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GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MONOGRAFIA
CABO FRIO RJ
2023.2
CRISTINA HALFELD FURTADO
Trabalho de Monografia,
apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Psicologia do curso de
graduação em Psicologia da
Universidade Veiga de Almeida.
CABO FRIO
2023.2
CRISTINA HALFELD FURTADO
Aprovada em............./.............../.................
BANCA EXAMINADORA
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Cabo Frio
2023.2
A todos os terapeutas e famílias que buscam incessantemente o melhor tratamento para as
crianças e adolescentes. Ao meu filho Lucca que me incentivou a ser uma mãe melhor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu mestre espiritual Meishu Sama, que me auxiliou a pensar melhor sobre a
vida e considerar as mudanças.
Agradeço imensamente ao meu pai Domingos Lopes Furtado, precursor da saúde mental em
nossa família, tratando seus pacientes com tanto amor, dedicação e trabalho. Obrigada por ser
a base do amor, da compreensão e em particular da paciência e entendimento.
Agradeço à minha mãe Célia Regina Halfeld S. Furtado, que sempre acreditou que eu poderia
chegar lá! Pela persistência em me fazer acreditar que poderia ser melhor.
Agradeço ao meu irmão Henrique Halfeld Furtado, pelo exemplo de vida, de persistência, de
conquista e força.
Agradeço ao meu marido Márcio Afonso dos Santos, que foi meu parceiro nessa jornada e
que sem ele não poderia ter concretizado esse sonho. Te amo muito!
Agradeço ao meu filho Lucca HAS, pela alegria, parceria e que me fez ver a vida de forma
diferente.
Agradeço aos meus professores, colegas e amigos que fizeram dessa jornada algo tão especial.
Agradeço ao professor Lincoln Nunes Poubel, que mostrou que a linha cognitivo-
comportamental oferece um tratamento ao mesmo tempo personalizado, estruturado e com
validade científica. Pela postura coerente e amigável.
Agradeço a mim, por conseguir aprender com todas as pessoas que passaram pela minha vida
nesse percurso e por acreditar que o estudo vale a pena!
“Se os pais desejam melhorar os filhos, em primeiro lugar devem melhorar a si mesmos.”
– Mokiti Okada
RESUMO
Oppositional Defiant Disorder is a disruptive disorder that begins in early childhood and is
characterized by challenge to authority figures. Hostility, irritability and a vindictive nature
are common features. For this study, a complementary treatment was proposed employing a
technique from Cognitive-Behavioral Therapy called Parent Training, in which parents learn
strategies to manage behaviors at home. These strategies can be extended to school, where the
disorder manifests more often. In addition, Positive Discipline methods were used to support
the parents as they adapted to the Parent Training techniques. This model was developed with
the goal of amplifying the impact of psychiatric interventions in a shorter time frame by
creating a supportive home and learning environment. Parent Training is considered the best
evidence-based complementary treatment technique available in clinical psychology today,
according to the primary mental disorder manuals for Oppositional Defiant Disorder.
INTRODUÇÃO 12
2.0 TRANSTORNO OPOSITIVO DESAFIADOR 14
3.0 TREINAMENTO DE PAIS 24
3.1 Origens Históricas e Desenvolvimento do TP 24
3.2 Treinamento de Pais proposto por Russel Barkley 29
3.2.1 Princípios fundamentais do treinamento de pais de
Barkley .....................29
3.2.2 Eficácia e impacto positivo do treinamento de pais de
Barkley.................29
3.3 Treinamento de Pais proposto por Alan E. Kazdin 30
3.3.2 Evidência de
Eficácia................................................................................32
4.0 DISCIPLINA POSITIVA 34
4.1 Sobre Jane Nelsen 34
4.2 Origem da Disciplina Positiva.................................................................................35
4.3 Compreensão dos princípios da disciplina positiva segundo Jane Nelsen .............39
4.4 Benefícios da disciplina positiva segundo Jane Nelsen..........................................39
4.5 Aplicação da disciplina positiva na Educação segundo Jane Nelsen......................40
4.6 Aplicação da Disciplina Positiva na Parentalidade segundo Jane Nelsen..............40
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................42
REFERÊNCIAS......................................................................................................................45
INTRODUÇÃO
A palavra transtorno tem sua etimologia no latim sendo que trans significa através e
tornare é traduzido como fazer dar voltas. Para o psiquiatra francês Jean- Pierre Falret,
criador de um dos primeiros diagnósticos em saúde mental, o transtorno de humor bipolar,
chamava esse estado transtornado de loucura circular (em francês, folie circulare). Em inglês
o transtorno mental é chamado de desordem (disorder), que é traduzido para o português
como confusão ou desorganização (FERREIRA, 2004).
Opositivo tem sua origem no latim oppositus + ivo, e é traduzido pelo adjetivo oposto,
que se opõe. Desafiador, em latim desafiar + dor, sugere uma provocação ou um duelo
(FERREIRA, 2004). O Transtorno Opositivo Desafiador para Serra-Pinheiro; Schimitz,
Mattos e Souza (2004), é um transtorno disruptivo que acomete crianças. Tem como
características o comportamento hostil, que discutem com adultos de forma excessiva e que
não aceitam regras. Perdem o controle emocional facilmente se contrariados. Analisaremos a
seguir os manuais e outros autores.
Caballo e Simón (2015) configuram que uma das características de crianças com TOD
são as reações emocionais extremas, o alto grau de impulsividade e irritabilidade crônica. Não
se adaptam a mudanças de ambientes, não conseguem se acalmar com facilidade e são
altamente desobedientes.
Barkley (1997), cita três tipos de condutas desobedientes: as crianças que demoram a
seguir ordens, as que respondem o pedido em tempo apropriado, mas não mantém o que falam
e as que não conseguem seguir regras já ensinadas. A conduta opositiva pode vir de formas
diferentes, de acordo com Caballo e Simón (2015): passiva, que são os casos em que a criança
não responde, se mostra mais submissa e sem ação e o tipo desafiante, que são crianças que
respondem com hostilidade e resistência física.
Por definição, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA. 2013)
identifica o TOD de acordo com três padrões de comportamento: o de humor irritável ou
raivoso, o comportamento desafiante e questionador e a índole vingativa. Pelo menos quatro
critérios deverão ser verificados dentre os critérios diagnósticos apresentados. O transtorno
acomete indivíduos com idade inferior a dezoito anos e é observado em crianças que tenham
pelo menos seis meses de persistência dos sintomas. Deve ser visto na relação com pelo
menos uma outra pessoa, que não seja um irmão.
O transtorno desafiador é mais prevalente no sexo masculino nos casos que antecedem
a adolescência, não tendo prevalência em idades superiores. Normalmente tem início no
período pré-escolar. Seu curso tem risco eminente de transtorno de conduta, ademais pode
desencadear transtorno de depressão maior ou de ansiedade. Outrossim, poderá ter prejuízos
na vida adulta nas relações sociais, podendo ter problemas no controle de impulsos,
comportamentos antissociais e abuso de substâncias. (APA, 2013).
O comportamento de oposição desafiante não pode ter a sua origem pautada por um
determinante apenas, segundo Sadock; Sadock; Ruiz (2017), fatores múltiplos combinados
podem determinar fatores de risco para desencadear o transtorno como fatores biológicos,
aprendidos, temperamentais e condições psicológicas. Outros riscos são os comportamentos
de cuidadores agressivos como abusos físicos, sexuais e psicológicos, negligência, brutalidade
e maus tratos.
Caballo e Simón (2015) destacam que o TOD pode ter influências variáveis, não
suporta uma teoria causal, como na maioria dos transtornos mentais. Todavia, há evidências
de que o transtorno pode surgir da modelagem na relação entre as crianças e adultos
significativos. A essa investigação, deve-se acrescentar as variáveis situacionais que se
encontra a família e suas relações.
Mais tarde foi acrescentado um outro estilo parental, o negligente, a partir dos estudos
de Maccoby e Martin (1983) com meninas na Índia. Seus estudos buscaram entender a
etiologia parental do transtorno social nos comportamentos emocionais. Entendeu-se
negligente os pais ou cuidadores que são indiferentes, não passam tempo com os filhos e tem
ausência de controle e supervisão. Visto isso, percebe-se que os estilos parentais são
características da forma de disciplinar as crianças que podem contribuir com o surgimento de
transtornos como o TOD. (VALENTINI; ALCHIERI, 2009)
Crianças acometidas pelo TOD, para Serra-Pinheiro; Schimitz, Mattos e Souza (2004),
têm maior probabilidade de serem agressivas na resolução de problemas comparadas às
crianças de grupo controle. Há indícios em estudos realizados de que as crianças com TOD
apresentam maior disfunção familiar, sofrimento e possivelmente desagregação familiar. De
acordo com Picolotto (2017):
Para além da esfera familiar, pode-se observar que fatores genéticos e fisiológicos
podem ter vínculos com o transtorno opositivo desafiador, como a baixa frequência cardíaca e
redução da reação do cortisol basal. Todavia, a frequência cardíaca pode elevar-se
excessivamente quando a criança com TOD é contrariada (APA, 2013). O cortisol segundo
Souza, et al (2020) é conhecido como o hormônio do estresse. Sua desregulação tem impacto
nas funções homeostáticas afetando o comportamento social.
Biologicamente foram descobertas anormalidades no córtex pré-frontal e na amígdala
de indivíduos com TOD (APA, 2013). De acordo com Esperidião-Antônio, et al (2008), a
amígdala recebe informações de todos os sistemas sensoriais e está ligada a respostas a
estímulos emocionais.
Ainda sobre o assunto, Ito e Guzzo, (2002) mostram que outra teoria experimental foi
a de Wihelm Wundt que estudou o tempo de reação das emoções, sendo o primeiro laboratório
de experiências desse tipo. E a essas diferentes reações emocionais, denominou
temperamentos, que mudam de acordo com a velocidade e força de reação. Os estudos mais
efetivos sobre temperamentos vieram a partir do século XX com Carl Gustav Jung e Alfred
Adler que configuravam estudos mais especulativos e Gerard Heymans, Ernest Kretschmer e
Ivan Pavlov com estudos mais empíricos.
Entende-se como estudos especulativos uma construção que parte de uma ideia
abstrata que pode coincidir com a realidade ou não. É uma teoria que não assimila a lógica do
objeto e não pode ser explicada na prática. (MOREIRA, 2013). Por outro lado, os estudos
empíricos devem atender a uma comprovação prática através de experimentos. observações e
análise de dados sistematizados. (MARCONI; LAKATOS, 2003)
Outro antecedente importante que pode ser fator de risco para o TOD são os
comportamentos aprendidos. Comportamentos aprendidos como nome já insinua são
comportamentos que foram modelados pela vivência do indivíduo, ou seja, tudo o que é
sabido foi aprendido pela experiência de vida. De acordo com os autores, os comportamentos
podem ser inatos, que são inerentes ao ser humano desde sua concepção ou aprendidos que
são aqueles que são assimilados no ambiente pelas relações com outras pessoas que o
circundam. (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Pressupõe-se então que o ambiente tem
influência direta aos acontecimentos vindouros, positivos ou patológicos.
Outro fator que merece destaque são os estilos parentais. Os pais ou outras figuras que
têm influências diretas sobre as crianças, possuem seu próprio estilo de criação e interação
que segundo Lawrenz, et al (2020), podem ser autoritativo, autoritário, negligente ou
indulgente. Autoritativo denotam pais que promovem autonomia e respondem às necessidades
e opiniões dos filhos. Não punem de forma rígida demais, mas controlam os limites de acordo
com a necessidade. Produzem mais conversas e discutem o porquê das atitudes,
desenvolvendo autoestima, bem-estar e melhores competências psicossociais.
No estilo autoritário, os pais são mais regrados e punitivos, não têm e não produzem
autorregulação emocional. Não são abertos a ouvir os filhos, não respeitam sua opinião.
Comandam os filhos produzindo medo, raiva e menor habilidade social. Podem usar-se de
força física e as punições podem ser constrangedoras em todos os sentidos. Geram dores
físicas e emocionais que vão além da infância. Podem ter consequências graves para a vida
adulta, produzindo vários tipos de transtornos mentais (LAWRENZ, et al, 2020).
O fator indulgente segundo Baumrind (1979), as crianças devem ter total liberdade
para se expressar e escolher. É conhecido pelo estilo permissivo, quando os pais acabam
acatando os pedidos e birras dos filhos, dão ordens que não são atendidas e acabam sendo
controlados pelas crianças. Este pode ser um dos fatores que mais contribuem para formar o
TOD.
É possível lidar com esses fatores de forma eficaz ou não. Quando uma pessoa não
consegue lidar com uma emoção, é chamado de desregulação emocional, ou seja, quando um
dos fatores ligados à emoção está prejudicando o funcionamento homeostático do indivíduo.
Sentir a emoção não é um problema, se torna um quando as emoções se intensificam muito e
buscando voltar para o equilíbrio a pessoa busque formas de enfrentamento problemáticas
como uso de substâncias prejudiciais à saúde, as compulsões diversas, a ruminação
incessante, entre outras formas que são eficazes momentaneamente, diminuindo a intensidade
da emoção, mas que a longo prazo podem se tornar um problema maior. (LEAHY, et al,
2013).
Brites; Brites, (2019), afirmam que pesquisas indicam que o cérebro de crianças com
TOD apresenta instabilidade nas áreas de autorregulação emocional quando são contrariadas a
fazer o que não desejam, e por isso podem ter comportamentos disruptivos e desequilíbrio
emocional. Há um exagero nos picos emocionais que o tornam agressivos.
Uma das primeiras iniciativas nesse sentido foi a criação de classes de maternidade na
década de 1920, destinadas a informar e ensinar as mães sobre os cuidados infantis. Essas
aulas geralmente eram ministradas por profissionais de saúde, como médicos e enfermeiras, e
focavam em temas como higiene, alimentação e sono infantil (FREIRE, 2008).
A formação parental torna-se cada vez mais relevante na sociedade atual devido às
alterações na dinâmica familiar. ao aumento das exigências aos pais e do aumento do número
de transtornos infantis. Nos últimos anos, o aumento das taxas de divórcio, a presença de
ambos os pais trabalhando fora de casa e a exposição dos filhos a influências negativas,
apresentaram aos pais desafios cada vez maiores na criação de seus filhos (SOUZA, 2008).
Além disso, o treinamento dos pais também pode contribuir para a prevenção de
problemas de saúde mental e comportamental. Estudos demonstraram que a promoção de um
ambiente familiar positivo e o uso de práticas parentais apropriadas estão associados a um
risco reduzido de problemas como depressão, ansiedade e uso de substâncias (SANDERS et
al, 2003).
Além disso, o treinamento de pais de Barkley tem mostrado um impacto positivo nas
relações familiares e no bem-estar geral das famílias. Estudos mostram uma redução do
estresse parental e uma melhora na qualidade do relaxamento entre pais e filhos após a
participação nos programas de treinamento de pais de Barkley (Barkley, 2013). Esses
resultados destacam a importância de fornecer suporte e orientação aos pais, não apenas para
o benefício das crianças, mas também para o fortalecimento da dinâmica familiar como um
todo.
2. O Método Kazdin para Treinamento de Controle dos Pais: o protocolo Kazdin gira
em torno de técnicas documentais e comprovadas destinadas a modificar e prevenir os
comportamentos desafiadores das crianças. Ele se concentra na promoção de reforço positivo,
comunicação eficaz e construção de habilidades, ao mesmo tempo em que diminui o reforço
negativo e as estratégias aversivas (KAZDIN, 2008).
10. Os efeitos a longo prazo do protocolo Kazdin: o protocolo Kazdin estende seus
benefícios além das mudanças comportamentais imediatas. Ao aprimorar as habilidades dos
pais e criar um ambiente estimulante, o protocolo equipa as crianças com habilidades
essenciais para a vida, resiliência e resultados positivos de saúde mental, posicionando-as em
uma trajetória rumo ao sucesso (KAZDIN, 2008).
Além disso, uma meta-análise realizada por Lundahl, et al, (2006) indicaram que o
treinamento de gerenciamento de pais de Kazdin foi associado a efeitos positivos claros em
várias áreas, incluindo comportamentos adaptativos das crianças, habilidades parentais,
relacionamento pai-filho e estresse parental. Outros estudos corroboram esses resultados,
indicando a efetividade do treinamento de gestão parental de Kazdin em diferentes contextos
culturais e populacionais.
O próximo capítulo vai abordar aspectos da disciplina positiva que corroboram com o
treinamento de pais e de certa forma os complementam visando melhor eficácia do tratamento
complementar para o TOD.
A palavra disciplina tem origem no latim, que significa ensino ou educação. As suas
raízes remontam aos tempos romanos antigos, quando a educação era muito valorizada e
considerada essencial para o desenvolvimento social e humano (Souza, 2014).
Jane Nelsen é doutora em educação, terapeuta familiar e de casais. Tem sete filhos e
dezoito netos. Durante o seu percurso como mãe percebeu que sua disciplina focada em
punições, gritos e ameaças, não surtia efeito além de ser muito sofrível para ambos. Os
aborrecimentos constantes e diversos problemas rotineiros como a hora de levantar, a hora de
dormir, a hora das refeições e a hora de estudar que enfrentava eram sempre muito
estressantes. Muitas vezes se pegava repetindo várias vezes os mesmos comandos sem êxito
(NELSEN, 2015).
Atuou por dez anos como conselheira educacional de ensino fundamental e instrutora
universitária de desenvolvimento infantil. É autora ou coautora de 18 livros com mais de 2
milhões de cópias vendidas com tradução em 15 diferentes países. Seu trabalho é divulgado
em diversos programas de televisão e revistas especializadas. Possui um site onde oferece
artigos, podcasts, entre outros materiais, todos na língua inglesa. Hoje dedica o tempo à
família, à escrita e realizando palestras e workshops pelo mundo (NELSEN, 2015).
De acordo com Nelsen (2015), a disciplina positiva que difundiu, foi embasada nos
ensinamentos de Alfred Adler e Rudolf Dreikurs.
Alfred Adler foi psicoterapeuta e médico austríaco e fez diversas contribuições para o
campo da psicologia durante o início do século XX. Suas teorias se concentravam na
psicologia individual e na importância dos fatores sociais na formação do comportamento e
desenvolvimento humano. Os conceitos de Adler, como o complexo de inferioridade e a
importância da ordem de nascimento, continuam a ser relevantes na psicologia
contemporânea (LEAL, MASSIMI 2016).
Uma das ideias principais de Adler foi o conceito do complexo de inferioridade. Ele
percebeu que os sentimentos de inferioridade decorrentes das experiências da infância,
poderiam moldar a personalidade e o comportamento de um indivíduo. Adler argumentou que
indivíduos com complexo de inferioridade desenvolveriam um mecanismo de compensação
para alcançar a superioridade e superar suas inadequações percebidas. Esse mecanismo de
compensação pode se manifestar de várias maneiras, como uma luta individual por poder,
riqueza ou reconhecimento (LEAL, MASSIMI, 2016).
Além disso, ele acreditava que o sentimento de inferioridade era universal, afirmando
que: “todo indivíduo nutre sentimentos de inferioridade ao se comparar com os outros”
(ADLER, 1957). Ele enfatizou a importância da ordem de nascimento na herança da
personalidade de um indivíduo, argumentando que ela influenciava o desenvolvimento social
e o estilo de vida. Ele identificou características associadas à ordem de nascimento, como o
primogênito se sentindo destronado e desenvolvendo um desejo de poder, e o filho mais novo
se tornando dependente (DREIKURS, 2006).
As teorias de Adler encontraram aplicações em várias áreas de estudo da psicologia
contemporânea. Sua ênfase na conexão social influenciou o desenvolvimento da teoria do
apego, que explora a importância dos primeiros relacionamentos na formação do
desenvolvimento emocional e social dos indivíduos (BOWLBY, 2021). O conceito de
complexo de inferioridade de Adler também ressoa com indivíduos que lutam com autoestima
e sentimentos de inadequação (LEAL, MASSIMI, 2016).
Essa terapia emprega várias técnicas para facilitar a mudança. Uma técnica
comumente usada é a avaliação do estilo de vida, que envolve a coleta de informações sobre
as memórias iniciais do cliente, a dinâmica familiar e as crenças e comportamentos atuais. Por
meio dessa avaliação, o terapeuta obtém uma compreensão mais profunda da realidade
subjetiva do cliente e identifica áreas de comportamento desadaptativo que precisam ser
abordadas (ADLER, 1957).
Outra técnica usada na Terapia Adleriana é chamada de “cuspir na sopa”. Essa técnica
envolve desafiar as crenças e suposições desadaptativas do cliente, destacando as
consequências negativas de seu comportamento. Por exemplo, se um cliente frequentemente
evita situações sociais devido ao medo de rejeição, o terapeuta pode ajudar o cliente a ver
como esse comportamento perpetua sentimentos de isolamento e atrapalha seu objetivo de
pertencimento (ADLER, 1957).
Outro precursor citado por Jane Nelsen foi Rudolf Dreikurs. Ele foi um psiquiatra e
educador que fez contribuições para o campo da psicologia infantil. Nascido em Viena,
Áustria, em 1897, Dreikurs cresceu em uma família judia de classe média. Sua educação e
exposição aos ensinamentos de Alfred Adler, um proeminente psicólogo e fundador da
psicologia individual, influenciaram muito seus pensamentos e pontos de vista sobre o
comportamento e a motivação humanos. Estudou medicina na Universidade de Viena e depois
se especializou no campo da psiquiatria (NELSEN, 2015).
confiança entre pais e filhos. Melhora o vínculo por meio de escuta ativa e feedback
construtivo.
Conclui-se que a disciplina é um aspecto essencial na criação dos filhos e busca ajudá-
los a aprender o comportamento mais adaptativo, desenvolver habilidades essenciais para a
vida e se tornarem membros responsáveis da sociedade. No entanto, os métodos disciplinares
tradicionais geralmente dependem de punições e recompensas, o que pode levar a
consequências negativas, como autoestima prejudicada e falta de empatia. Nos últimos anos,
uma nova abordagem chamada Disciplina Positiva ganhou popularidade por sua abordagem
eficaz na disciplina infantil e na melhora da qualidade de vida das famílias.
Estudos têm mostrado os efeitos positivos da Disciplina Positiva tanto nas crianças
quanto em seus pais. Um estudo conduzido por Nelsen e colegas (2020) descobriu que
crianças criadas com disciplina positiva são mais propensas a exibir autocontrole,
competência e resiliência em comparação com aquelas que foram criadas com métodos
tradicionais baseados em punição. Além disso, essas crianças também apresentaram níveis
mais elevados de empatia e cooperação. O estudo também revelou que os pais que praticam a
disciplina positiva relataram maior satisfação e níveis reduzidos de estresse em seu papel
parental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão para este trabalho serão retomados alguns dos principais pontos
apresentados, respondendo à pergunta norteadora da qual se propôs: se o treinamento de pais
e a disciplina positiva podem ser utilizados como tratamento complementar para o transtorno
opositivo desafiador.
O treinamento de pais surgiu como uma intervenção bem-sucedida para crianças com
distúrbios comportamentais, incluindo o TOD. Ele fornece aos pais as habilidades,
conhecimentos e estratégias necessárias para gerenciar com eficácia os comportamentos
desafiadores de seus filhos. Ao apoiar os pais, o treinamento visa melhorar a relação pais e
filhos e promover comportamentos pró-sociais na criança.
Além disso, o treinamento de pais pode fornecer apoio emocional para os pais lidarem
com as frustrações e desafios do processo educativo. Isso é especialmente importante em um
contexto de disciplina positiva, onde os pais são incentivados a adotar uma abordagem mais
respeitosa e colaborativa. O treinamento de pais pode fornecer estratégias de autocuidado e
oferecer o suporte necessário para que os pais se mantenham firmes em suas práticas de
disciplina positiva, mesmo diante das dificuldades.
Por fim, conclui-se com esse trabalho que o treinamento de pais e a disciplina positiva
combinados, visto que são completivos e condescendentes, se mostraram eficazes para o
tratamento complementar do transtorno opositivo desafiador. Todavia, é preciso lembrar que
há muito a ser feito visto que os pais de filhos desafiadores muitas vezes possuem algum tipo
de transtorno desadaptativo que culmina na não adaptação do programa. Além disso, nos
treinamentos em grupo o tempo de duração pode não ser necessário para todas as adaptações.
Os pais devem seguir o programa semanalmente, desenvolver o aprendizado naquele tempo
em casa, fazer contato com a escola e muitas vezes por falta de tempo, ou por motivos
diversos não conseguem. Algumas famílias precisariam de mais de uma semana para cada
estratégia. Outrossim, existe o problema das faltas no programa, muitos não comparecem em
todas as reuniões e acabam voltando para o começo, ou adaptando de forma remota, o que
muitas vezes acarreta a descontinuidade do programa. É preciso pensar em estratégias
eficazes como estabelecer um programa mais completo e mais fácil de ser seguido para a
rotina dos pais. Há de se pensar em adaptar o programa nas escolas, oferecer cursos para
professores, oferecer contraturno escolar abrangendo educação emocional para as crianças e
treinamento de pais em um mesmo local, adequado para atender todas as demandas.
REFERÊNCIAS
ADLER, A. A ciência da natureza humana. 4. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1957. Tradução: Godofredo Rangel e Anísio Teixeira.
APA - American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais: DSM-5. American Psychiatric Association; Tradução: Maria Inês Corrêa
Nascimento, et al. 5ª edição – Porto Alegre: Artmed, 2014.
BOWLBY, J. Apego e Perda: Apego - A Natureza do Vínculo. Tradução: Álvaro Cabral,
et al; 3ª edição – São Paulo: Martins Fontes, 2021.
BÕING, E.; CREPALDI, M.A.. Relação pais e filhos: compreendendo o interjogo das
relações parentais e coparentais. Curitiba: 2016. Encontrado em:
https://www.scielo.br/j/er/a/j6fqkKb6qYv834qTxy4HXFy/?format=pdf&lang=pt. Visto em:
22-03-2023.
BARKLEY, R. A. Defiant children: a clinician's manual for assessment and parent
training. 2ª edição – Nova Iorque: Guilford, 1997.
BAUMRIND, D. Child care practices anteceding three patterns of preschool behavior.
Encontrado em https://doi.org/10.1177/0044118X7800900302. Visto em 01-05souza-2023.
BIEDERMAN, J, et al. O curso longitudinal de longo prazo do transtorno desafiador de
oposição e transtorno de conduta em meninos com TDAH: achados de um estudo
prospectivo de acompanhamento longitudinal controlado de 10 anos. 2012. Encontrado
em: 10.1017/S0033291707002668. Visto em: 07-08-2023.