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TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL PARA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
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contexto; a necessidade de observar características sociodemográficas, etapas
do desenvolvimento e papéis sociais, dentro de cada cultura (Del Prette; Rocha;
Del Prette, 2011, p. 48-49).
Nesse contexto, o treino de habilidades sociais se evidencia como uma
estratégia de intervenção que pode ter como objetivo tanto a superação de déficits
e problemas associados às habilidades sociais, como a promoção de um
repertório mais amplo e generalizado (Del Prette; Del Prette, 2011, p. 74). O
processo de intervenção pode ser feito individualmente ou em grupo.
A definição dos objetivos para o treino de habilidades sociais deve se
basear no período de avaliação inicial, assim como para as demais demandas no
trabalho com crianças e adolescentes. Deve-se, nesse período, buscar identificar,
com auxílio dos adultos próximos ao paciente e da própria criança/adolescente,
quais são as habilidades consideradas socialmente importantes e de alto impacto
no funcionamento do paciente. Depois, busca-se estabelecer os tipos de déficits
observados, se de aquisição, desempenho ou fluência, e as possíveis
contingências relacionadas à manutenção desses déficits; além do
reconhecimento de quais os recursos comportamentais a criança/adolescente já
tem desenvolvido em seu repertório (Del Prette; Del Prette, 2011, p. 85).
Após essa etapa, os objetivos definidos devem visar a ampliação do
repertório de habilidades sociais, a melhora na frequência, funcionalidade e
fluência desses comportamentos, ou facilitar a manutenção e generalização das
aquisições obtidas durante o programa de intervenção (Del Prette; Del Prette,
2011, p. 86). Para tanto, podem ser utilizadas técnicas cognitivas e
comportamentais de contrato comportamental, reforçamento e reforçamento
diferencial, modelagem, desempenho de papéis, ensaio comportamental,
feedback, discriminação, esvanecimento, orientação do desempenho, instrução,
modelação, tarefas de casa, relaxamento, autorreforçamento e autoinstrução (Del
Prette; Del Prette, 2011, p.86).
De forma mais específica, de acordo com o tipo de déficit observado, os
procedimentos utilizados na intervenção podem ser (Del Prette; Del Prette, 2011,
p.87):
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próximas à criança/adolescente, com consequências ao desempenho
adequado apresentado a partir de reforçamento e feedback.
Déficits de aquisição: ensinar novas habilidades à criança/adolescente a
partir da modelagem, modelação, instrução e ensaio comportamental,
através do planejamento de contingências que viabilizem a ocorrência do
comportamento alvo e a manutenção posterior no ambiente natural.
Déficits de fluência: melhorar a proficiência em relação à topografia e
funcionalidade da habilidade em questão. Para tanto, são utilizadas
estratégias de acesso a modelos socialmente competentes, com instrução,
reforçamento e feedback.
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forma conjunta com as abordagens cognitivas de reconhecimento e nomeação
das emoções e manejo e controle da raiva.
1.1.1 Civilidade
1.1.2 Empatia
Para o trabalho em relação a esta habilidade, Del Prette e Del Prette (2011,
p. 156) apontam para a importância de encorajar a criança/adolescente a vivenciar
tipos e intensidades variadas de emoções, o que deve ser feito com monitoria de
adultos próximos. Para tal objetivo, podem ser utilizados recursos como filmes,
teatro, livros, músicas e atividades de cuidado com plantas e animais (Del Prette;
Del Prette, 2011, p. 156). O trabalho em relação à temática das diferenças e de
ajuda aos outros, a partir de histórias sociais, também é indicado.
1.1.3 Assertividade
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necessária a cooperação e trocas entre os participantes, sejam eles alunos ou
professores.
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2.2 Patologias caracterizadas por distorções cognitivas
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A TCC surge então com o objetivo de interromper o ciclo vicioso criado
pelos déficits presentes no TDAH, buscando ensinar aos pacientes maneiras
efetivas de compensar os prejuízos (Safren et al., 2008; Barkley, 2010, citados por
Pereira; Mattos, 2011, p. 498).
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implícita e figurada (Del Prette; Del Prette, 2011, p. 203). O trabalho com a
impulsividade deve incluir, também, o treinamento de pais e a reestruturação
cognitiva em relação à criança (Petersen; Wainer, 2011, p. 71).
Com as dificuldades nas funções executivas, bem como em fazer o
feedback sobre seu próprio comportamento, crianças e adolescentes com
diagnóstico de TDAH tendem a agir sem pensar nas consequências ou sem o
planejamento adequado para atingir seu objetivo. Para tanto, beneficiam-se do
uso das estratégias de automonitoramento e autoinstrução (Knapp et al., 2003, p.
187; Petersen; Wainer, 2011, p. 26). O trabalho com a autoinstrução inclui os
seguintes passos, de acordo com Ervin et al. (1999, citados por Knapp et al., 2003,
p.185) e Kendall (1993, citado Knapp et al., 2003, p. 185): o terapeuta realiza uma
tarefa e fala alto enquanto o paciente observa; a criança realiza uma tarefa similar
à do terapeuta e fala, ao mesmo tempo, os passos para si mesma em voz alta; o
terapeuta realiza outra tarefa enquanto sussurra as autoinstruções; a criança
realiza tarefa semelhante e também sussurra as autoinstruções; o terapeuta faz
uma tarefa usando a linguagem internalizada, com pausas e sinais
comportamentais de que está pensando; a criança realiza uma tarefa usando a
autoinstrução privadamente. As etapas devem ser treinadas várias vezes e em
diferentes locais. Autores como Knapp et al. (2003), por exemplo, apontam que
essa estratégia pode não apresentar bons resultados, pela dificuldade da criança
ou adolescente em generalizar o que foi aprendido em sessão para outros
ambientes.
Outro aspecto observado em crianças e adolescentes com diagnóstico de
TDAH, e que é passível de intervenção pela TCC, é a ocorrência de oscilações
de humor, principalmente com a presença da raiva. Frequentemente, apresentam
problemas para lidar com a frustração, e motivos irrelevantes para qualquer outra
criança desencadeiam respostas emocionais intensas (Knapp et al., 2003, p. 189).
Devido aos prejuízos das funções executivas, especialmente quanto à
autorregulação de seus afetos, é comum que também emoções positivas gerem
afetos e comportamentos intensos. Logo, as intervenções em TCC devem
objetivar manter o humor e a colaboração também nessas situações (Petersen;
Wainer, 2011, p. 72).
O Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD), como uma das técnicas
mais amplamente utilizadas na TCC, no trabalho com pessoas com diagnóstico
de TDAH, tende a ter seu uso limitado, pois estão mais presentes deficiências
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cognitivas e não distorções cognitivas (Knapp et al., 2003, p.186). Por outro lado,
ele pode ser aplicado para ajudar a criança ou adolescente a entender que por
trás do comportamento existem etapas, ou seja, eventos antecedentes,
pensamentos e sentimentos, uma vez que essa compreensão se encontra
limitada pelo comportamento de agir sem pensar (Knapp et al., 2003, p. 186). Além
disso, o RPD pode ser fundamental para a compreensão dos inúmeros feedbacks
negativos que uma criança ou adolescente com diagnóstico de TDAH recebe,
favorecendo o autoconhecimento e a compreensão de crenças negativas
distorcidas a respeito de si mesmo, além de poder ser útil no tratamento de
comorbidades, como transtornos depressivos ou de ansiedade (Pereira; Mattos,
2011, p. 502).
Outras estratégias que podem ser usadas na intervenção com crianças e
adolescentes com diagnóstico de TDAH são:
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Punições: podem ser usadas em resposta a comportamentos muito
perturbadores. Porém, deve-se ficar atento para que a punição não se
transforme em um reforço positivo, pois às vezes isso contribui para a fuga
ou esquiva de algo aversivo, e acaba mantendo o comportamento
perturbador (Knapp et al., 2003, p.192).
Tarefas de casa: importantes para a obtenção da generalização do
comportamento aprendido em sessão, principalmente se tratando de um
transtorno em que há a dificuldade de feedback e autorregulação, o que
dificulta a execução de comportamentos adequados diante de situações
que variam um pouco em relação à situação do treino (Knapp et al., 2003,
p. 192).
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Quanto aos padrões restritos e repetitivos de comportamento,
crianças/adolescentes com diagnóstico de TEA tendem a ter preferência por um
mesmo tipo de brincadeira ou por um mesmo brinquedo; interessam-se por um
assunto específico e aprofundam-se no conhecimento dele. Mostram dificuldades
em ser flexíveis diante de mudanças, como quando ocorrem alterações de rotina,
em se adequar a um contexto de conversa sobre assuntos diferentes do seu
interesse ou em se inserir em brincadeiras que fogem ao que seja de costume.
Os padrões restritos e repetitivos também se mostram no interesse por
movimentos repetitivos, como ao fixar-se em objetos com movimentos giratório,
bem como na apresentação de movimentos motores repetitivos denominados
estereotipias (movimento de flap com as mãos, saltos, entre outros), e mesmo em
repetições na fala, chamadas ecolalias (repetem falas de personagens, de outras
pessoas ou as suas próprias).
A hiper ou hiporreatividade sensorial também se caracteriza por um padrão
restrito e repetitivo, e significa resposta sensorial inadequada a diferentes
estímulos ambientais. A hiperreatividade caracteriza-se por reação exacerbada a
um estímulo sensorial (sonoro, visual, tátil, olfativo ou no paladar), e a
hiporreatividade caracteriza-se por reação mínima a tais estímulos. Alguns
exemplos são: indiferença ou sensação intensa de dor; irritabilidade diante de
sons altos, como em lugares cheios, ou de liquidificador e secador de cabelo;
alimentação significativamente restrita, mostrando preferência por tipos de
alimentos específicos e não aceitação por variar os padrões; incômodo ao usar
determinados tipos de tecidos, ou roupas com etiquetas, de gola etc.; recusa pelo
contato físico com outras pessoas, evitando abraços e outras carícias.
O TEA pode estar associado a uma condição médica ou genética, como
Síndrome de Rett, Síndrome de Down e Complexo da Esclerose Tuberosa. Pode
também ser diagnosticado em comorbidade com outros transtornos do
neurodesenvolvimento ou outros transtornos mentais. Isto é, mais de um
diagnóstico pode ser dado, simultaneamente, para pessoas que recebem o
diagnóstico de TEA. O TDAH, o Transtorno de Oposição Desafiante (TOD) e os
Transtornos Específicos de Aprendizagem são quadros que comumente podem
ser diagnosticados em conjunto com o TEA (APA, 2014, p. 58).
Outro aspecto importante de ser considerado no diagnóstico de TEA é o
nível de gravidade no qual ele se apresenta. Para tanto, a gravidade dos déficits
e o nível de apoio necessário são organizados em nível 1 (exigindo apoio), nível
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2 (exigindo apoio substancial) e nível 3 (exigindo apoio muito substancial) (APA,
2014, p. 51). No nível 1 são incluídas crianças e adolescentes considerados com
grau leve. Nesse grupo, as dificuldades estão presentes ao estabelecer conversas
e iniciar interação. Apresentam fala expressiva desenvolvida, mas não
conseguem utilizá-la de forma a contribuir para o estabelecimento de relações
satisfatórias; para tanto, precisam de suporte e mediação. No nível 2 há o prejuízo
social mesmo na presença de apoio, e os déficits estão presentes tanto na
comunicação verbal quanto na não verbal. No nível 3, os déficits na comunicação
social verbal e não verbal são graves e limitam muito a interação social, de modo
a estabelecerem alguma relação somente para satisfazer suas necessidades;
apresentam pouca resposta positiva diante da mediação. Em todos os grupos há,
também, inflexibilidade no comportamento, que leva a prejuízos significativos no
funcionamento, em graus diferentes (APA, 2014, p. 52).
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REFERÊNCIAS
MIYAKE, A. et al. The Unity and diversity of executive functions and their
contributions to complex “Frontal Lobe” tasks: a latent variable analysis. Cognitive
Psychology, v. 41, p. 49-100, 2000.
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REIS, A. H. Impulsividade, delinquência e comportamento disruptivo: intervenção
na adolescência. In: NEUFELD, C.G. (Org.). Terapia cognitivo-comportamental
para adolescentes: uma perspectiva transdiagnóstica e desenvolvimental. Porto
Alegre: Artmed, 2017. p. 188-214.
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