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DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA

Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de


madeiras e de cortiça usados na estrutura e na
envolvente de edifícios
Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia
Mecânica na Especialidade de Energia e Ambiente

Autor
Tiago Emanuel Ferreira Nunes

Orientadores
Professor Doutor José Joaquim da Costa
Doutora Valeria Reva

Júri

Presidente Professor Doutor António Manuel Lopes Gameiro


Professor Auxiliar da Universidade de Coimbra

Vogais Professor Doutor Miguel Rosa Oliveira Panão


Professor Auxiliar da Universidade de Coimbra
Professor Doutor José Joaquim da Costa
Professor Auxiliar da Universidade de Coimbra

Colaboração Institucional

Associação para o
Universidade de Trás-
Desenvolvimento da
os-Montes e Alto
Aerodinâmica
Douro
Industrial

Coimbra, Setembro, 2015


Aos meus pais.
Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Agradecimentos

Agradecimentos
A dissertação aqui apresentada não seria concretizável sem o precioso contributo
de várias pessoas e instituições, às quais não posso deixar de prestar um profundo
reconhecimento:

À Doutora Valeria Reva, orientadora da dissertação, não só pela enorme


disponibilidade que demonstrou no esclarecimento de dúvidas e pela partilha de
conhecimentos como também pelas valiosas indicações, constante acompanhamento e apoio
durante todo o trabalho, sem os quais esta dissertação não seria possível.

Ao Prof. Doutor José Costa, orientador da dissertação, por todo o


acompanhamento e apoio, pelas opiniões e críticas valiosas e por se ter demonstrado sempre
disponível.

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro por ter gentilmente


disponibilizado as amostras de madeira utilizadas nos ensaios experimentais efetuados.

Ao Doutor Vítor Silva, pela grande disponibilidade que mostrou em partilhar


conhecimentos referentes à preparação dos termopares.

A todos os meus amigos pelo companheirismo, amizade, e por todos os


momentos partilhados ao longo destes últimos anos.

Por fim, dirijo um agradecimento especial à minha família. Aos meus avós, tios
e irmãos pelo amor e apoio incondicional durante toda a minha vida e aos meus pais, a quem
dedico este trabalho, por toda a confiança e compreensão que depositaram em mim e por
todo o apoio e incentivos prestados.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes i


Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Resumo

Resumo
Na presente tese é feito um estudo da inflamabilidade de três espécies diferentes
de madeira (Pinus pinaster, Pinus sylvestris e Apuleia leiocarpa), utilizadas na estrutura de
edifícios, e de aglomerado de cortiça expandida, utilizada habitualmente nas construções
como isolante térmico, acústico e, mais recentemente, como revestimento exterior. Para este
efeito foram conduzidos testes experimentais em calorímetro cónico, o que permitiu analisar
os seguintes parâmetros: tempo de ignição, tempo de extinção de chama, perda de massa,
taxa de perda de massa, taxa de libertação de calor, energia total libertada e a evolução da
temperatura. A evolução da temperatura obtida experimentalmente foi, posteriormente,
comparada com a evolução da temperatura obtida através de um modelo teórico analítico.
Verificou-se que o aglomerado de cortiça expandida representa um risco de
inflamabilidade muito maior do que as espécies de madeira estudadas. A espécie com um
risco de inflamabilidade menor é a garapa (Apuleia leiocarpa). No entanto, durante a
combustão com chama, a espécie que apresentou um comportamento mais favorável foi o
pinheiro nórdico (Pinus sylvestris).
Foi confirmada uma relação aproximadamente linear entre a densidade das
amostras utilizadas e os tempos de ignição obtidos.

Palavras-chave: Construção em madeira, Calorímetro Cónico, Taxa de


libertação de calor, Testes de inflamabilidade,
Inflamabilidade da madeira, Inflamabilidade da
cortiça.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes ii


Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Abstract

Abstract
This thesis is dedicated to the study of the flammability of three species of wood
(Pinus pinaster, Pinus sylvestris and Apuleia leiocarpa), used in the structure of buildings,
and agglomerate of expanded cork, commonly used in construction as an acoustic and
thermal insulator. For this purpose, experimental procedures using the cone calorimeter were
conducted, which allowed to obtain the following parameters: time to ignition, flame
extinguishing time, mass loss, mass loss rate, heat release rate, total energy released and the
evolution of the temperature. The experimentally obtained evolution of the temperature was
then compared with the theoretical evolution of the temperature obtained through an
analytical model.
It was found that the agglomerate of expanded cork presents a much higher
flammability risk than the species of wood studied. Apuleia leiocarpa is the species of wood
with the lowest flammability risk. However, during the phase of combustion with flame,
Pinus Sylvestris was the specie with the most favorable behavior.
A linear relation was confirmed between the density of the samples used in the
experimental tests and the obtained times to ignition.

Keywords Wood Construction, Cone Calorimeter, Heat Release Rate,


Fire tests, wood flammability, cork flammability.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes iii


Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Índice

Índice
Índice de Figuras .................................................................................................................. vi
Índice de Tabelas ................................................................................................................. vii
Nomenclatura...................................................................................................................... viii
Símbolos Gregos .............................................................................................................. ix
Siglas ................................................................................................................................ ix
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.1. Enquadramento e motivação do estudo .................................................................. 1
1.2. Objetivos e organização da tese .............................................................................. 2
2. Estado de arte................................................................................................................. 4
2.1. Construções em madeira no mundo ........................................................................ 4
2.2. Utilização de cortiça como revestimento na construção de edifícios ..................... 6
2.3. Utilização da madeira como material de construção .............................................. 7
2.4. Construções em madeira em Portugal .................................................................... 9
2.5. Classificação da reação ao fogo de produtos e materiais utilizados em
construções ...................................................................................................................... 10
2.6. Conceitos fundamentais ........................................................................................ 15
2.6.1. Poder calorífico.............................................................................................. 15
2.6.2. Taxa de libertação de calor ............................................................................ 15
2.6.3. Pirólise da madeira ........................................................................................ 16
2.6.4. Tempo de ignição .......................................................................................... 18
2.6.5. Condução de Calor ........................................................................................ 18
2.7. Propriedades térmicas ........................................................................................... 19
2.7.1. Condutividade Térmica ................................................................................. 19
2.7.2. Calor Específico ............................................................................................ 20
2.7.3. Difusividade térmica...................................................................................... 21
2.8. Modelos teóricos de propagação de calor ............................................................. 21
3. Materiais e métodos ..................................................................................................... 23
3.1. Descrição e preparação das amostras .................................................................... 23
3.2. Testes em calorímetro cónico ............................................................................... 27
4. Resultados e discussão ................................................................................................ 30
4.1. Tempo de ignição .................................................................................................. 30
4.2. Tempo de extinção da chama ................................................................................ 32
4.3. Perda de massa ...................................................................................................... 33
4.4. Taxa de perda de massa ........................................................................................ 36
4.5. Poder calorífico ..................................................................................................... 39
4.6.Taxa de libertação de calor (HRR) ............................................................................ 42
4.7. Energia libertada ....................................................................................................... 43
4.8. Evolução da temperatura ...................................................................................... 44

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Índice

4.9. Comparação dos resultados com o modelo teórico de propagação de calor ........ 49
5. Conclusões e sugestões de trabalhos futuros ............................................................... 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 53
ANEXO A .......................................................................................................................... 57

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Índice de Figuras

ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3.1. Representação esquemática dos furos numa amostra........................................25
Figura 3.2. Amostras das espécies de madeira (garapa à esquerda, pinheiro bravo ao centro
e pinheiro nórdico à direita) e de aglomerado de cortiça expandida......................25
Figura 3.3. Instalação experimental.....................................................................................27
Figura 3.4. Procedimentos experimentais: (a) introdução dos termopares no interior de
uma amostra de cortiça ; (b) revestimento da amostra com película de alumínio.28
Figura 3.5. Amostra de garapa no final de um ensaio..........................................................29
Figura 4.1. Tempos de ignição para cada espécie de amostras estudada.............................31
Figura 4.2. Tempos de ignição em função da densidade para cada espécie.........................31
Figura 4.3. Tempos de extinção da chama, para cada espécie de amostras estudada..........32
Figura 4.4. Tempos de extinção da chama, para cada espécie de amostras estudada em
função da densidade...............................................................................................33
Figura 4.5. Curvas de perda de massa médias para cada uma das espécies.........................34
Figura 4.6. Curvas de perda de massa para as amostras de cortiça (a); pinheiro nórdico (b);
pinheiro bravo (c); garapa (d);...............................................................................35
Figura 4.7. Aspeto das amostras após um ensaio em calorímetro cónico: (a) cortiça; e (b)
garapa.....................................................................................................................36
Figura 4.8. Taxas de perda de massa médias para as espécies de (a) cortiça ; (b) pinheiro
nórdico; (c) pinheiro bravo e (d) garapa................................................................37
Figura 4.9. Taxas de perda de massa para cada uma das espécies.......................................38
Figura 4.10. Taxa de libertação de calor para cada uma das espécies.................................43
Figura 4.11. Evolução da temperatura na superfície das amostras......................................45
Figura 4.12. Evolução da temperatura a 5 mm da superfície das amostras.........................46
Figura 4.13. Evolução da temperatura a 15 mm da superfície das amostras.......................47
Figura 4.14. Evolução da temperatura a 25 mm da superfície das amostras.......................48
Figura 4.15. Comparação entre as curvas de temperatura obtidas analiticamente e
experimentalmente.................................................................................................50

Tiago Emanuel Ferreira Nunes vi


Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Índice de Tabelas

ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1. Classificação de materiais de construção, exceto revestimentos de piso, de
acordo com a sua reação ao fogo segundo a norma europeia EN 13501-1............13
Tabela 2.2. Classificação adicional de acordo com a produção de fumo e quanto à
libertação de partículas/gotas inflamadas...............................................................14
Tabela 2.3. Fases de degradação da madeira (Figueroa et al., 2009)...................................17
Tabela 3.1. Caracterização das amostras.............................................................................24
Tabela 3.2. Humidade das amostras.....................................................................................26
Tabela 4.1. Poder calorífico superior calculado experimentalmente (Gomes, 2014; Al-
Kassir et al., 2010).................................................................................................39
Tabela 4.2. Percentagem mássica de C,H,O e N nas amostras do pinheiro bravo (Telmo et
al., 2010), do pinheiro nórdico e garapa (Tillman et al.,1981) e da cortiça (Al-
Kassir et al., 2009).................................................................................................40
Tabela 4.3. Poder calorífico das espécies estudadas............................................................41
Tabela 4.4. Energia total libertada pelas espécies analisadas...............................................44

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Nomenclatura

NOMENCLATURA
A – Área perpendicular à direção de transmissão de calor [m]
c – Calor específico [Jkg-1K-1]
cp – Calor específico a pressão constante [Jkg-1K-1]
cv – Calor específico a volume constante [Jkg-1K-1]
E – Energia libertada sob a forma de calor [kJ]
I – Irradiância [Wm-2]
k – Condutividade térmica do material [Wm-1K-1]
L – Espessura [m]
M – Teor de humidade [%]
M bh – Humidade de base húmida [%]

M bs – Humidade em base seca [%]

m – Taxa de perda de massa do material em combustão por unidade de

superfície do combustível [g  m-2  s-1]


mágua – Massa de água [kg]

mm s – Massa de matéria seca [kg]

Q – Quantidade de calor transmitido por unidade de tempo [W]


qs – Fluxo de calor [W]
T – Temperatura num dado instante [K]
𝑇0 – Temperatura ambiente [K]
Ti – Temperatura no instante inicial [K]

𝑇𝑠 – Temperatura da superfície durante a ignição [K]


t – Tempo [s]
tig – Tempo de ignição [s]
w(H)s – Concentração de hidrogénio [wt% b.s]
w(N)s – Concentração de azoto [wt% b.s]
w(O)s – Concentração de oxigénio [wt% b.s]

Tiago Emanuel Ferreira Nunes viii


Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Nomenclatura

x – Distancia do ponto à superfície [m]

Símbolos Gregos
𝜌 – Densidade [kgm-3]
∆𝑇 – Variação da temperatura [K]
q – Variação da energia sob a forma de calor [Jkg-1]
 – Difusividade térmica [m2s-1]
ε – Emissividade

Siglas
APCOR – Associação Portuguesa de Cortiça
EN – Norma Europeia
HRR – Heat Release Rate [W  m-2]
ISO – Organização Internacional de Normalização
LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil
PCI – Poder calorífico inferior [Jg-1]
PCS – Poder calorífico superior [Jg-1]
PCSbs – Poder calorífico superior a volume constante e base seca [Jg-1]
PCSexp – Poder calorífico superior determinado experimentalmente [Jg-1]
SBI – Single Burning Item

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Introdução

1. INTRODUÇÃO

1.1. Enquadramento e motivação do estudo

A escolha do material utilizado na construção ou reabilitação de edifícios pode


ter um enorme impacto ambiental. Atualmente existe cada vez maior preocupação com o
meio-ambiente por parte do Homem e, como tal, a tendência é que se comece a optar cada
vez mais por soluções que causem o menor impacto ambiental possível, contribuindo assim
para um desenvolvimento sustentável. Faz, portanto, todo o sentido que se opte por materiais
que contribuam para um menor consumo de energia e de água durante a construção de um
edifício. A madeira é considerada uma excelente escolha do ponto de vista ambiental, uma
vez que é um material renovável, que existe com abundância na natureza e de fácil obtenção.
Os edifícios em madeira são bastante populares em vários países do mundo,
sendo mesmo os principais tipos de construção das residências nas zonas rurais em países
como os Estados Unidos, Canadá, Austrália, Finlândia, Alemanha, Noruega e Suíça. No
entanto, em Portugal e nos países mediterrânicos, o uso intensivo de madeira na construção
de casas de madeira maciça é condicionado pelo problema dos incêndios florestais. Como
tal, apesar de existirem várias empresas a atuar em Portugal que se dedicam à construção
deste tipo de edifícios, as construções em madeira são vistas com uma certa desconfiança
pela população em geral.
Assim sendo, perceber como é que os diferentes tipos de madeira utilizados na
construção reagem ao fogo revela-se extremamente importante. Neste contexto torna-se
necessário fazer um estudo da inflamabilidade deste tipo de materiais. Da mesma forma,
sendo a cortiça um material que pode ser também utilizado em construções e considerando
que Portugal é o maior produtor mundial de cortiça, é também oportuno conduzir este tipo
de estudos para este material. Conhecer a forma como um material utilizado na construção
de um edifício reage ao fogo permite determinar com maior facilidade a possibilidade de
ocorrência de incêndio. Possibilita também uma melhor compreensão dos riscos em caso de

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Introdução

ocorrência de incêndio, sendo este aspeto crucial na elaboração de estratégias de combate de


incêndios e de evacuação da população.
Este aspeto ganha ainda mais importância tendo em conta que Portugal é um país
que todos os anos é afetado por bastantes incêndios florestais, o que contribui para aumentar
o risco deste tipo de construções neste país. Com os resultados obtidos pretende-se contribuir
com mais dados experimentais para a criação de uma base de dados científica, que poderá
ser utilizada na elaboração de normas, particularmente em zonas com elevado risco de
incêndios florestais, que cobrem uma parcela significativa da área de Portugal.

1.2. Objetivos e organização da tese

Este trabalho tem como principal objetivo fazer um estudo da inflamabilidade


de três espécies diferentes de madeira (Apuleia leiocarpa, Pinus Sylvestris, Pinus pinaster)
e de placas de aglomerado de cortiça expandida utilizadas no revestimento de edifícios.
Determinaram-se experimentalmente os seguintes parâmetros: taxa de
libertação de calor (HRR), taxa de perda de massa, tempo de ignição, tempo de extinção e
energia total libertada. Relacionaram-se os resultados obtidos com os valores de densidade
das amostras em estudo (visto que estas apresentavam densidades distintas), a fim de
determinar a relação entre os parâmetros que tipicamente definem a reação de um material
ao fogo e a sua densidade. Os valores da propagação da temperatura no interior da amostra
foram relacionados com os valores obtidos a partir de um modelo teórico existente.
Os resultados deste estudo poderão contribuir tanto para a criação de uma base
de dados científica para a elaboração de normativas de construção em madeira em zonas
urbano-florestais com elevado risco de incêndios florestais e da sua proteção no caso de
incêndio, como para o desenvolvimento de modalidades de seguro multirriscos de habitação.
A presente dissertação encontra-se estruturada da forma descrita de seguida:
O capítulo dois faz uma descrição do estado de arte, explicando de forma sucinta
algumas noções fundamentais relacionadas com a utilização de madeira e de aglomerados
de cortiça na construção de edifícios e alguns conceitos relacionados com a combustão dos
materiais em questão.

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Introdução

O capítulo três refere os materiais utilizados e faz uma descrição dos


procedimentos experimentais utilizados.
No capítulo quatro é feita uma análise e discussão detalhada dos resultados
obtidos experimentalmente.
O capítulo cinco refere as conclusões finais retiradas deste trabalho e apresenta
uma sugestão de trabalhos futuros relacionados com o tema.

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Estado de arte

2. ESTADO DE ARTE

2.1. Construções em madeira no mundo

O uso de madeira como material de construção em cada país depende de vários


fatores, tais como (Cruz, 2013): (i) a disponibilidade deste tipo de matéria-prima em relação
a outros materiais alternativos; (ii) o clima, que pode afetar o ritmo da construção,
condicionar as necessidades de proteção e de conforto térmico e ainda definir diferentes
ações e riscos de degradação; e (iii) questões sociais e culturais. Cruz (2013) refere também
que devido à necessidade de serem construídas em pouco tempo e terem grande eficiência
energética, as casas de madeira são bastante populares em regiões mais frias. No entanto,
aponta que este tipo de construções tem vindo a ser utilizado de forma eficaz também em
regiões com climas quentes e húmidos, como é o caso da Malásia ou em certas zonas da
Austrália.
A eficácia com que se consegue utilizar a madeira na construção de edifícios nas
diferentes partes do mundo reforça a qualidade deste material e a eficiência deste tipo de
estruturas.
Em alguns países, a maior parte dos edifícios residenciais são construídos em
madeira. A utilização de madeira neste tipo de construções ocupava, em meados da década
passada, uma percentagem significativa em países como os Estados Unidos da América
(90% a 94%), países nórdicos (80% a 85%), Canadá (76% a 85%) e Escócia (60%). Destaca-
se ainda o Reino Unido (20%), a Alemanha (10%), Holanda (6% a 7%) e a França (4%)
(Gustavsson et al., 2006).
O setor da construção representa uma indústria bastante ativa a uma escala
global, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. Como tal tem
atraído bastantes atenções relativamente a alguns indicadores sociais, económicos e
ambientais de desenvolvimento sustentável (Ortiz et al., 2009). A Comissão Europeia refere
num comunicado (European Commission, 2011) que a construção e o uso de edifícios tem
grande influência no consumo total de energia final pela União Europeia, sendo responsável

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Estado de arte

por 42% do consumo total. É mencionado que é responsável pelo consumo de mais de
metade dos recursos extraídos e por 30% da utilização de água, contribuindo ainda com uma
parcela significativa da emissão de gases com efeito de estufa (35%). Este documento
explica também que os resíduos gerados continuam a aumentar. Assim, é bastante claro que
o setor tem uma contribuição significativa em termos de impactes ambientais negativos.
Ortiz et al. (2009) consideram muito importante fazer uma avaliação do ciclo de vida, que
deverá contribuir para que as decisões tomadas sejam mais eficientes, com a finalidade de
melhorar a sustentabilidade do setor da construção.
Um relatório elaborado por uma equipa formada a pedido do ministro dos
negócios estrangeiros finlandês (Working Group, 2010) estima que um aumento na Europa
de 10% da sua cota de construção em madeira seria responsável por 25% das metas de
redução de emissões de gases que agravam o efeito de estufa fixadas pelo Protocolo de
Quioto para a União Europeia. Este relatório refere ainda que um aumento anual de
utilização de madeira em 4% na Europa contribuiria para uma redução de cerca de 150
milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono. Como tal, existe por parte da União
Europeia uma tentativa de incentivar as construções em madeira. Em França foi criada
legislação que impõe um volume mínimo de madeira que deverá integrar os novos edifícios
e em países como o Reino Unido, Suécia e Alemanha têm vindo a promover a construção de
edifícios residenciais com vários andares em madeira. No entanto, o relatório considera as
medidas tomadas pela União Europeia como sendo extremamente modestas, apesar de
diversos estudos apoiarem as vantagens deste tipo de construções.
O interesse da madeira como material de construção tem sido crescente. A
madeira assume-se como uma alternativa viável relativamente a outros materiais por ser um
material renovável e por proporcionar formas de construção mais vantajosas e ecológicas do
que as geralmente utilizadas (Morgado et al, 2012).

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Estado de arte

2.2. Utilização de cortiça como revestimento na


construção de edifícios

Portugal é o maior produtor mundial de cortiça, detendo mais de metade da


produção mundial, com uma área que representa um terço da área mundial de montados.
Esta matéria-prima sustenta uma indústria muito significativa para a economia nacional,
transformando um valor próximo dos 75% da cortiça mundial (Costa, 2011).
A cortiça é um material produzido pelo sobreiro (Quercus suber L.) e compõe o
revestimento exterior do seu tronco e ramos. Os montados ocupam mais de 730.000 hectares
em Portugal, o que corresponde a aproximadamente 23% do total do território florestal
nacional, podendo encontrar-se as maiores concentrações de sobreiros nos distritos de
Setúbal, Beja, Évora, Santarém e Portalegre, representando cerca de 87% da produção
(Costa, 2011).
De acordo com a Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR, 2015), o sector da
produção de cortiça gerou 846 milhões de euros em exportações em 2014, o que equivale a
182 milhares de toneladas exportadas. A cortiça como material de construção gerou no
último ano 222,6 milhões de euros em exportações, o que equivale a 26,3% do total da
exportação de cortiça. Em 2007 foram exportadas por Portugal 94,7 mil toneladas de cortiça
destinadas à construção (Gil, 2015).
A cortiça é aplicada como material flutuante e como vedante devido às suas
características. É um material leve (densidade média de cerca de 200 kgm-3) com elevados
níveis de elasticidade e de impermeabilidade a líquidos e gases. É um excelente isolante
térmico e elétrico, com boa capacidade de absorção acústica e de vibrações e que pode ser
comprimido sem expansão lateral. Estas propriedades devem-se às suas células que se
encontram organizadas numa estrutura alveolar característica, em que cada célula tem a
forma de um prisma pentagonal ou hexagonal, com uma altura que não ultrapassa os 40 a 50
µm. As células mais pequenas têm apenas cerca de 20 µm podendo até mesmo apresentar
valores tão baixos como 10 µm. Estas encontram-se ocupadas por uma mistura de gases
semelhante ao ar. Uma prancha de cortiça é constituída por cerca de 60% de elementos
gasosos, o que ajuda a explicar a sua baixa densidade. Devido à impermeabilidade que a
suberina (que representa cerca de 45% da composição da cortiça) concede às paredes da

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Estado de arte

célula, o gás nela contido não consegue sair, contribuindo para a elasticidade e para a baixa
condutividade térmica do material (APCOR, 2015; Gil, 1998).
As aplicações mais comuns dos produtos derivados da cortiça na construção civil
são como isolante acústico, térmico e anti-vibrático (aplicado nas paredes, tetos e
pavimentos), em tetos falsos e no revestimento de paredes, tetos e pavimentos (Gil, 2015).
Gil (2015) considera ainda que do ponto de vista ecológico, a vantagem de
utilizar produtos de cortiça é evidente, uma vez que se trata de uma matéria-prima renovável
e que contribui para a captura do dióxido de carbono.

2.3. Utilização da madeira como material de construção

A madeira é um recurso renovável que existe em abundância na natureza e que


pode ser reutilizado e reciclado. Isto faz com que a utilização da madeira, enquanto material
de construção, seja bastante ecológica. Vaz (2008) refere que a expansão da construção de
casas com madeira originária de África na Europa setentrional, na China, no Japão e na
América do Norte segue o padrão de migração das populações, adaptando-se ao clima, à
localização, ao tipo de madeira disponível e a outros fatores políticos e sociais.
Vaz (2008) considera ainda que o nível de desenvolvimento atingido em algumas
partes do mundo é tão elevado que os avanços tecnológicos recentes dificilmente terão algo
a acrescentar. O templo Horyu-ji, localizado na província de Nara, no Japão, considerado
património mundial pela UNESCO, é um excelente exemplo da viabilidade deste tipo de
construções. A World Heritage List publicada pela UNESCO (Advisory Body Evaluation,
1993) explica que alguns dos monumentos que constituem o templo foram construídos no
final do século VII ou no início do século VIII, sendo, por isso, este considerado a construção
em madeira que, no mundo, mais tempo perdurou conservada, tendo conseguido sobreviver
a inúmeros sismos que atingiram a região onde o templo se encontra.
Devido ao aparecimento de sistemas industrializados verificou-se um
crescimento acentuado da construção de casas de madeira nos anos 60 e 70. (Cruz, 2013).
Segundo um inquérito feito pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC) em 2011 às empresas de projeto, fabrico, construção e comercialização de casas de

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Estado de arte

madeira a atuar em Portugal, mais de metade das empresas (60%) consideram que a vida útil
das casas de madeira é superior a 100 anos, caso seja feita uma manutenção regular e
adequada. Segundo o relatório deste inquérito, as empresas consideram que os argumentos
mais importantes a favor da construção de casas em madeira relacionados com a ecologia
são o facto de a madeira ser reciclável e reutilizável, fixar o CO2 e de o uso da madeira
incentivar a gestão de florestas sustentáveis e reduzir os resíduos de construção em obra. Ao
nível da funcionalidade e do conforto, as empresas consideram ser importante o facto de a
madeira proporcionar bom comportamento higrotérmico, as casas de madeira terem baixa
inércia térmica e ainda um bom conforto acústico. Em termos de economia e de eficácia,
destaca-se o facto de a construção em madeira facilitar processos otimizados de pré-
fabricação e construção seca, de a construção em madeira ser mais rápida, o reduzido
consumo de energia no fabrico dos elementos de madeira e os custos de operação serem
inferiores aos da construção corrente. Realça-se, ainda, o facto de as construções de madeira
apresentarem bom comportamento aos sismos (LNEC, 2011). A empresa LogDomus refere
no seu website (www.logdomus.pt) que se consegue economizar bastante em energia gasta
no aquecimento da habitação quando se opta por uma construção de madeira.
Quanto à temática dos incêndios, a empresa Rusticasa indica no seu website
(www.rusticasa.pt) que a madeira maciça resiste aos incêndios melhor do que as estruturas
de cimento armado ou que as estruturas metálicas, apesar de arder a temperaturas
relativamente baixas. Tal dever-se-á ao facto de a carbonização superficial da madeira não
só complicar a libertação dos gases mas também dificultar a penetração do calor por
apresentar uma condutividade térmica inferior à da própria madeira. Desta forma, acaba por
atuar com um efeito de autoextinção. Observa-se, por isso, uma propagação em profundidade
do fogo bastante lenta no caso da madeira, ao contrário do que acontece com as estruturas
metálicas em caso de incêndio, em que estas se dilatam e retorcem, verificando-se uma
degradação acelerada da sua resistência mecânica com o aumento da temperatura, estando
sujeitas a desabar rapidamente. White e Dietenberger (2010) apoiam este argumento ao
indicar que a resistência de um elemento ou estrutura de madeira ao fogo depende da
existência de uma camada protetora, ou da espessura da camada carbonizada da madeira, e
das dimensões da secção residual, as quais dependem da taxa de carbonização da espécie de
madeira usada.

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No entanto, Aseeva et al. (2013) consideram que os danos e as perdas de vidas


humanas e materiais são significativamente maiores em edifícios com estruturas em madeira.
Referem ainda que anualmente são registados entre 6,5 a 7,5 milhões de incêndios no
planeta, provocando a morte de 70.000-75.000 pessoas e cerca de 1 milhão de feridos.
Aproximadamente 35% destes incêndios ocorrem em edifícios (na sua maior parte
residenciais).
É importante encontrar soluções que aumentem a segurança deste tipo de
construções, sendo imprescindível o conhecimento dos principais fatores e fundamentos da
combustão deste tipo de materiais.

2.4. Construções em madeira em Portugal

Segundo Negrão (2011), em Portugal instalou-se na sociedade e na comunidade


técnica a opinião de que a madeira é um material com pouca qualidade, tendo isso levado à
sua substituição em várias construções antigas. Em alguns casos as perdas de património
arquitetónico que se verificaram foram enormes. Por outro lado, Cruz (2013) considera que
o mercado nacional da construção em madeira tem sido impulsionado pela importância que
se tem vindo a dar ao ambiente e à utilização de recursos de forma sustentável. Refere ainda
que este mercado tem vindo a crescer e a ganhar visibilidade, não só devido à construção de
habitações unifamiliares mas também por causa da construção de edifícios em madeira
destinados ao comércio e ao turismo. Morgado et al. (2012) consideram que a procura por
materiais e métodos mais ecológicos terá incentivado a criação de novas empresas. Referem
que o contexto de crise económica atual poderá ter sido encarado como uma oportunidade
de lançar no mercado soluções alternativas e potencialmente menos dispendiosas do ponto
de vista económico. Consideram ainda que apesar da generalidade dos consumidores
mostrarem desconhecimento e desconfiança em relação a este tipo de construções, as
empresas deste setor têm evidenciado espírito de iniciativa e capacidade para enfrentar os
desafios do mercado.
O relatório do inquérito do LNEC (2011) apresenta que, em Portugal, o setor é
constituído principalmente por microempresas e empresas de pequena dimensão situadas no

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Centro e no Norte do País. Este estudo refere que a maioria das empresas é relativamente
recente, só tendo iniciado atividade no sector após 2006, em média. Refere também que,
para a maioria das empresas, o preço de construção das casas de madeira se encontra entre
os 500 € e os 750 € por metro quadrado e salienta ainda que cerca de um terço da produção
nacional de casas de madeira se destina à exportação.
Mais de metade das empresas de construção de casas em madeira recorre a
madeiras de espécies resinosas provenientes da Europa, sendo as madeiras de outras espécies
e proveniências menos frequentes. As madeiras de origem nacional são usadas por mais de
um terço das empresas (LNEC, 2011).
Após uma pesquisa efetuada nos websites de várias empresas a atuar no sector
em Portugal, verificou-se que o pinho nórdico (Pinus Sylvestris) e o abeto nórdico (Picea
abies) são madeiras bastante populares entre os construtores de casas de madeira. A empresa
Canto Certo (www.cantocerto.pt) refere também a utilização de pinho bravo (Pinus
Pinaster) na estrutura das construções. A Exotic House (www.exotic-house.pt) indica que
utiliza, entre outras espécies de madeira exótica brasileira, a garapa (Apuleia leiocarpa) e a
empresa Rusticasa (www.rusticasa.pt) faz referência à utilização de cedro do Japão
(Cryptomeria japonica), também conhecida por criptoméria, proveniente da ilha de São
Miguel nos Açores. A Rusticasa refere ainda que, por cada árvore cortada de criptoméria,
são plantadas duas, de acordo com a legislação em vigor.
Considera-se que Portugal tem potencial para produzir espécies de madeira que
podem ser utilizadas na construção de casas. No entanto, a problemática dos incêndios
florestais afeta de forma negativa a credibilidade deste tipo de estruturas no país.

2.5. Classificação da reação ao fogo de produtos e


materiais utilizados em construções

Durante um incêndio, se existirem materiais suficientemente inflamáveis, este


irá rapidamente intensificar e expandir-se. Utilizando materiais pouco inflamáveis na
construção de edifícios consegue-se reduzir significativamente a velocidade de propagação
das chamas ao longo de uma determinada área durante um incêndio, bem como minimizar a

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sua contribuição para o fogo. Torna-se portanto essencial classificar os materiais de acordo
com a sua combustibilidade.
Os requisitos de segurança contra incêndios encontram-se regulamentados nas
respetivas normas de construção. Esta legislação classifica o uso de materiais de construção
de um edifício, bem como de todos os materiais utilizados no revestimento de paredes, pisos
ou tetos. A legislação atual tem como finalidade permitir uma evacuação segura de todos os
ocupantes de um espaço fechado em caso de incêndio. Os países da União Europeia
utilizavam testes diferentes para avaliar a reação dos materiais de construção ao fogo. Desta
forma tornava-se extremamente difícil comparar o desempenho de um determinado material
quando este era avaliado utilizando métodos diferentes, o que acabava por gerar confusão e
criar algumas barreiras comerciais entre países diferentes. Para pôr fim a estes
inconvenientes, foi implementada uma norma para substituir os diferentes sistemas de
classificação adotados por cada um dos países europeus.
As normas europeias de classificação de materiais em relação ao risco de
incêndio correspondem a um conjunto de padrões de teste que foram aceites pelos países
europeus e que permitem aos fabricantes produzir ou importar produtos que foram testados
seguindo um padrão comum. Com isto evita-se que para o mesmo material ou produto seja
necessário efetuar testes diferentes para cada um dos países onde este seja comercializado.
Como tal, cada país da União Europeia deverá incorporar a norma europeia EN 13501-1 de
classificação de materiais e produtos de construção em relação ao fogo.
Para classificar os materiais e produtos de construção em relação ao fogo torna-
se necessário determinar duas características importantes: a resistência do material ao fogo
e a sua reação ao fogo. A primeira característica determina a capacidade de um determinado
produto ou material resistir ao fogo. A segunda determina o comportamento de um dado
material durante um incêndio, a sua contribuição para a evolução do incêndio e a influência
que o material terá na sua propagação. Estes parâmetros são determinados através da
condução de testes que se encontram normalizados. A norma EN 13501-1 engloba 5 tipos
de ensaios normalizados:
 O teste para avaliar o comportamento de parâmetros em relação ao fogo
através de uma fonte de calor radiante (ISO 9239-1), que apenas é
utilizado para pavimentos e revestimentos;

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 O teste de incombustibilidade (ISO 1182), que serve para identificar os


materiais e produtos que não contribuem significativamente para um
incêndio;
 O teste de calor de combustão (ISO 1716), que determina o poder
calorífico superior (PCS) e o poder calorífico inferior (PCI) de um
material, através de uma bomba calorimétrica, tornando possível a
determinação do máximo de calor que poderá ser libertado durante um
incêndio;
 O teste de inflamabilidade (ISO 11925-2), que determina a
inflamabilidade de um material sob a influência de uma chama piloto.
 O teste do elemento isolado (EN 13823), frequentemente designado por
single burning item (SBI), que é um método desenvolvido para
determinar a reação dos produtos de construção ao fogo, quando
expostos a um ataque térmico provocado por um objeto isolado em
combustão. Este teste determina as taxas de libertação de calor e de fumo,
fazendo ainda uma avaliação das caraterísticas físicas do incêndio
através da observação da amostra durante o ensaio.
A norma europeia EN 13501-1 define duas categorias diferentes de classificação,
sendo uma delas destinada a todos os produtos de construção, à exceção dos produtos
destinados a revestimento de piso, e a outra para os destinados a revestimento de pisos.
Definem-se 7 classes (A1, A2, B, C, D, E, F) em ambos os casos, adicionando-se o índice
FL (floor) à letra da classe correspondente para o caso dos produtos destinados a
revestimentos de pisos. Esta norma classifica ainda os materiais quanto à libertação de fumo
(s1, s2, s3) e quanto à libertação de partículas/gotas inflamadas (d0, d1, d2). Na Tabela 2.1
apresenta-se a descrição de cada uma das classes de reação ao fogo de materiais de
construção, à exceção dos produtos para revestimento de pisos.

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Tabela 2.1 Classificação de materiais de construção, exceto revestimentos de piso, de acordo com a sua
reação ao fogo segundo a norma europeia EN 13501-1

Classe Descrição

Materiais que não contribuem para nenhuma fase do incêndio,


A1 incluindo a fase em que este se encontra totalmente desenvolvido.
Cumprem todos os requisitos das classes inferiores.
Materiais que satisfazem todos os requisitos da classe B que não
A2 contribuem significativamente para a carga de incêndio nem para o
desenvolvimento do incêndio.
Materiais que contribuem de forma muito limitada para o incêndio,
B tal como a classe C, mas que satisfazem requisitos ainda mais
rigorosos.
Materiais com contribuição relativamente limitada para o incêndio,
satisfazendo os critérios da classe D, embora com requisitos mais
C rigorosos. Adicionalmente, sob ataque térmico de um elemento
isolado em combustão, apresentam uma propagação lateral da chama
limitada.
Materiais com uma contribuição relativamente significativa para o
incêndio. Cumprem os requisitos da classe E e têm capacidade de
resistir por um período de tempo superior ao ataque por uma chama
D de pequenas dimensões sem que ocorra uma propagação substancial
da chama. Conseguem ainda suportar o ataque térmico de um
elemento isolado em combustão, com uma libertação de calor
suficientemente retardada e limitada.
Materiais com uma contribuição significativa para o incêndio.
Devem ser capazes de resistir durante um curto período de tempo ao
E
ataque por uma chama de pequenas dimensões sem que ocorra uma
propagação substancial da chama.
Materiais cujo desempenho não foi determinado ou que não se
F
enquadram em nenhuma das classes anteriores.

A Tabela 2.2 resume a classificação adicional de um material de acordo com


a sua produção de fumo e com a libertação de partículas/gotas inflamadas.

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Tabela 2.2 Classificação adicional de acordo com a produção de fumo e quanto à libertação de
partículas/gotas inflamadas

Classificação adicional de acordo com a produção de fumo

Critérios impostos a esta classe são mais rígidos do que os impostos


s1
na classe s2.
Limites quanto à produção total de fumo e quanto à taxa de
s2
produção de fumo.
s3 Sem restrições quanto à produção de fumo.

Classificação adicional de acordo com a libertação de partículas/gotas

d0 Não ocorre a produção de partículas/gotas.


Não há produção de partículas/gotas por um período maior do que
d1
um determinado tempo.
d2 Sem restrições quanto á produção de partículas/gotas.

Em alternativa, o método definido pela norma ISO 5560 apresenta outra


forma de avaliar a reação ao fogo dos materiais. Esta norma divide-se em três partes,
sendo elas:
 Parte 1: Taxa de libertação de calor (HRR – Heat Release Rate),
utilizando o método experimental do calorímetro cónico;
 Parte 2: Taxa de produção de fumo;
 Parte 3: Orientações sobre as taxas de libertação de calor e de
libertação de fumo;
A primeira parte (ISO 5560-1) especifica um método para avaliar a taxa de
libertação de calor de uma amostra exposta na horizontal a um fluxo radiante controlado
com um dispositivo de ignição externo. Neste teste mede-se também o tempo de ignição.
O método definido pela norma ISO 5560-1 determina a taxa de libertação de calor através
da medição do consumo de oxigénio durante a combustão.

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2.6. Conceitos fundamentais

2.6.1. Poder calorífico

Define-se poder calorífico superior (PCS) a volume constante como sendo a


energia libertada sob a forma de calor durante a combustão, por unidade de massa do
combustível (CEN/TS 14918:2005).
O poder calorífico inferior (PCI) a volume constante é definido como o calor
libertado durante a combustão, por unidade de massa do combustível, sob a condição de que
toda a água resultante dos produtos da reação permanece como vapor de água (CEN/TS
14918:2005).
Assim, consegue-se determinar o poder calorífico inferior (PCI) através do poder
calorífico superior (PCS), fazendo uma dedução das perdas com a evaporação da água.

2.6.2. Taxa de libertação de calor

A taxa de libertação de calor (HRR) é um parâmetro de extrema importância no


estudo de incêndios. Babrauskas e Peacock (1992) consideram mesmo que esta é a variável
mais importante na caracterização da inflamabilidade de um material. Existem vários
métodos para estimar este parâmetro e as técnicas mais comuns baseiam-se em balanços
mássicos (Babrauskas e Grayson., 1992). Este parâmetro é um indicador da dimensão e da
taxa de crescimento de um fogo, da libertação de fumo e de gases tóxicos e pode, ainda, ser
usado para estimar uma potencial fuga de pessoas numa situação de incêndio (Babrauskas e
Grayson, 1992). A capacidade de medir com precisão a libertação de calor de certos objetos,
tais como móveis a arder e o revestimento das paredes, por exemplo, é visto como essencial
no estudo da proteção contra incêndios (Babrauskas e Grayson., 1992).
A taxa de libertação de calor depende das propriedades do combustível e das
condições de combustão (entrada de ar). Pode ser calculada a partir da equação seguinte:

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HRR  PCI  m (1)

onde HRR (W  m-2) é a taxa de libertação de calor por unidade de superfície do combustível,

PCI (J  g-1) é o poder calorífico inferior do combustível e m (g  m-2  s-1) é a taxa de perda
de massa do material em combustão por unidade de superfície do material combustível
(Babrauskas e Grayson., 1992).

2.6.3. Pirólise da madeira

A pirólise da madeira envolve uma interação complexa entre a química e a


transferência de calor e de massa. Considere-se uma amostra espessa de madeira com a sua
superfície uniformemente exposta a um fluxo de calor externo constante incidente e uma
fonte de ignição (chama piloto) de tal forma perto que a transferência de calor e de massa
através da amostra possa ser considerada unidimensional. O fluxo incidente provoca pirólise
na madeira, libertando gases combustíveis voláteis com uma taxa de fluxo de massa que
depende da intensidade da energia incidente e da orientação dos elementos celulares. O fluxo
de massa dos produtos voláteis deve exceder o limite inferior mínimo de inflamabilidade da
mistura do combustível-ar para que ocorra ignição pilotada. A ignição poderá ocorrer quando
se verificar uma temperatura à superfície entre os 200°C e os 400°C. No instante da ignição,
o fluxo de calor para a superfície da madeira é uma combinação do fluxo externo e do fluxo
da chama. A taxa de libertação de calor sobe rapidamente, atingindo um valor máximo, até
que uma camada de carvão se acumula gradualmente à medida que a frente de pirólise se
desloca para o interior da amostra. Esta camada de carvão forma uma resistência térmica
crescente entre a superfície exposta e a frente de pirólise, conduzindo a uma diminuição
contínua da taxa de libertação de calor após se ter atingido o primeiro pico. Caso a amostra
seja suficientemente espessa, resultados experimentais realizados anteriormente
demonstram que a taxa de libertação de calor eventualmente irá atingir um valor

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aproximadamente constante. De notar que durante a fase da combustão com chama, apenas
é libertada cerca de 60% da energia da madeira (Spearpoint e Quintiere, 2000).
A Tabela 2.3 sintetiza as fases de degradação da madeira em função da
temperatura.

Tabela 2.3 Fases de degradação da madeira (Figueroa et al., 2009)

Fase Temperatura Fenómenos


Até 200°C. - Libertação de gases, entre os quais vapor de água.
- Não ocorre ignição da madeira.
I - Ocorrência de algumas reações exotérmicas de oxidação.
- Mudança de cor.
De 200°C até 280°C. -Aumento de reações químicas e eliminação de gases.
II -Ocorrência de reações exotérmicas primárias sem inflamação.
- Temperatura considerada como a temperatura de ignição.
De 280°C a 380°C. - Produção de grandes quantidades de destilados, principalmente
de ácidos acéticos e de metanol.
III - Nesta fase, o resíduo final é já carvão vegetal, mas ainda
apresenta compostos volatizáveis na sua estrutura.
- Fase exotérmica.
De 380°C a 500°C. - Redução da emissão de gases.
- Produção de ácido acético, metanol, alcatrão e diversas
substâncias gasosas condensáveis.
IV
- A perda de massa é da ordem de 70% em relação à massa
original.
- Fase exotérmica.
Acima de 500°C. - Termina a carbonização e verifica-se o início da gaseificação
do carvão.
- O carvão é o resíduo principal.
V
- No interior da madeira permanece a temperatura das fases I, II
e III.
- Fase exotérmica.

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2.6.4. Tempo de ignição

Harada (2001) concluiu que o tempo de ignição aumenta linearmente com o


aumento da densidade da amostra quando o tipo da superfície aquecida é o mesmo. No
entanto, refere que a condutividade térmica da madeira é afetada pela orientação dos
elementos celulares e pela densidade. Segundo este, a forma mais simples de calcular
teoricamente o tempo de ignição, tig (s), é expressa através da seguinte equação:

 Ts  T0 
2

tig    k    c    (2)
 2 I 

onde k (Wm-1K-1) é a condutividade térmica, ρ (kgm-3) é a densidade, c (Jkg-1K-1) é o


calor específico, Ts (K) é a temperatura da superfície durante a ignição, T0 (K) é a temperatura
ambiente, ε é a emissividade e I (Wm-2) é a irradiância.

2.6.5. Condução de Calor

Sempre que existe uma diferença de temperatura num meio ou entre diferentes
meios de contacto, ocorre transferência de calor. É possível ocorrer transferência de calor
pelos mecanismos de condução, convecção e radiação. O fenómeno de transferência de calor
que irá ocorrer entre uma superfície e um fluido em movimento quando estes se encontram
a temperaturas diferentes designa-se de convecção. Por outro lado, todas as superfícies de
temperatura finita emitem energia na forma de ondas eletromagnéticas, designando-se este
fenómeno por radiação térmica. Assim, mesmo na ausência de um meio interveniente, existe
uma transferência de calor por radiação entre duas superfícies a diferentes temperaturas. Por
fim, quando existe um gradiente de temperatura num meio estacionário, que pode ser sólido,
líquido ou gasoso, utiliza-se a designação de condução de calor para se referir à transferência
de calor que irá ocorrer em todo o meio (Incropera et al., 2007). É o fenómeno de condução

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de calor que explicará a evolução da temperatura no interior das amostras de madeira durante
os testes experimentais efetuados.
A condução pode ser vista como a transferência de energia que ocorre das
partículas mais energéticas para as partículas com menos energia de uma substância devido
às interações entre as partículas (Incropera et al., 2007). A lei que descreve o fenómeno de
condução é a lei de Fourier que pode ser expressa através da forma finita:

T
Q  k  A (3)
L

sendo Q (W) a quantidade de calor transmitido por unidade de tempo , k (Wm-1K-1) a


condutividade térmica do material, A [m] a área perpendicular à direção de transmissão de
calor, L [m] a espessura e T [K] a diferença de temperatura entre uma superfície e a
outra.

2.7. Propriedades térmicas

2.7.1. Condutividade Térmica

A condutividade térmica, k, é definida como a taxa de transferência de calor


através de uma espessura unitária com uma área de superfície unitária devido a uma variação
de temperatura unitária (Çengel, 2006).
A condutividade térmica da madeira depende de vários fatores, sendo os mais
importantes a densidade, o teor de humidade e a direção do fluxo de calor em relação às
fibras da madeira (MacLean e Madison., 1941). Ragland e Aerts (1991) afirmam que esta
propriedade aumenta com a densidade, com o teor de humidade e com a temperatura da
madeira. Referem ainda que a condutividade térmica é aproximadamente 1,8 vezes maior
quando o fluxo de calor percorre uma direção paralela à fibra do que numa direção radial ou
tangencial. A condutividade térmica da madeira, para temperaturas acima da temperatura

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ambiente, aumenta cerca de 0,2% por cada grau de aumento de temperatura (Ragland e
Aerts, 1991).

2.7.2. Calor Específico

O calor específico é uma propriedade importante quando se pretende estudar a


reação de um material ao fogo (Beall, 1968) e define-se como a quantidade de calor que um
quilograma de uma determinada substância necessita de absorver para que a sua temperatura
aumente um grau (Radmonović et al., 2014).
É feita uma distinção entre calor específico a uma pressão constante, cp, e calor
específico a um volume constante, cv (Radmonović et al., 2014). Beall (1968) indica que o
calor específico, c (Jkg-1K-1), é calculado através da razão entre a variação da energia sob
a forma de calor, q (Jkg-1), e a variação da temperatura, T (K), conforme representado
na seguinte fórmula:

q
c (4)
T

Radmonović et al. (2014) conclui que o calor específico da madeira depende


da temperatura e do teor de humidade. No entanto, refere que para espécies diferentes de
madeira se obtêm variações muito pequenas deste valor.

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2.7.3. Difusividade térmica

A difusividade térmica,  (m2s-1), é uma propriedade de um material que


representa a velocidade com que o calor se difunde através de um material e pode ser
determinada através da seguinte equação (Çengel, 2006):

k
 (5)
 c

2.8. Modelos teóricos de propagação de calor

Bamford et al. (1946) consideram que a combustão de madeira apresenta um


problema interessante de transferência de calor, uma vez que, quando a madeira é aquecida,
a distribuição da temperatura num dado instante pode ser calculada através das equações de
condução de calor conhecidas, considerando as condições de fronteira relevantes. No
entanto, isto só é verdade quando a temperatura não é suficientemente alta para provocar
uma decomposição térmica apreciável. Quando esta condição não se aplica, o problema
consiste então em calcular as temperaturas e taxas de decomposição no interior de uma
determinada massa de material com a superfície exposta a um fluxo de calor constante
conhecido, dado um conjunto inicial de condições. Para esta situação o problema torna-se
muito mais complexo, uma vez que esta decomposição que ocorre é exotérmica e a sua
solução não será aqui abordada.
Numa tentativa de simplificar o problema, decide-se adotar o modelo de
condução de calor em regime transiente para sólidos semi-infinitos sob a condição de fluxo
de calor superficial constante (Çengel, 2006) também sugerido por Han (2012), que tem
como solução analítica a seguinte equação:

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Estado de arte

 4 t  x 
2
q  x
T  Ti  s  e 4 t  x erfc   (6)
k    4 t  

em que T (K) é a temperatura num determinado instante, Ti (K) é a temperatura no instante


inicial, qs (W) é o fluxo de calor (constante) ao qual a superfície se encontra exposta, k

(Wm-1K-1) é a condutividade térmica,  (m2s-1) é a difusividade térmica, t (s) é o tempo e


x (m) é a distância do ponto à superfície.

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Materiais e métodos

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Descrição e preparação das amostras

O presente estudo baseou-se em amostras de três espécies de madeira diferentes,


sendo elas a garapa (Apuleia leiocarpa), o pinheiro nórdico (Pinus Sylvestris) e o pinheiro
bravo (Pinus pinaster). Fez-se também um estudo do comportamento da cortiça em relação
ao fogo, recorrendo para o efeito a amostras de cortiça obtidas a partir de placas de
aglomerado de cortiça expandida.
A garapa (Apuleia leiocarpa) é uma madeira exótica originária da América do
Sul, principalmente do Brasil. É considerada uma madeira pesada e, segundo a empresa
Exotic-House, é uma madeira fácil de se trabalhar, sendo utilizada principalmente em
pavimentos, em escadas e na caixilharia de portas e de janelas.
O pinheiro nórdico (Pinus Sylvestris) é uma espécie originária do Norte da
Europa muito utilizada na construção de habitações, devido às suas características. Das três
espécies de madeira em análise é a que apresenta uma densidade menor.
O pinheiro bravo (Pinus pinaster) é uma espécie proveniente do Sudoeste da
Europa e do Norte de África. Em Portugal esta espécie representa cerca de 62,5% da área
total ocupada por pinheiros. Apesar de apresentar pouca flexibilidade, acabando por não ser
muito utilizada para fins de construção, a empresa Canto-Certo refere a utilização deste tipo
de madeira nas suas construções. Apresenta uma densidade pouco superior à do pinheiro
nórdico (Pinus Sylvestris).
O aglomerado de cortiça expandida é um material com elevado desempenho no
isolamento térmico, acústico e antivibrático. Possui uma vasta gama de aplicações possíveis,
sendo especialmente indicada para aplicação em paredes exteriores, interiores e duplas, lajes,
coberturas planas e inclinadas e piso radiante. No anexo A encontra-se uma declaração de
desempenho para este material da autoria da empresa Amorim Isolamentos, S.A..

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Materiais e métodos

Para os ensaios em calorímetro cónico foram cortadas 9 amostras de pinheiro


bravo, 11 amostras de pinheiro nórdico, 10 amostras de garapa e 8 amostras de cortiça, a
partir de uma placa de revestimento, de forma a estudar a influência da densidade na reação
ao fogo. Posteriormente foram pesadas utilizando uma balança com a resolução de 0,01 g e
medidas utilizando um paquímetro digital com uma resolução de 0,03mm, tendo sido
registadas as características de cada amostra. Na Tabela 3.1 são apresentados os valores
médios das dimensões, peso e densidade (a 12% de humidade, aproximadamente) de cada
espécie.

Tabela 3.1 Caracterização das amostras

Largura Comprimento Espessura Massa Densidade


Espécie
(mm) (mm) (mm) (g) (kg/m3)
Garapa (Apuleia 57,10±0,32 57,10±0,32 31,43±0,39 103,43±1,79 1009,49±13,38
leiocarpa)
Pinheiro nórdico 56,91±0,30 56,91±0,30 31,36±0,47 59,67±3,40 587,48±32,82
(Pinus Sylvestris)
Pinheiro bravo (Pinus 57,00±0,00 57,00±0 32,00±0 77,07±2,68 741,30±25,79
pinaster)
Cortiça (aglomerado) 57±1,31 57,63±1,30 47,09±0,48 20,78±1,58 134,26±8,34

Nas amostras foram efetuados furos com um diâmetro de 1,2 mm, de forma a
permitir a colocação de termopares tipo K no seu interior. Em algumas das amostras foram
também feitos furos na diagonal, de forma a tornar-se possível a colocação de termopares
junto à superfície da amostra. A Figura 3.1 consiste numa representação esquemática de uma
amostra com furos na diagonal. Com recurso aos termopares, conseguiu-se obter o registo
das temperaturas durante os ensaios em calorímetro cónico à distância pretendida. A Figura
3.2 mostra uma amostra de pinho nórdico, de garapa e de pinho bravo, após terem sido feitos
os furos.

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Materiais e métodos

Figura 3.1 Representação esquemática dos furos numa amostra.

Figura 3.2 Amostras das espécies de madeira (garapa à esquerda, pinheiro bravo ao centro
e pinheiro nórdico à direita) e de aglomerado de cortiça expandida.

Para se determinar o teor de humidade foi efetuada uma secagem em estufa. Foi
medida a massa inicial de uma amostra de madeira em estilha de cada espécie, antes de esta
ser colocada numa estufa, que se encontrava a uma temperatura de 100°C. Após a secagem

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Materiais e métodos

durante 48 horas, foi novamente efetuada uma medição da massa da amostra. A


determinação do teor de humidade das amostras foi feita através das seguintes equações:

mágua
M bs  100% (7)
mms

mágua
M bh  100% (8)
mms  mágua

onde M bs [%] é o teor de humidade em base seca (razão entre a massa de água, mágua [kg],

e a massa de matéria seca da amostra, mm s [kg]), e M bh [%] é o teor de humidade em base


húmida, que representa a razão entre a massa de água e a massa total da amostra. A Tabela
3.2 contém os valores de humidade obtidos experimentalmente.

Tabela 3.2 Humidade das amostras

Humidade Humidade
Espécie base seca base húmida
(%) (%)
Garapa (Apuleia 10,89 9,82
leiocarpa)
Pinheiro nórdico 12,52 11,13
(Pinus Sylvestris)
Pinheiro bravo 11,51 10,32
(Pinus pinaster)
Cortiça 4,28 4,10

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Materiais e métodos

3.2. Testes em calorímetro cónico

Os testes experimentais foram realizados seguindo os procedimentos indicados


pela norma ISO 5660-1 para ensaios em calorímetros cónicos no modelo básico do
calorímetro cónico (Figura 3.3) Este tipo de ensaio experimental tem como finalidade a
obtenção dos parâmetros de reação ao fogo de um determinado tipo de material. Foram
registados, para cada amostra, os tempos de ignição e de extinção de chama, a perda de
massa e a evolução da temperatura em vários pontos da amostra. Posteriormente, com
recurso à curva da perda de massa obtida e ao poder calorífico do material, determinou-se a
taxa de libertação de calor (HRR) e a energia total libertada. A Figura 3.3 mostra a instalação
experimental enquanto decorre um ensaio em calorímetro cónico.

Figura 3.3 Instalação experimental.

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Materiais e métodos

O conjunto de procedimentos adotados para os testes em calorímetro cónico são


abordados a seguir. As superfícies laterais das amostras são revestidas com película de
alumínio, de forma a evitar perdas de calor laterais, que não se verificam em situações de
incêndios reais de edifícios. De seguida introduzem-se os termopares nos furos e envolve-se
com folha de alumínio a zona dos termopares que será colocada a uma distância mais
próxima do calorímetro, com o objetivo de os proteger. A Figura 3.4 ilustra estes
procedimentos. No início do ensaio, a amostra é colocada num suporte sobre uma balança,
registando-se os valores de massa da amostra com uma frequência de 2,63 Hz através de
uma ligação USB com um computador. Sobre a amostra irá incidir um fluxo de calor
constante de cerca de 1,6 W/cm2 e utiliza-se uma chama piloto até se obter ignição da
amostra, de forma a facilitar a mesma.

(a) (b)
Figura 3.4 Procedimentos experimentais: (a) introdução dos termopares no interior de uma
amostra de cortiça; (b) revestimento da amostra com película de alumínio.

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Materiais e métodos

Com recurso a um cronómetro mede-se o tempo até à ignição da amostra.


Através da ligação dos termopares a um sistema de aquisição de dados PICO-TC08
consegue-se registar a evolução da temperatura da amostra à sua superfície e no seu interior:
a 5 mm, 15 mm e 25 mm de distância da superfície. Por fim, quando ocorre a extinção de
chama, com recurso ao cronómetro, regista-se o tempo de extinção de chama e dá-se por
concluído o teste. A Figura 3.5 mostra o estado de uma amostra de garapa no final do teste.
Com este ensaio consegue obter-se o tempo de ignição da amostra, a evolução da
temperatura nos pontos da amostra pretendidos, a perda de massa e o tempo de extinção de
chama.

Figura 3.5 Amostra de garapa no final de um ensaio

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Resultados e discussão

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Tempo de ignição

A Figura 4.1 mostra os tempos de ignição obtidos para as amostras estudadas.


Obteve-se para a cortiça um tempo de ignição médio de 4,75 segundos, com um desvio-
padrão de 1,04 segundos. Estes resultados indicam que este material é facilmente inflamável,
uma vez que em poucos segundos ele entra em combustão com chama. Das espécies de
madeira, aquela que apresentou um tempo de ignição mais baixo foi o pinheiro nórdico que
é a espécie menos densa das três. Obteve-se para esta um tempo de ignição médio de 24,14
segundos, com um desvio-padrão de 2,62 segundos. O pinheiro bravo, com uma densidade
apenas um pouco superior à do pinheiro nórdico, apresentou tempos de ignição semelhantes
aos do pinho nórdico, ainda que superiores. Esta espécie apresentou um tempo de ignição
médio de 29,50 segundos e um desvio-padrão de 4,46 segundos. A garapa, sendo uma
espécie mais densa que as restantes, apresentou também tempos de ignição mais elevados.
O tempo de ignição médio para esta foi de 47,54 segundos, o que mostra que esta espécie
resiste muito mais do que as restantes à ignição. O desvio-padrão para esta espécie foi de
4,54 segundos.
Das espécies estudadas, a garapa apresenta-se como a espécie mais segura em
relação a este parâmetro, seguida do pinheiro bravo e do pinheiro nórdico (estas duas
espécies apresentaram os valores de tempo de ignição muito próximos). Dos materiais
analisados, o aglomerado de cortiça expandida foi o que apresentou o pior comportamento,
entrando rapidamente em ignição.
A Figura 4.2 mostra a dispersão dos tempos de ignição de cada amostra em
função da sua densidade. Observa-se uma relação óbvia entre o tempo de ignição e a
densidade, verificando-se que as amostras com menor tempo de ignição são aquelas que
apresentam uma densidade menor. O tempo de ignição aparenta aumentar de forma linear
(aproximadamente) com o aumento da densidade, o que vem confirmar a teoria de Harada
(2001) exposta no subcapítulo 2.6.4.. Conclui-se que a densidade da amostra tem influência

Tiago Emanuel Ferreira Nunes 30


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Resultados e discussão

na sua inflamabilidade, visto que espécies mais densas demoram mais tempo a entrar em
ignição.

Figura 4.1 Tempos de ignição para cada espécie de amostras estudada.

Figura 4.2 Tempos de ignição em função da densidade para cada espécie.

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Resultados e discussão

4.2. Tempo de extinção da chama

A Figura 4.3 apresenta os tempos médios de extinção da chama para cada uma
das quatro espécies. A cortiça mostrou ser um material que demora menos tempo a arder
comparativamente com as espécies de madeira estudadas. Quando às três espécies de
madeira, a diferença entre os tempos de extinção de chama obtidos não foi muito assinalável.

Figura 4.3 Tempos de extinção da chama, para cada espécie de amostras estudada.

A Figura 4.4 mostra a relação entre os tempos de extinção de chama de cada


amostra e a sua densidade. Observa-se que, apesar de existirem diferenças bastante
significativas nas densidades das amostras de espécies diferentes, se obtêm tempos de
extinção de chama semelhantes, exceto no caso da cortiça. Para esta espécie, obtiveram-se
tempos de extinção de chama muito menores.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes 32


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Resultados e discussão

Conclui-se que a densidade não deverá ter uma influência muito importante no
tempo de extinção de chama das amostras de madeira.

Figura 4.4 Tempos de extinção da chama, para cada espécie de amostras estudada em
função da densidade.

4.3. Perda de massa

A Figura 4.5 representa as curvas médias de perda de massa para cada uma das
espécies durante os primeiros 600 segundos de ensaio. Uma vez que os valores da massa
inicial para amostras da mesma espécie diferem, os valores obtidos foram
adimensionalizados, usando a razão entre o valor da massa registado num dado instante e o
valor da massa inicial. Desta forma torna-se mais prático comparar os resultados obtidos
para amostras diferentes. Nos instantes iniciais observa-se que, para as três espécies de
madeira, o declive das curvas de perda de massa é pouco acentuado, o que corresponderá à
fase de secagem que ocorre antes de haver ignição.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes 33


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Resultados e discussão

Verifica-se que a perda de massa da garapa decresce a um ritmo mais lento do


que para restantes espécies. Após os primeiros 600 segundos de ensaio, verifica-se que
ocorreu para esta espécie uma perda de massa de cerca de 21%. Para o pinheiro nórdico,
durante o mesmo período de tempo, tem-se uma perda de massa de 24% e para o pinheiro
bravo uma perda de massa de 29%. Para a cortiça ocorre uma perda de massa de cerca de
29% nos primeiros 600 segundos de ensaio. Uma vez que apresentam densidades
relativamente semelhantes, seriam espectáveis resultados mais próximos entre as espécies
de pinheiro nórdico e de pinheiro bravo.

Figura 4.5 Curvas de perda de massa médias para cada uma das espécies

Na Figura 4.6 apresentam-se as curvas de perda de massa obtidas em cada um


dos ensaios experimentais realizados. Foram obtidas perdas de massa totais entre os 23% e
os 37% para as amostras de cortiça, entre os 60% e os 70% para as amostras de pinheiro
nórdico, entre os 68% e os 73% para as amostras de pinheiro bravo e entre os 67% e os 70%
para as amostras de garapa.

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Resultados e discussão

(a) (b)

(c) (d)
Figura 4.6 Curvas de perda de massa para as amostras de cortiça (a); pinheiro nórdico (b);
pinheiro bravo (c); garapa (d);

Constata-se que apesar de se verificarem perdas de massa próximas dos 70%


para as três espécies de madeira, o mesmo não se verifica para a cortiça.
A perda de massa total é, para este material, muito menor.
Enquanto que nas espécies de madeira se verifica uma perda de massa de mais
de metade da massa inicial e de, após os ensaios as amostras ficarem totalmente
carbonizadas, o mesmo não aconteceu com as amostras de cortiça. A Figura 4.7 mostra o
estado final de duas amostras, uma de cortiça e a outra de garapa, após se dar por terminado
o ensaio em calorímetro cónico.

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Resultados e discussão

(a) (b)
Figura 4.7 Aspeto das amostras após um ensaio em calorímetro cónico: (a) cortiça; e (b)
garapa.

Observando a Figura 4.7, verifica-se que ardeu apenas uma camada


relativamente pequena da superfície da amostra de cortiça exposta ao fluxo de radiação
térmica. O contrário aconteceu com a amostra de garapa, que ardeu na totalidade. Conclui-
se que o fogo acaba por se extinguir sozinho no caso do aglomerado de cortiça expandida,
sem que a totalidade deste material seja destruído. O mesmo não se verifica com a madeira.

4.4. Taxa de perda de massa

A taxa de perda de massa indica a que velocidade ocorre a perda de massa da


amostra ao longo do ensaio, sendo possível através dela calcular a taxa de libertação de calor.
A Figura 4.8 mostra a taxa de perda de massa média para cada uma das espécies em estudo.
No caso da cortiça, a taxa de perda de massa atinge um pico máximo de aproximadamente
0,055 g/s logo nos instantes iniciais do ensaio, decrescendo depois rapidamente, observando-
se valores inferiores a 0,020 g/s a partir dos 162 segundos de ensaio.

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Resultados e discussão

(a) (b)

(c) (d)
Figura 4.8 Taxas de perda de massa médias para as espécies de (a) cortiça ; (b) pinheiro
nórdico; (c) pinheiro bravo e (d) garapa.

Para o pinheiro nórdico observa-se um máximo de cerca de 0,033 g/s e para o


pinheiro bravo um máximo de 0,044 g/s. A taxa de perda de massa máxima da garapa é de
aproximadamente de 0,046 g/s.
Estes picos máximos registam-se alguns instantes após o instante de ignição de
cada uma das espécies. Após se ter atingido o pico, verifica-se uma queda da taxa de perda
de massa a um ritmo mais ou menos constante para as três espécies de madeira, algo que não
se verifica no caso da cortiça.

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Resultados e discussão

A Figura 4.9 representa a taxa de perda de massa média para cada uma das
espécies durante os testes em calorímetro cónico. A garapa apresenta um pico superior ao
do pinheiro bravo e verifica-se que estas duas espécies valores têm valores máximos bastante
semelhantes. O pinheiro nórdico, por sua vez, apresenta uma taxa de perda de massa
ligeiramente inferior. Para a cortiça observa-se um valor máximo logo nos instantes iniciais,
após a ignição. Este valor máximo é ligeiramente superior aos máximos obtidos para o
pinheiro bravo e para a garapa. No entanto, a curva da cortiça decresce vertiginosamente,
atingindo rapidamente valores inferiores aos do pinheiro nórdico.

Figura 4.9 Taxas de perda de massa para cada uma das espécies.

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Resultados e discussão

4.5. Poder calorífico

O poder calorífico superior a volume constante em base seca (PCSbs) e o poder


calorífico inferior (PCI) foram calculados a partir dos valores de poder calorífico superior,
PCSexp, determinados através de ensaios em bomba calorimétrica por Gomes (2014) e que
se apresentam na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 Poder calorífico superior calculado experimentalmente (Gomes, 2014; Al-Kassir et al., 2010)

PCSexp
Espécie
(MJ/kg)

Pinheiro nórdico 19,054

Pinheiro bravo 19,512

Garapa 19,166

Aglomerado de
29,600
cortiça

Al-Kassir et al. (2010) analisaram o poder calorífico de vários tipos de amostras


obtidas através de diferentes fases do processo de fabrico de cortiça, tendo obtido para
aglomerado de cortiça negro (média dos valores apresentados pelos autores para low-grain
e high-grain) um valor de PCSexp de 29,6 MJ/kg, que também se encontra representado na
Tabela 4.1.
A equação para o cálculo do PCSbs, segundo a norma EN14918 é a seguinte:

100
PCSbs  PCSexp  (9)
100  M

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onde M é o teor de humidade do material (%). Para o cálculo do PCI a norma EN14918
fornece a seguinte equação:

PCI   PCSbs  212, 2w  H s  0,8w  O s  w  N s   1  0,01M   24, 43M (10)

onde w(H)s, w(O)s e w(N)s representam as concentrações de hidrogénio, oxigénio e de azoto,


respetivamente, que fazem parte da composição química do material.
Telmo et al. (2010) determinaram experimentalmente a composição química do
pinheiro bravo. Para os valores da composição química do pinheiro nórdico e da garapa
assumiram-se os valores médios de composição química para as espécies resinosas
(softwoods) e para as espécies folhosas (hardwoods) apresentados por Ragland e Aerts,
(1991) citando Tillman et al. (1981). A composição química de vários tipos de amostras de
cortiça é apresentada por Al-Kassir et al. (2009). Os valores das percentagens de carbono,
hidrogénio, oxigénio e azoto para as espécies estudadas são apresentados na Tabela 4.2. O
valor da percentagem de carbono pode variar cerca de 3% entre as várias espécies de
madeira, tanto para as espécies folhosas como para as resinosas, e o valor de oxigénio pode
variar cerca de 4% (Ragland e Aerts, 1991). Todas as espécies de madeira contêm
aproximadamente 6% de hidrogénio (Petura, 1979).

Tabela 4.2 Percentagem mássica de C,H,O e N nas amostras do pinheiro bravo (Telmo et al., 2010), do
pinheiro nórdico e garapa (Tillman et al.,1981) e da cortiça (Al-Kassir et al., 2009)

Espécie %C %H %O %N
Pinheiro
48,4 6,0 45,3 0,1
bravo

Pinheiro nórdico 52,7 6,3 40,8 0,2

Garapa 50,2 6,2 43,5 0,1

Aglomerado de
63,45 6,55 0,7 0,01
cortiça

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Resultados e discussão

A Tabela 4.3 apresenta, para cada uma das espécies de madeira, o teor de
humidade (Mbh) e o poder calorífico superior calculado experimentalmente (PCSexp).
Apresenta também o poder calorífico superior em base seca (PCSbs) e o poder calorífico
inferior (PCI), calculados recorrendo às equações e valores das tabelas apresentados
anteriormente.

Tabela 4.3 Poder calorífico das espécies estudadas

Mbh PCSexp PCSbs PCI


Espécie
(%) (MJ/kg) (MJ/kg) (MJ/kg)

Pinheiro bravo 10,32 19,512 21,757 18,086

Pinheiro nórdico 11,13 19,054 21,440 17,565

Garapa 9,82 19,166 21,253 17,708

Aglomerado de
4,10 29,6 30,865 28,146
cortiça

O pinheiro bravo apresenta um valor de PCI superior ao das restantes espécies


de madeira, apesar destas apresentarem valores próximos uns dos outros. A cortiça, por sua
vez, apresenta um valor bastante superior de PCI em relação às espécies de madeira.
Há que ter em consideração que, apesar de os valores de PCSexp apresentados
por Gomes (2014) e utilizados para calcular o PCI, serem bastante fiáveis, visto terem sido
determinados a partir de amostras semelhantes às utilizadas no presente estudo, não se
consegue relacionar com elevado grau de certeza o valor de PCSexp apresentado por Al-
Kassir et al. (2009) com as amostras de aglomerado de cortiça expandida utilizadas.

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4.6.Taxa de libertação de calor (HRR)

A taxa de libertação de calor foi determinada através do produto entre o poder


calorífico inferior de cada uma das espécies e das suas taxas de perda de massa. A Figura
4.10 representa as curvas da média da taxa de libertação de calor (HRR) para as espécies
estudadas em função da área de superfície, conforme é habitualmente representada neste tipo
de estudos.
Realça-se, em primeiro lugar, a semelhança entre as curvas de HRR e as curvas
da taxa de perda de massa de cada uma das espécies, devido à influência destas no cálculo
do HRR. Como tal, a taxa de libertação de calor atinge o seu máximo nos instantes iniciais
do ensaio, pouco depois da ignição para todas as espécies em estudo.
O aglomerado de cortiça expandida apresenta um máximo de HRR muito
superior ao dos restantes. No entanto, o HRR da cortiça rapidamente decresce, acabando por
atingir valores de HRR inferiores aos das espécies de madeira.
A garapa é a espécie de madeira onde se verifica um maior HRR, de cerca de
255 kWm-2, sendo também a espécie de madeira com maior valor de PCI. Segue-se o
pinheiro bravo com um pico máximo de HRR de cerca de 250 kWm-2 e o pinheiro nórdico,
com um máximo de cerca de 180 kWm-2. Realça-se o facto de estes valores máximos se
registarem poucos instantes a seguir à ignição, o que permite concluir que, do ponto de vista
da libertação de calor durante um incêndio, a fase mais crítica ocorrerá a seguir à ignição,
ou seja, na fase inicial do incêndio.
Conclui-se que o pinheiro nórdico, em comparação com o pinheiro bravo e com
a garapa apresenta valores de HRR muito inferiores, o que poderá ajudar a explicar a
preferência por este tipo de madeira em relação às restantes em construção de edifícios. Os
resultados obtidos entre a garapa e o pinheiro bravo permitem concluir que relativamente a
este parâmetro, as duas espécies apresentam comportamentos semelhantes. Reforça-se ainda
que, sendo o HRR um parâmetro indicador da dimensão e da taxa de crescimento de um
fogo, o pinheiro nórdico é, das espécies de madeira estudadas, aquela que apresentará melhor
comportamento numa situação real de incêndio.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes 42


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Resultados e discussão

Figura 4.10 Taxa de libertação de calor para cada uma das espécies

4.7. Energia libertada

A energia total libertada durante os testes em calorímetro cónico pode ser


calculada através da seguinte expressão:

E  m  PCI (11)

onde E representa a energia total libertada sob a forma de calor (kJ) e m representa a perda
de massa total. A Tabela 4.4 representa a energia total libertada para cada uma das espécies,
obtidas através da equação anterior. Visto que as amostras de espécies diferentes apresentam
massas diferentes, os resultados são apresentados por unidade de massa.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes 43


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Tabela 4.4 Energia total libertada pelas espécies analisadas

E
Espécie
(kJ/kg)

Aglomerado de
16693
cortiça

Pinheiro nórdico 14154

Pinheiro bravo 15872

Garapa 13828

A cortiça foi a espécie que libertou mais energia sob a forma de calor por unidade
de massa, seguindo-se o pinheiro bravo e o pinheiro nórdico. A garapa foi a espécie que
libertou uma menor quantidade de energia.

4.8. Evolução da temperatura

Foi registada a evolução da temperatura durante os ensaios em calorímetro


cónico para cada uma das amostras introduzindo termopares nos furos das amostras
concebidos para esse fim. Nas amostras de pinheiro nórdico, garapa e pinheiro bravo fez-se
o registo da temperatura à superfície da amostra e a 5mm, 15mm e 25mm de distância da
superfície. Nas amostras de cortiça não se conseguiu medir a temperatura à superfície, uma
vez que os furos na diagonal necessários para introduzir os termopares eram de execução
muito difícil, tendo em conta o material em questão.
A Figura 4.11 apresenta os valores médios da temperatura à superfície para cada
uma das espécies de madeira. A espécie onde ocorreu um aumento mais rápido da
temperatura à superfície foi o pinheiro nórdico, sendo também a espécie de madeira que
demorou, em média, menos tempo a entrar em ignição. Após 120 segundos de ensaio, esta
espécie atingiu à superfície uma temperatura na ordem dos 450°C. Segue-se o pinheiro
bravo, com uma média de tempo de ignição bastante próxima da do pinheiro nórdico. Dois

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minutos após o início dos ensaios atingiu-se à superfície uma temperatura de cerca de 420°C.
A garapa foi a espécie onde se verificou uma média de temperaturas menores à superfície,
atingindo em 120 segundos cerca de 385 °C. A média dos tempos de ignição desta espécie
foi significativamente maior do que a das restantes. Tendo em consideração a densidade de
cada uma das espécies, verifica-se que a espécie menos densa (pinheiro nórdico) foi aquela
onde se verificou um aumento mais rápido da temperatura à superfície e foi também a
espécie que entrou mais rapidamente em ignição. A espécie mais densa (garapa), por outro
lado, foi aquela onde se verificou um aumento mais lento da temperatura à superfície,
entrando mais tarde que as restantes em ignição.

Figura 4.11 Evolução da temperatura na superfície das amostras.

A Figura 4.12 mostra a média das variações da temperatura a uma distância de


5 mm da superfície para cada uma das espécies. Observa-se que a cortiça rapidamente atinge
temperaturas muito elevadas, atingindo cerca de 455°C após 120 segundos e cerca de 620°C
após os primeiros 300 segundos. Conclui-se que este material apresenta uma evolução da
temperatura muito diferente da das outras espécies. Das espécies de madeira, aquela que
apresenta uma evolução da temperatura a 5 mm da superfície mais rápida é o pinho bravo,

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atingindo cerca de 140°C após 120 segundos de ensaio e valores na ordem dos 356°C em
300 segundos. Após os primeiros 120 segundos de ensaio das amostras de pinho nórdico a
média das temperaturas é de 135°C. Este valor anda na ordem dos 322°C após 300 segundos.
A garapa atinge os 141°C depois dos primeiros 120 segundos de ensaio e passados 5 minutos
obteve-se uma temperatura de cerca de 346°C. Verifica-se que foram obtidas temperaturas
bastante semelhantes para as três espécies de madeira a 5 mm da superfície durante os
primeiros 2 minutos de ensaio. Ao fim de 5 minutos a temperatura era superior nas amostras
de pinho bravo, seguido da garapa e, por fim, do pinho nórdico.

Figura 4.12 Evolução da temperatura a 5 mm da superfície das amostras.

A Figura 4.13 mostra a evolução da temperatura para cada uma das espécies a
15 mm da superfície. A cortiça apresenta uma temperatura de 78 °C após os primeiros 120
segundos de ensaio e uma temperatura de cerca de 300°C depois de 300 segundos. Quanto
às espécies de madeira em estudo verifica-se que, numa fase inicial, durante os primeiros
instantes, as temperaturas quase não se alteram. Após 120 segundos, registou-se uma
temperatura de cerca de 30°C, para o pinho nórdico e também para o pinho bravo, e de 25°C

Tiago Emanuel Ferreira Nunes 46


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para a garapa. Tendo em conta que a temperatura das amostras no início do ensaio era de
cerca de 22°C, este aumento de temperatura foi muito reduzido. Após 300 segundos, a
temperatura era de 82°C para o pinho nórdico, de cerca de 66°C para a garapa e de 82°C
para o pinheiro bravo. É curioso observar que, para este instante, se obteve a mesma
temperatura para o pinheiro nórdico e para o pinheiro bravo. Observando a Figura 4.13
conclui-se que estas duas espécies apresentaram um comportamento muito semelhante em
relação à evolução da temperatura a uma profundidade de 15 mm. Das espécies em análise,
a garapa foi aquela onde se verificou um aumento mais lento da temperatura.

Figura 4.13 Evolução da temperatura a 15 mm da superfície das amostras.

A Figura 4.14 mostra a evolução da temperatura para cada uma das espécies a
25 mm da superfície. Durante os instantes iniciais do ensaio todas as espécies apresentam
temperaturas muito próximas, havendo uma evolução muito lenta da temperatura para todas
elas. Após os primeiros 120 segundos de ensaio, tem-se para a cortiça uma temperatura de
32°C, cerca de 27°C para o pinho nórdico, 25°C para o pinho bravo e cerca de 23°C para a

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Resultados e discussão

garapa. No entanto, à medida que o ensaio foi decorrendo, a diferença entre a evolução da
temperatura das amostras de cortiça e das amostras de madeira foi-se acentuando. Ao fim de
300 segundos, obteve-se para a cortiça uma temperatura de 99°C. Durante o mesmo instante,
para o pinho nórdico verificou-se uma temperatura de cerca de 53°C, 47°C para o pinho
bravo e 42°C para a garapa.

Figura 4.14 Evolução da temperatura a 25 mm da superfície das amostras.

As curvas de evolução da temperatura evidenciam a influência da densidade na


condução de calor. Para a cortiça, que tem uma densidade muito inferior à das restantes
espécies (cerca de 4,3 vezes inferior à densidade do pinho nórdico), verificou-se um
crescimento muito mais acentuado em comparação com as curvas de evolução da
temperatura das outras espécies para todas as situações analisadas. Quanto às espécies de
madeira, verificou-se que ocorre uma evolução da temperatura mais rápida para o pinho
nórdico, que é a espécie que apresenta menor densidade das três, com exceção de uma das
situações em estudo, da evolução da temperatura a 5 mm da superfície das amostras.

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4.9. Comparação dos resultados com o modelo teórico de


propagação de calor

A Figura 4.15 compara as curvas de temperatura obtidas experimentalmente para


as espécies de cortiça e de pinheiro nórdico com as curvas de temperatura obtidas
desenvolvendo o modelo de condução de calor em regime transiente para sólidos semi-
infinitos, dado pela equação 6 e também sugerido por Han (2012), apresentado no
subcapítulo 2.8. Desta forma pretende-se testar a validade do modelo teórico em questão no
caso da combustão deste tipo de materiais.
No desenvolvimento do modelo foram utilizadas as propriedades térmicas do
aglomerado de cortiça expandido apresentadas por Simões et al. (2012) e recorreu-se às
pesquisa de MacLean e Madison (1941) e de Incropera et al. (2012) para se obter as
propriedades térmicas do pinheiro nórdico.
Analisando a figura destaca-se que para os instantes iniciais o modelo permite
obter aproximações razoáveis da temperatura tanto para o aglomerado de cortiça expandida
como para o pinheiro nórdico. No entanto, para a maioria dos casos, começa-se a nota uma
grande discrepância entre as curvas obtidas experimentalmente e as curvas obtidas
analiticamente a partir dos primeiros 50 segundos.
Este modelo aparenta ser capaz de fornecer uma estimativa admissível da
temperatura mas apenas para os instantes iniciais. Após sensivelmente o primeiro minuto,
os resultados encontrados mostram que o modelo não é adequado, muito provavelmente
porque deixa de ser válida a condição de fluxo de calor constante na superfície.

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Resultados e discussão

Figura 4.15 Comparação entre as curvas de temperatura obtidas analiticamente


e experimentalmente.

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Conclus

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS


FUTUROS

Foi feito um estudo da inflamabilidade de três espécies diferentes de madeira


utilizadas com frequência nas estruturas de edifícios. Estudou-se também a inflamabilidade
do aglomerado de cortiça expandida, habitualmente utilizado como revestimento.
Verificou-se que o aglomerado de cortiça expandida é um material muito mais
inflamável do que os restantes. Das três espécies de madeira, aquela que demonstrou ser a
menos inflamável foi a garapa, levando aqui uma ligeira vantagem em relação às espécies
de pinheiro estudadas. O pinheiro nórdico é a espécie de madeira mais inflamável. No
entanto, os resultados experimentais não denotaram a existência de uma diferença muito
assinalável entre a inflamabilidade do pinheiro nórdico e a do pinheiro bravo. Com isto,
pode-se concluir que existe um risco muito maior de ocorrência de incêndios na presença de
aglomerado de cortiça expandida do que na presença de madeiras, sendo este risco menor
para a garapa do que para as restantes espécies.
No entanto, fazendo uma análise do comportamento dos materiais durante a
combustão, observa-se um cenário oposto. Verifica-se um tempo de combustão com chama
muito mais reduzido para o aglomerado de cortiça expandida do que para as espécies de
madeira. Observa-se também que uma grande parte da amostra de cortiça, após os ensaios
experimentais, se encontra totalmente conservada, pelo que só arde uma pequena camada
próxima da superfície, acabando o fogo por se autoextinguir sem que mais danos sejam
causados.
No caso da garapa, do pinheiro bravo e do pinheiro nórdico constata-se o oposto,
uma vez que, após os testes, a totalidade das amostras se encontravam totalmente
carbonizadas.
O aglomerado de cortiça expandida destaca-se pela negativa devido à emissão
de fumo negro e potencialmente tóxico durante a combustão.
Quanto à taxa de libertação de calor durante a combustão (HRR), observa-se que
a espécie de madeira onde se obteve um pico máximo mais elevado foi a garapa, seguindo-

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Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
Conclus

se o pinheiro bravo. Considera-se por isso que são estas duas espécies que representam maior
perigo durante um incêndio. O pinheiro nórdico, apesar de ser, das três espécies de madeira
em estudo, aquela que mais facilmente entra em ignição, acaba por ser a que apresenta, neste
caso, um comportamento mais favorável.
Uma análise da evolução da temperatura das amostras mostra que, apesar de se
ter à superfície combustão com chama, a temperatura no interior da amostra (a uma distância
relativamente pequena da superfície) praticamente não aumenta durante um período de
tempo considerável. Esta verificação pode funcionar como argumento a favor da utilização
da madeira na estrutura de edifícios.
Com base nos resultados obtidos considera-se que a densidade das espécies tem
uma forte influência nos tempos de ignição. No entanto, a densidade das espécies não tem,
aparentemente, grande influência nos tempos de extinção de chama.
Como proposta de trabalhos futuros sugere-se que sejam efetuados os mesmos
tipos de testes para outras espécies de madeira também utilizadas na construção de edifícios,
podendo os resultados obtidos ser posteriormente comparados com os resultados obtidos no
presente estudo. Desta forma será possível compreender quais as espécies de madeira mais
seguras em termos de inflamabilidade, podendo este conhecimento afetar a escolha de
materiais utilizados na construção.

Tiago Emanuel Ferreira Nunes 52


Estudo da inflamabilidade de diversos tipos de madeiras e de cortiça
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Anexo A

ANEXO A

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Anexo A

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