Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Manual SINAENCO NBR 15575-V10
Manual SINAENCO NBR 15575-V10
Os impactos da Norma de
Desempenho no Setor da
1
Arquitetura e Engenharia Consultiva
::
Sinaenco Nacional
José Roberto Bernasconi – Presidente
Sinaenco Regional SP
Carlos Roberto Soares Mingione - Presidente do Sinaenco/SP
2 Julho de 2015
::
Grupo de Trabalho da Norma de Desempenho / GT- SINAENCO
SINAENCO e SINAENCO/PE
Michelle Pinheiro Pessôa
SINAENCO/SP
Carlos Roberto Soares Mingione
Claudinei Florencio
Cleber Garcez
Eduardo Martins
Fabio Giannini
Fernando Jardim Mentone
Luciano Alcazar Tani
Maria Amalia Sá Moreira
Orlando Botelho
Ricardo Hunziker
Ricardo França
Stella Maris Miguél Lopez
Roberto de Castro Mello
SINAENCO/MG
Emmerson Ferreira da Silva
SINAENCO/RS
Ricardo Santiago
ABECE
Marcelo Rozenberg
ABRATEC
Rogério Perini
Gisele Galvão
Heloisa Bolorino
Luis Borin
ABRASIP
Sérgio Kater
AGESC
Cecília Levy
ASBEA
Edison Borges Lopes
FERCAB
Carlos Henrique Raguza
PRÓ ACUSTICA
Davi Akkerman
3
::
APOIADORES
EXPEDIENTE: SIGLAS:
ABECE
Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura Associação Brasileira de Engenharia Estrutural
e Engenharia Consultiva - SINAENCO
ABRASIP
Rua Marquês de Itu, 70, 3º. andar Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais
ABRATEC
01223-000 - São Paulo - SP Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia
11 3123-9200 da Construção Civil
sinaenco@sinaenco.com.br AGESC
Associação Brasileira dos Gestores e Coordenadores de Projeto
www.sinaenco.com.br
ASBEA
Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura
Departamento de Estudos Econômicos: FERCAB
Ferreira Cabral, Raguza & Monteiro Sociedade de Advogados
Pâmela C. Barbosa Felício
PRÓ ACUSTICA
Associação Brasileira de Qualidade Acústica
SINAENCO
Nacional
SINAENCO/MG
Regional Minas Gerais
SINAENCO/PE
Regional Pernambuco
SINAENCO/RS
Regional Rio Grande do Sul
SINAENCO/SP
4 Regional São Paulo
::
Editorial
Editorial 5
Prefácio 6
1. Um breve histórico 8
2.3. Gestão 13
2.4. Capacitação 14
3. Recomendações gerais 17
4. Considerações finais 18
Anexo III. Manifestação da Abrasip sobre o impacto da NBR 15575 nas Instalações Prediais 25
Anexo IV. Manifestação da Abratec sobre o impacto da NBR 15575 no Controle Tecnológico 31
7
::
Os impactos da Norma de Desempenho no
setor da arquitetura e engenharia consultiva
Atributos primordiais
Segurança
2.2. Visão sistêmica: Habitabilidade
Sustentabilidade
Uma abordagem inicial da NBR 15.575 já
identifica o tratamento sistêmico que o docu-
mento confere à edificação habitacional: Os atributos primordiais são obtidos por
meio de uma estrutura de requisitos que
permeiam a edificação como um todo e cada
um dos subsistemas que a compõem. O aten-
dimento a tais requisitos é verificado por meio
de indicadores que permitirão a comparação
dos resultados obtidos com aqueles definidos
no projeto, a partir dos níveis de desempenho
requeridos pelo empreendedor: Mínimo,
Intermediário ou Superior.
2.4. Capacitação
16
::
3. RECOMENDAÇÕES GERAIS
19
::
A.1. Avaliação do contexto atual do A.1.2. Interação harmônica com os
setor de A&EC e dos demais demais componentes da cadeia
componentes da cadeia produtiva para produtiva, clientes e fornecedores
o atendimento à NR 15575. O entendimento é de que a 15.575 define
claramente os agentes e responsabilidades no
A.1.1. Capacitação técnica, atendimento ao conjunto de normas perti-
gerencial e financeira nentes à construção civil.
A área de projeto de arquitetura atua em Cabe aos arquitetos e projetistas um
uma moldura legal bastante rígida no tocante importante papel de codificar (por meio da
à legislação urbanística e edilícia, entre ou- documentação de projetos), juntamente com
tras. os construtores e fornecedores, as expecta-
Além do atendimento às normas urbanís- tivas de desempenho pretendidas pelos in-
ticas, tais como coeficientes de ocupação, corporadores e contratadas por seus clientes.
aproveitamento, permeabilidade e atendi-
mento a regramentos referentes a gabarito, A.1.3. Dificuldades de atendimento aos
iluminação e ventilação, somos habituados requisitos da norma (caro, inadequado,
ainda a atender a normativas mais específicas, falta de equipamento etc.)
como as emanadas pelo Corpo de Bombeiros, Entendemos que a maior dificuldade se
Ministério do Trabalho, Anvisa, Vigilância Sani- observa no atendimento ao desempenho de
tária e Patrimônio Histórico, além das normas sistemas que dependem exclusivamente de
internas dos clientes. ensaios para comprovação de conformidade.
Entretanto, o setor não tem, em geral, a Tendo-se em vista que a norma se aplica
cultura das normas técnicas oficiais. Algumas a todas as edificações residenciais, torna-se
normas que, por força de lei, se tornaram irreal imaginar ensaios no número e abran-
mandatórias, como a NBR 9050, começam a gência requeridos para a execução de uma
ser observadas com maior zelo e atenção. residência unifamiliar.
O surgimento da NBR 15.575 obriga o Ressalte-se que esta tipologia responde
setor a rapidamente absorver e passar a pela prestação de serviços de significativa
observar, praticamente em sua totalidade, as maioria de escritórios de projeto de arquite-
NBR’s ligadas à construção civil, ainda que tura, compostos por reduzida equipe e, portan-
restritas às edificações residenciais. to, com limitada capacidade técnica e financeira
Este fato demanda dos escritórios de para se adequarem a esta nova realidade.
projeto esforço técnico e financeiro de capa-
citação e treinamento de profissionais quali-
ficados e experientes para implantar sistemas
de gestão, capazes de rapidamente multiplicar
procedimentos que garantam o atendimento
à Norma de Desempenho.
Nota-se um grande interesse sobre o
tema e uma busca por informações que ainda
não resultaram em uma efetiva mudança nos
procedimentos do setor como um todo, mas
em iniciativas isoladas.
20
::
A.1.4. Riscos e oportunidades. Atendimento a requisitos de
Os riscos imediatos que observamos são sustentabilidade
de um crescimento das demandas judiciais na
Definição das VUPs de cada sistema,
relação com o cliente, seja ele consumidor final
alinhadas com as expectativas de
ou incorporador. Em um segundo momento,
desempenho, e registro desta
entendemos que este movimento inicial deve
premissa na documentação de
acarretar:
projeto.
Crescimento na procura por
Na etapa de projetos executivos e durante a
qualificação;
realização da edificação:
Redução do número de escritórios, por O projeto passa a ser documento de
não conseguirem se adaptar às novas contrato, mais do que documentação de
exigências, por fusões ou por execução. O projeto é o único elo entre o
encerramento das atividades. desempenho desejado pelo cliente e o
desempenho a ser obtido pela edificação.
Melhor qualificação dos escritórios
remanescentes. Atendimento a requisitos de segurança
22
::
Anexo II
23
::
Estágio atual das normas sejam adotadas providências complemen-
estruturais brasileiras tares, externas ao escopo do projeto, tais
e o desempenho das estruturas como controles de qualidade na disponi-
bilização e preparo de componentes estru-
A garantia do desempenho das estruturas turais e na manutenção adequada e tempes-
quanto à segurança e estabilidade é uma das tiva da estrutura.
preocupações mais antigas da sociedade e da Assim sendo, até o momento não foram
indústria da construção, já tratada, por identificados na NBR 15.575 fatores que, por
exemplo, no código de Hamurabi (~1700 aC). si só, exijam maiores ajustes nos proce-
A observância das atuais normas técnicas dimentos ou normas brasileiras de projeto no
brasileiras de estruturas, atualizadas e com- setor da engenharia estrutural, para a garantia
patíveis com as principais normas interna- do desempenho das estruturas.
cionais, tem sido suficiente para atender às
expectativas de estabilidade, segurança e
durabilidade das edificações. Isto, desde que
24
::
Anexo III
25
::
Esta Recomendação Técnica (RT) apre- B. Recomendações
senta os aspectos mais importantes a serem A partir dessas considerações, a Abrasip
considerados para o atendimento às recomen- recomenda que o associado tenha descrito em
dações da Norma de Desempenho (NBR seu memorial /projeto alguns textos e
15.575-2013 Edificações Habitacionais – De- procedimentos que julgamos necessários:
sempenho 2013), no que se refere aos requisi-
tos mínimos para aplicação da mesma. 4.1. Parte 1 da Norma de
Desempenho - Requisitos Gerais:
Norma Brasileira ABNT - NBR 15575-6 Itens 1 a 12 - Em geral, para estes
“Edificações habitacionais – Desempenho” itens, recomendamos ao associado
Parte 6: Requisitos para os sistemas que os leia e tenha o seu próprio
hidrossanitários entendimento a respeito. Alguns
itens pertinentes à nossa área serão
tratados na Parte 6 – Requisitos para
A. Considerações gerais os Sistemas Hidrossanitários.
A Abrasip sabe da capital importância da
Norma de Desempenho, para o comportamen- Item 13 – Desempenho Lumínico
to da edificação em uso, sua manutenibilidade
e conforto e, assim, lança esta RT para pa- 13.3. Requisito – Iluminação
dronizar os requisitos e suas soluções aos seus Artificial
associados. A norma possui várias partes. Des- Apesar de o projeto de instalações
tacamos, porém, os requisitos que afetam mais elétricas se referir apenas à
a nossa área de atuação, ou seja, a “Parte 6: alimentação dos circuitos de
Requisitos para os sistemas hidrossanitários”. alimentação da iluminação,
A Norma de Desempenho, em sua Parte recomendamos que o associado
6, trata da responsabilidade do projeto hidro- cite em seu projeto, de alguma
ssanitário quanto às especificações técnicas forma, os níveis de iluminamento
dos materiais, níveis de ruídos de equipamen- geral para iluminação artificial,
tos, resistência mecânica dos sistemas hidros- conforme tabela E6, página 30.
sanitários e das instalações, e sua manute- Isto porque há a descrição de
nibilidade. ambientes nessa tabela, pela qual
Recomendamos que o documento e/ou da- definimos as luminárias e os níveis
ta, que determina o ponto de partida do projeto de iluminamento (ver também
e tem a finalidade de definir se este será abran- tabela E6 página 64 – Parte 6).
gido pela Norma de Desempenho, seja a ART
(Anotação de Responsabilidade Técnica). Item 14 – Durabilidade e
De acordo com a Norma de Desempenho, manutenibilidade
o projeto hidrossanitário passa a ser utilizado O projeto de instalações
como método de avaliação dos critérios a se- hidrossanitárias foi desenvolvido
rem adotados pela NBR 15575. Portanto, reco- atendendo à norma ABNT 15.575, à
mendamos ao associado, que o seu projeto/ vida útil de projeto (VUP) e ao
memorial descritivo se cerque de todos os cui- desempenho dos sistemas, conforme
dados necessários ao atendimento a essa tabela abaixo:
26 norma.
::
Sistema VUP mínima em anos
31
::
O objeto deste trabalho é o controle Subentende-se também que, no docu-
tecnológico de produtos e sistemas da cons- mento em questão, estão contemplados
trução civil para atendimento à ABNT NBR componentes ou materiais industrializados,
15575:2013. seriados ou não, comercializados por distribui-
O controle tecnológico é fundamental para dores ou em revendas. Mesmo nesses casos,
a avaliação de desempenho de uma edificação. sob o conceito de desempenho, o compor-
Por meio desse controle, pode-se confirmar tamento do produto poderá depender das
se a edificação apresenta as características condições de montagem, instalação ou apli-
indicadas no projeto, além de permitir a iden- cação em obra. No caso da aplicação por
tificação e a correção de eventuais problemas terceiros, é importante que esta seja feita sob
de não-conformidade. Compreende um con- orientação pertinente, formalizada por meio
junto de procedimentos de controle para todas de documentação e assistência técnica.
as fases de concepção e construção de uma O desempenho de um sistema cons-
edificação, isto é, estudos preliminares, elabo- trutivo, assim como de qualquer outro produto
ração de projeto, planejamento executivo, ar- industrializado que desempenha função de
mazenamento, transporte, recebimento e responsabilidade, precisa ser submetido ao
montagem, entre outros. controle da qualidade.
Tem como conceito básico viabilizar meto- Há um grande número de variáveis que
dologia de organização para a obtenção das influenciam no desempenho de uma edifica-
metas e objetivos propostos. Trata-se de tarefa ção; além da rigorosa seleção dos ensaios de
que requer consciência, esforço, recursos e avaliação, é indispensável o controle tecno-
análise crítica, de modo a atingir o proposto lógico das etapas conforme os requisitos da
satisfatoriamente. No caso em questão, tem edificação.
como foco a solução de problemas relacio-
nados a produtos es-
pecíficos nas fases
de sua fabricação,
expedição, montgem
e entrega final.
Entende-se co-
mo produtos os sis-
temas ou subsiste-
mas construtivos,
bem como proces-
sos (fabril, armaze-
namento, transpor-
te, montagem, entre
outros) intrínsecos
aos mesmos. Os pro-
dutos são, necessa-
riamente, montados
ou instalados em obras, diretamente pelo
fabricante, construtor ou por terceiros, sob a
32 supervisão da construtora.
::
A. Cenário da Construção Civil no âmbito B. Recomendações
do Controle Tecnológico
Documentações e registro de controle
Um laboratório apresentará resultados
confiáveis se os serviços de controle tecno- As empresas responsáveis pelo desen-
lógico forem realizados por meio de um volvimento dos sistemas devem prover
controle rígido de qualidade. procedimentos, planilhas e/ou fichas de veri-
A maneira pela qual os laboratórios ficação (check-lists) para serviços desen-
garantem sua capacidade, competência volvidos nas etapas de elaboração de projeto,
técnica e qualidade na execução dos serviços produção em fábrica ou em obra, e produtos
prestados de controle é a obtenção da acre- instalados ou aplicados. Tais planilhas devem
ditação no Instituto Nacional de Metrologia, ser adaptadas a cada produto ou processo de
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) produção, contemplando os principais requi-
com base na norma NBR ISO/IEC 17025. Esses sitos a serem verificados no processo de pro-
laboratórios são submetidos a auditorias dução e no produto.
técnicas e sistêmicas periódicas, o que garante Tais documentos referem-se à fabricação,
a qualidade na execução e controle de seus instalação e aplicação do produto, ou seja,
ensaios. nas unidades fabris e em obras em execução.
O controle tecnológico promove indire- A avaliação em uso é realizada em obras
tamente a economia de custos com reparos finalizadas.
em estruturas, devido ao maior controle de No caso de componentes ou materiais
qualidade na execução das edificações e industrializados e disponíveis em distribui-
ganhos na eficiência da realização dos ser- dores/revendas, a empresa deve prover do-
viços, por meio da obtenção do melhor desem- cumentações de controle fornecidas pelo fabri-
penho dos materiais que a constituem. cante do produto e/ou de terceira parte.
A NBR 15.575 traz ao setor de controle Os controles dos produtos devem ser
tecnológico uma abordagem adicional ao realizados e registrados para todas as etapas
mercado que, dentre outras normas que já o da obra, desde a sua implantação até a
fazem, trata da consolidação da aceitação de entrega final do empreendimento. Esses con-
um sistema ou de parte dele, como uma abor- troles devem ser compilados e armazenados
dagem única, por meio de ensaios de desem- de acordo com as políticas da empresa e estar
penho das edificações, ou seja, análises sobre disponíveis sempre que solicitados.
o comportamento térmico, acústico, de manu-
tenabilidade e estrutural desses edifícios. Nota: Os documentos devem ser tecnicamente
adequados, com todas as informações recomendadas
Além dos tratamentos diretos relaciona-
pela normalização ou instruções técnicas pertinentes
dos aos sistemas construtivos, a norma 15.575 (diretrizes, regulamentações, legislações etc).
também possibilita a atuação deste setor em
treinamentos e especializações de equipes Os seguintes documentos, no
voltadas à execução. mínimo, devem ser providenciados:
36
::
A. Considerações gerais: As soluções técnicas desenvolvidas pelos
A Norma de Desempenho é o resultado projetistas das diferentes especialidades
de longo trabalho para estabelecer parâme- devem ser compatíveis entre si, atender às
tros, objetivos e quantitativos que podem ser necessidades e níveis de desempenho de-
medidos para que o consumidor final (mora- finidos pelo incorporador e serem executáveis
dor) tenha a certeza de adquirir um imóvel dentro do orçamento disponível para o empre-
com os requisitos desejados de conforto, esta- endimento.
bilidade, segurança estrutural, durabilidade e Nesse cenário, ganha força a figura do
segurança contra incêndio. gerenciamento. A equipe de gerenciamento
A grande novidade dessa norma é o con- atuará como apoio técnico do empreendedor/
ceito de comportamento em uso dos compo- incorporador, fomentando a integração e a co-
nentes e sistemas das edificações. Para que operação dos agentes envolvidos, coordenan-
se atinja a eficiência das edificações habitacio- do a solução global dos projetos e a integração
nais, é necessário desenvolver e aplicar os pro- técnica entre as diversas especialidades de
dutos para que atendam às necessidades da projeto, entre o projeto e a execução da obra,
construção. Com isso, espera-se uma mudan- até sua conclusão e entrega do Manual de Uso,
ça de cultura no setor de produção habita- Ocupação e Manutenção ao usuário.
cional.
Para cada necessidade do usuário e con- A.1.1. Capacitação técnica,
dição de exposição, a norma apresenta a se- gerencial e financeira
quência de Requisitos de Desempenho, Crité- O gerenciamento deve ser coordenado
rios de Desempenho e respectivos Métodos por profissional com habilidades administra-
de Avaliação. tivas e de liderança para poder gerenciar equi-
A Câmara Brasileira da Indústria da Cons- pes multidisciplinares de projetos e super-
trução (Cbic) produziu um Guia Orientativo visão/fiscalização de obras. Deve também ter
para atendimento à Norma, organizado por amplo conhecimento relativo às diversas es-
disciplinas, que tem como foco subsidiar o pecialidades de projeto, técnicas construtivas
entendimento e decisões de fornecedores, e experiência quanto à execução de obras.
projetistas, construtoras e usuários. As equipes deverão possuir capacitação
técnica para verificação do atendimento aos
A.1. Avaliação do contexto atual do requisitos de projeto e da Norma de Desem-
setor de A&EC e dos demais penho e das demais normas. Além disso, de-
componentes da cadeia produtiva para verão possuir amplo conhecimento de técnicas
o atendimento à NR 15575 gerenciais e de planejamento e controle.
Os processos de concepção, construção Tendo em vista as constantes evoluções
e manutenção envolvem toda a cadeia pro- das metodologias de gestão, torna-se fun-
dutiva (incorporadores, projetistas, cons- damental a implantação de sistema de infor-
trutores, fornecedores de material, com- mações gerenciais e controle de documentos
ponente e/ou sistema) e o usuário. Surge en- gerados pelas diversas entidades nos vários
tão a necessidade de organização da cadeia níveis de atuação dentro do empreendimento,
produtiva, para que cada parte possa cumprir a fim de auxiliar a gestão, de forma eficaz e
com suas responsabilidades. eficiente.
37
::
A.1.2. Interação harmônica com os esse que pode até comprometer a viabilidade
demais componentes da cadeia de implantação de empreendimentos habita-
produtiva, clientes e fornecedores cionais, especialmente os de interesse social.
O gerenciamento, coordenando e promo- Para que se viabilizem os empreendimentos
vendo a integração entre os diversos com- de menor custo e, ao mesmo tempo, atendam
ponentes da cadeia produtiva, pode agregar ao desempenho mínimo, há que se investir em
valor ao empreendimento, sistematizando e inovação tecnológica e aumento de eficiência
compilando toda a documentação que com- em toda a cadeia produtiva. E, cumulativa-
prove o atendimento às exigências da Norma mente, é preciso promover uma ordenação
de Desempenho. tributária que desonere os setores da cadeia
produtiva da construção habitacional, além de
Pelo atendimento à Norma disponibilizar financiamento mais barato.
Incorporador – definição dos níveis de
desempenho; A.1.4. Riscos e oportunidades.
Os riscos são muito grandes. Apesar de
Projetistas – soluções e
existir uma mobilização de toda a cadeia da
especificações;
construção em busca do atendimento à NBR
Fornecedores de materiais e 15.575, o mercado ainda não está totalmente
produtos – qualidade e desempenho; preparado para isso. Os custos de materiais e
Construtora – execução da obra. componentes e da mão de obra necessária
para sua aplicação/instalação por vezes invia-
Pela confirmação do atendimento bilizam o empreendimento.
O caso se agrava ainda mais quando fala-
Laboratórios – ensaios
mos de habitação de interesse social, em em-
comprobatórios;
preendimentos do programa Minha Casa, Minha
Gerenciadora – coordenação de Vida do Ministério das Cidades, ou de compa-
projetos e interfaces, fiscalização da nhias habitacionais de estados e municípios,
execução, verificação e compilação da como, por exemplo, a Companhia de Desen-
documentação. volvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no
estado de São Paulo.
Nas regiões metropolitanas, onde existe
A.1.3. Dificuldades de atendimento aos um alto custo dos terrenos, pode-se dizer que
requisitos da norma hoje é praticamente impossível construir edi-
Além da necessidade de compromen- fícios habitacionais destinados à baixa renda
timento de toda a cadeia produtiva, selecio- que atendam plenamente à Norma de De-
nando, especificando e documentando a es- sempenho, dentro dos custos previstos nos
colha e o emprego de componentes e siste- orçamentos.
mas que atendam aos requisitos de desem- Assim, tendo em vista que a função do
penho, identificamos como maior dificuldade gerenciador é a de fazer cumprir o atendi-
a confirmação do desempenho de sistemas mento às normas e especificações, tanto na
que dependam de ensaios. elaboração dos projetos quanto na execução
Por outro lado, o atendimento aos requi- das obras, sua atribuição e responsabilidade
sitos da norma pode implicar na elevação dos ficam comprometidas, na medida em que
custos de componentes e sistemas, aumento existe a inviabilidade financeira e até mesmo
38
::
técnica para atender à totalidade dos requi- cessos de qualidade em suas empresas. Isso
sitos de desempenho. ajudará para que o processo de implantação
Além disso, há o fato de que os projetos da norma seja o mais tranquilo e efetivo pos-
devem prever a usabilidade e manutenibili- sível. A seguir um roteiro com as diversas
dade do edifício ao longo de sua vida útil. Su- atribuições do gerenciamento para as dife-
pondo-se que um empreendimento tenha sido rentes etapas de implantação:
projetado para 50 anos, não é possível garantir
que o usuário utilizará adequadamente o edi- 1. Na etapa de estudos preliminares e
fício e realizará as manutenções necessárias projetos básicos
nos períodos estabelecidos em projeto. Identificação de riscos previsíveis para
Por analogia, seria o mesmo que dizer subsidiar projetistas de informações;
que um veículo pode ter vida útil de 20 ou 30
Definição dos escopos contratuais,
anos, desde que sejam realizadas as revisões,
incluindo Vida Útil de Projeto (VUP) dos
trocas de óleo, pneus, amortecedores, bate-
sistemas;
rias, lubrificações, limpeza etc, dentro dos
prazos estabelecidos em seu manual. Definição dos níveis de desempenho
Assim, o grande risco para o setor de (mínimo, intermediário ou superior)
gerenciamento e supervisão de empreen- para os diferentes elementos da
dimentos está na assunção de uma corres- construção e/ou para a obra como um
ponsabilidade que ainda não é possível dentro todo.
das atuais condições de mercado. Verificação das especificações de
Por outro lado, a Norma de Desempenho materiais, produtos e processos que
configura uma oportunidade para o setor de atendam ao desempenho requerido
gerenciamento, pois deixa clara a necessidade (mínimo, intermediário ou superior) e
de uma coordenação que promova a integra- VUP.
ção entre os diversos componentes da cadeia
produtiva, a verificação do atendimento às exi- 1.1. Atendimento a requisitos de
gências da norma e a organização documen- segurança; habitabilidade e
tal do empreendimento. sustentabilidade
A aplicação da norma fará com que toda a A atuação do gerenciamento nesta etapa
cadeia produtiva da construção civil, arquite- compreende a verificação dos projetos quanto
tura e engenharia consultiva incluídas, passe ao atendimento dos requisitos estabelecidos
por um processo evolutivo com a valorização na Norma de Desempenho, no que se refere
dos bons projetos, qualificação da mão de à segurança, habitabilidade e sustentabilidade,
obra, racionalização e industrialização da considerando a compatibilidade entre as diver-
construção habitacional, capacitação de forne- sas disciplinas de projetos.
cedores e redução de custos. Sugere-se também que o gerenciamento
assuma o papel de centralizador e organizador
B. Recomendações de toda a documentação técnica gerada pelos
Para as empresas que atuam em serviços projetistas das diferentes áreas.
de consultoria em empreendimentos habi-
tacionais, as recomendações são para que
invistam na capacitação de seus profissionais
39 sobre a Norma NBR 15.575 e implantem pro-
::
2. Na etapa de projetos executivos e e análise da realização de ensaios, auditorias
durante a realização da edificação técnicas (nas fábricas e na obra) e compilação
Verificação da documentação de dos dados e resultados.
detalhamento e especificação de Considerando a responsabilidade do
materiais e sistemas. gerenciamento pela organização documental,
caberá a ele reunir, organizar e armazenar
Verificação da aquisição de materiais
toda a documentação gerada no controle
e sistemas conforme especificações
tecnológico e demais inspeções técnicas.
e verificação da caracterização do
desempenho dos produtos.
3. Na etapa de comissionamento e
Verificação da execução da obra entrega ao usuário
conforme projetos e especificações.
Apoio à elaboração do Manual de Uso,
Verificação de ensaios. Operação e Manutenção, para garantir
Compilação de requisitos de uso e a segurança, a habitabilidade e a vida
manutenção para elaboração do Manual útil definidas pelo incorporador.
de Uso, Operação e Manutenção. Compilação e digitalização de toda a
documentação de projetos, obra e
2.1. Atendimento a requisitos de ensaios em databook que subsidie o
segurança; habitabilidade; incorporador, projetistas e construtor
sustentabilidade quanto ao atendimento das exigências
A atuação do gerenciamento na etapa de da Norma de Desempenho.
projetos executivos compreende a verificação
dos projetos quanto ao atendimento dos requi-
sitos estabelecidos na Norma de Desempenho,
no que se refere à segurança, habitabilidade e
sustentabilidade, considerando, além da com-
patibilidade entre as diversas disciplinas de
projetos, a qualidade, o nível de detalhamento
e a suficiência dos projetos executivos com vis-
tas à execução das obras.
O gerenciamento será responsável pela
supervisão/fiscalização das obras dos empre-
endimentos, com o objetivo de que sejam exe-
cutadas em rigorosa observância aos projetos
executivos, com a aplicação dos materiais e
componentes especificados. Nesta etapa, o
controle tecnológico assume importante papel
para a avaliação do desempenho dos compo-
nentes, sistemas e subsistemas dos edifícios.
Recomenda-se que sejam rigorosamente se-
guidos os procedimentos estabelecidos pelo
setor de controle tecnológico. O gerenciador
será responsável pelo acompanhamento e
40 controle, por meio de inspeções e verificação
::
Anexo VI
41
::
A Norma de Desempenho ABNT NBR Embora ainda haja um desconhecimento
15.575-2013 é um “divisor de águas” para a sobre como especificar desempenho e sobre
qualidade acústica dos edifícios residenciais os requisitos de acústica exigidos pela norma,
no Brasil. Trata-se de um instrumento para a com dúvidas a respeito da quantificação e das
melhoria do projeto, especificações e cons- soluções acústicas para alcançar as exigências,
trução de unidades habitacionais com melhor vem ocorrendo um grande esforço da cadeia
desempenho acústico, que traz uma nova produtiva da construção nesse sentido. Os
cultura e, assim, agrega de fato o conforto projetistas terão de especificar com mais
acústico às construções. A Associação Brasi- conhecimento e os fabricantes terão de
leira para a Qualidade Acústica (ProAcústica) adquirir a cultura do ensaio, a fim de definir
apoia e promove ações nesse sentido. níveis de desempenho de seus produtos e
De forma geral, todos os envolvidos no sistemas. Será preciso, por exemplo, ensaiar
processo vêm fazendo esforços e adaptações não apenas um bloco de alvenaria, mas o
nesta fase de apropriação e aplicação da sistema de parede, com todos os seus inter-
Norma de Desempenho, a fim de garantir o venientes, como janelas, portas e os demais
resultado mais adequado e assegurar o direito componentes, a fim de obter o desempenho
dos consumidores, já que a norma técnica tem acústico real da tipologia adotada.
força de lei. Desde há muito tempo esses No que diz respeito às soluções de projeto
parâmetros, associados à habitabilidade e à para responder às exigências de desempenho
saúde dos usuários, vinham sendo negligen- acústico, o mercado vem se preparando para
ciados, e o desempenho acústico era tido como especificar as soluções mais adequadas nos
um “requinte”. diferentes tipos de projetos arquitetônicos,
A partir da vigência da NBR 15.575, em adaptando-se às exigências normativas.
2013, e de sua exigibilidade, o cenário mudou Uma medida importante de auxílio ao pro-
radicalmente. Agora, os requisitos de bom jeto é a caracterização da “paisagem sonora”
desempenho acústico devem ser observados dos terrenos e entornos dos futuros empreen-
nos diversos tipos de edifícios habitacionais, dimentos, estudo que ajuda a definir quais as
classificados em níveis de conforto mínimo, melhores soluções para fachadas, vedações e
intermediário e superior, que contemplam medidas para atenuação dos ruídos locais,
desde os imóveis mais simples até os mais considerando também o melhor custo-bene-
sofisticados. fício. Por isso, é indispensável que o processo
Por sua vez, os profissionais de projeto de projeto conte com uma consultoria de acús-
estão diante de uma questão inerente à sua tica para verificação e classificação objetiva
atividade, que é a responsabilidade técnica dos terrenos e verificação e adequação das
pelo que projetam e especificam. De sua parte, vedações externas e internas.
as construtoras, responsáveis pela viabilização O primeiro passo foi dado. E, apesar de
dos projetos, precisam garantir o desempenho os requisitos mínimos serem ainda baixos em
do que executam. A cadeia de fornecedores relação aos países desenvolvidos, devem
também está em uma situação de pressão melhorar ao longo do tempo e progredir para
para atender às novas necessidades de condições cada vez mais salutares para o
mercado, principalmente os fabricantes de usuário.
portas, janelas e blocos de alvenaria, que Relacionamos na sequência considerações
precisam desenvolver soluções e ensaiar seus gerais acerca de itens relativos ao impacto
42 produtos. que a Norma de Desempenho causa no setor,
::
e como a ProAcústica e seus associados vêm projetos), com a Norma de Desempenho em
dando o respectivo tratamento a essa questão. vigor, surgiu uma grande demanda no mer-
cado por profissionais qualificados em enge-
A. Capacitação técnica, gerencial e nharia acústica, dos quais ainda é carente
financeira nosso cenário técnico nacional.
A ProAcústica – Associação Brasileira para Recomendamos a quem queira obter mais
Qualidade Acústica, entidade do setor sem fins esclarecimentos relativos ao atendimento dos
lucrativos, oferece cursos de capacitação requisitos de conforto acústico, apresentados
técnica na área de desempenho acústico dos pela NBR 15575, que consulte o site da
edifícios, com foco na Norma de Desempenho ProAcústica, no endereço www.proacustica.
ABNT NBR 15575, com dois professores org.br, no qual está disponível para download
altamente qualificados. O curso é intensivo, o “Manual ProAcústica sobre a Norma de
com duração total de 16 horas e é realizado Desempenho”.
quatro vezes por ano; consultar Site da
ProAcústica para verificar a agenda de cursos.
44
::
I. SINÓPSE partam do dever ético-profissional que torne
O texto busca debater as principais conse- o respeito à tecnicidade obrigatório.
quências no cenário jurídico e fático após a
entrada em vigor da NBR 15.575, Norma Té- Não obstante isso, as Normas Técnicas
cnica aplicável às Edificações Habitacionais. emanadas por entidades ou órgãos regula-
Parte-se da obrigatoriedade de sua observân- mentadores reconhecidos são de inquestio-
cia, passando-se à análise de temas como a nável relevância para as relações jurídicas so-
Responsabilidade Civil, sua aplicabilidade den- ciais, pois estabelecem diretrizes, técnicas e
tro de relações jurídicas de natureza privada padrão de qualidade que devem ser acatados
e aquelas inseridas no mercado de consumo. pelos diversos segmentos na indústria e pres-
Conceitos jurídicos de Garantia, Vício Oculto, tadores de serviços.
Vida Útil do Projeto e projeção de seus reflexos
no tempo também são abordados, encerran- Não é diferente com a construção civil
do-se com um breve enfoque sobre os Meca- habitacional. A NBR 15.575 chega em momen-
nismos Jurídico-Processuais, as Sanções dis- to que, a despeito da retração da economia
poníveis e a importância da regra do Ônus da no cenário nacional, demandará necessa-
Prova. Após a apresentação de uma perspe- riamente no aprofundamento do planejamento
ctiva do futuro, propõe-se medidas neces- do Incorporador, Construtor e demais agentes
sárias à mitigação de responsabilidades. da etapa construtiva, notadamente no que
tange ao impacto nos custos.
II. INTRODUÇÃO
A recente edição e veiculação da Norma Se em razão disso isso já se recomenda
de Desempenho NBR 15.575 certamente finca cautela, a NBR 15.575, por outro lado, alinhará
um marco na história da Construção Civil o mercado de sorte a prestigiar a especia-
Habitacional. Muito embora já existam dentro lização e valorização do conhecimento técnico,
do arcabouço jurídico inúmeras normas técni- abrindo espaço a profissionais e empresas que
cas em vários âmbitos do Estado (Federal, atendam às novas exigências do mercado.
Estadual e Municipal), não há dúvidas de que
a NBR 15.575 importará em um impacto no Isto, diga-se, não só em relação aos agen-
conceito e na execução das edificações habita- tes da construção civil, mas também aos pres-
cionais. tadores de serviços indiretos, a exemplo do
apoio jurídico preventivo e contencioso como
As normas técnicas, em regra, são produ- ferramenta estratégica de manutenção do
zidas por um órgão oficial acreditado. Seu con- equilíbrio econômico durante todas as fases
teúdo tem por finalidade estabelecer regras, (aquisição, projeto, edificação, alienação, ma-
diretrizes, padrões ou características de um nutenção, informação etc).
material, produto, processo ou serviço dispo-
nibilizado no mercado em geral. Destaque-se, ainda, que o contexto jurí-
dico, notadamente sob o enfoque da respon-
Por não observar o Processo Legislativo sabilidade civil (“latu sensu”), deverá levar em
disciplinado na Constituição Federal (artigo 59 conta a modalidade da relação entabulada
e s.s.), sua obediência estará vinculada, em entre os agentes e com terceiros. Ao celebrar
regra, à referência em uma determinada nor- um contrato, o construtor assume a obrigação
45 ma jurídica, ou à construções doutrinárias que de entregar um resultado, que somente se dá
::
com a obra finalizada e aceita à contento por Os negócios jurídicos afetos à Construção
quem a encomendou. Nos tópicos a seguir, Habitacional, por não raras vezes estarem
longe da expectativa de por uma pá de cal inseridos no âmbito da Relação de Consumo2,
nas controvérsias jurídicas, buscar-se-á traçar recomendam a leitura do texto do artigo 39,
linhas gerais das principais consequências da a seguir reproduzido:
nova NBR 15.575.
“Art. 39. É vedado ao fornecedor de
III. DA OBRIGATORIEDADE produtos ou serviços, dentre outras
É demasiado notório que apenas a lei tem práticas abusivas:
o condão de criar direitos e obrigações, modi- (...)
ficar, extinguir ou exigir que determinada con- VIII - colocar, no mercado de consumo,
duta regra ou requisito seja atendido pelo qualquer produto ou serviço em
agente (pessoa física ou jurídica). Trata-se de desacordo com as normas expedidas
consagrado Direito Fundamental extraído do pelos órgãos oficiais competentes ou,
enunciado do artigo 5º, inciso II da Constitui- se normas específicas não existirem,
ção Federal1. pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas ou outra entidade credenciada
Assim, numa primeira análise, poder-se- pelo Conselho Nacional de Metrologia,
ia concluir, equivocadamente, pela inaplicabi- Normalização e Qualidade Industrial
lidade da NBR. 15.575 às Edificações Habita- (Conmetro);”
cionais, vez que sua natureza eminentemente
técnica não lhe confere os mesmos efeitos de Discorrendo sobre a responsabilidade pela
uma fonte normativa. perfeição da obra, Carlos Roberto Gonçal-
ves3 tece o seguinte:
Tal entendimento, entretanto, não vinga.
A legislação, em diversas esferas, impõe sua “A responsabilidade pela perfeição da
obrigatoriedade. obra, embora não consignada no
contrato, é de presumir-se em todo
No Município de São Paulo o Código de ajuste de construção como encargo
Obras faz expressa referência ao respeito ético-profissional do construtor. Isto
e aplicabilidade das Noras Técnicas porque a construção civil é,
Oficiais (artigo 12, caput, artigo 17, parágrafo modernamente, mais que um
único da Lei 11.228/92). Não obstante isso, empreendimento leigo, um processo
em um enfoque espacial mais amplo, há técnico-artistico de composição e
determinações claras de que as Normas coordenação de materiais e de
Técnicas devem ser cumpridas nas seguintes
leis:
Lei 4.150/62;
1
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
Lei 4.591/64; inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Lei 8.666/93; (...)
Código de Defesa do Consumidor. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
2
Para quem pretender se aprofundar no conceito de relação de consumo,
recomenda-se a leitura do artigo 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor.
46 3
Responsabilidade Civil, 15ª Edição, Ed. Saraiva, pg. 389
::
ordenação de espaços para atender às Este mesmo entendimento é alicerçado
múltiplas necessidades do homem. pelo artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição
Dentro dessa conceituação, o Federal, cujo conteúdo estabelece que “a lei
construtor contemporâneo está no não prejudicará o direito adquirido, o ato
dever ético-profissional de empregar jurídico perfeito e a coisa julgada”.
em todo trabalho de sua especialidade,
além da peritia artis dos práticos do Destarte, muito embora tenha-se em
passado, a peritia technica dos mente que a fixação do marco pelo qual será
profissionais da atualidade.” considerada obrigatório o cumprimento da
NBR 15.575, ao nosso ver, será objeto de
Ora, pelas razões acima ponderadas, não embates futuros nas Cortes, parece-nos que
há dúvidas de que a NBR 15.575, elaborada a melhor hipótese, a que se molda ao conceito
por representantes da Sociedade Técnica, de ato jurídico perfeito, é aquela que reco-
muito embora não tenha natureza de lei, é por menda a aplicabilidade da NBR 15.575 aos
força desta última que deverá ser cumprida projetos cujo protocolo, perante a adminis-
nas edificações habitacionais a partir de sua tração, ocorram após o dia 19 de julho de
entrada em vigor ou, ainda, em razão de um 2013.
dever ético-profissional.
Entendimento diverso seria, sem dúvida,
IV. DA VIGÊNCIA DA NORMA levar ao desequilíbrio orçamentário e contra-
tual dos diversos seguimentos e operadores
Um dos Princípios mais importantes de da Construção Civil Habitacional, em nítido
uma Sociedade Democrática, que respeita o desrespeito à Segurança Jurídica que possi-
ordenamento jurídico e limita a atuação das 3 bilita, inclusive, a prática de atos destinados
(três) esferas de Poder (Executivo, Legislativo ao desenvolvimento social de um país4.
e Judiciário) é, sem sombra dúvida, a Segu-
rança Jurídica.
V. DA ALTERAÇÃO DO CENÁRIO
A esse propósito, a vestuta Lei de Intro- JURÍDICO.
dução do Código Civil (LICC), ao tecer regras
sobre a vigência da norma, veda seu alcance A sociedade, como se sabe, está em
retroativo em determinadas hipóteses: constante transformação, seja do ponto de vis-
ta educacional, cultural, tecnológico ou demo-
Art. 6º LICC - A Lei em vigor terá efeito gráfico. Tais transformações não raras vezes
imediato e geral, respeitados o ato impulsionam o Poder Legislativo a alterar o
jurídico perfeito, o direito adquirido e a arcabouço Jurídico, ora mitigando determina-
coisa julgada. das regras de conduta, por vezes criando no-
vas, sempre com o propósito – primário – de
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já manter a paz social.
consumado segundo a lei vigente ao
tempo em que se efetuou.
4
Ainda que o empresário, ao desenvolver suas atividades, assuma como
regra o “risco do empreendimento”, o crescimento e desenvolvimento dos
negócios recomenda que o Estado confira um mínimo de segurança, sob
47 pena de inviabilizar o mercado.
::
A NBR 15.575, como mencionado em tes- etapas da cadeia de produção e seus custos
tilha, não tem natureza legislativa mas, por imediatos pois, a levar o alcance da respon-
sua obrigatoriedade estar prevista em diversas sabilidade a partir da NBR 15.575, não há
fontes de lei e em princípios éticos, como o da dúvidas de que ela vai além5 do que até então
boa-fé, traz inovações no aspecto jurídico nas se observava costumeiro.
diversas relações estabelecidas na Edificação
Civil Habitacional. Uma perspectiva conservadora reco-
mendaria que, além da garantia, fosse consi-
De conteúdo amplo, a NBR 15.575, trouxe derada a vida útil do projeto e dos materiais,
requisitos gerais e específicos (estrutura, pi- isto é, o lapso temporal em que a edificação
sos, vedações verticais, coberturas, sistemas deverá atender aos requisitos mínimos esta-
hidrosanitários etc) que devem ser respei- belecidos na Norma de Desempenho.
tados nos projetos protocolados a partir
de sua vigência. O dever de informação, nesta mesma li-
nha de relevância, é outro aspecto que deverá
Especial destaque deve ser conferido ao impactar significativamente o planejamento
conceito de vida útil do projeto (VUP), as defi- e custos dos projetos habitacionais protoco-
nições de responsabilidades e parâmetros de lados após a vigência da NBR 15.575.
desempenho mínimo, intermediário e superior
estabelecidos pela Norma. Referido dever deve, aliás, ser compre-
endido no sentido amplo. Importa dizer, não
Se por um lado a fixação de critérios técni- só deverá haver uma correta, clara e abran-
cos possa levar à percepção de que, a partir da gente informação ao consumidor (rectius, des-
NBR 15.575, impôs-se um ônus extra aos tinatário final) da edificação como, também,
agentes da Construção Civil Habitacional, de uma orientação clara e técnica entre os diver-
outro, as definições de ora em diante que bali- sos participes do processo construtivo e entre
zarão os novos projetos permitirão a identi- estes e os responsáveis pela manutenção do
ficação, padronização (mínima) e atribuição de edifício após sua entrega.
responsabilidades no processo construtivo.
Passa a assumir relevância a vida útil de
Os instrumentos jurídicos contratuais não um projeto que, por óbvio, pressupõe a obser-
mais poderão se limitar a conferir, de forma vância pelo usuário, corretamente, dos prazos
linear, maior grau de importância ao conteúdo de manutenção obrigatória, que compre-
econômico envolvido e às cláusulas penais endem a substituição de peças ou itens des-
aplicáveis em casos de infração às regras con- gastados com o tempo (roldanas, cabos etc),
tratuais. Além destes pontos, cujo peso é ine- assim como àquelas necessárias ao prolonga-
gável, deverão também primar pela fixação
de responsabilidades, de deveres e obri-
gações antes, durante e após o processo
5
Sem embargo dos prazos de vida útil do projeto (VUP) definidos na NBR
15.575, já haviam decisões que prestigiavam a Teoria da Vida Útil do Projeto
construtivo. (STJ, RESP 984.106 – SC). Nesta decisão, embora reconhecido que o
fornecedor não está “ad aetemum” responsável pelos produtos colocados
em circulação, entendeu-se que sua responsabilidade não se limita pura e
Não se pode mais consentir que o empre- simplesmente pelo prazo contratual de garantia. Independentemente deste
prazo, a venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que
sário, à quem é atribuído o risco do negócio, legitimamente se esperada, além de configurar um defeito de adequação
(art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-fé objetiva, que deve nortear
48 tenha sua visão focada apenas às diversas as relações contratuais, sejam de consumo, sejam de direito comum.
::
mento da vida útil (manutenção preven- Já na responsabilidade extracontratual,
tiva), respeitadas as condições de desem- o agente infringe um dever legal, cuja conduta
penho (pintura da fachada à cada 5 anos). enseja determinada obrigação ou consequên-
cia jurídica. O dever de indenizar em nosso
O desrespeito às recomendações do for- ordenamento, nestas hipóteses, pode ser
necedor acerca dos prazos e condições das abstraído da leitura dos artigos 186 e 927,
manutenções importa em diminuição da vida ambos do Código Civil:
útil do projeto, afastando a responsabilidade
do construtor, desde que o construtor tenha Art. 186. Aquele que, por ação ou
especificado e cientificado previamente em omissão voluntária, negligência ou
manuais. imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que
Por fim, se a NBR 15.575 já recomenda exclusivamente moral, comete ato
ao incorporador, construtor e demais agentes, a ilícito.
adoção de mecanismos de prevenção de lití-
gios, por outro, o desrespeito à norma de desem- Art. 927. Aquele que, por ato ilícito
penho trará, como consequência, a formação (arts. 186 e 187), causar dano a
de um passivo oculto considerável. outrem, fica obrigado a repará-lo.
Estrutura 50 anos 63 75
Pisos internos 13 anos 17 20
Vedação vertical externa 40 anos 50 60
Vedação vertical interna 20 anos 25 30
Cobertur 20 anos 25 30
Hidrossanitário 20 anos 25 30