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NBR 15575:2013

Os impactos da Norma de
Desempenho no Setor da
1
Arquitetura e Engenharia Consultiva
::
Sinaenco Nacional
José Roberto Bernasconi – Presidente

Sinaenco Regional SP
Carlos Roberto Soares Mingione - Presidente do Sinaenco/SP

Coordenador do Grupo de Trabalho


Ricardo Hunziker

Está é uma publicação do Sinaenco e a reprodução deste conteúdo, em sua totalidade ou


parte dele, é permitida desde que citada a fonte.

2 Julho de 2015
::
Grupo de Trabalho da Norma de Desempenho / GT- SINAENCO

SINAENCO e SINAENCO/PE
Michelle Pinheiro Pessôa

SINAENCO/SP
Carlos Roberto Soares Mingione
Claudinei Florencio
Cleber Garcez
Eduardo Martins
Fabio Giannini
Fernando Jardim Mentone
Luciano Alcazar Tani
Maria Amalia Sá Moreira
Orlando Botelho
Ricardo Hunziker
Ricardo França
Stella Maris Miguél Lopez
Roberto de Castro Mello

SINAENCO/MG
Emmerson Ferreira da Silva

SINAENCO/RS
Ricardo Santiago

ABECE
Marcelo Rozenberg

ABRATEC
Rogério Perini
Gisele Galvão
Heloisa Bolorino
Luis Borin

ABRASIP
Sérgio Kater

AGESC
Cecília Levy

ASBEA
Edison Borges Lopes

FERCAB
Carlos Henrique Raguza

PRÓ ACUSTICA
Davi Akkerman
3
::
APOIADORES

EXPEDIENTE: SIGLAS:
ABECE
Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura Associação Brasileira de Engenharia Estrutural
e Engenharia Consultiva - SINAENCO
ABRASIP
Rua Marquês de Itu, 70, 3º. andar Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais
ABRATEC
01223-000 - São Paulo - SP Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia
11 3123-9200 da Construção Civil
sinaenco@sinaenco.com.br AGESC
Associação Brasileira dos Gestores e Coordenadores de Projeto
www.sinaenco.com.br
ASBEA
Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura
Departamento de Estudos Econômicos: FERCAB
Ferreira Cabral, Raguza & Monteiro Sociedade de Advogados
Pâmela C. Barbosa Felício
PRÓ ACUSTICA
Associação Brasileira de Qualidade Acústica
SINAENCO
Nacional
SINAENCO/MG
Regional Minas Gerais
SINAENCO/PE
Regional Pernambuco
SINAENCO/RS
Regional Rio Grande do Sul
SINAENCO/SP
4 Regional São Paulo
::
Editorial

O SINAENCO Nacional promoveu uma


reflexão sobre os possíveis impactos da Nor-
ma de Desempenho no setor da Arquitetura
e Engenharia Consultiva, com a participação
dos representantes das regionais do sindicato,
através da adesão ao Grupo de Trabalho Nor-
ma de Desempenho, criado na regional de São
Paulo, mas que correspondia a uma demanda
nacional. Além dos representantes das regio-
nais, contou com integrantes das entidades
profissionais e empresariais, tais como: ABE-
CE, ABRASIP, ABRATEC, AGESC, ASBEA e
PROACÚSTICA.
Além das reuniões periódicas do GT, re-
presentantes do SINAENCO participaram de
discussões técnicas no Ministério das Cidades,
com assento presencial no CTECH (Comitê
Nacional de Desenvolvimento Tecnológico da
Habitação) e no CN-SIAC (Comissão Nacional
do Sistema de Avaliação da Conformidade de
Empresas de Serviços e Obras da Construção
Civil), com a oportunidade para opinar, anali-
sar e contribuir na elaboração de documentos
por esses órgãos produzidos.
Faz parte integrante dessa publicação,
além de informações referente à norma ABNT
NBR 15575:2013, uma coletânea de anexos,
contendo as manifestações das entidades
supracitadas, bem como alertas sobre o aspe-
cto jurídico.
Esse trabalho tem o objetivo de subsidiar
as empresas de Arquitetura e Engenharia Con-
sultiva para um melhor esclarecimento e se-
gurança na aplicação da norma em epígrafe, prin-
cipalmente quanto às definições das especi-
ficações para elaboração de projetos habita-
cionais, mitigando futuros riscos técnicos, admi-
nistrativos e jurídicos.
O SINAENCO Nacional se sente estimu-
lado a tornar público para as empresas filiadas Enga. Michelle Pinheiro Pessôa
e associadas esse trabalho, contribuindo com Vice-presidente de Ciência
5
melhores práticas empresariais. e Tecnologia do Sinaenco Nacional
::
Prefácio

Em vigência desde julho de 2013, e informações distintas daquelas fornecidas


a NBR 15.575 – Norma de Desempenho até pelos profissionais das áreas técnicas.
hoje é motivo de preocupação, dúvidas e ex- É preciso ressaltar que o trabalho desen-
pectativas entre dirigentes, colaboradores e volvido pelo grupo tem por objetivo difundir e
consultores de empresas associadas e filiadas conscientizar os dirigentes e profissionais da
ao Sinaenco. As incertezas relativas às mudan- arquitetura e engenharia consultiva sobre as
ças que podem advir com a vigência desta mudanças inerentes ao novo diploma norma-
norma técnica têm dado origem a inúmeros tivo. E os autores deste trabalho não tiveram
debates, que invariavelmente abordam ques- a intenção de produzir um manual ou roteiro,
tões relacionadas aos riscos profissionais e pois esta tarefa tem sido eficientemente cum-
empresariais, ao incremento dos custos, às prida pelas entidades associativas represen-
mudanças nos contratos, às dificuldades para tadas no Grupo de Trabalho.
atendimento das novas exigências e as possí- A presente publicação constitui-se no pri-
veis medidas para minimizar a probabilidade meiro produto elaborado pelo GT e consolida
de futuros problemas. Também têm sido men- os entendimentos e opiniões obtidos até a pre-
cionadas as novas oportunidades de trabalho sente etapa dos trabalhos. Os trabalhos do grupo
e a valorização dos serviços prestados pelas continuam e estamos programando eventos
empresas de arquitetura e engenharia consul- para interagir com os demais atores da cadeia
tiva, decorrentes do atendimento dos requisi- produtiva da construção habitacional (Sindus-
tos definidos na Norma de Desempenho. con, Secovi, Ministério das Cidades, Caixa
Diante deste ambiente em ebulição, foi Econômica Federal, CDHU, Abramat, Abrafati,
constituído um Grupo de Trabalho (GT) para Afeal etc).
analisar, debater e identificar os possíveis
impactos nos serviços desenvolvidos pelas
empresas representadas pelo Sinaenco.
Os trabalhos tiveram início com profissio-
nais ligados a empresas da Regional-SP, mas
rapidamente o grupo passou a contar com a
colaboração, presencial ou por videoconfe-
rência, de membros de outras regionais do
sindicato, adquirindo abrangência nacional. Nas
primeiras reuniões, concluiu-se que ao grupo
deveriam ser agregados profissionais atuantes
nas diversas especialidades técnicas envolvi-
das na produção de unidades habitacionais e,
portanto, foram contatadas entidades profis-
sionais e empresariais ligadas a estas ativida-
des, a saber: Abece, Abrasip, Abratec, Agesc,
AsBEA e ProAcústica. Destaca-se também a
participação de um profissional da área jurídi- Eng. Carlos Roberto Soares Mingione
6 ca, que complementou o trabalho com análises Presidente do SINAENCO - SP
::
Sumário

Editorial 5

Prefácio 6

1. Um breve histórico 8

2. Impactos sobre o setor de A&EC 9

2.1. Aspectos jurídicos 9

2.2. Visão sistêmica 11

2.3. Gestão 13

2.4. Capacitação 14

2.5. Riscos e valor 16

3. Recomendações gerais 17

4. Considerações finais 18

Anexo I. Manifestação da AsBEA sobre o impacto NBR 15575 na Arquitetura 19

Anexo II. Manifestação da Abece sobre o impacto da NBR 15575 na Estrutura 23

Anexo III. Manifestação da Abrasip sobre o impacto da NBR 15575 nas Instalações Prediais 25

Anexo IV. Manifestação da Abratec sobre o impacto da NBR 15575 no Controle Tecnológico 31

Anexo V. Manifestação do Sinaenco sobre o impacto da NBR 15575 no Gerenciamento 36

Anexo VI. Manifestação da ProAcústica sobre o impacto da NBR 15575 na Acústica 41

Anexo VII. Aspectos Jurídicos sobre a NBR 15575 44

7
::
Os impactos da Norma de Desempenho no
setor da arquitetura e engenharia consultiva

Autoria: GT Norma de Desempenho


Coordenação e Relatoria: Ricardo Hunziker

1. UM BREVE HISTÓRICO (projeto), cada subsistema – por exemplo, de


vedações internas e externas (paredes, estru-
Até entrar em vigor, a partir de 19 de Ju- turais ou não, com suas respectivas aberturas
lho de 2013, a NBR 15.575:2013 Edificações – portas e janelas) - terá um horizonte de
Habitacionais – Desempenho percorreu um vida a ser cumprido, mantendo seu desem-
longo caminho. Uma década transcorreu desde penho, desde que observadas as prescrições
os seus primeiros esboços, até que represen- de uso, operação e manutenção.
tantes dos setores da cadeia produtiva da A norma implica em responsabilidades
construção civil, o poder público, os agentes adicionais em relação às existentes até a sua
financeiros, as universidades, os institutos de entrada em vigor. Por isso, os agentes presen-
tecnologia e demais interessados convergiram tes na produção de edificações habitacionais
para a sua definição e conformação atual. identificam um acréscimo de risco no negócio.
Esse instrumento normativo, que norteia Mas, em contrapartida, vislumbram a neces-
todo o ciclo da realização da edificação habita- sidade de melhoria em todos os processos,
cional, ou seja, desde os projetos arquite- colocando em evidência as empresas que
tônico, estrutural, de instalações, entre outros, produzem com qualidade, visando ao aten-
até a conclusão da obra, e deverá referenciar dimento dos requisitos de desempenho da
a avaliação desse produto pelo usuário com- edificação ao longo da sua vida útil, definida
prador, foi desenvolvido no âmbito do Comitê em projeto.
Brasileiro da Construção Civil – ABNT/ CB-02. A qualidade dos produtos associada a um
A abrangência e os requisitos de desem- permanente aumento de eficiência certamente
penho nela caracterizados conferem à NBR serão atributos que irão diferenciar e privi-
15.575 grande potencial de impacto sobre os legiar as empresas que atuam com esses cri-
incorporadores, construtores, projetistas, fa- térios nos diversos setores da cadeia produtiva
bricantes de materiais, componentes e siste- da construção, cujo elo inicial, ou ponto de
mas e responsáveis pelo controle tecnológico. partida, é o projeto (arquitetônico e de enge-
Além desses atores, já presentes no processo nharia), responsável por definir a edificação
de implantação da edificação habitacional, a em suas características fundamentais (forma/
norma contempla também o usuário, inter- desenho, sistema construtivo, subsistemas
veniente novo a ser incumbido de responsa- componentes etc.). Esse movimento deverá
bilidade para o pleno cumprimento dos requi- induzir uma evolução tecnológica com benefí-
sitos. cios para as empresas e para a sociedade.
Por meio da caracterização das incum- O Sinaenco acompanha a implantação da
bências, a norma procura estabelecer respon- NBR 15.575 desde o início, quando sua dis-
sabilidade respectiva aos processos realizados cussão e repercussão foram introduzidas no
na produção e uso da edificação, ao longo da âmbito do Programa Brasileiro de Qualidade
Vida Útil de Projeto (VUP). A VUP define e Produtividade no Hábitat (PBQP-H). Com
então o prazo de tempo durante o qual a assento no Comitê Nacional de Desenvol-
edificação pode ser utilizada sob condições vimento Tecnológico da Habitação (Ctech), o
satisfatórias de segurança, saúde e higiene. Sinaenco participa, opina e contribui para a
O ciclo da edificação habitacional não se criação e implantação desse importante ins-
encerra mais na sua alienação ao usuário. Vai trumento de aprimoramento da qualidade na
além desse evento e, de acordo com os prazos construção de empreendimentos habitacio-
8 de VUP, estabelecidos na etapa de concepção nais.
::
Com representação nacional, o Sinaenco tiva. Além disso, integrantes do grupo, por
congrega, como sindicato patronal, as empre- intermédio de sua participação em outros fó-
sas de arquitetura e de consultoria de enge- runs, enriqueceram os debates, trazendo a ex-
nharia, que realizam estudos, projetos, ge- periência de outros setores e contribuindo para
renciamento e controle tecnológico. Cons- a evolução de toda a cadeia de produção de
titui-se assim importante ator no âmbito da edificações habitacionais.
cadeia produtiva da habitação e imprescindível Neste momento, o Grupo de Trabalho con-
parceiro para os demais integrantes, na reper- siderou que já havia acumulado material sufi-
cussão da NBR 15.575 e na avaliação de seus ciente para uma demandada divulgação do Re-
impactos, a fim de contribuir não apenas na latório Geral, consequente às reflexões e con-
adesão a esse referencial, mas principalmente tribuições geradas por esse fórum a partir da
no aprimoramento da construção habitacional análise da NBR 15.575.
como atividade primordial na formação do há-
bitat. Vale ressaltar, ainda, que a aderência
do setor de arquitetura e de engenharia 2. IMPACTOS SOBRE O SETOR DE A&EC
consultiva (A&EC) à Norma de Desempenho 2.1. Aspectos Jurídicos
não se processa sem algum grau de apreensão
e cautela. A realização de um empreendimento ha-
Se por um lado é certo que essa norma bitacional requer a contribuição de vários
irá demandar capacitação maior, com o con- agentes, que se relacionam, transferindo infor-
sequente acréscimo de valor, a atribuição de mações, bens e serviços. Não raramente tais
responsabilidade pelo desempenho representa transferências envolvem mais de uma organi-
um incremento de risco que necessariamente zação como, por exemplo, empreendedor
deve ser reconhecido, inicialmente pelo próprio (construtora e/ou incorporadora), fornece-
setor de A&EC, mas também pelo contratante, dores de bens e serviços, usuário, autoridade
pelas autoridades, pelos demais atores, pelo pública e concessionárias de serviços públicos.
usuário final e pela sociedade. É razoável esperar que, em sistemas com-
Nesse ambiente de estímulo ao conhe- plexos como esse, em que vários processos
cimento e ao desenvolvimento tecnológico, concorrem para a produção da edificação, haja
associado à atribuição de responsabilidade uma caracterização bem definida e preesta-
mais bem caracterizada e evidente, em abril belecida, para os respectivos produtos – proje-
de 2014 o Sinaenco criou o GT Norma de De- tos de arquitetura e de engenharia, sistema
sempenho. Ficava clara a necessidade de um construtivo, subsistemas hidrossanitários, de
fórum que pudesse repercutir a NBR 15.575 vedação (paredes, janelas, portas, reves-
entre as empresas filiadas e associadas ao timento e pintura), de transporte vertical (ele-
sindicato, realizar uma análise crítica desse vadores), de cobertura etc., que resultam des-
referencial, para efetuar uma avaliação de seu ses processos.
impacto sobre o setor e propor recomendações Na medida em que a atividade de produção
para uma devida e consequente aderência. se desdobra em especialidades, em busca de
Durante esse um ano de atividade, o GT eficiência e congregando competências, é re-
realizou 16 reuniões, que propiciaram ampla querido um protocolo de interação para os atores.
análise e discussão, e também estabeleceu e O termo “protocolo”, tão frequente hoje
estimulou a interação com associações de em- no âmbito da informática, sem o qual não se
9 presas de arquitetura e de engenharia consul- estabelece a comunicação entre os sistemas,
::
também serve para definir as regras de rela- cita a incumbência dos intervenientes: Forne-
cionamento entre as organizações interve- cedor de insumo, material, componentes e/
nientes. ou sistemas; Projetista; Construtor e incor-
Desde a antiguidade, a sociedade elabora porador; Usuário. (veja capítulo 5 da ABNT
e aprimora protocolos que regem os relaciona- NBR 15574-1: 2013)
mentos interpessoais, interempresariais e in- Nesse contexto de explicitação de res-
ternacionais. Tais interações são regidas por ponsabilidade, associada à VUP e à designação
contratos e leis que servem como referenciais do usuário como agente interveniente, é com-
para a validação da conformidade do forneci- preensível o surgimento de certa apreensão
mento. Em contrapartida, servem também envolvendo a cadeia produtiva da construção
para análise e julgamento de demandas que e, mais especificamente, o setor de arquitetura
contestem essa conformidade com o ajuste e engenharia consultiva.
celebrado. Vivemos um novo momento em que, a
A atribuição de responsabilidade é ine- partir de uma norma técnica, contratante e
rente ao relacionamento social e, na maioria fornecedor terão de validar a conformidade
dos casos, é caracterizada em leis, normas e do produto com os requisitos de desempenho.
instruções emanadas de autoridades compe- O usuário passará a exigir da habitação
tentes. Da mesma forma, estabelecem-se uma funcionalidade definida e explicitada em
penalidades e sanções correspondentes ao não projeto, mas em contrapartida terá de obser-
cumprimento do prescrito por esses instru- var as instruções de uso, operação e manu-
mentos de ordenação da sociedade. tenção, apresentadas em manual.
Assim é que, nesse contexto regulatório, A sociedade precisará estabelecer novas
desenvolveu-se e vem evoluindo a relação en- regras para administrar os conflitos e julgar
tre as organizações e, especificamente, entre as demandas por reparação de danos, que cer-
os agentes que se relacionam no ambiente de tamente surgirão.
produção da habitação. No entanto, esperamos que, rapidamente,
Surge então nesse cenário um novo refe- a turbulência e a instabilidade iniciais deem
rencial que altera o paradigma de concepção lugar a um ambiente de estabilidade e segu-
e realização desse tipo de edificação. Desde rança jurídica, em que se obtenha um aumento
19 de julho de 2013 entra em vigência a NBR significativo de qualidade da habitação e a
15.575 Edificações habitacionais – Desem- consequente valorização dos processos que
penho. determinaram tal evolução.
Com seu advento, é ressaltada a exigên-
cia de conformidade com os requisitos de de-
sempenho dos sistemas e ampliam-se os ho-
rizontes de tempo para a abrangência de res-
ponsabilidade, que não mais se restringe ao
prazo de garantia contratual e legal. O hori-
zonte contempla o período de Vida Útil de Pro-
jeto (VUP) e traz para o conjunto de interve-
nientes o usuário, com direitos, mas também
com responsabilidade.
Além de trazer uma nova visão, um novo
10 horizonte e um ator adicional, a norma expli-
::
desempenho da edificação para o seu usuário.
Não obstante isso, as Normas Técnicas Esse enfoque, no entanto, não elimina, mas
emanadas por entidades ou órgão até ressalta e evidencia o atendimento às nor-
reguladores reconhecidos são de mas prescritivas elaboradas no âmbito da As-
inquestionável relevância para as sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
relações jurídicas sociais, pois afetas à edificação habitacional.
estabelecem diretrizes, técnicas e Porém, a observância das normas pres-
padrão de qualidade que devem ser critivas, apesar de exigida e necessária, não
respeitados pelos diversos segmentos é suficiente para o atendimento aos requisitos
na indústria e prestadores de serviços. de desempenho, sejam eles mínimos (M),
(Veja Anexo VII Aspectos Jurídicos) intermediários (I) ou superiores (S), conforme
as exigências dos chamados atributos
primordiais, abaixo:

Atributos primordiais

Segurança
2.2. Visão sistêmica: Habitabilidade
Sustentabilidade
Uma abordagem inicial da NBR 15.575 já
identifica o tratamento sistêmico que o docu-
mento confere à edificação habitacional: Os atributos primordiais são obtidos por
meio de uma estrutura de requisitos que
permeiam a edificação como um todo e cada
um dos subsistemas que a compõem. O aten-
dimento a tais requisitos é verificado por meio
de indicadores que permitirão a comparação
dos resultados obtidos com aqueles definidos
no projeto, a partir dos níveis de desempenho
requeridos pelo empreendedor: Mínimo,
Intermediário ou Superior.

Nessa visão importa menos os atributos


intrínsecos dos materiais e componentes do
11 que o efeito que cada elemento irá compor no
::
Esse desdobramento da edificação habi- daquele produto e de outros tantos, prove-
tacional, na abordagem que a NBR 15.575 nientes de outros processos.
apresenta os vários requisitos, resulta nas seis Assim, na medida em que o produto não
partes que a integram: pode ser validado no recebimento, sua eficácia
dependerá da conformidade de outros produ-
Parte 1: Requisitos Gerais; tos, realizados em processos que lhe são sub-
Parte 2: Requisitos para os sequentes e que em grande parte estão fora de
sistemas estruturais; seu controle.
Então, não basta o meu produto estar
Parte 3: Requisitos para os
conforme, mas toda a cadeia deverá ser eficaz
sistemas de pisos;
para que o requisito de desempenho seja
Parte 4: Requisitos para alcançado naquele sistema.
os sistemas de vedações internas
e externas – SVVIE;
Parte 5: Requisitos para os
sistemas de coberturas;
Parte 6: Requisitos para
os sistemas hidrossanitários.

Dessa abordagem decorre, então, que o


atendimento aos requisitos ocorrerá pela ação
de diversos atores que concorrem para a rea-
lização de cada um dos subsistemas e, no con-
junto destes subsistemas, para o desempe-
nho da edificação.
Os fornecimentos devem ser vistos como
partes de processos, cujos elementos de en-
trada – os produtos/matérias-primas – devem
atender às especificações, e a transformação
deverá observar diretriz e normas para que o
produto final, a edificação, saia conforme o “O entendimento é de que a NBR 15575
desejado. define claramente os agentes e
Cada processo tem um responsável e se responsabilidades no atendimento ao
insere numa cadeia de processos que se suce- conjuntos de Normas pertinentes à
dem para produzir um determinado subsis- construação civil”.
tema que, por sua vez, irá compor a edificação “Cabe aos arquitetos e projetistas um
habitacional. importante papel de codificar (por
Nesse contexto, a conformidade de um meio da documentação de projetos)
produto, por exemplo, um projeto estrutural, junto aos construtores e fornecedores
não poderá ser validado no seu recebimento. as expectatativas de desempenho
Segundo a NBR 15.575, os requisitos de se- pretendidas pelos incorporadores e
gurança, habitabilidade e sustentabilidade so- contratadas por seus clientes”.
mente serão validados por meio do desem- (Veja Anexo I - Projeto Arquitetônico)
12 penho verificado nos sistemas que resultaram
::
2.3. Gestão
“O controle tecnológico é fundamental
para a avaliação de desempenho de A abordagem sistêmica da norma, ao
uma edificação. Por meio deste, pode- referenciar o desempenho, requer necessaria-
se confirmar se a edificação apresenta mente o trabalho de gestão. Gestão de projeto,
(ou não) as características indicadas no de fornecimento, de construção e, ainda, de uso,
projeto, além de se identificar e se operação e manutenção.
corrigir eventuais problemas de não
conformidade”.
(Veja Anexo IV - Controle Tecnológico) “As soluções técnicas desenvolvidas
pelos projetistas das diferentes
especialidades devem ser compatíveis
entre si, devem atender às
necessidades e níveis de desempenho
definidos pelo incorporador e devem
ser executáveis dentro do orçamento
disponível para o empreendimento”.
“Neste cenário, ganha força a figura
do Gerenciamento”.
(veja Anexo V - Gerenciamento)

A norma brasileira NBR ISO 10006 –


Sistemas de gestão da qualidade – Dire-
trizes para a gestão da qualidade em em-
preendimentos define que a gestão do em-
preendimento inclui “planejamento, organi-
zação, monitoramento, controle e relato de
todos os aspectos de um empreendimento e
a motivação de todos os envolvidos no alcance
dos objetivos do empreendimento”.
A adesão à Norma de Desempenho de-
mandará ações gerenciais, que ocorrem em
três dimensões: interprocessos, intraproces-
sos e nas diversas fases do empreendimento.
Enquanto as fases acompanham a evo-
lução do empreendimento, os processos são
realizados em cadeia, na qual o produto de
um será entrada para outro, muitas vezes
perpassando as fases e evoluindo à medida
que o empreendimento se materializa. Para
exemplificar: o projeto de arquitetura é o
produto final elaborado pelo escritório de
13 arquitetura, mas ele é, para a construtora, o
::
produto inicial da edificação que ela irá cons- Além dos processos acima descritos e
truir. Há que se cuidar ainda da gestão das realizados no domínio da organização do
atividades que ocorrem internamente aos pro- empreendimento, é preciso mencionar o Pro-
cessos. Podemos imaginar um ciclo de Deming cesso Estratégico, do qual sairão diretrizes que
ocorrendo em cada uma dessas dimensões: nortearão os demais processos.
A abordagem sistêmica conferida pela
NBR 15.575 à edificação habitacional resulta,
por consequência, na gestão de processos com
base em conhecimento e ferramental adequados.

2.4. Capacitação

A Norma de Desempenho não revoga nem


altera as normas prescritivas já existentes,
mas, ao contrário, busca evidenciar a sua exi-
gibilidade e seus requisitos adicionam signi-
ficativo diferencial à atividade de construir edi-
ficações habitacionais.
Requisitos de segurança, habitabilidade
e sustentabilidade terão seus atendimentos
verificados por indicadores e índices. A norma
estabelece ainda procedimentos e condições
para a realização dessas verificações de de-
Podemos considerar, em síntese, que o sempenho.
gerenciamento do empreendimento de edifi- A conformidade não é verificada apenas
cação habitacional deverá realizar a gestão em relação aos materiais e componentes, mas
dos processos apresentados na mencionada por meio do desempenho dos sistemas com-
norma NBR ISO 10.006. Esses processos são ponentes da edificação e da habitação como
relativos a: um todo. Assim, não basta que a janela seja
fabricada de acordo com as exigências da
Recursos; norma específica da ABNT, mas é preciso que
Pessoas; todo o sistema de vedação, composto pela
parede e seus outros elementos constitutivos
Interdependência;
(blocos, argamassa, cerâmica ou tinta de
Escopo; revestimento, por exemplo) apresentem o de-
Prazo; sempenho requerido para aquele nível (Inter-
mediário, Médio ou Superior) definido em
Custo;
projeto, em relação à segurança, ao conforto
Comunicação; térmico e acústico, à resistência contra o fogo,
Risco; por exemplo.
Nesse contexto é exigida do profissional
Aquisições;
de projeto a capacidade de identificar quais
14 Melhoria. atributos do objeto projetado serão prepon-
::
derantes no condicionamento do desempenho
do sistema que o mesmo irá integrar. Por “... Este fato (a NBR 15575) demanda
exemplo, a capacidade de reflexão da tinta dos escritórios de projeto um esforço
de revestimento externo irá influenciar o com- técnico e financeiro, em capacitação e
portamento térmico do sistema de vedação treinamento de profissionais qualificados
vertical externo. e experientes, para implantar sistemas
Analogamente, é importante que o proje- de gestão capazes de rapidamente
tista detenha conhecimentos que permitam multiplicar procedimentos que garantam
avaliar a suficiência dos dados de entrada, para o artendimento à Norma de
avaliar possíveis condições adversas ou não- Desempenho”.
usuais que o seu projeto deverá considerar (Veja Anexo I - Projeto de Arquitetura)
para preservar o desempenho esperado. Por
exemplo, ventos fortes, fontes de ruído no en-
torno, edificações na vizinhança etc., exigirão Portanto, será por intermédio do conheci-
tratamento adequado de projeto para propor- mento que o profissional de projeto, arquiteto
cionar o desempenho acústico prescrito pela ou engenheiro, especificará materiais, compo-
norma para aquela localização específica do nentes e sistemas e, ainda, procedimentos de
edifício. construção, instalação e montagem que resul-
tem no atendimento dos requisitos de desem-
penho.
No entanto, se o conhecimento técnico
“Para que os sistemas hidrossanitários
especializado é imprescindível para o estabe-
atinjam a vida útil de projeto (VUP),
lecimento da relação de causa e efeito, tal atri-
preconizada na norma de desempenho
buto não é suficiente para a observância à
(maior ou igual a 20 anos), é
NBR 15.575.
necessário que sejam respeitados todos
É necessário que a capacitação técnica
os critérios e especificações do projeto,
seja complementada por uma infraestrutura
bem como a operação e instalação
que propicie o pleno exercício daquele atributo.
correta dos equipamentos e do sistema
Há que se prover espaço físico, equipamentos,
hidrossanitário e a sua
softwares e demais recursos exigidos para que
manutenibilidade”.
o conhecimento possa se manifestar e permitir
(Veja Anexo III - Projeto Hidrossanitário)
que os processos resultem em produtos ade-
quados.
Além disso, a Norma de Desempenho, por
Especificações e instruções de construção, conta de sua visão sistêmica, requer uma cara-
montagem e instalação mais abrangentes irão cterização mais cuidadosa dos processos, com
demandar profissionais mais bem preparados escopo, produto e responsável bem definidos.
para realizar as atividades de fiscalização e Em contrapartida, cada interveniente na ca-
controle tecnológico. Adicionalmente ao con- deia produtiva deverá produzir os registros
trole regular, a NBR 15.575 impõe uma aferi- correspondentes ao atendimento dos requisi-
ção do cumprimento dos requisitos de desem- tos, nas etapas significativas dos processos
penho. Serão demandados ensaios e respecti- no seu domínio de atuação.
vos registros em locais e fases diversas, Como podemos observar, o atendimento
15 dependendo do objeto a ser verificado. à norma deverá impactar, em maior ou menor
::
grau, os escritórios de arquitetura e de enge-
nharia consultiva. Seja pela necessidade de “O que se deve ter em mente,
investimentos em capacitação técnica ou ad- entretanto, é que o partícipe das
ministrativa, seja pela adequação dos recursos diversas etapas da construção civil
físicos. habitacional deverá estar atento ao
ônus da prova e, desta forma, sugere-
se a adoção de medidas preventivasd
2.5. Riscos e valor para a hipótese de ser chamado a
demandar em juízo”. (Veja Anexo VII -
Uma característica da NBR 15.575 é a Aspectos Jurídicos)
definição das incumbências relativas a cada
interveniente da cadeia produtiva da cons-
trução habitacional. Os fornecimentos de bens Fica evidente a necessidade de maior
e serviços se realizam por meio de processos formalismo nos vínculos e nos relacionamentos
e cada processo tem um responsável que deve entre os atores intervenientes. No entanto,
gerar um produto conforme os requisitos exi- podemos afirmar que os investimentos neces-
gidos. sários ao atendimento à NBR 15.575 e, além
Outro aspecto a ser observado é a amplia- disso, o aumento do risco e da responsa-
ção da responsabilidade para além do prazo bilidade colocam o setor de arquitetura e en-
usual de garantia, que é de cinco anos. genharia consultiva em novo contexto den-
O estabelecimento da Vida Útil de Projeto tro da cadeia produtiva.
(VUP) trouxe uma ampliação do horizonte em Será do produto dos escritórios de arqui-
que as funcionalidades da habitação devem tetura e de engenharia consultiva que emana-
ser preservadas. Assim, cada sistema passa rão as especificações e os procedimentos que
a ter um prazo de preservação de desempe- poderão, se corretamente seguidos nas etapas
nho, de acordo com o grau da edificação, de- da construção, fazer com que o empreendi-
finido em projeto – Mínimo, Intermediário e mento habitacional atenda ao desempenho re-
Superior –, se obedecidas as condições pres- querido. E será por meio do controle tecnoló-
critas de uso, operação e manutenção. gico que os requisitos serão verificados e a
O responsável primeiro perante o cliente/ conformidade atestada.
usuário será o agente que realizou a alienação,
seja o incorporador, construtor ou empreen-
Responsabilidade Atribuída
dedor. Mas, toda a cadeia de fornecedores que
contribuiu na realização da habitação tem res- +
ponsabilidade solidária, nos limites de seu for- Mitigação do Risco
necimento ou naquilo que dele puder resultar.
Valor

16
::
3. RECOMENDAÇÕES GERAIS

A reflexão relativa à ABNT NBR 15.575 de A&EC e toda a cadeia produtiva.


:2013, promovida pelo Grupo de Trabalho, Tornou-se evidente, ao longo desse per-
reuniu a colaboração proveniente de asso- curso de reuniões e debates, que a Norma de
ciações que tiveram representantes integrando Desempenho não encontra o mercado prepa-
esse fórum criado e patrocinado pelo Sinaenco. rado e pronto para praticá-la. Então, a norma
Além dessas associações, que congregam terá importante papel indutor do aprimora-
empresas do setor de arquitetura e engenharia mento dos agentes produtores da habitação,
consultiva, o Grupo de Trabalho convidou tam- que deverão evoluir em seus processos e produtos.
bém um escritório de advocacia para participar Por outro lado, mas não menos importan-
das reuniões de discussão sobre o tema. Tal te, a própria NBR 15.575 precisa ser sub-
iniciativa foi motivada pela preocupação de- metida à análise crítica, para que também
monstrada com o possível aumento de de- possa evoluir e ser abraçada por todos os en-
mandas judiciais diante dos referenciais de volvidos como importante ferramenta na me-
desempenho e que, ao final, mostrou-se muito lhoria da edificação habitacional.
interessante. Não
só pela abordagem
“Tornou-se evidente, ao longo
jurídica a respeito
desse percurso de reuniões e
da norma, mas tam-
bém pelas mani- debates, que a Norma de
Desempenho não encontra o
festações muito per-
mercado preparado e pronto
tinentes que pude-
mos compartilhar, para praticá-la. Então, a norma
terá importante papel indutor do
oriundas de uma ló-
aprimoramento dos agentes
gica diversa da-
quela utilizada em produtores da habitação, que
deverão evoluir em seus
nosso meio da ar-
processos e produtos.”
quitetura e da en-
genharia consultiva.
Há que se ressaltar ainda o produto da
reflexão acerca da relevância do gerenciamen-
to como disciplina indispensável para a con-
formidade do desempenho do produto habi-
tação, mas também que a sua realização pre-
cisa ocorrer de forma eficiente e com mitigação
dos riscos. Tal colaboração adveio da Vice-pre-
sidência de Engenharia do Sinaenco-SP.
Assim, recomendamos fortemente que
sejam consultados os textos específicos apre-
sentados nos anexos e que refletem o pensa-
mento produzido no âmbito de cada entidade
mencionada e fornecida em colaboração para
17 uma reflexão ampla, que possa motivar o setor
::
Autor: Orlando Botelho

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS senvolvimento dos projetos. Não deixa tam-


bém de ser a visão do setor de arquitetura e
O Ministério das Cidades, por intermédio engenharia consultiva como parte da cadeia
da Secretaria Nacional da Habitação (SNH), é produtiva da construção.
o responsável pela implantação da política ha- Importante mencionar que todas as de-
bitacional do governo federal, na qual está in- mais entidades que compõem a cadeia pro-
cluído o Programa Minha Casa Minha Vida dutiva, especialmente fornecedores e fabri-
(PMCMV), destinado às famílias de baixa renda. cantes de materiais e componentes, estão se-
O Programa Brasileiro de Qualidade e Pro- guindo o mesmo processo evolutivo, de forma
dutividade do Hábitat (PBQP-H) tem por a poder melhor atender às novas exigências
objetivo organizar o setor da construção civil da norma. Como resultado, o setor de projetos
no que tange à melhoria da qualidade do há- terá de se adequar continuamente às novas
bitat e à modernização produtiva. Além do exigências contratuais, à especificação de no-
governo federal, fazem parte do programa di- vos materiais e componentes, à coordenação
versas entidades, que representam segmentos mais estrita das especialidades envolvidas, e
da cadeia produtiva: construtores, projetistas, à preocupação com o atendimento às defini-
fornecedores, fabricantes de materiais e com- ções do projeto nas fases seguintes do empre-
ponentes, comunidade acadêmica e entidades endimento etc., como está abordado nos itens
de normatização. anteriores e anexos do presente documento.
O Comitê Nacional de Desenvolvimento Em resumo, o impacto dessa norma é tão
Tecnológico da Habitação (Ctech), dentro da importante que toda a cadeia da construção
estrutura do PBQP-H, é o fórum no qual as habitacional terá de se adaptar para poder
entidades da cadeia produtiva da construção atender aos requisitos de desempenho das
civil se reúnem com o governo, inclusive agen- edificações, cada qual ao seu modo, mas com
tes financeiros, para implantar novos proces- consequências para os demais participantes.
sos da construção habitacional, como agora O GT Norma de Desempenho deverá
acontece com a Norma de Desempenho. acompanhar esse processo evolutivo e o Si-
A vigência desse referencial, em que pese naenco, por meio da sua participação no Ctech,
o longo tempo de sua maturação, provocou a fará a ponte com as demais entidades da
necessidade de reflexão acerca dos impactos cadeia produtiva, buscando analisar e divulgar
sobre o setor da arquitetura e da engenharia as inovações trazidas para esse fórum, e que
consultiva. O Sinaenco então, a partir dessa interessam ao setor de A&EC.
percepção, houve por bem formar o GT Norma
de Desempenho envolvendo os segmentos de
gerenciamento, de elaboração de projetos e
de controle tecnológico, e contemplando em-
preendimentos habitacionais em geral (Habi-
tação de Interesse Social ou não).
Assim, este documento representa a per-
cepção das diversas especialidades que
compõem a realização de projetos de edifica-
ções, por intermédio das suas associações se-
toriais, quanto aos impactos da Norma de
18 Desempenho no processo tradicional de de-
::
Anexo I

Manifestação da AsBEA sobre o impacto da


NBR 15575 na Arquitetura

Autor: Arq. Edison Borges

19
::
A.1. Avaliação do contexto atual do A.1.2. Interação harmônica com os
setor de A&EC e dos demais demais componentes da cadeia
componentes da cadeia produtiva para produtiva, clientes e fornecedores
o atendimento à NR 15575. O entendimento é de que a 15.575 define
claramente os agentes e responsabilidades no
A.1.1. Capacitação técnica, atendimento ao conjunto de normas perti-
gerencial e financeira nentes à construção civil.
A área de projeto de arquitetura atua em Cabe aos arquitetos e projetistas um
uma moldura legal bastante rígida no tocante importante papel de codificar (por meio da
à legislação urbanística e edilícia, entre ou- documentação de projetos), juntamente com
tras. os construtores e fornecedores, as expecta-
Além do atendimento às normas urbanís- tivas de desempenho pretendidas pelos in-
ticas, tais como coeficientes de ocupação, corporadores e contratadas por seus clientes.
aproveitamento, permeabilidade e atendi-
mento a regramentos referentes a gabarito, A.1.3. Dificuldades de atendimento aos
iluminação e ventilação, somos habituados requisitos da norma (caro, inadequado,
ainda a atender a normativas mais específicas, falta de equipamento etc.)
como as emanadas pelo Corpo de Bombeiros, Entendemos que a maior dificuldade se
Ministério do Trabalho, Anvisa, Vigilância Sani- observa no atendimento ao desempenho de
tária e Patrimônio Histórico, além das normas sistemas que dependem exclusivamente de
internas dos clientes. ensaios para comprovação de conformidade.
Entretanto, o setor não tem, em geral, a Tendo-se em vista que a norma se aplica
cultura das normas técnicas oficiais. Algumas a todas as edificações residenciais, torna-se
normas que, por força de lei, se tornaram irreal imaginar ensaios no número e abran-
mandatórias, como a NBR 9050, começam a gência requeridos para a execução de uma
ser observadas com maior zelo e atenção. residência unifamiliar.
O surgimento da NBR 15.575 obriga o Ressalte-se que esta tipologia responde
setor a rapidamente absorver e passar a pela prestação de serviços de significativa
observar, praticamente em sua totalidade, as maioria de escritórios de projeto de arquite-
NBR’s ligadas à construção civil, ainda que tura, compostos por reduzida equipe e, portan-
restritas às edificações residenciais. to, com limitada capacidade técnica e financeira
Este fato demanda dos escritórios de para se adequarem a esta nova realidade.
projeto esforço técnico e financeiro de capa-
citação e treinamento de profissionais quali-
ficados e experientes para implantar sistemas
de gestão, capazes de rapidamente multiplicar
procedimentos que garantam o atendimento
à Norma de Desempenho.
Nota-se um grande interesse sobre o
tema e uma busca por informações que ainda
não resultaram em uma efetiva mudança nos
procedimentos do setor como um todo, mas
em iniciativas isoladas.
20
::
A.1.4. Riscos e oportunidades. Atendimento a requisitos de
Os riscos imediatos que observamos são sustentabilidade
de um crescimento das demandas judiciais na
Definição das VUPs de cada sistema,
relação com o cliente, seja ele consumidor final
alinhadas com as expectativas de
ou incorporador. Em um segundo momento,
desempenho, e registro desta
entendemos que este movimento inicial deve
premissa na documentação de
acarretar:
projeto.
Crescimento na procura por
Na etapa de projetos executivos e durante a
qualificação;
realização da edificação:
Redução do número de escritórios, por O projeto passa a ser documento de
não conseguirem se adaptar às novas contrato, mais do que documentação de
exigências, por fusões ou por execução. O projeto é o único elo entre o
encerramento das atividades. desempenho desejado pelo cliente e o
desempenho a ser obtido pela edificação.
Melhor qualificação dos escritórios
remanescentes. Atendimento a requisitos de segurança

Busca de proteção por meio de seguros. Detalhamento e especificação de


materiais e procedimentos claros que
atendam aos critérios definidos e
B. Recomendações
permitam a aquisição e execução
Na etapa de estudos preliminares:
conforme prescritos.
Definição junto com o cliente das
expectativas de desempenho (M, I, S) para Solicitação de ensaios para liberação
cada requisito: da execução de sistemas onde o
atendimento dependa desses
Atendimento a requisitos de segurança; ensaios.
Definição das zonas climáticas de Compilação dos requisitos de
vento e registro desta premissa na manutenção demandados pelos
documentação de projeto. sistemas e que deverão integrar o
Garantir o adequado levantamento Manual do Usuário para garantir a
das informações e premissas segurança da edificação.
necessárias para o correto Atendimento a requisitos de
desenvolvimento do projeto e habitabilidade
registro destas informações.
Desenvolvimento de simulações
Atendimento a requisitos de computacionais para definição de
habitabilidade materiais e sistemas que, aliados a
Definição das zonas climáticas e ensaios de campo, possam garantir o
registro desta premissa na atendimento aos critérios desejados.
documentação de projeto. Compilação dos requisitos de
Observação nas decisões projetuais manutenção demandados pelos
dos referidos requisitos. sistemas, que deverão integrar o Manual
do Usuário para garantir a habitabilidade,
21
:: conforme definido pelo cliente.
Atendimento a requisitos de
sustentabilidade
Seleção e especificação de sistemas e
componentes que atendam às
normas correlatas e aos requisitos de
sustentabilidade.
Compilação dos requisitos de
manutenção demandados pelos
sistemas, bem como das condições
de substituição e descarte que
deverão integrar o Manual do
Usuário.
Na etapa de comissionamento e entrega ao
usuário:
Garantir o correto entendimento dos
procedimentos e periodicidade da
manutenção dos sistemas.
Atendimento a requisitos de segurança
Garantir o correto entendimento das
premissas de projeto e dos limites de
operação dos sistemas.
Atendimento a requisitos de
habitabilidade
Esclarecer as premissas de projeto e
das expectativas de desempenho
esperadas, uma vez que estas
premissas sejam observadas.
Atendimento a requisitos de
sustentabilidade
Explicar a Vida Útil de Projeto
esperada para os diversos sistemas e
os procedimentos para substituição
e/ou descarte de componentes

22
::
Anexo II

Manifestação da Abece sobre o impacto


da NBR 15575 na Estrutura

Autor: Eng. Marcelo Rozenberg

23
::
Estágio atual das normas sejam adotadas providências complemen-
estruturais brasileiras tares, externas ao escopo do projeto, tais
e o desempenho das estruturas como controles de qualidade na disponi-
bilização e preparo de componentes estru-
A garantia do desempenho das estruturas turais e na manutenção adequada e tempes-
quanto à segurança e estabilidade é uma das tiva da estrutura.
preocupações mais antigas da sociedade e da Assim sendo, até o momento não foram
indústria da construção, já tratada, por identificados na NBR 15.575 fatores que, por
exemplo, no código de Hamurabi (~1700 aC). si só, exijam maiores ajustes nos proce-
A observância das atuais normas técnicas dimentos ou normas brasileiras de projeto no
brasileiras de estruturas, atualizadas e com- setor da engenharia estrutural, para a garantia
patíveis com as principais normas interna- do desempenho das estruturas.
cionais, tem sido suficiente para atender às
expectativas de estabilidade, segurança e
durabilidade das edificações. Isto, desde que

24
::
Anexo III

Manifestação da Abrasip sobre o impacto


da NBR 15575 nas Instalações Prediais

Autor: Eng. Sérgio Kater

25
::
Esta Recomendação Técnica (RT) apre- B. Recomendações
senta os aspectos mais importantes a serem A partir dessas considerações, a Abrasip
considerados para o atendimento às recomen- recomenda que o associado tenha descrito em
dações da Norma de Desempenho (NBR seu memorial /projeto alguns textos e
15.575-2013 Edificações Habitacionais – De- procedimentos que julgamos necessários:
sempenho 2013), no que se refere aos requisi-
tos mínimos para aplicação da mesma. 4.1. Parte 1 da Norma de
Desempenho - Requisitos Gerais:
Norma Brasileira ABNT - NBR 15575-6 Itens 1 a 12 - Em geral, para estes
“Edificações habitacionais – Desempenho” itens, recomendamos ao associado
Parte 6: Requisitos para os sistemas que os leia e tenha o seu próprio
hidrossanitários entendimento a respeito. Alguns
itens pertinentes à nossa área serão
tratados na Parte 6 – Requisitos para
A. Considerações gerais os Sistemas Hidrossanitários.
A Abrasip sabe da capital importância da
Norma de Desempenho, para o comportamen- Item 13 – Desempenho Lumínico
to da edificação em uso, sua manutenibilidade
e conforto e, assim, lança esta RT para pa- 13.3. Requisito – Iluminação
dronizar os requisitos e suas soluções aos seus Artificial
associados. A norma possui várias partes. Des- Apesar de o projeto de instalações
tacamos, porém, os requisitos que afetam mais elétricas se referir apenas à
a nossa área de atuação, ou seja, a “Parte 6: alimentação dos circuitos de
Requisitos para os sistemas hidrossanitários”. alimentação da iluminação,
A Norma de Desempenho, em sua Parte recomendamos que o associado
6, trata da responsabilidade do projeto hidro- cite em seu projeto, de alguma
ssanitário quanto às especificações técnicas forma, os níveis de iluminamento
dos materiais, níveis de ruídos de equipamen- geral para iluminação artificial,
tos, resistência mecânica dos sistemas hidros- conforme tabela E6, página 30.
sanitários e das instalações, e sua manute- Isto porque há a descrição de
nibilidade. ambientes nessa tabela, pela qual
Recomendamos que o documento e/ou da- definimos as luminárias e os níveis
ta, que determina o ponto de partida do projeto de iluminamento (ver também
e tem a finalidade de definir se este será abran- tabela E6 página 64 – Parte 6).
gido pela Norma de Desempenho, seja a ART
(Anotação de Responsabilidade Técnica). Item 14 – Durabilidade e
De acordo com a Norma de Desempenho, manutenibilidade
o projeto hidrossanitário passa a ser utilizado O projeto de instalações
como método de avaliação dos critérios a se- hidrossanitárias foi desenvolvido
rem adotados pela NBR 15575. Portanto, reco- atendendo à norma ABNT 15.575, à
mendamos ao associado, que o seu projeto/ vida útil de projeto (VUP) e ao
memorial descritivo se cerque de todos os cui- desempenho dos sistemas, conforme
dados necessários ao atendimento a essa tabela abaixo:
26 norma.
::
Sistema VUP mínima em anos

Estrutura 50 Conforme ABNT NBR


Pisos internos 8681
Vedação vertical externa 13
Vedação vertical interna 40
Cobertura 20
Hidrossanitário 20

Considerando periodicidade e processos de manutenção


segundo a ABNT NBR 5674 e especificado no respectivo
Manual de Uso, Operação e Manutenção, entregue ao
usuário e elaborado em atendimento à ABNT NBR 14037.

Recomendamos aos associados a coloca- materiais e equipamentos deverão ser


ção de notas gerais no projeto com os seguin- definidas por critérios da Norma de
tes textos: Desempenho, não utilizando a marca do
fabricante. Caso haja a necessidade de
Nota 1: Para que os sistemas informar a marca de algum fabricante,
hidrossanitários atinjam a vida útil de deve ser solicitado um certificado ou
projeto (VUP), preconizada na Norma de ensaio, de acordo com os critérios da
Desempenho ( ou = a 20 anos), é Norma de Desempenho. Fica a critério do
necessário que sejam respeitados todos associado o fornecimento desse serviço.
os critérios e especificações do projeto, Os ambientes onde serão acomodados
bem como a operação e a instalação equipamentos que necessitem de
correta dos equipamentos e do sistema manutenção ou possam sofrer dano, e
hidrossanitário e sua manutenibilidade. que possam exigir reparo ou substituição,
devem possuir acesso com condições para
Nota 2: O plano de manutenibilidade e tal (exemplo: caixa d´água de fibra de
operação do sistema hidrossanitário vidro, gerador, transformador, bombas).
deverá ser passado para o usuário final É recomendado que o associado não
pela construtora/incorporadora, de forma especifique materiais e/ou equipamentos
a garantir a utilização, limpeza, operação, que não atendam à Norma de
conservação e manutenção adequadas e a Desempenho (exemplo: caixa de fibra de
atender ao período mínimo de vida útil de vidro, tubos multicamadas etc).
projeto (VUP). Esse plano de manutenção
deverá conter os prazos de substituição e Itens 15 à 18 e anexos A até F - Recomen-
manutenções periódicas dos damos ao associado que os leia e tenha o seu
componentes, produtos e equipamentos próprio entendimento a respeito.
do sistema hidrossanitário.
27 Todas as especificações técnicas de
::
4.2. Parte 2 da Norma de Desempenho prumadas enclausuradas (critério
- Requisitos para os sistemas estruturais 8.3.9)”
Recomendamos ao associado que
leia e tenha o seu próprio Parte 4 da Norma de Desempenho - Re-
entendimento; não encontramos quisitos para os sistemas de vedações,
nada que tenha impacto em nossos verticais internas e externas - SVVIE
projetos.
Recomendamos ao associado que leia e
4.3. Parte 3 da Norma de Desempenho tenha o seu próprio entendimento, não encon-
- Requisitos para os sistemas de pisos tramos nada que tenha impacto em nossos
Recomendamos ao associado que os projetos.
leia e tenha o seu próprio
entendimento a respeito. Parte 5 da Norma de Desempenho - Re-
Descrevemos abaixo os itens quisitos para os sistemas de cobertura
pertinentes à nossa área de atuação.
Recomendamos ao associado que leia e
Item 8.3.3 – Critério – Selagem corta- tenha o seu próprio entendimento; não encon-
fogo nas prumadas elétricas e tramos nada que tenha impacto em nossos
hidráulicas projetos.

Recomendamos ao associado a colocação Parte 6 da Norma de Desempenho - Re-


de nota geral no projeto com o seguinte texto: quisitos para os sistemas hidrossani-
tários:
Nota 4: “Todos os shafts com abertura
para inspeção, ou paredes que não sejam Itens 1 a 6 - Em geral para estes itens,
corta-fogo, deverão ser dotados de recomendamos ao associado que leia e
selagem corta-fogo, no piso e no teto, tenha o seu próprio entendimento.
apresentando tempo de resistência ao
fogo idêntico ao requerido para o sistema Item 7: Segurança estrutural
de piso, levando em consideração a altura Resistência mecânica dos sistemas
da edificação”. hidrossanitários e das instalações.
Para este item, recomendamos ao
Item 8.3.4 – Critério – Selagem corta- associado, que estude a inserção em
fogo de tubulações de materiais seu projeto de detalhes, notas e
poliméricos tabelas, de modo a atender a este item,
que será utilizado como método de
“As tubulações de materiais poliméricos, avaliação.
com diâmetro interno superior a 40 mm
e que passam através do sistema de Sugerimos algumas notas que poderão
piso, devem receber proteção especial ser utilizadas nos projetos:
representada por selagem capaz de
fechar o buraco deixado pelo tubo ao
ser consumido pelo fogo abaixo do piso.
28 Esses selos podem ser substituídos por
::
Nota 5: “Instalações aparentes fixadas até Item 9.2 – Requisito – Risco de
1,50 m do piso devem ser protegidas explosão, queimaduras ou intoxicação
mecanicamente ou ter resistência própria, por gás.
de modo a atender à tabela 1 (página 18)”.
Recomendamos ao associado que seja
Nota 6: “As tubulações deverão ser colocada a seguinte nota no projeto:
ancoradas firmemente, com
espaçamentos adequados, conforme o Nota 8: “Recomendamos que seja
tipo de cada material utilizado, de modo a verificado no projeto de arquitetura o
não sofrer ações externas, que possam pleno atendimento à NBR 13103”.
danificá-las ou comprometer a
estanqueidade ou fluxo das mesmas”. Item 9.3 – Requisito – Permitir
utilização segura aos usuários.
Nota 7: “Os detalhes de ancoragem (Não se aplica aos projetos do setor).
apresentados em projeto poderão sofrer
alterações e aperfeiçoamento em função Item 9.4 – Requisito – Temperatura de
de cada situação especifica, porém, utilização da água
sempre atendendo à Norma de Concluímos que a execução dos
Desempenho”. projetos conforme normas de água fria
e quente atende a este item.
Item 8: Segurança contra incêndio
Item 8.3.4 – Critério – Evitar Item 10: Estanqueidade
propagação de chamas entre Atender aos critérios dos testes de
pavimentos. estanqueidade inseridos nas normas da
ABNT.
Recomendamos ao associado que men-
cione no projeto o uso de tubo não-propagante Item 11: Desempenho térmico
de chama. (Não se aplica aos projetos do setor).
Obs.: Tubos e conexões de PVC (cloreto de
polivinila) são antichama e autoextinguíveis. Item 12: Desempenho acústico
A norma estabelece um método de
Item 9: Segurança no uso e operação medição dos ruídos gerados por
Item 9.1 – Requisito – Risco de choques equipamentos prediais e também
elétricos e queimaduras em sistemas de apresenta valores de níveis de
equipamentos de aquecimento e em desempenho de caráter não-
eletrodomésticos ou eletroeletrônicos. obrigatório. A norma também deixa
bem claro que grupo motor-gerador
Recomendamos ao associado que verifi- (segurança), sirenes, bombas de
que o atendimento à NBR 5410, principal- incêndio, ou seja, equipamentos de
mente em relação às partes de aterramento e segurança, não podem ser
proteção contra choques elétricos e, também, contemplados neste requisito. De
às NBRs 12050 e 14016 quanto à corrente de qualquer modo, recomendamos ao
fuga. associado que tome certos cuidados, a
29 fim de minimizar ruídos provenientes
::
de motores, com a instalação de coxim Item 18: Adequação ambiental
de amortecimento, juntas Item 18.1 -Requisito – Uso racional de
antivibratórias, bases de concreto etc. água
É recomendado que o associado alerte (Não se aplica aos projetos do setor).
o construtor sobre o nível de ruído que Item 18.2 – Requisito – Contaminação
os equipamentos possam gerar do solo e do lençol freático
(exemplo: transformadores em
pedestal, bombas, grupo motor-gerador O atendimento à norma de esgoto e às
etc.). Caso esses níveis atinjam valores exigências da companhia concessionária
acima do permitido pela norma, o satisfaz este item.
construtor deverá tomar as devidas
precauções. Anexo A – Lista de verificação para os
projetos
Item 13: Desempenho luminotécnico
(Ver item 13 – Parte 1 desta RT) Recomendamos aos associados que
verifiquem se os seus projetos se enquadram
Item 14: Durabilidade e no descrito no Anexo A e a aderência ao escopo
manutenibilidade da proposta/contrato com o seu cliente.
(Ver item 14 – Parte 1 desta RT)
Obs.: Sugerimos mencionar claramente na
Item 15: Saúde, higiene e qualidade proposta/contrato itens excluídos no contrato
do ar de trabalho. Exemplo: plantas cotadas com
aparelhos sanitários, plantas de marcação de
Concluímos que a execução dos projetos laje, plantas de posicionamento de suportes.
conforme normas de água fria e quente atende
a este item. Sugerimos a colocação de nota Anexo B – Níveis de desempenho
em projeto, para atender ao item 15.1.1.1: Recomendamos ao associado que faça a
leitura desses níveis e tenha o seu próprio
Nota 9: “Todos os componentes do entendimento (ver item 12 – Parte 6 desta RT).
sistema de água potável deverão
assegurar a não-existência de substâncias
nocivas ou a presença de metais
pesados”.

Item 16: Funcionalidade e


acessibilidade

Concluímos que a execução dos projetos


conforme normas de água fria e quente, de
esgoto e de águas pluviais atende a este item.

Item 17: Conforto tátil e


antropodinâmico
30 (Não se aplica aos projetos do setor).
::
Anexo IV

Manifestação da Abratec sobre o impacto


da NBR 15575 no Controle Tecnológico

Autores: Eng. Luis Borin, Engª. Heloisa


Bolorino, Eng. Rogerio Perini, Engª.
Gisele Galvão e Eng. Fábio Giannini

31
::
O objeto deste trabalho é o controle Subentende-se também que, no docu-
tecnológico de produtos e sistemas da cons- mento em questão, estão contemplados
trução civil para atendimento à ABNT NBR componentes ou materiais industrializados,
15575:2013. seriados ou não, comercializados por distribui-
O controle tecnológico é fundamental para dores ou em revendas. Mesmo nesses casos,
a avaliação de desempenho de uma edificação. sob o conceito de desempenho, o compor-
Por meio desse controle, pode-se confirmar tamento do produto poderá depender das
se a edificação apresenta as características condições de montagem, instalação ou apli-
indicadas no projeto, além de permitir a iden- cação em obra. No caso da aplicação por
tificação e a correção de eventuais problemas terceiros, é importante que esta seja feita sob
de não-conformidade. Compreende um con- orientação pertinente, formalizada por meio
junto de procedimentos de controle para todas de documentação e assistência técnica.
as fases de concepção e construção de uma O desempenho de um sistema cons-
edificação, isto é, estudos preliminares, elabo- trutivo, assim como de qualquer outro produto
ração de projeto, planejamento executivo, ar- industrializado que desempenha função de
mazenamento, transporte, recebimento e responsabilidade, precisa ser submetido ao
montagem, entre outros. controle da qualidade.
Tem como conceito básico viabilizar meto- Há um grande número de variáveis que
dologia de organização para a obtenção das influenciam no desempenho de uma edifica-
metas e objetivos propostos. Trata-se de tarefa ção; além da rigorosa seleção dos ensaios de
que requer consciência, esforço, recursos e avaliação, é indispensável o controle tecno-
análise crítica, de modo a atingir o proposto lógico das etapas conforme os requisitos da
satisfatoriamente. No caso em questão, tem edificação.
como foco a solução de problemas relacio-
nados a produtos es-
pecíficos nas fases
de sua fabricação,
expedição, montgem
e entrega final.
Entende-se co-
mo produtos os sis-
temas ou subsiste-
mas construtivos,
bem como proces-
sos (fabril, armaze-
namento, transpor-
te, montagem, entre
outros) intrínsecos
aos mesmos. Os pro-
dutos são, necessa-
riamente, montados
ou instalados em obras, diretamente pelo
fabricante, construtor ou por terceiros, sob a
32 supervisão da construtora.
::
A. Cenário da Construção Civil no âmbito B. Recomendações
do Controle Tecnológico
Documentações e registro de controle
Um laboratório apresentará resultados
confiáveis se os serviços de controle tecno- As empresas responsáveis pelo desen-
lógico forem realizados por meio de um volvimento dos sistemas devem prover
controle rígido de qualidade. procedimentos, planilhas e/ou fichas de veri-
A maneira pela qual os laboratórios ficação (check-lists) para serviços desen-
garantem sua capacidade, competência volvidos nas etapas de elaboração de projeto,
técnica e qualidade na execução dos serviços produção em fábrica ou em obra, e produtos
prestados de controle é a obtenção da acre- instalados ou aplicados. Tais planilhas devem
ditação no Instituto Nacional de Metrologia, ser adaptadas a cada produto ou processo de
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) produção, contemplando os principais requi-
com base na norma NBR ISO/IEC 17025. Esses sitos a serem verificados no processo de pro-
laboratórios são submetidos a auditorias dução e no produto.
técnicas e sistêmicas periódicas, o que garante Tais documentos referem-se à fabricação,
a qualidade na execução e controle de seus instalação e aplicação do produto, ou seja,
ensaios. nas unidades fabris e em obras em execução.
O controle tecnológico promove indire- A avaliação em uso é realizada em obras
tamente a economia de custos com reparos finalizadas.
em estruturas, devido ao maior controle de No caso de componentes ou materiais
qualidade na execução das edificações e industrializados e disponíveis em distribui-
ganhos na eficiência da realização dos ser- dores/revendas, a empresa deve prover do-
viços, por meio da obtenção do melhor desem- cumentações de controle fornecidas pelo fabri-
penho dos materiais que a constituem. cante do produto e/ou de terceira parte.
A NBR 15.575 traz ao setor de controle Os controles dos produtos devem ser
tecnológico uma abordagem adicional ao realizados e registrados para todas as etapas
mercado que, dentre outras normas que já o da obra, desde a sua implantação até a
fazem, trata da consolidação da aceitação de entrega final do empreendimento. Esses con-
um sistema ou de parte dele, como uma abor- troles devem ser compilados e armazenados
dagem única, por meio de ensaios de desem- de acordo com as políticas da empresa e estar
penho das edificações, ou seja, análises sobre disponíveis sempre que solicitados.
o comportamento térmico, acústico, de manu-
tenabilidade e estrutural desses edifícios. Nota: Os documentos devem ser tecnicamente
adequados, com todas as informações recomendadas
Além dos tratamentos diretos relaciona-
pela normalização ou instruções técnicas pertinentes
dos aos sistemas construtivos, a norma 15.575 (diretrizes, regulamentações, legislações etc).
também possibilita a atuação deste setor em
treinamentos e especializações de equipes Os seguintes documentos, no
voltadas à execução. mínimo, devem ser providenciados:

a) Especificações técnicas do produto:


contemplar as características e as
propriedades do produto-alvo;
33
::
b) Procedimentos de produção, instalação Operação e Manutenção entregue ao
ou execução; proprietário.
c) Projeto executivo do produto inserido no
projeto da edificação (com detalhamento Auditoria técnica na fábrica
das interfaces); Deve-se verificar se os documentos su-
pracitados são efetivamente aplicados na
d) Projeto para montagem e/ou produção;
fábrica. Além disso, deve-se checar a ocor-
e) Procedimentos de controle de rência de não-conformidades relativas ao
recebimento de materiais e componentes: processo de produção e ao produto (identificar
não-conformidades, principalmente sistemá-
Para materiais e componentes que são ticas, caso existam). Deve-se considerar se
objeto de controle da qualidade por ensaios são mantidos[as]:
devem estar definidos os requisitos a serem a) as características e o aspecto do produto
verificados para o recebimento dos produtos, avaliado;
bem como os ensaios, a amostragem, a fre-
b) os procedimentos para qualificação de
quência e os critérios de aceitação e de re-
pessoal;
jeição;
c) os procedimentos para controle de
f) Procedimentos de armazenamento dos
equipamentos de medição;
insumos/produto no canteiro de obra;
d) os procedimentos para qualificação de
g) Procedimentos de controle de execução,
fornecedores ou se existem critérios para
de instalação, aplicação e montagem devem
aquisição de materiais que afetam
considerar as etapas principais e os
diretamente a qualidade do produto final,
respectivos critérios de aceitação;
com especificações técnicas das matérias-
h) Procedimentos contemplando as ações primas e dos componentes utilizados;
corretivas e oportunidades de melhorias,
e) o recebimento de materiais e
definidos a partir da constatação de não-
componentes do produto, de acordo com os
conformidades no processo de produção,
procedimentos definidos, incluindo
no produto ou na sua aplicação/instalação;
armazenamento;
i) Manual Técnico do produto: deve conter
f) os ensaios de controle de materiais e
informações relativas à vida útil de projeto
componentes e sua periodicidade;
e prazos de garantia; apresentar
procedimentos de uso, operação e g) o controle da qualidade do processo de
manutenção, incluindo periodicidade de produção e sua periodicidade;
inspeção e de manutenção, materiais a h) o controle da qualidade do produto e a
serem empregados e métodos a serem forma de armazenamento;
adotados para os serviços de limpeza. i) o controle da expedição, considerando
Também deve contemplar orientações sobre fundamentalmente a rastreabilidade.
eventuais ampliações e sobre restrições de
uso. O Manual Técnico deve ser concebido Auditoria técnica na obra
em linguagem de fácil compreensão, Deve-se verificar se esses documentos
considerando a cultura da região onde será são efetivamente aplicados na obra. Além dis-
empregado. Essas informações também so, deve-se checar a ocorrência de não-confor-
devem ser consideradas no Manual de Uso, midades relativas ao processo de produção e
34
::
ao produto e suas interfaces com outros ele- cante, assim como dos procedimentos de
mentos construtivos (identificar não-conformi- execução da edificação. Estes também devem
dades, principalmente sistemáticas, caso exis- contemplar a periodicidade de cada ensaio e
tam). Deve-se considerar: conter informações a respeito das amostras -
a) se a obra mantém os procedimentos para e de seu respectivo sistema -, a serem ensaia-
qualificação de fornecedores ou se existem das ou inspecionadas.
critérios para aquisição de materiais que
afetam diretamente a qualidade do produto Compilação e encaminhamento dos
final, com especificações técnicas das resultados das auditorias
matérias-primas e/ou componentes Caso as não-conformidades identificadas
utilizados (no caso de produtos elaborados sejam relativas apenas à ausência parcial de
ou finalizados em obra); documentação, esses documentos devem ser
providenciados em tempo hábil para que os
b) se são mantidos os procedimentos para
sistemas de controle não sejam afetados. Caso
qualificação de pessoal;
sejam observadas não-conformidades no
c) se são mantidos procedimentos para produto ou na produção, instalação ou execu-
controle de equipamentos de medição; ção da edificação, que possam comprometer
d) o recebimento de materiais e a sua qualidade ou o seu desempenho, devem
componentes do produto e/ou do produto ser realizadas auditorias técnicas extras para
acabado, de acordo com os procedimentos verificar a correção dessas não-conformidades
definidos; na obra/fábrica.
e) a forma de armazenamento de materiais Deve ser elaborado o Relatório de Au-
e componentes do produto e/ou do produto ditoria Técnica, compilando os resultados de
acabado, de acordo com os procedimentos cada auditoria, com as devidas conclusões e
definidos; encaminhamentos. O relatório deve incluir os
f) os ensaios de controle de materiais e dados da auditoria, em obra ou em fábrica,
componentes e sua periodicidade (no caso as análises da conformidade do produto, do
de produtos elaborados ou finalizados em sistema e de seu processo de produção ou
obra); aplicação/instalação e os resultados dos
ensaios. A documentação analisada na referida
g) os projetos de execução, instalação,
auditoria deve constar do anexo do relatório,
aplicação e montagem do produto;
que também deve conter registros fotográ-
h) o controle da qualidade do processo de ficos.
produção e sua periodicidade (no caso de Publicada em 19 de fevereiro de 2013,
produtos elaborados ou finalizados em obra); passou a ser válida em 19 de julho desse ano.
i) o controle da qualidade do produto Constitui conjunto de requisitos e critérios es-
acabado (no caso de produtos elaborados tabelecidos para edificações habitacionais e
ou finalizados em obra); seus sistemas, estabelecendo referenciais
j) o uso e a manutenção da edificação e/ou objetivos quanto aos requisitos de qualidade
produto (pós-ocupação). técnica e critérios de avaliação.
Compartilha responsabilidades entre os
Ensaios de controle agentes envolvidos na obra e o consumidor
Os ensaios de controle a serem realizados final, que deverá atuar conforme o manual do
35 devem constar dos procedimentos do fabri- usuário.
::
Anexo V

Manifestação do Sinaenco sobre o impacto


da NBR 15575 no Gerenciamento

Autores: Eng. Luciano Tani e


Engª. Maria Amália Sá Moreira

36
::
A. Considerações gerais: As soluções técnicas desenvolvidas pelos
A Norma de Desempenho é o resultado projetistas das diferentes especialidades
de longo trabalho para estabelecer parâme- devem ser compatíveis entre si, atender às
tros, objetivos e quantitativos que podem ser necessidades e níveis de desempenho de-
medidos para que o consumidor final (mora- finidos pelo incorporador e serem executáveis
dor) tenha a certeza de adquirir um imóvel dentro do orçamento disponível para o empre-
com os requisitos desejados de conforto, esta- endimento.
bilidade, segurança estrutural, durabilidade e Nesse cenário, ganha força a figura do
segurança contra incêndio. gerenciamento. A equipe de gerenciamento
A grande novidade dessa norma é o con- atuará como apoio técnico do empreendedor/
ceito de comportamento em uso dos compo- incorporador, fomentando a integração e a co-
nentes e sistemas das edificações. Para que operação dos agentes envolvidos, coordenan-
se atinja a eficiência das edificações habitacio- do a solução global dos projetos e a integração
nais, é necessário desenvolver e aplicar os pro- técnica entre as diversas especialidades de
dutos para que atendam às necessidades da projeto, entre o projeto e a execução da obra,
construção. Com isso, espera-se uma mudan- até sua conclusão e entrega do Manual de Uso,
ça de cultura no setor de produção habita- Ocupação e Manutenção ao usuário.
cional.
Para cada necessidade do usuário e con- A.1.1. Capacitação técnica,
dição de exposição, a norma apresenta a se- gerencial e financeira
quência de Requisitos de Desempenho, Crité- O gerenciamento deve ser coordenado
rios de Desempenho e respectivos Métodos por profissional com habilidades administra-
de Avaliação. tivas e de liderança para poder gerenciar equi-
A Câmara Brasileira da Indústria da Cons- pes multidisciplinares de projetos e super-
trução (Cbic) produziu um Guia Orientativo visão/fiscalização de obras. Deve também ter
para atendimento à Norma, organizado por amplo conhecimento relativo às diversas es-
disciplinas, que tem como foco subsidiar o pecialidades de projeto, técnicas construtivas
entendimento e decisões de fornecedores, e experiência quanto à execução de obras.
projetistas, construtoras e usuários. As equipes deverão possuir capacitação
técnica para verificação do atendimento aos
A.1. Avaliação do contexto atual do requisitos de projeto e da Norma de Desem-
setor de A&EC e dos demais penho e das demais normas. Além disso, de-
componentes da cadeia produtiva para verão possuir amplo conhecimento de técnicas
o atendimento à NR 15575 gerenciais e de planejamento e controle.
Os processos de concepção, construção Tendo em vista as constantes evoluções
e manutenção envolvem toda a cadeia pro- das metodologias de gestão, torna-se fun-
dutiva (incorporadores, projetistas, cons- damental a implantação de sistema de infor-
trutores, fornecedores de material, com- mações gerenciais e controle de documentos
ponente e/ou sistema) e o usuário. Surge en- gerados pelas diversas entidades nos vários
tão a necessidade de organização da cadeia níveis de atuação dentro do empreendimento,
produtiva, para que cada parte possa cumprir a fim de auxiliar a gestão, de forma eficaz e
com suas responsabilidades. eficiente.

37
::
A.1.2. Interação harmônica com os esse que pode até comprometer a viabilidade
demais componentes da cadeia de implantação de empreendimentos habita-
produtiva, clientes e fornecedores cionais, especialmente os de interesse social.
O gerenciamento, coordenando e promo- Para que se viabilizem os empreendimentos
vendo a integração entre os diversos com- de menor custo e, ao mesmo tempo, atendam
ponentes da cadeia produtiva, pode agregar ao desempenho mínimo, há que se investir em
valor ao empreendimento, sistematizando e inovação tecnológica e aumento de eficiência
compilando toda a documentação que com- em toda a cadeia produtiva. E, cumulativa-
prove o atendimento às exigências da Norma mente, é preciso promover uma ordenação
de Desempenho. tributária que desonere os setores da cadeia
produtiva da construção habitacional, além de
Pelo atendimento à Norma disponibilizar financiamento mais barato.
Incorporador – definição dos níveis de
desempenho; A.1.4. Riscos e oportunidades.
Os riscos são muito grandes. Apesar de
Projetistas – soluções e
existir uma mobilização de toda a cadeia da
especificações;
construção em busca do atendimento à NBR
Fornecedores de materiais e 15.575, o mercado ainda não está totalmente
produtos – qualidade e desempenho; preparado para isso. Os custos de materiais e
Construtora – execução da obra. componentes e da mão de obra necessária
para sua aplicação/instalação por vezes invia-
Pela confirmação do atendimento bilizam o empreendimento.
O caso se agrava ainda mais quando fala-
Laboratórios – ensaios
mos de habitação de interesse social, em em-
comprobatórios;
preendimentos do programa Minha Casa, Minha
Gerenciadora – coordenação de Vida do Ministério das Cidades, ou de compa-
projetos e interfaces, fiscalização da nhias habitacionais de estados e municípios,
execução, verificação e compilação da como, por exemplo, a Companhia de Desen-
documentação. volvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no
estado de São Paulo.
Nas regiões metropolitanas, onde existe
A.1.3. Dificuldades de atendimento aos um alto custo dos terrenos, pode-se dizer que
requisitos da norma hoje é praticamente impossível construir edi-
Além da necessidade de compromen- fícios habitacionais destinados à baixa renda
timento de toda a cadeia produtiva, selecio- que atendam plenamente à Norma de De-
nando, especificando e documentando a es- sempenho, dentro dos custos previstos nos
colha e o emprego de componentes e siste- orçamentos.
mas que atendam aos requisitos de desem- Assim, tendo em vista que a função do
penho, identificamos como maior dificuldade gerenciador é a de fazer cumprir o atendi-
a confirmação do desempenho de sistemas mento às normas e especificações, tanto na
que dependam de ensaios. elaboração dos projetos quanto na execução
Por outro lado, o atendimento aos requi- das obras, sua atribuição e responsabilidade
sitos da norma pode implicar na elevação dos ficam comprometidas, na medida em que
custos de componentes e sistemas, aumento existe a inviabilidade financeira e até mesmo
38
::
técnica para atender à totalidade dos requi- cessos de qualidade em suas empresas. Isso
sitos de desempenho. ajudará para que o processo de implantação
Além disso, há o fato de que os projetos da norma seja o mais tranquilo e efetivo pos-
devem prever a usabilidade e manutenibili- sível. A seguir um roteiro com as diversas
dade do edifício ao longo de sua vida útil. Su- atribuições do gerenciamento para as dife-
pondo-se que um empreendimento tenha sido rentes etapas de implantação:
projetado para 50 anos, não é possível garantir
que o usuário utilizará adequadamente o edi- 1. Na etapa de estudos preliminares e
fício e realizará as manutenções necessárias projetos básicos
nos períodos estabelecidos em projeto. Identificação de riscos previsíveis para
Por analogia, seria o mesmo que dizer subsidiar projetistas de informações;
que um veículo pode ter vida útil de 20 ou 30
Definição dos escopos contratuais,
anos, desde que sejam realizadas as revisões,
incluindo Vida Útil de Projeto (VUP) dos
trocas de óleo, pneus, amortecedores, bate-
sistemas;
rias, lubrificações, limpeza etc, dentro dos
prazos estabelecidos em seu manual. Definição dos níveis de desempenho
Assim, o grande risco para o setor de (mínimo, intermediário ou superior)
gerenciamento e supervisão de empreen- para os diferentes elementos da
dimentos está na assunção de uma corres- construção e/ou para a obra como um
ponsabilidade que ainda não é possível dentro todo.
das atuais condições de mercado. Verificação das especificações de
Por outro lado, a Norma de Desempenho materiais, produtos e processos que
configura uma oportunidade para o setor de atendam ao desempenho requerido
gerenciamento, pois deixa clara a necessidade (mínimo, intermediário ou superior) e
de uma coordenação que promova a integra- VUP.
ção entre os diversos componentes da cadeia
produtiva, a verificação do atendimento às exi- 1.1. Atendimento a requisitos de
gências da norma e a organização documen- segurança; habitabilidade e
tal do empreendimento. sustentabilidade
A aplicação da norma fará com que toda a A atuação do gerenciamento nesta etapa
cadeia produtiva da construção civil, arquite- compreende a verificação dos projetos quanto
tura e engenharia consultiva incluídas, passe ao atendimento dos requisitos estabelecidos
por um processo evolutivo com a valorização na Norma de Desempenho, no que se refere
dos bons projetos, qualificação da mão de à segurança, habitabilidade e sustentabilidade,
obra, racionalização e industrialização da considerando a compatibilidade entre as diver-
construção habitacional, capacitação de forne- sas disciplinas de projetos.
cedores e redução de custos. Sugere-se também que o gerenciamento
assuma o papel de centralizador e organizador
B. Recomendações de toda a documentação técnica gerada pelos
Para as empresas que atuam em serviços projetistas das diferentes áreas.
de consultoria em empreendimentos habi-
tacionais, as recomendações são para que
invistam na capacitação de seus profissionais
39 sobre a Norma NBR 15.575 e implantem pro-
::
2. Na etapa de projetos executivos e e análise da realização de ensaios, auditorias
durante a realização da edificação técnicas (nas fábricas e na obra) e compilação
Verificação da documentação de dos dados e resultados.
detalhamento e especificação de Considerando a responsabilidade do
materiais e sistemas. gerenciamento pela organização documental,
caberá a ele reunir, organizar e armazenar
Verificação da aquisição de materiais
toda a documentação gerada no controle
e sistemas conforme especificações
tecnológico e demais inspeções técnicas.
e verificação da caracterização do
desempenho dos produtos.
3. Na etapa de comissionamento e
Verificação da execução da obra entrega ao usuário
conforme projetos e especificações.
Apoio à elaboração do Manual de Uso,
Verificação de ensaios. Operação e Manutenção, para garantir
Compilação de requisitos de uso e a segurança, a habitabilidade e a vida
manutenção para elaboração do Manual útil definidas pelo incorporador.
de Uso, Operação e Manutenção. Compilação e digitalização de toda a
documentação de projetos, obra e
2.1. Atendimento a requisitos de ensaios em databook que subsidie o
segurança; habitabilidade; incorporador, projetistas e construtor
sustentabilidade quanto ao atendimento das exigências
A atuação do gerenciamento na etapa de da Norma de Desempenho.
projetos executivos compreende a verificação
dos projetos quanto ao atendimento dos requi-
sitos estabelecidos na Norma de Desempenho,
no que se refere à segurança, habitabilidade e
sustentabilidade, considerando, além da com-
patibilidade entre as diversas disciplinas de
projetos, a qualidade, o nível de detalhamento
e a suficiência dos projetos executivos com vis-
tas à execução das obras.
O gerenciamento será responsável pela
supervisão/fiscalização das obras dos empre-
endimentos, com o objetivo de que sejam exe-
cutadas em rigorosa observância aos projetos
executivos, com a aplicação dos materiais e
componentes especificados. Nesta etapa, o
controle tecnológico assume importante papel
para a avaliação do desempenho dos compo-
nentes, sistemas e subsistemas dos edifícios.
Recomenda-se que sejam rigorosamente se-
guidos os procedimentos estabelecidos pelo
setor de controle tecnológico. O gerenciador
será responsável pelo acompanhamento e
40 controle, por meio de inspeções e verificação
::
Anexo VI

Manifestação da ProAcústica sobre o


impacto da NBR 15575 na Acústica

Autor: Eng. Davi Akkerman

41
::
A Norma de Desempenho ABNT NBR Embora ainda haja um desconhecimento
15.575-2013 é um “divisor de águas” para a sobre como especificar desempenho e sobre
qualidade acústica dos edifícios residenciais os requisitos de acústica exigidos pela norma,
no Brasil. Trata-se de um instrumento para a com dúvidas a respeito da quantificação e das
melhoria do projeto, especificações e cons- soluções acústicas para alcançar as exigências,
trução de unidades habitacionais com melhor vem ocorrendo um grande esforço da cadeia
desempenho acústico, que traz uma nova produtiva da construção nesse sentido. Os
cultura e, assim, agrega de fato o conforto projetistas terão de especificar com mais
acústico às construções. A Associação Brasi- conhecimento e os fabricantes terão de
leira para a Qualidade Acústica (ProAcústica) adquirir a cultura do ensaio, a fim de definir
apoia e promove ações nesse sentido. níveis de desempenho de seus produtos e
De forma geral, todos os envolvidos no sistemas. Será preciso, por exemplo, ensaiar
processo vêm fazendo esforços e adaptações não apenas um bloco de alvenaria, mas o
nesta fase de apropriação e aplicação da sistema de parede, com todos os seus inter-
Norma de Desempenho, a fim de garantir o venientes, como janelas, portas e os demais
resultado mais adequado e assegurar o direito componentes, a fim de obter o desempenho
dos consumidores, já que a norma técnica tem acústico real da tipologia adotada.
força de lei. Desde há muito tempo esses No que diz respeito às soluções de projeto
parâmetros, associados à habitabilidade e à para responder às exigências de desempenho
saúde dos usuários, vinham sendo negligen- acústico, o mercado vem se preparando para
ciados, e o desempenho acústico era tido como especificar as soluções mais adequadas nos
um “requinte”. diferentes tipos de projetos arquitetônicos,
A partir da vigência da NBR 15.575, em adaptando-se às exigências normativas.
2013, e de sua exigibilidade, o cenário mudou Uma medida importante de auxílio ao pro-
radicalmente. Agora, os requisitos de bom jeto é a caracterização da “paisagem sonora”
desempenho acústico devem ser observados dos terrenos e entornos dos futuros empreen-
nos diversos tipos de edifícios habitacionais, dimentos, estudo que ajuda a definir quais as
classificados em níveis de conforto mínimo, melhores soluções para fachadas, vedações e
intermediário e superior, que contemplam medidas para atenuação dos ruídos locais,
desde os imóveis mais simples até os mais considerando também o melhor custo-bene-
sofisticados. fício. Por isso, é indispensável que o processo
Por sua vez, os profissionais de projeto de projeto conte com uma consultoria de acús-
estão diante de uma questão inerente à sua tica para verificação e classificação objetiva
atividade, que é a responsabilidade técnica dos terrenos e verificação e adequação das
pelo que projetam e especificam. De sua parte, vedações externas e internas.
as construtoras, responsáveis pela viabilização O primeiro passo foi dado. E, apesar de
dos projetos, precisam garantir o desempenho os requisitos mínimos serem ainda baixos em
do que executam. A cadeia de fornecedores relação aos países desenvolvidos, devem
também está em uma situação de pressão melhorar ao longo do tempo e progredir para
para atender às novas necessidades de condições cada vez mais salutares para o
mercado, principalmente os fabricantes de usuário.
portas, janelas e blocos de alvenaria, que Relacionamos na sequência considerações
precisam desenvolver soluções e ensaiar seus gerais acerca de itens relativos ao impacto
42 produtos. que a Norma de Desempenho causa no setor,
::
e como a ProAcústica e seus associados vêm projetos), com a Norma de Desempenho em
dando o respectivo tratamento a essa questão. vigor, surgiu uma grande demanda no mer-
cado por profissionais qualificados em enge-
A. Capacitação técnica, gerencial e nharia acústica, dos quais ainda é carente
financeira nosso cenário técnico nacional.
A ProAcústica – Associação Brasileira para Recomendamos a quem queira obter mais
Qualidade Acústica, entidade do setor sem fins esclarecimentos relativos ao atendimento dos
lucrativos, oferece cursos de capacitação requisitos de conforto acústico, apresentados
técnica na área de desempenho acústico dos pela NBR 15575, que consulte o site da
edifícios, com foco na Norma de Desempenho ProAcústica, no endereço www.proacustica.
ABNT NBR 15575, com dois professores org.br, no qual está disponível para download
altamente qualificados. O curso é intensivo, o “Manual ProAcústica sobre a Norma de
com duração total de 16 horas e é realizado Desempenho”.
quatro vezes por ano; consultar Site da
ProAcústica para verificar a agenda de cursos.

B. Interação harmônica com os demais


componentes da cadeia produtiva,
clientes e fornecedores
A ProAcústica promove encontros entre
diversos setores da cadeia produtiva e está
empenhada em trazer informações técnicas
de qualidade e confiável aos demais elos da
cadeia produtiva, promovendo cursos, pales-
tras e editando manuais técnicos esclarece-
dores ao mercado.

C. Dificuldades de atendimento aos


requisitos da norma
Na prática, os requisitos de desempenho
acústico da norma de desempenho têm sido
atendidos, na maioria dos casos, sem grandes
dificuldades, com pequenos ajustes de projeto,
quando necessário.
Dentre os requisitos, o de maior impacto
tem sido quanto à subjetividade na classi-
ficação acústica de terrenos e, por decorrência,
na definição adequada de esquadrias e vidros
de fachadas, que atendam ao requisito da
classe de ruído.

C.1. Riscos e Oportunidades


Para o segmento de fornecimento de
43 serviços técnicos de acústica (consultoria e
::
Anexo VII

Aspectos Jurídicos sobre a NBR 15575

Autor: Adv. Carlos Henrique Raguza

44
::
I. SINÓPSE partam do dever ético-profissional que torne
O texto busca debater as principais conse- o respeito à tecnicidade obrigatório.
quências no cenário jurídico e fático após a
entrada em vigor da NBR 15.575, Norma Té- Não obstante isso, as Normas Técnicas
cnica aplicável às Edificações Habitacionais. emanadas por entidades ou órgãos regula-
Parte-se da obrigatoriedade de sua observân- mentadores reconhecidos são de inquestio-
cia, passando-se à análise de temas como a nável relevância para as relações jurídicas so-
Responsabilidade Civil, sua aplicabilidade den- ciais, pois estabelecem diretrizes, técnicas e
tro de relações jurídicas de natureza privada padrão de qualidade que devem ser acatados
e aquelas inseridas no mercado de consumo. pelos diversos segmentos na indústria e pres-
Conceitos jurídicos de Garantia, Vício Oculto, tadores de serviços.
Vida Útil do Projeto e projeção de seus reflexos
no tempo também são abordados, encerran- Não é diferente com a construção civil
do-se com um breve enfoque sobre os Meca- habitacional. A NBR 15.575 chega em momen-
nismos Jurídico-Processuais, as Sanções dis- to que, a despeito da retração da economia
poníveis e a importância da regra do Ônus da no cenário nacional, demandará necessa-
Prova. Após a apresentação de uma perspe- riamente no aprofundamento do planejamento
ctiva do futuro, propõe-se medidas neces- do Incorporador, Construtor e demais agentes
sárias à mitigação de responsabilidades. da etapa construtiva, notadamente no que
tange ao impacto nos custos.
II. INTRODUÇÃO
A recente edição e veiculação da Norma Se em razão disso isso já se recomenda
de Desempenho NBR 15.575 certamente finca cautela, a NBR 15.575, por outro lado, alinhará
um marco na história da Construção Civil o mercado de sorte a prestigiar a especia-
Habitacional. Muito embora já existam dentro lização e valorização do conhecimento técnico,
do arcabouço jurídico inúmeras normas técni- abrindo espaço a profissionais e empresas que
cas em vários âmbitos do Estado (Federal, atendam às novas exigências do mercado.
Estadual e Municipal), não há dúvidas de que
a NBR 15.575 importará em um impacto no Isto, diga-se, não só em relação aos agen-
conceito e na execução das edificações habita- tes da construção civil, mas também aos pres-
cionais. tadores de serviços indiretos, a exemplo do
apoio jurídico preventivo e contencioso como
As normas técnicas, em regra, são produ- ferramenta estratégica de manutenção do
zidas por um órgão oficial acreditado. Seu con- equilíbrio econômico durante todas as fases
teúdo tem por finalidade estabelecer regras, (aquisição, projeto, edificação, alienação, ma-
diretrizes, padrões ou características de um nutenção, informação etc).
material, produto, processo ou serviço dispo-
nibilizado no mercado em geral. Destaque-se, ainda, que o contexto jurí-
dico, notadamente sob o enfoque da respon-
Por não observar o Processo Legislativo sabilidade civil (“latu sensu”), deverá levar em
disciplinado na Constituição Federal (artigo 59 conta a modalidade da relação entabulada
e s.s.), sua obediência estará vinculada, em entre os agentes e com terceiros. Ao celebrar
regra, à referência em uma determinada nor- um contrato, o construtor assume a obrigação
45 ma jurídica, ou à construções doutrinárias que de entregar um resultado, que somente se dá
::
com a obra finalizada e aceita à contento por Os negócios jurídicos afetos à Construção
quem a encomendou. Nos tópicos a seguir, Habitacional, por não raras vezes estarem
longe da expectativa de por uma pá de cal inseridos no âmbito da Relação de Consumo2,
nas controvérsias jurídicas, buscar-se-á traçar recomendam a leitura do texto do artigo 39,
linhas gerais das principais consequências da a seguir reproduzido:
nova NBR 15.575.
“Art. 39. É vedado ao fornecedor de
III. DA OBRIGATORIEDADE produtos ou serviços, dentre outras
É demasiado notório que apenas a lei tem práticas abusivas:
o condão de criar direitos e obrigações, modi- (...)
ficar, extinguir ou exigir que determinada con- VIII - colocar, no mercado de consumo,
duta regra ou requisito seja atendido pelo qualquer produto ou serviço em
agente (pessoa física ou jurídica). Trata-se de desacordo com as normas expedidas
consagrado Direito Fundamental extraído do pelos órgãos oficiais competentes ou,
enunciado do artigo 5º, inciso II da Constitui- se normas específicas não existirem,
ção Federal1. pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas ou outra entidade credenciada
Assim, numa primeira análise, poder-se- pelo Conselho Nacional de Metrologia,
ia concluir, equivocadamente, pela inaplicabi- Normalização e Qualidade Industrial
lidade da NBR. 15.575 às Edificações Habita- (Conmetro);”
cionais, vez que sua natureza eminentemente
técnica não lhe confere os mesmos efeitos de Discorrendo sobre a responsabilidade pela
uma fonte normativa. perfeição da obra, Carlos Roberto Gonçal-
ves3 tece o seguinte:
Tal entendimento, entretanto, não vinga.
A legislação, em diversas esferas, impõe sua “A responsabilidade pela perfeição da
obrigatoriedade. obra, embora não consignada no
contrato, é de presumir-se em todo
No Município de São Paulo o Código de ajuste de construção como encargo
Obras faz expressa referência ao respeito ético-profissional do construtor. Isto
e aplicabilidade das Noras Técnicas porque a construção civil é,
Oficiais (artigo 12, caput, artigo 17, parágrafo modernamente, mais que um
único da Lei 11.228/92). Não obstante isso, empreendimento leigo, um processo
em um enfoque espacial mais amplo, há técnico-artistico de composição e
determinações claras de que as Normas coordenação de materiais e de
Técnicas devem ser cumpridas nas seguintes
leis:

Lei 4.150/62;
1
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
Lei 4.591/64; inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Lei 8.666/93; (...)
Código de Defesa do Consumidor. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
2
Para quem pretender se aprofundar no conceito de relação de consumo,
recomenda-se a leitura do artigo 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor.
46 3
Responsabilidade Civil, 15ª Edição, Ed. Saraiva, pg. 389
::
ordenação de espaços para atender às Este mesmo entendimento é alicerçado
múltiplas necessidades do homem. pelo artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição
Dentro dessa conceituação, o Federal, cujo conteúdo estabelece que “a lei
construtor contemporâneo está no não prejudicará o direito adquirido, o ato
dever ético-profissional de empregar jurídico perfeito e a coisa julgada”.
em todo trabalho de sua especialidade,
além da peritia artis dos práticos do Destarte, muito embora tenha-se em
passado, a peritia technica dos mente que a fixação do marco pelo qual será
profissionais da atualidade.” considerada obrigatório o cumprimento da
NBR 15.575, ao nosso ver, será objeto de
Ora, pelas razões acima ponderadas, não embates futuros nas Cortes, parece-nos que
há dúvidas de que a NBR 15.575, elaborada a melhor hipótese, a que se molda ao conceito
por representantes da Sociedade Técnica, de ato jurídico perfeito, é aquela que reco-
muito embora não tenha natureza de lei, é por menda a aplicabilidade da NBR 15.575 aos
força desta última que deverá ser cumprida projetos cujo protocolo, perante a adminis-
nas edificações habitacionais a partir de sua tração, ocorram após o dia 19 de julho de
entrada em vigor ou, ainda, em razão de um 2013.
dever ético-profissional.
Entendimento diverso seria, sem dúvida,
IV. DA VIGÊNCIA DA NORMA levar ao desequilíbrio orçamentário e contra-
tual dos diversos seguimentos e operadores
Um dos Princípios mais importantes de da Construção Civil Habitacional, em nítido
uma Sociedade Democrática, que respeita o desrespeito à Segurança Jurídica que possi-
ordenamento jurídico e limita a atuação das 3 bilita, inclusive, a prática de atos destinados
(três) esferas de Poder (Executivo, Legislativo ao desenvolvimento social de um país4.
e Judiciário) é, sem sombra dúvida, a Segu-
rança Jurídica.
V. DA ALTERAÇÃO DO CENÁRIO
A esse propósito, a vestuta Lei de Intro- JURÍDICO.
dução do Código Civil (LICC), ao tecer regras
sobre a vigência da norma, veda seu alcance A sociedade, como se sabe, está em
retroativo em determinadas hipóteses: constante transformação, seja do ponto de vis-
ta educacional, cultural, tecnológico ou demo-
Art. 6º LICC - A Lei em vigor terá efeito gráfico. Tais transformações não raras vezes
imediato e geral, respeitados o ato impulsionam o Poder Legislativo a alterar o
jurídico perfeito, o direito adquirido e a arcabouço Jurídico, ora mitigando determina-
coisa julgada. das regras de conduta, por vezes criando no-
vas, sempre com o propósito – primário – de
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já manter a paz social.
consumado segundo a lei vigente ao
tempo em que se efetuou.
4
Ainda que o empresário, ao desenvolver suas atividades, assuma como
regra o “risco do empreendimento”, o crescimento e desenvolvimento dos
negócios recomenda que o Estado confira um mínimo de segurança, sob
47 pena de inviabilizar o mercado.
::
A NBR 15.575, como mencionado em tes- etapas da cadeia de produção e seus custos
tilha, não tem natureza legislativa mas, por imediatos pois, a levar o alcance da respon-
sua obrigatoriedade estar prevista em diversas sabilidade a partir da NBR 15.575, não há
fontes de lei e em princípios éticos, como o da dúvidas de que ela vai além5 do que até então
boa-fé, traz inovações no aspecto jurídico nas se observava costumeiro.
diversas relações estabelecidas na Edificação
Civil Habitacional. Uma perspectiva conservadora reco-
mendaria que, além da garantia, fosse consi-
De conteúdo amplo, a NBR 15.575, trouxe derada a vida útil do projeto e dos materiais,
requisitos gerais e específicos (estrutura, pi- isto é, o lapso temporal em que a edificação
sos, vedações verticais, coberturas, sistemas deverá atender aos requisitos mínimos esta-
hidrosanitários etc) que devem ser respei- belecidos na Norma de Desempenho.
tados nos projetos protocolados a partir
de sua vigência. O dever de informação, nesta mesma li-
nha de relevância, é outro aspecto que deverá
Especial destaque deve ser conferido ao impactar significativamente o planejamento
conceito de vida útil do projeto (VUP), as defi- e custos dos projetos habitacionais protoco-
nições de responsabilidades e parâmetros de lados após a vigência da NBR 15.575.
desempenho mínimo, intermediário e superior
estabelecidos pela Norma. Referido dever deve, aliás, ser compre-
endido no sentido amplo. Importa dizer, não
Se por um lado a fixação de critérios técni- só deverá haver uma correta, clara e abran-
cos possa levar à percepção de que, a partir da gente informação ao consumidor (rectius, des-
NBR 15.575, impôs-se um ônus extra aos tinatário final) da edificação como, também,
agentes da Construção Civil Habitacional, de uma orientação clara e técnica entre os diver-
outro, as definições de ora em diante que bali- sos participes do processo construtivo e entre
zarão os novos projetos permitirão a identi- estes e os responsáveis pela manutenção do
ficação, padronização (mínima) e atribuição de edifício após sua entrega.
responsabilidades no processo construtivo.
Passa a assumir relevância a vida útil de
Os instrumentos jurídicos contratuais não um projeto que, por óbvio, pressupõe a obser-
mais poderão se limitar a conferir, de forma vância pelo usuário, corretamente, dos prazos
linear, maior grau de importância ao conteúdo de manutenção obrigatória, que compre-
econômico envolvido e às cláusulas penais endem a substituição de peças ou itens des-
aplicáveis em casos de infração às regras con- gastados com o tempo (roldanas, cabos etc),
tratuais. Além destes pontos, cujo peso é ine- assim como àquelas necessárias ao prolonga-
gável, deverão também primar pela fixação
de responsabilidades, de deveres e obri-
gações antes, durante e após o processo
5
Sem embargo dos prazos de vida útil do projeto (VUP) definidos na NBR
15.575, já haviam decisões que prestigiavam a Teoria da Vida Útil do Projeto
construtivo. (STJ, RESP 984.106 – SC). Nesta decisão, embora reconhecido que o
fornecedor não está “ad aetemum” responsável pelos produtos colocados
em circulação, entendeu-se que sua responsabilidade não se limita pura e
Não se pode mais consentir que o empre- simplesmente pelo prazo contratual de garantia. Independentemente deste
prazo, a venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que
sário, à quem é atribuído o risco do negócio, legitimamente se esperada, além de configurar um defeito de adequação
(art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-fé objetiva, que deve nortear
48 tenha sua visão focada apenas às diversas as relações contratuais, sejam de consumo, sejam de direito comum.
::
mento da vida útil (manutenção preven- Já na responsabilidade extracontratual,
tiva), respeitadas as condições de desem- o agente infringe um dever legal, cuja conduta
penho (pintura da fachada à cada 5 anos). enseja determinada obrigação ou consequên-
cia jurídica. O dever de indenizar em nosso
O desrespeito às recomendações do for- ordenamento, nestas hipóteses, pode ser
necedor acerca dos prazos e condições das abstraído da leitura dos artigos 186 e 927,
manutenções importa em diminuição da vida ambos do Código Civil:
útil do projeto, afastando a responsabilidade
do construtor, desde que o construtor tenha Art. 186. Aquele que, por ação ou
especificado e cientificado previamente em omissão voluntária, negligência ou
manuais. imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que
Por fim, se a NBR 15.575 já recomenda exclusivamente moral, comete ato
ao incorporador, construtor e demais agentes, a ilícito.
adoção de mecanismos de prevenção de lití-
gios, por outro, o desrespeito à norma de desem- Art. 927. Aquele que, por ato ilícito
penho trará, como consequência, a formação (arts. 186 e 187), causar dano a
de um passivo oculto considerável. outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de


VI. DAS SANÇÕES E MECANISMOS reparar o dano, independentemente de
JURÍDICOS culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente
Diz-se que a norma jurídica tem por fina- desenvolvida pelo autor do dano
lidade criar condições de regência do convívio implicar, por sua natureza, risco para
social, reprimindo condutas, garantido o exer- os direitos de outrem.
cício de outras e, ainda, impondo determi-
nados deveres aos indivíduos. O ato ilícito, como se sabe, é uma das
fontes de obrigação e, uma vez constatada a
Nos dizeres de Sergio Cavalieri Filho6, A sua prática, com o correspondente dano (pre-
responsabilidade civil é o “dever jurídico a con- juízo moral ou patrimonial), impõe-se à parte
duta externa de uma pessoa imposta pelo que tenha com sua conduta lesado a esfera
Direito Positivo por exigência da convivência de direito de outrem, o dever de indenizá-la.
social. Não se trata de simples conselho, ad-
vertência ou recomendação, mas de uma or- Nesse ponto, vale lembrar, como tecido
dem ou comando dirigido à inteligência e à em linhas acima, que a NBR 15.575, embora
vontade dos indivíduos, de sorte que impor desprovida da natureza de lei, tem sua
deveres jurídicos importa criar obrigações.” aplicabilidade referenciada em diversas fontes

A responsabilidade civil pode ser contra-


tual ou extracontratual. Na primeira, o des-
cumprimento de uma obrigação que cause 6
Programa de Responsabilidade Civil, 11ª Edição, Editora Atlas, pg. 14.
prejuízo à outrem impõe o dever de indenizar 7
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
49 com supedâneo no artigo 389 do Código Civil7. regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
::
do ordenamento jurídico. Sua inobservância, Já se inserida e analisada dentro do con-
portanto, facilmente será moldada no conceito ceito de relação de consumo, a responsa-
de ato ilícito. bilidade poderá ter como ponto de partida a
aplicabilidade dos artigos 12º, ‘caput’ e 18º,
Bem, referidos conceitos, para melhor ambos do Código de Defesa do Consumidor,
compreensão, deveriam ser abordados com a “in verbis”:
profundidade que merecem. Não nos parece,
todavia, que a isto se empreste o presente Art. 12. O fabricante, o produtor, o
trabalho, cujo escopo é despertar o debate construtor, nacional ou estrangeiro, e o
jurídico em torno de tão relevante e dinâmica importador respondem,
matéria. independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos
Mas, o fato é que, uma vez verificado o causados aos consumidores por
desrespeito à NBR 15.575, seja em de- defeitos decorrentes de projeto,
corrência de relação contratual8, quer por força fabricação, construção, montagem,
da aplicação da responsabilidade civil extra- fórmulas, manipulação, apresentação
contratual, surgirá, para o agente causador ou acondicionamento de seus produtos,
de determinado dano, o dever de repará-lo9. bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua
Os mecanismos de compelir à parte res- utilização e riscos.
ponsável pelo dano à outrem são vários mas, (...)
dentre eles, a título não exaustivo, podem ser
destacados alguns. Art. 18. Os fornecedores de produtos
de consumo duráveis ou não duráveis
O artigo 615 e 616, ambos do Código Civil, respondem solidariamente pelos vícios
facultam ao dono da obra, desde que o em- de qualidade ou quantidade que os
preiteiro tenha se afastado das instruções re- tornem impróprios ou inadequados ao
cebidas e dos planos dados, ou das regras té- consumo a que se destinam ou lhes
cnicas em trabalhos de tal natureza, rejeitá-la diminuam o valor, assim como por
ou, ainda, recebê-la com abatimento no preço. aqueles decorrentes da disparidade,
com a indicações constantes do
Confira-se o enunciado da norma: recipiente, da embalagem, rotulagem
ou mensagem publicitária, respeitadas
Art. 615. Concluída a obra de acordo
as variações decorrentes de sua
com o ajuste, ou o costume do lugar,
natureza, podendo o consumidor exigir
o dono é obrigado a recebê-la. Poderá,
a substituição das partes viciadas.
porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se
afastou das instruções recebidas e dos
planos dados, ou das regras técnicas § 1° Não sendo o vício sanado no prazo
em trabalhos de tal natureza. máximo de trinta dias, pode o

Art. 616. No caso da segunda parte do 8


Artigo 389 do CC – Não cumprida a obrigação, responde o devedor por
artigo antecedente, pode quem perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
encomendou a obra, em vez de enjeitá- 9
O artigo 944 do Código Civil, ao estabelecer o critério de reparação,
50 la, recebê-la com abatimento no preço. enuncia que “a indenização mede-se pela extensão do dano”.
::
consumidor exigir, alternativamente § 6° São impróprios ao uso e consumo:
e à sua escolha: I - os produtos cujos prazos de validade
I - a substituição do produto por outro estejam vencidos;
da mesma espécie, em perfeitas II - os produtos deteriorados,
condições de uso; alterados, adulterados, avariados,
II - a restituição imediata da quantia falsificados, corrompidos, fraudados,
paga, monetariamente atualizada, sem nocivos à vida ou à saúde, perigosos
prejuízo de eventuais perdas e danos; ou,ainda, aqueles em desacordo com as
III - o abatimento proporcional do normas regulamentares de fabricação,
preço. distribuição ou apresentação;
§ 2° Poderão as partes convencionar a III - os produtos que, por qualquer
redução ou ampliação do prazo previsto motivo, se revelem inadequados ao fim
no parágrafo anterior, não podendo ser a que se destinam.
inferior a sete nem superior a cento e
oitenta dias. Nos contratos de adesão, Veja que a lei faculta à parte lesada a es-
a cláusula de prazo deverá ser colha de determinadas formas de reparação
convencionada em separado, por meio do dano, a exemplo do abatimento do preço,
de manifestação expressa do rejeição com o consequente restabelecimento
consumidor. das partes ao “status quo ante”, a substituição
do produto por outro em igual e perfeitas
§ 3° O consumidor poderá fazer uso
condições ou, ainda, a exigência compulsória
imediato das alternativas do § 1° deste
do cumprimento da obrigação.
artigo sempre que, em razão da
extensão do vício, a substituição das
A escolha, pelo interessado, determinará
partes viciadas puder comprometer a
a natureza e o rito processual da demanda
qualidade ou características do produto,
judicial a ser adotada, acrescendo-se, aqui,
diminuir-lhe o valor ou se tratar de
os já consagrados mecanismos compulsórios
produto essencial.
dispostos ao Magistrado para imprimir urgên-
§ 4° Tendo o consumidor optado pela cia e eficácia à tutela jurisdicional pretendida
alternativa do inciso I do § 1° deste (v.g. artigo 27310, 46111 e 79612, todos do
artigo, e não sendo possível a Código de Processo Civil Brasileiro).
substituição do bem, poderá haver
substituição por outro de espécie, A antecipação dos efeitos da tutela, a
marca ou modelo diversos, mediante aplicação de multa diária na hipótese de des-
complementação ou restituição de
eventual diferença de preço, sem 10
Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
prejuízo do disposto nos incisos II e III existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
do § 1° deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou
§ 5° No caso de fornecimento de (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto
produtos in natura, será responsável propósito protelatório do réu.
11
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de
perante o consumidor o fornecedor fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se
imediato, exceto quando identificado procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.
claramente seu produtor. 12
Art. 796. O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso
51 do processo principal e deste é sempre dependente.
::
cumprimento da obrigação e a medida cau- inverter o ônus da prova13. Trata-se, como se
telar, preparatória ou incidente, são casos clás- sabe, de uma “faculdade” mas, uma vez
sicos de mecanismos judiciais utilizados para presentes os pressupostos, há quem sustente o
a aplicação célere da justiça, mas certamente dever de aplicar este direito básico do consumidor.
outros, a depender da estratégia a ser imprimida
na solução do litígio, poderão ser trilhados. No sentido de perfilhar entendimento de
ser uma faculdade, confira-se14:

VII. DA IMPORTÂNCIA DO “Consumidor – ônus da prova –


ÔNUS DA PROVA Inversão – Faculdade concedida ao juiz,
que irá utilizá-la no momento em que
Bem, até aqui verificou-se de maneira su- entender oportuno, se e quando estiver
perficial os impactos que a NBR 15.575 causa- em dúvida, geralmente por ocasião da
rá nas relações jurídicas afetas à construção sentença – Inteligência do art. 6º,
habitacional. inciso VIII, da Lei n. º 8.078/90 (RT,
780:278)”
Além das medidas preventivas de nature-
za contratual, os agentes da edificação, quan- Para este trabalho, com escusa do leitor,
do chamados à responder em um litígio ju- novamente não se aprofundará neste tópico
dicial, deverão ater-se a suas participações e que desperta embates entusiasmados.
responsabilidades e, com esteio na regra do
ônus da prova, buscar afastar, mitigar ou dosar O que se deve ter em mente, entretanto,
sua responsabilidade e o consequente dever é que o partícipe das diversas etapas da cons-
de indenizar. trução civil habitacional deverá estar atento
ao ônus da prova e, desta forma, sugere-se
Como regra geral, o ônus da prova é a adoção de medidas preventivas para a hi-
atribuído de maneira equânime pelo Código pótese de ser chamado à demandar em juízo.
de Processo Civil, sem levar em conta, num
primeiro enfoque, as características específicas O dever de indenizar decorrente da res-
das partes. Leia-se: ponsabilidade civil pressupõe, como regra ge-
ral, a reunião de certos requisitos, a saber: i)
Artigo 333 – O ônus da prova incumbe: conduta culposa (latu sensu) do agente (omis-
siva ou comissiva); ii) ato ilícito; iii) nexo
I – ao autor, quanto ao fato constitutivo
causal e; iv) existência de um dano.
de seu direito;
II – ao réu, quanto à existência de fato Em se tratando de responsabilidade obje-
impeditivo, modificativo ou extintivo de tiva, aplicável em certos casos, o requisito da
direito do autor. culpabilidade é expurgado para fins de caracte-

É claro que referida regra, de natureza 13


Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
geral, comporta exceções, notadamente quan- VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus
do a relação jurídica está inserida dentro do da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
conceito de relação de consumo. Neste caso, experiências; presentes os pressupostos, há quem sustente o dever de aplicar
uma vez reunidos certos requisitos (vulnera- este direito básico do consumidor.
14
In Responsabilidade Civil, Carlos Roberto Gonçalves, 15ª Edição, Ed.
52
:: bilidade técnica, econômica, etc), poderá o juiz Saraiva, pg. 384
rização do dever de indenizar, bastando que a cesso de edificação, ainda assim há quem
vítima demonstre a reunião dos demais ele- considere a responsabilidade, quer pelo en-
mentos do instituto jurídico. foque do Código Civil, seja pelas normas do
Consumidor, solidária.
Para que se exima da responsabilidade
e, portanto, do dever de indenizar, o agente Carlos Roberto Gonçalves15, ao abor-
poderá avocar, em seu benefício, certas ex- dar a responsabilidade solidária do construtor
cludentes disciplinadas no arcabouço jurídico. e incorporador, cita o seguinte:
Dentre elas, podemos citar:
“Indenizatória procedente –
Tabela exemplificativa e não exaustiva Responsabilidade solidária.
A responsabilidade deriva da regra do
§ 2º e 3º do artigo § 2º O produto não é considerado defeituoso
12 do CDC pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido art. 1245 (do CC de 1916,
colocado no mercado. correspondente ao art. 518 do atual),
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou
importador só não será responsabilizado
que determina ao construtor responder,
quando provar: durante cinco anos, pela solidez e
I - que não colocou o produto no mercado; segurança do trabalho, inclusive com
II - que, embora haja colocado o produto no
mercado, o defeito inexiste; relação aos materiais empregados. E a
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de da incorporadora, quer por força dos
terceiro. contratos de venda das unidades, a lhe
Artigo 945 do CC Art. 945. Se a vítima tiver concorrido impor a cobertura dos defeitos e
culposamente para o evento danoso, a sua prejuízos sofridos pelos adquirentes, e
indenização será fixada tendo-se em conta a quer, em especial, pela cula “in
gravidade de sua culpa em confronto com a do
autor do dano. eligendo”, de ordem extracontratual,
determinante da solidariedade, certo
Artigo 393 CC Art. 393. O devedor não responde pelos
que, nesse caso, como leciona Aguiar
prejuízos resultantes de caso fortuito ou força
maior, se expressamente não se houver por eles Dias, “a solidariedade passiva não
responsabilizado. depende de conserto prévio entre os
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força
maior verifica-se no fato necessário, cujos
responsáveis” (RT, 539:111).”
efeitos não era possível evitar ou impedir.

Sérgio Cavalieri Filho 16 , na mesma


Fincados estes conceitos e premissas, re- linha, sustenta que “... a responsabilidade do
tomando a análise do ônus da prova, a conse- construtor não afasta a responsabilidade do
quência lógica é que, por força desta regra, dono da obra, que aufere os proveitos da
os agentes da construção deverão manter, construção.”
organizar e coletar documentos, contratos,
notas, ensaios, certificados, manuais, dentre Assim, no curso de um processo, se com-
outros, que possam possibilitar a identificação provado que o destinatário final não realizou
do agente causador do dano e a responsa- a manutenção preventiva e corretiva tal como
bilidade pelo dever de indenizar. determinado no Manual, poderá, neste caso,
haver uma clara excludente de responsabi-
Mesmos nos casos em que é possível a 15
Ob. Citada pg. 397
53 identificação do agente que participou do pro- 16
Programa de Responsabilidade Civil, 11ª Edição, Ed. Atlas, pg. 417
::
lidade (culpa exclusiva da vítima decorrente, VIII. DA RESPONSABILIDADE
por exemplo, de mau uso ou inobservância
dos prazos e procedimentos técnicos de manu- Dando sequência ao desafio proposto,
tenção). deve-se traçar um breve conceito, seguindo-
se a distinção, entre os prazos de responsa-
Os meios probatórios a serem emprega- bilidade e de garantia.
dos em uma demanda contenciosa são vários,
podendo-se destacar o documental (daí a im- Por garantia compreende-se o período de
portância do acervo técnico), o pericial e o tempo concedido pelo fornecedor ao consumi-
testemunhal. Atas de reuniões, memorandos, dor, por mera liberalidade do primeiro (con-
correspondências eletrônicas, dentre outros, tratual), ou por força de lei (legal), em que
podem elucidar fatos ocorridos no passado, persiste a obrigatoriedade de responder por
facilitando a identificação dos partícipes. vícios ou defeitos que se manifestarem nesse
prazo ou por danos que a obra possa causar à
A prova pericial técnica, disciplinada pelo terceiros.
artigo 42017 e seguintes do Código de Processo
Civil, se revelará no decorrer da solução dos A responsabilidade, de seu turno, parte
litígios, como uma ferramenta essencial à de conceitos como o da boa-fé objetiva, da
demonstração de que o projeto e a construção perspectiva de durabilidade de um produto
atenderam à NBR 15.575, facultando-se as colocado no mercado, de sua vida útil, de
partes apresentar quesitos e assistentes critérios como o da razoabilidade.
técnicos.
A garantia, ressalvada a contratual (fixada
É que, não obstante o Juiz conheça as pelo fornecedor), tem prazos definidos na lei.
fontes de direito, não raras vezes socorre-se A responsabilidade, embora este tema des-
de auxiliares de confiança nos casos em que perte discussões infindáveis, não tem um ter-
a aplicabilidade da lei dependa de conclusões mo final definido.
extraídas de pareceres técnicos específicos.
Como exemplo de prazos de garantia legal
A ilegalidade da conduta, como mencio- fixados no ordenamento jurídico, podemos
nado em testilha, poderá encontrar arrimo na citar:(ver tabela na página seguinte)
inobservância da NBR 15.575 e, nesse ponto,
há de se colher um laudo técnico que possa Como a Lei não define o prazo de respon-
conferir elementos de cognição seguros para sabilidade do fornecedor, uma perspectiva
a formação do mérito. conservadora seria o de considerar como in-
determinado, notadamente nas hipóteses em
O desafio da advocacia, nesse aspecto, que o vício não pode ser constatado de ime-
terá como foco não apenas aprofundar-se no diato (oculto). Nestes casos, o direito nasce
conhecimento técnico específico da Construção no dia em que o destinatário (usuário) tomar
Habitacional mas, também, demandar um es- conhecimento.
forço para o incentivo à seleção dos documen-
tos essenciais à comprovação dos deveres
17
Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.
Parágrafo único. O juiz indeferirá a perícia quando:
ético-profissionais e jurídicos. I - a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico;
II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas;
54 III - a verificação for impraticável.
::
Artigo 618 do CC Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou Art. 205. A prescrição ocorre em dez
outras construções consideráveis anos, quando a lei não lhe haja fixado
o empreiteiro de materiais e execução responderá, prazo menor.
durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez
e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo. Entretanto, não obstante entendimento
sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça
Artigo 26 do CDC Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes (Súmula 19418), a Terceira Turma da referida
ou de fácil constatação caduca em: Corte negou provimento de uma construtora
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço
que pretendia o reconhecimento da prescrição
e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de
de uma ação que buscava responsabilizá-la pela
serviço e de produtos duráveis. fragilidade de uma obra realizada em 1982.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a
partir da entrega efetiva do produto ou do término da Confira-se:
execução dos serviços.
§ 2° Obstam a decadência: Prazo prescricional em ação contra cons-
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo trutora é contado a partir do conhecimento
consumidor perante o fornecedor de produtos e do vício na obra
serviços até a resposta negativa correspondente, que
deve ser transmitida de forma inequívoca;
A Terceira Turma do Superior Tribunal de
II - (Vetado).
III - a instauração de inquérito civil, até seu
Justiça (STJ) negou o recurso de uma cons-
encerramento. trutora que pretendia ver reconhecida a pres-
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial crição de uma ação que busca responsabilizá-
inicia-se no momento em que ficar evidenciado o la pela fragilidade de uma obra realizada em
defeito.
1982. O colegiado manteve a decisão do Tri-
bunal de Justiça do Estado de Sergipe (TJSE)
que, ao analisar a apelação do proprietário
do imóvel, afastou a prescrição.
É o que se extrai da leitura dos artigos
abaixo pinçados: O proprietário do imóvel ajuizou ação em
Art. 189 do Código Civil - Violado o que exigiu da construtora o pagamento de da-
direito, nasce para o titular a nos materiais, referentes aos aluguéis que te-
pretensão, a qual se extingue, pela ria deixado de receber durante a reforma do
prescrição, nos prazos a que aludem os prédio em que está localizado o seu aparta-
arts. 205 e 206. mento, e de danos morais, sustentando a má-
execução da obra pela construtora. A reforma
Artigo 26 do CDC – (....)
seria resultado de problemas estruturais na
(...)
fundação do prédio, em face de alegada má
§ 3º - Tratando-se de vício oculto, o execução obra.
prazo decadencial inicia-se no momento
em que ficar evidenciado o defeito. O juízo de primeiro grau reconheceu a
prescrição vintenária, baseado no fato de que
Um critério para se estabelecer o limite a entrega da obra ocorreu em agosto de 1982,
da responsabilidade, embora não pacificado, enquanto a demanda somente foi ajuizada em
seria o prescricional, veiculado pelo enunciado 18
Prescreve em 20 (vinte) anos a ação para obter, do construtor, indenização
55 do artigo 205 do Código Civil: por defeitos da obra.
::
novembro de 2002. O proprietário do imóvel ao artigo 618 do atual Código Civil, como
recorreu da sentença e o TJSE afastou o sendo de garantia, e fixa em 20 anos o prazo
implemento da prescrição, desconstituindo a prescricional para a efetivação dessa garantia
sentença e reconhecendo que, embora a em face do construtor (conforme o enunciado
entrega da obra tenha ocorrido em agosto de da Súmula 194 do STJ) é adequada aos fatos
1982, o conhecimento do vício na construção ocorridos na vigência do CC/1916.
somente se deu em dezembro de 1999.
No entanto, Sanseverino destacou outro
O Tribunal de origem entendeu que a caminho que pode ser adotado pelo proprie-
prescrição, de 20 anos, da pretensão de res- tário do imóvel no intuito de responsabilizar o
sarcimento por danos relacionados à seguran- construtor pelos vícios e defeitos relativos à
ça e à solidez da obra, se iniciaria com o reco- sua solidez e segurança: a possibilidade de,
nhecimento, pelo seu dono, da fragilidade des- comprovada a prática de um ilícito contratual,
ta, independentemente do disposto no artigo consistente na má-execução da obra, deman-
1.245 do Código Civil de 1916, que estabelece dar o construtor no prazo de 20 anos do conhe-
em cinco anos o prazo para se responsabilizar cimento, ou de quando se tornou possível o
o empreiteiro pela solidez e segurança da obra. conhecimento do defeito na construção, tendo-
se como base o prazo prescricional de 20 anos
Inconformada, a construtora recorreu ao estabelecido pelo artigo 177 do CC/1916,
STJ, alegando violação do artigo 1.245 do CC/ independentemente disso ter ocorrido nos
1916, bem como a existência de dissídio primeiros cinco anos da entrega, de acordo
jurisprudencial em torno da sua interpretação. com o texto do artigo 1.056 do CC/1916, que
Segundo a construtora, a jurisprudência do trata de perdas e danos.
STJ seria no sentido de que, para o exercício
da pretensão vintenária em face do construtor, No entendimento do ministro, “enquanto
os danos relacionados à solidez e à segurança a utilização do artigo 1.245 do Código Civil de
da obra haveriam de ser constatados nos cinco 1916 pressupõe que a fragilidade da obra
anos seguintes à entrega. tenha transparecido nos primeiros cinco anos
da sua entrega, no caso do artigo 1.056 do
Código Civil de 1916 não há essa exigência,
Visão do relator podendo os problemas relativos à sua solidez
e segurança surgirem até mesmo depois
O relator, ministro Paulo de Tarso Sanse- daquele prazo.”
verino, destacou precedentes da juris-
prudência do STJ no sentido de que o prazo O relator afirmou que, não fosse assim,
de cinco anos do artigo 1.245 do CC/1916 é o construtor estaria livre, sem qualquer res-
de garantia, e não de prescrição ou deca- ponsabilidade, para a prática de atos dolosos
dência, e que, apresentados defeitos no re- ou culposos durante a construção, mas cujos
ferido período, o construtor poderá ser acio- efeitos somente viessem a ser conhecidos após
nado no prazo de 20 anos. o prazo de garantia do artigo 1.245 do CC/1916.
Dessa forma, se o dono tomasse conhecimento
Na visão do ministro, a jurisprudência que da sua fragilidade apenas após os cinco anos
estabelece a natureza do prazo de cinco anos da entrega, já estaria prescrita qualquer pre-
56 do artigo 1.245 do CC/1916, correspondente tensão indenizatória contra o construtor.
::
Nesse sentido, o ministro considerou inviável O dever de informar não cessa com a en-
aceitar-se que “o dono da obra, diante e no exa- trega. Após este ato, persistirá o dever de for-
to mometo do conhecimento da fragilidade necer material informativo e de apoio aos mé-
desta, seja impedido de veicular pretensão todos e materiais a serem empregados na ma-
indenizatória em face de quem, culposamente, nutenção corretiva e preventiva do edifício,
tenha ocasionado esta fragilidade.” A Terceira incluindo suas instalações e acessórios.
Turma acompanhou o voto do relator, negando
provimento ao recurso especial para confirmar As informações claras e precisas (artigo
o acórdão que afastou a prescrição e descons- 6º, inciso III19 e 3120, ambos do CDC, servirão
tituiu a sentença, viabilizando a instrução do de apoio à mitigação de responsabilidades e,
processo com a realização de perícia. Dessa uma vez instado à se defender, o fornecedor
forma, será possível ao proprietário do imóvel poderá comprovar o mau uso ou falta de ma-
demandar em primeiro grau a construtora com nutenção (excludente de responsabilidade).
fundamento no artigo 1.056 do CC/1916, des-
de que comprovada a prática de ilícito contratual. Sérgio Cavalieri Filho21, ao discorrer
Fonte: (http://stj.jus.br/portal_stj/publicacao/ engine.wsp?tmp.area=398&
sobre o fato exclusivo da vítima, adverte:
tmp.texto=101918)
(Publicado em 23/05/2011 às 10:04 hs - REsp. 903771) “Advirta-se uma vez mais, portanto,
que o fato exclusivo da vítima exclui o
Assim, diante da diversidade de julgados
próprio nexo causal em relação ao
acerca do tema, parece-nos que o pior cenário
aparentemente causador do direito do
– do ponto de vista da responsabilidade do
dano, pelo que não se deve falar em
fornecedor – para fins de constatação do dever
simples ausência de culpa deste, mas
de indenizar, por estar adstrito ao conceito de
em causa de isenção de
vida útil do projeto (VUP), será, smj, à Tabela
responsabilidade. O Código do
abaixo, extraída da NBR 15.575.
Consumidor, em seus arts. 12, § 3º,
inciso III, e 14, § 3º, inciso II, incluiu
Vê-se, pois, que o critério da vida útil (VUP),
expressamente a culpa exclusiva do
definido pelo construtor, é mote de constante-
consumidor entre as causas
mente discussão, abordado pelo do Judiciário
exonerativas da responsabilidade do
como fundamento à solução de litígios por
fornecedor.”
atender à melhor expectativa dos consumido-
res, à boa-fé e a razoabilidade.

A levar em conta essa premissa, competirá


aos agentes da construção habitacional infor-
mar adequadamente o destinatário final (por
19
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
meio de manuais) e aos partícipes do processo
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
construtivo em suas diversas etapas (forneci- com especificação correta de quantidade, características, composição,
mento/estrutura/hidráulica etc), por memo- qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
randos, pareceres, recomendações ou anexos 20
Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar
contratuais, os procedimentos técnicos que informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa
sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço,
deverão ser observados do início à conclu-são garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre
da edificação. os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
57 21
Ob. Citada, pg. 86
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Tabela 1 - Vida Útil de Projeto (VUP)

Sistema VUP mínima VUP intermediária VUP superior

Estrutura 50 anos 63 75
Pisos internos 13 anos 17 20
Vedação vertical externa 40 anos 50 60
Vedação vertical interna 20 anos 25 30
Cobertur 20 anos 25 30
Hidrossanitário 20 anos 25 30

IX. CONCLUSÃO a controvérsia que recai sobre a responsa-


bilidade diante dos novos parâmetros de vida
Não há dúvida e nem é pretensão do Autor útil do projeto (VUP).
que o presente trabalho encerre a discussão
que recai sobre os impactos da NBR 15.575 A securitização ousa-se dizer, poderá in-
na Construção Civil Habitacional. O propósito, clusive despertar o interesse de profissionais
por outro lado, é de contribuir para o aperfei- envolvidos no processo de edificação, eis que
çoamento de teses e construções jurídicas que não é incomum verificar, em nossas cortes,
nortearão as relações jurídicas após este mar- decisões atribuindo responsabilidade às pes-
co significativo. soas físicas22.

Extraí-se, todavia, que a NBR 15.575 não Obrigado!


é apenas um divisor do ponto de vista técnico,
isto é, e desempenho mínimo a ser atendido Carlos Henrique Raguza
nas construções habitacionais mas constata- Advogado
se, com absoluta segurança, que levará a so-
Tel: +55 (11) 2359-5621 Fax: +55 (11) 2359-5619
ciedade empresarial e aos profissionais envol-
www.fercab.com.br
vidos a adoção de uma série de mecanismos
de prevenção de responsabilidades (contratual
e extracontratual) nas etapas da edificação.

Com referida norma técnica, há, de certa


forma, maior clareza, especificidade, atribui-
ção de escopos e responsabilidades aos agen-
tes do processo construtivo.
22
15.1. Dever de acompanhar a obra. Defeitos na construção – Dever de
Abre-se, por fim, espaço para o fomento acompanhar a execução da obra – Responsabilidade que não pode ser
transferida ao pedreiro – indenização procedente (JTACSP, 74.145)
à contratação seguros de responsabilidade 15.2. Responsabilidade do engenheiro civil, projetista e fiscal da obra. –
civil, cuja dificuldade será definir uma abran- Responde solidariamente pelos danos causados em razão de falhas da
construção o engenheiro fiscal que negligencia em sua atividade
gência e cobertura que se torne economica- profissional (RT, 584:92)
mente viável (formação de uma carteira equili- In Carlos Roberto Gonçalves, ob. Citada, pg. 398

58 brada), levando-se em conta, principalmente,


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