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LEGIADO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

JOÃO PEDRO ALMEIDA SANTOS ANJOS

IMPLANTAÇÃO DO COMPLEXO PORTO SUL EM ILHÉUS

ILHÉUS - BAHIA
2023
1. INTRODUÇÃO

No atual contexto histórico, sob a influência do modelo de produção capitalista, é


amplamente reconhecido que grandes corporações multinacionais atuam nos territórios
reorganizando-os de acordo com suas lógicas de produção, muitas vezes em detrimento dos
recursos naturais e das populações locais. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo
realizar uma breve reflexão sobre o projeto de instalação do Complexo Porto Sul no
município de Ilhéus, situado no litoral sul da Bahia. Busca-se compreender os motivos que
impulsionaram esse empreendimento, bem como a participação do Estado nesse processo,
além de projetar os possíveis impactos sociais e ambientais decorrentes das fases de
construção e operação do complexo.
O Estado pode desempenhar diferentes papéis. Em alguns casos, atua como
colaborador direto ou indireto de projetos que favorecem predominantemente as grandes
empresas. Em outros casos, o Estado pode se tornar um mero espectador da atuação dessas
corporações, especialmente das transnacionais. Essas empresas, por sua vez, tendem a encarar
os recursos naturais como inesgotáveis e os exploram de maneira irracional, transformando-os
em espaços para a incorporação de diferentes formas de artefatos, sem considerar o impacto
negativo no bem-estar social.
Nesse contexto, surge o projeto de construção do Complexo Porto Sul, destinado à
exportação de minério de ferro extraído da região oeste da Bahia, especificamente do
município de Caetité, para o mercado internacional. Esse empreendimento serve aos
interesses do grande capital, beneficiando principalmente os grupos empresariais privados
envolvidos em sua construção e operação. É importante ressaltar que o complexo será
construído em uma Área de Proteção Ambiental, o que demonstra como o poder do grande
capital sobre o espaço pode ser altamente prejudicial tanto para os recursos naturais quanto
para a população afetada, direta ou indiretamente.
Essas questões levantadas destacam a necessidade de se repensar a relação entre o
desenvolvimento econômico, os interesses das grandes corporações e a proteção ambiental,
bem como a importância de considerar o bem-estar social e a participação da comunidade
afetada no processo de tomada de decisões que envolvem o uso do espaço e dos recursos
naturais.
2. METODOLOGIA

A metodologia adotada neste estudo baseia-se em uma revisão bibliográfica,


complementada pelo uso de mídias digitais, a fim de realizar uma análise teórica dos temas
abordados. São levantadas questões relevantes relacionadas ao processo de apropriação do
espaço pelas grandes corporações, à conivência do Estado na concessão desse processo e à
caracterização ambiental e social da região estudada, identificando possíveis impactos a serem
gerados.

3. DESENVOLVIMENTO

1.1. Contexto

O município de Ilhéus, situado no estado da Bahia, possui uma localização


privilegiada, a cerca de 450 km ao sul da capital Salvador e banhado pelo Oceano Atlântico.
Com aproximadamente 80 km de praias e rica biodiversidade da Mata Atlântica, a cidade
possui um potencial turístico significativo.
Ilhéus é conhecida por sua história colonial, remontando ao período das capitanias
hereditárias no Brasil. A cidade abriga uma riqueza histórica e cultural, que ganhou destaque
mundial através das obras do escritor baiano Jorge Amado. Seus romances retratam o auge da
produção de cacau na região.
Em 2008, foi anunciado o projeto do Complexo Porto Sul, pelo Governo da Bahia em
parceria com a empresa Bahia Mineração S.A. (BAMIN). O projeto foi apresentado como
uma solução para trazer redenção socioeconômica não apenas para Ilhéus, mas para toda a
microrregião, buscando impulsionar a economia que havia sido prejudicada pela crise do
cacau.
O Complexo Porto Sul tem como objetivo facilitar a exportação de minério de ferro
extraído da região oeste da Bahia, mais especificamente do município de Caetité, para o
mercado internacional. No entanto, é importante considerar os impactos socioambientais
desse empreendimento, especialmente por estar sendo construído em uma Área de Proteção
Ambiental. O projeto gera expectativas em relação ao desenvolvimento econômico, mas
também levanta preocupações sobre a preservação dos recursos naturais e o bem-estar da
população afetada.
É necessário um cuidadoso planejamento e acompanhamento para garantir que o
projeto do Complexo Porto Sul seja realizado de forma sustentável, equilibrando o
desenvolvimento econômico com a proteção ambiental e o bem-estar social da comunidade.

1.2. Projeto

O projeto do Complexo Porto Sul foi inicialmente concebido para atender à


necessidade da BAMIN de escoar o minério de ferro extraído de uma jazida localizada em
Caetité, município no oeste da Bahia, situado a aproximadamente 760 km de Salvador. Para
viabilizar o transporte do minério de ferro da jazida até o porto, está em andamento a
construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), com uma extensão de 1.527 km. O
projeto recebeu investimento previsto de R$ 4,2 bilhões entre 2010 e 2014, além de R$ 33
milhões após 2014, sendo financiado com recursos do Plano de Aceleração do Crescimento
(PAC) do governo federal.
A FIOL estabelecerá a ligação terrestre entre o Porto Sul e os municípios baianos de
Caetité, Barreiras e Figueirópolis, em Tocantins, ponto de conexão com a Ferrovia Norte-Sul.
Essa infraestrutura permitirá o escoamento de diversos materiais produzidos em outras regiões
do país por meio do futuro porto.
Além da BAMIN, outras empresas importadoras/exportadoras de cargas também
explorarão o complexo portuário por meio de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE).
O projeto compreende uma área de 1,86 mil hectares de utilidade pública, conforme decreto
nº 10.917/2008, e prevê investimentos estimados em R$ 3,3 bilhões. O complexo portuário
contará com dois Terminais de Uso Privativo (TUP) na modalidade off-shore, localizados a
3,5 km da costa, uma ponte de acesso marítimo e uma retroárea para armazenamento de
cargas, além de infraestrutura para serviços e processos diversos. O TUP da SPE terá
capacidade para movimentar 75 milhões de toneladas ao ano de granéis sólidos, carga geral e
carga conteinerização, enquanto o TUP da BAMIN movimentará cerca de 20 milhões de
toneladas de minério de ferro por ano.
Esse empreendimento se alinha com a Lei nº 12.815, de 2013, conhecida como a Nova
Lei dos Portos, que tem como objetivo estimular a exploração das atividades portuárias pelo
capital privado, promovendo a privatização do setor portuário em benefício das grandes
empresas. Nesse contexto, o Estado desempenha um papel fundamental para o sucesso dessas
empresas, intervindo nos territórios por meio de estratégias políticas, econômicas e
ideológicas, com foco na acumulação de capital pelos grupos hegemônicos. Essa intervenção
muitas vezes relega as demandas sociais básicas, priorizando os interesses econômicos das
empresas.
O empreendimento do Complexo Porto Sul está inserido nessa lógica de dominação
territorial exercida pelas grandes empresas transnacionais, em que o território nacional é
subordinado ao capital internacional. A instalação desses grandes capitais exige que o
território se adapte às suas necessidades de fluidez, resultando em investimentos pesados para
alterar a geografia das regi pelo Estado, que propagandeiam a concepção de que a atuação das
grandes corporações no território, seja qual for o ramo por elas explorado e como se pratica
tal exploração, estaria intrinsecamente ligada ao desenvolvimento de todas as camadas da
sociedade, inclusive na mesma intensidade.
Para tanto, todo um arsenal midiático é produzido e difundido para que a propaganda
se torne acessível e compreensível a todos (as), seja ela radiofônica, televisiva, informática
e/ou de cunho paisagístico, como no caso dos outdoors. Tal discurso publicitário-ideológico é
inclusive reproduzido em audiências públicas, onde se apresenta o RIMA (Relatório de
Impacto Ambiental) para a população; essas audiências deveriam suscitar, a priori, o debate
sério e crítico, dialogando com a população através de uma linguagem acessível acerca dos
projetos que as envolvem e não de maneira reducionista e apologética.

1.3. Impactos Ambientais e Sociais

O Complexo Porto Sul, apesar de ser divulgado como vital para o desenvolvimento
econômico da região, tem diversos impactos negativos ambientais e sociais. A área escolhida
para sua instalação está localizada em um bioma de Mata Atlântica. A construção do
complexo afetará unidades de conservação próximas, como a APA da Lagoa Encantada e Rio
Almada e o mini corredor ecológico Esperança-Conduru.
Os impactos ambientais incluem a perda significativa de cobertura vegetal, supressão
de habitats da fauna, riscos de atropelamento de animais, alteração do regime de transporte de
sedimentos costeiros, colisão com mamíferos marinhos, interferência na reprodução de
tartarugas-marinhas e contaminação de comunidades marinhas. Além disso, haverá alteração
da qualidade das águas superficiais, emissão de material particulado de minério de ferro e
impactos persistentes durante a fase de operação do complexo.
O empreendimento está localizado em uma Área de Proteção Ambiental, o que
contraria a Lei n° 9.985/2000 que visa proteger a diversidade biológica e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais. A lógica da produção capitalista e a usurpação
do espaço pelo grande capital são criticadas, destacando-se que o espaço se torna um produto
mercantil em meio a potenciais conflitos socioambientais.
Além dos impactos ambientais, o texto ressalta os impactos sociais, como a
marginalização da população residente na área, a alteração do modo de vida e a capacidade de
subsistência das comunidades afetadas, especialmente nas atividades agrícolas e pesqueiras.
Grandes obras demandam mão de obra durante a construção, o que causa um fluxo migratório
para a região, sobrecarregando os serviços sociais básicos e potencializando problemas
sociais, como violência, prostituição infantil, favelização e pobreza. Ao término da fase de
construção, muitos trabalhadores são deixados desempregados, agravando os problemas
sociais mencionados.
Em resumo, o texto argumenta que o Complexo Porto Sul, apesar de ser apresentado
como uma oportunidade de desenvolvimento econômico, acarreta impactos ambientais
significativos, ameaçando ecossistemas valiosos, e desencadeia problemas sociais,
marginalizando comunidades e agravando desigualdades.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações finais enfatizam a falta de responsabilidade do Estado ao priorizar


um patrimônio natural tão importante quanto a APA da Lagoa Encantada e Rio Almada. Essa
atitude demonstra sua submissão aos interesses do grande capital, beneficiando-o em
detrimento do bem-estar socioambiental. O Complexo Porto Sul foi planejado principalmente
para atender ao processo de acumulação de capital de grandes empresas, baseando-se na
exploração irresponsável dos recursos naturais e na marginalização das populações locais.
O discurso do progresso mútuo entre empresas e população é usado como uma
ferramenta eficaz de cooptação para garantir o sucesso desses empreendimentos, distorcendo
a percepção de um modelo de desenvolvimento que poderia ser mais compatível com a
realidade e o potencial dos recursos naturais e culturais da região. É importante buscar
alternativas mais viáveis e justas, tanto do ponto de vista ambiental quanto social, que
considerem a proteção desses recursos e o bem-estar das comunidades locais. Isso envolve
uma abordagem mais equilibrada e sustentável que priorize a conservação da natureza, a
inclusão social e o respeito aos direitos das populações afetadas
Com base nesse estudo, foi possível inferir que o Complexo Porto Sul vai de encontro
à preservação ambiental, cultural e social. Suas transformações territoriais acarretarão
consequências negativas, comprometendo a possibilidade de um desenvolvimento econômico
menos devastador e mais alinhado com as potencialidades locais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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2003

ARAÚJO, M.; ALGER, K; ROCHA, R. e MESQUITA, C. A. B. A Mata Atlântica do sul da


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BAHIA, Porto Sul - Implantação sob a regência da MP 595/12

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CARLOS, A. F. A. A condição espacial. São Paulo: Contexto, 2011.


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VALEC Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. Ações e Programas - Ferrovias Valec,
2012.

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