolhidos. Pen-
conduzido muitas vezes a abusar muito deste grande princípio lógico, sar de outro modo é tomar uma pedreira por um edif ício.” { CPP , v.
levando a degenerar a ciência real numa espécie de estéril acumula ção III, p. 3. )
de fatos incoerentes, que nenhum outro mérito essencial poderia pro - “A perfeiçã o especulativa de qualquer ciência deve medir-se essen-
porcionar, a n ã o ser o de exatid ão parcial. Importa compreender bem cialmente por essas duas considera ções principais, sempre e necessa-
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e universal, direta ou indireta , da observa çã
o sobre a ima-
riamente correlativas, embora, de resto, bem distintas: a coordenaçã
o necessária ófico inicial . ( . . . ) O conjunto
| gina ção, contrariamente ao regime filos
mais ou menos completa e a previsão mais ou menos exata. Este I endido pelos cientista s atuais, em
do método positivo é t ão mal compre
último caráter nos oferece sobretudo o critério mais claro e mais dispersiva , que , infelizm ente, n ã o
decorrência de uma cultura demasiado
decisivo, relacionando-se diretamente ao objetivo final de qualquer direto, a prepond er â ncia contínua
é supérfluo assinalar agora , de modo
-
ciência.” { CPP . v. II, p. 222 23. )
da observação sobre a imaginação,
como o princi pai car á ter ló gico da
es-
as , n ã o para causas
“Mais nossa previsão científica se torna imperfeita, em virtude da sã Filosofia moderna, dirigindo nossas
pesquis
. Sem
fen ô menos naturais
complicação crescente dos fenômenos, mais nossa a ção sobre eles senciais, mas para leis efetivas, dos diversos
adquire naturalmente extensã o e variedade, por outra consequência da , permanece este princípio fun-
ser doravante imediatamente contestado
mesma natureza.” { CPP. v. II, p. 222. ) damental muitas vezes desconhecido nos trabalhos especiais.
concedam , sem d úvi-
“ Não se deve perder de vista, em tais comparações, que, se o grau Embora as diferentes ordens de especulações
de perfeição das diversas ciências fundamentais é sempre necessaria- o ativa , entretanto, nós sempre a
da, à imaginação uma alta participaçã
constantemente empregada
mente desigual pela complicação gradual de seus fenômenos, sua impor- admitimos subordinada à observa ção, isto é,
çã o entre os fatos cons-
t â ncia a nosso respeito diminui segundo a mesma regra por outra con- para criar ou aperfeiçoar os meios da vincula
direçã o n ã o lhe poderiam
sequência do mesmo princípio, de modo que pode sempre existir uma $ tatados, mas o ponto de partida e a sua
pertencer em nenhum caso. Ainda quando
procedemos verdadeira-
suficiente harmonia geral entre as necessidades razoáveis e os meios
efetivos. Espero, aliás, que desta severa e conscienciosa apreciação do i mente a priori , é claro que as considera ções gerais
que nos guiam foram
, quer em outra ,
inicialmente fundadas, quer na ciência correspondente
verdadeiro estado de cada ciência resultará, para os bons espíritos, um
estímulo a cultivá-la muito mais . do que uma repugnâ ncia a estud á-la.
a na simples observa çã o, ú nica fonte de sua realidad e e
ente
também de sua
da verdadeira
fecundidade. Ver para .prever : tal é o cará ter perman
,

A atividade humana deve encontrar-se, sem d úvida, de outro modo bem i somente uma absurda
ciência. Tudo prever sem ter nada visto constitu
mais satisfeita ao conceber as ciências como nascentes, e, por conse- . . VI , p . 430, 437,
utopia metaf ísica , ainda muito seguida.” CPP ( v
guinte, suscetíveis, de maneira quase indefinida, a progressos amplos
e variados ( assim como todas se acham, realmente, mais ou menos ) , a 438-39. )
em lugar de supô-las perfeitas, e, em consequência, essencialmente imó-
i .
veis, a n ão ser em seus desenvolvimentos secund á rios.” { CPP. v III, Positividade e abandono das primeiras causas
p. 28-29. )
em considerar
“Segundo nossa aprecia ção geral da verdadeira natureza das espe- “ O cará ter principal da Filosofia Positiva consiste
invari áveis, cuja
culações positivas, quer espont âneas, quer sistem á ticas, ficou claro que todos os fen ômenos como submetidos a leis naturais
possível sã o a finali-
o princípio fundamental da sã Filosofia consiste necessariamente na descoberta precisa e a redução ao menor número
dade de todos os nossos esforços, tendo como absoluta mente inacessível
submissão contínua de todos e quaisquer fenômenos, inorgâ nicos ou se chamam as causas , quer
e vazio de sentido para nós a busca do que
orgâ nicos, f ísicos ou morais, individuais ou sociais, a leis rigorosamente '

primeiras, quer finais. É in útil insistir muito num princ í pio , agora
invariá veis, sem as quais , qualquer previs ão racional torna -se evidente- fizeram um estudo um pouco
tornado também familiar a todos os que
mente imposs ível , ficando a ciência real limitada a uma est éril erudi- ente,
aprofundado das ciências da observação. Sabem todos, efetivam
çã o. ( . . . ) Esta apreciação fundamental da Filosofia Positiva, como as mais perfeita s, n ão
que, em nossas explicações positivas, mesmo
tendo sempre por objeto o estudo das leis invariáveis, quer de harmonia, gerador as dos
temos de modo algum a pretensão de expor as causas
quer de sucess ão, a um só tempo experimentais e racionais, apropriadas do que recuar a
I às diversas ordens de fen ômenos, nos levou por toda parte, especial-
fen ômenos, de vez que nada mais estar íamos fazendo
ã o as circuns -
mente, a destacar os dois caracteres correlativos, lógico um, científico
dificuldade. Pretendemos somente analisar com exatid rela çõ es
t âncias de sua produçã o e vinculá-las umas às outras median te
outro, que, em qualquer assunto, distinguem mais profundamente essa .
normais de sucessão e de similitude.” { CPP v . I, p. 8.
)
maneira de filosofar. O primeiro consiste sobretudo na preponderância.
a
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“A verdadeira ciência consiste, toda ela , nas relações exatas esta- nem sempre pode ser muito f ácil de realizar. Em qualquer ci ência,
belecidas entre os fatos observados, a fim de deduzir, do menor n ú mero tudo o que é simplesmente conjectural é apenas mais ou menos prová-
possível de fenômenos fundamentais, a série mais extensa de fenômenos vel, e não se encontra í seu domínio essencial; mas tudo o que é
a o
secund á rios, renunciando absolutamente à vã pesquisa das causas e das positivo, isto é, fundado nos fatos bem verificados, é certo: não h á
essências. distin çã o a este respeito.” ( CPP . v. I, p. 56-57. )
Numa palavra, a revoluçã o fundamental que caracteriza a virilidade
de nossa inteligência consiste essencialmente em substituir, em toda
parte, a inacessível determinação das causas propriamente ditas pela
O método positivo
simples pesquisa das leis, isto é, pelas rela ções constantes que existem i
“O fim deste Curso não é, de modo algum, apresentar todos os
entre os fenômenos observados.” ( DPEP. p. 13. )
fenômenos naturais como id ênticos no fundo, salvo a variedade das
'

Hg*
circunst âncias. A Filosofia Positiva seria sem d úvida mais perfeita se
*

“O
verdadeiro espírito positivo consiste sobretudo em preferir
sempre o estudo das leis invariáveis dos fenômenos ao de suas causas assim pudesse ser. Mas esta condição não é necessá ria de modo algum
propriamente ditas, primá rias ou finais, numa palavra, a determinação à sua forma ção sistem á tica, como nã o o é à realiza ção das grandes e
do como à do por quê.’’ ( DEP. p. 16. ) felizes consequências que vimos destinada a produzir. Para isso so-
mente h á a unidade indispensável do método, a qual pode e deve
evidentemente existir e já se acha estabelecida na maior parte. Quanto
Precisão e certeza na ciência à doutrina , n ão é necessário que seja uma só; basta que seja homogé nea.
É, portanto, sob esse duplo ponto de vista, da unidade dos métodos e
N ã o devo passar a outra considera ção, sem colocar o leitor em da homegeneidade das doutrinas, que consideramos, neste Curso, as
guarda, a esse respeito, contra um erro muito grave, e que, apesar de ii diferentes classes de teorias positivas.
muito grosseiro, é ainda extremamente comum. Consiste em confundir ll Embora tendendo a diminuir, o m áximo possível , o n ú mero de
o grau de precisão que comportam os nossos diferentes conhecimentos leis gerais necessá rias à explicação positiva dos fenômenos naturais, o
com seu grau de certeza. Resulta da í o preconceito muito perigoso, que constitui, efetivamente, a - finalidade filosófica da ciência, olharemos
segundo o qual, sendo o primeiro evidentemente muito desigual , a como temerá rio aspirar em qualquer tempo, ainda para o mais longín-
mesma coisa deve ocorrer com o segundo. Fala-se também ainda, mui- quo futuro, a reduzi-las rigorosamente a uma só.” ( CPP . v. I, p. 30. )
tas vezes, embora menos que outrora, da certeza desigual das diversas
ciências, o que leva diretamente a desencorajar a cultura das ciê ncias “É pelas matem á ticas que a Filosofia Positiva começou a formar-se;
é delas que nos vem o método. Era , por conseguinte, naturalmente
mais dif íceis. É claro, entretanto, que a precisão e a certeza são duas
inevit á vel que, quando a mesma maneira de proceder teve de se estender
qualidades em si mesmas bem diferentes. Uma proposição completa
- a cada uma das outras ciências fundamentais, esforçou-se por introduzir
mente absurda pode ser extremamente precisa, como se se dissesse,
por o espírito matemático, num grau mais alto do que o admitiam os fenô-
exemplo, que a soma dos ângulos de um triângulo é igual a três â ngulos
retos. Por sua vez, uma proposiçã o muito certa pode comportar
menos correspondentes. Resultaram daí, em seguida, certos trabalhos
so- de depuração mais ou menos extensos, como os de Berthollet na Quí-
mente uma precisão muito med íocre, como quando se afirma , por
mica, a fim de que se libertasse desta influência exagerada.
exemplo, que todo homem morrerá. Se, de acordo com a explicação
precedente, as diversas ciências devem necessariamente apresentar
uma Cada ciência, ao desenvolver-se, acarreta, no método positivo
precisão desigual, de modo algum ocorre a mesma coisa quanto geral,modifica ções determinadas pelos fenômenos que lhe são pró prios,
à sua
certeza. Cada qual pode oferecer resultados tão certos como os de donde resulta sua natureza especial. É somente ent ão que ele se reveste

|!
qualquer outra, desde que saiba manter suas conclusões no grau de
precisã o que comportam os fen ômenos correspondentes,
condição que
de seu car á ter definitivo, que n ãò deve nunca ser confundido com o de
nenhuma outra ciência fundamental.” ( CPP. v. I, p. 89. ) ~

82 83

Método e consenso nas ciências sociais


xneio essencial do aperfeiçoamento filosófico, uma disposição intelectual
“Apreciada agora quanto ao método, objeto especial deste capítulo, radicalmente antipática às condições fundamentais de tal objeto.”
( CPP v. IV, p. 185-86. )
essa concepção elementar do consensus social tem por finalidade
essencial determinar imediatamente, com autoridade e espontaneidade
notáveis, um dos principais caracteres do método sociológico, talvez, Do geral para o particular
de todos o que mais modifica, segundo a natureza dos fenômenos
correspondentes, o conjunto do método positivo. Com efeito, visto que “Na formação da ciência política, deve-se proceder do geral para
os fenômenos sociais sã o assim profundamente conexos, seu estudo real o particular. Ora, se se examinar este preceito de maneira direta, é
_
n ã o poderia pois ser jamais racionalmente separado, resultando d aí a f á cil reconhecer-lhe a justeza. A marcha que segue o espírito humano
obriga çã o permanente, irrecusg el e direta, de considerar sempre simul- na pesquisa das leis que regem os fenômenos naturais apresenta, sob o
^
taneamente os diversos aspectos sociais, quer na estática social, quer,
por consequência , na din â mica. Cada um deles pode, sem d úvida,
ponto de vista que nos ocupa , uma importante diferença, segundo es-
tude a f ísica dos corpos brutos ou a dos corpos organizados.
tornar-se isoladamente o objeto preliminar de observa ções pró prias, e Na primeira, encontrando-se o homem como formando uma parte
3
bem necessá rio que assim seja até certo grau, para alimentar a ciência ::;
í
imperceptível de uma série imensa de fenômenos, dos quais n ão pode
de materiais convenientes. Mas esta necessidade prévia só se aplica mes- esperar, sem louca presunçã o, perceber jamais o conjunto, é obrigado,
mo, com perfeito rigor, na época atual, quando se trata do primeiro logo que começa a estud á-los com espírito positivo, a considerar em
esboço da ciência , forçada a utilizar a princípio, com as precauções primeiro lugar os fatos mais particulares, para elevar-se depois gradual-
indispensá veis, as incoerentes observações que resultaram , com inten ção mente à descoberta de algumas leis gerais, que se tornam mais tarde o
inteiramente diversa, das pesquisas irracionais anteriores. Quando a ponto de partida de suas pesquisas. Na f ísica dos corpos organizados,
funda ção da ciência estiver suficientemente avançada, a correla çã o ao contr á rio, sendo o próprio homem o tipo mais completo do con-
fundamental dos fenômenos servir á , sem d ú vida, de principal guia junto dos fen ômenos, suas descobertas positivas começam necessaria-
habitual em sua explora ção direta. mente pelos fatos mais gerais, que lhe proporcionam depois uma luz
indispensável para esclarecei o estudo de um gênero de pormenores,
'

De qualquer modo, feita abstraçã o do modo próprio de observa çã o cujo conhecimento preciso, por sua natureza , lhe é para sempre in-
imediata , é incontest á vel que, de acordo com esta solidariedade neces- terdito.
sária que caracteriza tal assunto, nenhum fenômeno social, previamente ; Numa palavra, nos dois casos, procede o espírito humano do conhe-
explorado por qualquer meio, poderia ser utilmente introduzido na cido para o desconhecido; mas, no primeiro, eleva-se antes do particular
ciê ncia, desde que seja concebido de maneira isolada. E isto, n ão para o geral, porque o conhecimento dos pormenores é mais imediato
somente sob o ponto de vista estático, no qual é sempre diretamente - para ele do que o das massas; enquanto, no segundo, começa por descer
considerada a harmonia social, como também no próprio estudo do do geral para o particular, porque conhece mais diretamente o conjunto
movimento social, no qual o consensus , por ser menos imediato, não do que as partes. O aperfeiçoamento de cada uma das duas ciências
é, na realidade, menos preponderante. consiste essencialmertte, sob o ponto de vista filosófico, em lhe permitir
Qualquer estudo isolado dos diversos elementos sociais é, pois, pela adotar o método da outra, sem que este jamais lhe seja, entretanto, tão
natureza da ciência, profundamente irracional, e deve manter-se essen- apropriado como o seu método primitivo.” ( OPS [1822] p. 131-32. )
,

cialmente estéril, a exemplo da nossa economia política, ainda que i


“Para melhor apreciar esse importante cará ter de conjunto próprio
fosse ela melhor cultivada. Aqueles que se esforçam hoje por fragmen- do método sociológico, é preciso considerar cientificamente essa con-
tar ainda mais o sistema dos estudos sociais, por uma cega imita ção dição como não pertencente de maneira exclusiva à Física Social, na
do desmembramento metódico próprio das ciências inorgânicas, caem clual somente atinge sua mais completa preponderância, mas como
assim involuntariamente nessa aberra ção capital de considerar, como sendo, em certo grau, necessariamente comum a todas as diversas partes
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do estudo geral dos corpos vivos, que se distingue de maneira profunda,


precisão compatível com a natureza dos fenômenos, de vez que as mais
sob o aspecto puramente lógico, de toda a filosofia inorgâ nica. Um
dif íceis e variadas especulações já se encontram espontaneamente
aforismo essencialmente empírico, convertido intempestivamente pelos
metaf ísicos modernos em dogma lógico absoluto e indefinido, manda
referidas a uma ú nica teoria fundamental. Mas, deve-se notar sobretudo
a extensão essencial dos meios de investiga ção, agora pedida pelas novas
para todo objeto possível, proceder constantemente do simples para o exigê ncias do assunto mais complexo que o espírito humano possa
composto. Mas, para isso, n ão h á no fundo outra razã o sólida , a n ão
considerar, e determinada ao mesmo tempo pelo caráter distintivo das
ser que essa marcha convém, de fato, à natureza das ciências inorgâni - pesquisas correspondentes. Além da aptid ão quanto às deduções, desen-
cas, as quais, por seu desenvolvimento mais simples e mais r ápido, e volvida na fase matemática , a possibilidade de exploração direta que
por sua perfeição superior, deviam inevitavelmente servir até aqui de
manifesta a fase astronómica, a apreciaçã o experimental própria da
tipo essencial para os preceitos da lógica universal. fase f ísico-química , e enfim o método comparativo, emanado da fase
Todavia e em realidade, n ã©*' se poderia conceber, a este respeito, biológica, as dificuldades características dos estudos sociológicos recla-
como de necessidade lógica verdadeiramente comum a todas as espe- mam ainda o emprego contínuo e preponderante de um novo procedi-
cula ções possíveis, sen ão esta evidente obriga çã o de ir do conhecido mento fundamental, sem o qual a acumulaçã o de todos os recursos
para o desconhecido, à qual, por certo, seria dif ícil subtrair-se, e que, precedentes tornar-se-ia quase sempre insuficiente e mesmo muitas
por si mesma, nã o impõe diretamente nenhuma preferência constante. vezes ilusório. Este indispensável complemento da Lógica Positiva
Mas é claro que esta regra espont â nea manda proceder tanto do com- consiste no modo histórico propriamente dito, constituindo a investi-
posto para o simples como do simples para o composto, segundo a ga çã o, n ão por simples compara ção, mas por filiação gradual.” { CPP .
natureza do objeto, conforme seja um mais conhecido e mais imediata- v. VI, p. 478. )
mente acessível do que o outro. Ora , existe necessariamente a este
respeito uma diferença fundamental, que n ão poderia ser esquecida,
entre o conjunto da filosofia inorgâ nica e do da filosofia orgâ nica. Observação
Porquanto, na primeira , em que a solidariedade é muito pouco pro-
“Certo, é incontest á vel hoje que a observa ção dos fatos é a ú nica
nunciada, e deve afetar fracamente o estudo do assunto, trata se de-
explorar um sistema cujos elementos são quase sempre bem mais conhe-
*
base sólida dos conhecimentos humanos. Pode-se mesmo dizer estrita-
mente, tomando-se esse princípio no seu maior rigor, que qualquer
cidos do que o conjunto, e até, de ordiná rio, só eles sã o diretamente
apreci áveis, o que exige, com efeito, que se proceda do caso menos
s proposição que n ão seja redut ível à simples enunciação de um fato,
composto ao mais composto. particular ou geral , n ão poderá ter nenhum princípio real e inteligí-
1
.
.1 vel. ( . . . ) O empirismo absoluto é impossível, por mais que se tenha
Mas, na segunda, ao contrário, da qual o homem ou a sociedade m admitido o contrário. O homem, por sua natureza, é incapaz, n ão
constitui o objeto principal, a marcha oposta torna-se, na maioria das I somente de combinar fatos e deles deduzir algumas consequências, mas
vezes, a única verdadeiramente racional, como consequência necessária .í até, simplesmente, de observá-los com atenção e de retê-los com segu-
do mesmo princípio lógico, porque o conjunto do assunto é certamente, rança , se n ão os vincula imediatamente a alguma explicação.” { OPS
neste caso, muito mais bem conhecido e mais imediatamente abordá vel [1825], p. 140-41. )
que as diversas partes que serão distinguidas posteriormente.” ( CPP.
v. IV, p. 187-88. ) 3 “ Nossa arte de observar compõe-se, em geral, de três processos
3 diferentes: l .° ) a observação propriamente dita, isto é, o exame direto
do fenômeno tal como se apresenta naturalmente; 2.° ) a experiê ncia,
Do método positivo na Sociologia isto é, a contempla ção do fenômeno mais ou menos modificado por
circunstâncias artificiais, que realizamos expressamente visando a uma
“Sua recente formaçã o e sua complica çã o superior não poderiam explora ção mais perfeita ; 3 ° ) a compara ção, isto é, a consideração
impedi-la de ser logo admitida, por todos os verdadeiros conhecedores, gradual de uma série de casos análogos, nos quais o fenô meno se sim-
como a mais racional de todas as ciências reais, segundo o grau de plifica cada vez mais.” { CPP. v. II, p. 7. )
86 87

“ Em primeiro lugar, caracteriza-se a Filosofia Positiva , profunda- teológicas ou das entidades


mente, em qualquer assunto, por essa subordinação necessária e per- pre espontaneamente o emprego das ficções
manente da imagina ção à observa çã o, que constitui sobretudo o espírito
metaf ísicas.
cient ífico propriamente dito, em oposição ao espírito teológico ou Seria supérfluo insistir muito para verificar, hoje, que este espírito
das especula ções
metaf ísico. Embora a Filosofia Positiva proporcione à imaginação absoluto caracteriza ainda essencialmente o conjunto , quer meta-
escolas atuais , quer teológicas
humana o campo mais vasto e f értil, como nos provou claramente a sociais, que, nas diversas
uniforme con-
f ísicas, apresentam -se constantemente dominadas pela
aprecia ção racional das diversas ciências fundamentais, ela a limita, de um tipo pol ítico imut á vel , de resto mais ou menos
sempre, a descobrir e a aperfeiçoar a exata coordenação do conjunto sideração
vagamente definido, mas sempre concebido de modo a impedir qualquer
dos fatos observados ou os meios de realizar proficuamente novas
modificação regular das principais concepções políticas segundo o estado.
explorações.
eminentemente variável da civilização humana.” ( CPP. v. IV, p
É essa tendência habitual de subordinar sempre as concepções 154-57. )
científicas aos fatos, cabendo-lhes somente efetuar a sua vinculação
real, que deve, antes de tudo, ser introduzida , afinal, no sistema dos
estudos sociais, nos quais as observa ções vagas e mal circunscritas não Dificuldade da observação em Sociologia
oferecem ainda aos raciocínios verdadeiramente científicos nenhum
fundamento suficiente, e são, frequente e arbitrariamente, modificadas “Em virtude de sua complicação superior e acessoriamente de
elas pró prias ao sabor de uma imagina ção diversamente estimulada sua conexã o mais íntima com o conjunto das paixões humanas, as
especula ções políticas tiveram de ficar mergulhadas, mais profundamente
por paixões eminentemente volúveis. ( . . ). e por mais tempo que todas as outras, nessa deplor á vel situa ção
A Filosofia Positiva distingue-se, ent ão, da filosofia teológico- filosófica , na qual, essencialmente, ainda mourejam, enquanto os estu-
-metaf ísica por uma tendência constante e irresistível a tornar neces- dos mais simples e menos estimulantes dela se t ê m sucessivamente
sariamente relativas todas as noções que, ao contrá rio, eram de início desembaraçado nestes três últimos séculos. Não deve ser esquecido,
necessariamente absolutas. Essa passagem inevit á vel do absoluto ao contudo, que, at é tempos mais ou menos próximos, todas as diferentes
^

.relativo constitui, de fato, um dos mais importantes resultados filosóficos ordens de concepções científicas, sem nenhuma exceçã o, ofereceram
de cada uma das revoluções intelectuais que conduziram, sucessivamente, sempre igual estado de inf ância, do qual se vê m libertando, tanto mais
as diversas ordens de nossas especula ções do estado puramente teológico tarde, quanto mais complexa e especial fosse sua natureza, e do qual
ou metaf ísico ao estado verdadeiramente científico. Do ponto de vista as mais complicadas n ã o puderam realmente sair sen ão em nossos dias.”
( CPP. v. IV, p. 155. )
puramente científico, afastando qualquer idéia de aplica ção, pode-se
mesmo considerar, parece-me, esse contraste geral entre o relativo e o I “Quanto à simples observação, formam-se ainda , sem d úvida,
absoluto, como a manifesta ção mais decisiva da antipatia fundamental noções muito imperfeitas e mesmo radicalmente viciosas, a muitos
que separa t ão profundamente a Filosofia Moderna da Antiga. Todo respeitos, do que pode e deve ser em Sociologia. A an árquica influ ência
estudo da natureza íntima dos seres, suas causas primeiras ou finais, social da Filosofia Metaf ísica do último século, estendendo-se da dou-
etc., deve, evidentemente, ser sempre absoluto, ao passo que toda trina ao mé todo, inclinou-se, por um cego instinto de destruição, a
pesquisa só das leis dos fenômenos é eminentemente relativa, de vez impedir de algum modo qualquer ulterior reorganizaçã o intelectual ,
que supõe de imediato um progresso contínuo da especula ção subordi- arruinando de antemão as ú nicas bases lógicas nas quais pudessem
nado ao aperfeiçoamento gradual da observação, sem que a exata repousar análises verdadeiramente científicas, por esta absurda teoria
realidade possa jamais, em qualquer caso, ser perfeitamente desvendada. do pirronismo histórico, que ainda prolonga hoje sua açã o deleté ria,
O cará ter relativo das concepções científicas é necessariamente insepa- embora não mais seja ostensivamente sustentado o seu princípio.
rável da verdadeira noção das leis naturais, assim como também a Exagerando, ao máximo desordenado, a respeito dos assuntos
quimérica tendência para os conhecimentos absolutos acompanha sem- sociais, as dificuldades gerais comuns a qualquer observa ção exata,
88

e sobretudo as dificuldades especiais que devem espontaneamente


r aparentemente mais insignificantes, a aprecia ção das diversas espécies
89

suscitar fenômenos t ã o complicados, sem levar em escrupulosa conta de monumentos, a análise e a comparação das línguas, etc., e uma
diversas precau ções, experimentais ou racionais, que nos podem propor- infinidade de outras vias mais ou menos importantes , podem proporcio-
cionar garantias suficientes, essas aberra ções sof ísticas, volunt á rias ou nar à Sociologia meios úteis e contínuos de explora çã o positiva.”
involunt á rias, foram levadas até a negar dogmaticamente qualquer 1] ( CPP. v. IV, p. 224.)
verdadeira certeza nas observa ções sociais, ainda que diretas.” ( CPP.
v. IV, p. 216-17. )
“Crê-se muitas vezes que os fenômenos sociais devem ser muito Método experimental
f á ceis de observar, porque são muito comuns, além de que o próprio
“O segundo modo fundamental da arte de observar, ou a experi-
observador, quase sempre, deles participa m ãis ou menõs. Mas, sã o
precisamente esta vulgaridade e *%sta personalidade que devem necessa- :
menta çã o propriamente dita , parece, a uma primeira aprecia çã o, ser
riamente concorrer, com uma complica ção superior, a tornar mais dif ícil inteiramente impossível à nova ciência que aqui constitu ímos, o que,
de resto, n ão a impediria de modo algum de poder ser plenamente
esta espécie de observa ção, afastando diretamente o observador das 1 positiva. Mas, considerando o assunto com aten çã o, pode-se facilmente
disposições intelectuais convenientes a uma explora çã o verdadeiramente
cient ífica . Só se observa bem, em geral, colocando-se de fora ; e a
reconhecer que esta ciência n ã o est á, na realidade, totalmente privada ,
1 por sua natureza , de tal recurso geral, embora n ão seja, de longe, o
influ ê ncia preponderante de uma teoria qualquer, sobretudo positiva, ! principal que deva utilizar. Basta , para isso, distinguir conveniente-
pode produzir e manter, diante dos fen ômenos sociais, tal inversão
mente, segundo a natureza dos fenômenos, entre a experimenta çã o
habitual do ponto de vista espont â neo. N ã o falo aqui, de resto, sen ão
direta e a experimenta ção indireta, como fiz nos dois volumes prece-
das condições puramente especulativas, sem mesmo considerar a aluci
na ção mais ou menos profunda que o arrebatamento das paixões deter-
- dentes. Reconhecemos, antes de tudo, no terceiro volume, que o
verdadeiro car á ter filosófico do modo experimental n ã o consiste essen-
mina de modo muito natural nesses assuntos, e que, por certo, n ã o 1 cialmente na institui çã o artificial das circunst â ncias do fen ômeno, que,
pode ser suficientemente prevenida ou dissipada sen ão pela íntima e 1
* para o comum dos cientistas, constitui hoje o principal atributo dessa
familiar preocupação das teorias mais positivas.” { CPP. v. IV, p. 221. ) ú
espécie de explora ções. ,

Seja natural ou artificial, sabemos que a observaçã o, realmente,


Observação direta e indireta merece sempre o nome pró prio de experimenta ção, todas as vezes que
I a realiza ção normal do fen ômeno sofre, de qualquer maneira, uma alte-
“Todas as diversas ciê ncias, ainda as mais simples, têm uma ra ção bem determinada , sem que a espontaneidade dessa altera çã o possa
indispensável necessidade do que se chamam as provas testemunhais, J destruir a eficácia científica própria a qualquer modifica ção das cir-
isto é, de admitir continuamente, na elabora ção fundamental de suas m '
cunst â ncias habituais do fenômeno para melhor lhe esclarecer a
teorias mais positivas, observações que n ã o puderam ser diretamente produção efetiva. É sobretudo neste sentido que o modo experimental
feitas nem mesmo repetidas por quem as emprega, e cuja realidade so- pode realmente pertencer às pesquisas sociológicas. Em rela ção aos
mente repousa no fiel testemunho dos exploradores primitivos; o que
n ão impede de empregá-los continuamente, em concorrência com obser-
i estudos puramente biológicos, verificamos que, pela complica ção e pela
solidariedade necessá rias de seus fenômenos, as experiências diretas,
va ções imediatas. ( . . . ) Que ciê ncia poderia sair do estado nascente, por via artificial , deviam constituir na maioria das vezes um emprego
*
que verdadeira divisão do trabalho intelectual poderia organizar-se, muito dif ícil e uma interpretação demasiado equ ívoca, para que se
mesmo diminuindo excessivamente a extensão das especula ções pró prias, pudesse racionalmente contar muito com o seu uso habitual. Como
se cada um só quisesse empregar suas observa ções pessoais?” { CPP. essa complica ção e essa solidariedade são aqui bem mais pronunciadas
v. IV, p. 218-19. ) I ainda, torna-se evidente que tal espécie de experiência n ão poderia de
“ Nã o somente a inspeção imediata ou a descrição direta de : r«

modo algum convir à Sociologia, mesmo quando fosse moralmente
* admissível e fisicamente praticável.
quaisquer acontecimentos, mas ainda a considera ção dos costumes
90 91

Devendo necessariamente refletir a perturbação artificial de qual - ram essas perturbações. Quanto à sua extensão efetiva, seria prematuro
quer dos elementos sociais, quer pelas leis de harmonia, quer pelas de pretender medi-la de modo geral, de vez que esse processo não pôde
sucessão, em todos os outros, a experiência, abstra ção feita de seu ainda ser realmente aplicado em nenhuma pesquisa de Filosofia Política,
emprego quimérico, seria deste modo radicalmente desprovida de qual- e somente poderá tornar-se usual pelo desenvolvimento ulterior da nova
quer valor científico importante, pela irrecusável impossibilidade de ciê ncia que me esforço para constituir. Contudo, era indispensá vel
isolar suficientemente nenhuma das condições nem qualquer dos resul - assinal á-lo, caracterizando-o também de modo sum á rio, como um dos
tados do fenômeno. De modo que se deve pouco lamentar que tal modo meios fundamentais de explora ção apropriados à Física Social.” ( CPP.
de explora ção se tome aqui essencialmente inaplicável. Demonstrei, v. IV, p. 225-28. )
contudo, em filosofia biológica, que os casos patológicos, em conse-
qu ência mesma de sua espontaneidade, constituem, em geral, o verda -
deiro equivalente científico da pfflèã experimentação, nisso que, embora Método comparativo
indiretas, as experiências naturais que nos proporcionam são eminente -
mente mais apropriadas ao estudo dos corpos vivos, considerados sob “Quais são, com efeito, as condições fundamentais nas quais deve
qualquer aspecto, e isso tanto mais quando se trata de fen ômenos mais necessariamente repousar, em geral, a aplicação racional desse modo
complexos e de organismos mais eminentes. de exploração? Consistem, evidentemente, pela pró pria natureza do pro-
Ora, as mesmas considerações filosóficas são, com mais forte cedimento, no indispensável concurso da unidade essencial do objeto
razã o, essencialmente aplicáveis aos estudos sociológicos, e neles devem principal com a grande diversidade de suas modificações efetivas. Sem
conduzir a conclusões semelhantes, e ainda melhor motivadas, sobre a primeira condição, a composiçã o n ã o teria nenhuma base sólida; sem
a preponderâ ncia necessá ria da análise patológica como modo indireto a segunda, nã o teria extensão nem fecundidade por sua reuni ã o, torna-se
de experimenta çã o conveniente ao organismo mais elevado e aos ao mesmo tempo possível e conveniente. ( . . . )
fenômenos mais compostos que se possam conceber. Esta análise Distingamos agora os diversos aspectos gerais sob os quais deve
patológica consiste, aqui, essencialmente no exame dos casos, infeliz - ser realizada a comparação biológica , que continuamos a considerar
mente muito frequentes, nos quais as leis fundamentais, quer de sempre como est á tica e como dinâ mica. Pode-se reuni-los em cinco
harmonia , quer de filia ção, sofrem, no estado social, perturbações mais rubricas principais, que aqui classifico, tanto quanto possível, na ordem
ou menos pronunciadas, por causas acidentais ou passageiras, especiais de seu encadeamento racional e de seu valor cient ífico crescente: l .° )
ou gerais, como se vêem sobretudo nas diversas épocas revolucionárias, compara ção entre as diversas partes de cada organismo determinado;
e notadamente hoje. ( . . . ) 2 .° ) comparação entre os sexos; 3 ° ) comparação entre as diversas
Desde que as leis fundamentais subsistem sempre essencialmente fases que apresenta o conjunto do desenvolvimento; 4 .° ) comparaçã o
entre as diferentes raças ou variedades de cada espécie; 5 .° ) enfim, e
em qualquer estado do organismo social, é possível chegar, racional-
no mais alto grau, comparação entre todos os organismos da hierarquia
mente, com as precau ções convenientes, da an álise científica das
biológica.” ( CPP. v. III, p. 181-85. )
perturba ções à teoria positiva da exist ência normal. Tal é o fundamento
filosófico da utilidade essencial apropriada a esta espécie de experi- -

menta çã o indireta e involunt á ria, a fim de desvendar a economia real


do corpo social de modo mais pronunciado, que n ã o pode fazê-lo a
M é todo comparativo — sociedades animais
simples observa ção, da qual constitui assim, como em qualquer outro “Devo agora limitar-me a assinalar suficientemente as ú nicas
respeito, o indispensá vel complemento geral. Por sua natureza, este diferenças capitais pelas quais se distingue de modo necessá rio a aplica-
processo é aplicá vel a todas as ordens de pesquisas sociológicas, quer çã o geral da arte comparativa ao conjunto das pesquisas sociológicas.
se trate da existência, quer do movimento, encarados um e outro sob Uma imitação cega do procedimento biológico levaria em primeiro
qualquer aspecto, f ísico, intelectual, moral ou político, e a todos os lugar a desconhecer irracionalmente as verdadeiras analogias lógicas
graus possíveis da evolu ção social, nas quais, infelizmente, nunca falta- entre as duas ciências, visto como a comparação das diversas partes
w
93
92

primeiros germes das relações sociais, as primeiras instituições que


da hierarquia animal , que vimos constituir, em Biologia, o principal
cará ter do método comparativo, não poderia ter ao contr ário, em fundaram espontaneamente a unidade da família ou da tribo
parte elementar da Sociologia, que se confunde quase com a

nesta
Biologia
Sociologia , sen ã o uma import â ncia secundá ria. Mas é que, no fundo,
como iremos reconhecer, n ã o se encontra aí, para esta última ciência, intelectual e moral, ou pelo menos com o que se chama a história na-
tural do homem, da qual parece constituir um simples prolongamento
o verdadeiro equivalente científico da concepção fundamental da série
orgâ nica. Todavia, estou convencido de que a preponder ância muito
prolongada da filosofia teológico-metaf ísica nessa ordem de idéias ins-
geral — , haverá não somente uma grande vantagem científica, mas
uma verdadeira necessidade filosófica, em empregar convenientemente
pira hoje um desdém muito irracional contra qualquer relacionamento a comparaçã o racional da sociedade humana com as outras sociedades
cient ífico da sociedade humana com nenhuma outra sociedade animal. animais, como já suspeitaram alguns filósofos, sobretudo Fergusson,
Quando os estudos sociais estiverem enfim convenientemente dirigidos quem melhor lhe pressentiu a importância.
.. pelo espírito positivo, n ã o sentardará, sem d ú vida , em reconhecer a Talvez mesmo não se deva absolutamente limitar, a este respeito,
utilidade permanente, e, em alguns casos, a necessidade de introduzir, entre as sociedades animais, às que oferecem um cará ter de coopera ção
em certo grau, a compara ção sociológica do homem com outros animais, verdadeiramente voluntária, análogo ao das sociedades humanas. Ainda
e sobretudo com os mamíferos mais elevados, pelo menos depois que que sua considera ção deva ser, por este motivo, essencialmente prepon-
as sociedades animais, ainda t ão mal conhecidas, tenham sido enfim derante, o espírito científico estendendo tal modo de exploração até seu
mais bem observadas e apreciadas. ( . . . ) último termo lógico, poderá encontrar alguma utilidade, sob esse
* aspecto, em descer at é o exame dessas estranhas sociedades, próprias
A principal imperfeição de tal ordem de comparações sociológicas
estará, sem d ú vida , em ser limitada, por sua natureza, unicamente a dos animais inferiores, nas quais uma coopera ção involuntá ria resulta
considera ções est á ticas, sem poder atingir as considera ções dinâmicas, de uma indissolúvel união orgânica, seja por simples aderência , seja
que devem constituir, sobretudo em nossos dias, o tema preponderante também por continuidade real. ( . . . ) A habitual comparação científica,
e direto da ci ê ncia. Esta restrição resulta evidentemente de que o tanto social quanto individual, do homem com os outros animais, é
estado social dos animais, sem ser, em realidade, t ão absolutamente eminentemente apropriada, por sua natureza, para melhor eliminar esse
fixo como se imagina , sofre essencialmente, desde que se desenvolveu espírito absoluto que ainda hoje constitui o principal vício da Filosofia
Política . Parece-me, aliás, mesmo sob o aspecto prático, que o insolente
plenamente a preponderância humana , apenas variações imperceptíveis,
orgulho, que leva certas castas a se olharem de algum modo como
de modo algum compar á veis à progressã o contínua da humanidade,
uma espécie diferente do resto da humanidade, não está, em realidade,
ainda que considerada em seu surto primitivo menos pronunciado. Mas,
sem alguma íntima afinidade filosófica com o irracional desdém contra
reduzida à est á tica social, a utilidade científica de tal comparaçã o me qualquer aproxima ção efetiva entre a natureza humana e as outras
parece verdadeiramente incontestável, para caracterizar melhor as leis naturezas animais.” (CPP. v. IV, p. 229-31 . )
mais elementares da solidariedade fundamental, manifestando direta-
mente, com evid ência irresistível, sua verificação espont ânea no estado
de sociedade mais imperfeita , de modo a poder, além disso, até inspirar
algumas vezes ú teis indu ções sobre a sociedade humana.
&
4
'
Mé todo comparativo — povos primitivos
1
Nada é mais apropriado para fazer ressaltar, sobretudo, quanto “A fim de que as principais modalidades do método comparativo,
são plenamente naturais as principais relações sociais, que tantos espí- distintas e apropriadas à Sociologia, sejam sempre consideradas na ordem
ritos sof ísticos acreditam ainda hoje poder transformar ao sabor de suas sucessiva de sua import ância crescente, devo agora assinalar o modo
capital que consiste numa aproximação racional dos diversos estados
vãs pretensões. Deixar ão, sem dú vida, de olhar como artificiais e
arbitr á rios os vínculos da família humana, reencontrando-os, com o coexistentes da sociedade humana nas diferentes partes da superf ície
mesmo cará ter essencial, entre os animais, e tanto mais pronunciado terrestre, considerados sobretudo nas populações plenamente indepen-
quanto mais o organismo se torna mais elevado, mais próximo do
dentes umas das outras. Nada é mais apropriado do que esse proce-
?
organismo humano. Numa palavra, para tudo que diz respeito aos dimento para caracterizar nitidamente as diversas fases essenciais da

1
I; w 95
94
, terei oportunidade de mostrar
evolução humana, desde logo suscetíveis de serem simultaneamente í Na parte histó rica deste volume que secund á rias, do desenvolvi-
ntes, ainda
exploradas, de modo a fazer ressaltar, de maneira mais direta e mais q u e certas fases interessa História de nossa civilização não deixa
, das quais a
sensível, seus atributos preponderantes. Se bem que a progress ão mento social , somente podem ser conhecidas por esta
apreciá veis
fundamental da humanidade seja necessariamente única, no que con- nenhuns vestí gios
comparativa. E n ão sã o, como se poderia
cerne ao desenvolvimento total, é entretanto incontestável que, por
u indispensável exploração
s da evolução humana, a respeito
um concurso de causas sociais, muito mal analisado até aqui na acreditar, os graus mais inferioren ão é mais hoje contestável. Mesmo para
maioria dos casos, popula ções muito considerá veis, e sobretudo muito dos quais tal possibilidade só
á sempre numerosos intermediários que
variadas, atingiram somente graus desigualmente inferiores desse as fases mais históricas, h indireto de observação. Tais o sã
comportam igualmente este modo
desenvolvimento geral, de sorte que, como consequência dessa desi- caracterizam , em Sociologia , esta se-
gualdade, os diversos estados anteriores das nações mais civilizadas as principais propriedades que
comparativo, tão felizmente destinada
se encontram hoje essencialmente, não obstante inevitáveis diferenças
I i gunda parte essencial do método ,
da an álise histó rica propriamente dita
secundárias, em povos contemporâneos repartidos em diversos lugares a verificar as indica ções diretas inevit á veis
e, sobretudo mesmo, a preench
er suficientemente suas
do globo.” ( CPP. v. IV, p. 232. ) procedim ento sociológico é eminentemente
lacunas. O uso geral deste
“Sem sair da mesma nação, poder-se-ia, até certo ponto, com- princípio, acima estabelecido,
racional, pois repousa diretamente nodo desenvolvimento fundamental
parar, por uma aproximação ainda mais íntima, as principais fases da da identidade necessá ria e constante
civilização humana, considerando o estado social das diferentes classes, preponderância do tipo comum
da humanidade, segundo a irresistível
contemporâneas, muito desigualmente. A capital do mundo civilizado, da natureza humana, em meio de quaisque
r diversidades de clima e
encerra hoje em seu seio representantes mais ou menos fiéis de quase podem afetar a velocidade
at é de ra ça. As diferen ças reais somente
todos os graus anteriores da evolução social, sobretudo sob o aspecto efetiva de cada evolução social.” (CPP. v.
IV, p. 233-34.)
intelectual. Mas, n ã o obstante sua aparente facilidade, tais observa- todas as outras,
“Esta ciência [a Física Social] possui, como
ções são, por sua natureza , muito pouco decisivas, para adquirir em te de sua rela ção
meios gerais de verificação, mesmo independentemen
qualquer tempo uma verdadeira importância científica, por causa da que, no estado
necessá ria com a Fisiologia. Baseiam-se esses meios em
inevitável influência comum que exerce, neste caso, o espírito geral sua totalidad e, coexistem
presente da espécie humana, considerada em , desde o
da época, que só permite uma análise exata dessas incontestáveis todos os graus de civilização nos diversos pontos do Globo
diferen ç as, com o auxílio de uma teoria sociológica já muito avan çada , dos selvagens da Nova Zelândia até o dos francese s e ingleses . Assim,
.
sem a qual se exporiam a graves erros.” ( CPP v. IV, 232-33.) o encadeamento estabelecido segundo a sucess ã o dos tempos pode ser
. ( OPP [1822 ] , p. 130. )
“Como a observação propriamente dita, da qual constitui a mais verificado pela comparaçã o dos lugares ”
espontânea modificação, esse modo comparativo apresenta desde logo
a vantagem evidente de ser igualmente aplicável às duas ordens essen-
ciais de especulações sociológicas, está ticas umas, din âmicas outras, de Método classificatório
modo a verificar ao mesmo tempo as leis da existência e as do êm de
movimento, ou até a fornecer às vezes, a esse respeito, preciosas “Sendo os naturalistas, de todos os cientistas, os que t
mais dif íceis, é nas suas
induções diretas. Em segundo lugar, estende-se essencialmente hoje, formar as classifica ções mais extensas e
m ãos que o método geral das classificaçõ es pô de fazer seus maiores
na realidade, a todos os graus possíveis da evolução social, da qual progressos. O princípio fundamental deste método encontra-se esta-
todos os traços característicos podem assim ser efetivamente subme- ções
belecido desde que existe, em Bot â nica e em Zoologia, classifica es
tidos à nossa observação imediata. Desde os infelizes habitantes da filosóficas, isto é, fundadas em relações reais, e n ã o em aproxim a çõ
Terra do Fogo até os povos mais avançados da Europa ocidental, diferentes
artificiais. Consiste ele em que a ordem de generalidade dos
não se poderia imaginar nenhuma nuan ça social que n ão se ache graus de divis ã o seja, tanto quanto possível , exatame nte conforme
atualmente manifestada em certos pontos do Globo, e até quase à das. rela ções observadas entre os fenômenos que devem ser classifi-
sempre em v á rias localidades nitidamente separadas.
1
96 97

cados. Deste modo, a hierarquia das famílias, dos gêneros, etc., outra niesma dessa ciência, a ú nica base fundamental
sobre a qual possa
coisa não é sen ão o enunciado de uma série coordenada de fatos gerais, realmente repousar o sistema da Lógica Política.
repartida em diversas ordens de séries, cada vez mais particulares.
Numa palavra, a classifica ção é somente, pois, a expressã o filosófica A compara çã o histórica dos diversos estados consecutivos da
da ciência, cujos progressos acompanha. Conhecer a classificação é humanidade n ão somente constitui o principal artif ício cientáífico da
direta-
nova Filosofia Pol ítica : seu desenvolvimento racional formar
conhecer a ciência , pelo menos, sua parte mais importante. ó fundo da ciê ncia, no que possa , a todos os
mente també m o pr prio
Este princípio é aplicável a qualquer ciência. Assim, constituin- respeitos, oferecer de mais característico. É desta forma , sobretudo,
do-se a ciência política na época em que foi descoberto, empregado que a ciência sociológica deve antes de tudo distinguir-se profundamen-
te da ciência biológica propriamente dita. Com efeito, o princ
e solidamente verificado, deve ela aproveitar-se desta idéia filosófica ípio
descoberta por outras ciê ncias, tomando-a por guia na sua distri- positivo desta indispensável separa ção filosófica resulta dessa influ ên-
buição das diversas idades d civilizaçã o. Os motivos para dispor, cia necessá ria das diversas gerações humanas sobre as gera çõ es
^
na História geral da espécie humana, as diferentes épocas da civili-
zação segundo suas relações naturais, são absolutamente semelhantes :
í
seguintes, que, gradualmente acumulada de maneira cont
em breve por constituir a consideraçã o preponderante do estudo
ínua , acaba

aos dos naturalistas para classificar, de acordo com a mesma lei , as direto do desenvolvimento social. Enquanto esta preponderância n ão
organiza ções animais e vegetais. Somente, aqui, são ainda mais for imediatamente reconhecida, o estudo positivo da humanidade deve
fortes. Porque, se uma boa coordena ção dos fatos é importante em parecer racionalmente um simples prolongamento espont â neo da his-
qualquer ci ê ncia , é tudo na ciência política, que, sem essa condiçã o, tória natural do homem. Mas este cará ter científico, muito conveniente
faltaria inteiramente à sua finalidade prá tica.” ( OPP [1822], p. quando se limita às primeiras gera ções, apaga-se necessariamente cada
110-11 . ) vez mais, na medida em que a evolução social começa a se manifestar
“A teoria geral das classifica ções, estabelecida nos últimos mais acentuadamente e deve se transformar por fim, quando o movi-
tempos pelos bot â nicos e pelos zoólogos, permite esperar um sucesso mento humano estiver bem estabelecido, num caráter todo novo,
real em semelhante trabalho, oferecendo-nos um guia certo pelo diretamente próprio da ciência sociológica, na qual as considerações
verdadeiro princípio fundamental da arte de classificar, que n ão históricas devem imediatamente prevalecer. ( . . . )
havia ainda sido distintamente concebido até ent ã o. Este princípio Não é somente sob o ponto de vista científico, propriamente dito,
é uma consequência necessá ria na ú nica aplicação direta do mé todo que o uso preponderante do método histó rico deve dar à Sociologia
positivo à própria quest ã o das classifica ções, que, como qualquer seu principal car áter filosófico; é ainda, e talvez de maneira mais
outra, deve ser tratada pela observação, no lugar de ser resolvida pronunciada , sob o aspecto puramente lógico. Deve-se, com efeito,
por considera ções a priori. Consiste esse princípio em que a classi- reconhecer que, pela criaçã o espontânea deste novo ramo essencial do
ficaçã o deve resultar do próprio estudo dos objetos a classificar, e método comparativo fundamental, a Sociologia terá também aperfei-
ser determinada pelas afinidades reais do encadeamento natural que çoado, por sua vez, por esse modo que lhe era exclusivamente
apresentam , de tal modo que essa classifica çã o seja , ela pró pria , a reservado, o conjunto do método positivo, em proveito comum de toda
expressão do fato mais geral , manifestado pela compara ção aprofun - a filosofia natural, e de tal maneira que sua alta import ância cient ífica
dada dos objetos que abrange.” ( CPP. v. I, p. 33-34. ) pode apenas ser entrevistada hoje pelos melhores espíritos. Desde
agora, podemos assinalar este método histórico como capaz de oferecer
Método histórico a verificação mais natural e a aplicação mais extensa desse atributo
característico que acima demonstramos na marcha habitual própria da
“Somos, portanto, finalmente conduzidos, por uma marcha gra- ciência sociológica, e que consiste em proceder sobretudo do conjunto
dual, à apreciaçã o direta desta ú ltima parte do método comparativo, para os pormenores. ( . . . ) Visto como é, sobretudo, em seu desen-
que devo distinguir, em Sociologia, sob o nome de método hist órico , volvimento que os diversos elementos sociais são necessariamente
propriamente dito, no qual reside essencialmente, pela natureza 1I solid ários e inseparáveis, segue-se da í que nenhuma filiaçã o parcial,

í!
1
99
98
real seria pelo menos
inteiramente isolada, poderia ter realidade, e que toda explicação desse complicação, mas sempre o progresso
tasse de . Mas o emprego desse poderoso artif í
cio deve ser
gênero, antes de poder tornar-se, a qualquer título, especial, deve antes extremamente lento ental , na falta da qual
repousar numa concepção geral e simultânea da evolução fundamental. ente submet ido a uma condição fundam
Que pode significar, por exemplo, a história exclusiva, e sobretudo
constantemnatural mente, pelo contrário, a entravar o desenvo lviment o
tenderia conhecimentos.
parcial, de uma só ciência ou de uma só arte, sem ser previamente de nossos verdadeiros
vinculada ao estudo do conjunto do progresso humano? ( . . . ) Enfim, vagamente analisada, consistia em n ã o
Esta condição, até aqui , de
deve-se notar aqui, sob o ponto de vista pr á tico, que a preponderância hipó teses suscetíveis, por sua natureza
imaginar jamais sen ão
,

geral do método histórico propriamente dito nos estudos sociais possui ou menos remota , mas sempre clarame nte
também a feliz propriedade de desenvolver espontaneamente o senti- verifica ção positiva , maisde precisão esteja exatame nte em harmon ia com
mento social, colocando em plena evidência, direta e contínua, essse inevitável , e cujo grau dos fenômenos correspondentes. Em
outros
o que compor ta o estudo
encadeamento necessá rio dos diversos acontecimentos humanos, qUe iramente filosóficas devem constantemente
'

nos inspira hoje, ainda quante aos mais longínquos, um interesse ime- termos, as hipóteses verdade antecipações sobre o que a experiência
diato, recordando-nos a influência real que exerceram sobre o advento
apresentar o caráter de simplesdesvendar imediatamente, se as circuns-
e o raciocínio teriam podido
de nossa própria civiliza ção.” (CPP. v. IV, p. 236-39. ) sido mais favoráveis. Desde que esta
tâncias do problema tivessem
e escrupulosamente observada, as
“O espírito essencial desse m étodo histórico propriamente dito me única regra necessária seja sempreforma evidente sem nenhum perigo,
parece consistir no uso racional das séries sociais, isto é, numa aprecia ção hipóteses podem ser admitidas
de
sucessiva dos diversos estados da humanidade, que mostra, pelo conjunto que delas se tenham necessidade ou mesmo simplesmente
dos fatos históricos, o crescimento contínuo de cada disposição qualquer,
todas as vezes
o desejo racional. Deste modo, limita-
se assim a substituir pela explo -
esta for impossível ou muito
f ísica, intelectual, moral, ou política, combinado com o decréscimo ração indireta a exploração direta, quando , pelo contrá rio, o mesmo
indefinido da disposi ção oposta , resultando daí a precisão científica do dif ícil. Mas, se uma e outra n ã o tivessem ótese o que, em si mesmo,
hip
ascendente final de uma e a queda definitiva da outra, desde que tal objeto geral ; se se pretendesse atingir pela
conclusão esteja, de resto, plenamente de acordo com o sistema das leis çã o e ao raciocínio, a condição
é radicalmente inacessível à observa
, escapando no mesmo
gerais do desenvolvimento humano, cuja indispensável preponderância fundamental seria desconhecida e a hipótese -se-ia necessariamente
sociológica n ão deve jamais ser desconhecida.” ( CPP. v. IV, p. 241. ) instante do verdadeiro domínio científico
, tomar
nociva.
Ora, todos os bons espíritos reconhecem
hoje que nossos estudos
Hipóteses de trabalho dos fenô menos, a fim de
reais est ã o estritamente circunscritos à an álise
“Somente podem existir dois meios gerais capazes de nos desven-
,
lhes descobrir as leis efetivas, isto é, suas rela
ções constantes de suces-
ser concernentes à
dar, de maneira direta, inteiramente racional, a lei real de qualquer são ou de similitude, e não podem de modo algum
final, nem a seu
fenômeno, e sua relaçã o exata e evidente com qualquer lei mais extensa, sua natureza íntima, nem à sua causa, primeira ou
previamente estabelecida; numa palavra, a indução e a dedução. Ora, , teriam tais suposições
modo essencial de produção. Como, realmente
uma e outra via seriam certamente insuficientes, mesmo a respeito dos ó tese que ultrapasse
arbitrá rias maior import ância? Assim, qualquer hip ar discussões
mais simples fenômenos, aos olhos de quem tenha bem compreendido os limites desta esfera positiva somente pode levar a engendr necessaria
as dificuldades essenciais do estado aprofundado da natureza , se n ão
intermináveis, ao pretender pronunciar-se sobre II, p. 225-26. )
questões -
se começasse muitas vezes por antecipar os resultados, fazendo uma ência.” ( CPP . v.
mente insol úveis para nossa intelig
suposição provisória, a princípio essencialmente conjetural, quanto a
algumas noções mesmas que constituem o objeto da pesquisa. Daí a :
admissão estritamente indispensável das hipóteses em filosofia natural. Aplicação da Matemática às outras ciências — Sociologia
Sem este feliz expediente, cuja idéia geral foi primitivamente sugerida conhecimentos
pelos métodos de aproxima ção dos geômetras, a descoberta das leis “No estado atual do desenvolvimento de nossos á tica, menos
positivos, convém , creio eu, considerar a ciência matem
naturais seria evidentemente impossível, por pouco que o caso apresen-
100 101

como uma parte constituinte da filosofia natural propriamente dita , do


que como sendo, desde Descartes e Newton, a verdadeira base funda-
*
< jaqualidade, das quais somente a primeira constituiria o dom ínio ex-
ê ncia
mental de toda essa filosofia, embora , falando exatamente, seja ao clusivo da ciência matem ática. O próprio desenvolvimento desta ci
mostrou positivamente desde há muito a pouca realidade
desta super -
mesmo tempo uma e outra . Hoje, com efeito, a ciência matem á tica é de Des -
bem menos importante por seus conhecimentos muito reais e muito ficial distin çã o metaf ísica. Porque a concepçã o fundamental
em matem á
ticas
preciosos que diretamente a compõem , do que como constituindo o cartes sobre a relação do concreto com o abstrato
instrumento mais poderoso que o espírito humano possa utilizar na provou que todas as idéias de qualidade eram redutíveis a id éiasê ncia de

pesquisa das leis naturais. ( . . . ) A parte abstrata da Matem á tica quantidade. ( . . . ) Mas se, para se ter uma idéia conveniente da ci
[cá lculo] é a ú nica puramente instrumental, outra coisa n ão sendo do matem á tica, importa concebê-la como sendo necessariamente dotada
é menos
que uma imensa extensã o admirá vel da lógica natural a uma certa por sua natureza de uma rigorosa universalidade lógica, n ã o
- - - -- - - - agora as grandes limita ções reais que , diante
ordem de dedu ções. ( . . . ) indispensável considerar
nossa intelig ê ncia , diminuem singularmente seu dom ínio
Consiste o espírito matem á tico em considerar sempre como vin- da fraqueza de
os fen ô menos se complicam e se especializam .
culadas entre si todas as quantidades que qualquer fen ômeno pode efetivo, à medida que
apresentar, com a finalidade de deduzi-las umas das outras. Ora , n ão Toda questão pode, sem d úvida, ser concebida como redutível a
h á evidentemente nenhum fenômeno que n ã o possa dar lugar a consi- uma pura quest ã o de n ú meros. Mas a dificuldade de trat á-la realmente
sob esse ponto de vista, isto é, de efetuar tal transforma ção, é
dera ções deste gênero, donde resulta a extensã o naturalmente indefinida tanto
mesmo a rigorosa universalidade lógica da ciência matem á tica . Pro- maior, nas diversas partes essenciais da filosofia natural , quando se con-
curaremos, adiante, circunscrever t ã o exatamente como possível sua sideram os fenômenos mais complicados , de modo que . salvo para os
extensã o efetiva. ( . . . ) A ciência matem á tica faz apenas prolongar fen ô menos mais simples e mais gerais, ela se torna logo insuper á vel.
até ao mais alto grau possível, tanto sob o aspecto da quantidade como Percebe-se facilmente, se se considera que, para fazer com que uma
sob o da qualidade, nos assuntos verdadeiramente da sua compet ê ncia , quest ã o se submeta ao dom ínio da an álise matem á tica, deve em primeiro
o mesmo gê nero de pesquisas que persegue, em graus mais ou menos lugar ter conseguido descobrir rela ções precisas entre as quantidades
inferiores, cada ciê ncia real , em sua respectiva esfera. ( . . . ) Toda coexistentes no fen ômeno estudado, sendo o estabelecimento destas
educa çã o científica que n ã o começa por tal estudo, peca assim necessa- equa ções dos fenômenos o ponto de partida necessário de todos os
riamente em sua base. ( . . . )
trabalhos analíticos. Ora , isso deve ser evidentemente tanto mais dif ícil
É indispensável reconhecer antes de tudo, para se ter uma justa quando se trata de fenômenos mais particulares, e por conseguinte mais
id éia da verdadeira natureza das matem á ticas, que, sob o ponto de vista complicados. ( . . . )
puramente lógico, esta ciência é, por si mesma, necessá ria e rigorosa-
A possibilidade de aplicar ao estudo dos diversos fen ômenos a
mente universal. Porque n ão h á qualquer quest ão que n ão possa afinal
ser concebida como consistente em determinar quantidades umas pelas
outras segundo certas relações, e, por conseguinte como redutível , em
an álise matem á tica — que constitui o meio de proporcionar a esse
estudo o mais alto grau possível de precisão e de coordenação —
ú ltima an álise, a uma simples quest ão de n ú meros. ( . . . ) Sem d ú vida , acha-se exatamente determinada pelo lugar que esses fenômenos ocupam
tal maneira de se representar a quest ã o n ão pode ser, com efeito, real- na minha escala enciclopédica. ( . . . ) Tanto importa tornar perceptível
mente seguida , como vamos ver, para os fenômenos mais complexos,
a rigorosa universalidade lógica da ciência matemática, quanto devo
porque nos apresenta, na aplica ção, dificuldades insuper á veis. Mas assinalar as condições que limitam para n ós sua extensã o real, a fim de
n ão contribuir para afastar o espírito humano da verdadeira direçã o
quando se trata de conceber abstratamente toda a compreensão inte-
lectual de uma ciência , importa afirmar-lhe a extensã o total de que seja científica no estudo dos fenômenos mais complicados, pela busca quimé-
logicamente suscet ível . rica de uma perfeiçã o impossível. Assim , procurando-se estender tanto
quanto se possa o domínio real das matem áticas, deve-se reconhecer que
Objetar-se-ia em vão contra tal concepção com a divisão geral das as ciê ncias mais dif íceis est ã o destinadas, por sua natureza, a permanecer
id éias humanas segundo as duas categorias de Kant, da quantidade e indefinidamente neste estado preliminar, que prepara para as outras
103
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vezes, acontecido, de tomar sinais por idéias. Não se pode
a época em que se tomam acessíveis às teorias matem áticas. Devemos, tíssimas , ela só serve algumas vezes para
negar qne, sobretudo emi nossos dias ~ ^
para os fenômenos mais complicados, contentar-nos em analisar com
ç ar , sob imponent e- palavró rio, a inanidade das concepções.
exatid ã o as circunstâncias de sua produ ção, de os relacionar uns aos disfar
outros de maneira geral, etc., mas sem estud á-los sob o ponto de vista ( CPP v. IV , p . 243 . )
rão eternamente, para o
da quantidade, e, por conseguinte, sem esperança de introduzir nas “As especulações matemáticasqueconserva temporariamente exerceram para
ciências correspondentes este alto grau de perfeição que proporciona, é
indivíduo, o inalterável privil gio
quanto aos fenômenos mais simples, o uso conveniente da Matemática, exclusivamente o berço espont âneo da positi-
a espécie : o de fornecer esquecer que um berço n ão
quer sob o aspecto da precisão de nossos conhecimentos, quer sob o vidade racional. ( . . . ) , mas não se deve
aspecto de sua coordenação, o que é talvez ainda mais not á vel.” ( CPP. pode ser um trono.” ( CPP. v. VI, p
. 423. )
v. I, p. 61 , 62, 71, 72, 81-82, 88-89. )
“A aplicação da an álise^featemática, por sua natureza , não pode
nunca dar nascimento a nenhuma ciência qualquer, de vez que somente
pode efetuar-se quando a ciência já se encontra bastante cultivada, para
poder estabelecer, em rela ção aos fenômenos considerados, algumas
equações que possam servir de ponto de partida aos trabalhos analíticos.
Uma vez descobertas essas equa ções fundamentais, a an álise permitirá
deduzir delas uma multid ã o de consequências, mesmo por mais impos-
sível que tenha sido suspeitar antes; aperfeiçoará a ciência a um grau
imenso, quer sob o aspecto da generalidade das concepções, quer quanto
à coordenação completa estabelecida entre elas. Mas, para constituir
as próprias bases de uma ciência natural qualquer, jamais, evidente-
mente, poderia bastar a an álise matem á tica , nem mesmo para demons-
-
trá las de novo, já que foram fundadas. Nada pode dispensar, a este
respeito, o estudo direto do assunto, levado até ao ponto da descoberta
de relações precisas. Tentar fazer ingressar a ciência, desde sua origem,
no domínio do cálculo, seria pretender impor a teorias sobre fenômenos
efetivos o cará ter de simples processos lógicos, privando-os assim de
tudo o que constitui sua correlação necessária com o mundo real. ( . . . )
J á reconhecemos, com efeito, que n ão sendo nem podendo ser o
cálculo senão um meio de dedução, forma-se dele uma idéia radical-
mente falsa pretender empregá-lo para estabelecer os fundamentos
elementares de uma ciência qualquer. Em que repousariam, em tal
operação, as argumentações analíticas? Um trabalho desta natureza,
bem longe de aperfeiçoar verdadeiramente o cará ter filosófico de uma
i ciência, constituiria um retorno ao estado metaf ísico, apresentando
conhecimentos reais como simples abstrações lógicas.” ( CPP. v. I,
p. 217 e 222. )
“A própria an álise matem ática, hoje t ão justamente preconizada,
pode entretanto expor, por exemplo, ao inconveniente essencial, mui-

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