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Universidade do Estado do Pará

Campus Castanhal
Centro de Ciências Sociais e Educação
Licenciatura Plena em Geografia
Disciplina: Geografia do Pará
Docente: Dr ª Mariana Mello
Data: 17/03/2023
Equipe: Carlos Sampaio
Fábio Vasconcelos

As Company Towns e os
grandes Projetos no Pará
Projetos de desenvolvimento e /ou inversão de capital - Processo histórico de Exploração e Exportação

As noções de desenvolvimento econômico e financeiro, vem ultimamente configurando a


história da Amazônia, em especial atenção ao Estado do Pará, com a implementação e
expansão de Projetos de Extração de Minério, dentre outras riquezas exploradas desde ao
“descobrimento” do Brasil até a atualidade.

Bueno Sánchez (1990, p.7) tem ganhando força a concepção de que desenvolvimento
econômico e social de um país ou região deve estar fundamentalmente dirigido a elevar a
qualidade de vida dá população em sua totalidade e de cada indivíduo que a íntegra.
Ao se analisar uma região, não sei deve ter em conta somente a expansão na base material, mas
também o nível de pobreza, o desemprego e a desigualdade. Se esses aspectos evidenciam uma tendência à
desaparição, então se pode afirmar que está conseguindo gerar um processo de desenvolvimento ou que,
em determinado momento, foi alcançado um dado grau de desenvolvimento. Se a situação é inversa (se
os problemas se agravaram) seria um equivocado falar em desenvolvimento.

Os modelos de desenvolvimento adotados no país têm feito clara opção pela especialização e
exportação de commodities (produtos agrícolas, ambientais, minerais, energéticas e financeiros -
mercadoria primária vendida em larga escala na bolsa de valores) em detrimento do crescimento
econômico pautado pela industrialização, cujo ciclo econômico é tido como mais virtuoso em termos de
empregabilidade e sustentabilidade.
Um desenvolvimento descentralizado ( especialização e diversificação) buscaria
elevar os graus de auto suficiência microrregional, estimulando a produção para o
autoconsumo, a integração e desespecialização de certas economias locais, reduzindo
sua dependência frente às dinâmicas nacionais e globais.

Modelo exógeno - maciça predominância histórica - visão externa ao território -


privilegia relações comerciais com a metrópole.

Modelo endógeno - movimento de resistência das populações amazônicas - visão


que busca soluções de desenvolvimento sustentável - privilegia o uso da terra
integrado no favorecimento as populações locais e da proteção ambiental.
1985 - criação do Conselho Nacional dos Seringueiros - movimento de resistência contra a
expropriação da terra.

1996 - Programa Brasil em Ação - formação de imensos corredores ecológicos para a proteção
ambiental, mas ao mesmo tempo coexistiu a retomada por parte do Governo Federal implementação de
projetos de grandes corredores de desenvolvimento, ou seja, uma política pública paralela e conflitantes,
quer dizer, adota os modelos exógeno e endógeno ao mesmo tempo.

Um projeto de desenvolvimento econômico e social deve ser pautado pelo respeito às diversidades
regionais e culturais. Projetos de inversão do capital não raramente são travestidos, e vendidos, como
projetos de desenvolvimento para favorecer a economia da metrópole, sem linearidades, não ficando
visível para o a população como foram planejados e como serão executados, seus padrões e estilos de
industrialização.

Kohlhepp (2002, p. 53) afirma que a Amazônia, desde o início da década de 70, tem sido palco de
experiências desenvolvimentistas e de continuados conflitos de interesses não encarados como a devida
importância, sendo muito presentes historicamente a especulação, a ilegalidade, a corrupção e a violência.
Ford na Amazônia - A Primeira Experiência Essencialmente Capitalista

O projeto, que emprestou o nome ao atual distrito, foi uma vasta área de terras adquirida pelo empresário, através de
sua empresa Companhia Ford Industrial do Brasil, por concessão do estado do Pará de iniciativa do então governador
Dionísio Bentes.
O projeto foi oficialmente encerrado em 24 de dezembro de 1945, em acordo entre a Ford e o governo federal. A partir
de então, conhecido pela metáfora cidade fantasma, após os funcionários abandonarem os galpões e o maquinário. Mas
legalmente virou uma Região Rural de Aveiro, na década de 1970 ocorreu a criação da rodovia Cuiabá-Santarém que
trouxe para a região uma nova fronteira agrícola. Em 2017 foi elevada à categoria de Distrito (conforme Lei Municipal
134/2017).
Ford também sonhava em recriar uma nova América, que estava se deteriorando em seu país. Assim ergueu, nas
margens do rio Tapajós, uma localidade com boa infraestrutura: luz elétrica, praças, cinemas, piscinas, campos de golfe e
casas nos moldes das pequenas cidades dos Estados Unidos. Atualmente pleiteia emancipação política.
Em 1990, foi iniciada uma petição IPHAN para tombamento e preservação do patrimônio material das áreas de
Fordlândia e Belterra, ainda em análise devido a necessidade de regularização fundiária e a dificuldade de acesso ao local
(distante quatro horas de Santarém por via fluvial).
A Experiência da Alcoa: Município de Juriti
A Alcoa é uma das três maiores empresa de alumínio do mundo junto com a Alcan e a Rusal com
sede nos Estados Unidos. A empresa surgiu em 1886 na cidade de Pittsburgh, Pennsylvania. A
empresa conta com 129.000 empregados e sua receita alcançou a cifra de US$ 30,4 bilhões de dólares
em 2006.
A companhia é uma das maiores mineradoras do mundo e opera em 32 países. Além de negócios
no Maranhão e no Pará, a Alcoa também é acionista majoritária do consórcio Baesa, responsável
pela usina hidrelétrica de Barra Grande, localizada na região Sul do país. Junto com o grupo
Votorantim, a Alcoa foi denunciada pela violação das Diretrizes para Empresas Multinacionais da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A Alcoa e o grupo
Votorantim foram denunciados pelo Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), no ano de
2005, por conta da expropriação contra as populações de Barra Grande, e danos ambientais, conta
Almeida (2012).
A Experiência do Projeto Jari
Projeto Jari (Jari Florestal e Agropecuária) é uma fábrica existente às margens do Rio Jari,
para a produção de celulose e outros produtos, que teve início em 1967.

O projeto foi idealizado pelo bilionário norte-americano Daniel Keith Ludwig e seu sócio
Joaquim Nunes Almeida. Ele mandou construir uma fábrica de celulose no Japão, na cidade de
Kobe, usando tecnologia finlandesa da cidade de Tampere, foram construídas duas plataformas
flutuantes com uma unidade para a produção de celulose e outra para a produção de energia. A
unidade de energia produzia 55 megawatts e era alimentada por óleo BPF a base de petróleo
com opção para consumo de cavacos de madeira.
Exploração da Bauxita em Oriximiná
Uma das maiores ameaças aos territórios quilombolas em Oriximiná são os interesses
minerários. Em 2020, Oriximiná ocupava a segunda posição entre os 10 municípios com
maior área de mineração industrial no Brasil, segundo o MapBiomas. Já no ranking que
considera a atividade mineração industrial e garimpeira, indica que Oriximiná estava em
quarto lugar dentre os municípios com maior área minerada.
Dados levantados pela Comissão Pró-Índio junto à Agência Nacional de Mineração, em
julho de 2019, indicam 84 processos minerários incidentes em terras quilombolas em
diferentes fases. Desse total, 18 são concessões de lavra em nome da Mineração Rio do
Norte que extrai bauxita na região desde 1979. Os impactos da extração mineral são
vivenciados por comunidades quilombolas e ribeirinhas.
A exploração da bauxita em Oriximiná se dá pela Mineração Rio do Norte
(MRN), uma sociedade anônima de capital fechado, que tem, entre seus acionistas,
grandes corporações do mundo da mineração e da exploração de alumínio. A
empresa é a maior produtora e exportadora de bauxita do Brasil. O minério extraído
em Oriximiná representa 40,17% da produção nacional.Os atuais acionistas da
empresa são: Vale (40% das ações); South32 (33%); Rio Tinto (12%); Companhia
Brasileira de Alumínio (10%); Alcoa Alumínio SA; e Hydro (5%). As operações da
MRN consistem na extração do minério, beneficiamento, transporte ferroviário,
secagem e embarque de navios. Em 2019, foram embarcadas 12,177 milhões de
toneladas de minério. Do total de embarques, 58% foram destinados para América
do Sul; 26% para América do Norte e 16% para Europa.
A exploração mineral em Oriximiná envolve uma disputa em torno do uso da floresta que opõe
comunidades tradicionais e a exploração mineral empresarial em larga escala com altos custos
socioambientais. O aumento progressivo das áreas de extração implica na destruição de
florestas que, até então, eram fonte de alimento e renda de diversas famílias quilombolas e
ribeirinhas. E novas áreas deverão ser derrubadas nos próximos anos para permitir a
continuidade do empreendimento com impactos cumulativos e desastrosos sobre a vida dessas
famílias e o meio ambiente.

quilombo Boa Vista, localizado no Alto Trombetas, foi o primeiro a sentir os impactos da
mineração. Logo no início das atividades da empresa (na década de 1970), os quilombolas
sofreram a expropriação de parte das áreas que tradicionalmente utilizavam. A instalação da
estrutura da mineradora (área industrial e vila residencial) tirou o acesso de parte das famílias
de locais onde praticavam agricultura e suas produções. A lavra nos platôs Saracá, Papagaio e
Periquito impediu a continuidade do extrativismo da castanha no local.
Impactos nos Cursos d’água dos rios das famílias que dependem para sua subsistência.

A indústria da mineração depende dos recursos hídricos, de modo que pode gerar impactos na
sua qualidade e quantidade. A água é utilizada tanto para a exploração da jazida, como também
durante os processos de beneficiamento do minério.

Para os quilombolas e ribeirinhos, os principais impactos são: a restrição de acesso à água


potável (sobrecarregando o trabalho das mulheres que são as principais responsáveis por
assegurar água potável), o surgimento de novas doenças (atingindo especialmente crianças e
mulheres) e a diminuição do pescado.

Os rios, lagos e igarapés são, para essas comunidades, fonte de acesso da água para beber,
para cozinhar e para a higiene pessoal. Também asseguram alimento por meio da pesca, que é
de grande importância para a soberania alimentar dessa população. E são as principais vias de
acesso numa região onde praticamente não existem estradas fazendo do rio a sua rua.
E as Hidrelétricas na Amazônia Paraense: Quem ganha e quem perde? Hidrelétrica Belo Monte.

Sua potência instalada é de 11 233 megawatt, mas por operar com reservatório muito
reduzido, produz efetivamente cerca de 4 500 MW, (39,5 TWh) em média, por ano, o que
representava, em 2009, aproximadamente 10,0% do consumo nacional de 388 TWh. Sua
construção durou pouco mais de 8 anos e gerou diretamente mais de 30 mil empregos. Sua
hidrologia acompanha a da bacia do Sul-Sudeste, não sendo complementar a esta. Desta
forma, em crises como a de 2021 a usina gera menos em momentos de seca.

Em potência instalada, a usina de Belo Monte é a quarta maior hidrelétrica do mundo,


atrás apenas da chinesas Três Gargantas (20 300 MW) e Xiluodu (13 800 MW) e da brasileira/
paraguaia Itaipu (14 000 MW), sendo a maior usina hidrelétrica inteiramente brasileira.
O reservatório da usina tem uma área de 478 km² (1/10 000 da área da Amazônia Legal).
Seu custo foi estimado pela concessionária em 26 bilhões de reais, ou seja 5,7 milhões de reais
por MW efetivo. O leilão para construção e operação da usina foi realizado em abril de 2010
e vencido pelo Consórcio Norte Energia com lance de R$ 77,00 por MWh. O contrato de
concessão foi assinado em 26 de agosto do mesmo ano e o de obras civis em 18/02/2011. O
início de operação da usina estava previsto para 2015, mas a primeira turbina da usina
entrou em operação somente em abril de 2016.
Hidrelétrica de Tucuruí
Em potência instalada, Tucuruí é uma das maiores do mundo e a segunda maior usina
hidroelétrica 100% brasileira, ficando apenas atrás da usina de Belo Monte. Seu vertedouro, com
capacidade para 110 000 m³/s, é o segundo maior do mundo. A construção foi iniciada em 24 de
novembro de 1974. A usina foi inaugurada em 22 de novembro de 1984 pelo presidente João
Figueiredo com capacidade de 4 000 MW, ampliados em meados de 2010 para 8 370 MW.

A UHE Tucuruí é a principal usina integrante do Subsistema Norte do Sistema Interligado


Nacional (SIN), sendo responsável pelo abastecimento de grande parte das redes: da Celpa (no
Pará), da Cemar (no Maranhão) e da Celtins (no Tocantins). Em períodos de cheia no rio
Tocantins, a Usina de Tucuruí também complementa a demanda do restante do país através do
SIN. Uma eclusa e um canal de 5,5 km possibilita a navegação fluvial entre Belém e Santa Isabel.
A barragem de Tucuruí, de terra, tem 11 km de comprimento e 78 m de altura. O desnível
da água varia com a estação entre 58 e 72 m. O reservatório tem 200 km de comprimento e 2
850 km² de área quando cheio, ou seja 0,341 km² por MW instalado. Quando o nível é mínimo
(62 m), a área alagada diminui em cerca de 560 km². A vazão média do rio ao longo do ano nesse
ponto é aproximadamente 11 000 m³/s; a máxima observada (março de 1980) foi 68 400 m³/s. O
reservatório tem volume total de 45,5 km³ (para cota de 72 m) e volume útil de 32,0 km³. A usina
está ligada à rede nacional pela linha de transmissão entre Presidente Dutra (Maranhão) e a
Usina Hidrelétrica de Sobradinho, via Boa Esperança (Piauí).
O Ideal de Projeto
Brandão (2011), p.21) o ideal em um projeto de desenvolvimento é que ele seja
transformador da realidade, e que seja promovido simultaneamente em várias dimensões
(produtiva, social, tecnológica) e em várias escalas espaciais (local, regional, nacional, global). O
projeto de desenvolvimento defendido por este autor deve fortalecer a autonomia de decisão a
ampliar o raio de ação dos sujeitos concretos, produtores de determinado território.

Kohlhepp (2002, p. 53) afirma que: “somente com a criação de condições gerais de caráter
político de alto nível será possível concentrar a atividades dos diferentes grupos sociais e suas
reivindicações e direitos de uso da terra num desenvolvimento regional adaptado às
características ecológicas e às necessidades sócio-econômicas da população envolvida.”
Bibliografia.

ALMEIDA, Rogério Henrique. Amazônia Saqueada: apanhados sobre grandes projetos no


Baixo Amazonas Artigo publicado no XIV Encontro Nacional de Pós -Graduação e Pesquisa em
Geografia.

SAMIRA,El Saiu; DAGNINO, Ricardo de Sampaio. Grandes Projetos de desenvolvimento e


implicações sobre as populações locais: o caso da usina de Belo Monte e a população de
Altamira, Pará.Ipea. Códe 2011. Anais do Circuito de Debates Acadêmicos.

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