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CBI of Miami 2
Compreendendo as Habilidades Sociais
Natalie Brito Araripe

Sejam bem-vindos à disciplina de estratégias em grupo! Nessa disciplina,


veremos os seguintes tópicos:
• Habilidades sociais e o seu desenvolvimento no ensino de pessoas com atraso
de desenvolvimento no contexto educacional.
• Caracterização dos déficits de habilidades sociais em pessoas com TEA.
• Intervenções em grupo para promoção de habilidades sociais.

As principais referências para essa aula são:


Nicolino, V. F., & Malerbi, F. E. K. (2011). Promoção de interações sociais entre
colegas e criança autista em ambiente de inclusão. Acta Comportamentalia,
19(1), 107-123.

McKinnon, K., & Krempa, J. (2002). Social skills solutions: A hands-on manual
for teaching social skills to children with autism. Different Roads to Learning
Incorporated.

O segundo texto supracitado será a base para o desenvolvimento desse


texto. Você já percebeu que a base da disciplina serão as habilidades sociais
né? Mas o que são habilidades sociais? São comportamentos para os quais,
dada uma determinada situação, predizem importantes efeitos sociais. Mas
também podem ser definidas como regras e expectativas que nos permitem nos
conectarmos com alguém, sermos quem somos e compartilharmos quem
somos.
Essas regras e expectativas estão em todo lugar. Facilmente as notamos
quando alguém não as seguem e são o cerne do transtorno do espectro autista.
Observamos dificuldades de habilidades sociais em todas as pessoas com
Transtorno do Espectro Autista. Dentre as maiores dificuldades mais básicas
podem estar:

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• Poucos sorrisos.
• Imitação pobre.
• Pobre contato visual.
• Pobre atenção compartilhada.
• Pobre brincar recíproco.
• Pouco interesse em outras pessoas.
• Pouco interesse em outras crianças.

Algumas dificuldades em habilidades sociais mais complexas são:


• Dificuldade com interesses e conversar além dos interesses.
• Dificuldade em fazer e manter amizades.
• Dificuldade em entender comunicação não verbal.
• Dificuldade em entender regras sociais e convenções.
• Dificuldade em entender o sentimento do outro.
• Dificuldade de resolução de problemas.
• Dificuldade com flexibilidade.

O desenvolvimento de habilidades sociais leva ao sucesso social, que


pode ser definido como a habilidade de conseguir o que deseja por meio de
comportamentos apropriados e socialmente aceitáveis; compartilhar
pensamentos, sentimentos e conhecimentos; participar de atividades sociais
com o máximo de competência.
A Análise do Comportamento Aplicada pode colaborar com o
desenvolvimento de habilidades sociais, por meio de intervenção compreensiva
(abrangente em diversas áreas e com extensa carga horária) ou focal nas
habilidades sociais. Seja compreensiva ou focal, é importante delinear uma linha
de base das habilidades do aprendiz, realizar análise funcional do
comportamento, priorizar objetivos visando a aquisição de comportamentos
socialmente relevantes e utilizar as estratégias de ensino evidenciadas na
literatura como eficazes.

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Existem vários instrumentos de avaliação de habilidades sociais. Cabe
destaque aqui a dois:
Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2001). Inventário de Habilidades Sociais
(IHS-DelPrette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo:
Casa do Psicólogo
McKinnon, K., & Krempa, J. (2002). Social skills solutions: A hands-on manual
for teaching social skills to children with autism. Different Roads to Learning
Incorporated.
Abordaremos brevemente o checklist do segundo instrumento para
fornecermos uma visão geral da forma de avaliação nessa área. As autoras
dividem as habilidades sociais em 10 módulos: atenção compartilhada,
cumprimentos, brincadeira social, autoconhecimento, conversa, tomada de
perspectiva, pensamento crítico, linguagem avançada, amizade e habilidades de
comunidade.
Para cada área elencada são fornecidos itens que devem ser avaliados
de forma indireta e/ou direta. Para cada item, o terapeuta irá avaliar se o aprendiz
faz ou não nas seguintes situações: 1:1, grupo e ambiente natural. Por exemplo:
no modulo atenção compartilhada, um item é: “olha quando chamado”. O
terapeuta deverá avaliar se o aprendiz olha na condição 1:1, se ele olha em
grupo pequeno com outros pares e se olha quando está no recreio, na escola,
por exemplo.
Cada modulo é dividido em três níveis, ou três andaimes. Os níveis
seguem o padrão de aprendizagem hierárquica cumulativa. Dessa forma, o
terapeuta pode avaliar as habilidades relativas ao modulo 01 para os dez
módulos.
Falaremos agora sobre uma habilidade social importantíssima: base para
as outras HS: a atenção compartilhada. Para tanto, recomendamos a leitura da
referência abaixo:
Bacelar, F. T. N. S., & de Souza, C. B. A. (2014). Intervenções comportamentais
no ensino de atenção conjunta para crianças com autismo: Uma revisão de
literatura. Interação em Psicologia, 18(2).

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Começaremos com a definição de atenção compartilhada, para Schertz &
Odorm:
“É a atenção coordenada visualmente para um evento ou objeto com outro
sujeito, compartilhando engajamento e interesse social e mostrando um
interesse no qual o par está compartilhando o mesmo foco.”
A atenção compartilhada é dividida entre Resposta de Atenção
Compartilhada, ou RAC, e Iniciativa de Atenção Compartilhada (IAC). RAC é
referente à capacidade do sujeito de responder às ofertas de atenção conjunta
de outras pessoas e de seguir o foco atento dos outros. Já a iniciativa de atenção
compartilhada (IAC) se refere à capacidade do sujeito do uso do olhar, gestos
convencionais, e afetam para direcionar a atenção dos outros (Yoder & McDuffie,
2006)
A atenção compartilhada é um pré-requisito para aquisição da linguagem,
interação social, aprendizagem cultural e compartilhamento afetivo. Além disso,
é uma habilidade pivotal (habilidades que quando fortalecidas resultam em
mudanças positivas em outras áreas de funcionamento (Koegel et al., 1999).
Alguns exemplos habilidades que pressupõem atenção compartilhada: orientar-
se para parceiro social, focar em rosto, tomada de turnos, imitação, rastreio
visual entre pessoas e atividades, gestos convencionais, compartilhamento de
interesse e coordenação entre atenção e afeto.
Para o trabalho específico das habilidades de atenção compartilhada, é
necessário primeiramente avaliar as habilidades da criança nessa área. Alguns
pontos fundamentais de avaliação são: A criança se atenta para o rosto de
pessoas? Ela imita? Ela faz alternância de turno? Ela faz a coordenação do
rastreio visual entre pessoas e eventos ou objetos?
Algumas estratégias gerais de ensino envolvem o construir interações a
partir dos interesses da criança, seguindo a sua motivação em atividades,
realizando brincadeiras interacionais (sem mediação de instrumentos, apenas o
face-a-face), incorporando onomatopéias, sons e ritmos, e modelando as
iniciativas e as respostas de atenção compartilhada.
Dentre as estratégias específicas para aumentar a frequência das respostas de
RAC estão: Prover dicas frequentes para compartilhar a atenção; modelar
respostas de atenção compartilhada; seguir a motivação da criança, entrando na

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brincadeira dela; reforçar diferencialmente as pequenas respostas de atenção
compartilhada.
Já algumas estratégias específicas para facilitar a IACs, são: olhar para
as iniciativas da criança, reforçando os seus comportamentos e provendo
diálogos, narrações, sons, onomatopeias, dentro das suas iniciativas; fornecer
ajuda para que ela inicie o episódio de atenção compartilhada, usando questões,
por exemplo, como “o que você está vendo?”; fornecer ajuda para que a criança
sustente a atenção compartilhada em episódio social.
É importante recordar que essas estratégias são possibilidades de
programas de ensino que devem ser individualizados em um planejamento. Elas
não excluem os procedimentos de ensino (incidental, DTT, modelação,
modelagem, reforçamento diferencial, encadeamento....) já vistos nas disciplinas
anteriores e fundamentais para um ensino eficaz.

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Referências Bibliográficas

BACELAR, F. T. N. S., & DE SOUZA, C. B. A. Intervenções


comportamentais no ensino de atenção conjunta para crianças com
autismo: Uma revisão de literatura. Interação em Psicologia, 18(2). (2014).

KOEGEL, L. K., KOEGEL, R. L., HARROWER, J. K., & CARTER, C. M. Pivotal


response intervention I: Overview of approach. Journal of the Association for
Persons with Severe Handicaps, 24(3), 174-185. (1999).

MCKINNON, K., & KREMPA, J. Social skills solutions: A hands-on manual


for teaching social skills to children with autism. Different Roads to Learning
Incorporated. (2002).

NICOLINO, V. F., & MALERBI, F. E. K. Promoção de interações sociais


entre colegas e criança autista em ambiente de inclusão. Acta
Comportamentalia, 19(1), 107-123. (2011).

YODER, P. J., MCDUFFIE, A. S., CHARMAN, T., & STONE, W. Treatment of


responding to and initiating joint attention. Social and communication
development in autism spectrum disorders: Early identification, diagnosis, and
intervention, 117-142. (2006).

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