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Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não
foi pretendida pelo autor.
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sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito do autor.
Design de capa:
Érika Santos
Revisão:
Cláudia Rocha
Ravenna Longanezi
Este é para todas as minhas leitoras que acreditam que eu não tenho
coração e não consigo escrever clichê.
Boa leitura.
“E até hoje, eu acredito que, na maior parte do tempo, o amor
é uma questão de escolhas. É uma questão de tirar os venenos e as
adagas da frente e criar o seu próprio final feliz.”
Grey's Anatomy
Sumário
Copyright
Dedicatória
Epígrafe
Nota
Capítulo 01
Bruna
Anthony
Capítulo 02
Bruna
Capítulo 03
Bruna
Anthony
Bruna
Capítulo 04
Bruna
Capítulo 05
Anthony
Bruna
Capítulo 06
Beatriz
Bruna
Capítulo 07
Anthony
Capítulo 08
Bruna
Capítulo 09
Anthony
Capítulo 10
Bruna
Capítulo 11
Bruna
Anthony
Capítulo 12
Anthony
Capítulo 13
Anthony
Capítulo 14
Bruna
Capítulo 15
Anthony
Capítulo 16
Bruna
Capítulo 17
Anthony
Capítulo 18
Anthony
Bruna
Capítulo 19
Anthony
Capítulo 20
Bruna
Capítulo 21
Bruna
Capítulo 22
Anthony
Bruna
Capítulo 23
Bruna
Anthony
Capítulo 24
Bruna
Anthony
Capítulo 25
Anthony
Amanda
Capítulo 26
Lucca
Capítulo 27
Anthony
Bruna
Capítulo 28
Anthony
Bruna
Epílogo
Anthony
Agradecimentos
Da mesma autora
Redes sociais
Nota
Neste livro, vocês encontrarão muitas palavras em italiano, pois os
Mancini's são descendentes de italianos com educação bilingue, morando
por muito tempo na Itália.
Entretanto, coloquei a tradução de todas as expressões usadas. No
geral, eles evitam frases inteiras em italiano, exceto quando estão com raiva
ou com a família toda reunida.
Boa leitura.
Capitulo 01
Bruna
Meus saltos ressoavam ao longo do corredor que levava à sala do
meu chefe, as batidas afiadas ecoavam as batidas do meu coração. Inspirei
profundamente enquanto tentava equilibrar o café na mão que segurava a
agenda para alisar minha saia, e amaldiçoei os sapatos de salto e a roupa que
minha melhor amiga, Amanda, me obrigou a usar. Tudo bem, hoje seria uma
das reuniões mais importantes do senhor Mancini, ele há meses estava
negociando a compra de uma empresa e finalmente o dono cedeu, afinal, ela
estava falida.
E eu, como sua assistente, deveria participar da reunião, mesmo
assim não entendia por que meus jeans e sapatilhas não eram adequados.
Amanda insistiu em dizer que eu devia pelo menos uma vez parecer
“profissionalmente quente”. O que no inferno isso significava? E talvez,
apenas talvez, eu estivesse com uma boa aparência, o cabelo perfeitamente
arrumado com ondas, uma maquiagem leve para não atrair muita atenção, e
mesmo achando a saia um pouco curta, não deixava de ser elegante. De
acordo com ela, preto e branco nunca falharam, revirei os olhos ao lembrar
de suas palavras.
Bati delicadamente na porta e ouvi a voz grave do outro lado
autorizando minha entrada. Apenas com sua voz senti minhas pernas
ficarem trêmulas, mas me recusava a ser igual a todas as outras mulheres do
prédio, que suspiravam descaradamente por onde ele passava, praticamente
implorando por um minuto de atenção. Então arrumei minha postura e entrei
na sala de uma vez. Ele estava de costas para mim, falando ao telefone,
furioso por alguma razão, o que não era uma surpresa. Era seu modo
operacional estar sempre irritado com alguma coisa.
— Não me importa quais sejam as suas desculpas. Essa é a terceira
vez que você atrasa a entrega dos documentos. Quero até às 15 horas no
meu e-mail ou nem perca seu tempo, pode ir direto para o RH — ele
continuou enfurecido, virando a cadeira em minha direção, onde seus olhos
encontraram os meus. Seu olhar desceu por todo o meu corpo, demorando
mais tempo do que a ética permitia em minhas pernas expostas, voltando
para o meu rosto. — Às 15 horas — rosnou uma última vez e desligou o
telefone com uma batida seca.
Ele certamente era a definição do próprio pecado, com sua barba por
fazer, dono de cabelos negros desordenados de tanto que passava as mãos
pelos fios, os dedos longos tamborilando calculada e ritmadamente em seu
queixo. Por meio segundo de descuido, minha mente vagou pela fantasia do
que aquelas mãos eram capazes de fazer, se eram tão habilidosas quanto
pareciam.
— Preciso de uma cópia do contrato a ser discutido e assinado por
cada pessoa que estará presente na reunião — ele disse firme, como de
costume.
— Pasta marrom, lado esquerdo — falei e ele levantou uma
sobrancelha, alcançando a pasta sem hesitação. Conferiu toda a
documentação perfeitamente organizada, voltando sua atenção para mim.
— Compre meu café do Coffe Lad. — Jogou sem cerimônia o cartão
de crédito sobre a mesa, abrindo o notebook em seguida. Estendi o copo de
isopor em minha mão em sua direção, o vapor ainda visível do líquido
quente.
— Preto e sem açúcar. — Mordi internamente minha bochecha,
sorrindo satisfeita quando ele estreitou os olhos em minha direção, como se
procurasse qualquer falha que eu pudesse ter.
— Libere minha agenda agora pela manhã e esteja pronta às 09h00
para a reunião — ordenou, sua voz soando como sexo líquido e eu
praticamente desmaiei com as suas palavras. Maldição, eu tinha que
recuperar o controle sobre mim novamente.
— Sua agenda já foi reorganizada, e está liberada até às 15h00, para
o caso de algum imprevisto. Deseja algo mais, senhor? — perguntei
atenciosa. Precisava sair o mais rápido dali.
Estava ficando quente ou era impressão minha?
— A quanto pare sei perfetto e hai fatto tutto[1]. Está liberada,
senhorita Ferraz. — Inclinou a cabeça levemente para o lado, com um
pequeno elevar de canto de lábio em um sorriso que poderia levar qualquer
mortal diretamente para sua cama.
E ali estava seu belo sotaque italiano, definitivamente aquela voz
pronunciando palavras daquela forma era meu ponto fraco, entretanto,
apenas me virei e forcei meus pés a se equilibrarem naquelas armadilhas
mortais e os obriguei a me saírem de seu escritório e levarem de volta para a
minha mesa, longe de sua vista.
Sentei-me em meu lugar de costume e comecei a organizar a
bagunça de papéis ali, checando meu e-mail abarrotado com suas exigências
e sua agenda ainda lotada. Revirei os olhos. Anthony obviamente achava
que havia três secretárias e não apenas uma assistente pessoal, para enviar
tanto trabalho em um curto período de tempo. Com um menear de cabeça,
meus dedos começaram a trabalhar. Eu amava o que fazia, o que acabava
por facilitar em noventa por cento as coisas para mim.
Estava trabalhando há um ano como sua assistente pessoal e podia
afirmar com orgulho: era a que estava há mais tempo naquele cargo. Todas
as anteriores não passavam do primeiro mês e saíam chorando. Mas meu
orgulho me impedia de falhar ou deixar que ele me menosprezasse, então
sempre estava um passo à frente de seus pedidos e, com o tempo, aprendi
exatamente como ele gostava das coisas, facilmente seguindo o fluxo de sua
rotina extremamente caótica.
Anthony vinha de uma família italiana e apesar de evitar falar
naquele idioma, algumas palavras nunca eram pronunciadas em português, e
era inevitável que em alguns momentos ele falasse frases completas. O que
tornava mais difícil resistir ao seu charme.
— Bruna, la mia principessa. — A voz familiar soou alta quando o
elevador abriu as portas.
Lucca.
— Caramba, tudo isso é para a reunião de hoje? Se soubesse que
ficava tão gostosa nessas roupas já teria pedido para el mio fratellino marcar
mais reuniões importantes — ele falou ao me puxar da minha cadeira para
me apertar em um abraço esmagador.
— Lucca! — o repreendi e me afastei com um sorriso genuíno em
meus lábios. Lucca era o completo oposto de seu irmão: sempre sorridente e
brincalhão, uma alma dourada que muito lembrava um golden retriever
peludo e gigante. Mas antes que pudesse falar qualquer outra coisa, ele
agarrou minha mão e me girou para que pudesse dar uma olhada por todo o
meu corpo. Senti minhas bochechas esquentarem e me preparei para socar
seu braço. — Seu sotaque e as palavras em italiano costumam ajudar a
conquistar as mulheres?
— Mais do que imagina, mia principessa.
— Lucca, você tem algo importante para me falar ou veio aqui
apenas para paquerar minha assistente? — Anthony perguntou com a voz
séria, desviando brevemente o olhar na minha direção antes de voltar ao
irmão, aguardando por uma resposta.
— Ela é toda sua, relaxe — o mais novo falou ainda rindo, afastando
suas mãos de mim. — Depois da reunião preciso tratar de um assunto
importante com você — ele disse, e aquela foi uma das poucas vezes em
que vi o caçula dos Mancini falar de maneira séria. Anthony apenas acenou
com a cabeça e se dirigiu ao elevador. Olhei para o relógio em meu pulso e
sabia que tinha que acompanhá-lo, era hora da reunião.
Lancei um pequeno sorriso para Lucca, e entrei no cubículo logo
atrás do meu chefe, pronta para mais uma manhã exaustiva de trabalho.
Anthony
— Mas che cazzo[2]! Espero que você esteja brincando comigo,
Lucca — falei pressionando com força minhas têmporas para tentar evitar a
dor de cabeça que certamente apareceria. O dia correu bem demais para ser
verdade.
Finalmente comprei aquela maldita construtora falida, e agora Lucca
me vem com essa ideia estapafúrdia. Bebi mais um gole do meu uísque e
esperei ele rir descontroladamente e dizer que non passava de mais uma de
suas brincadeiras idiotas, mas o infeliz continuou comendo seu bife como se
non tivesse acabado de foder minha vida.
— O que você queria que eu dissesse? Estamos falando do
casamento da Alice e do Felipe. Só para o caso de você ter esquecido, ela
chutou sua bunda para ficar com nostro cugino[3]. É claro que io non ia
deixar que eles pensassem que você ainda estava na lama por esse seu
pequeno desvio de caráter — justificou com um erguer de ombros e eu o
fuzilei com o olhar.
— Caso você non se lembre, io non dei a mínima importância
quando ela terminou. Ao contrário, agradeci por aquilo — resmunguei mal-
humorado.
— No è o que os outros pensam. Ela deu entrevistas sobre o término
de vocês, deixando muito claro quem pôs fim ao relacionamento e que você
ficou devastado com isso — rebateu, apontando com o garfo em minha
direção para enfatizar seu ponto.
— E então você teve a brilhante ideia de dizer para todos que estou
namorando. Quando eu não tenho uma namorada — relembrei
pausadamente, para ver se o imbecil de mio fratello entendia a merda que
havia feito.
— Pague qualche dona[4] de programa por quatro dias. Qual é o
grande problema? Pague uma ragazza, apresente como sua namorada e
depois voltamos às nossas vidas de solteiros regadas a muita bebida e
mulheres maravilhosas. O que pode dar errado? — O idiota ainda tem a
audácia de perguntar.
— Una ragazza[5] de programa? Inferno, Lucca. Mamma notaria na
hora. Ela sente o cheiro de ragazze[6] assim a quilômetros de distância —
resmunguei com uma carranca. Estava começando a pensar seriamente em
não ir a esse casamento, e dane-se o que pensariam.
— Bruna! — Mio fratello praticamente gritou e o olhei mortificado.
Do que ele estava falando? — Sua assistente pessoal. Ela é perfeita para
isso. Tão bonita quanto Alice, talvez ainda mais. Você viu aquelas pernas?
— perguntou, novamente imerso em suas divagações.
Pensei na minha assistente e em como ela estava vestida hoje. Tinha
que reconhecer: ela era educada, eficiente, com todas as curvas perfeitas,
distribuídas exatamente onde deveriam estar, com lábios carnudos, tudo isso
sem contar aquele maldito sorriso convencido de todos os dias quando
antecipava meus pedidos antes mesmo que eu os falasse, como se pudesse
ler minha mente.
Ela jamais aceitaria isso.
— Ela non vai aceitar, você a conhece melhor do que eu, Lucca —
descartei a possibilidade entredentes, virando o restante do uísque em minha
garganta, sentindo-o praticamente rasgá-la.
— Ela é perfeita e você sabe disso. Dê um aumento a ela. É só um
fim de semana. Bruna já te atura há um ano, ela sabe todos os seus gostos.
Quem seria melhor que ela para esse papel?
Me mantive em silêncio por alguns momentos, considerando a
proposta. Eu realmente não dispunha de muitas opções nesse momento. Ou
deixava de ir a esse casamento e todos os meus amigos e familiares
pensavam que eu ainda rastejava por Alice ou pediria para que Bruna fosse
como minha acompanhante, convencendo–a agir como minha namorada por
torturantes quatro dias, calando a boca de alguns babacas intrometidos.
Maldita a boca grande e cérebro de ervilha de mio fratello.
Capitulo 02
Bruna
Resmunguei incompreensivelmente ao ouvir um zumbido irritante
ao longe, afundando a cabeça no travesseiro macio, que nada fez para abafar
o som que parecia martelar pregos dolorosamente contra meu crânio. Gemi
em desgosto e rolei cegamente, sentindo a ausência da minha cama abaixo
de mim, minha bunda batendo contra o chão do meu quarto em um baque
surdo, abafado por meu cobertor.
Mas que porra estava acontecendo? Onde estou? Eu não queria abrir
meus olhos para descobrir a resposta para aquelas perguntas, mas o barulho
infernal insistia e não tinha outra escolha. Precisava silenciar o que quer que
fosse a porcaria que provocava aquele som irritante. Preferencialmente, de
uma maneira permanente.
— Merda — resmunguei quando reuni força o suficiente para abrir
os olhos e percebi que era o meu despertador, que marcava 06h01. Minha
cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento e imagens da noite
passada vieram como flashes em minha mente, fazendo-me gemer
desgostosamente.
Olhei para a mesa de cabeceira e vi um copo com água e dois
comprimidos brancos ao lado.
Aspirina.
Amanda era a maldição e salvação da minha vida em um mesmo
pacote. Engoli os comprimidos e a contragosto me dirigi ao banheiro,
molhando bem a cabeça e escovando os dentes duas vezes para tentar afastar
qualquer resquício visível de uma ressaca.
Quarenta minutos mais tarde, saí do quarto devidamente vestida,
sentindo o cheiro de café fresco inundando a cozinha.
— Amanda, você é a melhor — falei ao me sentar, onde ela colocou
uma xícara ainda fumegante na minha frente. — Mas por que inferno eu
deixei você me levar a um pub em plena quinta-feira, se nós duas
trabalhamos hoje? — perguntei antes de bebericar um gole do café, me
sentindo imediatamente melhor quando senti o líquido amargo descer pela
minha garganta.
— Porque você trabalha demais. Eu sei que seu chefe é um dos
homens mais gostosos do Brasil, mas você precisa de um pouco de diversão,
baby — cantarolou em resposta. Estava além da minha compreensão como
ela estava tão desperta se havia bebido ainda mais que eu noite passada.
— Você deveria estar um lixo. Isso é injusto, sabia? Parece pronta
para participar de um desfile — resmunguei, carregando minha preciosa
xícara até onde meu notebook estava, ligando-o. Enviei logo cedo o novo
contrato redigido, já que eu sabia que Anthony iria precisar para hoje.
Simplesmente adiantei meu trabalho antes de ter minha bunda arrastada para
fora de casa. Com um sorriso prepotente em meus lábios, apertei o botão de
enviar e me preparei para ir para a empresa.

Examinei atentamente o rosto do meu chefe, esperando encontrar


qualquer indicação de que tudo o que ouvi não passava de uma piada. De
um mal gosto fodido, mas ainda uma piada. Bem, ele nunca brincava com
nada ou ninguém. Aquela proposta era simplesmente ridícula. Coloquei o
café em sua mesa com cuidado, impedindo meus dedos de apertarem o
isopor com força e derramar o líquido precioso no chão imaculado.
Ultrapassei meu próprio limite na noite anterior, mas eu sei que isso
não era um efeito colateral da ressaca, nem que estava bêbada o suficiente
para alucinar com essa situação. Cruzei os braços, olhando diretamente em
seus olhos e me forcei a não ofegar diante da intensidade a que fui exposta
sem estar completamente preparada. O homem é gostoso e tem pleno
conhecimento disso. Então, como posso passar quatro dias fingindo ser sua
namorada sem agir como uma idiota como as outras mulheres ao seu redor?
Você, enfim, vai ter a oportunidade da sua vida de realizar o sonho
de mais da metade das mulheres desse mundo e agarrar, nem que seja por
alguns dias, esse deus grego que é seu chefe. O que você está esperando?
Aproveita. Pessoas matariam para estar no seu lugar. Minha mente gritou e
quase ri por a voz em minha cabeça soar exatamente igual a Amanda.
— E então, senhorita Ferraz? Você aceita ou não? — Anthony
perguntou, visivelmente irritado pela demora, os dedos longos envolvendo o
copo de café e levando-o aos lábios, sorvendo um longo gole. Já falei algo
sobre seus dedos? Longos, elegantes, complementando perfeitamente sua
mão grande, quase como de um músico experiente ao invés de um executivo
implacável. Ele poderia me tocar a qualquer momento como um
instrumento, longe de mim reclamar.
Droga, estou perdendo o controle de novo.
— Vou querer um aumento de 10% — ofereci a contraproposta,
assistindo com atenção enquanto ele apoiava as costas no encosto da
cadeira, a personalidade de negociador assumindo completamente.
— Não abuse, senhorita Ferraz. 6% — Sua língua disparou para fora
de sua boca, a ponta umedecendo o lábio inferior e eu pisquei, precisando
me sentar para me impedir de desmoronar na sua frente com a súbita
fraqueza em minhas pernas.
— 8% ou nada feito. É você quem está precisando, não eu, querido
chefe. Com o gordo salário que recebo, estou bastante satisfeita em exercer
somente minhas funções de assistente pessoal e nada mais além disso —
finalizei com um sorriso doentiamente açucarado em sua direção.
— Feito — aceitou por fim, estendendo sua mão para pegar a minha.
No momento em que nossas peles entraram em contato uma com a outra,
segurei no último segundo um gemido que quis escapar diante do aperto
firme de seus dedos, sentindo como se mil volts entrassem em meu corpo.
Puta merda. Isso certamente não ia dar certo.
Eu assisti praticamente anestesiada quando seus olhos se arregalaram
antes de ele soltar minha mão em um rompante. Ele sentiu isso também?
Deus, como eu iria aguentar isso por quatro dias?
— Eu teria aceitado os 10% — o desgraçado disse, quebrando o
clima que havia se instalado com um sorriso de canto presunçoso, e eu sorri
de volta ao me colocar de pé novamente.
— E eu os 6% — rebati, piscando um olho para ele e me preparei
para sair de sua sala, perdendo levemente o compasso quando o vi abrir um
sorriso completo, minhas pernas vacilando novamente. Era a primeira vez
que via um sorriso aberto em um ano.
— Senhorita Ferraz, pegue. Você vai precisar de roupas novas para o
fim de semana. Pessoas da alta sociedade estarão presentes nesse circo,
então compre peças para o dia e para eventos durante a noite. Você sabe a
senha. Tire o resto do dia de folga e hoje às 20:30 o meu motorista vai
passar para buscá-la — instruiu, a formalidade de volta ao estender o cartão
em minha direção.
— Se serei sua namorada, é melhor se acostumar a me chamar de
Bruna, meu bem — falei ao me inclinar para pegar o pequeno pedaço de
plástico de sua mão. Precisava urgentemente da ajuda de Amanda.
Sai da sala com um sorriso no rosto. Antes de mais nada, precisava
controlar meus hormônios à flor da pele e...

— Controlar seus hormônios? Você está brincando comigo, Bruna?


Por favor, pegue este deus grego maravilhoso e perca sua virgindade de uma
vez. Você é a única garota que eu conheço que é virgem aos vinte e três anos
— Amanda disse ao puxar algumas saias para que eu experimentasse.
— Você seriamente está mandando eu ir para a cama com o meu
namorado de mentira que é meu chefe? — perguntei levantando as
sobrancelhas, agarrando a montanha de roupas separadas, indo para o
provador. — Você sabe que são apenas quatro dias, não é?
— Você está com o cartão de crédito ilimitado do gostosão, sem
contar que eu fiz minha própria pesquisa. Essa tal Alice é uma vadia ruiva
muito bonita. Pelo que vi nos sites de fofoca, ela largou seu gostosão para
ficar com o primo dele, que também é um pedaço de mal caminho — minha
melhor amiga se abanou dramaticamente. Ela definitivamente não tinha
mais salvação. — Quantas garotas têm a chance de perder a virgindade com
um homem daqueles ao invés de um moleque sem experiência e com uma
conta bancária menor do que minha calcinha?
Coloquei a cabeça para fora do provador e olhei desacreditada. —
Podemos ter essa conversa em casa? — sibilei para ela, que levantou as
mãos em sinal de rendição, indo procurar por mais peças de roupas que eu
seria incapaz de encontrar sozinha.
— Não demore. Marquei um horário no salão para você. Sessão
completa.
Sai do provador com uma careta. Eu amava cuidar dos meus cabelos,
porém, sabia que ela havia reservado uma sessão de tortura completa para
mim.
— Não me olhe como se eu houvesse traído você. É apenas
depilação completa na cera — Amanda contra-atacou, antes que eu pudesse
questionar —, pessoas ricas, resort, biquíni e namorado gostoso. Você
precisa estar perfeita.
Revirei os olhos e me deixei ser guiada sem protestos desnecessários
e ineficazes. Era uma batalha perdida tentar impedir Amanda quando ela
decidia fazer alguma coisa, eu sendo o seu alvo preferido naquele momento.

Já eram 18h15 quando chegamos em nosso apartamento. Eu tinha


pouco tempo para arrumar as malas e me preparar. Então Amanda se
encarregou da tarefa de desfazer as sacolas e reunir minhas coisas enquanto
eu tomava banho, meus pés doloridos pelo longo tempo andando através dos
corredores do shopping, então entrei embaixo do chuveiro e deixei a água
escorrer pelo meu corpo.
E se eu fizesse exatamente o que ela estava sugerindo? Eu
conseguiria agir verdadeiramente como sua namorada e depois desses
quatro dias voltar ao que éramos antes? Tendo imagens mentais eróticas dele
e ele dando ordens e mais ordens? A resposta era: obviamente não.
Deus, onde foi que eu me meti?
Às 20h30 em ponto, o carro estacionou na entrada do prédio em que
eu morava. — Não acredito que você está indo para Sydney — Amanda
falou chorosa e carregando uma das minhas malas, enquanto eu levava a
outra. — Mande mensagem todos os dias, e por favor, agarre aquele deus
grego sexy e não volte virgem dessa viagem — praticamente ordenou a
última parte.
Revirei os olhos para minha melhor amiga, despedindo-me com um
abraço rápido, o motorista ainda esperando por mim, segurando a porta do
carro aberta para que eu entrasse. Respirei fundo, entrando no banco de trás
e me deparando com um interior luxuoso, piscando como uma coruja
quando vi Anthony sentado ali, me olhando com um pequeno sorriso jocoso
nos lábios.
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas ao imaginar que ele
poderia ter ouvido as palavras de Amanda.
— Essa viagem vai ser mais interessante do que eu imaginei,
senhorita Ferraz — ele afirmou ainda sorrindo e me afundei no banco,
desejando que um buraco surgisse e me sugasse. Ele definitivamente ouviu.
Merda! Quis pular pela janela do carro e me esconder para sempre debaixo
das cobertas na segurança do meu quarto, mas sabia que era tarde demais.
Me mantive orgulhosamente calada olhando pela janela, evitando
descaradamente encarar seu rosto.
Fomos o resto do caminho em silêncio, o que eu agradeci a Deus, já
que eu não sabia como encará-lo depois daquilo. O carro entrou no
aeroporto, percebendo o momento em que ele não adotou a rota da área
comum, e sim para uma parte mais afastada. Anthony desceu primeiro, o
motorista rapidamente veio para o meu lado, abrindo a porta para mim e
ajudando-me a descer.
Ele estava conversando com quem imaginei ser o piloto. Em poucos
segundos, consegui descobrir que o jato particular estava pronto para partir.
Puta merda. Ele tinha um jato particular? Sério? Tudo bem, sem pânico. Eu
consigo fazer isso. Pensei, sentindo meu estômago revirar ao pensar no fato
de que ficaríamos cerca de 20 horas em um lugar pequeno, praticamente
sozinhos.
— Cunhadinha. — Ouvi Lucca chamar, e antes que pudesse me virar
completamente, ele me abraçou e girou meu corpo no ar, arrancando de mim
um riso assustado.
— Lucca, seu idiota! Me coloca no chão agora! — rosnei para ele, já
que estava usando um vestido de saia rodada e se ele continuasse, todos ali
saberiam a cor da minha calcinha.
— Eu falei para o cabeça dura de mio fratello que você ia aceitar —
se gabou ao colocar um braço sobre meus ombros e me guiar para o jato.
Parei de andar e olhei desacreditada para seu rosto.
— Foi você? — perguntei em um tom acusatório. É claro que essa
ideia absurda não teria partido do meu chefe sem uma mente maligna por
trás. Lucca sorriu, o idiota, desculpando-se.
— Tarde demais para desistir agora, sorella[7] — afirmou displicente,
colocando novamente seu braço sobre meus ombros, voltando a nos
movimentar enquanto eu debatia se o agredia ou o agradecia pelo arranjo.
Estreitei o olhar quando o vi segurar o riso, optando pelo primeiro. Eu
definitivamente vou matá-lo.
Capitulo 03
Bruna
— Lucca, juro por Deus que se você apertar meu braço novamente,
eu vou bater em você até que esteja do avesso! Esse filme não dá medo —
resmunguei, ambos gritando em seguida.
— Merda! — falei colocando a mão no coração, que batia
loucamente em meu peito.
— O que você dizia mesmo? — ele questionou em um sussurro,
ainda com medo da cena anterior. Revirei os olhos. Lucca definitivamente
era um covarde.
— Ele é um idiota. Por que ficar andando no cemitério, seguindo
uma freira no meio da noite? Deveria ter ido atrás do padre, isso sim. —
Esses filmes de terror sempre eram o mesmo clichê. Após isso, continuamos
a assistir por mais uma hora e no fim, meu braço estava quase que
completamente vermelho e com as marcas de seus dedos.
— Covarde — sussurrei rindo quando ele se levantou para ir ao
banheiro.
— Hipócrita sem coração — Lucca devolveu, e eu ainda consegui
ouvir o medo em sua voz.
Estávamos a algumas horas no voo e era o terceiro filme que assistia
com meu cunhado, quando decidi levantar-me do meu lugar e ir até onde
Anthony estava concentrado digitando algo. Era óbvio que estava
trabalhando.
Sentei-me na poltrona à sua frente, assistindo-o por um momento
indiferente à minha presença. Soltei um suspiro antes de chamá-lo.
— Anthony — chamei por seu nome, onde ele apenas ergueu o olhar
para meu rosto, me encarando com atenção. A posição permitia que eu
analisasse cuidadosamente cada detalhe de sua feição. Ele era como o David
de Michelangelo, esculpido e cinzelado pelos próprios deuses em seus
melhores e mais inspirados dias. Me repreendi mentalmente por soar
exatamente como as garotas emocionadas que praticamente desmaiavam ao
vê-lo pessoalmente ou por fotos em capas de revistas. Eu não podia e nem
queria evitar, porém, não era a única.
— Bruna — me chamou ao perceber que passei tempo demais presa
em minhas divagações. — Tem algo a me dizer? Estou tentando redigir o
contrato da Turnberry Associates — falou rispidamente, e me vi incapaz de
conter um sorriso convencido.
— Eu já redigi esse contrato, docinho. Você só precisa ler e verificar
se quer que eu faça alguma alteração antes de assinar — devolvi docemente,
mantendo o sorriso.
— E onde estaria esse contrato?
— No seu e-mail. O enviei hoje por volta de 06h55 da manhã,
tesoro — informei, propositalmente carregando no sarcasmo. Ótimo, soei
[8]

exatamente como uma vadia diante do meu chefe. Ele estreitou seus olhos
para mim, abrindo seu e-mail para encontrar o dito contrato na caixa de
entrada.
— Seu horário de expediente começa às 08h00.
— Eu sou bem paga para fazer meu trabalho, independente do
horário, senhor Mancini. Na verdade, depois desses quatros dias, o meu
pagamento será excepcionalmente melhor — vi seus olhos brilharem, bem-
humorados após minhas palavras. Anthony fechou o notebook, voltando
cem por cento de sua atenção para mim.
— Tenho certeza de que você non veio até aqui apenas para me falar
isso, Bruna.
— Se vamos namorar, temos que entrar em acordo sobre algumas
coisas — comecei e o vi arquear perfeitamente uma sobrancelha. Será que
tinha algo nesse homem que não fosse perfeito ou que não soubesse fazer?
Meus olhos escorregaram para sua cintura, e talvez eu tenha encarado
aquela região por um ou dois segundos a mais que o necessário. Bem, eu era
sua namorada agora, não é?
Anthony
Quando tirei o notebook do meu colo e o coloquei de lado, Bruna se
remexeu em seu lugar e pareceu focar sua atenção em minha cintura. Senti
meu pau se remexer devido à sua proximidade, assim como o fato de que ela
pareceu estar olhando para ele por aproximadamente um minuto, fazendo
minha garganta secar.
— Bruna — a chamei novamente antes que as coisas se
complicassem ainda mais. Percebi quando ela arrumou a postura e entrou no
modo assistente.
— Quando começamos a namorar? Onde foi feito o pedido? Qual
meu nome completo? Data de nascimento? Minha comida preferida? —
enumerou as perguntas e sorri para ela. Eu já havia me preparado para cada
uma delas e, pelo menos uma vez, ela teria que engolir seu sorriso
irritantemente presunçoso.
— Começamos a namorar há dez meses, logo depois que você
começou a trabalhar para mim. Eu pedi você em namoro em um jantar no
Marius Degustare, um restaurante especializado em frutos do mar. Seu nome
é Bruna de Araújo Ferraz, tem vinte e três anos, nasceu em 15 de abril de
1996. Você ama sushi, mas também ama Nutella — falei encarando-a
profundamente, confiança pingando em cada palavra e meu sorriso se
alargou quando, pela primeira vez, a deixei completamente sem palavras. A
sensação de satisfação se enrolou em meu estômago.
— Como você sabe tudo isso sobre mim? — perguntou, ressabiada.
— Eu sou bom no que faço por um motivo, Bruna. Io non cometo
erros. Você trabalha para mim há um ano, nunca come carne vermelha ou
frango no almoço. Quando está com muito trabalho, sempre mantém um
pote de Nutella ao seu lado, e quando tem que ficar até mais tarde, sempre
pede a mesma coisa: Sushi — falei e percebi quando seus olhos se
arregalaram, provavelmente surpresa por eu prestar atenção a esses detalhes,
então continuei:
— E se vamos fingir estarmos namorando, temos que saber a quanto
tempo estamos juntos e onde foi feito o pedido. Eu sei também que é
solteira e que mora com uma amiga — falei ao me aproximar ainda mais,
notando com prazer quando sua respiração engatou audivelmente. Seu corpo
reagia ao meu, non que eu esperasse por sua admissão em um futuro
próximo, mas eu precisava perguntar o que martelava incessantemente em
minha cabeça. — Mas com certeza non estava nos meus arquivos o fato de
você ser virgem. — A última palavra saiu mais como um rosnado rouco.
Como uma ragazza como ela poderia ser virgem? Como um corpo
perfeitamente moldado non foi tocado por ninguém? Diabos, aquele simples
pensamento mexia comigo mais do que gostaria de admitir.
— Chega de informações por enquanto. Acho que conhecemos
muito bem um ao outro para não nos atrapalharmos com perguntas
inusitadas. Temos tudo sob controle, chefe. — Non perdi sua tentativa óbvia
de mudar o foco do assunto.
— Anthony — a corrigi com firmeza. Eu sabia que ela podia ver o
desejo brilhando em meus olhos. Seus lábios estavam entreabertos, sua
respiração falhando em alguns momentos e meu olhar disparou para seus
lábios carnudos. — Tem certeza de que você non quer mais nada?
— Tenho.
Analisei descaradamente seu corpo, ela definitivamente era una
bellisima donna[9] e intrigante, para non dizer insuportável. O rosto inocente
era um contraste direto com seu corpo curvilíneo, o que certamente atraía
inúmeros homens que se jogavam aos seus pés sem muito esforço.
Virgem.
Ela era pura, pronta para ser explorada cuidadosamente por mãos
experientes, preferencialmente as minhas. O rubor nas bochechas de Bruna
aumentou e ela se levantou, voltando para sua poltrona, então aproveitei a
visão privilegiada de sua bunda perfeitamente redonda em evidência pelo
vestido que usava e que piorava a minha situação. Nem tínhamos chegado
ao nosso destino e as coisas já estavam assim? Como seria quando fôssemos
realmente agir como um casal?
Até então estava tentando levar tudo com o máximo de
profissionalismo possível, mesmo que non pudesse negar a tensão que se
formava entre nós sempre que estávamos no mesmo ambiente. Havia
conseguido me controlar perto dela por um ano inteiro, mesmo que sua
presença fosse capaz de desviar o foco de todos os meus pensamentos
lógicos.
Mas ao ouvir sua amiga dizendo que ela era virgem, e pior, que non
deveria permanecer daquela maneira, descarrilou completamente minha
imaginação. Agora non conseguia tirar a imagem de como seria ter seu
corpo totalmente rendido ao meu, os cabelos escuros e longos espalhados
desordenadamente sobre a cama e sua respiração ofegante, o rosto de
porcelana rubro de prazer enquanto eu a fodia forte e duro.
Ela é sua assistente, a melhor que você já encontrou. Non estrague
isso pensando com a cabeça de baixo.
A pequena parte racional da minha consciência gritou no fundo da
minha mente. Porém, a imagem de seu corpo curvado sobre minha mesa,
com sua bunda totalmente exposta para mim, enquanto usava somente
aqueles saltos vermelhos...
Merda. Lucca mi paga per questo[10].

Bruna dormia profundamente quando pousamos. Após longas 19


horas de voo, ela devia estar exausta, então sem querer acordá-la, ergui seu
corpo mantendo sua cabeça apoiada em meu peito, caminhando para o carro
à nossa espera. Para facilitar nossa saída, permaneci com ela em meu colo,
enquanto Lucca ocupava o banco da frente tomando um energético para
afastar completamente o sono.
— Ainda nem chegamos e você já está se aproveitando dela? — O
idiota que deveria ser mio fratello perguntou com um sorriso de comedor de
merda em seu rosto.
O ignorei, a acomodando melhor em meus braços. Após meia hora, o
carro se aproximou dos portões da casa de férias de mamma e papà. Todos
estavam hospedados na mansão desde a semana anterior e iriam aproveitar o
jardim para realizar a cerimônia.
Bruna se remexeu em meu colo e abriu os olhos lentamente,
piscando para se situar no ambiente. Dei um pequeno sorriso ao notar sua
cara de espanto ao perceber onde estava confortavelmente deitada. Seu rosto
corou de forma adorável, imediatamente saindo de cima de mim, olhando ao
redor enquanto suas mãos tentavam reorganizar os fios bagunçados.
— Merda, já chegamos? — perguntou, olhando para o extenso
terreno, visivelmente nervosa ao perceber que havia chegado o momento.
Era dia em Sydney e sabia que teríamos um pouco de dificuldade por conta
do fuso horário.
— Você está pronta para o show, cunhadinha? — o imbecil do Lucca
perguntou estendendo o energético que ela bebeu avidamente.
— Não — murmurou.
Ele riu, antes de responder alegremente:
— Eu prometo que será divertido, Bruna.
E eu tinha a sensação de que realmente seria.
Bruna
O motorista parou o carro na entrada de uma enorme e tradicional
mansão, e meu estômago revirou. Fiquei tão focada no fato de fingir ser a
namorada do meu chefe para a vadia de sua ex que me esqueci totalmente
que os pais dele também estariam aqui. Anthony saiu do carro e estendeu a
mão em minha direção, segurando-a com firmeza quando o segui para fora.
— Serão os melhores quatros dias da minha vida — Lucca afirmou
ao meu lado e o fuzilei com os olhos.
— Fale por você.
— O show começa agora, cunhadinha — meu cunhado informou,
andando a nossa frente e meu coração bateu mais rápido em meu peito.
Que inferno de ideia estúpida.
— Só respire fundo — Anthony instruiu, para logo em seguida seus
lábios roçarem levemente contra os meus. Fiquei estática por um momento e
segurei o gemido que quis sair, quando ele sugou meu lábio inferior,
mordiscando-o dolorosamente. Automaticamente, passei meus braços em
torno de Anthony sentindo meu corpo quase entrar em combustão
espontânea.
— Deveríamos falar alguma coisa? — Ouvi uma voz masculina
sussurrar ao fundo.
— Shh! Eles são tão fofos juntos — uma mulher falou e
imediatamente me separei de Anthony, olhando para a frente. Lucca estava
parado com um largo sorriso no rosto ao lado de um casal, que claramente
eram seus pais.
Anthony, é claro, sorriu de volta e deslizou seu braço direito ao redor
da minha cintura, me impulsionando para frente, já que meus pés estavam
enraizados no chão. Ele obviamente sabia que eu estava prestes a correr de
volta para o carro, fazer uma ligação direta e voltar para o aeroporto. Não
podia ser difícil, não é? Eu iria precisar de um mapa e religar os fios do
carro. Fio vermelho ao fio preto? Vermelho para o verde? Ou era azul?
Droga, eu precisava assistir mais filmes de ação. Ou ligar para Amanda.
Tenho certeza de que ela saberia fazer isso.
Os pais dele deram um passo à frente quando estávamos perto o
suficiente e olhei para Lucca, que estava encostado no batente da porta
principal, claramente aproveitando cada minuto e precisei resistir
bravamente ao impulso de ir até ele e socar seu lindo rosto.
— Bruna! É tão bom conhecê-la, minha querida. Quando Lucca me
falou, eu quase não acreditei. Como Anthony ficou meses namorando e nem
ao menos apresentou você à famiglia[11]? Certamente non foi essa a educação
que eu dei a ele — Helena saudou e me puxou para um abraço caloroso e
aconchegante. Aqueles abraços reconfortantes que só mães sabem dar. Eu
retribuí timidamente o gesto, surpresa, mas satisfeita por ela não desconfiar
de nada.
Se bem que ver seu filho me agarrar segundo atrás tirou qualquer
dúvida que eles poderiam ter sobre nossa relação.
— Obrigada por me receberem em sua casa, senhora Mancini.
Ela riu e balançou a cabeça. — Me chame de Helena, mia figlia[12].
Você é tão linda e tão educada. Meu menino não poderia ter escolhido uma
namorada melhor.
Meu rosto aqueceu com seu comentário e meu coração bateu mais
rápido, mas antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, o senhor Mancini
estendeu a mão para mim. Eu a peguei e não pude deixar de notar que seu
filho havia herdado os seus dedos, o que fez minha mente viajar e ter
imagens que eu certamente não deveria ter quando estivesse aqui,
conhecendo os pais do meu falso namorado. Ainda assim, Helena deve ser
uma mulher realmente feliz, com aqueles dedos à sua disposição há algumas
décadas.
— É um prazer conhecê-lo, senhor Mancini. O senhor tem dedos
adoráveis. — Seus olhos castanhos, iguais aos de Anthony, se arregalaram,
assim como o seu sorriso congelou. — Casa! Essa casa é adorável — corrigi
rapidamente. Maldita seja a falta de um filtro e essa minha obsessão com as
mãos de Anthony, que obviamente estava se divertindo com a situação
enquanto abafava uma risada ao meu lado, ao contrário de seu irmão que
deu uma sonora gargalhada. Dois idiotas.
— Não se preocupe, querida, eu também gosto deles — Helena
disse, e isso levou os quatro em um ataque de risos. Ótimo, vamos voltar
para os fios do carro. Talvez seja o fio preto para o vermelho. Mas onde é
que o azul entra? Inferno, eu tenho quase certeza que tem um verde também.
Foda-se, dois podiam jogar esse jogo. Já que Anthony estava se
aproveitando da minha desgraça e eu estava presa aqui de qualquer maneira,
resolvi entrar de cabeça nessa estupidez.
— Eu não tenho dúvidas de que você gosta. — Eu peguei a mão de
Anthony na minha e a trouxe até os meus lábios, dando um beijo casto nela,
fazendo meu chefe engasgar-se na hora e me olhar com a boca escancarada.
Pisquei um olho em sua direção, provocativamente.
Ótimo, o controle está comigo de novo.
Capitulo 04
Bruna
— Eu gosto de você — Helena decidiu, dando espaço para que
entrássemos. — Acredito que depois de todas essas horas de voo, vocês
queiram um bom banho. O café da manhã ainda está na mesa. Vamos, irei
mostrar os quartos de vocês. Podem se juntar a nós após descansarem o
suficiente.
Com um sorriso encantador no rosto, ela liderou o caminho.
— A propósito, Bruna, por favor, me chame de Sebastian. Acredito
que passamos da formalidade depois do seu elogio aos meus dedos. — O pai
de Anthony me deu um dos sorrisos devastadores do seu filho mais velho e
eu não pude deixar de sorrir de volta. A maçã certamente não caiu longe da
árvore.
Subimos um lance de escadas até chegar em um longo corredor.
— Lucca, o seu quarto é o primeiro à direita. O de vocês, querida, é
o segundo à esquerda. Suas malas já estão em seus quartos.
Helena se retirou, não sem antes dar um beijo em seus filhos e um
em minha testa. Me senti acolhida, e no fundo também me senti mal por
estar enganando uma mulher maravilhosa como ela. Namoros chegavam ao
fim, então Anthony inventaria uma desculpa plausível que explicasse nosso
rompimento quando tudo acabasse.
— Começou muito bem. Eles já amam você, cunhadinha — Lucca
quebrou o silêncio confortável e soquei seu braço com força, fazendo-o
resmungar de dor e massagear o local atingido.
— Pare de me chamar assim. Eu juro que quando tudo isso acabar,
eu vou matar você.
O idiota apenas riu e entrou em seu quarto, não sem antes gritar:
— Apenas non me façam ser tio, sou muito novo para isso!
Minhas bochechas aqueceram, enquanto Anthony revirou os olhos e
seguiu em direção ao nosso quarto, entrando no mesmo. Olhei admirada
para o cavalheirismo do meu chefe e segui o mesmo caminho. O quarto era
simplesmente lindo; o chão era coberto por um carpete cor creme, liso sem
padrões extravagantes que complementavam as paredes do cômodo, um tom
mais claro, tornando-o um ambiente amplo e fluído.
No centro, estava uma cama king, ladeada por duas mesas de
cabeceira. A parede oposta à entrada comportava portas francesas de correr
de madeira, oferecendo uma vista privilegiada do jardim da mansão. Em um
dos cantos do quarto, existia uma escrivaninha marrom acompanhada por
uma cadeira de couro, onde sabia que Anthony passaria um longo tempo
trabalhando. Havia duas outras portas, uma que dava acesso ao banheiro e
outra ao closet.
— Tem apenas uma cama — murmurei, meus olhos fixos na grande
cama de casal.
— Claro que sì, estamos namorando, querida — rebateu
ironicamente, meu chefe insuportável em seu modus operandi usual.
— Por que você me beijou? E pior, na frente dos seus pais? —
perguntei, mas ele me ignorou e simplesmente tirou os sapatos, e em
seguida a camisa. Olhei abismada para a falta de vergonha na cara. Meu
olhar disparou para seu peitoral e desceu por seu abdômen definido e eu
praticamente salivei com a visão do V perfeito em seus quadris. Minha mão
formigou com a necessidade de tocar aqueles gomos e desejei que ele me
beijasse novamente.
— Se estamos namorando, eu terei que beijá-la ocasionalmente.
Acho que isso ficou claro quando fizemos esse acordo, senhorita Ferraz. —
Sua voz rouca fazia coisas más a meu corpo. Maldição, eu achava seu ego
extremamente sexy. — Encare isso como um negócio: serão somente quatro
dias e depois tudo vai voltar a ser como era antes.
— E você vai agir como um namorado carinhoso, indiferente ou
como meu chefe tirano? Apenas para eu estar preparada.
— Chefe tirano?
— Não finja que não sabe exatamente como se comporta. Em um
ano trabalhando para você, nunca ouvi um elogio ou até mesmo um
‘obrigado’ ou ‘por favor’. Sempre sentado na sua cadeira no topo do prédio,
dando ordens, gritando e com raiva de tudo e qualquer coisa. Tanta raiva
assim pode render um ataque cardíaco. Inclusive eu tenho o número do
hospital na discagem rápida do meu celular, apenas para o caso.
O filtro falhou novamente e me vi despejando todos os meus
pensamentos e reclamações entalados em minha garganta sobre ele, que me
encarou mudo por alguns instantes.
— E, na sua opinião, isso me torna um chefe tirano? — Uma ruga
apareceu em sua testa e resisti ao impulso de passar a mão ali para desfazê-
la.
— Acredito que você irá me demitir se eu der minha opinião sincera
sobre a sua pessoa. Essa é a opinião geral, mas claro que, você sabe, não irei
citar nomes. — Dei um dos meus sorrisos convencidos quando vi seu olhar
frustrado diante da minha dispensa.
— No serei seu chefe tirano, mas também non serei um namorado
carinhoso. — Seu olhar se intensificou, suas íris ficaram mais escuras e
ofeguei quando ele deu um passo para encurtar a distância entre nós. —
Você sabe que eu non sou esse tipo de homem, Bruna. Io non sou alguém
que manda flores com chocolate para conquistar una ragazza. Non preciso
disso.
— Então o que você faz? — perguntei ofegante quando seu rosto se
aproximou perigosamente.
— Acredito que seria melhor eu mostrar do que falar…
— Não, Selena, tenho certeza de que tudo não passa de uma
invenção absurda do Lucca. — Ouvi uma voz próxima à entrada do quarto,
fazendo Anthony interromper sua frase e se afastar. Suspirei frustrada. Nós
realmente estávamos tendo um momento aqui. Quem no inferno decidiu vir
e atrapalhar?
— Você não pode simplesmente bater na porta dele, Alice. — Outra
voz repreendeu, mais baixa.
Alice.
Era a antiga namorada dele. Anthony parecia totalmente indiferente
às vozes no corredor e olhei para ele, chocada, fazendo sinal com as mãos
para que ele olhasse em minha direção e apontei para a porta.
— Sua ex-namorada — falei, movendo os lábios. Anthony levantou
uma sobrancelha, como se não fosse nada demais. Merda.
— Você sabe que ele não teve nenhuma namorada desde que eu
rompi com ele e, misteriosamente, aparece aqui com uma mulher, dizendo
que estão namorando? — Sua voz soava prepotente e convencida.
Definitivamente eu não ia aturar essa ruiva falar assim do meu chefe. Quem
ela pensava que era? Scarlett Johansson? Ao ouvir a batida na porta, fiz
então a primeira coisa que surgiu em minha mente.
Puxei Anthony e o joguei na cama sem cerimônias. Ele praticamente
me xingou, mas parou a frase quando tirei o vestido que usava. Senti minhas
bochechas ficarem extremamente quentes e não precisava de um espelho
para saber que estavam vermelho cereja por usar apenas uma calcinha preta
de renda e um sutiã do mesmo material e cor. Ao inferno com isso, eu estava
aqui por um motivo.
As batidas continuaram, então coloquei uma perna de cada lado do
quadril do meu chefe que ainda olhava atônito para o meu corpo. Ótimo
momento para ele ficar sem ação.
— Eu vou entrar.
Coloquei suas mãos em minha cintura, onde ele automaticamente
apertou, os olhos subindo lentamente por minha barriga, e se concentraram
em meus seios. Agarrei seu queixo fazendo-o olhar para os meus olhos e me
inclinei sobre ele.
— Alice, não!
No momento em que a porta abriu, eu estava com meus lábios no
pescoço de Anthony, que apertava fortemente minha cintura, sua cabeça
jogada para trás facilitando meu acesso, completamente a minha mercê.
Interrompi meus movimentos e encarei a porta, meus olhos arregalados e os
de Anthony brilhando em fúria. Finalmente ele entendeu meu ponto.
— Desculpe, senhor Mancini — uma moça de pele branca com
cabelos loiros escuros desculpou-se, visivelmente envergonhada pela
invasão. Ao seu lado estava Alice, e não é que a vadia realmente era linda?
— Che cazzo você está fazendo aqui? — Anthony perguntou me
tirando de seu colo delicadamente, me estendendo um lençol. — Aqui,
amore mio. — Rapidamente agarrei o tecido e cobri o meu corpo. Então ele
sabia como ser um namorado carinhoso? Mordi internamente a bochecha
para não rir.
Ele caminhou a passos firmes, em uma postura que eu conhecia
muito bem. Era a que ele usava quando ia demitir alguém por ter esquecido
algum documento importante ou apenas por ser o azarado a cruzar seu
caminho em um péssimo dia. Agarrou à porta que a ruiva ainda segurava,
sua boca abrindo e fechando como um peixe fora d’água, sem conseguir
formular uma única frase para explicar sua presença em nosso quarto.
Seus olhos viajaram de um Anthony sem camisa até mim antes que
ele fechasse a porta bruscamente, passando a tranca na mesma. Escutei os
passos se afastando e a voz de Selena resmungando que tinha sido uma
péssima ideia.
Anthony virou em minha direção e não consegui mais me conter. Cai
na gargalhada, jogando meu corpo na cama confortável, apenas com o
lençol para me cobrir.
— O que diabos foi isso? — perguntou ainda na porta. Me sentei
com um sorriso vitorioso nos lábios, satisfação borbulhando em meu
estômago.
— Estou sendo paga para fazer todos acreditarem que você tem uma
namorada, querido chefe. Seus pais e a ruiva dos infernos já acreditam
nisso. Missão cumprida no primeiro dia. Viu a cara dela? Foi impagável. Eu
deveria ter tirado uma foto, aposto que Lucca pagaria uma fortuna para ver.
— Non, eu estava mais concentrado em seus lábios beijando meu
pescoço. — Sua voz mais uma vez pingava sexo e parei de rir no mesmo
segundo. — Para uma virgem, você está se saindo muito bem, senhorita
Ferraz — falou com a voz que prometia fazer coisas indizíveis se eu apenas
desse a ele o menor dos incentivos. Arregalei os olhos e fiquei calada o
encarando. Anthony se afastou e foi em direção a uma das portas, fechando-
a atrás de si. Logo em seguida ouvi o barulho da água corrente.
Ele estava tomando banho.
Amanda com certeza daria gritos de orgulho quando soubesse disso,
mas somente no inferno eu não faria essa ruiva engolir seu orgulho e
prepotência. Apenas eu posso ser assim com meu chefe.
Eu seria a melhor namorada falsa que Anthony já teve.
Capitulo 05
Anthony
Desci as escadas me sentindo um maldito adolescente. Desde os
meus quinze anos non precisei tomar um banho gelado ou tentar me aliviar
sozinho quando quella diabilica donna[13] responsável pela situação estava
no quarto rindo, usando somente uma lingerie sexy.
Andei distraidamente em direção ao jardim quando uma voz
retumbou atrás de mim.
— Bom dia, Mais bonito*. Qual é o problema? Non que essa non
seja sua cara habitual, mas você parece que vai bater em alguém a qualquer
segundo. — Uma pata socou-me nas costas e eu tive que me preparar para
non ser lançado para frente, mas non consegui evitar a maldição que
escapou da minha boca. — A revista People ligou dizendo que você estava
apenas em 40° na lista deste ano. O que houve para cair algumas posições?
*Mais Bonito: Título dado todo ano aos 100 homens mais bonitos do mundo, segundo a
revista People.
— Que cazzo[14], Matheus — resmunguei e continuei andando com
ele ao meu lado. Eu sabia que meu humor non iria afetá-lo ou que o
atrapalhasse em continuar me infernizando. Sempre foi assim e duvido que
mudaria com o tempo, o infeliz.
— Onde está Lucca?
— Por que você o chama pelo nome e eu non? — perguntei ainda de
mau humor. Retiro o que disse, seriam quatro dias infernais.
— Ei, cara. — Lucca surgiu abruptamente, cortando qualquer coisa
que Matheus pudesse falar. — Você engordou desde a última vez que nos
vimos? Sua bunda está gorda.
— Você queria uma bunda como a minha, ela é perfetta. Músculos
puros, nada comparada com essa coisa sem carne que você tem aí. —
Acabei rindo quando ouvi a indignação na voz de nostro cugino, que non era
remotamente gordo. Tinha 117 quilos de músculos sólidos, divididos em
1,89 de altura.
— Você está mesmo analisando a minha bunda? Sofia non te satisfaz
mais? — Lucca perguntou, provocativamente.
— Por favor, assim me ofende. Você sabe que se eu fosse gay, iria
preferir o menino bonito aqui. Eu iria parar em todas as capas de revistas,
seria o assunto da década. Mas soube que você tem uma ragazza[15] agora —
Matheus falou e levantou a sobrancelha.
Lá vamos nós encarar essa merda.
— Pois é, Anthony, fale um pouco da tua ragazza. — Lucca
direcionou a atenção para mim, e se fosse possível cometer um assassinato
pelo olhar, seu corpo estaria estirado no chão nesse exato momento. Estreitei
os olhos para ele, que sorriu largamente como resposta.
Matheus intercalou os olhares entre mim e Lucca, praticamente
quicando em antecipação.
— Como ela é? Ela é gostosa? — Ele bufou. — Com quem eu estou
falando, é claro que ela é gostosa ou non seria sua namorada.
Fiz uma careta. Bruna era extremamente gostosa. Prova disso era a
maldita imagem dela tirando o vestido que non saia de minha cabeça, mas
nem sob pena de morte eu admitiria isso em voz alta para ele, non com mio
fratello ali.
— Ela é linda — eu corrigi e ele tossiu; consegui ouvir um
dominado por trás da sua mão.
Como o homem maduro que sou, mostrei o dedo do meio. Bruna
ainda era minha assistente pessoal e merecia respeito. Mas eu também
deveria falar algo sobre ela se quisesse que isso desse certo.
— Ela tem longos cabelos escuros, olhos castanhos perspicazes e
uma pele macia. É inteligente, educada e com curvas em todos os lugares
certos para minhas mãos. — Isso deveria ser o suficiente para calar a boca
de Matheus, pelo menos por enquanto.
— Soube que ela é sua assistente pessoal. — E um sorriso sacana
brotou nos lábios do patife. — Você é liso, Vogue*. Realizando o sonho de
todo homem. Me diga, vocês já transaram no escritório?
*Vogue: Revista feminina de moda.
— Que diabos, Matheus! Bruna é como uma irmã para mim. E eu
definitivamente non quero ouvir sobre a vida sexual deles — Lucca falou e
pela primeira vez quis agradecer o infeliz por alguma coisa desde que
inventou toda essa merda.
— Tudo bem, eu tenho uma vida bem ativa com minha Sofia. Faria
inveja para qualquer um de vocês.
— Olha quem temos aqui: Alice pendurada em Felipe — Lucca
murmurou mudando de assunto, olhando para a cena lastimável à nossa
frente.
— Você sabe que ela é uma vadia competitiva, e se sua ragazza for
tudo isso que estão falando, esses próximos dias serão um inferno. Afinal,
Alice non pode ficar em torno de uma ragazza que é tão, senão mais, bonita
que ela — Matheus falou quando ela olhou em nossa direção e seus olhos
praticamente me apunhalaram.
Bruna era formada em administração, e estava finalizando uma pós
em gestão de empresas. Poderia dar uma aula para todos nós quando se trata
de eficiência e profissionalismo. Dizer que ela e Alice non têm nada em
comum seria o eufemismo do século.
Massageei minhas têmporas com a ponta dos dedos, fechando os
olhos. Onde caralho eu estava com a cabeça quando aceitei isso?
Bruna
Olhei desacreditada para a minha mala. O que Amanda tinha na
cabeça?
Levantei um biquíni branco e outro amarelo, rosnando frustrada por
não ter nada mais decente para usar. Eu certamente gritaria com Amanda
mais tarde.
— Use o branco. — Uma voz falou na porta e meu coração acelerou
ao me virar.
— Merda, Beatriz — falei com a mão no peito olhando para a
mulher na porta, que sorria para mim. — Você podia ter feito algum
barulho, essa família ainda vai me matar um dia — murmurei e agarrei o
biquíni branco.
— Então você e mio cugino[16]? — Pude ouvir a ironia escorrendo em
sua voz. Ela sabia que isso não era verdade. Afinal, ela era a diretora de uma
das filiais, e mantinha contato constante comigo. Se estivéssemos em um
relacionamento, ela obviamente saberia.
— Impossível resistir a todo aquele ego e mau humor — respondi
com sarcasmo, entrando no banheiro para colocar o maldito biquíni. Beatriz
remexeu em minha mala e tirou uma blusa branca de botões e um short
jeans, me entregando. — Quantas pessoas esnobes terei que aturar quando
sair desse quarto?
— Bom, todos já sabem quem você é: a interesseira que fisgou um
dos ragazzi[17] mais ricos e bonitos do Brasil. Mas non se preocupe, você é
apenas um caso passageiro. Ao menos foi o que consegui ouvir em cinco
minutos lá embaixo — Beatriz falou se sentando na cama.
— Vejo que todos tem uma ótima imagem de mim. Por que vocês
ricos são assim?
— Me tire desta equação, Bruna. Também soube que você e
Anthony foram pegos em um momento bem íntimo. — Senti minhas
bochechas esquentarem. Maldita ruiva fofoqueira. — Se existe uma pessoa
que poderia devolver Anthony aos trilhos e aguentar todo aquele mau humor
é você. Tudo bem. Eu apoio. — Antes que ela continuasse, joguei uma
toalha em seu rosto. — É bom ter alguém para colocar aquela sonsa no seu
devido lugar, alguém que non seja eu, é claro.
— Obrigada pelo incentivo.
— Só o fato de toda a atenção estar voltada para você já é o
suficiente para aguentar esse casamento falido.
— Como anda o seu casamento? — Mudei de assunto e vi quando
um sorriso doce surgiu em seus lábios.
Sabia que toda a família Mancini era abastada, todos envolvidos em
algum ramo diferente, e que sempre se casavam com alguém do mesmo
status econômico, Beatriz sendo a única que se apaixonou perdidamente por
um homem de classe média. Ela evitava estar nos holofotes e eu sabia que
vivia recusando diversas propostas publicitárias, apenas por causa de seu
marido. Apesar de estarem casados há cinco anos, ele ainda se sentia
deslocado em relação ao dinheiro de sua esposa.
— Io non poderia estar mais feliz — respondeu com sinceridade. —
Non se preocupe, você terá a mim, Lucca, e pode contar com Sofia e
Matheus. Seus sogros já gostam de você. O resto, você pode ignorar —
falou pegando em meu braço para que fôssemos encarar a todos.
— Por que vão almoçar em um resort se tem essa mansão incrível
aqui? — resmunguei lembrando do biquíni que tive que colocar.
— Porque nós podemos.
Quando chegamos no jardim, percebi vários olhares se direcionando
para mim. Continuei meu caminho despreocupada, não seria um bando de
ricos metidos e uma ex-namorada esnobe que iriam me assustar. Mais ao
longe vi Anthony conversando com algumas pessoas, e assim como os
outros, seus olhos se direcionaram a mim.
Ele caminhou em minha direção e colocou uma de suas mãos em
minhas costas.
— Beatriz — cumprimentou sua prima que lhe deu um sorriso
conhecedor.
— Anthony, eu sempre soube que Bruna iria conseguir dominar
você.
— Imagino que sì. Lorenzo estava perguntando por você — ele falou
se referindo ao seu marido, porém, todos sabíamos que ele queria se livrar
dela.
— Por favor, me deixem ajudar a organizar o casamento? — Beatriz
pediu com um sorrindo, e antes que Anthony soltasse um palavrão, ela saiu
em busca de seu marido.
— Pronta para enfrentar os leões?
— Eu consigo lidar com você todos os dias. Nada pode ser mais
difícil do que isso, meu amor — falei com um tom doentiamente doce,
quando percebi que Helena vinha em nossa direção.
— Seu senso de humor é um bálsamo para esse inferno — ele falou
com ironia, mas sorriu genuinamente quando sua mãe estava perto o
suficiente de nós.
Olhei ao redor e percebi o olhar de Alice em nossa direção e ofereci
um sorriso convencido como resposta, fazendo seus olhos cintilarem de
raiva. Cansada da troca, voltei minha atenção para o que Helena falava
alegremente. Se ela largou Anthony para se casar com Felipe, por que no
inferno parecia se importar tanto?
— Estou começando a achar que serão quatro dias interessantes e
não infernais — falei no ouvido do meu chefe, assim que sua mãe se
afastou, em seguida depositei um beijo em seu pescoço. Sua mão apertou
minha cintura e ouvi um xingamento escapar sob sua respiração, triunfo
brilhando em minha mente por conseguir provocá-lo.
— Non comece algo que você non vai terminar.
— Quem começou foi você ao oferecer essa proposta. Estou apenas
fazendo meu papel de boa namorada.
Anthony me guiou até o carro que iria nos levar para o tal resort. E
pela primeira vez, acabei sorrindo pela escolha do biquíni. Ele teria uma
bela surpresa quando fôssemos aproveitar a piscina, e Alice teria que
aguentar não ser o centro das atenções.
Capitulo 06
Beatriz
Olhei com atenção para onde eles estavam, a mão de Anthony
agarrava quase obsessivamente a cintura de Bruna e ele nem mesmo se dava
conta disso. Helena falava algo para os dois quando Bruna olhou ao redor e
acompanhei seu olhar, fazendo uma careta de desgosto. Alice non conseguia
desviar os olhos. Quão patética ela era?
Bruna deu um sorriso convencido para a ruiva e eu tive que segurar a
gargalhada que quis escapar com a cena.
— Você acha que isso vai dar certo? — Lucca perguntou parando ao
meu lado, olhando quando Bruna deu um beijo no pescoço de Anthony.
— Você tem alguma dúvida? Guardali[18]! — falei com firmeza,
estava claro que eles sentiam atração um pelo outro. Só precisavam do
incentivo certo para que isso se transformasse em um sentimento genuíno.
— Acho bom. Anthony cortará minhas bolas se isso der errado e se
ele descobrir que armamos tudo.
— Você é covarde. Já te falaram isso?
— Sì, Bruna me fala isso constantemente — ele me respondeu com
uma risada, afastando-se. Balancei a cabeça e fui em direção a Lorenzo, que
me recebeu com um sorriso amoroso.
— Pronto?
— Com você ao meu lado, sempre — respondeu, depositando um
beijo rápido em meus lábios.
Mio cugino[19] merecia um amor que o consumisse, de uma ragazza
que o fizesse largar um pouco o trabalho e voltasse a ser o homem que
conhecíamos antes de ele se envolver com Alice. Eu sabia que Bruna
poderia ser essa ragazza. Sua personalidade forte combinava perfeitamente
com a de Anthony. Os dois só non sabiam disso.
— Você está tentando aprontar alguma coisa? — Lorenzo perguntou,
analisando atentamente o meu rosto enquanto andávamos em direção até o
carro. Tentei sorrir inocentemente, mas ele meneou negativamente a cabeça.
— Beatriz…
— Meu amor, eu apenas quero mio cugino de volta. Depois que esse
casamento infernal acabar, ele irá me agradecer.
— Está tentando salvar Felipe desse casamento fracassado ou trazer
Anthony de volta aos eixos? — indagou ao estender a mão para me ajudar a
embarcar.
— Infelizmente Felipe está cego em relação a Alice — resmunguei,
deitando minha cabeça no ombro do meu marido. — Mas ainda posso
ajudar Anthony.
— Quatro palavras para você: ele precisa de terapia — falou,
beijando a ponta do meu nariz.
— Ele definitivamente anda precisando, mas non é tão legal quanto
o que estou fazendo. Confie em mim e apenas observe — pedi, com um
beicinho em meus lábios, fazendo-o suspirar derrotado.
Bruna
Uma coisa eu não podia negar: o resort era lindo. Definitivamente eu
nunca teria dinheiro para frequentar um lugar como esse. A vista para o mar
era incrível, tinha uma área com saunas, spa e o principal, um cardápio
maravilhoso. O almoço foi algo memorável para entrar em um dos pontos
mais altos da minha vida.
Tiramos nossos sapatos, pois a maior parte do lugar era uma espécie
de praia particular. Só então parei para observar com maior atenção meu
chefe, que parecia melhor agora, com um leve sorriso em seus lábios ao
invés da carranca habitual que ele insistia em usar na empresa. Seu cabelo
ainda estava levemente úmido do longo banho que tomou depois que Alice
saiu do quarto. Ele usava uma camisa polo azul marinho e uma bermuda que
certamente havia custado mais de um mês do meu salário. Assim como o
restante das pessoas, seus pés estavam descalços. E santo inferno, ele tinha
pés atraentes.
Como era possível? Eu sempre acreditei que os pés eram,
provavelmente, a parte mais feia do corpo humano, bem, exceto pelo pênis.
Eu suspeitava que, de alguma forma, até essa parte sua deveria ser atraente.
Por que você não tenta descobrir hoje à noite?
Ah, a voz da Amanda novamente na minha cabeça. Timing perfeito.
— Você quer alguma bebida? Vinho?
Álcool era definitivamente demais. Se eu já estava fantasiando sobre
seu pênis ser tão atraente como o resto dele, ele provavelmente seria o
responsável por me fazer dizer ou fazer algo completamente embaraçoso.
É, com certeza não.
— Uma água com gás. Álcool não é uma opção viável, não se você
quiser que eu faça algo inconsequente.
Ele segurou meu queixo com uma mão e passou o polegar sobre a
maçã do meu rosto, seus olhos me devorando. — Às vezes devemos fazer
algo inconsequente.
Ele desceu o olhar para os meus lábios e eu senti minha boca secar,
meu corpo tenso em resposta ao toque possessivo. Ele me beijaria
novamente? Sem saber o que dizer, apenas assenti silenciosamente e mordi
o lábio inferior.
Sorri tristemente quando ele soltou meu rosto. Eu senti falta do seu
toque assim que o calor dele me abandonou.
— Acho que eu devo ir pegar sua água.
Apenas observei quando ele se afastou e foi em direção a um dos
garçons para fazer o pedido, piscando um olho em minha direção e com a
minha água em mãos começou a fazer o caminho de volta. Contudo, Alice
estava andando em sua direção. Inferno, essa vadia ainda não havia
entendido? E onde estava o noivo dela que não via essas coisas? Se o recado
no quarto não foi o suficiente para ela se manter longe de Anthony, eu faria
questão de deixar mais claro de agora em diante.
Então, antes que eu pudesse me parar, avancei para onde ele estava e
colei nossos lábios.
Anthony ofegou de surpresa e eu comecei a me afastar, pensando
que havia ultrapassado os limites, mas ele apenas depositou a água em uma
mesa e suas mãos encontraram minha cintura, me puxando novamente de
encontro com seu corpo.
— Eu fiz isso porque aquela ruiva enviada do inferno estava vindo
falar com você — murmurei sob minha respiração ofegante.
Ele não me respondeu, pressionando seus lábios contra os meus com
firmeza. Senti o choque passar por todo o meu corpo até os dedos dos pés e
segurei em seus braços para me equilibrar e me impedir de afundar no chão,
me sentindo desossada. Nós nos beijamos por um longo tempo, apenas
lábios, sem língua e mesmo assim, foi o melhor beijo de toda minha vida,
até hoje. Anthony se afastou e me deu aquele sorriso torto que fazia
qualquer mulher se derreter aos seus pés.
— Quello sì é um beijo que convence os outros — falou com a voz
rouca, agarrando a garrafa de água e estendendo em minha direção. Bebi em
um único gole, sem conseguir formular nenhuma frase coerente.
— Tudo bem, casal do século, vamos desgrudar um pouco. Bruna,
você vem comigo. Anthony, Lucca e Matheus estão te chamando para fazer
algo que não quero nem imaginar o que seja — uma mulher falou, me
puxando pelo braço para longe. Olhei alarmada para meu chefe, que apenas
riu.
— Desculpe, amor. Mas ela é uma das poucas pessoas que eu não
tento desafiar — respondeu com um sorriso leve na direção da bela loira que
me arrastava.
— Calma, eu sou Sofia. As mulheres estão indo receber uma
massagem e Beatriz mandou eu vim te sequestrar. Pelo visto, Anthony não é
capaz de largar você por um segundo sequer.
Não que eu fosse reclamar disso, mas mantive meus pensamentos
apenas para mim e deixei que ela me guiasse para uma ala separada,
algumas das mulheres já estavam deitadas recebendo suas massagens e, pelo
que pude ver, era realmente muito bom.
— Vamos nos trocar, precisa tirar a roupa, a parte de cima do biquíni
e ficar apenas com a toalha — ela explicou enquanto entrávamos no
banheiro.
— Você deve ser a esposa do Matheus, certo? — perguntei,
lembrando das palavras de Beatriz. Percebi um sorriso se estendendo em seu
rosto quando eu falei o nome dele.
— Sim, ele é meu marido. Matheus na verdade é primo de Anthony.
Capitulo 07
Anthony
— Garoto Vogue! Vejo que você está bem melhor, non está mais
com aquele olhar assassino de mais cedo. Se soubesse que apenas alguns
beijos com a sua ragazza resolveria isso, já teria sequestrado ela e amarrado
vocês juntos há muito tempo — Matheus falou assim que me viu, e revirei
os olhos. Sabia que ele era o responsável pela brilhante ideia de me separar
de Bruna, somente para me azucrinar e non havia nada que eu pudesse fazer
quanto a isso.
— Eu nunca estive na Vogue, Matheus. Essa é uma revista de
ragazze[20].
— Veja, o fato de você saber isso muito me preocupa. — Ele deu um
forte tapa no meu ombro e sorriu para mim. — Além disso, duas das suas
ex-namoradas estiveram na capa, então já é bom o suficiente para mim.
Eu, definitivamente, non precisava desse lembrete, então apenas
revirei os olhos e balancei a cabeça com desgosto. Olívia e Alice tinham
estampado as capas de muito mais revistas do que eu jamais faria.
— Olívia nunca foi minha namorada, mal nos vimos durante um mês
que ficamos juntos. O que você quer, Matheus? E onde está Lucca?
— Alguém tinha que buscar as bebidas e com toda a certeza esse
alguém non seria eu.
— Eu só quero voltar para a casa e ir para a porra do meu quarto —
resmunguei, precisava verificar alguns e-mails. O fato de estar aqui non me
isentava de minhas responsabilidades. Porém, ele simplesmente me guiou
até uma sala de estar onde havia um frigobar, TV, jogos, sofás de couro e
uma mesa de sinuca. Matheus pegou um taco e começou a organizar as
bolas.
— Cazzo, você non me deixará ir embora? — perguntei com
resignação. Eu também non podia ir sem Bruna, que com toda a certeza non
seria liberada facilmente das garras de Beatriz e de sua nova cúmplice,
Sofia.
Matheus me ignorou e seguiu em frente, lançando a bola branca
contra as outras em uma tacada bem colocada. Agarrei outro taco e bati em
suas costas com força. O golpe non o afetou enquanto ele alinhava-se
novamente e encaçapava uma das bolas.
— Vocês já transaram no escritório?
— Matheus, Sofia tem alguma ideia de como você está obcecado por
minha vida particular? Isso é um pouco fodido, cara. Você tem sentimentos
por mim?
Ele agarrou seu peito na altura do coração com uma das mãos e
piscou dramaticamente os olhos para mim.
— Ela sabe tudo sobre o meu amor non correspondido e que ela
sempre será a segunda melhor aos meus olhos. Mas já que eu non posso ter
você, eu tive que seguir em frente. Você consegue me entender, certo? Eu
apenas me contento em admirá-lo de longe, guardando todas essas fotos
lindas que tiram de você. Non é como se eu escondesse isso, há uma
montagem enorme com imagens diferentes de você logo acima da minha
cama. — Matheus balançou as sobrancelhas sugestivamente para mim. —
Por razões óbvias.
— Você é um idiota — bufei, sem conseguir me conter e acabei
rindo com a imagem mental de uma colagem minha cobrindo todo o teto de
seu quarto. — Eu aposto que Sofia acha que isso é quente, dormir todas as
noite olhando para mim.
— Bom, ela admite que você é mais bonito que ela. No entanto, é
bastante segura de si.
Perdi a bola nove porque estava rindo para mirar corretamente e ele
jogou as mãos para cima em triunfo com meu erro de principiante e, em
seguida, colocou uma expressão séria ao mirar na bola seis. Ele a moveu até
o canto, só faltando colocá-la para dentro.
— Droga, mas sério agora. Você e Bruna?
Revirei os olhos. Ele non me deixaria em paz e eu sabia disso. Eu
afundei a sete na caçapa esquerda e mirei na de número cinco.
— O que você quer que eu diga?
— Como ela consegue aguentar seu humor infernal diariamente na
empresa? Você é um tirano completo quando está trabalhando. Ela merece
um prêmio e um lugar especial na mesa no natal só por isso.
Minha mente viajou sem permissão novamente para a imagem que
eu sabia que ficaria gravada em minha memória por um longo tempo; seu
corpo em cima do meu, sua pele macia em meus dedos, a boca em meu
pescoço. Ela era quente demais para o seu próprio bem. Mas nem no inferno
eu admitiria isso em voz alta. Matheus já achava que eu era garotinha o
suficiente com as capas de revistas e eventos ridículos de merda que eu era
obrigado a comparecer.
Perdi a próxima bola porque ainda estava focado na sensação de ter
os lábios de Bruna em mim. Matheus gargalhou ao encaçapar a dois.
— Você está completamente perdido por essa ragazza. Você deveria
ver o seu rosto! Você parece uma adolescente tirando as calcinhas para...
bem... você! — Eu balancei ameaçadoramente o meu taco em sua direção,
mas ele dançou para fora do caminho alegremente. — Sério, cara, estou
feliz que você encontrou alguém que te aguenta e faz você ficar assim. Alice
certamente nunca fez.
Senti uma carranca aparecer em meu rosto ao ouvir o nome da
pequena víbora. Mio cugino apontou para mim.
— Sì, era exatamente assim que você ficava. Por que diabos você
namorou com ela por tanto tempo?
Eu me vi incapaz de responder essa pergunta, porque nem eu mesmo
sabia a razão. Então, dei de ombros.
— Conveniência? A vontade de evitar a porra do drama que seria
quando eu terminasse com ela? Então apenas tentei adiar o inevitável.
O que non funcionou, é claro. Quando ela terminou comigo, eu
simplesmente dei de ombros ao dizer graças à Deus, já que non aguentava
mais um segundo em sua presença. Então, é claro que ela ouviu e que
surtou, talvez pensando que eu fosse lamentar e implorar para que ela non
me deixasse. Eu fui espancado, arranhado e tive que arrastá-la para fora do
meu condomínio antes que a merda ficasse muito feia.
Então, pouco tempo depois, ela surgiu namorando mio cugino, o que
non foi nenhuma surpresa para mim, mas obviamente deixou toda a famiglia
em choque. Mia mamma até hoje non a suporta depois de tudo o que ela fez,
e piorou quando ambos anunciaram há seis meses o casamento. Todos
tiveram que engolir e aceitar. Sinceramente? non fez a cazze de diferença
nenhuma em minha vida. Sentia pena por Felipe, já que ele seria aquele que
a aturaria pelo resto de sua vida.
— Alice é gostosa, mas ela é louca.
— Você acha que eu non sei disso? Principalmente quando,
misteriosamente, fotos íntimas de nós dois juntos foram impressas em todos
os lugares e do trabalho que os meus publicitários e agentes tiveram para
acalmar as coisas. No fim das contas? Eu saí como o vilão e ela a pobre
donzela injustiçada.
— Bem, você agora está fora dessa e claramente dentro de algo
melhor. Conte-me sobre como foi o pedido de namoro.
— Você é uma menininha, Matheus.
Ele encostou-se à mesa e cruzou os braços esperando que eu
continuasse. Lembrei de toda a história que inventei em minha mente e
imaginei qual seria a reação dela se isso tivesse realmente acontecido.
Caralho! Isso é apenas um acordo, nada disso é real. Ela non é sua
namorada, é apenas sua assistente que embarcou nessa loucura para salvar
sua pele.
— Ela é inteligente, eficiente e mesmo eu sendo seu chefe, non se
deixa intimidar e sempre tem aquele maldito sorriso convencido no rosto
quando faz algo antes que eu peça. O que costuma acontecer com bastante
frequência.
— Dominado — Lucca cantarolou ao entrar na sala com várias
bebidas em mãos. Olhei irritado em sua direção.
— Por favor, non atrapalhe o Richard Gere* aqui — Matheus falou
se sentando e alcançando um copo de uísque.
*Richard Gere: Ator que fez Edward Lewis em: Uma linda mulher.
— Na verdade, non foi muito difícil se apaixonar por ela. Acho que
é muito cedo para dizer a palavra amor, e realmente non sei até onde isso
vai. Mas ela é a melhor assistente que eu já tive e realmente non quero
estragar isso — falei sinceramente. — E sobre o pedido, ela é vegetariana,
bem, quase isso. Non come carne vermelha e nem frango. Mas ama sushi.
Então, com a desculpa de uma reunião de negócios, a levei no Marius
Degustare, um dos melhores restaurantes de frutos do mar do Brasil. Sem
muitas enrolações, já que sabia pelo seu olhar que ela sentia algo por mim,
mesmo que nunca fosse me dizer abertamente. Apenas perguntei se ela
gostaria de tentar algo entre nós, com exclusividade, é claro. Non foi bem
um pedido de namoro, mas olha onde estamos dez meses depois — finalizei
a história ensaiada antes e me sentei no sofá, me servindo um gole do
mesmo uísque.
— Sembra una bella ragazza. [21]
— Ela é.
— Ragazzi.[22] — Ouvimos a voz nos chamar e vimos Felipe parado,
claramente incerto se deveria entrar ou non. Levantei meu copo em sua
direção em um convite.
— Aceita um? E depois vamos jogar uma partida para relembrar os
velhos tempos em que sua bunda era chutada por mim — convidei.
Ele deu um sorriso e entrou na sala, sentando-se em uma das
poltronas e serviu um copo para si.
— Acho que trabalhar demais está afetando sua memória, Matheus e
eu sempre ganhamos de você e Lucca — provocou com descontração, se
encostando mais confortavelmente e bebendo um gole de seu copo. — Fico
feliz que, apesar das circunstâncias, você tenha vindo.
— É seu casamento, Felipe, e independente de quem seja a noiva,
você continua sendo mio cugino — afirmei seriamente. Non guardava
nenhum ressentimento dele. Sabia que sempre foi apaixonado por Alice e
respeitou nosso namoro, apesar de seus sentimentos, então non vi problema
algum quando ela estava solteira e os dois engataram em um namoro. Claro
que isso non valeu para o resto de nossa família.
— Um brinde à famiglia — Lucca falou estendendo o copo.
— A famiglia — ecoamos e bebemos.
Talvez Bruna estivesse certa, e esses dias non seriam tão horríveis
quanto eu imaginava.
Capitulo 08
Bruna
— E você é a nova puta interesseira de sua lista. Me surpreende ele
trazer alguém como você aqui, a assistente que está fodendo e que depois irá
descartar — uma voz falou atrás de nós. Respirei fundo e me virei,
encarando os olhos da ruiva que estava parada no limiar da porta.
— Isso deveria me ofender? Querida, não tenho culpa se os homens
preferem putas ao invés de patricinhas insuportáveis, como claramente você
é. Inclusive, quem é você? — perguntei inocentemente. Não daria o
gostinho a ela. Obviamente, eu sabia com quem estava falando, mas ao ver
suas bochechas vermelhas de raiva pela simples pergunta, tive que segurar a
risada.
— Sou a ex-namorada de Anthony — ela falou, orgulhosamente
estufando o peito. A encarei por alguns segundos, percebendo que ela não se
apresentou como a noiva de Felipe e sim como a ex-namorada do meu
chefe. O quão obcecada ela era? — Mas, obviamente ele falou sobre mim
para você.
— Você realmente tem coragem, não é? — Sofia rosnou, dando um
passo à frente. Segurei seu braço antes que ela pudesse avançar ainda mais.
— Eu ainda vou dar uma boa surra em você, vadia de quinta. Até onde me
lembro, sua imagem até pouco tempo atrás vivia nos tabloides como uma
bêbada histérica que não parava de envergonhar a família, até que meu
primo foi idiota o suficiente para cair na sua lábia. Porém, nem isso vai
poder me impedir de lembrar onde é o seu lugar — advertiu, fazendo Alice
se encolher com o olhar ameaçador que recebeu, visivelmente arrependida
da decisão de encurralar nós duas ao mesmo tempo.
Contive o sorriso que quis escapar após as palavras de Sofia e
coloquei a melhor expressão confusa no rosto, piscando inocentemente e
continuando com meu teatro.
— Lembrei. Você é a louca que invadiu nosso quarto mais cedo?
Desculpe, não havia decorado seu rosto, estava ocupada com outras coisas.
E a única ex que ele me falou foi uma tal de Alice, a noiva deste casamento
que somos obrigados a participar. Graças a Deus vocês não são a mesma
pessoa, porque ele definitivamente despreza aquela mulher. Mas ainda não
fomos apresentadas. Aconselho você a ficar longe da noiva de Felipe, ela é
desprezível e mal caráter — falei séria, puxando Sofia para trás de mim
antes que ela avançasse sobre a ruiva.
— Como vo-você… — Alice gaguejou, mas eu não permiti que ela
continuasse.
— E não se preocupe comigo, não passo da assistente que ele fode, e
fode muito bem, que veio aqui para conhecer os pais dele. Então, acho que
não serei descartada agora. Certo? — Meu tom foi propositalmente doce,
assim como meu sorriso e vi a fúria brilhar em seus olhos, mantendo-se em
silêncio.
Sem esperar uma resposta, dei as costas a ela e direcionei meu olhar
para Sofia, que ao contrário de mim, exibia um largo sorriso no rosto,
lançando um olhar de desafio na direção de Alice.
— Vamos nos arrumar agora? Estou realmente precisando de uma
massagem. Anthony costuma pegar pesado comigo. — Pisquei um olho, de
forma conspiratória. Por dentro estava dando saltos e mais saltos de alegria,
mas mantive a fachada calma e entramos nas cabines para nos despirmos e
pegarmos as toalhas.
Quando saí do cubículo, apenas Sofia esperava do lado de fora, com
uma bolsa para colocar as minhas coisas.
— Você sabia quem ela era desde o início, não é?
— Claro que sim, mas ela não se apresentou como a noiva. Então,
não custava nada alfinetá-la um pouco. — Mantive um sorriso presunçoso
enquanto voltávamos para a área de massagem.
Caminhamos um pouco até encontrarmos Beatriz e dois lugares
vazios ao seu lado. Ocupei uma das macas e Sofia a do lado. Em seguida,
minha toalha foi aberta atrás e uma massagem deliciosamente relaxante
iniciou em minhas costas, e sem que eu conseguisse conter, um pequeno
gemido escapou de meus lábios. Essa vida de rico definitivamente era muito
prazerosa.

Estava apenas de biquíni quando decidi procurar por Anthony. Após


a massagem, fui com as meninas para a sauna e acabamos passando muito
tempo lá, então estava toda suada e não quis colocar minha roupa para não
as sujar. Recebi diversos olhares enquanto passava, tanto de homens como
de mulheres, porém, continuei caminhando até a sala onde sabia que ele
estava com o restante dos meninos jogando sinuca.
Dei duas batidas na porta e coloquei a cabeça para dentro,
observando quando quatro pares de olhos me encararam.
— Entre, querida. Quero apresentar algumas pessoas a você —
Anthony convidou, e olhei para o meu corpo, precisando reunir toda a
coragem que tinha dentro de mim. Entrei na sala apenas de biquíni, a bolsa
pendurada em meu ombro, sentindo minhas bochechas queimarem com
vergonha. Contudo, várias outras mulheres desfilavam com peças bem mais
reveladoras que as minhas.
Percebi quando os olhos de Anthony percorreram lentamente meu
corpo por inteiro, suas pupilas dilatando enquanto sua respiração engatou, as
íris encontrando as minhas e havia desejo ali. Ele me olhava daquela
maneira que fazia minhas pernas virarem gelatinas, e tive que parar onde
estava, já que não foi apenas a intensidade do seu olhar que fez com que eu
congelasse.
As janelas da sala estavam abertas, mas ele estava sem camisa, e
notei quando uma gota de suor escorreu de seu pescoço, deixando uma trilha
úmida em seu peito musculoso e definido, descendo por seu abdômen e
desaparecendo no cós de sua bermuda. Eu nunca quis tanto usar minha
língua para algo como traçar o caminho daquela maldita gota.
O que eu encontraria se apenas seguisse aquele caminho?
Lucca deve ter visto a baba escorrendo por meu queixo, porque
olhou para mim e deu um de seus sorrisos comedores de merda, o
desgraçado. — La mia sorellina[23], non fique aí parada. Entre.
Anthony ainda me encarava e eu me senti ficar molhada somente
com a intensidade.
Controle-se, Bruna. Tudo aqui não passa de um acordo, um
trabalho, não se transforme em uma poça de lama com a visão do homem
mais quente do planeta. Você já viu caras quentes antes. Aguente firme e
faça sua parte deste acordo sem estragar tudo.
Novamente, minha voz interior que surpreendentemente soava como
a de Amanda falou. Sinceramente, eu já deveria ter me acostumado, mas
sabia que se fosse ela em meu lugar, já estaria gritando a plenos pulmões
para agir como mulher e ir pegar meu homem.
Meu homem?
Respirei fundo e coloquei um sorriso inocente nos lábios, oferecendo
um oi coletivo e tentei acalmar as borboletas dentro do meu estômago. Nada
poderia ser feito sobre a minha excitação, mas eu não me envergonharia por
demonstrar isso, então segui em direção ao meu chefe, que largou o taco e
colocou o braço em minha cintura, segurando-me com firmeza, o que
agradeci internamente. Minhas pernas obviamente não aguentariam o meu
peso por muito mais tempo.
— Matheus, Felipe, essa aqui é Bruna, minha namorada — Anthony
fez as devidas apresentações.
— É um prazer conhecê-la, Bruna. Nosso menino bonito me
manteve na borda por tempo demais para que fôssemos apresentados, mas
agora eu entendo o motivo — Matheus falou e seu olhar passou por meu
corpo, longe de ver desejo ou malícia em seus olhos, o que não impediu
Anthony de rosnar e me entregar sua blusa para que eu vestisse.
— Dominado — foi a vez de Felipe falar, sem conseguir conter a
risada, que tentou disfarçar com uma tosse.
— Está na hora de irmos. Encontro com vocês outra hora — meu
chefe falou, agarrando firmemente minha mão e me rebocando dali sem
olhar para trás.
— O que diabos você está fazendo? — rosnei quando tropecei no
caminho. Recebi apenas o silêncio como resposta. — Que merda, será que
dá para parar? — falei mais alto e puxei meu braço com força para liberar
minha mão do aperto de ferro.
Anthony me encarou da mesma forma que fazia quando ia demitir
um funcionário, o que era rotineiro. Inclinei a cabeça para encarar
firmemente seus olhos. Não tinha sido nada mais do que uma excelente
namorada e ele estava aqui, agindo como um homem das cavernas sem ao
menos explicar a razão. Então, sem que eu esperasse, ele avançou em minha
direção e me beijou.
Dessa vez, sua língua pediu passagem por minha boca, e quando
nossas línguas se encontraram, eu simplesmente fui ao céu e voltei, meu
corpo inteiro se colou ao dele, necessitando de mais contato, enquanto
nossas bocas se moviam sincronizadamente, encaixando-se como se feitas
sob medida.
Cristo, seus lábios eram mágicos, mais potentes do que qualquer cara
que eu já tivesse beijado. Sem me importar, joguei os braços ao redor de seu
pescoço e puxei seus cabelos em minha direção, derretendo completamente
contra ele. Suas mãos desceram pelo meu corpo, descansando na parte
inferior das minhas costas e me puxando ainda mais para si, se é que era
possível. O ar se fez necessário mais rápido do que eu gostaria e seus lábios
foram até o meu ouvido, enquanto minha respiração mantinha-se ofegante.
— Nunca mais use um biquíni desses, principalmente quando io non
estiver perto. Non quero nenhum homem desejando o que é meu — falou
com firmeza, e eu quase rebati dizendo que não o pertencia, porém, preferi
me manter em silêncio, já que eu sabia ser o melhor curso de ação naquele
momento.
Eu gosto do meu emprego.
Capitulo 09
Anthony
Todos já estavam zonzos após algumas partidas, mas nada que
fizesse qualquer um de nós cometer qualquer besteira inimaginável e non
lembrar no dia seguinte.
— Então, io soube que aquela atriz, Marina Borba, está solteira —
Matheus comentou, e levantou a sobrancelha para Lucca, que riu e balançou
a cabeça.
— Matheus, tu anda lendo Glamour novamente? Tu sabe que ele
sequer conhece essa atriz pessoalmente — falei rindo. Eu, pessoalmente,
nunca namoraria com ela. Ragazze fúteis non eram realmente o meu tipo.
Contudo, Bruna era muito esperta, isso eu podia atestar. Rápida, inteligente,
sarcástica e sexy como o próprio inferno.
— Mais sexy, em que mundo você está? — Matheus acenou uma
mão diante do mio rosto quando percebi que era a mia vez de fazer uma
jogada, mas tinha saído do ar e balancei a cabeça, tentando afastar tais
pensamentos. Ele estreitou os olhos escuros para me e inclinou a cabeça
para o lado. — Vocês notaram como ele está excessivamente aéreo hoje? —
perguntou para Felipe e Lucca.
— Isso é sobre tua ragazza? Ela parece ser legal — Felipe falou com
um sorriso.
— Ela é. Certa vez saí com Bruna depois do expediente em uma
sexta-feira e depois de algumas doses de tequila, ela começou a falar sobre
algumas funcionárias desprezíveis e como os empresários eram esnobes e
egoístas. Bruna continuava dizendo para me: sem ofensa, a cada vez que
dizia algo negativo sobre a nossa espécie. Foi realmente hilário.
Olhei para Lucca com atenção. Como assim ele e Bruna saíam
juntos?
— Vocês saíram para beber? Por quê? — A pergunta saiu antes que
io pudesse me conter.
— Ela te marcou, ragazzi[24] — Felipe disse gargalhando, se servindo
com mais uma dose de uísque.
— E io non sou esnobe e egoísta — disse irritado. Quero dizer, eu
acho que eu estava acostumado a um pouco mais de atenção e ignorava com
frequência aqueles que verdadeiramente odiava, com poucos selecionados
que non gostava e menos ainda que tolerava. Mas non era porque eu
desejava isso, simplesmente acontecia. Como isso era ser esnobe?
— Cara, todos os grandes empresários são esnobes e egoístas. Io non
estou dizendo que tu é cheio de si, ou algo assim. Muito pelo contrário, na
verdade. Tu non parece querer as ragazze se jogando aos seus pés, e odeia o
fato de suas funcionárias ficarem te bajulando e praticamente abrindo as
pernas para tu. Você sempre culpa o nome da família que carrega ou o fato
de ser bilionário. Mas como um homem hétero de carteirinha, eu me sinto
confiante o suficiente na minha sexualidade para dizer que elas estariam
pulando em tu mesmo se fosse a cazzo de um faxineiro. — Eu ri da
expressão séria no rosto de Matheus no fim de seu discurso. Talvez eu ainda
conseguisse ragazze, mas duvidava que seria na mesma quantidade.
— Tudo isso é fodido demais — falei, me jogando no sofá. —
Quando eu a toco... existe algo, como um choque elétrico entre nós dois,
mas é bom. Io realmente non sei como explicar — falei uma das coisas que
eu sempre guardei para mim, mas cazzo, se estávamos fingindo sermos
namorados, eu podia muito bem falar disso e saber se era o único que sentia
essa cazzo.
— Então, è como uma arma de choque elétrico? — Matheus
questionou com um sorriso, erguendo as sobrancelhas.
Lucca e eu jogamos a primeira coisa que estava em nosso alcance
nele, enquanto Felipe se jogou em uma poltrona rindo abertamente.
— Hey, Se Beber, Não Case é épico. Io simplesmente tinha que ver
se aquilo era tão incrível quanto mostraram, e totalmente é — se defendeu,
com as mãos erguidas em rendição, apesar do sorriso de cazzo esticado no
rosto.
— Non pense tu que non vamos revidar — Lucca advertiu
sombriamente, sem dúvida lembrando a dor horrível dos volts de
eletricidade indo diretamente através de sua virilha. — Isso vale para tu
também, Felipe.
— Non me coloque nessa equação. Tutto o que eu fiz foi filmar. Non
tinha a menor ideia do que ele ia fazer — nosso cugino se esquivou, jogando
as mãos para cima.
— Vocês dois têm sorte por io non ter ficado fodidamente impotente
por isso, ou vocês estariam também.
Lucca tinha tomado o choque na virilha, enquanto eu levei um no
rosto, como Alan no filme. Nós ficamos no chão por bons dez minutos e
com as áreas dormentes por uma hora depois disso.
— Eu tenho uma cópia desse vídeo até hoje. Tu foi um bastardo
esperto nesse dia — Felipe comentou com um sorriso.
Mas até eu tinha que admitir que era verdade. Estávamos em um
churrasco na casa dele quando Matheus chegou e nos atacou. Ele certamente
sabia que se tivesse atacado apenas um de nós, o outro correria para longe
dele, então ele tinha comprado duas armas taser. Nós devíamos uma grande
retaliação, independente de quanto tempo havia se passado.
— Non fique com essa carranca no rosto, Garoto Bonito, non houve
nenhum dano permanente. — Ele bateu no mio ombro e se sentou ao meu
lado. — Já tu, Salsicha*, pode ter tido algumas consequências duradouras
por aquela experiência. Acredito que tu normalmente tem que tomar um
cuidado maior com as ragazze com quem tu sai, para non as machucar com
sua enguia*.
*Salsicha: é uma pessoa desgrenhada, denominada assim por conta do Salsicha do Scooby
Doo.
*Enguia: São peixes que conseguem produzir correntes elétricas para abater sua presa, elas
possuem formato semelhante à de uma cobra
— Até que enfim, tu resolveu apelidar alguém que non seja io —
resmunguei me levantando, essa cazzo de conversa non levaria a lugar
nenhum. — Vamos terminar essa partida de uma vez por todas.
Todos se levantaram, e voltamos a jogar. A bebida definitivamente
tinha deixado todos mais soltos do que normalmente éramos, mas io non me
importei com isso. Percebi o quanto sentia falta disso, de passar um tempo
com a famiglia, mia mamma, babbo e amigos. Duas batidas na porta tiraram
a atenção de todos do jogo e uma cabeça apareceu na pequena abertura.
Bruna.
— Entre, querida. Quero apresentar algumas pessoas para tu —
convidei com um pequeno sorriso. Estava na hora de Felipe e Matheus
conhecerem mia ragazza.
Ela non é sua ragazza.
Uma voz que muito se assemelhava a de Lucca gritou no fundo da
minha mente, e optei por ignorá-la completamente. Afinal, durante quatro
dias, Bruna era sì la mia ragazza.[25]
Percebi que ela vacilou por alguns segundos e respirou fundo,
entrando na sala. Ao estar completamente dentro do cômodo, percebi o
motivo para sua hesitação. Ela trajava apenas um biquíni branco, carregando
uma bolsa em seu ombro. Non que isso fosse algo estranho, afinal, várias
ragazze trajavam apenas roupas de banho aqui para aproveitar as piscinas e
as diversas atividades que o resort oferecia. Mio olhar desceu por seu corpo
e sì, ela era quente como o próprio fogo do inferno.
Bruna deu dois passos em mia direção e tutto o que eu queria fazer
era ter as minhas mãos em seu corpo. Seus olhos encaravam os meus,
percebendo quando ela fez sua própria avaliação, e diavolo, apenas seu
olhar sobre me foi o suficiente para me deixar duro como pedra.
Mesmo as janelas abertas e eu sem camisa, non mudaram o fato de
subitamente sentir o mio corpo mais quente, minha respiração se tornando
acelerada.
— La mia sorellina, non fique aí parada. Entre. — Ouvi a voz do
mio fratello e só então me lembrei que non estávamos sozinhos. Meus olhos
captaram cada movimento, e senti mio desejo por ela aumentar quando vi o
doce sorriso em seus lábios, um contraste com o resto de seu corpo, que
definitivamente era um dos sete pecados capitais. Seus quadris se moveram
lenta e sensualmente, vindo em minha direção.
Quando ela ficou ao mio lado, consegui sentir o cheiro suave de
morango em sua pele, provavelmente devia ter passado pela área de
massagens e, sem me conter, passei a mão por suas costas e segurei com
firmeza sua cintura.
— Matheus, Felipe, essa aqui é Bruna, mia namorada — apresentei-
os.
— É um prazer conhecê-la, Bruna. Nosso menino bonito me
manteve na borda por tempo demais para que fôssemos apresentados, mas
agora io entendo o motivo — mio cugino saudou, seus olhos avaliando
Bruna da cabeça aos pés.
Um rosnado saiu por meus lábios, non para Matheus, já que sabia
que ele era completamente apaixonado por Sofia. Mas sì por imaginar ela
desfilando por aí com esse biquíni que me fez ficar com raiva quase
transbordante. Eu sequer sabia o porquê desse sentimento ter explodido
dentro de mim, mas peguei minha camisa e mandei que ela vestisse.
— Dominado. — Felipe disfarçou com uma tosse.
— Está na hora de irmos. Encontro com vocês outra hora — falei,
agarrando a mão de Bruna com firmeza enquanto a arrastava para longe dali.
Definitivamente non queria nenhum marmanjo comendo Bruna com os
olhos.
Ela resmungou enquanto eu a puxava em direção a um dos carros
que estava à nossa espera, me mantendo em silêncio. Estava cego de
ciúmes.
— Que merda, será que dá para parar? — perguntou com raiva,
puxando a mão de meu aperto.
Encarei seus olhos por alguns segundos, mas Bruna non se
intimidou. Ela nunca se intimidava, e isso era uma das coisas que eu achava
fodidamente sexy nela. Então, sem conseguir me segurar, avancei em sua
direção, beijando sua boca ferozmente. Minha língua pediu passagem, e
quando ela permitiu minha entrada, eu sabia que estava completamente
perdido daqui para frente.
Um frenesi tomou conta de me e pressionei seu corpo ao mio, sem
deixar qualquer espaço entre nós dois. Quando a senti se entregar
completamente e puxar meus cabelos em sua direção, tudo o que eu
desejava era levá-la para algum lugar e fundir nossos corpos em um só,
foda-se a lei da física que diz que dois corpos non podem ocupar o mesmo
espaço. Porém, a parte lógica do meu cérebro sabia que non podia fazer isso,
então afastei nossos lábios aos poucos, non sem antes dar um aviso com a
boca colada em sua orelha.
— Nunca mais use um biquíni desses, principalmente quando io non
estiver por perto. Non quero nenhum homem desejando o que é mio — falei
ferozmente, meu tom e o brilho em meus olhos, deixando claro que non
havia espaço para negociação quanto a isso.
Tu é mia e eu cuido do que é meu.
Capitulo 10
Bruna
Olhei atentamente para a gaveta e decidi ligar para Amanda. Onde
estavam os pijamas que comprei? Levantei uma lingerie vermelho sangue e
me perguntei onde diabos eu estava quando ela comprou essas coisas.
— Bom dia, flor do dia. — A voz soou estridente do outro lado da
linha.
— Amanda, aqui já é noite — rosnei me sentando de roupão no chão
do closet.
— Nossa, que bicho te mordeu? Pensei que seu humor estivesse
melhor depois de um dia como uma socialite ao lado do seu lindo namorado
— cantarolou uma provocação.
— Ele não é meu namorado.
— Se você diz, a foto que eu vi de vocês se atracando em um resort
diz o contrário.
Foto? Como assim foto?
— Do que você está falando? — murmurei, amaldiçoando
internamente. Como não pensei nisso? Claro que teriam paparazzis tentando
conseguir qualquer notícia importante sobre esse maldito casamento.
— Isso não importa. Mas eu sabia que aquele biquíni causaria um
bom efeito. — E eu conseguia ver seu sorriso presunçoso do outro lado da
linha.
— Maldição. Onde foi que colocou todas as peças que eu comprei?
Preciso dormir e não estou encontrando nada — falei me levantando,
olhando novamente para dentro da gaveta. Não havia nada remotamente
decente que eu pudesse usar.
— Bruna, o jantar chegou. — A voz de Anthony soou dentro do
quarto, e um arrepio percorreu minha espinha com o simples fato de ouvi-la
abafada pela porta.
— Acho que tem alguém te esperando, me liga depois. Te amo. — E
antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Amanda desligou o telefone na
minha cara. Desgraçada. Encarei mais uma vez minhas roupas e desisti. Me
apossei de uma camisa e uma cueca boxer de Anthony, já seria a única coisa
confortável e decente que encontraria para poder dormir.
Quando sai do closet, observei com atenção a pequena mesa posta no
quarto, com duas cadeiras posicionadas uma de frente para a outra e em seu
centro, um castiçal com três velas brancas e um isqueiro descansando ao
lado. Isso parecia um encontro, bem, um encontro dentro de um quarto.
— É adorável e algo cheira bem. — Era verdade. Me concentrei
tanto no nosso jantar que quase perdi Anthony parado me encarando com
uma sobrancelha levantada e um pequeno sorriso no rosto. — O que foi,
caro capo?[26] — resmunguei ao ocupar uma das duas cadeiras forradas pelo
que parecia ser camurça.
— Sua interessante escolha de roupas para dormir. Mi è piaciutto[27]
— falou ao colocar uma garrafa de vinho na mesa com duas taças.
— Amanda — resmunguei, sentindo minhas bochechas aquecerem.
— O que teremos?
— Sushi — falou simplesmente e somente com a menção, senti
minha boca salivar intensamente. Ele deslizou alguns pratos sobre a mesa
com diversos tipos de sushis, aumentando o sorriso no meu rosto.
— Acredito que eu tenha acertado na escolha do jantar?
— Você sabe que sim. Espero que sua mãe não tenha ficado chateada
por jantarmos no quarto e não na sala com todos — falei quando ele ocupou
a cadeira vazia à minha frente.
— Ela sabe que estamos cansados, Bruna, você non precisa se
preocupar com isso. Foi um longo dia. — Um sorriso cresceu em meus
lábios ao lembrar do dia e dos momentos que tivemos juntos.
— Sim, foi um longo dia, querido chefe. O que há para a sobremesa?
Ele riu e serviu o vinho. — Você terá que esperar para ver.
Eu queria que ele fosse minha sobremesa, mas, felizmente, consegui
manter meus pensamentos em minha mente.
Ou você poderia ser a dele. Seria ainda melhor.
Anthony serviu a nós dois e eu não pude deixar de ficar
impressionada com suas habilidades organizacionais, comentando isso em
voz alta, ao qual o desgraçado apenas respondeu com um:
— Sono sempre preparato.[28]
Aposto que isso significa que ele tem preservativos. Droga! Cale a
boca! Eu não vou dormir com ele. Você continua dizendo isso. Quem você
quer convencer? Vamos ver o que acontecerá quando ele colocar aquelas
mãos em você de novo. Então você estará aconchegada em torno dele como
um rótulo de vinho ao redor da garrafa. Elas seriam ótimas se movendo
sobre a sua pele...
— Eu não vou dormir com ele! — Oh merda, eu acabei de dizer isso
em voz alta. Os hashis de Anthony fizeram um barulho alto ao atingirem o
prato quando caíram de sua mão, seu olhar voltando para me encarar
intensamente.
— O quê?
Porra! O que eu faço? O que eu digo?
— Lucca, eu não estou dormindo com Lucca. Eu sei que ele contou
sobre quando saímos algumas vezes. Mas eu não faria isso, só para você
saber.
Ele olhou para mim por um minuto antes de pegar novamente os
hashis e praticamente espetar o sushi com raiva. Eu jurei que o ouvi
murmurar algo como não sou egoísta, porém, não deve ter passado de uma
alucinação minha.
— Eu, uh, nunca pensei que você estivesse.
Ele empurrou uma peça na boca e mastigou. Comemos em silêncio,
tentando nos recuperarmos da diarreia verbal acidental. Peguei mais um e o
coloquei na boca, soltando um gemido baixo de prazer quando o sabor
explodiu na minha língua. Fechei os olhos e mastiguei com reverência por
um longo momento antes de engolir. Quando os abri, encontrei os olhos de
Anthony encarando atentamente meu rosto.
— Hum, o quê? — Então, eu acabei de praticamente ter um orgasmo
gastronômico em sua mesa de jantar. O que havia de errado com isso?
— Eu nunca vi ninguém… — Fez uma pausa como se procurasse o
termo correto — apreciar tanto a comida como você.
Aquele foi o fim. Pousei os hashis no prato e me levantei da mesa.
— Eu deveria saber que isso nunca ia dar certo — falei, incapaz de encarar
seus olhos, mas sua mão disparou para agarrar a minha, impedindo que eu
me afastasse.
— Bruna, per favore.
— De que adianta tudo isso, se no final eu serei demitida? —
perguntei, com um gosto amargo em minha boca.
— Eu nunca demitiria você, sabe disso — respondeu sério, seus
olhos perfurando os meus, mas isso não impediu que eu puxasse minha mão
da sua e me afastasse.
— Anthony, nós dois somos adultos. Não adianta querer mentir a
essa altura do campeonato. Sabemos que nunca poderemos voltar a sermos o
que éramos antes, não depois de hoje. Nós fomos muito além de um simples
teatro. Agimos possessivamente um sobre o outro mais de uma vez sem
necessidade. Você me beijou antes de voltarmos para a mansão sem
ninguém por perto para justificar. Eu não te culpo, já que correspondi, mas
só de pensar nisso… e estamos no primeiro dia!
Despejei boa parte das minhas dúvidas em seus ombros, e antes que
pudesse continuar, senti fortes mãos agarrarem minha cintura. Ele me girou,
grudando sua boca com a minha, efetivamente me fazendo ficar em silêncio.
Seus lábios se moveram possessivamente sobre os meus, enquanto
uma mão apertava a carne do meu quadril quase que dolorosamente, a outra
massageando meu couro cabeludo. Quando o ar se fez necessário, ele se
afastou o suficiente para me encarar com firmeza.
— Sì, Bruna, nós somos adultos e quando chegar o momento para
lidarmos com isso, nos sentaremos e resolveremos. Mas nem no inferno eu
deixarei esses questionamentos atrapalharem nosso jantar ou os próximos
três dias que terei com você aqui — ele falou, sua respiração tão acelerada
quanto a minha. Permaneci alguns minutos calada, processando suas
palavras.
— Então você quer dizer que... — Não consegui completar o
pensamento, parecia irreal demais. — Você queria isso também?
— Pare de pensar tanto, e vamos apenas jantar. Per favore? —
Anthony pediu, tentando me puxar de volta para a mesa, mas permaneci
onde estava. Vi quando ele fechou os olhos e massageou as têmporas. Ele
estava impaciente.
— Sì, Bruna, eu a beijei porque quis e non porque alguém estava
olhando. Eu queria te beijar há muito tempo. Você é diferente de todas as
ragazze que já conheci. É esperta, sarcástica, eficiente e fodidamente linda.
Eu nunca sei exatamente o que você está pensando ou o que vai fazer, e eu
gosto disso em você. Estou interessado em você há mais tempo do que eu
mesmo sou capaz de admitir. Então apenas, vamos jantar?
Ele gosta de mim, ele realmente gosta de mim.
Anthony Lombardi Mancini tem que ter algum defeito. Sério, isso é
completamente ridículo. Mas, cavalo dado não se olha os dentes.
— Você é estranho — eu disse a ele me sentando e pegando mais um
sushi, evitando os gemidos dessa vez.
— Eu sou estranho? — Seus olhos brilharam em desafio enquanto
ocupava a cadeira vazia, de frente para mim. — Acho que estabelecemos
que você é a estranha aqui.
— Sim, mas você me quer por perto, não só como sua assistente.
Então isso o torna estranho também — rebati logicamente.
— Você tem um ponto. Um brinde a dois estranhos jantando em um
quarto de uma mansão na Austrália.
Levantei a minha taça e a brindei com a sua. Após a pequena DR, o
jantar transcorreu mais leve, e acabamos entrando em assuntos da empresa.
— Eu tenho que admitir: eu te odiava nos primeiros meses. Uma
parte de mim ainda te odeia até hoje — falei com um sorriso inocente
enquanto ele se sentava ao meu lado na cama para dividirmos um Petit
Gateau.
Ele cavou um pouco de bolo e sorvete e o levou até meus lábios.
Abri e o deixei me alimentar com a sobremesa pegajosa. Mais uma vez
meus olhos se fecharam, e eu impedi que o gemido escapasse no último
segundo. Lambi os lábios para limpar os resquícios e abri meus olhos,
encontrando seu rosto próximo ao meu.
— Sexy — murmurou.
Estendi a mão e toquei a sua, pegando a colher e repetindo seu
movimento, levando-a até seus lábios lentamente, observando-o com
atenção renovada. Ele estava certo, era criminosamente sexy. Senti o calor
se espalhar por todo o meu corpo e eu queria muito ignorar tudo e jogar toda
a minha cautela pela janela e simplesmente dormir com esse homem. Eu
lamentaria não ter passado de alguns beijos se ele decidisse acabar com toda
aquela encenação.
Anthony pegou a colher novamente e me alimentou e desta vez,
deixei escapar um gemido, mais com a ideia de dormir com ele do que com
o chocolate em si. Suas íris se tornaram mais escuras, quase negras, quando
ele se inclinou e me beijou novamente, sua língua buscando passagem em
minha boca, a sobremesa completamente esquecida, seus braços circulando
minha cintura e me puxando para seu colo.
Eu estava errada... este foi o melhor beijo de todos. Ele tinha gosto
de chocolate e baunilha, carregado com algo mais sensual, um toque que
deveria pertencer somente a ele. Fosse o que fosse, era celestial.
Deslizei meus braços ao redor de seu pescoço e deixei que minhas
mãos mergulhassem em seu cabelo grosso e escuro. Sua língua se moveu
contra a minha habilidosamente, com a quantidade certa de pressão,
enquanto as mãos subiam e desciam por minhas coxas, provocando arrepios
na minha espinha.
Um desejo intenso cresceu dentro de mim e automaticamente rebolei
em seu colo, o que fez com que ele soltasse um grunhido e subisse as mãos
até minha cintura, apertando com firmeza.
Relutantemente, me afastei, buscando em algum lugar dentro de
mim a coragem para parar. Não podíamos apressar as coisas e eu sabia
disso.
— Acho melhor arrumarmos a bagunça que fizemos — falei com os
olhos fechados, internamente pedindo para que ele não ficasse chateado com
a interrupção, porém, senti um beijo casto em meus lábios, rápido e suave.
— Acredito que esteja certa — concordou compreensivo, ainda
passando a mão na lateral do meu corpo, cuidadosamente me ajudando a
levantar do seu colo.
Capitulo 11
Bruna
Antes mesmo de abrir os olhos, um largo sorriso se estendeu por
meus lábios. Anthony praticamente se declarou para mim na noite anterior,
o que foi algo além dos meus sonhos. Lentamente me virei e percebi que
estava sozinha na cama. Sentei-me, me sentindo um pouco frustrada até que
olhei a hora e praguejei baixinho. Droga, perdi mais uma refeição com a
família dele. Já passavam das 10h.
Levantei calmamente e vi um bilhete sobre a mesa de cabeceira com
sua assinatura.
'Não quis acordá-la. Espero que a noite passada tenha sido tão boa
para você quanto foi para mim. Assim que acordar, esperarei você para o
desjejum. Precisa se manter saudável e forte. Eu irei precisar que esteja no
seu melhor. Em breve.'
Inesperadamente, a temperatura do quarto aumentou. Em breve?
Certamente. Como eu poderia resistir a ele, quando acordava com recados
bonitos e sugestivos como aquele? Que mulher conseguiria resistir? Ela
certamente teria que ser mais forte do que eu.
Levantei-me da cama com um sorriso estúpido nos lábios e fiz
minha higiene pessoal. Depois de estar perfeitamente pronta, abri as portas
francesas do quarto para ventilá-lo, e qual não foi minha surpresa ao ver
Alice conversando com Anthony no jardim da mansão. Percebi quando ela
passou a ponta de seus dedos em seus cabelos, ficando na ponta dos pés.
Fechei os olhos e dei as costas para a cena, me afastando.
Me joguei na cama e enterrei a cabeça em minhas mãos. Acalme
essa porra, Bruna. Ele te deixou um bilhete doce e sexy. Agora você está
aqui, tirando conclusões precipitadas. Não se faça de idiota e não comece a
presumir coisas. Tudo bem, nós passamos a noite toda conversando e eu
obviamente não tinha motivos para estar com ciúmes. Mesmo que ela seja
uma ex supermodelo e ex-namorada, sendo ela que pôs fim a relação dos
dois, não ele.
Respirei profundamente e tentei me acalmar. Eu estava exagerando.
Eles estavam apenas conversando e o motivo dessa viagem era justamente
por causa do casamento dela, eu não tinha por que me preocupar. Porém,
não podia evitar. Eu acabei de passar de assistente pessoal para algo mais e
eu já poderia perdê-lo. Talvez eu deveria ter simplesmente dormido com ele
quando tive a oportunidade. Então, pelo menos, eu saberia o que estava
perdendo, em vez de apenas imaginar.
Minhas ruminações foram interrompidas quando a porta se abriu e
ele entrou com uma carranca no rosto, como se não houvesse conseguido
um contrato que trabalhou muito para ter. Talvez fosse isso. Ele queria ter
sua relação restabelecida e ela não o queria de volta.
Quando Anthony percebeu que eu estava acordada, tentou me dar
um pequeno sorriso, que não alcançou seus olhos. Eu o conhecia bem o
suficiente para saber que algo o havia deixado com raiva.
— Ei, principessa, dormiu bem? Quer descer para tomarmos café da
manhã?
Principessa, há! Princesa era a mulher que estava conversando com
você. Sou, no máximo, arrumadinha.
— Estou sem fome. — As palavras foram curtas, frias. Eu não
consegui me conter.
— Você non parece muito bem. O que aconteceu?
Deveria perguntar? Não questionar e agir como uma mulher adulta e
madura? Antes que eu continuasse a divagar sobre isso, decidi colocar para
fora de uma vez:
— Eu vi uma coisa que me deixou um pouco confusa — falei me
levantando e cruzando meus braços.
— O que você viu?
— Você e Alice no jardim conversando. — Eu soltei e vi quando sua
expressão mudou, ficando em silêncio. — Escute, se você ainda sente
alguma coisa por ela, tudo o que tem que fazer é me dizer. Eu vou me
afastar, vamos continuar apenas fingindo, afinal o casamento é amanhã, ou
não, já que vocês pretendem voltar. Seria humilhante para o seu primo, mas
foi ele quem se envolveu com a sua ex. Sou madura o suficiente para voltar
a nossa vida de chefe e assistente. Nenhum dano, nenhum engano. Não é
como se estivéssemos namorando, ou qualquer coisa do tipo. — As palavras
saíram como uma enxurrada da minha boca e mantive o tom frio. Eu não
acreditava em nada do que disse, mas esperava profundamente que ele
acreditasse.
— Espere, o quê? — Ótimo momento para fazer o papel de
desentendido. Boa jogada, Mancini.
— Eu vi quando ela passou a mão por seu cabelo e ficou na ponta
dos pés, se aproximando de você. Presumo que depois que você a viu
novamente, reacendeu algo que existia entre vocês. Eu entendo. Eu não
jogarei isso contra você. Ela é uma mulher linda. Noiva do seu primo, mas
continua sendo uma mulher linda, modelo, ruiva, alta.
Anthony riu e senti como se meu coração estivesse sendo esmagado
e quebrado em milhões de pedaços. Ele nem mesmo esperou o rompimento
do noivado para tê-la em seus braços e juntos rirem da estúpida assistente
que ousou acreditar que Anthony Mancini a desejaria.
— Bruna, io non voltaria com Alice nem se ela fosse a última
ragazza na terra. E eu definitivamente non voltarei com ela quando eu tenho
alguém muito melhor ao meu lado — ele falou enquanto se aproximava,
agarrando minha cintura com ambas as mãos, o que fez com que meu corpo
automaticamente reagisse ao seu e amolecesse com suas palavras.
— Para uma ragazza incrivelmente inteligente, você é um pouco
lenta às vezes, querida. Ela ficou, sì, na ponta dos pés e se aproximou, e eu a
afastei logo em seguida. Você non viu isso? Alice se colocou no meu
caminho e tentou se aproximar, achando que ainda tinha algum efeito em
mim — continuou, uma careta de desgosto transformando seu rosto bonito
em uma carranca.
— E ela ainda tem?
Ele riu novamente. — Bruna, o único efeito que ela tem sobre mim é
o de me causar ânsia. Eu estou com você e mais ninguém. Meus banhos
frios podem atestar isso.
Então, sim, eu sou uma tola que estava exagerando. Mas quem não
estaria fazendo o mesmo no meu lugar? Afinal, após um ano de desejo
reprimido, nós tínhamos acabado de sair de um namoro de mentira para
algum tipo de relacionamento em um espaço de um dia.
— Você e os dedos de Anthony... quando vai fazê-los conhecerem
você profundamente? — Amanda perguntou enquanto eu tentava rever
alguns contratos e organizar a agenda de Anthony para quando voltássemos
da viagem. Porém, aquela pergunta foi o suficiente para eu começar a me
abanar, já que repentinamente meu corpo resolveu suar intensamente,
apenas com o pensamento de seus dedos se movendo sobre a minha pele,
deslizando por minha barriga até encontrar minha calcinha e... Puta merda.
— Já disse, conversamos e decidimos que não estamos com pressa.
Quando for o momento, saberemos — murmurei, porque soava ridículo aos
meus ouvidos agora e eu sabia que Amanda iria...
— Bruna, vocês decidiram que querem ir devagar? Ou você acredita
que esse é o melhor caminho para se proteger? — questionou incrédula. —
O que diabos tem de errado com vocês dois? Olha, eu sei que você ficou
insegura depois do seu último namorado, mas uma mulher tem necessidades
que até uma virgem como você deve ter. Essas que incluem ter aquelas mãos
e boca sobre cada parte do seu corpo assim que seja humanamente possível.
— Eu conseguia ouvir a indignação em sua voz e quase podia imaginar sua
expressão frustrada.
— Não quero pular na cama rápido demais e estragar tudo. Eu
realmente não sei o que fazer.
— Vocês estiveram rodando ao redor do outro por meses, e
finalmente criaram coragem suficiente para assumir o que sentem, Bruna.
Não é como se esses sentimentos fossem recentes e todos sabem disso.
— Mesmo assim, se me entregar de uma vez, tenho medo de que ele
pense o pior de mim, ou posso esperar e acabar perdendo-o. — Fazia
sentido esperar, principalmente quando ele não estava me beijando, me
tocando ou no mesmo cômodo que eu.
— Eu sei que tudo isso é recente e pode estar assustando você, Bru.
Eu realmente entendo, sério. Mas às vezes você precisa aprender a confiar
um pouco mais em seus instintos e apenas seguir o que o seu coração quer.
Sei que não é o que faria normalmente, você sempre anda na linha e não se
afasta dela, mas você não pode se fechar totalmente por causa de um
relacionamento que deu errado. Ou senão o amor pode passar por você.
Você quer o Anthony, não é?
Como se isso fosse mesmo uma pergunta.
— Claro que sim.
— Bem, e se você tropeçar, bater a cabeça e morrer? Nunca tendo
tido a chance de sentir aqueles dedos longos e toda a mágica que eles
poderiam trazer? E então?
— Então eu seria uma mulher morta e irritada.
Deixei o notebook totalmente de lado e me deitei na cama quando
ouvi sua risada do outro lado da linha.
— Bem, você sendo você, acabará pensando demais na situação
sobre tropeçar e morrer, mas esqueça isso, por enquanto. O ponto é que você
não pode deixar o passado definir seu futuro. Ele é bom para você e eu sei
disso apenas pela maneira que seu rosto se ilumina quando fala sobre ele
quando volta do trabalho, e se ele falou tudo o que me disse, você também é
boa para ele. A situação de vocês estarem no casamento da ex dele é uma
merda, mas só dura até amanhã à noite.
— Eu amo você, A.
— Eu também te amo. Agora pare de trabalhar, que eu sei que é isso
que você está fazendo, e vá atrás do seu homem. Beijos. — Com isso ela
desligou a chamada e me senti confiante o suficiente para enfrentar aquelas
pessoas e ir atrás do meu homem.
Anthony
Deixei meu corpo cair na cadeira e joguei minha cabeça para trás
com um suspiro, tentando relaxar meus músculos sobrecarregados. Sentia
que cada mínima parte de mim doía, o que apenas me fez lembrar quanto
tempo havia se passado desde que joguei futebol americano pela última vez.
Rolei meu ombro direito, sentindo uma curta pontada de dor com o
movimento.
Porque diabos aceitamos trocar vôlei por futebol americano estava
além de mim. Obviamente, a ideia tinha vindo de Matheus, e isso deveria ter
sido mais do que o suficiente para todos recusarem a proposta.
Ouvi um resmungo ao meu lado, o que fez com que eu abrisse os
olhos e acabasse sorrindo para a figura de Lucca tentando se sentar com
cuidado, sua careta de dor relaxando levemente quando ele se acomodou e
pressionou uma bolsa de gelo em sua virilha.
— Você sempre diz que eu sou um homem frio, mas cazzo se esse
homem agora non é você.
Ele me encarou aborrecido e deu um soco no meu braço direito. —
Merda, Lucca, meu ombro está doendo!
— Então non faça piadas com meu pau frio. A culpa é sua, suo
imbecille[29].
Olhei-o interrogativamente.
— E como, exatamente, é minha culpa você torcer seu pau? Eu non
estive remotamente perto dessa área do seu corpo, e nem pretendo, non
importa o quanto tuo implore por isso, fratello.
— Maldição, non me faça rir. Meu pau dói.
— Você ainda non me disse por que a culpa é minha. Você distendeu
a virilha no jogo. Está tão enferrujado quanto eu.
Ele revirou os olhos, ajustando a bolsa — Enferrujado? Você fez o
passe errado.
— Errado minha bunda. Você estava atrasado. Isso non é culpa
minha.
— Claro que a culpa é sua! Você deveria ter segurado a bola por
mais tempo, então nada disso teria acontecido.
— Oh, me desculpe, eu pensei em me livrar da bola antes que
Matheus enterrasse minha bunda no gramado — rebati sarcasticamente. —
Você o conhece o suficiente para saber que ele faria isso com um sorriso
doentio no rosto.
— Frocio[30].
— Pau quebrado.
Bruna e Matheus surgiram em nossas vistas, ambos rindo alto de
algo, enquanto Felipe mancava com uma expressão de dor no rosto.
— Ei, senhor Non Excitado Tão Cedo, como está indo? Acha que
vai precisar colocar um gesso?
Lucca pegou a bolsa de gelo e jogou em Matheus, que apenas riu ao
desviar do ataque. — Foda-se, Matheus. A culpa também é sua. E non, io
non preciso de gesso.
— É uma pena, isso provavelmente daria uma circunferência real.
Você poderia ter metade do meu tamanho então.
— Pare de verificar meu pau. Você deveria ser gay para ele — Lucca
apontou para mim, mal-humorado.
— Aparentemente ele está seguindo em frente, meu coração está
totalmente quebrado agora — falei, sarcasmo pingando em meu tom.
Matheus lambeu seus lábios para mim.
— No se preocupe, garoto bonito, eu nunca o substituirei. — Fiz
uma careta de dor quando tentei acertá-lo e errei miseravelmente.
— Eu ainda non acredito que aceitei essa ideia estúpida. Como meu
joelho estará recuperado em dois dias? — Felipe questionou, sentando-se
cuidadosamente em uma cadeira, mantendo a perna esquerda esticada. —
Você me paga por isso, Lucca.
— Non esqueça que eu fui o mais prejudicado aqui!
— Você quer uma massagem?— Bruna perguntou baixinho ao meu
lado, se referindo ao meu braço, os olhos presos nos dois patetas que
continuavam a discutir.
— Por favor — eu disse com a voz macia e sexy, que eu sabia que a
deixava vermelha e excitada. Ela se moveu rapidamente para trás de mim e
colocou as mãos nos meus ombros. Todo o meu corpo tensionou sob seu
toque e meu pau estremeceu com esse contato.
— A culpa foi sua — Bruna falou para que todos ouvissem. Abri
meus olhos sem entender, as mãos permanecendo em meus ombros,
pressionando os pontos certos com força calculada. Ela começou a esfregar
um local específico que me fez gemer com o quão fodidamente bom era tê-
la me tocando. — O passe, você estava adiantado e não Lucca atrasado. —
A pequena traidora riu da expressão vitoriosa no rosto de mio fratello.
— Eu disse. — Ele se remexeu na cadeira, resmungando ao sentir
sua virilha doer pelo movimento.
Fechei meus olhos e aproveitei a deliciosa massagem que estava
recebendo. Parecia que haviam se passado anos, ao invés de horas, desde
que minhas mãos estavam sobre ela. Meus dedos praticamente formigavam
com a necessidade inquietante de tocá-la.
— Non sabia que você entendia de futebol americano, mas como sua
massagem é incrível, non irei questionar seu ponto. — Deixei minha cabeça
cair para frente e apreciei a sensação das suas mãos se movendo sobre os
meus ombros e costas, um gemido involuntário escapando dos meus lábios
quando as mãos dela desceram pela extensão dos meus braços.
— Eu sempre estou certa, senhor Mancini. Já se esqueceu disso?
— Jamais ousaria esquecer o quão fodidamente boa você é, em tudo.
— Vocês dois podem procurar um quarto, per favore? — Matheus
falou rindo e bateu no meu joelho, fazendo Bruna rir, sem interromper a
massagem, imperturbável. Ela já estava familiarizada com o idiota.
— Ninos, vão tomar banho e se trocar. Vamos fazer um churrasco
para o almoço — minha mamma gritou da entrada da porta. — Irei precisar
da ajuda de um de vocês com a carne.
— Eu ajudo, mamma! — Matheus gritou, um sorriso de merda no
rosto. — Sue altre figli[31] estão impossibilitados no momento.
— Ela non é sua mamma, seu bastardo — Lucca resmungou.
— Crianças! — mamma advertiu, fazendo os dois se calarem diante
do seu olhar para desaparecer pela porta.
— Consegue ir sozinho ou quer uma mãozinha? — Matheus
perguntou para mio fratello, balançando a sobrancelha sugestivamente.
— Non ouse encostar um dedo em mim, seu maluco. Vou tomar
banho no banheiro de baixo — resmungou e saiu lentamente para dentro de
casa, Matheus ajudando Felipe ao seu lado, provavelmente criando apelidos
para os dois.
Finalmente sozinho com Bruna, agarrei uma delicada mão que ainda
estava em meu ombro e a puxei para o meu colo, meus lábios a um
centímetro dos seus.
— E você, senhorita Ferraz, deseja algo? — Estendi a mão em
direção a ela e passei meu polegar ao longo de sua mandíbula. Depois de
toda uma manhã separados, minhas mãos gananciosas estavam sobre ela e,
mais do que nunca, tudo o que eu desejava era levá-la para o quarto e fodê-
la com força pelo resto do dia. Porém, levaríamos as coisas devagar, como
combinamos na noite anterior.
Eu a toquei levemente, observando os arrepios em sua pele macia e
sedosa. Ela virou a cabeça e chupou meu polegar em sua boca, passando a
língua exatamente como faria se estivesse chupando meu pau e gemi em
resposta, pressionando-a contra meu corpo para que sentisse o efeito que
tinha sobre mim.
Bruna sugou com mais força quando eu o puxei quase que
completamente para fora de sua boca, deslizando-o novamente para dentro.
Meu corpo parecia em chamas com o gesto e meus olhos se fecharam. Sabia
que assim como eu, ela estava imaginando o meu pau ali.
Beijei sua bochecha, trilhando um caminho ao longo da linha da
mandíbula até o lóbulo de sua orelha. Mordi o pequeno pedaço de pele ali,
apertando-o de modo que um gemido fosse arrancado de seus lábios.
— Você non me respondeu — sussurrei com a boca colada em seu
ouvido, sentindo-a tremer contra mim em resposta. — Você deseja algo de
mim, querida?
Ela soltou meu polegar e jogou a cabeça para trás, completamente
rendida. — Você, eu desejo você.
Segurei com força sua cintura, ajudando-a a se colocar em pé. Olhei
para meu estado e eu non poderia desfilar pela casa naquela condição. Bruna
soltou uma risada baixa ao ver como meu pau estava e colocou seu corpo na
frente do meu, e fomos em direção a casa, minhas orações para evitarmos
qualquer alma viva até chegarmos ao quarto sendo completamente
ignoradas por qualquer entidade.
Antes que chegássemos as escadas, nos deparamos com Alice e
Selena. Ao olhar para a ruiva, uma careta se formou em meu rosto e senti
minha excitação desaparecer como mágica.
— Senhor Mancini — Selena cumprimentou envergonhada,
certamente lembrando do episódio da invasão. Alice permaneceu parada,
intercalando olhares entre Bruna e eu.
— Vamos, amore mio. Pretendo terminar o que comecei lá fora —
falei com a voz carregada de promessas de sexo, e percebi que Bruna ficou
vermelha com o comentário, deixando-me guiá-la até nosso quarto.
Dentro do cômodo, ela tentou se afastar. Fechei a porta e puxei sua
mão, pressionando-a contra mim e impedindo-a de sair. Aquilo foi o
suficiente para que atacasse meus lábios, o que me fez gemer e empurrar
contra ela, empurrando suas costas contra a porta mais forte do que
pretendia. Bruna claramente non se importou, já que moveu seu corpo
contra o meu em um convite aberto para que eu continuasse.
Minha mão foi para a alça de seu vestido, e a deslizei delicadamente
por seu ombro, repetindo o processo com a outra. Non pretendia fodê-la
contra a porta. Ela merecia mais do que isso em sua primeira vez, porém,
nada nos impedia de brincarmos um pouco.
Agradeci aos céus por ter lavado as mãos e rosto depois do jogo,
deixando-me minimamente limpo. Assim io non precisava interromper
aquele momento que fantasiei por tanto tempo. Agarrei seus seios,
arrastando meus polegares sobre seus mamilos enquanto suas mãos
deslizavam por meu cabelo, puxando-o sem delicadeza, incitando-me a
beijá-la com mais força.
Habilmente abri o seu sutiã com uma mão e puxei a peça que agora
parecia ofensiva para fora do caminho, retornando para os seios agora livres,
me deleitando com a sensação deles em minhas mãos. Arrastei os lábios por
seu pescoço, beijando e mordiscando o caminho para baixo, em direção aos
seios gloriosos.
Tomei seu mamilo direito em minha boca, batendo nele com a língua
enquanto eu usava os dedos no esquerdo. Bruna gemeu suavemente,
murmurando em aprovação quando suas mãos seguraram minha cabeça
contra o peito, mantendo-me exatamente onde ela queria.
Eu me movi e passei minha atenção ao mamilo esquerdo, brincando
com o direito. Minha outra mão foi para debaixo de seu vestido e eu quase
gemi com o quão molhada ela estava quando escovei meu polegar sobre o
clitóris coberto pelo tecido de sua calcinha. Bruna gemeu alto daquela vez.
Eu ri levemente e continuei a girar minha língua sobre o seu mamilo
enquanto aumentava a pressão da minha mão naquele ponto.
Continuei intercalando entre seus seios enquanto meu dedo fazia a
pressão necessária em seu sexo, até que senti quando seu corpo tensionou e
acelerei o ritmo. Bruna jogou sua cabeça para trás, e percebi o momento
exato em que atingiu o clímax.
Eu me afastei, a agarrando quando suas pernas foram incapazes de
sustentar completamente seu peso.
Será que fui longe demais?
— Bruna? Você está bem?
— Eu sempre soube que seus dedos eram maravilhosos —
murmurou, e eu sorri.
Essa era a minha ragazza.
Capitulo 12
Anthony
— Vai ser realmente uma grande festa. — Ouvi Bruna murmurar e
levantei meus olhos do notebook, observando-a parada diante das portas
francesas, vendo a ornamentação no jardim ridiculamente grande. Já era
noite e as pessoas responsáveis pela organização do casamento partiram,
restando apenas o silêncio.
— Na verdade, non tão grande. Foram chamados apenas trezentos
convidados. Mas isso non está impedindo Alice de gastar uma fortuna.
— Trezentos convidados? — Bruna olhou para mim como se uma
segunda cabeça houvesse crescido em meu pescoço. — Diabos, Anthony,
mais de trezentas pessoas, incluindo repórteres e jornalistas, vão pensar que
estamos namorando.
— Ainda non entendi o problema, Bruna.
— O que você pretende fazer quando voltarmos?
Encarei os olhos escuros e estendi minha mão, para que ela viesse
até mim e se sentasse em meu colo. Cheirei seus cabelos, circulando sua
cintura com meus braços. Droga, apenas sua aproximação colocava meu
corpo praticamente em chamas.
— Non pretendo fazer nada. Foda-se o que eles pensam, Bruna. O
mundo todo pode ver que você è la mia ragazza[32].
Seu corpo enrijeceu quase que automaticamente após minhas
palavras e encarei seu rosto em busca de respostas.
— Anthony, o que eu sou para você? Não me lembro de nenhum
pedido de namoro ou qualquer coisa do tipo. Fizemos um contrato de quatro
dias.
Passei minhas mãos pela lateral de seu corpo, levando meus lábios
até seu pescoço, distribuindo beijos molhados naquela região. Dei um
sorriso presunçoso quando ela se remexeu em meu colo, soltando um
gemido baixo ao perceber o quão duro eu estava.
Passei sua perna esquerda por mim, colocando-a com uma perna de
cada lado do meu quadril, de frente para mim. Levei minhas mãos para sua
bunda redonda, pressionando-a contra meu pau, enquanto meus lábios
devoravam os dela sofregamente. Bruna emitiu pequenos ruídos sexy
enquanto as delicadas mãos foram para o meu cabelo, puxando-me para
mais perto.
Eu gemi quando ela timidamente começou a rebolar em meu colo.
Segurei seus quadris e coordenei seus movimentos, aumentando a sensação
de prazer para nós. Fechei meus olhos, usando todo o meu autocontrole para
simplesmente non arrancar suas roupas e fodê-la naquela posição, enquanto
ela praticamente cavalgava em mim. Apenas aquele pensamento me fez
ficar ainda mais duro.
Me afastei de seus lábios e encarei seus olhos. Bruna olhou para
mim com incerteza em seu rosto, então eu passei meus braços em torno de
sua cintura novamente e dei-lhe o que eu esperava que fosse um beijo
reconfortante. Eu non a apressaria em relação ao sexo. Non tinha planos de
deixá-la ir para longe do meu alcance depois desse casamento. Então dei um
sorriso confiante.
— Você non é um brinquedo que eu quero usar e depois jogar fora,
se é o que está querendo saber. E quanto ao pedido de namoro, Bruna, nós
estamos dormindo no mesmo quarto há três dias e toda a minha família e
amigos a conhecem como minha namorada. Quer algo mais formal que
isso? — perguntei levantando uma sobrancelha.
— Isso quer dizer que estamos namorado?
— Chame do que quiser. Mas se for fazê-la se sentir melhor, sì,
estamos namorando.
Percebi que seu rosto adquiriu um lindo tom de vermelho, e ela
avançou para me beijar novamente. Eu sentia meu autocontrole escorrer
entre meus dedos.
Assim fica difícil resistir, Bruna.
— Você quer beber alguma coisa? — questionei, tentando distrair
minha mente da perversão.
Seu cenho franziu por um momento e eu me perguntei o que se
passava em sua mente. — Hum, acho que sim? — Non era realmente uma
resposta, mas eu a entendi, de qualquer maneira. Além disso, eu também
precisava de uma bebida, qualquer coisa para acalmar meus nervos e distrair
minha mente do seu delicioso corpo em meu colo.
A levantei delicadamente para que eu fosse até o frigobar e peguei
uma cerveja para cada um de nós, abrindo-as. Entreguei uma a ela, que
aceitou de bom grado, sem desviar o olhar do meu, levando-a até os lábios.
Eu lambi os meus enquanto observava aqueles lábios perfeitos
envolverem a boca da garrafa, inclinando para sorver um longo gole. Eu me
remexi e tentei ajustar sem ser óbvio demais sobre isso. A ragazza podia me
deixar duro apenas tomando uma bebida.
Diavolo[33], como eu fui ficar tão fodidamente enrolado nas mãos
dela?
— Você quer, talvez assistir um filme? — Jesus, eu parecia um
adolescente em seu primeiro encontro.
Que cazzo há de errado comigo?
— Você está com humor para que tipo de filme? — perguntei ao
pegar o notebook, correndo os olhos pela tela sem saber que filme escolher.
— Pornô.
Bem, eu tinha alguns desses, mas... o que diabos ela acabou de
dizer?
Eu virei minha cabeça tão rápido em sua direção que non sei como
meu pescoço non se partiu, vendo-a sentada na cama, suas pernas dobradas
sob ela e o cabelo caindo sobre seu rosto enquanto ela olhava para o chão,
como se ele detivesse todas as respostas para todos os mistérios da vida.
— Bruna?
— O quê? — perguntou, mantendo o olhar fixo naquele ponto do
carpete.
Hmm, como eu traria isso à tona?
— Você disse pornô?
Tudo bem, acho que isso non foi muito delicado, mas... ela disse que
queria assistir pornô. Eu realmente ainda non havia processado essa
informação. Eu já sabia que ela era incrível, mas dizer a um cara que ela
queria assistir um filme pornô meio que a empurrou um nível acima, ou dez
além disso.
Bruna se deitou na cama e colocou o travesseiro sobre o rosto,
dizendo algo incompreensível, abafado pelo tecido da fronha.
— O quê?
Ela afastou o travesseiro o suficiente para me encarar com um olho,
mantendo o outro coberto. — Sim, eu disse isso, mas eu não quis dizer isso.
Bem, isso non fazia nenhum sentido. Eu continuei a encarando
quando ela derramou as palavras sobre mim, daquela maneira única que era
sua marca registrada.
— Odeio como aqui eu perco totalmente meu filtro e tudo o que eu
penso simplesmente acaba escapando por meus lábios — resmungou,
fechando o olho. — Você acabou de jogar no meu colo o fato de que, se eu
quiser, estamos namorado, quando estávamos praticando fazendo sexo em
uma cadeira, então parou do nada e me perguntou se eu queria tomar uma
bebida e assistir um filme. Eu fiquei confusa, e como se não fosse suficiente
você começou a se curvar dessa forma para pegar o notebook e sua bunda
fica incrível nesse moletom. Eu comecei a divagar, imaginando o dia que
nós faremos sexo. Bem, eu espero que a gente realmente faça isso, eu não
aguento mais toda essa tensão sexual entre nós, então eu disse pornô,
embora eu realmente não quisesse dizer isso.
Respondeu em um único fôlego e para a surpresa de ninguém,
continuou a falar:
— Mas se você quiser assistir um pornô, eu não serei contra, porque
isso seria além de quente, embora você seja mais quente e eu realmente não
tenho intenção de olhar para ninguém nu além de você. Inferno, eu não
posso acreditar que eu falei tudo isso. Acho melhor eu ir dar uma volta e
voltar quando você estiver dormindo, ou encontrar algum quarto vazio.
Bruna começou a se levantar e só então eu fui capaz de sair do meu
estado de torpor e ir em sua direção, segurando seu corpo e puxando-o
contra o meu, por mais que non encarasse meu rosto, ela também non estava
fugindo de mim, o que era uma vantagem. Eu normalmente odiaria se fosse
outra ragazza falando coisas do tipo, mas ela era adoravelmente linda
quando ficava envergonhada, por mais que non devesse se sentir assim ao
compartilhar qualquer coisa que passasse por sua cabeça comigo.
Peguei seu rosto entre minhas mãos e encarei seus olhos, sem
esperar por mais uma diarreia verbal eu a beijei, mais forte do que mais
cedo, e ela instantaneamente me correspondeu. Seu corpo pressionou contra
o meu e ela deixou escapar um gemido que engoli com meus lábios, antes
de permitir que a minha língua deslizasse em sua boca para encontrar a dela.
Desci minhas mãos ansiosas para sua bunda e a puxei contra mim,
pressionando-a contra a minha ereção, o que fez um novo gemido escapar
de seus lábios. Eu estava pronto naquele momento para fazê-la minha, mas
ela mereceria coisa bem melhor do que uma simples foda.
Me afastei e ri de seu olhar confuso e desapontado. Depositei um
beijo rápido em seu nariz antes de voltar a falar.
— Eu também quero fazer sexo com você, Bruna, mas no momento,
vou pegar o notebook.
Soltei sua cintura e suas pernas cederam, o que a fez sentar
novamente na cama e eu esperava que aquela reação fosse por causa do
beijo ou das minhas palavras.
Para aliviar um pouco o clima, fiz um pequeno show que arrancou
uma risada sua, enquanto eu me inclinava mais do que o necessário para
alcançar o notebook. Me virei e encarei seus olhos brilhantes enquanto ela
se acomodava de modo a me dar espaço na cama. Aconcheguei seu corpo
contra o meu, entre minhas pernas e posicionei o aparelho sobre a cama de
modo que ambos pudéssemos assistir ao filme selecionado.
'Velozes e Furiosos 5: Operação Rio.'
Io non tinha interesse nenhum no que passava na tela. Como poderia,
quando eu a tinha no meio das minhas pernas, meus braços ao seu redor,
depois de ouvi-la falar sobre querer fazer sexo comigo? Mesmo que me
esforçasse, minha mente voltava para a sensação de seu corpo colado ao
meu. Como sou humano, cedi a tentação e beijei seu pescoço, logo em
seguida indo em direção a sua orelha, mordiscando-a, enquanto minha mão
passeava despreocupadamente por sua cintura.
Bruna se moveu, inclinando a cabeça para que eu tivesse um acesso
melhor a sua clavícula e voltei minha atenção para aquela área, beijando e
mordiscando suavemente sua pele. Ela se remexeu e percebi que seus dedos
agarravam com força o lençol.
— Isso não é pornô — murmurou, com a respiração ofegante e eu ri
baixo contra a curva de seu pescoço.
— Non. Nós faremos o nosso próprio pornô. Eu também non quero
ver ninguém além de você nua. — Ela gemeu dessa vez, colocando sua mão
no meu joelho e apertou com força. — E, Bruna? — Movi meus lábios
sobre sua clavícula, movendo minha outra mão para que passeasse pelo vale
de seus seios.
Ela jogou a cabeça para trás, apoiando-a em meu ombro. — O quê?
Levantei minha cabeça e dei meu melhor sorriso.
— Podemos assistir um filme pornô em outra hora.
Arranquei uma nova onda de risadas, o que apreciei, já que seus
seios se moviam com o movimento de seu peito. Eu sentia minhas mãos
formigarem para tocá-los. Aquela sensação era completamente nova. Era
como se cada parte de mim quisesse desesperadamente senti-la.
— Espere um minuto. — Ela parou de rir e estreitou os olhos em
minha direção. — O que você quer dizer com: fazer nosso próprio pornô?
Mas nem no inferno eu vou deixar você nos filmar transando, Anthony.
A frase terminou uma oitava mais alta, contudo, quem ria agora era
eu. Como ela conseguiu segurar sua boca no trabalho por tanto tempo estava
além de mim.
— Eu quis dizer que eu estou na borda. A única ragazza que eu
quero ver nua é você. E eu certamente non desejo filmar um momento
nosso, porque non quero arriscar que alguém mais a veja nua. Você é mia
ragazza e sou eu quem vai aproveitar cada centímetro do seu corpo.
Suas pupilas dilataram com minhas palavras, e sua respiração
tornou-se pesada. Ela fechou o notebook, descartando-o de lado, se jogando
em meus braços e me beijando, pressionando-me contra a parede com a
força do impacto. Aquela, sem dúvida, foi a melhor pancada da minha vida.
Deixei minhas mãos descerem para sua bunda, a puxando para se
sentar em meu colo. Ela usava um vestido curto, então movi minhas mãos
por suas coxas em uma exploração minuciosa. Sì, eu oficialmente joguei
todo o meu autocontrole pela janela. Mas eu precisava saber se ela também
queria isso.
Bruna parecia realmente bem com o que estávamos fazendo até
agora, se o aperto ao redor do meu quadril fosse um indicativo enquanto
rebolava contra mim, o que deixava pouco espaço a minha imaginação sobre
o que ela realmente queria estar fazendo. Deixei-a continuar a se contorcer
contra mim enquanto eu mantinha minhas mãos em seu quadril para ajudá-
la com os movimentos.
Cazzo. Ela. É. Fodidamente. Gostosa.
Suas pernas eram firmes e macias contra meus dedos e eu afastei
meus lábios dos seus para me livrar daquela peça ofensiva entre nós, minhas
mãos automaticamente pousando sobre o elástico de sua calcinha.
Bruna abriu os olhos, piscando como se non conseguisse entender o
que estávamos fazendo. Implorei mentalmente para que ela non estivesse
bêbada.
Ela só tomou uma mísera cerveja.
— Querida, você está bem? — Relutantemente, afastei minhas mãos
de seu corpo e percorri a linha de sua mandíbula com os dedos, em uma
carícia delicada. Ela piscou novamente e me encarou intensamente.
— Nós vamos transar.
Afirmou com convicção, sem dúvidas em sua voz.
— Bem, sì. Isso é um problema? — Eu esperava que non. Eu já non
aguentava mais banhos frios por sua causa.
Ela sorriu, iluminando todo o seu rosto. Bruna era absolutamente a
ragazza mais linda do mundo quando sorria. Ela non acreditaria em mim se
eu dissesse isso, mas era inteiramente verdade.
Bruna, abençoada seja, beijou-me novamente e isso significava que
eu tinha carta branca. Isso e o fato que ela estava esfregando sua boceta
contra meu pau, fazendo-me gemer de prazer. Mais disso e eu a jogaria na
cama e simplesmente a foderia até o esquecimento. Bruna era virgem e eu
iria tirar aquela noite para reverenciar e explorar completamente seu corpo.
Capitulo 13
Anthony
Com aquilo em mente, eu girei e a pressionei contra a cama. Ela
manteve suas pernas ao meu redor e usou sua nova posição para arquear as
costas e pressionar-se contra mim. Fiquei cego por alguns segundos pelo
contato, meus olhos rolando para trás com a pressão em minha virilha. Gemi
e impulsionei meu quadril contra ela, empurrando-a de volta no colchão,
nossos corpos completamente alinhados.
Fiquei sem fôlego com a visão diante de mim; os cabelos negros
espalhados pela cama, os olhos semicerrados com as bochechas coradas e
seus lábios inchados pelos beijos de antes. Seu corpo sexy se movia
ansiosamente sob mim. Era a imagem mais perfeita que eu já havia visto. Eu
sentia no fundo de minha alma que ela pertencia a esse lugar, comigo.
Bruna combina perfeitamente com meu quarto, em minha cama, a
minha mercê.
Ponderei por um momento se eu conseguiria convencê-la a ficar
alguns dias em meu apartamento quando voltássemos. Lá estava eu, pela
primeira vez na vida queimando etapas. Eu nunca levava ragazze até lá, nem
mesmo quando eu namorei Alice. Foram meses até que ela conhecesse onde
eu vivia e io non permitia que permanecesse mais que uma noite nas raras
ocasiões em que me visitava.
O que havia sobre essa ragazza que eu já estava planejando nosso
futuro juntos?
As mãos de Bruna se moveram para puxar meus cabelos
impacientemente, trazendo-me de volta ao presente e me inclinei para beijá-
la. Seus lábios eram insistentes contra os meus e retribui em igual
intensidade, movendo os dedos pela lateral de seu corpo em uma carícia
exploratória, finalmente levando minhas mãos até seus gloriosos seios,
passando os polegares sobre os mamilos, sentindo-os entumecer. Bruna
soltou um longo gemido e eu senti meu pau se contorcer em resposta àquele
som gutural.
Ho dovuto dimostralo.[34]
Desci os lábios por sua mandíbula até chegar em seu pescoço
delgado, me inclinando para abocanhar seu mamilo esquerdo. O aperto de
Bruna em meu cabelo para me manter ali foi a resposta que eu precisava
para ter certeza de que ela estava aproveitando o momento tanto quanto eu.
Corri a língua pela pele arrepiada, praticamente vibrando com seu gosto.
Após dar atenção ao outro seio, distribuí pequenas mordidas pela
extensão de seu abdômen, provocando arrepios por onde eu passava, até que
meu olhos foram atraídos para a única peça que restava em seu corpo.
Ofeguei audivelmente com a visão.
Era cazzo de uma minúscula calcinha de renda vermelha.
No consegui conter o gemido que escapou ao visualizar o tecido que,
naquela altura, estava completamente encharcado. Meus dedos formigaram
para tocá-la e me rendi a minha vontade, trilhando-os ao longo da peça,
enquanto Bruna se movia impaciente sob mim, empurrando contra minha
mão em busca de uma maior fricção, o que tornava praticamente impossível
a missão de me concentrar em meu autocontrole.
Bruna estendeu a mão, agarrando o colarinho da minha camisa e
tentou puxá-la, me afastei o suficiente e puxei a peça sobre a minha cabeça,
o que a fez soltar um suspiro de apreciação.
— O quê, amore mio?
— Você é tão lindo — sussurrou, correndo os dedos por meu
peitoral, arrastando-os preguiçosamente por meu abdômen.
Senti meus músculos contraírem sob seu toque, pigarreando em uma
tentativa de manter minha voz firme quando respondi. — Acho que essa
deveria ser a minha frase. Exceto que linda non é a palavra certa para
descrevê-la. Você é gostosa pra caralho.
Bruna corou, desviando o olhar do meu para continuar a própria
exploração, lambendo os lábios ao desceu os olhos, o que me fez ficar
impossivelmente mais duro. Admito que durante minha vida, diversas
ragazze me fizeram sentir desejado. Na verdade, uma quantidade
significativamente grande, porém, nunca me senti como Bruna fez com
apenas um olhar.
Sentia como se fosse capaz de matar um Minotauro com as próprias
mãos, voar ou qualquer outra coisa humanamente impossível. Precisava
somente que seus olhos continuassem em mim, como se eu fosse o último
homem vivo no mundo e ela desejasse cada pequeno pedaço de mim.
Apoiei meu peso sobre um braço, para que continuasse com sua
exploração e eu tivesse acesso a sua barriga, passeando lentamente meus
dedos em direção aos seus seios, que subiam e desciam em um ritmo
delicioso e quase hipnotizante. Nunca me cansaria de admirá-los. Eram
formidáveis. Sem hesitar, me inclinei e capturei novamente um deles com a
boca.
Uma das mãos dela subiu até o meu cabelo, apertando os fios
enquanto eu sugava aquele mamilo, girando minha língua sobre ele e
mordiscando-o ocasionalmente, amando a sensação da pequena
protuberância em minha língua. Minha mão esquerda espelhou os
movimentos no outro mamilo, apertando-o quando eu lambia e mordia com
um pouco mais de força. Bruna estava selvagem, a mistura de dor e prazer
levando-a ao limite, fazendo com que seu corpo arqueasse contra mim
enquanto eu continuava a torturá-la.
Deixei minha língua vagar entre um seio e outro, porque eu
acreditava fortemente em direitos iguais. Minha mão desceu por sua barriga,
contornando o umbigo até chegar no pequeno pedaço de renda entre suas
pernas, acariciando-a por cima do tecido enquanto Bruna gemia alto. Sorri
contra sua pele, já que aquele som rivalizava diretamente com o primeiro
que ela produziu, quando jantamos sushi sozinhos. Naquela ocasião, io non
queria nada além de jogá-la sobre a mesa e tomá-la ali mesmo.
Agora aqui estava ela, a minha mercê, tutto il mio.[35]
Eu sugava, lambia e mordiscava seus seios enquanto acariciava sua
intimidade, sua respiração se tornando cada vez mais ofegante, enquanto
uma pequena camada de suor cobria sua pele. Sem aguentar mais, meus
dedos se fecharam ao redor do tecido ofensivo, puxando-o sem delicadeza
para longe de seu corpo, descartando-o em seguida.
Bruna estava completamente molhada e quente e senti meu pau se
contorcer em minhas calças com o desejo de me enterrar dentro dela. Tudo
ao seu tempo, amigo. Ela ofegou e suas mãos apertaram com mais força
meu cabelo. Eu adorava o fato de que ela estava me mantendo exatamente
onde queria. Non havia nada mais sexy do que uma ragazza que sabia o que
queria.
— Dedos — Bruna murmurou e eu ri enquanto lembrava do que
Lucca falou, sobre ela sempre resmungar quando estava bêbada que eu tinha
dedos longos, iguais ao de um músico.
Eu me afastei e sorri em sua direção. — Então, diga-me uma coisa.
Quando falou para mio fratello que eu tinha dedos longos, você os imaginou
tocando-a exatamente assim? — Continuei a acariciar seu clitóris e observei
quando seus olhos se tornaram mais escuros.
— Eu matarei Lucca — murmurou, fechando os olhos em seguida,
aproveitando a carícia. — Mas, sim — respondeu sem fôlego.
Senti um sorriso convencido nascer em meus lábios e continuei com
a estimulação, introduzindo cuidadosamente um, enquanto usava o polegar
para acariciar seu clitóris, fazendo-a suspirar e rebolar sob o meu toque.
— E você os imaginou fazendo isso? — perguntei enquanto
deslizava o indicador profundamente dentro dela, unindo-o ao outro.
Gememos juntos, eu por sentir o quão fodidamente apertada ela era ao redor
de mim.
— Sim. Deus, sim — ronronou, empurrando seu quadril para cima.
— Cuidado — alertei com a boca colada em seu ouvido, sem
interromper meus movimentos, embriagado pela sensação de seu calor ao
redor dos meus dedos. Precisei usar todo o meu controle para non acabar a
brincadeira de uma vez e me enfiar dentro dela.
Me inclinei para frente e a beijei mais uma vez antes de me afastar e
sorrir novamente.
— Eu imaginei também.
Aumentei a velocidade dos meus movimentos, movendo-os para
dentro e fora enquanto sincronizava meu polegar em seu clitóris. Me movi
de modo que meu olhar non fosse desviado de seu rosto contorcido de
prazer, finalmente caindo de boca em sua boceta. Seu gosto era forte e
almiscarado.
Quando minha boca tocou seu clitóris em uma carícia longa, sua
cabeça voou do travesseiro, apoiando o corpo em seus cotovelos, seus olhos
escuros como a noite arregalados me observando. Continuei diligentemente
trabalhando nela com a minha língua, tomando cuidado ao mover meus
dedos dentro dela. Bruna caiu novamente contra o colchão.
Fiz menção em me afastar quando suas mãos me prenderam entre
suas pernas, um resmungo escapando de seus lábios. Um sorriso surgiu em
meu rosto quando voltei a explorá-la, sugando cada parte sua, com atenção
especial em seu ponto de prazer. Seu corpo começou a se contorcer, meu
nome escapando por seus lábios juntamente com alguns palavrões e outras
palavras ininteligíveis.
Seu corpo tensionou e seu gemidos tornaram-se mais altos, sinal
para que eu soubesse que ela estava perto de atingir o clímax, então acelerei
meus movimentos, e usei um truque que aprendi para fazer com que uma
ragazza gozasse. Eu soprei com força em seu clitóris ao mesmo tempo em
que curvava os dedos para frente dentro dela, e ela explodiu com um grito.
Nada era tão extasiante como a visão de Bruna se desfazendo sob
mim. Ela se debateu na cama, sua cabeça afundando no travesseiro, as mãos
agarrando o lençol com força enquanto suas pernas me prendiam onde eu
estava. Continuei com meu ataque, aproveitando até o último segundo de
seu prazer.
Quando ela relaxou, estava visivelmente sensível ao toque, então
deslizei meus dedos para fora de sua intimidade e beijei uma última vez seu
clitóris, vendo-a se contorcer em resposta. Segui com uma trilha de beijos
por seu quadril, barriga, vale de seus seios e pescoço, até que cheguei a seus
lábios entreabertos, capturando-os em um beijo. Ela correspondeu, embora
um pouco frouxamente. Uma expressão satisfeita dominava seu rosto
enquanto uma de suas mãos passeava lentamente por meu braço.
Sì, eu fiz um bom trabalho.
— Você está bem? — perguntei, mordiscando a linha de seu queixo.
— Mmmmm — ela respondeu e eu ri, passando meu nariz por seu
pescoço. — Anthony?
— Sì?
— Eu quero me casar com seus dedos. Ou com a sua língua. Com
ambos, na verdade. Preciso ter os dois para mim por toda a eternidade. Eu
certamente sei que não irei mais viver plenamente sem eles.
Uma risada escapou de meus lábios, algo que eu percebi se tornar
constante ao seu redor.
— Bem, eles são todos seus. Sempre as ordens, madame. Basta uma
palavra sua e os terá. — Dedos? Membros? Quem se importava? Ela
poderia ter o que desejasse.
Ela riu e balançou a cabeça.
— Eu sempre digo as coisas mais bizarras e você nunca vai embora
ou me acha esquisita. Por quê?
Eu realmente non iria conseguir explicar, mesmo que eu tentasse. Ela
era adorável demais para que non a tivesse ao meu lado.
— Io non quero perder a melhor assistente pessoal que eu já tive. —
Recebi um tapa no braço como resposta a provocação. — E eu amo as
coisas que você diz.
Amo o homem que eu sou quando estou com você, amo o fato de
você me tirar totalmente da minha zona de conforto, amo que você consegue
me vê, eu, Anthony Mancini, e non o empresário bilionário com centenas de
problemas constantes para resolver e um péssimo humor matinal.
Foda-se, há muitos 'amo' envolvido nisso.
Ela me presenteou com um sorriso doce e deslizou uma mão por
meu abdômen, seus dedos brincando com a minha calça de moletom,
desfazendo o nó com cuidado e afrouxando as cordas.
— Hmmm, bem, eu preciso verificar algumas outras partes antes de
decidir se eu vou querer ter com ele um compromisso para toda a vida
também.
Minha mente disparou o alerta de que eu deveria estar com medo de
que estivéssemos fazendo piadas sobre Bruna casando-se com partes do meu
corpo e a frase ‘para a vida toda’ junto, porém, eu non estava. Claro,
também tinha o fato de que suas mãos macias começaram a acariciar meu
pau non me ajudavam a pensar coerentemente. Com dificuldade me livrei de
meus sapatos e levantei meus quadris para que ela pudesse deslizar meu
moletom e boxer para baixo.
Seus olhos cheios de luxúria arregalaram quando meu pau ficou
totalmente livre, e uma risada assustada escapou de seus lábios, me
deixando levemente ofendido. Definitivamente eu non tinha um pau
pequeno, então eu non tinha ideia do que diabos ela estava rindo.
— Você poderia esclarecer o que há de tão engraçado? Non é
educado rir do pau de um homem, sabia?
Tentei controlar minha voz, mas até eu consegui ouvir a indignação
em meu tom. Contudo, para minha surpresa, seus olhos continuaram presos
nele, até deu alguns tapinhas no meu pau, como se ele fosse um cachorro
que precisava ser confortado.
— Desculpe, Anthony! Juro que não estava rindo do seu pênis,
acredite em mim, é só que...
— O que? — Eu precisava saber o que estava passando em sua
cabeça naquele momento ou perderia minha ereção e a noite acabaria no
momento que estava ficando realmente boa.
— Não sei como explicar sem parecer patética, mas, quando estava
no resort eu vi os seus pés, e os achei extremamente atraente, e pensei que
possivelmente até o seu pênis seria também, mesmo que ele não devesse ser.
Não que já tivesse chegado perto de um para saber, mas pênis não deveriam
ser tão atraentes e excitantes quanto o seu, e bem, eu não tenho certeza se
conseguirei andar em linha reta depois de ter você dentro de mim. Mas nem
mesmo esse pensamento irá me fazer desistir dessa noite.
Oh Deus, a forma como a mente dela trabalhava era um mistério,
mas eu ecoei sua risada porque ela era malditamente fofa quando non
incorporava seu papel de assistente pessoal extremamente profissional.
— Tenho certeza de que você conseguirá andar amanhã, principessa.
Fechei os olhos quando ela envolveu meu pau em sua mão, gemi e
empurrei para encontrá-la algumas vezes antes de segurar suas costas na
cama e me posicionar em sua entrada.
— Eu preciso estar dentro de você, non aguento mais. — Bruna
assentiu, como se também tivesse atingido seu limite. — Diga-me se doer,
que eu paro.
Ela concordou, seu corpo tenso. Beijei seus lábios sem pressa,
percorrendo minha mão pela lateral de seu corpo, até que apertei sua cintura,
seu corpo relaxando aos poucos. Suas pernas se abriram por instinto e
aproveitei para me encaixar, forçando minha entrada lentamente. Ela era tão
apertada, que meu instinto era simplesmente me enterrar em seu calor de
uma só vez. Mas eu sabia que ela estava sentindo dor e desconforto, apesar
de seu rosto estar livre de qualquer indício, suas pernas abrindo-se de modo
que eu pudesse me acomodar melhor. Deslizei todo o comprimento para
dentro dela e me inclinei para beijar uma lágrima que deslizou de seu olho,
uma careta de dor surgindo em seu rosto.
— Relaxe, vai já passar — sussurrei enquanto distribuía beijos por
seu rosto, pacientemente esperando ela se acostumar com a invasão. Estava
começando a suar pelo esforço hercúleo de me manter parado, até que Bruna
relaxou sob mim e timidamente moveu seu quadril. — Passou?
— Apenas me possua, Anthony. Foda-me como eu sei que você quer
— murmurou, fazendo meu pau saltar com suas palavras. Eu precisava
ouvi-la falar palavras sujas em meu ouvido novamente. Eu jamais me
cansaria disso, mas nesse momento... non.
— Eu non vou foder você, Bruna.
Ela me olhou confusa por um momento.
— Você me disse que não era carinhoso, pensei que apenas fodia e
não… — As palavras morreram em sua boca, enquanto me encarava e uma
ruga se formava em sua testa.
Dei um beijo na ponta de seu nariz, é claro que eu me lembrava de
dizer aquelas palavras, mas naquele momento, eu non sentia o mesmo de
agora.
— Non hoje. Prometo que irei fodê-la até que esqueça seu próprio
nome e non consiga andar em linha reta no dia seguinte em um outro
momento. — Bruna soltou uma risada sem fôlego. — Mas hoje, eu farei
amor com você.
Era o máximo que eu poderia dizer e um sorriso suave surgiu em seu
rosto, fazendo os orbes escuros aquecerem e eu pude jurar que eles sorriam
para mim. Ela me puxou para baixo e me beijou novamente, longo e lento, e
eu me movi dentro dela da mesma maneira. Investidas longas e lentas,
dentro e fora.
Seus quadris começaram a imitar o ritmo imposto e se moviam para
cima para encontrar os meus, uma sincronia como se tivéssemos feito sexo
inúmeras vezes antes, ao invés de ser a primeira vez. Eu sabia,
instintivamente, quando deveria começar a ir mais rápido e ela se movia
comigo, acompanhando meu ritmo. Nossos lábios permaneceram unidos,
beijos gentis e lentos que abalavam a minha estrutura completamente. Meu
coração estava em cada toque de seus lábios, e eu pude sentir o seu também.
Notei quando ela começou a apertar-se em torno de mim, suas costas
arqueando contra o colchão. Escorreguei minha mão entre nossos corpos e
estimulei seu clitóris novamente enquanto aumentava a velocidade de
minhas investidas dentro dela. Non demorou muito para que alcançasse o
clímax, ficando impossivelmente mais apertada em volta de mim, ao ponto
de que achei que seu corpo pudesse me expulsar, o que me fez empurrar
com mais força, lutando contra a pressão de suas paredes.
Joguei a cabeça para trás, a respiração ofegante quando minhas bolas
apertaram e eu me desfiz dentro dela, agarrando seus quadris com força.
Bendito seja Deus e a ciência pelo anticoncepcional. Desci meus lábios mais
uma vez em direção aos seus, beijando-a longa e suavemente.
Quando ambos nos recuperamos de nossos orgasmos, deslizei para
fora e apoiei minha cabeça em seu pescoço, inalando profundamente seu
cheiro, gravando-o em minha memória. Ergui o olhar para seu rosto,
apreciando a névoa sonolenta e satisfeita que vi em suas íris e em sua
expressão.
Me retirei de cima de seu corpo com cuidado e me levantei, indo até
o banheiro em busca de algo para que pudesse usar para limpá-la. Encontrei
um pacote de lenços umedecidos. Isso teria que servir. Voltei para o quarto,
e a encontrei praticamente adormecida. Bruna abriu um sorriso tímido
quando gentilmente limpei meu esperma de suas pernas e virilha da melhor
maneira possível.
Descartei os lenços e apaguei a luz, a envolvendo em meus braços,
acariciando seus cabelos, desfrutando do prazer que era tê-la ao meu lado.
Ela pegou no sono em pouco tempo, o quarto iluminado somente pela luz da
lua que serpenteava pelas portas francesas, permitindo que eu pudesse
desfrutar da visão de seu rosto delicado completamente relaxado. Eu
desgraçadamente non sabia como diabos isso havia acontecido, mas eu sabia
que estava completa e irremediavelmente apaixonado por Bruna Ferraz.
Capitulo 14
Bruna
Quente. Eu estava suando. Eu simplesmente odiava dormir no calor.
Eu tinha esquecido de ligar o ar-condicionado quando fui para a cama noite
passada? O que diabos havia de errado comigo? Vamos ver, ontem à noite
eu... Oh! Puta merda! Ontem à noite eu dormi com Anthony Mancini! Eu
não estava em casa, estava na Austrália com o meu chefe, dormindo no
quarto da enorme mansão de seus pais. Eu não estava quente porque um de
nós dois esqueceu de ligar o ar, eu estava quente porque seu corpo duro e
tonificado estava pressionado contra o meu, seus braços envolvidos
frouxamente ao redor de mim.
Isso é interessante. Nunca fui capaz de dormir com alguém me
tocando.
Nunca tinha tentado passar a noite com meu ex-namorado,
Constantino. Não que ele não tenha me pedido isso várias vezes. Eu apenas
não me sentia pronta para dar o próximo passo e sabia que se ele passasse a
noite comigo, não iria respeitar meus limites. Isso deveria ter sido uma
bandeira vermelha, mas não, eu era uma idiota. Ele provavelmente chamava
a próxima garota no instante em que eu saia pela porta.
Imbecil.
Não que eu devesse estar perdendo o meu tempo pensando nele, não
depois da noite que tivemos. Deus. Anthony era tudo o que eu me permitia
imaginar e ainda mais. Uma vez não tinha sido suficiente. Eu tinha
adormecido em seus braços, mas acordei uma hora mais tarde e
praticamente o ataquei novamente.
Ele, obviamente, se importou o mínimo, já que devolveu o favor um
par de horas mais tarde. Ele era incrivelmente lindo. Eu não sabia que um
homem poderia ser lindo em todos os lugares, mas ele era. Até mesmo o seu
pau era bonito, e, puta merda, como era grande. Quase assustadoramente
grande, porém, eu não estava prestes a deixar isso me deter em tê-lo em
todas as oportunidades que pudesse.
Quatro vezes em uma noite. Fodidas quatro vezes!
Minhas pernas estavam doloridas, mas eu não me importava
realmente. Os lençóis foram trocados, e ambos tomamos banho. Mas o
tomaria novamente se ele quisesse. Ele me tomou quatro vezes. Eu
realmente ainda não conseguia envolver minha cabeça em torno dos
recentes acontecimentos.
Era para ser apenas um relacionamento de mentira e agora
estávamos dormindo juntos. Olhei para seu rosto, e afastei os fios
bagunçados de sua testa. Tão sexy. Aquele rosto, lábios, peito, abdômen...
Porra, aquele abdômen era perfeito.
Então havia o perfeito V em seus quadris. A letra V seria minha
favorita até o fim dos meus dias, graças a essa área incrivelmente quente de
seu corpo. Talvez eu deva mudar meu nome para Vânia em sua homenagem.
Não, Vânia não era boa o suficiente. Vivian. Vivian Ferraz. Hmmm... não,
isso realmente não funcionaria. V é para vitória, virgem...
Nenhuma virgem por aqui, muito obrigada.
Olhei para o relógio que marcava 04h30. Isso quer dizer que no
Brasil ainda eram 18h30. Saí silenciosamente de seus braços, pegando meu
celular e cobrindo o meu corpo com sua camisa descartada no chão do
quarto. Precisava ligar para Amanda, e sabendo como ela iria reagir, decidi
fazer a ligação longe dos ouvidos de qualquer um.
Cheguei no andar de baixo e observei pela porta de vidro a
ornamentação para o casamento que aconteceria em breve. Eu precisava
admitir, tinha criado afeição o suficiente por Felipe para ter certeza de que
ele não merecia se casar com aquela megera ruiva. Porém, era sua decisão, e
me restava somente aceitar.
Comecei uma chamada de vídeo pelo WhatsApp, enquanto deixava
meus pés me guiarem para fora da casa, em direção a piscina no jardim. Em
segundos o rosto sorridente da minha melhor amiga apareceu na tela do meu
celular.
— Quando você volta? A casa fica incrivelmente chata sem você
aqui — ela falou fazendo um pequeno beiço e tive que rir do drama.
— Amanhã estarei aí. Sairemos daqui logo após o casamento.
Devido ao fuso-horário, chegaremos ao Brasil ao anoitecer de hoje aí, ou
amanhã daqui. É complicado — resmunguei, tentando explicar.
— Que horas são aí? — ela perguntou, e percebi que estava indo em
direção a sala.
— Já são 04h37, aí agora que está anoitecendo, não é?
— Sim, são dez horas de diferença — respondeu e se jogou no sofá.
— Mas tenho certeza de que você não me ligou no meio do seu sono para
falarmos de fuso-horário.
Senti o meu rosto esquentar, e sabia com certeza de que estava
vermelha como um tomate. Como dizer para sua melhor amiga que tinha
perdido a virgindade com seu chefe? Amanda, adivinha? Segui o seu
conselho e passei a noite fazendo amor, seguida de horas de sexo selvagem
com Anthony. Não, sem chance.
— Bruna? — Ela me chamou e voltei meu foco para o aparelho,
Amanda tinha aproximado o celular de seu rosto. — Olhe nos meus olhos
— ela falou com uma ruga em sua testa. Fiz o que me pediu, o que deixou
meu rosto mais vermelho. — Você transou!
O grito ecoou pelo jardim, e precisei baixar o volume da chamada.
Percebi que ela levantou do sofá e estava fazendo uma espécie de dança de
comemoração completamente desengonçada no meio da sala.
— Graças a todos os santos para quem orei — Amanda agradeceu
sem fôlego, e tive que revirar meus olhos. Não era como se eu fosse uma
virgem de quarenta anos. Eu era uma virgem de vinte e três.
— Você orou para eu perder a virgindade?
— Uma ou duas vezes. Pensando no seu bem, é óbvio — falou se
sentando novamente. — Mas me diz, ele é bom de cama? Ele foi gentil? Ele
é grande? — Meu rosto esquentou novamente com a última pergunta.
— Sim para as três.
— Você é uma vadia sortuda — ela resmungou, seus olhos brilhando
de felicidade genuína. — Terá que me contar todos os detalhes quando
chegar, não pense que vai escapar — falou, soando como uma mãe fala com
o seu filho. Eu ia retrucar com uma resposta malcriada quando ouvi vozes se
aproximando de mim, olhei para ela e fiz sinal de silêncio. Não queria
ninguém ouvindo nossa conversa.
— Você sabe como isso será torturante para mim? — Uma voz
feminina e familiar falou, e prendi a respiração quando percebi se tratar de
Alice. O que ela fazia acordada a essa hora, no jardim, de todos os lugares?
— Você ainda terá a mim, iremos morar no mesmo teto. Nada vai
precisar mudar. — Uma voz masculina, que sabia não ser Felipe, respondeu.
— Eu ainda não acredito que aceitei tudo isso. Só eu estou me
sacrificando aqui. Teria sido mais fácil você se separar daquela mulher, a
quem você chama de esposa.
Olhei para a tela do meu celular, meu coração batendo
descontroladamente em meu peito. Eu precisava sair dali o mais rápido
possível. Amanda me encarava com os olhos arregalados, e falou baixinho:
— Cuidado. — Concordei com a cabeça e encerrei a ligação.
— Você sabe que eu não posso me separar dela, a família Mancini
tem nome e muito dinheiro. Perderíamos tudo o que temos se eu me
divorciar — ele respondeu categoricamente. Porra. Eu conheço essa voz,
mas custava acreditar que fosse verdade. Alice não poderia estar tendo um
caso com o próprio sogro, poderia?
Comecei a recuar em direção à porta da casa, deixando as vozes e a
conversa bizarra para trás, quando bati o dedo mindinho na quina de uma
cadeira posta próxima à piscina.
— Puta que pariu! — O palavrão saiu mais alto do que eu pretendia,
e as vozes sumiram atrás de mim. Merda. Apressei o passo, mesmo com o
meu dedo latejando de dor, porém, antes que alcançasse a entrada, uma mão
agarrou com força meu braço, fazendo meu corpo virar bruscamente em sua
direção.
Encontrei os olhos verdes de Wisley, pai do Felipe, e logo atrás o
rosto assustado de Alice.
— Ora, se não é a nossa pequena assistente. O que faz aqui fora essa
hora? Estava nos seguindo? — perguntou rudemente, sacudindo meu corpo.
Meu braço ficaria marcado por seus dedos.
— Ela está com a merda do celular — Alice falou ao se aproximar,
arrancando o aparelho de minhas mãos.
— Eu não sei do que vocês estão falando. Eu estava só fazendo uma
ligação para uma amiga — rosnei, e tentei inutilmente puxar o meu braço
para fora do seu aperto. Mas ele agarrou o meu outro braço, virando meu
corpo totalmente de frente para ele.
— Ela ouviu tudo — Alice falou, me encarando.
— Deixa eu esclarecer uma coisa, se alguma coisa sair dessa sua
linda boquinha. — Ele começou e puxou meu corpo, colando-o ao seu. Senti
um arrepio de repulsa passar por mim, e virei meu rosto quando seus lábios
se aproximaram dos meus ameaçadoramente. — Você não tem noção das
coisas que eu posso fazer com você e com as pessoas que você ama —
sussurrou com a boca rente ao meu ouvido. Senti meus olhos arderem pelas
lágrimas não derramadas graças a dor em meus braços.
— Solta ela, Wisley. Não tem nada no celular — Alice falou,
nervosa pela atitude do seu sogro/amante.
— Estou apenas garantindo que ela não fale nada a ninguém.
— E mi assicurecò che tu non possa mai più dire una cazzo di
parola. — A voz de um Anthony extremamente furioso ecoou atrás de
[36]

mim, atraindo a atenção de nós três.


Capitulo 15
Anthony
Abri os olhos assim que senti a movimentação ao meu lado na cama.
Eu non gostava de dormir agarrado com nenhuma ragazza, principalmente
depois do sexo, mas a sensação de ter Bruna aconchegada em seus braços,
de alguma maneira, aquecia meu corpo. Observei quando ela vestiu a minha
camisa, completamente nua por baixo, e somente aquela visão me fez querer
levantar e jogá-la na cama novamente. Estava sexy como o inferno, mas me
contive, já que ela certamente deveria estar dolorida.
Em seguida, Bruna pegou o celular e saiu do quarto. Se eu non a
conhecesse bem o suficiente poderia ficar desconfiado ou com ciúmes, mas
eu sabia mais que isso. Ela non era como qualquer outra ragazza que eu já
tenha conhecido. Tinha certeza de que estava indo ligar para a sua melhor
amiga, já que as duas conversavam todos os dias desde que chegamos aqui.
E depois do que aconteceu noite passada, era completamente natural que ela
se apressasse para compartilhar as novidades com Amanda.
Após dez minutos, comecei a ficar inquieto na cama.
— Droga!
Levantei a contragosto, colocando uma calça e fui até a janela. Dei
um pequeno sorriso quando a vi se levantar de uma cadeira próxima à
piscina, vindo rumo à entrada. Estava saindo da janela quando ela parou, e
levantou o pé como se sentisse dor, apressando o passo, praticamente
correndo enquanto olhava para trás.
— Che cazzo sta succedendo?[37]
Foi quando Wisley e Alice surgiram em meu campo de visão,
correndo para alcançá-la. Mas que porra esses dois estão fazendo juntos de
madrugada? Ele foi até Bruna e agarrou seus ombros, sacudindo-a com
brusquidão.
Minha vista escureceu de raiva quando ele puxou o corpo dela e se
inclinou para sussurrar algo em seu ouvido, enquanto ela se remexia para se
livrar do seu aperto. Sem esperar por qualquer coisa, desci as escadas
correndo. Naquela velocidade, me surpreendi por não ter perdido o
equilíbrio e caído de cara no chão.
— Solta ela, Wisley. Não tem nada no celular dela. — Ouvi a voz de
Alice, e pelo seu tom, claramente estava nervosa.
Ah sì, você terá um bom motivo para ficar nervosa.
— Estou apenas garantindo que ela não fale nada a ninguém.
— E mi assicurecò che tu non possa mai più dire una cazzo di
parola. — rosnei, minha mente nublada pelo ódio. Os três paralisaram, e
Bruna forçou o rosto tentando me encarar e quando seus olhos encontraram
os meus, era visível um misto de emoções em suas íris, dentre elas, alívio.
— Anthony... — Alice começou, com a voz suave e persuasiva,
porém eu conhecia bem suas artimanhas dissimuladas.
— Mais uma palavra sua, e você vai se arrepender até o último dia
de la tua vita — eu adverti, fazendo-a dar um passo para trás, e permanecer
calada.
Wisley soltou Bruna, me dando um sorriso camarada, como se
estivesse em uma reunião de amigos. Bruna deu alguns passos para trás até
estar ao meu lado, segurando os braços. Tirei suas mãos e percebi as marcas
das mãos do babbo de Felipe.
— Calma, Anthony. Sabemos que ela é apenas uma vagabunda que
você trouxe para não vir sozinho. Mas tenho que admitir, ela é
tremendamente gostosa e...
Minha mão fechou em punho e se conectou com seu rosto em um
soco bem aplicado, que o fez cambalear para trás instável em seus pés, a
pele de seu supercílio automaticamente se rompendo, um filete grosso de
sangue escorrendo pela lateral de seu rosto.
— Seu merda, filho da puta! — gritou furioso, e avançou em minha
direção. Quando ele estava perto o suficiente, desviei de um golpe e acertei
seu estômago, o que o fez encolher de dor e ofegar.
— Anthony, por favor, chega. — Consegui ouvir a voz trêmula de
Bruna, mas cego pela raiva, apenas levantei o rosto dele e acertei em cheio
seu nariz.
— Dov'è il tuo coraggio?[38] — rosnei, acertando-o com um chute na
costela, que o fez cair de joelhos, seu nariz quebrado, sangue cobrindo seu
olho. Porém, o desgraçado mantinha um sorriso irônico nos lábios. —
Ameaçar uma ragazza é fácil, farabutto![39] — continuei, dessa vez acertando
uma joelhada em sua mandíbula, deslocando o osso, um grito de dor
deixando sua boca agora em um ângulo antinatural.
— Você está tão ferrado, quando essa merda explodir na imprensa.
Você está acabado! — Wisley vociferou com dificuldade, cuspindo sangue
enquanto tentava se levantar.
— Alice, faça alguma coisa! A culpa disso é toda sua. — A voz de
Bruna soou atrás de mim.
— O que você quer que eu faça? Você que, supostamente, é a
namorada dele, não eu!
— E é o seu amante que está levando uma surra até a morte!
Amante?
A palavra rodeou minha mente e encarei Alice, desviando o olhar
para Wisley. O choque fez com que eu encarasse a noiva de mio cugino por
um longo momento, em silêncio. Ela estava tendo um caso com o próprio
sogro? Bruna aproveitou o momento de distração e se colocou na minha
frente, segurando meu rosto com ambas as mãos, lágrimas escorrendo por
suas bochechas.
— Por favor, chega. Vamos entrar — implorou e eu olhei por cima
de seu ombro, observando Alice apoiar aquela desculpa estúpida de homem,
ajudando-o a ficar de pé.
— Como você teve coragem de fazer isso, Alice? Seu casamento é
em menos de dois dias e você está tendo um caso com il padre del suo
fidanzato?[40] — perguntei, completamente enojado. Senti Bruna me segurar
no lugar quando tentei dar um passo à frente. Ela escondeu o rosto em meu
peito, os braços circulando minha cintura. Respirei fundo, tentando me
acalmar, embora soubesse que seria praticamente impossível naquele
momento.
— Por favor, Anthony — Bruna pediu encarando meus olhos, e
fiquei olhando para o seu rosto até que senti a raiva diminuir aos poucos.
Peguei uma mecha escura de seu cabelo, cheirando e deixando que seu
perfume penetrasse meus sentidos, conseguindo me acalmar completamente.
— Eles não valem a pena.
— A porra desse casamento non vai acontecer. Você vai contar tudo
ao mio cugino, o quão vagabunda você é. E quanto a você, Wisley, fique
longe da mia zia[41]. Fique longe la mia famiglia, ou eu vou acabar com la
tua vita, até que non reste mais nada e você esteja na sarjeta só com a roupa
do corpo — cuspi as palavras.
— Anthony, por favor. Felipe não pode saber de nada. Eu imploro —
Alice falou, desesperada, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. — A
reputação da minha família...
— Deveria ter pensado nisso antes de foder com seu sogro.

Bruna tinha uma linda ruga em sua testa, enquanto colocava uma
bolsa de gelo em minha mão machucada. Ela se manteve em silêncio
durante a maior parte do tempo e eu estava praticamente enlouquecendo
com seu silêncio.
Toda a gritaria no quintal acabou acordando praticamente todos na
casa. Mia zia ao descobrir o motivo de toda a confusão, acertou um forte
tapa em Alice, mandando Wisley nunca mais aparecer na sua frente e se
trancou em seu quarto. Felipe só non bateu em seu padre, porque eu já tinha
feito isso por ele, no entanto, pegou todas as coisas de sua agora ex-noiva e
jogou para fora da casa, proibindo-a de voltar a entrar na mansão. Seu padre
e sua mamma tentaram interceder a seu favor, mas a confusão já estava
armada e todos partiram no início da manhã.
Mia mamma gritou no meu ouvido por dez intermináveis minutos
por minha atitude, até que eu contei a ela o motivo da minha ira, seus olhos
presos nos braços de Bruna, que a essa altura estavam com um leve tom
arroxeado. Sua postura mudou totalmente e se possível ela mesma iria ao
hospital onde o desgraçado estava para mostrar o que acontece quando se
bate em uma ragazza. Mio babbo apenas deu uns tapinhas em minhas costas
dizendo que eu fiz um excelente trabalho.
Felipe estava tentando se manter firme, mas sabíamos que estava
completamente devastado, então enquanto as ragazze se organizavam em
cancelar o casamento, Lucca e Matheus estavam com mio cugino enchendo
a cara. L'occasione è perfetta per questo, Matheus afirmou com veemência.
Ainda teríamos problemas com a imprensa, mas até então ninguém sabia o
motivo para o cancelamento do casamento em cima da hora.
Eram onze da manhã e finalmente o silêncio reinava na casa,
contudo, a quietude no quarto me matava aos poucos.
— Você vai ficar com rugas se continuar fazendo essa careta —
tentei falar em um tom ameno, mas Bruna suspirou frustrada sem encarar
meus olhos. — Você pode me dizer o que está passando na sua cabeça? —
perguntei com raiva, me afastando ao levantar.
Bruna me encarou, e seus olhos brilharam em fúria. — Como você
pôde ser tão estúpido e imprudente? — gritou, e percebi que ela esteve na
borda o tempo todo.
— Estúpido?
Me arrependi imediatamente pela pergunta, pois ela pegou uma
escova de cabelo e jogou na direção da minha cabeça. — Você poderia ter se
machucado! — Agarrou um desodorante, arremessando-o com força em
minha direção e ele teria acertado em cheio meu rosto se meus reflexos
fossem meio segundo mais lentos. — Eu nunca me perdoaria se você se
machucasse por minha causa!
Disse ela tentando fazer exatamente isso.
Bruna continuou a jogar coisas em mim, enquanto eu me desviava
ou as segurava, tentando me aproximar.
— Estúpido... Idiota… Impulsivo. — A cada palavra, um novo
objeto era arremessado, até que sua munição acabou e eu percebi seu rosto
molhado pelas lágrimas. — Você tem noção do medo que eu senti?
Encurtei a distância que nos separava e a abracei apertado, enquanto
ela tentava me afastar, cedendo quando percebeu que eu non a soltaria e
correspondeu ao abraço.
— Eu estava apavorada — falou entre o choro, e dei um sorriso
enquanto beijava sua cabeça. Tudo isso era porque estava preocupada
comigo? — Você está sorrindo? — ela perguntou incrédula, tentando se
afastar para ver meu rosto.
— Amore mio, eu pratico boxe desde os dez anos. Eu sabia o que
estava fazendo. Non ia matá-lo, e nem ia deixá-lo me machucar — tentei
explicar. Percebi que essa informação fez com que seu corpo relaxasse em
meus braços e acariciei seus cabelos até que parasse de chorar.
— Nunca mais faça isso. Me prometa!
Levantei delicadamente seu rosto, o nariz e os olhos estavam
avermelhados graças ao choro, contudo, ela continuava linda. Como
consegue isso? Grudei meus lábios aos dela em um beijo apaixonado.
Quando nos separamos, Bruna se afastou e verificou pelo que parecia a
décima vez meus dedos. Abri e fechei a mão, para mostrar que estava
completamente bem.
— Está vendo? Sem danos.
— Eu mataria você se algo acontecesse com seus dedos. Acho que
vou mandar fazer uma luva de ferro, assim vou preservá-los somente para
mim — falou, e por sua expressão, sabia que ela estava seriamente
considerando aquela opção. Uma risada escapou de meus lábios quando a
ergui, fazendo-a enlaçar suas pernas em minha cintura. — Estou falando
sério, Anthony Mancini. Seus dedos são mágicos demais para que algo
aconteça a eles.
Capitulo 16
Bruna
— Lucca, eu juro por Deus que se você apertar meu braço mais uma
vez eu vou te bater. Por que não escolhemos um filme de comédia? —
resmunguei, me afastando dele. Olhei para frente e vi o sorriso de Anthony
em minha direção e automaticamente o respondi com o mesmo sorriso.
Desviei o olhar e voltei a encarar a tela do computador à minha frente.
Continuamos a assistir ao filme e foi a minha vez de apertar o braço de
Lucca.
— Hai visto?
— É claro que eu vi, seu imbecil!
A cena continuou, e quando o rádio começou a tocar sozinho senti
meu coração bater descontroladamente.
Que merda de filme.
— É a merda de uma freira, Bruna. Uma freira demoníaca.
— Eu estou vendo.
Ficamos em silêncio quando a sombra se moveu pela parede e, pela
primeira vez, estava arrependida de estar assistindo um filme de terror. E lá
se vão três noites sem dormir. A sombra chegou até um dos quadros e mãos
esqueléticas surgiram por detrás, agarrando a moldura em que o rosto da
freira estava gravado na pintura. E quando menos esperávamos…
— Puta merda!
— Diavolo![42]
Lucca e eu gritamos juntos.
— Ferrou, sabe alguma música de igreja? Non consigo pensar em
nenhuma — Lucca perguntou baixinho, mas meu coração estava acelerado
demais para que eu pudesse responder. Mesmo assim continuamos
assistindo, o que claramente foi uma péssima ideia. Considerando que no
momento éramos dois covardes. Quando o filme acabou, o braço de Lucca
estava todo marcado por minhas unhas.
— Quem é o covarde agora? — meu cunhado perguntou, se
levantando de seu lugar, possivelmente indo atrás de alguma bíblia para
carregar até o fim da viagem. Revirei os olhos para ele e fui me sentar ao
lado de Anthony, que estava concentrado em seu trabalho, como sempre.
Deitei minha cabeça em seu ombro e ele delicadamente beijou minha mão
antes de voltar a digitar.
— Eu sabia que podia dar certo, mas ver que realmente funcionou e
agora vocês são um casal de verdade é minha maior conquista pessoal.
Sério, eu estou tão feliz por vocês! — Beatriz falou próxima de nós e
levantei minha cabeça, encarando seus olhos. Os dedos de Anthony
interromperam a digitação e ele automaticamente encarou sua prima com
uma sobrancelha arqueada.
— Do que você está falando? — Anthony foi mais rápido e
verbalizou minha pergunta não feita.
— Toda essa história de vocês fingirem ser um casal, foi ideia do
Lucca e minha. Vocês estavam muito lentos para enxergar o que estava
escancarado para todo mundo ver.
Felipe fechou os olhos ao seu lado por um momento, com um
pequeno sorriso nos lábios e encarou o céu pela janela do jato. Lucca se
engasgou com o refrigerante que tomava e deu seu sorriso de merda em
nossa direção, o pentelho.
— Então vocês estavam bancando o cupido todo esse tempo? — Eu
não estava com raiva, eu acho. Me senti usada e enganada, mas não com
raiva. Afinal, foi graças a isso que eu finalmente conheci a magia dos dedos
de Anthony.
Não só seus dedos. Aquele V delicioso e seu pau que me levava aos
céus…Tudo bem, acho que preciso agradecer e não reclamar.
— Obrigada?
— Lucca! — Anthony grunhiu ao meu lado e vi quando seu irmão
lançou um olhar raivoso para Beatriz, que deu de ombros.
— Io non tenho nada a ver com isso. Essa ideia foi toda dela. — Eu
já disse que Lucca é um covarde?
— Anthony, você no mínimo, me deve um jantar por isso. Ou vai
dizer que se arrepende? — Beatriz perguntou com um sorriso conhecedor.
Meu coração bateu forte com a implicação e involuntariamente
fiquei tensa. Quando eu aceitaria que tudo isso era real e que ele realmente
me queria? Apesar de todas as suas afirmações e garantias, ainda era surreal
demais para mim.
Anthony segurou minha mão e olhou em meus olhos, oferecendo a
confiança que ele sabia que eu ainda precisava.
— No, eu não me arrependo.
Um arrepio passou pelo meu corpo, seus olhos brilhavam com o que
parecia ser o desejo de me devorar viva. Ah, e como eu quero isso.
Inconscientemente esfreguei minhas pernas em busca de algum atrito, o que
não passou despercebido por ele.
— Estão vendo? É disso que eu estou falando. Essa tensão sexual
entre vocês é mais do que o suficiente para enlouquecer qualquer pessoa.
Foi assim desde o primeiro dia. Sério, vocês têm grandes vibrações aí. Eu
realmente acho que... — Beatriz jogou um travesseiro em Lucca para que
ele calasse a boca, enquanto meu rosto certamente estava mais vermelho que
um tomate maduro.
— Acho que eles entenderam o seu ponto, Lucca. Nós só resolvemos
apressar o inevitável — Beatriz afirmou com finalidade. — Irei cobrar meu
jantar.
Me encolhi na poltrona. Sempre achei que escondia bem meus
sentimentos em relação à Anthony, mas claramente eu falhei nisso. Porra.
— Você non quer descansar um pouco? Ainda temos cerca de 14
horas de viagem — Anthony murmurou em meu ouvido e agradeci
mentalmente sua proposta, dando um rápido beijo em seus lábios e me
levantei para ir em direção a um quarto privado. Sim, eles tinham a porra de
uma suíte dentro do jato.
Em poucos minutos caí no sono, anotando mentalmente a compra de
travesseiros iguais a esses quando chegasse em casa.

Senti meu corpo enrolado como uma cobra em um corpo másculo


deitado ao meu lado na cama. Dei um pequeno sorriso quando vi Anthony
apenas de cueca. Jamais me cansaria dessa visão. Passei meus dedos por
seus gomos definidos, e mesmo dormindo ele apertou minha cintura. Eu
virei algum tipo de tarada, ou viciada em sexo. Será que existe algum grupo
de apoio para isso, como viciados em sexo anônimos? Não, muito grande.
Ninfomaníacos anônimos. Isso! Precisava pesquisar sobre isso depois.
— Bruna? — Merda, eu o acordei. Desci o olhar e descobri que o
acordei de duas maneiras diferentes. Olhei para mim rapidamente, eu não
escovei os dentes, meus cabelos pareciam saídos de uma briga feia com o
travesseiro, obviamente tendo perdido a batalha. Definitivamente não estava
nada atraente.
Desviei o olhar do peitoral divino e encontrei ele sorrindo para mim.
Queria simplesmente pular nele, mesmo que meu corpo ainda estivesse
dolorido da maratona de sexo dos dois últimos dias.
— O quê?
— Existe uma razão pela qual você está... ah... me tocando?
— Por que eu gosto? — Ofereci na maior cara de pau. Eu fui pega,
então não existia qualquer razão para mentir sobre isso. Ainda mais que eu
sabia ser uma péssima mentirosa, então seria muito pior tentar inventar
qualquer tipo de desculpa. Só o fato de falar com Anthony fora do meu
território, que era como sua assistente pessoal, já era incrivelmente difícil na
maior parte do tempo.
Jesus, Amanda morreria quando eu contasse tudo para ela.
Ele riu baixinho e moveu seu polegar sobre as maçãs do meu rosto.
Deus, um toque e eu sinto como se cada nervo meu estivesse em chamas.
Ele tinha aquele mesmo efeito em cada mulher que teve a sorte de ser tocada
por suas mãos? Eu odiava esse pensamento e minha mente por trazê-lo à
tona. Ele supostamente era meu namorado agora, e como eu poderia
competir com as anteriores?
Vida injusta.
— Bem, eu não estou reclamando. Mas se sua mão quiser descer um
pouco mais, eu também não me importaria.
Eu bati em seu peito e ele agarrou minha mão para arrastá-la por sua
barriga, logo em seguida a levou até os lábios, seus olhos escuros
praticamente rindo para mim. — Só dando a você o sinal verde para me
tocar sempre que quiser, querida.
— Muito generoso da sua parte, realmente.
Ele bufou uma risada e me deu um sorriso malicioso.
— Isso é o que você disse na noite passada.
— Pervertido. — Quente, perfeito e pervertido.
— Diz a ragazza que estava me acariciando enquanto eu dormia. O
que isso te torna, então?
O desgraçado tinha um ponto muito bom. Ainda assim... — Eu
estava só verificando para ter certeza de que não deixei danos irreparáveis
em você. Eu odiaria deixar você de atestado por uns dias. Sabe o trabalho
que me daria para reorganizar sua agenda?
Anthony riu e seus músculos balançaram sob minha mão.
Malditamente quente. Eu tracei seu abdômen com a ponta dos dedos,
descendo lentamente e observei com atenção quando a risada morreu
gradualmente e suas mãos agarraram os lençóis, sua cabeça pendendo para
trás.
Ele me queria novamente. O que eu tinha feito para ganhar algo
assim? Acho que deveria orar em agradecimento aos santos de Amanda.
Eles fizeram seu trabalho muito bem.
Anthony se inclinou sobre mim, passando as mãos pela lateral do
meu corpo, até alcançar o confortável short que eu usava, seu olhar se
prendeu ao meu em uma pergunta muda. Acenei positivamente com a
cabeça, ofegante demais para pronunciar qualquer palavra coerente.
Fechei meus olhos quando sua mão subiu por minha coxa, passando
o polegar pela parte interna até chegar aonde eu realmente desejava. Um
resmungo escapou de mim quando ele passou os dedos superficialmente
sobre minha vagina, fazendo uma risada rouca escapar de seus lábios.
— Tão ansiosa.
— Pare de me torturar — resmunguei, suspirando quando ele se
livrou das peças ofensivas em seu caminho. Um grito de surpresa escapou
de meus lábios quando Anthony agarrou meu corpo e o girou para que eu
ficasse em cima dele, montando sua cintura enquanto suas mãos
rapidamente descartaram minha blusa, dando acesso irrestrito aos meus
seios.
Lá estavam aqueles dedos novamente. Eles eram mágicos.
— Certamente, é muito importante você verificar se houve algum
dano. — Ergueu meu corpo apenas para me alinhar com o seu pau antes de
guiar-me para descer de encontro ao seu quadril. Quando ele havia tirado a
cueca? Obviamente, não ousei reclamar.
Puta merda. Ver aqueles antebraços de aço me impulsionando para
cima e para baixo pela cintura, como se eu não pesasse nada, foi talvez a
coisa mais quente que eu já vi em toda a minha vida. Um gemido longo de
prazer escapou de meus lábios com a sensação de ser preenchida lentamente
por seu membro, suas mãos agarrando com firmeza minha cintura de modo
que eu sabia que as marcas estariam ali no dia seguinte.
Ele se inclinou para a frente e seu abdômen contraiu. Talvez eu
estivesse errada antes e essa foi a coisa mais quente do mundo. Caralho, ele
era quente. Ponto final. Tudo nele era além de sexy. Mas dado que eu
conseguia me beneficiar com tudo isso, não estava remotamente perto de me
queixar daquele fato.
Ele sorriu para mim e se recostou cruzando os braços atrás da
cabeça, a imagem da indiferença, apesar do fato de que eu atualmente estava
em cima dele com seu pau profundamente enterrado dentro de mim.
— Bem, amore mio, mostre-me o que você tem.
Hum, puta merda. Se fosse possível ficar mais excitada por esse
homem do que eu já estava, então eu simplesmente ficaria. Seus olhos
queimavam os meus, aquelas palavras saindo da sua boca perfeita... Eu
estava com medo de que simplesmente me transformaria em uma pilha
desossada de cinzas, porque meu corpo estava completamente em chamas.
— Eu não me canso de você, Bruna. Eu não quero que você vá para
casa quando chegarmos. Você pode ir direto para a minha — ele sussurrou,
o olhar ainda travado no meu. Eu tinha certeza de que eu concordaria em
fazer o que ele quisesse, contanto que ele continuasse olhando para mim
assim. — Si può andare?[43] — O que era isso que ele queria que eu fizesse
de novo?
— Posso o quê?
Oh, Deus, eu parecia uma atriz pornô. Minha voz sem fôlego e
ruidosa... bem, que porra. Eu já tinha pedido por pornografia antes e ele
tinha ficado excitado, então eu acho que estava tudo bem. Graças a Deus ele
achou a merda estúpida que eu disse engraçada e cativante.
— Ficar na minha casa quando chegarmos no Brasil. Depois do
trabalho, você pode voltar para a sua.
Sim. Para sempre. Eu sequer precisava de roupas e ainda teria o seu
cheiro em todos os momentos. Eu me casarei com você e terei seus bebês
e... que diabos, Bruna? Responda ao homem e coloque um pouco de freio
em si mesma, mulher.
Ele pode não ter fugido ainda, mas ele certamente faria se soubesse
que você estava planejando seus futuros bebês com o lindo sorriso dele, seus
olhos castanhos cativantes e seus... bem, eles poderiam simplesmente pegar
tudo dele.
Seria ótimo.
— Bruna?
Maldição. Foco. O cara mais incrível do mundo acabou de pedir
para você ficar com ele e você está ocupando sua mente nomeando seus
futuros filhos, Sabrina e Henry Ferraz Lombardi Mancini, para responder a
simples pergunta.
E agora você está fazendo isso de novo. Imbecil.
— Acho que isso pode fazer com que eu chegue atrasada na
empresa, e meu chefe odeia atrasos. — Consegui formular uma resposta,
fazendo seus olhos brilharem com o meu comentário.
— Tenho certeza de que eu consigo lidar com o seu chefe. — Ele riu
e me beijou.
— Sendo assim, acho que posso ficar. — Amanda ficaria puta
comigo, mas quando eu falasse o motivo, tenho certeza de que ela
entenderia.
Ele me beijou mais forte e suas mãos apertaram a minha cintura.
Entendi a mensagem e comecei a mover meu quadril, cavalgando em seu
pau. Eu estava com medo de que poderia explodir meu útero, ou algo assim,
porque ele era tão grande e eu me sentia tão preenchida, porém, eu
claramente não me importava. Exceto que, talvez, aquilo pudesse impedir o
nascimento de Sabrina e Henry, o que seria uma pena porque,
verdadeiramente, os genes dele devem ser compartilhados com o mundo.
Através dos nossos filhos, não do seu pau. Ele é meu.
Eu amei essa posição. Comigo montada nele, nossos corpos tão
próximos, seus olhos observando-me atentamente enquanto os polegares se
moviam sobre meus mamilos e sua boca percorrendo a linha da minha
mandíbula.
Era incrível como ele podia me beijar tão reverentemente enquanto
eu estava saltando para cima e para baixo em seu pau. Ele fazia eu me sentir
tão forte quanto ele, e ao mesmo tempo como se fosse frágil como um vidro.
Era lindo e assustador. Ele podia me construir, mas sem esforço, também
poderia me destruir.
Anthony Mancini segurava meu coração, não havia dúvidas sobre
isso. Eu não era boba... sabia que estava apaixonada por ele muito antes
dessa viagem, mas quando eu realmente o conheci e estive em seus braços
pela primeira vez, tive certeza. Eu o amava. Tive autocontrole o suficiente
para não dizer isso em voz alta, já que tinha medo de colocá-lo em uma
situação indelicada com aquelas três palavras, apesar de nos conhecermos
há um ano e sabermos tudo um sobre o outro. Anthony definitivamente se
assustaria. Então a opção seria segurá-las até que ele falasse primeiro. Isso
se ficássemos juntos até esse momento.
Seus lábios encontraram os meus e eu me perdi novamente. Anthony
levou cada pensamento meu com apenas um beijo exigente e faminto.
Caralho. Muito mais do que potente, ele era letal da melhor maneira
possível. Suas mãos apertaram minha cintura novamente e me moveram um
pouco e, de repente, seu delicioso pênis estava acertando o ponto certo e eu
estava vendo estrelas ao mesmo tempo em que me desfazia em torno dele.
Anthony gemeu contra meus lábios e o senti gozar profundamente
dentro de mim, agradeci internamente por Amanda me fazer tomar
anticoncepcional desde o meu último namoro, por mais que eu nunca tenha
dormido com o desgraçado. Anthony e eu tínhamos conversado sobre isso e
já que nós dois estávamos limpos, eu simplesmente queria senti-lo dentro de
mim sem barreiras.
A melhor decisão da minha vida, de fato.
Ele se afastou e me deu um sorriso irresistível, onde me senti
sorrindo de volta. Seu cabelo estava caindo em seus olhos novamente e eu
os escovei para longe de seu rosto.
— Bem-vinda ao clube das alturas* — murmurou com um sorriso
pervertido. E não pude fazer nada além de corresponder.
*clube das alturas: Se refere a pessoas que tiveram relações sexuais
durante um voo.
Capitulo 17
Anthony
Olhei a grande janela de vidro atrás de mim enquanto massageava
minhas têmporas, ouvindo uma desculpa qualquer de George do outro lado
da linha. Era cedo demais para essa merda.
— Essa foi a última vez — rosnei, sentindo minha cabeça latejar.
Tudo o que eu queria era voltar para a minha casa e ter Bruna em meus
braços novamente, porém, ao invés disso estava tendo que lidar com cazzo[44]
de funcionários incompetentes que non fizeram seus trabalhos enquanto eu
estava fora.
— Senhor, o levantamento está sendo feito. Non sei o que aconteceu,
mas encontraremos o erro.
— Vocês tem até o fim do dia para encontrar e consertar a porra
desse erro! — gritei a última parte e praticamente bati o telefone, ouvindo a
porta sendo aberta. Girei a cadeira ao ouvi-la ser fechada com um suave clic.
Olhei diretamente para os olhos castanhos escuros que continham
meu coração. Uma semana tinha se passado desde que voltamos do
casamento fracassado do mio cugino, e todos os dias minha fantasia pornô
envolvendo minha assistente ganhava vida diante dos meus olhos.
Especialmente hoje.
Bruna estava vestindo uma blusa branca que moldava perfeitamente
seus deliciosos seios e uma saia preta que mostrava suas pernas longas e
adoráveis que eu estava morrendo de vontade de ter ao meu redor.
Infelizmente ela havia sido bem clara quanto manter o profissionalismo na
empresa, mas o inferno estaria frio se eu non iria tentar realizar minha
fantasia em algum momento.
— O relatório do financeiro durante a sua ausência está na sua mesa
— falou formalmente, carregando um copo em suas mãos, como todas as
manhãs. — Seu café preto e sem açúcar do Coffee Lad.
Ela inalou profundamente, o que fez seu peito se expandir ao colocar
o café sobre a mesa, seus dedos roçando nos meus no processo, o que os fez
coçar com a vontade de tocá-la.
— Me informaram que esse relatório non estava pronto — soltei sem
pensar muito, já que praticamente demiti meu gerente financeiro por isso.
Bruna olhou para mim com os olhos em chamas. Ela sempre ficava
especialmente linda quando irritada.
— Antes de sua viagem, o senhor deixou bem claro que queria o
relatório na sexta-feira em sua mesa, e ele está aqui. Quem quer que tenha
dito que eu não o consegui, claramente duvidou da minha competência.
Sarcasmo escorreu em seu tom e eu senti meu pau se contorcer com
o calor em sua voz.
— Então, senhor Mancini. Você deseja mais alguma coisa?
Senhor Mancini? Eu amava como isso soava em seus lábios
carnudos, apesar de preferir que ela me chamasse pelo meu nome quando
estávamos a sós.
Mesmo assim, toda aquela cena era realmente como um pornô,
Matheus morreria de inveja. Dei a ela o meu sorriso sexy em resposta,
implorando mentalmente para que Bruna cedesse às minhas investidas dessa
vez.
— Senhor Mancini? É assim que vamos jogar? — Ela levantou a
sobrancelha para mim e ergui a minha em diversão. Isso estava ficando mais
interessante a cada momento. — Sì, senhorita Ferraz, gostaria de revisar o
relatório com você.
Nunca precisamos ficar juntos para revisar qualquer relatório antes,
mas só no inferno que eu a deixaria sair dessa sala sem colocar minhas mãos
sobre ela. Arrastei meus olhos lentamente por todo o seu corpo em uma
avaliação óbvia e descarada, exatamente como qualquer ator pornô faria.
— Tranque a porta, non quero que sejamos interrompidos.
Agora foi sua vez de abrir um sorriso pequeno, fazendo exatamente
o que pedi. Ela atravessou a sala na minha direção, quadris balançando
naquela saia sexy que eu queria rasgar para fora dela. Bruna parou a alguns
centímetros da mesa onde eu poderia facilmente rasgar sua camisa e tirar
aquela pedaço de pano ofensivo do meu caminho, porém eu também queria
saber até onde isso nos levaria.
Dei a volta na mesa e me sentei em uma cadeira confortavelmente,
estendendo minha mão para que ocupasse a outra. Bruna parecia duvidosa,
seus olhos intercalavam entre mim e a cadeira. Após um momento longo de
deliberação ansiosa, suspirou baixo antes de avançar para se sentar.
Abri os dois primeiros botões da minha camisa, passando a mão por
minha nuca. Resisti ao impulso de rir quando suas mãos se fecharam em
punhos e sua boca se abriu em um pequeno e sexy ‘O’.
Bruna sabia o que eu estava fazendo, então cruzou as pernas, o que
fez a saia subir, me permitindo uma visão maior de suas coxas, mordendo o
lábio inferior logo em seguida porque sabia o efeito que isso tinha em mim.
Meu pau reagiu e sussurrei a palavra — porra — antes que eu pudesse me
conter.
Ela sorriu com a pequena vitória.
— O que foi isso, senhor Mancini?
— Nada, senhorita Ferraz. Por favor, sinta-se à vontade para me
chamar de Anthony.
Eu me sentia cada vez mais na borda quando ela me chamava dessa
forma e, embora fosse uma fantasia fodidamente quente, ela ainda era minha
Bruna e eu o seu Anthony e non queria que isso mudasse enquanto
estivermos sozinhos. Mesmo na empresa, apesar de seus avisos diários.
Ela me fuzilou com o olhar, sabendo que estávamos ultrapassando a
barreira do profissionalismo que ela insistia em manter. Eu tinha completa
convicção que nosso relacionamento non iria atrapalhar sua eficiência ou a
deixaria acomodada. Non era assim que minha ragazza funcionava, então
por que esconder nosso relacionamento?
Bruna desviou o olhar, pegando o relatório financeiro feito durante
nossa ausência.
— Tivemos um grande gargalo na reconstrução da empresa
Turnberry Associates, o que causou um pequeno furo no financeiro da
empresa. — Começou a explicação do relatório com o profissionalismo
usual.
Maledizione.[45]
E bem aqui estava uma das muitas razões pela qual eu estava cada
vez mais apaixonado por ela, muito próximo de amá-la. Nenhuma outra
assistente saberia exatamente todo o conteúdo dos documentos solicitados.
Ela non apenas conseguiu o relatório completo, mas sabia onde tinham
acontecido as falhas.
Inclinei a cabeça, encarando-a, e dei a ela o meu melhor sorriso.
— Isso eu estou ciente, a questão é como mesmo com a margem de
erro, conseguiram gastar tudo isso a mais? O relatório sobre o que deveria
ser feito na construção na minha ausência foi redigido por você. Então, pode
me explicar como passamos mais de quarenta mil reais do orçamento
original? — Esse valor non significava nada para mim, mas queria desafiá-
la exatamente como ela fazia comigo.
Pega essa, amore mio.
Bruna balançou a cabeça, os longos cabelos negros roçando
suavemente contra seu seios. Engoli em seco em como ela parecia muito
sexy e tentei me concentrar.
— O relatório contém uma planilha detalhada dos valores gastos.
Em resumo, ocorreu um mau dimensionamento e alocação de recursos,
entretanto, isso não é mais de minha responsabilidade. Meu papel é
unicamente repassar suas ordens e ter a certeza que os relatórios solicitados
estarão em ordem, isso deve ser averiguado com o gerente de gestão que
está à frente desse projeto.
Eu non conseguia parar de sorrir. O que possivelmente me fazia
parecer como algum tipo de louco psicopata, mas Bruna era fantástica
demais e eu non podia e nem queria evitar. Olhei para ela, non me
preocupando em disfarçar o quanto eu a queria.
— Tenha certeza de que irei averiguar cada pequeno detalhe,
senhorita Ferraz. — Parecia que ela estava prestes a desmaiar com minhas
palavras.
Basta esperar até que eu a toque, Bruna.
Ela olhou para mim e sorriu.
— Eu acredito que você já tenha tudo o que precisa então. — Sua
voz era calma e seus olhos firmes.
Definitivamente io non tinha conseguido tudo o que eu precisava e
sabia muito bem que ela também não. Bruna arrumou o relatório sobre
minha mesa e se levantou para voltar ao seu trabalho. Fora do meu
escritório. Longe das minhas mãos.
— E você, tem tudo o que precisa? — eu perguntei com calma,
apesar de saber com certeza de que non, ela non tinha. Seu corpo tenso e as
íris nubladas de desejo eram respostas mais do que o suficiente para mim.
Ela se virou lentamente, com os olhos arregalados e o rosto corado.
Bruna sabia que eu non a deixaria sair da minha sala antes de tê-la.
— Sim? — Soou como uma pergunta e sorri para aquilo. Ela deu um
passo trêmulo para longe de mim. Eu podia ver como sua mente batalhava
sobre o que fazer.
Eu levantei e dei um passo em sua direção.
— Você tem certeza disso? — Seus mamilos endureceram em
resposta, saltando abaixo da superfície de sua camisa branca.
Seus olhos estavam nos meus quando ela respondeu.
— Não.
Aqui estava a resposta que eu ansiava. Caminhei lentamente em sua
direção, parando a alguns centímetros de distância de seu corpo. Ela tentou
se afastar, acabando pressionada contra a porta. Coloquei meus braços em
cada lado dela, prendendo-a ali.
Sì, amore mio, você está presa a mim agora e non sairá, nunca.
Aquele pensamento me pegou desprevenido, contudo, parecia
completamente certo, o que me fez abrir um sorriso.
Eu me inclinei em sua direção, meus lábios a milímetros dos dela.
— O que você precisa, senhorita Ferraz?
Estendi a mão em direção a ela e corri meu polegar por seu pescoço.
Finalmente, minhas mãos estavam nela e precisei me controlar para non ir
rápido demais. Eu a toquei levemente, observando os arrepios enquanto eu
traçava sua pele delicada. Ela virou a cabeça e chupou meu polegar em sua
boca, fazendo exatamente como ela fez na noite anterior com o meu pau, e
eu gemi em resposta, pressionando meu corpo contra o seu, deixando-a
sentir o efeito que tinha sobre mim.
— Você non respondeu — falei enquanto distribuía uma trilha de
beijos de sua mandíbula até sua orelha. A senti estremecer contra mim em
resposta. — O que mais você precisa, Bruna?
Ela soltou meu polegar e inclinou a cabeça contra a porta totalmente
rendida.
Cazzo, finalmente.
— Você, eu preciso de você — sussurrou. Eu mordisquei sua orelha
e sorri, sabendo que tinha ganhado. Bem, nós dois éramos vencedores
quando se tratava disso.
Ofereci um sorriso sensual e arrogante com sua resposta.
— Então pegue o que é seu — disse, estendendo os braços em um
gesto de rendição. Ela estremeceu de nervosismo, porém foi necessário
apenas seus olhos descerem até a minha ereção para que lambesse os lábios
com a língua e suas mãos voaram até a minha camisa. Eu queria saboreá-la
da mesma forma que havia feito de manhã antes de virmos trabalhar.
Entretanto, suas mãos no botão de minha calça fizeram qualquer
pensamento coerente ser atirado pela janela, ouvindo sua respiração
irregular enquanto abria o zíper.
— Tire ele para mim — ela sussurrou em meu ouvido, fazendo todos
os pelos do meu corpo se arrepiarem. — Quero ver você puxá-lo, assim
poderei guardar essa imagem para as noites que estiver sozinha em meu
quarto.
Todo o autocontrole que eu estava tentando exercer desapareceu com
seu pedido e agarrei seu pescoço, tendo o cuidado de apertar apenas o
suficiente, meus olhos selvagens presos nos seus.
— Fique de joelhos! — ordenei, soltando-a.
Ela concordou com um sorriso sensual enquanto se ajoelhava diante
de mim, a imagem da perfeição diante dos meus olhos. Lentamente retirei
meu pênis da cueca, enquanto seu olhar acompanhava cada movimento com
extrema concentração e isso me deixou impossivelmente mais duro.
Suas mãos macias o circularam, fazendo um gemido escapar de
mim. Desci os olhos e assisti quando ela colocou a língua para fora e
delicadamente passou em torno da cabeça. Vacilei com o contato e movi
meus quadris para frente, em busca do calor de sua boca.
— Fanculo[46], isso. Assim… me tome todo! — grunhi.
Segurei seus cabelos em um rabo de cavalo enquanto empurrava
contra a boca dela, que se engasgou no início, tentando abocanhar o máximo
que conseguia e segurando a base com a mão. Deslizei até tocar o fundo de
sua garganta, sentindo quando ela relaxou para que eu fosse mais fundo.
Suaves ruídos encheram o escritório. O som erótico apenas
aumentou minha excitação. Bruna acariciou meu membro e deslizou a
língua por todo o comprimento.
— Você é uma pequena sedutora — sussurrei rouco.
Ela sorriu, uma de suas mãos indo até minhas bolas, massageando-as
cuidadosamente enquanto sua boca carnuda continuava me levando ao céu.
Um gemido alto escapou por meus lábios, meu corpo ficando cada vez mais
tenso pelo prazer que queria explodir.
— Você tem que parar, amore mio — gemi com os olhos fechados.
— Senão vou gozar.
Ela passou a língua uma última vez por meu pênis e colocou-se em
pé, um sorriso malicioso brincando em seus lábios.
— Esse é o ponto, senhor Mancini.
— Non dessa vez. Agora me diga, senhorita Ferraz, você já foi
fodida em um escritório? — questionei, mas antes que ela pudesse
responder, esmaguei minha boca contra a sua em um beijo quente e
exigente, voraz, nossas línguas duelando para ver quem assumiria o
controle.
— Ainda não, senhor Mancini, mas espero mudar isso em breve.
Assim que você resolver me foder — ela conseguiu responder quando nos
separamos, seus olhos levemente nublados pelo prazer, enquanto esfregava
suas coxas em busca de fricção.
Minha paciência acabou com suas palavras e tudo o que restou foi a
necessidade por ela, precisava senti-la ao redor de mim ou sentia que
enlouqueceria.
Capitulo 18
Anthony
Eu a beijei novamente e apesar de suave, exigi cada parte dela, que
respondeu e devolveu de bom grado. Deslizei minha mão pelas mechas
soltas de seu cabelo, a puxando de encontro ao meu corpo, a outra mão
deslizando por suas costas. A compreensão de meus sentimentos fez meu
coração disparar enlouquecidamente.
Io non quero mais ninguém em minha vida, ela é minha pelo espaço
de tempo que me quiser. Desejo que seja pelo resto de nossas vidas.
Diavole[47], como passei tantos meses me enganando?
Mio, pensei. Tu sei il mio.
— Você é minha — deixei escapar em um sussurro contra seus
lábios, sentindo suas pernas tremerem diante das minhas palavras. — Você.
É. Minha. Toda minha, Bruna Ferraz.
Meus lábios pairavam sobre os dela enquanto sua respiração se
misturava à minha, porém, ela non se aproximou. Seus olhos brilhavam com
uma emoção desconhecida, sua mão subindo por minha bochecha e indo
para minha nuca, pressionando seu corpo contra o meu, me puxando para
baixo.
— Isso está indo rápido demais, Anthony, e estou com medo —
murmurou, senti seu corpo tenso sob o meu, o que me fez entrar em alerta.
— Antes de começar a trabalhar aqui, eu tive um namorado, Constantino.
Ele foi um completo babaca comigo e desde então eu estive sozinha.
— Bruna…
— Me deixe terminar — pediu, encarando meus olhos. — Mas então
você apareceu e desde o primeiro dia eu não consegui tirá-lo da minha
cabeça. Não passava de um desejo inalcançável, talvez até mesmo uma
paixão platônica. Mas agora você está aqui, comigo, e minha cabeça ainda
tem dificuldade em acreditar que tudo isso é real e que você me quer. Não
apenas o meu corpo, mas me quer por completo.
— Você non é a única que está com medo, mio angelo — respondi,
unindo nossas testas —, contudo, io non estou indo a lugar nenhum sem
você. Seu ex é um desgraçado por deixar escapar a ragazza perfeita que
tinha, mas io non vou reclamar disso, já que agora você pertence a mim. Um
ano, um mês ou um dia, non me importo a quanto tempo estamos juntos, o
que importa é o que sinto por você. E é maior do que já senti por qualquer
outra ragazza em minha vida.
Seus olhos castanhos brilharam em uma mistura de emoções que
atingiram diretamente meu coração, uma lágrima teimosa desceu por sua
bochecha e rapidamente beijei a trilha deixada em sua pele.
— Eu estou aqui — repeti, beijando outras partes de seu rosto em
adoração, como se ela pudesse a qualquer momento desaparecer diante dos
meus olhos e somente a mera possibilidade fazia meu coração acelerar e
uma dor surda se instalar em meu peito.
— Só me beije e me faça esquecer todas as incertezas — Bruna
pediu em um sussurro e de prontidão atendi seu pedido, necessitando tocá-
la, saber que aquilo era real, que ela era minha tanto quanto ela precisava.
Dessa vez io non fui suave e calmo, precisava dela e cada toque dos
meus lábios ou das minhas mãos era exigente, o sentimento de urgência
crescendo a cada segundo.
Seus dedos voltaram ao meu rosto enquanto correspondia, as unhas
deslizando para a parte de trás do meu pescoço, me abraçando mais forte,
como se ela achasse que eu poderia soltá-la.
Eu nunca poderia, mesmo que me esforçasse.
Non com a sua língua acariciando a minha daquela forma. Ela queria
mais de mim, da mesma forma que eu necessitava mais dela. Aprofundei o
beijo, enquanto minhas mãos erguiam-se desesperadamente até sua blusa,
puxando-a com violência, estourando os botões que voaram pelo escritório.
Bruna non reclamou, ou talvez non tenha percebido. Me afastei o
suficiente para apreciar seus seios cobertos por um sutiã de renda branco,
um sorriso crescendo em meu rosto ao notar os mamilos endurecidos contra
o tecido. Sem perder tempo, passei minha boca sobre o direito, molhando a
renda no processo e o suguei logo em seguida, sendo agraciado com um
longo gemido vindo dela.
Enquanto minha boca trabalhava contra seu seio, deixei minhas
mãos escorregarem por seus ombros, deslizando o que restou da camisa e as
alças do sutiã, observando com prazer o gancho frontal e com dois dedos me
livrei daquela peça no meu caminho.
Exalei lentamente quando seus seios ficaram totalmente livres,
tirando um momento para apreciar o movimento hipnotizante de subir e
descer de acordo com sua respiração descompassada.
— Anthony — sussurrou, meu nome saindo em um apelo.
Desta vez, eu obedeci.
Meus lábios seguiram os traços da minha expiração, passando em
uma linha molhada por seu pescoço e sobre o topo de um seio. Ela arqueou
contra mim e impaciente segurou minha cabeça guiando direto para onde
me queria. Mordisquei seu mamilo, provocando um grito do fundo de sua
garganta. Depositei um beijo molhado sobre a mordida, aliviando a sensação
de dor.
Passei a ponta de meus dedos no cós de sua saia, alcançando um
zíper lateral camuflado e o desci, o tecido se acumulando em seus pés. Movi
meus olhos para encontrar uma calcinha fio dental rendada, preta e
praticamente transparente. Minha boca salivou com a visão.
Bella.[48]
Perfetta.
La mia.
Fiquei de joelhos, beijando-a ao longo do caminho e retirei a
minúscula e encharcada peça, deixando-a somente sobre seus saltos.
Os dedos dela dispararam para meu cabelo mais uma vez e eu non
pude mais resistir. Passei a língua em sua boceta, e puta merda, jamais me
cansaria de seu gosto. Endureci minha língua e brinquei com sua entrada,
arrancando suspiros e tremores de Bruna e voltei a atenção para seu clítoris
inchado, colocando dois dedos em seu núcleo.
Seu gemido engrossou meu pau.
Sua voz ronronando meu nome acelerou meu coração.
E a maneira como ela se entregou completamente a mim, fez minha
alma voar.
Pela primeira vez em toda a minha vida, me senti livre.
Completo.
Onde eu precisava estar.
E eu estava de joelhos, adorando a ragazza que havia conquistado o
meu coração, com minha língua.
Bruna
O prazer me atingiu com força total, fazendo-me tremer contra a
parede e meu corpo só não cedeu porque Anthony foi rápido o bastante para
levantar e agarrar minha cintura, me mantendo firme em meus pés. Alguns
segundos se passaram enquanto sentia pequenos espasmos provocados pelo
orgasmo de antes.
Quando minha respiração se normalizou, um sorriso bobo brincou
em meus lábios e abri os olhos, encontrando as íris castanhas que eu tanto
amava dilatadas em excitação, como folhas de outono. Não importava
quantas vezes eu olhasse para ele, a sensação que se alastrava pelo meu
corpo sempre seria a mesma.
— Eu preciso de você e não serei delicado dessa vez — Anthony
avisou, as mãos descendo para minha bunda, apertando-a firmemente.
— Faça o seu melhor, Anthony Mancini — desafiei, sentindo meu
baixo ventre formigar e meu corpo incendiar com o seu olhar.
Em um movimento que me pegou desprevenida, ele me virou e me
pressionou contra a porta, colando seu peito contra minhas costas, seus
lábios descendo por minha coluna em uma carícia suave, fazendo um
gemido escapar por meus lábios.
— Abra as pernas para mim, amore mio.
Sem hesitar, obedeci, sentindo o ardor de um tapa em uma nádega,
seguida de uma massagem no mesmo local do golpe. Aquilo enviou uma
descarga diretamente a um ponto entre minhas pernas, um grito de dor e
prazer rasgando por minha garganta.
— Agora eu quero que você empine essa bunda deliciosa.
Ofeguei diante da autoridade em seu tom, me deixando
completamente tonta. Com dificuldade, obriguei minhas pernas a me
obedecerem e ouvi o momento em que ele ficou de joelhos mais uma vez e
abriu minhas nádegas, expondo o local até então intocado.
— Anthony — sussurrei, tentando fechar as pernas por reflexo.
— Calma, feche os olhos e aproveite — ele soprou e tentei relaxar,
até que senti sua língua indo de meu canal à minha segunda entrada, um
arrepio passando por todo o meu corpo por seu toque. Era tão errado,
promíscuo e porra, bom pra caralho. Ele endureceu a língua e circulou ali,
fazendo uma onda de emoções diferentes percorrerem minha pele.
Senti o momento em que sua língua foi substituída por um dedo,
meu corpo voltando a ficar tenso.
— Calma, prometo que se você não gostar eu paro.
Suas palavras me acalmaram, até que senti a pressão de seu dedo e
aos poucos ele me penetrou, ambos gememos com o contato. Seu dedo
começou a trabalhar para dentro e fora de mim, aumentando a velocidade
gradativamente e eu sentia que estava na beira de um precipício quando ele
adicionou mais um dedo, me alargando ainda mais.
Estava à beira de um orgasmo quando ele os retirou totalmente de
mim, me deixando com uma sensação de vazio e um resmungo de
insatisfação, fazendo o desgraçado rir.
Anthony voltou a ficar em pé, as mãos subindo para minha cintura a
fim de me virar, os lábios devorando os meus logo em seguida. Sentia meu
centro latejar de desejo, fazendo minhas mãos trabalharem apressadamente
em sua camisa, tirando-a do caminho e agradeci aos céus por ele já ter se
livrado de sua calça e cueca.
Com uma facilidade impressionante, ele me ergueu e passei minhas
pernas por sua cintura, ofegando ao sentir a cabeça de seu membro cutucar
minha entrada. Não consegui evitar o grito de prazer que me escapou
quando ele entrou em mim em uma única estocada, fazendo uma pequena
parte de meu cérebro me lembrar que ainda estávamos na empresa e a
qualquer momento alguém poderia ir até aquele andar e ouvir tudo. Porém,
o pensamento sumiu com a mesma velocidade que apareceu.
— Eu amo como sua boceta me aperta, isso me deixa louco —
Anthony rosnou, as estocadas se tornando mais firmes, até que senti seu
dedo voltar a pressionar minha outra entrada, penetrando aos poucos, um
contraste direto com a forma bruta com que eu estava sendo fodida. Tudo
começou a se tornar demais quando um segundo dedo foi inserido e ele
sincronizou as estocadas.
Palavras desconexas escaparam de meus lábios enquanto minhas
costas batiam contra a porta de seu escritório audivelmente, meus braços
circulando seu pescoço para me manter firme contra ele. Não demorou
muito para que sentisse a já familiar sensação se alastrando por minha
vagina, se acumulando em meu baixo ventre e antes que pudesse me
preparar, fui atingida por um poderoso orgasmo, que roubou meu ar, tirando-
me momentaneamente de órbita.
Consegui ouvir seus gemidos e meu nome saindo por seus lábios
quando ele aumentou a velocidade, alcançando o próprio prazer.
Quando acabou, retirou com cuidado seus dedos de dentro de mim e
me ajudou a desprender as pernas de sua cintura, me mantendo firmemente
apoiada contra o seu corpo. Eu não podia confiar em mim mesma naquele
momento, já que meu corpo praticamente havia se transformado em geleia.
— Isso foi incrível — sussurrei com minha testa apoiada em seu
peito, que ainda subia e descia descompassadamente.
— Eu machuquei você? — Preocupação era evidente em sua voz,
um sorriso bobo surgindo em meus lábios ao senti-lo beijar meu cabelo
carinhosamente.
— Fora um pequeno incômodo, estou perfeitamente bem —
respondi com sinceridade, cansaço evidente em minha voz.
Ambos estávamos esgotados e completamente saciados.
— Precisamos de um banho, mio angelo — ele externou o que
estava em minha mente e me ergueu em seus braços, fazendo um grito
escapar pelo susto. Porém, o bastardo apenas riu e me levou até um banheiro
anexo ao escritório. Era pequeno, mas serviria.
Fechei os olhos quando a água caiu em meu corpo, meus membros
relaxando imediatamente, enquanto emitia murmúrios de prazer e
aprovação. Senti quando mãos fortes espalharam o sabonete sobre o meu
corpo e os abri, notando seu rosto completamente sério, concentrando em
sua tarefa.
Seus dedos massagearam meus ombros, me fazendo soltar um
murmúrio de aprovação. Nunca havia me sentido tão em paz e feliz como
naquele momento.
— Tu é bellissima — falou repentinamente, depositando um beijo
casto em meus lábios. — Não sei se um dia irei me acostumar com isso. Só
o que eu sei é que sou um bastardo sortudo.
Ri de sua frase, meneando a cabeça, sentindo a pressão de seus
dedos em meus braços.
— Eu amo seus dedos, Anthony Mancini. — Isso o fez soltar uma
risada rouca, seus olhos brilhando em reconhecimento e diversão.
Acredito que eu esteja completamente apaixonada por você, e amo
mais do que apenas algumas partes de seu corpo. Eu amo você, mas não
acho que esteja pronto para ouvir isso e eu sei que não estou pronta para
dizer.
Passei a ponta de meus dedos por seu rosto, decorando cada
contorno. Assim que ele terminou de me limpar, retribui o favor, adorando
passar minhas mãos por seus músculos tonificados e bem distribuídos.
Quando ambos estávamos limpos, ele pegou uma toalha para cada e
quando comecei a me secar lembrei de um detalhe muito importante: minha
camisa.
— Você destruiu minha camisa! Como você pretende que eu saia do
escritório? Não posso continuar trabalhando somente com a parte de baixo
de minhas roupas. Por Deus, o que as pessoas irão pensar?
Senti um par de mãos segurarem meu rosto e fui obrigada a encarar
seus olhos.
— Respire. Eu tenho uma solução.
Acenei com a cabeça, incapaz de responder qualquer coisa coerente
com ele me olhando daquela maneira. O observei caminhar até um pequeno
armário embutido e tirar de lá uma camisa branca.
— Essa camisa é sua, e caso não tenha notado, vai ficar como um
vestido em mim — falei, o encarando incrédula. — Assim que colocar os
pés para fora desse andar, toda a empresa saberá sobre nós dois, Anthony —
resmunguei, agarrando a peça sem ter muitas opções.
Meia hora depois, estava encarando meu reflexo no espelho do
banheiro, remexendo na camisa em uma tentativa falha de deixar menos
óbvio o que havia acontecido. Isso sem ignorar o fato de meu cabelo ainda
estar úmido do banho recente.
— Todos saberão que transei com você — choraminguei uma
lamúria, me virando para Anthony, que parecia radiante em me ver usando
sua camisa. — Preciso ir para casa e trocar de roupa, não posso continuar
assim.
— Eu levo você — respondeu imediatamente, erguendo a mão em
minha direção.
— Não! Chamará ainda mais atenção se sairmos os dois com os
cabelos molhados!
— Eu não me importo e você também não deveria se importar, mio
angelo — Anthony respondeu, se aproximando até colocar as mãos em
minha cintura.
— Podemos ao menos usar o elevador executivo? Corremos menos
riscos de encontrarmos alguém e ele vai direto para a garagem — implorei,
e suspirei aliviada quando ele concordou, me guiando para fora do banheiro,
sua mão firme na minha.
— Algumas de suas peças de roupa ficaram no apartamento, então
vamos para casa.
Casa. Sorri pela forma despreocupada que ele falou, como se fosse
minha casa também. Talvez se eu tivesse muita sorte, afinal.
Capitulo 19
Anthony
— Vamos, garoto Vogue, me diga: era qui?[49] — Eu o ignorei,
continuando a guardar meus pertences em uma pasta, como se ele não
estivesse à espreita atrás de mim.
— Aqui o que? — Não mordi a isca, checando meu celular para ver
se tinha alguma mensagem de Bruna, logo em seguida trancando o armário
do escritório.
— Non foi contra a janela de vidro, non è? — Ele soou
perturbadoramente animado com a ideia de que poderia ter sido contra o
vidro, onde as pessoas do prédio à frente poderiam ver que Bruna e eu
tínhamos transado e foi eu finalmente olhei em sua direção.
— Matheus, che cazzo di problema hai?[50] Por que está tão
malditamente interessado no lugar onde foi?
Exigiu toda a gama de meu autocontrole para não olhar para a porta
atrás dele, porque, maldito seja, aquele lugar ficaria marcado para sempre
em meus mais doces sonhos. Aquela parede e porta se tornaram
praticamente sagrados, e se não fosse atrapalhar meu escritório e algumas
reuniões importantes, eu definitivamente iria construir um altar, como um
santuário ali. Embora, tenho certeza de que Bruna me mataria se eu fizesse
algo como isso.
— Porque, fratello, é algo realmente grande! — Seus olhos
castanhos estavam comicamente arregalados. — Precisamos marcar o local
e honrá-lo por toda a eternidade. Você viveu o sonho de todo homem. Pare
de ser egoísta!
O fato de que nossos pensamentos eram praticamente iguais
realmente me perturbou. Claramente, eu estava passando muito tempo com
ele nos últimos dias.
Antes que eu pudesse responder, um Lucca com luvas entrou no
escritório sem bater, carregando um desinfetante e um pano em suas mãos.
Ele rapidamente espalhou o produto por toda a porta, de ambos os lados,
com os olhos fixos em sua tarefa de limpar todas as superfícies disponíveis.
Matheus começou a rir e eu apenas o encarei chocado.
— Mas que cazzo você está fazendo, Lucca? Demitiram as
faxineiras e eu não estou sabendo?
Mio fratello lançou um sorriso de merda em minha direção,
enquanto descartava as luvas de limpeza.
— Estou apenas me prevenindo, Matheus mandou mensagem
falando que vocês transaram no escritório e se não foi em sua mesa, foi
contra a porta — respondeu, como se fosse óbvio.
Suspirei e passei a mão pelo meu cabelo.
— Mesmo que tivesse sido contra a porta ou a parede, eu não
derramaria meu esperma sobre tudo — rosnei, cansado de toda a merda que
os dois estavam me dando.
— Foi aí! — Matheus gritou triunfante, empurrando Lucca para fora
do caminho e quase colando seu rosto contra a madeira de mogno. Apenas
para enrugar o nariz quando o cheiro de pinho infiltrou suas narinas. —
Idiota, você arruinou o local — ele acusou, parecendo verdadeiramente
chateado com aquilo.
— Não foi aí, scemi![51] — menti descaradamente, mantendo a
expressão neutra no rosto. — Vocês dois podem parar com isso? — exigi.
Porque, exatamente, eu decidi esperar Matheus aqui no escritório,
estava além de mim. Poderia ter mandado ele me encontrar em casa ou em
um bar e ter evitado a perseguição. Não tinha mais ninguém na empresa,
com exceção dos seguranças e alguns funcionários da limpeza, e agora
estava preso com aqueles dois babacas.
Lucca empurrou Matheus para fora do caminho antes de fechar a
porta agora não contaminada.
— Vocês dois estão realmente obcecados com minha vida sexual?
Matheus está a meia hora tentando descobrir onde foi. Estou surpreso que
ele não trouxe uma lupa para ajudar com a busca.
Mio cugino franziu a testa e se sentou em uma poltrona, os braços
cruzados contra o peito.
— Na verdade, eu cheguei a comprar, separei até alguns cotonetes.
Mas Sofia me disse que estava indo longe demais e me proibiu de trazê-los.
— Revirei meus olhos e ele sorriu de novo. — Vamos lá, Lobo de Wall
Street, você sabe que eu estou apenas dando merda a você. Eu estou
morrendo de inveja, ragazzi[52].
Eu o olhei por alguns segundos antes de desistir e balançar a cabeça.
— Io non sei por que eu digo as coisas a vocês.
Matheus riu, covinhas aparecendo em suas bochechas.
— Você non me disse nada, Mais Bonito, eu simplesmente sabia que
isso iria acontecer. — Ele estava praticamente brilhando orgulhosamente.
Qualquer um pensaria que tínhamos acabado de fechar um contrato
milionário, ou algo assim, com a expressão em seu rosto.
— Porque há algo muito errado com você. Quem assume
imediatamente que eu fiz sexo com a Bruna no escritório na semana que
voltamos de viagem?
Lucca sorriu.
— Qualquer homem com sangue vermelho nas veias que já
trabalhou em um escritório ou já esteve em um? Vamos lá, Anthony. Eu falei
para o Matheus que você passou um ano com essa viadagem de não tomar
uma atitude e vocês começaram a se relacionar de verdade na viagem, e não
há dez meses como falaram para todo mundo.
Olhei para mio fratello, desacreditado. Então era por isso que
Matheus estava na minha cola a semana toda?
— Vogue, preciso dizer que estou decepcionado com você. Precisou
da ajuda de Beatriz e Lucca para que você tomasse uma atitude? Eu
claramente terei que enviar uma carta para a capricho* para rescindir seu
título de “Homem mais Sexy Com Quem Gostaríamos De Casar.”
Capricho? Sério? Em primeiro lugar, eu não acho que ainda exista
essa revista e, em segundo lugar, se existisse era melhor não estarem
escrevendo sobre mim.
*Capricho: é uma revista teen da editora Abril.
— Primeiramente, Matheus, eu não preciso dos seus conselhos. Ter
uma régua jogada na minha testa não é exatamente a maneira que eu tenho
em mente de como começar um relacionamento.
— Ei! Minha Sofia é espirituosa! Você terá sorte se Bruna tiver
metade do fogo que Sofia tem. Deverro fortunata.[53] — Ele balançou as
sobrancelhas sugestivamente para mim e eu balancei a cabeça em negação.
Matheus vistoriava a reforma de um dos prédios e Sofia era a
arquiteta responsável pelo projeto. Ela tinha em mente um layout mais clean
para a recepção principal enquanto ele queria algo suntuoso e chamativo.
Ele a perturbou tanto que, em uma das reuniões, ela pegou uma régua e
atirou em sua testa, gritando sobre o como ele non entendia nada sobre
arquitetura.
Suas palavras exatas podem ter sido que ele non entendia merda
nenhuma, na verdade.
Bons reflexos o impediram de ter um galo na cabeça e ele tinha
tomado o golpe no ombro. Matheus se apaixonou instantaneamente. Em vez
de mandar flores, ele comprou-lhe assinaturas da Architectural Record -
Estados Unidos e outras revistas sobre arquitetura. Um golpe de gênio e
claro, deixou que ela fizesse o layout à sua maneira. Sofia non conseguiu
resistir contra esse tipo de ataque e os dois estão juntos desde então.
— E você é mesmo uma velha fofoqueira, Lucca. Só falta contar
para nostra mamma e babbo agora.
— Isso iria ferir o coração deles. Então melhor você pensar em algo
para comemorar o aniversário de um ano de namoro daqui dois meses. — E
o sorriso de comedor de merda estava de volta.
— Vamos lá, Anthony, se Sofia virasse minha assistente, depois do
primeiro dia de trabalho, onde estaria a sua mente? — Uma imagem de
Matheus empurrando Sofia com as costas contra a mesa encheu meu cérebro
imediatamente. Cazzo, o maldito tinha razão.
— Tudo bem, você tem um ponto — eu murmurei a contragosto, os
idiotas rindo histericamente como duas hienas.
— Hey, você tem sorte que Matheus estava apenas tentando
encontrar o lugar. Este definitivamente seria o momento em que eu deixo de
lado meus sentimentos fraternais por Bruna para ouvir todos os detalhes. —
Atirei-lhe um olhar e ele ergueu as mãos. — Io non estou pedindo, estou
apenas dizendo. Foi quente como o inferno, corretto?
Matheus sentou-se ansiosamente, sua postura ereta. Ambos olhando
para mim como cães implorando por um osso. Eu ri.
— Foi de longe o momento mais quente da minha vida inteira.
Matheus e Lucca bateram as mãos e a próxima coisa que eu sabia era
que mio cugino me tinha em um abraço de urso.
— Eu sabia! Você é um maldito homem de sorte.
— Você acha que io non sei? Coloque-me para baixo, Matheus. Você
disse que tínhamos coisas para resolver.
Ele me colocou de volta no chão e me liberou do aperto.
— Sì, eu falei com Felipe hoje e ele non está bene. Precisamos fazer
algo.
Eu suspirei.
— E como você acha que ele deveria estar? Felipe descobriu que a
noiva estava tendo um caso com o próprio babbo, isso é simplesmente
fodido demais para qualquer um.
— Eu sei, cara, mas agora que você voltou a ser uma borboleta
sociável e tudo o mais, achei que podíamos marcar alguma coisa. Mamma
ficará feliz em ver seus três figlio saindo juntos novamente.
Lucca bufou com falsa irritação.
— Você non é nostro fratello e ela non é sua mamma. Ela teria
notado se algo tão gigante tivesse passado por sua vagina.
Matheus deu um soco em seu braço e Lucca voou para o lado, mal se
segurando para non cair de cara no chão.
— Ela teria ficado feliz por me ter. Eu era um bebê perfeito.
— Era? O que aconteceu com você então?
Eles começaram a lutar e eu fiquei o mais longe possível do caminho
dos dois.
— Na última vez que verifiquei, vocês eram empresários renomados,
então que merda estão fazendo? — Eles pararam a luta e me deram olhares
surpresos idênticos.
— Ele está com ciúmes? — Lucca perguntou com um sorriso,
encarando-me com uma sobrancelha erguida.
— Quantas vezes tenho que dizer que, se eu virar gay, será por você?
— Matheus questionou, se levantando e estendendo a mão para puxar o
idiota do mio fratello em seus pés.
— Bem, era nele que você estava com a mão em todo o corpo,
rolando pelo chão.
Matheus se lançou para mim e eu pulei fora do seu caminho.
— Se você está com ciúmes, eu tenho certeza de que posso te dar um
pouco de atenção também, Dia da Mulher. Eu posso ver exatamente o que
Bruna achou tão irresistível.
— Tire suas mãos de mim, Matheus. Eu sou homem de uma ragazza
só.
Ele sorriu.
— Eu non sou una ragazza.
— O que é uma razão ainda melhor, seu imbecil.
— Depois vocês dois continuam a discutir a relação de vocês. Quero
ir para casa e comer. Então o que vamos fazer com relação ao Felipe? —
Lucca perguntou quando voltou a se sentar na poltrona, um copo de uísque
em mãos.
Suspiramos cansados, olhando uns para os outros. Ninguém tinha a
menor ideia do que fazer.
— Ele precisa de tempo — falei, dando de ombros.
— Ragazze — Lucca murmurou em seguida.
— E bebida. Muita bebida — Matheus finalizou, servindo uísque
para si e sorvendo tudo em um único gole.
Capitulo 20
Bruna
Dois meses depois.

Olhei meu celular mais uma vez, conferindo a mensagem de


Anthony e sentindo meu coração acelerar. Estava tudo certo. Respirei fundo
e tentei me concentrar no que eu poderia fazer agora.
O que vestir para um churrasco na casa de Matheus? Sem contar do
encontro que estávamos tentando organizar entre Felipe e Amanda? Eu
deveria ter ido até Lucca para conseguir mais informações, já que tudo o que
eu tive, foi um pequeno contato com eles no quase casamento. Deus sabe
que ele era um fofoqueiro de primeira linha com todas as informações que
eu precisava saber sobre Felipe e Matheus. Infelizmente ele não estaria
conosco hoje.
E, claro, não era apenas sobre o que vestir para rever os amigos de
Anthony. Era sobre o que vestir para... depois. Íamos completar dois meses
de namoro e finalmente aceitei passar um fim de semana em sua casa. Eu
iria usufruir daquele lindo corpo em toda sua glória por dois dias. Sentir os
dedos fortes e longos fazendo loucuras comigo… Os simples pensamentos
me deixavam quente e precisei me esforçar para retornar ao presente.
A roupa íntima... eu não tinha muita escolha aí. Eu possuía muito do
que Amanda nomearia como — roupa sexy — , mas não para um fim de
semana inteiro na casa do namorado.
Namorado.
Bom, era o que eu acreditava que Anthony Mancini era, afinal, ele
nunca fez um pedido formal e nem tocou nesse assunto desde que voltamos
da Austrália, o que costumava me deixar por vezes ansiosa e temerosa.
Entretanto, sempre que estávamos juntos, a maneira como ele me olhava e
me tocava deixava claro seus sentimentos por mim, fazendo meu coração
errar uma batida, fazendo com que eu me perdesse completamente na
profundidade hipnotizante que eram seus belos olhos castanhos.
— Baby, está pronta?
Amanda entrou no quarto, fazendo barulho, como sempre. Nós
íamos até o condomínio de Anthony juntas e então ele nos levaria até a casa
de seu primo, onde Felipe já estaria nos esperando.
Minha melhor amiga claramente não sabia da presença de Felipe, e
claro, nem ele sabia dela. Apenas rezava internamente para que essa ideia de
Matheus desse certo. Depois disso, iria diretamente para o apartamento de
Anthony e, com sorte, Amanda poderia pegar uma carona com Felipe de
volta para cá.
Peguei uma bermuda jeans de lavagem clara e uma blusa de corte
cigano, solta em sua barra de modo que o tecido fluísse livremente, na cor
vermelha e com um decote discreto em formato de coração, que deixariam
meus seios em evidência, apanhando no caminho um tênis com uma
plataforma que complementaria meu look e me colocaria uns bons
centímetros mais alta e saí do closet para encontrar Amanda parada ao lado
da cama. Ela usava uma jardineira jeans de lavagem escura, acompanhada
por um cropped branco, justo na altura da costela, um contraste
complementar com o coturno militar na cor preta que cobria seus pés.
— Você não vai usar isso, Bruna! — Olhei para minha lingerie e me
perguntei o que tinha de errado. Era de renda e preta. Parecia bonita o
suficiente para mim. — O que seria de você sem mim? — ela perguntou
dramaticamente e me estendeu uma embalagem da Victoria's Secrets. Andei
até ela e tirei primeiro o fio dental vermelho vivo de dentro, encarando-a
com as duas sobrancelhas arqueadas em surpresa.
— Isso não vai cobrir nada. Olha o tamanho desse pedaço de pano,
Amanda — falei olhando para a parte de cima, mal cobria o bico dos meus
seios.
— Essa é a intenção. Agora vá tirar isso que você chama de sexy, e
não esqueça de colocar o salto que guardei na sua mala.
— Salto?
— Bruna, é uma data especial. Vocês vão completar dois meses
domingo, ou devo dizer um ano? — perguntou rindo e a acertei com uma
almofada. Contudo, voltei para o closet e coloquei a lingerie. Tinha que
admitir que era bem mais bonita que a outra.
— Finalmente eu vou conhecer o famoso Matheus e sua esposa.
Estou preparada, pesquisei algumas palavras em italiano para entender eles.
— Melhor levar um dicionário, descobri que quando todos se
juntam, nem eu consigo entender perfeitamente tudo — alertei, lembrando
das poucas vezes que os vi juntos.
— Não vai ficar estranho eu estar lá entre dois casais? Não ficarei
segurando vela? — Amanda perguntou distraidamente enquanto mexia no
celular.
Droga, droga e droga.
Eu era uma péssima mentirosa, então optei por uma meia verdade.
— Bem, Anthony me mandou uma mensagem avisando que
conseguiu fazer o primo dele sair de casa. Então Felipe também estará lá —
respondi dando de ombros, enquanto ela me encarava com os olhos
semicerrados.
— Felipe, o que descobriu que a noiva estava fodendo com seu pai?
— Concordei com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Que ela não fizesse
mais perguntas, porque só no inferno que eu conseguiria mentir sem
levantar suspeitas. — Muito estúpido da parte dela. Primeiro Anthony e
depois aquele deus grego que é o Felipe, tchs, tchs, tchs.
Amanda guardou o celular e pegou minha pequena mala, claramente
montada por ela.
— Vamos?
Sorri agradecida, unindo nossos braços.
— Por favor, só não diga nada na frente do Matheus sobre eu dormir
na casa do Anthony. O vi apenas no casamento, mas sei que ele consegue
ser perturbadoramente irritante quando quer.

— Anthony, o que você pode me falar sobre Felipe? Tudo o que sei é
que ele é incrivelmente gostoso e que se livrou da ruiva vadia do mal —
Amanda questionou, fazendo com que eu olhasse para ela sobre o encosto
de cabeça da Mercedes de Anthony.
Ele sorriu para ela através do retrovisor e se acomodou melhor no
assento do motorista. — Isso é tudo que tu precisa saber.
Ela suspirou frustrada e voltou a olhar pela janela do carro. Enviei
um olhar suplicante para Anthony enquanto seguíamos viagem em silêncio,
até o momento em que Amanda foi incapaz de se conter e sua cabeça
apareceu por entre os bancos.
— Ok, então fale-me sobre Matheus e a Sofia?
— Ela costuma bater nele — ele forneceu prestativamente. Ela e eu
olhamos boquiabertas em sua direção, enquanto os ombros de Anthony
tremiam com uma risada abafada. — Tudo bem, no é tecnicamente verdade,
já que nem io posso dar um soco naquele bastardo e causar algum dano.
Mas ela gosta de bater na cabeça dele quando ele precisa disso, o que
acontece com frequência.
Anthony riu ainda mais, porém, continuou.
— Amanda, não é com Felipe ou Sofia que tu precisa se preocupar.
É com aquele ali.
Ele apontou e eu vi Matheus de pé, próximo de um carro esportivo
com os braços cruzados na frente de seu peito, um par de covinhas
profundas aparecia em seu rosto graças ao seu enorme sorriso. Anthony
estacionou na entrada da casa e, antes que eu pudesse abrir a porta, Matheus
estava lá, puxando-me para fora e me envolvendo em um dos abraços mais
apertados que eu já experimentei em toda minha vida.
— Estava passando da hora de voi arrivaste! Io estive esperando
uma eternidade para que pudesse vê-la novamente, Lois Lane*. — Lois… o
quê?
*Lois Lane: esposa do Superman.
— Solta a minha ragazza, idiota. — Anthony veio por trás de mim e
me puxou de seu aperto de aço. Consegui inalar uma grande quantidade de
ar quando estava firme sobre meus pés novamente.
— Ok, GQ*, non precisa ser tão ciumento. Tenho outros convidados
para cumprimentar também. — Ele se virou para Amanda com um sorriso
no rosto, avaliando-a com atenção.
*GQ: revista direcionada para o público masculino.
Antes que eu conseguisse proteger Amanda de seu domínio,
Matheus a tinha em seus braços e a estava girando com as pernas no ar.
— Io non posso acreditar que finalmente conheci tu! — Ele deu nela
um beijo estalado em sua bochecha enquanto ela gritava e se contorcia.
Ele a colocou de volta para baixo e ela o socou na barriga, ineficaz.
— No tente machucar sua mão acertando mio abdômen sarado, que
aquela principessa ali sonha em ter — falou apontando para Anthony. — E
talvez, apenas um chute bem dado no Hércules poderia mi derrubar...
— Você nomeou o seu pau de Hércules? — eu perguntei, incrédula.
Ele soltou uma gargalhada alta.
— Certo![54] Tu non deu um nome ao de Anthony? Embora io
suponha que lui non é realmente digno de um bom nome. Que tal Mediano?
Amanda caiu em uma gargalhada enquanto eu dava um tapa em sua
nuca.
— Se eu der um nome a ele, será muito mais adequado. Embora
Amanda seja aquela que está precisando de um para dar um nome —
respondi afiada por ela ter rido da piada de Matheus.
Amanda apertou os olhos para mim e então um sorriso surgiu em seu
rosto. Ela se virou para Matheus e colocou a mão no braço dele.
— Por favor, me diz que você tem calabresa para assar na grelha.
Bruna está na esperança de ter uma grande salsicha durante todo o fim de
semana para aliviar sua fome.
Anthony se engasgou, tossindo alto e eu fiquei vermelha enquanto
sentia meu rosto esquentar. Matheus, porque minha vida é uma droga,
percebeu de imediato a insinuação e começou a rir escandalosamente.
Ele jogou um grande e tonificado braço ao redor de meus ombros e
nos dela e nos arrastou para a entrada de uma grandiosa e suntuosa mansão
de piso único, mesclando perfeitamente entre o branco, bege e grafite. As
luminárias modernas em ferro preto contrastavam calorosamente com os
tons frios da pintura e uma parede de pedra falsa concedia um ar tradicional
que se encaixava em toda a constituição do ambiente.
O espaço era completamente em conceito aberto, a área de lazer
sendo uma extensão da cozinha profissional montada, abrindo caminho para
uma piscina de ladrilhos lisos em um tom de azul quente, com visão ampla
para espreguiçadeiras visivelmente confortáveis dispostas próximas à uma
lareira, a madeira de mármore cinza e também para uma sala de estar
externa com um conjunto de sofás e poltronas do mesmo tom amarronzado
dos demais móveis, de frente para uma outra lareira, a gás. O restante do
terreno era coberto por grama bem aparada, que fazia o complemento de um
jardim organizado de modo que cada espaço pudesse ser aproveitado.
Puta merda!
— Verei o que posso fazer per te, Furacão Katrina*, mas receio que
Hércules non esteja no cardápio. Sofia ficaria realmente irritada e io non
preciso de un’altra cosa[55] sendo jogada na mia cabeça — respondeu
direcionado a mim.
*Furacão Katrina: Um dos maiores furacões que passou pelos EUA.
— Ela faz isso frequentemente? Eu deveria estar usando uma
armadura para jantar aqui? — Amanda perguntou, realmente preocupada.
— Só quando io a irrito enquanto lei está trabalhando em seus
projetos. Então, cerca de uma vez por settimana — Matheus comentou
alegremente, sem realmente se importar com o fato de que apanha da
própria mulher. — Sofia, Felipe, hanno[56] chegaram! — ele gritou.
— Jesus, cabeça oca! Você não precisa gritar e colocar a casa abaixo.
Io riesco a sentirti.[57] — Sofia apareceu com um sorriso no rosto, os cabelos
loiros estavam presos em um coque bagunçado, que a deixava ainda mais
bonita. Os olhos azuis safira brilharam satisfeitos assim que nos viram.
Felipe andava ao lado dela, falando sobre algo. Seus olhos passaram
por nós, um sorriso tímido em seus lábios até que parou em Amanda.
Prendemos a respiração observando a maneira nada discreta como ambos se
encaravam, parecendo não existir nada mais ao redor de ambos. Amanda
corou levemente e baixou a cabeça, desviando o olhar.
— Bingo — Matheus sussurrou em meu ouvido, e me deixou livre
para receber o abraço caloroso de sua esposa.
— Eu senti tanto a sua falta. Como esses dois puderam manter nós
duas separadas por tanto tempo? — ela indagou quando envolveu seus
braços ao meu redor. Eu tinha que admitir, Sofia era aquele tipo de pessoa
que você aprendia rapidamente a amar.
Ela se afastou de mim e foi até Amanda, também a envolvendo em
um abraço.
— Eu sou Sofia.
— Amanda.
Percebi que Felipe ainda encarava Amanda, mais discreto, mas seus
olhos cor de chocolate acompanhavam com atenção todos os seus
movimentos.
Após as apresentações, ocupamos nossos lugares da área de lazer
externa da casa. O clima estava leve até Sofia tocar no nome de Alice.
Observei Felipe enrijecer e Anthony suspirar, balançando a cabeça
negativamente.
— Se n'è andata[58]. Nós realmente temos que continuar falando sobre
ela? — Felipe questionou, soando levemente irritado, o lábio fazendo um
beicinho realmente engraçado. Percebi que Amanda soltou um suspiro alto
ao meu lado, todos ao redor da mesa optando por ignorar sua reação.
— Hey, tu é aquele que teve o mau gosto de sair com ela, em
primeiro lugar. Vocês dois, na verdade. Então não venha com essa. Nós
somos aqueles que tiveram de suportar a presença degradante dela em nosso
meio — Sofia respondeu irritada, franzindo a testa para ele.
— Bem, agora non più[59]. Graças a Nancy Drew* e seu assistente
aqui, a ruiva sonsa se foi — Matheus anunciou orgulhosamente. Fiquei feliz
por Anthony ter me advertido sobre a coisa de apelido, porque eu não teria a
menor ideia do que diabos ele estava falando se não fosse por isso.
*Nancy Drew: detetive fictícia do filme homônimo Nancy Drew.
Matheus se levantou da cadeira e deu para Amanda e eu um sorriso
encantador, seus olhos brilhando como de uma criança prestes a aprontar.
— Signore, voi gostariam de fazer um tour pela casa enquanto suoi
uomini [60]
colocam as suas habilidades em teste e vão acender a
churrasqueira?
Percebi que Felipe se engasgou e Amanda arregalou os olhos com a
implicação de suas palavras, porém, não tiveram a chance de responder, pois
ele já estava estendendo as mãos para cada uma de nós, nos rebocando para
fora das cadeiras. Amanda soltou um pequeno guincho e eu pensei, por um
segundo, que ele iria nos carregar pela casa. Graças a qualquer santo que ele
não o fez, optando por apenas segurar nossas mãos.
Era estranho, mas de alguma forma adequado e eu tive que admitir
que senti uma afinidade imediata com o grande urso barulhento. Ele era
como um irmão mais divertido... ou talvez um filhote de Labrador Retriever
que cresceu em excesso. Eu não tinha certeza, realmente.
— Questa é a sala de estar formal. — Ele apontou para dentro de um
adorável cômodo que fez meu coração acelerar.
O ambiente interno era amplo, o campo de visão completamente
limpo de modo que todos os cômodos eram visíveis. No centro, rebaixado
em três níveis, estava um sofá confortável em formato de meia-lua em um
tom de marfim, decorado por inúmeras almofadas forradas por capas com
um verde chamativo, sendo o ponto de destaque do lugar. O pé direito era
alto, no teto, jazia pendurado um lustre com formas circulares que se
cruzavam no centro, a maior agindo como uma auréola ao seu redor, em um
tom parecido com o do tecido do sofá.
Ele nos puxou para o corredor e nos mostrou um banheiro social
amplo, quase todo em marfim com detalhes dourados do mármore sendo o
destaque do pequeno cômodo, um escritório amplo e bem equipado e os
quartos rica e confortavelmente decorados de hóspedes antes de parar diante
de uma porta no final do corredor.
— Qui — ele disse com um olhar conspiratório — é onde a magia
acontece.
Ele abriu a porta de madeira de carvalho e nós estávamos dentro da
suíte principal. Amanda e eu rimos enquanto olhávamos para a cama king
size no centro, a cabeceira também de carvalho de cor escura, com um
grosso tapete grafite cobrindo uma parcela significativa do chão do quarto.
Também havia uma parede de vidro, concedendo ao cômodo uma
quantidade absurda de luz solar.
— Obrigado por compartilhar isso, Imamura*. Mas acredito que
nenhum de nós quer experimentar a sua magia — eu disse a ele secamente.
*Issao Imamura: um dos mais famosos escapistas e ilusionistas.
Matheus explodiu em uma gargalhada com meu comentário e nos
rebocou para a sua cama.
— Mas voi têm que ver uma cosa — insistiu, sem nos dar a opção de
negar.
— Ah, não, grandão. Definitivamente não estamos indo para sua
cama — Amanda disse a ele, esforçando-se inutilmente para se libertar do
aperto de ferro de sua mão.
Matheus rolou os olhos castanhos brilhantes que lembravam
chocolate derretido, e deu um sorriso doce para nós duas, as covinhas
novamente visíveis.
— No se preocupe, Hércules pertence somente a Sofia. O que io
voglio que voi vejam é mia arte, e está ali em cima.
[61]

Ele apontou para o teto acima da cama e Amanda e eu seguimos para


onde seu dedo apontava. A próxima coisa que eu sabia era que nós duas
estávamos na cama rolando e gritando sem conseguir controlar nossas
risadas. Matheus caiu ao nosso lado e se juntou a nós, suas risadas
chacoalhando a cama.
— O que diavolo está acontecendo qui? — Anthony perguntou da
porta, uma carranca em seu rosto enquanto olhava para nós três, Felipe
parado atrás dele, parecendo completamente confuso. Nenhum de nós
conseguia responder, já que estávamos extremamente ocupados gargalhando
descontroladamente. Com muito esforço, apontei na mesma direção que
Matheus.
Anthony olhou para cima e seu rosto se transformou em uma
expressão horrorizada.
— Santo Dio, Matheus. Tu non fez isso!
Felipe deu uma cotovelada nele para tirá-lo do caminho e olhou para
cima e se juntou ao grupo de hienas histéricas. — Clássico! Quanto tempo
tu passou nisso?
— Dias — Matheus se engasgou, o rosto praticamente roxo pelo
esforço. Bati em suas costas o melhor que pude da minha posição na cama.
Sofia entrou e balançou a cabeça negativamente, apesar de ter um
pequeno sorriso em seus lábios.
— Eu estive observando aquela coisa crescer durante toda a semana.
Ele passava horas, todas as noites, recortando fotos suas de várias revistas e
escalando para colá-las sobre a cama. Você é um cara bonito, Anthony, mas
eu realmente não preciso olhar centenas de fotos suas enquanto estou
tentando dormir. É bizarro. Fora que sua cara não combina com mio quarto,
sem ofensas.
Eu realmente achei que era bastante impressionante, em um nível
stalker. Havia centenas de fotos de Anthony acima da cama, até de seus dias
na faculdade quando ainda morava na Itália. Ele era tão jovem, mas ainda
assim, lindo. Todos os Anthonys olhavam para mim, enquanto o real veio
para me ajudar a sentar enquanto eu ainda lutava para recuperar o fôlego.
Matheus e Amanda sentaram-se e também tentaram controlar suas
respirações.
— Vedi, tutte aquelas revistas que io li tinham um propósito — ele
disse a Anthony, que estava tentando, sem sucesso, manter sua carranca
furiosa. Eu vi seus lábios se contorcendo, lutando contra um sorriso, e
estendi minha mão para que eu alcançasse a altura de sua costela e o
cutucasse, arrancando uma risada dele.
— Questo è, de longe, a coisa mais fottuta[62] que tu já fez, Matheus.
Mas io tenho certeza de que Sofia aprezza o fato de poder olhar para me
enquanto tu fa sesso[63] com ela.
Matheus tentou dar um soco em Anthony, que valsou com habilidade
para fora de seu alcance, apenas para receber um tapa de Sofia na parte de
trás da cabeça.
Eu comecei a rir novamente com um olhar perplexo no rosto.
— Hey! Confie em me, Sofia non precisa de qualquer tipo de ajuda.
E io sono um homem muito mais habilidoso que tu.
— Você não tem como saber, Matheus. E Anthony definitivamente é
habilidoso — eu soltei sem pensar, ficando vermelha quando todos no
quarto irromperam em gargalhadas. Anthony puxou-me para os seus braços
e eu escondi meu rosto em seu peito, aquecida com a sensação de ouvir sua
risada retumbar sob o tecido da camisa.
— Ostinata[64] certo de que io sono, mio angelo — ele sussurrou em
meu ouvido e eu me tornei hiper consciente de quão perto estávamos e
como me sentia bem em seus braços. Desejei por um momento que todos
simplesmente sumissem dali, para que ele pudesse me mostrar novamente
um pouco mais de suas habilidades.
— Oh non, casal vinte, voi non irão profanar mio santuário! —
Matheus gritou, me arrancando da bolha em que estava e nos empurrando
porta a fora. — Darei a tu mia colagem quando io terminar com ela, Vogue
— ele informou.
— O que tu quer dire com terminar com ela? Para o que diavolo tu
precisaria continuar? Non me diga que tu está deixando questo aí? —
Anthony deu um soco no braço de Matheus enquanto fazíamos o nosso
caminho de volta pelo corredor.
— Tu está sempre dizendo o quanto io sou apaixonado por tu. Desse
jeito io tenho tu e mia Sofia. Vincere e vincere. — Ele piscou para mim e eu
ri novamente. Eu sabia que conhecer o verdadeiro Matheus seria divertido,
porém, ele havia superado todas as minhas expectativas.
— Escute aqui, David Copperfield*, ele é o meu homem. Aproveite
suas fotos, tudo o que quiser, mas mantenha as mãos para si mesmo.
David Copperfield: é um renomado mágico e ilusionista.
Matheus bagunçou o meu cabelo e foi direto para a cozinha, pegando
cerveja da geladeira e oferecendo a todos. Eu peguei uma garrafa, grata por
algo para beber depois de toda aquela crise de risos.
Voltamos para a área da churrasqueira, onde a chama crepitava.
— Accomodatevi[65] — ele gritou da cozinha enquanto pegava uma
quantidade exorbitante de carne. Eu quase perguntei quem comeria tudo
aquilo, mas eu tive a sensação de que Matheus poderia fazer isso sozinho
sem esforço algum.
Anthony caiu em uma espreguiçadeira e abriu as pernas, fazendo um
gesto para que eu me deitasse com ele. Lutei para me impedir de babar e me
movi, sentindo as coxas musculosas ao redor de minhas pernas,
pressionadas em um aperto firme e confortável.
Oh, santo inferno.
Tomei outro gole de cerveja e peguei Amanda sorrindo para mim
enquanto ela se sentava ao lado de Felipe em uma outra cadeira. Ela sabia, é
claro, o efeito que ele provocava em mim, além de que eu estava a apenas
algumas poucas horas de sentir aquelas coxas sem qualquer tecido contra
mim após uma longa e exaustiva semana no escritório que nos manteve
afastados um do outro, com tempo reduzido para que pudéssemos realmente
aproveitar qualquer coisa.
O sol começava a se pôr e o clima estava ameno, agradável de modo
que não era desconfortável para estarmos ao ar livre, embora eu me sentisse
superaquecida devido à proximidade de Anthony. Matheus veio para fora
carregando uma bandeja preenchida por carne, frango, hambúrgueres e
linguiças.
Ele me pegou encarando-o fixamente e o trouxe para baixo,
abanando uma linguiça em minha direção.
— Só para tu. Prometo que lei vai satisfazer tutte as sue
necessidades.
Anthony se engasgou com a cerveja e o corpo de Amanda sacudiu
com uma risada mal disfarçada por uma tosse indiscreta. Eu olhei para ela
que murmurou, sem som, — você pediu por isso — para mim. Isso é o que
eu ganho por ter zombado de sua solteirice.
Percebi quando Amanda olhou para o lado e seus olhos encontraram
os de Felipe. Os dois não haviam trocado uma única palavra desde que
chegamos, porém, claramente era desnecessário.
— E como está a vida de vocês na empresa? As pessoas já sabem
sobre seu relacionamento? — Sofia perguntou de seu lugar.
Eu me mexi desconfortavelmente, já que este ainda era um assunto
que eu não gostava de trazer à tona.
— Eu tento manter o máximo de profissionalismo no ambiente de
trabalho, é claro. Porém, aparentemente alguns já notaram nosso
envolvimento e eu sou apenas uma vadia interesseira que ele está pegando e
depois vai descartar.
— Tu sabe que non é nada disso, amore mio — Anthony falou
beijando minha bochecha, seus olhos tentando esconder uma fúria mal
contida. Eu sabia que alguns funcionários haviam sido demitidos por serem
pegos falando sobre mim com termos jocosos ou que ofendiam diretamente
minha imagem.
Dei um pequeno sorriso que não alcançou meus olhos. Infelizmente,
eu sabia que aquela reação apenas piorava a situação. Coisas muito piores
eram ditas sobre mim e, por mais que Anthony me pressionasse para saber
quem eram os responsáveis, eu optava por ficar em silêncio ou ele demitiria
mais da metade do quadro de funcionários. Sem contar as gracinhas que
ouvia de alguns homens. Anthony ficaria louco se soubesse daquilo.
— Irei visitar a empresa essa semana, e alegremente derrubarei uma
cadela ou quatro. Há muito tempo não bato em alguém — Sofia falou e vi
Amanda concordar com ela, ambas combinando de irem juntas até lá…
— Sì, mais ou menos cinco minuti — Matheus interrompeu
secamente da churrasqueira, felizmente prestando atenção à sua carne.
Sofia apenas pegou uma colher e a atirou, batendo diretamente em
suas costas.
— Cazzo, dolcezza[66]! Precisava jogar essa cazzo em mim? — Sua
voz soou ferida, mas ele sorriu para ela por cima do ombro, olhos amorosos
e brilhantes sorrindo em sua direção. Eles eram estranhos, porém, era óbvio
que ambos se amavam. Os olhares conspiratórios eram prova viva do
sentimento.
— Claro que sim, grandão. Foi assim que io ganhei o seu coração,
afinal. Só relembrando a tu como nós nos conhecemos. — Matheus
abandonou a churrasqueira para dar-lhe um beijo estalado, as covinhas
voltando a aparecer em suas bochechas. — Estão vendo, meninas? Nada
como uma boa ameaça para colocar seus homens em seus lugares.
Olhei por cima do meu ombro para Anthony e levantei as
sobrancelhas. Ele riu e beijou meu nariz. — Tutto o que tu tem que fazer é
olhar para me exatamente assim e io farei tutto o que tu pedir.
— Então, dominado. — Matheus se virou e apontou o garfo na
direção de Anthony. — Nunca pensei que veria esse dia, já que com a ruiva
sardenta isso claramente non aconteceu. Non sono certeza se io tenho que
me orgulhar ou me sentir horrorizado.
— Considerando que tu ama e é casado com uma ragazza que
domina tu diariamente, acho que tu non pode me julgar — Anthony rebateu,
ignorando totalmente a parte sobre Alice. Encarei Felipe para ver sua
reação, que estava imerso em uma conversa sussurrada com Amanda.
Olhei para os três e apontei discretamente para eles. Matheus deu um
toque discreto de mão com sua esposa, com um sorriso satisfeito no rosto.
A conversa retornou logo em seguida.
— Buono ponto — ele reconheceu, virando a carne sobre a grelha.
— Io acho que noi deveríamos fazer questo de novo, settimanalmente.[67]
— È melhor il tuo santuário em mia homenagem estar fora del suo
teto se deseja um próximo encontro — Anthony informou a ele
sombriamente.
— Il cibo è pronto! — Matheus gritou desnecessariamente,
colocando a carne assada em uma travessa grande de vidro, a colocando no
centro da mesa. — Peguem sue comidas, mas non esqueçam que Bruna
precisa da linguiça dela.
Ele piscou para mim e eu sabia que ele não estava falando sobre
comida. Eu só podia agradecer o fato de que ele não estava me provocando
sem piedade, porque eu sentia em meus ossos que ele seria capaz de fazer
muito pior do que isso.
Saí da espreguiçadeira e estendi a mão para ajudar Anthony a
levantar. Seus olhos estavam em meu rosto enquanto eu lambia os lábios e
dava um sorriso lento, conhecedor.
— É isso mesmo, eu preciso.
Seu sorriso correspondeu ao meu e ele se inclinou para sussurrar em
meu ouvido. — Então, apresse-se e coma para que possamos ir para casa e
será exatamente isso que darei a você a noite toda.
Corri para o meu lugar e me preparei para praticamente inalar minha
comida. Eu queria a sobremesa que estava à minha espera. Agora.
Anthony se sentou ao meu lado e pousou a mão sobre meu joelho nu,
me oferecendo um sorriso devastador.
— A breve — ele sussurrou.
— Allora, podemos fazer ciò um encontro settimanalmente[68]? —
Matheus perguntou novamente, encarando cada um de nós com um sorriso
contagiante quando todos concordamos. Mal podia esperar quando Lucca se
juntasse, completando a turma caótica.
Encarei mais uma vez, vendo Felipe ajudando Amanda a se servir.
Sabíamos que eles tinham um longo caminho a percorrer, principalmente
pelo fato de ainda ser muito recente o que aconteceu na Austrália. Porém,
todos acreditávamos que Amanda poderia ser aquela que o ajudaria a sair do
buraco escuro de autopiedade em que ele se encontrava.
Capitulo 21
Bruna

Amanda: Eu tenho a melhor notícia de todas.

Li a mensagem no meu celular enquanto terminava de me arrumar.


Era domingo e todos nós íamos nos encontrar para tomar o café da manhã.
Claro que essa ideia partiu de Matheus. Eles estavam malhando juntos desde
que voltamos da viagem e Matheus achou que seria divertido nos reunirmos
antes de irem para a academia.

Bruna: E que notícia seria essa?


Amanda: Eu o conheci.

Ela estava apaixonada por alguém? Droga, pensei que depois de


sexta à noite ela estaria interessada no Felipe.
— Anthony! — gritei por ele, enquanto o procurava no apartamento.
— Temos um problema.

Bruna: Isso é ótimo, Amanda!

Foi tudo o que consegui escrever como resposta. Todo o nosso plano
tinha acabado de ir pelo ralo. Eles pareciam ter uma conexão muito boa, e
eu não sabia sobre nenhum cara em que ela estivesse interessada.

Amanda: Estou dizendo, ele é o cara!

Claro que era. Eles sempre eram o cara, até três semanas depois
quando um novo 'cara' aparecia. Amanda era uma romântica de coração, ela
acreditava no amor à primeira vista; e justamente por isso eu pensei que ela
e Felipe pudessem ter algum futuro.
— O que aconteceu? — Anthony perguntou ao se aproximar.
— É Amanda, o nosso plano não deu certo. — Suspirei
completamente frustrada.

Bruna: E quem é ele?

Perguntei, me sentando no sofá, enquanto Anthony me encarava com


uma ruga na testa.

Amanda: Felipe. Passamos o final de semana juntos.

Na mesma hora peguei meu celular e liguei para ela, como assim ela
passou a noite com ele? No primeiro toque, a chamada foi atendida.
— Eu sabia que você ia ligar. — Eu podia ouvir o sorriso em sua
voz, mas estava surpresa demais para reagir de acordo.
— Como? Vocês se conheceram na sexta. Você ficou na casa dele
todo o sábado? Quero dizer, você dormiu com ele na sexta e ontem? —
balbuciei debilmente.
— Bruna, ele é o cara. Estou te dizendo, e depois do churrasco? Nós
apenas ficamos conversando durante horas depois que vocês subiram para o
apartamento na sexta, e uma coisa levou a outra. Você sabia que ele tem um
apartamento no mesmo prédio que o Anthony? Não costuma morar aqui,
mas quando precisa, passa a noite. Então estamos no mesmo prédio —
comentou como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Bruna, você ainda está aí? — perguntou após eu me manter
alguns segundos em silêncio.
— Eu... não sei o que dizer.
— Vamos ser da mesma família. Isso não é maravilhoso? Você irá se
casar com Anthony e eu com o primo dele e…
— Amanda, você não acha que é muito cedo para falar sobre
casamento? Vocês passaram apenas duas noites juntos. — Eu sabia que
nosso plano era unir os dois, mas Amanda sempre era um pouco demais.
— Bruna, pergunta para Amanda se ela quer uma carona, assim
vocês já levam o carro. — Como assim levar o carro? Ele deve ter
percebido minha confusão, me mostrando o celular. — Felipe quer
conversar comigo. Está preocupado e ansioso. Então ele vai no carro
comigo, e você vai com ela — explicou baixo, evitando que minha melhor
amiga o ouvisse.
— Amanda, você quer carona até a cafeteria? Anthony está quase
pronto para sair e ele vai ver se Felipe...
— SIM! — Afastei o telefone para longe do meu ouvido e ri de sua
explosão animada. Eu sabia que ela provavelmente estava morrendo para
descobrir o que aconteceu durante o fim de semana e contar sobre Felipe. O
fato de ela ter se contido para não me ligar revelava um incrível
autocontrole de sua parte que eu não conhecia.
— Descemos em alguns minutos. — Desliguei com o seu grito
estridente para Felipe se apressar e guardei o celular de volta na bolsa.
— Suponho que ela quer a carona — Anthony murmurou atrás de
mim quando deslizou os braços em volta da minha cintura e me puxou
contra ele, beijando meu pescoço. Deus, era possível eu querê-lo mais uma
vez? Seus polegares moveram-se sobre meu estômago e eu sabia que a
resposta era definitivamente sim, era possível. Muito possível.
— Você ouviu? — Por que minha voz estava tão ofegante? Ele
mordeu meu maxilar em retaliação. Oh, sim, é por isso. Ele cheirava
maravilhosamente, limpo, sabonete e viril. Eu queria mordê-lo.
— Acho que as pessoas de toda a cidade ouviram isso — ele
respondeu com uma risada, beijando minha bochecha antes de se afastar e
pegar minha bolsa.
— Ela está um pouco animada.
Anthony riu e agarrou minha mão com a sua. — Ela alguma vez é
pouco em alguma coisa?
Hã, é uma boa pergunta, na verdade.
— Ela é simplesmente é assim. Isso é tudo — murmurei com um
elevar de ombros.
— Você sabe que vamos enfrentar um pelotão de fuzilamento
novamente.
— Você acha que será tão ruim assim? Não é como se fosse a
primeira vez que dormimos juntos. Passamos quatro dias juntos na Austrália
— resmunguei, imaginando os novos apelidos que Matheus criaria após
nossa comemoração.
— Mas é a primeira vez que você passa um fim de semana inteiro
aqui em casa. Tenho certeza de que enfrentaremos o pelotão completo.
Amanda não me torturaria pelos detalhes. Por algum milagre, eu
consegui fugir dessa conversa há dois meses.
— Temos algo a nosso favor — relembrei subitamente.
— Felipe e Amanda — Anthony falou como se lesse meus
pensamentos e me beijou, puxando-me porta afora. — Acredito que isso
amenize, mas você tem apenas ela. Eu tenho Matheus, Felipe e Lucca para
enfrentar.
Mordi o lábio inferior e ele o puxou para libertá-lo do aperto entre
meus dentes. — Estou brincando, Bruna. Eles não são tão pervertidos. Bem,
Felipe e Lucca não são. Matheus gosta de você o suficiente para que eu
possa ser poupado da inquisição.
— Apenas não vamos fazer nenhum comentário sobre os dois agora
— pedi para ele, que entendeu meu receio.
Felipe parecia ansioso para conversar a sós com Anthony; sabíamos
que o que havia acontecido entre ele e Alice ainda era recente. Amanda
subitamente surgiu como um fenômeno da natureza em sua vida, tudo ainda
era frágil demais.
Fizemos nosso caminho até o elevador e Anthony apertou o seis no
painel para o andar de Felipe. Ele usava uma regata cinza e uma bermuda de
treino, estando quase tão quente agora quanto esteve nu.
— Deveríamos malhar juntos em algum momento.
De onde diabos veio essa sugestão? Eu raramente faço mais do que
usar a esteira na academia do meu condomínio e agora eu queria malhar
com ele? Eu faria papel de idiota.
Ele me lançou um sorriso sexy. — Eu gostaria disso. Muito. Você
usará aqueles macacões de lycra? — Eu bati em sua barriga definida e ele
pegou minha mão e a beijou em seguida. — Só estou brincando. Eu odiaria
ter qualquer um vendo você usando lycra. Use moletom. Aqueles enormes.
Eu balancei a cabeça. — Você é louco. Como se alguém fosse me
notar com você por perto.
Anthony pressionou-me para o lado do elevador e seu corpo rígido
me fazia pensar em um tipo diferente de exercício. De novo. Eu estava me
transformando em uma viciada em sexo. Graças a Deus ele não parecia se
importar.
— Você esquece que eu vi cada centímetro deste corpo.
Oh, inferno, essa voz. Essa era a voz de sexo. E seus olhos estavam
semicerrados, escuros e famintos e, porra, por que o elevador não poderia
quebrar agora? Suas mãos trilharam pela lateral do meu corpo, cobrindo
minha bunda de modo que ele facilmente conseguisse me puxar em sua
direção.
— Eu não quero que ninguém veja o que você está escondendo sob
essas roupas, além de mim.
Sim, o que você disser. Sua, toda sua.
— Certo — eu guinchei fazendo-o rir, me beijando logo em seguida.
O elevador soou e ele se afastou, mas não antes das portas abrirem e
revelarem Felipe e uma Amanda saltitante nos esperando.
— Eu não sabia que o passeio de elevador viria com direito a um
mini show — Felipe comentou lentamente, entrando no elevador
acompanhado por Amanda, que sorria de orelha a orelha.
— Um dos luxos de um prédio tão caro — Anthony disse enquanto
apertava o botão do térreo, fazendo Felipe e Amanda caírem na gargalhada.
Quando finalmente se acalmaram, Amanda me deu um sorriso
malicioso.
— Bom dia, Bruna. Você parece relaxada.
Mais relaxada e eu seria uma poça de lama no chão.
— Obrigada, eu tive uma boa sequência de exercícios.
Felipe estava tomando um gole de água da sua garrafa, o que o fez
engasgar e tossir descontroladamente.
— É assim que você está chamando isso? — ele gaguejou, ofegante.
— Do que mais você chamaria? — eu perguntei, tentando não rir. —
Anthony estava me pedindo para usar calças de moletom da próxima vez
porque lycra é muito revelador.
Os olhos verdes de Felipe se estreitaram e ele balançou a cabeça.
— Só porque eu estava um pouco distraído na noite de sexta não
significa que eu sou um idiota esta manhã. Não houve nada de lycra
envolvido nessa comemoração de um ano de namoro — resmungou
sarcasticamente. — A menos que vocês dois estejam em alguma coisa
pervertida sobre a qual eu prefiro não saber.
— Você ainda desejaria saber — Anthony murmurou e Felipe abriu a
boca para argumentar, mas nem mesmo se deu ao trabalho de continuar.
Negando com a cabeça com um sorriso em seus lábios.
— Verdade. Isso provavelmente seria ainda mais divertido de ouvir.
— Você é uma menina, Felipe — Amanda o provocou
carinhosamente, dando um tapinha em sua bunda. Ele não parecia
remotamente incomodado pelo gesto. Então, novamente, eles pareciam ter
sido feitos um para o outro. Duas ervilhas numa vagem. A maneira que se
olhavam e os olhos brilhantes deixava bem claro.
O que me surpreendia era que tinham acabado de se conhecer, mas
quem pode medir o amor ou a paixão pelo tempo? Casais que se conhecem e
estão juntos há anos podem não ter o mesmo amor ou a mesma
cumplicidade do que um casal que se conhece há uma semana.
O elevador abriu e fizemos nosso caminho para o meu carro.
Anthony puxou-me para um beijo curto, porém cheio de fome e promessas.
— Dirija com cuidado, nós nos encontramos na cafeteria. Depois
você e eu a noite? Por volta das oito? Eu comprarei o jantar, se estiver tudo
bem.
— Claro. Espero que sua conversa com ele ajude.
Ele me beijou novamente e observamos quando Felipe deu um beijo
demorado na testa de Amanda, enquanto um sorriso bobo brincava em seus
lábios. Eles parecem felizes.
Os meninos assistiram enquanto eu saía da vaga na garagem.
Mantive o olhar no espelho retrovisor até que eu não conseguia mais ver
Anthony no reflexo. Amanda se mantinha suspeitosamente quieta ao meu
lado.
— O quê?
— Eu não disse nada — respondeu alegremente. Olhei para ela, que
me observava de perto.
Que porra?
— Por que você está olhando para mim assim?
— Apenas tendo a certeza de que você não irá escapar dessa vez.
Você tem fugido de mim durante dois malditos meses, Bruna Ferraz. Porém,
passou o fim de semana na casa dele.
— O quê? Não é como se eu tivesse perdido a minha virgindade na
sexta, ou algo assim. — Não que eu achasse que eu pareceria diferente após
isso também.
— Na verdade, foram vinte e três anos sem sexo. Então você ainda
deve estar se acostumando ao tamanho dele, e eu nem sei se o hímen
rompeu totalmente; depois de todo esse tempo, o seu deve ter se
transformado em um muro.
— Acredite em mim, não existe mais nenhum hímen para ser
rompido. Ele o rasgou antes mesmo de entrar um quarto do caminho quando
estávamos... — Oh, merda, eu falei demais.
Amanda bateu palmas e saltou em seu assento. — Eu sabia! Eu sabia
que ele era empacotado! O quão grande é? Você mediu?
— Jesus Cristo, Amanda! É claro que eu não medi. Quão grosseiro
seria isso? Com licença, eu preciso conseguir uma vara de bambu para que...
— VARA DE BAMBU? — ela gritou, me interrompendo. Fiquei
surpresa que as janelas do meu carro não quebraram com o som agudo. —
Você está me dizendo que uma régua não seria suficiente? Maldição,
mulher, como você não falou sobre isso antes?
— Eu estava exagerando. Ele não é maior que uma régua. Eu quero
fazer sexo e não achar petróleo, Amanda! E esse não é o ponto.
Minha afirmação fez minha melhor amiga ter uma crise de risos e
lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
— Eu diria que é muito bem o ponto. Ponto com um P maiúsculo
para pênis!
— Você é pior que um homem, eu juro.
— Só porque eles não podem realmente medir o tamanho dos peitos
ou da boceta de alguém. Se eles pudessem, fariam. E se você acha que eles
não usam aquelas mãos para descrever o peito de uma mulher, então você
não sabe nada sobre os homens.
— Anthony não faria isso.
— Ele não precisa. Os meninos conhecem você. Se você fosse
apenas alguma transa aleatória, ele certamente estaria mostrando a eles o
tamanho dos seus seios.
— Você passou algumas horas com Matheus e duas noites com
Felipe e já está assim.
Ela me deu um sorriso sonhador.
— Ele não é ótimo? E, deixe-me dizer a você, ele é o cara mais
bonito, atencioso, divertido e carinhoso do mundo. Nós não fizemos nada
além de conversar e assistir filmes.
— Então vocês não dormiram juntos?
— Claro que não. Ainda é muito recente o que aconteceu entre ele e
Alice. Mas Felipe não a amava, amava o fato de estar com ela. Nunca foi
amor de verdade, sabe?
— E você gosta dele?
— O suficiente para esperar até que ele esteja pronto. Sei que ele
deve se sentir culpado por pensar em entrar em um relacionamento tão cedo,
mas quando seu coração diz que sim, quem pode julgar isso?
Dei um sorriso genuinamente feliz em sua direção, recebendo um
idêntico como resposta.
— Pronta para enfrentar Matheus? — perguntei ao dobramos a rua
da cafeteria.
— Consegui aprender algumas palavras em italiano com Felipe,
então sim. Eu sempre estou pronta, Bruna.
Capitulo 22
Anthony
Quatro meses depois.

Estava com os rapazes bebendo enquanto jogávamos conversa fora


quando Matheus olhou para mim de uma maneira estranha.
— Cos’è ora?[69] — perguntei, tentando imaginar o que passava por
sua cabeça.
— Já que somos obrigados a participar desse evento, talvez eu
compre você no leilão. Isso deixará uma fila de ragazze com o coração
partido.
Seus olhos estavam brilhando com a ideia, e io non tinha dúvida de
que ele ficaria feliz em dar lances por mim apenas para causar uma cena no
leilão beneficente que mia mamma estava organizando.
— Non ouse! Bruna irá me comprar — rosnei o encarando
seriamente, para que pudesse entender que io non estava brincando.
— O quê? Você conseguiu convencê-la? — Felipe perguntou
incrédulo. — Amanda vem tentando convencê-la a participar durante as
últimas semanas, mas da última vez que ela questionou, Bruna ainda estava
alegando que non compraria você, principalmente depois do incidente com
os paparazzi e daquela página de fofoca.
— Página de fofoca? O que falaram dalla mia ragazza? — Matheus
perguntou com o rosto sério, apesar de non conseguir esconder a curiosidade
em sua voz.
— Em primeiro lugar: ela é a mia ragazza e non sua! E segundo,
pensei que você soubesse todas as fofocas que saem por aí — resmunguei.
— Pare de atrapalhar o Leo Dias*. Quero saber o que deixou mia
ragazza chateada — Matheus continuou, ignorando totalmente minhas
palavras.
Leo Dias: Jornalista brasileiro, focado no universo das celebridades.
— Alguns paparazzis conseguiram algumas fotos desfocadas de nós
dois voltando de um jantar. Non conseguiram pegar o rosto dela, contudo,
isso non impediu que as imagens fossem parar em todos os lugares,
questionando quem seria minha nova affair.
— Achei! — Matheus gritou, olhando para o seu celular e lendo em
voz alta uma coluna de fofoca. — Estão dizendo que ela tem uma bela
bunda.
— Todos estão falando da bunda dela — Felipe esclareceu. —
Amanda disse que non sabe o que mais a está incomodando, ela ser
chamada de ‘affair’ ou que Anthony escolheu dessa vez ‘uma mulher com
uma bela bunda’.
— Só tem uma coisa que io non entendo, por que todos non sabem
que ela é sua fidanzata[70] ainda, fratello? Sério, já se passaram seis meses e
até aqui na empresa a fofoca é que vocês estão tendo um caso — Lucca
perguntou, me encarando com uma carranca.
— Ela ainda non se sente confiante o suficiente — resmunguei,
fechando os olhos. — E maldito seja, espero que as coisas mudem depois
desse leilão.
— Garoto Vogue, você está perdendo mesmo o jeito da coisa. Felipe
pediu Amanda em namoro há dois meses e non passam por isso. Você fez o
pedido verdadeiro quando? Depois daquele fim de semana?
Pedido de namoro? Cazzo, eu deveria ter feito um pedido formal?
— Você a pediu em namoro, vero?[71] — Felipe indagou,
possivelmente notando a confusão estampada no meu rosto.
Era por isso que Bruna non se sentia confiante o suficiente em nosso
relacionamento?
— Ela tem uma cópia da chave do meu apartamento e uma parte do
meu guarda-roupa para suas próprias coisas. Um pedido formal é mesmo
necessário? Acho que já pulamos essa etapa.
— Cazzo, me diz que ao menos você já disse que a ama?! — Foi
Lucca que perguntou dessa vez, fazendo três pares de olhos me encararem.
— Ela sabe que eu a amo — falei convicto, apesar de nunca ter dito
com todas as letras. Eu era louco por ela e cada ação minha mostrava isso.
Os três patetas continuaram a me encarar em uma mistura que ia de
descrença à raiva.
— Preciso mandar um e-mail para a Capricho e proibir que eles
escrevam qualquer coisa sobre você, afinal, é o pior homem com quem uma
mulher deveria se relacionar — Matheus afirmou, verdadeiramente sério.
— Como você quer que ela tenha confiança no relacionamento de
vocês quando nunca a fez se sentir segura em relação a vocês dois?
Mulheres precisam de afirmação, precisam ouvir o que sentimos por elas —
Felipe disse, olhando para mim com descrença.
— Bruna ama você, seu idiota, e pode acabar perdendo-a por achar
que todos são um Charles Xavier! — mio fratello exclamou.
Passei a mão por entre os fios de cabelos, me perguntando se estava
realmente errado sobre aquilo. Inferno, era claro que eu amava Bruna com
cada fibra do meu ser. Apenas nunca disse em voz alta. Non sabia se ela
estava pronta e agora temi que estivesse esperando demais.
— Vocês acham que é por isso que ela ainda non se sente confortável
com as pessoas da empresa saberem sobre nós dois? — perguntei, mesmo já
sabendo a resposta. Recebi de volta xingamentos. — Tudo bem, eu entendi.
Irei resolver isso hoje, ok? Então ela irá me comprar no leilão e deixarei
claro para todos que ela é minha namorada e que eu a amo.
— É bom mesmo, cara. Se Bruna vai mesmo comprá-lo, então eu
non darei lances em você. — Matheus parecia um pouco triste que sua mais
nova brincadeira fosse frustrada antes mesmo de começar, até que um novo
sorriso brotou em seus lábios. — Non é como se io non pudesse
simplesmente comprar Felipe ou talvez você, Lucca.
— No inferno que você vai — Felipe respondeu, franzindo a testa.
— Eu mato você antes disso — Lucca devolveu bebendo um gole de
sua bebida. — Mia ragazza estará lá.
— Por que você simplesmente non cospe o nome dela de uma vez?
Ou mostra ao menos uma foto? — perguntei para o idiota de mio fratello,
grato pela mudança de assunto.
— Cara, você está saindo com alguém já tem um mês e até agora
non disse quem é. Se for um homem você sabe que nós o apoiaremos —
Matheus falou sério, colocando uma mão no ombro de Lucca.
— Non é um homem, scemo.[72]
— Apenas no caso de ser. Você sabe, sem preconceitos.
— Eu vou apresentá-la no leilão — falou, mas eu o conhecia bem o
suficiente para saber que ele estava preocupado com alguma coisa.
— Nós já a conhecemos? — Felipe indagou o encarando após alguns
segundos, e notei quando Lucca engoliu em seco.
— Se nós a conhecemos non entendo por que você está escondendo-
a, Salsicha. Ela é velha? Feia? Alguém daqui já ficou com ela? — Matheus
o encheu de perguntas, um sorriso brincando em seu rosto. — Parando para
pensar, se juntar os quatro, sobrará poucas ragazze que non passaram por
nossas mãos.
— Isso inclui modelos — resmunguei, apesar do sorriso sacana nos
lábios.
— Filhas de empresários renomados — Felipe adicionou, fazendo
com que todos rissem. Certamente perderíamos grandes contratos se os pais
soubessem o que já fizemos com suas preciosas filhas em nossas épocas de
solteiros.
— Ou qualquer ragazza gostosa que tenha cruzado nossos caminhos.
A lista de mulheres intactas acabou de cair drasticamente — Matheus
sondou.
— Podemos voltar a falar do leilão? — Lucca rebateu, sem
responder a nenhuma das perguntas.
— Tudo bem. Amanda non vai comprar você, vai? — Matheus
perguntou para Felipe, deixando mio fratello em paz por hora.
— Non. Ela está com Sofia nessa. Amanda acha que será engraçado
me ver passar a noite em outro encontro.
— Por que temos que ter mulheres que são tão malditamente seguras
em nossos relacionamentos? Espero que uma ragazza extremamente gostosa
me compre.
Matheus estava realmente fazendo beicinho com o fato de Sofia non
querer comprá-lo.
— Ninguém será mais gostosa que Sofia, para você — eu apontei o
óbvio.
Ele soltou um suspiro dramático. — Eu sei. Ela também sabe disso.
Sofia acha que será engraçado me ver sofrendo a noite toda. É culpa sua que
eu esteja passando por isso.
— Minha culpa? Pelo que me lembro, quando mencionaram a ideia,
você foi o primeiro da fila, depois de ligar para Sofia pedindo permissão. —
Isto non foi ideia minha. Mamma me obrigou.
— Bem, eu achei que seria legal ter mulheres brigando por mim. —
Seu rosto se iluminou. — E realmente será.
— Eu espero que você fique com a velha senhora Gertrudes — eu
disse a ele.
— Cara, isso é cruel!
A viúva Gertrudes tem 92 anos de idade e gosta de alegrar as
pessoas com histórias de cada um dos seus filhos, que são cães das mais
estranhas raças. Ela é uma filantropa na maior parte do seu tempo e nós a
encontramos na maioria dos eventos de caridade aos quais comparecemos.
— Tenho certeza de que ela vai querer te contar tudo sobre como
Flora deu à luz a filhotes de cachorro no meio de sua enorme king size —
Lucca disse, non se preocupando em conter a alegria com a ideia de a
senhora Gertrudes comprar Matheus.
— Ela poderia dar um lance em você. Você foi aquele com quem ela
chorou quando Theo morreu.
Juntei-me às risadas de Matheus e Felipe, relembrando de um Lucca
desconfortável e desajeitado dando tapinhas em suas costas quando ela
colocou a cabeça em seu estômago e enxugou os olhos com um lenço, seu
rosto contorcido em completo horror.
Eu suspeitava que ela secretamente era uma senhora de mente
pervertida, usando suas lágrimas para chegar perto de qualquer homem
jovem que estivesse ao alcance de suas mãos enrugadas e trêmulas.
— Isso será uma merda — Felipe disse, balançando a cabeça. — De
alguma maneira, eu temo que as gostosas dando lances com o cartão de
crédito do babbo non irão nos ganhar.
— Fale por você. Mia ragazza gostosa vai me ganhar.
Os três me encararam.
— Se ela non desistir, afinal, você nem mesmo disse que a ama em
malditos seis meses — Felipe destacou. — Talvez eu devesse fazer uma
ligação para ela...
— Faça isso e você será un uomo morto[73] — eu devolvi,
fodidamente sério.
Felipe levantou as mãos em sinal de rendição.
— Apenas brincando, cara. Eu mal posso esperar para ver Bruna de
pé na frente de todas aquelas pessoas e reclamando você como dela.
Dios, sarebbe eccitante.[74]
— Nem eu.
Bruna

— Cheguei! — gritei quando entrei no apartamento de Anthony. Ele


me disse para vir quando liguei mais cedo, então usei minha chave em vez
de bater. Ainda era um pouco difícil de acreditar que eu tinha uma chave
para a sua casa, e o fato era que eu amava usá-la.
Deixei minha bolsa na mesa que ficava ao lado da porta e caminhei
para a sala de estar, onde eu podia ouvir o ruído da TV, quando algo bateu
em mim como um carro desgovernado e fui arrancada de meus pés. — Mas
que porra...
— Kim Kardashian! — Matheus gritou, jogando-me por cima do
ombro e carregando-me pelo resto do caminho até a sala, onde Anthony
começava a se levantar, esperançosamente para me salvar.
Ao menos era o que eu esperava.
— Do que você me chamou? — rosnei, dando socos ineficazes em
seu estômago, infelizmente ele era como uma parede de músculos. Tão
malditamente injusto.
— Bem, ela é conhecida pelo bumbum, assim como você, Bunda
Gostosa. Ou eu poderia chamá-la de Bunda Gostosa Ferraz — ele ponderou,
parando seus passos.
— Se você me chamar de qualquer uma dessas coisas, eu juro que
mato você, Matheus!
Ele bufou. — Como se você fosse realmente fazer isso. O nosso
garoto bonito precisa muito de mim.
Anthony se aproximou com um sorriso nos lábios, que me fez
suspirar e esquecer momentaneamente a raiva que sentia por Matheus,
tentando me tirar delicadamente dos braços musculosos de seu primo.
— Solte a minha ragazza, cara. Você já tem a sua — Anthony disse.
Matheus soltou um suspiro, mas permitiu que ele me puxasse de seu
ombro. Anthony endireitou-me e eu arrisquei outro soco no peito de
Matheus, que só fez minha mão doer.
— Calma, calma, J-Lo. Non vá se machucar no meu corpo de
Adônis.
Tentei socá-lo no nariz, o que sem dúvida teria doído, se ele não
tivesse agarrado meu pulso e sorrindo para mim como uma criança sem
arrependimento.
— Quem disse a você? Foi Amanda? Eu vou matá-la! Vocês quatro
viraram um bando de velhas fofoqueiras — falei me referindo a Amanda,
Matheus, Lucca e Felipe. Graças a Deus eu podia tirar Sofia dessa equação.
Ele balançou a cabeça.
— Non vá atacando nossa Hugo Gloss por isto, Paolla Oliveira.
Você pode culpar os sites de fofoca por eu descobrir tudo. E eu sou o
migliore amico[75] do Garoto Vogue aqui, é claro que preciso de informações
como essa.
— O que faz você pensar que é meu melhor amigo? — Anthony
perguntou, envolvendo os braços em volta de mim por trás, porque ou ele
queria estar me tocando ou para me impedir de atacar seu primo. Eu
certamente estava a um passo de avançar nele de novo.
Matheus realmente parecia magoado com o comentário de Anthony
e fez um beicinho. Era hilário em um adulto tão grande como ele e não pude
deixar de rir.
— Quem mais criou uma colagem de você no teto do quarto? Quem
dá os melhores conselhos para você non perder a Shakira? É claro que eu
sou o tu migliore amico! — ele disse com um aceno para enfatizar seu
ponto.
— Eu duvido que uma colagem sobre sua cama conte como status de
melhor amigo. No mínimo, considero você um stalker do caralho —
Anthony informou, esfregando seu nariz em meu pescoço. Eu me virei para
dar um beijo de boa noite, sem conseguir resistir ao seu toque. No instante
em que meus lábios tocaram os dele, eu realmente me senti como se
estivesse em casa.
Matheus começou a cantarolar algo que soava como a música
Bumbum de Ouro e eu finalmente me afastei de Anthony para olhar para
ele.
*Uma parte da música:
Essa mina é um tesouro
Bumbum de ouro
18 quilates de bunda, ela tem
Sabe que é um estouro
Já fez pegar fogo
Então bate que brilha e se joga também
Vai ostentando
Toda essa riqueza
Joga na malícia, joga com delicadeza
Sente o movimento
Vai devagar
Prepara, menina, é sua vez de brilhar
Ela bate o bumbum no bumbo
Quando o bumbo bater pro bumbum
Ela bate o bumbum no bumbo
Quando o bumbo bater pro bumbum
Quando o bumbo bater pro bumbum
Quando o bumbo bater pro bumbum

Ele ergueu as mãos.


— Eu venho em paz, Beyoncé. Darei a vocês dois um tempo
sozinhos, preciso ligar para Sofia, de qualquer maneira. Posso usar seu
telefone? Eu deixei o meu no carro.
— Está na minha bolsa, na mesa ao lado da porta da frente — disse a
ele, voltando a pressionar meus lábios contra os de Anthony. Matheus riu e
nos deixou sozinhos.
As mãos de Anthony se moveram para baixo em meu corpo e ele
apertou minha bunda. Eu me afastei, lançando um olhar sujo e ele sorriu
para mim. — Ei, sua bunda é gostosa, amore mio. — Eu o empurrei e me
sentei no sofá. Anthony se sentou ao meu lado e colocou os braços em volta
de mim.
— Temos um pequeno problema. Meus pais sabem que há alguém
na minha vida com quem estou me relacionando, porém, nada além disso.
Toda vez que meu pai tentou saber mais, minha mãe disse a ele que meu
tom era hesitante e eles precisavam ser pacientes comigo. — Revirei meus
olhos enquanto ele ria levemente. — Espere só até você conhecê-la. Ela irá
mimar você como se fosse uma criança e não haverá nada que possa fazer
para evitar isso. As vezes acho que ela acredita que não saí dos quatorze
anos.
— Estou ansioso para conhecer os dois. — Ele apertou os braços ao
redor de mim.
— Sério? — questionei surpresa.
— É claro, mio angelo — respondeu como se fosse óbvio e
depositou um beijo na ponta do meu nariz. — Você já sabe o que vai fazer
no feriado?
— Estou pensando em ficar aqui. Mas minha mãe quer que eu vá
para lá para o Natal — respondi quase robótica, ainda assimilando o fato de
que ele queria conhecer meus pais. Isso era um passo muito grande em
qualquer relacionamento.
— Bem, por que non vamos para lá? Podemos ir no domingo cedo, o
que acha? — Ele parecia tão esperançoso que eu o beijei, o amor em meu
peito aumentando incontrolavelmente.
— Verei o que eles acham da ideia. — Eu tinha a sensação de que
poderia dar certo, claro, se meu pai aceitasse que eu estava namorando meu
chefe.
— Ótimo. Podemos ter o Natal com a minha família no sábado de
manhã, e depois voamos para Duque de Caxias.
Eu simplesmente amei a ideia e disse isso a ele. Quão maravilhoso
era que ele quisesse me incluir em seu natal e ser incluído no meu? A
maioria dos caras, em toda a minha experiência, não queriam dividir os
feriados tão cedo em um relacionamento.
Estávamos namorando há seis meses e parecia como se fosse muito
mais tempo. Se eu tivesse sorte, seria.
Nos beijamos novamente e me movi para montar em seu colo, até
que lembrei que Matheus estava escondido em algum lugar da casa, e a
última coisa que eu precisava era dar a ele outra razão para me provocar.
— Onde diabos está Matheus com o meu telefone?
— Estou bem aqui. — Como se convocado, ele saltou para a sala,
entregando o meu celular de volta. — Eu tenho que ir para casa, tenho
planos com Sofia. — Balançou as sobrancelhas sugestivamente para nós. —
Parece que vocês também, então eu estou dando o fora daqui. Obrigado pelo
telefone, Juju Salimeni.
— Eu ainda vou matá-lo — disse a ele irritada, arrancando o
aparelho de sua mão.
— Você me ama demais para isso — respondeu com uma piscadela.
— Até mais tarde, Vogue.
Anthony mostrou o dedo do meio para ele e Matheus riu enquanto
saía da sala mais como um raio.
Olhei para Anthony. — Sua família é tão estranha.
Ele riu e mordiscou meu pescoço. — Eles são seus amigos agora,
amore mio.
Eu dei um suspiro falso. — Sim, acredito que eles são agora.
Fiquei extremamente feliz com a constatação, mesmo que eu ficasse
sobrecarregada com apelidos ridículos.
Capitulo 23
Bruna
— Você realmente está pronto para conversar com os meus pais? —
perguntei receosa.
Anthony sorriu e mordiscou minha orelha, fazendo-me rir enquanto
me contorcia, sentindo meu corpo aquecer com o contato.
— Posso pensar em algo melhor para fazer, mas acho que devemos
fazer isso primeiro.
Eu o beijei rapidamente antes de apertar o botão dois da discagem
rápida para ligar para meus pais. Amanda esteve comigo quando eu havia
comprado meu telefone e me obrigou a colocá-la como a número um.
Coloquei no viva-voz enquanto ele tocava. Anthony voltou a beijar meu
pescoço, o que era mais que uma simples distração quando eu estava prestes
a falar com os meus pais.
— Filha?
— Oi, pai — eu disse, sufocando uma risada quando Anthony
esfregou sua barba contra a minha mandíbula.
— Querida, como você está? Estou surpreso que você já esteja
ligando. Falamos com você ontem. — É claro que falamos. Mas agora era
por um motivo diferente.
— Eu estou bem, pai. Realmente bem. — Senti meus olhos girarem
quando a mão de Anthony entrou pela parte traseira do meu jeans e golpeei
seu braço para longe. Ele sorriu sem nenhum som.
— Então, o que está acontecendo? Você decidiu que é hora de voltar
para cá e se casar com Pedro? Ele ainda pergunta por você.
Anthony rosnou e tentou falar algo, mas tampei sua boca.
— O que foi isso?
— Nada, pai, apenas a TV. — Eu olhei para Anthony e ele tentou
falar novamente, mas minha mão permaneceu sobre seus lábios, impedindo-
o de soltar alguma estupidez.
Antes que meu pai conseguisse perguntar qualquer coisa, ouvi a voz
da minha mãe.
— Filha? Coloquei no viva voz. O que está acontecendo?
— Uh, bem, eu estou ligando para contar uma coisa a vocês.
— Você não está grávida, está? — meu pai exigiu. Revirei os olhos e
Anthony riu de novo, ainda abafado por minha mão.
— Claro que não, pai! Deus.
— Bem, qual é todo o mistério então? Cuspa de uma vez.
Esse era o meu pai. Sempre direto em qualquer assunto.
— Eu queria falar com vocês sobre o meu namorado.
Minha mãe soltou um grito agudo enquanto meu pai bufou. — Até
que enfim. Fiquei controlando seu pai todo esse tempo, mas minha
curiosidade estava chegando ao limite.
Anthony lambeu minha mão e eu a puxei de seu rosto para enxugar
em meu jeans. — Idiota — eu murmurei baixo.
— O que foi isso? — Meu pai tinha ouvidos de tuberculoso, eu juro.
— Isso foi Bruna me chamando de idiota, senhor. — Anthony
respondeu em meu lugar.
Houve uma pausa longa antes dos meus pais falarem ao mesmo
tempo. — Você é um? — Claro que isso veio do meu pai.
— Você claramente não é, querido. Eu sei disso desde o momento
que Bruna falou que estava com alguém — minha mãe o defendeu.
— Obrigado, senhora Ferraz. E non, senhor, eu non acho que sou um
idiota. Pelo menos, non para Bruna.
— Então, quem é você? — meu pai perguntou. Eu poderia imaginá-
lo andando de um lado para o outro pela sala de estar agora.
— Meu nome é Anthony Mancini. — Ele sorriu para mim enquanto
nós dois esperávamos a reação deles.
— O quê? Quem é você realmente? Eu não acho que mentir para
mim é a maneira de fazer uma boa primeira impressão. — Meu pai parecia
muito chateado.
— Isso explica o porquê dela ter demorado tanto a falar alguma
coisa. — Minha mãe pareceu comentar diretamente para meu pai.
Anthony olhou para mim com expectativa.
— Ele é realmente Anthony Mancini, pai. Eu estou saindo com ele
há alguns meses.
— De verdade? Você não está brincando?
— Não, pai. Por que eu mentiria?
— Porque ele é seu chefe e não apenas isso, Anthony Mancini é o
dono da empresa! E isso me irritaria. — Anthony riu e eu balancei a cabeça.
— Tão divertido quanto possa ser isso, eu non estou mentindo.
— Ela é apenas um passatempo para você? — meu pai perguntou
rudemente, e revirei meus olhos.
— Claro que non, senhor. Eu tenho as melhores intenções com a sua
figlia — Anthony falou olhando nos meus olhos e tive que resistir ao
impulso de beijá-lo.
— Isso quer dizer que você realmente gosta dela?
— Eu amo a sua figlia.
Aquelas palavras me atingiram em cheio. Anthony nunca havia dito
com todas as letras que me amava. Eu sabia que eventualmente ele poderia
vir a me amar, e às vezes acreditava que ele já o fazia. Mas ouvir isso de
seus lábios?
Seu olhar era firme no meu, deixando claro que ele realmente quis
dizer cada palavra. Consegui ouvir meu pai resmungando algo ao fundo,
mas minha mente estava sobrecarregada demais para continuar com aquela
ligação.
— Papai, eu preciso desligar, falo com vocês depois — falei para o
celular, murmurando um eu te amo antes que pudessem protestar e encerrei
a chamada. Anthony tinha nos lábios aquele sorriso que sempre me fazia
sentir como se estivesse desossada, e precisei controlar um suspiro que quis
escapar.
— O que foi, mio angelo? — Ele ergueu uma sobrancelha, seus
olhos brilhando com humor e expectativa.
— Você acabou de falar para os meus pais que me ama — sussurrei,
ainda processando suas palavras.
— Sì, perché è vero. [76]
Eu observei o homem perfeito à minha frente, que controlava um
império com punhos de aços, mas que era um amigo fiel, dono de um
coração bondoso, carinhoso e que pouquíssimas pessoas tinham o privilégio
de conhecer.
E aqui estava ele, dizendo que me amava, como se fosse a coisa mais
simples do mundo. Como se isso não arrancasse o chão debaixo de mim e
virasse meu mundo de cabeça para baixo. Porque eu o amava, e agora não
sabia se seria capaz de sobreviver se um dia terminássemos.
— Ti amo, amore mio. E non pretendo deixar você sair da minha
vida. Nunca mais — enfatizou cada palavra, como se soubesse que eu
precisava ouvir aquilo. — Eu amo você a mais tempo do que julgo sensato.
Amo tudo em você, mesmo as coisas que às vezes me irritam, eu amo. Eu
quero você comigo pelo tempo que conseguir aguentar esse homem
imperfeito, ocupado e mal-humorado. Eu amo você e espero de todo o meu
coração que você também me ame.
Antes mesmo que ele conseguisse terminar a declaração, lágrimas de
felicidade escorriam por minhas bochechas e me joguei contra ele, um
sorriso praticamente dividindo meu rosto em dois.
— Eu amo você, Anthony Mancini — sussurrei entre lágrimas, antes
de grudar nossos lábios em um beijo apaixonante. — Amo cada pequena
parte insuportável sua, todas as suas facetas. E amo o fato de algumas delas
serem reservadas apenas para mim e, mesmo que você nunca vá assumir, eu
amo o quanto você ama sua família louca.
— Per favore, non me faça lembrar das loucuras de Matheus ou do
Lucca justo agora — resmungou com uma careta e uma risada escapou por
meus lábios.
Aproveitei para passar uma perna por cima dele, que não perdeu
tempo ao me puxar para cima dele, suas costas relaxadas contra o sofá,
enquanto uma mão pressionava minha cintura e a outra descia ousadamente
para minha bunda, pressionando-me contra sua ereção.
Segurei seus ombros enquanto ele movia a boca por cada centímetro
de pele que podia alcançar. Joguei minha cabeça para trás, fazendo meus
cabelos escuros caírem como cascatas por minhas costas e ofereci meu
pescoço para Anthony quase como um sacrifício pronto para ser usado.
Ele passou sua língua pelo lugar até alcançar minha clavícula,
mordiscando-a gentilmente.
— Anthony. — Rebolei em seu colo em meio aos gemidos que
escapavam de mim. Eu precisava de um contato maior, o que fez com que
ele soltasse uma risada rouca.
— Sei mio, e essa noite irei mostrar isso.
Praticamente desfaleci com as palavras rosnadas em meu ouvido e
abracei seu pescoço, enlaçando sua cintura com minhas pernas quando ele
se colocou em pé, agarrando a minha bunda e caminhando lentamente para
o quarto.
Anthony
Bruna estava ofegante quando a depositei na cama king size no
centro do meu quarto, meus dedos indo diretamente para o botão do seu
jeans, retirando-o do meu caminho em poucos segundos. A próxima coisa
que notei foram suas mãos afoitas em minha camisa que encontrou o mesmo
destino que seu short no chão.
Contive um gemido quando suas unhas pintadas de vermelho
passaram por meu peito, causando arrepios pelo caminho e depois abdômen.
— Me perdoe por non ter dito antes o quanto eu te amo, mas hoje…
— Minha frase morreu quando tirei sua blusa, e por um segundo esqueci o
que estava falando ao ver seu corpo coberto apenas por uma minúscula
lingerie vermelha, que fazia um belo contraste com sua pele clara. — Você é
tão malditamente gostosa. Ho bisogno di te,[77] Bruna. — Minha voz estava
áspera com a necessidade de me enterrar dentro dela.
— Eu sou sua.
Aquelas palavras me atingiram em cheio e a puxei para um beijo que
aumentou a chama em nós dois, a adrenalina correndo solta por todo o meu
corpo a ponto de praticamente me deixar cego pelo desejo desenfreado que
eu sentia por ela.
Me afastei o suficiente para descer os lábios e morder levemente sua
garganta e enrosquei minhas mãos em seus cabelos, puxando-os com certa
força, deixando seu pescoço totalmente exposto para mim e um gemido de
prazer escapando dela. Eu precisava que ela falasse novamente que era
minha, porque eu era dela há muito mais tempo do que admitiria.
Desci uma mão entre nós e puxei sua calcinha, rasgando o tecido.
Bruna ofegou, mergulhando os dedos no meu cabelo para me guiar até seus
gloriosos seios e sorri de lado, atendendo a seu pedido e abocanhando um
deles sem hesitação.
Movi os dedos sobre o seu clitóris e cazzo, ela estava tão molhada.
Deslizei dois deles de uma vez dentro dela, enquanto palavras desconexas
escapavam de seus lábios.
— Anthony, eu preciso que você me fôda, agora!
Buon Dio[78], aquelas palavras quase arrancaram todo o meu
autocontrole.
— Em breve, amore mio — sussurrei, aumentando a velocidade de
meus dedos, porém Bruna envolveu as pernas ao redor de mim e
impulsionou nossos corpos, fazendo com que minhas costas caíssem contra
o colchão e ela estava posicionada em cima de mim.
— Agora, Anthony — voltou a falar, seus olhos presos nos meus.
Retirei meus dedos e sem esperar empurrei profundamente dentro
dela, arrancando gemidos altos de nós dois. Eu non conseguia esperar
quando ela agia daquela maneira e nem sabia se aguentaria por mais tempo.
Minhas mãos foram para sua cintura e encontrei seu ritmo, fodendo-a da
forma que sabia que Bruna precisava, estabelecendo um ritmo duro e rápido.
Non demorou muito para que ela começasse a apertar os músculos
em torno de mim, seus gemidos se tornando mais altos e desci minha mão,
estimulando seu clitóris no ritmo das estocadas. Maledizione[79], ela estava
tão molhada que levou tudo de mim para non gozar naquele mesmo
segundo.
Seus olhos reviraram de prazer e suas paredes começaram a me
espremer, porém, mantive o ritmo das investidas dentro dela. Quando Bruna
ficou mole sobre mim, agarrei sua cintura e nos girei novamente, colocando
suas pernas em meus ombros, aumentando a velocidade enquanto apertava
suas pernas.
Ela jogou a cabeça para trás, e somente a visão de seu corpo suado,
seu rosto e seios rosados, os lábios entreabertos com a respiração ofegante
me levaram ao limite. Observei meu pau entrar e sair de sua boceta e mordi
uma coxa com força, mudando um pouco a posição do meu corpo para
atingir seu ponto G, o que fez seus gemidos se tornarem mais altos.
Sabia que devia ser delicado, mas não conseguia me controlar. Não
quando ela começou a me apertar novamente e gritou meu nome quando
alcançou o clímax mais uma vez. Meu autocontrole foi atirado pela janela
naquele momento e após cinco estocadas duras, alcancei meu próprio prazer
e minha semente foi despejada completamente dentro dela.
Bruna respirava ofegante, os longos cabelos negros espalhados pelos
travesseiros quando me retirei com cuidado, seu corpo cansado demais para
que pudesse protestar por qualquer coisa. Me inclinei e beijei suavemente
sua testa, como se não tivéssemos acabado de transar como animais no cio.
— Eu machuquei você — murmurei, notando a marca de minha
mordida em sua coxa e os lugares onde a apertei ganharem uma coloração
avermelhada. — Mi dispiace piccola.[80]
— Hum?
Ri levemente e depositei beijos castos por sua pele.
— Eu deveria ter tido mais cuidado — expliquei, seus olhos
castanhos me encarando enquanto franzia a testa. Ela não era uma fanculo
qualquer. Era la mia ragazza, aquela que possuía meu coração em suas
mãos.
Seus dedos afastaram alguns fios que estavam grudados em minha
testa, envolvendo meu rosto com as mãos.
— Não ouse pedir perdão por isso. Assim que as palavras: eu te
amo, saíram por seus lábios, era exatamente disso que eu precisava. E até
onde me lembro, eu ataquei você primeiro — murmurou, depositando beijos
pela extensão do meu peito. Um sorriso surgiu em meus lábios,
completamente aliviado por sua declaração, até que ela me chamou com
suavidade. — Anthony?
— Diga, querida.
— Eu adoraria usar sua banheira agora.
Depositei um beijo rápido em seus lábios e me levantei, passando
meus braços debaixo de seus joelhos e costas e a erguendo no estilo noiva
contra meu peito.
— Sempre ao seu dispor, sra. Ferraz — murmurei, carregando-a em
direção ao banheiro, mais do que pronto para proporcionar novos outros
momentos a ela. — E, Bruna? Ti amo, amore mio.
Capitulo 24
Bruna
Não parecia que uma tragédia ia acontecer naquele dia. Porém, por
outro lado, ninguém realmente suspeitaria de que aquele poderia se tornar o
pior dia de toda a sua vida.
— Bruna! Eu estou aqui! — Amanda chamou, entrando no quarto
sem bater, como sempre.
Eu havia decidido ir para aquele maldito evento com ela e voltar
com Anthony direto para o apartamento dele, onde passaria o fim de
semana. Ainda sentia meu estômago embrulhar com o pensamento de que
iríamos tornar nosso namoro público, e eventos como aquele se tornariam
frequentes em minha rotina, afinal, vinha com o pacote de namorar um cara
bilionário.
Isso porque eu estava evitando pensar no fato de que eu havia
aceitado participar daquele leilão e comprá-lo. Tudo pela caridade, claro.
Senti meu estômago revirar somente ao pensar na ideia de fazer isso. Eu
realmente não gostava da ideia de todos os holofotes estarem concentrados
em mim, mas ver outra mulher em seus braços, por ter comprado meu
namorado graças a minha covardia… É, não. Aquilo definitivamente não
estaria acontecendo.
— Sofia já está indo para lá e... — Amanda interrompeu sua frase
bem no meio quando entrou em meu quarto e me viu pronta. Sua expressão
deveria ser um sinal positivo, se eu não estivesse a ponto de arrancar meu
vestido de meu corpo e vestir uma camiseta surrada para mergulhar para a
segurança das cobertas. — Bruna, você está incrível — sussurrou, seus
olhos arregalados. Ela se aproximou de mim e deu uma volta ao meu redor.
— Você acha? Gastei boa parte das minhas economias nele.
— Não haverá uma mulher mais linda do que você, Bru.
Eu ri do orgulho em sua voz. Amanda, naquela noite, não estava
nada além de esplendorosa em um vestido azul, que realçava seus olhos
azuis de um tom quase hipnótico de safira, que caía perfeitamente em seu
corpo, o decote em formato de coração e as alças ombro a ombro eram
cruciais para o ar de elegância que praticamente exalava de seu corpo, o
tecido brilhante do tecido zibeline iluminando-se fantasticamente conforme
se movimentava, a cintura marcada e a fenda generosa, seus cabelos
castanhos claros estavam semi presos, com cachos grossos nas pontas,
deixando as mechas naturalmente loiras em evidência. Os delicados brincos
de ouro branco eram os toques finais para o complemento de seu visual. Ela
estava sexy e resplandecente.
Eu sabia que deveria ter usado algo melhor, com uma fenda mais
discreta. O vestido dela era bem mais adequado para uma festa daquele
calibre, com a elite da classe alta que dariam um monte ridiculamente alto
de dinheiro para a caridade sem pensar muito sobre isso. Amanda
simplesmente parecia ter nascido para usar aquele vestido e pertencer àquele
lugar. Era seu habitat natural.
Eu havia planejado comprar um vestido preto, mas alguma coisa
sobre este havia me atraído imediatamente. A elegância do material fino era
estrondosa, a seda rosa metálica brilhando quase etérea, sendo um modelo
sem mangas com uma fenda generosa que expunha totalmente minha perna
esquerda, pontos de luz espalhados por todo o tecido lembrando fios de ouro
entrelaçados com seda tradicional, o detalhe drapeado do corpete e o decote
em formato de coração concedendo um charme adicional à peça que a
vendedora conseguiu me convencer de que era completamente sexy sem
alcançar a vulgaridade.
— Um coque alto com alguns fios soltos? — Amanda perguntou,
apontando para meu cabelo e assenti. Sentei-me em frente à minha
penteadeira e deixei que ela fizesse sua mágica.
— Você precisa de algo no pescoço e tudo estará perfeito —
declarou, me analisando minuciosamente com um ar de satisfação.
Um sorriso cresceu em meus lábios, sabendo exatamente o que
usaria.
— Acho que isso não será um problema.
Eu ainda não podia acreditar que Anthony havia feito aquilo. Mais
cedo, um funcionário dele chegou ao prédio com uma entrega para mim.
Qual foi a minha surpresa ao ver que se tratava de uma caixa de joias azul
marinho. Quando abri, senti meu coração parar, meu olhar travado em um
lindo colar composto por onze esmeraldas rodeadas por pequenos cristais de
diamante, além de brincos que compunham o par. Encontrei uma nota
escrita à mão que dizia: Joia nenhuma será capaz de superar seu brilho.
Meu coração havia derretido completamente com o gesto e é claro
que eu o usaria para o leilão.
Amanda gritou quando o viu e com delicadeza o colocou para mim,
juntamente com os brincos.
— Foi um presente do Anthony? O que estou perguntando, é claro
que é dele!
Eu ri e corri o dedo sobre a superfície fria das esmeraldas.
— Sim, é um presente dele. Chegou hoje mais cedo.
Olhei para o meu reflexo no espelho e apertei a mão sobre meu
estômago.
— Nunca me senti tão nervosa em toda a minha vida, mas só de
imaginar essa noite com ele ao meu lado, faz tudo valer a pena.
Sabia que um sorriso bobo estava em meus lábios, enquanto soltava
um suspiro satisfeito com o simples pensamento de ter os seus braços ao
meu redor, enquanto estaríamos dançando uma música lenta e romântica,
minha cabeça relaxada contra seu peito.
— Hoje será uma noite perfeita, eu sinto isso — Amanda afirmou,
seus olhos brilhando com felicidade genuína. — Precisamos de uma foto
para registrar esse momento, não sei quando estaremos vestidas assim
novamente.
— Agora que oficialmente namoramos homens bilionários, acredito
que com mais frequência do que imaginamos. Eventos como esse
acontecem mais do que Anthony gostaria. — Saí do quarto me equilibrando
naquelas armas mortais conhecidas como salto alto quando o interfone tocou
para avisar que o motorista havia chegado.
— O carro já está aí? — Amanda perguntou, quando avisei que
estaríamos descendo. — Vamos pedir para alguém lá embaixo tirar a foto.
Dei graças a Deus pelo elevador estar vazio quando descemos,
porém, infelizmente não tivemos tanta sorte ao chegar ao térreo. Todos os
olhos se voltaram para nós, e permaneci orgulhosamente indiferente aos
murmúrios em nossa direção. Isso era apenas uma prévia de como seria
aquela noite.
Balancei a cabeça ao notar a limusine parada na entrada do prédio, o
motorista uniformizado segurando a porta aberta para que nós duas
pudéssemos entrar.
— Anthony é mesmo impossível. A nossa chegada será um grande
momento para os fotógrafos que estarão presentes.
Amanda ignorou habilmente meus resmungos e com um sorriso
educado se aproxima do homem que mantém a postura ereta aguardando
pacientemente e entrega seu celular a ele, pedindo para que tire uma foto
nossa. Revirei meus olhos, sorrindo com sua animação.
— Vamos, fique aqui. Uma mão segurando a porta aberta como se
estivesse saindo e a outra segurando a minha, ficará perfeito!
Sabendo que não ia conseguir escapar dela, abri um sorriso e me
permiti ser contagiada por sua euforia. Tiramos uma dúzia de fotos
diferentes e eu tinha que admitir, quase não me reconheci ao olhar as
imagens. Pela primeira vez, eu parecia estar à altura do empresário Anthony
Lombardi Mancini, e aquilo me deu um pouco mais de coragem para
enfrentar a noite.
Meu Anthony era único. O empresário que vinha no pacote era
totalmente diferente e, muitas vezes, eu me sentia sufocada pela distância
entre as classes sociais de nós dois.
— Ele deixou champanhe e duas taças — notei com humor, vendo
que um bilhete acompanhava a bebida. — Credo, e não precisava ter lido
isso — resmunguei, entregando o papel para minha amiga, que soltou uma
gargalhada ao notar de quem era.
— Meu Felipe é perfeito!
— Palavras se transformam em imagens, e eu não precisava da
imagem mental do que ele quer fazer com você no fim da noite, Amanda. —
Cuidadosamente abri o champanhe de modo que a espuma caísse dentro do
balde com gelo, servindo as duas taças que ela segurava.
— Você não sabe as maravilhas que é fazer sexo em um simulador
de remo*. Nunca imaginei que iria gostar tanto de aparelhos de academia
como hoje em dia. — Amanda bebeu um generoso gole de sua bebida, o
rosto e o colo vermelhos, possivelmente relembrando. — Podemos
emprestar para vocês algum dia. Meu Felipe pode emprestar a chave do
apartamento para vocês dois, então vai saber o que é sentir o pênis tão fundo
dentro de você que…
— Amanda! — gritei, fazendo-a soltar uma sonora gargalhada diante
da minha indignação. Contudo, acabei acompanhando-a, meus olhos
lacrimejando com o esforço para me controlar. — Alguns limites existem
por um bom motivo — falei quando consegui retomar o controle sobre
minha respiração levemente ofegante.
*Simulador de Remo: Um aparelho normalmente usados em academia, que imita a
sensação de remar. Este tipo de treino aumenta sua frequência cardíaca e trabalha os principais
músculos do corpo.
— Vocês não sabem o que estão perdendo.
Revirei os olhos, pegando minha taça e erguendo em sua direção
para um brinde.
— A melhor noite de nossas vidas — falei com um sorriso, me
sentindo mais feliz do que nunca. Jamais imaginei que um dia o destino nos
levaria até aquele momento, onde tudo ao nosso redor parecia perfeito. Era
quase irreal a sensação que tomava conta do meu corpo, ao lembrar do
homem maravilhoso que me amava incondicionalmente e de como uma
proposta irresistível poderia virar a vida de todos nós daquela maneira.
Os olhos arregalados de Amanda foram a última coisa que vi antes
de sentir o impacto atingir o meu lado, fazendo a limusine capotar e tudo ao
meu redor escurecer.
Anthony
Olhei para o meu celular pelo que parecia ser a milionésima vez na
última hora, ainda esperando por respostas de Bruna. Ela havia mandado
uma foto dentro da limusine com Amanda, o sorriso em seus lábios e o
brilho em seus olhos foram o suficiente para encher meu peito de satisfação,
ao saber que eu era diretamente responsável por sua felicidade.
Ela estava mais linda do que nunca. Sua maquiagem era discreta,
realçando sua beleza natural e o que era aquele vestido que ela usava?
Diavolo[81], somente por aquela foto sabia que ela seria minha completa
perdição e iria precisar me controlar grande parte da noite. Porém, aquela foi
a última coisa que recebi. Poderia ser somente ansiedade ou preocupação
excessiva, mas eu realmente queria saber como ela estava e se havia
encontrado com Sofia no salão.
Corri os olhos pelo lugar onde outros dezenove homens estavam
espalhados esperando o início do leilão, para subir ao palco, e encontrei os
três patetas que chamava de amigos. Felipe estava com uma carranca
permanente em seu rosto, possivelmente pelo fato de Mateus insistir com a
ideia de que o compraria. Eu certamente não duvidava que fosse possível de
acontecer. Já Lucca, como sempre, parecia se divertir com a desgraça alheia.
Scemo.[82]
Revirei os olhos e caminhei até eles. Precisava falar com Felipe e
descobrir se ele havia recebido notícias de Amanda. Notei Matheus
colocando seu braço enorme ao redor dos ombros do meu outro cugino, que
apenas fechou os olhos e rangeu os dentes.
Felipe respirou fundo antes de atirar o braço para longe e falar algo
que infelizmente não consegui ouvir. Seja o que for, apenas incitou Matheus
e Lucca a gargalharem, o que fez um bufo escapar por meus lábios, sorrindo
com a cena ridícula que se desenrolava.
— Eu darei a você a melhor noite de sua vida, grazioso[83]. Espera e
veja.
— Você não vai fazer isso. Non ti azzardare a farlo[84] — Felipe o
proibiu calorosamente, o rosto vermelho graças à raiva.
— Quer apostar? — Matheus perguntou, seus olhos brilhando com o
desafio.
— No.
— Troppo tardi.[85] Está feito.
— Matheus, pare de perturbar seu acompanhante antes da hora —
falei com um sorriso no rosto, fazendo Felipe rosnar em minha direção.
— Eu vou matar algum de vocês até o final da noite, ostinata[86] certo
que sì — ele resmungou, massageando suas têmporas. — Ragazzi[87], Bruna
mandou alguma mensagem? Amanda deveria ter me ligado há meia hora.
Uma ruga de preocupação estava evidente em sua testa, apesar da
careta por quase ter sido apalpado por Matheus. O fato de Amanda também
não ter entrado em contato com mio cugino fez algo dentro de mim se agitar.
Rapidamente peguei meu celular do bolso e disquei o número de Bruna, que
imediatamente foi para a caixa postal.
— Matheus, seja útil pelo menos uma vez na vida e tente falar com
Sofia, pergunte se as meninas chegaram — pedi, e a urgência em minha voz
talvez fosse um indicativo, já que mio cugino rapidamente ficou sério e
sacou o próprio aparelho, enquanto Felipe tentava inutilmente entrar em
contato com sua namorada.
— Caixa postal — falou, seus olhos buscando os meus em uma
pergunta muda.
— Dolcezza[88], Amanda e Bruna estão com você? — Ouvi a voz do
mio cugino e esperei impaciente a resposta de Sofia, mas pelo olhar de
Matheus soube que não era o que esperávamos.
— Acha que aconteceu algo? — Lucca perguntou, finalmente se
dando conta de que elas deveriam estar aqui há quase uma hora.
— Sofia também tentou entrar em contato com as duas e não
conseguiu — Matheus falou ao desligar o telefone e de repente senti que a
maldita gravata borboleta me sufocava e a arranquei do meu pescoço com
um movimento brusco.
— Vou descobrir o que aconteceu. Fanculo questa asta, amico.[89]
Algo não está certo.
Não consegui ouvir o que os meninos falaram depois disso, meus
ouvidos zumbiam quando um medo irracional apertou o meu peito como
uma mão invisível. Um nó se formou em minha garganta quando apressei os
passos em direção à porta, a necessidade latente de encontrá-la crescendo
em minhas entranhas.
O incômodo que senti há quase uma hora e resolvi ignorar por
acreditar que não passava de ansiedade aumentou exponencialmente, a
ponto de quase arrancar todo o ar de meus pulmões. Só me dei conta de para
onde estava caminhando quando acabei esbarrando em um homem, fazendo-
o derrubar uma parte de sua bebida.
— Anthony, há quanto tempo.
Não ouvi o restante de sua frase, já que nem mesmo consegui focar
em seu rosto, minha mente trabalhando furiosamente em busca de algo que
pudesse me ajudar. Disquei o número do motorista responsável por trazê-las
até o Copacabana Palace. Deveria ser uma viagem tranquila de quarenta
minutos, e agora cada poro meu gritava que algo de muito errado havia
acontecido.
— Diavolo! — rosnei, quando caiu direto na caixa postal. —
Tranquilo. Respiri. Deve ter alguma explicação lógica para tudo isso. Deve
essere.[90]
Meus olhos varreram o salão, procurando pela única pessoa que eu
sabia ser capaz de me ajudar em uma situação como aquela: mio babbo.
Antes que conseguisse dar um único passo para encontrá-lo, uma mão forte
segurou meu braço, atraindo minha atenção e, ao me virar, me deparei com
o rosto mortalmente sério de Matheus.
Não foi preciso uma única palavra para que meu mundo
desmoronasse ali mesmo. Avistei Felipe correndo em direção a saída, seu
rosto em uma máscara de desespero com o telefone grudado ao ouvido
enquanto praticamente berrava com alguém do outro lado da linha.
— Sono così dispiaciuto[91] — Matheus murmurou, seus olhos presos
em meu rosto, enquanto sua mão parecia me manter no lugar, minhas pernas
subitamente paralisadas pelo medo incapacitante.
— No, per favore, no — consegui implorar com a voz quebrada até
mesmo para meus ouvidos. Não sei se para mim, Matheus ou qualquer
entidade que pudesse me ouvir naquele momento. — Non a mia Bruna.
— Precisamos ir, Lucca vai avisar nostra mamma. Elas estão no
hospital Souza Aguiar, o número do Felipe estava cadastrado como um dos
contatos de emergência da Amanda. Não sabemos muito, apenas que um
disgraziato[92] filhinho de papai estava apostando um racha e furou o sinal
vermelho, atingindo a limusine onde elas estavam.
Senti minha respiração cessar quando comecei a correr com mio
cugino logo ao meu lado, lutando contra as imagens evocadas em minha
mente, sendo cada uma pior que a outra. È viva e vegeta[93]. Precisava estar.
Pegamos o Túnel Santa Bárbara e conseguimos chegar ao hospital,
agradeci aos céus pelas ruas não estarem congestionadas, o que fez com que
chegássemos em menos de quinze minutos.
Mal conseguia respirar ou raciocinar quando corri até a recepção,
seguido de perto por Matheus, a sensação de aperto em meu peito
aumentando quando notei a movimentação nos corredores.
Eu mandei a limusine. Eu marquei o horário que o motorista deveria
buscá-la, se houvesse mandado seguirem por outra rota ou se tivessem saído
dois minutos mais tarde, as duas não estariam naquele lugar agora.
— Anthony, por aqui! — Ouvi a voz de Matheus, que agarrou meu
braço e me arrastou por alguns corredores. Tentei controlar meu desespero,
porém, era cada vez mais difícil. Tudo o que eu conseguia pensar era que
não haviam falado nada sobre o seu estado e isso apenas piorava a sensação
angustiante que eu sentia. — Respira, ragazzi. Stanno bene[94]. Bruna e
Amanda são mulheres fortes.
Tentei focar meus pensamentos em outra direção, algo que eu
pudesse controlar. O rapaz que causou o acidente.
Fechei a mão em punho quando dobramos um último corredor,
encontrando Felipe sentado no chão enquanto Lucca estava ao telefone,
andando de um lado para o outro. Mio cugino ergueu a cabeça, seu rosto
coberto de lágrimas quando me encarou e senti meu corpo congelar no
lugar, imediatamente interrompendo meus passos.
— O que aconteceu? — sussurrei, meus olhos presos nos de Felipe,
que meneou a cabeça negativamente. — Felipe, stanno bene?!
— Não sabemos muito, fratello. — Lucca praticamente se
materializou na minha frente, fazendo-me olhar para ele com relutância. —
Ambas foram levadas para cirurgias de emergências. O médico virá em
breve para nos dizer com precisão como elas estão. Só podemos esperar
agora.
— Eu quero o homem responsável por isso atrás das grades —
rosnei, quase sem querer controlar minha vontade de caçá-lo e matá-lo com
minhas próprias mãos. — Para onde ele foi levado?
— Ele morreu no acidente, Anthony. O disgraziato está morto. —
Dor e raiva coloriam a voz de Felipe. — Ele bateu na lateral da limusine,
estava sem cinto e foi cuspido do carro.
Aquela informação me pegou de surpresa e acabei me apoiando na
parede, tonto e escorreguei pelos azulejos brancos até me sentar no chão.
Fechei os olhos com força, sentindo-me colapsar. Tinha medo de perguntar
em qual das laterais ele havia batido, se era onde Bruna estava sentada.
Senti meu corpo balançando como se estivesse na beira de um penhasco,
prestes a cair.
Ao fundo conseguia ouvir o ruído de vozes ao meu redor, mas tentei
me concentrar em minha respiração ruidosa, forçando o ar a chegar até meus
pulmões. O que deveriam ser minutos se transformaram em horas. A essa
altura, mia mamma e mio babbo já haviam chegado em busca de qualquer
informação sobre as meninas.
Sofia possuía o rosto vermelho devido ao choro e a falta de
informações, protegida dentro dos braços de Matheus, que estava com uma
expressão séria, completamente destoante de seu eu habitual.
Me mantive calado desde o momento que me sentei no chão,
sentindo que apenas parte de mim estava presente ali. Felipe estava a ponto
de ir atrás de alguma enfermeira quando as portas se abriram para revelar
um homem grisalho de jaleco branco, com a aparência cansada e com os
olhos escuros e sábios.
— Parente da senhorita Amanda Souza?
— Sou seu namorado, e no momento o parente mais próximo, Felipe
Villas Mancini. — Mio cugino se levantou de onde estava e se aproximou
do médico com passos largos. — Como ela está, doutor?
— Boa noite, senhor Villas. Sou o médico responsável pelo caso
dela, Doutor Marcos Pelegrino. A cirurgia foi um sucesso, tivemos algumas
complicações, mas ela está estável agora.
O médico rapidamente reconheceu o sobrenome e mandou um
jovem que estava ao seu lado, possivelmente um residente, buscar os
resultados dos exames.
— Quão grave é a situação? — mia mamma perguntou, apertando
firmemente a mão de mio babbo, em busca de apoio. Ela havia visto
Amanda apenas duas vezes, contudo, foi o suficiente para que ambas se
apegassem.
— Por sorte, o carro não acertou o lado onde ela estava. Então
esperamos uma recuperação rápida. Ela quebrou três costelas e estava com
uma fratura exposta na perna direita. Amanda ficou inconsciente devido às
dores no local do acidente, mas em breve estará acordada e poderemos testar
seus reflexos. — O médico mostrou alguns raios-x, apontando para os locais
citados. — Foi feito uma tomografia de crânio e deu limpo, mas vamos
repetir o exame daqui 48h.
— Quando poderemos vê-la? — Sofia perguntou, sua voz trêmula
devido às lágrimas.
— Ela irá precisar ficar em observação por algumas horas antes de
ser transferida para um quarto. Poderão vê-la depois disso. Mas adianto que
ela estará sedada.
— Quando ela poderá ser transferida, doutor? Gostaria que minha
namorada fosse acompanhada no Sírio Libanês.
— Mas ele fica em São Paulo, senhor Villas. — O médico o encarou
confuso, sem compreender que recursos era algo simples para
providenciarmos. — Vamos esperar que ela acorde, e então posso dar uma
resposta concreta sobre isso.
— Doutor Pelegrino, a moça que chegou junto com ela, Bruna
Ferraz. Como ela está? — Forcei as palavras saírem por minha garganta.
O rosto dele suavizou e algo que parecia ser pena alcançou seus
olhos. Senti a mão pequena e delicada de mia mamma agarrar a minha, e só
então pude perceber o quanto estava tremendo.
— Senhor?
— Mancini, Anthony Mancini.
— Senhor Mancini, quando ela deu entrada, o seu estado era crítico.
O carro acertou a lateral onde ela estava, causando lesões mais graves do
que os da senhorita Souza. Contudo, não sou o médico responsável por seu
caso — ele falou devagar, como se selecionasse as palavras para explicar a
situação sem aumentar o pânico. — Posso pedir para alguém do centro
cirúrgico vir atualizá-los sobre o estado dela. É o máximo que posso fazer.
Eu sinto muito.
Balancei a cabeça roboticamente, sentindo meu mundo desmoronar
com aquelas palavras. A mulher que eu amava, proprietaria del mio cuore[95],
estava entre a vida e a morte e não havia nada que eu pudesse fazer. Apenas
sentar e esperar.
Maledizione.[96]
Duas horas se passaram quando um outro médico veio em nossa
direção. Ansiosamente me dirigi a ele e, embora tentasse me manter
positivamente otimista em meus pensamentos, algo em seu olhar fez com
que minhas pernas fraquejarem.
— Ela está viva? — A simples pergunta exigiu um esforço quase
sobrenatural. Sabia que não podia desmoronar, não quando a ragazza que eu
amava e era dona de todo o meu mundo precisava de mim, agora mais do
nunca.
— Senhor Mancini, sou o médico responsável pela senhorita Ferraz
— falou, soltando um suspiro cansado. — Ela chegou em um estado crítico.
Infelizmente, ela teve duas paradas cardiorrespiratórias no caminho até o
hospital e perdeu bastante sangue, por sorte não entrou em choque. Foi uma
cirurgia muito delicada.
— Doutor, ela está viva?
— Sim.
Aquela simples palavra fez com que eu precisasse me apoiar na
parede do corredor. Ergui as mãos trêmulas até o rosto, alívio como nunca
senti antes invadindo todo o meu corpo. Era como emergir à superfície após
longas e extenuantes horas de batalha por oxigênio em um mar escuro,
doloroso e denso. Viva, lei è viva![97]
— Boa noite, doutor, eu sou Sebastian Mancini. — Identifiquei a voz
de mio babbo ao fundo, enquanto tentava controlar os tremores em meu
corpo. — Qual é o estado dela atualmente?
— Senhor Mancini, infelizmente não trago boas notícias. A
senhorita Ferraz teve um traumatismo craniano, que gerou alguns coágulos e
um inchaço significativo no cérebro. Fora isso, o impacto do carro causou
uma ruptura do baço, gerando uma hemorragia grave. Foi preciso realizar
transfusão sanguínea e a retirada parcial do órgão. — O médico direcionou o
olhar a mim, como se soubesse que aquelas palavras quebravam e
despedaçando meu corazione. — Ela também sofreu uma fratura no braço
direito. No momento, ela está em coma induzido.
— Eu posso vê-la? — a pergunta saiu em um sussurro por meus
lábios.
— Ela será encaminhada para a CTI, devido a instabilidade de seu
quadro clínico. Posso organizar para que o senhor a veja depois de
devidamente instalada, somente por alguns minutos. Ela precisa passar por
alguns exames pós-operatórios — informou.
— Alguns minutos são o suficiente. Eu só preciso vê-la.
— Já entraram em contato com os pais dela? Em casos como o dela,
é recomendado que eles estejam próximos… Caso algo aconteça — o
médico finalizou após um momento de hesitação, para que entendêssemos a
gravidade da situação.
Ouvi Sofia chorar com mais força com aquelas palavras, os soluços
altos ecoando pelo corredor. Porém, fui incapaz de me virar em sua direção.
Eu não sabia como ainda conseguia respirar.
— Vamos entrar em contato com eles.
Não sei ao certo quem respondeu ou o momento em que o médico se
afastou. Minha mente só conseguia focar em uma única coisa quando uma
mão pousou em meu ombro e fez uma leve pressão, o rosto preocupado de
mio babbo surgindo em meu campo de visão.
— Ela ficará bem, mio figlio. Vamos chamar os melhores médicos
do país para acompanhá-la e assim que Bruna estiver estável o suficiente,
iremos transferi-la. Ela terá todo o suporte necessário.
— Ela nem queria ir para esse leilão. Eu insisti — balbuciei, as
primeiras lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Insistetti, babbo.[98]
— A culpa não é sua, e sì do disgraziado que furou o sinal vermelho,
mi ricevi?[99] Não pode se culpar por algo que no ha como controlar!
Meu coração se estilhaçava a cada palavra pronunciada por babbo, a
culpa e o desespero corroendo meu corpo por completo, deixando um rastro
de destruição pelo caminho.
— Se algo acontecer con ela, se ela não acordar ou se as sequelas
desse acidente…
Meu corpo cedeu e caí de joelhos no chão, enquanto as lágrimas
nublavam completamente minha visão. Lucca se abaixou ao meu lado, e
sem uma única palavra, segurou minha mão em apoio incondicional. Aquele
gesto foi o suficiente para que o que restava de minhas barreiras
desmoronasse totalmente.
Senti seus braços ao meu redor, me puxando para um abraço
apertado e o agarrei com toda a minha força como se mio fratello fosse uma
tábua de salvação, que me impedia de me afogar completamente, à mercê
das emoções que obstruíam meu peito e tornavam-se físicas, meu choro se
tornando desesperadamente audível, o orgulho e o decoro abrindo espaço
para a sensação de incapacidade desesperadora, o que fazia com que eu
pouco me importasse com quem passava por ali.
— No riosco a perdela, fratello[100]. Bruna é a melhor coisa que
aconteceu na minha vida.
— Che non ci vae[101], porque estaremos aqui por ela. E ela vai lutar,
mas você non pode desistir, mi ricevi?[102] — Lucca falou com firmeza,
colocando uma mão em minha cabeça enquanto a outra continuava
esfregando minhas costas. — Porém, coloque tudo para fora. É normal
sentir medo. Io sono spaventato[103]. Então expulse esse sentimento de dentro
de você. Sono qui. Con te[104].
Capitulo 25
Anthony
Olhei a cazzo do documento mais uma vez e precisei massagear as
têmporas para amenizar a dor de cabeça iminente. Era cedo demais para
aquilo. Inspirando profundamente para buscar uma calma que non existia
em mim, peguei meu celular e disquei o número que ia direto para a minha
nova assistente — a terceira somente esse mês —, que atendeu com uma
voz trêmula no terceiro toque, o que fez com que minha paciência já
inexistente fosse para o espaço.
— Bom dia, senhor Mancini — a voz feminina do outro lado
saudou. Non sabia o nome dela e non me interessava o suficiente para
descobrir. Muito em breve outra iria substituí-la.
— Você ao menos se deu ao trabalho de ler essa merda que digitou,
antes de me enviar? — Fui direto ao ponto, passando meus olhos por alguns
dos erros de concordância grotescos no documento, fazendo a minha dor de
cabeça aumentar. — Uma criança de cinco anos saberia redigir um
documento melhor do que esse. Me lembre de novo o motivo de
contratarem você?
Ouvi a mulher fungar do outro lado da linha, enquanto digitava
rapidamente em seu teclado, possivelmente procurando a cazzo do arquivo
ao qual estava me referindo.
— Senhor, eu posso refazer imediatamente — ela balbuciou e ouvi
quando inspirou possivelmente para segurar o choro. — Só preciso que me
diga qual documento está se referindo. Enviei oito arquivos de ontem para
hoje. Estava sobrecarregada e possivelmente esse foi o motivo do meu erro.
Não voltará a acontecer, eu prometo.
— Se acredita que non consegue dar conta do serviço ao qual está
sendo paga para fazer, basta passar na cazzo do RH! — gritei, desligando o
telefone logo em seguida.
Desci a tela do notebook com força, afundando a cabeça entre
minhas mãos. Precisei de longos minutos para me acalmar e um sorriso
triste surgir em meus lábios.
— Sabe, sinto saudades de sua eficiência. Eu sempre soube que você
era boa no que fazia e acabei me acostumando com isso. Sempre disse que
odiava aquele sorriso presunçoso que carregava todos os dias, mas eu sinto
uma falta do diavolo[105] dele, Bruna.
Meus olhos se ergueram do chão branco e observei seu rosto, que
permanecia sereno, quase em paz. Os hematomas haviam sumido
completamente, o curativo que esteve em sua cabeça por semanas agora non
passava de uma lembrança amarga e seu corpo continuava ligado a diversos
monitores.
Contudo, seu quadro continuava inalterado: presa em algum lugar de
sua mente, mesmo que seu corpo tenha se recuperado quase 100%.
— Preciso confessar algo, mas precisa me prometer que non ficará
chateada, mio amore. — Minha voz estava calma, sabia que somente ela
conseguia me trazer de volta quando sentia que estava me perdendo, o que
tornava toda a situação no mínimo irônica. Afinal, deveria ser o contrário.
Eu deveria ser sua âncora. — Na primeira vez que te avevo visto, fiz uma
aposta com o stupido do Lucca, você sabe como ele é — murmurei com um
pequeno sorriso, segurando a mão de Bruna com delicadeza, relembrando
aquele dia. — Falei que você non passaria de um mês como minha
assistente, ele afirmou com convicção que você era diferente das outras e
que eu iria quebrar a cara com você. Disse que você possuía uma
determinação que as outras non tinham e que conseguiria passar de seis
meses.
Balancei a cabeça negativamente, correndo os olhos por seu rosto,
tentando memorizar cada mínimo detalhe.
— O bastardo ganhou a aposta, é claro. Nunca fiquei tão feliz em
perder, talvez eu já estivesse apassionato per te a essa altura — continuei,
revirando os olhos com a constatação. Pensar naqueles meses, quando tudo
era diferente fez meus olhos arderem. Infelizmente non havia mais lágrimas
a serem derramadas, meu corpo as drenando nas primeiras semanas em que
Bruna permaneceu inconsciente.
Apertei delicadamente sua mão e a levei até os lábios, depositando
um beijo casto.
— Se io non fosse um diavolo fanculo[106] focado no trabalho, talvez
naquela época tivesse chamado você para sair. A levaria no Marius
Degustare para um jantar e faria a cazzo de uma proposta irresistível a ponto
de tu non ter opção, a non ser perceber que eu estava certo e que deveríamos
ficar juntos. Eu te pediria em namoro como tu merece…
As palavras ficaram presas em minha garganta, imaginando tudo o
que poderíamos ter tido. Seis maledetti meses, era o que teríamos a mais.
— Ela não teria aceitado, se quer saber. Bruna é teimosa demais.
Colocaria o trabalho em primeiro lugar, mesmo que já estivesse
irremediavelmente apaixonada por você. — Suspirei ao ouvir a voz de
Amanda na entrada do quarto, sabendo que ela estava certa. — Tudo
aconteceu como deveria ter sido e vocês terão muito tempo pela frente.
Sua voz falhou na última frase, e ergui a cabeça para encará-la.
— Tu está horrível — comentei, a sombra de um sorriso cruzando
meus lábios. E só então notei que ela estava sem os parafusos e a haste
externa na perna, apesar de continuar imobilizada e estar usando as muletas.
Apontei com o queixo para sua perna em uma pergunta muda.
— É estranho, o médico disse que ainda tenho muito pela frente.
Foram mais de dois meses usando parafusos para os ossos permanecerem no
local e ele acredita que vou precisar de pelo menos quarenta e cinco dias
com a perna imobilizada assim, só então vou poder começar a fisioterapia.
— Tu ficará bem. Está sendo atendida pelos melhores médicos do
país.
Ambas foram transferidas para o Albert Einstein e após duas
ligações de mio babbo, um amigo de longa data assumiu o caso de ambas.
Isso fez com que Felipe e eu nos mudássemos para São Paulo, assim
poderíamos ficar perto delas.
Amanda se recusou a voltar para o Rio de Janeiro quando recebeu
alta definitiva, alegando que só voltaria quando Bruna saísse do coma e
recebesse alta. Isso foi há mais de um mês.
— Os médicos falaram algo desde a minha última visita?
Me mantive calado por alguns segundos, meu mau humor havia
conseguido afastar a grande maioria das pessoas, menos ela. Após inúmeras
batalhas perdidas, simplesmente aceitei que aquela mulher era
extremamente determinada e leal quando se tratava de sua melhor amiga.
— Seu corpo conseguiu se recuperar quase completamente do
acidente, e quanto ao coma. — Engoli em seco, fechando os olhos ao
lembrar as palavras que ouvi nos últimos dois meses. — Os médicos
disseram que estão fazendo tudo ao alcance deles. Estão administrando
antibióticos para evitar novas infecções no cérebro e estão mantendo seu
corpo nutrido e a fisioterapeuta está movimentando todos os seus músculos
para evitar que atrofie.
Ela já havia decorado tudo aquilo. Ouvimos de mais de um
neurologista sobre a situação de Bruna e sobre como eles non poderiam
afirmar com precisão se o acidente deixaria alguma sequela ou quando ela
acordaria. Deveríamos manter a confiança, esperar e no perder as
esperanças.
No entanto, quanto mais tempo ela permanecia naquele estado, mais
as chances de despertar diminuíam.
— Sabe, você também está horrível. Quando foi a última vez que
cortou o cabelo ou fez a barba? — Amanda perguntou, mudando de assunto,
apesar de ter que enxugar uma lágrima que escorreu por seu rosto. Ela se
sentou em uma poltrona do outro lado da cama, olhando atentamente para o
rosto de sua melhor amiga, sabendo que io no iria responder.
Sabia que mio cabelo estava longo e a barba enorme me deixava com
um aspecto quase selvagem. O pior de tudo eram as olheiras quase roxas
embaixo dos meus olhos e os sete quilos que havia perdido, claramente
visível a qualquer um que me olhasse com atenção o suficiente.
Em algum ponto as pessoas simplesmente pararam de tentar falar
sobre isso. Eu sabia que estava causando sofrimento a mia mamma e
preocupação aos meus familiares, porém, io no tinha forças o suficiente para
comer, me cuidar ou qualquer outra coisa. A empresa era a única coisa que
conseguia ocupar minha mente e evitar que eu me afundasse.
Comecei a fazer tudo no automático, e mio babbo assumiu a
presidência da empresa enquanto eu permanecia em São Paulo, fazendo as
negociações que exigiam minha presença. Aquela era sua forma de mostrar
seu apoio, Matheus e Sofia vinham todo final de semana e Lucca parecia ter
se mudado para cá. Uma parte de mim acredita que ele montou um
escritório aqui e só ia até a empresa quando estritamente necessário,
voltando logo em seguida. Mesmo que eu o expulsasse com frequência.
— Dentro daquela sacola que você obviamente ignorou nos últimos
dois dias tem alguns itens para deixá-lo parecendo um ser humano
minimamente decente.
Ergui os olhos, percebendo que Amanda continuava com o olhar fixo
em Bruna, seus dedos passando delicadamente pelos fios escuros de seus
cabelos, que haviam escapado da trança feita no início da manhã. Por um
momento acreditei que ela no havia falado comigo, até que ergueu os orbes
azuis que brilhavam pelas lágrimas não derramadas. Sem mais uma palavra,
pegou uma pequena bolsa da cabeceira da cama, esticando em minha
direção.
— Ela vai acordar. Eu sei que sim. E não quero que minha melhor
amiga encontre um homem das cavernas no lugar do namorado. Então vá
até o banheiro e tire essa barba horrível e lave o cabelo. Eu ficarei segurando
a mão dela enquanto você faz isso. Não esqueça de tomar um bom banho.
Você está fedendo!
Observei a sacola, notando um barbeador elétrico acompanhado de
algumas peças de roupa e materiais de higiene. Ergui o olhar e notei que ela
me encarava firmemente, me estendendo o que parecia ser um elástico de
cabelo.
— Vá, Anthony Mancini. O banheiro fica naquela porta e Bruna não
estará sozinha.
Permaneci segurando a mão de Bruna, mio corpo ancorado ali, como
se algo pudesse acontecer com ela se eu me afastasse o suficiente para
perdê-la de vista. Estava pronto para protestar, mio coração batendo rápido
somente com a possibilidade de no estar presente caso ela precisasse de
mim, quando Amanda voltou a falar.
— Eu não vou permitir que você se afunde ainda mais e não adianta
querer descontar seu mau humor comigo ou tentar ser rabugento no intuito
de me afastar. Você pode acreditar que ninguém entende a sua dor, mas ela é
a porra da minha melhor amiga. Quando meus pais morreram em um
acidente de carro dez anos atrás, ela que esteve ao meu lado, segurando a
minha mão — Amanda rosnou. — Então sei como é sentir o coração ser
arrancado do peito, duas malditas vezes. Agora vá, ela ficará bem.
Engoli em seco com suas palavras, sentindo a dor dela como punhais
em mio peito.
— Não tire os olhos dela. — Forcei mio dedos a soltarem a mão da
mia ragazza na cama cuidadosamente e depositei um longo beijo em sua
testa, inspirando seu cheiro. — Já volto, amore mio.
Amanda
Assim que ouvi o barulho do chuveiro ser ligado no banheiro anexo
ao quarto onde Bruna estava, me permiti desmoronar. Sabia que todos me
observavam de perto, esperando o momento que eu cederia a tudo, ao
acidente, às cirurgias, minha melhor amiga em coma e sem perspectiva de
quando acordaria. Contudo, uma parte dentro de mim congelou todas as
fortes emoções, como se meu cérebro soubesse que eu não seria capaz de
lidar com toda a dor que a realidade me faria enfrentar.
Eu continuava existindo, esperando o momento em que Bruna
acordaria. Eu me agarrava a isso como um náufrago em uma tábua salva-
vidas.
Deitei minha testa na cama hospitalar, meus dedos segurando
cuidadosamente o braço de Bruna, habilmente desviando os fios que a
mantinham ligada aos monitores.
— Eu comecei a ler uma história muito boa no Kindle, é no estilo
que você gosta — comentei, um sorriso em meus lábios com tudo o que
desejava compartilhar. — É medieval, com fantasia e claro, muito hot.
Daquelas com um mocinho que queimaria o mundo pela pessoa que ama,
não que o Arthur ame muitas pessoas. Sério, ele definitivamente é atrofiado
emocionalmente. E a personagem principal? Kate possui todos os medos e
inseguranças que teríamos, mas é forte e evolui tanto com o decorrer do
livro. Você precisa ler para conhecer todos os personagens, e preciso
assumir: a Astrid tem todo o meu coração. Quando você acordar, tenho
certeza de que irá amar quando ler. O livro se chama: O Império de
Clouderin*.
*O Império de Clouderin: A rainha de Acquata, livro disponível na amazon e pelo K.U.
Não ia contar os detalhes da história, pois queria ver todas as suas
reações ao ler, sabia que era o tipo de fantasia que ela apreciava e ler aquele
livro me deixava um pouco mais perto de Bruna. Observei atentamente seu
rosto, um suspiro escapando por meus lábios ao ver sua expressão calma.
— Eu acredito que você está aqui, eu preciso acreditar nisso —
sussurrei somente para ela ouvir, permitindo que as lágrimas escorressem,
liberando uma pequena parcela da minha dor. — Eu não vou desistir e
acredito que você também não vai. Eu preciso da minha melhor amiga.
Sabe, eu estou tentando cuidar e ajudar Anthony da melhor maneira
possível, mas ele está se perdendo aos poucos e sinto que não voltará a ser a
mesma pessoa sem você, B. Os seus pais precisam de você, então não ouse
desistir. — Inspirei profundamente, tentando controlar o tremor em minha
voz.
Permaneci em silêncio, permitindo que toda a exaustão das últimas
semanas ganhasse espaço por alguns minutos. Precisava daquilo para
conseguir respirar por mais um dia, ou morreria sufocada em meus próprios
sentimentos conturbados e assustadoramente negativos.
Um barulho na porta roubou minha atenção e enxuguei rapidamente
o rosto antes de procurar quem havia entrado. Ao reconhecer a mulher que
estava ali, as lágrimas voltaram a escorrer sem minha permissão, um soluço
alto escapando por meus lábios.
— Minha criança — Lúcia murmurou, apressando os passos e vindo
ao meu encontro. Seus braços me rodearam quando fiquei em pé, me
apertando de uma maneira reconfortante que fez meu choro aumentar. — Eu
estou aqui, coloque tudo para fora, minha filha.
A voz suave e trêmula da mãe de Bruna piorou meu estado. Eu
deveria ser aquela a confortá-la, não o contrário. Mas estava tão cansada de
fingir ser forte, de fingir ser otimista, de fingir que estava tudo bem, fugindo
da realidade aterrorizante.
Precisei de longos minutos até minha respiração voltar ao normal,
conseguindo controlar novamente meus sentimentos e empurrá-los para o
fundo da minha mente mais uma vez.
— Obrigada, tia. — Me afastei delicadamente, observando o rosto
cansado e com olheiras profundas à minha frente. — Pensei que viria
somente à tarde. Como está o tio Augusto? Ele veio com você?
Meus olhos procuraram ao redor, tentando encontrar o homem que
cuidou de mim como se fosse sua própria filha desde que perdi meus pais,
estranhando não o encontrar ali.
— Augusto precisou voltar ontem para Duque de Caxias, querida.
Seu período de afastamento acabou, junto com as férias adiantadas —
murmurou, fechando os olhos. — Ele não pode perder esse emprego.
Apertei a mão de Lúcia como forma de oferecer meu apoio, sabendo
que seria ainda mais difícil permanecer ali sem o marido.
— Logo tudo isso vai passar.
As palavras soaram vazias de esperanças até mesmo para mim, mas
forcei um sorriso nos lábios quando ela ergueu os olhos castanhos escuros
em minha direção. Dona Lúcia acenou com a cabeça e foi até a poltrona do
outro lado da cama, passando a ponta dos dedos pelo rosto de Bruna, uma
lágrima solitária escorrendo por sua bochecha ao fazer uma prece silenciosa.
— Onde está o senhor Anthony?
— Consegui expulsar ele para o banheiro — respondi, apontando em
direção a porta. — Espero que dessa vez ele me ouça e retire aquela barba.
— Ele é um bom menino, mas está definhando dentro desse quarto.
— Seus olhos continuavam presos no rosto de minha melhor amiga, como
se tentasse memorizar cada mínimo detalhe. — Ele precisa se alimentar
melhor. Notei que ele está mais magro.
Concordei com a cabeça, impedindo um suspiro. Sabia que todos
estavam preocupados com o atual estado de Anthony, mas nem mesmo sua
mãe foi capaz de tirá-lo do quarto para que se cuidasse melhor. Anthony
praticamente morava aqui.
— Eu tenho fé que Bruna sairá desse coma em breve, então tudo
voltará como era antes — Dona Lúcia murmurou, tentando sorrir. — Ela vai
acordar, não vai? Os médicos falaram que ela está sendo monitorada pelos
melhores profissionais da área. Ela vai melhorar, só precisa descansar um
pouco, não é?
O desespero em sua voz era tão grande que um nó se formou em
minha garganta, fazendo-me apenas concordar com a cabeça, subitamente
incapaz de pronunciar as palavras sem voltar a chorar.
Bruna iria acordar, ela precisava acordar.
Capitulo 26
Lucca
Sentia que a raiva aos poucos tomava conta de mio corpo, e precisei
parar antes de apertar o botão do elevador que me levaria até o último andar.
Fechei os olhos e inspirei profundamente enquanto contava mentalmente até
dieci. Sentia mio temperamento, que costumava ser leve e controlado,
escorrendo entre os dedos e aquele sentimento era fodidamente estranho.
Raiva e descontrole emocional non era algo com o qual io estava
acostumado, miei punhos se fecharam enquanto voltava aos maledetti
números, contando-os lentamente. Quando senti que estava mais calmo e
que miei instintos assassinos haviam diminuído para níveis aceitáveis, segui
em direção ao andar de Anthony.
Desde que assumimos a presidência da empresa, nunca havíamos
brigado por algo referente ao trabalho. Inúmeras vezes discordamos em
opinião ou determinadas decisões que a envolvia, mas cada um respeitava o
setor do outro e isso era o suficiente para ambos coexistirem em paz, mesmo
com metodologias tão diferentes.
Era de conhecimento geral que nossas personalidades eram opostas
uma da outra. Eu costumava levar a vida mais livremente, bom humor e
jogo de cintura normalmente sendo capaz de resolver quase todos os
problemas. No entanto, isso non significava que io no geria a área de vendas
com punhos de aço, cada um dos funcionários que estavam sob minha
responsabilidade sabiam de seus deveres e os cumpriam com excelência.
Anthony era aquele que levava o crédito pelo sucesso da Companhia
Mancini’s e pela expansão de novas filiais. Eu nunca me importei con
questo. Afinal, aos olhos de muitos io non passava do caçula que levava a
vida regado a festas e donne. Mas sabia que sem mim, a empresa non seria o
que era hoje e me orgulhava do que fazia. Eu era um dos principais pilares
ali dentro, então non me importava com os holofotes. Deixava isso para
Anthony.
Apesar de saber que ele também odiava.
O que me fez vir até o andar de Anthony era algo totalmente novo e
inadmissível. Estive fora por tre dias, negociando com possíveis
compradores e, ao voltar, descobri que mio melhor gerente havia sido
demitido.
Dal mio caro fratello.[107]
Pensar naquilo novamente trouxe uma nova onda de raiva. Anthony
no podia fazer aquilo. Nunca interferimos diretamente no setor um do outro
e isso certamente envolve contratação e demissão de funcionários.
O elevador apitou, indicando que havia chegado ao mio destino.
Deslizei para fora da pequena cabine de aço e suspirei ao notar uma nova
ragazza sentada na mesa antes da sala de mio fratello. Certamente era uma
assistente nova e que non duraria uma settimana. Cazzo, em algum
momento nas últimas semanas, eu simplesmente desisti de tentar decorar os
nomes delas.
Anthony estava cada vez mais intragável e intolerante, o que tornava
o trabalho das assistentes um inferno pessoal. Quando ele no as demitia em
questão de dias, elas mesmas pediam demissão, normalmente enquanto
choravam copiosamente.
— Senhor Mancini, boa tarde. Gostaria que eu informasse sua
chegada?
— No, io mesmo farei isso — tentei responder uniformemente, a
pobre ragazza non tinha culpa do mio atual humor e nem das atitudes de
merda de mio fratello.
Io no era estúpido o suficiente para no saber o motivo de Anthony
estar sendo mais stronzo do que costumava ser nas últimas semanas. Até
mesmo mio humor havia mudado desde o acidente de Amanda e Bruna,
piorado pelo fato de Bruna permanecer em coma depois de maledeti quatro
meses.
Aquilo havia afetado cada um de nós de maneiras diferentes, nem
mesmo Sofia estando imune aquela tragédia. Entretanto, mio fratello estava
elevando aquilo a escalas catastróficas. Cazzo, Dio era testemunha do
quanto tentei ser paciente com Anthony, mas até a minha paciência tinha um
limite, e a demissão de meu melhor gerente e braço direito foi o estopim.
Invadi a sala presidencial com passos duros, sem me dar ao trabalho
de ser anunciado, encontrando mio fratello ao telefone, de costas para mim.
Esperei impacientemente Anthony girar na poltrona, seus olhos fulminando
quem quer que havia ousado entrar em seu escritório, e se fosse qualquer
outra pessoa, teria fugido diante daquele olhar. Ver aquilo somente serviu de
combustível para minha raiva.
Sono anche um Mancini e il fottuto proprietario de questa azienda.
[108]

Consegui controlar um palavrão que queria escapar de meus lábios


quando o bastardo simplesmente girou sua poltrona novamente e voltou o
olhar para a grande janela de vidro que proporcionava uma bela visão da
cidade do Rio de Janeiro, a voz profissional murmurando uma aprovação
para o telefone.
Sem me preocupar com quem fosse o scopato do outro lado da
chamada, fui até sua mesa e desconectei o fio da rede telefônica do aparelho,
fazendo a ligação ficar muda, o bastardo finalmente voltando sua atenção
para mim.
— Que cazzo tu pensa que está fazendo? Tem noção de com quem io
estava negociando uma reunião?
— Fanculo. Tenho certeza de que o todo poderoso Anthony Mancini
poderá inventar uma desculpa para o empresário do outro lado da linha mais
tarde. Agora dimmi perché achou que poderia simplesmente demitir mio
gerente de vendas? Mangiato merda negli ultimo giorni?[109]
Apertei a ponta do meu nariz quando notei um sorriso de desdém em
seus lábios, enquanto arqueava a sobrancelha em minha direção. Raramente
algo conseguia me tirar dos trilhos, mas quando isso acontecia, certamente
no era alguém fácil de lidar e Anthony resolveu apertar a cazzo de todos os
botões certos para que isso acontecesse.
— Se ele fosse competente o suficiente para enviar a porra do
relatório que solicitei duas vezes, no teria sido demitido. Fiz um favor para
você.
Anthony se levantou de sua poltrona, servindo um pouco de uísque
para si, como se minha presença em seu escritório no passasse de um
incômodo e minha revolta fosse algo trivial.
— Existe algo realmente importante que você deseja falar, fratello?
— Vaffanculo[110], Anthony! — rosnei, batendo as mãos na mesa com
força. — Tu non sei il suo capo, lo sono io, cazzo[111]!. Eduardo no enviou
seu maldito relatório, pois estava responsável por uma demanda muito
maior que eu havia solicitado, como avisou por e-mail. E mesmo que esse
non fosse o motivo, quem dirige a cazzo daquele setor sono io! — gritei,
cansado da indiferença de mio fratello. — Sabe há quantos anos ele
trabalhava para essa empresa? Ele era a cazzo do meu braço direito!
— Sono il propriettario di questa azienda, quindi chiaramento sono
anche il capo dei suoi dipendenti.[112]
Uma risada seca escapou de mim, me recusando a acreditar que ele
havia falado aquilo.
— Você está gozando com a mia cara? Noi somos os donos, você
possui 2% a mais nas ações e apenas para que a empresa tivesse um sócio
majoritário. Isso nunca passou da cazzo de uma burocracia, eu nunca me
meti no seu setor e você nunca se meteu no mio. Sempre foi assim nos
últimos sette anni[113]. Pode agir como um coglione[114] arrogante e autoritário
com os outros, mas no comigo, Anthony — murmurei, me sentindo exausto.
— Io sto tentando ser paciente, comprendere o seu lado e colocar a culpa de
todas as suas ações de cazzo no acidente e nas consequências dele. Io juro
que sto.
Notei quando Anthony travou o maxilar, os músculos ficando rígidos
ao voltar para sua poltrona, o copo de uísque em uma de suas mãos.
— Lucca…
— Ela é minha amiga, cazzo! Caso você no ricordi. Acha que eu no
estou sofrendo com tudo isso, que no sento falta dela quando passo por
aqueles elevadores? Que no perco noites em claro pensando se ela irá
acordar? Já se passaram quatro maledetti meses e nenhuma melhora. Mas
isso non me dá o direito de agir igual um figlio di puttana com os outros —
declarei, antes que ele pudesse me interromper. — Vou contratar Eduardo
novamente, e espero que isso no volte a se repetir. A cazzo do seu relatório
será entregue ainda essa semana, passei essa demanda para outra pessoa.
Anthony, io sono tuo fratello, cazzo! Eu estou tentando, juro que estou. Mas
você precisa colaborar.
— Io non pedi que você tentasse. Todos os outros já entenderam o
recado, por que você e Amanda simplesmente non somem de uma vez da
cazzo da mia vita?
Suspirei audivelmente, indo me servir um copo de uísque. Olhei o
rótulo e notei se tratar de um Blue Label, um dos maledetti uísque mais
caros do Brasil e que possivelmente deveria estar na adega e non qui, pela
data de fabricação. Deixei o líquido âmbar descer pela minha garganta,
apreciando a queimação, enquanto sabiamente ignorava sua declaração
anterior.
Andei silenciosamente até a janela que ia do chão até o teto, olhando
toda a cidade do Rio de Janeiro, pessoas andando de um lado para o outro,
seguindo suas vidas, com seus próprios problemas. Rolei meus ombros
tensos, pronto para voltar ao meu andar quando a porta foi aberta
abruptamente.
— Dez dias, qual é a porra do seu problema, Anthony Lombardi
Mancini?
Girei meus calcanhares e encontrei uma Sofia com o rosto vermelho
e ofegante, os olhos azuis tempestuosos focados em Anthony e quase senti
pena dele por estar na mira dela, quase.
— Oggi non è il mio fottuto giorno.[115] Do que você está parlando,
Sofia? — ele perguntou, fechando os olhos enquanto massageava as
têmporas.
— Eu fui até a clínica visitar Bruna, e descobri que você não vai até
lá há dez dias. Nem sequer se deu ao trabalho de ligar e perguntar sobre seu
estado — ela falou entredentes, seu rosto transformado em uma expressão
raivosa. — Você desistiu dela?
Aquela informação me pegou totalmente desprevenido. Anthony
jamais ficaria tanto tempo sem visitar Bruna. Ele praticamente virou um
zumbi nos primeiros meses, então non entrava em minha mente que ele
ficaria tanto tempo sem visitá-la. Com certeza deveria ser um engano.
— Eu estive ocupado, caso non tenha notado. Eu tenho uma empresa
para gerir e uma filial em expansão.
A resposta curta e grosseira me pegou de guarda baixa, reacendendo
a chama de raiva dentro de mim, mas antes que pudesse falar algo, Sofia foi
mais rápida.
— Você é um filho da puta desgraçado, Anthony, e está fugindo!
Nós estamos falando da mulher que você ama, Bruna de Araújo Ferraz, e o
melhor que pode me dizer é que está gerindo a porra desta empresa? Não vai
nem mesmo me perguntar como ela está?
— Per quello? Perché eu perguntaria? Sei que vou receber a cazzo
da mesma resposta. Tenho ouvido ela nos últimos meses o suficiente ao
ponto de decorá-la, Sofia. Então dimmi, perché eu perguntaria? Questo non
cambierà niente[116], além de me destruir mais um pouco. Os médicos falaram
que quanto mais tempo passa, as chances de ela sair desse inferno vão
diminuindo! — Anthony gritou, jogando o copo que segurava na parede ao
seu lado, contudo, aquilo nem mesmo fez a loira à nossa frente estremecer.
— Você quer que eu sente ao lado dela, segure sua mão e a veja definhar
enquanto eu non posso fazer fanculo nessuno[117]? Non posso farlo[118]. Não
consigo ficar parado e vê-la naquela situação. Então sì, estou aqui gerindo a
cazzo desta empresa, porque é algo que io posso fazer. Non osare
giudicarmi per questo.[119]
A dor em sua voz era quase palpável e foi o suficiente para eu me
aproximar de Anthony, a raiva de antes evaporando completamente.
Sofia balançou a cabeça, um pouco do fogo em seus olhos
diminuindo.
— É isso que todos estamos fazendo, Anthony. Mas você está
perdendo as esperanças quando Bruna mais precisa de você. É como se ela
nunca tivesse entrado em sua vida e tudo está voltando a ser como era antes,
e isso não pode… não vai acontecer! Então você vai levantar sua bunda
dessa poltrona e ir até aquela clínica depois do almoço, porque eu não vou
permitir que faça isso. Você não irá agir como um maldito covarde e se
esconder aqui!
— Sofia, você está sendo injusta — rosnei, me manifestando pela
primeira vez. Eu mais do que ninguém sabia que Anthony non estava
passando por um momento fácil.
Observei as marcas escuras ao redor de seus olhos castanhos, algo
que se tornou permanente desde o dia do maldito acidente, sua expressão
endurecida e a postura completamente defensiva. Ele jamais iria admitir que
precisava de ajuda, que precisava de nós, sua família e amigos. Mio fratello
estava tentando reagir, fazendo exatamente o que o obrigamos nos dois
primeiros meses.
Ele non havia perdido as esperanças, estava apenas agindo
racionalmente, mesmo que aquilo custasse uma parte de sua alma. Non
havia nada que Anthony pudesse fazer para mudar o quadro de Bruna. Ela
estava na melhor clínica que o dinheiro poderia pagar, sendo monitorada
pelos melhores médicos do país. Isso era tudo o que podia ser feito no
momento.
Infelizmente, aquela era a realidade que enfrentávamos.
— Covarde? Vigliacco?![120] — perguntou, uma risada assustadora
escapando de seus lábios. — Sto attraversando l'inferno, Sofia.[121] Nas noites
em que meu corpo está no limite e eu consigo dormir por algumas horas,
sonho que ela está nos meus braços, como antigamente. Então eu acordo na
porra do meu pior pesadelo, todas as malditas vezes, que é saber que Bruna
ainda permanece em coma.
— Acha mesmo que é o único que está sofrendo? Você já viu os pais
dela? Amanda? Ela estava no acidente e ainda assim encontra forças para
ficar ao lado de Bruna e continuar a viver ao mesmo tempo. Olhe para nós,
Anthony! Todos amamos Bruna, e não podemos abandonar ninguém no
meio do caminho — Sofia grunhiu, apoiando ambas as mãos sobre a mesa,
encarando mio fratello diretamente nos olhos.
Anthony se colocou de pé, e eu praticamente conseguia ver fumaça
saindo de suas orelhas, tamanha era sua raiva. Rapidamente me coloquei
entre ambos, cansado de toda aquela gritaria que non nos levaria a lugar
nenhum.
— Sofia, chega! Basta! — gritei, minha respiração acelerada
enquanto encarava minha prima. — Que diavolo você quer?! Anthony está
fazendo esattamente o que tanto queríamos. Passamos settimane[122] tentando
descobrir como tirá-lo daquele maldito hospital, já que ele parecia a porra de
um zumbi, e quando ele faz, você vem até aqui gritar por ele fazer
esattamente isso?!
Sofia me olhou incrédula, sua mente trabalhando para processar
minhas palavras, o choque presente em suas íris por, pela primeira vez em
muito tempo, me ver gritando com alguém.
— Lucca…
— No! — interrompi, sabendo exatamente o que ela iria dizer a
seguir. — Se fosse Matheus ali, e depois de meses você conseguisse
encontrar uma maneira de sobreviver, nós jamais iriamos julgar ou culpá-la
por isso. Amanda non sta bene.[123] Ela tem estresse pós-traumático, mal
consegue dormir e quando faz, acorda com pesadelos. Felipe precisou
comprar uma casa próxima a clínica e estão morando lá, porque ela non
consegue entrar em um carro sem estar medicada, porém, se non for ver a
Bruna todos os dias, tem crises de ansiedade! È questo ciò che chiami
vivere?[124] Estamos todos tentando sobreviver a isso, Sofia. Cada um à sua
maneira.
Uma lágrima solitária escorreu pela bochecha de Sofia, enquanto
engolia em seco ao me encarar.
— Responderei a isso unicamente por consideração aos anos de
amizade que temos: io non perdi as esperanças e nem segui em frente. Io
encontrei uma maneira de non desmoronar, precisei encontrar. Centenas de
pessoas dependiam disso ou ficariam desempregadas caso a empresa fosse à
falência. Mas, aparentemente você é aquela a estar fazendo isso com êxito,
ou jamais teria dito tudo isso com tanta propriedade. Afinal, as pessoas
costumam acusar os outros daquilo que estão fazendo — Anthony
murmurou, a encarando duramente. — Agora saia da minha empresa.
Sofia fechou os olhos, as mãos visivelmente trêmulas enquanto as
lágrimas escorriam livremente por seu rosto.
— Desculpe, Anthony. Por favor, eu não deveria ter agido assim, eu
sei. Visitá-la e ver seu estado me abalou de uma maneira que não esperava,
então perguntei por você e acabei perdendo o controle dos meus próprios
sentimentos.
— Dê o fora del cazzo da minha empresa e non tornare[125]. Io non
quero te ver de novo e fanculo le tue scuse[126], Sofia. Só desapareça da minha
frente, adesso.
Ela acenou lentamente com a cabeça, tentando controlar a respiração
enquanto enxugava as lágrimas de seu rosto. Anthony girou a poltrona e
voltou o olhar para a vista que a janela de vidro proporciona, ignorando
totalmente a presença de Sofia.
Fui até onde as bebidas estavam, precisando urgentemente de álcool
em meu organismo. Era cedo demais para todo aquele drama familiar. Sorvi
um grande gole do líquido âmbar quando o celular de todos tocou
simultaneamente, fazendo todos estancarem.
Senti meu coração perder uma batida, então voltar tão fortemente
que quase senti a dor se tornar física. Quando puxei o aparelho de dentro do
paletó, notei se tratar de uma chamada de vídeo em grupo realizada por
Amanda. Minhas mãos tremeram, somente duas coisas poderiam ter
acontecido para ela ligar a todos ao mesmo tempo.
Bruna havia piorado ou acordado.
Ergui os olhos, sem coragem de aceitar a chamada e notei que
Anthony havia girado sua poltrona novamente, olhando para seu próprio
celular como se tivesse criado vida. Sofia parecia que ia desmaiar, todo o
sangue drenado de seu rosto, os lábios totalmente pálidos.
— Devemos atender — ela murmurou, intercalando olhares entre
nós dois. Acenamos roboticamente, sem conseguir pronunciar uma única
palavra. Rapidamente o rosto vermelho de Amanda surgiu na tela do meu
celular, seus soluços tomando conta do escritório, fazendo meu coração
despencar com sua expressão.
— Per tutto ciò che è più sacro[127], o que aconteceu, Amanda? —
Anthony perguntou em um sussurro. Fechei meus olhos, sem estar pronto
para as palavras que ela proferiu logo em seguida.
Capitulo 27
Anthony
A viagem até a clínica foi feita em silêncio. Avancei alguns sinais
vermelhos e certamente receberia multas por excesso de velocidade. Porém,
pouco me importava, diavolo, estava dirigindo quase que no piloto
automático e só percebi que prendia a respiração quando senti um aperto
firme em meu braço.
Com o canto dos olhos encarei as íris castanhas quase idênticas às
minhas, apenas um tom mais escuro, algo que lembrava chocolate e, sem
uma única palavra, soube que Lucca estaria ali ao meu lado como fez
durante toda a nossa vida.
Apertei com mais força o volante quando parei no estacionamento da
clínica, sentindo cada músculo do meu corpo tremer, meu peito subindo e
descendo rapidamente devido a respiração ofegante.
Lucca e Sofia se mantiveram em silêncio, enquanto eu apoiava
minha testa no volante, os fios mais longos de meu cabelo caindo sobre a
lateral do meu rosto, enquanto tentava controlar minha respiração. Non
adiantaria chegar lá desse jeito. Eu preciso me manter calmo, porém, quanto
mais pensava sobre isso, mais minha agitação aumentava.
Minha vista escureceu levemente quando o fluxo de oxigênio foi
incapaz de alcançar meus pulmões como deveria, minha mente se tornando
aérea e leve, os músculos do meu corpo amolecendo. Bruna, ela…
Lei sta bene. Devi stare bene![128] Gritei para mim mesmo,
interrompendo os pensamentos negativos.
— Levanta a cabeça e respire junto comigo, Anthony.
A voz de Lucca me despertou parcialmente do redemoinho de
sensações em que eu estava preso e senti sua mão gentilmente em minha
testa, afastando-a do volante e forçando minha cabeça a encostar no banco
do carro. Ele continuou falando comigo, enquanto apertava minha mão com
firmeza, o contato servindo como uma maneira de me manter no presente.
Minha respiração se normalizou gradativamente, tudo ao meu redor
entrando novamente em foco no mesmo momento em que pude sentir as
extremidades do meu corpo, a sensação de dormência se dissipando.
Cazzo, uma crise de ansiedade e nem mesmo havia falado com o
médico.
— Podemos entrar agora — murmurei, sem conseguir encarar os
dois que estavam no carro, então apenas apertei a mão de Lucca em
agradecimento silencioso antes de sair.
Os corredores brancos da clínica pareciam non ter fim enquanto
andava a passos apressados, tentando non pensar nas duas palavras ditas por
Amanda naquela chamada de vídeo.
Ela acordou.
Ainda estava tentando processar aquela informação e as
consequências para alguém que passou quatro meses em coma. Me mantive
inúmeras noites em claro pesquisando extensivamente sobre o assunto a
cada mês que terminava e o próximo começava. Sabia que cada caso era
diferente e somente com ela acordada é que os médicos saberiam as
extensões de suas lesões.
Dobrei o último corredor, avistando a porta de seu quarto. Meu
coração tropeçou algumas batidas com medo do que poderia ver do outro
lado da porta. Conseguia ouvir a respiração acelerada de Lucca e os soluços
baixos de Sofia soando atrás de mim.
Quando alcancei a maçaneta da porta, uma mão firme segurou meu
braço, impedindo-me de entrar. Mas que cazzo estava acontecendo?
— Boa tarde, senhor Mancini. Fico feliz que tenha chegado rápido.
Mas não poderá entrar no quarto onde a senhorita Bruna está — o médico
responsável por ela falou com firmeza, sem margem para discussão.
Encarei os olhos verdes com incredulidade, puxando meu braço de
seu aperto.
— Ela acordou?
— Sim, há cerca de quarenta minutos, durante a visita da senhorita
Amanda e a senhora Lúcia — respondeu profissionalmente.
— Minha namorada passou quatro maledetti[129] meses em coma.
Somente o inferno irá me impedir de entrar neste quarto, sabendo que ela
está acordada, doutor — grunhi, meu coração enchendo-se de esperança
pela primeira vez desde a ligação.
— Senhor Anthony, não só posso como irei. A senhorita Bruna
recebeu uma sobrecarga sensorial ao acordar, seu corpo está fraco e não
podemos sobrecarregá-la ainda mais. Ela acordou extremamente agitada,
sem saber onde estava ou o que havia acontecido — explicou calmamente.
— Demoramos para conseguir acalmá-la, e não quero medicá-la caso volte a
ficar agitada. Não irei arriscar deixando que qualquer um de vocês entrem.
Isso não é um pedido senhor, os exames iniciais foram realizados e gostaria
que me acompanhasse até meu escritório para que eu possa atualizá-lo.
Encostei minha testa na porta, estava tão perto e ao mesmo tempo
tão longe da mulher que amava. Olhei para o vidro, frustrado pela cortina
que o cobria e me impedia de olhar o interior do quarto.
— Eu preciso vê-la, mesmo que daqui de fora, doutor — sussurrei,
minhas mãos apoiadas naquela madeira como se a cazzo da minha vida
dependesse disso. — Se minha presença irá atrapalhar o quadro dela, deixe-
me ao menos vê-la, mesmo que de longe.
O médico me encarou por alguns segundos, concordando
silenciosamente. Relutantemente dei dois passos para trás, dando espaço
para que ele passasse por mim. Prendi a respiração quando a porta foi
parcialmente aberta pelo doutor João, o suficiente para que ele entrasse e
breve demais para que eu conseguisse ver qualquer coisa dentro do cômodo.
Segundos depois, a cortina que cobria a janela de vidro foi afastada e
finalmente consegui ver Bruna. Ela ainda estava ligada a alguns fios que
monitoravam seus batimentos cardíacos e a atividade cerebral, com os
longos cabelos negros presos em uma trança lateral. O lençol cobria
somente suas pernas, seu rosto parcialmente virado para o lado, então non
consegui vê-la corretamente.
Sua mamma segurava sua mão, enquanto falava algo com um sorriso
no rosto. Notei que Amanda estava sentada em um canto um pouco mais
afastado, com o primeiro sorriso sincero em meses. Seus olhos azuis antes
opacos se ergueram em minha direção e seus lábios tremeram ao me ver do
lado de fora, enquanto acenava positivamente com a cabeça, o sorriso
crescendo em seus lábios.
Senti uma lágrima escorrer por meu rosto.
È sveglia,[130] Anthony! Sta bene.
Aquilo foi o suficiente para Amanda se erguer lentamente da
poltrona, caminhar até Bruna e depositar um beijo em sua testa,
murmurando algo. Meus olhos foram para a mão que repousava sobre a
cama, atentos a qualquer movimento, até que eu vi: os dedos finos se
mexeram. Foi algo quase imperceptível, porém, estava ali diante dos meus
olhos.
— Ela está respondendo aos estímulos, seus dedos se mexeram
quando Amanda falou com ela — falei em voz alta, meu choro se tornando
audível com a visão. — Ela conseguiu.
Lucca me puxou para um abraço apertado, enquanto Sofia agradecia
em voz alta e correu para ocupar meu lugar na porta, cobrindo a boca com
uma mão ao ver Bruna acordada.
— Ela acordou, fratello. — A ficha caiu aos poucos e minhas pernas
cederam, fazendo com que eu e Lucca fôssemos de encontro ao chão com
ele aguentando a maior parte do meu peso. — Fanculo, è sveglia e se
mexendo!
A porta foi aberta em seguida, Amanda passando por ela, lágrimas
agora escorrendo livre por seu rosto enquanto se ajoelhava ao meu lado.
Lucca me soltou, para que os braços finos de Amanda tomassem seu lugar.
Circulei seu corpo em um abraço quase sufocante, enquanto ela enterrava o
rosto em meu peito.
— Ela voltou para nós — Amanda sussurrou, as lágrimas
encharcando minha camisa. Cazzo, io non me importava com isso. Ela
poderia molhar todo o meu guarda-roupa se quisesse. Amanda foi como
uma tábua de salvação durante esses meses, sua presença insistente e a
maneira como parecia me entender sem que eu pronunciasse uma única
palavra foi o que me manteve são. — Ela acordou enquanto lia a porcaria
daquele livro. Eu avisei que a cena do final era capaz de ressuscitar até
mesmo os mortos, só para ir caçar a autora por tamanho sofrimento —
voltou a falar, rindo em meio ao choro.
Beijei o topo de sua cabeça, desacreditado. Amanda estava lendo o
livro A rainha de Acquata há semanas, sempre que vinha aqui, afirmando
com confiança que Bruna conseguia ouvir tudo ao seu redor.
— Ela mexeu os dedos da mão. Cazzo — sussurrei, precisando falar
aquelas palavras em voz alta como se para tornar tudo ainda mais real.
— Os dos pés também — Amanda informou, se afastando para me
encarar com um sorriso estonteante em seus lábios. Aquela informação fez
uma nova onda de alívio invadir meu corpo.
— Ela realmente voltou para nós.
Passos apressados no corredor fizeram com que nos virássemos,
notando a pequena comitiva que se apressava em nossa direção. Mio babbo
e mia mamma estavam praticamente correndo, sendo seguidos de perto por
Felipe e Matheus. Como todos chegaram juntos estava além de mim.
Amanda rapidamente se levantou e correu na direção de Felipe, que
a pegou assim que ela se jogou em seus braços, erguendo seu pequeno corpo
do chão. Todos vieram por Bruna, por mim.
Minha família inteira estava ali, mesmo que eu tivesse afastado cada
um deles, todos estavam presentes. Levantei do chão a tempo de receber um
abraço de mia mamma, enquanto mio babbo apertava meu ombro e enchia o
médico de perguntas.
Bruna
Havia vozes, mas eu não conseguia entender o que diziam e muito
menos identificar seus donos. Tentei obrigar meus olhos a se abrirem, mas
tudo o que consegui foi uma pontada forte na cabeça, que me fez querer se
encolher com a dor.
Onde eu estou? E por que meu corpo dói tanto?
Tentei manter a calma e buscar em meio a neblina confusa que era
minha mente a última lembrança. Tinha a impressão de ter ouvido a voz da
mamãe e da Amanda em algum momento. O que não fazia o menor sentido.
Por que as duas estavam juntas? Não era feriado e nem aniversário de
alguém que conhecíamos.
Mesmo assim uma imagem borrada do rosto de minha mãe surgiu
em minha mente, sua expressão parecia tão cansada, os olhos com olheiras
tão escuras que em nada combinavam com sua beleza e o sorriso leve que
costumava carregar. Forcei um pouco mais e lembrei do espanto em sua
expressão e então de um grito. Lágrimas inundaram seu rosto enquanto me
encarava em choque.
Hospital. Eu estou em um hospital.
Um médico conversou comigo e disse que sofri um acidente de carro
e fiquei em coma.
Isso só poderia ser uma piada de mal gosto, porque se eu tivesse
sofrido um acidente, certamente me lembraria disso. Não é algo que as
pessoas simplesmente possam esquecer. É a porra de um acidente seguido
de um coma!
Tentei abrir os olhos mais uma vez, porém, pareciam como chumbo
e um pequeno gemido de dor e desgosto escapou por meus lábios, fazendo
os murmúrios ao meu redor cessarem imediatamente.
— Bruna? — Uma voz masculina me chamou de algum lugar
próximo e eu podia sentir algo beirando o desespero somente com a menção
de meu nome. Tentei responder, mas meu corpo recusou-se a realizar meu
comando. Senti uma mão grande segurar a minha, parecendo tão quente e
aconchegante, que meu corpo relaxou com o simples contato.
Mas que porra está acontecendo?
— Tenha um pouco de paciência, senhor Mancini. Nós conversamos
sobre isso, ela acordou, contudo, iremos enfrentar a fase mais difícil agora.
— Uma outra voz que não reconheci murmurou.
Eu queria corresponder ao toque, perguntar o que havia acontecido,
se minha mãe realmente estava aqui. Mas estava tão cansada, que apenas
permiti que aquele contato acolhedor me embalasse mais uma vez para um
sono profundo.
Não sei quanto tempo se passou desde a última vez que tentei
acordar, mas ainda sentia o aperto em minha mão, mais suave, entretanto,
firme e seguro.
Abri os olhos com certo esforço, agradecendo aos céus pelo quarto
estar com baixa iluminação. Pisquei repetidamente, como se há muito tempo
não fizesse esse simples movimento. Tentei mover meu pescoço, mas tudo o
que consegui foi sentir como se ele estivesse imobilizado e não respondesse
aos meus comandos.
Minha respiração acelerou, enquanto eu tentava entender o que
estava acontecendo. Tentei me sentar, mas meu corpo parecia pesar
toneladas, meus músculos completamente rígidos. Notei um bipe constante
ao meu lado e com o canto dos olhos descobri se tratar de um aparelho que
monitora os batimentos cardíacos.
Os meus batimentos.
Acidente de carro, foi o que um médico no meu sonho falou. Era a
porra de um sonho não era?
Meus olhos desceram, encontrando um homem sentando em uma
poltrona ao lado da cama onde eu estava, seus cabelos longos estavam
presos no que parecia ser um rabo de cabelo bagunçado. Um paletó e
gravata estavam jogados na parte de trás da poltrona, a blusa azul marinha
que ele usava estava enrolada até seus antebraços.
Sua testa estava encostada na cama e a mão firme contra a minha.
Naquela posição, os músculos de suas costas ficavam em evidência, e minha
mão coçou com vontade de roçar em sua barba espessa.
Me concentrei em minha própria mão e movi meus dedos, apertando
suavemente a dele. O movimento foi quase imperceptível, mas o suficiente
para que ele levantasse a cabeça tão rápido que pensei que iria cair da
poltrona. Os olhos castanhos como folhas de outono me encaravam com um
misto de choque e felicidade.
— Você acordou?!
Não sabia dizer se era uma afirmação ou uma pergunta. Abri a boca
para responder apenas para sentir dor com o movimento e um som
estrangulado escapar pela minha garganta.
Mas que porra?
— Não tente falar, amore mio. Irá apenas forçar sua garganta. Você
se lembra como veio parar aqui?
Tentei pensar no passado, mas descobri que tudo ainda parecia turvo.
Fechei os olhos, tentando me concentrar. Era como nadar no concreto. Havia
algo ali, muito importante, que eu não conseguia saber o que era.
Abri os olhos, sentindo-os arder pelas lágrimas não derramadas.
Uma parte da minha vida havia simplesmente sido arrancada de mim.
— Calma, está tudo bem. Você está bem.
Balancei negativamente a cabeça, como poderia estar bem se eu não
lembrava o que havia acontecido? Inferno, há quanto tempo eu estava ali?
Senti um par de mãos segurando meu rosto, os polegares dele traçando
minhas bochechas, me trazendo de volta à realidade.
— Não chore, mio angelo, eu estou aqui. Vamos passar por isso,
juntos. Eu prometo, mas você precisa manter a calma.
Não conseguia manter a calma, não conseguia pensar corretamente,
falar, respirar. Eu nem mesmo conseguia me mover. Como poderia ficar
calma?
Ao longe consegui identificar novas vozes no quarto e alguém
segurar gentilmente minha mão, fazendo com que eu abrisse os olhos em
busca de identificar a pessoa.
— Eu sei que você está desesperada e em busca de respostas. —
Uma mulher de cabelos loiros, olhos escuros e gentis falou suavemente. —
Vamos responder tudo o que você quiser saber, mas para isso precisa
respirar e se acalmar, tudo bem?
Acenei positivamente, mesmo que não soubesse como fazer aquilo.
— Veja, você consegue apertar minha mão, isso é um ótimo sinal.
Você esteve em coma, Bruna. Seus músculos ficaram muito tempo parados,
por isso não consegue movimentá-los. Em sua garganta também existem
músculos que não foram exercitados por um tempo. Com fisioterapia,
esforço, dedicação e tempo, as coisas começarão a voltar a funcionar.
Suas palavras surtiram um certo efeito, embora eu não conseguisse
me mexer e nem falar por causa do coma.
Olhei para o meu corpo, buscando qualquer sinal físico que indicasse
o que havia acontecido comigo. Pelo pouco que consegui ver, não notei nada
de anormal fora a dor de cabeça e o fato de meus músculos não me
obedecerem, doente com o simples pensamento de se movimentarem.
Quanto tempo eu estava ali?
Meu peito ainda subia e descia descompassado, mas consegui
controlar melhor o choro. Observei o belo homem ao meu lado, sua barba
por fazer, olheiras profundas, o cabelo tão grande que era possível prender a
maior parte com um elástico.
— Eu me chamo Karla, sou psicóloga — a mulher voltou a falar,
chamando a minha atenção. — Você reconhece esse rapaz, Bruna?
Encarei o homem ao meu lado, ainda sentindo uma de suas mãos em
meu rosto. Um pequeno sorriso brotou em meus lábios, enquanto as
lágrimas desciam livremente. Poderia não me lembrar do que havia
acontecido, mas eu certamente sabia quem ele era.
Anthony Mancini, meu chefe e meu namorado.
Lembrei tardiamente que ainda não conseguia falar, então acenei
com a cabeça, concordando. Notei um brilho esperançoso preencher as íris
castanhas.
— Você se lembra de mim? De nós?
Acenei mais uma vez. E dessa vez o sorriso que iluminou o seu rosto
foi o suficiente para aquecer meu coração e acalmar minha respiração.
Anthony grudou seus lábios nos meus, não em um beijo avassalador. Um
calmo, de reconhecimento, de pertencimento.
Eu estava em casa.
— Ti amo, principessa! — Anthony murmurou contra os meus
lábios. — Cazzo! Sei tornato da me.[131] Eu vou mandar chamar o médico e
vamos explicar tudo o que aconteceu com calma. Apenas prometa que não
irá me deixar, Bruna Ferraz.
Concordei com a cabeça, vendo-o soltar um suspiro aliviado. Não
sabia para onde havia ido, mas sempre iria voltar para ele. Sempre.
Capitulo 28
Anthony
Após uma semana muito longa e cansativa de testes, exames e
orientações extensas acerca de sua recuperação, Bruna teve alta e
conseguimos levá-la para meu apartamento, que contava agora com
modificações para atender todas as suas novas necessidades. Um dos
quartos geralmente usados para os hóspedes foi totalmente convertido em
uma sala completa de reabilitação, com todos os aparelhos necessários que
ela precisaria, de acordo com o fisioterapeuta que a acompanharia
diariamente.
O banheiro sofreu pequenas alterações para que a cadeira de rodas
entrasse com facilidade, assim como o boxe, que agora continha uma
cadeira específica para banho com a minha ajuda ou da enfermeira que
contratei para auxiliá-la.
Depois que Bruna foi atualizada sobre tudo o que havia acontecido
no dia do acidente e sobre o tempo em que permaneceu em coma, seu estado
de espírito piorou, o fato de não lembrar nada e ser totalmente dependente
dos outros em muito contribuiu para a espiral negativa que ela enfrentou.
Aparentemente seu cérebro, como uma forma de se proteger do trauma
violento, apagou tudo o que aconteceu após Bruna receber o colar como
presente.
Os médicos informaram que os próximos dias seriam difíceis e que
todos deveríamos ser pacientes, afinal, Bruna passou por uma grande
provação e ainda não sabíamos ao certo como ela reagiria a tudo conforme o
passar do tempo. O futuro era uma incógnita.
Depois que a ajudei com os remédios receitados, entre eles um
calmante com dosagem leve, minha ragazza finalmente pôde dormir. Só
então, vendo-a confortavelmente aconchegada entre os lençóis de nossa
cama, foi que consegui respirar verdadeiramente após quatro meses de
incertezas e inseguranças, sentindo como se um enorme peso saísse dos
meus ombros sobrecarregados.
Um sorriso surgiu em meus lábios ao notar sua mão se mexer
durante o sono, não apenas seus dedos. Meus olhos percorreram toda a
extensão de seu rosto, desde os cabelos escuros esparramados sobre o
travesseiro, seus longos cílios, os lábios carnudos e rosados, o rosto em
formato de coração, até a clavícula em maior evidência devido ao peso que
perdeu enquanto estava hospitalizada.
Aquela visão arrancou um pouco o ar de meus pulmões. Bruna era
linda e nada seria capaz de mudar isso e ela finalmente estava de volta ao
lugar onde pertencia.
Os dias seguintes foram um verdadeiro teste, já que a fisioterapia
exigia muito de seu corpo e a noite, quando acreditávamos que ela
conseguiria dormir tranquilamente graças ao esforço dos exercícios, ela
acordava desesperada, o medo irradiando de seus poros assim como a
frustração, pois tudo o que conseguia emitir eram sons guturais baixos, o
que fazia com que lágrimas grossas escorressem por suas bochechas
proeminentes.
Era desesperador vê-la daquela maneira. Após algumas noites de
testes, descobri que se eu carregasse seu corpo suado e gélido para a varanda
da cobertura e sentá-la no meu colo, enquanto sussurrava em seu ouvido que
estava ali, que ela estava segura, a acalmava. Depois de longos minutos de
um choro silencioso, Bruna costumava dormir com a mão agarrando
firmemente minha regata.
Durante esses episódios de pesadelo, eu a mantinha presa em meus
braços pelo resto da noite. Só entrava quando o sol começava a mostrar os
primeiros sinais no horizonte e sua mama, que estava morando conosco
temporariamente, aparecia com uma xícara de café quente e um sorriso triste
e conhecedor nos lábios. Nesses dias, eu a acomodava confortavelmente em
nossa cama e me preparava para o longo dia de trabalho logo em seguida.
Ela nunca conseguia se lembrar com o que sonhava, apenas
descrevia ter uma sensação nauseante de que iria morrer consumindo seu
corpo, roubando completamente seu raciocínio a ponto de não conseguir
distinguir o que era real do irreal. Após quatro semanas de acompanhamento
fonoaudiológico, Bruna começou a balbuciar curtas palavras que soavam
compreensíveis, e eram esses pequenos avanços que faziam com que tudo
valesse a pena.
O sorriso em seu rosto ao conseguir falar pela primeira vez algo sem
precisar escrever no tablet iluminou seus olhos e aqueceu minha alma como
se eu visse o sol pela primeira vez em muito tempo.
E naquele momento, eu soube que ficaríamos bem.
Bruna

Dois meses haviam se passado desde que saí da clínica e as coisas


finalmente se estabeleceram de modo que entramos em uma rotina
confortável e estável. Minha mãe voltou para Duque de Caxias, contudo,
Anthony não saía do meu lado. Eu recebia visitas diárias de sua família,
tinha quase certeza de que eles haviam montado algum tipo de escala em
uma planilha com os dias em que cada um revezava para poder passar
algumas horas comigo.
Bem, essa planilha certamente não se aplicava a Amanda, que
basicamente havia se mudado para o nosso apartamento, aproveitando o fato
de Felipe ter voltado a trabalhar presencialmente na empresa, tornando os
meus dias mais leves e suportáveis. Ao menos, era isso o que ela parecia
fazer.
Sabia que minha melhor amiga tinha seus próprios fantasmas para
lidar diariamente, apesar de isso não roubar o sorriso estonteante que
carregava sempre que cruzava o limiar da porta de
entrada.

Eu agora conseguia falar frases curtas, o que era um avanço colossal,


de acordo com a minha fonoaudióloga e havia recuperado quase que
completamente os movimentos dos braços, o que me permitia me alimentar
sozinha. Infelizmente eu ainda teria um longo caminho pela frente para
conseguir voltar a andar sem o apoio de muletas ou um andador.
Com o tempo, parei de tentar forçar minha mente a se lembrar do dia
do acidente. Tudo o que eu conseguia me lembrar era de receber o belíssimo
colar e ler as palavras escritas com tanto amor na caligrafia perfeita de
Anthony, e então eu estava acordando quatro malditos meses depois em uma
clínica luxuosa, após passar por cirurgias e ficar dois meses em um dos
melhores e mais caros hospitais do Brasil.
— Matheus está querendo organizar um churrasco aqui no
apartamento, em comemoração aos dois meses que você saiu do coma —
Sofia comentou, enquanto estávamos assistindo a um filme na sala.
— É claro que ele quer. Me pergunto como conseguiu se controlar
por tanto tempo — Amanda resmungou, apesar do sorriso em seus lábios.
— Como estão as coisas entre vocês dois?
Sofia suspirou, fechando os olhos. Aparentemente, Anthony e ela
tiveram uma briga violenta no dia em que acordei e, desde então Anthony a
ignorava completamente. Matheus ficando anormal e verdadeiramente irado
ao saber o motivo do embate e das palavras de sua esposa à seu primo.
— Muito melhores. Eu acho que ele me perdoou totalmente.
Infelizmente não posso dizer que isso se aplica ao mio cognato.
— Anthony voltará a falar com você — falei, orgulhosa por
conseguir pronunciar uma frase daquele tamanho quase perfeitamente,
apesar da clara dificuldade com o ‘r’.
— Eu espero que sim. Sei que errei, que fui injusta. É que eu estava
com tanto medo e raiva de mim mesma, que descontei todas as minhas
frustrações em cima dele, que já estava com os ombros sobrecarregados. As
coisas que falei naquele dia… — murmurou, com um traço de angústia
evidente em sua voz. — Eu sinto muito, Bruna. Não foi justo, não foi certo
com nenhum de vocês dois.
Apertei suavemente sua mão em um gesto de conforto, mantendo-me
em silêncio. Anthony era aquele quem deveria perdoá-la, não eu. Sabia que
em algum momento próximo isso aconteceria, era apenas uma questão de
tempo. Sofia havia sido injusta em uma situação extremamente delicada, e
cabia a ela pedir desculpas e aguardar que ele tomasse seu tempo para lidar
e resolver suas emoções acerca daquele assunto.
— As coisas voltarão a ser como eram antes — Amanda afirmou
com convicção, mas eu conhecia minha melhor amiga o suficiente para
saber que aquela era uma afirmação para si mesma.
Nós nunca mais seríamos os mesmos.
— Talvez fazer um churrasco… — precisei pausar, sentindo minha
garganta arder pelo esforço. — Um churrasco pode ajudar.
— Faz tanto tempo que não reunimos todo mundo. Sinto falta
daquele tempo. — Sofia murmurou, soando nostálgica. — Anthony só
precisa concordar, o que é pouco provável.
— Não se for Bruna aquela a pedir. Existem pouquíssimas coisas
nesse mundo que ele não faria por ela.
Abri um sorriso, pegando um pouco de pipoca e levando até a boca.
Amanda estava certa sobre isso. Mio passione definitivamente foi a melhor
coisa que eu permiti entrar em minha vida, não desistindo de mim mesmo
quando eu mesma não tinha mais forças para continuar.
Por diversas vezes descontei em Anthony a dor física e emocional
que sentia, sobrecarregada com tudo ao meu redor. Tudo era simplesmente
demais. E mesmo assim ele aceitava, esperando que eu me acalmasse o
suficiente para me abraçar tão forte que não tinha outra opção além de ceder
e chorar copiosamente contra seu peito, implorando para que ele me
deixasse, exausta de ser um fardo em sua vida perfeita.
Eu era uma bagunça emocional incapaz de lidar com tudo sozinha.
Tudo que eu recebia de volta era amor, carinho, compreensão e
palavras de incentivo. Jamais teria conseguido chegar até aqui sem que ele
me apoiasse incondicionalmente, e apesar dos pesadelos persistirem, não
conseguir andar e nem manter conversas longas, Anthony continuava a
segurar a minha mão e comemorar cada pequeno avanço como se fosse uma
conquista pessoal.
Uma conquista nossa.
— Amore mio, é ora della tua medicina.[132] — Anthony surgiu na
sala, interrompendo meus pensamentos, segurando um copo com suco de
laranja em uma mão e alguns comprimidos na outra. — Sorrelina[133], tem
certeza de que não quer um quarto para você? — perguntou com um sorriso
acolhedor para Amanda, que revirou os olhos e jogou uma pipoca em sua
direção.
— Por mais tentador que seja o convite, ainda prefiro dormir com o
mio Felipe, grazie.
Ri da interação amorosa dos dois, colocando os comprimidos na
boca e levando alegremente o copo até meus lábios, orgulhosa da firmeza
em minha mão, sinais de tremores longe de serem vistos.
Ergui os olhos e notei três pares me observando atentamente.
— Estou bem — resmunguei, meu coração aquecido com a
preocupação e amor que via refletido em suas íris. — Viram? — Devolvi o
copo para Anthony, que o pegou imediatamente.
— Vou deixar vocês terminarem o filme. Qualquer coisa estarei no
escritório. Me chame imediatamente caso precise de mim — instruiu,
depositando um beijo casto em meus lábios.
— Sì, signore — sussurrei.
Assim que ele saiu de nossas vistas, Sofia se recostou no encosto do
sofá, jogando os longos cabelos loiros para trás, escondendo o rosto com as
mãos após um suspiro desanimado.
— Ele nunca voltará a falar comigo.
— Eu realmente não o julgaria por isso — Amanda sussurrou,
incapaz de manter os pensamentos em sua mente, obviamente com o intuito
de não ser ouvida. Dei uma cotovelada em suas costelas, encarando minha
amiga em um aviso claro. Todos eram passíveis a cometerem erros e
mereciam uma segunda chance. O problema era que Anthony gostava de
levar aquilo a outro nível.
— Eu irei falar com ele.
— Obrigada — Sofia murmurou, entrelaçando nossos dedos em
agradecimento.
Talvez nunca mais voltássemos a ser como antes. Todos haviam
aprendido algo sobre si mesmo e conhecido facetas até então desconhecidas
para os outros. Aquilo tornaria a todos nós melhores, bastava lutar pelo que
amávamos, e a famiglia certamente fazia parte disso.
Tempo, paciência e perseverança eram a chave para tudo. E eu não
deixaria aquele grupo que eu aprendi a amar se distanciar uns dos outros.
Mesmo com todos os demônios que eu enfrentava diariamente, as coisas
vinham melhorando gradativamente, o que servia para nos tornar mais fortes
e mais corajosos do que antes.
— Somos sobreviventes. Não existe nada que não possamos fazer —
Amanda falou para mim, deitando sua cabeça em meu ombro.
— Sim, somos sobreviventes.
Epilogo
Anthony
2 anos depois.
Sentia minhas mãos formigando quando entrei na grande sala da
mansão de mio babbo e mia mamma.
— A senhora a viu? — perguntei enquanto mia mamma jogava seus
braços ao redor de mim.
— Eu estou tão orgulhosa de tu! No, eu non a vi ainda. — Ela me
deu um sorriso conhecedor e eu sorri em retorno.
— Amanda mandou uma mensagem avisando que estão mantendo-a
no quarto — Lúcia forneceu quando tomou a sua vez de me abraçar. Ela se
afastou e colocou suas mãos em cada lado do mio rosto, beijando mia
bochecha carinhosamente. — Vai dar tudo certo, meu filho.
— Obrigado por nos convidar para um momento tão importante
como esse — Augusto falou enquanto ele batia em minhas costas, em um
abraço desajeitado.
— Grazie por estarem qui, Augusto. Espero que aproveite tua última
viagem para a Austrália.
Ele riu.
— Você está pensando em nunca mais voltar aqui?
— Oh, sì, io estarei de volta. Apenas non mandarei passagem para
você. — Sorri quando seu rosto caiu, somente para sua expressão se
iluminar logo em seguida.
— Eu vou revogar a permissão para que você se case com minha
filha.
Sorri com o seu comentário.
— Io me casarei com ela de qualquer maneira .
Ele me encarou por alguns segundos, somente para balançar a
cabeça negativamente.
— Sim, você se casaria com ela.
— Está certo. Io sempre ganho no final, Augusto. E me certificarei
que tu esteja presente no próximo feriado. — Ele riu.
Mio babbo se aproximou e me deu um abraço apertado.
— Estou orgulhoso de tu, mio figlio.
— Obrigado, babbo.
Matheus chamou minha atenção quando desceu as escadas e passou
seu braço em volta de me.
— Io tenho tudo sob controle, Richard Gere. Non teremos uma
reprise de noiva em fuga, afinal, Bruna não tem para onde ir.
Eu sorri para o bastardo do mio cugino, porém, uma sensação
nauseante tomou conta do meu estômago. Era ridículo, ero davvero molto[134]
nervoso. Nós estávamos namorando há pouco mais de três anos, mas já
moramos juntos por quase dois anos. Eu tinha semeado a ideia de casamento
em sua cabeça uma ou duas vezes. Bruna tinha que estar esperando que o
pedido viesse em breve.
Subi o lance de escadas e dei de cara com Felipe que sorriu ao me
ver.
— Tu caprichou na roupa, Mancini! — Felipe soltou um assovio de
apreciação e eu revirei os olhos.
Ouvimos uma risada alta vinda do quarto onde Bruna estava e senti
meu corpo congelar no lugar.
Bruna de Araújo Ferraz.
Mio coração começou a martelar em mio peito e precisei me encostar
na parede para regular a respiração.
— Tu está nervoso! — Felipe riu e ficou ao meu lado. — Tu non tem
com o que se preocupar, tu sabe que Bruna dirá sì.
Eu sabia disso, é claro, mas e se ela non soubesse? E se eu tivesse
esperado muito tempo? E se eu non tivesse esperado tempo suficiente?
— Como tu sabe?
Ele bateu seu ombro no meu.
— Porque vocês estão, como diria mia dolcezza[135] Amanda:
destinados a ficar juntos.
— Como tu soube que era o momento certo para pedir a mão dela?
Como sabia que ela diria sì? — questionei, buscando qualquer coisa que
pudesse me ajudar.
— Eu sabia que estava apaixonado pela Amanda depois de passar
cinco minutos falando com ela. E eu provavelmente me apaixonei no
primeiro minuto, apesar de na época ter ficado apavorado — ele falou com
um pequeno sorriso. — Quando io percebi que ela era a única ragazza que
me fazia sentir completo, a ponto de me fazer mudar de cidade por dois
meses apenas para ficar com ela, foi questão de tempo. Non a pedi antes por
causa do escândalo con Alice e claro, tutto o que enfrentamos naquela
época. Amanda jamais aceitaria se casar sem sua amiga do lado, então
quando tutto se organizou em nostra vidas, sabia que era o momento.
Era óbvio que com Amanda as coisas eram mais fáceis, ela mesma
estava planejando o casamento logo depois do primeiro fim de semana no
apartamento dele. Comigo e Bruna as coisas foram diferentes. Passamos por
inúmeras provações, ela nunca conseguiu se lembrar do dia do acidente,
apesar de ter sofrido con pesadelos constantes por mais de um ano, mesmo
que non se lembrasse con o que havia sonhado quando acordava
completamente em pânico.
O período de sua recuperação foi um teste para o nostro amor. Foram
dias difíceis, e por várias vezes ela pediu para eu me afastar, dizendo que
non passava de um fardo, já que precisava reaprender a andar, falar, comer,
tomar banho e qualquer outra tarefa que antes era banal. Questo sem contar
o acompanhamento psicológico e psiquiátrico constantes.
Claro que eu non me afastei, ela passou a morar permanentemente
comigo. Eu a acompanhei em cada consulta e con paciência as coisas se
encaixaram. Um ano depois, Bruna conseguiu voltar a trabalhar na empresa,
mesmo que dessa vez con uma secretária para ajudá-la.
Depois de tutto o que passamos, ela deve estar pronta para esse
momento, non è?
Eu balancei a cabeça. É claro que ela estava.
— Agora pare de pensar tanto, cara. Voi se amam e isso é o
suficiente. Amanda está saltando pelas paredes, pronta para atacar assim que
receber o sinal verde, a propósito. — Outro casamento para organizar? Era
claro que o planejamento do seu próprio casamento não seria o suficiente
para impedi-la de planejar o de Bruna. Felipe se afastou e bagunçou mio
cabelo.
— Noi estaremos aqui embaixo. — Aquilo me fortaleceu, saber que
todos estariam bem ali, no fim dessas escadas. Se ela dissesse non... bem,
non, eu non pensaria nisso.
Lucca veio até nós e Felipe acenou antes de descer.
— Mio fratello, tu está realmente nervoso? Fechar os contratos mais
importantes da empresa não o deixam nervoso, mas questo sì?
Dei de ombros.
— Sì, eu acho que sì. Ela é mais importante do que qualquer
contrato, do que tutte essas pessoas. Ela é tutto para me.
Ele sorriu quando mostrei o anel no interior da pequena caixa
quadrada que havia ido buscar.
— É perché ela é tutto que você non tem com o que se preocupar,
Anthony. Ela é a ragazza perfeita para tu. Bruna está mais do que pronta
para ser sua esposa. Tu sabe que é verdade. Estou orgulhoso de você e feliz
por ter encontrado alguém que todos nós amamos tanto quanto tu. — Ele me
puxou e colocou os braços em volta de mim. — Você simplesmente diz a ela
o que está em seu coração. Não há nenhuma maneira que ela possa dizer
non para o amor que vocês têm um pelo outro. — Ele me soltou e sorriu. —
Boa sorte, fratello. Non que você precise, esperarei com mia ragazza na
sala, não demore.
Tomei uma respiração profunda enquanto ele se afastava. Lucca
estava certo. Todos estavam tão certos sobre isso. Assim como eu,
realmente. Era enervante aquela sensação. Eu nunca tinha feito isso antes e
nunca faria de novo. Talvez fosse estúpido. Talvez eu devesse ter levado ela
a uma praia e espalhado velas, rosas e outras coisas por todo o lugar. Ela
merecia romance, não apenas um pedido em um quarto.
O que eu estava pensando?
Eu simplesmente diria aos outros que houve uma mudança de
planos. Certamente Amanda poderia...
— Anthony?
Eu me virei e lá estava ela. Mia ragazza. Bruna estava tão bonita.
Ela estava usando um vestido leve, fluído e branco. Seu cabelo estava preso,
com algumas mechas soltas. Bruna era impressionante, parecendo uma
deusa bem diante dos meus olhos. Aumentei o aperto na caixa em minha
mão e engoli com dificuldade o nó que se formou em minha garganta com a
visão.
Bruna tinha um sorriso leve e doce em seus lábios, os olhos
castanhos escuros brilhando em minha direção. Aqui estava eu surtando
para pedi-la em casamento e Bruna parecia genuinamente feliz enquanto se
preparava para passar o ano novo com nossos amigos e família.
Enfiei a caixinha no meu bolso de trás sutilmente e dei um passo em
sua direção. Seu rosto iluminou-se ainda mais, enquanto erguia as
sobrancelhas com curiosidade.
— Sì sta perfetta.
Bruna diminuiu a distância entre nós com um passo. Eu a tinha em
meus braços dois segundos depois e foi então bom e sublime que eu
finalmente me senti inteiro de novo. O efeito que ela tinha sobre mim era
surpreendente. Apenas tocá-la era tutto o que eu precisava para me acalmar
e para me lembrar o quanto éramos perfeitos juntos. Ela non poderia dizer
não, porque eu sabia que ela podia sentir isso também.
Inclinei-me para beijá-la e ela gemeu baixinho, apertando os braços
em torno da minha cintura. Deslizei minhas mãos para cobrir sua bunda
enquanto minha boca se movia contra a sua. Eu pressionei suas costas
contra a parede, o pensamento de deixá-la nua como Matheus havia
sugerido no mês anterior me parecendo uma ideia genial agora.
Uma proposta nú non pode ser uma coisa ruim, non è?
— Eca, vocês têm um quarto para isso! — Ouvi a voz de mia
cugina no corredor, e ergui os olhos para encontrá-la ao lado de Amanda,
[136]

encarando nós dois. E lá se foi mia ideia.


— Já estamos descendo. Não sei como Sofia e Matheus ainda não
surgiram para reclamar da nossa demora — Beatriz falou segurando mia
mão pronta para descer e meus olhos se arregalaram.
— Anthony, não esqueça de pegar aquela sua câmera perfeita. Quero
registrar todos os momentos — Amanda falou, um sorriso quase rasgando
suas bochechas enquanto se aproximava de mim praticamente saltitando.
— Sorrelina, mi sei mancato[137] — falei, me afastando de Bruna o
suficiente para abrir os braços e rodopiar Amanda no ar quando ela se
chocou contra mim.
— Non puoi vivere senza di me[138] — respondeu em italiano perfeito
e ergui uma sobrancelha diante da novidade. — Sou praticamente dessa
família, fratellino, tenho que saber italiano — falou com orgulho, e a
coloquei de volta no chão, depositando um beijo em seus cabelos.
— Você já faz parte desta família, Sorrelina. Independente da
opinião do Felipe, ele perdeu o direito a escolha anos atrás — confessei
carinhosamente, vendo-a revirar os olhos.
— O fato de vocês dois serem melhores amigos ainda é algo que
machuca o coração de Matheus. Acho que ele nunca vai aceitar esse fato
totalmente — mia ragazza falou, atraindo nossa atenção. Um sorriso leve e
carinhoso enfeitava seus lábios.
— Ele me trocou por tu, claramente já superou — resmunguei mal-
humorado, fazendo ambas rirem de mia carranca.
— Non é colpa mia, se io sono migliore de te.[139] — murmurou, indo
em direção às escadas.
— Não se esqueçam de pegar a câmera! — Amanda alertou
novamente, dando mais uma vez o sinal de que estava na hora e desceu as
escadas saltitando. Inalei profundamente, tentando me controlar enquanto
encarava a donna della mia vita[140]
— Você sabe onde está? — perguntei para ela, como uma forma de
levá-la para o quarto.
— Sei sim — Bruna respondeu, caminhando em direção ao cômodo.
Segui seus passos e fechei a porta atrás de nós enquanto ela se
inclinava sobre a nossa mala procurando pelo aparelho.
— Mio angelo? — chamei ansiosamente.
— Achei! — Bruna disse alto e se virou. Eu estava com a caixa em
sua direção e observei quando seus olhos se arregalaram e suas bochechas
coraram furiosamente. Ela deixou cair a câmera e levou sua mão direita aos
lábios. Caminhei lentamente em sua direção, abrindo a caixa para que ela
pudesse ter uma visão de seu interior e entender exatamente o que estava
acontecendo naquele momento.
— Bruna, eu tenho pensado muito sobre como fazer isso. Pensei em
velas, flores e chocolate, uma praia à noite ou um balão de ar quente.
Simplesmente cada lugar que tu possa pensar. Mas quando eu parei e pensei
com mais cuidado, este é o lugar onde deveria ser. — Fiz um gesto em torno
do quarto onde passamos nossa primeira noite como namorados. — Este
lugar, con amigos e familiares intrometidos nos uniram. Estes mesmos
amigos intrometidos provavelmente têm suas orelhas pressionadas na porta
tentando nos ouvir agora. Eles são parte da nossa vida. Este lugar é um
grande marco em nossas vidas. Tu sei tutta la mia vita[141]. — Uma lágrima
escorreu por sua bochecha e eu estendi a mão para enxugá-la.
— Você me dará a honra de casa con me, Bruna Ferraz?
Eu não havia me ajoelhado, mas faria isso se fosse preciso. Faria
qualquer coisa para tê-la comigo até o fim dos meus dias. Bruna abriu a
boca para responder, balançando a cabeça uma vez e meu coração caiu.
Então ela sorriu e lançou-se em meus braços.
— É claro que eu me casarei com você. — Seus lábios estavam nos
meus em seguida e eu a beijei uma e outra vez. Non tinha sido difícil. Por
que eu fiquei com tanto medo? Bruna sempre foi minha. Isso só tornava as
coisas oficiais.
Interrompi o beijo com uma risada e a abracei contra mim.
— Eu estava tão nervoso. Tu non tem ideia.
Bruna estendeu as mãos e emoldurou o meu rosto, olhando-me
carinhosamente.
— Anthony, eu te amo. Eu sou louca por você desde o momento em
que nos conhecemos. Você aguenta a minha boca grande, minha família e
minha amiga surtada sem reclamar. Passamos pelos meus piores e melhores
dias juntos. Eu seria uma tola se não me casasse com você, e eu sou muitas
coisas, mas não uma idiota.
— Não, tu não è. Tu sei mia. — Eu retirei o anel que havia passado
horas escolhendo da pequena caixa de veludo, deslizando-o em seu anelar
esquerdo. Eu claramente poderia ter escolhido algo chamativo e
extravagante, o melhor entre os melhores. Mas o arco simples de platina
com o diamante solitário era extremamente perfeito e combinava com
Bruna.
— Io sono sua[142].
Eu a beijei novamente, segurando-a contra mim. Este era, sem
dúvidas, o melhor dia da mia vida.
— Podemos entrar agora? — Uma voz alta exigiu após alguns
segundos em silêncio confortável. Eu sabia que Matheus non manteria sua
boca fechada por muito mais tempo do que o necessário.
Bruna riu contra meus lábios, encostando sua testa na minha.
— Você não estava brincando quando disse que eles estavam
ouvindo atrás da porta.
— No, io non estava.
Esse era todo o convite que eles precisavam. Matheus, Felipe, Lucca,
Lorenzo, Sofia, Amanda, Olívia, Beatriz e dois conjuntos de pais fluíram
para dentro do cômodo com exclamações e gritos de felicitações
ensurdecedoramente animados.
Sofia ganhou prioridade para abraçar Bruna por conta da sua grande
barriga de sete meses, onde ela carregava gêmeos.
— Agora é oficial, bem-vinda à famiglia! — Matheus gritou,
agarrando minha noiva em um abraço de urso.
Eu me aproximei para recuperar Bruna quando ela tentava escapar
de seu aperto. Todo mundo tentava abraçar minha noiva, a mim e a todos os
outros. Era como se eu estivesse pressionado em uma multidão quando tudo
o que eu queria era ficar sozinho com Bruna.
— Eu tenho outro casamento para planejar! — Amanda fez uma
dança vitoriosa, porém, estranha de se assistir por muito tempo. Matheus
girou seu pequeno corpo ao redor com perícia, fazendo-a rir mais alto.
Bruna olhou para mim e sorriu.
— Contanto que você faça isso rápido. Nós iremos nos casar antes
da Páscoa.
Malditamente certa de que sì.
— Mas isso é… — Amanda gaguejou, mentalemlmente fazendo os
cálculos, batendo em Matheus para que ele a colocasse no chão.
— Eu quero me casar no quintal de Sebastian e Helena, no Brasil.
Tudo bem para vocês, se a cerimônia for realizada lá? — Bruna perguntou a
mia mamma. E se eu já não soubesse que ela era a mulher para mim, aquela
sugestão teria solidificado o sentimento. Casar-se em casa? Simples e
tranquilo, apenas nós? Sì.
— Claro que sì, querida! Nós ficaríamos encantados — mamma
assegurou com satisfação evidente. — E, por favor, me chame de mamma!
— Tudo bem, mamma — Bruna corrigiu, corando graciosamente.
— Eu disse que você estava demorando muito, Mancini! — Augusto
interrompeu. Ele abraçou Bruna e depois olhou em minha direção. — Você
tem sorte que eu não a apresentei ao Cauã Reymond quando ela me visitou
no último mês. Eu pensei nisso, já que você estava se movendo como uma
maldita tartaruga.
O empurrei para longe e recuperei minha noiva.
— Eu levei a quantidade perfeita de tempo, porque ela disse sì. E,
como tu pode ver, não perderemos tempo para nos casar. Agora, vocês
podem dar o fora daqui para que ela e eu possamos comemorar em grande
estilo?
— O quê, vocês estão pensando em batizar algum lugar novo? —
Matheus perguntou, rindo como o bastardo que era quando eu o golpeei.
— Non, nós vamos ver a queima de fogos na praia. Nós fechamos o
lugar para isso, não foi?
— Inferno, sì!— Matheus gritou, animado como uma criança em um
parque de diversões. — Vamos!
Todos saíram tão rapidamente quanto entraram e eu olhei para
Bruna.
— Então, nós nos casaremos em poucos meses?
— Se estiver tudo bem para você. Eu não queria decidir isso sozinha,
mas...
— Bruna, eu me casaria com você amanhã se pudesse.
Eu a beijei novamente e peguei sua mão esquerda na minha,
correndo o polegar em volta do anel que agora estaria em seu dedo para
sempre. — Vamos?
Bruna olhou ao redor do quarto e sorriu. — Temos dez minutos antes
que invadam o quarto novamente?
Eu ri. Essa era a mia ragazza. — É claro.
Ela soltou minha mão e começou a tirar seu vestido. — Vamos
completar o círculo, Mancini.
Ela era perfeita. Perfeita para me.
— Você já foi fodida alguma vez na Austrália, senhorita Ferraz?
— Há muito tempo, mas pretendo mudar isso — Bruna respondeu,
com a voz sedutora que ela sabia me afetar. — E é futura senhora Mancini
para você, senhor.
Joguei minha camisa no chão, trancando a porta atrás de mim e
caminhei em direção a ela. — Futura signora Mancini. Ti amo.
— Eu também te amo. Agora, cale-se e faça o que tem que fazer.
Sì, não poderia ter sido melhor do que isso. Eu era um verdadeiro
vencedor agora. Nós dois éramos.
Agradecimentos
Definitivamente preciso agradecer as minhas antigas leitoras do
wattpad pela existência desta história. Afinal, se não fosse por todo o choro
delas, jamais teria escrito algo com tanto “glitter, arco-íris e unicórnios”. Ao
menos sei que não sou escritora de clichê e sim drama.
Quero agradecer minha querida amiga Júlia por toda a paciência do
mundo que ela tem comigo e por ser a louca do Pinterest quando eu preciso.
À Thaís Gabriely, não sei o que seria da minha vida sem você e sua
diagramação. Sério, você sempre salva a minha vida.
Claro, Cacau, sabe que não sei viver sem você. Obrigada por me
ajudar a dar vida a esses personagens.
Ravenna, obrigada por tudo. Sério, você é um achado em minhas
histórias e elas não seriam as mesmas sem você.
Erika, mesmo você achando que não: Eu te amo. Obrigada pelas
horas gastas fazendo e modificando capas.
Para o amor da minha vida: Anderson Tribuzy, eu te amo. Obrigada
por servir de inspiração para muitas coisas.
Para Laura Reggiani, não sei se você irá ler, mas se sim, saiba que
você faz uma diferença enorme em minha vida. Sério, mesmo demorando
uma eternidade para responder, obrigada por ter entrado em minha vida!
Para os novos e antigos leitores: Obrigada!
Isso só acontece por causa de vocês e espero de coração que tenham
amado essa aventura tanto quanto eu.
Até,
Dandara Tribuzy.
Da mesma autora

Para Sempre, Nós Dois


{O Império de Clouderin #0.5}
Uma novela do mesmo universo de ‘O Império de Clouderin’,
voltamos um pouco no tempo para acompanhar a vida de dois irmãos que
nasceram em realidades totalmente diferentes e como isso moldou suas
vidas.
Katherine Mary Loughty, única filha dos reis de Acquata e herdeira
legítima do trono, nasceu em berço de ouro, amada por todo o reino e
reverenciada por todos da corte, possuía tudo para ter uma vida calma, feliz
e sem problemas.
Brennus Bythesea, filho do rei de Acquata com uma de suas
amantes, sempre foi conhecido como o bastardo do rei. Desprezado em
qualquer lugar que fosse, sempre se sentiu solitário e possuía a certeza de
uma vida infeliz e injusta. Apenas por possuir sangue real.
Mas o que pode acontecer quando essas duas crianças se encontram?
Mesmo que tudo ao redor deles indicasse que deveriam se odiariam,
conseguem criar uma ligação muito além do que o sangue e títulos. O que
acaba mudando para sempre a vida de ambos.
Embarque nessa aventura e conhecer a fundo esses dois irmãos, que
lutaram contra todas as probabilidades e criaram um elo que deve durar para
sempre.
A Rainha de Acquata
{O Império de Clouderin #1}
A vida da princesa e herdeira do reino das águas, Katherine Mary,
muda completamente no dia do seu casamento com o temido e atraente rei
Arthur Fernsby.
Com apenas 19 anos, a nova rainha de Irony precisará aprender a
lidar com as dinâmicas do seu casamento comercial e, mesmo contra todas
as probabilidades, tentar ganhar para si a confiança e o coração do homem
conhecido por não amar nada, além do poder.
Em um novo reino, cercada por uma cultura e pessoas diferentes,
Katherine precisará amadurecer para enfrentar sua nova realidade,
principalmente, quando mitos e canções de sua infância começam a se
tornar reais e uma guerra que promete dividir o continente de Clouderin
ameaça surgir.
A nova rainha será capaz de sobreviver a todos os desafios que a
vida lançará em seu caminho sem perder sua essência ou partir seu coração?
PRÓLOGO

A mudança no clima era indício o suficiente para David de Fernsby -


Rei de Irony - que entravam nas terras gélidas de Acquata. Esperou mais
alguns quilômetros até que foi obrigado a pegar o grosso casaco ao seu lado
e vestir, tentando aquecer o seu corpo que não estava acostumado àquelas
temperaturas.
Abriu a pequena janela da sua carruagem e observou a vegetação ao
seu redor; não podia deixar de admirar a paisagem daquelas terras, com as
vastas florestas e animais não encontrados em nenhum outro lugar de
Clouderin.
— Majestade, caso deseje ver com os seus próprios olhos, estamos
perto do rio Livedon — o soldado que estava ao lado da carruagem falou,
apontando para dentro da floresta.
— Mande pararem a comitiva, coloque os arqueiros em posições
estratégicas, metade dos homens irão conosco e a outra metade ficará aqui
— ordenou. Antes de conversar com o rei Kyros sobre o futuro de duas
nações, precisava ter certeza de que estava fazendo o que era melhor para o
seu reino.
Com certa dificuldade os homens entraram na densa floresta e, não foi
preciso esperar muito para que se ouvisse o barulho forte de água, fazendo o
coração do rei bater de forma mais acelerada.
Quando enfim chegaram no rio Livedon soltou um suspiro de
admiração. Estava diante de uma enorme cachoeira, a água correndo em
uma velocidade surpreendente. Ele se agachou e colocou ambas as mãos na
água translúcida e bebeu com cuidado.
— Água doce, uma fonte interminável de água que pode abastecer o
nosso reino em alguns anos.
Ele estava ciente da situação que Irony enfrentaria em breve se nada
fosse feito, eles estavam ficando sem água e seu povo pereceria sem aquela
aliança.
— Podemos ir, homens. Já tomei a minha decisão, irei casar meu
herdeiro com a herdeira de Acquata e iremos salvar nosso povo da seca que
em breve pode se instalar em nossas terras.
— Mesmo que isso signifique dar a eles a chance de se tornarem tão
poderosos quanto nós? Eles não possuem um poder bélico forte o suficiente
para serem considerados um reino poderoso. Mas com essa aliança? Quem
poderá detê-los se isso se virar contra nós?
O conselheiro real perguntou, expressando sua preocupação mais uma
vez com aquela aliança.
— Arthur. Meu filho Arthur será treinado para isso, nosso reino deve
estar acima de qualquer coisa. Ele será um rei e deve crescer sabendo de sua
responsabilidade com essa aliança. Acquata pode ser o reino das águas e em
breve ter acesso ao nosso minério e assim crescer de forma bélica. Mas nós
somos a família Fernsby, e o ferro corre em nossas veias.
CAPÍTULO 01

A tensão dentro do grande cômodo era cada vez maior, ameaçando


esmagar a jovem princesa que se encontrava em frente ao grande espelho,
sussurrando palavras de encorajamento para si mesma.
— Eu sou Katherine Mary de Loughty, filha de Kyros e Antonella de
Loughty. Herdeira de Acquata, não tenho o que temer. Apenas respire fundo
e se acalme.
Os olhos claros, em um tom de âmbar, procuravam de forma ávida por
qualquer imperfeição em sua aparência. No entanto, ela estava impecável.
Seus longos cabelos negros estavam trançados com fios de ouro enquanto
alguns cachos haviam sido deixados soltos ao redor de seu rosto,
contrastando com sua pele extremamente branca.
A princesa desceu seu olhar por seu vestido de noiva, que possuía um
belo corpete que ressaltava seu busto e acentuava ainda mais sua fina
cintura. Sua saia era volumosa e mais fluída logo abaixo, se estendendo em
uma interminável cauda, uma renda com detalhes dourados, fina e delicada
por toda a sua extensão.
Desde o seu nascimento, a princesa Katherine de Loughty estava
prometida em casamento para o herdeiro de Irony, Arthur de Fernsby. Era
um acordo comercial mutuamente benéfico para unificar os reinos,
garantindo o minério para fabricação de armas em Acquata, e, em troca,
água para Irony, que enfrentava uma longa estiagem.
Contudo, ela sabia que não era somente isso. Esta união tornaria seus
reinos os mais fortes do norte do continente, pois o acesso ao mar e a águas
doces, somado com as armas e o exército deles, fariam com que ambos
fossem ainda mais temidos.
Não que ela pudesse reclamar, já que seria rainha e Arthur era
extremamente agradável aos olhos, com seus ombros largos, cabelos
castanhos curtos — mas que sempre estavam bagunçados graças ao hábito
de passar constantemente os dedos entre os fios — costume que a princesa
notou nas poucas vezes em que se encontraram. Dono de olhos cinzas
penetrantes, sua presença exalava poder desde a maneira de andar até falar,
tudo nele mostrava que ele nasceu para ser um poderoso rei. A altura acima
da média complementava sua figura imponente, o que ela não acreditava ser
possível.
Suas emoções mesclavam entre medo e ansiedade. Arthur sempre fora
extremamente cortês e polido, o que fez com que desenvolvesse afeição por
ele. Mas seu olhar exalava perigo e poder, e era essa parte que insistia em
martelar em sua mente. O que ele esconde por trás daqueles olhos cinzas?
Katherine tinha total ciência de que, como única herdeira de Acquata, seu
pai priorizaria e firmaria o acordo que se mostrasse mais benéfico para si e
para o reino, contudo, os limites de sua ganância eram desconhecidos para
si.
Para sua infelicidade, apesar do temperamento forte e a linhagem de
sua mãe, este era um assunto onde ela não possuía decisão. Mesmo com
todas as tentativas de manter a discrição, era fato que há muito o casamento
dos dois havia fracassado. Assim como ela, ambos tinham se unido por um
acordo comercial e nos primeiros anos, diziam as histórias, eram felizes.
Mas com os abortos e as crianças natimortas, o rei se distanciou, tornando
público o fato de que ele mantinha inúmeras amantes, em especial, Adriene
de Bythesea — mãe de seu meio irmão.
Depois de anos de casados, a rainha Antonella enfim teve uma gestação
que vingou e dela nasceu a princesa Katherine. Todo o reino ficou eufórico
por enfim terem um herdeiro para o trono, e quando todos pensavam que o
casamento dos reis voltaria a ver bons dias, o rei assumiu publicamente seu
filho com sua amante oficial.
— Vossa Alteza precisa se acalmar, vai acabar bagunçando o cabelo —
sua ama falou lhe tirando de seus pensamentos, enquanto colocava os
braceletes em seus punhos. — Princesa, a senhorita é sem dúvida a mulher
mais linda de todo o continente.
— Claro que sim. Sendo minha irmã não poderia esperar menos.
Katherine abriu um enorme sorriso quando viu o seu irmão parado na
entrada da porta, a olhando com orgulho.
— Brennus — murmurou com a voz embargada ao ver os belos olhos
azuis. — Pensei que não o veria até depois da cerimônia.
Seu irmão balançou a cabeça e andou em sua direção, o sorriso gentil
nunca abandonando o seu rosto. — Achou mesmo que eu não passaria aqui
para mandar você parar de pensar demais?
Isso fez Katherine ceder seus ombros e abrir os braços, enterrando o
rosto no forte peitoral de seu irmão. Inspirou profundamente o seu cheiro e
seus olhos arderam pelas lágrimas que se acumularam. Ele cheirava a brisa e
ao mar, assim como a casa deles.
— Vai dar tudo certo, maninha.
— E se não der? — perguntou com medo da resposta. Sentiu mãos
grandes a segurarem pelos ombros e então estava encarando seu irmão
novamente, que passou o polegar por sua bochecha para enxugar uma
lágrima que escorreu sem a sua permissão e a encarou sério.
— A vida de uma mulher sempre é mais difícil, ambos sabemos disso.
Você deixará de ser apenas a princesa de Acquata e se tornará rainha de
Irony. Uma pesada coroa será colocada em sua cabeça e todos irão esperar
que você erre, é o que eles querem — Brennus falou delicadamente,
analisando as expressões de sua irmã. — Mas você é Katherine Mary de
Loughty e, se alguém é capaz de assumir tal posição e mostrar para todos os
idiotas da corte que uma rainha pode ser tão forte quanto qualquer outro rei,
é você.
— Obrigada — a princesa respondeu, segurando com força uma das
mãos de Brennus, mordendo seu lábio inferior sem saber como fazer a
pergunta que rondava em sua mente sem que o atingisse.
— Apenas cuspa as palavras, Kate.
— Será que ele tem outras mulheres? — perguntou por fim. — Não sei
como lidarei se ele fizer como nosso pai e sair por aí desfilando com....
A princesa rapidamente se calou, afinal, estava falando da mãe de seu
irmão.
— Desfilando com sua amante — ele completou por ela. — Achei que
já tivéssemos passado pelo ponto onde você pode falar sobre seus
sentimentos abertamente comigo.
— Eu sei, mas ela ainda é sua mãe. E você sabe que mamãe não gosta
dela, então tem toda essa tensão por você ser mais velho e homem e eu ser
mulher, sem contar que nosso pai sempre a leva para os lugares mesmo que
minha mãe esteja presente...
— E você tem medo de que Arthur faça a mesma coisa — Brennus
deduziu, fazendo sua irmã respirar longamente em busca de se controlar
novamente, seus olhos âmbares tingidos de uma vulnerabilidade que poucos
possuíam a honra de perceber.
— Se nosso pai estivesse aqui, certamente iria me repreender por tais
ideias logo antes do meu casamento — a princesa resmungou, tentando
mudar a direção de seus pensamentos.
— Mas ele não está aqui.
Brennus suspirou enquanto olhava para a janela do castelo de Irony,
escolhendo bem suas próximas palavras.
— Você sabe como funciona a realeza, nasceu para fazer parte dela e,
mais que qualquer um, está pronta para ser a rainha deste reino. E, no futuro,
ser a minha rainha, sempre que precisar eu sou seu irmão e estarei aqui.
Quanto ao rei Arthur, ele sempre foi muito discreto quanto às mulheres e
acredito que se tiver alguma amante, continuará assim. Mas ele seria um
tolo se não se apaixonasse por você e percebesse que ter você é mais do que
suficiente.
Katherine respirou fundo, caminhando até a varanda que havia no
quarto, observando a paisagem mais árida daquelas terras, ventos
reconfortantemente frios de seu lar fazendo-lhe falta naquele momento.
Estava para se perder em seus pensamentos novamente quando uma figura
familiar lhe chamou a atenção no jardim e seus olhos se estreitaram ao
voltar a encarar seu irmão.
— Brennus!
— Katherine? — ele perguntou com um sorriso torto em seus lábios.
— Não brinque comigo, irmão. Você estava com ela novamente? —
perguntou a última parte em um sussurro, com medo que alguém ouvisse.
— Você sabe a resposta para essa pergunta.
— Como você pode ser tão tolo? Sabe quais as consequências se um
dia alguém os pegar? Ela é da realeza, Brennus.
— E eu não passo do bastardo do rei.
A princesa suavizou o seu olhar e se aproximou novamente do seu
irmão, vendo a dor em seus olhos.
— Para mim, você é meu irmão e apenas isso importa. Mas nosso pai o
mataria, e ela cairia em desgraça — Katherine falou com calma, tentando
colocar um pouco de bom senso em sua cabeça, apesar de saber que quando
se tratava daquela pessoa em especial, isso era praticamente uma causa
perdida.
— Eu a amo, irmã. O que posso fazer?
Brennus se sentou em uma poltrona, fechando os olhos de forma
cansada. Há dois anos tinha encontrado a mulher da sua vida, o único
problema era que ela era uma princesa e ele o bastardo do rei.
— Eu não quero que você se machuque quando isso acabar.
— Bem, acho que é tarde demais para isso, não é? Ela também me
ama.
Katherine sentiu seu coração se apertar ao ver a expressão no rosto de
seu irmão e saber que nada poderia fazer em relação àquilo, doía saber que
ele nunca poderia desposar a mulher que era dona de seu coração.
Estava prestes a repetir as palavras habituais para que ele se afastasse
de uma vez por todas dela quando batidas na porta interromperam a
conversa dos dois, Brennus rapidamente se recompondo ao ver seu pai
entrando nos aposentos. Os dois irmãos fizeram uma reverência diante do
rei de Acquata.
— Crianças, vejo que estão prontos.
— Sim, meu pai.
— Sim, papai.
Brennus e Katherine responderam respectivamente.
— Precisamos ir, não podemos deixar um rei esperando!
Com essas curtas palavras, ele esperou Brennus apertar com carinho a
mão de Katherine e quando enfim sua filha mais nova estava sozinha, ele
analisou como ela estava e deu um breve sorriso.
— A carruagem está esperando, e você está vestida como uma
verdadeira filha do reino das águas e futura rainha de Irony.
A princesa soltou a respiração que estava presa desde que ele entrou no
quarto e conseguiu relaxar com essas poucas palavras.
— Obrigada, papai.

Respirando fundo, Katherine se preparou para sua entrada na Catedral


onde ocorreria a cerimônia. Vários nobres do continente estavam no local
para prestigiar o grande evento. Quando as portas se abriram, a música
alcançou os ouvidos da princesa e um grande tapete vermelho se estendia à
sua frente.
— Sou Katherine Mary de Loughty, filha do reino das águas e não
tenho o que temer.
Com esse pensamento, a princesa levantou o queixo decididamente e,
com passos lentos e firmes, começou a caminhar através do grande corredor.
Podia ver os olhares invejosos de algumas senhoras e os cobiçosos de alguns
homens. Katherine era ingênua, mas não ao ponto de não notar o modo que
sua beleza despertava o desejo nos homens, afinal, não era à toa que lhe
chamavam a mais bela de todo o continente.
Quando seus olhos cruzaram com os de Arthur, o ar pareceu sumir de
seus pulmões e tudo ao redor desapareceu. Era como se somente ambos
estivessem ali naquele momento.
O rosto do rei mantivera-se sério como de costume, mas um ínfimo
sorriso se formou no canto de seus lábios ao avistar sua noiva, seus olhos
brilhando como os de um predador que a observava atentamente e, ao
observar as expressões do rosto dela ele soube que a princesa sabia
exatamente o que ele estava pensando naquele momento — Katherine
soubera que era uma presa, a ovelha à mercê de um leão faminto. Quando
ficaram frente a frente, uma de suas mãos calejadas do manuseio de sua
espada segurou com suavidade a que Katherine estendeu em sua direção.
O rosto da princesa estava levemente corado e seu coração batia
enlouquecidamente. O tempo ao seu redor parecera voar enquanto o
patriarca da fé conduzia a cerimônia com perfeição. Um — eu aceito —
ecoou alto e firme vindo de Arthur, e, quando ela proferiu as mesmas
palavras de aceitação, o rei enfim sorriu, não um sorriso de alegria, mas sim
um de alguém que conquistou um objetivo que há muito almejava, uma
realização pessoal.
E, para ele, aquele momento significava exatamente isto: Uma vitória.
Ambos ficaram frente a frente novamente, Katherine conseguiu ouvir
ao fundo a voz do Patriarca da Fé anunciando que o noivo poderia beijar a
noiva. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo ao encarar os profundos olhos
cinzas do rei, o ar pareceu esvair-se de seus pulmões novamente quando ele
segurou seu rosto gentilmente e, no momento que seus lábios se encaixaram
perfeitamente, as mãos de Arthur desceram e fixaram-se firmes em sua
cintura, ela permitiu se entregar ao momento.
Naquele curto momento em que seus lábios se moviam em conjunto
em uma doce carícia, selando desta forma um acordo firmado há anos entre
ambos os reinos, ela acreditou que poderia ter o que seus pais não
conseguiram. As mãos de Katherine automaticamente foram para os cabelos
sedosos do seu marido, e mais rápido do que desejou, ele gentilmente se
afastou dela.
Um pequeno sorriso escapou dos lábios da princesa enquanto
permanecia de olhos fechados. Suspirou suavemente, lentamente abrindo
seus olhos âmbar, deparando-se com os de Arthur cravados em si. Desejo,
luxúria e poder emanavam deles.
O som das palmas explodiu pelo ambiente enquanto os dois voltavam-
se com calma para o patriarca da fé, que mantinha a coroa destinada à
princesa de Acquata em suas mãos, pronta para ser posta sobre sua cabeça.
A coroa de Irony.
Uma pequena lágrima de felicidade escorreu por sua bochecha quando
o coro de — Deus salve o rei! — fora iniciado, seguido de — Deus salve a
rainha!
Seu peito encheu-se de orgulho, uma onda pungente de felicidade
tomou conta de seu corpo enquanto olhava para o belo homem ao seu lado e
depois para sua família, olhando-a com orgulho visível. A partir daquele dia,
iniciava-se o que se esperava serem os dias mais felizes da nova rainha de
Irony.
Ao menos foi o que ela pensou na época, e quão agridoce foi esse
engano.
CAPÍTULO 02

A festa ocorria da melhor maneira possível. O povo aguardava no pátio


do palácio em grande alvoroço para o anúncio oficial de sua nova rainha
munidos com instrumentos musicais e bandeirinhas com os símbolos de
ambos os reinos: um majestoso polvo negro sobre um fundo vermelho
sangue simbolizando o reino de Acquata e o imponente leão dourado sobre
o branco, representando o reino de Irony.
E, quando os recém-casados apareceram, a visão era extremamente
agradável. A nova rainha, apesar da pouca idade, era excepcionalmente
bonita com um sorriso doce e sincero, ao lado do rei que mantinha seu
habitual semblante sério. Ambos acenaram para o povo e Katherine fora
oficialmente anunciada como a nova rainha e, assim como dentro da
catedral, o povo começou a gritar — Deus salve o rei — seguido de — Deus
salve a rainha.
Mesmo quando o casal voltou para o interior do castelo, a festa do lado
de fora continuou pelas ruas da capital e até em algumas vilas mais
distantes. O povo estava em êxtase com aquela união e os benefícios que ela
traria para o reino, que enfrentava uma rigorosa estiagem, acreditando que
dias de paz e alegria enfim se iniciariam.
Já dentro do castelo, a princesa de Seadorn do Oeste enfim conseguira
alguns minutos sozinha depois de aguentar duas danças seguidas com um
duque que tinha a mesma idade de seu pai e, mesmo assim, estava tentando
cortejá-la. Sorveu um gole do cálice que estava em sua mão, seus olhos
percorrendo por todo o salão, procurando por ele. Desde que a cerimônia
terminara ela não o vira, fazendo-a ficar ainda mais ansiosa.
— Procurando por alguém?
A princesa Aline deu um pequeno pulo, colocando a mão sobre o peito
para acalmar o coração do susto.
— Brennus, não o vi chegando — respondeu de volta, um sorriso
tímido brotando em seus lábios. Observou com o canto de seus olhos o rosto
dele e percebeu que o rapaz estava lhe encarando com aqueles incríveis
olhos azuis. — E você poderia ser mais discreto ao me encarar.
O jovem em nada se parecia com a sua irmã Katherine. Enquanto a
nova rainha de Irony possuía cabelos negros e olhos âmbar, seu irmão tinha
os fios loiros e os olhos de um azul profundo.
— Eu já disse que você fica linda de vermelho?
Este pequeno elogio fez com que as bochechas da princesa se tingissem
de vermelho, tornando-a ainda mais adorável aos olhos do loiro ao seu lado.
Ele soltou um pequeno suspiro.
Nunca iria se acostumar com a beleza dela.
— Acredito que mais cedo você estava mais preocupado com outras
coisas do que com a cor do vestido que eu estou usando — ela respondeu
por fim, ao se recordar dos calorosos beijos trocados por eles antes do
casamento. Somente as lembranças das mãos fortes correndo por seu corpo
fez um calafrio percorrer a sua coluna.
— Me concede a honra da próxima dança para que eu possa me
desculpar por esse erro terrível?
Aline olhou ao redor, ponderando sobre a proposta. Por um lado, era
apenas uma dança com o filho do rei de Acquata, mas por outro lado ele não
era qualquer filho. Era Brennus Bythesea, mais conhecido como o bastardo
do rei e o amor da sua vida.
— Não pense demais. É apenas uma dança.
— As pessoas são maldosas, você sabe que falarão.
— Deixe que falem, mas eu quero dançar com a mulher que eu amo no
casamento da minha irmã — disse ele de forma convicta, estendendo a mão
para ela em um último convite.
A princesa deixou qualquer preocupação de lado ao ouvi-lo dizer que a
amava e segurou a mão de Brennus, deixando que ele a guiasse para a pista
de dança. A alguns metros deles, Katherine e seu pai dançavam em perfeita
sincronia e, aos olhos de todos, eles compartilhavam uma conversa
agradável. Mas não era exatamente isso que estava acontecendo.
A princesa do reino das águas se controlou para manter a expressão
calma e feliz no rosto enquanto ouvia o que o seu pai lhe dizia.
— Então o senhor está sugerindo que eu me torne a esposa perfeita e
submissa somente para fazer Arthur se apaixonar profundamente por mim,
isso sendo o primeiro passo para tornar o senhor o protetor do Norte?
Ela perguntou, tentando manter a repulsa longe de sua voz.
— Não estou sugerindo, estou ordenando. Você fará o seu marido
prometer lealdade a Acquata, não me importo que meios você usará para
isso. Mas se desejar, posso designar algumas moças para lhe ensinar a
impressionar um homem como ele.
Katherine vacilou por uma fração de segundos antes de voltar a
esconder as suas emoções. Era quase inacreditável que seu pai estivesse lhe
propondo aulas com cortesãs. A jovem rainha forçou um sorriso no rosto e
tentou relaxar os ombros para que ninguém visse o quão terrível era o teor
daquela conversa.
— Isso pode ser considerado traição, meu pai. Se o meu marido
descobrir que planejo tal coisa contra ele, posso ser mandada diretamente
para a forca — sussurrou, tentando persuadir seu pai daquela ideia estúpida.
— Não esqueça que você é a princesa das águas, e é a Acquata onde
sua lealdade deve estar e como seu rei eu ordeno que você me obedeça. —
Kyros disse firme quando a dança terminou, encarando de forma rígida sua
filha.
— O senhor não é mais meu rei e não pode me obrigar a fazer isso, eu
não me casei para agir como uma meretriz a fim de satisfazer os seus
planos, meu pai.
Katherine disse, olhando de forma discreta para baixo, onde seus dedos
eram apertados com força pela grande mão do seu pai. Manteve um sorriso
doce no rosto quando ele apertou com mais firmeza, espremendo sua
delicada mão.
— Meu pai, irmã — Brennus interrompeu ambos, uma sobrancelha
elevada em questionamento com a cena que se desenvolvia. — Posso ter a
honra da próxima dança?
— Não é o momento, garoto.
— Claro que sim, meu irmão — Katherine exclamou sem pensar muito
a respeito das consequências daquilo.
Brennus encarou ambos e, mesmo ciente que seu pai poderia lhe punir
depois por isso, abriu um sorriso e estendeu a mão para sua irmã, sabendo
que seu pai não teria outra escolha a não ser entregá-la para que os irmãos
pudessem dançar. De forma relutante, o rei soltou a mão de Katherine e
encarou uma última vez seus filhos, seus olhos deixando claro que Brennus
seria punido por aquela insolência.
— Você não deveria ter feito isso — a rainha falou ao notar o seu erro,
sabendo que seu pai não era complacente em situações como aquela. —
Todavia muito obrigada.
— Você pode enganar os outros com esse rosto delicado e seu doce
sorriso, mas eu conheço seus olhos e sei quando está em apuros. O que
nosso pai queria? — perguntou, guiando sua irmã ao ritmo da música.
Katherine ficou calada por um longo momento, ponderando se deveria
ou não divulgar os planos de seu pai.
— Não quero que se meta em ainda mais problemas por minha causa.
Já é o suficiente ter interrompido a nossa conversa.
— Katherine.
— Brennus.
Os dois passaram o resto da dança em silêncio, seus olhos em um
embate para ver quem iria ceder primeiro.
— Eu ser mais o mais velho não conta? — questionou por fim,
soltando um suspiro de frustração.
— Não, maninho. Eu prometo que se as coisas ficarem complicadas
será o primeiro a saber, você mesmo me disse que se têm alguém capaz de
lidar com a corte, sou eu.
Brennus observou com atenção os olhos âmbares, que naquele
momento estavam em um tom que beirava o ouro, buscando qualquer
emoção que ela pudesse deixar escapar, percebendo que ela havia se
trancado dentro de si novamente e ele nada descobriria naquele momento.
— Eu confio em você.
— Isso é tudo o que eu preciso. O rei Arthur está vindo em nossa
direção, acho que preciso voltar para o meu marido, e irmão? — ela o
chamou uma última vez, olhando diretamente em seus olhos. — Obrigada
por vir ao meu resgate.
— Eu sempre virei.
— E não pense que eu não vi com quem você estava dançando —
resmungou, se afastando de uma vez por todas do rapaz, seu humor
renovado.
Encontrou o rei de Irony no meio do caminho, que passou o braço por
sua cintura e depositou um beijo no topo de sua cabeça.
— Como está a minha rainha? Gostando da festa? — Arthur perguntou
enquanto a guiava para ocupar o trono que agora era seu por direito.
Katherine soltou um suspiro feliz quando enfim pôde descansar seus
pés depois de tantas horas dançando.
— Não poderia estar melhor, majestade.
— Somos casados, Katherine. Me chame pelo meu primeiro nome.
Não existem mais motivos para formalidades entre nós — respondeu,
segurando com carinho sua mão enquanto se sentava ao seu lado. Arthur
percebeu o arroxeado presente em seus dedos e, em um último segundo
conseguiu reprimir o grunhido gutural que quisera escapar por seus lábios, a
raiva pungente instalando-se com força em seu âmago ao notar que alguém
havia machucado sua esposa. Porém, antes que ele pudesse questioná-la
sobre o que havia acontecido, um duque de um dos reinos do Sul foi até eles
para parabenizá-los pelo casamento.
Arthur mantivera-se ao lado dela pela hora seguinte, à exibindo como
um troféu, vez ou outra beijando carinhosamente seus cabelos ou sua mão,
em uma clara demonstração de afeto. Aos olhos de todos, eles pareciam um
casal perfeito.
A fama que ele possuía entre o círculo da nobreza era a de ser um dos
reis mais ambiciosos e rudes de Clouderin. O fato de tratar Katherine como
se fosse o cristal mais precioso encontrado, que pudesse quebrar a qualquer
momento, surpreendia a todos no salão.
Em um dado momento, ambos tiveram que se distanciar novamente,
com Arthur indo conversar com alguns dos reis dos demais reinos ali
presentes e Katherine com suas esposas e filhas.
— Majestade, você está radiante, parece tão feliz! — A rainha de
Marcheby falou segurando suas mãos. Seu reino possuía uma dívida de
lealdade com Irony, fazendo com que a nova rainha tomasse um cuidado
redobrado com suas palavras e sorrisse de forma cortês.
Katherine procurou Arthur pelo lugar e abriu um pequeno sorriso
quando o viu, em um lugar mais afastado conversando com seu pai e outros
nobres. Olhando-o com atenção, ele, de fato, era um homem muito
agradável aos olhos, tratando-a demasiadamente bem, e agora ela se tornara
uma rainha. Sua rainha. Não havia o que reclamar.
— Sim, com um homem como Arthur, não vejo como não estar feliz.
— respondeu de forma animada, acompanhada por risos vindos das outras
princesas.
Seus olhos fixaram-se na princesa Aline, se tornando um pouco mais
duros ao ver que ela se encontrava um pouco dispersa. Não precisava que
alguém dissesse algo para que a rainha soubesse que a jovem princesa
estava à procura de seu amado irmão.
— Procurando por algo, princesa? — perguntou, em um tom de voz
falsamente gentil. Não tinha nada pessoal contra a princesa, apenas não
gostava do fato de ela estar se envolvendo com Brennus. Não conhecia a
natureza de seus sentimentos, contudo, sabia que, no final de tudo, seria ele
que estaria com o coração partido enquanto ela seria desposada por algum
nobre que sua família julgasse ser apropriado.
— Não, rainha Katherine. Estava apenas admirando o salão.
A princesa Aline de Vacchiano era a terceira na linha de sucessão e
mantinha um relacionamento secreto com Brennus há quase dois anos.
Apesar de amar verdadeiramente o rapaz, sabia que a jovem rainha de
longos cabelos negros não aprovava o envolvimento dos dois — não podia
culpá-la realmente por isto. Sabia o que poderia acontecer com o homem
que amava caso descobrissem sobre ambos. Apenas não conseguia se
manter longe quando o via, seu coração tolo e traidor sempre decidindo por
ela.
Katherine estreitou os olhos, mas manteve um sorriso no rosto ao
encarar profundamente a princesa, voltando seu olhar para as outras
mulheres, introduzindo-as na conversa que mantinham anteriormente.
Do outro lado do salão, Arthur enfim conseguiu ficar sozinho, bebendo
um pouco de vinho enquanto observava Katherine. Ela sorria de maneira
amigável, conseguindo envolver as demais pessoas em uma conversa fluida,
leve e aparentemente agradável. Disfarçando com o cálice, o rei se permitiu
um sorriso. Ele precisava de novos aliados e, pela forma como todos
pareciam encantados com a beleza e educação de sua esposa, isso poderia
facilitar as coisas. Theo, seu fiel conselheiro, aproximou-se.
— A princesa de Acquata parece bastante feliz — comentou
despreocupadamente enquanto bebia de sua taça de vinho.
— Rainha de Irony, Theo. Mas espero que, em um futuro não muito
distante, de Acquata também, — falou saboreando o gosto adocicado da
vitória. Aquele era apenas o primeiro passo para que ele se tornasse o
protetor do Norte e, depois disso, de toda Clouderin. No entanto, tinha que
ser cuidadoso, com um passo de cada vez.
— Vossa majestade passou metade da festa sem conseguir tirar as mãos
da rainha. — O conselheiro observou com certa ironia na voz. Sabia que seu
rei não amava ninguém além dele mesmo e o poder, mas também sabia
enganar qualquer um ao seu redor se fosse necessário.
— Preciso manter as aparências e você sabe disso. Não existe qualquer
sentimento de minha parte nesse casamento. Meu único interesse é em
Acquata, ao menos isso meus pais fizeram de bom antes de morrerem —
falou com a voz um pouco mais áspera.
— Mas, vossa Majestade não pode negar quão bonita ela é. Me arrisco
a dizer que ela é a mulher mais bonita que um dia já pus os olhos.
Arthur, nesse momento, tirou os olhos de Katherine para pousá-lo sobre
seu conselheiro. Seus olhos eram tempestuosos, brilhantes como uma
tormenta prestes a desabar. Uma ameaça. Theo percebera quase
imediatamente que havia cruzado o limite com seu comentário.
— Eu o aconselharia a ponderar suas palavras em uma próxima vez,
não que haja uma. A não ser que tenha perdido o amor por sua língua e sua
vida. Encontrar um novo conselheiro seria cansativo e eu, no fundo, gosto
de você. Sim, o fato dela ser extremamente bela em muito me satisfaz, mas
assim como todas as minhas conquistas, ela é minha — ele deu uma ênfase
ainda maior na última palavra. Arthur havia esperado anos por este
momento, onde ela finalmente seria sua.
Theo engoliu em seco. Sabia que as pessoas eram apenas peças de um
jogo de xadrez para Arthur, e, mesmo que ele fosse leal a ponto de dar sua
vida pelo rei, ele poderia facilmente ser descartado se assim fosse
necessário.
— Perdoe-me, Majestade, não quis aborrecê-lo. Isso não se repetirá.
O rei voltou seu olhar para Katherine e, quando seus olhares se
cruzaram, luxúria e desejo percorreram um caminho corrosivo por todo o
corpo do rei, e ele soube naquele momento que a festa havia acabado para
ambos. Como de costume, a noite de festejos continuaria para os
convidados, mas ele tinha coisas mais interessantes para fazer e isso
envolvia o corpo nu de sua mais nova conquista.
Katherine, ao perceber o olhar do marido, deu um doce sorriso se
despedindo das mulheres, abraçando sua mãe carinhosamente enquanto ela
lhe sussurrava palavras de amor e carinho, contente por ver que a filha agora
se tornaria uma mulher.
— Eu a amo, querida, nunca esqueça disso. Espero que tenha uma
noite boa — ela falou por último antes de se despedir.
A sensação era parecida como se houvesse mil borboletas em seu
estômago ao imaginar o que aconteceria nas próximas horas. Seu corpo era
tomado pela ansiedade e pelo nervosismo. Porém, antes que alcançasse o
seu destino, uma mão segurou firme seu braço. Ao virar-se surpresa com a
interrupção, encontrou os olhos escuros de Kaleb Blackblue, rei de Aurun,
um reino poderoso que pertencia ao Leste de Clouderin. Ele a olhou dos pés
à cabeça como se a despisse, fazendo ela automaticamente entrar em estado
de alerta. Puxando gentilmente seu braço de seu aperto, apesar da repulsa,
sorriu da melhor forma possível.
— Rei Kaleb — cumprimentou polidamente, querendo de alguma
forma sair de perto daquele homem.
— Princesa Katherine, ou devo dizer, Rainha Katherine? Vejo que o
tempo apenas a fez bem, majestade — comentou, descendo seu olhar para
seu busto que se destacava por conta de seu corpete sob a delicada renda.
Sentiu-se ultrajada pelo comentário inapropriado e por seu olhar,
avaliando cada pedaço de sua pele exposta como se ela fosse um pedaço de
carne suculento. Antes que pudesse falar alguma coisa, sentiu um par de
braços fortes rodeando sua cintura e um corpo másculo moldar-se ao seu por
trás. Relaxou imediatamente ao sentir o cheiro amadeirado de Arthur.
— Atrapalho? — perguntou sarcasticamente, olhando com desprezo
para o homem à sua frente. Sabia que Kaleb havia solicitado, tempos atrás,
ao rei Kyros que rompesse o acordo de casamento, concedendo assim a mão
de Katherine a ele, formando uma aliança poderosa entre ambos, pois ele
nunca escondeu seu desejo pelo Vale de Treeriver.
Saber que ele nunca colocaria as mãos naquelas terras trouxe um
glorioso sentimento de satisfação.
— Nunca, rei Arthur, apenas elogiando sua linda mulher — falou
sorrindo de forma provocativa. O rei travou o maxilar, olhando-o com ódio
genuíno, em seguida sorrindo abertamente.
— Sim, Katherine é uma bela mulher, entretanto, como você disse ela é
minha, e se nos der licença, temos coisas mais importantes para fazer no
momento. Como consumar nosso casamento.
Katherine sentia-se no meio de uma disputa de machos alfas. Sabia que
seus reinos, há gerações, eram inimigos não declarados, com uma guerra,
felizmente, nunca chegando a acontecer. Com a união de Acquata e Irony,
Kaleb mostrava-se bem mais cauteloso.
Apesar da tensão evidente, a rainha não pôde deixar de sentir seu rosto
esquentar com o último comentário do marido.
— Vamos, querida — o rei falou apertando sua cintura enquanto
depositava um beijo no topo de sua cabeça, antes de voltar os seus olhos
para o outro monarca que apenas observava a cena com atenção — Adeus,
rei Kaleb — murmurou friamente, seus olhos transbordando puro ódio.
Qualquer outra pessoa iria se intimidar diante daquele olhar.
Mas Kaleb não era qualquer homem.
— Até logo, rei Arthur — falou com um sorriso brincando em seus
lábios — Katherine, é sempre um prazer. — Finalizou antes de se retirar.
Arthur sentiu vontade crescente de matar a primeira pessoa que ousasse
cruzar seu caminho por tal afronta dentro do seu próprio castelo, seu ódio
sendo difícil de controlar naquele momento, as mãos trêmulas contra o
corpo esguio da esposa. Katherine virou-se para olhar em seus olhos e se
assustou com o que viu: sua face era de um homem cruel, seus olhos eram a
morte encarnada.
— Arthur? — ela chamou em um pequeno sussurro, e, pela primeira
vez naquela noite, sentiu medo do homem à sua frente.
Ao perceber seu pequeno deslize, o rei fechou os olhos e respirou
fundo. Não deixaria aquele crápula estragar sua noite prazerosa, no que
dependesse dele.
— Me desculpe, querida, vamos nos retirar daqui? — falou por fim,
retomando a compostura. Não podia deixar que Katherine visse seu
verdadeiro eu. Caso isso acontecesse, acreditava que Kyros, apesar de
ambicioso, não pouparia esforços para conseguir a anulação de seu
casamento, e ele, definitivamente, não abriria mão disso. Não quando ele,
enfim, começaria a mexer suas peças no tabuleiro.
E ele nunca jogava para perder.
CAPÍTULO 03

O rei aguardava ansiosamente nos aposentos reais. Havia separado


duas taças do melhor vinho que possuía em sua adega para quando sua
esposa chegasse, a lareira estando acessa, conferindo um clima sedutor ao
ambiente, tudo no cômodo outrora preparado indicando o que aconteceria
ali nas horas seguintes. Em meio aos seus anseios, algo em sua mente
insistiu em lembrá-lo que precisaria, naquela noite, controlar todo e
qualquer instinto.
Ela nunca havia sido tocada por ninguém.
Tal pensamento fizera a fera dentro de si remexer-se. Ela seria dele de
todas as maneiras possíveis, seu corpo imaculado seria somente dele, e um
sorriso quase animalesco surgiu em seus lábios.
Batidas na grossa porta de madeira anunciaram, enfim, a sua chegada.
Olhou maravilhado para uma Katherine que entrava timidamente nos
aposentos usando apenas um robe vermelho vivo, seus longos cabelos
negros estavam soltos, contrastando com sua pele branca. Encarou seus
olhos âmbares, naquele momento possuindo um tom esverdeado ao redor,
brilhantes em uma mistura de nervosismo e medo, para só então descer o
olhar para sua boca carnuda e avermelhada.
Ela era, definitivamente, a personificação do pecado.
O rei se aproximou da mulher, esquecendo totalmente do vinho na
mesa, colando sua testa a dela e inspirou seu cheiro, fechando os olhos por
um momento. Morangos com algo que ele não soube identificar, frutas
cítricas, talvez. Seu membro dera sinal de vida imediatamente e mal a havia
tocado. Projetou a língua e, vagarosa e provocantemente, lambeu seus lábios
tentadores ao passo que lhe acariciava os braços.
Os pelos de Katherine automaticamente se arrepiaram, seus poros
visivelmente contraídos chamando a atenção do rei. Ele abriu um pequeno
sorriso e, ao contrário do beijo que ocorreu na capela, agora ele a beijava
com mais vontade. Katherine assustou-se com o toque mais ousado e o rei
aproveitou aquele momento para aprofundá-lo e correr sua língua pela boca
dela. Quando o ar ficou escasso, ele encerrou o beijo, admirando a maneira
como o corpo dela respondia ao seu.
— Você está deslumbrante — falou pela primeira vez desde que ela
entrou no cômodo. Seu rosto adquirindo um tom avermelhado, deixando-a
ainda mais convidativa.
Ela olhou por todo o cômodo e avistou os cálices de vinho. Precisava
de algo para subjugar sua timidez e encarar o que viria. Sabia que seria algo
doloroso, ouvira de muitas mulheres sobre o quão desconfortável era a
primeira vez que se deitava com um homem.
— Posso? — ela perguntou apontando para o vinho. O rei afastou-se e
se sentou na cama analisando-a, como um predador a sua presa.
— Fique à vontade — falou com a voz rouca de desejo. O sentimento
intenso de possuí-la como um animal selvagem, no entanto, duelava com a
parte lógica de sua mente que sabia que aquele momento seria delicado para
ela, e que teria que ser paciente. Não era um homem conhecido por ser
carinhoso ou cauteloso, mas ela era sua rainha e uma parte sua queria que
aquela noite ficasse positivamente marcada em sua mente, para sempre.
Somente por aquela razão ele contentou-se apenas em observar sua
tentativa de se acalmar enquanto caminhava até a mesa onde o vinho havia
sido depositado.
Katherine sorveu o vinho em um único gole, sentindo sua garganta
arder logo em seguida. Não havia para onde ou como fugir ou adiar o
inevitável. Timidamente, parou diante de Arthur que segurou sua mão e a
puxou para sentar-se em seu colo. Ele colocou com cuidado seu cabelo para
trás de sua orelha e passeou o nariz por seu pescoço para, logo em seguida,
depositar um beijo que pegou seu corpo desprevenido.
Sem pensar sobre isso, inclinou-se para que ele tivesse maior acesso e
mordiscou o lábio inferior quando ele descera uma de suas mãos e apertou
com firmeza sua coxa enquanto depositava uma trilha de beijos quentes por
seu pescoço, descendo até a clavícula.
— Deixe-me ver você — ele pediu com a voz rouca, incentivando-a
para que ficasse de pé, entre suas pernas. Delicadamente, soltou o laço de
seu robe e deixou que o pedaço fino de pano caísse no chão, revelando o
corpo totalmente nu de Katherine. Arthur ofegou diante da visão, passando
seus dedos ásperos contra a delicada pele, analisando cada reação do corpo
dela ao seu toque.
A rainha arfou surpresa quando ele chegou aos seus seios, aquilo sendo
o suficiente para que ele perdesse o pouco do controle que lhe restava. A
jovem foi puxada de forma brusca para a cama, tendo seu corpo coberto
pelo masculino logo em seguida. Não teve tempo para se recuperar da
surpresa quando a língua do rei percorreu toda a sua mandíbula e retornou
pelo caminho que trilhava antes.
Ela sentia sua pele quente devido a vergonha e o desejo que começava
a comandar seu corpo, sua respiração cada vez mais acelerada. Nunca havia
sentido nada parecido em sua vida. Arthur parecia faminto, exigindo cada
vez mais dela. Sendo guiado unicamente por seu intenso desejo,
vagarosamente, destinou seus beijos em direção aos fartos seios querendo
provar cada pedaço de sua pele.
Katherine abriu os olhos aflitos, observando suas intenções. Antes que
ela pudesse falar algo, sentiu algo rijo cutucar a sua coxa e, de repente,
pulsar. Não era preciso ninguém falar o que era. Em algum momento
durante as carícias ele havia se desfeito de seu próprio robe e seu órgão
agora roçava em sua perna. Um sentimento desconhecido assumiu os
sentidos da rainha naquele momento, que fez com que ela perdesse o pouco
de controle que possuía.
— Arthur — o nome saiu em meio ao gemido que escapou por seus
lábios.
O rei paralisou diante do modo que ela proferiu seu nome, em súplica,
como se nunca houvesse ouvido algo tão delicioso como o som ser proferido
por outra mulher. Os olhos deles se encontraram por um momento em um
misto de confusão, sensações inéditas e promessas mudas. Ela cedia aos
seus toques experientes e ele ansiava levá-la ao limite do prazer. Katherine
permitia-se entregar seu corpo e sua alma a ele, que desejava marcá-la como
um animal fazia com seu território. Ela era sua conquista e iria saboreá-la da
melhor maneira possível.
Ainda fitando seus olhos, ele enfim desceu seus lábios para os seios
dela, beijando os mamilos rosados. Sentiu o quadril inconscientemente
mover-se sob seu corpo, o que fez com que ele rosnasse, a realização
abatendo-se sobre si naquele momento. Uma única noite não seria capaz de
saciar o seu desejo por ela. O rei pretendia possuir seu corpo até ela cair em
exaustão e algo sussurrava em seu interior que nem mesmo isso seria o
suficiente.
— Meu rei — um murmúrio suave escapou de Katherine em uma nova
mistura de súplica e excitação.
Ele sorriu e abocanhou-lhe o seio direito como um filhote faminto
enquanto sua mão massageava o seio esquerdo que se encaixava
perfeitamente. Katherine sentia-se completamente submersa na densa névoa
de prazer que dominava todo o ambiente, estando tão concentrada nas
sensações que percorriam seu corpo com contato de sua boca quente contra
o mamilo que soltou um grito de surpresa e dor quando ele dera uma
pequena mordida, logo em seguida voltando a sugar. Dor e prazer
incendiavam seu âmago, seus gemidos ecoando pelo ambiente como uma
sinfonia erótica.
Todo o seu corpo enrijeceu quando o rei abandonou ambos os seios e
começou a descer os beijos e suaves mordidas pela extensão de sua barriga
plana até chegar ao meio de suas pernas, seu primeiro instinto sendo de
fechá-las imediatamente. Arthur a olhou de forma selvagem e abriu suas
pernas novamente.
— Quero suas pernas abertas, exatamente assim — comandou firme. A
jovem reunira a coragem que não possuía e, se esforçando para deixar a
vergonha de lado, tentou manter as pernas naquela posição, ansiosa e
temerosa. Algo em sua mente não a permitia compreender a razão para que
um rei poderoso como ele se prestaria ao papel de ajoelhar-se diante de uma
mulher, mesmo está sendo sua rainha.
Para o rei, aquela não era uma situação inédita. Não lhe era habitual,
obviamente. Contudo, ali com Katherine, seus instintos mais primitivos
eram despertados e ele precisava saber se ela era tão deliciosa como o cheiro
de sua excitação, que já se espalhava pelo cômodo, indicava. Sentia suas
coxas tensas, então beijou delicadamente os pelos curtos em seu sexo,
passeando a mão pela extensão de sua perna firme e macia para que ela
voltasse a relaxar. Cuidadosamente, parou e moveu suas pernas para cima,
de forma que seus pés ficassem plantados sobre o colchão.
Katherine arfou ao ver a cena, nunca havia se sentido tão exposta. Tal
posição fazia com que ela estivesse completamente aberta para um homem,
um rei, seu rei. Os olhos de Arthur transformaram-se em um cinza mais
escuro diante da visão, observando como sua excitação escorria pela
feminilidade rosada.
Katherine experimentava um misto de sensações que não conseguia
nomear, estas que apenas ficavam ainda mais intensas; um frio em sua
barriga que se mesclava ao calor que emanava de seu baixo ventre; um ardor
na garganta que se misturava ao torpor de seus seios, ainda conseguindo
senti-los túrgidos após as carícias intensas de Arthur.
Fechou os olhos ao sentir que algo a tocava ali e um murmúrio
desconexo saiu por seus lábios
— Deus — proferiu debilmente.
— Arthur. O único nome que quero que saia de seus lábios hoje é o
meu — o rei corrigiu de maneira possessiva, logo em seguida percorrendo
seu dedo por seus grandes lábios. Sentia-se enfeitiçado. Todas as mulheres
que passaram por sua cama sempre se mostravam extremamente prontas e
solicitas, desejando fazer tudo em seu alcance para o agradar. Mas com
Katherine era totalmente diferente.
Sem conseguir se conter mais, projetou a língua e tocou-lhe o clitóris,
fazendo a rainha abrir os olhos rapidamente em total espanto com o contato,
ofegante com a sensação inédita.
— Oh Deus! — ela arfou e um grito surpreso saiu asperamente de sua
garganta.
— Arthur — corrigiu novamente, parando seus movimentos. — Não
quero castigá-la por isso, querida — falou, e antes que as palavras fossem
processadas por ela, ele voltou a percorrer toda a extensão de sua
intimidade. — Apenas Arthur. — Penetrou-a com a ponta da língua
endurecida, fazendo com que ambos fossem envoltos por uma onda
luxuriosa que beirava à selvageria. Em seguida, voltou ao clitóris fazendo
círculos de forma precisa, roubando assim um gemido mais alto da mulher.
— É realmente tão deliciosa quanto eu imaginei, Katherine. — Ele
cheirou a carne exposta e inebriou-se com a fragrância. — Já consigo me
imaginar entrando e saindo de você.
— Oh, eu... — Katherine balbuciou imersa em uma névoa de prazer e
surpresa pelo palavreado do rei.
Arthur observou o efeito que aquelas palavras provocaram no corpo da
jovem, seu sexo quase instantaneamente mais lubrificado, seu peito
tornando-se freneticamente arfante, seu colo e sua face extremamente
avermelhados. Continuou com os movimentos em seu clitóris enquanto
inseria dois dedos em seu estreito canal, quando percebeu que seu corpo
começou a se contrair e seus dedos a serem esmagados, aumentando o
ritmo.
Katherine gritou seu nome, sendo o estopim para que ele perdesse o
controle. Enquanto a mulher se contorcia sobre a cama envolta nas
sensações ocasionadas por seu primeiro orgasmo, Arthur continuou com os
movimentos, levantando seu rosto ao sentir-se satisfeito, lambendo os lábios
em deleite. Aguardou que ela se recuperasse, sua respiração arfante, seu
corpo brilhante graças a uma fina camada de suor, com seus longos cabelos
espalhados sobre o colchão. Ela poderia ser considerada uma feiticeira, pois,
naquele momento, qualquer mero mortal seria vítima de seus encantos.
Seus olhos se abriram vagarosamente ao passo que sua respiração se
normalizava, encontrando o monarca pairando sobre si, olhando-a de forma
faminta.
— A noite está apenas começando, querida, e eu desejo possuí-la de
todas as formas possíveis. Eu quero você, e a quero agora — ele rosnou
como se não conseguisse esperar nem mais um segundo para tomá-la.
Levada pelo momento, Katherine o puxou para um beijo, sabendo
exatamente o que fazia daquela vez.
— Você será a minha morte, pequena feiticeira!
Posicionou-se sobre o corpo quente da rainha e gemeu quando sentiu a
pequena mão acariciando intimamente seus cabelos, descendo pelos seus
ombros e costas em uma tímida exploração, sem saber que suas mãos eram
como labaredas de fogo pelo caminho que percorriam. A feiticeira sob si era
perversamente inocente o suficiente para tomar a iniciativa de abrir as
pernas para acomodá-lo melhor. Sorriu satisfeito ao perceber que ela
aprendia rápido a lição.
Ansioso para senti-la em torno de si, roçou a glande inchada sobre a
entrada úmida e quente da rainha, que arfou ao sentir o contato e
automaticamente ficou rígida embaixo dele. Medo. Ela exalava medo e era
praticamente palpável. Não queria sentir dor. Em uma tentativa de fazê-la
relaxar, se inclinou e percorreu o caminho desde sua orelha até seu ombro
nu com beijos molhados.
O corpo dela se arrepiou, relaxando com o contato. Ele sorriu e
matreiramente esfregou a cabeça de seu órgão no sexo de Katherine,
afastando os grandes lábios, alojando-se entre eles. Seus fluídos se
misturaram, envolvendo ambos em uma onda arrebatadora de excitação.
— Olhe para mim, Katherine, e diga quem vai fazê-la mulher. Quem
vai invadir esse corpo quente? — O rei apertou um de seus seios. — Diga
meu nome. Quero ouvir você gritar meu nome quando eu estiver invadindo-
a.
Se Katherine estivesse moralmente consciente, teria rechaçado aquelas
palavras vis. Mas, naquele momento, estava em uma neblina de puro prazer
e luxúria e, em meio ao seu torpor, tais palavras causaram o efeito oposto e
atingiram diretamente algum ponto vibrante de seu íntimo.
— Você, Arthur. Apenas você. — Não havia noção de tempo ou de
espaço naquele momento, o desejo quase incontrolável de que Arthur se
afundasse em seu interior para aplacar o fogo em seu âmago se
solidificando, intensificando-se.
Aquela resposta liberara o animal que o homem tentara a todo custo
conter. E, sem que pudesse esperar mais um segundo, projetou seu quadril
de forma curta e precisa. Katherine gritou assustada e ele parou o
movimento imediatamente.
— Acabou? — ela perguntou de forma inocente enquanto uma lágrima
fazia um caminho por sua bochecha, seus olhos repletos de dor enquanto
tentava respirar com dificuldade.
— Não... Diabos, não... — Arthur murmurou, seus olhos percorrendo o
rosto de Katherine, e em uma tentativa de fazê-la relaxar novamente, beijou
seus lábios com adoração. — Não entrei nem metade, querida. —
Completou contra a boca dela, notando-a franzi a testa em resposta. Tal ato
estava exigindo um esforço hercúleo de sua parte, fazendo com que o suor
brotasse em cascatas por suas costas.
— Arthur, apenas continue... — a rainha sussurrou fracamente,
sentindo-o em seu interior tentando alargá-la, um ardor intenso naquela
região.
— Eu já rompi sua barreira, acostume-se com meu membro dentro de
ti... não irá mais doer. — Ele se inclinou e abocanhou seus seios, entrando
totalmente em uma única estocada dentro dela.
Katherine mordeu fortemente seu lábio inferior, sentindo o gosto de
sangue invadir seu paladar, sentindo-se invadida por algo muito maior do
que poderia suportar. A dor, como ele dissera, estava diminuindo, uma nova
sensação começando a assumir todo o seu corpo. Uma necessidade
sutilmente iniciada, mas que se alastrava rapidamente por seu baixo ventre.
— Eu mal posso me segurar, você está tão quente e molhada. —
Moveu-se vagarosamente para fora e depois para dentro, fazendo um
gemido escapar da jovem.
— Arthur... — Suas unhas se cravaram em suas costas.
— Isso, Katherine. Apenas sinta como você engole meu membro por
inteiro. — Movendo-se daquela vez de forma mais rápida, estocando de
maneira forte e precisa contra o corpo feminino. — É realmente deliciosa,
mulher.
Mulher. Katherine sorriu. Não era mais uma criança, era agora uma
mulher. Se as expressões de prazer de seu marido fossem um indicativo
seguro — e eram — , ele também se encontrava completamente imerso na
névoa de prazer e luxúria animalesca que regia o ambiente e o fato de saber
que era ela a responsável por isso fez com que adquirisse um pouco mais de
confiança.
Arthur colocou uma de suas pernas em seu ombro, fazendo com que
seu membro atingisse um ponto diferente e desconhecido dentro de si.
Inclinou a cabeça para trás enquanto palavras sem nexo saiam de sua boca,
sentindo um novo formigamento iniciar em seu baixo ventre.
— Mais rápido — pediu debilmente, fazendo com que o rei rugisse em
contentamento e aumentasse a velocidade, elevando o prazer de ambos.
Gritando o nome de seu rei, Katherine arqueou as costas e deixou-se levar
pelo redemoinho sufocante que era aquele orgasmo, ainda mais poderoso e
intenso que o primeiro. Sentiu Arthur aumentar a velocidade de suas
estocadas enquanto abaixava sua cabeça para morder dolorosamente seu
ombro, abafando um gemido. Sabia que aquilo lhe deixaria com uma marca,
contudo não se importou com o fato. Depois de mais algumas investidas,
sentiu-se sendo preenchida por seu líquido quente ao passo que o ritmo do
rei diminuía seus movimentos até cessar completamente.
Ambos estavam com a respiração acelerada.
Delicadamente, Arthur se retirou de dentro da esposa, um pequeno
gemido de frustração escapou de seus lábios. O rei deu um sorriso
presunçoso ao pegar uma toalha úmida e limpar as partes íntimas de sua
esposa com uma delicadeza desconhecida para ele mesmo, nunca tinha se
preocupado ou feito algo do tipo antes, mas o sorriso cansado e feliz de
Katherine despertava sentimentos de proteção há muito adormecidos dentro
dele.
— Não se preocupe, esposa, pois eu pretendo possuí-la por toda a
noite.
— Meu rei, eu não sei se aguento mais...
— Você aguenta sim, querida. — Para provar seu ponto, desceu a mão
até chegar ao seu centro, um gemido ecoando por seus lábios enquanto ele
acariciava toda a extensão de seu sexo, fazendo-a umedecer aos poucos. —
Você está tão pronta para mim — sussurrou em sua orelha, mordendo seu
lóbulo em seguida. — Quero você sentada em cima de mim, agora.
Katherine rapidamente arregalou os olhos, saindo do choque causado
por suas palavras e, com sua ajuda, conseguiu posicionar-se sobre o quadril
de Arthur, suas pernas uma de cada lado de seu corpo, conforme ele a
conduzia. Não imaginou que fosse possível se sentir mais completa e
preenchida por ele, provando-se deliciosamente errada ao senti-lo ocupando
cada parte ínfima de si.
— Você está me apertando todo. Tão deliciosa, agora tome seu prazer,
e cavalgue em mim.
Katherine ficou parada, não sabendo exatamente o que ou como
deveria fazer. — Eu não sei como — falou de forma baixa e tímida, Arthur
apenas abriu um sorriso e segurou sua cintura com firmeza.
— Eu vou lhe ensinar como, minha querida. Apenas relaxe e deixe que
eu te guie.
E como prometido ele a ajudou a subir e descer em seu membro,
primeiro devagar para que ela se acostumasse e, aos poucos, acelerando o
ritmo.
Aquilo era demais para ela, que se sentia completamente preenchida.
Ele conseguia ir ainda mais fundo naquela posição, jogando a cabeça para
trás instintivamente, cravando suas unhas nas pernas do rei enquanto gemia
descontroladamente. Ele a olhava enfeitiçado; aquela sendo a cena mais
bonita que já havia tido o prazer de ver, com seus seios pulando a cada
investida, seu corpo deliciosamente suado com fios de seus cabelos
grudados em sua face corada; sua boca pecaminosa e avermelhada
semiaberta permitia o ecoar de suas lamúrias. Arthur percebeu que sua
libertação se aproximava, rolando-os de forma que ele se encontrasse
novamente sobre seu corpo.
Acelerou o ritmo das investidas, sentindo-se como um animal naquele
momento. Sabia que poderia machucá-la se perdesse completamente o
controle, mas seu cérebro não conseguia raciocinar direito quando a sentia
esmagar seu membro em seu interior inconscientemente, gritando seu nome
em verdadeiro êxtase. Aquele fora seu ponto de ruptura para que ambos
alcançassem o ápice quase em conjunto. O rei urrou de puro prazer antes de
desabar sobre seu pequeno corpo.
Apoiou seu peso em seus braços após se recuperar da onda
avassaladora, lentamente retirando-se de seu interior, percebendo que um
ínfimo sorriso satisfeito enfeitava os lábios de sua feiticeira, que mantinha
seus olhos estreitos, quase fechados em uma batalha já perdida contra o
cansaço. Ela estava exausta.
— Durma, pequena feiticeira — Katherine ouviu a voz de Arthur soar
ao longe em seu ouvido. Estava tão cansada que quase não sentiu quando ele
a limpou pela segunda vez. Depois de alguns segundos sentiu algo que ela
supôs ser um lençol de fios finos cobrir seus corpos antes de navegar na
escuridão, o sentimento de plenitude e realização inundando todo o seu
corpo, proporcionando-lhe experimentar um momentâneo estado de paz.
Naquele momento, a rainha percebeu que não havia entregado somente seu
corpo para o marido, seus sentimentos também haviam entrado na equação.
CAPÍTULO 04

Olhando aquele pequeno corpo ressonando baixinho na cama, com o


rosto totalmente relaxado parecendo um anjo, ninguém poderia imaginar
como ela entregou-se para o rei na noite anterior. Só de relembrar, Arthur
sentia seu membro dar sinal de vida. Ele poderia não nutrir sentimentos por
ela, mas obviamente a desejava.
— Pequena feiticeira — murmurou para si mesmo, levantando-se da
poltrona que ocupava e de onde a observava. Precisava resolver alguns
assuntos importantes, sem contar que muitos dos nobres que vieram para o
casamento ainda estavam hospedados no castelo. Mas antes de qualquer
outra coisa, iria determinar a uma ama para preparar seu banho e levar seu
café da manhã na cama, já que ela certamente acordaria faminta após as
atividades da noite anterior. Com esse pensamento, saiu do quarto com um
sorriso brincando em seus lábios.
— Majestade, supus que iria tirar o dia para aproveitar a vossa lua de
mel — Theo falou depois de fazer uma breve reverência quando o rei
adentrou a sala de reuniões.
— Não posso permanecer na cama enquanto aquele crápula continuar
dentro do meu reino — falou, referindo-se a Kaleb. Muitos reis e lordes
haviam partido no início da manhã, todavia, obviamente o rei de Aurun
estaria aproveitando cada oportunidade da hospitalidade momentânea para
permanecer no castelo.
— Durante o café da manhã ele aproveitou para conversar com muitos
dos reis que permaneceram no castelo, e isso não é bom. Ele pode estar
tentando formar novas alianças e, caso isso aconteça, ele pode vir a se tornar
uma ameaça ainda maior, majestade — o conselheiro comentou enquanto
avaliava o mapa de Clouderin com atenção.
— Destruirei Kaleb bem antes do que ele pode imaginar — Arthur
brandiu furiosamente, voltando sua atenção para analisar o mapa sobre a
mesa.
Toda Clouderin era composta por quatorze reinos, sendo quatro deles
no Oeste: Os reinos de Hollerun, Korkkule, Witchling e Seadorn do Oeste.
Todos os reinos eram independentes, embora fosse de conhecimento geral
que, se um dia uma guerra viesse a assolar o continente, eles iriam se unir
com os reinos do Leste, onde mantinham a maior parte de suas negociações
comerciais.
Então vinha o Sul, composto apenas por dois reinos: Flowerin e
Raveband, que não tinham alianças formadas com nenhum outro reino. No
entanto, tentavam viver em harmonia com os demais, colocando, muitas
vezes, em cheque para onde iria ser destinada sua lealdade em uma suposta
guerra.
Já o Leste era formado por três reinos: Aurun, Catmand e Gaienne. Há
gerações, o reino de Aurun — Governado por Kaleb — possuía a lealdade
dos demais, tornando-se assim o maior inimigo de Arthur, sendo o protetor
do Leste.
E por último, havia o Norte, composto por cinco reinos: Marcheby
jurara lealdade a Irony desde os tempos de seus pais. Com este casamento,
Acquata havia se unificado ao reino, trazendo junto consigo Kievvien, que
pertencia ao irmão da Rainha Antonella e que era leal ao reino das águas.
Apenas o rei de Seadorn do Norte não era leal a nenhum outro, contudo,
mantinha com os demais uma relação de paz. Levando isso em
consideração, Acquata e Irony haviam se tornando os reinos mais poderosos
de toda Clouderin.
— Aquele velho tolo insiste em não manter alianças com ninguém.
Acredita que pode ser totalmente independente — Arthur falou, referindo-se
ao rei Ricardo de Seadorn do Norte. — Apenas aquele reino impede que eu
seja o protetor do Norte.
— Vossa majestade não pode se esquecer do rei Kyros — alertou o
conselheiro, que ainda analisava o mapa e as possíveis fraquezas dos reinos
do Leste.
— Katherine é a única herdeira do trono e agora que ela é minha
esposa, em breve, eu reinarei sobre Acquata. É apenas uma questão de
tempo — o rei respondeu de forma despreocupada. Sua atenção imediata
estava em encontrar uma estratégia sólida que os permitiria conquistar
Seadorn do Norte para garantir completamente seu domínio sobre os três
reinos.
Após aquele momento, ambos engajaram em uma conversa, traçando a
melhor maneira para agir naquela conquista. Arthur, pessoalmente, faria
uma visita ao rei de Seadorn do Norte e mostraria suas reais intenções. Uma
aliança com juramento de lealdade da parte dele era a coisa mais sensata a
se fazer, evitando assim um grande derramamento de sangue. E, se aquilo
não funcionasse... ele se chamava Arthur de Fernsby e sempre possuía em
seus planos uma rota alternativa para conseguir aquilo que desejava.
Rei Ricardo possuía dois filhos na linha de sucessão direta. A estratégia
inicialmente adotada se daria por meio de seu poder de persuasão através
das palavras e, se ainda assim eles se negassem a jurar lealdade de forma
pacífica, o segundo curso a ser tomado seria o de formar um cerco ao redor
de Seadorn do Norte, privando-os tanto da água como de provisões. Mas se
mesmo assim eles ainda encontrassem uma forma de resistir aos avanços de
Irony, Arthur estaria mais que disposto a invadir o reino e matar sem
misericórdia Ricardo e toda sua linha sucessória.
Por bem ou por mal, eu conquistarei aquelas terras.
Sorriu com o pensamento de sangue sendo derramado, uma onda
potente de adrenalina percorrendo por seu corpo automaticamente, quase
tremendo em antecipação. A discussão de todos os detalhes fizeram com
que o resto da manhã transcorresse rapidamente em um borrão, quase
permitindo que o rei esquecesse que seu maior inimigo permanecia
temporariamente dentro de seu castelo, caminhando livremente por seus
corredores.

Katherine abriu vagarosamente seus olhos quando os raios solares


invadiram seu quarto, percebendo tardiamente que sua ama havia aberto as
cortinas, permitindo que uma brisa fresca adentrasse no cômodo.
Espreguiçou-se, sentindo seu corpo cansado, um sorriso bobo aparecendo
em seus lábios ao recordar a razão de estar dolorosamente satisfeita naquela
manhã.
Arthur.
— Bom dia, Vossa Majestade, trouxe seu desjejum — Lua anunciou
sua presença apontando para a bandeja posta à mesa ao lado da cama
composta por frutas, torrada e suco. — Estou terminando de preparar o
vosso banho. Deseja comer primeiro?
— Não, Lua, eu realmente preciso de um banho. — Sentiu suas
bochechas levemente aquecidas quando a criada sorriu de maneira cúmplice
para sua senhora e adicionara a essência de rosas e ervas a água morna na
banheira. Quando Katherine deixou o lençol cair, mostrando seu corpo nu,
Lua soltou um pequeno grito.
— Minha senhora! — exclamou ao ver o corpo coberto de hematomas
da rainha, seu quadril estava arroxeado assim como partes de seus seios,
pescoço e coxas, que alternavam entre amarelo e arroxeado. Por ter a pele
clara, o aparecimento de hematomas era comum, e Katherine olhou
alarmada para o próprio corpo, sorrindo em seguida ao lembrar das
atividades realizadas na noite anterior.
— Tenha calma, Lua, eu estou bem. Mais que bem, eu me sinto...
completa — falou por fim, tentando encontrar uma palavra melhor que
descrevesse como se sentia. Entrou na banheira e sentiu seu corpo dolorido
relaxar instantaneamente.
— Isso significa que a vossa noite com o rei...
— Foi a melhor experiência de toda a minha vida. Nunca imaginei que
pudesse ser assim ao me deitar com um homem, as sensações, tudo o que ele
me fez sentir, Lua, acho que estou apaixonada — falou rapidamente,
interrompendo o que a criada dizia, esta que sorriu com empolgação da
rainha.
— Por sua feição consigo perceber. Seu rosto parece se iluminar só em
pronunciar o nome do rei. Porém, teremos que escolher com cuidado um
vestido que possa cobrir todas essas marcas — comentou, imaginando os
possíveis modelos que a jovem poderia utilizar.
— De fato, não é indicado que essas marcas sejam visíveis,
principalmente em uma rainha. Vou precisar usar algo no pescoço, um colar
talvez — Katherine ponderou, então fez aquilo que mais amava na hora do
banho, submergiu totalmente na água, permitiu que seu corpo afundasse
lentamente enquanto soltava o ar cuidadosamente e ali sentiu-se totalmente
inteira novamente. Não soube dizer quanto tempo ficou dentro da banheira,
sempre perdia a noção do tempo quando fazia isso, todavia voltou a
superfície, um sorriso em seus lábios. Quando terminou seu banho, um
tecido grosso foi colocado sobre seus ombros, cobrindo seu corpo.
Após estar devidamente vestida, seus cabelos estavam sendo
arrumados com perfeição por sua ama, que mantinha um sorriso afável em
seus lábios.
— Quero estar o mais bonita possível. Quero que Arthur me ache a
mulher mais agradável em que ele já pôs os olhos.
Como pudera, em uma única noite, vê-lo sob uma nova perspectiva?
Antes do casamento, a jovem sentia sim afeto e carinho para com o rei,
porém agora, depois de tudo o que fizeram juntos na noite anterior, a rainha
sentia que havia entregado não somente seu corpo para ele, mas também sua
alma.
— Isso não será uma tarefa difícil minha rainha, afinal, vossa
majestade é estonteante. Nenhum homem resiste aos vossos encantos —
afirmou a ama, terminando o penteado nos cabelos de Katherine,
procurando por braceletes que pudessem combinar com o vestido vermelho
que havia sido escolhido para o dia.
— Em que período do dia é agora? — perguntou curiosa, olhando o sol
a pino no céu através da janela aberta.
— Estamos no horário do almoço, majestade.
— Preciso me apressar. Desejo ver meus pais antes que eles partam —
falou já se colocando de pé.
Uma batida encerrou a conversa de ambas, com Lua correndo para
abrir a porta fazendo uma reverência, permitindo que a rainha Antonella
adentrasse nos aposentos reais.
— Minha querida, você está radiante! — a mais velha falou ao se
aproximar da filha, pegando seu rosto entre suas mãos, analisando o sorriso
esfuziante dela. O medo de como sua filha estaria após sua primeira noite
deixara seu coração angustiado, afinal, nem todas possuíam o privilégio de
ter um homem gentil e compreensível em sua primeira vez. Mas ao ver
como Katherine sorria, o alívio instalou-se em seu peito, permitindo que
seus músculos relaxassem sob o vestido.
— Minha mãe — Katherine falou esticando os braços para envolvê-la
em um abraço. — Estava com medo de vocês já terem partido — murmurou
com o queixo apoiado sobre o ombro da outra.
— Não, filha. Alguns lordes ainda se encontram no castelo, vão servir
o almoço para todos no salão principal, por isso estou aqui. Vim buscar
você, agora é a rainha deste castelo e precisa estar lá para recepcioná-los. —
Segurou a mão da filha, conduzindo-a para fora do quarto assim que sua
delicada tiara fora colocada sobre seus cabelos, ambas caminhando de
braços dados pelo corredor de forma cúmplice, quando Antonella parou
abruptamente.
— Algo errado, mamãe?
— Não, minha filha. Apenas lembrei que seu pai foi à sala de reuniões
para se encontrar com o rei Arthur e seu conselheiro. Irei ao encontro deles
para avisar que a refeição será posta à mesa em breve. Tenho certeza de que
se for permitido, eles passarão o dia inteiro enfurnados naquela sala.
Enquanto isso, você deve recepcionar os lordes no salão — rainha Antonella
comandou, depositando em seguida um suave beijo no rosto da filha,
seguindo o caminho no sentido oposto.
Katherine respirou fundo. O fato de agora ser a rainha de Irony ainda
não havia sido registrado completamente em sua mente. Precisava
rapidamente tomar conhecimento sobre o funcionamento das atividades no
castelo e realizar uma visita ao povo assim que fosse possível. Havia
aprendido, outrora, que a base de todo reino era seu povo e, faria o que
estivesse ao seu alcance para que suas necessidades fossem atendidas.
Ao cruzar um corredor, seu corpo fora de encontro ao de uma moça
bonita com longos cabelos loiros e belos olhos verdes, suas vestes deixando
claro que se tratava de uma lady. A mulher desconhecida a olhou dos pés à
cabeça como se a analisasse criticamente.
— Vossa Majestade — falou após prestar uma reverência, mantendo
um sorriso cínico em seus lábios. Antes que a rainha pudesse se pronunciar,
a mulher dera as costas e saiu caminhando pelo longo corredor. Katherine
puxou uma profunda inspiração antes de continuar seu trajeto. Ela era a
rainha. Não havia razões para se preocupar com aquela mulher
desconhecida, seja ela quem quer fosse.
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Caralho
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Matheus, qual é a porra do seu problema?
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idiotas!
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cara.
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Muita sorte
[54]
É claro
[55]
uma outra coisa
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Eles
[57]
Eu posso ouvir você
[58]
Ela se foi
[59]
Não mais
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seus homens
[61]
quero
[62]
fodida
[63]
você faz sexo
[64]
Malditamente
[65]
Sentem-se
[66]
Porra, querida
[67]
semanalmente
[68]
semanal
[69]
O que foi agora?
[70]
namorada
[71]
certo?
[72]
idiota.
[73]
um homem morto
[74]
Deus, isso seria quente.
[75]
melhor amigo
[76]
Sim, porque é verdade.
[77]
Eu preciso de você, Bruna.
[78]
Bom Deus
[79]
Maldição.
[80]
Eu sinto muito, querida.
[81]
Caralho
[82]
Idiota
[83]
lindo
[84]
Não ouse fazer isso.
[85]
Tarde demais
[86]
Malditamente
[87]
Cara
[88]
Querida
[89]
Que se foda esse leilão.
[90]
Tem que haver.
[91]
Eu sinto muito
[92]
Desgraçado
[93]
Ela está viva e bem.
[94]
Elas estão bem
[95]
A dona do meu coração
[96]
Maldição
[97]
Viva, ela está viva!
[98]
Eu insisti, pai.
[99]
Está me ouvindo?
[100]
Eu não posso perdê-la, irmão.
[101]
Você não vai
[102]
Está me ouvindo
[103]
Eu estou apavorado
[104]
Estou aqui com você
[105]
caralho
[106]
maldito fodido
[107]
Por meu querido irmão
[108]
Eu também sou um Mancini e dono da porra desta empresa.
[109]
Comeu merda nos últimos dias?
[110]
Vai se fuder
[111]
Você não é o chefe dele, eu que sou, porra!
[112]
Eu sou o dono dessa empresa, então claramente também sou o
chefe dos seus funcionários.
[113]
sete anos
[114]
idiota
[115]
Hoje não é o meu dia, porra.
[116]
Isso não vai mudar nada
[117]
Caralho nenhum
[118]
Não posso fazer isso.
[119]
Não ouse me julgar por isso.
[120]
Covarde?!
[121]
Eu estou passando pelo inferno, Sofia.
[122]
Semanas
[123]
Amanda não está bem.
[124]
Isso é o que você chama de viver?
[125]
Não volte
[126]
Foda-se as suas desculpas.
[127]
Por tudo o que é mais sagrado.
[128]
Ela está bem. Precisa estar bem.
[129]
malditos
[130]
Ela está acordada
[131]
Porra! Você voltou para mim.
[132]
Meu amor, está na hora dos seus remédios.
[133]
irmãzinha
[134]
Eu estava realmente muito
[135]
querida
[136]
prima
[137]
Irmãzinha, estava com saudades
[138]
Você não consegue mais viver sem mim.
[139]
Não é minha culpa se sou melhor que você.
[140]
mulher da minha vida.
[141]
Você é tudo em minha vida
[142]
Eu sou sua
Table of Contents
Nota
Capítulo 01
Bruna
Anthony
Capítulo 02
Bruna
Capítulo 03
Bruna
Anthony
Bruna
Capítulo 04
Bruna
Capítulo 05
Anthony
Bruna
Capítulo 06
Beatriz
Bruna
Capítulo 07
Anthony
Capítulo 08
Bruna
Capítulo 09
Anthony
Capítulo 10
Bruna
Capítulo 11
Bruna
Anthony
Capítulo 12
Anthony
Capítulo 13
Anthony
Capítulo 14
Bruna
Capítulo 15
Anthony
Capítulo 16
Bruna
Capítulo 17
Anthony
Capítulo 18
Anthony
Bruna
Capítulo 19
Anthony
Capítulo 20
Bruna
Capítulo 21
Bruna
Capítulo 22
Anthony
Bruna
Capítulo 23
Bruna
Anthony
Capítulo 24
Bruna
Anthony
Capítulo 25
Anthony
Amanda
Capítulo 26
Lucca
Capítulo 27
Anthony
Bruna
Capítulo 28
Anthony
Bruna
Epílogo
Anthony
Agradecimentos

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