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capítulo 1

Energia e Panorama
Energético
José Roberto Simões Moreira
Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos (SISEA)
Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)

José Aquiles Baesso Grimoni


Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da USP

Marcelo da Silva Rocha


Centro de Engenharia Nuclear (CEN)
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-CEN/SP)

 1.1  O Sol e as fontes de energia correntes aquecidas do plasma. Após atingir a superfície do Sol
a energia é transmitida principalmente por radiação (fótons) e
O Sol é a principal fonte de energia de todo o planeta, seja no vento solar (partículas) para o resto da heliosfera. Um grande
fornecimento de energia para a realização de todos os proces- número de neutrinos também é liberado pelo processo de fu-
sos climáticos naturais, seja como fonte de calor e luz para os são. No entanto, os neutrinos raramente interagem com outros
vegetais e os animais e para o homem nas suas próprias ativi- pedaços de matéria. Centenas de bilhões de neutrinos atingem
dades. Em última análise, o Sol é a fonte primária de energia, a Terra a cada segundo, sem que possamos perceber ou nos fa-
uma vez que praticamente todas as fontes de energia necessá- zer mal. Os neutrinos solares atravessam completamente a Ter-
rias à sobrevivência do homem, tais como alimentos (vegetais
ou animais), calor e luz, além de promover o ciclo da água
como elemento fundamental aos seres vivos, são supridas de Estrutura interna:
núcleo
alguma forma pela energia solar. zona radiativa Fluxo subsuperfícial
zona de convecção
A energia solar é inexaurível e é o maior recurso energético
Fotosfera
de que a humanidade dispõe. De forma intrigante, a energia
proveniente do Sol é gerada a partir do fenômeno de fusão
nuclear nas suas camadas mais internas. Manchas do Sol
A Figura 1.1 mostra de forma esquemática a estrutura solar. Proeminência
Em sua camada mais interna, o núcleo, ocorre a fusão nuclear.
A energia resultante da fusão, na forma de radiação de fótons,
Chamas
é transferida para a chamada zona de convecção intermediá-
ria. A energia na forma de calor por convecção, em seguida, Buraco coronal
Cromosfera
é transferida para a superfície. A convecção é o fluxo de calor
através de um fluido, nesse caso, o plasma. A convecção ocorre Corona

basicamente de duas maneiras: por interação aleatória de par-


tículas de alta energia (movimento browniano) e pelo fluxo de   Figura 1.1    Estrutura interna e da superfície do Sol.

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ra e há uma chance em mil bilhões de serem parados por outra vida terrena. De forma impressionante, nos dias atuais, ain-
partícula. No entanto, usando-se milhares de litros de fluidos da há reminiscências de hinos de louvor ao “deus sol” que
especiais e dispositivos de detecção muito delicados, neutinos ecoam em templos pelo planeta. Não obstante essa obsessão
foram detectados e medidos. Essa técnica experimental foi uti- pelo astro-rei, a revelação bíblica sempre o colocou em sua
lizada para verificar a teoria da fusão nuclear como o motor de devida posição, juntamente com os outros astros, como ele-
energia no núcleo de nosso Sol e de outras estrelas. mento resultante do ato da criação e, portanto, jamais podendo
A densidade média de energia proveniente do Sol fora da ser considerado objeto de adoração (Deut. 4:14).
atmosfera da Terra é conhecida como constante solar, tendo
sido medida de várias formas, e seu valor médio é de 1353 W/
m2. Essa densidade média de energia está disponível constan-  1.1.1   Formas de energia
temente no lado claro da Terra durante todo o ano, gerando um O conceito científico de energia é de difícil entendimento, por
fluxo anual de energia térmica da ordem de 11,86 MWh/m2. se tratar de uma grandeza física proveniente do inter-relacio-
Desde tempos remotos a humanidade faz uso da energia solar namento entre dois sistemas físicos. A origem da palavra ener-
para as realizações de suas atividades. Historicamente, tem-se gia provém do grego, e seu significado está associado com
notícia do uso da energia solar desde o século VII a.C., quando a capacidade de realização do trabalho. Dentre as diversas
elementos vitrificados foram utilizados como concentradores formas em que se apresenta na natureza, a energia pode ser
para a produção de fogo; em 640 a.C., foi acesa a chama eter- transformada de uma forma em outra por meio dos chamados
na na Grécia por meio da concentração dos raios solares; em processos de conversão de energia. Entretanto, não obstante
1769, 160 °C foram produzidos com efeito estufa na França; seu caráter multiforme, a energia total de um sistema perma-
em 1878, uma prensa foi acionada por uma máquina a vapor de nece inalterada, como ditado pela Primeira Lei da Termodinâ-
fonte solar; em 1913, uma bomba de irrigação foi acionada com mica, objeto do Capítulo 2.
captadores solares planos, no Egito; em 1931, as células foto- As principais formas de energias são:
voltaicas foram inventadas nos EUA; em 1951, 50 mil aquece-
dores solares já estavam em funcionamento em Miami, EUA; • Energia solar: a energia solar é uma das fontes de ener-
em 1968, um forno solar de até 3500 °C foi projetado e operado gia renováveis e inesgotáveis. Proveniente das radiações
na França; em 1955, um terminal de comunicações terrestres eletromagnéticas emitidas pelo Sol, na forma de calor e
foi acionado por energia solar fotovoltaica nos EUA; em 1957, luz. A energia solar pode ser convertida diretamente para
satélites espaciais já operavam com geração solar fotovoltaica; o aquecimento da água, por intermédio dos coletores so-
em 1981, uma central elétrica solar fotovoltaica de 250 kW já lares de baixa e alta eficiência (energia solar térmica),
estava em operação nos EUA; em 1999 a capacidade instala- como ilustrado à esquerda da Figura 1.2, ou pode ser
da de energia solar fotovoltaica no mundo todo já ultrapassava diretamente transformada em energia elétrica por in-
1000 MW. Esse histórico mostra de forma resumida a linha de termédio de dispositivos de conversão de energia solar,
tempo da utilização da energia solar pelo homem e nos dá uma tais como os painéis fotovoltaicos (Fig. 1.2 – direita).
noção do ritmo no qual a capacidade de utilização da energia Futuramente, a energia solar representará uma parcela
proveniente do Sol vem sendo incrementada. considerável da matriz energética em todo o mundo.
Em termos de sociedade humana, o Sol foi considerado Dada a importância da energia solar dentre as energias
como um deus por muitos povos, dado o seu caráter provedor renováveis, dois Capítulos (9 e 10) são dedicados a esta
de energia, luz e, em última análise, sustentador da própria forma de energia.

  Figura 1.2    Exemplos de aplicações de energia solar: aquecimento de água e produção de energia elétrica por meio de painéis fotovoltaicos.

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Energia e Panorama Energético  3

  Figura 1.3    Exemplo de turbinas eólicas para geração de energia elétrica. À esquerda, turbina eólica de eixo horizontal e, à direita, turbina
eólica de eixo vertical.

• Energia eólica: a movimentação do ar atmosférico ou do de átomos leves, como o hidrogênio, que libera grandes
vento provém do efeito da energia solar na atmosfera ter- quantidades de energia. A fusão nuclear é um processo
restre, sendo resultado do aquecimento desigual da atmos- de grandes possibilidades para uso comercial, porém, até
fera pelo Sol, das irregularidades da superfície e da rota- hoje, tem-se mostrado de difícil controle, e seu uso vem
ção da Terra. Os padrões de fluxo de ar e suas velocidades se restringindo à construção de bombas de hidrogênio. A
variam muito entre as regiões da superfície terrestre e são energia atômica também pode resultar da fissão de átomos
modificados pelos oceanos, pela vegetação e pelo relevo da pesados, como urânio, tório e plutônio, por meio da libe-
crosta terrestre. Desde tempos remotos a humanidade utili- ração de energia derivada da transformação de massa no
za a energia associada ao vento, ou energia de movimento, processo. Apesar de não ser tão intensa quanto no processo
para diversos propósitos, como movimentar embarcações de fusão, a liberação de energia no processo de fissão tam-
(vela), empinar pipas, bombear água, mover moinhos e bém é alta, e, por ser mais fácil de ser controlada, seu uso se
também para gerar eletricidade. difundiu na última metade do século passado, resultando na
O termo energia eólica descreve o processo pelo qual o construção de diversos ciclos térmicos de potência para a
vento é usado para gerar energia mecânica ou elétrica. O ven- geração de energia elétrica, além de mover ciclos térmicos
to gira as pás da turbina eólica, que giram um eixo que se de acionamento de navios e submarinos (Bodansky, 2004).
liga a um gerador que gera a eletricidade. As turbinas eó- A fotografia de uma usina nuclear é mostrada na Figura 1.4.
licas são as máquinas mecânicas que convertem a energia • Energia química: é a energia acumulada nas ligações quí-
cinética do vento em energia mecânica e em energia elétrica. micas entre os átomos das moléculas. O aproveitamento se
As turbinas eólicas modernas podem ser classificadas dá quando as ligações existentes nas moléculas dos reagen-
em dois grupos básicos: as de eixo horizontal e as de eixo tes possuem mais energia do que as ligações existentes nas
vertical. Podem ser construídas na terra ou no mar, com moléculas dos produtos resultantes de uma dada reação,
capacidade de geração elétrica de alguns quilowatts a de- daí a liberação de energia. As principais fontes de energia
zenas de megawatts. A Figura 1.3 mostra exemplos de tur- química são os hidrocarbonetos provenientes do refino do
binas eólicas de eixo horizontal e vertical. petróleo, como os óleos combustíveis, a gasolina, o gás
As turbinas eólicas maiores são mais eficientes e são liquefeito de petróleo, além do gás natural. Além dessas,
agrupadas em parques eólicos que fornecem grandes quan-
tidades de energia para o sistema elétrico. Nos últimos anos,
houve um aumento significativo em instalações de energia
eólica offshore, em função do grande potencial que essas
regiões oferecem. As turbinas de pequeno porte são usadas
para residências, telecomunicações ou bombeamento de
água. Podem ser utilizadas em um sistema híbrido, ou seja,
associadas a outras formas de energia renovável, como solar
fotovoltaica, e também com termogeração a diesel ou gás
natural em redes elétricas locais de pequeno porte (Burton
et al., 2001). O assunto é tratado no Capítulo 8.
• Energia atômica ou nuclear: fundamental para os proces-
sos de conversão energética no Universo. No interior do
Sol, por exemplo, a energia nuclear é resultado da fusão   Figura 1.4    Vista de uma usina nuclear.

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4  Capítulo 1

variados fins, e pode-se dizer que, hoje em dia, ela é um


dos pilares mais importantes da sociedade. Iluminação, uso
de eletrodomésticos, ar condicionado, acionamento indus-
trial e muitos outros dependem hoje da energia elétrica. Por
isso, a maioria dos processos de conversão de energia tem
como finalidade a sua produção. A energia elétrica é nobre
no sentido de ser transformada em processos a partir de ou-
  Figura 1.5    Chamas resultantes das reações químicas de combus- tras formas de energia, podendo ser disponibilizada direta-
tão com liberação de energia das ligações moleculares do combustí- mente ao consumidor de forma fácil e segura por meio das
vel na forma de calor. linhas de distribuição. O Capítulo 5 é dedicado às máquinas
elétricas de transformação de energia. As principais formas
existem também a lenha, o etanol, o carvão mineral, o car- de geração de energia elétrica são as usinas hidrelétricas, ter-
vão vegetal, a biomassa, o biogás e o hidrogênio, em que melétricas e nucleares e, mais recentemente, os geradores
se observam processos que envolvem a transformação da eólicos, os painéis solares fotovoltaicos e as células de com-
energia química das moléculas em energia elétrica ou outra bustível. Não é possível conceber uma sociedade moderna
forma de energia mecânica útil. Suas maiores aplicações sem o uso da energia elétrica. A maior dificuldade de sua
estão ligadas aos processos de combustão em motores de produção em forma isolada, ou geração distribuída (Cap. 7)
combustão interna, turbinas a gás, caldeiras e fornos. A é seu armazenamento, conforme discutido no Capítulo 6. Na
análise dos processos de combustão e dos combustíveis é Figura 1.6 estão indicadas formas de geração de energia elé-
objeto do Capítulo 4. A energia química presente na bio- trica. A energia eólica é tratada no Capítulo 8.
massa e as técnicas relativas ao seu uso são tratadas no • Energia térmica: pode apresentar-se nas formas de radia-
Capítulo 11. Dada a importância que o hidrogênio vai de- ção térmica (radiação solar) ou energia interna. Como men-
sempenhar em futuro próximo, um capítulo inteiro é dedi- cionado, o calor corresponde a um fenômeno apenas obser-
cado à chamada “economia do hidrogênio” (Capítulo 14). vável na fronteira entre sistemas onde exista uma diferença
A Figura 1.5 mostra a fotografia de chamas resultantes das de temperaturas. Vale ressaltar que um fluxo de calor pode
reações químicas de combustão com liberação de energia resultar tanto de uma variação interna de energia quanto
das ligações moleculares na forma de calor, tal como ocor- de outra forma energética. A energia interna corresponde
re em um queimador. à capacidade de promover mudanças, associada à agitação
Existem na atualidade perspectivas promissoras quanto térmica de um dado material, que pode ser medida por sua
à utilização de técnicas de conversão direta, aplicadas às temperatura. A transferência dessa energia interna de um
“células de combustível”, que produzem diretamente ener- corpo para outro se dá pelos processos de condução, con-
gia elétrica a partir da reação de combustíveis, com alta vecção ou radiação térmica. Ainda, na categoria da energia
eficiência, por meio de reações isotérmicas, a temperaturas térmica, pode-se citar a energia geotérmica, que consiste no
relativamente baixas. aproveitamento do calor do vapor naturalmente existente
• Energia elétrica: a energia elétrica é normalmente associa- nos fluxos subsuperficiais que ocorrem em regiões de for-
da à circulação de cargas elétricas através de um campo de mações geológicas vulcânicas. A produção de vapor para
potencial elétrico, apesar de ser igualmente correto consi- geração de energia termelétrica também é uma das formas
derar sua presença em cargas estacionárias, como nos ca- mais comuns de produção de energia hoje em dia e, como
pacitores elétricos ou em nuvens eletricamente carregadas. exemplo, temos as usinas termelétricas nucleares, a gás, a
A potência elétrica pode ser medida pelo produto da tensão carvão e a biomassa. A Figura 1.7 mostra uma usina de
pela corrente. A energia elétrica é utilizada para os mais geração termelétrica.

  Figura 1.6    Exemplos de energia elétrica por meio de geradores eólicos e fotovoltaicos, e de hidrelétricas.

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Energia e Panorama Energético  5

de uma massa no campo gravitacional. A energia cinética


é relacionada com a inércia de corpos em movimento e
depende da massa e da velocidade desses corpos. A ener-
gia mecânica, assim como a elétrica, apresenta diversas
aplicações, desde usos antigos, como em moinhos, rodas de
água e tração animal, até nos dias de hoje, nos eixos
de motores de combustão interna e geradores eólicos. Na
categoria de energia mecânica pode-se, ainda, incluir a
energia das marés, energia das ondas do mar e também
a energia hidráulica, transformada em energia elétrica por
intermédio de turbinas hidráulicas acopladas a geradores
elétricos. Este assunto é tratado com mais detalhes no Ca-
pítulo 13. Na Figura 1.8 ilustram-se dois equipamentos
que produzem energia mecânica de eixo.
  Figura 1.7    Fotografia de uma central termelétrica.
• Energia magnética: tipo de energia acumulada na forma de
campos magnéticos (Fig. 1.9), que é utilizada de modo prá-
• Energia mecânica: a energia mecânica pode ser encon- tico no transporte e na transformação de energia elétrica em
trada nas formas potencial e cinética, além da forma de transformadores. A energia magnética é comumente asso-
eixo girante, como nos eixos de motores. A energia po- ciada à energia mecânica de eixo, por exemplo, em motores
tencial refere-se, basicamente, a forças estáticas e pode e geradores elétricos. Uma importante aplicação da energia
ser potencial elástica, acumulada em molas ou em gases magnética é o sistema de levitação e propulsão de trens de
comprimidos, ou gravitacional, o que depende da posição alta velocidade (Fig. 1.9).

  Figura 1.8    Exemplos de aplicações de energia mecânica.

  Figura 1.9    Exemplos de aplicações de energia magnética.

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6  Capítulo 1

Todas essas formas de energia apresentadas não esgotam


Cadeia energética
as possibilidades de se considerar a energia que existe sempre
que houver necessidade de promover uma mudança de estado.
Assim, podem ser definidas, ainda, a energia elástica à tensão
superficial de um líquido, que se mostra na formação de bo- Energia
Transformação
Energia Consumo final
primária secundária total
lhas de sabão; a energia difusiva decorrente da diferença da
concentração de gases, líquidos e sólidos solúveis; a energia
de mudança de fase das substâncias (energia latente) e diver-
sas outras formas. É claro que, ao utilizar o recurso energético,
devem-se empregar critérios de eficiência de uso, como dis-
cutido nos Capítulos 12 e 15, critérios esses aliados a preocu-   Figura 1.10    Estrutura geral das cadeias energéticas.
pações ambientais (Cap. 17), sob uma ótica de investimento
(Cap. 16) e de regulação (Cap. 18). • Energia primária: corresponde às formas mais primárias
No entanto, a quantidade de energia solar disponível na de energia disponíveis. Como energia primária, compre-
Terra é significativamente maior do que o total estimado para ende-se: petróleo, gás natural, carvão mineral, carvão ve-
os outros recursos energéticos, sejam os renováveis, sejam os getal, urânio (U238), energia hidráulica, biomassa, fontes
de origem fóssil, incluindo-se o urânio físsil (Muñiz et al., geotérmicas, energia solar, eólica e potencial das ondas.
2010; Bodasky, 2004). A energia primária tem sua maior parcela consumida ou
Uma discussão mais ampla dos diversos tipos de energia transformada em refinarias, usinas de gás natural, co-
será abordada nos capítulos subsequentes deste livro. queria, usinas hidrelétricas etc. A energia secundária, na
Na Tabela 1.1 estão apresentados os valores da energia forma de óleo diesel, gasolina, gás hidrogênio, coque de
disponível em processos reais, naturais ou tecnológicos, em carvão mineral, eletricidade, entre outras, é resultado des-
associação com o fenômeno físico ou químico considerado. sa transformação. Há também uma parcela de energia pri-
mária consumida diretamente, como a lenha e o carvão,
Tabela 1.1  Unidades de energia, trabalho e potência denominadas de consumo final. Uma parcela da energia
Unidade Fator de conversão secundária também vai diretamente para o consumo final,
e a outra é convertida em óleo combustível, eletricida-
1 J (joule) 107 ergs
de, nafta, gás canalizado, entre outros. O consumo final
1 W (watt) 1 J/s se desagrega em energético e não energético, o primei-
1 HP 746 W ro abrangendo o próprio setor energético, o residencial,
1 cal 4,18 J o comercial, o público, o agropecuário, o do transporte
1 kWh (quilowatt-hora) 3,6 × 1013 ergs = 3600 kJ (rodoviário, ferroviário, aéreo e hidroviário) e o industrial
1 tep (tonelada equivalente de 10.000 × 103 kcal ou 11.630
(cimento, ferro-gusa e aço, ferroliga, mineração/peloti-
petróleo) kWh zação, não ferrosos, química, alimentos e bebidas, têxtil,
papel e celulose, cerâmica e outras indústrias).
1 BTU (British Thermal Unit) 252 cal
• Transformação: correspondem aos processos industriais de
1 kW ano/ano 0,753 tep/ano transformação das fontes primárias de energia, como plan-
tas de beneficiamento de petróleo, plantas de transforma-
Nas próximas seções são apresentados alguns conceitos nor- ção de carvão mineral (coqueria) e vegetal (carvoaria),
malmente usados para a análise do segmento energético (balan- plantas de geração de energia termelétrica (usinas terme-
ço energético, matriz energética etc.) para poder avaliar a situ- létricas a carvão, óleo mineral, gás natural, biomassa, nu-
ação em diversos níveis (mundial, regional e nacional) e seus
clear, solar), plantas de transformação e beneficiamento de
respectivos futuros para, sobretudo, discutir o papel da energia
combustível nuclear e plantas de geração de energia hidre-
em um desenvolvimento sustentável, racional e eficiente.
létrica, eólica e maré motriz.
• Energia secundária: corresponde às fontes de energias deriva-
das do processamento das fontes de energia primária. Como
 1.2  Cadeias energéticas exemplos podem-se citar: óleo diesel, óleo combustível, gaso-
Cadeia energética é a sequência do fluxo e das formas de ener- lina, gás hidrogênio, gás liquefeito de petróleo (GLP), nafta,
gia desde a fonte ou produção (energia primária), passando pela querosene, gás proveniente de carvão mineral (gás de coque-
transformação (energia derivada), até a utilização final (energia ria), coque de carvão mineral, urânio enriquecido (pastilhas
final e energia útil). Dessa forma, as cadeias energéticas for- de combustível de reatores nucleares), eletricidade, carvão ve-
mam as etapas do fluxo da energia desde a fonte primária, pas- getal, álcool etílico (anidro e hidratado) além de outras fontes.
sando pelas diversas etapas de transformação, até o consumo fi- Nessa etapa ocorre o consumo final secundário.
nal, conforme indicado pelo diagrama de blocos da Figura 1.10. • Consumo final total: corresponde ao consumo final que,
Cada etapa definida na estrutura do esquema da Figura 1.10 por sua vez, pode ser dividido em consumo final não ener-
pode, por sua vez, ser dividida da seguinte forma: gético e consumo final energético.

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Energia e Panorama Energético  7

Diferenças estatísticas Variações de estoque Diferenças estatísticas


Produção e importação Consumo final total
(11.597 Mtoe) (5046 Mtoe)

Produção de petróleo 3272 Indústria


4080 3958
Importação de petróleo
2049 Refinarias 2572 2391 1585
Importação de produtos de petróleo

Transporte
Produção de carvão 3014 3406 3152 2449
Outras transformações
Importação de carvão

Produção de gás 1841 2054 2042


Importação de gás
Outros
Produção de biomassa
Importação de biomassa

Importação de eletricidade

Usos não energéticos

Produção geotérmica
Outras produções
Produção hidrelétrica Estação de
Produção nuclear potência

1871 Uso Exportações Bunkers


Variações de estoque Exportações Perdas de
potência próprio

  Figura 1.11    Cadeia energética de diversas fontes de energia dos países não pertencentes à Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE).

Cabe chamar atenção para o fato de que entre o balanço de Aqui será apresentado apenas um breve resumo da matriz
transformação e o balanço de consumo existem as perdas de energética brasileira. Para se ter uma matriz completa, seria
energia útil na distribuição e armazenagem de energia. Essas necessária uma obra inteira dedicada apenas a esse fim. Nas
perdas aparecem sempre com sinal negativo e correspondem próximas seções são apresentadas, de forma resumida, uma
àquela parcela da energia que fica no meio do caminho e não análise mais atual das matrizes energéticas mundial e brasileira.
chega ao consumidor final.
É possível observar que o sentido do fluxo no balanço vai
da energia primária para o consumo final total. Dessa forma,  1.3.1  Matriz energética mundial
qualquer operação que agregue energia a esse fluxo pela in- Para compreender melhor os fundamentos da matriz energética,
serção de energia à cadeia energética é positiva, e qualquer deve-se relacionar a análise com cenários que se compõem por
operação que retire energia desse fluxo é negativa. Na análi-
meio da matriz energética ao longo do tempo. Nesse sentido,
se da cadeia energética, a importação tem sinal positivo, en-
podem ser tomados vários cenários para se chegar a um resul-
quanto a exportação tem sinal negativo; se a energia vai para o
tado final (alto crescimento, baixo crescimento etc.), sendo que,
estoque, saindo do fluxo, possui sinal negativo, se ela sai
no cenário escolhido, alguns fatores devem ser considerados
do estoque, indo para o fluxo, possui sinal positivo. A Figura
como mais importantes para se alcançarem níveis e mecanis-
1.11 mostra uma cadeia energética contendo a fonte de energia
mos de desenvolvimento limpo com foco na sustentabilidade.
primária, os fluxos e o consumidor final.
É bom ressaltar que o traçado da matriz energética é resul-
tado dos trabalhos do balanço energético consolidado, o qual,
 1.3  Matriz energética mundial e nesse sentido, mostra as inter-relações entre a oferta, a transfor-
mação e o uso final de energia, cujo foco principal é o planeja-
brasileira mento energético. Assim, a matriz energética é o resultado dos
A matriz energética é o panorama de distribuição real de apro- fluxos energéticos das fontes primárias e secundárias de ener-
veitamento dos recursos energéticos dentro de um país, de uma gia, desde a produção até o consumo final. É importante desta-
região ou do mundo. Sua determinação está diretamente vincu- car que a matriz energética e um balanço energético consolida-
lada ao balanço energético, e sua aplicação consiste em estudos do são fundamentais na construção de cenários e de estratégias
setoriais que têm por finalidade apresentar a evolução da deman- energéticas como instrumento do desenvolvimento, ou seja, do
da e da oferta de energia de um país, região ou de todo o mundo. planejamento energético em um contexto que engloba aspec-
A matriz energética é criada tendo como base o período tos energéticos, socioeconômicos e ambientais. A problemática
de um ano e a análise de um cenário específico. Projetada energética engloba: estrutura da demanda; conteúdo energético
para determinado período, propõe como deve ser o desen- da produção; reservas naturais; recursos naturais energéticos;
volvimento energético de uma região nesse espaço de tem- tecnologias de exploração; importação e exportação de energé-
po. A construção da matriz é feita levando-se em considera- ticos; produção de energia primária; produção dos centros de
ção os diversos setores de produção, industrial, residencial, transformação; consumo de energia pelos setores da sociedade;
agropecuário e de serviços do lado da demanda e, do lado consumo de energia útil por setor e por fonte; destino da energia
da oferta, os centros de transformação das principais fontes útil por setor e por serviço; preços e tarifas do setor energético, e
de energia. custos de produção, transporte e armazenamento.

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8  Capítulo 1

O gráfico da Figura 1.12 apresenta o consumo energético A Figura 1.14 mostra a geração líquida mundial de eletri-
mundial, com a evolução da oferta e do consumo, de 1990 a cidade por tipo de combustível, de 2010 a 2040 (EIA, 2013).
2040. Observando-o, é possível notar um aumento, tanto do
45,0
consumo energético bastante acentuado dos países não mem-
bros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento 40,0

Econômico (OCDE) como um discreto consumo energético 35,0


dos países membros da Organização (EIA, 2013) no período 30,0
Líquidos
de 1990 a 2010. O mesmo comportamento foi projetado para Renováveis

x 109 kWh
25,0
o período de 2010 a 2040. Hidrelétrica
20,0 Nuclear
1000,0
15,0 Gás natural
900,0
10,0 Carvão
800,0
700,0 5,0
x 10 BTU

600,0 0,0
500,0 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040
12

400,0
  Figura 1.14    Geração mundial de eletricidade por tipo de com-
300,0
bustível, de 2010 a 2040 (EIA, 2013).
200,0
100,0
0,0
A geração líquida de eletricidade mundial tenderá a au-
1990 2000 2010 2020 2030 2040
mentar (EIA, 2013), passando de 20.200.000 milhões de
OECD 200,5 234,5 242,3 254,6 269,2 284,6
Não OECD 154,4 171,5 281,7 375,3 460,0 535,1 kWh em 2010 para cerca de 39,0 trilhões de kWh em 2040.
Em geral, o crescimento da demanda de energia elétrica
  Figura 1.12    Consumo energético mundial de 1990 a 2040 (EIA, nos países membros da OCDE, nos quais os mercados de
2013). eletricidade estão bem estabelecidos e os padrões de consu-
mo são maduros, o aumento será mais lento que nos países
Analisando-se a Figura 1.13 (EIA, 2013) — caso de refe- não membros da OCDE, nos quais atualmente muitas pesso-
rência —, percebe-se que os combustíveis fósseis continuarão as não têm acesso à eletricidade. A geração de eletricidade
a fornecer a maior parte da energia utilizada no mundo. Em- líquida total em países não membros da OCDE aumenta em
bora os combustíveis líquidos — principalmente os produtos uma média de 3,1 % ao ano (no caso de referência), liderada
de petróleo — continuem a ser a maior fonte de energia, sua pelos países da Ásia que não fazem parte da OCDE (inclu-
participação no consumo energético mundial tenderá a cair de sive China e Índia), em que os aumentos anuais têm média
34 % em 2010 para 28 % em 2040, enquanto os preços do de 3,6 % entre 2010 e 2040. Em contraste, a geração líquida
petróleo terão alta mundial projetada, levando muitos usuários total nos países da OCDE crescerá em média 1,1 % ao ano
de energia a mudar dos combustíveis para as energias reno- até 2040.
váveis e energia nuclear. No caso de referência, a parcela de Em muitas partes do mundo, as preocupações com a se-
energias renováveis tenderá a aumentar de 11 % em 2010 para gurança do abastecimento de energia e as consequências am-
15 % em 2040, e a nuclear tenderá a crescer de 5 % para 7 %. bientais das emissões de gases efeito estufa têm estimulado a
adoção de políticas governamentais que apoiam um aumento
250,0
previsto das fontes de energia renováveis. Como resultado, as
fontes de energia renováveis apresentam um crescimento mais
200,0
rápido de geração de energia elétrica, de 2,8 % ao ano entre
2010 e 2040. Depois da geração renovável, o gás natural e a
energia nuclear serão as fontes de crescimento mais rápido.
Líquido
150,0 Embora o carvão tenda a aumentar pouco sua participação
x 10 BTU

Carvão
na geração de eletricidade, continuará a ser a maior fonte de
12

Gás natural
100,0
geração de energia mundial até 2040. As perspectivas para o
Renováveis
carvão, no entanto, podem ser alteradas substancialmente por
Nuclear
quaisquer futuras políticas nacionais ou acordos internacio-
50,0 nais que visem a reduzir ou limitar o crescimento das emissões
de gases efeito estufa.
Grande parte do aumento previsto na produção de ele-
0,0
1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 tricidade renovável ainda será bastante influenciado pela
energia hidrelétrica, solar e eólica. A contribuição da energia
  Figura 1.13    Consumo energético mundial por tipo de combustí- eólica, em particular, tem crescido rapidamente nos últimos
vel de 1990 a 2040 (EIA, 2013). dez anos, começando com 18 GW de capacidade instalada

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Energia e Panorama Energético  9

líquida ao final de 2000 para 183 GW ao final de 2010, uma 2,02 milhões de barris diários, dos quais 91,4 % são de
tendência que continua para o futuro. Dos 5,4 trilhões de origem marítima. A produção de derivados nas refinarias
kWh de geração de energia renovável adicionados ao lon- nacionais atingiu o valor de 107,8 milhões de tep, com
go do período de projeção, 2,8 trilhões de kWh (52 %) são crescimento de 6,5 % em relação a 2012. Destaque para
atribuídos à energia hidrelétrica e 1,5 trilhão de kWh (28 %). óleo diesel e gasolina que participaram com 39,2 % e
A maior parte do crescimento da geração hidrelétrica (82 %) 20,5 %, respectivamente, da produção total. O consumo
ocorre nos países não membros da OCDE, e mais da me- teve aumento de 6,3 % de óleo diesel e queda de 0,2 % de
tade do crescimento da geração de energia eólica (52 %) gasolina automotiva. O setor de transporte respondeu por
ocorre nos países membros da OCDE. Os elevados custos
82,9 % do consumo final energético de óleo diesel.
de construção podem tornar o custo total de construção e
operação de geradores de energias renováveis mais elevado • Gás natural: a produção diária média em 2013 foi de 77,2
que o custo das plantas convencionais. A intermitência das milhões de m³/dia, e o volume de gás natural importado
energias eólica e solar, em particular, pode dificultar ainda foi, em média, de 46,5 milhões de m³/dia. Assim, a parti-
mais a competitividade econômica desses recursos, pois não cipação do gás natural na matriz energética nacional ficou
estão necessariamente disponíveis quando seriam de maior em 12,8 %. A demanda da indústria teve decréscimo de
valor para o sistema. No entanto, a melhoria da tecnologia de 1,1 % em relação a 2012. Na geração térmica (inclusive
armazenamento de bateria e dispersão de vento e instalações autoprodutores e usinas de serviço público) houve um au-
de geração de energia solar em áreas geográficas extensas mento de 47,6 % que atingiu 69,0 TWh. Isso representou
poderia ajudar a mitigar alguns dos problemas associados um aumento de 57,8 % com relação a 2012.
com a intermitência no período de projeção.
• Carvão vapor e carvão metalúrgico: na geração elétrica,
Esses tipos de observações, de caráter global e qualitati-
o carvão utilizado é o carvão vapor, predominantemente
vo, podem nos fornecer várias informações que, em geral, vão
de origem nacional, cujos estados produtores são Paraná,
além do âmbito da energia, pois o setor energético é básico,
afetando todos os demais. Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A demanda de car-
Logo, o estudo da Matriz Energética é um instrumento vão vapor para esse uso final aumentou em 59,1 % em
importante no planejamento do desenvolvimento e, por con- 2013 em relação a 2012. No caso do carvão metalúrgico,
seguinte, para as pretensões do desenvolvimento sustentável. registrou-se uma queda de 3,0 % no consumo do setor
No caso da sustentabilidade, é relevante observar, por exem- siderúrgico em 2013 em decorrência da redução da produ-
plo, a participação das fontes renováveis. Esse planejamento ção física de aço bruto no período (cerca de 1,3 %).
deveria ser mundial.

 1.4   Balanço da energia mundial e


 1.3.2  Matriz energética brasileira
brasileira
Segundo o relatório final do Balanço Energético Nacional de
2014 (MME/EPE, 2014), o Brasil dispõe de uma matriz elé- O balanço energético é um conjunto de dados registrados para
trica de origem predominantemente renovável, sendo que 64,9 % um dado país ou região, sobre o modo como as diversas fontes
da oferta interna correspondem à geração hidráulica e 79,3 % de energia foram utilizadas pelos diversos setores da sociedade,
da oferta interna de eletricidade correspondem às fontes reno- em um dado ano de avaliação, além de apresentar outros da-
váveis. Do lado do consumo, o setor residencial apresentou dos sobre o setor energético em questão.
alta de 6,2 %. O setor industrial registrou uma ligeira alta de Nesta seção são apresentados os balanços energéticos do
0,2 % no consumo de eletricidade em relação ao ano de 2012. Brasil e do mundo, com base em dados disponibilizados re-
Os demais setores (público, agropecuário, comercial e centemente por diversas fontes oficiais.
transportes) apresentaram alta de 4,8 % em relação a 2012. O
setor energético aumentou 12,6 %.
Em 2013, a capacidade total instalada de geração de ener-  1.4.1  Síntese do balanço energético
gia elétrica do Brasil (centrais de serviço público e autoprodu-
mundial
toras) somou 126.743 MW, o que representa um acréscimo de
aproximadamente 5,8 GW. O balanço energético mundial nos dá uma noção da ordem
Na expansão da capacidade instalada, as centrais hidrelé- de grandeza e da distribuição da oferta e dos usos de energia.
tricas contribuíram com 30 %, enquanto as centrais térmicas Contextualiza também o balanço brasileiro, localizando-o e
responderam por 65 % da capacidade adicionada. Por fim, as mostrando a sua relevância.
usinas eólicas foram responsáveis pelos 5 % restantes de au-
A busca de um desenvolvimento limpo exige essa visão
mento do grid nacional.
sistêmica do setor energético. Assim, por exemplo, na Tabela
• Petróleo e derivados: a produção nacional de petróleo e 1.2 pode ser visto o balanço energético mundial simplificado
óleo de xisto caiu 2,4 % em 2013, atingindo a média de de 2015 (IEA, 2016).

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10  Capítulo 1

Tabela 1.2  Balanço energético mundial simplificado em 2012 [×106 tep] (OCDE/EIA)
Milhões de TEP
Fluxo Petróleo Óleo e Gás Carvão Nuclear Hidráulica Biocombustíveis Outros Total
cru produtos natural e lixo
Produção 4308,45 2928,32 3976,14 661,35 334,94 1413,06 183,17 13.805,43
Importação 2213,37 1193,32 844,32 842,15 20,22 61,73 5175,11
Exportação -2159,50 -1242,64 -863,25 -863,14 -18,97 -59,35 -5206,85
Transportes (total) 2426,33 97,90 2,86 73,89 26,04 2627,02
Industrial (total) 6,80 294,67 548,54 858,49 193,52 849,15 2751,17
Outros 0,18 424,53 613,41 155,39 848,45 1141,03 3182,99
Consumo não
10,60 598,11 160,13 58,68 827,52
identificado
Fonte: IEA 2016.

 1.4.2  Síntese do balanço energético A geração elétrica a partir de não renováveis representou


26,0 % do total nacional, contra 26,8 % em 2014. A geração de
brasileiro autoprodutores em 2015 participou com 16,6 % do total pro-
duzido, considerando o agregado de todas as fontes utilizadas.
Um resumo do balanço energético nacional é apresentado na
Importações líquidas de 34,4 TWh, somadas à geração nacio-
Tabela 1.3. É importante notar a representatividade de cada nal, asseguraram uma oferta interna de energia elétrica de 615,9
setor, suas magnitudes, a participação de fontes renováveis e TWh, montante 1,3 % inferior a 2014. O consumo final foi de
não renováveis, as tendências etc., para poder entender melhor 522,8 TWh, com um recuo de 1,8 % em comparação com 2014.
a dinâmica do setor e, por consequência, o próprio desenvolvi- A Figura 1.15 mostra de forma sucinta a produção primária
mento do país. Os números serão analisados de forma breve. de energia no Brasil de acordo com o Balanço Energético Na-
Uma análise sucinta dos destaques de energia em 2015 e cional (MME, 2016).
de comparações com o ano anterior para as principais fontes
energéticas será apresentada adiante, segundo o Balanço Ener-
gético Nacional 2016 (MME, 2016). 106 tep (toe)
300
A produção de eletricidade a partir de fonte eólica alcançou Outras
21.626 GWh em 2015, o que equivale a um aumento de 77,1%
em relação ao ano anterior, quando se atingiu 12.210 GWh. 250
Produtos da cana
O montante de biodiesel (B100) produzido no país atingiu
3.937.269 m³, um aumento de 15,1 % no biodiesel disponibi- 200
Hidráulica
lizado no mercado interno em relação a 2015. Já o percentual
de B100 adicionado compulsoriamente ao diesel mineral ficou 150 Lenha

constante em 7 %. A principal matéria-prima foi o óleo de soja Gás natural


(70,0 %), seguido do sebo bovino (16,0 %). 100
A produção de cana-de-açúcar no ano civil 2015 alcançou
660,5 milhões de toneladas. Esse montante foi 4,5 % superior 50
ao registrado no ano anterior, quando a moagem foi de 631,8 Petróleo

milhões de toneladas. A produção nacional de açúcar foi de 0


34,2 milhões de toneladas, com queda de 3,5 % em relação ao
1970

1974

1978

1982

1986

1990

1994

1998

2002

2006

2010

2014

ano anterior, enquanto a fabricação de etanol cresceu 6,0 %,


atingindo um montante de 30.249 mil m³. Desse total, 61,8 %   Figura 1.15    Produção primária de energia no Brasil (MME, 2016).
referem-se ao etanol hidratado: 18.684,6 mil m³. A produção
de etanol anidro, que é misturado à gasolina A para formar a
gasolina C, diminuiu em 5,4 %, totalizando 11.564,6 mil m³.
A geração de energia elétrica no Brasil em centrais de ser-
 1.5  O que o futuro nos reserva?
viço público e autoprodutores atingiu 581,5 TWh em 2015, Fazendo uma análise da história da utilização da energia, é
resultado 1,5 % inferior ao de 2014. difícil acreditar que há apenas 200 anos as principais fontes de
As centrais elétricas de serviço público, com 83,4 % da energia eram a mecânica (tração animal), hidrelétrica (ainda
geração total, permanecem como principais contribuintes. A rudimentar), lenha e carvão. Hoje, existe vasta disponibili-
principal fonte de geração de energia elétrica é a hidráulica, dade de fontes de energia, incluindo-se diversas tecnologias
embora tal fonte tenha apresentado uma redução de 3,7 % na de energia renovável. Mas a pergunta que devemos fazer para
comparação com o ano anterior. tentar compreender o processo de desenvolvimento da ener-

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Energia e Panorama Energético  11

Tabela 1.3  Balanço Energético Brasileiro em 2015 [×103 tep] (MME, 2016)

Fluxo energético Petróleo Gás natural Carvão Produtos Derivados Hidráulica e Outros Total
mineral ¹ da cana ² petróleo eletricidade
Produção 126.127 34.871 3066 50.424 0 30.938 41.044 286.471
Importação + exportação −22.764 16.198 14.846 −676 8954 2959 4888 24.497
Perdas, reinjeção e −1165 −10.099 −237 −899 383 0 −1537 −11.756
variação de estoques
Oferta interna bruta 102.288 40.971 17.675 50.648 9337 33.897 44.395 299.211
Refinarias −99.972 0 0 0 103.346 0 −3783 −409
Plantas de gás natural 0 −3727 0 0 3273 0 245 −208
Centrais elétricas 0 −16.411 −4511 −5959 −6441 19.050 −10.440 −24.711
Destilarias 0 0 0 −93 0 0 0 −93
Outras transformações −1869 −1600 −1174 0 2064 0 −1438 −4017
Consumo final 0 18.765 11.970 44.594 111.488 44.946 28.921 260.684
Setor energético 0 6112 0 13.155 5567 2742 188 27.763
Residencial 0 312 0 0 6544 11.289 6807 24.951
Comercial + público 0 158 0 0 696 11.527 182 12.562
Agropecuário 0 0 0 13 6342 2310 2822 11.487
Transportes 0 1553 0 15.424 66.883 177 0 84.037
Industrial 0 9947 11.836 15.512 11.527 16.902 18.921 84.645
Não energético 0 685 134 490 13.929 0 0 15.237
Perdas distribuição 0 −464 −18 −54 −96 −8001 −59 −8692
Notas: 1inclui coque; 2inclui etanol.

gia (ou setor energético) no mundo é: o que o futuro mantém vam-se alterações no perfil demográfico brasileiro no que se
encoberto? refere ao padrão de crescimento populacional. Entre outros as-
Outros questionamentos que surgem imediatamente desse pectos, nota-se uma menor taxa de fecundidade e uma maior
primeiro são: Como poderemos assegurar o fornecimento de expectativa de vida ao nascer. Em síntese, pode-se afirmar que
energia para uma população cada vez maior e mais depen- a população brasileira continua crescendo, porém a um ritmo
dente desse insumo? Quanto isso custará? Que impacto terão menor, e que está envelhecendo.
as opções energéticas que fazemos atualmente sobre nossas Estima-se, para o ano 2025, uma população de 218,3
condições de vida e do nosso planeta no futuro? milhões de habitantes. Com relação ao perfil regional da
Para que possamos responder (ou ao menos tentar) tais população brasileira, observa-se que o maior crescimento
questionamentos, algumas análises precisam ser feitas. Por se ocorrerá nas regiões Norte (0,9 %) e Centro-Oeste (0,9 %),
tratar do interesse de todos os povos, um grande esforço tem com variações acima da média nacional (0,6 %). Esse cres-
sido realizado no sentido de prever e solucionar os problemas cimento, contudo, não será capaz de induzir uma mudança
associados à energia em todo o mundo. Para tanto, diversos significativa na estrutura da população, que continuará con-
órgãos governamentais e não governamentais trabalham em centrada nas regiões Sudeste (41,9 %) e Nordeste (27,7 %)
conjunto com universidades, instituições de pesquisa e desen- (IBGE, 2016).
volvimento, empresas do setor energético e setores associados A tecnologia é um dos principais motores do desenvolvi-
para propor as soluções mais viáveis para o problema energé- mento econômico e social. O rápido avanço da Tecnologia da
tico mundial. Esses órgãos promovem estudos e os divulgam Informação (TI) em todo o mundo transformou não só a nossa
na forma de relatórios periódicos que trazem questionamentos maneira de pensar, mas também a forma como agimos.
e soluções sobre os setores energéticos regionais (países) e Todos os aspectos da vida humana foram afetados pela tec-
globais (continentes). É com base nesses relatórios que é abor- nologia e a Internet, em particular. Não é preciso dizer que prati-
dado o panorama energético futuro e seu impacto na sociedade camente todas as tecnologias funcionam com eletricidade e, por-
e no meio ambiente (Hammond et al., 1973; Fanchi, 2004). tanto, a demanda de eletricidade aumentará rapidamente (OIE).
Associado ao avanço tecnológico, o crescimento da popula-
 1.5.1   Possibilidades futuras de energia ção sempre foi e continuará sendo um dos principais motores da
demanda de energia, juntamente com o desenvolvimento eco-
De acordo com o estudo desenvolvido pelo Ministério de Mi- nômico e social. Enquanto a população mundial aumentou mais
nas e Energia/EPE (MME, 2016), nas últimas décadas obser- 1,5 bilhão ao longo das últimas duas décadas, a taxa global de

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12  Capítulo 1

crescimento da população tem diminuído nos últimos anos. O mente reduzido, e a última estimativa do Banco Mundial indica
número de pessoas sem acesso à energia comercial foi ligeira- que esse número seja, atualmente, de 1,2 bilhão de pessoas.

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