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Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

Intervenção para promover habilidades sociais e reduzir problemas de


comportamento de crianças em um núcleo social

Intervention to promote social skills and to reduce child behavior


problems in a social group

Intervención para mejorar las habilidades sociales y reducir los


problemas de comportamiento infantil un núcleo social

Saulo Valmor Batista1


Edna Maria Marturano2

Resumo
O objetivo do estudo foi verificar o potencial de um programa para expandir habilidades sociais e reduzir
problemas de comportamento em crianças que são frequentadoras regulares de atividades educativas no
contraturno da escola. Participaram 22 crianças de seis a nove anos, em núcleo de convivência mantido
por organização não governamental. Foram formados dois grupos por critério de conveniência: Grupo de
Intervenção – GI (n = 12) e Grupo de Comparação – GC (n = 10). Para avaliar os efeitos da intervenção
foi utilizado o instrumento Social Skills Rating System. Antes e depois da intervenção com GI, as crianças
se avaliaram e foram avaliadas por uma das monitoras, quanto a suas habilidades sociais e problemas de
comportamento. Em seguida GC recebeu a intervenção e os dois grupos foram avaliados novamente. Os
resultados não evidenciaram efeitos do programa. Foram encontrados indícios de progresso nas
habilidades sociais, sem relação direta com a intervenção.

Palavras-chave: Problemas de Comportamento Infantil; Intervenção; Organização não Governamental;


Habilidades Sociais.

Abstract
The aim of the study was to investigate the potential of a program to improve social skills and to reduce
behavior problems in children who regularly attend afterschool activities. The participants were 22
children with 6-9 years of age attending a community center maintained by a non-governmental
organization. Two groups were formed by convenience: Intervention Group - GI (n = 12) and Comparison
Group - GC (n = 10). To measure the effects of the intervention, the Social Skills Rating System was
used. Before and after the intervention in GI, the children evaluated themselves and were evaluated by
one of the monitors, with respect to their social skills and behavior problems. Then GC received the
intervention and the two groups were assessed again. The results did not demonstrate the effects of the
program. Some evidence of progress in social skills was found, not directly related to the intervention.

Keywords: Child behavior problems; Intervention; Non-governmental organization; Social skills.

1
Mestre em Psicologia pela Universidade do Estado de São Paulo.
2
Graduada em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professora titular
da Universidade de São Paulo, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


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Resumen

El objetivo fue evaluar un programa para ampliar las habilidades sociales y reducir los problemas de
conducta en niños frecuentadores de actividades educativas en el contraturno escolar. Participaron 22
estudiantes de 6-9 años que asisten a un núcleo de vida mantenido por una organización no
gubernamental. Dos grupos fueron formados por criterio de conveniencia: Grupo de Intervención - GI (n
= 12) y Grupo de comparación - GC (n = 10). Los efectos de la intervención fueron evaluados con el
Social Skills Rating System. Antes y después de la intervención con GI, los participantes evaluaran sus
propias habilidades sociales y fueron evaluados por uno de los monitores, a respecto de sus habilidades
sociales y problemas de conducta. Entonces GC recibió la intervención y los dos grupos fueron evaluados
nuevamente. Los resultados no mostraron efectos del programa. Se encontró evidencia de progreso en las
habilidades sociales, no relacionado con la intervención.

Palabras clave: Problemas de Comportamiento Infantil; Intervención; Organización no Gubernamental;


Habilidades Sociales.

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Núcleos de convivência social, consultoria, teve como objetivo


com a oferta de atividades educativas no consolidar informações e orientações
contraturno da escola, têm sido dadas durante a capacitação, bem como
reconhecidos por sua potencialidade planejar generalização dos resultados.
educativa, conforme enfatizado por Além disso, visou, ainda, reelaborar e
Guará (2009). Essa autora assinala a implementar diretrizes de
flexibilidade da educação não formal funcionamento interno da OnG e
para atender demandas específicas da colaborar com a organização de rotina,
população-alvo. Trata-se de serviços horário e planejamento das atividades
livres de pagamento por parte da desenvolvidas. A intervenção foi eficaz
clientela, mantidos por organizações para minimizar problemas de
não governamentais (OnG), visando à comportamento e maximizar
socialização de crianças e adolescentes comportamentos pró-sociais e
de seis a 14 anos em áreas urbanas habilidades sociais das crianças.
habitadas por famílias de baixa renda. O trabalho de Costa e
Profissionais vinculados a serviços de colaboradores é exemplar, dado que
educação não formal dessa natureza têm promoveu mudanças na instituição,
a possibilidade de planejar livremente compreendendo medidas
suas propostas de atividades educativas. organizacionais associadas à
Essa circunstância, dada a maior capacitação dos monitores, o que pode
vulnerabilidade para problemas de ter contribuído substancialmente para a
comportamento na população infantil generalização e a manutenção dos
em desvantagem econômica (Mrazek & ganhos obtidos. No entanto, na
Haggerty, 1994), coloca os núcleos de realidade do trabalho cotidiano em
convivência social em posição instituições, nem sempre há espaço para
privilegiada para implementação de intervenção em nível institucional.
práticas promotoras do Estudos brasileiros visando prevenir
desenvolvimento psicossocial e problemas de comportamento em
prevenção de problemas de saúde espaços institucionais se limitam, em
mental na sua clientela. geral, a um trabalho com crianças. Uma
No entanto, são escassos os breve revisão do tema é apresentada nos
estudos realizados na área de psicologia próximos parágrafos.
que tenham por objetivo fornecer A literatura confirma
ferramentas para uso dos profissionais amplamente a presença de problemas de
que atuam nesse contexto. Uma exceção comportamento na infância como um
é a iniciativa recente de Costa e fator de risco para dificuldades
colaboradores (Costa, 2010; Costa, adaptativas posteriores. Crianças que
Williams & Cia, 2012). Essas autoras apresentam altos índices de
realizaram um estudo em núcleo de comportamento agressivo na primeira
convivência mantido por uma OnG, infância estão em risco de menor
com o objetivo de avaliar os efeitos de competência acadêmica e social (Burt &
uma intervenção, com monitores, sobre Roisman, 2010; Chen, Huang, Chang,
os problemas de comportamento de Wang & Dan, 2010). Além disso, têm
crianças escolares. A intervenção mais possibilidade de desistir da escola
constou de duas fases. A primeira, de e de ser indicados para serviços de
capacitação, tinha por objetivo ensinar educação especial e de saúde mental
aos monitores práticas educativas para (Patterson, Reid & Dishion, 2002).
lidar com problemas de comportamento Problemas de comportamento
das crianças. A segunda fase, de podem ser classificados em dois

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grandes grupos: os externalizantes (que Assim, tem havido grande


se expressam predominantemente em interesse em propor, avaliar e
relação a outras pessoas) e os implementar programas voltados para a
internalizantes (que se expressam promoção de HS no contexto das
predominantemente em relação ao escolas. Dado que tanto as escolas como
próprio indivíduo; Del Prette & Del as instituições que oferecem atividades
Prette, 2005). Comportamentos no contraturno escolar são ambientes
internalizantes são evidenciados por coletivos, tal similaridade levou os
retraimento, depressão, ansiedade e autores deste artigo a considerar esses
queixas somáticas. Em contraposição, programas como possíveis alternativas
comportamentos externalizantes são para subsidiar o trabalho do psicólogo
marcados por impulsividade, agressão, em núcleos de convivência social, no
agitação, características desafiantes e sentido de uma contribuição efetiva
antissociais. Assim, os dois grupos de para o desenvolvimento psicossocial da
comportamento dificultam o clientela.
desenvolvimento psicossocial da Programas para
criança: por um lado, os internalizantes desenvolvimento de HS no contexto
podem privar a criança de interagir com escolar têm sido propostos por
o ambiente, isto é, o indivíduo pode pesquisadores brasileiros (Murta, 2005).
evitar iniciar interação com pares ou Por exemplo, Lopes, Del Prette e Del
adultos (Bolsoni-Silva, Marturano, Prette (2013) avaliaram os efeitos de um
Pereira & Manfrinato, 2006); por outro programa, baseado nas vinhetas de
lado, os externalizantes podem gerar vídeo do RMHSC-Del-Prette, com o
conflitos e provocar rejeição de pais, objetivo de ampliar o repertório de
professores e colegas (Patterson et al., comportamentos socialmente
2002; Marinho, 2003). habilidosos e aumentar o desempenho
Estudos sugerem que o acadêmico de crianças com baixo
desenvolvimento de habilidades sociais rendimento escolar. Participaram 14
na infância constitui um fator de crianças, distribuídas em dois grupos,
proteção contra a ocorrência de experimental e controle. As crianças
comportamentos antissociais (Baraldi & foram avaliadas com o Sistema de
Silvares, 2003; Marinho, 2003; Fariz, Avaliação de Habilidades Sociais antes
Mias & Moura, 2005; Koch & Gross, e depois de um programa de 22 sessões
2005). Habilidades Sociais (HS) são grupais. O Grupo Experimental
entendidas como comportamentos apresentou ganhos significativamente
aprendidos, apresentados pelo indivíduo maiores que o Grupo Controle em HS e
diante das demandas de uma situação no desempenho acadêmico.
interpessoal. Podem ser ensinadas, Dias (2012) investigou a
aprimoradas e generalizadas por meio efetividade de um programa de leitura
de procedimentos baseados em dialogada de livros infantis, para a
princípios de aprendizagem (Del Prette promoção de habilidades
& Del Prette, 2005). Um repertório sociocognitivas, redução de problemas
elaborado de HS tem sido considerado comportamentais e aumento das HS das
como importante fator de saúde crianças. Participaram 45 alunos, da
psicológica, associado à aprendizagem última etapa da educação infantil, e
acadêmica, ao exercício da cidadania e duas professoras como informantes. Os
ao sucesso pessoal e profissional (Del resultados demonstraram efeitos
Prette, Del Prette, Oliveira, Gresham & positivos da intervenção; as crianças,
Vance, 2012; Gresham & Elliot, 1987). depois de passarem pelo programa,

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ampliaram suas HS, ao passo que uma escola pública do interior de São
reduziram a hiperatividade e os Paulo, visando prevenir dificuldades de
problemas de relacionamento. relacionamento. Participaram os alunos
Tanto o programa de Dias (2012) de duas turmas da antiga 1ª série do
como o de Lopes e colaboradores ensino fundamental. O programa foi
(2013) tiveram a sua validade interna aplicado a uma das turmas durante
verificada por meio de comparação de cinco meses, por uma das
grupos com pré-teste e pós-teste. Dentro pesquisadoras, que era também a
dos limites de um delineamento com professora das crianças. As sessões
grupos não randomizados, as mudanças eram ministradas duas a três vezes por
observadas em ambos os estudos semana, com duração de 15 a 20
puderam ser atribuídas à intervenção. minutos. A intervenção compreendeu os
Uma intervenção com diversos três componentes inclusos no manual do
estudos conduzidos no Brasil é o programa: lições formais, diálogo EPRP
programa Eu Posso Resolver Problemas e integração no currículo. Nas
– EPRP (Shure, 2006), uma proposta de comparações entre as turmas antes e
intervenção com suficiente depois da intervenção, verificou-se
documentação disponível, permitindo aumento significativo nas habilidades
seu uso imediato. Segundo Elias, de solução de problemas interpessoais
Marturano e Motta-Oliveira (2012), em na turma exposta ao programa. Nessa
sua revisão sobre estudos com o EPRP turma, houve redução da participação
no Brasil, o programa visa desenvolver em conflitos na sala de aula, por parte
uma classe específica de HS, as das crianças que antes do programa
chamadas habilidades de solução de eram as mais envolvidas em conflitos.
problemas interpessoais (HSPI), Borges e Marturano (2009)
definidas em cinco categorias: 1. realizaram um novo estudo utilizando o
pensamento meios-fins ou planejamento EPRP em uma intervenção multimodal,
sequencial ˗ habilidade de criar um incluindo ensino de habilidades de
plano para atingir uma meta solução de problemas interpessoais,
estabelecida; 2. pensamento de soluções valores humanos e autocontrole
alternativas ˗ habilidade para gerar emocional, em uma classe de 1ª série
soluções que podem ser colocadas em com 30 alunos. O desempenho pró-
ação para resolver um problema; 3. social e a percepção de estressores dos
pensamento consequencial ˗ habilidade participantes foram avaliados antes e
para antecipar o que pode acontecer depois da intervenção, sendo os
depois, como resultado da realização de conflitos registrados em um diário de
uma solução concebida para um campo. Houve redução nos conflitos
problema; 4. consciência ou interpessoais registrados no diário de
sensibilidade em relação ao seu próprio campo e aumento no indicador pró-
sentimento e ao sentimento dos outros; social. Comparadas a um grupo de 31
5. pensamento causal ˗ habilidade de alunos que não passaram pela
entender o que precipitou um ato intervenção, as crianças apresentaram
(Shure, 2006). melhor desempenho pró-social e menor
O programa original, elaborado suscetibilidade a situações estressantes.
para ser utilizado por professores em Assim, o programa contribuiu
sala de aula, está descrito em um efetivamente para melhorar os
manual ilustrado, disponível em relacionamentos entre as crianças.
português (Shure, 2006). Borges e As pesquisas de Borges e
Marturano (2002) aplicaram o EPRP em Marturano (2002; 2009) conferem aos

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programas avaliados alguma validade (Borges & Marturano, 2009). Desse


interna e externa. Interna, já que modo, o programa de intervenção
realizaram comparação de grupos em focalizado neste estudo foi composto
avaliações pré e pós-intervenção, ainda pelo currículo EPRP, acrescido de um
que com grupos não randomizados; e módulo de iniciação aos valores
externa, porque a intervenção foi humanos (Borges & Marturano, 2009),
conduzida pelo próprio professor na trabalhado por meio de histórias infantis
sala de aula. e desenhos animados educativos.
Rodrigues, Dias e Freitas (2010) Devido à carência de estudos na
aplicaram o EPRP em uma escola área de psicologia que tenham por
pública de Minas Gerais, que havia objetivo fornecer ferramentas para uso
solicitado ajuda para duas turmas de 1º dos profissionais que atuam em núcleos
ano que apresentavam problemas de de convivência social com crianças,
comportamento e conflitos bem como a falta de pesquisas
interpessoais. Participaram 30 crianças. desenvolvidas nesse contexto, é
O programa foi ministrado durante um importante identificar condições que
semestre, fazendo parte do currículo possam contribuir para a eficácia do
escolar. Os encontros foram semanais trabalho do psicólogo com essa
com a duração de uma hora, perfazendo população. Esforços nessa direção
15 semanas. Foram feitas quatro devem preencher a lacuna na formação
reuniões de orientação aos pais das dos psicólogos e possibilitar que
crianças. Os resultados indicaram profissionais que atuam nesse contexto
aumento de algumas habilidades, como disponham de recursos para atender à
empatia, assertividade, expressão de demanda.
sentimento positivo, civilidade e O objetivo do estudo foi
responsabilidade. verificar efeitos do programa, no
Apesar de ter sido elaborado sentido de aumentar o repertório de
para uso no ambiente escolar, o EPRP habilidades sociais e reduzir os
se mostrou adequado para aplicação em problemas de comportamento em
contexto clínico, mediante adaptações crianças que frequentam um núcleo de
descritas por Motta (2003). Aplicado a convivência
crianças com queixa escolar associada a
problemas de comportamento em nível Método
clínico, o EPRP obteve maior redução
dos problemas de comportamento, em Contexto da pesquisa
comparação a uma intervenção com
foco nas dificuldades acadêmicas. Esse A pesquisa foi realizada em um
resultado se manteve seis meses após o núcleo de convivência e fortalecimento
término da intervenção, no único estudo de vínculos, em uma cidade de
brasileiro de seguimento com o EPRP aproximadamente 650.000 habitantes no
(Elias & Marturano, 2014). estado de São Paulo. O núcleo é
No presente estudo, tendo em mantido por OnG, em área com
vista os resultados sobre o uso do EPRP indicadores de pobreza urbana. As
em escolas brasileiras, optou-se por uma circunstâncias só permitiam um trabalho
intervenção que associasse o ensino de dentro de uma das oficinas oferecidas
HSPI com a reflexão sobre valores pela OnG, coordenada pelo primeiro
humanos, já que essa combinação autor. Foi feita então uma intervenção
parece ter sido mais efetiva que o uso direta com as crianças, alternativa que
isolado do EPRP em contexto escolar seria viável nas condições de trabalho

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que se apresentavam. Além das crianças, participou


como informante uma das monitoras.
Delineamento Ela concluiu curso superior, trabalhava
há cerca de um ano na instituição,
O estudo tem um desenho quase coordenava a oficina de música e
experimental, com grupos não passava aproximadamente seis horas
randomizados e avaliações pré e pós- semanais com as crianças.
intervenção. Desenvolveu-se em quatro
etapas: a) avaliação pré-intervenção no Instrumento
Grupo de Intervenção – GI e,
simultaneamente, avaliação pré-espera Foi utilizado o Social Skills
no Grupo de Comparação – GC; b) Rating System (SSRS-BR), versão
aplicação do programa no GI; c) brasileira (Bandeira, Del Prette, Del
avaliação pós- intervenção no GI e pré- Prette & Magalhães, 2009). É um
intervenção no GC; d) avaliação de sistema de avaliação de habilidades
seguimento no GI e pós-intervenção no sociais que inclui ainda medidas de
GC. Esse delineamento foi adotado para comportamentos problemáticos e de
assegurar algum grau de validade competência acadêmica de crianças do
interna ao estudo, no sentido de que as ensino fundamental. O SSRS inclui três
mudanças observadas nas variáveis de questionários de avaliação, destinados à
interesse pudessem ser atribuídas antes criança, aos pais e ao professor. Nesta
à intervenção que a outras variáveis, pesquisa foram utilizadas as versões
como o aprendizado de respostas para a criança e para o professor.
socialmente desejáveis pela repetição A versãodo aluno é composta
das avaliações no GI. somente pela Escala de Habilidades
Sociais, com 34 itens avaliados em
Participantes termos de frequência e distribuídos em
seis fatores: Responsabilidade (sete
Participaram 22 crianças com itens); Empatia (quatro itens);
idades entre seis e nove anos, em dois Assertividade (sete itens); Autocontrole
grupos: Grupo de Intervenção (GI), (quatro itens); Evitação de Problemas
constituído pela totalidade de educandos (seis itens); Expressão de Sentimento
de uma turma, em número de 12; Grupo Positivo (quatro itens). As alternativas
de Comparação (GC), composto por 10 de respostas estão dispostas em uma
educandos de outra turma. Essas turmas escala tipo Likert, que varia de 0 a 2 (0=
incluem as crianças com menor idade nunca, 1= algumas vezes e 2= muito
que frequentam a instituição no período frequente). A escala apresentou índices
da manhã. O grupo de intervenção foi satisfatórios de consistência interna
constituído por seis meninas e seis (alfa de Cronbach = 0,78) e estabilidade
meninos, com idades entre seis e oito temporal (r = 0,78; Bandeira et al.,
anos (M=7, DP=0,73). O grupo de 2009).
comparação era formado por quatro A versão do professor é
meninas e seis meninos, com idades composta por três escalas: uma que
entre sete e nove anos (M=8,4 avalia as HS, outra que avalia os
DP=0,69). A comparação dos grupos comportamentos problemáticos e uma
por meio do teste U, de Mann-Whitney, terceira escala, não utilizada neste
indicou que eles não eram equivalentes estudo, que avalia a competência
quanto à idade (Z = 3,33, p = 0,001) e acadêmica dos alunos. A Escala de
série cursada (Z = 3,29, p = 0,001). Habilidades Sociais contém 30 itens.

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Essa escala compreende cinco fatores: piloto serviu para treinamento do


Responsabilidade/Cooperação (15 aplicador e para ajustes no esquema de
itens), Asserção Positiva (nove itens), administração das atividades.
Autocontrole (nove itens), Autodefesa Antes da intervenção com GI, as
(três itens), Cooperação com Pares crianças de GI e GC foram avaliadas.
(quatro itens). A escala de Habilidades GI recebeu a intervenção durante os
Sociais apresentou índices satisfatórios meses de outubro e novembro de 2012.
de consistência interna (α = 0,94) e Após a intervenção com GI, os dois
estabilidade temporal (r = 0,71; grupos foram reavaliados. Entre
Bandeira et al., 2009). dezembro de 2012 e fevereiro de 2013,
A Escala de Problemas de GC recebeu a intervenção, com uma
Comportamento é composta por 18 interrupção de duas semanas devido ao
itens que avaliam a frequência de recesso das festas de fim de ano. Em
problemas de comportamento em dois fevereiro, os dois grupos foram
fatores: problemas externalizantes (13 avaliados novamente. Nesse momento,
itens) e problemas internalizantes (seis se deu a avaliação pós-intervenção de
itens). Os itens têm alternativas de GC e o seguimento de GI, três meses
resposta em uma escala que varia de 0 a após a conclusão da intervenção nesse
2 (0= nunca, 1= algumas vezes e 2= grupo.
muito frequente). Seus índices de Os dois grupos, GI e GC, foram
confiabilidade foram satisfatórios, com avaliados por meio do SSRS-BR. As
α = 0,91 para consistência interna e r = crianças e a monitora responderam às
80 para estabilidade (Bandeira et al., versões do instrumento, destinadas,
2009). respectivamente, à autoavaliação e à
avaliação pelos professores. As
Aspectos éticos autoavaliações foram realizadas
individualmente pelas crianças, com a
Foi solicitada autorização na assistência do primeiro autor, em sala
instituição onde seria realizada a reservada do núcleo. A criança recebia
pesquisa. O projeto foi aprovado pelo orientações sobre o instrumento e em
Comitê de Ética em Pesquisa da seguida o pesquisador realizava a leitura
Faculdade de Filosofia, Ciências e dos itens um a um, solicitando a
Letras de Ribeirão Preto – USP resposta. A monitora, por ocasião das
(processo nº 97.672 CAEE nº suas avaliações, recebia uma pasta com
01608812.1.0000.5407). Os pais ou foto de cada criança para que pudesse
responsáveis assinaram o Termo de observar o rosto de cada participante
Consentimento Livre e Esclarecido. As enquanto respondia ao instrumento,
crianças deram seu consentimento visando a sua melhor identificação.
verbal. No momento da intervenção, o
primeiro autor, que aplicou o programa,
Procedimentos de Coleta de Dados e trabalhava na OnG havia um ano e
Intervenção meio, como coordenador da Oficina de
Convivência e Fortalecimento de
No ano que precedeu a coleta de Vínculos. Nessa função, mantinha
dados para esta pesquisa, o primeiro contato cotidiano com as crianças
autor conduziu um estudo piloto, participantes do estudo. O programa de
aplicando o programa em duas turmas intervenção foi administrado em 20
na mesma faixa etária das turmas sessões de duas horas, em média duas
pesquisadas, no período da tarde. O vezes por semana, durante as atividades

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da Oficina de Convivência e O módulo de Iniciação aos


Fortalecimento de Vínculos. Desse Valores Humanos era composto por seis
modo, assegurou-se a validade externa temáticas e foi aplicado em seis sessões,
do estudo, em termos de implementação com apoio em vinhetas de animações e
da intervenção em contexto de vida real, narrativa dialogada de contos infantis.
no cotidiano dos participantes (Schutz, Os temas foram escolhidos a partir de
Rivers & Ratusnik, 2008). observações prévias das crianças nas
A intervenção foi composta por oficinas de fortalecimento de vínculos.
dois módulos, o currículo EPRP (Shure, Em cada sessão, a apresentação do tema
2006) e um módulo de iniciação aos era entremeada com pausas para
valores humanos. O currículo EPRP foi questionamento aos participantes sobre
aplicado em 14 sessões, agrupadas em o que os personagens poderiam estar
dois conjuntos. No primeiro, as crianças pensando ou sentindo em determinados
aprendiam habilidades sociais de momentos; ao fim da história, as
reconhecimento de pistas sociais, crianças eram instigadas a pensar em
reconhecimento das emoções em si e fins alternativos.
nos outros, autorregulação emocional e No primeiro encontro sobre
empatia. No segundo, trabalhavam valores humanos, foi trabalhado o tema
especificamente as habilidades de respeito às diferenças, com a leitura do
solução de problemas interpessoais, tais livro “Biscoito, o amigo dos ratos” de
como pensar em mais de uma solução, Becky Bloom. No segundo, o tema foi a
considerar as consequências e decidir cooperação, introduzido com o desenho
que solução tomar. Em cada encontro animado “Festa na Caverna” (DVD “Os
eram realizadas cerca de sete lições do Backyardigans – Festa na Caverna”).
currículo. No terceiro encontro foram realizadas
Os temas são apresentados em atividades com o tema honestidade e as
um manual com 83 lições interativas, crianças participaram da contação de
baseadas em atividades lúdicas como história do livro “Não fui Eu!”, de Brian
desempenho de papéis, dramatizações e Moses e Mike Gordon. No quarto
desenhos. Cada lição tem objetivo encontro, o tema tratado foi o respeito;
definido, lista de materiais e guia de as crianças assistiram ao vídeo “A
aplicação. O currículo subdivide-se em Princesa do Egito (DVD “Os
duas partes, por meio de passos Backyardigans – Os fantasminhas”). No
graduados em níveis crescentes de quinto encontro, foi abordado o tema
complexidade. Na primeira parte, sinceridade, com o filme “Pinóquio”, da
apresenta-se um vocabulário básico de Disney, e no sexto e último encontro o
resolução de problemas e se exercitam tema foi a solidariedade, com o vídeo
habilidades sociais como o “A grande corrida” (DVD “Os
reconhecimento de pistas sociais, o Backyardigans – Festa na Caverna”).
reconhecimento das emoções em si e Durante a condução do
nos outros, a autorregulação emocional programa, foi possível perceber, em
e a empatia. A criança aprende a ambos os grupos, um intenso interesse
sequenciar ações e situá-las em por parte das crianças, revelado na sua
momentos apropriados. A segunda parte disposição para participar das
focaliza habilidades de solução de atividades, rodas de conversa e
problemas interpessoais, como pensar diálogos. A adesão ao programa foi
em mais de uma solução, considerar as satisfatória, pois, com exceção de três
consequências, decidir que solução crianças do GC, as demais
tomar (Shure, 2006). compareceram a pelo menos 85% das

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sessões. apresentadas nas Tabelas 1 e 2. Os


Nas duas fases de intervenção, resultados das comparações dentro de
com GI e com GC, o grupo que recebia cada grupo, por meio do teste de
as intervenções permanecia com o Wilcoxon, são descritos no texto. Para
pesquisador duas horas semanais. No GI (Tabela 1), não houve diferença
mesmo período, o grupo que não estatisticamente significativa entre a
recebia a intervenção passava uma hora pré-intervenção e a pós-intervenção,
por semana com o pesquisador, exceto um aumento dos problemas
realizando outras atividades lúdicas, internalizantes (Z = 2,532, p = 0,011).
como desenho e pintura, dentro da sala, Na comparação entre os resultados de
ou brincadeiras coletivas no pós-intervenção e seguimento, foi
playground. notado um aumento significativo em
responsabilidade/cooperação (Z =
Análise dos dados 2,089, p = 0,037) e cooperação com
pares (Z = 2,503, p = 0,012), bem como
A investigação da efetividade do no total de HS (Z = 2,042, p = 0,041).
programa foi realizada por meio de Nos três momentos da avaliação,
comparações entre diferentes etapas da as médias de problemas de
avaliação dentro de cada grupo, bem comportamento de GI estão acima dos
como comparações entre grupos em valores de referência do SSRS-BR,
cada etapa. Para verificar variações indicados na segunda coluna da Tabela
entre etapas no GI, foram feitas as 1. As médias dos problemas
seguintes comparações: pré-intervenção externalizantes são cerca de três vezes
× pós-intervenção, pós-intervenção × maiores que o respectivo valor de
seguimento, pré-intervenção × referência
seguimento. No GC, foram comparadas Na perspectiva da monitora,
as avaliações pré-espera × pré- ocorreram melhoras estatisticamente
intervenção, pré-intervenção × pós- significativas em GC (Tabela 2), entre a
intervenção, pré-espera × pós- pré-intervenção e a pós-intervenção, em
intervenção. As comparações entre GI e responsabilidade/cooperação (Z =
GC incidiram sobre cada momento da 2,201, p = 0,028) e cooperação com os
avaliação, ou seja, outubro de 2012, pares (Z = 2,410, p = 0,016), bem como
dezembro de 2012 e fevereiro de 2013. no total de HS (Z = 2,032, p = 0,042).
Dado o pequeno número de Analogamente ao que se observa em GI,
participantes, utilizaram-se testes não a média de problemas internalizantes
paramétricos. O teste de Wilcoxon foi avaliados pela monitora em GC tende a
aplicado para comparação entre etapas aumentar, porém não em nível
de avaliação em cada grupo, significativo. Também nesse grupo as
consideradas duas a duas. O teste U de médias de problemas de comportamento
Mann-Whitney foi empregado para estão acima dos valores de referência da
comparações entre GI e GC nos três amostra de padronização do SSRS-BR,
momentos de avaliação. Para análise notadamente para problemas
dos dados, foi utilizado o software externalizantes.
SPSS for Windows, versão 21. Nas comparações entre GI e GC,
feitas com o teste U em cada momento
Resultados da avaliação, não foram encontradas
diferenças na percepção da monitora.
As estatísticas descritivas Por economia de espaço, os resultados
referentes à avaliação da monitora são não são apresentados no texto.

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


350
Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

Tabela 1 – Escores médios do Grupo de Intervenção em habilidades sociais e problemas


de comportamento, avaliados pela monitora
Variável Valores Pré- Pós- Seguimento
de Intervenção Intervenção M(DP)
Referênci M(DP) M(DP)
a
Responsabilidade 23,63 19,50 (6,26) 17,08 (6,93) 22,67 (7,87)
Asserção positiva 13,41 13,50 (3,205 11,00 (4,57) 13,92 (2,97)
Autocontrole 15,22 9,58 (6,21) 7,58 (5,68) 10,42 (6,37)
Autodefesa 4,09 3,92 (1,564 3,33 (1,30) 4,08 (1,44)
Cooperação com pares 5,41 5,33 (1,87) 4,33 (1,83) 6,33 (1,92)
Total habilidades 51,8 (16,77) 43,33 (17,78) 53,33 (23,0)
sociais
Problemas 4,05 12,00 (7,94) 14,25 (7,53) 11,42 (9,21)
externalizantes
Problemas 1,44 2,83 (1,64) 4,67 (3,14) 4,50 (2,61)
internalizantes
Total probl. 14,83 (7,61) 18,92 (8,23) 15,92 (8,32)
comportamento
Nota: Teste de Wilcoxon para amostras pareadas. N= 12.

As estatísticas descritivas Em GC, cujos resultados


referentes às autoavaliações das aparecem na Tabela 4, as crianças se
crianças são apresentadas nas Tabelas 3 avaliaram com pontuação
e 4. Os resultados das comparações significativamente melhor em
entre etapas, dentro de cada grupo, são assertividade depois da intervenção (Z =
descritos no texto. Para as crianças de 2,200, p = 0,028). Elas também
GI (Tabela 3) não se observaram tenderam a se perceber com maior
diferenças estatisticamente evitação de problemas na avaliação pós-
significativas, embora as médias de intervenção (Z = 1,735 p = 0,083). Entre
quatro entre as seis classes de HS a avaliação pré-espera e a avaliação
tenham apresentado aumento nominal pós-intervenção, aumentaram
entre pré-intervenção e pós-intervenção, significativamente as pontuações em
assim como o total de HS. Na autocontrole (Z = 2,070, p = 0,038) e
comparação entre a pós-intervenção e o evitação de problemas (Z = 2,038, p =
seguimento houve aumento 0,042).
estatisticamente significativo de Em ambos os grupos, observa-se
evitação de problemas (Z = 2,729, p = diferença estatisticamente significativa
0,006). Entre a pré-intervenção e o nas médias do escore total de HS, entre
seguimento, as crianças melhoraram e primeira e a última avaliação (GI, Z =
significativamente sua autoavaliação de 2,121, p = 0,034; GC, Z = 2,253, p =
assertividade (Z = 2,409, p = 0,016), 0,024). Essa diferença reflete aumento
autocontrole (Z = 2,094, p = 0,036) e gradual entre autoavaliações
evitação de problemas (Z = 2,720, p = consecutivas.
0,007). Nas comparações entre grupos,

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


351
Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

feitas com o teste U, foram encontradas médias maiores em GC para empatia (U


algumas diferenças estatisticamente = 24,500, p = 0,031) e expressão de
significativas, favorecendo GC. Já na sentimento positivo (U = 19,000, p =
primeira avaliação, os participantes de 0,012).
GC se avaliaram com maior Em conjunto, os resultados
autocontrole (U = 27,000 , p = 0,051). indicam baixa eficácia da intervenção.
Na avaliação após intervenção em GI e Em contrapartida, foi possível observar
após espera em GC, este obteve melhora nas habilidades sociais das
melhores resultados em empatia (U = crianças no decorrer do tempo, com
19,500, p = 0,013). Por fim, na melhores resultados no grupo de
avaliação de seguimento de GI e pós- comparação.
intervenção em GC, foram encontradas

Tabela 2 – Escores médios do Grupo de Comparação em habilidades sociais e


problemas de comportamento, avaliados pela monitora
Variável Valores Pré-Espera Pré- Pós-
de M(DP) Intervenção intervenção
Referênci M(DP) M(DP)
a
Responsabilidade 23,63 15,00 (4,52) 16,43 (8,87) 20,29 (8,48)
Asserção positiva 13,41 13,00 (2,10) 10,71 (4,31) 12,71 (4,39)
Autocontrole 15,22 4,67 (3,61) 6,57 (7,28) 8,14 (5,93)
Autodefesa 4,09 3,33 (1,37) 2,86 (2,27) 4,00 (2,00)
Cooperação com pares 5,41 3,67 (1,63) 3,43 (2,44) 5,29 (1,98)
Total habilidades 39,67 41,5 (26,61) 53,33 (23,0)
sociais (12,94)
Problemas 4,05 14,83 (5,38) 14,57 (9,95) 14,14 (8,69)
externalizantes
Problemas 1,44 1,83 (1,83) 3,57 (1,83) 2,86 (1,21)
internalizantes
Total probl. 16,67 (5,12) 17,17 (12,04) 15,67 (9,18)
comportamento
Nota: Teste de Wilcoxon para amostras pareadas. N= 9.

Tabela 3 – Escores médios do Grupo de Intervenção em habilidades sociais


autoavaliadas pelas crianças
Valores Pré- Pós- Seguimen
Variável de Intervenção Intervenção to
Referênci M(DP) M(DP) M(DP)
a
Responsabilidade 13,81 10,83 (3,30) 10,25 (3,33) 9,67 (2,01)
Empatia 6,09 5,00 (2,45) 4,83 (1,85) 5,58 (1,38)
Assertividade 10,94 8,17 (3,27) 9,33 (1,43) 10,25
(2,34)

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


352
Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

Autocontrole 8,09 4,17 (1,95) 5,17 (1,59) 5,92 (2,54)


Evitação de Problemas 7,20 6,17 (2,79) 6,50 (2,35) 9,17 (1,64)
Expressão de Sentimento 7,09 5,25 (2,22) 6,00 (1,65) 5,83 (1,11)
Positivo
Total habilidades sociais 39,58 (12,68) 42,08 (6,24) 46,42
(7,64)
Nota: Teste de Wilcoxon para amostras pareadas. N= 12.

Tabela 4 – Escores médios do Grupo de Comparação em Habilidades Sociais


autoavaliadas pelas crianças.
Variável Valores Pré- Pré- Pós-
de Espera Intervenção intervenção
Referênci M(DP) M(DP) M(DP)
a
Responsabilidade 13,81 11,33 11 (3,24) 11,44 (1,88)
(2,06)
Empatia 6,09 6,11 (1,69) 7,33 (2,29) 6,89 (0,78)
Assertividade 10,94 9,67 (2,55) 9 (2,55) 11,22 (1,09)
Autocontrole 8,09 5,56 (1,33) 6,33 (1,96) 6,78 (1,86)
Evitação de Problemas 7,20 6,78 (1,86) 7,67 (1,87) 9,22 (2,11)
Expressão de Sentimento 7,09 6,67 (1,58) 7,22 (2,33) 7,22 (0,97)
Positivo
Total habilidades sociais 41,5 43,7 (16,32) 47,5 (17,04)
(15,78)
Nota: Teste de Wilcoxon para amostras pareadas. N= 9.

Discussão região de moradia (Mrazek & Haggerty,


1994). As médias de problemas
A pesquisa teve como objeto de externalizantes na amostra do estudo
investigação um programa composto foram sensivelmente superiores ao
pelo currículo EPRP (Shure, 2006), que esperado com base no valor de
desenvolve habilidades de solução de referência do SSRS-BR. Ainda que falte
problemas interpessoais, associado a um uma comprovação estatística, a
módulo de iniciação aos valores constatação de médias até três vezes
humanos (Borges & Marturano, 2009), maiores que o esperado reitera a
utilizando histórias infantis e desenhos condição de vulnerabilidade da clientela
animados educativos. Seu objetivo foi atendida no núcleo, já que a presença de
verificar o potencial do programa para problemas de comportamento na
aumentar habilidades sociais e reduzir infância é fator de risco para
problemas de comportamento em dificuldades adaptativas ao longo do
crianças que frequentam um núcleo de desenvolvimento (Patterson et al.,
convivência, situado em área com 2002).
indicadores de pobreza urbana. A propósito dos principais
Confirmou-se a situação de risco resultados da pesquisa, ou seja, aqueles
para problemas de comportamento, que apontam para ausência de
associada à desvantagem econômica da mudanças significativas nas HS e nos

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


353
Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

problemas de comportamento das encontraram efeitos benéficos de


crianças, depois da intervenção, é intervenções com dimensionamento
preciso reconhecer inicialmente a menor temporal semelhante ao empregado na
probabilidade de sucesso de estratégias presente investigação (Dias, 2012; Elias
focadas exclusivamente na criança, & Marturano, 2014). No entanto, não há
quando comparadas a intervenções como comparar os diversos estudos
sistêmicas. O trabalho de Costa e apenas em termos de carga horária da
colaboradores (Costa, 2010; Costa, intervenção, visto que eles diferem em
Williams & Cia, 2012), único localizado outras condições relevantes para uma
na literatura nacional em instituição análise dos resultados, por exemplo,
congênere, é um exemplo significativo estratégias de administração dos
da vantagem de um trabalho sistêmico, programas, faixa etária dos
de alcance institucional, dando conta, participantes, grau de severidade dos
entre outros, dos aspectos problemas de comportamento e
organizacionais que condicionam a contexto de aplicação.
atuação dos profissionais e as opções de Desse modo, não se pode
participação das crianças. descartar a possibilidade de que a
No presente estudo, a intervenção avaliada na presente
possibilidade de se testar uma estratégia pesquisa tenha sido insuficiente, no que
estava circunscrita ao uso do tempo em se refere ao tempo, tendo em vista as
uma das oficinas oferecidas na características da clientela alvo. Pode
instituição, portanto, com foco apenas ser que, em virtude de apresentarem
nas crianças. A seleção da estratégia foi níveis elevados de comportamento
apoiada nos resultados de alguns externalizante, as crianças do núcleo
estudos que indicavam efeitos positivos, necessitassem de maior exposição a
no comportamento das crianças, de atividades promotoras de
intervenções voltadas para a promoção comportamentos prossociais para
de HSPI em contexto escolar (Borges & apresentarem mudanças. Essa
Marturano, 2002, 2009; Rodrigues, Dias possibilidade pode ser verificada
& Freitas, 2010). Cabe então buscar empiricamente.
explicações para o aparente insucesso Um segundo conjunto de
da iniciativa descrita nesta investigação. condições que pode afetar os resultados
Provavelmente, a ausência de detecção de uma intervenção se refere à
de efeitos decorreu de uma somatória de fidelidade da implementação e ao treino
fatores. do aplicador, aspectos intimamente
Pode-se pensar em condições de relacionados. Quanto à implementação,
implementação do programa, tais como a exposição das crianças ao programa
dimensionamento e distribuição da pode ser considerada satisfatória, visto
carga horária, fidelidade de que 19 dos 22 participantes
implementação e treinamento do compareceram a pelo menos 85% das
aplicador. Também a oportunidade de sessões de intervenção. Além dos dados
generalização das habilidades e de exposição, seria importante dispor de
conceitos aprendidos para situações de informações sobre a correspondência
vida real é um fator a ser considerado. entre o que foi previsto e o que foi de
Quanto à carga horária, o fato implementado em cada sessão, em
programa foi administrado em 20 termos de detalhamento das atividades
sessões de duas horas, em média duas desenvolvidas. Como constatado por
vezes por semana, ou seja, teve carga Borges e Marturano (2002), uma
horária total de 40 horas. Outros autores avaliação da fidelidade da

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


354
Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

implementação pode revelar um crianças nos intervalos entre as sessões


processo de aprendizagem do aplicador do programa não é usual nas propostas
durante a administração do programa, de intervenção encontradas na literatura,
apesar do treino prévio, o que sugeriria mas no caso do EPRP é um ingrediente
uma capacitação ainda incompleta. importante para a generalização dos
Infelizmente, não há registro para conceitos por parte das crianças, já que
permitir tal análise, e isso constitui uma permite ao adulto aplicar o “Diálogo
limitação do presente estudo. EPRP” às situações cotidianas
O terceiro conjunto de condições envolvendo conflitos entre os alunos
a serem consideradas, relacionadas à (Borges & Marturano, 2010; Shure,
intervenção em si, com possibilidade de 2006).
afetar os resultados de uma intervenção, Ainda com relação à
refere-se à oportunidade de oportunidade de generalizar o que foi
generalização das habilidades e aprendido no programa, uma
conceitos aprendidos para situações de dificuldade encontrada durante as
vida real. Para examinar essa questão, é sessões foi o relato, comum nas falas
importante considerar as características das crianças, sobre a dificuldade de
da intervenção sob análise. Trata-se de aplicar em suas famílias os
um conjunto de dois módulos, ambos conhecimentos obtidos nas sessões,
com apoio na reflexão sobre situações afirmando que não eram ouvidas e não
interpessoais. Ou seja, o programa conseguiam resolver os conflitos de
promove habilidades que facilitam a maneira adequada. As crianças diziam
compreensão empática, a reflexão que até mesmo na instituição alguns
promotora de autocontrole, o adultos não davam espaço para elas
entendimento de situações sociais e a argumentarem ou buscarem uma
escolha do comportamento apropriado a solução para os problemas interpessoais
cada situação, mas ele não treina que aconteciam nas atividades e espaços
diretamente as HS (ver, por exemplo, coletivos. Fatos como esse reforçam a
Lopes et al., 2013). Desse modo, a necessidade de intervenções sistêmicas
oportunidade para o grupo pensar em que envolvam todos os integrantes da
soluções alternativas para situações instituição (Costa, 2010; Costa,
sociais problemáticas de vida real pode Williams & Cia, 2012).
ser crítica para o sucesso da Sintetizando a discussão
intervenção, visto que, quanto mais referente aos motivos pelos quais a
situações o grupo analisar, maiores as intervenção não mostrou efeito benéfico
chances de cada criança ampliar o seu sobre as HS e os problemas de
leque individual de soluções comportamento dos participantes, deve-
(comportamentos socialmente se reconhecer a impossibilidade de
habilidosos, pró-sociais) compatíveis encontrar respostas definitivas a essa
com cada situação. questão. É possível que cada um dos
Neste estudo, o psicólogo fatores citados tenha interferido nos
passava apenas duas horas semanais resultados, além de outros, não citados
com as crianças na fase de intervenção, nesta discussão.
diferentemente de outros, em que o Pode-se questionar, por
aplicador era o professor de ensino exemplo, se o instrumento escolhido foi
fundamental, que passava cerca de 30 sensível para avaliar os comportamentos
horas por semana com os participantes que foram alvos da intervenção. De
(Borges & Marturano, 2002, 2009). A fato, o principal alvo do programa, as
convivência entre o aplicador e as HSPI, não foi objeto de avaliação. Em

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


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Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

contrapartida, é preciso reconhecer a pós-intervenção no GC. A cooperação


compatibilidade entre as HS avaliadas foi um dos temas trabalhados no
pelo SSRS-BR e aquelas facilitadas pela módulo de iniciação a valores humanos,
intervenção, no que se refere à onde foram realizadas atividades com
responsabilidade/cooperação, empatia, histórias infantis (desenhos animados e
autocontrole e cooperação com pares. livros). Essas histórias podem ter
Na mesma direção, Elias et al. (2012) contribuído para maior compreensão da
reportam sensibilidade do SSRS-BR perspectiva do outro, como afirmado
para detectar efeitos do EPRP em anteriormente por Kalyva e Agaliotis
contexto escolar (Elias et al., 2012). No (2009).
entanto, é preciso considerar, em O aumento das HS na
contrapartida, o envolvimento do autoavaliação dos alunos pode ser
avaliador na intervenção. No estudo creditado, em parte, à percepção de
citado por Elias e colaboradores, as melhora no autocontrole, observada em
próprias professoras avaliaram as HS e ambos os grupos entre o início e o
aplicaram o programa, o que pode ter término da coleta de dados. Na
induzido um viés positivo nas suas instituição onde o estudo foi conduzido,
avaliações, o que não ocorreu no são perceptíveis as dificuldades de
presente estudo, em que a monitora não crianças e jovens para prestar atenção
participou da intervenção. Desse modo, nas atividades devido ao seu baixo
não há elementos para uma resposta autocontrole, sendo comum monitores
conclusiva à questão da sensibilidade do recorrerem aos profissionais da equipe
instrumento para avaliar os técnica solicitando apoio para lidar com
comportamentos que foram alvo da essa situação. Durante as intervenções,
intervenção. o pesquisador buscou dar a maior ênfase
O estudo relatado neste artigo possível a esse tema, procurando
foi uma tentativa de estender a sensibilizar as crianças para os
aplicabilidade de uma intervenção benefícios de melhorarem seu
escolar ao contexto de um núcleo de autocontrole. Apesar de as crianças se
convivência, com crianças em situação perceberem com maior autocontrole, tal
de risco para problemas de fato não foi notado pela monitora.
comportamento. Foi possível observar Possivelmente ela percebeu maior
que alguns dos comportamentos autocontenção das crianças e analisou
avaliados apresentaram melhora ao esse fato como um aumento dos
longo do tempo, sem relação direta com problemas internalizantes, resultado
a intervenção. significativo para o GI.
Na visão da monitora e também Diversas interpretações podem
na autoavaliação dos alunos, em ambos ser dadas aos resultados de aumento das
os grupos, houve aumento significativo HS ao longo do tempo, sem relação
no escore total das HS entre a primeira e direta com a intervenção. A
a última avaliação. Na perspectiva da possibilidade a ser considerada em
monitora, esse incremento se explicaria primeiro lugar, por sua relevância, é a
por uma elevação significativa nos de uma influência positiva da
escores de responsabilidade/cooperação participação nas atividades do núcleo.
e cooperação com os pares, em ambos Ou seja, a frequência regular ao núcleo
os grupos, entre a segunda e a terceira pode estar proporcionando às crianças
avaliação, que correspondem às oportunidades de aprimorarem suas HS
avaliações pós-intervenção e de no contato cotidiano com colegas e
seguimento no GI e às avaliações pré e adultos, por meio de mecanismos de

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


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Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

aprendizagem tais como modelação, programa para aumentar o repertório de


seguimento de instruções, prática, HS e reduzir os problemas de
feedback positivo, etc. Desse modo, ao comportamento em crianças que
propiciar o desenvolvimento de HS, a frequentam um núcleo de convivência.
instituição supre as crianças com um Devido à ausência de efeitos
importante fator de proteção contra a relacionados ao programa, foram feitas
ocorrência de dificuldades de algumas suposições sobre as condições
aprendizagem (Del Prette et al., 2012) e que poderiam ter contribuído para a
de comportamentos antissociais falta de efetividade da intervenção.
(Baraldi & Silvares, 2003; Marinho, A essas condições devem ser
2003; Fariz, Mias & Moura, 2005; Koch acrescentadas as limitações
& Gross, 2005), contribuindo, talvez, metodológicas, algumas já mencionadas
para trajetórias mais favoráveis ao na discussão, visto que podem ter
sucesso pessoal e profissional, bem afetado a sensibilidade dos
como ao exercício da cidadania (Del procedimentos para capturar eventuais
Prette et al., 2012; Gresham & Elliot, efeitos da intervenção. Cabe mencionar
1987). a não equivalência entre GI e GC, em
Uma circunstância que pode ter termos de idade e escolaridade. Essa
contribuído para melhores resultados circunstância pode ter contribuído para
em HS na última avaliação está as diferenças observadas nos níveis de
relacionada à época em que os dados HS autoavaliadas pelas crianças dos
foram colhidos. Depois de duas dois grupos, desde a primeira avaliação,
semanas de recesso no período das no sentido de autoavaliações mais
festas de fim de ano, é possível que positivas das crianças do GC, mais
tanto as crianças como os adultos velhas e com mais escolaridade. No
tenham retornado às atividades do contexto da pesquisa, não teria sido
núcleo com melhor disposição geral em possível alterar o quadro, visto que os
relação a si e aos outros; essa disposição grupos foram constituídos com base na
pode ter influenciado as avaliações com organização das turmas nos períodos
um viés positivo. Trata-se de mera matutino e vespertino.
conjectura, até porque há um problema Outra limitação importante diz
que impede a aplicação dessa hipótese respeito ao fato de que as HS foram
explicativa ao conjunto dos resultados: avaliadas somente pela monitora e pelas
seria preciso explicar por que apenas a próprias crianças. O estudo teria sido
avaliação de HS foi sensível a uma enriquecido com o julgamento dos
possível disposição mais otimista da familiares, outros monitores e os pares,
monitora na volta do recesso, já que a mediante o uso de instrumentos
avaliação dos problemas de apropriados, ou mesmo por observação
comportamento não mudou nesse direta das crianças durante as atividades
momento. Desse modo, a segunda na instituição.
explicação não exclui a primeira, que Um fator que pode ter impactado
atribui as melhoras observadas a um diretamente os resultados foi a
efeito positivo da permanência das impossibilidade de realizar uma
crianças na instituição. intervenção sistêmica na instituição.
Provavelmente, uma capacitação e
Considerações finais assessoramento das pessoas que
acompanham as crianças teriam
O presente estudo foi conduzido facilitado a ocorrência de momentos em
a fim de avaliar a efetividade de um que as crianças pudessem utilizar os

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015


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Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

conteúdos apreendidos nas sessões, condições de vida real de uma


generalizando seu conhecimento; instituição; e, por outro lado, no intenso
também propiciaria que os educadores interesse que as atividades despertaram
tivessem uma postura e linguagem nas crianças, um dado não trabalhado na
equivalentes. O treinamento dos pesquisa, mas altamente significativo.
monitores e o acompanhamento da Tendo em vista a forma de organização
intervenção poderiam ser desse tipo de instituição, baseada na
complementados com a organização de oferta de oficinas, não é desprezível a
cursos de capacitação a fim de suprir demonstração de que o uso do EPRP
lacunas na formação dos educadores, no associado a um módulo de iniciação aos
que tange a dificuldades para lidar com valores humanos pode constituir uma
os problemas de relacionamento das modalidade de oficina, altamente
crianças. motivadora para crianças de seis a nove
Tem-se, também, como sugestão anos e ao mesmo tempo exequível em
futura, a possibilidade de aplicar termos das rotinas, organização e
novamente o programa em um prazo limites financeiros das instituições que
maior de tempo, conjugando-o com oferecem ensino alternativo.
intervenções que visem ao Em segundo lugar, o estudo
desenvolvimento de outras habilidades possibilitou identificar que, durante o
infantis, de modo a ampliar os período em que ocorreu a intervenção,
benefícios para as crianças. as crianças avaliadas demonstraram
Por fim, é necessário levar em melhora ao longo do tempo, o que
consideração a escassez de estudos sugere a potencialidade educativa das
desse gênero no contexto de OnGs que OnGs para atender demandas
oferecem atividades no contraturno específicas da população-alvo. Essa é
escolar. É exceção, em nosso meio, a uma contribuição que vem fortalecer o
intervenção realizada por Costa (2010) segmento. Em conjunto, as duas
com monitores, com resultados principais contribuições do estudo
positivos na redução de abrem caminho para iniciativas de
comportamentos problema nas crianças. aprimoramento dos serviços prestados a
Salienta-se, assim, a importância de crianças e adolescentes em situação de
novas pesquisas com crianças em risco psicossocial, em instituições que
núcleos de convivência, pois, segundo oferecem ensino alternativo no
evidência empírica, padrões contraturno escolar, em núcleos de
comportamentais precoces tendem a se convivência.
perpetuar ao longo da meninice,
principalmente quando marcados por Referências
agressividade (Ladd & Troop-Gordon,
2003). Bandeira, M., Del Prette, Z. A. P., Del
Esta pesquisa traz pelo menos Prette, A. & Magalhães, T. (2009).
duas contribuições ao trabalho em Validação das escalas de habilidades
instituições congêneres. Em primeiro sociais, comportamentos problemáticos
lugar, ela demonstra a adequação da e competência acadêmica (SSRS-BR)
proposta ao contexto de instituições que para o ensino fundamental. Psicologia:
oferecem programas de atividades no Teoria e Pesquisa,25(2), 271-282.
contraturno escolar. Essa adequação Baraldi, D. M. & Silvares, E. F. M.
pôde ser demonstrada, por um lado, na (2003). Treino de habilidades sociais em
própria concretização da proposta, grupo com crianças agressivas,
evidenciando sua exequibilidade nas associado à orientação dos pais: Análise

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Batista, Saulo Valmor; Marturano; Edna Maria. Intervenção para promover habilidades sociais
e reduzir problemas de comportamento de crianças em núcleo social

empírica de uma proposta de Cia, F. (2012). Intervenção com


atendimento. In A. Del Prette & Z. A. P. monitores de Organização Não-
Del Prette (Eds.). Habilidades sociais, Governamental: diminuindo problemas
desenvolvimento e aprendizagem: de comportamento em crianças.
Questões conceituais, avaliação e Psicologia: Reflexão e Crítica, 25(3),
intervenção (pp. 235-258). Campinas, 411-421.
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