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Universidade Federal do Pará

Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia

Disciplina: Teorias da Cultura

Docente: Profª Drª Marina Castro

Discente: Erica Marques

WAGNER, Roy. A cultura como criatividade. In.: A invenção da cultura. São Paulo:
Cosac Naify, 2010. p.49 – 72.

O antropólogo Roy Wagner escreveu o livro A Invenção da Cultura em 1975. A obra,


dividida em seis capítulos, é considerada um dos trabalhos mais importantes do autor por
conta da reflexão a respeito do conceito de cultura na antropologia.

No capítulo dois, A Cultura Como Criatividade, Roy Wagner faz uma descrição do seu
trabalho de campo realizado entre os Daribi, no monte Karimui, na Nova Guiné, e mostra
como a cultura é construída a partir de uma relação diária.

O autor inicia falando sobre a rotina que procurou manter durante o trabalho de campo,
sendo formada por observações, entrevistas e participação. A presença do estudioso,
como era de se esperar, causou estranheza entre os Daribi, principalmente pelo fato de
dele ser solteiro. O fato de Wagner não ser casado era visto pelos nativos como algo triste,
digno de pena, uma condição pesada à sobrevivência local.

Os Daribi demoraram a entender no que consistia o trabalho de Roy Wagner já que,


segundo eles, “Não é governo, não é missão, não é doutor” (pág. 50). Então, concluíram
que ele era um “storimata”, termo em pidgin, derivado de story master (contador de
histórias). Isso não diminuiu a visão deles de que o serviço realizado pelo antropólogo
era problemático.

Com isso, a perplexidade na escolha de Roy Wagner manter-se solteiro até o fim da sua
pesquisa gerou questionamentos por parte dos Daribi. O que antes era um incomodo foi
visto posteriormente pelo estudioso como algo natural, pois como ele afirmou: “se eu
podia lhes perguntar com que tipo de gente eles podiam se casar, era justo que eles
pudessem me perguntar com que tipo de gente eu podia me casar." (p.53). Então,
enquanto um queria descobrir sobre a vida do outro, Roy Wagner começou a refletir que
os enganos de cada um sobre a realidade do outro se tratavam, simplesmente, de sua
invenção da cultura pelos nativos e vice-versa.

A cultura, como o autor apresentou, deriva do latim (colere) e significa cultivar. Antes,
ela expressava o cultivo do solo, mas depois passou a ser usada para definir pessoas
refinadas. Roy Wagner a definiu também como cultura "sala de ópera" e a antropologia a
definiu como algo elitista e aristocrático. De acordo com o autor, a criação de centros
culturais institucionalizaram a cultura e destacaram a noção de “civilização”.

No que se refere a apoderação dos dados etnográficos pelos museus, o antropólogo diz
que "Os postes totêmicos, as múmias egípcias, as pontas de flechas e outras relíquias em
nossos museus são 'cultura' em dois sentidos: são simultaneamente produtos de seus
criadores e produtos da antropologia [...] O estudo dos “primitivos” tornou-se uma função
de nossa invenção do passado" (p.63). Porém, para que a antropologia não virasse "um
museu de cera de curiosidades, de fósseis reconstruídos, de grandes momentos de
histórias imaginadas" (p.62), Roy Wagner acredita que é necessário entender que a cultura
não é um objeto, mas uma construção que auxilia o entendimento de outro povo que não
interpreta a noção de cultura para si próprios.

Com isso, o autor critica o reducionismo cultural à economia, biologia ou qualquer outro
ponto. Segundo Roy Wagner, é conveniente para todos os povos obter ambiguidades em
seus conceitos, não devendo ser reduzidos a ideologias e cita como exemplo o culto da
carga. Nele, o contato do imperialismo com os Daribi é representativo na comparação
entre a noção de carga e cultura: "olhamos para a carga dos nativos, suas técnicas e
artefatos, e a chamamos de 'cultura', ao passo que eles olham para nossa cultura e a
chamam de 'carga" (p.68). Desse modo, os europeus “literalizam” o conceito de carga e
supõe “que queira dizer simplesmente produtos manufaturados" (p. 69).

Outro exemplo destacado pelo autor é quando Yali, líder dos cultos da costa setentrional,
é levado a Port Moresby e fica estarrecido com a política que encorajava os costumes
locais e a descrença de alguns europeus no mito de Adão e Eva.

Desse modo, Roy Wagner aponta a relevância do homem em investir continuamente em


suas ideias, pois “O homem é o xamã de seus significados. A ambiguidade da cultura, e
também da carga, coincide com o poder que tal conceito tem nas mãos de seus intérpretes,
os quais empregam os pontos de analogia para manejar e controlar os aspectos
paradoxais" (p.72).

Assim, Roy Wagner mostra nesse segundo capítulo que a cultura resulta de uma relação
cotidiana, que tem como base as percepções que o antropólogo faz do seu objeto de estudo
(povos nativos) e vice-versa. Segundo o autor, o pesquisador busca dar sentido à vida que
ele tem contato, transformando-o em um estudo etnográfico. Enquanto isso, quem é
estudado tenta compreender o que o etnógrafo faz em seu ambiente.

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