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"CANÇÃO DE ADEUS"

Escrito Por:
Camila Pessoa & Yuri Lins
1 INT. AUDITÓRIO DA UNIAESO - DIA
A cena se inicia com planos detalhes das velas acesas
seguradas por mãos. Ao fundo, uma cantiga religiosa é
entoada. Os planos se alternam, revelando que há várias
pessoas presentes. O ambiente é escuro e a única iluminação
advém das chamas.
Logo em seguida, o plano se abre, revelando o auditório da
UNIAESO, onde diversas pessoas estão em pé diante de seus
assentos. No palco, um caixão fechado está disposto, com
duas coroas de flores ao seu lado.
Vista do fundo da sala, fica-se por longos instantes na
imagem estática do auditório. As velas delineiam as
silhuetas escuras das pessoas. De repente, todas as chamas
se apagam e a sala fica completamente escura. As vozes
cessam e um silêncio absoluto toma conta. O ar zune.
Sobre o palco, na parede acima do caixão, surge um quadro
branco de luz projetada. Uma sonoridade onírica começa a
ressoar; a música é envolvente e cria uma atmosfera de
elevação. Subitamente, o quadro branco projetado começa a
mudar de cor.
A trilha onírica dá lugar a uma paisagem sonora
dodecafônica, caótica e maquinada. O bate-estaca das notas
musicais acompanha o ritmo da mudança de cores. Azul,
vermelho, amarelo, verde, laranja... A velocidade aumenta.
As silhuetas das pessoas resplandecem de forma colorida.
Bruscamente, as cores desaparecem e um quadro preto passa a
ser projetado, deixando a sala ainda mais escura. A música
para e o ar volta a zumbir.

Ao redor começam a ressoar os rumores indistintos de vozes,


em volume baixo. O rumor cresce progressivamente,
tornando-se cada vez mais nítido. São gravações de aulas do
curso de cinema: distinguem-se as vozes dos professores
dando o conteúdo, as conversas dos alunos, perguntas, risos,
brigas, toda uma história vivida no convívio das aulas. As
vozes ecoam pelo espaço, criando uma atmosfera
fantasmagórica de vozes do passado que coexistem no
presente.
Silêncio.

Sobre a tela são projetadas imagens gravadas durante a


estadia no curso: trechos de seus filmes, exercícios,
imagens de bastidores, etc. Toda uma trajetória no curso que
se sobrepõe na projeção. A velocidade das imagens é
acelerada. Traços de memória que, de tão rápidos, perdem sua
singularidade e se tornam feixes de luzes e matérias
(CONTINÚA)
CONTINÚA: 2.

abstratas vibrando sobre a tela. A sonoridade dodecafônica


retorna. As silhuetas das pessoas na plateia vibram com o
caleidoscópio de luzes.
O caixão começa a se abrir lentamente e uma Mulher surge de
dentro dele. Seu corpo é coberto pelas imagens projetadas,
que se sobrepõem e se transformam em um mosaico visual que
envolve todo o seu ser. Ela se levanta do caixão e começa a
fazer uma performance, movendo-se no palco em sincronia com
as imagens que a cobrem.

A Mulher começa a se mover suavemente pelo palco, seus


braços e pernas se estendem em movimentos graciosos e
delicados. Seu rosto transmite serenidade e felicidade, com
um sorriso radiante que ilumina a sala. Ela dança com uma
leveza de uma pena, como se fosse movida pelo vento. Seus
olhos brilham de alegria enquanto ela gira, salta e desliza
pelo palco.
A suavidade dos gestos da Mulher começa a dar lugar a uma
expressão de dor e sofrimento. Seu corpo se contorce e seus
movimentos se tornam mais bruscos e desordenados.

A Mulher ergue seus braços em um gesto de desespero e, em


seguida, os abraça ao corpo, como se tentasse se proteger de
algo. Seus movimentos são frenéticos e caóticos, suas pernas
se contorcem em uma dança desordenada, enquanto ela se
movimenta pelo palco. Seu rosto transmite uma mistura de
dor, raiva e tristeza, com os olhos vidrados fixos em um
ponto no infinito. Ela balança a cabeça em sinal de negação.
A sonoridade dodecafônica se intensifica, criando uma
atmosfera tensa e dramática
A Mulher se ajoelha no chão, os movimentos suaves e
delicados dão lugar a tremores e convulsões. As imagens
projetadas param de ser exibidas, deixando apenas um quadro
branco que vibra intensamente. A Mulher se levanta
lentamente, exausta, e desce do palco, caminhando em direção
à plateia. O público, que novamente segura as velas nas
mãos, é iluminado pelas chamas enquanto a performer passa
por entre as pessoas, que tocam seus braços, suas mãos, seu
rosto, sentindo a vibração de sua performance.
A Mulher atravessa a porta do audiório.

2 INT. CORREDOR 3 - DIA


A Mulher atravessa a porta do auditório e adentra um
corredor silencioso, os passos ecoando no chãoAs paredes
brancas parecem estéreis.A portas dos escritórios estão
fechadas. A única luz vem de janelas fechadas, criando
sombras que se movem ao ritmo dos passos da Mulher.
3.

3 INT. CORREDOR 2 - DIA


A Mulher dobra à direita, seguindo por um novo corredor.
Algumas portas estão abertas, revelando salas de aula vazias
e escurecidas. A Mulher segue em frente, sem se importar com
o ambiente opressivo.

4 INT. CORREDOR 3 - DIA


Um terceiro corredor se abre diante da Mulher. As paredes
são de um amarelo encardido, e alguns quadros estão
pendurados.. As portas das salas de aula estão trancadas.

5 INT. CORREDOR 4 - DIA

A Mulher atravessa o último corredor e a câmera se concentra


em enquadrar seu corpo em relação à parede, que está coberta
por diversas placas de formatura. Um travelling acompanha
seus passos e, pelo movimento, é possível observar com
bastante nitidez os detalhes das placas: fotos de diversas
turmas ao longo dos anos, todos vestindo becas e seus nomes
ao lado. As placas de mármore são luxuosas e a Mulher
caminha lentamente ao lado delas.
Por fim, as placas cessam e há um espaço vazio na parede. A
câmera fica parada nesse espaço vazio, contemplando o espaço
de uma placa que não virá.

Numa leve panorâmica, a câmera volta-se para o restante do


corredor, buscando por onde a Mulher seguiu. No entanto, ela
não está mais lá.
Ao fundo, apenas a porta de saída e o pequeno jardim verde
iluminado pelo sol que contrasta com o escuro do interior da
faculdade. A Mulher caminha em direção à saída, passando
pela luz que invade o corredor.
FIM

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