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Temas em Psicologia

ISSN: 1413-389X
comissaoeditorial@sbponline.org.br
Sociedade Brasileira de Psicologia
Brasil

Pereira, Dora; Alarcão, Madalena


Avaliação da parentalidade no quadro da proteção à infância
Temas em Psicologia, vol. 18, núm. 2, diciembre-, 2010, pp. 499-517
Sociedade Brasileira de Psicologia
Ribeirão Preto, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=513751436023

Como citar este artigo


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ISSN 1413-389X Temas em Psicologia - 2010, Vol. 18, no 2, 499 – 517

Avaliação da parentalidade no quadro da proteção à


infância

Dora Pereira
Associação Chão dos Meninos Évora Portugal

Madalena Alarcão
Universidade de Coimbra Portugal

Resumo
A avaliação da parentalidade constitui uma tarefa crucial no quadro da proteção à infância. Dela
dependerão, em grande parte, as decisões legais e as intervenções psicossociais subsequentes. Em
Portugal, ainda não dispomos de parâmetros orientadores, permanecendo ao critério de cada serviço
ou de cada técnico a escolha dos mais adequados. A partir da análise de 11 modelos de avaliação da
parentalidade, verificamos que é consensual abordar três áreas chave − criança, pais, contexto − e que
tende a generalizar-se a inclusão de parâmetros respeitantes às capacidades parentais, bem como a
ponderação da implicação emocional do técnico no processo de avaliação. Estes referenciais e o
conceito de parentalidade minimamente adequada são apontados como vetores de investigação
futura no contexto nacional.
Palavras-chave: Competências parentais, Capacidade parental, Parentalidade minimamente
adequada, Avaliação, Proteção à infância.

Parenting assessment in child protection

Abstract
Parenting assessment is a main task in child protection field. Legal decisions and psychosocial
interventions will depend on it. In Portugal we still don t have guiding lines; each service and each
worker chooses the ones they think more adequate. From 11 parenting assessment models analysis,
we conclude that there are 3 major areas assessed- child, parents, context and that it tend to be
generalized the inclusion of guiding lines related to parental capacities as considering worker s
emotional involvement in assessment process. These reference points and minimaly adequate
parenting are pointed out as future research lines in our country.
Keywords: Parenting skills, Parenting capacity, Minimally adequate parenting, Assessment, Child
protection.

A intervenção social em situações de mundo.


maus-tratos infantis decorre de uma cultura de No nosso país, têm ocorrido mudanças no
proteção à infância que tem vindo a ser mesmo sentido, desde a publicação em 27 de
progressivamente integrada nos textos legais Maio de 1911 (Decreto-Lei, 1911), da Lei de
dos diferentes países. A criança passou a ser Proteção à Infância: ratificação da Convenção
vista como sujeito de direitos, mobilizando o dos Direitos da Criança (21 de Setembro de
desenvolvimento de sistemas sociais que têm 1990), aprovação da Lei de Proteção de
como objetivo assegurar a boa qualidade do seu Crianças e Jovens em Perigo (Lei n. º 147/99,
desenvolvimento. Não obstante a 1999), regulamentação das diferentes medidas
heterogeneidade de tais sistemas, é fato que de promoção e proteção nela incluídas e
temos vindo a assistir a uma crescente respectivas mudanças organizacionais
preocupação no sentido de melhorar a decorrentes destes textos legais. Mais
qualidade dos serviços disponibilizados às especificamente, temos assistido a uma
crianças e às famílias, um pouco por todo o mudança gradual de um sistema de proteção

_____________________________________
Endereço para correspondência: Dora Pereira - Horta das Figueiras, Rua General Humberto Delgado, 19, Évora.
CEP.: 7005-500. Fax: 00351-266-089376. E-mail: disabelp@netvisao.pt.
500 Pereira, D., & Alarcão, M.

que assentava quase exclusivamente na que a variável crítica diz respeito ao nível de
institucionalização prolongada das crianças perturbação da parentalidade. Daí a importância
para um sistema que contém uma cada vez de se efetuarem avaliações da capacidade
maior diversidade de respostas que procuram parental que possam ajuizar sobre tal variável.
atender às especificidades das diferentes Como refere Budd (2005), citando a
problemáticas associadas à infância em risco . Associação de Psicologia Americana
A avaliação da parentalidade 1 é um dos (American Psychological Association
vetores dessa progressiva especialização das Committee on Professional Practice and
intervenções desenvolvidas no âmbito da Standards, 1998),
proteção à infância. Assim, se há 15 anos atrás
no seu melhor, as avaliações da
o acolhimento institucional de crianças, no
parentalidade podem fornecer uma
nosso país, decorria frequentemente de um
perspectiva objectiva e informada que
pedido efetuado diretamente pelos pais à
aumente a clareza das decisões
instituição, atualmente a entrada de uma
relacionadas com o bem-estar da criança.
criança num centro de acolhimento é sempre
No seu pior, podem fornecer informação
efetuada no âmbito da aplicação de uma
enviesada e/ou irrelevante que viole os
medida de promoção e proteção que pontua a
direitos do avaliado e prejudique o
situação atual daquela criança/jovem como
processo de tomada de decisão (p. 430).
sendo de perigo (situação em que os
prestadores de cuidados se consideram e/ou são A avaliação da parentalidade torna-se uma
considerados incapazes de a/o proteger de tarefa difícil dado o contexto de grande
ameaças graves à qualidade do seu ativação emocional em que habitualmente
desenvolvimento). Neste enquadramento, a ocorre, a falta de guiões de avaliação que
forma como é avaliada a capacidade dos permitam ajuizar adequadamente acerca da
prestadores de cuidados para exercer, competência parental mínima , a ausência de
atualmente e no futuro, o seu papel parental critérios claros acerca do que constitui uma
assume especial relevância: é em tal avaliação parentalidade suficientemente boa e a
que assenta a fundamentação do projeto de vida gravidade das decisões judiciais associadas
a definir para cada criança/jovem, por parte dos (Budd, 2008; Hurley et al., 2003; Schmidt,
diferentes serviços envolvidos, o que terá Cuttress, Lang, Lewandowski & Rawana,
necessariamente implicações importantes no 2007). Ao poder estar em causa a continuidade
seu ajustamento psíquico e social posterior da relação pais-filhos, é de suma importância,
(Budd, Poindexter, Félix & Naik-Polan, 2001; para todos os atores do sistema de promoção e
Hurley, Chiodo, Leschied & Whitehead, 2003; proteção (crianças, famílias, técnicos,
White, 2005). Como refere Woodcock (2003): sociedade em geral), que se minimize a
É praticamente axiomático que a avaliação da margem de erro de tais avaliações. A
parentalidade é um componente principal da possibilidade de acontecerem futuras situações
prática de proteção à infância (p. 87). de perigo na sequência de avaliações menos
A necessidade de efetuar este tipo de bem realizadas foi sublinhada por Berard e
avaliações decorre assim da preocupação social Smith (2008) ao citarem diversos estudos (e.g.,
com a qualidade do desenvolvimento da Block, 1981; Fein, Maluccio, Hamilton &
criança. Donald e Jureidini (2004) referem Ward, 1983; Lahti, 1978; apud Berard &
mesmo que não é a categoria de mau-trato, nem Smith, 2008) que constataram a existência de
a severidade física do mesmo que predizem o taxas mais elevadas de acolhimento não
bem-estar futuro e a segurança da criança, mas planejado após a reunificação do que após a
adoção. Ainda que não disponhamos de dados
estatísticos referentes ao sistema de proteção
1
Segundo Cruz (2005), a parentalidade define-se português, podemos confirmar esta tendência a
como um ( ) conjunto de ações encetadas pelas partir da experiência de 13 anos de intervenção
figuras parentais (pais ou substitutos) junto dos seus da Associação Chão dos Meninos 2 : é maior o
filhos no sentido de promover o seu
desenvolvimento da forma mais plena possível,
2
utilizando para tal os recursos de que dispõe dentro A Associação Chão dos Meninos é uma
da família e, fora dela, na comunidade (p. 13). É Instituição Particular de Solidariedade Social,
partindo desta definição que o termo parentalidade sediada em Évora (Alentejo, Portugal), que existe
será usado ao longo deste artigo. desde 1993. Desenvolve trabalho especializado na
Parentalidade e protecção à infancia 501

número de crianças novamente acolhidas após a referenciais legais e científicos em matéria de


reunificação junto dos seus próprios pais do proteção à infância, sendo determinante que se
que após adoção, numa proporção de clarifique a que parâmetros de avaliação e
aproximadamente 6:2. Este fato é claramente formas de intervenção corresponde então o
ilustrativo da importância de se conduzirem superior interesse da criança .
avaliações do comportamento parental que É neste enquadramento que, com base na
possam prevenir futuras recidivas/novas literatura internacional, nos propomos a
situações de perigo para as crianças e jovens: caracterizar os modelos atuais de avaliação da
para além das consequências desenvolvimentais parentalidade, explicitar as diferenças
óbvias, poderemos perspectivar que a ineficácia conceituais entre os mesmos, as suas limitações
do sistema de proteção na prevenção de e potencialidades e identificar linhas de
recidivas contribuirá para a cristalização dos investigação futuras no contexto do sistema de
ciclos de disfuncionalidade, desacreditando, promoção e proteção português.
paradoxalmente, a viabilidade dos processos de
mudança familiares. Ou seja, a
suspeição/descrédito do sistema de proteção 1. Avaliação da parentalidade:
face à mudança das famílias será reforçada pela conceitos de referência
ineficácia das próprias estratégias de Ao rever a literatura, percebemos que,
intervenção, instalando-se um ciclo de subjacentes a esta avaliação, estão diferentes
disfuncionalidade alargado em que a solução se interrogações, preocupações e referenciais.
torna parte do problema. Assim, a forma como Com efeito, avaliam-se competências parentais
se avalia o comportamento parental, inscrita ou capacidade parental? Toma-se como
num paradigma teórico-prático, que se destina referência a parentalidade ideal ou a
a promover o bem-estar infantil, através dos parentalidade mínima? A qualidade do
bons tratos às crianças ( ), pode ser desenvolvimento da criança ou as normas
considerada um antídoto para os maus-tratos sociais e culturais?
familiares, mas também para a violência Reder, Duncan e Lucey (2003a) definem
institucional e social (Barudy & Dantagnan, as avaliações da parentalidade como um
2010, p. 273), se a mesma, efetivamente, processo planeado (p. 3), capaz de identificar
contribuir não só para a sua proteção, mas para as preocupações acerca do bem-estar de uma
a promoção do seu desenvolvimento. criança, de transmitir informações acerca do
Infelizmente, não encontramos no sistema de seu funcionamento e do dos pais e de formar
promoção e proteção português, critérios claros uma opinião acerca da forma como as
e comummente aceites de avaliação da necessidades da criança estão a ser satisfeitas.
parentalidade. Os serviços com competência Steinhauer (1991), Donald e Jureidini (2004),
em matéria de infância e juventude respondem Harnett (2007) e Choate (2009) acrescentam a
à questão Será que este pai é capaz de previsão da capacidade parental no futuro,
responder às necessidades desta criança? apontando parâmetros que incidem
(Pezzot-Pearce & Pearce, 2004) com base nos especificamente na avaliação da capacidade de
seus percursos formativos e organizacionais mudança dos pais. Estamos então perante um
específicos e nos percursos individuais de cada processo que implica uma dimensão sincrônica
técnico envolvido, não existindo um quadro de e uma dimensão diacrônica a que Steinhauer,
referência comum cientificamente Leitenberger, Manglicas, Pauker, Smith &
fundamentado. Esta situação traduz-se, muitas Gonçalves (1993) fazem corresponder os
vezes, numa aparente dissonância entre conceitos de competência parental e capacidade
parental. Mais especificamente, as
competências parentais são entendidas como a
área dos maus-tratos infantis, ao nível da prevenção soma das atitudes e das condutas favoráveis ao
primária, secundária e terciária. Mais desenvolvimento normal de uma criança. A sua
especificamente, ao nível da intervenção direta,
avaliação assenta no exame dos
trabalha com crianças e jovens, respectivas famílias
e agressores. Os serviços desenvolvem-se em três comportamentos atuais do prestador de
valências: dois Centros de Acolhimento Temporário cuidados em relação à criança, o que ele faz,
(um para crianças dos 0 aos 12 anos e outro para , no momento da avaliação (De Rancourt,
adolescentes dos 12 aos 18 anos) e um Centro de Paquette, Paquette & Rainville, 2006, p. 18).
Apoio Familiar e Aconselhamento Parental. As capacidades parentais dizem respeito àquilo
502 Pereira, D., & Alarcão, M.

que o progenitor seria capaz de fazer (De de Woodcock, que o processo de avaliação do
Rancourt et al., 2006, p. 18), o que nos remete comportamento parental está intimamente
para a forma como os prestadores de cuidados ligado aos conceitos de parentalidade mantidos
utilizam os recursos de que dispõem para pelos próprios técnicos, tal como Azar et al.
exercer a parentalidade ou, mais (1998) haviam afirmado. Será assim
especificamente, como referem Donald e determinante que aquelas expectativas possam
Jureidini (2004, para as qualidades corresponder a prognósticos devidamente
psicológicas que trazem para essas tarefas (p. fundamentados, ainda que se reconheça a
12). subjetividade de tal processo (Barudy &
O cruzamento destas duas dimensões de Dantagnan, 2005). Pregno (2002) vai mais
análise (competências e capacidades parentais) longe ao afirmar que se a melhor explicação
far-se-á à luz das abordagens teóricas do sistema familiar é o próprio sistema familiar,
desenvolvimentais, sistêmicas e ecológicas, a melhor explicação da observação e da análise
pouco explicitamente operacionalizadas na do sistema familiar é o profissional e a
designação abrangente de parentalidade instituição na qual ele trabalha (p. 159).
minimamente adequada . Esta designação é Podemos então afirmar que na definição do que
referida por vários autores como o critério a constitui parentalidade minimamente adequada
respeitar nos pareceres decorrentes de tais estarão implicados os técnicos, as respectivas
avaliações (Azar, Lauretti & Loding, 1998; instituições de pertença e as normas/valores
Budd, 2001, 2005, 2008; Budd et al., 2001; culturais de referência, para além das
Budd, Felix,Sweet, Saul & Carleton, 2006; definições próprias de cada família e de cada
Choate, 2009), embora reconheçam a prestador de cuidados. Constata-se assim a
inexistência de parâmetros que o objetivem transversalidade ecológica de tal definição e
(Azar et al., 1998). O Centre for Parenting and evidencia-se a dificuldade e importância de a
Research New South Wales Department of operacionalizar de forma aceitável por todos os
Community Services (2006) define elementos dos diferentes níveis ecológicos.
parentalidade minimamente adequada como Para Donald e Jureidini (2004) a
a quantidade mínima de cuidado necessária de parentalidade adequada requer que os pais
modo a não causar dano à criança (p. 1), o sejam capazes de responder aos desafios
qual se contrapõe ao da parentalidade ótima colocados pelo temperamento e
que se constitui frequentemente como o desenvolvimento particulares do seu filho (os
referencial ideal e presente em muitas quais podem ser influenciados pela experiência
avaliações, nomeadamente as que assentam em abusiva) e também de aceitar e estar preparados
modelos desenvolvimentais do comportamento para lidar com as suas próprias características
parental (Azar et al., 1998). Contudo, ainda que que afetem a sua capacidade parental (p. 1).
não exista um critério universalmente aceite do Aos conceitos desenvolvimentais de
que constitui a parentalidade minimamente referência, teremos ainda de juntar as normas
adequada , existe alguma consistência no que é culturais, sociais e legais vigentes em cada
apontado como adequado/inadequado contexto de avaliação, tornando-se por vezes
(O Connor, 2002) e existem expectativas difícil a delimitação entre o que é socialmente
associadas a tal conceito, tais como as aceite, e pontuado como adequado (Azar et al.,
identificadas por Woodcock, no estudo 1998), e o que é potenciador (ou não) de um
qualitativo que realizou em 2003: (1) desenvolvimento saudável. A este propósito,
expectativa de prevenir o dano , que Woodcock (2003) critica o fato de os estudos
corresponderia à capacidade dos pais de evitar sobre a parentalidade usarem e reproduzirem as
que as crianças sofram algum tipo de ideologias dominantes acerca da maternidade e
dano/mau-trato; (2) expectativa dos pais das famílias ideais, referindo que são
conhecerem e serem capazes de satisfazer geralmente seguidos os valores das mães
apropriadamente os níveis desenvolvimentais brancas, americanas, de classe média. Não
dos seus filhos; (3) expectativa dos pais obstante, constituem-se como referenciais
assegurarem, de forma sistemática e normativos, para além da legislação vigente em
consistente, o cuidado físico dos filhos; (4) cada país, as diretrizes emanadas de
expectativa dos pais serem emocionalmente organismos como o Conselho da Europa, a
sensitivos e estarem emocionalmente Organização Mundial de Saúde ou as Nações
disponíveis. Torna-se claro, através do estudo Unidas. Atualmente, o Conselho da Europa
Parentalidade e protecção à infancia 503

refere a Convenção dos Direitos da Criança, a proteção à infância, é elaborar um parecer


parentalidade positiva, a eliminação da punição relativo à adequação do comportamento
física, a promoção da igualdade de gênero, as parental no presente e no futuro, que permita
responsabilidades parentais e uma cultura de fundamentar as medidas legais e as estratégias
não violência como princípios orientadores das de intervenção psicossocial que se afigurem
políticas de apoio à parentalidade [ Rec. (2006) mais adequadas para potenciar o
19 do Comité de Ministros dos estados desenvolvimento saudável da criança. Budd
membros acerca da politica para apoiar a (2008) aponta algumas questões subjacentes a
parentalidade positiva ] (Council of Europe, tal parecer técnico: Como saber se um
2006). O desempenho positivo do papel progenitor é suficientemente bom ? Os
parental é aí definido, como: [o] diagnósticos de saúde mental ou funcionamento
comportamento parental focado nos interesses cognitivo constituem uma prova da
da criança, que seja cuidador, capacitante, não adequação/desadequação parental? Como é que
violento, que reconheça a criança e a oriente, o a pobreza, cultura e necessidades das crianças,
que implica a definição de limites para entre outros fatores, influenciam a adequação
potenciar o [seu] desenvolvimento integral (p. parental? Qual o risco de repetição do mau
2). trato? A reunificação corresponde ao superior
Perante o exposto, poderemos afirmar que interesse da criança? Choate (2009) acrescenta:
a competência parental se mede pelas
É possível que a criança viva segura
consequências, atualmente observáveis, das
nesta casa? Em caso negativo, o que
práticas parentais no desenvolvimento da
pode ser feito para que tal ocorra? Essa
criança e pela adequação das mesmas às
mudança é realista? Por outras palavras,
normas culturais e legais vigentes. Ou seja,
os deficits são modificáveis? ( ) O que
serão utilizados referenciais desenvolvimentais
é que os registos passados mostram
e normativos. Por seu lado, a capacidade
acerca da capacidade de mudança dos
parental procura prever a forma como as
pais? A mudança pode ocorrer num
necessidades da criança poderão vir a ser
intervalo de tempo que respeite os
satisfeitas no futuro pelos seus pais/prestadores
interesses da criança? Os pais aceitam
de cuidados, de acordo com os mesmos
que é necessário que ocorram mudanças?
referenciais. Cabe então aos técnicos
Os pais estão realisticamente dispostos a
pronunciar-se sobre se, para que tal tarefa seja
mudar? (p. 58)
cumprida, estão presentes capacidades
parentais minimamente adequadas ou que Mais especificamente, Budd (2005)
possam ser complementadas com os apoios considera que as avaliações do comportamento
sociais formais e informais disponíveis numa parental poderão: (1) descrever características e
determinada comunidade. padrões do funcionamento dos pais nos papéis
Da análise destes conceitos de referência de adultos e cuidadores; (2) explicar possíveis
concluímos que, se a nível macrossistêmico os razões para o comportamento anormal e
valores sociais e culturais relacionados com a problemático, referir o potencial de mudança;
infância e o exercício da função parental têm (3) identificar condições ambientais e pessoais
vindo cada vez mais a fazer parte da agenda que possam influenciar positiva e
política, a ser globalmente definidos e negativamente o comportamento dos pais; (4)
assumidos, não encontramos, nos outros níveis descrever o funcionamento, necessidades e
ecológicos (exossistema, mesossitema, riscos das crianças em relação às aptidões e
microssistema ou nível ontogenético), uma défices parentais; (5) fornecer orientações para
clara operacionalização do que constitui a intervenção. O Departamento de la
competência parental, capacidade parental ou formation, de la jeunesse et de la culture −
parentalidade minimamente adequada. Service de protection de la jeunesse − Canton
de Vaud Suíça (Service de Protection de la
2. O processo de avaliação da Jeunesse, 2008) aponta também como
parentalidade finalidades das avaliações do comportamento
parental objetivos mais centrados na própria
2.1 Objetivos função dos técnicos que as desenvolvem,
Como referimos, o principal objetivo das nomeadamente: (a) ativar a dinâmica de
avaliações da parentalidade, no contexto de mudança, (b) ajudar os técnicos a distanciarem-
504 Pereira, D., & Alarcão, M.

se da situação para poderem apreciar e (c) consideram que os recursos psicológicos


tomar decisões, (d) otimizando a intervenção. pessoais serão os determinantes mais influentes
Budd (2005) considera, ainda, que não é do comportamento parental (p. 191), quer pelo
possível, com tais avaliações: (1) comparar a seu efeito direto no comportamento parental
adequação de um indivíduo com padrões (nível das competências), quer pelo fato de
parentais universais; (2) tirar conclusões acerca facilitarem a obtenção de apoios contextuais
da adequação do comportamento parental com (nível das capacidades).
base em medidas indiretas; (3) prever a Ainda que este modelo tenha sido
capacidade parental a partir de diagnósticos de desenvolvido com vista à conceitualização do
saúde mental; (4) descartar os efeitos de comportamento parental, e não como um
influências situacionais (ex.: limitações de modelo de avaliação da parentalidade, ressalta
tempo, solicitações exigidas, stressores atuais, da sua análise a importância de ter em conta
questões culturais) no processo de avaliação; todos os determinantes para se poder
(5) prever o futuro com certeza; (6) responder a compreender e avaliar a qualidade do
questões não efetuadas por quem solicita a comportamento dos pais. Como veremos
avaliação. adiante, este modelo conceitual foi claramente
No ponto seguinte, detalharemos como a referência organizadora dos modelos de
diferentes modelos de avaliação procuram avaliação que se foram desenvolvendo nos anos
responder ao desafio da avaliação, abordando, subsequentes.
inclusivamente, a forma como ponderam a Em 1985, Margaret Adcock propõe um
informação recolhida, nomeadamente no que quadro de avaliação da parentalidade
toca à relação entre competências e capacidades suficientemente boa , no âmbito do sistema de
parentais. proteção à infância, que decorrerá de um
processo efetuado conjuntamente com as
2.2 Modelos de Avaliação famílias (Adcock, 1985). Para identificar as
mudanças necessárias para resolver o problema,
2.2.1. Descrição dos modelos
Adcock cita Stein, Gambrill e Wiltse (1978),
Ao longo das últimas duas décadas, têm sugerindo que sejam respondidas as questões
surgido diferentes modelos de avaliação da referidas por estes autores: (1) O que terá de ser
parentalidade que procuram operacionalizar diferente para que a criança possa permanecer
conteúdos e procedimentos que possam em casa ou para que a ela possa regressar? (2)
fundamentar as respectivas conclusões. A partir Como é que se pode reconhecer essa diferença?
da literatura revista, apresentamos, por ordem (3) Os pais têm problemas pessoais que devam
cronológica de publicação, onze modelos, ser resolvidos antes da criança regressar a casa?
identificando, para cada um, os conteúdos (4) Como é que as coisas seriam diferentes se
avaliados (Anexo 1). Nesta revisão, tais problemas estivessem resolvidos? (5) O
respeitaremos as designações e organizações que veria um observador se tais diferenças
originais dos seus autores. tivessem ocorrido?
Partindo de uma leitura ecológica do Tal como no modelo de Belsky, está
desenvolvimento humano, em geral, e dos presente a ideia da influência conjunta das
maus-tratos infantis, em particular, o modelo características dos pais, da criança e do
dos Determinantes do Comportamento Parental contexto, ainda que seja dada especial
(Belsky, 1984; Belsky & Vondra, 1989) sugere relevância aos aspectos da dinâmica familiar.
que a competência parental é multideterminada Ou seja, para além da leitura ecológica
e resultará da conjugação de três ordens de subjacente, integra-se aqui um claro enfoque
fatores: progenitor, criança e fontes contextuais sistêmico, ou, mais especificamente, é dada
de stress e de apoio. A qualidade do especial relevância à avaliação do
comportamento parental dependerá do efeito funcionamento do microssistema/família. Ao
cumulativo dos fatores de risco e proteção, num longo da apresentação deste quadro de
continuum entre bons tratos e maus-tratos : avaliação, são feitas poucas referências a
em situações em que vários determinantes competências ou capacidades parentais,
constituem fatores de risco, serão os recursos centrando-se a autora na avaliação do potencial
pessoais dos pais aqueles que melhor de mudança e na identificação das estratégias
diferenciarão a qualidade do funcionamento de intervenção mais adequadas. É de salientar
parental (Belsky & Vondra, 1989). Ou seja, que um dos autores que contribuiu para a
Parentalidade e protecção à infancia 505

identificação dos aspectos a avaliar no conjunta de diferentes indicadores recolhidos


funcionamento familiar foi Arnon Bentovim, nas várias subescalas. São assim integradas a
mais tarde ligado ao desenvolvimento do dimensão sincrônica e diacrônica da avaliação.
Framework for the Assessment of Children in Ao clarificar como deve ser ponderada e
Need and Their Families, que abordaremos integrada a informação, este modelo contribui
adiante. para a diminuição da subjetividade inerente ao
Em 1993, Paul Steinhauer e a equipe de processo de avaliação.
Toronto publicam o Guia de Avaliação da Peter Reder e Clare Lucey são igualmente
Competência Parental, que foi posteriormente dois autores de referência no estudo da
adaptado, em 2006, pelos Centres Jeunesse de parentalidade e, mais especificamente, da sua
Montreal, sendo atualmente utilizado nas avaliação. Em 1995 editaram o livro
avaliações efetuadas por estes organismos. Este Assessment of parenting, psyquiatric and
sistema de avaliação inclui quatro domínios, psychological contributions (Reder & Lucey,
aos quais correspondem nove subescalas de 1995a) no qual propõem um modelo de
avaliação, conforme se apresenta no Anexo 1, e avaliação da parentalidade (Reder & Lucey,
destina-se especificamente à avaliação de pais 1995b) que vêm a actualizar em 2003 (Reder,
de crianças com idades compreendidas entre os et al., 2003a), no livro Studies in the assessment
0 e os 5 anos. À semelhança do modelo de of parenting (Reder, Duncan & Lucey, 2003b).
Belsky e Vondra, estão presentes os mesmos Com a inclusão (em 2003) do domínio da
três domínios de influência (contexto, pais e Criança (e relação Criança-Pais) , o impacto
criança), sendo explicitadas variáveis do comportamento parental deixa de ser
relacionadas com os recursos pessoais dos pais avaliado apenas em função das
e acrescentadas outras que nos remetem para a consequências do mesmo no desenvolvimento
dinâmica relacional entre pais e filhos. da criança, mas passa também a sê-lo em
Integram-se assim os referenciais ecológicos, função do próprio comportamento das crianças
sistemicos e desenvolvimentais. Em 2006, foi face aos pais e das percepções que estas
acrescentado um novo ponto destinado à mantêm acerca do comportamento parental. Ou
previsão do potencial de mudança dos pais (já seja, a criança passa a participar ativamente na
referido por Steinhauer em 1991), no qual, a avaliação do comportamento dos pais. Reder e
partir de um conjunto de pontos de análise Lucey não diferenciam os conceitos de
(desenvolvimento da criança, aparecimento dos competência e capacidade parental, ainda que
problemas, problema psiquiátrico que afeta as em 2003, juntamente com Duncan, definam o
capacidades parentais, utilização de serviços no processo de avaliação da parentalidade como
passado e sucesso da intervenção, competência apreciações detalhadas da capacidade dos pais
parental atual, abertura atual e vontade dos pais de cuidar do seu filho (Reder et al., 2003a, p.
em procurar e utilizar a ajuda, aceitação da 22). Contudo, não apresentam critérios de
responsabilidade pelos pais, capacidade de integração da informação recolhida, deixando
conter as tensões, ajuda exterior e capacidade que seja cada técnico a escolher quais
de a utilizar), se fundamenta uma de duas fundamentarão a probabilidade de mudança de
hipóteses prognósticas: potencial de mudança comportamento dos pais no futuro.
encorajador ou alto risco de cronicidade. Cada Azar et al. (1998) defendem que a
subescala de cada domínio é classificada como avaliação dos pais deve ser feita numa
força major ou minor, preocupação major ou perspectiva funcional e contextual, capaz de
minor, possibilitando a elaboração do perfil da relacionar as competências e deficits dos pais
competência parental. com a sua capacidade de serem pais de uma
Conceitualmente, destacamos dois determinada criança num contexto específico
aspectos: em primeiro lugar, os autores de vida. A sua proposta de trabalho surge como
procuram encontrar um critério de classificação alternativa ao que consideram ser a
comum a todas as áreas avaliadas, o que facilita insuficiência das abordagens de caráter
ao técnico a identificação de forças e fraquezas individualista (que predominavam até então)
do funcionamento parental, bem como a para avaliar um processo relacional (a
ponderação da informação recolhida. Por outro parentalidade). Assim, privilegiam a recolha de
lado, é feita uma clara distinção entre dados comportamentais e não a avaliação da
competências e capacidades parentais, sendo personalidade dos pais. Além disso, consideram
estas últimas avaliadas a partir da análise crucial identificar exatamente que capacidades
506 Pereira, D., & Alarcão, M.

parentais foram comprometidas no passado, parental como a gestão do stress, ou a


quais se mantiveram e quais continuarão a estar capacidade de reconhecer os seus
comprometidas no futuro, sublinhando a comportamentos e assumir as suas
perspectiva diacrônica da avaliação. Estes responsabilidades. A integração da informação
autores distinguem competências e é deixada ao critério do técnico, não sendo
capacidades, ainda que não sejam dadas explicitadas orientações acerca de como a
referências acerca de como devem ser mesma deve ser feita (Donald & Jureidini,
diferenciadas tais avaliações. Outro elemento 2004), nem de como se reflete em termos de
que distingue este modelo assenta na proposta planificação da intervenção ou de medidas
de utilização de diferentes instrumentos, como judiciais a propor.
escalas de autorresposta, sistemas de Em 2001, Karen Budd propõe um
codificação das interações ou check-lists, para conjunto de diretrizes com vista a melhorar a
efetivar a avaliação dos vários conteúdos. qualidade dos relatórios de avaliação da
Como tal, a qualidade dos pareceres capacidade parental. O modelo desenvolve-se
relativos à capacidade parental, obtidos através em torno de três características nucleares: a)
deste sistema de avaliação, poderá ser qualidades dos pais e características da relação
prejudicada pela integração de resultados pais-filhos, b) abordagem funcional 3 e c)
provenientes de instrumentos concebidos com parentalidade minimamente adequada . A
base em diferentes abordagens teóricas e sem autora salienta que os técnicos devem descrever
que muitos deles (como os próprios autores detalhadamente a forma como os pais
reconhecem) tenham sido desenvolvidos com o asseguram as suas próprias necessidades na
objetivo de serem utilizados neste tipo de medida em que isso afeta o modo como
avaliações ou testados com populações de asseguram as necessidades dos filhos 4 . Em
risco. nosso entender este tipo de análise não avalia a
O Framework for Assessment of Children capacidade empática dos pais para com as
in Need and Their Families foi publicado em necessidades dos filhos, fator que pode ser um
2000, pelo Departamento de Saúde do Reino mediador crucial entre o reconhecimento das
Unido (Department of Health, 2000), e necessidades da criança e a mobilização dos
constitui uma importante referência em matéria pais para a sua satisfação.
de avaliação das situações de crianças em risco Ao contrário de Budd (2001), Donald e
e suas famílias. Ainda que não se centre Jureidini (2004) destacam a importância
exclusivamente sobre a capacidade parental, atribuída à capacidade parental e não às
inclui este domínio como um dos eixos da competências observáveis. Consideram que a
avaliação de qualquer criança/família, razão capacidade parental não é uma medida de como
pela qual consideramos pertinente referi-lo. Tal as pessoas desempenham as tarefas parentais
como os outros modelos, articula muito mas refere-se às qualidades psicológicas que
claramente as 3 dimensões chave − trazem para essas tarefas (Donald & Jureidini,
necessidades da criança, capacidades parentais 2004, p. 12) e ainda que a mesma é
e fatores ambientais. Contudo, não inclui influenciada por fatores relacionados com a
nenhum parâmetro relacionado com a avaliação criança ( quão difícil é ser pai desta
da capacidade de mudança dos pais, ainda que
um dos objetivos de avaliação seja obter
informação suficiente para fundamentar a
intervenção subsequente com crianças e 3
Grisso (1986, citado por Budd, 2001, p. 3) define
famílias e um dos documentos de suporte ao abordagem funcional como o que o prestador de
quadro de avaliação diga respeito à avaliação cuidados entende, acredita, sabe, faz e é capaz de
da motivação dos pais para mudar (Horwath & fazer relativamente ao cuidar de uma criança .
4
Morrison, 2000). Consideramos igualmente Por exemplo, se o prestador de cuidados passa
relevante o fato da apreciação sobre a muitas vezes fome, ou come ocasionalmente, é
provável que alimente a criança de forma irregular
capacidade parental decorrer das observações
porque não há comida em casa. Introduz assim a
recolhidas relativamente a cinco competências possibilidade de generalizar conclusões sobre o
que remetem diretamente para a relação pais- funcionamento pessoal ao funcionamento parental,
filhos e para a satisfação das necessidades sugerindo alguns exemplos de como tais
destes, não sendo enquadradas como generalizações poderão ser fundamentadas a partir
competências parentais áreas de funcionamento de observações do comportamento actual.
Parentalidade e protecção à infancia 507

criança? 5 - p. 10) e com o contexto social se nos mesmos aspectos, ainda que a recolha de
( qual o nível, natureza e contexto do apoio informação seja efetuada de forma diferente.
estrutural socioambiental no qual é exercida a Barudy e Dantagnan (2005) assumem que o
parentalidade? - p.10). Partindo destas técnico é parte da avaliação e integram as suas
premissas, consideram que a recolha de vivências emocionais durante o processo
informação deve ser organizada em função da avaliativo como elemento de análise para a
avaliação da capacidade dos prestadores de elaboração das conclusões finais. No sentido de
cuidados reconhecerem e satisfazerem diminuir a subjetividade do avaliador, são
adequadamente as necessidades atuais e sugeridas orientações metodológicas muito
previsíveis da criança, no quadro de uma precisas para a avaliação de cada tipo de
resposta empática ao nível do dano conteúdos e no final de cada área avaliada é
experienciado pela criança. A capacidade discutida a forma como as respostas às questões
empática dos pais assume aqui uma deverão ser interpretadas. Outra diferença situa-
importância não atribuída por nenhum outro se ao nível dos conteúdos: Barudy e Dantagnan
modelo de avaliação, considerando os autores reorganizaram as áreas de avaliação e
que esta é a característica que mais contribui integraram novas referências, propondo, por
para a capacidade parental. Refira-se ainda que exemplo, que a avaliação da capacidade de
este é o único modelo a considerar que as controle dos impulsos dos pais esteja
avaliações da capacidade parental devem ser intimamente ligada à avaliação da sua
conduzidas após a confirmação da ocorrência capacidade empática, variável que não aparecia
de maus-tratos o que, em nosso entender, pode destacada no guia de Steinhauer e que é
ajudar a pontuar as mesmas no quadro de um consonante com a importância atribuída por
processo clínico, diferenciando-as Donald e Jureidini à variável empatia . No
decisivamente de um processo que comprove final do guia, os autores sugerem que as
a ocorrência de maus-tratos. competências dos pais sejam clasificadas num
Pezzot-Pearce e Pearce (2004), continuum (situação muito preocupante,
considerando os três eixos de análise habituais preocupante, parcialmente preocupante ou não
(pais, criança e contexto), centram-se na preocupante para a criança, informações
importância de distinguir as competências contraditórias e pouco conclusivas) e efetuam
parentais necessárias para satisfazer as sugestões acerca de quando e como
necessidades de uma criança com um desenvolver a intervenção, de acordo com tal
desenvolvimento típico das exigidas para classificação. Consideramos que este é um
lidar com situações tão específicas como, por ponto extremamente importante, ao qual só
exemplo, as crianças adotadas ou com encontramos correspondente nas escalas de
perturbações de desenvolvimento. Estes autores Steinhauer e colaboradores, sendo que os
consideram ainda que é essencial avaliar as outros modelos de avaliação deixam ao critério
crianças (nomeadamente as suas necessidades) dos técnicos a escolha do vocabulário mais
para que o técnico possa ponderar apropriado para classificar/categorizar o
adequadamente se as características dos pais comportamento parental. Em Maio de 2010, os
satisfarão as necessidades evidenciadas por autores apresentaram uma validação desta
aquela criança em particular. As metodologia sob a forma de Manual de
recomendações em termos de intervenção a Avaliação das Competências e da Resiliência
desenvolver e/ou medida judicial a aplicar Parental (Barudy & Dantagnan, 2010).
deverão decorrer da ponderação dos fatores de Em 2008, o Canton de Vaud (Service de
risco e compensação identificados ao longo do Protection de la Jeunesse, 2008) propôs que os
processo, ainda que não sejam clarificados técnicos ligados ao sistema de proteção à
elementos de referência para tal tarefa. infância utilizassem um guia de avaliação que
Em 2005, Jorge Barudy e Maryorie aborda quer as capacidades parentais, quer a
Dantagnan propõem o Guia de avaliação das perigosidade que a situação pode
competências parentais através da observação eventualmente apresentar para a criança. Os
participante, elaborado a partir do guia de Paul conteúdos abordam as características dos pais,
Steinhauer e colaboradores. A avaliação centra- da criança e do contexto e, à semelhança da
proposta de Barudy e Dantagnan, os autores
5
Questão que traduz a determinação da propõem que seja tida em conta a avaliação da
parentabilidade da criança (parentability). implicação do técnico (Anexo 1). Isto remete
508 Pereira, D., & Alarcão, M.

para a exigência de que o técnico classifique a parental associadas a contextos como a adoção
natureza do seu próprio envolvimento ou perturbações do desenvolvimento da
emocional na avaliação/intervenção em termos criança; além disso, sendo comumente aceite
de intervenção empática e distanciada , que contextos diferentes implicarão
problemas de envolvimento ou perturbações competências diferentes não encontramos
de envolvimento . No documento que sintetiza referências concretas sobre como fazer essa
a proposta de avaliação, tais categorias são articulação.
explicitadas, estando-lhes subjacentes os Quanto ao segundo ponto referido,
critérios propostos por Francis Alföldi (2005). consideramos que nem todos os sistemas
definem métodos claros de avaliação do
2.2.2. Síntese crítica comportamento parental, centrando-se muitos
Da análise dos modelos de avaliação deles em entrevistas não estruturadas nas quais
revistos, sobressai o fato de os mesmos não se é deixada ao técnico a tarefa de conduzir a
constituírem, geralmente, como metodologias avaliação de forma a abordar todos os
empiricamente validadas, mas antes como elementos especificados, não sendo definidos
guiões de avaliação para apoiar a realização de critérios de análise da informação recolhida que
juízos clínicos. Dois aspectos surgem como fundamentem os respectivos juízos clínicos.
tendencialmente consensuais: estas avaliações Excetuando o modelo de Pezzot-Pearce e
(1) devem articular três aspectos essenciais, as Pearce (2004), os sistemas de avaliação tendem
características dos pais, da criança e do a ser generalistas e a não definir (ou a fazê-lo
contexto em que se inserem e (2) devem conter de forma muito limitada) métodos (de
não apenas a caracterização do comportamento avaliação) específicos para grupos específicos
parental no momento atual, mas também de pais. Como afirmam Azar et al. (1998),
considerar fatores referentes ao seu sem modelos e dados sobre diversos grupos de
funcionamento passado e futuro (ou seja, pais, tais desvios fundamentais podem
devem referir-se a competências e influenciar negativamente o processamento de
capacidades 6 , incluindo a capacidade de informação dos profissionais (p. 79) durante a
mudança de comportamento por parte dos avaliação.
pais). No respeitante ao terceiro ponto, não
Segundo Azar et al. (1998), uma encontramos nenhum sistema que definisse
abordagem funcional e contextual à avaliação claramente parâmetros de parentalidade
do comportamento parental implica a minimamente adequada, pelo que não
especificação de três aspectos: poderemos pronunciar-nos sobre eventuais
1. principais domínios de competência da aspectos comuns e diferenciadores.
parentalidade e principais contextos onde as Steinhauer et al. (1993), com a evolução
mesmas são necessárias; proposta por De Rancourt et al. (2006), e
2. métodos válidos para avaliar tais Barudy e Dantagan (2005) apresentam
comportamentos junto de diferentes grupos de abordagens focadas na capacidade parental. Ao
pais; longo dos respectivos guias articulam, através
3. nível de competência parental de questões-síntese, as informações recolhidas
necessário para que uma determinada criança se acerca das diferentes competências e
desenvolva dentro de limites minimamente características do comportamento dos pais com
adequados. a construção do parecer relativo à qualidade da
Relativamente ao primeiro ponto, todos os parentalidade, agora e no futuro. Em nosso
sistemas de avaliação referidos especificam entender, os outros modelos de avaliação
domínios de competência parental mas nem apresentados propõem a recolha de informação
todos clarificam a associação entre as que contribui para a caracterização e
necessidades da criança e tais competências, compreensão do funcionamento familiar atual,
com exceção da alusão feita por Pezzot-Pearce mas não esclarecem como a mesma deve ser
e Pearce às especificidades do comportamento ponderada em termos da avaliação da
parentalidade. Por exemplo, ainda que
6
Ou, como refere Barudy (s.n.), uma referência à compreendamos que a resiliência da
plasticidade estrutural que permite aos pais criança/jovem possa ser um fator pertinente na
adaptarem-se às necessidades dos filhos nas decisão quanto à medida de proteção mais
diferentes fases do seu desenvolvimento. adequada, Reder et al. (2003a) não explicitam
Parentalidade e protecção à infancia 509

como esta variável deve ser entendida no (1998) referem que um dos principais fatores
contexto da parentalidade. de que depende a avaliação da competência
Da mesma forma, apenas Steinhauer et al. parental corresponde aos modelos de
(1993) e Barudy e Dantagan (2005) propõem parentalidade do técnico com os quais
categorizações da qualidade da informação inevitavelmente entra no julgamento que faz da
recolhida nas várias áreas avaliadas, (dis)funcionalidade dos pais. A subjetividade
explicitando as suas opções e facilitando a daí decorrente é alvo de atenção diferenciada
fundamentação subsequente das estratégias de por parte de autores como Woodcock (2003) e
intervenção que, na situação em análise, se Barudy e Dantagnan (2005) e começa a
afigurem mais apropriadas para proteger a constituir-se como uma variável a ser integrada
criança e promover o seu desenvolvimento e categorizada, nomeadamente no que toca às
saudável. Em alternativa, é proposto por alguns emoções dos técnicos.
dos modelos que a análise da informação se Em segundo lugar, há que referir as
efetue em termos da ponderação entre fatores limitações metodológicas: embora o uso de
de risco ou de proteção: contudo, consideramos instrumentos estandardizados diminuísse fontes
que este tipo de síntese remete para objetivos de subjetividade, o fato de não existirem tais
de intervenção apenas centrados na proteção da instrumentos especificamente destinados à
criança, o que não será equivalente a outros avaliação da parentalidade em situações de
centrados na redução de sequelas e aumento de risco (Budd, 2005; Harnett, 2007; White,
competências (promoção do seu 2005), e de os mesmos poderem ser sensíveis à
desenvolvimento saudável). Como referem desejabilidade social (Schmidt et al. 2007),
Durocher e Paquette (1998), a dimensão da pode colocar em causa a validade das próprias
proteção remete para a questão complexa da avaliações. Para além disso, seria utópico
gestão do risco (p. 17), enquanto que reduzir pensar que um único instrumento poderia
as sequelas implica restabelecer as condições captar toda a diversidade e complexidade das
físicas e psíquicas essenciais ao situações das crianças e das famílias em
desenvolvimento das crianças e famílias e ao avaliação, sobressaindo então as dificuldades
aumento das competências, [exigindo] uma decorrentes da integração da informação caso
estratégia de intervenção que terá como os instrumentos não tivessem uma mesma raiz
resultado o desenvolvimento da pessoa , dos conceitual. As entrevistas e as observações
seus pais ou do seu meio, pela redução dos diretas da interação pais-filhos são os métodos
deficits e pela redução dos excessos associados mais utilizados, ainda que contenham grande
a um problema (p. 18). No contexto de variabilidade na sua condução e tratamento da
avaliação da parentalidade, consideramos que informação recolhida. Tais limitações fazem
uma abordagem que apenas foque a dimensão com que o técnico seja novamente
protetora descura a dimensão clínica de perspectivado como a principal fonte de
alteração de comportamentos: ou seja, procura variabilidade das avaliações, dificultando a
garantir que a criança/jovem não será neutralidade desejada. Contudo, consideramos
novamente maltratado, mas não contribui para que este ideal de neutralidade estará mais
a definição de parâmetros de intervenção (com próximo do que seriam os objetivos de uma
os pais, a criança/jovem ou a comunidade) que avaliação forense, e não tanto dos de uma
sustentem tal garantia. avaliação clínica: se na primeira se procura que
a informação recolhida seja o mais possível
2.3 Problemas observados nas avaliações independente do técnico que a recolhe, na
Ao longo da revisão destes 11 modelos, segunda a própria avaliação pode ter
percebemos o esforço de objetivação da implicações terapêuticas. Os sistemas de
avaliação, sendo que os diferentes autores avaliação descritos constituem,
procuram fundamentar e clarificar as variáveis fundamentalmente, guias para a realização de
de análise que se lhes afiguram mais juízos clínicos relativamente à capacidade
importantes à luz dos seus referenciais teóricos. parental e não deverão ser usados como prova
Contudo, são igualmente unânimes em da adequação/inadequação dos pais (Budd,
reconhecer que são diversas as dificuldades 2001).
encontradas no decurso de tais avaliações. Uma terceira limitação deste tipo de
Um primeiro nível de dificuldades situa- avaliações respeita às dificuldades de
se, de imediato, no próprio técnico: Azar et al. conciliação entre o tempo das decisões, o
510 Pereira, D., & Alarcão, M.

tempo da avaliação/intervenção e o tempo da tal tomarem consciência e aceitarem as


criança (Choate, 2009). É fato que a vida da insuficiências evidenciadas e forem ajudados a
criança continua enquanto se avalia e decide; transformá-las.
contudo, o tempo para que possa efetuar-se A fundamentação dos pareceres
uma avaliação não pode ser demasiado curto decorrentes de tais avaliações deverá ter em
nem demasiado longo. Por exemplo, Harnett conta não só a trajetória desenvolvimental das
(2007) considera que a avaliação da capacidade crianças e das famílias, o respectivo
de mudança deverá decorrer durante um enquadramento sistêmico e ecológico, mas
período de tempo entre 4 a 6 meses. Por outro também referenciais claros do que constitui
lado, o tempo das decisões judiciais é por vezes uma parentalidade minimamente adequada ,
tão longo que se corre o risco das decisões particularmente se a mesma não é garantida.
tomadas não se basearem em fatos atuais, o que Salientem-se, no entanto, dois pontos: (1) estas
limita decisivamente a adequação das medidas / avaliações ocorrem no contexto de uma
intervenções sugeridas. intervenção destinada a proteger a criança de
práticas parentais que comprometam
Conclusão definitivamente a boa qualidade do seu
desenvolvimento e (2) o seu principal objetivo
Através da revisão efetuada fica expressa a é a fundamentação do processo de intervenção
diversidade de modelos teóricos, bem como de psicossocial e não a constituição de prova da
conteúdos abordados e de métodos e (dis)funcionalidade dos pais.
parâmetros de avaliação propostos. Tais
diferenças poderão espelhar diversos resultados Por último, é importante não esquecer,
da investigação, diferentes sistemas de proteção neste quadro avaliativo, os atores do próprio
à infância, especificidades culturais, processo de avaliação, técnicos, pais e crianças,
orientações de política para a infância e nomeadamente no que diz respeito a aspectos
respectivos correlatos legislativos. Será então habitualmente considerados (emoções, crenças,
pouco verosímil que venha a definir-se expectativas, competências e capacidades) mas,
consensualmente um modelo único de efetivamente, muito importantes na forma
avaliação da capacidade parental. Não obstante, como é gerido todo o processo de avaliação.
é clara a necessidade de definirmos, no Em nosso entender, a garantia de respeito pelo
contexto do sistema de promoção e proteção superior interesse da criança exige que o
português, parâmetros de avaliação que processo de avaliação tenha em conta variáveis,
correspondam às especificidades da nossa como as referidas, que poderão afetar a
população. imparcialidade da própria avaliação. Isso
Para lá das diferenças registadas, podemos requer, por parte do técnico, um distanciamento
concluir que os modelos de avaliação da emocional suficiente para que possa identificar
parentalidade deverão ser suficientemente não só as suas ressonâncias, como a forma
flexíveis para que possam ser aplicados em como elas podem afetar, positiva ou
diferentes configurações parentais, uma vez que negativamente, o próprio processo avaliativo. O
aquela função pode ser desempenhada por processo de avaliação da capacidade parental é,
diferentes prestadores de cuidados e não ser também, um processo comunicacional, pelo
(apenas) a consequência natural da que é importante perceber como é que a relação
parentalidade biológica. É também clara a estabelecida contribui para os resultados
necessidade de avaliar o comportamento obtidos, quer a mesma se inscreva num
parental atual articulando-o não só com as contexto de natureza essencialmente clínica
características e necessidades da criança mas (em que a tônica é posta na ajuda que é dada à
também com as especificidades do contexto criança, aos pais e, no fundo ao sistema
sociofamiliar, no sentido de melhor poder familiar) ou forense (em que, neste
analisar e compreender quais são as forças e as enquadramento da proteção e promoção da
fragilidades que os pais evidenciam no e para o criança, a focalização é essencialmente feita na
exercício do seu papel parental. Nesta avaliação das competências e capacidades
avaliação, torna-se vital a consideração das parentais).
capacidades parentais, isto é, dos aspectos da A investigação futura poderá assim passar
parentalidade que os pais, respeitando o tempo pela validação de um modelo de avaliação da
da criança, têm possibilidade de alterar se para parentalidade, no contexto português do
Parentalidade e protecção à infancia 511

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514 Pereira, D., & Alarcão, M.

ANEXO 1: Modelos de Avaliação da Parentalidade

Conteúdos abordados
Autores dos
modelos de
avaliação Pais Criança Contexto Outros

Contributos dos pais Contributos da criança Fontes contextuais de stress e apoio


Belsky / Vondra * Personalidade * Prematuridade * Vizinhos
(1984; 1989) * Perturbações psicológicas * Temperamento * Relações próximas (ex.: amigos)
(Reino Unido) * Necessidades especiais * Relação conjugal
* Rede social

Nível de funcionamento familiar e parental Áreas problema/dificuldades Fatores ambientais que contribuem Potencial de mudança
* atmosfera afectiva na família desenvolvimentais da criança que são para o problema * disposição dos pais para admitir que existe um
* comunicação fonte de preocupação para os técnicos e problema
* limites entre os membros da família a família * disposição dos pais para trabalhar com vista à
* alianças mudança
* estabilidade e adaptabilidade Aspectos do funcionamento individual da * capacidade de pedir ajuda e utilizar sistemas de
* competência da família: resolução de conflitos, tomada de criança (e/ou de outros membros da apoio
Adcock decisões, resolução de problemas e gestão do família) que contribuem para o * disponibilidade e capacidade dos serviços para
(1985) comportamento das crianças problema: oferecer ajuda imediata aos pais e crianças
(Reino Unido) * relações com o ambiente * desenvolvimento físico,
* desempenho de tarefas de cuidado (ex: alimentação, * cognitivo, As mudanças necessárias para resolver o
higiene, etc.) e de controle * vinculação às figuras de referência problema

Aspectos da história da família que possam ser


relevantes para a situação

Steinhauer et al. (1993)


Avaliação dos pais Avaliação da criança Avaliação do contexto Avaliação das relações entre a criança e os
* Domínio dos impulsos * Evolução do desenvolvimento da criança * (Aspectos específicos a) Imigrantes / pais
* Aceitação da responsabilidade pelo prestador de cuidados Famílias deslocadas/ Situação étnica * Características predominantes da relação entre
* Comportamentos do adulto que afectam a competência * Fatores de stress atuais o prestador de cuidados e a criança
parental * Observação da aptidão parental atual
* Relações do prestador de cuidados com a comunidade
Steinhauer et al. * Recurso a intervenções clínicas pelo prestador de Construção do Perfil da Competência
(1993) cuidados parental
Centres Jeunesse
Montréal Centres Jeunesse Montreal (2006)
(2006)
(Canadá)
Os pais A criança O contexto A relação pais – criança
* Controle dos impulsos * Saúde e desenvolvimento da criança * Contexto sócio-familiar * Vinculação
* Reconhecimento da responsabilidade * Competências Parentais
* Fatores pessoais que afectam as competências parentais
* Rede social Previsão do potencial de mudança
* História dos serviços clínicos
Perfil das capacidades parentais
Parentalidade e protecção à infancia 515

1995

Relação dos pais com o papel parental Relação dos pais com a criança Interação dos pais com o mundo exterior Influências familiares
* Os pais asseguram os cuidados físicos básicos? * Que sentimentos têm os pais * Que redes de apoio estão disponíveis? * Que consciência e atitude têm os pais
* Os pais asseguram cuidado emocional adequado à idade? relativamente à criança? * Qual o padrão das relações dos pais com os relativamente às suas próprias experiências
* Os pais encorajam o desenvolvimento da dinâmica da * Os pais empatizam com a criança? técnicos? enquanto filhos?
vinculação? * A criança é vista como uma pessoa * Os pais são capazes de manter uma
* Que atitude têm os pais relativamente às tarefas da distinta? relação de apoio com um companheiro?
parentalidade? * É dada primazia às necessidades da * A criança está demasiado envolvida nas
* Os pais aceitam a responsabilidade pelo seu criança relativamente aos desejos dos relações conflituosas da família?
comportamento parental? pais? * Quão sensível é a família aos stressores
* Os pais têm a expectativa que a criança seja responsável relacionais?
pela sua própria proteção? * Qual o significado da criança para os
Reder & Lucey * Se existem problemas, os pais reconhecem os mesmos? pais?
(1995a; 1995b; * Qual o contributo da criança para a
2003a; 2003b) relação parental?
(Reino Unido) * Que atitude tem a criança relativamente
aos seus prestadores de cuidados?

Potencial de mudança
* Qual o potencial para beneficiar de ajuda
terapêutica?
* Que respostas houve a tentativas prévias
de ajuda?
2003
Pais (e relação pais-criança) Criança (e relação criança-pais) Contexto (e relação família.-contexto)
* Funcionamento pessoal * Evidências de dano significativo * Funcionamento familiar
* Relação com o papel parental * Contributo para a relação pais-filhos * Stressores sociais
* Relação com a criança * Atitude em relação às figuras parentais * Potencial de estabilidade
* Nível de compreensão * Relações com outros
Informação acerca dos pais Informação acerca da criança Pais – Criança
* História da família * História de desenvolvimento * Vínculo pais-criança
* História da proteção à criança * Necessidades atuais * Observação durante as visitas
Azar, Lauretti & * Antecedentes pessoais * Reação às visitas * Adequação
Loding * Funcionamento psicológico * Impacto do abuso/negligência * Previsão do risco
(1998) * Funcionamento parental
(EUA) * Funcionamento social Questões sistêmicas
* Evolução da colaboração
* Consistência das visitas
* Interações com profissionais
Capacidade parental Necessidades desenvolvimentais da Fatores familiares e ambientais
* Cuidados básicos criança * Recursos da comunidade
Framework for
* Garantir segurança * Saúde e educação * Integração social da família
Assessment of
* Calor emocional * Desenvolvimento emocional e * Rendimento
Children in Need
* Estimulação comportamental * Emprego
and their families
* Orientação e limites * Identidade * Habitação
(2000)
* Estabilidade * Relações familiares e sociais * Família alargada
(Reino Unido)
* Apresentação social * História e funcionamento familiar
* Competências de autocuidado
516
Pereira, D., & Alarcão, M.

História das alegações de mau-trato ou Criança e relação pais-criança Situação de vida atual dos pais Expectativas dos prestadores de
preocupações relativas aos prestadores de cuidados * Primeiras experiências enquanto * Natureza, estabilidade e contexto ambiental da cuidados relativamente às alegações
* Versão dos fatos - versão dos fatos apresentada pelos prestador de cuidados residência atuais
pais * História da criança pré e pós-natal * Pessoas no agregado e necessidades especiais * O que os pais gostariam que
* Visão dos pais acerca da credibilidade das alegações e da * Desenvolvimento e saúde da criança atuais acontecesse?
responsabilidade pessoal pelos fatos * Tempo que os pais ocupam na * Situação escolar ou profissional * O que seria melhor para a criança?
* Visão dos pais de como os fatos afetaram a sua vida prestação de cuidados * Saúde física * O que a criança gostaria que
Serviços recebidos relacionados com as alegações * Forças e fraquezas enquanto prestador * Saúde mental acontecesse?
* Serviços que ajudaram e porquê de cuidados * Situação relacional * Que serviços ou mudanças são
* Serviços que não ajudaram e por quê * Relação atual com a criança * Rede de apoio social necessários para ajudar o prestador de
Budd Antecedentes pessoais dos pais * Necessidades especiais, receios, ou cuidados e atingir os resultados desejados?
(2001) * Família nuclear – continuidade ou descontinuidade das considerações acerca do bem-estar da * Probabilidade de ser capaz de efetuar tais
(EUA) relações e porquê criança mudanças
* Saúde e desenvolvimento na infância * Periodicidade atual das visitas se a * Obstáculos ao alcance dos resultados
* Experiências de disciplina e cuidado por parte dos próprios criança não está com os pais * O que aconteceria se os resultados não
pais * Visão de como a criança está atualmente fossem atingidos?
* História educativa * O que o prestador de cuidados gostaria
* Acontecimentos de vida significativos (ex.: trauma, abuso de fazer pela criança e capacidade para o
ou negligência, mudanças, envolvimento criminal, abuso de fazer
substâncias)
* Identidade cultural e religiosa
* Relações íntimas e rupturas significativas

Donald & Jureidini Capacidade Parental Efeitos Moduladores: a Efeitos Moduladores: Apoios à parentalidade
(2004) * Capacidade para estabelecer relações íntimas, saudáveis: parentabilidade da criança * Conhecimento de base e experiência parental
(Austrália) Reconhecimento das necessidades da criança e capacidade * Perturbação, doença ou distúrbio * Apoio que os pais dão um ao outro na função
para as colocar antes das suas; Consciência dos potenciais emocional quer anterior a, ou como parental
efeitos dos stressores da relação na criança; Capacidade resultado do mau-trato * Apoio ou perturbação por parte da família
para se responsabilizar pelo comportamento pessoal, * Grau em que o estado emocional da alargada e outras fontes externas
incluindo o mau trato; Capacidade para evitar atos criança foi comprometido pelo mau trato. * Uso de álcool e outras drogas
impulsivos, perigosos * Idade desenvolvimental da criança na * Dificuldades financeiras
* Aceitação da responsabilidade em assegurar um ambiente altura do abuso * Efeitos positivos e negativos do envolvimento no
seguro para a criança * Qualquer significado idiossincrático que sistema legal
* Consciência dos possíveis efeitos da sua experiência de ter uma criança particular possa ter para um * Relações pais - profissionais (passado e
sido cuidado prestador de cuidados presente), disponibilidade para aceitar ajuda
* Disponibilização de cuidado físico e emocional adequado profissional, e resposta a tentativas prévias de
ao estado desenvolvimental da criança ajuda

Pezzot-Pearce & Fatores dos Pais Fatores da Criança Fontes contextuais de apoio ou stress
Pearce * Características pessoais que aumentam o risco de * Desenvolvimento Típico * Rendimento e habitação
(2004) parentalidade desadequada * Desenvolvimento Atípico * Apoios sociais
(Canadá) - temperamento difícil
- perturbações desenvolvimentais
- problemas médicos
- problemas de aprendizagem
* Acontecimentos de vida específicos e
necessidades parentais
- Abuso e negligência da criança
- Crianças adotadas
- Separação/divórcio
- Risco e resiliência
Parentalidade e protecção à infancia 517

Barudy & Características individuais dos pais: Avaliação da qualidade das relações Avaliação das características das relações Observação e avaliação das
Dantagnan * Avaliação do modelo de vinculação adulto dos pais com os filhos (vinculação) sociais dos pais com a sua comunidade competências parentais atuais.
(2005, 2010) * Capacidades empáticas e de controle dos impulsos * Com crianças dos 0 aos 12 meses. * Avaliação da participação dos pais na sua rede
(Espanha) * Aceitação da responsabilidade pelo que acontece à criança * Com crianças de 1 ano a 2 anos e meio. natural, incluindo a sua família alargada. Avaliação da capacidade dos pais de
* Características e problemas pessoais que podem afetar * Com crianças de 2 anos e meio a7 anos. * Avaliação dos níveis de cooperação dos pais com solicitar e beneficiar de organismos e
positiva ou negativamente as competências parentais. * Com crianças com mais de 7 anos a rede institucional. profissionais.
* Impacto das características pessoais problemáticas sobre *Avaliação do impacto dos fatores de stress * Avaliação da capacidade dos pais de
as competências parentais. provenientes do meio social na parentalidade. beneficiar de ajuda profissional.
* Avaliação do impacto da imigração no exercício * Avaliação do impacto das intervenções
da parentalidade sobre a parentalidade.

Référentiel Pais Criança Contexto Familiar Intervenção


d’évaluation du * Vinculação * Desenvolvimento da criança * Contexto social * Relação com os serviços de ajuda
danger encouru * Disposições Parentais * Comportamento da criança * Dinâmica transgeracional * Implicação do técnico
par l’enfant et des * Reconhecimento da responsabilidade * Perigo físico
compétences * Perigo sexual
parentales * Perigo psicológico
(Service de * Perigo de negligências
Protection de la
Jeunesse, 2008)
(Suíça)

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