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São Paulo
2019
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São Paulo
2019
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CDD 155.423
AGRADECIMENTOS
quando recebemos o feedback de vocês dizendo que algumas ainda continuam implementando o
PIPA nas demais turmas. Já se passaram 2 anos e sinto que nossa sementinha foi plantada.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio
financeiro através do Programa de Excelência Acadêmica (Proex - Processo número
88887.184882/2018-00), que viabilizou a realização desta pesquisa e contribuiu para o meu
desenvolvimento acadêmico.
Aos professores que compõe esta banca, Prof. Dra. Ana Alexandra Caldas Osório, Profa.
Dra. Rochele Paz Fonseca, Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro e Profa. Dra. Caroline de
Oliveira Cardoso, super agradeço por aceitarem o convite e contribuirem com a melhoria do nosso
trabalho. Sinto que já evolui da qualificação para cá, graças também as contribuições de vocês.
Terei sempre um carinho especial por vocês.
Também gostaria de deixar registrado aqui todo o suporte que as meninas da secretaria do
nosso programa de pós-graduação (e das revistas vinculadas) nos deram durante todo o período de
doutorado (Alê, Lê, Nara e Jac). Em especial, agradeço à Dani, que me acompanhada desde o
mestrado, dando todo o suporte, esclarecendo todas as dúvidas, sempre com um sorriso no rosto e
muita paciência.
Por fim, ao meu marido (lindo), meus pais, demais familiares e amigos (em especial Aninha
Soares, Bruna Trevisan e Tati Mecca) que me ajudaram em algum momento na trajetória
acadêmica, seja como suporte emocional, afetivo ou cognitivo (rs), obrigada pela parceria, apoio e
disponibilidade em me ajudar sempre! Vocês são demais! Gratidão eterna!
vii
(Pitágoras)
viii
RESUMO
ABSTRACT
Self-regulation (SR) comprises the individual's ability to control / direct cognitive processes,
emotions, and goal-directed behavior. There is evidence that this ability is critical to learning,
bringing short- to long-term benefits in the school, family and social settings. The international
literature has emphasized the development and research of programs promoting these skills in
preschoolers, but national studies are still scarce. This research aimed to develop the Intervention
Program to Promote SR (PIPA, acronym in Portuguese) and to investigate short and long-term
effects on SR skills (executive functions - EF and emotional regulation - ER) comparing preschool
children of the experimental group (EG) in relation to controls (CG). We emphasize that this is part
of a broader multicenter project, which has included other investigations, such as PIPA’s effects
on teachers’ level of stress and students’ theory of mind. The development of the PIPA went
through 4 stages: 1. Survey of the literature, activities, selection and adaptation of them; 2. Creation
of new, systematic description and allocation of activities in modules; 3. Validity of content by
experts; 4. Recasting and closing final version. The final version consists of 63 activities, of which
33 were exclusively developed by PIPA (main focus in ER) and 30 were taken from the
Intervention Program in Self-Regulation and Executive Functions (PIAFEx, acronym in
Portuguese - main focus in EF). PIPA must be daily applied by teachers. A total of 189 children
(56% boys), mean age 4.9 years (SD = 0.16) and 10 teachers from two municipal schools of early
childhood education in São Paulo participated in the study. This study had 4 steps: pre-test
(evaluation in EF and ER measures) and initial teacher training, intervention (EG composed by 5
teachers trained and supervised in the application of PIPA in the classroom for 6 months and CG
remained with the regular school practices), post-test (re-evaluation), and follow-up after one year.
The Columbia Mental Maturity Scale was used to evaluate intelligence, and the Semantic Stroop
Test and the Regulation Task were used to evaluate inhibitory control (EF). For evaluation of
behavioral problems, EF and ER levels, parents and teachers filled out the specific scales, as well
as informed sociodemographic data. Ancovas were conducted with the group (EG x CG) as an
inter-subject factor, time (pre-test x post-test, post-test x follow-up) as intra-subject factor,
measures in each instrument as dependent variables and intelligence as covariant. In the case of
scales, analyzes were only carried out when the informants were the same in different times (pre-
and post-test; post-test and follow-up). Thus, one of the CG classes of school 1 was excluded from
the scales’ Ancovas and t-tests were conducted for independent samples between subjects (EG x
CG) at the follow-up. It was hypothesized that the children of the EG would perform better than
the CG in the tests and in the scales answered by parents and teachers, who measured SR skills.
Contrary to other evidence with PIPA itself and other SR promotion programs, we didn’t observe
short and long-term significant effects for most of the SR skills measures used in preschool children
in this thesis. Future studies could replicate PIPA considering the limitations and hypotheses
discussed here.
Keywords: Regulation. Prevention. Training. Child development.
x
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Caracterização da amostra inicial por escola, grupo, gênero e idade dos
participantes............................................................................................... 37
Tabela 2: Caracterização da amostra de professores participantes............................. 40
Tabela 3: Caracterização da amostra final por escola, grupo, gênero e idade dos
participantes durante o pós-teste................................................................ 41
Tabela 4: Caracterização da amostra final por escola, grupo, gênero e idade dos
participantes durante o follow-up............................................................... 42
Tabela 5: Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e
controle no TSS no pré e pós-teste corrigidas pela Ancova........................ 70
Tabela 6: Estatísticas inferenciais para as medidas de escore no TSS: Escore Parte
A, Escore Parte B e Escore de interferência B-A........................................ 71
Tabela 7: Estatísticas inferenciais para as medidas de TR no TSS: TR Parte A, TR
Parte B e TR de interferência B-A.............................................................. 72
Tabela 8: Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e
controle na TReg no pré e pós-teste corrigidas pela Ancova...................... 73
Tabela 9: Estatísticas inferenciais para as medidas de escore na TReg: Escore Go,
Escore No-Go e Escore Total..................................................................... 74
Tabela 10: Estatísticas inferenciais para as medidas de TR na TReg: TR Go, TR No-
Go e TR Variabilidade............................................................................... 75
Tabela 11: Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e
controle no SDQ respondido pelos pais no pré e pós-teste corrigidas pela
Ancova....................................................................................................... 76
Tabela 12: Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no SDQ respondido
pelos pais.................................................................................................... 77
Tabela 13: Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e
controle no SDQ respondido pelos professores no pré e pós-teste
corrigidas pela Ancova............................................................................... 78
Tabela 14: Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no SDQ respondido
pelos professores........................................................................................ 79
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO............................................................................................ 1
1. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE AUTORREGULAÇÃO............. 5
1.1. Funções executivas....................................................................................... 7
1.2. Funções executivas a serviço da autorregulação............................................ 11
1.3. Regulação emocional.................................................................................... 13
1.4. Regulação emocional a serviço da autorregulação........................................ 16
2. A IMPORTÂNCIA DA AUTORREGULAÇÃO EM DIFERENTES
CONTEXTOS.................................................................................................... 18
3. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PARA PROMOÇÃO DE
AUTORREGULAÇÃO..................................................................................... 24
4. OBJETIVOS...................................................................................................... 36
4.1. Objetivos gerais............................................................................................. 36
4.2. Objetivos específicos.................................................................................... 36
5. MÉTODO........................................................................................................... 37
5.1. Participantes................................................................................................. 37
5.2. Instrumentos................................................................................................. 42
5.2.1. Escala de Maturidade Mental Colúmbia (EMMC).................................. 42
5.2.2. Teste de Stroop Semântico (TSS)............................................................ 43
5.2.3. Tarefa de Regulação (TReg)................................................................... 44
5.2.4. Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ)............................... 46
5.2.5. Inventário de Funções Executivas, Regulação e Aversão ao adiamento
– versão infantil (IFERA-I) ................................................................................. 47
5.2.6. Emotion Regulation Checklist (ERC)...................................................... 48
5.2.7. Questionário de Pais (QP)....................................................................... 49
5.2.8. Questionário de Professores (QProf)....................................................... 50
5.2.9. Programa de Intervenção para Promoção de Autorregulação
(PIPA).................................................................................................................. 51
5.2.9.1. A elaboração do PIPA..................................................................... 51
5.2.9.2. Organização do PIPA...................................................................... 54
xviii
5.3. Procedimento................................................................................................ 63
5.4. Análise de dados........................................................................................... 67
6. RESULTADOS.................................................................................................. 70
6.1. Análises dos efeitos de curto prazo da intervenção sobre os desempenhos
nos diversos instrumentos.................................................................................... 70
6.1.1. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Teste de Stroop Semântico
(TSS).................................................................................................................... 70
6.1.2. Análises dos efeitos de curto prazo sobre a Tarefa de Regulação
(TReg).................................................................................................................. 72
6.1.3. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Questionário de
Capacidades e Dificuldades (SDQ) respondido pelos pais................................... 75
6.1.4. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Questionário de
Capacidades e Dificuldades (SDQ) respondido pelos professores....................... 78
6.1.5. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Inventário de Funções
Executivas, Regulação e Aversão ao adiamento – versão infantil (IFERA-I)
respondido pelos pais........................................................................................... 80
6.1.6. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Inventário de Funções
Executivas, Regulação e Aversão ao adiamento – versão infantil (IFERA-I)
respondido pelos professores............................................................................... 82
6.1.7. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Emotion Regulation
Checklist (ERC) respondido pelos professores.................................................... 84
6.2. Análises dos efeitos de longo prazo da intervenção sobre os desempenhos
nos diversos instrumentos.................................................................................... 85
6.2.1. Análises dos efeitos de longo prazo sobre o Teste de Stroop Semântico
(TSS).................................................................................................................... 86
6.2.2. Análises dos efeitos de longo prazo sobre a Tarefa de Regulação
(TReg).................................................................................................................. 88
6.2.3. Análises dos efeitos de longo prazo sobre o Questionário de
Capacidades e Dificuldades (SDQ) respondido pelos pais................................... 91
xix
APRESENTAÇÃO
acadêmicos (por e.g. DIAMOND, 2010), com testagem de efetividade de programas específicos
para essa finalidade, no Brasil essa realidade ainda é incipiente. Até a presente data, o Programa
de Intervenção em Autorregulação e Funções Executivas – PIAFEx (DIAS; SEABRA, 2013)
parece ser o único procedimento nacional de estimulação precoce-preventiva com enfoque
principal em FE para crianças pré-escolares, que além de ter sido desenvolvido e empiricamente
testado no contexto educacional, se encontra disponível. No capítulo 3 apresentam-se estratégias
de intervenção internacionais para a promoção de AR, incluindo a apresentação do PIAFEx e seus
estudos de efetividade no Brasil.
Dado este cenário, o presente estudo pretendeu inicialmente desenvolver um novo programa
de intervenção com base no modelo bidirecional da AR (BLAIR; URSACHE, 2011; BLAIR,
2016), que pode ser utilizado como currículo complementar pelos professores do último ano da
educação infantil. O novo programa intitula-se Programa de Intervenção para Promoção de AR
(PIPA – DIAS et al., 2015) e tem como objetivos estimular as crianças a lidarem com suas emoções
e expressá-las de forma adequada, além de melhor controlar seus processos cognitivos superiores
(ex. prestar atenção, seguir regras, inibir impulsos, planejar, etc.). Assim, um dos diferenciais do
PIPA é reunir em um único procedimento atividades que estimulem tanto RE, quanto FE. O
programa é composto por 63 atividades, sendo 33 exclusivamente criadas para o PIPA, ainda que
inspiradas em outros programas existentes como o The Zones of Regulation (KUYPERS, 2011), e
30 atividades retiradas do PIAFEx (DIAS; SEABRA, 2013). O PIPA encontra-se descrito de forma
detalhada no capítulo Método.
Destaca-se que o desenvolvimento do PIPA (DIAS et al., 2015) se deu no âmbito de de um
projeto multicêntrico mais amplo, que contou com a parceria entre pesquisadores do Centro
Universitário FIEO (UNIFIEO), da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a fim de contribuir para ampliar pesquisas na área
do desenvolvimento infantil e disponibilizar um procedimento específico para promoção de AR.
Este projeto multicêntrico mais amplo, contou também com outras investigações com o PIPA,
como por exemplo, validade de conteúdo por especialistas do PIPA (MUNIZ et al., 2016), efeitos
do PIPA em teoria da mente das crianças pré-escolares que participaram do GE (ARAÚJO et al.,
2018); efeitos do PIPA nas crianças pré-escolares que participaram do GE e no nível de estresse
dos professores (ZAUZA, 2018) e análise qualitativa da satisfação dos professores com o PIPA
(ZAUZA, em andamento).
4
Por fim, o presente estudo pretendeu também investigar efeitos de curto (logo após o final da
intervenção) e de longo prazo (follow-up de 1 ano após o término da intervenção) na promoção de
habilidades de AR, comparando crianças pré-escolares do grupo experimental em relação aos
controles de escolas municipais de Educação Infantil de São Paulo. Para facilitar a leitura, o Anexo
3 traz uma lista de abreviaturas destacável e abaixo a Figura 1 apresenta um esquema visual do
modelo bidirecional da AR (BLAIR; URSACHE, 2011; BLAIR, 2016) elaborado pela autora, com
finalidade didática para facilitar a compreensão da relação entre as habilidades que serão descritas
ao longo do próximo capítulo.
cognitivo e AR e sistemas de controle no cérebro, Bronson (2000) não propõe um modelo teórico,
como outros autores o fazem (e.g. BLAIR, 2016; BLAIR; URSACHE, 2011; HOFMANN;
SCHMEICHEL; BADDELEY, 2012).
Em seu artigo de revisão, Hofmann, Schmeichel e Baddeley (2012) propõem uma visão
integrativa entre as áreas, na qual as FE (estudadas pela psicologia cognitiva) deveriam ser
integradas aos modelos de AR (estudados pela psicologia social e de personalidade). Para eles, AR
pode ser definida, de maneira geral, como a capacidade de gerenciar comportamentos direcionados
a metas dentro de algum prazo estabelecido, mesmo diante de tentações. Já o autocontrole tem sido
considerado um subconjunto de AR, pois está ligado diretamente ao controle de impulsos. Eles
descrevem três componentes da AR com base em estudos anteriores (modelos de retroalimentação
da AR - Feedback-loop models of self-regulation – e.g. CARVER; SCHEIER, 1981 – e artigo de
revisão sobre falhas na AR – BAUMEISTER; HEATHERTON, 1996): 1. Seleção de um objetivo/
ideal (standard); 2. Motivação/ investimento de esforço para alcançá-lo (monitoring) e; 3.
Capacidade suficiente para atingi-lo (operate), apesar de tentações e possíveis obstáculos que
possam surgir. O modelo integrativo de AR proposto por Hofmann, Schmeichel e Baddeley (2012)
se propõe a explicar como as FE subservem especificamente o 3º componente da AR. Também
Zelazo e Carlson (2012) acreditam que as FE são processos neurocognitivos envolvidos na AR. No
próximo item as FE a serviço da AR serão descritas de forma mais detalhada.
Outros autores (BLAIR, 2016; BLAIR; DENNIS, 2010; BLAIR; URSACHE, 2011; LEWIS;
TODD, 2007; RAVER et al., 2012; URSACHE; BLAIR; RAVER, 2012) porém, discutem e
propõem uma visão recíproca entre aspectos cognitivos (e.g. FE) e emocionais (e.g. Regulação
Emocional – RE) da AR. Nesta perspectiva, a AR compreende a capacidade de alternar e focar a
atenção, controlar/ inibir comportamentos e gerenciar ou modular emoções (RAVER et al., 2012)
para atingir objetivos.
Blair e Ursache (2011) e Blair (2016) sugerem um modelo bidirecional da AR, no qual a
relação entre as FE (consideradas processos top down – controle cognitivo) e a RE (processos
bottow up – mais reativos e processos top down) é recíproca e opera em um ciclo de feedback
interativo com o ambiente. Por exemplo, quando uma criança está num ambiente que propicia baixo
ou alto (excesso) foco atencional, nível emocional ou de estresse, seu funcionamento executivo
pode não operar de forma adequada para atingir os objetivos propostos. Neste modelo, as áreas
cerebrais que subjazem às FE interagem reciprocamente com áreas do cérebro associadas ao
7
agir impulsivamente; ter disciplina para permanecer numa de terminada tarefa até o final, apesar
de possíveis distrações ou tentações – e.g. no paradigma de Stroop, inibir a leitura de palavras para
dizer a cor com que estão escritas). Cabe observar que, nesse modelo de Diamond, a inibição de
respostas abrange tanto respostas comportamentais quanto emocionais; porém, como destacado
anteriormente, no presente estudo as FE serão consideradas como abrangendo mais
especificamente aspectos apenas cognitivos.
A FC refere-se à capacidade do indivíduo em alternar/ flexibilizar o comportamento entre
várias tarefas (e.g. atender ao telefone enquanto continua trabalhando, interromper um cálculo para
atender ao chamado do filho) ou conjuntos/ operações mentais (e.g. tentar manter uma conversa
em inglês com um estrangeiro, quando ainda não se é fluente) (MIYAKE et al., 2000; MONSELL,
2003). Para alguns autores (DAVIDSON et al. 2006, DIAMOND, 2013; GARON, BRYSON;
SMITH, 2008) a FC envolve também a capacidade do indivíduo de tomar diferentes perspectivas
(e.g. Como ficaria meu cabelo se eu fizesse um corte radical?; Tentar se colocar no lugar do outro
em relação a uma opinião diferente da sua), tanto quanto mudar o foco atencional entre tarefas.
Para tanto, é necessário inibir uma perspectiva predominante (e.g. minha aparência hoje) e ativar
na uma perspectiva diferente (e.g. minha aparência com o novo corte de cabelo). Assim, a FC
requer e se baseia em componentes executivos explicados anteriormente, como CI e MT. Para
Diamond (2013) a FC também tem sido associada à capacidade de pensar ‘fora dos padrões’,
capacidade criativa.
Cabe destacar que há outros modelos explicativos das FE. Por exemplo, diante das
especificidades dos sistemas neurais que subjazem às FE em função do tipo de demanda, um
modelo sugere que as FE se dividem em frias e quentes (CARLSON; ZELAZO; FAJA, 2013;
ZELAZO; CARLSON, 2012; ZELAZO; MÜLLER, 2002). Assim, em situações consideradas
afetivamente neutras – e.g. participar de um jogo de cartas, numa avaliação de FE, que não envolva
resolução de problemas e/ou ganhos ou perdas de recompensa - o funcionamento executivo é
influenciado pela ativação do Córtex Pré-Frontal (CPF) dorsolateral. Já em situações com
relevância motivacional e emocional - e.g. participar de um jogo de apostas, numa avaliação de
FE, que envolva resolução de problemas e/ou ganho ou perdas de recompensa – há a ativação do
córtex órbito-frontal. O córtex orbito-frontal se conecta a outras regiões, responsáveis por outros
processamentos como emoções (amígdala e área temporopolar), sensações (quase todas as áreas
sensoriais) e memória associativa (núcleos de base), e também se conecta a outra estrutura do CPF,
10
o córtex cingulado anterior. Tanto o córtex órbito-frontal e o córtex cingulado anterior estão ligados
ao sistema límbico, que é extremamente importante para aprender e se esforçar/ engajar em alguma
atividade. Logo, tais áreas parecem ter um envolvimento maior nos aspectos sociais e emocionais
dos processos cognitivos, bem como na regulação comportamental, do que o CPF dorsolateral
(CARLSON; ZELAZO; FAJA, 2013). Com base nesta perspectiva, as FE podem ser chamadas de
frias (em situações consideradas afetivamente neutras) ou quentes (situações com relevância
motivacional e emocional - ZELAZO; CARLSON, 2012; ZELAZO; MÜLLER, 2002).
No presente estudo, porém, essa perspectiva não será usada, mas sim o modelo tri-fatorial
proposto por Miyake et al. (2000). Tal modelo tri-fatorial foi confirmado no desempenho de testes
em adultos, em crianças de 4 a 13 anos de idade (DAVIDSON et al., 2006) e entre 8 a 13 anos de
idade (LEHTO et al., 2003) e em crianças e jovens adultos entre 7 e 21 anos de idade (HUIZINGA
et al., 2006). Novas evidências sugerem que, apesar do modelo tri-fatorial ter sido confirmado em
crianças pré-escolares (DAVIDSON et al., 2006), outros modelos também foram confirmados com
o mesmo público, como o modelo unitário (WIEBE; ESPY; CHARAK, 2008) e o modelo bi-
fatorial de MT e CI (MILLER et al., 2012).
A respeito do modelo de FE como construto unitário e com componentes dissociáveis, para
Garon, Bryson e Smith (2008) o fator comum seria a atenção seletiva, para Jacques e Marcovitch
(2010) seria a MT e para outros autores (FRIEDMAN et al. 2008; FRIEDMAN et al. 2011;
MIYAKE; FRIEDMAN, 2012; SNYDER et al. 2015) seria a inibição. De fato, em novo estudo
com jovens adultos, Miyake e Friedman (2012) mostraram o modelo bi-fatorial, no qual o
componente inibição é um elemento comum às demais FE (unidade) e que elas se diferem apenas
nos componentes atualização e alternância (diversidade). Os mesmos autores também
identificaram que a unidade das FE pode prever diferenças individuais em comportamentos sociais
e clínicos (e.g. desinibição comportamental) e que as FE mostram certa estabilidade no
desenvolvimento (entre 17 e 23 anos de idade). O modelo bi-fatorial foi também proposto e testado
por Friedman et al. (2008), Friedman et al. (2011) e Snyder et al. (2015).
Já Carlson, Zelazo e Faja (2013) sugerem que as EF inicialmente são um construto unitário
que vão se diferenciando (em seus componentes) ao longo do desenvolvimento por meio das
experiências vividas pela criança. De fato, para que essas habilidades se desenvolvam é necessário
haver estimulação por meio de experiências práticas por meio da relação adulto-criança em
diferentes ambientes. Os ambientes devem servir como oportunidades de promoção, nas quais as
11
crianças podem praticar as habilidades ainda em desenvolvimento com o apoio de um adulto - seja
a mãe, o pai, um cuidador ou o professor, de forma gradual, até se tornarem autônomas e prontas
para desenvolver habilidades mais complexas (BLAIR; DIAMOND, 2008; CENTER ON THE
DEVELOPING CHILD AT HARVARD UNIVERSITY - CDCHU, 2011).
As FE têm um longo curso desenvolvimental da infância até a vida adulta, acompanhando
as mudanças estruturais e funcionais dos sistemas neurais relacionadas ao CPF. Destaca-se o rápido
desenvolvimento que ocorre na idade pré-escolar, especificamente entre 2 e 5 anos (CARLSON;
ZELAZO; FAJA, 2013). De maneira geral, foram identificados ganhos em MT, CI e FC,
permitindo às crianças maior controle cognitivo, automaticidade e eficiência no funcionamento
executivo nessa fase (ZELAZO et al., 2013).
mostrando a sua relação com a AR, há algumas evidências de que a FC também subserve a AR
bem-sucedida. Enquanto MT e CI contribuem para manter o comportamento autorregulado
direcionado a metas, de maneira mais rígida, a FC parece contribuir de duas formas diferentes:
mudança de meios (estratégias ou recursos) para atingir os objetivos e/ou a flexibilização do
objetivo estabelecido de forma temporária, em objetivos de longo prazo, como forma de
gratificação de curto prazo (e.g. se permitir uma sobremesa de vez em quando, após ter conseguido
emagrecer com a dieta). Apesar de ser uma estratégia positiva de motivação é necessário haver o
equilíbrio para que o comportamento seja mantido a fim de se alcançar o objetivo. Esse equilíbrio
adaptativo é influenciado por aspectos motivacionais e socioculturais, o que carece de mais
pesquisas para esclarecer essa relação (HOFMANN; SCHMEICHEL; BADDELEY, 2012).
Tendo em vista a escassez de estudos investigando as contribuições da FC para a AR, o
estudo de Martins et al. (2014) investigou o papel das FE (especificamente CI e FC - set shifiting)
na compreensão emocional/ compreensão de emoções (CE) em crianças pré-escolares. A
identificação, previsão e explicação de emoções em relação a si mesmas e aos outros são
habilidades relacionadas à CE (HARRIS, 2008), as quais são essenciais para a RE – habilidade que
será descrita de forma mais detalhada no próximo item. No estudo de Martins et al. (2014) foram
avaliadas 75 crianças com idade média de 4 anos, sendo 52% meninos. Controlando o nível de
inteligência (QI), habilidades de linguagem e de teoria da mente, o estudo verificou que a FC
(especificamente set shifiting) foi preditora da capacidade de compreensão emocional nas crianças.
Tal resultado sugere que a capacidade de FC (especificamente set shifiting) está ligada as diferenças
individuais na compreensão das causas situacionais da emoção pelas crianças, ainda em idade
escolar. Considerando a importância de habilidades ligadas a RE, tal como a CE, para
comportamentos adaptativos, tais conceitos serão apresentados e detalhados no próximo item.
A regulação emocional (RE) tem sido alvo de estudos de pesquisadores, em sua maioria,
da psicologia clínica e do desenvolvimento com ênfase no funcionamento socioemocional infantil
(e.g. estudos sobre desajuste infantil - EISENBERG; SPINRAD; EGGUM, 2010; estudos sobre
temperamento - ROTHBART; BATES 2006). Embora estudada por áreas de pesquisa semelhantes,
parece haver falta de consenso sobre a definição de seu conceito (COLE; MARTIN; DENNIS,
2004; COLE et al., 2009; EISENBERG; SPINRAD, 2004), ocasionando utilização de diferentes
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processos bidirecionais top down e bottom up. Assim, as experiências vividas pelas crianças em
casa e na escola estimulam os níveis de reatividade emocional, controle de atenção e resposta ao
estresse (mais ligados aos processos bottom up) que podem ser propícios ou não ao
desenvolvimento e utilização de suas FE, e como consequência, para sua AR. Crianças com altos
níveis de excitação emocional, da atenção e de sistemas de resposta ao estresse, tendem a ter
respostas mais reativas e menos reflexivas, impactando no adequado funcionamento executivo
(URSACHE; BLAIR; RAVER, 2012), na realização dos objetivos e na adaptação social, ou seja,
na sua AR.
18
Apesar do presente estudo ter sido desenvolvido com crianças de desenvolvimento típico,
dentro da linha de pesquisa sobre ‘políticas e formas de atendimento em educação, psicologia e
saúde’, é importante ressaltar que faz parte de um programa de pós-graduação stricto sensu voltado
aos distúrbios do desenvolvimento. Nesse sentido, há evidências de que algumas habilidades de
AR (e.g. RE, FE e seus respectivos componentes ou habilidades) em pré-escolares predizem
sintomas de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH (SJOWALL et al., 2017),
índices de saúde mental (e.g. TDAH, transtorno de conduta, transtornos de ansiedade -
WOODWARD et al., 2017), além de problemas de comportamento e risco social (WOODWARD
et al., 2017).
Sjowall et al. (2017) avaliaram 128 crianças (49% meninos) entre 5 anos e 3 meses (DP =
1,2 meses) e 6 anos e 7 meses (DP = 1,17 meses) de idade com o objetivo de investigar se os
déficits neuropsicológicos na pré-escola prediriam sintomas de TDAH e desempenho acadêmico
na adolescência (aos 18 anos de idade). Foram utilizadas diversas medidas, entre testes de
desempenho e questionário respondido por pais e professores. Os participantes foram avaliados aos
5 anos de idade com medidas de inibição de resposta e variabilidade no tempo de reação (tarefa do
tipo Go-No/Go de Berlin e Bohlin, 2002), aos 6 anos e meio com medidas de controle de
interferência (tarefa de Stroop Semântico de Berlin e Bohlin, 2002), MT (Teste de Movimento com
as mãos de Kaufman - Kaufman & Kaufman, 1983), funcionamento emocional (Questionário da
Emoção de Rydell, Berlin e Bohlin, 2003 – respondido pelos pais) e sintomas de TDAH (versão
abreviada da Escala de Conners de Conners, 1990 - respondido pelos professores) e aos 18 anos
com medidas de sintomas de TDAH (Escala de Avaliação de TDAH IV de DuPaul et al., 1998 -
respondido pelos professores) e desempenho acadêmico (média de notas relatada pelos pais e pelos
adolescentes). De maneira geral, Sjowall et al., 2017 verificaram que, ao controlar sintomas
precoces de TDAH, algumas medidas de FE e RE (MT, variabilidade do tempo de reação,
regulação emocional da alegria, da raiva e a reatividade) se relacionaram significativamente aos
sintomas de TDAH aos 18 anos de idade. Especificamente a medida de regulação emocional da
alegria relacionou-se aos sintomas de desatenção e os sintomas de hiperatividade/ impulsividade
se relacionaram, além desta, à regulação da raiva e a reatividade. Os autores também verificaram
que a MT e a variabilidade do tempo de reação na pré-escola se relacionaram significativamente
ao desempenho acadêmico no final da adolescência. Tais resultados sugerem a importância da
19
avaliação, identificação e intervenção precoce em habilidades para além das FE, incluindo
funcionamento emocional (regulação e reatividade emocional) e variabilidade no tempo de reação,
como medidas protetivas de comportamentos relacionados a sintomas de TDAH e desempenho
acadêmico no futuro.
Outro estudo (WOODWARD et al., 2017) também investigou a relação preditiva entre os
níveis de regulação emocional e comportamental de crianças pré-escolares (aos 2 e aos 4 anos) e
problemas de saúde mental e desempenho acadêmico anos depois (aos 9 anos de idade), porém
com o diferencial de comparar crianças nascidas pré-maturas e a termo. Participaram da amostra
final 207 crianças, sendo 100 pré-maturas. As crianças foram avaliadas com medidas
observacionais da relação entre mãe e filho, testes de desempenho e questionários respondidos
pelos pais. Aos 2 e 4 anos de idade, as crianças foram avaliadas na regulação comportamental e
emocional (observação do comportamento pais-filho em sessão estruturada de 15 minutos,
questionário respondido pelos pais: Emotion Regulation Checklist de Shields e Cicchetti, 1997, e
baterias neuropsicológicas de avaliação do desenvolvimento infantil, como Escalas Bayley 2ª
edição, Escalas Wechsler versão pré-escolar e baterias de avaliação de FE). Aos 9 anos de idade a
saúde mental das crianças foi avaliada através de entrevista de diagnóstico psiquiátrico infantil com
os pais utilizando o Development and Well-Being Assesment (DAWBA de Goodman et al., 2000),
cruzadas com informações dos relatórios dos professores e do banco de dados nacional de saúde e
o diagnóstico foi fechado por um psiquiatra infantil “cego” ao estudo. Ainda aos 9 anos, as crianças
também foram avaliadas no desempenho escolar através de alguns subtestes de linguagem e de
matemática da Bateria Woodcock Johnson-III Tests of Achievement (WOODCOCK; MCGREW;
MATHER, 2001). Como medidas adicionais na avaliação aos 2 anos de idade foram utilizados
Strengths and Difficulties Questionnaire (GOODMAN, 1997) respondido pelos pais, o índice de
desenvolvimento mental da Escala Bayley, avaliação do risco social familiar e da saúde mental da
mãe. Os resultados de Woodward et al. (2017) indicaram que as crianças nascidas prematuras
tiveram piores índices de regulação emocional e comportamental em todas as medidas ao longo
dos três períodos de avaliação. Elas também tiveram maiores sintomas indicativos de transtornos
mentais e atraso educacional aos 9 anos. Em ambos os grupos (prematuros e pré-termos) quanto
piores índices de AR (regulação emocional e comportamental), tanto maiores eram os riscos de
transtornos mentais (especificamente TDAH, transtorno de conduta e transtornos de ansiedade),
problemas comportamentais e risco social. Assim como o estudo de Sjowall et al. (2017), o estudo
20
familiar e social.
Do ponto de vista econômico, o estudo de Heckman (2006) sobre o impacto econômico de
investimentos na pré-escola em comparação a investimentos em outros segmentos (escolares e após
a escola) evidencia a importância de programas de estimulação de habilidades cognitivas (e.g. FE
e algumas habilidades de RE) e não cognitivas (motivação, perseverança e tenacidade) em crianças
pré-escolares desfavorecidas economicamente. Primeiro, considerando a importância do ambiente
e das experiências vividas pela criança na primeira infância (período de 0 a 6 anos), há evidência
de que o nível socioeconômico e o tipo de estimulação precoce de habilidades cognitivas e não
cognitivas provida pela família impacta na vantagem ou desvantagem inicial da criança ao entrar
na escola. Crianças com menores níveis socioeconômicos entram na escola em desvantagem em
relação às crianças com maiores níveis socioeconômicos, havendo o Efeito Matheus ao longo da
trajetória da educação básica. Por exemplo, conforme demonstrado por Heckman (2006), crianças
com diferentes níveis socioeconômicos avaliadas aos 6 anos num teste padronizado de matemática
tenderam a ter trajetórias de desempenho diferentes e discrepantes aos 8, 10 e 12 anos de idade. As
crianças com baixos níveis socioeconômicos, tenderam a piorar o desempenho ao longo dos anos,
enquanto as crianças com altos níveis socioeconômicos, tenderam a melhorar o desempenho ao
longo dos anos. O ideal seria ter então programas de estimulação precoces-preventivos (e.g.
Programa Head Start e o Programa Pré-escolar Perry) para diminuir a desvantagem inicial de
crianças com baixo nível socioeconômico ao entrar na escola. Outro aspecto abordado pelo estudo
de Heckman (2006) foi a relação entre valor investido e retorno financeiro. Foi verificado que a
taxa de retorno econômico do investimento em programas de intervenção precoce para crianças
com baixo nível socioeconômico é muito maior do que intervenções em adolescentes e adultos, e
que a longo prazo, as vantagens obtidas com as intervenções precoces são melhores sustentadas
quando seguidas pela continuação de experiências de aprendizagem de alta qualidade. Tais
resultados poderiam subsidiar a elaboração de políticas públicas educacionais na primeira infância,
visando benefícios em curto e longo prazos, em diversos segmentos da sociedade.
Pensando ainda no impacto do nível socioeconômico para o desenvolvimento de
habilidades de AR (e.g. RE, FE e seus respectivos componentes ou habilidades), Engel de Abreu
et al. (2015) investigaram os efeitos do nível socioeconômico no desenvolvimento das habilidades
de linguagem e FE. Participaram do estudo 355 crianças de 1os e 2 os anos do Ensino Fundamental
I (Idade média = 89 meses) de 17 escolas públicas e privadas (São Paulo: 6 e Salvador: 11). Foram
22
utilizados dados obtidos a partir de testes cognitivos (bateria de testes que avaliou FE –
especificamente MT, FC, CI - e linguagem receptiva e expressiva), bem como entrevistas e
questionários preenchidos por pais (Questionário Brasileiro do Ambiente Infantil – QBAI,
desenvolvido pelos autores para o estudo), professores (questionário sobre o comportamento
infantil, informações sobre o desempenho acadêmico – especificamente linguagem oral, leitura,
escrita, matemática e ciências, e um questionário sobre o funcionamento executivo) e alunos
(escala de depressão infantil). De maneira geral, os resultados evidenciaram que o nível
socioeconômico se encontra fortemente relacionado às habilidades avaliadas, sendo responsável
por mais de 30% da variabilidade nas FE e mais de 50% da variabilidade na linguagem. Dentre os
fatores de nível socioeconômico avaliados, a renda familiar foi a variável mais importante para o
desenvolvimento das FE. Em relação ao desempenho acadêmico, o nível socioeconômico teve
efeito indireto por meio do efeito sobre FE. Contrariando outros achados, o estudo de Engel de
Abreu et al (2015) identificou que o ambiente escolar teve maior impacto sobre FE e linguagem,
em comparação com o ambiente familiar. Tal resultado reforça a ideia de que o acesso precoce a
uma educação de boa qualidade pode remediar alguns dos efeitos negativos que a pobreza exerce
sobre as FE (FE no presente estudo são vistas como habilidades que subservem habilidades de AR).
Os achados de Engel de Abreu et al (2015) foram corroborados pelo estudo de revisão de
Raver (2012) sobre a relação entre o nível de AR das crianças com baixo nível socioeconômico,
ressaltando que mudanças nas relações interpessoais e na qualidade dos estímulos ambientais pode
trazer diversos benefícios. De fato, evidências de estudos experimentais (e.g. RAVER et al. 2008;
RAVER et al. 2011) com amostras controladas randomizadas sugerem que a AR das crianças de
baixo nível socioeconômico é modificável pela intervenção educacional precoce, oferecendo uma
poderosa opção política para reduzir o impacto negativo da pobreza. Sobre as medidas e desfechos
de AR oriundos de pesquisas com programas precoces preventivos em AR, Raver (2012) sugere
que as habilidades de FE e RE devem ser incluídas e que mais pesquisas científicas devem ser
realizadas considerando aspectos neurobiológicos do desenvolvimento infantil, o impacto a longo
prazo do desenvolvimento dessas habilidades para a vida e a diminuição de desigualdades sociais,
educacionais e econômicas.
Considerando os diversos benefícios do desenvolvimento precoce-preventivo das
habilidades de AR (e.g. RE, FE e seus respectivos componentes ou habilidades), a literatura
internacional tem enfatizado o desenvolvimento e a investigação de programas de promoção nessas
23
anos), parece não ser generalizável para outros componentes ou atividades diárias. E até o momento
da publicação do estudo de Diamond e Lee (2011) não havia evidência dos benefícios dos esportes
para as FE. Em relação à prática de artes marciais e mindfulness, tais atividades parecem beneficiar,
respectivamente, as habilidades de autocontrole, disciplina e atenção sustentada, além de haver
indícios de generalização para outras áreas e situações. Por fim, tanto a implantação dos currículos
escolares quanto os programas curriculares complementares demonstraram melhores condições de
promover transferência de ganhos para outras áreas, uma vez que estimulam os diversos
componentes de FE em contextos mais ecológicos/ reais.
Os currículos escolares diferem dos programas curriculares complementares, pois
envolvem a organização de conteúdos acadêmicos, além de estratégias e atividades de estimulação
de FE (para maior compreensão das similaridades e diferenças entre os dois tipos de programas,
confira a tabela 1, do artigo original de Diamond e Lee, 2011 p. 962). Apesar de diferentes, ambos
os currículos possuem formação de professores para atuação diária de estratégias de estimulação
das FE (em seus diferentes componentes) atrelada ao desenvolvimento de outras habilidades
(cognitivas, sociais e emocionais).
Corroborando os achados de Diamond e Lee (2011), o estudo de revisão sistemática de
Diamond e Ling (2016) confirmou alguns resultados e trouxe novidades sobre a efetividade dos
programas de intervenção em FE. Foram selecionados 84 estudos que estavam de acordo com os
seguintes critérios: a) publicações em inglês de revistas com revisão por pares; b) estudos com
análises para além das correlações, que pudessem determinar causalidade; c) estudos com efeitos
além dos agudos, ou seja, as atividades deveriam ter sido realizadas com certa frequência e não
apenas uma vez; d) estudos com avaliação de benefícios para além das tarefas praticadas na
intervenção, a fim de avaliar a generalização para pelos menos outras atividades semelhantes; e)
deveria conter comparação de grupos (preferencialmente com um GC ativo, ou seja, envolvido em
outra atividade diferente da usual e da intervenção-alvo). De forma geral os resultados sugerem
que realmente os treinos computadorizados não favorecem a transferência de ganhos para outras
áreas e situações do dia-a-dia. Também a prática de atividades físicas ou esportes sem demanda de
FE não melhoram FE e muito menos há efeito de transferência (e.g. andar de bicicleta ergométrica,
esteira ou corrida). Um exemplo de prática de atividade física/ esporte que demanda FE, como CI,
concentração, planejamento e resolução de problemas, é o Taekwondo. O mesmo ocorre para a
prática de yoga, com a atividades complementares de mindfulness. Os currículos escolares,
26
complementos escolares e as artes marciais parecem ser os tipos de intervenção que melhor
beneficiam o desenvolvimento das FE e generalização para outros contextos, pois estimulam mais
de uma habilidade ao mesmo tempo (diversidade), em situações reais da vida diária/ novas
demandas (novidade) e com complexidade crescente (DIAMOND; LING, 2016).
Pensando especificamente na efetividade de intervenções em FE voltadas para crianças pré-
escolares e escolares de desenvolvimento típico, Cardoso et al. (2016) realizaram uma revisão
sistemática para caracterizar estudos empíricos no período entre 2000 e 2016. A amostra final
contou com 19 estudos, tendo como base os seguintes critérios de inclusão: a) estudos empíricos
com humanos; b) amostras de crianças com desenvolvimento típico; c) estudos com intervenções
de estimulação de FE e atenção e; d) publicações em Inglês, Português, Francês ou Espanhol.
Dentre os achados (19), a maioria referia-se a treinos computadorizados (7) e adaptação ou
mudança curricular (7), seguidos de treinos com papel e caneta (3) e somente 2 combinaram
atividades computadorizadas com atividades em papel. Tais resultados foram semelhantes aos
identificados por Diamond e Lee (2011), evidenciando mais uma vez que, diferentemente dos
outros tipos de intervenção analisados (treinos computadorizados, treinos com papel e caneta e
treinos combinados), os programas de adaptação/ mudança curricular demonstraram ganhos nos
diferentes componentes das FE. Além, demonstraram transferência de ganhos para outras áreas e
situações do dia-a-dia, como desempenho acadêmico e competências socioemocionais. Os
programas de adaptação/ mudança curricular analisados por Cardoso et al. (2016) foram: 1. Tools
of the Mind (estudo de Barnett et al., 2008; estudo de Diamond et al., 2007); 2. Sarilhos do Amarelo
– As travessuras do Amarelo (estudo de Rosário et al., 2007); 3. Portfolio program (estudo de
Lizarraga et al., 2003); 4. Head Start REDI program (estudo de Bierman et al., 2008a); 5.
(Des)venturas de Testas (estudo de Rosário et al., 2010); 6. PIAFEx (estudo de Dias e Seabra,
2015a) (a descrição detalhada das características de cada estudo, encontra-se disponível nas tabelas
1, 2 e 3, do artigo original de Cardoso et al., 2016, pp. 5-12).
Mais recentemente, Pandey et al. (2018) realizaram uma revisão sistemática e metanálise
sobre a efetividade das intervenções universais para promoção de AR em crianças e adolescentes
(0 a 19 anos) no período de 1977 a 2017. Além de compilar evidências sobre a efetividade de
intervenções na melhoria de AR, o estudo compilou também resultados distais sociais e de saúde
(como desempenho acadêmico, dependência química, bem-estar, entre outros). A definição de AR
adotada por Pandey et al. (2018) está de acordo com a definição adotada pelo presente trabalho,
27
pois inclui a capacidade intencional de controlar emoções e comportamentos (e.g. ter interações
positivas com os outros, evitar ações inapropriadas ou agressivas, uso das FE) direcionados a
metas. Foram consultadas 8 bases de dados, além de listas de referências e citações dos estudos
incluídos, de acordo com os seguintes critérios de elegibilidade: 1. Estudos com ensaios clínicos
randomizados e ensaios randomizados por cluster; 2. Testagem de efetividade de intervenções
universais destinadas a melhorar a AR em crianças e adolescentes (de 0 a 19 anos); 3. Incluir pelo
menos um desfecho infantil associado às habilidades de AR; e 4. Ter sido publicado revisada por
pares e publicada em inglês. A amostra final foi composta por 50 estudos organizados em 5
categorias, definidas por três dos seis autores da revisão: 1. Intervenções curriculares ou baseadas
em currículos escolares (21 estudos); 2. Intervenções relacionadas à atividade física e exercícios (6
estudos); 3. Intervenções de yoga e mindfulness (8 estudos); 4. Intervenções parentais e familiares
(9 estudos); e 5. Intervenções de habilidades sociais e pessoais (6 estudos) (a descrição detalhada
das características de cada estudo, encontra-se disponível nas tabelas 1 a 5 do material
complementar do estudo de Pandey et al., 2018).
Dentre as intervenções curriculares identificadas no estudo de Pandey et al. (2018), quatro
já haviam sido identificadas entre os estudos de revisão citados anteriormente (CARDOSO et al.,
2016; DIAMOND; LEE, 2011; DIAMOND; LING, 2016). Porém, Pandey et al. (2018) incluíram
algumas novas referências dos estudos de efetividade de tais intervenções curriculares: 1. Tools of
the Mind - estudos de Barnett et al. (2008), Diamond et al. (2007) e Blair e Raver (2014); 2.
Programa Head Start REDI - estudo de Bierman et al. (2008a); 3. Programa PATHS - estudo de
Riggs et al. (2006) e; 4. Programa CSRP - estudo de Raver et al. (2011). Dentre os 21 estudos com
intervenções curriculares identificados por Pandey et al. (2018), 57% (12 estudos) foram aplicados
em crianças pré-escolares, sendo nove estudos com intervenções diferentes e três que repetiram
intervenções anteriores (Programa Tools of the Mind e Programa Red Light, Purple Light).
Como foi alvo de investigação da presente pesquisa uma intervenção precoce preventiva
em AR para crianças pré-escolares, em contexto escolar, a fim de revisar a literatura específica da
área, foi organizado um quadro de caracterização das intervenções identificadas por Pandey et al.
(2018). O Quadro 1 apresenta os nomes das propostas e a identificação quanto ao tipo (currículos
escolares, curriculares complementares e instrução em estratégias), o país de origem, o público-
alvo/ idade, habilidades estimuladas (de acordo com as descrições nos estudos de efetividade dos
programas)/ definição de AR e delineamento dos estudos de verificação de efetividade
28
Quadro 1 - Caracterização dos programas quanto ao tipo, país de origem, público-alvo/ idade, habilidades estimuladas e estudo de
verificação de efetividade.
30
Alguns estudos e programas, como não atenderam aos critérios de elegibilidade proposto
por Pandey et al. (2018), não constam no Quadro 1. Porém, dada sua relevância em relação aos
efeitos negativos de programas já descritos e ausência de programas latino-americanos, alguns
serão descritos a seguir.
Apesar do programa Tools ser amplamente difundido e aplicado em diversos países
(Estados Unidos, Canadá e Chile – BARON et al., 2017), alguns estudos (FARRAN; WILSON,
2014; LONIGAN.; PHILLIPS, 2012) encontram efeitos negativos do programa. Por exemplo,
Farran e Wilson (2014) realizaram um ensaio randomizado por cluster em 60 classes com crianças
de 4 anos de idade. Participaram 877 crianças, sendo 498 do GE com o Tools e 379 com o currículo
usual da escola. Os autores argumentam que a implementação do Tools não é simples, como outros
currículos (e.g. sistemas de ensino com materiais apostilados). Tal implementação demanda um
treinamento dos professores por dois anos, juntamente com o coaching em sala de aula, para que
eles possam aprofundar o conhecimento sobre os princípios de aprendizagem e desenvolvimento
da criança, bem como ressignificar seus papéis enquanto mediadores da AR das crianças. Neste
sentido, o estudo de Farran e Wilson (2014) seguiu todas as orientações oficiais do Tools, porém
foi identificado que quanto maior a fidedignidade na implementação do programa, tanto menores
foram os ganhos em medidas de desempenho escolar na pré-escola e de AR no primeiro ano. Os
autores hipotetizam que, a aplicação diária do programa é muito exigente (22 atividades diárias),
faltando tempo para reflexões das experiências vividas ou atividades menos dirigidas pelos
professores. Além, que a estrutura do currículo ser bastante complexa e dinâmica, talvez
necessitando de mais de um ou dois anos para apropriação pelo professor e correta aplicação com
os alunos. Tanto Farran e Wilson (2014), quanto Lonigan e Phillips (2012) sugerem uma maior
cautela em relação à generalização de resultados de AR promovida pelo Tools como mediadora de
desfechos acadêmicos das crianças.
Pensando em programas testados na América do Sul, o PIAFEx parece ser o único programa
brasileiro, até a presenta data, que, além de ter sido desenvolvido e empiricamente testado, está
disponível no país e é voltado para estimulação precoce-preventiva de ambas as habilidades (FE e
AR) de crianças pré-escolares (CARDOSO et al., 2016; DIAS; SEABRA, 2013). Há evidências de
que crianças que participaram dos grupos experimentais com o PIAFEx tiveram ao final do ano
letivo, melhores desempenhos em tarefas de FE, leitura e aritmética, do que as crianças dos grupos
controles (DIAS; SEABRA, 2015a, 2015b). Também, verificou-se a manutenção dos ganhos em
35
4. OBJETIVOS
5. MÉTODO
5.1. Participantes
Participaram inicialmente desta pesquisa 189 crianças, com idade média de 4,9 anos (DP =
0,16), sendo 56% meninos, regularmente matriculadas no último ano da Educação Infantil, de duas
escolas públicas municipais da cidade de São Paulo (SP). Em ambas as escolas a distribuição das
crianças nas salas é feita de forma aleatória, organizada pela própria escola. É importante ressaltar
que na comparação de grupos no pré-teste, verificou-se que os grupos eram diferentes. A Tabela 1
apresenta os dados de caracterização da amostra inicial por escola, grupo (experimental e controle),
gênero e idade das crianças autorizadas pelos responsáveis a participar da pesquisa.
Tabela 1. Caracterização da amostra inicial por escola, grupo, gênero e idade dos participantes.
espanhol é o idioma materno mais falado entre os filhos de imigantes (6.388 alunos no Estado de
SP) num total de 39 diferentes línguas maternas. Sendo assim, as crianças foram avaliadas
empiricamente na interação com os aplicadores durante a aplicação dos testes no pré-teste, se
conseguiam compreender e se expressar em Língua Portuguesa. As crianças que não conseguiram
compreender e se expressar no idioma materno brasileiro, foram excluídas da amostra, conforme
descrito no item b dos critérios de exclusão do presente estudo.
Ainda analisando a caracterização da amostra, verificou-se que a maioria dos pais declarou
ter baixo nível de escolaridade, sendo 24,1% com ensino fundamental I completo ou ensino
fundamental II incompleto, 20,4% com ensino fundamental I incompleto ou que se declararam
analfabetos, 10,8% com ensino médio completo ou ensino superior incompleto, 7,4% com ensino
fundamental II completo ou ensino médio incompleto, 1,8% com superior completo e 35,5% não
responderam. Sobre o tempo de escolarização das crianças, 27,2% tem até 2 anos de escolarização,
16,6% tem até 3 anos de escolarização, 19% tem até 4 anos de escolarização, 13% tem até 5 anos
de escolarização, 2,9% tem até 1 ano de escolarização e 2,3 % tem acima de anos de escolarização.
Também participaram 10 professores. As referidas escolas têm três turnos de professores:
inicial (7h às 11h), intermediário (11h às 15h) e final (15h às 19h). E as crianças podem se
matricular em um dos dois períodos oferecidos pela escola, manhã (7h às 13h) e tarde (13h às 19h).
Portanto, as crianças têm em cada período dois professores, uma que fica por um período maior de
4h e outra que fica pelo período de 2h (geralmente do meio para o final do período, quando de
manhã, ou do início para o meio do período, quando de tarde).
Os professores que participaram do estudo eram regentes dos turnos inicial ou final dos
períodos da manhã e da tarde. Os professores do período do meio, que ficam parte do turno com a
turma da manhã e parte com a turma da tarde, não participaram da presente pesquisa, a fim de
evitar contaminação dos grupos experimentais. Dentre as dez salas participantes, cinco foram
designadas como Grupo Experimental (GE) e cinco como Grupo Controle (GC), de forma semi-
aleatória. Para tanto, foram consideradas diversas variáveis (adesão, interesse e frequência dos
professores), além de consulta ao trio gestor das escolas, conforme segue:
- Escola 1: nesta escola havia apenas 4 salas do 6º ano, como assim são chamados os últimos
anos da Educação Infantil nas escolas municipais, sendo duas no turno da manhã e duas no
turno da tarde. Como um dos professores da tarde estava de licença-médica, com previsão de
retorno para maio de 2016 e uma das crianças da tarde não obteve autorização por escrito
39
para participar da pesquisa, optou-se por realizar a divisão em GC e GE por turnos, ficando
o turno da tarde como GC e o da manhã como GE. É importante esclarecer que houve apenas
uma única criança que obteve a não autorização por escrito para participar da pesquisa. Os
demais pais que não autorizaram, simplesmente não retornaram os termos de consentimento
preenchidos, ainda que cobrados presencialmente em reuniões, em horários de entrada e saída
das crianças na escola ou mediante envio de bilhetes na agenda escolar.
- Escola 2: nesta escola havia 4 salas do 6º ano da Educação Infantil em cada turno. Todos
os professores foram convidados a participar do projeto, porém, um dos professores da manhã
não aderiu. Todos os professores da tarde aderiram. Portanto, optou-se também por realizar
a divisão em GC e GE por turnos, ficando o turno da manhã como GC e o da tarde como
experimental. Porém, como dois professores da tarde também eram professores no período
da manhã (dobravam período), suas salas da manhã não participaram do estudo, somente as
da tarde. Assim, permaneceram as duas salas da manhã como GC e as quatro da tarde como
GE. Porém, um dos professores da tarde pediu afastamento por período de 3 meses,
inviabilizando sua participação no GE, portanto sua sala tornou-se GC, uma vez que a
formação de professores ainda não havia iniciado.
Dessa forma ambas as escolas tiveram a mesma quantidade de GE e GC, de modo a
controlar variáveis como filosofia educacional e nível socioeconômico. Não houve delimitação de
critérios de inclusão ou de exclusão na amostra de professores participantes, bastando seu aceite
em participar da pesquisa. A descrição de como ocorreu o treinamento dos professores e o
acompanhamento da aplicação do PIPA pelos professores encontra-se na íntegra na Etapa 1 (2016)
do item 5.3. Procedimento do presente Método. A Tabela 2 apresenta a caracterização da amostra
de professores participantes.
40
‘a’, cinco pelo critério ‘b’, duas pelo critério ‘c’ e oito pelo critério ‘d’ (especificamente, duas com
suspeita de mutismo seletivo, três com suspeita de atraso global no desenvolvimento, duas com
diagnóstico de Autismo e um com diagnóstico de Esquizofrenia), totalizando um N de 172 crianças
no pré-teste. A frequência de falta das crianças não foi um critério de exclusão da amostra, pois no
pós-teste realizou-se o levantamento junto às escolas da assiduidade das crianças do GE e não
verificou-se impacto desta variável nas análises realizadas.
Durante as fases de coleta de dados, houve perda de participantes por diferentes motivos.
Do pré para o pós-teste, houve 24 perdas por motivos de transferência de cidade, escola, turno e/
ou sala ou abandono escolar, totalizando 148 crianças. A Tabela 3 apresenta os dados de
caracterização da amostra final por escola, grupo, gênero e idade dos participantes durante o pós-
teste.
Tabela 3. Caracterização da amostra final por escola, grupo, gênero e idade dos participantes
durante o pós-teste.
os dados de caracterização da amostra final por escola, grupo, gênero e idade dos participantes
durante o follow-up.
Tabela 4. Caracterização da amostra final por escola, grupo, gênero e idade dos participantes
durante o follow-up.
5.2. Instrumentos
de idade. A TReg é composta de 168 itens, com quadrados vermelhos ou azuis, sendo que os
estímulos-alvo são os quadrados vermelhos.
A tarefa da criança consiste em apertar um botão que aparece na tela, toda vez que aparecer
o quadrado vermelho (Go) e não apertar quando aparecer o quadrado azul (No-Go). A Figuras 3 e
4 ilustram as telas com os estímulos da TReg.
Apresentação dos
Velocidade
estímulos-alvo
Parte 1 25 % 2000 ms
Parte 2 75 % 1000 ms
Parte 3 25 % 1000 ms
Parte 4 75 % 2000 ms
avaliada pela variabilidade no tempo de reação durante a realização de tarefas. Quanto maior a
variabilidade no TR, tanto pior a habilidade de regular a motivação e o esforço ao longo da tarefa
(TAMM et al., 2012). Já a aversão à demora relaciona-se com a dificuldade de manter longos
intervalos de espera entre a emissão de resposta e a recompensa. Crianças com pobre capacidade
de aversão à demora preferem escolher tarefas com recompensas mais rápida do que aquelas com
recompensas mais demoradas (SONUGA-BARKE, 2003). Quando não há opção de escolha, elas
podem demonstrar dificuldades atencionais, frustração e maior tempo para realizar a tarefa
(SONUGA-BARKE et al., 2008). Tais conceitos de regulação do estado e a aversão ao adiamento
relacionam-se ao modelo bidirecional da AR (e.g. BLAIR, 2016) utilizado na presente tese, uma
vez que envolvem a gestão de processos bottom-up e top-down para atingir objetivos.
O IFERA-I é composto de 28 itens, divididos em cinco subescalas: Controle Inibitório (CI
- 6 itens), Memória de Trabalho (MT - 6 itens), Flexibilidade Cognitiva (FC - 5 itens), Aversão ao
adiamento (AD - 5 itens) e Regulação do estado (Reg - 6 itens). Este instrumento avalia a
dificuldade da criança nos diferentes domínios em situações, por exemplo, “Quando está no meio
de uma atividade, frequentemente esquece o que estava fazendo”. Portanto, quanto maior sua
pontuação, tanto pior o desempenho no funcionamento executivo e demais habilidades avaliadas.
As respostas assinaladas pelos informantes indicam a frequência da apresentação dos
comportamentos nas situações, medidos a partir de uma escala tipo Likert de 5 pontos: 1. Nunca;
2. Raramente; 3. Às vezes; 4. Frequentemente; 5. Sempre. A correção é feita somando-se a
pontuação para cada subescala e para o escore total. O tempo estimado para preenchimento é de 5
a 10 minutos. Dados de desenvolvimento e validade do IFERA-I para a população brasileira estão
disponíveis em Trevisan, Dias, Berberian, Seabra (submetido). O IFERA-I apresenta dados de
validade de conteúdo, conforme análise de juízes, precisão adequada, bem como validade de
critério, observada em correlação significativa com uma escala que avalia sintomas de TDAH
(MTA-SNAP-IV, MATTOS et al. 2006) (r = 0,62-0,89; p <0.001) e na capacidade de discriminar
crianças com e sem TDAH. Sua estrutura fatorial, conforme respondida por professores, revelaram
cinco fatores. Foram usados os escores brutos em cada um dos domínios e o total.
idade, segundo relato de pais e professores. O ERC é composto de 24 itens, porém somente 23
itens são válidos de acordo com os estudos preliminares de adaptação e validação para a cultura
brasileira (REIS et al., 2016). Os 23 itens válidos encontram-se divididos em duas subescalas:
Regulação Emocional (RE – 10 itens) e Labilidade/Negatividade emocional (L/N: 13 itens). A
subescala RE avalia a habilidade das crianças em expressar emoções, empatia e autoconsciência
emocional (e.g. “É uma criança alegre.”; “A criança consegue dizer quando está se sentindo
triste, com raiva ou zangada, com medo ou assustada.”) e a subescala L/N avalia dificuldades da
criança em flexibilidade, desregulação da raiva e labilidade do humor (e.g. “Frustra-se
facilmente.”; “É propensa a explosões de raiva / birra.”).
As respostas assinaladas pelos informantes indicam a frequência da apresentação dos
comportamentos nas situações, medidos a partir de uma escala tipo Likert de 4 pontos: 1. Nunca;
2. Algumas vezes; 3. Frequentemente; 4. Quase sempre. A correção é feita somando-se a pontuação
para cada subescala, porém antes é necessário inverter alguns itens. Os itens devem ser invertidos
da seguinte forma: 1=4, 2=3, 3=2 e 4=1. Na subescala de RE, os itens a serem invertidos são 16,
17 e 18 e na subescala L/N os itens a serem invertidos são 9 e 11. Além dos escores por subescalas,
é possível calcular o nível de regulação emocional total (RE Total). Para tanto, os seguintes itens
devem ser invertidos: 2, 6, 8, 10, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 19, 20, 22, 24. Ainda não foram conduzidos
estudos normativos, porém estudos preliminares de adaptação e validação para a cultura brasileira
são encontrados em Reis et al. (2016). O tempo estimado para preenchimento é de 20 minutos.
Foram usados os escores brutos nos dois domínios e o total.
trabalho e data de nascimento); 2 itens sobre a formação (nível de escolaridade com data de
conclusão e realização de outros cursos, quais e quando); e 4 itens sobre a atuação profissional
(tempo de atuação como professor, tempo de atuação na Educação Infantil, tempo de atuação na
presente escola e outras informações relevantes). Foi utilizada a versão do QP desenvolvida e
disponível por Dias (2013). O tempo de preenchimento é estimado em 5 minutos.
Descrição
Etapa 2: Criação de novas Alocação em
sistemática das
atividades módulos
atividades
bases de dados nacionais e internacionais, além de consulta a materiais disponíveis nos mercados
brasileiro e estrangeiro sobre intervenções em AR e construtos relacionados; c. Levantamento de
atividades já existentes, comumente utilizadas em escolas e que possuem demanda sobre
habilidades de AR: pesquisa não-sistemática por meio de entrevistas e encontros com profissionais
da área educacional; e d. Seleção e/ou adaptação das atividades levantadas a partir das demandas
envolvidas por comitê de especialistas (1ª, 3ª e 4ª autoras do PIPA): as atividades foram
classificadas em função do tipo de demanda: RE (e.g. nomear emoções, reconhecer emoções em
diferentes contextos, para modular a expressão do comportamento da emoção) e FE (e.g. prestar
atenção, seguir regras e inibir impulsos). Além disso, foram utilizadas algumas atividades do
PIAFEx (DIAS; SEABRA, 2013), para o qual já há algumas evidências de eficácia em aplicações
prévias no contexto brasileiro em crianças pré-escolares (DIAS; SEABRA, 2015b) e do 1º ano do
Ensino Fundamental (DIAS; SEABRA, 2015a, 2016).
A Etapa 2 compreendeu três outras ações: a. Criação de novas atividades; b. Descrição
sistemática das atividades de forma padronizada: nome da atividade, objetivo, materiais
necessários, descrição, instrução e fechamento; e c. Alocação em módulos a partir do objetivo geral
da atividade. Já as Etapas 3 e 4, compreenderam uma ação cada, respectivamente, ‘Revisão crítica
das atividades por especialistas’ e ‘Reformulação da versão inicial e fechamento do PIPA’.
Participaram da Etapa 3 a segunda, a quinta e a sexta autoras do PIPA, sendo todas profissionais
ligadas às áreas de psicologia e educação e com experiência no trabalho com crianças pré-escolares.
O trabalho na Etapa 3 consistiu em verificar a aplicabilidade do PIPA no contexto de sala de aula
e adequabilidade à faixa etária pretendida, bem como a coerência entre a atividade e seu objetivo
proposto. Muniz et al. (2016) relataram a validade de conteúdo por especialista realizada do PIPA.
A análise do programa foi orientada pelo protocolo de avaliação para os juízes (as atividades
demandavam AR, incluindo a RE?; estavam adequadas para crianças pré-escolares?; havia lógica
sequencial entre as atividades?; as instruções se mostravam claras para o aplicador do PIPA?). A
maioria das atividades foi avaliada como adequada, com concordância entre os três juízes. Para
aquelas em que não houve concordância, procedeu-se à revisão. Ademais, os três especialistas
apontaram sugestões de alterações (reorganização da sequência das atividades; mudança de
atividades entre os módulos; inclusão de novas e/ou modificações em atividades; melhorias nas
instruções para as crianças e o aplicador; construção de uma proposta de cronograma e
esquematização para a implementação do programa). Todas as observações foram analisadas e
54
acatadas pelos autores do PIPA, contribuindo para solidificar a qualidade teórica do programa,
propiciando evidências de validade de conteúdo.
Por fim, a última etapa de elaboração do PIPA compreendeu a reformulação da versão
inicial (alterações e adequações) e fechamento da versão 1, tendo como base os apontamentos
realizados na revisão crítica das atividades por especialistas e também considerando-se a
aplicabilidade das atividades do PIPA em função dos conteúdos e rotina já trabalhados pelos
professores da Educação Infantil. A versão final do PIPA organizada em um caderno de atividades
que foi utilizado no treinamento de professores para posterior aplicação do programa. As etapas de
elaboração da versão 1 do PIPA encontram-se também descritas e publicadas em León et al. (2016).
cotidiano escolar. Eles oferecem um suporte externo para que a criança possa controlar e regular
seu comportamento e também suas emoções e pensamentos. Com o tempo, a criança internaliza
esses processos e não precisará mais de uma dica externa que a lembre deles. A partir deste
momento, essas estratégias e auxílios não serão mais necessários. Sugere-se que o professor aplique
estas estratégias e auxílios em quantas situações e atividades forem possíveis e sempre que for
necessário um suporte externo para que a criança execute uma atividade (algo que lhe ajude a
lembrar o que deve fazer, que a auxilie a manter a atenção na tarefa, a inibir comportamentos
inapropriados etc). Sugere-se também que o professor encoraje a criança a fazer uso dos auxílios e
estratégias independentemente, ou seja, inicialmente o professor deve oferecer suporte e instrução,
modelando como a criança fará uso desses recursos, mas, gradativamente, deve permitir à criança
ser mais autônoma.
Por sua vez, os módulos do PIPA contemplam desde atividades mais básicas de
reconhecimento das emoções e de contextos geradores de emoções, até módulos mais complexos
de entendimento das consequências do comportamento, gerenciamento/ controle das emoções e
comportamento, resolução de conflitos interpessoais e regulação durante interação com pares.
Ainda, um módulo específico traz brincadeiras que demandam atenção e inibição de
comportamentos inadequados, estimulando o controle da ação e o seguir de regras. É importante
ressaltar que, assim como outros programas existentes (e.g. Tools, PIAFEx), o PIPA apresenta
atividades lúdicas que podem ser comuns as praticadas pelos professores, principalmente as
brincadeiras livres e jogos - consideradas de conhecimento público, de fácil localização na internet.
Entre os diferenciais do PIPA encontram-se sua estrutura e sistematização, indicação de quais
habilidades são estimuladas em cada atividade, como, com qual frequência e porquê. O Quadro 4
ilustra as atividades, organização do PIPA, objetivos e quantidades de atividades por módulo.
56
módulos inseridos logo ao início, atividades de todos módulos permearão todo o ano escolar e
mesmo aquelas mais básicas dos módulos 1 e 2 poderão ser retomadas a qualquer momento da
intervenção. Ainda, no caso de o profissional julgar que suas crianças já possuem as habilidades
que os módulos 1 e 2 visam estimular bem desenvolvidas, estas poderão ser implementadas mais
rapidamente. Uma breve descrição dos módulos também se encontra publicadas em León et al.
(2016).
5.3. Procedimento
Inicialmente, como o presente projeto faz parte de uma pesquisa de maior abrangência, este
já havia sido submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do UNIFIEO (CAAE no.
42048414.0.1001.5435). A orientadora e a coorientadora da presente pesquisa participam,
respectivamente, como coordenadora de núcleo e coordenadora geral do estudo principal.
No final do ano de 2015 foi feito contato com escolas municipais de Educação Infantil
próximas à região da UPM, a fim de facilitar o deslocamento de recursos humanos e materiais para
realização do projeto durante um ano letivo. No início do ano letivo de 2016 foram remetidos os
TCLE para os responsáveis das instituições. Neste momento, o estudo dividiu-se em 2 etapas, que
foram realizadas respectivamente em 2016 e em 2017:
- Etapa 1 (2016):
Pré-teste
Esta etapa foi inteiramente conduzida no curso de um ano letivo e dividiu-se em pré-teste,
intervenção e pós-teste. No início do ano, durante o período de pré-teste, foram realizadas reuniões
de pais coletivas com cada sala para apresentação do projeto geral e entrega dos TCLE aos
responsáveis das crianças. Para os ausentes foi enviado um comunicado via agenda das crianças
juntamente com o TCLE, além dos pesquisadores terem se colocado à disposição para
esclarecimento de dúvidas em plantões nos horários de entrada e saída de ambas as escolas.
Paralelamente foi realizada uma reunião de professores coletiva para apresentação do projeto geral
e entrega dos TCLE e QProf. A adesão ao projeto foi voluntária por parte de pais e professores.
Aos responsáveis pelas crianças participantes foi solicitado que respondessem ao QP, SDQ e
IFERA-I de seus filhos (duração média de 30 minutos); e aos professores participantes foi
64
solicitado que respondessem ao IFERA-I, SDQ e ERC dos alunos que tiveram autorização pelos
pais (duração média de 30 minutos). A coleta junto aos professores foi realizada na própria escola
em horário disponibilizado pela coordenação/direção. No pré-teste as crianças participantes foram
avaliadas, individualmente, no EMMC, TSS e TReg. A avaliação foi realizada em sala
disponibilizada pela escola, em 1 sessão de aproximadamente 30 minutos para TReg/ TSS e 1
sessão de aproximadamente 20 minutos para EMMC. Para a coleta dos dados nas avaliações a
doutoranda contou com a ajuda de uma equipe de 14 pessoas, sendo 4 mestrandas da UNIFIEO e
10 voluntários de pesquisa (ex-alunos e atuais dos cursos de Psicologia e pós-graduação em
Psicopedagogia da UPM), todos treinados para a aplicação nos testes, na condição cega em relação
à condição dos grupos (GC x GE). Nesta etapa participaram professores e crianças de todas as
classes, GE e GC, que durou aproximadamente 2 meses (fevereiro e março). Por fim, ainda
participou da etapa de pré-teste um observador cego (sem conhecimento da composição de GC e
GE), com formação em pedagogia, pós-graduação em psicopedagogia e mestre em Distúrbios do
Desenvolvimento pela UPM, que realizou observação em todas as classes participantes do estudo
durante duas horas e meia. A observação pelo observador cego foi realizada por meio de um
protocolo elaborado, apresentado e discutido na dissertação de mestrado de Zauza (2018).
realizar de 2 a 3 atividades diárias junto à sua turma, por período aproximado de 30 minutos a 1h
por dia. Dentre estas atividades, como a ‘Brincadeira Planejada’ do PIAFEx (DIAS; SEABRA,
2013) é a que demanda maior tempo, os professores foram orientados a implementá-la 2 vezes por
semana, por período aproximado de 40 minutos. Este treinamento inicial ocorreu em encontros
nas respectivas escolas, em aproximadamente 5 sessões de 2h cada, totalizando 10h de treinamento.
O treinamento inicial de professores do GE encontra-se apresentado e discutido em detalhes na
dissertação de mestrado de Zauza (2018).
No 2º semestre de 2016, antes do reinício das aulas após o recesso de julho, foi realizado
um novo treinamento com 8 horas de duração. Neste treinamento foram revisados os conceitos
teóricos básicos do PIPA de forma dinâmica e foram dadas sugestões para que eles pudessem
enfocar no 2º semestre. O treinamento foi conduzido novamente pela aluna responsável pelo
presente estudo em parceria com uma integrante da equipe do projeto aprovado pelo edital nº 44
da CAPES/IAS (Pesquisadora do UNIFIEO), juntamente com a orientadora e coorientadora.
Intervenção - acompanhamento
Após o treinamento inicial, os próprios professores passaram a aplicar as atividades de
intervenção, diariamente, em contexto de sala de aula, com a devida supervisão e orientação de
membros da equipe de trabalho, com visitas à escola. A visitas eram 2 vezes por semana em cada
turma, pelo período aproximado de 6 horas cada, incluindo o período em que a professora do GE
estava em sala de aula e o período em que estava na escola para realizar para o planejamento das
atividades. Assim, durante as visitas a equipe de trabalho responsável pela formação e
acompanhamento da implementação das atividades, supervisionava e orientava os professores na
aplicação das atividades no horário de aula com as crianças. Ainda durante as visitas eram
realizados encontros de ‘formação continuada’ com os professores nos horários de planejamento
de aula. Nesses encontros de duração entre 30 minutos e 1 hora, eram esclarecidas as dúvidas
teóricas e de aplicação prática, com o estudo da apostila e planejamento das atividades a serem
realizadas. Nesses encontros também, tanto os professores do GE, quanto os membros da equipe
de trabalho faziam anotações estruturadas ou não das atividades que estavam sendo aplicadas para
verificar a frequência de aplicação diária das atividades pelos professores. Não foi realizado o
controle sistemático da assiduidade dos professores, uma vez que na sua ausência, a equipe de
trabalho procurava aplicar as atividades com as crianças. Porém, conforme mencionado
66
Pós-teste
Ao término da intervenção, iniciou-se a última etapa do estudo prevista para 2016, o pós-
teste, com a reavaliação das crianças (GE e GC) no TSS e TReg (exceto EMMC) e novo
preenchimento das escalas e questionários por pais (exceto o Qp, incluindo o ERC) e professores
(exceto o QProf), além de nova observação pelo mesmo observador cego que havia participado no
pré-teste. O pós-teste foi realizado com a maioria da equipe que participou da coleta no pré-teste,
pois alguns voluntários não tiveram disponibilidade para auxiliar novamente, então novos
voluntários fizeram parte da equipe. Assim, novo treinamento foi realizado aos novos membros e
a avaliação ocorreu novamente na condição cega em relação à condição dos grupos (GC x GE).
Ainda, no final de 2016 e começo de 2017, foi oferecido o treinamento teórico do PIPA aos demais
professores das escolas participantes, num encontro de 4h para cada escola. Foi também realizado
ao final de 2016 a coleta de relato qualitativo, gravado em áudio para posterior transcrição, para a
análise da satisfação dos professores com o PIPA. Tais dados ainda não foram analisados e fazem
parte da coleta do projeto multicêntrico maior do qual a presente tese faz parte.
- Etapa 2 (2017):
Esta etapa do projeto aconteceu no ano seguinte à implementação do PIPA. Assim, após 1
ano da finalização da intervenção foi realizado o follow-up, com procedimento análogo ao pós-
teste. Portanto, a partir de outubro de 2017, as crianças (GE e GC) foram reavaliadas no TSS e
TReg e foi solicitado novo preenchimento das escalas e questionários por pais (mesmos do pós-
teste) e professores. É importante ressaltar que da Etapa 1 (2016) para a Etapa 2 (2017) do estudo
houve uma mudança de logística da coleta, pois de duas escolas municiais de educação infantil, a
coleta de follow-up ocorreu em sete escolas estaduais de ensino fundamental. As crianças
regularmente matriculadas nas escolas municiais de educação infantil até o final de 2016 foram
automaticamente transferidas para as escolas públicas estaduais de ensino fundamental mais
próximas. Com isso todos os participantes do pós-teste foram transferidos para 15 diferentes
67
escolas públicas. Em agosto de 2017, iniciou-se o contato com as novas escolas a fim de apresentar
a continuidade da pesquisa e verificar se, de fato, as crianças transferidas encontravam-se
regularmente matriculadas. Verificou-se que algumas crianças não se encontravam mais
cadastradas no sistema eletrônico da secretaria estadual de educação, com isso, inferiu-se que elas
mudaram de estado ou país, segundo orientação das secretárias das escolas. Outras crianças foram
transferidas para escolas particulares. Conforme descrito no item ‘participantes’, a fim de manter
a padronização da amostra e a viabilidade da coleta no prazo estabelecido, permaneceram no estudo
de follow-up apenas as crianças que permaneceram regularmente matriculadas em escolas públicas
estaduais de ensino fundamental I localizadas na região central de São Paulo. Assim, o follow-up
ocorreu em sete escolas públicas estaduais e na clínica da UPM, pois uma das escolas (que tinha
apenas uma criança regularmente matriculada) não autorizou a realização da coleta no espaço físico
da escola. O follow-up foi realizado com a minoria da equipe que participou da coleta nas fases
anteriores, devido à falta de disponibilidade para auxiliar novamente de alguns voluntários, então
novos voluntários fizeram parte da equipe. Assim, novo treinamento foi realizado aos novos
membros e a avaliação ocorreu novamente na condição cega em relação à condição dos grupos
(GC x GE).
a) Análise dos efeitos de curto prazo da intervenção sobre os desempenhos das crianças nas
seguintes medidas: TSS, TReg, SDQ (pais e professores), IFERA-I (pais e professores)
e ERC (professores). Análises iniciais revelaram que os grupos eram diferentes entre si
em algumas medidas no pré-teste, por tal motivo, de modo a considerar tais diferenças
iniciais, foram conduzidas Análises de Covariância mista (Ancova), tendo o grupo (GE
x GC) como fator entre-sujeitos, o tempo (pré-teste x pós-teste) como fator intra-sujeitos,
as medidas em cada instrumento como variáveis dependentes e a pontuação-padrão na
EMMC como covariante. No caso do preenchimento das escalas (ERC, IFERA-I e SDQ),
somente foram conduzidas as análises quando foi mantido o mesmo informante pré e
pós-intervenção; assim, uma das turmas do GC da escola 1 foi excluída das análises
68
específicas com tais instrumentos. Destaca-se que as mesmas análises foram conduzidas
sem o uso da pontuação na EMMC como covariante e os resultados foram semelhantes.
Portanto, optou-se por apresentar as análises de covariância.
b) Análise dos efeitos de longo prazo da intervenção sobre os desempenhos das crianças nas
seguintes medidas: TSS, TReg, SDQ (pais), IFERA-I (pais) e ERC (pais). Para tanto,
foram conduzidas Ancovas, tendo o grupo (GE x GC) como fator entre-sujeitos, o tempo
(pós-teste x follow-up) como fator intra-sujeitos, as medidas em cada instrumento como
variáveis dependentes e a pontuação-padrão na EMMC como covariante. Destaca-se que
não foram conduzidas tais análises para as escalas respondidas pelos professores visto
que houve mudança de ano escolar e, consequentemente, de respondente; logo foram
conduzidas as análises descritas no item c) a seguir.
As análises foram realizadas no software IBM SPSS versão 21.0. Foram excluídos os
valores considerados outliers e extremos, conforme análise descritiva do SPSS feita pelo gráfico
boxplot. Conforme tal análise, os casos identificados como outliers e valores extremos
correspondem aos valores maiores do que 1,5 intervalo interquartil além do percentil 75, ou aos
valores menores do que 1,5 intervalo interquartil abaixo do percentil 25 (KINNEAR; GRAY,
2000). Para tanto, foram usados os desempenhos no pré-teste em cada medida. Com base nisso, os
casos outliers e extremos foram excluídos para todos os momentos (desde o pré-teste até o follow-
up).
O nível de significância adotado foi de 5%. Tanto os resultados significativos (p ≤ 0,05),
quanto os marginalmente significativos (considerando p entre 0,06 e 0,1) foram destacados em
69
negrito. Para estimar o tamanho do efeito da intervenção nas crianças utilizou-se o partial eta
square (ηp²). Foram considerados como tamanhos pequenos os resultados partir de 0,01,
intermediários os resultados a partir de 0,06 e grandes os resultados a partir de 0,14 (KLINE, 2004),
também destacados em itálico.
70
6. RESULTADOS
6.1. Análises dos efeitos de curto prazo da intervenção sobre os desempenhos nos diversos
instrumentos
Conforme descrito no plano de análise, foram conduzidas Ancovas, tendo o grupo (GE x
GC) como fator entre-sujeitos, o tempo (pré-teste x pós-teste) como fator intra-sujeitos, as medidas
em cada instrumento como variáveis dependentes e a pontuação-padrão na EMMC como
covariante.
6.1.1. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Teste de Stroop Semântico (TSS)
Tabela 5. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no TSS no pré
e pós-teste corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do TSS Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
Média corrigida (Erro Padrão)
Escore Parte A 0,97 (0,01) 0,98 (0,01) 0,98 (0,01) 0,98 (0,01)
Escore Parte B 0,79 (0,04) 0,91 (0,02) 0,84 (0,04) 0,92 (0,02)
Escore B-A -0,18 (0,04) -0,07 (0,02) -0,13 (0,04) -0,07 (0,02)
TR Parte A 0,51 (0,03) 0,49 (0,03) 0,54 (0,03) 0,46 (0,04)
TR Parte B 1,07 (0,05) 6,04 (2,07) 1,01 (0,05) 0,93 (2,03)
TR B-A 0,57 (0,04) 5,59 (2,08) 0,48 (0,04) 0,47 (2,03)
* Nota: TR = tempo de reação.
Tabela 6. Estatísticas inferenciais para as medidas de escore no TSS: Escore Parte A, Escore Parte
B e Escore de interferência B-A.
Escore Parte A gl Quadrado médio F p ηp²
Momento 1 0,000 0,249 0,619 0,002
Grupo 1 0,001 0,275 0,601 0,002
Momento*Grupo 1 0,002 1,194 0,277 0,011
Erro (momento) 111 0,002
Escore Parte B
Momento 1 0,157 3,875 0,052 0,034
Grupo 1 0,047 0,635 0,427 0,006
Momento*Grupo 1 0,042 1,030 0,312 0,009
Erro (momento) 111 0,041
Escore de interferência B-A
Momento 1 0,142 3,683 0,058 0,032
Grupo 1 0,037 0,539 0,464 0,005
Momento*Grupo 1 0,026 0,671 0,415 0,006
Erro (momento) 111 0,039
6.1.2. Análises dos efeitos de curto prazo sobre a Tarefa de Regulação (TReg)
Tabela 8. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle na TReg no
pré e pós-teste corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas da TReg Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
Média corrigida (Erro Padrão)
Escore Go 0,73 (0,01) 0,81 (0,01) 0,72 (0,02) 0,81 (0,01)
Escore No-Go 0,86 (0,01) 0,88 (0,01) 0,87 (0,01) 0,89 (0,01)
Escore Total 0,79 (0,01) 0,85 (0,01) 0,79 (0,01) 0,85 (0,01)
TR Go 0,61 (0,01) 0,65 (0,01) 0,62 (0,01) 0,65 (0,01)
TR No-Go 0,08 (0,01) 0,07 (0,01) 0,08 (0,01) 0,07 (0,01)
TR Variabilidade 0,47 (0,01) 0,40 (2,01) 0,47 (0,01) 0,41 (2,01)
* Nota: TR = tempo de reação.
Tabela 9. Estatísticas inferenciais para as medidas de escore na TReg: Escore Go, Escore No-Go e
Escore Total.
Escore Go gl Quadrado médio F p ηp²
Momento 1 0,016 1,968 0,163 0,017
Grupo 1 0,001 0,040 0,841 0,000
Momento*Grupo 1 0,000 0,038 0,846 0,000
Erro (momento) 116 0,008
Escore No-Go
Momento 1 0,028 5,287 0,023 0,044
Grupo 1 0,001 0,117 0,733 0,001
Momento*Grupo 1 0,000 0,077 0,782 0,001
Erro (momento) 116 0,005
Escore Total
Momento 1 0,022 8,304 0,005 0,067
Grupo 1 0,000 0,009 0,926 0,000
Momento*Grupo 1 0,000 0,002 0,961 0,000
Erro (momento) 116 0,003
Tabela 11. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no SDQ
respondido pelos pais no pré e pós-teste corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do SDQ
Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
respondido pelos Pais
Média corrigida (Erro Padrão)
Sint. Emocionais (SE) 2,42 (0,26) 2,76 (0,28) 2,62 (0,33) 2,89 (0,35)
Probl. de Conduta (PC) 2,34 (0,24) 1,89 (0,24) 1,86 (0,31) 1,96 (0,31)
Hiperatividade (HIP) 3,56 (0,29) 3,53 (0,30) 3,02 (0,38) 2,60 (0,39)
Prob.de Relacionamento
2,35 (0,21) 2,06 (0,20) 1,52 (0,27) 1,63 (0,25)
com os Pares (PRP)
Comport. Pró-social (CPS) 8,01 (0,24) 7,82 (0,27) 8,93 (0,31) 8,40 (0,35)
Total 10,67 (0,69) 10,24 (0,75) 9,01 (0,88) 9,09 (0,96)
Tabela 12. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no SDQ respondido pelos pais.
Medidas do
Tipo de efeito gl Quadrado médio F p ηp²
SDQ/ Pais
Momento 1 6,308 2,200 0,141 0,023
Sintomas Grupo 1 1,199 0,214 0,645 0,002
Emocionais (SE) Momento*Grupo 1 0,039 0,014 0,907 0,000
Erro (momento) 92 2,867
Momento 1 0,703 0,380 0,539 0,004
Problemas de Grupo 1 1,798 0,364 0,548 0,004
Conduta (PC) Momento*Grupo 1 3,386 1,830 0,179 0,020
Erro (momento) 92 1,850
Momento 1 4,338 1,540 0,218 0,016
Hiperatividade Grupo 1 24,220 3,160 0,079 0,033
(HIP) Momento*Grupo 1 1,708 0,606 0,438 0,007
Erro (momento) 92 2,816
Problemas de Momento 1 0,179 0,139 0,711 0,002
Relacionamento Grupo 1 17,625 4,900 0,029 0,051
com os Pares Momento*Grupo 1 1,837 1,424 0,236 0,015
(PRP) Erro (momento) 92 1,290
Momento 1 0,037 0,012 0,912 0,000
Comportamento Grupo 1 25,306 5,257 0,024 0,054
Pró-social (CPS) Momento*Grupo 1 1,355 0,449 0,505 0,005
Erro (momento) 92 3,020
Momento 1 0,713 0,051 0,821 0,001
Grupo 1 87,710 1,866 0,175 0,020
Total
Momento*Grupo 1 2,857 0,206 0,651 0,002
Erro (momento) 92 13,899
78
Tabela 13. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no SDQ
respondido pelos professores no pré e pós-teste corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do SDQ respondido
Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
pelos Professores
Média corrigida (Erro Padrão)
Sint. Emocionais (SE) 1,62 (0,18) 1,21 (0,16) 1,80 (0,25) 1,28 (0,21)
Probl. de Conduta (PC) 1,05 (0,19) 0,90 (0,18) 1,56 (0,25) 1,21 (0,24)
Hiperatividade (HIP) 2,70 (0,31) 2,53 (0,28) 3,63 (0,42) 2,28 (0,38)
Prob.de Relacionamento com
0,88 (0,14) 0,77 (0,14) 0,77 (0,14) 0,98 (0,19)
os Pares (PRP)
Comport. Pró-social (CPS) 7,91 (0,27) 8,47 (0,24) 7,79 (0,36) 8,00 (0,32)
Total 6,25 (0,60) 5,40 (0,55) 7,76 (0,80) 5,75 (0,73)
Tabela 14. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no SDQ respondido pelos professores.
Medidas do SDQ/ Quadrado
Tipo de efeito gl F p ηp²
Professores médio
Momento 1 2,325 1,709 0,194 0,014
Sintomas Grupo 1 0,850 0,276 0,600 0,002
Emocionais (SE) Momento*Grupo 1 0,136 0,100 0,752 0,001
Erro (momento) 117 1,361
Momento 1 0,063 0,068 0,795 0,001
Problemas de Grupo 1 9,410 2,237 0,137 0,019
Conduta (PC) Momento*Grupo 1 0,508 0,546 0,461 0,005
Erro (momento) 117 0,930
Momento 1 0,434 0,278 0,599 0,002
Hiperatividade Grupo 1 6,412 0,529 0,468 0,005
(HIP) Momento*Grupo 1 19,222 12,340 0,001 0,095
Erro (momento) 117 1,558
Momento 1 0,779 0,862 0,355 0,007
Problemas de
Grupo 1 0,153 0,071 0,790 0,001
Relacionamento
Momento*Grupo 1 1,445 1,600 0,208 0,013
com os Pares (PRP)
Erro (momento) 117 0,903
Momento 1 0,040 0,013 0,908 0,000
Comportamento Grupo 1 4,805 0,694 0,407 0,006
Pró-social (CPS) Momento*Grupo 1 1,683 0,569 0,452 0,005
Erro (momento) 117 2,958
Momento 1 7,920 1,133 0,289 0,010
Grupo 1 47,787 1,092 0,298 0,009
Total
Momento*Grupo 1 18,182 2,600 0,110 0,022
Erro (momento) 117 6,993
80
6.1.5. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Inventário de Funções Executivas,
Regulação e Aversão ao adiamento – versão infantil (IFERA-I) respondido pelos pais
Tabela 15. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no IFERA-I
respondido pelos pais no pré e pós-teste corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do IFERA-I
Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
respondido pelos pais
Média corrigida (Erro Padrão)
Controle Inibitório (CI) 2,80 (0,11) 2,69 (0,11) 2,50 (0,14) 2,38 (0,14)
Memória de Trabalho (MT) 2,22 (0,10) 2,15 (0,09) 1,97 (0,12) 1,92 (0,11)
Flexibilidade Cognitiva (FC) 2,42 (0,10) 2,33 (0,10) 2,13 (0,13) 2,10 (0,12)
Aversão ao adiamento (AD) 3,32 (0,13) 3,21 (0,14) 3,02 (0,17) 3,03 (0,18)
Regulação (Reg) 2,91 (0,11) 2,78 (0,10) 2,48 (0,14) 2,53 (0,13)
Total 2,73 (0,09) 2,63 (0,09) 2,40 (0,12) 2,38 (0,11)
Não houve interação significativa entre momento e grupo para nenhum dos subtestes do IFERA-I
respondido pelos pais.
Tabela 16. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no IFERA-I respondido pelos pais.
Medidas do IFERA-I Quadrado
Tipo de efeito gl F p ηp²
/ Pais médio
Momento 1 0,111 0,482 0,489 0,005
Controle Inibitório Grupo 1 4,597 3,471 0,065 0,034
(CI) Momento*Grupo 1 0,000 0,001 0,979 0,000
Erro (momento) 100 0,230
Momento 1 0,177 0,970 0,327 0,010
Memória de Trabalho Grupo 1 2,859 3,118 0,080 0,030
(MT) Momento*Grupo 1 0,003 0,017 0,896 0,000
Erro (momento) 100 0,183
Momento 1 0,458 1,950 0,166 0,019
Flexibilidade Grupo 1 3,189 3,143 0,079 0,030
Cognitiva (FC) Momento*Grupo 1 0,054 0,228 0,634 0,002
Erro (momento) 100 0,235
Momento 1 2,483 4,701 0,033 0,045
Aversão ao adiamento Grupo 1 2,773 1,501 0,223 0,015
(AD) Momento*Grupo 1 0,196 0,371 0,544 0,004
Erro (momento) 100 0,528
Regulação (Reg) Momento 1 0,301 1,034 0,312 0,010
Grupo 1 5,633 4,780 0,031 0,046
Momento*Grupo 1 0,423 1,454 0,231 0,014
Erro (momento) 100 0,291
Total Momento 1 0,501 3,555 0,062 0,034
Grupo 1 3,973 4,287 0,041 0,041
Momento*Grupo 1 0,083 0,586 0,446 0,006
Erro (momento) 100 0,141
82
6.1.6. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Inventário de Funções Executivas,
Regulação e Aversão ao adiamento – versão infantil (IFERA-I) respondido pelos
professores
Tabela 17. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no IFERA-I
respondido pelos professores no pré e pós-teste corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do IFERA-I
Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
respondido pelos professores
Média corrigida (Erro Padrão)
Controle Inibitório (CI) 2,38 (0,09) 2,28 (0,09) 2,48 (0,12) 2,03 (0,12)
Memória de Trabalho (MT) 2,32 (0,09) 2,25 (0,09) 2,47 (0,13) 2,32 (0,12)
Flexibilidade Cognitiva (FC) 2,18 (0,08) 2,14 (0,07) 2,18 (0,10) 2,10 (0,10)
Aversão ao adiamento (AD) 2,40 (0,09) 2,21 (0,10) 2,32 (0,12) 2,09 (0,13)
Regulação (Reg) 2,10 (0,07) 2,10 (0,08) 2,21 (0,10) 2,07 (0,10)
Total 2,28 (0,07) 2,20 (0,08) 2,34 (0,10) 2,12 (0,10)
Tabela 18. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no IFERA-I respondido pelos
professores.
Medidas do IFERA-I Quadrado
Tipo de efeito gl F p ηp²
/ Professores médio
Momento 1 0,412 2,298 0,132 0,018
Controle Inibitório Grupo 1 0,356 0,305 0,582 0,002
(CI) Momento*Grupo 1 1,755 9,790 0,002 0,074
Erro (momento) 123 0,179
Momento 1 0,279 1,038 0,310 0,008
Memória de Trabalho Grupo 1 0,692 0,597 0,441 0,005
(MT) Momento*Grupo 1 0,097 0,361 0,549 0,003
Erro (momento) 123 0,268
Momento 1 0,216 0,968 0,327 0,008
Flexibilidade Grupo 1 0,018 0,025 0,874 0,000
Cognitiva (FC) Momento*Grupo 1 0,031 0,141 0,708 0,001
Erro (momento) 123 0,223
Momento 1 0,002 0,010 0,919 0,000
Aversão ao adiamento Grupo 1 0,562 0,487 0,487 0,004
(AD) Momento*Grupo 1 0,035 0,149 0,700 0,001
Erro (momento) 123 0,236
Momento 1 0,156 0,905 0,343 0,007
Grupo 1 0,095 0,131 0,718 0,001
Regulação (Reg)
Momento*Grupo 1 0,227 1,319 0,253 0,011
Erro (momento) 123 0,172
Momento 1 0,198 1,429 0,234 0,011
Grupo 1 0,001 0,002 0,967 0,000
Total
Momento*Grupo 1 0,269 1,934 0,167 0,015
Erro (momento) 123 0,139
84
6.1.7. Análises dos efeitos de curto prazo sobre o Emotion Regulation Checklist (ERC)
respondido pelos professores
Tabela 19. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no ERC
respondido pelos professores no pré e pós-teste corrigidas pela Ancova.
Medidas do ERC Grupo Experimental Grupo Controle
respondido pelos Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
professores Média corrigida (Erro Padrão)
Labilidade/ Negatividade
20,18 (0,66) 19,60 (0,60) 21,56 (1,00) 19,94 (0,92)
emocional (LN)
Regulação Emocional
33,75 (0,54) 34,30 (0,54) 32,87 (0,81) 33,55 (0,82)
(RE)
RE Total 78,51 (1,01) 71,11 (0,73) 76,31 (1,54) 70,75 (1,11)
Tabela 20. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no ERC respondido pelos professores.
Labilidade/ Negatividade
gl Quadrado médio F p ηp²
emocional (LN)
Momento 1 5,755 0,570 0,452 0,005
Grupo 1 34,507 0,660 0,418 0,006
Momento*Grupo 1 12,817 1,271 0,262 0,012
Erro (momento) 109 10,088
Regulação Emocional (RE)
Momento 1 15,611 2,235 0,138 0,020
Grupo 1 31,512 0,825 0,366 0,008
Momento*Grupo 1 0,191 0,027 0,869 0,000
Erro (momento) 109 6,985
RE Total
Momento 1 0,151 0,007 0,936 0,000
Grupo 1 77,266 0,783 0,378 0,007
Momento*Grupo 1 39,659 1,709 0,194 0,015
Erro (momento) 109 23,207
6.2. Análises dos efeitos de longo prazo da intervenção sobre os desempenhos nos diversos
instrumentos
6.2.1. Análises dos efeitos de longo prazo sobre o Teste de Stroop Semântico (TSS)
Foram conduzidas análises descritivas e uma Ancova para cada medida do TSS. A Tabela
21 sumariza os resultados de médias corrigidas pelas Ancovas e os erros-padrão para os grupos
experimental e controle, nos momentos pós-intervenção e follow-up.
Tabela 21. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no TSS no
pós-intervenção e follow-up corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do TSS Pós-teste Follow-up Pós-teste Follow-up
Média corrigida (Erro Padrão)
Escore Parte A 0,99 (0,03) 0,98 (0,04) 0,98 (0,03) 0,99 (0,02)
Escore Parte B 0,91 (0,18) 0,95 (0,11) 0,90 (0,19) 0,92 (0,13)
Escore B-A -0,08 (0,17) -0,03 (0,11) -0,08 (0,19) -0,03 (0,13)
TR Parte A 0,49 (0,24) 0,41 (0,03) 0,45 (0,19) 0,37 (0,14)
TR Parte B 4,53 (15,11) 0,55 (0,13) 0,84 (0,32) 0,69 (0,39)
TR B-A 4,03 (15,15) 0,14 (0,14) 0,32 (0,41) 0,23 (0,31)
* Nota: TR = tempo de reação.
Tabela 22. Estatísticas inferenciais para as medidas de escore no TSS: Escore Parte A, Escore Parte
B e Escore de interferência B-A
Escore Parte A gl Quadrado médio F p ηp²
Momento 1 0,001 0,920 0,341 0,012
Grupo 1 0,000 0,095 0,758 0,001
Momento*Grupo 1 0,002 1,625 0,206 0,021
Erro (momento) 75 0,001
Escore Parte B
Momento 1 0,014 1,437 0,234 0,019
Grupo 1 0,000 0,006 0,937 0,006
Momento*Grupo 1 0,004 0,393 0,533 0,005
Erro (momento) 75 0,009
Escore de interferência B-A
Momento 1 0,022 2,297 0,134 0,030
Grupo 1 0,001 0,017 0,897 0,000
Momento*Grupo 1 0,000 0,042 0,839 0,001
Erro (momento) 75 0,009
6.2.2 Análises dos efeitos de longo prazo sobre a Tarefa de Regulação (TReg)
Foram conduzidas análises descritivas e uma Ancova para cada medida da TReg. A Tabela
24 sumariza os resultados de médias corrigidas pelas Ancovas e os erros-padrão para os grupos
experimental e controle, nos momentos pós-intervenção e follow-up.
89
Tabela 24. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle na TReg no
pós-intervenção e follow-up corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas da TReg Pós-teste Follow-up Pós-teste Follow-up
Média corrigida (Erro Padrão)
Escore Go 0,81 (0,09) 0,87 (0,08) 0,81 (0,09) 0,84 (0,09)
Escore No-Go 0,89 (0,07) 0,91 (0,06) 0,89 (0,12) 0,92 (0,05)
Escore Total 0,85 (0,06) 0,89 (0,06) 0,85 (0,08) 0,88 (0,05)
TR Go 0,66 (0,07) 0,67 (0,07) 0,65 (0,09) 0,62 (0,08)
TR No-Go 0,06 (0,04) 0,06 (0,04) 0,06 (0,08) 0,05 (0,03)
TR Variabilidade 0,40 (0,07) 0,33 (0,08) 0,41 (0,08) 0,32 (0,07)
* Nota: TR = tempo de reação.
Tabela 25. Estatísticas inferenciais para as medidas de escore na TReg: Escore Go, Escore No-Go
e Escore Total.
Escore Go gl Quadrado médio F p ηp²
Momento 1 0,002 0,522 0,472 0,007
Grupo 1 0,012 1,111 0,295 0,014
Momento*Grupo 1 0,005 1,214 0,274 0,016
Erro (momento) 77 0,004
Escore No-Go
Momento 1 4,634 0,001 0,975 0,000
Grupo 1 0,001 0,222 0,639 0,003
Momento*Grupo 1 0,002 0,518 0,474 0,007
Erro (momento) 77 0,005
Escore Total
Momento 1 0,001 0,229 0,633 0,003
Grupo 1 0,001 0,196 0,659 0,003
Momento*Grupo 1 0,000 0,061 0,806 0,001
Erro (momento) 77 0,002
Foram conduzidas análises descritivas e uma Ancova para cada medida do SDQ respondido
pelos pais. A Tabela 27 sumariza os resultados de médias corrigidas pelas Ancovas e os erros-
padrão para os grupos experimental e controle, nos momentos pós-intervenção e follow-up.
92
Tabela 27. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no SDQ
respondido pelos pais no pós-intervenção e follow-up corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do SDQ
Pós-teste Follow-up Pós-teste Follow-up
respondido pelos Pais
Média corrigida (Erro Padrão)
Sint. Emocionais (SE) 2,91 (2,02) 2,72 (1,73) 2,55 (1,84) 2,66 (2,14)
Probl. de Conduta (PC) 1,72 (1,73) 1,78 (1,83) 1,52 (1,40) 1,34 (1,52)
Hiperatividade (HIP) 3,59 (2,56) 3,25 (1,87) 2,83 (1,97) 2,93 (2,17)
Prob.de Relacionamento
2,13 (1,74) 1,47 (1,57) 1,76 (1,77) 1,66 (1,37)
com os Pares (PRP)
Comport. Pró-social (CPS) 8,09 (2,10) 7,81 (2,57) 8,21 (2,41) 7,93 (2,88)
Total 10,34 (5,75) 9,22 (5,57) 8,66 (5,21) 8,59 (5,22)
Tabela 28. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no SDQ respondido pelos pais.
Medidas do SDQ/
Tipo de efeito gl Quadrado médio F p ηp²
Pais
Momento 1 0,017 0,007 0,935 0,000
Sintomas Grupo 1 1,495 0,288 0,594 0,005
Emocionais (SE) Momento*Grupo 1 0,616 0,254 0,616 0,004
Erro (momento) 58 2,427
Momento 1 0,000 0,000 0,983 0,000
Problemas de Grupo 1 3,313 0,762 0,386 0,013
Conduta (PC) Momento*Grupo 1 0,421 0,388 0,536 0,007
Erro (momento) 58 1,086
Momento 1 0,861 0,331 0,567 0,006
Hiperatividade Grupo 1 7,087 1,057 0,308 0,018
(HIP) Momento*Grupo 1 1,287 0,494 0,485 0,008
Erro (momento) 58 2,603
Momento 1 0,380 0,270 0,606 0,005
Problemas de
Grupo 1 0,482 0,125 0,724 0,002
Relacionamento
Momento*Grupo 1 2,440 1,731 0,193 0,029
com os Pares (PRP)
Erro (momento) 58 1,409
Momento 1 1,631 0,449 0,506 0,008
Comportamento Grupo 1 0,806 0,090 0,765 0,002
Pró-social (CPS) Momento*Grupo 1 0,016 0,004 0,947 0,000
Erro (momento) 58 3,634
Momento 1 0,213 0,015 0,902 0,000
Grupo 1 40,956 1,878 0,353 0,015
Total
Momento*Grupo 1 8,020 0,576 0,451 0,010
Erro (momento) 58 13,917
94
6.2.4. Análises dos efeitos de longo prazo sobre o Inventário de Funções Executivas,
Regulação e Aversão ao adiamento – versão infantil (IFERA-I) respondido pelos pais
Foram conduzidas análises descritivas e uma Ancova para cada medida do IFERA-I
respondido pelos pais. A Tabela 29 sumariza os resultados de médias corrigidas pelas Ancovas e
os erros-padrão para os grupos experimental e controle, nos momentos pós-intervenção e follow-
up.
Tabela 29. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no IFERA-I
respondido pelos pais no pós-intervenção e follow-up corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do IFERA-I
Pós-teste Follow-up Pós-teste Follow-up
respondido pelos pais
Média corrigida (Erro Padrão)
Controle Inibitório (CI) 2,66 (0,89) 2,53 (0,90) 2,41 (0,79) 2,26 (0,68)
Memória de Trabalho (MT) 2,02 (0,58) 2,12 (0,77) 1,97 (0,69) 2,13 (0,73)
Flexibilidade Cognitiva (FC) 2,21 (0,81) 2,17 (0,81) 2,06 (0,68) 2,12 (0,65)
Aversão ao adiamento (AD) 3,19 (1,21) 3,01 (1,14) 2,97 (0,98) 2,64 (0,95)
Regulação (Reg) 2,65 (0,83) 2,61 (1,03) 2,55 (0,69) 2,43 (0,79)
Total 2,54 (0,71) 2,48 (0,76) 2,38 (0,66) 2,31 (0,62)
Tabela 30. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no IFERA-I respondido pelos pais.
Medidas do IFERA-I Quadrado
Tipo de efeito gl F p ηp²
/ Pais médio
Momento 1 0,000 0,000 0,998 0,000
Controle Inibitório Grupo 1 1,806 1,744 0,191 0,027
(CI) Momento*Grupo 1 0,005 0,018 0,892 0,000
Erro (momento) 63 0,296
Momento 1 0,003 0,015 0,904 0,000
Memória de Trabalho Grupo 1 0,003 0,004 0,948 0,000
(MT) Momento*Grupo 1 0,037 0,156 0,694 0,002
Erro (momento) 63 0,237
Momento 1 0,077 0,329 0,568 0,005
Flexibilidade Grupo 1 0235 0,267 0,607 0,004
Cognitiva (FC) Momento*Grupo 1 0,085 0,362 0,550 0,006
Erro (momento) 63 0,235
Momento 1 0,000 0,000 0,995 0,000
Aversão ao adiamento Grupo 1 2,133 1,379 0,245 0,021
(AD) Momento*Grupo 1 0,173 0,254 0,616 0,004
Erro (momento) 63 0,679
Momento 1 0,282 0,770 0,384 0,012
Grupo 1 0,432 0,401 0,529 0,006
Regulação (Reg)
Momento*Grupo 1 0,030 0,082 0,775 0,001
Erro (momento) 63 0,366
Momento 1 0,026 0,156 0,694 0,002
Grupo 1 0,630 0,827 0,367 0,013
Total
Momento*Grupo 1 0,001 0,004 0,952 0,000
Erro (momento) 63 0,166
96
6.2.5. Análises dos efeitos de longo prazo sobre o Emotion Regulation Checklist (ERC)
respondido pelos pais
Foram conduzidas análises descritivas e uma Ancova para cada medida do ERC respondido
pelos pais. A Tabela 31 sumariza os resultados de médias corrigidas pelas Ancovas e os erros-
padrão para os grupos experimental e controle, nos momentos pós-intervenção e follow-up.
Tabela 31. Análises descritivas dos desempenhos dos grupos experimental e controle no ERC
respondido pelos pais no pós-intervenção e follow-up corrigidas pela Ancova.
Grupo Experimental Grupo Controle
Medidas do ERC
Pós-teste Follow-up Pós-teste Follow-up
respondido pelos pais
Média corrigida (Erro Padrão)
Labilidade/ Negatividade
26,18 (5,75) 24,43 (6,67) 24,38 (4,35) 22,10 (7,15)
emocional (LN)
Regulação Emocional
30,20 (5,97) 29,86 (5,72) 31,38 (4,95) 29,10 (8,69)
(RE)
RE Total 61,03 (8,55) 68,29 (9,88) 64,21 (5,12) 69,57 (10,84)
Tabela 32. Estatísticas inferenciais para os subtestes e o total no ERC respondido pelos pais.
Labilidade/ Negatividade
gl Quadrado médio F p ηp²
emocional (LN)
Momento 1 95,975 5,148 0,027 0,078
Grupo 1 113,685 2,106 0,152 0,033
Momento*Grupo 1 1,971 0,106 0,746 0,002
Erro (momento) 61 18,642
Regulação Emocional (RE)
Momento 1 50,360 2,569 0,114 0,040
Grupo 1 4,040 0,067 0,796 0,001
Momento*Grupo 1 25,738 1,313 0,256 0,021
Erro (momento) 61 19,604
RE Total
Momento 1 43,203 1,070 0,305 0,018
Grupo 1 163,454 1,375 0,246 0,022
Momento*Grupo 1 23,450 0581 0,449 0,010
Erro (momento) 60 40,373
Foram conduzidos uma análise descritiva e um Teste t para amostras independentes no SDQ
respondido pelos professores no follow-up. A Tabela 33 sumariza as médias, os erros-padrão e os
desvios-padrão para os grupos experimental e controle, no momento follow-up.
Tabela 33. Análise descritiva dos desempenhos dos grupos experimental e controle no SDQ
respondido pelos professores follow-up.
Medidas do SDQ respondido Desvio- Erro
Grupo N Média
pelos Professores padrão padrão
Experimental 39 1,95 1,99 0,32
Sintomas Emocionais (SE)
Controle 32 2,19 2,05 0,36
Experimental 39 0,92 1,11 0,18
Problemas de Conduta (PC)
Controle 32 0,72 0,99 0,18
Experimental 39 2,95 2,47 0,40
Hiperatividade (HIP)
Controle 32 2,94 2,58 0,46
Problema de Relacionamento Experimental 39 1,33 1,49 0,24
com os Pares (PRP) Controle 32 1,69 1,84 0,33
Comportamento Pró-social Experimental 39 6,90 2,79 0,45
(CPS) Controle 32 7,44 2,50 0,44
Experimental 39 7,15 5,09 0,81
Total
Controle 32 7,53 5,71 1,01
Tabela 34. Estatísticas inferenciais resultantes do Test t para os subtestes e o total no SDQ
respondido pelos professores no momento follow-up.
Medidas do SDQ respondido Diferença Erro padrão
t gl p
pelos Professores média da diferença
Sintomas Emocionais (SE) -0,496 69 0,621 -0,239 0,481
Problemas de Conduta (PC) 0,810 69 0,421 0,204 0,252
Hiperatividade (HIP) 0,019 69 0,985 0,011 0,601
Problemas de Relacionamento
-0,896 69 0,373 -0,354 0,395
com os Pares (PRP)
Comportamento Pró-social
-0,850 69 0,398 -0,540 0,635
(CPS)
Total -0,294 69 0,769 -0,377 1,283
Tabela 35. Análise descritiva dos desempenhos dos grupos experimental e controle no IFERA-I
respondido pelos professores follow-up.
Medidas do IFERA-I respondido Desvio- Erro
Grupo N Média
pelos Professores padrão padrão
Experimental 39 2,48 0,79 0,13
Controle Inibitório (CI)
Controle 18 2,29 0,84 0,20
Experimental 39 2,63 0,81 0,13
Memória de Trabalho (MT)
Controle 18 2,40 1,25 0,29
Experimental 39 2,31 0,75 0,12
Flexibilidade Cognitiva (FC)
Controle 18 2,14 1,00 0,24
Experimental 39 2,22 0,67 0,11
Aversão ao adiamento (AD)
Controle 18 2,19 0,86 0,20
Experimental 39 2,52 0,75 0,12
Regulação (RG)
Controle 18 2,40 0,96 0,23
Experimental 39 2,45 0,64 0,10
Total
Controle 18 2,29 0,87 0,21
Tabela 36. Estatísticas inferenciais resultantes do Test t para os subtestes e o total no IFERA-I
respondido pelos professores no momento follow-up.
Medidas do IFERA-I Diferença Erro padrão
t gl p
respondido pelos Professores média da diferença
Controle Inibitório (CI) 0,829 55 0,411 0,189 0,229
Memória de Trabalho (MT) 0,821 55 0,415 0,226 0,276
Flexibilidade Cognitiva (FC) 0,683 55 0,497 0,162 0,237
Aversão ao adiamento (AD) 0,150 55 0,881 0,031 0,210
Regulação (RG) 0,525 55 0,602 0,122 0,233
Total 0,783 55 0,437 0,160 0,205
Foram conduzidos uma análise descritiva e um Teste t para amostras independentes no ERC
respondido pelos professores no follow-up. A Tabela 37 sumariza as médias, os erros-padrão e os
desvios-padrão para os grupos experimental e controle, no momento follow-up.
Tabela 37. Análise descritiva dos desempenhos dos grupos experimental e controle no ERC
respondido pelos professores follow-up.
Medidas do ERC respondido Desvio- Erro
Grupo N Média
pelos Professores padrão padrão
Labilidade/ Negatividade Experimental 41 19,12 6,17 0,96
emocional (L/N) Controle 18 21,28 3,48 0,82
Experimental 41 26,49 8,57 1,34
Regulação Emocional (RE)
Controle 18 29,56 5,26 1,24
Experimental 39 70,44 10,94 1,75
RE Total
Controle 18 72,17 7,44 1,75
102
Tabela 38. Estatísticas inferenciais resultantes do Test t para os subtestes e o total no ERC
respondido pelos professores no momento follow-up.
Medidas do ERC respondido Diferença Erro padrão
t gl p
pelos Professores média da diferença
Labilidade/ Negatividade
-1,385 57 0,172 -2,16 1,56
emocional (L/N)
Regulação Emocional (RE) -1,403 57 0,166 -3,07 2,19
RE Total -0,608 55 0,546 -1,73 2,85
labilidade do humor, do que as crianças do GC. Em relação aos testes de desempenho, houve
novamente apenas interação marginalmente significativa entre momento e grupo para as mesmas
medidas de TR do TSS (TR na Parte B e TR Interferência B-A), evidenciando que ambos os grupos
ficaram mais rápidos no momento follow-up em comparação ao pós-intervenção, porém como a
diminuição do tempo do GE foi bem maior, ele se aproxima ao TR do GC. Já na Treg o GE ficou
um pouco mais lento do pós para o follow-up e o GC ficou mais rápido no TR dos itens Go. Por
fim, a análise de comparação entre os grupos no momento de follow-up nos instrumentos
preenchidos pelos professores (SDQ, IFERA-I e ERC) não revelou diferença significativa nos três
instrumentos. Tais resultados tanto de efeitos de curto prazo, quanto de longo prazo, não eram
esperados e serão discutidos na próxima seção.
104
7. DISCUSSÃO
De forma geral, em relação as medidas de escore no TSS não houve nenhuma interação
significativa entre momento e grupo, exceto efeitos significativos e marginalmente significativos
em relação ao momento, o que era esperado visto que se passou um ano no desenvolvimento das
crianças. De fato, na idade pré-escolar ocorre um rápido desenvolvimento das FE através das
experiências vividas pela criança (CARLSON; ZELAZO; FAJA, 2013; CDCHU, 2011; ZELAZO
et al., 2013).
Também em relação ao TR do TSS, os resultados foram semelhantes, pois não houve
nenhuma interação significativa entre momento e grupo em nenhuma das medidas. Este resultado
não era esperado uma vez que resultados diferentes no TR do TSS foram encontrados no estudo de
105
Dias e Seabra (2015a) com o PIAFEx. Ao testar a efetividade do PIAFEx em 70 crianças pré-
escolares de 5 anos de idade, as autoras verificaram que as crianças do GE aumentaram o TR na
Parte B do TSS, tendo efeito marginalmente significativo. Dias e Seabra (2015a) também
verificaram que as crianças do GE tiveram escores significativamente melhores na Parte B do TSS
e sofreram menor Interferência B-A, que o GC.
Considerando a importância das duas medidas (escore e TR) em testes que avaliam FE,
alguns estudos (DIAMOND et al., 2007; DIAMOND; KIRKHAM, 2005) sugerem que o escore
(precisão) é uma medida mais sensível que o TR em crianças pequenas, diferentemente dos adultos.
Sendo assim, seria esperado que o resultado das crianças do GE no TSS tivesse sido melhor tanto
em escore, quanto em TR em comparação às crianças do GC no pós-teste, o que não ocorreu no
presente estudo com o PIPA. Um hipótese que será abordada mais adiante indica que talvez o PIPA
seja mais efetivo para estimular habilidades mais básicas ligadas ao RE, do que de FE.
Em relação as medidas de TReg (paradigma Go/ No-Go) não houve nenhuma interação
significativa entre momento e grupo tanto para escore, quanto para TR. Houve apenas efeito
significativo de momento para os escores No-Go e Total (evidenciando aumento de escore do pré
para o pós-teste), efeito significativo de momento para o TR Variabilidade e efeito marginalmente
significativo de momento para o TR No-Go (evidenciando diminuição no TR em ambas as
medidas). Considerando o rápido desenvolvimento das FE nessa faixa etária (pré-escolar), tais
efeitos seriam esperados de acordo com a literatura (CARLSON; ZELAZO; FAJA, 2013; CDCHU,
2011; ZELAZO et al., 2013), não evidenciando melhora do desempenho em CI e Regulação do
estado nas crianças do GE em comparação ao GC no pós-teste. O estudo de Dias e Seabra (2015a)
com o PIAFEx utilizou-se da mesma medida que o presente estudo e identificou que as crianças
pré-escolares do GE tiveram ganhos em CI medido apenas pelo TR em relação ao GC.
Os resultados obtidos com o TSS e a TReg no presente estudo parecem não evidenciar
melhoria da habilidade de CI do GE, medida principalmente pelo escore, contrariando outros
achados da área (BARNETT et al., 2008; BIERMAN et al., 2008; BLAIR; RAVER, 2014;
DIAMOND et al., 2007; DIAS; SEABRA, 2015a; RAVER et al, 2011). Por exemplo, Diamond et
al. (2007) ao testar a efetividade do Tools em 147 crianças pré-escolares verificou ganhos em
escores no CI do GE em comparação ao GC no pós-teste. As crianças foram avaliadas utilizando
paradigmas semelhantes ao do presente estudo (paradigma Go/ No-Go), porém com demandas mais
exigentes, como carga de alternância e MT durante a tarefa (e.g. apertar o botão do mesmo lado do
106
estímulo-alvo, apertar o botão do lado oposto do estímulo-alvo, alternar o botão de acordo com as
regras anteriores - “Dots task”) e variação e quantidade de apresentação dos estímulos. Desta
forma, hipotetiza-se que talvez a TReg, por avaliar a capacidade de inibição de resposta presente
em tarefas mais simples do tipo Go/ No-Go, com o objetivo de também avaliar a regulação do
estado, pode ter sido menos discriminativa que os outros testes utilizados (“Dots task” e “Flanker
task”).
Resultados semelhantes aos encontrados na presente pesquisa foram também identificados
por outros estudos de efetividade de programas de intervenção utilizando testes de desempenho em
CI (e.g. FERRAN; WILSON, 2014; LONIGAN; PHILLIPS, 2012; ZAUZA, 2018). Ao analisar os
efeitos do PIPA sobre AR e saúde mental de crianças pré-escolares e seus professores dentro do
projeto multicêntrico citado anteriormente, com a mesma amostra do presente estudo, Zauza (2018)
também verificou falta de efeito da intervenção nas medidas de TSS e a TReg nas crianças do GE
em comparação ao GC no pós-teste. Já Araújo et al. (2018) encontraram resultados preliminares
mais interessantes com a mesma amostra do presente estudo, porém em outras medidas por testes
de desempenho. Ao avaliar o efeito do PIPA sobre teoria da mente em 95 crianças pré-escolares,
as autoras verificaram que o GE mostrou um aumento significativo em algumas habilidades de
teoria da mente (compreensão de perspectiva, atribuição de emoções e escore total), em
comparação ao GC no pós-teste. Araújo et al. (2018) hipotetizam que estimular habilidades de AR,
também com enfoque na RE, possa auxiliar no desenvolvimento de habilidades de teoria da mente.
Dessa forma, é possível que o PIPA seja mais eficiente para promover ganhos em medidas
relacionadas à teoria da mente e, especificamente, em provas de conteúdo emocional, do que às
tarefas mais cognitivas aqui usadas para avaliação. Tal fato é interessante e pode estar relacionado
à dissociação entre aspectos cognitivos e emocionais já previstos e descritos no modelo de AR de
Blair e Ursache (2011) e Blair (2016). Portanto, estudos futuros com o PIPA podem usar avaliações
mais relacionadas à emoção e motivação.
Para além de testes de desempenho, considerando a importância de outras medidas que
investiguem o funcionamento da AR das crianças no dia-a-dia foram também utilizados
instrumentos de relato respondidos por pais e professores no presente estudo de efetividade do
PIPA. De maneira geral, os resultados obtidos com os instrumentos de relato de pais e professores,
evidenciaram diminuição nos índices de problemas de comportamento e de dificuldades com o
funcionamento executivo, porém efeitos marginalmente significativos e significativos
107
eram organizadas em fila pelos auxiliares para retirar o alimento na hora do lanche, sendo servidos
pela cozinheira, quanto na escola 1 as crianças se organizam com o apoio das auxiliarem e se
serviam sozinhas. Na escola 1 havia transição na troca de turno entre as professoras (e.g. com roda
de conversa para contar a professora que estava chegando, o que havia sido realizado no período
anterior), já na escola 2 não havia esse procedimento. Neste sentido, no estudo de Zauza (2018)
com o PIPA foi verificado que o GE da escola 1 apresentou menos índices de SE em comparação
ao GC no pós-teste, segundo relato de professores. Não foram relatados efeitos nas outras
subescalas do SDQ. Zauza (2018) acredita que esse resultado está associado à maior ênfase que as
professoras da escola 1 deram às atividades de reconhecimento e expressão emocional. Tal
resultado é promissor, porém novos estudos com o PIPA devem ser realizados em escolas com
características particulares mais semelhantes, a fim de confirmar tais achados.
Resultados semelhantes ao SDQ respondido por pais e professores também foram
encontrados no IFERA-I respondido por pais e professores no presente estudo. No IFERA-I
respondido por pais houve efeito significativo ou marginalmente significativo de grupo ou de
momento em todas as subescalas. Apesar das médias mostrarem diminuição de dificuldades no
funcionamento executivo em ambos os grupos nas subescalas CI, MT, FC e Total, diminuição de
dificuldades com AD e Reg para o GE, manutenção da média para AD e aumento de dificuldades
com Reg para o GC, a média do GC foi menor que a do GE no pós-teste em todas as medidas do
IFERA-I respondido por pais. Na visão de professores, somente a subescala CI demonstrou
interação significativa entre momento e grupo. Novamente, apesar de ambos os grupos diminuírem
o escore do pré para o pós-teste, o GC teve maior diminuição que o GE. Tais resultados não eram
esperados, uma vez que intervenções escolares que visam promover AR tendem a ter ganhos na
generalização de resultados para o dia-a-dia (e.g. CARDOSO et al. 2016; DIAMOND; LEE, 2011;
DIAMOND; LING, 2016). Por exemplo, Dias e Seabra (2013) descrevem ganhos das crianças pré-
escolares do GE em generalização de resultados do PIAFEx, em comparação ao GC na percepção
de professores através de relato em entrevista. Uma das professoras relatou que as crianças criaram
novos hábitos perceptíveis no dia-a-dia a escola e que se estendem em casa, por exemplo, foi
percebido melhoria na compreensão de causa e consequência de comportamentos discutidos nas
conversas na hora da roda, os quais envolvem melhoria da capacidade de organização,
planejamento, cumprimento de regras e de saber esperar a vez. Zauza (2018) verificou que as
crianças do GE da escola 1 que participaram do PIPA, tiveram ganhos na subescala de Reg do
109
IFERA-I no pós-teste, em comparação às crianças do GC, com tamanho de efeito grande. Zauza
(2018) acredita que esse resultado está associado à maior assiduidade do corpo docente da escola
1 em comparação à escola 2. Na escola 2, quando havia falta de professores, as crianças das turmas
sem professor eram divididas entre as turmas que tinham um professor. Assim, uma turma que
tinha em média 30 alunos, chegava a ficar com até 35/ 38 crianças. Quando isso ocorria nas turmas
participantes do PIPA, as professoras preferiam trabalhar com atividades mais coletivas e motoras,
do que atividades em duplas ou grupos menores, impactando na implementação das atividades do
PIPA. Como era uma escola maior, com um número maior de turmas, as poucas professoras
substitutas (quando estavam presentes na escola) não davam conta de assumir mais de uma turma.
Já na escola 1, como era uma escola com um número menor de turmas e como a assiduidade do
corpo docente era maior, as professoras substitutas conseguiam assumir as turmas na ausência de
professores, não necessitando usar o recurso de dividir as crianças com outros professores, tal como
ocorria com frequência na escola 2.
Na tentativa de avaliar a RE, foi escolhida a escala ERC para o presente estudo, tendo em
vista que internacionalmente este tem sido utilizado como medida de pré e pós-teste em programas
de intervenção (e.g. IZARD et al., 2008; REIS et al., 2016). Antes de discutir os resultados, ressalta-
se, porém, a carência de instrumentos padronizados que avaliam esse construto e construtos
relacionados (e.g. CE) validados para a população brasileira, principalmente para a faixa etária de
pré-escolares (ANDRADE, 2013). No ERC respondido por professores, apesar de tendência de
ambos os grupos em diminuir médias da subescala de L/N e aumentar as médias da subescala RE
do pré para o pós-teste, o que sugere respectivamente melhoria na desregulação da raiva e a
labilidade do humor, e melhoria na empatia, expressão e autoconsciência emocional, não houve
efeitos significativos. Algumas hipóteses podem ser levantadas para essa ausência de efeitos
significativos da intervenção. É possível que, de fato, o PIPA não seja suficiente para produzir
ganhos em habilidades mais complexas de RE nas crianças (e.g. modular a expressão do
comportamento da emoção em si para atingir objetivos). Talvez o PIPA tenha mais efeitos, quando
aplicado a pré-escolares, a aspectos mais básicos da RE, tais como nomear emoções, reconhecer
emoções em diferentes contextos, para modular a expressão do comportamento da emoção,
conhecidos como habilidades de CE (IZARD, 2001). Como tais habilidades são mais básicas para
crianças de 5 e 6 anos, talvez o PIPA devesse ser implantado a partir dos 4 e 5 anos de idade, um
ano antes do último ano da educação infantil. Neste sentido, sugere-se que estudos futuros possam
110
ser realizadas com crianças de 3 a 5 anos de idade, aumentando o tempo do programa de 1 para 2
anos de implantação e acompanhamento.
Especificamente sobre as habilidades mais básicas de RE, estas não foram avaliadas no
presente estudo, pois a hipótese prévia era a de que os aspectos mais complexos da RE fossem
alterados pela intervenção. Porém, outras hipóteses podem ser levantadas. Uma delas é em relação
à adequação do instrumento para avaliar RE nessa população. Um aspecto a ser destacado é que as
questões do ERC podem ter sido demasiadamente difíceis para a população, principalmente de
pais. De fato, o instrumento deve ser respondido por adultos brasileiros com escolaridade mínima
de ensino fundamental completo, segundo os estudos preliminares de adaptação e validação para a
população brasileira (REIS et al., 2016). Pesquisas futuras devem buscar formas mais adequadas
de avaliação da RE para a população de nível socioeconômico mais baixo.
Por outro lado, destaca-se um ponto positivo dos instrumentos de avaliação aqui utilizados,
pois foram coletados os relatos de pais e de professores. Muitos estudos descritos na literatura
(BARNETT et al., 2008; BIERMAN et al., 2008a; FARRAN; WILSON, 2014; LYNCH et al.,
2004; SCHMITT et al. 2015) descrevem apenas o relato de professores sozinho ou em conjunto
com testes de desempenho. Essa medida pode ser bastante enviesada por dois aspectos: os
professores podem hipervalorizar os ganhos das crianças visto que eles próprios foram os
responsáveis pela condução da intervenção, ou seja, demandaram esforço ao longo de vários meses
nesse sentido; ou, por outro lado, eles tomaram mais conhecimento dos processos de AR (RE e FE)
e, portanto, podem ter se tornado mais críticos ao avaliar seus alunos nesses aspectos, diminuindo
os escores dos mesmos. Tais hipóteses devem ser verificadas em pesquisas futuras. Além, uma
possibilidade para estudos futuros seria a observação do comportamento autorregulatório dos
alunos na aplicação dos testes (e.g. Preschool Self-Regulation Assessment (PSRA) Assessor Report
elaborado por Smith-Donald et al., 2007) usada em vários estudos de efetividade de programas de
AR (FARRAN; WILSON, 2014; RAVER et al. 2011; YOSHIKAWA et al., 2015). Essa forma de
avaliação pode auxiliar na diminuição de possíveis vieses de relatos, porém demanda maior equipe
de aplicadores e maior espaço para coleta de dados, o que era inviável na presente pesquisa, mas
que pode ser útil para detectar efeitos de intervenções escolares de forma mais fidedigna.
Por fim, retomando a hipótese do impacto das características particulares das escolas
(infraestrutura física, assiduidade das professoras, organização e rotina escolar) corroborada por
Zauza (2018) e considerando que um procedimento como o PIPA busca promover comportamentos
111
regulatórios, talvez o próprio funcionamento do ambiente também tenha que apresentar condições
mínimas de organização e constância, que não estavam presentes nas escolas aqui avaliadas. Por
exemplo, a implementação do Tools demanda a organização da sala em diferentes formatos e o
fácil acesso à materiais específicos (e.g. mediadores externos), a fim de proporcionar um equilíbrio
entre atividades coletivas, realizadas em pequenos grupos ou individuais, semelhante até aos
currículos construtivistas (BODROVA; LEONG, 2007; FARRAN; WILSON, 2014). De fato,
conforme relatado anteriormente, as professoras da escola 2, como trabalhavam em sistema de
rodízio de salas, não tinham armários fixos em sala de aula. Logo, para trabalhar com determinados
materiais do PIPA, tinham que se organizar com mais antecedência para levar à respectiva sala do
dia os materiais que seriam utilizados. Outro aspecto que pode ser hipotetizado para a ausência de
resultados verificados na presente pesquisa com o PIPA é que talvez o estudo de efetividade de um
programa de intervenção em AR em contexto escolar, demande um maior tempo de formação e de
intervenção. Por exemplo, os estudos de Bierman et al. (2008), Blair e Raver (2014) e Diamond et
al. (2007) levaram de um a dois anos, incluindo o período de formação de professores e de
intervenção com as crianças. Neste sentido, Zauza (2018) verificou efeito de redução do nível de
estresse nos professores do PIPA, enquanto houve aumento do mesmo nos professores do GC, do
início para o final do ano letivo. Tal resultado sugere que a implementação do PIPA pode ter
ajudado os professores do GE a se estruturar e se organizar em práticas docentes mais eficazes,
baseadas em conhecimentos teóricos e práticos de promoção de AR em crianças pré-escolares. É
possível, portanto, que apenas em um momento posterior, já dominado esse contexto teórico e
prático, os professores do PIPA fossem capazes de mediar a AR das crianças. Tais hipóteses podem
ser testadas em estudos futuros, envolvendo um maior número de professores, numa estrutura
física, administrativa e didática escolar mais semelhante entre as escolas participantes.
geral, os resultados foram um tanto contraditórios, pois houve houve interação marginalmente
significativa entre momento e grupo no TR Go do Treg, evidenciando que o GE ficou um pouco
mais lento do pós para o follow up e o GC ficou mais rápido, porém houve também interação
marginalmente significativa entre momento e grupo para o TR na Parte B e o TR Interferência B-
A do TSS, evidenciando que o GE ficou bem mais rápido do que o GE do pós para o follow-up.
Conforme discutido anteriormente, o TR parece não ser uma medida tão sensível de CI, quanto o
escore. Embora, talvez o TSS tenha sido uma medida relativamente fácil em termos de escore, visto
que as crianças tenderam a ter efeito de teto nos três momentos de coleta (pré-teste, pós-teste e
follow-up). Sugere-se que pesquisas futuras com o PIPA possam testar sua efetividade em FE,
especificamente CI, com outros testes de desempenho com medidas mais complexas, como o “Dots
task” e o “Flanker task” utilizados no estudo de Diamond et al. (2017) com o Tools, além de outras
medidas utilizadas com frequência em estudos internacionais, como a tarefa Head-Toes-Knees-
Shoulders (HTKS – PONITZ et al., 2008), utilizada nos estudos de Farran e Wilson (2014), Martins
et al. (2014), Tominey e McClelland (2011).
Em relação aos efeitos de longo prazo nas escalas respondidas por pais e professores, houve
ausência de efeito para as escalas SDQ, IFERA-I e ERC, com exceção do ERC respondido pelos
pais. Apesar de ambos os grupos terem diminuído os índices de desregulação da raiva e labilidade
do humor dos pós para o follow-up, as crianças do GE tiveram médias maiores que as crianças do
GC, evidenciando mais dificuldade nessas habilidades. A ausência de efeitos nas escalas que
avaliam problemas de comportamento e funcionamento executivo não eram esperadas, visto que
estudos de efetividade de programas de promoção de AR em contexto escolar, verificaram
manutenção de ganhos em FE mesmo após um ano de intervenção (BLAIR; RAVER, 2014; DIAS;
SEABRA, 2015b; DIAS; SEABRA, 2016). Por exemplo, Dias e Seabra (2016) ao avaliar a efeitos
de curto prazo e de longo prazo do PIAFEx em promover FE em 58 crianças do 1º ano do ensino
fundamental, verificou maiores ganhos do GE em medidas de FE, leitura, aritmética e
comportamento em relação ao GC. Especificamente em relação às medidas de comportamento e
de FE, foram utilizadas escalas preenchidas por pais e professores. Verificou-se ganhos em MT e
planejamento do GE, de acordo com o relato de professores, e ganhos de CPS do GE, de acordo
com o relato de pais, no pós-teste e follow-up, em comparação ao GC. Desta forma, algumas
hipóteses levantadas anteriormente, podem ser retomadas. Talvez o PIPA seja mais eficiente para
promover ganhos em medidas relacionadas à teoria da mente, conforme resultados preliminares
113
apresentados por Araújo et al. (2018) e/ou habilidades relacionadas a CE, os quais podem ser
investigados em estudos futuros. Outra hipótese é que talvez a verificação de resultados de longo
prazo possa ser melhor investigadas em estudos de replicação do PIPA com implementação de 2
anos, tal como ocorre em outros programas (e.g. Tools).
114
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando os objetivos do presente estudo, ambos foram alcançados. De fato, foi possível
desenvolver e classificar em módulos as atividades do PIPA. Colaborou-se em 3 das 4 etapas de
elaboração do programa, que envolveram desde o levantamento da literatura científica teórica da
área até a reformulação e fechamento da versão inicial do PIPA para promoção de habilidades de
AR (RE e FE) em crianças de 5 anos de idade. Já o segundo objetivo pretendeu investigar a
efetividade do PIPA para promoção de AR em crianças pré-escolares. Diferentemente do que se
hipotetizava, o PIPA não teve efeitos positivos de curto prazo e de longo prazo para a maioria das
medidas de habilidades de AR (FE e RE) utilizadas na presente tese em crianças pré-escolares.
Neste sentido, algumas limitações podem ser destacadas, como o fato dos grupos serem
diferentes no início do pré-teste; a não realização de avaliação de proficiência na Língua Portuguesa
para os participantes que eram filhos de imigrantes a fim de garantir que todos os participantes
tenham compreensão da avaliação e da intervenção; e o curto período de intervenção
(aproximadamente de 6 meses, com intervalo de um mês devido ao período de recesso escolar em
julho) e de formação de dos professores (treinamento inicial de 10h, treinamento no meio do ano
de 8h + formação continuada semanal). Outra limitação a ser destacada foi a falta de realização de
um estudo piloto prévio à implementação do PIPA, assim como a ausência de controle de variáveis
estranhas como as características particulares das escolas (e.g. infraestrutura física, assiduidade das
professoras, organização e rotina escolar) as quais só foram percebidas na vivência da dinâmica
escolar no cotidiano das escolas públicas municipais do centro de São Paulo. Por fim, destaca-se a
ausência de um grupo controle ativo, ou seja, com um outro programa de treinamento em outras
habilidades. Inicialmente esperava-se ter um grupo controle ativo com um programa de intervenção
em consciência fonológica, porém, de acordo com a dinâmica das escolas (alguns professores de
licença e outros que passaram em concursos públicos para assumir cargos de gestão em outras
escolas e estavam aguardando a convocação), não foi possível sua realização no presente estudo.
Espera-se que futuros estudos possam preencher tais lacunas, além de testar o uso de outros
instrumentos de coletas de dados, tal como foi discutido anteriormente. Outra hipótese a ser
investigada em estudos futuros é que talvez as habilidades estimuladas na intervenção tenham sido
fáceis demais para esta faixa etária. Sugere-se portanto, que estudos futuros iniciem a intervenção
com o PIPA em uma idade mais precoce, por volta dos 4 anos.
115
Apesar da ausência de efeitos do PIPA na maioria das medidas aqui utilizadas, considerando
outros estudos com a mesma amostra que tiveram resultados positivos do PIPA em teoria da mente
das crianças (ARAÚJO et. Al, 2018), diminuição dos sintomas emocionais e dificuldades na
regulação do estado das crianças (ZAUZA, 2018) e diminuição do nível de estresse dos professores
e aumento do comportamento promotor de AR pelos professores em sala de aula (ZAUZA, 2018),
espera-se que este trabalho possa motivar mais pesquisadores que atuam na interface da
neuropsicologia e da educação e mais grupos de pesquisas interdisciplinares a investigar os efeitos
do PIPA em outros contextos, considerando as limitações e recomendações realizadas no presente
estudo. Por fim, espera-se que este trabalho possa auxiliar na discussão da importância de políticas
públicas nacionais baseadas em evidências e, quem sabe, auxiliar também na discussão da
importância de se incorporar tais assuntos no currículo dos cursos de pedagogia das instituições de
ensino superior nacionais, melhorando assim a formação de base dos professores que atuam com a
primeira infância no Brasil.
116
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128
ANEXOS
129
AD Aversão ao Adiamento
AR Autorregulação
CE Compreensão Emocional/ Compreensão de Emoções
CI Controle Inibitório
CPS Comportamento pró-social
EMMC Escala de Maturidade Mental Colúmbia
ERC Emotion Regulation Checklist
FC Flexibilidade Cognitiva
FE Funções Executivas
HIP Hiperatividade
IFERA-I Inventário de Funções Executivas, Regulação e Aversão ao adiamento – versão
infantil
IM Idade Média
LN Labilidade/ Negatividade emocional
MT Memória de Trabalho
PC Problema de Conduta
PRP Problema de Relacionamento com os Pares
RE Regulação Emocional
Reg Regulação do estado
SDQ Strengths and Difficulties Questionnaire (Questionário de Capacidades e
Dificuldades)
SE Sintomas Emocionais
TR Tempo de Reação
TReg Tarefa de Regulação
TSS Teste de Stroop Semântico
UE Utilização de Emoções