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CAPÍTULO 1

A Energia Nuclear no Mundo – Cenário geral na


Matriz Energética Global

Márcio Antônio Fiori

Humberto Gracher Riella

Elita Fontenele Urano de Carvalho

O tema energia nuclear tem sido muito debatido no último século, não apenas no
campo científico e tecnológico, mas também por países que buscam possíveis soluções
energéticas, bem como a sua autonomia e a segurança no abastecimento de eletricidade.
Não há dúvidas de que o planeta se aproxima de uma grave crise no abastecimento
energético com a atual matriz energética, principalmente no fornecimento de energia
elétrica. O fato de que possivelmente nos depararemos em breve com a falta de energia
elétrica se tornou um tema de discussões e de planejamentos de governos desde a
década de 40.

Na década de 50 já era prevista uma futura crise energética global para o planeta
e parte da comunidade científica já defendia a energia nuclear como uma alternativa
importante para a geração de energia elétrica de grande escala de potência. A
comunidade científica estava certa, pois atualmente não há mais dúvidas de que o modal
nuclear se transformou num elemento importante e vital para as matrizes energéticas de
muitos países, além de ser uma forma eficiente de armazenamento de energia.

Para muitas formas de energia o armazenamento é pouco eficiente e dependente


dos fenômenos meteorológicos, a exemplo dos modais hidrelétrico, geotérmico,
fotovoltaico e eólico. Esses fatores reduzem a segurança do fornecimento de energia por
esses modais e tornam as matrizes enérgicas dos países que os adotam vulneráveis,
embora sejam modais considerados ecologicamente corretos, ou seja, fontes renováveis.




Em contraste, a energia elétrica a partir do modal nuclear é obtida a partir de


minerais fósseis e por processos controlados em reatores dimensionados especialmente
para essa finalidade. Esses minérios são facilmente armazenados, e por isso, tornam
possível a organização de estoques de energia, como as reservas minerais de elementos
fósseis de urânio e de tório. Nesse contexto não é interessante adotar uma matriz
energética contendo poucos modais de geração de energia. O interessante é constituir
uma matriz energética com multiplicidade de modais, contendo modais de energias
renováveis, modal nuclear e outras formas de geração.

Mesmo com tantas polêmicas a energia nuclear é uma alternativa importante


para o enfrentamento das crises energéticas futuras, que já se manifestam com sinais
evidentes por todo o planeta. No entanto, como qualquer outro modal energético, seu
uso requer sua inserção em planos energéticos que comportem políticas de
investimentos em pesquisas e tecnologias nucleares. As políticas devem contemplar
investimentos de médio e longo prazo para o pleno domínio científico e tecnológico do
assunto, principalmente em se tratando da tecnologia dos combustíveis nucleares, da
segurança nuclear e demais tecnologias dos reatores nucleares. Tais políticas deverão
contemplar programas de informação e de conscientização da sociedade, no sentido de
valorizar o modal da energia nuclear e de formar recursos humanos qualificados para
esse setor. Além da capacidade tecnológica nuclear, os países devem estabelecer uma
base de apoio importante por parte da sociedade, que será o consumidor e o
beneficiário.

Muitos países vêm demonstrando ao longo de décadas o interesse pelo modal


nuclear e têm contemplado em seus planos de expansão energética a energia nuclear
como sendo estratégica para a geração de energia elétrica, e reconhecem que é uma
forma de fortalecer a sua matriz energética com diversificação e segurança no seu
abastecimento. Os dados apresentados pela Associação Nuclear Mundial mostraram que
já havia em 2918 mais de 430 (quatrocentos e trinta) reatores de potência em operação
em 31(trinta e um) países, mais de 70 (setenta) reatores de potência em construção, mais
de 160 (cento e sessenta) previstos nos planejamentos e mais de 300 (trezentos) em
condições de propostas. Esses dados mostram que muitos países vêm adotando os
reatores nucleares como uma forma de geração de uma fração da sua energia elétrica e
que ainda pretendem expandir sua matriz com a ampliação das suas centrais nucleares.




É importante considerar que a ampliação da quantidade de reatores no planeta


talvez não esteja associada com o excesso de confiança dos países nas suas tecnologias
nucleares. Porém, não significa que o planeta não tenha confiança na sua tecnologia
nuclear. A realidade é que a população e o consumo energético não param de aumentar
ano após ano. Mesmo com programas eficientes na redução do consumo energético não
se tem índices negativos para o consumo de eletricidade e não há ainda alternativas
nesse sentido. Cada vez mais a produção industrial tem aumentado em resposta ao
aumento das necessidades de produtos manufaturados por parte da população. Esse
cenário impõe às nações e ao planeta uma condição delicada, a de buscar por formas
alternativas de produção de obtenção de energia e a partir de usinas com potência
suficiente para a geração e fornecimento. Não basta a produção e a geração de
eletricidade por fontes alternativas; é necessária potência embarcada nas usinas de
geração. Nessas condições, o modal nuclear é destaque, pois é capaz de produzir energia
elétrica com potência e em centrais nucleares que podem ser instaladas nas mais
variadas condições territoriais do planeta, evidentemente após a avaliação e aprovação
dos protocolos técnicos e políticos.

De forma equivocada muitos países acreditam que a tecnologia de geração de


energia elétrica a partir do modal nuclear está superada. De forma surpreendente, a
capacidade instalada no planeta de geração de energia elétrica por reatores nucleares já
supera o montante de 370 GWe. O modal nuclear já é responsável por mais de 11% do
total da energia elétrica consumida no planeta. Além da geração de eletricidade, os
reatores nucleares também estão instalados com a finalidade de pesquisas e para uso
militar. Atualmente 56 (cinquenta e seis) países operam com mais de 240 (duzentos e
quarenta) reatores de pesquisa e com mais de 180 (cento e oitenta) reatores nucleares
em navios e submarinos.

O modal nuclear vem ganhando importância na geração de energia elétrica em


virtude de vários fatores. Destaca-se a versatilidade do transporte e armazenamento dos
combustíveis nucleares, a grande quantidade de energia obtida a partir de pequenas
quantidades de massas e pela grande vantagem de não emitir dióxido de carbono na
atmosfera. Em função disso, a tecnologia nuclear está há décadas em evolução e
desempenhando um papel fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento de
muitas nações.




A tecnologia nuclear passou por momentos importantes na história do nosso


planeta e desde a década de 40 vem sofrendo revoluções conceituais e tecnológicas
importantes no cenário mundial e sem sinal de reversão. A década de 40 é marcada por
grandes descobertas e pelos primeiros desenvolvimentos importantes, empregando as
reações de fissão nuclear de determinados átomos. Infelizmente, nesse período o mundo
se deparou também com a segunda guerra mundial e com algumas iniciativas que
direcionaram esta tecnologia para a fabricação de bombas de alto poder de destruição,
fundamentadas em reações nucleares de fissão de átomos de urânio e de plutônio.

Somente na década de 50 o mundo se empenhou de forma significativa para o


desenvolvimento da tecnologia nuclear com a finalidade de geração de energia elétrica.
Essa motivação deveu-se principalmente a dois fatos importantes: i) a baixa eficiência
na geração termelétrica e ii) a elevada capacidade de poluição pelas termelétricas de
carvão e do petróleo da época. Nesse mesmo período as nações se deparam com
previsões graves de crises energéticas para um futuro breve. Surge então a percepção de
que o modal nuclear poderia ser uma alternativa, ou talvez a solução, para uma crise de
energia eminente num futuro próximo para o planeta.

Dessa época até a atualidade as pesquisas e tecnologias nucleares passaram por


outras crises e de escala mundial, como as crises políticas e os acidentes nucleares.
Esses eventos foram responsáveis por mudanças importantes nas políticas energéticas
de alguns países e modificaram o seu posicionamento quanto ao uso da energia nuclear.
Porém, esse comportamento não foi global. Muitos países vanguardas em energia
nuclear continuaram com as suas pesquisas e desenvolvimentos nessa concepção.

Não é ainda possível avaliar porque o mundo não retrocede com os avanços
nucleares mesmo com acidentes graves e experiências militares negativas. Talvez seja
por acreditar na tecnologia ou talvez seja simplesmente pela falta de opções para a crise
energética que sempre se revela e está sempre próxima. É facilmente possível identificar
a desaceleração nessa área por parte de alguns países e ao mesmo tempo uma aceleração
impressionante na expansão desse modal por outros países.

Essas observações são pontuais, porém está evidente no espectro global o


crescimento do setor energético de base nuclear. Está cada vez mais evidente que,
apesar das críticas e dos eventos negativos, o modal nuclear ainda é tomado como uma
alternativa importante para a obtenção de energia. Para uma análise real é necessário
não avaliar fatos isolados e dados pontuais na história da energia nuclear. Os cenários




para a produção e consumo de energia elétrica do planeta são as informações reais que
precisam ser avaliadas para a conclusão cautelosa quanto ao papel que a energia nuclear
desempenha, e se continuará desempenhando, no funcionamento das matrizes
energéticas das nações do planeta, principalmente das nações que estão em crescimento
com taxas elevadas.

O perfil do modal nuclear instalado no planeta tem acompanhado a demanda por


eletricidade das nações e não é possível a sua análise isolada deste contexto. As análises
e conclusões detalhadas do perfil nuclear deverão estar inseridas no histórico do
consumo e da capacidade instalada de geração de eletricidade do planeta. Um olhar
crítico e realista é capaz de surpreender com a revelação de que a energia nuclear não só
é vital para a matriz energética global como também está em plena expansão.

Perfil da geração de energia nuclear no mundo

Numa situação crítica de falta de energia, uma das alternativas de maior


viabilidade ainda parece ser a energia nuclear. No cenário global, é de fácil percepção
que a tecnologia nuclear está cada vez mais aprimorada e ainda é uma opção importante
por alguns países vanguardas nessa tecnologia. Muitos projetos estão em realização com
o objetivo de aumentar a eficiência de conversão da energia nuclear em eletricidade
pelo processo de fissão e com segurança e com o compromisso de expandir o índice de
aceitação do modal nuclear pela população global. A tecnologia nuclear tem avançado
significativamente e contribuído para a geração de novas tecnologias, que são aplicadas
também com outras finalidades. Como exemplo, é possível citar a área médica que é
muito beneficiada por exames e tratamentos radiológicos.

Embora a tecnologia nuclear esteja concentrada em uma pequena quantidade de


países, o cenário global mostra que muitos outros já estão investindo em pesquisas
nesse campo e em cooperação cientifica e comercial com os países da vanguarda
nuclear. A esfera de estudos com reatores nucleares é ampla e desperta interesse para
estudos com reatores civis e militares. Esses vetores de investigação apresentam
diferenciais evidentes, porém ambos buscam novas concepções e tecnologias, com o
principal objetivo de aumentar a segurança e a eficiência da operação de geração de




eletricidade pelos processos nucleares. A destinação dessa tecnologia depende


unicamente do interesse das nações detentoras desses conhecimentos e tecnologias.

Atualmente oito países têm capacidade comprovada de fabricação de


armamentos nucleares a partir das tecnologias obtidas com a fabricação de reatores
nucleares para geração de energia elétrica. Em contraste, 56 (cinquenta e seis) países
operam aproximadamente 240 (duzentos e quarenta) reatores nucleares civis para
investigações científicas. Mais de um terço desses reatores estão em operação em países
em desenvolvimento.

A Figura 1 mostra a capacidade instalada da geração de energia elétrica a partir


de reatores nucleares de potência para os países considerados os maiores geradores de
energia nuclear no período de 2011 a 2018, de acordo com as informações de maio de
2018 apresentadas pela Associação Mundial Nuclear. O cenário comprova que os países
que adotaram a energia nuclear na década de 70 como uma fonte importante para a
geração de energia elétrica ainda mantém a sua política energética nuclear ativa e com
ações de ampliação da sua capacidade de geração.

Figura 1 - Capacidade instalada de geração de energia elétrica a partir do modal nuclear para alguns
países vanguardas na tecnologia nuclear.

2011
2012
2013
800 2016
2017
700
partir do modal nuclear (TWh)
Energia elétrica produzida a

600

500

400

300

200

100

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Fonte de dados: World Nuclear Association – Atualizado em 2018.






Merecem destaque os Estados Unidos da América (EUA), França, Rússia,


Coreia do Sul, China, Canadá e Alemanha. Esses países, juntos, produzem mais de um
trilhão de kWh/ano de energia elétrica a partir dos seus reatores nucleares. O destaque
especial é para o EUA que gera aproximadamente 800 bilhões de kWh/ano e para a
França que gera aproximadamente 400 bilhões de kWh/ano.

A maior quantidade de reatores nucleares em operação está nos países que


geram a maior quantidade de energia elétrica a partir de reações nucleares. A Figura 2
mostra a quantidade de reatores em operação no mundo em 2015 (Fonte: Associação
Mundial Nuclear). Os países com a maior quantidade em operação continuam
instalando novas unidades. Esse crescimento é um indicador importante de
confiabilidade e de viabilidade dessa tecnologia.

Os Estados Unidos da América e a França já possuem uma quantidade


significativa de reatores nucleares em operação. A implantação de novas unidades está
associada provavelmente apenas com o crescimento natural da demanda desses países.
Certamente, a taxa de crescimento do número de reatores nucleares para esses dois
países está prevista pelos seus planejamentos estratégicos de expansão energética.

Os dados da Figura 2 mostram que a grande maioria dos países, que têm usinas
nucleares em operação, ainda continua de alguma forma a sua expansão ou usando o
modal nuclear para a geração de energia elétrica. Alguns países merecem destaque por
terem além de reatores em operação muitos reatores em construção, em fase de projeto e
ainda muitos com previsão de implantação futura.



Figura 2 - Quantidade de reatores nucleares em operação, em construção, em projeto e previstos para a
geração de energia elétrica.

Reatores previstos
Reatores projetados
350 Reatores em construção
Reatores em operação

300
Quantidade de reatores nucleares

250

200

150

100

50

0
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Fonte de dados: World Nuclear Association – Atualizado em 2018.

O cenário associado com a quantidade de reatores nucleares em operação, em


construção, projetados e previsto oscila bastante em relação a atualização das
informações por parte das agências reguladoras de geração de energia de cada país.
Porém, mesmo com variações é possível avaliar as tendências em relação a estratégia de
geração de energia elétrica a partir do modal nuclear.

Segundo a AIEA (Agência Nacional de Energia Atômica) em 2016 os Estados


Unidos possuíam em operação 99 (noventa e nove) reatores e estavam construindo
cinco novos reatores. A França possuía 58 (cinquenta e oito) reatores e estava
construindo uma nova unidade. O Japão tinha 43 (quarenta e três) reatores em operação
e três novas unidades em construção. A Rússia possuía 35 (trinta e cinco) reatores e oito
novos reatores estavam em construção. A Coreia do Sul tinha 24 (vinte e quatro)
reatores e quatro novos reatores estavam em construção e a China possuía 34 (trinta e
quatro) e estava implantando 21 (vinte e um) novos reatores.

Esse cenário para os principais países geradores de energia elétrica com o modal
nuclear indica pelo menos dois aspectos importantes. O primeiro é que os países que
possuem seus reatores em operação e detém experiência nessa forma de geração de
energia continuam investindo na expansão do seu modal nuclear. Deve-se considerar
que essas atitudes e decisões são sinais de confiança no sistema de geração nuclear e de



viabilidade técnica e econômica deste tipo de geração de energia. O segundo é que a


China e a Rússia são países em emergência no cenário de criação de energia elétrica por
geração nuclear. A China demonstra que em pouco tempo estará praticamente dobrando
a quantidade de reatores em operação em seu território. Esse é um forte sinal de que em
situações de necessidades extremas de energia o modal nuclear é, provavelmente, mais
viável.

O cenário associado com a quantidade e com a nova distribuição dos futuros


reatores em planejamento mostra intenções e mudanças significativas no modal nuclear
global para o futuro breve. Os mesmos países já citados contemplam em seus
planejamentos energéticos novas unidades de reatores nucleares, com suas construções
a serem iniciadas. Novamente a China se destaca com 45 (quarenta e cinco) novos
reatores nucleares por serem construídos em seu território e a Rússia com mais 32
(trinta e dois) reatores em planejamento. Uma observação importante é que a Índia
começa a se destacar também nesse cenário e tem planejado 22 (vinte e dois) novos
reatores.

Essas mesmas nações ainda estão propondo novos reatores nucleares além dos já
planejados. Novamente os destaques são para a China, Índia, Rússia e Estados Unidos.
Disparadamente a China desponta nessas propostas com mais 127 (cento e vinte e sete)
novos reatores para o futuro, além dos já contemplados pelos seus planejamentos. A
Índia propõe 35 novos reatores nucleares. A Rússia 31 (trinta e um) novos reatores a
serem planejados e os Estados Unidos mais 17 (dezessete) novos reatores nucleares.

Esses cenários merecem algumas discussões e avaliações. Em tempos futuros as


projeções mostram que haverá mudanças significativas na matriz de geração de energia
nuclear no mundo. Atualmente os quatro países que detém o maior número de reatores
nucleares em operação são Estados Unidos, França, Japão e Rússia. Num breve futuro
serão a China, Estados Unidos, Rússia e Índia. Essa mudança não se deve ao fato do
modal despertar desinteresse ou falta de confiança, pois a França e o Japão continuam
implantando e planejando novos reatores.

Uma das prováveis explicações para essa mudança deve-se à política de


crescimento econômico adotada por cada país emergente, como a China, a Rússia e a
Índia. O crescimento demanda maior quantidade de energia e com rapidez suficiente
para acompanhar as taxas de propagação geradas pelos setores industriais e do consumo
energético da população. Esses países emergentes têm certamente em seus




planejamentos de crescimento uma política evidente de investimento no modal nuclear


como a forma de compatibilizar o crescimento do setor de geração energética com o
crescimento da sua demanda.

O planeta se projeta para no seu futuro ter aproximadamente 1000 (mil) reatores
nucleares em operação, mais que o dobro dos reatores nucleares em operação
atualmente. Desse total mais de 640 (seiscentos e quarenta) reatores nucleares estarão
em operação em seis países: China (221), Estados Unidos (126), Rússia (92), Índia (84),
França (61) e Japão (58).

Muitos países que ainda não tem o modal nuclear já começam a despertar
interesse e se planejam para obter energia elétrica a partir da energia nuclear. A
Associação Nuclear Mundial registrou em abril de 2015 doze países que podem ser
considerados emergentes nesse modal e que já estão construindo centrais de geração de
eletricidade a partir da energia nuclear, que tem planejado novos reatores nucleares e
que tem futuros reatores nucleares previstos em seus planejamentos de expansão da
matriz energética, como mostra a Figura 3. Merecem destaque a Arábia Saudita, a
Turquia, a Polônia e a Indonésia, que já estão acelerados nesse processo, com reatores
em construção.

Figura 3 - Países emergentes na implantação de reatores nucleares. Possuem em seus planejamentos


energéticos novos reatores em construção, planejados e propostos para operação.

Reatores previstos
Reatores projetados
Reatores em construção
Viatna
Reatores em operação
Emirados Arabes

Turquia

Tailandia

Arabia Saudita

Polonia

Malasia

Lituania

Coreia do Norte

Israel

Indonesia

Chile

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Quantidade de reatores nucleares

Fonte de dados: World Nuclear Association – Atualizado em 2018.





O aumento da quantidade de reatores em operação e a serem instalados está


diretamente associado com o aumento da quantidade de energia elétrica demandada
pelas nações. Atualmente os 436 (quatrocentos e trinta e seis) reatores nucleares em
operação são capazes de gerar a energia bruta de potência elétrica de 388,05 GWe. Os
principais países que contribuem para esse montante atualmente são a China, França,
Japão, Coreia do Sul, Rússia e os Estados Unidos da América. Num cenário global e de
futuro o planeta se projeta para uma potência de 995,00 GWe sendo gerada por 1001
(mil e um) reatores nucleares, praticamente o triplo da capacidade de geração instalada
atualmente no planeta. Os principais países geradores de eletricidade utilizando o modal
nuclear nesse futuro serão a China, Estados Unidos da América, Rússia, Japão, Índia e
França, os mesmos países que terão a maioria dos reatores nucleares em operação, como
mostra a Figura 4.

Os números indicam que a quantidade de reatores em construção e projetados


supera a quantidade de reatores em operação no planeta. Esse comportamento é típico
de um modal de geração de energia elétrica em plena expansão econômica e
tecnológica. Portanto, a energia nuclear, num cenário global, não é o que aparenta em
muitas discussões; de que não tem futuro e não está em expansão. Essas discussões e
pontos de vistas são pontuais, pois os dados mostram o contrário.

Segundo os dados da Associação Nuclear Mundial, no ano de 2013, pelo menos


quatorze países já dependiam da energia nuclear para compor pelo menos um quarto da
energia elétrica da sua matriz energética. A matriz energética elétrica da França, por
exemplo, era composta por mais de 75% de eletricidade gerada pelo modal nuclear,
enquanto que em outros países por mais de um terço da sua energia elétrica, a exemplo
da Bélgica, da Suécia e da Suíça. Para a Coréia do Sul, Bulgária e Finlândia esse
percentual era da ordem de 30%. Esses países são considerados desenvolvidos e
estabeleceram o modal nuclear como uma fonte importante para a sua matriz energética.
O interessante é que esses mesmos países continuam investindo na manutenção e na
expansão da capacidade de geração por reação nuclear.


Figura 4 – Potência de geração de energia elétrica a partir de reatores nucleares em operação e projetada
para produção por reatores em construção, planejamento e propostos.

Potência projetada a partir de reatores nucleares previstos no futuro


Potência prevista a partir de reatores nucleares projetados
Potência prevista a partir de reatores nucleares em construção
160000
Potência a partir de reatores nucleares em operação

140000
Potência de geração de energia elétrica
a partir do modal nuclear (MWe)

120000

100000

80000

60000

40000

20000

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Fonte de dados: World Nuclear Association – Atualizado em 2015.

A Figura 5 mostra que em 2013, embora os Estados Unidos, Japão, Alemanha e


Rússia produziam uma quantidade expressiva de energia elétrica por reação nuclear, em
relação aos demais países, os seus montantes não ultrapassavam 30% da sua matriz
energética. Em especial, os Estados Unidos e a Rússia não atingiram os 20%. Por sua
vez, a França se aproximou da totalidade da sua matriz energética sendo composta por
energia de origem nuclear. Por isso projeta a redução dessa dependência para 50% até o
ano de 2025.

A energia elétrica para uma nação é considerada uma necessidade vital,


econômica e estratégica. Nesse cenário, depender essencialmente de apenas um modal
de geração não é uma boa opção. A diversificação é uma forma interessante e se
transforma em uma alternativa segura para o fornecimento de energia, principalmente
em situação de crise energética. O cenário atual mostra que, havendo uma crise na
geração de energia elétrica por reatores nucleares na França, por exemplo, o país entrará
em colapso, enquanto nos Estados Unidos ou na Alemanha, em situação similar, gerará
apenas uma crise energética, e bem pouco provável colapso de escala nacional no
abastecimento energético.


Figura 5 - Contribuição percentual do modal nuclear na matriz energética global no ano de 2013.
Contribuição percentual do modal nuclear
na matriz energética no ano de 2013 (%)

70

60

50

40

30

20

10

0
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Fonte de dados: World Nuclear Association – Atualizado em 2015.

A Figura 6 mostra a evolução da contribuição percentual da energia nuclear na


matriz energética de alguns países no período de 2003 a 2013. Embora se evidenciem
percentuais diferenciados, os dados mostram um comportamento estável para a política
de geração de energia a partir do modal nuclear na última década. A França se
diferencia pelo elevado valor percentual em sua matriz, porém com leves tendências de
redução desses valores por opções de planejamento. É percebida uma mudança
significativa nas políticas de geração nuclear no ano de 2011, porém envolvendo uma
minoria de países.

Como já esperado, a partir do acidente de Fukushima em 2011 o Japão reduziu o


percentual de contribuição do modal nuclear para a sua matriz energética para 1,7% em
2013. Porém, há de se considerar que essa redução não foi planejada, mas sim ocorreu
devido a um evento não previsto. Por influência desse evento, a Alemanha também
marcou o cenário com a decisão de redução para 15,5% de dependência da sua matriz
energética em 2013 do modal nuclear. No entanto, os dados indicam que a maioria dos
países ainda não modificou suas ações planejadas para seus modais nucleares.


Figura 6 - Contribuição percentual do modal nuclear na matriz energética de alguns países no período de
2003 a 2013.

França
EUA
80 Rússia
Japão
79 Índia

modal nuclear na matriz energética (%)


Hungria
78 Alemanha
77
Contribuição percentual do

76

75

74
50

40

30

20

10

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Ano

Fonte de dados: World Nuclear Association – Atualizado em 2015.

Pelo menos sete países se projetam como os principais geradores de energia


elétrica a partir do modal nuclear para o futuro. A China, França, Japão, Coréia do Sul,
Rússia e os EUA, juntos, serão responsáveis por 68,7% de toda energia elétrica gerada
por centrais nucleares. Do total de 2432 GWe de potência elétrica projetada para o
planeta a partir de reatores nucleares, os EUA produzirão 18,5%, a China produzirá
17,4%, a França 10,8%, a Rússia 8,5%, o Japão 8,3% e a Coréia do Sul 5,2%. Esse
cenário mostra que mais da metade da energia elétrica a ser produzida no planeta pelo
modal nuclear estará concentrada em apenas seis países.

Cada um desses seis países tem seus diferenciais e estratégias para a expansão
das suas matrizes energéticas. Todos estão com investimentos em tecnologias nucleares
para aumentar a eficiência de geração e a segurança das operações nucleares. Suas
políticas governamentais estão alinhadas com os seus planos para o modal nuclear e a
tendência é que continuem nas próximas décadas autônomos no seu auto abastecimento
com eletricidade e transformem a energia nuclear em mais um produto a ser
comercializado para os demais países. Há de se considerar que, embora a taxa de
crescimento populacional esteja diminuindo no planeta, não se deve esperar a redução
da população, mas sim o aumento da demanda por eletricidade com o seu crescimento.
Assim, o modal nuclear projeta-se como indispensável para complementar a matriz
energética global. 

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