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Fichamento: Guerra Ecológica nos babaçuais

Referência: Almeia, Alfredo Wagner Berno de. Guerra Ecológica nos babaçuais: o
processo de devastação das palmeiras, a elevação do preço das commodities e
aquecimento do marcado na terra na Amazônia. São Luis, Lithograf, 2005.

Visamos provocar uma ruptura com argumento evolucionista de que se assiste,


no momento atual, a uma “nova etapa de industrialização” na região amazônica, que a
integra no “mercado global”, com os conflitos sociais lhe sendo inerentes e, portanto,
“naturais”. Para efeito de contrates, recorremos à força designativa da expressão “guerra
ecológica”, valendo-nos de um momento em que o tratamento midiático da questão
ressalta em jornais e pela televisão a polemica em torno das medidas de sobretaxação do
carvão vegetal pelo governo paraense, que os políticos do maranhão batizaram de a “
guerra do carvão” (p. 28).

Neste sentido, incorporamos ao significado de processo de devastação outra


noção operacional, que contempla a dinâmica da ação predatória e evidencia a
impossibilidade de separar a sociedade e seu meio ambiente, qual seja, aquela de
conflito socioambiental. (p. 31)

Num tempo em que os grandes empreendimentos alegam “consciência


ambiental” e grandes empreendimentos fazem uso de suposto respeito pela natureza,
alardeando observância de critérios de “sustentabilidade”, consoante as exigências de
circulação dos produtos em países industrializados, o MICQCB, numa direção
contrária, alerta para o processo predatório resultante da implantação daqueles
empreendimentos. ( Almeida, 2005 p.31)

Por que este processo predatório está se intensificando de maneira tão acelerada,
num período tão curto e afetando uma extensão tão vasta? A elevação geral do preço das
commodities, tem elevado a uma expansão simultânea de grandes empreendimentos
voltados para: pecuária, sojicultura, plantio de dendê, plantio de eucalipto, exploração
madeireira, além de atividades de mineradoras e siderúrgicas, provocando uma
devastação generalizada na Amazônia legal.(Almeida, 2005 p. 33)

Enquanto o agro extrativismo de base familiar mostra-se sustentável e não onera


os cofres públicos, os grandes empreendimentos do agronegócio recorrem a aportes
financeiros do governo, que passa a funcionar como uma espécie de “política social”
(Almeida, 2005 p.36)

Há empresas no Tocantins que, inclusive, estão contratando trabalhadores de


fora da área dos babaçuais para a atividade denominada de “catar coco”, que significa
recolher o coco inteiro e entrega-lo a intermediários que o repassam as indústrias.
( Almeida, 2005 p. 44) que é representado pela figura masculina do chamado catador de
coco. Com um saco ou um “jacá”- cesto que comporta três quilos – as costas, este
trabalhador vai simplesmente apanhando os cocos quaisquer que sejam: verdes ou
maduros.

Esta figura de assalariamento na coleta do coco é diamentralmente oposta aquela


caracterizada pela autonomia no processo produtivo e pela condição feminina das
agroextrativistas, que se autodenominam quebradeiras de coco babaçu. Enquanto eles
são considerados como exercendo um trabalho que não requerer qualificações maiores,
as denominadas quebradeiras detém saberes práticos sobre o meio físico e sobre o
procedimento de coleta de coco. O conjunto destes saberes, somando às técnicas
manuais de seleção, coleta e quebra do coco, às regras de produção do mesocarpo e
outros derivados e à arte de transformação artesanal de folhas, fibras e palhas compõem
um conhecimento tradicional adstrito as regiões de babaçuais. (Almeida, 2005, p 44)

Poderemos ter uma visão de conjunto das pressões atualmente exercidas pelas “
novas estratégias empresariais” que privilegiam o mercado de commodities, sobre
a economia do babaçu e dos conflitos socioambientais que envolvem as famílias
agroextrativistas, abrindo uma discussão ampla sobre as formas de luta mais adequadas
para o MIQCB organizar sua resistência ( Almeida, 2005 p. 47)

A pecuária tem sido apontada como a principal atividade devastadora,


responsável por cerca de 80% de toda a área desmatada da Amazônia legal (Almeida,
2005 p. 47)

A grilagem e a ocupação ilegal de terras públicas de florestas, que


historicamente têm estado vinculadas a projetos agropecuários, acham-se, pois,
indiretamente fortalecidos por esta célebre expansão da produção de grãos. (Almeida,
2005 p. 56)
O aumento da demanda por terra constitui um estimulo indireto à expansão
pecuária, incorporando ao mercado formal de terras novas extensões de florestas e
ameaçando as chamadas terras tradicionalmente ocupadas por povos indígenas,
quilombolas, extrativistas e ribeirinhos. A usurpação destas terras tem provocado
conflitos sociais, agravando as dificuldades operacionais dos órgãos fundiários oficiais
empenhados em ações de regularização fundiária. Os interesses agroindustriais que
atuam nesta região são representados por fortes grupos empresariais. (Almeida, 2005
p.57)

A elevação do preço das commodities, nutrindo a ilusão de que estes


empreendimentos são “mais racionais”, caracterizados por um “dinamismo”, e
apresentam resultados financeiros “mais imediatos e relevantes” para o país, tem
respaldado uma ação ofensiva sobre as terras tradicionalmente ocupadas por indígenas,
quilombolas e extrativistas em diferentes regiões da Amazônia legal. Uma das
características mais marcantes desta ação expansionista consiste no uso de métodos
truculentos e de força bruta que, disseminando a violência, criam um clima de medo e
de insegurança nas pequenas cidades, nos povoados e nos projetos de assentamento. Os
atos de violência contra as mulheres quebradeiras de coco babaçu, estariam
aumentando nesta conjuntura, assustando as famílias que enfrentam dificuldades
redobradas para a coleta de coco. Além de uma queda no preço do quilo de amêndoa
que em algumas áreas do Piauí e do Tocantins tem chegado a R$0,25. (Almeida, 2005 p.
66)

Verifica-se, portanto, uma pressão continuada sobre os babaçuais com o preço


das terras em elevação e uma intensificação de atividades ligadas as siderúrgicas.
(Almeida, 2005 p. 71)

Os projetos de conversão de sementes de oleaginosas em biodiesel começam a


ser incentivados pelo governo federal e tornam-se objeto de ação da Petrobrás
(Almeida, 2005 p. 73)

não se pode falar genericamente no mercado de terras na Amazonia ou na região


ecológica do babaçu. Quando utilizamos a expressão aqui estamos nos referindo
especificamente aquelas situações referidas as áreas de ocorrência dos babaçuais onde a
terra está sendo efetivamente negociada, conforme informações dos núcleos do MIQCB,
dos STR, das entidades de apoio aos movimentos sociais e de informações veiculadas
pela impressa periódica. (Almeida, 2005 p. 79)

Assistimos também a multiplicação de cercas eletrificadas e de vigilância


armada nas porteiras das fazendas como que assegurando uma definição de limites
físicos de áreas que são publicas. Em verdade, o significado de “agronegócio”, ao
requerer, extensos domínios de terras e objetivar manter a força de trabalho nos limites
do empreendimento, pode ser aproximado daquele de plantation. (Almeida, 2005 p. 81)

Uma efetiva negação da atividade das quebradeiras. Tais projetos de fato tem
prescindido do trabalho feminino para a quebra do coco babaçu e extração das
amêndoas, orientando as atividades produtivas tão-somente para a chamada “catação de
coco”, que consiste na simples coleta dos cocos, sem qualquer procedimento de quebra,
envolvendo a participação indistinta de homens, mulheres e crianças, que são
contratados como trabalhadores eventuais. Trata-se, como já foi resultado, dos
denominados catadores de coco, instituídos pelas empresas que o contratam, e assim
chamados pejorativamente, inclusive pelas quebradeiras de coco. (Almeida, 2005 p. 85)

Com respeito a estas “novas situações” observadas, o processo de devastação


dos babaçuais tem ocorrido a partir de duas formas, que se relacionam

A) Ao que se denomina de “aproveitamento integral do babaçu”; e


B) A produção de carvão a partir do coco inteiro (Almeida, 2005 p.86)

O termo “arrendamento” tanto pode ser utilizado para designar situações de


retirada de coco inteiro, quanto para descrever casos em que os trabalhadores e suas
famílias são obrigados a retirar toda a mata para formação das chamadas “soltas”. A
madeira derrubada é convertida em carvão. (Almeida, 2005 p. 89)

Nem sempre o local de maior incidência de palmeiras de babaçu é o que registra


maior produtividade. O conhecimento prático desenvolvido tradicionalmente pelas
mulheres, que praticam de maneira regular a quebra de coco, tem demonstrado o
contrário, isto é, que as palmeiras mais produtivas são aquelas com um espaçamento
mínimo, ou seja, com uma densidade menor por hectares. (Almeida, 2005 p. 91)

Ao resistirem, insistindo em suas práticas extrativistas e de livre acesso aos


babaçuais, as quebradeiras defrontam-se faca a face a face com os chamados catadores.
Um confronto direto passa a ocorrer dentro dos babaçuais. (Almeida, 2005 p.91)
Elas passam a adotar a prática de esconder os cocos amontoados para que não
sejam coletados por outra mulher ou mesmo por catador . isto requer que carreguem os
cocos para lugares mais remotos e de difícil acesso, evitando deixa-los a vista como
sempre o fizeram. (Almeida, 2005 p. 92)

Ao esconderem, alegam evitar o denominado roubo de coco perpetrado pelos


catadores, que recolhem os cocos amontoados pelas mulheres extrativistas para a
posterior execução da quebra. (Almeida, 2005 p. 92) a diminuição do recurso e sua
escassez já vêm sendo também tornadas públicas nas denúncias formuladas ás
autoridades competentes pelas associações, cooperativas e entidades de representação
que congregam as quebradeiras. Tem recebido denúncias e protestos contra as
insistentes derrubadas de palmeiras e contra o envenenamento das “pindovas” para a
implantação de projetos agropecuários, de soja e de eucalipto na região ecológica do
babaçu. (Almeida, 2005 p. 92,93)

Temos uma colisão entre forças econômicas que se contrapõem na forma de


representar o trabalho, ameaçando as condições materiais de existência das
quebradeiras. Elas não estão submetidas a qualquer relação salarial e suas atividades
econômicas materializam-se através de unidade de trabalho familiar e da coesão e
cooperação simples entre diferentes grupos domésticos que constituem complexas redes
sociais em povoados e periferias urbanas. (Almeida, 2005 p. 95)

Os denominados catadores de coco, ao contrário, representam uma camada de


trabalhadores eventuais e sob assalariamento por produção, com menor autonomia
econômica e mais submetida aos ditames da administração empresarial. (Almeida,
2005 p. 95)

De outra parte, “entram em cena”, orquestrados pelos interesses industriais, os


novos personagens, em conflito direto com as quebradeiras de coco babaçu: o
arrendatário do coco, o catador e o caminhoneiro ou fornecedor. Como pano de fundo,
uma tentativa de reduzir a autonomia econômica das quebradeiras de coco,
convertendo-as gradativamente em “trabalhadoras individuais”, assalariadas ou simples
“catadoras”, que entrariam no mercado tão-somente com sua força de trabalho sob a
direção daqueles prepostos dos interesses industriais. (Almeida, 2005 p. 96)

O léxico designativo das transformações recentes na economia do babaçu aponta


as contradições em jogo. De um lado, temos as condições de possibilidade do exercício
de uma atividade econômica centrada e de outro uma situação de subordinação centrada
na expropriação de assalariados eventuais por formas de imobilização de força de
trabalho. (Almeida, 2005 p. 98)

Os mapas situacionais remetem a ocorrências concretas de conflitos em regiões


já delimitadas com relativa precisão e objetivariam delimitar territorialidades
especificas, propiciando condições para uma descrição mais pormenorizada dos
elementos considerados relevantes pelos agente sociais em pauta para figurar na base
cartográfica. (Almeida, 2005 p. 101) os mapas situacionais, pelo seu caráter
eminentemente descritivo, consistem, portanto, num produto de técnicas de observação
etnográfica, enfatizando realidades localizadas e processos sociais.

1 mapa situacional da região de imperatriz na região de imperatriz, verificamos


que está progressivamente diminuindo a oferta de amêndoas de coco babaçu. Tal
tendência deverá ser mantida, pois as siderúrgicas de ferro-gusa, instaladas em
Açailândia, vem incentivando e adquirindo toda a produção do carvão de coco,
sobretudo a partir do temos de que as carvoarias do Pará sejam impedidas de abastecê-
las. Tal demanda vem desestruturando e a economia das chamadas quebradeiras de
coco, pois essa atividade além de prescindir as mulheres na coleta e quebra, pode ser
realizada por qualquer pessoa indistintamente, desde que seja capaz de juntar cocos.
(Almeida, 2005 p. 102)

As medidas compensatórias criadas pela CELMAR e que se desdobram na


siderúrgica que a substituiu, incentivado uma série de programas sociais, ou mesmo,
propondo e assinando contratos como sendo de arrendamento, envolvendo os
trabalhadores rurais e as quebradeiras de coco na utilização de algumas de seus imóveis
rurais, não impediu que continuassem os conflitos em torno do acesso aos recursos
naturais, incluindo a terra. (Almeida, 2005 p. 103)

O caso mais ilustrativo desse processo é o das quebradeiras de coco de Petrolina,


no município de imperatriz. Inicialmente houve um incentivo por parte de empresa para
que as mulheres de Petrolina criassem uma associação. Consistiu na primeira associação
designada como de quebradeiras de coco no âmbito do MIQCB. Neste caso, como em
outras situações, trata-se de uma estratégias do movimento das quebradeiras de coco,
como se fosse uma situação de parceria em torno de uma mesma preocupação
ecológica. (Almeida, 2005 p. 103)
O tipo de contrato, ao privatizar o uso de uma área, parece ter violado uma
disposição básica da “lei do babaçu livre”, que poderia ser assim enunciada: um direito
de uso comum sobre determinado recurso significa que nenhum membro do povoado ou
da “comunidade” pode ser excluído de usar este recurso, embora para faze-lo tenha que
observar as regras de uso comunitariamente definidas. (Almeida, 2005 p. 104)

Mapa situacional da região do Tocantins (bico do papagaio) e do Pará. A


atividade dos catadores de cocos é realizada nos municípios próximos das áreas de
maior concentração de palmeiras produtivas, e, portanto, mais distantes de seus locais
de moradia. (Almeida, 2005 p. 113)

Os catadores saem e vão se arranchar no cocal para catar coco. A produção é


transportada nos jumentos até os sacolões ou caçambas. Por onde passam esses
catadores não sobra coco, principalmente no verão. (Almeida, 2005 p. 115) “no verão
não sobra mais coco. Eles pegam tudo... o que torna mais difícil o trabalho, pois
precisamos ir para lugares distantes para coletar cocos...” (entrevista com quebradeira
de coco em Carrasco bonito, maio de 2005). (Almeida, 2005 p. 115)

Os catadores são também, conforme entrevistas realizadas no local, “pessoas de


fora da comunidade”, que adentram no cocal e catam os cocos de forma indiscriminada,
sem respeitar aos preceitos que garantem a reprodução de frutos. (Almeida, 2005 p.
116)

Essas situações, que colocam frente a frente os catadores e as quebradeiras de


coco, veem gerando uma série de conflitos pala disputa do coco babaçu, sobretudo
quando os catadores entram nas áreas que são tradicionalmente utilizadas pelas
mulheres. (Almeida, 2005 p. 117)

No decorrer da pesquisa, foi constatado que a cata do coco está sendo realizada
em grandes propriedades voltadas para a criação do gado. Nas situações de venda direta,
é o proprietário o responsável por contratar os catadores para catar os cocos, que são
colocados num sacolão a beira da estrada. (Almeida, 2005 p. 118)

Na região em que se situam as vilas são jose é metade, há muitas mulheres que
dependem da atividade do babaçu. Observamos que para algumas delas, o babaçu
representa a única fonte de renda, o que explica o depoimento envergonhado de uma
quebradeira de coco, que diz ter que sido obrigada a “roubar” os cocos dos sacolões,
pois está proibida de coletar nas áreas das fazendas. (Almeida, 2005 p. 119)

Em algumas situações, as mulheres são obrigadas a saírem coletando os cocos


nas “soltas” ou pastagens cercadas, deixando-os amontoados na beira da estrada. Os
montes ficam escondidos no meio do mato para que não sejam vistos e roubados.
(Almeida, 2005 p. 120)

Verificamos que o segmento das quebradeiras, composto de mulheres sem terra,


precisa se inserir simultaneamente em diversas atividades para garantir a reprodução da
família. Estivemos com dona Maria que disse ser “diarista” na produção de azeite além
de trabalhar em sistema de “quebra meia” em uma fazenda e ser “diarista”, para outra
famílias, descascando mandioca. Ela assim definiu a “quebra de meia:” O dono junta
um monte, nós quebramos. A amêndoa é dividida pela metade e a casca fica com o
dono, que dela faz carvão. (Almeida, 2005 p. 121)

O babaçu é utilizado na construção e coberta das casas, na confecção de


pequenos utensílios para uso doméstico, na produção do azeite para cozimento dos
alimentos, na fabricação do sabão e do carvão, sendo que o fato de não haver comprador
de amêndoa não impediu o desenvolvimento da atividade. (Almeida, 2005 p. 122)

O carvão da casca do babaçu produzido pelas quebradeiras de coco tem sido de


extrema relevância para auxiliar na economia da família porque é utilizado como fonte
de energia para cozinhar os alimentos. (Almeida, 2005 p. 122)

O carvão da casca do coco babaçu produzido pelas quebradeiras de coco tem


sido de extrema relevância para auxiliar na economia da família porque é utilizado
como fonte de energia para cozinhar os alimentos. A valorização das cascas de coco no
mercado tem comprometido o uso doméstico do carvão, principalmente para as
quebradeiras de coco sem terra e que trabalham no chamado “sistema de barracão”. As
redes de solidariedade que predominavam baseadas num sistema de troca equilibrada
passam a ser comprometidas pela escassez relativa e pela liquidez do carvão. (Almeida,
2005 p. 122)

A conjunção da intensificação no processo de coleta de coco inteiro e a


continuidade das derrubadas e envenenamentos das palmeiras vêm causando problemas
e sinalizando o aumento dos conflitos envolvendo as quebradeiras de coco. (Almeida,
2005 p. 124)

Segundo o informante a preferência em fazer o carvão ao invés de comprá-lo


diretamente das mulheres deve-se ao fato de necessitarem de uma quantidade muito
grande e tem em função do que denominou de “ a péssima qualidade do carvão” das
quebradeiras de coco , em função de ser feito no chão e apagado com água. (Almeida,
2005 p. 125)

As proibições de coleta e quebra de coco foram verificadas em muitos locais,


inclusive, os proletários tem adotado diferentes formas de proibição, como a colocação
de pregos nas cancelas ou o uso de “cercas eletrificadas” que impedem o acesso e o uso
da área. (Almeida, 2005 p. 128)

Na região de Esperantina (PI), verificamos uma ação intensa de derrubada e de


envenenamento de “pindovas” para a implantação de projetos agropecuários e
experimentos de plantio de soja. Contudo, forma enfatizados os procedimentos de coleta
de coco inteiro, sobretudo na região de Esperantina, em virtude de uma máquina de
quebrar coco, instalada por uma empresa de óleo, a FRANCOL que se encontra em
funcionamento.

Talvez em função da capacidade e das dificuldades de operacionalização da


máquina, essa atividade da cata do coco inteiro não se revelou tão intensa na região a
ponto de mobilizar um número expressivo de catadores de coco, que pudesse se
confrontar com as quebradeiras de coco. p.131

Por se tratar de uma primeira inciativa de plantio de soja na região , a exemplo


do que ocorre mais ao sul do Estado do piaui, houve uma intensa mobilização dos
trabalhadores rurais e das quebradeiras de coco, no sentido de evitar a entrada desse tipo
de plantio. P.133

Chamou a atenção o fato da balança destinada a pesar o coco ser de propriedade


do “atravessador” ou do “caminhoneiro” que a leva no seu caminhão. Trata-se de uma
prática que revela um alto nível de submissão, onde o controle está nas mãos dos
compradores. p 134
Percebemos que por delas do discurso de valorização da diversidade está a
imposição de um modelo de plantation de oleaginosas, que desestrutura as formas
organizadas locais. (p.135)

Na regional da baixada ocidental maranhense, os problemas estão relacionados


as derrubadas das palmeiras, ao envenenamento de “pindovas” e a expansão do rebanho
bubalino. 137

No período do inverno o “envenenamento do olho da Pindova” traz


consequências trágicas, já que com as chuvas o veneno derrama e escorre para os rios,
riachos, campos e igarapés, contaminando os corpos d’água, atingindo o solo e toda a
forma de vida. Mais do que isso, atinge todas as pessoas que se utilizam desses recursos
naturais. (p. 138)

O arame farpado e a vigilância passam a ser os divisores do espaço e do tempo,


impondo uma nova situação a esses povos tradicionais, que são obrigados a se
deslocarem para a cidade. P.139

A pesquisa, portanto, registra a existência de um conflito aberto, intenso e


violento, que envolve a participação de diferentes agentes sociais e interesses, cuja
resultante maior consiste na desestruturação da economia familiar das quebradeiras de
coco babacu, inclusive colocando-as diante da possibilidade iminente de escassez dos
recursos básicos, que são utilizados para sua reprodução social.

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