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Nota prévia

Pretendemos com esta coleção – Biblioteca do Eletricista e do Eletrónico – suprir uma lacuna existente no nosso
mercado editorial de livros técnico-práticos na Área de Eletricidade e Eletrónica, destinados a profissionais,
estudantes e amantes desta área tecnológica.
A coleção será constituída por cerca de vinte volumes, de formato médio, a publicar regularmente, desejavelmente
um novo volume de seis em seis meses, tratando temas tão diferenciados como: Instalações Elétricas (RTIEBT),
Corrente Contínua, Magnetismo e Eletromagnetismo, Corrente Alternada Monofásica e Trifásica, Transformadores,
Semicondutores, Optoeletrónica, Transístores Bipolares (BJT), Transístores Unipolares (Fets e Mosfets),
Amplificadores com Transístores, Amplificadores Operacionais, Osciladores, Fontes de Alimentação, Máquinas
Elétricas de Corrente Alternada, Máquinas Elétricas de Corrente Contínua, Eletrónica de Potência, Sistemas
Digitais, Automatismos Industriais, Sistemas de Proteção Elétrica, Energias Renováveis, Domótica,
Microcontroladores e Robótica.
Para abordar alguns dos temas, serão convidadas algumas individualidades com maior experiência nessas áreas.
O presente volume – Corrente Contínua e Eletromagnetismo – é o volume 3 da Coleção e aborda os seguintes
capítulos:
• Capítulo 1 – Corrente Contínua – leis gerais do circuito elétrico
• Capítulo 2 – Condensadores em Corrente Contínua
• Capítulo 3 – Magnetismo e Eletromagnetismo
Houve a preocupação, em todo o texto, de utilizar uma linguagem o mais simples possível, sem descurar o rigor
técnico, de forma a ser compreendida pelos diferentes tipos de leitores, com mais ou menos formação académica.
São apresentados exemplos práticos, com a realização de cálculos simples, sempre que se entendeu pertinente.
O presente volume, bem como os restantes, foi elaborado em conformidade com as novas regras do Acordo
Ortográfico.
Nos sítios www.josematias.pt e www.josematias.pt/eletr ou na página do Facebook
www.facebook.com/jvcmatias, poderá o leitor encontrar conteúdos que certamente lhe interessarão.
Boas leituras!
O autor
CAPÍTULO 1
Corrente contínua – Leis gerais do circuito elétrico
A melhor forma de prever o futuro é criá-lo. – Peter Drucker

Tópicos principais deste capítulo:


• Leis gerais do circuito elétrico
• Energia elétrica
• Redes elétricas
1. Potencial elétrico. Diferença de potencial
Como sabemos, o átomo de qualquer elemento químico é constituído basicamente por
um núcleo, com protões (carga elétrica positiva) e neutrões (sem carga elétrica), em
torno do qual giram os eletrões (carga elétrica negativa). A carga elétrica de cada eletrão
é igual, em módulo, à do protão.
No estado neutro de qualquer átomo, o número de protões é igual ao número eletrões,
pelo que a sua carga elétrica total é nula.
Se retirarmos eletrões a um átomo, ele fica com mais protões do que eletrões e,
portanto, carregado positivamente (+ Q).
Se fornecermos eletrões a um átomo, ele fica com mais eletrões do que protões e,
portanto, carregado negativamente (– Q).

Concluímos portanto que os corpos podem encontrar-se carregados positivamente (se


têm falta de eletrões), negativamente (se têm eletrões em excesso) e ainda no estado
neutro. Na figura 2 representamos dois corpos diferentemente carregados, um
positivamente e outro negativamente.

Quando um corpo se encontra carregado eletricamente diz-se que possui um


determinado potencial elétrico V, que se expressa em volts (V), no Sistema
Internacional de Unidades (S.I.). O potencial elétrico de um corpo é, dito de uma forma
simples, a capacidade que esse corpo tem de fornecer ou receber eletrões de outro
corpo.
Assim, na figura 2, o corpo A tem o potencial elétrico VA positivo, pois a carga Q é
positiva; o corpo B tem o potencial elétrico VB negativo, pois a carga – Q é negativa. Diz-
se então que entre os dois corpos A e B existe uma diferença de potencial (d.d.p.) VA –
VB. À diferença de potencial também se dá o nome de tensão elétrica. A diferença de
potencial ou tensão elétrica é expressa em volts (V).
2. Corrente elétrica
O que acontece, então, se ligarmos os corpos A e B, diferentemente carregados, por
meio de um fio condutor?
Suponhamos por exemplo que temos, no laboratório, um condensador carregado
eletricamente, isto é, uma das armaduras metálicas (A) está carregada positivamente, e
a outra (B) está carregada negativamente, tal como se sugere na figura 3. Se as ligarmos
por meio de dois fios condutores a um galvanómetro, verificamos que o ponteiro do
galvanómetro irá deslocar-se bruscamente, indicando que houve movimento de cargas
elétricas. Ao fim de breves segundos, o movimento cessa.
Todos sabemos já que são os eletrões que se deslocam nos condutores; os protões não se
deslocam. No caso particular da figura 3, iriam deslocar-se os eletrões da armadura B
para a armadura A, através dos condutores, de forma a anularem as cargas positivas de
A, ficando ambas com a mesma carga final (QA = QB), o mesmo potencial elétrico (VA =
VB) e, portanto, uma diferença de potencial nula (VA – VB = 0). Esta diferença de
potencial nula poderá ser confirmada com um voltímetro – aparelho que mede a
diferença de potencial ou tensão elétrica.

Nota: O galvanómetro é um aparelho que indica que há movimento de cargas elétricas no circuito.
A este movimento orientado dos eletrões, do potencial elétrico negativo para o positivo,
dá-se o nome de corrente elétrica. A corrente elétrica cessa (deixa de existir) quando os
dois potenciais elétricos se igualam. Este fenómeno é semelhante àquilo que acontece,
em hidráulica, quando ligamos, através de um tubo ou conduta, dois depósitos de água,
com níveis diferentes, conforme se sugere na figura 4.
A água irá fluir do depósito com maior nível para o de menor nível até ficarem ao
mesmo nível. Nesse instante, deixa de haver movimento de água.
Concluímos, portanto, que só há corrente elétrica entre dois corpos (dois elétrodos,
dois terminais, etc.) quando há diferença de potencial entre eles. Esta é uma das
primeiras conclusões importantes do estudo das leis do circuito elétrico.
3. Tipos de correntes. Efeitos da corrente elétrica
No ponto anterior, vimos como se produz uma corrente transitória i, isto é, de pequena
duração, que se extingue quando os corpos igualam o seu potencial elétrico.
Evidentemente que esta corrente não tem utilidade prática no funcionamento da
generalidade dos recetores e instalações elétricas.
Com efeito, os circuitos elétricos e instalações elétricas necessitam de correntes
perfeitamente estabilizadas, de forma a alimentarem os recetores de uma forma
contínua e de valor constante. Para obter essas correntes, existem aparelhos chamados
geradores elétricos (baterias, pilhas, dínamos, alternadores, etc.), os quais iremos
estudar mais adiante.
Assim, as correntes elétricas dividem-se em dois grandes grupos: correntes
unidirecionais e correntes bidirecionais.
As correntes unidirecionais têm um só sentido (no condutor); as bidirecionais têm os
dois sentidos (no condutor), isto é, variam alternadamente o sentido do movimento dos
eletrões, conforme se sugere na figura.

As correntes unidirecionais podem ser contínuas ou não contínuas.


A corrente contínua (c.c.) i1 representada no gráfico da figura é uma corrente com um
só sentido e com um valor constante, ao longo do tempo t. É o caso da corrente
fornecida pelas baterias, pilhas, dínamos.
No mesmo gráfico, representamos ainda uma corrente i2 unidirecional, mas com valor
variável ao longo do tempo – é a chamada corrente alternada retificada.

As correntes bidirecionais dividem-se em correntes alternadas e correntes não


alternadas.
Uma corrente alternada (c.a.) é uma corrente bidirecional que, periodicamente, repete os
mesmos valores (são correntes periódicas, de período T).
Uma corrente não alternada é uma corrente bidirecional, sem um padrão definido ou
com valores positivos diferentes dos negativos, tal como se representa na figura 8.

As correntes alternadas podem assumir diferentes formas, sendo as mais vulgares as


seguintes: onda sinusoidal, onda quadrada, onda triangular.
A rede elétrica nacional fornece energia elétrica com tensão alternada sinusoidal.
Quando uma corrente elétrica percorre um circuito elétrico, pode produzir os seguintes
efeitos: calorífico, químico, mecânico e luminoso.
O efeito calorífico consiste na libertação de calor provocado pelo choque entre os
eletrões e os átomos dos condutores ou dos recetores. Temos como exemplo as
resistências de aquecimento.
O efeito químico consiste na transformação química de algumas substâncias quando
percorridas por corrente elétrica. Temos como exemplos a eletrólise da água
(decomposição da água, acidulada, em oxigénio e em hidrogénio), os acumuladores de
energia (transformam a energia elétrica em energia química).
O efeito mecânico consiste na produção de movimento em recetores percorridos pela
corrente elétrica. Temos como exemplos o motor elétrico (em c.c. ou em c.a.), o
eletroíman, a eletroválvula.
O efeito luminoso consiste na produção de luz quando determinados recetores são
percorridos pela corrente elétrica. Temos como exemplos a lâmpada de incandescência,
a lâmpada fluorescente, os led.
É sabido que a corrente elétrica tem, atualmente, um papel importantíssimo no
funcionamento global da grande maioria das instalações comerciais, industriais e de
lazer. A corrente elétrica, melhor dizendo, a energia elétrica tem permitido grandes
avanços na tecnologia, e esta, por sua vez, tem também proporcionado novas aplicações
para a energia elétrica.
Hoje em dia é impensável viver-se sem o recurso à eletricidade. Todos nós conhecemos
a angústia que sentimos quando falta a eletricidade durante algum tempo, nas nossas
casas.
4. Corrente contínua
4.1 Sentido real e sentido convencional
Conforme é sabido e já foi referido, são os eletrões que se deslocam nos condutores e
não os protões, os quais estão fixos no núcleo dos átomos.
O sentido real da corrente é o verdadeiro sentido do movimento dos eletrões, do corpo
(ou terminal) com potencial negativo para o positivo, conforme se sugere na figura.
Antigamente, quando se conhecia mal o fenómeno, a corrente elétrica era representada
do potencial positivo para o negativo, pois consideravam que eram cargas positivas que
se deslocavam. A este sentido da corrente, contrário ao sentido real, dá-se o nome de
sentido convencional. O sentido convencional ainda é hoje utilizado nos esquemas, por
comodidade de análise de circuitos e estabelecimento das equações elétricas.

Daqui em diante, iremos utilizar o sentido convencional da corrente, desde que nada
seja dito em contrário.

4.2 Gerador de corrente contínua. Força


eletromotriz
A corrente contínua é, como se disse, uma corrente unidirecional de valor constante, ao
longo do tempo.
Para manter constante o valor da corrente, existe o gerador de corrente contínua, que
pode ser uma pilha, uma bateria (associação de pilhas) ou mesmo um dínamo.
Atualmente, utilizam-se aparelhos chamados simplesmente «fontes de alimentação»,
construídos à base de dispositivos eletrónicos e que nos permitem regular facilmente a
tensão elétrica para o valor requerido.
Na figura representa-se um gerador a alimentar uma lâmpada de incandescência.
Vejamos então o princípio de funcionamento do gerador de corrente contínua.
Um gerador é, por definição, um aparelho que mantém constante a diferença de
potencial U aos seus terminais.
Quando ligamos o terminal positivo do gerador ao terminal A da lâmpada e o terminal
negativo do gerador ao terminal B da lâmpada, vai haver movimento de cargas elétricas
de um terminal para o outro, através dos condutores e percorrendo a lâmpada.
De acordo com o sentido convencional da corrente, «deslocar-se-ão» cargas positivas
do terminal positivo em direção ao negativo (segundo o sentido real, serão eletrões em
sentido contrário). Ora, se não existisse gerador, as cargas deslocavam-se uma única
vez, equilibravam-se os potenciais elétricos e a corrente terminava ao fim de pouco
tempo.
O gerador tem a função de repor a diferença de potencial original, deslocando
internamente cargas positivas, do terminal negativo para o positivo, mantendo assim
sempre constante a diferença de potencial ou tensão elétrica U.
A esta força do gerador que desloca internamente as cargas elétricas de forma a manter
a diferença de potencial dá-se o nome de força eletromotriz E. A força eletromotriz é,
também, expressa em volts (V). Desta forma, a lâmpada é alimentada continuamente,
com um valor de corrente constante.
O gerador é comparado à bomba de água que vai repondo água num depósito A (a um
nível superior) que está a verter água para um outro depósito B colocado a um nível
inferior, tal como se sugere na figura. Se não existisse a bomba, a água do depósito A
passava rapidamente para o depósito B, até igualarem os níveis, situação em que
deixava de haver corrente de água, ao fim de pouco tempo. O gerador tem o mesmo
papel no circuito elétrico.
Na figura representam-se os símbolos do gerador eletrodinâmico ou rotativo (dínamo) e
do gerador eletroquímico (pilha ou bateria), ambos de corrente contínua.
A força eletromotriz E de um gerador é igual à tensão elétrica ou diferença de potencial
U aos seus terminais, quando está em vazio, isto é, quando não fornece corrente elétrica
ao circuito.

4.3 Intensidade de corrente elétrica I


Quando um gerador alimenta uma lâmpada, por exemplo, fornece continuamente
cargas elétricas ao circuito. Isto é, a secção S dos condutores de alimentação é percorrida
por uma quantidade de eletricidade (ou carga elétrica) Q, continuamente.
Define-se intensidade de corrente elétrica I como a quantidade de eletricidade Q que
passa na secção do condutor em cada unidade de tempo t:

com:
I – intensidade de corrente (amperes – A)
Q – quantidade de eletricidade (coulombs – C)
t – tempo (segundos – s)
Em muitas situações práticas, como por exemplo no cálculo de secções de condutores e
fios de bobinas, há a necessidade de definir a grandeza densidade de corrente elétrica J
– que é a intensidade de corrente por unidade de secção do condutor:

com:
J – densidade de corrente (A/m2)
I – intensidade de corrente (A)
S – secção (m2)
Como se sabe, os diferentes recetores elétricos absorvem valores de corrente variados,
uns mais elevados e outros mais reduzidos. Podem também ser submetidos a diferentes
valores de tensão, desde valores muito reduzidos até valores bastante elevados. Por
comodidade, na representação matemática de alguns dos valores das grandezas,
principalmente os valores muito elevados e os valores muito baixos, utilizam-se
frequentemente múltiplos e submúltiplos.
Os submúltiplos mais comuns são:
mili (m) = 10–3 = 0,001
micro (μ) = 10–6 = 0,000001
nano (n) = 10–9
pico (p) = 10–12
Os múltiplos mais comuns são:
quilo (k) = 103 = 1000
mega (M) = 106 = 1 000 000
Ex.: 1 μA = 1 microampere = 0,000001 A
1 kV = 1 quilovolt = 1000 V
5. Energia e potência
Todos nós ouvimos diariamente falar em energia e em potência. Fala-se em energia
elétrica, em energia mecânica, em energia do Sol, diz-se que estamos com mais ou
menos energia, etc. Isto é, o conceito de energia é muito lato, utiliza-se em muitas
circunstâncias.
Não é, de facto, fácil definir o conceito de energia. Podemos, no entanto, dizer que a
energia W é a capacidade que um corpo tem de produzir trabalho. Produz-se trabalho
quando se modifica o estado físico, químico ou de movimento ou repouso de um corpo.
Por exemplo, produzimos trabalho quando: levantamos um peso, subimos umas
escadas, transportamos uma mala, empurramos um carro, etc. Em qualquer das
situações, exercemos uma ação sobre algo. Para produzir qualquer dos trabalhos
referidos, tivemos de despender energia. A energia que nós despendemos, vamos
buscá-la aos alimentos. Os alimentos, por sua vez, receberam, em última análise, a
energia do Sol. Isto é, a energia transforma-se em diferentes formas.
Portanto, quando falamos em energia, estamos a falar num conceito que assume
diferentes formas.
A potência P é, por definição, a energia despendida na unidade de tempo:

com:
W – energia ( Joules – J)
P – potência (watts – W)
t – tempo (segundos – s)
Tal como existem diferentes formas de energia, também existem as diferentes potências
correspondentes, nomeadamente: potência elétrica, potência mecânica, potência
calorífica. Mais adiante, voltaremos a falar sobre o assunto.
6. Resistência elétrica
6.1 Resistências lineares e não lineares
Conforme foi já referido, uma resistência linear apresenta um valor constante,
independentemente dos valores da intensidade e da tensão aplicada. A resistência «não
linear» não tem um valor constante com as grandezas referidas, podendo a sua variação
assumir diversos comportamentos.
Quando aplicamos sucessivos valores de tensão a uma resistência linear, ela será
percorrida por diferentes valores de intensidade, de tal forma que o quociente U/I é
constante e igual a R. A representação gráfica da função U(I) para uma resistência linear
é, por isso, uma reta, tal como se sugere na figura 14 a).
Se aplicarmos sucessivos valores de tensão a uma resistência «não linear», já o mesmo
não acontece, isto é, o quociente U/I não é constante. Deste modo, a representação
gráfica da função U(I) para este tipo de resistência é uma curva, tal como se exemplifica
na figura 14 b).
Um reóstato, por exemplo, é uma resistência linear, pois a sua resistência é constante
com a tensão aplicada, mas o filamento de uma lâmpada de incandescência não é uma
resistência linear, pois a sua resistência varia com a tensão aplicada.

6.2 A resistência e a resistividade, elétricas


Todos sabemos que existem materiais elétricos que oferecem mais ou menos
«resistência elétrica» à passagem da corrente elétrica. Já ouvimos dizer que a prata, o
cobre, o ouro ou o alumínio são bons condutores da corrente elétrica, e que a borracha, a
madeira, o plástico, o vidro, entre outros, são maus condutores da corrente, ou, melhor
dizendo, são isoladores da corrente elétrica.
Estamos, afinal, a dizer que os condutores têm uma resistência elétrica reduzida e que
os isoladores têm uma resistência elétrica muito elevada. De entre os condutores, ou de
entre os isoladores, a resistência elétrica varia de material para material, pois a estrutura
atómica e molecular varia de material para material.
A que é devida, afinal, a resistência elétrica de cada material?
Como se sabe, quando os eletrões se deslocam num condutor ou num recetor, chocam
(colidem) com os átomos circundantes, o que prejudica o fluir normal da corrente,
constituindo um obstáculo ao seu movimento. Os diferentes materiais têm,
evidentemente, estruturas atómicas e moleculares diferentes entre si e, portanto,
também diferentes «resistências elétricas».
Quanto mais comprido for o condutor maior será também o número de choques entre
eletrões e átomos; quanto menor for a secção do condutor, mais dificuldade têm os
eletrões em se movimentarem.
Concluímos, portanto, que a resistência elétrica R de um condutor depende
essencialmente de três fatores:
• natureza do condutor (resistividade elétrica r)
• comprimento do condutor (ℓ)
• secção do condutor (S)
Demonstra-se facilmente, no laboratório ou nas oficinas, que a resistência elétrica de um
condutor varia diretamente com a sua resistividade elétrica e com o seu comprimento e
inversamente com a sua secção, isto é:

Com as seguintes unidades, no Sistema Internacional:


R – resistência elétrica (ohms – Ω)
ρ – resistividade elétrica (ohms por metro – Ω ⋅ m-1)
ℓ – comprimento do condutor (metros – m)
S – secção do condutor (metros quadrados – m2)
Visto que as tabelas indicam normalmente a secção em milímetros quadrados (mm2),
então utilizam-se como unidades práticas, na fórmula anterior:
S – secção (milímetros quadrados – mm2)
ρ – resistividade elétrica (ohms ⋅ milímetros quadrados /metro – Ω . mm2/m)
Da expressão anterior, deduzem-se as seguintes:

Na figura 17 representa-se o símbolo da resistência elétrica, utilizada nos circuitos


elétricos. Os diferentes materiais utilizados no fabrico das resistências, bem como as
dimensões dos fios ou pistas, permitem obter diversificados valores para as mesmas.
A resistividade elétrica de um condutor define-se como o valor da sua resistência
elétrica quando o comprimento ℓ e a secção S são unitários (ℓ = 1 metro e s = 1 metro
quadrado).
Note-se que esta fórmula também se aplica a materiais isoladores, os quais têm
obviamente uma resistividade elétrica bastante mais elevada.

Na tabela 1, apresentamos valores da resistividade elétrica (a 20 ºC) de alguns dos


condutores mais utilizados.
6.3 Tipos de resistências elétricas lineares
As resistências elétricas são componentes passivos cujas principais funções são: limitar
o valor da intensidade da corrente elétrica (amperes) ou provocar uma queda de tensão
num dado ponto do circuito (volts). A estas duas principais funções está sempre
associada uma dada potência elétrica de dissipação P = R I2 (watts) na resistência, a que
corresponde um aumento de temperatura no seu corpo.
Existe uma grande variedade de resistências elétricas, quanto à sua constituição:
resistências de aglomerado de carvão, resistências de película de carvão, resistências
metálicas, resistências de óxidos metálicos, etc.
Para melhor compreensão das suas diferenças, elas são classificadas, na tabela 2, quanto
ao modo de funcionamento, quanto ao material de construção e quanto ao seu valor.
As resistências de carvão (de aglomerado de carvão ou de película de carvão) são
constituídas por um aglomerado de partículas de carvão ou de grafite com resina
(aglomerado de carvão) ou por películas de carvão, em hélice (película de carvão), sobre
um suporte isolante. São as resistências mais utilizadas em eletrónica, pois são as mais
baratas e são fabricadas para uma elevada gama de valores (desde décimas de ohm a
milhões de ohms), com potências reduzidas (1/8 W, 1/4 W, 1/2 W, 1 W, 2 W, 3 W). São
instáveis (as suas propriedades podem alterar-se com facilidade), têm geralmente uma
tolerância (erro) elevada e um coeficiente de temperatura negativo.
A resistência de película metálica é constituída por películas metálicas, em hélice, sobre
uma camada muito fina de ouro (para facilitar a aderência), a envolver um suporte
isolante cerâmico. Têm melhor tolerância do que as de carvão, são mais estáveis e têm
um coeficiente de temperatura positivo.
A resistência bobinada é constituída por fios de cobre-níquel, cobre-magnésio, etc.,
enrolados sobre um suporte de porcelana e de vidro. O seu valor depende do diâmetro
do fio utilizado, do seu comprimento e ainda da resistividade elétrica do material
constituinte. Têm baixa tolerância, sendo utilizadas em aparelhagem de precisão. São
fabricadas para potências mais elevadas que as anteriores (desde poucos watts a
centenas ou milhares de watts).
Os reóstatos e os potenciómetros também são muito utilizados em eletrónica,
permitindo variar a tensão aplicada ao circuito ou a uma parte dele ou variar a
intensidade de corrente num dado componente. Os reóstatos e os potenciómetros
utilizados, seja em eletrónica seja em eletrotecnia, possuem três terminais que lhes
permitem executar as suas funções.
A simbologia frequentemente utilizada para representar as resistências elétricas (umas
normalizadas e outras não) é a seguinte:

O componente designado por «resistência elétrica» (os brasileiros chamam-lhe


«resistor») é caraterizado pelas seguintes grandezas e caraterísticas:
• Resistência nominal — R — em ohms (Ω);
• Potência nominal — P — em watts (W);
• Tolerância — em percentagem (%);
• Sistema de identificação (código de cores ou código alfanumérico);
• Tipo de patas: axial ou radial.
A consulta dos catálogos destes componentes, bem como dos restantes, dá-nos, não só
as suas caraterísticas elétricas gerais, mas também as suas dimensões, que se tornam
importantes para a execução das placas de circuitos impressos.
As resistências elétricas têm uma grande amplitude de valores, variando desde
centésimos de ohms até vários milhões de ohms. Utilizam-se, por isso, os seguintes
múltiplos:
Mega – M = 106
Kilo – K = 103
As resistências utilizadas em eletrónica têm, geralmente, dimensões reduzidas, quando
comparadas com as resistências utilizadas em eletrotecnia. Dadas as suas reduzidas
dimensões, houve necessidade de definir um processo de identificar cada uma delas de
uma forma simples e que fosse o mais indelével possível. Foram assim criados os
códigos das resistências. Existem dois tipos de códigos de resistências: o código de
cores e o código alfanumérico.
O código de cores consiste em atribuir uma cor a cada algarismo do valor da
resistência, bem como à sua tolerância. Existem códigos com 4 cores e códigos com 5
cores. O código de 4 cores é utilizado em resistências de baixa precisão (entre ± 5% e ±
20%). O código de 5 cores é utilizado em resistências de precisão (entre ± 1% e ± 2%). As
cores são marcadas no corpo da resistência, em faixas finas, em todo o seu contorno,
conforme se sugere na figura 20.
As faixas A, B e C correspondem aos 1.°, 2.° e 3.° algarismos da resistência (a contar da
esquerda); a faixa D corresponde ao fator multiplicador; a faixa E corresponde à
tolerância. A primeira faixa (A) – correspondente ao 1.° algarismo – é a que se encontra
mais perto de uma das extremidades do corpo da resistência.
Enquanto no código de 5 cores existem sempre 5 faixas (A, B, C, D, E), no código de 4
cores podem existir 4 faixas (A, B, D, E) ou apenas 3 faixas (A, B, D). A ausência da 4.ª
faixa (E) significa que a tolerância é de ± 20%, pelo que não é necessário apresentá-la no
corpo da resistência. Na prática, podemos ter, portanto, 5, 4 ou 3 cores pintadas.
O valor da resistência obtém-se, portanto, comparando as cores pintadas no corpo da
resistência com os valores indicados na tabela da figura 20.

No código alfanumérico, o valor de R vem indicado diretamente no corpo da


resistência, através de algarismos e letras, com a seguinte correspondência: R –
unidades; K – milhares; M – milhões.
Vejamos os seguintes exemplos:
1R = 1 Ω; 1K = 1 kΩ
1M = 1 MΩ; 1R2 = 1,2 Ω
2K4 = 2,4 kΩ; 3M6 = 3,6 MΩ; etc.
As resistências elétricas são fabricadas para potências elétricas diferentes, sendo as mais
usuais: as de baixa potência, com os seguintes valores: 1/8 W, 1/4 W, 1/2 W, 1 W, 2 W.
As suas dimensões vão aumentando com a potência. Na figura 21 apresentamos as
verdadeiras dimensões destas resistências. Na figura 22 apresentamos o
encapsulamento (dimensões e formas) de uma dada resistência, com os valores
indicados em milímetros.
Na tabela 3 apresenta-se um resumo das principais propriedades e aplicações das
resistências elétricas.
6.4 Tipos de resistências elétricas não lineares
6.4.1 Termistências (ou termístores) CTP e CTN
As resistências CTP (Coeficiente de Temperatura Positivo) têm a particularidade de o
valor da sua resistência aumentar bastante com a temperatura.
As resistências CTN (Coeficiente de Temperatura Negativo) têm a particularidade de o
valor da resistência diminuir com o aumento da temperatura.
Exemplifiquemos:
Uma resistência linear de carvão (α = –1200 × 10–6 °C–1) de 470 kΩ (a 25 °C) teria a 80 °C:
R80 = 470 × 103 × [1 – 1200 × 10–6 × (80 – 25) = 439 kΩ

Uma resistência «não linear» do tipo CTN (α = –15 000 × 10–6) de 470 kΩ (a 25 °C) teria
a 80 °C:
R80 = 470 × {1 – 15 000 × 10–6 × (80 – 25)] = 82,25 kΩ

Comparando os dois resultados, conclui-se facilmente a grande influência da


temperatura no valor das resistências «não lineares».
As resistências CTN são fabricadas à base de óxidos semicondutores de alguns metais,
como o crómio, o cobalto, o níquel, o manganês e o ferro. Fabricam-se sob diversas
formas, das quais representamos algumas na figura. Têm aplicações na medição de
temperaturas, proteção de circuitos, estabilização da tensão, etc.

As resistências CTP são fabricadas à base de titanatos de bário e de estrôncio. Têm


aplicações como limitadoras da intensidade de corrente em circuitos e máquinas
elétricas, na proteção destes mesmos circuitos, e em particular de motores, contra
temperaturas exageradas. Na figura 25 representa-se a curva caraterística de uma destas
resistências. O facto de a resistência aumentar com a temperatura permite limitar o
valor da intensidade no circuito, se estiver inserida em série.

6.4.2 Resistências VDR (resistências dependentes da tensão)


ou varístores
São resistências cujo valor depende da tensão que lhe é aplicada, apresentando portanto
uma curva não linear. São fabricadas à base de carbonetos de silício. Têm como
principal aplicação a proteção de circuitos contra sobretensões, nomeadamente nas
linhas aéreas, como para-raios.

6.4.3 Resistências LDR (fotorresistências)


São resistências cujo valor óhmico decresce à medida que aumenta a intensidade
luminosa. São por isso resistências sensíveis à luz que sobre elas incide. São fabricadas à
base de sulfureto de cádmio, selénio, etc. Entre as várias aplicações, referiremos: como
interruptor de crepúsculo (liga um circuito de iluminação artificial, quando falta a luz
natural); nos fotómetros das máquinas fotográficas; na deteção de incêndios; no
controlo automático de luzes de alguns automóveis.

6.5 Variação da resistência elétrica com a


temperatura
Acabámos de afirmar que a resistência elétrica depende essencialmente de três fatores:
resistividade elétrica, comprimento e secção. Na verdade, estes são os principais fatores,
mas a resistência elétrica varia também com a temperatura; etc.
Como sabemos da física e da química, quando a temperatura de um condutor aumenta,
também aumenta a agitação térmica das suas estruturas atómica e molecular. Nos
condutores, esta maior agitação térmica conduz a um maior número de choques entre
eletrões e átomos, o que corresponde a um aumento da sua resistência elétrica.
Portanto, quanto maior for a temperatura de um condutor, maior será a sua resistência
elétrica.
Esta relação é expressa, matematicamente, através da seguinte expressão:
R2 = R1 . [1 + α . (t2 – t1)] 1)
com:
R2 – resistência final (ohms), à temperatura final
R1 – resistência inicial (ohms), à temperatura inicial
t2 – temperatura final (°C)
t1 – temperatura inicial (°C)
α – coeficiente de temperatura (°C–1)
O coeficiente de temperatura α é uma constante para cada material e depende apenas
da sua estrutura atómica e molecular. Deve dizer-se ainda que a resistência elétrica
aumenta com a temperatura porque a sua resistividade elétrica também aumenta,
através de uma forma semelhante:
ρ2 = ρ1 . [1 + α . (t2 – t1)] 2)
Isto quer dizer que, se calcularmos o valor de ρ2 à nova temperatura t2, utilizando a
expressão 2), podemos calcular o novo valor de R2 utilizando a expressão R2 = ρ2 . ℓ/s,
em vez de utilizar a expressão 1). Há, portanto, dois processos de calcular o valor de R2
à temperatura t2.
Na tabela 1 (Materiais condutores e resistentes), apresentamos os coeficientes de
temperatura de alguns materiais.
A variação da resistência elétrica dos materiais com a temperatura tem, como é óbvio,
diferentes implicações – vantagens e inconvenientes. Vejamos algumas delas.
1) Os filamentos das lâmpadas de incandescência aumentam bastante a sua resistência
elétrica com a temperatura, o que é uma vantagem, pois permite que a lâmpada forneça
maior potência elétrica.
2) Há materiais condutores que não podem ser utilizados no fabrico de resistências de
precisão, como o cobre, o alumínio, a prata, etc. Com efeito, a resistência elétrica destes
materiais varia consideravelmente com a temperatura, pois apresentam coeficientes de
temperaturas elevados, para o efeito desejado. Devem ser utilizados o constantan ou a
manganina no fabrico das resistências de precisão.
3) A variação da resistência elétrica dos materiais com a temperatura, seja baixa ou
elevada, permite em muitas situações conhecer a temperatura de funcionamento de
aparelhagem e maquinaria elétrica, sendo utilizados como sondas térmicas.
PROBLEMAS – Resistência elétrica, variação com a temperatura
P1 – Uma bobina tem 600 metros de fio de cobre de secção igual a 1,5 mm2. Calcule:
a) A resistência elétrica do fio da bobina (a 20 °C).
b) A resistência elétrica que teria este fio se estivesse submetido a uma temperatura de
45 °C.
Resolução:
a) Consultando a tabela 1, obtemos o valor da resistividade elétrica do cobre a 20 °C,
que é: ρ20 = 0,017 Ω . mm2/m. A resistência elétrica a 20 °C é obtida:

b) A resistência elétrica a 45 °C é calculada pela expressão:


R2 = R1 [1 + α (t2 – t1)] = 6,8 × [1 + 0,004 × (45 – 20)] =
= 6,8 × (1 + 0,004 × 25) = 6,8 × (1 + 0,1) = 6,8 × 1,1 = 7,48 α
Nota: O valor de α (a 20 °C) do cobre é obtido pela tabela 1.
P2 – Uma resistência elétrica de constantan tem o valor de 250 Ω. Sabe-se que o fio tem
uma secção de 1 mm2. Calcule:
a) O comprimento do fio.
b) O valor da resistência elétrica a 50 °C.
Solução: a) 500 metros; b) 250,075 Ω.
P3 – A resistência elétrica de um condutor de alumínio é de 1,68 Ω. Sabendo que o
comprimento do fio é de 150 metros, calcule:
a) A secção do fio.
b) A resistência elétrica do fio a 60 °C.
Solução: a) 2,5 mm2; b) 1,95 Ω.

6.6 Caraterísticas gerais das resistências


elétricas
1) Resistência nominal – Valor que serviu de base à sua construção, o qual é marcado
na sua superfície exterior. É expresso em ohms. Exemplo: R = 500 Ω.
2) Tolerância – Erro (percentual) admissível no fabrico da resistência; o erro pode ser
positivo ou negativo. Ex.: 100 Ω ± 5% quer dizer que esta resistência de 100 Ω tem
margem de erro possível de ± 5% × 100 Ω = ± 5 Ω; o verdadeiro valor da resistência
situar-se-á, portanto, entre 95 Ω e 105 Ω.
As tolerâncias usuais são: ± 20%, ± 10%, ± 5%, ± 2%, ± 1% e < 1%. De uso geral, temos
as de > 5%; de semiprecisão de 1 a 5%; de precisão, de 0,5 a 1%; e as de ultraprecisão,
são < 0,5%.
3) Potência nominal – Potência que a resistência pode dissipar, a uma temperatura
ambiente indicada pelo fabricante. Quanto maior for a temperatura menor será a
potência que a resistência pode dissipar. Para resistências de baixa potência, alguns dos
valores normalizados são: 1/8W, 1/4W, 1/2W, 1W, 2W, 4W, etc. As resistências de
elevada potência atingem alguns milhares de watts.
Nota: Nas resistências bobinadas utilizadas nos laboratórios de eletrotecnia (resistências de potência elevada), é
frequente vir indicado o valor da intensidade nominal, em vez da potência nominal.

4) Tensão nominal – Tensão máxima a aplicar à resistência, de acordo com o valor R da


resistência nominal e da sua potência nominal. É calculada por:

5) Coeficiente de temperatura (α) – É a variação do valor da resistência quando se


verifica a variação de 1 °C na sua temperatura. Estes coeficientes, para cada material,
são fornecidos por tabelas e vêm expressos em °C–1, conforme vimos já anteriormente.
Quando os coeficientes têm valores muito reduzidos, vêm frequentemente expressos
em p.p.m. °C–1 (parte por milhão °C–1). Ex.: α = 0,5 × 10–6 °C–1 = 0,5 p.p.m. °C–1.
6) Classe ou estabilidade – É a variação percentual do valor de uma resistência, em
relação ao valor original, ao fim de 5000 horas de funcionamento, à temperatura de 20
°C e à potência nominal.
7) Tensão de ruído – É uma tensão elétrica gerada na resistência, quando é percorrida
por corrente, devido ao movimento desordenado dos eletrões livres. Esta tensão
depende essencialmente do material utilizado no fabrico das resistências. É expressa em
µV/V.

6.7 Valores normalizados das resistências


elétricas
Não há necessidade de fabricar resistências com todos os valores nominais possíveis.
Com efeito, em virtude de as resistências terem as suas tolerâncias próprias (margens de
erro admissíveis), não faz sentido fabricar, por exemplo, simultaneamente resistências
de 100 Ω e 105 Ω com tolerância de ± 10%. Na verdade, constata-se facilmente que ±
10% × 100 Ω = ± 10 Ω, o que quer dizer que o verdadeiro valor da resistência de 100 Ω se
situa entre 100 – 10 = 90 Ω e 100 + 10 = 110 Ω, o que engloba a resistência de 105 Ω.
Portanto, para a tolerância de ± 10% e admitindo o fabrico da resistência de 100 Ω, não
há necessidade de fabricar qualquer outra resistência entre 90 Ω e 110 Ω. O mesmo se
passa, evidentemente, para outros valores e outras tolerâncias.
Assim, para racionalizar o seu fabrico, os valores foram normalizados, sendo agrupados
em séries de resistências, em função das tolerâncias conhecidas. São as seguintes as
séries:

Cada década é o conjunto dos valores inteiros situados entre duas potências de base 10
mais próximas.
Vejamos alguns exemplos de décadas de resistências.
1) Década entre 0,1 Ω (= 10–1 Ω) e 1 Ω (= 100 Ω).
2) Década entre 1 Ω (= 100 Ω) e 10 Ω (= 101 Ω).
3) Década entre 10 Ω e 100 Ω.
4) Década entre 100 Ω e 1000 Ω, etc.
Assim, na década de 100 Ω a 1000 Ω (ou outra década qualquer), teremos sempre:
• 6 resistências da série E6 (20% de tolerância);
• 12 resistências da série E12 (10% de tolerância);
• 24 resistências da série E24 (5% de tolerância) e assim sucessivamente.
Na tabela 5, apresentamos as séries E6, E12, E24 e E48 na década de 100 Ω a 1000 Ω.
A questão que se põe é a de saber como obter cada um dos valores das séries, indicados
no quadro.
Vejamos então uma série para melhor compreendermos o assunto.
A série E6 (de tolerância ± 20%) é constituída, na década de 100 Ω a 1000 Ω, pelas
seguintes resistências (de acordo com a tabela 5):
Série E6 (± 20%): 100 Ω, 150 Ω , 220 Ω, 330 Ω, 470 Ω, 680 Ω
Vejamos por que razão, a seguir a 100 Ω, temos a resistência de 150 Ω e não outra, na
série E6. A resistência de 100 Ω tem, à tolerância de ± 20%, um valor real que se situará
entre:
Rmin = 100 Ω – 20% × 100 Ω = 80 Ω e Rmáx = 100 Ω + 20% × 100 Ω =120 Ω
A resistência de 150 Ω tem, à tolerância de ± 20%, um valor real que se situará entre:
Rmin= 150 Ω – 20% × 150 Ω =120 Ω e Rmáx = 150 Ω + 20% × 150 Ω = 180 Ω

Ora, se repararmos, Rmáx da resistência de 100 Ω e Rmin da resistência de 150 Ω são iguais
entre si e de valor igual a 120 Ω. Concluímos, portanto, que nesta série a resistência
subsequente a 100 Ω só pode ser a de 150 Ω. O mesmo raciocínio seria aplicado às
restantes resistências desta e das outras séries. Note, no entanto, que cada série tem a
sua tolerância própria.
De referir também que os valores das resistências das restantes décadas se obtêm
facilmente a partir dos valores da década indicada na tabela 5, dividindo ou
multiplicando-os por potências de 10.
Exemplifiquemos.
A série E6 (± 20%), por exemplo, tem os seguintes valores nas seguintes décadas:
• Década de 100 Ω a 1000 Ω: 100, 150, 220, 330, 470, 680 Ω
• Década de 10 Ω a 100 Ω: 10, 15, 22, 33, 47, 68 Ω
• Década de 1000 Ω a 10 000 Ω: 1000, 1500, 2200, 3300, 4700, 6800 Ω
Para outras séries e outras décadas, o raciocínio seria semelhante.
7. Circuito elétrico
7.1 Constituição
Um circuito elétrico é constituído por um ou mais geradores elétricos que alimentam os
seus recetores, com a respetiva aparelhagem de ligação, corte, comando, proteção e
medida.
Evidentemente que há circuitos elétricos mais ou menos complexos, com mais ou
menos aparelhos, os quais dependem afinal da função e objetivos que se pretende
atingir com os mesmos.
Em nossas casas, temos diferentes circuitos elétricos protegidos individualmente pelo
seu disjuntor. No laboratório, podemos montar diferentes circuitos elétricos. Numa
fábrica, temos uma instalação elétrica geral com diferentes circuitos elétricos
(parcelares), para funções diferentes.
Os principais elementos que constituem um circuito elétrico são os seguintes:

Na figura, representamos o esquema elétrico multifilar de um circuito elétrico.

Diz-se que um circuito está aberto (interruptor K desligado) quando não há passagem
de corrente (I = 0) no circuito.
Diz-se que um circuito está fechado (interruptor K ligado) quando há passagem de
corrente (I ≠ 0) no circuito.
O circuito representado tem alguns dos elementos que normalmente o constituem.
Assim, temos:
• Um gerador G que fornece uma corrente elétrica constante ao circuito.
• Dois recetores (uma lâmpada L e um motor M) que recebem energia da fonte de
alimentação (gerador G).
• Três aparelhos de medida: um voltímetro V, um amperímetro A e um wattímetro W.
O voltímetro mede a tensão aplicada ao circuito e fornecida pelo gerador. O
amperímetro mede a intensidade de corrente I que percorre o circuito. O wattímetro
mede a potência elétrica no circuito (mais tarde, definiremos potência elétrica).
• Um corta-circuitos fusível F para proteger o circuito.
• Um interruptor K para comandar (ligar e desligar) o circuito.
• Condutores de ligação.
Analisemos melhor os principais elementos de um circuito elétrico.

7.2 Descrição e função de cada elemento


7.2.1 O gerador
A função do gerador é manter constante a tensão aplicada ao circuito, de forma que os
recetores sejam alimentados por uma corrente constante.
Existem diferentes tipos de geradores: geradores eletrodinâmicos e geradores
eletroquímicos.
O gerador eletrodinâmico, como é o caso do dínamo e do alternador, transforma
energia mecânica em energia elétrica. O dínamo fornece corrente contínua; o alternador
fornece corrente alternada. São máquinas rotativas.
O gerador eletroquímico, como é o caso da pilha e da bateria (associação de pilhas),
transforma energia química em energia elétrica. Ambos fornecem corrente contínua. São
geradores estáticos.
Quadro 1 – Diferentes tipos de geradores
Para além destes geradores, existem ainda as designadas «fontes de alimentação» à base
de dispositivos eletrónicos, que são alimentadas pela corrente alternada da rede e
fornecem uma tensão contínua regulável, de acordo com a necessidade do circuito.
7.2.2 Condutores e isoladores
O condutor elétrico é um elemento indispensável em qualquer circuito elétrico ou
instalação elétrica, por mais simples que sejam. Estabelece a ligação entre a alimentação
e os recetores, bem como com os restantes elementos do circuito elétrico. Visto que será
percorrido pela corrente que alimenta o recetor, o condutor deve ter uma resistência
elétrica o mais baixo possível, para evitar que se perca (ou dissipe) muita energia
durante o trajeto desde o gerador até ao recetor.
O melhor condutor é aquele que tem menor resistência elétrica, isto é, menor
resistividade elétrica. Na tabela 1, vimos que o melhor condutor é a prata, mas
infelizmente a prata é mais cara do que o cobre, pelo que é o cobre que normalmente se
utiliza como condutor, na maioria das instalações elétricas. Há, no entanto, situações em
que não é o cobre o utilizado, pois nesses casos há outras razões para escolher outros
materiais condutores.
Utiliza-se a prata em alguns contactos elétricos que se pretende sejam resistentes e que
não oxidem.
Utiliza-se o alumínio em algumas linhas elétricas, de forma a diminuir o seu peso, para
evitar que elas caiam devido ao peso da neve, do gelo, etc.
Utiliza-se o ouro em alguns contactos elétricos especiais e no fabrico das pistas dos
circuitos impressos, visto que não oxida e tem excelente condutibilidade elétrica.
Os condutores utilizados nas instalações elétricas são constituídos por alma condutora e
por um isolador elétrico. Os condutores são normalmente revestidos por um material
isolador elétrico (geralmente o policloreto de vinilo – PVC), que tem a função de
proteger o condutor, mas também as pessoas contra contactos elétricos que podem ser
perigosos, em determinadas circunstâncias. Aliás, qualquer aparelho, gerador, recetor,
etc., está normalmente convenientemente isolado, de forma a evitar os contactos
elétricos perigosos. Como materiais isoladores, são também utilizados frequentemente:
a borracha, o polietileno, a porcelana, a baquelite, o papel, o óleo mineral, o ar, etc.
7.2.3 Aparelhos de proteção
Segundo as Regras Técnicas de Instalações Elétricas de Baixa Tensão – R.T.I.E.B.T. –, as
instalações devem ser protegidas por aparelhos de proteção «destinados a impedir ou a
limitar os efeitos perigosos ou prejudiciais da energia elétrica».
A função do aparelho de proteção é proteger, não só a instalação elétrica, mas também o
utilizador, sempre que há um defeito no circuito.
Num circuito elétrico, podem ocorrer os seguintes defeitos: sobrecargas, curtos-
circuitos, fugas de corrente, sobretensões e subtensões. Os principais aparelhos de
proteção utilizados são: os corta-circuitos fusíveis, os disjuntores (eletromagnéticos,
magnetotérmicos, diferenciais, etc.), os relés térmicos e os disjuntores de sobretensão.
Nas figuras seguintes representam-se alguns aparelhos de proteção.
Uma sobrecarga consiste num aumento de corrente num recetor ou numa instalação
elétrica, geralmente não muito elevado em relação ao valor de referência (corrente
estipulada), durante um período relativamente prolongado. Por exemplo, um circuito
protegido por um disjuntor de 16A pode ser percorrido por uma intensidade de 18A
durante algum tempo, sem o disjuntor disparar – diz-se que o circuito está em
sobrecarga. A proteção dos circuitos contra sobrecargas é geralmente feita por
disjuntores magnetotérmicos.
Um curto-circuito consiste num contacto acidental entre os condutores positivo e
negativo (em corrente contínua) ou entre a fase e o neutro (em corrente alternada) ou
entre duas ou mais fases (em sistema trifásico). O curto-circuito corresponde a um
aumento muito acentuado da corrente elétrica numa instalação, bruscamente, isto é,
num espaço de tempo muito curto. Os efeitos do curto-circuito são sempre mais
prejudiciais do que os da sobrecarga.
Na figura representa-se, esquematicamente, um circuito elétrico em duas situações
distintas: sem curto-circuito e com curto-circuito.
No exemplo apresentado, a corrente de curto-circuito Icc atingiu o valor de 100A,
quando o circuito estava a absorver normalmente 1A. Note que a corrente deixou de
passar pelo recetor (IR ≈ 0).
A proteção contra curtos-circuitos pode ser feita por corta-circuitos fusíveis ou por
disjuntores magnetotérmicos.
As fugas de corrente acontecem quando há deficiências de isolamento nos circuitos
elétricos. Quando isso acontece, o utilizador pode apanhar um «choque elétrico». Para o
evitar, os circuitos devem estar protegidos por interruptores diferenciais ou por
disjuntores diferenciais, e o condutor de proteção deve fazer parte desses circuitos.
As sobretensões são subidas bruscas da tensão elétrica na rede. São causadas, na maior
parte dos casos, por descargas elétricas, de origem atmosférica, sobre as linhas elétricas,
mas também provocadas por falsas manobras na rede. As linhas são normalmente
protegidas por para-raios, os quais nem sempre atuam com toda a segurança; as
instalações elétricas são protegidas localmente por disjuntores de sobretensão,
construídos à base de resistências VDR. Em qualquer dos casos, apercebemo-nos em
casa, frequentemente, de que houve um aumento de tensão momentâneo, o qual pode
ser prejudicial principalmente para o material informático ligado à rede.
7.2.4 Aparelhos de comando e corte
Qualquer circuito elétrico necessita sempre de aparelhos de comando ou de corte, os
quais permitem ligar e desligar o circuito elétrico, a partir de um ou de vários locais.
Os aparelhos de comando e corte mais usuais são: o interruptor (de diversos tipos e
modelos), o comutador de lustre, o comutador de escada, o contactor, o telerruptor, o
automático de escada, etc.
Os aparelhos de corte são concebidos para determinados valores nominais das
grandezas elétricas. Por exemplo, um interruptor com uma corrente estipulada IN = 10
A e uma tensão estipulada UN = 230 V quer dizer que pode cortar intensidades até 10 A
e ser ligado em instalações até 230 V.
7.2.5 Aparelhos de medida e contagem
A aparelhagem de medida é indispensável em muitas instalações elétricas, por questões
de segurança ou para controlar ou mesmo registar os valores das grandezas elétricas.
Como aparelhos de medida mais vulgares, temos: o voltímetro – mede a tensão elétrica
do circuito ou do recetor e é ligado em paralelo com a alimentação ou com o recetor; o
amperímetro – mede a intensidade de corrente no circuito e é ligado em série com os
recetores; o wattímetro – mede a potência elétrica absorvida pelo recetor; o multímetro –
pode medir diferentes grandezas (tensão, intensidade, resistência elétrica, capacidades,
etc.), desde que convenientemente ligado. Temos ainda o contador de energia, que é o
aparelho que totaliza (em quilowatt por hora) a energia elétrica consumida numa
instalação.
7.2.6 Aparelhos de regulação
Os aparelhos de regulação permitem variar ou regular as grandezas para valores
predeterminados. Nos nossos laboratórios, utilizam-se bastante dois aparelhos que
permitem regular a intensidade e a tensão elétrica nos circuitos, que são: o reóstato e o
potenciómetro. Assim, fabricam-se reóstatos e potenciómetros para baixas potências
(utilizados em eletrónica) e para médias potências (utilizados em eletrotecnia).
Existe mesmo o reóstato potenciométrico que pode ser utilizado com três funções, a
que correspondem três formas de ligação diferentes, conforme se sugere na figura.
Este dispõe de três terminais: dois deles (terminais 1 e 3) em posição de contacto fixa e
um terceiro (terminal 2) ligado a um cursor C móvel. Este cursor permite variar o valor
da resistência elétrica intercalada no circuito, desde que liguemos o terminal 2 ao
circuito.
Assim, se ligarmos ao circuito os terminais 1 e 3 (figura 40b), ele funciona como
resistência fixa – a intensidade de corrente I é constante.
Se ligarmos um terminal fixo (1 ou 3) e o terminal 2 do cursor (figura 40c), ele funciona
como reóstato, o que permite variar a intensidade I.
Se ligarmos os três terminais, tal como se sugere na figura d), ele funciona como
potenciómetro, o que permite variar a tensão elétrica aplicada ao recetor (desde 0 até à
tensão U da alimentação).
Os reóstatos e os potenciómetros têm normalmente indicado no seu corpo ou na sua
chapa de caraterísticas o valor da resistência máxima (ex: 100 Ω), o valor da
intensidade máxima admissível (ex: 1A) ou o valor da potência máxima de dissipação
(ex: 0,5W).
Outro aparelho de regulação muito utilizado nas nossas casas é o regulador de fluxo
luminoso, também designado de «dimmer», o qual permite variar, aumentando ou
diminuindo, o fluxo luminoso das lâmpadas.
7.2.7 Recetores
Um recetor é um aparelho que transforma a energia elétrica em outras formas de
energia. Temos, portanto, diferentes tipos de recetores. Vejamos alguns exemplos.
• Recetores de aquecimento – transformam a energia elétrica em energia calorífica
(irradiadores, ferros de engomar, torradeiras, etc.).
• Recetores de iluminação – transformam a energia elétrica em energia luminosa e
também em energia calorífica (lâmpadas de incandescência, fluorescentes, etc.).
• Recetores de força-motriz – transformam a energia elétrica em energia mecânica
(máquinas de lavar, aspiradores, ventiladores, etc.).
• Recetores eletroquímicos – transformam a energia elétrica em energia química
(acumuladores, cubas de eletrólise, etc.).
7.2.8 Componentes ativos e passivos diversos
Para além dos elementos descritos nas alíneas anteriores, existem ainda muitos outros
componentes que fazem parte de circuitos elétricos e eletrónicos, nomeadamente:
díodos, transístores (BJT, Fet, UJT, PUT, etc.), tirístores (SCR e Triac), ampop,
reguladores de tensão, osciladores, temporizadores, entre outros.
Os diferentes elementos de um circuito elétrico ou eletrónico dividem-se em dois
grandes grupos: elementos ativos e elementos passivos.
Elementos ativos são aqueles que geram energia elétrica, como por exemplo: dínamos,
alternadores, baterias, fontes de alimentação, bem como díodos, transístores e ampop. O
díodo, transístor e o ampop são considerados ativos porque têm um determinado ganho
de corrente ou de tensão, permitindo assim alterar os seus valores.
Elementos passivos são os que recebem e transformam a energia elétrica noutra forma
de energia, como, por exemplo: resistências, bobinas, condensadores, led, lâmpadas,
motores, etc.

Um circuito elétrico normal é, portanto, constituído por um elemento ativo, pelo menos,
e por um, ou mais, elementos passivos, para além da restante aparelhagem de corte, de
comando e de proteção.
Na figura 42 representa-se um amplificador elementar constituído por dois elementos e
vários elementos passivos.
8. Lei de Ohm
Vimos já que existem diferentes tipos de recetores, que provocam diferentes
transformações energéticas.
A Lei de Ohm, que agora estudamos, aplica-se apenas aos recetores ditos resistivos e
lineares.
Um recetor resistivo é aquele que apresenta apenas «resistência elétrica» (mais tarde,
veremos que há recetores que têm reatância indutiva, reatância capacitiva, etc.); isto é,
não possuem reatância indutiva ou capacitiva. São exemplos de recetores resistivos: o
reóstato, o potenciómetro, a resistência propriamente dita, o irradiador, etc.
Um recetor diz-se linear quando mantém constantes as suas caraterísticas, em toda a
sua extensão e independentemente da corrente que o percorre e da tensão aplicada.
Façamos a montagem indicada na figura.

A fonte de alimentação F.A. permite-nos variar a tensão U aplicada ao recetor R


(reóstato, por exemplo). Com o voltímetro V, medimos a tensão U aplicada; com o
amperímetro A, medimos a intensidade de corrente que percorre o recetor R. Ligando o
interruptor K, aplicámos sucessivos valores de tensão, tendo registado as leituras de
tensão U e de corrente I indicadas no Quadro.
Constatamos, imediatamente, que a intensidade I vai aumentando com a tensão U
aplicada. Ao efetuarmos o quociente U / I entre a tensão U aplicada ao recetor e a
intensidade I que o percorre, nos diferentes ensaios, constatámos que a razão era
constante, isto é:

Nota: Evidentemente que, durante os ensaios, nem sempre o quociente dá exatamente o mesmo valor, pois há sempre
pequenos erros dos aparelhos de medida, erros de leitura, etc.

Georg Simon Ohm chegou exatamente a esta conclusão em 1827, tendo enunciado a
seguinte lei, à qual foi dado mais tarde o seu nome:
Lei de Ohm – É constante o quociente entre a tensão aplicada a um condutor linear (ou
a um recetor resistivo e linear) e a intensidade de corrente que o percorre. A esta
constante de proporcionalidade dá-se o nome de resistência elétrica R. A lei de Ohm é
traduzida matematicamente por:

com:
R – resistência elétrica (em ohms – Ω )
U – tensão aplicada (em volts – V)
I – intensidade de corrente (em amperes – A)
A resistência elétrica de um recetor resistivo e linear pode também ser obtida
graficamente, tal como se representa na figura.

Verifica-se que o gráfico U (I) corresponde exatamente a uma reta, devido ao facto de o
recetor ser linear.
Se não obtivéssemos uma reta, então era porque o recetor não era linear e, portanto, não
poderíamos aplicar a Lei de Ohm ou então era porque teria havido alguma leitura
errada.
A partir da expressão anterior da Lei de Ohm, podemos facilmente obter outras
expressões:

Isto é, conhecido o valor de R, podemos calcular os valores de I para diferentes valores


de U aplicados, ou podemos calcular os valores da tensão U aplicada ao recetor, para
diferentes valores de intensidade.
A lei de Ohm é utilizada na medição de resistências elétricas, utilizando o método
voltamperimétrico, que consiste em medir a tensão aplicada ao componente ou ao
recetor, medir a intensidade de corrente no componente ou no recetor e, finalmente,
calcular a resistência, pela Lei de Ohm: R = U / I. Geralmente, são efetuadas várias
leituras de U e de I e calculados vários valores de R, fazendo-se depois a média
aritmética dos valores calculados:

PROBLEMAS – Lei de Ohm


P1 – Uma resistência linear é percorrida por uma intensidade de 0,3 A quando
submetida a uma tensão de 24 V. Calcule:
a) O valor da resistência.
b) O valor da intensidade que ela absorveria se lhe aplicássemos uma tensão de 15 V.
Resolução:

P2 – Uma resistência elétrica absorve 3 A quando ligada a 230 V. Calcule o valor da


tensão que lhe é aplicada quando ela absorve 1,2 A.
Resolução:

P3 – Uma dada resistência de aquecimento de 50 Ω é normalmente ligada a 230 V.


Calcule o valor da resistência que deveria ser acrescentada de modo que ela absorvesse
3A da rede.
Solução:
26,7 Ω
P4 – Fez-se um ensaio laboratorial com uma resistência elétrica, a partir do qual
construímos o quadro ao lado.
Complete o quadro.

Resolução:
Ao cuidado do aluno.
P5 – Um reóstato tem indicado na sua chapa de caraterísticas os seguintes valores: 200
Ω e 1,3 A.
Calcule:
a) A tensão máxima que se lhe pode aplicar.
b) A intensidade que ele absorve, se lhe aplicarmos 120 V.
c) O valor da tensão que se lhe deve aplicar para que ele absorva 0,4 A.
Solução:
a) 260 V; b) 0,6 A; c) 80 V.
P6 – Uma dada resistência elétrica absorve 0,5 A. Ao aumentar a resistência para 100 Ω,
passou a absorver 0,2 A . Calcule:
a) A tensão aplicada.
b) A resistência inicial.
Solução:
a) 20 V; b) 40 Ω.
9. Geradores
9.1 Tipos de geradores
Gerador é o dispositivo que fornece energia elétrica. Podemos classificar o gerador em:
gerador real e gerador ideal. O gerador real tem uma dada resistência interna r ≠ 0; o
gerador ideal tem uma resistência interna nula: r = 0. Evidentemente que não há
geradores ideais; o que há são geradores com resistência interna muito baixa, que se
aproximam do gerador ideal.
Conforme vimos já, existem, quanto à constituição, basicamente, dois tipos de
geradores: o gerador eletrodinâmico e o gerador eletroquímico.
O gerador eletrodinâmico é um gerador que transforma a energia mecânica em elétrica.
É um gerador rotativo.
O gerador eletroquímico transforma a energia química em elétrica. É um gerador
estático.
Temos como exemplos de geradores eletrodinâmicos: o dínamo e o alternador. O
dínamo fornece corrente contínua. O alternador fornece corrente alternada.
Como exemplos de geradores eletroquímicos, temos as pilhas e as baterias de
acumuladores.
Existem diferentes tipos de pilhas e de baterias, consoante os tipos de elétrodos e os
seus eletrólitos.
Basicamente, uma pilha é constituída por dois elétrodos de materiais diferentes que são
mergulhados ou embebidos numa solução eletrolítica condutora. Na figura, representa-
se o princípio de funcionamento da primeira pilha que foi inventada por Volta, em 1799
– a pilha de Volta.

O elétrodo positivo – ânodo – é em cobre, o elétrodo negativo – cátodo – é em zinco, e o


eletrólito é uma solução de ácido sulfúrico. Como se sabe, da química, o ácido sulfúrico
(em solução) decompõe-se nos seus iões H+ (positivo) e SO42– (negativo).
• No cátodo: Os iões SO42– são atraídos pelo zinco, reagindo e libertando eletrões no
cátodo:
SO42– + Zn → SO4 Zn + 2 e
• No ânodo: Os iões H+ são atraídos pelo cobre, reagindo e captando eletrões ao ânodo:
2 H+ + 2 e → H2
Quer isto dizer que o cátodo fica negativo, pois libertam-se aí eletrões; o ânodo fica
positivo, pois forneceu eletrões para originar o hidrogénio.
A pilha de Volta é, portanto, um gerador, pois possui permanentemente um elétrodo
positivo (ânodo) e um elétrodo negativo (cátodo), podendo assim alimentar o recetor R
em permanência, com uma intensidade de corrente I. Na figura 45, o voltímetro V mede
a tensão ou diferença de potencial aos terminais da pilha.
As restantes pilhas ou acumuladores têm princípios de funcionamento semelhantes,
embora com elétrodos e soluções diferentes. Uma bateria de acumuladores não é mais
do que uma associação de pilhas em série, em paralelo ou associação mista. No quadro,
apresentamos as principais caraterísticas de algumas das pilhas existentes no mercado.

9.2 Força eletromotriz do gerador


Vimos já que um gerador é um aparelho que se carateriza por manter sensivelmente
constante a diferença de potencial aos seus terminais, de forma a alimentar os recetores
com uma tensão constante.
O gerador tem, por isso, uma força eletromotriz interna que lhe permite manter sempre
constante a diferença de potencial aos seus terminais, conforme estudámos em ponto
anterior. A força eletromotriz E do gerador é medida com um voltímetro aos seus
terminais, quando ele não alimenta qualquer recetor (I = 0), isto é, quando se encontra
em vazio. Na figura representa-se o esquema elétrico que permite efectuar o ensaio para
medir a força eletromotriz de um gerador.
9.3 Resistência interna do gerador
Qualquer gerador (eletrodinâmico ou eletroquímico) possui sempre um determinado
valor de resistência interna r. No gerador eletrodinâmico, esta resistência interna
corresponde essencialmente à resistência elétrica dos próprios enrolamentos, pelo que
pode ser medida diretamente com um ohmímetro ou com um multímetro. No caso dos
geradores eletroquímicos, a resistência interna é provocada pelo próprio eletrólito e
elétrodos respetivos, pelo que a resistência interna não pode ser medida diretamente,
mas antes calculada, a partir de ensaios efetuados, conforme se compreenderá no
seguimento.
Quando um gerador alimenta um recetor R, isto é, quando lhe fornece uma dada
intensidade I, verifica-se uma queda de tensão interna no gerador ΔU que, de acordo
com a lei de Ohm, é calculada pela expressão:
ΔU = r · I
com:
ΔU – queda de tensão interna do gerador (volts – V)
r – resistência interna do gerador (ohms – Ω)
I – intensidade de corrente (amperes – A)
Ora, se se verifica uma queda de tensão interna ΔU quando o gerador alimenta o
recetor, então ele nunca fornece ao recetor a força eletromotriz E, mas um valor de
tensão U inferior a E, conforme vamos ver de seguida.

9.4 Gerador em carga


Diz-se que um gerador está em carga quando ele alimenta um dado recetor fornecendo-
lhe um determinado valor de intensidade I.
Na figura representamos um esquema elétrico que nos permite fazer o ensaio em vazio
e o ensaio em carga de um gerador.
Quando o interruptor K está aberto, o gerador está em vazio, e o voltímetro V mede o
valor da f.e.m. (força eletromotriz) E do gerador, isto é, teremos:
U = E (K aberto)
Quando o interruptor K está fechado (ligado), então o circuito vai ser percorrido por
uma intensidade de corrente I. Esta corrente vai provocar uma queda de tensão interna
no gerador ΔU = r · I, pelo que o voltímetro já não mede a f.e.m. E, mas um valor
inferior, a tensão U, que pode também ser calculada por:
U = E – ΔU = E – r · I (K fechado)
com:
E – força eletromotriz (volts)
U – tensão em carga (volts)
ΔU – queda de tensão interna (volts)
r – resistência interna (ohms)
I – intensidade de corrente (amperes)
Isto quer dizer que a tensão aplicada ao recetor nunca é a f.e.m. E, mas a tensão U, que é
ligeiramente inferior.
Por outro lado, segundo a Lei de Ohm, aplicada agora ao recetor R, teremos também
que :
U=RI
com:
U – tensão aplicada ao recetor (volts)
R – resistência elétrica do recetor (ohms)
I – intensidade que o percorre (amperes)
Visto que a tensão U pode ser obtida por duas expressões (U = E – r I e U = R I), se as
igualarmos, obteremos:

o que nos permite calcular a intensidade de corrente fornecida ao recetor, conhecidos r,


E e R.
Conhecido o valor de I, podemos então calcular as restantes grandezas:
ΔU = r I e U = E – ΔU.
Na figura 47, se variarmos o cursor do reóstato R, a intensidade I também varia, logo, a
tensão U irá variar, permitindo-nos obter um gráfico da tensão em função da corrente U
= f ( I ), conforme se sugere na figura 48. A queda de tensão interna do gerador vai
variando, obviamente, com a intensidade I, sendo tanto mais elevada quanto maior for
a intensidade.

9.5 Determinação da resistência interna de um


gerador
A resistência interna de um gerador pode ser determinada por dois processos, a partir
de ensaios efetuados. O primeiro processo utiliza a expressão apresentada no ponto
anterior, que, por manipulação matemática, permite obter:

Assim, para obter o valor de r a partir desta última expressão, é necessário: efetuar um
ensaio em vazio (sem carga), para determinar a força eletromotriz E; e efetuar um
ensaio em carga, para determinar o valor da tensão U correspondente a uma dada
corrente de carga I:
• Ensaio em vazio ⇒ Força eletromotriz E
• Ensaio em carga ⇒ Tensão em carga U e intensidade I
• Cálculo da resistência interna:

O segundo processo utiliza uma expressão que é obtida a partir de dois ensaios em
carga do gerador. Assim, se fizermos dois ensaios em carga diferentes, com tensões U1,
I1 e U2, I2, obtemos as expressões matemáticas:
E = U1 + r I1 e E = U2 + r I2
Igualando as duas expressões, pois que a força eletromotriz E é constante, obtemos:
U1 + r I1 = U2 + r I2
Desta igualdade, explicitamos em ordem a r e obtemos a resistência interna r:

Qualquer das duas fórmulas é muito utilizada no cálculo da resistência interna dos
geradores eletroquímicos. No caso dos geradores eletrodinâmicos, elas também podem
ser utilizadas, mas é mais prático e mais rápido utilizar o ohmímetro ou o multímetro
na medição direta da respetiva resistência interna. Estes aparelhos já não podem ser
utilizados na medição direta da resistência interna dos geradores eletroquímicos.

9.6 Associação de geradores


Os geradores podem ser ligados, entre si, de diferentes formas: em série, em paralelo e
em associação mista.
9.6.1 Associação em série
Diz-se que dois ou mais geradores estão ligados em série quando se liga o terminal
positivo de um ao terminal negativo de outro, e assim sucessivamente, tal como se
representa na figura.

Esta associação é geralmente feita com geradores que possuem as mesmas caraterísticas
(força eletromotriz E e resistência interna r). O objetivo da associação em série é
aumentar a força eletromotriz total e, portanto, a tensão total U a aplicar a um circuito
ou instalação elétrica.
Assim, a associação em série de geradores é caraterizada pelas seguintes relações:
1) A força eletromotriz total ET é a soma das forças eletromotrizes parciais:
ET = n E
2) A resistência interna total rT é a soma das resistências internas parciais:
rT = n r
3) A intensidade de corrente I é a mesma em todos os geradores.
9.6.2 Associação em paralelo de geradores iguais
Diz-se que dois ou mais geradores são ligados em paralelo quando os seus terminais
positivos são ligados entre si (+ com +) e os seus terminais negativos também entre si (–
com –), tal como se sugere na figura.
Normalmente ligam-se em paralelo geradores que possuem as mesmas caraterísticas.
Esta associação é feita quando se pretende aumentar o valor da intensidade de corrente
I, isto é, quando o recetor R exige mais corrente do que aquela que um só gerador
consegue fornecer. Repare que quando a intensidade fornecida por um gerador é muito
elevada, produz-se uma queda de tensão interna ΔU = r I também elevada, reduzindo
bastante o valor da tensão U que o gerador devia fornecer. Daí a necessidade de ligar
vários geradores em paralelo, de forma que cada um deles forneça menos corrente,
reduzindo assim a queda de tensão no circuito.
Esta associação é caraterizada pelas seguintes relações:
1) A força eletromotriz total ET é igual à força eletromotriz de cada gerador:
ET = E
2) A resistência interna total rT de n geradores é inferior à resistência interna de cada
gerador, sendo calculada por:

3) A intensidade total IT fornecida é igual à soma das intensidades fornecidas por cada
gerador:
IT = n I

9.6.3 Associação em paralelo de geradores diferentes


(Teorema de Millman)
A associação em paralelo de geradores diferentes, isto é, com diferentes forças
eletromotrizes ou de diferentes resistências internas, não pode ser, obviamente,
calculada pelo processo descrito no ponto anterior. Nesta situação, temos de socorrer-
nos de um processo novo que é explicado pelo Teorema de Millman. Observe o
esquema representado na figura 51, constituído por três geradores ligados em paralelo,
com forças eletromotrizes E1, E2, E3 e resistências internas r1, r2, r3. Pretende-se calcular a
tensão UAB entre os terminais A e B desta associação.
De acordo com o Teorema de Millman, a tensão UAB calcula-se pela expressão:

(Teorema de Millman)
Se o circuito tivesse quatro geradores, acrescentar-se-ia mais uma parcela ao numerador
e outra ao denominador, e assim sucessivamente. Isto é, para n geradores, teríamos:

Obtínhamos assim um gerador equivalente com força eletromotriz global E e resistência


interna global r, tal como se sugere na figura 52.

9.6.4 Associação mista de geradores


A associação mista de geradores consiste em ligar em paralelo duas ou mais
associações-série, conforme se sugere na figura. Ela tem, simultaneamente, as vantagens
da associação-série e as da associação-paralelo, isto é, permite aumentar a tensão total
bem como a intensidade total.
9.6.5 Aplicações das associações de geradores
Conforme foi já estudado, a associação-série de geradores permite obter uma tensão
mais elevada, o que possibilita responder às necessidades diferentes dos recetores e
electrodomésticos existentes no mercado. Todos sabemos que são fabricadas pilhas de
1,5 V e baterias de 3 V, 4,5 V, 9 V, 12 V, 24 V, etc., que são associações de elementos (de
1,5 V ou 2 V) ligados em série. Por exemplo, as baterias dos automóveis são associações
de 6 elementos de 2 V ligados em série, perfazendo os 12 V.
A associação-paralelo de geradores permite, conforme foi já visto, aumentar a
intensidade total fornecida, de forma a responder às necessidades de certos ou recetores
ou instalações que «consomem» bastante corrente. Por exemplo, as baterias utilizadas
em redes de emergência ou de socorro são geralmente associações em paralelo ou
mistas, consoante as necessidades de tensão e corrente.
A associação mista permite, não só aumentar a tensão, como também a intensidade
fornecida, reunindo as vantagens das duas anteriores.
PROBLEMAS – Geradores. Associações
P1 – Uma bateria, com uma f.e.m. de 12 V e uma resistência interna de 0,1 Ω, alimenta
um recetor R com uma intensidade de 5 A. Calcule:
a) A queda de tensão interna da bateria.
b) A tensão U aos terminais do recetor.
c) A resistência do recetor.
d) O valor que o recetor deveria ter para que U = 11 V.

Resolução:
a) ΔU = r I = 0,1 × 5 = 0,5 V
b) U = E – r I = 12 – 0,5 = 11,5 V

P2 – Dispõe de 4 pilhas de 1,5 V cada e com uma resistência interna de 0,1 Ω cada.
Calcule:
a) Os valores de ET e rT , se as ligar em série.
b) Os valores de ET e rT , se as ligar em paralelo.
c) A tensão aplicada a um recetor, quando ligadas em série, sabendo que a corrente
fornecida é de 0,3 A.
d) A tensão aplicada a um recetor, quando ligadas em paralelo, sabendo que a corrente
fornecida é de 0,5 A.
Resolução:
a) ET = n E = 4 × 1,5 = 6 V; rT = 4 × 0,1 = 0,4 Ω

d) U = ET – rT · I = 6 – 0,4 × 0,3 = 6 – 0,12 = 5,88 V


e) U = ET – rT · I = 1,5 – 0,025 × 0,5 = 1,5 – 0,0125 = 1,49 V
P3 – Uma instalação elétrica é constituída por três baterias diferentes ligadas em
paralelo, com os seguintes valores: E1 = 12 V, r1 = 0,1 Ω, E2 = 12,5 V, r2 = 0,15 Ω, E3 = 11,5
V, r3 = 0,08 Ω. Calcule a tensão aos seus terminais (tensão em vazio) e a resistência
interna equivalente da instalação.
Resolução:
Utilizando o Teorema de Millman, obtemos:

P4 – Três dínamos iguais, ligados em paralelo, alimentam um conjunto de recetores. Os


dínamos têm as seguintes caraterísticas individuais: E = 230 V, r = 1,2 Ω. Sabe-se que a
tensão aplicada às cargas é de 220 V. Calcule:
a) As caraterísticas do gerador equivalente (ET e rT).
b) A intensidade total fornecida.
c) A intensidade fornecida por cada gerador.
d) A queda de tensão interna de cada gerador.
e) A resistência RT dos recetores.
Solução:
a) ET = 230 V; rT = 0,4 Ω; b) 25 A; c) 8,33 A; d) 10 V; e) 8,8 Ω.
P5 – Um dínamo fornece 6,2 A a um conjunto de recetores cuja resistência total é de 36,3
Ω. A resistência interna do dínamo é de 1,1 Ω. Calcule:
a) A tensão aplicada aos recetores.
b) A força eletromotriz do dínamo.
c) A queda de tensão interna.
Solução:
a) 225 V; b) 231,9 V; c) 6,9 V.
P6 – Determine a resistência interna de um gerador, utilizando os dois processos
estudados, sabendo que foram feitos três ensaios de que resultaram as seguintes
leituras:
• Ensaio em vazio: U = 6,2 V
• Ensaio em carga 1: U1 = 5,9 V, I1 = 2,23 A
• Ensaio em carga 2: U2 = 6 V, I2 = 1,5 A
Solução:
r = 0,135 Ω (ou 0,133 Ω, consoante o ensaio em carga utilizado) e r = 0,137 Ω (utilizando
os dois ensaios em carga).
P7 – Uma instalação elétrica é constituída por três baterias diferentes ligadas em
paralelo, com os seguintes valores: E1 = 24 V, r1 = 0,23 Ω, E2 = 25 V, r2 = 0,3 Ω, E3 = 23 V,
r3 = 0,25 Ω. Calcule a tensão aos seus terminais (tensão em vazio) e a resistência interna
equivalente da instalação.
Solução:
23,94 V; 0,0856 Ω
P8 – Dez pilhas iguais ligadas em série, com 1,5 V de f.e.m. cada, alimentam um recetor
de 33 Ω com uma intensidade de 0,4 A . Calcule:
a) A f.e.m. do gerador equivalente.
b) A tensão aplicada ao recetor.
c) A queda de tensão total e a queda de tensão de cada pilha.
d) A resistência interna de cada pilha.
Solução:
a) 15 V; b) 13,2 V; c) 1,8 V; 0,18 V; d) 0,45 Ω.
10. Recetores
Define-se recetor ou aparelho de utilização como o aparelho que transforma a energia
elétrica no outra forma de energia. Compreende-se, portanto, que haja diferentes tipos
de recetores, com finalidades diversas. Vejamos alguns dos tipos de recetores.

10.1 Tipos de recetores


Recetores térmicos – Transformam a energia elétrica em energia calorífica. Pretende-se,
portanto, utilizar a energia calorífica produzida neste recetor com diferentes fins. Temos
como exemplos: a torradeira, o ferro de engomar, o irradiador, etc.
Recetores luminosos – Transformam a energia elétrica em energia luminosa. Temos a
lâmpada de incandescência, a lâmpada fluorescente, a lâmpada de néon, etc. Estes
recetores, para além de energia luminosa, também produzem energia calorífica.
Recetores químicos – Transformam a energia elétrica em química. Temos o acumulador
que armazena energia elétrica, sob a forma química. Temos as cubas de eletrólise da
água, onde se separa o oxigénio e o hidrogénio, a partir da água acidulada.
Recetores de força contraeletromotriz – São recetores especiais, como é o caso do motor
elétrico, do acumulador, da cuba de eletrólise, que, ao serem alimentados, produzem
uma força contraeletromotriz, conforme iremos ver adiante.

10.2 Associação de recetores


Os recetores, assim como os geradores, também podem ser ligados entre si em série, em
paralelo e em associação mista. Diz-se que dois ou mais recetores são ligados em série
quando são percorridos pela mesma intensidade de corrente. Na figura representa-se a
associação em série de três lâmpadas incandescentes L1, L2 e L3.

Esta associação permite que a tensão em cada lâmpada seja inferior à tensão total U
aplicada ao circuito, permitindo-nos assim utilizar lâmpadas com tensões nominais
inferiores à da rede. Tem, contudo, a desvantagem de, no caso de uma lâmpada se
fundir, as restantes ficarem sem corrente. É o caso das lâmpadas utilizadas nas árvores
de Natal, em que, ao fundir uma, fica todo o conjunto sem iluminação.
Diz-se que dois ou mais recetores são ligados em paralelo quando são submetidos à
mesma tensão elétrica da rede U. Na figura representam-se três recetores diferentes –
uma resistência R, um motor M e uma lâmpada L – submetidos à mesma tensão U.
A tensão entre A e B é igual à tensão entre C e D, igual à tensão entre E e F e igual à
tensão da rede U. A intensidade absorvida por cada recetor é que poderá ser diferente,
dependendo das caraterísticas de cada recetor. Este tipo de associação é o mais
vulgarmente utilizado (nomeadamente nas nossas casas e em instalações comerciais,
industriais, etc., na medida em que torna os recetores independentes uns dos outros.
Por exemplo, se ligarmos, em nossa casa, um aspirador, um aquecedor e um secador de
cabelo à mesma tomada elétrica, através de uma ficha tripla, estamos a ligá-los em
paralelo, funcionando aqueles independentes uns dos outros. Se desligarmos o secador,
os outros dois continuam a funcionar da mesma forma.
A associação mista de recetores consiste em ligar uns recetores em série e outros em
paralelo, das mais diversas formas. Na figura representamos três lâmpadas em
associação mista.
Este tipo de associação encontra-se normalmente em circuitos eletrónicos, em circuitos
impressos, fazendo parte de equipamentos e aparelhagem muito diversa (aparelhagem
de medida, aparelhagem de áudio e vídeo, etc.). Evidentemente que, em laboratório, são
frequentemente efetuadas montagens de que fazem parte associações mistas de
componentes.

De entre os diferentes recetores, os recetores térmicos (ou resistivos), caraterizados por


possuírem um determinado valor de resistência R, são aqueles que se utilizam com
maior frequência nas instalações elétricas. Vamos, por isso, estudá-los de seguida.

10.3 Associação de recetores térmicos (ou


resistências)
Os recetores térmicos são caraterizados por possuírem um determinado valor de
resistência constante e não possuírem força contraeletromotriz. Neste ponto, iremos
estudar apenas a associação destes recetores. Para simplificar o raciocínio, vamos
representá-los daqui em diante pela sua própria resistência R, nos circuitos elétricos.
Quando falamos em recetores térmicos, estamos portanto a falar de torradeiras,
irradiadores, ferros de engomar, secadores de cabelo, resistências de aquecimento, etc.
Vejamos então cada uma das associações.
10.3.1 Associação em série de resistências
Uma associação em série de duas ou mais resistências é caraterizada pelas seguintes
condições:
1) A intensidade de corrente é comum às diferentes resistências.
2) Cada resistência fica submetida a uma tensão inferior à tensão total aplicada.
Na figura representamos uma associação em série de dois recetores com resistências R1
= 50 Ω e R2 = 100 Ω, alimentados por uma fonte de 15 V. Ligamos também um
amperímetro para medir a intensidade de corrente I e três voltímetros (um para medir a
tensão total aplicada e os outros dois para medirem a tensão em cada uma das
resistências).

O voltímetro V está em paralelo com todo o circuito, portanto mede a tensão total
aplicada U = 15 V. O voltímetro V1 está em paralelo apenas com R1, portanto mede a
tensão U1 aos terminais de R1. O voltímetro V2 está ligado em paralelo com R2, portanto
mede a tensão U2 aos terminais de R2.
Efetuámos um ensaio laboratorial com a montagem correspondente ao esquema
indicado na figura anterior e obtivemos o quadro de leituras seguinte:

Da análise do quadro, tirámos as seguintes conclusões:


1) U = U1 + U2 ⇔ 5 V + 10 V ⇔ 15 V = 15 V
isto é, a tensão total aplicada U é igual à soma das tensões parciais U1 e U2.
isto é, confirma-se a Lei de Ohm aplicada ao recetor R1.

isto é, confirma-se a Lei de Ohm aplicada ao recetor R2.

Ora, R1 + R2 = 50 + 100 = 150 Ω.


Concluímos portanto, experimentalmente, que: RT = R1 + R2.
Vejamos agora, do ponto de vista da evolução do potencial elétrico ao longo do circuito,
por que tem de ser assim.
Visto que a corrente I é a mesma em todo o circuito, então ela, ao percorrer R1 e R2,
provoca em cada uma delas uma «queda de tensão», que é expressa, de acordo com a
Lei de Ohm, por:
U1 = R1 · I e U2 = R2 · I
Isto é, o potencial elétrico de 15 V que existia, à partida, no terminal A vai diminuindo
progressivamente, depois de cada resistência, até que no ponto E tem o potencial de 0
V. Note que os pontos E e F estão ao mesmo potencial elétrico (0 V), pois são ligados
apenas por um condutor; os pontos A e B também estão ao mesmo potencial elétrico (+
15 V), pois são ligados entre si por um condutor; os pontos C e D também estão ao
mesmo potencial (+ 10 V), pela razão já referida.
Na figura representa-se graficamente a evolução do potencial elétrico no circuito
anterior, entre os pontos A e F.
Analisemos o gráfico.
Entre A e B não há variação de potencial elétrico, ou seja, A e B estão ambos ao
potencial elétrico de 15 V ou ΔUAB = 0 V (nota: ΔU quer dizer variação de potencial ou
queda de tensão). Entre B e C, aos terminais de R1, há uma queda de tensão de 5 V, isto
é, o potencial de C é agora de 10 V. O ponto D está ao potencial de C, isto é, ΔUCD = 0 V .
Entre D e E, aos terminais de R2, há uma nova queda de tensão, agora de 10 V, isto é, o
potencial de E passou para 0 V, pois 10 V – 10 V = 0 V. Finalmente, o ponto F está ao
potencial de E, ou seja, 0 V.
Isto é, a tensão total U é igual à soma das quedas de tensão nas resistências:
U = U1 + U2
15 V = 5 V + 10 V
Se o circuito, em vez de duas resistências, tivesse n resistências, então teríamos a
seguinte igualdade:
U = U1 + U2 + …… + Un
Vejamos agora qual a relação matemática existente entre a resistência total do circuito
RT e as resistências parciais R1 e R2, numa associação em série. Aplicando a Lei de Ohm
a cada resistência, obtemos:
U1 = R1 · I e U2 = R2 · I
Sabendo que U = U1 + U2 e somando as duas expressões anteriores, obtemos:
U = U1 + U2 = R1 · I + R2 · I = (R1 + R2) I = RT I
Temos, portanto:
U = RT · I com RT = R1 + R2
Isto é, a resistência total (ou resistência equivalente) da associação série é igual à
soma das resistências parciais.
Aplicando estas fórmulas ao circuito anterior, calculamos:

U1 = R1 · I = 50 × 0,1 = 5 V e U2 = R2 · I = 100 × 0,1 = 10 V


conforme apresentámos no gráfico anterior.
Se o circuito, em vez de duas, tiver n resistências, então teremos:
RT = R1 + R2 + …… + Rn
A resistência total equivalente é uma resistência que substitui todas as existentes no
circuito, sem alterar o valor da intensidade, ou seja, sem alterar o consumo de energia.
Em resumo, são as seguintes as caraterísticas de uma associação em série:
1) A intensidade é a mesma em todas as resistências
2) A tensão total aplicada é igual à soma das tensões parciais em diferentes resistências:
U = U1 + U2 + …… + Un
3) A resistência total equivalente é igual à soma das resistências parciais:
RT = R1 + R2 + …… + Rn
4) As tensões parciais em cada resistência são, de acordo com a Lei de Ohm,
diretamente proporcionais aos valores das resistências:
U1 = R1 · I, U2 = R2 · I, etc .
Ao pretendermos efetuar qualquer ensaio laboratorial com resistências (como aliás com
quaisquer recetores), deve prestar-se uma particular atenção à tensão máxima que se
aplica a cada uma delas ou à intensidade máxima que cada uma delas pode suportar,
sem se danificarem. Deve, por isso, fazer-se um cálculo prévio (dimensionamento),
antes de se efetuar a montagem.
Em eletrónica, são feitas, muitas vezes, associações de resistências, de forma a obter um
dado valor que não se encontra num só componente ou quando não temos esse
componente.
• Aplicações da associação em série
A associação em série de resistências é utilizada com diversas finalidades, servindo de
base ao princípio de funcionamento de alguns aparelhos. Vejamos alguns exemplos.
A – Aumento (extensão) do campo de medida de voltímetros
Cada voltímetro tem os seus campos de medida próprios, isto é, valores máximos de
tensão que cada um pode medir. Suponhamos, por exemplo, um voltímetro que mede
tensões até 250 V e que esse voltímetro tem uma resistência interna total de 125 kΩ.
Então, se ligarmos em série uma resistência de igual valor, o voltímetro poderá medir
tensões até ao dobro: UT = 250 + 250 = 500 V.
B – Divisores de tensão e potenciómetros
Frequentemente, necessitamos de aplicar a um recetor uma tensão U’ inferior à tensão
de que dispomos. Vamos supor que temos uma bateria de 12 V, mas que só
necessitamos de 8 V. Como faríamos?
Bom, se não tivermos uma fonte de tensão variável (fonte de alimentação, por exemplo),
então teremos de fazer um divisor de tensão ou utilizar um potenciómetro (já estudado
anteriormente).
Na figura representamos, esquematicamente, as duas situações, com divisor de tensão e
com potenciómetro:

O divisor de tensão consiste em ligarmos em série duas resistências, com valores


previamente definidos de forma a provocarem as quedas de tensão pretendidas – no
nosso caso, pretendemos ter 8 V em R1 e o resto (12 V – 8 V = 4 V) em R2, ou vice-versa.
Demonstra-se facilmente que, relativamente à figura a), temos:

O potenciómetro, conforme vimos anteriormente, tem três terminais: dois fixos, ligados
à alimentação, e um ligado ao cursor C móvel, que permite variar a tensão aplicada ao
recetor. O princípio de funcionamento é o mesmo do divisor de tensão, isto é, da
associação de resistências, provocando duas quedas de tensão, em que se utiliza apenas
uma delas para aplicar ao recetor, tal como se sugere na figura.
PROBLEMAS – Associação de resistências em série
P1 – Três resistências de 6 Ω, 9 Ω e 15 Ω são ligadas em série, sob uma tensão total de 24
V. Calcule:
a) A resistência equivalente da associação (RT).
b) A intensidade de corrente no circuito.
c) A tensão aos terminais de cada resistência.
Resolução:
a) RT = R1 + R2 + R3 = 6 + 9 + 15 = 30 Ω

c) U1 = R1 · I = 6 × 0,8 = 4,8 V; U2 = R2 · I = 9 × 0,8 = 7,2 V;


U3 = R3 · I = 15 × 0,8 = 12 V
P2 – Quatro resistências iguais são ligadas em série, sob 48 V. Sabendo que RT = 30 Ω,
calcule:
a) A resistência elétrica de cada uma.
b) A tensão aplicada a cada uma.
Resolução:

P3 – Três resistências ligadas em série, percorridas por uma intensidade de 1,2 A, têm
aos seus terminais as tensões U1 = 2,4 V, U2 = 3,6 V e U3 = 6 V. Calcule:
a) O valor de cada resistência.
b) A tensão aplicada ao circuito.
Solução:
a) 2 kΩ; 3kΩ; 5kΩ; b) 12 V.
P4 – Quatro resistências são ligadas em série. Sabe-se que R1 = 3 Ω, R2 = 2 R1, R3 = 3 R2 e
R4 = 1,5 R3. Sabendo que a intensidade de corrente é de 500 mA, calcule:
a) Os valores de R2, R3 e R4.
b) A resistência total equivalente.
c) A tensão aplicada a cada resistência.
d) A tensão total aplicada.
Solução:
a) 6 Ω; 18 Ω; 27 Ω; b) 54 Ω; c) 1,5 V; 3 V; 9 V; 13,5 V; d) 27 V
P5 – Um cabo (com dois condutores) em cobre, com 40 metros de comprimento, com
secção (por condutor) de 4 mm2, alimenta um conjunto de recetores, sob uma tensão UR
= 230 V. Sabendo que a intensidade no circuito é de 16A, calcule:
a) A resistência total do cabo.
b) A queda de tensão no cabo (ΔU).
c) A tensão no início do cabo (U1).
d) A queda de tensão no cabo, em percentagem de U1.
Solução:
a) 340 mΩ; b) 5,44 V; c) 235,44 V; d) 2,37%
P6 – Pretende-se construir um divisor de tensão que forneça as tensões de 4 V, 8 V e 12
V. A corrente fornecida deve ser de 20 mA. Calcule:
a) A tensão total da fonte.
b) O valor de cada resistência do divisor de tensão.
c) A resistência total equivalente.
Solução:
a) 24 V; b) 200 Ω; 400 Ω; 600 Ω; c) 1,2 kΩ (ou 1K2).
P7 – Temos um voltímetro com resistência interna total Rt = 500 kΩ que mede tensões
entre 0 V e 150 V. Pretendemos que o voltímetro passe a medir tensões entre 0 V e 250
V. Qual deve ser a resistência a ligar em série com a existente?
Solução:
333,3 kΩ
10.3.2 Associação em paralelo de resistências
Uma associação de resistências em paralelo é caraterizada por se encontrarem todas
submetidas à mesma tensão elétrica, tal como se sugere na figura.

A tensão U = 10 V é aplicada à associação de resistências, portanto, cada uma delas está


submetida a 10 V. Os pontos A e B têm o nome de nós – pontos de convergência ou de
divergência de correntes. Os dois trajetos entre os nós A e B, através das duas
resistências, têm o nome de ramos.
Se ligássemos, individualmente, cada uma das resistências à rede de tensão U, então a
resistência R1 absorveria uma corrente de valor I1, e a resistência R2 absorveria uma
corrente de valor I2. Ligando-as, simultaneamente, à mesma tensão U, é fácil de concluir
que as duas resistências absorvem em conjunto uma intensidade total I = I1 + I2 que é a
soma das intensidades parciais em cada ramo.
O Quadro de Leituras sugere esta relação entre correntes.

I = I1 +I2 ⇔ 0,15 = 0,1 + 0,05


A associação de resistências em paralelo comporta-se como um divisor de corrente,
pois a corrente total I vai sendo dividida, sucessivamente, por tantos ramos quanto o
número de resistências em paralelo.
Vejamos, no caso da associação em paralelo, como relacionar a resistência total
equivalente RT com as resistências parciais (R1, R2, ....) de cada uma.
Segundo a Lei de Ohm, aplicada a cada resistência, obtemos:

Substituindo cada uma destas expressões na fórmula I = I1 + I2, obtemos:

Se repararmos, o quociente I/U é o inverso da resistência total da associação (ver


figura), pois U/I = RT:

Substituindo 2) em 1), obtemos, para duas resistências em paralelo:

Se, em vez de duas, tivermos n resistências em paralelo, será:


isto é, o inverso da resistência total é igual à soma dos inversos das resistências parciais.
A expressão 3), para duas resistências, pode ainda assumir outro aspeto, mais prático:

Se ligarmos em paralelo n resistências iguais, o cálculo de RT virá facilitado, pois


teremos:

Isto é, a resistência total equivalente a n resistências iguais será n vezes menor do que o
valor de uma só resistência.
Em síntese, numa associação em paralelo, temos as seguintes condições:
1) A tensão é igual em todas as resistências: U1 = U2 = ....... = Un.
2) A intensidade total é igual à soma das intensidades parciais: I = I1 + I2 + ...... + In.
3) O inverso da resistência total é igual à soma dos inversos das resistências parciais.
4) A resistência total equivalente é sempre menor do que a menor das resistências
parciais (confirme esta afirmação, atribuindo valores).
• Aplicações da associação em paralelo
A associação de resistências em paralelo tem muitas aplicações, pois permite alimentar
simultaneamente diferentes recetores sem que uns interfiram no funcionamento dos
outros, isto é, funcionem independentemente.
Há, no entanto, algumas aplicações particulares, como nomeadamente, o aumento (ou
extensão) do campo de medida dos amperímetros.
Suponhamos, por exemplo, que temos um amperímetro que só mede corrente até 1 A e
que a instalação onde vai ser ligado tem uma corrente de 3 A. Como podemos resolver
este problema sem ter de comprar outro amperímetro?
É simples. Liga-se em paralelo com o amperímetro uma resistência com o valor
conveniente (previamente calculado), de forma a ser percorrida por 3 – 1 = 2 A. Isto é, o
amperímetro é percorrido por 1 A, a resistência em paralelo (ou resistência-shunt) será
percorrida por 2 A e, portanto, a corrente total que alimenta o recetor será IT = 1 + 2 = 3
A.
Ou seja, quando o amperímetro marcar 1 A nós, já sabemos que a corrente total no
recetor será de 3 A, conforme se sugere na figura.
Que valor deverá ter então a resistência-shunt Rs?
Suponhamos que a resistência interna do amperímetro é RA = 1,5 Ω. Então, a queda de
tensão interna máxima será:
UA = RA · IA = 1,5 × 1 = 1,5 V
Esta tensão fica também aplicada a Rs, que está ligada em paralelo com o amperímetro,
pelo que teremos:

E é desta forma tão simples que aumentámos o campo de medida do nosso


amperímetro, bastando ligar em paralelo uma resistência de 0,75 Ω. Para outro campo
de medida qualquer, basta calcular o novo valor de Rs.
Demonstra-se facilmente que, em qualquer ramo de um circuito em paralelo, se
verifica que a corrente nesse ramo é calculada por:

Esta fórmula permite-nos calcular também o valor de Rs, a partir de Is, IT e RT.
Tal como na associação série, também na associação em paralelo se utilizam duas ou
mais resistências quando se pretende obter um dado valor de resistência que não se
fabrica ou que não possuímos no momento.
PROBLEMAS – Associação de resistências em paralelo
P1 – Três resistências de 20 Ω, 30 Ω e 60 Ω são ligadas em paralelo, sob 24 V. Calcule:
a) A resistência total equivalente
b) A intensidade absorvida por cada resistência
c) A intensidade total fornecida
Resolução:
a)
Note que podia fazer o cálculo por etapas, isto é, primeiro fazia o paralelo entre duas
resistências quaisquer e de seguida fazia o paralelo entre esse resultado e a terceira
resistência, da seguinte forma:

b)

c) IT = I1 + I2 + I3 = 1,2 + 0,8 + 0,4 = 2,4 A


P2 – Pretende-se construir um divisor de corrente que forneça as correntes de 10 mA, 15
mA e 30 mA, a partir de uma fonte de 24 V. Calcule:
a) O valor que deveria ter cada resistência a ligar em paralelo.
b) A intensidade total.
c) A resistência total equivalente.
Resolução:

b) IT = I1 + I2 + I3 = 10 + 15 + 30 = 55 mA

P3 – Quatro resistências iguais são ligadas em paralelo, sob 10 V. Sabendo que a


resistência equivalente é de 3 kΩ, calcule:
a) A resistência de cada uma delas.
b) A intensidade absorvida por cada uma.
c) A intensidade total.
Solução:
a) 12 kΩ; b) I1 = I2 = I3 = I4 = 0,83 mA; c) 3,32 mA
P4 – Três resistências são ligadas em paralelo, absorvendo uma intensidade total de 3 A.
Sabendo que R2 = 2 R1, R3 = 3 R2 e que a resistência equivalente é igual a 12 Ω, calcule:
a) O valor de cada resistência.
b) A tensão aplicada ao circuito.
c) A intensidade absorvida por cada resistência.
Solução:
a) 20 Ω; 40 Ω; 120 Ω; b) 36 V; c) 1,8 A; 0,9 A; 0,3 A.
P5 – A uma tomada de 230 V foram ligadas sucessivamente 3 lâmpadas incandescentes.
Quando se ligou a primeira, o amperímetro geral indicou 0,45A; quando se ligou
também a segunda, o mesmo amperímetro indicou 1,35A; quando se ligou também a
terceira, o amperímetro indicou 2A. Calcule:
a) A resistência do filamento de cada lâmpada.
b) A resistência total equivalente do circuito.
Solução:
a) 511,1 Ω; 270,6 Ω; 353,9 Ω; b) 115 Ω.
P6 – Um amperímetro, com resistência interna igual a 1,2 Ω, permite medir intensidades
de 0 – 500 mA. Calcule o valor da resistência-shunt a ligar em paralelo com o aparelho
de modo a aumentar o campo de medida para 1,5 A.
Solução:
0,4 Ω
10.3.3 Associação mista de resistências
A associação mista de resistências não é mais do que a associação de resistências em que
umas estão ligadas em paralelo e outras em série. Este tipo de associação existe em
aparelhagem de eletrónica em que os circuitos têm bastantes componentes,
nomeadamente em circuitos impressos de aparelhagem diversa.
A associação mista de resistências também pode ser utilizada quando se pretende obter
um dado valor de resistência não normalizado ou um valor normalizado de resistência
que não possuímos no momento.
Na figura representa-se, esquematicamente, uma associação mista de quatro
resistências.

Não existe nenhum processo sistemático de cálculo das correntes I, I1 e I2 ou da


resistência total equivalente da associação mista. Cada problema deve ser resolvido
aplicando as leis da associação em série e as da associação em paralelo, pela ordem
adequada a cada caso.
No caso particular do esquema apresentado, utiliza-se a seguinte sequência de
procedimentos:
1) Faz-se a associação em série de R1 com R3, originando um valor que chamamos Rs.
2) Faz-se a associação em paralelo de R2 com Rs, a que chamamos Rp.
3) Faz-se a associação em série de R4 com Rp, a que chamamos RT.
4) A intensidade total deste circuito será, finalmente: I = U/RT.
5) A tensão em R4 será U4 = R4 I.
6) A tensão em R (ou em R1 + R3) será U2 = U – U4.
7) A intensidade I2 será I2 = U2/R2.
8) A intensidade I1 será I1 = U2/(R1 + R3) ou I1 = I – I2.
9) A tensão em R1 será U1 = R1 I1.
10) A tensão em R3 será U3 = R3 I1.
PROBLEMAS – Associação mista de resistências
P1 – Na figura representa-se uma associação mista de resistências, em que R1 = 8 Ω, R2 =
6 Ω, R3 = 4 Ω, R4 = 5 Ω. Calcule:
a) A resistência equivalente
b) A intensidade indicada pelo amperímetro
c) As tensões indicadas pelos dois voltímetros
d) As intensidades em R2, R3 e R4

Resolução:
a) Rs = R2 + R3 = 6 + 4 = 10 Ω

RT = R1 + Rp = 8 + 3,3 = 11,3 Ω

c) U1 = R1 · I = 8 × 1,77 = 14,2 V ; U2 = U – U1 = 20 – 14,2 = 5,8 V


d) Rs = R2 + R3 = 6 + 4 = 10 Ω;
P2 – Observe a figura.
a) Supondo que ligava uma fonte entre A e B, com UAB = 6 V, calcule:
a1) A resistência equivalente «vista» de A, B.
a2) O valor indicado por A1.
b) Supondo que ligava uma fonte entre C e D, com UCD = 6 V, calcule:
b1) A resistência total equivalente «vista» de C, D.
b2) O valor indicado por A2.

Solução:
a1) 3,43 Ω; a2) 1,75 A;
b1) 2,86 Ω; b2) 2,1 A.
P3 – Observe a figura. Calcule a resistência equivalente vista dos terminais A e B.

Solução:

P4 – Suponha que temos três resistências com os seguintes valores:
R1 = 4 kΩ, R2 = 5 kΩ e R3 = 6 kΩ.
a) Indique o número de associações mistas diferentes que é possível efetuar com as três
resistências.
b) Calcule a resistência equivalente de cada associação.
Solução:
a) 6; b) 8,22 kΩ; 7,40 kΩ; 6,73 kΩ; 3,60 kΩ; 3,33 kΩ; 2,93 kΩ.
P5 – Uma associação mista de três resistências tem uma resistência equivalente de 6 Ω.
Sabe-se que uma delas tem 5 Ω e a outra 10 Ω.
a) Calcule os valores possíveis da terceira resistência. Sugestão: procure primeiro os
esquemas elétricos corretos.
b) Dando novos valores às resistências, procure encontrar uma situação em que haja
apenas uma solução.
Solução:
a) 1,1 Ω; 2,67 Ω; 10 Ω; 10 Ω; b) Ao cuidado do aluno.
P6 – Na figura, representa-se um potenciómetro R cuja resistência máxima é de 600
Ω/Imáx = 0,8 A, a alimentar uma carga de valor Rc = 85 Ω. A tensão aplicada ao
potenciómetro é de 80 V. A posição do cursor do potenciómetro é tal que R1 = 50 Ω e R2
= 550 Ω.

a) Calcule os valores medidos por cada um dos aparelhos de medida, quando K está
aberto.
b) Calcule os valores medidos por cada um dos aparelhos de medida, quando K está
fechado.
c) Admitindo que R1 = 10 Ω e R2 = 590 Ω, verifique se haverá o risco de o potenciómetro
se queimar.
d) Ao variar o cursor entre os dois extremos, calcule:
1. O valor máximo que A1 indicará.
2. O valor da resistência mínima da associação.
e) Calcule a tensão máxima que se poderia aplicar a este circuito, de modo a nunca pôr
em risco o potenciómetro.
Solução:
a) 0,13 A; 0,13 A; 0 A; 7,15 V;
b) 0,647 A; 0,087 A; 0,56 A; 47,7 V;
c) Sim, porque I1 = 0,95 A > Imáx = 0,8 A; a corrente I1 percorrerá as primeiras espiras (10
Ω) do potenciómetro, podendo queimá-las;
d1) 1,07 A (quando o cursor está em cima, isto é, R1 = 0 Ω);
d2) RTmín = 74,45 Ω;
e) 59,6 V.
P7 – Na figura representa-se um divisor de tensão, em que R1 = 40 Ω e R2 = 500 Ω. A
resistência de carga é R = 60 Ω e a tensão U é 50 V.

a) Calcule a tensão indicada pelo voltímetro quando K está aberto.


b) Calcule a tensão indicada pelo voltímetro quando K está fechado.
c) Compare os dois valores e conclua.
Solução:
a) 46,3 V;
b) 28,6 V;
c) Ao ligar K, a tensão em R2 baixou muito. Há duas razões para isso: a resistência R1 é
demasiado elevada para o efeito; a resistência de carga R tem um valor diferente de R2,
absorvendo muita corrente.
P8 – Pretendemos medir a resistência equivalente do circuito representado, com a ajuda
de um ohmímetro. Primeiro, ligamos o ohmímetro entre os terminais A e B; depois,
ligamo-lo entre os terminais C e D. As resistências têm os seguintes valores: R1 = 5 Ω, R2
= 6 Ω, R3 = 4 Ω, R4 = 10 Ω e R5 = 3 Ω. Calcule:
a) A resistência medida pelo ohmímetro Ω1.
b) A resistência medida pelo ohmímetro Ω2.
Solução:
a) 2,31 Ω;
b) 3,07 Ω.

10.4 Medição de resistências elétricas. Métodos


diretos e indiretos
A generalidade dos componentes e recetores elétricos tem resistência elétrica. O
condensador é um dos poucos componentes cuja resistência elétrica é geralmente
desprezável em relação à sua capacidade.
A resistência elétrica R de um componente ou de um recetor pode ser medida por
métodos diretos ou por métodos indiretos.
Diz-se direto o método em que o aparelho de medida indica diretamente o valor da
grandeza, neste caso a resistência. É o caso da medição com ohmímetro e com
multímetro. Em ambos, aplicam-se as pontas de prova do aparelho diretamente ao
recetor a medir, indicando-nos o valor numa escala graduada (aparelho analógico) ou
através de dígitos (aparelho digital).

Diz-se indireto o método em que o aparelho não nos indica diretamente o valor da
resistência (ou outra grandeza qualquer), mas permite que, após leituras e cálculos, se
obtenha o valor da resistência. É o caso do método voltamperimétrico e o caso das
pontes de medida.
O método voltamperimétrico consiste em aplicar a Lei de Ohm num circuito elétrico
que alimenta a resistência R a medir. O voltímetro lê a tensão U aplicada à resistência R,
e o amperímetro lê a intensidade de corrente I que a percorre, permitindo então o
cálculo de R = U/I.

Frequentemente, são feitas várias leituras, com diferentes valores de tensão, o que nos
permite calcular vários valores para R, calculando no fim a média aritmética dos
valores obtidos, como o valor mais provável:

Este processo permite minimizar possíveis erros de leitura cometidos quando se efetua
um só ensaio.
A medição de resistências pelo voltamperimétrico pode ser efetuada utilizando dois
esquemas diferentes: com voltímetro antes do amperímetro e com voltímetro depois
do amperímetro.

Aparentemente, ambos os circuitos darão os mesmos valores, mas não é bem assim.
Repare-se que no esquema a), o voltímetro não mede a tensão aplicada à resistência R,
mas sim a tensão aplicada ao conjunto resistência + amperímetro. Ora, o amperímetro
também tem resistência elétrica. Portanto, este método não nos dá o valor exato de R,
mas sim um valor maior do que R.
No esquema b), o amperímetro não mede só a corrente que percorre a resistência, mas
também a que percorre o voltímetro. Logo, este método também não nos dá o valor
exato de R, nas sim um valor menor do que R.
Então qual o esquema a utilizar?
Bom, nuns casos utiliza-se um deles e noutros utiliza-se o outro. Pode demonstrar-se,
com alguns cálculos ou experimentalmente (inclusive no laboratório virtual), que são
utilizados nas seguintes circunstâncias:
1) Esquema a) — voltímetro antes do amperímetro – É utilizado quando a resistência R
a medir tem um valor elevado (centenas ou milhares de ohms) quando comparado com
a resistência interna do amperímetro (alguns ohms ou décimas do ohm).
2) Esquema b) — voltímetro depois do amperímetro – É utilizado quando a resistência
R a medir tem um valor baixo (alguns ohms ou dezenas de ohms), relativamente
próximo da resistência interna do amperímetro.
Mais tarde, o aluno terá oportunidade de demonstrar experimentalmente estas
afirmações.
As pontes de medida (como por exemplo a ponte de Wheatstone) permitem obter o
valor da resistência Rx a medir, equilibrando os braços de uma ponte, tal como se
representa na figura.

Varia-se a resistência Rc, até que o galvanómetro G indique uma corrente IG nula –
nesta altura a ponte está equilibrada, e a resistência Rx é calculada pela expressão:

Esta fórmula pode ser facilmente demonstrada, por análise do circuito representado na
figura 76. Visto que as resistências Rc, Rm e Rd da ponte são de precisão, a ponte de
medida permite-nos obter resultados com precisão elevada.

10.5 Tipos de avarias nos circuitos


Qualquer circuito elétrico ou instalação elétrica está sujeito a ter uma avaria ou um
defeito em qualquer dos seus elementos. Nessas circunstâncias, o circuito deixa de
funcionar ou passa a funcionar em condições diferentes do habitual ou em condições
perigosas para os componentes e circuito em geral.
Durante a avaria ou defeito de um circuito elétrico, podem ocorrer situações diversas,
nomeadamente:
• A corrente no circuito passou bruscamente a zero.
• A corrente no circuito aumentou exageradamente.
• A corrente no circuito baixou exageradamente.
• A tensão num componente aumentou bastante.
• Um componente começou a aquecer em demasia.
• O disjuntor da instalação disparou.
• Nenhum dos aparelhos de medida do circuito indica qualquer valor.
• Só alguns dos aparelhos do circuito indicam valores.
• Etc., etc.
Fácil é de concluir que muitas poderão ser as situações de defeito e, portanto, muitas
poderão ser as causas respetivas.
Durante a deteção e reparação da avaria, deve agir-se com método, fazendo uma análise
lógica do problema, a partir do diagnóstico do circuito com anomalia. Isto é,
primeiramente deve fazer-se uma análise objetiva daquilo que aconteceu ao circuito,
comparando com a situação normal de funcionamento correto e, depois, concluir, com
lógica, sobre as possíveis causas do ocorrido. Cada caso é um caso e, portanto, cada
avaria terá a sua causa e a sua terapêutica.
Evidentemente que a análise correta de cada situação pressupõe já alguns
conhecimentos sobre as leis gerais da eletricidade e sobre o funcionamento dos
componentes e diferente aparelhagem.

Vejamos um pequeno exemplo. O amperímetro A da figura deixou de indicar corrente.


O que é que poderá ter acontecido no circuito?
Evidentemente que muita coisa poderá ter acontecido. Analisemos a constituição do
circuito – uma resistência R é alimentada pela rede de corrente alternada, através de fios
condutores, tendo um amperímetro A ligado em série; um voltímetro V mede a tensão
diretamente aos terminais da resistência R.
Ora, se o amperímetro A não mede corrente é porque:
1. Não há corrente no circuito?
2. O amperímetro está avariado?
Se o amperímetro estiver avariado, basta substituí-lo e resolve-se o problema. Se não for
esse o caso, então teremos de ver por que não há corrente no circuito.
A não existência de corrente pode ser provocada pelas seguintes situações:
1. Não haver tensão fornecida pela rede.
2. Haver tensão na rede, mas um dos condutores não deixar passar a corrente, isolando-
a.
3. A resistência R pode estar queimada.
4. Um dos terminais da resistência R poder não estar convenientemente ligado
(deficiência de contacto, terminal desligado, etc.).
5. Uma das fichas-banana do circuito poder não estar convenientemente ligada ao
condutor (mau contacto, fio solto, etc.).
6. Duas ou mais das ocorrências anteriores acontecerem simultaneamente, o que ocorre
com alguma frequência, baralhando a nossa investigação.
Quanto ao ponto 1 – não haver tensão fornecida pela rede –, resolve-se facilmente,
ligando um voltímetro (em bom estado) diretamente aos terminais da rede que alimenta
o circuito.
Quanto ao ponto 2 – condutores avariados –, podemos resolver o problema de várias
formas: verificamos a continuidade de cada condutor, um a um, desligando-os do
circuito, aplicando um ohmímetro aos seus terminais (resistência muito baixa quer dizer
que o condutor está bom; resistência infinita quer dizer que está interrompido;
resistência com valor elevado quer dizer que há um problema de mau contacto); com
busca-polos, podemos ir verificar, iniciando na fase F, onde ele deixa de acender; se o
busca-polos acender em F, A e B e deixar de acender em C, quer dizer que o condutor
BC tem um problema (está partido ou existe um mau contacto com as fichas-banana).
Se fosse a resistência R queimada – ponto 3 – ou terminal com mau contacto – ponto 4 –
, então o ohmímetro deveria marcar uma resistência infinita.
De referir finalmente que muitas vezes ocorrem dois ou mais defeitos simultaneamente,
o que vem complicar bastante o nosso trabalho de pesquisa, pois normalmente estamos
à espera que haja apenas um defeito, e não dois.
Na figura anterior, colocámos um voltímetro V aos terminais da resistência R,
propositadamente.
Dissemos, logo no início, que o amperímetro A tinha deixado de indicar corrente.
Suponhamos que estávamos atentos e que tínhamos verificado, antes de desligar o
interruptor da bancada, que o voltímetro V indicava tensão (a tensão nominal). Claro
que esta informação é muito importante e vem reduzir bastante o nosso trabalho de
pesquisa do defeito ou defeitos. Vejamos porquê.
Se o voltímetro V indica tensão – a tensão da rede –, então o potencial elétrico da fase F
chega ao ponto C e o potencial (zero) do neutro N está também no ponto D. Então
concluímos que há continuidade elétrica no circuito desde F a C e desde N a D, o que
quer dizer que os condutores estão bons e que não há deficiência de contactos elétricos
nos terminais do amperímetro.
O que nos resta afinal como possível causa do defeito que provoca a não indicação de
corrente pelo amperímetro?
Bom, pode haver duas causas. A mais óbvia é a existência de algum problema na
resistência R que impede a passagem da corrente elétrica, que pode ser: resistência
queimada ou mau contacto elétrico de uma das extremidades da resistência com o
terminal respetivo. Este problema resolve-se, conforme já foi dito, utilizando um
ohmímetro para verificar a continuidade da resistência. A outra causa, menos provável
e também menos óbvia, é a existência de problemas no próprio amperímetro que não
marca corrente, embora deixando-a passar.
Concluímos, portanto, a partir de um exemplo simples, que o universo das avarias é
enorme e que a sua deteção e reparação deve obedecer a uma análise lógica e rigorosa.
Antes de se partir à procura da avaria, deve fazer-se previamente essa análise de
«despistagem» das hipóteses «não prováveis», para limitarmos as possíveis causas a um
conjunto mais reduzido.
Na figura representa-se um ensaio efetuado em laboratório virtual, para simulação de
uma avaria num circuito elétrico.

10.6 Recetores com força contraeletromotriz


10.6.1 Introdução
Conforme vimos até aqui, os recetores classificam-se fundamentalmente em dois
grandes grupos: recetores térmicos (resistivos) e recetores com força contraeletromotriz
(f.c.e.m.). Foram já estudados os recetores térmicos, nomeadamente: a aplicação da Lei
de Ohm a recetores térmicos e a associações em série, paralelo e mista de recetores
térmicos.
Iremos estudar agora os recetores com força contraeletromotriz, sua alimentação e tipos
de associação.
Os exemplos mais vulgares de recetores com força contraeletromotriz são o motor
elétrico e o acumulador. O exemplo mais vulgar do acumulador é a bateria, quando
está a ser carregada, isto é, a armazenar energia elétrica.
10.6.2 Alimentação de recetores com f.c.e.m.
Vimos já que o gerador é caraterizado por possuir uma força eletromotriz (f.e.m.) E,
que é a «força» que impele os eletrões, em movimento contínuo, no circuito elétrico.
A força contraeletromotriz E’ do motor ou do acumulador é uma «força» de sentido
contrário ao do movimento dos eletrões, constituindo, por isso, uma oposição à
circulação da corrente. Isto é, a tensão U que lhes vai ser aplicada pela rede tem de
vencer esta força contraeletromotriz, ou seja, tem de ser mais elevada do que ela.
Em resumo, diremos que os recetores térmicos são caraterizados por possuírem uma
resistência R como oposição à corrente, enquanto os recetores de força
contraeletromotriz têm esta força como oposição à corrente, para além de uma
resistência elétrica interna própria (de valor reduzido).
Daquilo que ficou dito, compreende-se que a força contraeletromotriz E’ tem, em cada
circuito, o sentido contrário ao da força eletromotriz E e, portanto, ao da corrente
elétrica.
Na figura, representamos um motor elétrico e um acumulador alimentados por uma
fonte de tensão U, fornecida por um gerador de força eletromotriz E.

Visto que é a rede que vai alimentar o motor e o acumulador, então a tensão U aplicada
tem de ser mais elevada do que a f.c.e.m. E’ de cada um dos recetores, verificando-se
então a seguinte relação:
U = E’ + r’ · I 1)
com:
U – tensão aplicada ao recetor (volts)
E’ – força contraeletromotriz (volts)
r’ – resistência interna do recetor de força contraeletromotriz (ohms)
I – intensidade absorvida (amperes)
r’ · I – queda de tensão interna no recetor (volts)
Desta expressão, deduz-se facilmente aquela que permite calcular a corrente:

Note-se que a tensão aplicada U tem de vencer, não só a f.c.e.m., mas também a queda
de tensão interna (do motor ou do acumulador). Repare também, nos dois esquemas em
que representámos a tracejado a f.e.m. E do gerador que vai fornecer a tensão U. A
f.e.m. E tem, conforme se pode verificar, o sentido contrário ao da f.c.e.m. E’.
10.6.3 Comparação entre o gerador e o recetor de f.c.e.m.
Recordemo-nos da expressão matemática da tensão U aos terminais de um gerador em
carga e comparemo-la com a expressão 1) representada acima. Temos então as seguintes
relações:
• U = E – r · I – fórmula aplicada ao gerador
• U = E’ + r’ · I – fórmula aplicada ao recetor de f.c.e.m.
Não há dúvida que as duas fórmulas são muito semelhantes. Com efeito, ambas se
aplicam aos mesmos dispositivos, que são a bateria/acumulador e o dínamo/motor. Na
verdade, ambos podem funcionar ora como gerador ora como recetor.
A bateria tem f.e.m. e fornece corrente quando funciona como gerador; tem f.c.e.m. e
absorve corrente quando funciona como acumulador de energia.
O dínamo tem f.e.m. e fornece corrente, mas também pode funcionar como recetor
(motor), com f.c.e.m., se lhe fornecermos corrente.
Ambas são reversíveis, isto é, funcionam nos dois sentidos da transformação
energética. Daí que se lhes apliquem ambas as expressões acima indicadas, consoante a
situação.
Na figura apresenta-se um exemplo de uma bateria, funcionando ora como gerador ora
como acumulador. Pode verificar-se que, como gerador, a f.e.m. E = U + r · I é
obviamente maior do que a tensão U fornecida, enquanto como acumulador a tensão
aplicada é maior do que a f.c.e.m.

Funcionando como gerador, verifica-se que E = 12,5 V é maior do que a tensão U:


U = E – r · I = 12,5 – 0,05 × 6 = 12,2 V.
Funcionando como acumulador, verifica-se que a tensão U aplicada é maior do que a
f.c.e.m. E’, sendo:
U = E’ + r’ · I = 12,5 + 0,05 × 6 = 12,8 V
Repare-se também que a corrente I e a f.e.m. E têm o mesmo sentido, os quais são
contrários ao da f.c.e.m. E’.

10.7 Circuito com f.e.m. e f.c.e.m.


Suponhamos, por exemplo, que uma bateria carregava outra (acumulador) ou que um
dínamo carregava uma bateria (acumulador), conforme se sugere na figura.
Conforme vimos anteriormente, aos terminais do gerador existe uma tensão U, que, por
sua vez, irá ser aplicada aos terminais do recetor de f.c.e.m. E’. Ou seja, a tensão U lida
pelo voltímetro V da figura, é a mesma para os dois elementos.
Temos, portanto:
Gerador: U = E – r · I
Recetor: U = E’ + r’ · I
Visto que os primeiro membros das duas expressões são iguais, podemos igualar os
segundos membros, obtendo-se então:

Esta expressão permite-nos calcular a corrente de carga do circuito e, portanto, também


a tensão U aplicada (utilizando uma das expressões anteriores).
Utilizando os valores indicados no esquema da figura anterior, obtemos:

A tensão U = 11,5 V tem, obviamente, um valor intermédio entre a f.e.m. (12 V) e a


f.c.e.m. (11 V).
Na prática, quando se carrega uma bateria, liga-se em série uma resistência R para
limitar o valor da corrente a um valor mais baixo, previamente definido por nós.
Recorde-se que a bateria fica tanto melhor carregada quanto mais lenta for a carga, isto
é, com I mais reduzida.
Se o circuito anterior tivesse n geradores e n recetores, bastava multiplicar E e E’ por n,
nas fórmulas anteriores, para obter as expressões corretas.

10.8 Lei de Ohm generalizada


Suponhamos agora um circuito mais complexo, como o representado na figura 82.
Socorrendo-nos da expressão (1), deduzida anteriormente, podemos generalizá-la a este
novo circuito se considerarmos que em vez de uma única f.e.m. temos duas f.e.m., e que
em vez de uma só f.c.e.m. temos duas f.c.e.m., com as resistências respetivas, e ainda
dois recetores térmicos R1 e R2.
Assim, da expressão E – E’ = (r + r’) I, obtemos uma expressão mais geral, aplicável ao
circuito da figura 82:
(E1 +E2) – (E’1+E’2) = (r1 + r2 + r’1 + r’2 + R1+ R2) I
em que as f.e.m. se somam entre si e as f.c.e.m. se somam entre si, o mesmo acontecendo
a todas as resistências elétricas.
A intensidade de corrente I será então:

Considerando agora que o circuito era constituído por N forças eletromotrizes e por N
forças contraeletromotrizes, obtínhamos finalmente a Lei de Ohm generalizada:

Lei de Ohm generalizada


ou

em que:
Σ – símbolo que significa «somatório» (ou soma)
ΣE – somatório das f.e.m.
ΣE’ – somatório das f.c.e.m.
ΣR – somatório de todas as resistências no circuito
Esta lei, sendo uma lei geral, pode também ser aplicada, evidentemente, a casos
particulares, como por exemplo a circuitos em que:
1. Existe uma só f.e.m. e uma só f.c.e.m.
2. Existem apenas forças eletromotrizes (uma ou várias).
3. Existe uma só resistência; etc.
É fácil de concluir, portanto, que a Lei de Ohm generalizada pode ser aplicada a
qualquer dos circuitos estudados até aqui, desde que consideremos, na expressão
anterior, apenas os elementos existentes no circuito.
PROBLEMAS – Recetores com força contraeletromotriz
P1 – Uma bateria com f.c.e.m. E’ = 10 V e r’ = 0,2 Ω é carregada por uma fonte de
alimentação cuja tensão é U = 12 V. Calcule:
a) A intensidade absorvida pela bateria.
b) A queda de tensão na bateria.
c) A resistência R a ligar em série com a bateria, para limitar a corrente a 4 A.

Resolução:

b) ΔU = r’· I = 0,2 × 10 = 2 V ou ΔU = U – E’ = 12 – 10 = 2 V

P2 – Um dínamo com f.e.m. E = 226 V e resistência interna r = 0,7 Ω alimenta um motor


de corrente contínua com f.c.e.m. E’ = 220 V e resistência interna r’ = 0,5 Ω. Calcule:
a) A intensidade de corrente absorvida pelo motor.
b) A queda de tensão no dínamo.
c) A queda de tensão no motor.
d) A tensão indicada pelo voltímetro.

Resolução:

b) ΔU = r · I = 0,7 × 5 = 3,5 V
c) ΔU’ = r’· I = 0,5 × 5 = 2,5 V
d) U = E – r · I = 226 – 0,7 × 5 = 222,5 V ou
U = E’ + r’ · I = 220 + 0,5 × 5 = 222,5 V
P3 – Um motor elétrico, que absorve 8 A, apresenta as seguintes caraterísticas elétricas:
E’ = 214 V e r’ = 1,2 Ω. Calcule:
a) A tensão aplicada ao motor.
b) A queda de tensão no enrolamento do motor.
Solução:
a) 223,6 V; b) 9,6 V.
P4 – Um gerador de corrente contínua, com uma f.e.m. de 250 V e resistência interna de
10 Ω, é utilizado para carregar uma bateria de 12 elementos com 2 V de f.e.m. cada e
resistência interna de 0,02 Ω cada. Calcule:
a) A f.e.m. da bateria.
b) A resistência interna a intercalar em série, de modo que a corrente de carga não
ultrapasse 3 A.
c) A tensão aos terminais do gerador, na situação da alínea anterior.
d) A tensão aos terminais da bateria, na situação da alínea b).
e) As quedas de tensão no gerador e na bateria, na situação da alínea b).
Solução:
a) 24 V; b) 65 Ω; c) 220 V; d) 24,72 V; e) 30 V; 0,72 V.
P5 – Com uma dada bateria, foram efetuados dois ensaios em carga que nos deram as
seguintes leituras:
1.° ensaio: U1 = 12 V, I1 = 10 A
2.° ensaio: U2 = 11,25 V, I2 = 15 A
a) Calcule a resistência interna da bateria.
b) Calcule a sua f.e.m.
c) Calcule a tensão aos seus terminais, se estivesse a fornecer 30 A.
Solução:
a) 0,05 Ω; b) 12,5 V; c) 11 V.
P6 – Um motor elétrico, cuja tensão nominal é de 110 V, é ligado a uma rede de corrente
contínua de 220 V. Sabendo que a sua resistência interna é de 2,5 Ω e a sua intensidade
nominal é de 5 A, calcule:
a) A resistência elétrica que é necessário ligar em série com o motor, para que ele fique a
funcionar em regime nominal
b) A sua f.c.e.m.
c) A queda de tensão interna.
Solução:
a) 22 Ω; b) 97,5 V; c) 12,5 V.
11. Energia elétrica
11.1 Energia. Lei da Conservação da Energia
Já aconteceu, certamente, a cada um de nós, haver dias em que nos cansamos com mais
facilidade do que é habitual. Dizemos então que nos sentimos «fracos». Na verdade, o
que acontece então é que estamos com pouca energia, isto é, falta-nos «força» para
realizar determinados trabalhos ou tarefas.
Mas, afinal, o que é a energia, que não conseguimos ver, ouvir ou sentir?
É verdade que os nossos sentidos não a detetam diretamente, mas sabemos que ela
existe, através dos efeitos que produz. Com efeito, a energia de um corpo é a
capacidade que ele possui de produzir trabalho. Um corpo sem energia não pode
produzir trabalho. Existem muitas situações em que se verifica que houve produção de
trabalho – por exemplo, quando: serramos uma tábua, levantamos um peso,
construímos uma casa, etc. Quando produzimos muito trabalho, isso significa que
despendemos muita energia daquela que possuímos. No fim de contas, o que acontece,
em cada um dos exemplos apresentados, é a verificação de transferência de energia ou
transformação energética.
Na verdade, a energia existe sob diversas formas, conforme é do conhecimento geral.
Pode estar armazenada sob as formas: química, elétrica, térmica, mecânica, magnética,
eletromagnética, etc. As diferentes formas de energia podem transformar-se umas nas
outras, com maiores ou menores perdas, com menor ou maior rendimento.
Temos, por exemplo, as seguintes transformações energéticas:
1) De energia elétrica em energia mecânica.
2) De energia mecânica em elétrica.
3) De energia química em elétrica.
4) De energia elétrica em química.
5) De energia elétrica em calorífica.
6) De energia elétrica em magnética, etc.
Em qualquer dos casos, verifica-se sempre a Lei da Conservação da Energia, que diz o
seguinte: «Num sistema energético, não há criação nem destruição de energia, mas
apenas transformação e transferência de energia; se o sistema for isolado (fechado), a
energia total mantém-se constante».
Deve referir-se que um sistema isolado ou fechado é aquele que não permite a saída de
energia para o seu exterior, nem a entrada para o seu interior. Num sistema aberto, a
energia total do sistema não se mantém constante porque parte da energia sai do
sistema ou entra energia no interior, alterando a energia inicial.
Evidentemente que, em qualquer transformação energética, existem sempre perdas
próprias da transformação, as quais são sempre contabilizadas, de acordo com a Lei da
Conservação da Energia:
Energia inicial = Energia final + Perdas
11.2 O efeito de Joule
Conforme vimos anteriormente, a corrente elétrica num condutor produz vários efeitos,
nomeadamente: químico, luminoso, mecânico e térmico.
O efeito térmico ou calorífico não é mais do que a transformação de energia elétrica em
energia calorífica, num condutor ou num recetor térmico. A este efeito calorífico da
corrente elétrica dá-se o nome de efeito de Joule, em homenagem ao físico inglês James
Joule, que primeiro o estudou.
O efeito de Joule nos condutores e nos recetores resulta de choques entre os eletrões
livres e os átomos das substâncias constituintes dos condutores e dos recetores, sempre
que é aplicada ao circuito uma determinada tensão elétrica. De cada choque resulta,
como é fácil de compreender, alguma libertação de calor. Em virtude de serem muitos
os eletrões em movimento, o calor libertado num condutor ou num recetor pode ser
considerável.
A questão que temos de analisar neste momento consiste em saber se o efeito de Joule é
uma vantagem ou um inconveniente ou ambos.

11.3 Vantagens e inconvenientes do efeito de


Joule
Em qualquer transformação energética há sempre alguma libertação de calor, em maior
ou menor quantidade. Considerar que o efeito de Joule é uma vantagem ou um
inconveniente tem a ver única e exclusivamente com o objetivo da transformação
energética que se está a processar, isto é, com o fim que temos em vista.
Assim, se pretendermos obter calor para aquecimento ambiente, aquecimento de águas,
aquecimento numa estufa, etc., então o efeito de Joule será, evidentemente, uma
vantagem.
Se não pretendemos ou não queremos aproveitar o calor que é libertado, numa dada
transformação energética, então o efeito de Joule respetivo será um inconveniente. É o
caso, por exemplo, do calor libertado nos condutores quando percorridos por corrente,
o qual aquece os condutores, originando perdas de energia; é o caso do calor que se
liberta em qualquer aparelhagem elétrica, de áudio, de vídeo, etc., ou o caso do calor
libertado nos enrolamentos de um motor.
A energia calorífica só será uma vantagem quando é utilizada nalgum recetor com uma
dada utilidade prática, como por exemplo: irradiadores, convetores, ferros de engomar,
etc.; de outro modo, diz-se que é uma forma degradada de energia que se dissipa no
meio ambiente.

11.4 A Lei de Joule


A energia elétrica que se transforma em calor num recetor ou num condutor pode ser
quantificada, isto é, podemos calcular o seu valor através de uma expressão
matemática, a qual traduz a Lei de Joule.
Esta lei, enunciada por James Prescott Joule, em 1841, diz o seguinte:
Lei de Joule: «A energia elétrica que se transforma em energia calorífica num recetor
(ou num condutor) é diretamente proporcional à resistência elétrica deste, ao quadrado
da intensidade de corrente e ao tempo de passagem da corrente». É traduzida
matematicamente pela expressão:
W = R I2 t
com:
W – energia elétrica transformada em calorífica (joules – J)
R – resistência elétrica (ohms – Ω)
I – intensidade de corrente (amperes – A)
t – tempo de passagem da corrente (segundos – s)
Frequentemente, em vez de falarmos em energia calorífica W (em joules), falamos em
quantidade de calor Q, cuja unidade é a caloria (cal). Existe a seguinte relação
matemática entre o joule e a caloria:
1 cal = 4,18 J ⇔ 1 J = 0,24 cal
Deste modo, em vez de energia W, podemos calcular antes a quantidade de calor Q,
utilizando a expressão:
Q = 0,24 R I2 t (calorias)

11.5 Energia e potência


A lei de Joule diz-nos, entre outras coisas, que a quantidade de energia transformada
num recetor depende do tempo durante o qual se processa essa transformação,
variando de forma diretamente proporcional ao tempo decorrido. Visto que os recetores
não são todos iguais, podemos ter recetores a consumirem a mesma quantidade de
energia em intervalos de tempo diferentes. Vejamos alguns exemplos.
Podemos ter as seguintes duas resistências a consumirem o mesmo valor de energia,
em intervalos de tempo diferentes:
• Resistência R1 – consome 1500 J durante 3 s
• Resistência R2 – consome 1500 J durante 1,5 s
Podemos ter os seguintes dois geradores a fornecerem o mesmo valor de energia
elétrica, em intervalos de tempo diferentes:
• Gerador G1 – fornece 1500 J durante 3 s
• Gerador G2 – fornece 1500 J durante 1,5 s
Podemos ter as seguintes dois motores a fornecerem o mesmo valor de energia
mecânica, em intervalos de tempo diferentes:
• Motor M1 – fornece 1500 J durante 3 s
• Motor M2 – fornece 1500 J durante 1,5 s
O que é que se pode concluir destes exemplos?
Bom, embora o valor de energia considerado seja sempre o mesmo, para os diferentes
exemplos, os intervalos de tempo de transformação variam de uns exemplos para
outros, isto é, a velocidade de transformação energética é diferente de uns exemplos
para outros. Ou seja, a energia fornecida ou consumida, na unidade de tempo (W/t), é
variável. Nos exemplos apresentados, temos as duas seguintes situações distintas:

Define-se então o conceito genérico de potência P como a energia absorvida ou


fornecida na unidade de tempo. É expressa pela relação:

com:
P – potência (J/s ou watts – W)
W – energia (joules – J)
t – tempo (segundos – s)
Temos assim que a resistência R1 absorve uma potência de 500 W, sendo que o gerador
G1 e o motor M1 fornecem uma potência de 500 W; a resistência R2 absorve 1000 W e o
gerador G2, bem como o motor M2 fornecem 1000 W. Isto é, R2, G2 e M2 têm maior
potência do que R1, G1 e M1 – neste caso, têm o dobro da potência.
Qual será afinal a grande importância da potência de um recetor ou de um gerador?
Bom, em muitas situações é importante que o valor da potência P seja elevado, porque
de outro modo o circuito, o recetor, etc., não funcionam, pois poderão não ter potência
suficiente. Por exemplo, não vamos colocar num automóvel um motor de uma
motorizada, não vamos pôr a levantar pesos e alteres um indivíduo magricelas ou não
vamos alimentar os recetores de uma residência com uma bateria, etc. Em qualquer dos
casos, é necessária uma potência mínima.

11.6 Unidades de energia e de potência


Vimos já que, no Sistema Internacional de Unidades (S. I.), a energia é expressa em
joules (J) e a potência em watts (W) ou joules/segundo (J/s). Há, no entanto, algumas
unidades práticas que são utilizadas com muita frequência. Vejamos algumas delas.
Como unidade prática de energia, utiliza-se frequentemente o watt-hora (Wh) e o
quilowatt-hora (kWh).
Um watt-hora é a energia fornecida por um gerador ou absorvida por um recetor, com a
potência de 1 watt, durante 1 hora:
W = P · t ⇔ 1 Wh = 1 W × 1h
A relação entre o watt-hora e o joule é a seguinte:
1 watt-hora = 1 watt × 1 hora = 1 W × 3600 s = 3600 W · s = 3600 J
⇔ 1 watt-hora = 3600 Joules
1 quilowatt-hora é, obviamente, igual a 1000 watt-hora.
Nos motores elétricos, utiliza-se com frequência como unidade prática de potência o
cavalo-vapor (C.V.), com a seguinte equivalência:
1 cavalo-vapor = 735,5 watts
Não confundir o cavalo-vapor (C.V.) com o horse-power (H.P.) que também é utilizado
(principalmente em Inglaterra) e que vale 746 watts.
As potências dos recetores são muito variáveis, consoante a função a que se destinam,
podendo ir de alguns watts a milhares de watts. Vejamos alguns exemplos:
• Resistências elétricas pequenas (de eletrónica): 1/8 W, 1/4 W, etc.
• Resistências elétricas maiores (de potência): 50 W, 100 W, 500 W...
• Lâmpadas de incandescência: 100 W....
• Motores elétricos: 1 CV, 100 CV....
• Irradiadores: 1000 W

11.7 Potência elétrica. Energia elétrica


Suponha o circuito elétrico representado na figura, constituído por um recetor R
alimentado por um gerador G de corrente contínua. O gerador tem uma dada força
eletromotriz E, alimentando o recetor com uma dada tensão U. A relação entre as duas
grandezas é dada pela expressão já conhecida:
E = U + r I ⇔ E = U + ΔU (gerador em carga) 1)
Em que:
r – resistência interna do gerador
ΔU – queda de tensão interna no gerador
U – tensão em carga aos terminais do recetor
Conclui-se, portanto, que a força eletromotriz E é sempre maior do que a tensão U, em
carga, aos terminais do recetor. Quando o recetor não está ligado, então teremos I = 0,
pelo que não há queda de tensão, isto é, ΔU = r I = 0 V, ficando então:
U = E – quando I = 0 (gerador em vazio)
Concluímos ainda que, quando o gerador está em carga, temos uma dada queda de
tensão no gerador e também nos condutores de alimentação (às vezes, despreza-se esta
parcela), pelo que existe uma dissipação de potência elétrica e, portanto, de energia
elétrica, a qual não é utilizada. Isto quer dizer que o gerador fornece mais potência do
que aquela que é absorvida e utilizada pelo recetor.
Assim, definimos a potência elétrica fornecida pelo gerador Pe:
Pe = E I (watts)
Define-se também a potência elétrica absorvida pelo recetor (ou potência útil) Pu como
o produto da tensão U aplicada ao recetor pela intensidade I absorvida:
Pu = U I (watts)
Visto que, pela Lei de Ohm, temos a relação I = U/R, obtemos então:

Ou, visto que, segundo a Lei de Ohm, se verifica que U = R I, teremos também:
Pu = U I = (R I) I = R I2 → Pu = R I2
Qualquer das expressões apresentadas permite calcular a potência elétrica absorvida
por um recetor térmico de resistência R.
Se multiplicarmos a expressão P = R I2 pelo tempo t, obtemos:
W = P t = R I2 t (joules)
fórmula que traduz a Lei de Joule apresentada anteriormente.
Concluímos portanto que num recetor térmico toda a energia elétrica é transformada
em energia calorífica (W = R I2 t), por efeito de Joule, e que a potência elétrica fornecida
é toda transformada em potência calorífica (P = R I2).
Define-se também a potência de perdas no gerador (e nos condutores de ligação) pJ, ou
perdas por efeito de Joule, como:
pJ = r I2 (Watts – W)
Vamos demonstrar ainda que se verifica a seguinte relação matemática entre as três
potências definidas em cima:
Pe = Pu + pJ
Com efeito, se multiplicarmos por I ambos os membros da expressão E = U + r I,
obtemos uma expressão equivalente:
E = U + r I ⇔ E I = U I + r I2 2)
Esta expressão é nem mais nem menos do que a relação matemática entre potências
num circuito:
E I = U I + r I2 ⇔ Pe = Pu + pJ 3)
Se agora multiplicarmos pelo tempo t ambos os membros da expressão anterior,
obtemos uma relação matemática entre as energias em jogo num circuito:
Pe = Pu + pJ ⇔ Pe · t = Pu · t + pJ · t ⇔ We = Wu + Wp
Em que: We – energia elétrica gerada – em W·s (watt·segundo) ou W·h (watt·hora)
Wu – energia útil (consumida pelo recetor) – em W·s (watt·segundo) ou W·h (watt·hora)
Wp – energia de perdas – em W·s (watt·segundo) ou W·h (watt·hora)

11.8 Máxima transferência de potência


Conforme sabemos, qualquer gerador, qualquer recetor ou mesmo os condutores de
ligação têm sempre «resistência elétrica», onde se verificam perdas de energia.
Assim, no caso do circuito indicado na figura, em que o gerador G tem uma
determinada resistência interna r, também haverá perdas de energia na resistência
interna do gerador. Isto quer dizer que o gerador fornece sempre uma potência total
mais elevada do que aquele que o recetor R vai receber (ou utilizar).
Em determinadas situações práticas, como por exemplo na área das telecomunicações,
as potências em jogo são reduzidas – da ordem dos miliwatts ou alguns watts –, sendo
então importante saber que valor deverá ter a resistência de carga R de modo a receber
da fonte respetiva a potência máxima possível (PR), isto é, de modo a verificar-se a
máxima transferência de potência (do gerador para a carga).

Suponhamos que o gerador tem as seguintes caraterísticas: E = 6 V, r = 0,8 Ω. Supondo


ainda que variámos a resistência de carga R entre 0,2 Ω e 1,4 Ω (por exemplo), de 0,2 Ω
em 0,2 Ω, e que obtivemos a seguinte tabela de valores, em que Pe é a potência elétrica
total fornecida pelo gerador e PR é a potência elétrica transmitida à carga R.

Com esta tabela de valores, construímos os gráficos das funções PR (R), Pe (R) e η (R),
representados na figura.
Por análise do gráfico, podemos concluir que:
1) A carga R recebe da fonte a máxima potência (PR) quando se verifica R = r. No caso
presente, temos PR = 11,25 W quando R = r = 0,8 Ω.
2) Na situação de máxima transferência, verifica-se obviamente que o rendimento é de
50%.
O que se conclui desta experiência?
Conclui-se que este gerador (com esta f.e.m. e esta resistência interna) não pode
entregar a uma carga mais do que 11,25 W e, para entregar esse valor máximo, a carga
tem de ter uma resistência igual à da resistência interna do gerador (R = r). Quando se
verifica que R = r, diz-se que há uma adaptação da fonte à carga, e isso verifica-se
quando há máxima transferência de potência para a carga.
Para efeito de transferência da máxima potência, não interessa que o rendimento não
seja máximo, pois para termos o máximo rendimento (63,4%, segundo a tabela) a
potência transmitida PR seria apenas de 10,4 W.

11.9 Transformações energéticas


Conforme foi já referido, os recetores transformam a energia elétrica em outras formas
de energia; os geradores, pelo contrário, transformam em energia elétrica outras formas
de energia.
Há aqui dois processos de transformação energética, mas de sentidos contrários. Nos
diferentes processos de transformação energética, cada recetor ou gerador tem a sua
finalidade própria. Assim, vejamos alguns exemplos:
1. A finalidade ou função do motor elétrico é transformar energia elétrica em energia
mecânica.
2. A função do gerador é transformar em energia elétrica outras formas de energia.
3. A função de um recetor calorífico é transformar energia elétrica em energia calorífica.
A questão que se põe, neste momento, é a de saber se toda a energia absorvida Wa é
transformada em energia útil Wu (energia que se pretende obter). Por exemplo, num
motor elétrico, toda a energia elétrica será transformada em energia mecânica? Todos
sabemos que não, pois existe aquilo a que chamamos perdas energéticas, ou seja,
energia de perdas Wp. Existem diferentes tipos de perdas: mecânicas (por atrito),
caloríficas (por efeito de Joule), no ferro (das máquinas elétricas), etc.
Diremos portanto que, em qualquer transformação energética, a energia absorvida
(inicial) é sempre superior à energia útil (final). Mas analisemos mais em pormenor as
transformações energéticas num gerador, num motor e num recetor térmico.
11.9.1 Transformação energética num gerador
Sabemos já que existem diferentes tipos de geradores. Suponhamos o gerador
eletrodinâmico (dínamo), o qual transforma energia mecânica em elétrica.
Na figura 88 sugere-se este tipo de transformação. Através de uma correia, por
exemplo, é fornecida energia mecânica ao gerador, ficando o seu veio a rodar. O
gerador transforma esta energia mecânica Wm em energia elétrica We, cuja corrente vai
percorrer os seus enrolamentos. Neste caso particular, temos que a energia absorvida é
mecânica (Wa = Wm) e a energia útil é elétrica (Wu = We).

Qual será, afinal, a natureza e a constituição da energia de perdas Wp?


Bom, a corrente, quando percorre os enrolamentos do gerador, liberta energia calorífica,
por efeito de Joule, a qual se dissipa, isto é, não é aproveitável – são as perdas
caloríficas. Por outro lado, perde-se também alguma energia que resulta do atrito, com
o ar, do veio em movimento – perdas mecânicas. Além disso, há ainda as chamadas
perdas no ferro (perdas nas chapas de ferro dos núcleos), as quais serão estudadas mais
tarde. A soma de todas estas perdas constitui a energia de perdas Wp do gerador.
Temos portanto que, no gerador, a energia absorvida Wa (mecânica) é igual à soma da
energia útil Wu (elétrica) com a energia de perdas Wp:
Wa = Wu + Wp
com:
Wa – energia absorvida (joules)
Wu – energia útil (joules)
Wp – energia de perdas (joules)
A energia útil, sendo uma energia elétrica, no gerador, é dada por:
Wu = U I t.
Na figura 89, representamos, sob a forma de diagrama, a transformação energética
processada no gerador eletrodinâmico.

Por analogia com a expressão anterior, temos a seguinte expressão, que relaciona as
potências em jogo:
Pa = Pu + Pp
com:
Pa – potência absorvida (watts)
Pu – potência útil (watts)
Pp – potência total das perdas (watts)
Sendo a potência útil uma potência elétrica (no gerador), então verifica-se que Pu = UI.
De referir, finalmente, que o conjunto das perdas de um gerador (ou de um motor) tem
valores que se situam habitualmente entre 15% e 30% da potência absorvida.
11.9.2 Transformação energética num motor
O motor elétrico transforma, como sabemos, energia elétrica em mecânica. Neste caso, a
energia elétrica We será a energia absorvida Wa, e a energia mecânica Wm será a energia
útil Wu. O motor elétrico tem o mesmo tipo de perdas do gerador: por efeito de Joule
nos enrolamentos, mecânicas (por atrito) e no ferro. Na figura 90 sugere-se a
transformação energética processada num motor, bem como o diagrama respetivo.
No caso do motor, verifica-se que:
• We = Wa = Wu + Wp
• Pe = Pa = Pu + Pp
• Pa = U I e Wa = U I t
em que:
We – energia elétrica (joules)
Pe – potência elétrica (joules)

11.9.3 Transformação energética num recetor calorífico


No caso dos recetores caloríficos, o seu objetivo é, como sabemos, o de transformar a
energia elétrica absorvida em energia calorífica, a qual será a energia útil. Portanto,
nestes recetores, a energia libertada por efeito de Joule não será energia dissipada, isto é,
não será energia perdida. Vejamos alguns exemplos.
A função de um calorífero é a de aquecer o ambiente de uma sala, por exemplo. Neste
caso, toda a energia calorífica obtida vai diretamente para o ambiente, aquecendo-o.
Será, portanto, energia útil. Podemos, por isso, dizer que há uma transformação total da
energia absorvida em energia útil, isto é, não há perdas. Teremos então:
Wa = Wu com Wa = U I t e Wp = 0
Outros exemplos poderíamos referir, como: a torradeira, o ferro de engomar, etc. Em
qualquer dos casos, a energia calorífica libertada é canalizada para a sua função, não
havendo perdas. Em boa verdade, há sempre alguma energia calorífica (pouca) que é
desviada do seu destino; no entanto, além de continuar a ser energia calorífica, o seu
valor é tão reduzido que a desprezamos.

11.10 Potência e energia elétrica de um conjunto


11.10 Potência e energia elétrica de um conjunto
de recetores
É fácil de demonstrar que, se tivermos ligados no mesmo circuito ou instalação elétrica
um conjunto de recetores (em série, em paralelo ou associação mista), se verifica sempre
o seguinte:
1) A potência elétrica total dos recetores é igual à soma das potências individuais:
Pt = P1 + P2 + …… + Pn
2) A energia total consumida pelos recetores é igual à soma das energias consumidas
por cada um:
Wt = W1 + W2 + …… + Wn

11.11 Perdas. Rendimento


Em qualquer transformação energética, há sempre perdas de energia. As perdas são
uma parte da energia que não é utilizada durante o processo de transformação
energética que se pretende.
Vejamos alguns exemplos.
1) A função do motor elétrico é a de transformar energia elétrica em energia mecânica.
2) A função do gerador é a de transformar em energia elétrica outras formas de energia.
3) A função do recetor térmico é a de transformar energia elétrica em energia calorífica.
Ora, todos sabemos que nem toda a energia absorvida (Wa) será transformada em
energia útil (Wu). A diferença entre elas constituirá a energia de perdas Wp = Wa – Wu.
Um motor tem diferentes tipos de perdas: perdas por efeito de Joule nos seus
enrolamentos, perdas magnéticas no núcleo de ferro e perdas mecânicas (devido ao
atrito do veio, durante a rotação). Um dínamo também tem o mesmo tipo de perdas do
motor. Um recetor calorífico, por exemplo, tem perdas reduzidas, pois a sua função é
precisamente a de transformar a energia elétrica em calorífica – só não utilizará a
energia calorífica que se disperse, relativamente à função do recetor.
Define-se rendimento de um recetor ou de um gerador como o quociente entre a
energia útil (fornecida) e a energia absorvida:

com:
η – rendimento (sem unidades)
Wu – energia útil (joules)
Wa – energia absorvida (joules)
A energia de perdas será: Wp = Wa – Wu.
O rendimento pode também vir expresso em função das potências:
com:
η – rendimento (sem unidades)
Pu – potência útil (joules)
Pa – potência absorvida (joules)
A potência de perdas será: Pp = Pa – Pu.
O rendimento vem normalmente expresso em percentagem, da seguinte forma:

11.12 Medição de potências e energias


A potência elétrica P é definida, em corrente contínua, como o produto da tensão U pela
intensidade I:
P = U I (watts)
Assim, a potência elétrica P fornecida por um gerador é o produto da tensão aos seus
terminais pela intensidade de corrente que ele fornece. A potência elétrica P absorvida
por um recetor R é o produto da tensão U aos seus terminais pela intensidade de
corrente que ele absorve. Para medir a potência elétrica P em corrente contínua, há, tal
como para a medida de resistências elétricas, dois métodos: o método direto e o método
indireto.
O método direto consiste na utilização de um wattímetro, aparelho que mede
diretamente a potência elétrica de um circuito. O método indireto consiste na utilização
de mais do que uma leitura, seguidas de cálculos, como é o caso do método
voltamperimétrico. Neste método, mede-se a tensão U no circuito, bem como a
intensidade de corrente I, obtendo-se a potência elétrica P = U I. Na figura representam-
se os dois métodos descritos acima.
Tal como vimos na medição de resistências elétricas, também aqui podemos utilizar o
voltímetro antes ou depois do amperímetro, no método voltamperimétrico. Em ambos
os casos, comete-se um erro de leitura por excesso que corresponde à potência dissipada
no amperímetro ou no voltímetro, respetivamente.

11.13 Formulário geral


Se associarmos entre si as fórmulas associadas à Lei de Ohm e as da Lei de Joule,
podemos obter, por substituição umas nas outras, o seguinte conjunto de expressões de
utilidade prática.
1) Cálculo de R

2) Cálculo de I

3) Cálculo de P

4) Cálculo de U
PROBLEMAS – Lei de Joule. Rendimento
P1 – Uma torradeira tem as seguintes caraterísticas: 750 W, 230 V. Calcule:
a) A intensidade que ela absorve.
b) O valor da sua resistência elétrica.
c) A energia elétrica que consome (em kWh) durante 20 minutos.
d) A intensidade e a potência absorvidas, se a ligássemos a 150 V.
Resolução:

c) t = 20 min = 0,33(3) h
W = R I2 t = 70,6 × 3,262 × 0,33(3) = 249,9 Wh = 0,2499 kWh ou
W = P t = 750 × 0,33(3) ≈ 250 Wh = 0,25 kWh
d) A resistência elétrica da torradeira é constante (70,6 Ω):

P2 – Duas resistências elétricas de 30 Ω e 50 Ω são ligadas à rede de 24 V.


a) Admitindo que se encontram ligadas em série, calcule:
a1) As potências dissipadas em cada uma.
a2) A potência total dissipada.
a3) A energia consumida em 3/4 de hora.
b)Admitindo que se encontram ligadas em paralelo, calcule:
b1) As potências dissipadas em cada uma.
b2) A potência total dissipada.
b3) A energia consumida em 3/4 de hora.
Resolução:

P1 = R1 · I2 = 30 × 0,32 = 2,7 W; P2 = R2 · I2 = 50 × 0,32 = 4,5 W


a2) PT = U I = 24 × 0,3 = 7,2 W ou PT = P1 + P2 = 2,7 + 4,5 = 7,2 W

b2) I = I1 + I2 = 0,8 + 0,48 = 1,28 A; PT = U IT = 24 × 1,28 = 30,72 W


ou PT = P1 + P2 = 19,2 + 11,52 = 30,72 W

P3 – Um motor elétrico absorve, de uma rede, 5 A quando alimentado a 230 V. Calcule:


a) A potência elétrica absorvida pelo motor.
b) A potência mecânica (útil) do motor, sabendo que o seu rendimento é de 80%.
c) As perdas totais do motor.
Resolução:
a) Pa = U I = 230 × 5 = 1150 W
b) Pu = Pa · η = 1150 × 0,8 = 920 W
c) p = Pa – Pu = 1150 – 920 = 230 W
P4 – Um recetor térmico absorve 1200 W quando é alimentado a 230 V. Supondo que
lhe aplicamos 180 V, calcule:
a) A resistência elétrica.
b) A intensidade absorvida.
c) A potência absorvida.
d) A energia consumida durante 35 minutos.
Solução:
a) 44,08 Ω;
b) 4,08 A;
c) 734,4 W;
d) 428,4 Wh.
P5 – Uma resistência elétrica de baixa potência tem as seguintes caraterísticas: 10 kΩ e
1/4 W. Calcule:
a) A intensidade máxima que ela suporta sem se danificar.
b) A tensão máxima que se lhe pode aplicar.
Solução:
a) 5 mA;
b) 50 V.
P6 – Pretende-se construir uma resistência elétrica para um aquecedor de 500 W/230 V.
Utiliza-se fio cromoníquel de secção igual a 0,4 mm2. Calcule:
a) A resistência do fio, a quente.
b) O comprimento do fio.
c) A intensidade absorvida.
d) A resistência do fio, a frio (20 ºC), sabendo que a quente atingiu 500 ºC.
Solução:
a) 105,8 Ω;
b) 38,8 m;
c) 2,17 A;
d) 103,3 Ω.
12. Redes elétricas
12.1 Definição. Constituição
Até aqui, estudámos apenas instalações elétricas em que os geradores e os recetores de
f.c.e.m. eram percorridos por uma mesma corrente, isto é, constituíam um circuito
único. O cálculo era simples, pois tratava-se de calcular a única corrente que percorria
os diferentes recetores térmicos e/ou com forças contraeletromotrizes.
No entanto, os esquemas elétricos e as instalações respetivas podem tornar-se bem mais
complexos, podendo haver várias correntes, o que quer dizer que a instalação será
constituída por vários circuitos elétricos ligados entre si na mesma rede. Nestes casos,
os processos de cálculo utilizados até aqui já não são suficientes, pois cada instalação
pode ter várias correntes. Na figura representa-se, esquematicamente, uma rede elétrica
ativa constituída por vários circuitos interligados.
Na figura, podemos distinguir três circuitos diferentes:
1.° – Circuito ABCDA
2.° – Circuito ABCEA
3.° – Circuito ADCEA

A rede representada tem dois nós (A e C) – pontos onde convergem e de onde


divergem correntes. Note que B, D, E não são nós (estão lá apenas para podermos
referir os ramos ou troços). A rede representada tem três ramos diferentes (ABC, ADC,
AEC). Cada ramo liga dois nós entre si. Os ramos podem ser referidos pela ordem
inversa, por exemplo: CBA em vez de ABC.
Podemos constatar ainda que a rede representada tem um total de três correntes
diferentes (I1, I2 e I3), tantas quanto o número de ramos.
A corrente I1 percorre o troço CBA, a corrente I2 percorre o troço CDA, a corrente I3
percorre CEA.
Se repararmos atentamente, podemos verificar que qualquer dos circuitos indicados
tem sempre mais do que uma corrente. Por exemplo:
1) No 1.º circuito existem as correntes I1 e I2.
2) No 2.º circuito existem as correntes I1 e I3.
3) No 3.º circuito existem as correntes I2 e I3.
Concluímos, portanto, que não podemos calcular as diferentes correntes recorrendo aos
processos utilizados até aqui, pois cada circuito tem sempre mais do que uma corrente,
isto é, os diferentes circuitos são interdependentes.
Como resolver este tipo de problemas?
É o que vamos ver de seguida.

12.2 Métodos de análise de redes


Existem diferentes métodos para análise de redes elétricas do tipo apresentado,
nomeadamente: as Leis de Kirchhoff, o Teorema da Sobreposição, o Teorema de
Thévenin, o Teorema de Norton. etc.
Vamos estudar aqui apenas os seguintes três métodos:
1. As Leis de Kirchhoff.
2. O Teorema da Sobreposição.
3. O Teorema de Thévenin.

12.3 Leis de Kirchhoff


12.3.1 Campo de aplicação deste método
As Leis de Kirchhoff são utilizadas em redes mais ou menos complexas em que se
pretende conhecer as correntes em vários ramos da rede (ou em todos). É, por isso, um
método que permite calcular todas as incógnitas de uma forma sistemática, sendo por
isso o mais abrangente de todos.
Os restantes métodos são geralmente utilizados em situações particulares em que se
pretende calcular uma corrente num determinado ramo, uma diferença de potencial
num recetor, etc.
São duas as Leis de Kirchhoff: Lei dos Nós e Lei das Malhas.
12.3.2 1.ª Lei de Kirchhoff ou Lei dos Nós
Na figura representa-se um nó (nó A) de um determinado circuito. Um nó é, como se
sabe, um ponto do circuito onde convergem e de onde divergem várias correntes. A um
nó estão associados sempre pelo menos três correntes. No caso particular representado
na figura, no nó A converge (entra) uma só corrente (I1) e divergem (saem) duas
correntes (I2 e I3).

A Lei dos Nós diz o seguinte:


Lei dos Nós «A soma das correntes que convergem num nó (∑ Ic) é igual à soma das
correntes que dele divergem (∑ Id)».
∑ Ic = ∑ Id
Aplicando a lei ao nó A da figura 95, obtemos:
I1 = I2 + I3

12.3.3 2.ª Lei de Kirchhoff ou Lei das Malhas


Observe o esquema elétrico representado na figura. A rede é constituída por dois nós
(A e C). Note que B, D e E não são nós (a sua presença no esquema serve apenas para
poder designar o ramo respetivo). O ramo, conforme foi já definido, liga dois nós entre
si. Temos, por isso, os seguintes três ramos: ABC, ADC e AEC.
Define-se malha (corresponde a um circuito) como o conjunto mínimo de ramos que é
necessário percorrer, desde um nó, até regressar ao nó inicial. Assim, na figura, temos
como malhas as seguintes: ABCEA, ADCEA e ABCDA (tantas quanto o número de
circuitos).

Apesar de este esquema ter três malhas, só duas delas (quaisquer duas) são, no entanto,
independentes. Com efeito, uma malha independente tem sempre um ramo que não
faz parte das outras malhas. Isto quer dizer que a 3.ª malha (dependente) é constituída
só por ramos que já foram considerados (percorridos) nas outras malhas, não sendo, por
isso, independentes. Experimente.
Para efeito de aplicação da Lei das Malhas, só contam as malhas independentes que, no
esquema apresentado, serão duas quaisquer das três existentes.
A Lei das Malhas diz o seguinte:
Lei das Malhas «Ao longo de uma malha, a soma algébrica das forças eletromotrizes (∑
E) é igual à soma algébrica das quedas de tensão ∑ (R · I)», isto é:
∑ E = ∑ ( R · I)
Na figura representa-se um circuito elétrico, portanto, só com uma malha.
Arbitrámos o sentido da malha e, portanto, também o sentido da corrente I, pois não
sabemos quais os valores de E1 e E2. Se E1 for maior do que E2, então o sentido da
corrente I indicado na figura é o correto. Se E2 for maior do que E1, o sentido correto será
o contrário do indicado. Se E1 = E2, então a corrente será nula.
Ao aplicarmos a 2.ª Lei de Kirchhoff (lei das malhas) à malha indicada, serão positivas
as f.e.m. e as tensões e quedas de tensão que tiverem o sentido da malha; serão
negativas, se tiverem o sentido contrário ao da malha.
Assim, para o circuito da figura, teremos:
∑ E = ∑ (R · I) ⇔ E1 – E2 = (R1 + r1 + R2 + r2) · I
Note que só E2 tem o sentido contrário ao da malha e será, portanto, negativo.
Suponhamos que, no circuito, as resistências têm os seguintes valores:
R1 = 8 Ω, r1 = 0,3 Ω, R2 = 3,5 Ω e r2 = 0,2 Ω. Suponhamos ainda as duas situações que se
seguem para os valores de E1 e E2.
1.ª situação: E1 = 12 V, E2 = 6 V
A corrente no circuito será:

O valor de I deu positivo, o que quer dizer que o sentido arbitrado para a corrente está
correto. E1 também é positivo, e E2 é negativo. Atendendo aos sentidos de I, E1 e E2,
facilmente se conclui que E1 funciona como gerador e que E2 funciona como recetor de
força contraeletromotriz, ou seja, acumulador (E1 está a carregar E2).
2.ª situação: E1 = 12 V, E2 = 15 V
A corrente no circuito será:

O valor de I deu negativo, o que quer dizer que o sentido arbitrado para a corrente não
é o correto, de acordo com os valores de E1 e E2, nesta situação. Portanto, neste caso,
teremos de trocar no esquema o sentido da corrente, ficando E2 a funcionar como
gerador e E1 como recetor, conforme era de esperar, pois E2 > E1.
Vamos fazer de seguida a aplicação, em simultâneo, das duas Leis de Kirchhoff, a uma
rede elétrica, para o cálculo das suas correntes.
12.3.4 Aplicação das duas Leis de Kirchhoff
Vamos então determinar as correntes de uma rede elétrica, utilizando as duas Leis de
Kirchhoff, em conjunto. Observe a rede cujo esquema elétrico se representa na figura.

Esta rede é constituída por:


• Três ramos e, portanto, três correntes: I1, I2, I3.
• Três forças eletromotrizes: E1, E2, E3. Veremos adiante que alguma(s) delas pode(m)
ser forças contraeletromotrizes. Só no fim do cálculo se saberá.
• Várias resistências: R1, R2 (recetores térmicos), r1, r2, r3 (resistências internas dos
geradores).
• Três malhas no total (ABCA, ADBA, ADBCA).
• Duas malhas distintas ou independentes (por exemplo, as malhas 1 e 2 representadas
na figura e correspondentes a ABCA e ADBA).
• Dois nós (A e B) no total.
• Um só nó distinto. Os nós A e B não são distintos, entre si, pois ambos conduzem à
mesma equação de correntes (I1 = I2 + I3). Verifique. Deve acrescentar-se que numa rede
só existem n – 1 nós distintos, em que n é o número total de nós; no caso da figura,
temos 2 – 1 = 1 nó distinto.
Visto que geralmente são conhecidas as forças eletromotrizes e as resistências do
circuito, então as incógnitas serão as correntes, que são três: I1, I2 e I3. Temos, por isso,
necessidade de estabelecer um sistema de três equações a três incógnitas.
Vejamos então quais as equações que vamos estabelecer.
Segundo a Lei das Malhas, só podemos estabelecer duas equações independentes
(uma por cada malha independente). Segundo a lei dos nós, vamos estabelecer a 3.ª
equação que nos falta, correspondente ao único nó distinto.
Vejamos agora qual a sequência de procedimentos a utilizar na aplicação das Leis de
Kirchhoff:
1.° – Arbitram-se, no esquema, os sentidos das correntes (já foram arbitrados). Note que,
à partida, desconhecemos quais os sentidos corretos.
2.° – Aplica-se a Lei dos Nós a «todos os nós, menos um», ou seja, aos nós distintos.
Escrevem-se de seguida a(s) equações respetiva(s). No caso da figura, temos um só nó
distinto. Vamos utilizar o nó A, por exemplo. Virá então:
1.ª equação: ∑ Ic = ∑ Id ⇔ I1 = I2 + I3
3.° – Representam-se os sentidos das setas das f.e.m. e f.c.e.m. (de – para +). À partida,
não sabemos se um dado elemento é gerador ou recetor de f.c.e.m.; só depois de
calculadas as correntes é que o saberemos, depois de definidos os sentidos corretos das
correntes.
4.° – Define-se o número de malhas independentes e escolhe-se um sentido (arbitrário)
para a circulação em cada uma delas, tal como se representa no esquema.
5.° – Aplica-se a Lei das Malhas a cada malha. Consideramos como positivas as f.e.m.
que tiverem o mesmo sentido de circulação da malha respetiva e como negativo as que
tiverem o sentido contrário ao da circulação da malha. As f.e.m. são, por isso, somadas
algebricamente (umas positivas e outras negativas). O mesmo acontece com as quedas
de tensão: serão positivas as que tiverem o sentido de circulação da malha respetiva e
negativas em caso contrário. Note que a queda de tensão na resistência tem o mesmo
sentido da corrente respetiva.
Para o exemplo apresentado, existem duas malhas independentes, o que origina
igualmente duas equações:
2.ª equação – malha 1: ∑ E = ∑ (R · I) ⇔ E1 + E2 = (R1 + r1) · I1 + r2 · I2
3.ª equação – malha 2: ∑ E = ∑ (R · I) ⇔ E3 – E2 = – r2 · I2 + (R2 + r3) · I3
6.° – Temos, portanto, neste caso, um sistema de três equações a três incógnitas:

Este sistema pode ser resolvido por um dos métodos estudados em Matemática –
método da substituição, método da redução, etc. Podemos ainda fazer simulações das
Leis de Kirchhoff utilizando software informático próprio, o qual nos dá a solução do
problema, antes da resolução do mesmo. Existem vários programas informáticos para o
efeito, nomeadamente: o Multisim, o PSPICE, o ORCAD, etc.
Na figura, representamos a solução de um problema, utilizando dois programas
diferentes.

7.° – Crítica aos valores obtidos


1) Ao calcular as correntes, pode acontecer que alguns dos valores sejam negativos.
Visto que não há correntes negativas, como se sabe, então uma solução negativa quer
dizer que o sentido arbitrado inicialmente para ela no esquema não era o correto –
devemos, pois, alterar no esquema o sentido arbitrado.
2) Depois de marcados todos os sentidos corretos das correntes, no esquema, podemos
finalmente concluir qual ou quais dos elementos são geradores e qual ou quais são
recetores com f.c.e.m. Recordamos que no gerador a corrente e a f.e.m. têm o mesmo
sentido, e que no recetor de f.c.e.m. a corrente e a f.c.e.m. têm sentidos contrários.
12.3.5 Cálculo da diferença de potencial entre dois pontos da
rede
Na análise de redes com vários ramos, é necessário, frequentemente, conhecer o valor
da diferença de potencial entre dois pontos determinados. Se algumas vezes é quase
imediato o cálculo desse valor, em muitos casos esse cálculo é mais complicado.
Vejamos então, através de um pequeno exemplo, como o sugerido na figura, qual o
método geral utilizado para obter a diferença de potencial entre dois pontos quaisquer
da rede.
Suponhamos, por exemplo, que pretendíamos calcular a tensão entre os pontos A e B –
UAB – indicados na figura.
O processo consiste em estabelecer uma malha que se feche pelos pontos A e B, tal como
se sugere na figura. Aplicando a Lei das Malhas à malha indicada na figura, obtemos:
E1 = (R1 + r1 + R5) · I1 – R3 · I3 + UAB ⇔ UAB = E1 – (R1 + r1 + R5) · I1 + R3 · I3
Esta equação permite-nos determinar o valor da diferença de potencial entre os pontos
A e B. Note que antes de resolver este esquema é necessário primeiro determinar os
valores das correntes e os sentidos corretos delas e indicá-los corretamente no esquema.
Se obtivermos um valor negativo para UAB, isso quer dizer que o sentido correto do
vetor é o contrário do indicado.
Sugestão: Sugere-se que, no laboratório real ou virtual, confirme experimentalmente o
valor da tensão UAB (entre dois pontos quaisquer), depois de ter calculado essa mesma
tensão.
Sugere-se ainda que, utilizando software adequado (designado «laboratório virtual»),
coloque o voltímetro entre A e B, meça esse valor e compare com o calculado.
PROBLEMAS – Leis de Kirchhoff
Nota: Todos estes problemas podem ser simulados no «laboratório virtual», utilizando programas informáticos
adequados, para confirmar os valores obtidos ou para conhecer, previamente, os valores antes dos cálculos.

P1 – Observe a figura. Sabe-se que E1 = 6 V, E2 = 15 V, r1 = 0,1 Ω, r2 = 0,15 Ω, R3 = 2 Ω, R4


= 3,73 Ω. Calcule:
a) O valor indicado pelo amperímetro.
b) Os valores indicados por V1, V2, V3, V4.

Resolução:
b) Visto que E1 é recetor, temos:
U1 = E1 + r1 · I = 6 + 0,1 × 1,5 = 6,15 V
Visto que E2 é gerador, temos:
U2 = E2 – r2 · I = 15 – 0,15 × 1,5 = 14,775 V
U3 = R3 · I = 2 × 1,5 = 3 V
U4 = R4 · I = 3,75 × 1,5 = 5,625 V
Verifica-se que U2 = U3 + U1 + U4 ⇔ 14,775 V = 14,775 V.
P2 – Observe o esquema elétrico representado, em que: E1 = 15 V, E2 = 9 V, E3 = 6 V, r1 =
0,3 Ω, r2 = 0,2 Ω, r3 = 0,1 Ω, R1 = 2 Ω, R2 = 3 Ω, R3 = 4 Ω.

a) Apresente o sistema de equações que permite calcular as correntes.


b) Calcule as correntes I1, I2 e I3.
c) Indique, no esquema, os sentidos corretos das correntes.
d) Calcule a tensão entre os pontos A e B.
Resolução:
a) Temos três incógnitas (I1, I2, I3), logo, vamos estabelecer um sistema de 3 equações a 3
incógnitas.

b) Vamos resolver o sistema pelo método da substituição.


c) As três correntes têm os sentidos corretos, pois os valores obtidos são positivos.
Concluímos ainda que E1 é gerador e que E2 e E3 são recetores de f.c.e.m.
d) A tensão UAB pode ser calculada das três formas que se seguem:
UAB = E1 – (R1 + r1) · I1 = 15 – (2 + 0,3) × 1,7856 = 10,89 V
(ramo de gerador)
UAB = E2 + (R2 + r2) · I2 = 9 + (3 + 0,2) × 0,5916 = 10,89 V
(ramo de f.c.e.m.)
UAB = E3 + (R3 + r3) · I2 = 6 + (4 + 0,1) × 1,194 = 10,89 V
(ramo de f.c.e.m.)
P3 – Observe o esquema elétrico representado, em que E1 = 12 V, E2 = 9 V, E3 = 15 V, r1 =
0,3 Ω, r2 = 0,2 Ω, r3 = 0,1 Ω, R1 = 2,5 Ω, R2 = 3 Ω, R3 = 3 Ω.
a) Calcule as correntes I1, I2, I3.
b) Indique, no esquema, os sentidos corretos das correntes.
c) Indique quais os geradores e quais os recetores de f.c.e.m.
d) Calcule a tensão entre os pontos A e B.
Solução:
a) 0,011A;
b) 0,947A;
c) 0,958A;
d) 12,03 V.
P4 – Observe a figura, em que E1 = 24 V, E2 = 12 V, E3 = 6 V, r1 = 0,6 Ω, r2 = 0,5 Ω, r3 = 0,4
Ω, R1 = 1,5 Ω, R2 =2, 3 Ω, R = 2 Ω.

a) Calcule as correntes no circuito. Indique, no final, os seus sentidos corretos


b) Indique quais os geradores e quais os recetores de f.c.e.m.
c) Calcule a tensão entre os pontos A e B.
Solução:
a) 9,284 A; 7,032 A; 2,252 A;
b) São os três geradores;
c) 4,5 V.
12.4 Teorema da Sobreposição
O Teorema da Sobreposição, ou Método da Sobreposição, é normalmente utilizado
quando se pretende calcular apenas uma corrente num ramo de uma rede não muito
complexa. Se a rede for complexa, já não se justifica a utilização deste método.
Tem a vantagem de não necessitar de estabelecer um sistema de n equações, tantas
quanto o número total de correntes, pois pretende-se calcular apenas uma dada
corrente. Tal como o método anterior (Leis de Kirchhoff), é aplicável a redes elétricas
com vários ramos e malhas e diversos geradores e recetores térmicos e de força
contraeletromotriz.
Aqui, vamos aplicar o método apenas à situação mais simples, que corresponde apenas
a um circuito simples com uma só malha.
Vejamos então em que consiste este método.
Diz o seguinte o Teorema da Sobreposição: «Numa rede elétrica com vários geradores
de tensão, a corrente elétrica em qualquer ramo é igual à soma algébrica das correntes
que seriam produzidas por cada um dos geradores, se cada um deles funcionasse
isoladamente e as restantes fontes de tensão fossem substituídas pelas suas resistências
internas».
Suponhamos o circuito indicado na figura, com uma só malha, constituído por dois
geradores e dois recetores térmicos.
Pretende-se calcular a corrente no recetor R1, ou seja, a corrente do circuito, utilizando
o Teorema da Sobreposição.

Segundo o teorema, a corrente em R1 será igual à soma algébrica da corrente I1 que a


percorre quando está ligado apenas o gerador G1 (mantendo no circuito a resistência
interna r2 de G2) com a corrente I2 que a percorre quando está apenas ligado o gerador
G2 (mantendo no circuito a resistência interna r1 de G1), isto é: IR1 = ⎜I1 – I2⎜.
Isto quer dizer que o circuito da figura anterior é equivalente à soma dos dois circuitos
seguintes, para efeito do cálculo da corrente. Note que as duas correntes (I1 e I2) têm
sentidos contrários, pelo que a soma algébrica das correntes é, neste caso, a diferença
entre elas.
Por análise de cada um dos circuitos, é fácil concluir que as correntes I1 e I2 são
calculadas pelas expressões :

A corrente em R1 será I1 – I2 ou I2 – I1 consoante for maior I1 ou I2, respetivamente. Se os


geradores fornecessem corrente no mesmo sentido, então somavam-se as duas
correntes.
PROBLEMAS – Teorema da Sobreposição
P1 – O circuito elétrico representado tem os seguintes valores: E1 = 12 V, E2 = 9 V, r1 =
0,3 Ω, r2 = 0,2 Ω, R = 6 Ω.

a) Utilizando a 2.ª Lei de Kirchhoff, calcule:


a1) A intensidade de corrente no circuito.
a2) A tensão medida por cada voltímetro.
b) Utilizando o Teorema da Sobreposição, calcule a intensidade de corrente e conclua.
Resolução:
a1) E1 – E2 = (r1 + r2 + R) · I ⇔

a2) U1 = E1 – r1 · I = 12 – 0,3 × 0,462 = 11,86 V


(visto que E1 é gerador)
U2 = E2 + r2 · I = 9 + 0,2 × 0,462 = 9,09 V
(visto que E2 é recetor)
U3 = R · I = 6 × 0,462 = 2,77 V
(recetor térmico)
confirma-se que U1 – U2 = U3 ⇔ 11,86 – 9,09 = 2,77 V ⇔ 2,77 V = 2,77 V
c) Utilizando o Teorema da Sobreposição, a corrente I será igual à soma algébrica das
correntes I1 e I2 fornecidas por cada gerador, funcionando isoladamente, conforme se
sugere na figura.

Assim, temos:

I = I1 – I2 = 1,846 – 1,384 = 0,462 A (as duas correntes têm sentidos contrários)


Conclui-se, portanto, que o cálculo da corrente pode ser efetuado quer pelas Leis de
Kirchhoff quer pelo Teorema da Sobreposição.
P2 – Observe a figura. Sabe-se que E1 = 6 V, E2 = 4,5 V, r1 = 0,2 Ω, r2 = 0,1 Ω, R3 = 5 Ω; R4
= 6 Ω.

a) Utilizando a 2.ª Lei de Kirchhoff:


a1) Calcule a intensidade de corrente no circuito.
a2) Calcule a tensão medida por cada voltímetro.
a3) Verifique se a potência elétrica gerada (ET · I) é igual à potência elétrica consumida
(RT · I2).
b) Utilizando o Teorema da Sobreposição, calcule a intensidade de corrente e conclua.
Solução:
a1) 0,929 A;
a2) 5,81 V; 4,41 V; 4,65 V; 5,57 V;
a3) 9,75 W = 9,75 W;
b) 0,929 A.

12.5 Teorema de Thévenin


12.5.1 Utilização do teorema
Este teorema permite calcular correntes em ramos de uma rede ativa, com um ou vários
geradores, através de uma técnica especial que consiste em dividir o circuito em duas
partes, entre dois terminais definidos em função do problema proposto. Tal como o
teorema anterior, também este permite calcular as correntes, uma a uma. É, portanto,
mais um método geralmente utilizado para cálculos parcelares, isto é, quando
precisamos de calcular apenas uma corrente. Mas vejamos em que consiste este
método.
12.5.2 Definição e aplicação do teorema
A aplicação do Teorema de Thévenin consiste em obter um esquema equivalente mais
simples e constituído por uma só fonte de tensão e uma resistência equivalente.
Vejamos o seu enunciado!
Teorema de Thévenin – «Ao removermos uma parte de um circuito, a partir de dois
quaisquer terminais (A e B), a parte do circuito que ficou é equivalente a um gerador
cuja f.e.m. (ETH – tensão de Thévenin) é igual à tensão elétrica entre esses terminais
(abertos) e cuja resistência interna (RTH – resistência de Thévenin) é igual à resistência
medida («vista») entre os dois terminais, depois de substituído(s) o(s) gerador(es)
pela(s) sua(s) resistência(s) interna(s).» Este gerador equivalente tem o nome de gerador
de Thévenin.
Na figura 112 representa-se a equivalência entre um dado circuito e o seu equivalente
de Thévenin.

Na figura 113 representam-se os circuitos que nos permitem obter os valores da tensão
de Thévenin (ETh) e da resistência equivalente de Thévenin (RTh).
A parte do circuito dentro do tracejado (fig. 112 b) funciona com uma «caixa preta» com
dois terminais. Frequentemente, dá-se-lhe o nome de dipolo (dois polos ou terminais).
O enunciado do teorema parece complicado, mas a sua aplicação é relativamente
simples e fácil de compreender, através da resolução de alguns problemas.
PROBLEMAS – Teorema de Thévenin
P1 – O esquema elétrico representado tem os seguintes valores: E1 = 9 V, E2 = 12 V, r1 =
0,1 Ω, r2 = 0,2 Ω, R1 = 4 Ω, R2 = 6 Ω, R3 = 3 Ω. Utilizando o Teorema de Thévenin, calcule
a intensidade em R2.

Resolução:
Conforme vimos anteriormente, podíamos calcular estas correntes pelas Leis de
Kirchhoff ou pelo Teorema da Sobreposição. Mas vejamos agora como calculá-las
utilizando o Teorema de Thévenin.
Para calcular I2, vamos «abrir» o circuito entre os terminais A e B indicados na figura
114, isto é, o ramo de R2 (onde passa a corrente I2) é desligado. De seguida, vamos obter
sucessivamente a f.e.m. ETH e a resistência interna RTH do gerador de Thévenin, para
calcularmos finalmente o valor de I2.
a) Cálculo de ETh
Vamos determinar a tensão entre A e B, com os terminais abertos, tal como se sugere na
figura 115. Obtemos então:

UAB = UR3 = R3 I = 3 × 1,27 = 3,81 V


Segundo o teorema, o gerador de Thévenin tem uma f.e.m.
ETH = UAB = 3,81 V.

b) Cálculo de RTH
Quanto à resistência interna do gerador de Thévenin, ela obtém-se medindo a
resistência interna entre A e B, substituindo no circuito da figura anterior os geradores
(E1, neste caso) pelas suas resistências internas (r1, neste caso). Obtemos, assim, a figura
116.

A resistência RTH, medida (com ohmímetro) ou calculada, entre os terminais A e B será:

Segundo o teorema, teremos que «... a parte do circuito que fica é equivalente ao
gerador de Thévenin...».
Substituindo então «a parte do circuito» pelo gerador de Thévenin, obtemos o circuito
total equivalente (já com a resistência R2) representado na figura 117:

A corrente em R2 é agora fácil de calcular neste circuito equivalente. Temos, portanto,


aplicando a Lei das Malhas ao circuito da figura 117:
E2 – ETH = I2 (r2 + R2 + RTH) ⇔ 12 – 3,81 = I2 × (0,2 + 6 + 1,73) → I2 = 1,03 A
P2 – Utilizando o Teorema de Thévenin, calcule a corrente em R3. Os valores são os
seguintes: E1 = 9V, E2 = 4,5V, E3 = 6V, r1 = 0,3 Ω, r2 = 0,2 Ω, r3 = 0,1 Ω, R1 = 1,2 Ω, R2 = 1,5
Ω, R3 = 3 Ω.
Solução:
I3 = 0,23 A
CAPÍTULO 2
Condensadores em corrente contínua
«Não basta conquistar a sabedoria; é preciso saber usá-la!»

Tópicos principais deste capítulo:


• Carga e descarga do condensador
• Associação de condensadores
• Tipos de condensadores e suas propriedades
1. Constituição do condensador
Um condensador é um componente elétrico passivo constituído por duas superfícies
condutoras, chamadas armaduras, separadas por uma substância isolante, designada
dielétrico. Na figura 1 fez-se a representação esquemática de um condensador dito
plano.

Os materiais mais utilizados na constituição das armaduras são: alumínio, estanho, ligas
de estanho e chumbo, prata, papel metalizado. Como dielétricos utilizam-se substâncias
sólidas, líquidas ou gasosas, como por exemplo: ar, vidro, papel parafinado, plástico
(poliéster), material cerâmico, óleo, etc.
2. Carga e descarga de um condensador
Dada a sua constituição (duas armaduras metálicas separadas por um isolador), o
condensador é um componente que, quando se lhe aplica uma tensão contínua, fica ao
fim de algum tempo com as suas armaduras carregadas, uma positiva e outra
negativamente – é a carga do condensador.
Se desligarmos a fonte de alimentação e ligarmos as duas armaduras, entre si, através
de um fio condutor, elas descarregam-se rapidamente, ficando ambas com carga nula –
é a descarga do condensador.
Mas vejamos melhor os dois fenómenos, carga e descarga, em corrente contínua.

2.1 Carga do condensador


Façamos no laboratório a experiência sugerida pela figura. O circuito é constituído por
um condensador C (com armaduras A e B) ligado em série com um galvanómetro G (de
zero ao centro), alimentado por uma fonte de corrente contínua de tensão U.

Inicialmente, o condensador encontra-se descarregado, isto é, sem tensão elétrica entre


as armaduras A e B. Ao aplicar ao circuito a tensão U da fonte, ligando K, o circuito irá
ser percorrido por uma corrente i decrescente (observada no galvanómetro) que vai
carregar o condensador; isto é, uma armadura vai ficar positiva (+ Q) e a outra negativa
(– Q). Deste modo, a diferença de potencial entre as armaduras vai aumentando. Logo
que a diferença de potencial Uc, aos terminais do condensador, atinge o valor da tensão
U da fonte, deixa de haver corrente no circuito (o ponteiro do galvanómetro marcará
zero).
Na figura 4 exemplificamos a carga de um condensador, em três etapas:
1.° – Condensador descarregado, em repouso (fig. a)).
2.° – Condensador durante a carga (fig. b)).
3.° – Condensador totalmente carregado (fig. c)).
Em a), o condensador está descarregado e em repouso (i = 0) – em cada armadura, o
número de cargas positivas é igual ao número de cargas negativas (Q = 0 e Uc = 0).
Em b), aplicou-se uma tensão U ao condensador – polo positivo da fonte ligado à
armadura A e polo negativo ligado à armadura B. O polo positivo atrai eletrões da
armadura A, os quais se movimentam em direção à fonte; o polo negativo da fonte, por
sua vez, fornece eletrões à armadura B do condensador. Há, assim, um movimento de
eletrões (i ≠ 0) num determinado sentido (da armadura A para a armadura B, pelo
circuito exterior ao dielétrico).
Em c), as armaduras ficaram então diferentemente carregadas – a armadura A ficou
com deficiência de eletrões, isto é, carregada positivamente (+ Q); a armadura B ficou
com excesso de eletrões, isto é, carregada negativamente (– Q). O condensador fica
completamente carregado quando a diferença de potencial entre as armaduras iguala o
valor da tensão da fonte, isto é, quando se verifica que Uc = U. Quando isto acontece,
deixa de haver corrente no circuito, isto é, i = 0.
Graficamente, a carga do condensador representa-se como é indicado na figura 5. Pode
observar-se que, no instante em que se liga o interruptor K, a corrente de carga atinge o
valor máximo Imáx. À medida que o condensador vai carregando, Uc aumenta e a
corrente i vai diminuindo. Quando o condensador está completamente carregado,
verifica-se que Uc = U e i = 0.

2.2 Descarga do condensador


A descarga do condensador consiste em fazer com que as armaduras fiquem sem
qualquer carga, isto é, com uma diferença de potencial nula. Para descarregar o
condensador, ligam-se as armaduras A e B através de um condutor («shunt»), tal como
se sugere na figura 6. A figura representa a descarga, em duas etapas: a) – condensador
a descarregar; b) – condensador completamente descarregado.
A armadura B que está carregada negativamente irá fornecer eletrões (sentido contrário
ao da carga) que se vão deslocar através do «shunt» para a armadura A até neutralizar
completamente as cargas positivas. Quando isso acontece, o condensador fica
completamente descarregado, a tensão Uc será nula e a corrente i no circuito também
será igual a zero.
Na figura 7 representa-se graficamente a descarga do condensador. Quando se liga o
interruptor K, a tensão Uc = U começa progressivamente a diminuir até zero; a corrente
atinge o valor máximo Imáx, no instante de ligação e tende também para zero. Note que o
sentido da corrente de descarga é contrário ao sentido da corrente na carga.

Na figura 8 representa-se a junção dos dois gráficos (carga + descarga) do


condensador.
3. Velocidade de carga e de descarga do
condensador
Se ligarmos uma resistência R em série com o condensador, durante a carga ou a
descarga, a velocidade de carga e de descarga irá diminuir, isto é, demorarão mais
tempo a realizar-se. Quanto maior for a resistência R maior será, portanto, o tempo de
carga e de descarga. Observe a figura 9, que representa um circuito de descarga de um
condensador com duas resistências diferentes R1 e R2, ligadas em paralelo, sendo R1 >
R2.

Se ligarmos o comutador C para a posição 1, introduzimos no circuito uma resistência


R1 em série com o condensador. Se ligarmos o comutador C para a posição 2,
introduzimos R2 em série com o condensador. Visto que R1 > R2, então teremos i1 < i2.
Sabendo que a carga do condensador é Q = i · t, então se i1 < i2 teremos que t1 > t2,
variando de forma inversamente proporcional. Isto é:
R1 ↑ ⇒ i1 ↓ ⇒ t1 ↑
(em que ↑ significa aumenta e ↓ significa diminui)
Na figura representa-se a descarga do condensador sobre as resistências R1 e R2.

É difícil definir com precisão o tempo que um condensador leva a carregar ou a


descarregar. Pode, no entanto, definir-se uma grandeza que tem o nome de constante
de tempo e se representa pela letra grega τ (tau). Na figura representa-se o gráfico da
corrente de carga (ou de descarga) de um condensador através de uma resistência R.
Define-se constante de tempo da carga de um condensador como o «tempo que um
condensador levaria a carregar se a corrente de carga fosse constante e igual a Imáx».
Esta constante é calculada pela expressão, que nos dá um valor aproximado:
τ=R·C
em que:
τ – constante de tempo (em segundos)
R – resistência elétrica (ohms)
C – capacidade (farads)
Nota: No seguimento, estudaremos o conceito de capacidade.

Esta constante pode ser obtida graficamente através da reta (tracejado) tangente à curva
de i (ver figura). Evidentemente que a constante de tempo é sempre inferior ao tempo
real de carga do condensador; podemos dizer que a constante de tempo é o tempo que o
condensador leva, na carga, a ficar com 63,2% da sua tensão máxima. A constante de
tempo para a descarga define-se de uma forma semelhante, sendo a fórmula a mesma.

Na figura 12 representa-se o esquema utilizado para simulação da carga e descarga de


um condensador, utilizando o programa informático Multisim (EWB). Experimente.
A intensidade no amperímetro vai decrescendo lentamente, enquanto a tensão no
voltímetro do condensador vai aumentando desde zero até ao valor final, que será 12 V.
4. Capacidade de um condensador
Nem todos os condensadores armazenam a mesma carga elétrica Q, isto é, uns
armazenam mais do que outros. A carga Q armazenada por um condensador depende,
não só da tensão que lhe é aplicada, mas também das caraterísticas próprias do
condensador (como, por exemplo, a área das armaduras, a distância entre elas e o
dielétrico utilizado).
Define-se capacidade C de um condensador como a constante de proporcionalidade
entre a carga Q armazenada e a tensão U que lhe é aplicada:

com:
C – capacidade do condensador (farads – F)
Q – carga elétrica armazenada numa armadura (coulombs – C)
U – tensão aplicada (volts – V)
Quanto maior for a tensão aplicada tanto maior será a carga Q armazenada; no entanto,
o quociente C é sempre constante, isto é, a capacidade é uma caraterística constante
para cada condensador.
Os condensadores são definidos pela sua capacidade C e também pela tensão nominal
Un (tensão que não convém ultrapassar).
Um condensador com elevada capacidade C quer dizer que pode armazenar grande
quantidade de carga elétrica Q. Da expressão anterior, deduzem-se as seguintes
expressões:

Em virtude de a unidade de capacidade (farad) ser muito elevada, para as utilizações


usuais, costumam utilizar-se os seguintes submúltiplos do farad:
• milifarad (mF) = 10–3 F
• microfarad (μF) = 10–6 F
• nanofarad (nF) = 10–9 F
• picofarad (pF) = 10–12 F
A capacidade de um condensador depende apenas das caraterísticas próprias do
condensador e é uma grandeza constante para cada condensador. Demonstra-se que,
para um condensador plano (armaduras planas), a capacidade é obtida pela expressão:

com:
C – capacidade (farads – F)
εr – constante dielétrica relativa (sem unidades)
ε0 – constante dielétrica absoluta (ou permitividade) do ar ou do vazio (farads por metro
– F/m) = 8,85 × 10–12 F/m
S – área de uma armadura (metros quadrados – m2)
d – <distância entre armaduras ou espessura do dielétrico (metros – m)
A constante dielétrica relativa εr é obtida em tabelas. Temos, como exemplos, os
seguintes valores de εr: papel – 2,5; cartão – 4; resina – 5; porcelana – 5,5; baquelite – 6;
mica – 7; etc.
5. Associação de condensadores
Tal como as resistências, os condensadores podem ser associados em série, em paralelo
e em associação mista.
Vamos analisar aqui apenas as associações em série e em paralelo.

5.1 Associação em série


Frequentemente há necessidade de associar dois ou mais condensadores em série, por
não dispormos de um condensador que reúna as condições para ser utilizado, sozinho,
no circuito. Deste modo, há que calcular a capacidade equivalente C do conjunto dos
condensadores ligados em série, de modo a poder efetuar os cálculos necessários.
Pretende-se, afinal, relacionar matematicamente a capacidade equivalente C com as
capacidades individuais de cada condensador.
Na figura a) sugere-se a associação em série de dois condensadores; em b) sugere-se a
ligação, à fonte de alimentação, do condensador equivalente (aos outros dois).

Observando a fig. a), pode verificar-se que os dois condensadores se carregam com a
mesma corrente i (corrente transitória, que se anula quando o condensador está
carregado) durante o mesmo tempo t, pois encontram-se ligados em série. Por essa
razão, temos que:
Q1 = Q2 = i · t
O condensador equivalente C deve armazenar a mesma carga total Q, sob a mesma
tensão total U, pelo que se deve verificar:
Q1 = Q2 = Q
Por outro lado, sabemos que:

O condensador equivalente deverá ter uma capacidade C tal que, quando submetido à
tensão U, armazena a carga Q = i · t. Temos, por isso, Q = C · U (ver fig. b). Explicitando
em ordem à tensão, obtemos:
Por outro lado, segundo a Lei das Malhas, temos:

Visto que Q = Q1 = Q2, dividindo ambas as parcelas por Q, vem, para dois
condensadores em série:

Se, em vez de dois, tivermos n condensadores em série, será:

Conclui-se assim que o condensador equivalente tem uma capacidade C inferior à de


qualquer um dos n condensadores ligados em série.
A associação em série é utilizada essencialmente quando não dispomos de
condensadores com tensão nominal igual (ou superior) à tensão da fonte de
alimentação. Com esta associação, a tensão da rede fica distribuída pelos diferentes
condensadores (U = U1 + U2 + ....) com tensões inversamente proporcionais às suas
capacidades.

5.2 Associações em paralelo


Na associação em paralelo de condensadores, cada um deles encontra-se submetido à
mesma tensão aplicada U, conforme se sugere na figura.

Tal como fizemos na associação em série, pretende-se determinar o valor da capacidade


equivalente C de um único condensador que substitui as capacidades individuais (C1,
C2, C3, etc.) de cada um dos condensadores ligados em paralelo. Isto é, pretendemos
demonstrar a relação matemática entre a capacidade total C e as capacidades parciais.
Demonstremos então!
Em a), os condensadores C1 e C2 são percorridos pelas correntes (transitórias) i1 e i2,
respetivamente, sendo i = i1 + i2 a corrente total absorvida. As quantidades de
eletricidade armazenadas por cada um dos condensadores serão, respetivamente:
Q1 = i1 · t1 e Q2 = i2 · t2
Visto que os condensadores estão ligados em paralelo, a tensão aplicada é igual nos
dois, a corrente total é a soma das correntes parciais e, portanto, também a carga total Q
será a soma das cargas parciais:
Q = Q1 + Q2 1)
com: Q = C U, Q1 = C1 U, Q2 = C2 U 2)
Substituindo os 2.os membros das expressões 2) em 1), vem, para dois condensadores
em paralelo:
Q = Q1 + Q2 ⇔ C U = C1 U + C2 U ⇔ C = C1 + C2
Se, em vez de dois condensadores, tivermos n condensadores ligados em paralelo,
vem:
C = C1 + C2 + ....... + Cn
Conclui-se, portanto, que a capacidade equivalente de uma associação de
condensadores em paralelo é sempre superior à capacidade de qualquer dos
condensadores constituintes. Este tipo de associação é essencialmente utilizado quando
não existe no mercado um condensador com a capacidade necessária para o circuito em
questão. Nesse caso, liga-se em paralelo um conjunto de condensadores (de capacidades
iguais ou diferentes) até perfazerem o total C necessário.
Concluímos portanto que, para aumentar a capacidade total, ligam-se os condensadores
em paralelo; para diminuir a capacidade total, ligam-se em série. Se a tensão da rede Un
for muito elevada, ligam-se os condensadores em série até perfazer o valor Un. Uma
associação mista de condensadores permite obter qualquer valor de capacidade
desejada, com valor normalizado ou não.
Na figura representa-se um esquema elétrico de simulação em Multisim (EWB) da
associação em série de dois condensadores. Experimente.
6. Tipos de condensadores
Os condensadores são componentes passivos, tais como as resistências, que têm a
capacidade de armazenar energia elétrica. Este facto permite-lhe ter várias funções nos
circuitos elétricos e eletrónicos. É basicamente constituído por duas armaduras
metálicas entre as quais existe um material isolador ou dielétrico.
Com efeito, em corrente contínua, o condensador armazena a energia elétrica que lhe
for fornecida por uma fonte, podendo fornecê-la mais tarde, descarregando-se, se for
ligado a outros componentes do circuito. Em corrente alternada, o condensador
carrega-se e descarrega-se ciclicamente.
Concluímos portanto que o condensador pode executar funções diversificadas
consoante a alimentação fornecida e consoante os componentes a que for ligado. São as
seguintes algumas das funções do condensador, em eletrotecnia e eletrónica: bloqueio
(da componente contínua de um sinal), filtragem (de determinadas frequências, em
detrimento das restantes), armazenamento (de energia elétrica), acoplamento ou
desacoplamento (entre partes do circuito eletrónico), correção do fator de potência do
circuito, eliminação de ruídos, proteção de contactos elétricos, etc., etc.
Também existem muitos tipos diferentes de condensadores, nomeadamente: cerâmicos,
eletrolíticos, de papel, de ar, de plástico, de óleo, etc. Como forma de sistematização, os
condensadores são geralmente classificados: quanto ao tipo de dielétrico, quanto ao
funcionamento e quanto ao valor nominal. Na Tabela 1, resumimos esta classificação.
O condensador de ar é um condensador em que o dielétrico é o ar. As duas armaduras
metálicas ocupam geralmente um espaço considerável. Têm grande aplicação nos
laboratórios, com capacidades variáveis, com valores de capacidades da ordem dos
microfarads e tensões de centenas de volts.
No condensador de papel, o dielétrico é o papel que é enrolado entre folhas finas de
alumínio.
Nos condensadores de mica, o dielétrico é constituído por camadas de mica colocadas
entre camadas de metal, prensados. Os valores usuais são da ordem dos picofarads,
utilizados em circuitos de alta frequência.
Nos condensadores cerâmicos, o dielétrico é constituído por material cerâmico
(policarbonato, poliéster, etc.). São fabricados numa enorme gama de valores, com
grande utilização nos circuitos eletrónicos e placas de circuito impresso.
Nos condensadores eletrolíticos, o dielétrico é um eletrólito líquido ou pastoso (óxido
de tântalo ou de alumínio). Conseguem-se valores da ordem dos 10 000 μ F = 10 m F,
com tensões da ordem dos 600 V. São geralmente polarizados, isto é, os seus terminais
têm polaridades definidas.
Os condensadores com dielétrico de filme plástico têm como isolante o poliestireno, o
polietileno, o teflon, etc. Fabricam-se para uma gama considerável de capacidades e
tensões.
Os condensadores a óleo têm o óleo como dielétrico e são utilizados para compensar o
fator de potência dos motores elétricos e das redes elétricas, isto é, para reduzir a
potência reativa respetiva.
Tal como as resistências, também os condensadores podem ser variáveis e ajustáveis;
isto é, a sua capacidade pode ser variada, progressivamente, ou ajustada para um dado
valor, consoante a nossa conveniência. Os condensadores variáveis também são
designados pela palavra inglesa «trimmer».

O condensador polarizado só pode ser alimentado da forma indicada no seu corpo, isto
é, atendendo às polaridades respetivas: + com + e – com –. É o caso da maior parte dos
condensadores eletrolíticos que são polarizados. Quanto aos restantes, não é necessário
ter cuidados particulares na verificação das polaridades; apenas se deve prestar muita
atenção à tensão elétrica que se lhes aplica. Utiliza-se geralmente a simbologia indicada
na figura 17.

Os condensadores são definidos pelas seguintes grandezas e caraterísticas:


• Capacidade nominal – C – em farads (F);
• Tensão nominal – UN – em volts (V);
• Tolerância – em percentagem (%);
• Temperatura de funcionamento – T – em °C;
• Sistema de identificação (código alfanumérico ou código de cores);
• Tipo de patas: axial ou radial.
Quando se pretende construir uma placa de circuito impresso, se não tivermos à mão o
condensador ou condensadores que vamos utilizar, teremos de consultar os catálogos
de fornecedores respetivos para identificarmos o seu encapsulamento (formato e
dimensões).
Visto que as capacidades têm geralmente valores inferiores a 1 farad, então devemos
utilizar frequentemente submúltiplos do farad, nomeadamente:
milifarad – mF = 10–3 F
microfarad – μF = 10–6 F
nanofarad – nF = 10–9 F
picofarad – pF = 10–12 F
O sistema de identificação dos condensadores pode ser, tal como nas resistências, por
código alfanumérico e por código de cores. O código alfanumérico é semelhante ao das
resistências. Quanto ao código de cores, existem muitos códigos de cores, consoante o
tipo de dielétrico utilizado. Na figura 18, apresentamos o código de cores para
condensadores cerâmicos. Na tabela 2, apresentamos alguns dos principais parâmetros
dos condensadores. Na tabela 3, apresentamos algumas das principais propriedades de
cada condensador.
PROBLEMAS – Associação de condensadores
P1 – Dois condensadores, ligados em série, foram submetidos a uma tensão total de 230
V. Sabe-se que as capacidades são, respetivamente, C1 = 10 μ F e C2 = 15 μ F e que as
suas tensões nominais são iguais, com o valor de 150 V.
a) Calcule a capacidade equivalente
b) Calcule as cargas individuais e a carga total armazenada
c) Calcule a tensão a que fica submetido cada condensador
d) Verifique se os dois condensadores podem ser utilizados neste circuito.
Resolução:

b) Q = Q1 = Q2 = C U = 6 × 10–6 × 230 = 138 × 10–5 C


Note que U = U1 + U2 ⇔ 230 = 138 + 92 ⇔ 230 V = 230 V.
d) Podem ser ambos utilizados no circuito, pois U1 = 138 V e U2 = 92 V são inferiores à
sua tensão nominal (150 V), a qual não deve ser ultrapassada.
P2 – Suponha que os dois condensadores do problema anterior são ligados em paralelo,
também à rede de 230 V.
a) Calcule a capacidade equivalente.
b) Calcule as cargas individuais e a carga total.
c) Verifique se os dois condensadores podem ser utilizados sob esta tensão.
Resolução:
a) C = C1 + C2 = 10 + 15 = 25 μF
b) Q1 = C1 U = 10 × 10–6 × 230 = 23 × 10–4 C
Q2 = C2 U = 15 × 10–6 × 230 = 34,5 × 10–4 C
Qt = Q1 + Q2 = 23 × 10–4 + 34,5 × 10–4 = 57,5 × 10–4 C
c) Evidentemente que nenhum dos dois condensadores poderia ser submetido à tensão
de 230 V. O máximo de tensão aplicável a cada um seria 150 V.
P3 – Três condensadores, respetivamente de 200 nF, 300 nF e 400 nF, são ligados em
série sob uma tensão total de 100 V. Calcule:
a) A capacidade equivalente.
b) As cargas individuais e total.
c) A tensão aos terminais de cada condensador.
Solução:
a) 92,3 nF;
b) Q = Q1 = Q2 = Q3 = 9,23 μC;
c) 46,1 V; 30,8 V; 23,1 V.
P4 – Quatro condensadores, ligados em paralelo sob 12 V, absorvem as cargas
individuais, respetivamente de: 120 nC, 180 nC, 240 nC, 360 nC. Calcule:
a) A capacidade de cada condensador.
b) A capacidade equivalente.
c) A carga total armazenada.
Solução:
a) 10 nF; 15 nF; 20 nF; 30 nF;
b) 75 nF;
c) 900 nC.
P5 – Ao ligar três condensadores em série, mediram-se aos terminais de cada um as
seguintes tensões individuais: 3 V, 5 V, 6 V. Sabendo que a carga total armazenada é de
300 pC, calcule:
a) A capacida de de cada um deles.
b) A tensão total aplicada.
Solução:
a) 100 pF; 60 pF; 50 pF.
b) 14 V.
P6 – Um conjunto de condensadores, com 4 μF cada um, é ligado em paralelo, sob uma
tensão de 120 V. A carga armazenada é de 2,88 mC. Calcule:
a) A capacidade equivalente.
b) O número de condensadores.
Solução:
a) 24 μF.
b) 6 condensadores.
CAPÍTULO 3
Magnetismo e eletromagnetismo
A melhor forma de se livrar de um problema é resolvê-lo!

Tópicos principais deste capítulo:


• Campo magnético criado por ímanes, condutores e bobinas
• Forças eletromagnéticas
• Indução eletromagnética
1. Campo magnético
1.1 Ímanes naturais e artificiais
Desde há milhares de anos que são conhecidas substâncias que atraem pedaços de ferro.
Essas substâncias são constituídas por óxidos de ferro (Fe3O4). Foi em Magnésia (na
Ásia) que, pela primeira vez, foram observadas as propriedades dessas substâncias, daí
que se tenha dado o nome de magnetite a esses óxidos de ferro. As suas propriedades
de atraírem o ferro ficaram, por isso, também conhecidas por propriedades magnéticas.
O magnetismo não é mais do que a propriedade que determinadas substâncias
possuem (como, por exemplo, a magnetite ou íman natural) de atraírem materiais
como: o ferro macio, o aço, o ferro fundido, o níquel, o cobalto, o crómio, etc.
Dada a importância do magnetismo no funcionamento de grande variedade de
aparelhagem e maquinaria elétrica, na prática usa-se mais frequentemente o íman
artificial, com vantagens sobre o íman natural. O íman artificial não é mais do que um
corpo em ferro ou aço que adquire propriedades magnéticas (permanentes ou não)
quando submetido à ação de uma corrente elétrica intensa. O íman artificial pode assim
adquirir diferentes intensidades de magnetização, consoante as necessidades dos
equipamentos e aparelhagem.
A todas estas substâncias magnetizáveis (temporária ou permanentemente) dá-se o
nome de substâncias ferromagnéticas. Mais tarde, veremos que o magnetismo tem
ações diferenciadas sobre todas as outras substâncias: umas não sofrem qualquer ação
magnética (ex.: madeira), outras são fracamente magnetizáveis, outras ainda repelem as
linhas de força do campo magnético e, finalmente, as ferromagnéticas que são
fortemente magnetizáveis.

1.2 Formas dadas aos ímanes


Os ímanes que utilizamos nas nossas experiências laboratoriais apresentam-se com as
seguintes formas: forma paralelepipédica, forma de U e forma de agulha. Na figura
representam-se os três tipos referidos.

1.3 Polos magnéticos do íman


Já todos experimentámos colocar uma agulha magnética sobre um apoio, tal como se
sugere na figura, e deixámo-la girar livremente. Verificámos que ela apontava uma das
extremidades para o norte terrestre e a outra, evidentemente, para o sul.
Como sabemos, a Terra comporta-se como um íman gigante, tendo no norte um polo
magnético e no sul outro polo magnético. O facto de a agulha se orientar para os polos
magnéticos da Terra quer dizer que a agulha tem também os seus próprios polos
magnéticos.
Convencionou-se então dar o nome de polo norte magnético N à extremidade da
agulha que se orienta para o norte terrestre e dar-se o nome de polo sul magnético S à
outra extremidade que se orienta para o sul terrestre. Verifica-se, no entanto, que a
agulha não se orienta rigorosamente na direção norte-sul geográfica, mas sim numa
direção cerca de 10° a oeste, a qual tem o nome de direção norte-sul magnética.

Na figura representa-se, simbolicamente, um íman com os seus polos magnéticos, sendo


o polo N normalmente representado graficamente a negro ou a cinzento.

1.4 Propriedades dos ímanes


Os ímanes exercem entre si, ou sobre substâncias ferromagnéticas, um conjunto de
ações que constituem as suas propriedades magnéticas. Vejamos algumas delas.
1.4.1 Atração e repulsão entre ímanes
Façamos a seguinte experiência: aproximemos o polo S de um íman paralelepipédico do
polo N de um íman em agulha. Verificamos que o polo N da agulha roda,
aproximando-se do polo S do íman paralelepipédico, ficando como que «coladas» essas
extremidades.
Aproximemos agora o polo N do íman paralelepipédico do polo N da agulha. Verifica-
se que estas duas extremidades se repelem. Estas duas experiências, que são facilmente
realizáveis, servem para demonstrar as leis da atração e repulsão magnéticas, que
dizem que:
• Polos magnéticos de nomes contrários atraem-se.
• Polos magnéticos do mesmo nome repelem-se.
Se afastarmos da agulha o íman paralelepipédico, então a agulha regressará à sua
orientação normal que é a de norte-sul magnética terrestre.
1.4.2 Indivisibilidade dos polos magnéticos
Se partirmos um íman em duas partes, cada uma das partes continuará com dois polos
magnéticos, isto é, os polos magnéticos não desaparecem, vão-se mantendo em cada
íman, por mais que se divida o íman original em partes. Na figura sugere-se a forma
como os polos magnéticos se mantêm, depois de se ter partido um íman em duas partes.

Na zona de fratura, criou-se um par de polos magnéticos (de nome contrário, entre si).
Se aproximarmos, de uma agulha magnética, cada uma dessas partes, verificaremos que
cada uma delas continua a comportar-se como um íman.
1.4.3 Os polos magnéticos e a zona neutra
Os ímanes são caraterizados por manifestarem as suas propriedades quase
exclusivamente nas extremidades polares. Com efeito, a zona central do íman não
apresenta quaisquer propriedades visíveis exteriormente. Esta zona tem, por isso, o
nome de zona neutra.
Quer dizer que, se aproximarmos uma agulha magnética da zona neutra de um íman, a
agulha não sofre qualquer desvio.

1.4.4 Magnetização de substâncias ferromagnéticas


Aproximemos um pedaço de ferro (ou um prego) do polo N de um íman, tal como se
sugere na figura. Verificamos que o ferro é atraído, ficando «colado».
Aproximemos agora o mesmo pedaço de ferro do outro polo (S) do íman.Verificamos
que o ferro é novamente atraído, ficando «colado» também.
Que conclusões podemos tirar destas duas experiências?
Bom, só podemos tirar as seguintes conclusões:
1) O ferro foi magnetizado pelo íman, ficando também com dois polos magnéticos.
2) Na primeira experiência, ficou com um polo S junto ao polo N do íman; na segunda
experiência, ficou com um polo N junto ao polo S, pois polos de nome contrário atraem-
se, tal como verificámos anteriormente.
3) O ferro é sempre magnetizável, independentemente da extremidade do íman que
aproximarmos dele, ficando sempre com um polo magnético contrário na extremidade
mais próxima do íman.
Na figura representamos a magnetização que se verificou na primeira experiência – o
ferro fica com polos magnéticos.

1.4.5 Magnetizações, temporária e permanente, do ferro


Conforme vimos nas experiências anteriores, o ferro pode ficar magnetizado por
contacto direto ou ainda por influência de um íman. A questão que se põe, no entanto, é
a de saber se o ferro mantém ou não as propriedades magnéticas, depois de afastarmos
o íman.
Bom, a resposta tanto pode ser «sim» como «não». Com efeito, a resposta a dar vai
depender do tipo de ferro utilizado. Conforme foi já referido, existem diferentes tipos
de ferro que diferem na quantidade de carbono existente na sua constituição. Assim,
temos o ferro macio, o aço, o aço-cobalto, etc. Vejamos, como mera exemplificação, as
principais diferenças entre os ferros referidos acima.
O ferro macio é caraterizado por ser magnetizável com relativa facilidade, mas
perdendo a magnetização logo que afastamos o íman. Neste caso, dizemos que houve
uma magnetização temporária do ferro macio, depois de efetuarmos uma das
experiências anteriores.
O aço e o aço-cobalto são caraterizados por serem magnetizados mais dificilmente, mas
mantendo as propriedades magnéticas após o afastamento do íman. Diz-se então que há
uma magnetização permanente (remanescente ou residual) dos aços. O magnetismo
permanente dos aços e suas ligas é, obviamente, aproveitado no fabrico de diversa
aparelhagem e maquinaria elétrica: amperímetros, voltímetros, motores, dínamos, etc.
1.4.6 Conservação das propriedades dos ímanes
Os ímanes têm tendência para perder progressivamente as suas propriedades
magnéticas, ao longo do tempo. Para evitar que isso aconteça, coloca-se uma armadura
(em ferro) junto aos seus polos, tal como se sugere na figura 9. Deste modo, não é
exercida qualquer influência do íman sobre o exterior, mantendo-se assim intactas todas
as suas propriedades. Mais tarde, veremos com maior fundamento por que assim é.

1.4.7 Desmagnetização de um íman


Conforme foi referido no ponto anterior, os ímanes artificiais vão perdendo as suas
propriedades ao longo do tempo, embora muito lentamente (alguns anos, usualmente).
Há, no entanto, processos para desmagnetizar rapidamente um íman.
Um dos processos consiste em aquecer o íman (natural ou artificial) até uma
determinada temperatura, chamada ponto de Curie (várias centenas de graus Celsius).
A partir dessa temperatura, o íman perde completamente as suas propriedades
magnéticas. Esta é a desmagnetização por tratamento térmico.Referimos, como
exemplos, os seguintes pontos de Curie: ferro 700 °C, níquel 380 °C, cobalto 1100 °C.
Outro processo de desmagnetização consiste em submeter o íman a um tratamento
mecânico, através de pancadas intensas, até que os domínios do íman fiquem
orientados aleatoriamente.
Outro ainda consiste em submeter o íman a um campo elétrico alternado decrescente,
progressivamente – é o tratamento elétrico. Deste modo, o campo magnético vai
enfraquecendo progressivamente, em cada novo ciclo da corrente alternada.

1.5 Campo magnético de um íman. Espetro


magnético
Vimos já que o íman atrai a agulha magnética. Se aproximarmos lentamente a agulha do
íman, em várias posições em torno deste, verificamos que a agulha toma várias
direções, isto é, a ação do íman não é igual em todas as posições à sua volta. Vamos
comprovar isto, fazendo a seguinte experiência: colocamos uma placa de vidro sobre
um íman paralelepipédico e polvilhamos a placa com limalha de ferro (pequenas
partículas de ferro), tal como se sugere na figura.
Verificamos então que a limalha de ferro vai ficar magnetizada, ficando orientada
segundo linhas bem definidas, tal como se representa em b) e em c). A estas linhas,
sobre as quais se orientam as partículas, dá-se o nome de linhas de força do campo
magnético. Ao conjunto das linhas de força do campo magnético de um íman chama-se
espetro magnético (fig. b).
Cada limalha de ferro comporta-se como se fosse um pequeno íman (com dois polos),
atraindo-se estas umas às outras.
O campo magnético de um íman (ou de outro dispositivo) é a região do espaço à sua
volta na qual o íman exerce a sua ação magnética. Fora dessa região, o íman já não tem
qualquer ação de atração, de repulsão ou de magnetização. Conforme é fácil de
compreender, há ímanes mais potentes do que outros, o que quer dizer que têm uma
zona de ação (campo magnético) maior.
As linhas de força do campo magnético são caraterizadas por um conjunto de
propriedades, nomeadamente:
1) São fechadas.
2) Saem do polo N e entram no polo S do íman, fechando-se pelo seu interior.
3) Saem e entram perpendicularmente aos polos magnéticos.
4) Não se cruzam, isto é, em cada ponto do campo magnético só passa uma linha de
força.
2. Fluxo magnético
2.1 Indução magnética B. Excitação magnética H
Ao fazermos a experiência do espetro magnético do íman, verificámos que as diferentes
limalhas de ferro tinham orientações bem definidas, em cada ponto da zona envolvente,
ou seja, do campo magnético. Isto quer dizer que em cada ponto das linhas de força,
existe uma grandeza magnética que tem um ponto de aplicação, uma determinada
intensidade e uma determinada direção; isto é, em cada ponto da linha de força existe
uma grandeza vetorial, a qual tem o nome de indução magnética B.
A indução magnética é expressa em tesla (T). Esta grandeza é tanto mais elevada
quanto mais próxima estiver dos polos do íman.
Experiências efetuadas demonstraram, no entanto, que a indução magnética varia se o
meio em torno do íman for diferente; isto é, se o meio em volta do íman for o ar, a
indução terá um valor, se for o ferro terá outro, etc.
A existência de diferentes meios magnéticos criou, por isso, a necessidade de definir
uma segunda grandeza vetorial, à qual se deu o nome de excitação magnética H, que se
exprime em amperes por metro (A/m). Na figura representam-se estas duas grandezas
(H e B) em diferentes pontos das linhas de força do espetro magnético de um íman.
Pode ver-se na figura que os vetores e são tangentes à linha de força, em cada
ponto, têm a mesma direção, mas intensidades diferentes. Representamos também uma
agulha magnética orientada numa linha de força, a sugerir a presença da «força» dos
vetores e .

2.2 Permeabilidade magnética (μ) do meio


Dissemos que o meio em torno do íman tinha influência no valor da indução magnética
B. Com efeito, assim é. Na verdade, há meios que conduzem melhor as linhas de força
do campo magnético do que outros, tal como há condutores que conduzem melhor a
corrente elétrica. Dos meios que conduzem melhor as linhas de força do campo
magnético dizemos que são mais permeáveis magneticamente, e diz-se, por isso, que
esses meios têm maior permeabilidade magnética.
A permeabilidade magnética μ é a grandeza que relaciona a indução magnética B com
a excitação magnética H. Demonstra-se que elas estão relacionadas entre si através da
seguinte expressão:
B=μH
em que:
B – indução magnética (tesla – T)
H – excitação magnética (amperes por metro – A/m)
μ – permeabilidade magnética do meio (henry por metro – H/m)
Se o meio for o ar ou o vazio, então a permeabilidade é representada por μ0, que tem o
seguinte valor:

A indução magnética no ar ou no vazio será então expressa por:


B0 = μ0 H
Para meios ferromagnéticos, conforme já referimos, a permeabilidade magnética μ terá
um valor bastante mais elevado do que a do ar e, portanto, a indução B será também
bastante mais elevada do que no ar (B0). Mais à frente, falaremos sobre diferentes meios
e diferentes permeabilidades.

2.3 Fluxo magnético


O campo produzido por uma fonte magnética pode ser uniforme ou não uniforme.
Diz-se que o campo magnético é uniforme quando as suas linhas de força são retilíneas,
paralelas e equidistantes entre si, sendo o valor da indução magnética constante nos
diferentes pontos das linhas.
Diz-se que o campo magnético é não uniforme quando alguma das condições
anteriores não se verifica e, portanto, o valor da indução magnética não é constante.
Na figura representamos um campo uniforme e um campo «não uniforme».

Suponhamos então que um conjunto de linhas de força de um campo magnético


uniforme atravessa uma superfície plana S, perpendicularmente, tal como se sugere na
figura.
Define-se o fluxo magnético através de uma superfície como o produto da indução
magnética B pela área da superfície S:
Ф=BS
com as linhas de força perpendiculares à superfície S.
São as seguintes as unidades:
Ф – fluxo magnético (weber – Wb)
B – indução magnética (tesla – T)
S – área da superfície (metros quadrados – m2)
Da expressão anterior, podemos obter a indução magnética a partir do fluxo magnético
e da área S:

Isto é, a indução magnética pode ser considerada como uma densidade de fluxo
magnético, por unidade de superfície. Na prática, muitas vezes fala-se
indiferenciadamente em densidade de fluxo magnético ou em indução magnética.
Assim, para o mesmo fluxo Ф, quanto mais concentradas estiverem as linhas de força
(isto é, menor secção S) maior será a indução magnética, pois que B = Ф/S. Na figura
sugere-se a variação da indução magnética quando um conjunto de linhas de força
(mesmo fluxo Ф) atravessa superfícies diferentes (S1, S2, S3). Os valores da indução são
calculados, respetivamente, por:

O fluxo magnético foi definido inicialmente pela expressão Ф = B S, considerando que


as linhas de força eram perpendiculares à superfície S.
No caso geral, se as linhas de força fizerem um ângulo genérico α (de 0˚ a 90˚) com a
normal à superfície, tal como se sugere na figura, então o fluxo será calculado pela
seguinte expressão:
Ф = B · S · cos α
Assim, se α = 90º, por exemplo, teremos:
Ф = B · S · cos α = B · S · cos 90º = 0
isto é, o fluxo magnético através da superfície será nulo.

PROBLEMAS – Fluxo magnético


P1 – Calcule o fluxo magnético através da superfície de uma espira retangular de 20 cm
× 30 cm, sabendo que ela está submetida a uma indução uniforme de 0,5 T, nas
situações seguintes:
a) As linhas de força são perpendiculares à superfície.
b) As linhas de força fazem um ângulo de 40º com a normal à superfície.
c) As linhas de força são paralelas à superfície.
Resolução:
a) S = 20 × 30 = 600 cm2 = 0,06 m2
Ф = B · S · cos 00 = 0,5 × 0,06 × 1 = 0,03 Wb = 30 mWb
b) Ф = B · S · cos 400 = 0,5 × 0,06 × cos 400 = 0,023 Wb = 23 mWb
c) Ф = B · S · cos 900 = 0,5 × 0,06 × 0 = 0 Wb
P2 – Uma superfície em ferro encontra-se submetida a um campo magnético uniforme
de indução igual a 1,5 T. A secção reta do ferro é igual a 20 cm2. Calcule o fluxo
magnético através do ferro, se as linhas de força:
a) Forem perpendiculares à superfície do ferro.
b) Fizerem um ângulo de 600 com a superfície.
c) Fizerem um ângulo de 00 com a superfície.
R.: a) 3 mWb; b) 2,6 mWb; c) 0 Wb.
3. Campo magnético criado por correntes
elétricas. Eletromagnetismo
O campo magnético pode ser criado não só por ímanes, mas também por correntes
elétricas. Na verdade, o campo criado por correntes tem um papel importantíssimo no
funcionamento de múltiplos equipamentos, recetores, aparelhagem (de medida, de
proteção, de comando, etc.). Este campo magnético, que tantas aplicações tem, provoca
também algumas situações desagradáveis, como por exemplo as interferências nas
comunicações, influências em mecanismos elétricos/eletrónicos próximos, perdas de
energia, etc.
O eletromagnetismo é o ramo da física que estuda as diferentes aplicações do campo
magnético criado pela corrente elétrica. Assim, o campo magnético pode ser criado,
entre outras, por:
1) Uma corrente retilínea;
2) Uma corrente circular (espira);
3) Uma bobina (conjunto de espiras).

3.1 Campo magnético criado por uma corrente


retilínea
No século XIX, no ano de 1820, o físico dinamarquês Oersted observou acidentalmente
que uma agulha magnética deixava de ter a orientação usual (N-S magnética) sempre
que um condutor, próximo da agulha, era percorrido por corrente elétrica. Logo que a
corrente cessava, a agulha voltava à posição inicial. Verificou ainda que, ao inverter o
sentido da corrente no condutor, a agulha também invertia de 180° a sua orientação.

Oersted não conseguiu, na altura, explicar física ou matematicamente o que tinha


observado então. Foi Ampère que, um ano mais tarde, apresentou uma teoria
explicativa do fenómeno observado por Oersted. Dizia o seguinte «A corrente elétrica
cria um campo magnético próprio, o qual irá interagir com a agulha em presença.».
Analisemos melhor o campo criado por uma corrente num condutor retilíneo.
3.1.1 Espetro magnético
Ampère afirmou que a corrente elétrica criava à sua volta um campo magnético que
exercia uma ação sobre a agulha. Vamos, por isso, confirmar que assim é e verificar qual
a forma das linhas de força criadas.
Façamos então a seguinte experiência.
Suponhamos um condutor retilíneo percorrido por uma corrente I com um dado
sentido; suponhamos ainda que o condutor atravessa o centro de uma placa de vidro
(ou plástico) S, conforme é sugerido na figura. Façamos passar no condutor uma
corrente elevada ( I > 10 A), regulando-a por intermédio de um reóstato adequado.
Polvilhemos agora a placa de vidro com limalha de ferro bastante fina.
O que observamos?
Bom, a limalha vai-se distribuindo sobre a placa, formando circunferências concêntricas,
cujo centro é o ponto por onde o condutor atravessa a placa. Se deslocarmos a placa
para cima ou para baixo, relativamente ao condutor, verificamos que o espetro
magnético criado não se altera (tal como é sugerido na placa S’). Na figura
representamos apenas duas das linhas de força do espetro magnético criado pela
corrente retilínea em cada um dos planos S e S’.
Vamos ver de seguida qual o sentido das linhas de força criadas.

3.1.2 Sentido das linhas de força


Para verificar qual o sentido das linhas de força criadas, vamos recorrer à experiência
anterior, colocando sobre a placa uma ou várias agulhas magnéticas. Para o sentido
convencional da corrente I indicado na figura, podemos confirmar experimentalmente
que as agulhas se orientam da forma nela sugerida, isto é, o polo N indica o sentido das
linhas de força. Se invertermos o sentido da corrente I, as agulhas também invertem as
suas orientações.
Há, por isso, uma relação direta e unívoca entre o sentido da corrente e o sentido das
linhas de força do campo magnético. Para mais facilmente memorizarmos a relação de
sentidos entre a corrente e as linhas de força do campo magnético, foram criadas
algumas regras práticas de aplicação simples. São elas: a regra do saca-rolhas de
Maxwell e a regra da mão direita, entre outras.
Vejamos como aplicar cada uma destas duas regras.
A regra do saca-rolhas diz o seguinte: «Se fizermos progredir um saca-rolhas segundo o
sentido convencional da corrente, então o seu sentido de rotação indica-nos o sentido
das linhas de força criadas pela corrente».
A regra da mão direita diz o seguinte «Se agarrarmos o condutor com a mão direita, de
forma que o polegar indique o sentido da corrente, então as extremidades dos restantes
dedos da mão direita indicam-nos o sentido das linhas de força criadas pela corrente».
Na figura sugere-se a aplicação das duas regras.

3.1.3 Indução B e excitação magnética H


Conforme vimos anteriormente, a indução B e a excitação magnética H são vetores
tangentes às linhas de força e com o mesmo sentido destas, conforme se representa na
figura. Vejamos como calcular os valores de B e de H em cada ponto das diferentes
linhas de força em torno do condutor.
Existe um teorema que nos permite determinar o valor de B no caso presente – é o
Teorema de Ampère. Este teorema diz o seguinte: «Se ao longo de uma linha de força a
indução magnética tiver um valor constante, então o produto da indução magnética B
pelo comprimento da linha é igual ao produto da permeabilidade do meio pelo número
de amperes-espira (NI) abraçadas pela linha».
O Teorema de Ampère é traduzido na seguinte expressão:
B·ℓ=μ·N·I⇔H·ℓ=N·I
Nota: 12 amperes-espira significam que o produto de X amperes por N espiras dá
sempre o valor 12, independentemente do valor de I ou de N. Podemos ter, por
exemplo: 2 × 6 = 12; 3 × 4 = 12, etc.
Observando a figura anterior, é fácil de concluir que no caso do condutor retilíneo
temos B constante ao longo da mesma linha de força, visto que as linhas de força são
circunferências, e, portanto, com um raio constante. Visto que o meio é o ar, então
devemos considerar a permeabilidade do ar na expressão anterior. A permeabilidade
do ar (igual à do vazio) é representada, conforme foi já referido, pelo símbolo μ0 e vale:
μ0 = 4 π × 10–7 H/m = 1 /(8 × 105) H/m
Quanto ao número de espiras N abraçadas por cada linha de força, considera-se que N
= 1 visto que o condutor é retilíneo.
Sendo a linha de força uma circunferência, então o seu comprimento é calculado por ℓ =
2πr. Aplicando, finalmente, o Teorema de Ampère, à situação indicada na figura 20,
temos:

Igualando esta expressão à expressão já conhecida B = μ0 H, obtemos ainda:

com:
B – indução magnética (amperes por metro – A/m)
I – intensidade de corrente (amperes – A)
r – raio da circunferência que constitui a linha de força (metros – m)
μ0 – permeabilidade magnética do ar (henrys por metro – H/m)
Concluímos, portanto, que a intensidade do campo magnético H criada por um
condutor retilíneo é tanto mais elevada quanto mais intensa for a corrente e mais
próxima estiver, do condutor, a linha de força considerada. A indução B aumenta, não
só com H, como ainda com a permeabilidade do meio; pelo contrário, H não varia com
a permeabilidade do meio. No seguimento, teremos oportunidade de verificar que H é
sempre independente do meio e que B é sempre dependente do meio, seja qual for o
tipo de circuito considerado.
Problemas – Campo magnético criado por condutor retilíneo
P1 – Um condutor retilíneo é percorrido por uma corrente de 10 A.
a) Calcule os valores de H e B, à distância de:
a1) 10 cm do condutor; a2) 1 cm do condutor.
b) Tire conclusões.
Resolução:

b) Pode concluir-se facilmente que as induções criadas por condutores retilíneos são
efetivamente muito fracas, mesmo em pontos muito próximos do condutor. Para obter
valores de indução com algum significado, será necessário que a corrente atinja valores
muito elevados (várias dezenas de amperes).
P2 – Um condutor retilíneo percorrido por 25 A cria um campo magnético de 60 A/m
num determinado ponto em seu redor. Calcule:
a) A distância a que se encontra o ponto.
b) O valor da indução magnética.
R.: a) 6,6 cm; b) 0,075 mT.
P3 – Determine o valor da intensidade que deve percorrer um condutor retilíneo de
modo que, à distância de 3 cm, tenha uma indução de 0,1 mT.
R.: 15 A

3.2 Campo magnético criado por uma corrente


circular (espira)
3.2.1 O espetro magnético
Suponha que, ao condutor retilíneo do ponto 3.1, damos a forma circular indicada na
figura, dobrando-o como se fosse uma espira. Façamos passar a espira, assim formada,
através de uma placa de vidro, tal como é sugerido na figura.
Se alimentarmos a espira com uma corrente suficientemente elevada (> 10 A), por
regulação de um reóstato, e polvilharmos a placa com limalha de ferro, verificaremos
mais uma vez que se formam linhas de força que envolvem todo o condutor circular. As
linhas de força criadas envolvem cada uma das metades do condutor (ida e volta),
formando assim, em cada plano S, dois conjuntos de linhas de força independentes, tal
como se representa na figura. Aliás, se aproximarmos uma agulha magnética,
verificaremos que ela se orienta, num dado sentido, ao longo de todo o condutor
circular.

As linhas de força criadas já não são rigorosamente circunferências, pois interagem com
as do outro condutor, deformando-se ligeiramente, conforme se sugere na figura.
O sentido das linhas de força pode ser determinado pela deslocação da agulha
magnética (o norte indica o sentido das linhas de força) ou então utilizando novamente
a regra do saca-rolhas.
A regra do saca-rolhas pode ser utilizada, aqui, de duas formas diferentes (ver figura):
1.ª – Se colocarmos o saca-rolhas S1 por baixo de uma das extremidades da espira, a
regra será a seguinte: «Fazendo progredir o saca-rolhas segundo o sentido da corrente, a
sua rotação indica-nos o sentido das linhas de força (no interior e no exterior da
espira)».
2.ª – Se colocarmos o saca-rolhas S2 segundo a direção da linha L do plano da placa de
vidro, passando no centro da espira, a regra será a seguinte: «Fazendo rodar o saca-
rolhas segundo o sentido da corrente na espira (de a para b), a progressão do saca-
rolhas indica-nos o sentido das linhas de força no interior da espira».
Podemos, portanto, dizer que a espira, percorrida por corrente, se comporta como um
íman, com duas faces (N e S), tal como se sugere na figura.
3.2.2 Indução B e excitação magnética H
Visto que as linhas de força criadas se deformam ligeiramente, umas às outras, e os
valores de B e H, no interior da espira variam de ponto para ponto, então faz sentido
calcular os valores da indução B e da excitação H no centro da espira, que são obtidos
pelas expressões:

com:
H – excitação magnética no centro da espira (A/m)
B – indução magnética no centro da espira (tesla)
I – intensidade de corrente (amperes)
r – raio da espira (metros)
μ – permeabilidade magnética do meio (H/m)
3.2.3 Os eletrões e o magnetismo
Como se sabe, os eletrões estão em constante movimento em torno dos núcleos dos
átomos. Durante a sua trajetória, eles formam sucessivas órbitas mais ou menos
circulares, comportando-se como se fossem condutores circulares (espiras) percorridos
por corrente elétrica. Isto quer dizer que os eletrões, no seu movimento constante, criam
o seu próprio campo magnético, semelhante ao indicado na figura anterior e que se
sugere na figura seguinte.
Nota: Recordamos que o sentido do movimento dos eletrões (sentido real da corrente) é
contrário ao sentido convencional da corrente elétrica.
Ao campo magnético criado pelo eletrão durante o seu movimento dá-se o nome de
efeito de spin (ou efeito de rotação). Evidentemente que, nas substâncias não
magnetizadas, o efeito de spin de cada eletrão é anulado pelos restantes, isto é, o
somatório é nulo. Nas substâncias magnetizadas, os campos criados são orientados num
sentido comum, como se cada eletrão originasse um pequeno íman elementar que se vai
somar aos restantes.
PROBLEMAS – Indução e excitação magnética numa espira
P1 – Calcule os valores de B e H no centro de uma espira de raio igual a 3 cm, quando
percorrida por uma corrente de 15 A.
Resolução:

P2 – Calcule o raio de uma espira, percorrida por 20 A , sabendo que a indução no seu
centro é de 0,5 mT.
R.: 2,5 cm.

3.3 Campo magnético criado por bobinas


3.3.1 Tipos de bobinas
Uma bobina é definida como um conjunto de espiras ligadas entre si, com o mesmo
sentido de enrolamento. As bobinas podem ser curtas ou longas e podem ser ainda
constituídas por diferentes núcleos magnéticos (ar, ferro macio, aço, etc.).
Considera-se que uma bobina é curta quando o seu comprimento ℓ é inferior a 10 vezes
o diâmetro d da espira. Considera-se que uma bobina é longa (ou solenoide) quando o
seu comprimento ℓ é, em média, superior a 10 vezes o diâmetro d da espira.
Na figura sugere-se a construção de uma bobina, com núcleo de ar, constituída por um
conjunto de espiras circulares, apoiadas sobre um tubo oco de cartão. Nota: O cartão
tem uma permeabilidade magnética muito reduzida, praticamente igual à do ar.

3.3.2 Espetro magnético


O espetro magnético da bobina pode ser obtido no laboratório, fazendo apoiar as
espiras da bobina numa placa de vidro, tal como temos feito nas experiências anteriores.
Na figura sugere-se o espetro magnético criado por uma bobina, bem como a forma de
determinar o sentido das linhas de força criadas.
Conforme vimos na espira circular, as linhas de força do campo magnético passam pelo
interior da espira; no caso da bobina, constituída por várias espiras ligadas em série, as
linhas de força atravessam todo o seu interior, fechando o trajeto pelo exterior, tal como
se representa na figura anterior.

O sentido das linhas de força pode ser obtido novamente pela regra do saca-rolhas,
agora com o seguinte texto «Se fizermos rodar o saca-rolhas segundo o sentido da
corrente na espira, então a progressão do saca-rolhas indica-nos o sentido das linhas de
força no interior da bobina».
Concluímos, portanto, que a bobina, tal como o íman, apresenta um polo N e um polo S
nas suas extremidades. Isto é, podemos utilizar uma bobina percorrida por corrente
como se fosse um íman. A estas bobinas, se lhes juntarmos um núcleo de ferro no
interior, dá-se-lhes o nome de eletroímanes.
3.3.3 Indução B e excitação magnética no solenoide
Tal como vimos no estudo da espira, a indução B e a excitação H variam de ponto para
ponto no seu interior. Sendo assim, não faz sentido calcular os diferentes valores de B e
H, em cada ponto, mas calcular os valores num ponto médio que é o centro da bobina
(ponto O representado na figura).

Para a bobina longa ou solenoide, a excitação e a indução magnéticas, no centro O, são


calculadas pelas expressões:

com:
H – excitação magnética no centro da bobina (A/m)
B – indução magnética no centro da bobina (T)
N – número de espiras da bobina
I – intensidade de corrente (A)
μ – permeabilidade magnética (H/m)
ℓ – comprimento da bobina (m)
Se pretendermos aumentar a indução magnética B de uma bobina e, portanto, a sua
força eletromagnética, podemos fazê-lo aumentando o seu número de espiras, ou
aumentando a corrente que a alimenta, ou ainda aumentando a permeabilidade
magnética (utilizando materiais com melhor permeabilidade, como é o caso dos
ferromagnéticos). De entre os materiais ferromagnéticos, existem diferentes tipos, com
diferentes permeabilidades magnéticas, conforme veremos mais adiante.
Conforme veremos mais à frente, as bobinas têm diferentes aplicações que lhes são
conferidas por esta natureza eletromagnética, sendo utilizadas em aparelhagem: de
proteção, de comando, de sinalização, de medida, etc.

Problemas – Indução B e excitação H em bobina


longa
P1 – Uma bobina longa com 300 espiras e 50 cm de comprimento é percorrida por uma
intensidade de 8 A. Calcule os valores de H e B no seu centro.
Resolução:

P2 – Um solenoide, com 40 cm de comprimento, produz no seu centro uma indução de


20 mT, quando percorrido por 15 A. Calcule:
a) O número de espiras.
b) O valor de H no seu centro.
R.: a) 424; b) 15915 A/m.
P3 – A indução no centro de uma bobina longa, com 30 cm de comprimento e 200
espiras, é de 15 mT. Calcule o valor da corrente.
R.: 17,9 A.

3.4 Campo magnético criado por uma bobina


toroidal
3.4.1 Constituição da bobina toroidal
Uma bobina toroidal é construída enrolando um condutor em torno de um toro,
formando assim um conjunto de espiras, tal como se representa na figura 28. O toro é
um anel oco de cartão ou de outra substância isolante elétrica. Este toro é também
designado por anel de Rowland, em homenagem ao cientista que primeiro o utilizou
nas suas experiências.
3.4.2 Espetro magnético
Ao estudarmos a bobina anterior, vimos que se criavam no seu interior linhas de força
do campo magnético, paralelas entre si, as quais saíam por uma extremidade e
entravam pela outra extremidade da bobina – ela tinha, portanto, um polo N e um polo
S.
Neste caso particular, vão criar-se também linhas de força no interior da bobina
toroidal, com um determinado sentido, acompanhando a curvatura do anel e fechando-
se no seu interior, isto é, não há polos magnéticos definidos, embora exista um sentido
de circulação das linhas.
Esse sentido pode ser determinado pela regra do saca-rolhas, tal como fizemos
anteriormente: «Coloca-se o saca-rolhas a rodar segundo o sentido da corrente; a sua
progressão indica-nos o sentido das linhas de força».
3.4.3 A indução B e a excitação magnética H
Neste caso particular, podemos utilizar o teorema de Ampère na determinação do valor
da indução B. Com efeito, as linhas de força são circunferências concêntricas e, como tal,
têm o mesmo valor de indução ao longo de toda a linha (embora linhas diferentes
tenham induções diferentes, obviamente).
Suponhamos então que a nossa bobina, com N espiras, é percorrida por uma corrente
de intensidade I. Considerando ℓ o comprimento de uma qualquer das linhas de força
da bobina, temos por aplicação do Teorema de Ampère: B · ℓ = μ0NI.
Donde obtemos:

em que: ℓ – comprimento da linha de força (em metros)


Note que estas expressões são iguais às do solenoide. Com efeito, o comprimento da
linha de força média é igual ao comprimento da bobina, se a considerarmos retilínea.
Note ainda que, consoante a linha de força considerada, assim será o valor de B: as
linhas de força com menor raio r têm menor comprimento da circunferência (ℓ =
perímetro da circunferência = 2πr) e, portanto, um valor de B mais elevado; as linhas de
força com maior raio r, pelo contrário, têm um valor de B inferior. Nos cálculos que
habitualmente efetuamos, calcula-se o valor médio de B utilizando a linha de força
média.
PROBLEMAS
P1 – Uma bobina toroidal tem as seguintes caraterísticas:
Número de espiras = 500
Raio exterior re = 10 cm
Raio interior ri = 7 cm
Sabendo que a bobina é percorrida por uma intensidade de 1,5 A, calcule:
a) Os valores de H e B.
b) O valor do fluxo através da secção transversal da bobina.
Resolução:
a) O comprimento ℓ da linha de força média é calculado por:

b) A secção transversal do núcleo toroidal tem a forma circular. Será portanto:

P2 – Uma bobina toroidal, com 1000 espiras, tem um comprimento de 30 cm. Calcule a
corrente necessária para produzir uma indução de 10 mT na linha de força média.
R.: 2,4 A.
P3 – Uma bobina toroidal, cujo raio médio é de 10 cm e a secção transversal é igual a 8
cm2, é percorrida por 3 A. Sabendo que a indução na linha média é de 8 mT, calcule:
a) O número de espiras.
b) O fluxo magnético.
R.: a) 1333; b) 64 × 10–7 Wb.

3.5 Magnetização dos materiais ferrosos


3.5.1 A importância da permeabilidade magnética
Os metais ferrosos, como o ferro macio, o ferro fundido, o aço, etc., são, conforme
referimos, substâncias com elevadas permeabilidades magnéticas, isto é, ficam bastante
magnetizadas quando sujeitas a campos magnéticos fornecidos exteriormente ou
criados por correntes que percorrem os enrolamentos que os envolvem. É por essa razão
que os metais ferrosos são designados substâncias ferromagnéticas.
É a elevada permeabilidade magnética que lhes confere esta grande capacidade para se
magnetizarem, isto é, aumentarem a indução magnética B. Conforme vimos
anteriormente, a indução magnética B e a excitação magnética H estão relacionadas
através da permeabilidade magnética pela expressão matemática:
B = μH
Podemos concluir, por análise desta expressão, que, para um dado valor de H, quanto
maior for a permeabilidade magnética μ tanto maior será a indução magnética B. É o
que se passa com as substâncias ferromagnéticas. Afinal de contas, a importância das
substâncias ferromagnéticas é a de possuírem elevados valores de indução, para
valores de excitação fracos.
Na figura representamos duas bobinas, alimentadas pela mesma corrente I, em que uma
tem um núcleo de ferro e a outra não (diz-se que tem núcleo de ar).

Ao aproximarmos uma agulha magnética, verificamos que a bobina com núcleo de ferro
exerce uma forte atração sobre ela, enquanto a de núcleo de ar praticamente não exerce
qualquer influência sobre a agulha, mantendo esta a orientação normal Norte-Sul. Se
nos recordarmos da bobina longa (ou solenoide), a excitação magnética criada era dada
por H = N I/ℓ, ou seja, tem o mesmo valor nas duas bobinas (com núcleo de ferro e sem
núcleo), pois o valor de H não depende do tipo de núcleo, conforme se pode concluir
por análise da fórmula anterior.
Por que razão então a bobina com núcleo de ferro tem uma «força magnética»
bastante mais elevada?
É, evidentemente, devido à permeabilidade magnética.
Esta importância da permeabilidade magnética no aumento da indução tem aplicações
em muitos domínios, nomeadamente na construção dos núcleos dos aparelhos: de
medida, de proteção (disjuntores, relés), de comando (contactores, telerruptores,
automáticos de escada), de máquinas elétricas (dínamos, motores, alternadores), etc.
3.5.2 As permeabilidades absoluta e relativa
Cada substância tem o seu valor de permeabilidade magnética. A permeabilidade
magnética absoluta do ar ou do vazio μ0 vale, conforme foi já referido anteriormente:
μ0 = 4 π × 10–7 H/m
As permeabilidades absolutas de todas as outras substâncias são referidas em relação à
permeabilidade do ar μ0 , por comodidade de exposição e de cálculo. Assim, define-se a
permeabilidade relativa μr de uma qualquer substância como a razão entre a sua
permeabilidade absoluta μ e a permeabilidade absoluta do ar μ0:

Temos portanto que a permeabilidade absoluta μ de qualquer substância será calculada


por:
μ = μr μ0 1)
A utilização da permeabilidade relativa tem interesse nos materiais ferromagnéticos
porque os valores de μr são normalmente inteiros (ex.: 500, 650, 800, 1000, etc.), o que
facilita os cálculos. As tabelas dão-nos diretamente o valor de μr para cada material
ferromagnético, valor esse que é depois introduzido na fórmula 1) para o cálculo da
permeabilidade absoluta μ.
Exemplo: Uma substância ferromagnética tem μr = 500, logo, a permeabilidade absoluta
será μ = μr μ0 = 500 × 4π × 10–7 = 6280 × 10–7 H/m.

3.5.3 Classificação das substâncias quanto à permeabilidade


magnética
Quanto à permeabilidade magnética, as substâncias podem ser classificadas em quatro
grupos: diamagnéticas, não magnéticas, paramagnéticas e ferromagnéticas.
Deve referir-se desde já que as substâncias ferromagnéticas possuem uma
permeabilidade relativa muito elevada (μr >> 1, isto é, μ >> μ0), enquanto as restantes
têm uma permeabilidade relativa muito próxima da unidade (ex.: 1,0001 ou 0,9995), ou
seja, μ ≈ μ0.
Temos, portanto, as classificações seguintes:
Substâncias diamagnéticas (μr < 1, ligeiramente abaixo) – Magnetizam-se muito pouco,
mas em sentido contrário ao do campo magnético existente. Ex.: bismuto, mercúrio,
prata, cobre, água.
Substâncias não magnéticas ou amagnéticas (μr = 1) – Não se magnetizam. Ex.: ar,
vazio, papel, cortiça, madeira.
Substâncias paramagnéticas (μr > 1 , ligeiramente acima) – Magnetizam-se muito
pouco, no mesmo sentido do campo magnético existente. Ex.: alumínio, silício, platina,
crómio.
Substâncias ferromagnéticas (μr >> 1) – Magnetizam-se fortemente, no mesmo sentido
do campo magnético existente. Ex.: ferro, aço, cobalto, níquel. Valores médios de μr são
os seguintes: ferro-silício = 5000, ferro macio = 10000, aço-silício laminado = 20000.
As substâncias que nos interessam mais são as ferromagnéticas e as não-magnéticas ou
amagnéticas.

3.5.4 Curvas de magnetização


Dá-se o nome de curva de magnetização à curva que nos indica a evolução da indução
magnética B em função da excitação magnética H, para cada substância. Evidentemente
que estas curvas variam de material para material, pois as suas permeabilidades são
diferentes. Na figura representam-se curvas de magnetização para os materiais
classificados no ponto anterior.

3.5.5 Curva de 1.ª magnetização


Os materiais ferromagnéticos podem ser magnetizados, desmagnetizados ou
magnetizados sucessivas vezes. À curva de magnetização que se obtém a partir de um
ferro virgem ou desmagnetizado chama-se curva de 1.ª magnetização.
Esta curva obtém-se envolvendo o ferro com uma bobina percorrida por corrente que
vamos aumentando desde zero amperes. Os valores de H e B vão aumentando
gradualmente com a corrente, conforme vimos. Os valores de H são calculados pela
expressão H = N I/ℓ. Os valores de B são calculados através da expressão B = Ф/S, em
que S é a secção do núcleo de ferro. O fluxo magnético Ф é lido por um fluxímetro que
se liga ao circuito (ver figura 34). Obtidos os pares de valores (B, H), traça-se finalmente
a curva de magnetização que se representa na figura.

A zona OA é uma zona praticamente linear (com μr ≈ constante).


A zona AB é chamada de joelho da curva de magnetização, onde o gráfico começa a
curvar (μr começa a diminuir).
A zona BC é a zona de saturação, onde a indução B praticamente já não varia, apesar de
H continuar a aumentar (μr diminui bastante nesta zona).
Os materiais ferromagnéticos devem «trabalhar» no joelho da curva de magnetização,
de forma a aproveitar o valor elevado da indução B. A zona de saturação é uma zona
muito instável, com valores muito indefinidos. Recordamos que a permeabilidade
magnética é dada por μ = B/H; portanto, por análise do gráfico anterior, pode concluir-
se que μ não é constante ao longo da curva de magnetização dos materiais
ferromagnéticos.
3.5.6 A histerese magnética. Ciclo de histerese
Na figura representamos um núcleo ferromagnético (toroidal) N envolvido por um
enrolamento, sendo a bobina alimentada pela bateria B. Liga-se um fluxímetro (Wb) ao
núcleo para medir o fluxo magnético Ф. O comutador C permite inverter o sentido da
corrente I que alimenta a bobina, isto é, permite variar o sentido da excitação H e,
portanto, da indução B.
Quando o comutador C está na posição 1-1’, vamos aumentando a corrente
progressivamente, por diminuição da resistência do reóstato R, aumentando assim os
valores de H e B. Quando a indução B, e portanto o fluxo Ф, deixa de aumentar (na zona
de saturação), deixamos de diminuir a resistência de R.
De seguida, variamos o reóstato em sentido contrário, até que a corrente I seja nula.
Com os valores de I e Ф lidos, calculamos os pares de valores H e B, tal como
explicámos, isto é:

Mudamos o comutador para a posição 2-2’, invertemos o sentido da corrente e


repetimos as operações anteriores, construindo uma tabela de valores. Desta forma,
construímos o gráfico que se representa na figura 35, o qual tem o nome de ciclo de
histerese.

Conforme observamos na figura 35, após a primeira magnetização (curva a tracejado), a


curva já não passa pelo zero, mas sim pelo ponto Br. Magnetizando em sentido
contrário, a curva vai passar por –Hc quando B = 0, e assim sucessivamente.

O que é afinal a histerese?


Define-se histerese como o atraso da indução magnética B em relação à excitação
magnética H, atraso esse que é visível pelo valor Br diferente de zero. O valor Br tem o
nome de indução remanescente ou residual. O valor Hc tem o nome de campo coercivo.
Quando um material ferromagnético está magnetizado, é constituído por ímanes
elementares orientados no mesmo sentido. Quando um material ferromagnético
apresenta uma histerese elevada, é necessário fornecer mais energia para reorientar os
ímanes elementares. Isto é, à histerese magnética estão associadas, portanto, perdas
magnéticas. As perdas magnéticas (ou perdas no ferro) de um material ferromagnético
são tanto mais elevadas quanto maior for a área interna do ciclo de histerese. Para
reduzir essas perdas, é necessário, evidentemente, construir materiais com uma área
histerética menor.
As perdas por histerese podem ser calculadas utilizando uma fórmula empírica
(experimental) que tem o nome de fórmula de Steinmetz:
Ph = K · Bm2 · V · f
com:
Ph – perdas por histerese (watts)
K – constante que varia de material para material (entre 100 a 500)
Bm – indução máxima do ciclo de histerese (teslas)
V – volume do material ferromagnético (metros cúbicos)
f – frequência ou número de ciclos por segundo (hertz)
O facto de os materiais ferromagnéticos terem ciclo de histerese não quer dizer que isso
constitua apenas um inconveniente. Com efeito, existem diferentes ciclos de histerese, e
estes podem ser aproveitados com diferentes fins. Na figura apresentamos alguns dos
ciclos de histerese mais comuns nos materiais ferromagnéticos.

O ferro macio (ciclo a) é utilizado, por exemplo, na construção de eletroímanes, pois


mantém um fraco magnetismo remanescente (Br e Hc reduzidos), para evitar que o
eletroíman fique magnetizado, sem corrente.
O ferro-silício (ciclo b) é utilizado, por exemplo, na construção de chapas para
máquinas elétricas, pois tem uma área reduzida de ciclo de histerese, reduzindo assim
as perdas magnéticas.
O ferro fundido (ciclo c) é utilizado, por exemplo, no fabrico de carcaças (invólucros)
das máquinas, por ser mais barato, não sendo aí importante que tenha uma área elevada
de ciclo de histerese.
A ferrite (ciclo d) é utilizada no fabrico de polos indutores de servomotores (baixa
potência) de rotor impresso, em núcleos de bobinas para elevada frequência, e era
muito utilizada no fabrico das memórias dos computadores.
O alnico (ciclo e) é uma liga (ferro + alumínio + níquel + cobalto + cobre) utilizada, por
exemplo, no fabrico de ímanes permanentes, pois possui uma indução remanescente
elevada, o que é importante para se manter permanentemente magnetizado.

3.6 Circuito magnético. Lei de Hopkinson


3.6.1 Definição de circuito magnético
Define-se circuito magnético como a região do espaço (caminho ou trajeto) ocupada
pelas linhas de força de um determinado campo magnético.
O circuito magnético pode fechar-se:
• totalmente num núcleo ferromagnético (fig. 37 a);
• totalmente pelo ar (fig. 37 b);
• parcialmente em núcleo ferromagnético e parcialmente pelo ar (fig. 37 c).

Nas aplicações mais importantes, são utilizados o primeiro e o terceiro dos tipos de
circuitos apresentados. São esses que vamos estudar daqui em diante. O estudo do
circuito magnético é importante para a correta compreensão do funcionamento de
muitos dispositivos que serão estudados na área da Eletrotecnia/Eletrónica, como por
exemplo: aparelhagem elétrica (de medida, de proteção, de comando, etc.),
eletroímanes, máquinas elétricas, etc.
3.6.2 Classificação dos circuitos magnéticos
Os circuitos magnéticos podem ser classificados em: homogéneos, heterogéneos,
perfeitos e imperfeitos.
Um circuito magnético diz-se homogéneo se a sua permeabilidade e secção forem
constantes ao longo de todo o circuito. Um circuito magnético diz-se heterogéneo se a
sua permeabilidade e/ou secção não forem constantes ao longo de todo o circuito. O
circuito heterogéneo é o que apresenta maior variedade de aplicações, em virtude de, na
generalidade das situações práticas, haver troços distintos (sejam secções diferentes,
sejam percursos através do ar e através do material ferromagnético utilizado).
Na figura 38, apresentamos dois meros exemplos: um de circuito homogéneo e outro de
circuito heterogéneo.

Nota: O entreferro é um troço muito curto, através do ar, situado entre dois troços
ferromagnéticos. O valor do entreferro é geralmente de alguns milímetros ou poucos
centímetros (consoante o dispositivo).
Um circuito magnético diz-se perfeito quando não apresenta linhas de dispersão ou de
fuga.
Um circuito magnético diz-se imperfeito quando apresenta linhas de dispersão ou de
fuga.
Na figura 39 representamos um exemplo de um circuito magnético imperfeito. Neste
circuito existem dois tipos de linhas de força: as que se fecham totalmente pelo núcleo
ferromagnético do circuito e as que se afastam do trajeto devido, fechando-se pelo ar –
são as linhas de dispersão.

As primeiras linhas de força referidas constituem o fluxo magnético útil Фu do circuito.


As segundas constituem o fluxo de dispersão Фd, as quais não são aproveitadas no
circuito. A soma do fluxo útil Фu com o fluxo de dispersão Фd constitui o fluxo total Фt
produzido: Фt = Фu + Фd. No estudo dos circuitos magnéticos, o fluxo que nos interessa
é o fluxo útil Фu.
Na prática, não há circuitos que sejam rigorosamente perfeitos. Há uns que têm menos
dispersão do que outros. O caso da bobina toroidal, estudada anteriormente, cujo
núcleo se representa na figura 39, é um exemplo de um circuito quase perfeito. De
referir ainda que, em qualquer dos casos, o fluxo útil é sempre bastante maior do que o
fluxo de dispersão.
Na figura 40 representamos um exemplo de um circuito com várias zonas de dispersão
magnética: junto ao entreferro e junto às extremidades das chapas ferromagnéticas. A
forma de construção do núcleo tem grande importância para a redução da dispersão
magnética. A construção toroidal é, de todas, a que permite menor dispersão.

3.6.3 Dimensionamento de circuitos magnéticos homogéneos


3.6.3.1 O objetivo
Conforme foi já referido, o circuito magnético é utilizado em aplicações tão
diferenciadas como: aparelhagem elétrica (proteção, medida, comando, etc.), máquinas
elétricas (dínamos, motores, transformadores, etc.) e outros dipositivos. Geralmente é
constituído por um núcleo (com ou sem entreferro) envolvido por uma bobina. Quando
se projeta um circuito magnético para uma determinada aplicação, pretende-se que este
funcione com uma indução B e, portanto, um fluxo Ф, bem definidos. Para isso, é
necessário calcular o valor da corrente I que deverá percorrer a bobina (com N espiras)
envolvente do núcleo, de modo a obtermos o fluxo Ф pretendido no núcleo.
O dimensionamento do circuito magnético consiste em efetuar os cálculos necessários,
de modo a obtermos as grandezas previamente fixadas. Os cálculos a efetuar envolvem
as seguintes grandezas: fluxo Ф, indução B, excitação magnética H, intensidade de
corrente I, número de espiras N, permeabilidade magnética μ, comprimento do circuito
ℓ e secção transversal S. O dimensionamento do circuito magnético é feito com base na
Lei de Hopkinson, a qual vamos apresentar no ponto que se segue.
3.6.3.2 Lei de Hopkinson
A Lei de Hopkinson está para o circuito magnético assim como a Lei de Ohm está para
o circuito elétrico. Existem mesmo bastantes semelhanças entre elas, conforme iremos
ver. Vejamos então como se deduz a expressão matemática que traduz esta lei, a partir
de expressões já estudadas em circuitos anteriores.
Consideremos um circuito magnético homogéneo e perfeito (quase perfeito,
evidentemente), como por exemplo um circuito toroidal, representado na figura 41.
Alimentando a bobina (com N espiras) com uma corrente I, é produzido um fluxo Ф,
cujas linhas de força têm um sentido que é obtido pela regra do saca-rolhas, conforme
vimos anteriormente.

O fluxo Ф, produzido pela corrente I, obviamente constante ao longo de todo o núcleo, é


dado por:
Ф = B S (com cos α = 1) 1)
Conforme estudámos no circuito toroidal, temos que:

Substituindo 2) em 1), vem:

em que: Fm = NI – é a força magnetomotriz do circuito (amperes)


Rm = ℓ/(μS) – é a relutância magnética (ou resistência magnética) do circuito (henry–1)
Em conclusão, a Lei de Hopkinson diz o seguinte: «Num circuito magnético, o fluxo Ф
é diretamente proporcional à força magnetomotriz Fm e inversamente proporcional à
relutância magnética Rm.
A força magnetomotriz (f.m.m.) é a força geradora do circuito magnético, cujo valor
depende apenas do número de espiras da bobina e da corrente que a percorre. É
expressa em amperes (A), embora na prática se utilize ainda, em algumas situações, o
ampere-espira (Ae). O ampere-espira não é, obviamente, uma unidade; no entanto, é
utilizado algumas vezes para distinguir, entre si, as unidades de intensidade de
corrente elétrica e de força-magnetomotriz.
A relutância magnética (ou resistência magnética) do circuito é uma grandeza que
depende totalmente das caraterísticas internas do circuito magnético. Depende do
comprimento do circuito magnético (ℓ), da sua permeabilidade (μ) e da secção
transversal (S). Vejamos em que unidades é expressa a relutância magnética.
Sendo a relutância magnética dada pela expressão Rm= ℓ/μS), então esta virá expressa,
no S.I., em:

Portanto, a relutância magnética é expressa, no SI, em Henry–1.


De acordo com a Lei de Hopkinson, conclui-se que, para uma dada corrente I e
considerando que as grandezas N, ℓ, μ e S são constantes, o fluxo Ф é necessariamente
constante ao longo de todo o núcleo do circuito magnético. Conclui-se também que, nas
condições anteriores, o fluxo Ф varia quando a corrente I varia. Se a corrente I variar,
então também variarão as seguintes grandezas:

Quanto à relutância magnética, ela permanece praticamente constante. Poderá haver


uma pequena variação desta grandeza devido ao facto de μ variar ligeiramente com a
corrente, em virtude de a curva de magnetização dos materiais ferromagnéticos não ser
reta ao longo de todo o trajeto (conforme vimos anteriormente).
Da fórmula Ф = Fm/Rm, retiramos as seguintes expressões:

3.6.3.3 Analogia entre os circuitos magnético e elétrico


Dissemos no ponto anterior que a Lei de Ohm estava para o circuito elétrico como a Lei
de Hopkinson estava para o circuito magnético. Vejamos melhor a analogia entre os
dois circuitos.
As duas leis são traduzidas pelas expressões:

Comparando as duas expressões entre si, podemos estabelecer a analogia seguinte entre
as grandezas das duas expressões:
Compreendendo esta analogia entre duas leis, será muito fácil, para o aluno, assimilar e
aplicar a Lei de Hopkinson.
PROBLEMAS – Indução B e excitação H em bobina longa
P1 – Na figura 42 representa-se um circuito homogéneo em ferro-silício, de secção
retangular, cuja bobina é percorrida por 0,3 A. As dimensões do núcleo são indicadas na
figura, em milímetros. Sabendo que a indução no núcleo é de 1,2 T, calcule:

a) O número de espiras da bobina.


b) O valor da força magnetomotriz.
c) O fluxo magnético no núcleo.
d) A relutância magnética do circuito.
Resolução:
a) Desprezando a dispersão magnética, então o fluxo magnético é constante ao longo de
todo o núcleo. Esta aproximação é válida quer o circuito seja homogéneo, quer seja
heterogéneo. Visto que o circuito é homogéneo (secção constante e permeabilidade
constante), então a indução magnética também é constante:
B = Ф/S = constante
Este problema é resolvido a partir da expressão: N·I = H·ℓ. Para calcular o primeiro
membro desta expressão, há pois necessidade de calcular previamente o segundo.
Vejamos então.
Num circuito homogéneo, H é constante, visto que B também é constante: H = B/μ.
Assim, da curva 1 (ferro-silício) da figura 33c), obtemos H ≅ 600 A/m para B = 1,2 T
(dado do problema).
Para calcular H·ℓ, há necessidade de calcular previamente o somatório dos
comprimentos, ou seja, o comprimento da linha de força média do núcleo. Por análise
da figura 42 deste problema, verificamos facilmente que a linha de força é composta por
4 troços (dois horizontais e dois verticais). Temos portanto:
ℓ= (50 + 10 + 10) + (50 + 10 + 10) + (40 + 10 + 10) + (40 + 10+ 10) = 70 + 70 + 60 + 60 = 260
mm = 0,26 m
Obtemos assim:
H·ℓ= 600 × 0,26 = 156 A
Finalmente, da expressão inicialmente referida, obtemos:

b) A força magnetomotriz é calculada, conforme é sabido, por:


Fm = NI = 520 × 0,3 = 156 A = H·ℓ
c) S = 20 × 30 = 600 mm2 = 600 × 10–6 m2
Ф = BS = 1,2 × 600 × 10–6 = 72 × 10–5 Wb

P2 – A figura 43 representa um circuito toroidal homogéneo, em ferro-silício. O circuito


apresenta as seguintes dimensões: r1 = 30 mm, r2 = 40 mm. As duas bobinas, ligadas em
série, têm os seguintes números de espiras: N1 = 300 espiras, N2 = 200 espiras. Sabendo
que I = 1,1 A, calcule:

a) Os valores de H e B.
b) A força magnetomotriz.
c) O fluxo magnético.
R.: a) 2501 A/m; 1,57 T; b) 550 A; c) 0,12 mWb.
4. Forças eletromagnéticas
4.1 Ação de um campo magnético sobre um
condutor retilíneo. Criação de forças
eletromagnéticas
Todos nós já observámos, no dia a dia, aparelhos elétricos em que há peças em
movimento, sem que haja qualquer intervenção humana ou qualquer outra intervenção
exterior (ex.: agulha de aparelho de medida, rotação de um motor, etc.). Para provocar
movimentos (de rotação, de translação, etc.) nos equipamentos ou aparelhagem elétrica,
basta que haja condutores (retilíneos, espiras, bobinas) percorridos por corrente e
submetidos a campos magnéticos.
Da interação entre o campo magnético exterior e o condutor percorrido por corrente
resulta uma força que provoca o movimento do condutor. A esta força dá-se o nome de
força eletromagnética.
Na figura suGere-se a força eletromagnética resultante da interação entre as
grandezas e .

Façamos a experiência representada na figura 45, constituída por um condutor retilíneo


percorrido por uma corrente de intensidade I, fornecida pelo gerador G. O condutor
está suspenso nos apoios A e B, podendo deslocar-se livremente, sob os apoios.
Encontra-se entre os polos N e S do íman, sendo atravessado pelo seu campo magnético.

Ao ligarmos o interruptor K, verificamos que o condutor começa a deslocar-se no


sentido indicado na figura, para dentro do íman, perpendicularmente aos sentidos dos
vetores e , tal como é sugerido na figura. Se invertermos o sentido da corrente ou o
sentido do campo magnético, verificamos que o sentido da força também se inverte, tal
como se sugere na figura seguinte. Se invertermos o sentido da corrente e do campo
magnético, simultaneamente, verificamos que a força mantém o mesmo sentido inicial.

Concluímos, portanto, que sempre que um condutor é percorrido por uma corrente I
cuja direção é perpendicular à indução B, exerce-se sobre ele uma força
eletromagnética , perpendicular a e a , que faz deslocar o condutor paralelamente
a si mesmo.
Se os vetores e não forem perpendiculares entre si, continua a exercer-se a força ,
embora com um valor inferior, conforme é traduzido pela expressão da Lei de Laplace
que analisaremos de seguida.

4.2 Lei de Laplace


A Lei de Laplace permite-nos calcular o valor da força eletromagnética resultante da
interação entre um condutor percorrido por corrente e um campo magnético
perpendicular, ou não, ao condutor.
O texto da lei é o seguinte «A força eletromagnética exercida sobre um condutor
retilíneo é diretamente proporcional à indução magnética B, à intensidade de corrente
I que percorre o condutor, ao comprimento ℓ do condutor e ainda ao seno do ângulo
(sen μ) formado pela indução B e pelo condutor», a que corresponde a seguinte
expressão matemática:
F = BI ℓsenα
com:
F – força eletromagnética (newton – N)
B – indução magnética (T)
I – intensidade de corrente (A)
ℓ – comprimento do condutor (m)
α – ângulo feito entre B e I
Note que:
a) Se α = 90º, então sen 90º = 1 ⇒ F atinge o valor máximo (F = BIℓ).
b) Se α = 0º, então sen 0º = 0 ⇒ F atinge o valor mínimo (zero).
Vejamos agora qual a direção e o sentido da força F criada.

4.3 Direção e sentido da força eletromagnética F


A direção da força F criada é sempre perpendicular ao plano definido pelos vetores B e
I, ou seja, é perpendicular a cada um deles, conforme se exemplifica na figura.
O sentido da força F depende dos sentidos da indução B e da intensidade I. A figura
seguinte sugere a relação entre os sentidos dos três vetores. No entanto, criou-se um
método expedito de determinar o sentido da força, ao qual foi chamado de regra dos
três dedos da mão direita, com a seguinte correspondência:
Indução B ⇔ dedo polegar
Intensidade I ⇔ dedo médio
Força F ⇔ dedo indicador

Para determinar o sentido de F, basta, por isso, colocar os três dedos da mão direita
perpendicularmente entre si e orientar a mão de modo a fazer corresponder os dedos da
forma indicada na figura 49.
O sentido de F pode ainda ser determinado através da chamada regra da palma da mão
direita, que consiste em colocar a mão direita estendida de tal forma que a indução B
entre perpendicularmente à palma da mão e de forma que a corrente I saia pelo polegar.
Os restantes dedos indicam-nos o sentido da força F, conforme se sugere na figura.

4.4 Aplicações da lei de Laplace


Esta lei tem inúmeras aplicações, conforme facilmente se compreende, dada a interação
existente entre correntes e campos magnéticos. Todos nós sabemos que uma grande
percentagem da aparelhagem e maquinaria elétricas têm associadas estas duas
grandezas, dependendo o seu funcionamento, em muitos casos, das duas
simultaneamente. Vejamos alguns exemplos simples.
1) Amperímetros, voltímetros e wattímetros analógicos – O funcionamento de muitos
destes aparelhos é baseado na interação entre a corrente (ou tensão) que eles pretendem
medir e os campos magnéticos dos ímanes que eles possuem.
2) O motor elétrico baseia o seu funcionamento na interação entre a corrente elétrica
que absorve à rede e o campo magnético que lhe é fornecido por ímanes (polos) que ele
possui. Na figura representa-se uma espira percorrida por corrente, atravessada por um
campo magnético de indução B. Aplicando a Lei de Laplace a cada um dos condutores
da espira, verifica-se que cada um dos condutores fica submetido a forças F, de sentidos
contrários, constituindo um binário de forças que faz rodar a espira. Evidentemente que
o enrolamento do motor é constituído por muitas espiras, cada uma delas submetida a
um binário, e, somadas entre si, originam um binário total elevado que faz rodar a
espira continuamente.
3) A Lei de Laplace aplica-se também na extinção dos arcos elétricos que se formam
entre contactos elétricos de aparelhagem de proteção, comando e corte. A força F criada,
por interação de um campo magnético com a corrente do arco elétrico, faz alongar o
arco, que acaba por extinguir-se, por enfraquecimento.

4.5 Ação de um campo magnético sobre uma


espira ou conjunto de espiras – princípio de
funcionamento do motor elétrico
Suponhamos agora que, em vez de um condutor ℓ, temos uma espira submetida à ação
de um campo magnético produzido por um íman ou por outro meio qualquer.
Coloquemos a espira em duas posições diferentes (extremas entre si), tal como se
representa na figura 52.

Em a), o fluxo magnético através da secção da espira é nulo (as linhas de força são
paralelas ao plano da espira), enquanto em b) o fluxo magnético através dela é máximo
(as linhas de força são perpendiculares ao plano da espira). Por esta razão, dissemos que
a espira se encontrava em duas posições extremas.
Vejamos então o que acontece à espira, em cada uma das posições, se for percorrida por
uma determinada corrente I.
Em a), verifica-se o seguinte (ver figuras 52 a) e 53 a):
• Sobre o condutor a exerce-se uma força F que, segundo a regra dos três dedos da mão
direita, aponta para cima (verifique).
• Sobre o condutor c, exerce-se também uma força F que aponta para baixo (verifique!).
• Sobre o condutor b não se exerce qualquer força, pois o condutor encontra-se paralelo
às linhas de força (sen α = 0 ⇔ F = B I ℓ sen α = 0).
Concluímos portanto que a espira fica submetida a um conjunto de duas forças com
sentidos tais que a fazem rodar em torno de um eixo. A este sistema de forças dá-se o
nome de binário de rotação (figura 53 a).
Em b), verifica-se o seguinte (ver figuras 52 b) e 53 b):
• O condutor a fica submetido a uma força que aponta para cima.
• O condutor c fica submetido a uma força F que aponta para baixo.
• O condutor b não fica submetido a qualquer força, em virtude de se deslocar sempre
paralelamente às linhas de força (sen α = 0).
Concluímos que, nesta posição, a espira não roda. Aliás, esta posição (vertical) é a única
em que a espira está submetida a um binário de rotação nulo. É fácil de imaginar que
em qualquer outra posição intermédia o binário é sempre diferente de zero.
Assim, quando a espira se encontra a rodar, ela não para na posição vertical, devido à
inércia do movimento, continuando portanto a rodar continuamente. É esta a explicação
para o movimento rotativo, que tantas aplicações apresenta.

O momento do binário de rotação M de uma espira é dado por:


M = F · d com F = B I ℓsen α
em que:
F – força aplicada a um dos condutores (lados da espira) – em newton
d – distância entre os lados de cada espira (metros)
B – indução magnética (tesla)
I – intensidade de corrente (amperes)
ℓ– comprimento do condutor (lado de cada espira) – em metros
M – momento do binário de rotação (newton/metro)
Se, em vez de uma espira, tivermos uma bobina constituída por N espiras, então cada
espira ficará submetida ao seu binário de rotação, sendo o binário total Mt mais elevado
e proporcional ao número de espiras:
Mt = K·N·M = K·N·B·I·ℓ·d·sen α
A constante K (< 1) significa que o binário total não aumenta exatamente na mesma
proporção do aumento do número de espiras N, pois o ângulo a varia de espira para
espira, em cada instante. Assim, com o aumento do número de espiras numa bobina,
obtém-se um binário de rotação mais elevado e, portanto, com uma velocidade mais
elevada. São aplicações desta interação magnética: o motor elétrico rotativo, os
amperímetros, os voltímetros e os wattímetros analógicos.
PROBLEMAS – Lei de Laplace
P1 – Um condutor retilíneo, com 30 cm de comprimento, percorrido por uma corrente
de 8 A, encontra-se sob a influência de um campo magnético uniforme de indução igual
a 0,8 T. Calcule a força eletromagnética que se exerce sobre o condutor, quando as
linhas de força:
a) São perpendiculares ao condutor.
b) Fazem um ângulo de 40º como condutor.
c) Fazem um ângulo de 0º com o condutor.
Resolução:
a) α = 90º
ℓ= 30 cm = 0,3 m
F = B I ℓsen α = 0,8 × 8 × 0,3 × sen 90º = 1,92 × 1 = 1,92 N
b) α = 40º
ℓ= 0,3 m F = 0,8 × 8 × 0,3 × sen 40º = 1,92 × 0,643 = 1,23 N
c) α = 0º
ℓ= 0,3 m F = 0,8 × 8 × 0,3 × sen 0º = 1,92 × 0 = 0 N
A força eletromagnética é nula quando as linhas de força são paralelas ao condutor; é
máxima quando elas são perpendiculares ao condutor.
P2 – Uma espira apoiada num eixo, em que cada condutor ativo tem 6 cm de
comprimento, percorrida por uma corrente de 8 A, encontra-se submetida a um campo
magnético de indução igual a 1,1 T.
a) Calcule as forças que se exercem sobre cada um dos condutores ativos.
b) Justifique o facto de a espira entrar em movimento de rotação.
c) Supondo que em vez de uma espira tínhamos uma bobina com 100 espiras, qual seria
o valor da força exercida sobre cada um dos conjuntos de condutores ativos?
Resolução:
a) F1 = F2 = B I ℓsen α = 1,1 × 8 × 0,06 × 1 = 0,528 N
b) A espira entra em movimento de rotação porque se cria um binário de forças cujos
sentidos (dados pela regra dos três dedos da mão direita) são tais que convergem para o
mesmo sentido do movimento da espira, tal como é sugerido na figura.
c) No caso de termos uma bobina com N espiras, então as forças exercidas serão
obviamente mais elevadas.
F1 = F2 = N B I ℓsen α = 100 × 1,1 × 8 × 0,06 × 1 = 52,8 N
P3 – Um condutor retilíneo, com 45 cm de comprimento, percorrido por uma corrente
de 10 A, encontra-se sob a influência de um campo magnético de indução igual a 1 tesla.
Calcule a força eletromagnética que se exerce sobre o condutor quando as linhas de
força:
a) São perpendiculares ao condutor.
b) São paralelas ao condutor.
c) Fazem um ângulo de 45º com o condutor.
R.: a) 4,5 N; b) 0 N; c) 3,18 N.
P4 – Calcule o ângulo feito por um condutor retilíneo com as linhas de força, sabendo
que sobre o condutor (com 70 cm de comprimento) se exerce uma força de 2 N, quando
percorrido por uma corrente de 6 A. A indução é de 0,7 T.
R.: 42,8º.
P5 – Formou-se um arco elétrico, perpendicularmente às linhas de força de um campo
magnético de indução 1,1 T. Sabendo que foi de 4 N a força exercida inicialmente sobre
o arco, de comprimento igual a 5 cm, calcule o valor da corrente do arco nesse instante.
R.: 72,7 A.
P6 – Calcule o número de espiras de uma bobina percorrida por 5 A, sabendo que cada
condutor da espira tem 8 cm de comprimento e que a força eletromagnética é de 25 N,
quando a indução é de 1,2 T.
R.: 52

4.6 Ação entre dois condutores retilíneos


Na figura 55 representamos dois condutores retilíneos, paralelos e colocados entre si a
uma distância relativamente curta, percorridos por correntes I1 e I2, respetivamente.
Conforme foi já estudado em capítulo anterior, cada uma das correntes cria, em seu
redor, o seu próprio campo magnético com as linhas de força respetivas. As linhas de
força criadas são, como sabemos, circunferências concêntricas em relação aos
condutores. Algumas delas atingem o condutor que se encontra disposto paralelamente
ao outro.
Podemos, por isso, representar nesses pontos (O1 e O2) os vetores de indução B1 e B2
perpendiculares aos condutores. Segundo a Lei de Laplace, cada um dos dois
condutores fica submetido a uma força F = B I ℓsen α (F1 e F2, respetivamente), que é
diretamente proporcional à corrente I e à indução B.
A indução criada por cada uma das correntes é obtida, respetivamente, por:

Visto que sen α = 1, teremos:

Conclui-se portanto que as forças F1 e F2, exercidas sobre cada um dos condutores, têm o
mesmo valor e são dadas pela expressão genérica:

com:
ℓ– comprimento dos condutores (metros)
r – distância entre os condutores (metros)
F – força de atração ou repulsão entre condutores (newton)
Note que os sentidos das forças F1 e F2 são, no exemplo apresentado, de repulsão entre
os condutores (os condutores tendem a afastar-se, se as forças forem suficientemente
fortes), com as correntes de sentidos contrários. Se as correntes tiverem o mesmo
sentido, facilmente se verifica que os condutores tendem a atrair. Verifique, utilizando a
regra dos três dedos da mão direita, que se verificam as propriedades descritas.
Podemos, portanto, concluir o seguinte:
1. Condutores paralelos percorridos por correntes do mesmo sentido atraem-se.
2. Condutores paralelos percorridos por correntes de sentidos contrários repelem-se.
Fazendo a analogia com a interação entre ímanes, facilmente se constata que, nos
ímanes, a atração se verifica quando os polos têm nomes contrários; aqui, as correntes
devem ter o mesmo sentido, para se verificar atração entre condutores.
A interação entre condutores elétricos percorridos por corrente verifica-se bastante
quando as correntes elétricas são elevadas, particularmente em situações de curto-
circuito. É o que acontece entre os barramentos nos Postos de Transformação e
Subestações Elétricas, onde as correntes podem atingir valores bastante elevados. Por
essa razão, existem distâncias mínimas a considerar entre barramentos, de forma que
não se toquem em resultado de esforços eletrodinâmicos muito fortes. As espiras nas
bobinas percorridas por correntes elevadas também estão sujeitas a esforços violentos,
razão pela qual devem estar muito bem isoladas, de forma a evitarem contatos elétricos
por degradação do isolamento.

4.7 Força atrativa de um eletroíman


4.7.1 Definição e constituição
Um eletroíman é, por definição, um dispositivo constituído por um núcleo
ferromagnético (em ferro macio), à volta do qual existe um enrolamento percorrido por
uma corrente. A função do eletroíman é a de atrair substâncias ferromagnéticas, as
quais têm o nome de armaduras na generalidade dos dispositivos, sendo por isso
caraterizado pela sua força atrativa F, conforme veremos no seguimento.
O movimento da armadura, sempre que o eletroíman é alimentado, tem aplicações
diversas no funcionamento de diferentes aparelhos. Como exemplos mais usuais da
aplicação do eletroíman, temos: no funcionamento das campainhas elétricas (aparelhos
de sinalização), no funcionamento de aparelhos de comando (contactor, trinco elétrico,
telerruptor, automático de escada, etc.), no funcionamento de aparelhos de proteção
(disjuntores e relés), etc.
4.7.2 Classificação
O eletroíman pode assumir diferentes formas, de acordo com a sua aplicação. Assim,
classificam-se habitualmente em eletroímanes de núcleo fixo e eletroímanes de núcleo
móvel. O eletroíman de núcleo fixo pode ainda classificar-se, quanto à forma, em:
eletroíman reto, eletroíman em U, eletroíman com culatra, eletroíman com armadura
basculante, eletroíman couraçado e eletroíman blindado. Na figura 56 representa-se um
eletroíman reto (de núcleo fixo). Nas figuras 57 e 58 representam-se mais dois dos tipos
de eletroímanes atrás indicados.
4.7.3 Força atrativa
Foi já referido que uma das funções do eletroíman é a de exercer uma determinada
força atrativa F sobre substâncias ferromagnéticas, às quais damos o nome de
armaduras. Suponhamos o eletroíman em U representado na figura 59. A passagem de
corrente nas bobinas cria um campo magnético cujas linhas de força têm o sentido
indicado, de acordo com a regra do saca-rolhas.
Deste modo, o núcleo em U do eletroíman fica com as polaridades N e S indicadas, as
quais vão, por isso, criar na armadura polaridades de nomes contrários (N', S'),
atraindo-a assim com uma determinada força F. Enquanto houver corrente, há força
atrativa; cessando a corrente, a armadura é libertada, já que é utilizado o ferro macio na
construção do eletroíman, o qual possui fraco magnetismo remanescente. Mesmo que se
invertam as polaridades da bobina do eletroíman, este continua a atrair a armadura,
pois os polos induzidos na armadura são sempre de sinal contrário aos do núcleo.

Vejamos agora como calcular a força atrativa de um eletroíman.


A força atrativa de um eletroíman pode ser medida com um dinamómetro, sendo
considerada igual à força que seria necessário aplicar-lhe para separar do núcleo uma
armadura que tivesse sido atraída.
Esta força pode, no entanto, ser calculada através da seguinte expressão:

com:
B – indução na superfície de contacto entre a armadura e o núcleo (tesla)
S – superfície total de contato entre o núcleo e a armadura (m2)
μ0 – permeabilidade do ar ou do vazio = 4π × 10–7 (H/m)
F – força atrativa do eletroíman (newton – N)
Se substituirmos μ0 pelo seu valor, na expressão anterior, ela pode assumir o seguinte
aspeto:
F = 4 × 105 × B·S
com as mesmas unidades.
De referir que, num íman em U, há duas superfícies de contacto, pelo que a superfície S
é, neste íman, a soma das duas. Note que a força atrativa é frequentemente indicada em
quilograma-força (kgf), razão pela qual recordamos aqui a equivalência entre o
quilograma-força e o newton:
1 kgf = 9,8 N
Pressupõe-se, portanto, nestas fórmulas, que a espessura do entreferro é igual a zero.
A força de atração do núcleo (Fa), em relação a uma armadura que se encontre a uma
determinada distância ε do núcleo, é evidentemente variável. Será tanto menor quanto
maior for essa distância. Podemos representar a força de atração em função da
espessura do entreferro ε, num gráfico como o representado na figura 60.
Quando ε = 0, temos Fa = F = B2 S / (2μ0), conforme tínhamos já referido. À medida que
ε vai aumentando, a força de atração Fa é cada vez menor. A partir de um determinado
ponto, o núcleo não consegue atrair a armadura (devido ao peso mais o atrito).

PROBLEMAS – Lei de Laplace


P1 – Na figura 61 representa-se um eletroíman reto, com uma secção de 8 cm2. A
indução no polo do núcleo N é de 0,8 T. Calcule a força atrativa do eletroíman.
Resolução:

P2 – Um eletroíman reto, com uma secção de 10 cm2, tem uma força atrativa de 50 kgf.
Calcule o valor da indução no polo.
R.: 1,1 T.

4.8 A importância da nanotecnologia


A nanotecnologia é o conjunto das técnicas utilizadas na manipulação da matéria, a
nível atómico, isto é, a nível nanométrico. Com efeito, um «nano» é um prefixo que
corresponde ao valor 10–9 ou 0,000000001 do metro, o que corresponde à dimensão
aproximada do átomo. A nanotecnologia permite, por isso, visualizar elementos com
esta dimensão minúscula e, mais do que isso, manipular átomos e eletrões, do que têm
resultado inúmeras descobertas científicas, inúmeras aplicações que antes não era
possível realizar.
Quase diariamente são anunciadas novas aplicações no âmbito da nanotecnologia,
particularmente no domínio do magnetismo e do eletromagnetismo. Pode dizer-se, por
isso, que a nanotecnologia é a área tecnológica do futuro e de onde se esperam grandes
avanços para a indústria, biomedicina, biologia molecular, diagnósticos bioquímicos,
informática e ciência em geral. Diz-se mesmo que a nanotecnologia vai permitir uma
nova Revolução Industrial.
A construção dos modernos Microscópios de Varredura ou Tunelamento (STM –
Scanning Tunneling Microscope) veio permitir a visualização e manipulação de átomos
e de eletrões, portanto, à escala nanométrica. A spintrónica ou magnetoeletrónica é um
novo ramo da tecnologia em que as funções dos dispositivos são baseadas no controlo
do movimento dos eletrões através do campo magnético que atua sobre o spin dos
eletrões.
Vejamos apenas alguns exemplos de descobertas científicas nas éreas do magnetismo e
do eletromagnetismo, realizadas no âmbito da nanotecnologia:
1) Ligar e desligar o magnetismo das substâncias, a nível nanométrico, controlando o
spin dos eletrões.
2) Produção de campos magnéticos em materiais considerados não-magnéticos.
3) Construção de processadores magnéticos 10 a 100 vezes mais rápidos do que os
processadores atuais.
4) Construção de magnetos com um só polo – monopolos magnéticos. Por exemplo, um
norte sem sul.
5) Criação do transístor com um ou dois eletrões, utilizando nanofios, em que um deles
constituirá a corrente de coletor e o outro a corrente de base.
6) Criação de nanorobôs, com aplicação na distribuição e doseamento de medicamentos
na corrente sanguínea.
7) Miniaturização de qualquer equipamento eletrónico, sem perigo de aquecimento,
como aquele que existe nos equipamentos atuais, dispensando por isso todos os
componentes para arrefecimento, tornando-os mais baratos.
5. Indução eletromagnética
5.1 Introdução
Vimos anteriormente que um condutor, quando percorrido por uma corrente I, fica
submetido a uma força eletromagnética F que tende a deslocá-lo, desde que se encontre
no seio de um campo magnético. Isto é, desde que exista corrente elétrica e campo
magnético a interagirem produzem-se forças eletromagnéticas. Aqui, neste ponto,
vamos ver que um campo magnético variável no tempo ou no espaço (em
deslocamento, neste caso) produz corrente elétrica.
A indução eletromagnética consiste efetivamente na produção de forças eletromotrizes
e correntes, induzidas, provocadas por campos magnéticos variáveis (no tempo ou no
espaço). Os dois fenómenos referidos – produção de forças eletromagnéticas e
produção de correntes induzidas – necessitam, portanto, da presença das mesmas
grandezas (B, I, F), embora com causas e efeitos diferentes. Com efeito, resumindo o que
foi dito acima, temos as duas situações distintas seguintes:
1.ª – Para produzir uma força F de deslocamento, é necessário termos uma corrente I,
sob a ação de um campo magnético de indução B.
2.ª – Para produzir uma corrente I, é necessário provocar o deslocamento (força F) de
um campo magnético de indução B.
Isto é:
• Na 1.ª situação, a corrente I é a causa e a força F é o efeito.
• Na 2.ª situação, a força F é a causa e a corrente I é o efeito.

5.2 Produção de forças eletromotrizes e correntes,


induzidas
No laboratório, podemos fazer a seguinte experiência muito simples, com um íman M e
uma bobina B ligada a um galvanómetro G (aparelho indicador de correntes fracas –
miliamperes ou microamperes) de zero ao centro.

Os ensaios a efetuar consistem em aproximar o íman da bobina, afastá-lo da bobina ou,


ainda, deixá-lo imóvel junto ou no interior da bobina.
Antecipemos então o que vai acontecer.
Quando o íman se encontra suficientemente afastado da bobina, evidentemente que
nada de anormal vai acontecer no circuito elétrico.
Quando aproximamos o íman da bobina, verificamos que o ponteiro do galvanómetro
se desloca num determinado sentido (ver figura 63).
Se deixarmos o íman imóvel no interior da bobina ou perto dela, verificamos que o
ponteiro do galvanómetro volta à sua posição inicial de repouso (ao centro).
Quando afastamos o íman da bobina, verificamos que o ponteiro volta a deslocar-se,
mas agora em sentido contrário ao do primeiro deslocamento.
Nota: O ponteiro do galvanómetro de zero ao centro desloca-se sempre para o terminal
por onde entra a corrente, conforme se sugere na figura.

Na figura estão representados os sentidos das correntes induzidas nos ensaios descritos,
considerando que N é o polo do íman que se encontra mais próximo da bobina. Se
tivéssemos considerado que era o polo S, então os sentidos das correntes seriam os
contrários dos indicados.
Ao íman móvel que provoca o aparecimento da corrente induzida dá-se o nome de
indutor. Ao circuito elétrico onde aparecem estas correntes (induzidas) dá-se o nome
de induzido. Ao fenómeno que consiste na produção de correntes induzidas,
provocadas por um campo magnético variável, dá-se o nome de indução
eletromagnética.
O fenómeno da produção de forças eletromotrizes e correntes induzidas é regido pela
Lei de Faraday ou Lei da Indução Eletromagnética (ano de 1831). O sentido da corrente
induzida é explicado pela Lei de Lenz (ano de 1834).
Vejamos então o que dizem estas duas leis.

5.3 Leis de Faraday e de Lenz


A Lei de Faraday diz o seguinte «Sempre que uma espira (ou conjunto de espiras) é
atravessada por um fluxo magnético variável, gera-se aos seus terminais uma força
eletromotriz induzida, a qual originará uma corrente se o circuito estiver fechado; a
corrente dura apenas enquanto durar a variação do fluxo magnético».
Isto quer dizer, que se o fluxo for constante, não se cria qualquer força eletromotriz
induzida. Só aparece f.e.m. induzida se o fluxo, através da bobina, for variável.
A Lei de Lenz permite-nos determinar o sentido da corrente induzida na bobina ou no
circuito. Ela diz, por seu lado, o seguinte: «A corrente induzida na bobina (ou no
circuito) tem um sentido tal que, pela sua ação eletromagnética, se opõe à causa que
lhe deu origem».
Vejamos qual a interpretação que se deve dar a esta lei.
Suponhamos novamente o exemplo anterior, em que se aproxima e afasta um íman, tal
como se reproduz novamente na figura.

Segundo a Lei de Lenz, a corrente induzida I deve ter um sentido tal que, pela sua ação,
deve opor-se à causa que originou o seu aparecimento. Temos, portanto, duas situações
distintas:
1.ª situação – Aproximação do polo N do íman, o que implica um aumento do fluxo
magnético através da bobina.
2.ª situação – Afastamento do polo N do íman, o que implica uma diminuição do
fluxo magnético através da bobina.
Isto é, a causa que deu origem às correntes induzidas foi a variação do fluxo magnético
através da bobina, que, num caso aumentou e no outro diminuiu, o que provocou
correntes de sentidos contrários.
Quando se aproxima o polo N, cria-se na bobina um polo N’ que tende a impedir a
aproximação do polo N do íman. A corrente I criada tem o sentido correspondente a
este polo N’, determinado pela regra do saca-rolhas (já estudada anteriormente).
Quando se afasta o polo N, cria-se na bobina um polo S’ que tende a impedir o
afastamento do polo N do íman. A corrente I criada tem o sentido correspondente a este
polo S’, determinado novamente pela regra do saca-rolhas.
Isto é, no primeiro caso, cria-se um fluxo de sentido contrário ao do íman, o qual tende
a opor-se ao aumento do fluxo indutor. No segundo caso, cria-se um fluxo do mesmo
sentido do fluxo do íman, o qual tende a opor-se à diminuição do fluxo indutor. As
correntes induzidas nos dois casos têm, obviamente, sentidos contrários. Se
utilizássemos o polo S do íman, os sentidos das correntes induzidas seriam contrários
aos indicados na figura.
De acordo com as Leis de Faraday e de Lenz, a f.e.m. induzida na bobina tem a
seguinte tradução matemática:

com:
e – f.e.m. induzida numa espira (volt)
E – f.e.m. induzida numa bobina (volt)
N – número de espiras da bobina
Фf – fluxo magnético final, por espira (weber)
Фi – fluxo magnético inicial, por espira (weber)
tf – instante final (segundos)
ti – instante inicial (segundos)
Δt = tf – ti – intervalo de tempo (segundos)
ΔФ = Фf – Фi – variação de fluxo no intervalo Δt (weber)
Nota : O sinal (–) na fórmula quer dizer que a f.e.m. criada tende a opor-se à causa que a
originou.
PROBLEMAS – Forças eletromotrizes induzidas
P1 – Foram efetuados três ensaios com uma bobina de 200 espiras e com um íman que
ora se aproximava da bobina, ora permanecia imóvel no seu interior, ora se afastava da
bobina. Calcule a f.e.m. induzida em cada espira (e) e na bobina (E), nas seguintes
situações:
a) Durante a aproximação, sabendo que ao aproximar o íman da bobina, o fluxo através
dela variou de 0 para 8 mWb, durante 0,5 s.
b) Durante os dois segundos seguintes à aproximação do íman, período durante o qual
este ficou imóvel.
c) Durante o afastamento do íman, sabendo que durou 0,5 s o afastamento em relação à
posição da alínea b). Na posição final, a bobina ficou fora da ação do íman.
Resolução:

Note que o sinal negativo tem apenas significado físico. Nos cálculos, interessa-nos
apenas o valor absoluto.

Estes valores já eram de esperar, pois, segundo a Lei de Faraday, desde que não haja
variação de fluxo não há f.e.m. induzida.

Os valores das alíneas a) e c) são iguais (em módulo), na medida em que são iguais as
variações de fluxo no mesmo intervalo de tempo. A única diferença reside apenas no
sentido da f.e.m. induzida e, portanto, da corrente respetiva.
P2 – Uma bobina tem 250 espiras. Calcule:
a) A variação de fluxo verificada em cada espira durante 0,6 segundos, sabendo que foi
medida uma f.e.m. induzida de 5 V na bobina.
b) O tempo que durou a aproximação de um íman que induziu uma f.e.m. de 3 V na
bobina, com uma variação de fluxo de 10 mWb (por espira).
R.: a) 12 mWb; b) 0,83 s.

5.4 Produção de forças eletromotrizes por outros


processos
No ponto 5.2, verificámos a produção de f.e.m. numa bobina fixa, provocadas por um
íman em movimento. Isto é, o movimento do íman provocava a variação do fluxo
magnético necessário à criação de f.e.m. induzidas. Há, evidentemente, outros processos
de produzir a f.e.m. induzida. O fundamental é criar um fluxo magnético variável
através do circuito, independentemente da forma como se consegue.
Assim, podemos ter ainda as seguintes situações: o indutor fixo e o induzido móvel; o
indutor fixo, mas com enrolamentos alimentados por uma corrente variável.
Vejamos então mais duas situações usuais de produção de f.e.m. induzidas.
5.4.1 Indutor alimentado por corrente variável
Observe a figura. A bobina B1 pode ser alimentada em corrente contínua ou em corrente
alternada.
Se for alimentada em c.c., então, quando fechamos o interruptor K, a corrente passa de
0 (zero) para o valor I, o fluxo passa também de 0 para Ф, e esta variação de fluxo ΔФ,
na bobina B1, ao atravessar a bobina B2, cria aí uma f.e.m. induzida com um dado
sentido (já explicado anteriormente).

Quando abrimos o interruptor K, acontece o fenómeno inverso; isto é, o fluxo diminui


de Ф para zero, e esta variação de fluxo, negativa, vai provocar na bobina B2 uma f.e.m.
de sentido contrário ao anterior.
Esta f.e.m. só existe, no entanto, durante o ato de abertura ou de fecho do interruptor,
extinguindo-se imediatamente. É, portanto, uma f.e.m. transitória.
Se a bobina B1 for alimentada em c.a., a corrente alternada fornecida provoca um fluxo
também alternado (ora positivo, ora negativo), o qual, ao atravessar a bobina B2, cria aí
uma f.e.m. induzida também alternada – esta situação corresponde ao princípio de
funcionamento do transformador, a estudar mais adiante. A f.e.m. criada, nesta
situação, será alternada, tal como a corrente indutora.
5.4.2 Abrindo e fechando um circuito indutor
Os atos de ligar ou de desligar o circuito indutor podem ter os mesmos efeitos que os
produzidos quando se aproxima ou afasta a bobina indutora, tal como se representa na
figura 66.
Na verdade, quando se fecha K, o fluxo aumenta (de 0 para Ф), pelo que aparece na
bobina induzida um fluxo Ф’ de sentido contrário, tendendo a opor-se a este aumento
de fluxo. Ao abrir K, há uma diminuição do fluxo Ф, pelo que é induzido um fluxo Ф’
que tem o mesmo sentido de Ф, de modo a opor-se à diminuição do fluxo indutor.

5.4.3 Deslocando uma bobina indutora


Tal como fizemos com o íman, aproximando-o ou afastando-o de uma bobina, ao
deslocarmos agora uma bobina indutora, percorrida por corrente, perto da bobina
induzida, provocamos uma variação de fluxo através desta (figura 67). As
consequências são as referidas anteriormente, ou seja, a criação de correntes induzidas
num ou noutro sentido, consoante a bobina indutora se aproxima ou se afasta da
induzida.

5.4.4 Deslocando o induzido em relação ao indutor


Este processo é semelhante ao descrito no ponto anterior, pois é indiferente deslocar o
indutor ou o induzido. Na verdade, o que é importante é que haja variação de fluxo
através de bobina induzida.
Assim, se aproximarmos ou afastarmos a bobina induzida do indutor, ou vice-versa, vai
criar-se uma f.e.m. na bobina induzida, cujo sentido é igualmente determinado pela Lei
de Lenz. O indutor tanto pode ser uma bobina como um íman.
5.4.5 Variando a relutância magnética do meio
Segundo a Lei de Hopkinson (Ф = Fm/Rm = N·I/Rm), se variarmos a relutância
magnética Rm, do meio em que estão colocadas as bobinas (indutoras e/ou induzidas),
variamos automaticamente o valor do fluxo em jogo: se Rm aumenta, Ф diminui; se Rm
diminui, Ф aumenta.
Evidentemente que a variação do fluxo Ф é importante para determinarmos os valores
da f.e.m. e da corrente induzida – quanto maior for a variação de fluxo possível maior
será a f.e.m. induzida.
A questão que se põe neste momento é precisamente a de saber como vamos variar a
relutância magnética Rm de modo que o fluxo Ф varie. Recordemos que a relutância
magnética é dada pela expressão:

com:
ℓ– comprimento da linha de força média
μ – permeabilidade magnética do meio
S – secção transversal do núcleo considerado
Para aumentar Ф, devemos diminuir o valor de Rm (Lei de Hopkinson). Para diminuir
Rm, podemos fazê-lo por um dos seguintes processos:
1. Aumentando a permeabilidade magnética μ.
2. Diminuindo o comprimento das linhas de força ℓ.
3. Aumentando a secção S do núcleo.
Vejamos alguns exemplos de aplicação, por variação da relutância Rm.
A) Variando a permeabilidade do meio – Se considerarmos novamente as duas
bobinas, indutora e induzida (imóveis ou não), e fizermos deslizar no seu interior
(introduzindo e retirando, com maior ou menor velocidade) um núcleo ferromagnético
(com permeabilidade mais elevada que a do ar, evidentemente), então a relutância
magnética varia e, portanto, também o fluxo magnético, logo, a f.e.m. induzida.
A introdução (ou retirada) do núcleo ferromagnético, com maior ou menor velocidade,
provoca evidentemente uma variação de fluxo ΔФ, positiva ou negativa, consoante o
sentido do deslocamento do núcleo, e de valor mais ou menos elevado consoante a
velocidade que imprimirmos.
Esta experiência pode, portanto, ser feita com as bobinas imóveis, embora o fenómeno
continuasse a verificar-se caso alguma das bobinas se encontrasse em movimento. Na
figura 68 sugerimos a experiência efetuada.
B) Variando o comprimento ℓ das linhas de força – A variação do comprimento das
linhas de força está, afinal, associado também à variação da permeabilidade. Com
efeito, se pretendermos diminuir o comprimento ℓ, temos de incluir um núcleo
ferromagnético que canalize as linhas de força e reduza o seu trajeto total. Na figura 69
exemplificamos um processo simples de o fazer. Deslocando a armadura A (abrindo ou
fechando o circuito ferromagnético), fazemos variar o percurso das linhas de força e
portanto o seu comprimento ℓ, a relutância magnética, o fluxo Ф e finalmente a f.e.m.
induzida que desloca o ponteiro do galvanómetro.

O circuito referido tem ainda a vantagem de permitir a variação da permeabilidade μ;


com efeito, quando ℓ diminui, a permeabilidade total aumenta, o que faz diminuir Rm
duplamente. Quando A encosta completamente ao núcleo N, o circuito passa a ser
totalmente ferromagnético, situação em que a permeabilidade é máxima e a relutância é
mínima; quando A se afasta, acontece exatamente o contrário.
C) Variando a secção S do núcleo – A variação da secção S do núcleo não é de execução
muito prática, como é fácil de concluir. Com efeito, os núcleos estão já construídos com
uma dada secção, pelo que seria, pelo menos, incómodo substituí-los. No entanto,
poderíamos efetuar facilmente uma experiência como a da figura 68, em que
utilizaríamos núcleos retangulares de diferentes secções. A secção útil dentro de cada
bobina seria evidentemente a secção transversal do núcleo introduzido. A experiência
com núcleos de diferentes secções permitir-nos-ia observar diferentes valores de f.e.m.
induzidas.
5.4.6 Deslocando um condutor retilíneo no seio de um campo
magnético uniforme
5.4.6.1 Experiência
Observe a figura. É constituída por um circuito elétrico sem fonte de energia, em que
um condutor retilíneo rígido C está assente sobre dois condutores nus (a e b) que ligam
a um galvanómetro. O condutor nu retilíneo C pode rolar sobre os condutores, fazendo
sempre contacto elétrico com eles.

O circuito está mergulhado num campo magnético uniforme de indução B constante,


perpendicular ao plano definido pelo circuito.
Enquanto o condutor C está imóvel, o fluxo Ф através da secção Si (do plano em que
assenta o circuito) é constante, visto que Si = constante e, portanto, também Ф = B·Si =
constante.
Se deslocarmos agora o condutor C (aplicando uma força F) para a esquerda ou para a
direita, verificamos que o galvanómetro acusa passagem de corrente, com sentidos
contrários, de acordo com o sentido da força F aplicada.
Como explicar então o fenómeno?
Bom, o fluxo através da nova secção S é diferente nas duas situações, pois que Ф = B·S,
sendo B sempre constante. É fácil de verificar que, deslocando C para a direita, temos
uma secção S maior e, portanto, o fluxo Ф será maior. Deslocando C para a esquerda,
teremos S menor e, portanto, o fluxo Ф será menor. Em qualquer dos casos há uma
variação de fluxo (ΔФ = Фfinal – Фinicial) e, portanto, de acordo com a Lei de Faraday, uma
f.e.m. induzida aos terminais do condutor C que origina uma corrente no circuito.
5.4.6.2 Determinação do sentido da corrente induzida
Tal como fizemos quando estudámos a Lei de Laplace, vamos utilizar também aqui a
regra dos tês dedos e a regra da palma da mão, mas agora da mão esquerda.
Vejamos primeiro a regra dos três dedos da mão esquerda.
Esta regra tem a seguinte correspondência:
Indução B ⇔ dedo polegar
Força F ⇔ dedo indicador
Corrente I ⇔ dedo médio
Colocamos os três dedos fazendo entre si ângulos de 90°, de tal forma que estejam
orientados de acordo com a correspondência indicada acima. O dedo médio da mão
esquerda dar-nos-á o sentido da corrente induzida I (ver figura).
A regra da palma da mão esquerda diz-nos que «Se colocarmos a mão esquerda
estendida de forma que a indução B entre pela palma da mão e orientarmos os quatro
dedos (mínimo, anelar, médio e indicador) no sentido da força F, então o dedo polegar
indicar-nos-á o sentido da corrente induzida I’» (ver figura).

Deve referir-se ainda que a Lei de Lenz também permitiria determinar o sentido da
corrente induzida, embora seja um pouco mais trabalhosa. Experimente.
5.4.6.3 Nova expressão para a f.e.m. induzida num condutor
Vimos já que a f.e.m. induzida numa bobina é obtida, de acordo com a Lei de Faraday,
por E = – N·ΔФ/Δt, em que N é o número de espiras. Tratando-se de um condutor
retilíneo, a f.e.m. induzida no condutor retilíneo é calculada pela expressão:

com:
e – f.e.m. induzida no condutor retilíneo (volt)
Фf – fluxo final (weber)
Фi – fluxo inicial (weber)
ΔФ – variação de fluxo ou fluxo cortado pelo condutor (weber)
Δt – intervalo de tempo em que se verifica ΔФ (segundos)
Isto é, a f.e.m. induzida e é igual ao fluxo cortado pelo condutor em cada unidade de
tempo, o que quer dizer que quanto maior for a velocidade de deslocamento do
condutor tanto maior será a f.e.m. induzida.
Por manipulação matemática, demonstra-se que a expressão anterior origina a nova
expressão para a f.e.m. induzida no condutor retilíneo:
e = – B · ℓ · v (com v = d/t)
com:
e – f.e.m. induzida no condutor (volt)
B – indução magnética (tesla)
ℓ – comprimento do condutor (metros)
v – velocidade de deslocamento do condutor (metros por segundo)
d – distância percorrida pelo condutor (metros)
t – tempo de deslocamento considerado (segundos)
Conclui-se que a f.e.m. induzida é tanto maior quanto maior for a indução, maior for o
comprimento do condutor e maior for a velocidade de deslocamento do condutor,
conforme seria lógico esperar.
5.4.6.4 Princípio de funcionamento do dínamo
O dínamo, ou gerador de corrente contínua, baseia o seu princípio de funcionamento
nas f.e.m. induzidas em condutores retilíneos (que constituem cada espira das bobinas
do dínamo) que cortam as linhas de força de um campo magnético. Os condutores de
cada uma das centenas ou milhares de espiras das bobinas do dínamo cortam as linhas
de força do campo magnético, ao rodarem em torno de um eixo, conforme é sugerido na
figura.
As correntes induzidas nos dois condutores retilíneos da espira representada na figura
somam-se, originando assim as duas polaridades (+ e –) que alimentarão uma carga
qualquer. O sentido da corrente em cada condutor é obtido pela regra dos três dedos da
mão esquerda ou da palma da mão esquerda, com as correspondências já indicadas.
Experimente, para os vetores indicados na figura.
PROBLEMAS – F.e.m. induzida num condutor
P1 – Na figura representa-se um condutor retilíneo C que pode deslocar-se sobre o
circuito elétrico que não tem qualquer fonte de energia. O circuito encontra-se
mergulhado num campo magnético uniforme de indução B. O condutor C encontra-se
perpendicular às linhas de força e é forçado a deslocar-se perpendicularmente ao campo
magnético, segundo a direção e sentido de F. Sabendo que B = 0,6 T, que o comprimento
do condutor é de 20 cm e que se desloca a uma velocidade linear de 1,5 m/s:

a) Calcule a f.e.m. induzida, medida pelo milivoltímetro.


b) Indique o sentido da f.e.m. induzida.
c) Calcule o fluxo cortado pelo condutor, durante 0,8 segundos.
Resolução:
a) e = B ℓ v = 0,6 × 0,2 × 1,5 = 0,18 V = 180 mV
b) O sentido da f.e.m. induzida é-nos dado pela regra dos três dedos da mão esquerda,
sendo por isso o seu vetor orientado de 1 para 2 na figura.
c) Ф = B S
d = espaço percorrido pelo condutor = v · t = 1,5 × 0,8 = 1,2 m
S = Superfície cortada = ℓ· d = 0,2 × 1,2 = 0,24 m2
Ф = B S = 0,6 × 0,24 = 0,144 Wb = 144 mWb
P2 – Suponha que no circuito da figura anterior eram conhecidos os seguintes valores: e
= 300 mV, B = 0,9 T, ℓ = 30 cm. Calcule:
a) A velocidade linear do condutor.
b) O fluxo cortado pelo condutor, durante 0,7 segundos.
R.: a) 1,1 m/s; b) 207 mWb.

5.5 Correntes de Foucault


5.5.1 Definição. Redução das correntes de Foucault
Correntes de Foucault são correntes elétricas induzidas nas massas metálicas dos
equipamentos e recetores, massas essas que geralmente não fazem parte do circuito
elétrico propriamente dito. Daí terem também o nome de correntes parasitas. Estas
correntes aparecem em massas de ferro, de cobre, de alumínio, etc., não pertencentes ao
circuito elétrico propriamente dito. É o caso, por exemplo, das correntes que se criam
nos núcleos de ferro das bobinas.
Os seus efeitos podem ser diversos, constituindo nuns casos vantagens e noutros
inconvenientes. Na generalidade dos casos, são consideradas inconvenientes, na
medida em que constituem perdas magnéticas; podem, no entanto, ser aproveitadas
utilmente no funcionamento de determinados dispositivos concebidos para o efeito.
As perdas por correntes de Foucault e as perdas por histerese (já estudadas) são, ambas,
consideradas perdas magnéticas. Estas perdas não podem ser confundidas com outras
perdas já estudadas, que são as perdas por efeito de Joule nos condutores elétricos e nas
resistências elétricas. Outras perdas haverá, conforme iremos descobrindo no
seguimento.
Como aparecem, afinal, as correntes de Foucault?
Observe a figura. Ela é constituída por um núcleo ferromagnético N envolto por uma
bobina B, alimentada por uma corrente I.

Se a corrente I for contínua, então não há correntes de Foucault, pois que I = constante
⇔ B = constante ⇔ Ф = constante e, portanto, não há f.e.m. induzidas, nem correntes
induzidas, nem correntes de Foucault (que são correntes induzidas no núcleo
ferromagnético).
Se a corrente I for variável, por exemplo alternada, já há correntes de Foucault. Com
efeito, a corrente I variável provoca uma indução B variável e, portanto, um fluxo Ф
variável, no núcleo ferromagnético, o qual produz no próprio ferro f.e.m. induzidas, de
acordo com as leis de Faraday e de Lenz. Essas correntes, circulares, aparecem em
planos perpendiculares à direção da indução B, conforme se sugere na figura. Quando a
indução magnética inverte o seu sentido, por inversão do sentido da corrente I, também
as correntes induzidas têm sentidos contrários.
Qual é o efeito destas correntes?
Bom, ao circularem no núcleo de ferro, aquecem-no e, portanto, há dispêndio de energia
sob a forma de calor.
Como se podem reduzir as perdas por correntes de Foucault?
Um dos processos consiste em laminar o núcleo de ferro, isto é, em dividir o núcleo
maciço em chapas, recobertas por material isolante e colocadas umas sobre as outras.
Desta forma, as correntes de Foucault que se formam são reduzidas porque ficam
confinadas à espessura das chapas de ferro.

5.5.2 Aplicações das correntes de Foucault


Além dos inconvenientes já referidos, as correntes de Foucault podem apresentar
também algumas aplicações de grande utilidade, desde que aproveitadas para a
conceção e funcionamento de determinados dispositivos.
5.5.2.1 Freio de massas metálicas móveis
A) O efeito de travagem – Vejamos, através de uma experiência simples, qual o papel
das correntes de Foucault na travagem de massas metálicas em movimento.
Observemos a figura 78. Nela representou-se um pêndulo metálico P que é posto a
oscilar (apoiado no eixo O), cortando as linhas de força de um íman.
Quando o pêndulo se encontra na posição extrema 1, aproximando-se do campo do
íman, o fluxo através da sua superfície vai passar de 0 Wb para um determinado valor
(há um aumento de fluxo através da superfície do pêndulo). Quando o pêndulo se
dirige para a posição 2, afastando-se do campo do íman e deixando de cortar as linhas
de força, o fluxo através da sua superfície vai passar de um determinado valor para o
valor zero (há diminuição de fluxo através da superfície do pêndulo).

Ora, segundo as leis de Faraday e Lenz, criam-se na superfície do pêndulo correntes


induzidas com sentido tal que tendem a opor-se à causa que lhes deu origem; a causa
que lhes deu origem foi a variação de fluxo, que é provocada pelo movimento do
pêndulo – ora há aproximação ao íman, ora há afastamento do íman. As correntes
induzidas têm, por isso, sentidos contrários nas duas posições do pêndulo, a que
corresponderão polos magnéticos «induzidos» (N' e S') também contrários. Os sentidos
das correntes induzidas indicadas em 1 e 2 são, por isso, tais que:
• Em 1, contrariam a aproximação do pêndulo ao íman – cria-se um polo N' perto de N.
Estes repelem-se, exercendo assim o efeito de travagem. Na outra face do pêndulo, cria-
se um polo S' perto de S, com a mesma função.
• Em 2, contrariam o afastamento do pêndulo em relação ao íman – cria-se um polo S'
perto de N exercendo novamente o efeito de travagem. Na outra face do pêndulo cria-se
um polo N'. Estes atraem-se, perto de S, com a mesma função.
Quando o pêndulo oscila em sentido inverso, repetem-se ações semelhantes até que o
pêndulo se imobilize completamente, ao fim de pouco tempo.
B) Regulação da velocidade dos discos de um contador de energia – Os discos dos
contadores de energia elétrica têm tendência a aumentar uniformemente a sua
velocidade (movimento uniformemente acelerado), se não lhes travarmos a marcha. A
regulação da velocidade do disco, de modo que se torne uniforme (para corrente
constante), é feita através de um íman que cria correntes de Foucault no próprio disco
(de alumínio), à medida que ele vai rodando (figura 79).
Assim, tal como vimos no exemplo anterior (pêndulo), são criadas correntes de Foucault
no disco metálico, tanto nas zonas que se aproximam dos polos como nas que se
afastam, tal como se sugere na figura 79. Estas duas correntes têm, no entanto, sentidos
de circulação diferentes, a que correspondem polos magnéticos N' e S' diferentes.

O efeito dos polos do íman é, no entanto, o mesmo, pois ambos contribuem para que o
disco não entre em movimento uniformemente acelerado, devido à ação conjunta de
travagem. Evidentemente que neste caso o íman não faz parar o disco (mas antes regula
a sua velocidade), em virtude de existir uma força eletromagnética exterior (provocada
pela energia medida) que está constantemente aplicada ao disco. Por um lado, temos a
força eletromagnética produzida pela energia a medir, por outro lado, a força de
travagem que evita que o disco entre em aceleração.
C) Outras aplicações da travagem – Existe um número considerável de aplicações das
correntes de Foucault, na travagem de massas metálicas. Indiquemos algumas delas:
• Regulação da velocidade dos discos dos «relés de disco». São dispositivos de
proteção cujo princípio de funcionamento (elétrico) é semelhante ao do contador de
energia e que atuam quando, por exemplo, a potência ultrapassa determinado valor.
• Aplicação nos freios eletromagnéticos dos camiões de grande tonelagem.
• Amortecimento das massas metálicas móveis, ligadas aos ponteiros, em aparelhos de
medida (amperímetros, voltímetros, galvanómetros). Permite que os ponteiros de
determinados aparelhos de medida estabilizem a sua posição rapidamente, sem
grandes oscilações.
5.5.2.2 Fusão de metais, por indução eletromagnética
Na figura 80 representa-se um recipiente resistente a elevadas temperaturas (cerâmico,
de aço, etc.), onde é colocado o metal que se pretende fundir. O enrolamento em torno
do recipiente é alimentado em corrente alternada. O fluxo variável assim criado, ao
atravessar o metal, cria nele correntes induzidas que o aquecem. As temperaturas a
atingir têm de ser elevadas para provocarem a fusão do metal (várias centenas de graus
centígrados), pelo que as correntes (bem como o número de espiras) devem ser também
elevadas. As correntes induzidas no metal não são mais do que correntes de Foucault,
as quais vão provocar um aquecimento que será tanto mais elevado quanto maior for o
valor das correntes, bem como a sua frequência. A este aquecimento do metal dá-se o
nome de aquecimento por indução eletromagnética.

5.6 Estudo da autoindução


5.6.1 Conceitos
Suponhamos um circuito elétrico constituído por uma bobina alimentada por corrente
variável, que pode ser obtida variando o valor de uma corrente contínua (com um
reóstato; abrindo ou fechando o interruptor do circuito, etc.) ou ainda utilizando uma
corrente alternada (corrente de sentido variável).
Como sabemos, uma corrente variável produz um campo magnético variável e portanto
um fluxo magnético também variável.
Ora, segundo as Leis de Faraday e Lenz, um fluxo magnético variável através de uma
espira ou conjunto de espiras produz uma f.e.m. induzida e portanto uma corrente
induzida. Assim, o circuito que é percorrido por uma corrente variável produz nele
próprio forças eletromotrizes e correntes induzidas que tendem a opor-se à causa que
lhes deu origem.
A autoindução é o fenómeno que consiste em produzir, no próprio circuito, forças
eletromotrizes e correntes induzidas. A estas forças eletromotrizes e correntes induzidas
no próprio circuito dá-se os nomes, respetivamente, de forças eletromotrizes de
autoindução e correntes de autoindução. A figura sugere a criação de f.e.m. e correntes
auto-induzidas num circuito elétrico constituído por uma bobina, alimentado por
corrente alternada (~).

5.6.2 A indutância ou coeficiente de autoindução


Na figura 82 representamos uma bobina que é alimentada por uma corrente contínua I,
sob tensão U. Esta corrente vai criar um conjunto de linhas de força do campo
magnético, as quais se constituem em fluxo magnético.

Foi já definido, anteriormente, o fluxo magnético Ф, através da superfície de uma espira


de secção S, como o produto Ф = B S. Definimos também fluxo magnético total através
da bobina ou fluxo abraçado Фt = N·I.
Define-se, finalmente, indutância L de um circuito elétrico como o quociente entre o
fluxo magnético total e a corrente I que o origina:

com:
L – indutância (em henry – H)
Фt – fluxo magnético total (em weber – Wb)
I – intensidade de corrente (em ampere – A)
Analisemos agora a definição anterior, e expressão respetiva, e tiremos algumas
conclusões:
1. A indutância é uma caraterística de qualquer circuito elétrico, seja ele constituído por
bobinas, condutores retilíneos, etc.
2. A indutância existe mesmo que a corrente e o fluxo sejam permanentemente
constantes (nesta situação, não existirá f.e.m. induzida). Evidentemente que, se Фt e I
forem variáveis, a indutância continuará a existir, embora possa assumir diferentes
valores no mesmo circuito (para correntes diferentes) – nesta situação, serão criadas
f.e.m. induzidas.
3. A indutância é tanto mais elevado quanto maior for o número de espiras N, o fluxo Ф
ou a corrente I, numa bobina.
4. No caso de se tratar de um condutor retilíneo, evidentemente que o fluxo é
geralmente tão reduzido que o coeficiente L é aproximadamente nulo, pelo que se
despreza o seu valor na generalidade dos casos (só quando a corrente é da ordem das
centenas de amperes e/ou N é elevado é que L é geralmente considerado).
No seguimento, veremos mais algumas caraterísticas desta grandeza tão importante nos
circuitos com bobinas.
5.6.3 Outra expressão para a indutância L
Podemos obter uma outra expressão para a indutância, no caso de se tratar de uma
bobina toroidal ou de solenoides compridos. Conforme vimos anteriormente, verifica-se
no interior da bobina toroidal que:

Ora, visto que por definição é L = Фt/I, então teremos, para bobina com núcleo de ar:

Se o núcleo da bobina for ferromagnético, então a indutância L será:

com:
L0 – indutância no ar (em henry)
L – indutância no ferro (em henry)
μ0 – permeabilidade do ar (em henry por metro)
μ – permeabilidade do ferro (em henry por metro)
N – número de espiras da bobina
S – secção de cada espira (em metros quadrados)
ℓ– comprimento da linha média do toroide (ou solenoide)
Por análise destas últimas expressões, podemos tirar mais algumas conclusões acerca da
indutância:
1. L depende apenas das caraterísticas intrínsecas da própria bobina. Evidentemente
que estas duas expressões não entram em contradição com a primeira, pois, na
expressão L = Фt/I, se I aumenta também Фt aumenta, originando um valor para L que é
praticamente constante (embora não rigorosamente).
2. L é bastante mais elevado quando o meio é ferromagnético.
3. L depende, entre outras grandezas, da permeabilidade. Se o meio for, por exemplo,
ferromagnético, então verifica-se que não é sempre constante, podendo variar
significativamente em determinadas zonas da curva de magnetização.
4. Concluímos, portanto, que L é praticamente uma constante de proporcionalidade
entre Фt e I; só o não é se o circuito ferromagnético funcionar na zona não linear da
curva de magnetização.
Nos problemas que vamos resolver, consideramos geralmente que L é constante, desde
que I não varie substancialmente. Em ensaios laboratoriais, em que se pretende
demonstrar que L varia com μ e se pretende construir o respetivo gráfico, fazemos
variar I entre limites consideráveis, de modo a abrangermos uma zona considerável da
curva de magnetização (zona linear + zona não linear).
5.6.4 A força eletromotriz de autoindução
5.6.4.1 Expressões matemáticas
Conforme foi já referido, a f.e.m. de autoindução é criada no próprio circuito, onde se
verifica (por processos vários) uma variação de fluxo magnético. Segundo as leis de
Faraday e de Lenz, a f.e.m. induzida numa bobina é dada por:

Conforme vimos em ponto anterior, verifica-se a seguinte proporcionalidade entre o


fluxo Фt e a corrente I:
Фt = L I com L = constante
Ora, se I variar com um determinado incremento ΔI, então o fluxo também variará com
o incremento proporcional ΔФt (L = constante). Obtemos assim:
ΔФt = L · ΔI
Substituindo esta expressão em (1), obtemos:

Por análise das expressões (1) e (2), podemos tirar algumas conclusões interessantes:
1. Só existe autoindução, e portanto f.e.m. autoinduzida, quando há variação de
corrente (ΔI ≠ 0) e portanto variação de fluxo (ΔФ ≠ 0).
2. Se ΔI = 0 ou ΔФ = 0 – corrente constante ou fluxo constante – então não há f.e.m.
autoinduzida. Note que L pode ser diferente de zero, apesar de não existir f.e.m.
autoinduzida. Na verdade, L é uma caraterística do circuito (= constante) e não tem
nada a ver com as variações de corrente ou de fluxo.
3. Além de aumentar com o coeficiente de autoindução, a f.e.m. autoinduzida é tanto
mais elevada quanto maior for a variação de corrente (ΔI) ou de fluxo (ΔФ), na unidade
de tempo. Portanto, a f.e.m. depende da «frequência» (rapidez) da variação da corrente
ou do fluxo.
4. A autoindução num circuito (e portanto a f.e.m. induzida) pode ser permanente ou
transitória, consoante o tipo de corrente ou o funcionamento do circuito:
• Se a corrente for alternada (de sentido variável), então a autoindução é permanente,
existindo uma f.e.m. constante.
• Se a corrente for transitória (por exemplo, abrindo ou fechando um circuito em
corrente contínua ou alternada), então a autoindução só existe durante um período
curto, correspondente à abertura ou ao fecho do circuito.
5. Conclui-se finalmente que, em corrente contínua, só existe autoindução na abertura e
no fecho de circuitos, ou seja, em regime transitório.
5.6.4.2 Classificação dos circuitos quanto à autoindução
Quanto à autoindução, os circuitos podem ser classificados em: fortemente indutivos,
fracamente indutivos e não indutivos.
Um circuito diz-se fortemente indutivo quando apresenta uma elevada f.e.m. de
autoindução. Exemplo: circuitos com bobinas de núcleo ferromagnético (enrolamentos
de motores, de geradores, de transformadores, de balastros, etc.)
Um circuito diz-se fracamente indutivo quando apresenta uma reduzida f.e.m.
induzida. Exemplo: circuitos com bobinas sem núcleo ferromagnético.
Um circuito diz-se não indutivo quando a f.e.m. de autoindução é desprezável.
Exemplo: circuitos com condutores retilíneos, enrolamentos em poucas espiras e com
núcleo de ar, resistências elétricas, etc.
PROBLEMAS – Autoindução
P1 – Um circuito ferromagnético toroidal, cuja linha de força média tem um
comprimento de 30 cm, tem um enrolamento com 200 espiras. A secção transversal do
núcleo é de 8 cm2 e a permeabilidade relativa de 2000. Calcule:
a) A indutância do circuito.
b) O fluxo total Фt e o fluxo por espira Ф, supondo que I = 1,5 A.
c) A intensidade necessária para produzir um fluxo por espira de 5 mWb.
Resolução:

P2 – Um circuito ferromagnético toroidal, cuja linha de força média tem um


comprimento de 30 cm, tem um enrolamento com 200 espiras. A secção transversal do
núcleo é de 8 cm2 e a permeabilidade relativa de 2000. Calcule:
a) O número de espiras da bobina.
b) O fluxo por espira.
R.: a) 191; b) 3,1 mWb.
P3 – Ao ligar uma bobina a uma fonte de alimentação, foi autoinduzida uma f.e.m. de
30 V; sabe-se que durou 60 ms a estabelecer uma corrente de 4 A. Calcule:
a) A indutância L da bobina.
b) O fluxo total na bobina.
R.: a) 0,45 H; b) 1,8 Wb.
5.6.5 A autoindução em corrente contínua
Neste livro, vamos estudar apenas a autoindução em circuitos alimentados por corrente
contínua. Quando for estudada a «corrente alternada», completaremos então o estudo
aqui iniciado. Conforme vimos, em corrente contínua só existe autoindução durante o
breve período em que se liga (fecha) ou desliga (abre) o circuito elétrico ou,
genericamente, quando há uma variação brusca da corrente. Estudemos então as duas
situações referidas acima, ou seja, o fecho e a abertura de circuitos elétricos alimentados
em corrente contínua.
5.6.5.1 Fecho de um circuito, em corrente contínua
Observe o circuito elétrico representado na figura 83, com o qual vamos efetuar uma
experiência laboratorial.

O circuito, alimentado em corrente contínua, é constituído por dois ramos (1 e 2), cada
um dos quais tem uma lâmpada de incandescência, iguais entre si. Em série com L1,
existe um reóstato R; em série com L2, ligamos uma bobina B, que tem a sua própria
resistência Rb e ainda a sua indutância de valor L.
Numa fase pré-experimental, vamos ligar o interruptor K e regular o reóstato Rv até
que as duas lâmpadas apresentem o mesmo brilho (mesma corrente). Quando assim
acontecer, desligamos K, deixando de haver corrente no circuito e ficando as lâmpadas
apagadas.
Iniciemos então a experiência propriamente dita, ligando o interruptor, e observemos o
que acontece no circuito.
1. Verificamos que a lâmpada L1 acende de imediato, atingindo o brilho anteriormente
observado.
2. Verificamos ainda que a lâmpada L2 demora um certo tempo até atingir o brilho
observado anteriormente, ou seja, o brilho igual ao da outra lâmpada.
A diferença de brilhos verificada durante alguns instantes tem a ver obviamente com as
correntes I1 e I2 nos dois ramos – quanto maior for a corrente maior será o brilho da
lâmpada. Se o brilho de lâmpada L2 está atrasado (no tempo) em relação ao outro é
porque a corrente respetiva também o está. Na figura 84 sugere-se a evolução das
correntes i1 e i2, desde o instante em que se liga o interruptor K.
A que será devido este diferente comportamento das correntes?
Analisemos a resposta a esta questão.
Ao ligar K, a corrente na bobina tende a aumentar bruscamente de 0 para I2, ou seja, há
uma variação brusca de fluxo (ΔФ) na bobina, que produz nela própria uma f.e.m. de
autoindução e uma corrente i' que, segundo a Lei de Lenz, tende a opor-se à causa que
lhe deu origem. Esta corrente i' dura enquanto durar a variação de fluxo, isto é, durante
uma fração de tempo bastante curta (centésimas de segundo) – corresponde, por isso, a
um regime transitório (da corrente). A soma da corrente I2 (constante) com a corrente
transitória i' origina a corrente i2 representada no gráfico da figura 84, a qual atinge o
valor I2 = i1, no instante em que i’ = 0 (fim de regime transitório).

Na figura 85 representamos a corrente I2 (constante) e a corrente transitória i', de


sentidos contrários.
A esta corrente transitória que aparece na ligação de circuitos indutivos dá-se o nome
de extracorrente de ligação. O valor de i' será tanto mais elevado quanto mais indutivo
for o circuito (L mais elevado).
Quanto à corrente no reóstato Rv, ela mantém sempre o mesmo valor, pois não há
autoindução nas resistências. A autoindução só existe nas bobinas, conforme foi já
estudado anteriormente.
5.6.5.2 Abertura de um circuito, em corrente contínua
Suponhamos agora o circuito, mais simplificado, representado na figura 86 a). Com o
interruptor K ligado, apliquemos ao circuito uma tensão U tal que a lâmpada L ainda
não acenda. O voltímetro V indica o valor da tensão U aplicada; o galvanómetro G
indica uma determinada corrente, no sentido indicado na figura. Ao abrirmos K (figura
86 b), verificamos que a lâmpada vai acender, durante um espaço de tempo curto, e que
o voltímetro V vai indicar uma tensão superior, durante o mesmo intervalo de tempo.

Por que razão houve este diferente comportamento no ramo da lâmpada?


Mais uma vez, as Leis de Faraday e de Lenz explicam o fenómeno. Com efeito, ao abrir
K, o fluxo vai variar desde um determinado valor até zero. Esta variação de fluxo na
bobina provoca uma f.e.m. de autoindução, a qual origina uma corrente i' que tende a
opor-se à causa que lhe deu origem, isto é, à diminuição do fluxo. Conforme vimos, a
corrente induzida terá o mesmo sentido da corrente original, sempre que há uma
diminuição de fluxo (contrariamente à situação anterior).
Deste modo, a lâmpada L fica submetida a uma tensão superior, que é a soma da tensão
U com a f.e.m. autoinduzida – o seu brilho aumenta, e o voltímetro indica maior tensão,
momentaneamente. Quanto ao galvanómetro, ele agora acusa uma corrente de sentido
contrário a I1. A esta corrente i' que aparece na abertura dos circuitos indutivos dá-se o
nome de extracorrente de rutura. À tensão elevada que é lida pelo voltímetro, ao
desligar o circuito, dá-se o nome de sobretensão de rutura (Ur).
Na figura 87 representa-se a evolução, no tempo, destas duas grandezas. A
autoindução, ao produzir extracorrentes de ligação (no fecho dos circuitos) e
extracorrentes de rutura (na abertura dos circuitos), é comparável ao efeito da inércia, a
qual impede que o movimento dos corpos cesse imediatamente.
De referir finalmente que os circuitos fortemente indutivos não devem ser abertos muito
bruscamente, pois as sobretensões de rutura podem atingir valores muito elevados
(recorde que E = – N·<Ф/Δt, isto é, a f.e.m. é tanto mais elevada quanto maior for a
variação do fluxo, na unidade de tempo).

5.6.6 Aplicações da autoindução


Os fenómenos associados à autoindução, nomeadamente a extracorrente de rutura e a
sobretensão de rutura, podem ser aproveitados (com utilidade) em diferentes
circunstâncias. Recordemos que no momento de desligar um circuito indutivo aparece
uma sobretensão de rutura que é superior à tensão nominal do circuito. Vejamos então
alguns exemplos de aplicação:
1. Arranque de lâmpadas fluorescentes – O arrancador destas lâmpadas, ao cortar a
alimentação de um balastro (bobina fortemente indutiva), provoca nele uma f.e.m.
induzida que, somada à tensão da rede, origina uma tensão suficientemente elevada
(sobretensão) para fazer a descarga dos gases da lâmpada e assim funcionar. Após a
descarga, a tensão na ampola vai baixar para um valor inferior à tensão da rede, que é a
sua tensão de funcionamento nominal. Sem o balastro, teria de se aplicar à lâmpada
duas tensões diferentes: uma tensão elevada para o arranque e outra, inferior, para o
funcionamento normal.
2. Sistema de ignição dos motores de explosão – Para que se verifique a explosão da
mistura combustível + ar, é necessário aplicar às velas do motor do carro uma
sobretensão. Essa sobretensão não pode ser fornecida pela bateria (a sua tensão é baixa);
a sobretensão resulta da soma da tensão da bateria com a f.e.m. induzida na bobina, ao
abrir o circuito através dos chamados platinados (contactos elétricos). Com esta
sobretensão, assim obtida, já é possível provocar a explosão da mistura e pôr a
funcionar o motor do carro.
3. Limitação dos valores das correntes elevadas – A bobina é utilizada frequentemente
como limitadora de corrente, em circuitos de corrente alternada, evitando que os
valores sejam elevados, com a vantagem extra de consumir pouca energia. Este facto
verifica-se devido à f.e.m. induzida na bobina, sempre que há variação de corrente e,
portanto, do fluxo.
5.6.7 Inconvenientes da autoindução
Como é evidente, a autoindução não tem apenas vantagens; tem também as suas
desvantagens ou inconvenientes. Com efeito, a extracorrente de rutura e a sobretensão
respetiva nem sempre são aproveitadas, por não serem então necessárias. Nesses casos,
que são a maioria, a «descarga elétrica» que se forma momentaneamente tem efeitos
prejudiciais quando se abre um circuito.
É fácil de concluir desde já que é a rutura da corrente nos circuitos que origina a
generalidade das situações indesejáveis, mas origina também aquelas situações que
podem ter aplicações práticas, tais como as já referidas.
Vejamos então alguns inconvenientes da autoindução:
1. Faíscas e arcos elétricos na aparelhagem de corte – Foi referido várias vezes que, ao
cortar a corrente num circuito indutivo, aparece uma sobretensão (momentânea) no
circuito e uma corrente de extrarrutura que contraria a anulação da corrente no circuito
(Lei de Lenz). Se o circuito for apenas constituído por elementos indutivos, então toda a
sobretensão fica concentrada no aparelho de corte, que pode ser: um interruptor, um
disjuntor, um contactor, etc. Esta sobretensão origina, entre os contactos elétricos destes
aparelhos, faíscas e arcos elétricos que vão, progressivamente, danificando os mesmos.
2. Interferências dos arcos elétricos com as ondas eletromagnéticas – Todos nós já nos
apercebemos do fenómeno das interferências (ruídos) nos nossos rádios, televisores, etc.
Estes ruídos não são mais do que a sobreposição das ondas emitidas pelas frequências
«parasitas», provocadas pelo fenómeno da autoindução, com as frequências da emissão
sintonizadas no nosso recetor.
Estas situações acontecem nos recetores (de áudio, vídeo, etc.) quando: uma motocicleta
vai a passar, um secador de cabelo está a funcionar, um aspirador está ligado, etc. Todos
eles têm motores e, como sabemos, os motores são máquinas altamente indutivas que
produzem elevado número de faíscas e que criam frequências parasitas na rede, as
quais vão interferir com as frequências de emissão de rádio e vídeo.
3. O perigo (para o utilizador) das sobretensões de rutura – As tensões elevadas que se
produzem em circuitos altamente indutivos, quando se interrompe a corrente no
circuito, podem constituir um perigo para o utilizador, se não forem tomadas as
precauções adequadas, evitando o contacto com as partes ativas do circuito.
5.6.8 Como evitar os inconvenientes da autoindução
Felizmente, grande número dos inconvenientes da autoindução, nomeadamente os
produzidos pelos arcos elétricos, pode ser evitado. Deste modo, garante-se uma vida
útil mais duradoura para a instalação e evitam-se mesmo situações mais desagradáveis.
Vejamos então alguns processos usualmente utilizados para reduzir os efeitos
negativos da autoindução:
1) Ligando uma resistência em paralelo com o interruptor.
Observe a figura 88, constituída por uma bobina, uma resistência e o interruptor.
Quando se liga K, a bobina funciona normalmente, alimentada pela tensão da rede, pois
R fica curto-circuitada pelo interruptor.
Quando se desliga K, a bobina fica em série com a resistência R, e, deste modo, a
corrente I vai dissipar-se (por efeito de Joule) na resistência, evitando assim a
danificação dos contactos do interruptor.

2) Ligando o reóstato em série com a bobina


Em funcionamento normal, a resistência do reóstato está no valor mínimo (figura 89).
Quando se pretende desligar o circuito, aumenta-se previamente o valor de Rv até que a
corrente seja suficientemente reduzida. Só depois se abre o interruptor, protegendo
assim todo o circuito.

3) Ligando um condensador em paralelo com o interruptor


Ao ligar K, o condensador fica curto-circuitado, não passando por ele qualquer corrente
(figura 90).
Quando se pretende desligar o circuito, abrindo o interruptor, o condensador fica em
série com a bobina; deste modo, a energia magnética armazenada na bobina descarrega-
se sobre o condensador, o qual a armazena sob a forma de energia elétrica.

4) Ligando um díodo em paralelo com a bobina


O díodo D representado na figura 91 é, como se sabe, um dispositivo que só deixa
passar a corrente num sentido. Quando se liga K, a corrente só passa na bobina, pois o
díodo D não conduz corrente de A para B. Ao desligar K, a extracorrente de rutura I vai
circular entre a bobina e o díodo no sentido indicado na figura, percorrendo o díodo de
B para A até se dissipar toda a energia.

5) Ligando uma resistência variável VDR, em paralelo com a bobina


A resistência VDR apresenta um valor elevado quando é polarizada positivamente
(corrente de A para B) e apresenta um valor reduzido quando polarizada
negativamente (corrente de B para A).
Assim, ao ligar K, não é percorrida por qualquer corrente (resistência elevada), sendo a
bobina alimentada normalmente. Quando se desliga K, a extracorrente de rutura I vai
percorrer a VDR de B para A, situação em que a sua resistência é reduzida, dissipando-
se assim a energia no paralelo, protegendo o interruptor.

5.7 Estudo da indução mútua


5.7.1 Conceito de indução mútua
Ao estudarmos a indução magnética, observámos vários exemplos de circuitos em que
o fluxo produzido num deles ia atravessar o outro ou outros circuitos. Se esse fluxo for
variável, produz-se no outro circuito uma f.e.m. induzida. Tratando-se, por exemplo, de
duas bobinas verifica-se que: ao alimentarmos a primeira com uma corrente variável I1,
produz-se na outra uma f.e.m. E2; ao alimentarmos a segunda com uma corrente
variável I2, produz-se na primeira uma f.e.m. E1 (tal como se representa na figura 93).
Dá-se o nome de indução mútua ao fenómeno em que a variação da corrente num
circuito provoca no outro uma f.e.m. induzida funcionando nos dois sentidos. As forças
eletromotrizes induzidas nas bobinas contrárias têm então o nome de forças
eletromotrizes de indução mútua.
5.7.2 Fluxo mútuo
Suponhamos então que temos duas bobinas distintas (1 e 2), com as quais vamos fazer
dois ensaios diferentes, sugeridos pelas figuras 94 a) e 94 b).

Se alimentarmos apenas a bobina 1, cria-se um fluxo Ф1, que atravessa esta bobina. Parte
deste fluxo – Ф12 – vai atravessar a bobina 2. Este é o fluxo comum às duas bobinas ou
fluxo mútuo.
Se alimentarmos agora apenas a bobina 2, cria-se um fluxo Ф2 (igual ou diferente de Ф1)
que atravessa esta bobina. Parte deste fluxo – Ф21 – vai atravessar a bobina 1. Este é
também o fluxo comum às duas bobinas, chamado igualmente fluxo mútuo.
Evidentemente que Ф12 e Ф21 poderão ser iguais ou diferentes, consoante as bobinas e as
correntes que as percorrem forem iguais ou diferentes, respetivamente.
5.7.3 Indutância mútua ou coeficiente de indução mútua
Vimos anteriormente que a indutância de um circuito é uma grandeza que depende
apenas das caraterísticas intrínsecas do circuito. No caso particular de uma bobina
toroidal, vimos mesmo que a indutância L era dada por:

Quando há uma ligação magnética entre dois circuitos, com fluxos comuns, define-se
uma nova grandeza, que tem o nome de indutância mútua.
Assim, a indutância mútua M entre dois circuitos é o quociente entre o fluxo magnético
que atravessa um deles (provocado pelo outro) e a corrente que percorre o outro:

com:
Ф12 = fluxo produzido pela bobina 1 e que atravessa a bobina 2
Ф21 = fluxo produzido pela bobina 2 e que atravessa a bobina 1
O quociente M é uma constante, como se vê pela expressão anterior, qualquer que seja o
circuito alimentado. É expresso em henrys (H), tal como a indutância L.
A grandeza M será tanto mais elevada quanto maior for o fluxo comum e menor a
corrente na outra bobina. O valor do fluxo comum é, obviamente, dependente de vários
fatores, como: a permeabilidade magnética, o comprimento das linhas de força, o tipo
de circuitos (bobinas com ou sem núcleo), o número de espiras, etc. Na figura 95 sugere-
se a ligação magnética entre duas bobinas, onde se pode constatar a importância dos
fatores referidos.

5.7.4 Força eletromotriz de indução mútua


Em ponto anterior, estudámos a f.e.m. de autoindução como sendo a f.e.m. induzida no
próprio circuito (bobinas, condutores, etc.), onde se verifica uma variação de fluxo
magnético. A força eletromotriz de indução mútua é aquela que é produzida num
segundo circuito, devido à variação do fluxo magnético no primeiro. A expressão
matemática que traduz esta ligação entre f.e.m. e variação de fluxo é-nos fornecida pelas
Leis de Faraday e de Lenz.
No caso particular das forças eletromotrizes de indução mútua, induzidas em duas
bobinas próximas uma da outra, as expressões matemáticas respetivas são as seguintes:
Note que Ф12 e Ф21 são fluxos totais ou fluxos abraçados (por N espiras). Visto que Ф21 =
M I2 e Ф12 = M I1, as expressões anteriores podem tomar ainda outro aspeto:

com:
E1 – f.e.m. induzida na bobina 1, devido à variação de corrente na bobina 2
E2 – f.e.m. induzida na bobina 2, devido à variação de corrente na bobina 1
Como se pode constatar facilmente, as expressões da f.e.m. de indução mútua diferem
da f.e.m. de autoindução fundamentalmente nas grandezas M e L, o que é natural,
dadas as diferentes caraterísticas de indução nos dois casos.
PROBLEMAS – Indução mútua
P1 – Duas bobinas B1 e B2, diferentes uma da outra, têm um coeficiente de indução
mútua de 1,1 H. Calcule:
a) A f.e.m. induzida em B1, quando I2 varia de 4 A durante 0,2 s
b) A f.e.m. induzida em B2, quando I1 varia de 4 A durante 0,2 s
Resolução:

Verifica-se que E1 = E2, conforme era de esperar, pois ΔI/Δt é igual nos dois casos.
P2 – Resolva um problema semelhante ao anterior, supondo que M = 0,3.Compare os
resultados dos dois problemas.
R.: a) 6 V (as f.e.m. induzidas são bastante inferiores às do problema 1, na medida em
que a indução mútua é muito reduzida); b) 6 V.

5.8 Energias magnética e eletromagnética


Ao estudarmos alguns dos processos de redução dos invonvenientes da autoindução,
ao abrir um circuito indutivo, verificámos então que a extracorrente de rutura ia
originar a libertação de energia nos elementos que eram introduzidos no circuito com o
objetivo de limitar o efeito destas correntes. Na figura 96, recorda-se um destes
processos. Quando se liga K para a posição 1, a bobina é alimentada normalmente.
Quando, posteriormente, se liga K para a posição 2, passa a haver uma circulação de
corrente (transitória) entre a bobina e a resistência, com o sentido indicado na figura 96.
Conforme se pode ver, há circulação de corrente entre a bobina e a resistência, apesar de
a rede não fornecer qualquer tensão ao circuito.
De onde vem então a energia que vai alimentar a resistência (quando K está na
posição 2), transformando-se em energia calorífica?
A explicação é apenas esta: a passagem da corrente na bobina cria nela um campo
magnético, a que está associado um determinado valor de energia magnética, constante
com a corrente. A bobina armazena, portanto, energia magnética. Quando se desliga a
fonte de alimentação (K em 2), a bobina vai ceder a sua energia magnética ao circuito,
transformando-a em outras formas de energia. No caso particular da figura 96, houve
transformação de energia magnética em elétrica e desta em calorífica.
Demonstra-se que a energia magnética armazenada num circuito é dada pela
expressão:

com:
Wm – energia magnética (em joules – J)
L – indutância (em henrys – H)
I – intensidade de corrente (em amperes – A)
A este tipo de energia, que ora se transforma de elétrica em magnética, ora se
transforma de magnética em elétrica, dá-se usualmente o nome de energia
eletromagnética (para a distinguir, por exemplo, da energia fornecida por um íman, que
é apenas mag nética).
Esquemas para interpretação
Esq1 – Na figura representa-se um tubo em PVC, em torno do qual foi colocada uma
bobina com N > 1000 espiras, ligada a dois leds, em antiparalelo. Deixa-se cair um íman
forte pelo tubo, na vertical. Por que razão os dois leds vão acender, momentaneamente,
um após o outro?

Esq2 – Observe a figura. O que vai acontecer à agulha quando se liga o interruptor K? E
ao trocar as polaridades da pilha?

Esq3 – Na figura representa-se o funcionamento de um relé de intensidade, constituído


por uma bobina com um núcleo de ferro N ligado a contactos elétricos C. Diga o que
acontece quando:
a) Se liga K.
b) Se abre K.

Esq4 – Na figura representa-se um circuito que tem o nome de temporizador, isto é,


atua com um certo atraso de tempo t. É constituído por uma bobina, alimentado com
corrente contínua, com um núcleo móvel, ligado aos contatos elétricos C1. O núcleo
móvel está ligado a um êmbolo que pode deslocar-se dentro da câmara C, com óleo. Por
que razão lhe é dado o nome de temporizador? Como poderíamos variar a
temporização t deste dispositivo?

Esq5 – Como se sabe, as bobinas são elementos indutivos que armazenam energia
magnética (Wm = L I2/2). Ao serem ligadas e desligadas, provocam correntes induzidas
no circuito, as quais podem ser muito fortes, provocando enormes estragos nos
circuitos, particularmente na aparelhagem de corte. Explique por que razão é colocado
um condensador em paralelo com o interruptor K da figura.

Esq6 – Na figura representa-se o princípio de funcionamento do motor linear. O motor


linear é um motor que tem movimentos em linha reta, contrariamente ao motor
rotativo. O motor linear representado na figura é constituído por um condutor Co que
pode deslocar-se sobre dois condutores C1 e C2 nus, paralelos entre si e que são
alimentados por uma fonte de corrente contínua. O circuito elétrico está submetido a
um campo magnético de indução B. Por que razão o condutor Co se desloca nos
sentidos indicados pelas setas?

Esq7 – O díodo D só deixa passar a corrente de a para b. O díodo D representado na


figura tem uma função bem definida, nos instantes em que se desliga o interruptor K.
Tendo em conta que a carga é indutiva (constituída por uma bobina), qual será essa
função do díodo D?

Esq8 – Na figura representa-se um eletroíman constituído por uma bobina com núcleo
de ferro em U. Entre os polos magnéticos do eletroíman balança um pêndulo
constituído por uma lâmina de cobre (ou alumínio). Quando se alimenta o eletroíman, o
pêndulo é travado. Por que razão isso acontece?

Esq9 – Na figura representa-se o princípio de funcionamento de um motor elétrico. É


constituído por uma pilha ligada a uma espira ou um conjunto de espiras. Sobre a pilha
é colocado um íman, que convém seja forte. Por que razão a espira começa a rodar
quando se liga o circuito elétrico?

Esq10 – Na figura representa-se o princípio de funcionamento de um amperímetro


analógico. Por que razão o ponteiro se desloca sobre a escala? O ponteiro não se desloca
para a esquerda da escala? O ponteiro não ultrapassa o fim da escala, à direita? Como
evitar?

Esq11 – Na figura representamos um contador de impulsos. O rotor é constituído por


um núcleo magnetizado denteado. Numa posição fixa, é colocada uma bobina com um
núcleo de ferro, ligada a um contador de impulsos. Por que razão dizemos que este
dispostivo conta impulsos? De onde vem a tensão elétrica necessária para gerar o
impulso? Este dispositivo poderá contar rotações?

Esq12 – A figura representa o travão de um contador de energia. O disco do contador


roda dentro do entreferro do núcleo do eletroíman representado. Em baixo, representa-
se a vista de cima do disco do contador, com as correntes induzidas, provocadas pelo
núcleo. Por que razão dizemos que o eletroíman trava o disco?
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(ligação em estrela e em triângulo; sistemas equilibrados e desiquilibrados, com e sem
neutro; método de Boucherot; compensação do fator de potência; problemas resolvidos
e por resolver). Esquemas para interpretar e/ou projetar.
• Corrente Alternada e Sistemas Trifásicos Vol. 4 (Coleção «Biblioteca do eletricista e
eletrónico») – José Matias, Plátano Editora.
Sinopse: Corrente contínua – Leis gerais do circuito elétrico; condensadores em corrente
contínua; magnetismo e eletromagnetismo; problemas resolvidos e por resolver;
esquemas para interpretar e/ou projetar.
• Eletricidade e Eletrónica Vol. 1 (Cursos Profissionais) – José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro teórico-prático, com os seguintes módulos: Corrente contínua, Análise de
circuitos em corrente contínua, Magnetismo e eletromagnetismo, Corrente alternada
monofásica. Cada módulo está organizado com a seguinte estrutura: explicação teórica,
com inclusão de problemas resolvidos e/ou para resolver sobre cada conteúdo,
esquemas para interpretar ou realizar, trabalhos práticos a realizar.
• Eletricidade e Eletrónica Vol. 2 (Cursos Profissionais) – José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro teórico-prático, com os seguintes módulos: Semicondutores, Transístor
bipolar, Amplificadores com transístores, Corrente alternada trifásica. Cada módulo
está organizado com a seguinte estrutura: explicação teórica, com inclusão de
problemas resolvidos e/ou para resolver sobre cada conteúdo, esquemas para
interpretar ou realizar, trabalhos práticos a realizar.
• Eletricidade e Eletrónica Vol. 3 (Cursos Profissionais) – José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro teórico-prático, com os seguintes módulos: Transístores de Efeito de
Campo (FET), Amplificadores operacionais e Aplicações com amplificadores
operacionais. Cada módulo está organizado com a seguinte estrutura: explicação
teórica, com inclusão de problemas resolvidos e/ou para resolver sobre cada conteúdo,
esquemas para interpretar ou realizar, trabalhos práticos a realizar.
• Eletricidade e Eletrónica Vol. 4 (Cursos Profissionais) – José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro teórico-prático, com os seguintes módulos: Osciladores e fontes de
alimentação. Cada módulo está organizado com a seguinte estrutura: explicação teórica,
com inclusão de problemas resolvidos e/ou para resolver sobre cada conteúdo,
esquemas para interpretar ou realizar, trabalhos práticos a realizar.
• Sistemas Analógicos e Digitais 10.° ano, Vol. 1 – José Matias, Editora Didáctica.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Produção, transporte e distribuição de energia elétrica, Leis gerais do circuito
elétrico, Condensadores, Magnetismo e eletromagnetismo.
• Sistemas Analógicos e Digitais 10.° ano, Vol. 2 – José Matias, Editora Didáctica.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Corrente alternada, Introdução ao transformador, Circuitos básicos com
díodos.
• Sistemas Analógicos e Digitais 12.° ano – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Sistemas trifásicos, Estudo do transformador, Máquinas elétricas de corrente
alternada, Motores de corrente contínua, Eletrónica de potência, Acionamentos
elétricos.
•Práticas Laboratoriais de Eletrotecnia e Eletrónica 10.° ano – José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro prático, com os seguintes capítulos: Conceitos gerais da eletrotecnia e
eletrónica, Trabalhos práticos: 1. Medições. Noções de aparelhagem; 2. Leis gerais do
circuito elétrico; 3. Análise de circuitos e redes elétricas; 4. Eletromagnetismo; 5. Análise
de circuitos em corrente alternada; 6. Circuitos básicos com díodos.
• Práticas Laboratoriais de Eletrotecnia e Eletrónica 12.° ano – José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro prático, com os seguintes capítulos: Sistemas trifásicos, Transformadores,
Máquinas elétricas de corrente alternada, Motores de corrente contínua, Eletrónica de
potência, Variação e regulação de velocidade, Travagem.
• Aplicações Tecnológicas de Eletrotecnia e Eletrónica 10.° ano – José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro teórico, com os seguintes capítulos: Evolução histórica da tecnologia,
Higiene e Ssgurança no trabalho, Programas informáticos de eletrotecnia e eletrónica,
Materiais e componentes utilizados nas indústrias elétrica e eletrónica, Projetos de
eletrotecnia e eletrónica.
• Eletricidade 1 – 10.° ano – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Eletrostática, Circuitos em corrente contínua, Energia elétrica, Geradores, Lei
de Ohm em circuito fechado, Pilhas e acumuladores, Análise de redes elétricas.
• Eletricidade 2 – 10.° ano – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Magnetismo, Eletromagnetismo, Corrente elétrica e campo magnético, Forças
eletromagnéticas, As substâncias ferromagnéticas, O circuito magnético, Indução
eletromagnética, Autoindução e indução mútua.
• Eletricidade 3 – 10.° ano – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Corrente alternada monofásica, Caraterização da corrente alternada, Circuitos
em corrente alternada monofásica, Energias Ativa e reativa, Sistemas trifásicos.
• Máquinas Elétricas de Corrente Contínua – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Introdução, Generalidades, Máquina assíncrona (descrição, funcionamento,
tipos, esquemas, etc.), Máquina síncrona (descrição, funcionamento, tipos, esquemas,
etc.).
• Máquinas Elétricas de Corrente Alternada – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Introdução, Generalidades, Máquina de corrente contínua (motores e
geradores) – descrição, funcionamento, tipos de excitação, esquemas, etc.
• Máquinas Elétricas – Transformadores – José Rodrigues e José Matias, Didáctica
Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Generalidades, Transformador monofásico, Transformador trifásico,
Transformadores especiais.
• Tecnologia da Eletricidade 10.° ano, Vol. 1 – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com os seguintes capítulos: Materiais elétricos e sua utilização,
Elementos passivos e filtros, Fontes de energia, Produção de energia elétrica,
Transmissão de energia elétrica.
• Tecnologia da Eletricidade 10.° ano, Vol. 2 – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com os seguintes capítulos: Classificação e caraterísticas gerais
da aparelhagem elétrica, Proteção elétrica, Comando e regulação, Iluminação.
• Tecnologia da Eletricidade 11.° ano – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com os seguintes capítulos: Estudo do transformador, Máquinas
elétricas Rotativas de corrente alternada, Aquecimento, Ventilação, Refrigeração.
• Automatismos Industriais – Comando e Regulação – José Matias e Ludgero Leote,
Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: Conceitos básicos, Elementos de comando, Estudo do contactor, Esquemas
elétricos, Conceção dos circuitos de comando para automatismos.
• Sistemas de Proteção Elétrica – José Matias e Ludgero Leote, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com problemas resolvidos e por resolver, com os seguintes
capítulos: A importância dos sistemas de proteção, Organização de um sistema de
proteção, Elementos de proteção, Proteção de canalizações, Proteção de máquinas
elétricas, Problemas resolvidos, Tabelas e curvas Caraterísticas.
• Produção, Transporte e Distribuição de Energia – José Matias e Ludgero Leote,
Didáctica Editora.
Sinopse: Livro teórico, com os seguintes capítulos: Introdução, Produção de energia
elétrica, Transporte e distribuição de energia, Rede elétrica nacional.
• Guia de Laboratório de Eletricidade – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Livro prático, com os seguintes capítulos: Generalidades, Trabalhos práticos
em corrente contínua, Trabalhos práticos em corrente alternada, Trabalhos práticos com
transformadores, Trabalhos práticos com máquinas de corrente contínua, Trabalhos
práticos com máquinas de corrente alternada.
• Problemas e Itens I – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Problemas resolvidos e por resolver sobre os seguintes conteúdos: Corrente
Contínua, Eletromagnetismo, Corrente alternada. Programas em BASIC para
computador Spectrum.
• Problemas e Itens II – José Matias, Didáctica Editora.
Sinopse: Problemas resolvidos e por resolver sobre os seguintes conteúdos: Sistemas
trifásicos, Transformadores, Máquina assíncrona, Máquina síncrona, Máquinas de
corrente contínua. Programas em BASIC para computador Spectrum.
(Consulte: www.josematias.pt e www.josematias.pt/eletr)

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