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5.

ª edição, revista e atualizada

Guia
do casal
Casamento e divórcio
União de facto e separação

DECO PROTESTE DIGITAL


INSTRUÇÕES DE NAVEGAÇÃO

ÍNDICE GERAL

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GUIA DO CASAL – Casamento e divórcio,
união de facto e separação

Revisão técnica: Nuno Calçado Carvalho


Projeto gráfico, paginação e capa: Alexandra Lemos
Formato digital: Isabel Espírito Santo e Paula Sofia Silva
Fotografia da capa: iStockPhotos
Redação: Nuno Calçado Carvalho e Paula Sofia Silva
Coordenação editorial: Paula Sofia Silva

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5.ª edição (revista e atualizada): fevereiro de 2019


Esta edição não contempla alterações
posteriores a janeiro de 2019

Depósito legal n.º 450991/19


ISBN 978-989-737-112-7

Impressão: AGIR
Rua Particular, Edifício Agir
Quinta de Santa Rosa
2680-458 CAMARATE

Esta edição respeita as normas


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Guia
do casal
Casamento e divórcio
União de facto e separação

DECO PROTESTE DIGITAL


A

Prefácio
Não é raro surgirem dúvidas e problemas na vida familiar. Quantos não se
questionam sobre as formalidades necessárias para casar, os direitos e deve-
res que caracterizam o casamento e a união de facto ou as responsabilidades
inerentes à maternidade e à paternidade? Quando a relação azeda, como
assegurar, ainda assim, que os direitos de todos os membros da família são
respeitados? Em caso de divórcio ou separação, quais as etapas a seguir? Quais
os cuidados a ter relativamente aos filhos? Quem tem direito a permanecer
na casa da família? O que fazer se for alvo de violência doméstica? De que
forma estão protegidos os viúvos?

Foi para responder a estas e a muitas outras questões que publicámos o


Guia do Casal. Novos direitos e deveres relacionados com as responsabilida-
des parentais, sobretudo na união de facto, existência de apenas um tipo de
adoção (foi eliminada a adoção restrita, pouco utilizada) e a relevância dada
aos animais de companhia, relativamente aos quais, no divórcio por mútuo
consentimento, também é preciso chegar a acordo, são alguns exemplos
das alterações legais mais recentes na esfera familiar incluídas nesta edição.

Este livro acompanha o percurso dos casais, desde que pensam dar o nó até
a relação deixar de existir, por divórcio, morte ou separação. Dá a conhecer
a legislação mais importante relativa ao casamento, à união de facto ou ao
relacionamento com os filhos, sem esquecer a vertente prática, com a indicação
dos passos a dar para casar, registar os filhos, obter o divórcio ou comunicar
o óbito do cônjuge, entre outras obrigações. Não temos dúvidas de que os
casais encontram aqui uma ferramenta útil na resolução das diversas questões
com que se confrontam.
A

Índice CAPÍTULO 1
O noivado

Promessa de casamento 10
Sem indemnização 10
E se houver filhos? 11
Presentes e despesas com o casamento 11
Bens de ambos 12
Morte do noivo 12

Impedidos de casar 13
Idade para casar 14
Deficiência mental e falta de vontade 16
Laços familiares 16
Outros impedimentos 19

Formalidades 20
Documentação e declarações 20
Comunicação de impedimentos 22
Prazo para casar 22
Custo 22
Casamento religioso 23
Convenção antenupcial 24
Cerimónia 24
Casamento urgente 26
Casar no estrangeiro 26
Novo apelido? 27

CAPÍTULO 2
Vida conjugal

Comunhão de vida 30

Regimes de bens 31
Comunhão de bens adquiridos 32
Comunhão geral de bens 33
Separação de bens 33

Deveres conjugais 34
Respeito 34
Fidelidade 35
A

Coabitação 35 CAPÍTULO 4
Cooperação 36 União de facto
Assistência 37
Que exigências? 92
Administração dos bens 38
Bens próprios 38 Conteúdo do regime 93
Bens comuns 39 Casa da família 93
Venda dos bens 40 Restantes regras 96
Contas bancárias 41
Falta de proteção 98
Dívidas 41 Bens e dívidas 98
Responsabilidade de ambos 42 Heranças 99
Responsabilidade só de um cônjuge 45
Paga um ou ambos? 45 Rutura da relação 101

Acordo de coabitação 102


CAPÍTULO 3
Dissolução do casamento
CAPÍTULO 5
Separação de facto 51 Filhos

Separação de pessoas e bens 54 Primeiras formalidades 106


Quem é o pai? 106
Divórcio 55 Quem é a mãe? 109
Sem consentimento Escolha do nome e registo 110
de um dos cônjuges 56 Nacionalidade 112
Mútuo consentimento 60 Abono de família e outras
Quando é que o divórcio produz efeitos? 75 prestações familiares 112
Novo casamento?
Só alguns meses depois 75 Responsabilidades parentais 117
Até aos 18 anos 118
Viuvez 76 Pais juntos ou separados 119
Registo do óbito 76 Dever de vigilância 121
Comunicação às finanças 77 Deveres dos filhos 121
Habilitação de herdeiros 78 Administração dos bens
Partilha 79 dos filhos 123
Alteração de registos 80 Incapacidade dos menores 126
Seguros 81 Tutor 127
Obrigações fiscais (IRS) 81
Quanto recebem Adoção 130
o cônjuge e os filhos 83 O que é preciso fazer 130
Direitos sociais 86 Requisitos legais 132
A

Apadrinhamento civil 135 Combate à violência doméstica 145


Quem pode apadrinhar 136 Estatuto de vítima e acompanhamento
O que é preciso fazer 137 do processo 146
Início e fim da relação 138 Proteção e assistência às vítimas 148
Direitos dos pais biológicos 138 Casas de abrigo para as vítimas 149
Direitos e deveres dos padrinhos 139 Adiantamento de indemnização
pelo Estado 151

CAPÍTULO 6 Proteção dos menores 152


O Estado e a família Inibição das responsabilidades parentais 152
Comissões de proteção 153
Mediação familiar 142 Apoio aos pais ou a quem fique
Chegar a um acordo 143 com o menor 156
Quando recorrer 143 Famílias de acolhimento 158
Como funciona 143 Reinserção social 159
Questões abrangidas 144

Assegurar a pensão de alimentos 144 A legislação em vigor 161


Aceder ao apoio estatal 145
Duração do apoio 145 Índice remissivo 169
A

Capítulo 1

O noivado
A Guia do casal

Até concretizarem o desejo de casar, os noivos têm de cumprir algumas regras


e formalidades. Este capítulo reporta-se, precisamente, ao período pré-matri-
monial. Aquela fase em que os direitos e deveres próprios dos cônjuges ainda
não se aplicam à relação, mas já existe a intenção de casar, ter uma vida a
dois e constituir família. Pode até acontecer que o casamento seja antecedido
por uma união de facto, a qual também implica alguns direitos e deveres.
Este capítulo abrange, ainda, a promessa de casamento e as consequências do
seu não cumprimento, bem como os impedimentos legais ao matrimónio.
Por outro lado, há que ter em conta a resolução de eventuais questões legais,
ainda que os noivos deixem de o ser e não casem. Avançando com a cerimónia,
será necessário tratar da burocracia indispensável ao início da vida conjugal.

Promessa de casamento
Quando o casamento acaba por não se realizar, poderemos dizer que quem não
quis casar rompeu um acordo que estabelecera com o outro e tem de prestar-
-lhe contas, indemnizando-o, por exemplo? Em princípio, não. Nem mesmo
um documento escrito nesse sentido obriga os noivos a contrair matrimónio
se, mais tarde, um deles chegar à conclusão de que afinal não o quer fazer.

Sem indemnização
A promessa de casamento não permite que um noivo exija ao outro a con-
cretização do matrimónio, nem, salvo as exceções que veremos de seguida,
ao pagamento de indemnizações. Ainda que tenha sido acordada, por escrito,
uma punição para a quebra do compromisso, tal disposição não tem validade.

APOIO JUDICIÁRIO
Contratar um advogado pode ser um problema para quem não conheça um ou não
tenha meios para pagar os honorários do profissional e as custas do processo em tribu-
nal. No primeiro caso, o interessado pode pedir à Ordem dos Advogados que lhe nomeie
um, diretamente ou através da Segurança Social; no segundo, se quiser escolher o advo-
gado, poderá requerer isenção do pagamento de custas à Segurança Social. Verificando-se
ambas as situações, ou seja, não ter advogado nem dinheiro, além da isenção de custas,
a Segurança Social também irá proporcionar-lhe um defensor.

10
A O noivado

Se, por exemplo, o João disse à Ana que queria casar com ela, mas, 6 meses
depois, já andava mais entusiasmado com outra rapariga, a Ana pode ficar
sentida, nunca perdoar ao João, não mais lhe dirigir a palavra, mas não pode
obrigá-lo a casar com ela. Nem tão-pouco poderá pedir-lhe uma indemniza-
ção por danos morais, devido ao desgosto sofrido com a rutura da relação.

E se houver filhos?
Podemos supor que, entretanto, a Ana ficou grávida. Nem assim lhe é possível
pedir uma indemnização pela quebra do compromisso de casamento ou até
pelo abandono. Poderá, isso sim, recorrer à mediação familiar ou aos tribunais
para que o João contribua para o sustento do filho de ambos e assuma as res-
ponsabilidades parentais. Mas até pode acontecer que o João não reconheça
a paternidade da criança. Nesse caso, a Ana terá de recorrer aos serviços de
um advogado e dar início a um processo de investigação e reconhecimento
da paternidade em tribunal (veja o título Quem é o pai?, na página 106).

Presentes e despesas com o casamento


A Ana pode exigir que o João lhe devolva os presentes que lhe deu quando
ainda pensava que iam casar. Mas com alguma razoabilidade. Não será lícito
pedir-lhe o livro oferecido 3 anos antes, quando começaram a namorar, mas
já o será relativamente ao televisor destinado à futura casa de ambos ou
aos botões de punho para usar no dia do casamento. Também pode pedir
a devolução dos seus retratos e das cartas que lhe enviou. Por outro lado,
os presentes de casamento que entretanto receberam devem ser restituídos,
uma vez que o evento já não se concretiza.

O pagamento de indemnizações é possível, mas só relativamente às despesas


feitas tendo em vista o casamento. Supondo que a Ana ou os seus pais haviam
adiantado 2500 euros para o copo-d’água e 1500 euros para a viagem de lua-
-de-mel, se não for possível obter a devolução desse dinheiro têm direito a ser
indemnizados pelo João em 4 mil euros. E será assim independentemente de
ter sido o João a romper o noivado ou a originar que a Ana o fizesse (porque
descobriu que ele andava a traí-la, por exemplo).

Se o João não devolver o que lhe foi dado ou não indemnizar a Ana e a família
pelas despesas efetuadas na expectativa de que o evento se realizasse, o caso
tem de ser decidido nos tribunais. Para isso, os lesados têm de contactar um

11
A Guia do casal

advogado e dispõem de 1 ano, a partir do rompimento do noivado, para pro-


por a ação no tribunal, que terá em conta as circunstâncias, a condição social
dos envolvidos, a razoabilidade das despesas e a possibilidade de reaver o
dinheiro ou de o aproveitar de forma diferente (será que, por exemplo, o que
foi pago à agência por conta da lua-de-mel pode ser utilizado noutra viagem?).

Bens de ambos
Caso existam bens comprados por ambos (automóvel, eletrodomésticos e
outros bens móveis ou imóveis) o ideal é vendê-los, ficando parte do produto
da venda para cada um dos ex-noivos. Porém, também podem proceder à
divisão das coisas, de forma amigável ou, não sendo possível, através do tri-
bunal. Esta opção implica recorrer a um advogado, para intentar uma ação
de divisão de coisa comum. Desta forma, os bens são atribuídos a cada um
(o que, na falta de acordo, até pode ser feito por sorteio) ou, em alternativa,
são vendidos, dividindo-se o produto da venda pelo João e pela Ana.
Imaginemos que o João e a Ana tinham comprado casa e estavam a pagar o
empréstimo ao banco. Ambos continuam a ser responsáveis pelo pagamento das
prestações e terão de responder por uma eventual falha nessa obrigação, mesmo
não havendo casamento. A melhor solução será venderem a casa ou um deles
ficar com ela, continuar a pagar o empréstimo, através de um novo contrato,
e compensar o outro pelo que tiver pago na compra. Estas situações aumentam
o risco de incumprimento, por existir apenas um devedor, e o mais provável é
que o banco exija a apresentação de fiadores (por exemplo, os seus pais).

Morte do noivo
Alterando um pouco o cenário traçado, se não puderam casar porque o João
perdeu a vida num acidente de viação, a Ana não deixa de ter alguns direitos.
Não há direito a indemnização, mesmo que o acidente tenha ocorrido por
culpa do João, 3 dias antes da data marcada para o casamento, ao conduzir
embriagado. No entanto, a Ana pode pedir à família do João a restituição dos
presentes que lhe deu, tendo igualmente de devolver aquilo que ele lhe ofere-
ceu. Já quanto às fotografias e cartas, pode solicitar que lhe sejam restituídas
e, simultaneamente, guardar os retratos do João e as cartas que ele lhe enviou.

Os bens que pertenciam a ambos continuam a ser propriedade da Ana e


passam a sê-lo também dos herdeiros do João, a menos que ele tivesse feito
um testamento em que atribuía parte dos seus bens à Ana. Mas só poderia

12
A O noivado

deixar-lhe a totalidade dos bens se não tivesse descendentes nem ascendentes.


Se, por exemplo, os herdeiros fossem os pais, o João apenas poderia deixar
à Ana, por testamento, metade do seu património.

Impedidos de casar
Além das situações em que um dos noivos não quis ou não pôde casar, há outras
em que a vontade de fazê-lo, ainda que comum a ambos, não é suficiente.
É o que se verifica quando existe algum impedimento legal: por exemplo,
um dos pretendentes ter menos de 16 anos ou haver entre eles um grau de
parentesco ou de afinidade muito chegado.

OS IMPEDIMENTOS LEGAIS

Não podem Não podem Precisam de


casar com casar um com autorização
ninguém o outro especial

– menores de 16 anos; – parentes em linha reta (pais – maiores de 16 e menores de


– deficientes mentais com filhos, avós com netos); 18 anos;
profundos; – irmãos; – parentes no 3.º grau da linha
– pessoas que já estão – afins na linha reta (sogros com colateral (tios com sobrinhos);
casadas. genros ou noras (1), padrastos ou – padrinho civil com afilhado (2);
madrastas com enteados); – tutor, acompanhante de
– autor de homicídio maior ou administrador legal
(ou tentativa) contra o (ex-) de bens com o tutelado ou
cônjuge do outro noivo; acompanhado (3);
– pessoas que tenham exercido – divorciados há menos de
responsabilidades parentais 180 dias (homens) ou 300 dias
com aqueles sobre os quais as (mulheres).
exerceram.

(1) Não é possível o casamento de sogros com genros ou noras se o anterior casamento tiver sido dissolvido por
morte do outro cônjuge. Já o é se tiver cessado por divórcio.
(2) Veja o que é o apadrinhamento civil na página 135.
(3) Veja quem são no título Tutor, na página 127.

13
A Guia do casal

Por princípio, quaisquer duas pessoas podem casar uma com a outra, inde-
pendentemente da diferença de idade, nacionalidade, religião ou convicção
política. Desde 2010, também podem casar-se em Portugal duas pessoas do
mesmo sexo, independentemente da sua origem e da legislação existente nos
seus países. Ao longo de 8 anos, foram quase 3 mil os casais homossexuais
que formalizaram a sua relação, tendência que tem vindo a aumentar (veja
o gráfico seguinte).

CASAMENTOS ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO


523

422

350
324 324 308
305
266

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: INE, PORDATA – Base de Dados Portugal Contemporâneo (www.pordata.pt).

Os impedimentos constituem, pois, as exceções. E nem todos os obstáculos


previstos na lei têm idêntica gravidade e, portanto, as mesmas consequên-
cias, havendo até alguns que são validados pelo tempo, como o casamento
de menores de 16 anos. Mas há outros que são insuperáveis, podendo mesmo
dizer-se que o casamento não existe. É o caso do matrimónio entre pai e
filha. Ainda que, de qualquer forma, consigam driblar a lei (por exemplo,
falsificando identidades), não existe matrimónio.

Idade para casar


A lei determina que a idade mínima para casar são os 16 anos, por se conside-
rar que, antes disso, não existe maturidade para constituir família. Por outro

14
A O noivado

lado, embora não se estabeleça uma idade máxima, está impedido de casar
alguém que os tribunais tenham considerado não ter capacidade para cuidar
de si próprio e dos seus bens, devido à debilidade da sua saúde mental. A ação
em tribunal pode estar relacionada com um processo relativo ao regime do
maior acompanhado, que geralmente é desencadeado por familiares ou pelo
Ministério Público.

Maiores de 16 anos
Para casarem, os menores com, pelo menos, 16 anos necessitam de autoriza-
ção dos pais ou, na ausência destes, de quem os represente. Deste consenti-
mento, dado por escrito, tem de constar o nome do outro noivo e o tipo de
casamento, seja civil, católico ou de outra religião (veja o título Casamento
religioso, na página 23). Pode assumir a forma de:
—— documento redigido por um notário, advogado ou solicitador ou elaborado
pelos pais e autenticado por um daqueles profissionais;
—— documento feito pelo próprio conservador do registo civil, a pedido dos pais;
—— documento escrito pelo padre, tratando-se de casamento católico, na presença
de duas testemunhas;
—— finalmente, pode ser dado no próprio ato de casamento, constando do
respetivo assento.

Se não obtiver autorização dos pais, o menor pode requerer uma autorização
especial ao conservador do registo civil. No prazo de 8 dias após a apresentação
do requerimento, este irá ouvir os pais (ou o tutor), para depois decidir se o
menor tem ou não maturidade para casar e se existem, efetivamente, motivos
para a recusa de consentimento. Quem não concordar com a decisão, seja o
filho ou os pais, pode recorrer para os tribunais.

Se um jovem de 16 ou 17 anos conseguir casar sem autorização dos pais ou do


conservador, o casamento é válido, mas, até atingir a maioridade, não pode
administrar os bens que já tinha quando casou, nem aqueles que obtiver a
título gratuito (doações ou heranças, por exemplo), os quais continuarão a ser
administrados pelos pais (veja Administração dos bens dos filhos, na página 123).

Menores de 16 anos
Apesar de a lei não o permitir, não é impossível que alguém com menos de
16 anos consiga casar. Nesse caso, o casamento pode ser anulado nos tribunais
dentro dos seguintes prazos e pelas seguintes pessoas:
—— o próprio menor pode pedir a anulação até 6 meses depois de atingir a

15
A Guia do casal

maioridade, se, por exemplo, tiver sido forçado a casar ou entender que
não deveria tê-lo feito;
—— as outras pessoas (os pais do menor ou o cônjuge, por exemplo) dispõem
de um prazo de 3 anos após o casamento, mas nunca poderão pedir a
anulação depois de o casado atingir a maioridade.

O casamento pode ser validado se o menor o confirmar, já depois de atingir


a maioridade, a um funcionário do registo civil e perante duas testemunhas.
Assim que passarem os prazos atrás referidos, a anulação fundamentada na
idade dos noivos deixa de ser possível e o casamento será válido ainda que
nada seja feito nesse sentido.

Deficiência mental e falta de vontade


Quem sofre de demência notória não pode casar. Esta proibição visa impe-
dir que alguém que não tem consciência do passo que está a dar assuma
responsabilidades. Se, mesmo assim, conseguir casar e, mais tarde, vier a
deixar de estar impedido de o fazer ou o tribunal declarar que a demência foi
ultrapassada, poderá anular o casamento até 6 meses depois de se conside-
rar que deixou de existir esse impedimento. Sendo outra pessoa a solicitar a
anulação (um parente em linha reta ou um herdeiro, por exemplo), dispõe de
um prazo de 3 anos a contar da data do casamento, mas só se a incapacidade
que impedia o casamento se mantiver.

Também alguém que case sob o efeito de álcool ou droga pode solicitar a
anulação do casamento. E isso mesmo que, durante algum tempo, tenha dito
que queria casar e a cerimónia estivesse marcada com antecedência. Mas tem
de demonstrar que só o estado em que se encontrava determinou a sua con-
cretização. A vontade tem de ser atual, ou seja, tem de existir no momento em
que o casamento é celebrado. Pode ainda ser anulado o casamento que apenas
se tenha concretizado devido a coação sobre um dos noivos (ou ambos). Em
qualquer destas situações, a ação de anulação terá de dar entrada no tribunal
no prazo máximo de 3 anos depois de celebrado o casamento.

Laços familiares
As relações familiares determinam mais uma série de impedimentos. A lei
não interdita o casamento entre quaisquer parentes ou afins, apenas entre

16
A O noivado

os de grau mais próximo. Assim, são expressamente proibidos os casamen-


tos entre:
—— pais e filhos;
—— avós e netos;
—— irmãos;
—— padrasto/madrasta com enteada/enteado;
—— sogro/sogra com nora/genro, se um anterior casamento tiver cessado por
morte do outro cônjuge;
—— pessoas que tenham estado ligadas por uma relação de responsabilidades
parentais, em que uma delas cuida da outra como se de um filho se tratasse.

Se, apesar do impedimento, o casamento se realizar, pode ser anulado


pelos próprios cônjuges, por qualquer parente na linha reta ou até ao 4.º
grau da linha colateral (veja o esquema Os graus de parentesco, na página
seguinte), pelos herdeiros e adotantes dos cônjuges e, finalmente, pelo
Ministério Público, até 6 meses depois da dissolução do casamento (por
morte ou divórcio).

Há ainda outros casamentos que a lei, em princípio, proíbe, mas que o con-
servador do registo civil poderá autorizar. São os que envolvem:
—— os parentes no 3.º grau da linha colateral (tio/tia com sobrinha/sobrinho);
—— os padrinhos civis com os afilhados (veja o título Apadrinhamento civil,
na página 135);
—— os tutores e tutelados, até decorrer 1 ano desde que estes se tornaram
maiores. Depois, a autorização deixa de ser necessária.

A autorização para casar pode ser obtida através de uma dispensa do impe-
dimento, que compete ao conservador do registo civil “quando haja motivos
sérios que justifiquem a celebração do casamento” (uma gravidez, por exemplo).
A dispensa deve ser pedida pelos interessados, num requerimento dirigido
ao conservador, do qual constem as razões capazes de levá-lo a dispensar o
impedimento. A decisão depende, pois, do que o conservador entenda por
motivo sério. Se considerar que não existe, os (potenciais) noivos podem
apresentar recurso ao tribunal.

Finalmente, há certos graus de parentesco que não impedem o casamento.


Vejamos alguns:
—— os primos podem casar entre si, qualquer que seja o grau de parentesco, tal
como quaisquer outros parentes na linha colateral cujo grau de parentesco
seja superior ao terceiro;
—— os cunhados ou quaisquer outros afins na linha colateral também não estão
impossibilitados de contrair matrimónio.

17
A A Guia do casal

OS GRAUS DE PARENTESCO

Bisavós
(3.º grau)
Ascendentes

Avós
(2.º grau)

Pais
(1.º grau)

Irmãos Tios Tios-Avós


(2.º grau) (3.º grau) (4.º grau)
LINHA RETA

Sobrinhos Primos
(3.º grau) (4.º grau)

LINHA
REFERÊNCIA Filhos dos
primos COLATERAL
(5.º grau)

Filhos
(1.º grau)
Descendentes

Netos
(2.º grau)

Bisnetos
(3.º grau)

Para encontrar o grau de parentesco de duas pessoas, toma-se uma delas como referência e procura-se o ascenden-
te comum. Em seguida, continua-se até encontrar a segunda pessoa.

18
A O noivado

PODEMOS CASAR OU NÃO?


Visto que o grau de parentesco é determinante quanto à (im)possibilidade de casar, ilus-
tremos a situação com exemplos:
—— depois de uns anos emigrado em França, o Fernando regressou à terra natal e começou
a namorar com a Alice. A relação desenvolveu-se, mas, quando se preparavam para
casar, o Fernando descobriu que o pai que nunca conhecera era afinal o pai da Alice,
que tivera uma relação extramatrimonial com a sua mãe. Por serem irmãos, ficaram
impossibilitados de casar;
—— a Elsa sofreu muito com a morte do marido e, nessa altura, foi bastante importante o
apoio do sogro, também ele viúvo. Acabaram por apaixonar-se, mas a proibição legal
inviabilizou o casamento que ambos pretendiam, uma vez que os laços de afinidade
não cessam com o fim do casamento por morte de um dos cônjuges. Diferente seria se
o casamento da Elsa tivesse terminado por divórcio, pois isso implica a perda da relação
de afinidade;
—— a Carla e o Paulo habituaram-se desde pequenos a brincar juntos. As suas mães eram
irmãs e, portanto, o convívio era frequente. Na adolescência, começaram a interessar-
-se um pelo outro de forma mais séria e acabaram por casar, visto que a lei não impede
os primos de o fazerem;
—— o Pedro estava casado com a Marta, mas, a certa altura, surgiram desentendimentos
que conduziram ao divórcio. Um ano mais tarde, voltou a casar. Desta vez, a eleita foi
a Cláudia, irmã da Marta. Os pais da noiva não gostaram da ideia, mas nada puderam
fazer, uma vez que a lei não impede o casamento de cunhados;
—— o Rui foi adotado pelo Sr. Faria, que, pouco tempo depois, também adotou a Sandra.
Uns anos mais tarde, o Rui e a Sandra quiseram casar, mas encontraram na lei um obs-
táculo ao seu desejo, pois, para todos os efeitos, são considerados irmãos.

Outros impedimentos
Além das proibições de que já falámos, há outras. Vejamos quais:
—— quem casou e não dissolveu o casamento está impedido de casar de novo,
mesmo que esteja separado de facto do cônjuge há 15 ou 20 anos. Para
segundas núpcias, necessita de divorciar-se e esperar que decorra o prazo
internupcial (veja a seguir). Aliás, acrescente-se que a bigamia, ao contrário,
por exemplo, do incesto, é considerada crime, sendo punida com uma
pena de prisão até 2 anos ou multa até 240 dias (mínimo de 5 euros/dia e
máximo de 500 euros/dia). Tanto comete o crime aquele que já era casado
como quem casa com ele, conhecendo o facto;
—— quem se divorcia ou enviúva não pode voltar a casar de imediato; tem de
esperar 180 dias, se for homem, ou 300 dias, se for mulher. No entanto,
se provarem que não estão grávidas, as mulheres poderão respeitar
apenas o prazo de 180 dias (para mais pormenores, veja a página 75).

19
A Guia do casal

Tratando-se de um novo casamento entre os mesmos cônjuges, não existe


prazo internupcial;
—— não pode matar-se alguém (ou tentar fazê-lo) e depois casar com o ex-cônjuge
da vítima. A situação já será diferente se a morte for provocada de forma
acidental, sem intenção. Nesse caso, o casamento é possível.

Formalidades
Traçámos alguns cenários em que as coisas não correm como se pretendia:
o casamento não se concretiza, por falta de vontade ou morte de um dos noivos
ou por impossibilidade legal. Porém, nem sempre é assim. Em muitos casos,
o casamento realiza-se mesmo e nasce uma nova família. Para isso, há que
cumprir as formalidades, que podem começar com a deslocação dos noivos
(ou nubentes, seguindo a designação legal) a uma conservatória do registo
civil ou com uma simples ligação à internet (veja a caixa Casamento online).

Documentação e declarações
A ida à conservatória serve para os noivos declararem a intenção de casar,
através de um documento assinado por ambos e pelo conservador, e solici-
tarem a abertura do processo preliminar de casamento, destinado a averiguar
se existe algum impedimento. Nesta deslocação, terão de apresentar:
—— documentos de identificação de ambos (cartão de cidadão, passaporte ou
documento equivalente) ou título ou autorização de residência, tratando-se
de estrangeiros que vivam em Portugal;
—— certidão de escritura da convenção antenupcial (veja o que é na página 24),
se existir;
—— autorização para casar concedida por quem detenha as responsabilidades
parentais ou por quem possa supri-la (o conservador), se algum dos noivos
tiver 16 ou 17 anos de idade;
—— para os cidadãos estrangeiros, certidão de nascimento com a descrição dos
factos relevantes da sua vida pessoal (nascimento, casamentos anteriores,
divórcios, etc.).

Por norma, os noivos podem indicar o regime de bens que pretendem. Mas
há exceções:

20
A O noivado

—— se existirem filhos que não sejam comuns, ficam impedidos de optar pela
comunhão geral de bens;
—— quando um dos noivos tiver mais de 60 anos, o regime será obrigatoria-
mente o da separação de bens.
Não havendo qualquer indicação em contrário, por defeito será adotado
o regime da comunhão de bens adquiridos. Sempre que quiserem outro,
os noivos terão de efetuar uma convenção antenupcial (veja a página 24).

A declaração da intenção de casar tem ainda de conter outras informações.


Além do nome, idade, estado civil (solteiro, viúvo, divorciado), naturalidade
e residência dos noivos e nome completo dos pais, tem de indicar, se algum
deles não estiver a casar pela primeira vez, a data da morte do cônjuge anterior,

CASAMENTO ONLINE
• É possível tratar de todo o processo preliminar através do sítio www.civilonline.mj.pt, sem
ir à conservatória (a não ser, eventualmente, para a cerimónia). Podem utilizar este ser-
viço os cidadãos portugueses, bem como os brasileiros a quem tenha sido concedido o
estatuto de igualdade de direitos e deveres. No entanto, têm de ser maiores de 18 anos,
portadores do cartão de cidadão e dispor de um mecanismo adequado para a leitura do
cartão. Há que ter em conta que esta opção tem limitações. Não é possível, por exemplo,
fazer por este meio a convenção antenupcial, ficando como regime de bens a comunhão
de bens adquiridos. Porém, os noivos poderão dirigir-se a uma conservatória e aí efetuar a
convenção, solicitando que seja junta ao processo de casamento.
• O pedido para iniciar o processo de casamento por este meio – seja civil, católico ou de
outra religião – tem três etapas:
– em primeiro lugar, um dos noivos submete-o, acedendo ao sítio, autenticando-se com o
certificado constante do cartão de cidadão e preenchendo a informação relativa à identifi-
cação de ambos e ao casamento. O pedido pode ser apresentado mesmo sem saber ainda
quando ocorrerá a boda. A data e a hora serão comunicadas mais tarde à conservatória;
– segue-se a aprovação do pedido. Depois de submetido, será enviada para o endereço de
correio eletrónico do outro noivo uma mensagem para que aceda ao sítio, se autentique e
confirme a informação introduzida por quem apresentou o requerimento;
– na terceira fase, há que efetuar o pagamento, no prazo de 48 horas depois de receber
uma mensagem a confirmar o início do processo, com cartão de crédito ou através do
multibanco. O valor a pagar é igual ao dos procedimentos fora da internet (veja o título
Custo, na página 22). A falta de pagamento naquele prazo implica o cancelamento do
pedido, devendo ser efetuado um novo, se os noivos mantiverem interesse na instauração
do processo.
• Feito o pagamento, o processo avança para a conservatória. Mais tarde, esta envia aos noi-
vos uma notificação por e-mail ou SMS a indicar se houve ou não um despacho favorável.
Para acompanhar o desenvolvimento do processo, não é necessário deslocar-se à conser-
vatória. Através do número atribuído, pode obter-se essa informação no sítio, através da
linha telefónica existente para o efeito (211 950 500) ou do e-mail (civilonline@irn.mj.pt).

21
A Guia do casal

do divórcio ou da anulação do casamento, a existência de filhos de algum


dos noivos, a modalidade de casamento que pretendem (civil, católico ou de
outra religião), bem como a conservatória ou paróquia onde irá realizar-se
e se existe ou não convenção antenupcial. A declaração deve ser feita num
impresso facultado pela própria conservatória do registo civil.

Comunicação de impedimentos
O processo é público, mas apenas relativamente à identificação dos noivos e
ao tipo de casamento. Ou seja, qualquer pessoa poderá solicitar uma cópia
com estes elementos.
Se for comunicado algum impedimento ao conservador, este averigua se é
verdadeiro e, sendo o caso, suspende o processo até que o impedimento deixe
de existir ou seja dispensado por si (quando isso é possível). O conservador
pode ter conhecimento da existência de impedimentos até à celebração do
casamento.

Prazo para casar


Terminado o processo preliminar de averiguações, que pode incluir outras
diligências (recolha de informações junto das autoridades, audição de teste-
munhas, dos noivos ou dos pais, por exemplo), se não houver impedimentos,
o conservador autoriza os noivos a casar. A cerimónia terá de realizar-se no
prazo de 6 meses a contar do despacho favorável. Se isso não acontecer, e não
tiver ainda decorrido 1 ano desde o despacho, o processo pode ser revalidado.
Passando mais de 1 ano, terá de ser reiniciado.

Quando a decisão do conservador seja negativa — por exemplo, não autorize um


menor a casar, por entender que não tem maturidade suficiente —, os noivos
podem recorrer para o tribunal.

Custo
Se o casamento se realizar na conservatória, durante o horário de funcio-
namento, o processo e o registo custam 120 euros. Fora do horário ou do
local, este valor sobe para 200 euros, acrescido das despesas de deslocação
do conservador, quando não ocorra na conservatória. Estão incluídas todas

22
A O noivado

TOTAL DE CASAMENTOS EM PORTUGAL (1)

81 461
72 164 71 654
69 457
63 752

39 993
33 634

1960 1970 1980 1990 2000 2010 2017

(1) Inclui
casamentos entre pessoas do mesmo sexo desde 2010, ano em que tal passou a ser possível.
Fonte: INE, PORDATA – Base de Dados Portugal Contemporâneo (www.pordata.pt).

as despesas relativas às formalidades necessárias, com exceção da conven-


ção antenupcial: optar por um regime de bens que não seja a comunhão de
adquiridos custa 100 euros numa conservatória do registo civil, caso opte pelo
regime de comunhão geral ou de separação de bens, ou 160 euros, se escolher
um regime diferente, com características próprias. Claro que, habitualmente,
ao custo das formalidades legais haverá ainda que juntar outras, bastante
mais significativas, relacionadas com a boda e a lua-de-mel.

Casamento religioso
As formalidades que antecedem o casamento só têm de ser integralmente
cumpridas pelos noivos se optarem por um casamento civil. Casando de
acordo com o ritual da sua religião, o processo pode começar com a ida à
conservatória e posterior transferência da documentação para a paróquia onde
vão casar, mas também pode ser desencadeado pelo padre ou, tratando-se
de religiões que não a católica, pelo ministro de culto. Os noivos são ouvi-
dos separadamente pelo padre ou ministro de culto, que averigua se estão
conscientes do compromisso que se preparam para assumir e encaminha o
processo para a conservatória do registo civil, tratando os serviços da Igreja

23
A Guia do casal

de todas as formalidades. O resto do processo é idêntico ao do casamento


civil e a cerimónia só pode ser celebrada depois de o conservador do registo
civil emitir o certificado a indicar que não há impedimentos legais.

A lei equipara o casamento religioso ao civil. No entanto, tratando-se de um


casamento religioso, mas não católico, exige que o ministro de culto tenha
nacionalidade portuguesa ou de um estado da União Europeia, ou, em alter-
nativa, autorização de residência (temporária ou permanente) em Portugal.
Quem optar pelo casamento religioso tem de declará-lo — diretamente ou
através do ministro do culto — na abertura do processo, indicando quem vai
celebrá-lo. O conservador só passa o certificado se tiver a certeza de que os
noivos conhecem os direitos e deveres inerentes ao casamento. Na cerimó-
nia, é obrigatório que, além dos noivos e do membro da entidade religiosa
competente para celebrar o casamento, estejam presentes duas testemunhas.

Convenção antenupcial
O regime de bens que irá vigorar depois do casamento é uma questão em
que os noivos deverão refletir previamente. Se não pretenderem a comunhão
de bens adquiridos, o regime supletivo que vigora se nada disserem em con-
trário, poderão adotar outro regime através da convenção antenupcial. Este
documento é elaborado por um notário ou na conservatória do registo civil,
sendo que a segunda opção é menos dispendiosa e poupa os noivos a uma
deslocação ao cartório notarial (no final, terão de o registar na conservatória).
A convenção pode ser revogada ou alterada até à cerimónia. Tem a validade
de 1 ano, pelo que, se o casamento não se realizar entretanto e os noivos ainda
a pretenderem, terão de fazer outra.

Em princípio, os noivos podem escolher o regime que quiserem. Mas há


algumas restrições, por exemplo para quem tem mais de 60 anos ou já leve
filhos de outra relação para o matrimónio. Esta matéria será desenvolvida
com maior detalhe no próximo capítulo (página 31 e seguintes).

Cerimónia
A cerimónia civil decorre no local e à hora combinados com o conservador.
Pode ser na conservatória onde foi iniciado o processo, noutra para onde
os noivos peçam a sua transferência ou num local diferente. É obrigatória a
presença de um dos cônjuges, mas, se necessário, o outro pode ser substituído

24
A O noivado

por um representante a quem tenha passado uma procuração (veja o docu-


mento abaixo). Além deles e do conservador, podem estar presentes duas
a quatro testemunhas. A presença de duas testemunhas só é obrigatória se
a identidade dos noivos não for confirmada pela exibição dos documentos
de identificação ou por conhecimento pessoal do conservador. Tratando-se
de uma cerimónia pública, estarão presentes, normalmente, além das pes-
soas acabadas de referir, os convidados dos noivos. Depois de perguntar aos
presentes se conhecem algum impedimento ao casamento e de confirmar a

PROCURAÇÃO

                   
(nome),
solteiro/a (ou divorciado/a, ou viúv
o/a), maior, natural
de        , residente em          
   ,
portador/a do cartão de cidadão n.º
         ,
de            (local), válid
o até   /  /  ,
constitui seu procurador 
(nome),        (estado civil),
residente em 
          , portado
r do cartão de cidadão
n.º        , de          
(local), válido
até   /  /  , a quem confere
poderes especiais para
celebrar em seu nome casamento com

        (nome), solteira/o
(ou divorciada/o,
ou viúva/o), maior, natural de         
, residente
em         , portador/a
do cartão de cidadão
n.º         , de        
(local), válido
até   /  /  , o qual terá
como regime de bens
a              (com
unhão de adquiridos/
comunhão geral de bens/separação de
bens*).

(Assinatura)

* Se nada for dito, vigorará o regime da


comunhão de bens
adquiridos, a menos que um dos noivo
s tenha mais de 60 anos
(nesse caso, o regime tem de ser a sepa
ração de bens).

25
A Guia do casal

intenção dos noivos, o conservador proclama o seguinte: “Em nome da lei e da


República Portuguesa, declaro … e … unidos pelo casamento”. Então, os noivos
podem, se quiserem, proceder à tradicional troca de alianças.

Casamento urgente
É possível casar sem cumprir as formalidades descritas, ou seja, sem o pro-
cesso preliminar de casamento. Até pode dispensar-se a intervenção de um
funcionário do registo civil. Mas só em duas situações: um dos noivos estar
às portas da morte ou a noiva encontrar-se prestes a dar à luz.

O casamento urgente poderá concretizar-se desde que estejam presentes


quatro testemunhas, duas das quais não sejam potenciais herdeiros dos noi-
vos, estes manifestem, inequivocamente, a vontade de casar, e seja feita uma
ata do casamento (pode ser num papel normal e sem grandes formalidades),
assinada por todos os presentes que saibam e possam fazê-lo. Não é necessário
haver alguém a presidir à cerimónia.

Mais tarde, será necessário entregar a ata na conservatória para o registo


provisório do casamento. O conservador organiza o processo com as for-
malidades que seja possível cumprir. Se o processo preliminar tiver sido
iniciado antes da entrega da ata, o despacho do conservador deve ser dado
no prazo de 3 dias. Caso contrário, o processo deve estar concluído até
30 dias depois da data constante da ata. Estando tudo em ordem, o casa-
mento será confirmado, através da homologação. Porém, se o conservador
verificar que não existia nenhum dos requisitos que permitem o casamento
urgente, não foram cumpridas as formalidades exigidas (existência de
testemunhas e elaboração de uma ata) ou havia um impedimento, a homo-
logação é recusada.

Casar no estrangeiro
O casamento de cidadãos portugueses fora de Portugal tem algumas particula-
ridades. Pode ser celebrado segundo a nossa lei (casamento civil ou religioso)
ou de acordo com a lei local. Mas continua a ter de ser precedido do processo
preliminar, a não ser que seja um casamento urgente.

Tratando-se de um residente em Portugal, mas que pretenda casar no estran-


geiro, pode requerer em qualquer conservatória do registo civil a verificação

26
A O noivado

da sua capacidade matrimonial, ou seja, da inexistência de impedimentos.


Se o conservador, decorrido o processo preliminar, confirmar a capacidade,
passa o certificado, indispensável para que possa casar. Portugal tem acordos
com vários países relativamente à uniformização deste tipo de documentos,
o que dispensa a sua tradução. Ao iniciar o processo, verifique que formali-
dades são exigidas pelo outro país.

Um português residente no estrangeiro deverá requerer a verificação da sua


capacidade numa conservatória do registo civil, na embaixada portuguesa ou
num consulado. O processo poderá ser organizado pelos serviços consulares
portugueses, decorrendo o casamento perante funcionários diplomáticos ou
consulares ou perante os ministros de culto. Depois de celebrado, o casamento
é registado no consulado português.

15 DIAS DE FÉRIAS
Uma das regalias proporcionadas aos noivos é o direito de se ausentarem do trabalho
durante 15 dias seguidos, antes e/ou depois do casamento. Estas faltas não afetam a anti-
guidade nem o direito do trabalhador a receber integralmente o salário, embora possa
deixar de receber subsídios e outras regalias que pressuponham a efetiva prestação do tra-
balho (subsídios de refeição ou transporte, por exemplo). As ausências têm de ser comu-
nicadas à entidade patronal com uma antecedência mínima de 5 dias. Mas, sendo faltas
geralmente previsíveis a médio ou longo prazo, convém que o aviso seja feito mais cedo,
para que o funcionamento da empresa ou serviço não seja prejudicado. Aliás, normal-
mente, é isso que acontece.

Novo apelido?
Cada cônjuge pode adotar um máximo de dois apelidos do outro, desde que não
mantenha apelidos de um casamento anterior. Tradicionalmente, é a mulher
quem adquire o apelido do marido, mas nada impede que ambos o façam
ou até que só o marido passe a utilizar apelidos da mulher. Também podem
conservar os nomes que já tinham antes do casamento, nada acrescentando.
Uma coisa é certa: cada cônjuge mantém os seus próprios apelidos. Os novos
podem ser acrescentados no final dos nomes que já tinha ou intercalados. E até
pode acontecer que os cônjuges fiquem com apelidos bastante diferentes um
do outro. Por exemplo, ao casar com Maria de Fátima Oliveira da Costa, João
Carlos Gomes da Silva pode passar a chamar-se João Carlos Gomes da Silva
Oliveira da Costa, enquanto a mulher ficará com o nome completo de Maria
de Fátima Oliveira da Costa Gomes da Silva. A lei permite-o.

27
A Guia do casal

Quando houve adoção do nome do outro, o que acontece se o casal se divorciar?


Em princípio, perde o direito a usar os apelidos, a menos que seja autorizado
pelo ex-cônjuge a mantê-los. A autorização deve constar de um documento
cuja assinatura seja reconhecida pelo notário ou de uma declaração perante
um funcionário da conservatória do registo civil. Existe outra possibilidade
de manter os apelidos, mesmo perante a recusa do ex-cônjuge: uma autori-
zação do conservador, no decorrer do processo de divórcio ou através de um
processo autónomo, com esse propósito. Para que o conservador autorize
a manutenção do apelido, é preciso apresentar motivos que o justifiquem,
como, por exemplo, ter obtido notoriedade profissional com esse nome.

E quando aquele que adotou apelidos fica viúvo? Por princípio, conserva-os,
mas, se casar de novo, só os mantém se declarar essa intenção na conserva-
tória do registo civil até ao novo matrimónio.

O conservador dispõe ainda de outra possibilidade de intervenção nesta


questão dos apelidos. Mantendo o cônjuge os apelidos do outro, depois da
morte deste ou de ser decretado o divórcio, pode vir a ser impedido de usar
o apelido “quando esse uso lese gravemente os interesses morais do outro cônjuge
ou da sua família”. O impedimento pode ser requerido pelo ex-cônjuge ou,
em caso de viuvez, pelos ascendentes, descendentes e irmãos do falecido.

28
A

Capítulo 2

Vida conjugal
A Guia do casal

O casamento é um contrato entre duas pessoas que envolve relações patri-


moniais e pessoais. Os cônjuges têm direitos e deveres, estabelecidos pelo
objetivo do casamento, que é, de acordo com a definição legal, “constituir
família mediante uma plena comunhão de vida”.

Os cônjuges estão em absoluto plano de igualdade: cada um deve ao outro


o mesmo respeito e fidelidade e pode exigir-lhe idêntico comportamento.
Há muito que o adultério da mulher deixou de ser considerado crime, ao passo
que o cometido pelo homem já não é assumido como algo de natural ou ine-
vitável. Aos olhos da lei, tudo é igual: tanto está a violar o dever conjugal de
fidelidade a mulher que comete adultério, como o marido.

Comunhão de vida
Quem casa está a assumir o compromisso de constituir uma família em plena
comunhão de vida. Ou seja, os cônjuges passam a funcionar de acordo com
uma vontade comum. O compromisso é o de uma vida a dois, entreajuda,
comunhão de interesses, educação conjunta dos filhos, etc.

Esta vida em comum implica a predominância dos interesses familiares,


mas sem eliminar a personalidade de cada um. Por outro lado, também o
aspeto patrimonial é determinado por essa vida a dois, mas a comunhão
será maior ou menor consoante o regime de bens escolhido pelo casal.
Este é, aliás, o primeiro aspeto a tratar no presente capítulo. Convém
relembrar que a opção é definitiva e tem de ser tomada ainda antes do
casamento.

O casamento pode ser dissolvido, antes da morte de algum dos cônjuges,


através do divórcio. Significa isto que, a menos que se verifique a morte ou
seja decretado o divórcio, o casamento é irreversível? Não é bem assim. A lei
prevê situações em que o casamento pode ser anulado. Assim acontece,
por exemplo, quando um dos cônjuges foi forçado a casar (sob ameaça de
morte, por exemplo) ou o fez por engano (com o irmão gémeo do verda-
deiro noivo).

30
A Vida conjugal

Regimes de bens
Uma das tarefas dos noivos é, como tivemos oportunidade de verificar no
primeiro capítulo, a escolha do regime de bens. E mesmo a passividade tem
consequências: se nada fizerem, estarão a optar pela comunhão de bens
adquiridos. É algo a ponderar devidamente, uma vez que o regime de bens
irá vigorar durante todo o casamento. A única hipótese de alteração é quando
um cônjuge se sente prejudicado pela má administração do outro e, consi-
derando que os seus bens estão em perigo, pede ao tribunal para decretar a
separação judicial. Se tiver êxito, passa a vigorar o regime da separação de
bens (veja a caixa Separação judicial de bens, na página 33).

Na escolha do regime de bens, devem ser tidas em conta as consequências


enquanto durar o casamento (quem administra os bens ou pode vendê-los,
por exemplo), mas igualmente o que possa resultar de uma eventual rutura
(num divórcio, quem fica com o quê?).

A lei portuguesa apresenta três regimes: comunhão de bens adquiridos, comu-


nhão geral de bens e separação de bens. Mas também é possível adotar um

OS TRÊS REGIMES DE BENS


Regime Bens comuns Bens próprios
COMUNHÃO – o produto do trabalho de cada – aqueles que cada cônjuge já tinha
DE ADQUIRIDOS um (salário, comissões, prémios, quando casou;
etc.); – os que recebam por doação ou
– praticamente tudo o que herança;
adquiram durante o casamento. – os que adquiram em função de
um direito próprio anterior (por
exemplo, como resultado de direito de
preferência).
COMUNHÃO – a generalidade dos bens. – recordações familiares de valor
GERAL DE BENS meramente simbólico;
– bens recebidos por um, por
doação ou herança, com cláusula de
incomunicabilidade (a sua propriedade
não pode ser transmitida ao outro
cônjuge);
– roupas e outros objetos de uso pessoal,
bem como diplomas e correspondência.
SEPARAÇÃO – não há bens comuns, mas – a menos que sejam adquiridos em
DE BENS podem existir bens adquiridos por conjunto, todos os bens são próprios de
ambos, em compropriedade. (apenas) um dos cônjuges.

31
A Guia do casal

regime sui generis que reúna características daqueles três. A escolha do primeiro
dispensa qualquer formalidade. Quanto aos outros, os noivos têm de fazer uma
convenção antenupcial (veja Convenção antenupcial, na página 24) e nela dizer
que o regime a vigorar no casamento será a comunhão geral ou a separação
de bens. Eventuais particularidades têm de ser devidamente especificadas na
convenção. Mas vejamos em que consistem os três regimes previstos na lei.

Comunhão de bens adquiridos


Como vimos, é o regime que vigora se o casal nada disser em contrário.
De acordo com este regime, pertencem a cada cônjuge os bens que já tinha
antes do casamento, o vestuário e as doações ou heranças que, antes ou
depois do casamento, receba individualmente (o que lhe é deixado pelos pais,
por exemplo). São os chamados bens próprios. Se um destes bens for trocado
ou vendido, o produto dessa operação também constitui um bem próprio:
por exemplo, o dinheiro ganho com a venda de uma casa própria ou o carro
trocado pelo antigo são bens próprios, só pertencem a um dos cônjuges.
Já se a casa for comprada com dinheiro próprio de um dos cônjuges e dinheiro
comum, a propriedade é atribuída àquele que mais contribuiu para a aquisição.
No entanto, há uma compensação no momento da partilha (por divórcio ou
morte de um dos cônjuges). Vamos supor que um automóvel foi comprado
com 15 mil euros do Eduardo e 5 mil euros que eram dele e da mulher. O carro
é património do Eduardo, mas, se um dia vierem a divorciar-se, tem-se em
conta que a mulher comparticipou com 2500 euros, ou seja, metade do
património comum utilizado na compra do carro.

Constituem propriedade comum os outros bens: aqueles que são adquiridos


depois do casamento, os salários dos cônjuges, etc. Se comprarem algum bem
com dinheiro de apenas um dos cônjuges, para assegurar que será considerado
bem próprio convém que isso fique registado no documento de aquisição.
Por exemplo, tratando-se de uma casa, a escritura pública poderá conter a
referência de que é um bem próprio, apesar de o comprador ser casado no
regime de comunhão de adquiridos.
Havendo dúvidas quanto à sua propriedade, os bens móveis são considera-
dos comuns. Como os bens imóveis estão sujeitos a registo, em princípio,
quanto a eles, essa dúvida não se coloca: pertencem a quem conste do
registo. O mesmo acontece com alguns bens móveis, como carros, aviões ou
barcos. No entanto, como vimos no parágrafo anterior, incluir essa menção
no documento de aquisição não deixará margem para dúvida, em caso de
conflito.

32
A Vida conjugal

Comunhão geral de bens


Em princípio, neste regime todos os bens são de ambos os cônjuges, indepen-
dentemente de já existirem ou não quando o casamento foi celebrado. Até à
entrada em vigor do atual Código Civil, em 1967, era este o regime supletivo.
Portanto, a maioria das pessoas casadas antes de 31 de maio daquele ano
adotou-o. Atualmente, não pode ser escolhido por quem já tenha filhos, a não
ser que os filhos sejam comuns. Apenas se excluem do património comum
o vestuário de cada um ou outros bens de uso pessoal (independentemente
do seu valor), alguma herança com a expressa menção de que os bens não
podem tornar-se comuns, indemnizações devidas a um só, assim como as
recordações familiares de baixo valor.

Separação de bens
É quase o oposto da comunhão geral. Como o nome indicia, não há bens
comuns. Cada cônjuge tem o seu próprio pecúlio e pode dispor dele como
entender, a não ser que se trate da casa onde mora a família. No entanto,
a inexistência de património comum não impede o casal de adquirir bens
no regime de compropriedade. É natural que comprem em conjunto a casa
onde vivem ou o automóvel da família. Aliás, nos casos duvidosos relativos a
bens móveis, pressupõe-se, à semelhança do que acontece na comunhão de
adquiridos, que o bem pertence a ambos os cônjuges.

SEPARAÇÃO JUDICIAL DE BENS


Os despiques conjugais podem ter origem em problemas patrimoniais, nomeadamente
por um dos cônjuges ser demasiado gastador. Se tal acontecer, o outro nada pode fazer?
Quando um dos cônjuges entende que corre o risco de perder os seus bens devido à má
administração do outro, a lei permite-lhe requerer a separação judicial de bens. Passa,
então, a vigorar o regime da separação de bens. É uma solução a ter em conta por quem
está casado nos regimes de comunhão (geral ou de adquiridos).
Nas dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges (veja Responsabilidade de ambos,
na página 42), podemos verificar que isso acontece, por exemplo, com as contraídas pelo
cônjuge-administrador em proveito comum do casal. Se o outro cônjuge for prejudicado,
pode solicitar ao tribunal a separação de bens, mas tem de provar esse prejuízo ou, pelo
menos, o perigo de perder o que é seu. O que não pode fazer é exigir que seja feita a par-
tilha dos bens do casal enquanto durar o casamento.

33
A Guia do casal

Este regime é obrigatório quando, no momento do casamento, um dos cônjuges


tem 60 ou mais anos de idade ou quando a cerimónia não é precedida do pro-
cesso preliminar de casamento (veja o título Casamento urgente, na página 26).
Nestas situações, e para que o impedimento tenha o efeito pretendido, a lei
não permite que os cônjuges ofereçam bens próprios um ao outro. Também
é possível que o casamento comece com um regime de bens diferente, mas
a má administração de um cônjuge leve o outro a pedir ao tribunal que seja
decretada a separação de bens (veja a caixa da página anterior).

Deveres conjugais
Já referimos, ainda que de forma breve, que o casamento se baseia na igualdade
de direitos e deveres dos cônjuges. Chegou a altura de analisar estes últimos,
que são cinco: respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência. O seu
incumprimento pode dar origem a pedidos de indemnização (veja a sentença
da página 36) ou influenciar a decisão do juiz para decretar o divórcio apesar
da oposição de um dos cônjuges.

Respeito
O dever de respeito, que se alarga às relações entre pais e filhos (veja o título
Responsabilidades parentais, a partir da página 117), tem como pressuposto
a individualidade de cada cônjuge durante o casamento. O facto de haver
objetivos comuns e estarem ambos empenhados em viver em harmonia não
pode impedir que cada um tenha a sua própria personalidade e mereça do
outro toda a consideração. Não é admissível que o marido agrida a mulher
ou que esta o insulte, insinuando publicamente factos que ponham em causa
o seu bom nome e honra. Se o fizerem, estão a violar o dever de respeito.
Da mesma forma, ignora este dever quem não ligue minimamente à vontade
do outro cônjuge, o reprima, lhe retire a vontade própria, não permita que
exerça uma determinada profissão, abra a sua correspondência pessoal ou
controle o telemóvel e as mensagens eletrónicas, impeça que se faça sócio
de um clube desportivo, proíba de ver telenovelas ou de pintar os olhos,
de fumar ou beber vinho às refeições, comer feijoada ao almoço, beber um
copo de água ao deitar. Enfim, podemos imaginar mil e uma situações em
que o dever de respeito é desprezado.

34
A Vida conjugal

Além de um processo de divórcio, uma conduta desrespeitosa pode desen-


cadear outro tipo de consequências, de caráter penal ou civil: o marido que
agride a mulher ou a insulta pode ser condenado, por exemplo, pelo crime
de violência doméstica (veja a caixa Crimes em família, na página 150) e até
ter de indemnizá-la por eventuais danos patrimoniais (o vestido e a carteira
que estragou quando lhe bateu) e morais (o sofrimento causado pela agressão
física e/ou verbal).

Fidelidade
Há muito que a monogamia está consagrada em Portugal e na civilização oci-
dental em geral. Ninguém pode estar casado, simultaneamente, com mais do
que uma pessoa. A bigamia é um crime punido com prisão até 2 anos ou multa
até 240 dias (mínimo de 5 e máximo de 500 euros/dia). Considera-se, ainda,
que quem comete adultério, ou seja, tem relações sexuais com uma terceira
pessoa, não está a respeitar o compromisso de exclusividade que assumiu
com o cônjuge. Pode haver infidelidade mesmo sem ato sexual. Imaginemos,
por exemplo, o marido que passa as noites em bares e discotecas a conviver
com outras mulheres ou até casos de infidelidade virtual, através da internet
e das redes sociais. A ausência de prática sexual não impede que estejamos
perante uma violação sucessiva do dever de fidelidade. Mas, ao contrário da
bigamia, a infidelidade não é crime.

Coabitação
Comprometendo-se os cônjuges a levar uma vida em comum, em princípio
viverão juntos, numa casa escolhida por ambos, tendo em conta as exigências
da vida profissional de cada um, o bem-estar comum e dos filhos e a unidade
da vida familiar. Mas a coabitação vai mais longe: abrange igualmente a ativi-
dade sexual, significando que os cônjuges se comprometem a levar uma vida
sexual conjunta (e apenas um com o outro, como vimos). As características
da coabitação variam no decorrer da vida do casal, de acordo com a vida
profissional, a capacidade física e a saúde de cada um. Não se pode pedir
que aos 70 anos se tenha um comportamento idêntico ao que se tinha aos
30. Por outro lado, as obrigações profissionais de um dos cônjuges podem
levá-lo a ausentar-se de casa: basta pensar na colocação de um diplomata ou
de um professor ou nas digressões de um músico. Também não pode falar-se
em violação do dever de coabitação quando os cônjuges vivem separados
por acordo. Tudo depende do modo de vida que escolham. Por exemplo,

35
A Guia do casal

no que respeita à comunhão de leito, também podem estabelecer que cada


um dorme na sua própria cama.

Quem abandone a casa da família estará, em princípio, a violar o dever de


coabitação, mas esse abandono terá de ser analisado face às circunstâncias
concretas da situação. Pode, por exemplo, ser a resposta à infidelidade ou
falta de respeito do cônjuge. Seria absurdo considerar que está a violar um
dever conjugal a mulher que sai de casa por estar farta dos maus-tratos que
o marido lhe inflige ou o marido que o fez porque, ao chegar a casa, encon-
trou a mulher na cama com outro. Pelo contrário, já estará a violar o dever
de coabitação o cônjuge que se ausentar de casa durante alguns dias, sem
justificação ou com uma justificação falsa, ou que sem razão aparente se
feche todas as noites no quarto de hóspedes, abandonando o leito conjugal.

O TRIBUNAL DECIDIU... DIREITO A INDEMNIZAÇÃO


Após o casamento, em 1967, o casal viveu em comunhão até 1982, quando o marido aban-
donou a mulher e as duas filhas. Ao fim de 9 meses, regressou a casa, aí permanecendo
até 2000. Com o novo milénio, começou uma vida errática em que alternava permanên-
cias na casa da família com saídas para viver junto de outras mulheres.
Este comportamento provocou uma grande amargura à mulher, que começou a defrontar-
-se com frequentes crises depressivas. Farta do que o marido lhe fazia, recorreu aos tribu-
nais, pedindo que ele fosse condenado a pagar-lhe uma indemnização de cerca de 100 mil
euros pelo sofrimento causado pela constante violação dos deveres conjugais.
Em primeira instância, conseguiu que o marido fosse condenado a pagar-lhe 33 mil euros.
No entanto, este não aceitou a decisão e recorreu para o Tribunal da Relação de Lisboa.
Conseguiu o que queria e foi absolvido. Insatisfeita, a mulher levou o caso ao Supremo
Tribunal de Justiça. Este revogou a sentença da Relação e, embora não tenha chegado aos
valores determinados pela primeira instância, condenou o marido a indemnizar a mulher
em 15 mil euros.

Supremo Tribunal de Justiça, 12 de maio de 2016

Cooperação
É claro que o casamento também envolve colaboração mútua, auxílio em
caso de necessidade e partilha das responsabilidades da vida familiar. Se o
marido adoecer, a mulher deve tratar dele e ajudá-lo a convalescer; se esta
última tiver uma depressão, o marido tem de prestar-lhe os cuidados indis-
pensáveis à superação desse mau momento. De igual modo, ambos devem
estar disponíveis para dar a sua opinião quando, por exemplo, o outro recebe
uma aliciante oferta de emprego que implique a transferência para longe da

36
A Vida conjugal

FALTAR AO TRABALHO
Uma das vertentes do dever de cooperação é o auxílio na doença. Quando um cônjuge
adoece, cabe ao outro dispensar-lhe os cuidados necessários e ajudá-lo na recuperação.
No entanto, o cumprimento dessa obrigação pode ter reflexos na sua vida profissional:
para estar com o cônjuge, precisa de faltar ao emprego. A lei permite-lhe faltar até 15 dias
por ano para prestar assistência inadiável e imprescindível ao cônjuge (ou à pessoa com
quem vive em união de facto), mas as faltas implicam desconto no salário, isto é, os dias
de ausência não são pagos. A estes 15 dias podem ser adicionados outros 15, se o côn-
juge sofrer de deficiência ou doença crónica. Todas estas faltas têm de ser comunicadas à
entidade patronal o mais depressa possível ou, tratando-se de faltas previsíveis (por exem-
plo, uma operação marcada há vários meses), com uma antecedência mínima de 5 dias.
Além disso, a entidade patronal pode exigir um documento (por exemplo, uma declaração
médica) que comprove a necessidade de assistência inadiável e imprescindível.
Se, em caso de doença prolongada, um cônjuge pretender acompanhar o outro por mais
do que os 15 dias previstos na lei, poderá solicitar uma licença sem vencimento à entidade
patronal. Todavia, esta não se encontra obrigada a aceder ao pedido.
Este regime pode dificultar o cumprimento do dever de cooperação, pois as faltas, ape-
sar de justificadas, implicam perda de retribuição. Por isso, é provável que o trabalhador
se veja impossibilitado de faltar e, portanto, de disponibilizar o acompanhamento que o
estado de saúde do cônjuge exigiria.

família. Em todas as questões é necessária colaboração, assumindo particular


destaque a saúde e a vida profissional, sem esquecer tudo o que se relacione
com os filhos, cuja educação está a cargo de ambos e deve ser assumida com
base nessa cooperação.

Assistência
É a obrigação de contribuir para os encargos da família. Portanto, trata-se
não só de um dever em relação ao cônjuge, mas igualmente aos próprios
filhos. Pretende evitar-se que só um dos cônjuges suporte as despesas com
alimentação, vestuário, renda de casa, educação dos filhos ou medicamentos,
enquanto o outro utiliza o dinheiro em despesas supérfluas ou simplesmente
o deposita numa conta bancária, não acorrendo às necessidades quotidianas.

Não se pense que o dever de assistência estabelece uma regra matemática,


de acordo com a qual cada cônjuge tem a cargo metade das despesas familia-
res. Pode ser assim ou não. Por um lado, é possível que os rendimentos sejam
muito diferentes. Por outro, até pode acontecer que só um tenha emprego
remunerado e o outro satisfaça o dever de assistência através do trabalho em

37
A Guia do casal

casa e na educação dos filhos. Ambos terão, isso sim, de contribuir segundo
as suas possibilidades, por exemplo, proporcionalmente aos seus ganhos.
No entanto, se um contribuir mais do que seria exigível, tendo renunciado de
forma excessiva aos seus interesses em favor da vida em comum, nomeada-
mente no campo profissional, e sofrido com isso importantes prejuízos, pode
ser compensado pelo outro. Esta compensação só pode ser exigida quando
haja partilha dos bens do casal (num divórcio, por exemplo), a menos que
estejam casados no regime de separação de bens.

O dever de assistência mantém-se quando, por qualquer razão, os cônjuges


estejam temporariamente a viver separados. Pode mesmo continuar depois de o
casamento terminar. É o que se verifica quando, concretizado o divórcio, um dos
ex-cônjuges fica a pagar ao outro uma pensão de alimentos. E pode acontecer
que se mantenha depois da morte do cônjuge obrigado a prestar alimentos:
a sua herança será utilizada para satisfazer as necessidades do ex-cônjuge.

Havendo separação de facto, a lei determina que, em princípio, só quem


origina a separação ou é o seu principal responsável é que mantém o dever
de assistência, embora os tribunais possam decidir que o dever incumbe ao
outro, tendo em conta a duração do casamento e a colaboração que o primeiro
tenha dado à vida conjugal. Não havendo responsabilidade de qualquer dos
cônjuges, mantém-se o dever para ambos.

Administração dos bens


Consideradas as relações pessoais originadas pelo casamento, ocupamo-nos
agora das relações patrimoniais, as quais são determinadas pelo regime de
bens escolhido. Veremos quem tem de cuidar dos bens, quem pode vendê-
-los, se há diferenças entre bens móveis e imóveis, etc.

Bens próprios
Como vimos, os bens podem pertencer aos dois cônjuges ou só a um, isto é,
podem ser comuns ou próprios. Cada cônjuge tem a administração dos seus
bens próprios e do produto do seu salário; a administração dos bens comuns
pertence a ambos. No entanto, existem exceções a esta regra: é também só de

38
A Vida conjugal

um cônjuge a administração dos bens comuns que levou para o casamento


(se tiver casado no regime de comunhão geral) ou que obteve gratuitamente
(através de uma herança ou doação). Acrescem ainda os bens próprios do
outro cônjuge, se este estiver impossibilitado de administrá-los (devido a
ausência ou doença, por exemplo).

Também são considerados bens próprios os que foram adquiridos com meios
de apenas um dos cônjuges. Para que seja possível prová-lo, caso venha a
ser necessário, o documento relativo à aquisição (por exemplo, a escritura
pública, na compra de um imóvel) deve incluir essa referência e ser assinado
por ambos os cônjuges. Isso é particularmente importante na ausência de um
registo e/ou título de propriedade. Ou seja, o documento de aquisição deverá
indicar, por exemplo, “Do total de 200 mil euros relativos à transação, 100 mil
foram pagos com bens próprios da titular Margarida Pereira”.

O TRIBUNAL DECIDIU... CASA É BEM PRÓPRIO


Tendo como regime de bens a comunhão de adquiridos, um casal comprou uma casa
para residência própria. Uns anos mais tarde, em pleno processo de divórcio, discutiu-se de
quem era a propriedade do imóvel. O marido dizia tratar-se de um bem comum, uma vez
que havia sido adquirido enquanto estavam casados. A mulher, pelo contrário, defendia
que a casa era apenas sua, pois havia sido adquirida com dinheiro das suas poupanças
enquanto solteira e da herança que tinha recebido dos pais.
A questão chegou ao Supremo Tribunal de Justiça, depois de a primeira instância dar razão
à mulher e a Relação de Lisboa ter decidido o contrário. Entre outros aspetos, colocava-se
a questão de a origem dos bens não ter sido mencionada na escritura de compra da casa.
Este era um dos argumentos utilizados pelo marido para fazer prevalecer a sua posição.
Poderiam, então, os juízes do Supremo permitir que a mulher procurasse provar de outra
forma que a casa era só sua? Eles entenderam que sim e que ela conseguiu provar que a
casa tinha sido adquirida com dinheiro próprio, pelo que concluíram que a casa era apenas
dela.

Supremo Tribunal de Justiça, 2 de julho de 2015

Bens comuns
A regra geral indica que, relativamente aos bens comuns, qualquer dos côn-
juges pode praticar os atos de administração ordinária, enquanto os de admi-
nistração extraordinária terão de ser praticados ou autorizados por ambos.
Para facilitar a distinção, vamos pensar num automóvel. Atos como meter
gasolina, fazer as revisões, mudar o óleo ou substituir pneus pertencem à
administração ordinária. Já o aluguer da viatura a um terceiro ou a sua venda

39
A Guia do casal

caem no âmbito da administração extraordinária, a menos que o casal tenha


um negócio de aluguer e venda de veículos automóveis (neste caso, já esta-
remos face à administração ordinária dos bens).

Venda dos bens


A venda ou doação de bens móveis comuns (eletrodomésticos, mobiliário,
automóveis, etc.) só é possível com o acordo de ambos, a menos que seja
um ato de administração ordinária, o que acontecerá, por exemplo, se um
cônjuge tiver um negócio de compra e venda e fizer transações nesse âmbito.
Quanto aos bens móveis de cada um ou administrados apenas por um, este
pode vendê-los sem necessitar da autorização do outro, a não ser que sejam
utilizados por ambos no lar ou como instrumento de trabalho, ou pertençam
ao outro cônjuge e a venda não seja um ato de administração ordinária, que
é a hipótese mais provável.

Quanto aos bens imóveis (casas, terrenos, andares, quintas, pomares, etc.),
é exigido o consentimento de ambos para vender ou doar, quer se trate de um
bem próprio ou comum. Só não será assim para os casais que tenham optado

VENDA DO PATRIMÓNIO DO CASAL:


COM OU SEM AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE?

Precisa Não precisa


de autorização de autorização

– bens móveis comuns cuja administração seja de – bens móveis próprios ou comuns só
ambos os cônjuges; por si administrados;
– bens utilizados por ambos na vida do lar ou – bens imóveis próprios, se vigorar o
como instrumento comum de trabalho; regime da separação de bens (exceto
– bens próprios de um e administrados pelo outro; a casa onde a família reside).
– bens imóveis próprios ou comuns, se o regime
de bens for a comunhão (geral ou de adquiridos);
– casa de morada da família, em qualquer
circunstância (ainda que o regime de bens seja a
separação).

40
A Vida conjugal

pelo regime de separação de bens. Neste último caso, apenas a alienação da


casa de morada da família precisa do consentimento dos dois (veja, na página
anterior, Venda do património do casal).
Suponhamos, então, que o marido recebe um prédio como herança dos pais:
só pode vendê-lo sem autorização da mulher se forem casados com separa-
ção de bens. Caso o regime seja outro e a mulher, sem razão válida, recuse a
autorização para a venda, o marido pode obter do tribunal uma declaração
que substitua a da mulher e, assim, vender o prédio.

Se um dos cônjuges vender ou doar bens sem autorização, sejam móveis ou


imóveis, o outro pode tentar anular esse ato, no prazo de 6 meses a partir do
momento em que dele teve conhecimento, mas nunca mais de 3 anos depois
de ter ocorrido. De qualquer forma, se não o fizer ou não conseguir obter a
anulação, o valor da venda será tido em conta quando se proceder à divisão
do património do casal (por divórcio ou morte de um deles). Vejamos um
exemplo: o Luís vendeu por 10 mil euros o carro que era seu e da mulher,
Cristina, sem esta saber. Uns anos mais tarde, acabaram por divorciar-se e,
quando procederam à divisão dos bens comuns, no valor global de 30 mil
euros, a Cristina ficou com 20 mil euros e o Luís só teve direito a 10 mil, que
somou aos 10 mil que obtivera com a venda do carro. Tratando-se de uma
doação, o cônjuge que não a autorizou poderá tentar que o valor do bem
doado seja contabilizado na parte correspondente ao outro cônjuge.

Contas bancárias
Qualquer dos cônjuges pode abrir as contas que quiser e fazer os depósitos
que entender, sem precisar de autorização do outro. Mas é frequente que
haja contas às quais ambos têm acesso. Se a conta for conjunta, normalmente
só pode ser movimentada com a autorização de ambos. Sendo uma conta
solidária, qualquer dos cônjuges pode movimentá-la.

Dívidas
A harmonia familiar também passa por uma sã situação financeira. É mais
provável que surjam conflitos numa casa que se defronta constantemente
com problemas materiais do que noutra em que toda a gente pode satisfazer

41
A Guia do casal

as suas necessidades e desejos, sem temer que o mês seja demasiado longo
para o orçamento familiar. Como diz o ditado, “em casa onde não há pão, todos
ralham e ninguém tem razão”.

A profusão de dívidas não ajuda à vida conjugal, sobretudo quando só um


cônjuge as contrai, mas ambos são responsáveis pelo pagamento. Os pro-
blemas podem nem sequer surgir: as despesas são suportadas em conjunto
e não há discussões quanto às dívidas que pertencem a um ou a outro.
Contudo, nem sempre é assim, pelo que é preciso determinar quem é res-
ponsável pelo pagamento, ou seja, a quem podem os credores pedir contas
(se necessário, em tribunal). Como veremos de seguida, o mais importante
é definir se se tratou de uma compra em proveito da família ou que será
útil ao casal ou se, pelo contrário, foi para satisfazer um desejo ou uma
necessidade meramente pessoal. Este aspeto é bem mais importante do
que o regime de bens, que só em algumas ocasiões influencia a responsa-
bilidade pela dívida.

Por princípio, qualquer dos cônjuges pode assumir dívidas sem necessitar
de autorização do outro. Como em todos os outros aspetos do casamento,
também no que respeita às dívidas estão em pé de igualdade. Pode é aconte-
cer que, mesmo sem ter conhecimento delas, o outro também seja chamado
a pagá-las.

Responsabilidade de ambos
Havendo discórdia ou falta de meios para o fazer, é muito importante determinar
quem tem de pagar as dívidas. Ou seja, há que saber quais responsabilizam
ambos ou apenas um. Comecemos pelas primeiras.

Desde logo, temos as dívidas que a lei descreve como “contraídas por ambos ou
por apenas um, mas com o consentimento do outro, mesmo que sejam anteriores
ao casamento”. Não oferece grandes dúvidas que uma compra em conjunto
deve responsabilizar ambos pelo pagamento, independentemente do regime de
bens e do valor do bem adquirido (pode ser um apartamento, um automóvel,
um frigorífico ou um mero pacote de arroz). E isso verifica-se também quando
é apenas um a comprar com o consentimento do outro. Não faria sentido que
fosse de outro modo, uma vez que ambos originam, diretamente ou através
de consentimento, a dívida. Também as dívidas anteriores ao casamento
integram este grupo. Basta pensar nas despesas assumidas por ambos, ainda
solteiros, com a cerimónia do casamento, a lua-de-mel ou a compra de casa,
ou de um casal que vivia em união de facto e depois casou.

42
A Vida conjugal

O TRIBUNAL DECIDIU... PENHORA DE BEM COMUM


A autoridade tributária nacional iniciou um processo executivo contra um comerciante,
devido à falta de pagamento do IVA. Para recuperar os 22 mil euros em dívida, o fisco
penhorou um bem que era propriedade do comerciante, mas também da sua mulher.
Esta interveio no processo, opondo-se à penhora do bem, por considerar tratar-se de uma
dívida que apenas responsabilizava o marido. Não lhe foi dada razão, o que a levou a
recorrer ao Supremo Tribunal Administrativo. Este confirmou a decisão anterior, uma vez
que o regime de bens do casamento era a comunhão de adquiridos e, sendo o marido
comerciante, pressuponha-se que a dívida havia sido contraída em proveito comum do
casal. Teria, pois, de ser a mulher a provar que assim não era. E ela foi incapaz de demons-
trar que a dívida tinha sido originada por algo que apenas beneficiara o marido. Portanto,
o bem comum foi mesmo penhorado.

Supremo Tribunal Administrativo, 5 de novembro de 2014

E quanto às dívidas contraídas apenas por um dos cônjuges, para encargos da


vida familiar? Faria sentido responsabilizar apenas a D. Celestina, que todos
os dias se desloca à mercearia do bairro, prometendo em vão pagar no final
do mês a dívida acumulada, e ignorar uma eventual cumplicidade do marido,
que também consome os bens adquiridos? A lei entende que não e, como tal,
considera que estas dívidas são da responsabilidade de ambos. Não deixa que
um cônjuge se desligue das despesas familiares (alimentação, medicamentos,
artigos para a casa, etc.) apenas porque é o outro a efetuá-las.

São ainda consideradas comuns todas as dívidas contraídas para proveito


comum do casal, independentemente de quem as origina. Só não será assim
em alguns casos. A lei fala em dívidas contraídas pelo cônjuge-administrador,
nos limites dos seus poderes de administração. A questão da administração está
ligada à propriedade dos bens, como vimos, mas a referência ao cônjuge-admi-
nistrador, que seria o membro do casal encarregado de fazer as compras da
casa, mandar reparar o automóvel, garantir o pagamento da escola dos filhos,
contratar um canalizador, pagar a internet, etc., afigura-se desajustada. Hoje
em dia, ambos se ocupam dessas tarefas, sendo difícil determinar com exatidão
a área de atuação de cada um. De qualquer modo, para que as dívidas sejam
comuns, tem de haver proveito do casal, importando a intenção do cônjuge
ao contrair a dívida (não é o mesmo endividar-se para sustentar a família
ou devido a noites de jogo e álcool, por exemplo). Numa ação em tribunal,
tem de ser o credor a provar que existiu esse proveito comum, se quiser res-
ponsabilizar ambos os cônjuges (a exceção verifica-se com os comerciantes,
como veremos a seguir). As dívidas não podem, por outro lado, resultar de
atos que excedam os limites próprios da administração. Por exemplo, são

43
A Guia do casal

da responsabilidade apenas do cônjuge que as contrai as despesas relativas


ao apartamento que resolveu comprar no Algarve (mesmo que passe a ser
propriedade dos dois), ou aos acabamentos de luxo, desproporcionados ao
nível de vida do casal, que mandou efetuar na moradia de ambos. Há pro-
veito comum, mas fora dos limites da administração ordinária. Convém não
perder de vista que se trata de dívidas assumidas por apenas um cônjuge,
sem a autorização do outro.

Vejamos agora as dívidas contraídas no exercício do comércio: o dinheiro que


a D. Zulmira ficou a dever ao fornecedor da fruta que ela vende na mercearia
ou a quantia que o Sr. Garcia não pagou a quem lhe abastece o talho. A lei
estabelece que estas dívidas são comuns (da D. Zulmira e do marido, por
exemplo), mas admite duas exceções: o regime de casamento ser a separa-
ção de bens ou ficar provado que não foram contraídas em proveito comum
do casal. Ao contrário do que acontece na maioria dos casos, aqui têm de
ser os cônjuges a provar que não houve proveito comum, e não os credores
a demonstrar a sua existência, uma vez que o proveito comum se presume
(veja também a caixa que se segue).

QUANDO O CÔNJUGE É COMERCIANTE


Nesta questão das dívidas, os casais que tenham ligação direta com o comércio, isto é,
aqueles em que pelo menos um cônjuge é comerciante, encontram-se numa situação par-
ticular. E isto prende-se com o proveito comum do casal.
Praticamente todas as dívidas de que ambos tiram proveito são consideradas comuns.
Porém, para os comerciantes existe uma particularidade: enquanto nas dívidas dos outros
casais terá de ser o credor a provar que a dívida é comum se quiser que ambos sejam res-
ponsabilizados por ela, relativamente aos comerciantes, verifica-se o oposto, já que as dívi-
das contraídas no exercício da sua profissão se presumem comuns. Portanto, se o negócio
pertencer apenas a um dos cônjuges, terá de ser o outro a provar que não houve proveito
comum se quiser afastar a sua responsabilidade.
Existe apenas uma exceção à regra indicada no parágrafo anterior: se tiverem casado no
regime de separação de bens, as dívidas não são consideradas comuns. Este é, por isso,
o regime de bens indicado para os casamentos que envolvam, pelo menos, um comer-
ciante. No entanto, a convenção antenupcial que estabelece a separação de bens tem
de constar do registo de casamento ou, pelo menos, estar registada na Conservatória do
Registo Comercial. Deve ser tido em conta que não é possível alterar o regime de bens em
vigor. Não é permitido iniciar o casamento em comunhão de adquiridos e, no momento
em que um dos cônjuges se torna comerciante, passar para a separação de bens. Quando
muito, poderá, verificando-se os respetivos pressupostos, recorrer-se à separação judicial
de bens (veja a página 33).

44
A Vida conjugal

Responsabilidade só de um cônjuge
Apesar dos compromissos assumidos no casamento e da obrigação de terem
uma vida em comum e colaborarem mutuamente, há dívidas que apenas
responsabilizam um dos cônjuges.

As dívidas contraídas por apenas um cônjuge, fora dos casos já analisados (encar-
gos da vida familiar ou proveito comum do casal), responsabilizam apenas
quem esteve na sua origem. É o que acontece se, por exemplo, o marido se
endividar para comprar um relógio para si próprio ou a mulher o fizer para
adquirir um colar.

Também são da exclusiva responsabilidade de (apenas) um cônjuge as


dívidas originadas pela prática de um crime ou de outra violação da lei (uma
coima por desrespeito de regras de trânsito, por exemplo), bem como qual-
quer tipo de indemnização, seja consequência da prática de um crime ou
não. Estão incluídas nesta categoria, por exemplo, as indemnizações por
acidentes de viação que ultrapassem o que a seguradora estiver obrigada
a suportar.

Assim, a dívida só é comum se não foi praticado qualquer crime e na sua


origem estiveram encargos da vida familiar ou o proveito comum do casal.
Suponhamos que o marido tem de pagar uma indemnização ao banco, por
não ter pago o empréstimo que lhe permitiu arranjar dinheiro para alimentar
a família: a dívida será comum.

Finalmente, se um comerciante estiver casado no regime de separação de


bens, só ele é responsabilizado pelas dívidas que contraia no exercício da sua
profissão, nem sequer se colocando a questão do proveito comum.

Paga um ou ambos?
O problema das dívidas assume particular importância quando não são pagas
e tudo acaba nos tribunais. Se, depois da condenação, se mantiver a falta
de pagamento, o juiz recorre à penhora dos bens, para que finalmente seja
pago o que é devido. Isto é, haverá necessidade de vender certos bens dos
devedores, a fim de obter o dinheiro suficiente à satisfação da dívida. E, nessa
altura, é fundamental saber quem é responsável pela dívida, pois a ordem
dos bens a penhorar varia consoante a dívida tenha de ser paga só por um
cônjuge ou pelo casal.

45
A Guia do casal

QUEM TEM DE PAGAR AS DÍVIDAS?

Só um cônjuge Ambos

– as contraídas por si, sem ser – as destinadas a satisfazer encargos
para encargos familiares ou para da vida familiar (alimentação,
proveito de ambos os cônjuges; educação, saúde, etc.);
– as relativas a multas, – as contraídas em proveito comum
prática de crimes ou de outras do casal;
violações da lei, bem como as – as originadas por ambos ou por
indemnizações. um com o consentimento do outro.

Com os bens de ambos


Sendo as dívidas da responsabilidade do casal, as coisas passam-se desta forma:
—— respondem, em primeiro lugar, os bens comuns;
—— se os bens comuns não tiverem valor suficiente para cobrir a dívida, são
penhorados os bens próprios de cada cônjuge, de forma solidária. Isto
significa que o resto da dívida pode ser satisfeito com a venda de bens
de apenas um dos cônjuges, não sendo obrigatório que metade seja paga
com bens de um e a outra metade com bens do outro (só não será assim
se forem casados com separação de bens).

Eis um exemplo desta regra: a Francisca e o André ficaram a dever 10 mil


euros ao banco. Em tribunal, começou por ser penhorado o carro de ambos,
que valia 7500 euros. Como faltavam 2500 euros para liquidar a dívida e não
havia mais bens comuns, o tribunal penhorou o equipamento fotográfico do
André, que tinha precisamente aquele valor. Apenas seria necessário penhorar
bens de cada um no valor de 1250 euros se estivessem casados com separa-
ção de bens. Todavia, não se pense que o André estaria irremediavelmente
prejudicado: ficaria credor da Francisca em 1250 euros. Não pode exigir-lhos
enquanto durar o casamento, mas se houver lugar à partilha dos bens, por
exemplo, em caso de divórcio, receberá mais 1250 euros do que a Francisca.
Se não houver bens comuns ou o seu valor for insuficiente, o André vai buscar
aquela quantia aos bens da Francisca.

46
A Vida conjugal

Só com os bens de um
Quanto às dívidas que só responsabilizam um cônjuge, a operação é inversa:
penhoram-se primeiro os bens próprios e, mesmo que sejam comuns em
virtude do regime de bens escolhido, os que já tinha quando casou, os que
recebeu gratuitamente durante o casamento (através de uma doação ou de
uma herança, por exemplo) e o produto do seu trabalho. Sendo estes insufi-
cientes, recorre-se à sua metade dos bens comuns.

Vejamos como isto se processa através de um exemplo:


—— dívida de 15 mil euros da exclusiva responsabilidade do Fernando, que se
encontra casado no regime de comunhão geral de bens;
—— bens próprios do Fernando no valor de 7500 euros;
—— terrenos recebidos de uma tia no valor de 5000 euros;
—— outros bens pertencentes ao Fernando e à mulher, avaliados em 20 mil euros.

O tribunal começa por penhorar os bens próprios do Fernando e a sua parte nos
terrenos que herdou da tia (2500 euros), propriedade de ambos os cônjuges,

SEPARADOS DE FACTO OU A DIVORCIAR-SE


• Se é natural que haja dívidas comuns enquanto os cônjuges vivem juntos, será que o
mesmo se verifica após a rutura? O que acontece quando se separam, mas não se divor-
ciam, passando a existir uma separação de facto? Por um lado, o casamento mantém-se,
mas, por outro, já não há vida conjunta. Poderá haver dívidas comuns? Que validade têm
os anúncios de jornal a informar que determinada pessoa não se responsabiliza pelas dívi-
das contraídas pelo seu cônjuge desaparecido? Os tribunais consideram que a separação
de facto dos cônjuges não impede a existência de dívidas comuns, uma vez que não afasta
a possibilidade de proveito comum do casal. Pode haver, por exemplo, dívidas contraídas
por um cônjuge para auxiliar o outro ou os filhos de ambos. Particularmente delicada é a
posição dos cônjuges de comerciantes, que, mesmo quando se separam, continuam a ter
de provar que a dívida não foi contraída em proveito comum.
• E enquanto decorre o processo de divórcio? O casamento ainda não terminou e, de acordo
com a lei, o divórcio só produz efeitos em relação a terceiros (neste caso, os credores)
depois de registado. Significa isto que, na prática, é como se o casamento decorresse nor-
malmente ou houvesse uma separação de facto: as dívidas contraídas em proveito comum
responsabilizam ambos. Também aqui, tudo é mais difícil para os cônjuges de comercian-
tes, que têm de provar a inexistência de proveito comum. E tem havido tribunais a consi-
derá-los responsáveis por dívidas contraídas pelos cônjuges já depois de ter sido proposta
a ação de divórcio, precisamente por terem sido incapazes de fazer essa prova (para mais
pormenores sobre a separação de facto e o divórcio, veja o próximo capítulo).
• Em ambos os casos, se o regime de bens em vigor for a comunhão geral de bens ou a
comunhão de bens adquiridos, pode ser aconselhável avançar logo para a separação judi-
cial de bens (veja a página 33).

47
A Guia do casal

já que são casados em comunhão geral de bens. Para os restantes 5 mil euros,
penhoram-se outros bens comuns nesse valor.

Em casos como este, em que só um cônjuge é responsável pela dívida, mas


há necessidade de penhorar bens comuns, o tribunal solicita a interven-
ção do outro cônjuge, para que sejam divididos os bens de ambos e, assim,
preservada a sua parte. Por outro lado, quando o património do casal for
partilhado, tem-se em conta que 5 mil euros foram utilizados no pagamento
de uma dívida exclusiva do Fernando.

48
A

Capítulo 3

Dissolução
do casamento
A SAÍDAS PARA UM CASAMENTO SEM FUTURO (OU QUASE)

Em que situações? O que fazer?

Deve funcionar como uma espécie de Para haver separação de facto, basta que
período de reflexão e é aconselhável os cônjuges deixem de viver juntos por
apenas nas situações em que o casal já não se entenderem. Normalmente,
Separação de facto

admite a reconciliação, uma vez que: quando o processo de divórcio se inicia já


– o casamento mantém-se; existe uma separação de facto.
– em teoria, persistem os deveres conjugais;
– os cônjuges continuam a ser herdeiros
um do outro, a menos que a isso
tenham renunciado mutuamente
quando casaram;
– continuam a ser possíveis dívidas comuns.
Ao fim de 1 ano, permite o divórcio sem
consentimento de um dos cônjuges.

Adequado para quem admite a Os procedimentos são semelhantes aos


sobrevivência do casamento ou não do divórcio por mútuo consentimento ou
quer, por qualquer razão, divorciar-se, sem consentimento de um dos cônjuges,
de pessoas e bens

mas pretende alterar as relações consoante o tipo de separação.


Separação

patrimoniais (e não só):


– não dissolve o casamento;
– em termos patrimoniais, tem os
mesmos efeitos do divórcio;
– cessam os deveres de coabitação e
assistência;
– os cônjuges deixam de ser herdeiros
um do outro.

Quando o casal entende que o casamento Ambos vão à conservatória do


Divórcio por mútuo

chegou ao fim. Exige-se acordo quanto à registo civil, levando os acordos e o


consentimento

casa de morada da família, requerimento a solicitar o divórcio.


responsabilidades parentais, destino dos O conservador marca uma conferência.
animais de companhia e eventual pensão Se não for necessário qualquer ato
que um cônjuge fique a pagar ao outro. adicional ou apresentar prova de algo,
concretiza-se o divórcio. Havendo filhos
menores, o Ministério Público tem de
aprovar o acordo a eles respeitante.

Quando o mútuo consentimento não O primeiro passo é consultar um


é possível, porque só um dos cônjuges advogado ou pedir ao tribunal de família
consentimento de
um dos cônjuges

quer divorciar-se, por exemplo. É viável se (ou ao tribunal comum, se aquele não
Divórcio sem

estiverem separados, pelo menos, há 1 ano, existir) para lhe designar um, que tratará
se um dos cônjuges estiver ausente (sem de todo o processo.
notícias) ou sofrer uma alteração das suas
faculdades mentais durante o mesmo
período (1 ano), bem como quando
existam outros factos que demonstrem a
rutura definitiva do casamento.

50
A Dissolução do casamento

Os casais têm momentos de felicidade e outros em que as dificuldades da


vida quotidiana se sobrepõem, manifestando-se das mais diversas formas.
De pequenas discussões a agressões físicas e até mesmo ao homicídio, há de
tudo um pouco. Este capítulo foca as situações que terminam em divórcio.
Abrangemos as que não acabam de forma amigável (divórcio sem consen-
timento de um dos cônjuges) e aquelas em que os cônjuges concordam em
pôr termo à vida conjunta (divórcio por mútuo consentimento), sem esque-
cer a separação de pessoas e bens. No final do capítulo, falamos da outra
forma de dissolução do casamento: a morte de um dos cônjuges. Focamos
as formalidades a respeitar, sem esquecer as consequências da morte para
o cônjuge sobrevivo.

Há ainda casos em que, antes da dissolução do casamento, cada cônjuge vai


para seu lado, mas nada é legalmente tratado. É a separação de facto.

Separação de facto
Muitas vezes, a rutura da vida conjugal não é acompanhada do processo de
divórcio, necessário para que se verifique a dissolução do casamento. Os côn-
juges deixam de ter vida em comum, mas não tratam das exigências legais,
ou seja, passam a estar numa situação de separação de facto.
Quais os efeitos desta opção? Em primeiro lugar, o casamento continua a existir.
Aos olhos da lei, o casal mantém-se vinculado aos deveres conjugais (respeito,
fidelidade, coabitação, cooperação e assistência), que só se extinguem quando
o casamento é dissolvido (por divórcio ou morte de um cônjuge) ou anulado.
A única exceção é a separação de pessoas e bens decretada por um tribunal
ou por um conservador do registo civil: não dissolve o casamento, mas faz
cessar os deveres de coabitação e assistência (veja a página 54).

Em teoria é assim, mas a prática costuma ser diferente: havendo separação


de facto não é respeitado o dever de coabitação, já que os cônjuges não
vivem juntos. Mesmo os outros deveres perdem força. É menor a gravidade
do adultério e a consequente violação do dever de fidelidade, por exemplo.
No entanto, a lei é bem explícita quanto ao dever de assistência. Em primeiro
lugar, mantém-se quando nenhum dos cônjuges possa ser responsabilizado
pela separação. Se um deles for o principal ou único culpado da separação,
só em relação a ele pode falar-se em manutenção daquele dever, ou seja,
o outro cônjuge pode continuar a reclamar assistência da sua parte. Já ele não

51
A Guia do casal

ANULAR O CASAMENTO
A anulação do casamento tem características particulares, já que os intervenientes voltam
a ser solteiros. Portanto, não se trata de dissolução. Mas, para que seja possível, é necessá-
rio que haja um motivo fundamentado. Esta é, pois, uma situação em que é imprescindível
a consulta de um advogado, antes de avançar com o pedido em tribunal.
Eis os motivos que podem ser invocados:
—— desrespeito por impedimentos matrimoniais (veja o título Impedidos de casar, na
página 13): idade inferior a 16 anos, deficiência mental, casamento anterior não dis-
solvido, parentesco na linha reta (pais com filhos, por exemplo) ou no 2.º grau da linha
colateral (irmãos), afinidade na linha reta (sogro/sogra com nora/genro; padrasto/
madrasta com enteada/enteado) e condenação como autor ou cúmplice pelo homi-
cídio (ou tentativa) do ex-cônjuge do outro. A anulação do casamento por um destes
fatores pode ser pedida pelos cônjuges, por qualquer parente na linha reta ou até ao
4.º grau da linha colateral (até ao primo), bem como pelos herdeiros e adotantes dos
cônjuges e, finalmente, pelo Ministério Público;
—— ausência das testemunhas exigidas pela lei (veja Cerimónia, na página 24). Apenas o
Ministério Público pode pedir a anulação;
—— (falta de) vontade de um dos cônjuges. Pode ser tentada a anulação por parte de quem
não queria casar, foi enganado ou forçado a fazê-lo, mas é necessário provar que o
casamento só se realizou devido a essas circunstâncias anormais.

Para esclarecer melhor esta última hipótese de anulação, vejamos os seguintes exemplos:
—— o Óscar só casou com a Valéria porque o pai dela disse que, se não o fizesse, despediria
os pais e os irmãos do Óscar, todos seus empregados;
—— a Conceição deu o “sim” ao casamento com o Adérito por não ter consciência do que
fazia, pois encontrava-se sob o efeito de uma série de medicamentos;
—— a Adelaide casou com o Alexandre convencida de que ele era uma pessoa honesta e
cheia de virtudes, mas veio a descobrir que, afinal, se tratava de um delinquente que
ganhava a vida a burlar os outros e a assaltar bancos e lojas.

Os prazos previstos na lei para anular o casamento variam consoante o fundamento:


—— tratando-se de um impedimento matrimonial, o prazo vai até 6 meses depois da disso-
lução por divórcio ou morte, de o cônjuge menor atingir a maioridade, cessar a demên-
cia ou deixar de estar limitado devido ao regime de maior acompanhado. Se a anula-
ção não for pedida pelo próprio, o prazo cessa ao fim de 3 anos, a contar da celebração
do casamento, mas nunca depois de o cônjuge atingir a maioridade, cessar a demência
ou a limitação. Existindo uma condenação por homicídio contra o cônjuge, o prazo é de
3 anos a contar da data do casamento;
—— se não tiverem existido as testemunhas obrigatórias, o prazo é de 1 ano após a celebra-
ção do casamento;
—— para a falta de vontade (os exemplos acima referidos do Óscar com a Valéria ou da Con-
ceição com o Adérito), o prazo é de 3 anos a contar da data do casamento; alguém que
foi enganado (a Adelaide quando casou com o Alexandre) dispõe de 6 meses a partir
da data em que descobriu a verdade.

52
A Dissolução do casamento

poderá fazê-lo, ainda que o outro esteja em melhores condições financeiras.


Só excecionalmente a lei admite que isso aconteça, tendo em conta a duração
do casamento e a contribuição do cônjuge para a vida a dois.

Outra questão que a separação de facto não influencia é a dos direitos suces-
sórios: os cônjuges continuam a ser herdeiros um do outro. Como vimos no
capítulo anterior, também não impossibilita a existência de dívidas conjuntas:
em certas circunstâncias, os tribunais têm considerado que ainda pode haver
dívidas contraídas em proveito comum (para mais pormenores, veja a caixa
da página 47).
Então a separação de facto não tem efeitos legais? Não é bem assim. Per-
mite pelo menos que, ao fim de um ano, qualquer dos cônjuges avance
com o processo de divórcio (veja o título Separação por mais de um ano,
na página 57).

A separação de facto deve, pois, ser encarada como uma espécie de período
de reflexão, durante o qual o casal pondera se vale a pena continuar o casa-
mento. Quando já existe a certeza de que a relação não será reatada, mais
vale avançar logo para o divórcio, pois, na separação de facto, por muito
que se entenda que os laços entre ambos terminaram, a verdade é que o
casamento se mantém. Se, porventura, mesmo nessa altura, um dos cônjuges
não estiver disposto a aceitar o divórcio, o outro pode fazê-lo sozinho, ao fim
de um ano de separação.

O TRIBUNAL DECIDIU... CASAMENTO VÁLIDO


Depois de 17 anos de vida em comum, casaram. A senhora pretendia assegurar o seu
futuro, patrimonialmente falando, e convenceu o companheiro de que essa era a melhor
solução. Acontece que, algum tempo depois, ela saiu de casa e o casal separou-se.
O marido entendeu que tinha sido enganado e recorreu aos tribunais, para tentar anular o
casamento. Não teve sucesso, nem na primeira instância, nem na Relação de Évora, para a
qual apresentou recurso. O tribunal concluiu que, tendo o marido aceitado casar-se depois
de mais de década e meia de vida em comum, e sabendo que a mulher queria casar,
sobretudo, para garantir o futuro, o que até levou à escolha do regime da comunhão geral
de bens, teria de ter consciência do que estava a fazer. Portanto, a sua vontade de casar
poderia classificar-se como livre, consciente e ponderada, não podendo argumentar que
foi vítima de um erro que justificaria a anulação do casamento.

Tribunal da Relação de Évora, 12 de abril de 2018

53
A Guia do casal

Separação de pessoas e bens


Várias situações podem levar os cônjuges a recorrer ao tribunal ou à conservatória
do registo civil, consoante se trate de um processo sem consentimento de um
dos cônjuges ou por mútuo consentimento, e solicitar a separação de pessoas
e bens, que, ao contrário do divórcio, não dissolve o casamento. Por exemplo,
não aceitam que o casamento termine sem ser devido à morte de um deles.

Com esta ação, pretende-se, em primeiro lugar, que deixe de haver um patri-
mónio comum. De acordo com as palavras da lei, a separação de pessoas e bens
“produz os efeitos que produziria a dissolução do casamento” no que respeita
aos bens. Neste aspeto, assemelha-se ao divórcio, podendo, portanto, até ser
feita a partilha dos bens do casal. Além disso, passa a impedir os cônjuges de
serem herdeiros um do outro: por morte de um, o outro nada recebe, a não
ser que seja contemplado por testamento.

Quanto às relações pessoais, há dois deveres conjugais que deixam de exis-


tir: coabitação e assistência. Não têm, portanto, de viver na mesma casa ou
partilhar cama e mesa; não precisam, em suma, de ter uma vida em comum.
No que respeita à cessação do dever de assistência, já não há a obrigação de
contribuir para os encargos da vida a dois, mas é possível que um cônjuge dê
ao outro e/ou aos filhos uma pensão de alimentos, como aliás acontece nos
processos de divórcio. Os outros deveres (respeito, cooperação e fidelidade)
mantêm-se.

Paradoxalmente, quem está separado de pessoas e bens pode ser abrangido


pelo regime da união de facto. Ou seja, alguém que, teoricamente, está obrigado
a respeitar os deveres de fidelidade e cooperação relativamente ao cônjuge
de quem se encontra separado pode beneficiar das regalias concedidas pela
lei por viver em união de facto com outra pessoa (para mais pormenores,
veja o título Que exigências?, na página 92).

A separação de pessoas e bens acaba por ser uma opção quando os cônju-
ges considerem não haver condições para viverem juntos, mas admitem a
hipótese de isso voltar a acontecer. Este tipo de separação tem as mesmas
modalidades do divórcio: mútuo consentimento, se for pedida por ambos,
e sem consentimento de um dos cônjuges. A primeira decorre na conservatória
do registo civil e a segunda no tribunal.

A separação pode prolongar-se até ao fim da vida dos cônjuges ou dar origem
a outras opções:

54
A Dissolução do casamento

—— o casal chega à conclusão de que as incompatibilidades foram ultrapassadas


ou atenuadas e pretende retomar a vida em conjunto. Isso deve ser decla-
rado junto do tribunal ou da conservatória onde foi decretada a separação
e o juiz ou o conservador homologará a reconciliação;
—— a rutura é assumida como definitiva e avança-se para o divórcio. Se ambos
concordarem, podem fazê-lo a qualquer momento. Se for só um a pretendê-lo,
tem de esperar que decorra 1 ano sobre a data em que foi decretada a separação.

Divórcio
Por vezes, a vida conjugal extingue-se antes da morte de um dos cônjuges, por
não ser possível continuar a viver em conjunto, devido a incompatibilidades
ou por um cônjuge (ou ambos) ter violado de forma irreparável um dever
conjugal. Ou, ainda, simplesmente por terem chegado à conclusão de que já
não querem estar juntos. A saída acaba por ser o divórcio, que pode ser por
mútuo consentimento, se ambos quiserem pôr fim ao casamento e chegarem
a acordo relativamente aos aspetos mais importantes, ou sem consentimento
de um dos cônjuges (veja o quadro).

Qualquer que seja a forma seguida, antes do início do processo, a conserva-


tória do registo civil ou o tribunal, consoante os casos, devem informar os

QUANDO É POSSÍVEL O DIVÓRCIO?


Tipo de divórcio Fundamento Prazo (1)
Separação de facto ➔ Após 1 ano
Ausência do outro cônjuge ➔ Após 1 ano
Deterioração das capacidades
mentais do cônjuge ➔ Após 1 ano
SEM CONSENTIMENTO Separação de pessoas
DE UM DOS CÔNJUGES e bens (iniciativa de ambos) ➔ Em qualquer altura
Separação de pessoas
e bens (iniciativa só de um) ➔ Após 1 ano
Outro facto que demonstre
a rutura definitiva ➔ Em qualquer altura
Basta que ambos
MÚTUO CONSENTIMENTO
estejam de acordo ➔ Em qualquer altura
(1) O prazo começa a contar no momento em que o facto (separação ou ausência, por exemplo) se inicia.

55
A Guia do casal

cônjuges sobre a existência e os objetivos dos serviços de mediação familiar


(veja a página 142).

Outro aspeto a clarificar é que não é indispensável efetuar a partilha dos bens
comuns do casal no processo. Pode ser feita, mas as pessoas têm a possibili-
dade de divorciar-se sem que se defina logo quem ficará com o quê. Isto será
tratado mais tarde, quando os ex-cônjuges entenderem.

Sem consentimento de um dos cônjuges


Até finais de 2008, quando não havia acordo, o cônjuge que pretendia pôr
fim ao casamento tinha de recorrer ao divórcio litigioso. Esta possibilidade foi
substituída pelo divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, que afasta
a ideia de culpa. Ao contrário do que se verificava, deixou de ser necessário
apurar quem é o responsável pela rutura da relação.

Um processo de divórcio acarreta, normalmente, muita tensão para todas


as partes envolvidas. Por isso, é conveniente esquivar-se a todo o sofrimento
que seja evitável. Se possível, o casal deve extinguir os laços matrimoniais
através de um divórcio por mútuo consentimento, escolhendo a outra via só
quando não tenha alternativa: por exemplo, se for impossível congregar as
duas vontades porque um dos cônjuges não quer pôr fim ao casamento ou
se encontra ausente em local desconhecido.

Quando não há consentimento de um dos cônjuges, o que pretende divor-


ciar-se terá de indicar porque pretende fazê-lo e provar as razões invocadas.
A ação é proposta por um cônjuge contra o outro e obriga à intervenção de
advogados para a defesa de cada um, ao contrário do que sucede no divórcio
por mútuo consentimento. Haverá sempre uma tentativa de conciliação. Não
resultando, o juiz deve procurar que se chegue a acordo para que o divórcio
seja obtido através de mútuo consentimento. Esta possibilidade existe em
qualquer fase do processo, e não apenas no início.

Os motivos que podem estar na origem de um divórcio sem consentimento


de um dos cônjuges são os seguintes:
—— separação de facto durante 1 ano seguido;
—— ausência do outro cônjuge, sem notícias, durante o mínimo de 1 ano;
—— deterioração das faculdades mentais do outro cônjuge durante mais de
1 ano, desde que comprometa a manutenção da vida em comum;
—— qualquer outro facto que, independentemente da culpa dos cônjuges,
mostre a rutura definitiva do casamento.

56
A Dissolução do casamento

PROTEGER O PATRIMÓNIO
Enquanto decorre o processo de divórcio (ou de separação de pessoas e bens), os côn-
juges estão sujeitos a atitudes menos corretas um do outro, nomeadamente no que
respeita ao património do casal. Há o risco, por exemplo, de um deles movimentar
o dinheiro da conta conjunta ou vender algo de valor. Para o evitar, é possível pedir,
durante a ação, o arrolamento dos bens comuns ou dos bens próprios que sejam admi‑
nistrados pelo outro cônjuge. Significa isto que será feita uma descrição e avaliação
destes bens, por forma a evitar que venham a ser ocultados no momento da parti-
lha. Não se pretende, em princípio, impedir que sejam utilizados, mas apenas evitar
que um cônjuge prejudique o outro. No entanto, é possível que o juiz designe alguém
como depositário de certos bens, isto é, os entregue à sua guarda, de forma a evitar
extravios.

Separação por mais de um ano


A primeira razão que indicámos para solicitar o divórcio, mesmo sem o acordo
do outro cônjuge, é a separação durante 1 ano. Se os cônjuges se separarem
por entenderem que já não faz sentido viverem juntos, essa separação pode
fundamentar o divórcio: ao fim de 1 ano, qualquer deles, independentemente
de ter sido o que abandonou a casa ou não, pode avançar com a ação em
tribunal.

Para justificar o divórcio, em princípio, a separação tem de indiciar que


há uma rutura da vida em comum e não existe intenção de a restabele-
cer, pelo menos da parte de um dos cônjuges. Ou seja, não há motivo
para divórcio se a separação física se deve ao destacamento profissional
do cônjuge, mas já existe quando, ainda que sob o mesmo teto, não há
qualquer contacto entre eles, nem sequer se falando ou tomando as refei-
ções juntos. É evidente a rutura da vida a dois e não pode pretender-se
o contrário por ainda viverem na mesma casa (o que até pode acontecer
por nenhum dos cônjuges ter possibilidades económicas para viver nou-
tro local). Portanto, para haver separação, não é imprescindível que cada
um viva em seu sítio, embora, nesses casos, o fundamento possa ser mais
difícil de provar em tribunal.

Por outro lado, a separação não implica, necessariamente, uma ausência total
e absoluta de contactos entre os cônjuges. É aceitável que mantenham uma
ligação originada pela existência de filhos ou de bens que a ambos pertencem,
por exemplo, sem com isso poder afirmar-se que não se está perante uma
verdadeira rutura da vida em comum.

57
A Guia do casal

Ausência prolongada
Também a ausência prolongada de um cônjuge, sem dar notícias, pode sig-
nificar a falência do casamento. É a velha história do marido que um dia vai
comprar cigarros e não volta… Terá a mulher de ficar presa a um casamento
que já não existe, com um marido que ela nem sequer sabe se está vivo?
É óbvio que não, uma vez que falta uma das partes de um contrato que tem
de ser cumprido a dois e é impossível respeitar a vida em comum exigida
pelo casamento.

A lei permite que o cônjuge avance com o divórcio 1 ano depois do desapareci-
mento do outro. Se não quiser divorciar-se, tem de esperar 10 anos (ou 5 anos,
se o ausente entretanto tiver completado 80 anos de idade) e solicitar aos
tribunais a declaração de morte presumida do ausente, para poder voltar a
casar. Caso o cônjuge ausente reapareça uns anos mais tarde, o segundo
casamento não perde validade e a pessoa não é condenada por bigamia.
Considera-se, isso sim, que o primeiro foi dissolvido por divórcio na data da
declaração de morte presumida.

Alteração das faculdades mentais


Outra possibilidade de conseguir o divórcio sem acordo é a deterioração das
faculdades mentais do cônjuge. Terá de ser uma alteração substancial, durar
mais de 1 ano e, para não variar, comprometer a vida em comum. Parte-se
do princípio de que estaria a exigir-se um sacrifício muito grande ao cônjuge
são. Mesmo havendo o compromisso de viverem em conjunto nos bons e nos
maus momentos, seria demasiado pedir-lhe que conservasse o casamento,
numa situação em que já não é possível a vida em comum, nem presumivel-
mente virá a ser no futuro.

Não se pense, contudo, que o outro cônjuge fica desprotegido e abandonado:


quem pede o divórcio pode ser obrigado a prestar-lhe uma pensão de alimen-
tos, ou seja, contribuir para o seu sustento. Esta pensão até pode incluir, por
exemplo, despesas respeitantes ao internamento numa instituição adequada.

Outros fatores de rutura


Por último, a lei contém uma alínea bastante mais vasta do que as anteriores,
que inclui todos os factos que “mostrem a rutura definitiva do casamento”.
Ao contrário do que acontecia com o divórcio litigioso, não há que apontar
culpas. Mas também não basta, a quem propõe a ação em tribunal, manifestar

58
A Dissolução do casamento

a vontade de pôr fim ao casamento: terá sempre de demonstrar, de forma


inequívoca, a impossibilidade de manter a vida em comum. Ou seja, terá de
apresentar factos que, pela sua gravidade, o fundamentem, e convencer o
tribunal de que os laços matrimoniais estão definitivamente rompidos.

Embora não seja necessário demonstrar a culpa do outro, a violação grave dos
deveres conjugais pode constituir motivo de divórcio (veja Deveres conjugais,
a partir da página 34). É assim, em princípio, com o adultério, em que há uma
violação grave do dever de fidelidade, agressões físicas ou insultos (dever de
respeito), recusa injustificada em manter relações sexuais (dever de coabitação),
completa e repetida ausência de interesse pelo estado de saúde do cônjuge
ou dos filhos (dever de cooperação), falta de contribuição para as despesas
familiares (dever de assistência). Contudo, não é possível estabelecer-se uma
lista de comportamentos que constituam causa de divórcio. Quando analisam
este tipo de processos, os juízes têm em conta a educação, a sensibilidade,
o meio social e o nível cultural dos cônjuges, entre outros aspetos.

Indemnização por danos morais


A lei admite que um dos cônjuges peça ao outro uma indemnização pelo sofri-
mento relacionado com os factos que deram origem à rutura do casamento,
mas é necessário apresentar uma ação diferente em tribunal. Imaginemos
uma mulher que, farta de ser maltratada pelo marido, propõe uma ação de
divórcio. Além de querer pôr fim ao casamento, pretende ser indemnizada

DIFERENÇAS ENTRE OS DOIS TIPOS DE DIVÓRCIO

Sem
consentimento Mútuo
de um dos consentimento
cônjuges

– exige a presença de advogado; – dispensa o recurso a advogado;


– decorre no tribunal; – decorre, normalmente, na conservatória
– obriga a apresentar um motivo do registo civil;
para o divórcio ser decretado pelo juiz; – não é necessário apresentar motivo;
– coloca um cônjuge contra o outro. – resulta de um requerimento
apresentado por ambos.

59
A Guia do casal

pelo sofrimento que os maus-tratos (agressões físicas e verbais) lhe causaram.


Terá de propor outra ação em tribunal com esse propósito.

Mútuo consentimento
O divórcio por mútuo consentimento deve ser requerido na conservatória
do registo civil ou, se faltar acordo relativamente a alguma das matérias que
o exigem, e que veremos de seguida, no tribunal. Os cônjuges não têm de
contratar advogado e surgem como requerentes, ou seja, não estão um contra
o outro, nem precisam de apresentar motivo. Basta declararem que preten-
dem divorciar-se. Além de ser mais pacífico, é mais barato e mais rápido do
que o divórcio sem consentimento de um dos cônjuges. Este tipo de divórcio
é admitido em qualquer momento. Assim que concluírem que a vida em
comum não faz sentido ou que o casamento foi um erro, os cônjuges poderão
avançar com o processo.

Juntamente com o requerimento, os cônjuges têm de entregar alguns docu-


mentos que comprovam os acordos a que chegaram:
—— destino da casa onde residem (legalmente chamada casa de morada da
família);
—— exercício das responsabilidades parentais quanto aos filhos menores;
—— pensão de alimentos que um cônjuge tenha de prestar ao outro (ou decla-
ração de que prescindem mutuamente de pensão);
—— relação dos bens comuns e respetivos valores ou, pretendendo efetuar a
sua partilha no processo de divórcio, acordo quanto a esse aspeto;
—— certidão da convenção antenupcial, se o casal tiver celebrado uma no
notário. No entanto, não será necessário apresentar a convenção se esta
tiver sido feita numa conservatória;
—— caso existam animais de companhia, também é necessário definir o seu
destino, ou seja, com quem ficarão.

Se os cônjuges não estiverem de acordo em relação às questões que acabá-


mos de enunciar, o processo de divórcio por mútuo consentimento deverá
avançar, não na conservatória, mas no tribunal.

Recebido o requerimento, o conservador convoca os cônjuges para uma


conferência. Aí, verifica se estão cumpridos os requisitos legais e se os
acordos relativos à casa da família, às pensões de alimentos e à relação ou
partilha dos bens acautelam os interesses de ambos e dos filhos. Se assim
não for, pede para os alterarem. Ou seja, a existência de acordo não é
suficiente para conseguir o divórcio. É também necessária a aprovação do

60
A Dissolução do casamento

conservador do registo civil. E ele pode estar convencido, por exemplo,


de que o destino dado à casa da família ou a atribuição das responsabili-
dades parentais prejudicam uma das partes ou os filhos. Assim sendo, o
acordo não é homologado e o divórcio é indeferido, mesmo que o cônjuge
prejudicado concorde com tudo. Para que haja divórcio, os cônjuges terão
de chegar a um novo acordo, que, no entender do conservador, respeite os
direitos de toda a gente (pais e filhos).

Se os acordos não acautelarem os interesses de um dos cônjuges ou estes


não concordarem com as indicações do conservador e quiserem manter
o acordado, ele não homologará o divórcio, sendo o processo remetido
para o tribunal. Aqui, o juiz terá um papel semelhante ao do conservador:
aprecia os acordos existentes e, entendendo que não estão assegurados
os interesses de todos os envolvidos (cônjuges e filhos menores), sugere
alterações. Quanto aos aspetos em que o acordo não foi possível, será ele
a decidir, como se se tratasse de um divórcio sem consentimento de um
dos cônjuges. Neste âmbito, pode, por exemplo, convocar o casal para uma
audiência ou pedir a algum ou a ambos que apresentem prova documental
daquilo que alegam.

Entre as páginas 70 e 74, apresentamos minutas de acordos a que os cônjuges


podem chegar e outros documentos. Porém, trata-se apenas de exemplos
orientadores. Como é evidente, não serão aplicáveis a grande parte das situa-
ções de divórcio por mútuo consentimento, uma vez que cada caso apresenta
as suas próprias características. Podem, no entanto, servir de base a uma
eventual adaptação.

Quem cuida dos filhos?


Quando há filhos menores, a primeira questão a resolver é definir com quem
ficam a viver, agora que deixa de existir um núcleo familiar com o pai e a mãe.
Os filhos podem ser ouvidos, para ajudarem a decidir. Há, pois, que definir a
quem são atribuídas as responsabilidades parentais. Até podem continuar a
ser desempenhadas por ambos, sem distinção, mesmo ficando as crianças a
viver apenas com um. Também pode haver acordo para que os filhos fiquem
alternadamente com um e outro, uma opção cada vez mais frequente.

No capítulo sobre os filhos, desenvolveremos a matéria referente às respon-


sabilidades parentais, mas adiantamos já as questões a incluir no acordo,
que tem de merecer o aval do conservador e do Ministério Público. Uma das
principais é a pensão de alimentos que aquele que não fica com o filho terá de
pagar para ajudar ao seu sustento (alimentação, vestuário, educação, saúde,

61
A Guia do casal

etc.). Normalmente, entregará ao ex-cônjuge uma quantia mensal, segundo


as suas possibilidades, mas nada impede que os pais cheguem a acordo para
que uma parte seja prestada com a entrega de bens, como vestuário, produ-
tos alimentares ou material escolar, por exemplo. No cálculo da pensão, são
tidos em conta os rendimentos de ambos os cônjuges (sobretudo daquele
que a paga) e as necessidades dos filhos. Outras questões que têm de ficar
acordadas são a administração dos bens dos filhos e o esquema de visitas do
progenitor que não fica a viver com eles.

Pensão de alimentos
Estabelecida uma pensão de alimentos a favor dos filhos, a decisão tem de
ser respeitada. Caso contrário, o progenitor que ficou com os filhos pode
pedir ao tribunal que se efetue a cobrança coerciva: por exemplo, o tribunal
dá ordem à entidade patronal para reter mensalmente a quantia acordada.
O faltoso pode ainda ser condenado a indemnizar os filhos ou o ex-cônjuge
e, além disso, a pagar uma multa até 2040 euros. Finalmente, esta conduta
pode valer-lhe uma condenação pela prática de um crime.

A obrigação de sustentar os filhos, através do pagamento da pensão de


alimentos, mantém-se enquanto estes não completarem a sua formação:
em princípio, até aos 25 anos de idade. Só não será assim se o processo de
educação ou formação profissional ficar concluído antes disso, se o filho o
interromper por sua vontade ou, por último, se o progenitor provar que, face
às circunstâncias, não é razoável exigir-lhe que continue a pagar a pensão.
Se, enquanto estuda, arranja uma ocupação que lhe permite um rendimento
semelhante ao do pai, por exemplo, não faz sentido que este continue a ter
de pagar-lhe uma pensão.

Quando a guarda é partilhada e não há lugar ao pagamento de pensão, pode


acontecer que um dos progenitores não cumpra o que ficou definido relativa-
mente ao pagamento das despesas dos filhos (despesas de saúde, escolares,
com vestuário e transportes, etc.). Nesse caso, se o diálogo não for suficiente
para resolver a situação, aquele que suporta a totalidade dos encargos pode
recorrer à mediação familiar, a uma conservatória do registo civil ou aos
tribunais.

Precaver conflitos e enfrentar a alienação parental


Quando tudo estiver resolvido em termos patrimoniais, os filhos passam a
ser o elo que persiste na relação entre os ex-cônjuges. São, por isso, a única
potencial fonte de conflitos. No acordo relativo à sua guarda e às visitas,
as coisas podem ficar definidas com maior ou menor detalhe, mas, sobre-
tudo se a guarda não for partilhada, sempre de forma a permitir que os filhos
convivam com os dois progenitores e não apenas com aquele com quem

62
A Dissolução do casamento

vivem. Pode, por exemplo, definir-se que os fins de semana serão passados
alternadamente com cada um dos pais e que os filhos estarão com ambos
nas férias, no Natal e no Ano Novo (veja o exemplo da página 72). Caso os
progenitores mantenham uma relação cordial depois do divórcio e souberem
que o outro respeitará o que ficar acordado, não será necessário entrar em
grandes pormenores, como a hora específica de entrega dos menores ou o
prazo exato para reembolso das despesas que um deles tenha adiantado para
fazer face a compromissos relativos aos filhos. Se, pelo contrário, o diálogo
for difícil e a confiança recíproca estiver gravemente ferida, é preferível que
tudo fique bem definido e registado no acordo, para evitar falhas ou, se estas
ocorrerem, para facilitar a prova do incumprimento.

Uma prática relativamente comum, no que respeita aos filhos de casais divor-
ciados, é a alienação parental. Este conceito corresponde, em traços largos,
à utilização dos filhos como arma de arremesso contra o ex-cônjuge, procurando
afastá-los dele. Isso é feito de diversas formas, como a crítica constante ao
visado, a sua desautorização, a criação de obstáculos para o convívio regular
com os filhos, a instigação para conflitos permanentes. Acaba por causar um
grande desgaste a todos os intervenientes, e sobretudo aos filhos, traduzindo
práticas que os especialistas não hesitam em classificar como maus-tratos
psicológicos. Nem sempre os pais têm noção do que estão a fazer e do mal

O TRIBUNAL DECIDIU... PENSÃO DE ALIMENTOS


Uma alteração da lei, em 2015, veio especificar que a pensão de alimentos deve ser paga
até aos 25 anos de idade dos filhos, mas deixou dúvidas quanto à possibilidade de o outro
progenitor recorrer aos tribunais em assuntos relacionados com a pensão de alimentos já
depois de os filhos atingirem a maioridade. Até então, os tribunais entendiam que, para
requerer que o outro progenitor continuasse a pagar pensão de alimentos ou pagasse
mais, teria de ser o filho maior a avançar com a ação, na conservatória do registo civil ou
no tribunal.
Foi essa questão que se colocou ao tribunal, quando uma mãe, face ao aumento das
despesas decorrente da entrada da filha, já maior, para a universidade, veio requerer o
aumento da pensão paga pelo pai.
O tribunal de primeira instância recusou o pedido, por considerar que tinha de ser feito
pela própria filha, e não pela mãe. Esta recorreu para o Tribunal da Relação de Évora, que
lhe deu razão. Entenderam os juízes da Relação que, desde a alteração da lei, o progenitor
que suporta, inicialmente, os encargos com os filhos tem legitimidade para pedir o paga-
mento da pensão, a sua alteração ou a condenação do outro progenitor se estiver em falta
com o pagamento acordado ou imposto pelo tribunal. E esse tem sido o entendimento da
generalidade dos tribunais.

Tribunal da Relação de Évora, 9 de março de 2017

63
A Guia do casal

que provocam, frequentemente com consequências que marcarão os filhos


para sempre. Por vezes, são a raiva, o ressentimento e o desejo de vingança a
gerar comportamentos nocivos. É importante procurar ajuda junto de medi-
adores familiares, pedopsicólogos ou outros especialistas que sejam capazes
de apontar um caminho capaz de pôr cobro a esta situação.

As bases da harmonia
Concluindo, o destino dos filhos tem de ser uma das maiores preocupações
dos pais (porventura, a maior) quando decidem divorciar-se. Devem fazer
os possíveis por proporcionar-lhes uma vida estável e feliz, poupando-os a
disputas dolorosas e, de certa forma, evitáveis. Convém não esquecer que,
mesmo que os filhos fiquem a viver com um progenitor, o outro pode e deve
continuar a acompanhar a sua educação e condições de vida. Apenas em
situações extremas, em que o tribunal verifique que pode ser prejudicial o
convívio com um pai (ou uma mãe) alcoólico ou toxicodependente ou que
maltrate os filhos, por exemplo, estará proibido de fazê-lo.

Casa da família
Outra questão que importa resolver é a da casa onde morava a família. E não
se coloca apenas se for propriedade de ambos ou arrendada pelos dois. Mesmo
quando o proprietário ou o inquilino é só um, o problema tem de ser ponde-
rado e resolvido. E até pode ficar o outro na casa.

Casa só de um
Pode acontecer que, por exemplo, seja homologado um acordo para que a
mulher fique a viver na casa que é do ex-marido com os filhos do casal. E o
mesmo é possível se a casa estiver arrendada apenas pelo marido. Neste
último caso, é comunicada ao senhorio pelo tribunal a transmissão da posição
de arrendatário: a mãe passa a ser a inquilina, no lugar do pai.

Quando a casa pertence apenas a um, por exemplo à mulher, e tal for finan-
ceiramente viável, é possível um acordo para que o marido lhe pague uma
renda, a casa lhe seja emprestada, combinar-se que a mãe doa a casa aos filhos
ou estabelece um usufruto, por exemplo. O acordo pode também determinar
uma limitação temporal para a cedência ao homem: a ex-mulher deixá-lo aí
viver enquanto ele não casar novamente, por exemplo.

Casa de ambos
Se a casa for de ambos, mas ainda estiverem a pagar o empréstimo pedido
ao banco para a sua aquisição, há que decidir o que acontece com as pres-
tações já pagas (é necessário fazer compensações?) e quem fica a pagar as

64
A Dissolução do casamento

que faltam. Por um lado, quem dela sai pode não estar disposto a pagar
mais prestações ou não ter meios para fazê-lo e, em simultâneo, pagar as
despesas inerentes à sua nova residência. Por outro, será que quem aí fica
consegue satisfazer sozinho esse encargo? Estas questões são importantes,
mas não é imprescindível resolvê-las de imediato. No momento do divórcio,
só é necessário dizer quem ficará a viver na casa. O resto pode ser decidido
mais tarde, na partilha.

Em regra, o ideal será vender a casa, mesmo que só consigam fazê-lo depois
do divórcio, e, com o montante obtido, amortizar um eventual empréstimo
bancário e dividir o restante. Nestes casos, pode ainda assim colocar-se a
questão de saber quanto contribuiu cada um para o pagamento do imóvel
(sinal, entrada e prestações) e eventuais obras de que tenha necessitado ou
como eram repartidas as despesas: pode acontecer que um pagasse a presta-
ção da casa, mas o outro assegurasse as compras do mês, por exemplo. Este
aspeto é relevante, tal como o é o regime de bens. Ao contrário do que acon-
tece na separação, nos regimes de comunhão (geral ou de bens adquiridos)
os rendimentos provenientes da atividade profissional são considerados bens
comuns, independentemente de eventuais discrepâncias naquilo que cada
um recebe. Da mesma forma, sendo a casa paga com bens comuns, também
ela o é, em partes iguais.

Quando a opção seja ficar um a viver na casa, compensando o outro, será


necessário chegarem a acordo quanto ao valor atribuído ao imóvel. Dada a
natural discrepância de interesses, o melhor será recorrer à intervenção de
um terceiro imparcial para apurar quanto poderia render a venda, tendo em
conta as condições do mercado no momento.

Quem queira ficar com a casa deve avaliar vários aspetos: o montante da
compensação a dar ao outro e a eventual necessidade de pedir sozinho um
empréstimo para esse efeito e/ou para continuar a pagar ao banco o que
ainda está em dívida. Não pode esquecer que, doravante, terá de suportar
por inteiro a prestação da casa. Por isso, é fundamental fazer bem as contas
aos encargos antes de tomar essa decisão. E até pode acontecer que o banco
não empreste o montante de que necessita, imponha condições contratuais
menos vantajosas do que o esperado ou exija mais garantias do que quando o
pagamento do crédito era assegurado por duas pessoas. Neste âmbito, convém
saber que as alterações do contrato estão sujeitas a certos limites. Por exem-
plo, tratando-se de um crédito para aquisição de casa própria e permanente,
o banco não poderá aumentar o spread, entre outras circunstâncias, quando
o agregado familiar do titular do contrato tiver rendimentos que impliquem
uma taxa de esforço inferior a 55% ou, no caso dos agregados familiares com
dois ou mais dependentes, inferior a 60%.

65
A Guia do casal

FASES DO DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO


Para iniciar o processo de divórcio por mútuo consentimento, o casal tem de apresentar
um requerimento numa conservatória do registo civil, não necessitando de advogado para
o efeito. No entanto, se considerarem que assim asseguram melhor os seus direitos, pode-
rão entregar o processo a um advogado. Faltando acordo quanto a algum dos elementos
essenciais para haver divórcio, o processo deve dar entrada no tribunal.
• O requerimento entregue na conservatória tem de ser acompanhado dos acordos quanto
às responsabilidades parentais (ou, se já tiver sido decidido num processo independente,
de uma certidão que o demonstre), destino da casa de morada da família e pensão de
alimentos. No caso de não haver filhos menores, não ser necessário acordo quanto à casa
da família (moravam numa casa arrendada e cada um foi viver para seu lado ou já tinham
vendido a casa comum, por exemplo) e não haver lugar ao pagamento de pensões,
basta que isso fique escrito no requerimento, dispensando-se a apresentação de qualquer
acordo. Ou seja, só têm de ser apresentados os documentos que contenham algum acordo
quanto àquelas três matérias. Outros documentos a entregar são a certidão da convenção
antenupcial e do seu registo (existindo) e a relação dos bens comuns (se os houver), com
indicação dos respetivos valores ou acordo quanto à sua partilha, se optarem por efetuá-la
no próprio processo de divórcio.
• Recebido o requerimento, o conservador informa os cônjuges da possibilidade de recorre-
rem à mediação familiar e verifica se mantêm a intenção de se divorciarem. Se assim for,
analisa o teor dos acordos e verifica se são necessárias alterações ou mais alguma forma-
lidade. Concluído este processo, decreta o divórcio.
• No entanto, se existirem filhos menores, o conservador envia o processo para o tribunal,
de modo a que o Ministério Público (MP), no prazo de 30 dias, se pronuncie sobre o acordo
relativo às responsabilidades parentais. Se entender que defende convenientemente
o interesse destes, o MP emite um despacho favorável, com o qual o conservador pode
decretar o divórcio. Caso contrário, o MP comunica-o, solicitando que os cônjuges façam
as alterações necessárias. Estes podem tomar uma de duas atitudes:
—— alterar o acordo ou fazer outro, que será remetido ao Ministério Público para apreciação;
—— se não concordarem com as alterações sugeridas pelo MP e, em consequência, não
quiserem efetuá-las, o processo, em vez de prosseguir na conservatória, é apreciado
pelo tribunal.
• Para optarem pela partilha do património comum no processo de divórcio, não pode haver
dúvidas quanto à identificação dos bens e deverá estar comprovada a sua titularidade.
O acordo será homologado na mesma decisão que decreta o divórcio. Serão, então, pagos
os impostos devidos e imediatamente efetuados novos registos dos bens imóveis (veja a
caixa Balcão divórcio com partilha, na página 69).
• O custo de um processo de divórcio por mútuo consentimento é de 280 euros ou, se inte-
grar a partilha e o registo do património conjugal, 625 euros. A este valor pode acrescer
o custo do registo de aquisição de bens móveis e imóveis que mudem de titularidade.
As despesas são partilhadas pelos cônjuges. Na falta de meios para as suportar, podem
(os dois ou só um) recorrer ao apoio judiciário, para o que têm de dirigir-se aos serviços da
segurança social e fazer prova dessa necessidade.

66
A Dissolução do casamento

Pensão de alimentos ao cônjuge


Apesar de o casamento terminar, é possível que um dos ex-cônjuges fique
obrigado a prestar ao outro uma pensão de alimentos, que costuma tradu-
zir-se numa quantia mensal destinada a auxiliar na alimentação, habitação,
vestuário e demais necessidades essenciais. Não se confunda, porém, esta
pensão com a que é paga para o sustento dos filhos. Tem como beneficiário
o ex-cônjuge e destina-se a ajudá-lo perante uma vida diferente.

A pensão pode ser vitalícia ou então estabelecer-se uma limitação temporal.


Imaginemos dois casos:
—— o Manuel e a Serafina estiveram casados cerca de 30 anos. Nesse período,
só o marido trabalhou. A mulher dedicou o seu tempo à vida doméstica e
à educação dos filhos. Agora que resolveram divorciar-se, acordaram que o
Manuel ficará a pagar à Serafina uma quantia mensal para o resto da vida,
a menos que ela volte a casar ou passe a viver maritalmente com alguém.
Nesse momento, a pensão cessará. Acordaram ainda que, morrendo o
Manuel antes da Serafina, os herdeiros — os filhos de ambos — estarão
obrigados a manter o pagamento da pensão à mãe;
—— já o casamento do Filipe e da Susana não durou mais de 2 anos. As coisas
não resultaram, divorciaram-se, mas a Susana estava desempregada. Con-
cordaram então que o Filipe lhe daria uma mensalidade enquanto ela não
arranjasse emprego, durante o máximo de 1 ano.

A atribuição de uma pensão de alimentos tem em conta a situação de ambos


os cônjuges ou ex-cônjuges. Por um lado, deve ser adequada aos meios de
quem a presta; por outro, atender à necessidade de quem recebe. O montante
acordado entre os ex-cônjuges pode ser alterado. Além de ser possível que se
estabeleça um critério de atualização (por exemplo, em janeiro e segundo a
taxa de inflação do ano anterior), pode haver circunstâncias que justifiquem
mudanças mais substanciais. Isso acontecerá quando se modifique o nível
de rendimentos de um ou de ambos.

Se, no requerimento de divórcio, os cônjuges nada disserem quanto à pensão


de alimentos, entende-se que dela prescindem mutuamente. No entanto,
é natural que o conservador procure confirmar se é assim.

Como são repartidos os bens?


A relação dos bens comuns do casal é entregue juntamente com o requeri-
mento para o divórcio por mútuo consentimento. Não havendo bens comuns

67
A Guia do casal

a partilhar, os cônjuges limitam-se a referi-lo no requerimento. Embora não


seja imprescindível, pode chegar-se a acordo para a partilha dos bens no pró-
prio processo de divórcio. Assim, resolve-se tudo num só processo. Na falta
de acordo, o divórcio é decretado e os bens são atribuídos mais tarde, por
acordo ou através de uma ação judicial específica, a ação de inventário.
Na partilha, nenhum cônjuge pode receber mais do que receberia se o
casamento tivesse sido celebrado segundo o regime da comunhão de
adquiridos.

O relacionamento entre os membros do casal e o potencial conflito que as


partilhas possam suscitar irão determinar, em grande parte, como tudo se
processa. Na relação de bens podem estar inscritos todos os bens, incluindo
pratos, copos, talheres, chávenas, candeeiros, livros, cadeiras, bibelots, toa-
lheiros, etc. Ou, pelo contrário, apenas os mais importantes: bens imóveis
(casas, terrenos), automóveis, joias, grandes eletrodomésticos, computadores
e outro material informático. A opção cabe ao casal, que deverá ponderar
qual irá permitir uma partilha menos problemática.

Quando já não haja confiança recíproca, será conveniente que, em vez de


utilizarem a conta bancária de que ambos são titulares e com a qual faziam
face às despesas comuns, passe cada um a ter a sua conta, para a qual
transfere o seu salário e demais rendimentos. Assim, reduz-se o risco de
haver movimentos de conta indevidos. Sendo a questão financeira bastante
sensível, em caso de rutura do casamento convém assegurar que nenhum
dos cônjuges poderá apropriar-se de bens à revelia do outro. Para o efeito,
pode ser pedido, em tribunal, o arrolamento das contas bancárias. O seu
saldo ficará cativo e nenhum dos cônjuges pode movimentá-las. O mesmo
pode ser feito relativamente a outros bens, por exemplo para evitar que
sejam vendidos.

Os animais de companhia
Deixaram de ser considerados “coisas” e têm sido alvo de uma preocupação
crescente da legislação nacional, além de ocuparem um lugar insubstituí-
vel na vida de muitas famílias. Quando esta se divide, o que acontece aos
animais de companhia? Até 2017, a lei nada referia quanto a este aspeto,
cabendo a cada família decidi-lo. Atualmente, os animais de companhia
podem ficar à guarda de um ou de ambos os ex-cônjuges, sendo também
eles alvo de acordo escrito a analisar, juntamente com os restantes acordos,
pelo conservador e/ou pelo tribunal. Para a decisão devem ser considerados
os interesses de cada um dos cônjuges e dos filhos do casal, mas também o

68
A Dissolução do casamento

BALCÃO DIVÓRCIO COM PARTILHA


Este balcão foi criado para simplificar procedimentos e permitir que o casal trate do
divórcio e da partilha de uma só vez. Para tal, entrega a documentação necessária para
avançar com o processo na conservatória do registo civil e nem sequer precisa de efetuar
previamente o acordo de partilha dos bens comuns. Este é feito na própria conservató-
ria, no processo de divórcio ou depois. Se houver filhos menores e as responsabilidades
parentais ainda não tiverem sido reguladas, os atos de divórcio e partilha só são marca-
dos pela conservatória depois de o Ministério Público confirmar o acordo sobre aquele
aspeto.
A principal vantagem de recorrer a este balcão, o que também é possível na separação
de pessoas e bens, é a possibilidade de tratar, em simultâneo, do divórcio, da partilha,
da alteração de registos e de todas as questões de âmbito fiscal. Apresentado o pedido de
crédito no banco, o cônjuge que ficou com os bens de maior valor, como a casa ou o carro,
pode efetuar aqui o contrato de crédito para o pagamento de compensações (tornas)
ao outro membro do casal. Também a constituição da hipoteca ou fiança para garantia
do empréstimo, que ficarão registadas a favor do banco, podem ser feitas no balcão. Cada
membro do casal pode registar em seu nome os bens partilhados e eventuais hipotecas,
pagar impostos (imposto de selo, por exemplo), alterar a morada fiscal, pedir isenção do
Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) ou do Imposto Muni-
cipal sobre Imóveis (IMI) e inscrever ou atualizar a matriz de prédio urbano, preenchendo
o modelo 1 do IMI.
O custo do serviço é de 625 euros, com eventuais acréscimos relativos ao registo de cada
bem móvel ou imóvel.

bem-estar do animal. Não havendo acordo, quem quiser ficar com ele terá
de provar que existem razões para que lhe seja dada preferência, demons-
trando, por exemplo, que a sua residência tem melhores condições para
o animal ou que, ao longo do tempo, construiu com ele uma relação de
maior proximidade, pois é quem o alimenta, cuida dele, leva a passear e
ao veterinário, dá mimos, etc.

Requerimento e acordos: exemplos


Conforme tivemos oportunidade de adiantar, o divórcio por mútuo con-
sentimento dispensa a consulta de um advogado. Os cônjuges podem tratar
do processo por si próprios. De forma a auxiliá-los nessa tarefa, deixamos
exemplos dos requerimentos e acordos que é necessário entregar na con-
servatória do registo civil. No entanto, convém não esquecer que se trata
de meros exemplos indicativos, que poderão não ser adaptáveis a todas as
situações.

69
A

REQUERIMENTO PARA O DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO


A APRESENTAR À CONSERVATÓRIA DO REGISTO CIVIL

Exmo. Senhor,
Conservador do Registo Civil de               

                (nome e n.º de identificação fiscal), residente


em         , e                   (nome e n.º de
identificação fiscal), residente em         , vêm requerer que seja
declarado o seu DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO nos termos e com
os fundamentos seguintes:

1. Os requerentes contraíram casamento segundo o regime de           


        no dia    de          de     

2. Do referido casamento nasceram dois filhos,                


e                  , de     e     anos de idade.

3. Os requerentes chegaram a acordo quanto ao destino da casa de morada


de família, que, sendo bem comum do casal, fica atribuída à requerente mulher
(Doc. n.º 1).

4. Regularam a atribuição das responsabilidades parentais nos termos constantes


do Doc. n.º 2.

5. O requerente                 compromete-se a prestar uma


pensão de alimentos à requerente                 (Doc. n.º 3).

6. A lista de bens comuns a partilhar consta do Doc. n.º 4.

7. Os requerentes prescindem expressa e reciprocamente da possibilidade de


apresentar recurso, aceitando a homologação dos presentes acordos.

Encontram-se, assim, reunidos os requisitos exigidos pela lei para que seja
decretado o divórcio por mútuo consentimento.

Nestes termos e mais de Direito, vêm requerer que V. Exa. designe dia e hora
para a realização da conferência prevista na lei, seguindo-se os ulteriores trâmites
legais.

Junta: quatro documentos.

Os requerentes

(Assinaturas)

70
A

ACORDO SOBRE O DESTINO


DA CASA DE MORADA DA FAMÍLIA

                (nome) e               (nome),


requerentes de divórcio por mútuo consentimento, decidiram, no que respeita à
casa de morada da família:

A casa onde os requerentes residiam juntamente com os dois filhos, situada em


                   , é propriedade comum do casal e os
requerentes acordam em atribuir à requerente mulher a sua utilização.

(Data)

Os requerentes

(Assinaturas)

71
A

ACORDO SOBRE O EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

                (nome) e               (nome),


requerentes de divórcio por mútuo consentimento, chegaram ao seguinte acordo
quanto ao exercício das responsabilidades parentais dos seus filhos menores
                  e                 .

1. Os requerentes concordam em manter o exercício conjunto das


responsabilidades parentais dos seus filhos menores, continuando ambos a ter a
qualidade de encarregados de educação.

2. Dado que ambos os requerentes ficarão a residir perto da escola dos filhos, fica
estipulado que os menores permanecerão alternadamente quinze dias com cada
um dos pais.

3. O progenitor que estiver com os filhos compromete-se a deixá-los na casa


do outro ao domingo, entre as 20 e as 22 horas, a menos que outra forma seja
convencionada entre ambos.

4. Cada progenitor suportará as despesas quotidianas dos menores enquanto


estes estiverem consigo. Os restantes encargos (vestuário, encargos escolares,
despesas de saúde, etc.) serão suportados pelo pai e pela mãe em partes iguais,
mediante apresentação dos respetivos recibos e, no caso das despesas de saúde,
apenas da parte não comparticipada por sistemas ou subsistemas de saúde ou
seguros de saúde.

5. Os menores passarão alternadamente com o pai e com a mãe os dias dos
seus aniversários, mas, sempre que possível, estarão com ambos nesse dia, por
exemplo, almoçando com o pai e jantando com a mãe.

6. Os menores passarão a véspera de Natal e de Ano Novo com um dos pais
e o dia de Natal e de Ano Novo com o outro, em cada ano, alternando no ano
seguinte.

7. Os menores repartirão as férias de acordo com as pausas profissionais do


pai e da mãe, passando um mês das férias de verão com cada um, a não ser
que as férias do pai e da mãe coincidam, caso em que o período de férias será
equitativamente repartido entre ambos os progenitores.

8. Os menores passarão com cada progenitor o respetivo dia de aniversário.

(Data)

Os requerentes

(Assinaturas)

72
A

ACORDO SOBRE PENSÃO DE ALIMENTOS AO CÔNJUGE

                (nome) e               (nome),


requerentes de divórcio por mútuo consentimento, acordam o seguinte:

1. Atendendo a que, durante cerca de     anos, a requerente mulher,     


             (nome), não exerceu qualquer profissão, a fim de ficar
em casa a cuidar dos filhos, e que, depois disso, tem mantido um emprego que
lhe proporciona a quantia líquida de         euros por mês.

2. Atendendo ainda a que o marido,                (nome),


aufere mensalmente a quantia de        euros.

3. Compromete-se o (ainda) marido a prestar à mulher uma pensão mensal de


        euros.

4. A pensão será atualizada em janeiro de cada ano, proporcionalmente ao


aumento do salário de                  (nome do marido).

5. Se a beneficiária da pensão,                (nome), contrair


matrimónio ou passar a viver em união de facto com outra pessoa, cessa a
obrigação constante do presente acordo.

(Data)

Os requerentes

(Assinaturas)

73
A

RELAÇÃO DOS BENS COMUNS

                (nome) e               (nome),


casados no regime de comunhão de bens adquiridos e requerentes de divórcio
por mútuo consentimento, apresentam a relação completa dos bens que fazem
parte do seu património comum:

BENS IMÓVEIS

1. Fração    do imóvel sito na Rua  ,


descrito na Conservatória do Registo Predial de       , sob o número
      e inscrito na matriz predial da respetiva freguesia sob o artigo    ,
com o valor patrimonial de         euros.

BENS MÓVEIS

2. Um automóvel da marca        , com a matrícula


         , no valor de         euros.
3. Um frigorífico da marca        , no valor de        euros.
4. Uma máquina de lavar roupa da marca       , no valor de     euros.
5. Uma máquina de lavar loiça da marca       , no valor de     euros.
6. Um fogão da marca       , no valor de     euros.
7. Um forno micro-ondas da marca       , no valor de     euros.
8. Uma aparelhagem de som da marca       , no valor de     euros.
9. Um televisor da marca       , no valor de     euros.
10. Um leitor de DVD da marca       , no valor de     euros.
11. Um computador da marca       , no valor de     euros.
12. Dois armários de sala, cada um no valor de       euros.
13. Uma mesa de sala e seis cadeiras, no valor de       euros.
14. Um sofá, no valor de       euros.
15. Uma cama, no valor de       euros.
16. Duas mesas de cabeceira, no valor de       euros.
17. Uma cómoda no valor de       euros.

(Data)

Os requerentes

(Assinaturas)

74
A Dissolução do casamento

Quando é que o divórcio produz efeitos?


Os (ex-) cônjuges só podem considerar-se divorciados a partir do trânsito em
julgado da decisão, ou seja, quando já não for possível recurso. Isso acontece
quando termina o prazo e nenhuma das partes recorreu, ambas prescindem
dessa possibilidade — é frequente no mútuo consentimento — ou já não há
mais nenhuma instância para onde recorrer. Todavia, há efeitos que se fazem
sentir mais cedo.

Em primeiro lugar, as relações patrimoniais entre os cônjuges são afetadas


desde que a ação dá entrada em tribunal. Isto significa que, por exemplo, sendo
o divórcio decretado, os salários recebidos desde o início do processo fazem
parte do património pessoal de cada um, mesmo que vigore um dos regimes
de comunhão de bens (geral ou de adquiridos). Por outro lado, para efeitos
de heranças, se um dos cônjuges morrer enquanto corre o processo, os seus
herdeiros podem prosseguir a ação, de forma a evitar que o (ex-) cônjuge
herde alguma coisa do falecido.

Quando existe separação de facto, um cônjuge pode requerer, na ação de


divórcio, que este produza efeitos a partir da data em que fique provado que
a separação se iniciou. Este aspeto pode revelar-se importante se quiser voltar
a casar, matéria que iremos analisar de seguida.

Voltando ao plano patrimonial, a lei considera que, relativamente a terceiras


pessoas, o divórcio só tem efeitos desde que é registado. Isso acontece assim
que houver o referido trânsito em julgado da decisão, com a comunicação, pelo
tribunal ou pela conservatória onde correu o processo do divórcio, às conserva-
tórias onde estejam registados os ex-cônjuges. Por isso se admite, como tivemos
oportunidade de verificar no capítulo anterior, que dívidas contraídas durante
o divórcio responsabilizem ambos os cônjuges. O que acontece, por vezes,
sobretudo nos divórcios por mútuo consentimento, é as partes prescindirem
dos prazos de que dispõem para recorrer, acelerando, desse modo, o registo.

Novo casamento? Só alguns meses depois


O casamento termina logo que o divórcio é decretado (ou melhor, quando a
decisão transita em julgado), mas isso não significa que os ex-cônjuges possam
casar de imediato. A lei exige um interregno entre o fim de um casamento e
a celebração de outro. É o prazo internupcial. Embora a possibilidade de lhe
pôr termo esteja em discussão, até ao momento em que este livro foi editado
nada mudou.

75
A Guia do casal

A existência deste prazo está relacionada com a possível gravidez da mulher


e com o facto de se presumir que o pai desse filho é o marido (para mais por-
menores, veja o título Quem é o pai?, na página 106). No entanto, não é igual
para o homem e para a mulher: ele tem de esperar 180 dias para concretizar
novo casamento, enquanto ela terá de aguardar 300 dias depois do divórcio.
Se quiser contrair novo matrimónio decorridos 180 dias, a mulher pode apre-
sentar à conservatória do registo civil que organiza o processo de casamento um
atestado de um médico especialista a comprovar que não se encontra grávida.
Também pode fazê-lo se tiver dado à luz já depois de dissolvido o casamento.
Estando separada de pessoas e bens, se o casamento terminar por morte do
cônjuge poderá casar de novo assim que passarem 180 dias desde o trânsito
em julgado da decisão que decretou a separação.

A redução do prazo também é possível quando, durante o processo, fique


provado que os cônjuges já se encontravam separados de facto: os 180 ou
300 dias contam a partir da data em que cessou a coabitação. Supondo que
fica provado que estavam separados há 2 anos, assim que o divórcio for decre-
tado poderão casar de novo.

Viuvez
O casamento também termina com a morte de um dos cônjuges. O viúvo
pode casar de novo, sem correr o risco de praticar o crime de bigamia, mas,
em regra, terá de aguardar o prazo internupcial, nos termos explicados no
início desta página.

A morte do cônjuge levanta uma série de questões e exige o cumprimento de


diversos procedimentos administrativos: desde o registo do óbito à segurança
social, passando pelos aspetos sucessórios. Esta segunda parte do capítulo
é dedicada a esse infeliz acontecimento e inclui as formalidades a cumprir,
bem como as consequências do falecimento para o viúvo.

Registo do óbito
Tal como os registos de nascimento, casamento e divórcio, é obrigatório.
Para ser efetuado, a morte tem de ser comunicada verbalmente em qualquer

76
A Dissolução do casamento

conservatória do registo civil, num prazo de 48 horas a partir do falecimento


(ou de o corpo ter sido encontrado ou autopsiado).

A obrigação de comunicar a morte não é forçosamente do cônjuge, mas a


lei diz que tal deve ser feito pelo parente mais próximo que estivesse com
o falecido. No entanto, também admite que o seja por outro familiar ou até
por uma terceira pessoa. Aliás, é frequente que sejam as agências funerárias
a encarregar-se da tarefa. Quando o falecimento ocorre num hospital, numa
prisão ou noutro estabelecimento, o diretor ou administrador é a pessoa
encarregada da comunicação. O certificado médico a confirmar o falecimento
é emitido eletronicamente, através do Sistema de Informação dos Certificados
de Óbito (sico), e segue de imediato para a conservatória. A família recebe
a guia de transporte, que acompanha o corpo, e terá depois de a apresentar
na conservatória, para efetuar o assento de óbito.

As mortes ocorridas no estrangeiro e registadas num serviço consular portu-


guês passam a constar da base de dados que integra todos os óbitos. Portanto,
não é preciso fazer mais nada. Não o sendo num consulado, para que fiquem
registadas em Portugal há que apresentar, numa conservatória nacional,
a certidão emitida pelas autoridades do país em que o óbito foi registado,
traduzida de acordo com as exigências legais (pode ser necessário ir a um
notário, advogado ou solicitador, para efetuar ou certificar a tradução). Por-
tugal assinou convenções internacionais com alguns países que dispensam
a tradução de documentos de registo civil (nascimento, casamento, óbito).

Comunicação às finanças
Sempre que o falecido deixa bens, o cônjuge, como cabeça-de-casal, que é
quem trata da administração da herança até à partilha, tem de comunicar a
morte ao serviço de finanças do concelho ou bairro fiscal onde aquele residia.
Quando o cônjuge não está em condições (físicas, por exemplo) de tratar de
tudo, será designado outro cabeça-de-casal. Se todos os herdeiros estiverem
de acordo quanto a quem irá desempenhar essa função, não haverá problema.
Na falta de acordo, poderá ser necessário recorrer ao tribunal.
Se o falecido morava no estrangeiro, a comunicação deverá ser feita no serviço
da área de residência do próprio cabeça-de-casal.

O prazo para esta comunicação termina no final do 3.º mês seguinte ao do


falecimento. Significa isto que, relativamente a quem tenha falecido em setem-
bro, a comunicação pode ser feita até ao último dia de dezembro. Parece
muito, mas, na realidade, com toda a informação e documentação que é

77
A Guia do casal

necessário reunir, o tempo torna-se curto e o melhor é tratar do assunto o


mais rapidamente possível. Apresentando-se motivo justificativo, o prazo
pode excecionalmente ser alargado até mais 60 dias. A falta de comunicação
implica o pagamento de uma coima.

A comunicação é feita num modelo fornecido pelas finanças onde são iden-
tificados o falecido e os seus sucessores e respetivos graus de parentesco,
sendo assinado pelo cabeça-de-casal. Deverá também ser indicada a data e
o local da morte, bem como apresentada a relação dos bens da herança e os
comprovativos dos valores envolvidos (por exemplo, documentos dos bancos
relativamente aos montantes depositados).

Habilitação de herdeiros
Outro procedimento de que o cônjuge em condições de fazê-lo tem de ocupar-
-se é a habilitação de herdeiros, que consiste na elencagem das pessoas que
têm direito a herdar. O mais simples e imediato é fazer a habilitação através
de escritura pública, num notário. A identificação dos herdeiros é feita pelo
cabeça-de-casal ou, em alternativa, por três pessoas que o notário considere
dignas de crédito e não sejam parentes do falecido.

Nos casos mais complexos, a habilitação é feita no decorrer de um processo


de inventário, que serve para identificar os bens da herança e proceder à

O PROCESSO DE INVENTÁRIO
O processo de inventário começa pela apresentação de um requerimento, pelo côn-
juge do falecido e/ou cabeça-de-casal da herança, o que pode ser feito pela internet,
em www.inventarios.pt, mediante utilização do certificado digital do cartão de cidadão.
No entanto, ainda antes de iniciar o processo, pode solicitar-se um atendimento prévio ao
notário. Será o momento para que este analise a situação que lhe é apresentada e verifi-
que se estão em causa questões que obriguem à constituição de advogado (as questões
de direito). O notário irá ainda informá-lo sobre os documentos a apresentar (certidão de
óbito, testamento, convenção antenupcial, etc.), marcar a data para a entrega do requeri-
mento, se necessário, e efetuar as diligências que lhe pareçam necessárias.
No requerimento, o cabeça-de-casal identifica os interessados na partilha, os bens que serão
partilhados e os respetivos valores. Estas informações são depois confirmadas pelos restantes
herdeiros e, se for necessário, o notário nomeia um perito para avaliar os bens. Mais tarde,
o notário convoca uma conferência preparatória e, no prazo de 20 dias, a conferência de inte-
ressados (os herdeiros), na qual se procede à distribuição dos bens constantes da herança.

78
A Dissolução do casamento

sua divisão. Só há lugar a inventário, que também pode ocorrer quando o


casal se separa e quer dividir o património comum, quando os herdeiros não
chegam a acordo quanto ao destino dos bens que compõem a herança. É da
competência dos cartórios notariais, embora seja necessária a intervenção
de um juiz para a homologação.

A lei não estabelece um prazo para se efetuar a habilitação de herdeiros, que


serve para identificar os herdeiros do falecido. No entanto, convém que seja
feita tão rapidamente quanto possível. Os herdeiros são identificados com
o nome completo, estado civil (e, se forem casados, a identificação do côn-
juge e o regime de bens do casamento), naturalidade e residência habitual.
A acompanhar o processo, o viúvo entrega uma certidão de óbito do falecido e
os documentos que provem que os herdeiros o são (certidões de nascimento,
testamento). Quem queira saber se o falecido deixou testamento, pode pedir
essa informação junto da Conservatória dos Registos Centrais, diretamente
ou através de uma conservatória do registo civil.

Partilha
Havendo mais do que um herdeiro (cônjuge e filhos, por exemplo), a herança
é repartida por eles, tendo em conta a respetiva quota (veja o quadro abaixo).
Ou seja, efetua-se a partilha. Como vimos, pode ser feita através do processo
de inventário. Porém, havendo acordo entre todos os herdeiros, isso não é
necessário. A partilha de bens imóveis tem de ser realizada por escritura

PARTE NA HERANÇA DOS HERDEIROS LEGITIMÁRIOS


Tipo de herdeiro Quota mínima Quota da herança de que
(por ordem da herança o testador pode dispor
de preferência) (“legítima”) livremente
SÓ O CÔNJUGE 1/2 1/2
CÔNJUGE E FILHOS 2/3 1/3
SÓ UM FILHO 1/2 1/2
DOIS OU MAIS FILHOS 2/3 1/3
CÔNJUGE E ASCENDENTES 2/3 1/3
(PAIS, AVÓS)
SÓ PAIS 1/2 1/2
SÓ AVÓS OU BISAVÓS 1/3 2/3
Os descendentes de 2.º grau e seguintes (netos, bisnetos) têm direito à legítima que caberia ao seu ascendente
caso este entretanto tenha falecido, não possa ou não queira recebê­‑la.

79
A Guia do casal

pública, exigindo a deslocação ao notário, enquanto a de bens móveis não


tem de obedecer a formalidades especiais.

A principal consequência da partilha é a transferência da propriedade dos


bens para os herdeiros que os recebem. O processo também pode ser tratado
no Balcão das Heranças (veja a caixa que lhe é dedicada, nesta página), onde,
além da escritura de partilha dos bens imóveis, é feito de imediato o respetivo
registo em nome do novo proprietário.

BALCÃO DAS HERANÇAS


• Os balcões das heranças foram criados com o objetivo de desburocratizar os passos a dar
depois da morte de um familiar. Funcionam em algumas conservatórias do registo civil ou
do registo predial (consulte a localização e os contactos em www.irn.mj.pt) e permitem
tratar de vários assuntos num mesmo local. É necessário efetuar um primeiro contacto
com o balcão (um qualquer, não tem de ser o da localização dos bens imóveis) e entregar
a documentação requerida, para que o processo seja avaliado. Só depois será marcada
uma data para realizar todos os procedimentos.
• Neste balcão, é possível efetuar a habilitação de herdeiros e a partilha, bem como alterar
o registo dos bens. No entanto, a partilha só pode ocorrer se houver, pelo menos, um bem
sujeito a registo, seja imóvel ou móvel. Embora o cônjuge, o unido de facto, os descenden-
tes e os ascendentes estejam isentos do pagamento de imposto de selo, existindo outros
herdeiros, podem pagá-lo neste balcão, tal como, se for o caso, o Imposto Municipal sobre
as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT).
• A iniciativa de utilizar este serviço deve partir do cabeça-de-casal. É também ele quem iden-
tifica os herdeiros e faz a lista dos bens do falecido, podendo a conservatória solicitar-lhe
mais elementos ou outra documentação.
• O custo deste processo varia com as operações realizadas:
– habilitação de herdeiros: 150 euros;
– habilitação de herdeiros e registos: 375 euros;
– partilha e registos: 375 euros;
– habilitação de herdeiros, partilha e registos: 425 euros.

Aos valores indicados acrescem 125 euros por registo de aquisição de bens imóveis. Pelos
bens atribuídos a cada herdeiro, além do primeiro, são ainda adicionados 30 euros por
imóvel, 20 euros por bem móvel (ou 15 euros por ciclomotor ou motociclo, triciclo ou qua-
driciclo com cilindrada não superior a 50 cm3), até ao limite de 30 mil euros.

Alteração de registos
Sempre que o falecido deixa bens imóveis, é preciso atualizar os respetivos
registos, para que os herdeiros que os receberem passem a constar como

80
A Dissolução do casamento

proprietários. Se não tiverem recorrido ao Balcão das Heranças, os herdeiros


poderão fazê-lo em qualquer conservatória do registo predial, mediante apre-
sentação da documentação que comprova a propriedade do bem (escritura
de partilhas ou decisão em processo de inventário). Também o registo dos
bens móveis a ele sujeitos (automóveis e barcos de recreio, por exemplo) terá
de ser atualizado, caso o bem estivesse em nome do falecido.

Seguros
No caso de o falecido ter um seguro com cobertura de morte (por exemplo,
de vida, de saúde ou de acidentes pessoais), o cônjuge-beneficiário, para
receber o montante a que tem direito, deve entregar à seguradora uma
certidão de óbito que indique a causa da morte. Terá, ainda, de provar
a sua identidade, de modo a que a seguradora tenha a certeza de que é
o beneficiário. Se não souber ao certo se o falecido estava abrangido por
algum destes seguros, o cônjuge (ou outro potencial beneficiário) poderá
confirmá-lo junto da ASF — Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos
de Pensões.

Obrigações fiscais (IRS)


Na declaração de IRS referente ao ano da morte do marido ou da mulher,
o cônjuge sobrevivo pode optar por entregar uma declaração conjunta ou
separada. Para saber qual a opção mais vantajosa, deverá fazer previamente
uma simulação no Portal das Finanças.

Eventuais rendimentos prediais referentes a imóveis que fossem do falecido ou


de ambos (rendas de casa, por exemplo) serão declarados de forma diferente
consoante os rendimentos tenham sido obtidos antes ou depois do óbito (veja
o esquema da página seguinte).

Declaração conjunta
Neste caso, entra no Portal das Finanças apenas com a sua senha de acesso;
identifica-se como sujeito passivo A e preenche os campos 4 e 6 no quadro 5B
do modelo 3. Havendo rendimentos da categoria A ou H (trabalho depen-
dente ou pensões), o cônjuge deve declarar os rendimentos do falecido no
quadro 4A do anexo A e identificá-lo com a letra F (falecido). É-lhe perguntado

81
A Guia do casal

se algum dos titulares faleceu durante o ano em causa, ao que responderá,


evidentemente, que sim.

Declaração separada
Caso opte pela entrega em separado, mas não tenha a senha de acesso do
falecido, o(a) viúvo(a) deve fazer um novo pedido no Portal das Finanças.
A senha será enviada, em princípio, no prazo de cinco dias úteis.

DECLARAR RENDIMENTOS PREDIAIS DE UM FAMILIAR


FALECIDO (herança indivisa)

Os rendimentos foram obtidos antes do falecimento?

SIM NÃO

É o (a) viúvo(a)?

SIM

Vai entregar a Vai entregar


declaração de IRS em a declaração de IRS em
conjunto separado

Declara no anexo F. Declara individualmente


Cada herdeiro entrega
Se o imóvel pertencia os seus rendimentos
e preenche o anexo F
ao falecido, indique prediais e entrega
com a sua quota-parte
o titular falecido (F). a declaração de IRS
e o montante recebido
Se era um bem comum, do falecido usando
ou a que tem direito
mencione o titular A a senha deste

82
A Dissolução do casamento

Quanto recebem o cônjuge e os filhos


Já tivemos oportunidade de falar das formalidades ligadas às questões suces-
sórias. Chegou o momento de referir quanto recebem o cônjuge e os filhos
por conta da herança. Por se tratar de um livro dedicado ao casal e aos des-
cendentes diretos, apenas focaremos a parte dos bens a que eles têm direito,
ignorando outros potenciais herdeiros, ou seja, trataremos só da primeira
classe sucessível. Aliás, se não houver testamento, a existência de cônjuge e
filhos é suficiente para afastar da herança todos os outros potenciais herdeiros,
como os pais e os irmãos.

Quota assegurada, mas renunciável


Em primeiro lugar, terão sempre direito a uma parte dos bens deixados pelo
falecido, exceto se forem deserdados ou declarados indignos. Isso apenas
acontecerá em situações muito graves, como homicídio ou tentativa de homi-
cídio contra o falecido ou alguns dos familiares mais próximos, falsos teste-
munhos, recusa de prestação de alimentos, entre outros. O cônjuge também
nada recebe se estiver separado de pessoas e bens (veja o título Separação de
pessoas e bens, na página 54).

Desde finais de 2018, antes de casarem, os futuros cônjuges podem prescindir


mutuamente da condição de herdeiro do outro, através de uma convenção
antenupcial. Mas é imprescindível que a decisão seja recíproca — cada um
assume que não é herdeiro do outro — e que o regime de bens do casamento
seja a separação de bens. Esta renúncia pode ser condicionada à existên-
cia ou não de outros herdeiros. É possível que definam, por exemplo, que
apenas renunciam à herança do outro no caso de terem filhos. A existência
de renúncia não impede que, em caso de necessidade, seja atribuída ao
cônjuge sobrevivo uma pensão de alimentos por conta da herança. Este
direito mantém-se.

Por outro lado, nenhum herdeiro está obrigado a aceitar a herança. Nem
mesmo o cônjuge. Se não estiver interessado, pode renunciar a ela (repu-
diá-la, de acordo com a terminologia legal). Basta imaginarmos alguém que
deixe bens no valor de 15 mil euros, mas dívidas de 30 mil euros. É certo
que só os bens respeitantes à herança respondem pelas dívidas (não pode
pretender-se pagar 15 mil euros da dívida com a herança e o restante com
bens que o herdeiro já tinha), mas poderia não ser fácil provar que os bens
já lhe pertenciam. De qualquer forma, não haveria interesse em aceitar
uma herança dessas.

83
A Guia do casal

Testamento com limites


Igualmente importante é a existência de testamento: se o falecido nada dei-
xou escrito, o cônjuge e os filhos serão os únicos herdeiros. Mas mesmo que
o tenha feito, só uma parte da herança pode ser atribuída a outras pessoas:
—— se o falecido apenas deixar cônjuge, pode por testamento atribuir metade
dos seus bens a quem quiser (a outra metade será para o cônjuge), o mesmo
se passando se não tiver cônjuge e apenas deixar um filho;
—— deixando cônjuge e filhos (ou apenas filhos, desde que seja mais do que
um), só pode dispor livremente de um terço da herança. Também será
assim se não tiver filhos, mas deixar cônjuge e ascendentes.

Meação do cônjuge
Na distribuição dos bens do falecido, há que ter em conta a meação do côn-
juge sobrevivo, isto é, a sua metade dos bens comuns. Imaginemos o Manuel,
casado com a Paula e com dois filhos. Quando morreu, o valor dos bens do
casal era de 92 500 euros, distribuídos da seguinte forma:
—— bens próprios do Manuel: 22 500 euros;
—— bens comuns do casal: 60 mil euros;
—— bens próprios da Paula: 10 mil euros.

Na distribuição pelos três herdeiros, foram feitas as seguintes contas:


—— os 10 mil euros da Paula continuaram, obviamente, a pertencer-lhe;
—— os 22 500 euros do Manuel foram distribuídos em partes iguais pelos três
herdeiros, ou seja, 7500 euros para cada um;
—— finalmente, quanto aos 60 mil euros de ambos, retiraram-se logo 30 mil
euros, que eram a metade da Paula. Os outros 30 mil euros foram divididos
em partes iguais, o que deu 10 mil para cada um;
—— concluindo, a Paula ficou com 57 500 euros (40 mil que já lhe pertenciam
e 17 500 que herdou do falecido marido), enquanto cada um dos filhos
recebeu 17 500 euros.

No nosso exemplo, o cônjuge e cada um dos filhos tiveram direito a uma parte
dos bens do falecido exatamente igual. E é sempre assim, desde que o casal
não tenha mais de 3 filhos. A partir dos 4, a distribuição só é equitativa entre
os filhos; o cônjuge recebe sempre 1/4 da herança, independentemente de o
número de filhos ser 4, 5, 6 ou mesmo mais. No entanto, quem queira que,
por sua morte, haja uma distribuição diferente (que o filho que se ocupar
dele receba mais do que os restantes, por exemplo), poderá fazer um tes-
tamento e atribuir-lhe a quota disponível, ou parte dela, de acordo com as

84
A Dissolução do casamento

O QUE ACONTECE À CASA DA FAMÍLIA?


O falecimento do cônjuge repercute-se, normalmente, na propriedade da casa da família.
Se esta pertencia aos dois ou só ao falecido, em princípio não haverá problema. Não pode-
mos esquecer-nos de que o cônjuge é herdeiro, tendo, além disso, preferência quanto à
casa e respetivo conteúdo. As dúvidas podem colocar-se em duas situações: o casal encon-
trar-se ainda a pagar ao banco o empréstimo relativo à compra da casa ou esta não ser
sua, mas arrendada só pelo falecido.
• Vejamos a primeira situação. Atualmente, todos os bancos exigem um seguro de vida para
que o empréstimo seja concedido. Este seguro pode ser feito de duas maneiras, embora a
primeira seja a mais habitual:
—— capital seguro a 100% para cada um dos cônjuges. Se um deles morrer, a dívida fica
saldada. O banco recebe da seguradora o montante ainda em dívida e a família do
falecido continua a viver na casa;
—— capital seguro dividido pelos cônjuges em partes iguais (50% cada um) ou proporcio-
nalmente ao seu rendimento (70% a um e 30% a outro, por exemplo). Esta opção per-
mite pagar menos pelo seguro e tem como consequência a liquidação parcial da dívida,
de acordo com a percentagem do falecido. O cônjuge sobrevivo fica a pagar o resto do
empréstimo. Se morrer o cônjuge que tinha 70% do rendimento familiar, o outro fica a
pagar 30% da dívida.
Não havendo seguro de vida (pode ser um contrato já antigo, por exemplo), a dívida é
herdada pelo cônjuge, que continua a ter de pagar as prestações mensais. Se vier a verifi-
car que não tem capacidade para as suportar, o ideal é negociar um novo plano de paga-
mento, por exemplo alargando o prazo. Outra hipótese a encarar é a venda da casa. Só em
último caso é que o banco pede a execução da hipoteca do imóvel.
• No cenário em que o casal residia numa casa arrendada apenas pelo falecido, o arrenda-
mento é transmitido ao cônjuge sobrevivo, desde que aí vivesse com ele, mantendo-se a
renda. Se o arrendamento terminasse nos 6 meses seguintes, o cônjuge poderá permane-
cer na casa, precisamente, um mínimo de 6 meses a contar do falecimento.
O cônjuge deve comunicar ao senhorio, através de carta registada com aviso de receção,
a morte do anterior inquilino. Para o efeito, tem um prazo de 3 meses.
• Mesmo quando há uma renúncia recíproca à herança e a casa era do falecido, o cônjuge
não fica desprotegido. Pode nela permanecer 5 anos ou, se o tribunal entender que tal
se justifica, durante mais tempo. Se já tiver mais de 65 anos quando enviúva, o direito
é vitalício. No entanto, o direito a ficar na habitação da família não existirá se tiver casa
própria no mesmo concelho ou, tratando-se de Lisboa ou Porto, também num concelho
limítrofe. Por outro lado, perde-o quando esteja mais de um ano sem habitar a casa,
a menos que não possa ser responsabilizado por esse facto (esteve internado no hospital
devido a acidente ou doença, por exemplo). Terminado o prazo em que beneficiou do
direito de habitação, o cônjuge sobrevivo pode permanecer no imóvel na qualidade de
arrendatário, mas terá de fazer um novo contrato. Na falta de acordo quanto às condições
do contrato, estas podem ser definidas pelo tribunal, depois de ouvir os interessados.
Caso os proprietários queiram vender a casa, o cônjuge sobrevivo tem direito de preferên-
cia na sua aquisição.

85
A Guia do casal

regras atrás indicadas (título Testamento com limites, na página 84). Tendo
cônjuge e filhos, pode decidir que o máximo de 1/3 da herança fica apenas
para os descendentes.

Sem filhos
Quando o falecido não tem filhos, o cônjuge partilha a herança com os
seus ascendentes (pais, avós, …). Todavia, a divisão não é feita por cabeça:
o cônjuge tem direito a 2/3, restando 1/3 para os ascendentes. O cônjuge só
recebe a totalidade da herança se o falecido não deixar descendentes nem
ascendentes.

Doações em vida
Na divisão da herança, tem de contar-se com as doações que o falecido tenha
feito em vida (e nem sempre fáceis de provar). Vamos supor que a Natália
morre, deixando às filhas Patrícia, Rita e Teresa 65 mil euros e que, enquanto
era viva, deu 15 mil euros à Patrícia para a ajudar a comprar casa e ofereceu
um automóvel no valor de 10 mil euros à Rita. Estes valores são tidos em conta
na repartição da herança. Assim, dos 65 mil euros, a Patrícia só recebe 15 mil,
a Rita tem direito a 20 mil e a Teresa fica com os restantes 30 mil. Feitas as
somas, cada uma recebe, no total, 30 mil euros.

Direitos sociais
É possível que a morte do cônjuge signifique também a perda de uma das
fontes de rendimento da família. Até pode tratar-se da única, o que deixaria o
cônjuge sobrevivo numa situação delicada. Contudo, as coisas não se passam
exatamente assim: se o falecido efetuou descontos para a segurança social
durante anos consecutivos, tal facto concede-lhe alguns direitos sociais, quer
ainda estivesse no ativo, quer já se encontrasse reformado.

A lei prevê apoios para a família fazer face ao acréscimo de despesas originado
pela morte e, também, para garantir a sua subsistência quotidiana. Com a
primeira daquelas funções, foi criado o subsídio por morte, que consiste numa
quantia única, para ajudar a família a reorganizar a sua vida. Já a pensão de
sobrevivência é uma quantia mensal, uma espécie de substituto do salário ou
da pensão que o falecido recebia.

86
A Dissolução do casamento

Estes dois mecanismos de proteção abrangem as famílias dos trabalhadores


(ou reformados) do regime geral de segurança social (por conta de outrem ou
independentes) e os funcionários e agentes (ou aposentados) da Administra-
ção Pública. No entanto, quanto a estes, as regras só são iguais às do regime
geral para quem:
—— se tenha aposentado com base no regime que entrou em vigor no início
de 2006;
—— ainda estava no ativo, mas, se não tivesse falecido, viria a aposentar-se ao
abrigo desse regime;
—— se inscreveu na Caixa Geral de Aposentações a partir de 1 de setembro de
1993 e não se aposentou até final de 2005.

As especificidades referidas nos próximos títulos dizem respeito a quem se


aposentou ao abrigo do regime que vigorou até final de 2005 ou, estando no
ativo, se aposentaria de acordo com essas regras.

Subsídio por morte


Comecemos pelo subsídio que é concedido de uma só vez, quando da morte
do trabalhador ou pensionista. Corresponde ao triplo do Indexante dos Apoios
Sociais (IAS). Ou seja, 1307,28 euros em 2019 (€ 435,76 � 3). Caso o falecido
fosse funcionário público, a família recebe o correspondente ao triplo da
pensão ilíquida, com o limite de três vezes o IAS.

Repartir o subsídio
No regime geral da segurança social, o subsídio é, em princípio, atribuído ao
cônjuge ou unido de facto e aos filhos, sendo dividido em duas partes iguais.
A viúva tem direito ao subsídio mesmo que o casal estivesse separado de
pessoas e bens ou até divorciado, mas só se o falecido estivesse a pagar-lhe
uma pensão de alimentos (ou, a (ex-) mulher a ela tivesse direito).

Direitos dos filhos


Os filhos têm direito ao subsídio mesmo antes de nascerem (os chamados
nascituros — já concebidos, mas ainda no ventre da mãe), e até aos 18 anos
de idade. Este direito pode ser alargado:
—— até aos 25 anos, para os que não trabalhem e estejam a estudar no ensino
secundário ou superior;
—— até aos 27 anos, a quem frequente um curso de mestrado ou pós-gradua-
ção, esteja a preparar uma tese de licenciatura ou doutoramento ou a
fazer um estágio de fim de curso e não tenha rendimentos superiores a
dois terços do IAS.

87
A Guia do casal

Não há limite de idade para os filhos deficientes. Por outro lado, os enteados
e os adotados encontram-se equiparados aos filhos.

Outros dependentes
Os ascendentes (pai, mãe, avós) só recebem se estivessem a cargo do falecido
e não existirem cônjuge, ex-cônjuge, unido de facto ou descendentes com
direito ao subsídio.
Não havendo cônjuge, ex-cônjuge, descendentes ou ascendentes com direito,
o subsídio pode ser atribuído a outro parente ou afim em linha reta ou até ao
3.º grau da linha colateral (tio, sobrinho) que estivesse a cargo do falecido.

Especificidades da Função Pública


No que respeita aos funcionários públicos:
—— apenas tem direito ao subsídio o cônjuge que não estivesse separado ou
o unido de facto;
—— os filhos, enteados ou adotados recebem até aos 21 anos, continuando a
não haver limite para os deficientes. Sendo mais velhos, podem ter direito
ao subsídio se não tiverem rendimentos superiores ao IAS e vivessem com
o falecido ou dele dependessem.

Pagar as despesas do funeral


Nas situações em que não exista ninguém com acesso ao subsídio por morte,
quem suporte as despesas com o funeral tem direito a reembolso, até ao limite
do valor do subsídio por morte.

Pensão de sobrevivência
A outra proteção proporcionada pela segurança social é a pensão de sobrevi-
vência, que funciona como substituto do rendimento do falecido. Ao contrário
do que acontece com o subsídio por morte, para os familiares do falecido
terem direito à pensão de sobrevivência, é preciso que este tenha efetuado
descontos durante um certo período: 3 anos no regime geral de segurança
social e 5 anos na Função Pública. O seu valor corresponde a uma percen-
tagem do montante da pensão a que o falecido teria direito quando morreu
(ou já recebia, sendo reformado).

Direitos dos (ex-) cônjuges ou unidos de facto


No regime geral de segurança social, a percentagem atribuída ao cônjuge,
à pessoa que vivia em união de facto com o falecido ou ao ex-cônjuge é de 60%
ou 70%, consoante seja um ou mais. Supondo que o falecido teria direito a
uma pensão de 1000 euros, a pensão de sobrevivência a atribuir ao cônjuge é
de 600 euros (60%). No entanto se, além do cônjuge, houvesse um ex-cônjuge

88
A Dissolução do casamento

com direito a pensão de alimentos, já seria de 700 euros (70%), recebendo


cada um 350 euros. Os cônjuges têm direito à pensão vitaliciamente, mas é
atribuída apenas durante 5 anos se tiverem menos de 30 anos no momento
da morte do beneficiário, a menos que sofram de incapacidade total para
trabalhar. Não havendo filhos do casal, o cônjuge apenas recebe pensão se
o casamento durou, pelo menos, 1 ano. Só não será assim se a morte tiver
sido causada por acidente ou doença não existente antes de casarem ou
se tiverem vivido em união de facto durante, pelo menos, 2 anos, antes do
casamento. A pensão cessa se o cônjuge voltar a casar ou começar a viver
em união de facto.

Direitos dos filhos


O montante atribuído aos filhos, que têm de preencher as condições referidas
no subsídio por morte (veja o título Direitos dos filhos, na página 87), depende
da existência ou não de cônjuge ou ex-cônjuge e do número de filhos. Assim,
retomando o exemplo do parágrafo anterior, em que o falecido tinha direito
a uma pensão de 1000 euros, caso, além do cônjuge, deixe um filho, este tem
direito a uma pensão mensal de 200 euros (20%). Se forem dois, a pensão sobe
para 300 euros (30%), sendo 150 euros para cada um. Sendo mais de dois,
a quantia já é de 400 euros (40%), a dividir em partes iguais por cada filho.
Supondo que não há cônjuge, a pensão é de 400 euros (40%), havendo só
um filho; 600 euros (60%), para dois filhos; ou 800 euros (80%), se o falecido
tiver deixado, pelo menos, três filhos.

Especificidades da Função Pública


Na Função Pública, também recebem pensão de sobrevivência o cônjuge,
ex-cônjuges, desde que tivessem direito a pensão de alimentos do falecido,
e quem vivesse com este em união de facto. Quanto aos filhos, receberão até
aos 18 anos, com alargamento até aos 21 anos, se frequentarem com aprovei-
tamento um curso médio ou equiparado, ou até aos 24 anos, se tiverem êxito
no ensino superior ou equiparado. Não existe limite de idade para os filhos
que não sejam capazes de angariar meios de subsistência.

O valor da pensão de sobrevivência na Função Pública é de 50% do valor que


teria (ou tinha) a pensão de aposentação do falecido. Havendo cônjuge e/ou
ex-cônjuge e filhos, a pensão é dividida em duas partes iguais, sendo metade
para os primeiros e metade para os filhos.

Pensão de viuvez e subsídio de funeral


No regime não contributivo, do qual fazem parte as pessoas que não descon-
taram para a segurança social e se encontrem numa situação de carência

89
A Guia do casal

económica ou social, há a registar a pensão de viuvez. É concedida ao viúvo


de quem recebia pensão social atribuída por invalidez ou velhice que não
tenha direito a outra pensão, nem disponha de rendimentos mensais supe-
riores a 40% do IAS. Deve ser requerida nos serviços da segurança social da
área de residência. O montante da pensão equivale a 60% da pensão social
fixada anualmente pelo Estado. Em 2019, a pensão de viuvez tem o valor de
126,19 euros.

Quem esteja no regime não contributivo também pode ter acesso ao subsídio
de funeral, desde que comprove ter suportado esse encargo. O montante desta
prestação social corresponde, atualmente, a um valor único de 217,72 euros.

REQUERER AS PRESTAÇÕES POR MORTE


Por norma, estas formalidades são tratadas pela agência funerária, desde que lhe sejam
fornecidos os elementos necessários. Para requerer o subsídio por morte e a pensão de
sobrevivência, o viúvo terá de preencher o requerimento disponibilizado pela segurança
social. Além deste, tem de entregar uma certidão de nascimento de narrativa completa do
falecido, de forma a provar a sua morte, bem como cópia do seu próprio cartão de cidadão
ou do bilhete de identidade e do cartão de contribuinte. Tratando-se de ex-cônjuge, tem
de apresentar ainda uma sentença do divórcio e a prova de que tinha direito a pensão de
alimentos. Já o unido de facto entrega uma declaração da junta de freguesia a comprovar
que o casal vivia em união de facto há mais de 2 anos. Quanto aos descendentes que ainda
estejam a estudar, têm também de apresentar certificado de matrícula ou de frequência
do estabelecimento de ensino que o comprove. Por último, os ascendentes têm de entre-
gar uma certidão de nascimento ou apresentar o cartão de cidadão.
• A pensão de sobrevivência deve ser pedida nos centros regionais de segurança social ou
no Centro Nacional de Pensões, no regime geral, ou na Caixa Geral de Aposentações, para
a Função Pública. É paga a partir do dia 1 do mês seguinte ao da morte, desde que seja
requerida no prazo de 6 meses (regime geral) ou de 12 meses (Função Pública). Ultrapas-
sado este prazo, é paga a partir do mês seguinte à entrega do pedido.
• O subsídio por morte tem de ser requerido, nos locais referidos no parágrafo anterior,
dentro dos seguintes prazos:
—— 5 anos a contar da data do falecimento, nos centros distritais de segurança social ou no
Centro Nacional de Pensões (regime geral);
—— 1 ano depois da morte, junto do serviço onde o falecido desempenhava funções ou,
se estivesse aposentado, da Caixa Geral de Aposentações (Função Pública).

90
A

Capítulo 4

União de facto
A Guia do casal

O regime jurídico da união de facto é composto por um conjunto de normas que


regulam os direitos e os deveres de duas pessoas que vivem juntas, em condições
idênticas às dos cônjuges, mas não estão casadas. Estas normas aproximam
a união de facto do casamento em alguns aspetos e, tal como este, abrangem
também as relações homossexuais. Ainda que o diploma não faça referência
aos filhos ou às responsabilidades parentais, trata-se de um assunto em que a
lei não permite discriminações: todos os filhos são iguais, independentemente
de serem fruto de uma relação matrimonial ou gerados fora do casamento.

Havendo pedido do casal nesse sentido e acordo do tribunal, os companheiros


de facto podem exercer em conjunto as responsabilidades parentais relativas
aos filhos de apenas um deles. Sempre que possível, estes devem ser ouvidos
durante o processo em tribunal. Por outro lado, se o progenitor falecer ou, por
outro motivo (ausência ou incapacidade mental, por exemplo), deixar de poder
exercer as responsabilidades parentais, o companheiro surge em primeiro
lugar para o fazer, tendo primazia sobre outros familiares do menor (avós, por
exemplo). A decisão cabe ao juiz, que irá avaliar o que é melhor para a criança.

Que exigências?
O regime apenas abrange os casais que satisfaçam algumas exigências da lei:
—— têm de viver juntos, em união de facto, há mais de 2 anos;
—— não podem ter menos de 18 anos à data do reconhecimento da união de
facto. Portanto, mesmo que já vivessem juntos, a contagem para perfazer
2 anos só se inicia quando ambos tiverem completado 16 anos de idade;
—— nenhum deles pode ser casado, a menos que esteja separado de pessoas
e bens. A simples separação de facto relativamente a um cônjuge anterior
não é suficiente, independentemente da duração da nova vida comum;
—— não podem estar ligados pelos graus de parentesco ou afinidade mais
chegados, ou seja, não podem ser ascendentes ou descendentes, afins na
linha reta (padrasto/madrasta, enteado/a, genro/nora, sogro/a) ou irmãos;
—— nenhum deles pode sofrer de demência evidente, mesmo que tenha momen-
tos de lucidez, a menos que aquela apenas se tenha manifestado depois
do início da união de facto;
—— por último, impede-se que sejam abrangidos pelo regime quando um deles
tenha sido condenado por matar o cônjuge do outro, mandar matá-lo ou
tentar fazê-lo.

92
A União de facto

Em alguns destes requisitos, é visível o paralelismo com as exigências feitas a


quem quer casar (veja o título Impedidos de casar, na página 13). Não é o caso,
porém, da duração exigida à união de facto. Se, no casamento, os direitos
e deveres remontam à data da celebração, na união de facto exige-se que
decorram 2 anos, mas é compreensível. Estranho seria que qualquer relação
precária de semanas ou meses fosse suficiente para atribuir os direitos legal-
mente previstos. Será, pois, necessário provar que a união de facto já tem
a duração exigida na lei, seja através da existência de filhos, testemunho de
vizinhos, comprovativo de morada fiscal, certificados passados pela junta de
freguesia ou de outra forma convincente.

Para obter uma declaração da junta de freguesia, é necessário juntar ao


pedido:
—— uma declaração de ambos, sob compromisso de honra, de que vivem
juntos há mais de 2 anos;
—— certidões de cópia integral do registo de nascimento de cada um, para se
confirmar que não são casados com outras pessoas.

Conteúdo do regime
As pessoas que satisfaçam as condições enunciadas beneficiam, pois, de proteção
numa série de matérias (veja uma síntese na próxima página). De fora ficam,
por exemplo, as questões relativas a heranças, que, por isso mesmo, merecem
tratamento separado no presente capítulo. Quanto ao conteúdo do regime,
é o seguinte:
—— casa de morada da família;
—— proteção por morte do companheiro;
—— faltas ao trabalho;
—— IRS;
—— adoção.

Casa da família
O regime da união de facto determina o destino da casa onde o casal vivia,
terminada a relação. Algumas das regras são semelhantes às do casamento.

93
A Guia do casal

REGRAS PARA A UNIÃO DE FACTO

Possibilidade de o membro sobrevivo ficar a viver na casa


Casa que era do outro e de adquiri-la. Em caso de separação,
da família possível atribuição da casa ao que não é proprietário ou
inquilino, sobretudo se ficar com os filhos.

Possibilidade de entrega da declaração em conjunto ou


IRS
separada (no casamento também já é assim).

Equiparação aos casados no que respeita às faltas e,


Direitos
em caso de morte, acidentes de trabalho e doenças
no trabalho
profissionais.

Possibilidade de adotar nas mesmas condições que os


Adoção
casados.

Morte Proteção de acordo com o regime geral de segurança


de um dos social, tendo de provar a existência da união de facto.
membros No entanto, não são herdeiros um do outro.

Morte do proprietário
A Madalena vivia há 15 anos com o Vasco, numa casa que era apenas dele.
Agora que o Vasco morreu, pode continuar a viver lá? A lei determina que
sim, durante um período igual ao da duração da união de facto (mais 15 anos,
portanto), mantendo o direito real de habitação e de uso do recheio, ou seja,
de tudo o que nela se encontra (móveis, eletrodomésticos, pratos, talheres,
copos, etc.). Se tivessem vivido juntos entre 2 e 5 anos, a permanência na
casa seria sempre possível durante mais 5 anos.

94
A União de facto

A lei admite que, excecionalmente, o tribunal prolongue estes prazos, tendo


em conta os cuidados que o cônjuge tenha dispensado ao falecido ou aos seus
familiares ou por estar numa situação de especial carência.

O direito caduca se a Madalena estiver mais de 1 ano sem habitar a casa, sem
que exista motivo de força maior (internamento hospitalar ou prestação de
cuidados a um familiar, por exemplo). Por outro lado, nem sequer terá direito
a lá ficar se tiver casa própria no mesmo concelho ou, tratando-se de Lisboa
e Porto, também num concelho vizinho.

Decorridos os 15 anos, a Madalena pode permanecer na casa, ao abrigo de


um contrato de arrendamento, a menos que os proprietários (os herdeiros do
Vasco) preencham os requisitos previstos na lei para a denúncia desse con-
trato. Por exemplo, necessitarem da casa para a habitarem ou esta requerer
obras de remodelação profundas. Faltando acordo quanto às condições do
contrato de arrendamento, estas podem ser definidas pelo tribunal.

Enquanto habitar a casa, seja por via do direito real de habitação, seja ao abrigo
do contrato de arrendamento, a Madalena tem direito de preferência no caso de
os herdeiros do falecido quererem vendê-la. Isto significa que pode exigir que
lhe seja vendida desde que ofereça o mesmo que outro potencial comprador.

Morte do arrendatário
Se a residência da Madalena e do Vasco fosse arrendada e o contrato tivesse
sido feito só por ele, a Madalena poderia lá ficar a viver, pois verificar-se-ia
a transmissão do arrendamento. Mas teria de comunicar o falecimento do
Vasco ao senhorio, no prazo de 3 meses. A falta dessa comunicação pode-
ria dar origem ao pagamento de uma indemnização ao senhorio por danos
comprovadamente sofridos.

Separação
Em caso de separação, o Vasco e a Madalena poderiam chegar a acordo quanto
a quem ficaria a viver na casa, independentemente da sua propriedade ou
de quem tinha feito o contrato de arrendamento. Na falta de acordo, seria o
tribunal a decidir, tendo em conta o interesse dos filhos e dos membros da
união de facto. O tribunal pode, pois, aplicar à cessação da união de facto as
mesmas regras que vigoram para o divórcio, quer a casa pertença a um dos
membros da união de facto (ou a ambos), quer seja arrendada (para mais
pormenores sobre esta matéria, veja o título Rutura da relação, na página 101).

95
A Guia do casal

Restantes regras
Existem outros aspetos que estão abrangidos pelo regime da união de facto,
havendo, quanto a alguns, equiparação com o casamento.

Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares


A lei diz que o regime de IRS se aplica aos unidos de facto nas mesmas condi-
ções dos casados. É-lhes permitido, nomeadamente, apresentar a declaração
conjunta, dela constando os descendentes comuns, e estão sujeitos aos mesmos
limites máximos em algumas deduções à coleta (deduções pessoais, prémios
de seguros de acidentes pessoais, de saúde ou de vida, contribuições para
fundos de pensões). Também podem fazer a entrega separadamente. Para
decidir qual a via a seguir, o ideal é simular as duas possibilidades, antes de
proceder ao envio da declaração, por exemplo através do Portal das Finanças
(www.portaldasfinancas.gov.pt). Ficará a saber qual a opção mais vantajosa, tendo
em conta o nível de rendimentos de cada um e, em consequência, as respetivas
taxas de imposto, mas também o número de dependentes e a totalidade das
deduções à coleta. Da mesma forma, a retenção na fonte efetuada mensalmente
tem em conta o valor dos rendimentos, o facto de se estar perante um ou dois
titulares de rendimentos no mesmo agregado e o número de dependentes.

Direitos laborais
Em questões como as faltas ao trabalho, a lei estabelece a equiparação ao
casamento, o que significa, por exemplo, que é possível faltar anualmente
15 dias para prestar assistência ao companheiro (para mais pormenores,
consulte a caixa Faltar ao trabalho, na página 37). Outro aspeto em que há
proteção é o dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais que pro-
voquem a morte. O membro da união de facto que sobrevive tem direito às
compensações previstas: ele e os filhos recebem o subsídio por morte, pago
de uma única vez, por ocasião do falecimento, e uma pensão que corresponde
a uma percentagem do salário do falecido.

Segurança social
Diz a lei que, em caso de morte, são aplicadas as regras do regime geral de
segurança social. Para ter acesso à pensão de sobrevivência e ao subsídio por
morte (veja o que são no título Direitos sociais, a partir da página 86) já não
é necessário demonstrar que necessita de pensão de alimentos. Apenas

96
A União de facto

tem de provar que vivia em união de facto com o falecido e apresentar um


requerimento na segurança social. Se esta instituição tiver dúvidas fundadas
quanto à existência da união de facto pode levar a questão a tribunal, onde o
requerente das prestações sociais (o unido de facto vivo) terá de provar que
estavam preenchidos todos os requisitos exigidos.

Indemnização por morte


Quando a morte de um dos membros da união de facto é da responsabilidade
de outrem (por exemplo, na sequência de um crime ou devido a um acidente
de viação), o que sobrevive pode pedir uma indemnização por danos morais.
Também neste ponto, a lei equipara a união de facto ao casamento. Assim,
as primeiras pessoas com direito a indemnização são o cônjuge ou o compa-
nheiro de facto e os filhos ou outros descendentes.

Adoção conjunta
As pessoas que vivam em união de facto podem adotar nos mesmos termos
dos cônjuges. Ou seja, têm de viver juntos há mais de 4 anos e ambos con-
tarem mais de 25 anos de idade (para mais pormenores, consulte o título
Adoção, na página 130).

Dissolução da união
Por último, a lei determina que a união de facto se dissolve quando se dê
uma de três situações:
—— um dos membros falecer;
—— algum deles casar. Como é evidente, se casarem um com o outro também
deixam de estar abrangidos pelo regime da união de facto;
—— um dos membros (ou ambos) pretender que a relação acabe, ou seja,
deixarem de viver juntos.

Não existem formalidades para pôr fim à relação. Ao contrário do que acontece
com o casamento, não é necessário apresentar requerimentos na conser-
vatória do registo civil ou propor ações em tribunal. Todavia, quem queira
fazer valer direitos decorrentes da separação terá de recorrer aos tribunais,
a fim de obter uma declaração judicial de dissolução da união de facto. Assim
será, quando, por exemplo, alguém pretenda ficar a viver na casa da família,
sendo esta propriedade do outro ou de ambos (veja também o título Rutura
da relação, na página 101).

97
A Guia do casal

Falta de proteção
Além das matérias que constam do Regime, há outras em que não existe
regulamentação para a união de facto e que, portanto, devem merecer ainda
maior atenção, uma vez que se traduzem em situações de menor proteção.

Bens e dívidas
Na união de facto, não existe aquilo a que no casamento se chama património
comum. Pode haver, isso sim, bens adquiridos no regime de compropriedade,
isto é, por ambos os membros da união de facto, e as partes de cada um não
serem iguais. Se assim for, isso deve ser expressamente referido no documento
comprovativo da compra. Por exemplo, a Madalena e o Vasco, o casal que
acompanhamos desde o início deste capítulo, compraram uma casa, tendo
ela pago 70% do valor e ele 30%. A escritura pública de compra e venda deve
conter a percentagem de cada um. Se isso não acontecer, a Madalena pode
ficar prejudicada, pois pressupõe-se que as partes são iguais.

Além dos bens de que ambos são proprietários, existem aqueles que pertencem
apenas a um, ou seja, os que cada um adquire sozinho. Todavia, se quiserem
um dia dividir os bens, podem surgir dúvidas quanto à propriedade dos que
não estejam sujeitos a registo. Se ninguém conseguir provar que é seu, parte-
-se do princípio de que se trata de um bem pertencente a ambos e faz-se a
divisão em duas partes iguais.

Nas dívidas, segue-se o regime geral constante da lei, sendo cada um responsável
pelas que contrai sozinho. Assim, não têm lugar as regras referidas no capítulo
sobre a vida conjugal quanto à existência de proveito comum ou encargos
familiares, por exemplo (veja o título Dívidas, na página 41). Porém, se vierem
a casar, passam a estar sujeitos às regras que vigoram para os cônjuges e, por-
tanto, ambos são responsabilizados pelas dívidas que tenham contraído em
conjunto mesmo antes de casarem, bem como pelas originadas por apenas
um deles para fazer face aos encargos da vida familiar, ainda que tal tenha
acontecido antes do casamento, ou seja, enquanto durou a união de facto.
Portanto, a regra é simples: têm de ser suportadas por ambos as dívidas con-
traídas pelos dois (por exemplo, o empréstimo bancário que pediram para
comprar casa) e são da responsabilidade de cada um aquelas que assumiu
sozinho (o dinheiro que só um deles pediu para adquirir um carro). Há, por
isso, que ter um certo cuidado para não contrair sozinho dívidas que sejam

98
A União de facto

do proveito de ambos. É que, se um dia as coisas derem para o torto, só um


será responsabilizado por elas.

Heranças
O campo sucessório é um daqueles em que os membros da união de facto
estão mais desprotegidos, já que apenas herdam um do outro por testamento
e até pode acontecer que, mesmo assim, haja limitações importantes. Vários
exemplos dão uma ideia das diferenças entre a união de facto e o casamento.

Paulo e Diana
Contra a vontade dos pais, o Paulo casou com a Diana. Dois anos depois,
faleceu e a mulher herdou os seus bens. Se tivessem decidido viver juntos
e o Paulo não deixasse testamento, os herdeiros seriam os pais, com quem
estava de relações cortadas, e não a Diana, que acabaria por ficar sem nada.
Além disso, a lei não lhe permitiria que, por testamento, deixasse mais de
metade dos bens à Diana, ainda que a sua vontade fosse a de que os pais
não ficassem com nada.

Helena e Bruno
Divorciada de um primeiro casamento, do qual haviam resultado dois
filhos, a Helena casou em segundas núpcias com o Bruno, de quem teve
mais um filho. Quando faleceu, a herança foi dividida em partes iguais
pelo marido e pelos três filhos (um quarto para cada um). Caso a Helena
e o Bruno tivessem optado pela união de facto, este último nada herdaria.
Isso só aconteceria se houvesse testamento a seu favor, mas, ainda assim,
não poderia destinar-lhe mais de um terço dos bens (os outros dois terços
estariam reservados aos filhos).

Álvaro e Mafalda
Vejamos um último exemplo, que constitui o extremo a que as coisas
podem chegar. Quando morreu, o Álvaro vivia há 20 anos com a Mafalda,
mas não tinha qualquer familiar vivo. Como não fez testamento, os seus
bens foram direitinhos para o Estado, nada revertendo a favor da Mafalda.

99
A Guia do casal

Os exemplos testemunham bem a posição em que, no que respeita a heranças,


se encontram as pessoas que vivem em união de facto: é exatamente igual à
de alguém que não é parente. Por isso é tão importante a existência de um
testamento. Mesmo que nem assim se possa dar ao cônjuge de facto o que se
pretendia, alguma coisa se lhe deixa.

O testamento pode ter uma de duas formas, mas, para ser válido, tem sempre
de ser feito por escrito. A primeira consiste no testamento cerrado (veja um
exemplo abaixo). Só pode ser escrito por quem saiba ler e, depois de assinado
pelo próprio, tem de ser aprovado por um notário, com a presença de duas
testemunhas, a menos que sejam dispensadas pelo notário, face à urgência da
situação. Depois de aprovado, pode ser guardado onde o testador pretender.
A segunda forma é o testamento público, redigido pelo notário no Livro de
Notas para Testamentos Públicos e para Escrituras de Revogação de Testamentos,
de acordo com a vontade do autor do testamento e também perante duas
testemunhas. É mantido secreto até à morte do seu autor.

TESTAMENTO

nio Costa da Silva,


Eu, abaixo assinado, Manuel Antó
n.º 010 101 010,
portador do cartão de cidadão
, solte iro, engenheiro
nascido a 3 de junho de 1960
Rua das Buganvílias,
civil, residente em Lisboa, na
uel da Silva e de
n.º 4, 3.º esq., filho de José Man
da Silva , em pleno
Maria Felismina Pereira Costa
tais e sem qualquer
uso das minhas faculdades men
to da segu inte forma:
coação, faço o meu testamen

el a Ana Paula da
Deixo toda a minha quota disponív
iteta , residente em
Cunha Tavares, divorciada, arqu
n.º 4, 3.º esq.
Lisboa, na Rua das Buganvílias,

Manuel António Costa da Silva

Lisboa, 26 de fevereiro de 2019

100
A União de facto

O TRIBUNAL DECIDIU... DIREITO A PENSÃO


Após 11 anos de vida conjunta, sem casamento, o homem faleceu, deixando a “viúva de
facto” e a filha menor de ambos numa situação delicada. Como herdeiras, além desta
filha, tinha ainda outras duas, bastante mais velhas.
Depois de perder o emprego que lhe garantia um parco rendimento e de se esgotar o perí-
odo em que teve direito a subsídio de desemprego, a companheira do falecido recorreu
aos tribunais, para que a herança, constituída por contas bancárias e alguns bens imóveis,
suportasse o pagamento de uma pensão de alimentos em seu favor. Simultaneamente,
processou também a Segurança Social, que não lhe reconhecia o direito a pensão de
sobrevivência pela morte do companheiro.
O tribunal de primeira instância reconheceu a existência da união de facto, a carência da
senhora e a necessidade de uma pensão de alimentos, mas entendeu que esta não con-
seguiu provar que ninguém da sua família estava em condições de ajudá-la. Apresentado
recurso ao tribunal da Relação do Porto, os juízes consideraram estar mais do que provado
que nem a mãe, senhora de escassos recursos, nem os irmãos, desempregados ou com
salários baixos, estariam em condições de proporcionar os “alimentos” de que ela necessi-
tava. Assim, decidiram que seriam retirados 100 euros mensais da herança indivisa e que
a Segurança Social começaria a pagar a pensão de sobrevivência a que ela tinha direito.

Tribunal da Relação do Porto, 3 de julho de 2012

Além do testamento, só existe outra hipótese de receber alguma coisa após


a morte do companheiro: pedir ao tribunal para lhe atribuir uma pensão de
alimentos, que será paga através da herança do falecido (os herdeiros fica-
rão obrigados a dar-lhe uma determinada quantia mensal). Tem de fazê-lo
no prazo de 2 anos a contar da morte. Se casar, passar a viver em união de
facto com outrem ou se tornar indigno de recebê-la pelo seu comportamento
moral, perde direito à pensão.

Rutura da relação
Os problemas relacionados com a opção pela união de facto surgem com parti-
cular acuidade depois de terminar a relação. E se, quando isso acontece devido
à morte de um dos membros, a lei (só) prevê as soluções que tivemos oportuni-
dade de analisar, quando a rutura se dá porque os dois deixaram de se entender
e não querem continuar a viver juntos, as coisas ainda são mais complicadas.

101
A Guia do casal

A lei é quase omissa quanto a esta eventualidade, apenas prevendo regras


quanto à casa da família (veja o título Casa da família, a partir da página 93)
e à regulação das responsabilidades parentais. Em todos os outros aspetos,
tem de ser o bom senso a prevalecer, mas nem sempre é possível chegar a
acordo. Por vezes, questões fundamentais como a partilha dos bens adqui-
ridos em compropriedade ou até mesmo a atribuição das responsabilidades
parentais acabam por ser resolvidas na barra do tribunal. Aqui, será necessário
provar o que se alega. Por exemplo, que, apesar de a casa estar em nome
de um, o outro também contribuiu para o pagamento das mensalidades do
empréstimo bancário e, por isso, deve ser compensado. Nem sempre a prova
será fácil e algumas situações revelar-se-ão delicadas.

Imaginemos o seguinte exemplo: o Alberto e a Cecília viveram juntos durante


30 anos, mas nunca casaram. Ele era o único que trabalhava e a separação
deixou a Cecília em maus lençóis, uma vez que a lei nem sequer prevê a possibi-
lidade de, numa situação deste género, um dos ex-companheiros ficar obrigado
a pagar ao outro uma pensão de alimentos. Isso dependeria da vontade do
Alberto. E a situação até poderia ser mais grave se os bens adquiridos durante
o tempo que durou a coabitação (carro, casa, etc.) estivessem registados só
em nome do Alberto. A Cecília correria o risco de ficar sem bens nem rendi-
mentos, ou seja, sem meios de subsistência. Pouco mais lhe restaria do que
procurar resposta às suas necessidades junto da segurança social, através do
rendimento social de inserção, de uma pensão do regime não contributivo ou
de outra prestação a que eventualmente tivesse direito. Embora possa também
recorrer aos tribunais, procurando que estes lhe concedam esse direito, não
há garantia de que, face ao vazio legal, a decisão lhe seja favorável.

Desta relação podem ainda ter resultado filhos. Supondo que as crianças ficam
a viver com a mãe e o pai não contribui voluntariamente para o sustento dos
filhos, ela pode recorrer ao tribunal para obter uma pensão de alimentos
para eles, exatamente como se fossem casados e estivessem a separar-se ou
a divorciar-se. A obrigação do pai (e da mãe) relativamente aos filhos não é
menor na união de facto do que no casamento, mesmo em caso de rutura.

Acordo de coabitação
Não custa concluir que a união de facto poderá dar origem a uma série de
problemas, quando se verifica uma separação ou a morte de um dos seus

102
A União de facto

membros. Na separação, a proteção legal é escassa; morrendo um deles, a lei


dá algumas respostas.

Uma forma de atenuar as consequências da separação é o acordo de coabita-


ção, que se traduz no estabelecimento de regras patrimoniais entre os dois
membros da união de facto. Nele pode, por exemplo, definir-se que bens
pertencem a um e quais são de ambos, como são movimentadas as contas
bancárias, de que forma será feita a distribuição dos bens em caso de rutura
ou como serão suportados os encargos assumidos durante a vida em comum.
Até pode ficar definido que haverá lugar ao pagamento de pensão de alimentos
em caso de rutura da relação. Este acordo deve ser feito por escrito e assinado
por ambos (convém que as assinaturas sejam reconhecidas por um notário,
advogado ou solicitador). Todavia, não se trata de um meio infalível, uma vez
que não pode prejudicar os direitos sucessórios dos herdeiros de cada um
nem os direitos próprios dos credores.

O TRIBUNAL DECIDIU... BENS COMUNS


Um casal viveu em união de facto durante 12 anos. Certo dia, o companheiro saiu de casa
e pôs fim à relação. Levou consigo quase todos os bens adquiridos por ambos, impedindo
a ex-companheira de tirar proveito deles. Ela procurou resolver a situação, mas deparou
com a intransigência dele e teve de recorrer à via judicial, pedindo que o tribunal reconhe-
cesse que tinham mantido uma relação durante 12 anos, vivendo juntos e partilhando
rendimentos e despesas, tendo inclusive comprado uma casa e, para a pagar, contraído
um empréstimo bancário. Pedia, ainda, que fosse declarado que todo o património tinha
sido adquirido durante os 12 anos com as economias de ambos e, por conseguinte, todos
os bens fossem declarados propriedade dos dois. Em consequência disto, que o ex-com-
panheiro fosse obrigado a restituir-lhe metade dos bens. Finalmente, que fosse declarada
pelo tribunal a cessação da união de facto.
O ex-companheiro contestou tudo, declarando que nada tinha a devolver e que, mesmo
que se entendesse que o património havia sido adquirido por ambos, a divisão não deveria
ser feita em partes iguais, mas sim na proporção de 1/5 para ela e 4/5 para ele, uma vez
que os seus rendimentos eram muito superiores. Tanto na primeira, como na segunda
instância, perdeu. Foi reconhecida a existência da união de facto e de uma economia
doméstica comum durante aqueles anos. Desse modo, apesar de não haver um regime de
bens como no casamento presumiu-se que os bens pertenciam a ambos em igual percen-
tagem. Para que assim não fosse, ele deveria ter provado que tinha contribuído mais do
que ela, e não o fez. Os tribunais consideraram que o facto de ter rendimentos superiores
era insuficiente para se concluir que a sua contribuição para o património do casal havia
sido superior. Assim, foi mesmo condenado a devolver metade dos bens.

Tribunal da Relação de Lisboa, 23 de novembro de 2010

103
A
A

Capítulo 5

Filhos
A Guia do casal

A vida conjugal nem sempre se restringe à convivência a dois. A família inte-


gra, frequentemente, outros membros decorrentes dessa união: os filhos.
A relação entre pais e filhos merece a atenção da lei, com a definição de
direitos e deveres.

Primeiras formalidades
Quando nasce um ser humano, o primeiro aspeto legal importante é a iden-
tificação dos progenitores. Relativamente à mãe, as coisas não são muito
difíceis, a menos que o abandone à nascença. Já no que respeita ao pai, há que
distinguir duas situações:
—— sendo a mãe casada, presume-se que o marido é o pai do filho, pelo que
o seu nome constará do registo como pai;
—— não sendo casada, mesmo que viva com o pai do recém-nascido a paterni-
dade é estabelecida através do reconhecimento. Normalmente, basta que
o pai se desloque à conservatória do registo civil para efetuar o registo.
Não o fazendo voluntariamente, o reconhecimento também poderá ser
determinado pelo tribunal. Se houver falseamento, o verdadeiro pai pode
recorrer ao tribunal a pedir que seja impugnada a paternidade registada e
reconhecida a verdadeira. Para tal, são realizados exames médicos e demais
provas que se mostrem necessárias, como recolha de sangue ou análise
do ADN, por exemplo. Só que ninguém pode ser obrigado a submeter-se a
estes exames, o que dificulta frequentemente as investigações. No entanto,
em caso de recusa, o tribunal pode decidir que se dá a inversão do ónus
da prova, isto é, terá de ser aquele que não quer submeter-se aos testes a
provar que não é ou não pode ser o pai.

Quem é o pai?
A paternidade pode levantar algumas questões. Por um lado, há situações
em que a mãe pretende em vão que o pai assuma a paternidade; por outro,
aquelas em que é a mãe a negar-lhe esse direito. Em princípio, isto não
acontece quando os pais vivem juntos e em harmonia, mas há filhos que
desconhecem a identidade do pai ou vivem na ilusão de uma paternidade
falsa.

106
A Filhos

O reconhecimento da paternidade é importante, uma vez que só assim as con-


sequências legais da filiação serão efetivas. Um pai não pode assumir as respon-
sabilidades parentais se não for reconhecido como tal, assim como o filho não é
herdeiro nem tem direito à assistência de alguém que legalmente não é seu pai.

Pais casados
Embora se presuma que os filhos de uma mulher casada são também do
marido, isso pode não corresponder à realidade. Quando declara o nascimento
do filho, a mãe pode fazer-se acompanhar do verdadeiro pai da criança, para
que seja feito o reconhecimento voluntário da paternidade, ou até não fazer
qualquer referência à sua identidade.

A presunção de que o marido é o pai cessa quando o nascimento ocorra mais


de 300 dias depois de os cônjuges se terem separado. Todavia, a lei apenas
menciona os casos em que foi iniciado um processo de divórcio ou o marido
desapareceu sem dar notícias. Por isso, havendo apenas separação de facto,
a presunção mantém-se, continuando o marido a ser tido como o responsável
pela gravidez da mulher, até prova em contrário.

Quando o pai não é o marido, mas é isso que consta do registo, é possível soli-
citar que esta referência seja eliminada, através do cancelamento do registo
ou de uma ação de impugnação da paternidade. Podem desencadear a ação o
marido da mãe, a mãe, o próprio filho ou, finalmente, o Ministério Público,
a pedido de quem se apresente como o verdadeiro pai. Os prazos para esta
ação são os seguintes:
—— a mãe dispõe de 3 anos depois do nascimento;
—— o marido, apontado como pai, tem 3 anos, depois de ter conhecimento de
circunstâncias que indiciem não ser ele o pai;
—— o filho pode fazê-lo até 10 anos depois de atingir a maioridade (ou ser
emancipado pelo casamento) e nos 3 anos seguintes a ter conhecimento
de factos que apontem para que o marido da mãe não seja o seu pai;
—— finalmente, o verdadeiro pai apenas dispõe de 60 dias após o registo de
paternidade a favor do marido da mãe para apresentar o caso ao Minis-
tério Público.

Fora do casamento: perfilhação


Quanto aos filhos nascidos fora do casamento, o reconhecimento da paterni-
dade pode ser feito de duas maneiras:

107
A Guia do casal

—— perfilhação, que é uma declaração de alguém a dizer que é o pai e pode ser
feita de diversas formas (por exemplo, na conservatória do registo civil,
por testamento ou por escritura pública);
—— decisão de um tribunal, em consequência de uma ação de investigação da
paternidade.

A perfilhação pode dar-se a qualquer momento, mesmo antes do nascimento,


exigindo a identificação da mãe, e até depois da morte do filho, o que acabará
por só ter influência relativamente aos seus descendentes. Por norma, não
pode ser revogada (a lei não permite que alguém registe outrem como seu
filho e, no dia seguinte, o negue), mas, não sendo verdadeira, a falsidade
pode ser declarada pelo tribunal, numa ação de impugnação da paternidade,
a qual pode ser desencadeada por quem consta como pai, pelo filho, pela
mãe, por quem entenda ser o verdadeiro pai, por qualquer outra pessoa que
tenha interesse na questão ou pelo próprio Ministério Público.

A perfilhação pode ainda ser anulada pelo pai se for baseada em erro ou
tiver sido fruto de coação moral (alguém ter sido forçado a reconhecer uma
criança como filha, sob ameaça de morte, por exemplo). Para esta anulação,
o suposto pai dispõe do prazo de 1 ano, a contar do conhecimento do erro
ou do momento em que termina a coação, respetivamente.

O TRIBUNAL DECIDIU... PERFILHAÇÃO ANULADA


Residente no distrito de Viseu, o casal contraiu matrimónio em 1964. Três anos depois, nas-
ceu o seu único filho. O casamento durou até 2007, ano em que o marido faleceu. Durante
o processo de inventário para partilha da herança, mãe e filho foram surpreendidos com o
aparecimento de outro alegado filho do falecido, nascido em 1993, fruto de uma relação
extramatrimonial. Não tendo conhecimento de nada disto e desconfiando da perfilhação,
recorreram aos tribunais solicitando que fosse anulada. Argumentaram que a perfilhação
apenas tinha acontecido porque o falecido fora vítima de chantagem: se não perfilhasse o
(então) bebé, a relação extraconjugal seria revelada à sua família.
Para verificar quem tinha razão, o tribunal ordenou a realização de exames genéticos aos
dois supostos filhos do falecido, para verificar o seu grau de parentesco. Ora, o que se
concluiu foi que não eram irmãos, ou seja, que não tinham um pai comum. Não havendo
razões para suspeitar que o filho da esposa não o era também do falecido (convém não
esquecer que o filho de uma mulher casada se presume ser do marido), o juiz concluiu que
o outro, que por ele havia sido perfilhado, não era afinal seu filho. Portanto, considerou a
ação procedente e ordenou a anulação da perfilhação. Ainda foi apresentado recurso para
a Relação de Coimbra, mas a decisão não sofreu alteração.

Tribunal da Relação de Coimbra, 29 de maio de 2012

108
A Filhos

Investigação da paternidade
Independentemente da vontade da mãe, sempre que uma criança seja regis-
tada sem indicação de quem é o pai, a conservatória do registo civil tem de
dar conta desse facto ao tribunal, para que seja investigada a paternidade da
criança. O tribunal ouve a mãe e, quando ela indique quem é, também o pai.
Confirmando-se a paternidade, o tribunal dá conhecimento à conservatória
do registo civil de que a identidade do pai já é conhecida. Se não a confirmar
ou a mãe não a indicar, dá-se início à ação de investigação da paternidade.

A ação de investigação da paternidade também pode ser proposta pelo filho


ou, em seu nome, pela mãe, mesmo que esta ainda seja menor de idade (será
representada na ação por alguém nomeado pelo tribunal).

Quem é a mãe?
Embora menos do que a paternidade, também a maternidade pode levantar
dúvidas, por não haver identificação da mãe no registo (um bebé abandonado,
por exemplo) ou por dele constar uma mãe que não é a verdadeira.

No primeiro caso, é possível fazer a declaração da maternidade na conserva-


tória do registo civil. Aliás, quando o registo não contenha o nome da mãe,
o tribunal deve ser informado desse facto pela conservatória, para se proceder
à investigação da identidade da mãe.
Tendo o nascimento ocorrido há menos de 1 ano, a mulher indicada como
sendo a mãe passa logo a ser considerada como tal (se a declaração não for
feita pela própria ou pelo marido, será comunicada à mulher indicada como
mãe). Se já tiver decorrido mais de 1 ano, só é assim se for a própria a fazer a
declaração. Sendo feita por um terceiro, a mãe é convocada para, no prazo
de 15 dias, confirmar ou não a maternidade. Se a mulher nada disser, fica a
constar como mãe. Negando ou não sendo possível comunicar-lhe que foi
indicada como mãe, a declaração fica sem efeito e o filho continua legalmente
sem mãe.

Quando a mãe que consta do registo não é a verdadeira, tal maternidade


pode ser impugnada em tribunal pelo próprio filho, pela suposta mãe, pelo
Ministério Público ou por outra pessoa com interesse na questão. Por exemplo,
a verdadeira mãe, que só será considerada como tal depois de a outra mulher
deixar de constar do registo e de declarar, junto da conservatória do registo
civil, que é a mãe. Não existem prazos para propor esta ação.

109
A Guia do casal

Uma possível ação de investigação da maternidade, ou seja, uma ação para


provar quem é a mãe autêntica, só pode ser proposta pelo filho. E apenas
quando nenhuma outra mulher esteja registada como mãe (se o registo não
estiver em branco, o filho deve começar por uma ação de impugnação da
maternidade). A ação pode ser proposta:
—— durante a menoridade do filho ou até 10 anos depois de atingir a maioridade
ou de se emancipar pelo casamento;
—— nos 3 anos seguintes a ter sido impugnada a maternidade, com sucesso, por
outra pessoa, ou ter tido conhecimento de factos que justifiquem a inves-
tigação (por exemplo, a pretensa mãe ter deixado de tratá-lo como filho).

PLANEAMENTO FAMILIAR NEM SEMPRE EFICAZ


Nem sempre os filhos resultam da conjugação das vontades do pai e da mãe. Podem
ser fruto de uma gravidez indesejada ou de uma relação que não estava preparada para
gerar um descendente. Para estas situações contribui um planeamento familiar deficiente,
apesar de a legislação prever a existência de consultas, complementadas com exames,
aconselhamento e fornecimento gratuito de contracetivos.
O planeamento familiar visa proporcionar informação, conhecimentos e meios que per-
mitam a todas as pessoas decidir livremente o número de filhos e o intervalo entre o seu
nascimento, sendo do foro conjugal ou pessoal a opção pelos métodos contracetivos. Para
isso, deve ser assegurado acesso às consultas e a outros meios de planeamento familiar,
cabendo ao Estado dotar de meios os centros de saúde e os serviços de ginecologia e
obstetrícia dos hospitais. O Estado e as autarquias locais têm ainda a responsabilidade de
divulgar os meios atrás referidos e incentivar a instalação de centros de atendimento de
jovens. Todos os funcionários de centros de atendimento e de consultas estão sujeitos a
sigilo profissional, tendo os utentes direito à confidencialidade das informações dadas e
recebidas nestes locais.
O Estado é responsável por garantir o direito à educação sexual e compromete-se a divul-
gar os métodos de planeamento familiar, através da escola, das organizações sanitárias
e dos meios de comunicação social, criando ainda condições para apoiar os pais na edu-
cação sexual dos filhos. Apesar de estas regras constarem de legislação já desde a década
de 1980, continua a haver críticas quanto à forma como o planeamento familiar funciona
em Portugal.

Escolha do nome e registo


Quando o filho nasce, uma das primeiras obrigações legais é escolher-lhe
um nome e registá-lo. Esta tarefa compete aos pais, mas, na falta de acordo,
o juiz pode ser chamado a decidir. Provavelmente, o nome está escolhido há
meses, mas existem regras a respeitar. Em primeiro lugar, o nome completo

110
A Filhos

não deve ter mais do que seis palavras, com um máximo de dois nomes pró-
prios, que nunca poderão ser iguais aos de um irmão (a menos que este tenha
morrido), e quatro apelidos. Os nomes próprios devem ser portugueses ou
graficamente adaptados à língua portuguesa. Apenas são admitidos nomes
estrangeiros a quem não tenha nacionalidade portuguesa, a acumule com
outra nacionalidade ou os pais sejam estrangeiros.
Quanto aos apelidos, a criança usa os da mãe e os do pai ou só de um, sendo
ainda possível o uso de apelidos que os pais não tenham, mas pudessem ter
(dos avós, por exemplo). Para a sequência, não existem regras: pode(m) ser
colocado(s) no fim o(s) apelido(s) do pai ou o(s) da mãe, até se admitindo que
sejam intercalados. No limite, pode acontecer que irmãos, filhos do mesmo
pai e da mesma mãe, não tenham sequer apelidos em comum.

O nascimento de um filho deve ser declarado verbalmente numa conservatória


do registo civil, no prazo de 20 dias, ou, se ocorrer numa unidade de saúde em
que seja possível declará-lo, aí mesmo, no balcão Nascer Cidadão, antes de a
mãe ter alta. Esta segunda modalidade dispensa a deslocação à conservatória.
Relativamente aos nascimentos ocorridos em algumas unidades hospitalares,
também é possível efetuar o registo online, através da autenticação com o
cartão de cidadão ou com a chave móvel digital.
Para o registo do bebé, além do nome completo é necessário indicar a fre-
guesia e o concelho de onde é natural. Pode optar-se entre os da localização
da unidade de saúde ou os da residência da mãe.
A declaração de nascimento pode ser feita pelos pais, por outros represen-
tantes da criança ou por alguém a quem eles deem autorização, para o que
basta um documento particular (não necessita de ser feito num notário, nem
de reconhecimento das assinaturas).

O assento de nascimento contém os seguintes elementos:


—— nome próprio e apelidos;
—— sexo;
—— data de nascimento, incluindo, se possível, a hora;
—— freguesia e concelho de naturalidade;
—— nome completo, idade, estado civil, naturalidade e residência habitual
dos pais;
—— nome completo dos avós.

Estes elementos são fornecidos por quem comunica o nascimento, devendo


ser apresentados documentos de identificação dos pais. Se a comunicação
não for efetuada na unidade de saúde onde ocorreu o nascimento, esta terá
de emitir, para esse efeito, um documento que comprove o parto e o nome
da mãe.

111
A Guia do casal

O nascimento de uma criança portuguesa no estrangeiro é registado na Conser-


vatória dos Registos Centrais, situada em Lisboa, a menos que tenha ocorrido
numa unidade de saúde estrangeira que esteja ao abrigo de um protocolo
com o Estado Português (por exemplo, junto da fronteira Portugal/Espanha).
Neste caso, considera-se como local de nascimento o da residência de um
dos progenitores. O nascimento fora do país pode ser comunicado a qual-
quer conservatória do registo civil ou consulado português, cabendo depois
à Conservatória dos Registos Centrais integrar o registo.

Nacionalidade
Tratando-se de uma criança nascida em território português e cujos pais sejam
portugueses (ambos ou só um), a questão da nacionalidade nem se coloca.
Mas existem algumas situações que importa esclarecer:
—— uma criança nascida no estrangeiro com, pelo menos, um progenitor portu-
guês é portuguesa, se este aí se encontrar ao serviço do Estado. É necessário
apresentar no consulado um documento passado pelo departamento para o
qual trabalha, a menos que o funcionário tenha conhecimento oficial desse
facto. Não estando ao serviço do Estado, para o filho se tornar português,
os pais têm de declarar expressamente que pretendem a nacionalidade
portuguesa para ele ou registá-lo nos serviços consulares ou de registo
portugueses;
—— uma criança nascida em território nacional, mas cujos pais são estran-
geiros, é portuguesa se os pais residirem em Portugal há, pelo menos,
2 anos. Só não será assim se estes declararem não querer que o filho seja
português;
—— uma criança nascida em Portugal que não tenha outra nacionalidade é
portuguesa. É o que acontece se as suas origens forem desconhecidas ou
nenhum país a reconhecer como sua cidadã;
—— uma criança adotada por um português adquire a nacionalidade portuguesa.

Abono de família e outras


prestações familiares
O abono de família para crianças e jovens é atribuído apenas aos agregados
familiares mais desfavorecidos, havendo bonificações para as crianças ou
jovens que sofrem de deficiência e uma majoração para os agregados mono-
parentais. É antecedido pelo abono pré-natal.

112
A Filhos

Abono pré-natal
O abono de família pré-natal é atribuído a partir da 13.ª semana de gravidez,
durante 6 meses, sendo alargado, até ao mês do nascimento, se a gestação
se prolongar por mais de 40 semanas. Em caso de nascimento prematuro,
a duração do subsídio não é reduzida, podendo ser atribuído cumulativamente
com o abono devido depois do parto. Se a mãe abortar, o abono pré-natal
é concedido até ao mês em que a gravidez cessa, inclusive. A mulher deve
comunicar o termo da gravidez à segurança social.

O abono pode ser pedido enquanto durar a gravidez e até 6 meses depois do
nascimento do bebé. Quem deixar passar este prazo perde o direito a recebê-lo.
Juntamente com o formulário próprio para o pedido, tem de entregar fotocópias
dos documentos de identificação dos membros do agregado familiar (cartão
de cidadão ou bilhete de identidade e cartão de contribuinte), a menos que já
estejam todos identificados na segurança social. Tem também de apresentar
um certificado médico que indique o tempo de gravidez e quantos bebés vão
nascer. Se o pedido for entregue depois do parto, terá apenas de identificar a(s)
criança(s) nascida(s). O pedido pode ser feito nos balcões de atendimento da
segurança social ou pela internet, através do serviço Segurança Social Direta,
entregando a documentação exigida em formato digitalizado.

As regras de acesso são as do abono de família, que pode ler no próximo título,
e os montantes são iguais aos atribuídos às crianças durante o primeiro ano
de vida. Tem direito a recebê-lo quem estiver num dos três primeiros escalões
de rendimentos para efeitos de abono de família. Quanto mais baixos forem
os rendimentos, mais recebe. O montante atribuído aos agregados monopa-
rentais beneficia de um aumento de 35%.

Abono de família
O abono de família visa ajudar a fazer face às despesas relativas às crianças e aos
jovens. Quem recebeu abono pré-natal não tem de solicitá-lo, já que o processo
é automático. Caso contrário, será necessário apresentar um requerimento,
pela internet (Segurança Social Direta) ou nos serviços da segurança social,
no prazo de 6 meses a contar do mês seguinte ao do parto. Por exemplo, se a
criança nasceu a 4 de dezembro de 2018, o abono deve ser requerido até ao
final de junho de 2019, para que seja recebido desde a data de nascimento.
Um requerimento entregue mais tarde só dá direito a abono a partir do mês
seguinte àquele em que o pedido é apresentado. Sendo os pais divorciados,
quem recebe o abono é o progenitor que fica com o filho. Caso viva alterna-
damente com cada um, serão eles a indicar quem recebe.

113
A Guia do casal

Cinco escalões
O montante mensal atribuído não é igual para todos. Atualmente existem cinco
escalões (apenas quatro com direito a abono), em função do rendimento e
dimensão do agregado familiar. A referência para determinar o escalão é o
Indexante dos Apoios Sociais (IAS), cujo valor, em 2019, é de 435,76 euros.
O 1.º escalão é atribuído a quem tem os rendimentos mais baixos e, portanto,
recebe o abono mais elevado. Quem quiser fazer os cálculos terá de somar
os rendimentos ilíquidos anuais de todos os membros do agregado familiar
(rendimentos de trabalho, de capitais, prediais, pensões, etc.), dividir o resul-
tado por 14, para encontrar um valor mensal, e depois fazer nova divisão,
desta feita pelo número de pessoas com direito ao abono acrescido de um.
Por exemplo, um casal com três filhos menores divide o montante dos seus
rendimentos por quatro, para encontrar o valor de referência que determinará
o escalão. Sempre que haja alteração na composição do agregado familiar
que determine modificação dos rendimentos de referência (por exemplo,
aumento do número de titulares do abono de família), o escalão de rendi-
mentos deve ser reavaliado. A reavaliação é efetuada anualmente (em regra,
a 31 de outubro), mas pode ser pedida, desde que tal se justifique, decorridos
90 dias sobre a última avaliação.

Os escalões existentes são os seguintes:


—— 1.º escalão: rendimentos per capita até meio IAS;
—— 2.º escalão: rendimentos superiores aos do primeiro, mas que não ultra-
passem o valor do IAS;
—— 3.º escalão: rendimentos superiores ao IAS e até uma vez e meia esse valor;
—— 4.º escalão: rendimentos superiores a uma vez e meia o IAS e até duas vezes
e meia esse valor. Neste escalão, as crianças recebem até completarem
3 anos de idade (para os restantes, veja o título Limite de idade, já a seguir);
—— 5.º escalão: os agregados familiares com rendimentos superiores a duas
vezes e meia o IAS nada recebem.

Independentemente do escalão, não têm acesso ao abono as famílias que


possuam valores mobiliários (depósitos bancários, ações, certificados de
aforro, obrigações, etc.) de valor superior a 240 vezes o IAS.

O montante do abono também varia ao longo do tempo e em função do número


de filhos: nos três primeiros escalões, é superior durante a gravidez (abono
pré-natal) e no 1.º ano de vida do filho. Além disso, entre os 12 e os 36 meses
de vida do beneficiário, as famílias com 2 filhos recebem mais, sendo o valor
ainda superior quando existirem 3 ou mais filhos.

Os beneficiários que tenham entre 6 e 16 anos, estejam integrados no 1.º escalão


e matriculados num estabelecimento de ensino recebem o abono a dobrar

114
A Filhos

no mês de setembro, para ajudar a fazer face às despesas relacionadas com


o início do ano escolar.

Limite de idade
O abono é atribuído até o jovem completar 16 anos ou, se estiver a estudar,
até ao final do ano letivo (31 de agosto) em que tal ocorre. No entanto, pode
ser prolongado:
—— até aos 18 anos, para os jovens que frequentam o ensino básico (até ao
9.º ano), um curso equivalente ou outro grau de ensino superior a este;
—— até aos 21 anos, desde que frequentem, no mínimo, o ensino secundário
(do 10.º ao 12.º ano) ou nível equivalente;
—— até aos 24 anos, se forem estudantes do ensino superior (ou equivalente)
ou sofrerem de deficiência. O direito ao abono de família dos jovens com
deficiência que frequentem o ensino superior ou equivalente pode ser pro-
longado até aos 27 anos.

Estes limites podem ainda ser alargados um máximo de 3 anos (até aos 21, 24
e 27 anos) sempre que, “mediante declaração médica, se verifique que os titu-
lares sofrem de doença ou foram vítimas de acidente que impossibilite o normal
aproveitamento escolar”.

Há igualmente manutenção do abono para os estudantes que não tenham


conseguido entrar no ensino superior, devido às regras de acesso. No entanto,
se já tiverem 21 anos quando se candidatam beneficiam desta prerrogativa
apenas durante 1 ano.

Prova escolar
A partir dos 16 anos (já feitos a 1 de setembro ou a completar no decurso do
ano letivo), tem de ser feita a prova escolar, para comprovar que os benefici-
ários do abono estão a estudar.
Está dispensado dessa prova, até aos 24 anos de idade, quem sofra de defi-
ciência. A prova é feita em julho, na internet, através da Segurança Social
Direta. Sem esta prova, o abono é suspenso a partir do início do ano escolar
seguinte (1 de setembro). Se ainda fizer prova até ao final do ano civil (31 de
dezembro), a suspensão é levantada e são pagas as prestações que entretanto
ficaram por pagar. Caso a faça mais tarde, perde direito às prestações suspen-
sas e começa a receber no mês seguinte.

Omissões ou apresentação de falsas declarações relativas à dimensão do agregado


familiar, a titulares do abono que estejam a trabalhar ou às alterações que influ-
enciam o montante ou a atribuição do abono são punidas com coimas. O mesmo
acontece se as falsas declarações respeitarem aos rendimentos do agregado
familiar ou ao número de membros desse agregado que têm direito ao abono.

115
A Guia do casal

Famílias monoparentais
As famílias monoparentais são aquelas em que só um adulto vive com as
crianças ou jovens ou o agregado familiar é constituído apenas pela mulher
grávida. Nestes casos, o abono tem um acréscimo de 35%.
Se a família se tornar monoparental no decorrer da atribuição do abono,
deve apresentar nova declaração de composição e rendimentos do agregado
familiar na segurança social, passando a receber o acréscimo a partir do mês
seguinte. De igual forma, quando deixar de ser monoparental, disso tem de
dar conhecimento à segurança social no prazo de 10 dias úteis.

Portadores de deficiência
Quem também recebe mais são os filhos que sofram de deficiência. Têm
direito a uma bonificação, que varia com a idade e é superior, em 35%, para
as famílias monoparentais. Todos os meses recebem o abono a que têm
direito, acrescido da bonificação, que, à semelhança do abono, é atribuída
até aos 24 anos.

Além da bonificação, existem outras prestações da segurança social para


quem é portador de deficiência:
—— subsídio por assistência de terceira pessoa, destinado a quem precise de
acompanhamento permanente (pelo menos, 6 horas diárias) para satisfazer
as necessidades básicas da vida quotidiana (alimentar-se, mover-se, tratar
da higiene diária) e cujo valor mensal é fixo;
—— subsídio de educação especial, previsto quando a assistência permanente
é prestada em estabelecimentos de ensino ou de apoio social, oficial ou
particular sem fins lucrativos, mas só atribuído aos menores de 24 anos.
Tem um montante variável, dependente do custo da mensalidade do esta-
belecimento e do rendimento e dimensão do agregado familiar.

A partir dos 18 anos, se a deficiência o impossibilitar de exercer uma atividade


profissional que o sustente e lhe for atribuído um grau de incapacidade igual
ou superior a 60%, pode ter acesso à prestação social para a inclusão. Esta
prestação não é acumulável com a bonificação do abono de família. O seu
valor depende do grau de incapacidade e dos eventuais rendimentos da pessoa
que sofre de deficiência.

Bolsa de estudo
As prestações sociais também incluem bolsas de estudo. Têm direito a elas
os titulares de abono de família que sejam menores, integrem os dois pri-
meiros escalões, estejam a frequentar o ensino secundário (10.º ao 12.º ano)
ou equiparado, tenham tido aproveitamento no ano letivo anterior e não

116
A Filhos

exerçam uma atividade remunerada. Recebem a bolsa até ao final do ano


letivo em que completarem 18 anos. O valor é igual ao do abono de família a
que o jovem tem direito.

Não é necessário solicitar o pagamento da bolsa. Estando preenchidas as


condições referidas no parágrafo anterior, depois de feita a prova escolar,
a segurança social paga-a automaticamente em conjunto com o abono. Se o
jovem ainda não tiver 16 anos ou sofrer de deficiência e, em consequência,
não estiver obrigado a fazer aquela prova, a segurança social solicita-a, para
que seja atribuída a bolsa.

Responsabilidades parentais
O conjunto de deveres inerentes à maternidade e à paternidade pode ser
resumido numa única expressão: responsabilidades parentais. O seu conteúdo
começa por ser colocado pela lei num plano de reciprocidade, ao referir que
pais e filhos se devem mutuamente respeito, auxílio e assistência.

As responsabilidades parentais obrigam os pais a proporcionar aos filhos uma


educação adequada, com respeito pela sua saúde, segurança, bem-estar e
formação moral. Estão ainda obrigados a sustentá-los, a representá-los onde
for necessário e a administrar convenientemente os seus bens (este último
aspeto será analisado detalhadamente no título Administração dos bens dos
filhos, na página 123). De acordo com as suas possibilidades, os pais têm de
ajudar os filhos a desenvolver-se física, intelectual e moralmente, propor-
cionando-lhes instrução adequada, de acordo com as aptidões de cada um,
mesmo que sofram de deficiência física ou mental. É, pois, fundamental que
lhes assegurem a frequência e conclusão da escolaridade obrigatória (veja a
caixa O sistema educativo português, na página seguinte).

Os pais devem representar os filhos menores no exercício de todos os direi-


tos e no cumprimento das obrigações, exceto nos atos que o menor possa
praticar livremente e naqueles que respeitem a bens cuja administração não
pertença aos pais (veja Incapacidade dos menores, na página 126). Porém,
nas relações entre pais e filhos podem surgir conflitos de interesses. Se a
sua resolução tiver de ser levada a cabo pelos tribunais, não faz sentido que
os filhos sejam representados pelos pais. Sê-lo-ão por alguém designado
pelo tribunal.

117
A Guia do casal

O SISTEMA EDUCATIVO PORTUGUÊS


A educação tem um papel determinante na evolução das crianças e dos jovens, influen-
ciando a formação da sua personalidade. Todavia, a função educativa não é assumida
em exclusivo pelos pais: também a escola desempenha um papel relevante. O sistema de
ensino está dividido em diversas fases, algumas das quais são obrigatórias:
—— a educação pré-escolar é facultativa, embora a lei estabeleça que o Estado deve asse-
gurar vagas a todas as crianças a partir dos 4 anos de idade, e dura até aos 6 anos.
É ministrada nos jardins-de-infância, os quais podem ser públicos ou privados, funcio-
nando no âmbito do Ministério da Educação (nos jardins públicos, a frequência é gra-
tuita, ao passo que, nos privados, são as famílias que suportam os custos, com eventu-
ais apoios oficiais) ou do ministério com a área da solidariedade e da segurança social
(os custos são suportados, em parte, pelas instituições responsáveis pelo jardim, e no
restante pelas famílias das crianças, de acordo com os seus rendimentos);
—— o ensino básico é constituído por três ciclos. O primeiro recebe as crianças com 6 anos
de idade, tem a duração de 4 anos e segue o regime de um único professor por grupo
de alunos. O segundo inclui o 5.º e o 6.º ano. Quanto ao terceiro e último ciclo, des-
tina-se aos jovens entre os 12 e os 15 anos, embora possa haver variações consoante a
evolução de cada um, e vai do 7.º ao 9.º ano;
—— o secundário (10.º, 11.º e 12.º anos) representa o final do ensino obrigatório. Em alter-
nativa, existem as escolas profissionais, que possibilitam o acesso ao ensino superior e
a entrada no mundo do trabalho, além dos cursos nas áreas das artes plásticas, dança
e música, que funcionam em escolas especializadas;
—— finalmente, o ensino superior confere diversas qualificações académicas (licenciatura,
mestrado e doutoramento). Divide-se entre o universitário e o politécnico, existindo
ainda o ensino pós-secundário não superior, com cursos de especialização tecnológica.

Um aspeto importante da educação dos filhos é o que se prende com a vida


religiosa. De acordo com a lei, cabe aos pais orientar a educação religiosa
dos filhos até aos 16 anos. Se os pais não estiverem de acordo, devem encon-
trar um ponto de equilíbrio e evitar disputas nocivas para os filhos. Quando
estes atinjam os 16 anos, passam a ser eles a decidir livremente quanto à sua
orientação religiosa, podendo optar por caminhos diferentes dos propostos
pelos pais. De acordo com a lei, qualquer pessoa com mais de 16 anos tem
liberdade para escolher a sua religião.

Até aos 18 anos


As responsabilidades parentais mantêm-se, pelo menos, até os filhos atingirem
a maioridade (18 anos) ou a emancipação, o que acontece com o casamento
a partir dos 16 anos. No entanto, muitas vezes, prolongam-se: enquanto os

118
A Filhos

filhos não completarem a formação escolar e profissional, existe a obrigação


de os sustentar e arcar com as despesas relativas à sua segurança, saúde e
educação. Tudo deve ser feito de forma razoável e dentro do tempo normal
para que se complete a formação. Importa ter em conta os rendimentos dos
pais e dos filhos, o estado de saúde daqueles, assim como a idade destes e a
possibilidade de suportarem os custos da formação. Não é exigível que os pais
sustentem um filho que, aos 30 anos, continua a tentar concluir sem êxito
um curso que iniciou há uma década, porque leva uma vida boémia e não se
preocupa com o estudo. Por outro lado, os pais deixam de estar obrigados a
sustentar os filhos e a assumir as despesas relativas à sua segurança, saúde
e educação logo que estes estejam em condições de suportá-las, graças ao
seu trabalho ou a outros rendimentos de que disponham. Não faria sentido
obrigar um pai que ganha 600 euros a continuar a alimentar o seu filho de
17 anos que é futebolista profissional e recebe 10 mil euros mensais.

Os pais não podem renunciar às responsabilidades parentais, mas podem


perder o seu exercício, em consequência de uma decisão judicial (veja Inibi-
ção das responsabilidades parentais, na página 152) ou da adoção do seu filho
por outra pessoa, bem como se houver apadrinhamento civil. Por outro lado,
podem nomear um tutor para os substituir no exercício das responsabilida-
des parentais no caso de virem a falecer ou deixarem de estar aptos a fazê-lo
(devido a deficiência mental, cegueira ou surdo-mudez). Essa decisão terá
de constar de um testamento ou de um documento feito por um notário ou
por ele validado (veja o título Tutor, na página 127).

Pais juntos ou separados


Quando os pais são casados ou vivem em união de facto, as responsabilidades
parentais pertencem a ambos, devendo ser exercidas de comum acordo. Se um
deles tomar uma decisão sozinho, presume-se que o outro está de acordo,
a menos que se trate de uma situação em que a lei exija o consentimento de
ambos ou de um ato de particular importância. Na falta de entendimento
em alguma matéria importante, qualquer deles pode recorrer ao tribunal,
que tenta a conciliação ou, não sendo possível, toma uma decisão, depois de
ouvir o filho, se já tiver capacidade para se pronunciar. Esta é uma solução
prevista na lei, mas que deverá ser evitada, tanto quanto possível, em nome
da harmonia familiar.

Quando um dos pais não puder exercer as responsabilidades parentais, por


estar ausente, doente ou por qualquer outro motivo, o exercício caberá ao
outro progenitor.

119
A Guia do casal

Não sendo os pais casados, nem vivendo juntos, as responsabilidades paren-


tais, desde que haja acordo, são exercidas em comum, e as questões relativas
aos filhos resolvidas como se fossem casados. Na falta de acordo, cabe ao
tribunal determinar, através de decisão devidamente fundamentada, que
as responsabilidades parentais sejam exercidas por aquele a quem o filho
é confiado.

Nos casos de divórcio, separação de pessoas e bens ou separação de facto,


todos já analisados no terceiro capítulo, as responsabilidades parentais rela-
tivas às questões de particular importância para a vida do filho continuam a
ser exercidas por ambos os progenitores. Excetuam-se as situações urgentes,
em que qualquer deles pode agir sozinho, devendo prestar informações ao
outro logo que possível. Quando o tribunal entender que este exercício parti-
lhado pode ser contrário aos interesses do filho, decide qual dos progenitores
ficará com essa responsabilidade. No entanto, deverá sempre procurar que se
mantenha uma relação de proximidade com ambos, promovendo e aceitando
acordos ou tomando decisões que favoreçam o contacto do filho com ambos
e a partilha de responsabilidades entre eles.

Relativamente aos atos da vida corrente, ficando o filho a viver apenas com
um dos progenitores, a orientação caberá a este. Quando estiver temporaria-
mente com o outro, será ele a decidir, não devendo contrariar as orientações
educativas mais relevantes definidas por aquele. Quem não exerça as res-
ponsabilidades parentais mantém o direito a ser informado, nomeadamente
quanto à educação e às condições de vida do filho.

O exercício das responsabilidades parentais poderá resultar de acordo entre


os pais, o qual, à semelhança do que acontece com as pensões de alimen-
tos, só será válido se o tribunal (ou o Ministério Público, num divórcio ou
separação de pessoas e bens por mútuo consentimento) o aprovar, ou seja,
se entender que corresponde ao interesse dos menores. Na separação de
facto, pode admitir-se a existência de acordos sem intervenção dos tribunais,
desde que os pais assim o entendam e o interesse dos filhos seja devidamente
salvaguardado.

Quando um dos pais falece, as responsabilidades parentais passam exclusi-


vamente para o outro. Estando ambos os pais impossibilitados de exercer as
responsabilidades parentais, quaisquer que sejam as razões (falecimento,
ausência, decisão judicial), os tribunais devem decidir a quem incumbirá
essa tarefa, tendo sempre em vista o interesse do menor, mas procurando
respeitar a seguinte ordem de preferência:
—— o cônjuge ou unido de facto de qualquer dos pais;
—— alguém da família de um dos pais (avós, tios, etc.).

120
A Filhos

Igual solução será adotada caso morra o progenitor que exercia as respon-
sabilidades parentais. Eventuais disposições testamentárias do(s) falecido(s)
a designar um tutor para a criança, que poderá até não ser nenhuma destas
pessoas, poderão também ser avaliadas pelos tribunais.

Dever de vigilância
As responsabilidades parentais têm diversas vertentes, uma das quais é a obri-
gação de vigilância. Se os pais não a desempenharem de forma conveniente,
são responsáveis pelos danos que os filhos causem, a menos que mostrem ter
cumprido “o seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda
que o tivessem cumprido”. Portanto, os estragos originados pelos filhos têm,
em princípio, de ser suportados pelos pais, o que pode significar o pagamento
de uma compensação por danos materiais, mas também por danos morais. Não
tem de ser o lesado a provar que os pais falharam no seu dever de vigilância.
Essa falha presume-se e têm de ser os pais a demonstrar que não foi assim.

A responsabilidade pelos danos causados pelos filhos pode não ser exclusiva
dos pais. Em contextos onde exista outra pessoa encarregada da sua vigilân-
cia, como um professor ou um monitor desportivo, por exemplo, também
é responsabilizada.

O grau de vigilância depende das características dos filhos, em particular da


idade: um jovem de 16 ou 17 anos não exige a mesma atenção que uma criança
de 4 anos. Além deste fator, quando são chamados a intervir, os tribunais têm
em conta, entre outros, a educação dada pelos pais e a preocupação pela
segurança dos filhos e pelo seu desenvolvimento.

Uma forma de prevenir este tipo de situações é a contratação de um seguro


de responsabilidade civil familiar, cuja cobertura abrange danos causados
por qualquer membro do agregado familiar. O seu custo não é muito elevado:
por valores entre 30 e 60 euros anuais, pode chegar-se a um capital seguro
de 100 mil euros, o que significa que o seguro cobre despesas anuais até este
montante.

Deveres dos filhos


Os filhos devem obediência aos pais relativamente a tudo o que não seja
ilícito ou imoral. Como é evidente, o filho não tem de satisfazer o pedido do

121
A Guia do casal

pai para furtar um objeto ou conduzir um automóvel sem estar habilitado,


por exemplo. Nem tão-pouco deverá seguir a indicação da mãe para mentir
aos professores.
O dever de obediência não impede os pais de terem em conta a opinião dos
filhos nos assuntos familiares, de acordo com a sua maturidade (onde gos-
tariam de morar quando a família mudar de casa; qual o destino de férias
que preferem; que escola querem frequentar, etc.). De igual forma, os filhos
devem gozar de uma certa autonomia na organização da sua própria vida
(de coisas tão simples como a decoração do quarto à escolha de amigos ou
namorados, por exemplo).

Pode colocar-se a questão da manutenção das responsabilidades parentais


quando o filho menor sai de casa contra a vontade dos pais. Estes continuam
obrigados a sustentá-lo? A lei diz que os filhos menores têm o dever de per-
manecer na casa dos pais (ou naquela que estes lhes destinaram). Se isso não
acontecer, os pais podem forçá-los a regressar, inclusive através do recurso às

AVÓS COM DIREITO DE VISITA?


A questão das responsabilidades parentais prende-se com as relações entre pais e filhos.
Todavia, não devem esquecer-se outros familiares com quem os filhos convivem, como os
avós e os próprios irmãos. A lei é bem clara, ao estabelecer que “os pais não podem injus-
tificadamente privar os filhos do convívio com os irmãos e com os ascendentes”. Portanto,
o convívio com os irmãos e os avós (ou os bisavós) só pode ser impedido se houver razões
válidas para essa decisão. Não pode ser apenas porque a mãe ou o pai não gostam dos
sogros.
A disposição legal que acabámos de citar suscita discussão nos tribunais quanto à existên-
cia ou não de um direito de visita por parte dos avós. Por exemplo, numa ação desenca-
deada pelos avós maternos que, depois da morte da filha, teriam sido afastados do conví-
vio com os netos pelo genro, o tribunal de primeira instância determinou que as crianças
deveriam conviver com os avós, em casa deles, um dia de fim de semana por mês, bem
como na Páscoa, no Natal e durante as férias. O pai recorreu para o Tribunal da Relação
de Lisboa, que considerou que os avós não têm o chamado direito de visita. Existe, isso
sim, o direito dos netos em manterem relacionamento com eles, a menos que se revele
prejudicial. Como, neste caso, os netos, de 7 e 14 anos, até tinham mostrado vontade de
não manterem contacto com os avós maternos, o tribunal entendeu que não deveriam ser
obrigados a conviver com eles.
Noutra decisão, o Tribunal da Relação de Coimbra determinou que os avós paternos
tinham direito a estar com a neta, que, por determinação da mãe, não viam desde a
morte do pai. Nos dois primeiros meses, a criança passaria umas horas por semana em
casa dos avós, acompanhada por um perito em psicologia infantil, para começar a criar
laços afetivos com eles. Depois, não havendo inconveniente, passariam juntos um fim de
semana por mês, os aniversários dos avós, 3 dias nas férias de Natal e Páscoa e 8 dias nas
férias de verão.

122
A Filhos

autoridades policiais ou aos tribunais. Mesmo assim, por vezes os filhos levam
avante a sua intenção de deixar o lar familiar. Apesar de a lei nada dizer, parece-
-nos que os pais não devem, em princípio, demitir-se das suas obrigações, mas
assumi-las na mesma medida em que o fariam se os filhos continuassem a viver
com eles. É demasiado exigir-lhes que paguem a renda de uma casa para onde o
filho foi viver (nada impede, contudo, que o façam, se assim entenderem), mas
não devem fugir ao pagamento da sua alimentação ou dos cuidados médicos,
por exemplo. Em relação a outros aspetos, não pode dizer-se que cessem as
responsabilidades parentais, mas a forma como exercem a vigilância é necessa-
riamente diferente. Tudo depende das circunstâncias concretas de cada caso.

Este direito (ou dever) de os filhos viverem com os pais conhece exceções.
Se uma pessoa casada tiver um filho fora do casamento, não pode levá-lo para
o lar conjugal sem o consentimento do cônjuge. Em princípio, o filho fica a
viver com o outro progenitor, que exercerá as responsabilidades parentais.
Se tal não for possível, tem de ser entregue à guarda de uma terceira pessoa
ou de uma instituição adequada.

Administração dos bens dos filhos


As responsabilidades parentais também abrangem as questões relacionadas
com os bens dos filhos. Os menores estão impossibilitados de dispor livremente
deles. Não podem vendê-los ou fazer do dinheiro que têm o que quiserem,
estando os pais encarregados de administrar os bens dos filhos com o mesmo
cuidado com que gerem os seus.

São dos pais os bens que o filho menor, vivendo em sua companhia, produza
por trabalho que lhes presta e com meios ou capitais que lhes pertencem (por
exemplo, as peças de cerâmica que fabrica na olaria da mãe). No entanto,
devem dar-lhe uma parte dos bens produzidos ou compensá-lo pelo seu tra-
balho de outra forma. Mas isso não pode ser exigido judicialmente, ou seja,
o filho não pode recorrer aos tribunais para que os pais lhe paguem (não
esqueçamos que estamos a falar de filhos menores).

Atos proibidos
Esta regra da administração pelos pais conhece exceções. Em relação a cer-
tos bens, estão proibidos de exercer a sua influência, podendo os tribunais
designar um administrador até os filhos atingirem a maioridade. Vejamos
quais são os bens em causa:

123
A Guia do casal

—— aqueles que os filhos recebam através de uma herança da qual os pais são
excluídos por indignidade ou deserdação. Imaginemos a herança do avô
que o pai não recebe por ter sido deserdado. Nesse caso, o herdeiro é o
filho e o pai não pode administrar os bens herdados;
—— aqueles que os filhos recebam através de uma doação ou de uma herança,
contra a vontade dos pais;
—— os que são deixados ou doados aos filhos com exclusão da administração
dos pais;
—— os adquiridos pelos filhos maiores de 16 anos com o produto do seu trabalho.

Só com autorização do tribunal


As limitações parentais não ficam por aqui. Para praticarem certos atos rela-
tivos aos bens de que têm a administração, os pais necessitam de autorização
dos tribunais. É assim para:
—— vender bens do filho, a não ser que seja necessário por se tratar de um
bem capaz de se degradar e perder valor;
—— garantir ou assumir dívidas em nome do filho;
—— contrair empréstimos (não é possível, portanto, pedir dinheiro ao banco
para comprar casa, em nome do filho menor);
—— contrair obrigações cujo cumprimento deva verificar-se depois da maioridade;
—— repudiar uma herança em nome do filho;
—— arrendar ou alugar bens, por um prazo superior a 6 anos (os pais não podem
arrendar por mais de 6 anos uma casa que pertença ao filho).

Nestes casos, os pais recorrem aos tribunais e têm de demonstrar que, por
exemplo, a venda de um determinado bem do filho é essencial para o seu
bem-estar. Não faria sentido que o menor dispusesse de uma mansão que
recebera como herança, mas nada tivesse para comer.

Sem autorização do tribunal, nenhum dos pais pode tomar de arrendamento


ou adquirir bens dos filhos sujeitos às responsabilidades parentais, diretamente
ou por interposta pessoa (o cônjuge, alguém de quem em princípio venha a
ser herdeiro ou um terceiro com quem combine tudo).

Anulação dos atos


O que acontece se os pais praticarem atos de que estão impedidos? Estes
podem ser anulados a pedido do filho, até 1 ano depois de atingir a maioridade
ou ser emancipado, ou, se entretanto falecer, a pedido dos seus herdeiros
(excluindo os próprios pais responsáveis), no prazo de 1 ano a contar da

124
A Filhos

morte. A anulação pode ser requerida depois de findar o prazo se o filho ou


os herdeiros mostrarem que só tiveram conhecimento do ato nos 6 meses
anteriores à entrada da ação no tribunal.

A ação de anulação também pode ser proposta pelas pessoas com legitimidade
para requerer a inibição das responsabilidades parentais (veja o título Inibição
das responsabilidades parentais, na página 152), contanto que até 1 ano depois
da prática do ato e antes de o filho atingir a maioridade ou ser emancipado.

O tribunal pode confirmar os atos que os pais praticaram sem autorização.


Convém não esquecer que os pais podem utilizar os rendimentos dos bens
dos filhos para satisfazerem despesas com o sustento, saúde, segurança e
educação destes, e até, dentro de certos limites, com outras necessidades da
vida familiar, desde que disponham de autorização judicial.

O TRIBUNAL DECIDIU... MÃE TEM DE PRESTAR CONTAS


As relações entre pais e filhos nem sempre são caracterizadas pela harmonia. Por vezes os
conflitos acontecem e até podem chegar aos tribunais. Foi o que aconteceu a um menor
que, tendo herdado bens do pai e do avô, acabou por recorrer aos tribunais depois de atin-
gir a maioridade, para que a mãe lhe prestasse contas relativamente a partes da herança.
Com efeito, a mãe tinha vendido um apartamento e um automóvel de que ambos eram
herdeiros, e ainda levantou 100 mil euros de uma conta bancária. Sem saber o que a mãe
havia feito a todo o dinheiro, e como ela se recusava a esclarecê-lo, viu-se forçado a seguir
a via judicial para conseguir o que pretendia.
A mãe contestou o pedido, dizendo que não tinha de prestar contas, pois era ela a adminis-
tradora dos bens do filho até este atingir a maioridade. Essa não foi a opinião do tribunal
de primeira instância, que considerava estar em causa uma possível má administração
por parte da mãe. Ordenou-lhe, assim, que prestasse contas ao filho no prazo de 20 dias.
A mãe apresentou recurso para o Tribunal da Relação de Lisboa, mas este confirmou
aquela decisão.

Tribunal da Relação de Lisboa, 3 de maio de 2012

Doações aos menores


Quando alguém pretende doar ou deixar alguma coisa a um menor, os pais
deste devem aceitar ou rejeitar, se puderem fazê-lo legalmente, ou requerer
ao tribunal, no prazo de 30 dias, autorização para o fazer. Se, decorrido este
prazo, nada tiverem feito, o filho ou qualquer dos seus parentes, o Ministério
Público, o doador ou algum interessado nos bens podem requerer ao tribunal
a notificação dos pais para o fazerem, no prazo que lhes for dado. Se os pais

125
A Guia do casal

voltarem a nada fazer, a doação ou herança tem-se por aceite, a não ser que
o tribunal considere a rejeição mais conveniente para o menor.

Chega a maioridade
Assim que os filhos atinjam a maioridade ou sejam emancipados, os pais devem
entregar-lhes todos os bens que administravam. Por outro lado, quando sejam
inibidos das responsabilidades parentais ou deixem de poder administrar os
bens dos filhos, devem entregá-los ao (novo) representante legal dos menores.
Os bens móveis devem ser restituídos no estado em que se encontrem. Se já
não existirem, os pais pagam o respetivo valor, exceto se tiverem sido usados
em proveito do filho ou se tiverem deteriorado sem responsabilidade dos pais.

Incapacidade dos menores


As responsabilidades parentais estão relacionadas com a impossibilidade
de aqueles que ainda não completaram 18 anos decidirem a sua vida, isto
é, são determinadas pela incapacidade dos menores. De um modo geral, não
podem celebrar contratos nem fazer valer convenientemente os seus direi-
tos. Utilizando as palavras da lei, “carecem de capacidade para o exercício de
direitos”. Essa incapacidade é suprida pelas responsabilidades parentais e
termina quando o menor atinge a maioridade ou é emancipado pelo casa-
mento. A partir desta altura, fica habilitado a dar o rumo que quiser à sua
vida e a dispor livremente dos seus bens.

Se, apesar da incapacidade, os menores celebrarem contratos, é possível


obter a sua anulação por uma das seguintes formas:
—— a pedido dos pais (se exercerem as responsabilidades parentais), do tutor
ou do administrador de bens, desde que a ação seja proposta no prazo de
1 ano a contar do conhecimento que o requerente haja tido do negócio,
mas nunca depois de o menor atingir a maioridade ou ser emancipado;
—— a pedido do próprio menor, no prazo de 1 ano a contar da maioridade ou
emancipação. No entanto, não pode pedir a anulação o menor que, para
praticar o ato, se fez passar por maior ou emancipado;
—— a pedido de qualquer herdeiro do menor, no prazo de 1 ano a contar da
morte deste, desde que ocorrida antes de completado o prazo atrás pre-
visto, ou seja, nunca mais de 1 ano depois de ter atingido a maioridade ou
emancipação.

No entanto, alguns atos jurídicos são válidos:

126
A Filhos

—— os negócios próprios da vida corrente do menor que impliquem apenas


pequenas despesas (a compra de um livro, por exemplo);
—— aqueles que respeitem a bens que um maior de 16 anos adquira com o
produto do seu trabalho;
—— finalmente, tudo o que respeite à profissão que esteja autorizado a exercer.

Tutor
Quando os pais não podem exercer as responsabilidades parentais, é neces-
sário encontrar quem os substitua. Essa pessoa recebe a designação de tutor
e, se não se constituir o apadrinhamento civil (veja a página 135 e seguintes)
é obrigatória em caso de:
—— morte dos pais ou inibição das responsabilidades parentais relativamente
a ambos;
—— impossibilidade de os pais exercerem as responsabilidades parentais durante
mais de 6 meses (por estarem presos ou doentes, por exemplo);
—— desconhecimento da identidade dos pais.

A tutela é exercida pelo tutor e pelo conselho de família, o qual é constituído


por um agente do Ministério Público e dois vogais, escolhidos pelo tribunal
entre os parentes ou afins de acordo com a proximidade do grau, as relações
de amizade com o menor, a idade, o lugar de residência e o interesse mani-
festado em relação ao menor. Sempre que possível, um deve representar o
ramo paterno da família e o outro o materno. É exercida sob a vigilância do
tribunal de menores, a quem compete escolher ou confirmar o tutor, que
também pode ser designado pelos pais, para a eventualidade de falecerem
(a designação só é válida se constar de um testamento ou de um documento
feito pelo notário ou por ele autenticado). Se os pais nada tiverem deixado
escrito, a designação compete ao tribunal, que ouve o menor, caso já tenha
14 anos. Se for preciso arranjar tutor para mais do que um filho, tenta-se que
seja o mesmo para todos os irmãos.

O tutor tem os mesmos direitos e obrigações dos pais. Não pode dispor dos
bens do menor, tomá-los de arrendamento ou adquiri-los, e precisa de auto-
rização do tribunal para adquirir bens com capitais do menor. A sua função
termina quando o menor atinge a maioridade, se emancipa, é adotado, os pais
voltam a poder exercer as responsabilidades parentais ou são identificados,
é estabelecida a maternidade ou a paternidade ou é constituído o apadrinha-
mento civil. Quando não exista alguém em condições de exercer a tutela,
o menor é confiado a uma instituição de assistência, sendo as funções de
tutor exercidas pelo diretor do estabelecimento.

127
A Guia do casal

FALTAR AO TRABALHO PARA ASSISTIR OS FILHOS


A lei laboral prevê a possibilidade de faltar ao trabalho em diversas circunstâncias relacio-
nadas com a existência de filhos. Vejamos quais.

Durante a gravidez. Antes do nascimento, a mãe tem direito a ser dispensada do trabalho,
sem perda de retribuição, para se deslocar a consultas pré-natais e sessões de preparação
para o parto pelo tempo e as vezes que for necessário (a entidade patronal pode exigir-lhe
um documento comprovativo da frequência das consultas). No entanto, se possível, devem
ter lugar fora do horário de trabalho. O pai pode acompanhá-la, durante o horário de tra-
balho, em três dessas sessões, também sem desconto na retribuição.
Numa situação de risco clínico, para si ou para o bebé, que não lhe permita exercer as suas
funções, a mãe pode gozar uma licença especial enquanto o médico considerar necessário.
Durante este tempo, recebe um subsídio da segurança social.
Existe ainda outra possibilidade de licença, durante a gravidez, para a mãe que trabalhe
à noite ou em condições que impliquem risco para si ou para o filho. Pode ficar de baixa
médica, recebendo da segurança social o subsídio por riscos específicos.

Licença parental. A mãe goza uma licença de parto de 120, 150 ou, se o pai também
aproveitar um mínimo de 30 dias, 180 dias consecutivos. 30 dias da licença podem ser
aproveitados antes do parto. Se nascer mais de um filho, tem direito a 30 dias adicionais
por cada gémeo além do primeiro. Durante esta licença, recebe um subsídio da segurança
social. Entre os 120 e os 150 dias, a licença pode ser aproveitada, em simultâneo, pelo pai
e pela mãe. Em alternativa, poderá sê-lo pelo pai, mas apenas depois de decorridas as
primeiras 6 semanas.
Havendo necessidade de internamento hospitalar da mãe ou da criança a seguir ao parto,
a mãe pode pedir para a licença ser interrompida enquanto durar o internamento. Passa
a estar de baixa (por doença ou para assistência ao filho) e, terminado o internamento,
retoma-a. Em caso de interrupção da gravidez, a licença tem a duração mínima de 14 dias
e máxima de 30 dias. A trabalhadora tem de avisar a entidade patronal com a antecedên-
cia de 10 dias ou, tratando-se de uma urgência, assim que possível.

Amamentação e aleitação. Terminada a licença parental, a mãe tem direito a dispensa


diária de trabalho por dois períodos distintos, de duração máxima de 1 hora, enquanto
amamentar. Se não amamentar, e até o filho completar 1 ano de idade, não perde o
direito à licença, mas esta poderá ser utilizada pela mãe ou pelo pai. A redução do horário
de trabalho não pode implicar qualquer diminuição salarial.

E o pai? Além de poder gozar parte da licença parental, o pai tem direito a faltar 15 dias úteis,
seguidos ou não, no mês que se segue ao nascimento do filho. 5 desses dias têm de ser
aproveitados consecutivamente logo a seguir ao parto. Os restantes serão gozados quando
quiser. Pode, ainda, faltar mais 10 dias úteis, em simultâneo com a licença gozada pela mãe.
Também pode gozar a licença parental, em substituição da mãe, por período igual ao que
esta ainda teria, se ela morrer ou ficar incapacitada física ou psiquicamente. Goza, pelo
menos, 30 dias de licença. Em todas estas situações, recebe subsídio da segurança social.

Adoção. Na adoção de criança ou jovem com menos de 15 anos, o adotante tem direito

128
A Filhos

a uma licença de duração igual à licença parental para acompanhar a criança, a partir da
confiança judicial ou administrativa (veja Confiança ou medida de promoção e proteção de
menores, na página 131), a menos que o adotando seja filho do cônjuge ou da pessoa com
quem viva em união de facto. Para gozar a licença, tem de avisar a entidade patronal com,
pelo menos, 10 dias de antecedência. Antes da adoção, existe a possibilidade de faltar até
três vezes para deslocação à segurança social ou para receber os respetivos técnicos em
casa, em condições semelhantes às que tem a mãe durante a gravidez.

Licença parental complementar e outras licenças. Os pais têm ainda outros direitos, como a
licença parental complementar, que pode ser aproveitada quando os filhos não tenham mais
de 6 anos de idade. Tanto tem este direito o pai como a mãe, mas um não pode acumular o
seu direito com o do outro, embora possam gozá-los simultaneamente ou de forma consecu-
tiva. O empregador terá de ser avisado com 30 dias de antecedência. Em regra, esta licença
implica desconto salarial enquanto durar. Se for gozada imediatamente a seguir à licença
parental inicial ou à licença parental alargada do outro progenitor, permite receber subsídio da
segurança social, durante um máximo de 3 meses. Compreende as seguintes modalidades:
—— licença parental alargada, durante 3 meses;
—— trabalho a tempo parcial, durante 12 meses;
—— períodos intercalados das duas modalidades, desde que, em conjunto, não tenham
uma duração superior ao equivalente a 3 meses de trabalho.
Esgotada a licença parental complementar, os pais têm direito a outra licença sem retribuição,
para assistência ao filho durante 2 anos, que podem ser seguidos ou não. A partir do terceiro
filho, a duração máxima passa para 3 anos. O aviso à entidade patronal tem de ser feito com
a mesma antecedência (30 dias) e a licença também só existe quando os filhos não tenham
mais de 6 anos. Por outro lado, até o filho completar 12 anos, o progenitor pode trabalhar a
tempo parcial durante um máximo de 2 anos (ou 3, a partir do terceiro filho). Também existe
a possibilidade de trabalhar em horário flexível, sendo este definido pelo empregador.
Quem tenha um filho portador de deficiência ou doença crónica, tem direito, durante o
seu primeiro ano de vida, a uma redução de 5 horas na carga de trabalho semanal. Para
o efeito, terá de avisar a empresa com 10 dias de antecedência. Pode, ainda, beneficiar de
uma licença semelhante à referida no parágrafo anterior, a qual pode durar até 4 anos e não
está limitada aos primeiros anos de vida do filho. No entanto, se este tiver mais de 12 anos,
a necessidade de assistência terá de ser provada através de atestado médico. Por último, tem
a possibilidade de trabalhar a tempo parcial ou no regime de flexibilidade.

Doença ou acidente. Para assistência inadiável e imprescindível ao filho, adotado ou


enteado com menos de 12 anos (sem limite de idade, tratando-se de deficiente ou doente
crónico), a mãe e o pai podem faltar até ao limite anual de 30 dias (31, a partir do segundo
filho), mas só pode fazê-lo um de cada vez. Se o filho for hospitalizado, o direito a faltar
estende-se pelo tempo que durar o internamento. Durante este período, há perda de retri-
buição, mas direito a subsídio da segurança social.
Se os filhos, adotados ou enteados já tiverem completado 12 anos, cada um dos pais pode
faltar até 15 dias por ano (16, a partir do segundo filho), mas, além de perder direito ao
salário, não recebe subsídio. O esquema é idêntico ao da assistência ao cônjuge (para mais
pormenores, consulte a caixa Faltar ao trabalho, na página 37).

129
A Guia do casal

Adoção
Além dos laços de sangue, pode estabelecer-se uma relação equiparável à que
existe entre pais e filhos através da adoção. Com efeito, a lei define-a como
“o vínculo que, à semelhança da filiação natural, mas independentemente dos
laços de sangue, se estabelece legalmente entre duas pessoas”. A adoção só é
possível relativamente a menores, mediante decisão judicial.

O que é preciso fazer


O processo de adoção inicia-se através da apresentação da candidatura a adotante.
Pode ter-se em vista uma criança específica (por exemplo, o filho do cônjuge)
ou qualquer uma que reúna as condições para ser adotada. As entidades com-
petentes avaliam o processo e, se houver aprovação, o menor será entregue
ao candidato, num período de pré-adoção. Correndo tudo bem, concretiza-se
o vínculo, confirmado pela decisão do tribunal.

Apresentação da candidatura
Quem pretenda adotar deve comunicar essa intenção ao organismo de segu-
rança social da sua área de residência ou à Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa. Será convocado para uma sessão informativa sobre os objetivos da
adoção, o que tem de fazer para adotar e como se desenrolará o processo, com
indicação dos documentos a apresentar. Terá de preencher um formulário
de candidatura e, se for um casal a querer adotar, um questionário por cada
candidato, que deverão ser entregues nos locais referidos, acompanhados
dos seguintes documentos:
—— fotocópia de documento de identificação (cartão de cidadão ou passaporte);
—— certidão de nascimento e de casamento ou, havendo união de facto, ates-
tado da junta de freguesia;
—— registo criminal;
—— atestado de residência passado pela junta de freguesia;
—— atestado médico comprovativo do estado de saúde;
—— cópia da última declaração de IRS, recibo do último salário ou declaração
da entidade patronal a indicar a retribuição;
—— se tiver filhos, terá também de entregar fotocópia dos respetivos documen-
tos de identificação ou da certidão de nascimento.

130
A Filhos

Avaliação da candidatura
Quando a documentação for entregue, a segurança social estudará o processo
num prazo máximo de 6 meses, avaliando as razões que levaram ao pedido
do candidato a adotante (aquele que vai adotar), a sua capacidade para criar
e educar o adotando (o potencial adotado), através da análise da sua situação
familiar e económica, bem como da personalidade e saúde das pessoas dire-
tamente envolvidas no processo (adotante e adotado). Durante esse período,
o candidato será convocado para uma segunda sessão informativa, podendo
ainda ter de participar em sessões de formação.

Recusa ou aceitação
Terminado o estudo do caso, a segurança social decide. Se rejeitar a candi-
datura, recusar a entrega do menor ao candidato ou não confirmar a perma-
nência a seu cargo, terá de justificá-lo e referir, ao notificá-lo, a possibilidade
de recorrer da decisão, bem como o prazo para o fazer (30 dias) e o tribunal
que vai analisar o recurso (o competente em matéria de família e menores
na área da sede do organismo de segurança social). Apresentado o recurso,
a segurança social tem 15 dias para alterar a sua decisão ou, mantendo-a,
fundamentá-la junto do tribunal. Este ordena as diligências que entenda
necessárias, apresenta o caso ao Ministério Público e decide no prazo de
15 dias. Desta decisão não há recurso.

Havendo aceitação, o adotante fica a aguardar um novo contacto da segurança


social, o qual demora mais ou menos tempo consoante o número de pedidos
e de crianças existentes, bem como da possibilidade de satisfazer alguma
condição pretendida pelo adotante (a idade do adotando, por exemplo).

Confiança ou medida de promoção e proteção de menores


Na fase seguinte do processo, designada por confiança, o adotante torna-se
responsável pelo adotando. Pode ser determinada pelo tribunal (confiança
judicial) ou pela segurança social (confiança administrativa).

A entrega do menor pode, ainda, acontecer através da competência exclu-


siva do tribunal. Esta possibilidade surge numa fase anterior e visa proteger
uma criança ou jovem que se encontre numa situação de perigo para a sua
segurança, saúde, formação, bem-estar, etc. É uma das medidas previstas
quando as crianças estão em perigo e poderá acelerar o processo de adoção.

131
A Guia do casal

Menos frequente do que a confiança administrativa, a medida de promoção


e proteção de confiança com vista a futura adoção está prevista para certas
situações:
—— ter havido consentimento prévio para a adoção (veja, na página seguinte,
quem pode dar o consentimento);
—— o menor ser filho de pais incógnitos ou falecidos;
—— os pais terem abandonado o menor;
—— os pais terem posto em perigo a saúde, a segurança, a formação, a educação
ou o desenvolvimento do menor;
—— os pais do menor acolhido por um particular ou por uma instituição terem
mostrado desinteresse pelo filho, durante, pelo menos, os 3 meses que
antecederam o pedido de confiança, de forma a comprometer os laços
afetivos próprios da relação entre pais e filhos.

Nos quatro últimos casos, a confiança não é possível se o menor viver com
ascendentes, um colateral até ao 3.º grau (veja o esquema da página 18) ou o
tutor, a menos que esteja em perigo a sua segurança, saúde ou educação ou
que a pessoa com quem ele vive tenha dado o consentimento.
Para verificar se se está perante uma destas circunstâncias, o tribunal tem
de atender, antes de mais, aos direitos e interesses do menor. As instituições
oficiais ou particulares que tenham conhecimento de situações de risco devem
dar disso conhecimento aos serviços de segurança social da zona.

A confiança administrativa só pode ser atribuída se for ouvido o representante


do menor e quem tiver a sua guarda, bem como o próprio menor, se já tiver
12 anos, e nenhum deles se opuser.
Estabelecida a confiança (administrativa ou judicial), a segurança social acom-
panha este período de pré-adoção, que não pode durar mais de 6 meses.
Entretanto, decorre no tribunal um inquérito destinado a averiguar as cir-
cunstâncias relacionadas com o candidato a adotante e com os motivos que
o levam a adotar. Decretada a confiança judicial, os pais biológicos ficam
inibidos do exercício das responsabilidades parentais.

Requisitos legais
O adotado torna-se um autêntico filho do adotante, integrando a sua famí-
lia. Extinguem-se os laços com a família natural, a não ser no que respeita
aos impedimentos matrimoniais. Por exemplo, está impedido de casar com
os seus pais ou irmãos naturais (para mais pormenores, veja o título Laços
familiares, na página 16). Abre-se uma natural exceção, no que respeita à
extinção dos laços familiares, quando o adotado é filho do cônjuge: man-

132
A Filhos

têm-se as relações entre o adotado e o cônjuge do adotante, seu progenitor


natural.

Apelidos
Quanto ao nome do adotado, perde os apelidos de origem e fica com os dos
adotantes, de acordo com as regras aplicadas aos apelidos dos filhos (veja
Escolha do nome e registo, na página 110). O nome próprio é, em princípio,
mantido, mas o adotante pode pedir ao tribunal para alterá-lo. Se entender que
há motivos para a mudança (por exemplo, um filho do adotante ter o mesmo
nome e ficar provado que a alteração não provoca uma crise de identidade
ao adotado), o tribunal admite-a.

Idade para adotar…


Adotando ambos, os cônjuges têm de contar pelo menos 25 anos de idade,
estar casados há mais de 4 anos e não se encontrarem separados de pessoas
e bens ou de facto. Se for só uma pessoa a querer adotar, a idade exigida são
os 30 anos. No entanto, se o adotando for filho do seu cônjuge, basta ter mais
de 25 anos. Também se estabelece um limite máximo quando o adotando não
seja filho do cônjuge: 60 anos, na data em que o menor lhe seja confiado, e só
se a diferença de idade em relação ao adotando não for superior a 50 anos.
Só excecionalmente se permite uma diferença de idades superior. Por outro
lado, sendo filho do cônjuge, não existe limite de idade. Para os casais que vivam
em união de facto, as regras são iguais.

… e para ser adotado


A lei também define quem pode ser adotado: os menores filhos do cônjuge do
adotante, bem como aqueles que tenham sido, judicial ou administrativamente,
confiados a este último. Quanto à idade, têm de ter menos de 15 anos na data em
que o adotante entrega o pedido de adoção ao tribunal. Admite-se o alargamento
até ao final da menoridade (18 anos), quando tenha sido confiado aos adotantes
ou a um deles ainda antes dos 15 anos ou seja filho do cônjuge do adotante.

Consentimento
Para que a adoção seja possível, certas pessoas têm de dar o seu consentimento:
—— em primeiro lugar, o adotando que já tenha completado 12 anos de idade;

133
A Guia do casal

—— o cônjuge do adotante (desde que não estejam separados de pessoas e bens);


—— os pais do adotando, mesmo que sejam menores ou não exerçam as res-
ponsabilidades parentais, a não ser que tenha havido medida de promoção
e proteção de confiança com vista a futura adoção (veja em que consiste
no início da página 132);
—— se os pais do adotando já faleceram, os outros ascendentes (avós, por
exemplo), os colaterais até ao 3.º grau (tios) ou o tutor, desde que vivam
com ele e o tenham a seu cargo.

O consentimento pode ser dispensado pelo tribunal:


—— a quem esteja privado das suas faculdades mentais;
—— àqueles que haja grandes dificuldades em consultar (por se desconhecer
o seu paradeiro, por exemplo);
—— aos pais inibidos do exercício das responsabilidades parentais.

O consentimento é dado perante o juiz, que deve esclarecer quem o dá quanto


ao respetivo significado e consequências. A mãe não pode consentir na adoção
do seu filho antes de terem passado 6 semanas desde o parto.

É possível obter o consentimento sem haver ainda um pedido de adoção


relativo ao menor. Em circunstância alguma pode ser revogado. Não se con-
cretizando, ao fim de 3 anos, a adoção, a confiança ou outra medida que tenha
em vista a adoção, o Ministério Público pode desencadear novas medidas de
proteção do menor.

Existe, ainda, a obrigatoriedade de o juiz ouvir os filhos do adotante que tenham,


pelo menos, 12 anos. Por outro lado, se o adotando é filho do cônjuge falecido
do adotante e o seu consentimento não é necessário, são ainda ouvidos os
seus ascendentes ou, se estes não existirem, os seus irmãos maiores de idade.

A identidade do adotante não deve ser revelada aos pais naturais, embora
possa sê-lo se ele autorizar. Quanto à identidade destes, funciona de forma
inversa: se não quiserem que seja revelada ao adotante, podem expressamente
opor-se (se nada disserem, presume-se que não há oposição).

Para sempre
Uma das características da adoção é a sua irrevogabilidade: depois de decre-
tada, nem o adotante, nem o adotado, nem os dois através de um acordo
podem fazer com que se volte atrás. Todavia, eventuais irregularidades no
processo podem levar à revisão da sentença que a decreta. Vejamos em
que situações:

134
A Filhos

—— quando faltar o consentimento do cônjuge do adotante ou dos pais do


adotado ou o consentimento tiver sido indevidamente dispensado, estas
pessoas têm direito a pedir a revisão da sentença no prazo de 6 meses a
contar do momento em que tiveram conhecimento da adoção, mas nunca
mais de 3 anos depois de esta ter sido decretada;
—— se o consentimento tiver sido dado devido a um erro ou sob coação moral,
quem o deu nessas condições tem 6 meses para pedir a revisão;
—— finalmente, o próprio adotado pode pedi-la se não deu o seu consentimento
e este era necessário, ou seja, se tinha, pelo menos, 12 anos. Dispõe de um
prazo até 6 meses depois de atingir a maioridade (ou de se ter emancipado)
para o fazer.

O tribunal não permitirá a revisão se entender que os interesses do adotado


serão consideravelmente afetados, a menos que considere muito fortes as
razões invocadas pelo adotante.

Apadrinhamento civil
O apadrinhamento civil cria uma relação entre um menor e uma pessoa ou
uma família, que passam a exercer os poderes e deveres próprios dos pais,
ou seja, as responsabilidades parentais. Pretende-se que se estabeleçam vín-
culos afetivos que permitam o bem-estar e desenvolvimento do menor, mas
através de uma ligação menos forte do que a adoção, uma vez que, apesar
de o menor passar a viver com o padrinho, a família de origem mantém o
contacto com ele.

O apadrinhamento está previsto para as situações em que apresenta van-


tagens para o menor e, nas palavras da lei, “desde que não se verifiquem os
pressupostos de confiança com vista à adoção”. Faltando condições para esta
se concretizar, pretende-se encontrar um lar para o menor, em vez de, por
exemplo, mantê-lo numa instituição social.

Destina-se a menores de 18 anos que estejam ao cuidado das instituições sociais,


beneficiem de outra medida de proteção ou se encontrem numa situação de
risco (veja o título Proteção dos menores, na página 152), confirmada por uma
comissão de proteção de crianças e jovens ou num processo em tribunal.
Também pode aplicar-se a quem estivesse abrangido por um processo de
adoção, sem que esta se concretizasse.

135
A Guia do casal

Quem pode apadrinhar


Pode apadrinhar qualquer pessoa que tenha, no mínimo, 25 anos. Exercerá
as responsabilidades parentais, com as limitações que eventualmente cons-
tem do compromisso de apadrinhamento ou da decisão judicial. Em geral,
aplicam-se-lhe as regras da tutela (veja o título Tutor, na página 127).

De acordo com a lei, pode ser padrinho quem apresente, entre outras,
as seguintes características:
—— personalidade, maturidade, capacidade afetiva e estabilidade emocional;
—— capacidades educativas e relacionais para responder às necessidades espe-
cíficas do afilhado e promover o seu desenvolvimento;
—— condições de higiene e habitação adequadas;
—— situação económica, profissional e familiar estável;
—— ausência de limitações de saúde que o impeçam de prestar os cuidados
necessários.

O candidato a padrinho/madrinha deverá começar por pedir uma entre-


vista na segurança social. Nesse primeiro encontro, é-lhe dada uma ficha
de candidatura, que terá de preencher e entregar, e são explicados os
objetivos do apadrinhamento civil, os requisitos a preencher, o que tem
de fazer, quais as necessidades dos afilhados e como se desenrolará o
processo.

Juntamente com a ficha, o candidato tem de entregar:


—— uma cópia da sua certidão de nascimento e dos filhos, se existirem;
—— fotocópias dos documentos de identificação de todos os membros do
agregado familiar;
—— fotocópia da certidão de casamento ou, havendo união de facto, atestado
da junta de freguesia;
—— registo criminal e declaração médica que comprove o estado de saúde;
—— cópia da última declaração de IRS ou do recibo de vencimento mais
recente;
—— certificado de habilitação escolar;
—— fotografia do candidato e do cônjuge.

A segurança social avalia o processo, entrevista o candidato e visita a sua casa,


propondo, no prazo máximo de 6 meses desde a entrega da candidatura,
que seja aceite ou rejeitada. Caso os técnicos da segurança social entendam
que a candidatura não deve ser aceite, poderão ser dados 10 dias adicionais,
para o candidato consultar o processo e apresentar novos documentos ou
argumentos, antes de ser tomada a decisão final.

136
A Filhos

O que é preciso fazer


O processo de apadrinhamento pode ser iniciado pelo tribunal, pelo Ministério
Público, por uma comissão de proteção de crianças e jovens, pela segurança
social, pelos pais, representantes do menor ou quem tenha a sua guarda ou,
por último, pelo próprio menor, se tiver, pelo menos, 12 anos de idade.

Para que haja apadrinhamento, tem de haver consentimento dos pais do


afilhado, de quem tenha a sua guarda ou seja seu representante e, tendo já
12 anos, do próprio afilhado. O cônjuge do padrinho ou da madrinha (ou a
pessoa com quem viva em união de facto) também tem de estar de acordo,
a não ser que estejam separados de pessoas e bens ou de facto. Estando o
menor sujeito a tutela, terá de haver acordo do conselho de família (veja o
que é no penúltimo parágrafo da página 127).

Não é exigido consentimento dos pais quando as responsabilidades parentais


lhes tenham sido retiradas por terem violado os deveres para com os filhos,
prejudicando-os gravemente. Há, ainda, circunstâncias que podem levar o
tribunal a dispensar o consentimento: quem não esteja no pleno uso das suas
faculdades mentais ou não seja possível ouvir, quem possa representar uma
ameaça para a criança ou jovem, entre outras.

Se a comissão de proteção de crianças e jovens ou a segurança social entende-


rem que a possibilidade de apadrinhamento que está a ser avaliada não serve
os interesses do potencial afilhado, comunicam-no ao tribunal. Sendo decidido
que é aconselhável o apadrinhamento, os padrinhos são designados de entre
as pessoas ou famílias que constem da lista regional existente na segurança
social para o efeito. No entanto, quando a iniciativa parta dos pais, de quem
tem responsabilidades relativamente ao menor (seja um indivíduo ou uma
instituição) ou do próprio, eles mesmos podem indicar a pessoa ou família
que querem como padrinhos. Os candidatos estão sujeitos a habilitação por
parte da segurança social, de acordo com as características acima referidas.

A decisão do tribunal ou o compromisso de apadrinhamento, que resulta


do acordo entre a segurança social e os futuros padrinhos, têm de conter
obrigatoriamente os seguintes elementos:
—— identificação do afilhado, dos padrinhos e dos pais, representantes legais
ou pessoa que tenha a sua guarda;
—— eventuais limitações ao exercício das responsabilidades parentais pelos
padrinhos;
—— regime de visitas dos pais ou de outras pessoas com quem o afilhado deva
manter contacto;

137
A Guia do casal

—— montante da eventual pensão de alimentos que os pais tenham de pagar


aos padrinhos;
—— informações que os pais e os padrinhos tenham de prestar à entidade
encarregada do apoio ao apadrinhamento.

Durante 18 meses, a segurança social, outra instituição na qual delegue essa


tarefa ou uma comissão de proteção de crianças e jovens acompanha o apadri-
nhamento. Se, entretanto, verificar que houve integração familiar do afilhado,
o acompanhamento pode cessar antes de decorrido aquele prazo.

Início e fim da relação


O apadrinhamento civil é constituído no tribunal da área onde o menor reside.
Pode resultar de uma decisão do próprio tribunal ou da homologação por este
de um compromisso resultante de um processo que correu na segurança social.
O apadrinhamento é um vínculo permanente, mas, tal como os pais, os padri-
nhos assumem as responsabilidades parentais apenas até que o apadrinhado
conclua a sua formação. Ao contrário do que acontece na adoção, o vínculo
não é irrevogável: pode ser alterado pelo tribunal, por iniciativa de quem
subscreveu o compromisso, da segurança social, do Ministério Público ou
do próprio tribunal. No entanto, isso só acontece se:
—— houver acordo de todos os intervenientes no compromisso de apadrinha-
mento ou dos padrinhos e do afilhado, quando este já for maior;
—— os padrinhos infringirem repetidamente os deveres que assumiram, pre-
judicando o afilhado, ou deixarem de ter condições para os cumprirem;
—— o apadrinhamento deixar de ser benéfico para o afilhado;
—— o padrinho for incapaz de evitar que o afilhado tenha comportamentos
que afetem gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou
desenvolvimento;
—— o afilhado tiver comportamentos que afetem gravemente o padrinho ou a
sua vida familiar, tornando a relação insustentável.

Direitos dos pais biológicos


O apadrinhamento não implica rutura do menor com os pais, que mantêm
alguns direitos, a menos que as responsabilidades parentais lhes tenham
sido retiradas por terem infringido com culpa os deveres para com os filhos,
prejudicando-os gravemente.

138
A Filhos

Em primeiro lugar, podem conhecer a identidade dos padrinhos e ter o seu


contacto e o dos filhos. Devem, ainda, receber regularmente fotografias ou
outras imagens deles e ser informados sobre o seu desenvolvimento, progres-
são escolar ou profissional, a ocorrência de factos importantes ou problemas
graves, sobretudo de saúde. Podem também visitá-los, de acordo com as
condições fixadas, embora o tribunal possa estabelecer restrições relativa-
mente a este aspeto e ao contacto com o filho, se entender que os pais põem
em risco a sua segurança, saúde ou bem-estar ou comprometem a relação de
apadrinhamento. Juntamente com os padrinhos, os pais devem ajudar a criar
condições adequadas ao bem-estar e desenvolvimento do menor.

Direitos e deveres dos padrinhos


Enquanto durar o apadrinhamento, o padrinho beneficia do regime de faltas
ao trabalho e licenças previsto na lei (veja Licença parental complementar e
outras licenças e Doença ou acidente, na página 129). Também recebe presta-
ções sociais, como o abono de família (em nome do afilhado), nas mesmas
condições dos pais, e pode acompanhar o menor quando estiver doente, per-
manecendo a seu lado durante um internamento, por exemplo. Para efeitos
de IRS, os afilhados são considerados dependentes, à semelhança dos filhos.
Se o apadrinhamento for revogado contra a vontade do padrinho e sem que
tenha culpa, este mantém direitos semelhantes aos dos pais (veja o título
anterior).

Quanto aos deveres, o padrinho tem de exercer as responsabilidades parentais


como se de um pai se tratasse, assegurar as condições necessárias ao bem-
-estar e desenvolvimento do afilhado, proporcionar-lhe o acesso a cuidados
de saúde e educação, através da frequência de um estabelecimento de ensino
adequado. Deve, ainda, ajudar o afilhado a manter contacto com a família
biológica.

139
A
A

Capítulo 6

O Estado
e a família
A Guia do casal

Já analisámos, no terceiro capítulo, as saídas para um casamento em rutura,


nomeadamente a separação e o divórcio. Porém, não é só aí que o matrimónio
(ou outro tipo de união) se defronta com problemas graves, por vezes dramá-
ticos. Isso acontece sempre que o relacionamento entre os cônjuges e/ou com
os filhos se caracteriza pela violência, maus-tratos e, em geral, desrespeito
pela vida e integridade física e psicológica de cada um.

Em suma, há momentos no quotidiano familiar em que o Estado é forçado a


intervir. Existem diversas iniciativas destinadas a pôr-lhes fim, mas a prática nem
sempre corresponde às intenções enunciadas no papel e a violência doméstica
continua a ser uma realidade que urge combater. Ao longo dos anos, têm sido
tomadas medidas para levar as pessoas, em particular as mulheres, a deixarem
de conformar-se com o papel de vítimas de um cônjuge que viola continuamente
os mais elementares direitos da vida humana, o que passa, muitas vezes, por
denunciar a situação às autoridades policiais. No entanto, continua a ser uma
situação delicada, pois, apesar de a lei punir esse tipo de condutas, muitas pessoas
hesitam antes de apresentar queixa (se é que chegam a fazê-lo).

A intervenção do Estado na vida do casal manifesta-se no papel assumido


pelos juízes ou conservadores do registo civil durante o processo de divórcio,
mas convém não esquecer a mediação familiar. Importa também mencionar
as intervenções do Estado em cenários que representam problemas sociais,
mais do que meras questões familiares, como é o caso da violência e dos
maus-tratos. Revela-se uma particular preocupação com as mulheres e as
crianças, o que é natural, tendo em conta que se encontram mais desprote-
gidas e são as vítimas de violência mais frequentes.

Mediação familiar
Nos processos de divórcio e regulação das responsabilidades parentais,
há questões que é necessário resolver, dando especial atenção ao destino
dos filhos quando deixam de poder partilhar o mesmo agregado familiar
com o pai e a mãe. Tem de decidir-se, também, quem fica na casa da família
e se haverá lugar (ou não) ao pagamento de pensões de alimentos depois de
dissolvido o casamento.

A preocupação com o normal desenvolvimento psicológico e afetivo dos filhos


levou ao aparecimento da mediação familiar. Procura-se resolver os problemas

142
A O Estado e a família

resultantes da separação familiar com a ajuda de especialistas ( juristas ou


psicólogos, por exemplo), definindo como tudo se passará terminado o casa-
mento. Não se pretende que funcione como alternativa ao divórcio (nem seria
possível), mas como complemento.

Chegar a um acordo
As vantagens da mediação vão da ajuda especializada à pacificação da separação,
uma vez que as decisões são tomadas pelos cônjuges depois de dialogarem e
serem devidamente esclarecidos por alguém sensibilizado para esse tipo de
problemas. Outros aspetos importantes são a absoluta confidencialidade e a
possibilidade de a qualquer momento os cônjuges abandonarem a mediação,
por iniciativa de ambos ou só de um. Contudo, os mediadores não são forço-
samente juristas e têm, como principal objetivo, fomentar o diálogo e criar
as condições para um acordo. Se tiver receio de que os seus interesses não
fiquem totalmente acautelados, poderá fazer-se acompanhar de um advogado.

Quando recorrer
A mediação familiar pode ocorrer antes, durante ou depois do divórcio, se bem
que a primeira possibilidade seja a preferível, para que, quando o divórcio é
requerido, o casal já tenha beneficiado do auxílio de especialistas. Estes terão,
porventura, maior disponibilidade do que os juízes ou os conservadores para
se debruçarem sobre a situação particular dos membros daquela família.
A mediação familiar é de tal forma importante que a lei refere, expressamente,
que a conservatória ou o tribunal onde vai decorrer o divórcio deve, ainda
antes do início do processo, informar os cônjuges sobre a sua existência e
objetivos, verificando se o casal a ela quer recorrer.

Como funciona
O sistema de mediação familiar não exige advogado, embora as partes possam
fazer-se acompanhar de um. O processo pode ser iniciado online (http://smf.mj.pt),
por telefone (808 262 000) ou correio endereçado à Direção-Geral da Polí-
tica de Justiça, em Lisboa. Pouco tempo depois, as partes são contactadas
e é marcada uma sessão informativa, com o mediador, para esclarecimento
das regras de funcionamento e de todas as dúvidas dos intervenientes. Caso

143
A Guia do casal

avancem com a mediação, cada uma das partes terá de pagar uma taxa de
50 euros. Quem tiver rendimentos muito baixos poderá requerer apoio judi-
ciário, junto da segurança social, para efetuar este pagamento. Mais tarde,
ocorrem as sessões de mediação, na tentativa de chegar a acordo, cujo teor
será definido pelas partes e é da sua responsabilidade. Em média, um processo
não dura mais de 2 meses.

Questões abrangidas
Este sistema público tem competência para mediar conflitos que surjam no
âmbito das relações familiares nas seguintes matérias:
—— regulação, alteração e incumprimento das responsabilidades parentais;
—— divórcio e separação de pessoas e bens;
—— conversão da separação de pessoas e bens em divórcio;
—— reconciliação de cônjuges separados;
—— atribuição e alteração de pensões de alimentos;
—— privação ou autorização do uso de apelidos do ex-cônjuge;
—— autorização do uso da casa de morada da família.

Assegurar a pensão
de alimentos
Normalmente, após o divórcio, um dos cônjuges fica obrigado a pagar uma
pensão de alimentos aos filhos. Acontece que, muitas vezes, a obrigação não é
cumprida. Para esse tipo de condutas, a lei prevê sanções, incluindo a conde-
nação na prática de um crime (veja a caixa Crimes em família, na página 150).
Estas punições podem, na prática, revelar-se insuficientes, quando o obrigado
não tenha possibilidade de satisfazer o pagamento e o menor fique em difi-
culdades. Se assim for, o Estado assegura um determinado montante mensal,
desde que o menor não tenha um rendimento mensal bruto superior ao
Indexante dos Apoios Sociais (IAS) nem esteja ao cuidado de alguém (a mãe
ou o pai, por exemplo) que lhe permita ter meios de subsistência. No total,
o agregado familiar em que se encontra inserido não pode ter um rendimento
por pessoa superior ao valor do IAS.

144
A O Estado e a família

Aceder ao apoio estatal


Para financiar este apoio, o Estado constituiu o Fundo de Garantia dos Alimentos
Devidos a Menores. Se a ele quiser ter acesso, o menor (ou o seu representante)
deve dar conta do incumprimento junto do tribunal de família e pedir que
o juiz fixe um determinado montante. O tribunal fá-lo depois de analisar as
circunstâncias, em particular as necessidades do menor, o rendimento do
agregado familiar e o montante da pensão de alimentos que deveria ser-lhe
paga. No entanto, este fundo só será acionado se não for possível recorrer à
cobrança coerciva, isto é, retirar do salário do devedor (ou de outra fonte de
rendimentos, como uma pensão de reforma, por exemplo) o montante neces-
sário para satisfazer o pagamento da pensão de alimentos. Outro requisito é
que o devedor seja incapaz de cumprir essa obrigação devido à sua situação
socioeconómica: está desempregado, doente, incapacitado, encontra-se em
local desconhecido ou está preso, por exemplo. O montante mensal máximo
da prestação a que o menor terá direito corresponde ao valor do IAS.

Duração do apoio
A ajuda estatal é garantida enquanto o progenitor estiver em falta, mas todos os
anos tem de ser feita prova junto do tribunal de que ainda é necessária. A reno-
vação inicial do pedido tem de ser feita no prazo de 1 ano a contar da primeira
prestação recebida. Se não o for, o menor perde direito a ela. Assim que atingir
a maioridade, a prestação deixa de ser paga, mesmo que o beneficiário ainda
não tenha completado a sua formação nem disponha de meios para se sustentar.
As alterações que impliquem a perda deste direito (por exemplo, começar a
ser paga a pensão de alimentos) devem ser comunicadas pelo representante
do menor. Não o sendo, terão de ser restituídos os montantes indevidamente
recebidos, acrescidos de juros de mora. Aliás, a omissão de factos decisivos
na atribuição da ajuda estatal pode ser punida como crime de burla (pena
de prisão até 3 anos ou multa).

Combate à violência doméstica


O Estado intervém cada vez mais nas situações de violência familiar. O objetivo
é combatê-la, criando condições para que a vítima, ou qualquer outra pessoa

145
A Guia do casal

que deles tenha conhecimento, denuncie os maus-tratos. Na sequência da


queixa, é aberto um processo. Mas, se o prevaricador for apanhado em flagrante,
é detido. A pena aplicável ao crime de violência doméstica varia entre 1 e 5 anos,
mas pode ser agravada. Se, por exemplo, daí resultar ofensa grave à integridade
física ou a morte, a pena poderá ir, respetivamente, até aos 8 ou até aos 10 anos.

Ao longo do tempo, vários estudos foram revelando as consequências da


violência doméstica: maior probabilidade de as vítimas terem filhos doentes,
não arranjarem emprego ou, estando a trabalhar, não serem promovidas.
Também é maior o recurso a consultas de psiquiatria, devido a perturbações
emocionais e ao risco de suicídio.

RELAÇÃO COM O AGRESSOR


outro grau cônjuge ou
ou relação 9% companheiro 53%

filho ou enteado 15%

pai, mãe, padrasto


ou madrasta 5%

ex-cônjuge ou
ex-companheiro 17%

Fonte: Relatório Anual de Segurança Interna 2017

Muitas vezes o agredido nada faz, por vergonha ou receio de represálias. Por
outro lado, frequentemente não tem hipótese de deixar a casa familiar, por falta
de um local para onde ir. Nesse sentido, foram criadas casas de abrigo para
vítimas de violência e estabelecida uma regra que determina que é o agressor
quem tem de sair de casa, aí permanecendo o agredido. O primeiro passo é
denunciar a situação ou pedir a alguém que o faça (veja a caixa Denunciar a
violência e pedir ajuda, na página seguinte).

Estatuto de vítima e acompanhamento do processo


O conceito de violência doméstica abrange todos os atos de violência física,
psicológica e sexual, mesmo contra ex-cônjuges ou pessoas com quem o

146
A O Estado e a família

agressor se relacionou, ainda que não tenha existido coabitação. A frequência


das agressões entre namorados ou pessoas cuja relação já terminou levou a
que a lei também as considere crime de violência doméstica.

Quando alguém apresenta queixa de violência doméstica, é atribuído o estatuto


de vítima e entregue um documento comprovativo, com os direitos e deveres
correspondentes ao estatuto. Só não será assim se houver indícios fortes
de que a queixa não tem fundamento. Caso a vítima tenha filhos menores,
o eventual regime de visitas do agressor será avaliado, podendo ser suspenso
ou condicionado. Quem tem o estatuto de vítima terá, em princípio, maior
facilidade de acesso a uma série de apoios, como proteção especial ou apoio
psicológico e social.

Desde o primeiro contacto com as autoridades, devem ser fornecidas à vítima


as seguintes informações:
—— serviços e organizações a que pode dirigir-se para obter apoio e, se neces-
sário, como receber proteção;
—— procedimentos que se seguem à denúncia e o que terá de fazer;
—— condições para ter acesso a aconselhamento jurídico, apoio judiciário ou
outras formas de aconselhamento;
—— possibilidade de obter uma indemnização.

Sem prejuízo do segredo de justiça, deve ainda ser-lhe assegurada informação


sobre o estado do processo e, se quiser, as consequências para o agressor:
se foi preso, libertado, sujeito a medidas restritivas da liberdade ou condenado.

DENUNCIAR A VIOLÊNCIA E PEDIR AJUDA


Numa situação de emergência (agressão física, por exemplo), contacte imediatamente
o 112, a PSP ou a GNR. Não sendo algo tão imediato, poderá deslocar-se aos Serviços do
Ministério Público ou recorrer ao sistema de queixa eletrónica (https://queixaselectronicas.
mai.gov.pt). Após uma agressão, vá a um hospital ou a um centro de saúde para obser-
vação. Estes casos estão isentos do pagamento de taxas moderadoras. Agressões particu-
larmente graves, de violação ou que impliquem risco de vida, aconselham a deslocação
a uma delegação do Instituto de Medicina Legal. Não é necessária intervenção prévia de
qualquer autoridade judiciária ou policial. O objetivo é efetuar um exame pericial, com
eventual colheita de vestígios, e o relatório segue para o Ministério Público.
Outra possibilidade para denunciar a situação, e obter informações úteis e apoio, é ligar
para uma das linhas telefónicas gratuitas existentes. O 116 006, da Associação Portuguesa
de Apoio à Vítima (APAV), funciona nos dias úteis entre as 9h00 e as 21h00; o 800 202 148,
do Serviço de Informação às Vítimas de Violência Doméstica, funciona 24 horas por dia,
todos os dias do ano.

147
A Guia do casal

Proteção e assistência às vítimas


A situação de violência doméstica pode chegar ao conhecimento das auto-
ridades através da vítima ou de qualquer outra pessoa. Logo no primeiro
contacto, a vítima deve ser informada sobre os serviços e organizações que
podem apoiá-la, e em quê, o que deve fazer para apresentar a denúncia e
como obter aconselhamento jurídico.

O Estado compromete-se a proteger a vítima e a sua família quando entenda


que existe o risco de represálias ou de novos atos violentos por parte do agres-
sor, por ter sido apresentada queixa, ou o perigo de reincidência. A vítima
tem, ainda, direito a atendimento psicológico e, se necessário, psiquiátrico,
bem como a uma consulta com um advogado e, em caso de insuficiência
económica, apoio judiciário.

Durante o processo judicial em que o agressor é acusado, o juiz e o Ministério


Público podem decidir que a vítima, desde que dê consentimento, receba
apoio psicossocial e proteção por teleassistência, durante um período de
6 meses que, caso se justifique, poderá ser prolongado. Com este sistema,
contacta a qualquer hora um serviço de auxílio num cenário de emergência
ou perigo. Também é utilizado para apoio emocional ou esclarecimento de
dúvidas. Para isso, basta acionar um botão vermelho existente no aparelho
que é fornecido à vítima. Funciona ainda como sistema de localização, para
que se saiba sempre onde se encontra. Finalmente, quando o agressor tem
pulseira eletrónica, o aparelho sinaliza a sua aproximação à vítima, permitindo
um rápido contacto com as autoridades.

VÍTIMAS AGRESSORES

79% 21% 16% 84%


Fonte: Relatório Anual de Segurança Interna 2017

148
A O Estado e a família

Os processos de violência doméstica têm natureza urgente, pelo que os


seus julgamentos são prioritários. Depois de o agressor ser constituído
arguido, ou seja, de existir já uma acusação pela prática do crime de violência
doméstica, o tribunal pode determinar a aplicação de medidas. Entre elas,
a impossibilidade de permanecer na casa onde terá cometido o crime ou
onde resida a vítima, mesmo que esta de lá tenha saído em consequência
da agressão, bem como contactar com ela ou com outras pessoas ou fre-
quentar certos locais.

No seu trabalho, a vítima que apresente queixa-crime e saia da casa da família


pode pedir para ser transferida, temporária ou definitivamente, para outro
estabelecimento da empresa, se existir. Só se admite que o empregador adie a
transferência por exigências relacionadas com o funcionamento da empresa
ou até que exista um posto de trabalho compatível. Nesse caso, a trabalhadora
(ou trabalhador) tem a possibilidade de suspender o contrato até se concre-
tizar a mudança. Por outro lado, ser-lhe-á dada prioridade na frequência de
programas de formação profissional.

Justificando-se, a vítima terá acesso a apoio ao arrendamento ou à atribuição


de uma casa de habitação social e a receber o rendimento social de inserção.

Casas de abrigo para as vítimas


O Governo tem a obrigação de promover a criação e o funcionamento da rede
de casas de apoio às vítimas de violência doméstica, que integra as casas de
abrigo e o acolhimento de emergência, onde as vítimas e suas famílias bene-
ficiam de proteção à sua integridade física e psicológica.

As casas de abrigo são unidades residenciais que funcionam todo o ano,


24 horas por dia, destinadas a acolher temporariamente as vítimas de violência
doméstica, acompanhadas ou não de filhos menores ou de filhos maiores que
sofram de deficiência. Podem receber um máximo de 30 pessoas e devem
dispor de uma equipa técnica constituída, preferencialmente, por quem
tenha formação em psicologia, serviço social, direito e educação social. Estes
profissionais terão a missão de avaliar a situação e definir o tipo de apoio a
prestar às vítimas acolhidas.

As vítimas são encaminhadas para estas casas pela Comissão para a Cidadania
e Igualdade de Género (CIG), pelos serviços da segurança social ou de ação
social das câmaras municipais, por outras estruturas de atendimento a vítimas
de violência doméstica ou por outras casas de abrigo.

149
A Guia do casal

O acolhimento é de curta duração — 6 meses, no máximo. Terminado esse


período, a vítima regressa à comunidade de origem ou a outra por que tenha
optado. Excecionalmente, a equipa técnica aconselha uma permanência mais
longa. Enquanto aí estiverem, a vítima e os filhos têm direito a alojamento
e alimentação em condições de higiene, proteção, segurança e privacidade.

CRIMES EM FAMÍLIA
A intervenção do Estado na vida familiar visa punir a prática de crimes, apoiar as vítimas e,
eventualmente, determinar alguma espécie de terapia para quem violou a lei.
Vejamos os principais crimes cometidos no seio da vida familiar:
—— matar o cônjuge, ex-cônjuge, alguém com quem manteve uma relação, mesmo que
não tenham coabitado, um descendente, um ascendente, o adotado ou o adotante
constitui, em princípio, uma circunstância capaz de classificar um homicídio como qua-
lificado, que é o mais grave dos homicídios (pena de prisão entre 12 e 25 anos). É claro
que nem sempre é assim: basta pensar no filho que mata o pai depois de ter sido vio-
lentamente agredido por ele. Será possivelmente punido pelo crime de homicídio pri-
vilegiado (prisão entre 1 e 5 anos), embora até possa estar-se perante legítima defesa;
—— a mãe que mate o filho, durante ou após o parto, comete o crime de infanticídio,
punido com prisão entre 1 e 5 anos;
—— se o pai ou a mãe abandonarem um filho, colocando a sua vida em perigo, podem ser
condenados a uma pena de prisão entre 2 e 5 anos, a qual sobe para 2 a 8 anos se
desse abandono resultar uma ofensa grave à integridade física do filho (perda de um
órgão, por exemplo), ou de 3 a 10 anos se este morrer;
—— quem infligir maus-tratos físicos ou psíquicos ao cônjuge ou ex-cônjuge, ao companheiro
de facto, ao progenitor do filho ou a alguém com quem tenha (ou teve) uma relação,
mesmo sem coabitação, é punido com pena de prisão entre 1 e 5 anos, agravada nos ter-
mos referidos quanto ao abandono dos filhos. Por outro lado, o limite mínimo da pena
passa para 2 anos se o crime for praticado contra menor, na presença de um menor,
na casa da vítima ou onde vivam criminoso e vítima. Pode ainda ser impedido de con-
tactar com a vítima e de se aproximar da sua residência, por um período de 6 meses a
5 anos, ou ficar impedido de exercer as responsabilidades parentais entre 1 e 10 anos;
—— quem praticar crimes de índole sexual, como violação, abuso sexual de crianças ou
lenocínio (fomento da prostituição) contra um filho seu, do cônjuge ou da pessoa com
quem viva em união de facto é punido com uma pena de prisão agravada em relação à
prática dos mesmos crimes por outras pessoas e é inibido das responsabilidades paren-
tais durante um período de 5 a 20 anos. Quando a vítima destes crimes seja o cônjuge,
a pena de prisão também é agravada;
—— quem estiver obrigado a pagar uma pensão de alimentos e, tendo condições para o
fazer, não cumprir essa obrigação, colocando em risco a satisfação das necessidades
fundamentais de quem tinha direito à pensão (filho ou cônjuge, por exemplo), é punido
com prisão até 2 anos ou multa até 240 dias, que pode não ser cumprida se entretanto
satisfizer a sua obrigação. Se não houver este risco, mas a obrigação não for cumprida
no prazo de 2 meses desde que é devida, a punição será uma multa até 120 dias. Caso
repita, está também sujeito a uma pena de prisão até 1 ano.

150
A O Estado e a família

Todos os serviços prestados na casa são gratuitos. Aos filhos, é garantida


transferência para a escola mais próxima da casa de abrigo.

Os centros de acolhimento de emergência recebem vítimas que carecem de


uma resposta imediata. Ainda antes de haver uma decisão quanto à necessi-
dade de acolhimento, a vítima pode permanecer numa casa durante 72 horas,
por indicação das autoridades policiais, por exemplo, enquanto se procede
à avaliação.

Adiantamento de indemnização pelo Estado


As vítimas do crime de violência doméstica ocorrido em Portugal podem pedir
um adiantamento ao Estado por conta da indemnização que será devida,
mais tarde, pelo agressor. É considerado vítima quem tenha denunciado os
maus-tratos de que é alvo às autoridades e não haja indícios de que se trata
de uma falsidade. O adiantamento só é concedido a quem, em consequência
da agressão, tenha ficado numa situação de grave carência económica.

O pedido é dirigido à Comissão de Proteção às Vítimas de Crimes, indicando


os factos que estão na sua base, o adiantamento pretendido e a referência a
qualquer quantia que já tenha sido recebida para compensar os danos causa-
dos pela agressão. Pode apresentá-lo a própria vítima, o Ministério Público,
outra instituição pública ou qualquer entidade privada que auxilie vítimas
de crimes (a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, por exemplo). Tem
de ser feito no prazo de 1 ano após a agressão. Se a vítima for menor, pode
apresentar o pedido até 1 ano depois de atingir a maioridade ou emancipar-
-se pelo casamento. Num cenário de violência continuada, o prazo começa
a contar no momento em que essa violência terminar. Por outro lado, tendo
sido instaurado processo-crime contra o agressor, estes prazos podem ser
prorrogados pelo presidente da comissão, até ter decorrido 1 ano sobre a
decisão que lhe põe termo.

A comissão atrás referida ouve quem apresentou o pedido, consulta as quei-


xas e os dados de processos em curso, averiguando a situação profissional,
financeira ou social da vítima. A decisão deve ser tomada no prazo de 1 mês,
mas, sendo a carência evidente, a comissão pode disponibilizar imediatamente
uma quantia por conta do adiantamento da indemnização.

O montante do adiantamento depende das características do caso em análise,


mas não excede o equivalente ao salário mínimo nacional, durante 6 meses,
podendo ser prolongado pelo mesmo período. Se a vítima vier a obter uma

151
A Guia do casal

reparação (o agressor é condenado pelos tribunais a pagar-lhe uma indem-


nização), terá de devolver o que recebeu adiantadamente.

Quem preste falsas declarações e, dessa forma, obtenha (ou tente obter)
o adiantamento da indemnização de forma indevida pode ser condenado a
pena de prisão até 3 anos ou ao pagamento de uma multa. Além disso, terá
de devolver o que recebeu acrescido de juros de mora.

Proteção dos menores


Pela sua fragilidade, os menores são alvo de especial atenção da lei. Pretende-se
protegê-los dos perigos que os rodeiam, mesmo que vindos dos próprios pais,
e permitir que encontrem um caminho são no caso de apresentarem compor-
tamentos que não os dignificam nem facilitam a sua integração na sociedade.

Inibição das responsabilidades parentais


Em certas circunstâncias, os pais (ou um deles) podem ser impedidos de
exercer as responsabilidades parentais. Isso acontece, em primeiro lugar,
quando cometam um crime contra o menor (veja a caixa Crimes em família,
na página 150), mas também noutras circunstâncias. Por exemplo, quando
sofrem de deficiência mental, estão ausentes ou violaram gravemente os
deveres para com os filhos, prejudicando-os. Enfim, é possível quando, por
qualquer razão, se mostrem incapazes de cumprir os deveres próprios de
um pai ou de uma mãe.

O que (não) está abrangido


A inibição é decretada pelos tribunais e pode ser pedida pelo Ministério Público,
que tem a função de zelar pelos interesses das crianças e dos jovens junto dos
tribunais de família e de menores, bem como por algum familiar do menor ou
pela pessoa que dele cuide. O seu âmbito pode ser mais ou menos alargado:
—— inibição total ou parcial, ou seja, respeitar a todos os aspetos das respon-
sabilidades parentais ou só à representação do filho e administração dos
seus bens (os pais menores não casados sofrem desta inibição parcial);

152
A O Estado e a família

—— referir-se a ambos os pais ou só a um deles;


—— abranger todos os filhos ou apenas alguns. Se respeitar a todos, em princípio
estende-se aos filhos que venham a nascer depois da decisão.

A inibição das responsabilidades parentais não isenta os pais do dever de ali-


mentarem o filho. A menos que não disponham de meios para isso, continuam
a ter de contribuir para o seu sustento, nomeadamente para alimentação,
vestuário, cuidados de saúde e educação.

Suspensão e restabelecimento das responsabilidades parentais


Durante o processo, pode ser suspenso o exercício das responsabilidades
parentais se houver clara indicação de que o progenitor é incapaz, física ou
moralmente, de cuidar da criança. Esta será acolhida em casa de alguém
idóneo, preferencialmente um familiar. Em último caso, será colocada numa
instituição de acolhimento.

As responsabilidades parentais são restabelecidas se forem eliminados os fato-


res que levaram à sua inibição. Isso sucederá a pedido do Ministério Público,
em qualquer altura, ou dos pais, no prazo de 1 ano depois da inibição pelo
tribunal ou de este ter indeferido um pedido idêntico.

Responsabilidades parentais "à distância"


É possível que o progenitor coloque em risco a saúde, a segurança ou a edu-
cação do filho, mas não ao ponto de se justificar que lhe sejam retiradas as
responsabilidades parentais. As mesmas entidades com legitimidade para
requerer a inibição estão habilitadas a pedir ao tribunal para entregar a criança
a outra pessoa ou a uma instituição de educação ou assistência. Imaginemos
alguém que trabalha longe de casa, durante a maior parte do dia, deixando
os filhos sozinhos. Pode entender-se que estarão melhor com os avós, por
exemplo, mas os pais não deixam de ter uma palavra a dizer na sua educação.
Será provavelmente estabelecido um regime de visitas para os pais, a menos
que o tribunal entenda não ser aconselhável.

Comissões de proteção
Também com o intuito de proteger os menores, não só nos casos de violência
doméstica, mas em todos os que ponham em causa a sua integridade física

153
A Guia do casal

ou moral ou a sua inserção na vida familiar e na comunidade, existem as


comissões de proteção de crianças e jovens, que geralmente funcionam junto
dos tribunais de menores ou de família.
Trata-se de organismos independentes, que, de acordo com a lei, “visam promover
os direitos da criança e do jovem e prevenir ou pôr termo a situações suscetíveis de
afetar a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento integral”.

Em todos os concelhos
Em regra, existe uma comissão por município, mas nos que tenham maior
número de habitantes pode haver mais do que uma. Funciona em modalidade
restrita e alargada, sendo esta última constituída por:
—— um representante do município, indicado pela câmara municipal;
—— um representante da segurança social;
—— um representante do Ministério da Educação;
—— um representante do Ministério da Saúde, de preferência um médico ou
um enfermeiro;
—— representantes das instituições particulares de solidariedade social ou de
outras organizações não governamentais que desenvolvam, na área de
competência territorial da comissão, respostas sociais dirigidas a crianças,
jovens e famílias;
—— um representante do organismo público competente em matéria de emprego
e formação profissional;
—— um representante das associações de pais da área de competência da
comissão;
—— um representante das associações que desenvolvam atividades desportivas,
culturais ou recreativas destinadas a crianças e jovens;
—— um representante das associações de jovens;
—— um ou dois representantes das forças de segurança (PSP e GNR), conforme
na região abrangida pela comissão exista apenas uma ou as duas;
—— quatro pessoas designadas pela assembleia municipal ou de freguesia,
preferencialmente com conhecimentos ou capacidades para intervir na
área das crianças e jovens em risco;
—— técnicos com formação em serviço social, psicologia, saúde ou direito,
designados pela comissão.

A comissão funciona em plenário ou através de grupos de trabalho para


assuntos específicos. O plenário reúne sempre que se justifique e, no mínimo,
uma vez por mês. A comissão escolhe o presidente de entre os seus membros.
Na versão restrita, é composta por um número ímpar, não inferior a cinco,
de entre os membros que integram a comissão alargada. Dela farão sempre
parte o presidente e os representantes do município, da segurança social,

154
A O Estado e a família

dos ministérios da educação e da saúde. Esta versão da comissão funciona


em regime permanente, reúne sempre que for convocada pelo presidente
(no mínimo, quinzenalmente) e é ela que intervém se o menor estiver em
perigo, dispondo de um serviço de atendimento e informações.

Quando entram em ação


As comissões atuam sempre que a segurança, saúde, formação, educação
ou desenvolvimento de uma criança estão em risco, considerando-se que
tal acontece quando:
—— foi abandonada ou vive entregue a si própria;
—— sofre maus-tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos sexuais;
—— está sujeita a comportamentos que afetem gravemente a sua segurança ou
o seu equilíbrio emocional;
—— não recebe os cuidados ou a afeição adequados à sua idade e situação pessoal;
—— está aos cuidados de terceiros durante algum tempo, desenvolvendo
fortes laços com eles, sem que os pais exerçam as suas responsabilidades
parentais;
—— é obrigada a atividades ou trabalhos excessivos ou inadequados à sua
idade, dignidade e situação pessoal ou prejudiciais à sua formação ou
desenvolvimento;
—— assume comportamentos ou se entrega a atividades ou consumos que
afetem gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desen-
volvimento sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda
de facto se lhes oponham de modo adequado.

Nos processos de que se ocupam, as comissões decidem quais as medidas de


proteção aos menores a aplicar em cada caso. Tudo é mantido em segredo,
de forma a proteger os menores, que, se tiverem, pelo menos, 12 anos, podem
opor-se à medida sugerida pela comissão.

Medidas de proteção
As medidas de proteção visam proporcionar aos menores condições que
permitam preservar a sua segurança, saúde, bem-estar, formação, educação
e desenvolvimento. As medidas podem consistir em:
—— apoio junto dos pais (auxílio de natureza psicopedagógica e social e,
se necessário, económica). Para mais pormenores, veja o próximo título;
—— apoio junto de outro familiar (colocação sob a guarda de um parente com
quem o menor resida, acompanhada de auxílio de natureza psicopedagó-
gica e social e, se necessário, económica);

155
A Guia do casal

—— apoio para que tenha uma vida autónoma, caso se trate de um jovem com,
pelo menos, 15 anos, através do acesso a programas de formação. Esta
medida pode também ser aplicada a jovens do sexo feminino com idade
inferior à atrás referida que já sejam mães;
—— confiança a uma pessoa idónea, isto é, colocação sob a guarda de uma
pessoa que não seja familiar, mas tenha uma relação de afetividade com
a criança ou o jovem;
—— acolhimento junto de uma família ou numa instituição, com curta duração,
prevendo-se o regresso ao seio da família natural num prazo máximo de
6 meses, embora possa ser mais longo. As instituições funcionam em regime
aberto, permitindo que as crianças e os jovens mantenham contactos
regulares com a família e com outras pessoas com quem se relacionem.
A entrega da criança a uma família de acolhimento, bem como a uma
instituição ou a uma pessoa poderá visar a sua futura adoção, mas isso só
pode ser decidido por um tribunal.

Nos concelhos em que não exista comissão de proteção de menores,


as medidas são tomadas pelo tribunal, o mesmo acontecendo, entre outros
casos, quando:
—— o Ministério Público considere ilegal ou inadequada a medida adotada
pela comissão;
—— a criança ou o jovem se oponham à intervenção da comissão;
—— se pretenda aplicar uma medida de confiança a uma pessoa ou instituição
que vise a adoção, para a qual a comissão não tem competência.

Apoio aos pais ou a quem fique com o menor


Procurando que os menores não sejam afastados do ambiente familiar nem
do meio em que cresceram, foram criadas regras de apoio aos pais, a outro
familiar ou a uma pessoa idónea que detenha a sua guarda. É mais uma medida
para evitar o internamento numa instituição de acolhimento.
A ajuda abrange as vertentes psicopedagógica, social e, se necessário, econó-
mica e é assegurada pelos serviços da segurança social ou pela Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa, existindo a possibilidade de celebração de acordos
com instituições particulares. Resulta de um plano de intervenção elabo-
rado na sequência de uma decisão judicial ou de um acordo de promoção e
proteção do menor. Este surge, em princípio, da ação de uma comissão de
proteção de crianças e jovens. Na elaboração do plano, são ouvidos os pais
e, se for o caso, quem irá ficar com o menor, bem como o próprio quando a
sua maturidade o permita.

156
A O Estado e a família

Tipos de apoio
Através do apoio psicossocial, proporciona-se a convivência entre os membros
do agregado familiar, bem como o normal desenvolvimento da criança ou
do jovem, depois de identificadas as suas necessidades, potencialidades e
capacidades. Pode haver também projetos de formação escolar e profissional,
para o auxiliar a aproveitar as oportunidades que surjam.

O apoio social visa assegurar os cuidados adequados de alimentação, higi-


ene, saúde, segurança, educação e bem-estar e disponibilizar, ao menor e à
família, informação e aconselhamento para tomarem decisões e resolverem
problemas complexos.

Quanto ao apoio económico, consiste numa prestação da segurança social para


que o menor disponha dos cuidados adequados ao seu desenvolvimento e
seja possível mantê-lo no agregado familiar. Pode ser complementado com
o pagamento de despesas relacionadas com a aquisição de equipamento
indispensável ao seu alojamento.

Requisitos
Para receberem estes apoios, os pais têm de mostrar que o seu comportamento
não afeta a segurança e o equilíbrio emocional do filho, que são capazes de
evitar que este fique em situações de risco e que têm disponibilidade para
colaborar nas ações constantes do plano de intervenção.

Se a permanência junto dos pais não for possível e a criança tiver de ficar
ao cuidado de outro familiar ou de uma pessoa classificada como idónea,
a lei exige que, além de serem capazes de cumprir o exigido no parágrafo
anterior:
—— tenham uma relação de afetividade com o menor;
—— residam próximo dos seus pais;
—— tenham idade superior a 18 e inferior a 65 anos;
—— não tenham sido condenados por crimes contra a vida, integridade física,
liberdade e autodeterminação sexual.

Sendo possível, o menor não deve ser separado dos irmãos e apenas ficará
junto de uma destas pessoas até os pais estarem em condições de recebê-lo de
novo. Enquanto durar a separação, deve manter contacto com eles, a menos
que não seja aconselhável e existam restrições impostas pelo tribunal ou pela
comissão de proteção de crianças e jovens.

157
A Guia do casal

Famílias de acolhimento
Os menores que estejam em risco podem ser abrangidos pelo acolhimento
familiar, traduzido num contrato de prestação de serviços entre quem entrega
o menor (um serviço da segurança social, por exemplo) e quem o recebe.
Consiste, pois, na confiança de uma criança ou jovem a uma pessoa singular
ou a uma família, visando a sua integração num meio familiar, a prestação
dos cuidados adequados às suas necessidades e bem-estar e a educação indis-
pensável ao seu desenvolvimento. Não constitui, em princípio, uma opção
definitiva, pois prevê a possibilidade de o menor voltar ao seio da família
assim que esta tiver condições para recebê-lo.

Onde?
O menor ficará a cargo de uma família ou de uma pessoa com quem não tenha
relação de parentesco e escolhida pelos serviços da segurança social ou pela
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Podem ser atribuídos dois menores a
cada casa, desde que, somando aos que já façam parte do agregado familiar,
não sejam mais de quatro. Só excecionalmente se admite um número superior.
Não havendo, na família de acolhimento, filhos menores ou outras crianças
a cargo, é admitido um máximo de três crianças ou jovens.
O acolhimento de crianças que exijam especial atenção, por questões de
deficiência, doença crónica ou sérios problemas do foro emocional ou com-
portamental pode ser feito num lar profissional.

Candidatura e seleção
São aceites candidaturas para acolhimento familiar a quem:
—— tenha idade superior a 25 e inferior a 65 anos. Tratando-se de um casal,
só um terá de preencher este requisito;
—— tenha concluído a escolaridade mínima obrigatória;
—— tenha condições de saúde para acolher crianças e jovens;
—— disponha de uma casa com higiene e conforto;
—— não seja candidato a adoção;
—— faça do acolhimento atividade profissional principal ou secundária;
—— não tenha sido condenado pela prática de crimes contra a vida, integridade
física, liberdade ou autodeterminação sexual;
—— não esteja inibido do exercício das responsabilidades parentais.

Na seleção das famílias de acolhimento candidatas, é ainda avaliada a per-


sonalidade, maturidade, capacidade afetiva e equilíbrio emocional dos seus

158
A O Estado e a família

membros, bem como a motivação para efetuar o acolhimento, o perfil psi-


cológico e grau de estabilidade. Será tida em conta a atitude de todos os
membros do agregado perante o acolhimento, para que decorra de forma
harmoniosa e afetiva.

Na formalização da candidatura, é necessário apresentar documentos que


comprovem o estado de saúde, a situação económica, o registo criminal e
as habilitações. A avaliação será feita através de entrevistas, visitas à casa da
família e, tratando-se de acolhimento em lar profissional, análise do curricu-
lum vitae. A decisão deve ser tomada no prazo de 6 meses.

Deveres
As famílias de acolhimento têm o dever de proteger, orientar e educar os
menores que lhes são confiados. Devem procurar que a criança ou o jovem
mantenham o relacionamento com a família natural. Para exercerem esta
tarefa, recebem uma retribuição mensal por cada menor a cargo. Essa quantia
duplica quando o menor seja portador de deficiência, sendo necessário fazer
prova anual dessa deficiência. É também necessário apresentar anualmente
um documento que comprove o bom estado de saúde de todos os membros
da família de acolhimento. Um elemento da família tem de estar inscrito como
trabalhador independente e de passar recibos pelos montantes recebidos.

É-lhes também pago um subsídio mensal para fazer face às despesas dos meno-
res. Poderá, por último, ser-lhes fornecido equipamento que seja necessário
ao acolhimento. Durante a permanência da criança, a família tem de ir dando
conta da situação à entidade responsável pelo processo.

A menos que esteja impedida, a família natural é informada sobre o modo


como se processa o acolhimento, sendo promovidos encontros com a família
que ficou com o menor. Deve colaborar com esta e comparticipar, sempre
que possível, nos encargos com o filho. Quanto a este, se já tiver 12 anos ou,
ainda que com idade inferior, demonstrar maturidade suficiente, deverá ser
ouvido ao longo do processo.

Reinserção social
No auxílio dos jovens, também assume papel de relevo a Direção-Geral de
Reinserção e Serviços Prisionais, cuja missão consiste, entre outros, em exe-
cutar políticas de prevenção criminal e reinserção social de jovens e adultos

159
A Guia do casal

até aos 21 anos, aplicando medidas tutelares educativas e penas alternativas à


prisão, como o internamento num centro educativo, tarefas a favor da comu-
nidade ou frequência de programas formativos. A sua ação visa combater a
delinquência e a marginalização. A intervenção deste organismo e dos serviços
de reinserção social abrange o apoio social e psicológico aos jovens que são
arguidos em processos judiciais, bem como a colaboração com os tribunais em
áreas como o crime, os menores e a família, para que conheçam os jovens e se
avalie a melhor forma de contribuir para a sua educação e evitar a exclusão.
O acompanhamento é feito, ainda antes de haver uma sentença, mas também
depois, tendo em vista a reinserção. O trabalho das equipas de reinserção
social é desenvolvido em cooperação com as comissões de proteção de cri-
anças e jovens. Podem ainda colaborar com os estabelecimentos prisionais.

160
A

A legislação
em vigor
A Guia do casal

CAPÍTULO 1
O noivado
Código Civil
—— artigos 1591.º a 1595.º – promessa de casamento;
—— artigos 1600.º a 1609.º, 1649.º e 1650.º – impedimentos matrimoniais;
—— artigos 1610.º a 1624.º, 1651.º a 1653.º, 1669.º e 1670.º – formalidades;
—— artigos 1677.º e 1677.º-A – adoção de apelidos do cônjuge;
—— artigos 1698.º a 1716.º – convenção antenupcial.

Lei n.º 9/2010, de 31 de maio, alterada pela Lei n.º 2/2016, de 29 de fevereiro
—— casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

Código do Registo Civil


—— artigos 134.º a 191.º e 245.º a 259.º – formalidades do casamento,
impedimentos ao casamento, dispensa de impedimentos.

Código do Trabalho
—— alínea a) do n.º 2 do artigo 249.º – faltas dadas por altura do casamento.

Código Penal
—— artigo 247.º – crime de bigamia;
—— artigo 248.º – falsificação de estado civil.

Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariado


—— artigo 18.º, n.º 3 – custos do processo de casamento.

CAPÍTULO 2
Vida conjugal
Código Civil
—— artigos 1671.º a 1676.º – deveres conjugais;
—— artigos 1678.º a 1689.º – administração dos bens;
—— artigos 1690.º a 1697.º – dívidas dos cônjuges;
—— artigos 1717.º a 1736.º – regimes de bens.

Código do Trabalho
—— artigo 249.º, n.º 2, alínea e), 252.º a 255.º – faltas dadas para assistência
a cônjuge.

Código Penal
—— artigo 247.º – crime de bigamia.

162
A A legislação em vigor

CAPÍTULO 3
Dissolução do casamento
Código Civil
—— artigo 1605.º – prazo internupcial;
—— artigos 1631.º a 1650.º – anulabilidade do casamento;
—— artigos 1767.º a 1772.º – separação judicial de bens;
—— artigos 1773.º a 1793.º-A – divórcio;
—— artigos 1794.º a 1795.º-D – separação de pessoas e bens;
—— artigos 2131.º a 2144.º e 2156.º a 2178.º – heranças do cônjuge e dos
descendentes.

Código de Processo Civil


—— artigos 72.º, 409.º, 555.º, 931.º e 932.º – separação e divórcio sem
consentimento de um dos cônjuges;
—— artigos 994.º a 999.º – divórcio e separação por mútuo consentimento.

Competências das conservatórias do registo civil, nomeadamente separação e divórcio por mútuo
consentimento; dispensa de prazo internupcial; uso de apelidos de ex-cônjuge, entre outras:
—— Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de outubro;
—— Decreto-Lei n.º 324/2007, de 28 de setembro;
—— Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro;
—— Decreto-Lei n.º 122/2013, de 26 de agosto.

Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro


—— altera o regime jurídico do divórcio.

Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariado


—— artigo 18.º, n.º 6 – custos do processo de divórcio.

Código do Registo Civil


—— artigos 192.º a 208.º – declaração e registo do óbito.

Balcão das Heranças e do Divórcio com partilha


—— Portaria n.º 1594/2007, de 17 de dezembro, alterada pela Portaria
n.º 286/2012, de 20 de setembro.

Lei n.º 23/2013, de 5 de março


—— regime jurídico do processo de inventário.

Pensão de sobrevivência na Função Pública


—— Decreto-Lei n.º 142/73, de 31 de março;
—— Decreto-Lei n.º 191-B/79, de 25 de junho;

163
A Guia do casal

—— Decreto-Lei n.º 192/83, de 17 de maio;


—— Decreto-Lei n.º 214/83, de 25 de maio;
—— Decreto-Lei n.º 61/84, de 24 de fevereiro;
—— Decreto-Lei n.º 283/84, de 22 de agosto;
—— Decreto-Lei n.º 40-A/85, de 11 de fevereiro;
—— Decreto-Lei n.º 198/85, de 25 de junho;
—— Decreto-Lei n.º 20-A/86, de 13 de fevereiro;
—— Decreto-Lei n.º 173/89, de 26 de maio;
—— Decreto-Lei n.º 322/90, de 18 de outubro;
—— Decreto-Lei n.º 343/91, de 17 de setembro;
—— Decreto Regulamentar n.º 1/94, de 18 de janeiro;
—— Decreto-Lei n.º 78/94, de 9 de março;
—— Decreto-Lei n.º 71/97, de 3 de abril;
—— Decreto-Lei n.º 8/2003, de 18 de janeiro;
—— Lei n.º 60/2005, de 29 de dezembro;
—— Despacho Normativo n.º 5/2006, de 30 de janeiro;
—— Lei n.º 52/2007, de 31 de agosto;
—— Decreto-Lei n.º 309/2007, de 7 de setembro;
—— Lei n.º 11/2008, de 20 de fevereiro;
—— Lei n.º 3-B/2010, de 28 de abril;
—— Lei n.º 23/2010, de 30 de agosto;
—— Decreto-Lei n.º 32/2012, de 13 de fevereiro;
—— Decreto-Lei n.º 133/2012, de 27 de junho;
—— Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro;
—— Lei n.º 11/2014, de 6 de março.

Pensão de sobrevivência e subsídio por morte do regime geral de segurança social


—— Decreto-Lei n.º 322/90, de 18 de outubro, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 141/91, de 10 de abril, pelo Decreto-Lei n.º 265/99, de 14 de julho,
pela Lei n.º 23/2010, de 30 de agosto, pelo Decreto-Lei n.º 133/2012,
de 27 de junho, pelo Decreto-Lei n.º 13/2013, de 25 de janeiro, pela
Lei n.º 83-C/2013, de 31 de dezembro, pela Lei n.º 82-C/2014, de 31 de
dezembro, e pelo Decreto-Lei n.º 33/2018, de 15 de maio;
—— Decreto Regulamentar n.º 1/94, de 18 de janeiro, alterado pelo Decreto-
-Lei n.º 153/2008, de 6 de agosto.

Subsídio por morte na Função Pública


—— artigo 83.º do Decreto-Lei n.º 498/72, de 9 de dezembro;
—— Decreto-Lei n.º 223/95, de 8 de setembro.

Pensão de viuvez
—— Decreto-Lei n.º 160/80, de 27 de maio;
—— Decreto Regulamentar n.º 52/81, de 11 de novembro.

164
A A legislação em vigor

Impostos (IMI, IMT, Imposto de Selo)


—— Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de novembro (alterado 17 vezes, a última
das quais pela Lei n.º 55-A/2010, de 31 de dezembro).

CAPÍTULO 4
União de facto
Regime da união de facto
—— Lei n.º 7/2001, de 11 de maio, alterada pela Lei n.º 23/2010, de 30 de
agosto, e pela Lei n.º 2/2016, de 29 de fevereiro.

Código Civil
—— artigos 1903.º a 1904.º-A – responsabilidades parentais.

CAPÍTULO 5
Filhos
Código Civil
—— artigos 1796.º a 1802.º – estabelecimento da filiação;
—— artigos 1803.º a 1825.º – maternidade;
—— artigos 1826.º a 1873.º – paternidade;
—— artigos 1874.º a 1920.º-C – efeitos da filiação e responsabilidades
parentais;
—— artigos 1921.º a 1972.º – tutela;
—— artigos 1973.º a 1991 – adoção.

Código do Registo Civil


—— artigos 11.º, 45.º, 69.º, 96.º a 111.º – declaração e registo do nascimento;
—— artigos 112.º a 133.º – paternidade, maternidade e perfilhação;
—— artigo 69.º – adoção.

Adoção
—— Decreto-Lei n.º 185/93, de 22 de maio, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 120/98, de 8 de maio, pela Lei n.º 31/2003, de 22 de agosto, pela Lei
n.º 28/2007, de 2 de agosto, e pela Lei n.º 143/2015, de 8 de setembro;
—— Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, alterada pela Lei n.º 31/2003, de 22 de
agosto, pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro, pela Lei n.º 23/2017,
de 23 de maio, e pela Lei n.º 26/2018, de 5 de julho;
—— Lei n.º 31/2003, de 22 de agosto;
—— Lei n.º 141/2015, de 8 de setembro, alterada pela Lei n.º 24/2017, de 24
de maio;

165
A Guia do casal

—— Lei n.º 143/2015, de 8 de setembro;


—— Lei n.º 2/2016, de 29 de fevereiro.

Nacionalidade
—— Lei n.º 37/81, de 3 de outubro;
—— Lei n.º 25/94, de 19 de agosto;
—— Lei Orgânica n.º 1/2004, de 15 de janeiro;
—— Lei Orgânica n.º 2/2006, de 3 de outubro;
—— Decreto-Lei n.º 237-A/2006, de 14 de dezembro;
—— Portaria n.º 1403-A/2006, de 15 de dezembro;
—— Lei Orgânica n.º 1/2013, de 29 de julho;
—— Lei Orgânica n.º 8/2015, de 22 de junho;
—— Lei Orgânica n.º 9/2015, de 29 de julho;
—— Lei Orgânica n.º 2/2018, de 5 de julho.

Planeamento familiar e educação sexual


—— Lei n.º 3/84, de 24 de março;
—— Portaria n.º 52/85, de 26 de junho;
—— Lei n.º 120/99, de 11 de agosto;
—— Decreto-Lei n.º 259/2000, de 17 de outubro;
—— Lei n.º 12/2001, de 29 de maio;
—— Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto.

Proteção na maternidade e paternidade em matéria laboral


—— Código do Trabalho: artigos 33.º a 65.º e 249.º, n.º 2, alíneas e) e f );
—— Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º
133/2012, de 27 de junho, pela Lei n.º 120/2015, de 1 de setembro, e pelo
Decreto-Lei n.º 53/2018, de 2 de julho.

Abono de família e abono pré-natal


—— Decreto-Lei n.º 176/2003, de 2 de agosto, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 2/2016, de 6 de janeiro, pelo Decreto-Lei n.º 41/2006, de 21 de
fevereiro, pelo Decreto-Lei n.º 87/2008, de 28 de maio, pelo Decreto-Lei
n.º 245/2008, de 18 de dezembro, pelo Decreto-Lei n.º 201/2009, de 28
de agosto, pelo Decreto-Lei n.º 70/2010, de 16 de junho, e pelo Decreto-
-Lei n.º 133/2012, de 27 de junho;
—— Lei n.º 53-B/2006, de 29 de dezembro, alterada pela Lei n.º 3-B/2010,
de 28 de abril, pelo Decreto-Lei n.º 254-B/2015, de 31 de dezembro, e
pela Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro;
—— Portaria n.º 984/2007, de 27 de agosto, alterada pela Portaria n.º
1316/2009, de 21 de outubro, e pelo Decreto-Lei n.º 133/2012, de 27 de
junho;

166
A A legislação em vigor

—— Portaria n.º 1223/2007, de 20 de setembro;


—— Portaria n.º 249/2011, de 22 de junho;
—— Portaria n.º 344/2012, de 26 de outubro;
—— Portaria n.º 160/2018, de 6 de junho.

Bolsa de estudo
—— Decreto-Lei n.º 201/2009, de 28 de agosto.

Apadrinhamento civil
—— Lei n.º 103/2009, de 11 de setembro, alterada pela Lei n.º 141/2015,
de 8 de setembro;
—— Decreto-Lei n.º 121/2010, de 27 de outubro, alterado pela Lei n.º 2/2016,
de 29 de fevereiro.

CAPÍTULO 6
O Estado e a família
Código Penal
—— artigos 69.º-C, 132.º, 136.º, 138.º, 152.º, 152.º-A, 163.º a 165.º, 167.º
a 178.º, 250.º – crimes praticados contra membros da própria
família.

Mediação familiar
—— Despacho n.º 18778/2007 do Gabinete do Secretário de Estado da
Justiça, de 22 de agosto.

Violência doméstica
—— Lei n.º 61/91, de 13 de agosto;
—— Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro, alterada pela Lei n.º 19/2013, de
21 de fevereiro, pela Lei n.º 82-B/2014, de 28 de dezembro, pela Lei
n.º 129/2015, de 3 de setembro, pela Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro,
e pela Lei n.º 24/2017, de 24 de maio;
—— Portaria n.º 220-A/2010, de 16 de abril, alterada pela Portaria
n.º 63/2011, de 3 de fevereiro;

Estatuto da vítima
—— Lei n.º 130/2015, de 4 de setembro;
—— Portaria n.º 229-A/2010, de 23 de abril.

Casas de abrigo
—— Decreto Regulamentar n.º 2/2018, de 24 de janeiro.

167
A Guia do casal

Garantia dos alimentos devidos a menores


—— Lei n.º 75/98, de 19 de novembro, alterada pela Lei n.º 66-B/2012, de 31
de dezembro, e pela Lei n.º 24/2017, de 24 de maio;
—— Decreto-Lei n.º 164/99, de 13 de maio, alterado pelo Decreto-Lei n.º
70/2010, de 16 de junho, e pela Lei n.º 64/2012, de 20 de dezembro.

Concessão de indemnização às vítimas de violência doméstica


—— Lei n.º 104/2009, de 14 de setembro, alterada pela Lei n.º 121/2015,
de 1 de setembro.

Proteção de crianças e jovens em perigo


—— Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, alterada pela Lei n.º 31/2003, de 22 de
agosto, pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro, pela Lei n.º 23/2017,
de 23 de maio, e pela Lei n.º 26/2018, de 5 de julho;
—— Decreto-Lei n.º 12/2008, de 17 de janeiro, alterado pela Lei n.º 108/2009,
de 14 de setembro, e pelo Decreto-Lei n.º 63/2010, de 9 de junho.

Instalação e funcionamento das casas de autonomia para jovens


—— Decreto-Lei n.º 42/2018, de 12 de junho.

Acolhimento familiar
—— Decreto-Lei n.º 11/2008, de 17 de janeiro;
—— Despacho n.º 433/2011, de 7 de janeiro.

168
Índice remissivo
Guia do casal

A Bens
Abandono de um filho ������������������������������� 150 comuns������12, 31-34, 39, 40, 41, 46, 47, 57,
Abono 60, 65, 67, 69, 74, 84, 103
de família ���������������������������112, 113-116, 166 dos filhos�������������������������������������������123-126
pré-natal�����������������������������������112, 113, 166 próprios����������������������� 31-34, 38, 40, 46, 47
Abuso sexual����������������������������������������������� 150 Bigamia��������������������������������13, 19, 35, 58, 162
Ação de divisão da coisa comum����������������� 12 Bolsa de estudo������������������������������������ 116, 167
Acolhimento familiar ������������������������� 158, 168
Acordo de coabitação��������������������������������� 102 C
Administração dos bens����������������������������� 162 Cabeça-de-casal ������������������������������������������� 77
do casal������������������������������������������38-41, 57 Casa de morada da família�������33, 36, 40, 60,
dos filhos�������������������������������������������123-126 64, 71, 85, 93-95, 144
Adoção ���������������������� 17, 97, 128, 130-135, 165 Casamento
Adultério������������������������������������������ 30, 35, 59 anulação�������������� 15, 16, 17, 30, 52, 53, 163
Advogado (contratar)����������������������������������� 10 cerimónia �������������������������������������������������24
Aleitação����������������������������������������������������� 128 custos������������������������������������������������� 22, 162
Alienação parental���������������������������������������62 entre pessoas do mesmo sexo ��������� 14, 162
Alteração das faculdades faltas ao trabalho������������������������������������� 27
mentais do cônjuge���������������������� 55, 56, 58 formalidades������������������������������� 20-28, 162
Amamentação ������������������������������������������� 128 idade�����������������������������������������������������14-16
Animais de companhia�������������������������� 60, 68 impedimentos������������������������ 13-20, 22, 162
Anulação de no estrangeiro�������������������������������������������26
adoção����������������������������������������������������� 135 online��������������������������������������������������������� 21
atos dos pais������������������������������������������� 124 prazo internupcial��������������������������13, 19, 75
casamento ���������� 15, 16, 17, 30, 52, 53, 163 presentes����������������������������������������������������11
contratos celebrados por menores��������� 126 procuração �����������������������������������������������25
perfilhação ���������������������������������������������108 promessa��������������������������������������� 10-13, 162
vendas e doações������������������������������41, 124 religioso�����������������������������������������������������23
Apadrinhamento civil���������13, 17, 135-139, 167 urgente�����������������������������������������������������26
Apelidos������������������� 27, 110, 133, 144, 162, 163 vida conjugal��������������������������������������� 30-48
Apoio judiciário��������������������������������������������� 10 Casas de abrigo������������������������������������149, 167
Assistência Centros de acolhimento de emergência������151
ao companheiro��������������������������������� 37, 96 Certificado de óbito��������������������������������������� 77
ao cônjuge����������������������������������� 37, 59, 162 Coabitação
aos filhos����������������������������������128, 129, 166 cônjuge�����������������������������������������������35, 59
Arrolamento dos bens����������������������������� 57, 68 filhos������������������������������������������������������� 122
Ausência prolongada do cônjuge���� 55, 56, 58 Comerciantes����������������������������������� 43, 44, 45
Avós��������������������������������������������������������18, 122 Comissões de proteção de menores����������� 153
Comunhão de bens adquiridos�������� 21, 24, 31,
B 32, 47
Balcão Comunhão geral de bens������������21, 31, 33, 47
das heranças�������������������������������������80, 163 Conferência de interessados�������������������������78
divórcio com partilha �����������������������69, 163 Confiança ��������������������������������������������������� 156

170
Índice remissivo

administrativa������������������������������������������131 mútuo consentimento����� 50, 55, 60-74, 163


judicial������������������������������������������������������131 sem consentimento
Cônjuge-administrador���������������������������33, 43 de um dos cônjuges������������ 50, 55, 56-60
Conselho de família ����������������������������������� 127 Doações������������������������������������������� 31, 86, 125
Contas bancárias������������������������������������� 41, 68
Convenção antenupcial20, 21, 24, 32, 60, 162 E
Cooperação (veja Deveres conjugais) Emancipação������������������������������������������������118
Crimes��������������������������������������������������������� 167 Estatuto de vítima��������������������������������146, 167
abandono de um filho ��������������������������� 150
bigamia����������������������������13, 19, 35, 58, 162 F
homicídio������������������������������������������������� 150 Falecimento (veja Viuvez)
infanticídio����������������������������������������������� 150 Faltas ao trabalho
lenocínio������������������������������������������������� 150 adoção����������������������������������������������������� 128
maus-tratos (veja Violência doméstica) aleitação������������������������������������������������� 128
pensão de alimentos amamentação����������������������������������������� 128
(não pagamento de)��������������������150, 167 assistência ao companheiro��������������� 37, 96
sexuais����������������������������������������������������� 150 assistência ao cônjuge ����������������������37, 162
violência doméstica�������������35, 142, 145-152 assistência aos filhos����������������128, 129, 166
casamento������������������������������������������������� 27
D gravidez��������������������������������������������������� 128
Declaração de morte presumida �����������������58 licença parental������������������������������� 128, 129
Deficientes parto������������������������������������������������������� 128
abono de família��������������������������������������116 Famílias de acolhimento����������������������������� 158
assistência a cônjuge��������������������������������� 37 Fidelidade (veja Deveres conjugais)
assistência a filhos����������������������������������� 129 Filhos� 11, 60, 61-64, 87, 89, 92, 106-139, 150, 165
casamento��������������������������������������13, 16, 52 Filiação ��������������������������������������� 106, 109, 165
subsídios��������������������������������������������������116 Fundo de garantia dos alimentos
Demência ����������������������������������������������� 16, 52 devidos a menores ��������������������������145, 167
Deserdação���������������������������������������������������83 Funeral ��������������������������������������������������88, 90
Despesas dos filhos���������������������������61, 62, 63
Deveres conjugais����������������������������34-38, 162 G
assistência������������������������������������������� 37, 59 Graus de parentesco��������������������������� 13, 16-19
coabitação�������������������������������������������35, 59 Gravidez����������������������������������113, 114, 116, 128
cooperação���������������������������������������� 36, 59
fidelidade�������������������������������������� 30, 35, 59 H
respeito���������������������������������������������� 34, 59 Habilitação de herdeiros�������������������������������78
Direito Herança�������������������������� 79-81, 83-86, 99, 163
de visita dos avós������������������������������������� 122 Homicídio (ou tentativa)������������������������13, 150
real de habitação �������������������������������������94
Dívidas����������������������������������33, 41-48, 98, 162 I
Divórcio�������������������������������47, 55-76, 142, 163 Idade para casar��������������������������������� 13, 14-16
com partilha���������������������������������������������69 Impedimentos ao casamento���� 13-20, 22, 162
litigioso�����������������������������������������������������56 adoção��������������������������������������������������������17

171
Guia do casal

apadrinhamento civil �������������������������� 13, 17 por adoção ��������������������������������������������� 128


bigamia����������������������������������������������������� 13
deficiência mental������������������������������������� 13 M
dispensa do impedimento ������������������������17 Maioridade������������������������������������������118, 126
grau de parentesco������������������������� 13, 16-19 Maternidade������������������ 109, 117-129, 165, 166
homicídio��������������������������������������������������� 13 Meação do cônjuge��������������������������������������84
idade����������������������������������������������� 13, 14-16 Mediação familiar��������������������11, 142-144, 167
prazo internupcial��������������������������13, 19, 75 Minutas
tutela��������������������������������������������������������� 13 acordos para o divórcio�������������������������71-73
vontade����������������������������������������������������� 16 procuração para casamento���������������������25
Impostos����������������������������������������������������� 165 relação de bens comuns��������������������������� 74
casais (IRS) ����������������������������������53, 94, 96 requerimento de divórcio�������������������������70
heranças�������������������������������������������������� 80 Monogamia��������������������������������������������������35
óbito do cônjuge (IRS)������������������������������ 81 Morte
separação de facto (IRS)���������������������������53 do cônjuge (veja Viuvez)
Impugnação da do noivo����������������������������������������������������� 12
maternidade������������������������������������109, 110 presumida�������������������������������������������������58
paternidade��������������������������������������107, 108
Incapacidade dos menores������������������������� 126 N
Indemnização por Nacionalidade dos filhos����������������������112, 166
danos ao (ex-)cônjuge ���������������� 34, 36, 59 Noivado����������������������������������������������������10-28
morte��������������������������������������������������������� 97 Nome
não pagamento da pensão devida�����������62 do (ex-)cônjuge������������������27, 144, 162, 163
rompimento do noivado�����������������������10-13 dos adotados������������������������������������������� 133
violência doméstica�������������������������� 151, 168 dos filhos��������������������������������������������������110
Indignidade���������������������������������������������������83
Infanticídio ������������������������������������������������� 150 O
Infidelidade (veja Deveres conjugais) Obediência ��������������������������������������������������121
Inibição das responsabilidades Óbito (veja Viuvez)
parentais������������������������������������������������� 152
Inventário ���������������������������������������68, 78, 163 P
Investigação da Partilha de bens
maternidade������������������������������������109, 110 casamento�������������������������������������������������33
paternidade��������������������������������11, 108, 109 divórcio ����������������������������������39, 56, 66, 69
morte���������������������������������������������������������79
L separação de pessoas e bens�����50, 51, 54, 55
Laços familiares�����������������������������������������16-19 união de facto����������������������������������������� 102
Legislação�������������������������������������������� 162-168 Parto����������������������������������������������������������� 128
Lenocínio����������������������������������������������������� 150 Paternidade�������� 11, 106-109, 117-129, 165, 166
Licença Penhora dos bens�����������������������������������������45
de amamentação����������������������������������� 128 Pensão de
de parto��������������������������������������������������� 128 alimentos�������������38, 60, 61, 62, 63, 66, 67,
parental������������������������������������������� 128, 129 73, 101, 144, 150, 167

172
Índice remissivo

sobrevivência���������86, 88, 90, 101, 163, 164 pensão de viuvez�������������������������������89, 164


viuvez�������������������������������������������������89, 164 prestação social para a inclusão��������������116
Perfilhação ����������������������������������107, 108, 165 prestações por morte�������������������������86-90
Período pré-matrimonial (veja Noivado) subsídio de acolhimento������������������������� 159
Planeamento familiar��������������������������110, 166 subsídio de educação especial����������������116
Prazo internupcial���������������������� 13, 19, 75, 163 subsídio por assistência
Presentes de casamento��������������������������������11 de terceira pessoa����������������������������������116
Processo preliminar de casamento��� 20, 21, 26 subsídio por morte���������������86, 87, 90, 164
Procuração para casamento�������������������������25 subsídio por riscos específicos����������������� 128
Promessa de casamento������������������� 10-13, 162 Seguros���������������������������������������������������81, 85
Proteção dos menores �����������������152-160, 168 Separação
Prova escolar������������������������������������������������115 de bens������������������������������������������21, 31, 33
de facto������ 38, 47, 50, 51-53, 55, 56, 57, 75
R de pessoas e bens�����������50, 51, 54, 55, 163
Regimes de bens����� 20, 24, 30, 31-34, 38, 162 judicial de bens����������������������31, 33, 47, 163
comunhão de bens adquiridos���������� 21, 24, Subsídio
31, 32, 47 de acolhimento��������������������������������������� 159
comunhão geral de bens ��������21, 31, 33, 47 de educação especial ������������������������������116
regime supletivo (veja Comunhão por assistência de terceira pessoa������������116
de bens adquiridos) por morte �����������������������������86, 87, 90, 164
separação de bens ������������������������21, 31, 33 por riscos específicos������������������������������� 128
Registo
do óbito��������������������������������������������� 76, 163 T
dos filhos������������������������������������������110, 165 Testamento������������������������������ 79, 84, 99, 100
Reinserção social����������������������������������������� 159 Trânsito em julgado ������������������������������������� 75
Relação de bens comuns do casal ��� 60, 67, 74 Tutela�����������������������������������������������13, 127, 165
Respeito (veja Deveres conjugais) Tutor ����������������������������������������������������������� 127
Responsabilidade civil����������������������������������121
Responsabilidades parentais�����11, 60, 72, 92, U
117-129, 142, 152, 165 União de facto��������������37, 42, 54, 92-103, 165

S V
Segurança social Venda de bens
abono de família�������������������������112, 113-116 comuns���������������������������������������������������� 40
abono pré-natal �������������������������������112, 113 dos filhos������������������������������������������������� 124
bolsa de estudo����������������������������������������116 Vigilância dos filhos ������������������������������������121
pensão de sobrevivência����� 86, 88, 90, 101, Violência doméstica 35, 142, 145-152, 167, 168
163, 164 Viuvez ��������������������������������������76-90, 163, 164

173
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