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What Was I Made For?


Billie Eilish

Eu costumava flutuar, agora só caio


Eu costumava saber, mas agora não tenho certeza
Para o que eu fui feita
Para o que eu fui feita?
Passeando de carro, eu era um ideal
Parecia tão viva, no fim das contas, não sou real
Só algo pelo qual você pagou
Para o que eu fui feita?

Hum

Porque eu, eu
Eu não sei como me sentir
Mas quero tentar
Eu não sei como me sentir
Mas um dia talvez eu saiba
Um dia talvez eu saiba

Hum, hum, ah-hum


Hum, hum, hum

Quando isso acabou? Todo o prazer


Estou triste de novo, não conte para o meu namorado
Não foi para isso que ele foi criado
Para o que eu fui feita?

Porque eu, porque eu


Eu não sei como me sentir
Mas quero tentar
Eu não sei como me sentir
Mas um dia talvez eu saiba
Um dia talvez eu saiba
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Acho que esqueci como ser feliz


Algo que não sou, mas que posso ser
Algo pelo qual espero
Para o que eu fui feita
Para o que eu fui feita?

Memórias Em Papel
Para o que eu fui feita?

15 de novembro de 1991

“A vida é como andar de bicicleta, para manter o equilíbrio, você deve


continuar em movimento”. Albert Einstein quase que se lembra da minha
primeira pedalada aos sete anos no outono de Sedona, no Alaska. As
crianças saltavam nas pilhas de folhas recém caídas e hoje as árvores as
lança ao vento, ensinando a soltar o que não serve mais, deixar partir. As
memórias é como desvendar um quebra cabeça quando montado, feito,
proporcional ao encaixe.

Prateleiras de cantoneira eram limpadas as terças e o feixe de luz solar


atravessava as cortinas iluminando a boneca de porcelana, sua tez pálida
simplesmente pura trazia a tona inverno de North Pole, o último sem o
papai. Quando criança tão viva, lia “Otelo” de Shakespeare escrita por
volta de 1603, a era moderna e sua incrível complexidade, a própria
Desdêmona.

Pensei que crescer seria a chave pra liberdade, mas agora não tenha
certeza, para que eu fui feita?. Todas as minhas referências podiam ser
lidas, escritas e ouvidas tropeçadas em mim, andaram por mim, me
pisaram, não me reconheceram mais, pois tudo que há de ser evidenciado
já não faz parte de quem eu sou, mas de quem eu já fui, e foi bom.

Meu pai ensinou ao seus filhos que existem lugares os quais você limita a
chegar, valoriza estar e ele me mostrou que este lugar sou eu, não porque
eu tinha que me encontrar e sim porque ele não se propôs a estar ALI, ele
não sabia para que eu fui FEITA. Não sei como me sentir, por situações
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manipuláveis da vida que me obrigavam a ser feliz nas circunstância, nos


tempos, contados em segundos e ainda assim um dia talvez eu saiba.

15 de novembro de 2011

— E então mãe, você lia shakespare? — De volta a realidade em uma


extremidade entre eu e a mulher em minha frente, perguntei em um tão
menos supresa, eu já esperava.

— Na verdade nunca terminei “Otelo”, seus avós me deram de presente no


verão, depois seu avô foi embora e o levou junto. — Ela diz franca,
apoiando suas mãos em seu queixo num tom quase despreocupado.

— Quase sem querer. — Ri baixinho — Quanto tempo a senhora durou


com isso? — Pergunto me referindo ao pedaço de papel velho que eu
segurava, com tonalidade café.

— Vinte anos — Ela o pega. — Te levei em North Pole quando completou


cinco anos, lembra?, a casa a amarrotada era do seu bisavô, ficamos lá
sete dias e eu te ensinava a fazer crochê. — Ela ri, um sorriso puro. —
Você odiava.

— Você sabia! — Puxamos uma gargalhada genuína. —Lembra quando


eu peguei todas as calças do trabalho do pai e costurei?.

— Lembro, filha. — Responde

— Faz muitos anos, eu achei um liquidambar no bolso dele e já que era


outono eu dei pra senhora, você a colocou em um copo vazio e a expôs ao
vento — A olho. — O que significava aquilo?.

— Que na sua instância, tudo pode ir para que se encontre em outro lugar.
O vento levou,

mas não tirou de mim, ainda lembro do seu amarelo e isso ninguém pode
tomar. — A mesma segura minha mão. — As lembranças ficam e vão
fazer parte de quem você foi.

— Então eu não posso preservar minhas memórias e

querer que elas sejam uma parte de mim?, não é meio injusto?. —
Pergunto ao meio a confusão, querendo entender seu ponto de vista.

— Claro que pode, Elena, você É suas memórias mas lá você foi alguém
que hoje já não é mais. — Um arrepio pela espinha me pega. — Esteve
mudando com o tempo, te vi, te escutei e ensinei tudo! mudar é importante
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o que você mantém até hoje são valores como por exemplo, ser gentil. —
Ela

junta nossas mãos, e beija eles. — Eu te dei a vida, não se perca nela.

— Que nem o vovô. — digo por fim. — Desculpe mãe, mas até a senhora
escreveu sobre esse homem.

— Nessa época eu tinha vinte e dois anos, uma adulta cheia de traumas
por não ter um pai presente, Roger não fazia questão de participar da
minha vida. — Ela diz com desdém. — Ele tomou essa decisão.

— Ele se foi mãe, não se sente triste?

— Eu amava muito seu avô, eu lidei com isso. — Ela da de ombros. —


Hoje com quarenta e dois anos, ja não choro mais, não penso tanto.

— Você é uma mulher forte.

— Estava disposta a ser.

— Acho que você poderia escrever mais. — Sorri pequeno. — Os vinte


anos te fizeram bem.

— Não mais, filha. Talvez você termine pra mim.

— Não sou como a senhora.

— Não fui como minha mãe. — Responde rispida

— O que te faz ter tanta certeza? — Pergunto. — E se eu te decepcionar?

— Ah Elena, você vai. — Ela se levanta calmamente e me olha serena. —


Mas não espere isso de ti mesma, entristeça a todos, ame outros, afinal
para que você foi feita?

15 de novembro de 2023

Escrita por Elena.

12 anos se passaram, Sedona continua impressionante com várias


galerias de artes e escaladas. Vestindo-se em tons quentes os penhascos
se destacam ainda mais e lembro de você de Outono a primavera. Hoje
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uma peça essencial em falta, assumo que perdi a senhora, porém meu
mundo não ficou incompleto, por muito tempo senti culpa, queria estar em
uma posição que nem as boas filhas, elas sofrem, se negão a acreditar, se
cegam, mas a senhora me disse que me deu a vida e não poderia me
perder nela, porquê talvez perdida em alguém nunca me acharia
novamente. Suas coisas continuam na casa, seu quarto se mantem intacto
e sua neta brinca com sua boneca de porcelana.

Terminarei me despedindo da senhora, que me deu a oportunidade de ler


sua carta e finaliza-la com gratidão pois você me viu, escutou e ensinou o
suficiente tudo aquilo que estava em seu alcance. Esses anos te fizeram
alguem no mundo, deixando-se partir sabendo para o que foi feita.

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