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DOI: 10.1590/1413-81232014193.

18402013 663

ARTIGO ARTICLE
Apontamentos e reflexões sobre programas de apoio familiar
que favorecem a competência social da criança

Notes and reflections on family support programs


that foster the social competence of children

Marc Bigras 1
Andréa da Luz Machado 1

Abstract Harmony in family relationships has a Resumo A harmonia nas relações familiares tem
positive impact on all its members and especially um impacto positivo para todos os seus membros
on the development of the social competence of e, em especial, para o desenvolvimento da compe-
the child. Based on current scientific knowledge, tência social da criança. Com base nos conheci-
the scope of this article is to examine the quality mentos científicos atuais, a proposta deste artigo
criteria required for psychosocial support pro- é examinar os critérios de qualidade necessários
grams aimed at intervening together with fami- aos programas de apoio psicossocial que visam in-
lies in order to reduce the behavioral problems of tervir junto às famílias, no intuito de diminuir os
children and enhance their social competence. problemas de comportamento das crianças e me-
The programs discussed in this article are Incred- lhorar sua competência social. Os programas abor-
ible Years, High Scope and Fast Track (United dados nesse artigo são Incredible Years, High
States), ELEM and Fluppy (Canada). It is revealed Scope e Fast Track (Estados Unidos), ELEM e
that family interventions based on this knowled- Fluppy (Canadá). Constata-se que as interven-
ge meet high standards of efficacy and ethics. ções familiares com base nesses conhecimentos
However, the conclusion reached is that resear- atendem a altos padrões de eficácia e ética. Po-
chers and professionals still face obstacles in pro- rém, conclui-se que pesquisadores e profissionais
tocols where the low coherence between assess- ainda encontram obstáculos em protocolos onde
ment and intervention may compromise the qua- a baixa coerência entre a avaliação e a interven-
lity of support offered to families from a public ção pode comprometer a qualidade do apoio ofe-
health perspective. recido às famílias numa perspectiva de saúde pú-
Key words Social competence, Problem behavi- blica.
or, Prevention, Family intervention Palavras-chave Competência social, Problema
do comportamento, Prevenção, Intervenção fa-
miliar
1
Département de
Psychologie, Faculté des
Sciences Humaines,
Université du Québec à
Montréal. 8888 succ.
Centre-Ville Montréal
H3C 3P8 Québec Canada.
bigras.marc@uqam.ca

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Introdução tivo. O risco de desvio normativo existe quando


uma definição tendenciosa de CS torna-se uma
Pesquisas avaliativas apontam que a oferta de referência, uma meta a atingir, uma norma a se
programas de apoio psicossocial às famílias em aplicar a todas as crianças e em todas as circuns-
situação de vulnerabilidade contribui para a di- tâncias. A medida da CS é de fato vulnerável a
minuição das dificuldades de comportamentos vieses sistemáticos quando se apoia no ponto de
em crianças e melhoram sua competência social vista de um só grupo (pais, educadores ou pes-
(CS). Veremos nas próximas páginas que, no quisadores) ou em possibilidades limitadas ofe-
entanto, existem critérios de qualidade rigorosos recidas por uma só teoria ou por um só método.
cuja finalidade é garantir uma boa adesão das Por exemplo, a CS definida por educadores po-
famílias e atender aos objetivos do programa de deria descrever crianças calmas e obedientes, e a
apoio proposto. O primeiro critério é que pes- dos pais poderia insistir na autoafirmação da
quisadores, profissionais e pais estejam de acor- criança. Desse modo a aplicação de uma defini-
do com a definição de CS adotada. O segundo ção tendenciosa em uma intervenção que visa à
critério é a escolha de uma base teórica sólida promoção de CS poderia prejudicar a criança.
para construir um programa passível de agir de No entanto, como a avaliação da CS é uma con-
modo eficaz nos mecanismos familiares associa- dição necessária a toda ação de apoio fundamen-
dos à CS. Um critério adicional, este bem mais tada, temos que pensar em salvaguardas para
concreto, consiste em oferecer às famílias um evitar o desvio normativo. Essas podem consis-
apoio coerente, ou seja, uma intervenção profis- tir na construção de um consenso científico de
sional realizada segundo padrões elevados que CS a partir de uma abordagem dita multidimen-
não garantam apenas seu sucesso, mas também sional-multimetodológica, onde a participação
o respeito às famílias que participam do progra- dos atores com interesses variados garanta a di-
ma. Veremos a seguir, e nessa ordem, os detalhes versidade das dimensões do fenômeno e permita
dos critérios exigidos. aproveitar as vantagens da combinação de dife-
Definição de competência social. A definição rentes métodos de avaliação. Segue abaixo uma
de CS é objeto de controvérsias quando utilizada breve definição de CS que se inspira particular-
na intervenção familiar. O primeiro obstáculo mente nos trabalhos dos estudiosos da teoria do
para o estabelecimento de um consenso é a pro- apego², das emoções³ e do desenvolvimento so-
liferação de definições devido ao fato da CS de- cioafetivo4,5.
pender de múltiplos contextos pessoais, inter- A CS é a capacidade da criança em coordenar o
pessoais e sociais. No entanto, muitos estudos acesso aos seus próprios recursos e aos de seu am-
concluem que as definições bem circunscritas são biente, com a finalidade de manter relações sociais
estáveis e validadas, a despeito dos contextos de favoráveis ao seu desenvolvimento e ao de seus
observação bastante diversos¹. Por exemplo, o pares.
acordo interjuízes é bastante elevado quando Essa definição concebe a competência social
profissionais e professores descrevem a CS de como um processo de individuação onde o ama-
uma criança a partir de comportamentos como durecimento leva a criança, desde o nascimento,
a timidez (ex. prefere jogar sozinha), a agressão na direção de uma variedade de diferenças com-
(ex. bate nos outros), a cooperação (ex. ajuda a portamentais, uma personalidade mais definida
limpar a classe), etc. A opinião dos pais, dos pro- e uma maior autonomia que garantam ao final
fessores e dos educadores é igualmente estável do seu desenvolvimento sua integridade física e
no curso de algumas semanas e, como esperado, psicológica. Nesse processo, a criança deve ser
suas descrições de CS variam sistematicamente capaz de diferenciar-se do outro, assim como
em função das mudanças acarretadas pela ma- reconhecer as diferenças entre as pessoas de sua
turidade da criança ou pelas atividades de esti- convivência. A criança também deve saber iden-
mulação que visam especificamente a melhoria tificar situações de perigo e regular seu medo di-
da CS. Assim, a multiplicidade de contextos soci- ante delas, aprender a contar com pessoas de
ais não deveria desencorajar a adoção de uma confiança que possam garantir sua proteção,
definição comum de CS, uma condição necessá- assim como desenvolver uma confiança em suas
ria para o progresso da pesquisa e da interven- próprias competências para lidar com essas si-
ção psicossocial. tuações. A CS se manifesta, ainda, pelo interesse
Um segundo obstáculo que se justapõe a uma que a criança tem no outro. A criança que mos-
descrição consensual de CS é a normatização tra interesse pelo outro é habitualmente capaz de
abusiva do termo, levando a um desvio norma- expressar e controlar as emoções, tais como, a

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alegria de estar com outras pessoas, a tristeza cial em si mesma. No entanto, a falta de regula-
pelas suas ausências ou a surpresa que favorece ção da raiva subjacente à agressão tem impor-
o interesse por novos contextos sociais. tância social considerável, sobretudo a agressão
A CS compreende também a capacidade de física, motivo pelo qual é fortemente desencora-
empatia que, de acordo com o contexto social, jada pela maioria das culturas em todas as eta-
permite à criança entender e até mesmo experi- pas do desenvolvimento infantil9. A irritabilida-
mentar o lugar do outro. A capacidade de empa- de que caracteriza essa classe de comportamen-
tia é frequentemente acompanhada pelo domínio tos ressalta o fato de que o limiar de frustração é
da linguagem e por certa capacidade de abstração mais baixo para certas crianças que apresentam
que emerge nas crianças em idade pré-escolar. A mais agressão, agitação e oposição às regras do
empatia se caracteriza principalmente pela pro- que outras da mesma idade.
pensão da criança a proteger ou a se preocupar Ansiedade-retraimento (AN-RE). Não tão
com os colegas mais frágeis ou mais novos, sem evidente quanto a precedente, a classe de com-
se deixar afetar pela fragilidade, dor ou sofrimen- portamento AN-RE não preocupa menos o ob-
to desses. As habilidades básicas da empatia con- servador atento, que nota que certas crianças
sistem em expressar toda uma gama de emoções apresentam dificuldade para regular seu medo,
e a reconhecê-las no outro. A criança empática vergonha ou culpa. A manifestação mais visível
provavelmente apresenta melhor disposição para dessas dificuldades é o retraimento social, mas
compreender o outro e realizar a difícil tarefa de este é um indicador de ansiedade subjacente di-
entender o contexto social maior no qual os acor- ante de manifestações que são às vezes difíceis de
dos sociais possibilitam saber se um comporta- discernir. A neutralidade das expressões faciais, o
mento é permitido, proibido, tolerado ou enco- choro frequente, a somatização, a relutância e a
rajado. A mobilização dessa capacidade se carac- timidez, mesmo em situações conhecidas, são
teriza notadamente pela regulação das emoções manifestações ansiosas que complementam o
de vergonha e culpa. A primeira emoção leva a quadro dessa classe de dificuldades.
criança a querer ficar sozinha, para ter tempo de
se recompor das consequências da transgressão A família e a socialização da criança
de uma regra, enquanto que a segunda leva a cri-
ança a querer reparar o mal causado ao outro, A aplicação de um programa ou a simples
como por exemplo, para restabelecer uma rela- intenção de intervir junto à família repousa na
ção de confiança ou sua própria reputação. convicção de que a socialização da criança é um
processo familiar. Mas quais são precisamente
A incompetência social não é somente os mecanismos familiares que deveriam ser ob-
a ausência de competências jeto de atenção para melhor compreender e esti-
mular a CS das crianças?
A incompetência social não é somente a au- O apego pais-filho. A teoria do apego e as
sência de competências. Ela é observada também muitas contribuições metodológicas que a pre-
pela manifestação desorganizada do comporta- cederam, atualmente inspiram toda uma gama
mento social, mais frequentemente associada às de programas de apoio familiar que produzem
emoções de raiva e de medo. Duas grandes clas- impactos positivos para a socialização da crian-
ses desses comportamentos são objeto de pes- ça. O ponto principal dessa teoria é a consolida-
quisa desde os anos oitenta, pelo fato de anunci- ção, na criança, do sentimento de confiança em
arem possíveis dificuldades de integração social si mesma, para que no futuro possa ser capaz de
da criança e do adolescente. Nomeamos essas coordenar objetivos comuns para com os ou-
classes como agressão-irritabilidade (AG-IR) e tros a curto ou longo prazo. Vemos assim, que é
ansiedade-retraimento (AN-RE)6,7, mas outras o processo de individuação ou de desenvolvimen-
denominações também são utilizadas em estu- to do desejo de explorar o ambiente social que é
dos científicos para descrever esses comporta- o alvo da intervenção familiar10.
mentos, que podem ser dirigidos a si mesmo As práticas parentais. O apego pais-filho é pro-
(ocultos) ou a outros (manifestos), por exem- duto de práticas parentais especificamente deno-
plo, problemas exteriorizados e interiorizados8 e minadas de sensibilidade parental que se iniciam a
problemas de conduta ou ansiedade. partir do nascimento do bebê. Elas consistem em
Agressão-irritabilidade (AG-IR). A agressão responder de forma estável, zelosa e coerente aos
tem como função a aquisição ou a preservação comportamentos de apego do bebê. A observa-
dos recursos, não sendo uma incompetência so- ção da evolução dessas práticas, em torno do se-

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gundo ano de vida, permite constatar as mudan- parentais que influenciam a CS13 (para mais de-
ças importantes em relação a duas dimensões: talhes ver o artigo original13). As próximas pági-
proximidade afetiva/distanciamento e supervisão/ nas descreverão, no entanto, as intervenções fa-
permissividade11. Muitas pesquisas confirmam o miliares que propõem um apoio aos pais de acor-
impacto de cada uma dessas dimensões em rela- do com seus valores, sua história e seu contexto
ção ao CS observado na creche ou na escola. Em social.
suma, níveis elevados de proximidade afetiva e As intervenções familiares favoráveis à CS da
supervisão contribuem para CS, enquanto níveis criança. Há uma tradição quase centenária nessa
muito baixos dessas dimensões resultam em mais área: orientações clínicas compostas por defini-
AG-IR da criança. Também é possível observar ções variadas de CS e dos processos familiares
que níveis elevados de supervisão parental associ- em causa são descritas em documentos endere-
ados a trocas distantes e pouco afetivas podem çados habitualmente aos clínicos. Infelizmente, a
levar a mais comportamentos AN-RE. demonstração científica do efeito desses progra-
Os estudos de Patterson et al.12 permitem uma mas a curto, médio e longo prazo tem sido lenta.
análise ainda mais refinada do processo de socia- Isso teve por consequência a limitação da trans-
lização envolvido na evolução da AG-IR (deno- missão de boas práticas e de conselhos adequa-
minada por eles como problemas de conduta). A dos de precaução. Consideremos o exemplo de
observação direta e prolongada das práticas dos uma intervenção psicossocial oferecida nos anos
pais de crianças de 5 a 8 anos com AG-IR revela 30 a 325 famílias, com o objetivo de prevenir e
um padrão típico de trocas, onde não é tanto a reduzir a delinquência no subúrbio de uma gran-
ausência da supervisão parental que surpreende, de cidade dos Estados Unidos14. Uma avaliação
mas as consequências desastrosas das práticas sistemática dos efeitos a longo prazo concluiu
parentais. Os pesquisadores descrevem com de- que a intervenção causou mais mal do que bem,
talhes a aplicação de práticas disciplinares incoe- sendo que esse infeliz resultado é explicado pela
rentes e inconsequentes, onde as regras não são falta de conhecimento dos processos sociais e
aplicadas da mesma maneira para o mesmo psicológicos envolvidos no crime, pelo estigma
comportamento e há uma rápida desistência dos das famílias participantes e pela falta de conti-
pais diante da oposição de seus filhos. O laissez- nuidade dos serviços. Muitos desses ensinamen-
faire nesse contexto acaba por ocasionar proble- tos não puderam ser aproveitados nas três déca-
mas de comportamento cada vez mais impor- das de intervenções familiares que se seguiram.
tantes e que podem levar os pais até as últimas Nos anos 80 surge uma nova geração de in-
consequências, como a punição corporal. Esse tervenções familiares muitas vezes submetidas a
padrão de trocas familiares corre o risco de en- protocolos experimentais que permitem, de um
volver os pais e as crianças em uma escalada de lado, recomendar orientações gerais e específi-
reciprocidade negativa da qual é difícil escapar. cas, e de outro, apontar armadilhas a serem evi-
Estas observações de Patterson e de seus colegas, tadas. Nós ilustraremos os avanços científicos
vistas em conjunto com a teoria da aprendiza- nessa área utilizando as experiências de Caroline
gem social, mostram como a criança aprende na Webster-Stratton15-22 e de seus colegas. Essa es-
sua família que, de um lado, a agressão e a opo- colha baseia-se no fato de que os protocolos de
sição aos adultos permitem que ela obtenha o avaliação das diversas versões de seu programa
que quer, e de outro, que a CS, responsável pelo chamado Anos Incríveis (Incredible Years), res-
controle de si mesma, a empatia e a coordenação peitam os princípios da ciência, que incluem a
de objetivos comuns, não valham a pena. confirmação de sua eficácia por laboratórios in-
Os valores parentais e outros aspectos do exer- dependentes e demonstram suas vantagens quan-
cício do papel parental. A natureza das práticas do comparado a outras alternativas. Outros
parentais é o reflexo, de uma maneira ou de ou- modelos de intervenção familiar sujeitos a avali-
tra, dos valores parentais que são influenciados ações confiáveis de efetividade, tais como High
pelos contextos pessoais como a própria histó- Scope23, Fast Track24, ELEM25 e Fluppy26 também
ria ou pelo efeito das dinâmicas intrafamiliares serão citados aqui como complemento para uma
(ex. a relação conjugal). Também pelo sentimen- descrição das variações sobre o tema das inter-
to de pertencer a uma comunidade (ex. coletivi- venções familiares eficazes, que: 1) visam a pre-
dade vs individualismo) que encorajem práticas venção e a diminuição de comportamentos AG-
como a supervisão atenta, a punição física, etc. IR e o aumento de CS, 2) se inspiram na teoria da
Nós não temos todo o espaço necessário neste aprendizagem social, 3) se dirigem aos pais e 4)
artigo para uma descrição completa dos valores que tem filhos com idade de 3 a 8 anos.

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Anos Incríveis (AI) uma prática exemplar. As jetivo de lhes permitir encontrar soluções que
primeiras publicações descrevendo AI remontam melhor se adaptem a cada situação familiar vi-
ao início dos anos 80. Caroline Webster-Stratton venciada. AI não recomenda que os pais substi-
se inspira na teoria da aprendizagem social e na tuam suas práticas por outras melhores. Os fa-
teoria do apego para desenvolver seu programa cilitadores AI agem muito mais como coordena-
de intervenção chamado AI. Segundo a teoria da dores que incentivam a auto-observação e auto-
aprendizagem social as trocas negativas levam a avaliação dos pais. Eles evitam se colocar na po-
uma escalada de conflitos nas famílias de crian- sição de especialistas ou de modelos a seguir.
ças que apresentam problemas de comportamen- Neste sentido, podemos dizer que os pais e os
to na escola como agressão, agitação e a oposi- profissionais cooperam com o objetivo de gerar
ção, comportamentos que anunciam dificulda- uma série de estratégias de adaptação onde os
des para sua integração social27. Mas também pais são convidados a fazer a avaliação de sua
são observadas trocas positivas nessas famílias, própria eficácia e propor os ajustes que julguem
mas elas são raras e cedem espaço às experiênci- necessários.
as negativas. Diante dessa constatação, Webster- A utilização de grupo de discussão e vídeo. O
Stratton recomenda a inversão da pirâmide das processo de criação e autoavaliação das soluções
proporções tal como é encontrada na maioria para os problemas familiares é realizado em um
das famílias, onde grande parte das trocas é bas- grupo constituído por doze pares de pais e mães
tante positiva, enquanto as trocas negativas, mais com filhos da mesma idade. Ressaltamos que as
raras, acontecem principalmente nas práticas dis- crianças não participam desses encontros. Um
ciplinares. A autora explica que são necessárias facilitador treinado entrevista cada casal e em
muitas trocas positivas nas atividades familia- seguida dá início ao grupo de pais com um total
res, como na hora das refeições, no acompanha- de 18 a 20 encontros de duas horas. A vantagem
mento dos deveres ou em passeios, para o forta- da intervenção de grupo é que os pais tornam-
lecimento da confiança entre pais e filhos. Nota- se, ao fim dos encontros semanais, uma fonte de
mos que esse ponto de vista se aproxima da pers- apoio mútuo. Os pais colaboram entre si tro-
pectiva da teoria do apego, que considera que a cando experiências de como lidar com os filhos e
confiança favorece a cooperação da criança mes- a sensação de fazer parte de um grupo é uma
mo nas situações disciplinares, ainda que elas não motivação a mais para a participação nos en-
alcancem seu interesse imediato2. Com o passar contros. A utilização de vídeos nesse contexto é
do tempo, o clima familiar se tornará pouco a uma ferramenta importante. A estimulação de
pouco mais agradável já que as situações frus- discussões entre os pais com utilização de vídeo
trantes para a criança diminuem na mesma pro- pode levar a troca de experiências mais concretas
porção que a disciplina parental4. A parte disci- já que permite discussões sobre situações hipo-
plinar das práticas parentais ocupa um lugar téticas que poderiam ser inconvenientes para al-
importante nessa abordagem de intervenção fa- guns pais. Os facilitadores têm à disposição uma
miliar, porque ela se vale de situações habitual- série de vídeo-esquetes que correspondem ao
mente conflituosas para aplicar soluções simples, tema do dia e outros que são deixados de reserva
eficazes e sensíveis às necessidades da criança e para ilustrações extras. Esses esquetes mostram
dos pais. Essas soluções decorrem de um bom atores simulando trocas entre pais e filhos em
conhecimento sobre: 1) os desafios desenvolvi- situações disciplinares, como a supervisão de
mentais que a criança necessita enfrentar, 2) dos deveres escolares, entre outras diversas situações.
valores que os pais desejam lhe transmitir (com A exibição do vídeo é feita da seguinte maneira: o
a ajuda de outros adultos) e 3) de práticas coe- facilitador contextualiza o tema do dia, começa a
rentes. Essas práticas consistem em comunicar exibição do vídeo e pode decidir interrompê-lo
às crianças expectativas elevadas, mas que ficam para pedir aos pais que o completem ou comen-
claras e coerentes em um contexto onde os pais tem. O esquete também pode ser visto por com-
demonstram afeto, acolhimento e encorajamen- pleto para que os pais possam ao final conversar
to. Sabemos que essa tarefa é desafiadora, mes- sobre toda a situação. É previsto que os pais dra-
mo para os pais de crianças que não apresentam matizem as cenas que assistiram em vídeo ou
problemas de comportamento. Para facilitar a mesmo as situações cotidianas contadas por eles
adoção de práticas parentais coerentes, AI pro- mesmos nos encontros grupais. Os facilitadores
põe técnicas de acompanhamento inovadoras. podem insistir para ouvir mais pontos de vista e
O processo cooperativo. A filosofia de AI colo- ressaltar os princípios da supervisão parental que
ca os pais no centro da aprendizagem com o ob- estejam em jogo. Essa é a parte é mais trabalhosa

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dos encontros e é nesse ponto que o facilitador encontros do programa e a severidade das difi-
desempenha um papel importante no sentido de culdades apresentadas pelas famílias. Grande
encorajar e respeitar o posicionamento de cada parte dos programas de intervenção familiar é
um no grupo. composta por 10 a 20 sessões realizadas ao lon-
AI é principalmente reconhecido por seus efei- go de várias semanas, no entanto não há infor-
tos positivos a curto e médio prazo na redução mação quanto às vantagens comparativas des-
de comportamentos negativos dos pais, no au- sas variações. Uma avaliação recente da implan-
mento de CS e na diminuição de AG-IR das cri- tação do programa Fluppy26 concluiu que a re-
anças. Salientamos que outros componentes fo- dução do número de encontros familiares pode
ram adicionados ao programa de base que per- comprometer significativamente a magnitude dos
mitiram oferecer, depois dos anos 90, um apoio efeitos positivos sobre a CS das crianças. Por essa
aos pais desde o nascimento de seus filhos até razão os programas AI, Fast Track24 e ELEM25
completarem doze anos. Certos componentes insistem na manutenção do número de encon-
são direcionados somente à criança ou à sua es- tros conforme suas recomendações. AI e Fast
colarização. Ainda que esses componentes con- Track24 sugerem, além disso, que um aumento
tribuam para uma maior redução das dificulda- do número de encontros de grupo pode ser im-
des de comportamento e um aumento da CS da plementado conforme a necessidade, mas não
criança, tanto do ponto de vista dos pais como há dados de pesquisa que confirmem a vanta-
dos professores ou de observadores independen- gem deste ajuste.
tes, o grupo de pais é o único componente do AI
que permanece eficaz sem a adição de outros. AI e Cia:
AI é uma prática exemplar de diversas ma- intervenções verdadeiramente familiares?
neiras. De forma resumida podemos dizer que
ela tem o mérito de basear-se: 1) em uma defini- Os especialistas em família dirão que uma
ção operacional de CS, 2) no conhecimento cien- intervenção centrada somente no subsistema
tífico dos processos familiares envolvidos e 3) na pais-filhos não é uma verdadeira intervenção fa-
eficácia da intervenção. No entanto, certas áreas miliar. De fato AI, Fluppy26, ELEM25, Fast Track24
de incerteza permanecem, por exemplo, a perti- e outros, não avaliam, analisam ou intervém di-
nência de uma intervenção de grupo, a utilização retamente em subsistemas conjugais, entre ir-
de dramatização, assim como a relação entre o mãos ou intergeracionais, sendo habitualmente
número de encontros do programa e a severida- excluídas as dinâmicas triádicas, a menos que
de das dificuldades familiares. Tivemos a opor- tenham como finalidade a coordenação de ações
tunidade de mostrar em outro trabalho28 que a pai-mãe em prol de uma educação mais coerente
existência de propostas de apoio aos pais que para a criança. Como conhecemos as consequ-
acontecem na casa da própria família também ências das situações de violência conjugal e/ou de
podem ser utilizadas, por exemplo, para evitar baixa coesão familiar sobre a socialização da cri-
deslocamentos que podem ser difíceis para cer- ança29,30, é uma pena constatar que os compo-
tas famílias e também possibilitar a observação nentes de intervenção destinados a enfrentar es-
da dinâmica familiar in loco por parte dos pro- sas dinâmicas familiares são raros ou mesmo
fissionais. A filmagem de certas interações entre inexistentes. As versões mais recentes do progra-
pais e filhos no ambiente familiar, como no pro- ma AI incluem atividades de resolução de confli-
grama Fluppy26, facilita a comunicação entre o tos em que o foco está na capacidade dos pais
facilitador e os pais para discutirem sobre os para generalizar as estratégias de comunicação e
acontecimentos que lhes afetam. Contrariamen- de resolução de conflitos interpessoais desenvol-
te aos avanços de Webster-Stratton15, os autores vidos em grupo ou com a ajuda do facilitador.
do programa Fluppy26 não mostram reticência Acredita-se que os pais poderão utilizar essas
quanto à auto-observação em vídeo (uma situa- novas estratégias em situações familiares cotidi-
ção cada vez mais comum graças à disponibili- anas nas quais possa haver conflitos entre os
dade de câmeras) e constatam até que impor- cônjuges ou com outros adultos envolvidos na
tantes tomadas de consciência por parte dos pais educação da criança. Certos estudos de avalia-
são possíveis devido a essa abordagem mais in- ção parecem confirmar as vantagens dessa abor-
dividualizada. Os dados de pesquisa não são dagem, já que os pais relatam mais satisfação e
muito claros quanto à relação entre o número de menos problemas pessoais e interpessoais31.

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Conclusão ou a flexibilidade cognitiva, que são altamente
produtivos para as crianças e os pais. Como as
O notável progresso da teorização dos mecanis- FE são consideradas reguladoras do comporta-
mos familiares e da CS permitem atualmente a mento e estão provavelmente envolvidas na re-
programação de intervenções exemplares e pro- gulação das emoções34, uma programação de
missoras na saúde pública, sobretudo no que intervenção familiar inovadora poderia benefi-
concerne à harmonia e até mesmo à pacificação ciar-se dessas novas informações.
da dinâmica pais-filho. Ressalta-se a necessidade Com quem?: Os efeitos benéficos das inter-
de precisão para responder de forma satisfatória venções familiares estão bem documentados para
às questões, o que fazer, com quem, como e quan- crianças de 3 a 8 anos classificadas na categoria
do, com a finalidade de melhorar a coerência e a clínica AG-IR (de 1 a 2 desvios-padrão acima da
continuidade dos serviços de acordo com as ne- média de acordo com os programas). Os resul-
cessidades da criança e de sua família. tados complementares encorajam os profissio-
O que fazer?: Os resultados de pesquisas atu- nais a oferecer apoio às famílias de crianças que
ais são limitados visto que revelam apenas certos apresentam riscos de dificuldades, sem atingir
mecanismos familiares secundários que contri- níveis clínicos, e podem ter ainda mais impacto
buem para AG-IR das crianças, como as dificul- se forem acoplados a intervenções centradas na
dades conjugais ou os processos especificamente criança ou em atividades de estimulação da sua
associados a outras dificuldades de socialização. escolarização. Ressaltamos que o processo de
Por exemplo, AI e abordagens similares não seri- seleção de participantes é diferente entre os pro-
am contraindicados no caso de crianças que so- gramas, já que é alimentado por informações
frem de ansiedade por favorecerem o desenvolvi- provenientes dos pais (ex. AI), dos professores
mento de técnicas parentais que resultem em ain- (ex. ELEM25) ou das duas fontes (ex. Fluppy26 e
da mais obediência por parte da criança? Além Fast Track24). No entanto, as avaliações se con-
disso, as sessões em grupo não permitem detec- centram apenas na criança, e nenhuma pesquisa
tar as aplicações abusivas dessas novas aprendi- comparou as vantagens e desvantagens de dife-
zagens no contexto das interações familiares vi- rentes estratégias de triagem no que diz respeito
venciadas no dia a dia. As intervenções que acon- às probabilidades de sobrerrepresentação de
tecem na casa das famílias, como Fluppy26, apre- meninos vs meninas, de famílias carentes, sem
sentam a vantagem da adequação dos objetivos contar a possibilidade de uma sensibilidade e es-
em função das dificuldades observadas no mo- pecificidade insuficientes desses protocolos. Fe-
mento, no entanto não possuem uma programa- lizmente, esses programas estabelecem princípi-
ção apropriada às dinâmicas que estão associa- os que respeitam os participantes e que dão es-
das à ansiedade das crianças, às relações conju- paço para o desenvolvimento de competências
gais conflituosas, etc. As intervenções familiares com o objetivo de evitar a estigmatização das fa-
apresentadas neste artigo não levam em conta que mílias ditas falso-positivas.
pais e mães podem ter abordagens educativas dife- Como?: AI e Cia mostram que é responsabili-
rentes e que visam objetivos distintos de socializa- dade dos pais enfrentar o processo nocivo que
ção32. Essas conclusões devem encorajar os pesqui- levou à escalada de conflitos com a criança, mas
sadores e os terapeutas na procura de interven- evitam que os pais sintam que eles são a causa
ções orientadas a outros tipos de dificuldades33 e dessas dificuldades. Bem ao contrário, eles con-
que incluam outros subsistemas familiares. sideram que as influências familiares são siste-
Os dados de intervenção descritos neste arti- máticas e, consequentemente bidirecionais, e que
go são limitados à análise de processos emocio- a intervenção nesse contexto deve colocar os pais
nais da CS. No entanto, trabalhos recentes sobre em situações em que possam autoavaliar a perti-
os processos cognitivos denominados de funções nência de seus comportamentos em relação às
executivas (FE), mecanismos conscientes mobi- necessidades da criança. A autoaprendizagem pela
lizados na resolução de novos problemas, pode- exposição às experiências vivenciadas (ou simu-
riam contribuir para a estimulação da CS na fa- ladas) graças aos vídeos, onde há o comparti-
mília. Estes poderiam consistir na valorização dos lhamento de experiências e discussões em grupo,
jogos e no estabelecimento de rotinas e regras parece ser a chave para o sucesso dessas aborda-
para a vida em família, que são altamente pro- gens. Acrescenta-se que as condições de efetivi-
dutivos para as crianças e os pais e que estimu- dade, ou seja, os fatores que contribuem para a
lam, por exemplo, a imposição de um tempo implementação da intervenção, são outras ga-
antes de recompensar, a memória de trabalho rantias de sucesso a considerar. Capuano et al.35

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Bigras M, Machado AL

fornecem uma lista de fatores em favor da efeti- Com a ajuda de um grupo de apoio ou um facili-
vidade: 1) um programa bem detalhado dispo- tador, acreditamos que os pais podem progressi-
nível em manuais e materiais de suporte, 2) uma vamente alcançar a diferença entre os valores e
formação e supervisão de alto nível dos facilita- práticas parentais e as necessidades de todos os
dores e, 3) a participação das famílias em todas membros da família. Essas abordagens estão ali-
as etapas do programa. A última condição é vis- nhadas com o modelo de Patterson et al.12 que
ta frequentemente como um importante desafio descreve os processos familiares envolvidos na
na intervenção familiar. Vimos que a participa- AG-IR, mas a nova geração de programas se dife-
ção em atividades de grupo pode encorajar os rencia na ênfase dada à promoção de competên-
pais a persistirem, mas é importante considerar cias e não somente na redução de AG-IR. Por exem-
outros incentivos como o acompanhamento re- plo, Fluppy26 contempla atividades que facilitam
gular por telefone, facilidades para o transporte a aprendizagem dos atributos positivos das rela-
etc., para fortalecer o engajamento desses. ções sociais da criança como o sorriso ou o con-
Quando?: A idade pré-escolar é descrita como vite para brincar. AI, Fast Track24 e High Scope23
um período favorável para o desenvolvimento incluem também atividades onde a expressão de
de CS5. Todos os programas mencionados neste emoções positivas, a colaboração e a valorização
artigo apresentam um componente pré-escolar e do outro são encorajadas. Essa mudança de ori-
as recomendações vão em direção a uma inter- entação teórica pode ser responsável pelo êxito
venção precoce, embora os resultados das pes- dos programas de última geração, mas esse su-
quisas sugiram que as intervenções familiares cesso ainda não está bem compreendido devido
possam trazer benefícios para crianças de até 13 aos desafios colocados por outras dinâmicas fa-
anos de idade (ex. Fast Track24). A questão do miliares ou outros déficits de CS. Os novos dados
tempo pode se apresentar também sob a ótica de pesquisas avaliativas aguardados com muito
da continuidade dos serviços em uma perspecti- anseio para os próximos anos irão confirmar se
va desenvolvimentista. Por exemplo, os serviços as intervenções familiares mais sistemáticas ou
de promoção do apego pais-filho poderiam ser mais desenvolvimentistas são também as mais
direcionados a todas as novas famílias, como um bem sucedidas. As expectativas também são gran-
meio de consolidar suas competências parentais, des em relação aos resultados de pesquisas que
investindo na disciplina, na estimulação de CS confirmem ou não nossa capacidade de oferecer,
através das FE e na regulação das emoções, e tam- e, sobretudo, de manter um alto padrão de qua-
bém podendo se dirigir às crianças de idade pré- lidade. Vimos neste artigo que provavelmente isso
escolar e assim por diante. dependerá da vontade dos adultos em adotar uma
Vimos que as intervenções familiares visam o visão comum do que esperam para seus filhos,
enriquecimento de CS em crianças, promovendo da estreita coordenação de cada intervenção e do
trocas positivas mais frequentes e práticas paren- compromisso genuíno com o processo de socia-
tais mais coerentes em situações disciplinares. lização das crianças.

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Ciência & Saúde Coletiva, 19(3):663-672, 2014


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