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A invenção da cultura

Data @23/06/2022

Autor WAGNER

Status Lido

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ano ([1981]2010)

— FICHAMENTO PARA APRESENTAÇÃO


Capítulo 01: A presunção da cultura
a) A ideia de cultura
O autor inicia o primeiro capítulo falando sobre o uso da palavra cultura. Ele aponta que os
antropólogos utilizam a ideia de cultura tanto para falar da cultura humana em geral, quanto para
falar de tradições específicas. Mas, ele esclarece que utiliza cultura como a redução mais básica
das ações e propósitos humanos, de forma que se possa examina-la em termos universais. p. 27-
28
A partir disso ele vai afirmar que uma peculiaridade da antropologia é a necessidade do
antropólogo estudar a si mesmo, utilizando sua própria cultura para estudar as demais e até a
cultura em geral. Isso é importante porque ao ter ciência de sua própria cultura, o antropólogo
deve abandonar a pretensão de objetividade absoluta, abraçando a objetividade relativa. p. 28
Outro ponto que ele trás é que a ideia de cultura coloca o antropólogo em pé de igualdade com o
seu objeto de estudo. Como cada um tem uma cultura específica e não existe uma forma de
classifica-las. É a ideia de relatividade cultural. p. 28-29
Mas essas duas ideias, a de objetividade relativa e de relatividade cultural, quando combinadas,
vão criar uma forma de estudo da cultura . Que para estudar uma cultura, você vai estuda-la a
partir da relação entre duas culturas. Um exemplo disso seria o antropólogo que vai até outra
cultura, a experiencia e depois volta para casa e comunica sua compreensão. Primeiro que ele vai

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experienciar a cultura a partir de seus próprios significados, segundo que ele só vai conseguir
comunicar sua compreensão em termos plausíveis para sua própria cultura. p. 29
E a partir disso que o Roy Wagner vai entender a obsessão do antropólogo com a pesquisa de
campo. Porque no campo ele vai perceber o caráter relativo da sua própria cultura enquanto ele
formula outra. O pesquisador se torna o elo entre as duas culturas por ter vivenciado ambas.
É aqui que o autor vai falar que o antropólogo “inventa” a cultura que ele estuda. Porque a
cultura que ele inventa é na verdade a sua cultura experienciando outra cultura. Claro que o
termo invenção não tem nada a ver com fantasia, e sim observação e aprendizado. Na prática é o
antropólogo ali vivendo uma cultura a partir da sua própria. Isso é importante porque no dia-a-
dia a cultura em que estamos nunca é visível, ela não é percebida. p. 30-31

b) Tornando a cultura visível

Passando agora para este processo de tornar a cultura visível, ele vai exemplificar como
normalmente a cultura se torna visível.
Então, ele vai falar que quando um antropólogo chega em campo, ele se sente solitário. Isso
porque antes a cultura era apenas uma abstração acadêmica. Logo em seguida ele vai passar por
várias dificuldades, tanto de comunicação quanto de as pessoas ao redor dele não estarem
confortáveis. Mas ele vai falar que esses perrengues são importantes, porque é o contato
cotidiano, perguntar onde é o banheiro, como se liga o fogão, que criam pontes de empatia. É
esse contato que humaniza o forasteiro. p. 31-32
Ao tentar desenvolver mais mais esses contatos, o pesquisador já começa a experienciar
pequenas contradições nas suas expectativas, como noções de decência em público e
proximidade física. E quanto mais ele se aproxima das pessoas, mais isso vai acontecer. O que o
Roy Wagner vai falar é que o pesquisador vai ter um sentimento geral de inadequação, que é o
choque cultural. p. 32-34
É claro que para as pessoas da comunidade também ocorre um choque, porque o antropólogo é
um forasteiro estranho, intrometido e ingênuo. Mas a solução para todos é o antropólogo
conseguir lidar com sua frustração e o choque cultural, aprendendo a língua e os modos de vida
da comunidade. p. 34-35
Mas para conseguir se ajustar, o antropólogo vai objetificar aquilo a qual ele está se ajustando e
vai chamar de cultura. Se diz que ele está “aprendendo” a cultura, que é o mesmo de estar
inventando a cultura. E isso é importante porque entender aquela nova situação como uma

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entidade concreta, com regras que podem ser aprendidas, é reconfortante e ajuda a lidar com o
choque cultural. p. 3-36
Porém, como o Roy Wagner deixa claro, o antropólogo não estará aprendendo a cultura da
mesma forma que faria um criança, porque ele já é um adulto que internalizou sua própria
cultura. Todos os seus esforços para entender o que está estudando e comunicar o conhecimento
vão surgir da sua habilidade de produzir significado dentro da sua própria cultura. Citando
diretamente, o antropólogo “irá "participar" da cultura estudada não da maneira como um nativo
o faz, mas como alguém que está simultaneamente envolvido em seu próprio mundo de
significados, e esses significados também farão parte”. p. 36

Na prática de invenção do antropólogo, o que ocorre é a criação de diversas analogias para


traduzir significados básicos para lidar com o choque cultural que deixou as culturas visíveis. p.
37

c) A invenção da cultura
Ainda na questão do campo, o Roy Wagner vai trazer que a invenção da cultura não
necessariamente se dá apenas no campo, ela irá acontecer sempre que convenções estrangeiras
sejam postas em relação com o conjunto de convenções do sujeito. Porém, o antropólogo não faz
isso apenas para controlar sua experiência e compreender outra cultura em termos familiares. Ele
também faz isso para verificar como essa experiência afeta a compreensão de cultura como um
todo. Porque além de transformar o estranho em familiar, esse tipo de experiência também faz o
familiar se tornar estranho, de forma que acaba-se inventando uma cultura para ele também. p.
39-40

A questão que o Roy Wagner está trazendo com isso neste final de capítulo é: é possível uma
antropologia autoperceptiva? E sobre isso ele vai dizer que todo estudo da cultura também é
cultura, e que uma antropologia que queira ser consciente e desenvolver seu senso de
objetividade relativa deve saber disso.

Capítulo 02: A cultura como criatividade


a) Trabalho de campo é trabalho no campo

Roy Wagner inicia o segundo capítulo falando de sua experiencia pessoal de trabalho de campo
com os Daribi, na Nova Guiné. E falando sobre o campo, ele diz que os resultados do
pesquisador de campo são produtos, e que por mais que pareçam especiais, eles não deixam de
ser produtos, e sua criação continua sendo “trabalho”. p. 49-50

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Porém, o autor relata muito dificuldade dos Daribi entenderem o seu trabalho, o porque do
interesse neles. E com o tempo ele foi percebendo que as pessoas aparentemente ligavam o
“trabalho” estranho dele com o fato dele não ser casado. p. 50-51
O choque que o Roy Wagner coloca aqui é que enquanto ele ficava incomodado com a
insistência dos Daribi em se preocuparem com os seus arranjos domésticos, sua alimentação e
seu estado conjugal, os Daribis ficavam pasmos com a indiferença dele quanto a sua
subsistência, casamento e sua paixão com entrevistas. p. 52-53

Ai o autor vai falar que foi até os Daribi estudar temas que para os próprios Daribis e suas vidas
pouco representavam. Ele queria acrescentar produção para a “literatura antropológica”, mas
seus interesses eram totalmente obscuros para quem não se interessasse pelo mesmo tipo de
produção. p. 53

Então ele entendeu que enquanto ele tentava fazer o seu trabalho plausível para os Daribis, eles
só sentiam piedade dele, e isso não era apenas por dificuldades de comunicação. O problema era
anterior, iniciado com a própria antropologia e as expectativas quanto a própria ideia de cultura.
p. 53

b) A ambiguidade da “cultura”

E aprofundando mais nessa ideia, o Roy Wagner vai dizer que cultura num sentido
contemporâneo vai vir da ideia de refinamento e domesticação do homem por ele mesmo. p. 54
Mas, nos aproximamos do erro que aparenta ser crucial em sua permanência com os Daribis, foi
a ideia de cultura também como o que ele chama de “salão de ópera”. Que é quando chegamos
em uma cidade e pensamos nela em termos culturais, não pensaremos em mercearias e postos de
gasolina e sim em bibliotecas, orquestras e universidades. São esses santuários que preservam
documentos e relíquias das mais altas realizações humanas. Esse tipo de instituições culturais
preservam e protegem os resultados do refinamento do homem, garantindo sua continuidade. p.
55

Com isso ele está falando que o cerne da nossa cultura é a ciência, a arte, a tecnologia. A soma
das conquistas, invenções e descobertas é o que define a nossa ideia de civilização. E nós as
preservamos, ensinamos sobre elas nas escolas e as evoluímos em instituições de pesquisa, as
refinando casa vez mais. Guardamos todas essas coisas como se a nossa cultura fosse essa soma
de maneiras de fazer as coisas, a soma dos conhecimentos. p. 55-56

Então, a partir disso o Roy Wagner vai falar que a produtividade ou criatividade de nossa cultura
é definida pela aplicação ou extensão dessas técnicas e descobertas. Qualquer trabalho só adquire

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sentido em relação à soma cultural de acordo com as descobertas que ele utiliza. E o trabalho do
antropólogo também faz isso, ele utiliza habilidades e ideias adquiridas por educação, e contribui
para um todo que é a literatura antropológica. p. 56

Bom, com tudo isso, ele volta que o trabalho produtivo é a base do nosso sistema de crédito, com
ele medimos direitos e obrigações. E essa produtividade do homem é o foco central da nossa
civilização. Por isso damos tanto valor para a “cultura” “sala de ópera”, porque ela representa o
incremento criativo, a produtividade que cria trabalho e conhecimento ao fornecer-lhes ideias,
técnicas e descobertas. p. 56-57

E o que o autor vai falar é que enquanto essa produtividade é pública, o nosso conceito de
família já é periférico e privado. E citando Schneider, ele diz que as relações internas da família
são simbolizadas por amor e solidariedade. Teríamos então uma oposição entre dinheiro e amor,
temos uma separação entre negócios e vida doméstica na nossa cultura. Um exemplo que ele cita
é o escândalo que se tem quando duas pessoas que trabalham juntas se envolvem
romanticamente. p. 57
E o Roy Wagner vai dizer que fora alguns antropólogos, em geral a vida familiar é quase
insignificantes nos relatos históricos das culturas, porque esses relatos normalmente focam nos
desenvolvimentos de técnicas produtivas, de instrumentos e tecnologias. A cultura surge
enquanto acumulação de invenções grandiosas e conquistas notáveis. p. 58

O que ele está querendo demonstrar aqui é que essa ideia de trabalho é algo da sociedade
ocidental. Em outras comunidades, por exemplo, trabalho pode ser desde capinar uma roça até
participar de uma festa. Enquanto que para os Daribis, a ideia de “ganhar a vida” é algo dentro da
família, é algo que os membros de uma família vão fazer juntos de acordo com a divisão sexual e
etária. p. 59

Logo, se a família é produção e subsistência, o casamento e a existência da família para


sociedades como os Daribis são questão de vida ou morte, porque quem não se casa está
condenado a depender dos outros. A demanda deles, então, não é buscar produtos, e sim
encontrar produtores, uma família. E por isso que os Daribis estavam tão preocupados com a
subsistência e o celibato dele. p. 59

Deixado isso claro, o Roy Wagner vai falar que é por isso que os antropólogos são fascinados por
povos tribais, e quanto mais diferentes das nossas culturas, melhor, porque fazem essas
generalizações tomarem formas e alcançares extremos. E mesmo elas sendo invenções baseadas
em experiência e aprendizados, elas são tratadas como reais, pois caso contrário a antropologia
seria um museu de cera de curiosidades, fosseis e momentos imaginados da história. p. 61-62

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c) O museu de cera

Ai o Roy Wagner vai mudar de tópico e falar que não surpreende que a antropologia tenha se
desenvolvido tanto em museus. Isso porque os museus ligam dois sentidos da cultura: primeiro
que metaforizam espécimes e dados etnográficos, os analisam e preservam. Segundo porque
tornam esses objetos necessários ao nosso refinamento. As múmias e pontas de flecha, além de
serem produtos de outras culturas, também são produtos da antropologia. São importantes como
a primeira máquina de costura e os mosquetes de guerra. p. 62-63
Como exemplo disso ele vai citar Ishi, que foi o último sobrevivente yahi da Califórnia. Depois
que ele se rendeu, ele passou os próximos anos vivendo em um museu. E ele conta que quando
fazia tempo bom, eles levavam Ishi para a floresta para ele mostrar os procedimentos e técnicas
de sobrevivência dos Yahi. Ishi reconstituía sua própria cultura para o antropólogo que o
acompanhava (Kroeber). Se esquecia que enquanto indígena, seu principal trabalho era viver.
Mas ao tentar metaforizar sua cultura, acabavam por reduzi-la a técnicas e artefatos. O que é
algo que Roy Wagner vai falar que ainda não deixou a imaginação antropológica. p. 63-64
Ele diz que quando se estuda esses modos de conceitualização exóticos, se transforma seus
símbolos nos nossos. E é por isso que eles aparecem sempre de uma forma reduzida ou
literalizada. E o Roy Wagner vai afirmar que uma antropologia que não aceita a universalidade
da mediação, que reduz o significado a crença, dogma e certeza, vai acabar por cair na armadilha
de ou ter que acreditar nos significados nativos ou nos nossos próprios significados. Logo,
enquanto a antropologia continuar dependendo do sentido de cultura enquanto sala de ópera, os
estudos sobre outros povos sempre serão enviesados na direção da nossa própria imagem. p. 65-
66

Ele vai dizer que “enquanto nossa invenção de outras culturas não puder reproduzir, ao menos
em princípio, o modo como essas culturas inventam a si mesmas, a antropologia não se ajustará à
sua base mediadora e aos seus objetivos professos. Precisamos ser capazes de experienciar nosso
objeto de estudo diretamente, como significado alternativo, em vez de fazê-lo indiretamente,
mediante sua literalização ou redução aos termos de nossas ideologias”. p. 66

d) “Road belong culture”

Para terminar este segundo capítulo, o Roy Wagner vai especular uma “antropologia reversa”.
Em como seriam as metáforas da civilização industrial moderna do ponto de vista das sociedades
tribais. E vai apontar que isso já aconteceu muitas vezes, porque com a expansão política e

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econômica da Europa no século XIX, muitos povos acabaram em situação de campo mesmo sem
pedir por isso. E mesmo que não seja um trabalho de campo propriamente dito, ainda assim era
um choque cultural continuado p. 67

Bom, e aqui eu já fico um pouco mais confusa, depois o Luzimar por explicar melhor, mas ele
vai entrar no culto da carga. Que seria enquanto basicamente enquanto olhamos para os nativos e
chamamos suas técnicas e artefatos de cultura, eles olhariam para nossa cultura e chamariam de
carga. p. 67-68

Como definição o Roy Wagner vai falar que "Carga" é tipo uma paródia, uma redução de noções
ocidentais como lucro, trabalho assalariado e produção pela produção aos termos da sociedade
tribal. p. 68-69

Nesse ponto, ele vai trazer o exemplo de Yali, que era um líder dos cultos da costa setentrional da
Nova Guiné, e que teve a cooperação solicitada pelo governo australiano e foi levado a uma
cidade para isso. E pelo que eu entendi, ele vai descrever algumas situações que surpreenderam
Yali, e como em muitos momentos ele associou práticas ocidentais como tipos de totemismo, e
até com sua própria cultura. Também se valendo de analogias e metaforização para “explicar” o
que ele via.

Então o Roy Wagner vai concluir o segundo capítulo falando que independente de serem devotos
do conceito de carga ou de cultura, ambos não conseguem entender o outro conceito sem
transforma-lo no seu próprio. Que todos os homens projetam, provocam e estendem suas
analogias sobre um mundo de fenômenos intransigentes.

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