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a centralidade da questão ambiental, se relacionada, com base nos pressupostos acima, com
as demandas econômicas vindas de outros países, do qual a produção interna brasileira
procura satisfazer. Nesse sentido a constante demanda internacional por minerais e por
produtos agropecuários conduzem a processos de avanços sobre o território amazônico
reconfigurando sua paisagem, sua ocupação e os conflitos presentes na região.
Todo o projeto Carajás ocorre durante a ditadura militar, desde sua “descoberta”
em 1967, até a parceria com a potência norte-americana e a ofensiva sobre a cidade com
o Projeto Grande Carajás:
Além das condições naturais que fazem do Brasil um local privilegiado para a
exploração de minerais, contam a favor as legislações mais brandas e o baixo preço da
força de trabalho. Desde a década de 1960, essas condições são intensificadas para a
expansão do setor industrial como um todo e para a atração de capitais externos
(MACHADO, 1998). Políticas desenvolvimentistas tem como uma de suas faces a
intensificação da atividade extrativista para impulsionar a industrialização interna –
como o impulso industrializante do nacional-desenvolvimentismo dos anos 1950 e
mesmo os elementos de continuidade durante a ditadura militar. A Vale e a CSN são
manifestações objetivas do desenvolvimento capitalista no país. Quando atentamos para
as suas ações observamos a concretização das políticas econômicas e seus efeitos, seja
nos momentos em que o controle era estatal ou mesmo após as privatizações, assim
como seus efeitos.
A vale é motivo de orgulho não só para nós, mas orgulho nacional. Nesse
momento em que o país está com a alto-estima baixa, é importante lembrar
alguns fatos aqui sobre a nossa empresa. É o maior grupo privado industrial
do Brasil, é a maior mineradora das américas, é a maior produtora de
minério de ferro do mundo, ingrediente mais importante no desenvolvimento
dos países, é o maior produtor de níquel do mundo, níquel é o metal do
futuro, metal que vai suportar a revolução dos carros elétricos [...] nós somos
a ação estrangeira mais negociada na Bolsa de Nova York em número de
ações [...] nós somos a única empresa brasileira global que compete e lidera
os mercados em que atua, competindo com as maiores empresas do mundo.
(SIANI, 2018).
1
Depoimento do presidente da empresa na época durante depoimento na Câmara dos deputados.
Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/551917-vale-desconhece-causas-do-rompimento-da-
barragem-diz-presidente-da-empresa/.
A caracterização da Vale feita pelo executivo oculta a outra face da empresa e as
contradições que a sua atividade apresenta. Na visão do executivo, a atuação da Vale
deve ser ampliada no futuro – ou seja a intensificação da extração –devido à
continuidade do crescimento chinês e sua procura por minério de ferro de melhor
qualidade, “especialidade” da Vale, e à “revolução” do carro elétrico que aumentará a
demanda por níquel, da qual a empresa é a maior produtora mundial. O futuro almejado,
portanto, pela empresa é o de prosseguir com a internalização de atividades predatórias,
comprometendo recursos ambientais e humanos, impulsionando o crescimento
econômico de outras nações.
a expansão que é ininterrupta desde os anos 1970 tem inédito impulso nos anos
2000. “Desde o início de 2002 até abril de 2006, foram destruídos 70 mil quilômetros
quadrados da Floresta Amazônica. Somente entre 2003 e 2004 foram 27 mil
quilômetros quadrados, sendo que três quartos dessa área foram destruídos ilegalmente”
(DOMINGUES, BERMANN, 2012, p. 10). O processo é conhecido: desmatamento,
pecuária e depois plantação de grãos, em especial a soja:
2
Trata-se do Programa 60 minutos da tv norte-americana transmitido pela CBS, vídeo disponível no
seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=vSkOZLrkHSU
Junto com a expansão econômica e territorial do agronegócio, surge a
degradação humana e ambiental. Seja pela usurpação de terras das populações
tradicionais, seja pela intensificação dos conflitos com movimentos sociais e com
antigos proprietários, cujo desfecho caminha cada vez mais para a criminalização dos
que lutam pela reforma agrária e da elevação dos assassinatos cometidos por capatazes a
mando dos grandes representantes do agronegócio (FOWKS, 2018).
Além dos problemas causados ao solo pela monocultura – sendo que a produção dos
itens voltados à exportação não se pauta pelas necessidades alimentares da população –,
das sementes transgênicas cujos efeitos sobre a saúde são cada vez mais assustadores, o
agronegócio requer que o meio ambiente seja transformado em seu favor. Uma das
necessidades é o escoamento da produção, interferindo diretamente nas localidades em
que o agronegócio predomina. Os impactos ambientais são conhecidos, como a
construção de hidrovias, abertura de ferrovias e de hidroelétricas 3 – como as do grupo
Amaggi. Tudo ocorre em regiões em que a disputa pela terra tende a ser cada vez mais
acirrada e em que o meio ambiente ainda não foi completamente explorado, sobretudo
na Floresta Amazônica.