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Energia e Panorama
Energético
José Roberto Simões Moreira
Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos (SISEA)
Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
1.1 O Sol e as fontes de energia correntes aquecidas do plasma. Após atingir a superfície do Sol
a energia é transmitida principalmente por radiação (fótons) e
O Sol é a principal fonte de energia de todo o planeta, seja no vento solar (partículas) para o resto da heliosfera. Um grande
fornecimento de energia para a realização de todos os proces- número de neutrinos também é liberado pelo processo de fu-
sos climáticos naturais, seja como fonte de calor e luz para os são. No entanto, os neutrinos raramente interagem com outros
vegetais e os animais e para o homem nas suas próprias ativi- pedaços de matéria. Centenas de bilhões de neutrinos atingem
dades. Em última análise, o Sol é a fonte primária de energia, a Terra a cada segundo, sem que possamos perceber ou nos fa-
uma vez que praticamente todas as fontes de energia necessá- zer mal. Os neutrinos solares atravessam completamente a Ter-
rias à sobrevivência do homem, tais como alimentos (vegetais
ou animais), calor e luz, além de promover o ciclo da água
como elemento fundamental aos seres vivos, são supridas de Estrutura interna:
núcleo
alguma forma pela energia solar. zona radiativa Fluxo subsuperfícial
zona de convecção
A energia solar é inexaurível e é o maior recurso energético
Fotosfera
de que a humanidade dispõe. De forma intrigante, a energia
proveniente do Sol é gerada a partir do fenômeno de fusão
nuclear nas suas camadas mais internas. Manchas do Sol
A Figura 1.1 mostra de forma esquemática a estrutura solar. Proeminência
Em sua camada mais interna, o núcleo, ocorre a fusão nuclear.
A energia resultante da fusão, na forma de radiação de fótons,
Chamas
é transferida para a chamada zona de convecção intermediá-
ria. A energia na forma de calor por convecção, em seguida, Buraco coronal
Cromosfera
é transferida para a superfície. A convecção é o fluxo de calor
através de um fluido, nesse caso, o plasma. A convecção ocorre Corona
ra e há uma chance em mil bilhões de serem parados por outra vida terrena. De forma impressionante, nos dias atuais, ain-
partícula. No entanto, usando-se milhares de litros de fluidos da há reminiscências de hinos de louvor ao “deus sol” que
especiais e dispositivos de detecção muito delicados, neutinos ecoam em templos pelo planeta. Não obstante essa obsessão
foram detectados e medidos. Essa técnica experimental foi uti- pelo astro-rei, a revelação bíblica sempre o colocou em sua
lizada para verificar a teoria da fusão nuclear como o motor de devida posição, juntamente com os outros astros, como ele-
energia no núcleo de nosso Sol e de outras estrelas. mento resultante do ato da criação e, portanto, jamais podendo
A densidade média de energia proveniente do Sol fora da ser considerado objeto de adoração (Deut. 4:14).
atmosfera da Terra é conhecida como constante solar, tendo
sido medida de várias formas, e seu valor médio é de 1353 W/
m2. Essa densidade média de energia está disponível constan- 1.1.1 Formas de energia
temente no lado claro da Terra durante todo o ano, gerando um O conceito científico de energia é de difícil entendimento, por
fluxo anual de energia térmica da ordem de 11,86 MWh/m2. se tratar de uma grandeza física proveniente do inter-relacio-
Desde tempos remotos a humanidade faz uso da energia solar namento entre dois sistemas físicos. A origem da palavra ener-
para as realizações de suas atividades. Historicamente, tem-se gia provém do grego, e seu significado está associado com
notícia do uso da energia solar desde o século VII a.C., quando a capacidade de realização do trabalho. Dentre as diversas
elementos vitrificados foram utilizados como concentradores formas em que se apresenta na natureza, a energia pode ser
para a produção de fogo; em 640 a.C., foi acesa a chama eter- transformada de uma forma em outra por meio dos chamados
na na Grécia por meio da concentração dos raios solares; em processos de conversão de energia. Entretanto, não obstante
1769, 160 °C foram produzidos com efeito estufa na França; seu caráter multiforme, a energia total de um sistema perma-
em 1878, uma prensa foi acionada por uma máquina a vapor de nece inalterada, como ditado pela Primeira Lei da Termodinâ-
fonte solar; em 1913, uma bomba de irrigação foi acionada com mica, objeto do Capítulo 2.
captadores solares planos, no Egito; em 1931, as células foto- As principais formas de energias são:
voltaicas foram inventadas nos EUA; em 1951, 50 mil aquece-
dores solares já estavam em funcionamento em Miami, EUA; • Energia solar: a energia solar é uma das fontes de ener-
em 1968, um forno solar de até 3500 °C foi projetado e operado gia renováveis e inesgotáveis. Proveniente das radiações
na França; em 1955, um terminal de comunicações terrestres eletromagnéticas emitidas pelo Sol, na forma de calor e
foi acionado por energia solar fotovoltaica nos EUA; em 1957, luz. A energia solar pode ser convertida diretamente para
satélites espaciais já operavam com geração solar fotovoltaica; o aquecimento da água, por intermédio dos coletores so-
em 1981, uma central elétrica solar fotovoltaica de 250 kW já lares de baixa e alta eficiência (energia solar térmica),
estava em operação nos EUA; em 1999 a capacidade instala- como ilustrado à esquerda da Figura 1.2, ou pode ser
da de energia solar fotovoltaica no mundo todo já ultrapassava diretamente transformada em energia elétrica por in-
1000 MW. Esse histórico mostra de forma resumida a linha de termédio de dispositivos de conversão de energia solar,
tempo da utilização da energia solar pelo homem e nos dá uma tais como os painéis fotovoltaicos (Fig. 1.2 – direita).
noção do ritmo no qual a capacidade de utilização da energia Futuramente, a energia solar representará uma parcela
proveniente do Sol vem sendo incrementada. considerável da matriz energética em todo o mundo.
Em termos de sociedade humana, o Sol foi considerado Dada a importância da energia solar dentre as energias
como um deus por muitos povos, dado o seu caráter provedor renováveis, dois Capítulos (9 e 10) são dedicados a esta
de energia, luz e, em última análise, sustentador da própria forma de energia.
Figura 1.2 Exemplos de aplicações de energia solar: aquecimento de água e produção de energia elétrica por meio de painéis fotovoltaicos.
Figura 1.3 Exemplo de turbinas eólicas para geração de energia elétrica. À esquerda, turbina eólica de eixo horizontal e, à direita, turbina
eólica de eixo vertical.
• Energia eólica: a movimentação do ar atmosférico ou do de átomos leves, como o hidrogênio, que libera grandes
vento provém do efeito da energia solar na atmosfera ter- quantidades de energia. A fusão nuclear é um processo
restre, sendo resultado do aquecimento desigual da atmos- de grandes possibilidades para uso comercial, porém, até
fera pelo Sol, das irregularidades da superfície e da rota- hoje, tem-se mostrado de difícil controle, e seu uso vem
ção da Terra. Os padrões de fluxo de ar e suas velocidades se restringindo à construção de bombas de hidrogênio. A
variam muito entre as regiões da superfície terrestre e são energia atômica também pode resultar da fissão de átomos
modificados pelos oceanos, pela vegetação e pelo relevo da pesados, como urânio, tório e plutônio, por meio da libe-
crosta terrestre. Desde tempos remotos a humanidade utili- ração de energia derivada da transformação de massa no
za a energia associada ao vento, ou energia de movimento, processo. Apesar de não ser tão intensa quanto no processo
para diversos propósitos, como movimentar embarcações de fusão, a liberação de energia no processo de fissão tam-
(vela), empinar pipas, bombear água, mover moinhos e bém é alta, e, por ser mais fácil de ser controlada, seu uso se
também para gerar eletricidade. difundiu na última metade do século passado, resultando na
O termo energia eólica descreve o processo pelo qual o construção de diversos ciclos térmicos de potência para a
vento é usado para gerar energia mecânica ou elétrica. O ven- geração de energia elétrica, além de mover ciclos térmicos
to gira as pás da turbina eólica, que giram um eixo que se de acionamento de navios e submarinos (Bodansky, 2004).
liga a um gerador que gera a eletricidade. As turbinas eó- A fotografia de uma usina nuclear é mostrada na Figura 1.4.
licas são as máquinas mecânicas que convertem a energia • Energia química: é a energia acumulada nas ligações quí-
cinética do vento em energia mecânica e em energia elétrica. micas entre os átomos das moléculas. O aproveitamento se
As turbinas eólicas modernas podem ser classificadas dá quando as ligações existentes nas moléculas dos reagen-
em dois grupos básicos: as de eixo horizontal e as de eixo tes possuem mais energia do que as ligações existentes nas
vertical. Podem ser construídas na terra ou no mar, com moléculas dos produtos resultantes de uma dada reação,
capacidade de geração elétrica de alguns quilowatts a de- daí a liberação de energia. As principais fontes de energia
zenas de megawatts. A Figura 1.3 mostra exemplos de tur- química são os hidrocarbonetos provenientes do refino do
binas eólicas de eixo horizontal e vertical. petróleo, como os óleos combustíveis, a gasolina, o gás
As turbinas eólicas maiores são mais eficientes e são liquefeito de petróleo, além do gás natural. Além dessas,
agrupadas em parques eólicos que fornecem grandes quan-
tidades de energia para o sistema elétrico. Nos últimos anos,
houve um aumento significativo em instalações de energia
eólica offshore, em função do grande potencial que essas
regiões oferecem. As turbinas de pequeno porte são usadas
para residências, telecomunicações ou bombeamento de
água. Podem ser utilizadas em um sistema híbrido, ou seja,
associadas a outras formas de energia renovável, como solar
fotovoltaica, e também com termogeração a diesel ou gás
natural em redes elétricas locais de pequeno porte (Burton
et al., 2001). O assunto é tratado no Capítulo 8.
• Energia atômica ou nuclear: fundamental para os proces-
sos de conversão energética no Universo. No interior do
Sol, por exemplo, a energia nuclear é resultado da fusão Figura 1.4 Vista de uma usina nuclear.
Figura 1.6 Exemplos de energia elétrica por meio de geradores eólicos e fotovoltaicos, e de hidrelétricas.
Transporte
Produção de carvão 3014 3406 3152 2449
Outras transformações
Importação de carvão
Importação de eletricidade
Produção geotérmica
Outras produções
Produção hidrelétrica Estação de
Produção nuclear potência
Figura 1.11 Cadeia energética de diversas fontes de energia dos países não pertencentes à Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE).
Cabe chamar atenção para o fato de que entre o balanço de Aqui será apresentado apenas um breve resumo da matriz
transformação e o balanço de consumo existem as perdas de energética brasileira. Para se ter uma matriz completa, seria
energia útil na distribuição e armazenagem de energia. Essas necessária uma obra inteira dedicada apenas a esse fim. Nas
perdas aparecem sempre com sinal negativo e correspondem próximas seções são apresentadas, de forma resumida, uma
àquela parcela da energia que fica no meio do caminho e não análise mais atual das matrizes energéticas mundial e brasileira.
chega ao consumidor final.
É possível observar que o sentido do fluxo no balanço vai
da energia primária para o consumo final total. Dessa forma, 1.3.1 Matriz energética mundial
qualquer operação que agregue energia a esse fluxo pela in- Para compreender melhor os fundamentos da matriz energética,
serção de energia à cadeia energética é positiva, e qualquer deve-se relacionar a análise com cenários que se compõem por
operação que retire energia desse fluxo é negativa. Na análi-
meio da matriz energética ao longo do tempo. Nesse sentido,
se da cadeia energética, a importação tem sinal positivo, en-
podem ser tomados vários cenários para se chegar a um resul-
quanto a exportação tem sinal negativo; se a energia vai para o
tado final (alto crescimento, baixo crescimento etc.), sendo que,
estoque, saindo do fluxo, possui sinal negativo, se ela sai
no cenário escolhido, alguns fatores devem ser considerados
do estoque, indo para o fluxo, possui sinal positivo. A Figura
como mais importantes para se alcançarem níveis e mecanis-
1.11 mostra uma cadeia energética contendo a fonte de energia
mos de desenvolvimento limpo com foco na sustentabilidade.
primária, os fluxos e o consumidor final.
É bom ressaltar que o traçado da matriz energética é resul-
tado dos trabalhos do balanço energético consolidado, o qual,
1.3 Matriz energética mundial e nesse sentido, mostra as inter-relações entre a oferta, a transfor-
mação e o uso final de energia, cujo foco principal é o planeja-
brasileira mento energético. Assim, a matriz energética é o resultado dos
A matriz energética é o panorama de distribuição real de apro- fluxos energéticos das fontes primárias e secundárias de ener-
veitamento dos recursos energéticos dentro de um país, de uma gia, desde a produção até o consumo final. É importante desta-
região ou do mundo. Sua determinação está diretamente vincu- car que a matriz energética e um balanço energético consolida-
lada ao balanço energético, e sua aplicação consiste em estudos do são fundamentais na construção de cenários e de estratégias
setoriais que têm por finalidade apresentar a evolução da deman- energéticas como instrumento do desenvolvimento, ou seja, do
da e da oferta de energia de um país, região ou de todo o mundo. planejamento energético em um contexto que engloba aspec-
A matriz energética é criada tendo como base o período tos energéticos, socioeconômicos e ambientais. A problemática
de um ano e a análise de um cenário específico. Projetada energética engloba: estrutura da demanda; conteúdo energético
para determinado período, propõe como deve ser o desen- da produção; reservas naturais; recursos naturais energéticos;
volvimento energético de uma região nesse espaço de tem- tecnologias de exploração; importação e exportação de energé-
po. A construção da matriz é feita levando-se em considera- ticos; produção de energia primária; produção dos centros de
ção os diversos setores de produção, industrial, residencial, transformação; consumo de energia pelos setores da sociedade;
agropecuário e de serviços do lado da demanda e, do lado consumo de energia útil por setor e por fonte; destino da energia
da oferta, os centros de transformação das principais fontes útil por setor e por serviço; preços e tarifas do setor energético, e
de energia. custos de produção, transporte e armazenamento.
O gráfico da Figura 1.12 apresenta o consumo energético A Figura 1.14 mostra a geração líquida mundial de eletri-
mundial, com a evolução da oferta e do consumo, de 1990 a cidade por tipo de combustível, de 2010 a 2040 (EIA, 2013).
2040. Observando-o, é possível notar um aumento, tanto do
45,0
consumo energético bastante acentuado dos países não mem-
bros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento 40,0
x 109 kWh
25,0
o período de 2010 a 2040. Hidrelétrica
20,0 Nuclear
1000,0
15,0 Gás natural
900,0
10,0 Carvão
800,0
700,0 5,0
x 10 BTU
600,0 0,0
500,0 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040
12
400,0
Figura 1.14 Geração mundial de eletricidade por tipo de com-
300,0
bustível, de 2010 a 2040 (EIA, 2013).
200,0
100,0
0,0
A geração líquida de eletricidade mundial tenderá a au-
1990 2000 2010 2020 2030 2040
mentar (EIA, 2013), passando de 20.200.000 milhões de
OECD 200,5 234,5 242,3 254,6 269,2 284,6
Não OECD 154,4 171,5 281,7 375,3 460,0 535,1 kWh em 2010 para cerca de 39,0 trilhões de kWh em 2040.
Em geral, o crescimento da demanda de energia elétrica
Figura 1.12 Consumo energético mundial de 1990 a 2040 (EIA, nos países membros da OCDE, nos quais os mercados de
2013). eletricidade estão bem estabelecidos e os padrões de consu-
mo são maduros, o aumento será mais lento que nos países
Analisando-se a Figura 1.13 (EIA, 2013) — caso de refe- não membros da OCDE, nos quais atualmente muitas pesso-
rência —, percebe-se que os combustíveis fósseis continuarão as não têm acesso à eletricidade. A geração de eletricidade
a fornecer a maior parte da energia utilizada no mundo. Em- líquida total em países não membros da OCDE aumenta em
bora os combustíveis líquidos — principalmente os produtos uma média de 3,1 % ao ano (no caso de referência), liderada
de petróleo — continuem a ser a maior fonte de energia, sua pelos países da Ásia que não fazem parte da OCDE (inclu-
participação no consumo energético mundial tenderá a cair de sive China e Índia), em que os aumentos anuais têm média
34 % em 2010 para 28 % em 2040, enquanto os preços do de 3,6 % entre 2010 e 2040. Em contraste, a geração líquida
petróleo terão alta mundial projetada, levando muitos usuários total nos países da OCDE crescerá em média 1,1 % ao ano
de energia a mudar dos combustíveis para as energias reno- até 2040.
váveis e energia nuclear. No caso de referência, a parcela de Em muitas partes do mundo, as preocupações com a se-
energias renováveis tenderá a aumentar de 11 % em 2010 para gurança do abastecimento de energia e as consequências am-
15 % em 2040, e a nuclear tenderá a crescer de 5 % para 7 %. bientais das emissões de gases efeito estufa têm estimulado a
adoção de políticas governamentais que apoiam um aumento
250,0
previsto das fontes de energia renováveis. Como resultado, as
fontes de energia renováveis apresentam um crescimento mais
200,0
rápido de geração de energia elétrica, de 2,8 % ao ano entre
2010 e 2040. Depois da geração renovável, o gás natural e a
energia nuclear serão as fontes de crescimento mais rápido.
Líquido
150,0 Embora o carvão tenda a aumentar pouco sua participação
x 10 BTU
Carvão
na geração de eletricidade, continuará a ser a maior fonte de
12
Gás natural
100,0
geração de energia mundial até 2040. As perspectivas para o
Renováveis
carvão, no entanto, podem ser alteradas substancialmente por
Nuclear
quaisquer futuras políticas nacionais ou acordos internacio-
50,0 nais que visem a reduzir ou limitar o crescimento das emissões
de gases efeito estufa.
Grande parte do aumento previsto na produção de ele-
0,0
1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 tricidade renovável ainda será bastante influenciado pela
energia hidrelétrica, solar e eólica. A contribuição da energia
Figura 1.13 Consumo energético mundial por tipo de combustí- eólica, em particular, tem crescido rapidamente nos últimos
vel de 1990 a 2040 (EIA, 2013). dez anos, começando com 18 GW de capacidade instalada
líquida ao final de 2000 para 183 GW ao final de 2010, uma 2,02 milhões de barris diários, dos quais 91,4 % são de
tendência que continua para o futuro. Dos 5,4 trilhões de origem marítima. A produção de derivados nas refinarias
kWh de geração de energia renovável adicionados ao lon- nacionais atingiu o valor de 107,8 milhões de tep, com
go do período de projeção, 2,8 trilhões de kWh (52 %) são crescimento de 6,5 % em relação a 2012. Destaque para
atribuídos à energia hidrelétrica e 1,5 trilhão de kWh (28 %). óleo diesel e gasolina que participaram com 39,2 % e
A maior parte do crescimento da geração hidrelétrica (82 %) 20,5 %, respectivamente, da produção total. O consumo
ocorre nos países não membros da OCDE, e mais da me- teve aumento de 6,3 % de óleo diesel e queda de 0,2 % de
tade do crescimento da geração de energia eólica (52 %) gasolina automotiva. O setor de transporte respondeu por
ocorre nos países membros da OCDE. Os elevados custos
82,9 % do consumo final energético de óleo diesel.
de construção podem tornar o custo total de construção e
operação de geradores de energias renováveis mais elevado • Gás natural: a produção diária média em 2013 foi de 77,2
que o custo das plantas convencionais. A intermitência das milhões de m³/dia, e o volume de gás natural importado
energias eólica e solar, em particular, pode dificultar ainda foi, em média, de 46,5 milhões de m³/dia. Assim, a parti-
mais a competitividade econômica desses recursos, pois não cipação do gás natural na matriz energética nacional ficou
estão necessariamente disponíveis quando seriam de maior em 12,8 %. A demanda da indústria teve decréscimo de
valor para o sistema. No entanto, a melhoria da tecnologia de 1,1 % em relação a 2012. Na geração térmica (inclusive
armazenamento de bateria e dispersão de vento e instalações autoprodutores e usinas de serviço público) houve um au-
de geração de energia solar em áreas geográficas extensas mento de 47,6 % que atingiu 69,0 TWh. Isso representou
poderia ajudar a mitigar alguns dos problemas associados um aumento de 57,8 % com relação a 2012.
com a intermitência no período de projeção.
• Carvão vapor e carvão metalúrgico: na geração elétrica,
Esses tipos de observações, de caráter global e qualitati-
o carvão utilizado é o carvão vapor, predominantemente
vo, podem nos fornecer várias informações que, em geral, vão
de origem nacional, cujos estados produtores são Paraná,
além do âmbito da energia, pois o setor energético é básico,
afetando todos os demais. Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A demanda de car-
Logo, o estudo da Matriz Energética é um instrumento vão vapor para esse uso final aumentou em 59,1 % em
importante no planejamento do desenvolvimento e, por con- 2013 em relação a 2012. No caso do carvão metalúrgico,
seguinte, para as pretensões do desenvolvimento sustentável. registrou-se uma queda de 3,0 % no consumo do setor
No caso da sustentabilidade, é relevante observar, por exem- siderúrgico em 2013 em decorrência da redução da produ-
plo, a participação das fontes renováveis. Esse planejamento ção física de aço bruto no período (cerca de 1,3 %).
deveria ser mundial.
Tabela 1.2 Balanço energético mundial simplificado em 2012 [×106 tep] (OCDE/EIA)
Milhões de TEP
Fluxo Petróleo Óleo e Gás Carvão Nuclear Hidráulica Biocombustíveis Outros Total
cru produtos natural e lixo
Produção 4308,45 2928,32 3976,14 661,35 334,94 1413,06 183,17 13.805,43
Importação 2213,37 1193,32 844,32 842,15 20,22 61,73 5175,11
Exportação -2159,50 -1242,64 -863,25 -863,14 -18,97 -59,35 -5206,85
Transportes (total) 2426,33 97,90 2,86 73,89 26,04 2627,02
Industrial (total) 6,80 294,67 548,54 858,49 193,52 849,15 2751,17
Outros 0,18 424,53 613,41 155,39 848,45 1141,03 3182,99
Consumo não
10,60 598,11 160,13 58,68 827,52
identificado
Fonte: IEA 2016.
1974
1978
1982
1986
1990
1994
1998
2002
2006
2010
2014
Tabela 1.3 Balanço Energético Brasileiro em 2015 [×103 tep] (MME, 2016)
Fluxo energético Petróleo Gás natural Carvão Produtos Derivados Hidráulica e Outros Total
mineral ¹ da cana ² petróleo eletricidade
Produção 126.127 34.871 3066 50.424 0 30.938 41.044 286.471
Importação + exportação −22.764 16.198 14.846 −676 8954 2959 4888 24.497
Perdas, reinjeção e −1165 −10.099 −237 −899 383 0 −1537 −11.756
variação de estoques
Oferta interna bruta 102.288 40.971 17.675 50.648 9337 33.897 44.395 299.211
Refinarias −99.972 0 0 0 103.346 0 −3783 −409
Plantas de gás natural 0 −3727 0 0 3273 0 245 −208
Centrais elétricas 0 −16.411 −4511 −5959 −6441 19.050 −10.440 −24.711
Destilarias 0 0 0 −93 0 0 0 −93
Outras transformações −1869 −1600 −1174 0 2064 0 −1438 −4017
Consumo final 0 18.765 11.970 44.594 111.488 44.946 28.921 260.684
Setor energético 0 6112 0 13.155 5567 2742 188 27.763
Residencial 0 312 0 0 6544 11.289 6807 24.951
Comercial + público 0 158 0 0 696 11.527 182 12.562
Agropecuário 0 0 0 13 6342 2310 2822 11.487
Transportes 0 1553 0 15.424 66.883 177 0 84.037
Industrial 0 9947 11.836 15.512 11.527 16.902 18.921 84.645
Não energético 0 685 134 490 13.929 0 0 15.237
Perdas distribuição 0 −464 −18 −54 −96 −8001 −59 −8692
Notas: 1inclui coque; 2inclui etanol.
gia (ou setor energético) no mundo é: o que o futuro mantém vam-se alterações no perfil demográfico brasileiro no que se
encoberto? refere ao padrão de crescimento populacional. Entre outros as-
Outros questionamentos que surgem imediatamente desse pectos, nota-se uma menor taxa de fecundidade e uma maior
primeiro são: Como poderemos assegurar o fornecimento de expectativa de vida ao nascer. Em síntese, pode-se afirmar que
energia para uma população cada vez maior e mais depen- a população brasileira continua crescendo, porém a um ritmo
dente desse insumo? Quanto isso custará? Que impacto terão menor, e que está envelhecendo.
as opções energéticas que fazemos atualmente sobre nossas Estima-se, para o ano 2025, uma população de 218,3
condições de vida e do nosso planeta no futuro? milhões de habitantes. Com relação ao perfil regional da
Para que possamos responder (ou ao menos tentar) tais população brasileira, observa-se que o maior crescimento
questionamentos, algumas análises precisam ser feitas. Por se ocorrerá nas regiões Norte (0,9 %) e Centro-Oeste (0,9 %),
tratar do interesse de todos os povos, um grande esforço tem com variações acima da média nacional (0,6 %). Esse cres-
sido realizado no sentido de prever e solucionar os problemas cimento, contudo, não será capaz de induzir uma mudança
associados à energia em todo o mundo. Para tanto, diversos significativa na estrutura da população, que continuará con-
órgãos governamentais e não governamentais trabalham em centrada nas regiões Sudeste (41,9 %) e Nordeste (27,7 %)
conjunto com universidades, instituições de pesquisa e desen- (IBGE, 2016).
volvimento, empresas do setor energético e setores associados A tecnologia é um dos principais motores do desenvolvi-
para propor as soluções mais viáveis para o problema energé- mento econômico e social. O rápido avanço da Tecnologia da
tico mundial. Esses órgãos promovem estudos e os divulgam Informação (TI) em todo o mundo transformou não só a nossa
na forma de relatórios periódicos que trazem questionamentos maneira de pensar, mas também a forma como agimos.
e soluções sobre os setores energéticos regionais (países) e Todos os aspectos da vida humana foram afetados pela tec-
globais (continentes). É com base nesses relatórios que é abor- nologia e a Internet, em particular. Não é preciso dizer que prati-
dado o panorama energético futuro e seu impacto na sociedade camente todas as tecnologias funcionam com eletricidade e, por-
e no meio ambiente (Hammond et al., 1973; Fanchi, 2004). tanto, a demanda de eletricidade aumentará rapidamente (OIE).
Associado ao avanço tecnológico, o crescimento da popula-
1.5.1 Possibilidades futuras de energia ção sempre foi e continuará sendo um dos principais motores da
demanda de energia, juntamente com o desenvolvimento eco-
De acordo com o estudo desenvolvido pelo Ministério de Mi- nômico e social. Enquanto a população mundial aumentou mais
nas e Energia/EPE (MME, 2016), nas últimas décadas obser- 1,5 bilhão ao longo das últimas duas décadas, a taxa global de
crescimento da população tem diminuído nos últimos anos. O mente reduzido, e a última estimativa do Banco Mundial indica
número de pessoas sem acesso à energia comercial foi ligeira- que esse número seja, atualmente, de 1,2 bilhão de pessoas.
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