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Eu costumava me sobrecarregar. Eu lia vários e vários livros grandes em pouco tempo.

Eu
assistia todas as séries famosas que as pessoas gostavam. Eu ouvia as músicas que eu achava
que as pessoas ouviam. E, não é que eu não gostasse. Era bom, eu me sentia esperta e divertida
e com um ótimo gosto. Mas nunca foi espontâneo, e quando eu não conseguia fazer essas
coisas, eu sentia que estava me atrasando. Então cheguei a um ponto tão triste, de tanta
angústia e vazio, que não consegui mais gostar de nada. Eu comecei a achar as séries muitos
parecidas, e não conseguia acompanhar as que eu gostava. Eu parei de ouvir as minhas músicas
favoritas, e não consegui mais prender a minha tenção em livro algum. Foi triste, como se eu
perdesse uma parte enorme de mim. E eu tentei deixar pra lá, porquê a gente ta sempre
mudando, e eu entendia isso. Mas eu me perdi, durante esses anos. Eu não tinha mais
identidade. Eu não me reconhecia, eu me deixei pra trás. Eu era inescrutavel para minha mesma.
E tudo ficou lento e branco, como se eu vivesse numa casca, só aguentando os segundos
eternos dos meus dias eternos. Mas então eu me dei tempo. Eu decidi existir sem pressa, sem
cobrança. É claro que não fácil, principalmente vivendo num mundo de tanta informação e de
tanta urgência. Mas tem horas que você não consegue mais acompanhar, e você precisa se dar
tempo, e se olhar com carinho e compreender suas necessidades. Eu estava afogado, me
desfazendo, perdida nas mil versões que criei pros outros e pra mim. Eu precisava me achar, mas
não podia sair me procurando por ai. Há dias em que volto a escutar Asleep, do The Smiths. E
eu sorrio porquê lembro de como essa música me faz querer viver uma boa vida. Também há
dias em que abro um livro e leio um ou dois capítulos, mesmo que antes eu conseguisse ler mil e
duzentas páginas em um único dia.

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