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Guia
do casal
Casamento e divórcio
União de facto e separação
ÍNDICE GERAL
A ÍNDICE REMISSIVO
Impressão: AGIR
Rua Particular, Edifício Agir
Quinta de Santa Rosa
2680-458 CAMARATE
deco.proteste.pt/guiaspraticos
Guia
do casal
Casamento e divórcio
União de facto e separação
Prefácio
Não é raro surgirem dúvidas e problemas na vida familiar. Quantos não se
questionam sobre as formalidades necessárias para casar, os direitos e deve-
res que caracterizam o casamento e a união de facto ou as responsabilidades
inerentes à maternidade e à paternidade? Quando a relação azeda, como
assegurar, ainda assim, que os direitos de todos os membros da família são
respeitados? Em caso de divórcio ou separação, quais as etapas a seguir? Quais
os cuidados a ter relativamente aos filhos? Quem tem direito a permanecer
na casa da família? O que fazer se for alvo de violência doméstica? De que
forma estão protegidos os viúvos?
Este livro acompanha o percurso dos casais, desde que pensam dar o nó até
a relação deixar de existir, por divórcio, morte ou separação. Dá a conhecer
a legislação mais importante relativa ao casamento, à união de facto ou ao
relacionamento com os filhos, sem esquecer a vertente prática, com a indicação
dos passos a dar para casar, registar os filhos, obter o divórcio ou comunicar
o óbito do cônjuge, entre outras obrigações. Não temos dúvidas de que os
casais encontram aqui uma ferramenta útil na resolução das diversas questões
com que se confrontam.
A
Índice CAPÍTULO 1
O noivado
Promessa de casamento 10
Sem indemnização 10
E se houver filhos? 11
Presentes e despesas com o casamento 11
Bens de ambos 12
Morte do noivo 12
Impedidos de casar 13
Idade para casar 14
Deficiência mental e falta de vontade 16
Laços familiares 16
Outros impedimentos 19
Formalidades 20
Documentação e declarações 20
Comunicação de impedimentos 22
Prazo para casar 22
Custo 22
Casamento religioso 23
Convenção antenupcial 24
Cerimónia 24
Casamento urgente 26
Casar no estrangeiro 26
Novo apelido? 27
CAPÍTULO 2
Vida conjugal
Comunhão de vida 30
Regimes de bens 31
Comunhão de bens adquiridos 32
Comunhão geral de bens 33
Separação de bens 33
Deveres conjugais 34
Respeito 34
Fidelidade 35
A
Coabitação 35 CAPÍTULO 4
Cooperação 36 União de facto
Assistência 37
Que exigências? 92
Administração dos bens 38
Bens próprios 38 Conteúdo do regime 93
Bens comuns 39 Casa da família 93
Venda dos bens 40 Restantes regras 96
Contas bancárias 41
Falta de proteção 98
Dívidas 41 Bens e dívidas 98
Responsabilidade de ambos 42 Heranças 99
Responsabilidade só de um cônjuge 45
Paga um ou ambos? 45 Rutura da relação 101
Capítulo 1
O noivado
A Guia do casal
Promessa de casamento
Quando o casamento acaba por não se realizar, poderemos dizer que quem não
quis casar rompeu um acordo que estabelecera com o outro e tem de prestar-
-lhe contas, indemnizando-o, por exemplo? Em princípio, não. Nem mesmo
um documento escrito nesse sentido obriga os noivos a contrair matrimónio
se, mais tarde, um deles chegar à conclusão de que afinal não o quer fazer.
Sem indemnização
A promessa de casamento não permite que um noivo exija ao outro a con-
cretização do matrimónio, nem, salvo as exceções que veremos de seguida,
ao pagamento de indemnizações. Ainda que tenha sido acordada, por escrito,
uma punição para a quebra do compromisso, tal disposição não tem validade.
APOIO JUDICIÁRIO
Contratar um advogado pode ser um problema para quem não conheça um ou não
tenha meios para pagar os honorários do profissional e as custas do processo em tribu-
nal. No primeiro caso, o interessado pode pedir à Ordem dos Advogados que lhe nomeie
um, diretamente ou através da Segurança Social; no segundo, se quiser escolher o advo-
gado, poderá requerer isenção do pagamento de custas à Segurança Social. Verificando-se
ambas as situações, ou seja, não ter advogado nem dinheiro, além da isenção de custas,
a Segurança Social também irá proporcionar-lhe um defensor.
10
A O noivado
Se, por exemplo, o João disse à Ana que queria casar com ela, mas, 6 meses
depois, já andava mais entusiasmado com outra rapariga, a Ana pode ficar
sentida, nunca perdoar ao João, não mais lhe dirigir a palavra, mas não pode
obrigá-lo a casar com ela. Nem tão-pouco poderá pedir-lhe uma indemniza-
ção por danos morais, devido ao desgosto sofrido com a rutura da relação.
E se houver filhos?
Podemos supor que, entretanto, a Ana ficou grávida. Nem assim lhe é possível
pedir uma indemnização pela quebra do compromisso de casamento ou até
pelo abandono. Poderá, isso sim, recorrer à mediação familiar ou aos tribunais
para que o João contribua para o sustento do filho de ambos e assuma as res-
ponsabilidades parentais. Mas até pode acontecer que o João não reconheça
a paternidade da criança. Nesse caso, a Ana terá de recorrer aos serviços de
um advogado e dar início a um processo de investigação e reconhecimento
da paternidade em tribunal (veja o título Quem é o pai?, na página 106).
Se o João não devolver o que lhe foi dado ou não indemnizar a Ana e a família
pelas despesas efetuadas na expectativa de que o evento se realizasse, o caso
tem de ser decidido nos tribunais. Para isso, os lesados têm de contactar um
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A Guia do casal
Bens de ambos
Caso existam bens comprados por ambos (automóvel, eletrodomésticos e
outros bens móveis ou imóveis) o ideal é vendê-los, ficando parte do produto
da venda para cada um dos ex-noivos. Porém, também podem proceder à
divisão das coisas, de forma amigável ou, não sendo possível, através do tri-
bunal. Esta opção implica recorrer a um advogado, para intentar uma ação
de divisão de coisa comum. Desta forma, os bens são atribuídos a cada um
(o que, na falta de acordo, até pode ser feito por sorteio) ou, em alternativa,
são vendidos, dividindo-se o produto da venda pelo João e pela Ana.
Imaginemos que o João e a Ana tinham comprado casa e estavam a pagar o
empréstimo ao banco. Ambos continuam a ser responsáveis pelo pagamento das
prestações e terão de responder por uma eventual falha nessa obrigação, mesmo
não havendo casamento. A melhor solução será venderem a casa ou um deles
ficar com ela, continuar a pagar o empréstimo, através de um novo contrato,
e compensar o outro pelo que tiver pago na compra. Estas situações aumentam
o risco de incumprimento, por existir apenas um devedor, e o mais provável é
que o banco exija a apresentação de fiadores (por exemplo, os seus pais).
Morte do noivo
Alterando um pouco o cenário traçado, se não puderam casar porque o João
perdeu a vida num acidente de viação, a Ana não deixa de ter alguns direitos.
Não há direito a indemnização, mesmo que o acidente tenha ocorrido por
culpa do João, 3 dias antes da data marcada para o casamento, ao conduzir
embriagado. No entanto, a Ana pode pedir à família do João a restituição dos
presentes que lhe deu, tendo igualmente de devolver aquilo que ele lhe ofere-
ceu. Já quanto às fotografias e cartas, pode solicitar que lhe sejam restituídas
e, simultaneamente, guardar os retratos do João e as cartas que ele lhe enviou.
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A O noivado
Impedidos de casar
Além das situações em que um dos noivos não quis ou não pôde casar, há outras
em que a vontade de fazê-lo, ainda que comum a ambos, não é suficiente.
É o que se verifica quando existe algum impedimento legal: por exemplo,
um dos pretendentes ter menos de 16 anos ou haver entre eles um grau de
parentesco ou de afinidade muito chegado.
OS IMPEDIMENTOS LEGAIS
(1) Não é possível o casamento de sogros com genros ou noras se o anterior casamento tiver sido dissolvido por
morte do outro cônjuge. Já o é se tiver cessado por divórcio.
(2) Veja o que é o apadrinhamento civil na página 135.
(3) Veja quem são no título Tutor, na página 127.
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A Guia do casal
Por princípio, quaisquer duas pessoas podem casar uma com a outra, inde-
pendentemente da diferença de idade, nacionalidade, religião ou convicção
política. Desde 2010, também podem casar-se em Portugal duas pessoas do
mesmo sexo, independentemente da sua origem e da legislação existente nos
seus países. Ao longo de 8 anos, foram quase 3 mil os casais homossexuais
que formalizaram a sua relação, tendência que tem vindo a aumentar (veja
o gráfico seguinte).
422
350
324 324 308
305
266
14
A O noivado
lado, embora não se estabeleça uma idade máxima, está impedido de casar
alguém que os tribunais tenham considerado não ter capacidade para cuidar
de si próprio e dos seus bens, devido à debilidade da sua saúde mental. A ação
em tribunal pode estar relacionada com um processo relativo ao regime do
maior acompanhado, que geralmente é desencadeado por familiares ou pelo
Ministério Público.
Maiores de 16 anos
Para casarem, os menores com, pelo menos, 16 anos necessitam de autoriza-
ção dos pais ou, na ausência destes, de quem os represente. Deste consenti-
mento, dado por escrito, tem de constar o nome do outro noivo e o tipo de
casamento, seja civil, católico ou de outra religião (veja o título Casamento
religioso, na página 23). Pode assumir a forma de:
—— documento redigido por um notário, advogado ou solicitador ou elaborado
pelos pais e autenticado por um daqueles profissionais;
—— documento feito pelo próprio conservador do registo civil, a pedido dos pais;
—— documento escrito pelo padre, tratando-se de casamento católico, na presença
de duas testemunhas;
—— finalmente, pode ser dado no próprio ato de casamento, constando do
respetivo assento.
Se não obtiver autorização dos pais, o menor pode requerer uma autorização
especial ao conservador do registo civil. No prazo de 8 dias após a apresentação
do requerimento, este irá ouvir os pais (ou o tutor), para depois decidir se o
menor tem ou não maturidade para casar e se existem, efetivamente, motivos
para a recusa de consentimento. Quem não concordar com a decisão, seja o
filho ou os pais, pode recorrer para os tribunais.
Menores de 16 anos
Apesar de a lei não o permitir, não é impossível que alguém com menos de
16 anos consiga casar. Nesse caso, o casamento pode ser anulado nos tribunais
dentro dos seguintes prazos e pelas seguintes pessoas:
—— o próprio menor pode pedir a anulação até 6 meses depois de atingir a
15
A Guia do casal
maioridade, se, por exemplo, tiver sido forçado a casar ou entender que
não deveria tê-lo feito;
—— as outras pessoas (os pais do menor ou o cônjuge, por exemplo) dispõem
de um prazo de 3 anos após o casamento, mas nunca poderão pedir a
anulação depois de o casado atingir a maioridade.
Também alguém que case sob o efeito de álcool ou droga pode solicitar a
anulação do casamento. E isso mesmo que, durante algum tempo, tenha dito
que queria casar e a cerimónia estivesse marcada com antecedência. Mas tem
de demonstrar que só o estado em que se encontrava determinou a sua con-
cretização. A vontade tem de ser atual, ou seja, tem de existir no momento em
que o casamento é celebrado. Pode ainda ser anulado o casamento que apenas
se tenha concretizado devido a coação sobre um dos noivos (ou ambos). Em
qualquer destas situações, a ação de anulação terá de dar entrada no tribunal
no prazo máximo de 3 anos depois de celebrado o casamento.
Laços familiares
As relações familiares determinam mais uma série de impedimentos. A lei
não interdita o casamento entre quaisquer parentes ou afins, apenas entre
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A O noivado
Há ainda outros casamentos que a lei, em princípio, proíbe, mas que o con-
servador do registo civil poderá autorizar. São os que envolvem:
—— os parentes no 3.º grau da linha colateral (tio/tia com sobrinha/sobrinho);
—— os padrinhos civis com os afilhados (veja o título Apadrinhamento civil,
na página 135);
—— os tutores e tutelados, até decorrer 1 ano desde que estes se tornaram
maiores. Depois, a autorização deixa de ser necessária.
A autorização para casar pode ser obtida através de uma dispensa do impe-
dimento, que compete ao conservador do registo civil “quando haja motivos
sérios que justifiquem a celebração do casamento” (uma gravidez, por exemplo).
A dispensa deve ser pedida pelos interessados, num requerimento dirigido
ao conservador, do qual constem as razões capazes de levá-lo a dispensar o
impedimento. A decisão depende, pois, do que o conservador entenda por
motivo sério. Se considerar que não existe, os (potenciais) noivos podem
apresentar recurso ao tribunal.
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A A Guia do casal
OS GRAUS DE PARENTESCO
Bisavós
(3.º grau)
Ascendentes
Avós
(2.º grau)
Pais
(1.º grau)
Sobrinhos Primos
(3.º grau) (4.º grau)
LINHA
REFERÊNCIA Filhos dos
primos COLATERAL
(5.º grau)
Filhos
(1.º grau)
Descendentes
Netos
(2.º grau)
Bisnetos
(3.º grau)
Para encontrar o grau de parentesco de duas pessoas, toma-se uma delas como referência e procura-se o ascenden-
te comum. Em seguida, continua-se até encontrar a segunda pessoa.
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A O noivado
Outros impedimentos
Além das proibições de que já falámos, há outras. Vejamos quais:
—— quem casou e não dissolveu o casamento está impedido de casar de novo,
mesmo que esteja separado de facto do cônjuge há 15 ou 20 anos. Para
segundas núpcias, necessita de divorciar-se e esperar que decorra o prazo
internupcial (veja a seguir). Aliás, acrescente-se que a bigamia, ao contrário,
por exemplo, do incesto, é considerada crime, sendo punida com uma
pena de prisão até 2 anos ou multa até 240 dias (mínimo de 5 euros/dia e
máximo de 500 euros/dia). Tanto comete o crime aquele que já era casado
como quem casa com ele, conhecendo o facto;
—— quem se divorcia ou enviúva não pode voltar a casar de imediato; tem de
esperar 180 dias, se for homem, ou 300 dias, se for mulher. No entanto,
se provarem que não estão grávidas, as mulheres poderão respeitar
apenas o prazo de 180 dias (para mais pormenores, veja a página 75).
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A Guia do casal
Formalidades
Traçámos alguns cenários em que as coisas não correm como se pretendia:
o casamento não se concretiza, por falta de vontade ou morte de um dos noivos
ou por impossibilidade legal. Porém, nem sempre é assim. Em muitos casos,
o casamento realiza-se mesmo e nasce uma nova família. Para isso, há que
cumprir as formalidades, que podem começar com a deslocação dos noivos
(ou nubentes, seguindo a designação legal) a uma conservatória do registo
civil ou com uma simples ligação à internet (veja a caixa Casamento online).
Documentação e declarações
A ida à conservatória serve para os noivos declararem a intenção de casar,
através de um documento assinado por ambos e pelo conservador, e solici-
tarem a abertura do processo preliminar de casamento, destinado a averiguar
se existe algum impedimento. Nesta deslocação, terão de apresentar:
—— documentos de identificação de ambos (cartão de cidadão, passaporte ou
documento equivalente) ou título ou autorização de residência, tratando-se
de estrangeiros que vivam em Portugal;
—— certidão de escritura da convenção antenupcial (veja o que é na página 24),
se existir;
—— autorização para casar concedida por quem detenha as responsabilidades
parentais ou por quem possa supri-la (o conservador), se algum dos noivos
tiver 16 ou 17 anos de idade;
—— para os cidadãos estrangeiros, certidão de nascimento com a descrição dos
factos relevantes da sua vida pessoal (nascimento, casamentos anteriores,
divórcios, etc.).
Por norma, os noivos podem indicar o regime de bens que pretendem. Mas
há exceções:
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A O noivado
—— se existirem filhos que não sejam comuns, ficam impedidos de optar pela
comunhão geral de bens;
—— quando um dos noivos tiver mais de 60 anos, o regime será obrigatoria-
mente o da separação de bens.
Não havendo qualquer indicação em contrário, por defeito será adotado
o regime da comunhão de bens adquiridos. Sempre que quiserem outro,
os noivos terão de efetuar uma convenção antenupcial (veja a página 24).
CASAMENTO ONLINE
• É possível tratar de todo o processo preliminar através do sítio www.civilonline.mj.pt, sem
ir à conservatória (a não ser, eventualmente, para a cerimónia). Podem utilizar este ser-
viço os cidadãos portugueses, bem como os brasileiros a quem tenha sido concedido o
estatuto de igualdade de direitos e deveres. No entanto, têm de ser maiores de 18 anos,
portadores do cartão de cidadão e dispor de um mecanismo adequado para a leitura do
cartão. Há que ter em conta que esta opção tem limitações. Não é possível, por exemplo,
fazer por este meio a convenção antenupcial, ficando como regime de bens a comunhão
de bens adquiridos. Porém, os noivos poderão dirigir-se a uma conservatória e aí efetuar a
convenção, solicitando que seja junta ao processo de casamento.
• O pedido para iniciar o processo de casamento por este meio – seja civil, católico ou de
outra religião – tem três etapas:
– em primeiro lugar, um dos noivos submete-o, acedendo ao sítio, autenticando-se com o
certificado constante do cartão de cidadão e preenchendo a informação relativa à identifi-
cação de ambos e ao casamento. O pedido pode ser apresentado mesmo sem saber ainda
quando ocorrerá a boda. A data e a hora serão comunicadas mais tarde à conservatória;
– segue-se a aprovação do pedido. Depois de submetido, será enviada para o endereço de
correio eletrónico do outro noivo uma mensagem para que aceda ao sítio, se autentique e
confirme a informação introduzida por quem apresentou o requerimento;
– na terceira fase, há que efetuar o pagamento, no prazo de 48 horas depois de receber
uma mensagem a confirmar o início do processo, com cartão de crédito ou através do
multibanco. O valor a pagar é igual ao dos procedimentos fora da internet (veja o título
Custo, na página 22). A falta de pagamento naquele prazo implica o cancelamento do
pedido, devendo ser efetuado um novo, se os noivos mantiverem interesse na instauração
do processo.
• Feito o pagamento, o processo avança para a conservatória. Mais tarde, esta envia aos noi-
vos uma notificação por e-mail ou SMS a indicar se houve ou não um despacho favorável.
Para acompanhar o desenvolvimento do processo, não é necessário deslocar-se à conser-
vatória. Através do número atribuído, pode obter-se essa informação no sítio, através da
linha telefónica existente para o efeito (211 950 500) ou do e-mail (civilonline@irn.mj.pt).
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A Guia do casal
Comunicação de impedimentos
O processo é público, mas apenas relativamente à identificação dos noivos e
ao tipo de casamento. Ou seja, qualquer pessoa poderá solicitar uma cópia
com estes elementos.
Se for comunicado algum impedimento ao conservador, este averigua se é
verdadeiro e, sendo o caso, suspende o processo até que o impedimento deixe
de existir ou seja dispensado por si (quando isso é possível). O conservador
pode ter conhecimento da existência de impedimentos até à celebração do
casamento.
Custo
Se o casamento se realizar na conservatória, durante o horário de funcio-
namento, o processo e o registo custam 120 euros. Fora do horário ou do
local, este valor sobe para 200 euros, acrescido das despesas de deslocação
do conservador, quando não ocorra na conservatória. Estão incluídas todas
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A O noivado
81 461
72 164 71 654
69 457
63 752
39 993
33 634
(1) Inclui
casamentos entre pessoas do mesmo sexo desde 2010, ano em que tal passou a ser possível.
Fonte: INE, PORDATA – Base de Dados Portugal Contemporâneo (www.pordata.pt).
Casamento religioso
As formalidades que antecedem o casamento só têm de ser integralmente
cumpridas pelos noivos se optarem por um casamento civil. Casando de
acordo com o ritual da sua religião, o processo pode começar com a ida à
conservatória e posterior transferência da documentação para a paróquia onde
vão casar, mas também pode ser desencadeado pelo padre ou, tratando-se
de religiões que não a católica, pelo ministro de culto. Os noivos são ouvi-
dos separadamente pelo padre ou ministro de culto, que averigua se estão
conscientes do compromisso que se preparam para assumir e encaminha o
processo para a conservatória do registo civil, tratando os serviços da Igreja
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A Guia do casal
Convenção antenupcial
O regime de bens que irá vigorar depois do casamento é uma questão em
que os noivos deverão refletir previamente. Se não pretenderem a comunhão
de bens adquiridos, o regime supletivo que vigora se nada disserem em con-
trário, poderão adotar outro regime através da convenção antenupcial. Este
documento é elaborado por um notário ou na conservatória do registo civil,
sendo que a segunda opção é menos dispendiosa e poupa os noivos a uma
deslocação ao cartório notarial (no final, terão de o registar na conservatória).
A convenção pode ser revogada ou alterada até à cerimónia. Tem a validade
de 1 ano, pelo que, se o casamento não se realizar entretanto e os noivos ainda
a pretenderem, terão de fazer outra.
Cerimónia
A cerimónia civil decorre no local e à hora combinados com o conservador.
Pode ser na conservatória onde foi iniciado o processo, noutra para onde
os noivos peçam a sua transferência ou num local diferente. É obrigatória a
presença de um dos cônjuges, mas, se necessário, o outro pode ser substituído
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A O noivado
PROCURAÇÃO
(nome),
solteiro/a (ou divorciado/a, ou viúv
o/a), maior, natural
de , residente em
,
portador/a do cartão de cidadão n.º
,
de (local), válid
o até / / ,
constitui seu procurador
(nome), (estado civil),
residente em
, portado
r do cartão de cidadão
n.º , de
(local), válido
até / / , a quem confere
poderes especiais para
celebrar em seu nome casamento com
(nome), solteira/o
(ou divorciada/o,
ou viúva/o), maior, natural de
, residente
em , portador/a
do cartão de cidadão
n.º , de
(local), válido
até / / , o qual terá
como regime de bens
a (com
unhão de adquiridos/
comunhão geral de bens/separação de
bens*).
(Assinatura)
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A Guia do casal
Casamento urgente
É possível casar sem cumprir as formalidades descritas, ou seja, sem o pro-
cesso preliminar de casamento. Até pode dispensar-se a intervenção de um
funcionário do registo civil. Mas só em duas situações: um dos noivos estar
às portas da morte ou a noiva encontrar-se prestes a dar à luz.
Casar no estrangeiro
O casamento de cidadãos portugueses fora de Portugal tem algumas particula-
ridades. Pode ser celebrado segundo a nossa lei (casamento civil ou religioso)
ou de acordo com a lei local. Mas continua a ter de ser precedido do processo
preliminar, a não ser que seja um casamento urgente.
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A O noivado
15 DIAS DE FÉRIAS
Uma das regalias proporcionadas aos noivos é o direito de se ausentarem do trabalho
durante 15 dias seguidos, antes e/ou depois do casamento. Estas faltas não afetam a anti-
guidade nem o direito do trabalhador a receber integralmente o salário, embora possa
deixar de receber subsídios e outras regalias que pressuponham a efetiva prestação do tra-
balho (subsídios de refeição ou transporte, por exemplo). As ausências têm de ser comu-
nicadas à entidade patronal com uma antecedência mínima de 5 dias. Mas, sendo faltas
geralmente previsíveis a médio ou longo prazo, convém que o aviso seja feito mais cedo,
para que o funcionamento da empresa ou serviço não seja prejudicado. Aliás, normal-
mente, é isso que acontece.
Novo apelido?
Cada cônjuge pode adotar um máximo de dois apelidos do outro, desde que não
mantenha apelidos de um casamento anterior. Tradicionalmente, é a mulher
quem adquire o apelido do marido, mas nada impede que ambos o façam
ou até que só o marido passe a utilizar apelidos da mulher. Também podem
conservar os nomes que já tinham antes do casamento, nada acrescentando.
Uma coisa é certa: cada cônjuge mantém os seus próprios apelidos. Os novos
podem ser acrescentados no final dos nomes que já tinha ou intercalados. E até
pode acontecer que os cônjuges fiquem com apelidos bastante diferentes um
do outro. Por exemplo, ao casar com Maria de Fátima Oliveira da Costa, João
Carlos Gomes da Silva pode passar a chamar-se João Carlos Gomes da Silva
Oliveira da Costa, enquanto a mulher ficará com o nome completo de Maria
de Fátima Oliveira da Costa Gomes da Silva. A lei permite-o.
27
A Guia do casal
E quando aquele que adotou apelidos fica viúvo? Por princípio, conserva-os,
mas, se casar de novo, só os mantém se declarar essa intenção na conserva-
tória do registo civil até ao novo matrimónio.
28
A
Capítulo 2
Vida conjugal
A Guia do casal
Comunhão de vida
Quem casa está a assumir o compromisso de constituir uma família em plena
comunhão de vida. Ou seja, os cônjuges passam a funcionar de acordo com
uma vontade comum. O compromisso é o de uma vida a dois, entreajuda,
comunhão de interesses, educação conjunta dos filhos, etc.
30
A Vida conjugal
Regimes de bens
Uma das tarefas dos noivos é, como tivemos oportunidade de verificar no
primeiro capítulo, a escolha do regime de bens. E mesmo a passividade tem
consequências: se nada fizerem, estarão a optar pela comunhão de bens
adquiridos. É algo a ponderar devidamente, uma vez que o regime de bens
irá vigorar durante todo o casamento. A única hipótese de alteração é quando
um cônjuge se sente prejudicado pela má administração do outro e, consi-
derando que os seus bens estão em perigo, pede ao tribunal para decretar a
separação judicial. Se tiver êxito, passa a vigorar o regime da separação de
bens (veja a caixa Separação judicial de bens, na página 33).
31
A Guia do casal
regime sui generis que reúna características daqueles três. A escolha do primeiro
dispensa qualquer formalidade. Quanto aos outros, os noivos têm de fazer uma
convenção antenupcial (veja Convenção antenupcial, na página 24) e nela dizer
que o regime a vigorar no casamento será a comunhão geral ou a separação
de bens. Eventuais particularidades têm de ser devidamente especificadas na
convenção. Mas vejamos em que consistem os três regimes previstos na lei.
32
A Vida conjugal
Separação de bens
É quase o oposto da comunhão geral. Como o nome indicia, não há bens
comuns. Cada cônjuge tem o seu próprio pecúlio e pode dispor dele como
entender, a não ser que se trate da casa onde mora a família. No entanto,
a inexistência de património comum não impede o casal de adquirir bens
no regime de compropriedade. É natural que comprem em conjunto a casa
onde vivem ou o automóvel da família. Aliás, nos casos duvidosos relativos a
bens móveis, pressupõe-se, à semelhança do que acontece na comunhão de
adquiridos, que o bem pertence a ambos os cônjuges.
33
A Guia do casal
Deveres conjugais
Já referimos, ainda que de forma breve, que o casamento se baseia na igualdade
de direitos e deveres dos cônjuges. Chegou a altura de analisar estes últimos,
que são cinco: respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência. O seu
incumprimento pode dar origem a pedidos de indemnização (veja a sentença
da página 36) ou influenciar a decisão do juiz para decretar o divórcio apesar
da oposição de um dos cônjuges.
Respeito
O dever de respeito, que se alarga às relações entre pais e filhos (veja o título
Responsabilidades parentais, a partir da página 117), tem como pressuposto
a individualidade de cada cônjuge durante o casamento. O facto de haver
objetivos comuns e estarem ambos empenhados em viver em harmonia não
pode impedir que cada um tenha a sua própria personalidade e mereça do
outro toda a consideração. Não é admissível que o marido agrida a mulher
ou que esta o insulte, insinuando publicamente factos que ponham em causa
o seu bom nome e honra. Se o fizerem, estão a violar o dever de respeito.
Da mesma forma, ignora este dever quem não ligue minimamente à vontade
do outro cônjuge, o reprima, lhe retire a vontade própria, não permita que
exerça uma determinada profissão, abra a sua correspondência pessoal ou
controle o telemóvel e as mensagens eletrónicas, impeça que se faça sócio
de um clube desportivo, proíba de ver telenovelas ou de pintar os olhos,
de fumar ou beber vinho às refeições, comer feijoada ao almoço, beber um
copo de água ao deitar. Enfim, podemos imaginar mil e uma situações em
que o dever de respeito é desprezado.
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A Vida conjugal
Fidelidade
Há muito que a monogamia está consagrada em Portugal e na civilização oci-
dental em geral. Ninguém pode estar casado, simultaneamente, com mais do
que uma pessoa. A bigamia é um crime punido com prisão até 2 anos ou multa
até 240 dias (mínimo de 5 e máximo de 500 euros/dia). Considera-se, ainda,
que quem comete adultério, ou seja, tem relações sexuais com uma terceira
pessoa, não está a respeitar o compromisso de exclusividade que assumiu
com o cônjuge. Pode haver infidelidade mesmo sem ato sexual. Imaginemos,
por exemplo, o marido que passa as noites em bares e discotecas a conviver
com outras mulheres ou até casos de infidelidade virtual, através da internet
e das redes sociais. A ausência de prática sexual não impede que estejamos
perante uma violação sucessiva do dever de fidelidade. Mas, ao contrário da
bigamia, a infidelidade não é crime.
Coabitação
Comprometendo-se os cônjuges a levar uma vida em comum, em princípio
viverão juntos, numa casa escolhida por ambos, tendo em conta as exigências
da vida profissional de cada um, o bem-estar comum e dos filhos e a unidade
da vida familiar. Mas a coabitação vai mais longe: abrange igualmente a ativi-
dade sexual, significando que os cônjuges se comprometem a levar uma vida
sexual conjunta (e apenas um com o outro, como vimos). As características
da coabitação variam no decorrer da vida do casal, de acordo com a vida
profissional, a capacidade física e a saúde de cada um. Não se pode pedir
que aos 70 anos se tenha um comportamento idêntico ao que se tinha aos
30. Por outro lado, as obrigações profissionais de um dos cônjuges podem
levá-lo a ausentar-se de casa: basta pensar na colocação de um diplomata ou
de um professor ou nas digressões de um músico. Também não pode falar-se
em violação do dever de coabitação quando os cônjuges vivem separados
por acordo. Tudo depende do modo de vida que escolham. Por exemplo,
35
A Guia do casal
Cooperação
É claro que o casamento também envolve colaboração mútua, auxílio em
caso de necessidade e partilha das responsabilidades da vida familiar. Se o
marido adoecer, a mulher deve tratar dele e ajudá-lo a convalescer; se esta
última tiver uma depressão, o marido tem de prestar-lhe os cuidados indis-
pensáveis à superação desse mau momento. De igual modo, ambos devem
estar disponíveis para dar a sua opinião quando, por exemplo, o outro recebe
uma aliciante oferta de emprego que implique a transferência para longe da
36
A Vida conjugal
FALTAR AO TRABALHO
Uma das vertentes do dever de cooperação é o auxílio na doença. Quando um cônjuge
adoece, cabe ao outro dispensar-lhe os cuidados necessários e ajudá-lo na recuperação.
No entanto, o cumprimento dessa obrigação pode ter reflexos na sua vida profissional:
para estar com o cônjuge, precisa de faltar ao emprego. A lei permite-lhe faltar até 15 dias
por ano para prestar assistência inadiável e imprescindível ao cônjuge (ou à pessoa com
quem vive em união de facto), mas as faltas implicam desconto no salário, isto é, os dias
de ausência não são pagos. A estes 15 dias podem ser adicionados outros 15, se o côn-
juge sofrer de deficiência ou doença crónica. Todas estas faltas têm de ser comunicadas à
entidade patronal o mais depressa possível ou, tratando-se de faltas previsíveis (por exem-
plo, uma operação marcada há vários meses), com uma antecedência mínima de 5 dias.
Além disso, a entidade patronal pode exigir um documento (por exemplo, uma declaração
médica) que comprove a necessidade de assistência inadiável e imprescindível.
Se, em caso de doença prolongada, um cônjuge pretender acompanhar o outro por mais
do que os 15 dias previstos na lei, poderá solicitar uma licença sem vencimento à entidade
patronal. Todavia, esta não se encontra obrigada a aceder ao pedido.
Este regime pode dificultar o cumprimento do dever de cooperação, pois as faltas, ape-
sar de justificadas, implicam perda de retribuição. Por isso, é provável que o trabalhador
se veja impossibilitado de faltar e, portanto, de disponibilizar o acompanhamento que o
estado de saúde do cônjuge exigiria.
Assistência
É a obrigação de contribuir para os encargos da família. Portanto, trata-se
não só de um dever em relação ao cônjuge, mas igualmente aos próprios
filhos. Pretende evitar-se que só um dos cônjuges suporte as despesas com
alimentação, vestuário, renda de casa, educação dos filhos ou medicamentos,
enquanto o outro utiliza o dinheiro em despesas supérfluas ou simplesmente
o deposita numa conta bancária, não acorrendo às necessidades quotidianas.
37
A Guia do casal
casa e na educação dos filhos. Ambos terão, isso sim, de contribuir segundo
as suas possibilidades, por exemplo, proporcionalmente aos seus ganhos.
No entanto, se um contribuir mais do que seria exigível, tendo renunciado de
forma excessiva aos seus interesses em favor da vida em comum, nomeada-
mente no campo profissional, e sofrido com isso importantes prejuízos, pode
ser compensado pelo outro. Esta compensação só pode ser exigida quando
haja partilha dos bens do casal (num divórcio, por exemplo), a menos que
estejam casados no regime de separação de bens.
Bens próprios
Como vimos, os bens podem pertencer aos dois cônjuges ou só a um, isto é,
podem ser comuns ou próprios. Cada cônjuge tem a administração dos seus
bens próprios e do produto do seu salário; a administração dos bens comuns
pertence a ambos. No entanto, existem exceções a esta regra: é também só de
38
A Vida conjugal
Também são considerados bens próprios os que foram adquiridos com meios
de apenas um dos cônjuges. Para que seja possível prová-lo, caso venha a
ser necessário, o documento relativo à aquisição (por exemplo, a escritura
pública, na compra de um imóvel) deve incluir essa referência e ser assinado
por ambos os cônjuges. Isso é particularmente importante na ausência de um
registo e/ou título de propriedade. Ou seja, o documento de aquisição deverá
indicar, por exemplo, “Do total de 200 mil euros relativos à transação, 100 mil
foram pagos com bens próprios da titular Margarida Pereira”.
Bens comuns
A regra geral indica que, relativamente aos bens comuns, qualquer dos côn-
juges pode praticar os atos de administração ordinária, enquanto os de admi-
nistração extraordinária terão de ser praticados ou autorizados por ambos.
Para facilitar a distinção, vamos pensar num automóvel. Atos como meter
gasolina, fazer as revisões, mudar o óleo ou substituir pneus pertencem à
administração ordinária. Já o aluguer da viatura a um terceiro ou a sua venda
39
A Guia do casal
Quanto aos bens imóveis (casas, terrenos, andares, quintas, pomares, etc.),
é exigido o consentimento de ambos para vender ou doar, quer se trate de um
bem próprio ou comum. Só não será assim para os casais que tenham optado
– bens móveis comuns cuja administração seja de – bens móveis próprios ou comuns só
ambos os cônjuges; por si administrados;
– bens utilizados por ambos na vida do lar ou – bens imóveis próprios, se vigorar o
como instrumento comum de trabalho; regime da separação de bens (exceto
– bens próprios de um e administrados pelo outro; a casa onde a família reside).
– bens imóveis próprios ou comuns, se o regime
de bens for a comunhão (geral ou de adquiridos);
– casa de morada da família, em qualquer
circunstância (ainda que o regime de bens seja a
separação).
40
A Vida conjugal
Contas bancárias
Qualquer dos cônjuges pode abrir as contas que quiser e fazer os depósitos
que entender, sem precisar de autorização do outro. Mas é frequente que
haja contas às quais ambos têm acesso. Se a conta for conjunta, normalmente
só pode ser movimentada com a autorização de ambos. Sendo uma conta
solidária, qualquer dos cônjuges pode movimentá-la.
Dívidas
A harmonia familiar também passa por uma sã situação financeira. É mais
provável que surjam conflitos numa casa que se defronta constantemente
com problemas materiais do que noutra em que toda a gente pode satisfazer
41
A Guia do casal
as suas necessidades e desejos, sem temer que o mês seja demasiado longo
para o orçamento familiar. Como diz o ditado, “em casa onde não há pão, todos
ralham e ninguém tem razão”.
Por princípio, qualquer dos cônjuges pode assumir dívidas sem necessitar
de autorização do outro. Como em todos os outros aspetos do casamento,
também no que respeita às dívidas estão em pé de igualdade. Pode é aconte-
cer que, mesmo sem ter conhecimento delas, o outro também seja chamado
a pagá-las.
Responsabilidade de ambos
Havendo discórdia ou falta de meios para o fazer, é muito importante determinar
quem tem de pagar as dívidas. Ou seja, há que saber quais responsabilizam
ambos ou apenas um. Comecemos pelas primeiras.
Desde logo, temos as dívidas que a lei descreve como “contraídas por ambos ou
por apenas um, mas com o consentimento do outro, mesmo que sejam anteriores
ao casamento”. Não oferece grandes dúvidas que uma compra em conjunto
deve responsabilizar ambos pelo pagamento, independentemente do regime de
bens e do valor do bem adquirido (pode ser um apartamento, um automóvel,
um frigorífico ou um mero pacote de arroz). E isso verifica-se também quando
é apenas um a comprar com o consentimento do outro. Não faria sentido que
fosse de outro modo, uma vez que ambos originam, diretamente ou através
de consentimento, a dívida. Também as dívidas anteriores ao casamento
integram este grupo. Basta pensar nas despesas assumidas por ambos, ainda
solteiros, com a cerimónia do casamento, a lua-de-mel ou a compra de casa,
ou de um casal que vivia em união de facto e depois casou.
42
A Vida conjugal
43
A Guia do casal
44
A Vida conjugal
Responsabilidade só de um cônjuge
Apesar dos compromissos assumidos no casamento e da obrigação de terem
uma vida em comum e colaborarem mutuamente, há dívidas que apenas
responsabilizam um dos cônjuges.
As dívidas contraídas por apenas um cônjuge, fora dos casos já analisados (encar-
gos da vida familiar ou proveito comum do casal), responsabilizam apenas
quem esteve na sua origem. É o que acontece se, por exemplo, o marido se
endividar para comprar um relógio para si próprio ou a mulher o fizer para
adquirir um colar.
Paga um ou ambos?
O problema das dívidas assume particular importância quando não são pagas
e tudo acaba nos tribunais. Se, depois da condenação, se mantiver a falta
de pagamento, o juiz recorre à penhora dos bens, para que finalmente seja
pago o que é devido. Isto é, haverá necessidade de vender certos bens dos
devedores, a fim de obter o dinheiro suficiente à satisfação da dívida. E, nessa
altura, é fundamental saber quem é responsável pela dívida, pois a ordem
dos bens a penhorar varia consoante a dívida tenha de ser paga só por um
cônjuge ou pelo casal.
45
A Guia do casal
Só um cônjuge Ambos
– as contraídas por si, sem ser – as destinadas a satisfazer encargos
para encargos familiares ou para da vida familiar (alimentação,
proveito de ambos os cônjuges; educação, saúde, etc.);
– as relativas a multas, – as contraídas em proveito comum
prática de crimes ou de outras do casal;
violações da lei, bem como as – as originadas por ambos ou por
indemnizações. um com o consentimento do outro.
46
A Vida conjugal
Só com os bens de um
Quanto às dívidas que só responsabilizam um cônjuge, a operação é inversa:
penhoram-se primeiro os bens próprios e, mesmo que sejam comuns em
virtude do regime de bens escolhido, os que já tinha quando casou, os que
recebeu gratuitamente durante o casamento (através de uma doação ou de
uma herança, por exemplo) e o produto do seu trabalho. Sendo estes insufi-
cientes, recorre-se à sua metade dos bens comuns.
O tribunal começa por penhorar os bens próprios do Fernando e a sua parte nos
terrenos que herdou da tia (2500 euros), propriedade de ambos os cônjuges,
47
A Guia do casal
já que são casados em comunhão geral de bens. Para os restantes 5 mil euros,
penhoram-se outros bens comuns nesse valor.
48
A
Capítulo 3
Dissolução
do casamento
A SAÍDAS PARA UM CASAMENTO SEM FUTURO (OU QUASE)
Deve funcionar como uma espécie de Para haver separação de facto, basta que
período de reflexão e é aconselhável os cônjuges deixem de viver juntos por
apenas nas situações em que o casal já não se entenderem. Normalmente,
Separação de facto
quer divorciar-se, por exemplo. É viável se (ou ao tribunal comum, se aquele não
Divórcio sem
estiverem separados, pelo menos, há 1 ano, existir) para lhe designar um, que tratará
se um dos cônjuges estiver ausente (sem de todo o processo.
notícias) ou sofrer uma alteração das suas
faculdades mentais durante o mesmo
período (1 ano), bem como quando
existam outros factos que demonstrem a
rutura definitiva do casamento.
50
A Dissolução do casamento
Separação de facto
Muitas vezes, a rutura da vida conjugal não é acompanhada do processo de
divórcio, necessário para que se verifique a dissolução do casamento. Os côn-
juges deixam de ter vida em comum, mas não tratam das exigências legais,
ou seja, passam a estar numa situação de separação de facto.
Quais os efeitos desta opção? Em primeiro lugar, o casamento continua a existir.
Aos olhos da lei, o casal mantém-se vinculado aos deveres conjugais (respeito,
fidelidade, coabitação, cooperação e assistência), que só se extinguem quando
o casamento é dissolvido (por divórcio ou morte de um cônjuge) ou anulado.
A única exceção é a separação de pessoas e bens decretada por um tribunal
ou por um conservador do registo civil: não dissolve o casamento, mas faz
cessar os deveres de coabitação e assistência (veja a página 54).
51
A Guia do casal
ANULAR O CASAMENTO
A anulação do casamento tem características particulares, já que os intervenientes voltam
a ser solteiros. Portanto, não se trata de dissolução. Mas, para que seja possível, é necessá-
rio que haja um motivo fundamentado. Esta é, pois, uma situação em que é imprescindível
a consulta de um advogado, antes de avançar com o pedido em tribunal.
Eis os motivos que podem ser invocados:
—— desrespeito por impedimentos matrimoniais (veja o título Impedidos de casar, na
página 13): idade inferior a 16 anos, deficiência mental, casamento anterior não dis-
solvido, parentesco na linha reta (pais com filhos, por exemplo) ou no 2.º grau da linha
colateral (irmãos), afinidade na linha reta (sogro/sogra com nora/genro; padrasto/
madrasta com enteada/enteado) e condenação como autor ou cúmplice pelo homi-
cídio (ou tentativa) do ex-cônjuge do outro. A anulação do casamento por um destes
fatores pode ser pedida pelos cônjuges, por qualquer parente na linha reta ou até ao
4.º grau da linha colateral (até ao primo), bem como pelos herdeiros e adotantes dos
cônjuges e, finalmente, pelo Ministério Público;
—— ausência das testemunhas exigidas pela lei (veja Cerimónia, na página 24). Apenas o
Ministério Público pode pedir a anulação;
—— (falta de) vontade de um dos cônjuges. Pode ser tentada a anulação por parte de quem
não queria casar, foi enganado ou forçado a fazê-lo, mas é necessário provar que o
casamento só se realizou devido a essas circunstâncias anormais.
Para esclarecer melhor esta última hipótese de anulação, vejamos os seguintes exemplos:
—— o Óscar só casou com a Valéria porque o pai dela disse que, se não o fizesse, despediria
os pais e os irmãos do Óscar, todos seus empregados;
—— a Conceição deu o “sim” ao casamento com o Adérito por não ter consciência do que
fazia, pois encontrava-se sob o efeito de uma série de medicamentos;
—— a Adelaide casou com o Alexandre convencida de que ele era uma pessoa honesta e
cheia de virtudes, mas veio a descobrir que, afinal, se tratava de um delinquente que
ganhava a vida a burlar os outros e a assaltar bancos e lojas.
52
A Dissolução do casamento
Outra questão que a separação de facto não influencia é a dos direitos suces-
sórios: os cônjuges continuam a ser herdeiros um do outro. Como vimos no
capítulo anterior, também não impossibilita a existência de dívidas conjuntas:
em certas circunstâncias, os tribunais têm considerado que ainda pode haver
dívidas contraídas em proveito comum (para mais pormenores, veja a caixa
da página 47).
Então a separação de facto não tem efeitos legais? Não é bem assim. Per-
mite pelo menos que, ao fim de um ano, qualquer dos cônjuges avance
com o processo de divórcio (veja o título Separação por mais de um ano,
na página 57).
A separação de facto deve, pois, ser encarada como uma espécie de período
de reflexão, durante o qual o casal pondera se vale a pena continuar o casa-
mento. Quando já existe a certeza de que a relação não será reatada, mais
vale avançar logo para o divórcio, pois, na separação de facto, por muito
que se entenda que os laços entre ambos terminaram, a verdade é que o
casamento se mantém. Se, porventura, mesmo nessa altura, um dos cônjuges
não estiver disposto a aceitar o divórcio, o outro pode fazê-lo sozinho, ao fim
de um ano de separação.
53
A Guia do casal
Com esta ação, pretende-se, em primeiro lugar, que deixe de haver um patri-
mónio comum. De acordo com as palavras da lei, a separação de pessoas e bens
“produz os efeitos que produziria a dissolução do casamento” no que respeita
aos bens. Neste aspeto, assemelha-se ao divórcio, podendo, portanto, até ser
feita a partilha dos bens do casal. Além disso, passa a impedir os cônjuges de
serem herdeiros um do outro: por morte de um, o outro nada recebe, a não
ser que seja contemplado por testamento.
A separação de pessoas e bens acaba por ser uma opção quando os cônju-
ges considerem não haver condições para viverem juntos, mas admitem a
hipótese de isso voltar a acontecer. Este tipo de separação tem as mesmas
modalidades do divórcio: mútuo consentimento, se for pedida por ambos,
e sem consentimento de um dos cônjuges. A primeira decorre na conservatória
do registo civil e a segunda no tribunal.
A separação pode prolongar-se até ao fim da vida dos cônjuges ou dar origem
a outras opções:
54
A Dissolução do casamento
Divórcio
Por vezes, a vida conjugal extingue-se antes da morte de um dos cônjuges, por
não ser possível continuar a viver em conjunto, devido a incompatibilidades
ou por um cônjuge (ou ambos) ter violado de forma irreparável um dever
conjugal. Ou, ainda, simplesmente por terem chegado à conclusão de que já
não querem estar juntos. A saída acaba por ser o divórcio, que pode ser por
mútuo consentimento, se ambos quiserem pôr fim ao casamento e chegarem
a acordo relativamente aos aspetos mais importantes, ou sem consentimento
de um dos cônjuges (veja o quadro).
55
A Guia do casal
Outro aspeto a clarificar é que não é indispensável efetuar a partilha dos bens
comuns do casal no processo. Pode ser feita, mas as pessoas têm a possibili-
dade de divorciar-se sem que se defina logo quem ficará com o quê. Isto será
tratado mais tarde, quando os ex-cônjuges entenderem.
56
A Dissolução do casamento
PROTEGER O PATRIMÓNIO
Enquanto decorre o processo de divórcio (ou de separação de pessoas e bens), os côn-
juges estão sujeitos a atitudes menos corretas um do outro, nomeadamente no que
respeita ao património do casal. Há o risco, por exemplo, de um deles movimentar
o dinheiro da conta conjunta ou vender algo de valor. Para o evitar, é possível pedir,
durante a ação, o arrolamento dos bens comuns ou dos bens próprios que sejam admi‑
nistrados pelo outro cônjuge. Significa isto que será feita uma descrição e avaliação
destes bens, por forma a evitar que venham a ser ocultados no momento da parti-
lha. Não se pretende, em princípio, impedir que sejam utilizados, mas apenas evitar
que um cônjuge prejudique o outro. No entanto, é possível que o juiz designe alguém
como depositário de certos bens, isto é, os entregue à sua guarda, de forma a evitar
extravios.
Por outro lado, a separação não implica, necessariamente, uma ausência total
e absoluta de contactos entre os cônjuges. É aceitável que mantenham uma
ligação originada pela existência de filhos ou de bens que a ambos pertencem,
por exemplo, sem com isso poder afirmar-se que não se está perante uma
verdadeira rutura da vida em comum.
57
A Guia do casal
Ausência prolongada
Também a ausência prolongada de um cônjuge, sem dar notícias, pode sig-
nificar a falência do casamento. É a velha história do marido que um dia vai
comprar cigarros e não volta… Terá a mulher de ficar presa a um casamento
que já não existe, com um marido que ela nem sequer sabe se está vivo?
É óbvio que não, uma vez que falta uma das partes de um contrato que tem
de ser cumprido a dois e é impossível respeitar a vida em comum exigida
pelo casamento.
A lei permite que o cônjuge avance com o divórcio 1 ano depois do desapareci-
mento do outro. Se não quiser divorciar-se, tem de esperar 10 anos (ou 5 anos,
se o ausente entretanto tiver completado 80 anos de idade) e solicitar aos
tribunais a declaração de morte presumida do ausente, para poder voltar a
casar. Caso o cônjuge ausente reapareça uns anos mais tarde, o segundo
casamento não perde validade e a pessoa não é condenada por bigamia.
Considera-se, isso sim, que o primeiro foi dissolvido por divórcio na data da
declaração de morte presumida.
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A Dissolução do casamento
Embora não seja necessário demonstrar a culpa do outro, a violação grave dos
deveres conjugais pode constituir motivo de divórcio (veja Deveres conjugais,
a partir da página 34). É assim, em princípio, com o adultério, em que há uma
violação grave do dever de fidelidade, agressões físicas ou insultos (dever de
respeito), recusa injustificada em manter relações sexuais (dever de coabitação),
completa e repetida ausência de interesse pelo estado de saúde do cônjuge
ou dos filhos (dever de cooperação), falta de contribuição para as despesas
familiares (dever de assistência). Contudo, não é possível estabelecer-se uma
lista de comportamentos que constituam causa de divórcio. Quando analisam
este tipo de processos, os juízes têm em conta a educação, a sensibilidade,
o meio social e o nível cultural dos cônjuges, entre outros aspetos.
Sem
consentimento Mútuo
de um dos consentimento
cônjuges
59
A Guia do casal
Mútuo consentimento
O divórcio por mútuo consentimento deve ser requerido na conservatória
do registo civil ou, se faltar acordo relativamente a alguma das matérias que
o exigem, e que veremos de seguida, no tribunal. Os cônjuges não têm de
contratar advogado e surgem como requerentes, ou seja, não estão um contra
o outro, nem precisam de apresentar motivo. Basta declararem que preten-
dem divorciar-se. Além de ser mais pacífico, é mais barato e mais rápido do
que o divórcio sem consentimento de um dos cônjuges. Este tipo de divórcio
é admitido em qualquer momento. Assim que concluírem que a vida em
comum não faz sentido ou que o casamento foi um erro, os cônjuges poderão
avançar com o processo.
60
A Dissolução do casamento
61
A Guia do casal
Pensão de alimentos
Estabelecida uma pensão de alimentos a favor dos filhos, a decisão tem de
ser respeitada. Caso contrário, o progenitor que ficou com os filhos pode
pedir ao tribunal que se efetue a cobrança coerciva: por exemplo, o tribunal
dá ordem à entidade patronal para reter mensalmente a quantia acordada.
O faltoso pode ainda ser condenado a indemnizar os filhos ou o ex-cônjuge
e, além disso, a pagar uma multa até 2040 euros. Finalmente, esta conduta
pode valer-lhe uma condenação pela prática de um crime.
62
A Dissolução do casamento
vivem. Pode, por exemplo, definir-se que os fins de semana serão passados
alternadamente com cada um dos pais e que os filhos estarão com ambos
nas férias, no Natal e no Ano Novo (veja o exemplo da página 72). Caso os
progenitores mantenham uma relação cordial depois do divórcio e souberem
que o outro respeitará o que ficar acordado, não será necessário entrar em
grandes pormenores, como a hora específica de entrega dos menores ou o
prazo exato para reembolso das despesas que um deles tenha adiantado para
fazer face a compromissos relativos aos filhos. Se, pelo contrário, o diálogo
for difícil e a confiança recíproca estiver gravemente ferida, é preferível que
tudo fique bem definido e registado no acordo, para evitar falhas ou, se estas
ocorrerem, para facilitar a prova do incumprimento.
Uma prática relativamente comum, no que respeita aos filhos de casais divor-
ciados, é a alienação parental. Este conceito corresponde, em traços largos,
à utilização dos filhos como arma de arremesso contra o ex-cônjuge, procurando
afastá-los dele. Isso é feito de diversas formas, como a crítica constante ao
visado, a sua desautorização, a criação de obstáculos para o convívio regular
com os filhos, a instigação para conflitos permanentes. Acaba por causar um
grande desgaste a todos os intervenientes, e sobretudo aos filhos, traduzindo
práticas que os especialistas não hesitam em classificar como maus-tratos
psicológicos. Nem sempre os pais têm noção do que estão a fazer e do mal
63
A Guia do casal
As bases da harmonia
Concluindo, o destino dos filhos tem de ser uma das maiores preocupações
dos pais (porventura, a maior) quando decidem divorciar-se. Devem fazer
os possíveis por proporcionar-lhes uma vida estável e feliz, poupando-os a
disputas dolorosas e, de certa forma, evitáveis. Convém não esquecer que,
mesmo que os filhos fiquem a viver com um progenitor, o outro pode e deve
continuar a acompanhar a sua educação e condições de vida. Apenas em
situações extremas, em que o tribunal verifique que pode ser prejudicial o
convívio com um pai (ou uma mãe) alcoólico ou toxicodependente ou que
maltrate os filhos, por exemplo, estará proibido de fazê-lo.
Casa da família
Outra questão que importa resolver é a da casa onde morava a família. E não
se coloca apenas se for propriedade de ambos ou arrendada pelos dois. Mesmo
quando o proprietário ou o inquilino é só um, o problema tem de ser ponde-
rado e resolvido. E até pode ficar o outro na casa.
Casa só de um
Pode acontecer que, por exemplo, seja homologado um acordo para que a
mulher fique a viver na casa que é do ex-marido com os filhos do casal. E o
mesmo é possível se a casa estiver arrendada apenas pelo marido. Neste
último caso, é comunicada ao senhorio pelo tribunal a transmissão da posição
de arrendatário: a mãe passa a ser a inquilina, no lugar do pai.
Quando a casa pertence apenas a um, por exemplo à mulher, e tal for finan-
ceiramente viável, é possível um acordo para que o marido lhe pague uma
renda, a casa lhe seja emprestada, combinar-se que a mãe doa a casa aos filhos
ou estabelece um usufruto, por exemplo. O acordo pode também determinar
uma limitação temporal para a cedência ao homem: a ex-mulher deixá-lo aí
viver enquanto ele não casar novamente, por exemplo.
Casa de ambos
Se a casa for de ambos, mas ainda estiverem a pagar o empréstimo pedido
ao banco para a sua aquisição, há que decidir o que acontece com as pres-
tações já pagas (é necessário fazer compensações?) e quem fica a pagar as
64
A Dissolução do casamento
que faltam. Por um lado, quem dela sai pode não estar disposto a pagar
mais prestações ou não ter meios para fazê-lo e, em simultâneo, pagar as
despesas inerentes à sua nova residência. Por outro, será que quem aí fica
consegue satisfazer sozinho esse encargo? Estas questões são importantes,
mas não é imprescindível resolvê-las de imediato. No momento do divórcio,
só é necessário dizer quem ficará a viver na casa. O resto pode ser decidido
mais tarde, na partilha.
Em regra, o ideal será vender a casa, mesmo que só consigam fazê-lo depois
do divórcio, e, com o montante obtido, amortizar um eventual empréstimo
bancário e dividir o restante. Nestes casos, pode ainda assim colocar-se a
questão de saber quanto contribuiu cada um para o pagamento do imóvel
(sinal, entrada e prestações) e eventuais obras de que tenha necessitado ou
como eram repartidas as despesas: pode acontecer que um pagasse a presta-
ção da casa, mas o outro assegurasse as compras do mês, por exemplo. Este
aspeto é relevante, tal como o é o regime de bens. Ao contrário do que acon-
tece na separação, nos regimes de comunhão (geral ou de bens adquiridos)
os rendimentos provenientes da atividade profissional são considerados bens
comuns, independentemente de eventuais discrepâncias naquilo que cada
um recebe. Da mesma forma, sendo a casa paga com bens comuns, também
ela o é, em partes iguais.
Quem queira ficar com a casa deve avaliar vários aspetos: o montante da
compensação a dar ao outro e a eventual necessidade de pedir sozinho um
empréstimo para esse efeito e/ou para continuar a pagar ao banco o que
ainda está em dívida. Não pode esquecer que, doravante, terá de suportar
por inteiro a prestação da casa. Por isso, é fundamental fazer bem as contas
aos encargos antes de tomar essa decisão. E até pode acontecer que o banco
não empreste o montante de que necessita, imponha condições contratuais
menos vantajosas do que o esperado ou exija mais garantias do que quando o
pagamento do crédito era assegurado por duas pessoas. Neste âmbito, convém
saber que as alterações do contrato estão sujeitas a certos limites. Por exem-
plo, tratando-se de um crédito para aquisição de casa própria e permanente,
o banco não poderá aumentar o spread, entre outras circunstâncias, quando
o agregado familiar do titular do contrato tiver rendimentos que impliquem
uma taxa de esforço inferior a 55% ou, no caso dos agregados familiares com
dois ou mais dependentes, inferior a 60%.
65
A Guia do casal
66
A Dissolução do casamento
67
A Guia do casal
Os animais de companhia
Deixaram de ser considerados “coisas” e têm sido alvo de uma preocupação
crescente da legislação nacional, além de ocuparem um lugar insubstituí-
vel na vida de muitas famílias. Quando esta se divide, o que acontece aos
animais de companhia? Até 2017, a lei nada referia quanto a este aspeto,
cabendo a cada família decidi-lo. Atualmente, os animais de companhia
podem ficar à guarda de um ou de ambos os ex-cônjuges, sendo também
eles alvo de acordo escrito a analisar, juntamente com os restantes acordos,
pelo conservador e/ou pelo tribunal. Para a decisão devem ser considerados
os interesses de cada um dos cônjuges e dos filhos do casal, mas também o
68
A Dissolução do casamento
bem-estar do animal. Não havendo acordo, quem quiser ficar com ele terá
de provar que existem razões para que lhe seja dada preferência, demons-
trando, por exemplo, que a sua residência tem melhores condições para
o animal ou que, ao longo do tempo, construiu com ele uma relação de
maior proximidade, pois é quem o alimenta, cuida dele, leva a passear e
ao veterinário, dá mimos, etc.
69
A
Exmo. Senhor,
Conservador do Registo Civil de
Encontram-se, assim, reunidos os requisitos exigidos pela lei para que seja
decretado o divórcio por mútuo consentimento.
Nestes termos e mais de Direito, vêm requerer que V. Exa. designe dia e hora
para a realização da conferência prevista na lei, seguindo-se os ulteriores trâmites
legais.
Os requerentes
(Assinaturas)
70
A
(Data)
Os requerentes
(Assinaturas)
71
A
2. Dado que ambos os requerentes ficarão a residir perto da escola dos filhos, fica
estipulado que os menores permanecerão alternadamente quinze dias com cada
um dos pais.
5. Os menores passarão alternadamente com o pai e com a mãe os dias dos
seus aniversários, mas, sempre que possível, estarão com ambos nesse dia, por
exemplo, almoçando com o pai e jantando com a mãe.
6. Os menores passarão a véspera de Natal e de Ano Novo com um dos pais
e o dia de Natal e de Ano Novo com o outro, em cada ano, alternando no ano
seguinte.
(Data)
Os requerentes
(Assinaturas)
72
A
(Data)
Os requerentes
(Assinaturas)
73
A
BENS IMÓVEIS
BENS MÓVEIS
(Data)
Os requerentes
(Assinaturas)
74
A Dissolução do casamento
75
A Guia do casal
Viuvez
O casamento também termina com a morte de um dos cônjuges. O viúvo
pode casar de novo, sem correr o risco de praticar o crime de bigamia, mas,
em regra, terá de aguardar o prazo internupcial, nos termos explicados no
início desta página.
Registo do óbito
Tal como os registos de nascimento, casamento e divórcio, é obrigatório.
Para ser efetuado, a morte tem de ser comunicada verbalmente em qualquer
76
A Dissolução do casamento
Comunicação às finanças
Sempre que o falecido deixa bens, o cônjuge, como cabeça-de-casal, que é
quem trata da administração da herança até à partilha, tem de comunicar a
morte ao serviço de finanças do concelho ou bairro fiscal onde aquele residia.
Quando o cônjuge não está em condições (físicas, por exemplo) de tratar de
tudo, será designado outro cabeça-de-casal. Se todos os herdeiros estiverem
de acordo quanto a quem irá desempenhar essa função, não haverá problema.
Na falta de acordo, poderá ser necessário recorrer ao tribunal.
Se o falecido morava no estrangeiro, a comunicação deverá ser feita no serviço
da área de residência do próprio cabeça-de-casal.
77
A Guia do casal
A comunicação é feita num modelo fornecido pelas finanças onde são iden-
tificados o falecido e os seus sucessores e respetivos graus de parentesco,
sendo assinado pelo cabeça-de-casal. Deverá também ser indicada a data e
o local da morte, bem como apresentada a relação dos bens da herança e os
comprovativos dos valores envolvidos (por exemplo, documentos dos bancos
relativamente aos montantes depositados).
Habilitação de herdeiros
Outro procedimento de que o cônjuge em condições de fazê-lo tem de ocupar-
-se é a habilitação de herdeiros, que consiste na elencagem das pessoas que
têm direito a herdar. O mais simples e imediato é fazer a habilitação através
de escritura pública, num notário. A identificação dos herdeiros é feita pelo
cabeça-de-casal ou, em alternativa, por três pessoas que o notário considere
dignas de crédito e não sejam parentes do falecido.
O PROCESSO DE INVENTÁRIO
O processo de inventário começa pela apresentação de um requerimento, pelo côn-
juge do falecido e/ou cabeça-de-casal da herança, o que pode ser feito pela internet,
em www.inventarios.pt, mediante utilização do certificado digital do cartão de cidadão.
No entanto, ainda antes de iniciar o processo, pode solicitar-se um atendimento prévio ao
notário. Será o momento para que este analise a situação que lhe é apresentada e verifi-
que se estão em causa questões que obriguem à constituição de advogado (as questões
de direito). O notário irá ainda informá-lo sobre os documentos a apresentar (certidão de
óbito, testamento, convenção antenupcial, etc.), marcar a data para a entrega do requeri-
mento, se necessário, e efetuar as diligências que lhe pareçam necessárias.
No requerimento, o cabeça-de-casal identifica os interessados na partilha, os bens que serão
partilhados e os respetivos valores. Estas informações são depois confirmadas pelos restantes
herdeiros e, se for necessário, o notário nomeia um perito para avaliar os bens. Mais tarde,
o notário convoca uma conferência preparatória e, no prazo de 20 dias, a conferência de inte-
ressados (os herdeiros), na qual se procede à distribuição dos bens constantes da herança.
78
A Dissolução do casamento
Partilha
Havendo mais do que um herdeiro (cônjuge e filhos, por exemplo), a herança
é repartida por eles, tendo em conta a respetiva quota (veja o quadro abaixo).
Ou seja, efetua-se a partilha. Como vimos, pode ser feita através do processo
de inventário. Porém, havendo acordo entre todos os herdeiros, isso não é
necessário. A partilha de bens imóveis tem de ser realizada por escritura
79
A Guia do casal
Aos valores indicados acrescem 125 euros por registo de aquisição de bens imóveis. Pelos
bens atribuídos a cada herdeiro, além do primeiro, são ainda adicionados 30 euros por
imóvel, 20 euros por bem móvel (ou 15 euros por ciclomotor ou motociclo, triciclo ou qua-
driciclo com cilindrada não superior a 50 cm3), até ao limite de 30 mil euros.
Alteração de registos
Sempre que o falecido deixa bens imóveis, é preciso atualizar os respetivos
registos, para que os herdeiros que os receberem passem a constar como
80
A Dissolução do casamento
Seguros
No caso de o falecido ter um seguro com cobertura de morte (por exemplo,
de vida, de saúde ou de acidentes pessoais), o cônjuge-beneficiário, para
receber o montante a que tem direito, deve entregar à seguradora uma
certidão de óbito que indique a causa da morte. Terá, ainda, de provar
a sua identidade, de modo a que a seguradora tenha a certeza de que é
o beneficiário. Se não souber ao certo se o falecido estava abrangido por
algum destes seguros, o cônjuge (ou outro potencial beneficiário) poderá
confirmá-lo junto da ASF — Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos
de Pensões.
Declaração conjunta
Neste caso, entra no Portal das Finanças apenas com a sua senha de acesso;
identifica-se como sujeito passivo A e preenche os campos 4 e 6 no quadro 5B
do modelo 3. Havendo rendimentos da categoria A ou H (trabalho depen-
dente ou pensões), o cônjuge deve declarar os rendimentos do falecido no
quadro 4A do anexo A e identificá-lo com a letra F (falecido). É-lhe perguntado
81
A Guia do casal
Declaração separada
Caso opte pela entrega em separado, mas não tenha a senha de acesso do
falecido, o(a) viúvo(a) deve fazer um novo pedido no Portal das Finanças.
A senha será enviada, em princípio, no prazo de cinco dias úteis.
SIM NÃO
É o (a) viúvo(a)?
SIM
82
A Dissolução do casamento
Por outro lado, nenhum herdeiro está obrigado a aceitar a herança. Nem
mesmo o cônjuge. Se não estiver interessado, pode renunciar a ela (repu-
diá-la, de acordo com a terminologia legal). Basta imaginarmos alguém que
deixe bens no valor de 15 mil euros, mas dívidas de 30 mil euros. É certo
que só os bens respeitantes à herança respondem pelas dívidas (não pode
pretender-se pagar 15 mil euros da dívida com a herança e o restante com
bens que o herdeiro já tinha), mas poderia não ser fácil provar que os bens
já lhe pertenciam. De qualquer forma, não haveria interesse em aceitar
uma herança dessas.
83
A Guia do casal
Meação do cônjuge
Na distribuição dos bens do falecido, há que ter em conta a meação do côn-
juge sobrevivo, isto é, a sua metade dos bens comuns. Imaginemos o Manuel,
casado com a Paula e com dois filhos. Quando morreu, o valor dos bens do
casal era de 92 500 euros, distribuídos da seguinte forma:
—— bens próprios do Manuel: 22 500 euros;
—— bens comuns do casal: 60 mil euros;
—— bens próprios da Paula: 10 mil euros.
No nosso exemplo, o cônjuge e cada um dos filhos tiveram direito a uma parte
dos bens do falecido exatamente igual. E é sempre assim, desde que o casal
não tenha mais de 3 filhos. A partir dos 4, a distribuição só é equitativa entre
os filhos; o cônjuge recebe sempre 1/4 da herança, independentemente de o
número de filhos ser 4, 5, 6 ou mesmo mais. No entanto, quem queira que,
por sua morte, haja uma distribuição diferente (que o filho que se ocupar
dele receba mais do que os restantes, por exemplo), poderá fazer um tes-
tamento e atribuir-lhe a quota disponível, ou parte dela, de acordo com as
84
A Dissolução do casamento
85
A Guia do casal
regras atrás indicadas (título Testamento com limites, na página 84). Tendo
cônjuge e filhos, pode decidir que o máximo de 1/3 da herança fica apenas
para os descendentes.
Sem filhos
Quando o falecido não tem filhos, o cônjuge partilha a herança com os
seus ascendentes (pais, avós, …). Todavia, a divisão não é feita por cabeça:
o cônjuge tem direito a 2/3, restando 1/3 para os ascendentes. O cônjuge só
recebe a totalidade da herança se o falecido não deixar descendentes nem
ascendentes.
Doações em vida
Na divisão da herança, tem de contar-se com as doações que o falecido tenha
feito em vida (e nem sempre fáceis de provar). Vamos supor que a Natália
morre, deixando às filhas Patrícia, Rita e Teresa 65 mil euros e que, enquanto
era viva, deu 15 mil euros à Patrícia para a ajudar a comprar casa e ofereceu
um automóvel no valor de 10 mil euros à Rita. Estes valores são tidos em conta
na repartição da herança. Assim, dos 65 mil euros, a Patrícia só recebe 15 mil,
a Rita tem direito a 20 mil e a Teresa fica com os restantes 30 mil. Feitas as
somas, cada uma recebe, no total, 30 mil euros.
Direitos sociais
É possível que a morte do cônjuge signifique também a perda de uma das
fontes de rendimento da família. Até pode tratar-se da única, o que deixaria o
cônjuge sobrevivo numa situação delicada. Contudo, as coisas não se passam
exatamente assim: se o falecido efetuou descontos para a segurança social
durante anos consecutivos, tal facto concede-lhe alguns direitos sociais, quer
ainda estivesse no ativo, quer já se encontrasse reformado.
A lei prevê apoios para a família fazer face ao acréscimo de despesas originado
pela morte e, também, para garantir a sua subsistência quotidiana. Com a
primeira daquelas funções, foi criado o subsídio por morte, que consiste numa
quantia única, para ajudar a família a reorganizar a sua vida. Já a pensão de
sobrevivência é uma quantia mensal, uma espécie de substituto do salário ou
da pensão que o falecido recebia.
86
A Dissolução do casamento
Repartir o subsídio
No regime geral da segurança social, o subsídio é, em princípio, atribuído ao
cônjuge ou unido de facto e aos filhos, sendo dividido em duas partes iguais.
A viúva tem direito ao subsídio mesmo que o casal estivesse separado de
pessoas e bens ou até divorciado, mas só se o falecido estivesse a pagar-lhe
uma pensão de alimentos (ou, a (ex-) mulher a ela tivesse direito).
87
A Guia do casal
Não há limite de idade para os filhos deficientes. Por outro lado, os enteados
e os adotados encontram-se equiparados aos filhos.
Outros dependentes
Os ascendentes (pai, mãe, avós) só recebem se estivessem a cargo do falecido
e não existirem cônjuge, ex-cônjuge, unido de facto ou descendentes com
direito ao subsídio.
Não havendo cônjuge, ex-cônjuge, descendentes ou ascendentes com direito,
o subsídio pode ser atribuído a outro parente ou afim em linha reta ou até ao
3.º grau da linha colateral (tio, sobrinho) que estivesse a cargo do falecido.
Pensão de sobrevivência
A outra proteção proporcionada pela segurança social é a pensão de sobrevi-
vência, que funciona como substituto do rendimento do falecido. Ao contrário
do que acontece com o subsídio por morte, para os familiares do falecido
terem direito à pensão de sobrevivência, é preciso que este tenha efetuado
descontos durante um certo período: 3 anos no regime geral de segurança
social e 5 anos na Função Pública. O seu valor corresponde a uma percen-
tagem do montante da pensão a que o falecido teria direito quando morreu
(ou já recebia, sendo reformado).
88
A Dissolução do casamento
89
A Guia do casal
Quem esteja no regime não contributivo também pode ter acesso ao subsídio
de funeral, desde que comprove ter suportado esse encargo. O montante desta
prestação social corresponde, atualmente, a um valor único de 217,72 euros.
90
A
Capítulo 4
União de facto
A Guia do casal
Que exigências?
O regime apenas abrange os casais que satisfaçam algumas exigências da lei:
—— têm de viver juntos, em união de facto, há mais de 2 anos;
—— não podem ter menos de 18 anos à data do reconhecimento da união de
facto. Portanto, mesmo que já vivessem juntos, a contagem para perfazer
2 anos só se inicia quando ambos tiverem completado 16 anos de idade;
—— nenhum deles pode ser casado, a menos que esteja separado de pessoas
e bens. A simples separação de facto relativamente a um cônjuge anterior
não é suficiente, independentemente da duração da nova vida comum;
—— não podem estar ligados pelos graus de parentesco ou afinidade mais
chegados, ou seja, não podem ser ascendentes ou descendentes, afins na
linha reta (padrasto/madrasta, enteado/a, genro/nora, sogro/a) ou irmãos;
—— nenhum deles pode sofrer de demência evidente, mesmo que tenha momen-
tos de lucidez, a menos que aquela apenas se tenha manifestado depois
do início da união de facto;
—— por último, impede-se que sejam abrangidos pelo regime quando um deles
tenha sido condenado por matar o cônjuge do outro, mandar matá-lo ou
tentar fazê-lo.
92
A União de facto
Conteúdo do regime
As pessoas que satisfaçam as condições enunciadas beneficiam, pois, de proteção
numa série de matérias (veja uma síntese na próxima página). De fora ficam,
por exemplo, as questões relativas a heranças, que, por isso mesmo, merecem
tratamento separado no presente capítulo. Quanto ao conteúdo do regime,
é o seguinte:
—— casa de morada da família;
—— proteção por morte do companheiro;
—— faltas ao trabalho;
—— IRS;
—— adoção.
Casa da família
O regime da união de facto determina o destino da casa onde o casal vivia,
terminada a relação. Algumas das regras são semelhantes às do casamento.
93
A Guia do casal
Morte do proprietário
A Madalena vivia há 15 anos com o Vasco, numa casa que era apenas dele.
Agora que o Vasco morreu, pode continuar a viver lá? A lei determina que
sim, durante um período igual ao da duração da união de facto (mais 15 anos,
portanto), mantendo o direito real de habitação e de uso do recheio, ou seja,
de tudo o que nela se encontra (móveis, eletrodomésticos, pratos, talheres,
copos, etc.). Se tivessem vivido juntos entre 2 e 5 anos, a permanência na
casa seria sempre possível durante mais 5 anos.
94
A União de facto
O direito caduca se a Madalena estiver mais de 1 ano sem habitar a casa, sem
que exista motivo de força maior (internamento hospitalar ou prestação de
cuidados a um familiar, por exemplo). Por outro lado, nem sequer terá direito
a lá ficar se tiver casa própria no mesmo concelho ou, tratando-se de Lisboa
e Porto, também num concelho vizinho.
Enquanto habitar a casa, seja por via do direito real de habitação, seja ao abrigo
do contrato de arrendamento, a Madalena tem direito de preferência no caso de
os herdeiros do falecido quererem vendê-la. Isto significa que pode exigir que
lhe seja vendida desde que ofereça o mesmo que outro potencial comprador.
Morte do arrendatário
Se a residência da Madalena e do Vasco fosse arrendada e o contrato tivesse
sido feito só por ele, a Madalena poderia lá ficar a viver, pois verificar-se-ia
a transmissão do arrendamento. Mas teria de comunicar o falecimento do
Vasco ao senhorio, no prazo de 3 meses. A falta dessa comunicação pode-
ria dar origem ao pagamento de uma indemnização ao senhorio por danos
comprovadamente sofridos.
Separação
Em caso de separação, o Vasco e a Madalena poderiam chegar a acordo quanto
a quem ficaria a viver na casa, independentemente da sua propriedade ou
de quem tinha feito o contrato de arrendamento. Na falta de acordo, seria o
tribunal a decidir, tendo em conta o interesse dos filhos e dos membros da
união de facto. O tribunal pode, pois, aplicar à cessação da união de facto as
mesmas regras que vigoram para o divórcio, quer a casa pertença a um dos
membros da união de facto (ou a ambos), quer seja arrendada (para mais
pormenores sobre esta matéria, veja o título Rutura da relação, na página 101).
95
A Guia do casal
Restantes regras
Existem outros aspetos que estão abrangidos pelo regime da união de facto,
havendo, quanto a alguns, equiparação com o casamento.
Direitos laborais
Em questões como as faltas ao trabalho, a lei estabelece a equiparação ao
casamento, o que significa, por exemplo, que é possível faltar anualmente
15 dias para prestar assistência ao companheiro (para mais pormenores,
consulte a caixa Faltar ao trabalho, na página 37). Outro aspeto em que há
proteção é o dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais que pro-
voquem a morte. O membro da união de facto que sobrevive tem direito às
compensações previstas: ele e os filhos recebem o subsídio por morte, pago
de uma única vez, por ocasião do falecimento, e uma pensão que corresponde
a uma percentagem do salário do falecido.
Segurança social
Diz a lei que, em caso de morte, são aplicadas as regras do regime geral de
segurança social. Para ter acesso à pensão de sobrevivência e ao subsídio por
morte (veja o que são no título Direitos sociais, a partir da página 86) já não
é necessário demonstrar que necessita de pensão de alimentos. Apenas
96
A União de facto
Adoção conjunta
As pessoas que vivam em união de facto podem adotar nos mesmos termos
dos cônjuges. Ou seja, têm de viver juntos há mais de 4 anos e ambos con-
tarem mais de 25 anos de idade (para mais pormenores, consulte o título
Adoção, na página 130).
Dissolução da união
Por último, a lei determina que a união de facto se dissolve quando se dê
uma de três situações:
—— um dos membros falecer;
—— algum deles casar. Como é evidente, se casarem um com o outro também
deixam de estar abrangidos pelo regime da união de facto;
—— um dos membros (ou ambos) pretender que a relação acabe, ou seja,
deixarem de viver juntos.
Não existem formalidades para pôr fim à relação. Ao contrário do que acontece
com o casamento, não é necessário apresentar requerimentos na conser-
vatória do registo civil ou propor ações em tribunal. Todavia, quem queira
fazer valer direitos decorrentes da separação terá de recorrer aos tribunais,
a fim de obter uma declaração judicial de dissolução da união de facto. Assim
será, quando, por exemplo, alguém pretenda ficar a viver na casa da família,
sendo esta propriedade do outro ou de ambos (veja também o título Rutura
da relação, na página 101).
97
A Guia do casal
Falta de proteção
Além das matérias que constam do Regime, há outras em que não existe
regulamentação para a união de facto e que, portanto, devem merecer ainda
maior atenção, uma vez que se traduzem em situações de menor proteção.
Bens e dívidas
Na união de facto, não existe aquilo a que no casamento se chama património
comum. Pode haver, isso sim, bens adquiridos no regime de compropriedade,
isto é, por ambos os membros da união de facto, e as partes de cada um não
serem iguais. Se assim for, isso deve ser expressamente referido no documento
comprovativo da compra. Por exemplo, a Madalena e o Vasco, o casal que
acompanhamos desde o início deste capítulo, compraram uma casa, tendo
ela pago 70% do valor e ele 30%. A escritura pública de compra e venda deve
conter a percentagem de cada um. Se isso não acontecer, a Madalena pode
ficar prejudicada, pois pressupõe-se que as partes são iguais.
Além dos bens de que ambos são proprietários, existem aqueles que pertencem
apenas a um, ou seja, os que cada um adquire sozinho. Todavia, se quiserem
um dia dividir os bens, podem surgir dúvidas quanto à propriedade dos que
não estejam sujeitos a registo. Se ninguém conseguir provar que é seu, parte-
-se do princípio de que se trata de um bem pertencente a ambos e faz-se a
divisão em duas partes iguais.
Nas dívidas, segue-se o regime geral constante da lei, sendo cada um responsável
pelas que contrai sozinho. Assim, não têm lugar as regras referidas no capítulo
sobre a vida conjugal quanto à existência de proveito comum ou encargos
familiares, por exemplo (veja o título Dívidas, na página 41). Porém, se vierem
a casar, passam a estar sujeitos às regras que vigoram para os cônjuges e, por-
tanto, ambos são responsabilizados pelas dívidas que tenham contraído em
conjunto mesmo antes de casarem, bem como pelas originadas por apenas
um deles para fazer face aos encargos da vida familiar, ainda que tal tenha
acontecido antes do casamento, ou seja, enquanto durou a união de facto.
Portanto, a regra é simples: têm de ser suportadas por ambos as dívidas con-
traídas pelos dois (por exemplo, o empréstimo bancário que pediram para
comprar casa) e são da responsabilidade de cada um aquelas que assumiu
sozinho (o dinheiro que só um deles pediu para adquirir um carro). Há, por
isso, que ter um certo cuidado para não contrair sozinho dívidas que sejam
98
A União de facto
Heranças
O campo sucessório é um daqueles em que os membros da união de facto
estão mais desprotegidos, já que apenas herdam um do outro por testamento
e até pode acontecer que, mesmo assim, haja limitações importantes. Vários
exemplos dão uma ideia das diferenças entre a união de facto e o casamento.
Paulo e Diana
Contra a vontade dos pais, o Paulo casou com a Diana. Dois anos depois,
faleceu e a mulher herdou os seus bens. Se tivessem decidido viver juntos
e o Paulo não deixasse testamento, os herdeiros seriam os pais, com quem
estava de relações cortadas, e não a Diana, que acabaria por ficar sem nada.
Além disso, a lei não lhe permitiria que, por testamento, deixasse mais de
metade dos bens à Diana, ainda que a sua vontade fosse a de que os pais
não ficassem com nada.
Helena e Bruno
Divorciada de um primeiro casamento, do qual haviam resultado dois
filhos, a Helena casou em segundas núpcias com o Bruno, de quem teve
mais um filho. Quando faleceu, a herança foi dividida em partes iguais
pelo marido e pelos três filhos (um quarto para cada um). Caso a Helena
e o Bruno tivessem optado pela união de facto, este último nada herdaria.
Isso só aconteceria se houvesse testamento a seu favor, mas, ainda assim,
não poderia destinar-lhe mais de um terço dos bens (os outros dois terços
estariam reservados aos filhos).
Álvaro e Mafalda
Vejamos um último exemplo, que constitui o extremo a que as coisas
podem chegar. Quando morreu, o Álvaro vivia há 20 anos com a Mafalda,
mas não tinha qualquer familiar vivo. Como não fez testamento, os seus
bens foram direitinhos para o Estado, nada revertendo a favor da Mafalda.
99
A Guia do casal
O testamento pode ter uma de duas formas, mas, para ser válido, tem sempre
de ser feito por escrito. A primeira consiste no testamento cerrado (veja um
exemplo abaixo). Só pode ser escrito por quem saiba ler e, depois de assinado
pelo próprio, tem de ser aprovado por um notário, com a presença de duas
testemunhas, a menos que sejam dispensadas pelo notário, face à urgência da
situação. Depois de aprovado, pode ser guardado onde o testador pretender.
A segunda forma é o testamento público, redigido pelo notário no Livro de
Notas para Testamentos Públicos e para Escrituras de Revogação de Testamentos,
de acordo com a vontade do autor do testamento e também perante duas
testemunhas. É mantido secreto até à morte do seu autor.
TESTAMENTO
el a Ana Paula da
Deixo toda a minha quota disponív
iteta , residente em
Cunha Tavares, divorciada, arqu
n.º 4, 3.º esq.
Lisboa, na Rua das Buganvílias,
100
A União de facto
Rutura da relação
Os problemas relacionados com a opção pela união de facto surgem com parti-
cular acuidade depois de terminar a relação. E se, quando isso acontece devido
à morte de um dos membros, a lei (só) prevê as soluções que tivemos oportuni-
dade de analisar, quando a rutura se dá porque os dois deixaram de se entender
e não querem continuar a viver juntos, as coisas ainda são mais complicadas.
101
A Guia do casal
Desta relação podem ainda ter resultado filhos. Supondo que as crianças ficam
a viver com a mãe e o pai não contribui voluntariamente para o sustento dos
filhos, ela pode recorrer ao tribunal para obter uma pensão de alimentos
para eles, exatamente como se fossem casados e estivessem a separar-se ou
a divorciar-se. A obrigação do pai (e da mãe) relativamente aos filhos não é
menor na união de facto do que no casamento, mesmo em caso de rutura.
Acordo de coabitação
Não custa concluir que a união de facto poderá dar origem a uma série de
problemas, quando se verifica uma separação ou a morte de um dos seus
102
A União de facto
103
A
A
Capítulo 5
Filhos
A Guia do casal
Primeiras formalidades
Quando nasce um ser humano, o primeiro aspeto legal importante é a iden-
tificação dos progenitores. Relativamente à mãe, as coisas não são muito
difíceis, a menos que o abandone à nascença. Já no que respeita ao pai, há que
distinguir duas situações:
—— sendo a mãe casada, presume-se que o marido é o pai do filho, pelo que
o seu nome constará do registo como pai;
—— não sendo casada, mesmo que viva com o pai do recém-nascido a paterni-
dade é estabelecida através do reconhecimento. Normalmente, basta que
o pai se desloque à conservatória do registo civil para efetuar o registo.
Não o fazendo voluntariamente, o reconhecimento também poderá ser
determinado pelo tribunal. Se houver falseamento, o verdadeiro pai pode
recorrer ao tribunal a pedir que seja impugnada a paternidade registada e
reconhecida a verdadeira. Para tal, são realizados exames médicos e demais
provas que se mostrem necessárias, como recolha de sangue ou análise
do ADN, por exemplo. Só que ninguém pode ser obrigado a submeter-se a
estes exames, o que dificulta frequentemente as investigações. No entanto,
em caso de recusa, o tribunal pode decidir que se dá a inversão do ónus
da prova, isto é, terá de ser aquele que não quer submeter-se aos testes a
provar que não é ou não pode ser o pai.
Quem é o pai?
A paternidade pode levantar algumas questões. Por um lado, há situações
em que a mãe pretende em vão que o pai assuma a paternidade; por outro,
aquelas em que é a mãe a negar-lhe esse direito. Em princípio, isto não
acontece quando os pais vivem juntos e em harmonia, mas há filhos que
desconhecem a identidade do pai ou vivem na ilusão de uma paternidade
falsa.
106
A Filhos
Pais casados
Embora se presuma que os filhos de uma mulher casada são também do
marido, isso pode não corresponder à realidade. Quando declara o nascimento
do filho, a mãe pode fazer-se acompanhar do verdadeiro pai da criança, para
que seja feito o reconhecimento voluntário da paternidade, ou até não fazer
qualquer referência à sua identidade.
Quando o pai não é o marido, mas é isso que consta do registo, é possível soli-
citar que esta referência seja eliminada, através do cancelamento do registo
ou de uma ação de impugnação da paternidade. Podem desencadear a ação o
marido da mãe, a mãe, o próprio filho ou, finalmente, o Ministério Público,
a pedido de quem se apresente como o verdadeiro pai. Os prazos para esta
ação são os seguintes:
—— a mãe dispõe de 3 anos depois do nascimento;
—— o marido, apontado como pai, tem 3 anos, depois de ter conhecimento de
circunstâncias que indiciem não ser ele o pai;
—— o filho pode fazê-lo até 10 anos depois de atingir a maioridade (ou ser
emancipado pelo casamento) e nos 3 anos seguintes a ter conhecimento
de factos que apontem para que o marido da mãe não seja o seu pai;
—— finalmente, o verdadeiro pai apenas dispõe de 60 dias após o registo de
paternidade a favor do marido da mãe para apresentar o caso ao Minis-
tério Público.
107
A Guia do casal
—— perfilhação, que é uma declaração de alguém a dizer que é o pai e pode ser
feita de diversas formas (por exemplo, na conservatória do registo civil,
por testamento ou por escritura pública);
—— decisão de um tribunal, em consequência de uma ação de investigação da
paternidade.
A perfilhação pode ainda ser anulada pelo pai se for baseada em erro ou
tiver sido fruto de coação moral (alguém ter sido forçado a reconhecer uma
criança como filha, sob ameaça de morte, por exemplo). Para esta anulação,
o suposto pai dispõe do prazo de 1 ano, a contar do conhecimento do erro
ou do momento em que termina a coação, respetivamente.
108
A Filhos
Investigação da paternidade
Independentemente da vontade da mãe, sempre que uma criança seja regis-
tada sem indicação de quem é o pai, a conservatória do registo civil tem de
dar conta desse facto ao tribunal, para que seja investigada a paternidade da
criança. O tribunal ouve a mãe e, quando ela indique quem é, também o pai.
Confirmando-se a paternidade, o tribunal dá conhecimento à conservatória
do registo civil de que a identidade do pai já é conhecida. Se não a confirmar
ou a mãe não a indicar, dá-se início à ação de investigação da paternidade.
Quem é a mãe?
Embora menos do que a paternidade, também a maternidade pode levantar
dúvidas, por não haver identificação da mãe no registo (um bebé abandonado,
por exemplo) ou por dele constar uma mãe que não é a verdadeira.
109
A Guia do casal
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A Filhos
não deve ter mais do que seis palavras, com um máximo de dois nomes pró-
prios, que nunca poderão ser iguais aos de um irmão (a menos que este tenha
morrido), e quatro apelidos. Os nomes próprios devem ser portugueses ou
graficamente adaptados à língua portuguesa. Apenas são admitidos nomes
estrangeiros a quem não tenha nacionalidade portuguesa, a acumule com
outra nacionalidade ou os pais sejam estrangeiros.
Quanto aos apelidos, a criança usa os da mãe e os do pai ou só de um, sendo
ainda possível o uso de apelidos que os pais não tenham, mas pudessem ter
(dos avós, por exemplo). Para a sequência, não existem regras: pode(m) ser
colocado(s) no fim o(s) apelido(s) do pai ou o(s) da mãe, até se admitindo que
sejam intercalados. No limite, pode acontecer que irmãos, filhos do mesmo
pai e da mesma mãe, não tenham sequer apelidos em comum.
111
A Guia do casal
Nacionalidade
Tratando-se de uma criança nascida em território português e cujos pais sejam
portugueses (ambos ou só um), a questão da nacionalidade nem se coloca.
Mas existem algumas situações que importa esclarecer:
—— uma criança nascida no estrangeiro com, pelo menos, um progenitor portu-
guês é portuguesa, se este aí se encontrar ao serviço do Estado. É necessário
apresentar no consulado um documento passado pelo departamento para o
qual trabalha, a menos que o funcionário tenha conhecimento oficial desse
facto. Não estando ao serviço do Estado, para o filho se tornar português,
os pais têm de declarar expressamente que pretendem a nacionalidade
portuguesa para ele ou registá-lo nos serviços consulares ou de registo
portugueses;
—— uma criança nascida em território nacional, mas cujos pais são estran-
geiros, é portuguesa se os pais residirem em Portugal há, pelo menos,
2 anos. Só não será assim se estes declararem não querer que o filho seja
português;
—— uma criança nascida em Portugal que não tenha outra nacionalidade é
portuguesa. É o que acontece se as suas origens forem desconhecidas ou
nenhum país a reconhecer como sua cidadã;
—— uma criança adotada por um português adquire a nacionalidade portuguesa.
112
A Filhos
Abono pré-natal
O abono de família pré-natal é atribuído a partir da 13.ª semana de gravidez,
durante 6 meses, sendo alargado, até ao mês do nascimento, se a gestação
se prolongar por mais de 40 semanas. Em caso de nascimento prematuro,
a duração do subsídio não é reduzida, podendo ser atribuído cumulativamente
com o abono devido depois do parto. Se a mãe abortar, o abono pré-natal
é concedido até ao mês em que a gravidez cessa, inclusive. A mulher deve
comunicar o termo da gravidez à segurança social.
O abono pode ser pedido enquanto durar a gravidez e até 6 meses depois do
nascimento do bebé. Quem deixar passar este prazo perde o direito a recebê-lo.
Juntamente com o formulário próprio para o pedido, tem de entregar fotocópias
dos documentos de identificação dos membros do agregado familiar (cartão
de cidadão ou bilhete de identidade e cartão de contribuinte), a menos que já
estejam todos identificados na segurança social. Tem também de apresentar
um certificado médico que indique o tempo de gravidez e quantos bebés vão
nascer. Se o pedido for entregue depois do parto, terá apenas de identificar a(s)
criança(s) nascida(s). O pedido pode ser feito nos balcões de atendimento da
segurança social ou pela internet, através do serviço Segurança Social Direta,
entregando a documentação exigida em formato digitalizado.
As regras de acesso são as do abono de família, que pode ler no próximo título,
e os montantes são iguais aos atribuídos às crianças durante o primeiro ano
de vida. Tem direito a recebê-lo quem estiver num dos três primeiros escalões
de rendimentos para efeitos de abono de família. Quanto mais baixos forem
os rendimentos, mais recebe. O montante atribuído aos agregados monopa-
rentais beneficia de um aumento de 35%.
Abono de família
O abono de família visa ajudar a fazer face às despesas relativas às crianças e aos
jovens. Quem recebeu abono pré-natal não tem de solicitá-lo, já que o processo
é automático. Caso contrário, será necessário apresentar um requerimento,
pela internet (Segurança Social Direta) ou nos serviços da segurança social,
no prazo de 6 meses a contar do mês seguinte ao do parto. Por exemplo, se a
criança nasceu a 4 de dezembro de 2018, o abono deve ser requerido até ao
final de junho de 2019, para que seja recebido desde a data de nascimento.
Um requerimento entregue mais tarde só dá direito a abono a partir do mês
seguinte àquele em que o pedido é apresentado. Sendo os pais divorciados,
quem recebe o abono é o progenitor que fica com o filho. Caso viva alterna-
damente com cada um, serão eles a indicar quem recebe.
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A Guia do casal
Cinco escalões
O montante mensal atribuído não é igual para todos. Atualmente existem cinco
escalões (apenas quatro com direito a abono), em função do rendimento e
dimensão do agregado familiar. A referência para determinar o escalão é o
Indexante dos Apoios Sociais (IAS), cujo valor, em 2019, é de 435,76 euros.
O 1.º escalão é atribuído a quem tem os rendimentos mais baixos e, portanto,
recebe o abono mais elevado. Quem quiser fazer os cálculos terá de somar
os rendimentos ilíquidos anuais de todos os membros do agregado familiar
(rendimentos de trabalho, de capitais, prediais, pensões, etc.), dividir o resul-
tado por 14, para encontrar um valor mensal, e depois fazer nova divisão,
desta feita pelo número de pessoas com direito ao abono acrescido de um.
Por exemplo, um casal com três filhos menores divide o montante dos seus
rendimentos por quatro, para encontrar o valor de referência que determinará
o escalão. Sempre que haja alteração na composição do agregado familiar
que determine modificação dos rendimentos de referência (por exemplo,
aumento do número de titulares do abono de família), o escalão de rendi-
mentos deve ser reavaliado. A reavaliação é efetuada anualmente (em regra,
a 31 de outubro), mas pode ser pedida, desde que tal se justifique, decorridos
90 dias sobre a última avaliação.
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A Filhos
Limite de idade
O abono é atribuído até o jovem completar 16 anos ou, se estiver a estudar,
até ao final do ano letivo (31 de agosto) em que tal ocorre. No entanto, pode
ser prolongado:
—— até aos 18 anos, para os jovens que frequentam o ensino básico (até ao
9.º ano), um curso equivalente ou outro grau de ensino superior a este;
—— até aos 21 anos, desde que frequentem, no mínimo, o ensino secundário
(do 10.º ao 12.º ano) ou nível equivalente;
—— até aos 24 anos, se forem estudantes do ensino superior (ou equivalente)
ou sofrerem de deficiência. O direito ao abono de família dos jovens com
deficiência que frequentem o ensino superior ou equivalente pode ser pro-
longado até aos 27 anos.
Estes limites podem ainda ser alargados um máximo de 3 anos (até aos 21, 24
e 27 anos) sempre que, “mediante declaração médica, se verifique que os titu-
lares sofrem de doença ou foram vítimas de acidente que impossibilite o normal
aproveitamento escolar”.
Prova escolar
A partir dos 16 anos (já feitos a 1 de setembro ou a completar no decurso do
ano letivo), tem de ser feita a prova escolar, para comprovar que os benefici-
ários do abono estão a estudar.
Está dispensado dessa prova, até aos 24 anos de idade, quem sofra de defi-
ciência. A prova é feita em julho, na internet, através da Segurança Social
Direta. Sem esta prova, o abono é suspenso a partir do início do ano escolar
seguinte (1 de setembro). Se ainda fizer prova até ao final do ano civil (31 de
dezembro), a suspensão é levantada e são pagas as prestações que entretanto
ficaram por pagar. Caso a faça mais tarde, perde direito às prestações suspen-
sas e começa a receber no mês seguinte.
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A Guia do casal
Famílias monoparentais
As famílias monoparentais são aquelas em que só um adulto vive com as
crianças ou jovens ou o agregado familiar é constituído apenas pela mulher
grávida. Nestes casos, o abono tem um acréscimo de 35%.
Se a família se tornar monoparental no decorrer da atribuição do abono,
deve apresentar nova declaração de composição e rendimentos do agregado
familiar na segurança social, passando a receber o acréscimo a partir do mês
seguinte. De igual forma, quando deixar de ser monoparental, disso tem de
dar conhecimento à segurança social no prazo de 10 dias úteis.
Portadores de deficiência
Quem também recebe mais são os filhos que sofram de deficiência. Têm
direito a uma bonificação, que varia com a idade e é superior, em 35%, para
as famílias monoparentais. Todos os meses recebem o abono a que têm
direito, acrescido da bonificação, que, à semelhança do abono, é atribuída
até aos 24 anos.
Bolsa de estudo
As prestações sociais também incluem bolsas de estudo. Têm direito a elas
os titulares de abono de família que sejam menores, integrem os dois pri-
meiros escalões, estejam a frequentar o ensino secundário (10.º ao 12.º ano)
ou equiparado, tenham tido aproveitamento no ano letivo anterior e não
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A Filhos
Responsabilidades parentais
O conjunto de deveres inerentes à maternidade e à paternidade pode ser
resumido numa única expressão: responsabilidades parentais. O seu conteúdo
começa por ser colocado pela lei num plano de reciprocidade, ao referir que
pais e filhos se devem mutuamente respeito, auxílio e assistência.
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A Guia do casal
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A Filhos
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A Guia do casal
Relativamente aos atos da vida corrente, ficando o filho a viver apenas com
um dos progenitores, a orientação caberá a este. Quando estiver temporaria-
mente com o outro, será ele a decidir, não devendo contrariar as orientações
educativas mais relevantes definidas por aquele. Quem não exerça as res-
ponsabilidades parentais mantém o direito a ser informado, nomeadamente
quanto à educação e às condições de vida do filho.
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A Filhos
Igual solução será adotada caso morra o progenitor que exercia as respon-
sabilidades parentais. Eventuais disposições testamentárias do(s) falecido(s)
a designar um tutor para a criança, que poderá até não ser nenhuma destas
pessoas, poderão também ser avaliadas pelos tribunais.
Dever de vigilância
As responsabilidades parentais têm diversas vertentes, uma das quais é a obri-
gação de vigilância. Se os pais não a desempenharem de forma conveniente,
são responsáveis pelos danos que os filhos causem, a menos que mostrem ter
cumprido “o seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda
que o tivessem cumprido”. Portanto, os estragos originados pelos filhos têm,
em princípio, de ser suportados pelos pais, o que pode significar o pagamento
de uma compensação por danos materiais, mas também por danos morais. Não
tem de ser o lesado a provar que os pais falharam no seu dever de vigilância.
Essa falha presume-se e têm de ser os pais a demonstrar que não foi assim.
A responsabilidade pelos danos causados pelos filhos pode não ser exclusiva
dos pais. Em contextos onde exista outra pessoa encarregada da sua vigilân-
cia, como um professor ou um monitor desportivo, por exemplo, também
é responsabilizada.
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A Guia do casal
122
A Filhos
autoridades policiais ou aos tribunais. Mesmo assim, por vezes os filhos levam
avante a sua intenção de deixar o lar familiar. Apesar de a lei nada dizer, parece-
-nos que os pais não devem, em princípio, demitir-se das suas obrigações, mas
assumi-las na mesma medida em que o fariam se os filhos continuassem a viver
com eles. É demasiado exigir-lhes que paguem a renda de uma casa para onde o
filho foi viver (nada impede, contudo, que o façam, se assim entenderem), mas
não devem fugir ao pagamento da sua alimentação ou dos cuidados médicos,
por exemplo. Em relação a outros aspetos, não pode dizer-se que cessem as
responsabilidades parentais, mas a forma como exercem a vigilância é necessa-
riamente diferente. Tudo depende das circunstâncias concretas de cada caso.
Este direito (ou dever) de os filhos viverem com os pais conhece exceções.
Se uma pessoa casada tiver um filho fora do casamento, não pode levá-lo para
o lar conjugal sem o consentimento do cônjuge. Em princípio, o filho fica a
viver com o outro progenitor, que exercerá as responsabilidades parentais.
Se tal não for possível, tem de ser entregue à guarda de uma terceira pessoa
ou de uma instituição adequada.
São dos pais os bens que o filho menor, vivendo em sua companhia, produza
por trabalho que lhes presta e com meios ou capitais que lhes pertencem (por
exemplo, as peças de cerâmica que fabrica na olaria da mãe). No entanto,
devem dar-lhe uma parte dos bens produzidos ou compensá-lo pelo seu tra-
balho de outra forma. Mas isso não pode ser exigido judicialmente, ou seja,
o filho não pode recorrer aos tribunais para que os pais lhe paguem (não
esqueçamos que estamos a falar de filhos menores).
Atos proibidos
Esta regra da administração pelos pais conhece exceções. Em relação a cer-
tos bens, estão proibidos de exercer a sua influência, podendo os tribunais
designar um administrador até os filhos atingirem a maioridade. Vejamos
quais são os bens em causa:
123
A Guia do casal
—— aqueles que os filhos recebam através de uma herança da qual os pais são
excluídos por indignidade ou deserdação. Imaginemos a herança do avô
que o pai não recebe por ter sido deserdado. Nesse caso, o herdeiro é o
filho e o pai não pode administrar os bens herdados;
—— aqueles que os filhos recebam através de uma doação ou de uma herança,
contra a vontade dos pais;
—— os que são deixados ou doados aos filhos com exclusão da administração
dos pais;
—— os adquiridos pelos filhos maiores de 16 anos com o produto do seu trabalho.
Nestes casos, os pais recorrem aos tribunais e têm de demonstrar que, por
exemplo, a venda de um determinado bem do filho é essencial para o seu
bem-estar. Não faria sentido que o menor dispusesse de uma mansão que
recebera como herança, mas nada tivesse para comer.
124
A Filhos
A ação de anulação também pode ser proposta pelas pessoas com legitimidade
para requerer a inibição das responsabilidades parentais (veja o título Inibição
das responsabilidades parentais, na página 152), contanto que até 1 ano depois
da prática do ato e antes de o filho atingir a maioridade ou ser emancipado.
125
A Guia do casal
voltarem a nada fazer, a doação ou herança tem-se por aceite, a não ser que
o tribunal considere a rejeição mais conveniente para o menor.
Chega a maioridade
Assim que os filhos atinjam a maioridade ou sejam emancipados, os pais devem
entregar-lhes todos os bens que administravam. Por outro lado, quando sejam
inibidos das responsabilidades parentais ou deixem de poder administrar os
bens dos filhos, devem entregá-los ao (novo) representante legal dos menores.
Os bens móveis devem ser restituídos no estado em que se encontrem. Se já
não existirem, os pais pagam o respetivo valor, exceto se tiverem sido usados
em proveito do filho ou se tiverem deteriorado sem responsabilidade dos pais.
126
A Filhos
Tutor
Quando os pais não podem exercer as responsabilidades parentais, é neces-
sário encontrar quem os substitua. Essa pessoa recebe a designação de tutor
e, se não se constituir o apadrinhamento civil (veja a página 135 e seguintes)
é obrigatória em caso de:
—— morte dos pais ou inibição das responsabilidades parentais relativamente
a ambos;
—— impossibilidade de os pais exercerem as responsabilidades parentais durante
mais de 6 meses (por estarem presos ou doentes, por exemplo);
—— desconhecimento da identidade dos pais.
O tutor tem os mesmos direitos e obrigações dos pais. Não pode dispor dos
bens do menor, tomá-los de arrendamento ou adquiri-los, e precisa de auto-
rização do tribunal para adquirir bens com capitais do menor. A sua função
termina quando o menor atinge a maioridade, se emancipa, é adotado, os pais
voltam a poder exercer as responsabilidades parentais ou são identificados,
é estabelecida a maternidade ou a paternidade ou é constituído o apadrinha-
mento civil. Quando não exista alguém em condições de exercer a tutela,
o menor é confiado a uma instituição de assistência, sendo as funções de
tutor exercidas pelo diretor do estabelecimento.
127
A Guia do casal
Durante a gravidez. Antes do nascimento, a mãe tem direito a ser dispensada do trabalho,
sem perda de retribuição, para se deslocar a consultas pré-natais e sessões de preparação
para o parto pelo tempo e as vezes que for necessário (a entidade patronal pode exigir-lhe
um documento comprovativo da frequência das consultas). No entanto, se possível, devem
ter lugar fora do horário de trabalho. O pai pode acompanhá-la, durante o horário de tra-
balho, em três dessas sessões, também sem desconto na retribuição.
Numa situação de risco clínico, para si ou para o bebé, que não lhe permita exercer as suas
funções, a mãe pode gozar uma licença especial enquanto o médico considerar necessário.
Durante este tempo, recebe um subsídio da segurança social.
Existe ainda outra possibilidade de licença, durante a gravidez, para a mãe que trabalhe
à noite ou em condições que impliquem risco para si ou para o filho. Pode ficar de baixa
médica, recebendo da segurança social o subsídio por riscos específicos.
Licença parental. A mãe goza uma licença de parto de 120, 150 ou, se o pai também
aproveitar um mínimo de 30 dias, 180 dias consecutivos. 30 dias da licença podem ser
aproveitados antes do parto. Se nascer mais de um filho, tem direito a 30 dias adicionais
por cada gémeo além do primeiro. Durante esta licença, recebe um subsídio da segurança
social. Entre os 120 e os 150 dias, a licença pode ser aproveitada, em simultâneo, pelo pai
e pela mãe. Em alternativa, poderá sê-lo pelo pai, mas apenas depois de decorridas as
primeiras 6 semanas.
Havendo necessidade de internamento hospitalar da mãe ou da criança a seguir ao parto,
a mãe pode pedir para a licença ser interrompida enquanto durar o internamento. Passa
a estar de baixa (por doença ou para assistência ao filho) e, terminado o internamento,
retoma-a. Em caso de interrupção da gravidez, a licença tem a duração mínima de 14 dias
e máxima de 30 dias. A trabalhadora tem de avisar a entidade patronal com a antecedên-
cia de 10 dias ou, tratando-se de uma urgência, assim que possível.
E o pai? Além de poder gozar parte da licença parental, o pai tem direito a faltar 15 dias úteis,
seguidos ou não, no mês que se segue ao nascimento do filho. 5 desses dias têm de ser
aproveitados consecutivamente logo a seguir ao parto. Os restantes serão gozados quando
quiser. Pode, ainda, faltar mais 10 dias úteis, em simultâneo com a licença gozada pela mãe.
Também pode gozar a licença parental, em substituição da mãe, por período igual ao que
esta ainda teria, se ela morrer ou ficar incapacitada física ou psiquicamente. Goza, pelo
menos, 30 dias de licença. Em todas estas situações, recebe subsídio da segurança social.
Adoção. Na adoção de criança ou jovem com menos de 15 anos, o adotante tem direito
128
A Filhos
a uma licença de duração igual à licença parental para acompanhar a criança, a partir da
confiança judicial ou administrativa (veja Confiança ou medida de promoção e proteção de
menores, na página 131), a menos que o adotando seja filho do cônjuge ou da pessoa com
quem viva em união de facto. Para gozar a licença, tem de avisar a entidade patronal com,
pelo menos, 10 dias de antecedência. Antes da adoção, existe a possibilidade de faltar até
três vezes para deslocação à segurança social ou para receber os respetivos técnicos em
casa, em condições semelhantes às que tem a mãe durante a gravidez.
Licença parental complementar e outras licenças. Os pais têm ainda outros direitos, como a
licença parental complementar, que pode ser aproveitada quando os filhos não tenham mais
de 6 anos de idade. Tanto tem este direito o pai como a mãe, mas um não pode acumular o
seu direito com o do outro, embora possam gozá-los simultaneamente ou de forma consecu-
tiva. O empregador terá de ser avisado com 30 dias de antecedência. Em regra, esta licença
implica desconto salarial enquanto durar. Se for gozada imediatamente a seguir à licença
parental inicial ou à licença parental alargada do outro progenitor, permite receber subsídio da
segurança social, durante um máximo de 3 meses. Compreende as seguintes modalidades:
—— licença parental alargada, durante 3 meses;
—— trabalho a tempo parcial, durante 12 meses;
—— períodos intercalados das duas modalidades, desde que, em conjunto, não tenham
uma duração superior ao equivalente a 3 meses de trabalho.
Esgotada a licença parental complementar, os pais têm direito a outra licença sem retribuição,
para assistência ao filho durante 2 anos, que podem ser seguidos ou não. A partir do terceiro
filho, a duração máxima passa para 3 anos. O aviso à entidade patronal tem de ser feito com
a mesma antecedência (30 dias) e a licença também só existe quando os filhos não tenham
mais de 6 anos. Por outro lado, até o filho completar 12 anos, o progenitor pode trabalhar a
tempo parcial durante um máximo de 2 anos (ou 3, a partir do terceiro filho). Também existe
a possibilidade de trabalhar em horário flexível, sendo este definido pelo empregador.
Quem tenha um filho portador de deficiência ou doença crónica, tem direito, durante o
seu primeiro ano de vida, a uma redução de 5 horas na carga de trabalho semanal. Para
o efeito, terá de avisar a empresa com 10 dias de antecedência. Pode, ainda, beneficiar de
uma licença semelhante à referida no parágrafo anterior, a qual pode durar até 4 anos e não
está limitada aos primeiros anos de vida do filho. No entanto, se este tiver mais de 12 anos,
a necessidade de assistência terá de ser provada através de atestado médico. Por último, tem
a possibilidade de trabalhar a tempo parcial ou no regime de flexibilidade.
129
A Guia do casal
Adoção
Além dos laços de sangue, pode estabelecer-se uma relação equiparável à que
existe entre pais e filhos através da adoção. Com efeito, a lei define-a como
“o vínculo que, à semelhança da filiação natural, mas independentemente dos
laços de sangue, se estabelece legalmente entre duas pessoas”. A adoção só é
possível relativamente a menores, mediante decisão judicial.
Apresentação da candidatura
Quem pretenda adotar deve comunicar essa intenção ao organismo de segu-
rança social da sua área de residência ou à Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa. Será convocado para uma sessão informativa sobre os objetivos da
adoção, o que tem de fazer para adotar e como se desenrolará o processo, com
indicação dos documentos a apresentar. Terá de preencher um formulário
de candidatura e, se for um casal a querer adotar, um questionário por cada
candidato, que deverão ser entregues nos locais referidos, acompanhados
dos seguintes documentos:
—— fotocópia de documento de identificação (cartão de cidadão ou passaporte);
—— certidão de nascimento e de casamento ou, havendo união de facto, ates-
tado da junta de freguesia;
—— registo criminal;
—— atestado de residência passado pela junta de freguesia;
—— atestado médico comprovativo do estado de saúde;
—— cópia da última declaração de IRS, recibo do último salário ou declaração
da entidade patronal a indicar a retribuição;
—— se tiver filhos, terá também de entregar fotocópia dos respetivos documen-
tos de identificação ou da certidão de nascimento.
130
A Filhos
Avaliação da candidatura
Quando a documentação for entregue, a segurança social estudará o processo
num prazo máximo de 6 meses, avaliando as razões que levaram ao pedido
do candidato a adotante (aquele que vai adotar), a sua capacidade para criar
e educar o adotando (o potencial adotado), através da análise da sua situação
familiar e económica, bem como da personalidade e saúde das pessoas dire-
tamente envolvidas no processo (adotante e adotado). Durante esse período,
o candidato será convocado para uma segunda sessão informativa, podendo
ainda ter de participar em sessões de formação.
Recusa ou aceitação
Terminado o estudo do caso, a segurança social decide. Se rejeitar a candi-
datura, recusar a entrega do menor ao candidato ou não confirmar a perma-
nência a seu cargo, terá de justificá-lo e referir, ao notificá-lo, a possibilidade
de recorrer da decisão, bem como o prazo para o fazer (30 dias) e o tribunal
que vai analisar o recurso (o competente em matéria de família e menores
na área da sede do organismo de segurança social). Apresentado o recurso,
a segurança social tem 15 dias para alterar a sua decisão ou, mantendo-a,
fundamentá-la junto do tribunal. Este ordena as diligências que entenda
necessárias, apresenta o caso ao Ministério Público e decide no prazo de
15 dias. Desta decisão não há recurso.
131
A Guia do casal
Nos quatro últimos casos, a confiança não é possível se o menor viver com
ascendentes, um colateral até ao 3.º grau (veja o esquema da página 18) ou o
tutor, a menos que esteja em perigo a sua segurança, saúde ou educação ou
que a pessoa com quem ele vive tenha dado o consentimento.
Para verificar se se está perante uma destas circunstâncias, o tribunal tem
de atender, antes de mais, aos direitos e interesses do menor. As instituições
oficiais ou particulares que tenham conhecimento de situações de risco devem
dar disso conhecimento aos serviços de segurança social da zona.
Requisitos legais
O adotado torna-se um autêntico filho do adotante, integrando a sua famí-
lia. Extinguem-se os laços com a família natural, a não ser no que respeita
aos impedimentos matrimoniais. Por exemplo, está impedido de casar com
os seus pais ou irmãos naturais (para mais pormenores, veja o título Laços
familiares, na página 16). Abre-se uma natural exceção, no que respeita à
extinção dos laços familiares, quando o adotado é filho do cônjuge: man-
132
A Filhos
Apelidos
Quanto ao nome do adotado, perde os apelidos de origem e fica com os dos
adotantes, de acordo com as regras aplicadas aos apelidos dos filhos (veja
Escolha do nome e registo, na página 110). O nome próprio é, em princípio,
mantido, mas o adotante pode pedir ao tribunal para alterá-lo. Se entender que
há motivos para a mudança (por exemplo, um filho do adotante ter o mesmo
nome e ficar provado que a alteração não provoca uma crise de identidade
ao adotado), o tribunal admite-a.
Consentimento
Para que a adoção seja possível, certas pessoas têm de dar o seu consentimento:
—— em primeiro lugar, o adotando que já tenha completado 12 anos de idade;
133
A Guia do casal
A identidade do adotante não deve ser revelada aos pais naturais, embora
possa sê-lo se ele autorizar. Quanto à identidade destes, funciona de forma
inversa: se não quiserem que seja revelada ao adotante, podem expressamente
opor-se (se nada disserem, presume-se que não há oposição).
Para sempre
Uma das características da adoção é a sua irrevogabilidade: depois de decre-
tada, nem o adotante, nem o adotado, nem os dois através de um acordo
podem fazer com que se volte atrás. Todavia, eventuais irregularidades no
processo podem levar à revisão da sentença que a decreta. Vejamos em
que situações:
134
A Filhos
Apadrinhamento civil
O apadrinhamento civil cria uma relação entre um menor e uma pessoa ou
uma família, que passam a exercer os poderes e deveres próprios dos pais,
ou seja, as responsabilidades parentais. Pretende-se que se estabeleçam vín-
culos afetivos que permitam o bem-estar e desenvolvimento do menor, mas
através de uma ligação menos forte do que a adoção, uma vez que, apesar
de o menor passar a viver com o padrinho, a família de origem mantém o
contacto com ele.
135
A Guia do casal
De acordo com a lei, pode ser padrinho quem apresente, entre outras,
as seguintes características:
—— personalidade, maturidade, capacidade afetiva e estabilidade emocional;
—— capacidades educativas e relacionais para responder às necessidades espe-
cíficas do afilhado e promover o seu desenvolvimento;
—— condições de higiene e habitação adequadas;
—— situação económica, profissional e familiar estável;
—— ausência de limitações de saúde que o impeçam de prestar os cuidados
necessários.
136
A Filhos
137
A Guia do casal
138
A Filhos
139
A
A
Capítulo 6
O Estado
e a família
A Guia do casal
Mediação familiar
Nos processos de divórcio e regulação das responsabilidades parentais,
há questões que é necessário resolver, dando especial atenção ao destino
dos filhos quando deixam de poder partilhar o mesmo agregado familiar
com o pai e a mãe. Tem de decidir-se, também, quem fica na casa da família
e se haverá lugar (ou não) ao pagamento de pensões de alimentos depois de
dissolvido o casamento.
142
A O Estado e a família
Chegar a um acordo
As vantagens da mediação vão da ajuda especializada à pacificação da separação,
uma vez que as decisões são tomadas pelos cônjuges depois de dialogarem e
serem devidamente esclarecidos por alguém sensibilizado para esse tipo de
problemas. Outros aspetos importantes são a absoluta confidencialidade e a
possibilidade de a qualquer momento os cônjuges abandonarem a mediação,
por iniciativa de ambos ou só de um. Contudo, os mediadores não são forço-
samente juristas e têm, como principal objetivo, fomentar o diálogo e criar
as condições para um acordo. Se tiver receio de que os seus interesses não
fiquem totalmente acautelados, poderá fazer-se acompanhar de um advogado.
Quando recorrer
A mediação familiar pode ocorrer antes, durante ou depois do divórcio, se bem
que a primeira possibilidade seja a preferível, para que, quando o divórcio é
requerido, o casal já tenha beneficiado do auxílio de especialistas. Estes terão,
porventura, maior disponibilidade do que os juízes ou os conservadores para
se debruçarem sobre a situação particular dos membros daquela família.
A mediação familiar é de tal forma importante que a lei refere, expressamente,
que a conservatória ou o tribunal onde vai decorrer o divórcio deve, ainda
antes do início do processo, informar os cônjuges sobre a sua existência e
objetivos, verificando se o casal a ela quer recorrer.
Como funciona
O sistema de mediação familiar não exige advogado, embora as partes possam
fazer-se acompanhar de um. O processo pode ser iniciado online (http://smf.mj.pt),
por telefone (808 262 000) ou correio endereçado à Direção-Geral da Polí-
tica de Justiça, em Lisboa. Pouco tempo depois, as partes são contactadas
e é marcada uma sessão informativa, com o mediador, para esclarecimento
das regras de funcionamento e de todas as dúvidas dos intervenientes. Caso
143
A Guia do casal
avancem com a mediação, cada uma das partes terá de pagar uma taxa de
50 euros. Quem tiver rendimentos muito baixos poderá requerer apoio judi-
ciário, junto da segurança social, para efetuar este pagamento. Mais tarde,
ocorrem as sessões de mediação, na tentativa de chegar a acordo, cujo teor
será definido pelas partes e é da sua responsabilidade. Em média, um processo
não dura mais de 2 meses.
Questões abrangidas
Este sistema público tem competência para mediar conflitos que surjam no
âmbito das relações familiares nas seguintes matérias:
—— regulação, alteração e incumprimento das responsabilidades parentais;
—— divórcio e separação de pessoas e bens;
—— conversão da separação de pessoas e bens em divórcio;
—— reconciliação de cônjuges separados;
—— atribuição e alteração de pensões de alimentos;
—— privação ou autorização do uso de apelidos do ex-cônjuge;
—— autorização do uso da casa de morada da família.
Assegurar a pensão
de alimentos
Normalmente, após o divórcio, um dos cônjuges fica obrigado a pagar uma
pensão de alimentos aos filhos. Acontece que, muitas vezes, a obrigação não é
cumprida. Para esse tipo de condutas, a lei prevê sanções, incluindo a conde-
nação na prática de um crime (veja a caixa Crimes em família, na página 150).
Estas punições podem, na prática, revelar-se insuficientes, quando o obrigado
não tenha possibilidade de satisfazer o pagamento e o menor fique em difi-
culdades. Se assim for, o Estado assegura um determinado montante mensal,
desde que o menor não tenha um rendimento mensal bruto superior ao
Indexante dos Apoios Sociais (IAS) nem esteja ao cuidado de alguém (a mãe
ou o pai, por exemplo) que lhe permita ter meios de subsistência. No total,
o agregado familiar em que se encontra inserido não pode ter um rendimento
por pessoa superior ao valor do IAS.
144
A O Estado e a família
Duração do apoio
A ajuda estatal é garantida enquanto o progenitor estiver em falta, mas todos os
anos tem de ser feita prova junto do tribunal de que ainda é necessária. A reno-
vação inicial do pedido tem de ser feita no prazo de 1 ano a contar da primeira
prestação recebida. Se não o for, o menor perde direito a ela. Assim que atingir
a maioridade, a prestação deixa de ser paga, mesmo que o beneficiário ainda
não tenha completado a sua formação nem disponha de meios para se sustentar.
As alterações que impliquem a perda deste direito (por exemplo, começar a
ser paga a pensão de alimentos) devem ser comunicadas pelo representante
do menor. Não o sendo, terão de ser restituídos os montantes indevidamente
recebidos, acrescidos de juros de mora. Aliás, a omissão de factos decisivos
na atribuição da ajuda estatal pode ser punida como crime de burla (pena
de prisão até 3 anos ou multa).
145
A Guia do casal
ex-cônjuge ou
ex-companheiro 17%
Muitas vezes o agredido nada faz, por vergonha ou receio de represálias. Por
outro lado, frequentemente não tem hipótese de deixar a casa familiar, por falta
de um local para onde ir. Nesse sentido, foram criadas casas de abrigo para
vítimas de violência e estabelecida uma regra que determina que é o agressor
quem tem de sair de casa, aí permanecendo o agredido. O primeiro passo é
denunciar a situação ou pedir a alguém que o faça (veja a caixa Denunciar a
violência e pedir ajuda, na página seguinte).
146
A O Estado e a família
147
A Guia do casal
VÍTIMAS AGRESSORES
148
A O Estado e a família
As vítimas são encaminhadas para estas casas pela Comissão para a Cidadania
e Igualdade de Género (CIG), pelos serviços da segurança social ou de ação
social das câmaras municipais, por outras estruturas de atendimento a vítimas
de violência doméstica ou por outras casas de abrigo.
149
A Guia do casal
CRIMES EM FAMÍLIA
A intervenção do Estado na vida familiar visa punir a prática de crimes, apoiar as vítimas e,
eventualmente, determinar alguma espécie de terapia para quem violou a lei.
Vejamos os principais crimes cometidos no seio da vida familiar:
—— matar o cônjuge, ex-cônjuge, alguém com quem manteve uma relação, mesmo que
não tenham coabitado, um descendente, um ascendente, o adotado ou o adotante
constitui, em princípio, uma circunstância capaz de classificar um homicídio como qua-
lificado, que é o mais grave dos homicídios (pena de prisão entre 12 e 25 anos). É claro
que nem sempre é assim: basta pensar no filho que mata o pai depois de ter sido vio-
lentamente agredido por ele. Será possivelmente punido pelo crime de homicídio pri-
vilegiado (prisão entre 1 e 5 anos), embora até possa estar-se perante legítima defesa;
—— a mãe que mate o filho, durante ou após o parto, comete o crime de infanticídio,
punido com prisão entre 1 e 5 anos;
—— se o pai ou a mãe abandonarem um filho, colocando a sua vida em perigo, podem ser
condenados a uma pena de prisão entre 2 e 5 anos, a qual sobe para 2 a 8 anos se
desse abandono resultar uma ofensa grave à integridade física do filho (perda de um
órgão, por exemplo), ou de 3 a 10 anos se este morrer;
—— quem infligir maus-tratos físicos ou psíquicos ao cônjuge ou ex-cônjuge, ao companheiro
de facto, ao progenitor do filho ou a alguém com quem tenha (ou teve) uma relação,
mesmo sem coabitação, é punido com pena de prisão entre 1 e 5 anos, agravada nos ter-
mos referidos quanto ao abandono dos filhos. Por outro lado, o limite mínimo da pena
passa para 2 anos se o crime for praticado contra menor, na presença de um menor,
na casa da vítima ou onde vivam criminoso e vítima. Pode ainda ser impedido de con-
tactar com a vítima e de se aproximar da sua residência, por um período de 6 meses a
5 anos, ou ficar impedido de exercer as responsabilidades parentais entre 1 e 10 anos;
—— quem praticar crimes de índole sexual, como violação, abuso sexual de crianças ou
lenocínio (fomento da prostituição) contra um filho seu, do cônjuge ou da pessoa com
quem viva em união de facto é punido com uma pena de prisão agravada em relação à
prática dos mesmos crimes por outras pessoas e é inibido das responsabilidades paren-
tais durante um período de 5 a 20 anos. Quando a vítima destes crimes seja o cônjuge,
a pena de prisão também é agravada;
—— quem estiver obrigado a pagar uma pensão de alimentos e, tendo condições para o
fazer, não cumprir essa obrigação, colocando em risco a satisfação das necessidades
fundamentais de quem tinha direito à pensão (filho ou cônjuge, por exemplo), é punido
com prisão até 2 anos ou multa até 240 dias, que pode não ser cumprida se entretanto
satisfizer a sua obrigação. Se não houver este risco, mas a obrigação não for cumprida
no prazo de 2 meses desde que é devida, a punição será uma multa até 120 dias. Caso
repita, está também sujeito a uma pena de prisão até 1 ano.
150
A O Estado e a família
151
A Guia do casal
Quem preste falsas declarações e, dessa forma, obtenha (ou tente obter)
o adiantamento da indemnização de forma indevida pode ser condenado a
pena de prisão até 3 anos ou ao pagamento de uma multa. Além disso, terá
de devolver o que recebeu acrescido de juros de mora.
152
A O Estado e a família
Comissões de proteção
Também com o intuito de proteger os menores, não só nos casos de violência
doméstica, mas em todos os que ponham em causa a sua integridade física
153
A Guia do casal
Em todos os concelhos
Em regra, existe uma comissão por município, mas nos que tenham maior
número de habitantes pode haver mais do que uma. Funciona em modalidade
restrita e alargada, sendo esta última constituída por:
—— um representante do município, indicado pela câmara municipal;
—— um representante da segurança social;
—— um representante do Ministério da Educação;
—— um representante do Ministério da Saúde, de preferência um médico ou
um enfermeiro;
—— representantes das instituições particulares de solidariedade social ou de
outras organizações não governamentais que desenvolvam, na área de
competência territorial da comissão, respostas sociais dirigidas a crianças,
jovens e famílias;
—— um representante do organismo público competente em matéria de emprego
e formação profissional;
—— um representante das associações de pais da área de competência da
comissão;
—— um representante das associações que desenvolvam atividades desportivas,
culturais ou recreativas destinadas a crianças e jovens;
—— um representante das associações de jovens;
—— um ou dois representantes das forças de segurança (PSP e GNR), conforme
na região abrangida pela comissão exista apenas uma ou as duas;
—— quatro pessoas designadas pela assembleia municipal ou de freguesia,
preferencialmente com conhecimentos ou capacidades para intervir na
área das crianças e jovens em risco;
—— técnicos com formação em serviço social, psicologia, saúde ou direito,
designados pela comissão.
154
A O Estado e a família
Medidas de proteção
As medidas de proteção visam proporcionar aos menores condições que
permitam preservar a sua segurança, saúde, bem-estar, formação, educação
e desenvolvimento. As medidas podem consistir em:
—— apoio junto dos pais (auxílio de natureza psicopedagógica e social e,
se necessário, económica). Para mais pormenores, veja o próximo título;
—— apoio junto de outro familiar (colocação sob a guarda de um parente com
quem o menor resida, acompanhada de auxílio de natureza psicopedagó-
gica e social e, se necessário, económica);
155
A Guia do casal
—— apoio para que tenha uma vida autónoma, caso se trate de um jovem com,
pelo menos, 15 anos, através do acesso a programas de formação. Esta
medida pode também ser aplicada a jovens do sexo feminino com idade
inferior à atrás referida que já sejam mães;
—— confiança a uma pessoa idónea, isto é, colocação sob a guarda de uma
pessoa que não seja familiar, mas tenha uma relação de afetividade com
a criança ou o jovem;
—— acolhimento junto de uma família ou numa instituição, com curta duração,
prevendo-se o regresso ao seio da família natural num prazo máximo de
6 meses, embora possa ser mais longo. As instituições funcionam em regime
aberto, permitindo que as crianças e os jovens mantenham contactos
regulares com a família e com outras pessoas com quem se relacionem.
A entrega da criança a uma família de acolhimento, bem como a uma
instituição ou a uma pessoa poderá visar a sua futura adoção, mas isso só
pode ser decidido por um tribunal.
156
A O Estado e a família
Tipos de apoio
Através do apoio psicossocial, proporciona-se a convivência entre os membros
do agregado familiar, bem como o normal desenvolvimento da criança ou
do jovem, depois de identificadas as suas necessidades, potencialidades e
capacidades. Pode haver também projetos de formação escolar e profissional,
para o auxiliar a aproveitar as oportunidades que surjam.
Requisitos
Para receberem estes apoios, os pais têm de mostrar que o seu comportamento
não afeta a segurança e o equilíbrio emocional do filho, que são capazes de
evitar que este fique em situações de risco e que têm disponibilidade para
colaborar nas ações constantes do plano de intervenção.
Se a permanência junto dos pais não for possível e a criança tiver de ficar
ao cuidado de outro familiar ou de uma pessoa classificada como idónea,
a lei exige que, além de serem capazes de cumprir o exigido no parágrafo
anterior:
—— tenham uma relação de afetividade com o menor;
—— residam próximo dos seus pais;
—— tenham idade superior a 18 e inferior a 65 anos;
—— não tenham sido condenados por crimes contra a vida, integridade física,
liberdade e autodeterminação sexual.
Sendo possível, o menor não deve ser separado dos irmãos e apenas ficará
junto de uma destas pessoas até os pais estarem em condições de recebê-lo de
novo. Enquanto durar a separação, deve manter contacto com eles, a menos
que não seja aconselhável e existam restrições impostas pelo tribunal ou pela
comissão de proteção de crianças e jovens.
157
A Guia do casal
Famílias de acolhimento
Os menores que estejam em risco podem ser abrangidos pelo acolhimento
familiar, traduzido num contrato de prestação de serviços entre quem entrega
o menor (um serviço da segurança social, por exemplo) e quem o recebe.
Consiste, pois, na confiança de uma criança ou jovem a uma pessoa singular
ou a uma família, visando a sua integração num meio familiar, a prestação
dos cuidados adequados às suas necessidades e bem-estar e a educação indis-
pensável ao seu desenvolvimento. Não constitui, em princípio, uma opção
definitiva, pois prevê a possibilidade de o menor voltar ao seio da família
assim que esta tiver condições para recebê-lo.
Onde?
O menor ficará a cargo de uma família ou de uma pessoa com quem não tenha
relação de parentesco e escolhida pelos serviços da segurança social ou pela
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Podem ser atribuídos dois menores a
cada casa, desde que, somando aos que já façam parte do agregado familiar,
não sejam mais de quatro. Só excecionalmente se admite um número superior.
Não havendo, na família de acolhimento, filhos menores ou outras crianças
a cargo, é admitido um máximo de três crianças ou jovens.
O acolhimento de crianças que exijam especial atenção, por questões de
deficiência, doença crónica ou sérios problemas do foro emocional ou com-
portamental pode ser feito num lar profissional.
Candidatura e seleção
São aceites candidaturas para acolhimento familiar a quem:
—— tenha idade superior a 25 e inferior a 65 anos. Tratando-se de um casal,
só um terá de preencher este requisito;
—— tenha concluído a escolaridade mínima obrigatória;
—— tenha condições de saúde para acolher crianças e jovens;
—— disponha de uma casa com higiene e conforto;
—— não seja candidato a adoção;
—— faça do acolhimento atividade profissional principal ou secundária;
—— não tenha sido condenado pela prática de crimes contra a vida, integridade
física, liberdade ou autodeterminação sexual;
—— não esteja inibido do exercício das responsabilidades parentais.
158
A O Estado e a família
Deveres
As famílias de acolhimento têm o dever de proteger, orientar e educar os
menores que lhes são confiados. Devem procurar que a criança ou o jovem
mantenham o relacionamento com a família natural. Para exercerem esta
tarefa, recebem uma retribuição mensal por cada menor a cargo. Essa quantia
duplica quando o menor seja portador de deficiência, sendo necessário fazer
prova anual dessa deficiência. É também necessário apresentar anualmente
um documento que comprove o bom estado de saúde de todos os membros
da família de acolhimento. Um elemento da família tem de estar inscrito como
trabalhador independente e de passar recibos pelos montantes recebidos.
É-lhes também pago um subsídio mensal para fazer face às despesas dos meno-
res. Poderá, por último, ser-lhes fornecido equipamento que seja necessário
ao acolhimento. Durante a permanência da criança, a família tem de ir dando
conta da situação à entidade responsável pelo processo.
Reinserção social
No auxílio dos jovens, também assume papel de relevo a Direção-Geral de
Reinserção e Serviços Prisionais, cuja missão consiste, entre outros, em exe-
cutar políticas de prevenção criminal e reinserção social de jovens e adultos
159
A Guia do casal
160
A
A legislação
em vigor
A Guia do casal
CAPÍTULO 1
O noivado
Código Civil
—— artigos 1591.º a 1595.º – promessa de casamento;
—— artigos 1600.º a 1609.º, 1649.º e 1650.º – impedimentos matrimoniais;
—— artigos 1610.º a 1624.º, 1651.º a 1653.º, 1669.º e 1670.º – formalidades;
—— artigos 1677.º e 1677.º-A – adoção de apelidos do cônjuge;
—— artigos 1698.º a 1716.º – convenção antenupcial.
Lei n.º 9/2010, de 31 de maio, alterada pela Lei n.º 2/2016, de 29 de fevereiro
—— casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Código do Trabalho
—— alínea a) do n.º 2 do artigo 249.º – faltas dadas por altura do casamento.
Código Penal
—— artigo 247.º – crime de bigamia;
—— artigo 248.º – falsificação de estado civil.
CAPÍTULO 2
Vida conjugal
Código Civil
—— artigos 1671.º a 1676.º – deveres conjugais;
—— artigos 1678.º a 1689.º – administração dos bens;
—— artigos 1690.º a 1697.º – dívidas dos cônjuges;
—— artigos 1717.º a 1736.º – regimes de bens.
Código do Trabalho
—— artigo 249.º, n.º 2, alínea e), 252.º a 255.º – faltas dadas para assistência
a cônjuge.
Código Penal
—— artigo 247.º – crime de bigamia.
162
A A legislação em vigor
CAPÍTULO 3
Dissolução do casamento
Código Civil
—— artigo 1605.º – prazo internupcial;
—— artigos 1631.º a 1650.º – anulabilidade do casamento;
—— artigos 1767.º a 1772.º – separação judicial de bens;
—— artigos 1773.º a 1793.º-A – divórcio;
—— artigos 1794.º a 1795.º-D – separação de pessoas e bens;
—— artigos 2131.º a 2144.º e 2156.º a 2178.º – heranças do cônjuge e dos
descendentes.
Competências das conservatórias do registo civil, nomeadamente separação e divórcio por mútuo
consentimento; dispensa de prazo internupcial; uso de apelidos de ex-cônjuge, entre outras:
—— Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de outubro;
—— Decreto-Lei n.º 324/2007, de 28 de setembro;
—— Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro;
—— Decreto-Lei n.º 122/2013, de 26 de agosto.
163
A Guia do casal
Pensão de viuvez
—— Decreto-Lei n.º 160/80, de 27 de maio;
—— Decreto Regulamentar n.º 52/81, de 11 de novembro.
164
A A legislação em vigor
CAPÍTULO 4
União de facto
Regime da união de facto
—— Lei n.º 7/2001, de 11 de maio, alterada pela Lei n.º 23/2010, de 30 de
agosto, e pela Lei n.º 2/2016, de 29 de fevereiro.
Código Civil
—— artigos 1903.º a 1904.º-A – responsabilidades parentais.
CAPÍTULO 5
Filhos
Código Civil
—— artigos 1796.º a 1802.º – estabelecimento da filiação;
—— artigos 1803.º a 1825.º – maternidade;
—— artigos 1826.º a 1873.º – paternidade;
—— artigos 1874.º a 1920.º-C – efeitos da filiação e responsabilidades
parentais;
—— artigos 1921.º a 1972.º – tutela;
—— artigos 1973.º a 1991 – adoção.
Adoção
—— Decreto-Lei n.º 185/93, de 22 de maio, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 120/98, de 8 de maio, pela Lei n.º 31/2003, de 22 de agosto, pela Lei
n.º 28/2007, de 2 de agosto, e pela Lei n.º 143/2015, de 8 de setembro;
—— Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, alterada pela Lei n.º 31/2003, de 22 de
agosto, pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro, pela Lei n.º 23/2017,
de 23 de maio, e pela Lei n.º 26/2018, de 5 de julho;
—— Lei n.º 31/2003, de 22 de agosto;
—— Lei n.º 141/2015, de 8 de setembro, alterada pela Lei n.º 24/2017, de 24
de maio;
165
A Guia do casal
Nacionalidade
—— Lei n.º 37/81, de 3 de outubro;
—— Lei n.º 25/94, de 19 de agosto;
—— Lei Orgânica n.º 1/2004, de 15 de janeiro;
—— Lei Orgânica n.º 2/2006, de 3 de outubro;
—— Decreto-Lei n.º 237-A/2006, de 14 de dezembro;
—— Portaria n.º 1403-A/2006, de 15 de dezembro;
—— Lei Orgânica n.º 1/2013, de 29 de julho;
—— Lei Orgânica n.º 8/2015, de 22 de junho;
—— Lei Orgânica n.º 9/2015, de 29 de julho;
—— Lei Orgânica n.º 2/2018, de 5 de julho.
166
A A legislação em vigor
Bolsa de estudo
—— Decreto-Lei n.º 201/2009, de 28 de agosto.
Apadrinhamento civil
—— Lei n.º 103/2009, de 11 de setembro, alterada pela Lei n.º 141/2015,
de 8 de setembro;
—— Decreto-Lei n.º 121/2010, de 27 de outubro, alterado pela Lei n.º 2/2016,
de 29 de fevereiro.
CAPÍTULO 6
O Estado e a família
Código Penal
—— artigos 69.º-C, 132.º, 136.º, 138.º, 152.º, 152.º-A, 163.º a 165.º, 167.º
a 178.º, 250.º – crimes praticados contra membros da própria
família.
Mediação familiar
—— Despacho n.º 18778/2007 do Gabinete do Secretário de Estado da
Justiça, de 22 de agosto.
Violência doméstica
—— Lei n.º 61/91, de 13 de agosto;
—— Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro, alterada pela Lei n.º 19/2013, de
21 de fevereiro, pela Lei n.º 82-B/2014, de 28 de dezembro, pela Lei
n.º 129/2015, de 3 de setembro, pela Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro,
e pela Lei n.º 24/2017, de 24 de maio;
—— Portaria n.º 220-A/2010, de 16 de abril, alterada pela Portaria
n.º 63/2011, de 3 de fevereiro;
Estatuto da vítima
—— Lei n.º 130/2015, de 4 de setembro;
—— Portaria n.º 229-A/2010, de 23 de abril.
Casas de abrigo
—— Decreto Regulamentar n.º 2/2018, de 24 de janeiro.
167
A Guia do casal
Acolhimento familiar
—— Decreto-Lei n.º 11/2008, de 17 de janeiro;
—— Despacho n.º 433/2011, de 7 de janeiro.
168
Índice remissivo
Guia do casal
A Bens
Abandono de um filho ������������������������������� 150 comuns������12, 31-34, 39, 40, 41, 46, 47, 57,
Abono 60, 65, 67, 69, 74, 84, 103
de família ���������������������������112, 113-116, 166 dos filhos�������������������������������������������123-126
pré-natal�����������������������������������112, 113, 166 próprios����������������������� 31-34, 38, 40, 46, 47
Abuso sexual����������������������������������������������� 150 Bigamia��������������������������������13, 19, 35, 58, 162
Ação de divisão da coisa comum����������������� 12 Bolsa de estudo������������������������������������ 116, 167
Acolhimento familiar ������������������������� 158, 168
Acordo de coabitação��������������������������������� 102 C
Administração dos bens����������������������������� 162 Cabeça-de-casal ������������������������������������������� 77
do casal������������������������������������������38-41, 57 Casa de morada da família�������33, 36, 40, 60,
dos filhos�������������������������������������������123-126 64, 71, 85, 93-95, 144
Adoção ���������������������� 17, 97, 128, 130-135, 165 Casamento
Adultério������������������������������������������ 30, 35, 59 anulação�������������� 15, 16, 17, 30, 52, 53, 163
Advogado (contratar)����������������������������������� 10 cerimónia �������������������������������������������������24
Aleitação����������������������������������������������������� 128 custos������������������������������������������������� 22, 162
Alienação parental���������������������������������������62 entre pessoas do mesmo sexo ��������� 14, 162
Alteração das faculdades faltas ao trabalho������������������������������������� 27
mentais do cônjuge���������������������� 55, 56, 58 formalidades������������������������������� 20-28, 162
Amamentação ������������������������������������������� 128 idade�����������������������������������������������������14-16
Animais de companhia�������������������������� 60, 68 impedimentos������������������������ 13-20, 22, 162
Anulação de no estrangeiro�������������������������������������������26
adoção����������������������������������������������������� 135 online��������������������������������������������������������� 21
atos dos pais������������������������������������������� 124 prazo internupcial��������������������������13, 19, 75
casamento ���������� 15, 16, 17, 30, 52, 53, 163 presentes����������������������������������������������������11
contratos celebrados por menores��������� 126 procuração �����������������������������������������������25
perfilhação ���������������������������������������������108 promessa��������������������������������������� 10-13, 162
vendas e doações������������������������������41, 124 religioso�����������������������������������������������������23
Apadrinhamento civil���������13, 17, 135-139, 167 urgente�����������������������������������������������������26
Apelidos������������������� 27, 110, 133, 144, 162, 163 vida conjugal��������������������������������������� 30-48
Apoio judiciário��������������������������������������������� 10 Casas de abrigo������������������������������������149, 167
Assistência Centros de acolhimento de emergência������151
ao companheiro��������������������������������� 37, 96 Certificado de óbito��������������������������������������� 77
ao cônjuge����������������������������������� 37, 59, 162 Coabitação
aos filhos����������������������������������128, 129, 166 cônjuge�����������������������������������������������35, 59
Arrolamento dos bens����������������������������� 57, 68 filhos������������������������������������������������������� 122
Ausência prolongada do cônjuge���� 55, 56, 58 Comerciantes����������������������������������� 43, 44, 45
Avós��������������������������������������������������������18, 122 Comissões de proteção de menores����������� 153
Comunhão de bens adquiridos�������� 21, 24, 31,
B 32, 47
Balcão Comunhão geral de bens������������21, 31, 33, 47
das heranças�������������������������������������80, 163 Conferência de interessados�������������������������78
divórcio com partilha �����������������������69, 163 Confiança ��������������������������������������������������� 156
170
Índice remissivo
171
Guia do casal
172
Índice remissivo
S V
Segurança social Venda de bens
abono de família�������������������������112, 113-116 comuns���������������������������������������������������� 40
abono pré-natal �������������������������������112, 113 dos filhos������������������������������������������������� 124
bolsa de estudo����������������������������������������116 Vigilância dos filhos ������������������������������������121
pensão de sobrevivência����� 86, 88, 90, 101, Violência doméstica 35, 142, 145-152, 167, 168
163, 164 Viuvez ��������������������������������������76-90, 163, 164
173
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