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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Ensino de manejo de comportamento problema para professores de alunos com


TEA: Uma replicação sistemática

Isabela Hogari Pereira de Almeida


Orientadora: Lidia Maria Marson Postalli

SÃO CARLOS -SP


2023
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RESUMO

Intervir na redução de comportamentos inadequados é de fundamental importância,


pois possibilita uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos e também das
pessoas de sua convivência em diferentes contextos. O objetivo da presente
pesquisa será avaliar a eficácia de um conjunto de procedimentos de ensino
composto por instrução escrita, videomodelação e roleplay para ensinar professores
a manejar comportamento inadequados de seus alunos com TEA. Trata-se de uma
replicação sistemática da pesquisa de Guimarães et al (2018), sobre manejo de
comportamento inadequados com pais e cuidadores. A pesquisa será conduzida em
uma escola pública do município de São Carlos, localizada no interior do estado de
São Paulo, com três professores que tenham em suas salas de aula alunos com
diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que apresentem
comportamentos inadequados. Para avaliar a eficácia do conjunto de procedimentos
de ensino, será utilizado o delineamento de linha de base múltipla entre
comportamentos inadequados. O procedimento terá as seguintes fases: Linha de
base, Intervenção, follow-up. Também será avaliada a validade social da pesquisa.
Os comportamentos inadequados alvos serão: CI-a) mando para obter item; CI-b)
mando para recusar itens presentes no ambiente; CI-c) recusa de entrega de
reforçador; CI-d) fuga de demanda. Na linha de base, serão mensurados os
comportamentos do professor no manejo de comportamentos inadequados por meio
de sessões de role-play com o confederado e em sala de aula. Na fase de
intervenção, serão utilizados instruções escritas, videomodelação e role-play com
feedback imediato. Durante as fases de linha de base e follow up, serão conduzidas
sessões de observações do comportamento do professor no manejo de
comportamentos inadequados em sala de aula. Os dados serão analisados em
termos de porcentagem corretas apresentadas pelo professor.

Palavras-chave: comportamento inadequado; manejo de comportamento; autismo,


professores, educação especial.
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1. INTRODUÇÃO
Segundo a American Psychiatric Association (APA), o Transtorno do
Espectro Autista é caracterizado como:
... prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na
interação social (Critério A) e padrões restritos e repetitivos de
comportamento, interesses ou atividades (Critério B). Esses
sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam
ou prejudicam o funcionamento diário (Critérios C e D). O
estágio em que o prejuízo funcional fica evidente irá variar de
acordo com características do indivíduo e seu ambiente (APA,
p. 53, 2014).
As características do TEA ficam evidentes no período do desenvolvimento,
entretanto algumas intervenções podem auxiliar as dificuldades encontradas (APA,
2014). O manual da APA ainda indica que as manifestações do autismo
normalmente dependem da gravidade da condição, do desenvolvimento e idade
cronológica, por isso é utilizado o termo espectro. O TEA engloba transtornos
chamados antigamente como: autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de
Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do
desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e
transtorno de Asperger (APA, 2014).
Em pessoas com autismo, pode-se ocorrer autolesão como bater a cabeça,
ou morder a si mesmo. Esses comportamentos inadequados ou desafiadores são
característicos no transtorno e podem ser presentes em todas as faixas etárias
(APA, 2014). Considerando que esses comportamentos podem gerar risco para
integridade física do próprio indivíduo como de outras pessoas, desenvolver
procedimentos de ensino para intervir com o próprio indivíduo com TEA ou com
profissionais, cuidadores, familiares entre outros são importantes.
Normalmente, os comportamentos desafiadores ou problemas, como bater,
morder, machucar o próximo e/ou si mesmo, fugir da demanda, arremessar objetos,
se jogar no chão, gritos e choros, são comportamentos operantes. Esses
comportamentos foram aprendidos ao longo da história de vida do indivíduo e,
portanto, podem ser alterados. Conforme indicado por Pear e Garry (2009), os
comportamentos desafiadores podem acontecer com muita frequência e
intensidade. A maior parte dos comportamentos problemas podem ser causados e
mantidos pela atenção por parte de terceiros, mas também por autoestimulação,
consequências ambientais, fuga-esquiva e provocado/eliciado (PEAR; GARRY,
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2009).
Para se descobrir quais são as variáveis controladoras é preciso avaliar os
efeitos dela sobre o comportamento-problema. Esse tipo de análise chamada de
Análise Funcional e definida por Pear e Garry (2000, p. 329), como:
[...] a manipulação sistemática de eventos ambientais para
testar experimentalmente o papel de tais eventos como
antecedentes ou como consequências que controlam e
mantêm comportamento-problemas específicos.

De acordo com o Censo Escolar de 2022, a taxa de matrícula de estudantes


PAEE (público alvo da educação especial) na rede regular de ensino teve um
aumento de 137% quando comparado com o Censo Escolar de 2018, resultando em
354.735 novas matrículas até 2022. Desta forma, a rede regular de ensino conta
com 1.292.466 matrículas de alunos PAEE, sendo que o público TEA ocupa o
segundo maior grupo de deficiência das matrículas realizadas, ficando depois da
Deficiência Intelectual (BRASIL, 2023).
Intervir nas situações de comportamentos desafiadores é de grande
importância e relevância. O trabalho de Souza (2007) teve como objetivo
desenvolver competências sociais e condução positiva de conflitos. O estudo foi
realizado com crianças com TEA de 6 e 7 anos, de duas turmas de 1ª série de uma
escola pública estadual da cidade de São Paulo. O resultado mostrou que a
orientação dada aos professores e a tentativa dos mesmos em manter a sala de
aula com um clima harmônico para os alunos, foram observados eventos agressivos
e disruptivos de crianças com TEA. Desta forma, a autora destaca a necessidade de
estudos focados no ensino de professores a lidar com esses comportamentos. A
autora ainda enfatiza a importância de conduzir intervenções que favoreçam o
desenvolvimento desses alunos, buscando evitar que apresentem comportamentos
desafiadores e ficarem marcados precocemente como “terrível”, “impossível”,
“incapaz”, “problemático”, “caso perdido” (SOUZA, 2007).
Considerando a demanda e a importância de proporcionar condições de
ensino para profissionais aprenderem a lidar com comportamentos desafiadores.
Borsa e Landim (2017) realizaram uma revisão de literatura com o objetivo
identificar na literatura intervenções em grupo para minimizar e prevenir
comportamentos agressivos em crianças entre 6 e 12 anos, nos anos de 2006 a
2016, nas bases de dados eletrônicas PsycINFO, PubMed e LILACS. Os artigos que
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foram selecionados tiveram como objetivo desenvolver/adaptar a efetividade de


programas de intervenção de comportamento agressivos em crianças de 6 a 12
anos. Os descritores e operadores booleanos utilizados foram: (1) “aggress*” AND
(2) “child” AND (3) “intervention” nos resumos. Após isso, foram selecionados para
leituras 22 artigos, que foram separados posteriormente em categorias de análise:
(i) Aspectos gerais do estudo; (ii) Estratégias e técnicas interventivas utilizadas e;
(iii) Avaliação de efetividade dos programas de intervenção.
A partir da revisão de literatura realizada por Borsa e Landim (2017), foi
possível observar que os resultados mostraram poucos estudos realizados sobre
intervenção para a redução e prevenção de comportamentos inadequados,
principalmente na literatura brasileira voltada para a escola/professores. O estudo
ainda apresenta que em quase todas as literaturas foi indicado muitas limitações e
dificuldades quando o tema era intervenção de comportamentos problemáticos.
Também foi observado uma dificuldade em modificar o comportamento da criança
quando não alcança a mudança em seu ambiente natural de convivência.
De acordo com Rodrigues e Almeida (2017), hoje há muitas intervenções que
estão sendo realizadas a fim de ensinar comportamentos apropriados ou para
reduzir comportamentos inadequados. Alguns exemplos desses comportamentos
são: realizar contato visual, atender a comandos vocais, gestos, vocalizações e
iniciar a comunicação. Entretanto, para que esses comportamentos sejam
ensinados ou retirados, é preciso que essas estratégias sejam baseadas em
evidência. Desta forma, uma prática que pode ser utilizada e vista como uma
ferramenta realmente efetiva é a videomodelação ou modelagem em vídeo (Video
Modeling).
A videomodelação tem sido empregada frequentemente como estratégia de
ensino com pais, cuidadores, profissionais. Conforme citado por Rodrigues e
Almeida (2020), para Bellini e Akullian (2007), Huang e Wheeler (2006), a
videomodelação apresenta grande eficácia na aquisição de conhecimento e
desenvolvimento de habilidades de pessoa com TEA, como por exemplo as
habilidades sociais, de comunicação, vocacionais, jogos, atividades físicas e de vida
diária, imitação e treinamento de equipe, ou até mesmo habilidades acadêmicas.
Rodrigues e Almeida (2020) ainda descrevem, baseado na literatura da área
(SHUKLA-MEHTA; MILLER; CALLAHAN, 2010), três tipos de videomodelação:
videomodelação com outros como modelo (VMO), podendo ser um adulto ou pares
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como modelo, que pode ser conhecido ou não pelo aprendiz. O Video Self-Modeling
(VSM), que utiliza o aprendiz como modelo, sendo assim ele visualiza a si próprio
desempenhando uma tarefa e Point-of-view Video Modeling (POVM), que utiliza
uma filmagem realizada na perspectiva da primeira pessoa, tendo o vídeo elaborado
como se a filmadora estivesse na altura do ombro e como se estivesse vendo pelos
olhos da pessoa o comportamento-alvo a ser realizado.
Considerando o uso de vídeos como estratégia de ensino, o estudo de
Guimarães et al. (2018) teve como objetivo avaliar a eficácia de treinos por meio de
videomodelação, roleplay e instrução escrita, para o manejo de comportamentos
inadequados de crianças com TEA, com pais/cuidadores. Participaram do estudo
quatro mães de crianças autistas com desempenho no manejo de comportamento
inadequado inferior a 30% na linha de base. Para mensurar o comportamento-alvo
da mãe foi utilizado um checklist de comportamentos adequados elaborado pelos
autores para manejar um comportamento inadequado.
Os comportamentos foram: C1) mando para obter item, C2) mando para
recusar itens presentes no ambiente, C3) recusa de entrega de reforçador e C4)
fuga de demanda. O estudo foi realizado em três fases: linha de base, intervenção e
follow-up (após a intervenção). Como estratégia de ensino foram utilizados quatro
vídeos, na qual atuavam dois adultos, um fazendo papel de adulto e o outro fazendo
o papel da criança, apresentavam uma demonstração de situação de determinado
comportamento inadequado que seria estudado. Os vídeos tinham duração de dois
minutos aproximadamente. Os pesquisadores tinham folhas de registro afim de
registrar se o participante emitia os comportamentos adequados para intervir no
comportamento inadequado do confederado (pessoa que atuava como criança no
roleplay).
Os resultados foram analisados observando os resultados individuais e
organizados posteriormente em sistema de duplas. Foi possível observar que na
linha de base, todas as participantes apresentaram desempenho inferior a 10% de
acertos. Nas sessões de videomodelação em C1, C2 e C3, foi observado que a
intervenção foi efetiva para todas as participantes. A primeira dupla atingiu o critério
de acertos superior a 80% após três sessões de intervenção via videomodelação. A
segunda dupla, necessitou de um nível de ajuda, alcançando o critério após cinco
sessões de intervenção. Os resultados indicaram que a estratégia de exposição a
videomodelação a fim de estabelecer um manejo correto de comportamentos
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problemas teve um efeito positivo e possibilitou a manutenção do desempenho de


comportamentos adequados nas sessões de follow-up, após a intervenção.
Diante do exposto, se faz necessário estudos com base em uma ação
formativa para professores, visto que esses apresentam grandes dificuldades com
alunos TEA que demonstram comportamentos desafiados. A presente baseia-se no
estudo de Guimarães et al. (2018) para uma replicação sistemática. Tendo como
objetivo da presente pesquisa será avaliar a eficácia de um conjunto de
procedimentos de ensino composto por instrução escrita, videomodelação e
roleplay para ensinar professores a manejar comportamento inadequados de seus
alunos com TEA em sala de aula.

MÉTODO
Participantes
Participarão do estudo três professores(as) que tenham em sua sala de aula
crianças com TEA no ano letivo em que a pesquisa está sendo realizada. Três
crianças com TEA matriculadas na rede regular de ensino. Para a pesquisa, os
critérios de inclusão para participantes professores serão: professores que tenham
em sua sala regular alunos com TEA que apresentem, pelo menos dois dos
comportamentos inadequados a saber: (a) mando para obter item, b) mando para
recusar itens presentes no ambiente, c) recusa de entrega de reforçador e d) fuga
de demanda), que tenham disponibilidade para participar da pesquisa. Os critérios
de inclusão para participantes alunos com TEA serão: frequentar a turma do
professor participante, apresentar, pelo menos, dois dos quatro comportamentos-
problema (mando para recursar itens presentes no ambiente, recusa de entrega de
reforçador, fuga de demanda), ter o consentimento dos pais ou familiares e seu
assentimento.
A idade das crianças e dos professores, não serão considerados como
critérios de exclusão, nem mesmo seus níveis acadêmicos de instrução. Os
participantes professores apenas serão excluídos caso seu desempenho seja
superior a 30% no manejo de comportamentos inadequados nas sessões de linha
de base.

Aspectos éticos
O trabalho será submetido para aprovação no Comitê de Ética da
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Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do órgão responsável pela escola


pública. Os participantes professores deverão consentir a participação assinando o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os participantes alunos deverão ter o
consentimento dos pais ou responsáveis para participação e seu assentimento.

Ambiente, material e equipamentos


A pesquisa será realizada em uma sala disponibilizada na própria instituição
onde o professor e o aluno frequentam. Será utilizado um computador para
apresentar os vídeos. A sala deverá conter uma mesa e duas cadeiras em todas as
sessões, sendo uma cadeira para o participante professor e uma para o
pesquisador/confederado. Também será utilizado dois brinquedos durante as
sessões de role-play, dentre algumas opções que serão: celular, quebra-cabeça,
carrinho, bonecas, bolha de sabão, bolas, miniaturas, etc.
Para realizar a gravação das sessões para futura avaliação do acordo entre
os observadores e da integridade do procedimento, será utilizado um celular com
câmera traseira. Além disso, será utilizada uma folha de registro para que o
pesquisador possa registrar os comportamentos dos participantes no manejo de
comportamento inadequado do confederado (adulto imitando uma criança durante o
role-play). Entretanto, apesar de serem realizadas as sessões com o confederado, o
professor também será observado na sala de aula, atuando com uma criança com
TEA. As observações dentro da sala de aula não serão gravadas. Apenas será
registrado o comportamento do professor manejando o comportamento inadequado
do aluno. Esse registro será feito pelo pesquisador em uma folha de registro
elaborada pelo pesquisador.
Para as sessões de intervenção serão utilizados os vídeos originais da
pesquisa de Guimarães et al. (2018. Os vídeos foram cedidos pelos autores para
que fossem utilizados nesta pesquisa. Desta forma, serão utilizados quatro vídeos
para a intervenção com duração de aproximadamente dois minutos para cada
vídeo. Nos mesmos, dois adultos atuam fazendo uma simulação de um
comportamento inadequado (um adulto faz o papel do cuidador e o segundo adulto
faz o papel da criança), ocorrendo com determinada função. As funções são: CI-a
(mando para obter item), CI-b (mando para recusar itens presentes no ambiente),
CI-c (recusa de entrega de reforçador), CI-d (fuga de demanda).
Nos vídeos, existe uma vinheta introdutória que informará o participante
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sobre qual comportamento inadequado será apresentado e solicitará sua atenção.


Durante a apresentação do material, não haverá som ou imagem além da fala dos
modelos nos vídeos. Além dos vídeos, também será utilizada folhas com instruções
antes das sessões de linha de base e folhas de instruções para cada condição (CI-
a, CI-b, CI-c, CI-d), afim de ajudar o participante.
Nos vídeos feitos por Guimarães et al. (2018), dois adultos interagem: um
adulto faz o papel da criança segue o roteiro de comportamento inadequado que o
confederado irá seguir durante o role-play (Tabela 1) e um adulto faz o papel do
professor no vídeo, segue os passos da Tabela 2, na qual, o professor deverá imitar
de forma correta os passos para manejar corretamente o comportamento durante o
role-play.

Tabela 1 - Script com as respostas que deveriam ser emitidas pelo confederado durante o role-play

Fonte: GUIMARÃES et al. (2018, p. 44)


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Tabela 2 - Condições, suas respectivas funções e passos para manejo de comportamentos


inadequados

Fonte: GUIMARÃES et al. (2018, p. 45)

Delineamento experimental e variáveis


Para este estudo, será utilizado o delineamento de linha de base múltipla
entre comportamentos inadequados. Desta forma, é possível definir a linha de base
múltipla como:
Numa linha de base entre comportamentos, diferentes
comportamentos de um único participante são registrados ao longo
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do tempo. Em diferentes momentos, aplica-se a mesma


manipulação a cada um dos comportamentos. (HERSEN, BARLOW,
1976 apud LOURENÇO, HAYASHI, ALMEIDA, 2009, p. 323).

Sendo assim a variável independente será a implementação do conjunto de


procedimento que ensinará os comportamentos corretos para realizar o manejo dos
comportamentos inadequados. E a variável dependente será o desempenho dos
professores no manejo de comportamento inadequado durante o role-play com o
confederado e em na sala de aula em que o professor atua que tenha um aluno com
TEA.

Procedimento
O estudo será realizado em três fases, sendo elas: linha de base,
intervenção, follow-up. Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa e do
órgão responsável pela escola pública, professores com alunos com TEA em sua
turma que apresentem problemas de comportamentos serão convidados para
participar da pesquisa, eles serão informados sobre o objetivo da pesquisa e sobre
como ocorrerá a coleta de dados. As sessões de avaliação ocorrerão em sala de
aula, a pesquisadora observará e registrará os comportamentos do professor diante
dos comportamentos-problema do aluno antes da intervenção. Será utilizado um
delineamento de múltipla sondagem entre comportamentos inadequados, desta
forma, as sessões de intervenção com cada comportamento inadequado ocorrerão
em momentos distintos. Para que isso seja possível, serão mensurados os
desempenhos do professor diante dos comportamentos inadequados antes da
intervenção. A intervenção iniciará com a primeira condição (após finalizarem as
sessões de linha de base), enquanto as outras condições continuarão em linha de
base (ou seja, sendo avaliadas). Assim que o participante atingir o critério com o
primeiro comportamento inadequado (CI), dar-se-á o início as sessões de
intervenção do segundo CI enquanto o CI-c e CI-d continuam em linha de base. Isso
se repetirá para todas os comportamentos inadequados (CI).
Além disso, é válido ressaltar que para todas as sessões de intervenção será
utilizado a estratégia de role-play. O participante poderá realizar o role-play com o
confederado três vezes por sessão. Já o confederado irá seguir um roteiro onde o
mesmo irá variar a emissão de comportamentos corretos e incorretos, a fim de que
seja possível avaliar como o participante se posiciona a vários tipos de respostas
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emitidas pelo confederado. Após o participante atingir o critério de aprovação para o


próximo CI, serão realizada uma sessão de observação em sala de aula com o
professor. Essa sessão de observação, será feita apenas uma vez na sala de aula,
após o professor ter atingido o critério de avançar para a próxima CI. Nessa etapa
será necessário que o professor faça intervenções em sala de aula com o aluno –
alvo, utilizando atividades do próprio cotidiano escolar, para que seja possível
observar o comportamento do professor diante o aluno. Destaca-se que serão
utilizadas situações do cotidiano escolar para observar o comportamento do
professor interagindo com o aluno. Por exemplo, solicitar que o aluno realize uma
lição de baixo interesse; solicitar que o aluno entregue um item de alta
preferência/interesse dele.

Fase 1: Linha de base


A fase de linha de base tem como objetivo avaliar o desempenho dos
participantes professores em manejo de comportamentos inadequados de seu aluno
com TEA. O critério para realizar a intervenção será desempenho de 30% de
acertos comportamentos-alvo de ensino, sem o treino de videomodelação. Para
essa fase, os participantes serão instruídos por meio de um material impresso sobre
quais serão os passos que devem seguir durante as sessões com o confederado.
Além disso, durante as sessões de linha de base, o professor terá a oportunidade
de demonstrar seu conhecimento em sala de aula com o aluno com TEA nas suas
atividades cotidianas. Desta forma, será feita uma observação em sala de aula com
o professor, avaliando seu desempenho em sala juntamente com as avaliações das
sessões com o confederado. Este procedimento irá ocorrer para todos os CI (CI-a,
CI-b, CI-c, CI-d). Durante as sessões não será fornecido nenhum feedback ou ajuda
ao professor participante, além do material instrucional. Além disso, ele será
instruído a realizar as sessões com os comportamentos que achar correto para o
manejo de cada comportamento inadequado. Para passar para fase de intervenção,
o desempenho do professor deverá ser abaixo de 30% de acertos diante do
comportamento inadequado.

Fase de intervenção:
Na fase de intervenção, os participantes professores serão submetidos a
sessões com treino via videomodelação para cada CI. Nessas sessões, os
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participantes irão assistir ao vídeo do CI correspondente e em seguida deverão


realizar o role-play com o confederado, a fim de emitir o comportamento correto ou
parecido ao mostrado no vídeo. Para cada sessão, o vídeo será transmitido apenas
uma vez e o participante terá a oportunidade de realizar o role-play com o
confederado três vezes após a exibição do vídeo. O confederado receberá um script
das respostas que devem ser emitidas, acertando e errando os comportamentos de
forma alternada para que seja possível observar o comportamento do professor
diante de diferentes combinações de comportamentos (Tabela 1). Este
procedimento será realizado para todos os CI (CI-a, CI-b, CI-c, CI-d). Desta forma,
para seguir para o próximo CI, será necessário que o participante atinja o
desempenho de 80% em duas sessões consecutivas ou 100% em uma sessão.
Após atingir esse critério será feita a observação em sala uma vez, para visualizar
se o professor realiza o manejo de comportamento aprendido e também demais
comportamentos. Caso o participante não atinja o critério estabelecido por três
sessões consecutivas, no início da próxima sessão será apresentado o Nível de
ajuda 1, que consta na apresentação de uma instrução escrita sobre o que o
participante deverá fazer para manejar corretamente o comportamento que está
sendo ensinado. Desta forma, após a instrução escrita, será apresentado o vídeo e
será feito três vezes o roleplay ainda na sessão onde ocorrerá o Nível de ajuda 1.
Na sessão seguinte, caso ainda o participante não tenha atingido o critério para
avançar de CI, será realizado na próxima sessão o Nível de ajuda 2, que consta na
realização dos roleplays com feedback imediato após cada tentativa de role-play. O
Nível de ajuda 2 será mantido até que o participante atinja o critério para avançar de
CI. O critério de permanência ou avanço de CI, seguem com a mesma regra,
independente do nível de ajuda.

Fase de follow-up:
Na fase de follow-up será realizada após um mês do término da intervenção
com o último comportamento inadequado de cada participante. Essa fase tem o
intuito de avaliar se os participantes conseguirão manter o desempenho após um
mês após a intervenção. Nessa fase, a pesquisadora observará o comportamento
do professor participante em sala de aula. Caso o participante não atinja o critério
de desempenho de 80% em duas sessões consecutivas ou 100% em uma sessão,
será apresentado o nível de ajuda 2, até que o mesmo atinja o critério estabelecido.
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Validade social: questionário


Após concluir as fases da pesquisa, será solicitado que o professor
participante responda um questionário que será elaborado. Esse questionário será
encaminhado para cada professor participante após o término da sessão de follow-
up. Nesse questionário, o participante terá a oportunidade de informar se gostou de
participar da pesquisa, conseguiu utilizar o manejo corretamente no dia a dia da
escola, se foi efetivo ou não para a situação em que ocorreu, poderá também relatar
como foi a situação que foi utilizado e além disso, poderá descrever se conseguiu
generalizar os manejos aprendidos para outros comportamentos inadequados.

Acordo de observadores
Após os vídeos que serão gravados durante as sessões, um segundo
observador irá assistir às sessões e realizará o registro para cada fase do estudo,
de 30% dos encontros nas três fases. Isso ocorrerá com o intuito de formalizar um
índice de concordância entre os observadores, que ocorrerá da seguinte forma:
([concordância/concordância + discordância] x 100). Outro fator, é analisar e avaliar
a integridade do procedimento, ou seja, verificar se será realizado de forma correta
para todos os participantes e sessões. Este fator, será avaliado da seguinte forma:
([nº de implementações corretas/nº total de implementações] x 100). Este acordo,
será feito para as sessões que forem gravadas.

Análise de dados
A análise de dados será realizada a partir dos registros das respostas
realizadas pelo participante para conduzir o manejo do comportamento. Serão
consideradas as respostas como corretas quando ocorrerem de forma encadeada.
Entretanto, o comportamento de bloquear o comportamento inadequado ou de não
fornecer atenção ao confederado, não precisará ocorrer de forma encadeada
quando for realizada de forma correta.
Para que o comportamento de bloquear o comportamento inadequado seja
considerado correto, ele precisará ocorrer em todas as oportunidades possíveis com
o confederado. E para o não fornecimento de atenção, será preciso que o
participante não olhe para o confederado e nem o chame pelo nome e/ou apelido,
em nenhum momento quando o confederado estiver emitindo o comportamento
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inadequado.
Para ser considerada incorreta, a resposta precisará ser divergente com as
definidas no checklist, ou haver ausência de resposta para com o confederado.

REFERÊNCIAS
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estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992 p.

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CRONOGRAMA

ATIVIDADE Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abril Maio Jun
2023 2023 2023 2023 2023 2023 2024 2024 2024 2024 2024 2024

Revisão de
literatura

Submissão ao
Comitê de Ética
da UFSCar

Submissão ao
órgão
responsável pela
escola pública

Preparação das
condições para
coleta de dados

Recrutamento
dos participantes

Coleta de dados

Análise de dados

Redação da
versão final

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