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Raio de Sol e seu vitral

Jogadas na areia dissonantes vozes


e guitarras. Raio de Sol é a quarta
faixa do disco Olho de Vidro
(Balaclava Records, 2021), da
cantora, compositora e instrumentista
baiana Jadsa. Foi lançada em 2021
durante o período pandêmico como
primeiro Single do disco, e conta com
as importantes participações de Kiko Dinucci (Metá Metá) nas guitarras e Ana Frango
Elétrico nos vocais de apoio, conexão Bahia-São Paulo-Rio de Janeiro. Apesar do
lançamento a distancia forçado pela Covid-19, o disco veio sendo produzido desde 2018 e
gravado entre o final de 2019 e o começo de 2020 no Red Bull Studios, tendo como
técnico de gravação, mixagem, e masterização Funai Costa, e produção de João Milliet,
do grupo BaianaSystem. O projeto foi contemplado no edital Natura Musical e lançado
pelo selo Balaclava Records. Com claras influencias do movimento de vanguarda
paulista, principalmente de Itamar Assumpção, Jadsa reúne seus melhores riffs e linhas
vocais para dar vida a um disco recheado de imagens, cheiros, toques e sensações.
Raio de Sol é um instante que nos traz a tona esses sentidos, com movimentos de abre e
fecha, grave e agudo, direções opostas que se voltam em uma mesma, um raio de sol.
Jadsa está embaixo desse raio, nos revelando pouco a pouco sobre um corpo, que veste
marrom, uma sereia banhada de sal, de refri e de Sol. Um tilinto vitral esse raio de luz,
Kiko colorindo em tons de cidade com sua guitarra e Ana molhando na sílaba Lá. Espaço
da luz, fica alí queimando de barriga pra cima, de costas, sentada. Leves rajadas
violentas propõem cortes, mas o raio de sol volta. É assim ficar na praia, lentamente
afundando em areias nada movediças, queimando, que Jadsa constrói um momento
musical, utilizando de riffs, loops, elementos destacáveis e interpolados da música, num
processo de adição sonoro em que as guitarras vão se desdobrando em linhas mais
complexas, sem perder as poucas notas graves e marcadas que reiniciam os ciclos do
raio de Sol. Ruídos já não soam distantes, fazem parte do raio de Sol, pouco a pouco se
naturalizando. Poderia continuar assim, cozinhando, fervendo, mais raios de Sol, guitarras
e vozes se soltando mais, como quentes partículas se movendo e expandindo, mas ao
mesmo tempo se densificando, glitteriosas palavras cada vez mais completando a
paisagem. Porém Jadsa avista algo saindo do mar, e decide se mexer. É Ela que sai do
mar. E ela pode ser ele, pode ser isto ou aquilo, pode ser a outra. Mas à primeira vista a
situação parece banal. Jadsa faz questão de repetir a cena com sua devida importância,
melodiando agudo, outro momento. Parem os batuques, as vozes e ruídos, parem com os
raios e com as luzes e os sóis. Agora há algo maior que a luz hipnótica do Sol e seu
reflexo ofuscante reluzindo nas areias. Escutem e vejam a figura saindo do mar, voz e
guitarra em consonância, uníssonas, momento de encontro entre os dois elementos que
antes não haviam se juntado para ilustrar a figura que rouba a luz das outras presentes na
praia.

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