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NÚMERO:

ESTUDO DE CASO
PÓS-GRADUAÇÃO APROVAÇÃO:
DIREÇÃO ACADÊMICA

ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E TERAPIAS Código de Turma


CURSO: COGNITIVAS

A A FAMÍLIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA


DISCIPLINA: CH:
SAÚDE MENTAL
PROFESSOR (A): CAMILLA DE MELO SILVA

DESCRIÇÃO DO CASE ANALÍTICO


Capoeirista é um jovem de vinte e poucos anos e filho único. Frequenta o Caps há alguns anos,
sendo diagnosticado pelo médico psiquiatra do serviço como um sujeito com esquizofrenia e retardo
mental moderado. Ele quase sempre é pauta de discussão das reuniões de equipe, visto que é muito
agitado, “chega no serviço a hora que quer, faz o que bem quer, e na hora que quer”, como afirma um dos
técnicos do Caps.
Para além do transtorno psíquico e de sua ‘indisciplina’ no serviço, a equipe traz elementos
importantes sobre a vida familiar de Capoeirista, que parecem desembocar nas dificuldades da equipe em
lidar com ele. Na época da gravidez de Capoeirista, sua mãe, casada há algum tempo, suspeita que está
com um tumor e inicia um tratamento medicamentoso, descobrindo somente após alguns meses que
estava grávida. A equipe relata que, atualmente, seus pais têm uma relação conflituosa e uma enorme
dificuldade de aceitação de Capoeirista.
Segundo os relatos dos técnicos mais próximos a ele, um educador físico e o professor de capoeira,
o Caps tem assumido um lugar de refúgio para Capoeirista, que, ao vivenciar as situações de conflito em
casa, busca o serviço. Não importa a hora e a distância, visto que ele mora em um outro bairro, um pouco
distante. A equipe reconhece, assim, que o serviço funciona como um ‘local de escape’ para Capoeirista,
na medida em que existem muitos conflitos no seu ambiente familiar.
Nas diversas discussões sobre esse usuário, são produzidos relatos de que as mesmas posturas e
atitudes que este tem em casa (de mandar na mãe, agredi-la verbalmente e fisicamente) estão sendo, de
certo modo, reproduzidas no Caps na relação com a equipe. O educador físico aponta que Capoeirista
chegou a relatar que sua mãe sofre agressões por parte do seu pai, e que por isso ele fica muito agitado.
Os relatos são tecidos à medida que novos elementos são incorporados na história da vida familiar
de Capoeirista, constituindo uma rede com relações conflituosas e de rupturas. Por vezes, alguns
profissionais responsabilizam a família, que não cuida dele, restando ao Caps assumir o seu cuidado.
Nesse movimento, foi acionado o Ministério Público, para tomar o que, para os profissionais do Caps,
seriam as ‘devidas providências’ sobre o ‘descuidado’ da família com Capoeirista.
O prosseguimento e os possíveis encaminhamentos do ‘caso de Capoeirista’ foram discutidos em
reunião pela equipe do Caps, na qual cada profissional apontou uma proposta de plano de cuidado
para ele e sua família. Essa construção não contou com a participação dos sujeitos para quem se
dirigia o referido plano, visto que ia sendo tecida nos encontros entre os trabalhadores e nas reuniões
de supervisão clínica institucional.
A proposta do Caps consistiu em: (1) a equipe de saúde tentar uma aproximação com a família, para
entender os seus conflitos e suas possíveis interferências nas posturas assumidas por Capoeirista no
serviço, como também em buscar responsabilizá-la pelo cuidado ao usuário; (2) viabilizar a
participação do usuário em um grupo de capoeira, próximo à sua casa, tendo em vista a necessidade
de se pensar o cuidado no território e no seu cotidiano; (3) tentar inseri-lo numa escola, visto que a
equipe entendia que o usuário ainda era muito jovem e poderia estar ocupando esse tempo/espaço
NÚMERO:
ESTUDO DE CASO
PÓS-GRADUAÇÃO APROVAÇÃO:
DIREÇÃO ACADÊMICA

ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E TERAPIAS Código de Turma


CURSO: COGNITIVAS

A A FAMÍLIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA


DISCIPLINA: CH:
SAÚDE MENTAL
PROFESSOR (A): CAMILLA DE MELO SILVA

com aprendizagem; (4) viabilizar a ida de sua mãe para um centro de práticas integrativas e
complementares, tendo em vista que, na visão da equipe, ela necessitava de cuidado, pelo fato de
conviver com muitos conflitos familiares. A equipe pensou que a ida da mãe de Capoeirista a esse
centro poderia se dar nos dias e horários em que ele se encontrava no Caps.
Após pactuação entre a equipe de saúde, as ações foram iniciadas. A implicação da equipe no cuidado
se reafirmava à medida que as ações iam sendo viabilizadas. No entanto, trazer a família para
participar do projeto terapêutico parecia ser um desafio, que muitas vezes escapava da
responsabilização da equipe pelo cuidado.
DESCRIÇÃO DO PROBLEMA
(1) A família pouco mostrava-se incomodada com as posturas de Capoeirista, e a equipe não
conseguiu aproximar-se dela para tentar responsabilizá-la pelo cuidado dele, visto que se tratava de uma
demanda da equipe; (2) a viabilização da participação do usuário no grupo de capoeira contou com a
resistência de alguns membros do grupo, que, ao serem informados que Capoeirista era usuário do Caps,
mostraram-se inseguros e com medo de que este causasse algum problema. No entanto, sua participação
foi negociada pelo professor de capoeira do Caps, que se responsabilizou por ele, mediando as suas
relações com o grupo; (3) após algumas tentativas da equipe, foi possível matricular Capoeirista no
programa de Educação de Jovens e Adultos. No entanto, a equipe mostrava-se preocupada com a
efetivação dessa aposta de cuidado, tendo em vista que a sua ida dependia da interlocução e do apoio da
família, e eles visualizavam a família como ‘negligenciadora’ desse cuidado; (4) E, por fim, não foi
efetivada a aposta de a mãe participar do centro de práticas alternativas e complementares, já que essa
proposta pouco reverberou nas apostas que a própria mãe fazia para viver.

PROPOSIÇÕES DE RESOLUÇÃO (Resumo)


Pensar a construção de um Projeto Terapêutico Singular a partir da efetiva participação de
Capoeirista e sua família para que assim seja possível “produzir novas visibilidades sobre o lugar da família
na produção do cuidado: 1. Família como espaço de disputa de plano de cuidado, entre si e com a equipe;
2. Família que também precisa ser cuidada e que vivencia processos de adoecimento; e 3. Família como
parte da vida social do usuário, que compõe sua rede de convivência social” (Ferreira, T., Sampaio, J.,
Oliveira, I., & Gomes L., 2019).

OBSERVAÇÕES
Referência do estudo de caso:

Ferreira, T, et al. A família no cuidado em saúde mental: desafios para a produção de vidas. Saúde em Debate
[online]. 2019, v. 43, n. 121 [Acessado 13 Janeiro 2022] , pp. 441-449. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/0103-1104201912112
NÚMERO:
ESTUDO DE CASO
PÓS-GRADUAÇÃO APROVAÇÃO:
DIREÇÃO ACADÊMICA

ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E TERAPIAS Código de Turma


CURSO: COGNITIVAS

A A FAMÍLIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA


DISCIPLINA: CH:
SAÚDE MENTAL
PROFESSOR (A): CAMILLA DE MELO SILVA

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