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Resumo
Este estudo visou a adaptação e exploração das características psicométricas da Escala de Avaliação da
Coesão e Adaptabilidade Familiar (FACES III) com uma população de famílias portuguesas em risco
psicossocial. Esta medida é a mais utilizada para a avaliação do funcionamento familiar de acordo com as
dimensões do Modelo Circumplexo dos Sistemas Familiares. Participaram 388 pais de crianças com medidas
de apoio e proteção, residentes no Algarve. A FACES III foi aplicada em conjunto com medidas de stresse
parental, aliança parental e sentimento de competência parental para testar a validade de constructo. A
análise fatorial exploratória confirmou a solução original de dois fatores. A Coesão demonstrou alta
consciência interna e boa validade de constructo, podendo ser considerada uma medida fiável desta
dimensão. A Adaptabilidade apresentou resultados insatisfatórios em todos os indicadores psicométricos,
pelo que se aconselha a revisão desta subescala. Os resultados são discutidos considerando as diversas
versões do instrumento.
Abstract
This study aimed to adapt and explore the psychometric properties of the Family Adaptability and Cohesion
Evaluation Scale (FACES III) with a sample of Portuguese families at psychosocial risk. This instrument is
the most used for the evaluation of family functioning according to the dimensions of the Circumplex Model
of Family Systems. The instrument was applied to 388 parents of children who were followed by the Child
Protection Services in the Algarve (south of Portugal). The FACES III was applied along with measures of
parenting stress, parenting alliance and parenting sense of competence to test construct validity. The
exploratory factor analysis confirmed the original two-factor solution. Cohesion showed high internal
consistency and good construct validity; thus, it can be considered as a satisfactory measure of this
dimension. Adaptability, on the other hand, showed poor psychometric properties; therefore, we suggest that
this subscale is revised to improve its shortcomings. Our main results are discussed considering the different
versions of the instrument.
Este estudo foi financiado por uma bolsa sabática da Fundação para a Ciência e Tecnologia (SFRH/BSAB/114294/2016) e por fundos
nacionais no âmbito do projeto CIP (Refª UIDB/PSI/04345/2020).
1
Doutorada em Psicologia. Centro de Investigação em Psicologia (CIP). Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, s/n. 8005-139
Faro, Portugal. Tel.: 919813927. E-mail: csnunes@ualg.pt
2
Doutorada em Psicologia. Department of Psychiatry, University of Oxford. Warneford Hospital, Warneford Ln, Headington. Oxford OX3
7JX. United Kingdom. Tel.: 7745140703. E-mail: lara.ayala88@gmail.com
3
Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, s/n. 8005-139 Faro, Portugal. Tel.: 918346808.
E-mail: liferreira@ualg.pt
4
Doutorada em Psicologia. Centro de Investigação em Psicologia (CIP). Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, s/n. 8005-139
Faro, Portugal. Tel.: 912856351. E-mail: csmartins@ualg.pt
Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación – e Avaliação Psicológica. RIDEP · Nº59 · Vol.2 · 49-61 · 2021
ISSN: 1135-3848 print /2183-6051online
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apresentam igualmente melhores indicadores nas diversos instrumentos, tais como a Family
outras duas dimensões (Olson, Waldvogel, & Assessment Device (FAD) (Epstein, Baldwin, &
Schlief, 2019). Bishop, 1983, adaptada por Patrão, Pimenta,
Segundo o Modelo Circumplexo, um Água, & Leal, 2020), a escala Family APGAR
funcionamento familiar saudável é descrito (Smilkstein, 1978, adaptada por Agostinho &
através de uma hipótese curvilínea, em que Rebelo, 1988), e a Escala de Avaliação da
valores extremamente baixos ou extremamente Adaptabilidade e Coesão Familiar III (Olson et
elevados na Coesão e Adaptabilidade são al., 1985, adaptada por Curral et al., 1999).
representativos de um funcionamento As medidas mais utilizadas nos estudos que
disfuncional, com tendência a experimentar mais testam o Modelo Circumplexo (Olson et al., 2019)
problemas nas suas relações e na adaptabilidade são o conjunto de Escalas de Avaliação da
familiar ao longo do tempo. Como tal, um Adaptabilidade e Coesão Familiar, nas suas
funcionamento adequado será descrito por níveis diferentes versões (FACES I, II, III e IV; Bell,
equilibrados das duas principais dimensões 1980; Olson, 2011; Olson et al., 1985; Olson,
(Olson, 2011). Portner, & Bell, 1982; Portner, 1981). A Escala de
De acordo com os pressupostos do modelo Avaliação da Adaptabilidade e Coesão Familiar
relativos à Coesão, num funcionamento familiar III corresponde à terceira versão deste instrumento
saudável, os membros da família são de autorrelato, e é composta por 20 itens,
independentes e simultaneamente unidos à sua construídos originalmente para a avaliação
família. Quanto à Adaptabilidade, um operacional das dimensões de Coesão e
funcionamento saudável implica a capacidade Adaptabilidade dos sistemas familiares (Olson et
para, em função das influências externas e al., 1985; Curral et al., 1999). Na FACES III, a
mudanças evolutivas, adaptar-se de uma forma dimensão de Coesão integra a avaliação de cinco
equilibrada e consistente, isto é, não subcategorias interrelacionadas, sendo elas o
comprometendo a identidade do sistema familiar e vínculo emocional, o apoio, os limites familiares,
permitindo a manutenção da hierarquia da o lazer e amigos e os interesses. Da mesma forma,
autoridade parental (Olson & Gorall, 2003; Olson, a escala de Adaptabilidade agrega quatro
Portner, & Lavee, 1985; Olson et al., 2019). conceitos associados: liderança, controlo,
No entanto, a solução bidimensional deste disciplina, e as regras e papéis (Olson et al.,
constructo não tem sido consistente nas diversas 1985). Desta forma, a FACES III pode ser
culturas nas quais foi testado. Por exemplo, aplicada ao longo do todos os ciclos vitais da
Schmidt, Barreyro e Maglio (2009), numa amostra família e a todos os membros da família, a partir
de famílias argentinas encontraram 3 fatores: dos 12 anos de idade. Os estudos têm
coesão, flexibilidade 1 e flexibilidade 2. No demonstrado que é um instrumento com bom
México, Rosas, Clavelina, Trillo, Corja e Ibánez poder discriminatório para diferenciar grupos
(2002) propuseram uma estrutura de quatro familiares com e sem problemas clínicos (Forjaz,
fatores, deparando-se com duas dimensões Cano, & Cerevera-Enguix, 2002; Schmidt et al.,
desconhecidas. Em todos os estudos, a dimensão 2009). Uma revisão sistemática das medidas de
de Adaptabilidade é aquela que tem sido objeto de funcionamento familiar mais recentes (Hamilton
maiores críticas quanto à sua validade. & Carr, 2016) destaca a FACES III como um
Concetualmente, esta dimensão poder-se-ia instrumento de grande confiabilidade e utilização
subdividir, por apresentar tanto conceitos na literatura científica da área.
relacionados com a flexibilidade e capacidade de Não obstante o contributo científico da escala
adaptação como com a estrutura de liderança, FACES III, alguns dos estudos de adaptação da
regras e estilo de negociação existentes no sistema medida têm vindo a encontrar dificuldades na
familiar (Jiménez, Lorence, Hidalgo, & replicação dos dados psicométricos da versão
Menéndez, 2017; Schmidt, Barreyro, & Maglio, original (Jiménez et al., 2017). Bazo-Alvarez et al.
2009). (2016) confirmaram uma solução de dois fatores e
Para a avaliação das dimensões do concluíram que o FACES III tem fiabilidade e
funcionamento familiar têm sido utilizados validez suficientes para ser utilizado com
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baixas do que as da população geral, tanto ao biparental (68.7%), com dois filhos em média
nível da coesão como da adaptabilidade, e tendem (DP=1.43), essencialmente do sexo masculino
a ser mais coesas do que adaptáveis (Hidalgo et (62.4%), cujas idades se encontravam entre os 0 e
al., 2009; Jiménez et al., 2017; Macedo, Nunes, os 18 anos (M=10.95, DP=4.82).
Costa, Ayala-Nunes, & Lemos, 2013; Pérez, Os participantes foram selecionados pelos
Nunes, Nunes, & Hidalgo, 2012; Sousa & técnicos das instituições utilizando os seguintes
Ribeiro, 2005). critérios: 1) ter pelo menos um filho menor de
Importa destacar o estudo de validação da idade dependente; 2) sofrer vários problemas e
FACES III com 322 famílias em risco situações de risco para os seus filhos que, embora
psicossocial das cidades de Sevilha e Huelva importantes, não alcançassem um grau de
(Jiménez et al., 2017), no qual também não foi severidade suficiente para justificar medidas de
replicada a estrutura bidimensional da escala, retirada.
indicando que apenas a dimensão da coesão (após
a retirada de 3 itens) obtinha indicadores Instrumentos
psicométricos aceitáveis. Escala de Avaliação da Adaptabilidade e
Dada a relevância destas dimensões para a Coesão Familiar (FACES III): utilizámos a
compreensão do funcionamento e ajustamento tradução portuguesa de Curral et al. (1999) da
familiar e o facto de não existirem estudos de Family Adaptability and Cohesion Evaluation
validação em Portugal com famílias em risco Scale desenvolvida por Olson et al. (1985). Tal
psicossocial, o presente estudo tem como objetivo como descrito anteriormente, esta escala avalia
adaptar e estudar as propriedades psicométricas duas dimensões do funcionamento familiar: a
das escalas de adaptabilidade e coesão familiar. coesão (i.e., laços emocionais entre os membros
Além disso, para avaliação da validade de da família) e a adaptabilidade (i.e., grau de
construto, foram incluídas variáveis que flexibilidade da família para mudar regras e
apresentam uma associação teórica comprovada papéis, de modo a responder a problemas). É um
com as dimensões do funcionamento familiar, instrumento de autopreenchimento, constituído
sendo elas o stresse parental, a aliança parental e a por 20 itens, respondidos numa escala de cinco
satisfação e eficácia parental. Deste modo, pontos (1=Nunca ou quase nunca; 2=Poucas
esperamos que as escalas de Coesão e vezes; 3=Às vezes; 4=Com frequência; ou
Adaptabilidade apresentem uma associação 5=Quase sempre), onde os itens ímpares medem a
negativa com o stresse parental e uma associação Coesão Familiar (CF, 10 itens, e.g., “Os membros
positiva com as restantes. da nossa família pedem ajuda uns aos outros”) e
os pares avaliam a Adaptabilidade Familiar (AF,
Método 10 itens, e.g., “Quando solucionamos problemas,
costumamos ter em conta as opiniões dos nossos
filhos”). Pontuações mais elevadas correspondem
Participantes a níveis mais elevados de coesão e adaptabilidade.
Foram entrevistados 388 pais, cujos filhos A pilotagem desta versão permitiu identificar
beneficiavam de uma medida de promoção e alguns problemas de compreensão nos
proteção nas Comissões de Proteção a Crianças e participantes, pelo que as instruções foram
Jovens (CPCJ) do Algarve. Os participantes, na simplificadas e a redação de alguns itens foi
sua maioria eram mães (79.4%; pais: 20.6%), com adaptada para garantir a acomodação do
idades compreendidas entre os 16 e os 75 anos instrumento ao nível cultural e educativo dos
(M=38.19; DP=9.15), com baixo nível de participantes (Carretero-Dios & Pérez, 2005). No
escolaridade (ensino básico incompleto=48.5%, presente estudos obtiveram-se os seguintes índices
ensino básico completo=3.5%, ensino de fiabilidade: α=.79 para Coesão e α=.52 para
secundário=13.7%, ensino superior=4.4%), que Adaptabilidade.
desempenhavam profissões com baixa Competência Parental Percebida (PSOC): esta
qualificação (70.1%, nível médio=25.1%, nível escala, originalmente desenvolvida por Gibaud-
elevado=4.8%). A maioria das famílias era Wallston e Wandersman (1978) e posteriormente
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adaptada por Johnston e Mash (1989), avalia a itens) avalia as características comportamentais da
competência percebida como pai ou mãe através criança que fazem com que seja fácil ou difícil
de duas dimensões: a eficácia e a satisfação. A lidar com ela (aceitação, humor e adaptabilidade).
dimensão Eficácia (EP) é composta por sete itens As pontuações mínimas e máximas para cada
que avaliam em que medida o progenitor se sente dimensão do instrumento são 12 e 60,
competente nesse papel (ex.: “Apesar de ser respetivamente. Para a escala total, as pontuações
difícil, eu já sei como se pode influenciar os podem oscilar entre 36 e 180. Quanto mais
filhos”). Por sua vez, a dimensão Satisfação (SP) elevada for a pontuação da escala, maior é o nível
possui nove itens e pretende determinar o grau em de stresse parental. No presente estudos
que o pai ou a mãe se sente satisfeito com o seu obtiveram-se os seguintes índices de fiabilidade:
papel parental (ex.: “Com a idade que o meu filho α=.82 para mal-estar parental, α=.74 para
tem, ser mãe não é agradável”). No total, o Interação disfuncional e α=.85 para Criança
questionário é composto por 16 itens com seis difícil.
respostas possíveis, que oscilam entre o 1 (não, Aliança Parental (PAI): Utilizámos a versão
discordo totalmente) e o 6 (sim, concordo portuguesa (Ayala-Nunes, Nunes, & Lemos,
totalmente). As pontuações mínimas e máximas 2013) do Parental Alliance Inventory (Abidin &
possíveis para a dimensão Eficácia são 7 e 42, Bruner, 1995). Este instrumento é composto por
respetivamente; e para a dimensão Satisfação 20 itens que, numa escala de 1 a 5, avaliam a
podem oscilar entre 9 e 54. Pontuações superiores relação de apoio e confiança que existe entre o
correspondem a uma perceção mais elevada de casal enquanto pais (ex.: “Faço tudo que é
eficácia e satisfação parentais. No presente estudo, possível para falar com o meu marido sobre os
utilizámos a versão portuguesa de Nunes, nossos filhos”). No presente estudo obteve-se o
Jiménez, Menéndez, Ayala-Nunes, & Hidalgo seguinte índice de fiabilidade: α=.96.
(2016) e obtiveram-se os seguintes índices de
fiabilidade: α=.75 para eficácia e α=.70 para Procedimentos
satisfação parental. Após o estabelecimento de protocolos de
Parenting Stress Index – Short Form (PSI-SF): colaboração com as CPCJs do Algarve, que
esta escala, desenvolvida por Abidin (1990), tem intervêm junto destas famílias, os técnicos das
uma versão adaptada para o Português (Santos, instituições colaboradoras selecionaram os
2008), que foi usada no presente trabalho. Avalia progenitores que cumpriam os critérios de
três domínios do stresse associado ao papel inclusão descritos anteriormente e convidaram-
parental com crianças até os 12 anos: o mal-estar nos a participar no estudo. Posteriormente, os
parental, a interação disfuncional entre o pai e a entrevistadores, que tinham recebido formação,
criança, e o grau em que o pai percebe o seu filho deslocaram-se às instituições para aplicar os
como sendo uma criança difícil. Os itens têm instrumentos. Quando os participantes mostravam
cinco possibilidades de resposta (1=discordo dificuldades de leitura os instrumentos foram
totalmente a 5=concordo totalmente). O Mal-estar aplicados através de entrevista individual.
Parental (MP) inclui 12 itens que pretendem Antes de proceder à aplicação dos
quantificar os sentimentos negativos questionários e à assinatura do consentimento
experienciados pelo pai no seu papel de cuidador informado, os participantes foram informados
(ex.: “Sinto-me limitado por causa das minhas acerca dos objetivos do estudo, do carácter não
responsabilidades como pai”). Por sua vez, a compensatório da sua participação, da natureza
subescala Interação Disfuncional Progenitor- anónima e confidencial das suas respostas e da
Criança (IDPC; 12 itens) foca-se na perceção do possibilidade de desistir do estudo em qualquer
progenitor de que o seu filho não cumpre as suas momento sem que isso representasse quaisquer
expectativas, as interações que mantêm não são consequências para eles.
positivas e não se sente aceite nem vinculado ao
seu filho (ex.: “Quando faço coisas pelo meu filho Análises estatísticas
tenho a sensação que o meu esforço não é muito A codificação e tratamento estatístico dos
apreciado”). A subescala Criança Difícil (CD; 12 dados foram realizados com o IBM SPSS 25 e o
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programa FACTOR 9.2 (Lorenzo-Seva & configuração superior a .45 unicamente num dos
Ferrando, 2006). Em primeiro lugar foi examinada fatores. Para avaliar a bondade do ajuste da
a existência de casos extremos multivariantes solução fatorial foram analisados os índices de
através do cálculo da distância de Mahalanobis simplicidade S e LS (próximos a 1), assim como
(Tabachnick & Fidell, 2019) e foram calculadas as os índices GFI (recomendável > .95) e RMSR
estatísticas descritivas das escalas originais. (próximo a 0) (Ferrando & Anguiano-Carrasco,
Seguidamente foi analisada a normalidade na 2010; Hair et al., 2009).
distribuição univariante dos itens, tendo em conta A consistência interna dos fatores obtidos foi
os índices de assimetria e curtose (i.e., valores avaliada através do cálculo dos índices do alfa
compreendidos entre os intervalos ±1 e ±2, ordinal e das estatísticas descritivas. A validade de
respetivamente) tal como recomendam Ferrando e critério da versão proposta foi analisada através
Anguiano-Carrasco (2010). Após este dos índices de correlação de Pearson dos fatores
procedimento foi analisada a capacidade obtidos com as pontuações nas dimensões de
discriminante de cada item através do coeficiente aliança parental, competências parentais
de correlação corrigido entre a pontuação do item percebidas e stresse parental.
e o total da escala (>.25) (Nunnally & Berstein,
1994) e a fiabilidade (i.e., caso o item obtivesse Resultados
uma pontuação inferior ao da dimensão global,
seria eliminado (Hair, Anderson, Tatham, & Análise descritiva inicial
Black, 2009). Foram identificados 4 casos (1%) de extremos
Dado que a solução bidimensional da escala multivariados através do cálculo da distância de
não tem sido validada de forma idêntica nas Mahalanobis, que foram eliminados das análises
diversas culturas nas quais tem sido testada, posteriores (N=384). De acordo com a versão
optámos por analisar a dimensionalidade do original dos autores, as escalas apresentaram os
instrumento através de uma análise fatorial seguintes valores (Quadro 1).
exploratória com o programa FACTOR Vs. 9.2
(Lorenzo-Seva & Ferrando, 2006). Foram Quadro 1. Descritivos da FACES III
comprovados os pressupostos de normalidade e
Adaptabilidade Coesão
linearidade entre cada par de variáveis. Tendo em
conta que se tratava de uma escala ordinal, Média 27.87 38.09
Desvio-padrão 5.23 6.36
trabalhámos com a matriz de correlações Mediana 28.00 39.00
policóricas e foi estimada a fiabilidade através o Moda 30.00 40.00
coeficiente de alfa ordinal. Como método de Mínimo – Máximo 16–43 20–50
Assimetria 0.21 -0.41
estimação utilizámos os mínimos quadrados não Curtose -0.25 -0.21
ponderados e uma rotação oblíqua, mediante o α .52 .79
método Oblimin direto normalizado. A
fatorabilidade da matriz foi estabelecida através Ambas dimensões se correlacionaram entre si
de valores elevados na medida de adequação da significativa e positivamente (r=.24; p<.000) e as
amostra de Kaiser-Meyer-Olkin e de um resultado pontuações foram mais elevadas na coesão do que
significativo no teste de esfericidade de Barlett na adaptabilidade (t(383)=27.73; p<.001). Em
(Carretero-Dios & Pérez, 2005; Tabachnick & seguida procedeu-se à análise fatorial
Fidell, 2019). exploratória.
Para decidir o número de fatores a reter foram
considerados os seguintes critérios: valores Estrutura fatorial
próprios ≥1, mínimo de três variáveis em cada Devido aos elevados índices de assimetria e
fator (Ferrando & Anguiano-Carrasco, 2010), curtose, foram eliminados das análises posteriores
análise paralelo com a implementação ótima de os itens 12, 18, 19 e 20 (Quadro 2). Os itens 6 e
Timmerman e Lorenzo-Seva (2011), 16 não obtiveram correlações com o resto da
interpretabilidade e pertinência teórica. Foram escala (r>.25), pelo que não foram utilizados nas
retidos os itens com um coeficiente de análises seguintes. Por outro, lado a eliminação do
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Quadro 2. Análise da capacidade discriminante dos 20 itens originais da FACES III (N=186)
r item-total α se eliminar o
M DP Assimetria Curtose
corrigida item
Item 1 3.54 0.98 0.03 -0.72 .33 .76
Item 3 3.67 1.15 -0.42 -0.72 .30 .77
Item 5 3.75 1.06 -0.63 -0.06 .45 .74
Item 7 3.81 1.20 -0.81 -0.26 .34 .76
Item 9 3.88 1.00 -0.61 -0.25 .54 .73
Item 11 3.97 1.05 -0.70 -0.38 .63 .71
Item 13 3.79 1.17 -0.61 -0.55 .47 .74
Item 15 3.58 1.13 -0.40 -0.79 .63 .71
Item 17 3.47 1.24 -0.38 -0.81 .37 .76
Item 19 4.66 0.67 -2.26 6.04 - -
.76
Item 2 3.11 1.27 -0.32 -0.79 .39 .51
Item 4 2.93 1.34 0.02 -1.07 .35 .52
Item 6 2.18 1.36 0.80 -0.73 .10 .61
Item 8 2.77 1.11 -0.03 -0.75 .41 .50
Item 10 2.08 1.25 0.79 -0.57 .35 .52
Item 12 1.27 0.66 2.80 8.55 - -
Item 14 2.56 1.14 0.29 -0.53 .31 .54
Item 16 2.54 1.48 0.42 -1.29 .22 .57
Item 18 4.16 1.11 -1.38 1.17 - -
Item 20 4.19 1.04 -1.15 0.58 - -
.58
Quadro 3. Resultados da ACP com fins isto é, os laços emocionais entre os membros da
confirmatórios da FACES III família. O segundo fator, que se refere à capacidade
Matriz padrão Matriz de estrutura de adaptação da família, explicou uma variância de
F1 F2 F1 F2 19.5% (λ=2.35) e apenas reteve os itens 2, 4, 8, 10
Item 1 .47 .01 .47 .05
Item 2 .12 .63 .18 .65 e 14 da escala original de adaptabilidade.
Item 3 .42 -.01 .42 .03 Os indicadores de bondade de ajuste para esta
Item 4 -.04 .67 .02 .67
Item 5 .59 .06 .60 .12
solução foram satisfatórios (GFI=.97; RMSR=.06;
Item 7 .51 -.17 .50 -.12 S=.99; LS=.64).
Item 8 -.16 .70 -.09 .68 Dado que o item 17 saturava nos dois fatores
Item 9 .67 .01 .67 .07
Item 10 -.02 .55 .03 .55 com valores (r≥.40), foi eliminado das análises
Item 11 .77 -.09 .76 -.01 posteriores (Quadro 3). Os valores de ajustamento
Item 13 .64 -.11 .63 -.05
Item 14 -.11 .62 -.04 .61
obtidos após a eliminação do item 17 mantiveram-
Item 15 .75 .08 .75 .15 se aceitáveis, GFI=.97; RMSR=.06; S=.99; LS=.68,
Item 17 .46 .46 .50 .50 observando-se um ligeiro incremento no LS.
A análise descritiva de ambos fatores mostra
item 6 melhorava a fiabilidade da dimensão uma média de 29.99 (DP=5.31) para a coesão e
adaptabilidade. Por estes motivos, nas análises 13.46 (DP=3.94) para adaptabilidade. Os
posteriores não foram incluídos os itens 6, 12, 16, coeficientes de fiabilidade foram de um alfa ordinal
18, 19 e 20. de .76 e .65 respetivamente. Ambos fatores não se
A fatorabilidade da matriz foi calculada, tendo relacionam significativamente (r=.01; p=.897).
obtido um valor aceitável na prova de Kaiser-
Meyer-Olkin (KMO=.73) e um valor significativo Validade de constructo
no teste de esfericidade de Bartlett Como podemos observar na Quadro 4, existe
(χ2(91)=522.50; p<.001). A análise fatorial uma relação significativa entre a coesão familiar e
ofereceu uma solução de dois fatores com valores as dimensões das demais variáveis, sendo esta
próprios >1, que contribuiu a explicar uma negativa no que se refere ao stresse parental (i.e.,
variância de 49.5% e os resultados da Análise mal-estar parental, interação disfuncional
Paralela recomendaram reter ambos fatores. O progenitor-criança e criança difícil) e positiva com
primeiro fator explicava 30% (λ=3.63), incluía os a eficácia, satisfação e aliança parental. No entanto,
itens 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15 e 17, reproduzindo a dimensão adaptabilidade não se relacionou com
quase na totalidade a dimensão original de coesão, nenhuma destas dimensões.
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